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SALA AZUL
Clara Miranda
tanto se dedicou. Por essa razão dela se traz aqui um breve esboço, considerando que a
matéria já foi tratada em profundidade no livro Três Séculos de Caminhada, escrito
exatamente em respeito à sua memória.
Mas é necessário refletir um pouco mais sobre sua personalidade humilde,
caracterizada pela formação exclusiva na roça, sujeita a rigorosa disciplina para o trabalho,
para a fé em Deus e para o respeito e acolhimento ao próximo. Quem o conheceu e privou do
seu convívio ficava sempre admirado do grau de conhecimento que possuía, em face da
realidade a que foi submetido pela necessidade de sobrevivência, onde só teve oportunidade
de frequentar 12 dias de escola. Era culto, porque lia muito e ouvia rádio. Os testemunhos do
Inácio e da Margarida evocam esses detalhes de sua conduta.
As dificuldades de sobrevivência influenciaram na sua determinação para vencer
na vida, concentrada em permanente dedicação ao trabalho e fervorosamente aferrada ao
compromisso de zelar pelo lugar onde nasceu.
Como relembra Margarida, o respeito que dedicava ao lugar, ao chão da Buíra, era
de tal ordem que ficou permanentemente simbolizado na edificação do "quarto dos santos",
capela construída por ele no centro da casa nova, quando da reforma de 1949, por ser
exatamente o lugar da alcova de seus pais na planta da casa velha.
Os seus não deverão esquecer que só calçou o primeiro par de sapatos quando já
tinha 18 anos de idade, como ele próprio afirmava. Por isso, é preciso registrar, mais uma vez,
as condições caracterizadoras do ambiente natural relativo à Buíra, como sítio isolado da zona
urbana, simbolizando pequeno enclave de sobrevivência com cultura exclusivamente rural,
fator determinante na formação das crianças que ali habitavam.
De fato, não se pode esquecer que a reflexão aqui proposta tem raízes fincadas no
passado e surgem, espontaneamente, da recordação de adultos que, de alguma forma, também
viveram sua infância e adolescência no contexto de uma Buíra voltada prioritariamente para a
produção de cachaça. Hoje, ocupados na luta cotidiana da existência, mesmo adotando outros
costumes e habitando outros lugares, quem foi criança na Buíra não esquece a realidade
daquele sítio. As recordações permanecem vivas.
São coisas simples como o canto das arapongas, que povoavam a “mata dos
benícios” e martelavam incessantemente o ferro imaginário, ou a "cruz do soldado" plantada
na margem do caminho arenoso que serpenteava por baixo da floresta escura, vestígios de um
passado que marcou mentes infantis como o conto da Clara nos faz rever.
Lá na Buíra, em noites de lua cheia, também havia as brincadeiras de esconde-
esconde, cantos de roda e adultos contando "estórias de trancoso", geralmente carregadas de
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moralismo e religiosidade. As noites escuras e frias do inverno, cobertas com o manto branco
da neblina espessa, eram riscadas pela luz intermitente dos vaga-lumes, num espetáculo
fascinante de milhares de pontos luminosos que se acendiam e apagavam. Alguma vez a
coruja batedeira e a rasga-mortalha atravessavam seu canto agourento na noite escura,
ecoando na mata, plantando um pavor soturno nas almas em formação. Mas quem dormia no
"quartinho", ao lado da alcova do papai, não sentia medo algum.
Sem energia elétrica, eram as lamparinas a querosene que emprestavam a luz
fumarenta capaz de permitir o conversar dos adultos. Criança não podia interromper, não dava
um pio.
Um dia, depois que o inverno começava, o cafezal amanhecia coberto de flores
brancas e perfumadas transformando a Buíra num recanto diferente, abençoado, com o sítio
todo envolto por um alvo manto, feito um grande lençol de algodão. Assim, cheiroso e
branco, cada cafeeiro se preparava para nos dar os frutos vermelhos que manteriam, durante
todo o ano, a chaleira permanentemente fervendo no fogão a lenha da cozinha de Leonor.
Os comboieiros, que vinham em busca da cachaça, nos davam notícias de outras
paragens, de outras gentes, de outras culturas. Às vezes contavam estórias aterradoras de
onças e “almas do outro mundo”.
Tudo isso tem a ver com a história da Buíra e precisamente marca o contexto
espaço e tempo que a reflexão sobre o centenário de Pedro Miranda procura revisar. Mas
também aqui se evoca o labor diário, o trabalho penoso e a disciplina que marcaram
profundamente os seres humanos que lá viveram no início de sua formação social.
E tudo se conta com palavras simples e texto curto, tentando uma reconstrução da
verdade histórica que, por vezes, alguém tenta macular por ignorância ou má fé. Dirigimo-nos
especialmente àqueles que ouviram as conversas no seio familiar, que tomavam café de bule e
comiam rosca de goma, em volta do fogão à lenha da velha Buíra, enquanto escutavam Pedro
Miranda contar estórias. Com isso, esperamos que assumam o papel de testemunhas de seu
tempo e ajudem a perpetuar a memória de uma pessoa de bem.
O objetivo maior, portanto, no momento em que se comemora o centenário de seu
nascimento, é refletir sobre o tema: Quem foi Pedro Miranda e qual o legado que nos deixou?
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Pedro nasceu no sítio denominado Pará, depois Buíra, como ficou realmente
conhecido, em Viçosa do Ceará, no dia 17 de fevereiro de 1912, um dia de sábado, às 14:00
horas. Foi batizado, nove dias depois, na capela do sítio Esbarrado, propriedade de seus avós
maternos, por seu primo padre Carneiro, conforme registro que se transcreve fielmente do
certificado original:
In fide Parochi
multa dos retardatários, permitindo-lhes cumprir o dever de cidadão sem pagar a penalidade a
eles imposta.
Assim, compareceu ele próprio ao cartório, acompanhado de suas irmãs Rosalina
e Maria Vicença, para cumprir o rito legal do registro civil determinado no artigo 12 do
Código de 1916 (Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916), que determinava: “Serão inscritos
em registro público: I – os nascimentos, casamentos, separações judiciais, divórcios e óbitos”.
Foi com essa cuidadosa providência que seis filhos de Vicente Ferreira de
Miranda e Júlia Carneiro Mapurunga passaram a ter oficialmente os seus nomes civis, como
consta no seguinte registro:
[...] n 2.327 - Aos nove de julho de 1934, nesta cidade de Viçosa, em meu Cartório
me foram presentes os irmãos Rosalina Firmina de Miranda, Maria Vicença de
Miranda e Pedro Mapurunga de Miranda e, perante as testemunhas infra assinadas,
me declararam que de acordo com o novo Decreto que permite o registro sem multa,
vinham fazer o registro de seu nascimento e, autorizados por seu pai Vicente
Ferreira de Miranda, o de seus irmãos menores Vicente Miranda Filho, Alfredo
Carneiro de Miranda e Maria Nébia de Miranda, ocorridos no lugar Pará, deste
termo: o de Rosalina Firmina de Miranda, no dia 06 de julho de 1902, às 8 horas da
noite, sendo esta a primeira deste nome e a sexta na ordem de filiação; o de Maria
Vicença de Miranda, no dia 4 de Maio de 1904, às 11 horas do dia; e de Pedro
Mapurunga de Miranda no dia 17 de Fevereiro de 1912, às 14 horas; o de Vicente
Miranda Filho, no dia 3 de Fevereiro de 1914, às 22 horas; o de Alfredo Carneiro de
Miranda, no dia 4 de Janeiro de 1916, às 20 horas e o de Maria Nébia de Miranda,
no dia 2 de Março de 1918, às 13 horas. Que Rosalina é a 6ª Maria Vicença a 7ª,
Pedro o 9º, Vicente Miranda Filho o 10º, Alfredo o 12º e Maria Nebia a 14ª, na
ordem de filiação; que são filhos legítimos de Vicente Ferreira de Miranda e Dona
Júlia Carneiro Mapurunga, residentes no dito lugar Pará e são seus avós pelo lado
paterno João José de Miranda e Maria Joana, já falecidos e pelo lado materno José
Carneiro da Cunha Mapurunga e Maria Fontenele Mapurunga, já falecidos. Para
constar fiz este termo, que assinam com as testemunhas Sebastião Magalhães
Nogueira e Francisco Costa Barros. Eu, Raimundo Evangelista da Silva, official
interino o escrevi. (grifamos).
e Domingos Carneiro de Miranda, este nascido no dia 26 de março de 1910 e que, de fato,
efetivou o próprio registro no dia 4 de julho de 1934. Houve ainda dois irmãos que faleceram
criança: Vicentina e Bento.
Pedro casou-se com sua prima Leonor Cândida Vieira, fato ocorrido também na
capela do sítio Esbarrado, no dia 9 de janeiro de 1946, de cuja união nasceram sete filhos:
Maria Margarida, José Simplício, Vicente, Ana Júlia, Antônio Pedro, Clara Auta e Cândida
Assunção. Na verdade, como regra de ingresso no “rebanho” de Cristo, seus assentos de
batismo registram apenas o primeiro nome: Maria, José, Vicente, Ana, Antônio, Clara e
Cândida. Afinal, para se ir ao céu não precisa do nome civil.
A evolução familiar de Pedro foi devidamente demonstrada no livro Três Séculos
de Caminhada, razão porque aqui se apresenta apenas um resumo da sua ascendência.
2.1 Pai
Vicente Ferreira de Miranda - nasceu no dia 13 de dezembro de 1862 na casa
do seus pais, na fazenda Campo do Meio, distrito de Lambedouro, em Viçosa do Ceará.
Casou-se com Júlia Carneiro Mapurunga, no dia 14 de maio de1890, na igreja matriz de
Viçosa do Ceará. Faleceu no dia 24 de setembro de 1940 no sítio Pará (depois Buíra), também
em Viçosa do Ceará.
volta do ano de 1830, transferiu-se para o vale do Lambedouro, em Viçosa do Ceará, onde se
notabilizou como pioneiro na produção de açúcar e rapadura daquele vale.
Ana de Sousa Marinho dos Reis, natural do Rio Grande do Norte, era filha de
Sargento-mor Antônio de Sousa Marinho e Antônia Correa, residentes no Rio Grande do
Norte.
do português Antônio da Costa Peixoto, que chegou ao Ceará em 1676 (com 18 anos de
idade) para servir no forte de Nossa Senhora da Assunção.
Quando se publicou o livro Três Séculos de Caminha, optamos por deixar o porta-
bandeira Antônio José Correa de Sá recluso no Forte das Cinco Pontas, no ano de 1788,
porque não tinha sido possível colher maiores informações sobre ele.
A busca por tais informações continua, mas já foi possível comprovar que, de
fato, foi ele preso em Sobral e recambiado para o Forte das Cinco Pontas, em Recife, por
ordem do Ouvidor e Corregedor Geral, Manoel de Magalhães Pinto de Avellar de Barbedo.
Dali, a 3 de outubro de 1788, remeteu requerimento para a Rainha D. Maria I, declarando sua
inocência e pedindo para que autorizasse ao Governo do Ceará pagar cinco escravos que
havia comprado a Roque Correia Marreiros na Vila de Sobral, conforme escritura que fez
anexar ao pedido. Aconteceu que, além de mandar prender o porta-bandeira, o mesmo
Ouvidor mandara sequestrar tais escravos e colocá-los em depósito, sob a guarda do mesmo
vendedor Roque Correia, que lá ficaram trabalhando. Uma vez encarcerado longe do local da
lide, protestava Antonio José junto à Rainha contra a arbitrariedade cometida pelo Ouvidor,
que lhe impedia de opor embargos ao processo de expropriação e, para tanto, enviou
procuração para seu filho Antônio Florêncio de Miranda Henriques.
A causa de sua prisão era consistente nos “delitos de mancebia pública, uso de
armas curtas, perturbação do sossego publico e prática de homicídio”, como consta do
relatório da devassa procedida pelo Ouvidor e Corregedor Geral, Manoel de Magalhães Pinto
de Avellar de Barbedo. A denúncia oferecida por essa autoridade foi recebida pelo
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Nesta ocasião remeto a Va. Sa. o Conselho de Guerra q.se fez nesta
Capitania a Antonio José Correa de Sá Porta Bandeira da tropa paga q guarnece a
Capitania do Siará-Grande, pelos delitos de mancebia publica, uso de armas curtas,
perturbador do sucego publico, hua morte q cometeo na Vila de Sobral da mesma
Capitania, em cujos crimes foi culpado pelo Doutor Ouvidor daquela Comarca nas
Devassas que procedeo quando andava de Correição. Rogo a Va. Sa. q se digne de
interpor a sua autoridade, e respeito, para proc. este Conselho de Guerra e o mais
que daqui se tem remetido, q. sejam decididos para o exemplo destas Tropas q se
achão habilitados e precisão verem q serão atribuidas punição pelos seus delitos
graves outro castigo maior que a prisão.
Deos guarde Va. Sa. por muitos anos. Recife de Pernambuco 30 de
junho de 1789.
Ilmo Exmo Senhor Martinho de Melo e Castro.
Logo que fui entregue das duas sentenças as fiz executar, como nas mesmas se
determina, mandando para o Presidio de Fernando de Noronha o soldado Jose Luiz
de Melo aonde a pena lhe fosse mais pesada na sua sentença, não pelo crime de q.
era acusado, mas sim por ser um homem de tão pessima conduta q depois do dito
crime fez uma morte na mesma prisão em que se achava a espera da decisão do seu
Conselho de Guerra: do q dou parte a V. Exa para ficar ciente dos motivos porque
não se executou nesta Villa a sua sentença como Sua Magestade determinou.
3.1 Mãe
Esbarrado, em Viçosa do Ceará, no dia 5 de março de 1922, aos 83 anos de idade, e foi
sepultada na capela ali construída sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.
Trindade (ou de Abreu), sendo natural do Santo Antônio do Potengi, no Rio Grande do Norte.
Gaspar nasceu na fazenda denominada Pedra Branca, propriedade de seu pai, na margem
esquerda do Rio Acaraú, no município de Sobral, onde criavam gado e onde seu pai faleceu
no dia 1° de novembro de 1775.
Ana Teodoro do Sacramento - esposa de Gaspar da Cunha Araújo, casados no dia
10 de outubro de 1768 - era filha do sargento-mor Manoel Carneiro Rios, natural de Igarassu -
Pernambuco, e de sua mulher Maria do Livramento do Monte e Silva, natural da Lapa, da
freguesia da Santa Sé de Olinda, filha do pernambucano Gonçalo Ferreira da Ponte (nascido
em 1679 e falecido em 1762, que era neto do português Rodrigues da Costa Ferreira e Marusa
de Freitas) e de sua mulher Maria da Conceição do Monte e Silva. Manoel Carneiro Rios, que
era filho do português Vitorino Carneiro Rios e de sua mulher Maria do Reino, transferiu-se
para a Caiçara, hoje Sobral, na condição de Sargento-mor, exercendo ali grande influência. O
casamento de Manoel com Maria do Livramento ocorreu na matriz de Sobral, no dia 17 de
abril de 1748.
faca travada com seu próprio filho, também denominado João Alvares Passos, que pereceu
igualmente na mesma contenda.
Genoveva Rodrigues da Câmara – filha do português Antônio Ferreira Alvarenga
(filho de Antônio Alvarenga e Domingas Ferreira, naturais de Lisboa) e de Ana Maria
Rodrigues da Câmara (filha do português Pedro da Rocha Franco e de Victória Rodrigues da
Câmara), casados no Ibuaçu, a 30 de agosto de 1750.
5 Leonor
sem reclamar, sem exigir. Alguma vez eu a vi chorar baixinho, quase escondida, mas sempre
se negando a dizer o porquê.
Por que tinha que ser assim? Por que não íamos também para um lugar que fosse
asilo apenas de nossa família, no Rebentão?
Porque Pedro era leal ao compromisso tácito que fizera com seu pai e sua mãe, de
ficar cuidando do velho Pará, que Vicente Ferreira de Miranda um dia idealizara naquele mês
de janeiro do ano de 1901. E era ali que íamos continuar morando, até morrer.
E meus filhos, que serão? Que futuro poderá ser pensado para aquelas crianças de
apenas 6 e 8 anos que todo dia vão ao Rebentão, de urus ao lombo, apanhar feijão ou arrancar
batatas para o almoço do dia seguinte? Que esperanças lhes restam, se vivem amarrados a este
lugar, sem alternativa que não um cabo de enxada, rodeando um engenho na interminável
tarefa de tanger bois?
É dali, da lida cotidiana no engenho que lhe vêm muitas vezes os sobressaltos, que
lhe chegam aos ouvidos os lamentos e gritos por causa das queimaduras que sofrem nas
fornalhas, de algum que andou pelas alturas das tesouras, soerguido nos chifres de um boi
bravo.
Foi por isso, por refletir na tremenda injustiça que significa privar uma criança do
estudo, que Leonor se viu forçada a propor o encaminhamento dos filhos maiores para longe
de si, para o Convento.
A lá se fomos nós, eu com 10 e José com 12 anos, aos prantos, para longe de casa.
Mas ela não chorou na nossa frente, no dia em que partimos. Não demonstrava nenhum medo
face à nossa pouca idade e o tamanho do caminho que íamos percorrer sozinhos até nosso
destino. Ficou ali no alpendre, com a cabeça erguida e o olhar altivo de quem não se
amedronta fácil, vendo seus pequenos sumindo na curva do caminho.
Sofrer por eles e cuidar sempre - era o destino.
Aquele gesto nos marcou para sempre, porque significou o supremo sofrimento de
quem se priva da companhia dos que ama e obriga-os a partir pelo desconhecido, com o
sentimento de cuidar pelo seu futuro.
Que será dos meus filhos?
Essa a grande indagação e preocupação que povoou as noites não dormidas de
uma jovem mãe na Buíra. Sem saber notícia dos seus pequenos filhos, no tempo em que toda
a comunicação se limitava a cartas, com um tempo médio de três meses entre a ida e a volta
da notícia; quando a viagem de trem, entre Fortaleza e Campina Grande, demorava três dias e
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duas noites. Ah, Ipuarana! Quanto sofrimento pela ausência, quanta inquietação pelo
desconhecido, quanto choro convulso dissimulado em baixo do travesseiro.
Hoje, Pedro e Leonor, dormem o sono eterno em companhia de José, que também
foi retirado de nosso meio depois de muito pelejar pelo bem estar de todos e incorporar de
forma idêntica a preocupação de seus pais: que será de meus irmãos?
Assim, é justo que nós, os sobreviventes, recolhidos em nossas orações,
busquemos transmitir uma mensagem de agradecimento e de reconhecimento por tudo que
fizeram por nós, garantindo a certeza de nosso bem estar.
Por isso, Pedro, Leonor e José, durmam em paz porque estamos todos bem! A
Buíra está em boas mãos e continua muito bem cuidada!
Vicente Miranda
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Seu filho,
Antônio Pedro
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Beijos.
Ana Júlia de Miranda Fontenele
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As coisas boas da vida sempre deixam marcas que o tempo tem que “ralar”
muito para apagá-las em nossa memória. A lembrança no dia-a-dia, a saudade silenciosa, a
falta de uma pessoa querida nos momentos mais felizes falam de forma insistente o quanto a
grandeza humana pode permanecer no nosso convívio mesmo numa distância indeterminada.
Neste 17 de fevereiro de 2012, centenário do nascimento do Sr. Pedro Miranda,
muito me agrada registrar a admiração que tenho por esse homem tão simples e que dessa
simplicidade fez um poderoso instrumento de conquista e construção do seu grande ciclo de
amizade.
Conheci Sr. Pedro Miranda nos idos de 1975 em visita a sua casa, na Buíra, aí
começou uma convivência de muita amizade e confiança que durou até o seu falecimento em
1980. Desta amizade e parentesco, na qualidade de sogro/genro, muito aprendi sobre os
valores da vida e do ser humano: o trabalho com responsabilidade como um requisito de
cidadão; o amor como chefe de família; a lealdade como amiga; a igualdade como justiça
social; e, na espiritualidade, a fé cristã em seus valores de amor ao próximo, a generosidade, a
oração, a humildade, a caridade e o testemunho.
Com certeza, a prática desses valores redunda em exemplos que eram a sua
maneira frutífera de evangelizar.
Além dos valores citados, um homem alegre e bem humorado estava sempre de
braços abertos para acolher os amigos e visitantes que chegavam ao seu lar. Um diálogo
agradável e bem informado fazia parte da conversa permeada com o saboroso café, o cigarro
do fumo in natura ou a cachaça velha e uma vez por outra, um repente no seu estilo de poesia
doméstica, bem popular e brincalhão. Tudo isso fazia o passar do tempo com sutil rapidez.
A íntegra da vida de um homem como Sr. Pedro Miranda não se conta em uma
página ou, mesmo, em um bom livrinho. Por isto, apenas relembro algumas de suas
características para justificar o apreço oriundo de um relacionamento de apenas cinco anos
que nos rende até hoje uma saudade e o aprendizado de seus ensinamentos e exemplos ao lado
da também saudosa e querida D. Leonor.
Inácio Fontenele
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Vovô Pedro,
Lembro-me bem do dia em que o papai levantou-me nos ombros, pois era a
grande vontade de vê-lo através de uma janela de hospital. A verdade é que, naquele dia, só
pude avistar a tal da janela. No entanto, saber de sua proximidade já foi o suficiente para
acalentar aquele menino de quatro anos.
Passaram-se mais de trinta anos daquela tarde e é justamente de sua proximidade
que eu gostaria de falar. Saiba que sinto sua presença em minhas ações, em minhas decisões,
em meus pensamentos, e sim, em minhas conquistas. Sua humildade, honestidade,
inteligência e carinho com a família estão presentes em meu cotidiano em forma de
ensinamentos.
A saudade é grande, a emoção também, mas o amor, este é ainda maior.
De seu neto,
Um Homem de Deus
A maior herança que recebi de meu pai, Pedro, foi a honestidade e o temor a Deus. Louvo
e agradeço a Deus por tê-lo me dado por pai. A seu modo, ele me ensinou a amar, a perdoar, a ter
esperança e a lutar com as armas da fé e da oração.
Penso hoje como foi herói este pai que criou sete filhos, sendo agricultor no interior do
Ceará, sem estudos, sem riqueza, mas com muita sabedoria e coragem. De tal forma que eu, quando
criança, pensava que éramos ricos, pois o meu pai não deixava transparecer para nós as dificuldades
que enfrentava para nos criar.
O seu gosto pelos livros e conhecimento, o amor pela natureza, o zelo pela família, o bom
humor e a alegria, o jeito de ser carinhoso e compreensivo e o senso de justiça são qualidades que
tenho na lembrança e repito para os meus filhos. Estes, infelizmente não o conheceram, mas sei que as
herdaram pela genética e/ou pela bênção que passa de geração em geração para aqueles que temem a
Deus.
Guardo cenas em que ele ficava feliz como com o canto de algum pássaro que voltava a
cantar depois de há muito haver desaparecido. Dizia ele “olha, a araponga voltou”, e seus olhos
brilhavam de alegria. O mais importante para ele não era o dinheiro, o ter, mas a convivência pacífica
com todos, inclusive com a natureza. Dizia que todos os que tinham ido morar na cidade um dia iriam
querer retornar, demonstrando sua visão de futuro e que era um homem a frente de seu tempo.
Tenho a certeza de que meu pai, por todos os papéis que desempenhou tão bem como
filho, esposo, irmão, pai e em todos os seus relacionamentos, foi acolhido pelo Senhor e sei que um
dia nos reencontraremos. Então, teremos tempo para vivermos o que não nos foi permitido, porque eu
o perdi muito cedo e ele me fez e faz muita falta, pois me dava segurança, assim como um super-herói.
Que o Senhor reserve para nós um cantinho onde possamos ouvir e nos alegrar com o canto dos
pássaros.
Obrigada, Senhor, pela minha família de origem, por ela ter sido conduzida por esse pai
que foi realmente a Tua imagem e semelhança.
Eu o amo meu pai, que o Senhor o guarde eternamente.
Sua filha,
Cândida Assunção
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Ao meu avô
OBS. A foto acima, que serviu de base para a reprodução em grafite existente no “quarto dos
santos”, foi tirada no dia 4 de março de 1964, quando Pedro tinha 52 anos.
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Doce Lembrança
Ao começar a escrever sobre meu sogro, Pedro Miranda, me vem à mente sua
religiosidade. Homem de muita fé, temente a Deus que soube transmitir com sabedoria esse
dom tão peculiar fazendo de sua casa um local de evangelização não só para sua família, mas
também para pessoas que ali frequentavam ou que por lá passavam.
O pouco tempo de convivência que tive com seu Pedro percebi o homem sincero,
sensível e emotivo que era. E em suas palavras transmitia conhecimentos que guardo em
minha memória.
Para ele a família era o maior bem de sua vida e não conseguia falar dos filhos
ausentes sem encher os olhos de lágrimas. Fico imaginando qual seria sua alegria se tivesse
alcançado a casa da Buíra cheia de filhos, netos e bisnetos! Com certeza não passaria em
branco seus conselhos, ensinamentos e lições de vida.
Penso que sua ida foi prematura, mas ao mesmo tempo sei que Deus tinha planos
melhores para ele e, pensando assim, me conforto, pois sei que ele está junto ao Pai rezando e
esperando por nós.
Dezessete de fevereiro – data que foi sempre lembrada em nossa casa. E de todas
as datas importantes na vida do Simplício asseguro que essa nunca foi esquecida. Ele fazia
questão de lembrar o sacrifício ou dificuldades que seu pai enfrentou para mantê-los em
colégio com educação de qualidade. Por essa e outras tinha motivo de sobra para admirá-lo e
tê-lo como ídolo.
No centenário de seu nascimento quero agradecer a Deus por fazer parte dessa
família e o meu muito obrigado pelo apoio recebido principalmente a partir da ida do
Simplício para sua morada definitiva.
Poema para PEDRO
I II
Pretendia o primogênito, padre. Primavera, palavras no papel.
Poeta de pensamento preciso Pairava aos pés plantações e pastagens
Paciente, prudente e prático Perene por pleno prodígio
Prezava pelo poema polido. Permeando profusas paisagens.
III
Projetou-se passo a passo com
Perseverança primaz.
Pedia em prece ao Pai: A todos Paz e Bem!
Perdão, proteção, paz!
Clara Miranda.
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como princesa e nem queria mais voltar. E nós outros íamos sacudir e balançar garrafa de leite
in natura até desnatar, porque criança pequena não podia beber leite com nata.
E assim é que devemos dar graças a Deus por ter nascido e escapado para contar a
história, fora do cemitério dos anjinhos.
Vicente Miranda
VERSOS
Pedro admirava a arte de exprimir-se através de versos. A poesia para ele era a
forma mais bela de revelar crenças e expressar sentimentos. Foi precisamente através de
versos que procurou deixar mensagens sobre sua religião, sua família e sua forma de ver o
mundo e as coisas, algumas vezes utilizando-se do pseudônimo de “Chico Ladeira”.
Impossibilitado de ter a família toda perto de si, uma vez que os filhos tinham que
ir estudar fora, era através de versos que registrava a dor da ausência e a alegria quando
chegavam.
No dia 2 de março de 1969, escreveu longo poema para seu filho José que,
naquele dia, viera para comemorar com os pais o aniversário de 22 anos de idade. Tal poema
retrata bem a essência do pensamento e da alma de Pedro: a veneração a Deus, o amor à sua
família, o incondicional respeito à memória de seus pais e o apego ao lugar onde nasceu.
Saudades de 2 de março
I II
Minha alma triste suspira Este meu segundo verso
Em deslumbrante desejo É a Jesus oferecido
A saudade de meus filhos Agradecendo a bondade
Que há tempos não os vejo De me haver feito nascido
É este o triste suspiro E de me comutar as bênçãos
De um coração sertanejo Como até hoje tenho vivido
III IV
Pelo sinal da santa cruz Este meu quarto verso
Terceiro verso que digo Fechando assim uma quadra
Em nome do Padre na testa Com muito prazer ofereço
E do filho no umbigo A Maria Imaculada
E do Espírito Santo dos lados Para no tribunal divino
Para livrar do inimigo Ser a minha advogada
V VI
Já que terminei o quarto Há 28 de fevereiro
Para o quinto eu me passo Um dia de sexta-feira
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VII VIII
Quando vieram chegar É o sitio Mirandópolis
Lá pras três da madrugada A nossa velha habitação
Aí conversamos contentes Que em memória de meus pais
Até o cantar da passarada Eu tenho em conservação
E seguimos no outro dia Onde nasci e me criei
Para a nossa velha morada E os filhos do meu coração
IX X
Quando foi no outro dia No varandão da fazenda
A coisa foi se animando Todos por ali brincando
A família por ali Muitos dos familiares
De vez em quando chegando Vinham por ali chegando
Era meu filho primogênito Vinte e duas primaveras
Que estava aniversariando Meu filho estava completando
XI XII
Para um pai que estima No auge dessas coisas
É grande satisfação Sentia a boca ficar quente
Custa tanto a ver o filho Como um poeta que ao morrer
E ver nesta ocasião Solta seu último repente
Não pode se conter Pois faltava ao meu lado
Pois é grande a emoção O meu querido Vicente
XIII XIV
Senti a falta dos ausentes Estava o senhor Zezito
Como nesta ocasião Ostentando grande pôse
Faltaram três de minhas irmãs O senhor Vicente Miranda
E o mais novo dos irmãos Com os filhos e a esposa
Para abrilhantar melhor E o velho amigo Tio
A festa no varandão Que parecia uma raposa
XV XVI
Aqui eu peço desculpas Acho que estou desculpado
A este velho e grande amigo Estamos de tanto a tanto
Que queira me desculpar Não se aborreça comigo
Isto que disse contigo Que de meu lado eu garanto
O que eu disser com você Poeta é mesmo crítico
Você pode dizer comigo Mesmo que seja um santo
XVII XVIII
À custa destes meus versos Assim, todos somos raposas
Muita gente acha graça Os que gostamos de aguardente
Achando que é uma crítica Pois só os mortos não bebem
Por onde esta crônica passa Essa bebida excelente
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XIX XX
Estava o senhor José Miranda Também estava o João do Tio
Hoje o mais velho dos irmãos Um moço bem educado
Olhando-se o seu braço esquerdo Que juntamente com meus filhos
No mesmo faltando a mão É bastante relacionado
Pois quem é de Deus não morre Tornando-se assim
Fica vivo o coração Um amigo dedicado
XXI XXII
É o que tenho a dizer Todos sabem que poeta
Deste arquimilionário É igual a um transmissor
Que do Banco Real de Minas Quem tiver o seu segredo
É alto funcionário Não conte pra cantador
E se não é o que digo Que transforma em poesia
Mas foi o que me informaram Seja em que linhas for
XXIII XXIV
Por aqui vou terminar No campo da poesia
Estes versos mal polidos Eu sou bastante inspirado
Os versos de minha lavra Porem não posso ser poeta
E aos amigos oferecidos Por não haver estudado
Se merecer ser criticado Pois da opinião crítica
Não ficarei aborrecido Mereço ser desculpado
XXV XXVI
Comecei a fazer verso Todos os pássaros cantam
Com 15 anos de idade Quando vem rompendo a aurora
Verso qualquer pensamento Até a pobre Mãe-da-lua
Pela força da vontade Tanto como chora
O velho Pedro Miranda Assim também faço eu
O poeta da saudade Quando meus filhos vão embora
XXVII XXVIII
Quando todos vão embora Repente em min há cabeça
E me deixam aqui sozinho Sobra que cai no chão
Faço como ave noturna Tudo que existe no mundo
Passo o dia todo no ninho Passa por transformação
E quando a saudade aperta Para os pais filho não muda
Faço estes versos miudinhos Pois é corda do coração.
Outros Versos1
II II
Bendito Deus poderoso Muída a cana no engenho
que fez o céu e a terra genuinamente fabricada
castigou Adão e Eva quem bebe ela não pode
por terem sido infiel nunca se queixar de nada
amaldiçoôu a Caim se fosse bebida estrangeira
que fez justo Abel tinha fama dobrada
III III
Castigou com justiça Porém por toda parte
o orgulhoso Luzbel2 o seu valor é conhecido
que fez aldez revolta que as maiores autoridades
pra se apoderar do céu só tomam ela escondidos
fez a confusão das línguas e as mulheres não tomam
a destruição de Babel. na presença dos maridos.
IV IV
Deu muitos castigos Cachaça deliciosa
ao dragão infernal é bebida da nobreza
a Elias como foi justo bebe rei e rainha
teve o paraíso terreal bebe príncipe e princesa
salvou Noé e a família aqueles mais vergonhosos
do dilúvio universal. bebem debaixo da mesa.
V V
Eva pela fraqueza Bebe o moço pra conservar
caiu na tentação o prazer da mocidade
pra maldita corrupção bebe o velho pra despertar
ficando sujeito a morte energia e atividade
todos descendentes de Adão bebem também os amigos
pra conservar as amizades
VI
Fez descer fogo do céu VI
e Sodoma foi consumida Tinha um padre velho
1
Existem mais versos, que o Inácio vai disponibilizar em outro trabalho. Alguns estão disponíveis na internet,
no seguinte endereço: http://mirandus.org/buira.
2
OBS. Luzbel – nome também atribuído pela Bíblia a Lúcifer (“portador da luz”), que era considerado o anjo
mais bonito do paraíso.
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VII VII
Grande Deus Onipotente Bebe o pobre analfabeto
Senhor do céu e da terra bebe o doutor formado
só vos sabes o que é justo o prefeito da localidade
vossa santa lei não erra o Major e o delegado
que castiga os erros da humanidade até o coronel velho
com seca, fome peste e guerra de cachaça tem tombado
VIII VIII
Houve coisas naqueles tempos Bebem os vaqueiros
que é bem prestar atenção pra adquirir
Jonas no ventre da baleia nas vaquejadas a ligeireza
Daniel na cova dos leões bebem os soldados em serviço
a paciência de Jó pra adequirirem destreza
e o saber de Salomão. e bebem as mulheres feias
para adequirirem beleza.
IX IX
Infeliz primeira humanidade Até hoje ninguém deu
que foi destruída o valor do aguardente
na segunda veio Jesus que cura dor de barriga
que teve mal acolhida canelada e dor de dente
terceira orgulhosa e injusta quem é que pode amaldiçoar
com foço em breve se liquida. uma bebida tão excelente
X X
Cairá fogo do céu Bebem uns pra ficar rico
e tudo será queimado e outros pra não empobrecer
morre os justos pelos injustos bebem uns pra distrair
os direitos pelos errados e outros pra esquecer
desaparecerá da face da terra e assim o jeito que tem
tudo que é do pecado é todo mundo beber
XI XI
Jesus Cristo veio ao mundo Bebe o chefe de policia
pra nos redimir do pecado o vigario e o sacristão
pelo seu pobre povo O presidente do estado
Ele foi rejeitado e o chefe da Nação
com infâmias e calunias Elizabeth da Inglaterra
mataram-no crucificado. e o Iroito do Japão
XII XII
Lamentações e desordem Bebe branco e bebe preto
é com que o povo se defronta bebe toda a cachorrada
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XIII XIII
Moral dever e justiça Uns dizem que a cachaça
tudo desapareceu foi inventada pelo cão
de compaixão ninguém sabe mas quem inventou foi Noé
consciência se escondeu pai de toda geração
firmeza fugiu de noite logo que saiu da arca
falsidade apareceu. tomou o seu pifão
XIV XIV
No mundo está existindo O velho tomou a bebida
imensa contrariedade e logo se embriagou
inveja, injuria e ganancia mas nem ele nem a bebida
acabouce as amizades Deus não amaldiçoou
o que exista nos homens amaldiçoou foi o filho
é a grande felicidade. que o pai escandalizou
XV XV
Oriente e Ocidente Ela só é perniciosa
terão que se defrontar para quem é viciado
milhares de bombas atômicas quem toma ela com excesso
estão acabando de preparar está cometendo pecado
a grade civilização pois uma das coisas ridículas
em cinza vai se tornar. é o homem embriagado
XVI XVI
Palestinos e Israelenses Pois ex aqui a forma
vivem se degladiando que o homem deve tomar
de vez enquanto um levante toma antes de dormir
é o estopim que está queimando e depois que acordar
a bombardeiro no Viatinã bebe pra esquentar o frio
com a população acabando. e também pra refrescar
XVII XVII
Quando o sexto anjo Cachaça é feita pra gente
a sua redoma lançar não é pra burro nem jumento
haverá grandes estrondos uns bebem pra esquecer
toda a terra tremerá os seus grandes sofrimentos
secarão todos os rios ate velhos de cem anos
morrerão os peixes do mar. bebem que ficam cinzentos
XVIII XVIII
Raras vezes fico pensando Elixir de longa vida
a grande sabedoria aperitivo das sobremesas
que Deus deu ao homem quem bebe ela não sofre
terra mar e astronomia cansaço fadiga e fraqueza
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XIX XIX
Surgirá a besta fera Eu já ouvi alguém dizer
conforme viu São João quem bebe cachaça não presta
seiscentos e setenta e seis mas quem se achar muito bom
em breves dia verão ponha um letreiro na testa
aparecer falsos profetas pois se não houvesse cachaça
pra estabelecer confusão também não haveria festa
XX XX
Tristes dias se aproximam Uns tomam de esfamiados
desta pobre humanidade que bebem até as verdes
que vive engolfada em erros caiem nas coxias
corrupção e vaidade outros no pé da parede
sem lembrar que do outro lado a procura dela eu já vi
existe a eternidade. até gente na rede.
XXIV IV
Vamos nestes versos Ainda que esteja ausente
vinte e quatro letras traçadas Viemos te visitar
e a tua mão beijar
descrevendo o que vi
precisa se fazer presente
na escritura sagrada
desculpe a este poeta
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MENSAGEM FINAL
Sob a visão de sua família, o centenário de Pedro Miranda é, antes de tudo, uma
reflexão sobre o espaço e o tempo em que ele viveu. Por isso, procuramos trazer algumas
informações, dados, fatos e fotos que simbolizam a realidade dura que marcou sua existência
de agricultor na Buíra, nos idos de 1912, quando nasceu, até 1980, ano em que morreu.
Ao nosso modo, ali a família viveu feliz, sem vaidades e praticando a humildade
como credo, numa casa grande com lugares denominados para facilitar a comunicação: sala
azul, sala do rádio, sala da frente, alcova da madrinha, quartinho, armazém de dentro,
armazém de fora, etc. Tinha um canto para as espingardas e para as lamparinas e latas de
querosene.
A alegria em torno da mesa farta dava aos visitantes daquele sítio a falsa
impressão de que o seu líder era um homem rico. De fato, Pedro soube fazer crescer o
diminuto patrimônio que recebeu como herança de seu pai, Vicente Ferreira de Miranda,
conforme consta no inventário deste realizado em Viçosa do Ceará, no dia...
Pedro acreditava que a terra era a única esperança para quem se dedica à
agricultura. Assim, por opção, investia o pequeno retorno de sua atividade rural nas chamadas
“garrinhas”, que eram pequenas posse de terras cujos proprietários procuravam vender nos
tempos de seca para irem embora para o Maranhão.
Naquelas pequenas áreas fazia a produção de cana aumentar, porque comprava
estrume de bode para servir como adubo. Além disto, ia repondo a cobertura da terra brocada
com o bagaço da cana moída no engenho. Carro de boi não andava vazio: na ida, levava cana
para o engenho; na volta, trazia bagaço para fazer cobertura.
Não havia poupança e tudo que sobrava era investido em meios de produção:
terra, boi e porco. Vaidades nem pensar. Roupa nova somente uma vez por ano, na festa de
agosto.
A cana era aproveitada ao máximo, sendo ele próprio o moedor. Nessa atividade,
ficava ao pé do engenho, de macete em punho, quebrando a pancadas os nós da cana para
facilitar a passagem pelas moendas, reduzindo o esforço dos animais de tração na manjarra.
Enquanto teve saúde, na Buíra trabalhava-se initerruptamente de segunda a sábado
e seu descanso reduzia-se a uns poucos minutos após o almoço, quando tirava um cochilo.
Aos domingos ia à Missa, a cavalo, e voltava logo para o jogo de “bisca” ou “três sete” com
os parentes e amigos. Se demorasse um pouco mais era porque estava na reunião dos “Irmãos
do Santíssimo”, de que era devoto.
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