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3 Arte e Tipografia
O estilo gótico é considerado como o primeiro estilo de letra a ser utilizado, assim que Guten-
berg, inventor dos tipos móveis, insere na história da escrita o advento responsável pelo início da
imprensa. Era necessária a reprodução dos livros em tipos góticos para aceitação do público.
Há controvérsias quanto à invenção da imprensa, segundo alguns autores, como Robert Brin-
ghurst, a impressão com tipos móveis não foi inventada na Alemanha em 1450, mas na China,
por volta de 1040, por um engenheiro erudito chamado Bí Sheng. De acordo com Bringhurst as
obras impressas mais antigas, datam do século 13 na Ásia, e ao chegar na Europa essa tecnologia
encontrou maior facilidade de se desenvolver, em função da quantidade inferior de glifos reque-
ridos pela escrita européia.
O estilo gótico foi considerado nesta pesquisa pelo seu tempo de permanência e pela dificuldade
em ser substituído, devido ao longo tempo de permanência do Gótico na Idade Média e da forte
influência da igreja na sociedade da época. Esta detinha o poder sob as oficinas de impressão, por
serem capazes de investir nessa arte e terem o interesse de deter e manipular o conhecimento.
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Bíblia de 42 linhas
de Gutenberg
A procura por livros menores e portáteis fez com que a largura das letras dimi-
nuísse gradualmente. Acredita-se que a idéia de se produzirem livros menores
em tamanho partiu da necessidade de a igreja fazer bíblias portáteis para uma
melhor difusão da doutrina católica. A letra gótica aparece, então, com seu
desenho solene e severo, trazendo todo o formalismo da Idade Média.
(HORCADES, 2004)
A arquitetura gótica predominou no noroeste da Europa entre os séculos XIII e XVI e foi a arte
mais importante da Idade Média. Suas características mais evidentes eram as torres estreitas,
altas e pontiagudas, os interiores das igrejas com escalas desproporcionais ao ser humano, com
tetos elevadíssimos, provocavam no visitante a sensação de inferioridade, um reflexo do pensa-
mento da época, que considerava Deus o centro do universo e medida de todas as coisas. Diziam
ser as pontas das torres uma espécie de “ponte”, uma conexão entre o mundo dos homens e o
reino dos céus. Os interiores das catedrais eram pouco iluminados, as janelas eram estreitas, e
um elemento bastante marcante eram os vitrais super coloridos que propiciavam uma ilumina-
ção indireta ao interior das igrejas.
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Podemos rapidamente notar a semelhança das formas arquitetônicas góticas com a tipografia
de sua época, na sua forma angulosa semelhantes às torres pontiagudas, no peso das letras em
função de seus “olhos” estreitos, como nas janelas das construções, a letra gótica é uma boa re-
presentação gráfica da sociedade e da arquitetura da Idade Média.
O modo de conduzir a
pena levou à condensação
das letras e às curvas
Gótico pontiagudas
Romano
A Renascença Neofuncionalismo
O gótico (chamado de Dark no início dos anos oitenta no Brasil) é uma subcultura contemporâ-
nea presente em muitos países. Teve início no Reino Unido durante o final da década de 1970
e início da década de 1980, derivado também do gênero pós-punk. A subcultura gótica abrange
um estilo de vida, estando a ela associados gostos musicais dos anos 80, onde teve seu início, até
os dias de hoje com o darkwave / gothirock, deathrock, psycobilly, trip hop, ebm, synthpop, indie,
etc. Sua estética tem peculiaridades como a maquiagem pesada, penteados ousados (cabelos
coloridos, desfiados, desarrumados) e roupas em tons escuros.
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A música se volta para temas que glamourizam a decadência, o niilismo, o hedonismo e o som-
brio. A estética sombria traduz-se em vários estilos de vestuário, desde death rock, punk, andrógi-
no, renascentista e vitoriano, ou combinações dos anteriores, essencialmente baseados no negro,
ou mais coloridas e cheias de acessórios baseadas em filmes futuristas no caso dos cyber goths.
Muitos não sabem, mas o nome Gótico é um termo pejorativo que acabou sendo absorvido. Os
iluministas e renascentistas se referiam a “opus francigenarum” (arte francesa, como era cha-
mado o estilo gótico em sua época) como gótico no sentido de algo sombrio, assustador, fan-
tasmagórico, macabro e amedrontador. Na passagem de 70 para 80 o estilo comportamental,
visual e musical do qual tratamos estava se desenvolvendo na Inglaterra, e por brincadeira era
chamado assim, gótico. Na metade da década de 80 o estilo já havia se disseminado por vários
outros países (incluindo o Brasil) e o termo acabou por ir junto com ele e até hoje é usado para
denominar a subcultura.
Toda a Estética Gótica inicial vai ser uma mistura Glam (androginia, poesia
urbana e maldita, maquiagens pesadas, sonoridade rock básica, dandismo,
etc), que também foram reforçados por uma influência do movimento new
romantic dos anos 80, e a cultura Beat (poesia urbana e maldita, existen-
cialismo e espiritualidade difusa, roupas escuras, acid rock, cool, jazz-rock,
psicodelia, etc), ora tendo uma sonoridade mais post punk, outra mais new
wave. O termo foi usado durante a década de oitenta e na década de noventa
também se convencionou tirar o new e usar dark, dessa forma: Darkwave.
The Cure, Bauhaus e Siouxsie and the Banshees (da esquerda para direita)
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2.3.3 O Renascimento
O seguinte texto de Pantagruel (1532), de François Rabelais costuma ser citado para ilustrar o
espírito do renascimento:
Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego,
sem o conhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se erudito, He-
braico, Caldeu, Latim (...) O mundo inteiro está cheio de acadêmicos, pedago-
gos altamente cultivados, bibliotecas muito ricas, de tal modo que me parece
que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou Papinianus, o estudo era tão
confortável como o que se vê a nossa volta. (...) Eu vejo que os ladrões de rua,
os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos do que
os doutores e pregadores do meu tempo.
A Tipografia também foi afetada pelas formas renascentistas e tinha como principal característica
o oposto da forma gótica. “Assim como a pintura e a música, as formas tipográficas do Renasci-
mento são plenas de luzes e espaços serenos e sensoriais.” (BRINGHURST, p.136, 1992)
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2.3.4 A Busca pelo Novo
Este comportamento difere dos primórdios da tipografia, onde após a invenção da imprensa os
tipos góticos perduraram como a forma preferida por um século inteiro, embora as letras Ro-
manas fossem comuns em manuscritos da época, era preciso simular o tipo gótico como se este
ainda fosse escrito manualmente para que os primeiros livros fossem aceitos e consumidos.
Com esta atitude, os movimentos artísticos integram e valorizam a tipografia como um símbolo
de expressão, anunciando novos conceitos, novas formas, e maneiras de disposição diversas,
a cada passagem de um novo estilo. A comunidade, por sua vez, desenvolve o seu gosto pela
mudança, com uma forma de pensar não somente mais receptiva como também ávida pelas
novidades.
Esta nova forma de comportamento, é claro, já vem sendo estimulada por outros setores da so-
ciedade, em prol do capitalismo e da necessidade de estimular o consumo, o conceito de moda
seria o maior responsável por esta mudança, mas ainda assim, a tipografia poderia ter sido ex-
cluída desse contexto, não fossem os artistas a estimularem o olhar com a diversidade visual dos
movimentos artísticos e suas aplicações.
A Revolução Industrial teve grande influência na diversidade das formas tipográficas, e conforme
Goudy sugere “agradar o cliente é uma das razões de viver de um tipógrafo.” Naquele período o
comércio em expansão necessitava de uma maneira de divulgar seus produtos e serviços, e assim
uma forma primitiva de propaganda estimulou as chamadas “font houses” a produzirem tipos
que despertassem a atenção dos consumidores, estes chamados de “Tipos para Display”.
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Em seu livro “Printing Types: an introduction”, Alexander Lawson escreve sobre esse momento de
mudança nas formas tipográficas:
No começo do século dezenove, os tipógrafos ingleses, produziram uma varie-
dade de tipos ornamentados concebidos para enfatizar suas características úni-
cas com o propósito único de atrair a atenção. Tipos largos, grotescos e egípcios
– tipos considerados decorativos quando comparados com os tipos Garaldos e
Venezianos – não eram enfeitados demais para os novos padrões estéticos de
propagandas em “display”.
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Dessa forma a sociedade vai sendo cercada pela tipografia e sua evolução formal, que os visitaria
inúmeras vezes ao dia em forma de manchete de jornal, embalagem, letterings nas fachadas dos
prédios, cartazes de rua, catálogos, revistas, selos, livros, entre outros objetos de uso cotidiano,
sendo absorvida como reflexo de cada momento artístico e social em que foi concebida.
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2.3.5 Art nouveau
O art nouveau se iniciou em meados de 1890 e teve seu fim com a primeira Guerra Mundial na
década de 20. Foi o primeiro movimento preocupado em integrar diversos setores da sociedade
satisfazendo o que se acredita ser a “necessidade de arte” da comunidade. O estilo nouveau, ex-
pressão típica do gosto modernista, traz em si toda uma abordagem comercial e “uma intenção
de utilizar o trabalho dos artistas no quadro da economia capitalista” (ARGAN, 1992, p.204).
O movimento art nouveau se propaga como uma verdadeira moda, como um fator psicológico
que desperta o interesse pelo novo e subestima o velho. Este estilo artístico que encontrou na
publicidade, nas revistas de moda e arte, nas exposições mundiais e espetáculos a difusão de
suas formas foi consumido por toda Europa e América como o que seria considerado o “alvorecer
de uma nova era”.
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Acima na esquerda:
Capa de Joaquim Renart para
Catalunya Artistica, Barcelona,
1904. Uma variante espanho-
la do art nouveau.
À equerda:
Tomando uma direção
diferente na arte orgânica, Ver
Sacrum - cataz de Koloman
Moser
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Familias Tipográficas no estilo Art Nouveau
Edda
Berolina Medium
Arnold Bocklin
Artistik
Lotus
Nesse momento, a inovação tecnológica da gravura que traz a litografia como nova ferramenta
de impressão, foi fator determinante para que o artista desse período fosse capaz de desenhar as
letras nouveau e toda sua riqueza de detalhes e formas repletas de curvas. As propriedades que
a litografia oferecia ao artista, o permitiam compor mais livremente, podendo este desenhar sob
a pedra e depois imprimir seus trabalhos inúmeras vezes com um custo mais baixo.
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2.3.6 A Vanguarda Russa
A revolução russa e sua luta por promover uma arte útil, deram ao mundo um vislumbre do que
seria o design gráfico no futuro, onde a arte foi completamente direcionada aos esforços socia-
listas, sendo uma grande representante de suas mensagens. “Uma arte construtiva que não decora,
mas organiza a vida” Lissitski, 1922.
Os cartazes russos se caracterizam pela utilização constante de geometria, cores primárias, foto-
montagem e tipografia sem serifa, a quebra do ângulo reto, onde a disposição das letras expe-
rimenta angulações e gradações de tamanho em uma mesma palavra, sugerindo movimento e
criando uma estética de grande apelo visual, como se era pretendido, em uma comunicação de
massa, sempre imediata e causando impacto.
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Cartazes por Aleksandr Rodchenko
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2.3.7 O Futurismo
Encontramos no Futurismo um apelo visual muito rico quanto às composições tipográficas, re-
flexo das premissas desse movimento que valorizava a velocidade e os desenvolvimentos tecno-
lógicos. Era totalmente contra a ortodoxia da linguagem, tanto falada quanto escrita, rejeitava o
moralismo e o passado, e nesse momento quebrou com as premissas da tipografia clássica. Os
futuristas abandonaram toda a distinção entre arte e design, utilizando a propaganda como uma
importante ferramenta de comunicação.
Foi um período onde se explorava uma linguagem mais lúdica, vernacular, de inovações na sin-
taxe visual, de quebra com as premissas tipográficas tradicionais, e com uma predileção ao uso
das onomatopéias.
O conceito de uma “revolução tipográfica” foi estabelecido claramente por Marinetti em seu ma-
nifesto “Desconstrução da Sintaxe – Imaginação sem Limites – Palavras – Liberdade”, de 1913:
Capa e página interna do poema Zang Tumb Tumb por Marinetti, 1914.
O poema glorifica a guerra como “a única higiene do mundo.”
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Manifestazione Interventista - Carlo Carrá, 1914
Colagem de papel e pintura sobre cartão.
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2.3.8 Dadaísmo
O movimento Dadaísta segue revolucionando com suas composições tipográficas no anos 20,
junto ao movimento neoplasticista. Theo Van Doesburg foi uma figura muito importante para o
Dadaísmo, e participou de diversas conferencias direcionadas aos alunos da Bauhaus, tentando
dessa forma influenciar as idéias dos estudantes. Em 1922 publicou o primeiro número do peri-
ódico dadaísta Mecano.
O amor pela ruptura dadaísta favorece a um período de muita experimentação, onde podemos
observar a quebra de vários dogmas, como o uso de muitas famílias num só cartaz, a mistura en-
tre caixa-alta e caixa-baixa, sobreposições de letras caligrafadas com tipos sem serifa, angulações
diversas, contrastes de peso e tamanho, traduzindo uma espécie de anarquia visual que ilustra
graficamente os ideais dadaístas.
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Ilya Zdanevitch (mais de quarenta fontes utilizadas)
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2.3.9 Bauhaus
A Bauhaus também sofre influência do construtivismo e utiliza um de seus recursos mais marca-
dos, a quebra da perpendicularidade, causando tensão visual nas páginas e o uso da geometria
em suas formas.
Na década de 20 a escola alemã dita novas regras na estética tipográfica, pousou-se em abolir
a caixa-alta, a serifa, e em usar letras em caixa-baixa somente, sendo esse um reflexo do pen-
samento socialista “todos iguais”. O design da página sofre modificações em seu layout, como
podemos observar no cartaz abaixo.
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2.3.10 Art Déco
Podemos destacar nas formas tipográficas características como as barras que são deslocadas do
centro da letra, estando vezes mais próximas da hastes superiores outras das inferiores, como po-
demos observar abaixo na família Broadway Engraved e Elisia nas letras E, F e H. A barriga da letra B
se diferencia, tendo a curva inferior menor que superior. Os frisos, sempre presentes na arquitetura
e objetos Déco, como representação de dinamismo, aparecem freqüentemente em suas fontes.
Broadway Engraved
Elisia
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