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A Guerra dos Emboabas foi um confronto travado de 1707 a 1709 pelo direito de

exploração das recém-descobertas jazidas de ouro na região do atual estado de Minas


Gerais, no Brasil. O conflito contrapôs os desbravadores vicentinos e os forasteiros que
vieram depois da descoberta das minas. O primeiro grupo, formado
pelos bandeirantes paulistas, havia descoberto a região das minas e, por esta razão,
reclamava a exclusividade de explorá-las. Já o grupo heterogêneo composto de
portugueses provenientes da Europa e migrantes das demais partes do Brasil, sobretudo
da costa leste nordestina, liderado por Manuel Nunes Viana, era pejorativamente
apelidado de "emboabas" pelos paulistas.
Em novembro de 1708, Cachoeira do Campo, hoje distrito de Ouro Preto, foi um dos
palcos do sangrento conflito envolvendo os direitos de exploração de ouro na
futura Capitania de Minas Gerais. Este episódio não foi todo esclarecido ainda, sendo que,
nele, várias passagens permanecem obscuras. Uma das teses levantadas é a que diz que
tudo começa quando a frente luso-nordestina se choca com os paulistas subindo o rio São
Francisco com seu gado.

Os emboabas[editar | editar código-fonte]

Pepita de ouro

Logo que a notícia da descoberta do ouro se espalhou, milhares de pessoas se


deslocaram para a região, ficando pejorativamente conhecidos como "emboabas". O termo
é proveniente do termo da língua geral paulista mbóaba, que significa literalmente "pata
peluda" (mbó, pata + aba, peluda). Originalmente, o termo designava as aves com pernas
cobertas de penas. Como os forasteiros sempre usavam calças e sapatos, ao contrário
dos bandeirantes, estes começaram a utilizar o termo para se referir aos forasteiros.[1][2][3]
Em sentido diverso, segundo o Dicionário Houaiss, emboaba seria a junção das palavras
tupis mbo ("fazer que") + aba ("ferir"), sendo que mbo'abaseria um epíteto coletivo,
aplicado a um grupo, e não apenas a um indivíduo. Assim, "os que invadem, agridem".

Contexto[editar | editar código-fonte]


A corrida pelo ouro atraiu, para a região, cerca de 50 mil pessoas "que fervilhavam à beira
dos rios e caminhos, nos sertões distantes e inóspitos".[2] Os bandeirantes se achavam
com maiores direitos sobre o ouro das minas, seja por eles terem sido os descobridores do
lugar, seja por aquela região fazer parte da capitania de São Vicente, seja pela debilidade
recente demonstrada pela coroa portuguesa ao ter de recorrer à ajuda dos bandeirantes
paulistas para vencer a Guerra dos Palmares e a Confederação dos Cariris.[4] Prova disso
foi petição da Câmara de São Paulo, de 7 de Abril de 1700, que requereu que a outorga do
território aurífero fosse dada exclusivamente pelas autoridades dessa capitania. Teve
papel, no conflito, o protetor de Manuel Nunes Viana, Pascoal da Silva Guimarães.
Enquanto isso, os colonos da Bahia e de Pernambuco estavam muito mais ligados aos
reinóis portugueses que aos colonos paulistas. Os nomes que trocaram entre si
mostravam suas diferenças. Os da terra eram chamados de "nômades", ou "bandoleiros
sem lei"; estes, por sua vez, apelidaram os estrangeiros e os vindos de outras capitanias
brasileiras de "emboabas".
Para os paulistas, aqueles que não participaram dos esforços na procura de ouro não
deveriam ter os mesmos direitos na exploração. A tensão entre os paulistas (também
chamados de vicentinos) e os demais exploradores crescia, motivada pelo aumento no
fluxo populacional e pela insistência dos paulistas e emboabas de controlarem a região[2].
Apesar de se misturarem pelas regiões povoadas das minas, paulistas e emboabas não se
uniam: ao contrário, se juntavam cada grupo com um representante. O ex-
bandeiranteManuel de Borba Gato era o líder dos paulistas, enquanto os emboabas eram
liderados por Manuel Nunes Viana, português que veio para Bahia jovem, e era conhecido
por atos de coragem que o trouxeram para a região onde era proprietário de lucrativas
minas.
Outra causa da guerra seria o alto preço dos mantimentos, inclusive pela limitada oferta
em ocasião do aumento da demanda.[2] Os comentários de Antonil em 1709 o provam e se
tornou clássico o trecho em que relata: "a abundância de mantimentos e de todo o usual
que hoje há nas Minas e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos:
um alqueire de farinha em São Paulo custava 640 réis, mas em Minas 43 000 réis! E assim
por diante, uma libra de açúcar 120 réis em São Paulo e 1 200 nas Minas, uma galinha de
160 para 4 000 réis etc." Eliane Teixeira Lopes cita, em sua obra, um ensaio de Eduardo
Frieiro, "Feijão, angu e couve", de 1966, que corrobora os acontecimentos. E J. Soares de
Mello, em seu livro "Emboabas", de 1979, página 48, comenta: "Foi na época da fome
como medida de prudência que Artur de Sá concedeu a Amaral Gurgel o estanco ou
monopólio dos açougues. Não tardaram nada os abusos. O povo foi esmagado. E quando
o monopólio chegou aos seus anos derradeiros e veladamente começaram as transações
para o prorrogar, os paulistas se levantaram."
Por carta, o rei, para suprir a falta de gado, ordenara a dom Álvaro conceder a maior parte
possível das terras entre o Rio de Janeiro e a serra dos Órgãos "com a obrigação de cada
um dos donatários de pôr um curral de gado dentro de dois e até três anos no sitio que se
lhes der, por se entender que com a fertilidade destas terras abundarão as capitanias em
gado." Mas nada era assim tão simples. Em 1702, o governador dom Álvaro da Silveira e
Albuquerque fizera doação, aumentando o domínio de Muribeca, no Espírito Santo,
propriedade do colégio dos jesuítas do Rio de Janeiro, fundado no século XVII em terras
doadas pelo Conde de Castelo Melhor, e que em 1701 possuía apenas 1 630 cabeças de
gado - enquanto isso, suas fazendas no Rio e em Santa Cruz, Campos dos Goitacases e
Campos Novos de São João em 1701 teriam 20 mil.
Foram baldadas, de 1702 a 1705, as providências do governador da Bahia, dom Rodrigo
da Costa, para obstar a emigração que, das províncias beira-mar, se estava dando para as
minas descobertas no atual Estado de Minas, principalmente vinda da Bahia, donde se
transportavam muitas pessoas com seus escravos. Dom Rodrigo estabeleceu diversos
presídios no interior para apreensão de escravos que fossem conduzidos para as minas. O
ouro foi a pedra ímã, uma veemente atração: e formaram-se dois partidos, o dos paulistas
e o dos emboabas. O historiador Diogo de Vasconcelos comenta: "paulistas e taubateanos
teriam declarado talvez guerra pela posse de terrenos em Minas se não surgissem os
forasteiros, inimigo comum que os amedrontou e uniu. Do reino, vinha o exemplo -
formado de senhorios e conselhos autônomos, fabricado aos poucos e aos pedaços,
federação de distritos fundidos pela política e nacionalizados pela história. Quando, no
Brasil, as capitanias passaram a ser incorporadas à Coroa, ao governo direto do reino, o
fizeram na forma por que antes existiam, não se tinha concebido a ideia abstrata e
consolidária da pátria: forasteiro, para a gente paulista, ou quase inimigo, era o natural de
outras províncias, porque entendiam pertencer-lhes domínio exclusivo das minas por eles
descobertas e povoadas no sertão."

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