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Hormônios tópicos para o

tratamento da atrofia urogenital:


são todos iguais?

Dra.Cassiana Rosa Galvão Giribela Dra.Aricia Helena Galvão Giribela


Ginecologia e Mastologia Ginecologia e Mastologia
Doutorado pela Faculdade Doutorado pela Faculdade
de Medicina da USP de Medicina da USP
A atrofia vaginal é reportada em 60% ção vaginal do epitélio atrófico, reduzem o
das mulheres após quatro anos da meno- ph vaginal, que, na menopausa, encontra-

Hormônios tópicos para o


pausa. A prevalência de secura vaginal e se ao redor de 4-7; e aumentam o glico-
dispareunia está entre 27-55%. As fuman- gênio local. Há uma tendência à recupe-

tratamento da atrofia urogenital:


tes e as mulheres com câncer de mama ração da microflora vaginal com redução
apresentam sintomas vaginais com maior de infecção e inflamação.2

são todos iguais?


frequência.1 As opções para uso vaginal são estriol,
Lubrificantes e hidratantes vaginais estrogênios conjugados e promestrieno.
são usados como primeira linha de tra- Os estudos existentes sugerem eficácia
tamento, muitas vezes sem recomenda- equivalente para o tratamento da atrofia
ção médica. Eles são vaginal. O Promestrie-
Dra.Cassiana Rosa Galvão Giribela Dra.Aricia Helena Galvão Giribela
Ginecologia e Mastologia Ginecologia e Mastologia
usados no momento “O Promestrieno é no é 3-propil e 17b me-
Doutorado pela Faculdade Doutorado pela Faculdade da relação sexual, ou til éter do estradiol com
de Medicina da USP de Medicina da USP
ainda diariamente, e
3-propil e 17b metil eficiente ação na atro-
seus resultados não éter do estradiol fia vaginal e mínima

O
são satisfatórios para absorção sistêmica. O
s sintomas urogenitais relaciona- em mulheres na pós-menopausa é a dis- com eficiente ação
dos à deficiência estrogênica pareunia causada pela atrofia vaginal. melhora dos sintomas. produto é disponível
são causadores comuns de per- Sintomas urinários também são presentes As recomendações de na atrofia vaginal e em 34 países desde
da de qualidade de vida e piora da sexu- e constrangedores. Outras queixas são en- sociedades nacionais mínima absorção 1974 e poucos efeitos
alidade feminina. A queixa mais frequente contradas na TAB. 1.1 e internacionais suge- adversos são descritos,
sistêmica. O produto é
rem a individualização revisaremos as carac-
Tabela 1 da necessidade da disponível em 34 países terísticas particulares
terapia hormonal sistê- desde 1974 e poucos desse composto.2
Trato genital Trato urológico mica, especificando a
efeitos adversos são Perfil
via de administração farmacológico
Burning (queimação) Urgência e levando em conta descritos, [...]” O promestrieno é um
a utilização da menor análogo do estradiol.
Itching = coceira = prurido Frequência dose capaz de aliviar os sintomas. Sabe- Tem uma peculiaridade farmacodinâmi-
se que a via vaginal é eficaz em aliviar ca devida à presença dos grupos 3-pro-
Prurido Disúria
sintomas locais muitas vezes presentes ex- pílico e 17b éter metílico. Em relação ao
Dispareunia ITU clusivamente. 2
17-beta-estradiol, esta mudança confere

Estrogênio à molécula de promestrieno (i) proteção


Prolapso Incontinência terapia tópica contra degradação pelo citocromo P450
Estrogênios vaginais revertem a atrofia e (CYP) e (ii), o que leva a uma concentra-
Infecção -
reduzem sintomas, como queimação, dis- ção plasmática baixa, por causa da me-
pareunia e prurido. Melhoram a lubrifica- nor penetração na membrana basal.3,4

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com promestrieno, não foram observados

“O promestrieno atua apenas na mucosa efeitos adversos. Antes do tratamento, os


níveis médios de FSH e de E2 foram de 71 ±
vaginal; não altera os níveis plasmáticos de 3 U/L e 41 ± 18 pmol/l, e a espessura média
gonadotrofinas ou estradiol e não estimula do endométrio foi de 2,4 ± 0,9 mm. Após
o tratamento, os níveis médios de FSH e
o endométrio. Nem sequer é convertido E2 foram de 67 ± 22 U/l e 43 ± 37pmol/l,
novamente em estradiol.” enquanto que a espessura média do en-
dométrio foi de 2,5 ± 1,3 mm. Não foi ob-
servada diferença significativa para estas

O promestrieno atua apenas na muco- As peculiaridades farmacológicas do variáveis antes e depois do tratamento (P>

sa vaginal; não altera os níveis plasmáti- promestrieno ocorrem por causa da pre- 0,05). Ao mesmo tempo, o efeito terapêu- “Após avaliação do
cos de gonadotrofinas ou estradiol e não sença na molécula de estradiol de grupos tico foi mantido: o índice de maturidade risco-beneficio, o
vaginal foi de 42 ± 15 antes e 54 ± 8 depois,
estimula o endométrio. Nem sequer é 3-propílico e 17b éter metil. Estas altera-
enquanto o score de vaginite atrófica foi
uso de estrogênio de
convertido novamente em estradiol. Este ções o tornam menos capaz de penetrar
perfil de segurança favorável foi mostra- na membrana basal.2 de 3,4 ± 1,7 antes e 1,5 ± 1,4 após o tra- baixa dose e baixa
do por dados em animais e em estudos Um estudo envolvendo voluntárias na pós- tamento. Estes resultados mostraram uma
absorção vaginal, tal
clínicos humanos. 5
menopausa, confirmou a mínima absorção diferença significativa (P <0,01).11
qual o promestrieno,
Em dois estudos duplo-cegos rando- vaginal de promestrieno. Após a adminis- Comparação de segurança
mizados, o promestrieno foi comparado tração vaginal, os níveis de promestrieno entre ECC, estriol e estradiol parece ter importante
com placebo e não houve diferença plasmático tiveram pico entre 0,2 e 0,5 ng/ Os diferentes compostos para uso vaginal
papel no controle da
na atividade sistêmica. 6,7
Em um estudo ml num período de 8 horas, mas eram cerca parecem ter igual eficácia no tratamento
comparando cremes vaginais contendo de 150 vezes maiores (45-80 ng/mL) dentro da secura vaginal causada pela atrofia, a
atrofia vaginal mesmo
promestrieno e estrogênios conjugados de 4 horas após a administração oral da segurança foi revista por meio de revisão em pacientes de alto
sistemática da base de dados da Cochra-
equinos (CEE), ambos os cremes melho- mesma dose de 10 mg.10
risco, como mulheres
raram significativamente a sintomato- O uso de promestrieno foi seguro no ne de 19 estudos randomizados controla-
logia vulvovaginal, mas o promestrieno tratamento da vaginite atrófica pós-me- dos envolvendo 4162 mulheres. Do ponto com câncer.”
teve significativamente menor atividade nopausa em um estudo¹¹ que incluiu 53 de vista de segurança, o creme de ECC foi
sistêmica. De fato, o promestrieno não mulheres com idade entre 45 e 75 anos. relacionado à dor mamária, a sangramen-
afetou os níveis de estradiol, FSH ou LH, O promestrieno foi administrado durante to uterino e à dor perineal.12
enquanto o creme com CEE aumentou o 20 dias, e, em seguida, como terapia de Ensaio com espectofotometria de massa
estradiol (P <0,05) e reduziu FSH (P <0,05) manutenção durante oito semanas (duas para dosagem sérica de estradiol e de es-
e LH (P <0,01) após 14 dias.8 vezes por semana). Os níveis de FSH e de trona é um método sensível e acurado e
A absorção vaginal do promestrieno foi E2 no soro foram medidos e a espessura mostra que o creme de ECC e óvulos de
mínima: em comparação ao uso da repo- do endométrio foi determinada antes e estradiol após uma semana de tratamento
sição hormonal por via oral.9 após o tratamento. Durante o tratamento diário causam aumento de cinco vezes no

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nível sérico de estradiol em mulheres nas lheres. A falta de estudos robustos garan-
pós-menopausa. A estrona aumenta 550% tindo a segurança do uso de hormônio tó-
com ECC e 150% com estradiol. pico nestas pacientes faz com elas pade-
Conclusão
Estudos avaliando a Dopplervelocimetria çam de mais esse sintoma e tenham mais
Promestrieno vaginal para alívio da atrofia é um estrogênio
de veias periuretrais de mulheres com ur- fator de perda de qualidade de vida.2
gência miccional mostraram menor absor- Estudo envolvendo 1472 mulheres com localmente eficaz, que não mostrou efeitos sistêmicos, conse-
ção do promestrieno em relação à absor- câncer de mama, entre elas, 69 utilizando quentemente, pode ser utilizado como uma opção de primei-
ção do CEE ou do estradiol.13 Após avalia- estrogênios vaginais, não demonstrou au- ra linha para pacientes que necessitam de um tratamento tó-
ção do risco-beneficio, o uso de estrogênio mento de recorrência local.15 pico com mínima ou idealmente nenhuma absorção vaginal.
de baixa dose e baixa absorção vaginal, Estudo recente demonstrou ausência
O promestrieno vaginal conta com mais de 40 anos de uso
tal qual o promestrieno, parece ter impor- de efeito sistêmico por meio de espec-
clínico em 34 países e efeitos colaterais raríssimos reportados
tante papel no controle da atrofia vaginal tofotometria de massa. Após um mês de
mesmo em pacientes de alto risco, como uso de promestrieno (10 mg/d), a dosa-
para farmacovigilância.

mulheres com câncer. gem de sulfato de estrona não se alte-


Em mulheres tratadas por seis a 24 me- rou em 17 mulheres com câncer e atrofia
ses, não foi demonstrada proliferação en- vaginal. A espectofotometria de massa Referências:
dometrial com estrogênios tópicos, com é um método mais sensível que o RIA, (1) SANTOS,I.;CLISSOLD,S. Urogenital disorders associated with oestrogen deficiency: the role ofpromestriene
as topical oestrogen therapy. Gynecological Endocrinology, v. 26, n. 9, p. 644–665, 2010. (2) DEL PUP, L.; DI
isso os consensos internacionais não indi- outra forma de espectofotometria usada FRANCIA, R.; et al.Promestriene, a specific topic estrogen. Review of 40 years of vaginal atrophy treatment:
is it safe even in cancer patients? Anti-Cancer Drugs, v. 24, n. 10, p. 989–998, 2013. (3) DE ALOYSIO, D.; PEN-
cam avaliação endometrial ou oposição em estudos anteriores. Esse estrogênio é
NACCHIONI, P; et al. Rational use of vaginalpromestriene. Ital J Obstet Gynecol, v.9, p. 533-538, 1995. (4) BE-
progestagênica em mulheres sem sangra- considerado marcador de estrogenici- LAISH, J; THOMAS; J; et al. French and Europeanexperience with promestriene. In: Bottiglioni F, editor. Female
climateric.Pavia, p. 29–44, 1988. (5) BORRELLI, A.; CASOLARO, M; et al. Biological activity ofpromestriene on
mento com reposição apenas vaginal de dade e de reserva, quando compara- the genital tract of ovariectomized rat. Minerva Gynecol, n. 42, v. 11, p. 467-476, 1990. (6) CAMPANA, G.;
estrogênios.14 do com precursores E1 e E2, o E1S está DI FRANCESCO, G. Climateric syndrome: clinical experienceswith promestriene. Ann ObstetGynecolPerinat
Med, n. 27, v. 3, p. 189-198, 1976. (7) WOLFF, P.; CACHELOU, R.; et al..Absence of systemic hormonal effects
presente em concentrações 10 a 50 ve-
Promestrieno em mulheres in an oestradioldiether topically active on the vaginal mucosa. Maturitas, n. 4, v. 4, p. 239-246, 1982. (8)

com câncer zes maiores no plasma, proporcionando ROMANINI, C.; PAPARATTI, L.; et al.Local and systemic estrogenic activity ofthe topics used to treat vaginal
atrophy. Med Hyg, n. 44, p. 1562-1568, 1986. (9) SITRUK-WARE, R.; THOMAS, L. Local hormonal treatment of
A mulher com câncer de mama é sub- mais fácil quantificação mesmo com a vaginal atropy.France: Praxis Editions, p. 1245-1248, 1997. (10) THOMAS, L.; MIGNOT, A. Compared absorp-
tion ofpromestriene by vaginal and oral routes in postmenopausal women.Presented as a poster at the 9th
metida a inúmeros tratamentos que são variação interensaio. Sua meia-vida pro-
International Congress of Endocrinology, France, Aug 30-Set 5, 1992. (11) SUN, J.; LIN, Q. Safety of promestri-
associados à piora da qualidade de vida, longada também elimina a variação di- enecapsule used in postmenopausal atrophic vaginitis. Zhonghua Fu Chan KeZaZhi, n. 44, v. 8, p. 593-596,
2009. (12) SUCKLING, J.; LETHABY, A.; et al. Local oestrogen for vaginalatrophy in postmenopausal women.
entre eles destaca-se a piora da sexualida- ária presente com E1 e E2.13 Esse resulta- Cochrane Database SystRev, n. 18, v. 4, 2006. (13) LABRIE, F.; CUSAN, L.; et al. Effect ofone-week treatment
do é tranquilizador se considerarmos que with vaginal estrogen preparations on serum estrogenlevels in postmenopausal women. Menopause, n. 16,
de, de causa multifatorial.
v. 1, p. 30-36, 2009. (14) AL-BAGHDADI, O.; EWIES, A. Topical estrogen therapy in the management of post-
Após a menopausa, natural, cirúrgica ou o estrogênio tópico pode atingir a cor- menopausal vaginal atrophy: an up-to-date overview. Climacteric, n. 12, v. 2, p. 91-105,2009. (15) DEW, E.;
WREN, G.; et al. A cohort study of topical vaginal estrogen therapy in women previously treated for breast
quimicamente induzida, pós-quimioterapia rente sanguínea, principalmente nas 2-4
cancer. Climacteric, n. 3, v. 1, p. 45-52, 2003.
ou em uso de análogo de GnRH ou agonis- primeiras semanas de tratamento, quan-
tas de LH, a mulher tem maiores chances do a absorção através da mucosa atró-
de desenvolver atrofia vaginal. A quimio e fica é maior, após esse período, ocorre
espessamento da mucosa vaginal e re-
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indução de sintomas vaginais nessas mu-

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SET 2014

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