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Inibição de corrosão em águas de circuitos de refrigeração

Inibição de corrosão em águas de circuitos de refrigeração


2 TEN TSN Vidigal e Almada
Direcção de Navios - Serviço de Armas Navais – Laboratório de Explosivos da Marinha
Escola Naval – Departamento de Engenheiros Navais - Mecânica
Alfeite 2800 Almada

Abstract
Este trabalho não traduzindo nenhum avanço inovador nesta área, pretende fazer um overview de alguns aspectos mais
relevantes do fenómeno de corrosão, necessário dada a dispersão de dados sobre o tema. Não se pretende fazer uma
aproximação teórica do mecanismo de corrosão mas sim uma abordagem mais prática do problema, com o rigor e
exactidão que este assunto merece. Serão apresentados alguns exemplos práticos de problemas de corrosão e respectiva
solução.
É importante conhecer que tipo de problemas de corrosão podem surgir, e ter uma noção de como os parâmetros
que os influenciam estão correlacionados. Só desta forma será possível inspeccionar correctamente os equipamentos para
prevenir eficazmente a corrosão. A escolha das condições mais favoráveis aos tratamentos anti-corrosivos deve ser
cautelosa, sobretudo em situações tão específicas e complexas como as inerentes à manutenção de navios.

1 Introdução A prevenção da corrosão não reside apenas no estudo


inicial de concepção, pois há que fazer um acompanhamento
A deterioração de metais, por acção química ou electroquímica dinâmico caso a caso dos factores envolvidos. Esse
do meio ambiente, associada ou não a esforço mecânico, acompanhamento é essencial por duas razões:
provoca uma série de alterações indesejáveis no material, tais • Há muitíssimos factores que influenciam a corrosão,
como desgaste, variações químicas ou modificações estruturais. não sendo geralmente controláveis. Isto acontece
Estes problemas traduzem-se por exemplo na: pois não está em jogo apenas uma reacção química,
• perda de eficiência devido à diminuição da mas uma série de reacções que competem entre si,
transferência de calor através de depósitos ou com dinâmica radicalmente diferente. Ao longo dos
produtos de corrosão, no caso de permutadores de capítulos seguintes há que ter em conta que as
calor; reacções referidas não são as únicas a ocorrer, e que
• perda de carga em tubagens devido a depósitos; em determinadas condições (de temperatura,
pressão, presença de determinadas substâncias, etc)
• fractura repentina de partes críticas de outras reacções podem tornar-se dominantes.
equipamentos.
• A corrosão é um fenómeno de superfície em que se
A água é muito usada em sistemas de refrigeração.
desenvolve um processo eminentemente caótico,
Sobretudo devido às impurezas presentes (sais e gases
logo impossível de prever a longo prazo.
dissolvidos, sólidos em suspensão, crescimento biológico)
constitui o meio corrosivo mais vulgar que, combinado com O conhecimento da qualidade/composição da água é
solicitações mecânicas, pode acelerar a corrosão. fundamental para planear e corrigir correctamente qualquer
tratamento de prevenção/ inibição que se pretenda implementar.
Na manutenção de navios, a prevenção e inibição da
A título de exemplo veja-se o caso da utilização de nitrito como
corrosão assumem importância primordial. Neste trabalho serão
inibidor anódico de extrema eficiência. As suas propriedades
apresentadas algumas medidas de prevenção e inibição de
“protectoras” são função da concentração de cloretos na água.
corrosão, relacionadas com águas de circuitos de refrigeração,
Se essa relação não for optimizada podemos eventualmente
no que respeita a:
provocar corrosão em vez de a inibir.
• ataque ácido,
• ataque pelos cloretos,
• corrosão galvânica,
2. Água de refrigeração
• corrosão por tensão fracturante,
• incrustações / depósitos
• fouling Nos equipamentos, sistemas e circuitos de refrigeração,

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devem ser consideradas as possibilidades de corrosão dos Além destes aspectos é também muito importante
equipamentos como os permutadores de calor, onde se caracterizar a forma de corrosão (vd figura 1), p.ex.:
processam as transferências térmicas. Deve ainda considerar-se • quanto ao aspecto de corrosão pode ser, uniforme,
a possibilidade de acção combinada de solicitações mecânicas e placas, alveolar, puntiforme, intergranular,
meio corrosivo. Os materiais metálicos em contacto com transgranular, filiforme, esfoliação, etc;
líquidos em movimento podem apresentar corrosão acelerada
• quanto ao mecanismo de corrosão, consoante o tipo
pela acção conjunta de factores químicos e mecânicos como
de reacção envolvida;
erosão, turbulência e cavitação. Por outro lado, as impurezas
presentes na água ocasionam frequentemente deterioração de • quanto às condições operacionais, corrosão sob
equipamentos e tubagens, nomeadamente a presença de: tensão fracturante, sob fadiga, sob atrito, corrosão-
erosão, etc;
• sais dissolvidos (cloreto de sódio, sais hidrolisáveis,
bicarbonato de cálcio, etc); • quanto ao meio corrosivo, corrosão atmosférica, por
microorganismos, temperaturas elevadas, etc.
• gases dissolvidos (oxigénio, dióxido de carbono,
sulfureto de hidrogénio, óxidos de enxofre, etc);
• sólidos em suspensão;
• crescimento biológico.

3. Corrosão
Quando se fala em corrosão associa-se normalmente à corrosão
resultante da oxidação do ferro metálico pelo oxigénio
dissolvido na água. No entanto, a corrosão abrange muito mais
do que isso, daí que o prório termo “corrosão” tem sido usado
para significar o fenómeno em si, alguns resultados de
fenómeno ou ainda os danos causados pelo mesmo. Na
tentativa de harmonização da terminologia a IUPAC
(International Union of Pure and Applied Chemistry) define
corrosão nos seguintes termos [LOBO, 1986]:
“Corrosion is an irreversível interfacial reaction of a material
(metal, ceramic, polymer) with a neighbouring phase by
consumption of the material or dissolution into the material of a
component of the neighbouring phase.
Often, but not necessarily corrosion results in detrimental
effects for the usage of the material considered. Exclusively
physical or mechanical interactions such as melting or
evaporation, abrasion or fracture are not included in the term
corrosion”.
Por outro lado, a Norma Portuguesa 4 / 85 segue o critério ISO Figura 1 – Representação esquemática de formas de
que emprega o termo “corrosão” apenas para significar o corrosão [SINGH, 1993].
fenómeno de corrosão [LOBO, 1986]:
“Interacção físico – química entre um metal e o meio em que se
encontra da qual resultam alterações das propriedades do metal
e frequentemente uma degradação funcional do próprio metal,
do seu meio ou do sistema técnico a que pertencem”. 4. Medidas de protecção da corrosão
A degradação dos materiais, geralmente metálicos, por acção
química ou electroquímica do meio ambiente, aliada ou não a As medidas de protecção da corrosão mais comuns (vd tabela
esforços mecânicos origina normalmente alterações prejudiciais 1) são: a aplicação de inibidores de corrosão, revestimentos
no material, tais como, desgaste, variações químicas ou metálicos (Cr, Ni, aço inoxidável), revestimentos não metálicos
modificações estruturais. Assim, o estudo do conjunto material (cerâmicos, óxido de alumínio, tintas com sistemas vinílicos,
metálico, meio corrosivo e condições de operação, será epóxidos, acrílicos, poliuretanos, silicones) e a protecção
imprescindível para definir as adequadas medidas de protecção catódica galvânica [BUTLER, 1966].
de corrosão em determinados equipamentos ou instalações
[HEBERT, 1963].

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a concentração necessária é da ordem dos 4000 ppm


Situação Medida de Protecção
• aumentam a eficiência do inibidor valores de pH
Estrutura metálica Revestimento com tintas anti- acima de 7,5; superfícies metálicas isentas de
corrosivas
depósitos biológicos ou minerais; água isenta de
Água de Refrigeração biocidas, inibidores de corrosão, substâncias redutoras como H2S, SO2 e matéria
controlo de oxigénio e pH orgânica.
Reactores, evaporadores revestimento metálico, aço Embora ainda sejam usados em alguns casos, a
inoxidável Environmental Protection Agency (EPA) proibiu a sua
Altas Temperaturas aços inoxidáveis com altos teores de aplicação em 1990 por serem corrrosivos para a pele e
Cr e Ni cancerígenos.
Corrosão sob tensão ligas com elevados teores de Ni,
tratamento térmico
4.1.1.2 Nitrito
Tabela 1 - Exemplos de medidas de protecção da corrosão
O nitrito é um inibidor anódico de extrema eficiência na
[DURING, 1988].
protecção do ferro, ligas de estanho, alumínio e cobre, ideal em
sistemas fechados, pouco arejados. A sua concentração óptima
é função da concentração de iões agressivos na água do
sistema, nomeadamente cloretos e sulfatos. Para proteger o aço-
carbono, p.ex., podem apenas ser necessários 50 ppm em NO2
4.1 Inibidores de corrosão mas, na presença de 300 ppm de cloretos a concentração
-
Os inibidores de corrosão, que eliminam ou diminuem a necessária será da ordem dos 300 ppm em NO2 .
corrosão, usados em águas de refrigeração podem ser Este inibidor não é aconselhável em sistemas abertos
classificados como anódicos, catódicos e mistos pois podem conter bactérias nitrificantes (que poderão oxidá-lo
[ROSENFELD, 1981]. a nitrato) e desnitrificantes (que o reduzem a amónia ou óxidos
de azoto).

4.1.1 Inibidores anódicos


A forma cristalina do produto da corrosão do ferro na ausência
4.1.2. Inibidores catódicos
de inibidores de corrosão, a hematite, αFe2O3, é extremamente
porosa, não aderente e de distribuição irregular na superfície Os inibidores catódicos, são inibidores de barreira. Formam
metálica. Na presença de inibidores anódicos, a corrosão que se com iões cálcio e zinco produtos coloidais com carga eléctrica
inicia nesta área passa a ter como produto de corrosão a positiva que migram para os microcátodos onde precipitam de
magnetite, γFe2O3, que é fortemente aderente, contínuo e sem forma aderente, contínua e sem porosidade. A espessura do
porosidade. filme protector faz diminuir o potencial de cátodo
São exemplos de inibidores anódicos: São exemplos:
• oxidantes - cromato, nitrito, molibdatos, vanadatos; • polifosfatos – tripolifosfato, hexametafosfatos,
• não oxidantes – ortofosfatos, bórax, benzoato de polimetafosfatos;
sódio; • fosfonatos;
• silicatos. • ésteres de fosfatos
Os polifosfatos são produtos da desidratação dos
fosfatos mono e dissódico, pela acção do calor. São usados em
4.1.1.1 Cromato tratamento de água de refrigeração como inibidores de
O cromato, CrO42- protege a área anódica ao induzir a formação corrosão, inibidores de incrustações, estabilizadores de iões
de uma mistura de óxidos protectores constituída por γFe2O3 e metálicos e dispersantes. Os mais simples são os tripolifosfatos
usados como agentes dispersantes e como inibidores de
γCr2O3.
corrosão:
Observações:
2Na2HPO4+NaH2PO4→Na5P3O10+2H2O
• se a concentração usada não for a correcta podem
aparecer áreas de corrosão localizada Os fosfatos vítreos, mais eficazes como inibidores de
corrosão e agentes dispersantes, são obtidos pela desidratação
• em sistemas fechados (circuitos de motores diesel)
de n moléculas de fosfato monossódico:
além da temperatura elevada há metais com
potenciais diferentes assim, devem usar-se n NaH2PO4 → (NaPO3) + n H2O
concentrações na ordem dos 2000 ppm Os polímeros de peso molecular mais elevado têm uma
• em sistemas fechados sujeitos a cavitação-corrosão estabilidade hidrolítica superior.

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O2 + 4 H + 4e ↔ 2H2O
+ - 0
Os polifosfatos formam com os sais de cálcio e zinco E = 1.229 V
existentes na água, partículas coloidais complexas carregadas
2Fe + O2 + 4H ↔ 2Fe + 2H2O
+ 2+

positivamente. Estas partículas migram para os microcátodos,


onde estabelecem um filme que retarda o processo corrosivo Se aplicarmos uma corrente que torne a superfície
pois faz diminuir o potencial catódico, estes filmes são muito equipotencial, i.e., os cátodos e ânodos das pilhas locais de
pouco solúveis e depois de formados são estáveis a variações corrosão ficarem com igual potencial, as correntes não fluem e
de pH entre 5 e 9. não hà corrosão.
A alternativa a aplicar corrente externa (que exige
instalação eléctrica adequada) é usar ânodos sacrificiais, que
4.1.3. Inibidores mistos têm maior propensão a oxidar-se do que o metal que se
pretende proteger.
Por vezes a situação mais económica e eficaz passa pela
mistura de inibidores anódicos e catódicos. São exemplos: Não se faz protecção catódica de metais como o
alumínio, zinco e crómio porque, embora tenham maior
• cromato/polifosfato; tendência a oxidar-se que o ferro, na prática oxidam-se menos
• cromato/zinco; extensamente que o ferro porque os seus produtos da oxidação
• nitrito/bórax/azóis (Al2O3, Zn2(OH)2CO3, Cr2O3) formam finas películas que
aderem à superfície do metal protegendo-o de oxidação
• benzotriazol/molibdatos.
subsequente.

4.1.4. Inibidores de incrustações


Os inibidores de incrustações podem ser agentes complexantes 5. Exemplos
(reagem com catiões mantendo-os sob a forma de complexos
solúveis em água), e agentes de superfície (impedem os catiões De seguida serão apresentados alguns casos típicos ou
de precipitar ao interferirem no crescimento dos cristais). O históricos de corrosão, que têm servido de exemplo e
exemplo mais característico de agente complexante é o ácido motivação na procura de soluções de prevenção de corrosão
etileno-diamino-tetraacético (EDTA) e respectivos sais de cada vez mais eficientes.
sódio, e é usado para complexar Ca2+, Mg2+, Fe2+ e Cu2+ em
diferentes valores de pH. 5.1. Ataque ácido
Os agentes de superfície mais usados são os dispersantes A corrosão na superfície de metais pode ser devida ao uso de
poliméricos, naturais (carboximetilcelulose) ou sintéticos águas com baixo valor de pH (< 6), devido à libertação de
(poliacrilatos, polimetaacrilatos, polihidroxiacrilatos, ácidos em unidades de desmineralização ou gases ácidos (CO2,
poliacetato de vinilo, etc) e podem funcionar isoladamente ou SO2, SO3) provenientes de uma limpeza química mal conduzida
associados em copolímeros ou terpolímeros. (se a superfície metálica descontínua tiver fendas ou restos de
Estes tipos de dispersantes podem actuar de diferentes depósitos que facilitam a concentração localizada do ácido
formas: usado, que resiste à neutralização final no processo de limpeza
• adsorção do polímero no lado activo do núcleo de química).
cristal, retardando o seu crescimento e precipitação; O ataque ácido é a forma de corrosão mais fácil de ser
• adsorção de cargas negativas na superfície das prevenida. Basta alcalinizar a água de alimentação com
partículas em suspensão, aumentando a repulsão hidróxido de sódio não carbonatado e isento de cloretos.
entre elas o que reduz a tendência a precipitar; A corrosão na superfície de aço-carbono apresenta-se
• deformação e distorção da estrutura do cristal em normalmente de forma uniforme. Na superfície de cobre e suas
crescimento, diminuindo a sua aderência às ligas aparece de forma localizada (alvéolos com diâmetro
superfícies metálicas. superior à sua profundidade).
O ataque ácido é responsável pelo ataque dos
elastómeros constituintes dos órgãos de vedação dos motores
4.2 Protecção catódica de combustão, o que têm como consequência, a contaminação
dos óleos de lubrificação. As anomalias daqui resultantes só se
A protecção catódica consiste em forçar a ser cátodo (a reduzir- fazem sentir a médio ou longo prazo o que dificulta a detecção
se) um metal que em condições naturais seria ânodo (oxidava- da origem da avaria.
se). O ferro, p.ex., tem tendência natural a comportar-se como
2+
ânodo oxidando-se a Fe mas, se aplicarmos uma corrente
externamente, a corrosão pode ser reduzida virtualmente a zero
e por tempo “infinito”. As reacções responsáveis pela corrosão
no ferro são (em meio ácido):
2Fe ↔ 2Fe + 4e
2+ - 0
E = -0.44 V

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Figura 2 - Ataque ácido (água com pH entre 4,5 e 5,5 Figura 4 -Tubo de aço-carbono após submersão em cloreto
durante 3 meses) [DANTAS, 1996]. de sódio (anticongelante) [DANTAS, 1996].

5.2.Ataque pelos cloretos 5.3 Corrosão galvânica


A presença de iões cloreto nas águas de refrigeração, O cobre ionizado (após ataque com ácidos), complexado
dependendo da concentração, interfere nas áreas anódicas, onde (por reacção com amónia), ou em partículas (em casos de
se forma um óxido de ferro protector (γ Fe2O3) e, nas áreas erosão e cavitação), decompõe-se em óxido de cobre, que pode
catódicas, onde se formam as camadas aderentes e contínuas ser reduzido pelo ferro a cobre metálico. O cobre pode inserir-
dos inibidores, associados a cálcio e zinco. Em ambas as áreas se em fendas de outros metais que existam próximos,
os iões cloreto podem romper os filmes protectores com o produzindo pilhas galvânicas.
aparecimento de pites. As pilhas galvânicas resultam da junção de metais com
O uso de inibidores anódicos e catódicos, oferece mais potenciais diferentes. A maior diferença de potencial é
resistência a este tipo de corrosão. Inibidores anódicos encontrada nas junções cobre (cátodo) – ferro (ânodo). A maior
oxidantes como cromato e nitrito em concentrações elevadas profundidade de ataque no ferro é na junção com o cobre. Estas
resistem melhor à fractura do filme de γFe2O3 do que os pilhas são facilmente controladas por inibidores de corrosão,
inibidores catódicos nas mesmas concentrações. quando associados a azóis, que ao formarem microcamadas
Na figura 4 é apresentado um exemplo de corrosão sobre o cobre e suas ligas, eliminam praticamente a diferença
acentuada e rápida devida à utilização de cloreto de sódio como de potencial com o ferro.
anticongelante. Por esta razão os anticongelantes à base de Uma diferença de potencial poder-se-á estabelecer em
cloreto de sódio foram actualmente substituidos pelo etanol, tubos onde existam áreas afectadas termicamente de forma
etileno e propileno glicol. Para estes anticongelantes usa-se diferente, sendo as áreas mais quentes, anódicas (onde se inicia
normalmente como inibidor de corrosão uma mistura de nitrito- o processo corrosivo) e a parte menos quente, a área catódica.
bórax-benzoato com valor de pH maior que 8. Estas pilhas termogalvânicas são normalmente responsáveis por
falhas de operação dos equipamentos.
Seja qual for a origem da existência de duas zonas no
metal com diferente potencial eléctrico, a presença de um
flúido que permita a passagem de corrente eléctrica faz com
que o ânodo se oxide, i.e., o metal dissolve-se no electrólito. A
taxa de corrosão do metal será proporcional à intensidade da
corrente galvânica.
Uma forma de evitar este tipo de corrosão é eliminar
contaminações de cobre (ionizado, complexado e no estado
metálico):
• usando hidrazina com excessos rigorosamente
controlados, por análise química;
Figura 3 -Corrosão sob depósitos (provocada pelo uso água • prevenir erosão e cavitação em canalizações de
com 880 ppm de cloretos, durante 8 meses) [DANTAS, cobre ou suas ligas;
1996]. • evitar rotores de bomba feitos em bronze;
• limpeza química muito cuidadosa quando houver
presença de cobre nos depósitos.

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Na formação das fendas por tensão fracturante existe um


período de indução em que há nucleação a nível microscópico.
Após nucleação a fenda propaga-se de maneira ramificada trans
ou intercristalina, permanecendo o metal na restante superfície
praticamente inatacado.
A corrosão por tensão fracturante tem a aparência de
uma fractura mecânica e resulta de um processo de corrosão
localizada iniciada na área anódica. Normalmente elimina-se
por protecção catódica.
Os casos mais comuns de corrosão por tensão
fracturante são em aços inoxidáveis (AISI 304 e 316), na
presença de cloretos e, no cobre e suas ligas, na presença de
amónia.
Figura 5 -Corrosão galvânica em permutador de calor com A forma de evitar este tipo de corrosão é p.ex.:
tubos de cobre em espelho de aço-carbono [DANTAS, • evitar alcalinidade acima do limite indicado para a
pressão de operação do equipamento;
1996].
• evitar áreas de concentração de NaOH junto a zonas
tensionadas;
• evitar cordão de solda sem posterior alívio de
tensão.

Figura 6 - Ânodo de zinco usado para protecção catódica do


espelho de aço-carbono de um permutador de calor
[DANTAS, 1996]. Figura 7 -Tensões por dobramento a frio [DANTAS, 1996].

5.4 Corrosão por tensão fracturante 5.5.Incrustações e depósitos


A utilização de hidróxido de sódio concentrado aliado ao O aparecimento de depósitos é facilitado se a água contiver:
esforço de tracção, pode causar fendas contínuas • sílica coloidal (SiO2) que facilmente penetra na matriz
intergranulares nos metais. Quando estas fendas progridem, porosa de carbonato de cálcio que já exista;
podem originar fracturas longitudinais. • resíduos de uma filtração deficiente;
As reacções características deste tipo de corrosão, • poeiras absorvidas ou teores elevados de sais metálicos
também designada por fragilidade cáustica, são: solúveis que precipitam por acção de bactérias oxidantes.
4NaOH + Fe3O4 ↔ 2NaFeO2+ Na2FeO2 + 2H2O As incrustações calcáreas resultam da precipitação de carbonato
(destruição da magnetite protectora) e sulfato de cálcio após desgaseificação térmica da água.
Fe + 2NaOH ↔ Na2FeO2 + H2 A prevenção deste tipo de corrosão implica:
(reacção directa com o ferro) • usar águas abrandadas (de baixa dureza), ou
2H2 + Fe3C ↔ CH4 + 3Fe programa de dispersão (com fosfonatos e
(difusão do hidrogénio no metal) polielectrólitos sintéticos) para evitar depósitos
O metano formado não se difunde no metal, acumula-se porosos;
e provoca o aparecimento de fendas intergranulares. • limitar a concentração de cloretos na água ou usar
águas desmineralizadas;

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• controlar a alcalinidade. biomassa como ligante dos sólidos suspensos (poeiras, lamas,
As incrustações são normalmente resultado da elevada produtos de corrosão) e precipitados inorgânicos (polifosfatos
concentração de sais minerais dissolvidos ou suspensos na hidrolisados).
água. O processo de incrustação é na maioria dos casos lento e O fouling impede uma transferência de calor satisfatória
só ocasiona falha de operação se a temperatura atingir valores e restringe o fluxo de água no sistema. A sua deposição é mais
que comprometam a sua microestrutura cristalina. frequente em áreas de baixa velocidade de fluxo onde pode
A formação de depósitos porosos, é também favorável à provocar abrasão dos metais do sistema. Por outro lado, se a
concentração localizada de cloretos. actividade biológica do fouling não for detectada e corrigida
atempadamente, pode bloquear totalmente os tubos e orifícios
As incrustações, depósitos e lamas podem formar-se
separadamente ou misturados, para os identificar é necessário do sistema [COSTERTON, 1987].
uma análise química e, por vezes, recorrer à difracção por raio
X.
As incrustações constituídas por camadas de diferente
composição química e textura, resultam de alterações na
composição química da água de alimentação, do tratamento
químico usado e da temperatura do local.
As incrustações são normalmente agravadas por
problemas de corrosão-cavitação. O fenómeno de cavitação
consiste na formação e no colapso de bolhas de vapor, em
temperaturas relativamente baixas, nas superfícies metálicas,
provocando perfurações semelhantes a um favo de mel [BETZ,
1980]. A cavitação é provocada pela ebulição de água a baixas
temperaturas e pressões reduzidas (inferior à pressão de vapor).
A zona de queda de pressão é a de estrangulamento com Figura 9 -Fouling em permutador de calor [DANTAS,
elevada velocidade de fluxo. Após a passagem da água por esta 1996].
zona, a pressão volta ao normal e as bolhas entram
violentamente em colapso sobre superfícies limitadas. A adição
de óleos solúveis que formam uma fina película que adere às
superfícies metálicas do circuito, amortece as vibrações
minimizando a cavitação.
As incrustações calcáreas nas superfícies de troca de
5.7. Soluções
calor de um motor reduzem a taxa de arrefecimento dos Na tabela 2 é feito um resumo dos exemplos de corrosão
componentes sujeitos a cargas térmicas, implicando um apresentados no capítulo 5.
abaixamento do rendimento termodinâmico.
Figura Causa de Corrosão Solução
2 Água com pH antre 4,5 a Correcção de valor de
5,5, durante 3 meses pH com hidróxido de
sódio
3 Água com 880 ppm de Eliminação dos cloretos
cloretos, durante 8 meses na água de alimentação
4 Elevada concentração de Cromatos e pH ajustado
cloretos para 8a9
5 Água tratada com mistura Tratamento com
de cromato-polifosfato- polifosfatos-zinco e
zinco e biocidas dispersantes
antioxidantes. Houve específicos. Controle
reversão do polifosfato com microbiológico rígido e
deposição de fosfato de controlo de sólidos
Figura 8 -“Tuberculação” após curvatura no tubo cálcio no espelho que suspensos
impediu o acesso do
[DANTAS, 1996]. inibidor às junções cobre-
ferro.
5.6 “Fouling” 6 Ânodos de zinco usado Limpar o ânodo e
Fouling é uma aglomeração de materiais funcionando a junto a tratamento com substituir o tratamento
polifosfatos, cujos produtos de polifosfatos

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de reversão reagem com o Referências Bibliográficas


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Tabela 2 - resumo dos exemplos de corrosão apresentados
no capítulo 5.

6. Conclusões
Conclusão, a água, matéria prima básica de qualquer circuito de
refrigeração pode originar, quando não é devidamente tratada,
uma série de anomalias e processos destrutivos indesejáveis.
Cada equipamento tem as suas especificidades próprias
pelo que deve ter-se sempre em atenção as instruções dos
fabricantes, sobretudo no que respeita a evitar a ocorrência de
corrosão galvânica, prevenir as incrustações calcáreas e
proteger da cavitação.
Os exemplos de corrosão apresentados no presente texto
são casos extremos que não se espera encontrar na nossa
Marinha. Dão no entanto uma visão das consequências que uma
manutenção descuidada ou inconsciente podem ter.
Actualmente, na Marinha Portuguesa é usado o
“ANTICORIT S 2000 A” como aditivo anticorrosivo para
sistemas de refrigeração de motores de combustão. Este aditivo
contém inibidores de corrosão baseados em ácidos orgânicos e
inorgânicos e agentes de lubrificação (para redução do desgaste
de vedantes). É aplicado em concentrações de 3 a 5 % .
Seja qual for o equipamento ou circuito de arrefecimento
que se pretende manter, o mais importante é estar sempre atento
à limpeza e pureza das águas usadas nos flúidos dos circuitos
de refrigeração (através de análises fisico-químicas periódicas
adequadas) pois só assim se saberá qual o tratamento a aplicar
ou se o tratamento usado ontem também pode servir amanhã!

Seminário “Projecto, Construção e Manutenção de Navios”, 1998 21-8

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