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Pengar a relagáo que um po€ta como Murilo Mendes mantém com ¿ Filosofia
aponta para eúspas que se desdobram.
¡ ?. Pode-se analisar a quesiio do ponto de vista teorico: tanto por meio de uma teoria que
ernana dos escrftes do po€ta, itrcluindo ai, além d¿ sua poesiq as prosás poeticas e os
textos publicados em periódicos, jomais e catáogos; cpmo r¡rna teoria que vem de fora"
na forma ¿e"tier¡óüa¿e que risca ou borra o dado da obra, como uma sobremarca do
leitor sobre e pensamento do poeta" formando blocos heterogéneos de contágio teórico,
sob as operag6es comparativas de sondagem de hipertextos e quebras conceituais.
§ eode-se, enfin¡ ler o poeta e interpretáJo sob os influxos das duás possibilidades
anteriores, inclusive. Neste caso, o poeta foi pródigo em compor textos-homenagens, e.
uma poesiq qma presenga humana, ma¡cadas pelo interesse üvido por temas de natureza
ñlosoñca (o tempo, o espaso, o homen¡ os paradoxos existenciais, o objeto est&ico,
Deus, etc.).
Vqiaaos um pouco acerca de cada uma destas possibilidades.
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Estudar a relagáo entre Poesia e Filosofia implica, antes de tudq revitalizar a
própria idéia de relagfu. Tal idéia constrói-se a partir da presenqa de uma tradigáo, que se
apresenta como um d¿do ou um her-dado com o qual - e Murilo potencializou esta relaqáo ao
máúmo - o poeta se relaciona, como numa contra-assinatura & *ja estamos diante da
possibilidade de nome¿r o já nomeado, de singularizar o singular, introduándo um gesto de
finitude dentro da cadeia infinita da repetigáo da tradiqáo, o que, ao mesmo tempo,
taractciza um trabalho de distanciamento e resist6icia, se.m iqnoráirr:ia da presenqa 1r'.',-:\-'
de uma repetigáo marcada pela incisáo do re: redimensionada, retrabalhadá, renovada,
,
abrindo a fianca possibilidade da instauragáo de uma lógica: o novo, de novo. E neste jogo
relacional que se inscreve o par Filosofia e Literatur4 com aquel4 desde há muito, nomeando
o que é liter¡ário, definindo-se em relagáo ao que lhe é externo, num processo de identificagáo
distanciamento dos termos sobre si mesmos, dinámica esta bloqueada por s&ulos de
metafisica, onde a filosoña se impds como o próprio da relaÉo, car¡cteriz¿ndo, no modelo
kantiano, uma cristalizagáo de uma hierarquia que delega'a arte o papel de um outro /
diminuído, na medida em que náo *ntroUaoffi tOg¡ca propositfu \"-F, - ' I
Trata-se, portanto, de uma leitura politic4 ou seja, ler o q\te a@ntffi entre o
discurso filosoñco e o discurso poáico, com a poesia resistindo a ser um "exemplo" de
posigóes filosoficag contra r¡rna lógica binária excludente e piramidal que evita os náo-
lugares ou entre-lugares. Isto so é possível se admitirmos a hipótese de uma leitura
contaminada desde uma zona de indiscernibilidade que se forma entre Filosofia e Poesia.
Neste sentido, contágio e coexisténcia parecem ser nogóes paradoxalmente mais justas do que
fim de produzir um pensamento - margem que atravessa o dent¡o - que redefine ambas
desde uma concepg6o ndo-hierbquica. O texto que emerge pode parecer estranho a um
campo específico, justamente porque nño parte de uma origem instituid4 nem se formaliza
através de uma lógica de proposigóes, mas articula-se desde aquele meio bifurcante.
Muito da teoria estética de Murilo Mendes, no nosso caso, vai passar por este
largo movimento de composigáo, que vai da casa ao cosmos, ainda que para retomar. Pa¡a."t"
Deleuze/ Guauari, tal composigáo estáica define e distingue" Arte- Ainda que haja
sensagáo. O plano estetico de composigáo náo é o plano tecnico. A arte n¿o poderia existir
para um ñm tecnicista, ainda que relacione tal plano. Um procedimento tecnico diz respeito
llo tratamento do material da arte, mas urr compósito de sensagóes possui uma existéncia err
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de cada plano e de seus elementos. Interferéncias intrísecas tendern a formar planos mais
complexog dificeis de qualificar. I$o aconlece-quando certos elemeltos deixam o seus
planos e invadem outros (conceitot e Wrsorros conceituais mescladas com sensagóes, por
exemplo). Por ultimo, há uma interferéncia náoJocalizável, quando uma disciplina se
relaciona com o sed-negativo. Tal possibilidade form¿-se desde uma relagiio necessríria de
conño¡J¿gáo com o caos. Neste sentido, a ñlosoña necessita uma compreensáo nño-
móí¿fica, como a arte nec€ssita de um¿ nifo-arte.
Talvez nós estejamos caminhando para a negagáo de uma tese comumente
aceita, r qrál é marda-úelrleitura sup€rficial de certas obras: a idéia de que a Literatura
produz Filosofia ou que a Filosofia possa se apres€ntar ficcionalmente. Contudo, temos visto
que a Literatura náo pode fazer Filosofia porque nño utiliza o mesmo aparato metodológico
da tradigáo filosófica nem intenciona a proposigáo de 'filosofemas' de acordo com as
diferentes correntes de pensamento, ainda que possa ser apreendida como um'filosofema' ela
mesma. Além disto, a Filosofia nño se produz ficcionalmente, pois estaríamos, neste caso,
reduzindo a idéia a uma forma retóric4 além de confi.¡ndir-se Literatura e ficcionalidade. Por
Jtt'J: ''
ot¡tro lado, teoesrri§o que a Literafura produz uma outra forga filosoñca e».paz de zuspender
a\-rbdigño metafisica que a institui como exterioridade. Talvez uma tese possivel, neste
quadro, seja a emergéncia de uma suplementaridade a partir da diferenga na relagáo entre
ambos, sem reduzir um termo ao outro. Neste sentido, temos uma náo-tese, a qual resiste ser
nomeada, fixada. TornáJa'tese', elemento desencadeador Cp ,{isr.'.sÜ logico, resultaria na
perda da sua única possibilidade em relasáo d impossibilidade das teses dif$$. 1- :r,'.'2"'
A poesiq a 'Literatura' , desta forma, situa-se como o outro da Filosofia"
como nño-Filosoñ4 pela zua insistente pluralidade. Ela desestabiliza a idéia de sentido pelo
seu sentido equivoco, deslocando, assim, a base axiomática que caracteriza a Filosofia como
tal e nño somente nos seus efeitos polissémicos. O que resulta éiransformagáo do ñlosófico e
de zua relagáo com o literário. O trabalho da palawa está implícito neste moümento na forma
de um retrabalhar, portanto, onde uma intervengáo ocorre sempre de forma náo-absoluta"
finita. O objeto (a palawa), neste caso, é tanto finitude como infinitude, ao mesmo tempo,
co-presentes. O que torna tal impossibilidade possível é o trabalho da pluralidade. A
possibiüdade de or¡tras repeti@es, marcando a abertr¡ra da Filosofia ao trabalho por vir, dá-
se, neste moümento, pelo retorno i Literatura-
Para um leitor diletante de filosoña, Murilo parece ter lido muito mais do que
um filósofo. Só na zua biblioteca pessoal que se encontra no Centro de Estudos Murilo
Mendeg os volumes chegam a mais de 150. Mesmo assirq na nípida üsita de dois dias que
ñ2, ineütavelmente devo ter deixado de lado alguns autores, tendo em vista que o aoervo
ainda estrí em fase de catalogagáo eletrónic4 e muito da pesquisa foi feita nas próprias
estantes. Not¿-se, de uma maneira geral, que o poeta teve um interesse progressivamente
crescente por filósofos, a comegar pelos anos 30, em torno da produgáo marcada pelo
encontro com Ismael Nery e pela zua conversáo (relatado na série "Recordagóes de Ismael
Nery") mas intensificada nos seus anos italianos, período, tambén¡ marcado pela docéncia na
Universid¿de de Roma, onde quesóes de naturez¿ estétic¿ e ética gerais parecem terem sido
priülegiadas, para além da Literatura brasileira e latino-americana. O que resulta disto, é um
notável caso de um¡ testemunha potencializada, atualizad4 sensível e erudita" do próprio
desdobrar-se do pensamento ñlosofico ocidental do seculo )O( incluindo-se ai seus grandes
debates.
Se, por um lado, temos um conjunto de obras editadas nos anos 30 e 40 - ainda
que nio se tenha certeza absoluta de que o poeta adquiriu-as ou leu-as i época - , marcadas
pelo humanismo cristáo (o que permitirá a um leitor familiarizado com a obra muriliana
realizar infindáveis associagóes com textos escritos na mesma época pelo poeta-critico), por
outro, temos a aquisiqáo de obras nos anos 50 e 60 com a preponderáncia de pensadores que
desconstroem aquela tradigáo, pondo em cheque, tanto a metafisica clássica como a dialaica
hegeiiana envolta em seu materialismo histórico, isto, scja p<;r;neio Ca heranga nietzscheana,
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Entre as mais de 150 obras filosoficas em Juiz de Fora (num universo de 2.864
obras)," que Murilo mais parec€ ter dedicado tempo foram livros de Bergsoq Kark Jaspers,
Bachelard, Freud, Leopardi (enquanto est€ta), Marx, ñetzsche, Oppenheimer, Ortega y
Gasset, Sa¡tre, Theilard de Chardiq Spinoza (o poeta adquiriu a uma edigáo da Ética de 1936
para a Filosoña da linguagem, apontam a sintonia de Murilo Mendes com o seu tempo, o
poeta contemporáneo de si que pressentiu que um dia seria modemíssimo como o futuro
(num aforisma de O Discípulo de Ema{ts , de 45): refiro-me a um primeiro Foucault, de ls
Palavras e as Coisas, numa ediqño de ó6, obra muito anotada; um primeiro Barthes, do Grau
Zero dn Escritura, na edigdo de 53 e, para *rpl"t- o interesse por uma teoria do texto, que
var permear os poemas de Sintaxe-Con o último livro de poemas de Murilo
(relagño que pude intuir já nos anos 80, na minha dissertagáo de mestrado - O Cometa e o
,' Boil*ino¡, a leitura generos¿mente anotada dos Ensios Críticos barthesianos, na edigáo de
\ oe..Apontanao p¿¡ra a fundageo de uma aporística que alimenta a sua obra (por exemplo: o
iágrado- profano), a presenga de Bataille - hoje musa de alguns pós-graduandos - da
campo filosófico, plenamente suas contradigóes, principio já definido nos anos 30 ("o homem
é um ser de espantosas contradigóes"). De uma maneira geral, seria possível agrupar, para
narrar a visita deste ao Brasil em 49, sendo recebido por Murilo e Saudade) e Merleau-Ponty,
lido em torno de 55, daves de As Aventuras do Dialética. Um outro agrupameÍto, uma outra
assembléia heterogénea, poderia ser eventualmente entendida como autores de ruptura
epistémica e de desconstrugáo da tradigáo humanística e metafisica. Este poderia ser o caso
' leitur4
*fi. e, sobretudo, ao hegelianismo conciliador, como prov¿rm as várias marcas de que
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cagam observag6es críticas a Hegel. Num certo sentido, Murilo adota um estratégia de leitura
contemporánea, que trabalha com os termos do próprio sistema que üsa indagar, numa ag6o,
no caso, triplamente transgressora. x
Com o distanciamento temporal que hoje temos, talvez seja possível,
entender o espago de ruptt¡ra que Murilo sernpre buscou¡+Jbr antiescolástico, fugir dos
de vanguarda.
Para o historiador esta redg hoje, é nomeável: num exercicio de contar uma
Trans-históri4 envolve a chamada "virada lingüística", explorando sistemas imanentes e
auto-referenciais que se relacionam com as séries sociais de forma multidimensional e
intensiva, que descentram as estruturas que tendem a cristalizar-se em segmentos rígidos,
numa crítica que se apóia na clivagem do sujeito autoconsciente e humanista, mas avangando
no questionamento das lógicas binti¡ias conceituais, pela dardejante critica ao capitalismo
produtor de uma subjetividade condicionada e do marxismo convertido em estado totalitário,
em favor da multiplicidade de micropráticas criativas como solugóes culturais para o plano
político, contra w¡a mítica do homern, da razÁo e da lógica.
Náo por acaso, entre ¿ts marcas da leitura da edigáo it¿liana de Aurora de
Nietzsche, comprado e lido em 74, ano anterior á ñrorte de-IvFrifo, $iu anota, ao final, a
"epoca di transizione" e o "secolo XX", num comovente registro, texto sobre o texto, do
poel¿ tentando marcar o seu tempo, interpretar o mundo que üu, traduzir um¡ üda de busca
etica e civilizacional desde a leitura do outro que lhe provoca a pensar o que resta a ser
pensado.
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a,
Em ülagáo a Heráclito, poderíamos lembrar que o efeito multiplicador
desejado na poesia de Murilo Mendcs tlá-se pela via da espacializagáo do tempo, o que
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relaliytza ambos quanto aos seus limites. Para Valéry, o seculo XX implica um
embaralhamento das cartas em todos os assuntos humanos, especialmente em relageo ao
tempo presentq o qual no seculo anterior era aceito, sobretudo, como desenvolvimento dos
acontecimentos produzidos no passadot Ou sejA uma seriagáo que Murilo vai zubstituir por
cGpresenga transistóric4 o que lembra a concepgáo filosoñca deleuze-guattariana do tempo
como o espaso alargado das coexisténcias, onde antes e depois contam apenas como estratos.
Esta hibridizasáo temporal em Murilo coincide com um texto igualmente híbrido. É claro que
tal concepgáo de tempo poderiA tambén¡ facilmente ser relacionada com a imagem do anjo
da história de Walter Benjamir¡ na qual o corpo projetado para o futuro tem os olhos voltados
para o passado com o ser¡ acúmulo de catrístrofes. A¡tes dele, poréÍL Murilo já escrevera em
um poerna de 1933:
Minha boca está no fes€[te,
O meu olhar esrá no Fssado,
De acordo com esta concepgáo, algo irrealizado está no passado, isto é, o passado virá.
Poshfa-se, portanto, uma origem posterior. Como observou Dela¡ze ao ler Bergsoi:'i o
pres€nte determina c. passado. A
nogáo de história em Murilo sempre foi fragmentiíria e
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descontinua:"só náo existe o que náo pode ser imaginado\r . 1'
em que o distante reflete o próxiino. Neste reajuste, efetua uma agáo poética seletiva e
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com a linguagem.
o nrۤm
o elécton
o góton
Heráclito de Éf€so
T¡¡do flui
Deflui
No devt
Tudo devirá devém
üss
devisa H€Íiclito de Éfeso
move menl,e
pai movime o
deseamo.s
desaguamos
de$eramos
desfoganos
Ar tefo
ágrua texto
terra texto
fogo texto
com texto
no
tmiverso
cootex:lo
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O instinto de liberdade que Murilo Mendes nos fala nas prosas poáicas
de A ldde do Serrott o¡de ele revela a zua obsessáo em abrir gaiolas, leva-o, neste x
'Murilograma a Heráclito ¿e Efeso\ a soltar o pássaro da história. Ao tomar um filósofo pré-
socrático e fazer seus pensamentos presentes, Murilo estabelece, deste modo, um canal
comunicativo, um¿ estrutura dialógica entre seu próprio texto e o texto de Heráclito, de-+soo-
an o. Ao pernar um ('universo atravessado por >r
múltiplas linhas de cultura\ o po€Í¿ brasileiro converge dentro do puro tempo de seu texto,
tanto'passado *rno'futuro. Isto é possível ( po idade, t¿lvez ssesse
=DEniÚ¿) desde o porto de vist¿ que c¿raaeriza ¡&l modernidade complexa e particularda-
qgal-falavasos (e nós podemos pensar t¿mEm em Eliot, Pound Mário de Andradg etc.), a
qual entende que alguma coisa no passado náo está dita e pode emergir, nova, no presente.
Em outras palavras, desta inversAo critica e criativa, o passado náo é aindq mas virri abrindo
a perspectiva do poeta contar uma história aberta do futuro.
O conhecimento produzido pela linguagem é tributá,rio de uma operagáo
det'reuniño1 Conhecer é retrabalhar fragmentog fazendo-os ressoar, criando um ritmo capaz x
de colocáJos em dependéncia. Eles debatem-s€ com a perspectiva de uma unidade (esta é
uma indecibilidade vital do pensamento muriliano). Este escritorleitor devora o que ele
deseja: ele destrói e constrói textos incessantemente. Ele toma-se texto, ou entra numa zona
várias vozes para criar a ilusáo !e uma §ó. O efeito so poderia ser transitivo, contingente e
instável. 'De quang» üdí fazemos parfe...'22, insistia o poeta, quas€ citando Heráclito.
Entretanlg, o fieta transcri4 náo transcreve. A combinaqáo do texto é única: ela é baseada na
dissonant'23. '
' ¿""'
brought toeether, something being separated; something coosonant, something
Em outras palawas, nós temos endcregada aqui a Sintaxe-Convergéncia que Murilo lv{endes
ll
articula em seu último liwo de poemas. Mas Herá,clito estabelece ainda alguma tensáo,
configurando uma cosmologia: lde todas as coisas vem uma, e de uma, todas as coisas!. É
claro, que neste caso, nós náo temos propriamente opostoq mas um processo onde qualquer
objeto será um todo num pleno Todo, o Universo ele mesmo. ft *jC atrat4-+h,ment-F nós
podemos alcanqar ambos a unidade na diversidade e a diversidade na unidade des coisas,
como uma üsii,o microscópica relacionada com r¡m r¡u¡crocosmo. Esta questii,o torna-se
import¿ e ao longo da teoria poáica muriliana: a idéia de ob,ter-se o miíximo desde um
minimo. Nós náo poderíamos, entr€tanto, falar facilmente acerca de siftese neste processo,
uma vez que o que nos porece scr conñgurado aqui, seguindo a performance da lirq é um
estado de tensáo momentiine4 gerando (dede um sentido elétrico) uma certa energia
renovada e ütal desde a mistura e do conflito de elementos simbólicos diversos. Est¿
expressa o compromi sso básico de Heráclito: o objeto como um ponto num círculo
aparecerá formado por propriedades opostiur, dependendo da perspectiva em que é visto. Em
algum sentido este princípio eterno (o um que é sárbio) é incorporado por qualquer fen6meno
transitório. A mesma nogño pode ser vista na escritura de He/aclito, onde náo é táo óbvio
onde cada parte comegg- íesultando numa estrutura afror¡xada. Mas nós devemos insistir que
o que temos aqui nlo é uma idéia de unidade como identidade, mas de uma unidade inspirada
por um moümento contínuo de mmplementaridade e reciprocidade. De acordo com as
t2
atravessado por linguagens. Ao mnstituir-se como passagem (ou rio, ou estrada, para lembrar
Heníclito) ele distribui, entrega, linguagem. Desta indecibilidade Murilo pode apontar para a
cosmicidade do texto.
O que nós encontramos aqui é um itinerário para a criagáo: um Logos posto em
moümento, deslocado pela teruiúo e transversabilidade da rota. Um trabalho com palavras
carregando tudo para um Plano de Composigáo. Espago liso em constante d"
!,y
desaparecer. Linhas em movimento: o cósmico texto de Murilo Mendes, Éo¡ fatias
ryf*
do caos.