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Ação Penal

Conceito

A ação penal consiste no direito de provocar o Estado na sua função jurisdicional para a
aplicação do direito penal objetivo em um caso concreto. É também o direito do Estado,
único titular do "jus puniendi", de satisfazer a sua pretensão punitiva.

A ação penal é um direito autônomo do autor de satisfazer sua pretensão; é também


um direito abstrato, já que independe do resultado final do processo; direito subjetivo
porque o titular do direito pode exigir do Estado-Juiz a prestação de sua função
jurisdicional; e direito público, pois a prestação jurisdicional a ser invocada é de
natureza pública.

Classificação

A ação penal será pública quando o titular do direito de ação for o próprio Estado que
visa à tutela dos interesses sociais e a manutenção da ordem pública. Neste caso, cabe
ao Ministério Público promover a ação independentemente da vontade de outrem
(ação penal exclusivamente pública). De acordo com o art. 100, do Código Penal: "A
ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido". Porém, há hipóteses em que o Ministério Público depende da manifestação
da vontade do ofendido ou de seu representante legal para exercer a sua atividade
jurisdicional, então, a ação penal será pública condicionada, conforme disposição do
art. 100, §1º do CP: "A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo,
quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da
Justiça".

Há ainda a ação penal privada que será promovida apenas pelo ofendido ou por seu
representante legal, de acordo com a oportunidade e conveniência que entender
cabíveis, já que a infração atinge imediata e profundamente o interesse da vítima, que
pode optar em preservar a sua intimidade e não propor a ação. Entretanto, na ação
penal pública incondicionada a infração atinge imediatamente a ordem social, cabendo
exclusivamente ao Ministério Público promover a ação, ao passo que, quando a ação
penal for condicionada dependerá o órgão jurisdicional da manifestação da vontade do
ofendido que foi atingido imediatamente pela infração para a propositura da ação.

Condições da ação

O direito de ação só poderá ser exercido se preenchidas as condições para tal, que são:
- Possibilidade jurídica do pedido: a pretensão do autor da ação deve versar sobre
providência admitida pelo direito objetivo. Sendo assim, é indispensável para a
propositura da ação que a causa de pedir constitua fato típico (previsto no
ordenamento jurídico como crime).
- Interesse de agir: a viabilidade da ação penal está também condicionada à sua
necessidade - que refere-se ao processo, meio fundamental para obtenção da
pretensão e imposição da pena (quando houver extinção da punibilidade, por exemplo,
não há mais necessidade da ação); utilidade - é inerente à eficácia da prestação
jurisdicional, que não estará presente no caso da prescrição retroativa, por exemplo (tal
entendimento não é totalmente pacífico); e adequação entre o pedido e o processo
penal condenatório.

- Legitimação para agir: a ação penal só poderá ser iniciada se proposta pela parte que
tenha o direito de punir. Assim, na ação penal exclusivamente pública, por exemplo,
somente o Ministério Público pode ocupar o pólo ativo da demanda. Além disso,
somente deve figurar no pólo passivo o provável autor da infração penal (suspeito).
Sendo assim, na ação privada o ofendido possui legitimação extraordinária, posto que
possui apenas o direito de acusar o suspeito, e não de puni-lo.

Assim, recebida a denúncia ou queixa, deve o juiz analisar se presentes tais condições já
que, na falta de algum destes requisitos, deverá declarar a inépcia da peça, rejeitando-
a. A carência da ação pode ser declarada a qualquer momento do processo, podendo
gerar, inclusive, a nulidade absoluta do mesmo (art. 564, do Código de Processo Penal).
Frisa-se que no processo penal há também condições específicas da ação, que são
aquelas já mencionadas anteriormente: representação do ofendido ou requisição do
Ministro da Justiça; entrada do agente em território nacional; autorização do Legislativo
para a instauração de processo contra o Presidente e Governadores por crimes comuns;
trânsito em julgado de sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o
casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento.
[1]

Ação penal pública incondicionada


Prevê o art. 129, inciso I, da Constituição Federal, que é função institucional do
Ministério Público promover, privativamente, a ação penal pública na forma da lei. A
única exceção a esta regra está prevista no art. 29 do CPP, que trata da possibilidade do
ofendido ou seu representante legal proporem ação penal privada subsidiária, nos
casos em que o Ministério Público não oferecer a denúncia dentro do prazo legal. Nesta
hipótese, poderá o Ministério Público aditar a queixa oferecida pelo ofendido, assim
como intervir em todos os termos do processo, fornece elementos de prova, interpor
recurso, e até retomar a ação como parte principal quando houver negligência do
querelante.

Princípios

- Obrigatoriedade: a propositura da ação penal, uma vez preenchidos os requisitos


legais, é obrigatória. Não pode, portanto, o Ministério Público recusar-se a dar início à
ação. Nos casos em que requerer o arquivamento do inquérito policial, por exemplo,
deverá justificar sua opção, que poderá ser negada pelo juiz (art. 28 do CPP). Comete
crime de prevaricação o Promotor de Justiça que deixar de oferecer denúncia para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal (artigo 319 do CP). Ressalta-se que há
possibilidade de transação oferecida pelo Ministério Público ao infrator nas hipóteses
de crimes de menor potencial ofensivo (art. 98, I da CF - há, portanto, mitigação do
princípio).

- Indisponibilidade: Uma vez iniciada a ação penal, não pode o Ministério Público dela
desistir (art. 42 do CPP). Exceção: tal princípio não é cabível nos casos de crime de
menor potencial ofensivo, em que o Ministério Público pode propor a suspensão
condicional da pena (art. 89 da Lei nº 9.099/95).

- Oficialidade: a persecução deve ser realizada e fiscalizada pelos órgãos oficiais, que
são públicos, tendo em vista que a pretensão punitiva só pode ser satisfeita mediante o
devido processo legal. Sendo assim, compete apenas ao órgão do Ministério Público o
exercício da ação penal. Porém, a investigação, por exemplo, fica a cargo da autoridade
policial. Além disso, a ação privada subsidiária da pública é exceção a tal princípio.
- Autoritariedade: somente as autoridades públicas são responsáveis pela persecução
penal (relacionado ao princípio da oficialidade).
- Oficiosidade: os encarregados devem agir de ofício para dar andamento da ação penal,
salvo no caso de ação penal pública condicionada.
- Indivisibilidade: a ação penal deve abranger todos aqueles que cometeram a ação
penal, sem exceção. Assim, não pode o Ministério Público escolher contra qual suspeito
vai intentar a ação, posto que todos suspeitos deverão figurar no pólo passivo
conjuntamente. O mesmo acontece na ação penal privada, de acordo com o art. 48 do
CPP: "A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade".

- Intranscendência: a ação penal será promovida somente contra a pessoa a quem se


imputa a prática da infração, não podendo englobar o responsável por eventual
indenização, por exemplo, como acontece em ordenamentos jurídicos de outros países.
- Suficiência da ação penal: mesmo que haja ação pendente na esfera cível, sobre o
reconhecimento da existência da infração penal, pode o juiz criminal dar
prosseguimento a ação, já que esta é suficiente para resolver questão prejudicial não
ligada ao estado de pessoas (art. 93 do CPP).

O início da ação penal pública dá-se pelo oferecimento da denúncia no prazo de cinco
dias para réu preso, e de quinze dias para réu solto, contados da data em que o
Ministério Público receber os autos do inquérito policial (art. 46 do CPP). Ademais, deve
a denúncia conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas (art. 41 do CPP).

Jurisdição
1. Introdução

O presente trabalho tem o escopo de demonstrar as linhas gerais de institutos imprescindíveis


ao processo penal brasileiro, quais sejam a jurisdição, a competência e os sujeitos processuais.
A análise desses institutos procede-se sistematicamente verificando como ordenamento
jurídico e a doutrina tratam os temas. Trata-se, assim, de uma análise dogmática e crítica.

Seguindo a ordem lógica de explanação dos temas faz-se inicialmente a conceituação da


jurisdição bem como seus princípios basilares, características e classificação.

Após, segue o estudo sobre a competência e seus temas principais, sempre com cautela de
expor o pensamento de autores reconhecidos no tratamento do tema.

E por fim, expõe-se o instituto dos sujeitos processuais, definindo e classificando, bem como
trazendo linhas gerais sobre cada um dos que compõe o processo penal.

Desse modo, busca-se de maneira clara e direta a conceituação de tais institutos, bem como
mostrar a importância de tais temas para a dogmática jurídica.

2. Jurisdição

2.1. Considerações Iniciais sobre jurisdição

A jurisdição pode ser entendida como uma função/poder/atividade do Estado que tem como
finalidade resolver os conflitos que acontecem na sociedade, substituindo os interessados na
decisão, para que possa enfim promover a pacificação da lide.

A palavra jurisdição tem origem latina em jurisdictio, ou seja, juris (direito) e dictio (dizer), ou
seja: função de dizer o direito.

É forma de resolução de conflitos por meio de um terceiro estranho a lide, formando a


chamada heterocomposição. Contrapõe-se aos conceitos de autotutela e a autocomposição,
em que as partes resolviam os conflitos, seja através da força física na autotutela, seja no
consenso ou cessão de direitos na autocomposição.

Com a evolução do pensamento humano, atribuiu-se ao Estado a função de dirimir os conflitos


que se manifestem no seio social agindo de maneira racional e imparcial, aplicando um
conjunto de normas jurídicas pré-existente decidindo de forma a se chegar à justiça.

A Jurisdição atualmente é atribuição primordial do Poder Judiciário, sendo regra que os


conflitos e lides existentes sejam submetidos sob seu julgo, contudo excepciona-se tal regra
quando a Constituição Federal (art. 52, I) estabelece que v. G. o Senado Federal possa
processar e julgar o Presidente da República quando se tratar de crimes de responsabilidade.

Segundo Nucci (2014, p. 224) tendo o Estado o monopólio da distribuição de justiça na esfera
penal, evita-se, os efeitos da autotutela, que pode tender a excessos de toda ordem, gerando
insegurança e revolta no seio social. Assim o Poder Judiciário ao exercer a jurisdição substitui
as partes na resolução de conflitos.

Jurisdição é assim, atividade do juiz que aplica o direito em processo regular mediante a
provocação de alguém que exerce o direito de ação.

2.2. Princípios que regem a jurisdição

A jurisdição, como instituto jurídico, possui vários princípios que visam delimitar sua
amplitude, ou até mesmo sua aplicabilidade, disciplinando-a com completude.
São eles: a) Principio do juiz natural: este princípio consiste que ninguém poderá ser
processado e julgado, senão por meio de quem tenha competência jurisdicional em regras
previamente determinada, e que não haverá juízo ou tribunal de exceção (art. 5.º, LIII, XXXVII
da CF); b) Princípio da investidura: para que a jurisdição possa ser imposta, faz necessário que
alguém tenha sido previamente investido no cargo de magistrado e que ainda esteja no
exercício de suas atribuições (art. 94, CF); c) Princípio da inércia: o magistrado depende da
iniciativa das partes, não podendo iniciar, ex officio, uma ação judicial. Este princípio tem
relação com a necessidade de justa composição da lide e de absoluta imparcialidade do juiz; d)
Princípio da indeclinabilidade: nenhum magistrado pode subtrair-se ao exercício da jurisdição
(art. 5.º, XXXV); e) Princípio da improrrogabilidade: salvo em situações excepcionais
expressamente previstas, um juiz não pode invadir a competência de outro; f) Princípio da
indelegabilidade: este princípio é consequência do juiz natural, impedindo que venha um juiz a
delegar sua jurisdição a órgão distinto; g) Princípio da irrecusabilidade: não podem as partes
recusar a atuação de determinado juiz, salvo nos casos de impedimento ou suspeição; h)
Princípio da unidade: a jurisdição é uma só, ou seja, exercida com a finalidade de aplicação do
direito objetivo ao caso concreto; i) Princípio da correlação: o juiz, ao proferir sentença, deverá
observar a exata correspondência entre sua decisão e o pedido incorporado à denúncia e à
queixa. Nula será a sentença citra, extra ou ultra petita, vale dizer, a que julgar aquém, for
além ou decidir fora dos limites atribuídos à prestação jurisdicional pelo acusador (art. 384,
CPP).

2.3. Características da jurisdição:

São três as características fundamentais que devem estar presentes na jurisdição para que
possa cumprir sua finalidade de aplicação do direito objetivo ao caso concreto e, desse modo,
obter a justa composição da lide. São elas a existência de órgão adequado, o contraditório e o
procedimento.

A característica do órgão adequado diz que a jurisdição deve ser exercida pelo juiz, autoridade
estatal, mas que é distinta dos órgãos que exercem as funções estatais de legislar e
administrar, de modo absolutamente imparcial em face dos interesses das partes.

O contraditório permite às partes a defesa de seus interesses em igualdade de condições,


facultando-se a cada um dos litigantes se insurgir aos argumentos do outro.

E o procedimento se refere a observância do modelo ou rito previsto em lei para a prática de


atos processuais.

2.4. Classificação da Jurisdição

A classificação da Jurisdição sempre é alvo de críticas e divergências na doutrina pátria, assim


adota-se aqui a classificação presente na obra de Noberto Avena (2014, p 686).

Para o autor se classifica a jurisdição em seis formas.

A primeira se refere quanto à graduação, que a jurisdição pode ser inferior, compreendendo
os órgãos de primeira instância; e superior, são as demais instâncias, as quais compete
primordialmente o julgamento de recursos interpostos.

No que se refere à matéria classifica-se quanto a natureza da causa a ser julgada, podendo ser
pena, civil, eleitoral, trabalho etc.
A classificação quanto à organização jurisdicional trata-se de divisão que decorre da matéria.
Neste caso, a jurisdição poderá ser estadual, quando exercida pelos juízes estaduais (Justiça
Comum); ou federal, se realizada por juízes federais (Justiça Federal). A estes últimos compete,
em primeira análise, julgar as causas de interesse da União.

Quanto ao objeto a jurisdição poderá ser contenciosa, se houver litígio; ou voluntária/graciosa,


caso tenha caráter apenas homologatório de vontade do interessado ou de acordo das partes.
Discute-se a existência desta última possibilidade no direito penal, predominando o
entendimento negativo.

Quanto à função divide-se a jurisdição em ordinária ou comum, integrada pelos órgãos da


Justiça Comum; e especial ou extraordinária, na hipótese de, por exceção, estar investido no
poder de julgar um outro órgão, como, por exemplo, o Senado, quando se trata do julgamento
dos crimes de responsabilidade contra o presidente da república.

3. Competência
3.1. Considerações sobre competência

Para autores mais clássicos a competência é a medida da jurisdição, que é distribuída entre os
vários magistrados, que compõem o todo que é o Poder Judiciário brasileiro.

Aqui já se sabe que a função de dizer o direito aplicável ao caso concreto é do Estado, a
competência destina-se a fornecer os elementos necessários à descoberta de qual órgão
integrante do Poder Judiciário é que estará apto (de acordo com as regras existentes) à
resolução da lide.

Fernando Capez (2014) aduz que a competência é a delimitação do poder jurisdicional. Assim
aponta quais casos serão julgados pelo respectivo órgão. Tornando-se assim verdadeira
medida de extensão do poder de julgar.

3.2. Competência absoluta e competência relativa

Costuma-se chamar de absoluta a hipótese de fixação de competência que não admite


prorrogação, isto é, o processo não pode “fugir” do juiz que fora originariamente designado
pela Constituição ou leis anteriores. Se enquadra no conceito de competência absoluta a que
for em razão da matéria e em razão da prerrogativa de função.

A competência relativa se dá quando admite prorrogação. Caso a incompetência do foro não


seja alegada no tempo adequado, considera-se competente o juízo que conduz o feito, sem ser
possível alegação posterior de nulidade. Nesse sentido se insere a competência territorial.

3.3. Delegação de competência:

A delegação de competência é a possibilidade de transferência da função jurisdicional de um


magistrado para outro, ocorrendo quando houver impossibilidade de atos serem realizados ou
praticados no foro originariamente competente.

Essa delegação ainda pode classificada em externa e interna. Sendo a externa quando os atos
são realizados em juízos diversos, como na expedição de cartas precatórias e a Interna ocorre
quando a delegação é realizada num mesmo juízo, como no caso de juízes substitutos.
3.4. A Competência regulada pela constituição Federal:

A competência é regulamentada pela Constituição Federal, Constituições Estaduais, pelas Leis


Complementares, Leis Ordinárias Federais (Código de Processo Penal) e Leis Ordinárias
estaduais.

A Constituição dividiu o poder de julgar entre os diversos órgãos que compõem o Poder
Judiciário considerando a natureza da lide, estabelecendo de um lado, as justiças especiais,
quais sejam: Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar (competente para o
julgamento dos crimes definidos pelo Código Penal Militar); de outro, a justiça comum que é
composta pelos Tribunais e Juízes dos Estados, Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; e
os juizados especiais federais ou estaduais.

A Constituição Federal, no seu artigo 109, fixou competência à Justiça Federal para processar e
julgar determinadas matérias, sendo a competência da Justiça Comum estadual, em regra,
fixada por exclusão; isto é, o que não for de competência das justiças especiais e da Justiça
Federal será de competência da Justiça Comum estadual.

O art. 69 do Código de Processo Penal estabelece sete critérios para a fixação da competência:
I. Lugar da infração; II. Domicílio ou residência do réu; III. Natureza da infração; IV.
Distribuição; V. Conexão ou continência; VI. Prevenção; VII. Prerrogativa de função.

Passa-se a seguir a esmiuçar algumas das hipóteses previstas na Lei Adjetiva Penal.

3.5. Critérios de determinação de competência

O primeiro critério que deve ser analisado na determinação da competência se refere ao lugar,
posto que no que diz respeito ao processo penal, devera ser o lugar onde ocorreu a infração
penal, já que será considerada a facilidade de coleta do material que for objeto do crime, para
a possível produção de provas que serão utilizadas no processo.

Assim, e de acordo com Nucci (2014, p. 227) o lugar da infração é, como regra, o foro
competente para ser julgada a causa, pois é o local onde a infração penal ocorreu, atingido o
resultado, perturbando a tranquilidade social e abalando a paz e o sossego da comunidade,
como previsto no art. 70 do Código de Processo Penal.

Como o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade quanto ao lugar no crime, definindo como
lugar o local da ação como o do resultado, conforme Eugênio Pacceli (2013, p. 287) também
entende, deve-se aceitar como foro competente ambos os lugares, isto é, o da ação, como o
do resultado, e claro quando a infração penal comportar essa divisão entre ação e resultado.
Havendo conflito, dirime-se pela prevenção, ou seja, torna-se competente o primeiro juiz que
conhecer do feito.

Subsidiariamente, quando não se tem certeza do lugar onde a infração se consumou, utiliza-se
a regra do domicílio ou residência do acusado. Desse modo, é o chamado foro supletivo ou
foro subsidiário.

Dá-se esse tipo de competência quando não se sabe o local da infração, e nos crimes de ação
penal privada, pode o ofendido usar da faculdade de demandar o agente no domicílio deste, o
que causa, dependendo das hipóteses, melhor comodidade em sua defesa.

A prevenção da competência pode ser identificada quando houver dois ou mais magistrados
que forem proporcionalmente competentes, para julgar a lide.
Será considerado o juiz prevento, aquele que tomar conhecimento da realizada infração penal
com antecedência de qualquer outro juiz que goze de igual competência, sendo ainda
imprescindível que determine alguma medida ou realize algum ato.

A competência ratione materiae, por sua vez, é estabelecida em razão da natureza do delito
cometido. Assim como a distribuição, este não é um critério de fixação de foro, tendo ele o
escopo encontrar o juízo, mais claramente o órgão a que compete o processo e julgamento da
infração.

O critério de competência em razão da matéria é regulado pelas leis de organização judiciária,


excetuada a competência privativa do Tribunal do Júri que, por determinação constitucional,
possui a competência de processar e julgar os crimes dolosos contra a vida. A competência do
Júri, além de ser ressalvada no artigo 74 do Código de Processo Penal, está estabelecida no
artigo 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal e jamais uma lei ordinária poderia alterá-la.

A prerrogativa de função também é fator determinante da competência penal. Como referido


anteriormente, esta é uma previsão de competência originária dos Órgãos Jurisdicionais
Superiores, a qual a estes órgãos compete o processo e julgamento de determinadas pessoas.
Esta competência denominada ratione personae, entretanto, não é uma competência
estabelecida em razão de uma certa pessoa, mas sim em função do cargo exercido por ela. O
foro especial é determinado em razão da importância da função que a pessoa desempenha.

4. Sujeitos Processuais

São sujeitos processuais penais os agentes públicos ou privados que reúnem em suas
atribuições, função processual destacada do universo da realidade processual.

O processo pressupõe ao menos a existência de três sujeitos, que segundo Fernando Capez
(2014, p. 173), são originariamente as partes da relação material e o Estado-Juiz, que, as
substituindo, aplica à vida o direito substancial.

Cada sujeito processual ou cada agente do processo opera uma certa atribuição que lhe é
peculiar e nesse sentido a categoria é genérica e comporta várias divisões.

Denise Neves Abade (2014, p. 215) complementa e diz que sujeitos processuais são aqueles
que interferem no processo de forma que de sua ação nascem direitos e obrigações naquela
relação jurídica processual, desse modo a autora expõe uma visão finalista do instituto,
enfocando nos efeitos que as ações dos sujeitos podem provocar no seio de um processo.

O Código de Processo Penal os regula ao longo dos arts. 251 a 281, impondo uma série de
direitos e obrigações para todos os envolvidos no processo. A doutrina costuma classifica-los
como em sujeitos processuais principais e sujeitos processuais acessórios.

Sujeitos processuais principais são aqueles imprescindíveis para a existência do processo. São
o juiz, o réu e o autor (o Ministério Público, nos casos de ação penal de iniciativa pública, ou o
ofendido, nos casos de ação penal de iniciativa privada).

Sujeitos processuais colaterais ou acessórios são os demais sujeitos elencados pelo Código de
Processo Penal, que não são fundamentais para a existência do processo, mas que nele
interferem em algum grau; são os assistentes de acusação e o terceiro interessado.

A doutrina baseada no ordenamento jurídico enumera um grande número de direitos e


obrigações para cada um dos sujeitos processuais.
O Juiz, ou mais propriamente o Estado-Juiz é o sujeito principal que deve ser imparcial por
excelência. A razão de estar o Estado-Juiz no processo reside na aplicação pacífica do direito
penal. Como não se vê a figura da autotutela no ordenamento jurídico brasileiro, o juiz coloca-
se como substituto da vontade das partes, dizendo no caso concreto, qual o direito material
aplicável. Goza de uma série de garantias para preservar sua condição de imparcialidade e
isenção de pré-julgamentos.

O Ministério Público é instituição com status constitucional, que o trata como essencial a
função jurisdicional do Estado. Assim na esfera penal, o Ministério Público é a instituição de
caráter público que representa o Estado-Administração, expondo ao Estado-Juiz a pretensão
punitiva. É o legitimado para propor a ação penal pública e nela prosseguir. Quanto não for
titular da ação atuará como fiscal da lei.

O acusado/réu é a pessoa em face de quem se deduz a pretensão punitiva, ou seja, é o sujeito


passivo da relação processual. Têm capacidade para estar em juízo quem estiver dentro do
conceito de imputável de acordo com o direito penal.

A figura do defensor ou advogado é inafastável e imprescindível ao exercício da ampla defesa


e demais garantias expostas na constituição federal. Sua presença deve se dar em todos os
atos do processo sob pena de nulidade e decorre da indisponibilidade do direito de defesa e da
necessidade de estar ele assessorado por pessoa dotada de capacitação técnica para tornar
efetivo o exercício desse direito.

O assistente de acusação terá lugar na ação penal pública, quando o titular é o ministério
público. O assistente, portanto, não é o advogado que atua no processo a fim de, patrocinando
os interesses da vítima, auxiliar o Ministério Público na função acusatória. Mas sim a própria
vítima, seu representante legal no caso de incapacidade ou seus parentes em caso de morte.
Só que nestes casos poderá ser constituído advogado para praticar tais atos.

5. Considerações Finais

Conforme demonstrado neste trabalho, a jurisdição se configura pelo poder-dever-atividade


do Estado que toma para si o encargo de intervir nas relações conflituosas entre particulares
desde que seja provocado por estas. Tal intervenção se dá de várias maneiras, seja na edição
de leis, no julgamento das lides e quaisquer outros meios que os órgãos jurisdicionais julguem
necessários para este fim.

Verificamos as características, os princípios e as espécies que regem a jurisdição e seus


desdobramentos nas relações processuais. Observamos que a jurisdição não pode incidir sobre
todos os tipos de demanda, logo, para que haja uma delimitação para a atuação dessa
jurisdição o legislador disciplinou regras sobre competência.

Passa-se à análise do instituto da competência conceituando-a como a qualidade legítima da


autoridade pública de apreciar e julgar um pleito ou questão dentro de uma determinada
divisão judiciária. Após, demonstra-se suas modalidades (absoluta/ relativa) e suas hipóteses
de modificação.

A seguir o alvo de estudos são os sujeitos processuais que são analisados de forma sucinta e
objetiva na qual fora exposto que são agentes públicos ou particulares que integram a relação
processual com o fim de resolução de uma lide.
Desta forma pode-se concluir pela relevância do estudo para uma real compreensão dos temas
aqui explorados, contribuindo para o aperfeiçoamento acadêmico/intelectual como também
meio de auxiliar na práxis jurídica.

Processos dos crimes de responsabilidade dos


funcionários públicos
Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento
competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou
justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.

Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz
mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do
prazo de quinze dias.

Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da
jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta
preliminar.

Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os
autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu
defensor.

Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com documentos e justificações.

Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido,


pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da
ação.

Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado, na forma estabelecida no
Capítulo I do Título X do Livro I.

Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos
Capítulos I e III, Título I, deste Livro.

Habeas Corpus
Conceito e legitimidade

A expressão "habeas corpus" significa apresente o corpo. Ele é uma garantia


constitucional que tutela a liberdade de locomoção do homem. Assim, o "habeas
corpus" é um remédio constitucional cabível sempre que alguém tiver sofrendo
constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir, ou quando estiver na iminência de
sofrer tal constrangimento. Preceitua o art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal
que, "conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
de poder".

Importante dizer que, o "habeas corpus" não é um recurso, embora o Código de


Processo Penal o enquadre como tal. Isso porque a utilização de recursos pressupõe
uma decisão não transitada em julgado, e o remédio constitucional em questão pode
ser impetrado a qualquer momento, ainda que esgotadas todas as instâncias. Além
disso ele pode ser impetrado tanto contra uma decisão judicial, quanto contra um ato
administrativo, bastando que haja a ameaça ou a violência ao direito de ir e vir de
determinada pessoa.
Portanto, dizemos que o "habeas corpus" é uma ação, ou melhor, uma ação penal
popular, já que pode ser impetrado por qualquer pessoa do povo. Para tanto, são
necessários a presença de todos os requisitos da ação penal, quais sejam, a
possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir, a legitimidade "ad causam" e a
justa causa.

O "habeas corpus", como mencionado anteriormente, pode ser impetrado por qualquer
pessoa, quer tenha ou não capacidade postulatória. Não há necessidade do beneficiário
outorgar procuração a quem redigir o remédio. Até mesmo o Ministério Público ou
qualquer pessoa jurídica podem impetrá-lo. Porém, cabe mencionar que o juiz não
poderá impetrar "habeas corpus" em decorrência de sua função, a não ser que seja o
paciente da ação. Nesse sentido, prevê o art. 654, § 2º do Código de Processo Penal que
"os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de 'habeas
corpus', quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na
iminência de sofrer coação ilegal".

No entanto, importante ressaltar que, quando o juiz verificar a ilegalidade de prisão em


flagrante, deverá imediatamente relaxá-la, mas tal providência não implicará em
concessão de "habeas corpus". Se o juiz conceder a ordem de ofício deverá submeter
sua decisão ao exame da instância superior, conforme estipula o art. 574, inciso I, do
CPP.

Competência

- Competência originária:
O Supremo Tribunal Federal será competente originariamente para julgar o "habeas
corpus" quando o paciente for o Presidente da República, o Vice-Presidente da
República, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o Procurador
Geral da República, os Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha, do Exército, e
da Aeronáutica; os membros dos Tribunais Superiores, do Tribunal de Contas da União
e os chefes de missão diplomática de caráter permanente, conforme preceitua o art.
102, I, "d" da CF. O STF também terá competência originária "quando o coator for
Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate
de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância" (art. 102, I, "i" da CF).
De acordo com o art. 105, I, "c" da CF, o "habeas corpus" deverá ser endereçado ao
Superior Tribunal de Justiça quando o paciente for Governador, Desembargador,
membros do Tribunal de Contas dos Estados e do Distrito Federal, membros dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, membros
dos Conselhos ou Tribunais de contas do Município ou membros do Ministério Público
da União que oficiem perante os Tribunais, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral. Será ainda competente originariamente o STJ "quando o coator for tribunal
sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou
da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral" (art. 105, I, "c" da CF).
O "habeas corpus" deverá ser impetrado ao Tribunal Regional Federal quando a
autoridade coatora for Juiz Federal, segundo estabelece o art. 108, I, "d" da CF. Por
outro lado, se a autoridade coatora for autoridade militar federal e se relacionar com
crime cujo processo seja da competência da justiça Militar Federal, o remédio
constitucional será impetrado perante o Superior Tribunal Militar.

Além disso, determina o art. 109, VII, da CF que "aos juízes federais compete processar
e julgar: (...) VII - os 'habeas-corpus', em matéria criminal de sua competência ou
quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição". O "habeas corpus" será impetrado no Tribunal Militar
Estadual quando a coação partir de qualquer autoridade militar estadual e se referir a
processo de competência da Justiça Militar Estadual. Na inexistência deste Tribunal, o
Tribunal de Justiça será competente para julgar a ação.

Salienta-se que, no estado de São Paulo, quando o constrangimento referir-se à prisão


civil, a competência será da Seção Civil do Tribunal de Justiça. Nos demais casos,
o writ será impetrada perante o Juiz de Direito. Ademais, segundo a Súmula 690, do
STF, compete a ele o julgamento de "habeas corpus" contra decisão de Turma Recursal
de Juizados Especiais Criminais.

- Competência recursal:
Se a ordem impetrada perante o juiz singular for denegada, o interessado poderá
interpor recurso em sentido estrito, conforme disposto no art. 581, X, do CPP (tal
recurso depende de capacidade postulatória); ou impetrar outro "habeas corpus"
diretamente no Tribunal competente. Já se a ordem for denegada por Juiz Eleitoral, o
interessado poderá apenas interpor o recurso em sentido estrito, com fundamento no
art. 581, X, do CPP (art, 364 do Código Eleitoral). Entretanto, se a denegação partir do
Tribunal Regional Eleitoral, poderá ser interposto recurso ordinário-eleitoral, no prazo
de três dias, para o Tribunal Superior Eleitoral, com fulcro no art. 276, II, "b" e § 1º do
Código Eleitoral; cabendo também ao interessado impetrar outro writ no TSE.

Frisa-se que, quando o Tribunal competente houver denegado a concessão da ordem


requerida através de recurso, ou quando a ordem for negada diretamente, entende-se
que o interessado poderá substituir o recurso ordinário pelo "habeas corpus", que será
impetrado no STJ ou STF, conforme o caso.

Em contrapartida, na Justiça Militar todos os "habeas corpus" serão interpostos nos


órgãos de 2º grau. Se o pedido for denegado caberá recurso ordinário constitucional ao
STJ, se a denegação partir do Tribunal Estadual; ou ao STF, se denegada a ordem pelo
STM.

"Habeas corpus" preventivo e liberatório

O "habeas corpus" preventivo é aquele impetrado quando existe uma ameaça ao


direito de ir e vir de uma pessoa. Por outro lado, o "habeas corpus" liberatório é
utilizado quando a pessoa já sofreu violação ao seu direito de locomoção. Quando o
"habeas corpus" preventivo for concedido será expedido salvo-conduto, que visa
impedir a prisão ou detenção pelos motivos que ensejaram a impetração do remédio.

Assim, tal remédio extraordinário é cabível quando houver constrangimento ilegal ao


direito de locomoção das pessoas, por violência ou coação, ou ainda quando houver
iminência desse constrangimento.

De acordo com o art. 648, do Código de Processo Penal, a coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa: em sentido estrito, não haverá justa causa quando o
fato imputado ao agente não estiver previsto em lei, ou quando houver alguma
excludente de ilicitude ou excludente de culpabilidade e escusa absolutória. Assim, não
haverá justa causa quando a lei não prever sanção para o ato ou quando o fato não
preencher os requisitos determinados pela lei;

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei: tal dispositivo
refere-se aos casos de prisão provisória (prisão em flagrante, preventiva e temporária).
Ultrapassado o prazo para a realização dos atos processuais, por se tratar de prisão
cautelar, considera-se que há coação ilegal em decorrência do excesso de lapso
temporal, cabendo assim a concessão do writ .

Prazos: para inquérito policial: 10 dias para réu preso e 30 dias para réu solto
(prorrogável). A Lei de Tráfico de Entorpecentes determina que o prazo para o término
do inquérito será de 30 dias, estando o indiciado preso, ou de 90 dias, caso esteja solto,
podendo esse prazo ser duplicado pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante
pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. A prisão temporária poderá durar
no máximo 05 dias, prorrogáveis por mais 05; e quando se tratar de crimes hediondos o
prazo estende para 30 dias, que também poderão ser prorrogados por igual período;

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo: tal inciso
refere-se somente às hipóteses de prisão temporária e preventiva decretadas durante o
inquérito policial, já que se decretadas durante o processo por juiz incompetente
haverá nulidade "ab initio" do processo, e o "habeas corpus" será impetrado com
fundamento no inciso VI deste artigo. Importante dizer que, em relação à prisão em
flagrante não há o que se falar em incompetência, já que é decretada pela autoridade
policial, que não é dotada de competência;

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação: quando desaparecer o


motivo que ensejou a prisão, a sua manutenção torna-se ilegal;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza:
os crimes afiançáveis são aqueles cuja pena mínima não ultrapassa dois anos. Caberá
"habeas corpus" também quando a fiança for arbitrada com valor excessivamente
elevado;

VI - quando o processo for manifestamente nulo: quando houver irregularidades no


processo penal haverá constrangimento ao réu, já que, segundo a Carta Magna,
"ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal"
(art. 5º, LIV). As hipóteses de nulidades encontram-se no rol do art. 564, do CPP;

VII - quando extinta a punibilidade: quando o Estado perde o seu direito de punir, a
imposição de sanção penal torna-se ilegal. As causas extintivas da punibilidade estão
previstas no art. 107, do Código Penal (rol não taxativo).

Peculiaridades

Impetrada o "habeas corpus" poderá o Tribunal ou juiz solicitar informações sobre a


coação. Obtidas as informações o remédio deverá ser apreciado em 24 horas. Na
primeira instância o Ministério Público não se manifesta sobre o writ, porém na
segunda instância o Procurador deve se manifestar no prazo de dois dias.

A petição do "habeas corpus" deverá conter: "o nome da pessoa que sofre ou está
ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou
ameaça; a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça
de coação, as razões em que funda o seu temor; a assinatura do impetrante, ou de
alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das
respectivas residências" (art. 654, § 1º do CPP). Assim, como ocorre no mandado de
segurança, é possível a concessão de liminar no "habeas corpus", de modo a garantir a
eficácia do direito à liberdade do homem.

Vale dizer que a concessão da ordem a um dos impetrantes estende-se aos demais que
estejam na mesma situação, conforme analogia ao art. 580 do CPP. Além disso, o
pedido de "habeas corpus" poderá ser reiterado em 1º ou 2º grau, no STJ ou STF, desde
que baseado em novos documentos ou argumentos.

De acordo com o art. 650, § 1º, do CPP, "não cabe ohabeas corpus contra a prisão
administrativa, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à
Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu recolhimento nos prazos legais,
salvo se o pedido for acompanhado de prova de quitação ou de depósito do alcance
verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal".

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa;


II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;

VI - quando o processo for manifestamente nulo;

VII - quando extinta a punibilidade.

Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdição, fará passar imediatamente a
ordem impetrada, nos casos em que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.

Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de habeas corpus:

I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art. 101, I, g, da Constituição;

II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência ou coação forem atribuídos aos
governadores ou interventores dos Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou
a seus secretários, ou aos chefes de Polícia.

§ 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de autoridade


judiciária de igual ou superior jurisdição.

§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual ou iminente, dos
responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em
fazer o seu recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de prova de
quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal.

Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que
este não esteja em conflito com os fundamentos daquela.

Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será
renovado.

Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será condenada nas
custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.

Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópia das peças necessárias
para ser promovida a responsabilidade da autoridade.

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de
outrem, bem como pelo Ministério Público.

§ 1o A petição de habeas corpus conterá:

a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem
exercer a violência, coação ou ameaça;

b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as


razões em que funda o seu temor;

c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder
escrever, e a designação das respectivas residências.
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus,
quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal.

Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o oficial de justiça ou a autoridade


judiciária ou policial que embaraçar ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus,
as informações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do paciente, ou a sua
soltura, será multado na quantia de duzentos mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das
penas em que incorrer. As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas
corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em que caberá ao Supremo
Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apelação impor as multas.

Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o
paciente, mandará que este Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.

Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido mandado de prisão contra o


detentor, que será processado na forma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja
tirado da prisão e apresentado em juízo.

Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a sua apresentação, salvo:

I - grave enfermidade do paciente;

Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a detenção;

III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal.

Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se encontrar, se este não puder
ser apresentado por motivo de doença.

Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente estiver preso.

Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal, julgará
prejudicado o pedido.

Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá,


fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por outro
motivo dever ser mantido na prisão.

§ 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da coação, o juiz


ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente o constrangimento.

§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar fiança, o
juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à
autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial ou aos do
processo judicial.

§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação
ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz.

§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão ou
tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do processo.
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal
que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas
as formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou por via postal.

Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de Apelação, a petição de habeas


corpus será apresentada ao secretário, que a enviará imediatamente ao presidente do
tribunal, ou da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro tiver de reunir-
se.

Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o presidente, se necessário,
requisitará da autoridade indicada como coatora informações por escrito. Faltando, porém,
qualquer daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for apresentada
a petição.

Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que
o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara
ou turma, para que delibere a respeito.

Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na primeira
sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte.

Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o
presidente não tiver tomado parte na votação, proferirá voto de desempate; no caso
contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.

Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assinada pelo presidente do tribunal,
câmara ou turma, será dirigida, por ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou
autoridade que exercer ou ameaçar exercer o constrangimento.

Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedecerá ao disposto no art. 289,
parágrafo único, in fine.

Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabelecerão as normas complementares


para o processo e julgamento do pedido de habeas corpus de sua competência originária.

Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de competência originária do Supremo


Tribunal Federal, bem como nos de recurso das decisões de última ou única instância,
denegatórias de habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, o disposto nos artigos
anteriores, devendo o regimento interno do tribunal estabelecer as regras complementares.

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