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Burguesia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Burguesia é um termo com vários significados históricos, sociais e culturais. A
palavra se origina do latim burgus, significando "cidade", adaptada para várias
línguas europeias. Burgueses, por extensão, eram os habitantes dos burgos, em
oposição aos habitantes do campo. Na Idade Média o conceito se limitou a uma
específica classe social formada nos burgos, conhecida como a burguesia
propriamente dita, que detinha o direito de cidadania, o qual acarretava vários
privilégios sociais, políticos e econômicos. Com o passar do tempo esta classe
tomou o poder nas cidades, excluiu a nobreza feudal de todas as funções públicas
e ainda mais tarde, em muitas das cidades mais importantes e ricas, seu estrato
superior passou a ser considerado nobre em seu próprio direito.
Índice
Origens
Ascensão
A grande burguesia
Idade Moderna
Idade Contemporânea
A visão marxista
Atualidade
Ver também
Referências
Origens
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O termo burguês deriva do latim burgus através de adaptações germânicas burga, baúrgs ou bürg, que na Alta Idade Média
designavam uma pequena fortificação, um castelo ou uma vila murada. Seus habitantes, por extensão, se denominaram
primitivamente burgensis, burgari — burgueses —, termo atestado pela primeira vez no século VIII. Com a conquista normanda
da Inglaterra o termo bürg foi importado e aparece no século XII como bury, borough, burgh, denominando uma cidade. Aparece
na mesma época também no norte do Reino da França.[1] O conceito original está intimamente associado ao de cidadania, cujas
origens estão na Antiguidade. Tanto a Grécia como Roma organizaram suas sociedades urbanas de maneira a integrar um corpo de
"cidadãos", que viviam em um espaço físico definido, eram regidos por leis específicas e detinham relevantes direitos políticos,
não atribuídos a outras classes.[2]
As igrejas da Idade Média, além de dar o conhecimento religioso aos cristãos, tomaram conta do ensinamento nas escolas, que
ficavam anexas aos mosteiros. Com o surgimento da burguesia, parte das novas escolas passaram a ser administradas por esta
classe que passou a ensinar novas matérias, além do conhecimento religioso.
Ascensão
Na Idade Média os direitos eram diferentes para cada classe social. A burguesia evoluiu paralelamente ao sistema feudal mas
manteve-se muito à parte dele. Enquanto que a nobreza se concentrava no campo, governava e dominava a população rural
impondo-lhe pesados impostos e múltiplas obrigações e privando-a de uma série de direitos, não raro tratando-a de forma brutal, a
burguesia, protegida pelos privilégios concedidos às cidades, passou a governar a si mesma e a administrar as funções públicas e
produtivas, ao mesmo tempo controlando a vida e atividades da população urbana não-burguesa.[2]
administrativos, que ganhavam prática e competência nas funções cívicas, e com a progressiva ampliação dos seus direitos, os
burgueses virtualmente tomaram o poder em grande número de cidades, excluindo todos os nobres das atividades e funções
públicas urbanas, formando uma nova classe governante que tinha todas as características de um patriciado.[2][5][6]
A partir do século XV, na maioria das principais cidades da Europa, como as capitais, as grandes cidades mercantis, os centros
fabris ou mineradores, as cidades livres imperiais, a burguesia já estava desenvolvendo uma intensa e importante atividade em
múltiplas áreas, especialmente na política, economia, administração, sociedade e cultura, bem como nas instituições religiosas,
educativas e beneficentes. As cidades cresciam inchadas com uma massa de antigos servos que compravam sua liberdade e para lá
se dirigiam em busca de melhores oportunidades, ou abandonavam seus senhores procurando refúgio intra-muros, protegidos
pelos privilégios concedidos às cidades. Mesmo no campo as relações se modificavam com a prática de arrendamento de feudos e
propriedades rurais para trabalhadores assalariados.[7][8]
A grande burguesia
Neste período florescente as principais famílias burguesas tornaram-se ricas e
poderosas, e surgiu uma divisão ainda mais elitista na burguesia, formando uma
classe genericamente conhecida como alta ou grande burguesia. Dominavam os
mais importantes cargos administrativos, legislativos, judiciais e militares,
monopolizavam o alto clero, os principais meios produtivos e as casas bancárias, e
passaram a adotar hábitos e investir em capitais simbólicos típicos da nobreza.
Compravam feudos e direitos hereditários, casavam com nobres, financiavam a
realeza, agiam como senhores, adotavam brasões e inventavam genealogias
Os brasões das Sete Linhagens de
míticas.[6][9][10][11][12]
Bruxelas, gravura de Jacques
Na maior parte das grandes cidades a dignidade da alta burguesia foi além de uma Harrewyn, 1697.
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A mímese da antiga nobreza pela alta burguesia foi completa, usando os mesmos
meios de legitimação, auto-afirmação e autoperpetuação no poder, e criando para
si mesma um amplo espaço de representação social. Em sua essência, a nobreza de
que se revestiu o patriciado e a grande burguesia só se distinguia da nobreza
tradicional pela sua origem cívica, e não feudal ou militar. E mais do que se
equiparar à nobreza, de fato em muitos locais a suplantou em prestígio, riqueza e
influência.[23][24][25][5][25] A tradição da alta burguesia tornou-se tão ilustre nos
Países Baixos que depois de um longo período em regime republicano, quando a Edito de Luís XI confirmando os
privilégios da burguesia de Paris,
monarquia foi restaurada e quis enobrecer as famílias principais, descendentes dos
1465.
antigos grandes comerciantes e políticos, teve várias vezes suas ofertas rejeitadas
porque essas famílias tinham o estatuto de burgueses como superior ao de
nobres.[12]
Idade Moderna
A atividade burguesa exercera um impacto na sociedade medieval como um todo que repercutiu muito além do confinamento dos
seus agentes nas cidades. Até o século XVI cerca de 90% da população europeia ainda vivia no campo, e até o início do século
XVIII essa proporção não mudaria muito. Contudo, as cidades se tornaram os centros de troca e de comércio por excelência,
mantinham as principais manufaturas e indústrias, e essas atividades, todas comandadas pela burguesia, ganhavam cada vez maior
especialização, refinamento e diversidade, além de assumirem um claro protagonismo na macroeconomia. Seu governo
permanecia tipicamente de caráter autônomo e coletivo, centrado nos Conselhos, e monopolizado pelos estratos superiores da
burguesia. As mulheres burguesas tinham alguma participação na economia e em outros aspectos da vida urbana, mas, numa
sociedade ainda fortemente patriarcal, permaneciam excluídas da atividade política. Esse perfil urbano e sua importância no
conjunto social se manteriam em essência intactos na passagem para a Idade Moderna, mesmo que algumas urbes desenvolvessem
rapidamente um caráter diferenciado, metropolitano, como capitais de províncias e de Estados, o que acentuava significativamente
sua importância. Nas palavras de Christopher Friedrichs, "de fato, a maioria dos grandes temas da história da Europa no início da
Idade Moderna está intimamente relacionada às experiências urbanas".[4]
A Europa se transformava profundamente. A invenção da imprensa forneceu meios de uma ampla difusão do conhecimento, os
ideais humanistas do Renascimento atribuíram uma nova dignidade ao homem, o racionalismo, a tecnologia e a ciência entravam
em primeiro plano nos interesses da intelectualidade, as grandes navegações mostraram que havia imensos novos horizontes a
desvendar e explorar, e esses fatores revolucionaram a visão do mundo e da posição do homem nele, deixando a concepção
medieval para trás. Ao mesmo tempo, com o declínio do sistema feudal, surgiu uma nova ideia de poder e política, e reis
absolutistas assumiram o governo de novos Estados que estavam sendo formados, contando com um sólido apoio burguês, obtido
com promessas de controle da nobreza e de favorecimento dos interesses burgueses.[7][26][27]
Ao longo da Idade Moderna, mesmo que se mantivessem muitas linhas de continuidade com o período anterior, importantes
modificações ocorreriam na organização e funcionamento das cidades, que se adaptavam a um contexto diferente e se tornavam
destacados polos de fermentação cultural, religiosa, política, educativa, científica e artística, modificando-se também a
composição das elites governantes, com um crescente afastamento do poder dos membros da baixa burguesia, como os grupos
manufatureiros e artesanais, em benefício dos grandes comerciantes, dos financistas e dos profissionais liberais de maior prestígio
como os médicos e juristas.[4] A ampla abertura dos mercados do Oriente, a exploração da África e a colonização da América
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Idade Contemporânea
A insatisfação das classes baixas, acentuada por graves crises econômicas que
produziram desemprego e fome em larga escala, acabou por explodir na
Revolução Francesa, um exemplo clássico da luta de classes e um divisor de águas
na história da Europa, fazendo cair as leis e os privilégios da ordem feudal e
absolutista, limpando o caminho para a rápida expansão do comércio, da
tecnologia, da ciência e da indústria, e para o surgimento da Revolução Industrial.
Uma onda de revoluções liberais sacudiu a Europa e América nas décadas
seguintes, com um sucesso, no entanto, muito irregular nas diferentes regiões. A
burguesia assumia o comando definitivo da sociedade, mas mesmo que os
iluministas pregassem uma sociedade igualitária, "igualdade" ainda era um
conceito seletivo, aplicado apenas para certos segmentos da população, havendo a
forte preocupação de que as revoluções não caíssem no extremo de entregar o
comando ao proletariado.[7][28] Parece claro que seu sucesso nas várias regiões
dependeu na maior parte dos casos da capacidade burguesa de interagir com a
Caricatura revolucionária mostrando
antiga classe dominante sem uma confrontação radical e de integrar-se a um
o Terceiro Estado (povo)
quadro social já existente, embora seja inegável seu papel de agente transformador
carregando nas costas o Primeiro e
desse quadro.[32] o Segundo Estados (clero e
nobreza).
Muito dessa transformação deriva de uma mudança de foco nos interesses
econômicos burgueses e no sistema de produção. Enquanto que nas primeiras
etapas de formação do capitalismo era dominante uma filosofia mercantilista, advogando a intervenção do Estado na economia, o
protecionismo no comércio exterior e o acúmulo de capitais na forma de reservas de ouro e prata, nesta época esses princípios
haviam se tornado obsoletos, impondo-se uma atualização em benefício de um novo liberalismo econômico e de uma ordem
social renovada, da qual a burguesia alardeava ser a defensora, uma ordem onde deveriam imperar a justiça e o direito.[7] Na
interpretação de Albert Soboul, "o progresso das Luzes solapava os fundamentos ideológicos da ordem estabelecida, ao mesmo
tempo que se afirmava a consciência de classe da burguesia. Sua boa consciência: classe em ascensão, acreditando no progresso,
tinha a convicção de representar o interesse geral e de assumir o encargo da nação; classe progressiva, exercia uma triunfante
atração sobre as massas populares, [assim] como sobre os setores dissidentes da aristocracia".[33]
Com a reação das oligarquias e da alta hierarquia da Igreja Católica diante da Revolução Francesa e outras revoluções liberais, as
conquistas no campo dos direitos humanos e civis sofreram profundos retrocessos.[7] A afirmação do capitalismo industrial e do
liberalismo econômico em boa medida foi promovida por descendentes muito ativos e empreendedores das classes trabalhadoras e
manufatureiras ou de pequenos comerciantes, cujas tradições em atividades industriais e comerciais lhes deram uma base prática
para um crescimento rápido, e os investimentos nas indústrias em ascensão de muitos funcionários públicos e profissionais
liberais bem educados e adeptos da filosofia do progresso forneceram elementos de adicional dinamismo e versatilidade para a
burguesia, mas o sistema econômico e produtivo desenvolvido constituiu uma nova fonte de opressão para as categorias de onde
muitos dos seus agentes haviam saído.[32]
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A visão marxista
Nesta época de inquietação surgiram novas filosofias que buscavam entender e explicar esse contexto e definir melhor o conceito
de burguesia, que já se distanciava muito de sua origem medieval. Rousseau, Hegel e outros deram uma contribuição fundamental
separando o conceito de burguesia do de cidadania.[36][37][38] Essa ideia foi desenvolvida criticamente por Marx e Engels, e sua
teoria exerceria um profundo impacto no pensamento social, político e econômico a partir de meados do século XIX. Na leitura de
Bottomore, para eles burguesia passou a ser identificada como a classe detentora dos meios de produção na ordem social
capitalista, parte de uma concepção de História como uma sucessão de modos de produção e sistemas sociais, "cada qual
caracterizado por um determinado nível de desenvolvimento das forças produtivas (basicamente tecnologia), e uma estrutura de
classe particular (ou relações de produção), dentro da qual há um conflito endêmico".[36] É ilustrativo da sua visão histórica da
burguesia o que escreveram no Manifesto Comunista:
Na interpretação de Trindade, as ideias marxistas foram imprimindo às lutas sociais "uma dinâmica dupla de, a um só tempo,
continuidade e ruptura: retomavam a indignação moral e a insatisfação social dos socialistas utópicos e dos movimentos
espontâneos dos operários; mas afastavam-se daquelas idealizações voluntaristas de um imaginário mundo 'perfeito' para, em seu
lugar, promover a análise e a crítica concretas da sociedade real, em conexão com uma práxis social transformadora sob a
perspectiva dos explorados e oprimidos". Suas ideias levaram a uma nova consciência de classe entre o proletariado, que deu
origem a numerosas revoluções, das quais a de mais vasta repercussão foi a russa, em 1917, origem de uma profunda e duradoura
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cisão política e cultural no mundo.[7] Por outro lado, parece claro que mesmo no
tempo de Marx sua definição de burguesia era dificilmente aplicável de maneira
geral e muitas vezes não cumpria o papel histórico que ele lhe atribuiu.[40]
Atualidade
Desde os escritos de Marx e Engels as visões sobre a burguesia se multiplicaram imensamente, enfatizando diferentes aspectos e
entrando em frequente conflito, tornando impossível uma caracterização contemporânea precisa e unificada. Alguns acentuam seu
caráter progressista, liberal e revolucionário, outros apontam seus laços com tradições oligárquicas e elitistas, mas em geral se
reconhece que ela exerceu um papel fundamental para a modernização da Europa, para a abolição do sistema feudal e
aristocrático, para o estabelecimento do capitalismo e para o avanço científico e tecnológico,[31][36] além de ser uma importante
promotora das artes e da cultura em geral.[41][42][43] Segmentos da burguesia contemporânea foram identificados como ativos
agentes para a igualdade de gênero, a independência pessoal, a quebra de preconceitos e o incentivo à inovação, enquanto outros
se caracterizam pelo conservadorismo e uma vida de luxo ostensivo e desperdício de recursos.[44][45][46] Ao mesmo tempo, a
leitura da burguesia histórica também tem sofrido constante reavaliação, não raro com resultados divergentes. Popularmente o
conceito muitas vezes é usado de maneira pejorativa, associado a uma cultura materialista, grosseira, inculta e excessivamente
preocupada com a respeitabilidade.[40] Segundo Silva & Silva,
"É sempre difícil definir um grupo social, ainda mais como a burguesia, cujos
significados mudaram ao longo do tempo, mas que também são alvo de controvérsias.
A definição mais simples de burguesia é aquela que associa o termo ao comerciante,
ao burguês e ao capitalista. Uma associação que, no entanto, simplifica a
heterogeneidade profissional dos membros da burguesia, anulando as diferenças que
muitas vezes existem entre burgueses e capitalistas. Além disso, essa associação
rígida também não dá conta das variações históricas e geográficas assumidas pelo
conjunto da burguesia ao longo do tempo. [...] É preciso, ainda, ter sempre em mente
que esse grupo social mudou bastante ao longo do tempo e que a burguesia moderna,
associada ao comércio e às cidades, não corresponde à burguesia industrial
contemporânea da Revolução Industrial, e muito menos à burguesia atual, que
assumiu formas as mais diversas ligadas ao capital financeiro e à internacionalização
cada vez maior dos negócios".[31]
Ver também
História da Europa
Classe social
Renascimento do século XII
Revoluções burguesas
Homem livre
Referências
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