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ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NO CURSO DE LICENCIATURA EM

GEOGRAFIA: ENSINO E FORMAÇÃO DOCENTE

Gustavo Gurgel do Amaral


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil.
gustavo.g.amaral@gmail.com

Vanilton Camilo de Souza


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil.
souzavanilton@gmail.com

Resumo

Pensar a escola, a educação, o ensino e a formação docente caracterizam-se como elemento


fundamental na disciplina de estágio curricular obrigatório, bem como as concepções pedagógicas
atuais e as didáticas para o ensino de Geografia. Assim, o presente artigo tem por objetivo descrever
e discutir o conceito atual de educação e Geografia para a sociedade contemporânea, a partir da
observação e registro do saber e fazer pedagógico por meio da realização do estágio obrigatório
curricular em uma instituição de ensino estadual localizada na cidade de Goiânia-Goiás. A
metodologia utilizada é o estudo de caso, pois trata-se da investigação de uma situação específica
que permite refletir, testar e aprofundar fenômenos individuais generalizáveis. Admite-se, por fim,
a partir da construção deste trabalho, que o indivíduo ao construir a Geografia, constrói também
conhecimentos acerca do que se produz que é de natureza geográfica.

Palavras-Chave: Escola; Ensino; Formação; Estágio; Geografia.

1 Introdução

Diferentemente dos conceitos de Geografia e ensino de Geografia apresentados no início


da educação formal, período em que as instituições escolares ministravam aulas conteudistas, sem
muito aprofundamento e reflexão das correntes filosóficas e pedagógicas, faz-se necessária a busca
por parte dos educadores atuais a elaboração de novas formas de se abordar o conteúdo e de se
avaliar o aprendizado dos estudantes.
Atualmente, o ensino básico (educação infantil, ensino fundamental e médio) é regimentado
a partir das diretrizes presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96).
No entanto, as perspectivas a serem adotadas para o fazer pedagógico em cada sala de aula de cada
instituição escolar, acima de tudo, relacionam-se às concepções de ensino, escola e educação
adotado por cada docente ao longo de sua formação. Em especial, aqui, cabe ressaltar, que tais
concepções associam-se ao pensar e fazer pedagógicos diretamente ligados à Geografia.
Freire (1996), um dos mais reconhecidos e renomados educadores brasileiros, concebeu a
escola como um ambiente passível ao desenvolvimento da criticidade dos estudantes e defendia a
necessidade de uma educação participativa voltada para a autonomia do educando.
Libâneo (1990), outro importante educador brasileiro da atualidade, percebe a escola como
sendo passível a três vertentes educacionais, as quais ligadas ao processo produtivo, à formação
para a cidadania crítica e participativa e à formação ética. Para o autor, a escola precisa preparar o
indivíduo para o ambiente profissional, colocando-o no meio tecnológico, capacitando-o a
compreender e usar as novas tecnologias, promovendo assim também, a sua formação
sociocultural. O segundo quesito sinaliza a formação de um aluno preparado para exercer a
cidadania, entender e aplicar os direitos de cada indivíduo, sendo crítico e participando dos
processos de transformação da sociedade, dialogando, apontando a sua concepção positivamente.
E já o último quesito, salienta uma formação ética, que possa entender os valores morais, como a
ideia de limites, certo e errado.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), por outro lado,
considera que a educação envolve os processos formativos que se desenrolam na vida familiar, no
relacionamento interpessoal, no trabalho, nas instituições escolares e de pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Para Santos (1992), por sua vez, o espaço constitui uma realidade objetiva, ou seja, o espaço
funciona conforme a necessidade apresentada a ele. É o local em que há um produto social em
constante processo de transformação. Além disso, o espaço decide a sua própria realidade. Por este
motivo, os indivíduos da sociedade não podem operar fora dele. Assim, para que o indivíduo possa
estudar o espaço, ele necessita primeiramente apreender a relação existente entre a sociedade e o
espaço em si. Sendo somente assim possível entender os elementos acerca dos efeitos de processos
(tempo e mudança).
Em sua obra, Santos (1992) apresenta noções acerca das categorias forma, função, processo
e estrutura. Para o autor, a forma consiste num aspecto visível de algo. Nisso, ela está ligada ao
arranjo ordenado de objetos, a um padrão. A função, por sua vez, é a ação realizada por um dado
profissional em seu trabalho. Já a estrutura implica a inter-relação das partes presentes num espaço,
ou seja, ela está correlacionada ao modo de organização ou construção. Nisso, podemos perceber
que a estrutura está ligada ao modo como determinado lugar, espaço, se apresenta. Por fim, o
processo é percebido como uma ação contínua, que se desenvolve rumo a uma direção, a um
resultado qualquer, implicando, para isso, conceitos acerca de tempo (continuidade) e mudança
(transformação) (SANTOS, 1992).
No que tange ao ensino de Geografia, Sodré (1987), por exemplo, salienta que por muitos
anos, esta foi uma ciência lembrada meramente pelo seu caráter descritivo, proveniente do seu
legado histórico acerca do levantamento de dados e da fundamentação de uma visão a partir da
observação. Sodré (1987) afirma também que o inventário de fatos e informações faz-se necessário
para a constituição do conhecimento geográfico enquanto ciência.
Cavalcanti (2012), por sua vez, afirma que no ensino da Geografia, os objetos de
conhecimento são os saberes escolares acerca do espaço geográfico. Dessa forma, a autora salienta
que tais objetos do conhecimento se transformam em resultados provenientes da cultura geográfica
elaborada a partir de estudos científicos considerados importantes para a formação do aluno.
Propostas recentes deste formato de ensino são utilizadas com o intuito de sistematizar os
conteúdos escolares de forma a possibilitar o pensamento crítico, criativo, questionador, etc. por
parte do educando. A escola, seguindo esta linha de raciocínio, é um lugar apto para receber o
encontro de culturas e de saberes (científicos e cotidianos), mesmo que a sua atividade profissional
tenha por referência básica os saberes científicos.
Por a escola lidar com culturas, seja no interior das salas de aula, sejam nos demais
ambientes escolares, admite-se a Geografia Escolar como um dos meios passíveis ao encontro e
confronto entre as culturas. A partir disso, podemos considerar que a metodologia e os
procedimentos a serem utilizados no ensino de Geografia precisam ser pensados em razão da
ocorrência da cultura dos alunos, da cultura escolar, do saber sistematizado e, também, por conta
da cultura da escola (CAVALCANTI, 2012). Nisso, a tensão que há entre a seleção a priori de um
conhecimento, a organização do trabalho pedagógico na escola e a identidade dos alunos e
professores tem de ser a base para a definição do trabalho docente. A partir desta visão, ensinar
Geografia é abrir caminho na sala de aula para o diálogo de diferentes saberes dos agentes do
processo de ensino, alunos e professores.
Para Cavalcanti (1998), ao desenvolver as atividades diárias, alunos e professores
constroem a Geografia, pois, ao circularem, brincarem, trabalharem pela cidade e bairros, eles estão
a construir lugares, a produzir espaços, delimitando os seus territórios. Desta forma, vão se
formando espacialidades cotidianas em seu mundo vivido, contribuindo assim, para a produção de
espaços geográficos extremamente amplos.
Libâneo (1990) correlaciona a prática educativa à pedagogia e a didática. O autor cita um
conjunto de conhecimentos pedagógicos que estão interligados à última categoria. De acordo com
o autor, o professor no início da aula tem de apresentar e dialogar com os estudantes os objetivos,
os conteúdos e as atividades que serão ministradas por ele em sala de aula. Preparando estes, desta
forma, para o estudo da disciplina.
O trabalho docente, conforme Libâneo (1990), é uma das modalidades específicas da
prática educativa mais ampla que ocorre na sociedade. Nisso, o mesmo salienta que para que ocorra
a nossa compreensão acerca da importância do ensino na formação humana, tem de se considerar
este junto ao conjunto de tarefas educativas cobradas pela vida em sociedade.
Pensar a escola, a educação, o ensino e a formação docente caracterizam-se, pois, como
elemento fundamental na disciplina de estágio curricular obrigatório, bem como as concepções
pedagógicas atuais e as didáticas para o ensino de Geografia.
Assim, o presente artigo tem por objetivo, portanto, descrever e discutir o conceito atual de
educação e Geografia para a sociedade contemporânea, a partir da observação e registro do saber
e fazer pedagógico por meio da realização do estágio obrigatório curricular em uma instituição de
ensino estadual localizada na cidade de Goiânia-Goiás.

2 Estágio Curricular Obrigatório

2.1 Conceito de Escola

A escola é um ambiente social que tem por objetivo orientar, ensinar e, por assim dizer,
educar o ser humano a partir dos diversos aspectos (cultural, cognitivo, histórico etc.) constituintes
de uma sociedade. Este ambiente, é muita das vezes a porta de entrada, depois da família, para a
convivência em grupo. Por isso, é comum que uma de suas funções seja, primeiramente, acolher o
ser humano e, posteriormente, torná-lo capaz de se desenvolver enquanto indivíduo inserido em
uma comunidade. Isso só é possível porque a educação escolar formal abrange desde saberes
cotidianos de senso comum a, principalmente, saberes científicos.
A educação escolar formal no Brasil atualmente é subdividida em educação básica
(educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e ensino superior (graduação e pós-
graduação). Destas, somente o ensino fundamental (1º ao 9º ano) é considerado obrigatório, uma
vez que pela Constituição Federal do Brasil (1988), a educação é um direito de todos. A educação
infantil (creche e pré-escola) é considerada opcional, não é pré-requisito necessário para o ingresso
no ensino fundamental. O ensino médio, por outro lado, é percebido como um direito adquirido
por aqueles que concluíram o ensino obrigatório, ensino fundamental. Cursar o ensino superior,
por sua vez, só é possível quando da conclusão do ensino médio.
Em relação à organização administrativa-pedagógica das instituições de ensino brasileiras,
observa-se a presença de cargos de gestão (direção e secretaria), administrativos (direção,
secretaria, coordenação geral) e pedagógicos (coordenação pedagógica e docentes). É importante
destacar, ainda, que estas instituições escolares são cotidianamente vistoriadas por um
representante da Secretaria de Educação, órgão responsável por orientar e fiscalizar o cumprimento
de todas as normativas estabelecidas legalmente no que tange à educação formal.

2.2 Instituição de Ensino do Estágio

O Colégio Estadual Amália Hermano Teixeira é uma instituição educacional da rede


estadual de Goiás, fundada no governo de Maguito Vilela após a promulgação da lei de nº 13.147,
de 09 de outubro de 1997. Trata-se de uma homenagem feita pelo referido governo à educadora,
professora de Geografia, historiadora, jornalista, conferencista, orquidófila, botânica, pesquisadora
e advogada de mesmo nome, que dedicou sua vida a diversos campos do conhecimento científico.
Localizada na região Norte de Goiânia, no Setor Jardim Balneário Meia-Ponte, a instituição
educacional encontra-se posicionada geograficamente na divisa de três setores residenciais, sendo
eles: o próprio setor Jardim Balneário Meia-Ponte, o setor Parque das Flores e o setor Residencial
das Acácias (Figura 1).
Figura 1: Localização Geográfica da Instituição de Ensino.

Fonte: Google Earth.

A estrutura física da instituição educacional (Figura 2) é quase toda de placas de alvenaria,


salvo o pavilhão de alvenaria situado ao fundo da escola e os muros, ambos construídos
posteriormente. A Secretaria Escolar, situada logo em sua entrada, é fechada por um portão
metálico na cor azul escura. Nos espaços contíguos, encontram-se a Coordenação, a Diretoria, o
Refeitório, os bebedouros e os banheiros masculino e feminino.
Ao fundo destes locais, encontram-se a sala destinada ao uso dos professores e a sala de
Informática, com alguns livros didáticos em sua entrada. Além disso, o colégio é formado por três
pavilhões constituídos de quatro a cinco salas de aula. Mais adiante, há a quadra em chão queimado
e o campo de futebol em grama. No interior da escola, há também a presença de uma grande
diversidade de árvores.
Figura 2: Estrutura física da Instituição de Ensino.

Fonte: Google Earth.

Os docentes da instituição são graduados, pós-Graduados e alguns, inclusive, mestres nas


disciplinas que lecionam. Em relação ao ensino, a instituição é organizada em turmas com níveis,
ou seja, é uma instituição seriada com oferta de educação regular para estudantes dos anos finais
do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. A instituição obteve nota 4 junto à Secretaria Estadual
de Educação do Estado de Goiás (SEDUCE) na última avaliação realizada.

2.3 Projeto Político Pedagógico

O Colégio Estadual Amália Hermano Teixeira tem por objetivo ao aplicar o Projeto Político
Pedagógico (PPP) na realização das atividades de ensino, atender as propostas pedagógicas locais
e aquelas descritas pela Secretaria de Educação do Estado de Goiás. Uma dessas propostas referem-
se à realização do fazer pedagógico voltado tanto para a formação individual do educando quanto
para a obtenção de bons resultados nas avaliações regionais e nacionais de aprendizado, como por
exemplo, a Diagnóstica ADA, SAEGO, SAEB e o ENEM. Propiciando, desta forma, uma elevação
nos resultados educacionais da instituição escolar junto ao IDEB e IDEGO.
A instituição escolar acredita que o ambiente educacional é o lugar adequado para aprender
e interpretar o mundo para que, posteriormente, ocorra uma transformação a partir do domínio das
categorias método e conteúdo, para que, assim, possa ocorrer a inspiração e transformação prática
dos indivíduos na sociedade mediante a transmissão do conhecimento científico. A referida escola
também acredita que ela constitui num único espaço, um ambiente para a ocorrência de uma relação
intencional e sistematizada do saber, cabendo a mesma realizar qualificadamente a atividade
docente na criação de situações de aprendizagem.
O Projeto Político Pedagógico da referida instituição escolar surgiu da necessidade de
planejar, replanejar, estabelecer metas e ações na prática pedagógica, avaliar e reavaliar as práticas
que envolvam o funcionamento da unidade escolar, solidificando desta forma, a sua identidade
educacional.
Assim, o PPP propicia que a instituição escolar conceitue pedagogicamente a
responsabilidade que deseja assumir mediante a sociedade, levando em consideração as
necessidades dos estudantes, estabelecendo assim ações e estratégias para melhorar dia após dia o
ensino na instituição. Para tal, sua elaboração envolve um processo de diálogo conjunto da
comunidade escolar, de alunos, professores, coordenadores, diretor e outros. Para que, desta forma,
seja possível diagnosticar e avaliar as cabíveis soluções para os impasses identificados.

3 Considerações Finais

A partir da realização do estágio curricular obrigatório e do estudo de texto relativos ao


fazer pedagógico foi possível observar quão diferente está o contexto ligado à educação e à
Geografia na sociedade atual.
Deste modo, admite-se o estudo da disciplina de Geografia na busca pela ciência acerca do
sentido de espaço e de tudo que a ele está ligado. Ou seja, na busca pela compreensão da sociedade
como um todo, precisa-se compreender inicialmente sob qual paradigma esta opera. Por isso, a
Geografia é uma ciência que deve ser amplamente transmitida e estudada, uma vez que por meio
desta torna-se possível quantificar e qualificar elementos de natureza geográfico-espaciais.
Assim, o indivíduo ao construir a Geografia, constrói também conhecimentos acerca do que
se produz que é de natureza geográfica. Portanto, ao lidar com coisas, fatos e processos na prática
social cotidiana, os indivíduos vão construindo e reconstruindo Geografias (espacialmente) e, ao
mesmo tempo, conhecimentos sobre elas.
Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996.

CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. São Paulo: Papirus


Editora, 1998.

CAVALCANTI, L. S. O ensino de geografia na escola. São Paulo: Papirus Editora, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
terra, 1996.

LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública. São Paulo: Loyola, 1990.

SANTOS, M. Espaço e Método. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1992.

SODRÉ, N. W. Introdução à geografia: geografia e ideologia. Petrópolis: Vozes, 1987.

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