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ACÓRDÃO
Documento: 759733 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/05/2008 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 84.289 - SP (2007/0129019-9)
RELATÓRIO
“(...)
Em que pesem os argumentos colacionados pela esforçada Defesa, o pedido
não comporta acolhida.
Exsurge dos autos que o reeducando cumpre pena privativa de liberdade
unificada em 17 anos e 06 meses de reclusão, a ser cumprida no regime fechado, por
infração aos artigos 225, §2º (duas vezes); 225, “caput” (três) vezes; 233 (quatro vezes),
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todos do CPM (fls. 19), sendo promovido ao regime semi-aberto aos 12.04.05.
Segundo a decisão impugnada, o reeducando não tem mérito para cumprir a
pena em regime mais brando posto que cometeu duas faltas graves (aos 17.02.2006 e
18.02.2006), devendo ser regredido ao regime fechado, até que sua conduta possa ser
considerada adequada para que seja beneficiado com a progressão.
O magistrado a quo entendeu que o Agravante nada apresentou para
demonstrar a inexistência das faltas que lhe foram imputadas, posicionamento aqui
combatido pela Defesa, argüindo o abuso e a ilegalidade das ordens descumpridas e a
desproporcionalidade da pena aplicada ao caso.
Ocorre que, a despeito das considerações da defesa, infere-se que o
Agravante cumpre pena privativa de liberdade e, na condição de interno de
estabelecimento prisional, deve respeitar as normas disciplinares ali vigentes,
submetendo-se ao Regimento Interno do Estabelecimento Prisional e a Lei de Execução
Penal.
A Lei determina a regressão de regime de cumprimento de pena quando do
cometimento de transgressão de natureza grave pelo reeducando.
Neste sentido, nenhum reparo merece a decisão atacada.
Por outro lado, os motivos para a aplicação da punibilidade, aqui
discutidos, também o foram em sede própria, sendo que o Agravante não logrou êxito em
provar a inexistência da falta.
Descabe, em Agravo em Execução, reanalisar o mérito da punição
disciplinar.
Tendo em vista que a Defesa, em prequestionamento expresso, postulou a
manifestação quanto à validade da decisão impugnada, à luz da legislação pátria,
impõe-se algumas considerações.
Reclama a defesa que o ora Agravante, como preso provisório, não está
sujeito à obrigatoriedade do trabalho interno no presídio, tendo, inclusive, optado pelo
trabalho externo, qualificando como “trabalhos forçados”, aqueles que lhes foram
determinados através da escala.
A teor do disposto no art. 27, inciso XXX do Regimento Interno a que se
submete o Agravante, figura entre os deveres do preso: “submeter-se às atividades
laborativas de qualquer natureza, quando escalado”.
Em suma, depreende-se dos autos que o Agravante deixou de assinar a
escala de serviço, quando esta lhe foi dada ciência pelo Oficial do dia, incidindo em falta
grave. De outra banda, também não compareceu ao local para a realização do trabalho
para o qual estava escalado, ensejando a aplicação de reprimenda. Tais punições, de
natureza grave, segundo a norma de execução penal, ensejam a regressão de regime de
cumprimento de pena.
Cabe destacar que a atividade laborterápica, bem como a hierarquia e
disciplina são mecanismos indispensáveis para a ressocialização do sentenciado, escopo
pretendido pelas normas de execução penal.
Não se pode olvidar que, in casu, cuida-se da restrição de direitos, entre os
quais, a privação da liberdade, oriunda de condenação em sentença criminal.
Em linhas gerais, o preso deverá submeter-se ao trabalho, respeitadas as
condições individuais, habilidades e restrições, sendo obrigatório ao condenado à pena
privativa de liberdade (art. 112 e art. 116 respectivamente do Regimento Interno do
Presídio), destinando-se um dia para o descanso semanal (§ 1º art. 117 do aludido
Regimento).
E, em que pesem as argüições defensivas quanto à violação do art. 33 da
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Lei de Execução Penal, a interpretação do referido instituto não permite a conclusão pela
ilegalidade do desenvolvimento da atividade laboral, nos moldes em que ocorreu no
presente caso. Senão vejamos:
Art. 33 - A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis), nem
superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados.
Parágrafo único – Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos
presos designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento
penal.
Anote-se que, segundo a doutrina, “É comum, nos estabelecimentos
penitenciários, que os condenados trabalhem aos sábados, domingos e feriados, quando
nas atividades acima exemplificadas. A estes, agregue-se também o preparo da
alimentação, no mais das vezes entregue aos próprios condenados, muito embora com a
supervisão da administração do presídio. Evidente que, em casos tais, deverá haver a
necessária compensação das horas trabalhadas, de modo a não prejudicar o descanso,
bem como a remição respectiva” (KUEHNE, Maurício in “Lei de Execução Penal
Anotada”, 5ª Ed., Editora Juruá, 2005, pág. 117).
Ressalte-se, também, o trabalho do preso não está sujeito ao regime da
Consolidação das Leis do Trabalho (art. 111, § 2º - Regimento do Presídio Romão Gomes),
sendo as condições para a realização da atividade, aquelas determinadas pela Lei de
Execução Penal e pelo Regimento Interno do estabelecimento penal em que o reeducando
se encontra recolhido.
Por oportuno, repita-se, a lei expressamente prevê o benefício da remição de
pena pela execução do trabalho do preso.
Quanto à hipótese ventilada pela Defesa, em relação ao preso provisório,
resta esclarecer que, ao reeducando, nessa condição, o trabalho externo é vedado, à vista
do disposto na Lei de Execução Penal e no Regimento Interno do Presídio.
Do exposto e, acolhendo a manifestação ministerial, esta Egrégia Primeira
Câmara Nega Provimento ao Agravo para manter a decisão impugnada, por seus próprios
e jurídicos fundamentos.”
É o relatório.
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EMENTA
VOTO
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comprovados durante o próprio encarceramento, como posteriormente, na vida em
liberdade, quando o então aprendido poderá ser de enorme valia na obtenção de
trabalho.
Para compreender-se perfeitamente essa vedação há, no nosso entender,
que se dar a devida dimensão ao qualificativo 'forçados'. O que o Texto quis excluir é a
possibilidade de imposição de trabalhos com cominação de penas, o que vale dizer,
procurou-se banir aqueles labores exigidos coercitivamente. É que aqui a própria valia do
trabalho fica posta em causa, prejudicada pelo seu aspecto coercitivo, que assumirá
certamente o ar de uma pena aflitiva suplementar. De resto, é preciso atentar-se para
possíveis abusos passíveis de ocorrência nesse campo, como nos dá conta Dostoievski, em
Recordações da casa dos mortos, ao narrar que o pior castigo enfrentado pelos detidos
era o terem de carregar pedras de um lado para outro e, depois, recolocá-las no lugar de
origem. O trabalho privado de significação prática é execrável.
É evidente que a Lei Maior não está a repelir métodos positivos de
estimulação ao trabalho que poderíamos considerar como autênticas sanções premiais.”
Artigo 2º
1. Para fins desta Convenção, a expressão "trabalho forçado ou
obrigatório" compreenderá todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça
de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente.
2. A expressão "trabalho forçado ou obrigatório" não compreenderá,
entretanto, para os fins desta Convenção:
a) qualquer trabalho ou serviço exigido em virtude de leis do serviço militar
obrigatório com referência a trabalhos de natureza puramente militar;
b) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
comuns de cidadãos de um pais soberano,
c) qualquer trabalho ou serviço exigido de uma pessoa em decorrência de
condenação judiciária, contanto que o mesmo trabalho ou serviço seja executado sob
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fiscalização e o controle de uma autoridade pública e que a pessoa não seja contratada por
particulares, por empresas ou associações, ou posta á sua disposição;
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. OSWALDO JOSÉ BARBOSA SILVA
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : RODRIGO CÉSAR BELARMINO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : RODRIGO CÉSAR BELARMINO (PRESO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do pedido e, nessa parte, denegou a
ordem."
Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho e Jorge Mussi
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Laurita Vaz.
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