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MAIO DE 68
T
alvez não se sentisse ainda nada que igualasse o glamour de
hoje, esplendoroso em lantejoulas e decotes, mas o Festival de
Cannes já era uma festa em 1968, quando completava os seus 22
anos. Contrastava com os mais velhos Óscares de Los Angeles,
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T Semanário | De Cannes a Paris, os dias que sacudiram o mundo
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CONTESTAÇÃO CLAUDE LELOUCH, JEAN-LUC GODARD, FRANCOIS TRUFFAUT, LOUIS MALLE, ROMAN POLANSKI NUMA CONFERÊNCIA
DE IMPRENSA DURANTE O FESTIVAL DE CANNES EM 1968 FOTO GILBERT TOURTE/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES
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UM COCKTAIL AMEAÇADOR
Por isso, para uma geração francesa que tinha sido formada na oposição
à guerra da Argélia, a realização em Paris das reuniões para o acordo de
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paz para o Vietname era também um sinal de vitória. Para mais, havia
uma história francesa de ligações intensas com os intelectuais da
revolução colonial: um dos gigantes da loso a e da literatura francesa,
Jean-Paul Sartre, tinha cultivado a amizade de Frantz Fanon, o
intelectual das independências africanas e dos povos colonizados, e
ampliado a sua mensagem. Sartre trazia a aura de ter recusado o Prémio
Nobel da Literatura em 1964, porque alegara recusar a
institucionalização, ele que já era uma instituição, e projetava a sua
in uência em vários universos, de Kerouac a Lispector ou Paulo Freire.
Apoiando a luta independentista e a dos estudantes, mesmo com o
superlativo das estrelas, Sartre emprestou a sua força a este tempo de
abismos.
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PROTESTO PARIS FOI O EPICENTRO DOS CONFRONTOS ENTRE MANIFESTANTES E POLÍCIA FOTO REG LANCASTER/EXPRESS/GETTY IMAGES
O QUE SE ANUNCIAVA
Ao mesmo tempo, o império era desa ado dentro de portas. Nos Estados
Unidos, a luta pelos direitos civis constituiu o maior movimento social
da história do país, com profundas consequências e, quando Martin
Luther King foi assassinado no início de abril de 1968, detinha um forte
poder de convocação. Esse movimento alimenta também o protesto
antiguerra, e este instala-se nas faculdades e entre os jovens que
estavam condenados a ser recrutados para as forças armadas e para a
guerra nas selvas e cidades do Vietname. Em paralelo, o movimento
hippie promove uma cultura de rebeldia, de paci smo e de valores
libertários que se expressa por exemplo no “Summer of Love”, o verão
do amor, um festival que se realiza na Universidade de Berkeley em 1967.
De todas as formas, jovens contestam a guerra.
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nuca, ela já chegou. Mas o que juntou a massa dos jovens na rua?
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O aborrecimento
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Com alguma imaginação, este artigo foi relido mais recentemente como
um diagnóstico e não como um prognóstico, como se adivinhasse o que
viria uma semana depois. Deixo a interpretação aos intérpretes, mas o
facto é que a revolta dos jovens que queriam que as mulheres pudessem
mover-se em liberdade no campus universitário era um presságio, que o
editorialista do “Le Monde” confundiu erradamente com pasmaceira.
Não eram poucas as razões para essa intenção libertadora e nenhuma
podia ser vista como melancolia. Só em dezembro de 1967 tinha sido
autorizada a pílula contracetiva, que até então era regida por uma lei de
1920, depois reforçada pelo regime de Vichy, que determinava que o
aborto fosse punido com pena até à morte, sendo a pílula proibida. Nos
anos 60, os jovens já tinham descoberto que essa moral era hipócrita e
tinham que lhe fazer frente para fazerem as suas escolhas.
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