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IMUNOLOGIA BÁSICA

AULA 6: Ativação de Células T e diferenciação de Células Efetoras.

O linfócito T NAIVE é aquele maduro que ainda não entrou em contato com o
antígeno, estando recirculando entre os órgãos linfóides secundários. A melhor célula
apresentadora capaz de ativar células T é a dendrítica, capaz de ativar tanto CD4 como
CD8 em células efetoras helper e citotóxica, respectivamente. Essa ativação necessita
de dois sinais, que ocorrem dentro do órgão linfóide secundário:

O primeiro sinal é a interação do TCR com o complexo MHC-peptídeo, que é o


reconhecimento do peptídeo. Esse primeiro sinal gera cascatas intracelulares que geram
uma resposta. Porém, só esse sinal não é capaz de ativar a célula NAIVE, havendo a
necessidade de um segundo sinal.

O segundo sinal é por meio das moléculas coestimuladoras: Na membrana da


célula dendrítica existem uma molécula coestimuladoras chamada B7, que interage com
uma molécula chamada de CD28 da membrana da célula T. Ou seja, o 2° Sinal é a
ligação de B7 com CD28. Agora, este sinal, juntamente com o 1°, é capaz de ativar a
célula T.

Obs.: A célula dendrítica é a APC mais eficiente por apresentar altos níveis de B7,
que têm sua expressão, bem como a de MHC, aumentada quando ativadas pela
interação desta célula com um PAMP. Na ausência de infecção a CD tem uma pequena
quantidade de B7.
O primeiro sinal juntamente com o segundo sinal desencadeiam cascatas de
eventos, que produzem fatores de transcrição, produzindo genes que vão induzir:

 A sobrevivência celular por meio da produção de substância


antiapoptóticas;
 A célula vai começar a proliferar (Expansão Clonal), por ação
principalmente da citocina IL-2;
 Obs.: A IL-2 tem sua produção inibida por alguns imunossupressores,
como Tacrolimuns e Ciclosporina;
 A célula vai se diferenciar em célula efetora e depois em célula de
memória;

Esses dois sinais funcionam muito bem para a célula CD4, porém para a célula
CD8, o 2° sinal pode ser diferente.

Para a célula TCD8, o primeiro sinal é a interação do TCR com o complexo MHC-
1-peptídeo, enquanto o 2°sinal pode ser de duas maneiras, pois a célula TCD8 é mais
difícil de ser ativada, podendo ser ativada pela célula T CD4 helper, por meio de duas
vias. Essa participação da CD4 ocorre quando o primeiro sinal é muito ruim
(Deficiência de B7, etc):

 Direta: A CD4 vai secretar citocinas diretamente sobre a célula CD8;


 Indireta: A célula dendrítica é potencializada, pela CD4 por meio da
ligação de CD40-CD40L, produzindo citocinas sobre a CD8.

Essa ativação por CD4 ocorre nos seguintes casos: Infecções virais latentes e
tumores, pois nesses casos, não há estimulação de B7 na APC.

BLOQUEIO DE COESTIMULAÇÃO DE B7: CTLA-4

Na membrana da célula T existe uma proteína chamada de CTLA-4, que tem uma
afinidade de 20 à 50 x mais por B7 em relação ao CD28. Quando uma célula dendrítica
está inativa, ela tem uma pequena expressão de B7. Quando ela vai para o órgão
linfóide secundário, a sua afinidade por CTLA-4 é muito maior, gerando um sinal
inibitório de não ativação da célula, evitando autoimunidade. Grande parte das doenças
autoimunes decorre do polimorfismo de CTLA-4, que não geram sinais inibitórios
quando se ligam ao B7.

Quando há uma interação da célula dendrítica com o PAMP há um aumento na


expressão de B7, e como há uma grande quantidade desta molécula, ela vai para o
linfonodo e interage com o CTLA-4 e com CD28, gerando uma maior ativação de
CD28, ativando a célula T.
A célula T que recebe apenas o segundo sinal se torna uma célula anérgica, não
sendo ativada.

Importância Clínica! Alguns medicamentos para artrite reumatoide e outras


doenças autoimunes, sendo eles compostos por CTLA-4 solúvel, ou seja, o paciente ao
ingerir, vai bloquear todos os B7 nas células dendríticas, não conseguindo ativar as
células T.

RESPOSTAS DAS CÉLULAS T APÓS ATIVAÇÃO

Depois do primeiro e do segundo sinal, existe uma cinética quando a célula T é


ativada, expressando moléculas em sua superfície e produzindo citocinas:

- Produção de IL-2, uma citocina que é responsável pela expansão clonal, sendo
um fator de crescimento, sobrevivência, proliferação e diferenciação. Essa produção
ocorre de modo autócrino; (IL-2 interage com IL-2R – CD25).

- Expressão de CD69, que vai promover a retenção dessas células ativas no órgão
linfóide secundário. Essa molécula se liga com S1PR e não o deixa ser externalizado. O
linfócito fica retido para que possa atingir o limiar de excitação e ser ativado.

- Expressão de CD40L cerca de 24 horas após a ativação, podendo a célula T


interagir com as APCs, macrófagos e células B.

- Reduz a expressão de CCR7 para que possa sair do órgão linfóide secundário
para migrar ao local de infecção; (Aumenta a expressão de integrinas e ligantes de
selectina, como VLA-4 e LFA-1).
- Aumenta a expressão de CTLA-4 para inibir a ativação de células T e regular a
resposta imune.

EXPANSÃO CLONAL DE CÉLULAS T

A proliferação ocorre nos órgãos linfóides, gerando linfócitos específicos em uma


quantidade enorme, daí o motivo de muitas vezes os linfonodos crescerem durante as
repostas imunes.

A expansão clonal serve para que a resposta imune seja mais rápida, pois surgem
mais células com aquela mesma especificidade.

COESTIMULAÇÃO – CD40L

O CD40 L é uma molécula expressa na superfície das células T ativadas, enquanto


o CD40 é uma molécula expressa nas APCs. Essa interação CD40-CD40L potencializa
a atividade das células APCs pelo aumento da produção de citocinas e da quantia de B7.
Na CD aumenta a expressão de B7 e citocinas; Nas células B aumenta a produção de
anticorpos, e nos macrófagos aumenta a produção de moléculas microbicidas.
DIFERENCIAÇÃO EM CÉLULAS T EFETORAS

A célula efetora já reconheceu um antígeno, diferindo da NAIVE pela sua ação,


pela produção de moléculas novas (citocinas) e pela apresentação de novas moléculas
na sua superfície, podendo ativar outras células.

A célula CD4 efetora agora produz citocinas capazes de ativar outras células,
enquanto as células CD8 efetoras agora apresentam grânulos de granzima e perforina,
bem como receptores Fas.
DIFERENCIAÇÃO EM CÉLULAS T CD4 EFETORAS

As células CD4 efetoras agora são capazes de produzir citocinas e apresentam


agora moléculas de membrana, principalmente, CD40L. Quando essas células se tornam
células efetoras, elas podem ser Th1, Th2 ou Th17. Um determinado tipo de antígeno
vai polarizar a diferenciação em cada tipo, pois a célula dendrítica vai produzir
determinadas citocinas sobre a célula NAIVE para que ela se diferencie.

A citocina indutora ou polarizante é aquela que é produzida pela célula dendrítica


para induzir a diferenciação da célula NAIVE (T0) em um dado tipo de célula CD4.
Essas citocinas polarizantes se ligam ao receptor presente na célula, ocorre uma via de
ativação que culmina com a ativação de fatores de transcrição diferentes, que levam à
diferenciação e produção de citocinas (mecanismo efetor) diferentes para cada tipo de
célula TCD4 diferente. Essas células helper produzem essas citocinas em diferentes
células, recrutando-as e/ou potencializando-as de acordo com o tipo de célula: Th1
recruta Macrófagos e Células B; Th2 recruta Eosinófilos; Th17 recruta Neutrófilos.

Obs.: As CD4 efetoras são chamadas de helper, pois suas citocinas aumentam a
intensidade de suas ações.
Diferenciação em células Th1

As células dendríticas reconhecem microrganismos intracelulares (bactérias, parasitas e


vírus) e produzem as citocinas indutoras IL-12 e IFN-ɣ, que ativam cascatas de
sinalização e ativam o fator de transcrição T-bet, levando a produção de citocinas
padrão IFN-ɣ, que inibe a diferenciação em Th2 e Th17. Essa célula Th1, por meio de
IFN-ɣ age em células B estimulando à produção de IgG.

Diferenciação em células Th2

A célula dendrítica processa o antígeno de helmintos e alérgenos produz as


citocinas indutoras IL-4, IL-5 e IL-13, ativando o fator de transcrição GATA-3, que
estimula a produção de citocina padrão IL-4, que inibe a diferenciação em Th1 e Th17.
Essa citocina ativa eosinófilos e auxilia na produção de IgE.
Diferenciação em células Th17

A célula dendrítica processa o antígeno de bactérias extracelulares e fungos e


produz citocinas indutoras do tipo IL-6 e TGF-β, agindo na célula T0 e estimulando a
produção dos fatores de transcrição ROR-ɣT e STAT3, que levam a produção da
citocina padrão IL-17, que inibe a diferenciação em Th1 e Th2, bem como age em
neutrófilos.
DIFERENCIAÇÃO EM CÉLULAS T CD8 EFETORAS

A célula T CD8 citotóxica ganha grânulos de granzima e perforina, bem como


receptores FasL e a capacidade de produzir citocinas do tipo IFN-ɣ.

Depois da diferenciação das células T NAIVE em T efetoras, elas precisam migrar


do órgão linfóide secundário para o sítio de infecção para atuarem na célula-alvo. Para
que haja essa migração, ocorrem os seguintes eventos:

- Redução da expressão de CCR7 para que ela possa sair da zona de células T;

- Aumentar a quantia de S1PR para que ela possa sair do órgão linfóide;

- Aumentar a expressão de integrinas e selectinas, bem como receptores de


quimiocinas para que elas possam chegar em um local específico.

Antes de agirem, as células efetoras precisam encontrar o antígeno novamente para


que elas possam ser ativadas. Esse antígeno é apresentado pelas APCs (Célula
dendrítica, macrófago, células B e célula nucleada alvo). Sendo que para as células CD8
ocorre pelo MHC-1 e para as células CD4 pelo MHC-2. Para que agora as células sejam
ativadas no sítio de infecção é necessário apenas o 1°sinal, ou seja, apenas a interação
do TCR com o complexo MHC-peptídeo, não necessitando de coestimulação. As
células CD4 são diferenciadas e produzem citocinas e moléculas na sua superfície,
principalmente CD40L. Essas citocinas e CD40L interagem com as células da
imunidade inata (macrófagos, eosinófilos e neutrófilos) e/ou com as células B (apenas
Th1 e Th2)

CÉLULAS Th1

Por meio da produção de IFN-ɣ e por meio da expressão de CD40L, ela vai agir em
macrófagos (funciona como APC), que têm receptores dessa citocina e CD40
constitutivamente, ativando-os por meio do aumento dos mecanismos microbicidas por
meio do aumento do aumento da síntese de enzimas lisossomais, da EROs (estimula a
NADPH oxidase e a iNOS) e aumenta a produção de citocinas proinflamatórias para
matar microrganismos resistentes à fagocitose. Essa ativação aumenta a quantia de
lesões teciduais. Um exemplo muito comum de resposta Th1 é o granuloma, uma massa
celular formada pela fusão de macrófagos (M1) tentando fagocitar o microrganismo e
por células Th1 que ficam ativando os macrófagos para eliminar o microrganismo.
Esses macrófagos começam a secretar espécies reativas e começam a degradar o órgão,
causar fibrose e perda de função. Esse granuloma é muito comum na tuberculose (muito
comum em pacientes com AIDS).
As células Th1 também interagem com células B para que essas produzam um
anticorpo IgG, senão a célula B só produziria IgM.

Funcionam como APCs das células Th1 os macrófagos e as células B via MHC-2-
peptídeo e moléculas coestimuladoras.

CÉLULAS Th2

A diferenciação de Th2 ocorre por estimulação de helmintos e alérgenos (proteína,


para que consiga ser apresentada). Quando esta se diferencia, ela produz IL-4, IL-5 e
IL-13. Ela interage com as células via citocinas e CD40L, que interagem com os
receptores de citocinas e CD40 nas células-alvo.

Essa sinalização na célula B faz com que essa produza anticorpos IgE, um
anticorpo envolvido com reações alérgicas de helmintos. Imediatamente após a
exposição primaria ao helminto, as IgEs específicas produzidas se ligam a receptores
presentes nos mastócitos, processo este chamado de sensibilização do mastócito.
Quando a pessoa têm um outro contato com o alérgenos, automaticamente as proteínas
do alérgenos se ligam aos IgEs e desgranula o mastócito, liberando histamina
imediatamente.

Além disso, por meio de sinalização Autócrina de fatores de crescimento, ocorre


um aumento na resposta de Th2.

A citocina IL-4, juntamente com IL-13 aumenta a secreção de muco e o


peristaltismo, facilitando a expulsão do helminto e dificultando seu estabelecimento no
hospedeiro. Essas citocinas polarizam o macrófago na sua diferenciação em M2,
ocorrendo o reparo tecidual (colágeno, fibrose e angiogênese), principalmente nas
alergias crônicas, como a asma.

A citocina IL-5 estimula o crescimento e a diferenciação de eosinófilos, bem como


a ativação dos eosinófilo em cima dos helmintos opsonizados por IgE, fazendo com que
ele exocite as proteases dos seus grânulos e faça poros na superfície do helminto.
Obs.: Mas como as pessoas têm alergia, por exemplo, a Penicilina, que não é
uma proteína? Na verdade, a alergia é contra o complexo Penicilina-albumina, que se
forma na corrente sanguínea para que o fármaco possa ser transportado.

CÉLULA Th17

A célula Th17 é um pouco desconhecida, tendo a função de recrutar neutrófilos de


modo indireto contra bactérias e fungos extracelulares. As células Th17 se diferenciam
por ação de infecções com bactérias extracelulares e fungos. A Síndrome de Buckley-
Job causa mutações em fatores de transcrição e impede a diferenciação de Th17,
aumentando a susceptibilidade de infecções fúngicas e bacterianas. Além disso, a Th17
está relacionada em doenças autoimunes.

As células Th17 produz Il-17 que age em células epiteliais, endoteliais e estromais,
fazendo com que estas produzam citocinas pró-inflamatórias e fatores de crescimento
(GM-CSF) que vão agir na medula óssea e aumentar a população de neutrófilos, seja
por geração ou por recrutamento. As células Th17 também agem na integridade epitelial
e fazem com que estas produzam peptídeos microbicidas.

CÉLULAS T REGULADORAS (Treg)

São células naturais geradas no timo, sendo essas autorreativas ou induzidas por
meio de citocinas anti-inflamatórias IL-10 ou TGF-β que agem na célula T NAIVE.

DIFERENCIAÇÃO EM CÉLULAS T CD8 EFETORAS OU CITOTÓXICAS (CTL)

A função da célula T CD8 quando efetora ganha receptores de morte (FasL) e


produz grânulos de granzima (ativa a via das caspases) e perforina (faz poros na
membrana celular), sendo eles liberados por interação do TCR com o MHC-1-peptídeo.
Essa liberação é semelhante à NK, específica, em que a célula alvo é destruída sem
afetar as células vizinhas. Elas promovem resposta contra células infectadas por vírus
e bactérias que fogem do fagossomo.
Em infecções por vírus não citolíticos, ou seja, em que o vírus não destrói a célula,
a doença é causada pela célula CD8.

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