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Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I

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Preparo Pré-Operatório do Paciente e Paramentação

2.1 Preparo Pré-Operatório do Paciente


2.1.1 Banho
Deverá ser tomado de véspera, visto que, quando tomado no mesmo dia da cirurgia, há
predisposição à descamação da pele e difusão de germes, aumentado assim o risco de contaminação.
Isso é explicado pelo fato de que, ao se usar um detergente (sabão) durante o banho, este removerá a
camada superficial de gordura da pele, favorecendo a descamação acentuada e veiculando maior
quantidade de germes.
2.1.2 Vestimentas
O paciente deverá estar vestido com camisola, roupa íntima descartável, touca/gorro e propés.
Ele será transportado de sua maca que circulou pelo hospital para uma nova maca própria do centro
cirúrgico, na zona de transferência, com lençol e cobertor novos, evitando a continuidade das peças
antigas da enfermaria/quarto, importantes fontes de contaminação.
2.1.3 Tricotomia
Deve ser feita, de preferência, pouco antes do procedimento cirúrgico, muitas vezes já dentro
da sala de cirurgia, com o uso de sabão antisséptico e água, e com a menor extensão possível.
Quando realizada de véspera, o risco de evolução para infecção torna-se maior por conta de possíveis
traumatismos da pele sofridos durante o procedimento, uma vez que a pele possui flora bacteriana
fixa e transitória. A foliculite representa a entidade mais constantemente vista após a tricotomia.
2.1.4 Outros
O paciente não deve estar usando acessórios, como anéis, brincos, colares ou pulseiras.
Esmaltes devem ser removidos tanto dos pés quanto das mãos.

2.2 Degermação do Paciente


A degermação é geralmente realizada pelo segundo ou primeiro auxiliar. O profissional
deverá estar vestindo pijamas, touca/gorro, propés e máscara.

Procedimento
1. Realizar higienização simples das mãos e calçar luvas de procedimento.
2. Utilizar uma escova contendo PVPI Degermante ou Clorexidina (Figuras 2.1).

Figura 2.1 – Degermante em escova/esponja e em solução.


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3. Para uma cirurgia com incisão xifoumbilical, realizar movimentos circulares e aleatórios,
com a parte esponjosa, desde a fúrcula esternal até a metade superior das coxas, incluindo a
região genital, tentando liberar a maior quantidade possível do degermante. Posteriormente,
utilizar o lado das cerdas, escovar a mesma região, poupando-se a região genital (Figuras 2.2
e 2.3).

Figura 2.2 – Espalha-se o degermante com a parte Figura 2.3 – A escovação deve ser feita com as
esponjosa desde a fúrcula esternal até a metade cerdas no mesmo local por onde foi passada a
superior das coxas, incluindo região genital. esponja, poupando-se a região genital.

4. Retirar excesso do degermante com compressas estéreis secas, após dobrá-las em forma de
“sanfona” (Fig. 2.4 - A), segurando-as em suas pontas e através de movimentos únicos, de
mesmo sentido e sem retorno à área anterior, desde o início da região degermada até o seu
fim, com posterior descarte após seu uso. Caso parte do degermante ainda permaneça, utilizar
nova compressa para sua retirada. Para uma cirurgia xifoumbilical, deverão ser utilizadas, ao
menos, quatro compressas: uma para a região mediana (Fig. 2.4 - B), desde a fúrcula esternal
até a sínfise púbica; duas outras para as regiões laterais (Fig. 2.4 - C e D) seguindo no mesmo
sentido e terminando na metade superior da coxa; e, por fim, outra compressa estéril para a
região da genitália.

A B

C D

Figura. 2.4 – (A) Sanfonar a compressa.


(B) 1ª compressa para região mediana
(C) e (D) 2ª e 3ª compressas para as
regiões laterais.
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2.3 Paramentação Cirúrgica


O avental cirúrgico deverá ser colocado caso o profissional venha a participar do ato
cirúrgico, seja como cirurgião, auxiliar ou instrumentador. Sua colocação será realizada após
lavagem cirúrgica e secagem das mãos com compressas.
Passo-a-passo
1. Verificar se o LAP está aberto. Caso não esteja, pedir à circulante que o abra.
2. Secar as mãos com compressas estéreis.
3. Pegar o avental “em bloco”, como um todo, pela porção interna que estará rebatida ou,
caso este se encontre dobrado de maneira diferente, pegá-lo pela gola.
4. Elevá-lo e afastar-se de qualquer possível fonte de contaminação. Permitir que o avental
desdobre-se naturalmente.
5. Introduzir as duas mãos pelas respectivas mangas até que elas ultrapassem os punhos do
avental.
6. Solicitar ajuda do auxiliar de sala, que irá tracionar por trás o avental, tocando em sua
face interna para posteriormente amarrar seus cordões, a fim de fechá-lo.
7. Elevar os cintos de tecido e apresentá-los ao auxiliar de sala, que os apanhará pelas
pontas, finalizando a colocação do avental ao amarrá-los na sua parte traseira.

A B

C D E

Figuras 2.5 – A – Avental cirúrgico. B – Forma de pegar o avental, pela sua aba rebatida. C – Pegar o avental em bloco.
D – Afastar-se de superfícies contaminantes e desdobrar o avental. E – Introduzir as mãos nas mangas e vesti-lo.
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A B
Figuras 2.6 A e B – A
amarração do avental é
realizada pelo auxiliar de sala
(circulante). Ao final,
apresentam-se os cintos para
amarração.

Observações
O OPA é um tipo de avental cirúrgico que apresenta uma aba traseira, que permite o
fechamento das costas do profissional que o utiliza, no intuito de minimizar possíveis contaminações
em cirurgias de grande porte (Figura 2.7).
A retirada do avental deve ser feita puxando-se pela região interna da gola ou dos ombros,
não tocando a parte externa com as mãos já descalças, após a retirada das luvas.

A B C

D E

Figuras 2.7 – A amarração da aba traseira do OPA só pode ser realizada após o calçamento das luvas estéreis. Deve-se
desfazer o nó prévio (A), entregando uma alça a outro membro da equipe (B), dando-se uma volta em torno de si mesmo
para o lado oposto (C) e pegando a alça novamente (D). A amarração é realizada e o nó fica voltado para a lateral do
avental.

2.4 Calçamento de Luvas Estéreis


O estojo contendo as luvas estéreis deverá ser aberto pelo auxiliar de sala e disposto em
superfície estéril e plana, para posterior calçamento. Os tamanhos de luvas são diversos, variando de
0.5 em 0.5 (6,0 - 6,5 – 7,0 – 7,5 – 8,0 – 8,5) A sua colocação segue a regra geral de que a mão não
calçada não poderá tocar na face externa da luva, e a porção da luva que já estiver calçada não
poderá tocar em local previamente tocado pela mão não calçada.
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Passo-a-passo técnica 1 – calçamento de luvas estéreis


1. Abrir o estojo sem tocar as luvas e verificar se estão corretamente posicionadas, ou seja, se
não estão trocadas de posição (Figura 2.8 - A e B).
2. Segurar com uma das mãos a superfície interna rebatida de uma das luvas, localizar e
direcionar corretamente os dedos e introduzir completamente a respectiva mão, com cuidado
para não tocar com sua face externa na outra mão ainda não calçada (Figura 2.8 - C e D).
3. Pegar a luva restante pela sua porção externa, logo abaixo da dobra rebatida, pela sua face
palmar e calça-se a mesma pela técnica anterior (Figura 2.8 - E).
4. Com a mão contrária, rebater uma das luvas pelo lado externo até a metade da mão e apoiá-la
sobre o 3° e 4° quirodáctilos flexionados e então posicionar o punho do avental sob o 3° e 4°
quirodáctilos reposicionando em seguida a luva pela sua porção externa sobre o avental, de
forma que a luva cubra todo o punho do avental (Figura 2.8 – F, G e H).
5. Finalizar o processo fazendo o mesmo com a luva oposta (Figura 2.8 - I)

A B C

D E F

G H I

Figuras 2.8 – A a I – Técnica de calçamento de luvas estéreis.


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Técnica 2 – Calçamento de luvas estéreis

1. Abrir o estojo sem tocar as luvas e verificar se estão corretamente posicionadas, ou seja, se
não estão trocadas de posição (Figura 2.8 - A e B).
2. Ao vestir o avental não deixar as mãos expostas, fazendo com que toda manipulação da luva
seja através do avental (Figura 1).
3. Com o movimento de pinça (através do avental – figura 2 e 3), pegue com cada mão uma
superfície da luva.
a. OBS.: o posicionamento da luva para realizar este passo deve ser: polegar da luva
para baixo e dedos das luvas apontando para si. Deixando a abertura da luva na
mesma direção da manga do avental.
4. Ao pinçar com a mão oposta a parte de cima da luva (figura 4), passe a luva por cima da
abertura do avental, envolvendo toda a manga (figura 5).
5. Após isso, é só puxar o avental para expor a mão dentro da luva (figura 6, 7, 8 e 9,
respectivamente). Lembrando que toda a manipulação é feita com a mão oposta dento do
avental.
6. Para colocação da segunda luva, posiciona-se a luva da mesma forma da outra (polegar para
baixo e demais dedos apontando para si) realiza-se o pinçamento da parte superior da luva -
mão enluvada pode manipular tranquilamente, enquanto que a outra permanece por dentro do
avental (figura 10 e 11).
7. A parte superior da luva envolve a abertura do avental (figura 12).
8. Depois só ajeitar para expor a segunda mão e posicionar corretamente os dedos (figura 13, 14
e 15).
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PASSO A PASSO TÉCNICA 2

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4 5 6

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10 11 12

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Retirada das Luvas


Técnica: inverter a primeira luva até a metade (Figura 2.9 B), prosseguir retirando a segunda luva
totalmente (Figura 2.9 C), concluindo com a retirada da primeira pela sua face interna, previamente
invertida (Figuras 2.9 D e E).

Figuras 2.9 – A a E
Retirada de luvas.

Observação
As luvas deverão ser trocadas:
1. A cada 6 horas de uso;
2. Em caso de contaminação: colocar novas luvas estéreis por cima das contaminadas.
3. Em caso de rompimento: realizar lavagem cirúrgica por 2 – 3 minutos e calçar novas luvas.

2.5 Antissepsia do Paciente (Pintura)


A pintura do paciente é realizada após adequada degermação, com o membro da equipe
cirúrgica já devidamente paramentado com avental e luvas cirúrgicas estéreis. A mesa de antissepsia
é montada com os materiais necessários apenas para esse procedimento (Foerster, gazes e cuba).
Passo-a-passo
1. Montar quatro gazes, dobrando-as duas vezes ao meio, em forma de triângulo, colocando três
delas entre os dedos da mão não dominante, presas por uma de suas bases e a última gaze
presa pelo seu ápice por uma pinça de antissepsia (Ex: Foerster) (Figura 2.10 - A).
2. Segurar a cuba com a mão não dominante e umedecer a gaze montada em PVPI.
3. Passar a gaze desde a região da fúrcula esternal até o púbis (para incisões medianas em
tronco), em movimento único e sem retornar, descartando a gaze ao fim (Figura 2.10 - B).
4. Utilizar uma nova gaze para cada lateral do paciente, em sentido de medial para lateral e em
direção perpendicular à pintura da região anterior (mediana), desde a região lateral à fúrcula
esternal até a raiz da coxa, sem deixar “ilhas”, ou seja, regiões sem pintar (Fig. 2.10 C e D).
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5. Contornar então o paciente pelos pés e realizar mesmo procedimento do outro lado.
6. Caso haja alguma “ilha”, o cirurgião deverá utilizar a 4ª gaze, passando um pouco antes,
imediatamente em cima e um pouco depois da ilha, descartando-a em seguida.
7. Após o término do procedimento, a pinça utilizada estará contaminada e NÃO poderá ser
devolvida à mesa instrumental. Deve-se colocá-la sobre a mesa de antissepsia.

A B

C D

Figura 2.10 – (A) Montagem das gazes entre os dedos da mão não dominante. (B) 1ª gaze sendo passada desde a fúrcula até o
púbis. (C) e (D) 2ª e 3ª gazes sendo passadas de medial para lateral, a partir do centro já pintado.

Observação
É importante que se tenha cuidado, no momento da pintura, para não contaminar as próprias
luvas, encostando acidentalmente a pinça já contaminada nas mãos, ao pegar uma nova gaze. Deve-
se atentar também para não encostar o avental estéril na mesa do paciente durante o procedimento.

2.6 Colocação de Campos Cirúrgicos


Os campos cirúrgicos são peças de tecido confeccionadas geralmente em formato de
retângulo ou quadrado, dispostos de uma camada (simples) ou duas camadas (duplos) de tecido. Os
campos simples são utilizados para recobrir e delimitar a região operatória, enquanto que os campos
duplos são utilizados principalmente para recobrir a mesa instrumental, com o intuito de diminuir a
chance de contaminação.
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Passo-a-passo
1. Colocar o campo duplo ou emborrachado sobre a mesa instrumental. Este geralmente é o
primeiro campo do LAP cirúrgico e deverá ser colocado segundo a técnica de duas mãos, ou
seja, por uma pessoa (Figura 2.11).
2. Segue-se com a colocação do campo da região podálica (inferior), por ser a região mais
contaminada, através da técnica de quatro mãos (duas pessoas) (Figura 2.12).
3. Colocar então o campo cefálico (superior), também pela técnica de quatro mãos, passando-o
por cima do campo podálico e sem tocar o paciente até adequada disposição (Figura 2.13).
4. O anestesiologista deve então fixar as duas extremidades superiores do campo cefálico nos
suportes localizados de cada lado do paciente, utilizando pinças de fixação específicas,
geralmente presentes no kit de anestesia (simuladas na Monitoria com a Backhaus). Prende-
se o campo ao redor do suporte e coloca-se a argola da pinça em um dos ganchos do suporte.
5. Colocar os campos laterais através da técnica de duas mãos (uma pessoa) em região
ipsilateral ao lado em que o profissional se encontra (Figura 2.14).
6. Atentar-se para que, durante a colocação dos campos, as margens que estão voltadas para a
região operatória fiquem rebatidas, permitindo a mudança de tamanho do campo, caso o
cirurgião queira aumentar ou diminuir a área delimitada.
7. Realizar a fixação dos campos.

Figura 2.11 – Colocação do campo na mesa instrumental Figura 2.12 – Colocação do campo podálico

Figura 2.13 – Colocação do campo cefálico Figura 2.14 – Colocação de campo lateral
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Observações
Os campos emborrachados agem como isolantes de disseminação de líquidos que,
porventura, possam cair sobre a mesa instrumental, facilitando a sua contaminação a partir da
superfície da mesa. Impedem também a perfuração por agulha ou instrumentos perfurocortantes, com
consequente contaminação deste material.
Para aumentar o sítio cirúrgico, deve-se puxar o campo em bloco. Para diminuir o sítio
cirúrgico, desliza-se a aba de cima, que se encontra rebatida, para frente.

2.7 Fixação dos Campos Cirúrgicos


Passo a passo
1. Cada auxiliar se posicionará nas regiões laterais ao paciente.
2. O auxiliar A, utilizando uma pinça traumática, deve pinçar a interseção entre os campos
ipsilateralmente a ele (Figura 2.15). O auxiliar B, localizado contralateralmente, eleva a aba
que estava rebatida, permitindo a visualização da região inferior e possibilitando que o
auxiliar A “abrace” a região pinçada com a Backhaus, com sua curvatura voltada para baixo,
fixando adequadamente o local (Figura 2.16).

Figura 2.15 – Pinçamento da interseção entre os campos Figura 2.16 – Fixação com Backhaus
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2.8 Posicionamento da Equipe Cirúrgica


Cirurgia Supramesocólica
O cirurgião fica à direita do paciente, para utilizar a sua mão dominante para explorar
estruturas localizadas no andar superior do abdome. O 1º auxiliar fica à sua frente. O 2º auxiliar fica
ao lado direito do cirurgião. O instrumentador fica ao lado esquerdo do 1º auxiliar. O anestesiologista
posiciona-se na região cefálica.
Cirurgia Inframesocólica
O cirurgião fica à esquerda do paciente, para utilizar a sua mão dominante para explorar
estruturas localizadas no andar inferior do abdome. O 1º auxiliar fica à sua frente. O 2º auxiliar fica
ao lado esquerdo do cirurgião. O instrumentador fica ao lado direito do 1º auxiliar. O anestesiologista
posiciona-se na região cefálica.
Laparotomia Exploradora
O posicionamento é o mesmo da cirurgia supramesocólica, pois, no trauma, estruturas mais
comumente acometidas encontram-se no andar superior do abdome, como fígado e baço.

Figura 2.17 Cirurgia Supramesocólica Figura 2.18 Cirurgia Inframesocólica

Observação
A circulação dos membros da equipe cirúrgica deve ser realizada sempre pelos pés do
paciente, pois a região cefálica estará ocupada pelo carro de anestesia.

Referências
1. Técnica Cirúrgica. Bases anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia (Goffi)
2. Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental (H.P. Magalhães)
3. Noções Básicas das Técnicas Operatórias (Parra & Saad)

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