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7. PRISÃO CAUTELAR

7.1. Conceito
Trata-se de medida cautelar pessoal, específica do processo de natureza criminal, que deve, entretanto,
caracterizar-se como medida de extrema exceção.
O Código de Processo Penal foi recentemente alterado pela Lei n o. 12.403/2011, que reconheceu a prisão
processual como ultima ratio. Estabelece a nova redação do art. 282 do CPP:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressa-
mente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acu-
sado.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério
Público.
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de me-
dida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças
necessárias, permanecendo os autos em juízo.
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimen-
to do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumula-
ção, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista,
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. .
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar
(art. 319).

Destaque deve ser dado ao § 6º. do referido artigo, que deixa claro que a prisão preventiva, hoje, somente
poderá ser decretada diante de sua absoluta necessidade, devendo o juiz verificar, antes de lançar mão da medi-
da extrema, se outra não poderia ser adotada.
Quando se fala em “substituição por outra medida cautelar”, o próprio dispositivo nos remete ao art. 319,
que apresenta uma série de novas medidas alternativas, que visam garantir que o réu não se furte à aplicação da
lei, ou, ainda, evitar que reitere na conduta delituosa.
O juiz deve, após o advento da Lei no. 12.403/11, no momento da ciência formal do auto de prisão em fla-
grante (conforme preleciona o art. 310 do CPP), verificar qual dessas hipóteses está mais adequada ao caso con-
creto, concedendo então liberdade provisória ao preso, cumulada, se entender cabível, a uma das medidas caute-
lares não prisionais indicadas no art. 319 do CPP. São elas:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar ativi-
dades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato,
deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investi-
gação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, quando o investigado ou acusado tenha resi-
dência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira, quando hou-
ver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quan-
do os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do CP ) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstru-
ção do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Muitas destas medidas já vinham sendo aplicadas pelos juízes, que lançavam mão do seu poder geral de
cautela, em casos de liberdade provisória e revogação da preventiva, sem que, contudo, houvesse previsão legal.

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Hoje, portanto, encontra a prisão seu devido lugar: o de medida cautelar de caráter absolutamente excep-
cional.

7.2. Características
As prisões cautelares apresentam características inerentes a todo e qualquer processo cautelar. São elas:
a) Acessoriedade;
b) Provisoriedade;
c) Instrumentalidade hipotética;
d) Preventividade;
e) Homogeneidade.

7.3. Requisitos
Toda e qualquer prisão cautelar depende da presença de determinados requisitos, quais sejam:
- legitimidade (quem decretou a prisão deve ter competência para fazê-lo; sabe-se que toda e qualquer
prisão, à exceção do flagrante, deve ser decretada pelo juiz);
- pressupostos (toda medida cautelar depende da presença do fumus boni iuris e do periculum in mora.
No processo penal, a terminologia adequada é fumus comissi delicti e periculum libertatis);
- legalidade (a prisão deve estar prevista e nos estritos limites impostos pela lei).

7.4. Espécies de Prisão Cautelar


Após a reforma de 2008, não existem maiores dúvidas sobre as espécies de prisão. A prisão decorrente
da pronúncia e a prisão decorrente da prisão decorrente da sentença condenatória recorrível já eram considera-
das, tanto pela doutrina majoritária, como pelos tribunais superiores, inconstitucionais. Com as Leis 11.689/08 e
11.719/08, foram banidas do ordenamento jurídico, já que os artigos 413, § 3º., e 387, parágrafo único, ambos do
CPP, passaram a estabelecer que eventual prisão, no momento da pronúncia ou no momento da sentença con-
denatória, deve estar estritamente fundamentada nos pressupostos que autorizam a prisão preventiva (art. 312 do
CPP).
Hoje são, portanto, três as espécies de prisões cautelares: a prisão em flagrante, a prisão temporária e a
prisão preventiva.
Lembramos, entretanto, que o STF, no julgamento do HC 126.292, em 17/02/2016, decidiu pela possibili-
dade de execução provisória ou antecipada da pena a partir do julgamento da apelação, considerando que o prin-
cípio da presunção de inocência, ou presunção de não culpabilidade apenas impede a execução da pena imposta
na sentença enquanto houver possibilidade de análise de matéria fática. Assim, esgotado o duplo grau de jurisdi-
ção, e não havendo efeito suspensivo legalmente atribuído aos recursos especial e extraordinário, é possível o
recolhimento do réu ao cárcere, ainda que ausentes dos pressupostos da prisão preventiva, para fins de cumpri-
mento de pena de forma antecipada ou provisória. Tal entendimento, contudo, não possui efeito vinculante, po-
dendo ou não ser adotado pelos tribunais inferiores, motivo pelo qual verificamos, no próprio STF, a decisão mo-
nocrática do Ministro Celso de Mello no HC 135.100, contrariando o entendimento da Corte.
De toda sorte, a eventual possibilidade de execução provisória da pena não se confunde com as modali-
dades de prisão de natureza cautelar, para as quais se faz imprescindível o periculum in mora, ou, aqui, o pericu-
lum libertatis necessário à decretação de toda e qualquer medida cautelar.
Importante observar que, com o advento da Lei no. 12.403/2011, alguns autores entendem que a prisão
em flagrante passa a se caracterizar como uma pré-cautelar, e não como uma cautelar propriamente dita.

7.5. Prisão em Flagrante


O Código de Processo Penal trata da prisão em flagrante a partir do art. 301.
A doutrina apresenta, seja em função do que se encontra disposto em lei, seja em face de entendimentos
doutrinários e jurisprudenciais, três classificações para o flagrante. São elas:
facultativo e coercitivo
próprio, impróprio e presumido
FLAGRANTE
forjado, esperado, preparado ou provocado e
retardado ou diferido

Compreender o flagrante depende, a toda evidência, do entendimento dessas espécies, motivo pelo qual
passamos a analisá-las.

7.5.1. Flagrante facultativo e coercitivo:


O art. 301 do CPP estabelece que qualquer pessoa do povo pode, e a autoridade policial e seus agentes
devem prender quem estiver em estado de flagrância. Trata-se de dispositivo inerente ao excesso de fumus e

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periculum, uma vez que não haveria tempo hábil para que se buscasse uma ordem judicial. Isso não fugiu à aten-
ção do constituinte em 1988, que passou a exigir que toda e qualquer prisão fosse decretada judicialmente, salvo
os casos de flagrância.
Ao dispor que qualquer pessoa pode efetuar a prisão em flagrante, o art. 301 do CPP estabelece o que a
doutrina chama de flagrante facultativo.
Já no caso de prisão efetuada pela autoridade policial e seus agentes, o flagrante é o que se denomina
coercitivo, compulsório ou ostensivo.
Em um primeiro momento o cerceamento da liberdade de alguém caracterizaria, no mínimo, cárcere pri-
vado. No entanto, se a pessoa está em estado de flagrância, aquele que o prende está amparado por uma exclu-
dente de ilicitude. Assim, qualquer pessoa do povo está exercendo regularmente um direito que lhe foi conferido
pela lei, e a autoridade policial e seus agentes estão no estrito cumprimento do dever legal. Esta é a diferença
entre o flagrante facultativo e o flagrante coercitivo.

7.5.2. Flagrante próprio, impróprio e presumido


Estabelece o art. 302 do CPP as hipóteses nas quais a lei autoriza a prisão em flagrante. Do referido arti-
go extraem-se tanto as hipóteses em que a lei autoriza tal prisão (legalidade), como a existência dos pressupos-
tos.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presu-
mir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da
infração.

Configuram flagrante próprio os incisos I e II do art. 302. Assim, está em flagrante próprio ou real quem
está cometendo a infração penal ou quem acabou de cometer a infração.
Na primeira hipótese, o indivíduo está no curso do iter criminis, ou seja, está praticando os atos de execu-
ção que dele são dependentes. Na segunda hipótese, os atos de execução já haviam sido praticados, mas o indi-
víduo ainda é encontrado na cena do crime. No flagrante próprio ou real há certeza visual.
O flagrante impróprio está discriminado no inciso III do art. 302, enquanto o inciso IV caracteriza o flagran-
te presumido. Nestes dois casos, a certeza visual é dispensável.
O flagrante impróprio possui três elementos constitutivos: o elemento volitivo (caracterizado pela vonta-
de de perseguir); o elemento temporal (exemplificado pela expressão “logo após”) e o elemento fático (o indivíduo
tem que estar em circunstância que faça presumir ser ele o autor da infração).
O flagrante presumido possui apenas dois elementos constitutivos: o elemento temporal (caracterizado
pela expressão “logo depois”) e o elemento fático (estar na posse de objetos ou instrumentos que façam presumir
ser ele o autor da infração).
Verificamos que a principal diferença entre o flagrante impróprio e o flagrante presumido está no elemento
volitivo, que se caracteriza pela vontade de perseguir. O CPP define perseguição no art. 290, §1º, devendo-se
observar que a mesma deve ter início logo após, podendo durar o tempo que for necessário, desde que seja inin-
terrupta.

7.5.3. Flagrante forjado, esperado, preparado ou provocado, retardado ou diferido


Flagrante forjado
O flagrante forjado configura-se em fato atípico. A conduta imputada ao preso jamais ocorreu, tendo sido
forjada por quem o prendeu. No flagrante forjado pratica crime quem efetua a prisão, podendo-se identificar, no
mínimo, a conduta de denunciação caluniosa. Trata-se de prova obtida por meio ilícito aplicando-se a hipótese a
teoria da prova ilícita por derivação.
Flagrante esperado
Falamos em Flagrante esperado quando a polícia ou qualquer pessoa, por algum motivo, sabendo, de
forma lícita, que em um determinado local alguém praticaria um crime, dirige-se àquele local para ali, efetuar a
prisão.
Assim, no flagrante esperado, a polícia, tomando ciência de que determinada infração ocorrerá em certo
dia, hora e local, antecipa-se ao criminoso e, aguardando em atuação passiva a iniciativa delituosa, realiza a pri-
são quando deflagrados os atos executórios.
O flagrante esperado é reconhecido como plenamente lícito, pois aquele que pretende efetuar a prisão
apenas aguarda o momento correto para agir, sem qualquer participação na cadeia fática que levou ao resultado.

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Flagrante preparado ou provocado
Trata a Súmula 145, do Supremo Tribunal Federal, do chamado flagrante preparado ou provocado:
“não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

Estamos diante do chamado delito de ensaio, delito de experiência ou delito putativo por obra do agente
provocador. Ocorre quando alguém, podendo ou não tratar-se de policial, de forma absolutamente insidiosa, pro-
voca o agente à prática de um crime, para, durante os atos de execução supostamente puníveis, efetuar sua pri-
são, evitando, assim, que o mesmo se consume. Nesta espécie de flagrante não há crime e a prisão será ilegal.
Adotou o STF para a conhecida hipótese, a teoria do crime impossível descrita no art. 17 do CP:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime.

No flagrante preparado, o policial ou terceiro induz o agente a praticar o delito e, ao mesmo tempo, toma
providências para evitar a consumação.
Assim, no flagrante preparado o autor do fato age motivado por obra do provocador, sem o qual não have-
ria a prática daquela suposta conduta. E se a intenção do agente não é natural, uma vez que induzida pelo provo-
cador, inexiste o crime.
Flagrante retardado ou diferido
O flagrante retardado ou diferido surgiu em nossa doutrina em razão do que anteriormente se encontra-
va na Lei 9.034/95, que foi revogada pela atual Lei 12.850/13.
A atual lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da
prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal nestes casos.
O art. 8º da Lei 12.850/13 trata da ação controlada, que consiste em retardar a intervenção policial ou ad-
ministrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob obser-
vação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e
obtenção de informações.
Assim, a atual lei de combate ao crime organizado acaba por prever o chamado flagrante retardado ou di-
ferido.
É certo que a polícia não possui discricionariedade diante do estado de flagrância, possuindo o dever legal
de prender. Contudo, muitas vezes faz-se necessário o retardo da captura de forma a viabilizar uma maior colheita
de provas.
A nova lei, entretanto, passa a exigir, da mesma forma que na Lei de Tóxicos (art. 53, inc. II), a prévia co-
municação ao juiz competente para o retardo da intervenção policial.
Resumindo, o flagrante retardado é, em verdade, uma modalidade de fragrante esperado, só que aí ocorre
o retardo da captura de forma a viabilizar uma maior colheita de provas. Ou seja, os atos executórios se iniciam, a
polícia já podia ter efetuado a prisão, mas, com a intenção de obter mais provas ou identificar um maior número
de envolvidos, deixa para prender depois. Mas é importante que os agentes sejam presos ainda em estado de
flagrância.
A ação controlada, hoje prevista na Lei 12.850/13, é exatamente o instituto que introduziu a figura do fla-
grante retardado dentro do ordenamento processual penal brasileiro. A noção de flagrante retardado, assim, surge
da ação controlada, hoje prevista no art. 8o. da lei supra citada.
Além disso, outros dispositivos da Lei 12.850/13 também tratam das figuras do réu colaborador e da infil-
tração policial. O policial infiltrado recebe do juízo, da mesma forma, uma autorização para não prender, embora
presencie estados de flagrância, porque a prisão somente ocorrerá quando as provas necessárias tiverem sido
colhidas ou, por outro motivo, houver a necessidade da mesma.

5.4. Etapas e formalidades do flagrante


Reconhece a doutrina quatro etapas do flagrante: a captura, a condução, a formalização e a judicialização.
Ao preso em flagrante são assegurados os direitos indicados nos incisos XLIX, LVIII, LXII, LXIII, LXIV,
LXV e LXVI, do art. 5º. da Constituição.
Ocorrendo a captura, o preso em flagrante deve ser conduzido à delegacia de polícia mais próxima, onde
o delegado ouvirá os policiais condutores, entregando-lhes um termo de entrega do preso e liberando-os em se-
guida. Após os condutores, serão ouvidas as testemunhas, se houver. Porém, na falta de testemunhas, assinarão
o auto de prisão em flagrante (APF) duas testemunhas que tenham presenciado a entrega do preso à autoridade.
Somente então será interrogado o preso, caso queira falar, para, em seguida, lavrar a autoridade o APF (art. 304
do CPP), formalizando o flagrante.
A prisão deverá ser comunicada imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do
preso ou pessoa por ele indicada, devendo ainda o delegado providenciar, em até 24 horas, a entrega da nota de

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culpa ao preso e a remessa dos autos, com o APF e as oitivas efetuadas ao juiz competente, com cópia para a
Defensoria Pública no caso do preso não ter indicado advogado (art. 306 do CPP).
Recebidos os autos do flagrante em juízo para fins de judicialização do flagrante, deverá o juiz observar o
disposto no art. 310 do CPP, manifestando-se sobre a prisão e alterando o status prisional do agente, ou seja, ao
tomar conhecimento da prisão, o juiz, necessariamente, deverá sobre ela proferir uma das decisões indicadas no
art. 310, seja relaxando a prisão quando ilegal, concedendo liberdade provisória com ou sem fiança, ou ainda
convertendo-a em prisão preventiva, se presentes os pressupostos desta e desde que se demonstrem insuficien-
tes as medidas cautelares não prisionais previstas no art. 319 do CPP.
Não é possível, portanto, que o preso em flagrante permaneça preso pelos mesmos motivos além da ci-
ência do juízo, o que dá ao flagrante natureza pré-cautelar.
Contudo, a análise da medida cabível por parte do juiz sempre teve por base única e exclusivamente os
fatos documentados no auto de prisão em flagrante e depoimentos colhidos em sede policial quando da sua lavra-
tura. Ocorre que tais documentos, muitas das vezes, não se demonstram suficientes para uma análise acurada e
específica do caso concreto, impedindo que o juiz possa vislumbrar todas as alternativas possíveis diante da per-
sonalidade, conduta e situação de vida em que se encontra inserido o preso.
Por tal motivo, o Conselho Nacional de Justiça passou a exigir a realização das audiências de apresenta-
ção ou audiências de custódia em nosso sistema processual penal, audiências estas há muito adotadas em outros
ordenamentos jurídicos e em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como o Pacto de San José da
Costa Rica, que prevê a audiência de custódia em seu art. 7o, 5.
Assim, formalizado o flagrante, o preso deverá ser conduzido, sem demora, à presença do juiz para que
se realize a audiência de custódia, momento em que a autoridade judiciária, na presença do Ministério Público e
da defesa, decidirá acerca do art. 310 do CPP.

7.6. Prisão Preventiva


Legitimidade
O art. 311 do CPP trabalha a legitimidade da prisão preventiva. É prisão judicial, estabelecendo também o
referido artigo o momento para sua decretação. É o teor do referido artigo:
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assis-
tente, ou por representação da autoridade policial.

Ressalte-se que, com as alterações efetuadas pela Lei no. 12.403/2011, não mais poderá o juiz decretar a
prisão preventiva de ofício em fase de inquérito policial ou outra investigação criminal.
Assim, durante o inquérito, de acordo com o que dispõe a lei, a prisão preventiva somente poderá ser de-
cretada a requerimento do Ministério Público ou do querelante ou assistente, ou por representação da autoridade
policial.
Já no curso do processo, a prisão poderá ser decretada pelo juiz de ofício ou a requerimento ou represen-
tação das pessoas acima indicadas.
Pressupostos
O art. 312 do CPP indica os fundamentos em que se pode lastrear uma decisão de prisão preventiva. Dali
extraímos que a preventiva somente poderá ser decretada por garantia da ordem pública ou garantia da ordem
econômica ou por conveniência da instrução criminal ou por segurança da aplicação da lei penal, desde que este-
jam presentes prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria.
Garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal e segurança
da aplicação da lei penal caracterizam o periculum in mora ou periculun libertatis da preventiva; já a prova da exis-
tência do crime e indícios suficientes de autoria configuram o fumus boni iuris ou fumus comissi delicti.
Devemos nos lembrar de que uma cautelar depende, para sua decretação, tanto do fumus como do peri-
culum.
Assim, para que a preventiva seja decretada, não basta a presença do fumus comissi delicti, devendo o ju-
iz indicar, em sua decisão, quais os elementos fáticos existentes nos autos que indicam a presença de uma ou
mais hipóteses de periculum libertatis.
Portanto, critérios como o clamor público, a credibilidade da justiça e a gravidade em abstrato da conduta
não são idôneos a justificar um decreto de prisão.
O art. 312 do CPP recebeu, da reforma de 2011, um parágrafo:
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4 o).
Tratam-se da medidas não prisionais do art. 319, acima mencionadas.

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Legalidade
Esta foi a maior alteração da Lei no. 12.403/2011. Até então, a preventiva podia ser decretada em crimes
dolosos punidos com reclusão ou detenção, independentemente do quantum de pena a eles previstos. Tal fato
vinha sendo atacado pela doutrina, que defendia que o dispositivo não respeitava a proporcionalidade ou homo-
geneidade.
Com a nova redação, diz o art. 313 do CPP:
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado ime-
diatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

Verifica-se, portanto, que desde o dia 4 de julho de 2011, quando entrou em vigor a Lei no. 12.403/2011,
não mais se admite a prisão preventiva em crimes cuja pena máxima in abstrato não exceda 4 (quatro) anos, sal-
vo caso de reincidência, por faltar-lhe o requisito da legalidade.
Tal alteração coaduna-se à homogeneidade doutrinariamente já defendida. Ora, se o réu, condenado, te-
rá direito à substituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, não pode sofrer durante o
processo gravame maior que aquele que sofrerá se condenado for.
No mais, resta lembrar que a prisão preventiva é rebus sic stantibus, ou seja, dura enquanto durar o esta-
do das coisas. Assim, desaparecendo os motivos que a justificavam, deverá a mesma ser revogada. Trata-se da
revogação da preventiva.

7.7. Prisão Temporária


A prisão temporária está disposta na Lei no. 7.960/89.
Dispõe o art. 1º. da referida Lei:
Art. 1º. - Caberá prisão temporária:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
participação do indiciado nos seguintes crimes:
(rol de crimes)

A prisão temporária somente pode ser decretada durante o inquérito policial. É uma prisão característica
da fase inquisitiva, da fase pré-processual. Portanto, não é possível uma prisão temporária durante o processo.
O art. 1º, acima transcrito, apresenta as hipóteses legais em que referida prisão pode ser decretada, res-
saltando que a mesma só é possível no caso dos crimes indicados no inciso III, que são: homicídio doloso (sim-
ples e qualificado), sequestro ou cárcere privado, roubo e latrocínio, extorsão simples e qualificada, extorsão me-
diante sequestro, estupro, epidemia com resultado de morte, envenenamento de água potável ou substância ali-
mentícia ou medicinal qualificado pela morte, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas e crimes contra o
sistema financeiro.
Sabemos que, toda regra relacionada à prisão tem interpretação restritiva. Então, o rol do inciso III é taxa-
tivo: só cabe prisão temporária nos crimes que estão indicados nas alíneas do inciso III.
Contudo, o mesmo art. 1º. apresenta os pressupostos necessários à decretação da medida extrema.
Configuram os incisos I e II o periculum in mora ou periculum libertatis da temporária.
Já o inciso III nos indica o fumus comissi delicti.
Assim, como não é possível a decretação da temporária sem que estejam presentes o fumus e o pericu-
lum, a decisão deve estar fundamentada, necessariamente, nos incisos I e III, ou II e III, ou I, II e III.
A prisão temporária será decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, ou mediante represen-
tação da autoridade policial. Neste último caso, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Ministério Público, o que
bem se coaduna com o sistema acusatório vigente.
O prazo da prisão temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por igual período, e, no caso de crimes he-
diondos ou equiparados, de 30 (trinta) dias, prorrogáveis também por igual período. Só é permitida uma única
prorrogação, que depende de decisão judicial igualmente fundamentada.

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É prisão a termo, ou seja, dispensa-se o alvará de soltura. Findo o prazo, o preso será colocado imedia-
tamente em liberdade.
Lembre-se de que prazo de prisão é prazo penal, portanto, sua contagem dá-se pelas regras do art. 10 do
CP.

Assista aos vídeos relativos às NULIDADES:

https://www.youtube.com/watch?v=KpIFPWWbhGA
https://www.youtube.com/watch?v=vaTk9_6BzT4
https://www.youtube.com/watch?v=YGztd9NKk4c
https://www.youtube.com/watch?v=YJyNHebQy44
https://www.youtube.com/watch?v=HVYqoOiySHs

Se possível, assista aos vídeos sobre Sentença: Emendatio e Mutatio Libelli também em meu canal do
YouTube Ana Cristina Mendonça.
https://www.youtube.com/user/anacristinamendonca

BOA PROVA!

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minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.
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