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AULA 05

UM PADRÃO OBSERVADO NA QUEDA


DE PASTORES
Introdução
Atuar como Secretário Geral de Apoio Pastoral da IPB tem sido uma fonte
de alegria e contentamento, mas algumas vezes esse trabalho resulta em
muita tristeza e angústia! Talvez, nada seja mais difícil nesse sentido do que
confrontar um pastor que se desviou do caminho da santidade, ouvir uma
esposa machucada pela atitude do marido e ver filhos desacreditados por
causa do exemplo do pai. Tudo isso sem falar ainda das repercussões que a
queda de um pastor traz à igreja local. De fato, Satanás parece obter
enorme vantagem quando consegue seduzir um líder do povo de Deus, a
fim de desanimar o rebanho comprado pelo sangue de Cristo!

Ao falar sobre a queda de pastores não me refiro aos “pecados


corriqueiros”, pois ninguém espera que um pastor seja imune ao pecado.
Todavia, o que dizer dos “pecados escandalosos”, que roubam a
irrepreensibilidade do ministro diante do seu rebanho e da sociedade (cf.
1Tm 3.2)? O que dizer do adultério, da desonestidade na administração, das
dívidas descontroladas, das atitudes violentas, do abuso doméstico, etc?
Certamente, é possível descrever uma enorme lista que acaba
caracterizando o desvio, a queda e a ruína de muitos pastores na igreja de
Cristo.

Recentemente, li um artigo escrito por um dos alunos de Howard


Hendricks, ex-professor do Dallas Theological Seminary, que foi produzido a
partir de um estudo compartilhado pelo Dr. Hendricks sobre algumas
semelhanças entre pastores que haviam fracassado moralmente e se
tornaram desqualificados para o ministério pastoral (1Co 9.27). O estudo foi
realizado com 246 ministros que, no período de dois anos, haviam sido
despojados do ministério. Despois de entrevistar cada homem, Hendricks
compilou quatro características comuns de suas vidas:
 Nenhum dos homens estava envolvido em qualquer tipo de prestação de
contas à outra pessoa;
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 Cada um dos homens tinha quase cessado de ter um tempo diário de oração
pessoal, leitura da Bíblia e adoração pessoal;
 Mais de 80% dos homens se tornaram sexualmente envolvidos com alguma
outra mulher, situação que muitas vezes teve origem nas sessões de
aconselhamento;
 Sem exceção, cada um dos 246 estavam convencidos que aquele tipo de queda
“nunca aconteceria com ele”.
Por mais antigo e limitado que o estudo do Dr. Hendricks possa parecer, ele
acaba revelando um padrão comumente observado e testificado entre
pastores que se desviam dos caminhos da santidade.

Refletindo sobre os dados do estudo de Hendricks, um de seus alunos,


Garrett Kell[1], ressaltou algumas lições sobre a queda de alguns pastores
que podem ser corretamente classificadas como um padrão nessa área.
Compartilho-as, abaixo, a fim de ajudar e edificar muitos outros que ainda
lutam para permanecer firmes no ministério sagrado.
1. O pecado prospera no isolamento
A verdade é que Satanás vive na escuridão e anseia por nos manter nela
também. Como o inimigo é o pai da mentira, o engano também sobrevive
melhor na escuridão. É por isso que Deus, quando nos chama, nos chama
para a luz (cf. 1Ts 5.4-5)! Nesse contexto, ele nos coloca na igreja, que é o
Corpo de Cristo.

Deus criou a igreja para ser muitas coisas, incluindo uma comunidade onde
as pessoas se ajudam mutuamente a lutar contra o pecado e a amar
melhor o Redentor. Deus nos chama a relacionamentos nos quais podemos
falar a verdade uns aos outros (Efésios 4.15, 25), confessarmos nossos
pecados uns aos outros (Tiago 5:16) e a amar o suficiente àquele que se
desvia (cf. Mateus 18.10-20; Gálatas 6.1-2; Tiago 5: 19-20). Em outras
palavras, a igreja é uma comunidade onde podemos prestar contas uns aos
outros e isso é uma bênção na nossa caminhada com Cristo.

Por isso, pergunto: quem, de fato, é seu amigo? A quem você regularmente
presta contas e compartilha os segredos e angústias da alma? Quem não só
tem permissão, mas atualmente está agindo com essa permissão, para lhe
fazer perguntas diretas e penetrantes sobre o seu andar com Cristo? Em
outras palavras, quanto mais você se isolar, mas vulnerável se torna aos
ataques de Satanás e mais tempo pode permanecer cativo das trevas do
prazer pecaminoso.
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2. Se você flertar com o pecado, você acabará cedendo a ele


Aqui está uma observação simples: a inclinação do pecado é escorregadia!
Quanto mais você caminhar ao longo da borda do abismo, mais provável
será que o seu pé escorregue. O problema é que ministros da Palavra,
mesmo sabendo disso, se colocam em situações perigosas inúmeras vezes.
Eles geralmente ignoraram que o homem íntegro e reto não apenas teme
ao Senhor, mas também foge do mal (Jó 1.1).

Quando alguém cai em pecado, isso é uma prova de que aquela pessoa não
guardava o seu coração (Provérbios 4.23). No caso de líderes, eles também
não guardavam o coração das pessoas que deveriam proteger. Em vez
disso, eles se tornaram cegos pelo engano do pecado (Efésios 4.22;
Hebreus 3.13) e foram levados para o fosso da destruição (Mateus 15.14).

Por isso, pergunto: De que maneira você está flertando com o pecado? Que
provisões você está fazendo para a carne em relação à luxúria (Romanos
13.14)? Que detalhes você está escondendo? Quais os e-mails que você está
excluindo? Quais históricos de busca na Internet você está apagando?

É possível que o pecado esteja agachado em sua porta (Gênesis 4.7) e o


tentador procurando uma oportunidade para atacar (1Pedro 5. 8). Dessa
forma, fuja do pecado; não flerte com ele (Gênesis 39.6-12; Provérbios 5-7,
Romanos 6.12-13; 2 Timóteo 2.22 e 1 Pedro 2:11).

3. O orgulho nos cega quanto à nossa própria fraqueza


No estudo do Dr. Hendricks, muitos pensaram que nunca seriam
vulneráveis aos pecados escandalosos, até que eles lamentassem seus
efeitos mais tarde. O fato é que as Escrituras advertem: “aquele que pensa
estar em pé veja que não caia” (1Coríntios 10.12). Além do mais, Salomão
ensina que a impressão de bem-estar acaba levando os loucos à perdição
(Provérbios 1.32).

Além do mais, se considerarmos alguns personagens da Bíblia ficaremos


admirados com a pecaminosidade do pecado. Por exemplo, Sansão foi o
homem mais forte da Bíblia, Salomão, o homem mais sábio da Bíblia e Davi,
o homem segundo o próprio coração de Deus. Todavia, todos foram
superados pela tentação do pecado sexual (Juízes 14-16; 1Reis 11.1-8;
2Samuel 11-12 e Salmo 51). De fato, ninguém está acima da tentação!
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O escritor de Provérbios observou que “a soberba precede a ruína, e a


altivez do espírito, a queda” (Provérbios 16.18). Aquele que não considera
suas próprias fraquezas acaba se achando invulnerável ao pecado e não faz
quaisquer provisões contra a tentação. O problema é que isso já é, em si,
um trunfo do tentador.

4. A pureza é cultivada como expressão do amor a Jesus


Em algum lugar ao longo da caminhada, aqueles pastores do estudo de
Hendricks negligenciaram a disciplina da devoção e dedicação a Cristo. As
orações se tornaram menos apaixonadas. O estudo bíblico passou a ser um
exercício profissional. As promessas da Palavra de Deus cresceram
empoeiradas. O amor por Jesus se tornou uma experiência passada, algo a
ser lembrado e não vivido. Como resultado, a sedução do pecado e a
loucura em sacrificar o ministério para satisfazer desejos íntimos se tornou
demasiadamente forte para serem resistidos.

A verdade é que a única motivação suficientemente resistente para se fugir


do pecado é o amor e a gratidão por Jesus. Qualquer ordenança humana e
determinação pessoal em obedecer às regras legalistas não têm valor
algum contra a sensualidade (Colossenses 2.20-23). Somente quando
somos constrangidos intimamente pelo amor de Cristo, nos consagramos
livremente a ele e temos na comunhão com ele o prazer da sua aprovação.

Por isso, insisto: não permita que seu coração fique gelado em relação ao
Senhor. Busque-o diariamente, momento após momento, sabendo que ele
é melhor do que qualquer prazer fugaz que possa atrair seu coração. Não
busque o Senhor apenas em dias de desespero, mas diariamente e
sistematicamente. Não despreze sua devocional individual, sua leitura
bíblica, seus momentos de derramar o coração diante do Senhor. Lembre-
se de que comunhão é algo a ser cultivado e o mesmo acontece em nosso
relacionamento com o Redentor.

Finalmente, é importante saber que o padrão de queda acima exposto não


se aplica somente a pastores, mas também aos presbíteros, diáconos,
pedreiros, encanadores, mães, jovens e assim por diante. Na verdade, o
pecado não faz acepção de pessoas e se o inimigo percebe que uma
estratégia foi bem-sucedida com alguém, ele logo tentará estender o seu
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experimento a outros. Por isso, embora esse artigo se dirija a pastores, os


princípios aqui deveriam ser observados por todos os crentes em Cristo.

Rev. Valdeci da Silva Santos

[1] Disponível em: http://garrettkell.com/pattern-among-fallen-pastors-


lessons-us/ Acesso em: 02.07.2017.

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