Você está na página 1de 9

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

Programa de Desenvolvimento Socioespacial e Regional - PPDSR


Disciplina: Teoria e Metodologia da Pesquisa
Professora: Marivânia Furtado
Discente: Artemio Macedo Costa
Atividade final da disciplina: 31/07/2017

Título da dissertação do mestrado:


O paradigma do Progresso na expansão do Centro de Lançamento de Alcântara no município
de Alcântara-MA face aos conflitos e resistências das comunidades remanescentes de
quilombos: “PELOURINHO TECNOLÓGICO”

LINHA DE PESQUISA: Movimentos Sociais, Território e Planejamento

As sociedades contemporâneas pós-guerra fria, têm sido cada vez mais impactadas pelo
binômio capitalismo/democracia. Segundo Wallerstein (2005), o próprio fenômeno da
democratização tem aparecido como aliado a uma estratégia para a contenção do declínio do poder
dos Estados Unidos como superpotência global. Em face disso, vivencia-se um ambiente de
incerteza, predominantemente, marcada por disputas territoriais entre nações opressoras e oprimidas.
Trata-se de um contexto carregado de simbolismo ideológico e do inconteste sentido do progresso
científico em que a hegemonia do capitalismo incorpora em seu discurso. No dizer de David Harvey
(2005) de um “novo imperialismo” que se estrutura no sentido de consolidar uma nova ordem mundial
para reestruturação produtiva do capital.

Para aqueles que apostavam no “fim das ideologias” (lutas de classes), novas categorias
se apresentam, a maioria delas, anunciam, (desde a desagregação da URSS e queda do muro de
Berlim) a hegemonia do capitalismo no sistema econômico e social. O desafio do presente trabalho
acompanha o desenvolvimento do atual debate entre diversas vertentes acadêmicas, particularmente
a nova abordagem historiográfica intitulada de História do Tempo Presente.

Para além da periodização existe uma preocupação de ordem paradigmática a respeito do


modelo do pensamento ideológico contemporâneo: a relação entre o paradigma da modernidade e
pós-modernidade. Evidentemente, com o “fim das ideologias” impulsionou o fortalecimento da
corrente de pensamento pós-moderno. Enfatiza a crise da modernidade propondo sua superação
conforme destaca Lorina Repina dando o status de uma radicalidade epistemológica para a
denominação do “pós-modernismo iconoclasta” (MABERLA E ROJAS: 2007, p. 31) sendo que o
historiador Ciro Flamarion Cardoso refuta esta proposição afirmando ser a destruição da objetividade
trazer consequências sociais irresponsáveis. (CARDOSO: 2005, p. 158-9)

Referenciar as pesquisas acerca dos conflitos territoriais visíveis desde a implantação do


Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) até o presente momento das tentativas de expansão do
mesmo remete uma linha tênue de conflito que separa os interesses do Estado brasileiro visando o
mercado internacional para tecnologia de informação aeroespacial e a necessidade da titulação
territorial das comunidades remanescentes de quilombos adquiridos desde a Constituição de 1988.

A abordagem frente aos estudos sobre o tema se justifica diante da análise histórica vivida
pelas comunidades tradicionais quilombolas que têm uma estrutura étnico social própria que ao longo
de sua formação foi negligenciada pelo Estado Brasileiro e que por sua vez intensifica um impacto
negativo das suas relações de equilíbrio com o meio ambiente e coletivo de usufruto comum de suas
terras seculares. Há neste sentido um diálogo com os vários campos de estudo científico (geopolítica,
antropologia, sociologia, história) para assim desenvolver estratégias no âmbito de constituir uma
reflexão e compreensão para tais conflitos nas relações de poder muitas das vezes apresentando um
poder simbólico no campo da ideologia como instrumentos de dominação como “sistemas
simbólicos” (BOURDIEU: 1989, p. 12) que exerce no território de Alcântara-MA.

Falar do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) é discutir as implicações de natureza


estrutural, principalmente, as que afetam os grupos étnicos negligenciados pelo Estado brasileiro. O
CLA, desde a sua implantação teve como propostas: a fomentação de um projeto amplo de interesse
público, científico-tecnológico visando a promoção do desenvolvimento das atividades espaciais
baseando-se no paradigma do Progresso. Esse paradigma, em tempos de globalização, tem afetado a
soberania de países capitalista dependentes ao se transformar num empreendimento mercadológico
de caráter neoliberal, a exemplo do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas Brasil-EUA. No caso dos
remanescentes quilombolas, o CLA acarreta um processo de exclusão e limpeza étnica porque aliena
seus bens materiais e culturais através da “invisibilidade social” (CARVALHO: 1995), negando
categorias étnico-histórico-sociais específicas e interesses antagônicos de classes.

O foco central da pesquisa é examinar o processo de desestruturação das comunidades


remanescentes de quilombos em sua territorialidade ao perceber as limitações no plano do discurso
da Soberania Nacional o que toca o conceito de “invisibilidade social” em detrimento da implantação
e pretensa expansão do CLA face aos interesses transnacionais, envolvendo disputa de território
estratégico para desenvolvimento de um nicho crescente do controle tecnológico cívico-militar no
contexto da Nova Ordem Mundial.
Tal desestruturação não se dá sem perceber a importância em toda sua história anos de
luta e resistência vivida nos conflitos pelo direito à territorialidade através dos grupos remanescentes
de quilombos em Alcântara frente ao interesse de expansão do CLA marcado por instituir um controle
territorial sem precedente pretendido com sistemáticas tentativas de acordos de salvaguardas
tecnológicas com países que detém o controle e monopólio da tecnologia espacial tão almejada pelo
Governo brasileiro.

Instrumentalizado através do paradigma do progresso e da modernidade que conduz a um


entendimento das estruturas que solidificam a sociedade capitalista em uma nova fase que orienta
como um simulacro, uma condição mediadora das instituições no sentido de neutralizar o conjunto
das suas contradições no processo de implantação e expansão do CLA apresentado na demanda em
que o próprio sistema capitalista orienta dentro dos modelos das relações sociais e de poder,
permanências e transformações que nos remetem a questionar tais disputas territoriais entre as
comunidades tradicionais e o Estado brasileiro, entre a tradição e o moderno, respectivamente,
traçando através da representação simbólica do progresso como nova forma de se apresentar para os
remanescentes de quilombos em Alcântara um amalgama constituído como o novo “pelourinho
tecnológico”.

A implantação do CLA se deu no mesmo contexto em que emergiu a programática


neoliberal no cenário internacional como uma proposta de renovação da economia de mercado. Como
reflexo desta nova rodada de transnacionalização do capitalismo chega ao Maranhão as grandes
plantas industriais na década de 1980. Se externamente o mundo caminhava para a lógica do
capitalismo neoliberal, internamente estava em curso, na representação dos militares, um dos mais
ambiciosos projetos científicos de um país em desenvolvimento: a Missão Espacial Completa
Brasileira (MECB) baseado na ideologia da Segurança Nacional. Mesmo assim, na medida em que o
Estado brasileiro transitava para a superação da Ditadura Militar (reconstruindo das bases de um
Estado de direito democrático-liberal) ocorre, ao mesmo tempo, um deslocamento administrativo dos
projetos aeroespacial dos militares para os civis. Esse processo se completa com a criação em 1994,
da Agência Espacial Brasileira (AEB) substituindo a COBAE.

Desde a implantação do CLA até os dias atuais são marcados por profunda ausência do
Estado, particularmente, das autoridades locais em face dos problemas decorrentes da desagregação
das comunidades tradicionais. Todo o processo de reivindicação tendo à frente inicialmente com o
STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), tomando ações jurídicas e principalmente manifestações
públicas no intuito de garantir direitos constituídos com a ausência de titulação das terras através da
transferência das famílias destituídas de suas ocupações tradicionais - áreas desapropriadas para o
CLA.

Temos dentro da organização política em que os espaços limitados da democracia


representativa restringem uma participação mais efetiva de uma ação direta da sociedade e mais
diretamente dos atingidos, estão nas influências dos partidos políticos na composição dos
movimentos sociais, intimidando o avanço de suas organizações que deveriam assumir uma postura
autônoma e assim servir como contraponto às estruturas de poder do Estado brasileiro e do novo
imperialismo estadunidense que a todo o momento expressam suas diretrizes políticas hegemônicas
na sociedade. Toda essa composição perpassa a uma condução das reivindicações dentro da esfera
institucional jurídico/formal, obedecendo a uma “linha prudente” segundo remete Meireles (1983)
pesando uma desproporção nas representações sociais dentro da estrutura capitalista.

É importante ressaltar, neste contexto, uma antinomia do conceito de Estado-Nação


desenvolvido para caracterizar dentro do paradigma do progresso, sendo imprescindível atentar para
simetria entre os conceitos Nação e cidadania como sendo elementos de uma operação ideológica
com o esvaziamento do conceito de classe, igualando todos os agentes da produção, convertendo-os
em sujeitos individuais (SAES: 1998)

Ao longo do processo de lutas sociais nas zonas de conflitos pelo território de Alcântara
entre as comunidades tradicionais e o CLA, uma nova configuração se constituiu para definir os atores
sociais. Com a formação do Movimento dos Atingidos da Base (MABE) pelo Seminário realizado
em 1999, os remanescentes quilombolas ganharam uma representação mais expressiva, dando um
caráter étnico às reivindicações de seu reconhecimento recente na nova Constituição de 1988, com
base no dispositivo do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

A desapropriação das comunidades tradicionais levanta um ponto chave no que consiste


a definição de propriedade da terra. Esse princípio levou os remanescentes de quilombos a um
processo de “invisibilidade”, foram esquecidos durante séculos de sua formação em terras
desagregadas das grandes propriedades monocultoras do século XVII, passaram todo seu tempo em
se tornar “invisíveis, simbólica e socialmente, para sobreviver” (CARVALHO: 1995, p. 46)

Apesar da existência das oscilações vividas pelos movimentos sociais entre as propostas
de lutas institucionais e as ações de manifestação direta, percebe-se recuos e avanços prestigiados nos
últimos tempos trazendo novos significados de como as ideologias, principalmente as ideologias
nacionalistas ganham matizes novas à medida que vão necessitando superar suas fronteiras
geográficas nacionais para incorporarem ações de luta e solidariedade internacional dentro de suas
especificidades como ocorreu com o Plebiscito contra a ALCA em 2002 no combate ao novo
imperialismo estadunidense com o arquivamento da primeira tentativa do acordo de salvaguardas
tecnológica entre o Brasil e EUA, denominando assim um “novo internacionalismo”. (ALMEIDA:
2007) Atualmente, o governo brasileiro apresenta uma nova proposta de acordo de salvaguardas
tecnológicas com os EUA que não muda essencialmente ao modelo apresentado em 2000. A minha
proposta de pesquisa de campo se orientará na região preterida pelo governo federal brasileiro na
expansão do território de Alcântara para o CLA que compreende toda a faixa litorânea do município
tendo já estudos desenvolvidos nas comunidades quilombolas de Baracatatiua e Mamuna.

Os investimentos do grande capital transnacional vieram no sentido de proporcionar


meios para que o setor privado ganhasse espaço nos investimentos que antes eram auferidos,
exclusivamente, pelos Estados Nacionais uma vez que seus “orçamentos governamentais” se
tornaram “enfraquecidos pela mudança de prioridades” (SILVA FILHO: 1999)

Dentre as transformações ocorridas nesta Nova Ordem Mundial emerge um “Novo


Imperialismo”, que o geógrafo David Harvey denomina como sendo definida pela consolidação de
uma fusão por consequência contraditória entre a “Política do Estado e do império,” que busca
desenvolver dentro de um projeto político as condições para acumular recursos naturais e humanos
para fins políticos, econômicos e militares. (HARVEY: 2005, p. 31)

Como afirma Zbigniew Brzezinski, “(...) os laços transnacionais ganham importância”,


e estamos caminhando em um “processo político global” que cada vez mais transcendem limites
nacionais. Constituído por uma sociedade em expansão científica sem precedente, intensifica a
sociedade a um sentimento de insegurança. (BRZEZINSKI: 1971, p. 20)

Ao abordarem os problemas vividos pelas comunidades remanescentes de quilombos,


analisando questões pertinentes ao direito de propriedade e à organização política de resistência,
esbarram os modelos tradicionais de organização política em uma ótica da democracia representativa
e que caem em uma limitação de superação dos problemas vividos por esses grupos étnicos,
principalmente em se tratando de um pensamento colocado pela “fatalidade econômica” perpassada
por uma análise neoliberal que estigmatiza diante da preocupação econômica e conduz a uma crise e
rejeição do político, interferindo em uma vontade e capacidade de agir; de se organizar devido a uma
desqualificação das decisões e das vontades políticas face ao mercado. (TRINDADE: 2003, p. 172)

As medidas adotadas pelo Estado brasileiro (seja nos regimes políticos ditatoriais ou
civis) sempre tiveram um caráter bastante similar, mesmo em conjunturas distintas. O Estado
brasileiro sempre assumiu investimentos altíssimos para promoverem a construção das infraestruturas
necessárias para que o Brasil assumisse um patamar de modernidade e que se aproximasse dos países
desenvolvidos. Assim que se alcançava a definição em grandes projetos, um processo ou especulação
de privatização rondava em seu entorno. Se institucionalmente não ocorresse, o retorno certo dos
lucros estaria prioritariamente definido ao setor privilegiado da sociedade, a classe detentora do
capital, tanto nacional como a estrangeira.

Em 2010, o então Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em audiência pública na Comissão


de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado defendia a expansão territorial do CLA em
detrimento das Comunidades Quilombolas de Alcântara que foram deslocadas compulsoriamente.
Desde 1986 já havia ocorrido um grande deslocamento de comunidades impactando fortemente os
territórios quilombolas. A antropóloga Maristela Andrade (2009) classificou tal deslocamento como
sendo um verdadeiro Etnocídio ou limpeza étnica.

Entretanto em seu discurso, Jobim reafirmava o paradigma de estratégia de defesa da


segurança nacional como justificativa da expansão do CLA nos territórios étnicos de Alcântara. O
argumento ressaltava a existência de uma questão internacional sobre a qual não poderia haver
ingenuidades pois, havia outros países interessados em disputar com o Brasil a corrida de lançamento
de foguetes. Tratava-se, de acordo com Jobim, de integrar o pais na chamada corrida espacial,
disputando macro poderes com os Estados Unidos e outros países detentores de tecnologia de
informação e aeroespacial. Porém, esta disputa da tecnologia se intensificou na estratégia de acordos
de salvaguardas tecnológicas gerando uma expectativa ingênua a médio e longo prazo na
transferência de tecnologia como suporte de se alcançar um equivalente nas correlações estratégia
espacial como potência. Essa corrida espacial expressada por Nelson Jobim expressa nitidamente um
discurso na prenoção de senso comum ao modelo da análise de Bourdieu que se constituiu todo o
cerne de justificação e definição da política espacial brasileira evidenciando o discurso de
neutralidade científica na perspectiva da sociologia política em que não se teria um marco de disputa
tecnológica meramente nos acordos de salvaguardas tecnológicas, isentando as contradições
ideológicas na definição da expansão territorial ao que tange a noção deformada de Soberania
Nacional por não definir o espaço territorial das comunidades remanescentes de quilombos de
Alcântara constituindo assim a definição de concepções ou sistematizações fictícias dentro do
universo social observado (Bourdieu: 2000, p. 23). A julgar esta prenoção, precisamos iniciar uma
discussão: até que ponto tais discursos não evidenciam uma continuidade dentro da perspectiva do
paradigma do progresso como agenciador da superação do dito atraso social da nação brasileira e que
Alcântara deve se guiar nos mesmos princípios desta modernidade? As razões para se alcançar uma
análise crítica, não isenta de contradições na perspectiva das relações de conflitos territoriais que
visam definir em que sentido de progresso se busca estar, em colocar de maneira descontínua ou
melhor, em uma ruptura contínua deste paradigma epistemológico do progresso científico como
amálgama na história da razão científica conforme “Bachelard recusa à ciência as certezas do saber
definitivo” (Bourdieu: 2000, p. 39) como se dá este progresso em detrimento das forças hegemônicas
que atuam no sistema capitalista reestruturado na era da sua quarta revolução, a tecnológica. O
paradigma epistemológico do progresso científico ganha dessa forma uma crítica enquanto uma
“ineficácia epistemológica” (Bourdieu: 2000, p. 31)

Segundo o historiador Pieter Lagrou, a história do tempo presente assim como os demais
tempos históricos, surge a partir de uma catástrofe ou de uma grande ruptura, trazendo pistas para sua
formação. Evidentemente que o tempo cronológico são em suma arbitrários dos próprios
historiadores, no entanto, o fim da Guerra Fria, a dissolução da URSS e a queda do muro de Berlim
com a reunificação da Alemanha demonstram o desenrolar de uma Nova Ordem Mundial.

Com isso as dificuldades de superar os limites impostos pelo monopólio de grandes


potências como os EUA no que representa o comércio de produtos de defesa restrito e altamente
regulado, dentro de uma estratégia de interesse geopolítico vem se colocando nos conflitos de
interesse para o controle institucional das instalações do CLA.

O controle tecnológico, em especial de tecnologia de informação (satélites) é condição


sine qua non aos dias atuais para apreender um controle sistemático dentro de uma dinâmica
desenhada por territórios com dimensões continentais e com grandes disparidades territoriais e
geopolíticas. O governo brasileiro para tentar superar um longo abismo tecnológico, adotou a políticas
de Acordos de Salvaguardas Tecnológicas - transferência de tecnologia para conquistar um mínimo
de acesso a esses bens tecnológicos.

A disputa de acesso a essa tecnologia espacial sempre causou um sério recrudescimento


do controle destas tecnologias. Podemos destacar que um elemento importante inserido na política
espacial brasileira desde 1994 refere-se à entrada do país a adesão ao Pacto de erradicação de armas
químicas e biológicas de destruição de massas – Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis e, ao
tratado de não proliferação nuclear. Essas ações tiveram um papel fundamental para que os EUA
instrumentalizassem uma espécie de “embargo tecnológico” para dificultar o desenvolvimento de
tecnologias espaciais e de informação, que pudessem colocar em risco sua hegemonia como potência
tecnológica dentro de uma indústria bélica e comercial do setor aeroespacial.

Esse tipo de pressão diplomática configura de modo ainda mais explícito como os EUA
tentam constituir uma política de expansão cada vez mais agressiva para garantir sua hegemonia,
como potência econômica, política e militar, dificilmente contestado após sua consolidação com o
fim da Guerra Fria. Mas contraditoriamente, o mundo mergulhado em instabilidades e incertezas,
questionam sua onipotência tão proferida.

O presente estudo busca trazer uma reflexão, não no sentido de rejeitar em minhas
observações os trabalhos já realizados, quando em sua maioria trazem uma abordagem da micro-
história, dando prioridade a um estudo minucioso das comunidades remanescentes de quilombos, das
agrovilas e daqueles propensos a serem possivelmente remanejados, ricos em detalhes de cunho
antropológico e culturalista. No entanto, em outro prisma, aplicando a economia política, a sociologia,
a geopolítica como referencial teórico-metodológico na perspectiva do materialismo histórico e
dialético, identifiquei uma série de questionamentos de ordem das estruturas políticas
organizacionais, a retórica do direito à Soberania moldada pela esquerda e os movimentos sociais,
em detrimento das políticas de desestruturação socioeconômicas do Estado brasileiro contra as
comunidades tradicionais de Alcântara reféns das políticas de expansão do programa espacial
brasileiro através da expropriação de território para o CLA. Pretende-se assim, podermos ter uma
noção clara de como se fundamenta as contradições impostas na questão da territorialidade em
Alcântara no que tange a expansão do CLA, visto que ao não se abordar os interesses antagônicos
dentro de um discurso conciliador e de neutralidade de tal empreendimento não se pode aferir o que
se tem de concreto e real das relações sociais múltiplos que concerne à sociedade brasileira em seus
antagonismos. Colocar a população brasileira em um patamar de igualdade em direitos é no mínimo
irresponsável não se ter diagnosticado necessidades históricas que as comunidades remanescentes de
quilombos sofrem. A partir de então, quando partimos dos estudos da economia política, por exemplo
apontada por Karl Marx, deve-se ser mais correto “(...) começar pelo que há de concreto e real nos
dados: assim, pois a economia, pela população, que é a base e sujeito de todo o ato social da
produção.” (MARX: 2008, p. 258), contudo, a população torna-se uma mera abstração ao se deixar
de lado as classes que a compõe.

Compreender os rumos do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) implica discutir a


inserção do Estado brasileiro na dinâmica da globalização capitalista – ou seja, a ideia de um
progresso científico cada vez mais associado ao mercado internacional de tecnologia.

É comum tentar apreender uma visão de que a micro-história através da concepção


culturalista seja importante instrumento de libertar a história para sua representação “por cada região,
nação, etnia ou grupo social, fugindo a um nexo construído no centro de formação da ideia de
civilização ocidental”. (PÔRTO JR.: 2007, p. 26) Analisando o espaço social que caracteriza os
conflitos vivenciados pelas comunidades tradicionais quilombolas frente à instalação e amplo
interesse de ampliação do CLA em Alcântara, percebe-se que é impossível dissociar sua interpretação
do espaço regional com global, neste caso, com a macro-história, principalmente quando as
resistências a esses conflitos estão configurados em uma ruptura de fronteiras geográficas,
apresentando cada vez mais solidariedade internacional em suas metas de combate ao imperialismo
estadunidense.

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS:

ANDRADE, Maristela de Paula. Racismo, etnocídio e limpeza étnica – Ação oficial junto a quilombolas
no Brasil. IN.: FRONTEIRAS – Revista de História do Programa de Pós-Graduação em História da UFGD –
Doutoados/MS, Brasil, vol. 11, n.º 19, 2009.

ALMEIDA, Lúcio Flávio. Lutas sociais e questões nacionais na América Latina: algumas reflexões. In:
Revista Lutas Sociais. Vol. 17/18, Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais – NEILS, 2007.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Editora Bertrand Brasil S.A., 1989.

_____. A profissão de sociólogo – preliminares epistemológicas. 2.ª Edição. Petrópolis. Editora Vozes,
2000.

BRZEZINSKI, Zbigniew. Entre duas eras. América: Laboratório do Mundo. Rio de Janeiro-RJ. Ed.
Artenova S.A., 1971.

CARDOSO, Ciro Flamarion. Um historiador fala de teoria e metodologia: ensaios. Bauru, SP: EDUSC,
2005

CARVALHO, José Jorge de (org). O quilombo do Rio das Rãs. História, Tradições, Lutas. Salvador:
EDUFBA, 1995.

HARVEY, David. O Novo Imperialismo. São Paulo-SP: Ed. Loyola, 2005.

MARBELA, Jurandir; ROJAS. Carlos Aguirre (org). Historiografia contemporânea em perspectiva crítica.
Bauru, SP: EDUSC, 2007.

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2.ª Edição. São Paulo. Ed. Expressão Popular,
2008.

MEIRELES, Sérgio. Alcântara na era espacial. São Luís, MA: Cáritas Brasileira, 1983.

PÔRTO Jr., Gilson. História do tempo presente. EDUSC, 2007.

SAES, Decio. Estado e democracia. IFCH - UNICAMP, 1998.

SILVA FILHO, Durval Henrique da. Considerações sobre a Comercialização do Centro de Lançamento
de Alcântara. Revista Eletrônica Espaço e Desenvolvimento. Número 07. Outubro/1999.

TRINDADE, Francisco. A Estrutura do Título – Da Globalização à Autogestão. Ensaios de Filosofia


Política, 2003.

WALLERSTEIN, I. Democracia: retórica ou realidade. In: O Declínio do poder americano. Contraponto.


Rio de Janeiro, 2005.

Você também pode gostar