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AULA SOBRE GÊNEROS – TURNER

1. CINEMA DE AUTOR E GÊNEROS


Um polêmico artigo do cineasta francês François Truffaut, publicado em Cahiers du
Cinéma, em 1954, marca o início da “teoria” do cinema de autor. Embora seus argumentos
específicos se limitassem quase inteiramente aos conflitos industriais e políticos da indústria
cinematográfica francesa da época, acabou levando a uma posição estética, pois defendia a
necessidade de uma visão ou estilo pessoal nos filmes de um diretor. Considera-vase que
mesmo alguns filmes produzidos sob as condições mais industrializadas (Hollywood) traziam
a marca de um artista/autor. Como tal a teoria invocava padrões artísticos, ao mesmo tempo
em que, paradoxalmente, resgatava uma grande massa de filmes populares (as comédias de
Jerry Lewis, por exemplo) que tinham sido remetidos, igualmente por críticos e teóricos, à
lata de lixo cultural. (p. 44)

Só uma leitura mais aprofundada pode revelar as complexidades do debate sobre o


cinema de autor; aqui basta realçar vários aspectos importantes de sua influência nos
estudos sobre cinema. Primeiramente, em uma de suas manifestações, a teoria do cinema
de autor prosseguiu do interesse na mise-en-scène para se concentrar no estilo visual – no
modo como os filmes eram compostos e construídos para o espectador. Muitos críticos
alinhados ao cinema de autor descobrem uma “assinatura” estilística nos visuais que
atribuem a um autor/“autor”, o que se tornou um hábito na prática da crítica. (p. 45)

Um outro segmento focalizou seu interesse nos filmes de gênero. “Gênero” é um termo
apropriado extraído dos estudos literários e empregado para descrever o modo como grupos
de convenções narrativas (envolvendo trama, personagem e mesmo locais ou cenário) se
organizam em tipos reconhecíveis de entretenimento narrativo – filmes de faroeste ou
musicais, por exemplo. (HÁ FILMES QUE SE MISTURAM, COMO OS DE JULIANA ROJAS,
MUSICAL + HORROR) Os críticos ligados ao cinema de autor perceberam que esses
conjuntos de convenções eram usados pelo público e também pelos cineastas. Portanto,
devem exercer algum poder determinante sobre o que o diretor pode ou não pode fazer se,
por exemplo, ele ou ela quisesse fazer algo que o público reconheceria como um filme de
faroeste. As restrições do gênero limitavam os meios pelos quais qualquer assinatura autoral
pudesse ser inserida, para não dizer detectada. O gênero também era visto por muitos
diretores como uma convenção a ser desafiada. Inevitavelmente, foi preciso definir o gênero
para entender suas variações (p. 45-46)

Esse trabalho revelou o dinamismo dos gêneros, como mudam, modulam e redefinem a
si próprios continuamente; o gênero emerge como o produto de uma tripla negociação entre
público, cineastas e produtores. Isso levantou uma questão que mais tarde tornou-se
proeminente: o papel do cinema como uma mercadoria – um produto comercializável
vendido ao público entre outras coisas por meio do gênero. Mais importante, essas
indagações deram início a uma longa série de reavaliações da noção de gênero, o estudo
das relações entre o público e os filmes, e uma melhor compreensão do prazer daquilo que é
familiar e previsível no entretenimento popular – em parte atenuando o até então
convencional privilégio que se dispensa ao novo, singular e original. (p. 46)

2. GÊNERO
(...) Aqui, o gênero é um sistema de códigos, convenções e estilos visuais que possibilita
ao público determinar rapidamente e com alguma complexidade o tipo de narrativa a que se
está assistindo. Mesmo o acompanhamento musical dos títulos pode indicar se o filme se
enquadra em amplas categorias genéricas como comédia e faroeste. À medida que o filme
se desenrola, desenvolvem-se particularidades mais sutis, envolvendo o reconhecimento
talvez de um estilo visual, ou um conjunto detectável de valores morais e ideológicos que
permitirá classifica-lo entre aqueles filmes policiais de suspense. (p. 88)

O que o gênero reconhece é que o espectador assiste a qualquer filme num contexto de
outros filmes, tanto aqueles que viu pessoalmente como os de que ouviu falar ou viu
representados em outros meios de comunicação. Este aspecto do gênero, a
intertextualidade, determina os limites das expectativas do público. É o que diz ao
espectador o que ele deve esperar, podendo deliberadamente enganá-lo quando oferece
expectativas que não serão atendidas. De um modo geral, a função do gênero é fazer filmes
compreensíveis e mais ou menos familiares. Mesmo quando se faz uma paródia ou crítica de
um gênero, isto depende do reconhecimento e da familiaridade do público com relação ao
alvo. A escolha de um xerife negro em Blazing Saddles/Banzé no Oeste só é cômica se o
espectador percebe quão radicalmente isso difere das convenções de gênero  FINAL
GIRLS, A CABANA (p. 88)

Um gênero geralmente inclui expectativas específicas quanto à narrativa (...), de modo


que a tarefa de resolver os conflitos do filme possa ser submetida ao gênero. Nos faroestes,
o confronto final entre forças opostas é quase que ritualmente representado por um tiroteio.
Com o arranjo desse tiroteio (quem vence e como) o cineasta “fecha” o filme. Convenções
genéricas ajudam no desfecho, confirmando-o como uma força textual, e dividindo com o
filme parte da responsabilidade deste último por articular uma solução individual. (p. 88)

Os gêneros dependem da competência e da experiência do espectador: da habilidade


que desenvolveram em entender os filmes e do conjunto de experiências semelhantes a que
podem recorrer. Embora muitos filmes fracassem porque são previsíveis demais e muito
amarrados aos limites do gênero, outros não obtêm sucesso simplesmente por não serem
compreensíveis. (...) Os filmes precisam alimentar expectativas que possam ser atendidas;
ou se não o fizerem, deve haver uma razão plausível e uma recompensa para o público no
desenlace final. Um filme de suspense, por exemplo, oferecerá muitas soluções possíveis
para a trama que construiu como uma maneira de “despistar” o espectador até o momento
apropriado de revelar a identidade do assassino. O público aceita isso. Psicose,
deliberadamente e de forma maliciosa, nos leva a acreditar na existência da mãe de Norman
Bates para que não encontremos a real explicação dos assassinatos. (p. 88-89)

(...) Os produtores de filmes populares sabem que cada filme de gênero tem de
apresentar duas coisas aparentemente conflitantes: confirmar as expectativas existentes do
gênero e alterá-las um pouco. É a variação da expectativa, a inovação em como um roteiro
familiar é representado, que oferece ao público o prazer do reconhecimento do familiar, bem
como a emoção do novo. (p. 89)

Os gêneros, portanto, são dinâmicos. Eles mudam. Na opinião de Christian Metz (1975),
os gêneros atravessam um ciclo típico de mudanças durante sua existência. Segundo ele, o
gênero evolui de uma fase clássica para uma paródia autoconsciente dos clássicos, e daí
para um período em que os filmes contestam a proposição segundo a qual fazem parte de
um gênero. Finalmente, chegam a uma crítica do próprio gênero. É um pouco cedo na
história do cinema para se ter certeza dessas proposições, mas (....) há sem dúvida
evidências de que um gênero como o faroeste tem evoluído e apresentado o tipo de
dinamismo de que estamos falando. (p. 89)

É importante entender que o gênero é o produto de pelo menos três grupos de forças: a
indústria cinematográfica e suas práticas de produção; o público e suas expectativas e
competências; e o texto em sua contribuição ao gênero como um todo (ver diagrama). // p.
91

GÊNERO

indústria público texto

Para a indústria cinematográfica, geralmente há uma enorme pressão do mercado


para repetir versões bem-sucedidas de gêneros populares; daí a onda de sequências. No
âmbito dessa indústria, os filmes costumam ser concebidos em termos de gênero,
comercializados pela associação com outros filmes semelhantes e produzidos com um olho
nos limites convencionais do gênero. (...) O gênero é um dos determinantes da escolha do
público por um filme, não só em termos de ter ou não competência para apreciá-lo, mas em
termos do tipo de filme que o espectador quer ver, e se o exemplo específico desse tipo
geral de filme (digamos, uma comédia) satisfaz seu gosto (...). Finalmente, o próprio filme
indica como ele deve ser entendido, segundo seus próprios sistemas significadores, por seus
vínculos intertextuais com outros filmes (p. 91)

3. ESTRUTURALISMO, GÊNERO E FAROESTE


Não achei interessante.... inserir coisas do horror que tem na minha dissertação, trabalhar a
estrutura que eu já conheço, da mocinha, seiqla

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