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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Influência de Métodos de Laboratório na Curva de Compactação


de Dois Solos Residuais de Gnaisse
Flavio Alessandro Crispim
Aluno de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG,
Brasil, crispim_br@yahoo.com.br

Rafaela Sena Stehling


Aluna de graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG,
Brasil, stehling2003@yahoo.com.br

Dario Cardoso de Lima


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, declima@ufv.br

Carlos Ernesto G. Reynauld Schaefer


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, carlos.schaefer@ufv.br

Claudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, silvac@ufv.br

Paulo Sérgio de Almeida Barbosa


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, pbarbosa@ufv.br

RESUMO: A avaliação da influência de diferentes métodos e de parâmetros de compactação na


curva de compactação e, consequentemente, no comportamento mecânico dos solos abrange um
grau elevado de dificuldade, devido ao número significativo de fatores envolvidos. Visando avançar
o estado de conhecimento nessa área, o presente trabalho buscou abordar a influência de dois
métodos de compactação comumente empregados em laboratórios geotécnicos na estrutura de dois
solos residuais de Gnaisse da Zona da Mata Norte de Minas Gerais, sendo um solo residual maduro,
de textura argilo-areno-siltosa e um solo residual jovem subjacente ao mesmo, de textura silto-
argilo-arenosa. A pesquisa foi realizada, abrangendo: (i) coleta de amostras dos solos; (ii) ensaios
de compactação nas modalidades dinâmica e estática na energia do ensaio Proctor normal, nos
teores de umidade wot - 3%, wot e wot + 2%; (iii) determinação da resistência à compressão não-
confinada (RCNC) via a média de nove determinações das resistências de pico; (iv) aplicação de
teste estatístico a fim de se avaliar os resultados de RCNC. Com base nos resultados obtidos,
concluiu-se que: (i) o método de compactação influencia significativamente os parâmetros de
resistência mecânica e compactação do solo; (ii) há variações quanto à RCNC, de 37%, 14% e 3%
na resistência mecânica do solo residual maduro, respectivamente, para os teores de umidade wot -
3%, wot e wot + 2% e de cerca de 15% para o solo residual jovem, sendo os resultados para a
compactação estática maiores. De modo geral pode-se dizer que a compactação estática resulta em
maiores resistências, sendo a redução de resistência resultante da aplicação da compactação
dinâmica mais expressiva para o solo residual maduro.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Residuais, Curva de Compactação, Resistência à Compressão Não-


Confinada.

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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

1 INTRODUÇÃO Viçosa, utilizando-se dois solos residuais de


Gnaisse da Zona da Mata Norte de Minas
A compactação figura entre os processos mais Gerais, Brasil.
antigos utilizados para tratamento do solo para Os solos analisados foram coletados em um
fins construtivos. Em função disso vários talude de corte, de coordenadas 20º45’35”S;
métodos foram desenvolvidos para a 42º52’28”W, à margem da rodovia BR 120 e
compactação dos solos tanto em campo quanto apresentam as seguintes características:
em laboratório, notadamente a partir da década i) Solo 1: solo residual maduro classificado
de 1930 com os trabalhos desenvolvidos por pedologicamente como Latossolo
Ralph Proctor. Vermelho-Amarelo (EMBRAPA, 2006).
Para fins de compactação em laboratório Apresenta textura argilo-areno-siltosa e
vários métodos são utilizados, podendo-se classificação TRB A-7-5 (20), bem como
referir às modalidades dinâmica, estática e comportamento geotécnico laterítico,
pisoteamento como mais comuns (Hilf, 1992; classe LG’ segundo a classificação MCT;
Rico e Del Castillo, 1976; Pinto, 2006). Dentre ii) Solo 2: é um solo residual jovem,
estas, as modalidades dinâmica e estática tem saprolítico, subjacente ao Solo 1,
sido as mais utilizadas, sendo a primeira resultante de um perfil de intemperismo
utilizada principalmente para o controle da de solos desenvolvidos de Gnaisse do
compactação em campo e a segunda na Pré-Cambriano, com camadas de
obtenção de amostras compactadas, com peso espessuras às vezes superiores a 20
específico e teor de umidade conhecidos metros. Apresenta textura silto-argilo-
(Kouassi et al, 2000). arenosa e classificação TRB A-7-6 (18).
A avaliação da influência de diferentes
métodos e parâmetros de compactação na curva 2.2 Metodologia
de compactação e, consequentemente, no
comportamento mecânico dos solos envolve um Os procedimentos utilizados foram os
grau elevado de dificuldade, devido ao número seguintes:
significativo de fatores envolvidos e i) caracterização geotécnica dos solos;
relacionados à interação das fases sólida, ii) modalidades de compactação estática e
líquida e gasosa. Especificamente em relação à dinâmica, sendo a compactação dinâmica
compactação estática e dinâmica sabe-se que realizada segundo a NBR 7182 (ABNT,
conduzem a solos com estruturas diferentes 1986) e a compactação estática realizada
(Hilf, 1992; Lambe, 1969; Rico e Del Castillo, em três camadas aplicando-se força por
1976), no entanto, é complexa a previsão do meio de prensa hidráulica, buscando-se
comportamento do solo frente cada tratamento. repetir o peso específico obtido na
Visando avançar o estado de conhecimento compactação dinâmica;
nessa área, abordou-se no presente trabalho a iii) conjunto de corpos-de-prova compactados
influência das compactações estática e dinâmica na energia do ensaio Proctor Normal,
na estrutura dos solos, utilizando-se como considerando-se os teores de umidade
elementos de análise parâmetros básicos da wot - 3%, wot e wot + 2%;
curva de compactação e resultados de ensaios iv) para cada modalidade de compactação,
de resistência à compressão não confinada. trabalhou-se com a média de nove
determinações do peso específico
aparente seco (γd), admitindo-se um
2 MATERIAIS E MÉTODOS desvio de ± 0,3% no teor de umidade (w)
de cada corpo-de-prova;
2.1 Solos
v) determinação da resistência à compressão
O presente trabalho foi realizado no Laboratório não confinada (RCNC) dos corpos-de-
de Engenharia Civil do Departamento de prova (ABNT, 1992), empregando-se as
Engenharia Civil da Universidade Federal de suas resistências de pico;
vi) análise estatística empregando-se testes

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de média t (para o nível de significância para o ramo seco da curva de compactação,


0,05), para fins de avaliação de possíveis sendo de 3%, 14% e 37% (
diferenças estatísticas significativas.
), respectivamente, para os teores de
umidade wot + 2%, wot e wot -3%. Por outro
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO lado para o Solo 2 as diferenças são pouco
influenciadas pelo teor de umidade ficando
Os parâmetros de compactação (w, γd) utilizados na
preparação dos corpos-de-prova e a caracterização entre 10% e17% (
geotécnica dos solos 1 e 2, são apresentados nas tabelas
Tabela 2 e Tabela 1, respectivamente. ).

Peso específico aparente seco


14.0
Tabela 1. Parâmetros ótimos de compactação e w (%) e
Solo 1
γd (kN/m³) utilizados na preparação dos corpos-de-prova. 13.8
Solo 1 Solo 2

(kN/m³)
w ot - 3% 27,50 25,03 13.6

γd 13,62 14,08 13.4


wot 30,50 28,03
γd max 14,18 14,27 13.2

wot + 2% 32,50 30,03


13.0
γd 13,78 14,08 27 28 29 30 31 32 33 34
Teor de umidade (%)
Estática Dinâmica
Tabela 2. Caracterização geotécnica dos solos 1 e 2.
Solo 1 Solo 2
Peso específico aparente seco

14.2
1
Argila (%) 67 33 Solo 2
Silte (%) 1 7 35
Areia (%) 1 26 32 14.0
(kN/m³)

LL (%) 2 75 65
2
IP (%) 48 42
13.8
γs (kN/m³) 3 27,17 27,51
1
Classificação segundo a NBR 6502 e ensaio realizado
segundo a NBR 7181 (ABNT, 1995 e 1984b) 13.6
2 24 25 26 27 28 29 30 31
LL e LP determinados segundo a NBR 6459 e Teor de umidade (%)
NBR 7180 (ABNT, 1984c e 1984d) Estática Dinâmica
3
Ensaio realizado conforme a NBR 6508
(ABNT, 1984a) Figura 1. Curvas de compactação obtidas para os solos 1
e 2, utilizando as modalidades de compactação estática e
As curvas de compactação obtidas para os dinâmica.
solos 1 e 2, empregando-se respectivamente as
modalidades de compactação estática e
dinâmica estão apresentadas na Figura 1. Na Tabela 3. Diferenças relativas (%) entre médias dos
parâmetros γd e RCNC dos solos 1 e 2, tomando como
Figura 2 são apresentados os resultados para as referência a compactação dinâmica.
resistências à compressão não confinada wot - 3% wot wot + 2%
encontradas. Solo 1
Observando a Figura 2 nota-se o γd 0,74 0,41 -0,48
comportamento diferenciado do Solo 1 em
RCNC 36,70 14,21 3,22
resposta às modalidades de compactação,
notadamente no ramo seco da curva de Solo 2
compactação, refletido nos resultados de γd -0,48 0,54 -0,38
RCNC. RCNC 10,16 17,38 13,76
Para o Solo 1 as diferenças relativas entre a
compactação estática e dinâmica aumentam
expressivamente no sentido do ramo úmido

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400 O Solo 2 é classificado geotecnicamente como residual


350
Solo 1 jovem (saprolito) e apresenta teores praticamente iguais
de argila, silte e areia (
RCNC (kPa)

300
Tabela 2). Também neste caso a
250
compactação estática se mostra mais eficiente,
200 porém sem influência do teor de umidade. Isto
150 provavelmente se deve à textura granular do
100 solo. Para as modalidades de compactação
27 28 29 30 31 32 33 34
empregadas, efeitos combinados do tipo de
Teor de umidade (%)
Estática Dinâmica
compactação e do teor de umidade seriam mais
evidentes em solos estruturados (argilosos),
350 como destacado por Crispim (2007).
Solo 2 A fim de verificar a validade estatística das
300
considerações acima, aplicou-se um teste de
RCNC (kPa)

média t, aos resultados obtidos, sendo a análise


250
apresentada na Tabela 4.
200
Tabela 4. Resultados dos testes de média aplicados aos
resultados obtidos para os parâmetros γd e RCNC.
150
24 25 26 27 28 29 30 31 wot - 3% wot wot + 2%
Teor de umidade (%)
Solo 1
Estática Dinâmica
γd * * ns
Figura 2. Resistências obtidas para os solos 1 e 2, RCNC * * ns
utilizando as modalidades de compactação estática e
Solo 2
dinâmica.
γd * * ns
RCNC * * *
O comportamento dos dois solos frente aos * indica a ocorrência de diferenças estatisticamente
tratamentos aplicados pode estar relacionado às significativas e (ns) indica que não existem diferenças
particularidades pedológico-geotécnicas dos estatisticamente significativas, ao nível de significância
de 5%.
solos 1 e 2, embora sejam ambos residuais
originários de gnaisse. Quanto à RCNC confirma-se o que foi
O Solo 1 é geotecnicamente classificado discutido, ou seja, as diferenças entre as
como residual maduro e pedologicamente como compactações estática e dinâmica são
Latossolo Vermelho-Amarelo, evidenciando estatisticamente significativas, ao nível de
processos pedogenéticos avançados na sua significância de 5% para ambos os solos, exceto
formação. Conforme discutido por no teor de umidade wot + 2%, para o Solo 1.
Crispim (2007) a compactação dinâmica produz Em relação ao parâmetro γd, embora os
maior distúrbio nas ligações interpartículas, ao resultados do teste estatístico indiquem
nível de agregados de partículas, do que a diferenças estatísticas entre os mesmos, do
estática e em consequência a compactação ponto de vista da prática de engenharia as
estática se torna mais eficiente do ponto de vista diferenças são pequenas, inferiores a 1%, como
da resistência mecânica do que a compactação pode ser visto na
dinâmica. O efeito deletério deste método fica
bastante evidente no ramo seco da curva de .
compactação do Solo 1, conforme pode ser
visto na Figura 2 e
4 CONCLUSÕES
.
No presente estudo procurou-se investigar a
influência de dois métodos de compactação,
estático e dinâmico, na estrutura de dois solos

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residuais de gnaisse, via ensaios de resistência à ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
compressão não confinada. Dos resultados (1984d). NBR 7180: Solo – Determinação do Limite
de Plasticidade, Rio de Janeiro, 3p.
obtidos pode-se concluir que: ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
i) observou-se que a compactação estática (1986). NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactaçã,
produziu, em relação à compactação Rio de Janeiro, 10p.
dinâmica, corpos-de-prova com maior ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
resistência mecânica (RCNC); (1992). NBR 12770: Solo coesivo – Determinação da
Resistência à Compressão Não Confinada, Rio de
ii) a redução de resistência resultante da Janeiro, 4p.
aplicação da compactação dinâmica foi ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
mais expressiva para o solo residual (1995). NBR 6502: Rochas e solo, Rio de Janeiro,
maduro, trazendo à tona a importância 18p.
dos processos de formação dos solos nas Crispim, F. A. (2007). Compactação de Solos: Influência
de Métodos e de Parâmetros de Compactação na
suas respostas mecânicas quando Estrutura dos Solos, Dissertação de Mestrado,
compactados; Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
iii) considerando-se os métodos de Departamento de Engenharia Civil, Universidade
compactação empregados, houve Federal de Viçosa, 77p
diferenças estatisticamente significativas EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (2006). Sistema Brasileiro de
quanto ao parâmetro RCNC dos dois
Classificação de Solos, Rio de Janeiro: Embrapa –
solos em estudo, podendo se referir a SPI, 306p.
diferenças entre as médias de RCNC, para Hilf, J. W. (1992). Compacted Fill. In: Fang, H. (Ed.).
o Solo 1, de 37%, 14% e 3%, nos teores Foundation Engineering Handbook, 2nd ed., New
de umidade wot - 3%, wot e wot + 2%, York: Chapman & Hall, pp. 249-316.
Kouassi, P., et al (2000). A New Technique of Kneading
respectivamente e de cerca de 15% para o
Compaction in the Laboratory, Geotechnical Testing
Solo 2; Journal, Vol. 23, nº 1, pp. 72-82.
iv) cuidados devem ser tomados com a Lambe, T. W., Whitman, R. V. (1969). Soil Mechanics,
extrapolação de resultados de New York: Jonh Wiley & Sons, 533p.
compactação estática para a dinâmica, Pinto, C. de S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos
uma vez que dependendo do tipo de solo Solos, São Paulo: Oficina de Textos, 355p.
Rico, A.; Del Castillo, H. (1976). La ingeniería de Suelos
e do teor de umidade as diferenças podem en las Vías Terrestres, México: Editorial Limusa,
ser expressivas. vol. 1, 459p.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de registrar os seus


agradecimentos a Universidade Federal de
Viçosa, a Capes e a FAPEMIG.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


(1984a). NBR 6508: Grãos de Solos que Passam na
Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa
Específica, Rio de Janeiro, 8p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1984b). NBR 7181: Solo – Análise Granulométrica,
Rio de Janeiro, 13p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1984c). NBR 6459: Solo – Determinação do Limite
de Liquidez, Rio de Janeiro, 6p.

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