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Abstract
Este trabalho não traduzindo nenhum avanço inovador nesta área, pretende fazer um overview de alguns aspectos mais
relevantes do fenómeno de corrosão, necessário dada a dispersão de dados sobre o tema. Não se pretende fazer uma
aproximação teórica do mecanismo de corrosão mas sim uma abordagem mais prática do problema, com o rigor e
exactidão que este assunto merece. Serão apresentados alguns exemplos práticos de problemas de corrosão e respectiva
solução.
É importante conhecer que tipo de problemas de corrosão podem surgir, e ter uma noção de como os parâmetros
que os influenciam estão correlacionados. Só desta forma será possível inspeccionar correctamente os equipamentos para
prevenir eficazmente a corrosão. A escolha das condições mais favoráveis aos tratamentos anti-corrosivos deve ser
cautelosa, sobretudo em situações tão específicas e complexas como as inerentes à manutenção de navios.
devem ser consideradas as possibilidades de corrosão dos Além destes aspectos é também muito importante
equipamentos como os permutadores de calor, onde se caracterizar a forma de corrosão (vd figura 1), p.ex.:
processam as transferências térmicas. Deve ainda considerar-se • quanto ao aspecto de corrosão pode ser, uniforme,
a possibilidade de acção combinada de solicitações mecânicas e placas, alveolar, puntiforme, intergranular,
meio corrosivo. Os materiais metálicos em contacto com transgranular, filiforme, esfoliação, etc;
líquidos em movimento podem apresentar corrosão acelerada
• quanto ao mecanismo de corrosão, consoante o tipo
pela acção conjunta de factores químicos e mecânicos como
de reacção envolvida;
erosão, turbulência e cavitação. Por outro lado, as impurezas
presentes na água ocasionam frequentemente deterioração de • quanto às condições operacionais, corrosão sob
equipamentos e tubagens, nomeadamente a presença de: tensão fracturante, sob fadiga, sob atrito, corrosão-
erosão, etc;
• sais dissolvidos (cloreto de sódio, sais hidrolisáveis,
bicarbonato de cálcio, etc); • quanto ao meio corrosivo, corrosão atmosférica, por
microorganismos, temperaturas elevadas, etc.
• gases dissolvidos (oxigénio, dióxido de carbono,
sulfureto de hidrogénio, óxidos de enxofre, etc);
• sólidos em suspensão;
• crescimento biológico.
3. Corrosão
Quando se fala em corrosão associa-se normalmente à corrosão
resultante da oxidação do ferro metálico pelo oxigénio
dissolvido na água. No entanto, a corrosão abrange muito mais
do que isso, daí que o prório termo “corrosão” tem sido usado
para significar o fenómeno em si, alguns resultados de
fenómeno ou ainda os danos causados pelo mesmo. Na
tentativa de harmonização da terminologia a IUPAC
(International Union of Pure and Applied Chemistry) define
corrosão nos seguintes termos [LOBO, 1986]:
“Corrosion is an irreversível interfacial reaction of a material
(metal, ceramic, polymer) with a neighbouring phase by
consumption of the material or dissolution into the material of a
component of the neighbouring phase.
Often, but not necessarily corrosion results in detrimental
effects for the usage of the material considered. Exclusively
physical or mechanical interactions such as melting or
evaporation, abrasion or fracture are not included in the term
corrosion”.
Por outro lado, a Norma Portuguesa 4 / 85 segue o critério ISO Figura 1 – Representação esquemática de formas de
que emprega o termo “corrosão” apenas para significar o corrosão [SINGH, 1993].
fenómeno de corrosão [LOBO, 1986]:
“Interacção físico – química entre um metal e o meio em que se
encontra da qual resultam alterações das propriedades do metal
e frequentemente uma degradação funcional do próprio metal,
do seu meio ou do sistema técnico a que pertencem”. 4. Medidas de protecção da corrosão
A degradação dos materiais, geralmente metálicos, por acção
química ou electroquímica do meio ambiente, aliada ou não a As medidas de protecção da corrosão mais comuns (vd tabela
esforços mecânicos origina normalmente alterações prejudiciais 1) são: a aplicação de inibidores de corrosão, revestimentos
no material, tais como, desgaste, variações químicas ou metálicos (Cr, Ni, aço inoxidável), revestimentos não metálicos
modificações estruturais. Assim, o estudo do conjunto material (cerâmicos, óxido de alumínio, tintas com sistemas vinílicos,
metálico, meio corrosivo e condições de operação, será epóxidos, acrílicos, poliuretanos, silicones) e a protecção
imprescindível para definir as adequadas medidas de protecção catódica galvânica [BUTLER, 1966].
de corrosão em determinados equipamentos ou instalações
[HEBERT, 1963].
O2 + 4 H + 4e ↔ 2H2O
+ - 0
Os polifosfatos formam com os sais de cálcio e zinco E = 1.229 V
existentes na água, partículas coloidais complexas carregadas
2Fe + O2 + 4H ↔ 2Fe + 2H2O
+ 2+
Figura 2 - Ataque ácido (água com pH entre 4,5 e 5,5 Figura 4 -Tubo de aço-carbono após submersão em cloreto
durante 3 meses) [DANTAS, 1996]. de sódio (anticongelante) [DANTAS, 1996].
• controlar a alcalinidade. biomassa como ligante dos sólidos suspensos (poeiras, lamas,
As incrustações são normalmente resultado da elevada produtos de corrosão) e precipitados inorgânicos (polifosfatos
concentração de sais minerais dissolvidos ou suspensos na hidrolisados).
água. O processo de incrustação é na maioria dos casos lento e O fouling impede uma transferência de calor satisfatória
só ocasiona falha de operação se a temperatura atingir valores e restringe o fluxo de água no sistema. A sua deposição é mais
que comprometam a sua microestrutura cristalina. frequente em áreas de baixa velocidade de fluxo onde pode
A formação de depósitos porosos, é também favorável à provocar abrasão dos metais do sistema. Por outro lado, se a
concentração localizada de cloretos. actividade biológica do fouling não for detectada e corrigida
atempadamente, pode bloquear totalmente os tubos e orifícios
As incrustações, depósitos e lamas podem formar-se
separadamente ou misturados, para os identificar é necessário do sistema [COSTERTON, 1987].
uma análise química e, por vezes, recorrer à difracção por raio
X.
As incrustações constituídas por camadas de diferente
composição química e textura, resultam de alterações na
composição química da água de alimentação, do tratamento
químico usado e da temperatura do local.
As incrustações são normalmente agravadas por
problemas de corrosão-cavitação. O fenómeno de cavitação
consiste na formação e no colapso de bolhas de vapor, em
temperaturas relativamente baixas, nas superfícies metálicas,
provocando perfurações semelhantes a um favo de mel [BETZ,
1980]. A cavitação é provocada pela ebulição de água a baixas
temperaturas e pressões reduzidas (inferior à pressão de vapor).
A zona de queda de pressão é a de estrangulamento com Figura 9 -Fouling em permutador de calor [DANTAS,
elevada velocidade de fluxo. Após a passagem da água por esta 1996].
zona, a pressão volta ao normal e as bolhas entram
violentamente em colapso sobre superfícies limitadas. A adição
de óleos solúveis que formam uma fina película que adere às
superfícies metálicas do circuito, amortece as vibrações
minimizando a cavitação.
As incrustações calcáreas nas superfícies de troca de
5.7. Soluções
calor de um motor reduzem a taxa de arrefecimento dos Na tabela 2 é feito um resumo dos exemplos de corrosão
componentes sujeitos a cargas térmicas, implicando um apresentados no capítulo 5.
abaixamento do rendimento termodinâmico.
Figura Causa de Corrosão Solução
2 Água com pH antre 4,5 a Correcção de valor de
5,5, durante 3 meses pH com hidróxido de
sódio
3 Água com 880 ppm de Eliminação dos cloretos
cloretos, durante 8 meses na água de alimentação
4 Elevada concentração de Cromatos e pH ajustado
cloretos para 8a9
5 Água tratada com mistura Tratamento com
de cromato-polifosfato- polifosfatos-zinco e
zinco e biocidas dispersantes
antioxidantes. Houve específicos. Controle
reversão do polifosfato com microbiológico rígido e
deposição de fosfato de controlo de sólidos
Figura 8 -“Tuberculação” após curvatura no tubo cálcio no espelho que suspensos
impediu o acesso do
[DANTAS, 1996]. inibidor às junções cobre-
ferro.
5.6 “Fouling” 6 Ânodos de zinco usado Limpar o ânodo e
Fouling é uma aglomeração de materiais funcionando a junto a tratamento com substituir o tratamento
polifosfatos, cujos produtos de polifosfatos
6. Conclusões
Conclusão, a água, matéria prima básica de qualquer circuito de
refrigeração pode originar, quando não é devidamente tratada,
uma série de anomalias e processos destrutivos indesejáveis.
Cada equipamento tem as suas especificidades próprias
pelo que deve ter-se sempre em atenção as instruções dos
fabricantes, sobretudo no que respeita a evitar a ocorrência de
corrosão galvânica, prevenir as incrustações calcáreas e
proteger da cavitação.
Os exemplos de corrosão apresentados no presente texto
são casos extremos que não se espera encontrar na nossa
Marinha. Dão no entanto uma visão das consequências que uma
manutenção descuidada ou inconsciente podem ter.
Actualmente, na Marinha Portuguesa é usado o
“ANTICORIT S 2000 A” como aditivo anticorrosivo para
sistemas de refrigeração de motores de combustão. Este aditivo
contém inibidores de corrosão baseados em ácidos orgânicos e
inorgânicos e agentes de lubrificação (para redução do desgaste
de vedantes). É aplicado em concentrações de 3 a 5 % .
Seja qual for o equipamento ou circuito de arrefecimento
que se pretende manter, o mais importante é estar sempre atento
à limpeza e pureza das águas usadas nos flúidos dos circuitos
de refrigeração (através de análises fisico-químicas periódicas
adequadas) pois só assim se saberá qual o tratamento a aplicar
ou se o tratamento usado ontem também pode servir amanhã!