VOLUME 02 • IMBOLC 2021

MUSEU BRASILEIRO DE MAGIA E BRUXARIA

THE CRAFT
 VOLUME 02 • IMBOLC 2021
MUSEU BRASILEIRO DE MAGIA E BRUXARIA

DIREÇÃO GERAL
Claudiney Prieto

COORDENAÇÃO E REVISÃO
Flávio Lopes
DIAGRAMAÇÃO
Augusto Ribas
COLABORADORES DA EDIÇÃO
Alex Valério, Amanda Celli, Carol
Luanin, Diego Santos, Fabíola Cota,
Francine Derschner, Léo Fernandez,
Luciene Lima, Mariana Leal, Sabrina
Augusto e Tyrfang Hollydragon.

www.museudebruxaria.com.br
@museudebruxaria
(11)) 98841-8007
Todos os direitos reservados. Proibido cópia
ou reprodução sem autorização.
 EDITORIAL
POR CLAUDINEY PRIETO

Caro membro do Museu Brasileiro de Magia e Bruxaria,

A 2ª edição da THE CRAFT acaba de chegar em ritmo de Imbolc, que assinala o momento da renovação da
Terra, a hora de abandonar o passado e olhar para o futuro, limpando o caminho para abrir espaço para o
novo.
Quando falo de Imbolc, nenhuma outra palavra se torna tão significativa para mim quanto esperança. Esta
época do ano nos traz o ensinamento de que o inverno não dura para sempre e a primavera sempre vem.
Nestes tempos difíceis e desafiadores que estamos vivendo, integrar a sabedoria de Imbolc, que nos faz
acreditar num novo amanhã, é essencial. Nos tornarmos agentes da esperança ativa é emergente!
O tempo da esperança passiva, aquela em que as pessoas esperavam que os agentes externos criassem o
futuro desejado, passou!
Se olharmos para trás no tempo, veremos que muitos avanços e acontecimentos no mundo foram
marcados pelas ações da esperança ativa, que torna os indivíduos em participantes diretos da história que
desejam ver construída.
Um dos grandes marcos e conquistas da esperança ativa foi a revolução de Stonewall, que trouxe mais
liberdade, aceitação e respeito ao mundo. Muitas foram as pessoas que contribuíram para que esse marco
da esperança ativa se tornasse uma realidade.Dentre elas não podemos deixar de destacar uma que para
nós pagãos tem um lugar especial dentro de nossos corações: Eddie Buczynski!
Esta edição é especialmente dedicada a esse homem incrível, que ajudou não só a mudar a face do mundo
nesta revolução sem precedentes da comunidade LGBTQIA+, como foi peça fundamental nos avanços
também da Arte.
Em um tempo em que a Wicca era muito mais segregacionista do que na atualidade, foi ele quem lutou para
que a Bruxaria se tornasse mais inclusiva e abrisse suas portas para pessoas de todas as orientações
sexuais e tons de pele. Sem ele, a Arte talvez jamais tivesse se tornado uma religião tão plural capaz de
congregar minorias dentro de minorias.
Para mim, Eddie sempre foi um ancestral que me ensinou a exercitar a esperança ativa e acreditar que
podemos criar caminhos pelos quais a história pode acontecer através de nós. Ele me ensinou que quando
honramos nossa dor pelo mundo, despertarmos.
A história de Eddie me ensinou que a esperança ativa abre um fluxo para sermos os autores da história do
mundo. Quando conseguimos alcançar esse fluxo, despertamos nosso senso de significado próprio e
descobrimos o propósito de nossa própria existência.
Despertar para essa magia está ao alcance de todos e mudar o mundo pode e deve acontecer através de
cada um de nós.
Você já pensou qual esperança deseja nutrir para se tornar um agente de transformação da vida?
Aproveite essa estação de Imbolc para meditar sobre isso, deixando que os artigos desta edição de THE
CRAFT lancem sementes em seu coração que se transformarão na luz capaz de fazer seus olhos brilharem
para servirem de farol àqueles que ainda não têm olhos para ver com mais clareza e compaixão o mundo.

Bênçãos Plenas,

Claudiney Prieto
Curador do Museu Brasileiro de Magia e Bruxaria.

03| THE CRAFT

 DE IMBOLC ATÉ OSTARA: O

ÍNDICE
INVERNO SE TRASFORMA NA
PRIMAVERA - PAG 06

1. A DEUSA BRIGIT: SEU CULTO

ATRAVÉS DOS TEMPOS
por Tyrfang Hollydragon

2. A RODA DO ANO, O OFÍCIO DAS

BRUXAS E A NOITE ESCURA DA ALMA
por Flávio Lopes
3. COMEMORANDO IMBOLC:
ATIVIDADES COM AS CRIANÇAS E
FAMÍLIA
por Carol Luanin

4. RECEITAS MÁGICAS PARA IMBOLC

por Amanda Celli

5. OSTARA: É TEMPO DE FLORESCER

por Mariana Leal

ARTIGOS INTERNACIONAIS
- PAG 32
6. A PROMESSA DE ANANKE
por Deanne Quarrie
PERSONALIDADE PAGÃ
- PAG 37
7. EDDIE BUCZYNSKI
por Léo Fernandez
ÍNDICE
CULTURA PAGÃ
- PAG 44
9. A INICIAÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS
por Diego Santos

10. HEKATE, A SENHORA DA LUZ

por Francine Derschner

11. A VELHA: MULHER DE IDADE, SABEDORIA

E PODER
por Luciene Lima

MUSEU ENTREVISTA
- PAG 56
8. PAPO COM LULU SAILLE
por Flávio Lopes

SESSÃO: AGENDA DO MUSEU

- PAG 61
 DE IMBOLC ATÉ
OSTARA – O
INVERNO SE
TRASFORMA NA
PRIMAVERA

06| THE CRAFT


A DEUSA
BRIGIT: SEU
CULTO ATRAVÉS
DOS TEMPOS
TYRFANG HOLLYDRAGON
Quem chama pelo fogo sagrado?
Quem se banha no poço de cura?
Quem busca palavras ao vento?
Quem germina o grão da colheita?
Com suas chamas dobram o aço.
Com seu canto inspiram o bardo.
Com seu manto curam o enfermo.
com suas tranças se faz o
encantamento.
Dezenove preces mantem a luz que a
exalta.
No mosteiro que preserva sua
essencia
No altar seu culto foi preservado
Na floresta seus ritos são
relembrados
Poetisa, Ferreira, Curandeira e
Parteira
Santa, Rainha, Guerreira Divina
Bride, Brigantia, Brighid, Brigida,
Brigit
Bride, Brigantia, Brighid, Brigida,
Brigit
Bride, Brigantia, Brighid, Brigida,
Brigit
Bride, Brigantia, Brighid, Brigida,
Brigit
Amada Deusa Brilhante.
Brigit, Brighid, Bride, Brigantia, Brigite,
Brida, Brígida pode e é considerada
uma Deusa pan-céltica. Seu nome
significa “flecha flamejante” (Breo-saigit).
Foi cultuada por diferentes tribos
célticas na Antiguidade, como Santa
Brígida por católicos e anglicanos na
07| THE CRAFT
Idade Média e Moderna e por
neopagãos na atualidade, de fato, há
raízes históricas de seu culto por todos
os chamados países celtas, e pelas
adjacências, Escócia, Bretanha, Gália,
Península Ibérica, e principalmente na
Irlanda.
Não temos uma data inicial do seu
culto; podemos colocar isso junto as
migrações indo-europeias do centro da
Europa para as Ilhas Britânicas, mas
seria uma especulação, assim como
dizer que ela era “contemporânea” à
outras grandes Deusas européias.
Brigit era consorte de Bres - de origem
Fomoriana - e mãe de Ruadan, que foi
morto por Fomorianos. O luto e o
lamento perpetrado por ela foi tão
profundo que deu origem à uma
categoria poética de luto irlandês
conhecida como Keening. Em sua
Genealogia Brigit é tida como filha de
Dagda e Danu, sendo assim uma Tuatha
de Danann.
Existe uma teoria de que o nome Brigit
originalmente significasse “Deusa”
(assim como nos países nórdicos
“Freyja” significa “Senhora”) que poderia
ser usado para se referir a diversas
deusas nas ilhas Britânicas, embora isso
não possa ser confirmado. Podemos
buscar uma origem ainda mais antiga
na raiz arcaica do irlandês, uma vez que
“brig”, em irlandês arcaico, significa
força, poder - o que nos leva a uma
correlação que pode estar por detrás da
existência de guerreiros chamados
Brigands, ou "soldados de Brigit". Na
forma irlandesa seu nome significa
"alta" ou "exaltada”, ela também é
chamada de Bride, Brigite, ou Brighid,
simbolizando os três diferentes tipos de
fogo: o fogo que cura, que forja e a
chama que inspira.
 Historicamente falando, os Romanos
tradicionalmente incorporaram
divindades de povos conquistados,
latinizando-os, uma vez que eram
profundamente xenofóbicos como os
povos não romanos (considerando-os
bárbaros). Fizeram isso com divindades
persas, gregas, egípcias e não foi
diferente com as divindades celtas:
Brigit foi chamada de Brigantia, e assim
foi reverenciada em Roma como uma
deusa da forja e da guerra.
Havia também os Brigantes, uma
confederação de tribos celtas que se
instalou em pontos tão diversos quanto
a Armórica, Gália, Bretanha e Ilhas
Britânicas, derivam seu nome da Deusa
Brigantia, aparentemente mais uma
variação de Brigit.
Na Gália, ela foi chamada de Brigindo,
na Península Ibérica seu nome era
Brigantia e temos seu culto e nomes
preservados nas cidades de Bragança
em Portugal e de Lá Coruña na Galícia.
E seu berço, onde o culto permaneceu
mais forte e constante, foi
definitivamente a Irlanda, onde a
preservação de ritos e celebrações
atravessou eras e desafiou
transformações.
Podemos ligá-la à todas as classes
sociais, sem distinção. Muitos deuses na
Antiguidade tinham seu culto reservado
08| THE CRAFT
apenas essa ou aquela classe, mas Brigit
foi cultuada por todas as classes
presentes nas sociedades indo
europeias. Ainda que esse tipo de
classificação fosse precária em uma
sociedade tribal e coletivista, onde a
propriedade privada não fosse uma
realidade e a moeda não tivesse valor
econômico, suas funções que lhe
atribuem são triplas, correspondentes
às três classes da sociedade indo-
europeia: Deusa da inspiração e da
poesia ligada a classe sacerdotal,
protetora dos reis e dos guerreiros,
classe guerreira, Deusa das técnicas,
classe de artesãos, pastores e
agricultores.
Ela é o Fogo da Inspiração, a Musa, a
Deusa da poesia falada pela fonte
sagrada. Dessa forma, nos tempos
antigos, os poetas, os músicos, os
bardos e ovates estavam sob a proteção
de Brigit. Assim como existem relatos
acerca do uso de cajados e bastões
dourados com pequenos sinos em sua
honra.
São tantos os atributos e bênçãos
atribuídos a Brigit. Ela é a Deusa das
Fontes Curadoras - existem muitas
fontes de Brigit por toda a Bretanha,
onde suas águas ainda podem ser
bebidas, e banhos podem ser tomados
nas águas curadoras que contêm
minerais e a sua vibração ígnea. As
 fontes termais trazem essa expressão
do encontro com a essência do fogo
com a água e por isso são
especialmente sagradas para a Deusa.
Brigit como protetora do Lar e das
Profissões e a Deusa da Lareira e da
Forja. Na Antiguidade, as chamas das
lareiras eram os corações das casas,
fontes de luz, calor e alimentação.
Todas as casas recém construídas
deveriam receber uma chama
abençoada por Ela para ser considerada
um Lar e foi ela que tornou possível a
forja do metal pelo fogo, moldando
metais de forma alquímica e tornado a
rocha bruta em arte e criando os
primeiros apitos para chamar as
pessoas durante a noite de longas
distâncias.
"Ela é o Fogo da
Inspiração, a Musa, a
Deusa da poesia falada
pela fonte sagrada."
Ela é associada aos rebanhos bovinos e
ovinos, sendo representada por vezes
como uma vaca branca e ladeada por
ovelhas e vacas. Muitos a veem como
uma Vaca Branca doadora da vida.
Também é representada como uma
mulher ordenhando uma vaca com
longas túnicas feitas com lã de ovelha,
um de seus muitos animais sagrados.
A Deusa era ainda uma grande
guerreira que afugentava as tropas
inimigas de qualquer exército quando
era invocada, Brigit aparecia
frequentemente de maneira imensa e
feroz lançando gritos de raiva frente aos
exércitos que pretendia afugentar.
09| THE CRAFT
Desse mesmo modo, os guerreiros
antes das batalhas lançavam gritos
selvagens e ininteligíveis com o único
propósito de amedrontar seus
adversários. Ficou conhecida como Brig
Ambue a protetora soberana dos
Fianna.
SANTA BRÍGIDA
Como tantas divindades pagãs, não foi
diferente com Brigit: seu culto foi
transformado e convertido ao
cristianismo, que estrategicamente
percebeu que era mais fácil trazer para
o seio da santa madre igreja a deusa
Brigit como uma Santa Devota de Cristo
e assim cooptar seuses tantos
seguidores do que lutar para demonizar
aquela egrégora poderosa e milenar, e
na estratégia dos monges católicos,
destruíram primeiro e recontaram,
reescrevendo sua história depois.
Ela vai de grandiosa Deusa à serva
temente ao deus do patriarcado - dessa
forma, promovem uma conversão em
massa de maneira mais pacífica ou,
pelo menos, menos trabalhosa, uma
vez que os principais atributos de Brigit
seguiram com Santa Brígida: cura,
inspiração e forja. O Templo em Kildare,
antes destruído, foi reerguido em forma
de abadia, e a chama sagrada reacesa
por freiras que substituíram
sacerdotisas. A Ordem Brigidina que
mantinham a chama por 19 dias, e
mantém até hoje. Seus mitos
recontados, seus festivais mantidos e
travestidos (Imbolc se transforma em
Candelária dedicado à Virgem Maria).
Seus dons, seus totens, seus poderes
permanecem, nas imagens de Santa
 Brígida, há raios de luz do sol vindos da
Sua cabeça, assim como é retratada
como uma Deusa. Os temas do leite,
fogo, Sol e serpentes seguiram-na neste
caminho, dando a Ela uma
popularidade sempre crescente.
Compaixão, generosidade,
hospitalidade, fiação e tecelagem, o
ofício dos ferreiros, cura e agricultura
correram através dela várias vidas e
evoluções. Seu simbolismo como uma
Deusa do Sol permanece, também, na
forma da Cruz de Brigid, que ainda hoje
é lá usada para proteger a colheita e os
animais da fazenda, lares e lareiras.
A História recontada de Brigit a coloca
como Santa Brigid, cujo principal título
era ”Brigid, a santa do manto verde e
cabelos de fogo”, traços marcantes das
imagens da Deusa. Ela supostamente
nasceu entre 439-452 d.C. e morreu
entre 518-525 da nossa era, sendo filha
de um druida e uma escrava pagã. Seu
nascimento foi cercado de fenômenos
estranhos, como a presença de dois sóis
no céu, assim como a Deusa, e
aconteceu quando sua mãe passava
pela soleira da casa, trazendo a ideia
dos limiares e fronteiras, considerados
lugares sagrados para os celtas.
Após a sua morte, o fogo do seu templo
continuou aceso, guardado cada dia por
10| THE CRAFT
uma das dezenove sacerdotisas ou
freiras da sua ordem; na vigésima noite
era a própria Brigid que o cuidava.
O fogo requer muita lenha, porém as
cinzas dele não aumentaram jamais. A
preservação da chama sagrada de
Brigid foi mantida pelas freiras até que
o seu culto foi proibido mil anos depois.
O melhor de tudo é saber da existência
de relíquias sagradas da “Santa”
preservadas em igrejas europeias, uma
vez que Brigit nunca existiu em sua
forma humana como seu manto verde
na Bélgica, seus sapatos no museu de
Dublin e outros objetos em lugares mais
distantes, que a santa viva jamais
percorreu. Santa Brigid é padroeira da
Irlanda (junto com São Patrício), das
ordens das freiras irlandesas e da Nova
Zelândia. Mesmo como santa, ela
continua sendo - assim como a deusa -
protetora dos agricultores, fazendeiros
e criadores de gado, ferreiros,
curandeiras e parteiras, crianças e
mulheres, poetas, artistas e escritores
(que começavam seus escritos com a
frase gaélica Adjuva Brigitta, “ajude
Brigid”).
DEUSA OU SANTA
Na prática, graças a sua transformação
como santa, seu culto se perpetuou e a
egrégora se manteve, ainda que de
maneira distorcida, mas graças a
preservação dos atributos, a energia de
Brigit foi protegida e mantida,
permitindo que atualmente dentro do
renascimento das religiosidades
neopagãs ela seja umas das divindades
mais cultuadas e celebradas. Muitas
vezes, precisamos atentar que de certa
maneira existem males que vem para o
 bem, ou seja, ela poderia simplesmente
ter sido apagada da memória e seu
culto destruído completamente, tendo
restado apenas frases ou nomes em
listas como restaram de tantos outros
deuses e deusas que infelizmente
tiveram seus cultos perdidos. Mas por
uma maravilhosa sacada do destino, ela
amada e poderosa se manteve, com
uma ordem própria de freiras, com uma
abadia e um culto dedicado a ela, e
assim mantendo parte de sua essência
que hoje nós enquanto herdeiros dos
antigos praticantes e devotos podemos
buscar reconstruir de forma menos
adulterada ou pelo menos mais livre
dos elementos monoteístas patriarcais.
Ainda hoje na Irlanda, 1500 anos depois
“da morte de Brigit”, sua memória e seu
culto permanecem vivos nos corações
dos seus fiéis, e seus símbolos
continuam sendo confeccionados,
reverenciados e usados, mesmo que
nem todos os que os confeccionam e
usam conheçam seu significado
sagrado. Tendo feito a transição da
condição de Deusa para Santa,
preservando o nome, os símbolos e
costumes antigos, a figura de Brigit
representa uma ponte (bridge em
inglês) entre paganismo e cristianismo,
continuando como guardiã da
sacralidade feminina. E podemos sim
usar essas pontes para construir
diálogos partindo da premissa que
existem mais coisa que nos unem do
que coisas que nos separam.
LOCAIS DE CULTO E LOCAIS
SAGRADOS
1- Kildare e Faughart, na Irlanda, são
associados à Santa Brigida
11| THE CRAFT
2- As Ilhas Hébridas (cujo nome é
associado à Deusa).
3- Glastonbury - na Inglaterra - é um
lugar sagrado muito ligado ao arquétipo
de Brigid, a forma do seu relevo
topográfico parece um cisne (animal
sagrado da Deusa)
4- Colina Bride’s Mount
5- Fonte sagrada de Chalice Well
6- Existem inúmeras fontes (chamadas
Tobar Brighde e Clootie Wells) na
Irlanda, Escócia, Grã-Bretanha, onde
colares, rosários, tranças de fitas, cruzes
de palha e pedaços de roupas dos
doentes amarrados nas árvores ao
redor, comprovam a continuidade do
culto de Brigid, como Deusa e Santa, até
hoje.
7- Três rios são nomeados em Seu
nome - Brigit, Braint e Brent, na Irlanda,
Gales e Inglaterra, respectivamente.
8- Um relevo de pedra da Deusa
guerreira Brigantia, De Birrens,
Dunfrieddhire, um sítio militar romano,
Ela carrega uma lança em sua mão
direita, um orbe simbolizando a vitória
em sua mão esquerda e usa uma coroa.
Uma cabeça de górgona adorna seu
seio, um símbolo de Minerva. Ela está
usando um vestido Romano. Na
inscrição se lê: BRIGANTIA SAMAADVS.
TYRFANG HOLLYDRAGON
Tyrfang Hollydragon é historiador,
advogado, professor, cofundador do
Chlann Ashling Dé Dannan. Também
é coordenador do Dia do Orgulho
Pagão e cofundador do Coletivo
Mãe Terra.
@tyrfang
 A RODA DO
ANO, O OFÍCIO
DAS BRUXAS E A
NOITE ESCURA
DA ALMA
POR FLÁVIO LOPES
“Não pode haver renascimento sem uma
noite escura da alma, uma total
aniquilação de tudo o que você acreditava
e pensava ser.” - Inayat Khan
Algo que sempre considerei muito belo
na Arte e que me fascina cada vez mais
ao longo do tempo é a sua capacidade
de ocultar uma profundidade
inesgotável de conhecimento e
sabedoria por trás de sua aparente
simplicidade. Isso faz com com que a
experiência de seus praticantes seja
definida e expandida em termos de
nossa própria disposição pessoal para
nos aprofundarmos no caminho.
Um exemplo disso é nossa Roda do
Ano, que de um ponto de vista exterior
e exotérico trata dos ciclos agrários de
plantio e colheita, calor e frio, luz e
escuridão, ou mesmo das diferentes
fases da vida humana, desde o
nascimento em Yule até a morte em
Samhain. Além disso, há todos os
12| THE CRAFT
aspectos psicológicos associados a cada
estação do ano, que nos ensinam a
viver melhor e mostram que há um
tempo para sonhar e outro para
plantar, para trabalhar duro e para
festejar, um tempo para relembrar e
outro para se despedir e esquecer. À
medida que celebramos os Sabbats
repetidas vezes, temos a oportunidade
de nos harmonizarmos com os ritmos
internos e externos da vida, que nunca
se torna estagnada quando é vivida de
acordo com o giro constante da própria
Roda do Ano, sempre em movimento.
Mas ainda, para além de tudo isso, há
aspectos esotéricos e místicos,
experiências espirituais poderosas que
estão ocultas – mas muito bem
descritas – no simbolismo de cada um
 de seus rituais. Nesse sentido, a
escuridão caótica representada pelo
período que vai do Solstício de Inverno
até a festa das luzes e da purificação no
Imbolc, culminando com o plantio das
sementes no Equinócio de Primavera,
mimetiza um difícil e doloroso processo
com o qual eventualmente qualquer
praticante de uma tradição espiritual vai
se deparar: a noite escura da alma.
O início de nossa caminhada pela
Bruxaria é bela; sentimos que voltamos
para casa, e vivemos a alegria de dançar
os ritmos sagrados uma vez mais. Mas
quando a Arte é vivenciada não apenas
como uma atividade social ou um
caminho psicológico de autoajuda, e
sim como um caminho genuinamente
místico, sua dança acabará fazendo
com que nossos pés cruzem os limites
daquilo que chamamos de “Eu” para
que possamos vislumbrar, mesmo que
de longe, a totalidade daquilo que
chamamos de “Deuses”. Isso pode
parecer agradável à primeira vista, mas
nem sempre é assim.
Essa visão mística do sagrado que é
captada pelos olhos humanos foi
descrita por membros de todas as
tradições espirituais do mundo tanto
como um êxtase arrebatador quanto
como uma experiência esmagadora,
destruidora e extremamente dolorosa.
A mitologia pagã dos gregos antigos,
por exemplo, nos dá um indício claro
dessa experiência quando nos conta
que se um humano ficasse diante da
verdadeira face de uma deidade, tal
visão seria tão gloriosa que o fulminaria
instantaneamente; as tradições
iniciáticas do Tantra oriental, da mesma
maneira, descrevem o despertar para a
13| THE CRAFT
consciência divina no interior do seu
praticante como Saktipata [“a Descida
do Poder”], que pode acontecer em
variados graus de intensidade, sendo
que o mais elevado deles provocaria a
morte instantânea. Ambos não
parecem semelhantes?
Felizmente, as tradições místicas nos
conduzirão paulatinamente através das
experiências de transformação da alma
e nos permitirão experimentar esses
processos de maneira mais segura e
suportável. Na Bruxaria, os ciclos de
escuridão e luz são muito importantes e
ritualmente marcados ao longo da Roda
do Ano. Eles representam também os
processos interiores de inconsciência e
consciência, dissolução e cristalização,
submergir e emergir, prazer e dor – o
solve et coagula dos alquimistas. Da
mesma maneira como a semente
plantada precisa apodrecer na
escuridão da terra e abandonar suas
cascas para que possa crescer e se
transformar em uma nova planta, nós
também devemos morrer em vida e
atravessar as limitações de nossas
próprias cascas se quisermos nos elevar
como uma bela planta em direção ao
sol.
"As tradições místicas nos
conduzirão paulatinamente
através das experiências de
transformação da alma, e
nos permitirão
experimentar esses
processos de maneira mais
segura e suportável"
 É essa experiência de morte em vida
que é conhecida como a noite escura da
alma, um período marcado por dúvidas,
isolamento e desespero. Quando nos
deparamos com a noite escura, nos
vemos em um período de desinteresse
pelas práticas espirituais, como se elas
perdessem seu significado e efeito
sobre nós. Não nos sentimos mais
conectados a uma força superior, muito
pelo contrário; ao invés disso, somos
tomados por um profundo sentimento
de abandono, isolamento, descrença,
aridez e esterilidade. Questionamos as
motivações para continuar, e muitas
vezes podemos, inclusive, ser tomados
por um impulso para desistir e
abandonar o caminho. Tudo isso fez
com que muitos religiosos
descrevessem essa experiência
universal como um tipo de depressão
espiritual.
"As diversas
experiências de noite
escura ao longo de
nossa vida mágica
podem vir com
diferentes
intensidades"
Mas, de modo contraintuitivo, a noite
escura da alma não é um processo
ruim, apesar de ser percebida como
uma experiência aterrorizante para a
consciência que mergulha nela pela
primeira vez. Trata-se de um período
necessário para que possamos
continuar progredindo em nosso
caminho, e acontece não apenas uma,
14| THE CRAFT
mas diversas vezes ao longo da jornada
– na verdade, é uma experiência
impulsionada, com intensidades
diferentes, a cada Roda do Ano por
nossos rituais. Assim como cada ciclo de
estações precisa de um período
sombrio para renovar a potência do
solo, o mesmo acontece com nossas
vidas. Sem um período de
apodrecimento, a fertilidade – tanto da
terra quanto da alma – se perde. E é
exatamente assim que nos sentimos ao
longo desses períodos: parece que algo
em nós está se desmanchando e
apodrecendo.
É o nosso grau de apego àquilo que
precisa morrer que determinará o quão
doloroso esse processo será. Além
disso, as diversas experiências de noite
escura ao longo de nossa vida mágica
podem vir com diferentes intensidades,
mas há basicamente duas vias para o
ingresso nesse estado de espírito, e que
foram muito bem descritas
alquimicamente como avia seca e a via
úmida de transformação.
A via seca é uma operação alquímica
associada ao elemento Fogo, mais
abrupta e potente, bastante rápida. Ela
é vivenciada por nós nas grandes crises,
 perdas, na desilusão e nos
rompimentos da vida, e muito bem
ilustrada pelo arcano XVI do tarot, a
Torre. São experiências que irão
desafiar nossa visão de mundo e nos
convocar para que possamos
amadurecer nossa visão sobre os
Deuses, deixando de vê-los apenas
como figuras paternalistas, amorosas, e
de pura bondade para entendê-los
como potências da natureza capazes
também de destruir – afinal, a
destruição causada pelo furacão, a
erupção do vulcão, o terremoto e a
tempestade também são os Deuses. É
muito fácil amar a Deusa da Primavera
ou o gentil Senhor das Colheitas. Mas
somos capazes de amá-los sabendo
que eles também são a doença, a
destruição e a morte?
Já a via úmida é uma operação
alquímica mais lenta, longa e
controlada, associada ao elemento
Água, e que acontece no interior de um
recipiente fechado (como Círculo
Mágico das Bruxas), onde a matéria-
prima - a alma - é cozida e transformada
lentamente. Isso quer dizer que trata-se
de um processo espiritual íntimo, que
começa “longe dos olhos”, ou seja, sem
que a própria consciência se dê conta
dele. É isso que as tradições místicas
visam provocar em seus adeptos - um
processo de refinamento e mudança
interna, que nada tem a ver com
discursos pseudopsicológicos ou
ferramentas de autoajuda e
autossugestão do esoterismo popular.
Aqui devemos lembrar que uma das
possíveis etimologias que os praticantes
de Wicca usam para definir sua religião
está associada à ação de girar, dobrar,
15| THE CRAFT
moldar – porque é isso que fazemos
com nossa própria personalidade, o
delicado trabalho de talhar e revelar a
forma interior oculta, como faz um hábil
artesão com sua matéria-prima, ou a
semente ao abandonar suas cascas.
Bruxaria, witchcraft, é a Arte dos Sábios,
e “Arte” no sentido de Ofício, o ofício
manual e prático. Nosso ofício é
ilustrado tanto através da imagem do
artesão quanto através da própria
agricultura, a arte de trazer para o
mundo a imagem interna que se
esconde no núcleo de cada semente.
Mas para que a semente da sabedoria
possa germinar, primeiro a terra deve
ser feita fértil; para que o gérmen dos
Deuses possa aflorar em nós, o solo da
vida humana primeiro deve ser
fertilizado através do apodrecimento de
partes da nossa própria personalidade
que impedem que seu núcleo se
manifeste no mundo. Isso é necessário
porque, como seres sociais, não
vivemos nossas vidas com base na
verdade de nossas próprias almas;
desde muito cedo somos
bombardeados com as expectativas do
mundo, e a maneira como
respondemos a elas nos trazem
experiências de amor e rejeição, prazer
e desprazer.
"O caminho
iniciático é um
chamado para
contemplarmos
nossa própria
essência divina."
 Com isso, construímos uma máscara de
dois lados, externo e interno, que
encobre o nosso verdadeiro rosto –
tanto do mundo quanto de nossa
própria percepção. Nos esquecemos de
quem somos. É esse “Eu” socialmente
construído com base em nossas
experiências com o mundo que deve
apodrecer para que nossa natureza
sagrada que aguarda em nosso íntimo
possa de fato germinar.
O caminho iniciático é um chamado
para contemplarmos nossa própria
essência divina, mas para que
possamos estarmos verdadeiramente
vestidos de céu, devemos primeiro nos
despir da ficção da personalidade, que
está estruturada ao redor de nosso
nome civil. Por isso, em tantas tradições
místicas ao redor do mundo o Iniciado
recebe um novo nome - essa é uma
maneira de criar um distanciamento
entre sua consciência e a ficção social
da personalidade que, colada em nosso
rosto, oculta nossa verdadeira face, o
infinito.
Enquanto permanecemos identificados
a essa máscara da personalidade, a
experiência de descolamento do Eu
será experimentada por nós como uma
morte e aniquilação, pois ainda somos
ignorantes de que por baixo dela há um
rosto esperando para ser visto - a face
dos Deuses. Isso quer dizer que
seremos resistentes, e essa experiência
será temida. Como toda máscara, ela
tem dois lados. Um deles mostramos
para o mundo, é nossa “personalidade
social”. O outro é uma camada mais
interna, vista apenas por nós: nossa
própria autopercepção, nossos
pensamentos e sentimentos, aquilo que
verdadeiramente acreditamos ser.
16| THE CRAFT
Quando Bruxos ingressam em seus
Círculos usando um nome mágico,
estão fazendo um esforço para descolar
essa máscara ilusória de seus rostos, de
modo que possam participar dos
dramas divinos que acontecerão ali,
ocultos do olhar curioso e profano do
mundo. A noite escura da alma e as
crises do caminho espiritual são,
portanto, uma etapa dolorosa, porém
necessária, de nossa busca pelo
sagrado que se revela não apenas na
natureza das plantas, mas também na
natureza de nosso próprio ser.
E engana-se quem acredita que ela
acontece apenas uma vez, ou mesmo
que deixa de acontecer ao longo da vida
– como somos também seres sociais,
precisamos de um rosto que nos diga
quem somos no mundo. Na verdade,
retirar a máscara é apenas metade do
caminho. Enquanto seres que vivem em
um mundo físico, é impossível
permanecer sem ela. O que fazemos,
então, é moldar, dobrar, girar - talhar
uma nova máscara, mais verdadeira e
parecida com a visão interior sobre
nossa própria natureza íntima. Não
importa quão maravilhoso seja o verão;
ele terminará, e o inverno será
necessário para permitir uma nova
primavera.
As noites escuras da alma só cessam se
deixarmos de viver nossa religião como
um caminho genuinamente espiritual e
íntimo para experimentá-la como um
mero passatempo, o que vai reforçar as
cascas que encobrem e ocultam a
verdadeira natureza de nossa alma ao
invés de nos auxiliar a enxergar além
delas. É aqui que muitas pessoas
abandonarão o caminho espiritual e
desistirão, ou optarão por permanecer
na sua superfície, longe da escuridão do
 interior da terra e de seus processos de
apodrecimento morte e transformação.
A única maneira de se evitar os invernos
da alma é deixando de girar a Roda do
Ano; a prática dos nossos Sabbats é
uma das ferramentas que impede que
isso aconteça. Se cada noite escura da
alma é parte do processo de
transformação espiritual, ela deve ser
acolhida, e não negada.
Mas, apesar de não cessarem, as noites
escuras podem se tornar mais
familiares para nós. Aprendemos a
conviver com elas, entendemos os seus
processos. Com o passar das Rodas do
Ano, nos tornamos “sementes mais
experientes”, e podemos nos desapegar
mais rapidamente de nossas cascas,
permitindo que assim a Roda gire e os
momentos luminosos possam retornar.
Na noite escura, regressamos ao útero
sombrio da Deusa e aguardamos para
um novo nascimento; e mesmo que
17| THE CRAFT
sejamos incapazes de ali contemplar
sua face, nos entregamos ao seu
abraço, como faz o Louco ao seguir seu
chamado. Todo místico é um Louco;
todo Bruxo deve aprender a entregar-se
em amor e confiança irrestritos à dança
de luz e sombras da Grande Mãe.
FLÁVIO LOPES
Flávio Lopes é psicólogo de
abordagem junguiana. Autor do livro
Bruxaria Solitária, é iniciado na Wicca
Gardneriana e Sacerdote do Coven
Speculum Lunae. Também é ordenado
na Fellowship of Isis, onde
periodicamente recebe novos alunos
para treinamento e ordenação em seu
Centro de Estudos, o Iseum e Lyceum
Panagia. Facilita rituais públicos,
palestras, workshops, cursos e outras
atividades relacionadas há Arte há
mais de dez anos.
@conversadebruxo
conversadebruxo.com.br
 COMEMORANDO
IMBOLC:
ATIVIDADES
COM AS
CRIANÇAS E
FAMÍLIA
CAROL LUANIN

Quando pensamos em uma família o festival de Brigit e do leite, que nutre e

pagã, mais do que transmitir nossas
práticas aos nossos filhos, devemos
pensar em transmitir nossos valores e
para o paganismo como um todo a
conexão com a Terra, acompanhar seus
ciclos, compreender suas mudanças é
algo muito importante. Compreender
que somos parte de um todo e que não
temos qualquer domínio sobre todas as
coisas, isso nos faz ser pessoas mais
conscientes e eco centradas, nos faz um
com o Todo e não meramente alguém
que simplesmente usufrui do que a
terra pode nos oferecer.
Imbolc é celebrado no meio do solstício
de inverno com o equinócio de
primavera e embora aqui no Brasil não
tenhamos a neve, o início do degelo, os
dias frios começam a ter menos vigor,
em algumas regiões a estiagem começa
a anunciar o seu fim, trazendo a
promessa das águas que farão a
natureza germinar. Imbolc é tempo de
esperança, de renovação da vida, de
nutrir aqueles que amamos, pois este é
alimenta a nova vida que surge.
Pensando neste cenário e em todo o
simbolismo que envolve Brigit, imaginei
algumas atividades que possam fazer
com os seus filhos e assim começar a
fazê-los observar os ciclos da natureza e
dentro de nós mesmos, lembrando-os
de agradecer sempre por todas as
dádivas que recebemos dos Deuses.
VASSOURA DE BRUXA
Imbolc é tempo de purificação, de
abrirmos espaço para o novo e assim
devemos tanto jogar fora ou doar as
coisas que não mais nos servem, que
estão sem uso e limpar a casa física e
energeticamente. A ideia é sentar-se
com seus filhos e separar as roupas que
não servem mais, os brinquedos que
agora estão jogados no fundo do
armário, estimulá-los a limpar seus
quartos e até podemos propor prêmios
para aqueles que fizerem o melhor
trabalho, explicando a importância de

18| THE CRAFT

 abrirmos espaço para “novas coisas e
oportunidades”, pois a vida é um rio
que flui e se como um castor, criarmos
uma represa neste rio, acumulando
uma porção de coisas, novas coisas
nunca chegarão até nós. Através desta
brincadeira, também ensinamos a
importância dos ciclos e do desapego,
que cada coisa cumpre o seu papel em
nossa jornada.
Após a limpeza física da casa está na
hora de fazermos com eles uma
vassoura mágica, que afastará os
sentimentos ruins, as coisas que não
queremos mais nas nossas vidas e para
tal podemos conversar com eles sobre
os sonhos ruins, sobre os momentos
que eles querem deixar para trás e
então fazer uma vassoura mágica que
mandará tudo isso embora. Do que
vamos precisar?
19| THE CRAFT
- Um graveto de árvore de 30 a 40 cm;
- Um barbante, ou fitas coloridas para
amarrar as ervas;
- Um maço de ervas a sua escolha, ou
folhas de salgueiro, ou até mesmo
misturar as ervas a sua escolha. Como
sugestão podem usar alecrim, lavanda,
salgueiro, eucalipto, aroeira.
Se quiserem pintar o cabo da vassoura,
fazer desenhos que simbolizem esta
renovação de energia, pendurar
símbolos da primavera que se anuncia,
o limite aqui é sua própria criatividade e
dos “pequenos”.
A ideia é unir as ervas em um maço ao
redor do graveto e amarrar com o
barbante e fitas, de maneira a ficar bem
firme e está pronto para ser utilizado.
As ervas podem ser frescas e com o
tempo elas secarão naturalmente, isso
inclusive facilita na hora de amarrar
com o barbante.
Para a limpeza energética de nossas
casas, podemos entoar cânticos de
limpeza e purificação, ou apenas
imaginar que estas energias se
desfazem a medida que passamos pela
casa varrendo o “ar”. É importante
lembrar que vassouras para limpeza
energética não devem tocar o chão, elas
limpam o ambiente sem necessidade
de tocá-lo fisicamente.
Vocês podem andar pela casa no
sentido anti-horário, rindo, brincando e
imaginando que toda energia ruim está
indo embora enquanto a vassoura
dança no ar.
 VELA DE GELO
Agora que a casa está limpa e que
todas as energias negativas foram
banidas, é tempo de abrir-se para o
novo, de trazer as energias de Brigit
para dentro de nossa casa. Brigit é uma
Deusa do fogo, da cura, da inspiração,
da sabedoria, dos nascimentos e para
representarmos sua chama que aquece
e traz de volta a esperança, aquecendo
não só os lares, mas também os
corações. Você irá precisar de:
2. Coloque pedras, ou alguma coisa
que mantenha submerso o segundo
pote e então coloque o pote menor
dentro do maior. Para se assegurar que
a medida que a água congela o segundo
pote não vá subindo, coloque algum
peso sobre o segundo pote como
mostra abaixo.

- Dois potes circulares, um maior e um

menor, de forma que o primeiro caiba
perfeitamente dentro do segundo;
- Ervas para enfeitar a vela de gelo
3. Adicione ervas da sua preferência
(podem ser as mesmas da vassoura);
para trazer o frescor da natureza que
- Uma vela pequena, daquelas de
desperta e para dar um visual ainda
rechault;
mais especial a sua vela.
- Pedras ou outras coisas pesadas,
para manter um pote dentro do outro
quando inserir a água no pote maior;
- Água;

Instruções:
1. Encha o pote mais largo com água,
não precisa ser até o topo, porque
ainda iremos adicionar o outro pote e a
água expande quando congela.

4. Coloque no congelador e deixe

congelar. Para retirar o pote do meio,
coloque um pouco de água quente no
interior do pote e isso fará com que o
gelo ao redor do pote derreta e você
conseguirá retirar sem problemas. Para
depois retirar a vela de gelo de dentro
da embalagem maior, faça o mesmo
processo jogando um pouco de água
quente em volta da embalagem.

20| THE CRAFT

 Para fazer uma cruz de Brigit
tradicionalmente usamos hastes de
trigo, que devem ser colocadas de
molho no dia anterior ao da confecção,
de modo que as hastes fiquem flexíveis
e fáceis de serem manuseadas. Porém
se acharem que para seu filho será
difícil usar o trigo, podemos usar papeis
coloridos, desentupidores de cachimbo,
canudinhos, o que acharem mais
criativo e fácil para esta experiência com
seus filhos.
Agora vamos ao passo a passo.

Este tutorial para fazer a vela de gelo foi retirado 1. Pegue uma das hastes de trigo e
do site coloque-a em pé. Depois pegue outra
https://www.thewitchandwand.com/post/imbolc- haste e dobre-a no meio. Coloque a
ice-candle
primeira haste em volta da primeira
Depois da vela pronta, é só acender a
vela de rechault no interior da vela de
gelo e deixá-la queimar, trazendo este
visual especial e simbolizando o início
do degelo, a esperança que se renova a
medida que o sol ganha força
novamente.

CRUZ DE BRIGIT 2. Deixe a haste dobrada bem unida e

rode para cima como ilustrado abaixo.
A cruz de Brigit é um dos elementos Então pegue mais uma haste, dobre-a
tradicionais de Imbolc por ser um no meio e coloque envolvendo a
símbolo associado a Deusa. Nas casas segunda haste.
pode ser colocado em cima da lareira,
simbolizando a proteção de Brigit para
toda a família, assim como na porta de
entrada da casa, mas também pode ser
colocado sobre o fogão, ou até mesmo
em algum lugar da sua cozinha, pois
traz bênçãos de nutrição e abundância.

Se a criança desejar, podemos colocar

perto de suas camas como uma bênção
de Brigit para os sonhos e para que a
criança seja mantida em segurança,
sendo velada por Ela enquanto
descansa.

21| THE CRAFT

 3. Deixe as hastes unidas e mais uma
vez gire de forma que a terceira haste
fique para cima.
4. Pegue mais uma haste, dobre-a ao
meio e coloque-a sobre a terceira haste
e depois deixe as hastes bem unidas.
5. Novamente você irá girar, deixando
a quarta haste para cima e então irá
acrescentar mais uma haste como das
outras vezes.
6. A cada nova haste você irá girar
primeiro, colocando-a sobre a haste
anterior.
22| THE CRAFT
7. Feito isso, você terá algo semelhante
a última figura acima, então basta pegar
uma fita ou um barbante e amarrar as
pontas de forma que tudo fique firme.
Prontinho!
BONECA DE BRIGIT
A boneca de Brigit representa a própria
Deusa Brigit e ao trazermos sua energia
para nossas casas, trazemos junto suas
melhores bênçãos de proteção,
abundância, saúde, nutrição. O ideal é
que as bonecas sejam feitas com
materiais naturais, como palha de
milho, junco, trigo, mas para se adequar
a nossa rotina e disponibilidade, podem
ser feitas de papel, de tecido, assim
como outros itens que você tenha em
casa.
 É interessante trazermos para boneca
as cores ou símbolos ligados ao meio da
estação, representando este vigor que o
sol ganha a cada dia, trazendo em si a
promessa da primavera que se
aproxima. Assim como podemos usar
as cores, branco, verde, laranja, que são
cores sagradas à Brigit.
Reuni algumas imagens para que
possam usar de inspiração:

Depois de fazermos a boneca, podemos

criar uma cama para ela poder
descansar e ter morada em nosso lar, e
juntos podem fazer pedidos a Deusa
Brigit e acender velas em sua honra e
homenagem.
As sacerdotisas que cuidavam da
chama perpétua de Brigit cuidavam da
chama ao longo do dia, a cada dia uma
das sacerdotisas ficava responsável por
velar a chama e ao final de 19 dias,
acreditava-se que a própria Deusa
cuidaria da chama no 20º dia. Por este
motivo, todo dia 19 é um dia sagrado a
esta Deusa. Para trazer esta energia de
Brigit você e seus filhos podem acender
19 velas ao redor da cama de Brigit ou
em um pequeno altar feito para Ela e a
cada vela fazer um desejo para a família
ligado aos aspectos desta Deusa tão
terna.

ALTAR DE IMBOLC PARA FAMÍLIA

Para unirmos todos estes símbolos que

confeccionamos juntos e para que a
ideia da primavera que se aproxima
fique viva em nossos corações, é
interessante que criemos um espaço,
acessível as crianças, de forma que elas
possam colocar presentes, símbolos,

23| THE CRAFT

 brinquedos e o que mais desejarem
neste espaço.
O que podemos colocar então neste
nosso altar? Podemos colocar além da
nossa cruz de Brigit, nossa boneca em
sua caminha, a vela de gelo, as ovelhas
que são animais sagrados a Brigit, sinos
de vacas e as próprias vacas com seus
filhotes, pois trazem o simbolismo do
leite e da nutrição, uma pequena lareira
ou chama para permanecer acesa ao
longo de alguns dias.
As possibilidades são infinitas! O
importante aqui é que a criança possa
se conectar com a energia deste Sabat,
que possa conectar o que está
acontecendo na natureza e aquilo que
estamos celebrando, por isso como a
diversidade climática do nosso país é
imensa, pense na sua região, na sua
cidade, o que está acontecendo e traga
estes elementos para o seu altar
familiar.
24| THE CRAFT
Por exemplo, em alguns locais este é o
tempo da estiagem, então para trazer
as chuvas, vocês podem plantar juntos
uma erva e ir regando dia a dia até que
esta plante brote ou até que as chuvas
retornem. Se mora num lugar frio que
tem geadas, podem trazer esta ideia
dos dias frios que se vão e a primavera
que começa a desabrochar, se sua
cidade o clima em si não é muito típico,
como em São Paulo que brincamos que
temos todas as estações do ano em um
único dia, procure as plantas típicas
desta época do ano, os animais que
vivem perto de suas casas e seus ciclos,
o importante é trazer este vínculo com
os ciclos da vida, morte e renascimento
Podemos criar um calendário divertido,
onde vamos riscando os dias de inverno
que se vão e o retorno do sol que se
aproxima para nos presentear com sua
alegria.
CAROL LUANIN
Sacerdotisa Wiccaniana, Artesã e
Terapeuta Floral
@luanin / @dandelionofbrighid
 RECEITAS
MÁGICAS PARA
IMBOLC
AMANDA CELLI
ARROZ DOCE COM LARANJA PARA
DEUSA BRIGIT
Correspondências mágicas dos
principais ingredientes:
LEITE: Um dos símbolos do Sabbat de
Imbolc. Carrega o conceito do
renascimento, da renovação, da
iniciação e da dedicação. Uma antiga
tradição celta consistia em oferecer
para a Deusa Brigit o primeiro leite
produzido pelas ovelhas, que era
derramado sobre a terra, purificando e
preparando os campos para a nova vida
que viria. Pratos especiais também
25| THE CRAFT
eram feitos com o restante do leite em
homenagem à Deusa, para que o povo
recebesse as suas energias de nutrição.
CANELA E CRAVO DA ÍNDIA: Duas
especiarias consagradas ao Elemento
Fogo, outro símbolo de Imbolc e da
Deusa Brigit. A canela trabalha atração
dinamismo e vitalidade, sendo ótima
para impulsionar as novas iniciativas,
ações e projetos. O cravo-da-Índia
emana limpeza espiritual, proteção e
renovação, ajudando a eliminar
qualquer obstrução presente em nossa
vida.
LARANJA: Trabalha a energia da alegria,
vitalidade, boa sorte, fecundidade,
prosperidade e luz. Ela tem sido
utilizada ao longo dos séculos para
trazer a energia do sol para os rituais e
feitiços. Para os celtas, Brigit descia à
terra em sua forma de donzela como os
próprios raios do Sol.
 Ingredientes:
3 xícaras (chá) de leite
2 xícaras (chá) de água
1/2 lata de leite condensado
1 xícara (chá) de arroz
1/3 xícara (chá) de açúcar
Casca de 1 laranja cortada em tiras
finas
1 canela em pau
3 cravos-da-índia
1 pitada de sal
Observação: Veganos e alérgicos
podem substituir os ingredientes de
origem animal por vegetal (como leite
de coco ou leite condensado de soja).
Modo de Preparo:
Em uma panela média, adicione o leite
com a água, o açúcar e a pitada de sal e
mexa com sua colher de pau no sentido
horário (para atrair energias positivas e
fortalecer as intenções) até obter uma
mistura homogênea. Após, junte o
arroz, a casca da laranja, a canela e os
cravos. Leve ao fogo alto mexendo até
começar a ferver.
Neste ponto, abaixe o fogo e deixe
cozinhar por mais 20 minutos (lembre-
se de mexer de vez em quando no
sentido horário) até o os grãos de arroz
ficarem macios.
É importante perceber que a mistura
ainda estará com bastante líquido, mas
não se preocupe, pois os grãos de arroz
continuarão absorvendo o caldo
enquanto esfriam.
Depois, misture o leite condensado e
deixe cozinhar por mais 5 minutos para
a mistura reduzir e ficar no ponto
desejado. Ao final, transfira o arroz doce
para uma tigela e deixe amornar antes
de levar para a geladeira (ele ficará
ainda mais cremoso depois de esfriar).
26| THE CRAFT
Se desejar, pode retirar a canela em pau
e os cravos usados.
Está pronto! Use a sua criatividade na
hora de decorar (você pode polvilhar
canela em pó sobre ele fazendo
símbolos como o pentagrama ou a cruz
de Brigit) e agradeça a Deusa no
momento de saborear, sentindo a
energia de Imbolc em cada colherada
deste arroz doce encantado.
BOLO DE LEITE CREMOSO PARA
IMBOLC (AS CRIANÇAS IRÃO AMAR!)
Correspondências mágicas dos
principais ingredientes:
LEITE: Um dos símbolos do Sabbat de
Imbolc. Apesar de ainda ser inverno, o
frio se torna menos intenso e a toda a
vida parece despertar junto com a
Deusa diante do retorno da luz e da
promessa de dias mais quentes. Para os
celtas este período marca a época em
que as ovelhas e os animais começam
novamente o seu período de produção
de leite (lactação), fornecendo assim o
primeiro leite da estação, conhecido
como "Oilmec" ou "leite novo".
FARINHA DE TRIGO: Este é um
ingrediente que está entre os mundos.
O trigo foi ceifado, morreu para que a
farinha surgisse. Mas, a partir dela,
preparamos diversos alimentos que
 trazem vida e nutrição. Assim, a farinha
de trigo está conectada com os mundos
dos vivos e dos mortos, tornando-se um
ingrediente capaz de transmutar
energias em ambos os planos.
AÇÚCAR: Ele é utilizado para neutralizar
as energias após a transmutação feita
pela farinha de trigo além de trazer
harmonia e alegria.
Ingredientes da Massa:
2 xícaras (chá) de açúcar
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 xícara (chá) de leite em pó
4 ovos (claras e gemas separadas)
3 colheres (sopa) de margarina ou
manteiga amolecida
1 e 1/2 xícara (chá) de água quente
1 colher (sopa) de fermento em pó
químico
Ingredientes do Recheio e da
Cobertura:
1 lata de leite condensado
1 xícara (chá) de margarina
1 xícaras (chá) de leite em pó
1 caixas de creme de leite (200g)
Observação: Veganos e alérgicos
podem substituir os ingredientes de
origem animal por vegetal (como leite
de coco em pó, leite condensado de
soja, etc).
Modo de Preparo:
Coloque em uma tigela pequena as 4
claras dos ovos e leve para a batedeira.
Bata bem as claras em neve até atingir o
ponto ideal (quando formar picos
moles) e reserve.
27| THE CRAFT
Em seguida, separe uma tigela maior e
acrescente as 4 gemas, a manteiga e o
açúcar. Leve novamente a batedeira e
bata até formar um creme fofo.
Neste ponto, sem parar de bater a
mistura, adicione a farinha alternando
com o leite em pó e a água quente até a
massa ficar homogênea.
Desligue a batedeira e misture as claras
em neve e o fermento à massa com o
auxílio da sua colher de pau, fazendo
movimentos delicados.
Transfira para massa para uma fôrma
retangular de tamanho médio (já
untada e enfarinhada) e leve ao forno
pré-aquecido a 180°C. Asse por 30
minutos ou até dourar. O tempo pode
variar de acordo com o forno, então
faça o teste do palito para ter certeza de
que está no ponto.
Ao final, retire do forno e deixe esfriar.
Enquanto isso você irá preparar o
creme para recheio e a cobertura.
Na batedeira, bata o leite condensado
com a margarina e o leite em pó até
ficar homogêneo. Em seguida, misture o
creme de leite com sua colher de pau e
reserve.
Ao final, desenforme o bolo depois de
frio, corte ao meio e recheie com
metade do creme. Cubra com a outra
massa e cubra com o creme restante.
Está pronto! Use a sua criatividade na
hora de decorar. Você pode chamar as
crianças para polvilhar confeitos e fazer
símbolos mágicos enquanto juntos
agradecem a Deusa pelas bençãos.
 t Sal e Pimenta do reino (a gosto)
BATATAS RECHEADAS PARA IMBOLC
Correspondências mágicas dos
principais ingredientes:
BATATA: Consagrada ao Elemento
Terra traz a energia da proteção,
nutrição e compaixão. No final do
século XVI a batata chegou à Irlanda e
foi incorporada na lista dos pratos
típicos de Imbolc e posteriormente nas
celebrações de Santa Brígida (a versão
cristianizada da Deusa Brigit).
QUEIJOS: Carregam a energia do leite
em outro formato e sabor.
CEBOLA, ALHO, SAL E PIMENTA DO
REINO: Todos estes temperos trazem
limpeza energética e proteção.
Ingredientes:
4 batatas inglesas grandes
250g de proteína de soja (já hidratada e
pronta para uso) ou 250g de frango (já
cozido e desfiado)
1 tomate picado em cubos (sem o talo e
as sementes)
¼ xícara (chá) de alho picado em cubos
¼ xícara (chá) de cebola picada em
cubos
1 colher (sopa) de azeite de oliva
28| THE CRAFT
Queijo parmesão ou mussarela (a
gosto)
Cream Cheese ou Requeijão (a gosto)
Observação: Veganos e alérgicos
podem substituir os ingredientes de
origem animal por vegetal (como queijo
ou requeijão vegetal).
Modo de Preparo:
Lave bem as batatas tomando cuidado
para higienizar bem a casca pois ela não
será retirada, podendo ser consumida
junto quando o prato estiver finalizado.
Em seguida, com o auxílio de um garfo,
fure cada uma das batatas em diversos
pontos para criar pequenas “saídas de
ar” e leve para cozinha por cerca de 15
minutos no micro-ondas em potência
alta ou até que elas fiquem bem macias,
porém ainda firmes (não pode virar
purê).
Se você não quiser usar o micro-ondas
pode fazer no forno. Basta apenas
embrulhar cada uma das batatas em
papel alumínio, colocar todas sobre
uma assadeira e levar para assar por
cerca de 1 hora em forno à 220°C ou até
que fiquem no ponto certo.
Enquanto isso, em uma panela,
acrescente o azeite junto com o alho e a
cebola e refogue tudo até a cebola
reduzir e o alho dourar. Junte o tomate
picado, a proteína de soja (ou o frango
cozido e desfiado) e tempere com sal e
pimenta à gosto.
Continue cozinhando até que o tomate
fique macio. Após adicione o cream
cheese ou requeijão e misture bem
para ficar bem cremoso, desligue o fogo
e reserve.
Assim que as batatas estiverem prontas,
pegue uma batata por vez, e com
cuidado, apoie ela em um papel
 toalha para não se queimar e faça um
corte em cruz (visualizando a cruz de
Brigit e o poder da Deusa consagrando-
a).
Após, aperte as pontas para que ela
abra e remova um pouco da polpa da
batata para formar uma cavidade no
seu interior. Acrescente essa polpa ao
recheio e misture bem.
Em seguida, coloque a quantidade de
recheio desejada na cavidade, coloque
o queijo por cima e leve para aquecer
no forno ou no micro-ondas até que o
queijo derreta.
Está pronto! Compartilhe essa refeição
com as pessoas que ama e agradeça a
Deusa por sua proteção.

AMANDA CELLI
Amanda Celli é uma bruxa e bióloga
que honra a Deusa e encontra sua
presença sagrada em cada erva e
alimento. Ela é a criadora do
Tempero de Bruxa e tem a missão
de ensinar as pessoas a antiga arte
da bruxaria e da culinária mágica
através do uso das energias das
ervas e dos alimentos.
@temperodebruxa
temperodebruxa.com.br

29| THE CRAFT

 OSTARA: É
TEMPO DE
FLORESCER
MARIANA LEAL
E a Roda do Ano continua a girar, e
podemos sentir a aproximação de
Ostara, o Equinócio da Primavera.
A Primavera simboliza a renovação.
Renovação da terra, das plantas, das
flores, frutos e sementes. Tudo aquilo
que estava adormecido no Inverno,
começa a brotar e a paisagem passa a
ter novas cores. A Deusa assume sua
Face Donzela, e traz consigo o frescor
da luz, do despertar. Da alegria e da
suavidade. Um doce convite para
trazermos nossos sonhos ao mundo,
pois tal qual a natureza, florescemos
também. A Primavera nos ensina as
lições do amor, do equilíbrio, da beleza.
Nos traz o desejo de crescer, de
expandir, encontrando um caminho de
encantamento em cada momento, em
cada pequena coisa, para que a magia
cumpra seu papel em nossas vidas.
Permita neste momento, neste novo
ciclo, que sua consciência e sua energia
mude e flua, se entregue ao fluxo da
Deusa da Primavera e abrace essa carga
30| THE CRAFT
luminosa repleta de vitalidade. Não
tenha nenhuma dúvida: você está onde
deveria estar, e prestes a abrir-se e
florescer, para o que é, para o que
deseja ser.
Tome uma profunda respiração, pois a
partir deste momento, o Equinócio de
Primavera cumprirá seu papel, e te
oferecerá todas as cores da Natureza
para que pinte a sua vida como desejar.
Assim como as árvores nas florestas,
precisamos uns dos outros para nos
sustentar, nos nutrir e nos fortalecer em
comunidade, com galhos, folhas e flores
umas entrelaçadas às outras. A
verdadeira magia reside em perceber
que assim como a terra, a lua, o sol, o
tempo, nós também somos seres
cíclicos, e podemos aprender com cada
um deles. Permita-se desabrochar para
a vida, para as novas possibilidades,
mesmo que o entorno pareça cinzento,
as energias da Deusa estão em
movimento de renovação. Floresça por
dentro. Pinte sua alma com o colorido
 da primavera, e lembre-se que toda a O CHAMADO DA DEUSA
potência das flores também precisou se
nutrir na escuridão da terra para poder Vá
brotar. Não cabes mais nessa caixa
Onde não podes girar tua saia
E para se sintonizar com todas essas Não deverias chamar de casa
energias, que tal umas dicas mágicas? Se vá
·Enfeite sua casa com vasos de flores, Pois você já cresceu
Não significa que se esqueceu
quanto mais coloridos, melhor!
Mas é tempo de buscar o que é seu
E lá
·Acenda velas amarelas para inspiração No seu novo lar
e criatividade, rosa para amor e Só permita entrar
autoestima, e velas verdes para cura. Quem souber respeitar
Escreva na vela, do pavio para a base Siga a minha voz
qual o seu desejo, de acordo com a cor Você é tão feroz
escolhida, e acenda-a para a Deusa da Quanto a noite veloz
Primavera. Quente como dois sóis
Ouça o seu coração
·Prepare um banho com pétalas de
Segure a minha mão
rosas, camomila e lavanda, ervas ligadas
Sem medo da missão
à cura, à afetividade e à amorosidade. Que o nosso laço se fortaleça
Se for possível, prepare o ambiente com E você, floresça
um incenso de sua preferência, ponha Siga o chamado da sua Deusa
uma música relaxante e visualize, ao Espalhe toda essa beleza
tomar o banho com as ervas, uma E tenha a certeza
energia cristalina te envolvendo, Que essa é a sua natureza
curando e fortalecendo.
·Celebre a Natureza fazendo uma Um Feliz Equinócio de Primavera a
oferenda aos elementais, agradecendo tod@s!
pela beleza proporcionada pela Bênçãos Plenas
Primavera.
·Faça um jardim, plantando flores e MARIANA LEAL
Sacerdotisa Wiccaniana da Tradição Diânica
ervas, enfeite-o com cristais e dedique-o
Nemorensis, Guardiã de Círculos de Mulheres,
aos espíritos da Natureza. Guardiã da Terra e do Útero na Tradição
MunayKi. Idealizadora da Roda de Cura Brigit
E para nos prepararmos para a chegada Be Legis e do Coletivo Respeita as Bruxas da

da Primavera, deixo uma poesia para Quebrada.

celebrarmos esse lindo período da Roda @respeitaasbruxasdaquebrada

do Ano, escrita pela Poeta Drica Araújo:

DRICA ARAÚJO
Drica Araújo é Dedicada da Tradição Diânica
Nemorensis, professora, feminista, e poeta.
Integrante do Coletivo Respeita as Bruxas da
Quebrada, e co-organizadora do Sarau das
Imbuias.

@poetadricaraujo

31| THE CRAFT

 ARTIGOS
INTERNACIONAIS
POR DEANNE QUARRIE

32| THE CRAFT

 A PROMESSA DE
ANANKE
DEANNE QUARRIE
Recentemente, estudei a Deusa Ananke.
Ananke e seu consorte Khronos eram
energias primordiais emergidas do
caos, que produziram o Ovo do Mundo
e então se enrolaram ao seu redor,
fazendo-o explodir. Desse ovo, veio o
mundo e tudo o que ele contém.
Imagine o mundo sendo formado por
duas energias - a da Inevitabilidade ou
Necessidade e a do Tempo. Quão
simples, e ainda assim tão complexos.
A história de Ananke e Khronos é
extensa. Os antigos que se dedicaram a
ela não estavam tratando de coisas
simples. Ela trata da criação de um
Universo. E ainda, na teoria de “como
acima - tão abaixo”, podemos enxergar
Ananke e Khronos trabalhando em
nossas vidas o tempo todo.
Tempo e inevitabilidade - talvez tudo
possa ser dividido nesses dois
princípios. Com o tempo e a
inevitabilidade, nascemos,
envelhecemos e morremos. Uma vida é
vivida, talvez cheia de amor e de muitas
outras coisas.
33| THE CRAFT
Quando crianças, brincamos,
aprendemos e, eventualmente, nos
tornamos adultos. Nós nos casamos.
Temos filhos. Alguns se dedicam à
carreira, alguns optam por não se
tornarem pais, colocando suas energias
no trabalho e em outros tipos de
relacionamentos, e ainda assim criando,
mas não procriando. Além disso, é
possível que algumas dessas vidas
sigam um caminho mais sombrio para a
pobreza, a criminalidade, a inveja e a
ganância. É difícil saber ao nascer o
caminho que uma criança irá percorrer.
E, no entanto, é inevitável que, quando
uma criança nasce em uma vida que
contém uma pobreza sombria de
espírito, ela não prospere de maneiras
saudáveis na idade adulta.
Tempo e inevitabilidade - vamos usar o
tradicional Dia de Ação de Graças
americano como um exemplo. Muitas
famílias se reúnem, preparam peru e
outros pratos, e assistem futebol na TV.
Todos nós sabemos que nessa família
extensa existem muitas opiniões,
diversas de todas as formas possíveis.
 O potencial para as discussões está em
tudo, e às vezes elas acontecem.
Tudo isso está contido em uma única
coisa - amor. Amor que é cheio de
gratidão pelo Tempo que os reuniu
nesta vida e que se move em direção ao
inevitável.
Tempo e inevitabilidade - nossos dias
se transformando em noite, nossos
verões se transformando nos invernos.
Aqui estamos nós, agora enfrentando o
inverno. Nosso verão há muito acabou,
nosso inverno está começando, a
inevitabilidade do tempo traz
mudanças. Há esperança nisso, porque
não apenas o verão termina e o inverno
começa - o verão retorna. É inevitável!
Essa é a promessa de Ananke.
Enquanto podemos experimentar as
Trevas, a Luz retornará.
Ananke e Khronos eram os pais das
Moiras. “Moira” significa "parte" ou
"ação". Acreditava-se que as Moiras
atribuíam a cada pessoa seu “destino”
ou sua parte na vida. Essas três
senhoras do destino eram Klotho, que
significa Tecelã - aquela que tecia os fios
da vida; Lakhesis, que significa
Distribuidora (aquela que media o fio); e
Atropos, que significa "Aquela que Não
Pode ser Transformada", ou Aquela que
Cortava o Fio. Dizia-se que, no
nascimento de cada ser humano, elas
surgiam tecendo, medindo e cortando o
fio de sua vida. A vida era difícil
naqueles tempos, e os Deuses da
humanidade eram severos e inflexíveis.
A vida era severa e inflexível.
34| THE CRAFT
O Sabemos agora que a vida nos
permite escolher de que maneira
desejamos preenchê-la. Vivemos com o
Tempo. Essa é uma constante. E
convivemos com uma certa
inevitabilidade. Em tudo isso está a
escolha de como viveremos enquanto
estivermos vivos. Teremos dias de
alegria e dias de tristeza. Teremos
momentos para brincar e momentos
repletos de estresse, em que nos
perguntaremos qual é a razão de
continuarmos. Nesses dias de
escuridão, e até mesmo quando
enfrentamos a mudança das estações e
avançamos para o inverno, sabemos
que o verão voltará. O mesmo
acontecerá com a luz e o retorno do
amor. Essa é a promessa de Ananke.
Deanne Quarrie, também conhecida como Bendis,
é uma sacerdotisa da Deusa e autora de seis livros.
Ela é a fundadora da Apple Branch - A Dianic
Tradition e do Liminal Thealogical Seminary, onde
oferece estudos em cinco caminhos. Aqueles que
vêm para a Apple Branch podem se inscrever em
programas de Mestrado em Divindade no
Seminário. No momento, estamos criando os
programas de Doutorado em Ministério.
Em 2002 ela criou o Global Goddess; uma
organização mundial aberta a todas as mulheres
que reverenciam alguma forma do Sagrado
Feminino. Deanne é uma Sacerdotisa Hierofante
da Fellowship of Isis. Seu trabalho mais recente,
dedicado à Hekate, é a criação de uma prática em
grupo chamada de Hekate’s Tribe, aberta a todos
os gêneros. Ele está disponível em Austin, Texas, e
também online. Essa criação é a realização de um
ciclo, após Deanne dedicar seu trabalho a Hekate
em 1986.
L O J A O F I C I A L

D O M U S E U D E

B R U X A R I A

LOJA WICCA - OLD RELIGION

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até você!
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 DICAS DE LEITURA
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Sigilos são símbolos mágicos projetados para influenciar a
nós mesmos, as outras pessoas e o mundo ao nosso redor.
Rastreando essa prática através da história, arte e cultura,
este livro ilustrado oferece uma abordagem inovadora e
moderna para a prática da magia de sigilos de maneira
acessível e intuitiva. Você aprenderá como manifestar sua
vontade por meio de seus próprios designs e ainda vai poder
explorar os significados tradicionais e modernos das formas,
símbolos, números, letras e cores, enquanto aprende sobre
como adicionar significado pessoal a seus sigilos.

OS PORTAIS DA BRUXARIA - CHRISTOPHER

PENCZAK
Em Os Portais da Bruxaria você encontrará exercícios para o
desenvolvimento psíquico, meditações, danças e músicas
usadas em rituais, além de muitas outras maneiras de
praticar a magia. Isso acontece porque o objetivo da obra é
expandir o Caminho Óctuplo, apresentado por Gerald
Gardner, propondo um sistema mais abrangente, que traz
doze diferentes formas de fazer magia em seus rituais.

A ARTE DA INVOCAÇÃO - CLAUDINEY PRIETO

Com centenas de invocações e orações, indicado não
somente para Wiccanianos, mas também para Pagãos
contemporâneos de diferentes Tradições, este livro inclui
textos sagrados para serem utilizados no culto aos diversos
Deuses recitados nos Sabbats e Esbats e demais rituais da
vida. Reúne as formas de Invocação para diversas
Divindades e suas correspondências, fala sobre a ética no
momento do uso das energias e traz uma série de exercícios
para o treinamento dessa Arte.

36| THE CRAFT

 PERSONALIDADE
PAGÃ
EDDIE BUCZYNSKI
37| THE CRAFT
 CONHEÇA EDDIE
Durante a sua busca pelo Sagrado,
BUCZYNSKI Buczynski, que também era arqueólogo,
LEO FERNANDEZ encontrou pelo caminho, diversos
rastros de antigas crenças e religiões do
Edmund Buczynski, nosso querido passado, principalmente ligadas ao
“Eddie”, nascido em 28 de janeiro de Egito Antigo e a Grécia Clássica, fazendo
1947, filho de Edmund, um guerrilheiro com que despertasse nele de alguma
naval, e Marie Mauro, neta de forma a necessidade de reverenciar
imigrantes do Sul da Itália, é com aqueles Deuses a sua maneira, criando
certeza uma das figuras mais sua própria forma de culto particular,
importantes para o cenário da Bruxaria mas que ainda não era o suficiente para
no mundo, principalmente se você for que ele pudesse suprir as suas
um homem ou uma mulher LGBT. necessidades, fazendo com que ele
buscasse novamente a vida sacerdotal
Ainda hoje, celebramos o seu legado dentro de um colégio de padres. Ele
através dos rituais deixados para nossa parecia determinado em ter um papel
irmandade, cantamos suas canções em religioso importante, onde pudesse
honra à Grande Mãe e ao Seu Filho exercer a sua devoção, algo que lhe era
Divino, buscando a inspiração e o amor natural.
que o próprio Eddie manifestava pelos
Deuses, e procuramos em cada face
Dela o amor que ele tem inspirado, " [...]decidi que, para encontrar
mesmo depois te ter partido muito cumprimento em minhas
jovem para a Terra onde o Sol jamais se crenças religiosas, devo
deita. encontrar um culto pagão que
Nascido na cidade de Nova York, Eddie
sempre demonstrou um interesse
me acolha como eu sou - um
genuíno por exercer o sacerdócio de homem gay orgulhoso."
alguma forma, iniciando seus estudos
para se tornar padre, inspirado em seu
tio, o padre Michael, antes de abraçar a
sua homossexualidade, mas como
muitos na sua época, ele não se
encaixou nos “moldes” da igreja cristã,
tão conservadora e avessa ao seu
espírito livre e contestador. Por causa
de seus traços e do seu comportamento
considerados “afeminados”, Eddie foi
expulso depois de manifestar
abertamente as suas críticas contra a
instituição religiosa.

38| THE CRAFT

 Depois de viver algumas decepções
nesse caminho, que com certeza o
fizeram se questionar sobre a validade
do sacerdócio em sua vida, Eddie se
muda para Manhattan, onde começa a
conviver com as múltiplas formas da
diversidade dentro do movimento
hippie dos anos 70, principalmente com
ativistas dos direitos gays e alguns
ocultistas da época, que despertaram
nele algo diferente e importante para o
seu futuro na Arte. Porém, foi a leitura
de “A Bruxaria Hoje” de Gerald B.
Gardner, que o fez reacender o seu
interesse pela religião pagã da Deusa.
Eddie encontrou Leo Martello em seu
caminho, que além de praticante de
Bruxaria Italiana, também era um
ativista dos direitos homossexuais. Ele
foi a pessoa responsável por orientá-lo
no começo da sua vida dentro do
ocultismo, levando-o até Herman Slater,
com quem Eddie viria a se relacionar
afetivamente em pouco tempo.
39| THE CRAFT
Em junho de 1972, Buczynski se muda
com Slater para um apartamento no
Brooklyn, e nesse mesmo ano o casal
abre a The Warlock Shop, uma loja de
ocultismo e de suprimentos para as
práticas da Bruxaria.
Enquanto Eddie começava a ganhar
visibilidade dentro da comunidade
ocultista por ter em seu espaço
esotérico um local de encontro para
pessoas que queriam trocar
conhecimentos e praticar magia, ele
ainda não tinha recebido uma Iniciação
formal, mas não por falta de interesse.
Durante algum tempo, Eddie buscou
por diversos Covens de BTW (Bruxaria
Tradicional Britânica), mas por muitos
motivos, não foi aceito em vários deles,
principalmente por ser um homem gay.
Na época, as práticas da Bruxaria ainda
eram vistas com maus olhos, assim
como ser homossexual também era um
motivo de marginalização; logo, muitos
 grupos preferiam não trabalhar com
gays ou lésbicas para não
“prejudicarem” ainda mais a sua
imagem. Além disso, o trabalho dentro
de um Coven Tradicional sempre
envolveu a necessidade de interação
entre um homem e uma mulher,
fazendo com que alguns homens ou
mulheres não se sentissem à vontade
ao interagir como casal por se sentirem
atraídos afetivamente por pessoas do
mesmo sexo.
Nenhum pedido de Iniciação negado fez
com essa criança da Deusa desistisse de
voltar ao seu lar, e em pouco tempo,
Eddie teria encontrado Gwen
Thompson, matriarca dos Covens de
Bruxas Tradicionais da Nova Inglaterra
(NECTW), a quem ele não teria revelado
a sua verdadeira orientação sexual e
sido por ela iniciado, adotando aqui o
nome de “Hermes” na Arte. Em pouco
tempo, Eddie era o Alto Sacerdote do
Coven, e Gwen começou a persegui-lo,
confundindo a amizade que existia
entre eles, desejando-o não só como
parceiro mágico. Mas ele a rejeitou e
assumiu sua sexualidade, fazendo com
que fosse expulso do Coven North
Haven.
40| THE CRAFT
A saída deste último grupo fez com que
ele decidisse dar início a sua própria
Tradição, chamada de Bruxaria
Tradicional Galesa ou Tradição
Gwyddoniaid. Criando um mistério que
envolvia a sua própria Iniciação e a
forma como lhe foram transmitidos os
conhecimentos que ele dizia serem
secretos e reservados apenas aos
iniciados. Seus textos eram baseados
no conhecimento adquirido dentro do
Coven de Gwen e parte de materiais da
Tradição Gardneriana aos quais tinha
acesso. A partir daquele momento,
Eddie abriria as portas da Wicca
Iniciática e facilitaria a entrada de
pessoas antes negadas em outros
grupos.
Buczynski e Slater ainda buscavam por
uma Iniciação dentro da Tradição
Gardneriana, quando conheceram
Judith e Thomas Kneital, através do seu
trabalho na loja do casal. Esses eram os
novos responsáveis pelo controle dos
Covens Gardnerianos de Long Island,
em NY. Assumindo recentemente a
responsabilidade sobre os grupos
Gardnerianos, no lugar do casal recém
separado, Raymond e Rosemary
Buckland, Eddie e Herman viram nessa
amizade, uma possibilidade de
ingressar dentro da Wicca Tradicional
Britânica e acabaram unindo
socialmente os dois grupos.
Porém essa amizade não durou muito;
conforme o tempo passava, sua
Tradição Galesa começou a ganhar mais
membros, mas também perderam
alguns membros importantes para a
Tradição Gardneriana, atraídos para o
Coven dos Kneitals, que se rejeitavam a
iniciar Eddie e seu parceiro por
temerem que o conhecimento pudesse
ser mal utilizado.
 Patricia Siero foi a Alta Sacerdotisa
Gardneriana responsável pela iniciação
de Eddie e seu parceiro, que teria
transmitido num curto espaço de
tempo todos os graus da Tradição,
dando a eles a validade necessária para
que eles pudessem dirigir seus próprios
grupos. Mas as coisas pareciam não
fluir da melhor maneira na busca de
Eddie por uma Iniciação válida, porque
Patricia Siero teve a sua iniciação
reivindicada. Eddie já operava seu
Coven com uma Alta Sacerdotisa
quando tudo isso aconteceu, e Patricia
recebeu uma proposta dos Kneitals
para se juntar ao grupo deles e passar
novamente pela Iniciação, garantindo
assim a sua validade, mas negando a
Iniciação de Buczynski e Slater.

Mesmo com todos os desafios que

Eddie enfrentou no seu caminho,
desistir nunca foi uma opção e ele
sempre lutou e se manteve firme em
seu propósito, se mantendo ativo na
comunidade, falando sobre Wicca em
palestras e em entrevistas.

Depois de algum tempo procurando

uma validação para a sua Iniciação,
Eddie retoma as suas práticas dentro de
um pequeno grupo kemético, mas que
também teria dificuldades para lidar
com os seus questionamentos e
temperamento. Nessa época,
aproximadamente agosto de 1985, ele
renunciou o seu sacerdócio dentro do
grupo e retomou seu interesse pela
Wicca, passando a se comunicar com
uma Sacerdotisa iniciada de Buckland,
Sheila Saperton, com quem operou um
um grupo de trabalho mágico pouco
tempo depois, recebendo o seu vouch
dentro da comunidade Gardneriana.

41| THE CRAFT

 "Finalmente, cansado de todos os
problemas, voando de um Coven para
outro, junto com ameaças, maldições
de morte, calúnias etc., decidi que, para
encontrar cumprimento em minhas
crenças religiosas, devo encontrar um
culto pagão que me acolha como eu
sou - um homem gay orgulhoso.
Comecei a pesquisar religiões antigas
envolvendo a adoração da Deusa Mãe...
Tudo que eu precisava agora era
encontrar um lugar onde pudesse
funcionar aberta e livremente como a
maioria dos cultos pagãos da Deusa
Mãe da antiguidade eram abertamente
tolerantes com os homossexuais; a
maioria tinha um sacerdócio
homossexual. Mas nenhum parecia
muito certo. Continuei minha busca. Em
1973, descobri a resposta em uma ilha
no Mediterrâneo: Creta. "
- Eddie Buczynski, 1977.
Insatisfeito com todos os problemas
enfrentados durante o seu percurso,
Eddie encontra uma resposta ao seu
desejo mais profundo, uma Tradição de
Mistérios baseada no amor entre
homens, a Minoan Brotherhood.
Inaugurada oficialmente em 1 de
janeiro de 1977. A Irmandade Minóica
seria o resultado da sua busca por toda
a aceitação e a validação do seu ofício
mágico, especialmente pensada para
aqueles que reconhecem em si o
Sagrado, mesmo diante de toda a
opressão da época em que viviam.
Por mais que muitos grupos
permitissem a participação de gays e
bissexuais em seus Covens, eles eram
42| THE CRAFT
obrigados a trabalhar em uma estrutura
de ritual explicitamente heterossexual,
o que era inconcebível para Buczynski,
que encontrou em diversas sociedades
pré-cristãs na Europa e no Oriente
Médio um culto com sacerdócio
exclusivamente homossexual,
principalmente na civilização minóica da
Idade do Bronze, em Creta.
Fundada explicitamente como um
"culto de mistério / iniciação que
celebra eroticamente a vida por meio
do amor masculino", a tradição minóica
de Buczynski tomou os rituais da Wicca
Gardneriana como base, mas os
adaptou, com uma nova liturgia sendo
escrita por ele e inserida em um texto
ritual conhecido como o Livro dos
Mistérios. Ele adotou os oito festivais de
Sabbat Gardnerianos anuais, mas os
associou aos antigos festivais religiosos
do Mediterrâneo. Insistindo que,
embora seu coven contivesse apenas
homens, ele ainda deveria abraçar a
polaridade de gênero, ele estabeleceu a
Deusa das Serpentes de Creta, Rhea,
como a divindade primária da Tradição.
Acompanhando-a, a Tradição também
foi fundada para venerar seu filho, o
Deus Touro de Creta, sendo, portanto,
de natureza duoteísta, como a maioria
das outras Tradições de Bruxaria.
O Grove Knossos foi o primeiro Coven
da Irmandade formado por Eddie, o
primeiro de muitos outros que
começaram a se espalhar por diversos
lugares nos Estados Unidos da América,
Europa e Ásia, chegando finalmente no
Brasil, pelas mãos de Claudiney Prieto
(Minos Hecaterus), com o Grove
Temenos Tauropos. A Irmandade foi
 fundada como uma resposta à cultura
heterossexista da maioria das formas
de Bruxaria Tradicional prevalecente na
década de 1970, e ainda hoje é motivo
de atração para todos aqueles que de
alguma forma buscam sacralizar a sua
natureza sexual e principalmente, todas
as formas de amor!
Eddie faleceu em 16 de março de 1989,
aos 42 anos, deixando um legado vivo e
em constante crescimento, ganhando
adeptos e admiradores por todos os
cantos do mundo. O que é lembrado
vive, e ele vive dentro do coração de
cada um dos membros da irmandade e
de todos aqueles que cruzaram o seu
caminho e foram tocados por sua
beleza e devoção.
Que os Deuses preservem a Irmandade!

LEO FERNANDEZ
Léo Fernandez é Sacerdote da
Tradição Minoan Brotherhood,
também é Terapeuta Integrativo,
Massoterapeuta, Acupunturista e um
dos facilitadores de rituais públicos
no Santuário da Grande Mãe, em
São Paulo.
@llfernandezz
leoevfernandez@gmail.com

43| THE CRAFT

 CULTURA
PAGÃ

44| THE CRAFT

 A INICIAÇÃO E
SUAS
CARACTERÍSTICAS
DIEGO SANTOS
A Bruxaria é cercada por inúmeras
discussões interessantes e profundas.
Desde seu renascimento público
através das obras de Gerald Gardner
seus alicerces são debatidos entre
estudiosas(os), praticantes,
sacerdotes(isas) e pessoas curiosas
sobre temas místicos. No entanto
nenhum tema foi, e é, mais debatido do
que a Iniciação. O objetivo desse texto
não é estabelecer nenhuma verdade
absoluta, mas somente fomentar uma
discussão exploratória sobre as
diferentes possibilidades de Iniciações
cujas quais tenho encontrado nesses 20
anos de Paganismo.
Para que minha comunicação seja a
mais assertiva possível, precisamos nos
situar sob um mesmo olhar
epistemológico no que se refere à
Bruxaria. Desta forma, abordo esse
termo como algo mais amplo que a
Wicca de Gerald Gardner e seus
sucessores hereditários, onde me
encontro, e situo-a como uma religião e
não como filosofia de vida ou ofício,
como é possível para muitas pessoas.
45| THE CRAFT
Dentro deste escopo, separo a Bruxaria
da releitura de antigas religiões locais,
de bases reconstrucionistas e “puristas”,
e compreendo-a como um sistema
religioso que tem como finalidade a
harmonização do indivíduo com a
Natureza através de prática devocional,
culto aos deuses e deusas antigos e
rituais pontuais. Uma vez estabelecido
esse parâmetro tão essencial vamos
nos debruçar em compreender de
maneira ampla o significado de
“Iniciação”.
A etimologia da palavra nos leva ao
vocábulo latino “initiatio”, que conduz
ao entendimento de tudo aquilo que se
inicia; que marca a mudança de um
estado de consciência para outro; que
faz uma transição de momentos ou
fases. Nesse sentido é possível
compreender que iniciações estão
presentes em diversos lugares, tempos
e contextos, podendo ser algo
observável externamente ou não,
celebrado ou não, desejado ou não,
religioso ou não. Essa observação é
essencial para que possamos
 estabelecer de maneira prática que o
processo de se iniciar na Bruxaria é um
processo social, psíquico, físico e
anímico. De maneira geral ligamos a
iniciação a momentos que fazem uma
distinção clara entre fases da vida de
uma pessoa, normalmente
acompanhada pela admissão em um
novo nível social e pelo reconhecimento
de seus pares, que também devem ter
passado pela mesma marca. Mas a
iniciação pode ser também um evento
psíquico completamente interno e de
difícil, ou mesmo de impossível
comprovação objetiva, e esse talvez seja
o grande X da questão discutida na
Bruxaria.
Desde a chegada da Wicca na América
do Norte através do renomado
sacerdote e escritor Raymond Buckland,
a popularização da Bruxaria atingiu
níveis galopantes. A admissão na
religião, até então concebida somente
através do treinamento formal, dado de
sacerdote(isa) para aprendiz, passou a
encontrar paralelos onde o(a) aprendiz
poderia trilhar um caminho solitário e
atingir a “autoiniciação”. Não é preciso
dizer que os Wiccanianos
tradicionalistas encontraram grande
dificuldade para aceitar tal condição e
ainda hoje esse é um tema que gera
muita polêmica. Acontece que na Wicca,
diferente de quase a totalidade das
religiões modernas, todos os
praticantes admitidos de maneira oficial
são sacerdotes e sacerdotisas. Essa
particularidade torna a admissão na
Wicca muito mais formal do que um
simples dizer “a partir de agora sou
Wiccaniana(o)”.
46| THE CRAFT
"[...] um sistema religioso
que tem como finalidade
a harmonização do
indivíduo com a Natureza
através de prática
devocional, culto aos
deuses e deusas antigos e
rituais pontuais."
Não pretendo questionar a validade da
autoiniciação na Wicca, porque para
mim ela é inquestionavelmente
inexistente. Uma vez que a estrutura
inicial da religião supõe a existência de
uma Iniciação passada por iguais, a não
realização da mesma impede
categoricamente que um indivíduo
adentre a religião, ainda que sua
vontade seja grande. No entanto,
considero que a autoiniciação é possível
para aqueles(as) que desejam seguir
um caminho solitário e que, através de
muito estudo e árdua prática, atingiram
o que chamo de “Iniciação Vertical”.
Nas duas últimas décadas, a Bruxaria e
os mais diversos caminhos neopagãos
aproximaram-se intensamente das
áreas dos estudos das humanidades, e
em especial com os estudos e teorias da
Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.
Hoje, é muito comum que termos como
“Arquétipos”, “Sombra”, “Inconsciente
Coletivo”, “Anima e Animus” sejam
amplamente utilizados entre bruxas e
bruxos. Essa aproximação trouxe
muitos benefícios e muitos malefícios
para a religião, mas não trataremos
deles aqui. Vamos nos ater somente ao
processo de individuação, que Jung
descreve como sendo a ação subjetiva e
 objetiva que o indivíduo faz para
integrar os mais diferentes aspectos da
sua psique, caminhando para a
realização do Si-Mesmo (Self). Essa ação
exige uma série de confrontos,
harmonizações, aceitações, mortes e
ressignificações que farão com que o
indivíduo alcance um momento de
autopercepção onde ele se basta de
maneira geral.
A partir dessa autopercepção a pessoa
pode se reconhecer em diferentes
grupos e setores da sociedade e criar
vínculos saudáveis com os mesmos.
Essa ideia encontrou ressonância com
os processos de treinamento de muitas
Tradições neopagãs e acabou sendo
fagocitada por seus praticantes de tal
forma que hoje é difícil encontrar
alguma que não aborde, de um jeito ou
de outro, esse processo ou partes
estruturais dele. Acompanhando essa
ideia, a maioria dos grupos neopagãos
atuais compreende que a iniciação
necessariamente engloba parte do
processo de individuação da pessoa e
que, para que ela seja iniciada, é preciso
que alcance um nível de transformação
pessoal que endosse o título de
Iniciado(a).
47| THE CRAFT
Isso, porém, é muito controverso,
porque além de ser um processo
subjetivo de difícil mensuração externa,
existe também um treinamento técnico;
ensinamentos teóricos e
conhecimentos específicos que
precisam ser adquiridos para que um(a)
aprendiz seja considerada Iniciada(o)
em qualquer ordem mistérica e/ou
religiosa. Oras, nesse caso temos uma
visão dupla que nos faz crer que
existem dois processos acontecendo
em paralelo, mas que não são
necessariamente sincrônicos, ou seja, é
possível atingir essa transformação
pessoal antes ou depois de dominar o
treinamento técnico.
Em minha jornada espiritual tenho visto
inúmeras pessoas que atingiram o
conhecimento técnico, mas não
completaram seus ciclos de
transformação pessoal, pessoas que
são absolutamente capazes de exercer
as funções objetivas de uma sacerdotisa
ou sacerdote, mas que não ocupam o
espaço de líderes espirituais que
entendemos como uma das
características do sacerdócio. Essas
pessoas atingiram o que chamo de
“Iniciação Horizontal”, são reconhecidas
pelos seus pares como alguém que
domina a objetividade do que se espera
de um(a) iniciado(a) e por isso são
admitidas no corpo sacerdotal de seus
grupos. Em paralelo conheço pessoas
que mergulharam fundo em suas
Sombras e emergiram para a
consciência transformadas e
empoderadas delas mesmas. Pessoas
que se entregaram intensamente aos
processos de realização do Si-Mesmo e
que emanam um amadurecimento
espiritual incrível, mas que não detêm
 conhecimento técnico e
aprofundamento intelectual sobre o
caminho que seguem. São pessoas que
atingiram o que chamo de “Iniciação
Vertical”, foram reconhecidas e
transformadas pelas forças psíquicas,
mágicas e espirituais e que muitas vezes
se reconhecem entre elas por conta de
uma ressonância específica existente
nas mesmas.
Como iniciador e treinador de novas
sacerdotisas e sacerdotes considero
que é essencial que as duas Iniciações
aconteçam para que a admissão seja
feita, sendo ambas igualmente
importantes para o exercício pleno do
sacerdócio. Nessa percepção também
acredito que é possível que a
autoiniciação aconteça, não na Wicca,
mas em outras manifestações da
Bruxaria e do neopaganismo que não
entendam a linhagem como essencial,
porém ela é muito mais trabalhosa,
dificultada e exigente, pois só pode ser
alcançada por uma pessoa de vontade
férrea, disciplina intensa e
comprometimento profundo. A
Iniciação Horizontal, porém, não será
concedida a um autoiniciado em
nenhuma Tradição ou caminho sério
caso ele(a) não seja devidamente
treinado(a) dentro dos escopos da
mesma. Tradições mágicas e esotéricas
foram criadas e fundadas por todo o
mundo através de pessoas que foram
inspiradas pelos deuses, que se
colocaram disponíveis para passar por
transformações profundas e estruturais
e que, depois de muito tempo,
sistematizaram seus processos e os
tornaram acessíveis a outras pessoas.
48| THE CRAFT
Não vejo esses movimentos com maus
olhos, mas nos dias atuais encontramos
uma terrível vilã que põe em risco
muitas pessoas: a pressa. Iniciar-se não
pode ser algo apressado, corrido, que
aconteça em qualquer velocidade que
impeça que o indivíduo ouça os
chamados e ensinamentos de seu/sua
mestre(a), espiritual ou não. Na
realidade, a pressa está comumente
associada a pessoas que estão longe do
despertar espiritual e do chamado
sacerdotal, pessoas que buscam de
maneira egóica o reconhecimento e o
poder sem terem o devido mérito para
isso, pessoas que facilmente cairão na
sombra do sacerdócio e comumente
exercerão o papel de abusadores
espirituais. Fujam dessas pessoas.
"A paciência e a disciplina
são virtudes que precisam
ser cultivadas com afinco
para que seja possível
conduzir a pessoa comum
ao novo status de
Iniciado(a). E para além
de todo esforço e
angústia a recompensa é,
sem sombra de dúvida,
uma das mais valorosas
da vida."
Então, compreendendo que existem no
mínimo dois caminhos que se
entrecruzam durante o treinamento de
um(a) futuro(a) iniciado(a) é preciso que
tanto aprendiz quanto mestre fiquem
atentos para as diferentes necessidades
que eles trazem. Caminhos diferentes
podem ter ênfases diferentes para
essas Iniciações distintas e é possível (e
 bastante comum) que a entrada no
mundo sacerdotal seja somente a
primeira de muitas transformações
pessoais que virão. De maneira geral, a
Bruxaria é uma religião que preconiza o
enfrentamento dos nossos conteúdos
internos sombrios e que tem apreço
por esses processos. Adentrar um
caminho espiritual pautado na abertura
a essas transformações é sempre
desafiador e pode ser acompanhado de
fases de angústia intensa, elas são
comuns e na maioria das vezes
benéficas. A paciência e a disciplina são
virtudes que precisam ser cultivadas
com afinco para que seja possível
conduzir a pessoa comum ao novo
status de Iniciado(a). E para além de
todo esforço e angústia a recompensa
é, sem sombra de dúvida, uma das mais
valorosas da vida; tornar-se mestre de si
mesma(o) e tomar nas próprias mãos
as rédeas da nossa vida.

DIEGO SANTOS
Diego Santos é Terapeuta Junguiano
e Integrativo. Está no Paganismo há
20 anos e atualmente oferece
treinamentos na Tradição Diânica
Nemorenais e na Tradição Família
da Terra (a qual é fundador). Tem
como paixão o estudo dos 4
elementos e da Herbologia.
@gaiasaudeintegral

49| THE CRAFT

 HEKATE, A
SENHORA DA LUZ
FRANCINE DERSCHNER
Iniciar o nosso contato com deuses
antigos, até então desconhecidos para
muitos de nós, é um dos aspectos mais
gratificantes e apaixonantes que os
diversos caminhos e tradições que o
paganismo nos apresenta. Mas,
trabalhar com deidades tão antigas,
especialmente aquelas cujo culto não
sobreviveu até os nossos dias, nos traz
também um grande desafio, como
saber quem realmente eram essas
deidades, como elas eram
compreendidas por aquelas pessoas,
seus primeiros devotos?
Considero pessoalmente que cultuar
uma deidade sobre as quais não
sabemos quase nada, das quais quase
não temos informações além de um
nome e alguns artefatos arqueológicos,
é um desafio tão grande quanto cultuar
divindades extremamente populares,
sobre as quais existem tantas
informações disponíveis espalhadas
pela internet que pode parecer
impossível saber no que acreditar.
Hekate é uma Deusa que se tornou
50| THE CRAFT
extremamente popular no cenário
pagão nos últimos anos, de fato creio
que a maior parte dos envolvidos em
qualquer tipo de prática mágica já
tenham ouvido falar em seu nome,
quase sempre citada como a Deusa das
Bruxas, as menções ao nome dela vêm
geralmente acompanhadas de alertas e
ressalvas quanto aos perigos do contato
com a divindade.
Isso acontece em partes porque Hekate
é muito conhecida entre os pagãos
modernos como uma Deusa sombria,
ou até mesmo como uma
representação da face de “Anciã” da
Deusa Tríplice, uma típica “Deusa
Negra”. No entanto, um mergulho na
História da Deusa Hekate nos traz uma
imagem bastante diferente, de uma
Deusa luminosa e benevolente. Como
devota de Hekate há mais de 10 anos,
posso afirmar que em minha conexão
com a Deusa ela sempre se apresentou
como a luz na escuridão, e foi
reconfortante descobrir a partir da
pesquisa histórica que eu não era a
única, pelo contrário; há mais de dois
mil anos, havia devotos cultuando a
 Deusa com esse mesmo aspecto
luminoso.
No ano de 340 AEC, o rei Philip II da
Macedônia, pai de Alexandre o Grande,
tentou invadir a cidade de Bizâncio,
também conhecida como
Constantinopla e Istambul nos dias
atuais. Philip planejava tomar a cidade
de surpresa com um ataque noturno
enquanto seus habitantes estariam
dormindo indefesos, quando a Deusa
Hekate em seu epíteto de Phosphoros
se manifestou, enviando “nuvens de
fogo” que iluminaram o céu noturno e
todos os cães da cidade começaram a
latir, alertando os moradores da
presença dos inimigos e salvando a
cidade. Desde então, Phosphoros
passou a ser adorada no local.
Outro exemplo histórico deste papel de
Hekate ligada a luz e a proteção pode
ser encontrado na fuga de Trasíbulo,
um dos generais atenienses que lutou
pelo regime democrático ateniense
contra o grupo oligárquico conhecido
como dos “trinta tiranos” que havia
tomado o poder na cidade através de
um golpe de Estado em 403 AEC. Por
sua defesa do regime democrático
Trasíbulo foi exilado, e após conseguir o
apoio militar que necessitava em Tebas,
ele precisava retornar à cidade, e para
isso ele pediu ajuda a Phosphoros, que
se manifestou na forma de uma coluna
de fogo que iluminou e guiou o
caminho de Trasíbulo e seus homens
até o porto de Muniquia em Atenas.
Também podemos ver essa associação
de Hekate com a luz em um de seus
símbolos mais conhecidos, as tochas.
Como portadora das tochas, Hekate
51| THE CRAFT
guia e protege contra os perigos da
noite e permite que possamos enxergar
com clareza nosso caminho e agir com
sabedoria.
Hekate conduz Perséfone em sua
jornada anual ao submundo e ajuda
Deméter a encontrar sua filha perdida,
suas tochas muitas vezes são
representadas guiando os candidatos à
iniciação nos ritos de mistérios, como
em Elêusis. Suas tochas também se
tornam armas poderosas em batalha: a
Deusa é representada combatendo titãs
e o gigante Klytios com suas tochas. A
ligação de Hekate com a luz também
está presente na assimilação da Deusa
com outras deidades lunares, como
Ártemis e Selene, que a tornaram
também uma deusa da Lua, ou com as
estrelas através de sua mãe Asteria.
Não estou com esse artigo querendo
impor minha visão pessoal ou afirmar
que Hekate não é uma Deusa Negra -
ela pode ser, se isso fizer sentido para
você em suas práticas devocionais com
a Deusa. Apenas quero ressaltar que ela
é mais do que apenas essa Deusa
Escura. Hekate tem o poder de proteger
e acolher aqueles que pedem por sua
ajuda em momentos de dificuldade e
como a luz na escuridão, ela nos guia
até superarmos nossos obstáculos
pessoais.
 Para elaboração deste texto, utilizei FRANCINE DERSCHNER

principalmente os livros “Hekate Liminal Francine Derschner é graduada em

Rites” e “Circle for Hekate”, da autora História pela Universidade de São
Sorita d’Este, recomendo que você leitor Paulo, Keybearer e Torchbearer do
não tome apenas as minhas palavras Covenant of Hekate, sacerdotisa e
como verdade, e incentivo que procure devota de Hekate desde 2011.
conhecer as obras citadas e tire suas @franderschner
próprias conclusões.
Caso você queira aprofundar um pouco
mais sua conexão com Hekate em seu
aspecto luminoso, deixo aqui alguns
epítetos da Deusa que podem ser úteis:

Dadophoros: “Portadora da
Tocha"
Hieros Pyr: “Fogo Sagrado”
Lampadephoros: “Portadora da
Lâmpada”
Lampadios: “Portadora da Tocha"
Phos: “Luz Sagrada”, também
ligado a Lua
Phosphoros: “Portadora da Luz”
Photoplex: “A que ataca com a luz”
Pyrphoros: “Portadora do Fogo”

52| THE CRAFT

 A VELHA: MULHER
DE IDADE,
SABEDORIA E
PODER
LUCIENE LIMA
"Após tantos séculos inseridos em uma
cultura patriarcal, voltar o olhar para
Deusa é um movimento que apresenta
seus desafios, principalmente sob a
forma da “Velha sábia, implacável e
voraz como a loba”. Esse é o convite que
Barbara G. Walker faz em seu livro A
Velha – Mulher de idade, sabedoria e
poder, uma reflexão com base em fatos
históricos e análise social sobre o
impacto que as religiões patriarcais
ainda exercem em nossos costumes
contemporâneos, de forma tão
enraizada que muitas vezes sequer
percebemos. A autora também traz em
sua obra questões político-sociais de
gênero de forma sólida e objetiva.
O livro foi originalmente publicado em
1985 pela Harper San Francisco e é
possível encontrar sua tradução pela A
Senhora Editora. Uma dica importante
para quem for lê-lo é localizá-lo dentro
do contexto histórico e cultural em que
a autora estava inserida, pois o primeiro
capítulo pode causar algumas
estranhezas se pensarmos na realidade
brasileira das últimas décadas.
53| THE CRAFT
Desde o primeiro capítulo, a autora
relaciona comparativamente questões
básicas segundo a visão das religiões
patriarcais e os cultos que vieram antes
delas, como foram incorporadas,
distorcidas e negadas e assim, como a
Virgem e a Mãe foram incorporadas aos
seus dogmas, mas não havia lugar para
a Velha. Assimilaram ao cristianismo as
fases de Virgem e de Mãe da Deusa
antiga, combinaram-nas e privaram
essa combinação de seu caráter
sagrado; mas a fase da Velha era muito
sombriamente ameaçadora para ser
tratada dessa forma.
E tudo começa com a criação: como
convencer as pessoas de que elas
foram criadas por uma força masculina
não feminina, sendo que desde
períodos pré-históricos a humanidade
compreende que a vida é gerada pelo
feminino? A partir desta questão, a
autora apresenta ações que a religião
cristã articulou e seus desdobramentos,
como oratórias, dogmas e, claro,
violência. Assim, por um lado
conseguiriam satisfazer os homens
dando-lhes o que queriam: riquezas e
 formas “abençoadas” de executar suas
vontades de poder, isto é, violência e
sexo e, ao por outro, dominá-los com
um Deus temível. Esse Deus e todos os
outros deuses violentos criados pelos
homens demonstram que o poder do
amor não controla o desejo desses
mesmos homens de destruir sua
própria espécie, parece que a única
emoção que os controla efetivamente é
o medo. (...) Os homens controlam
outros homens pelo medo. A
capacidade de intimidar é sua definição
de poder. Alguns chegam controlar sua
própria família aterrorizando suas
mulheres e filhos.
"Certamente precisamos
ser despertados e lembrar
o que a Velha
representava antes de
cair vítima de
preconceitos patriarcais."
E para controlar as mulheres, o
movimento realizado foi no sentido de
desacreditá-las de todo seu
conhecimento, sabedoria e inteligência,
tornando-as seres frágeis e reduzindo
sua importância apenas para questões
do lar e reprodutoras. Essa empreitada
foi tão bem-sucedida que até hoje, em
pleno século XXI, muitas mulheres, de
fato, ainda estão nessa função.
Sociedade patriarcais posteriores
tenderam a depreciar a inteligência das
mulheres chamando-as de instintivas,
inconsistentes, supremamente
irracionais.
A mulher mais velha, em diferentes
culturas antigas, era responsável por
54| THE CRAFT
importantes papéis na sociedade, era
ela a detentora dos conhecimentos
religiosos, históricos, morais, o elo entre
o sagrado e o dia-a-dia, a sabedoria em
pessoa. Era ela também a lembrança
perene da morte, da roda que gira.
Com a tecnologia dos dias atuais, o
processo natural de envelhecimento
continua não sendo aceito pela
sociedade, para além das mudanças
físicas, os âmbitos profissional, familiar
e amoroso são afetados de forma muito
distintas do que para os homens da
mesma faixa etária. A lei não assassina
mais as bruxas, mas a sociedade
moderna de certa forma elimina as
mulheres velhas. Elas se tornam
invisíveis, raramente aparecem
naqueles espelhos míticos de nossa
cultura, a tela do cinema ou da
televisão. Os homens velhos ou de
meia-idade podem ser vistos nas telas,
em boa quantidade, mas raramente
formam pares com mulheres de sua
idade. Suas relações amorosas
costumam ser com jovens atrizes de
vinte ou trinta anos.
Ao longo do livro, a autora aborda
diferentes aspectos e símbolos
relacionados à velhice da mulher. E de
forma simples, explica como a mulher
velha tornou-se a temível bruxa que
precisava ser aniquilada. Foram as
idosas, viúvas, pobres, independentes e,
de certo modo, despreocupadas com a
aceitação da sociedade – já que já
tinham vivido para cumprir seu papel
social de mãe e esposa – as mulheres
mais perseguidas na inquisição. Em
geral, as verdadeiras culpas dessas
mulheres eram: 1) viverem, ou
tentarem viver, independentes do
controle masculino; e 2) serem pobres.
 Em outro trecho: A obsessão de caça às
bruxas deu aos homens uma desculpa
para suas próprias culpas e pecados. Ela
era conveniente para que se livrassem
de mulheres pobres, solitárias ou
estéreis, de esposas briguentas, de
filhas rebeldes, de vizinhas rabugentas.
Deu dinheiro às igrejas. Permitiu a
homens sexualmente esfomeados
sublimar suas repressões sob a forma
de sadismo. Os assassinos de feiticeiras
eram igualmente sádicos. Não havia um
ponto em que parassem
voluntariamente de torturar. Os
arquivos mostram que a agonia poderia
durar dias, semanas ou meses, muito
tempo depois de as vítimas estarem
completamente demolidas,
desesperadas para confessar e
implorando para que lhes falassem o
que dizer para poderem dizer .
E as Deusas nisso tudo? Bom, sabemos
que todos os escritos que temos hoje é
aquilo que sobreviveu na História,
sendo traduzidos e adaptados
conforme o período, recebendo
influências de seus tradutores, homens,
em sua maior parte do clero. Assim,
muitos mitos foram modificados ao
longo dos séculos e, por isso, podemos
encontrar diferentes versões com os
mesmos personagens. A autora traz
algumas divindades de diferentes
culturas que estão relacionadas não
necessariamente com a Velha, mas sim
com o que ela representa, por exemplo,
a Justiça em Maat, a criação e destruição
em Kali e Cailleach, além de mitos
judaicos (pré-cristãos).
Resumindo, o livro consiste em cerca de
160 páginas de conhecimento
55| THE CRAFT
agregador sobre conceitos históricos,
religiosos e político-sociais que
dialogam diretamente com o momento
em estamos vivendo.
Recentemente me disseram que
bruxaria é per si transgressora, por isso,
concluo este breve artigo, com o trecho:
O mais temido poder das mulheres
sobre os homens é, portanto, o de dizer
não. De se recusarem a cuidar dos
homens. De se recusarem a servi-los
sexualmente. De se recusarem a
comprar seus produtos. De se
recusarem a cultuar seu Deus. De se
recusarem a amá-los. Todo estuprador
sabe que o sexo pode ser imposto, mas
nenhum poder do mundo pode
arrancar o amor de qualquer mulher
que não o queira dar.
Boa leitura!
LUCIENE LIMA
Luciene é uma Wiccaniana da cidade
de São Paulo e Adepta ordenada da
Fellowship of Isis no Iseum Panagia.
É graduada em Química pela
Universidade de São Paulo e mãe de
gatos.
@luciene.luh.lima
 MUSEU
ENTREVISTA
LULU SAILLE
(HELOÍSA HELENA)

56| THE CRAFT

 PAPO COM
LULU SAILLE
(HELOÍSA HELENA)
FLÁVIO LOPES
Enquanto nos preparamos para o Imbolc
aqui no hemisfério sul, os Bruxos que
vivem no hemisfério norte estão em
clima de Lammas, a celebração da
primeira colheita que assinala a
transição entre verão e outono. Nessa
ponte entre hemisférios, marcada pelas
festas do leite e do pão, conversamos
com Lulu Saille (Heloísa Helena), uma
bruxa brasileira que vive há muitos anos
na Alemanha.
Lulu é uma Elder da Tradição Diânica
Nemorensis e sacerdotisa da Tradição
Gardneriana. Ao longo de sua longa
trajetória, Lulu não apenas viu de perto a
história e o florescimento da
comunidade wiccaniana no Brasil, como
manteve contato direto com diversos
outros núcleos pagãos ao redor do
mundo, e compartilhou conosco um
pouco de sua experiência deste e do
outro lado do globo.
57| THE CRAFT
Como era o cenário pagão
brasileiro nos seus primeiros anos?
Era muito diferente de hoje em dia! Tudo
era muito novo e as informações eram
muito escassas. Ainda não se falava em
Tradições; somente o fato de se encontrar
alguém que sabia ou já tinha ouvido falar
em Wicca, Bruxaria ou paganismo já era
motivo para uma alegria imensa. Além de
existirem pouquíssimos livros sobre
Bruxaria em português naquela época,
era muito difícil encontrar livros em inglês,
já que a internet ainda estava apenas no
começo, então tínhamos que batalhar
muito por quaisquer informações. Não só
tínhamos que importar os livros que
queríamos ler e esperar uma eternidade
por eles, como acabamos, inclusive,
aprendendo inglês desta maneira.
Havia em São Paulo duas livrarias
esotéricas (Hórus e Zipak), onde era
possível encontrar algum material; ainda
assim, pouco, já que ambas as livrarias
eram mais voltadas para o esoterismo em
geral. Tudo mudou com a expansão das
lojas Alemdalenda, que saía um pouco do
esoterismo para trilhar o caminho do
lúdico, do mágico, do pagão.
Na rua Doutor Melo Alves, nos Jardins,
ficava o Espaço Cultural Alemdalenda,
que, através de palestras, workshops,
cursos e celebrações ainda modestas dos
rituais da Roda do Ano, pouco a pouco
abriu espaço para os interessados em
Paganismo e Bruxaria, inclusive tornando
possível o acesso à informação por meio
dos livros sobre Bruxaria lançados pela
(hoje extinta) Coleção Gaia-Alemdalenda.
 O que mudou de lá para cá? Que
transformações você viu na
comunidade ao longo desses anos?
Hoje em dia, é muito mais fácil ter acesso
a informações de qualidade. Os livros de
Claudiney Prieto, principalmente os dois
primeiros, “Ritos e Mistérios da Bruxaria
Moderna” e “Wicca, a Religião da Deusa”
com certeza ajudaram a tornar a Wicca
muito mais conhecida, e o trabalho
público realizado durante todos esses
anos possibilitou um contato direto com a
Wicca e suas práticas. Há 20 anos,
encontrar um Coven parecia uma
maravilha inimaginável com a qual mal
podia-se sonhar; hoje em dia, é uma
realidade para milhares de pagãos em
todo o Brasil.
Você é uma bruxa brasileira que
vive na Alemanha. A comunidade
pagã daí é muito diferente? Como
foi a sua experiência internacional
com a Bruxaria?
Nas minhas viagens pelo mundo, pude
confirmar algo em que já acreditava: onde
quer que o ser humano tenha pisado, lá
há uma denominação para a Deusa; Suas
diversas faces e Seu mágico toque foram
reconhecidos por diversas civilizações, do
antigo Egito à Inglaterra e, claro, Sua
presença pode ser sentida também na
Alemanha. Tenho contato com bruxos
não somente da Alemanha, mas também
de várias outras localidades do mundo, e
é absolutamente incrível ser recebida por
eles como uma irmã. É maravilhoso
perceber que nós, bruxos, estamos por
toda parte e nos reconhecemos, ainda que
falemos diferentes idiomas e venhamos de
lugares diferentes.
58| THE CRAFT
Sei que, no Brasil, sobretudo na situação
atual, é muito comum fazer piadinhas
sobre nosso país e o famoso complexo de
vira-lata. Por isso, se possível, eu gostaria
de deixar uma mensagem para os bruxos
brasileiros: jamais duvidem da qualidade
da nossa bruxaria! Nossas práticas e
rituais não deixam nada a desejar se
comparados à bruxaria estrangeira.
Inclusive, temos até uma vantagem: o povo
brasileiro é bastante místico, e práticas
pagãs acabam por ser mais conhecidas. No
Brasil, todo mundo já ouviu falar em
bruxaria, paganismo, Wicca, é natural,
porque somos um povo de bastante fé.
Quando vim pra cá, há quase duas
décadas, era um pouco mais difícil
encontrar pessoas que conhecessem a
Wicca. Para mim, isso foi um pouco difícil,
já que o cenário pagão brasileiro naquela
época já era bastante ativo; por vezes,
centenas de pessoas comparecendo aos
nossos rituais públicos. Hoje em dia, já é
mais comum encontrar outros pagãos por
aqui - claro que a internet ajudou bastante.
Aqui nos hemisfério sul, estamos
nos preparando para as
celebrações de Imbolc. Como você
vive esse Sabbat? Que práticas e
costumes não podem faltar na sua
celebração de Imbolc?
Imbolc é, sem dúvida, um dos meus
Sabbats preferidos. Para mim, é uma
época muito especial - primeiramente,
porque celebra o retorno do Sol após seu
renascimento em Yule, e os primeiros
sinais de vida podem ser reconhecidos na
natureza, que lentamente desperta. E
também porque, nesta data, Brigid, uma
das mais importantes Divindades Celtas, é
 celebrada. Também diz-se que a mulher
que dorme no seio da terra desperta nesta
época e traz luz, vida, cor e calor para nos
abençoar novamente.
Um dos significados atribuídos ao nome
deste Sabbat é “no ventre” (do irlandês
antigo), e esta data anuncia os primeiros
sinais do retorno da vida.
Aqui na Europa, Imbolc é uma época
muito linda, porque, quando há neve, ela
geralmente começa a dissolver-se nesta
época e os primeiros brotos podem ser
vistos nas árvores, os pássaros, que
passaram um longo tempo no Sul,
retornam e sua canção preenche nossos
dias de beleza. E isso realmente acontece
nos dias que antecedem o Imbolc! É muito
mágico.
VASSOURA: como disse, Imbolc também é
um sabbat de purificação. Se você possui
uma vassoura mágica, use-a para purificar
o seu lar (lembre-se de não tocar o chão
com a mesma). Caso não possua uma
vassoura, poderá usar ramos de sua árvore
preferida para tal.
AACENDA UMA VELA FLUTUANTE EM UM
POTE COM ÁGUA: Brigid é a Deusa das
águas que curam e também do fogo, por
isso uma vela flutuante poderá representá-
la perfeitamente. Ao fazer isso, peça suas
bênçãos de purificação e renovação, e que
o calor da chama da vela possa trazer
abundância e felicidade para sua vida.

Existem muitas tradições maravilhosas em

torno de Imbolc, mas, para mim, duas não
podem faltar. A primeira delas é a
purificação. Por marcar o retorno da Luz e
os primeiros sinais do final do Inverno,
Imbolc é uma época associada à cura, à
renovação, então costumo realizar um
pequeno banimento nos meus rituais.
Depois disso, eu gosto bastante de
abençoar minha casa e meu ritual com
uma Brideóg, também conhecida como
boneca de Brigid.

Para encerrar, você pode

compartilhar com a gente uma
prática simples que as pessoas
podem fazer em suas casas para
comemorar o Imbolc?
Aqui vão algumas práticas simples que
podem ser feitas nesta época:
FAÇA UMA CRUZ DE BRIGID (BOGHA
BRID): em vários sites da internet você
conseguirá encontrar facilmente as
instruções para fazer uma cruz de Brigid.
Pendure-a na porta de sua casa ou
coloque-a sobre o seu altar.

59| THE CRAFT


FAÇA UM BASTÃO DE BRIGID: o Bastão
representa o fogo, e Brigid é a Deusa da
poesia, da música, da inspiração e dos
Bardos. Em tempos antigos, bastões com
pequenos sinos eram utilizados para
invocar Brigid. Use-o no seu rito de Imbolc
para chamar por esta Deusa de uma
forma musical.
CAMA DE BRIGID: em tempos antigos,
uma boneca era feita de grãos, junco ou
outros materiais naturais para
representar Brigid. Era também chamada
de Brídeóg, e colocada sobre uma cama
ou altar (ou mesmo no batente da janela)
para trazer as bênçãos de Brigid.
MEDITAÇÃO DAS 5 PEDRAS: No Templo
de Brigid, em Kildare, encontram-se 5
pedras de meditação. A primeira
representa Brigid como a Senhora da
Natureza. A segunda representa Brigid
como a Pacificadora. A Terceira
representa Brigid como a amiga dos
60| THE CRAFT
dos pobres, a quarta representa a face de
Brigid do Fogo da lareira e a quinta é a
pedra da meditação. Faça uma
representação deste templo colocando 5
pedras em frente a um pote com água e
uma vela flutuante, e medite sobre estes
aspectos. Ao final, toque a água e sinta o
calor da vela em suas mãos e abençoe-se
com estes.
LULU SAILLE
Alta Sacerdotisa na Tradição
Gardneriana, Elder na Tradição
Dianica Nemorensis e Bruxa há mais
de 25 anos, boa parte destes
trabalhando publicamente para a
divulgação e o esclarecimento sobre
o paganismo por meio de palestras,
artigos e rituais públicos, tanto no
Brasil quanto na Alemanha, onde
reside há 16 anos com sua filha.
Designer Gráfico por formação, foi
gerente cultural da rede Alemdalen-
da e hoje em dia trabalha com redes
sociais para uma grande companhia
aérea alemã.
@Lsaille
facebook.com/Lsaille
Lsaille@gmail.com
 AGENDA AGOSTO DE 2021

CURA PSÍQUICA
Com Claudhia Issa
Data: Dias 03/08 e 05/08 às 18h
CURSOS

WICCA E O MUNDO MODERNO

TECNOLÓGICO
Com Alex Valério
Data: 10/08 e 18/08 às 18h

AS BRUXAS NA LITERATURA: MUDANDO

PARADIGMAS
Com Rose Hirasike
Data: 17/08 às 18h

O DESPERTAR DA KUNDALINI
Com Léo Fernandez
Data: 19/08 às 18h

HEKATE DOS ORÁCULOS CALDEUS

Com Francine Derschner, Patricia Elizium e Reginaldo
Gomes
Data: 24/08 e 26/08 às 18h

61| THE CRAFT

 AGENDA SETEMBRO DE 2021

CONVERSANDO COM AS FADAS

Com Tyrfang Hollydragon
Data: Dias 06/09 e 08/09 às 18h
CURSOS

OS FLORAIS DE BACH SOB A ÓTICA DA

BRUXARIA
Com Luanin Luaetita
Data: 14/09, 16/09, 21/09 e 23/09 às 18h

O SONHO COMO FERRAMENTA MÁGICA DE

AUTOCONHECIMENTO E ACESSO AO
INCONSCIENTE
Com Yushã Kuru
Data: 28/09 e 30/09 às 18h

62| THE CRAFT