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Capítulo

Capítulo 3 - Antenas
Para que um sinal de rádio ou televisão seja transmitido para
o espaço e posteriormente recebido, é sempre necessária a
existência de antenas. Neste capítulo serão abordadas as
características genéricas das antenas e os seus tipos mais
utilizados.

3.1. Introdução

Depois de um emissor gerar o sinal de RF, tem que haver algum método de radiar esse
sinal para o espaço. Tem também que haver algum método de, no receptor, se interceptar
(captar) esse sinal. As antenas são os dispositivos que permitem estas duas operações.

Uma antena é geralmente feita em metal, (muitas vezes apenas um fio ou varetas de
alumínio) e converte a corrente de alta frequência em ondas electromagnéticas para a
emissão e faz exactamente o contrário na recepção.

As antenas de emissão e de recepção têm funções diferentes mas comportam-se


exactamente da mesma forma, pois o seu comportamento é absolutamente recíproco.

As primeiras antenas, foram construídas por Heinrich Hertz em 1888, com a finalidade
de pôr em prática as teorias electromagnéticas propostas por Maxwell.

Com esse dispositivo (Fig. 3-1), Hertz transmitiu e recebeu ondas electromagnéticas a
cerca de 5 metros de distância.

A antena de emissão era formada por duas placas de metal ligadas a dois bastões
metálicos, que por sua vez se ligavam a duas esferas, separadas entre si por uma distância

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pré-determinada. Nas esferas eram adicionadas bobinas que geravam descargas de alta
tensão por faísca no espaço entre as esferas, produziam ondas electromagnéticas
oscilatórias nos bastões e que podiam ser captadas numa outra antena de recepção.

Fig. 3-1 – Primeiras antenas de Hertz

A antena de recepção era constituída por um laço de fio metálico com uma pequena
ranhura. A faísca produzida no emissor era detectada na recepção por uma pequena faísca
na ranhura demonstrando na prática tudo que Maxwell previra na teoria.

Desde estas primeiras antenas até a actualidade, os princípios físicos foram sendo
aprimorados e descobertas novas maneiras e tecnologias de transmitir e receber sinais
electromagnéticos e nas modernas telecomunicações, as antenas são em alguns casos,
estruturas de extrema complexidade mas sem elas seria totalmente impossível imaginar o
nosso mundo de telemóveis, GPS e Wi-Fi, para só citar alguns casos.

3.2. Fundamentos de antenas

A Fig. 3-2 mostra uma linha aberta de 1/4


de comprimento de onda. A onda incidente e a
onda reflectida somam-se e formam a onda
estacionária, tal como já estudado anteriormente.
O que nessa altura não se mencionou foi que
nem toda a energia é reflectida pelo circuito
aberto. Na prática, uma pequena porção da
energia RF da linha escapa-se e é radiada para o
espaço circundante. Isto acontece porque a
energia RF que viaja em direcção ao circuito Fig. 3-2 - Linha de quarto de 

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aberto do fim da linha, necessitará de fazer uma mudança violenta, uma inversão de fase
assim que atingir o circuito aberto. Uma pequena porção da onda incidente não vai
conseguir fazer essa inversão e então salta para além do circuito aberto e entra no espaço
livre.

A quantidade das ondas que se escapam da linha de transmissão é muito pequena, por
duas razões.

Primeiro, o espaço circundante é considerado como uma carga para a linha de


transmissão e portanto existe uma desadaptação e como tal pouca potência é dissipada
nesta carga.

Segundo, como os dois fios da linha estão muito juntos e desfasados de 180º, a
radiação de um deles cancela a radiação do outro.

Para tornar este circuito aberto num circuito radiante, temos que alargar o circuito
aberto, ou seja, afastar os dois fios. Quando afastamos os fios, menos radiação se cancelará.
Também se verifica que a linha de transmissão fica melhor acoplada ao espaço circundante
pois mais potência é dissipada ou radiada. Adicionalmente, como os fios estão afastados, as
ondas que viajam ao longo da linha encontram muito mais dificuldade em inverter a fase.
Como tal, tudo aponta para um aumento na radiação.

A radiação pode ser aumentada ainda mais se mais afastarmos os dois fios, atingindo-
se um máximo quando eles ficam em linha
Fig. 3-3A. O campo eléctrico e o campo
electromagnético da linha estão agora
completamente acoplados ao espaço
circundante. Portanto, resulta assim um
máximo de radiação.

Este tipo de antena é chamado de


dipolo. A linha de transmissão original
tinha 1/4  mas quando se abriu o
comprimento total passou a ser de 1/2 .

Assim, a antena mostrada na Fig.


Fig. 3-3 - Antena dipolo
3-3A é um dipolo de meia onda.

A forma da onda estacionária no dipolo de meia onda mostra-se na Fig. 3-3B.

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Note que ambos os extremos da antena aparecem como abertos e portanto têm um
máximo de tensão e um mínimo de corrente. O centro de antena, que é o ponto de
alimentação de sinal, tem um máximo de corrente e um mínimo de tensão. Como resultado,
a impedância de entrada do dipolo de meia onda é baixa.

A distribuição da corrente e da tensão indicariam que a impedância deveria ser zero


ohms, mas na realidade essa impedância é de 73 ohms. Isto deve-se à energia perdida por
radiação. Esta energia não é reflectida de volta para a entrada da antena e portanto nunca
chega a haver um cancelamento completo de tensão. Por esta razão, a impedância de
entrada aumenta para 73 ohms quando a linha de 1/4  em aberto é totalmente aberta e se
transforma num dipolo.

3.3. Radiação da antena

Uma vez que o dipolo tem altos potenciais de tenção nos seus extremos, um campo
electrostático ou campo eléctrico existe
entre esses dois pontos. Este campo é como
o que existe entre as placas de um
condensador. Contudo, no caso da antena,
o campo eléctrico não fica confinado à área
entre as placas, mas é radiado no espaço. O
campo eléctrico à volta de um dipolo é
mostrado na Fig. 3-4.

Note também nesta figura que existe


um campo magnético à volta da antena.
Isto é devido ao fluxo de corrente na Fig. 3-4 - Campos no dipolo

antena. Uma vez que a corrente é máxima


no centro da antena, também o campo magnético o será.

Tanto este campo magnético como o campo eléctrico são radiados sob a forma de
ondas electromagnéticas. Esta onda propaga-se ou vija para for a da antena e continuará a
viajar mesmo depois da corrente ou da tensão terem sido retiradas da antena.

Quanto mais a onda electromagnética viajar para longe da antena mais fraca se
tornará. A amplitude desta onda ou campo radiado é calculada em termos de tensão

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induzida num fio receptor. Isto designa-se por intensidade de campo.

A intensidade de campo em qualquer ponto, depende da distância ao emissor e da


potência que foi radiada (emitida). A intensidade de campo varia inversamente com a
distância. Por exemplo, sempre que a distância à antena duplica, a intensidade de campo
reduz-se a metade. Inversamente, se a distância se reduz para metade, a intensidade de
campo será o dobro. Da mesma forma, se a potência radiada for aumentada, a intensidade
de campo em qualquer ponto também aumentará. Contudo, uma vez que a intensidade de
campo é indicada pela tensão induzida num fio, qualquer aumento de potência tem que ser
convertido no correspondente aumento de tensão.

Então, uma vez que a potência é proporcional ao quadrado da tensão, (P = V2 / R)


conclui-se que o aumento na intensidade de campo é proporcional à raiz quadrada do
aumento na potência. Então duplicar a potência radiada aumentará a intensidade de campo
em 2 ou seja 1,414.

Inversamente, para aumentar a intensidade de campo para o dobro, é necessário


quadruplicar a potência radiada.

3.4. Polarização da antena

Conforme já discutido anteriormente, a onda electromagnética radiada de qualquer


antena, tem dois campos: o campo eléctrico (E) e o campo magnético (H). Estes campos são
perpendiculares entre si e são ambos
perpendiculares à direcção de
propagação do sinal. Isto é mostrado
com vectores na Fig. 3-5. Neste caso, o
vector do campo eléctrico é horizontal.
Diz-se então que a onda tem polaridade
horizontal. Se rodássemos os campos de
90º, o vector eléctrico seria vertical e
então teríamos uma onda de polaridade
vertical. Fig. 3-5 - Polarização da onda electromagnética

É portanto o vector do campo eléctrico que determina a polarização da onda. Como se


verá mais tarde, uma antena na horizontal produz polarização horizontal e uma antena na

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vertical produz polarização vertical.

A importância disto é que uma onda polarizada horizontalmente irá induzir máxima
tensão na antena horizontal. Teoricamente, uma onda polarizada horizontalmente induzirá
zero volts numa antena vertical. Contudo na prática, e sobretudo em HF e VHF, isto só
raramente ocorre porque na propagação há desvios de polaridade.

3.5. A antena dipolo

O tipo de antena mais vulgarizado é o dipolo de meia onda. Como o seu nome implica,
ele tem um comprimento de 1/2  à frequência de trabalho.

A fórmula do comprimento de onda é:

c 3  108
   1m com c = 3x108 m/s e f em Hz
f 300  106

Esta fórmula dá o comprimento de onda em espaço livre. Contudo, na antena, a onda


desenvolve-se num fio e o efeito das pontas tem que se ter em conta. O efeito das pontas
faz com que a antena pareça ser electricamente 5% mais comprida do que o seu tamanho
físico. Isto é devido à capacidade que existe entre os extremos da antena.

Assim, a fórmula para calcular o comprimento de onda de um dipolo de meia onda e


que deveria ser:

150
Lmetros  
f  MHz 

passará a ser, tendo em conta o efeito das pontas:

143
comprimento real do dipolo meia onda Lmetros  
f  MHz 

Exercício: Qual o comprimento real que deverá ter um dipolo de meia onda para captar
uma emissão em 100 MHz?

143
Lmetros    1,43 m
100

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Uma instalação típica com dipolo está na Fig. 3-6. Note que a antena é alimentada ao
centro com um cabo balanceado de 75. Isto dá um bom acoplamento com os 73 do
centro da antena.

O dipolo também pode ser alimentado com cabo coaxial, sendo o condutor central do
cabo ligado a um dos lados do dipolo
e a blindagem ligado ao outro.

Contudo, uma vez que o cabo


coaxial é uma linha não balanceada
(assimétrica) e o dipolo é balanceado
(ou simétrico, por ter sido obtido a
partir de uma linha balanceada de
1/4  ), resultará alguma ineficiência
na transmissão de energia. A
distribuição de corrente e de tensão Fig. 3-6 - Instalação típica de um dipolo horizontal

na antena serão alteradas e fluirá


corrente RF na blindagem do cabo coaxial. Esta corrente na blindagem resultará em radiação
do cabo o que é indesejado.

Para acasalar correctamente um cabo coaxial de 75 a uma antena dipolo é


necessário usar um balun (também chamado de simetrizador) e que mais não é do que um
transformador RF de balanceado para não balanceado.

Os baluns também podem ser utilizados como adaptadores de impedância, por meio
de relações de espiras do primário para o secundário, tal como nos transformadores
convencionais. Assim, se pretendermos ligar uma antena dipolo de 73 com um cabo de
300 será necessário intercalar um balun de 4:1.

3.6. Diagrama de Radiação

A característica mais importante da antena é o seu diagrama de radiação.

No caso de uma antena de emissão, o diagrama de radiação é a representação gráfica


da intensidade de campo radiada pela antena em diferentes direcções angulares. Este
mesmo diagrama de radiação também, indica as propriedades de recepção da mesma
antena. Isto é assim porque as propriedades de emissão ou de recepção de uma antena são

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exactamente iguais (ou recíprocas).

A Fig. 3-7A mostra uma vista tridimensional do diagrama de radiação de um dipolo de


meia onda horizontal.

Fig. 3-7 - Diagrama de radiação do dipolo Horizontal

Note que a radiação máxima ocorre nos lados da antena e que a radiação mínima
ocorre na direcção das pontas.. Uma projecção polar da radiação no plano horizontal é
mostrada na Fig. 3-7B.

O diagrama de radiação para o dipolo de meia onda vertical é mostrado na Fig. 3-8A.

Fig. 3-8 - Diagrama de radiação do dipolo V

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Note que neste caso a máxima radiação ocorre em todas as direcções no plano
horizontal (é omnidireccional). A mínima radiação ocorre precisamente para acima e para
baixo da antena (ao longo do eixo do dipolo).

A projecção polar para o plano horizontal de um dipolo na vertical é mostrada na Fig.


3-8B.

Uma antena dipolo pode também trabalhar em harmónicas (frequências múltiplas) da


sua frequência fundamental.

Se um dipolo é de meia onda para a frequência de 100 MHz, ele trabalhará como se
fosse um dipolo de onda completa para a frequência de 200 MHz. A distribuição de corrente
num dipolo de onda completa mostra-se na Fig. 3-9A. Note que a corrente mínima ocorre no
centro da antena. Isto indica que o centro da antena é um ponto de muito alta impedância.
Como tal, se se pretende um ponto de baixa impedância para ligar uma linha de 75, o
ponto de alimentação tem que ser movido para os máximos de corrente (mínimos de
tensão) e que se situam a 1/4  do centro da antena.

O diagrama de radiação para uma antena dipolo de onda completa está indicado na
Fig. 3-9B. Note que o diagrama tem agora 4 lóbulos principais. Isto é devido à distribuição
de corrente no dipolo.

Fig. 3-9 - Dipolo de onda completa

Um dipolo de meia onda pode trabalhar na sua terceira harmónica como indicado na
Fig. 3-10A. Trata-se então de um dipolo de 3/2  (dipolo de onda e meia). A distribuição de
corrente resultante neste dipolo mostra-se na Fig. 3-10A. Note que agora o máximo de

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corrente ocorre no centro da antena e portanto o ponto de alimentação de baixa impedância
está ao centro, tal como no dipolo de meia onda. O diagrama de radiação para a antena de
3/2  mostra-se na Fig. 3-10B. Note que agora há 6 lóbulos (4 maiores e dois menores) e
que correspondem aos máximos de corrente.

Fig. 3-10- Dipolo de 3/2 

Esta faculdade dos dipolos poderem trabalhar nas harmónicas da frequência principal
pode ser utilizada quando se pretende que a mesma antena seja usada para trabalhar em
duas bandas. Um bom exemplo é uma antena desenhada para trabalhar simultaneamente
nas bandas de radio amador dos 7 MHz e dos 21 MHz. Corta-se a antena com o
comprimento certo para trabalhar em 7 MHz (comprimento = 20,43m). Então, se a antena
operar a 21 MHz, funcionará como uma antena 3/2  e dado que tanto o dipolo de 1/2 
como o dipolo de 3/2  têm baixa impedância no seu centro, devido ao máximo de corrente
(mínimo de tensão), oferecem ambas a possibilidade de um bom acoplamento de
impedâncias com uma linha de transmissão de 75 (ou mesmo de 50) ligada ao centro da
antena.

3.7. A antena vertical de 1/4 

Nos casos em que se pretende polarização vertical a antena tem que estar na vertical,
tal como já foi referido anteriormente. Contudo, a baixas frequências a altura da antena
dipolo de meio comprimento de onda pode tornar-se proibitiva. Por exemplo um dipolo
vertical de 1/2  para trabalhar a 4 MHz requer um comprimento de 35,75 m (l=143/f), mas
para trabalhar a 2 MHz já requer 71,5 m de altura.

Isto parece dizer que para polarização vertical e a baixas frequências o dipolo de 1/2 
pode ser impraticável. Contudo, se uma antena vertical de 1/4  for construída sobre uma

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terra perfeita, terá as mesmas características que teria se fosse um dipolo vertical de 1/2 .

Isto é possível porque uma terra perfeita produzirá uma imagem de espelho da antena
de 1/4 , produzindo assim o efeito de uma antena 1/2 . A imagem resulta das ondas de

Fig. 3-11 - A antena vertical de /4

rádio reflectidas tal como se mostra na Fig. 3-11A. A distribuição de tensão e de corrente ao
longo da antena vertical de quarto de comprimento de onda mostra-se na Fig. 3-11B.

Para que esta antena possa operar correctamente, a terra tem que ser perfeita
(condutividade infinita, resistência nula), pois caso contrário um valor apreciável de potência
se perderá na resistência do sistema de terra. O solo mais perfeito para este tipo de antena
é o solo húmido e com terra fértil ou o solo salinizado. Mas se por força das circunstâncias, a
antena tiver que ser construída num solo de pobre condutividade como por exemplo solo
rochoso ou arenoso, então é imprescindível a construção de uma terra artificial. Ela pode ser
construída com vários fios de cobre de 1/4  que se estendem no solo em torno da antena
cobrindo o mais possível todas as direcções. Estes fios chamam-se radiais e normalmente 4
radiais são o mínimo que se deve estender. Neste caso de só haver 4 radiais, eles devem ser
perpendiculares entre si.

A antena vertical de 1/4  é normalmente designada por antena Marconi, em honra ao


nome do pai das telecomunicações.

O diagrama de radiação para a antena vertical de quarto de comprimento de onda é


mostrado na Fig. 3-12.

No plano horizontal a antena radia em todas as direcções. É portanto uma antena


omnidireccional (em todas as direcções) mas como transmite por igual em todas as

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direcções dizemos que a antena é isotrópica (igual em todas as direcções).

A impedância de entrada de uma antena de quarto de comprimento de onda é


aproximadamente de 36 se for
utilizada com uma terra perfeita.

Este valor ainda é


suficientemente bom para
permitir um razoável acopla-
mento com linhas de transmissão
de 50.
Fig. 3-12 - Diagrama de radiação
Como a antena vertical de
1/4  é assimétrica (não balanceada) porque um dos lados é a terra, o melhor alimentador
é uma linha de transmissão também assimétrica (cabo coaxial). O condutor central é ligado
à antena (que é isolada da terra) e a blindagem é ligada à terra ou ao sistema de radiais se
for o caso.

3.8. Ganho e directividade

O diagrama de radiação horizontal da antena de ¼  (antena Marconi da Fig. 3-12)


mostra que nesse plano, a antena radia em todas as direcções. É portanto uma antena
omnidireccional, mas isotrópica porque transmite (ou recebe) por igual em todas as
direcções.

Contudo, em muitas situações, é conveniente que a


direcção da onda radiada fique restringida dentro de certos
limites. Por exemplo, se uma antena no alto de Monsanto
(Lisboa) emitisse com um diagrama de radiação
omnidireccional, grande parte da potência emitida seria
desperdiçada pois estaria a ser enviada na direcção do mar, o
que não apresenta qualquer interesse. Melhor seria que essa
potência fosse canalizada para outras direcções e que
nadirecção do mar não houvesse radiação. O sistema seria Fig. 3-13 - Largura do feixe

assim muito mais eficiente pois a potência radiada seria


dirigida especificamente nas direcções pretendidas, não se desperdiçando potência.

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Quando o diagrama de radiação de uma antena é essencialmente dirigido numa ou
mais direcções preferenciais, diz-se que a antena é direccional.

O dipolo de meia onda (Fig. 3-7) é bidireccional porque transmite (ou recebe) segundo
duas direcções preferenciais.

A medida da directividade da antena pode ser obtida directamente do diagrama de


radiação. A largura do feixe é obtida medindo o ângulo entre dois pontos de cada lado do
máximo do lóbulo onde a intensidade do campo cai a 3 dB do máximo.

A Fig. 3-13 exemplifica um diagrama de radiação unidireccional (só tem uma direcção
preferencial) de uma antena com uma largura do feixe de 50º.

Um sistema de antena com boa directividade (isto é feixe estreito) tem a vantagem de
poder emitir a maior parte da potência só na direcção pretendida

Uma vez que a potência radiada está concentrada num feixe relativamente estreito, a
intensidade de campo dentro do feixe é maior do que seria se fosse obtida numa antena
omnidireccional. Portanto a potência efectiva radiada (efective radiateted power - ERP) do
emissor é aumentada pelo ganho direccional da antena.

O ganho direccional é a relação que existe entre a potência necessária para produzir
um determinado intensidade de campo num dado ponto usando uma antena de referência
comparada com a potência necessária para produzir a mesma intensidade de campo com
uma antena direccional.

As antenas de referência são normalmente a antena Marconi ( ¼  ) ou o dipolo ½ .


Considera-se a antena Marconi (isotrópica) como tendo um ganho unitário ou seja 0dB.

A antena dipolo ½  tem um diagrama de radiação bidireccional (rever Fig. 3-8) e em


cada uma das direcções de emissão, o ganho é de +2dB se comparada com a antena
Marconi. Então uma antena dipolo tem um ganho de +2dbi sem que o índice com a letra i
significa que o ganho está a ser medido em relação à antena isotrópica.

As antenas utilizadas em TV, chegam a ter ganhos direccionais de de +20dBi (100x)


quando comparadas com a antena Marconi.

Em VHF, UHF e SHF, é possível construir antenas de elevado ganho (como as que se
usam em TV ou as parabólicas de recepção satélite) porque como os comprimentos de onda
são pequenos as antenas ocupam pouco espaço

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A utilização da unidade dB permite fazer cálculos fáceis. Por exemplo, a potência
efectiva radiada (ERP) pode ser calculada desde que se conheçam a potência de emissão, as
perdas na linha de transmissão (do emissor até à antena) e o ganho da antena.

Por exemplo, se um emissor tiver uma potência de saída de 100W, se a linha de


transmissão tiver perdas de 10W e se o ganho de potência da antena for de 10dB (10x),
então a ERP será:

100 W Potência de saída do emissor


- 10 W Perdas de potência na linha de transmissão
90 W Potência à entrada da antena
x 10 Ganho de potência da antena
900 W Potência efectiva radiada (ERP)

Isto mostra como uma antena direccional pode aumentar extraordinariamente a


potência efectiva radiada.

3.9. Arrays de antenas

A directividade ou ganho direccional é obtido usando combinações de dois ou mais


elementos de antena para formar arrays de antenas. Dependendo do método utilizado para
excitar os elementos adicionais, os sistemas de antena podem ser classificados em arrays
parasitas e arrays alimentados.

3.9.1. Arrays Parasitas

Um elemento de antena que não esteja ligado à linha de transmissão, mas esteja no
plano do dipolo, desenvolverá uma
tensão por indução. Chama-se
elemento parasita. A Fig. 3-14
mostra um elemento parasita
localizado a ¼  do dipolo, que é
assim o elemento alimentado.
Ambos os elementos têm um
comprimento de ½  e portanto
Fig. 3-14 - Array com dipolo e reflector
são ressonantes à frequência de
trabalho.

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O diagrama de radiação do dipolo é bidireccional e atinge o máximo de radiação no
plano do dipolo (rever Fig. 3-8).

Se considerarmos a energia radiada na direcção do elemento parasita ela viaja 1/4.


Portanto, antes de atingir o elemento parasita sofre um desfasamento de 90º. À medida que
a onda intersecta o elemento parasita, é induzida uma tensão que está 180º invertida em
relação à onda que a induziu. Como resultado, a corrente flui através do elemento e o
elemento radia.

Na direcção para além do elemento parasita, o campo por ele radiado é oposto ao
campo produzido pelo dipolo, pelo que os dois campos se anulam e a radiação nesta
direcção é insignificante.

Contudo, o elemento parasita também radia na direcção do dipolo. Quando esta


radiação atinge o dipolo, já sofreu mais 90º de desfasamento. Assim, o desfasamento total é
de 360º e a onda chega em fase com a energia que está a ser radiada pelo dipolo. Então a
radiação na direcção do dipolo é reforçada e há um máximo de radiação.

A direcção da máxima radiação é chamada de direcção de emissão e o elemento


parasita é chamado reflector.

O diagrama de radiação obtido com os arrays parasitas depende da amplitude e fase


da corrente nos elementos parasitas. Por sua vez, estes factores dependem do comprimento
dos elementos parasitas e do
espaçamento entre eles e o
elemento alimentado (dipolo).

O caso mais favorável


para o reflector é obtido quando
ele está afastado 0,18 a 0,2
do dipolo e quando o seu
comprimento é de aproximada-
mente 5% maior do que ½ .

Verifica-se que, se para


além do reflector, for colocado
Fig. 3-15 - Array com 3 elementos
um terceiro elemento, chamado
director, o ganho e a directividade aumentam ainda mais.

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Um array parasita de 3 elementos (dipolo, reflector e director) é mostrado na Fig.
3-15A. Este array (ou os semelhantes) são conhecidos como antena YAGI, nome do seu
inventor.

O director deve ter um comprimento cerca de 5% menor do que ½  e o seu


espaçamento ao dipolo deve ser de aproximadamente 0,1 .

A Fig. 3-15B mostra o diagrama de radiação para os três casos possíveis: diagrama só
para o dipolo, diagrama para dipolo + reflector e diagrama para dipolo + reflector +
director.

Pode verificar-se que a directividade aumenta com cada elemento adicional. Melhor
directividade e consequentemente maior ganho pode ser obtido adicionando mais elementos
directores à antena Yagi.

As antenas Yagi são muito utilizadas na recepção de TV e rádio. Em VHF, costumam


ter de 3 a 10 elementos e em UHF podem atingir 30 elementos pois como os comprimentos
de onda são menores é fisicamente possível construir antenas com mais elementos.

3.9.2. Arrays alimentados

Quando todos os elementos do sistema de antenas são alimentados pela linha de


transmissão, temos um array alimentado.

Um exemplo de array alimentado é mostrado na Fig. 3-16A. Este é um array colinear


visto que todos os elementos (quatro dipolos) estão colocados em linha.

Fig. 3-16 - Array alimentado

Note que a linha de transmissão está ligada a cada elemento e que as correntes em

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cada elemento estão em fase pois os comprimentos da linha de transmissão para cada
elemento são exactamente iguais.

O resultado é um diagrama de radiação mostrado na Fig. 3-16B.

A linha ponteada representa o diagrama de radiação que é obtido com um só dipolo. A


linha tracejada mostra a directividade acrescida obtida com dois dipolos. Finalmente, a linha
a cheio mostra o diagrama de radiação para os 4 dipolos colineares.

Normalmente neste tipo colinear de array, os dipolos não


ficam na horizontal como indicado na Fig. 3-16 mas sim na
vertical (Fig. 3-17). Isto dá cobertura omnidireccional no plano
horizontal mas no plano vertical dirige a energia para baixo em
direcção à linha do horizonte o que aumenta o raio de cobertura
em VHF e UHF. É por isso a solução preferida pelas emissoras
de rádio, TV e telemóveis que usam preferencialmente este tipo
de array.

Outra forma muito divulgada de array alimentado é o array


logaritmico-periódico (log-periodic). Este nome deriva do facto Fig. 3-17 – Array

de que os comprimentos dos elementos são diferentes entre si


mas estão relacionados logaritmicamente.

Fig. 3-18 – Antena log-periódica

Cada elemento é sintonizado para uma frequência e serve como director para o
elemento seguinte e como reflector para o elemento antes dele.

A antena logarítmica oferece boa directividade e excelente ganho (cerca de 10dBi).


Contudo, a sua maior vantagem, é uma grande largura de banda (cobre VHF e UHF).

Enquanto as antenas YAGI operam em bandas muito estreitas de frequência a antena

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log-periodic pode operar em gamas muito vastas de frequências e sempre com o mesmo
ganho e directividade.

Um exemplo: para um SWR menor que 2:1, uma log periódica pode trabalhar de 100 a
900 MHz, enquanto que para o mesmo SWR, a Yagi só trabalharia entre 100 e 200 MHz.

3.10. Antenas parabólicas

Os arrays deixam de ter viabilidade prática quando a frequência é muito alta.

Um cálculo muito simples evidencia isso:

Para a frequência de 10GHz o comprimento de onda é de 3cm. O dipolo de /2 teria


portanto cerca de 1,5 cm. Uma antena Yagi ou uma antena log-periódica com elementos
tão pequenos é inviável porque eles têm a dimensão do próprio suporte onde ficariam. Não é
possível fabricar yagis para frequências tão altas.

A solução para emissão ou recepção de frequências acima dos 4 GHz são as antenas
da família das parabólicas. Mas porque não se usam parabólicas para frequências abaixo dos
4GHz?

A tabela da Fig. 3-19 mostra os ganhos de parabólicas em função do seu diâmetro e


da sua frequência de operação.

Frequência (MHz)
 (m)
435 1250 2350 5700 10250 24000 47000
0.4 - 11.8 17.3 25.0 30.1 37.4 43.3
0.6 6.1 15.3 20.8 28.5 33.6 41.0 46.8
0.8 8.6 17.8 23.3 31.0 36.1 43.5 49.3
1.2 12.2 21.3 26.8 34.5 39.6 47.0 52.8
1.6 14.7 23.8 29.3 37.0 42.1 49.5 55.3
2.4 18.2 27.3 32.8 40.5 45.6 53.0 58.8
3.2 20.7 29.8 35.3 43.0 48.1 55.5 61.3
4.8 24.2 33.4 38.8 46.5 51.6 59.0 64.9

Fig. 3-19 – Ganho de antenas parabólicas

Repare que para uma frequência de sinais de TV terrestre, da ordem dos 400MHZ,
seria preciso uma antena parabólica de 2,4 de diâmetro (preço da ordem de muitas centenas
de euros) para obter o mesmo ganho que uma antena YAGI (muito mais simples de instalar
e preços da ordem da dezena de euros).

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As antenas parabólicas que vamos analisar, embora obedecendo ao mesmo princípio,
fazem parte de 3 tipos distintos (Fig. 3-20): antena de foco primário, antena offset e antena
cassegrain

Fig. 3-20 – Tipos de antena parabólica

3.10.1. Antena de foco primário

Quando falamos em antena parabólica fica a sensação de que a parábola é que é a


antena.

Mas não é o caso. A antena que vai captar o sinal é uma antena do tipo Marconi de
quarto comprimento de onda tal como já descrito anteriormente.

O problema é que a antena Marconi tem ganho de 0dbi e portanto como os sinais de
satélite que chegam à terra são fraquíssimos, ela nada receberia.

Um sinal de satélite para poder ser utilizado precisa pelo menos de uma antena que
tenha cerca de 40dB de ganho. Como conseguir esse ganho?

Utilizando um reflector, pode-se concentrar muito mais energia num ponto só. É essa a
filosofia da antena parabólica: a antena marconi fica no foco da parábola e recebe todo o
sinal que é captado pelo reflector parabólico Fig. 3-21

Os satélites comerciais actuais trabalham com frequências na ordem de 10GHZ o que


corresponde a comprimentos de onda de 3cm e a uma antena Marconi de apenas 7,5mm.

Não seria viável colocar tão pequena antena no foco por isso o que se coloca é a
antena já dentro de uma bloco amplificador e conversor que normalmente se designa por
LNB (low noise Block)

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O LNB contem a antena (normalmente 2 antenas uma na horizontal e outra na
vertical) e todo o circuito electrónico que converte a frequência recebia para frequências
mais baixas que possam ser enviadas para casa do utilizador em cabo coaxial (relembrar que
cabo coaxial só transporta frequências até ao máximo de 3 a 4 GHZ).

Fig. 3-21 – Antena parabólica foco primário

A Fig. 3-22 mostra um LNB moderno.

Fig. 3-22 – LNB

A tabela da Fig. 3-23 indica os ganhos de uma antena parabólica em função do seu
diâmetro e da frequência que está a captar.

Repare que para o mesmo tamanho quanto maior a frequência maior o ganho.

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Da mesma forma repare que para a mesma frequência quanto maior o tamanho maior
o ganho.

Fig. 3-23 – Tabela de ganhos duma parabólica em função do diâmetro e da frequência

Na década de 90 os satélites eram de baixa potência e obrigavam a antenas de


diâmetros enormes (normalmente acima de 1,80m) para a sua captação.

Hoje em dia, nos satélites mais recentes, antenas de 60 cm são mais que suficientes.
O problema das antenas pequenas de foco primário, é que o suporte do LNB e o próprio LNB
tapam (fazem sombra) em cerca de 10 a 30% da área da antena.

Por essa razão só faz sentido utilizar antenas de foco primário para antenas de
diâmetros superiores a 1,20m.

Para tamanhos inferiores a melhor solução é uma antena offset.

3.11. Antenas offset

A antena offset é uma parte de parábola que foi cortada de tal forma que o braço de
suporte para o LNB e o próprio LNB não irão fazer sombra sobre a área útil do reflector, tal
como acotece nas antenas de foco primário.

Isso pode ser melhor explicado recorrendo à Fig. 3-24.

Repare que a inclinação da antena faz com que todos os raios incidentes batam na
superfície reflectora e não interfiram com o LNB ou o suporte.

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Como os satélites actuais são de alta potência, a grande maioria das antenas que
actualmente se instalam são do tipo Offset.

Fig. 3-24 – Antena Offset

3.12. Antenas Cassegrain

A antena Cassegrain é uma antena do tipo offset mas que tem dois relectores em vez
de só um (Fig. 3-25).

Fig. 3-25 – Antena Cassegrain

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O efeito produzido é assim semelhante ao que aconteceria com a utilização de duas
lentes. Enquanto que numa antena offset o rendimento é de cerca de 65% (relação entre o
sinal que incidiu na parábola e a quele que realemnte foi aproveitado) na antena cassegrain
esse rendimento é da ordem dos 75%.

O principio de funcionamento está ilustrado na Fig. 3-20.

Só não se utiliza mais esta antena porque é muito mais cara que a offset simples.

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