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Conceito
A ação penal consiste no direito de provocar o Estado na sua função jurisdicional para a
aplicação do direito penal objetivo em um caso concreto. É também o direito do Estado,
único titular do "jus puniendi", de satisfazer a sua pretensão punitiva.
Classificação
A ação penal será pública quando o titular do direito de ação for o próprio Estado que
visa à tutela dos interesses sociais e a manutenção da ordem pública. Neste caso, cabe
ao Ministério Público promover a ação independentemente da vontade de outrem
(ação penal exclusivamente pública). De acordo com o art. 100, do Código Penal: "A
ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido". Porém, há hipóteses em que o Ministério Público depende da manifestação
da vontade do ofendido ou de seu representante legal para exercer a sua atividade
jurisdicional, então, a ação penal será pública condicionada, conforme disposição do
art. 100, §1º do CP: "A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo,
quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da
Justiça".
Há ainda a ação penal privada que será promovida apenas pelo ofendido ou por seu
representante legal, de acordo com a oportunidade e conveniência que entender
cabíveis, já que a infração atinge imediata e profundamente o interesse da vítima, que
pode optar em preservar a sua intimidade e não propor a ação. Entretanto, na ação
penal pública incondicionada a infração atinge imediatamente a ordem social, cabendo
exclusivamente ao Ministério Público promover a ação, ao passo que, quando a ação
penal for condicionada dependerá o órgão jurisdicional da manifestação da vontade do
ofendido que foi atingido imediatamente pela infração para a propositura da ação.
Condições da ação
O direito de ação só poderá ser exercido se preenchidas as condições para tal, que são:
- Possibilidade jurídica do pedido: a pretensão do autor da ação deve versar sobre
providência admitida pelo direito objetivo. Sendo assim, é indispensável para a
propositura da ação que a causa de pedir constitua fato típico (previsto no
ordenamento jurídico como crime).
- Interesse de agir: a viabilidade da ação penal está também condicionada à sua
necessidade - que refere-se ao processo, meio fundamental para obtenção da
pretensão e imposição da pena (quando houver extinção da punibilidade, por exemplo,
não há mais necessidade da ação); utilidade - é inerente à eficácia da prestação
jurisdicional, que não estará presente no caso da prescrição retroativa, por exemplo (tal
entendimento não é totalmente pacífico); e adequação entre o pedido e o processo
penal condenatório.
- Legitimação para agir: a ação penal só poderá ser iniciada se proposta pela parte que
tenha o direito de punir. Assim, na ação penal exclusivamente pública, por exemplo,
somente o Ministério Público pode ocupar o pólo ativo da demanda. Além disso,
somente deve figurar no pólo passivo o provável autor da infração penal (suspeito).
Sendo assim, na ação privada o ofendido possui legitimação extraordinária, posto que
possui apenas o direito de acusar o suspeito, e não de puni-lo.
Assim, recebida a denúncia ou queixa, deve o juiz analisar se presentes tais condições já
que, na falta de algum destes requisitos, deverá declarar a inépcia da peça, rejeitando-
a. A carência da ação pode ser declarada a qualquer momento do processo, podendo
gerar, inclusive, a nulidade absoluta do mesmo (art. 564, do Código de Processo Penal).
Frisa-se que no processo penal há também condições específicas da ação, que são
aquelas já mencionadas anteriormente: representação do ofendido ou requisição do
Ministro da Justiça; entrada do agente em território nacional; autorização do Legislativo
para a instauração de processo contra o Presidente e Governadores por crimes comuns;
trânsito em julgado de sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o
casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento.
[1]
Princípios
- Indisponibilidade: Uma vez iniciada a ação penal, não pode o Ministério Público dela
desistir (art. 42 do CPP). Exceção: tal princípio não é cabível nos casos de crime de
menor potencial ofensivo, em que o Ministério Público pode propor a suspensão
condicional da pena (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
- Oficialidade: a persecução deve ser realizada e fiscalizada pelos órgãos oficiais, que
são públicos, tendo em vista que a pretensão punitiva só pode ser satisfeita mediante o
devido processo legal. Sendo assim, compete apenas ao órgão do Ministério Público o
exercício da ação penal. Porém, a investigação, por exemplo, fica a cargo da autoridade
policial. Além disso, a ação privada subsidiária da pública é exceção a tal princípio.
- Autoritariedade: somente as autoridades públicas são responsáveis pela persecução
penal (relacionado ao princípio da oficialidade).
- Oficiosidade: os encarregados devem agir de ofício para dar andamento da ação penal,
salvo no caso de ação penal pública condicionada.
- Indivisibilidade: a ação penal deve abranger todos aqueles que cometeram a ação
penal, sem exceção. Assim, não pode o Ministério Público escolher contra qual suspeito
vai intentar a ação, posto que todos suspeitos deverão figurar no pólo passivo
conjuntamente. O mesmo acontece na ação penal privada, de acordo com o art. 48 do
CPP: "A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade".
O início da ação penal pública dá-se pelo oferecimento da denúncia no prazo de cinco
dias para réu preso, e de quinze dias para réu solto, contados da data em que o
Ministério Público receber os autos do inquérito policial (art. 46 do CPP). Ademais, deve
a denúncia conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas (art. 41 do CPP).
Jurisdição
1. Introdução
Após, segue o estudo sobre a competência e seus temas principais, sempre com cautela de
expor o pensamento de autores reconhecidos no tratamento do tema.
E por fim, expõe-se o instituto dos sujeitos processuais, definindo e classificando, bem como
trazendo linhas gerais sobre cada um dos que compõe o processo penal.
Desse modo, busca-se de maneira clara e direta a conceituação de tais institutos, bem como
mostrar a importância de tais temas para a dogmática jurídica.
2. Jurisdição
A jurisdição pode ser entendida como uma função/poder/atividade do Estado que tem como
finalidade resolver os conflitos que acontecem na sociedade, substituindo os interessados na
decisão, para que possa enfim promover a pacificação da lide.
A palavra jurisdição tem origem latina em jurisdictio, ou seja, juris (direito) e dictio (dizer), ou
seja: função de dizer o direito.
Segundo Nucci (2014, p. 224) tendo o Estado o monopólio da distribuição de justiça na esfera
penal, evita-se, os efeitos da autotutela, que pode tender a excessos de toda ordem, gerando
insegurança e revolta no seio social. Assim o Poder Judiciário ao exercer a jurisdição substitui
as partes na resolução de conflitos.
Jurisdição é assim, atividade do juiz que aplica o direito em processo regular mediante a
provocação de alguém que exerce o direito de ação.
A jurisdição, como instituto jurídico, possui vários princípios que visam delimitar sua
amplitude, ou até mesmo sua aplicabilidade, disciplinando-a com completude.
São eles: a) Principio do juiz natural: este princípio consiste que ninguém poderá ser
processado e julgado, senão por meio de quem tenha competência jurisdicional em regras
previamente determinada, e que não haverá juízo ou tribunal de exceção (art. 5.º, LIII, XXXVII
da CF); b) Princípio da investidura: para que a jurisdição possa ser imposta, faz necessário que
alguém tenha sido previamente investido no cargo de magistrado e que ainda esteja no
exercício de suas atribuições (art. 94, CF); c) Princípio da inércia: o magistrado depende da
iniciativa das partes, não podendo iniciar, ex officio, uma ação judicial. Este princípio tem
relação com a necessidade de justa composição da lide e de absoluta imparcialidade do juiz; d)
Princípio da indeclinabilidade: nenhum magistrado pode subtrair-se ao exercício da jurisdição
(art. 5.º, XXXV); e) Princípio da improrrogabilidade: salvo em situações excepcionais
expressamente previstas, um juiz não pode invadir a competência de outro; f) Princípio da
indelegabilidade: este princípio é consequência do juiz natural, impedindo que venha um juiz a
delegar sua jurisdição a órgão distinto; g) Princípio da irrecusabilidade: não podem as partes
recusar a atuação de determinado juiz, salvo nos casos de impedimento ou suspeição; h)
Princípio da unidade: a jurisdição é uma só, ou seja, exercida com a finalidade de aplicação do
direito objetivo ao caso concreto; i) Princípio da correlação: o juiz, ao proferir sentença, deverá
observar a exata correspondência entre sua decisão e o pedido incorporado à denúncia e à
queixa. Nula será a sentença citra, extra ou ultra petita, vale dizer, a que julgar aquém, for
além ou decidir fora dos limites atribuídos à prestação jurisdicional pelo acusador (art. 384,
CPP).
São três as características fundamentais que devem estar presentes na jurisdição para que
possa cumprir sua finalidade de aplicação do direito objetivo ao caso concreto e, desse modo,
obter a justa composição da lide. São elas a existência de órgão adequado, o contraditório e o
procedimento.
A característica do órgão adequado diz que a jurisdição deve ser exercida pelo juiz, autoridade
estatal, mas que é distinta dos órgãos que exercem as funções estatais de legislar e
administrar, de modo absolutamente imparcial em face dos interesses das partes.
A primeira se refere quanto à graduação, que a jurisdição pode ser inferior, compreendendo
os órgãos de primeira instância; e superior, são as demais instâncias, as quais compete
primordialmente o julgamento de recursos interpostos.
No que se refere à matéria classifica-se quanto a natureza da causa a ser julgada, podendo ser
pena, civil, eleitoral, trabalho etc.
A classificação quanto à organização jurisdicional trata-se de divisão que decorre da matéria.
Neste caso, a jurisdição poderá ser estadual, quando exercida pelos juízes estaduais (Justiça
Comum); ou federal, se realizada por juízes federais (Justiça Federal). A estes últimos compete,
em primeira análise, julgar as causas de interesse da União.
3. Competência
3.1. Considerações sobre competência
Para autores mais clássicos a competência é a medida da jurisdição, que é distribuída entre os
vários magistrados, que compõem o todo que é o Poder Judiciário brasileiro.
Aqui já se sabe que a função de dizer o direito aplicável ao caso concreto é do Estado, a
competência destina-se a fornecer os elementos necessários à descoberta de qual órgão
integrante do Poder Judiciário é que estará apto (de acordo com as regras existentes) à
resolução da lide.
Fernando Capez (2014) aduz que a competência é a delimitação do poder jurisdicional. Assim
aponta quais casos serão julgados pelo respectivo órgão. Tornando-se assim verdadeira
medida de extensão do poder de julgar.
Essa delegação ainda pode classificada em externa e interna. Sendo a externa quando os atos
são realizados em juízos diversos, como na expedição de cartas precatórias e a Interna ocorre
quando a delegação é realizada num mesmo juízo, como no caso de juízes substitutos.
3.4. A Competência regulada pela constituição Federal:
A Constituição dividiu o poder de julgar entre os diversos órgãos que compõem o Poder
Judiciário considerando a natureza da lide, estabelecendo de um lado, as justiças especiais,
quais sejam: Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar (competente para o
julgamento dos crimes definidos pelo Código Penal Militar); de outro, a justiça comum que é
composta pelos Tribunais e Juízes dos Estados, Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; e
os juizados especiais federais ou estaduais.
A Constituição Federal, no seu artigo 109, fixou competência à Justiça Federal para processar e
julgar determinadas matérias, sendo a competência da Justiça Comum estadual, em regra,
fixada por exclusão; isto é, o que não for de competência das justiças especiais e da Justiça
Federal será de competência da Justiça Comum estadual.
O art. 69 do Código de Processo Penal estabelece sete critérios para a fixação da competência:
I. Lugar da infração; II. Domicílio ou residência do réu; III. Natureza da infração; IV.
Distribuição; V. Conexão ou continência; VI. Prevenção; VII. Prerrogativa de função.
Passa-se a seguir a esmiuçar algumas das hipóteses previstas na Lei Adjetiva Penal.
O primeiro critério que deve ser analisado na determinação da competência se refere ao lugar,
posto que no que diz respeito ao processo penal, devera ser o lugar onde ocorreu a infração
penal, já que será considerada a facilidade de coleta do material que for objeto do crime, para
a possível produção de provas que serão utilizadas no processo.
Assim, e de acordo com Nucci (2014, p. 227) o lugar da infração é, como regra, o foro
competente para ser julgada a causa, pois é o local onde a infração penal ocorreu, atingido o
resultado, perturbando a tranquilidade social e abalando a paz e o sossego da comunidade,
como previsto no art. 70 do Código de Processo Penal.
Como o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade quanto ao lugar no crime, definindo como
lugar o local da ação como o do resultado, conforme Eugênio Pacceli (2013, p. 287) também
entende, deve-se aceitar como foro competente ambos os lugares, isto é, o da ação, como o
do resultado, e claro quando a infração penal comportar essa divisão entre ação e resultado.
Havendo conflito, dirime-se pela prevenção, ou seja, torna-se competente o primeiro juiz que
conhecer do feito.
Subsidiariamente, quando não se tem certeza do lugar onde a infração se consumou, utiliza-se
a regra do domicílio ou residência do acusado. Desse modo, é o chamado foro supletivo ou
foro subsidiário.
Dá-se esse tipo de competência quando não se sabe o local da infração, e nos crimes de ação
penal privada, pode o ofendido usar da faculdade de demandar o agente no domicílio deste, o
que causa, dependendo das hipóteses, melhor comodidade em sua defesa.
A prevenção da competência pode ser identificada quando houver dois ou mais magistrados
que forem proporcionalmente competentes, para julgar a lide.
Será considerado o juiz prevento, aquele que tomar conhecimento da realizada infração penal
com antecedência de qualquer outro juiz que goze de igual competência, sendo ainda
imprescindível que determine alguma medida ou realize algum ato.
A competência ratione materiae, por sua vez, é estabelecida em razão da natureza do delito
cometido. Assim como a distribuição, este não é um critério de fixação de foro, tendo ele o
escopo encontrar o juízo, mais claramente o órgão a que compete o processo e julgamento da
infração.
4. Sujeitos Processuais
São sujeitos processuais penais os agentes públicos ou privados que reúnem em suas
atribuições, função processual destacada do universo da realidade processual.
O processo pressupõe ao menos a existência de três sujeitos, que segundo Fernando Capez
(2014, p. 173), são originariamente as partes da relação material e o Estado-Juiz, que, as
substituindo, aplica à vida o direito substancial.
Cada sujeito processual ou cada agente do processo opera uma certa atribuição que lhe é
peculiar e nesse sentido a categoria é genérica e comporta várias divisões.
Denise Neves Abade (2014, p. 215) complementa e diz que sujeitos processuais são aqueles
que interferem no processo de forma que de sua ação nascem direitos e obrigações naquela
relação jurídica processual, desse modo a autora expõe uma visão finalista do instituto,
enfocando nos efeitos que as ações dos sujeitos podem provocar no seio de um processo.
O Código de Processo Penal os regula ao longo dos arts. 251 a 281, impondo uma série de
direitos e obrigações para todos os envolvidos no processo. A doutrina costuma classifica-los
como em sujeitos processuais principais e sujeitos processuais acessórios.
Sujeitos processuais principais são aqueles imprescindíveis para a existência do processo. São
o juiz, o réu e o autor (o Ministério Público, nos casos de ação penal de iniciativa pública, ou o
ofendido, nos casos de ação penal de iniciativa privada).
Sujeitos processuais colaterais ou acessórios são os demais sujeitos elencados pelo Código de
Processo Penal, que não são fundamentais para a existência do processo, mas que nele
interferem em algum grau; são os assistentes de acusação e o terceiro interessado.
O Ministério Público é instituição com status constitucional, que o trata como essencial a
função jurisdicional do Estado. Assim na esfera penal, o Ministério Público é a instituição de
caráter público que representa o Estado-Administração, expondo ao Estado-Juiz a pretensão
punitiva. É o legitimado para propor a ação penal pública e nela prosseguir. Quanto não for
titular da ação atuará como fiscal da lei.
O assistente de acusação terá lugar na ação penal pública, quando o titular é o ministério
público. O assistente, portanto, não é o advogado que atua no processo a fim de, patrocinando
os interesses da vítima, auxiliar o Ministério Público na função acusatória. Mas sim a própria
vítima, seu representante legal no caso de incapacidade ou seus parentes em caso de morte.
Só que nestes casos poderá ser constituído advogado para praticar tais atos.
5. Considerações Finais
A seguir o alvo de estudos são os sujeitos processuais que são analisados de forma sucinta e
objetiva na qual fora exposto que são agentes públicos ou particulares que integram a relação
processual com o fim de resolução de uma lide.
Desta forma pode-se concluir pela relevância do estudo para uma real compreensão dos temas
aqui explorados, contribuindo para o aperfeiçoamento acadêmico/intelectual como também
meio de auxiliar na práxis jurídica.
Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz
mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do
prazo de quinze dias.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da
jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta
preliminar.
Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os
autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu
defensor.
Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado, na forma estabelecida no
Capítulo I do Título X do Livro I.
Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos
Capítulos I e III, Título I, deste Livro.
Habeas Corpus
Conceito e legitimidade
O "habeas corpus", como mencionado anteriormente, pode ser impetrado por qualquer
pessoa, quer tenha ou não capacidade postulatória. Não há necessidade do beneficiário
outorgar procuração a quem redigir o remédio. Até mesmo o Ministério Público ou
qualquer pessoa jurídica podem impetrá-lo. Porém, cabe mencionar que o juiz não
poderá impetrar "habeas corpus" em decorrência de sua função, a não ser que seja o
paciente da ação. Nesse sentido, prevê o art. 654, § 2º do Código de Processo Penal que
"os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de 'habeas
corpus', quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na
iminência de sofrer coação ilegal".
Competência
- Competência originária:
O Supremo Tribunal Federal será competente originariamente para julgar o "habeas
corpus" quando o paciente for o Presidente da República, o Vice-Presidente da
República, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o Procurador
Geral da República, os Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha, do Exército, e
da Aeronáutica; os membros dos Tribunais Superiores, do Tribunal de Contas da União
e os chefes de missão diplomática de caráter permanente, conforme preceitua o art.
102, I, "d" da CF. O STF também terá competência originária "quando o coator for
Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate
de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância" (art. 102, I, "i" da CF).
De acordo com o art. 105, I, "c" da CF, o "habeas corpus" deverá ser endereçado ao
Superior Tribunal de Justiça quando o paciente for Governador, Desembargador,
membros do Tribunal de Contas dos Estados e do Distrito Federal, membros dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, membros
dos Conselhos ou Tribunais de contas do Município ou membros do Ministério Público
da União que oficiem perante os Tribunais, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral. Será ainda competente originariamente o STJ "quando o coator for tribunal
sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou
da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral" (art. 105, I, "c" da CF).
O "habeas corpus" deverá ser impetrado ao Tribunal Regional Federal quando a
autoridade coatora for Juiz Federal, segundo estabelece o art. 108, I, "d" da CF. Por
outro lado, se a autoridade coatora for autoridade militar federal e se relacionar com
crime cujo processo seja da competência da justiça Militar Federal, o remédio
constitucional será impetrado perante o Superior Tribunal Militar.
Além disso, determina o art. 109, VII, da CF que "aos juízes federais compete processar
e julgar: (...) VII - os 'habeas-corpus', em matéria criminal de sua competência ou
quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição". O "habeas corpus" será impetrado no Tribunal Militar
Estadual quando a coação partir de qualquer autoridade militar estadual e se referir a
processo de competência da Justiça Militar Estadual. Na inexistência deste Tribunal, o
Tribunal de Justiça será competente para julgar a ação.
- Competência recursal:
Se a ordem impetrada perante o juiz singular for denegada, o interessado poderá
interpor recurso em sentido estrito, conforme disposto no art. 581, X, do CPP (tal
recurso depende de capacidade postulatória); ou impetrar outro "habeas corpus"
diretamente no Tribunal competente. Já se a ordem for denegada por Juiz Eleitoral, o
interessado poderá apenas interpor o recurso em sentido estrito, com fundamento no
art. 581, X, do CPP (art, 364 do Código Eleitoral). Entretanto, se a denegação partir do
Tribunal Regional Eleitoral, poderá ser interposto recurso ordinário-eleitoral, no prazo
de três dias, para o Tribunal Superior Eleitoral, com fulcro no art. 276, II, "b" e § 1º do
Código Eleitoral; cabendo também ao interessado impetrar outro writ no TSE.
De acordo com o art. 648, do Código de Processo Penal, a coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa: em sentido estrito, não haverá justa causa quando o
fato imputado ao agente não estiver previsto em lei, ou quando houver alguma
excludente de ilicitude ou excludente de culpabilidade e escusa absolutória. Assim, não
haverá justa causa quando a lei não prever sanção para o ato ou quando o fato não
preencher os requisitos determinados pela lei;
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei: tal dispositivo
refere-se aos casos de prisão provisória (prisão em flagrante, preventiva e temporária).
Ultrapassado o prazo para a realização dos atos processuais, por se tratar de prisão
cautelar, considera-se que há coação ilegal em decorrência do excesso de lapso
temporal, cabendo assim a concessão do writ .
Prazos: para inquérito policial: 10 dias para réu preso e 30 dias para réu solto
(prorrogável). A Lei de Tráfico de Entorpecentes determina que o prazo para o término
do inquérito será de 30 dias, estando o indiciado preso, ou de 90 dias, caso esteja solto,
podendo esse prazo ser duplicado pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante
pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. A prisão temporária poderá durar
no máximo 05 dias, prorrogáveis por mais 05; e quando se tratar de crimes hediondos o
prazo estende para 30 dias, que também poderão ser prorrogados por igual período;
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo: tal inciso
refere-se somente às hipóteses de prisão temporária e preventiva decretadas durante o
inquérito policial, já que se decretadas durante o processo por juiz incompetente
haverá nulidade "ab initio" do processo, e o "habeas corpus" será impetrado com
fundamento no inciso VI deste artigo. Importante dizer que, em relação à prisão em
flagrante não há o que se falar em incompetência, já que é decretada pela autoridade
policial, que não é dotada de competência;
VII - quando extinta a punibilidade: quando o Estado perde o seu direito de punir, a
imposição de sanção penal torna-se ilegal. As causas extintivas da punibilidade estão
previstas no art. 107, do Código Penal (rol não taxativo).
Peculiaridades
A petição do "habeas corpus" deverá conter: "o nome da pessoa que sofre ou está
ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou
ameaça; a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça
de coação, as razões em que funda o seu temor; a assinatura do impetrante, ou de
alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das
respectivas residências" (art. 654, § 1º do CPP). Assim, como ocorre no mandado de
segurança, é possível a concessão de liminar no "habeas corpus", de modo a garantir a
eficácia do direito à liberdade do homem.
Vale dizer que a concessão da ordem a um dos impetrantes estende-se aos demais que
estejam na mesma situação, conforme analogia ao art. 580 do CPP. Além disso, o
pedido de "habeas corpus" poderá ser reiterado em 1º ou 2º grau, no STJ ou STF, desde
que baseado em novos documentos ou argumentos.
De acordo com o art. 650, § 1º, do CPP, "não cabe ohabeas corpus contra a prisão
administrativa, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à
Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu recolhimento nos prazos legais,
salvo se o pedido for acompanhado de prova de quitação ou de depósito do alcance
verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal".
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdição, fará passar imediatamente a
ordem impetrada, nos casos em que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.
II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência ou coação forem atribuídos aos
governadores ou interventores dos Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou
a seus secretários, ou aos chefes de Polícia.
§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual ou iminente, dos
responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em
fazer o seu recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de prova de
quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal.
Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que
este não esteja em conflito com os fundamentos daquela.
Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será
renovado.
Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será condenada nas
custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópia das peças necessárias
para ser promovida a responsabilidade da autoridade.
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de
outrem, bem como pelo Ministério Público.
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem
exercer a violência, coação ou ameaça;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder
escrever, e a designação das respectivas residências.
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus,
quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal.
Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o
paciente, mandará que este Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.
Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a sua apresentação, salvo:
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal.
Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se encontrar, se este não puder
ser apresentado por motivo de doença.
Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal, julgará
prejudicado o pedido.
§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por outro
motivo dever ser mantido na prisão.
§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar fiança, o
juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à
autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial ou aos do
processo judicial.
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação
ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz.
§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão ou
tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do processo.
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal
que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas
as formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou por via postal.
Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o presidente, se necessário,
requisitará da autoridade indicada como coatora informações por escrito. Faltando, porém,
qualquer daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for apresentada
a petição.
Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que
o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara
ou turma, para que delibere a respeito.
Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na primeira
sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte.
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o
presidente não tiver tomado parte na votação, proferirá voto de desempate; no caso
contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.
Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assinada pelo presidente do tribunal,
câmara ou turma, será dirigida, por ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou
autoridade que exercer ou ameaçar exercer o constrangimento.
Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedecerá ao disposto no art. 289,
parágrafo único, in fine.