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Disciplina História da Enfermagem

Revolta da Vacina
Profª Msc. Eliara Adelino da Silva
• Os higienistas foram os primeiros a formular
um discurso sobre as condições de vida na
cidade, propondo intervenções mais ou
menos drásticas para restaurar o equilíbrio
daquele "organismo" doente.
• O primeiro plano urbanístico para o Rio de
Janeiro foi elaborado entre duas epidemias
muito violentas (1873 e 1876), mas foi
somente no governo de Rodrigues Alves, entre
1903 e 1906, que houve uma reforma urbana
e sanitária na capital.
Sobre a Febre Amarela
• Agente causador: Vírus;

• Transmissão: Picada do mosquito (fêmea) contaminado: Aedes


aegypti (ciclo urbano da doença) e Haemagogus e Sabethes (ciclo
silvestre;

• Sintomas: Dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no


corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias
(de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina)

• Tratamento: Não existe medicamento.

• Prevenção: Vacinação e controle do mosquito.


Sobre a Peste Bubônica
• Agente causador: Bactéria (Yersinia pestis);

• Transmissão: picada da pulga

• Sintomas:

• Tratamento: Antibióticos e quimioterápicos.

• Prevenção: Acabar com as pulgas.


O quadro Triunfo da morte (1562), do pintor belga Peter Bruegel (1525-1569),
retrata o horror que a peste negra causou na Europa
As campanhas sanitárias na
capital
• A reputação de cidade pestilenta do Rio de Janeiro
devia-se, sobretudo, à presença da febre amarela, da
varíola e da peste bubônica.
• Essas doenças estavam comprometendo a política de
estímulo à imigração estrangeira e acarretando
enormes prejuízos à economia nacional, dado que os
navios que atracavam na capital eram submetidos a
freqüentes quarentenas.
• Foram, por essa razão, os alvos prioritários das
campanhas sanitárias implementadas nesse período.
• Em 1904, enquanto Oswaldo Cruz combatia à febre
amarela, os casos de varíola começaram a crescer
assustadoramente na capital. Em meados do ano, o
número de internações no Hospital de Isolamento São
Sebastião chegava a 1.761.
• Para enfrentar a epidemia, em 29 de junho de 1904, a
Comissão de Saúde Pública do Senado apresentou ao
Congresso projeto de lei reinstaurando a
obrigatoriedade da vacinação, o único meio profilático
real contra a varíola, em todo o território nacional.
• Figuravam no projeto cláusulas draconianas que
incluíam multas aos refratários e a exigência do
atestado de vacinação para matrículas nas escolas,
empregos públicos, casamentos, viagens etc.
Número de Mortes
• Febre amarela:
• 1849 – 1850 = 4.160 mortes
• 1873 = 3.559 mortes
• 1876 = 3.476 mortes
• Varíola:
• Durante o ano de 1904 = 4.201 mortes no
Distrito Federal
Osvaldo Cruz
• Para controlar a peste bubônica, as ruas do Rio de
Janeiro eram percorridas por agentes públicos que
espalhavam raticidas e recolhiam lixo acumulado. Foi
criado, naquela época, um novo cargo público: o
comprador de ratos, agentes que pagavam
determinadas quantias para cada rato capturado.

• Para combater a febre amarela, que Osvaldo Cruz


acreditava ser transmitida por um mosquito, foram
criadas Brigadas Mata-Mosquito.

• A população divertia-se e criticava Osvaldo Cruz,que


supunha ser louco por acreditar que a transmissão da
doença se fizesse por mosquitos.
A revolta da vacina
• Desde meados do século XVI o Rio de Janeiro convivia
com a varíola, que tomava forma epidêmica no inverno
e fazia numerosas vítimas. O combate à doença
dependia essencialmente da aplicação da vacina
jenneriana.
• No Brasil, seu uso fora declarado obrigatório para as
crianças em 1837, estendendo-se, em 1846, aos
adultos. Estas leis, no entanto, nunca foram cumpridas
por dois motivos:
1. falta de condições políticas e técnicas (sua produção
em escala industrial no Rio de Janeiro só começou em
1884);
2. horror que a maioria da população nutria à idéia de
se deixar inocular com o vírus da doença.
Repercussão negativa
• Caso de uma mulher que morreu no mês de
julho, pouco após ter recebido a vacina
antivariólica e o médico legista atribuiu como
causa do falecimento um estado de infecção
generalizada (septicemia), decorrente da
vacinação.
• Mês de julho = 23.021 vacinações, no mês
seguinte, esse número caiu para 6.036
pessoas vacinadas
• No começo do século
XX, o Rio de Janeiro
enfrentava graves
problemas sociais:
• Grandes contingentes
de imigrantes e de ex-
escravos;
• Entre 1872 e 1890,
sua população
duplicou, passando de
274 mil para 522 mil
habitantes.
• O aumento populacional e,
particularmente, o aumento da
pobreza agravaram a crise
habitacional, traço constante da
vida urbana no Rio desde meados
do século XIX.
• O ambiente dessa crise era o
miolo do Rio de Janeiro: a Cidade
Velha e suas adjacências – , onde
se multiplicavam as habitações
coletivas e onde eclodiam as
violentas epidemias de febre
amarela, varíola, peste bubônica
que conferiam à cidade fama
internacional de porto sujo.
Prefeito Barata Ribeiro 1892
• Perseguição aos
cortiços;
• Demolição do
cortiço “Cabeça
de porco”, com
cerca de 40.000
moradores.
Augusto Malta, Interior de um cortiço, Rio de Janeiro, 1906
“o subúrbio é o refúgio dos infelizes” Lima Barreto.

• A enorme pressão por imóveis, devida à grande


demolição, empurram a população humilde para a
periferia da cidade, ou para os bairros mais distantes e
degradados, onde se alojavam em condições
subumanas e pagando preços exorbitantes.
• Regiões desvalorizadas, por serem impróprias para
construções, como os morros e os mangues, começam
a forrar-se de casebres construídos de tábuas de caixas
de bacalhau, cobertas de latas de querosene
desdobradas, igualmente sem nenhuma forma de
higiene e sem água corrente
• Para os trabalhadores
não proprietários que
habitavam as casas de
cômodos, cortiços,
estalagens e prédios
deteriorados
existentes no centro,
as desapropriações
significaram a expulsão
pura e simples de seus
locais de moradia
• Foi justamente essa regulamentação e
obrigatoriedade que desencadeou a revolta.
• A regulamentação foi publicada no dia 9, e já no
dia 10 as agitações iniciavam com fúria.
• As ruas do Rio de Janeiro tornaram-se campo de
batalha. Oficiais da Escola Militar da Praia
Vermelha aliaram-se aos revoltosos. O governo
reagiu com as tropas leais atacando os
revoltosos. Alguns mortos, centenas de feridos e
mais de mil pessoas presas e deportadas para o
Acre foram o saldo da Revolta.
• Porém, os grandes
proprietários
comerciantes
obtiveram uma boa
indenização e
puderam abrir um
negócio nas zonas
proletárias
remanescentes.
• A ação do governo não se
fez somente contra os seus
alojamentos: suas roupas,
seus pertences pessoais,
sua família, suas relações
vicinais, seu cotidiano, seus
hábitos, seus animais, suas
formas de sobrevivência e
subsistência, sua cultura,
enfim, tudo é atingido pela
nova disciplina espacial,
social, ética e cultural
imposta pelo gesto
reformador.
Rodrigues Alves
• Exibir ao mundo
desenvolvido a
imagem de um
Brasil próspero,
civilizado, ordeiro,
dotado de
instituições e de um
Estado consolidado
e estável.
• A reforma da capital constituiu, sem dúvida,
uma ruptura no processo de urbanização do
Rio de Janeiro, um ponto de inflexão no qual a
"cidade colonial" cedeu lugar, de forma
definitiva à "cidade burguesa", moderna, do
século XX, que tinha como parâmetros as
metrópoles européias. Em novembro de 1906,
quando Rodrigues Alves Passou a faixa
presidencial a Afonso Pena, o Rio –
remodelado e saneado – já era apresentado
como "a cidade mais linda do mundo", a
"cidade maravilhosa".
O bota-baixo
• Dar mais franqueza ao tráfego
crescente das ruas da cidade;
• Iniciar a substituição das vielas
por largas ruas e avenidas
arborizadas;
• Promover melhores condições
estéticas e higiênicas para as
construções urbanas
• Canalizações subterrâneas;
Modernização do Porto
• Traços coloniais da cidade. Coexistia realidades
muito diferentes no mesmo espaço: atividades do
capital financeiro e comercial, toda a máquina
administrativa do Estado e os locais de trabalho e
moradia do proletariado e de parcelas da
pequena burguesia.
• Exemplo de conflito: luta persistente movida
pelas companhias carris contra os veículos de
carga, especialmente os carrinhos de mão, que se
aproveitavam dos trilhos para se deslocarem
Marc Ferrez. Mascate. 1895.
Marc Ferrez. Garrafeiros. 1895.

Marc Ferrez. Os Jornaleiros. 1895.


“maturidade precoce?”
• Oswaldo Cruz lança em abril de 1903, a
campanha contra a febre amarela e, no
começo de 1904, o combate à peste bubônica.
Em 1906, ao encerrar-se o mandato de
Rodrigues Alves, as estatísticas de mortalidade
e morbidade dessas doenças testemunhavam
o êxito das campanhas.
• Sua derrota se deu no combate à varíola,
travado em 1904, pois a obrigatoriedade da
vacina provocou a revolta popular.
Sobre a varíola
• Agente causador: Vírus;

• Transmissão: Gotas de saliva, roupas ou objetos contaminados;

• Sintomas: Nos primeiros dias são similares aos da gripe, depois de


alguns dias aparecem manchas, pápulas (lesões avermelhadas e
elevadas na pele), pústulas (pequenas bolhas cheias de pus) e
crostas

• Tratamento: Não existe medicamento.

• Prevenção: Vacinação e evitar contato com os doentes.


Sintomas da Varíola

Vírus da Varíola
Osvaldo Cruz
• O problema maior foi o controle da varíola,
com a vacina obrigatória.
Motivos de oposição à vacina
• Os opositores alegavam que os métodos de
aplicação do decreto de vacinação eram
truculentos, os soros e sobretudo os aplicadores
eram pouco confiáveis e os funcionários,
enfermeiros, fiscais e policiais encarregados da
campanha manifestavam instintos brutais e
moralidade discutível;
• Liberdade de consciência, deixando a cada
indivíduo a liberdade de decidir ou não pela
vacina, escolhendo as condições da sua aplicação;
• Horror de uma sociedade de moral
extremamente recatada (lembremos do
erotismo de Machado de Assis se concentrava
nos tornozelos e nos pulsos de suas
personagens femininas) de ver suas mulheres
terem expostas e manipuladas por estranhos
partes do corpo, cuja simples menção em
público vexava e constrangia a todos: braços,
coxas, nádegas.
• “lei obscena”
• Rui Barbosa (jurista, político, diplomata), culto
e informado, respeitado pelo público e por
seus pares, afirmava o seguinte:
• “Não tem nome, na categoria de crimes do
poder, a temeridade e violência, a tirania a
que ele se aventura, expondo-se,
voluntariamente, obstinadamente, a me
envenenar, com a introdução no meu sangue,
de um vírus cuja influência existem mais bem
fundados receios de que seja condutor da
moléstia ou da morte”.
• Apesar da revolta, Osvaldo Cruz obteve
sucesso na sua missão.
• Em 1904, 3.500 pessoas haviam morrido de
varíola no Rio de Janeiro.
• Dois anos depois, apenas 9 óbitos foram
constatados.
• Osvaldo Cruz tornou-se cientista renomado e
conhecido em todo o mundo.
• Por trás da luta popular contra a vacinação
obrigatória, estava o repúdio aos planos de
saneamento e embelezamento do Rio de
Janeiro que resultaram na demolição de
bairros populares e na remoção de seus
moradores para áreas distantes.
• A revolta não visava o poder, não pretendia
vencer, não podia ganhar nada.
• Era somente um grito, uma convulsão de dor,
uma vertigem de horror e indignação.
• Até que ponto um homem suporta ser
espezinhado, desprezado e assustado?
Quanto sofrimento é preciso para que um
homem se atreva a encarar a morte sem
medo?
Bibliografia
• BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um
Haussmann tropical: a renovação urbana da
cidade do Rio de Janeiro no início do século XX.
Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
Turismo e Esportes, Departamento Geral de
Documentação e Informação Cultural, Divisão de
Editoração, 1990.
• SEVCENKO, Nicolau. A revolta da vacina: mentes
insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1984.
Questões desafio
1. (Unicamp 2008 - adaptada)
Texto 3. Com 800 mil habitantes, o Rio de Janeiro
era uma cidade perigosa. Espreitando a vida dos
cariocas estavam diversos tipos de doenças, bem
como autoridades capazes de promover sem
qualquer cerimônia uma invasão de privacidade. A
capital da jovem República era uma vergonha para a
nação. As políticas de saneamento de Oswaldo Cruz
mexeram com a vida de todo mundo. Sobretudo
dos pobres. A lei que tornou obrigatória a vacinação
foi aprovada pelo governo em 31 de outubro de
1904; sua regulamentação exigia comprovantes de
vacinação para matrículas em escolas, empregos,
viagens, hospedagens e casamentos.
A reação popular, conhecida como Revolta da Vacina,
se distinguiu pelo trágico desencontro de boas
intenções: as de Oswaldo Cruz e as da população.
Mas em nenhum momento podemos acusar o povo
de falta de clareza sobre o que acontecia à sua volta.
Ele tinha noção clara dos limites da ação do Estado.
(Adaptado de José Murilo de Carvalho, "Abaixo a vacina!". Revista Nossa
História, ano 2, nº- 13, novembro de 2004, p. 74.)
A partir da leitura do texto 3 da coletânea e de seus
conhecimentos, responda às questões abaixo:
a) Explique de que maneira as medidas sanitárias, no
Rio de Janeiro do início do século XX, "mexeram com
a vida de todo mundo, sobretudo dos pobres"?
2. (FUVEST 2009)
• No início do século XX, focos de varíola e febre
amarela fizeram milhares de vítimas na cidade
do Rio de Janeiro.
• Nesse mesmo período, a atuação das Brigadas
Mata-Mosquitos, a obrigatoriedade da vacina
contra a varíola e a remodelação da região
portuária e do centro da cidade geraram
insatisfações entre as camadas populares e entre
alguns políticos.
• Rui Barbosa, escritor, jurista e político, assim
opinou sobre a vacina contra a varíola:
• “…não tem nome, na categoria dos crimes do
poder, a temeridade, a violência, a tirania a
que ele se aventura (…) com a introdução, no
meu sangue, de um vírus sobre cuja influência
existem os mais bem fundados receios de que
seja condutor da moléstia ou da morte.”

• Considerando esse contexto histórico e as


formas de transmissão e prevenção dessas
doenças, é correto afirmar que:
a) a febre amarela é transmitida pelo ar e as ruas alargadas
pela remodelação da área portuária e central da cidade
permitiriam a convivência mais salubre entre os pedestres.
b) o princípio de ação da vacina foi compreendido por Rui
Barbosa, que alertou sobre seus efeitos e liderou a Revolta
da Vacina no Congresso Nacional.
c) a imposição da vacina somou-se a insatisfações populares
geradas pela remodelação das áreas portuária e central da
cidade, contribuindo para a eclosão da Revolta da Vacina.
d) a varíola é transmitida por mosquitos e o alargamento das
ruas, promovido pela remodelação urbana, eliminou as
larvas que se acumulavam nas antigas vielas e becos.
e) a remodelação da área portuária e central da cidade, além
de alargar as ruas, reformou as moradias populares e os
cortiços para eliminar os focos de transmissão das doenças.
No ano de 1904 aconteceu no Rio de Janeiro a “Revolta
da Vacina”. Sobre este acontecimento,julgue as
alternativas corretas.

(04) os opositores da vacinação obrigatória e do


autoritarismo da campanha de vacinação contra
varíola, alegavam ser uma" lei obcsena" e
desrespeitosa à honra das mulheres.
(16) Esta revolta foi devido à grande mortalidade de
pessoas causadas pela vacinação obrigatória
instituída pela Lei.
• (20) houve muita desconfiança em relação à
ciência médica e desinformação de parte da
população. Até intelectuais importantes, como
Rui Barbosa, consideraram uma temeridade
injetar um vírus na corrente sanguínea.
• (24) apresenta o reconhecimento das classes
populares do Rio de Janeiro pela forma como
foi desenvolvida a campanha de vacinação
liderada por Osvaldo Cruz
MUITO OBRIGADA!!!!

Profª Msc. Eliara Adelino da Silva

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