Você está na página 1de 8

Tema 4: Biopac - reflexo patelar, eletromiografia e dinamometria

1.Introdução teórica

O reflexo é a resposta corporal involuntária a um arco reflexo, aquando da estimulação


de recetores. O arco reflexo consiste numa série de estruturas: órgão recetor, neurónio
aferente, centro integrador, neurónio eferente e órgão efetor. Os reflexos tendinosos,
profundos ou musculo-tendinosos são provocados pelo estiramento súbito de um músculo
devido à percussão com um martelo de percussão de borracha, do tendão ou da sua inserção
muscular. O reflexo patelar é um reflexo tendinoso, em que o examinador percute o tendão
patelar (o examinando deve estar sentado, com os membros inferiores em repouso e suspensão,
formando um ângulo aproximadamente reto), provocando o estiramento muscular. O estímulo
é convertido num impulso nervoso que segue para a medula espinal através dos neurónios
aferentes, numa via monossináptica. No gânglio da raiz posterior da medula ocorre uma sinapse,
permitindo a integração do impulso e a emissão de uma resposta pelos neurónios eferentes,
através da via polissináptica (estimulando a contração dos músculos extensores da perna e a
inibição dos antagonistas).

A eletromiografia é o estudo dos potenciais de ação das fibras musculares, que permite
diagnosticar problemas nervosos e musculares, fazendo uso de elétrodos colocados à superfície
do corpo, que servem para avaliar a capacidade das células nervosas transmitirem sinais
elétricos. Os registos eletromiográficos mostram ondas de amplitude e frequência específicas
para os diferentes tipos de fibras musculares ativadas. A despolarização produz atividade
elétrica, que se manifesta como um potencial de ação da unidade motora que é registada,
graficamente, como um eletromiograma. Com esta técnica é possível verificar a
proporcionalidade do estímulo elétrico em relação à força que é exercida para fazer
levantamento de objetos.

A dinamometria é o método usado para avaliar a força isométrica (estática) de um


indivíduo, uma vez que o dinamómetro mede pressões e transforma-as em quilogramas (kg).

2. Materiais e métodos

Reflexo patelar

O examinando é colocado sobre uma mesa ou estrutura semelhante, de modo a ficar


sentando com os membros inferiores em suspensão e a formar um ângulo de 90º entre a coxa
e a perna. De seguida, o examinador colocou o goniómetro na posição correta, isto é, a
acompanhar, lateralmente, o ângulo referido anteriormente. O goniómetro encontra-se ligado
ao Biopac e faz o registo da amplitude do ângulo do reflexo após a percussão com um martelo
de reflexos. Inicialmente, o examinador calibrou o sistema, pedindo ao examinando para fazer
a extensão máxima da perna em relação à coxa e, posteriormente, iniciou o teste percutindo o
tendão patelar com o martelo de reflexos, que também está ligado ao Biopac. Os registos
aparecem representados no software.

Foram testados dois tipos de reflexos: o “consciente” e o inconsciente. Para o


“consciente” foi solicitado ao examinando que levantasse a perna aquando do som da percussão
do martelo na superfície da mesa. Para o inconsciente, utilizou-se o martelo para percutir
diretamente o tendão rotuliano.
O procedimento para testar o reflexo patelar foi repetido com o examinando a realizar
manobras de distração do sistema nervoso central, para potenciar a amplitude do reflexo e a
precisão da atividade experimental. De forma a descentralizar a sua atenção dos membros
inferiores, para que as suas vias nervosas ficassem livres e se potenciasse o reflexo, realizaram-
se manobras de distração, como a de Jendrassik (que consiste em tracionar as mãos em sentido
divergente com os dedos encaixados), e/ou cálculo mental.

Eletromiografia e Dinamometria

O examinador preparou o examinando para a experiência, colocando elétrodos


superficiais sobre o antebraço e cedeu-lhe o dinamómetro, o qual foi apertado de acordo com
o que lhe foi solicitado.

Foi feita uma calibração inicial, onde o examinando exerceu um pico de força máxima.

Posteriormente, o examinando fez a força necessária para atingir os 10kg, tendo


estabilizado nesse peso durante uns segundos. Em seguida, foi-lhe solicitado que aplicasse força
até um novo patamar, desta vez 20kg, e que estabilizasse novamente nesse peso durante algum
tempo. Seguidamente, foi-lhe solicitada a aplicação de um pico de força máxima. Depois, a
frequência da aplicação de força sob o dinamómetro foi aumentada. Mais tarde, o examinando
voltou a exercer um pico máximo de força, com os olhos fechados, durante um certo intervalo
de tempo.

Toda a atividade experimental utilizou um sistema de captação do sinal biológico (placa


de aquisição de sinais, amplificador, sistema de canais, elétrodos superficiais), bem como um
eletromiógrafo para registar a atividade elétrica presente no músculo em contração, a qual é
decorrente da ativação neuromuscular em condições normais.

3. Apresentação dos resultados

Reflexo patelar

Na figura 1, observa-se a azul o momento da percussão com o martelo. Em A, a batida


do martelo no tendão patelar, sem a manobra de Jendrassik e em B, o mesmo procedimento,
mas na presença da manobra. A vermelho encontra-se representada a amplitude do
movimento, isto é, o ângulo de reação. Verifica-se que há maior amplitude do ângulo de reação
em B.

Na tabela 1, figuram as diferenças entre o ângulo de reação em indivíduos dos dois


géneros na presença ou ausência da manobra de distração – manobra de Jendrassik. Constata-
se que, na maioria dos casos, na presença desta ferramenta, o ângulo de reação tem maior
amplitude. O referido anteriormente apenas não é válido para um dos examinandos do género
feminino.

O valor médio do ângulo medido pelo goniómetro obtido na ausência da manobra de


Jendrassik é de 22.215°, enquanto que esse ângulo é, em média, 33.875° na presença da
manobra de Jendrassik.

Ainda na tabela anteriormente referida, encontram-se destacados três casos


particulares de indivíduos: dois dos casos em que a manobra de Jendrassik surtiu um efeito
maior que o esperado - a) e c) – e um outro em que esta provocou uma diminuição do ângulo
em causa – b).

De acordo com os dados apresentados na tabela 2, verificou-se que o tempo que


decorria entre a percussão com o martelo e o início da resposta reflexa era maior quando se
tratava de um “reflexo consciente” (isto é, quando o estímulo era apenas sonoro, resultante da
batida do martelo na mesa), do que quando se referia ao reflexo puro e inconsciente (percussão
do tendão patelar com o martelo de reflexos). No caso do “reflexo consciente”, o tempo que
decorre entre o som da batida e o início do movimento corresponde ao tempo de reação do
indivíduo.

A B

Figura 1:Reflexo patelar- registo dos resultados obtidos na ausência (A) e na presença (B) da manobra de
Jendrassik.
Tabela 2: Reflexo patelar- amplitude do ângulo do reflexo com e sem manobra de Jendrassik para os diferentes
géneros.

Tabela 1: Reflexo patelar- diferença de tempo entre a percussão com o martelo e o início do reflexo, no reflexo
“consciente” e inconsciente.

Eletromiografia e Dinamometria

Nas figuras 2 e 3, a azul aparecem representados os quilogramas de força exercida, e a


verde a voltagem, isto é, a diferença de potencial necessária para a ação.

Observou-se, no intervalo de tempo em que o dinamómetro foi pressionado


continuamente nos 10 e 20 kg, um aumento da voltagem, associado ao aumento da força
exercida para, aproximadamente, o dobro, sendo esta relação mais notória na figura 3.

Averiguou-se, também, que quando se aumentou a frequência das contrações, começou


a haver somação das mesmas. Inicialmente, era possível individualizar os traçados, mas a linha
de base não voltou a zero, o que indicava que estava a ocorrer somação incompleta das mesmas.
Assim, verificou-se a formação de um tétano imperfeito. Com o decorrer do tempo, a somação
tornou-se completa, formando-se um tétano perfeito.
Num outro momento, o examinando pressionou o dinamómetro, exercendo a sua força
máxima, com os olhos fechados. Neste contexto, verificou-se a formação de um traçado com
declive negativo que correspondia a um tétano de fadiga.

Relativamente à tabela 3, observa-se que a força máxima exercida pelos homens é


sempre superior à aplicada pelas mulheres.

No que diz respeito à tabela 4, nota-se que para o dobro da força exercida é necessário,
aproximadamente, o dobro da diferença de potencial.

Figura 2: Eletromiografia e dinamometria- registo eletromiográfico de resultados, correspondência entre a voltagem


e o peso para o género masculino. É possível identificar tétano perfeito (A) e tétano de fadiga (B).

Figura 3: Eletromiografia e dinamometria- registo de resultados, correspondência entre a voltagem e o peso para o
género feminino. É possível identificar tétano perfeito (C) e tétano de fadiga (D).
Tabela 3: Eletromiografia e dinamometria- força máxima exercida pelos dois géneros.

Tabela 4: Eletromiografia e dinamometria- comparação de diferenças de potenciais


para dois valores de peso.

4. Discussão

Reflexo patelar

A maior amplitude do ângulo de reação em B, deve-se à maior vivacidade do reflexo,


decorrente da maior espontaneidade, devido à manobra de distração que estava a ser realizada
(manobra de Jendrassik).

A maior amplitude do ângulo de reação obtido aquando da realização da manobra de


Jendrassik pode ser explicada pelo facto de esta ser uma ferramenta de distração, que permite
a descentralização da atenção do examinando perante o que está a acontecer, o que torna a
resposta reflexa mais genuína, daí os melhores resultados em termos de amplitude do ângulo.

A partir da análise das médias obtidas para os ângulos do reflexo patelar da tabela 1 é
possível verificar a maior amplitude deste aquando da realização da manobra de Jendrassik, face
ao obtido na sua ausência. De acordo com estes resultados, pode-se inferir que, regra geral, esta
manobra de distração surte efeitos positivos, uma vez que aumenta a veracidade do reflexo.
Relativamente aos indivíduos destacados na tabela 1, o caso indicado com a letra a) diz
respeito a um individuo que estava nervoso, pelo que a realização da manobra produziu um
grande efeito. O caso b) apresenta-se como uma exceção, uma vez que houve uma diminuição
ligeira do ângulo de reflexo, sendo uma situação rara e de difícil explicação. No caso c) verifica-
se ausência de reflexo quando se realizou o procedimento normal, o que é anormal devido à
ausência de anormalidades neurológicas, pelo que este resultado pode ser explicado por fatores
extrínsecos (por exemplo, roupa apertada) ou intrínsecos ao próprio (nervosismo, por exemplo).
O facto de se considerar a ausência de anormalidades neurológicas no caso c), explica-se pela
existência de um reflexo normal quando foi realizada a manobra de Jendrassik.

O maior tempo de resposta no “reflexo consciente” deve-se ao facto de haver


processamento cortical da informação, enquanto que o reflexo inconsciente é apenas um arco
reflexo espontâneo, cuja informação vai somente até à medula e, de seguida, vai por uma via
eferente até ao órgão efetor. Note-se que o tempo que decorre entre a percussão na mesa com
o martelo até ao movimento da perna corresponde ao tempo de reação.

Eletromiografia e Dinamometria

No momento em que foi solicitado ao examinando que exercesse o dobro da força no


dinamómetro, isto é, que passasse dos 10kg para os 20kg, este precisava de aplicar,
aproximadamente, o dobro da força, com o recrutamento de, sensivelmente, o dobro de fibras
musculares, com a necessidade de alocar o dobro de energia. Estes resultados corroboraram
com a lei da proporcionalidade.

O tétano imperfeito ocorreu no momento em que o examinador pediu o aumento da


frequência das contrações individuais, o que causou a somação incompleta das mesmas, sendo,
ainda, possível individualizá-las, mas verificando que a linha de base não retornava a zero.

O tétano perfeito, que ocorreu na experiência após o tétano imperfeito, resultou do


facto de não ser possível individualizar as contrações, uma vez que se fundiram numa única
contração, por ter ocorrido somação completa/perfeita. Isto acontece quando um segundo
potencial pós-sináptico ocorre antes da membrana ter voltado ao seu nível de repouso. Também
se verificou que a linha de base não voltou a zero, porque a membrana não atingia o potencial
de repouso devido à elevada frequência de contrações.

Quando há compressão máxima do dinamómetro verifica-se tétano de fadiga,


percecionado pelo seu declive negativo, uma vez que a contração fica cada vez mais debilitada,
por começar a faltar ATP nas fibras musculares, pois a taxa de consumo é superior à taxa de
síntese de ATP.

De acordo com a tabela 3, o género masculino tem capacidade de exercer mais força do
que o género feminino, sendo isto explicado pelas diferenças biológicas entre os dois géneros,
uma vez que os homens, em geral, apresentam maior massa muscular.

A diferença de potencial verificada na tabela 4, aquando do aumento do peso para o


dobro, indica que é necessário gastar mais energia quando se aumenta a força a exercer. Mostra
ainda que esta relação entre energia gasta e força exercida é uma relação direta, isto é,
aumentando a força para o dobro, é necessário recrutar o dobro das fibras e produzir,
aproximadamente, o dobro da energia (lei da proporcionalidade).
5. Conclusão

No trabalho prático em que se procedeu à avaliação do reflexo patelar concluiu-se que


este, por ser espontâneo, ocorre quase imediatamente após a percussão do tendão do músculo
quadríceps femoral.

Apesar das exceções apresentadas, importa referir que a ferramenta de distração –


manobra de Jendrassik - deve ser utilizada em contexto clínico, para aumentar a espontaneidade
da resposta, sempre que os pacientes estejam tensos ou nervosos, já que o teste é influenciado
por estes fatores externos.

Quanto à atividade prática em que se fez uso da técnica de eletromiografia e


dinamometria, constatou-se que, quando se aumentava a frequência da contração, começava a
ocorrer somação das contrações, aparecendo o tétano imperfeito e, mais tarde, o tétano
perfeito. Aquando da compressão contínua do dinamómetro, exercendo o máximo de força,
constatou-se o surgimento do tétano de fadiga.

Em termos fisiológicos, a somação das contrações individuais corresponde ao tónus


muscular.

É importante clarificar a lei da proporcionalidade, pois quando o examinando deixava


de comprimir o dinamómetro a 10 kg e passava a comprimir a 20 kg, precisava de exercer,
sensivelmente, o dobro da força, sendo necessário, o recrutamento aproximado do dobro das
fibras musculares e a mobilização do dobro da energia.

Você também pode gostar