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JOGO, TEATRO & PENSAMENTO

Os deuses, que foram indicados para serem nossos companheiros


na dança, nos deram o aprazível senso de harmonia e ritmo, assim eles nos
estimularam para a vida, e nós os seguimos dando-nos as mãos em danças
e músicas; e estes são chamados coros, que é um termo que expressa
naturalmente a alegria. Com a admissão de que educação nos é dada para
aquele que sendo bem-educado seja capaz de cantar e dançar bem.
Platão - Diálogos

A característica essencial do homem quando comparado com


os primatas superiores, é essencialmente dramática. Ao final do
primeiro ano de vida a criança humana brinca pela primeira vez,
desenvolvendo o humor e, ao fingir ser ela mesma ou outrem,
personifica. Essa identificação é a qualidade básica do processo
dramático, quer quando somos jovens e fingimos ser um “leão” ou
um mocinho ou, quando somos mais velhos, colocamo-nos no lugar
de alguém, ou imaginamos as possibilidades inerentes de uma
situação. Segue-se que a imaginação dramática, sendo parte tão
importante do modo humano de viver, deve ser cultivada por todos
os métodos modernos de educação.
O teatro é a base de toda educação criativa. Dele fluem todas
as artes. O homem primitivo expressou-se antes dramaticamente:
dançava mimeticamente, criando os sons. Depois necessitou da arte
para pintar-se ou cobrir-se com peles de animais, ou magicamente
representar suas ações nas paredes das cavernas; e a música foi
essencial para dar ritmo e tempo à sua dança dramática.
A criança “inventa” e em seu “faz de conta” necessita de
música, dança, artes plásticas e habilidades manuais. A expressão
dramática prove de outras artes de um significado e um objetivo para
a criança. A criatividade espontânea fundamenta-se na experiência
dos sentidos, e, quer a enfoquemos psicodramaticamente ou
cineticamente, a espontaneidade tem sua base na imaginação
dramática.
Assim, a utilização do teatro como instrumento de educação
pode se transformar numa disciplina acadêmica mais abrangente.
Utiliza como instrumento todos os ramos do aprendizado que
relacionam com o impulso dramático.
Utiliza ecleticamente toda e qualquer disciplina em um corpo
unificado de conhecimentos, de maneira que possa nos ajudar a
compreender a natureza da experiência.
Reúne muitos aspectos dos estudos até então não
relacionados: aspectos da filosofia, pois temos de examinar porque
educamos nossas crianças dessa maneira; da psicanalise, para
entender os símbolos utilizados pelas crianças e os motivos
subliminares no contexto do jogo; da sociologia, pois atuar é uma
atividade social que inclui a interação dos indivíduos; da psicologia
social, porque imitação, identificação, desempenho de papeis e tudo
o mais está diretamente ligado a atuação do homem em seu meio;
da cognição e psicolinguística, pois o relacionamento entre a
formação do conceito e linguagem influencia diretamente o método
dramático de aprendizagem.
E, ao aproximar-se do teatro, aspectos de matemática, física,
engenharia, estética e outros campos de estudos vêm ampliar o
nosso raio de ação.
Se principiamos nosso pensamento sobre educação com a
criança como criança, desenvolvendo-se e evoluindo dentro do
processo de vida, então todos os outros estudos se tornam
instrumentos com os quais aprendemos a existência. É nesse
contexto que nos aproximamos daquelas áreas que se relacionam
mais diretamente com a “Educação Artística”.
Richard Courtney
“Jogo, Teatro e Pensamento”
Editora PERSPECTIVA

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