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UFPB - Centro de Ciências Jurídicas - Ano 1 - Nº 5 - Outubro/Novembro de 2010 - Venda Proibida

TROPA DE ELITE 2 E A “LÓGICA DO SISTEMA”


O discurso do personagem Coronel Nascimento estabelece uma importante ponte de compreensão entre o contexto retratado no
filme de José Padilha e a “teoria dos sistemas” do sociólogo alemão Niklas Luhmann. Com isso, se desenha uma das possíveis
vias de entendimento da funcionalidade da violência, da corrupção e da violação aos direitos humanos no Brasil.

Yulgan Tenno* sistema tem que ser compreen-


dido em contraposição ao con-
ceito de ambiente. O sistema
Na sociedade, a incerteza, o
se estabelece, então, a partir
indeterminismo, a imprevisibili-
de um corte, de uma ruptura
dade, a entropia e as possibili-
com o ambiente, capaz de criar
dades predominam e provocam,
nele uma estrutura que é relati-
como resultado, o caos. O siste-
vamente independente de todo
ma surge como meio de mitigar
o resto e, consequentemente,
tal complexidade e estabelecer
diferente do mesmo.
uma organização e uma ordem
O “sistema” é sempre o alvo
entre os elementos que o com-
do Subsecretário de Segurança
põem. Para a teoria de Niklas
Pública do Rio de Janeiro, o
Luhmann, existe uma preocupa-
Coronel Nascimento. Para ele,
ção em explicar de que forma é
a organização do “sistema”
possível nascer a ordem a partir
financia o tráfico de drogas e
do caos. Para o Coronel Nasci-
as milícias da capital fluminen-
mento, entretanto, a ordem do
se e, de maneira lancinante, contribui
“sistema” é o que provoca o caos.
Luhmann foi um jurista e sociólogo
“Para o Coronel para as incidentes violações de direitos
humanos nas comunidades dessa cida-
que viveu na Alemanha, durante o sécu- Nascimento, a ordem de, perpetuando o caos social, a “guerra
lo XX. Como pensador, ele desenvolveu
a teoria dos sistemas autopoiéticos, que do „sistema‟ é o que civil”. Esse sistema a que se refere o
Coronel Nascimento é um tipo de sub-
são sistemas que possuem capacidade
de se autoproduzir. Para Luhmann, os
provoca o caos” sistema do sistema social, definido, no
presente artigo, como sistema corrompi-
sistemas aspiram a minimizar a comple-
do, já que se utiliza dos mecanismos e
xidade do ambiente, que se encontra chegou a um nível de complexidade tal
das ferramentas do sistema político,
desordenado. O sistema aumenta a pro- que se viu necessária sua diferenciação
mas seleciona possibilidades e expecta-
babilidade de prever as ações, uma vez em subsistemas como o político, o jurídi-
tivas diferentes, formando um novo tipo
que seleciona e retira, do ambiente, as co e a medicina, os quais, por sua vez,
de subsistema: enquanto, no sistema
possibilidades que lhe fazem sentido, de geraram o Estado, o direito público, a
político, o real interesse é promover o
acordo com a função que desempenha, fisiologia e, assim, sucessivamente.
bem público com a intenção de se con-
tornando o ambiente menos complexo O Coronel Nascimento, da série de
servar no poder, para o sistema corrom-
para ele e aumentando a própria com- filmes “Tropa de Elite”, entende o
pido, o interesse é promover o bem pri-
plexidade no seu interior. Para dirimir as “sistema” como “uma articulação de inte-
vado de seus atores, para se manter,
complicações geradas pela complexida- resses escrotos”, algo impessoal, que
através de atividades ilícitas, com o po-
de interna, o sistema se autodiferencia, não depende da vontade dos sujeitos,
der, uma vez que não necessariamente
provocando o surgimento de subsiste- apenas das possibilidades internas e
quem está no poder, entendido como
mas. O sistema social, por exemplo, externas. Para Luhmann, o conceito de
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Nesta edição
3 | Entrevista | Irandhir Santos, o deputado “Fraga” de Tropa de Elite 2, fala da experiên-
cia no filme de José Padilha e da problemática que seu enredo evidencia
4 | Sociedade, conhecimento e práxis | Grupo de pesquisa Biotecnologia, Biodireito e
Meio Ambiente em direitos humanos
5 | Mundialistas | Instrumentos normativos da OIT e seus reflexos no plano nacional de
combate ao trabalho escravo, por Dalliana Vilar
6 | Espaço Discente | A tecnocracia e o pecado dos justos: esquecemos a justiça?
8 | Espaço Discente | Direito e literatura: quando a lei encontra a arte
11 | Espaço Docente | Subjetividade, violência e segurança pública, por Nelson Gomes Jr.
12 | Cinefilia! | O “Clube dos Cinco” e uma lição de tolerância, por Carlos Nazareno
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 2

situação política, está também com o Nascimento parece entender essa dinâ- do suas ações ilícitas e ludibriando a
poder. mica e, em vez de bater de frente com o opinião pública. O sistema evolui em
No início do segundo filme, o Coronel sistema, tentar operar dentro dele, pas- nome de sua sobrevivência, higieniza-se;
Nascimento achou que o problema do sando a enfrentá-lo de outro modo: atra- nas palavras do Coronel Nascimento:
Rio de Janeiro se encontrava tanto no vés do discurso. “cede a mão, para salvar o braço”. O
“sistema” quanto no tráfico de drogas; no Na lógica de Luhmann, a estrutura que sistema é impetuoso: ele se diferencia,
decorrer da trama, ele percebe que o suporta o sistema social e todos os sub- cria novas lideranças, modifica-se e alte-
tráfico é apenas uma possibilidade do sistemas decorrentes dele é a comunica- ra a maneira de agir, adapta-se, cria uma
ambiente selecionada pelo sistema cor- ção: essa é a característica essencial da nova segmentação, nova hierarquia, ves-
rompido para efetivar suas expectativas. sociedade, é sua razão última. Na medi- te novas máscaras, constrói novas estru-
Ele demorou a perceber que o grande da em que dialogamos, discutimos, ama- turas, visando iludir a opinião pública.
inimigo é o próprio “sistema”, senão o mos, escrevemos ou discursamos, são “É por isso, parceiro, que é tão difícil
único. Identificando o verdadeiro alvo, ele emitidas diferentes mensagens que, sen- modificar o sistema”. Essa ação íngreme
tenta afrontá-lo diretamente, operar den- do compreendidas pelo destinatário, ge- tem que partir de dentro e não do meio
tro dele, causar alguma alteração em sua ram comunicação e sustentam a existên- externo. É da natureza do subsistema
composição e em suas ações, o que é cia da sociedade. corrompido ser ambíguo, condenando o
impossível. Dentro da lógica do filme, o A única maneira de o Coronel Nasci- que, de fato, defende, defendendo o que
cargo de subsecretário é exercido nos mento irritar o subsistema corrompido é não pratica e praticando o que deveria
moldes do sistema político autêntico, que emitindo comunicação e almejar que ela condenar. Enquanto as condições de
desempenha a função de promover o seja recebida e selecionada pelo sistema existência do sistema permanecerem, ele
bem público, portanto seu posto faz parte destinatário, de maneira a transformá-la sobreviverá, estimulando a modificação
do real sistema político, e, na teoria de em possibilidade e provocar sua automo- da sociedade, causando a sua deteriora-
Luhmann, em hipótese alguma um sub- dificação, alterar suas expectativas e sua ção moral e física e arrasando a vida de
sistema pode operar diretamente no inte- função central. Através de um discurso pessoas em nome de expectativas medí-
rior de outro. na plenária da Câmara, em que denuncia ocres. E uma sociedade que rejeita ver
Com a nova batalha de Nascimento – a prática da corrupção, sua oração envia essa realidade só poderia contribuir para
afinal, “o inimigo agora é outro” – é como mensagens dotadas de expectativas ao sua perpetuidade, pois a mentira e a hi-
se o subsistema político tentasse operar sistema social como um todo e acaba por pocrisia são, sem dúvida, os maiores
dentro do subsistema corrompido, no alcançar o subsistema corrompido. fundamentos de sustentabilidade da cor-
entanto, leciona Luhmann, a única possi- A mensagem é selecionada pelo siste- rupção.
bilidade é que um sistema estimule a ma, que, por um minuto, parece ter co-
automodificação do outro, com suas pa- meçado seu processo de automodifica-
lavras, “irritando-o”, incentivando-o a ção. Ele a transforma em uma possibili-
mudar, emitir mensagens, esperando que dade, sob pena de ser desmascarado, de *Aluno do 2º período 2010.1 (manhã)
elas sejam compreendidas pelo sistema perder sua falsa legitimidade, entretanto yulganfarias@hotmail.com
destinatário e se transformem em uma tudo visa apenas a manter as aparên-
possibilidade selecionada por ele. Isso cias, pois tal possibilidade não é afirmada Artigo escrito sob a orientação de Henrique
pode provocar um processo de modifica- pelo sistema corrompido, que permanece Lenon (monitor da disciplina de Introdução
ção interna, iniciada pelo próprio sistema. articulando novos interesses, organizan- ao Estudo do Direito II)

Editorial
Um momento reflexivo: quando é entender conjunturas, anseios e “forças
preciso encarar críticas e desafios normativas” que viabilizem a conexão en-
tre o jurídico e o social, que sustentem o
O leitor tem em mãos a última edição de discurso dos direitos humanos, da dignida- Uma iniciativa do grupo OBSERVATÓRIO DO CCJ
um jornal que foi muito além das tímidas de e, sobretudo, da justiça (diga-se no seu
perspectivas traçadas por alguns tímidos sentido material, diga-se no sentido institu- Editores
estudantes do curso de Direito. Embora cional - que passa, há tempos, por uma Alysson Guerra
estejamos cientes do fato de que, não grave crise de métodos e de sujeitos). Andrezza Melo
obstante um ano inteiro de trabalho, algu- Certo que o Direito não vai mudar o Ariadne Costa
Caroline Carvalho
mas pessoas da própria comunidade aca- mundo, porém mais certo ainda que o Daniella Memória
dêmica ainda desconheçam o CCJ EM mundo há que se deparar com um grande Douglas Pinheiro
AÇÃO, é gratificante poder acompanhar a obstáculo à possibilidade de mudança se o Magno Duran
Sarah Marques
repercussão positiva que irradia de dentro sentido do jurídico não encontrar um dife- Yulgan Tenno
e de fora dos muros da universidade. rencial qualitativo. E talvez isto aqui, este Yure Tenno
Para quem nos acompanha há algumas tablóide, seja um pouco desse sentimento
Apoio editorial
edições, parece ter ficado claro o nosso a que alguns preferem empregar a lógica
Carlos Nazareno
papel, ou, ao menos, pouco obscuro: não da utopia.
ter o pudor de encarar o Direito, da forma Ouvimos, também, críticas negativas Revisão textual
como hegemonicamente se apresenta (e, que positivamente afetaram nossas estra- Andrezza Melo
na nossa situação, o ensino do Direito), tégias. E com os críticos, em especial,
Projeto gráfico
como algo que nos prontifica para uma temos uma grande dívida, pois, graças a
Sérgio Sombra
mecanização técnica, subtrai nosso poten- eles, projetamos algo maior e melhor que,
cial de indagação e nos insere em velhas sob a aurora de um novo ano, promete Finalização
estruturas funcionais. amadurecer a empreitada persuasiva de Douglas Pinheiro
O Direito, junto aos seus operadores, um ideal comum. Não é nossa “última qui-
Contato
precisa encontrar referenciais de diálogo e mera”, como haveria de supor o poeta.
jornalccjemacao@gmail.com
compreensão capazes de legitimá-lo frente
às demandas de uma democracia comple- Por Douglas Pinheiro Bezerra
Este jornal é uma produção independente. As ideias
xa, que exige mais do que ele pode ofere- Em nome do OBSERVATÓRIO DO aqui expostas não necessariamente refletem a
cer, mas nele “aposta as fichas”. É preciso CCJ opinião da equipe editorial.
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 3

ENTREVISTA - IRANDHIR SANTOS (TROPA DE ELITE 2)

“O BOPE é isso: uma arma a favor dessa ideologia da


criminalização”
Irandhir Santos é pernambucano, natural CCJ - Em sua concepção, por que o
de Barreiros. Ator de teatro, cinema e discurso da violação e da repressão
televisão, se formou em Licenciatura em tem mais legitimidade nos lugares nos
Educação Artística pela UFPE e, de lá pra quais as pessoas mais sofrem com a
cá, viu sua carreira artística dar um salto violência?
que, talvez, nem ele mesmo poderia su-
por. Na televisão, interpretou Quaderna, Irandhir - Não é a toa que esse discurso
em A Pedra do Reino (2007). No cinema,
Foto removida em respeito a termos se dá nesses lugares. Eu acho que, resu-
entre outros, atuou nos filmes A morte de contratuais mindo, isso é “criminalização”, não tem
Quincas Berro D‟Água (2010), Olhos A- outra palavra. O que se faz com essas
zuis (2010), Cinema, Aspirinas e Urubus pessoas que não servem mais ao capita-
(2005) e Tropa de Elite 2 (2010), onde lismo? Se escanteia, se coloca “atrás do
ganhou uma ainda maior admiração do muro”. Se você for hoje à cidade do Rio
público através do personagem Diogo de Janeiro, há algo impressionante, pois,
Fraga, ativista defensor dos direitos hu- ao sair do aeroporto para ter acesso ao
manos e grande crítico do “herói” Coronel centro da cidade, você passa por diversas
Nascimento. Irandhir aceitou o convite da comunidades... Sabe o que eles [os admi-
equipe do CCJ EM AÇÃO para um cafezinho e CCJ - Qual a mensagem que o personagem nistradores públicos] estão fazendo agora?
uma proveitosa entrevista. Confiram: Fraga quer passar ao público e como ele Estão levantando um muro, e a desculpa é
interfere ou contribui para o processo de que isso é para “protegê-los do som dos car-
CCJ - O filme Tropa de Elite 2, no fim das amadurecimento do Coronel Nascimento? ros que entra nas casas”. É isso: se escanteia,
contas, é a favor ou contra os direitos hu- se coloca atrás do muro, criminaliza, prende e
manos? Irandhir - Eu tinha muito receio em relação a mata. Não tem outro jeito. É isso o que eles
esse personagem porque, quando eu escuta- pensam e é isso o que eles fazem. Para quê o
Irandhir - Desde que eu li o roteiro do segun- va a maneira como o Capitão Nascimento se BOPE, se não para isso? É pura arma. Nesse
do filme, me senti motivado a fazê-lo, porque referia a ele, temia que ele saísse como o exercício que eu fiz com Wagner Moura [o das
eu senti que o Padilha (diretor) acabou acres- “engraçadinho”, o “babaca” da história, tradu- sombras], disse: “eu não estou vendo uma
centando o que, no primeiro, a meu ver, faltou, zindo aquela visão deturpada que a maioria pessoa, estou vendo uma arma; você é uma
que é um diálogo entre aqueles que imprimem das pessoas tem em relação aos direitos hu- arma. Eu posso desarmar você aqui agora”. O
a força e as armas para a resolução de deter- manos (“direitos de bandidos”). E eu acho que BOPE é isso: uma arma a favor dessa ideolo-
minados problemas, de um lado, e, do outro, a ideia era fazer o Fraga o mais sério e íntegro gia da criminalização. Eles dizem que o perigo
alguém que vem pra discutir, questionar. Em possível para que não desse margem a ne- está no morro. Então, sobem no morro e ma-
Tropa de Elite 2, quando eu li o roteiro e recebi nhum tipo de interpretação diferente. Então foi tam, sobem no morro e prendem.
o convite, do próprio Padilha, para fazer o muito bem lapidado o roteiro em relação a Para mim, é muito visível, mas a maneira
Fraga, percebi, nesse personagem, a possibili- isso, de substituir palavras que não soavam como eles fazem - deturpar para justificar a
dade do diálogo, mas, desde já, eu sabia que bem, coisas pequenas, mas que seriam signifi- violência - é impressionante. Criminalizar es-
não seria um trabalho fácil porque as figuras cantes no final, do tipo “o cara dos direitos sas pessoas, para mim, é questão de classe,
do Capitão Nascimento e do BOPE, de algu- humanos já chegou lá?”, no lugar de “o baba- não tem outra resposta. Uma pesquisa realiza-
ma forma, se personificaram como grandes ca dos direitos humanos”. A nossa pretensão da pelo PSOL do Rio de Janeiro mostrou que,
forças heróicas para a resolução dos proble- era que, ao final do filme, as pessoas aprovas- nos morros, os realmente envolvidos com o
mas. Então, como dialogar com essas forças? sem, ainda que minimamente, o personagem, tráfico de drogas representam apenas 1% da
E isso foi o começo de uma caminhada dura, que olhassem e dissessem “não, o cara tem população das comunidades. Então, quando
porque eu aceitei o convite e disse para o uma visão diferente do meu herói, que é o você se refere ao morro, você não pode se
Padilha: “Vamos modificar algumas coisas do Nascimento, mas uma visão que também referir a todos como traficantes, porque 99%
roteiro, porque eu acho que é preciso que se funciona, que é plausível, que deve ser ouvi- descem o morro para ir trabalhar.
diga NÃO a muita coisa e é preciso que o da”. Fátima Toledo (nossa preparadora de
outro lado escute também”. elenco), no primeiro exercício que eu fiz com o CCJ - Qual a lição que o filme pode dar aos
Eu percebo que a repercussão do filme Wagner Moura, nos colocou frente a frente e brasileiros?
Tropa de Elite 2 surgiu como a concretização disse “agora falem um para o outro tudo o que
do que é o mito “Nascimento”. E o Nascimento vocês precisam falar”. E uma coisa muito curi- Irandhir - Para quem faz cinema, o filme Tro-
é um policial que representa o BOPE e a reso- osa que aconteceu é que o Wagner estava pa de Elite 2 é um exemplo interessante do
lução pela força, a resolução pelas armas, a tapando a única luz do espaço, então eu via que se pode conseguir juntando arte e entrete-
resolução daqueles que sobem no morro pra só a sombra dele e, por essa questão, come- nimento. O resultado é uma obra que concede
matar. Então, quando se fala sobre direitos cei a dizer que ele era uma pessoa que “só uma reflexão do tema tratado e fundamenta
humanos nesse filme, eu digo que ainda está trazia sombra”, que a luz não passava por ele. grandes debates a respeito. O que espero é
muito aquém de se ter os direitos humanos Até que cheguei ao momento de dizer “você que, da tela, saiam elementos que possam vir
como resolução, de haver o respeito em rela- só enxerga o que tem na frente da sua mira. a ser analisados e debatidos, como as ques-
ção àqueles que lutam por esses direitos. Por que você não enxerga o outro lado, o lado tões da polícia, da política, do crime - elemen-
Quando Tropa de Elite 1 foi lançado, o de quem está por trás dessa mira?”. tos que afloram no filme e que possuem liga-
Padilha pretendia, com aquilo, criticar o BOPE, Depois do exercício, ele veio me dizer: ção com os elementos do dia-dia.
mas o tiro saiu pela culatra em relação ao “Irandhir, acho que a gente achou um caminho Não quero que o filme afaste as pessoas
público brasileiro. O número de pessoas inscri- que pode oferecer pro roteiro, que é o olhar do da política, ou que as deixem decepcionadas
tas no BOPE, depois da exibição de Tropa de Nascimento em relação ao que tem por trás em relação aos nossos representantes, por
Elite 1, quadruplicou. As pessoas começaram dele, a quem o comanda”. Daí todo o discurso isso tive a preocupação de frisar a trajetória
a querer entrar no BOPE, então, onde é que dele, no filme, sobre a questão do “sistema”, limpa do “Fraga”, para que existisse a realida-
está a crítica nisso? Era a intenção dele? Cla- de ele se perceber no meio de algo que é de de um político honesto, com o intuito de
ro que não!: a intenção do Padilha era trazer a muito maior do que imaginava e como alguém não causar o tipo de efeito “todos são corrup-
crítica. A questão é que, se você tem uma que está sendo usado por aquele sistema. A tos”. O que eu quero é que esse filme dê mar-
obra dessas nas mãos, é preciso ter cuidado influência do Fraga já existe antes mesmo da gem à produção cultural e acadêmica, que as
com o público a que se vai oferecê-la e com a primeira cena do filme, com experiências co- pessoas escrevam sobre, falem sobre, discu-
maneira como se oferece. mo essa. Mas o filme, sem dúvida, é do Capi- tam sobre; que cause certo tipo de “agito”, que
tão Nascimento. é o que eu acho que todo bom filme deve
provocar. ■
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 4

SOCIEDADE, CONHECIMENTO E PRÁXIS

Grupo de Pesquisa Biotecnologia, Biodireito e Meio para que não ocorram abusos, e que se assegure um desenvol-
Ambiente em Direitos Humanos vimento científico e tecnológico a favor da humanidade.
A Bioética é formada pela integração dos estudos biológicos,
Alex Jordan* médicos, psicológicos, antropológicos e sociológicos, tendo por
escopo elucidar, estabelecer diretrizes para o direcionamento
As diversas inovações tecnológicas no cam- do trabalho dos cientistas e convidar os profis-
po da genética são certamente um dos sinais do sionais à discussão sobre o que é melhor para a
progresso da ciência atual. Em meio a esse preservação do ser humano e, jamais, para a
desenvolvimento progressista das áreas biomé- sua destruição.
dicas e tecnológicas, o Direito tem que se pro- Partindo de uma perspectiva interdisciplinar,
nunciar acerca dos caracteres éticos das pes- este grupo pretende buscar uma visão holística
quisas científicas. A necessidade de uma regu- do conhecimento humano. Os encontros terão a
lamentação das pesquisas genéticas e das suas pretensão de estimular debates e organizações
repercussões estimulou uma cesura irredutível envolvidas com questões éticas, legais e sociais
entre o Direito, a ética e a tecnologia, tendo em trazidas pelas situações persistentes e atuais da
vista as divergências que permeiam temas polê- Biomedicina e seus avanços.
micos como aborto, eutanásia, manipulação A interdisciplinaridade facultada da integração
genética e pesquisas com embriões humanos. do conhecimento jurídico com o conhecimento
O grupo de pesquisa “Biotecnologia, Biodireito e científico contribui para formar estudantes capa-
Meio Ambiente em Direitos Humanos”, sob a Aborto: descriminalizar zes de pensar de maneira ampla, aliando a rigi-
coordenação do Professor Doutor Robson An- dez conceitual do jurídico à flexibilidade de per-
ou apenar?
tão de Medeiros e da Professora Doutora Belin- cepção proporcionada por outras disciplinas,
da Pereira da Cunha, tentará analisar os caminhos mais oportu- permitindo uma renovação na forma de pensar,
nos para uma ciência pautada na observância dos Direitos Hu- ensinar e trabalhar o Direito.
manos. O grupo de pesquisa “Biotecnologia, Biodireito e Meio Ambi-
Apesar da relutância de parte da comunidade científica, é de ente em Direitos Humanos” vem fortalecer a indissociabilidade
fundamental importância fortalecer o discurso da interdepen- do ensino, pesquisa e extensão universitária, fomentando as
dência entre o progresso científico, a Bioética e os Direitos Hu- mentes do presente para uma análise reflexiva sobre o real,
manos, estipulando os parâmetros para que as pesquisas cien- como artifício de transformação global e atuação local com e
tíficas, biológicas e tecnológicas não violem os direitos huma- para a sociedade.■
nos consagrados nos costumes e tratados internacionais. Em
decorrência dos avanços da medicina moderna, necessita-se *Aluno do 2º período 2010.1 (noite)
cada vez mais da Bioética como eixo orientador ético e legal, ufpb.biodireito@gmail.com

ESPAÇO DATAB (Diretório Acadêmico Tarcísio Burity)

I Torneio Interjurídico de Futsal DATAB Social

O Diretório Acadêmico Um dos maiores focos dos membros da atual gestão do Di-
Tarcisio Burity – DATAB retório Acadêmico Tarcísio Burity é a solidariedade. Cientes da
–, do curso de Direito importância de auxiliar aquelas pessoas que passam por difi-
da UFPB, realizou, nos culdades das mais diversas, nosso trabalho visa sempre a an-
dias 23 e 24 de outu- gariar fundos para ajudá-las. Assim, quando organizamos di-
bro, no Ginásio de Es- versos eventos, separamos determinada quantia do lucro obti-
portes principal da do para ser revertida especialmente em ações sociais.
UFPB, o “I Torneio In- Os discentes, através de suas doações, proporcionaram
terjurídico de Futsal”, alegria para as crianças do Orfanato Dom Ulrico. Com parte do
competição esportiva realizada com a participação das princi- lucro da Calourada – um dos maiores da presente gestão –,
pais faculdades de Direito de João Pessoa. tivemos a possibilidade de ajudar duas instituições: a Comuni-
Iniciativa idealizada com o fim de uma maior integração en- dade Bom Pastor e a Casa da Misericórdia. Posteriormente,
tre os acadêmicos de Direito de nossa capital e do incentivo a por meio de novos fundos arrecadados, ajudamos os idosos do
uma vida saudável através da prática desportiva, o evento ob- asilo Nosso Lar.
teve grande aceitação e foi um sucesso na visão de participan- Nosso desejo é estender o DATAB SOCIAL. Conheça a
tes, patrocinadores e do público presente. fundo essas ações pretéritas e participe ativamente do que
O torneio contou com equipes representando as faculdades ainda realizaremos. O auxílio ao próximo pode realizar-se atra-
UFPB, UNIPÊ, IESP e Maurício de Nassau. O título ficou com vés de doações em dinheiro, de
o time representante da IESP, que venceu, na final, um dos alimentos, de fraldas (para ido-
times da UFPB, em uma grande partida, e ainda teve seus jo- sos e bebês) e de materiais de
gadores premiados com troféus de artilheiro e melhor goleiro. higiene. Mais que isso, sua ati-
Em terceiro lugar ficou uma equipe da faculdade Maurício de tude pode ajudar você mesmo a
Nassau. tornar o mundo um pouco me-
O evento foi realizado pelo DATAB, com o apoio da Vitop- lhor, assim, contamos com vo-
pan, Tartaruga‟s Lanches, Central do Trigo e Secretaria de cê. Ajude sempre! ■
Esportes de João Pessoa. Orfanato Dom Ulrico
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 5

MUNDIALISTAS.com.br
Opiniões Inteligentes sobre Relações Internacionais (ISSN 2176-
2176-5405)

INSTRUMENTOS NORMATIVOS DA OIT E SEUS REFLEXOS NO


PLANO NACIONAL DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO

ríodo de 12 meses e a jornada diária TO) e erigiu os crimes correlatos à


Dalliana Vilar Pereira* de labuta não superior à admitida para condição de hediondos. Nesse passo,
o trabalho livre (no caso do Brasil, oito priorizou a manutenção de uma base
Classicamente vinculada à Antigui- horas diárias), sendo as horas extras de dados integrados e estabeleceu
dade Clássica, a escravidão, ao longo remuneradas tal qual neste tipo de nortes para a melhoria na estrutura do
do processo histórico, apresentou dife- trabalho. Foi-se assegurado um dia de Grupo de Fiscalização Móvel, com
rentes significados até se consolidar repouso semanal, assim como a remu- uma reestruturação dos quadros des-
na sua forma hodierna, em que, não neração do trabalho forçado nos mes- sas instituições e do material disponí-
mais inerente à raça ou à guerra, nem mos moldes do trabalho livre. De sorte vel para atuação. Pari passu a que
sendo expressão de um modo-de- a se lhe aplicar a legislação protetiva destacou ações específicas de consci-
produção pré-capitalista, é determina- contra acidentes de trabalho e molés- entização, capacitação e sensibiliza-
da pelo poder do capital. tias graves neste ção. Também, com
Assim, intrinsecamente atrelado à adquiridas. Tudo a sua política de rein-
clandestinidade, o trabalho escravo ser consignado em serção social dos
atual, bem como o trabalho forçado, Relatórios Anuais, trabalhadores redu-
enquanto uma de suas facetas, é ex- para fins de fiscali- zidos à condição de
tensivamente combatido, seja pela zação. escravo, concedeu-
sociedade internacional, seja pela or- No mesmo senti- lhes o benefício do
denança interna dos atores estatais, do, foi erigida a De- seguro-desemprego
haja vista implicarem verdadeiros res- claração sobre os e estabeleu a desa-
quícios de uma época em que não Princípios e Direitos propriação dos imó-
havia que se falar, ao menos com a Fundamentais no veis respectivos pelo
força com que hoje se proclama, em Trabalho e Seu Segui- “O trabalho escravo INCRA, devido ao des-
direitos fundamentais no trabalho. mento, com o intuito de virtuamento de sua fun-
Nesse passo, a Organização Inter- dar concretude à Justi- atual, bem como o ção social.
ça, conjugando cresci-
nacional do Trabalho (OIT), face a seu
objetivo primordial de estabelecer pa- mento econômico e
trabalho forçado, en- De tal forma que, face
às considerações espo-
drões internacionais mínimos para as progresso social, pelo quanto uma de suas sadas, resta evidencia-
relações laborais, garantindo melhores que esta organização da a imprescindibilidade
condições de trabalho em toda a soci- intergovernamental (OI) facetas, é extensiva- do diálogo entre o inter-
edade internacional, dialoga com o colocou à disposição mente combatido, se- nacional e o nacional
princípio da dignidade da pessoa hu- dos Estados-parte seu para a concretização do
mana, tão caro ao direito internacional aparato técnico, bem ja pela sociedade in- direito humano funda-
dos direitos humanos e à ordenança como comprometeu-se ternacional, seja pela mental a um trabalho
brasileira, e, nesse ínterim, estatui a assisti-los na imple- digno, livre, remunerado
normas para o combate ao trabalho mentação desses obje- ordenança interna e saudável. De sorte tal
escravo. tivos, seja com auxílio a indicar a implementa-
Assim é que, nas Convenções 29- econômico-financeiro,
dos atores estatais” ção dos preceitos da
/1930 e 105/1957, universalizou o con- seja mobilizando seus OIT no âmbito do PNE-
ceito de trabalho forçado, passível de meios de ação normativa e de investi- TE a própria efetividade das normas
ocorrer tanto em países desenvolvidos gação. de direito internacional, a repousar no
quanto naqueles em desenvolvimento. Assim é que, transpondo as obriga- princípio do pacta sunt servanda, co-
Passo em que estatuiu que, mesmo ções assumidas internacionalmente mo reflexo da percepção de que, dian-
aquele exigido para a consecução do para a âmbiência nacional, o Estado te da globalização hodierna, não mais
interesse público, deverá ser progres- brasileiro elaborou o Plano Nacional se pode pensar o Direito do Trabalho
sivamente abolido. De modo a se as- de Erradicação do Trabalho Escravo tão-somente à luz da CLT e da CF,
segurar, nessa transição, com vistas a (PNETE), o qual preconiza uma atua- mas sim há de se conjulgá-lo às nor-
minorar os efeitos deletérios à dignida- ção integrada de distintas instituições, mas internacionais, com vistas à con-
de humana, que a execução desse especiamente o MPT, o MTE e o MJ, cretização dos direitos fundamentais
trabalho não implique o afastamento através da Polícia Federal. que lhe são inerentes.■
do trabalhador da sua residência habi- Assim, estabelecendo que a escra-
tual, sopesando, ainda, a religião, a vidão contemporânea manifesta-se
vida social e a agricultura. com a clandestinidade, estatuiu metas *Bacharelanda em Direito (UFPB), cur-
Em paralelo, determinou que dever- a serem alcançadas. Nesse ínterim, sou Relações Internacionais (UEPB) de
se-ão realizar exames médicos à vista fixou a erradicação do trabalho escra- 2007 a 2009. Monitora de Direito Proces-
sual Civil, Extensionista (NAJAC/UFPB),
de tutelar a saúde do trabalhador, bem vo como sua prioridade, pelo que inse-
Estagiária do MPT e Pesquisadora do VI
como respeitar os vínculos familiares e riu, no Programa Fome Zero, locais Anuário Brasileiro de Direito Internacio-
conjugais. Ademais, fixou o período identificados como focos de recruta- nal (CEDIN/MG).
máximo de submissão a trabalhos for- mento ilegal de trabalhadores como
çados não superior a 60 dias num pe- mão de obra escrava (MA, PI, PA, MT, dalliana@mundialistas.com.br
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 6

ESPAÇO DISCENTE

A TECNOCRACIA E O PECADO DOS JUSTOS


Igor Isídio Gomes da Silva*

Advogados de formação recente “Acabamos por ter um


deparam-se com dúvidas inquietantes considerável domínio
em suas primeiras demandas. “Seria
com dois esses a grafia correta de técnico, mas não apren-
„petição‟? Como redigir um mandato demos (ou desaprende-
(sic) de segurança?”. Tornar-se-ia im-
possível citar todas as anedotas rela- mos) a ser justos”
cionadas ao despreparo técnico de
uma nova geração de operadores do O mesmo Aristóteles, também no
Direito. Mas o que todos esses carica- mesmo livro, classifica a justiça como
tos exemplos guardam em comum – lei de coexistência das demais virtu-
além da culpa pelas gargalhadas no des; “virtude completa”. Cravada no
corredor – é uma forte advertência, ápice entre dois abismos – como as
esteja ela mais ou menos explícita, ao demais virtudes – a justiça é o meio- dos juristas e não a dos justos... O po-
resultado desastroso de uma má for- termo entre o egoísmo e o altruísmo sitivismo jurídico, examinado em suas
mação acadêmica, fomentada pela cego; o desejo sincero de atribuir a manifestações mais ortodoxas, teoriza
flexibilidade dos critérios avaliativos e cada um aquilo que é seu. Longe de o Direito como fenômeno puramente
pela recente explosão dos cursos jurí- ser conceituação definitiva, a noção normativo e aparta-o claramente da
dicos de qualidade questionável. aristotélica é apenas a pedra angular justiça. Faz dele um filho rebelde que
“Sejam lidos os manuais!” é o imperati- de uma discussão que vem, no trans- expulsou a própria mãe de seu pedes-
vo da tecnocracia e o mantra dos bons correr da história, alternadamente au- tal de autoridade, brandindo o gládio
docentes e discentes. mentando e diminuindo a relevância que dela tomara. E qual seria, ainda
Mas os – cada vez mais cometidos desse mesmo conceito para o Direito. alegoricamente, a situação mais ade-
– erros crassos na prática jurídica en- Sendo as virtudes, então, um cons- quada ao Direito de nossos dias? A de
cerram em si um viés ainda mais per- tante esforço para manter-se em um um filho que, com o braço fortalecido
turbador: evidenciam deficiências na ápice tenuemente equilibrado entre pela sua institucionalização, mantém
esfera técnica dos recém-formados, dois vícios, poderiam elas ser ensina- empunhado o gládio, mas coloca-se
gerando, em contrapartida, uma maior das? Teriam as faculdades de Direito o docemente ao lado e bem perto de sua
– e, às vezes, exagerada – preocupa- poder de nos purificar o espírito, trans- mãe para ouvir-lhe os conselhos.
ção das boas faculdades com o com- formando-nos em justos? Alain diria A maior fatia de tempo dos estudan-
pleto domínio da tecnologia do Direito que “a justiça pertence à ordem das tes de Direito é dedicada aos quilogra-
pelos seus alunos. Fica eclipsado, des- coisas que se devem fazer justamente mas de um vade-mécum e aos quilô-
tarte, um problema menos evidente e porque não existem”, e “só existirá se a metros de artigos a serem percorridos,
não menos preocupante: no esforço fizermos”. Logo, somos justos não decodificados, memorizados... É esfor-
em dedicar todo o tempo a assimilar os quando sabemos ou pensamos saber ço necessário e louvável, mas até aí só
ensinamentos dos volumosos manuais, o que a justiça é (ou deve ser), mas conseguimos ser tão bons quanto o
acabamos por ter um considerável do- sim quando colocamos nossos valores mais comum dos computadores. Se
mínio técnico, mas morais em prática, acreditamos ser a justiça o ápice teleo-
não aprendemos (ou “É a partir das reflexões filosófi- vividos em ato. Mui- lógico do Direito, precisamos ir além do
desaprendemos) a cas que podemos saber o quão to antes de purificar preto no branco dos códigos. Precisa-
ser justos. nossos espíritos, as mos daquela que é a marca de nossa
A prática daquilo longe nosso ser está do dever faculdades têm o humanidade – a Filosofia – a alimentar
que é justo tem se ser” dever de atiçá-los, uma inquietante chama de dúvida em
tornado objetivo se- inquietá-los, levá-los nossa consciência, interpelando-nos a
cundário na vida dos novos juristas. à estupefação diante da incerteza so- todo momento: “o que é ser justo?” E
Mas antes que essa última afirmação bre o que se diz justo ou injusto. É a na eterna busca por um dever-ser, a-
leve-nos a um maior aprofundamento partir das reflexões filosóficas - vistas cabamos sendo.
em seu tema, cabe aqui um necessário por muitos como supérfluas à forma- Pascal, no seio das concepções
esclarecimento em razão do caráter ção de bacharéis necessariamente teológicas da justiça, teria afirmado
polissêmico do termo “justiça”. Aristóte- técnicos - que podemos saber o quão que “só há dois tipos de homens: os
les, no livro V de sua Ética a Nicôma- longe nosso ser está do dever ser, justos que se creem pecadores e os
co, já diferenciava nitidamente dois sentindo-nos, dessa forma, impelidos a pecadores que se creem justos.” Este-
conceitos para os quais nosso idioma continuar equilibrando-nos no estreito jamos, então, empenhados para que
nos deu uma única palavra. Há a justi- ápice da justiça. das faculdades de Direito saiam menos
ça como conformidade ao direito e eri- As tentativas de abstrair a justiça do memorizadores de códigos e mais pe-
gida como instituição judiciária (to di- Direito, podendo assim elevá-lo à cate- cadores. E que estes - ao menos! - não
kaion); diferente da virtude daquele goria de ciência, revelaram-se, no mí- pequem contra a já tão maltratada Lín-
que é justo, da justiça moral nimo, insuficientes e ainda mais com- gua Portuguesa. ■
(dikaiosunè). É sobre esta última e plicadoras, pois nos levam a escolher a
mais bela noção que se pretende refle- justiça de Creonte e não a de Antígo- *Aluno do 2º período 2010.1 (manhã)
tir aqui. na, a do Führer e não a dos judeus, a igor.isidio@gmail.com
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 7

ESPAÇO DISCENTE

A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E OS 20 ANOS


DO ECA: CRIMINALIZAR É EXAGERO?
Clara Rodrigues, Filipe Lins e contra essa síndrome, no dia 26
Laryssa Brilhante* de agosto de 2010 finalmente foi
sancionada, pelo presidente da
República, a lei nº 12.318, que
A Síndrome da Alienação Pa- vem em auxílio de pais vítimas da
rental, conhecida popularmente SAP. Agora, definitivamente, ape-
como SAP, é um processo de cu- sar de algumas objeções, é tipifi-
nho psicológico que ocorre nos cado como crime a “interferência
ambientes familiares, o qual con- na formação psicológica da crian-
siste em programar uma criança ça ou do adolescente promovida
para que ela odeie um de seus ou induzida por um dos genitores,
genitores sem justificativa, por pelos avós ou pelos que tenham a
influência do outro genitor com criança ou adolescente sob a sua
quem a criança mantém um víncu- autoridade, guarda ou vigilância
lo de dependência afetiva e esta- para que repudie genitor ou que
belece um pacto de lealdade in- cause prejuízo ao estabelecimento
consciente. ou à manutenção de vínculos com
A SAP passou a fazer parte de este”.
muitos processos judiciais brasileiros há Alguns acreditam ser um exagero tipi-
aproximadamente oito anos, e chamou a “O alienador apresenta ficar como crime a alienação parental.
atenção não só de juristas, mas também comportamentos caracte- Diante do que foi exposto aqui, fica mais
de psicólogos e médicos, principalmente do que provado que a SAP é uma forma
pediatras e psiquiatras. A verdade é que,
rísticos, sempre dificultan- de tortura psicológica, que agride seres
com o crescimento quantitativo dos divór- do a comunicação e intera- vulneráveis. Milhares são as justificativas
cios e o processo de “banalização” do jurídicas que ratificam a necessidade da
casamento, construir e desconstruir uma
ção da criança alienada nova lei.
família passou a ser fato corriqueiro, ge- com o outro genitor, tam- A Síndrome de Alienação Parental
rando uma quantidade imensa de ex- bém vítima da alienação” desobedece ao art.17 do Estatuto da
mulheres e ex-maridos. E, no meio des- Criança e do Adolescente, já que engen-
ses vínculos rompidos, fica a criança, dra prejuízo à integridade física, psíquica
fruto da ex-união. (dentista, médico, psicólogo, eventos e moral da criança e do adolescente,
A gênese da síndrome está associada escolares); ridicularizar o outro genitor na bem como ao exercício equânime do
à dissolução do casamento, ou o findar presença dos filhos; e recusar-se a infor- poder familiar, pela mãe e pelo pai.
de um relacionamento conjugal, que se mar as atividades praticadas pelos mes- Neste ano de 2010, o Estatuto da Cri-
caracteriza por conflitos entre os cônju- mos (esportes, grupos teatrais, escotis- ança e do Adolescente completou vinte
ges, na presença dos filhos, que, na mai- mo, etc.), são alguns comportamentos anos de existência. Vitórias importantes
oria das vezes, ao ser determinada a típicos do alienador. aconteceram desde aquele 13 de julho
guarda, ficam com a mãe. A ocorrência Diante de tal perfil, já é possível per- de 1990, porém a realidade que bate à
do ato está no momento em que se co- ceber a tortura e a opressão que sofre a nossa porta, diante de tantas teorias e
meça a construção de um perfil alienador criança alienada. Sendo construída essa leis, é a de que a situação das crianças e
por parte de um dos cônjuges. Assim, realidade no ambiente familiar, passam a dos adolescentes no Brasil ainda é críti-
inicia-se a elaboração de uma imagem ser produzidos problemas psicológicos ca.
completamente negativa do outro genitor muito graves. Mas surge um outro pro- Todos os familiares são necessários
e, portanto, a alienação principia-se. blema: como diferenciar os casos de na educação da criança e do adolescen-
Convém salientar que, pelo fato de abuso ou descuido dos casos da síndro- te, e não se pode permitir que uma atitu-
geralmente a mãe ficar com as crianças, me de alienação parental? de criminosa como a alienação parental
a maior parte dos alienadores é do sexo Em muitas situações, o genitor acusa ocorra. O amor entre o marido e a espo-
feminino, mas isso não significa que o o outro de abusar (fisicamente e sexual- sa pode acabar, mas, entre pais e filhos,
perfil alienador envolva só a mulher, e mente) dos filhos, ou mesmo de descui- jamais.
sim os dois lados da moeda, ou seja, dar da alimentação, higiene e educação A aprovação da lei nº 12.318 é fato
tanto o pai quanto a mãe. da criança. Neste momento, os profissio- para ser comemorado porque vem em
O alienador apresenta comportamen- nais envolvidos no caso, tanto psicólogos auxílio daqueles que trabalham em favor
tos característicos, sempre dificultando a quanto promotores, juízes, psiquiatras e da infância e da juventude, que reconhe-
comunicação e interação da criança alie- educadores, precisam ter muito cuidado, cem a importância dos brasileiros meno-
nada com o outro genitor, também vítima porque abuso ou descuido grave não res de 18 anos. Agora, cabe aos profis-
da alienação. Atitudes como recusar pas- podem se enquadrar na SAP. sionais da área jurídica, educacional e
sar chamadas telefônicas aos filhos; to- Em casos de SAP, quando entrevista- psicológica garantir a eficácia dessa nor-
mar decisões importantes sem consultar do, o filho não vai recordar imediatamen- ma.■
o outro genitor; impedir que este faça te do que passou, porque de fato não
visitas; trocar (ou tentar trocar) nomes e sofreu abuso ou descuido, diferentemen-
sobrenomes; desvalorizar os presentes te do que ocorre com o filho abusado, *Alunos do 2º período 2010.1 (manhã)
dados pelo outro genitor à criança; quando é necessária apenas uma pala- clara.ras_1991@hotmail.com
“esquecer”, com freqüência, de avisar vra para ativar sua memória. filipelins2000@yahoo.com.br
sobre compromissos importantes Dando um grande passo para a luta larabrilhante1@hotmail.com
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 8

ESPAÇO DISCENTE

DIREITO E LITERATURA: QUANDO A LEI ENCONTRA A


ARTE
Ive F. Cândido e Maria Angélica* tência das mesmas nos currículos das
faculdades de Direito brasileiras. À exce-
Pensar as comunicações entre Direito ção de raros projetos de extensão e de
e literatura está longe de ser uma novida- pesquisa que focam no estudo de uma
de. As duas disciplinas, caras à tradição ou outra obra literária, e de não menos
ocidental, partilham uma relação que, em raras iniciativas de professores que le-
tempos passados, tinha limites turvos: vam a literatura para a sala de aula
basta lembrar que, sobretudo na Antigui- (geralmente como aporte ilustrativo do
dade Clássica, os juristas costumavam conteúdo programático), a temática pas-
ser, dentre outras coisas, também ho- sa desprivilegiada no meio jurídico, quan-
mens de letras. O jurista medieval, igual- do não vista como mero diletantismo
mente, tinha consciência de atuar no exótico.
âmbito literário do qual partia para trans- No entanto, a experiência mostra o
formar a doutrina. Somente com a passa- histórico de frutíferas interações entre “A visão predominante-
gem para o mundo moderno, que traz Direito e literatura, que levam ao limite a
consigo o processo de racionalização e discussão sobre interpretação do Direito
mente romântica da litera-
positivação do Direito, é que aquela rela- (debate especialmente importante no tura é o obstáculo que se
ção passa a provocar estranhamento. campo da hermenêutica constitucional);
Criam-se as dicotomias técnico/estético, que incentivam compreensões sobre os
impõe à visão do direito
normativo/artístico, e outras, que trazem temas centrais da filosofia jurídica enquanto arte”
em comum a impermeabilidade entre as (apreendidas e posteriormente aprimora-
categorias. das pela lógica funcional do Direito); que gem), assim como na arte, é necessária
O campo reputado como “direito e possibilitam uma contemplação mais a atribuição de sentido ao texto, a partir
literatura” pode ser visto como uma das profunda da condição humana e da natu- da reconstrução do intérprete, implicando
formas de manifestação de um movimen- reza do jurídico; que levam a um maior na transição entre o mundo da vida e a
to maior, que busca as conexões entre entendimento sobre o meio social em linguagem. É também o espaço em que
Direito e arte, bem como parte do fenô- que o Direito se desenvolve, configuran- se admite o Direito como exercício de
meno da proliferação de tentativas de do, para alguns, o mesmo instrumento retórica.
encontrar novas bases interpretativas provocador e meio através de quê se faz Quanto ao direito da literatura, não é
para o Direito. São uma reação à dogmá- a reforma do Direito. nada mais que a coletânea de dispositi-
tica jurídica moderna, excessivamente O foco neste ou naquele propósito vos normativos referentes às relações
formalista, pretensamente autossuficiente depende da perspectiva adotada para se jurídicas do exercício da produção e difu-
e fechada sobre si mesma. Tais ideias estudar o jurídico através do literário. A são da obra literária e os direitos daí de-
encontram amparo no pensamento de sistematização comumente utilizada deli- correntes, como os direitos autorais, pas-
Ronald Dworkin, que sustenta ser possí- mita três caminhos: Direito na literatura, sando também pelo tema da liberdade
vel melhor compreender a questão da Direito como literatura e direito da litera- artística e de expressão, e os delitos rela-
interpretação do Direito lançando mão de tura. O primeiro trata da representação tivos a estes.
métodos interpretativos de outras áreas do mundo jurídico na literatura. Compre- A visão predominantemente romântica
do conhecimento, aproveitando-se do ende textos literários em cujos enredos da literatura é o obstáculo que se impõe
grande número de teorias da interpreta- reside uma questão essencialmente jurí- à visão do Direito enquanto arte, porém,
ção já testadas, incluindo aquelas que dica, abrindo espaço para a abordagem mesmo que não se admita ao jurídico tal
contestam a divisão categórica entre do justo/injusto, das relações de poder e dimensão ou qualquer utilidade prática às
descrição e valoração –- ideia que, em do sentimento geral de uma sociedade imbricações entre este e a literatura, res-
sua opinião, levou ao enfraquecimento em relação à sua ordem normativa. São ta inegável ponto em comum que os une:
da teoria jurídica. Nesse contexto, a inter- exemplos emblemáticos o Mercador de a linguagem - dimensão cuja exploração
pretação literária sobressai como privile- Veneza, de Shakespeare (há inclusive é essencial para a compreensão
giado instrumento. quem afirme existir teorias do poder e de (levando em conta que as perspectivas
O mais expressivo estudo acadêmico justiça em sua produção literária); Antígo- técnica, científica e artística se comple-
das pontes possíveis entre Direito e lite- na, de Sófocles; O Processo, de Kafka; mentam nesse sentido) do fenômeno
ratura tem início nos Estados Unidos, na Crime e Castigo, de Dostoiévski; Os Mi- jurídico. Divagar sobre a linguagem e
década de 70, no âmbito do Law and seráveis, de Victor Hugo; O Estrangeiro, suas características é transitar entre ca-
Literature Movement, fato que talvez ex- de Camus, dentre outros diversos. minhos específicos que separam-se e
plique a profusão de disciplinas que se O segundo caminho vê o Direito e interpõem-se na transformação do real.
relacionam com a temática nas universi- suas peculiaridades procedimentais co- Tanto o Direito quanto a arte, seguindo
dades ame- mo essencialmente literários. É o espaço linha de Germano Schwartz, são abstra-
ricanas, em da tomada da teoria literária como mode- ções sobre outras abstrações (sejam
contraposi- lo para a hermenêutica jurídica, após a normas ou obras), que passam necessa-
ção à inexis- conclusão sobre a inexorabilidade da riamente pelos fatos da vida na (re)
interpretação construção de seus significados.■
Cosette, personagem de “Os Mi- do texto nor-
seráveis”, de Victor Hugo: roman- mativo. Tam-
ce do século XIX aborda aspectos bém no Direito
(posto que *Alunas do 3º período 2009.2 (manhã)
da criminologia crítica e da digni- expresso atra- ivefcandido@gmail.com
dade da pessoa humana vés de lingua- maangelicaamo@gmail.com
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 9

ESPAÇO DISCENTE

O MITO DE PROMETEU E O PAPEL SOCIAL DA UNIVERSIDADE


Luiza Iolanda Cortez* potencial. O Titã queria uma raça que dos deuses. Em razão de tamanha afron-
confrontasse os olímpicos: era necessá- ta, Zeus condenou Prometeu – preso
A universidade possui como funda- rio que os homens fossem equiparados pelas correntes de Hefesto ao cimo do
mentos as atividades do ensino, pesqui- aos deuses em termos de desenvoltura e Monte Cáucaso – a ter uma águia co-
sa e extensão. Por constituírem-se em astúcia, que enxergassem os segredos mendo-lhe o fígado. Ao fim do dia, che-
perspectivas do saber (e sendo este u- divinos e aqueles que diziam respeito a gava a noite ansiada por Prometeu, e
no), possuem um caráter transversal, ou si próprios. Portanto, cabia a Prometeu seu fígado tornava a crescer. Mesmo
seja, são complementares e indissociá- ensinar os conhecimentos universais à diante de tamanha atribulação, jamais
veis. Em razão de sua natureza, não são humanidade. pede perdão aos deuses. Sua dor maior
postas como uma linha de conhecimento é ver a humanidade que criara destruir-
verticalizado, da qual se pressupõe uma “Os extensionistas e a comuni- se na efemeridade. Teria sido assim eter-
hierarquia, mas horizontal, na qual o alu- namente se não fosse por intervenção de
no, o pesquisador e o extensionista, em dade são, concomitantemente, Héracles, que matou a águia com o con-
parceria com a comunidade, fazem fluir o os humanos e o Titã Prometeu: sentimento de Zeus.
conhecimento por meio de suas contribu- esclarecem e compartilham vi- A questão da rebeldia, do questiona-
ições. vências, questionamentos e mento e da reinvenção são correntes na
Queremos, neste texto, tratar particu- prática humana. A virtude apenas é al-
larmente da perspectiva da extensão. Em
projeções” cançável pela prática e estudo aplicado.
razão de ser uma responsabilidade de Este mito não foi utilizado como uma
educação recíproca, com desafios diutur- Zeus guardava o segredo do fogo metáfora de privilégio ou superioridade;
nos, traçamos, a título metafórico, uma distante do alcance dos homens. O se- em verdade, Prometeu, ao questionar um
conexão com a mitologia grega, uma das nhor dos deuses não percebia, naquela dogma e ao levar o fogo divino ao ser
grandes influências da cultura ocidental: criação que andava pelo mundo entre as humano, foi agente e paciente da situa-
como o “mito de Prometeu” se encaixa sombras, qualquer habilidade que a des- ção que criou: pôde enxergar melhor,
na experiência da extensão universitária? tacasse dos demais seres viventes. Eram assim como foi melhor visto pelos ho-
O nome Prometeu, segundo a etimo- obedientes e servis aos deuses, fato que mens. Da mesma forma, compartilhou
logia popular, teria vindo da conjunção era agradável aos seus olhos. Ciente algo que estava distante de ambas as
das palavras gregas pró (antes) e man- desta condição, Prometeu sentia cada realidades. Os extensionistas e a comu-
thánein (saber, ver). Ou seja, Prometeu vez mais a urgência de organizar a alma nidade são, concomitantemente, os hu-
equivaleria a “prudente ou previdente”, humana. Certa vez, ao caminhar pela manos e o Titã Prometeu: esclarecem e
ou até mesmo a “aquele que antevê”. terra, pegou um pedaço de galho seco, compartilham vivências, questionamen-
Responsável pela criação humana, via voou até Hélios - o Sol - e encostou o tos e projeções. E assim objetiva-se o
na sua criatura uma alma, mas percebia galho no carro do deus, que se acendeu que o Direito deve ser: próximo, passível
que o homem não havia descoberto seu imediatamente. Prometeu possuía o fogo de compreensão e presente na vida dos
dos deuses em suas que necessitam dele. Esse, portanto,
mãos; então, desceu à deve ser o estímulo e a meta dos estu-
Terra e o entregou aos dantes que vivem a extensão universitá-
homens. ria: transformar a prática jurídica em algo
Era o início da revelação claro, útil e real, apesar das correntes.■
da sabedoria à humanida-
de, que se iria fazer mais
inteligente e audaz. Com *Aluna do 5º ano (tarde)
o roubo do fogo, reani- luizaiolandacortez@yahoo.com.br
mou a inteligência huma- Este artigo é a síntese de um trabalho
na, que passou a confron- apresentado no XXII Encontro de Extensão da
tar, a cada dia, o poder UFPB, em 19/10/2010.

Um setembro agitado para a comuni- ligação com tais estruturas: “O Direito se aris-
INFORME CCJ EM AÇÃO

dade acadêmica tocratiza, se deslegitima, quando passa a


olhar os fatos de cima para baixo”, disse.
A segunda palestra ocorreu no dia 14, com
O jornal CCJ em Ação e o grupo de pes-
o professor Terrie Ralph, intitulada “Pesquisa
quisa Justiça Política - coordenado pelo pro-
Jurídica: Um Campo em Busca de sua Meto-
fessor Gustavo Rabay Guerra - proporciona-
dologia”. Terrie, que é doutor em Ciência Polí-
ram à comunidade acadêmica da UFPB um
tica pela Universidade da Califórnia (EUA) e
mês de setembro bastante rico e atrativo,
pesquisador da UnB, alertou, a todo momento,
através de palestras proferidas por dois pro- O professor Meneghetti também participou de para o status crítico da pesquisa científica no
fessores vindos de Brasília, contando com a evento promovido pela Escola Superior de Advo- campo jurídico. Para ele, “a literatura jurídica é
participação de diretores de escolas superio- cacia da OAB/PB pouco tendenciosa para a incitação à pesqui-
res e de professores do próprio CCJ.
le evento lhe dava muito mais a sensação de sa” e a metodologia científica do Direito é vista
O primeiro evento ocorreu no dia 2, com
ser uma “conversa entre amigos”. com maus olhos.
Marco Antonio Meneghetti (mestre em Ciência
Seu discurso focou a relação entre a práxis “Não está consolidada a ideia do que é a
Política pela UnB e membro do Instituto Brasi-
eleitoral brasileira e a estrutura de dominação pesquisa jurídica e não se sabe também como
liense de Direito Público), com a palestra
capitalista do Estado, dando ênfase ao concei- ensiná-la”, disse. O professor defendeu um
“Capitalismo de Estado: Dominação Tradicio-
to político-jurídico da “liberdade” e como ele momento reflexivo conjunto entre os operado-
nal de Natureza Patrimonial e Estamental na
condiciona as idéias do “voto obrigatório”, da res da área para amadurecer o conceito da
Formação do Estado Brasileiro”. Meneghetti,
“representação partidária” e do “clientelismo pesquisa no Direito, bem como estimulá-la no
no início de sua fala, fez questão de destacar
político”. Não faltou, também, uma análise meio acadêmico.
positivamente o nível da comunidade acadê-
crítica acerca do fenômeno jurídico e da sua Mais eventos estão sendo planejados para
mica UFPB, bem como deixar claro que aque-
o próximo ano. Aguardem! ■
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 10

OS ESTUDANTES DE DIREITO E O DISCURSO DA RESPONSABILIDADE:


UM BALANÇO DO ERED 2010
O Encontro Regional de Estudan- Outro tema abordado foi a re-
tes de Direito (ERED) é um evento construção das ideias da mediação
em que alunos do curso se reúnem e e da conciliação de conflitos, que ten-
se integram através de fóruns, mesas- dem a ser consideradas como meios
redondas e grupos de trabalhos, com o para desafogar o Judiciário, quando os
fim de discutir e organizar as diretrizes focos, na verdade, são a harmonização
de reivindicação estudantil e pautar as e a humanização dos conflitos, para se
bandeiras defendidas em determinada alcançar uma solução real, que benefi-
região e, posteriormente, no âmbito cie as partes.
nacional. A Paraíba, assim como Per- Após os três dias de discussões, pai-
nambuco e Rio Grande do Norte, faz néis e oficinas, os estudantes de Direi-
parte do grupo NE-II, que realizou, to da Regional já podiam colocar uma
neste ano, o ERED em Natal (UFRN), interrogação ao lado do tema do En-
entre os dias 09 e 12 de outubro. contro. Foi na Plenária Final que nós,
O encontro teve como tema geral “O estudantes, pontuamos o que quere-
Direito como meio de transformação mos para o curso. Pontos que acredita-
social”, uma oportunidade para proble- mos serem necessários à formação
matizarmos a questão do ensino jurídi- política e que não podem deixar de
co e discutirmos o espaço dos movi- passar por nossos currículos, PPPs,
mentos sociais no concreto acadêmico, grades, seminários, e (por que não?)
o acesso à Justiça e a “crise” na Defen- encontros.
soria Pública. Juntamos as palavras, as questões e
Na mesa de abertura, debatemos, os pontos. Procuramos uma sequência
junto com Gabriel Vitullo (Coordenador lógica - a sistematização. Penduramos.
de Ciências Sociais da UFRN), Daniel Misturamos os verbos, os sujeitos,
Valença (professor da Universidade objetos e predicados e trocamos com
Rural do Semi-Árido) e José Humberto os demais. Escutamos as palavras, as
de Góes (mestre em Direitos Humanos questões e os pontos. No final, sabía-
pela UFPB), a querela de um Direito mos claramente sentir e definir quais
que se ensina errado (que dissocia o en- basta contestar o poder para ser criminali- são os nossos propósitos. Cada um con-
sino, a pesquisa e a extensão), escutan- zado. Para a diretora do MST, Marina dos seguiu apreender o que cada palavra
do palavreados descontextualizados, Santos, essa criminalização é fruto de um entregava como responsabilidade.
unidisciplinares e dogmáticos: tudo numa processo de articulação de espaços e Todos saímos com o compromisso de
bolha de sabão, abstraindo a realidade estruturas reacionárias e atrasadas. levar as palavras, as questões e os pon-
social e os conhecimentos construídos No terceiro dia, tivemos a mesa- tos para outros estudantes. E, sem dúvi-
por outras áreas, fazendo-nos acreditar redonda sobre a crise da defensoria pú- da, saímos com a interrogação inicial.
que podemos resolver o mundo recortan- blica e o acesso à Justiça. Os palestran- Tivemos a oportunidade de conhecer
do a vida e encaixando-a nas gavetas tes foram o professor Ronaldo Alencar, outras pessoas com quem compartilha-
dos códigos. da FARN, a professora Ana Lia Almeida, mos sonhos e perceber que há muita
Noaldo Meireles, Roberto Efrem, Mari- da UFPB, o juiz federal Mario Jambo e o gente nessa caminhada.
na dos Santos e Dennys Lucas, na mesa defensor público André Castro. Infelizmente, poucos estudantes da UFPB
redonda “Sentindo as correntes que nos O professor Ronaldo iniciou sua palestra tiveram a oportunidade de participar des-
prendem: a criminalização dos movimen- falando sobre o acesso à Justiça e o en- se momento, mas não foi a última chan-
tos sociais”, partiram da ideia de que a tendimento atual da expressão, que vai ce. No nosso Centro ocorrem discussões
criminalização é uma criação hegemônica muito além do acesso aos órgãos do Po- e construções acerca dos temas discuti-
que cresce e aparece de forma nítida à der Judiciário, envolvendo, também, um dos no ERED e também nos outros E-
medida que os grupos sociais se organi- contexto histórico e político. O tema cen- REDs que virão. Ajude a construir um
zam. Fora exposto que a criminalização tral de seu discurso foi a elevação da Direito que sirva para a transformação
se inicia no Brasil em relação a índios e importância do acesso à Justiça como social! ■
negros – a exemplo da Revolta de Ca- direito fundamental dentro de um Estado
nudos, mostrada pela história como um Democrático, além da importância de sua
movimento de fanatismo religioso. eficácia máxima e imediata, concluindo Cobertura do Coletivo
Atualmente, temos o MST como na necessidade de uma construção edu-
grande vítima da criminaliza- cacional no âmbito popular, para que haja
ção. Infere-se, disso, que uma formação jurídica mínima.

Projeto do CCJ/UFPB obtém 1º lu- O coordenador do projeto é o professor uma visão diferenciada de justiça, que
INFORME CCJ EM AÇÃO

gar em avaliação do CNJ Acadêmico Rômulo Palitot, contando também com os abarque questões filosóficas e sociológi-
trabalhos da professora Maria Coeli, vice- cas mais críticas”.
O projeto “Alternativas Penais na Pers- diretora do CCJ, e do professor Nelson Ainda segundo a professora, a premia-
pectiva da Vítima: Justiça Restaurativa Gomes Júnior, entre outros. Sua área te- ção significará investimentos na universi-
como um Novo Paradigma da Justiça Cri- mática foi “O sistema de Justiça Criminal dade, por meio de verbas para a pós-
minal para a Eficácia das Políticas Públi- no Brasil - seus problemas e desafios”, graduação, a níveis de mestrado e douto-
cas de Reinserção Social”, do Centro de superando projetos de universidades co- rado. “A gente espera dar uma grande
Ciências Jurídicas da UFPB, foi avaliado mo UFPE, UnB e Mackenzie. contribuição para a sociedade, para o sis-
em primeiro lugar pelo CNJ Acadêmico - Para a professora Coeli, “as perspecti- tema de justiça criminal e, acima de tudo,
uma parceria entre a CAPES e o CNJ que vas são realmente muito boas no sentido dentro de uma visão humanista, para os
visa estimular a pesquisa em campos de não só de propiciar uma pesquisa restrita próprios aprisionados”, disse.■
interesse estratégico para o Poder Judiciá- à alternatividade das penas e sua restau-
rio. ração, mas também, uma pesquisa com Por Caroline Carvalho e Magno Duran
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 11

ESPAÇO DOCENTE - Prof. Nelson Gomes Júnior*

SUBJETIVIDADE, VIOLÊNCIA E SEGURANÇA PÚBLICA:


O ANALISADOR “ÔNIBUS 174”
Rio de Janeiro, 12 de junho de 2000. En- junto a tais coletivos. O fato é
trava para os anais da falência da Segurança que nós, humanos, do ponto
Pública o sequestro do ônibus 174, aconteci- de vista da sobrevivência psi-
mento transformado no importante vídeo- cológica, temos a necessidade
documentário de José Padilha, nos idos de cabal de sermos vistos, enxer-
2002. gados e reconhecidos. Desde
O vídeo tem sua narrativa inicial em torno o momento do nascimento,
de uma ocorrência policial que apontava para temos a necessidade de um
um ônibus interceptado em uma das princi- outro que nos olhe, cuide de
pais vias de acesso do Jardim Botânico, bair- nós e colabore com nosso
ro de classe média-alta da capital fluminense. processo de constituição de
Começa ali a história do filme vencedor de humanidade. Sob a égide ma-
diversos prêmios e festivais do cinema nacio- crossocial, cabe ao Estado
nal e internacional. Entretanto, nota-se que este papel de olhar constituin-
uma das mais brilhantes compreensões do te, cuidador e investidor sob a
documentário é a de que a história daquele pena de delegar a outras for-
episódio de violência não nascia naquele ças que assim o façam e ga-
momento. O caso do ônibus 174, como toda rantam visibilidade, desafios e reconhecimen-
historia de violência, apresenta relação es- to, a exemplo do que o tráfico tem conquista- “Nós, humanos, do ponto
treita com o entrecruzamento de histórias do com muitos dos nossos jovens.
pessoais e sociais que atravessam e consti- Os gritos por visibilidade social são cons- de vista da sobrevivência
tuem o humano e seus comportamentos. tantes em nossa sociedade, levando-nos a psicológica, temos a ne-
Sandro do Nascimento, posteriormente crer que a invisibilidade social constitui-se
reconhecido como um dos sobreviventes da como uma condição subjetiva pouco ou nada cessidade cabal de ser-
famosa e trágica chacina da Candelária,
anunciava-se como personagem principal
salutar. Muitos de nós esforçamo-nos e te-
mos condições de nos tornarmos vistos e
mos vistos, enxergados e
daquele enredo político-policial. Sequestrara valorizados por nossas produções intelectu- reconhecidos”
um ônibus à luz do dia e obrigara o motorista ais, nosso trabalho ou bens que ostentamos.
a estacioná-lo em meio à via pública, levando Entretanto, para muitos outros de nós, a vio-
-nos a questionar o que pretendia com aque- lência tem sido a única ou principal forma de A chacina da Candelária, aprovada por
la história que se diferenciava, em muito, de alcance da visibilidade. Muitos destes garotos grande parte dos ouvintes em pesquisa reali-
um assalto e mesmo de um sequestro clássi- que circulam imperceptíveis nas grandes e zada por uma rádio local, acabara de ser
co, geralmente acompanhado de algum tipo pequenas metrópoles só conseguem ser concluída. Sandro do Nascimento fora assas-
de extorsão. Sandro não fazia exigências, notados a partir do medo que são capazes de sinado pela força policial quando já se encon-
não pedia dinheiro, não solicitava armas nem produzir em nós. A violência teria, neste ca- trava rendido e devidamente enjaulado em
mesmo uma rota de fuga, levando os mais so, uma função instrumental equivalente a uma viatura institucional, tendo como causa
ingênuos a acreditar que não queria nada. um clamor pela própria existência. mortis a asfixia. À Polícia Militar coube o
A história pessoal de Sandro segue curso Retornemos agora à cena do crime. San- trabalho sujo e de grave violação aos direitos
semelhante à de muitos jovens brasileiros. dro não exige resgate ou mesmo paraferná- humanos. Coube a ela, portanto, a execução
Negro, pobre, morador de região periférica, lias bélicas, contudo, vive o clímax dos quin- daquilo que, ainda que reprimido e escamote-
“mutilado” pela violência naturalizada e pro- ze minutos de fama, ou, como afirma Luís ado em algum lugar do inconsciente, é dese-
porcional ao abandono e ausência do Estado Eduardo Soares, no documentário em análi- jado por muitos daqueles que conosco com-
em diversos territórios. Tem a mãe assassi- se, goza, naquele momento, com a “pequena partilham mesas de trabalho, bancos escola-
nada quando criança e, não suportando o glória”. O circo midiático, amplamente trans- res, calçadas, bares e filas para o cinema.
novo locus familiar, toma a rua como sua mitido para todo o planeta, configurava-se Por fim, o documentário alerta-nos para a
nova casa. Conhece as drogas e envolve-se como aquilo que convencionamos chamar de ilusória crença de que a violência urbana
em pequenos delitos que colaboram com sua espetacularização da violência, rendendo deve ter como principal estratégia de enfren-
subsistência. Experimenta as medidas sócio- muita audiência e pouca análise qualificada. tamento a construção de mais presídios, o
educativas de internação e sua pouca ou Interessante lembrar que Sandro, dias antes, aparelhamento policial, ou mesmo a redução
nenhuma eficácia junto aos processos de comunica à “mãe de criação” que ficará fa- da maioridade penal. Tais discursos tratam
ressignificação subjetiva. Como mencionado moso, mas não poderá se ver, como preven- de tão importante mazela tomando como
anteriormente, sobrevive ao covarde intento do que naquela narrativa midiática não seria referência apenas a ponta do iceberg, não
armado contra os meninos de rua que ocupa- mais expectador, mas o próprio ator da trági- dando conta, portanto, das diferentes causas
vam regularmente o entorno da Igreja da ca trama. Com o sequestro do ônibus, San- psicossociais do ato criminoso. Além disso,
Candelária, região central da cidade do Rio dro redefine o relato social no qual sempre foi muitos desses discursos, engendrados pelas
de Janeiro. Já na idade adulta, volta a fre- um mero coadjuvante ou mesmo um figuran- ideologias dominantes, culminam por imputar
quentar as instituições prisionais, conhecen- te raramente notado e passa a se configurar, culpa e criminalizar muitos daqueles indiví-
do bem o descaso e a pouca dignidade com agora, como o protagonista de um “novo” duos, grupos e comunidades que, mais do
que são tratados os que deveriam ali consti- enredo. que algozes, são, cotidianamente, vitimados
tuir uma subjetividade, supostamente, pouco A crônica de final anunciado caminha para pelas ações ou omissões do próprio Estado.
afeita aos atos infracionais. seu desfecho evidenciando, ainda, o comple- Isto possibilita-nos problematizar, por exem-
Do ponto de vista social, o percurso de to sucateamento das forças policiais brasilei- plo, por que comunidades paupérrimas são
Sandro do Nascimento, representa fidedigna- ras, em níveis materiais, de formação técnica frequentemente asfixiadas pela polícia, mas
mente a história de invisibilidade social a que ou mesmo no que tange à compreensão e não por outros braços do Estado, como infra-
muitos jovens e comunidades brasileiras têm respeito aos direitos humanos. Ao assistir- estrutura, saúde, educação e lazer. ■
sido sistematicamente submetidos. O Estado mos o documentário, fica notório, ainda, o
brasileiro, bastante atento e servil a determi- quanto o empenho dos profissionais da segu-
nados grupos e segmentos sociais, tem fre- rança pública é suplantado pela falta de equi-
quentemente abandonado diversas comuni- pamentos adequados e treinamentos especi- *Nelson Gomes Júnior é professor de
dades e classes sociais à própria sorte, lan- alizados, configurando grave limitação do Psicologia Jurídica e chefe do Departa-
çando mão, quando muito, do aparato policial Estado no trato e gerenciamento de situa- mento de Ciências Jurídicas da UFPB
como principal braço de relação institucional ções de crise. nelsonjunior77@gmail.com
CCJ em Ação ∙ Ano 1 ∙ Nº 5 Página 12

CHARGE

Breakfast Club (Clube dos Cinco)


Não creio que o sau-
doso John Hughes
(1950 – 2009), res-
ponsável pela direção
das comédias Sixteen
Candles (Gatinhas e
Gatões – 1984),
Weird Science
(Mulher Nota Mil –
1985) e Ferris Buller’s
Day (Curtindo a Vida
Adoidado – 1986),
dentre outras, tivesse
ideia da dimensão e
profundidade que
teria o filme Breakfast
Club (Clube dos Cin-
APOIO co – 1985), escrito e dirigido pelo referido cine-
asta norte-americano.
Não se trata de uma superficial comédia de
adolescentes problemáticos e sedentos por
sexo. É muito mais denso do que isso.
Regado ao som do clássico Don’t You For-
get About Me da banda Simple Minds e com
base em um pensamento filosófico do músico e
ator britânico David Bowie, bem voltado à temá-
tica central da obra, Breakfast Club aborda um
sábado na vida de 05 adolescentes do High
School, os quais apresentam estereótipos bem
distintos: um gênio, um atleta, uma louca, uma
princesa e um marginal. Essa era a imagem
que, inclusive, os próprios tinham deles mes-
mos.
Todos foram castigados, por faltas cometi-
das, a comparecer ao colégio e escrever uma
redação de, no mínimo, 1.000 palavras sobre o
que eles pensam de si próprios. Aos poucos,
com a convivência e partilha de seus dilemas
pessoais, os personagens passam a perceber
que são muito além do que aparentavam ser.
Entre qualidades, interesses e defeitos, apesar
da diversidade de trajes e ideais, percebe-se
que a disparidade outrora tão evidente não
retrata a realidade. Revelam-se humanos chei-
os de problemas como todos. Nesse sentido, os
pré-conceitos dão lugar à aceitação e isso faz
emergir uma identidade entre eles.
Com discretas referências às experiências
hodiernas da adolescência (sexo, drogas e
rock’n roll) retratadas em filmes análogos, John
Hughes mostra, com uma incomparável sensi-
bilidade, que apenas a própria pessoa sabe o
que ocorre com si e, por isso, não deve repudi-
ar determinadas atitudes de outros que, à pri-
meira vista, possam merecer alguma censura.
Ao revés, imprescindível a necessidade de
compreensão da carga psicossocial intrínseca a
cada indivíduo. Aprender com as diferenças
daqueles que nos cercam é bem mais sábio do
que tratar o próximo com intolerância.
Emocione-se com as excelentes atuações
de Molly Ringwald, Anthony Michael Hall, Emilio
Stevez, Judd Nelson e Ally Sheedy!
Avaliado no Site The Internet Movie Data
Base (IMDb) com a nota 7,9. Dou 10,0.

Carlos Nazareno é estudante de Licencia-


tura em Artes Visuais (UFPB)
carlos--nazareno@hotmail.com

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