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Artigo de Revisão

Hipercoagulabilidade e câncer de pulmão*


Hypercoagulability and lung cancer

Felipe Costa de Andrade Marinho1, Teresa Yae Takagaki2

Resumo
A relação entre câncer e alteração na coagulação já havia sido sugerida há quase 150 anos por Trousseau e, subseqüentemente, ficou claro
o maior risco que os pacientes oncológicos têm de desenvolverem fenômenos tromboembólicos. Isto pode ser conseqüência da ativação do
sistema de coagulação pelas células neoplásicas ou pelas terapias empregadas (quimioterapias e cirurgias). Tais fenômenos podem, ainda, ser
a primeira manifestação do câncer e a sua recorrência, mesmo com anticoagulação adequada, foi descrita. O sistema de coagulação é ativado,
normalmente, com finalidade reparativa. Na presença de neoplasias, este complexo sistema está atuante frente a variados estímulos e parece
contribuir para a progressão tumoral. Este efeito é mais importante para os focos metastáticos que para o próprio tumor primário. Contudo,
a maior parte das vítimas de neoplasias morre das complicações das metástases, revelando a importância deste tema. Nesta área, vários
mecanismos já são conhecidos e geram interessantes perspectivas para tratamentos futuros. Atualmente, o sucesso obtido com as heparinas
de baixo peso molecular no carcinoma de pequenas células de pulmão é animador. Embora o conhecimento sobre esses mecanismos sejam
relativamente recentes, os campos de pesquisa e tratamento estão amplamente abertos.
Descritores: Neoplasias pulmonares; Trombofilia.

Abstract
The relationship between cancer and coagulopathy was suggested by Trousseau nearly 150 years ago. Later, it became more evident that
oncologic patients are at a higher risk of experiencing thromboembolic events. This can be due to activation of the coagulation system
either by neoplastic cells or by prescribed therapies (chemotherapy or surgical procedures). In fact, these events can constitute the first
manifestation of cancer, and their recurrence, despite efficient anticoagulation, has been described. The coagulation system is normally
activated in order to provide healing. In the presence of neoplasms, this complex system is activated as a response to multiple stimuli and
seems to contribute to cancer progression. Activation of the coagulation system has a greater effect on metastatic foci than on the primary
tumor. However, most cancer victims die from complications caused by metastasis, which underscores the importance of this theme. In
this area, various mechanisms have been described, creating promising perspectives for future treatments. The current success in using
low-molecular-weight heparins against small cell lung cancer is encouraging. Although the knowledge of those mechanisms is relatively
incipient, many basic research and clinical studies are underway.
Keywords: Lung neoplasms; Thrombophilia.

Introdução
O câncer de pulmão é o tumor com maior impacto em da doença pode sugerir novas terapias ou facilitar o enten-
mortalidade, e ainda em ascenção, no mundo inteiro.(1,2) No dimento do insucesso de outras. Neste contexto, a relação
Brasil, o câncer de pulmão é responsável por 12% das mortes destas células doentes com os tecidos sãos e seus sistemas
por câncer nos últimos 30 anos.(1) Apesar do problema cres- surge como área promissora, talvez sem a pretensão de
cente, seu tratamento pouco evoluiu desde a consagração definir a cura para uma doença que depende de múltiplas
dos esquemas baseados em platina na década de 1980. As variáveis, mas com a perspectiva de melhorar o controle
curvas de sobrevida parecem não mudar significativamente local ou da disseminação das neoplasias.
apesar de novos quimioterápicos, terapias-alvo, radio- A relação entre câncer e alteração na coagulação já
terapia conformacional, adjuvância e neo-adjuvância. O havia sido sugerida há quase 150 anos por Trousseau(3);
maior conhecimento sobre a patogenia e a patofisiologia posteriormente, ficou claro o maior risco que os pacientes

* Trabalho realizado no Serviço de Pneumologia, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
1. Médico Residente da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
2. Supervisora da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
Endereço para correspondência: Felipe Costa de Andrade Marinho. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44, bloco II, 5º andar, sala 01, CEP 05403-000, São Paulo,
SP, Brasil.
Tel 11 3069-6366. E-mail: fca.marinho@gmail.com
Recebido para publicação em 29/11/2007. Aprovado, após revisão, em 7/1/2008.

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oncológicos têm de desenvolverem fenômenos promoveram um melhor entendimento sobre o


tromboembólicos. Isto pode ser conseqüência da assunto e revelaram a ativação direta ou indireta
ativação do sistema de coagulação pelas células da cascata de coagulação por substâncias liberadas
neoplásicas ou pelas terapias empregadas (quimio- pelas células oncológicas (Figura 1).
terapias e cirurgias). Tais fenômenos podem, ainda,
ser a primeira manifestação do câncer e a sua recor- Anormalidades na coagulação
rência, mesmo com anticoagulação adequada, já foi Mais de 50% dos pacientes com neoplasia e
descrita.(4) 90% daqueles que possuem metástases têm alte-
No entanto, estes fenômenos são efeitos para- ração na coagulação. Com a ativação do sistema de
neoplásicos, representando apenas a parte visível coagulação, com geração de trombina, formação e
deste binômio. Os conhecimentos atuais nos revelam deposição de fibrina nos vasos sangüíneos, gera-se
que as células tumorais podem utilizar estes meca- um processo de coagulação intravascular dissemi-
nismos para promover a progressão da doença e nada (CID), parcialmente controlado pelo sistema
garantir o sucesso do clone. fibrinolítico.
O sucesso obtido, principalmente com as hepa- Níveis elevados de fibrinopeptídeo A (frag-
rinas de baixo peso molecular no carcinoma de mento do fibrinogênio quando quebrado pela
pequenas células de pulmão, é animador, embora trombina), fragmentos de trombina e complexos
o conhecimento sobre esses mecanismos sejam trombina-antitrombina são observados na grande
relativamente recentes e os campos de pesquisa e maioria dos pacientes com câncer. Geralmente as
tratamento estejam amplamente abertos. alterações laboratoriais mais encontradas são o alar-
gamento discreto do tempo de protrombina e do
Patogênese
O sistema de coagulação é fundamental para FT
PC/ATIII
a homeostase. Evita a perda sangüínea, inicia a
PAI-1 uPA/tPA PAI-1 IL-1/TNF-A VEGF
cicatrização e o remodelamento tecidual, além
de orquestrar a proliferação, migração, síntese
e secreção celulares. Em células normais, este Modulação da
anticoagulação Citocinas TU
complexo sistema é ativado secundariamente a
diversas agressões químicas ou físicas e duas vias
principais são acionadas. A primeira pela ação de Célula tumoral
substâncias pró-coagulantes (como o fator tecidual) Fatores Interação
e a segunda através da expressão de urokinase-type pró-coagulantes celular
plasminogen activator e tissue-type plasminogen Moléculas de
activator (uPA e tPA, respectivamente, ativador do FT Pró-coagulante adesão Ativação
plasminogênio tipos uroquinase e tecidual) que, oncológico plaquetas/
Ativação PMN/
ativando o plasminogênio, coordena a proliferação endotélio macrófago
celular e o remodelamento tecidual.(5)
A patogênese da interação das células neoplá-
sicas com o sistema de coagulação é complexa e
não totalmente esclarecida, mas é caracterizada Figura 1 - Mecanismos pró-trombóticos da célula tumoral.
por um desequilíbrio entre fatores pró-coagulantes PAI-1: plasminogen activator inhibitor 1 (inibidor de
e ­anticoagulantes. De forma geral, a resposta do ativação do plasminogênio tipo 1); PC: proteína C; ATIII:
hospedeiro à neoplasia apresenta-se com inflamação, antitrombina III; uPA: urokinase-type plasminogen
produção de paraproteínas, necrose e desordens activator (ativador do plasminogênio tipo uroquinase);
tPA: tissue-type plasminogen activator (ativador do
hemodinâmicas como fatores implicados. Fatores
plasminogênio tipo tecidual); FT: fator tecidual; VEGF:
externos a este sistema, como quimioterapias, cirur- vascular endothelial growth factor (fator de crescimento
gias e cateteres centrais, também contribuem para endotelial vascular); IL-1: interleucina-1; TNF-α: tumor
gerar o estado pró-trombótico. Ademais, recentes necrosis factor alpha (fator de necrose tumoral alfa);
avanços bioquímicos na biologia molecular e celular TU: tumorais; PMN: polimorfonucleares.

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tempo de tromboplastina parcial, assim como níveis mama, rim, cólon, vagina e tumores hematológicos.
aumentados de produtos de degradação da fibrina, Ele pode ativar o fator X independentemente do
incluindo o dímero D. Isto demonstra uma atividade fator VII e, apesar de não ser encontrado em células
aumentada do sistema fibrinolítico. Além disso, os normais, seu uso não ficou claro como marcador
níveis de fibrinogênio também se mostram elevados tumoral ou como indicativo de desenvolvimento de
refletindo um estado de CID compensado. Cerca de tromboses. Exceção se faz à leucemia pró-mielo-
30% dos pacientes ainda têm aumentos na plaque- cítica, na qual sua presença em blastos é preditor
tometria e na atividade plaquetária. de transformação maligna e também de resposta ao
A inibição da fibrinólise, seja por diminuição das ácido trans-retinóico.(6)
proteases fibrinolíticas (uPA, tPA), seja por aumento A mucina produzida por carcinomas é outro
dos seus fatores inibidores, tais como plasminogen agente pró-coagulante potente que pode ativar
activator inhibitor 1 (PAI-1, inibidor de ativação do a protrombina em trombina diretamente, quando
plasminogênio tipo 1), já foi reportada em diversos lançada na circulação.(6)
tipos tumorais.(6) Contudo, alguns tipos de malig-
nidade, como a leucemia promielocítica e alguns Modulação do sistema fibrinolítico/
casos de neoplasia de próstata disseminada, ativam anticoagulante
exageradamente o sistema fibrinolítico, via uPA e
tPA, gerando quadros graves de sangramentos. A trombose pode ser gerada também por
Algumas alterações laboratoriais podem ser inibição do sistema anticoagulante ou do sistema
bastante sensíveis para a detecção de muitas dessas fibrinolítico endógenos. Os ativadores de plas-
anormalidades, todavia sem estabelecer uma clara minogênio fazem com que o plasminogênio seja
relação entre o risco de trombose e a indicação de transformado em plasmina e esta lisa a fibrina
anticoagulantes a longo prazo.(7) formada no processo de coagulação. O PAI-1, prin-
cipal inibidor desta via, é geralmente produzido por
Mecanismos pró-trombóticos das células plaquetas e pelo endotélio, porém pode ser produ-
malignas zido por algumas células tumorais. Adicionalmente,
a angiostatina, produto do plasminogênio, inibiria a
angiogênese, evitando a progressão tumoral. Desta
Fatores pró-coagulantes maneira, a produção tumoral de fatores inibidores
As células tumorais produzem fatores pró-­ do sistema fibrinolítico (PAI-1, por exemplo) tem
coagulantes; os mais estudados e implicados são o papel na hipercoagulabilidade e pode contribuir
fator tecidual e o pró-coagulante oncológico.(6-8) para a angiogênese tumoral.(6)
O fator tecidual forma um complexo com o fator As células tumorais podem ainda expressar
VII, a fim de ativar os fatores X e XI da cascata proteínas reguladoras do sistema fibrinolítico, como
de coagulação, sendo seu principal ativador. A via o uPA, tPA e seus receptores.(5,9) A modulação desta
final deste processo é a transformação da protrom- via interfere no remodelamento tecidual e na proli-
bina em trombina. Normalmente, o fator tecidual feração tecidual.
(5)

não é expresso por células endoteliais saudáveis mas A proteína C (PC) e a antitrombina III (ATIII)
pode ser induzido por estímulo inflamatório - como são os principais fatores do sistema anticoagulante.
por citocinas, como o fator de necrose tumoral alfa A PC é ativada através da ligação da trombina com
e a interleucina-1 beta. Já em células malignas, a trombomodulina, um co-fator de membrana da
(7)

ele é expresso constitutivamente, como em alguns PC, e interage com a cascata de coagulação através
linfomas, leucemias e adenocarcinomas. Monócitos da inibição dos fatores Va, VIIIa e PAI-1. A ATIII
e macrófagos também podem ser ativados através inibe proteases da coagulação, incluindo a trom-
dos receptores nas células tumorais e passam a bina, e outros fatores como o Xa. Os níveis séricos
expressar fator tecidual.(6) da PC e ATIII estão diminuídos na CID decorrente
O pró-coagulante oncológico é uma protease de neoplasia, bem como sua produção hepática em
dependente da vitamina K encontrada em extratos de doença metastática. Entretanto, e infelizmente, seus
alguns tipos de neoplasias: sarcoma, neuroblastoma níveis não se correlacionam com o desenvolvimento
e melanomas, assim como em tumores de pulmão, de fenômenos trombóticos.(6)

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Ativação celular plaquetas e leucócitos, o que promove a ativação


local da coagulação e a formação de fibrina.
As plaquetas são particularmente afetadas na
presença de neoplasias: até 30% dos pacientes Interação celular
apresentam aumentos na plaquetometria e 11%
apresentam diminuição.(10) Também já foi demons- As células tumorais, direta ou indiretamente,
trado que as plaquetas agregam-se in vitro na ativam monócitos, que expressam o fator tecidual
presença de células neoplásicas e ocorre plaqueto- nas suas membranas. Leucócitos polimorfonucle-
penia quando da infusão dessas células in vivo.(11) ares também são ativados, liberando proteases e
radicais reativos de oxigênio. É mais um mecanismo
A ativação de plaquetas pode ser mediada tanto
de lesão e ativação das células endoteliais, promo-
diretamente pelo contato célula-célula, quanto
vendo o estado de hipercoagulabilidade.(7)
por liberação de alguns fatores como adenosina
A indução de moléculas de adesão em células
difosfato, trombina, outras proteases ou interleu-
endoteliais, leucócitos e plaquetas fornece o subs-
cinas. Plaquetas ativadas têm maior poder adesivo
trato para a interação destas com as células tumorais.
e interagem com outras células como leucócitos,
Tal fato ganha importância, principalmente, na
células endoteliais ou células tumorais.(12). Êmbolos
disseminação hematogênica da doença.
tumorais usualmente são envoltos em uma rede de
As células tumorais ligadas ao endotélio geram
fibrina e plaquetas que contribuem para a adesão
ativação da coagulação local com formação de
endotelial. Esse trombo tumoral, uma vez aderido trombo, adesão e ativação de plaquetas e leucócitos
ao endotélio, leva à lesão e, conseqüente, à libe- (por meio de citocinas liberadas), conseguindo atra-
ração do fator de permeabilidade vascular, além de vessar a parede dos vasos. A formação do trombo
perda da inibição da agregação plaquetária, anti­ permite todo esse processo e os leucócitos ajudam
coagulação e vasodilatação locais.(6) na invasão da parede vascular (Figura 2).(7)
A resposta fisiológica, mediada por macrófagos
e células T ativadas por antígenos tumorais e subs-
tâncias pró-coagulantes lançadas na circulação,
gera a liberação de potentes mediadores inflamató-
rios, como a interleucina-1 beta e fator de necrose
tumoral alfa.(6) Estas citocinas podem induzir a
Ativação endotelial
expressão de fator tecidual (inclusive no endotélio,
Ativação da
em macrófagos e células tumorais), ativar plaquetas coagulação
e diminuir a trombomodulina (e, por consequência, Ativação de leucócitos
a via anticoagulante da PC).(6,7) Finalmente, a via
do PAI-1 é estimulada e a via da PC, inibida. Todas
estas modificações contribuem para a promoção da
coagulação, em detrimento dos sistemas anticoagu-
lante e fibrinolítico.(6) Hemáceas Célula endotelial Fibrina
Outra citocina derivada destas células, vascular Célula tumoral Polimorfonuclear Plaqueta
endothelial growth factor (VEGF, fator de cres-
cimento endotelial vascular), pode ser produzida
por células malignas, mas também aumenta em Figura 2 - Interações da célula tumoral no leito vascular.
decorrência de estímulo do fator tecidual e, retroa- Células tumorais aderidas ao endotélio vascular e ativando
limentando o sistema, também o induz nas células plaquetas, leucócitos polimorfonucleares e o próprio
endoteliais de permeio. Isto sugere a participação do endotélio. Plaquetas e polimorfonucleares ativados liberam
fatores de crescimento e assistem a migração das células
fator tecidual na neovascularização do tumor.(6,7)
tumorais através do endotélio. A ativação endotelial inicia
Além de promoverem alterações na balança a cascata de coagulação, juntamente com os fatores
trombose-anticoagulação, tais citocinas aumentam pró-trombóticos liberados pelo tumor, promovendo
a expressão de moléculas de adesão nas células um estado de hipercoagulabilidade e recrutando mais
endoteliais, facilitando a interação e a adesão de plaquetas e polimorfonucleares.

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Progressão tumoral estes tumores podem dividir vias comuns, como


interações com plaquetas, dependência de fatores
Diversos braços desse sistema contribuem para de crescimento e vias de neovascularização. Isto
a progressão da doença neoplásica, conforme visto faz com que muitos pacientes possam beneficiar-se
acima. A interação celular, a indução de moléculas dos efeitos das drogas anticoagulantes.(5) No grande
de adesão, a neovascularização, interleucinas e a braço do sistema fibrinolítico, o inibidor PAI-1 esti-
ativação celular (incluindo células de defesa como mula a angiogênese, regulando a proteólise mediada
macrófagos e leucócitos polimorfonucleares) são por plasmina.(14) Além disso, diversas enzimas prote-
todos pontos de potencial auxílio para a progressão olíticas como colagenases, metaloproteinases e
da neoplasia. proteases, incluindo a plasmina, estão envolvidas na
A ativação da cascata da coagulação culmina invasão tumoral,(14) pois são fundamentais na quebra
na geração de trombina e conseqüente formação da membrana basal e da matriz extracelular. Neste
de fibrina. Estas duas substâncias têm efeitos que campo, matrix metalloproteinase 2 (MMP-2, meta-
auxiliam no crescimento e disseminação neoplá- loproteinase de matriz 2) e matrix metalloproteinase
sicos.(7) A fibrina especialmente tem capacidade para 9 (MMP-9, metaloproteinase de matriz 9) têm um
modular a expressão do VEGF nas células neoplá- papel de destaque e também agem na liberação de
sicas e também no endotélio normal. Esse efeito fatores de crescimento locais e na modulação de
é particularmente importante para a formação de moléculas de superfície.(15,16) A expressão da MMP-9
novos vasos sangüíneos (Figura 3).(13) em adenocarcinomas em estágio inicial tem valor
Os diferentes tumores têm respostas também prognóstico.(17)
diferentes quanto ao mecanismo de ativação do Todavia, determinar a real importância desse
sistema de coagulação, alguns via fator tecidual e sistema in situ não é tão simples como as dosagens
outros via sistema fibrinolítico (uPA). No entanto, séricas ou as reações enzimáticas que podem ser

Efeitos diretos da trombina e fibrina Angiogênese estimulada por FT e VEGF

FT
Trombina

Ativação da TNF-A
VEGF
coagulação fibrina
TGF-B
Fibrina

IL-8
PAR2 VEGF FT

Proliferação/ Angiogênese
angiogênese

Figura 3 - Papel da coagulação na angiogênese. A ativação da coagulação pode gerar neovascularização direta
ou indiretamente. A trombina pode atuar direta (via o protease-activated receptor 2 – PAR-2, receptor de protease
ativável tipo 2) ou indiretamente na angiogênese (através da fibrina). Esta fibrina induz o vascular endothelial growth
factor (VEGF, fator de crescimento endotelial vascular) no endotélio e nas células tumorais, além de secreção de
interleucina-8 (IL-8) pelas células endoteliais (interleucina angiogênica). Já o fator tecidual (FT) gera expressão de
VEGF na célula tumoral ou pode ser induzido no endotélio pela ação de citocinas tumorais ou pela ação do próprio
VEGF (retroalimentação positiva). Todos estes mecanismos são importantes na angiogênese tumoral. TNF-α: fator de
necrose tumoral alfa; TGF-β: fator de crescimento transformante beta.

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realizadas no plasma. Sondas de imunohistoquímica Cateteres venosos centrais


contra fator Xa e trombina, além de anticorpos
monoclonais contra o complexo trombina-antitrom- Cateteres de longa duração são valiosos no
bina ou fibrina (fibrinogênio ativo por clivagem da manejo dos pacientes com neoplasias, porém estão
trombina), são metodologias factíveis em estudos. associados a um risco maior de trombose venosa em
Técnicas similares podem detectar ativação da via membros superiores. Sem o uso de profilaxia, o risco
uPA.(5,14) Estas técnicas experimentais podem definir, desta complicação pode chegar a incríveis 37%.(24)
nos diversos tipos tumorais, quais são as vias da No entanto, dados discrepantes com menores inci-
coagulação inicialmente implicadas.(18) dências são encontrados atualmente. Isto se deve,
provavelmente, a cateteres mais modernos e ao desen-
Condições associadas volvimento de procedimentos menos invasivos.(7)

Efeito dos anticoagulantes no câncer


Imobilização
Estudos com drogas anticoagulantes demons-
A imobilização é um dos maiores fatores de risco
tram o aumento da sobrevida de pacientes com
neste grupo de doentes, especialmente durante
neoplasia, especialmente no subgrupo câncer de
internações prolongadas. Em uma série de autóp-
pulmão. Isto fomenta a crença da participação
sias, embolia pulmonar foi encontrada em até 14% da coagulação na progressão desta doença.(5)
dos óbitos hospitalares de indivíduos com câncer, Uma metanálise, publicada em 2000, dos estudos
em contraste aos 8% no grupo sem neoplasia.(19) comparando heparina de baixo peso molecular
(HBPM) e heparina não fracionada (HNF) para o
Quimioterapia
tratamento de trombose venosa profunda revelou
O uso de agentes citotóxicos pode ter poder uma tendência de melhor sobrevida para HBPM. A
trombogênico por múltiplos mecanismos, sendo que análise de subgrupos em 5 de 9 trabalhos revelou
a lesão endotelial direta e a liberação de produtos que os pacientes com neoplasia foram os responsá-
pró-coagulantes e citocinas por lise celular são os veis por esta tendência.(25)
principais. Doentes que receberam 5-fluoracil em As drogas anticoagulantes têm efeitos diretos
associação ou não com cisplatina apresentaram sobre os produtos da ativação do sistema, a trom-
queda dos níveis de proteína S e PC, assim como bina e a fibrina. Estas duas substâncias estão
aumento do PAI-1.(6,20) Em um estudo retrospectivo aumentadas por conseqüência direta ou indireta do
com pacientes submetidos à quimioterapia, a taxa tumor e, em contrapartida, estimulam o seu cresci-
de complicações tromboembólicas nos primeiros mento. A simples quebra deste círculo já explica o
3  meses foi inesperadamente alta, gerando uma potencial benéfico destas drogas. A trombina é uma
taxa anual de 11%.(21) protease com potente capacidade angiogênica nas
células endoteliais e também atua como fator de
Cirurgia e radioterapia crescimento para as células tumorais. Já a fibrina
induz a expressão endotelial de fator tecidual e da
A incidência de trombose venosa profunda em interleucina-8, que têm propriedades angiogênicas.
pacientes submetidos à cirurgia sem tromboprofi- A fibrina também serve de matriz para a migração
laxia é duas vezes maior no grupo com neoplasias das células neoplásicas para fora da circulação e
que no grupo livre desta doença.(22) Ela ainda é maior serve como pano-de-fundo para a confecção dos
mesmo com a anticoagulação profilática, uma vez novos vasos sangüíneos, necessários para nutrição
que outros fatores se somam, incluindo o quadro tumoral. Além destas propriedades, a fibrina forma
clínico mais grave, performance status mais baixo, uma camada protetora nas células oncológicas, difi-
imobilização, etc. O risco persiste se o paciente recebe cultando assim o ataque do sistema imune, gerando
alta sem a devida profilaxia medicamentosa.(23) resistência à quimioterapia e auxiliando o ancora-
Apesar da crença existente de que a radiote- mento na parede vascular.(7)
rapia esteja implicada em maior risco de fenômenos As heparinas formam um grupo especial desta
trombóticos, nenhum estudo conseguiu comprovar classe por terem propriedades específicas anti-
esta relação.(7) tumorais. Primeiramente, as heparinas impedem

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a ligação das células malignas com plaquetas, no sistema imune, modulando a ação de diversas
leucócitos e endotélio, já que se ligam a molé- citocinas envolvidas na migração de leucócitos
culas de adesão, como a P-selectina ou integrinas. e na destruição de câncer (Figura 4).(7) As HBPM
Estas drogas também inibem uma enzima tumoral ligam-se de forma mais intensa a alguns receptores
chamada heparanase, que facilita a penetração de fatores de crescimento do que as HNF,(26) assim
maligna na membrana basal vascular, pois quebra como inibem outros, como o VEGF e o fator de
a barreira polissacáride. A heparanase também faci- crescimento fibroblástico tipo beta.(27) Por estas
lita a liberação de fatores de crescimento vascular vantagens, além de apresentarem melhores proprie-
no microambiente tumoral que estão ligados ao dades farmacocinéticas e menor toxicidade frente
heparan-sulfato na matriz extracelular. As heparinas às HNF, as HBPM são atualmente preferidas em
ainda podem ligar-se diretamente aos receptores estudos clínicos.(5)
endoteliais e interferir na ação de fatores de cres- Como já visto, vias diferentes de ativação do
cimento. Finalmente, elas exercem ação reguladora sistema de coagulação podem ser deflagradas por

Heparina a c
Proliferação P-selectina
celular

Trombina
PMN
Integrinas

Fibrina Heparina

Angiogênese Endotélio
metastases

Linfócito NK b Heparina d

Proliferação Heparanase
Heparina
Fatores de
crescimento

Coágulo

Proliferação
angiogênese
Endotélio
Endotélio

Figura 4 - Efeitos da heparina sobre a progressão tumoral. A heparina tem efeitos dependentes da inibição da
anticoagulação, inibindo o estímulo proliferativo da trombina nas células tumorais e a angiogênese e disseminação
metastática mediada pela fibrina (a). A formação do coágulo de plaquetas e fibrina, criando um escudo contra as células
de defesa, também é diminuída com o uso da heparina (b). A indução de integrinas e selectinas, pela ativação celular,
auxilia na adesividade entre as células e pode promover o sucesso da disseminação metastática. As heparinas podem
ligar-se diretamente a essas moléculas inibindo a ligação entre células tumorais, plaquetas, endotélio e leucócitos
polimorfonucleares (PMN) (c). Finalmente, as heparanases são enzimas liberadas pelo tumor que, além de auxiliar
na progressão local quebrando os componentes da matriz extracelular, liberam fatores de crescimento estocados e
ligados aos proteoglicanos. Estes fatores auxiliam no crescimento tumoral em si e na angiogênese. As heparinas tanto
impedem a liberação dos fatores de crescimento quanto sua ligação a receptores (d).

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diversos tipos tumorais. Provavelmente isto explica, Em 2004, em um estudo, 385 pacientes com
em parte, a resposta heterogênea dos tumores tumores sólidos em estágio avançado, porém sem
aos tratamentos com anticoagulantes e o melhor evidência de tromboembolismo, foram randomi-
conhecimento dessa área pode sugerir melhores zados para o uso de doses profiláticas de HBPM
abordagens de acordo com o tipo histológico. Os (dalteparina) ou placebo por 12 meses. A sobrevida
tumores de mama, próstata, cólon e pulmão (não- global não foi diferente entre os grupos; contudo,
pequenas células), por exemplo, expressam uPA e no subgrupo de pacientes com melhor prognós-
seu respectivo receptor, mas não uma via geradora tico (sobreviventes por mais de 17 meses após a
de trombina.(5,28) A aprotinina, um antifibrinolítico, randomização), houve diferença estatisticamente
inibindo a formação de plasmina (via uPA), parece significativa a favor dos pacientes que receberam
ter efeito benéfico na progressão tumoral em casos heparina, na sobrevida aos 2 e 3 anos.(35) Em
submetidos à ressecção de metástases hepáticas de outro estudo,(36) comparou-se o uso de doses tera-
câncer de cólon.(29) Este tipo de câncer não responde pêuticas de HBPM (nadroparina) por 2 semanas,
ao uso de antagonistas de vitamina K.(30) Já o carci- seguidas por 4 semanas com meia dose, num
noma pulmonar tipo pequenas células responde às grupo de 302 pacientes com tumor sólido, também
terapias inibidoras da coagulação, como varfarin ou sem evidência de doença tromboembólica. Houve
heparinas.(30,31) redução na mortalidade aos 12 e 24 meses (12 e
Por fim, estudos clínicos mostraram que terapias 10%, respectivamente), com ganho na sobrevida
relativamente curtas com estas drogas, tais como, geral, passando de 6,6 para 8 meses. Mais uma vez,
por exemplo, aprotinina ou HBPM, melhoram o o benefício foi maior no subgrupo de pacientes com
desfecho da neoplasia de meses a anos depois, melhor prognóstico à entrada do estudo (expecta-
talvez por induzir uma reprogramação nas células tiva de vida maior que 6 meses), que obtiveram uma
malignas.(5,29) sobrevida média de 15,4 meses frente a 9,4 meses
do grupo controle.
Uso de anticoagulantes no câncer de pulmão Mais direcionado para o câncer de pulmão,
em 2004 foi publicado um ensaio clínico, duplo-
O primeiro trabalho científico a demonstrar um
cego, randomizado e prospectivo.(31) Neste estudo
real benefício dos anticoagulantes no câncer de
analisou-se o uso, por 18 semanas, de dalteparina
pulmão de pequenas células foi publicado em 1981
(HBPM) associada ao esquema de quimioterapia em
por Zacharski com o uso de varfarin.(32) Esse resul-
84 pacientes com câncer de pulmão de pequenas
tado foi comprovado por um estudo randomizado
células. O ganho em sobrevida, em média, foi de
com 328 pacientes.(33) Em uma recente metanálise,
5  meses (13 meses de sobrevida média no grupo
que avaliou a eficácia e segurança do uso de anti­
HBPM + quimioterapia vs. 8 meses no grupo
coagulantes (varfarin ou ximelagatran) em pacientes
quimioterapia). Nesse e nos outros estudos com
com neoplasia, foram analisados 5 estudos e
heparinas, o risco de sangramento grave não foi
concluiu-se que atualmente o único grupo que
significativamente maior.(31,35,36)
se beneficia desta estratégia é o de pacientes com
câncer de pulmão de pequenas células. Este bene- Perspectivas
fício foi devido ao grupo com doença mais avançada
e o impacto foi principalmente na sobrevida após As heparinas formam um grupo heterogêneo de
6 meses da introdução da medicação. Houve moléculas polissacárides de diferentes tamanhos. As
aumento do risco de sangramentos graves em todos suas funções em bloquear alguns pontos na hiper-
os grupos.(34) Metanálises anteriores sobre o uso de coagulabilidade, além de outros mecanismos na
anticoagulantes para trombose venosa profunda e/ progressão tumoral, como fatores de crescimento
ou tromboembolismo pulmonar já revelaram que os ou angiogênese, parecem vir de algumas moléculas
pacientes com câncer beneficiam-se do uso de anti- específicas da sua composição. Em um estudo,(37)
coagulantes e a HBPM traz um benefício maior que demonstrou-se elegantemente que as moléculas
a HNF.(25) Diante dos referidos dados, as heparinas com 8 (octassacárides) e 10 (decassacárides) resí-
tornaram-se mais estudadas que os anticoagulantes duos glicídicos conseguem impedir a angiogênese,
orais e, aparentemente, com melhores resultados. em modelo animal, tanto induzida por fatores de

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crescimento (fator de crescimento fibroblástico 2), mentos mais direcionados para que obtenhamos
quanto em modelos mais complexos com células respostas mais concretas e sólidas.
tumorais de carcinoma de pulmão e de endométrio.
Essas moléculas não trazem o potencial de anti- Conclusão
coagulação ou plaquetopenia das outras frações É complexa a ligação do nosso sistema de
maiores das heparinas, tornando-as promissores reparo tecidual (sistema de coagulação) com as
alvos de terapias futuras em ensaios clínicos. células malignas. Diversos fatores externos (tera-
A terapia genética pode trazer grandes novidades pias empregadas, imobilização, cateteres, entre
para o controle de alguns mecanismos celulares outros) somam-se à ativação direta (fator tecidual
tumorais que geram o estado de hipercoagulabili- ou pró-coagulante oncológico) ou indireta (cito-
dade. O tratamento ex vivo de células tumorais de cinas, inflamação, aumento de adesão, ativação e
câncer de pulmão com adenovírus que impede a interação celulares) daquele sistema pelas células
expressão do receptor do uPA mostrou diminuição tumorais. Os novos conhecimentos também
da invasibilidade tumoral e do potencial de metás- apontam para fatores não menos importantes,
tases neste grupo de células.(38) O mesmo grupo como variáveis do micro-ambiente tumoral (matriz
de pesquisadores, mais recentemente, demonstrou extracelular, metaloproteinases, proteases, fatores
um benefício superior ao se bloquear dois pontos de crescimento, neoformação vascular) e modu-
deste sistema: o uso de adenovírus modificado lação do sistema fibrinolítico. Esta relação vai além
geneticamente que infecta e impede a expressão dos fenômenos tromboembólicos e é notável o
genética nas células tumorais do receptor do uPA vínculo com a progressão maligna. De certa forma,
e da MMP-9. Esta estratégia revelou, também em o câncer pode ser visto como uma fase sólida desta
modelo animal de câncer de pulmão, diminuição da coagulopatia,(5) que sucinta uma resposta fisiológica
invasibilidade in vitro, mobilidade celular in vitro, sem, no entanto, haver uma queda nesse estímulo
angiogênese dependente do tumor in vitro, além de ou correção do dano/lesão inicial.
inibir o crescimento tumoral e potencial metastá- As drogas anticoagulantes se encaixam neste
tico in vivo, de forma que não foram detectadas contexto com a promessa de minimizar os efeitos
metástases nos animais que receberam o referido pró-oncológicos deste relacionamento, não só
vírus.(15) A inibição da MMP-2 em outro estudo com por inibir produtos diretos, tais como a trombina
metodologia similar também revelou o potencial e fibrina, mas também por dificultar a penetração
terapêutico desse bloqueio específico na progressão nos tecidos e a angiogênese, incluindo o estímulo
tumoral do câncer de pulmão.(39) de produtos tróficos locais. Até então, as heparinas,
Os benefícios do bloqueio deste braço da particularmente as HBPM, acumulam melhores
coagulação e progressão tumoral têm incentivado perfis de ação e de segurança.
o surgimento de diversos trabalhos, que até então Recentes estudos revelam o promissor benefício
não revelaram resultados expressivos. Alguns dos das HBPM na evolução dos tumores sólidos,(35,36)
inibidores das metaloproteinases estudados em especialmente no câncer de pulmão de pequenas
câncer de pulmão não-pequenas células são: bati- células.(31) Neste tipo histológico, vantagens já
mastat (BB-94), marimastat (BB-2516), prinomastat haviam sido alcançadas com varfarin desde a década
(AG-3340) e BMS-275291.(40-42) Tais resultados não de 1980.(32-34) Os poucos estudos sólidos sobre o
foram animadores, provalvelmente porque algumas uso de HBPM, sendo que nenhum com um grande
metaloproteinases podem aparecer num mecanismo número de pacientes, inviabiliza, no momento, sua
de defesa contra a gênese tumoral.(15,41,43) Enfim, prescrição indiscriminada.
outros pontos podem ser bloqueados de forma De maneira mais experimental, os focos de
mais específica como o fator tecidual (inibidores pesquisas se viram para o microambiente tumoral,
químicos, anticorpos monoclonais), fator Xa, trom- as metaloproteinases e a modulação do sistema
bina (hirudina, ximelagatran), alguns receptores fibrinolítico. Com base nas novas descobertas fisio-
de membrana das plaquetas (anti-glycoprotein patológicas, intervenções neste âmbito podem gerar
IIb-IIIa), inibidores da via do fator tecidual, entre benefícios, impedindo a progressão tumoral e disse-
outros.(5) Os novos conhecimentos permitirão trata- minação à distância.

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Hipercoagulabilidade e câncer de pulmão 321

O sucesso das metástases depende mais destas 15. Rao JS, Gondi C, Chetty C, Chittivelu S, Joseph PA, Lakka
complicadas ligações que o desenvolvimento tumoral SS. Inhibition of invasion, angiogenesis, tumor growth, and
metastasis by adenovirus-mediated transfer of antisense
em si, mas a maioria dos óbitos por câncer se deve às uPAR and MMP-9 in non-small cell lung cancer cells. Mol
complicações metastáticas e não ao tumor primário. Cancer Ther. 2005;4(9):1399-408.
Isto encoraja o aprofundamento neste campo de 16. Bredin CG, Liu Z, Hauzenberger D, Klominek J. Growth-
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muito menor potencial tóxico que os atuais quimio- 17. Kodate M, Kasai T, Hashimoto H, Yasumoto K, Iwata
terápicos. A terapia genética surge como meio de Y, Manabe H. Expression of matrix metalloproteinase
promover um tratamento guiado, com a finalidade (gelatinase) in T1 adenocarcinoma of the lung. Pathol Int.
de impedir múltiplos mecanismos de ativação da 1997;47(7):461-9.
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