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FátimaRafael
Gabinete da Desa. Fátima Rafael
DECISÃO
Cuida-se de ação declaratória de ilegalidade de greve, com pedido de antecipação de tutela, ajuizada pelo
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios – MPDFT em desfavor do Sindicato dos
Servidores da Carreira Socioeducativa do Distrito Federal – SINDESSE/DF, em razão de ter sido
comunicado da paralisação parcial de suas atividades a partir de 4 de agosto de 2019 e por tempo
indeterminado, em todo o sistema socioeducativo do Distrito Federal, tendo em vista o descumprimento
do acordo de greve celebrado em 2015, nos termos do Ofício n° 40/2019/SINDESSE/DF.
Sustenta que, a partir de 4/8/2019, em razão da greve, serão atendidas apenas as necessidades básicas dos
menores mantidos nas unidades de internação do DF, como alimentação e condução emergencial, ficando
suspensas atividades como escolas, oficinas, o ingresso de visitantes nas unidades de internação,
mantendo-se, contudo, as escoltas para o caso de emergências médicas e judiciais (audiências).
Argumenta que, ao contrário do alegado pelo Presidente do SINDESSE/DF, vários direitos fundamentais
dos adolescentes, tais como escolarização, direito a visitas, profissionalização, acabarão violados, em que
pese serem direitos assegurados pela Constituição Federal (art. 227) e Estatuto da Criança e do
Adolescente (arts. 3 e 208), o que possibilita o advento de rebelião.
Aduz que a carreira dos Servidores Socioeducativos do DF está sob a tutela da Secretaria de Estado de
Justiça e Cidadania do Distrito Federal, uma vez que suas atividades estão intrinsecamente ligadas à
preservação dos direitos fundamentais dos jovens acautelados e em cumprimento de medidas
socioeducativa de forma geral, razão pela qual não podem exercer o direito de greve, impondo-se a
prestação de suas atividades de forma plena e sem interrupção.
Cita jurisprudência do colendo STF e do TJDFT sobre a matéria, requerendo, por fim:
. No mérito, que seja julgada procedente a ação, confirmando-se integralmente a medida liminar,
inclusive com a determinação, à Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal do
desconto da remuneração dos dias não trabalhados aos servidores que aderirem a greve no dia 4 de agosto
próximo, sob pena de inegável prejuízo aos cofres públicos e enriquecimento ilícito dos filiados do réu.
É o breve relatório.
Decido.
Um exame superficial da questão evidencia que são fortes os indícios de ilegalidade da greve a ser
deflagrada pelos Servidores da Carreira Socioeducativa do Distrito Federal.
Isto porque, tal categoria está sob a tutela da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito
Federal e suas atividades são voltadas à garantia do cumprimento de medidas socioeducativas por
menores mantidos nas unidades de internação do DF.
Desse modo, em se tratando de servidores cujas atividades estão relacionadas à área de segurança
pública, lhes é vedado o exercício do direito de greve. Nesse sentido, confira-se julgado da relatoria do
Ministro Eros Grau:
Tal entendimento é reproduzido pela jurisprudência do egrégio TJDFT, conforme se infere do julgado
da Relatoria da eminente Desembargadora Leila Arlanch nos autos n° 20140020253138 (Acórdão n.
849960, 2ª CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 09/02/2015, DJe: 24/2/215). No mesmo sentido:
2. Diante da inexistência de norma regulamentadora específica sobre o direito de greve dos servidores
públicos, o Excelso Supremo Tribunal Federal, por meio do julgamento de mandados de injunção,
acabou por determinar a aplicação, no que couber, da Lei nº 7.783/1989, que dispõe sobre o exercício do
direito de greve no âmbito da iniciativa privada.
3. Embora restar assegurado o direito de greve aos integrantes do serviço público, tal situação não
abarca todas as categorias de servidores, haja vista a impossibilidade de interrupção de alguns serviços
públicos, que devem ser prestados na sua totalidade. Entendimento confirmado pelo Excelso STF de
que - "servidores públicos que exercem atividades relacionadas à manutenção da ordem pública e à
segurança pública, à administração da Justiça - aí os integrados nas chamadas carreiras de Estado,
que exercem atividades indelegáveis, inclusive as de exação tributária - e à saúde pública", a exemplo
da categoria e as atividades exercidas pelos servidores socioeducativos, que embora não sejam àquelas
propriamente enquadradas como de polícia, está intimamente atrelado à garantia da ordem e à
segurança pública, tanto das unidades de internação, quanto da incolumidade pública dos próprios
internos e também da população, de modo, a restar-lhes, nesse contexto, impossibilitado o exercício do
direito de greve.
4. A aplicação de multa para eventual descumprimento de ordem para o imediato retorno da categoria
aos postos de trabalho, não se mostra desarrazoada ou desproporcional, sendo compatível com a
importância da obrigação imposta, até porque as conseqüências do descumprimento poderão acarretar
conseqüências consideráveis ao sistema de internações de menores infratores, e, logo, às próprias
demandas referentes a direitos básicos e fundamentais das crianças e dos adolescentes, assegurados
constitucionalmente e no próprio ECA.
5. A jurisprudência dos Tribunais tem firmado entendimento no sentido de ser lícito o desconto dos dias
não trabalhados em decorrência de movimento grevista dos servidores públicos, cabendo a
Administração Pública, em atenção as normas e princípios do direito público, efetuar os descontos, salvo
se demonstrada a existência de acordo entre as partes para que haja eventual compensação dos dias sem
a efetiva prestação de serviço.
O perigo da demora decorre da possibilidade de motins e rebeliões em virtude desses menores serem
privados do exercício de direitos fundamentais como escolarização, direito a visitas, profissionalização,
durante o movimento paredista, o que constitui inegável risco não apenas à sua incolumidade física, mas à
própria segurança pública.
Ante o exposto, DEFIRO o pedido de antecipação de tutela para determinar a suspensão imediata do
movimento grevista do Sindicato dos Servidores da Carreira Socioeducativa do Distrito Federal –
SINDESSE/DF, a ser deflagrado em 4/8/19, determinando o retorno imediato ao efetivo e integral
exercício das funções afetas à categoria pelos servidores que aderirem ao movimento grevista, sob pena
de pagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelo SINDESSE/DF.
Determino, ainda, à Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do Distrito Federal que proceda o
desconto da remuneração dos dias não trabalhados pelos servidores que, contrariando a presente decisão,
aderirem ao movimento paredista.
Intime-se.