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ABSTRACT: This work aims to prospect the potential of products of biotechnological origin
in the design for sustainable products. In this case, we deal with the cultivation of bacterial
cellulose obtained from Kombucha, a milenar probiotic drink. We used three research
methods in this prospection: first, we adopted the exploratory research, which describes the
descriptors associated with the term Kombucha and bacterial cellulose; second, we adopted
the descriptive research using graphs and tables on the panorama in which the research is
inserted, with the presentation of qualitative and quantitative information; third, a
explanatory research approach that allowed the assimilation of the means and methods
through the practical experiments adopted in the production of bacterial cellulose. We
present the basic methods and different techniques used for the bacterial cellulose
manufacturing process, treatments and finishes and the first practical experiments and the
results of the research in progress.
Keywords: Ecodesign, biomaterials, biotechnology, sustainability, materials and
manufacturing process
ZOHRER; BIZ. Cultivando materiais: o uso da celulose bacteriana no design de produtos
1 — Introdução
Essa pesquisa faz parte da tese de doutorado em andamento sobre novos materiais e
processos de fabricação para produtos em eco-compósito, assim como é uma pesquisa da
linha de biodesign do laboratório de design para agricultura urbana e sustentabilidade,
Espaços Verdes da ESDI.
O eco-compósito surge quando os materiais componentes de um compósito (fibras e
matriz) respeitam as metas ambientais, podendo ser de origem vegetal, derivados de
fontes renováveis ou não, devendo ser atóxicos e abundantes. As duas fases podem ser
biodegradáveis ou apenas uma delas, sendo que, no caso em que ambas as fases são
biodegradáveis, são conhecidos como bio-compósitos (SCHUH; GAYER, 1997).
Os materiais biotecnológicos com base na celulose bacteriana (CB), estão sendo
investigados para diferentes usos em produtos por apresentar condições de produção de
baixo custo, baixo impacto ambiental e por suas características físico-químicas e
mecânicas únicas, sendo um material biodegradável com aplicações nas mais diversas
áreas como: cosméticos, indústria têxtil, mineração e refinaria, tratamento de lixo,
purificação de esgotos, comunicações, indústria de alimentos, indústria de papel, medicina,
laboratórios, eletrônica, energia, engenharia de materiais, nas artes e mais recentemente
no design de produtos sustentáveis.
Neste artigo, apresentamos a kombucha e a celulose bacteriana, explicando suas
características; as aplicações da CB para diversos fins; as receitas de como produzir CB a
partir de kombucha; os resultados dos primeiros experimentos; e discutimos seu potencial
ecológico como substituto do couro animal.
2 — O que é kombucha?
Kombucha é uma bebida fermentada produzida à base de chá verde e sacarídeos, como o
açúcar. É uma bebida milenar chinesa que acredita-se possuir propriedades medicinais
por ser probiótica e pelos produtos gerados da fermentação. A fermentação acontece a
partir de uma colônia viva de fungos e bactérias denominada Scoby1 ou Zoogleia.
A Kombucha é conhecida por diferentes nomes a listar: Kombuchá, Kombucha Tha,
Kombucha Mushroom Tea, Kombucha Mushroom Infusion, Kombucha Chá, Algue de Tha,
Champanhe da Vida, Champignon de la Charite, Champignon des Haros, Champignon de
Longue Vie, Champignon Miracle, Fungo Japonicus, Dr. Sklenar Kombucha Mushroom
Infusion, Kargasok Chá, Teekwass, Manchurian Fungo, Manchurian Mushroom Tea, Petite
Mare Japonaise, Spumonto, T’chai do Mar, Tade Kombucha, Thade Kombuchá,
Tschambucco.
A composição de fungos e bactérias dessa colônia “varia de acordo com condições
geográfica e climática, assim como da diversidade de espécies de fermentos e bactérias
selvagens” (RODRIGUES et al., 2009). Pode ser composta pelas bactérias
Gluconacetobacter xylinus, Bacterium gluconicum e dos fungos Zygosaccharomyces
kombuchensis, Pichia fluxum e Saccharomyces sp., entre outras. Isso quer dizer que cada
kombucha terá resultados diferentes de fermentação, porque cada fungo e bactéria produz
coisas diferentes. Por exemplo, o saccharomyces sp., também conhecido como fermento
1 Acrônimo de Symbiotic Colony Of Bacteria and Yeast, em português, colônia simbiótica de fungos e bactérias
3 — Celulose bacteriana
A celulose bacteriana (CB), conhecida assim porque a celulose é produzida por
microorganismos como bactérias, difere da celulose vegetal, obtida de árvores ou outros
vegetais. A composição química da celulose bacteriana é igual a da celulose vegetal. Ambas
são um polímero linear de unidades de β-D-glucopiranose ligadas entre si por ligações
glicosídicas β (1 à 4), mas as semelhanças param por aí, pois em termos estruturais, há
diferenças significativas entre as duas: as cadeias poliméricas de celulose bacteriana são
mais curtas que as da celulose vegetal e organizam-se espacialmente de forma mais ordeira
e em escala nanométrica, pelo que a sua cristalinidade é mais elevada. Além disso, a
celulose bacteriana é obtida numa forma pura, livre de outros polímeros, ao passo que a
celulose vegetal forma um compósito com lignina, hemiceluloses e pectina.
A celulose bacteriana também é conhecida por outros nomes de acordo com a área de
pesquisa ou contexto de uso, como por exemplo: biocelulose, celulose nativa, couro
vegano, nanocelulose cristalina, biofilme e mãe do vinagre. A bactéria mais estudada para
produção de celulose é a gluconacetobacter xylinus, por ser mais eficiente produtora de CB.
A produção de CB pode ser conduzida em condições estáticas, por agitação ou por
misturação, resultando em diferentes formas estruturais de celulose. Quando produzida
condições estáticas, resulta uma película tridimensional reticular interconectada,
enquanto tanto por agitação ou misturação é produzida uma partícula de celulose
irregular em forma de esfera com menor resistência mecânica (RODRIGUES et al., 2009).
Na atual busca por novos materiais resistentes, baratos e sustentáveis que possam
substituir aqueles derivados do petróleo e de origem animal, a celulose bacteriana
encontra-se como uma importante alternativa, principalmente devido às seguintes
propriedades:
● Elevada resistência térmica: combustão aos 325ºC;
● Elevada força tênsil, na ordem dos 200-300 MPa (consequência do seu alto
grau de cristalinidade);
● Condutibilidade elétrica e mecânica;
● Proteção UVA e UVB;
● Baixa densidade;
● Biodegradabilidade;
● Material de fonte renovável.
O CB possui uma organização de fibras naturalmente porosa, que atua como uma matriz
capaz de agregar uma variedade de partículas de diferentes tipos de materiais de reforço,
gerando um material compósito com diferentes propriedades. Por exemplo, quando
utilizada nanoplaquetas de grafite como material de reforço à CB, forma-se um compósito
de boa condutibilidade elétrica para uso materiais eletrônicos (ZHOU et al., 2013). Quando
agregada a outros materiais, chamaremos de compósito de CB. O compósito de CB pode
ser sintetizado tanto por métodos in situ quanto ex situ. No método in situ, os materiais de
reforço são adicionados durante a síntese do polímero, ou seja, durante produção da CB
pelas bactérias, enquanto no processo ex situ, o CB é impregnado com materiais de reforço
em uma fase de pós tratamento (ESA et al., 2014).
É já extensa a lista de publicações que referem as fibras de celulose bacteriana como um
biopolímero promissor, assim como seus compósitos. Alguns destes compósitos já vêm
sendo usados no fabrico de peças de aviões e automóveis. A celulose bacteriana é também
utilizada no fabrico de novos têxteis, com especial ênfase em materiais super-absorventes,
como aditivo na produção de papel, como estabilizador de emulsões na indústria de
cosméticos, etc.
4 — Aplicações
Dada suas propriedades, a CB tem sido usada em diversos produtos, tanto em fase de
pesquisa como já disponíveis para consumo. Os usos mais comuns são para proteção,
conservação, estabilização de emulsão, condução elétrica e mecânica, absorção de
poluidores, filtração e vestimenta. Abaixo apresentamos uma tabela das aplicações da CB
classificada pela área de aplicação.
Quadro 1: Aplicações da CB por área e exemplos de aplicação em produtos. Fonte: dos autores
Figura 1: Receita de Celulose Bacteriana da Suzane Lee. Fonte: Adaptado e traduzido de Popular Science, 2015
Além do que Vieira (2013) cita, devemos considerar que na produção da Kombucha
podemos obter não só a CB mas o probiótico de Kombucha e o refrigerante de Kombucha
(obtida de uma segunda fermentação só que do tipo anaeróbica). Abaixo seguem os
processos de obtenção da CB para diferentes fins, que se utilizam de meios ricos ou
complexos a partir de um scoby ou em solução fermentada que é a própria bebida de
Kombucha contendo os fungos e bactérias. Nas receitas mais comuns de Kombucha para
cada litro se usa 100g de açúcar, de 4-6 bolsas de chá preto e 25 % de bebida de
Kombucha. Abaixo as proporções para se fazer 1 litro de meio de cultivo segundo
diferentes pesquisadores.
A receita proposta pela Ellen Rykkelid é uma adaptação da proposta de Suzanne Lee. A
principal variação está no uso de outras fontes de sacarídeo no meio de cultivo que o
scoby vai consumir, que resulta em variações no tempo de fermentação e nas
características da CB, principalmente variando em coloração e transparência e
propriedades mecânicas. Outra diferença é o uso de vinagre da produção anterior (solução
fermentada ácida), caso não seja a primeira vez que se esteja fazendo. Para Rykkelid
(2017), quanto mais ácido o meio, mais rápida a fermentação. Além do vinagre da
produção anterior já possui cultura suficiente para iniciar a fermentação, dispensando o
uso de um novo scoby. Outra diferença reside no fato de Ellen Rykkelid não usar chá verde
ou outro chá associado à produção de kombucha.
Segundo a pesquisa de Vieira (2013), o chá verde é utilizado pois se trata de pesquisa na
área de farmácia para obtenção do que chamam de biofilme, sendo as propriedades
medicinais do chá verde úteis e afetam positivamente o crescimento da cultura do scoby.
Além dos estudos de propriedades medicinais do biofilme obtido, na pesquisa de Vieira
6-Primeiros testes
Após obtenção de um scoby, fizemos os primeiros testes de produção de celulose
bacteriana. Esses testes tiveram caráter exploratório e assistemático, buscando dominar a
técnica de produção da CB. A princípio foram utilizados recipientes plásticos com
capacidade para 3l como biorreatores estáticos, onde foram testados diferentes
formulações. Testamos a receita da Suzanne Lee, Ellen Rykkelid utilizando cenoura.
Figura 2: Biorreatores estáticos com três receitas para produção CB. Fonte: Os autores
Figura 3: Duas amostras de celulose bacteriana feitas, respectivamente, de açúcar cristal e de mascavo. Fonte
os autores
Conclusões
Este artigo buscou introduzir uma visão geral sobre a CB, suas aplicações e técnicas
básicas de produção. Não encontramos registros de experimentos com ou sobre CB em
pesquisas de design brasileiras. A indústria de biomateriais cresce e, como apresentamos,
já vem sendo empregados no exterior por designers, principalmente pela moda, e por
engenheiros.
Dada a facilidade de produção, versatilidade de aplicação e propriedades a celulose
bacteriana mostra-se um material promissor na substituição de materiais de origem não
renovável ou menos sustentáveis. A facilidade de produção também é um ponto positivo
para utilização para fins didáticos em sala de aula e pesquisas acadêmicas.
Próximos experimentos que pretendemos fazer são de pós-tratamento da CB para
tingimento e impermeabilização; processos de fabricação de conformação e união da CB
ainda úmida com produções do tecido em maior escala para desenvolvimento e avaliação
de protótipos de produtos.
Referências
DONINI, Igor A. N.; DE SALVI, Denise T. B.; FUKUMOTO, Fabiana K.; LUSTRI, Wilton R.;
BARU, Hernane S.; MARCHETTO, Reinaldo; MESSADDEQ, Yomes; RIBEIRO, SYDNEY, L..
SCHUH, T.; GAYER, U. Automotive applications of natural fiber composites. Benefits for the
environment and competitiveness with man-made materials. In: LEÃO, A.L.; CARVALHO.
F.X.; FROLLINI, E. (Ed.) Lignocellulosic-plastics composites. São Paulo: USP, 1997.
p.181-195.
ZHOU, T., CHEN, D., Jiu, J., NGE, T.T., SUGAHARA, T., NAGAO, S., KOGA, H., NOGI, M.
Electrically Conductive Bacterial Cellulose Composite Membranes Produced by the
Incorporation of Graphite Nanoplatelets in Pristine Bacterial Cellulose Membranes,
Polymer Letters, v.7, n.9, 2013, p. 756–766.
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Biz, Pedro; Mestre; Padrões de projeto para revistas digitais para tablet; Washingtion Dias
Lessa; 2015; http://lattes.cnpq.br/8230211690851475
pedrotrg@gmail.com