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RESUMO
As técnicas neuroaxiais são a primeira escolha anestésica para cesariana. Elas permi- 1
Anestesiologista do Hospital Municipal Odilon Behrens
e Hospital Socor. Belo Horizonte, MG – Brasil
tem a participação da mãe na hora do nascimento e são mais seguras em vários aspec- 2
Anestesiologista do Hospital Municipal Odilon Behrens,
tos. Em algumas situações, entretanto, podem falhar ou ter contraindicações absolutas Hospital Vera Cruz e Hospital Risoleta Tolentino Neves.
Belo Horizonte, MG – Brasil
e relativas. Nestes casos, a anestesia geral passa a ter mais benefícios que riscos. As 3
Anestesiologista do Hospital Municipal Odilon Behrens,
principais dificuldades da anestesia geral para cesariana são o manejo de vias aéreas Hospital Life Center e Hospital das Clínicas- UFMG. Belo
Horizonte, MG – Brasil
(potencialmente mais difícil), alto risco de aspiração pulmonar, alta incidência de
consciência intraoperatória da gestante e de depressão neonatal no pós-parto imedia-
to. Esta revisão examina conhecimentos recentes desses tópicos, descreve benefícios e
riscos de novas drogas e propõe um protocolo clínico de anestesia geral para cesárea.
Palavras-chave: Anestesia Obstétrica; Anestesia Geral; Cesaria.
ABSTRACT
The neuroaxial techniques are the first choice for cesarean section. They allow mother’s
participation during the birth and are safer in many aspects. Neuroaxial techniques,
however, may fail and have absolute and relative contraindications, situations in which
a cesarean under general anesthesia would have benefits outweigh the risks. The main
difficulties of general anesthesia for cesarean section are concerning to potentially difficult
airway, increased risk of pulmonary aspiration and higher incidence of mother’s intraop-
erative awareness and neonatal depression in the immediate postpartum period. This
review examines the current knowledge of these topics, describes the benefits and risks of
new drugs and proposes a protocol of general anesthesia for cesarean section.
Key words: Anesthesia, Obstetrical; Anesthesia, General; Cesarean Section.
INTRODUÇÃO
res3: a) a manipulação da via aérea, requerida na AG, traindicações absolutas ou relativas à realização do
é mais difícil nas pacientes obstétricas. Problemas BNA6 (Tabela 1).
com intubação, ventilação e a aspiração pulmonar Além das situações apresentadas, a AG é forte-
são, de longe, a principal causa de morte relacionada mente recomendada:
à AG; b) a AG é geralmente indicada nas situações Nos casos em que o anestesiologista não tem su-
emergenciais, nas quais o tempo para a avaliação e cesso na execução do BNA.6 Nas situações eletivas, é
preparo da paciente nem sempre é o ideal e nas quais importante que o profissional solicite a ajuda de um
algumas condições clínicas preexistentes já carre- colega ou opte por uma técnica neuroaxial alternati-
gam alta taxa de mortalidade; c) a AG é utilizada em va, principalmente nos casos em que a paciente apre-
pacientes nas quais houve falha na execução do BNA sente preditores de uma via aérea difícil.
(sendo a obesidade a principal causa) ou em casos Nos casos em que ocorre falha parcial do BNA
nos quais as condições clínicas da paciente contrain- sem resolução por um bloqueio alternativo. Nas situ-
dicam a técnica neuroaxial; d) o anestesiologista tem ações, por exemplo, em que foi realizada raquianes-
aprendizado deficiente no uso da AG em gestantes, já tesia e verifica-se falha parcial, a repetição de uma
que nos programas de treinamento os casos em que nova injeção subaracnóidea utilizando soluções hi-
a técnica é requerida são pouco frequentes. perbáricas é controversa6, sendo, então, indicada a
Os dados atuais são muito mais otimistas. Entre técnica neuroaxial alternativa, usualmente a punção
1997 e 2002 o risco caiu de 16,7 para 1,7 e, embora a peridural com passagem de cateter. Caso a nova téc-
taxa de cesarianas tenha se tornado mais alta (10 ve- nica, no entanto, não seja possível ou resulte nova-
zes nos últimos 54 anos), a taxa de mortalidade geral mente em falha, a AG deve ser considerada.
apresentou importante redução, sendo raros os casos Nos casos de dor intraoperatória persistente de-
de morte decorrentes da anestesia.5 No entanto, como corrente de um BNA inadequado e não resolvido
a mortalidade ainda é mais significativa com a AG, com o uso de outros métodos analgésicos.6 Essa situ-
seu uso deve ser considerado exceção em cesarianas, ação deve ser evitada a todo custo e depende prima-
tanto nas situações eletivas como em emergências.6,7 riamente de criteriosa avaliação do nível de bloqueio
sensitivo previamente ao início do ato cirúrgico.
INDICAÇÕES, VANTAGENS E Nas situações de emergência em que o quadro
DESVANTAGENS obstétrico impossibilite o posicionamento ou tempo
adequados para a realização de BNA.6
Nos casos de emergência em que as contraindica-
Em alguns casos particulares, no entanto, a AG ções ao BNA não podem ser adequadamente investi-
ainda é a técnica de escolha pela presença de con- gadas (o risco/benefício da realização da AG fica a
critério do julgamento clínico de cada profissional e gea têm diminuído os números de morte materna por
deve levar em consideração os dados obtidos na ava- falha na oxigenação.
liação da via aérea materna). As gestantes apresentam retenção de líquidos
Nas situações em que é necessária a realização relacionada às mudanças hormonais, ao esforço do
de cirurgia EXIT (ex utero intrapartum treatment) em trabalho de parto e, às vezes, à presença de hiper-
associação à cesariana.6 tensão induzida pela gravidez. O ingurgitamento de
Para alguns autores, a AG é recomendada como capilares nas mucosas nasal, orofaríngea e estruturas
primeira opção nas situações emergenciais, princi- laríngeas ocorre já no primeiro trimestre e continua
palmente nos casos de sofrimento fetal agudo com no restante da gestação, aumentando o risco de san-
bradicardia intensa, uma vez que é possível não ter gramento à manipulação e contraindicando a intuba-
tempo necessário para a realização com sucesso e ção nasotraqueal devido ao risco de epistaxe grave.
instalação de um bloqueio espinhal.6 O edema da mucosa traqueal requer a utilização de
As principais vantagens da AG são rapidez, previ- tubos orotraqueais de menor diâmetro e, se a intuba-
sibilidade, resultado independente da colaboração da ção é difícil, as múltiplas tentativas de laringoscopia
paciente, controle da via aérea e ventilação (quando há podem levar à piora do edema preexistente, com ne-
sucesso na intubação orotraqueal) e mais estabilidade cessidade de tubos ainda menos calibrosos e mais
hemodinâmica. Além disso, a técnica não apresenta tempo até a extubação (para permitir a resolução do
os riscos de cefaleia pós-punção de dura-máter, toxici- edema). O ganho de peso e o aumento das mamas
dade sistêmica e neurotoxicidade aos anestésicos lo- contribuem para dificultar a realização da laringos-
cais. As desvantagens estão relacionadas a: a) uso de copia. O consumo de oxigênio aumenta 30 a 60% e a
elevado número de fármacos (com seus possíveis efei- capacidade residual funcional diminui até 20%, resul-
tos colaterais e mais exposição do feto a essas drogas); tando em rápida dessaturação com a apneia.
b) dificuldade em promover adequada proteção aos A via aérea deve ser exaustivamente avaliada e
reflexos autonômicos decorrentes da intubação e es- não pode ser subestimada. Os principais fatores as-
tímulo cirúrgico; c) privação da participação materna sociados à dificuldade de intubação são Mallampati
na experiência do parto; d) impossibilidade do uso de classe III ou IV, teste de protrusão mandibular clas-
opioides neuroaxiais para analgesia pós-operatória; e) se C, distâncias mento-esternal e mento-tireoidianas
alto risco de desenvolvimento de dor pélvica crônica menores que 12 e 6 cm, respectivamente (pescoço
pós-parto; f) alto risco de tromboembolismo venoso curto), e protusão acentuada dos incisivos superio-
pós-operatório; g) menos chance de amamentação no res. 12Esses quatro fatores associados levam a índices
pós-parto imediato; h) e, como já descrito, necessida- de falha de intubação de cerca de 90%.12
de de manipulação da via aérea materna, com os ris- A via aérea da gestante pode sofrer transforma-
cos potenciais não desprezíveis de falha de intubação ções importantes durante o trabalho de parto. Kodali
e aspiração pulmonar.5,6,9,10 et al.13, usando a classificação de Mallampati e reflec-
tometria acústica, determinaram que o edema da mu-
cosa oral e faríngea aumenta durante o trabalho de
AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA parto e resulta em piora da classificação inicial. Os da-
dos mostraram que 38% das pacientes apresentaram
A avaliação pré-anestésica da paciente a ser sub- piora no Mallampati após o trabalho de parto, sendo
metida à cesariana sob AG deve incluir anamnese que oito mudaram o Mallampati de 2 ou 3 para 4. Os
cuidadosa, com a pesquisa da história obstétrica dados obtidos nesse estudo ressaltam que a avaliação
atual, doenças coexistentes, uso e alergia a medica- da via aérea deve ser realizada imediatamente antes
mentos, vícios, história anestésico-cirúrgica prévia, do início da anestesia, independentemente dos resul-
uso de próteses dentárias e um exame físico dirigido tados atingidos na avaliação ambulatorial.
(medida de pressão arterial, ausculta pulmonar, car- Apesar das limitações descritas, as séries de traba-
díaca e avaliação rigorosa da via aérea).11 lhos sobre via aérea obstétrica salientam incidência
Há muito tempo a via aérea obstétrica demanda o de intubação difícil e falha semelhante à da popula-
respeito dos anestesiologistas. O uso mais frequente ção geral. Na gestante, a incidência de intubação di-
da anestesia regional, a adoção de protocolos para fícil varia de aproximadamente 1 a 6% e de falha de
via aérea difícil e o aparecimento da máscara larín- intubação de 0,1 a 0,6%.14 Revisão contemporânea pela
Canadian Airway Focus Group sugere que a incidência lores extremamente baixos. Estudos comparativos re-
de intubação difícil na população geral é, em média, centes com amostras pequenas, no entanto, não con-
de 1,5 a 8,5% e de falha de intubação de 0,13 a 0,3%.15 firmaram esses achados.20 Embora a gestação pareça
Estudo recente16, o Confidential Enquiry into Ma- não alterar significativamente a taxa de esvaziamento
ternal and Child Health (CEMACH), no Reino Unido, gástrico em pacientes hígidas e obesas21, os dados já
revelou que entre 2003 e 2005 houve seis óbitos ma- publicados são insuficientes em determinar o tempo
ternos relacionados à anestesia, mas nenhum deles adequado de jejum para líquidos claros e sólidos que
com falha de controle da via aérea no momento da resultem em baixa incidência de aspiração.9 Deste
indução anestésica. Três das mortes ocorreram por modo, todas as gestantes devem ser consideradas pa-
falha de oxigenação no pós-operatório (duas em cientes com estômago cheio e a recomendação atual
obesas mórbidas na sala de recuperação após AG àquelas a serem submetidas a cesarianas eletivas per-
e outra em puérpera asmática, obesa mórbida, ho- mite a ingestão de pequenas quantidades de líquidos
ras após anestesia espinhal). De forma similar, em claros até duas horas e sólidos entre seis (verduras,
avaliação da mortalidade materna em Michigan en- frutas e carboidrato) e oito (leite, proteínas e gorduras)
tre 1985 e 2003, foram oito as mortes relacionadas horas antes do procedimento.11
à anestesia, mas nenhuma por falha de oxigenação A profilaxia farmacológica para aspiração pulmo-
durante a indução da anestesia17, cinco delas por nar deve ser utilizada em todas as gestantes a serem
obstrução da via aérea e hipoventilação durante o submetidas à AG para cesariana. Warner et al.22 do-
despertar e recuperação. cumentaram que o risco de aspiração durante o des-
Essas estatísticas sugerem que o próximo alvo dos pertar da anestesia é quase tão alto quanto durante a
anestesiologistas na redução da mortalidade materna indução. Assim, o esquema profilático deve fornecer
de causas anestésicas é a atenção aos cuidados pós- proteção durante todo o ato anestésico e seu uso está
-operatórios com a via aérea. Esses cuidados inclui- indicado mesmo que não seja possível aguardar o
riam mais rigor no momento da extubação e o uso tempo adequado entre a administração dos medica-
correto de uma unidade de recuperação pós-anesté- mentos e a indução anestésica. Embora a qualidade
sica, com monitorização e acompanhamento contí- das evidências ainda seja pobre, os dados sugerem
nuo de um profissional responsável.18 Neste contexto, que a combinação de antiácidos não particulados
atenção especial deve ser dada às pacientes obesas, com antagonistas H2 é mais efetiva que nenhuma
asmáticas e portadoras de apneia do sono. intervenção é superior a antiácidos isoladamente na
A mortalidade materna secundária à aspiração redução da acidez gástrica.23 A recomendação atual
pulmonar do conteúdo gástrico apresentou redução é o uso de ranitidina 50 a 100 mg e/ou metocloprami-
a níveis quase insignificantes nas últimas três déca- da 10 mg EV 30 a 60 minutos antes da anestesia, sen-
das. Essa diminuição pode ser atribuída à ampla uti- do o efeito dessas drogas de oito horas.6,11 O uso de
lização de anestesia neuroaxial, antiácidos não parti- antiácido não particulado está indicado 20 minutos
culados, antagonistas do receptor tipo 2 de histamina antes da indução anestésica20, mas, no Brasil, a única
e/ou de inibidores da bomba de prótons associados formulação existente de citrato de sódio isolado não
à indução em sequência rápida na AG e melhoria na está mais disponível para venda e as demais formu-
capacitação dos anestesiologistas.19 lações apresentam em sua composição substâncias
O aumento do útero compromete a integridade do particuladas ou ácido acetilsalicílico.
esfíncter esofagiano inferior, por alterar anatomica- Nas situações eletivas, a avaliação pré-anestésica
mente a relação do esôfago com diafragma e estôma- é o momento ideal para discutir com a paciente os ris-
go e aumenta a pressão intragástrica. A elevação dos cos relacionados a cada uma das técnicas anestésicas
níveis de progesterona limita a capacidade do esfínc- e obter o consentimento informado. No caso em que
ter em aumentar o seu tônus.20 Assim, toda gestante a AG já estiver indicada, o consentimento informado
potencialmente apresenta incompetência do esfincter precisa contemplar a indicação da técnica e os riscos
esofagiano inferior. Estudos relacionados à acidez gás- relacionados ao manejo da via aérea e consciência
trica enfatizam dados restritos em gestantes. Inicial- transoperatória. Nos casos emergenciais, embora o
mente acreditava-se que o aumento da produção de tempo seja um fator limitante, alguma atenção deve
gastrina pela placenta estimulava a produção de ácido ser dada em tranquilizar a paciente e informá-la sobre
clorídrico e reduzia o pH do conteúdo gástrico a va- a conduta a ser adotada, sempre que for possível.
suficiente para garantir a profundidade adequada de via aérea difícil sem contraindicações ao BNA,
anestesia. Para evitar a consciência intraoperatória, está recomendada a inserção precoce de um ca-
índice bispectral inferior a 60 tem sido sugerido, o teter peridural.
que normalmente exige uma CAM mínima de 0,75
combinada com 50% de óxido nitroso. No entanto, Tabela 2 - Algoritmo para via aérea difícil reconhecida
o valor BIS necessário para reduzir a incidência de 1. Considerar anestesia regional ou
consciência intraoperatória e memória durante a ad- 2. Realizar intubação acordada
ministração de AG para cesariana é ainda impreciso 2.1 Sucesso = Iniciar procedimento cirúrgico
2.2 Fracasso = Considerar anestesia regional ou realizar
e futuras investigações sobre os regimes anestésicos anestesia geral utilizando plano para possibilidade de falha de
e acompanhamento são necessárias. intubação
anestesia. Estudos em modelos computacionais dentro dos limites vistos para a gravidez (PaCO2
mostram que, em virtude das alterações em vo- entre 28-32 mmHg)31,32. Hiperventilação pode cau-
lumes e capacidades pulmonares secundários à sar alcalose respiratória com vasoconstrição úte-
gestação, uma pré-oxigenação de dois minutos ro-placentária e desvio para a esquerda da curva
com FiO2 100% é capaz de garantir o tempo de 3,5 de dissociação da hemoglobina, podendo resultar
a seis minutos para dessaturação (SpO2 < 90%)30. em comprometimento da oxigenação fetal32.
■■ Preparo do abdome com antissepsia e colocação ■■ Aguardar o retorno da função neuromuscular e,
dos campos estéreis. Verificar se o cirurgião e o caso seja necessário, utilizar um bloqueador ades-
assistente estão prontos para começar a cirurgia. polarizante (rocurônio, vecurônio ou atracúrio).
■■ Iniciar a indução anestésica em sequência rápida: ■■ Observar a retirada do recém-nascido e clampa-
- Solicitar a um auxiliar que prepare a reali- gem do cordão umbilical.
zação da manobra de Sellick, colocando uma ■■ Administrar antibiótico profilático. Estudos recen-
das mãos sob o pescoço da paciente e fazen- tes referem que parece não haver vantagens em
do, com a outra, a compressão cricoide. Iniciar aguardar a clampagem do cordão umbilical para
pressão de 10 N enquanto a paciente estiver o início da antibioticoprofilaxia. De acordo com
acordada e aumentar para 30 N após a perda os dados obtidos, parece ser vantajosa a adminis-
da consciência. tração do antibiótico antes da incisão cirúrgica
- Indução anestésica - considerar uso de sem que haja prejuízos para o neonato6.
opioide nos casos indicados + hipnótico (esco- ■■ Iniciar ocitocina em infusão contínua (5-10 UI
lha de acordo com quadro clínico) + succinilco- em 500 mL de soro fisiológico 0,9%). Considerar
lina 1 a 1,5 mg/Kg doses adicionais ou uso de outros agentes utero-
- Aguardar 30 a 40 segundos e realizar a in- tônicos (metilergonovina, 15-metil prostaglandina
tubação traqueal. Utilizar tubo orotraqueal 6,5 F2α, O misoprostol) se tônus uterino é inadequa-
ou 7 (ou menor, se necessário), com guia flexí- do. Observar e acompanhar o tônus uterino e a
vel inserido. Após intubação, insuflar o balonete perda sanguínea.
e confirmar o correto posicionamento do tubo ■■ Ajustar a manutenção anestésica dando atenção
com capnometria e ausculta. Interromper a com- ao risco de consciência e memória peroperató-
pressão cricoide e autorizar o início do proce- ria. Considerar o uso de um opioide ou benzodia-
dimento cirúrgico. Em caso de dificuldades na zepínico caso realize a redução da concentração
manipulação da via aérea, iniciar as manobras administrada do agente halogenado.
do algoritmo para falha de intubação (Tabela 3). ■■ Administrar a profilaxia de emese pós-operatória
- Tratar vigorosamente a hipotensão, caso e iniciar analgesia com anti-inflamatório não este-
ocorra (fenilefrina, metaraminol ou efedrina). roide associado a um analgésico comum.
■■ Após o fim do procedimento e quando indicado,
Tabela 3 - Algoritmo para falha de intubação em realizar a extubação com a paciente em posição
cesariana de emergência. semirrecostada, quando o bloqueio neuromuscular
É possível manter ventilação adequada? estiver totalmente revertido e a paciente apresentar
1. SIM nível de consciência, retorno dos reflexos protetores
1.1 Se não há sofrimento fetal = acordar a paciente e considerar
bloqueio neuroaxial ou intubação acordada
das vias aéreas e padrão respiratório adequados.
1.2 Se há sofrimento fetal = manter ventilação com compressão ■■ Avaliar a dor após a extubação e complementar a
cricoide e considerar via aérea cirúrgica
analgesia, se necessário.
2. NÃO
Iniciar imediatamente as manobras “não ventilo, não intubo” do ■■ Encaminhar e acompanhar transporte da pacien-
algoritmo da ASA para via aérea dificil34 te à sala de recuperação pós-anestésica (SRPA)
* Fonte: Suresh MS et al. 33 ou unidade de terapia intensiva (quando indi-
cado). Na SRPA, manter a monitorização, oxigê-
■■ Manutenção da anestesia nio suplementar por cateter nasal, soroterapia e
■■ Isoflurano, sevoflurano ou desflurano (1 CAM), acompanhamento por profissional responsável.
em FiO2 100% ou O2/N2O (1:1) Dar alta da sala quando forem obtidos os critérios
■■ A ventilação materna deve ser ajustada para man- adequados (de acordo com a Escala de Aldrette-
ter os valores de concentração expirada de CO2 -Kroulik Modificada).
31. Vilas Boas WW, Lucena MR, Ribeiro RC. Anestesia para cirurgia 33. Suresh MS. Difficult airway management in the pregnant patient.
não obstétrica durante a gravidez. Rev Med Minas Gerais. 2009; In: Bucklin BA, Gambling DR, Wlody DJ. A pratical approach to
19(3 Supl 1):S70-9. obstetric anesthesia. Filadélfia: Lippincott Williams & Wilkins;
32. Lapinsky SE, Posadas-Calleja JG, McCullagh I. Clinical Review: 2009. p.209-22.
ventilatory strategies for obstetric, brain-injured and obese pa- 34. American Society of Anesthesiologist. Practice guidelines for
tients. Crit Care. 2009; 13(2):206. management of the difficult airway: na updated report by the
American Society of Anesthesiologists Task Force on Manage-
ment of the Difficult Airway. Anesthesiology. 2003; 98:1269-77.