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Universidade Federal de Goiás. Mestrando em História. Fonte Financiadora: CAPES.
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Fernando Nicolazzi, Helena Mollo & Valdei Araujo (org.). Caderno de resumos & Anais
do 4º. Seminário Nacional de História da Historiografia: tempo presente & usos do
passado. Ouro Preto: EdUFOP, 2010. (ISBN: 978-85-288-0264-1)
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passado. Ouro Preto: EdUFOP, 2010. (ISBN: 978-85-288-0264-1)
existência é tão somente uma eterna incompletude” (NIETZSCHE, 2005: 71). A história
prestaria um desserviço à vida, assim, nestas duas frentes: atrofiaria a ação individual
transformadora do presente pelo presente, impediria o homem de desfrutar da felicidade
do instante: “a faculdade de sentir as coisas, durante todo o tempo em que dura a
felicidade, fora de qualquer perspectiva histórica” (NIETZSCHE, 2005: 72). O filósofo
alemão mantém o mesmo núcleo de sua crítica dirigida ao cristianismo, à época
moderna, à cultura de seu tempo e às filosofias, tanto materialistas quanto idealistas que
não visem unicamente a vida.
Mas ao longo do texto o filósofo mantém o cuidado dirigir suas críticas ao que
ele tem por parte inútil da história, visto que esta parece ter alguma utilidade. O que
seria útil na história para Nietzsche seria a sua parte que “interessa os seres vivos”,
interesse motivado por três razões: “por que eles perseguem um fim, porque eles
conservam e veneram o que foi, porque eles sofrem e tem necessidade de libertação”
(NIETZSCHE, 2005: 82). O filólogo apresenta então os três tipos de história que
realizam estes interesses: a “história monumental”, a “história tradicionalista” e a
“história crítica” (NIETZSCHE, 2005: 82).
Aprender com os exemplos da história, conhecer o passado e reverenciar sua
grandeza, buscar o futuro na crítica ao passado são serviços fundamentais que a história
pode oferecer a vida. Mesmo assim estes serviços podem se corromper pelo excesso,
passando a atacar à vida que deveriam servir: a história monumental, excedendo sua
função, corrompe a vida por disseminar o ódio contra os grandes do presente em nome
dos “grandes do passado” (NIETZSCHE, 2005: 90), a história tradicionalista, em
excesso, negaria “tudo aquilo que é novo e em vias de nascer” (NIETZSCHE, 2005:
94), e por fim, a história crítica, corrompida pelo excesso, atribuiria ao presente a
responsabilidade de julgar o passado, sem ser melhor ou superior a ele (NIETZSCHE,
2005: 97). A corrupção da vida pela história, a negação do presente em favor do
passado, são perigos que podem ser evitados, se o instante a-histórico for preservado.
Mas por que não escolher a história que sirva à vida? Por que os contemporâneos de
Nietzsche estavam cegos a ponto de negar a vida em favor da verdade?
As maneiras pelas quais a história pode servir a vida foram corrompidas pela
“multidão de puros pensadores que só fazem contemplar a vida como expectadores”
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Fernando Nicolazzi, Helena Mollo & Valdei Araujo (org.). Caderno de resumos & Anais
do 4º. Seminário Nacional de História da Historiografia: tempo presente & usos do
passado. Ouro Preto: EdUFOP, 2010. (ISBN: 978-85-288-0264-1)
(NIETZSCHE, 2005: 98). Mas por quê? O que se interpôs entre história e vida?
Nietzsche responde: “um astro magnífico e luminoso se interpôs efetivamente entre a
história e a vida [...]” (NIETZSCHE, 2005: 99). Nietzsche não nega a ciência, critica
sua interposição em relação à vida. Qual impulso que fez da vontade de ciência algo
mais importante que a vontade de vida? “pela vontade de fazer da história uma ciência”
(NIETZSCHE, 2005: 99).
A ciência na qual a história tentava se modular na época de Nietzsche possuía
algumas características, entre elas, a crença na unidade da razão e do progresso do
conhecimento, que resultou, como vimos, na garantia do conhecimento universal e no
reconhecimento de que apenas este conhecimento, posto que verdadeiro, garantiria a
transformação do mundo em um lugar habitável, ilimitado, mas cuja infinidade tinha o
mesmo traço da razão humana (CASSIRER, 1994: 45). Nietzsche não suportava a
autoconfiança da razão, a arrogância e as garantias de se desdobraram a partir delas.
Para o filólogo, não existe vida sem a “existência de uma linha de demarcação entre o
que é claro e bem visível e o que é obscuro e impenetrável” (NIETZSCHE, 2005: 74), e
o maior erro da ciência seria subestimar a riqueza caótica da vida, em favor de ordem,
do progresso, da verdade que não servissem exclusivamente àquela. Em que pecou a
ciência da história em relação à vida? Friedrich Nietzsche responde mais uma vez:
“todas as perspectivas estendidas ao infinito, para tão longe até onde podia haver futuro.
Nenhuma espécie jamais viu se desenrolar infinitamente um espetáculo comparável a
este que nos apresenta a história, esta ciência do devir universal” (NIETZSCHE, 2005:
99). Pobre do homem que traveste sua finitude e sua miséria da fantasia do universal. O
excesso de história nega a própria história, pois às perspectivas, estendidas ao infinito,
tomam o lugar do futuro e, por conseguinte da ação transformadora. Apatia gerada pela
garantia de futuro que em determinado momento os homens ousaram pensaram ter em
suas mãos, em nome da ciência que, também ela, se torna decadente se não serve à vida.
Acreditamos ser possível agora amarrar algumas idéias que encaminhem as
considerações finais de nosso texto. Para tanto acompanharemos algumas considerações
do renomado historiador e teórico alemão Jörn Rüsen, considerações que se encontram
no Apêndice à edição brasileira de sua obra Razão Histórica (RÜSEN, 2001) e no
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passado. Ouro Preto: EdUFOP, 2010. (ISBN: 978-85-288-0264-1)
primeiro capítulo do volume III da série Teoria da História, História Viva (RÜSEN,
2007).
No Apêndice... J. Rüsen elaborou um panorama das questões que giram em torno
da narrativa histórica, especificamente no que se refere às discussões favorecidas pelo
chamado paradigma narrativista. Sendo assim nosso interesse em acompanhar este texto
é duplo: tanto verificar a proposta do teórico alemão quanto à querela em torno no
estatuto da história pós-narrativismo, quanto de apresentar perspectivas, em termos de
balanço atual, dos pressupostos que devem ser criticados ou incorporados, das
discussões mais ou menos encerradas e das possibilidades abertas pelas discussões em
torno da narrativa histórica.
A crítica à radicalização da proposta do paradigma narrativista – radicalização
que, no caso célebre das conseqüências da obra de Hayden White, nem parte do que é
identificado com este “paradigma” – é recusada por Jörn Rüsen no Apêndice... a partir
do reconhecimento de que: primeiro, o caráter narrativo é inalienável da história
(RÜSEN, 2001: 150); depois, a narrativa histórica não exime a história dos domínios do
conhecimento científico, racionalmente controlado pelas vias metódicas (RÜSEN,
2001: 150); e , ainda, a reflexão sobre impossibilidade de questionar o caráter narrativo
da história articulada ao reconhecimento de que narrar é também uma forma que
“corresponde a um modo próprio de argumentação racional” (RÜSEN, 2001: 154) leva
o historiador reconhecer que a narrativa histórica é uma forma peculiar de constituição
racional de sentido.
Em outro texto Rüsen expõe também, de forma também bastante clara – sem ser
superficial – o dilema colocado à ciência da história pelas reflexões sobre a narrativa
histórica e sua semelhança estrutural com a narrativa de ficção. Nas palavras do
historiador e teórico alemão: “A afirmação de que os pontos de vista determinantes da
interpretação histórica são critérios poéticos de sentido [o que a tropologia de White
seguramente constatou] abalou fortemente o estatuto científico da história” (RÜSEN,
2007: 26). Mas este abalo só se confirma se o modelo de ciência que a história visa for
guiado por uma concepção de razão que a tome por um bloco uniforme, que extravasa
as dimensões do mundo e que representa a universalidade pela modelagem das ciências
sociais, históricas, políticas, psicológicas, pelo paradigma da física newtoniana. Nas
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passado. Ouro Preto: EdUFOP, 2010. (ISBN: 978-85-288-0264-1)
Referências
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