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“A pena de morte é ecológica”

As rebeliões que ocorrem reiteradas vezes em nossos sistemas prisionais


retemperaram minha convicção de que o Brasil precisa instituir a pena de morte. Ao
tomarem como refém diretores, funcionários, parentes de presos e mesmo outros presos,
seus líderes estabelecem um comportamento eloquente: "Nada temos a perder”. "Cada
um de nós está condenado a mais de 100 anos de pena, tanto faz viver ou morrer".
Ora, criminosos que agem assim constituem a melhor justificativa para a pena de
morte. São feras que renunciaram à condição humana e, como tal, jamais se
recuperarão. Para eles não existe diferença entre matar funcionários de uma casa de
detenção e uma criança, um velho ou um cachorro vira-lata.
No Brasil, o Direito aboliu a pena de morte, mas os criminosos não. É preciso punir
rigorosamente a violência premeditada e a violência indiscriminada. E então se justifica
a pena de morte para alguns casos de homicídio qualificado, para o latrocínio, para a
extorsão mediante sequestro e morte, para o estupro e para o traficante profissional de
entorpecentes. Argumento de cátedra: em meus vinte anos de júri nunca vi um único
autor de crimes dessa natureza entrar numa prisão e dela sair recuperado. Mais: 78% de
todos os recolhidos a nossos estabelecimentos penais voltam a delinquir.
A pena de morte deve ser vista não apenas como um castigo, mas sobretudo como
uma defesa da sociedade.
Uma onda de violência avassala o mundo de hoje e os homens de bem precisam
combatê-la com energia. Estabeleceu-se uma guerra violenta entre os criminosos e o
povo, na qual apenas os bandidos têm armas. Os cidadãos entram com suas vidas. O
homem simples da madrugada receia mais os ladrões assaltantes, os latrocidas, que um
eventual conflito nuclear, ou um ato terrorista. Precisamos adotar a pena de morte até
mesmo por uma razão ecológica. Ao matarmos uma cobra, não pretendemos castigá-la,
mas evitar que a mesma venha a nos atacar.
Há poucos dias, em São Paulo, três feras surpreenderam um rapaz e três moças que
voltavam de uma balada. Amarraram o rapaz e o atiraram numa lagoa. Estupraram as
moças e as esfaquearam em seguida. Tais indivíduos, se apanhados e condenados, serão
conduzidos por alguns poucos anos alguma penitenciária, onde custarão aos cofres do
Estado e aos bolsos do contribuinte. Se forem levados à penitenciária de Araraquara,
então serão tratados com menu publicado no Diário Oficial, solarium, assistência
médica, dentária e hospitalar de primeira, quadras de basquete, campo de futebol e
televisão.
Ressurge, assim, a ideia da pena de morte, que antes de mais nada tem uma função
intimidatória. No período em que houve pena de morte para assaltos a bancos, esse tipo
de delito deixou de acontecer. Hoje, ocorrem cinco por dia. Um perigoso delinquente,
entrevistado recentemente pela televisão, confessou que não teria cometido tantos
crimes se estivesse sujeito à pena de morte. "Mate um, apavore 10.000", diz um
provérbio chinês. Os criminosos são produto da sociedade, da mesma forma que os
tumores o são do corpo humano. Precisamos extirpá-los, antes que eles nos matem.
Além do mais, a pena de morte teria o condão de satisfazer a opinião pública, que a
ela se mostra favorável nas pesquisas de opinião. Os linchamentos - mais de 100
aconteceram no Brasil nos últimos três anos - são a pena de morte aplicada pelo povo.
Cansado de ver grassar a impunidade, o povo resolveu acusar, julgar, condenar e
executar o criminoso. Fique claro, no entanto, que não defendo o linchamento nem o
"esquadrão da morte", que aliás ajudei a desmantelar em São Paulo. Sempre combati as
execuções sumárias, a pena de morte aplicada arbitrariamente. Quero que a pena de
morte tenha o respaldo de nossos magistrados, dos tribunais, e que desabe sobre
criminosos renitentes, multireincidentes e autores de crimes graves. Também não acho
que ela acabará com o crime; entendo apenas que ajudará a contê-lo. Como diz um
eminente magistrado brasileiro, "a pena de morte não acaba com o crime, acaba com o
criminoso".
Na pequena minoria contrária a sua instituição, encontram-se homens de respeito.
Alguns por princípios religiosos, outros por desconhecimento da realidade, outros por
ingenuidade. Mas há também os hipócritas que praticam o aborto, admitem a eutanásia
e saltam quando ouvem falar na instituição da pena de morte. E então invocam a
possibilidade de "erro judiciário", citam invariavelmente o caso dos irmãos Naves. Ora,
a pena de morte só seria aplicada em casos de absoluta certeza da materialidade e da
autoria do delito - mesmo porque, havendo dúvida, o magistrado não pode aplicar
sequer a mais branda pena de multa.
Enfim, sinto-me à vontade para defender sua instituição, pois fui o promotor que
mais contribuiu para o aumento da população carcerária. Em sete anos no II Tribunal do
Júri de São Paulo acusei 252 réus e apenas dois me escaparam. Desses, dez eram
policiais, seis deles pertencentes ao "esquadrão da morte".
(Alberto Marino Jr.)

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