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Poblematização
A pouco menos de 7 anos foi feito a reabilitação do CSM e do CISM, passando assim à
expansão de novos desafios na realização de diagnósticos laboratoriais e atendimento dos
utentes na àrea de saúde. A saúde materno-infantil passa a se disponibilizar de campanhas
anuias porta-em-porta com vista a fazer o acompanhamento e desenvolvimento das crianças,
passam a ser disponibilizados 2 a 3 horas para campanhas de sencibilização em matéria de
saúde dos utentes do CSM, bem como a chamada de atenção para os riscos que as crianças
correm ao injerir ʺervasʺ que não tenham sido receitados e nem avaliados por um agente de
saúde. Em contra partida, é assistida a propagação e cada vez mais a procura do tratamento
com base nas raízes e folhas, ou seja, tradicional, por parte de gestantes e que por sua vez levam
seus bebés depois que os concebem, para uma análise/consulta que garanta o crescimento e
bem-estar dos mesmos. No caso da gestante, nos primeiros meses a mulher é levada às casas
que fazem o tratamento tradicional para verem se ela como mãe terá alguma doença que possea
prejudicar seu bebé, os exames por estes feitos está mais ligado a prevenção de estrias
ʺmunhamaʺ que quando não tratadas tradicionalmente e com antecedência, pode causar o
surgimento de feridas nos ceios a chamada ʺcangachulaʺ, que por sua vez podem prejudicar na
amamentação dos bebés. Após o nascimento do bebé esta é levada a essses estabelecimentos
de atendimento tradicional com vista a ter sua primeira consulta e remédios que possam ajudar
no seu crescimento. A propagação à adezão desses tratamentos, não é feito por campanhas,
mas a corrida para esses tratamentos é cada vez mais notória, sendo visível a aderência de 9
em cada 10 pessoas nas consultas e tratamentos tradicionais.
Ao mesmo tempo que se fazem campanhas de saúde e bem-estar para adezão massiva nos
centros de saúde e amenizar o uso de tratamento tradicional na prevenção de doênças materno-
infantil, as casas de atendimento e tratamento de individuos com base nos medicamentos
tradicionais tem se alastrado e ganho mais espaço no distrito em causa, o que nos leva à seguinte
questão:
Que significado tem o uso de tratamento tradicional para o cuidado da saúde materno-
infantil por parte das mulheres no bairro de Cambeve distrito da Manhiça?
Revisão da Literatura:
Segundo Granjo 2009, o uso de tratamentos medicamentosos tradicionais não é bem vista por
parte dos biomédicos, Uma das principais razões de resistência, por parte dos biomédicos
moçambicanos, à inclusão dos tinyanga (“curandeiros”) em sistemas integrados de cuidados
de saúde é o facto de estes últimos fazerem derivar os seus poderes curativos da possessão por
espíritos, podendo, para além disso, manipular factores espirituais nos seus diagnósticos e
práticas curativas. Por outras palavras, se as recomendações da Organização Mundial de Saúde
compelem os médicos – e, mais ainda, o Ministério, de que quase sempre dependem, – a
equacionar a dignidade/eficácia dos saberes curativos “tradicionais” e dos seus praticantes, o
que acabam por equacionar não é um conjunto real e imbricado de práticas, de saberes, de
conceitos e de relações sociais, mas aqueles elementos que, abstractamente isolados desse
conjunto, mais se aproximam dos critérios e conceitos que se habituaram a reconhecer como
válidos.
Entender as práticas e o papel social dos tinyanga implica, antes de mais, que compreendamos
dois pontos de partida fundamentais do sistema de interpretação do infortúnio, da saúde e da
doença que é predominante entre a população moçambicana: por um lado, o acaso não existe,
nenhuma coincidência é casual e nenhum acontecimento indesejável (ou marcante, mesmo que
desejável) se limita a ser “natural”; por outro, a dicotomia entre corpo e mente não se aplica
neste sistema, que tão pouco reconhece a dicotomia entre saúde individual e contexto social.
Poderemos mesmo dizer que, em abstracto, nenhuma morte é concebida como “natural” e raras
doenças o são, por muito que se possam considerar naturais as suas razões materiais imediatas.
Este aparente paradoxo decorre do facto de, segundo este, sistema de interpretação, as doenças
e os acidentes não envolverem uma, mas antes duas diferentes lógicas e relações de
causalidade. Uma doença é, antes de mais, uma anomalia, uma ruptura da normalidade.
A saúde é vista como o estado natural e esperado da pessoa. Como estado natural que é, a sua
ruptura exige uma explicação. Mas, por natural que seja, a saúde não é isenta de condições; é
um estado harmónico que, para existir e se manter, requer a harmonia entre a pessoa e a sua
envolvente social e ecológica, incluindo os seus antepassados.
Segundo a The Partnership, em África todos anos morrem cerca de 1 milhão de recém-
nascidos. Desde as muitas gerações, em África, que se assistem a perdas de recém-nascidos, o
que tem vindo a consideram-se norma. Muitas dessas mortes especificamente ocorrem em casa,
e acabam por não ser contabilizadas.
Em muitas sociedades os bebés não são registados ou baptizados até atingirem as seis semanas
de vida e podem não ser apresentados a sociedade até atingirem uma determinada idade mais
avançada. Estas tradições significam que, quando um bebé morre, o luto da mãe e das famílias
é muitas vezes ocultado. Assim, estas tradições para o encobrimento da dimensão do problema
e ajudam a perpetuar uma aceitação resignada do nascimento como um período de morte e de
perigos, tanto para a mãe como para bebés.
As mortes dos recém-nascidos podem ser reduzidas se forem melhorados os cuidados de saúde
a prestar-lhes que já estão previstos nos registos dos programas de saúde materno-infantil
existente.
Para se afirmar que a morte de recem-sem nascidos esteja directamente ligada aos
tratamentos tradicionais, teriamos que primeiro, fazer um acompanhamento das crianças em
ambos tratamentos e o desenvolvimento das mesmas, ora, algumas crianças quando têm febres
ou convulsões, é chamada a atenção da mãe para que dê ao seu bebé o remédio da lua e isto
ajuda a recuperação do mesmo. Então, ao invez de se imputar responsabilidades, podia-se
criar estratégias de interação ou então uma extensão de ambos tratamentos com vista ao bem-
estar dos bebés.
Para a Unicef 2006, no relatório de Moçambique por estes disponibilizados, diz que muitos
curandeiros e mães não estão assim tão sensibilizados para os perigos da desnutrição.
Segundo Junod 1996, o cuidado para com as crianças parte antes mesmo da sua concepção,
isto porque há entre os tsongas (tribo por ele estudada﴿, vários princípios costumeiros a serem
seguidos e, no concernente ao cuidado com as crianças, este deve ser considerado desde o local
em que a mesma irá ser concedida até aos ritos da puberdade.
O cuidado para com as crianças, parte desde que a mulher indica sinais de quer dar a luz ou
seja, a partir do momento em que se espera um novo membro da família, quando a mãe começa
a sentir as dores do parto ʺkuphulunwaʺ, onde o pai manda avisar todas as parteiras vizinhas as
chamadas ʺmasungukatiʺ. No dia do nascimento ou um posterior a este, faz-se a escolha do
nome da criança, segundo alguns critérios de selecção dos nomes entre os tsongas. Para o bom
crescimentos das crianças, os tsongas julgam que o leite, so por si, não basta para fazer crescer
a criança: ʺnˊwana akula hi mirhiʺ- criança cresci devido aos remédios tal é o adágio adaptado
entre eles.
Olhos da criança revirar-se-iam, seria atacada de convulsões e morreria. Para Junod 1996, as
mulheres que traz o filho às costas normalmente, tem pendurado ao ʺnteheʺ, um pedaço de cana
ʺlihlangaʺ, contendo o pó com água que na verdade não se trata de água pura, mas uma tisana
chamada ʺmilombzanaʺ, diminutivo de ʺnomboʺ, que significa doença das crianças. O grande
ʺnomboʺ são as convulsões também chamadas tilo, céu, pois esta doença está misteriosamente
ligada à influência do céu.
O pequeno ʺnomboʺ é a diarreia infantil, de que sofrem tantas vezes as crianças. As duas
doenças são atribuídas a ʺnyokaʺ, o parasita intestinal, a lombriga ou serpente, ʺnyokaʺ significa
as duas, de que sofrem todas as crianças e que deve ser sempre combatido porque , se não fosse
dominado, passava dos intestinos, vinha interiormente na ʺmoleirinhaʺ e acabava por penetrar
no peito.
Junod 1996, diz haver efeitos por sinal bons nas ʺdrogasʺ ou ervas dadas as crianças para o
combate das doenças que as crianças têm enfrentado logo à nascença. Como o caso de
ʺdlanyokaʺ que é uma proteácea muito comum, de compridas silíquias, a que mata as
lombrigas; misturada as raizes de uma leguminosa chamada ʺnˊwamahlangaʺ e as outras duas
plantas que se dão perto do mar, obriga a lombriga a ficar quieta. Fervem-se estas drogas e a
decocção assim obtida é deitada cuidadosamente numa pequena panela especial chamada
ʺnhlembetwana ya milondzanaʺ, que se conserva na palhota. Todas as manhãs a mãe amornece
a panela, deita um pouco do conteúdo numa casca de massala e dá a beber um golo à criança
depois mete dois dedos na tisala e deita-lhe duas ou três gotas na moleirinha. Depois disto,
cospe na parte de baixo da casca e passa-a pelo corpo do bebé. Este ritual é repetido várias
vezes ao dia, no caso de a criança mostrar alguma fragilidade ou doença, e algumas vezes ao
dia no caso de esta desenvolver-se normalmente. Contudo, a mãe deve tomar consigo a mistura
das ervas sempre que for a sair com o bebé de modo a garantir que este tenha o remédio
regularmente, mesmo estando de viagem.
Junod fala do prossedimento todo feito para o tratamento tradicional das crianças e suas mães,
o mesmo trás-nos o desenrolar dos procedimentos feitos nos ao longo do desenvolvimento dos
indivíduos, no caso das crianças em particular, mas não fala do significado que o mesmo
procedimento tem para esses indivíduos, visto que o método de tratamento tradicional não é o
único a ser usado por essa comunidade, mas pode se dizer que seja a qui mais cativa os
mesmos.
Bibliografia
JUNOD, Henri: usos e costumes dos bantu; Arquivo Histórico de Moçambique. 1996
MSDNS, Politica nacional de saúde neonatal e infantil em Moçambique, 2006