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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

2 - Exigências dos planos e programas oficiais


Segundo o autor, uma das responsabilidades do poder público é a ela-
boração de planos e programas oficiais de instrução, de âmbito nacional,
reelaborados e organizados nos estados e municípios em face de diversi-
dades regionais e locais. Os programas oficiais, segundo ele, à medida que
refletem um núcleo comum de conhecimentos escolares, têm um caráter
democrático, pois, a par de serem garantia da unidade cultural e política da
1 Didática Geral. 2 Planejamento da ação didática. nação, levam a assegurar a todos os brasileiros, sem discriminação de
classes sociais e de regiões, o direito de acesso a conhecimentos básicos
3 A distinção entre planejamento e plano. comuns.
4 A função do planejamento das atividades Para o autor, os planos e programas oficiais de instrução constituem,
didáticas. 5 Sequencia didática. 6 A formulação de portanto, um outro requisito prévio para o planejamento. A escola e os
objetivos educacionais. professores, porém, devem ter em conta que os planos e programas oficiais
são diretrizes gerais, são documentos de referência, a partir dos quais são
O Planejamento Escolar: Importância; Requisitos Gerais elaborados os planos didáticos específicos.
Para o autor, o planejamento é uma tarefa docente que inclui tanto a 2 - Condições prévias para a aprendizagem
previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coorde- Segundo o autor, o planejamento da escola e do ensino dependem das
nação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação condições escolares prévias dos alunos.
no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio para se
programar as ações docentes, mas é também um momento de pesquisa e De nada adianta introduzir matéria nova, se os alunos carecem de pré-
reflexão intimamente ligado à avaliação. requisitos. A introdução de matéria nova ou consolidação da matéria anteri-
or requerem necessariamente verificar o ponto de preparo em que os
Segundo o autor, há três modalidades de planejamento, articuladas en- alunos se encontram, a fim de garantir a base de conhecimentos e habili-
tre si: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas. dades necessária para a continuidade da matéria.
Importância do planejamento escolar 3 - Princípios e condições de transmissão/assimilação ativa
Para Libâneo o planejamento é um processo de racionalização, organi- Segundo o autor, este requisito diz respeito ao domínio dos meios e
zação e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a condições de orientação do processo de assimilação ativa nas aulas. O
problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são planejamento das unidades didáticas e das aulas deve estar em correspon-
integrantes da dinâmica social, o que significa, segundo o autor, que os dência com as formas de desenvolvimento do trabalho em sala de aula.
elementos do planejamento escolar - objetivos, conteúdos, métodos - estão O plano da escola
recheados de implicações sociais, têm um significado genuinamente políti- Para Libâneo, o plano da escola é o plano pedagógico e administrativo
co. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das da unidade escolar, onde explicita a concepção pedagógica do corpo
nossas opções. docente, as bases teórico-metodológicas da organização didática, a contex-
Dentre as funções do planejamento escolar, apontadas pelo autor, po- tualização social, econômica, política e cultural da escola, a caracterização
demos destacar: da clientela escolar, etc.
• Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho do- Segundo ele, o plano da escola é um guia de orientação para o plane-
cente que assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigên- jamento do processo de ensino e, enquanto orientação geral do trabalho
cias do contexto social e do processo de participação democrática. docente, deve ser consensual entre o corpo docente. Este plano deve
• Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir da consideração expressar os propósitos dos educadores empenhados numa tarefa comum.
das exigências postas pela realidade social, do nível de preparo e das O plano de ensino
condições sócio-culturais e individuais dos alunos. Para Libâneo, o plano de ensino é um roteiro organizado das unidades
• Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didático didáticas para um ano ou semestre. Recebe também a denominação de
em tempo hábil, saber que tarefas professor e alunos devem executar, plano de curso ou plano de unidades didáticas e contém os seguintes
replanejar o trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer componentes:
das aulas. A - Justificativa da disciplina
Segundo o autor, para que os planos sejam efetivamente instrumentos A justificativa da disciplina responderá a três questões básicas do pro-
para a ação, devem ser como um guia de orientação e devem apresentar cesso didático: o por quê, o para quê e o como.
ordem sequencial, objetividade, coerência e flexibilidade.
B - Delimitação dos conteúdos
Salienta também o autor que, é preciso que os planos estejam continu-
amente ligados à prática, de modo que sejam sempre revistos e refeitos. O conteúdo da disciplina é selecionado e organizado em unidades di-
dáticas, estas subdivididas em tópicos. A principal virtude de uma unidade
Requisitos para o planejamento didática é que os seus tópicos não são simplesmente itens de subdivisão
Para Libâneo, os principais requisitos para o planejamento são: os ob- do assunto, mas conteúdos problematizados em função dos objetivos e do
jetivos e tarefas da escola democrática; as exigências dos planos e pro- desenvolvimento metodológico.
gramas oficiais; as condições prévias dos alunos para a aprendizagem; os C - Os objetivos específicos
princípios e as condições do processo de transmissão e assimilação ativa O autor coloca que, uma vez redigidos, os objetivos específicos não di-
dos conteúdos. recionar o trabalho docente tendo em vista promover a aprendizagem dos
1 - Objetivos e tarefas da escola democrática alunos. Passam inclusive, a ter força para a alteração dos conteúdos e
Para o autor, a escola democrática é aquela que possibilita a todas as métodos. Na redação, o professor transformará tópicos das unidades numa
crianças a assimilação de conhecimentos científicos e o desenvolvimento proposição que expresse o resultado esperado e que deve ser atingido por
de suas capacidades intelectuais, de modo a estarem preparados para todos os alunos ao término daquela unidade didática.
participar ativamente da vida social. Continua ele dizendo que, desse modo, Os resultados são conhecimentos e habilidades.
as tarefas da escola, centradas na transmissão e assimilação ativa dos Na redação dos objetivos específicos, segundo o autor, o professor po-
conhecimentos, devem contribuir para objetivos de formação profissional, de indicar também as atitudes e convicções em relação à matéria, ao
para compreensão das realidades do mundo do trabalho; de formação estudo, ao relacionamento humano, à realidade social.
política para que permita o exercício ativo da cidadania; de formação cultu-
Para o autor os objetivos refletem a estrutura do conteúdo da matéria.
ral para adquirir uma visão de mundo compatível com os interesses eman-
cipatórios da classe trabalhadora.

Didática 1 A Opção Certa Para a Sua Realização


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D - Desenvolvimento metodológico • O princípio da procedência do planejamento correspondendo a
Segundo o autor, o desenvolvimento metodológico de objetivos e con- uma função administrativa que vem antes das outras organizações, direção
teúdos estabelece a linha que deve ser seguida no ensino e na assimilação e controle. Na realidade é difícil separar e sequenciar as funções adminis-
da matéria de ensino. trativas, mas pode considerar que, de maneira geral, o planejamento do
que e como vai ser feito aparece na ponta do processo. Como consequên-
E - Introdução e preparação do conteúdo cia do planejamento assume uma situação de maior importância no proces-
São atividades que visam a reação favorável dos alunos ao conteúdo. so administrativo.
A escolha de métodos e procedimentos depende do conhecimento da • O princípio de maior penetração e abrangência, pois o planeja-
matéria, da criatividade do professor e de cada situação concreta. mento pode provocar uma série de modificações nas carcterísticas e ativi-
F - Desenvolvimento ou estudo do conteúdo dades da organização.
É a fase de assimilação e sistematização do objeto de estudo, visando • O princípio da maior eficiência e efetividade. O planejamento de-
o máximo de compreensão e elaboração interna por parte do aluno. As ve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências.
atividades podem ser: exposição oral pelo professor, conversação, entre • O planejamento deve obedecer aos seguintes princípios especí-
muitos outros. fico:
G - Aplicação • Planejamento participativo. O principal benefício do planejamen-
Segundo o autor, esta é a fase de consolidação, que revisa cada tópico to não é o seu produto, ou seja, o plano mais o processo envolvido. Nesse
da unidade remetendo à pergunta central. As atividade aqui têm o sentido sentido, o papel do responsável pelo planejamento não é simplesmente
de reforço: exercícios de fixação, organização de resumos, etc. Segundo elaborá-lo mas facilita o processo de sua elaboração pela própria organiza-
ele, o significado mais importante desta fase é a consolidação de conheci- ção e deve ser realizado pelas área pertinentes do processo.
mentos e habilidades para início de uma nova unidade didática. • Planejamento coordenado. Todos os aspectos envolvidos devem
O plano de aula ser de formam que atuem interdependentemente pois nenhuma parte o
aspecto de uma organização pode ser planejado eficientemente se o for de
Segundo o texto, o plano de aula é um detalhamento do plano de ensi-
maneira independente de qualquer outra parte ou aspecto.
no. As unidades e subunidades que foram previstas em linhas gerais são
agora especificadas e sistematizadas para uma situação didática real. • Planejamento integrado. Os vários escalões de uma organização
de porte médio devem ter seus planejamentos de forma integrados. Nas
Na preparação de aulas, o professor deve reler os objetivos gerais da
organizações voltadas para o ambiente, os objetivos são estabelecidos de
matéria e a sequência de conteúdos do plano de ensino.
cima para baixo, e os meios para atingí-los, de baixo para cima, sendo este
Planejar é projetar um futuro e as maneiras eficazes para concretizá-lo. fluxo usualmente invertido, e uma organização cuja a função primária é
Em um projeto de futuro buscando contrições do passado. Visa ação, servir aos seus membros.
sendo um processo que exige tomada decisões, tanto no seu início como
• Planejamento permanente. Essa condição é exigida pela própria
no decorrer dele. Entende-se por tomar decisões a escolha, entre um rol
turbulência do ambiente pois nenhuma plano mantém o seu valor com o
,de alternativas, aquelas que se traduzem no meio mais provável de se
tempo.
atingir um objetivo.
Os princípio gerais e específicos que foram apresentados, revelam a
Pela atribuição de valores subjetivos às propriedades das consequên-
importância do planejamento e a seriedade com que devem ser tratado.
cias, chega-se à desejabilidade das mesmas. Esse valores subjetivos
Quando se planeja, deve-se detectar com a máxima clareza quais são as
podem ser produtos de crenças padrões culturais, reflexões profundas ou
necessidades e expectativas da realidade em relação à organização, a fim
superficiais, preconceitos etc.
de estabelecerem-se os objetivos e os meios para alcançá-los plenamente.
Sobre o conceito de planejamento, assim se refere o Maximiliano: “o Por outro lado, deve-se detectar as intervenções que precisam se feitas no
processo de planejamento pode se definido de várias maneiras: interior da organização nos sentido de colocá-la em condições de ótima
• um processo de definir objetivos ou resultados a serem alcança- eficácia e eficiência. Também não pode se esquecer, ao se planejar, que
dos, bem como as atividades e recursos, meios que permitirão alcançá-los; isto é, trabalho de equipe de acordo com cada setor, e ao mesmo tempo,
• interferir na realidade com o propósito de passar de uma situa- interrelacionados entre si, dando um sentido global ao plano resultante.
ção conhecida para outra situação desejada, dentro de um intervalo de
tempo predeterminado;
PESQUISA E PLANEJAMENTO
• tomar no presente decisões que afetam o futuro, visando reduzir
Na noção de planejamento é evidente que o conhecimento da realida-
sua incerteza.
de é o alicerce sobre o qual se desenvolverá o processo. A realidade é
Portanto, o planejamento não é o mesmo que previsão, projeção, pre- conhecida através da pesquisa. A pesquisa deve preceder o planejamento
dicação, resolução de problemas, mas é a preparação para o futuro, para a fim de poder subsidiá-lo com informações sobre os mais diversos aspec-
lidar com fatos futuros, que irão afetar a organização, para definir uma tos, propiciando a elaboração de planos concretos de ação. Em função da
situação desejada no futuro e os meios para alcançá-los. O planejamento é importância da pesquisa e do planejamento é fundamental que se realize
ainda um processo que garante a coordenação dos esforços do grupo um estudo a respeito.
visando atingir os objetivos estabelecidos.
Pesquisa é uma investigação planejada e desenvolvida segundo nor-
O processo de planejamento requer uma base informativa construída mas da metodologia científica. O método de abordagem de um problema
através de pesquisas que permitam o traçado do perfil da situação atual e em estudo confere o caráter científico à pesquisa. É, portanto, um inquérito
de sua evolução, bem como as disponibilidades de recursos que tornarão o ou exame cuidadoso para descobrir novas informações, ampliar e verificar
plano viável. o conhecimento existente.
O processo de planejamento requer ainda, estabelecimento de objeti- A pesquisa não é uma simples coleta de dado. É muito mais do que is-
vos com a máxima precisão. A distribuição das tarefas, os custos e o cro- so, pois implica observar, verificar e esplanar fatos, sobre os quais o ho-
nograma. Os planos resultantes do planejamento devem ser flexíveis, isto mem precisa ampliar sua compreensão, ou testar a compreensão.
é, permitem alterações que se fizerem necessárias em determinadas
Existem vários tipos de pesquisa:
circunstâncias.
• exploratória, quando as hipóteses ainda não estão definidas,
A fim de que o planejamento produza planos exequíveis quanto à im-
com clareza
plementação deve obedecer a alguns princípios. Os princípios gerais de
planejamento são: • teórica, que visa à ampliação de generalizações, à definição de
leis mais amplas, a estruturação de sistemas e modelos teóricos etc.
• O princípio da contribuição aos objetivos, e neste aspecto, o
planejamento deve sempre visar aos objetivos máximos da organização. No • Pesquisa aplicada , que parte de leis e teorias e visa investigar,
processo de planejamento deve-se hierarquizar os objetivos estabelecidos comprovar ou rejeitas hipóteses emanadas dos modelos teóricos.
e procurados em sua totalidade, tendo em vista a interligação entre eles.

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Além desses tipo, pode-se ter: res derivam da hipóteses centrais por descomporem as relações básicas
Pesquisa de campo: consiste na observação, na coleta de dados e na entre as variáveis.
anotação de variáveis significativas para análise. Enquanto não permite o • Nula: estabelece que não há relações entre variáveis visando à
isolamento das variáveis significativas, a pesquisa de campo permite esta- não comprovação da própria hipótese.
belecer relações constante entre as variáveis dependentes e as variáveis Pesquisa: estabelece as formas de relações que se pretende encontrar
interdependentes. A pesquisa de campo é utilizada na área de ciências na realidade.
humanas: sociologia, psicologia, política etc.
Revisão bibliográfica: o sucesso de uma pesquisa está intimamente li-
• Pesquisa bibliográfica, consiste no exame dos assuntos contidos gado a uma boa fundamentação teórica, pois as teorias são as fontes
nos livros, periódico, revistas etc, abrange as seguintes etapas: geradoras de hipóteses. Através da revisão bibliográfica o pesquisador,
1. escolha do assunto enriquece a sua base teórica e se coloca em condições melhores para
2. fichário bibliográfico (fichário de documentação e fichário de síntese utilizar métodos adequados na coleta e análise dos dados. Ao mesmo
pessoais) tempo estará evitando a a realização de trabalho em duplicata e terá melhor
postura para interpretar os resultados de sua pesquisa. A revisão bibliográ-
3. trabalho com as fichas e projetos definitivos fica deve ser feita de modo sistemático, devendo iniciar-se pela organiza-
4. redação final ção da bibliografia básica dos estudos mais recentes sobre o assunto da
• Pesquisa de laboratório, é aquela em que o pesquisador entra no pesquisa.
laboratório e produz fenômenos em condições de controle. O pesquisador Amostragem: é o processo que se utiliza de uma parte como base para
no laboratório controla as variáveis independentes, uma por uma, a fim de uma estimativa ao todo. A menor representação do todo denomina-se
verificar qual delas é a responsável pela variável dependente que é objeto amostra.
de estudo. A unidade sobre a qual o investigador coleta informações constitui o
Pelo fato da educação estar relacionada com as ciências humanas, as elemento, e o conjunto de todos os elementos pertencentes ao corpo da
considerações que serão feitas a seguir serão referentes à pesquisa de pesquisa constitui o universo.
campo. Coleta de dados: O pesquisador deverá ter o cuidado de verificar se os
Planejamento da pesquisa: dados que pretende coletar são relevantes e se podem ser obtido sem
O projeto de pesquisa, os elementos que constituem um projeto de grandes dificuldades. A coleta de dados pode ser feita através dos diversos
pesquisa, são os seguintes: instrumentos apresentados.
• título Questionário: é um instrumento constituído de uma série de perguntas
e cujas respostas são fornecidas pelos informantes, por escrito. As pergun-
• justificativa - antecedentes do problema e objetivos gerais e es-
tas podem ser fechadas, tipo teste, ou abertas, que oferecem oportunidade
pecíficos
de respostas descritas.
• problema
O questionário tem a seguinte estrutura:
• hipótese
• introdução: cabeçalho, solicitação da resposta, objetivos da pes-
• definição de termos quisa.
• postulados • dados específicos; caracterização do informante
• revisão bibliográfica - fundamentação teórica • questões.
• descrição do universo Entrevista: consiste numa comunicação oral entre o entrevistador-
• determinação da amostra pesquisador, que faz as perguntas e o entrevistado-informante, que fornece
• descrição dos instrumentos as respostas.
• coleta de dados A entrevista deve ser bem planejada, observando-se os seguintes ele-
mentos:
• análise dos dados
• definição clara dos propósitos da entrevista
• orçamento
• a partir do propósitos devem ser formulados os objetivos
• cronograma de desenvolvimento.
• elaboração do roteiro contendo o plano da entrevista e as ques-
Problema: O problema é uma situação que desperta a necessidade de tões a serem apresentadas
busca de uma solução. A pesquisa visa encontrar soluções às situações
problemáticas. • definição dos entrevistados
Cabe ao pesquisador definir e reformular com clareza e precisão o pro- • estabelecimento de um clima propício para a entrevista.
blema de pesquisa, observando-se os seguintes aspectos: Formulário: tem estrutura semelhante ao questionário, porém as per-
• o problema deve ser formulado de forma interrogativa e para o guntas lidas pelo pesquisador e respondidas pelo informante, depois anota-
qual se procura uma ou mais respostas. das pelo pesquisador.
• no problema deve estar implícita uma relação entre duas ou mais O PROCESSO DE PLANEJAMENTO
variáveis Qualquer que seja o planejamento, desde o mais simples até a mais
Na escolha do problema da pesquisa, o pesquisador, deverá verificar se complexa organização, tem como resultado a formulação de objetivos
a solução do problema é relevante para o campo de conhecimento na área, gerais, a programação das atividade e dos recursos que permitirão a con-
se é o problema possível de pesquisa, se há material para a pesquisa. cretização de soluções a situações problemáticas futuras.
Hipóteses. É uma solução proposta ao problema e sujeita a confirma- Evidentemente para que o planejamento cumpra suas finalidades, é
ção. Na formulação de hipóteses deve-se observar as seguintes variáveis: necessário que se fundamente em informações obtidas da realidade con-
• Que hipótese estabelece a relação entre duas ou mais variáveis creta onde o plano está implementado. A obtenção das informações acon-
tece mediante a pesquisa, constituindo-se na primeira etapa do processo
• Que hipótese deve apresentar de que forma ocorre a relação en- de planejamento.
tre as variáveis e através de que maneira esta relação pode ser verificada.
As hipóteses podem ser de três tipos: A demais etapas: Definição de objetivos.
• Descritas: não envolve verificação experimental, e portanto, não Os objetivos podem ser definidos a partir de necessidades de resolver
são testadas através de relação ou associação de variáveis. um problema, ou da diferença entre uma situação real e uma situação ideal,
ou de um padrão de comportamento a ser seguido. Neste caso tem-se
• Centrais e complementares: as hipóteses centrais estabelecem objetivos gerais.
relações básicas entre as variáveis, enquanto as hipóteses complementa-

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Quando objetivos gerais referem-se a padrões específicos de compor- • apreciação realista das possibilidades de recursos humanos e fi-
tamento ou ação tem-se os objetivos específicos. Esses padrões de com- nanceiros, a fim de assegurar a eficácia das soluções propostas;
portamento definidos devem ser possíveis de controle. • previsão de fatores mais significativos que intervém no desen-
DEFINIÇÃO DE ATIVIDADE E RECURSOS volvimento;
Uma vez formulados os objetivos, a etapa seguinte consiste na defini- • continuidade que assegure a ação sistemática para alcançar os
ção das atividades e dos recursos necessários para a concretização dos fins propostos;
objetivos. • coordenação dos serviços da educação e destes com os demais
Nesta etapa são propostos os caminhos para se chegar ao estado futu- serviços do Estado, em todos os níveis da administração pública;
ro desejado quando são escolhidos as macropolíticas, estratégias funcio- • avaliação periódica dos planos e adaptação constante dos mes-
nais, políticas, procedentes e práticas. Também são dimensionadas os mos às novas necessidades e circunstâncias;
recursos humanos e materiais determinada a origem e a aplicação de • flexibilidade que permita a adaptação do plano a situações im-
recursos financeiros, estabelecendo-se os programas, projetos e planos de previstas ou imprevisíveis;
ação a fim de se alcançarem os objetivos.
• trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços eficazes
GERENCIAMENTO DE IMPLANTAÇÃO e coordenados;
Esta etapa abrange o planejamento da sistemática de implantação e de • formulação e apresentação do plano, como iniciativa e esforços
controle. Inclui-se aqui a antecipação das variáveis de percurso, cronogra- de determinadas pessoas, grupos ou setores.
ma, coleta de informações durante o processo que irá permitir a sua avalia- Portanto, o planejamento educacional deve parti de um estudo científi-
ção. co da realidade onde irá desenvolver-se o processo educacional e, median-
O controle implica o acompanhamento do desempenho que tem por fi- te as constatações, deve considerar as seguintes variáveis:
nalidade comparar, continuamente, o que foi planejado com o que está • valor sócio-cultural do país;
sendo executado. Poderão ser detectados distorções como falha humana
legais, financeiras, materiais. Estas distorções devem ser listadas, analisa- • população alvo;
das e propostas alternativas e soluções, a fim de que se possam diminuir • recursos humanos;
tais distorções. As soluções mais adequadas serão propostas no planeja- • legislação escolar;
mento.
• metas que se deseja atingir.
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL VARIÁVEIS INTERVENIENTES DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
É feito em nível de sistemas educacional, por exemplo, para a rede de Desde o momento em que a família não teve mais condições de educar
escolas oficiais de uma cidade, estabelecendo a política educacionais, as suas crianças, por si própria, devido ao aumento da complexidade humana,
estratégias de ação, os recursos, o cronograma de atividade. surgiu a educação formal que passou a exercer influência fundamental no
Devido à importância adquirida pela educação em nossos dias, como sistema social.
poderoso fator de desenvolvimento, e considerando-se as inúmeras variá- Na sociedade capitalista as desigualdades sociais são cada vez mais
veis que o afetam, é óbvio que deve ser planejado. marcantes, entre as classes hegemônica, detentora do poder econômico, e
O planejamento educacional é um processo dinâmico que tem uma me- as classes populares, responsáveis pelo trabalho que produz o capital do
ta a ser atingida, e que prevê as formas de atingí-la, partindo de uma situa- qual ela se apropria.
ção atual e visando uma situação futura provável da educação, que dever a A finalidade da educação pode ser vista como a construção , produ-
atender tanto o indivíduo como à sociedade. ção/reprodução de conhecimentos formalizados, de modo crítico, criativo,
Está claro, pois, que o planejamento educacional, tem uma meta a ser transformador, coletivo, evidenciando as contradições existente nos conte-
atingida, ou seja possui objetivos. COARACY estabelece os seguintes údos e simultaneamente, oferecer subsídios aos educandos das classes
objetivos do planejamento educacional: populares que permitam organizar-se, enquanto produtores de um conhe-
• ·Relacionar o desenvolvimento do sistema educacional com o cimento, e enquanto cidadãos.
desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país, em geral, e O planejamento educacional deve ser pensado, construído e discutido
de cada comunidade em particular. dentro desta perspectiva.
• ·Estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoamento À classe dominante interessa manter o poder, o status que impõe uma
dos fatores que influem diretamente sobre a eficiência do sistema educaci- educação conservadora, acrítica, anacrônica, através de um sistema social,
onal - estrutura, administração, conteúdos, procedimentos e instrumentais. que é submisso às relações econômicas.
• ·Alcançar maior coerência interna na determinação dos objetivos Assim o processo educacional transmite um conhecimento formal, or-
e nos meios adequados para atingí-los. ganizados do ponto de vista de uma classe social, de acordo com os inte-
• ·Conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do siste- resses da classe hegemônica, utilizando-se de uma metodologia que não
ma. permite a reflexão e a crítica, portanto, não torna evidente as contradições,
em escolas que desenvolvem-se organizadas para dar espaço ao individua-
A educação é fator de mudança e, portanto, está em constante intera- lismo, ao consumismo e à competição, tripé fundamental da escola conser-
ção como sistema social, recebendo deste solicitações das mais diversas vadora, reacionária.
naturezas. Cabe, pois, ao sistema educacional organizar-se de tal maneira,
que ao mesmo tempo em que atenda a certas solicitações do sistema É evidente que a área de conflito que surge entre esta mentalidade
social, contribua para com o aperfeiçoamento do mesmo. Daí, a necessida- educacional e planejamento educacional voltado para uma educação
de de ser planejado a fim de atender de modo eficiente as justas reivindica- progressista e popular, que substitui o individualismo pela consciência de
ções do sistema social, e simultaneamente oferecer subsídios eficazes na grupo, o consumismo pela otimização dos recursos e a competição pela
correção das distorções evidenciadas no sistema social. Esta é portanto, a solidariedade.
grande responsabilidade do planejamento educacional. Mas apesar da tenaz resistência que oferece essa corrente conserva-
A fim de poder com os seu desígnios, o planejamento educacional de- dora da educação, é preciso que o planejador se prepare adequadamente
ve ter requisitos indispensáveis. Segundo a conclusão do Seminário Inte- para o debate, para a organização da maioria dos educadores e famílias,
ramericano sobre Planejamento Educacional, realizado pela UNESCO, em formando com eles comunidades educativas, democratizante, enfim, de-
Washington, os requisitos fundamentais do planejamento são: senvolvendo uma base para a implantação da educação libertadora.
• aplicação do método científico na investigação da realidade edu- Variável política: Gramsci divide a sociedade em sociedade civil e clas-
cativa, cultural, social e econômica do país; se política. A sociedade civil é constituída pela elite dominante, detentora
do poder econômico, e pelas classes populares alienadas do produto do
• apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a curto, seu trabalho, o capital. A classe política representada pelos governante,
médio e longo prazo;

Didática 4 A Opção Certa Para a Sua Realização


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em tese, deveria zelar pelos interesses de todos os cidadãos da sociedade Variável cultural: O conceito de cultura em nível de senso como, ora diz
civil. Entretanto na prática, pressionada pela elite dominante, a sociedade respeito à erudição, ora diz respeito ao acúmulo de conhecimentos, ora
política acaba por fazer o jogo de interesses desta classe, em detrimento significa realização humana no campo das ates , das ciências e da filosofia.
dos das classes populares. Numa sociedade de classe, a classe burguesa, possuidora de uma cultura
Em termos de educação, o poder público, elabora leis que tornam o caracterizada pelo culto ao ensino livresco, pela personalização do indiví-
processo educacional elitista, como por exemplo Lei4.024/61, que estabe- duo, pela valorização do trabalho intelectual em detrimento aos trabalho
lece que a educação é um direito e um dever do cidadão, ignorando as manual, pelos discursos, tenta impô-la às classes populares através da
desigualdades sociais, onde os educadores das camadas sociais menos educação realizada na escola. Assim, segundo a cultura burguesa, e por-
favorecidas não têm condições de frequentar a escola. Acrescenta-se a tanto a adequada às crianças desta classe, e inadequada às crianças das
isso, a baixa qualidade do ensino oferecida pela escolas públicas, frequen- classes populares, pois os conceitos oferecidos não correspondem à cultu-
tada quase na totalidade por alunos das classes populares. ra popular, caracterizada por um saber originário da experiência, pela
valorização do espírito de grupo e da solidariedade. Esta postura cultural
Além de prestar-se ao atendimento dos interesses de classe hegemô- transmitida através da educação escolar não se enquadra com um plane-
nica, a classe política ainda se serve da educação par atender aos seus jamento educacional que se pretende valorizar a cultura popular e fazer a
interesses eleitoreiros usando a forma de trabalho dos candidatos para devida crítica à cultura e à ideologia burguesa.
verificarmos que a prioridade para a educação é um ponto comum em
todas elas. Uma vez no poder, esquecem-se totalmente da construção e PESQUISA E PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
manutenção das escolas, do material escolar, do salário do professor e A educação é uma ação política e todo o planejamento educacional é
cometem esse descalabro com a educação que aí está. decisão do Estado. Os planos educacionais são os instrumento que o
Esse procedimento da classe política conflita com o planejamento edu- governo utilizará para alcançar a metas estabelecidas para a educação no
cacional, pois este, organizando a educação, conscientiza a população, país. Essas metas decorrem da necessidade de uma educação de boa
impedindo que ela continue massa de manobra de políticos inescrupulosos. qualidade para que possam superar as dificuldades que encontrarão duran-
O problema que se apresenta ao planejar é que a educação é mantida te a vida. A educação de boa qualidade não prescinde de um bom planeja-
nos sistemas públicos de ensino, pelo poder público que, estabelece a mento, que tem como resultado o plano de Educação. O Plano de Educa-
política educacional a ser seguida pela jurisdição. Embora a educação ção consiste em um conjunto de medidas técnicas, administrativas e finan-
pública seja uma ação política, é preciso que os educadores sejam capazes ceiras que serão praticadas um certo tempo, selecionadas e hierarquizadas
de conquistar um espaço que lhe compete no planejamento da mesma, de acordo com uma política educacional. A elaboração do plano de Educa-
fazendo-o a partir da realidade concreta, questionando as políticas educa- ção pode ser esquematizada segundo o que se segue:
cionais e reivindicando as condições para implementá-lo. 1. PESQUISA EDUCACIONAL ( NECESSIDADES E EXPECTATIVAS)
Variável Filosófica: Muito se fala a respeito de qualidade de ensino, po- 2. POLÍTICA EDUCACIONAL (FIXAÇÃO DE PRIORIDADES)
rém quando se pede esclarecimento em que consiste a boa qualidade de 3. FIXAÇÃO DE METAS
ensino, ficamos deveras surpresos com a resposta.
4. PRIORIZAÇÃO DE MEDIDAS (FIXAÇÃO DE PRAZOS)
Para uns o ensino de boa qualidade é aquele que super-estima o inte-
lectualismo, o centro do processo educativo. A escola é a instituição encar- TODOS OS ITENS INTERLIGADOS COM AS DIMENSÕES TÉCNICA,
regada de transmitir as grandes produções culturais da humanidade e os ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA.
valores fundamentais. Presta-se para a realização de uma educação que O plano de educação resulta do planejamento educacional que, por
busca no social, conteúdos, valores e fins, porém de uma forma contraditó- sua vez, deve ter como ponto de partida a pesquisa educacional que ofere-
ria, fecha-se ao social. Essa é uma postura de educação tradicional, direci- cerá os subsídios sobre a realidade concreta onde o plano será implentado.
onada pelo humanismo tradicional. Para alguns, a boa qualidade do ensino Infelizmente, tem-se dado muito pouca importância à pesquisa educacional
resulta de colocação da criança como o centro de programas e conteúdos. no Brasil e os planos de educação são elaborados em gabinetes, pois são
A educação é uma adaptação progressiva dos processos mentais e certas incongruentes com a realidade.
ações determinadas por certos desejos. A educação deve funcionar segun-
Isto em função da ignorância dos educadores em relação à ciência e à
do a Lei da Necessidade. A atividade é suscitada por uma necessidade. O
pesquisa científica. Os professores têm falta de fé em outros campos de
excesso de autonomia que oferece ao educando leva-o a um distancia-
pesquisa. A aceitação da pesquisa educacional não será automática, mas
mento entre o seu mundo e o mundo do adulto. Esta é uma concepção
terá de ser encaminhada. O primeiro passo é a aceitação da pesquisa
escolanovista.
como aperfeiçoador do meio escolar; como bem coloca DEMO, como
Para outros, a boa qualidade da escola é resultado do bom planeja- princípio educativo. O dia-a-dia da atividade escolar leva os educadores e
mento técnico. Fundamenta-se na Psicologia Comportamental e no enfoque administradores da educação a rotinas estabelecidas por estruturas rígidas,
sistêmico, ignorando a dimensão sócio-política do educando. Esta é uma metodologias cômodas etc.
postura tecnicista.
É preciso que esses profissionais da educação se conscientizem de
Enquanto a educação tradicional apresenta modelos desvinculados do que têm que tomar decisões, seja numa sala de aula, em relação a deter-
objetivo humano de educação, a escola nova centraliza no objetivo huma- minado aluno, seja na direção de uma escola ou de um sistema escolar. A
no, relegando os modelos a segundo plano, abre-se espaço para um pro- pesquisa educacional é a base para a tomada de decisões.
posta alternativa onde os modelos são emanentes da dimensão político-
Francisco W. Ferreira traz uma contribuição de grande valia a respeito
social e são utilizados em estrita relação dinâmica com o sujeito. Daí não
do planejamento, como veremos a seguir. Os comentários são profundos,
pode-se admitir uma obra educativa que não se proponha a um fim claro,
de maneira conscientemente política, explorando nossos próprios questio-
bem definido, um conhecimento de homem que se deseja formar. Esse
namentos acerca do tema.
conhecimento deve estar isento de pré-concepções sobre o homem, mas
fundamentado no homem presente, inserido no contexto sócio-histórico- Sua contribuição vem melhor esclarecer acerca do Planejamento Edu-
político, fonte de valores e espaços onde os homens, superando as dificul- cacional, a fim de que os educadores revertam suas práticas, tornando-as
dades, realizam processos decisivos. mais críticas e relevantes para o processo educacional.
Uma análise da educação realizada em nossa escola , pode se identifi- Define planejamento como preparo e organização adequada de um
car com uma das três posturas iniciais. conjunto de ações interdependentes, a fim de se evitar ao máximo as
improvisações, utilizando-se de um método de trabalho.
Esta última postura, denominada progressista, quase nunca é conheci-
da pelos educadores, e os poucos que conhecem, a abominam ou a te- Para ocorrer o ato de planejar é bom ter a percepção de que a mesma
mem, por ter receio de sua identificação com alguma ideologia não compa- realidade pode ser enxergada de diferentes modos, onde o planejamento,
tível coma da classe dominante. Compete ao educador, conhecendo a não pode ser colocado como um fim em si mesmo.
educação progressista, disseminá-la nos meios educacionais, e ao planeja- No planejamento, podemos destacar o preparo adequado de cada
dor, utilizá-la no planejamento educacional, na fiscalização da política e da ação ou a organização de ações interdependentes onde devemos diferen-
filosofia educacional, nos procedimentos de ensino e avaliação. ciar as ações planejadas realmente das ações improvisadas. Podemos

Didática 5 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
planejar ou improvisar dependendo dos objetivos e prioridades que elen- 2.A formulação dos objetivos do plano, cria imagem que tudo resulta da
carmos. Como o planejamento se dá numa situação hipotética é necessário ação do governo, e que esta é resultado da combinação dos interesses
um acompanhamento contínuo da ação, confirmando o corrigindo o plane- particulares com o representante dos interesses gerais (como se houves-
jamento, revisando-o criticamente após a ação. A revisão da ação se funde sem pontos em comum), visando o lucro.
com a preparação de novas ações. Mas, ocorre uma desvinculação com a 3.Apresentação de um objetivo para o progresso do país mas que inclui
execução do planejamento no momento da ação: o planejamento se separa acumulação de dinheiro à elite econômica.
da ação, pois o “Plano Perfeito” passa por uma alteração contínua quando
é colocado na execução cotidiana; neste momento os elogios do plano são A mistificação do planejamento impede a análise da raiz dos problemas
trocados por críticas. ,estudo e consciência dos problemas fundamentais. E, assim, espera-se
que através do Planejamento nacional tudo ocorra como o previsto.
O planejador procura garantir seus objetivos através do planejamento e
o agente improvisa sua ação que independe de ser pensada, que por Cada vez mais se tem preferenciado tecnocratas à políticos, pois a ser-
ocorrer de forma automática o autor chama de automatização. Ocorre uma viço dos interesses dominantes dão segurança ao seu trabalho, mistifican-
ruptura entre o trabalho intelectual e o manual - “uns pensam, outros execu- do tanto, que acabam por se mistificar também, deixando de perceber que
tam”. Aí, “planejar vira meio de vida”, e a própria especialização de um a história é um processo e a dinâmica social podem desmoronar com a
fazer, e o descompromisso com o executor da ação planejada se torna mistificação.
evidente . O autor enfatiza que o Planejador e Agente devem andar juntos, Conhecer o que se planeja, funciona como um método para o planeja-
pois quem planeja, é quem faz, logo o planejamento tem que ficar a serviço dor, sendo que pensar na ação se mistura com a própria ação. Pensar na
de quem está fazendo; e caracteriza como empulhação a despreocupação ação, significa olha-la em três fases:
com a execução do plano. 1. Preparação do Plano: antes de começar a ação, estuda, pesquisa e
O planejamento surge com a descoberta da capacidade de pensar an- analisa.
tes de agir. Com o desenvolvimento comercial e e industrial ocorrido com o 2. Acompanhamento da ação: durante a ação as decisões estão certas
capitalismo esta preocupação invade a economia. A industrialização e a ou erradas?
racionalização do trabalho fazem do planejamento uma necessidade já que
3. Revisão e crítica dos resultados: terminada a ação, análise da ação
se objetiva maior lucro possível, o que irá ocasionar concorrência de mer-
tomada ou corrigida.
cado, objetivando rentabilidade.
Esta três fases dão caráter ininterrupto ao Planejamento. O Plano é a
A nível social paga-se aos operários, não o valor que eles tivessem
apresentação sistemática (documento) e justificada das decisões tomadas,
produzido e sim um salário baseado na lei de oferta da procura da mão-de-
contendo inclusive as especificações sobre a ação que precisam ser acom-
obra; juntando-se a isso a exploração do trabalho do menor e da mulher,
panhadas e revistas. Este acompanhamento refere-se em interferir, mudar.
horas máximas de trabalho, aglomerações urbanas, lutando por empregos
Na análise podem surgir conclusões de decisões erradas que só aparecem
disponíveis, e resultando na miséria social, enquanto que ricos ficavam
depois de cometidas, cogitando-se novas ações para o plano inicial. Quanto
cada vez mais ricos . Evidencia-se a necessidade da racionalização e do
mais complexo for o plano, maior necessidade de reduzir as surpresas, e
planejamento ao nível social mais geral, e o término dos privilégios das
quanto mais simples, mais possibilidades de não se deixar enquadrar com
classes que se beneficiavam com o sistema vigente, mexendo na proprie-
a realidade. Quando os objetivos traçados são inatingíveis, o plano visa um
dade privada. Tais mudanças significariam a passagem de uma economia
fim em si mesmo , importa realizá-lo, e não os objetivos para cuja realiza-
liberal ao socialismo. E aí encontra-se a primeira barreira oferecida pela
ção ele existe.
classe dominante: a racionalização da economia é sinônimo de “falta de
liberdade”. A coletividade proporciona força para alcançar objetivos, enquanto
que o individualismo e a acusação do ponto de vista do outro, divide, impe-
Diante da Rev. Russa (1917), a ideologia anti-socialista é lançada por
dindo a realização do alvo. A transformação dos meios em fins, gera um
aqueles que se beneficiavam com o “capitalismo selvagem”. Porém, a
mecanismo de transformação da realidade.
Rússia foi pioneira a cerca do planejamento a nível social. No ocidente,
ocorriam alterações entre momentos de alegria e de crise, de tal forma que A revisão não fica só nos resultados, age a nível das decisões tomadas
em 1929, culmina uma crise violenta, fazendo-se necessário organizar os na preparação ou durante a ação, referenciando-se os resultados; diferente
setores da iniciativa privada para restabelecer o desenvolvimento através a da correção das ações em face ao que se pretende. Em suma, é uma
extensão do planejamento, mas de forma que não causasse danos ao comparação dos dados previstos com os dados obtidos, ponto base para as
capital privado, pelo contrário, proporcionasse uma expansão em “pról” da próximas experiências resultando uma visão da realidade a transformar.
“propriedade coletiva”. Assim, planejar e agir ocorrem ao mesmo tempo, embora sejam distin-
Mas, para concretizar o desenvolvimento esperado, surge a necessi- tas, dando à Revisão indispensabilidade ao plano seguinte; e análise
dade de Planos Nacionais, e com muita habilidade, no mundo capitalista, profunda de interpretação da realidade (sistema estável de planejamento).
tornam-se cada vez mais necessários “os programas” e de forma até mes- A revisão não ocorre somente em conclusões negativas, é necessário
mo “democrática”, digo, manipulada. Hoje, o planejamento é tão importante, se desconfiar de conclusões positivas também, pois outras forças podem
que se planeja inclusive o manobrar das classes sociais para benefício do estar presentes para o sucesso de um plano que possua até objetivos
acúmulo de capital. O autor coloca que a pressão de todos poderá viabilizar antagônicos ao planejador- pode solidificar o que se quer modificar.
um planejamento que vise realmente o atendimento das necessidades dos O plano não sendo definitivo está em elaboração permanente e basea-
homens, funcionando com a participação de todos. do na realidade não é divisível.
O autor destaca quatro pontos essenciais sobre planejamento: Nessa metodologia de planejar nem sempre se pode agir a partir de
1. Planejar a ação até o fim para evitar a improvisação; uma atitude fria e objetiva, pois há momentos agudos para a ação. A
2. Estar interessado nos resultados da ação; necessidade de mudança e transformação têm forças para impor a ruptura
e fazer ocorrer tais mudanças. O método fica para trás e o que dirige os
3. Participar da ação;
acontecimentos é a dinâmica social.
4. As decisões sobre a ação tem que ser tomadas pelos que agem.
Assim, as ações se interligam em três blocos distintos:
Mas surgem as mistificações, os enganos e as mentiras sobre o plane-
• objetivos: metas a alcançar pela ação
jamento:
• a política: o caminho para a realização do objetivo, contendo um
1.Parecer sério e competente: acabam por amparar os que dependem
nível estratégico (conjunto de táticas) e um nível tático (maneiras específi-
do planejamento, garantindo-lhes segurança; elaborar um plano e ao mes-
cas para realizar determinada ação)
mo tempo tomar decisões sem Planos); o interesse do planejador profissio-
nal na garantia do seu emprego e não o bem coletivo, pensando planos em • organização: decisões relativas aos detalhes de cada ação (pre-
substituição de outros planos “incompletos”, dá-se a impressão de que se visão sistematizada dos encadeamentos previstos) por isso, há um contí-
tem objetivos, porém se empenha em planejar o engano. nuo movimento de ida e volta, sendo o objetivo, guia supremo das deci-
sões. É necessário ter-se clareza e precisão quanto aos objetivos não
perdendo de vista os fins. Quando os objetivos se tornam meios ou fins ao

Didática 6 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
mesmo tempo, chamamos de concomitância de objetivos. Nos setores Caberiam aos dirigentes escolares e professores, reuniões preparató-
sociais de ação governamental os planejadores tecnocratas - humanistas, rias; primeiro do corpo dirigente, depois do corpo docente, ampliando-se
reproduzem o mesmo objetivo do sistema em que estão inseridos, ou seja, para os técnico-administrativos, inclusive os serventes e merendeiras - Por
a sustentação de uma elite dominando, enquanto que mistificam o objetivo que a escola tem que ser vista na sua totalidade-, e num passo mais adian-
verdadeiro. te trazer as famílias, a comunidade. Acima de tudo, hoje, a escola precisa
Desta forma, as mudanças não procedem da ação dos tecnocratas, sair de seus muros, reais ou imaginários, e se abra para a comunidade.
mas por aqueles que vivem e sofrem o cotidiano. Gestão democrática não é só os professores poderem escolher direção
escolar. Significa a escola trabalhar com a comunidade a que ela serve, em
O tempo gasto para o questionamento dos objetivos não é perdido, benefício das crianças que ela atende.
pois a clareza e precisão é primordial diante dos meios que se dispõe. Não
que não se deva criar meios criativos, essencial para não cair no tradiciona- Faz-se necessário o treinamento da auto-gestão, não da dominação, e
lismo político. para isso contestar as verdades únicas. Uma pista para a organização
popular é a organização de seus próprios meios, jogando a nível superior
Para alcançar um objetivo preciso de meios que podem tornar-se obje- somente o que não possa resolver. Muitas relações de dominação seriam
tivos intermediários (criação de meios inexistentes para a ação desejada)- denunciadas. Um tecido autogestionário-reivindicador é a única solução
averiguação de cima para baixo. Quando a averiguação parte de baixo para para contrapor à tendência dos Estados Centralizadores. Fortalecer o
cima, do que tenho na realidade para o que eu desejo, pode até mesmo tecido social para forçar mudanças qualitativas., um tecido entrelaçado,
comprometer o objetivo principal. Daí resulta a autoenganação: partir de movendo-se em conjunto na tensão pela vida coletiva, que expresse a
uma realidade inexistente para objetivos pré-determinados - a realidade coexistência co-responsável em contradição-harmônica e luta-amigável-
preexiste à ação, continuando a existir com ou sem ela. permanente.
Como a ação nem sempre é inteiramente prevista, por mais que se de- FUSARI coloca que historicamente o planejamento escolar possue uma
fina a sua política e estratégia, poderá ocorrer a organização desta ação em característica acrítica e técnica, e os professores acabam por aderir meca-
vista do objetivo, no momento de executar, embora exista um esquema nicamente ao ato de planejar sem refletir sobre a importância de planejar
para as ações de apoio. bem o seu trabalho.
Em certos casos define-se o objetivo e os outros blocos de decisão vão A questão do planejamento não pode ser compreendida de maneira
se decidindo pelas ações e reações desencadeadas. Há também situações desvinculada da especificidade da escola, da competência técnica do
onde planos completos devem ser evitados para não se limitar a capacida- educador, do seu compromisso político e das relações entre a escola,
de de ação. Assim, fixa objetivos comuns e algumas linhas de estratégia educação e sociedade. O planejamento não é neutro. O bom plano é aque-
com uma avaliação contínua para retomada dos objetivos, e coragem le que se amolda dialeticamente ao real transformando-o.
suficiente para aceitar a dinâmica real da ação. Os planos completos po-
dem ser prejudiciais, o importante é não se perder no antes, durante e A formação competente do aluno, dependem diretamente da qualidade
depois, relacionados com o objetivo, a política e a organização da ação. de cada uma das aulas que estão sendo dadas. A qualidade de cada uma
Para um planejamento democrático é necessário submeter a ação de cada depende diretamente do empenho do professor no seu preparo, na sua
uma à crítica de outros. execução e na sua avaliação.
A realização esta em permanente modificação independentemente da Sugestões para tarefas de estudo
nossa ação. Para mantê-la num movimento é necessário neutralizar as Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos,
forças e ações que a estão levando a se modificar. A ação ou a não-ação o autor cita, entre outras: “Qual a importância política e pedagógica do
contribui para a evolução da realidade. A decisão frente à realidade é tomar planejamento de ensino?” e “Como devemos articular os planos e progra-
uma posição que acarretará em diferentes consequências de acordo com o mas oficiais no plano de ensino?”.
que se decidir diante dela.
Torna-se necessário entender o processo de evolução da realidade Bibliografia complementar
que consta de linearidade, ou seja uma sucessão de situações aparentes, e Como bibliografia complementar, o autor cita, entre outras: BALZAN,
tensão de tendências, pois por trás da linearidade existem forças e interes- Newton C. Supervisão e Didática. In: ALVES, Nilda (org.) et alii, Educação e
ses que se opõem, ou se reforçam uns aos outros. A realidade evolui Supervisão - O Trabalho Coletivo na Escola. São Paulo, Cortez/Autores
segundo o comando da força dominante, mas cada situação traduz uma Associados, 1984 e FUSARI, José C. O Planejamento Educacional e a
determinada relação de forças, entre a dominante e a dominada, conside- Prática dos Educadores. Revista da Ande, (8): 33-35, São Paulo, 1984.
rada também a ação das dos demais.
Quando ocorre uma ruptura de equilíbrio, e a força anteriormente so-
Os Conteúdos de Ensino
brepujada, dá-se uma mudança qualitativa que pode ser definitiva ou não, e
novas forças vem a surgir Embora muitos não aceitem a realidade como O autor coloca que o ensino dos conteúdos deve ser visto como a ação
linear, agem como se ela o fosse. A mudança que eu objetivo com a minha recíproca entre a matéria, o ensino e o estudo dos alunos.
ação pode ser quantitativa ou qualitativa, para uma mudança efetiva. Clare- 1 - O que são os conteúdos
ar a tendência de relação de força em presença, sempre situando a favor
de uma ou contra outra. A ação implica uma relação com os organismos da Para Libâneo, conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos,
realidade a sua interpretação e conhecimento para que os objetivos sejam habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social,
alcançados. organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação
ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, assim:
Um bom plano nunca está acabado. Primeiro porque cada Plano é feito conceitos, ideias, fatos, processos, etc. e são expressos nos programas
em seu nível - um plano nacional é mais genérico, os estadual será um oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, entre outros.
pouco mais específico, o municipal, mais ainda e o da escola pode descer
ao nível do detalhe. Mas até o plano da escola , por que a realidade é Segundo o autor, pode-se dizer que os conteúdos retratam a experiên-
dinâmica. O que hoje é importante e necessário pode não ser mais daqui a cia social da humanidade no que se refere a conhecimentos e modos de
pouco. Esse é um princípio do planejamento, que é um processo contínuo: ação, transformando-se em instrumentos pelos quais os alunos assimilam,
eu planejo, começo a executar, acompanho, controlo, avalio, replanejo e compreendem e enfrentam as exigências teóricas da vida social.
assim sucessivamente. Os conteúdos são organizados em matérias de ensino e dinamizados
A participação é um elemento essencial na execução do planejamento, pela articulação objetivos-conteúdos-métodos e formas de organização do
nos resultados e nas decisões, de forma emancipatória e honesta em todos ensino, nas condições reais em que ocorre o processo de ensino.
os seus níveis. O objetivo principal do planejamento será a tomada de A escolha dos conteúdos de ensino, segundo o autor, parte deste prin-
decisões conjuntas e organizadas, partindo-se do que se tem, refixando os cípio básico: os conhecimentos e modos de ação surgem da prática social e
objetivos gerais, executando-o com revisão e repreparação na ação dinâ- histórica dos homens e vão sendo sistematizados e transformados em
mica, a fim de reelaborar preparar o próximo plano. objetos de conhecimento; assimilados e reelaborados, são instrumentos de
ação para atuação na prática social e histórica.

Didática 7 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
2 - Os elementos dos conteúdos de ensino conjunto das lutas pela transformação da sociedade, deve-se ter em mente
Segundo o autor, os conteúdos de ensino se compõem de quatro ele- que os conteúdos sistematizados visam instrumentalizar as crianças e
mentos: conhecimentos sistematizados; habilidades e hábitos; atitudes e jovens das camadas populares para a sua participação ativa no campo
convicções. econômico, social, político e cultural.
Os conhecimentos sistematizados são a base da instrução e do ensino, 2 - Caráter científico
os objetos de assimilação e meio indispensável para o desenvolvimento Segundo o autor, os conhecimentos que fazem parte do conteúdo refle-
global da personalidade. tem os fatos, conceitos, métodos decorrentes da ciência moderna. No
As habilidades são qualidades intelectuais necessárias para a atividade processo de ensino, trata-se de selecionar as bases das ciências, transfor-
mental no processo de assimilação de conhecimentos e os hábitos são madas em objetos de ensino necessárias à educação geral.
modos de agir relativamente automatizados que tornam mais eficaz o 3 - Caráter sistemático
estudo ativo e independente. Para o autor, o programa de ensino deve ser delineado em conheci-
As atitudes e convicções se referem a modos de agir, de sentir e de se mentos sistematizados e não em temas genéricos e esparsos, sem ligação
posicionar frente a tarefas da vida social. entre si. O sistema de conhecimentos de cada matéria deve garantir uma
Segundo o autor, os elementos constitutivos dos conteúdos convergem lógica interna, que permita uma interpenetração entre os assuntos.
para a formação das capacidades cognoscitivas. 4 - Relevância social
3 - Quem deve escolher os conteúdos de ensino Para o autor, a relevância social dos conteúdos significa incorporar no
programa as experiências e vivências das crianças na sua situação social
São três as fontes, segundo o autor, que o professor utilizará para se- concreta, para contrapor a noções de uma sociedade idealizada e de um
lecionar os conteúdos do plano de ensino e organizar as suas aulas: a tipo de vida e de valores distanciados do cotidiano das crianças que, fre-
programação oficial na qual são fixados os conteúdos de cada matéria; os quentemente, aparecem nos livros didáticos.
próprios conteúdos básicos das ciências transformadas em matérias de
ensino; as exigências teóricas e práticas colocadas pela prática de vida dos 5 - Acessibilidade e solidez
alunos, tendo em vista o mundo do trabalho e a participação democrática O autor coloca que acessibilidade significa compatibilizar os conteúdos
na sociedade. com o nível de preparo e desenvolvimento mental dos alunos. Segundo ele,
se os conteúdos são acessíveis e didaticamente organizados, sem perder o
4 - A dimensão crítico-social dos conteúdos caráter científico e sistematizado, haverá mais garantia de uma assimilação
Segundo o autor, a dimensão crítico-social dos conteúdos corresponde sólida e duradoura, tendo em vista a sua utilização nos conhecimentos
à abordagem metodológica dos conteúdos na qual os objetos de conheci- novos e a sua transferência para as situações práticas.
mento (fatos, leis, etc.) são apreendidos nas suas propriedades e caracte-
rísticas próprias e, ao mesmo tempo, nas suas relações com outros fatos e Sugestões para tarefas de estudo
fenômenos da realidade, incluindo especificamente as ligações e nexos Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos, o
sociais que os constituem como tais (como objetos conhecimento). O autor cita, entre outras: “Como se articulam objetivos gerais e objetivos espe-
conhecimento é considerado, nessa perspectiva, como vinculado a objeti- cíficos?” e “Quais são as relações básicas entre objetivos e conteúdos?”.
vos socialmente determinados, a interesses concretos a que estão implica-
das as tarefas da educação escolar. Bibliografia complementar
A dimensão crítico-social dos conteúdos é uma metodologia de estudo Como bibliografia complementar o autor cita, entre outros: NIDEL-
e interpretação dos objetos de conhecimento - explicitados nas matérias de COFF, Maria T. As Ciências Sociais na Escola. São Paulo. Brasiliense,
ensino - como produtos da atividade humana e a serviço da prática social. 1987 e SAVIANE, Dermeval, entrevista concedida ao jornal La Hora, de
28.02.87, de Montevidéu (Uruguai).
Segundo o autor, a dimensão crítico-social dos conteúdos, tendo como
base para sua aplicação no ensino a unidade e a relação objetivos-
conteúdos-métodos, possibilita aos alunos a aquisição de conhecimentos A RELAÇÃO OBJETIVO - CONTEÚDO - MÉTODO
que elevem o grau de compreensão da realidade (expressa nos conteúdos) Os Métodos de Ensino
e a formação de convicções e princípios reguladores da ação na vida
Segundo o autor, os métodos são determinados pela relação objetivo-
prática.
conteúdo, e referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e específi-
5 - Os conteúdos e o livro didático cos do ensino.
Segundo Libâneo, na sociedade atual, há uma distinção dos conteúdos Neste capítulo ele trabalha com os temas: conceito de método de ensi-
de ensino para diferentes grupos sociais: para uns, esses conteúdos refor- no; a relação objetivo-conteúdo-método; os princípios básicos do ensino e a
çam os privilégios, para outros fortalecem o espírito de submissão e con- classificação dos métodos de ensino.
formismo.
Conceito de método de ensino
Para o autor, os livros didáticos se prestam a sistematizar e difundir co-
Segundo Libâneo, o método de ensino expressa a relação conteúdo-
nhecimentos mas servem, também, para encobrir ou escamotear aspectos
método, no sentido de que tem como base um conteúdo determinado.
da realidade, conforme modelos de descrição e explicação da realidade
consoantes com os interesses econômicos e sociais dominantes na socie- O autor coloca que pode-se dizer que os métodos de ensino são as
dade. ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos
alunos para atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo
Ressalta Libâneo que, ao recorrer ao livro didático para escolher os
específico. Eles regulam as formas de interação entre ensino e aprendiza-
conteúdos, elaborar o plano de ensino e de aulas, é necessário ao profes-
gem, entre professor e os alunos, cujo resultado é a assimilação consciente
sor o domínio seguro da matéria e bastante sensibilidade crítica. De um
dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e
lado, os seus conteúdos são necessários e, quanto mais aprofundados,
operativas dos alunos.
mais possibilitam um conhecimento crítico dos objetos de estudo, pois os
conhecimentos sempre abrem novas perspectivas e alargam a compreen- A relação objetivo-conteúdo-método
são do mundo. Por outro lado, esses conteúdos não podem ser tomados Segundo o autor, a relação objetivo-conteúdo-método tem como carac-
como estáticos, imutáveis e sempre verdadeiros, por isso é preciso confron- terística a mútua interdependência. O método de ensino é determinado pela
tá-los com a prática de vida dos alunos e com a realidade. relação objetivo-conteúdo, mas pode também influir na determinação de
Critérios de seleção objetivos e conteúdos. Segundo ele, a matéria de ensino é o elemento de
referência para a elaboração dos objetivos específicos que, uma vez defini-
1 - Correspondência entre objetivos gerais e conteúdos
dos, orientam a articulação dos conteúdos e métodos, tendo em vista a
Segundo o autor, ao conteúdos devem expressar objetivos sociais e atividade de estudo dos alunos. Por sua vez, os métodos, à medida que
pedagógicos da escola pública sintetizados na formação cultural e científica expressam formas de transmissão e assimilação de determinadas matérias,
para todos. Se a educação escolar deve exercer a sua contribuição no atuam na seleção de objetivos e conteúdos.
Didática 8 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Os princípios básicos do ensino Educação, Instrução e Ensino:
Segundo o autor, os princípios do ensino são aspectos gerais do pro- Papel da Didática na Formação de Educadores
cesso de ensino que expressam os fundamentos teóricos de orientação do Prática educativa e sociedade
trabalho docente.
Para Libâneo, o trabalho docente é parte integrante do processo edu-
Segundo o autor, as exigências práticas da sala de aula requerem al- cativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para
gumas indicações que orientam a atividade consciente dos professores no a participação na vida social e a educação é um fenômeno social e univer-
rumo dos objetivos gerais e específicos do ensino. sal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento
Estão listadas a seguir essas indicações: de todas as sociedades.
1) Ter caráter científico e sistemático; Através da ação educativa, segundo ele, o meio social exerce influên-
2) Ser compreensível e possível de ser assimilado; cias sobre os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influên-
cias, tornam-se capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora
3) Assegurar a relação conhecimento-prática; em relação ao meio social.
4) Assentar-se na unidade ensino-aprendizagem; Para o autor, em sentido amplo, a educação compreende os processos
5) Garantir a solidez dos conhecimentos; formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão
6) Levar à vinculação trabalho coletivo - particularidades individuais; envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem
socialmente; isto quer dizer que a prática educativa existe numa grande
Classificação dos métodos de ensino variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização
Segundo o autor, em função do critério, no qual a direção do ensino se econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes,
orienta para a ativação das forças cognoscitivas do aluno, pode-se classifi- das formas de convivência humana.
car os métodos de ensino segundo os seus aspectos externos (método de Por outro lado, em sentido estrito, a educação ocorre em instituições
exposição pelo professor, método de trabalho relativamente independente específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e
do aluno, método de elaboração conjunta e método de trabalho em grupos) ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, embora
e seus aspectos internos (passos ou funções didáticas e procedimentos sem separar-se daqueles processos formativos gerais.
lógicos e psicológicos de assimilação da matéria).
O autor coloca no texto que os estudos que tratam das diversas moda-
1 - Método de exposição pelo professor lidades de educação costumam caracterizar as influências educativas como
Neste método, os conhecimentos, habilidades e tarefas são apresenta- não-intencionais e intencionais. Segundo o autor, a educação não-
das, explicadas ou demonstradas pelo professor. A atividade dos alunos é intencional refere-se às influências do contexto social e do meio ambiente
receptiva, embora não necessariamente passiva. sobre os indivíduos e essas influências também são chamadas de educa-
Entre as formas de exposição, o autor cita a exposição verbal, a de- ção informal. São situações e experiências casuais, espontâneas, não
monstração, a ilustração e a exemplificação. organizadas, embora influam na formação humana. Como exemplo, o autor
cita as formas econômicas e políticas de organização da sociedade.
2 - Método de trabalho independente
Já a educação intencional, segundo o autor, refere-se a influências em
O autor coloca que o método de trabalho independente dos alunos que há intenções e objetivos definidos conscientemente, como é o caso da
consiste de tarefas, dirigidas e orientadas pelo professor, para que os educação escolar e extra-escolar. São muitas as formas de educação
alunos as resolvam de modo relativamente independente e criador. intencional e, conforme o objetivo pretendido, variam os meios. Segundo
O autor considera como sendo o aspecto mais importante do trabalho Libâneo podemos falar de educação não formal quando se trata de ativida-
independente a atividade mental dos alunos, qualquer que seja a modalida- de educativa estruturada fora do sistema escolar convencional e da educa-
de de tarefa planejada pelo professor para estudo individual. ção formal que se realiza nas escolas ou outras agências de educação e
3 - Método de elaboração conjunta instrução implicando ações de ensino com objetivos pedagógicos explícitos,
sistematização, procedimentos didáticos.
Segundo o autor, a elaboração é uma forma de interação ativa entre o
professor e os alunos visando a obtenção de novos conhecimentos, habili- Para o autor as formas que assume a prática educativa se interpene-
dades, atitudes e convicções, bem como a fixação e consolidação de tram, sejam elas não-intencionais ou intencionais, formais ou não formais,
conhecimentos e convicções já adquiridos. A forma mais típica do método escolares ou extra-escolares. Também, segundo ele, o processo educativo,
de elaboração conjunta é a conversação didática, sendo que a forma mais onde quer que se dê, é sempre contextualizado social e politicamente; há
usual de sua organização é a pergunta. uma subordinação à sociedade que lhe faz exigências, determina objetivos
e lhe provê condições e meios de ação.
4 - Método de trabalho em grupo
Libâneo afirma que dizer que a educação é um fenômeno social quer
Este método de trabalho em grupos ou aprendizagem em grupo consis-
dizer que ela é parte integrante das relações sociais, econômicas, políticas
te basicamente em distribuir temas de estudo iguais ou diferentes a grupos
e culturais de uma determinada sociedade. No caso da sociedade brasileira
fixos ou variáveis, compostos de 3 a 5 alunos.
atual, a estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais
5 - Atividades especiais com interesses distintos e antagônicos; esse fato repercute tanto na organi-
O autor destaca entre as atividades especiais, que são aquelas que zação econômica e política quanto na prática educativa.
complementam os métodos de ensino e que concorrem para a assimilação Assim, as finalidades e meios da educação subordinam-se à estrutura
ativa dos conteúdos, o estudo do meio. e dinâmica das relações entre as classes sociais, o que quer dizer que são
Meios de ensino socialmente determinados, o que significa dizer, segundo o autor, que a
prática educativa, e especialmente os objetivos e conteúdos do ensino e o
O autor chama de meios de ensino todos os meios e recursos materiais trabalho docente, estão determinados por fins e exigências sociais, políticas
utilizados pelo professor e pelos alunos para a organização e condução e ideológicas.
metódica do processo de ensino e aprendizagem.
Segundo o autor, as relações sociais no capitalismo são marcadas for-
Sugestões para tarefas de estudo temente pela divisão da sociedade em classes, onde capitalistas e traba-
O autor cita algumas perguntas para o trabalho independente dos alu- lhadores ocupam lugares opostos e antagônicos no processo de produção.
nos, entre elas: “Por que não pode existir um método único de ensino?” e A classe social proprietária dos meios de produção retira seus lucros da
“Explicar o princípio da atividade consciente e autônoma do aluno e o papel exploração do trabalho da classe trabalhadora, sendo que esta última, à
dirigente do professor”. qual pertencem 70% da população brasileira, é obrigada a trocar sua capa-
cidade de trabalho por um salário que não cobre as suas necessidades
Bibliografia complementar
vitais e fica privada, também, as satisfação de suas necessidades espiritu-
Como bibliografia complementar o autor cita, além de outras: MAR- ais e culturais.
TINS, José do Prado. Didática Geral. São Paulo. Ática, 1986 e NERICI,
Imídeo. Didática - Uma Introdução. São Paulo. Atlas, 1986.

Didática 9 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
O autor afirma que a desigualdade entre os homens, que na origem é Para o autor a instrução se refere à formação intelectual, formação e
uma desigualdade econômica no seio das relações entre as classes soci- desenvolvimento das capacidades cognoscitivas mediante o domínio de
ais, determina apenas as condições materiais de vida e de trabalho dos certo nível de conhecimentos sistematizados. E o ensino corresponde a
indivíduos mas também a diferenciação no acesso à cultura espiritual, à ações, meios e condições para realização da instrução; contém, pois, a
educação. Nesta nossa sociedade capitalista a classe social dominante não instrução.
só retém os meios de produção material como também os meios de produ- O autor salienta que há um unidade entre educação e instrução, embo-
ção cultural e da sua difusão, tendendo a colocá-la a serviço de seus inte- ra sejam processos diferentes; pode-se instruir sem educar, e educar sem
resses. instruir; conhecer os conteúdos de uma matéria, conhecer os princípios
O autor define ideologia como sendo o conjunto dos valores, ideias e morais e normas de conduta não leva necessariamente a praticá-los, isto é,
práticas, apresentados pela minoria dominante como representativos dos a transformá-los em convicções e atitudes efetivas frente aos problemas e
interesses de todas as classes sociais, e o sistema educativo, incluindo as desafios da realidade. Ou seja, objetivo educativo não é um resultado
escolas, as igrejas, as agências de formação profissional, os meios de natural e colateral do ensino, devendo-se supor por parte do educador um
comunicação de massa, é um meio privilegiado para o repasse da ideologia propósito intencional e explícito de orientar a instrução e o ensino para
dominante. objetivos educativos. O autor coloca que, entretanto, que o ensino é o
Para ilustrar, Libâneo cita , no texto, algumas afirmações que são pas- principal meio e fator da educação e, por isso, destaca-se como campo
sadas nas conversas, nas aulas, nos livros didáticos, entre elas: principal da instrução e educação. Neste sentido, quando o autor menciona
o termo educação escolar, está se referindo ao ensino.
• “O Governo sempre faz o que é possível; as pessoas é que não
colaboram”; Educação escolar, Pedagogia e Didática
• “A educação é a mola do sucesso, para subir na vida”. Segundo o autor a educação escolar constitui-se num sistema de ins-
Continua ele, dizendo que, essas e outras opiniões mostram ideias e trução e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto
valores que não condizem com a realidade social, o que dá a impressão grau de organização, ligado intimamente às demais práticas sociais. Pela
que o governo se põe acima dos conflitos entre as classes sociais e das educação escolar democratizam-se os conhecimentos, sendo na escola
desigualdades, fazendo recair os problemas na incompetência das pesso- que os trabalhadores continuam tendo a oportunidade de prover educação
as, e que a escolarização pode reduzir as diferenças sociais, porque dá formal aos seus filhos, adquirindo conhecimentos científicos e formando a
oportunidade à todos. Assim, problemas que são decorrentes da estrutura capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela
social são tomados como problemas individuais. realidade social.
Não se pode esquecer, segundo o autor, que as relações existentes Libâneo coloca que o processo educativo que se desenvolve na escola
em nossa sociedade não são estáticas, imutáveis, estabelecidas para pela instrução e ensino consiste na assimilação de conhecimentos e expe-
sempre, isto porque, elas são dinâmicas, uma vez que se constituem pela riências acumulados pelas gerações anteriores no decurso do desenvolvi-
ação humana na vida social. Isso significa que as relações sociais podem mento histórico-social.
ser transformadas pelos próprios indivíduos que a integram. Portanto, na Segundo o autor, para tornar efetivo o processo educativo, é preciso
sociedade de classes, não é só a minoria dominante que põe em prática os dar-lhe uma orientação sobre as finalidades e meios da sua realização,
seus interesses, mas também as classes trabalhadoras podem elaborar e conforme opções que se façam quanto ao tipo de homem que se deseja
organizar concretamente os seus interesses e formular objetivos e meios do formar e o tipo de sociedade a que se aspira. Esta tarefa pertence à Peda-
processo educativo alinhados com as lutas pela transformação do sistema gogia como teoria e prática do processo educativo.
de relações sociais vigente. Para ele, a Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a
É importante lembrar, segundo Libâneo, que são os seres humanos natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem
que, na diversidade das relações recíprocas que travam em vários contex- como os meios apropriados para a formação do indivíduos, tendo em vista
tos, dão significado às coisas, às pessoas, às ideias; é socialmente que se prepará-los para as tarefas da vida social.
formam ideias, opiniões, ideologias. O autor coloca que pode-se dizer que processo de ensino-
O autor coloca que o campo específico de atuação profissional e políti- aprendizagem é um trabalho pedagógico no qual se conjugam fatores
ca do professor é a escola, à qual cabem tarefas de assegurar aos alunos externos e internos. De um lado, atuam na formação humana como direção
um sólido domínio de conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de consciente e planejada, através de objetivos/conteúdos/métodos e formas
suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crítico e de organização propostas pela escola e pelos professores; de outro, essa
criativo. influência externa depende de fatores internos, tais como as condições
Tais tarefas representam uma significativa contribuição para a forma- físicas, psíquicas e sócio-culturais dos alunos.
ção de cidadãos ativos, criativos e críticos, capazes de participar nas lutas Diz Libâneo que a Pedagogia, sendo ciência da e para a educação, es-
pela transformação social. tuda a educação, a instrução e o ensino, para o que compõe-se de ramos
Assim, continua ele, vê-se que a responsabilidade social da escola e de estudo próprios como a Teoria da Educação, a Didática, etc.; ao mesmo
dos professores é muito grande, pois cabe-lhes escolher qual concepção de tempo que busca em outras ciências, como a Psicologia da Educação, por
vida e de sociedade deve ser trazida à consideração dos alunos e quais exemplo, os conhecimentos teóricos e práticos que concorrem para o
conteúdos e métodos lhes propiciam o domínio dos conhecimentos e a esclarecimento do seu objeto, o fenômeno educativo.
capacidade de raciocínio necessários à compreensão da realidade social e Afirma o autor que o conjunto desses estudos permite aos futuros pro-
à atividade prática na profissão, na política, nos movimentos sociais. fessores uma compreensão global do fenômeno educativo, especialmente
de suas manifestações no âmbito escolar.
Educação, instrução e ensino
A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga
O autor considera, antes de prosseguir, importante esclarecer o signifi- os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensi-
cado dos termos educação, instrução e ensino. no.
Educação corresponde a toda modalidade de influências e inter-
relações que convergem para a formação de traços de personalidade social A Didática e a formação profissional do professor
e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos A formação profissional do professor é realizada nos cursos de Habili-
de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, tação ao Magistério a nível de 2º grau e superior. Compõe-se de um con-
princípios de ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Nesse junto de disciplinas coordenadas e articuladas entre si, cujos objetivos e
sentido, educação é instituição que se ordena no sistema educacional de conteúdos devem confluir para um unidade teórico-metodológica do curso.
um país, num determinado momento histórico; é um produto, significando Dessa maneira, segundo o autor, a formação do professor abrange du-
os resultados obtidos da ação educativa conforme propósitos sociais e as dimensões: a formação teórico-científica, incluindo a formação acadêmi-
políticos pretendidos; é processo por consistir de transformações sucessi- ca específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a
vas tanto no sentido histórico quanto no de desenvolvimento da personali- formação pedagógica, que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociolo-
dade. gia, entre outras, que contribuem para o esclarecimento do fenômeno

Didática 10 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
educativo no contexto histórico-social; e a formação técnico-prática consul- Para resumir o pensamento acerca do movimento atual e caracterizar a
tar visando a preparação profissional específica para a docência, incluindo interpretação das novas exigências que o capitalismo vem fazendo para a
a Didática, as metodologias específicas das matérias, entre outras. educação, no Brasil e fora dele, surgiu o termo neotecnicismo.
Não se pode esquecer que essa formação profissional do professor De acordo com alguns autores estamos vivendo uma mudança subs-
implica um contínua interpenetração entre teoria e prática, a teoria vincula- tancial no padrão de exploração da classe trabalhadora, em escala mundial.
da aos problemas reais postos pela experiência prática e ação prática O padrão de exploração taylorista/fordista que esteve em vigência durante
orientada teoricamente. o século XX está se esgotando. Neste padrão de exploração a educação
Nesse entendimento, a Didática se caracteriza como mediação entre as tinha um papel periférico, pois o trabalhador era preparado na própria linha
bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente. de produção, sem necessitar de grandes conhecimentos técnicos e habili-
dades especiais.
Pinto (1994) coloca em seu livro uma pergunta essencial: “Quem Educa
o educador?” Seu estudo sobre este problema baseia-se por ponto de vista Na crise deste padrão de exploração, acirrou-se o desenvolvimento de
antropológico - sociológico, e não em seus aspectos técnicos, pedagógicos. novas tecnologias e, com elas, o aparecimento de novas formas de organi-
zação do trabalho. Segundo sociólogos e economistas, as mudanças na
Existem dois processo educacionais em curso na consciência social. A organização do trabalho e a introdução de novas tecnologias estão come-
consciência ingênua considera como educação nada mais do que o primei- çando a exigir um novo estilo de trabalho.
ro, e acredita que o esforço principal da educação deve consistir em retirar
o aluno, e principalmente o aluno que se prepara para ser professor, das Este novo trabalhador necessita de habilidades gerais de comunicação,
influências do meio e capacitá-lo somente para a instrução técnica, para o abstração e integração, as quais não podem ser geradas rapidamente no
desempenho de suas funções. próprio local de trabalho. São habilidades próprias de serem aprendidas na
escola, durante a instrução regular. É esta a razão do interesse das classes
Já a consciência crítica do professor se não houver a intensificação das dominantes pela qualidade da escola, principalmente a escola básica.
influências sociais e a compreensão cada vez mais clara que o educador
tenha de que sua atividade é quase que somente social, que influi sobre os A competitividade, nova arma na guerra intercapitalista por mercados, é
acontecimentos em curso no seu meio e que só será valiosa se ele tiver assegurada pela tecnologia sofisticada operada por um trabalhador mais
uma participação consciente. instruído.
A educação formalizada é um dos meios pelo qual a sociedade se con- Essas mudanças, políticas e econômicas, à nível mundial, estão afe-
figura, mas não é o único. tando os destinos da educação em vários países, inclusive no Brasil. Elas
estão reunidas sob o título “política neoliberal”. A implantação do neolibera-
Cabe então a pergunta “Quem educa o educador?” A resposta correta lismo no Brasil está encontrando barreiras nas forças progressistas.
é a que mostra o papel da sociedade como educadora do educador. É a
sociedade que dita a concepção que cada educador tem do seu papel, de Essas questões, são no entanto necessárias para se enfatizar a forma-
modo de executá-lo, das finalidades de sua ação, tudo isso de acordo com ção do educador.
a posição que o educador ocupa na sociedade. Essa noção de posição aqui Freitas propõe que o novo padrão de exploração das classes trabalha-
tem o sentido histórico - dialético amplo e por isso indica os fundamentos doras, que estão ocorrendo no mundo, traz de volta uma contradição impor-
materiais da realidade social do educador e o conjunto de suas ideias em tante no seio das demais contradições do sistema capitalista: a contradição
todos os terrenos, até mesmo no da educação. entre explorar ou educar. O pensamento progressista demonstrou como o
A educação está sempre delegando a alguns de seus membros a fun- capital escamoteia a formação do trabalhador, na medida em que educá-lo
ção de educar os jovens e adultos. Isso significa que a sociedade deseja é permitir que se torne cidadão consciente das contradições do próprio
transmitir às novas gerações os conhecimentos que lhe são úteis, que sistema capitalista. Essa consciência abre a possibilidade de que o traba-
expressam seu grau de avanço cultural e dentro de uma determinada lhador envolva-se na negação do capitalismo, à medida que percebe sua
ordem de relações produtivas. A formalização da educação espontânea é a condição de exploração.
educação escolar, da infância ou de adultos. Isso deve ser entendido como No entanto, para explorar o trabalhador é necessário educá-lo um mí-
a ordenação do saber e não como passagem a um plano de vida social nimo que seja, não sendo necessário instruir o trabalhador. O aumento da
distinto. Por isso continua a possuir a mesma significação humana e social. escolaridade sempre foi uma batalha das forças progressistas.
Dessa forma fica claro que tecnicamente a formação do professor é um Com esse novo padrão de exploração, exige-se que se instrua um
procedimento complexo de dotação de saber e de preparação para sua pouco mais. A questão que surge então é: como instruir um pouco mais o
conveniente transmissão a outros jovens ou adultos. Em essência, este grau de conscientização das classes populares?
procedimento é apenas a condensação, a convergência, das influências A hipótese é de que o capital vai querer controlar um pouco mais a
que a sociedade exerce sobre seus membros, e que deseja exercer de agência escola, de forma a garantir o seu projeto político. Sendo a escola
maneira cada vez mais organizada. um local de preparação dos futuros trabalhadores, ela não pode estar fora
O educador deve compreender que a fonte de sua aprendizagem, de de sintonia com as novas habilidades exigidas no interior da produção: isto
sua formação, é sempre a sociedade. Mas esta atua de dois modos: um, implica maior “participação” e “democracia” no interior da escola.
indiretamente, mas que aparece ao educando (futuro educador) como Interessante notar que no interior da indústria está ocorrendo o mesmo
direto (pois é aquele que sente como ação imediata); é o educador, do qual com a implementação de trabalhos como tecnologia de grupo, controle de
recebe ordenadamente os conhecimentos. E outro, diretamente, ainda que qualidade, planejamento participativo, qualidade total, etc. Por outro lado, o
pareça ao educando (futuro educador) como indireto, pois não o sente Estado - legítimo representante dos interesses do capital - sabe que os
como pressão imediatamente perceptível: é a consciência, em geral, com o professores são peças fundamentais na reestruturação da escola e, sem o
meio natural e humano no qual se encontra e do qual recebe os estímulos, envolvimento destes, qualquer reformulação está condenada ao insucesso,
os desafios, os problemas que o educam em sua consciência de educador. daí seu permanente esforço para incorporá-lo.
Se a sociedade é o verdadeiro educador do educador, sua ação se A consequência destas alterações para o professor tem sido a exclusão
exerce sempre concretamente, isto é, no tempo histórico, no momento pelo cada vez maior dos mesmos nas decisões de política curricular. Os professo-
qual está passando seu processo de desenvolvimento. Por isso, em cada res estão sendo incorporados apenas para implementar os detalhes.
etapa do desenvolvimento social, o conteúdo e a forma da educação que a
sociedade dá a seus membros vão mudando de acordo com os interesses Outro impacto que se prevê a partir do contexto criado pelas políticas
gerais de tal momento. públicas neoliberais na formação do educador diz respeito ao aumento de
uma visão pragmatista da formação deste profissional.
Segundo Freitas (1995), nos dias de hoje, o tema da formação do edu-
cador não tem sido considerado uma área de pesquisa significativa por A formação do professor é preferencialmente vista como algo prático. O
parte dos próprios educadores. Internamente, reproduzimos a mesma conceito de “prática social” tende a ser reduzido ao conceito de “problemas
desvalorização existente no seio da sociedade em relação à figura do concreto”’ e os últimos orientam a formação do educador. Com isso, a
profissional da educação. Esta situação se agrava pela dificuldade de se formação teórica do educador corre sérios riscos. Nós inclusive colabora-
interpretar os movimentos do capital internacional e suas consequências mos com isso, quando defendemos no currículo de formação do professor o
para o capitalismo brasileiro e para a formação do educador. predomínio da “prática”.

Didática 11 A Opção Certa Para a Sua Realização


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No cenário brasileiro e na fala de alguns pesquisadores, já é possível Em épocas de aceleração do processo social observa-se frequente-
notar a presença de propostas que querem colocar a formação teórica do mente, o descompasso entre a consciência (e respectiva formação do
professor na dependência dos problemas práticos que ele enfrenta em seu profissional) do educador e as exigências impostas pelo curso dos aconte-
dia - a dia, também chamado de cotidiano. Com isso, elimina-se a formação cimentos no momento. Com a rápida mudança da realidade então existen-
teórica (e política) do profissional, convertendo-o em um “prático”. A ques- te, muitos pedagogos não a acompanham sem conflitos. Grande parte dos
tão não é aumentar a prática em detrimento da teoria ou vice-versa, e sim educadores representa neste momento um fator de inércia. Nestas condi-
em adotar uma nova forma de produzir conhecimento no interior dos cursos ções seu papel se torna pouco rentável, reacionário, por não poder se
de formação do educador. adaptar às novas exigências da realidade.
Num contexto tem aparecido, também, a crítica da Faculdade de Edu- Isso ocorre porque lhes falta a consciência crítica de seu papel. O pro-
cação e a tentativa de descaracterizá-la como local de formação do profis- fessor é preparado para atuar num suposto ambiente estável. Quando essa
sional da educação. realidade vai se alterando, esses educadores não se revelam capazes de
Aqui no Brasil, as propostas variam desde localizar, por exemplo, as li- acompanhar a marcha das transformações.
cenciaturas nos Institutos (ou ainda em um terceiro local que não seja nem Por isso, atualmente, é necessário preparar os educadores para se
a Faculdade de Educação e nem os Institutos - Um Centro de Formação de converterem em forças atuantes do desenvolvimento econômico e cultural
Professores) até o questionamento puro e simples da função da Faculdade da sociedade. Enquanto permanecer entre os educadores um conceito
de Educação. Bem ou mal, as Faculdades de Educação concentram um ingênuo de si mesmos, da educação e da realidade nacional em geral, eles
volume de profissionais que têm condição de realizar uma análise política poderão ser homens respeitados e dotados de consideráveis conhecimen-
adequada do aparato escolar capitalista, o que não deve agradar aos tos mas estarão à altura de seu papel na sociedade.
propósitos de quem quer controlar mais este aparato escolar. A etapa histórica vivida pela sociedade determina:
Passar as Licenciaturas para a Faculdade de Educação, cortando seus 1. a formação do educador
vínculos com os Institutos é apressar a formação no que diz respeito ao
conteúdo específico a ser ensinado pelo professor. É transformar, por 2. as possibilidades quantitativas da educação, ou seja, qual o núme-
exemplo, o ensino de Física em uma discussão dos materiais didáticos do ro de pessoas poderão usufruir desta.
ensino de Física. A metodologia do ensino em Física tem a ver com a forma 3. as possibilidades qualitativas da educação, ou seja, o conteúdo e a
como se produz conhecimento em Física. Por, outro lado, passar as Licen- forma do saber que é dado aos alunos em todos os graus de ensi-
ciaturas para os Institutos apressa a formação do educador do ponto de no.
vista das ciências fundamentais para a compreensão do fenômeno educa- 4. a distribuição do ensino escolarizado entre os membros da comu-
cional. nidade, desde o analfabetismo até as modalidades avançadas de
Não há condições para se reproduzir as possibilidades de interdiscipli- investigação científica, de especialização técnica, de instrução uni-
nares que existem nas Faculdades de Educação em cada Instituto. O único versitária.
caminho é o da parceria, reconhecendo-se que a “ciência da educação” é As possibilidades quantitativas e qualitativas da educação dependem
assunto preferencialmente da Faculdade de Educação, ainda que não só da etapa do desenvolvimento geral, porque a sociedade dirigida por seto-
dela. res minoritários nunca educa maior número de indivíduos, nem lhes distribui
Cabe apontar ainda a “descoberta” do treinamento em serviço. É impor- mais instrução que necessária para que cumpram as tarefas objetivas que
tante a articulação da formação pré-serviço com a formação continuada. lhes impõe. Em consequência, somente a mudança de fase e a passagem
Deve-se alertar no entanto, para a perigosa tendência a substituir a forma- a uma situação de maior desenvolvimento levam a sociedade a incrementar
ção pré-serviço pela formação em serviço. Mais uma vez, estamos frente quantitativamente e qualitativamente o processo educacional formalizado.
ao empobrecimento da formação do profissional da educação, o qual se vê A oportunidade que cada indivíduo, jovem ou adulto, tem de figurar
limitado a cursos práticos de curta duração para sua preparação ou a uma numa das faixas de distribuição educacional lhe está designada por sua
imersão acrítica na realidade da escola, durante sua preparação profissio- posição na sociedade, ou seja, objetivamente falando, por seus determinan-
nal. Nenhuma proposta no entanto toma a decisão de dar mais tempo para tes materiais e culturais. Por conseguinte, para que cada vez maior número
o professor refletir sobre sua prática no interior da escola. de indivíduos encontre oportunidade de se educar é preciso que o contexto
Estas são algumas das característica do chamado neotecnicismo. É a social se desenvolva, pois o atual estado só oferece, obviamente, o conjun-
retomada do tecnicismo dos anos 70 sob novas bases. Mantém-se ainda, to de oportunidades presente.
sua característica fundamental: uma análise da educação descarregada de A sociedade educa o educador num processo sem fim e de complexi-
seus determinantes históricos e sociais. dade crescente. Já dissemos que o saber tem caráter exponencial e isso
Segundo alguns autores o neotecnicismo está baseado no: neocorpo- não somente na existência histórica coletiva senão também na formação
rativismo do Estado; racionalismo econômico, gerenciamento e teoria do pessoal do educador.
capital humano. A qualidade técnica e profissional do educador está sempre submetida
O neocorporativismo tem o discurso de que o Estado age “no interesse ao controle social pelos dispositivos legais que lhe atribuem neste grau,
nacional”. Age também em áreas que não são econômicas propriamente asseguram-lhe o exercício da docência e lhe proporcionam meios de
dito, como a Educação. constantes aperfeiçoamento. Este é apenas o aspecto externo que deter-
O racionalismo econômico coloca ênfase na eficiência e na economia, mina a sua condição de educador e lhe dá os recursos para se tornar um
na efetividade e desempenho, nos resultados do setor público, todos articu- profissional cada vez mais competente. Há outro controle que é o que
lados com a obtenção dos objetivos do Estado. realmente importa: o que é exercido pela própria consciência do educador.
O gerenciamento, modelo da administração privada, é assumido sem Nesse sentido cabe ao professor, além de incrementar seus conheci-
considerar diferença essenciais entre os objetivos do setor público e do mentos e atualizá-los, esforça-se por praticar os métodos mais adequados
privado. em seu ensino, proceder a uma análise de sua própria realidade pessoal
como educador, examinar com autoconsciência crítica sua conduta e seu
No discurso do capital humano, as pessoas são vistas como mercado- desempenho, com a intenção de ver se esta cumprindo aquilo que sua
rias que detêm valor, o qual pode ser aumentado pela ação da educação consciência crítica da realidade nacional lhe assinala como sua correta
sistemática. atividade.
Não se pode debater a questão da formação do educador sem levar Sendo assim, a capacitação crescente do educador se faz por duas vi-
em conta estes elementos de contexto, na formulação dos próximos passos as:
da luta pela formação do Educador no Brasil. Os sociólogos e economistas
necessitam ajudar-nos nesta tarefa com urgência. (Freitas, 1995). a) via externa: representada por cursos de aperfeiçoamento, seminá-
rios, leituras de periódicos, etc.
Pinto (1994) diz que o nível médio de formação do professorado é um
reflexo do nível médio do desenvolvimento social. b) via interior: é a indagação à qual cada professor se submete, rela-
tiva ao cumprimento de seu papel social.

Didática 12 A Opção Certa Para a Sua Realização


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A condição para este constante aperfeiçoamento do educador não é viverem. Por isso, o estudo da didática só terá utilidade se puder ajudar as
somente a sensibilidade aos estímulos intelectuais, mas é sobretudo a pessoas a se situarem de forma consciente e crítica perante a realidade
consciência de sua natureza inconclusa como sabedor. Geralmente são os existencial. A didática deve ser uma disciplina que desperte consciências
auto-suficientes os que estacionam no caminho de sua formação profissio- críticas em relação à vida, à sociedade, à educação, ao ensino, à escola,
nal. aos professores, aos alunos, enfim, em relação a todas as situações exis-
O educador tem, portanto, que acompanhar o movimento da realidade. tenciais.
A forma de vida pessoal mais perfeita para se realizar este intento é per- A didática deve questionar por que educar, por que ensinar, o que en-
manecer em constante vinculação com o povo. sinar, a quem ensinar, como ensinar e com que ensinar.
O educador necessita compreender a natureza necessariamente culta A didática é uma ciência dimensionada para o humano, que se propões
do povo para sentir-se desejo de unir-se às massas de seu país. Precisa a ajudar e educar o homem. Uma ciência só tem valor quando se propõe a
compreender que o povo é a matriz de toda cultura, e que o saber, como oferecer ao homem possibilidades para melhor realizar e viver a vida. Por
conceito ou lei que reflete ou apreende um aspecto da realidade, não é em isso, toda a ciência que não está para o homem é anti-humana e não é
si mesmo cultura, senão que se torna tal quanto representa um produto da educativa.
consciência geral. Depois de enunciado, o saber se torna igualmente um A didática deve se preocupar, primeiramente, com o homem e sua vida.
produto da cultura da cultura, porque o processo de sua divulgação e Pois, para poder viver, o homem necessita da ajuda da educação, da
apropriação por outro contexto social que não o produziu expressa ainda o pedagogia, da didática e de todas as demais ciências. Mas o que é esse
estado da realidade deste último contexto. E como esta realidade é sempre homem e o que é sua vida? A partir disso, se faz necessário refletir sobre o
uma totalidade, o saber aí criado tem conexões com todos os demais que é o homem e seu viver.
aspectos dessa realidade e a expressa por seus condicionamentos recípro-
cos. O homem é o ser que busca a possibilidade de desencadear a vida
com toda a plenitude, um ser que, com toda a ansiedade, quer viver. O
Como o contexto social se define primordialmente pela situação vivida homem vive feliz angústia do querer viver, do querer ser alguém junto a
por um povo, o educador só será de fato culto e só desempenhará com alguém. A grande meta do homem é ter uma vida feliz; por isso, ele se
proveito suas funções se conservar fiel às inspirações de seu povo, das empenha com todas as suas forças. A vida não lhe é dada como uma
massa trabalhadoras de seu país. dádiva, mas é uma conquista que exige esforço, trabalho, labutas e, até
Por isso a formação do educando não deve ser exclusivamente técni- mesmo, sofrimentos.
co. Ao contrário, o progresso de sua consciência crítica, de si e de seu Querer viver é o grande problema e a suprema felicidade do homem.
mundo, que lhe dá a certeza de ser cada vez mais competente em seu Mas o viver do homem não é um simples estar aqui ou ali. O homem é um
ofício e mais culto como intelectual, pois cada vez mais se acerca mais das ser que se projeta para o mundo e para a existência. É um ser que vai além
origens legítimas da cultura. do “agora, porque o “agora” não satisfaz e é delimitador, não o torna total-
É evidente que o educador tem um avanço na escala de conhecimento mente presente na perspectiva do profundo. O “agora” delimita o ser pes-
sobre o educando, mas isso não significa necessariamente maior consciên- soal no tempo e na angústia. A pessoa vai em busca do tempo que a liberte
cia da realidade. Para o educador ingênuo o saber é concebido como algo da angústia do “agora, do “aqui” e do “ali”. Ela busca o tempo que se revela
que deve ser transmitido como um volume de mão em mão. Mas esse em existência e vida, em possibilidades que são esperanças de amor, fé e
saber só se converte em instrumento de cultura quando incorpora na cons- libertação, possibilidades que dessorem a angústia do “agora” para se
ciência de quem o possui a compreensão de sua origem. tornarem manifestações de vida.
O educando esta privado do saber que vai adquirir, mas não da cons- A pessoa é o ser aberto para o mundo e para a vida e seu anseio é
ciência de sua situação, do julgamento de si e da qualidade do professor sempre, e cada vez mais, viver, viver plenamente.
que lhe dará a instrução. Cabe ao professor ser capaz de reconhecer tal O viver não é uma dádiva, mas uma conquista sem limites, é uma bus-
possibilidade, de julgá-la normal e se beneficiar dela pelo encontro com a ca que se desencadeia no espaço e no tempo, porque a vida é o essencial
consciência do aluno. para o ser pessoal.
A relação educacional é essencialmente recíproca, é uma troca de ex- A pessoa cria à sua volta uma relação de presença e encontro pessoal,
periências, um diálogo. O educador ingênuo não reconhece no aluno sua estabelece uma relação de envolvimento, de participação, de entendimento,
qualidade de sujeito e por isso julga ser o único sujeito do ato pedagógico. de fé, de esperança e amor com o mundo e com a vida.
Com isso evita o mais importante desse ato: o encontro de consciências.
O homem quer viver e para isso se despoja de si mesmo em busca da-
De fato, a sociedade na qual um indivíduo se alfabetiza ou se instrui quilo que, às vezes, lhe parece necessário. Mas essa busca não é apenas
em grau mais elevado já não é a mesma. Se o educador dá ao aluno adulto obra do acaso, do instinto ou do destino, é também consequência da total
a certeza de que parte dele mesmo, como sujeito, a aquisição do saber, a e plena consciência de ser existencial, do querer livre e consciente, da
concepção do mundo que o educando produz será necessariamente crítica. responsabilidade.
O educador crítico deverá dar a compreender ao aluno que se esta Querer viver é a angústia e a esperança libertadora da pessoa. Não
educando da mesma maneira que ele (o educador) se educou. Porque, uma angústia de morte, mas de esperança, de fé e de amor pela vida. O
para a consciência ingênua do aluno o professor é um ser diferente, porta- desejo profundo e único do homem é viver e viver sempre melhor.
dor de um dom inexplicável . Desse modo, o educando se reconhece como
um educador potencial pois compreende que esta sendo educado não A pessoa se torna cada vez mais pessoa à medida que toma consciên-
como ignorante, mas como possível educador. cia da existência, da realidade. Sempre que a pessoa tenta libertar-se e
busca o universo pessoal, com autenticidade e liberdade, com espírito
O importante é deixar claramente estabelecida essa tese fundamental aberto e crítico, ela se despoja de todas as banalidades que não a deixam
da teoria pedagógica crítica: no processo de educação não há uma desi- viver.
gualdade essencial entre dois seres, mas um encontro amistoso pelo qual
um e outro se educam reciprocamente. Diríamos que o único e exclusivo objetivo neste mundo é buscar o vi-
ver. Para viver, o homem enfrenta tudo. Se parássemos e contemplásse-
A Revisão da Didática mos o homem, onde quer que ele esteja, e nos perguntássemos sobre o
O homem manifesta uma profunda angústia para viver a vida. O impor- que ele deseja neste mundo, a resposta seria só: VIVER. Viver uma vida
tante para ele é aprender a viver, e faz tudo o que pode para viver da feliz, pois o alvo da vida é encontrar a felicidade.
melhor forma possível. O ser humano quer vencer a dor, superar as dificuldades que o impe-
Toda criança, todo jovem, toda pessoa adulta tem um projeto de vida. dem de se realizar. O homem busca, através das ciências respostas para
Mas, para realizá-lo, todos buscam a ajuda da sociedade, da família e os problemas existenciais. Realiza todos os esforços para superar as
principalmente da educação. Contudo, perguntamos o quanto a educação e dificuldades. Procura superar, inventar, criar, descobrir, fazer, sempre em
a escola ajudam as pessoas a realizar os seus projetos. busca do que é essencial: A vida. O homem é um ser que procura, com
consciência e esforço, vencer os obstáculos que a vida lhe impõe. O ho-
Para que esta busca existencial tenha êxito, a educação, a pedagogia mem tem de fazer a sua vida, que é para ele, como diz Y Gasset, “a
e todas as demais ciências devem ter como objetivo ajudar as pessoas a

Didática 13 A Opção Certa Para a Sua Realização


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realidade radical”. Se cada homem tem de fazer que fazer, deve aprender a Durkheim diz: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas
fazer a vida e vivê-la. sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida
Será que a educação realmente ajuda o homem a fazer o seu que fa- social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança certo número de
zer, a viver bem a vida? Será que a nossa educação não afasta o homem estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política
da vida? Não será ainda a nossa educação “um massacre dos inocentes no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
que desconhece a personalidade da criança como tal, impondo-lhe um destina”.
resumo das perspectivas do adulto, as desigualdades sociais forjadas pelos O homem não traz em si todas as virtudes, hábitos, costumes sociais.
adultos, substituindo o discernimento dos caracteres e das vocações pelo Por isso, deve, através de processos, adquirir tudo aquilo que pode tornar o
formalismo autoritário do saber” (Mounier)? ser individual participante hábil do convívio social. Ao nascer a criança não
Parece que nossa educação destrói personalidades, destruindo a ale- traz muitos dos elementos que lhe são necessários para subsistir no mundo
gria e a felicidade. Nosso ensino impede o palpitar dos corações pela social.
imposição de conhecimentos que não atingem a alma do educando, mas Há a necessidade de uma preparação para a vida em grupo. Parece-nos
simplesmente o cérebro e o intelecto. que esse aprender a decifrar a realidade social não limita a pessoa. Aprender
De fundamental importância nos parecem as palavras de J. Dewey, a conhecer o passado, a história do homem através da compreensão das
quando nos diz: “Nós fizemos de nossas escolas lugares onde sopra quase suas realizações é algo que ajuda o jovem a entender o seu presente e a
sempre o vento das palavras, isto é, para alguém que tem sede de vida, o interpretar toda a problemática que decorre do próprio passado.
vento gelado da morte. A vida! A vida! ah! se nós queremos a vida colo- A influência que as gerações adultas exercem sobre os jovens através
quem-nos na vida. da educação não têm o objetivo de moldar pura e simplesmente indivíduo
Vejamos o homem como é e aspira a ser. Ouçamos bater o seu cora- ao passado, ou tirar-lhe a sua liberdade e independência, mas sim torná-lo
ção, palpitar os desejos e coloque-os num clima capaz de alimentar e fazer cada vez mais livre no seu agir e pensar, a fim de que possa ser inserida
crescer o seu organismo físico e moral. Aprender? Certamente, mas antes numa sociedade.
de tudo viver e aprender pela vida e na vida.” O desenvolvimento da pessoa como totalidade não depende só da he-
Aprender a viver, aprender a ser é a grande questão que a educação rança e das habilidades inatas, mas sim da influência direta ou indireta das
deve se colocar e que as escolas e professores necessitam questionar. gerações mais velhas. O indivíduo, como ser em crescimento, busca junto
às gerações mais velhas apoio para resolver as dificuldades que surgem a
A escola e os professores devem se perguntar até que ponto estão todo o momento. A experiência do passado nos ajuda a tirar proveito do
educando para a vida. Até que ponto estão ajudando as nossas crianças a que é válido e a evitar o que não deu certo.
aprenderem não só a enfrentar a vida, mas a viver com amor, alegria e
felicidade. Parece-nos que o mundo está precisando de mais amor, de paz A educação não é simplesmente um processo de influência do passado
do que do domínio da técnica, que, por vezes, embrutece o homem. sobre o presente. Deve ser um processo que possibilite ao educando se
automedicar, despertar a consciência e responsabilidade ante valores
Na educação e no ensino, o objetivo fundamental é o encontro da feli- essenciais à vida. Um dos objetivos da educação é possibilitar que os
cidade e não somente a aquisição de conhecimentos; se eles não tornarem jovens se realizem através da ação e do esforço pessoal para buscar e
a pessoa feliz; a sua finalidade não será outra senão a deformação. O transformar os valores culturais do passado, adaptando-os à realidade.
ensino não pode se limitar à aquisição passiva e artificial de conhecimentos
que não servem de resposta às experiências diárias. Os pais, os professores e a própria escola têm como objetivo transmitir
a cultura, mas não apenas. Também têm como propósito ajudar o jovem a
Todos os conhecimentos assimilados devem ser eminentemente edu- desenvolver a capacidade de criar suas próprias formas de cultura; facilitar
cativos e formadores de personalidades, respondendo às necessidades e ao jovem o desenvolvimento das habilidades pessoais para que ele mesmo
urgências da pessoa, fornecendo-lhe as melhores condições para o cresci- seja capaz de refletir sobre o que lhe é transmitido, de aceitar, mas aceitar
mento pessoal. Separar o ato educativo do ato de ensinar seria fazer uma com espírito crítico, com independência, com liberdade e consciência.
cisão muito profunda na formação. Seria separar o intelecto das emoções e
sentimentos. Para John Dewey, “a educação não é algo que deva ser inculcado de
fora, mas consiste no desenvolvimento de dons que todo o ser humano traz
A didática necessita se fundamentar nos princípios da educação. Qual- consigo ao nascer”.
quer ciência tem como primeiro objetivo a formação da pessoa como totali-
dade. E para que se possam ensinar ciências, deve-se ter bem presente a A educação não seria um processo de transmissão ou de imposição
quem e para que se destinam. As ciências estão para o homem e não o dos valores culturais assimilados pelas gerações mais velhas; não seria
homem para as ciências. algo estruturado deliberadamente pelas instituições, mas brotaria do íntimo
do ser humano.
A didática sente a necessidade constante de se perguntar o que é o
homem; o que é a educação; o que é educar, para saber como ensinar. Os As pessoas trazem em si toda uma potencialidade. Contudo, essas fa-
princípios básicos da educação devem orientar todo o processo didático- culdades não devem ser idealizadas segundo esquemas exteriores e
pedagógico. estruturadas com a intenção de adaptar a pessoa a uma convivência social,
muitas vezes voltada para o formalismo degradante. A criança não deve ser
São as teorias de educação que darão ao professor segurança na to- educada a partir de ideias preconcebidas por mentes estranhas ao seu
mada de decisões no ato pedagógico. A filosofia da educação pede lhe modo próprio de ser.
oferecer segurança para interpretar o homem e a vida. Tendo conhecimen-
to das bases fundamentais da filosofia da educação, o professor estará Educar não no sentido de usurpar individualidades ou de encadear as
apto para desencadear o processo ensino-aprendizagem. pessoas numa direção preconcebida com a finalidade de abafar a auto-
realização, a consciência. Educar não para simplesmente transmitir ou
A educação pode ser definida como “o processo pelo qual as gerações transpor a cultura de uma mente para a outra, a fim de que a diferença não
adultas transmitem às gerações jovens a sua cultura ou a sua tradição para se instaure, de que não surja um pensamento diferenciado.
garantir a continuidade do grupo como um todo” (Fernando de Azevedo).
Sabemos que se dirigirmos o pensar de alguém, ele se tornará um ser
O ser humano vive, age e convive em sociedade. Não é um ser isola- acabrunhado e destroçado. Impor um tipo de educação é “massacrar”
do, participa de um processo, onde age e reage, influi e é influenciado pelo personalidades, liberdades, determinar o estilo de vida, predeterminar o
grupo, pela sociedade, pela cultura, pelas ideias, pelo ambiente e por todos pensar e o agir dos indivíduos. A pessoa é, por natureza, capaz de deter-
os fenômenos dos quais participa. minar o próprio modo de existir. Educar é facilitar o desabrochar de todas
As gerações adultas exercem pressão direta ou indiretamente para de- as qualidades que a pessoa traz consigo, é dar condições para que o eu
terminar um tipo de comportamento sobre as gerações jovens; as gerações pessoal desperte e se liberte de tudo aquilo que não lhe é próprio ou que
jovens sofrem pressões dos adultos; algo é transmitido como sendo a não convém para a sua libertação.
cultura e deve ser aceito para perpetuar e garantir o próprio processo de A educação ajuda o homem a conquistar os seus próprios instrumentos
educação e desenvolvimento do ser humano, assim como a continuidade de libertação, de realização do que ele projeta. Graças a ele, vai adquirir
do grupo. Observamos aqui um processo sistemático de influência: os uma consciência profissional, política, social, religiosa; vai forjar seu traba-
adultos exercendo determinada ação sobre os jovens. lho, sua cultura e seu desenvolvimento.

Didática 14 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Pela educação, que decisivamente será conscientização, o homem ad- O homem é o ser pessoal que se manifesta ao mundo. É o ser pessoal
quire uma atitude nova diante das coisas, diante dos outros, diante das que está presente no mundo, é o ser que se despoja de si mesmo para o
estruturas, atitude de compreensão e da luta para se libertar pela libertação encontro com os outros. Ele é “capaz de se desapossar e de se descentrar
dos outros (Robert Etave). para se tornar disponível aos outros”(E. Mounier).
Através da educação o homem pode buscar os seus próprios instru- O ser pessoal não se possui a si mesmo quando se torna disponível e
mentos e meios para viver, para se libertar das circunstâncias que a reali- presente aos outros. Faz da sua posse um ato de comunhão possível e
dade social, cultural, política, econômica e religiosa lhe impõem, querendo presente aos outros. Faz da sua posse um ato de comunhão com o outro,
subjugá-lo e torná-lo obediente a todos os apelos exteriores. O homem que também é uma presença que se manifesta, de modo que essa manifes-
como individualidade é capaz de buscar, através da educação, sua realiza- tação torna-se uma posse fecunda de amor, realizadora de intimidade no
ção como pessoa, como alguém consciente e crítico diante da vida. mundo, onde se realiza o encontro e a presença da pessoa com a pessoa.
Sempre que se pensa em educação, deve-se, em primeiro lugar, pen- Deve o homem “ser tudo para todos sem deixar de ser eu”(E. Mounier).
sar no ser em que vai processar-se a educação: o homem. O homem não O objetivo da educação não pode ser outro senão a pessoa. Ajuda a
apenas como objeto do educativo, mas como agente do processo educaci- pessoa a ser ela mesma junto ao mundo. A ser livre, consciente, compro-
onal. É o homem que caracteriza e estabelece a estrutura, os fins e os metida, responsável, dinâmica e autêntica com o mundo, com a vida e
objetivos da educação que pretende. Uma educação para o homem que consigo mesma
vive, e não para o homem abstrato; para o homem que enfrenta a vida, que
procura situar-se, que quer ser. A escola que se preocupa com a pessoa é a escola que educa; que
ajuda a ser feliz; que ajuda o mundo a ser melhor, a viver em paz, que
A educação para o homem concreto deverá ter como ponto de partida promove a fraternidade e o amor. Para isso a educação deverá ser planeja-
o próprio homem. Mas o que é o homem, como se manifesta no mundo? da a partir da dimensão do homem como pessoa. Só assim estará contribu-
Quais as suas aspirações, os seus anseios? indo para a formação do homem completo, a fim de que se torne cada vez
O homem, ser que pensa. O pensar é a manifestação de um modo de mais senhor de si mesmo.
ser e existir no mundo dos seres vivos. O pensar racional diferencia o Cabe à educação, ao ensino, à instrução desempenharem uma ação
homem dos demais seres. Ele possui o seu modo próprio de ser. O ato de formadora de pesas e não apenas uma ação. A pessoa não é só intelecto,
pensar revela o homem, não como um simples ser, porém como um ser raciocínio conhecimento. Está voltada para a busca da felicidade individual
que se distingue, que se manifesta, não só pela presença física, mas pôr e comunitária.
aquilo que o faz ser diferente. O seu ser é um ser Pensante.
A educação, por isso, deve ajudar a pessoa a ser sábia, coerente, hu-
Poderíamos dizer que o ser capaz de pensar é capaz de ser. Os de- milde, corajosa. Correta e autêntica consigo mesma e com os outros. Justa
mais seres não são capazes de ser. São capazes de viver, porque estão no nas críticas e sábia no pensar. Capaz de ver os próprios erros antes de ver
mundo da vida, mas não participam da vida com plenitude. Participar da os erros dos outros.
vida e do mundo é criar o mundo do viver, é ser para a vida e não simples-
mente estar na vida. O ser pensante cria, a partir da ação do eu consciente, O professor que se preocupa com a pessoa é o professor que educa.
uma realidade que não era existencial, no pleno sentido da participação Educar a pessoa é evitar a exploração, a avareza, a ganância, o orgulho e
consciente. a violência.
O homem que só aceita o já pensado, sem poder criar; que se subordi- O aluno não é apenas um ser racional, mas é um ser que se dispõe,
na à natureza, sem questioná-la, que aceita a problemática existencial, sem que ama e quer ser amado. O homem é o único ser que ama, e nesse ato
nada indagar; que vive, mas não sabe pôr que vive; que é dominado e de amor se imbui de uma consciência de doação que é a dádiva sem
oprimido; que deve obedecer; que deve submeter-se; enfim, o homem que medida e sem esperança de recompensa. Será que as escolas se preocu-
trabalha, mas que não faz o trabalho de homem consciente, é manipulado e pam com a pessoa como ser voltado para o amor?
destruído pôr uma educação que não o capacitou a pensar. No desejo constante de doação plena, consciente e realizadora se ma-
Quando não é dada ao homem a possibilidade de ir em busca do signi- nifesta com um “Eu” para o outro “Eu”, que, juntos, realizam a planificação
ficado ou do sentido de sua situação, ocorrem a despersonalização e a do existir. A plenificação do existir se manifesta no agir constante e respon-
hostilização na usa integridade ontológica. Porque a busca do sentido para sável do ser pessoal no universo de homem-pessoa.
o homem é essencial. “A procura de sentido é uma tendência permanente O amor é uma abertura do ser para o ser; é uma angústia que expande
do homem. O homem caracteriza-se pelo poder de descobrir, interpretar e e leva aluno a se manifestar como uma doação de presença junto ao outro.
conferir significados. O sentido é a respiração do ser inteligente”( Juvenal A ânsia vivifica a ação dinâmica do aluno consciente à procura de uma
Arduini). realização que o liberte.
O sentido que o homem procura não pode ser dado, imposto ou rece- Ser e estar disposto a amar são virtudes da pessoa com uma existên-
bido. Deve ser conquistado através do pensar crítico-reflexivo. cia diferente no mundo dos seres que se dispõem. A pessoa disposta para
Educação não é dádiva. Segundo Paulo Freire o ato de estender algo a a pessoa concretiza o amor. Ela é o que é: plena de força, de coragem e
alguém é um “equivoco gnosiológico”. Estender o conhecimento até a “fonte disposição para estar realmente voltada para os outros em atitude de amor.
da ignorância”, sem permitir que aquele que recebe o conhecimento possa Função principal da escola é educar o homem para o amor que eno-
refletir e questionar, não é um ato educativo e formativo, mas um ato de brece, que realiza, que liberta, que conscientiza. Educar para que as pes-
opressão que destrói todas as potencialidades do homem, tornando-o soas se tornem felizes e autênticas, honestas e bondosas, sábias e corajo-
apenas um objeto capaz de produzir o inútil e o indesejável. sas, humildes e seguras. Por isso os educadores devem se preocupar com
Aniquila a sua capacidade de ver o mundo e entendê-lo. a pessoa, como ser voltado para o amor. Educar para o amor, e não só
com amor.
O homem necessita interrogar-se sobre a existência, a vida e suas cir-
cunstâncias. E para dar resposta à problemática humana, a educação deve “Diria que o homem deveria viver para amar, compreender e criar.
ter bem presente que o homem deve aprender a pensar e a questionar, não Acredito que o amor seja um valor absoluto, aquele que dá significado à
através de um processo dirigido que mitifica e conduz, mas através de um vida humana”( A. Toynbee).
processo libertador, crítico e questionado. Impedir o homem de pensar é Quando o homem vive para amar, experiência a missão humana no
proibir que ele nasça, que seja, que se comprometa, que se liberte. É mundo. Compreende por que vive.
destiná-lo a se tornar um escravo dócil, uma personalidade morta. Para que o amor não continue a ser distorcido, mal-interpretado ou me-
Missão fundamental da educação é ajudar o homem a pensar, a não ramente vulgarizado, a escola e os educadores devem dar ênfase especial
permitir que ele se torne escravo da natureza, da ignorância e do próprio à educação para o amor e estabelecer uma filosofia orientadora.
homem. Deve ser um apelo ao desenvolvimento, pois o homem necessita O que é o verdadeiro amor? O que se deve amar? Como se deve
aprender a pensar livremente. Caso contrário, torna-se um joguete do amar? Por que se deve amar as pessoas, o mundo, a natureza e a si
dinheiro, da usura e das tecnologias. Destruir a possibilidade do pensamen- mesmo? Uma filosofia que ensine a não deturpar o amor, mas que faça
to seria massacrar e condenar à morte. Seria permitir que o homem tenha perceber a grandeza do amor.
uma vida cuja orientação é a autodestruição.

Didática 15 A Opção Certa Para a Sua Realização


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A pessoa deve aprender a realizar-se e a realizar os outros. Aprender a pelas novas gerações. Em sentido amplo, a educação compreende os
tomar sobre si o encargo dos outros. Mas para que a pessoa aprenda a se processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos
dispor aos outros no amor e na verdade, o processo educativo não pode estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de
ver a pessoa simplesmente como um objeto ou coisa a ser preparada para existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa
a sociedade, deve ver a pessoa como um ser apto para o amor. grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da orga-
“A educação deveria mudar radicalmente seus princípios. Muitas vezes nização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos
a educação produz efeitos opostos aos que busca. A razão é que ela costumes, das formas de convivência humana. Em sentido estrito, a educa-
procura sempre agir sobre um outro ser, como agiria sobre uma coisa”( Luís ção ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades
Lavelle). explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada
e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos
Piletti, Claudino. Didática Geral, 1986; São Paulo; Editora Ática - Intro- gerais.
dução; pp.49
Os estudos que tratam das diversas modalidades de educação costu-
O conhecimento da Didática garante um mam caracterizar as influências educativas como não-intencionais e inten-
desempenho eficaz do professor? cionais.
Se por conhecer entendemos falar sobre - falar sobre as diferentes A educação não-intencional refere-se às influências do contexto social
técnicas didáticas, falar sobre currículos, falar sobre planejamento etc., - a e do meio ambiente sobre o indivíduos. Tais influências, também denomi-
resposta, certamente, é não. nadas de educação informal, correspondem a processos de aquisição de
O fato de nossa educação ter oscilado, geralmente, entre dois extre- conhecimentos, experiências, ideias, valores, práticas, que não estão
mos - o absoluto predomínio do verbalismo e o ativismo irrefletido, em lugar ligados especificamente a uma instituição e nem são intencionais e consci-
do processo de ação-reflexão-ação - leva-nos a creditar que, na maioria entes. São situações e experiências, por assim dizer, casuais, espontâ-
dos casos, este conhecer refere-se predominantemente a algo meramente neas, não organizadas, embora influam na formação humana. É o caso, por
intelectual e, mais grave ainda, a informações acumuladas, limitadas a fatos exemplo, das formas econômicas e políticas de organização da sociedade,
e mais fatos, apenas. das relações humanas na família, no trabalho, na comunidade, nos grupos
de convivência humana, do clima sócio-cultural da sociedade.
Ora, não há garantia alguma de que o fato de alguém ter ouvido uma
série de discursos sobre as técnicas didáticas, ou de haver acumulado A educação intencional, refere-se a influências em que há intenções e
muitas leituras sobre esse mesmo assunto, cuja memorização tenha sido objetivos definidos conscientemente, como é o caso da educação escolar e
comprovada pôr provas de escolaridade, constituídas de questões através extra-escolar. Há uma intencionalidade, uma consciência por parte do
das quais se procura verificar se de fato o indivíduo retém as informações educador quanto aos objetivos e tarefas que deve cumprir, seja ele o pai, o
que lhes foram prestadas, não há qualquer garantia de que este indivíduo professor ou os adultos em geral, estes muitas vezes, invisíveis atrás de um
possa vir a ter realmente um desempenho docente coerente com as nor- canal de televisão, do rádio, do cartaz de propaganda, do computador, etc.
mas e preceitos contidos nestes discursos. Há métodos, técnicas, lugares e condições específicas prévias criadas
No entanto, estamos diante de um equívoco que diz respeito à própria deliberadamente para suscitar ideias, conhecimentos, valores, atitudes,
estrutura de nossa educação, a qual caracteriza-se pelo dissertar sobre..., comportamentos. São muitas as formas de educação intencional e, confor-
em lugar de experimentar e questionar a realidade. me o objetivo pretendido, variam os meios. Podemos falar da educação não
formal quando se trata de atividade educativa estruturada fora do sistema
Sem experimentação e sem problematização, sem um questionamento
escolar convencional (como é o caso de movimentos sociais organizados,
sobre o próprio sentido das técnicas didáticas - a quem servem? - não é
dos meios de comunicação de massa, etc.) e da educação formal que se
possível evitar que a Didática se torne um mero receituário, sem conse-
realiza nas escolas ou outras agências de instrução e educação ( igrejas,
quência alguma de fato significativa. ( Adaptação de Balzan, N. C. Sete
sindicatos, partidos, empresas) implicando ações de ensino com objetivos
asserções inaceitáveis sobre a inovação educacional. Educação e socieda-
pedagógicos explícitos, sistematização, procedimentos didáticos. Cumpre
des. Paulo, Cortez (6):134-5,junho 1980.)
acentuar, no entanto, que a educação propriamente escolar se destaca
Segundo Claudio Piletti, estudar Didática não significa apenas acumu- entre as demais formas de educação intencional por ser suporte e requisito
lar informações técnicas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Signifi- delas. Com efeito, é a escolarização básica que possibilita aos indivíduos
ca, antes de mais nada, desenvolver a capacidade de questionamento e de aproveitar e interpretar, conscientemente e criticamente, outras influências
experimentação com relação a essas informações. educativas.
Para que o professor não se torne escravo do instrumental didático, É impossível na sociedade atual, com o progresso dos conhecimentos
deve saber questioná-lo a partir da realidade em que atua. Nesse sentido, é científicos e técnicos, e com o peso cada vez maior de outras influências
importante que tenha uma visão ampla e profunda do contexto em que educativas (mormente os meios de comunicação de massa), a participação
desenvolve sua atividade docente. É importante, também, que aprenda a efetiva dos indivíduos e grupos nas decisões que permeiam a sociedade
refletir, a partir deste contexto, ao escolher as alternativas docentes. sem a educação intencional e sistematizada provida pela educação escolar.
Libâneo, Carlos José. Didática São Paulo: Cortez, 1994 - pp.16 -26 As formas que assume a prática educativa, sejam não-intencionais ou
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais glo- intencionais, formais ou não-formais, escolares ou extra escolares, se
bal pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação interpretam. O processo educativo, onde quer que se dê, é sempre contex-
na vida social. A educação - ou seja, a prática educativa - é um fenômeno tualizado social e politicamente: há uma subordinação à sociedade que lhe
social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e faz exigências, determina objetivos e lhe provê condições e meios de ação.
funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da Vejamos mais de perto como se estabelecem os vínculos entre sociedade e
formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimentos de suas capacida- educação.
des físicas e espirituais, prepará-los para a participação ativa e transforma- Conforme dissemos, a educação é um fenômeno social. Isso significa
dora nas várias instâncias da vida social. Não há sociedade sem prática que ela é parte integrante das relações sociais, econômicas, políticas e
educativa nem prática sem sociedade. A prática educativa não é apenas culturais de uma determinada sociedade. Na sociedade brasileira atual, a
uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais com
indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos interesses distintos e antagônicos; esse fato repercute tanto na organização
a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades eco- econômica e política quanto na prática educativa.
nômicas, sociais e políticas da coletividade.
Assim, as finalidades e meios da educação subordinam-se à estrutura
Através da ação educativa o meio social exerce influências sobre os e dinâmica das relações entre as classes sociais, ou seja, são socialmente
indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influências, tornam-se determinados.
capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora em relação ao
Que significa a expressão “a educação é socialmente determinada”?
meio social. Tais influências se manifestam através de conhecimentos,
Significa que a prática educativa, e especialmente os objetivos e conteúdos
experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes acumu-
do ensino e o trabalho docente, estão determinados por fins e exigência do
lados pôr muitas gerações e grupos, transmitidos, assimilados e recriados

Didática 16 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
ensino e o trabalho docente, estão determinados por fins e exigências Podemos, agora, explicitar as relações entre educação escolar, Peda-
sociais, políticas e ideológicas. Com efeito, a prática educativa que ocorre gogia e ensino: a educação escolar, manifestação peculiar do processo
em várias instâncias da sociedade - assim como os acontecimentos da vida educativo global; a Pedagogia como determinação do rumo desse processo
cotidiana, os fatos políticos e econômicos etc. - é determinada por valores, em suas finalidades e meios de ação; o ensino como campo específico da
normas e particularidades da estrutura social a que está subordinada. instrução e educação escolar. Podemos dizer que o processo de ensino-
A estrutura social e as formas sociais pelas quais a sociedade se orga- aprendizagem é, fundamentalmente, um trabalho pedagógico no qual se
niza são uma decorrência do fato de que, desde o início da sua existência, conjugam fatores externos e internos. De um lado, atuam na formação
os homens vivem em grupos; sua vida está na dependência da vida de humana como direção consciente e planejada, através de objeti-
outros membros do grupo social, ou seja, a história humanas, a história da vos/conteúdos/métodos e formas de organização propostos pela escola e
sua vida e a história da sociedade se constituem e se desenvolvem na pelos professores; de outro, essa influência externa depende de fatores
dinâmica das relações sociais. internos, tais como as condições físicas, psíquicas e sócio-culturais dos
alunos.
Este fato é fundamental para se compreender que a organização da
sociedade, a existência das classes sociais, o papel da educação estão A pedagogia, sendo ciência da e para a educação, estuda a educação
implicados nas formas que as relações sociais vão assumindo pela ação a instrução e o ensino. Para tanto compõe-se de ramos de estudo próprios
prática concreta dos homens. como a Teoria da Educação, a Didática, a Organização Escolar e a História
da Educação e da Pedagogia. Ao mesmo tempo, busca em outras ciências
Fizemos essas considerações para mostrar que a prática educativa, a os conhecimentos teóricos e práticos que concorrem para o estabelecimen-
vida cotidiana, as relações professor-alunos, os objetivos da educação, o to do seu objeto, o fenômeno educativo. São elas a Filosofia da Educação,
trabalho docente, nossa percepção do aluno estão carregados de significa- Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Biologia da Educação,
dos sociais que se constituem na dinâmica das relações entre classes, Economia da Educação e outras.
entre raças, entre grupos religiosos, entre homens e mulheres, jovens e
adultos. São os seres humanos que, na diversidade das relações recípro- A didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os
cas que travam em vários contextos, dão significado às coisas, às pessoas, fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A
às ideias; socialmente que se formam ideias, opiniões, ideologias. Este fato ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de
é fundamental para compreender como cada sociedade se produz e se ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos,
desenvolve, como se organiza e como encaminha a prática educativa estabelecer vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desen-
através dos seus conflitos e suas contradições. Para quem lida com a volvimento das capacidades mentais dos alunos. A didática está intimamen-
educação tendo em vista a formação humana dos indivíduos vivendo em te ligada à Teoria da Educação e à Teoria da Organização Escolar e, de
contexto sociais determinados, é imprescindível que desenvolva a capaci- modo muito especial, vincula-se à Teoria do Conhecimento e à Psicologia
dade de descobrir as relações sociais reais implicadas em cada aconteci- da Educação.
mento, em cada situação real da sua vida e da sua profissão, em cada A didática e as metodologias específicas das matérias de ensino for-
matéria que ensina como também nos discursos, nos meios de comunica- mam uma unidade, mantendo entre si relações recíprocas. A didática trata
ção de massa, nas relações cotidianas na família e no trabalho. da teoria geral do ensino. As metodologias específicas, integrando o campo
O campo específico de atuação profissional e política do professor é a da Didática, ocupam-se dos conteúdos e métodos próprios de cada matéria
escola, à qual cabem tarefas de assegurar aos alunos um sólido domínio de na sua relação com fins educacionais. A didática, com base em seus víncu-
conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades los com a Pedagogia, generaliza processos e procedimentos obtidos na
intelectuais, de pensamento independente, crítico e criativo. Tais tarefas investigação das matérias específicas, das ciências que dão embasamento
representam uma significativa contribuição para a formação de cidadãos ao ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática docente.
ativos, criativos, capazes de participar nas lutas pela transformação social. Com isso, pode generalizar para todas as matérias, sem prejuízo das
Podemos dizer que, quanto mais, se diversificam as formas de educação peculiaridades metodológicas de cada uma, o que é comum e fundamental
extra-escolar e quanto mais a minoria dominante refina os meios de difusão no processo educativo escolar.
da ideologia burguesa, tanto mais a educação escolar adquire importância, Objeto de Estudo; O Processo de Ensino
principalmente para as classes trabalhadoras.
A Didática é uma das disciplinas da Pedagogia que estuda o processo
Vê-se que a responsabilidade social da escola e dos professores é de ensino Libâneo, J.C. - “A avaliação escolar”. IN Didática . São Paulo .
muito grande, pois cabe-lhes escolher qual concepção de vida e de socie- Cortez, 1994 (Col. Magistério de 2º Grau) pp. 52/57
dade deve ser trazida à consideração dos alunos e quais conteúdos e
métodos lhes propiciam o domínio dos conhecimentos e a capacidade de Através dos seus componentes - os conteúdos escolares, o ensino e a
raciocínio necessários à compreensão da realidade social e à atividade aprendizagem - para, com o embasamento numa teoria da educação,
prática na profissão, na política, nos movimentos sociais. Tal como a edu- formular diretrizes orientadoras da atividade profissional dos professores. É,
cação, também o ensino é determinado socialmente. ao mesmo tempo, uma matéria de estudo fundamental na formação profis-
sional dos professores e um meio de trabalho do qual os professores se
Ao mesmo tempo que cumpre objetivos e exigências da sociedade servem para dirigir a atividade de ensino, cujo resultado é a aprendizagem
conforme interesses de grupos e classes sociais que a constituem, o ensino dos conteúdos escolares pelos alunos.
cria condições metodológicas e organizativas para o processo de transmis-
são e assimilação de conhecimentos e desenvolvimento das capacidades Definindo-se como mediação escolar dos objetivos e conteúdos do en-
intelectuais e processos mentais dos alunos tendo em vista o entendimento sino, a Didática investiga as condições e formas que vigoram no ensino e,
crítico dos problemas sociais. ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicossoci-
ais) condicionantes das relações entre a docência e a aprendizagem.
Para se tornar efeito o processo educativo que se desenvolve na esco-
la, é preciso dar-lhe uma orientação sobre as finalidades e meios da sua Ou seja, destacando a instrução e o ensino como elementos primordi-
realização, conforme opções que se façam quanto ao tipo de homem que ais do processo pedagógico escolar, traduz objetivos sociais e políticos em
se deseja formar e ao tipo de sociedade a que se aspira. Esta tarefa per- objetivos de ensino, seleciona e organiza os conteúdos e métodos e, ao
tence à Pedagogia como teoria e prática do processo educativo. estabelecer as conexões entre ensino e aprendizagem, indica princípios e
diretrizes que irão regular a ação didática.
A Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a natureza
das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem como os Por outro lado, esse conjunto de tarefas não visa outra coisa se não o
meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará- desenvolvimento físico e intelectual dos alunos, com vistas à sua prepara-
los para as tarefas da vida social. ção para a vida social. Em outras palavras, o processo didático de trans-
missão/ assimilação de conhecimento e habilidades tem como culminância
Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual são assimila- o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos, de modo
dos conhecimentos e experiências acumulados pela prática social da que assimilem ativa e independentemente os conhecimentos sistematiza-
humanidade, cabe à Pedagogia assegurá-lo, orientando-o para finalidades dos.
sociais e políticas, e criando um conjunto de condições metodológicas e
organizativas para viabilizá-lo. Assim, o objeto de estudo da Didática é o processo de ensino, campo
principal da educação escolar.

Didática 17 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Na medida em que o ensino viabiliza as tarefas da instrução, ele con- nado grau; a ação de ensinar em que o professor atua como mediador
tém a instrução. Podemos assim, delimitar como objeto da Didática o entre o aluno e as matérias; a ação de aprender em que o aluno assimila
processo de ensino que, considerado no seu conjunto, inclui: os conteúdos consciente e ativamente as matérias e desenvolve suas capacidades e
dos programas e dos livros didáticos, os métodos e formas organizativas do habilidades. Contudo, estes componentes não são suficientes para ver o
ensino, as atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam ensino em sua globalidade.
e orientam esse processo. Como vimos não é uma atividade que se desenvolve automaticamente,
Por que estudar o processo de ensino? A educação escolar é uma ta- restrita ao que se passa ao interior da escola, uma vez que expressa finali-
refa eminentemente social pois a sociedade necessita prover a gerações dades e exigências da prática social, ao mesmo tempo que se subordina a
mais novas daqueles conhecimentos e habilidades que vão sendo acumu- condições concretas postas pela mesma prática social que favorecem ou
lados pela experiência social da humanidade. Ora, não é suficiente dizer dificultam atingir objetivos.
que os aluno precisam dominar os conhecimentos; é necessário dizer como Entender, pois o processo didático como totalidade abrangente implica
fazê-lo, isto é, investigar objetivos e métodos seguros e eficazes para a vincular conteúdos, ensino e aprendizagem objetivos sócio-políticos e
assimilação dos conhecimentos. Esta é a função da didática ao estudar o pedagógicos e analisar criteriosamente o conjunto de condições concretas
processo de ensino. que rodeiam cada situação didática. Em outras palavras, o ensino é um
Podemos definir processo de ensino como uma sequência de ativida- processo social, integrante de múltiplos processos sociais, nos quais estão
des do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação de conheci- implicadas dimensões políticas, ideológicas, éticas, pedagógicas, frente às
mentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais os alunos quais se formulam objetivos, conteúdos e métodos conforme opções assu-
aprimoram capacidades cognitivas (pensamento independente, observa- midas pelo educador, cuja realização está na dependência de condições,
ção, análise-sintese, e outras). seja aquelas que o educador já encontra seja as que ele precisa transfor-
Quando mencionamos que a finalidade do processo de ensino é pro- mar ou criar.
porcionar aos alunos os meios para que assimilem ativamente os conheci- Desse modo, os objetivos gerais e específicos são não só um dos com-
mentos é porque a natureza do trabalho docente é a mediação da relação ponentes do processo didático como também determinantes das relações
cognocitva entre o aluno e as matérias do ensino. Isto quer dizer que o entre os demais componentes. Além disso, a articulação entre estes depende
ensino não é só transmissão de informações, mas também um meio de da avaliação das condições concretas implicadas no ensino, tais como objeti-
organizar a atividade de estudo dos alunos. O ensino somente é bem vos e exigências postos pela sociedade e seus grupos e classes, o sistema
sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos de escolar, os programas oficiais, a formação dos professores, as forças sociais
estudo do aluno, e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas presentes na escola ( docentes, pais, etc.), os maios de ensino disponíveis,
forças intelectuais. bem como as características sócio-culturais e individuais dos alunos, as
Ensinar e aprender, pois, são duas facetas do mesmo processo, e que condições prévias dos alunos para enfrentar o estudo de determinada maté-
se realizam em torno das matérias do ensino, sob a direção do professor. ria, as relações professor-alunos, a disciplina, o preparo específico do profes-
sor para compreender cada situação didática e transformar positivamente o
Internamente a ação didática se refere a relação entre o aluno e a ma- conjunto de condições para a organização do ensino.
téria, com o objetivo de apropriar-se dela com a mediação do professor.
Entre a matéria, o professor e o aluno, ocorrem relações reciprocas. O O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação recíproca
professor tem propósitos definidos no sentido de assegurar um encontro dos componentes fundamentais do ensino: os objetivos da educação e da
direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das condições instrução, os conteúdos, a aprendizagem, os métodos, as formas e meios
internas dos alunos alterando o modo de lidar com a matéria. Cada situa- de organização das condições da situação didática, a avaliação. Tais são,
ção didática, porém, vincula-se a determinantes econômico-sociais, sócio- também, os conceitos fundamentais que formam a base de estudos da
culturais, a objetivos e normas estabelecidos conforme interesses da socie- Didática.
dade e seus grupos, e que afetam as decisões didáticas. Consideremos, Piletti, C. . “Pedagogia e Didática” In Didática Geral. São Paulo . Ed.
pois, que a inter-relação entre professores e alunos não se reduz a sala de Ática . 1987 . 8ª ed. pp. 42/43.
aula, implicando relações bem mais abrangentes: A Didática é uma disciplina técnica e que tem como objeto específico a
- Escola, professor, aluno, pais, estão inseridos na dinâmica das técnica de ensino ( direção técnica da aprendizagem). A Didática, portanto,
relações sociais. A sociedade não é um todo homogêneo, onde reina a paz estuda a técnica de ensino em todos os seus aspectos práticos e operacio-
e a harmonia. Ao contrario, há antagonismos e interesses distintos entre nais, podendo ser definida como: “A técnica de estimular, dirigir e encami-
grupos e classes sociais que se refletem nas finalidades e no papel atribuí- nhar, no decurso da aprendizagem, a formação do homem”. (Aguayo)
dos a escola, ao trabalho do professor e dos alunos. A Didática Geral estuda os princípios, as normas e as técnicas que de-
- As teorias da educação e as práticas pedagógicas, os objetivos vem regular qualquer tipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. A Didática
educativos da escola e dos professores, os conteúdos escolares, a relação Geral nos dá uma visão geral da atividade docente.
professor-alunos, as modalidades de comunicação docente, na disso existe A Didática Especial estuda aspectos científicos de uma determinada
isoladamente do contexto econômico, social e cultural mais amplo e que disciplina ou faixa de escolaridade. A Didática Especial analisa os proble-
afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendizagem. mas e as dificuldades que o ensino de cada disciplina apresenta e organiza
- O professor não é apenas professor, ele participa de outros con- os meios e as sugestões para resolvê-los. Assim, temos as didáticas espe-
textos de relações sociais onde é também, aluno, pai, filho, membro de ciais das línguas (francês, inglês, etc.); as didáticas especiais das ciências
sindicato, de partido político ou de um grupo religioso. Esse contextos se (Física, Química, etc.).
referem uns aos outros e afetam a atividade prática do professor. O aluno Tanto a Didática como a Metodologia estudam os métodos de ensino.
por sua vez, não existem apenas como aluno. Faz parte de um grupo Há, no entanto, diferença quanto ao ponto de vista de cada uma. A Metodo-
social, pertence a uma família, possui uma linguagem para expressar-se logia estuda os métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem
conforme o meio em que vive, tem valores e aspirações condicionados pela fazer juízo de valor.
sua prática de vida, etc.
A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos
- A eficácia do trabalho docente depende da filosofia de vida do métodos de ensino. Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízos de
professor, de sua convicções políticas, do seu preparo profissional, etc. realidade, e a Didática nos dá juízos de valor.
Tudo isso entretanto, não é uma questão de traços individuais do professor,
pois o que acontece com ele tem a ver com as relações sociais que aconte- Juízos de realidade são juízos descritivos e constatativos. Exemplos:
cem na sociedade. - Dois mais dois são quatro.
Consideremos, assim, que o processo didático esta centrado na rela- - Acham-se presentes na sala 50 alunos.
ção fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a con- Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas.
frontação ativa do aluno com a matéria sob a mediação do professor. Com
Exemplos:
isso, podemos identificar entre os seus elementos constitutivos: Os conteú-
dos das matérias que devem ser assimilados pelos alunos de um determi- - A democracia é a melhor forma de governo.

Didática 18 A Opção Certa Para a Sua Realização


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- Os velhos merecem nosso respeito. A didática não visa apenas a métodos, técnicas e meios rígidos e está-
A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser metodolo- ticos. Não se constitui somente por um conjunto de princípios que, se
gistas sem ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem ser metodo- aplicados, dariam resultados imediatos e claramente observáveis e mensu-
logistas, pois não podemos julgar sem conhecer. Por isso, o estudo da ráveis. Dessa forma o educando é tido como um objeto manipulável, que
Metodologia é importante por uma razão muito simples: para escolher o pode ser submetido a qualquer tipo de experimentação ou treino. A didática
método mais adequado de ensino precisamos conhecer os métodos exis- não é uma pura mecanização e manipulação de métodos e técnicas de
tentes. ensino que, por vezes, são empregados sutilmente a serviço de ideologias.
Ela deve se pôr a serviço do educando como uma totalidade pessoal.
Texto Complementar: O conhecimento da Didática garante um desem-
penho eficaz do professor? A didática objetiva resultados, aprendizagens, mudanças significativas
de comportamento. Não se caracteriza por um simples adestramento, que
Se por conhecer entendermos falar sobre - falar sobre as diferente téc- só intenciona a produtividade, o ensino para fazer, o ensino para produzir, o
nicas didáticas, falar sobre objetivos educacionais, falar sobre currículo, ensino para a submissão do pensamento.
falar sobre planejamento escolar etc., - a resposta, certamente, é não. O
fato de nossa educação ter oscilado, geralmente, entre dois extremos - o A didática deve ser uma disciplina altamente questionadora da realida-
absoluto predomínio do verbalismo e o ativismo irrefletido, em lugar do de educacional, da escola, do professor, do ensino, das disciplinas e conte-
processo de ação-reflexão-ação - leva-nos a acreditar que, na maioria dos údos, das metodologias, da aprendizagem, da realidade cultural, da política
casos, este conhecer refere-se predominantemente a algo meramente educacional. Ela não é uma disciplina com verdades prontas, mas uma
intelectual e, mais grave ainda, a informações acumuladas, limitadas a fatos disciplina que busca, que investiga o universo da educação. Ela quer saber
e mais fatos, apenas. desencadear novos processos.
Ora, não há garantia alguma de que o fato de alguém ter ouvido uma Se a didática aceita as inovações tecnológicas e científicas, aceita-as
série de discursos sobre as técnicas didáticas, ou de haver acumulado porque está em busca da utilidade e da novidade, mas não se deixa levar
muitas leituras sobre esse mesmo assunto, cuja memorização tenha sido pelos modismos pedagógicos, que inovam por inovar.
comprovada por provas de escolaridade, constituídas de questões através A didática pode ser definida como a “capacidade de tomar decisões
das quais se procura verificar se de fato o indivíduo retém as informações acertadas sobre o que e como ensinar, considerando quem são os nossos
que lhes foram prestadas, não há qualquer garantia de que este indivíduo alunos e por que o fazemos. Considerando ainda quando e onde e com que
possa vir a ter realmente um desempenho docente coerente com as nor- se ensina” (Domingues de Castro, 1974, p. 9).
mas e preceitos contidos nestes discursos. Capacidade de tomar decisões. A habilidade de tomar decisões é sa-
No entanto, estamos diante de um equívoco que diz respeito à própria ber escolher as melhores alternativas, se decidir por aquilo que é melhor
estrutura de nossa educação, a qual caracteriza-se pelo dissertar sobre ..., para si e para os outros, para o agora e para o futuro. Tomar decisões é
em lugar de experimentar e questionar a realidade. uma das grandes habilidades que toda pessoa deveria possuir em grau
Sem experimentação e sem problematização, sem um questionamento altamente desenvolvido. “A maior de todas as ciências é a ciência da deci-
sobre o próprio sentido das técnicas didáticas - a quem servem? - não é são”(Trueblood).
possível evitar que a Didática se torne um mero receituário, sem conse- O professor deve tomar inúmeras decisões em relação ao seu ato pe-
quência alguma de fato significativa. (Adap. De Balzan, N. C. Sete asser- dagógico. São decisões puramente pessoais e decisões que vão influenciar
ções inaceitáveis sobre a inovação educacional. Educação e Sociedade, outros. A didática deve ajudar o professor a tomar sempre as melhores
Cortez (6):134-5, junho, 1980.) decisões. Conhecer a didática é habilitar-se a tomar decisões acertadas
sobre tudo o que vai interferir na formação do educando, como uma totali-
dade social e pessoal. A tomada de decisões não é apenas um ato imposi-
Menegolla, M. & Sant’Anna, I. M . “A Didática” In Didática: aprender a tivo.
ensinar São Paulo . Ed. Loyola, 1991 pp. 25 - 40
Requer a capacidade de refletir com sabedoria para escolher, entre as
Vista apenas como uma ciência, com objeto e métodos próprios, vi- várias alternativas, a mais segura e acertada. O professor que sabe tomar
sando determinados objetivos, a didática não ultrapassa o restrito cientifi- decisões não se prende de forma categórica a uma só alternativa. Ele
cismo acadêmico. busca muitas soluções possíveis, e, após uma análise profunda e criteriosa,
A ciência pela ciência não é caminho ideal para a didática. “A arte de vai optar pela mais segura e real.
ensinar” deve ser o suporte da didática, seus princípios teóricos e sua A didática ajuda a tomar decisões sobre a educação, o educando, o
técnicas devem operacionalizar o ensino e a aprendizagem. ensino, o professor, as disciplinas, os conteúdos, os métodos e técnicas e
A didática como ciência tecnicista, que segue rigorosamente uma me- sobre a comunidade escolar. Isto porque ela se dimensiona como uma
todologia pragmática, estruturada por esquemas inflexíveis, que levam a disciplina educativa e não puramente técnica.
conclusões que parecem matemáticas, irredutíveis e inquestionáveis, não O que ensinar. Eis a grande questão que os professores enfrentam, no
se constitui numa ciência da vida e para a vida. momento em que pretendem ensinar a alguém que está ali para aprender,
O objeto da didática é o ensino que se propõe estabelecer os princípios mas que não tem visão clara do que é necessário aprender.
para orientar a aprendizagem com segurança e eficiência. A didática pre- A didática pode oferecer perspectivas e ajudar a escolher o que ensinar
tende orientar o agir do professor e do aluno na sua ação de ensinar, de para que o aluno aprenda como aprender, habilidade que requer conheci-
educar e de aprender. mento e uma grande visão, não só do presente, mas também do futuro. O
A didática não pode ser entendida simplesmente como um rol de prin- professor não pode se basear na ideia de que deve simplesmente ensinar o
cípios, de teorias de ensino ou teorias de aprendizagem. Não pode ser que lhe ensinaram.
concebida como ciência que somente estabelece uma série de métodos e A escola, para a grande maioria das crianças, é apenas um momento.
técnicas de ensino a ser apresentada como solução para todos os proble- Um momento, breve mas de enorme importância. A escola deveria se
mas no processo ensino-aprendizagem. A didática não é apenas o rígido e perguntar sobre O QUE ENSINAR a essas crianças, enquanto estão na
inflexível planejamento de ensino, a listagem quantificada de objetivos - que escola, para que possam enfrentar a vida, depois de assimilar dados signi-
não passam de um rol de intenções utópicas e inúteis, desvirtuadas pela ficativos.
realidade -, não é um rol de conteúdos chamados mínimos, por vezes
insignificantes, por sugestões de recursos materiais e humanos, que vão Mas a escola não analisa as formas possíveis dessa criança aprender
desde o mais simples cartaz até os mais sofisticados meios de engenharia a viver. Ensina o saber pelo saber e não o saber da vida para a vida que
educacional. deseja viver. Ensina a todos de tudo, para que não se aprenda nada de
nada.
A didática não pode ser vista como a orientadora infalível dos fantásti-
cos métodos e técnicas de avaliação, que pretendem medir o conhecimento Toda a ação educativa visa sempre propósitos definidos. Qualquer ati-
dos alunos e que capacitam o professor a decidir “cientificamente”, da vidade deve ser dirigida e orientada em função daquilo que se quer alcan-
atribuição de uma nota que reprova ou promove. çar. As ações docente e discente devem agir em função dos objetivos que
devem ser alcançados.

Didática 19 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Toda a ação didática deve estar diretamente relacionada com os obje- Era crença generalizada que, para ser bom professor, bastaria conhe-
tivos, e a eficiência da ação educativa vai depender do conhecimento e da cer bem a disciplina para lecionar. Equivale a dizer que bastaria ser um
plena conscientização que as pessoas envolvidas no processo educativo especialista em determinada disciplina para bem ensiná-la. A única preocu-
têm dos objetivos propostos. Tudo está diretamente ligado aos objetivos. O pação era a disciplina. Esta era o objetivo principal no ensino.
primeiro passo a ser dado na ação educativa é a definição dos resultados e A prática, entretanto, vem desmentindo essa assertiva. Não basta co-
propósitos que se quer alcançar. A eficiência da ação educativa que se nhecer bem a disciplina para bem ensiná-la. É preciso mais. É preciso que
processa no ambiente escolar depende da definição de metas. Daí a impor- haja, também, conveniente formação didática. Não é só a disciplina que
tância da conscientização do pessoal com relação aos objetivos. vale, uma vez que tem de ser considerados, também, o aluno e o seu meio
A ação didática - docente e discente - está na dependência direta dos físico, afetivo, cultural e social. É claro que, para bem ensinar, cumpre levar
objetivos propostos pela educação, pela escola, pelo professor e pelos em conta, igualmente, as técnicas de ensino ajustadas ao nível evolutivo,
alunos. Desta relação vai depender o êxito ou o fracasso do processo interesses, possibilidades e peculiaridades do aluno.
pedagógico. Isto porque são os objetivos que determinam a conduta, os Apesar de ser a didática uma só, indica procedimentos que são mais
conteúdos, os processos de ensino. Os objetivos orientam a tomada de eficientes segundo se trate de escola de 1º. 2º ou 3º graus.
decisões para qualquer atividade educativa porque são proposições que
expressam, com clareza e objetividade, aquilo que se espera do aluno. A didática da escola de 1º grau foi a que primeiro se desenvolveu, pelo
fato de os estudos objetivos e científicos da psicologia da crianças serem
A intenção de qualquer ação didática deve ser a de promover o alcance anteriores aos do adolescente e à do adulto.
dos objetivos. Eles determinam as prioridades, indicam o que se pretende e
como se pretende alguma coisa. Todas as teorias educacionais têm estabe- O reconhecimento de que a criança tem exigências próprias, no campo
lecido objetivos, e isto não poderia ser diferente, porque é essencial a da aprendizagem, influenciou bastante os procedimentos do professor
qualquer processo educacional. primário quanto ‘a orientação do ensino, o sentido de adaptação às realida-
des biopsicossociais do educando primário.
Os procedimentos didáticos devem estar intimamente relacionados
com os objetivos de ensino, com os conteúdos a serem ensinados e com as Assim, as didáticas das escolas de 2º grau e superior atrasaram-se
características e habilidades dos alunos. O melhor procedimento é aquele bastante com relação à didática da escola de 1º grau.
que atende às características individuais ou grupais. Está fora de dúvida a necessidade de preparação didática do professo-
Penteado, J. de Arruda . “Pedagogia e Didática” In Didática e Prática rado de todos os graus, de maneira a atenuar a indisposição entre escola e
de Ensino São Paulo . Ed. McGraw-Hill do Brasil . 1979. aluno
A diferenciação existente entre os conceitos de educação, instrução e A Didática ajuda a tornar mais consciente e eficiente a ação do profes-
ensino corresponde a uma distinção análoga na ordem das ciências peda- sor, ao mesmo tempo que torna mais interessantes e proveitosos os estu-
gógicas. Como consequência, o estudo da natureza e da articulação do dos do aluno.
processo educativo pertence à Pedagogia, isto é, ao conjunto sistemático A palavra didática foi empregada no sentido de ensinar, pela primeira
de conceitos e princípios que constituem a Teoria da Educação. A instrução vez, em 1629, por Ratke, em seu livro Principais aforismos didáticos. Mas o
ou formação intelectual representa um aspecto específico do processo termo foi consagrado na extraordinária obra de João Amus Comenius,
educativo. A instrução, juntamente com o ensino, meio intrínseco para a intitulada Didactica Magna, publicada em 1657.
formação intelectual com seus métodos e técnicas, constituiria o objeto Didática é ciência e arte de ensinar. É ciência enquanto pesquisa e ex-
próprio da didática. perimenta novas técnicas de ensino, com base, principalmente, na Biologia,
É claro que a distinção proposta destas ciências pedagógicas se fun- Psicologia, Sociologia e Filosofia. É arte, quando estabelece normas de
damenta, de modo simultâneo, sobre uma especificação de fins e sobre ação ou sugere formas de comportamento didático com base nos dados
uma crescente aproximação da situação educacional concreta. A Pedago- científicos e empíricos da educação, porque a Didática não pode separar
gia considera os fins últimos do processo educativo, não apenas nos seus teoria e prática. Ambas têm de fundir-se em um só corpo, visando à maior
aspectos de transmissão e aquisição de conhecimentos, da formação e do eficiência do ensino e ao seu melhor ajustamento às realidades humana e
desenvolvimento de habilidades, destrezas e hábitos, mas como educar e social do educando.
desenvolver sentimentos, convicções e aspectos da vontade e do caráter Pode-se dizer, mais explicitamente, que a Didática é representada pelo
moral dos educandos. conjunto de procedimentos através dos quais se realiza o ensino, pelo que
As normas mais gerais e importantes do processo de ensino, que po- reúne e coordena, em sentido prático, todos os resultados das ciências
dem ter aplicação em todas as atividades, áreas e disciplinas e nas suas pedagógicas, a fim de tornar esse mesmo ensino mais eficiente.
diferentes etapas, constituem um sistema de maios didáticos. Estes princí- A Didática é uma disciplina orientada mais para a prática, uma vez que
pios não apenas têm valor para o trabalho de ensinar para o professor, tem, por objetivo primordial, orientar o ensino.
como também para a organização pedagógica das salas de aula, para a
O ensino, por sua vez, não é mais do que direção da aprendizagem.
organização de planos de ensino, elaboração de livros e textos, técnicas
Logo, em última análise, Didática é um conjunto de procedimentos e nor-
audiovisuais de ensino, etc.
mas destinados a dirigir a aprendizagem da maneira mais eficiente possí-
Dessa maneira, das características gerais do processo de ensino é vel.
possível a dedução de normas fundamentais que, em geral, são denomina-
A Didática, no âmbito escolar, não pode ficar reduzida ao seu aspecto
das princípios ou meios didáticos, que nada mais seriam do que normas às
puramente técnico, uma vez que, sendo ela o final do funil pedagógico, que
quais se deve ajustar o processo de ensino na escola.
leva à ação educativa, tem compromissos com o homem e a sociedade.
Os princípios didáticos podem ser formulados de diferentes formas e
Nasce, dessas considerações, a nosso ver, um novo conceito de Didá-
reunir sistemas didáticos distintos. Trata-se de obter mediante investiga-
tica. Didática comprometida com o homem e a sociedade. A Didática tem
ções científicas e experiências didáticas a formulação mais adequada e o
por fim dirigir a aprendizagem, mas tem de marcar a meta a ser alcançada.
sistema mais útil dos princípios da didática.
O novo conceito parece ser o seguinte: Didática é o conjunto de recur-
Nérici, I. G. “Didática” In Nérici, I. G. Introdução à Didática Geral São
sos técnicos que tem em mira dirigir a aprendizagem do educando, tendo
Paulo .Ed. Atlas S. A . 1985 . 15ª ed. pp. 15 - 31.
em vista levá-lo a atingir um estado de maturidade que lhe permita encon-
O estudo da Didática faz-se necessário para tornar o ensino mais efici- trar-se com a realidade circundante, de maneira consciente, equilibrada e
ente, mais ajustado à natureza e às possibilidades do educando e da eficiente e nela agir como um cidadão participante e responsável.
sociedade. Pode-se, mesmo, dizer que é o conjunto de técnicas destinado
A direção da aprendizagem é o coração da Didática, o seu escopo fun-
a dirigir o ensino fornecendo princípios, métodos e técnicas aplicáveis a
damental. A Didática organiza os seus passos ou momentos em torno da
todas as disciplinas para que o aprendizado das mesmas se efetue com
direção da aprendizagem intencional. Explica-se: o homem poderia ser
mais eficiência.
definido como ser que aprende continuamente, uma vez que passa mudan-
A Didática não se interessa tanto pelo que vai ser ensinado, mas como do o comportamento do nascimento à morte. Essa mudança se processa,
vai ser ensinado. no entanto, na sua maior parte, sem intenção, provocada pela experiência

Didática 20 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
mesma de viver. A educação, representada principalmente pela escola, é a O aspecto emotivo é também de suma importância na aprendizagem,
que persegue a mudança do comportamento de maneira consciente e uma vez que nada se aprende sem colorido emocional, mas não se deve
intencional, em que toda a sua ação visa obter certas modificações compor- esquecer que excesso de emoção é prejudicial no processo de aquisição
tamentais, de acordo com ideais, atitudes, hábitos, habilidades e conheci- de novas formas de comportamento.
mentos reconhecidos como os melhores pelo meio social. É bom frisar que a aprendizagem é o processo pelo qual se adquirem
O ensino, então, não é mais do que a ação do professor com relação à novas formas de comportamento ou se modificam formas anteriores. Para
direção da aprendizagem. É claro que o planejamento, a execução e a verifi- H. Pieron, aprendizagem é uma forma adaptativa do comportamento no
cação da aprendizagem tem por fim melhor orientar os atos que levem o desenvolver de provas repetidas. Aprender implica, segundo a área de
educando a reagir a estímulos capazes de lhe modificar o comportamento. comportamento mais atingida, mudar formas de pensar, sentir ou agir.
Ensino compreendido como forma de levar o educando a reagir a cer- Segundo Pyle, aprender é tornar-se diferente.
tos estímulos, a fim de serem alcançados determinados objetivos, e não Não esquecer que o indivíduo só aprende quando estiver diante de si-
ensino no sentido de o professor ensinar alguma coisa a alguém. tuações para as quais não tenha respostas adequadas de comportamento,
O ensino tem em mira alcançar certos objetivos mediatos e imediatos. induzindo-o a procurá-las ou descobri-las.
Os objetivos mediatos do ensino, em última análise, não são mais do que O comportamento humano se modifica por duas razões: por maturação
os próprios fins da educação e os que especificamente caracterizam um ou por aprendizagem, sendo que, de certo modo, a maturação condiciona
tipo de escola. Os objetivos imediatos do ensino podem ser classificados toda a aprendizagem. Mais explicitamente, há formas de comportamento
em três grupos: informativos (dados, informações, conhecimentos), de que dependem de maturidade como falar, andar, abstrair etc. Outras formas
automatização ( hábitos, habilidades específicas, destrezas e automatiza- há, na sua esmagadora maioria, que dependem de maturidade e aprendi-
ções em geral) e formativos (atitudes, ideais e preferências). zagem com a leitura, escrita, cálculo, certas formas de comportamento
Direção da aprendizagem e ensino podem, muito bem, ser considera- motor etc.
dos sinônimos, embora focalizando um mesmo fenômeno de ângulos Pode-se dizer mesmo que toda aprendizagem, para se efetuar, requer
diferentes. O fenômeno é a aprendizagem do educando, a sua modificação certo grau de maturidade orgânica ou mental, quando não, orgânico-mental,
de comportamento. Se considerado mais do ponto de vista do educando, conjuntamente.
ter-se-á a direção da aprendizagem, e se considerado mais do ponto de A aprendizagem, na escola, pode se principal e secundária.
vista do professor, ter-se-á o ensino.
A aprendizagem principal é aquela representada pela intenção do pro-
A direção da aprendizagem ou ensino precisa levar em conta o que se fessor ou pelos objetivos consignados nos planos de ensino.
sabe a respeito de como o homem aprende e as condições que a favore-
cem ou não, de maneira a obter-se o máximo de resultados dos esforços do A aprendizagem secundária ou concomitante, é representada pelo que
educando e do professor. o aluno aprende além do que estava previsto ou programado, como simpa-
tia ou antipatia pelo professor, agrado ou desagrado pela matéria, ajusta-
Ainda dentro do tem Objeto de Estudo da Didática consideramos impor- mento ou desajustamento em trabalhos com os colegas, bons ou maus
tante falar um pouco sobre a aprendizagem. hábitos de tomar notas, de cuidar e conservar o material escolar etc.
O homem aprende com todo o seu organismo e para melhor integrar-se É fácil perceber que a aprendizagem secundária, em muitos casos, é
no meio físico e social, atendendo a necessidades biológicas, psicológicas mais importante que a primária. Daí a necessidade de o professor provi-
e sociais que se apresentam no transcorrer da vida. Essas necessidades denciar as melhores condições de trabalho escolar e prestar muita atenção
podem chamar-se dificuldades ou obstáculos. no que pode suceder secundariamente durante os trabalhos escolares ...
Não houvesse obstáculos e não haveria aprendizagem. para que a aprendizagem secundária seja aliada e não inimiga da principal.
Toda elaboração da cultura (artística, científica, filosófica ou religiosa) Os Componentes do Processo Didático
tem origem nos obstáculos que se antepõem ao homem, obrigando-o a
conhecê-los e superá-los. Tradicionalmente, segundo Libâneo, se consideram como componen-
tes da ação didática a matéria, o professor e os alunos. No entanto, para o
Assim, o homem aprende quando se defronta com obstáculos e sente autor, o ensino é uma atividade complexa que envolve tanto condições
que precisa vencê-los. Todo aprender não é mais do que um vencer obstá- externas como condições internas das situações didáticas.
culos. Deduz-se daí que ninguém pode ensinar propriamente nada a nin-
guém. Segundo ele, internamente a ação didática se refere à relação entre o
aluno e a matéria, com o objetivo de apropriar-se dela com a mediação do
O que se pode fazer é sensibilizar outra pessoa a sentir e a querer su- professor. Entre a matéria, o professor e o aluno ocorrem relações recípro-
perar certos obstáculos. Assim como a educação foi definida em termos de cas. O professor tem propósitos definidos no sentido de assegurar um
superação, aprendizagem também o pode ser. Toda aprendizagem não é encontro direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das
mais do que o resultado de esforço de superar a si, superando obstáculos. condições internas dos alunos alterando o modo de lidar com a matéria.
Ajuda-se a sensibilizar o educando ao se tentar articular o fato novo Cada situação didática, porém, vincula-se, segundo o autor, a determinan-
com a sua experiência anterior e as suas necessidades presentes ou tes econômico-sociais, sócio-culturais, a objetivos e normas estabelecidos
mesmo futuras, estas em termos de previsão. A criança atende quase conforme interesses da sociedade e seus grupos, e que afetam as decisões
exclusivamente a necessidades presentes, enquanto o adolescente e o didáticas. O autor considera, então, que a inter-relação entre professores e
adulto atendem, em fenômeno de antecipação, a possíveis necessidades alunos não se reduz a sala de aula, implicando relações bem mais abran-
futuras. Ajuda, também, quando o novo conhecimento não tem repercussão gentes. Entre as relações citada pelo autor citamos como exemplo:
na experiência anterior, um contato maior com o tema em estudo, para • Escola, professor, aluno, pais, estão inseridos na dinâmica das
propiciar familiarização-vivências com o mesmo. relações sociais. A sociedade não é um todo homogêneo, onde reina a paz
Muito ensino se perde na escola pela falta de oportunidade de familiari- e a harmonia. Ao contrário, há antagonismos e interesses distintos entre
zação com a nova experiência, pelo que a nova informação passa a ser grupos e classes sociais que se refletem nas finalidades e no papel atribuí-
percebida confusamente, qual massa informe, sem contornos definidos... É dos à escola, ao trabalho do professor e dos alunos.
preciso dar tempo de familiarização para que um fato novo tome formas • As teorias da educação e as práticas pedagógicas, os objetivos
precisas, a fim de, em seguida, poder ser reduzido, mentalmente a esque- educativos da escola e dos professores, os conteúdos escolares, a relação
mas essenciais que permitam “livre trânsito dentro dele”... professor-alunos, as modalidades de comunicação docente, nada disso
Daí a necessidade de conveniente apresentação da nova matéria, con- existe isoladamente do contexto econômico, social e cultural mais amplo e
sequente elaboração por parte do aluno, para que haja possibilidade de que afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendiza-
vivência ou familiarização, visão interna da mesma (livre trânsito dentro gem.
dela) e conveniente fixação de seus elementos essenciais. O autor considera, assim, que o processo didático esta centrado na re-
Esta visão interna é muito importante na aprendizagem de todas as lação fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a
disciplinas. Veja-se o caso da Matemática: quando essa visão não se confrontação ativa do aluno com a matéria sob a mediação do professor.
verifica, é quase impossível resolver problemas. Com isso, pode-se identificar entre os seus elementos constitutivos: os

Didática 21 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
conteúdos das matérias que devem ser assimilados pelos alunos de um porque a atividade principal do profissional do magistério é o ensino, que
determinado grau; a ação de ensinar em que o professor atua como media- consiste em dirigir, organizar, orientar e estimular a aprendizagem escolar
dor entre o aluno e as matérias; a ação de aprender em que o aluno assimi- dos alunos, e é em função da condução do processo de ensinar, de suas
la consciente e ativamente as matérias e desenvolve suas capacidades e finalidades, modos e condições, que se mobilizam os conhecimentos peda-
habilidades. Contudo, para Libâneo, estes componentes não são suficien- gógicos gerais e específicos.
tes para ver o ensino em sua globalidade. Ele coloca que, como foi visto,
não é uma atividade que se desenvolve automaticamente, restrita ao que Prática educativa e sociedade
se passa no interior da escola, uma vez que expressa finalidades e exigên- Para Libâneo, o trabalho docente é parte integrante do processo edu-
cias da prática social, ao mesmo tempo que se subordina a condições cativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para
concretas postas pela mesma prática social que favorecem ou dificultam a participação na vida social e a educação é um fenômeno social e univer-
atingir objetivos. Entender, pois o processo didático como totalidade abran- sal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento
gente implica vincular conteúdos, ensino e aprendizagem objetivos sócio- de todas as sociedades.
políticos e pedagógicos e analisar criteriosamente o conjunto de condições Através da ação educativa, segundo ele, o meio social exerce influên-
concretas que rodeiam cada situação didática. Em outras palavras, o ensi- cias sobre os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influên-
no é um processo social, integrante de múltiplos processos sociais, nos cias, tornam-se capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora
quais estão implicadas dimensões políticas, ideológicas, éticas, pedagógi- em relação ao meio social.
cas, frente às quais se formulam objetivos, conteúdos e métodos conforme
Para o autor, em sentido amplo, a educação compreende os processos
opções assumidas pelo educador, cuja realização está na dependência de
formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão
condições, seja aquelas que o educador já encontra seja as que ele precisa
envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem
transformar ou criar.
socialmente; isto quer dizer que a prática educativa existe numa grande
Assim, segundo o autor, os objetivos gerais e específicos são não só variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização
um dos componentes do processo didático como também determinantes econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes,
das relações entre os demais componentes. Além disso, a articulação entre das formas de convivência humana.
estes depende da avaliação das condições concretas implicadas no ensino,
Por outro lado, em sentido estrito, a educação ocorre em instituições
tais como objetivos e exigências postos pela sociedade e seus grupos e
específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e
classes, o sistema escolar, os programas oficiais, a formação dos professo-
ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, embora
res, as forças sociais presentes na escola ( docentes, pais, etc.), os maios
sem separar-se daqueles processos formativos gerais.
de ensino disponíveis, bem como as características sócio-culturais e indivi-
duais dos alunos, as condições prévias dos alunos para enfrentar o estudo O autor coloca no texto que os estudos que tratam das diversas moda-
de determinada matéria, as relações professor-alunos, a disciplina, o prepa- lidades de educação costumam caracterizar as influências educativas como
ro específico do professor para compreender cada situação didática e não-intencionais e intencionais. Segundo o autor, a educação não-
transformar positivamente o conjunto de condições para a organização do intencional refere-se às influências do contexto social e do meio ambiente
ensino. sobre os indivíduos e essas influências também são chamadas de educa-
ção informal. São situações e experiências casuais, espontâneas, não
Para o autor, o processo didático, assim, desenvolve-se mediante a
organizadas, embora influam na formação humana. Como exemplo, o autor
ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino: os objetivos da
cita as formas econômicas e políticas de organização da sociedade.
educação e da instrução, os conteúdos, a aprendizagem, os métodos, as
formas e meios de organização das condições da situação didática, a Já a educação intencional, segundo o autor, refere-se a influências em
avaliação. Tais são, também, os conceitos fundamentais que formam a que há intenções e objetivos definidos conscientemente, como é o caso da
base de estudos da Didática. educação escolar e extra-escolar. São muitas as formas de educação
intencional e, conforme o objetivo pretendido, variam os meios. Segundo
Prática Educativa, Pedagogia e Didática Libâneo, podemos falar de educação não formal quando se trata de ativida-
O autor inicia este estudo de Didática situando-a no conjunto dos co- de educativa estruturada fora do sistema escolar convencional e da educa-
nhecimentos pedagógicos e esclarecendo seu papel na formação profissio- ção formal que se realiza nas escolas ou outras agências de educação e
nal para o exercício da carreira docente. instrução implicando ações de ensino com objetivos pedagógicos explícitos,
Libâneo coloca no início deste capítulo os objetivos do mesmo, que sistematização, procedimentos didáticos.
são: compreender a Didática como um dos ramos de estudo da Pedagogia, Para o autor as formas que assume a prática educativa se interpene-
justificar a subordinação do processo didático a finalidades educacionais e tram, sejam elas não-intencionais ou intencionais, formais ou não-formais,
indicar os conhecimentos teóricos e práticos necessários para orientar a escolares ou extra-escolares. Também, segundo ele, o processo educativo,
ação pedagógico-didática na escola. onde quer que se dê, é sempre contextualizado social e politicamente; há
O autor considera, primeiramente, que o processo de ensino, que é ob- uma subordinação à sociedade que lhe faz exigências, determina objetivos
jeto de estudo da Didática, não pode ser tratado como atividade restrita ao e lhe provê condições e meios de ação.
espaço da sala de aula, uma vez que o trabalho docente é uma das moda- Libâneo afirma que dizer que a educação é um fenômeno social quer
lidades específicas da prática educativa mais ampla que ocorre na socieda- dizer que ela é parte integrante das relações sociais, econômicas, políticas
de e, para que se possa compreender a importância do ensino na formação e culturais de uma determinada sociedade. No caso da sociedade brasileira
humana, é preciso considerá-lo no conjunto das tarefas educativas exigidas atual, a estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais
pela vida em sociedades. com interesses distintos e antagônicos; esse fato repercute tanto na organi-
O autor define Pedagogia como sendo a ciência que investiga a teoria zação econômica e política quanto na prática educativa. Assim, as finalida-
e prática da educação nos seus vínculos com a prática social global, e des e meios da educação subordinam-se à estrutura e dinâmica das rela-
salienta que a Didática é uma disciplina pedagógica porque estuda os ções entre as classes sociais, o que quer dizer que são socialmente deter-
objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino minados, o que significa dizer, segundo o autor, que a prática educativa, e
tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais, funda- especialmente os objetivos e conteúdos do ensino e o trabalho docente,
mentando-se na Pedagogia. estão determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas.
A Pedagogia, segundo Libâneo, recorre à contribuição de outras ciên- Segundo o autor, as relações sociais no capitalismo são marcadas for-
cias como a Filosofia, por exemplo, ao estudar a educação nos seus aspec- temente pela divisão da sociedade em classes, onde capitalistas e traba-
tos sociais, políticos, econômicos, psicológicos, para descrever e explicar o lhadores ocupam lugares opostos e antagônicos no processo de produção.
fenômeno educativo. Continua ele, dizendo que esses estudos acabam por A classe social proprietária dos meios de produção retira seus lucros da
convergir na Didática, uma vez que esta reúne em seu campo de conheci- exploração do trabalho da classe trabalhadora, sendo que esta última, à
mentos objetivos e modos de ação pedagógica na escola. qual pertencem 70% da população brasileira, é obrigada a trocar sua capa-
cidade de trabalho por um salário que não cobre as suas necessidades
Dentro do conjunto de estudos indispensáveis à formação teórica e vitais e fica privada, também, às satisfações de suas necessidades espiritu-
prática dos professores, destaca-se a Didática como Teoria do Ensino , isto ais e culturais.

Didática 22 A Opção Certa Para a Sua Realização


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O autor afirma que a desigualdade entre os homens, que na origem é Para o autor a instrução se refere à formação intelectual, formação e
uma desigualdade econômica no seio das relações entre as classes soci- desenvolvimento das capacidades cognoscitivas mediante o domínio de
ais, determina não apenas as condições materiais de vida e de trabalho dos certo nível de conhecimentos sistematizados. E o ensino corresponde a
indivíduos mas também a diferenciação no acesso à cultura espiritual, à ações, meios e condições para realização da instrução; contém, pois, a
educação. Nesta nossa sociedade capitalista a classe social dominante não instrução.
só retém os meios de produção material como também os meios de produ- O autor salienta que há uma unidade entre educação e instrução, em-
ção cultural e da sua difusão, tendendo a colocá-la a serviço de seus inte- bora sejam processos diferentes; pode-se instruir sem educar, e educar
resses. sem instruir; conhecer os conteúdos de uma matéria, conhecer os princí-
O autor define ideologia como sendo o conjunto dos valores, ideias e pios morais e normas de conduta não leva necessariamente a praticá-los,
práticas, que apresentado pela minoria dominante como representativo dos isto é, a transformá-los em convicções e atitudes efetivas frente aos pro-
interesses de todas as classes sociais, e o sistema educativo, incluindo as blemas e desafios da realidade. Ou seja, objetivo educativo não é um
escolas, as igrejas, as agências de formação profissional, os meios de resultado natural e colateral do ensino, devendo-se supor por parte do
comunicação de massa, é um meio privilegiado para o repasse da ideologia educador um propósito intencional e explícito de orientar a instrução e o
dominante. ensino para objetivos educativos. O autor coloca, entretanto, que o ensino é
Para ilustrar, Libâneo cita , no texto, algumas afirmações que são pas- o principal meio e fator da educação e, por isso, destaca-se como campo
sadas nas conversas, nas aulas, nos livros didáticos, entre elas: principal da instrução e educação. Neste sentido, quando o autor menciona
o termo educação escolar, está se referindo ao ensino.
“O Governo sempre faz o que é possível; as pessoas é que não cola-
boram”; Educação Escolar, Pedagogia e Didática
“A educação é a mola do sucesso, para subir na vida”. Segundo o autor, a educação escolar constitui-se num sistema de ins-
Continua ele, dizendo que, essas e outras opiniões mostram ideias e trução e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto
valores que não condizem com a realidade social, o que dá a impressão grau de organização, ligado intimamente às demais práticas sociais. Pela
que o governo se põe acima dos conflitos entre as classes sociais e das educação escolar democratizam-se os conhecimentos, sendo na escola
desigualdades, fazendo recair os problemas na incompetência das pesso- que os trabalhadores continuam tendo a oportunidade de prover educação
as, e que a escolarização pode reduzir as diferenças sociais, porque dá formal aos seus filhos, adquirindo conhecimentos científicos e formando a
oportunidade a todos. Assim, problemas que são decorrentes da estrutura capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela
social são tomados como problemas individuais. realidade social.
Não se pode esquecer, segundo o autor, que as relações existentes Libâneo coloca que o processo educativo que se desenvolve na escola
em nossa sociedade não são estáticas, imutáveis, estabelecidas para pela instrução e ensino consiste na assimilação de conhecimentos e expe-
sempre, isto porque elas são dinâmicas, uma vez que se constituem pela riências acumulados pelas gerações anteriores no decurso do desenvolvi-
ação humana na vida social. Isso significa que as relações sociais podem mento histórico-social.
ser transformadas pelos próprios indivíduos que a integram. Portanto, na Segundo o autor, para tornar efetivo o processo educativo, é preciso
sociedade de classes, não é só a minoria dominante que põe em prática os dar-lhe uma orientação sobre as finalidades e meios da sua realização,
seus interesses, mas também as classes trabalhadoras podem elaborar e conforme opções que se façam quanto ao tipo de homem que se deseja
organizar concretamente os seus interesses e formular objetivos e meios do formar e o tipo de sociedade a que se aspira. Esta tarefa pertence à Peda-
processo educativo alinhados com as lutas pela transformação do sistema gogia como teoria e prática do processo educativo.
de relações sociais vigente. Para ele, a Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a
É importante lembrar, segundo Libâneo, que são os seres humanos natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem
que, na diversidade das relações recíprocas que travam em vários contex- como os meios apropriados para a formação do indivíduos, tendo em vista
tos, dão significado às coisas, às pessoas, às ideias; é socialmente que se prepará-los para as tarefas da vida social.
formam ideias, opiniões, ideologias. O autor coloca que se pode dizer que processo de ensino-
O autor coloca que o campo específico de atuação profissional e políti- aprendizagem é um trabalho pedagógico no qual se conjugam fatores
ca do professor é a escola, à qual cabem tarefas de assegurar aos alunos externos e internos. De um lado, atuam na formação humana como direção
um sólido domínio de conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de consciente e planejada, através de objetivos/conteúdos/métodos e formas
suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crítico e de organização propostas pela escola e pelos professores; de outro, essa
criativo. influência externa depende de fatores internos, tais como as condições
Tais tarefas representam uma significativa contribuição para a forma- físicas, psíquicas e sócio-culturais dos alunos.
ção de cidadãos ativos, criativos e críticos, capazes de participar nas lutas Diz Libâneo que a Pedagogia, sendo ciência da e para a educação, es-
pela transformação social. tuda a educação, a instrução e o ensino, para o que compõe-se de ramos
Assim, continua ele, vê-se que a responsabilidade social da escola e de estudo próprios como a Teoria da Educação, a Didática, etc.; ao mesmo
dos professores é muito grande, pois cabe-lhes escolher qual concepção de tempo que busca em outras ciências, como a Psicologia da Educação, por
vida e de sociedade deve ser trazida à consideração dos alunos e quais exemplo, os conhecimentos teóricos e práticos que concorrem para o
conteúdos e métodos lhes propiciam o domínio dos conhecimentos e a esclarecimento do seu objeto, o fenômeno educativo.
capacidade de raciocínio necessários à compreensão da realidade social e Afirma o autor que o conjunto desses estudos permite aos futuros pro-
à atividade prática na profissão, na política, nos movimentos sociais. fessores uma compreensão global do fenômeno educativo, especialmente
de suas manifestações no âmbito escolar.
Educação, instrução e ensino
A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga
O autor considera, antes de prosseguir, importante esclarecer o signifi- os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensi-
cado dos termos educação, instrução e ensino. no.
Educação corresponde a toda modalidade de influências e inter-
relações que convergem para a formação de traços de personalidade social A Didática e a formação profissional do professor
e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos A formação profissional do professor é realizada nos cursos de Habili-
de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, tação ao Magistério a nível de 2º grau e superior. Compõe-se de um con-
princípios de ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Nesse junto de disciplinas coordenadas e articuladas entre si, cujos objetivos e
sentido, educação é instituição que se ordena no sistema educacional de conteúdos devem confluir para um unidade teórico-metodológica do curso.
um país, num determinado momento histórico; é um produto, significando Dessa maneira, segundo o autor, a formação do professor abrange du-
os resultados obtidos da ação educativa conforme propósitos sociais e as dimensões: a formação teórico-científica, incluindo a formação acadêmi-
políticos pretendidos; é processo por consistir de transformações sucessi- ca específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a
vas tanto no sentido histórico quanto no de desenvolvimento da personali- formação pedagógica, que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociolo-
dade. gia, entre outras, que contribuem para o esclarecimento do fenômeno

Didática 23 A Opção Certa Para a Sua Realização


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educativo no contexto histórico-social; e a formação técnico-prática consul- tram omissas e negligentes com relação à escola pública, difundem uma
tar Educação visando à preparação profissional específica para a docên- concepção de escola como ajustamento à ordem social estabelecida. Por
cia, incluindo a Didática, as metodologias específicas das matérias, entre outro lado, há uma tarefa a ser realizada dentro da escola que é de assegu-
outras. rar uma organização pedagógico-didática e administrativa para um ensino
Não se pode esquecer que essa formação profissional do professor de qualidade associado às lutas concretas das camadas populares.
implica um contínua interpenetração entre teoria e prática, a teoria vincula- Para que se efetive os vínculos entre a escolarização e as lutas pela
da aos problemas reais postos pela experiência prática e ação prática democratização da sociedade, segundo o autor, se faz necessária uma
orientada teoricamente. atuação em duas frentes, a política e a pedagógica, entendendo-se que a
Nesse entendimento, a Didática se caracteriza como mediação entre as atuação política tem caráter pedagógico e que a atuação pedagógica tem
bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente. caráter político. A atuação política implica, segundo Libâneo, o envolvimen-
to dos educadores nos movimentos sociais e organizações sindicais e,
Sugestões para tarefas de estudo particularmente, nas lutas organizadas em defesa da escola unitária, demo-
O autor cita algumas perguntas para o trabalho independente dos alu- crática e gratuita.
nos, entre elas: “Por que a educação é um fenômeno e um processo soci- O fracasso escolar precisa ser derrotado
al?” e “Que significa afirmar que o ensino tem um caráter pedagógico?”.
Segundo o autor, um dos mais graves problemas do sistema escolar
O autor também cita alguns temas para aprofundamento do estudo e brasileiro é o fracasso escolar, principalmente das crianças mais pobres,
temas para redação, por exemplo: este fracasso se evidencia pelo grande número de reprovações nas séries
Consultar dois ou três livros indicados pelo professor para obter iniciais do ensino de 1º grau, insuficiente alfabetização, exclusão da escola
um conceito de ideologia - como tema de estudo; ao longo dos anos, dificuldades escolares não superadas que comprome-
Educação como ato político - como tema de redação. tem o prosseguimento dos estudos.
Libâneo cita uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, de São Paulo,
Bibliografia complementar
que em 1981 investigou as causas mais amplas da repetência escolar, cuja
Entre outras, Libâneo cita: GHIRALDELLI JR., Paulo. O que é Pedago- finalidade foi de explicar a repetência não só pelas deficiências dos alunos,
gia. São Paulo. Brasiliense, 1988 e IANNI, Octávio. Dialética e Capitalismo. mas por outros fatores como: características individuais dos alunos, as
Petrópolis. Vozes, 1988. condições familiares, o corpo docente, a iteração professor-aluno e aspec-
Didática e Democratização do Ensino tos internos e estruturais da organização escolar.
Segundo o autor, ao realizar suas tarefas básicas, a escola e os pro- Após os estudos dos dados coletados chegou-se à conclusão de que a
fessores estão cumprindo responsabilidades sociais e políticas, isto porque, reprovação não pode ser atribuída a causas isoladas, sejam as deficiências
ao possibilitar aos alunos o domínio dos conhecimentos culturais e científi- pessoais dos alunos, sejam os fatores de natureza sócio-econômica ou da
cos, a educação escolar socializa o saber sistematizado e desenvolve organização escolar. Porém, entre as causas determinantes da reprovação,
capacidades cognitivas e operativas para a atuação no trabalho e nas lutas a mais decisiva foi o fato de a escola, na sua organização curricular e
sociais pela conquista dos direitos de cidadania, efetivando, assim, a sua metodológica, não estar preparada para utilizar procedimentos didáticos
contribuição para a democratização social e política da sociedade. adequados para trabalhar com as crianças pobres.
Após esta breve introdução, o autor começa a falar sobre os problemas O autor afirma que, a inadequada organização pedagógica, didática e
da escola pública brasileira questionando se ela tem sido capaz de atender administrativa face às características sociais da maioria dos que frequen-
o direito social de todas as crianças e jovens de receberem escolarização tam a escola pública, tem levado à marginalização e, assim, ao fracasso
básica e se o governo tem cumprido a sua obrigação social de assegurar as escolar das crianças mais pobres. Por não conseguirem avaliar com clareza
condições necessárias para prover um ensino de qualidade ao povo. Assim, os efeitos da estrutura social sobre o trabalho pedagógico, as escolas e
colocando estas perguntas o autor inicia a discussão sobre escola pública e professores podem tornar-se, mesmo sem o saber, cúmplices da discrimi-
fracasso escolar. nação e segregação das crianças social e economicamente desfavorecidas.
Para Libâneo, se realmente se deseja uma escola pública democrática,
A escolarização e as lutas democráticas é preciso enfrentar e derrotar o fracasso escolar, para o que se faz neces-
O autor enfatiza que a escolarização é um dos requisitos fundamentais sário rever a concepção de qualidade de ensino, que é inseparável das
para o processo de democratização da sociedade, entendendo por demo- características econômicas, sócio-culturais e psicológicas da clientela
cratização a conquista, pelo conjunto da população, das condições materi- atendida.
ais, sociais, políticas e culturais que lhe possibilitem participar na condução Outra importante colocação de Libâneo é que o ensino contribui para a
de decisões políticas e governamentais. superação do fracasso escolar se os objetivos e conteúdos são acessíveis,
A escolarização tem um finalidade muito prática, pois ao adquirirem um socialmente significativos e assumidos pelos alunos, isto é, capazes de
entendimento crítico da realidade através do estudo das matérias escolares suscitar sua atividade e suas capacidades mentais, seu raciocínio, para que
e do domínio de métodos pelos quais desenvolvem suas capacidades assimilem consciente e ativamente os conhecimentos, ou seja, o trabalho
cognoscitivas e formam habilidades para elaborar independentemente os docente consiste em compatibilizar conteúdos e métodos com o nível de
conhecimentos, os alunos podem expressar de forma elaborada os conhe- conhecimentos, experiências, desenvolvimento mental dos alunos.
cimentos que correspondem aos interesses majoritários da sociedade e O autor também coloca que a escola e os professores têm sua parte a
inserir-se ativamente nas lutas sociais. cumprir na luta contra o fracasso escolar. E, sem dúvida, o ponto vulnerável
Porém, a escola pública está longe de atender essas finalidades e o a ser atacado nesse combate é a alfabetização, que se for bem conduzida
Poder Público não tem cumprido suas responsabilidades na manutenção do instrumentaliza os alunos a agirem socialmente, a lidarem com as situações
ensino obrigatório e gratuito. Libâneo cita dados recentes do Ministério da e desafios concretos da vida prática: é meio indispensável para a expres-
Educação que mostram que, ainda hoje, na maioria das regiões do país, são do pensamento, da assimilação consciente e ativa de conhecimentos e
cerca de 50% das crianças matriculadas na 1ª série repetem ou deixam a habilidades, meio de conquista da liberdade intelectual e política.
escola antes de iniciar a 2ª série.
As tarefas da escola pública democrática
Um outro problema, ainda, é que dentro da própria escola há grandes
diferenças no modo de conduzir o processo de ensino conforme a origem Libâneo coloca que as tarefas da escola pública democrática são as
social dos alunos, ocorrendo a discriminação dos mais pobres. seguintes:
Pode-se verificar, segundo Libâneo, que a proposta de um ensino de 1) Proporcionar a todas as crianças e jovens a escolarização básica
qualidade, voltado para a formação cultural e científica que possibilite a gratuita de pelo menos oito anos, assegurando a todos as condições de
ampliação da participação efetiva do povo nas várias instâncias de decisão assimilação dos conhecimentos sistematizados e a cada um o desenvolvi-
da sociedade, defronta-se com problemas de fora e de dentro da escola. As mento de suas capacidades físicas e intelectuais.
forças sociais que detêm o poder econômico e político na sociedade, repre- 2) Assegurar a transmissão e assimilação dos conhecimentos e
sentadas pelos que governam e legislam, ao mesmo tempo que se mos- habilidades que constituem as matérias de ensino.

Didática 24 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
O autor salienta que a democratização do ensino supõe um sólido do- intervir nesse processo de assimilação, orientando-o para finalidades
mínio das matérias escolares, com especial destaque à leitura e à escrita, sociais e políticas e criando um conjunto de condições metodológicas e
como pré-condição para a formação do cidadão ativo e permanente. organizativas para viabilizá-lo no âmbito da escola. Segundo ele, nesse
3) Assegurar o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelec- sentido, a Didática assegura o fazer pedagógico na escola, na sua dimen-
tuais, sobre a base dos conhecimentos científicos, que formem o pensa- são político-social e técnica; é, por isso, uma disciplina eminentemente
mento crítico e independente, permitam o domínio de métodos e técnicas pedagógica.
de trabalho intelectual, bem como a aplicação prática dos conhecimentos Segundo o autor, a Didática é uma das disciplinas da Pedagogia que
na vida escolar e na prática social estuda o processo de ensino através dos seus componentes - os conteúdos
4) Assegurar uma organização interna da escola em que os processos escolares, o ensino e a aprendizagem - para, com o embasamento numa
de gestão e administração e os de participação democrática de todos os teoria da educação, formular diretrizes orientadoras da atividade profissio-
elementos envolvidos na vida escolar estejam voltados para o atendimento nal dos professores. Libâneo diz que ela é, ao mesmo tempo, uma matéria
da função básica da escola, o ensino. de estudo fundamental na formação profissional dos professores e um meio
de trabalho do qual os professores se servem para dirigir a atividade de
Libâneo afirma que os processos de gestão e administração da escola ensino, cujo resultado é a aprendizagem dos conteúdos escolares pelos
implicam uma ação coordenada da direção, coordenação pedagógica e alunos.
professores, cada um cumprindo suas responsabilidades no conjunto da
ação escolar. Definindo-se como mediação escolar dos objetivos e conteúdos do en-
sino, a Didática investiga, segundo o autor, as condições e formas que
O autor coloca que, para a realização dessas tarefas a escola organiza, vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos,
com base nos objetivos e conteúdos das matérias de ensino, seu plano culturais, psicossociais) condicionantes das relações entre a docência e a
pedagógico-didático. O núcleo de conhecimentos básicos da 1ª fase do aprendizagem. Ou seja, destacando a instrução e o ensino como elementos
ensino de 1º grau compõe-se das matérias: Português, Matemática, História primordiais do processo pedagógico escolar, traduz objetivos sociais e
e Geografia, Ciências, Educação Artística e Educação Física e Lazer. políticos em objetivos de ensino, seleciona e organiza os conteúdos e
O compromisso social e ético dos professores métodos e, ao estabelecer as conexões entre ensino e aprendizagem,
O autor considera como a característica mais importante da atividade indica princípios e diretrizes que irão regular a ação didática.
profissional do professor a mediação entre o aluno e a sociedade, entre as Por outro lado, com o está colocado no texto de Libâneo, esse conjunto
condições de origem do aluno e sua destinação social na sociedade, papel de tarefas não visa a outra coisa senão o desenvolvimento físico e intelec-
que cumpre provendo as condições e os meios que assegurem o encontro tual dos alunos, com vistas à sua preparação para a vida social. Em outras
do aluno com as matérias de estudo. Para isso, planeja, desenvolve suas palavras, o processo didático de transmissão/assimilação de conhecimen-
aulas e avalia o processo de ensino. tos e habilidades tem como culminância o desenvolvimento das capacida-
Libâneo considera também importante o compromisso social dos pro- des cognoscitivas dos alunos, de modo que assimilem ativa e independen-
fessores, expresso na competência profissional e exercido no âmbito da temente os conhecimentos sistematizados.
vida social e política. Sendo que o magistério é um ato político porque se Aqui o autor faz as seguintes perguntas: Que significa teoria da instru-
realiza no contexto das relações sociais onde se manifestam os interesses ção e do ensino?, Qual a relação da Didática com o currículo, metodologias
das classes sociais. Ainda, o compromisso ético-político é uma tomada de específicas das matérias, procedimentos de ensino, técnicas de ensino?
posição frente aos interesses sociais em jogo na sociedade. Assim, segun- Ele responde à primeira pergunta dizendo que a instrução se refere ao
do o autor, quando o professor se posiciona, consciente e explicitamente, processo e ao resultado da assimilação sólida de conhecimentos sistemati-
do lado dos interesses da população majoritária da sociedade, ele insere zados e ao desenvolvimento de capacidades cognitivas, sendo seu núcleo
sua atividade profissional na luta ativa por esses interesses: a luta por o conteúdo das matérias. Já o ensino, segundo o autor, consiste no plane-
melhores condições de vida e de trabalho e a ação conjunta pela transfor- jamento, organização , direção e avaliação da atividade didática, concreti-
mação das condições gerais da sociedade. zando as tarefas da instrução; o ensino inclui tanto o trabalho do professor
O autor finaliza dizendo que as considerações feitas neste tópico justi- como a direção da atividade de estudo dos alunos. Tanto a instrução como
ficam a necessidade de uma sólida preparação profissional face às exigên- o ensino se modificam em decorrência da sua necessária ligação com o
cias colocadas pelo mercado docente. Esta é a tarefa, segundo ele, do desenvolvimento da sociedade e com as condições reais em que ocorre o
curso de habilitação ao magistério e, particularmente, da Didática. trabalho docente. Nessa ligação é que a Didática se fundamenta para
Sugestões para tarefas de estudo formular diretrizes orientadoras do processo de ensino.
Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos O currículo expressa os conteúdos da instrução, nas matérias de cada
Libâneo sugere, entre outras: “Analisar os efeitos dos fatores externos e grau do processo de ensino. Em torno das matérias se desenvolve o pro-
dos fatores intra-escolares no fracasso escolar das crianças” e “Quais são cesso de assimilação dos conhecimentos e habilidades.
as tarefas da escola pública democrática?”. E a metodologia compreende, segundo Libâneo, o estudo dos méto-
Como tema para redação ele sugere, entre outros: “democratização do dos, e o conjunto dos procedimentos de investigação das diferentes ciên-
ensino e fracasso escolar”. cias quanto ao seus fundamentos e validade, distinguindo-se das técnicas
que são a aplicação específica dos métodos. No campo da Didática, há
Bibliografia complementar uma relação entre os métodos próprios da ciência que dá suporte à matéria
Entre outras, o autor cita: AUSUBEL, David P. et alii. Psicologia Educa- de ensino e os métodos de ensino.
cional. Rio de Janeiro, Interamericana, 1980 e ROSENBERG, Lia. Educa- Segundo o autor, técnicas, recursos ou meios de ensino são comple-
ção e Desigualdade Social. São Paulo, Loyola, 1984. mentos da metodologia, colocados à disposição do professor para o enri-
quecimento do processo de ensino
O autor sintetiza dizendo que são temas fundamentais da Didática: os
Didática: Teoria da Instrução e do Ensino objetivos sócio-políticos e pedagógicos da educação escolar, os conteúdos
Neste capítulo, o autor retoma algumas questões, com a finalidade de escolares, os princípios didáticos, os métodos de ensino e de aprendiza-
aprofundar mais os vínculos da Didática com os fundamentos educacionais gem, as formas organizativas do ensino, o uso e aplicação de técnicas e
proporcionados pela teoria pedagógica, explicitar o seu objeto de estudo e recursos, o controle e a avaliação da aprendizagem.
seus elementos constitutivos para, em seguida, delinear alguns traços do
desenvolvimento histórico dessa disciplina. Objeto de estudo: o processo de ensino
O autor aponta como sendo o objeto de estudo da Didática o processo
A Didática como atividade pedagógica escolar de ensino, campo principal da educação escolar.
Libâneo afirma que, sendo a educação escolar uma atividade social Para o autor, na medida em que o ensino viabiliza as tarefas da instru-
que, através de instituições próprias, visa à assimilação dos conhecimentos ção, ele contém a instrução. Pode-se assim, segundo ele, delimitar como
e experiências humanas acumuladas no decorrer da história, tendo em objeto da Didática o processo de ensino que, considerado no seu conjunto,
vista a formação dos indivíduos enquanto seres sociais, cabe à Pedagogia

Didática 25 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
inclui: os conteúdos dos programas e dos livros didáticos, os métodos e que expressa finalidades e exigências da prática social, ao mesmo tempo
formas organizativas do ensino, as atividades do professor e dos alunos e que se subordina a condições concretas postas pela mesma prática social
as diretrizes que regulam e orientam esse processo. que favorecem ou dificultam atingir objetivos. Entender, pois o processo
O autor faz a pergunta: Por que estudar o processo de ensino? didático como totalidade abrangente implica vincular conteúdos, ensino e
aprendizagem objetivos sócio-políticos e pedagógicos e analisar criteriosa-
E reponde que a educação escolar é uma tarefa eminentemente social mente o conjunto de condições concretas que rodeiam cada situação
pois a sociedade necessita prover as gerações mais novas daqueles co- didática. Em outras palavras, o ensino é um processo social, integrante de
nhecimentos e habilidades que vão sendo acumulados pela experiência múltiplos processos sociais, nos quais estão implicadas dimensões políti-
social da humanidade; e não sendo suficiente dizer que os alunos precisam cas, ideológicas, éticas, pedagógicas, frente às quais se formulam objeti-
dominar os conhecimentos, é necessário dizer como fazê-lo, isto é, investi- vos, conteúdos e métodos conforme opções assumidas pelo educador, cuja
gar objetivos e métodos seguros e eficazes para a assimilação dos conhe- realização está na dependência de condições, seja aquelas que o educador
cimentos. Esta é a função da didática ao estudar o processo de ensino. já encontra seja as que ele precisa transformar ou criar.
Segundo Libâneo, pode-se definir processo de ensino como uma se- Assim, segundo o autor, os objetivos gerais e específicos são não só
quência de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimila- um dos componentes do processo didático como também determinantes
ção de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais das relações entre os demais componentes. Além disso, a articulação entre
os alunos aprimoram capacidades cognitivas (pensamento independente, estes depende da avaliação das condições concretas implicadas no ensino,
observação, análise-síntese, e outras). tais como objetivos e exigências postos pela sociedade e seus grupos e
Libâneo diz que, quando menciona que a finalidade do processo de classes, o sistema escolar, os programas oficiais, a formação dos professo-
ensino é proporcionar aos alunos os meios para que assimilem ativamente res, as forças sociais presentes na escola ( docentes, pais, etc.), os maios
os conhecimentos, é porque a natureza do trabalho docente é a mediação de ensino disponíveis, bem como as características sócio-culturais e indivi-
da relação cognoscitiva entre o aluno e as matérias do ensino. Isto quer duais dos alunos, as condições prévias dos alunos para enfrentar o estudo
dizer que o ensino não é só transmissão de informações, mas também o de determinada matéria, as relações professor-alunos, a disciplina, o prepa-
meio de organizar a atividade de estudo dos alunos. O ensino somente é ro específico do professor para compreender cada situação didática e
bem sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos transformar positivamente o conjunto de condições para a organização do
de estudo do aluno, e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das ensino.
suas forças intelectuais. Para o autor, o processo didático, assim, desenvolve-se mediante a
Assim, afirma Libâneo, ensinar e aprender, pois, são duas facetas do ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino: os objetivos da
mesmo processo, e que se realizam em torno das matérias do ensino, sob educação e da instrução, os conteúdos, a aprendizagem, os métodos, as
a direção do professor. formas e meios de organização das condições da situação didática, a
avaliação. Tais são, também, os conceitos fundamentais que formam a
Os componentes do processo didático
base de estudos da Didática.
Tradicionalmente, segundo Libâneo, se consideram como componen-
tes da ação didática a matéria, o professor e os alunos. No entanto, para o Desenvolvimento histórico da Didática e tendências pedagógicas
autor, o ensino é uma atividade complexa que envolve tanto condições Segundo o autor a história da Didática está liga ao aparecimento do
externas como condições internas das situações didáticas. ensino - no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produção e das
Segundo ele, internamente a ação didática se refere à relação entre o ciências - como atividade planejada e intencional dedicada à instrução.
aluno e a matéria, com o objetivo de apropriar-se dela com a mediação do Desde os primeiros tempos existem indícios de formas elementares de
professor. Entre a matéria, o professor e o aluno ocorrem relações recípro- instrução e aprendizagem. Sabe-se, por exemplo, que nas comunidade
cas. O professor tem propósitos definidos no sentido de assegurar um primitivas os jovens passam por um ritual de iniciação para ingressarem
encontro direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das nas atividades do mundo adulto. Pode-se considerar esta uma forma de
condições internas dos alunos alterando o modo de lidar com a matéria. ação pedagógica, embora aí não esteja o “didático” como forma estruturada
Cada situação didática, porém, vincula-se, segundo o autor, a determinan- de ensino.
tes econômico-sociais, sócio-culturais, a objetivos e normas estabelecidos Na chamada Antiguidade Clássica (gregos e romanos) e no período
conforme interesses da sociedade e seus grupos, e que afetam as decisões medieval também se desenvolvem formas de ação pedagógica, em esco-
didáticas. O autor considera, então, que a inter-relação entre professores e las, mosteiros, igrejas, universidades. Entretanto, até meados do século
alunos não se reduz a sala de aula, implicando relações bem mais abran- XVII não podemos falar de Didática como teoria de ensino, que sistematize
gentes. Entre as relações citadas pelo autor, citamos como exemplo: o pensamento didático e o estudo científico das formas de ensinar.
Escola, professor, aluno, pais, estão inseridos na dinâmica das Coloca o autor que o termo “Didática” aparece quando os adultos co-
relações sociais. A sociedade não é um todo homogêneo, onde reinam a meçam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens
paz e a harmonia. Ao contrário, há antagonismos e interesses distintos através da direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das
entre grupos e classes sociais que se refletem nas finalidades e no papel formas de intervenção mais ou menos espontâneas de antes. Estabelecen-
atribuídos à escola, ao trabalho do professor e dos alunos. do-se uma intenção propriamente pedagógica na atividade de ensino, a
As teorias da educação e as práticas pedagógicas, os objetivos escola se torna uma instituição, o processo de ensino passa a ser sistema-
educativos da escola e dos professores, os conteúdos escolares, a relação tizado conforme níveis, tendo em vista a adequação às possibilidades das
professor-alunos, as modalidades de comunicação docente, nada disso crianças, às idades e ritmo de assimilação dos estudos.
existe isoladamente do contexto econômico, social e cultural mais amplo e A formação da teoria didática, segundo Libâneo, para investigar as li-
que afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendiza- gações entre ensino e aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII,
gem. quando João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreve a
O autor considera, assim, que o processo didático está centrado na re- primeira obra clássica sobre Didática, a Didacta Magna . Ele foi o primeiro
lação fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a educador a formular a ideia da difusão dos conhecimentos a todos e criar
confrontação ativa do aluno com a matéria sob a mediação do professor. princípios e regras de ensino.
Com isso, pode-se identificar entre os seus elementos constitutivos: os Libâneo salienta que Comênio desenvolveu ideias avançadas para a
conteúdos das matérias que devem ser assimilados pelos alunos de um prática educativa nas escolas, numa época em que surgiam novidades no
determinado grau; a ação de ensinar em que o professor atua como media- campo da Filosofia e das Ciências e grandes transformações nas técnicas
dor entre o aluno e as matérias; a ação de aprender em que o aluno assimi- de produção, em contraposição às ideias conservadoras da nobreza e do
la consciente e ativamente as matérias e desenvolve suas capacidades e clero. O sistema de produção capitalista, ainda incipiente, já influenciava a
habilidades. Contudo, para Libâneo, estes componentes não são suficien- organização da vida social, política e cultural.
tes para ver o ensino em sua globalidade.
A Didática de Comênio se assentava nos seguintes princípios:
Ele coloca que, como foi visto, não é uma atividade que se desenvolve
automaticamente, restrita ao que se passa no interior da escola, uma vez 1) A finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com
Deus, pois é uma força poderosa de regeneração da força humana. Todos

Didática 26 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a religião, porque todos, próprio. Deu uma grande importância ao ensino como meio de educação e
ao realizarem sua própria natureza, realizam os desígnios de Deus. Portan- desenvolvimento das capacidades humanas, como cultivo do sentimento,
to a educação é um direito natural de todos. da mente e do caráter, e atribuía grande importância ao método intuitivo,
2) Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo levando os alunos a desenvolverem o senso de observação, análise dos
com o seu desenvolvimento natural, isto é, de acordo com as característi- objetos e fenômenos da natureza e a capacidade da linguagem, através da
cas de idade e capacidade para o desenvolvimento. Consequentemente, a qual se expressa em palavras o resultado das observações. Nisto consistia
tarefa principal da Didática é estudar essas características e os métodos a educação intelectual. Também atribuía importância fundamental à psico-
de ensino correspondentes, de acordo com a ordem natural das coisas. logia da criança como fonte do desenvolvimento do ensino.
3) A assimilação dos conhecimentos não se dá instantaneamente, Segundo o autor, as ideias de Comênio, Rousseau e Pestalozzi influ-
como se o aluno registrasse de forma mecânica em sua mente a informa- enciaram muitos outros pedagogos. Sendo que o mais importante deles foi
ção do professor, como o reflexo num espelho. No ensino, ao invés disso, Johann Friedrich Herbart (1766-1841), pedagogo alemão que teve muitos
tem um papel decisivo a percepção sensorial das coisas. Os conhecimen- discípulos e que exerceu influência relevante na Didática e na prática
tos devem ser adquiridos a partir da observação das coisas e dos fenôme- docente. Foi e continua sendo inspirador da pedagogia conservadora, mas
nos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos. suas ideias precisam ser estudadas por causa da sua presença constante
nas salas de aula brasileiras. Junto com uma formulação teórica dos fins da
4) O método intuitivo consiste, assim, da observação direta, pelos educação e da Pedagogia como ciência, desenvolveu uma análise do
órgãos dos sentidos, das coisas, para o registro das impressões na mente processo psicológico-didático de aquisição de conhecimentos, sob a dire-
do aluno. Primeiramente as coisas, depois as palavras. O planejamento de ção do professor.
ensino deve obedecer ao curso da natureza infantil; por isso as coisas
devem ser ensinadas uma de cada vez. Não se deve ensinar nada que a Segundo Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida através
criança não possa compreender. Portanto, deve-se partir do conhecido para da instrução educativa. Educar o homem significa instruí-lo para querer o
o desconhecido. bem, de modo que aprenda a comandar a si próprio. A principal tarefa da
instrução é introduzir ideias corretas na mente dos alunos. O professor é
Libâneo comenta que, apesar das grande novidade destas ideias, prin- um arquiteto da mente. Ele deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias
cipalmente dando um impulso ao surgimento de uma teoria do ensino, que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos
Comênio não escapou de algumas crenças usuais na época sobre ensino. alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente, que por
Embora partindo da observação e da experiência sensorial, mantinha-se o sua vez vão favorecer a assimilação de ideias novas. O método de ensino
caráter transmissor do ensino; embora procurando adaptar o ensino às consiste em provocar a acumulação de ideias na mente da criança.
fases do desenvolvimento infantil, mantinha-se o método único e o ensino
simultâneo a todos. Além disso, sua ideia de que a única via de acesso dos Herbart estava atrás também da formulação de um método único de
conhecimentos é a experiência sensorial com as coisas não é suficiente, ensino, em conformidade com as leis psicológicas do conhecimento. Esta-
primeiro porque nossas percepções frequentemente nos enganam, segun- beleceu, assim, quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente
do, porque já há uma experiência social acumulada de conhecimentos seguidos: o primeiro seria a preparação e apresentação da matéria nova de
sistematizados que não necessitam ser descobertos novamente. forma clara e completa, que denominou clareza; o segundo seria a associa-
ção entre as ideias antigas e as novas: o terceiro, a sistematização dos
Entretanto segundo o autor, Comênio desempenhou uma influência conhecimentos, tendo em vista a generalização: finalmente, o quarto seria a
considerável, não somente porque empenhou-se em desenvolver métodos aplicação, o uso dos conhecimentos adquiridos através de exercícios, que
de instrução mais rápidos e eficientes, mas também porque desejava que denominou método.
todas as pessoas pudessem usufruir dos benefícios do conhecimento.
Posteriormente, os discípulos de Herbart desenvolveram mais a pro-
O autor comenta que no século XVII, em que viveu Comênio, e nos sé- posta dos passos formais ordenando-os em cinco: preparação, apresenta-
culos seguintes, ainda predominavam práticas escolares da Idade Média: ção, assimilação, generalização e aplicação, fórmula esta que ainda é
ensino intelectualista, verbalista e dogmático, memorização e repetição utilizada pela maioria dos nossos professores.
mecânica dos ensinamentos do professor. Nessas escolas não havia
espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino era separado da vida, O autor salienta que o sistema pedagógico de Herbart e seus seguido-
mesmo porque ainda era grande o poder da religião na vida social. res - chamados de herbatianos - trouxe esclarecimentos válidos para a
organização da prática docente, como por exemplo: a necessidade de
Enquanto isso, porém, foram ocorrendo intensas mudanças nas for- estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência de compre-
mas de produção, havendo um grande desenvolvimento da ciência e da ensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o signifi-
cultura. Foi diminuindo o poder da nobreza e do clero e aumentando o da cado educativo da disciplina na formação do caráter. Entretanto, Libâneo
burguesia. Na medida em que esta se fortalecia como classe social, dispu- faz uma ressalva para o fato de o ensino ser entendido como repasse de
tando o poder econômico e político com a nobreza, ia crescendo também a ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender
necessidade de um ensino ligado às exigências do mundo da produção e o que o professor transmite, mas apenas com a finalidade de reproduzir a
dos negócios e, ao mesmo tempo, um ensino que contemplasse o livre matéria transmitida. Com isso, segundo ele, a aprendizagem se torna
desenvolvimento das capacidades e interesses individuais. mecânica, automática, associativa, não mobilizando a atividade mental, a
Libâneo cita Jean Jacques Rousseau (1712-1778) que foi um pensador reflexão e o pensamento independente e criativo dos alunos.
que procurou interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova Segundo o autor, as ideias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Pes-
de ensino, baseada nas necessidades e interesses imediatos da criança. talozzi e Herbart - além de muitos outros - formaram as bases do pensa-
As ideias mais importantes de Rousseau são as seguintes: mento pedagógico europeu, difundindo-se depois por todo o mundo, de-
1) A preparação da criança para a vida deve basear-se no estudo marcando as concepções pedagógicas que hoje são conhecidas como
das coisas que correspondem às suas necessidades e interesses atuais. Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada.
Antes de ensinar as ciências, elas precisam ser levadas a despertar o gosto A Pedagogia tradicional, segundo o texto, em suas várias correntes,
pelo seu estudo. Os verdadeiros professores são a natureza, a experiência caracteriza as concepções de educação onde prepondera a ação de
e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a rodeia é que agentes externos na formação do aluno, o primado de conhecimento, a
desperta o interesse e suas potencialidades naturais. Em resumo: são os transmissão do saber constituído na tradição e nas grandes verdades
interesses e necessidades imediatas do aluno que determinam a organiza- acumuladas pela humanidade e uma concepção de ensino como impressão
ção do estudo e seu desenvolvimento. de imagens propiciadas, ora pela palavra do professor, ora pela observação
2) A educação é um processo natural, ela se fundamenta no de- sensorial. A Pedagogia Renovada, segundo ele, agrupa correntes que
senvolvimento interno do aluno. As crianças são boas por natureza, elas advogam a renovação escolar, opondo-se à Pedagogia Tradicional. Entre
têm uma tendência natural para se desenvolverem. as características desse movimento destacam-se: a valorização da criança,
dotada de liberdade, iniciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo,
O autor salienta que Rousseau não colocou em prática suas ideias e
sujeito da sua aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento;
nem elaborou uma teoria de ensino. Essa tarefa coube a um outro pedago-
tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas
go suíço, Henrique Pestalozzi (1746-1827), que viveu e trabalhou até o fim
sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capaci-
da vida na educação de crianças pobres, em situações dirigidas por ele

Didática 27 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
dades e aptidões individuais, individualização do ensino conforme os ritmos A educação seria, assim, um processo de subjetivação da cultura, ten-
próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da ativi- do em vista a formação da vida interior, a edificação da personalidade. A
dade e da liberdade de expressão da criança. pedagogia da cultura quer unir as condições externas da vida real, isto é, o
O movimento de renovação da educação, inspirado nas ideias de Ros- mundo objetivo da cultura, à liberdade individual, cuja fonte é a espirituali-
seau, recebeu diversas denominações, como educação nova, escola nova, dade, a vida interior.
pedagogia ativa, escola do trabalho. Desenvolveu-se como tendência O estudo teórico da Pedagogia no Brasil passa um reavivamento, prin-
pedagógica no início do século XX, embora nos séculos anteriores tenham cipalmente a partir das investigações sobre questões educativas baseadas
existido diversos filósofos e pedagogos que propugnavam a renovação da nas contribuições do materialismo histórico e dialético. Tais estudos con-
educação vigente, tais como Erasmo, Rabelais, Montaigne à época do vergem para a formulação de uma teoria crítico-social da educação, a partir
Renascimento e os já citados Comênio (séc. XVII), Rosseau e Pestalozzi da crítica política e pedagógica das tendências e correntes da educação
(no séc. XVIII). A denominação Pedagogia Renovada se aplica tanto ao brasileira.
movimento da educação nova que inclui a criação de “escolas novas”, a
disseminação da pedagogia ativa e dos métodos ativos, como também a Tendências Pedagógicas do Brasil e a Didática
outras correntes que adotam certos princípios de renovação educacional, Segundo o autor, nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedica-
mas sem vínculo direto com a Escola Nova; o autor cita, como exemplo, a dos à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências
pedagogia científico-espiritual desenvolvida por W. Dilthey e seus seguido- pedagógicas e à investigação do seu campo de conhecimentos. Os auto-
res, e a pedagogia ativista-espiritualista católica. res, em geral, concordam em classificar as tendências pedagógicas em
Segundo o texto, dentro do movimento escolanovista, desenvolveu-se dois grupos: as de cunho liberal - pedagogia Tradicional, pedagogia reno-
nos Estados Unidos uma de suas mais destacadas correntes, a Pedagogia vada e tecnicismo educacional; as de cunho progressista - pedagogia
Pragmática ou Progressivista, cujo principal representante é John Dewey Libertadora e Pedagogia Crítico social dos Conteúdos. Certamente existem
(1859-1952). O autor considera que as ideias desse brilhante educador outras correntes vinculadas a uma ou a outra dessas tendências, mas
exerceram uma significativa influência no movimento da Escola Nova na essas não são as mais conhecidas.
América Latina e, particularmente, no Brasil. Com a liderança de Anísio Na pedagogia Tradicional, a Didática é uma disciplina normativa, um
Teixeira e outros educadores, formou-se no início da década de 30 o Movi- conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensi-
mento dos Pioneiros da Escola Nova, cuja atuação foi decisiva na formula- nar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes,
ção da política educacional, na legislação, na investigação acadêmica e na são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exem-
prática escolar. plos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que
Segundo Libâneo, Dewey e seus seguidores reagem à concepção her- ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gravam” a matéria para
bartiana da educação pela instrução, advogando a educação pela ação. A depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja
escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida; a educação é o através das provas. Para isso, é importante que o aluno “preste atenção”,
resultado da interação entre o organismo e o meio através da experiência e porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite, na memória. O
da reconstrução da experiência. A função mais genuína da educação é a de aluno é assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objeti-
prover condições para promover e estimular a atividade própria do orga- vos, explícitos ou implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal,
nismo para que alcance seu objetivo de crescimento e desenvolvimento. desvinculado da sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os
Por isso, a atividade escolar deve centrar-se em situações de experiência alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida
onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e inte- presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, isto é,
resses naturais da criança. O currículo não se baseia nas matérias de desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da socieda-
estudo convencionais que expressam a lógica do adulto, mas nas ativida- de e da vida. O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o
des e ocupações da vida presente, de modo que a escola se transforme meio utilizado pelo professor para comunicara matéria e não dos alunos
num lugar de vivência daquelas tarefas requeridas para a vida em socieda- para aprendê-la. É ainda forte a presença dos métodos intuitivos, que foram
de. O aluno e o grupo passam a ser o centro de convergência do trabalho incorporados ao ensino tradicional. Baseiam-se na apresentação de dados
escolar. sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los e formar imagens
deles em sua mente.
O movimento escolanovista no Brasil, segundo o autor, se desdobrou
em várias correntes, embora a mais predominante tenha sido a progressis- Segundo o texto, muitos professores ainda acham que “partir do con-
ta. Cumpre destacar a corrente vitalista, representada por Montessori, as creto” é a chave do ensino atualizado. Mas esta ideia já fazia parte da
teorias cognitivas, as teorias fenomenológicas e especialmente a teoria Pedagogia Tradicional porque o “concreto”(mostrar objetos, ilustrações,
interacionista baseada na psicologia genética de Jean Piaget. Em certo gravuras etc.) serve apenas para gravar na mente o que é captado pelos
sentido, pode-se dizer também, segundo Libâneo, que o tecnicismo educa- sentidos. O material concreto é mostrado, demonstrado, manipulado, mas o
cional representa a continuidade da corrente progressista, embora retem- aluno não lida mentalmente com ele, não o reelabora com o seu próprio
perado com as contribuições da teoria behaviorista e da abordagem sistê- pensamento. A aprendizagem, assim, continua receptiva, automática, não
mica do ensino. mobilizando a atividade mental do aluno e o desenvolvimento de suas
capacidades intelectuais.
Uma das correntes da Pedagogia renovada que não tem vínculo direto
com o movimento da Escola Nova, mas que teve repercussões na Pedago- Libâneo coloca que a Didática tradicional tem resistido ao tempo, conti-
gia brasileira, é a chamada Pedagogia Cultural. Trata-se de uma tendência nua prevalecendo na prática escolar. É comum nas nossas escolas atribuir-
ainda pouco estudada entre nós. Sua característica principal é focalizar a se ao ensino a tarefa de mera transmissão de conhecimentos, sobrecarre-
educação como fato da cultura, atribuindo ao trabalho docente a tarefa de gar o aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar
dirigir e encaminhar a formação do educando pela apropriação de valores somente exercícios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar
culturais. A Pedagogia Cultural a que o autor se refere tem sua afiliação na castigos. Trata-se de uma prática escolar que empobrece até as boas
pedagogia científico-espiritual desenvolvida por Guilherme Dilthey (1833- intenções da Pedagogia Tradicional que pretendia, com seus métodos, a
1911) e seguidores como Theodor Litt, Eduard Spranger e Hermann Nohl. transmissão da cultura geral, isto é, das grandes descobertas da humani-
Tendo-se firmado na Alemanha como uma sólida corrente pedagógica, dade, e a formação do raciocínio, o treino da mente e da vontade. Os
difundiu-se em outros países da Europa, especialmente na Espanha, e daí conhecimentos ficaram estereotipados, insossos, sem valor educativo vital,
para a América Latina, influenciando autores como Lorenso Luzuriaga, desprovidos de dignificados sociais, inúteis para a formação das capacida-
Francisco Larroyyo, J. Roura-Parella, Ricardo Nassif e, no Brasil, Luís Alves des intelectuais e para a compreensão crítica da realidade. O intento de
de Mattos e Onofre de Arruda Penteado Junior. Numa linha distinta das formação mental, de desenvolvimento do raciocínio, ficou reduzido a práti-
concepções escolanovistas, esses autores se preocupam em superar as cas de memorização.
oposições entre o psicológico e o cultural. De um lado, concebem a educa- A Pedagogia Renovada inclui várias correntes: a progressista (que se
ção como atividade do próprio sujeito, a partir de uma tendência interna de baseia na teoria educacional de John Dewey), a não-diretiva (principalmen-
desenvolvimento espiritual; de outro, consideram que os indivíduos vivem te inspirada em Carl Rogers), a ativista-espiritualista (de orientação católi-
num mundo sócio-cultural, produto do próprio desenvolvimento histórico da ca), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas, de algu-
sociedade. ma forma, estão ligadas ao movimento da pedagogia ativa que surge no

Didática 28 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional. Entretan- Esse autor destaca como conceitos básicos da Didática o ensino e a
to, segundo estudo feito por Castro (1984), os conhecimentos e a experiên- aprendizagem, em estreita relação entre si. O ensino é a atividade mental
cia da Didática brasileira pautam-se, em boa parte, no movimento da Esco- intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos
la Nova, inspirado principalmente na corrente progressista. Destacaremos, conteúdos culturais. Ele escreve: “A autêntica aprendizagem consiste
aqui, apenas a Didática ativa inspirada nessa corrente e a Didática Moder- exatamente nas experiências concretas do trabalho reflexivo sobre os fatos
na de Luís Alves de Mattos, que incluímos na corrente culturalista. e valores da cultura e da vida, ampliando as possibilidades de compreen-
Segundo o autor, a Didática da Escola Nova ou Didática ativa é enten- são e de interação do educando com seu ambiente e com a sociedade. (...)
dida como “direção da aprendizagem”, considerando o aluno como sujeito O autêntico ensino consistirá no planejamento, na orientação e no controle
da aprendizagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em dessas experiências concretas de trabalho reflexivo dos alunos, sobre os
condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimu- dados da matéria ou da vida cultural da humanidade” (1967, pp.72-73).
lando os seus interesses, possa buscar por si mesmo conhecimentos e Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e ori-
experiências. A ideia é a de que o aluno aprende melhor o que faz por si entar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus
próprio. Não se trata apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho objetivos educativos, Mattos propõe a teoria do Ciclo docente, que é o
manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em método didático em ação. O ciclo docente, abrangendo as fases de plane-
situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifesta jamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é defini-
em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, do como “o conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente,
plástica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus
a matéria é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, alunos, levando-o a bom termo. É o método em ação”.
organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de Quanto ao tecnicismo educacional, embora seja considerada como
características individuais dos alunos. Por isso, a Didática ativa dá grande uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia
importância aos métodos e técnicas como o trabalho de grupo, atividades Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 50, à sombra do pro-
cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc., gressivismo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se espe-
bem como aos métodos de reflexão e método científico de descobrir co- cificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendiza-
nhecimentos. Tanto na organização das experiências de aprendizagem gem e na abordagem sistêmica do ensino. Esta orientação acabou sendo
como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não imposta às escolas pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das
diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende às exigências duas últimas décadas, por ser compatível com a orientação econômica,
psicológicas do aprender. Em síntese, a Didática ativa dá menos atenção política e ideológica do regime militar então vigente. Com isso, ainda hoje
aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo da apren- predomina, nos cursos de formação de professores, o uso de manuais
dizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e didáticos de cunho tecnicista, de caráter meramente instrumental. A Didáti-
habilidades intelectuais dos alunos. Por isso, os adeptos da Escola Nova ca instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de
costumam dizer que o professor não ensina; antes, ajuda o aluno a apren- meios e técnicas mais eficazes. O sistema de instrução se compõe das
der. Ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da seguintes etapas: a) especificação de objetivos instrucionais operacionali-
aprendizagem, uma vez que esta é uma experiência própria do aluno zados; b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para
através da pesquisa, da investigação. alcançar os objetivos; c) ensino ou organização das experiências de apren-
Esse entendimento da Didática tem muitos aspectos positivos, princi- dizagem; d) avaliação dos alunos relativa ao que se propôs nos objetivos
palmente quando baseia a atividade escolar na atividade mental dos alu- iniciais. O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula:
nos, no estudo e na pesquisa, visando à formação de um pensamento objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administra-
autônomo. Entretanto, é raro encontrar professores que apliquem inteira- dor e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem
mente o que propõe a Didática ativa. Por falta de conhecimento aprofunda- executadas e dos meios necessários para se atingir os objetivos. Boa parte
do das bases teóricas da pedagogia ativa, falta de condições materiais, dos livros didáticos em uso nas escolas são elaborados com base na
pelas exigências de cumprimento do programa oficial e outra razões, o que tecnologia da instrução.
fica são alguns métodos e técnicas. Assim, é muito comum os professores As tendências de cunho progressista interessadas em propostas peda-
utilizarem procedimentos e técnicas como trabalho de grupo, estudo dirigi- gógicas voltadas para os interesses da maioria da população foram adqui-
do, discussões, estudo do meio etc., sem levar em conta seu objetivo rindo maior solidez e sistematização por volta dos anos 80. São também
principal que é levar o aluno a pensar, a raciocinar cientificamente, a de- denominadas teorias críticas da educação. Não é que não tenham existido
senvolver sua capacidade reflexão e a independência de pensamento. Com antes esforços no sentido de formular propostas de educação popular. Já
isso, na hora de comprovar os resultados do ensino e da aprendizagem, no começo do século formaram-se movimentos de renovação educacional
pedem matéria decorada, da mesma forma que se faz no ensino tradicional. por iniciativa de militantes socialistas. Muitos dos integrantes do movimento
Em paralelo à Didática da Escola Nova, conta Libâneo, que surge a dos pioneiros da Escola Nova tinham real interesse em superar a educação
partir dos anos 50 a Didática Moderna proposta por Luís Alves de Mattos. elitista e discriminadora da época. No início dos anos 60, surgiram os
Seu livro sumário de Didática Geral foi largamente utilizado durante muitos movimentos de educação de adultos que geraram ideias pedagógicas e
anos nos cursos de formação de professores e exerceu considerável in- práticas educacionais de educação popular, configurando a tendência que
fluência em muitos manuais de Didática publicados posteriormente. Con- veio a ser denominada de Pedagogia Libertadora.
forme sugerimos anteriormente, a Didática Moderna é inspirada na peda- Na segunda metade da década de 70, com a incipiente modificação do
gogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica quadro político repressivo em decorrência de lutas sociais por maior demo-
sua Didática com as seguintes características: o aluno é fator pessoal e cratização da sociedade, tornou-se possível a discussão de questões
decisivo na situação escolar; em função dele giram as atividades escola- educacionais e escolares numa perspectiva de crítica das instituições
res, para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, sociais do capitalismo. Muitos estudiosos e militantes políticos se interessa-
tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formar-lhe o caráter e a ram apenas pela crítica e pela denúncia do papel ideológico e discriminador
personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da da escola na sociedade capitalista. Outros, no entanto, levando em conta
aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos essa crítica, preocuparam-se em formular propostas e desenvolver estudos
alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A no sentido de tornar possível uma escola articulada com os interesses
matéria é o conteúdo cultural da aprendizagem, o objeto ao qual se aplica o concretos do povo. Entre essas tentativas destacam-se a Pedagogia Liber-
ato de aprender, onde se encontram os valores lógicos e sociais a serem tadora e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. A primeira retomou as
assimilados pelos alunos; está a serviço do aluno para formar as suas propostas de educação popular dos anos 60, refundindo seus princípios e
estruturas mentais e, por isso, sua seleção, dosagem e apresentação práticas em função das possibilidades do seu emprego na educação formal
vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método em escolas públicas, já que inicialmente tinham caráter extra-escolar, não
representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, oficial e voltadas para o atendimento de clientela adulta. A segunda, inspi-
isto é, existe em função da aprendizagem, razão pela qual, a par de estar rando-se no materialismo histórico dialético, constituiu-se como movimento
condicionado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do pedagógico interessado na educação popular, na valorização da escola
aluno. pública e do trabalho do professor, no ensino de qualidade para o povo e,

Didática 29 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
especificamente, na acentuação da importância do domínio sólido por parte dos alunos que lhes possibilitam a auto-atividade e a busca independente e
de professores e alunos dos conteúdos científicos do ensino como condição criativa das noções.
para a participação efetiva do povo nas lutas sociais ( na política, na profis- Mas trata-se de uma síntese superadora. Com efeito, se a Pedagogia
são, no sindicato, nos movimentos sociais e culturais). define fins e meios da prática educativa a partir dos seus vínculos com a
Trata-se de duas tendências pedagógicas progressistas, propondo uma dinâmica da prática social, importa um posicionamento dela face a interes-
educação escolar crítica a serviço das transformações sociais e econômi- ses sociais em jogo no quadro das relações sociais vigentes na sociedade.
cas, ou seja, de superação das desigualdades sociais decorrentes das Os conhecimentos teóricos e práticos da Didática medeiam os vínculos
formas sociais capitalistas de organização da sociedade. No entanto, entre o pedagógico e a docência; fazem a ligação entre o “para quê ”(op-
diferem quanto a objetivos imediatos, meios e estratégias de atingir essas ções político-pedagógicas) e o “como” da ação educativa escolar (a prática
metas gerais comuns. docente).
A Pedagogia Libertadora não tem uma proposta explícita de Didática e A Pedagogia Crítico-Social toma o partido dos interesses majoritários
muitos dos seus seguidores, entendendo que toda didática resumir-se-ia ao da sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o papel de proporcionar
seu caráter tecnicista, instrumental, meramente prescritivo, até recusam aos alunos o domínio de conteúdos científicos, os métodos de estudo e
admitir o papel dessa disciplina na formação dos professores. No entanto, habilidades e hábitos de raciocínio científico, de modo a irem formando a
há uma didática implícita na orientação do trabalho escolar, pois, de alguma consciência crítica face às realidades sociais e capacitando-se a assumir no
forma, o professor se põe diante de uma classe com a tarefa de orientar a conjunto das lutas sociais a sua condição de agentes ativos de transforma-
aprendizagem dos alunos. A atividade escolar é centrada na discussão de ção da sociedade e de si próprios. O autor coloca que esta corrente peda-
temas sociais e políticos; poder-se-ia falar de um ensino centrado na reali- gógica forma a base teórico-metodológica dos estudos organizados no livro
dade social, em que professor e alunos analisam problemas e realidades do em questão.
meio sócio-econômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e
necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e A Didática e as tarefas do professor
realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conte- Segundo o autor, o trabalho docente, entendido como atividade peda-
údos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa gógica do professor, busca os seguintes objetivos primordiais:
nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possí-
imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da vel dos conhecimentos científicos;
experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho de
criar as condições e meios para que os alunos desenvolvam ca-
grupo etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematiza-
pacidades e habilidades intelectuais de modo que dominem métodos de
dos para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que
estudo e de trabalho intelectual visando a sua autonomia no processo de
busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior
aprendizagem e independência de pensamento;
dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das
atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos. orientar as tarefas de ensino para objetivos educativos de forma-
ção da personalidade.
A pedagogia Libertadora, segundo o autor, tem sido empregada com
muito êxito em vários setores dos movimentos sociais, como sindicatos, O autor coloca que, para que o professor possa atingir efetivamente os
associações de bairro, comunidades religiosas. Parte desse êxito se deve objetivos, é necessário que realize um conjunto de operações didáticas
ao fato de ser utilizada entre adultos que vivenciam uma prática política e coordenadas entre si, que são o planejamento, a direção do ensino e da
onde o debate sobre a problemática econômica, social e política pode ser aprendizagem e a avaliação.
aprofundado com a orientação de intelectuais comprometidos com os O autor faz uma lista de requisitos que são necessárias ao planejamen-
interesses populares. Em relação à sua aplicação nas escolas públicas, to, por parte do professor, entre elas: conhecimento dos programas oficiais
especialmente no ensino de 1º grau, os representantes dessa tendência para adequá-lo às necessidades reais da escola e da turma de alunos, e
não chegaram a formular uma orientação pedagógico-didática especialmen- conhecimento das características sociais, culturais e individuais dos alunos,
te escolar, compatível com a idade, o desenvolvimento mental e as caracte- bem como o nível de preparo escolar em que se encontram.
rísticas de aprendizagem das crianças e jovens. Segundo o autor, quanto à direção do ensino e da aprendizagem, re-
Para a Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos a escola pública cum- quer-se, entre outras: conhecimento das funções didáticas ou etapas do
pre a sua função social e política, assegurando a difusão dos conhecimen- processo de ensino, e saber formular perguntas e problemas que exijam
tos sistematizados a todo, como condição para a efetiva participação do dos alunos pensarem por si mesmos, tirarem conclusões próprias.
povo nas lutas sociais. Não considera suficiente colocar como conteúdo O autor salienta que os requisitos apontados são necessários para que
escolar a problemática social quotidiana, pois somente com o domínio dos o professor possa desempenhar suas tarefas docentes e que formam o
conhecimentos, habilidades e capacidades mentais podem os alunos campo de estudo da Didática.
organizar, interpretar e reelaborar as suas experiências de vida em função
dos interesses de classe. O que importa é que os conhecimentos sistemati- Para o autor, a Didática oferece uma contribuição indispensável à for-
zados sejam confrontados com as experiências sócio-culturais e a vida mação dos professores, sintetizando no seu conteúdo a contribuição de
concreta dos alunos, como meio de aprendizagem e melhor solidez na conhecimentos de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento
assimilação dos conteúdos. Do ponto de vista didático, o ensino consiste na dos fatores condicionantes do processo de instrução e ensino, intimamente
mediação de objetivos-conteúdos-métodos que assegure o encontro forma- vinculado com a educação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimen-
tivo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fator decisivo da tos específicos necessários para o exercício das tarefas docentes.
aprendizagem. Sugestões para tarefas de estudo
A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à O autor sugere como perguntas para o trabalho independente dos alu-
Didática, cujo objeto de estudo é o processo de ensino nas suas relações e nos, entre outras: “Que significa dizer que a Didática é uma atividade de
ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam cunho pedagógico?” e “Por que se afirma que a Didática é a teoria da
uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Didática tem instrução e do ensino?”.
como objetivo a direção do processo de ensinar, tendo em vista finalidades
sócio-políticas e pedagógicas e as condições e meios formativos; tal dire- Bibliografia complementar
ção, entretanto, converge para promover a auto-atividade dos alunos, a Como bibliografia complementar, o autor cita, entre outras: CANDAU,
aprendizagem. Com isso, a Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese Vera M. (org.). A Didática em Questão. Petrópolis, Vozes, 1984 e FAZEN-
superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola DA, Ivani C. A . (org.). Encontros e Desencontros da Didática e Prática de
Nova. Ensino. Cad. Cedes, n.º 21, São Paulo, Cortez/Cedes, 1988.
Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvi- O Processo de Ensino na Escola
mento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a trans-
missão e assimilação ativa dos conteúdos escolares articulando, no mesmo O autor coloca que há uma relação recíproca e necessária entre a ati-
processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais vidade do professor (ensino) e a atividade de estudo dos alunos (aprendi-
zagem). Segundo ele, a unidade ensino-aprendizagem se concretiza na

Didática 30 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
interligação de dois momentos indissociáveis - transmissão/assimilação 3 - Momentos interligados do processo de assimilação ativa
ativa de conhecimentos e habilidades, dentro de condições específicas de Segundo o autor, o desenvolvimento das forças cognoscitivas na sala
cada situação didática. de aula se verifica no processo de assimilação ativa de conhecimentos.
As características do processo de ensino Frente a determinados objetivo de ensino a primeira atividade é a observa-
O autor inicia este tópico falando que o tipo de ensino existente na ção sensorial.
maioria de nossas escolas é o ensino tradicional, que têm como limitações A transformação da percepção ativa para um nível mais elevado de
pedagógicas e didáticas, entre outras: compreensão implica a atividade mental de tomar os objetos e fenômenos
- O aluno tem um mínimo de participação na construção do conheci- estudados nas suas relações com outros objetos e fenômenos, para ir
mento e uma atividade limitada, já que o professor é o elemento ativo, formando ideias e conceitos mais amplos. Neste processo, segundo o
aquele que transmite os conteúdos. Assim, subestima-se a atividade mental autor, a atividade mental evolui da apreensão do conteúdo da matéria na
dos alunos privando-os de desenvolverem sua potencialidades cognitivas, sua forma visível, exterior, para a ideia do conteúdo, de modo que o conte-
suas capacidades e habilidades, de forma a ganharem independência de údo visível se transforma num conteúdo do pensamento.
pensamento. Segundo ele, o processo se completa com as atividades práticas em
- O trabalho docente fica restrito às paredes da sala de aula, sem preo- várias modalidades de problemas e exercícios, nos quais se verifica a
cupação e sem ligação com a prática da vida cotidiana dos alunos fora da consolidação e a aplicação prática de conhecimentos e habilidades.
escola. Para o autor, o aspecto fundamental a considerar é que o processo in-
O autor coloca que se deve entender o processo de ensino como um terno de desenvolvimento mental é um todo que não pode ser decomposto
conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, visando a em elementos isolados.
alcançar determinados resultados, tendo como ponto de partida o nível O autor, salienta que nem sempre é necessário começar o processo de
atual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento dos alunos. O assimilação pelo concreto, pois há situações de ensino em que os alunos já
autor considera como sendo característica desse processo, entre outras, possuem conceitos e operações mentais, bastando avivá-los e recordá-los.
que o ensino tem um caráter bilateral em virtude de combinar a atividade do 4 - Características da aprendizagem escolar
professor (ensinar) com a atividade do aluno (aprender), portanto, fazer
interagir dois processos indissociáveis: a transmissão e a assimilação ativa O autor cita como características da aprendizagem escolar, entre ou-
de conhecimentos e habilidades. tras:
a - A aprendizagem escolar é uma atividade planejada, intencional e di-
Processos didáticos básicos: ensino e aprendizagem rigida, e não algo casual e espontâneo. Aprendizagem e ensino formam
Segundo o autor, ensino e aprendizagem são duas facetas de um uma unidade, mas não são atividades que se confundem uma com a outra.
mesmo processo. A atividade cognoscitiva do aluno é a base e o fundamento do ensino, e
I - A Aprendizagem este dá direção e perspectiva àquela atividade por meio dos conteúdos,
problemas, métodos, procedimentos organizados pelo professor em situa-
Segundo o autor, em sentido geral, qualquer atividade humana pratica- ções didáticas específicas.
da no ambiente em que vivemos pode levar a uma aprendizagem.
b - Os conteúdos e as ações mentais que vão sendo formados depen-
Segundo ele, pode-se distinguir a aprendizagem casual, que é quase dem da organização lógica e psicológica das matérias de ensino. A organi-
sempre espontânea, e a aprendizagem organizada, que tem por finalidade zação lógica se refere à sequência progressiva dos conteúdos, ideias,
específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de habilidades, em nível crescente de complexidade e a organização psicoló-
convivência social. gica se refere à adequação ao nível de desenvolvimento físico e mental
No caso da aprendizagem escolar, segundo Libâneo, ela é um proces- que, por sua vez, é condicionado pelas características sócio-culturais dos
so de assimilação de determinados conhecimentos e modos de ação física alunos.
e mental, organizados e orientados no processo de ensino. II - O ensino
1 - O processo de assimilação ativa Segundo o autor, o ensino é uma combinação adequada entre a con-
O autor entende por assimilação ativa ou apropriação de conhecimen- dução do processo de ensino pelo professor e a assimilação ativa como
tos e habilidades o processo de percepção compreensão, reflexão e aplica- atividade autônoma e independente do aluno. Em outras palavras, segundo
ção que se desenvolve com os meios intelectuais, motivacionais e atitudi- ele, o processo de ensino é uma atividade de mediação pela qual são
nais do próprio aluno, sob a orientação do professor. providas as condições e os meios para os alunos se tornarem sujeitos
Para o autor, o processo de assimilação ativa é um dos conceitos fun- ativos na assimilação de conhecimentos.
damentais da teoria da instrução e do ensino. O autor aponta três funções do ensino, que são inseparáveis:
Para sintetizar, o autor coloca que temos nas situações didáticas fatores a) Organizar os conteúdos para a sua transmissão, de forma que
externos e internos, mutuamente relacionados. O professor propõe objetivos e os alunos possam ter uma relação subjetiva com eles.
conteúdos, tendo em conta características dos alunos e da sua prática de b) Ajudar ao alunos a conhecerem as suas possibilidades de
vida. Os alunos, por sua vez, dispõem em seu organismo físico-psicológico de aprender, orientar suas dificuldades, indicar métodos de estudo e atividades
meios internos de assimilação ativa, meios que constituem o conjunto de suas que os levem a aprender de forma autônoma e independente.
capacidades cognoscitivas, tais como: percepção, motivação, compreensão,
memória, atenção, atitudes, conhecimentos já disponíveis. c) Dirigir e controlar a atividade docente para os objetivos da
aprendizagem.
2 - Os níveis de aprendizagem
III - A unidade entre ensino e aprendizagem
O autor coloca que, esquematicamente, pode-se dizer que existem dois
níveis de aprendizagem humana: o reflexo e o cognitivo. O nível reflexo se Segundo o autor, a relação entre ensino e aprendizagem é uma rela-
refere às nossas sensações pelas quais desenvolvemos processos de ção recíproca na qual se destacam o papel dirigente do professor e a
observação e percepção das coisas e nossas ações motoras (físicas) no atividade dos alunos.
ambiente. Destaca o autor que a aprendizagem é uma forma do conhecimento
Estas aprendizagem são responsáveis pela formação de hábitos sen- humano - relação cognitiva entre aluno e matéria de estudo - desenvolven-
sório-motores e são as que predominam na fase inicial de desenvolvimento do-se sob as condições específicas do processo de ensino.
da criança. É importante que o processo de ensino estabeleça exigências e expec-
Entrelaçado com o nível reflexo, o nível cognitivo se refere à aprendi- tativas que os alunos possam cumprir, e com isso mobilizem suas energias
zagem de determinados conhecimentos e operações mentais, caracteriza- Estrutura, componentes e dinâmica do processo de ensino
da pela apreensão consciente, compreensão e generalização das proprie- Para Libâneo, o processo didático se explicita pela ação recíproca de
dades e relações essenciais da realidade, bem como pela aquisição de três componentes - os conteúdos, o ensino e a aprendizagem - que operam
modos de ação e aplicação referentes a essas propriedades e relações. em referência a objetivos que expressam determinadas exigências sócio-

Didática 31 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
políticas e pedagógicas e sob um conjunto de condições de uma situação internas do ensino, de modo que pela atividade dos alunos os conhecimen-
didática concreta. tos e habilidades façam progredir seu desenvolvimento mental. A essa
Segundo ele, os conteúdos de ensino compreendem as matérias nas atividade, cujo fim direto e específico é favorecer a aprendizagem ativa, o
quais são sistematizados os conhecimentos, formando a base para a autor denomina de estudo ativo.
concretização de objetivos. O ensino é a atividade do professor de organi- O estudo ativo e o ensino
zação, seleção e explicação dos conteúdos, organização das atividades de
estudo dos alunos, encaminhando objetivos, métodos, formas organizativas Segundo o autor o ensino ativo consiste de atividades dos alunos nas
e meios mais adequados em função da aprendizagem dos alunos. A apren- tarefas de observação e compreensão de fatos da vida diária ligados à
dizagem é a atividade do aluno de assimilação de conhecimentos e habili- matéria, no comportamento de atenção à explicação do professor, na
dades. conversação entre professor e alunos da classe , nos exercícios, no traba-
lho de discussão em grupo, etc. Tais atividades possibilitam a assimilação
Para o autor, o processo de ensino, efetivado pelo trabalho docente, de conhecimentos e habilidades e, por meio destes, o desenvolvimento das
constitui-se de um sistema articulado dos seguintes componentes: objeti- capacidades cognoscitivas como a percepção das coisas, o pensamento,
vos, conteúdos, métodos e condições. etc.
Ele coloca que o processo de ensino é impulsionado por fatores ou O autor afirma que todo estudo ativo é sempre precedido do trabalho
condições específicas já existentes ou que cabe ao professor criar, a fim de do professor.
atingir os objetivos escolares, isto é, o domínio pelos alunos de conheci-
mentos, habilidades e hábitos e o desenvolvimento de suas capacidades
cognoscitivas. A atividade de estudo e o desenvolvimento intelectual
Segundo o autor, pode-se dizer que o essencial do processo didático é Para Libâneo o trabalho docente somente é frutífero quando o ensino
coordenar o movimento de vaivém entre o trabalho conduzido pelo profes- dos conhecimentos e dos métodos de adquirir e aplicar conhecimentos se
sor e a percepção e o raciocínio dos alunos frente a esse trabalho. convertem em conhecimentos, habilidades, capacidades e atitudes do
A estruturação do trabalho docente aluno. Para ele, o objetivo da escola e do professor é formar pessoas
inteligentes, aptas para desenvolver ao máximo possível suas capacidades
Segundo o autor, a estruturação da aula deve refletir o seguinte enten- mentais.
dimento sobre o processo de ensino: um trabalho ativo e conjunto do pro-
fessor e dos alunos, tendo em vista a assimilação consciente e sólida de Segundo ele, o trabalho de planejar as aulas, traçar objetivos, explicar
conhecimentos, habilidades e hábitos pelos alunos e, por esse mesmo a matéria, escolher métodos e procedimentos didáticos, dar tarefas e
processo, o desenvolvimento de suas capacidades cognoscitivas. exercícios, controlar e avaliar o progresso dos alunos destina-se, acima de
tudo, a fazer progredir as capacidades intelectuais dos educandos. Segun-
A estruturação da aula é, segundo ele, a organização, sequência e in- do ele, para enfrentar essa tarefa o professor se defronta com algumas
ter-relação dos momentos do processo de ensino. dificuldades, tais como: não dominar o conteúdo da matéria que ensina, ter
A estruturação do trabalho docente tem uma ligação estreita, segundo muita pressa em vencer o programa, dificuldades em tratar os conteúdos de
o autor, com a metodologia específica das matérias, porém não se identifica uma forma viva, entre outras.
com ela. Tendo em conta o grau escolar, as idades dos alunos, as caracte- Para superar estas dificuldades, Libâneo afirma que há várias manei-
rísticas do desenvolvimento mental, as especificidades de conteúdo e ras, são elas:
metodologia das matérias, o autor identifica cinco momentos da metodolo-
gia do ensino na aula que são articulados entre si, são eles: 1ª - É necessário que o professor domine o conteúdo da matéria;
1 - Orientação inicial dos objetivos de ensino e aprendizagem. 2ª- Cada aula, cada assunto, cada exercício, cada situação didática
dever ser uma tarefa de pensamento para o aluno;
2 - Transmissão/assimilação da matéria nova.
3ª - Não colocar como sendo o mais importante terminar o livro;
3 - Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos, habilidades e
hábitos. 4ª - O ensino deve ser dinâmico e variado;
4 - Aplicação de conhecimentos, habilidades e hábitos. 5ª - O ensino das matérias e o desenvolvimento das capacidades cog-
noscitivas dos alunos devem ir possibilitando a formação da atitude crítica e
5 - Verificação e avaliação dos conhecimentos e habilidades. criadora frente à realidade e ao cotidiano da vida social.
O caráter educativo do processo de ensino e o ensino crítico
Algumas formas de estudo ativo
Segundo o autor, o caráter educativo do ensino está relacionado com
os objetivos do ensino crítico. Para o autor, o estudo ativo envolve uma série de procedimentos que
visam a despertar nos alunos habilidades e hábitos de caráter permanente,
Falando da ligação entre Didática e Pedagogia, o autor afirma que os tais como: fazer anotações no caderno durante a aula; procedimentos de
vínculos dos princípios, condições e meios de direção e organização do observação de objetos, etc.
ensino com as finalidades sócio-políticas e pedagógicas da educação,
fornecem as bases teóricas de uma Didática crítico-social. Além disso, segundo Libâneo, o estudo ativo diz respeito a: exercícios
de reprodução, tarefas de preparação para o estudo, tarefas na fase de
O autor fala em ensino crítico quando as tarefas de ensino e aprendi- assimilação da matéria e tarefas na fase de consolidação e aplicação.
zagem, na sua especificidade, são encaminhadas no sentido de formar
convicções, princípios orientadores da atividade prática humana frente a Fatores que influenciam no estudo ativo
problemas e desafios da realidade social. 1 - A incentivação (ou estimulação ) para o estudo
Sugestões para tarefas de estudo O autor coloca que o incentivo à aprendizagem é o conjunto de estímu-
O autor sugere como perguntas para o trabalho independente dos alu- los que despertam nos alunos a sua motivação para aprender, de forma
nos, entre outras: “O que se deve entender como conteúdos de ensino?” e que as suas necessidades, interesses, desejos, sejam canalizados para as
“Definir aprendizagem e dar exemplos” . tarefas de estudo.
O autor define motivação como o conjunto das forças internas que im-
Bibliografia complementar pulsionam o nosso comportamento para objetivos e cuja direção é dada
Como bibliografia complementar, entre outras, o autor cita: SOARES, pela nossa inteligência.
Magda B. Linguagem e Escola - Uma Perspectiva Social . São Paulo, Ática, Pode-se dizer que a motivação influi na aprendizagem e a aprendiza-
1986 e SAVIANI, Dermeval. O Ensino Básico e o Processo de Democrati- gem influi na motivação, segundo o autor.
zação da Sociedade Brasileira. Revista Ande, (7): 9-13, São Paulo, 1984.
O autor salienta que é importante a organização do trabalho do profes-
O Processo de Ensino e o Estudo Ativo sor na direção e no provimento das condições e modos de incentivar o
O autor coloca que, neste capítulo, vai estudar mais detalhadamente estudo ativo.
como o professor pode dirigir, estimular e orientar as condições externas e

Didática 32 A Opção Certa Para a Sua Realização


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2 - O conhecimento das condições de aprendizagem do aluno transmissão e assimilação ativa das matérias de estudo.
O autor coloca que a incentivação como condição de incitamento das Objetivos gerais e objetivos específicos
forças cognoscitivas dos alunos depende do conhecimento das característi-
cas individuais e sócio-culturais dos alunos. Segundo o autor, os objetivos gerais são explicitados em três níveis de
abrangência, do mais amplo ao mais específico:
Libâneo acredita que o ensino não pode deixar de apoiar-se na experi-
ência e no senso comum das crianças, cultivando-o e livrando-o dos equí- a) pelo sistema escolar, que expressa as finalidades educativas de
vocos e dos conhecimentos não-científicos; mas sua tarefa fundamental é acordo com ideais e valores dominantes na sociedade;
assegurar o trânsito do senso comum aos conhecimentos científicos. b) pela escola, que estabelece princípios e diretrizes de orientação
3 - A influência do professor e do ambiente escolar do trabalho escolar com base num plano pedagógico-didático que represen-
te o consenso do corpo docente em relação à filosofia da educação e à
Segundo o autor, é de extrema importância a personalidade e a atitude prática escolar;
profissional do docente.
c) pelo professor, que concretiza no ensino da matéria a sua pró-
A seriedade profissional do professor, segundo o autor, manifesta-se pria visão de educação e de sociedade.
quando compreende o seu papel de instrumentalizar os alunos para a
conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática; incute-lhes a O autor cita alguns objetivos educacionais gerais que podem auxiliar ao
importância do conhecimento das lutas dos trabalhadores; orienta-os positi- professores na seleção de objetivos específicos e conteúdos de ensino,
vamente para as tarefas da vida adulta. entre eles estão:
Tais propósitos devem ser concretizados na prática, através de aulas a) colocar a educação escolar no conjunto das lutas pela democratiza-
planejadas onde se evidenciem: a segurança nos conteúdos e nos métodos ção da sociedade, que consiste na conquista, pelo conjunto da população,
de ensino, a constância e firmeza no cumprimento das exigências escolares das condições materiais, sociais, políticas e culturais através das quais se
pelos alunos; o respeito no relacionamento com os alunos. assegura a ativa participação de todos na direção da sociedade.
Também o ambiente escolar pode exercer, segundo o autor, um efeito b) assegurar a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de su-
estimulador para o estudo ativo dos alunos. Assim, os professores devem as potencialidades, tendo em vista auxiliá-las na superação das desvanta-
unir-se à direção da escola e aos pais para tornar a escola um lugar agra- gens decorrentes das condições sócio-econômicas desfavoráveis.
dável e acolhedor. Libâneo coloca que os objetivos específicos particularizam a compre-
ensão das relações entre escola e sociedade e especialmente do papel da
Sugestões para tarefas de estudo matéria de ensino. Eles expressam, assim, as expectativas do professor
Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos, sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo de ensino e
o autor cita, entre outras: “Quais são as características do estudo ativo?” e têm um caráter pedagógico por explicitarem o rumo a ser imprimido ao
“Quais as relações entre o trabalho docente e o estudo ativo?”. trabalho escolar, em torno de um programa de formação.
Bibliografia complementar Segundo o autor, a cada matéria de ensino correspondem objetivos
que expressam resultados a obter: conhecimentos, habilidades e hábitos,
Como bibliografia complementar, o autor cita, entre outras: FREIRE, atitudes e convicções, através dos quais se busca o desenvolvimento das
Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo, Cortez/Autores Associados, capacidades cognoscitivas dos alunos.
1978 e LUCKESI, Cipriano C. et alii. Fazer Universidade: Uma Proposta
Metodológica. São Paulo, Cortez, 1986. Os conteúdos de ensino
Os Objetivos e Conteúdos de Ensino O autor coloca que o ensino dos conteúdos deve ser visto como a ação
recíproca entre a matéria, o ensino e o estudo dos alunos.
Neste capítulo o autor trata dos seguintes assuntos: importância dos
objetivos educacionais, objetivos gerais e objetivos específicos, os conteú- 1 - O que são os conteúdos
dos do ensino e critérios de seleção dos conteúdos. Para Libâneo, conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos,
habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social,
A importância dos objetivos educacionais organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação
O autor afirma que a prática educacional se orienta, necessariamente, ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, assim:
para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e conceitos, ideias, fatos, processos, etc. e são expressos nos programas
sistemática. Os objetivos educacionais, segundo o autor, então, expressam oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, entre outros.
propósitos definidos e explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades Segundo o autor, pode-se dizer que os conteúdos retratam a experiên-
humanas que todos os indivíduos precisam adquirir para se capacitarem cia social da humanidade no que se refere a conhecimentos e modos de
para as lutas sociais de transformação da sociedade. Segundo ele, pode- ação, transformando-se em instrumentos pelos quais os alunos assimilam,
mos dizer que não há prática educativa sem objetivos. compreendem e enfrentam as exigências teóricas da vida social.
Segundo Libâneo, os objetivos educacionais têm pelo menos três refe- Os conteúdos são organizados em matérias de ensino e dinamizados
rências para sua formulação: pela articulação objetivos-conteúdos-métodos e formas de organização do
os valores e ideais proclamados na legislação educacional e que ensino, nas condições reais em que ocorre o processo de ensino.
expressam os propósitos das forças políticas dominantes no sistema social; A escolha dos conteúdos de ensino, segundo o autor, parte deste prin-
os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados no cípio básico: os conhecimentos e modos de ação surgem da prática social e
decurso da prática social da humanidade; histórica dos homens e vão sendo sistematizados e transformados em
as necessidades e expectativas de formação cultural exigidas objetos de conhecimento; assimilados e reelaborados, são instrumentos de
pela população majoritária da sociedade, decorrentes das condições con- ação para atuação na prática social e histórica.
cretas de vida e de trabalho e das lutas pela democratização. 2 - Os elementos dos conteúdos de ensino
O autor considera, no texto, dois níveis de objetivos educacionais, são Segundo o autor, os conteúdos de ensino se compõem de quatro ele-
eles: objetivos gerais e objetivos específicos. Os objetivos gerais expres- mentos: conhecimentos sistematizados; habilidades e hábitos; atitudes e
sam, segundo o autor, propósitos mais amplos acerca do papel da escola e convicções.
do ensino diante das exigências postas pela realidade social e diante do Os conhecimentos sistematizados são a base da instrução e do ensino,
desenvolvimento da personalidade dos alunos. Definem, em grandes os objetos de assimilação e meio indispensável para o desenvolvimento
linhas, perspectivas da prática educativa na sociedade brasileira, que serão global da personalidade.
depois convertidas em objetivos específicos de cada matéria de ensino,
conforme os graus escolares e níveis de idade dos alunos. Os objetivos As habilidades são qualidades intelectuais necessárias para a atividade
específicos de ensino determinam exigências e resultados esperados da mental no processo de assimilação de conhecimentos e os hábitos são
atividade dos alunos, referentes a conhecimentos, habilidades, atitudes e modos de agir relativamente automatizados que tornam mais eficaz o
convicções cuja aquisição e desenvolvimento ocorrem no processo de estudo ativo e independente.

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As atitudes e convicções se referem a modos de agir, de sentir e de se entre si. O sistema de conhecimentos de cada matéria deve garantir uma
posicionar frente a tarefas da vida social. lógica interna, que permita uma interpenetração entre os assuntos.
Segundo o autor, os elementos constitutivos dos conteúdos convergem 4 - Relevância social
para a formação das capacidades cognoscitivas. Para o autor, a relevância social dos conteúdos significa incorporar no
3 - Quem deve escolher os conteúdos de ensino programa as experiências e vivências das crianças na sua situação social
São três as fontes, segundo o autor, que o professor utilizará para se- concreta, para contrapor as noções de uma sociedade idealizada e de um
lecionar os conteúdos do plano de ensino e organizar as suas aulas: a tipo de vida e de valores distanciados do cotidiano das crianças que, fre-
programação oficial na qual são fixados os conteúdos de cada matéria; os quentemente, aparecem nos livros didáticos.
próprios conteúdos básicos das ciências transformadas em matérias de 5 - Acessibilidade e solidez
ensino; as exigências teóricas e práticas colocadas pela prática de vida dos O autor coloca que acessibilidade significa compatibilizar os conteúdos
alunos, tendo em vista o mundo do trabalho e a participação democrática com o nível de preparo e desenvolvimento mental dos alunos. Segundo ele,
na sociedade. se os conteúdos são acessíveis e didaticamente organizados, sem perder o
4 - A dimensão crítico-social dos conteúdos caráter científico e sistematizado, haverá mais garantia de uma assimilação
Segundo o autor, a dimensão crítico-social dos conteúdos corresponde sólida e duradoura, tendo em vista a sua utilização nos conhecimentos
à abordagem metodológica dos conteúdos na qual os objetos de conheci- novos e a sua transferência para as situações práticas.
mento (fatos, leis, etc.) são apreendidos nas suas propriedades e caracte- Sugestões para tarefas de estudo
rísticas próprias e, ao mesmo tempo, nas suas relações com outros fatos e Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos,
fenômenos da realidade, incluindo especificamente as ligações e nexos o autor cita, entre outras: “Como se articulam objetivos gerais e objetivos
sociais que os constituem como tais (como objetos conhecimento). O específicos?” e “Quais são as relações básicas entre objetivos e conteú-
conhecimento é considerado, nessa perspectiva, como vinculado a objeti- dos?”.
vos socialmente determinados, a interesses concretos a que estão implica-
das as tarefas da educação escolar. Bibliografia complementar
A dimensão crítico-social dos conteúdos é uma metodologia de estudo Como bibliografia complementar o autor cita, entre outros: NIDEL-
e interpretação dos objetos de conhecimento - explicitados nas matérias de COFF, Maria T. As Ciências Sociais na Escola. São Paulo. Brasiliense,
ensino - como produtos da atividade humana e a serviço da prática social. 1987 e SAVIANE, Dermeval, entrevista concedida ao jornal La Hora, de
Segundo o autor, a dimensão crítico-social dos conteúdos, tendo como 28.02.87, de Montevidéu (Uruguai).
base para sua aplicação no ensino a unidade e a relação objetivos- Os Métodos de Ensino
conteúdos-métodos, possibilita aos alunos a aquisição de conhecimentos
Segundo o autor, os métodos são determinados pela relação objetivo-
que elevem o grau de compreensão da realidade (expressa nos conteúdos)
conteúdo, e referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e específi-
e a formação de convicções e princípios reguladores da ação na vida
cos do ensino.
prática.
Neste capítulo ele trabalha com os temas: conceito de método de ensi-
5 - Os conteúdos e o livro didático
no; a relação objetivo-conteúdo-método; os princípios básicos do ensino e a
Segundo Libâneo, na sociedade atual, há uma distinção dos conteúdos classificação dos métodos de ensino.
de ensino para diferentes grupos sociais: para uns, esses conteúdos refor-
çam os privilégios, para outros fortalecem o espírito de submissão e con- Conceito de método de ensino
formismo. Segundo Libâneo, o método de ensino expressa a relação conteúdo-
Para o autor, os livros didáticos se prestam a sistematizar e difundir co- método, no sentido de que tem como base um conteúdo determinado.
nhecimentos mas servem, também, para encobrir ou escamotear aspectos O autor coloca que se pode dizer que os métodos de ensino são as
da realidade, conforme modelos de descrição e explicação da realidade ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos
consoantes com os interesses econômicos e sociais dominantes na socie- alunos para atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo
dade. específico. Eles regulam as formas de interação entre ensino e aprendiza-
Ressalta Libâneo que, ao recorrer ao livro didático para escolher os gem, entre professor e os alunos, cujo resultado é a assimilação consciente
conteúdos, elaborar o plano de ensino e de aulas, é necessário ao profes- dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e
sor o domínio seguro da matéria e bastante sensibilidade crítica. De um operativas dos alunos.
lado, os seus conteúdos são necessários e, quanto mais aprofundados, A relação objetivo-conteúdo-método
mais possibilitam um conhecimento crítico dos objetos de estudo, pois os
conhecimentos sempre abrem novas perspectivas e alargam a compreen- Segundo o autor, a relação objetivo-conteúdo-método tem como carac-
são do mundo. Por outro lado, esses conteúdos não podem ser tomados terística a mútua interdependência. O método de ensino é determinado pela
como estáticos, imutáveis e sempre verdadeiros, por isso é preciso confron- relação objetivo-conteúdo, mas pode também influir na determinação de
tá-los com a prática de vida dos alunos e com a realidade. objetivos e conteúdos. Segundo ele, a matéria de ensino é o elemento de
referência para a elaboração dos objetivos específicos que, uma vez defini-
Critérios de seleção dos, orientam a articulação dos conteúdos e métodos, tendo em vista a
1 - Correspondência entre objetivos gerais e conteúdos atividade de estudo dos alunos. Por sua vez, os métodos, à medida que
expressam formas de transmissão e assimilação de determinadas matérias,
Segundo o autor, os conteúdos devem expressar objetivos sociais e
atuam na seleção de objetivos e conteúdos.
pedagógicos da escola pública sintetizados na formação cultural e científica
para todos. Se a educação escolar deve exercer a sua contribuição no Os princípios básicos do ensino
conjunto das lutas pela transformação da sociedade, deve-se ter em mente Segundo o autor, os princípios do ensino são aspectos gerais do pro-
que os conteúdos sistematizados visam a instrumentalizar as crianças e cesso de ensino que expressam os fundamentos teóricos de orientação do
jovens das camadas populares para a sua participação ativa no campo trabalho docente.
econômico, social, político e cultural.
Segundo o autor, as exigências práticas da sala de aula requerem al-
2 - Caráter científico gumas indicações que orientam a atividade consciente dos professores no
Segundo o autor, os conhecimentos que fazem parte do conteúdo refle- rumo dos objetivos gerais e específicos do ensino.
tem os fatos, conceitos, métodos decorrentes da ciência moderna. No Estão listadas a seguir essas indicações:
processo de ensino, trata-se de selecionar as bases das ciências, transfor-
madas em objetos de ensino necessárias à educação geral. 1) Ter caráter científico e sistemático;
3 - Caráter sistemático 2) Ser compreensível e possível de ser assimilado;
Para o autor, o programa de ensino deve ser delineado em conheci- 3) Assegurar a relação conhecimento-prática;
mentos sistematizados e não em temas genéricos e esparsos, sem ligação 4) Assentar-se na unidade ensino-aprendizagem;

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5) Garantir a solidez dos conhecimentos; Continua ele, dizendo que a aula é toda situação didática na qual se
6) Levar à vinculação trabalho coletivo - particularidades individuais; põem objetivos, conhecimentos, problemas, desafios, com fins instrutivos e
formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender.
Classificação dos métodos de ensino
Estruturação didática da aula
Segundo o autor, em função do critério, no qual a direção do ensino se
orienta para a ativação das forças cognoscitivas do aluno, pode-se classifi- Segundo o autor, o trabalho docente, sendo uma atividade intencional
car os métodos de ensino segundo os seus aspectos externos (método de e planejada, requer estruturação e organização, a fim de que sejam atingi-
exposição pelo professor, método de trabalho relativamente independente dos os objetivos do ensino.
do aluno, método de elaboração conjunta e método de trabalho em grupos) O autor salienta que a estruturação da aula é um processo que implica
e seus aspectos internos (passos ou funções didáticas e procedimentos criatividade e flexibilidade do professor, isto é, a perspicácia de saber o que
lógicos e psicológicos de assimilação da matéria). fazer frente a situações didáticas específicas, cujo rumo nem sempre é
1 - Método de exposição pelo professor previsível.
Neste método, os conhecimentos, habilidades e tarefas são apresenta- Libâneo coloca que se deve entender as etapas ou passos didáticos
das, explicadas ou demonstradas pelo professor. A atividade dos alunos é como tarefas do processo de ensino relativamente constantes e comuns a
receptiva, embora não necessariamente passiva. todas as matérias, considerando-se que não há entre elas uma sequência
necessariamente fixa, e que dentro de uma etapa se realizam simultanea-
Entre as formas de exposição, o autor cita a exposição verbal, a de- mente outras.
monstração, a ilustração e a exemplificação.
Os passos didáticos apresentados pelo autor são: preparação e intro-
2 - Método de trabalho independente dução da matéria; tratamento didático da matéria nova; consolidação e
O autor coloca que o método de trabalho independente dos alunos aprimoramento dos conhecimentos e habilidades; aplicação; controle e
consiste de tarefas, dirigidas e orientadas pelo professor, para que os avaliação.
alunos as resolvam de modo relativamente independente e criador. 1 - Preparação e introdução da matéria
O autor considera como sendo o aspecto mais importante do trabalho Segundo o autor, esta fase corresponde ao momento inicial de prepa-
independente a atividade mental dos alunos, qualquer que seja a modalida- ração para o estudo da matéria nova. Compreende atividades interligadas:
de de tarefa planejada pelo professor para estudo individual. a preparação prévia do professor, a preparação dos alunos, a introdução da
3 - Método de elaboração conjunta matéria e a colocação didática dos objetivos.
Segundo o autor, a elaboração é uma forma de interação ativa entre o 2 - Tratamento didático da matéria nova
professor e os alunos visando à obtenção de novos conhecimentos, habili- Nesta etapa, segundo o autor, realiza-se a percepção dos objetos e
dades, atitudes e convicções, bem como a fixação e consolidação de fenômenos ligados ao tema, a formação dos conceitos, o desenvolvimento
conhecimentos e convicções já adquiridos. A forma mais típica do método das capacidades cognoscitivas de observação, imaginação e de raciocínio
de elaboração conjunta é a conversação didática, sendo que a forma mais dos alunos.
usual de sua organização é a pergunta.
Libâneo sintetiza os momentos interligados do processo de transmis-
4 - Método de trabalho em grupo são-assimilação, que ele considera a base metodológica para o tratamento
Este método de trabalho em grupos ou aprendizagem em grupo consis- didático da matéria nova:
te basicamente em distribuir temas de estudo iguais ou diferentes a grupos uma aproximação inicial do objeto de estudo para ir formando as
fixos ou variáveis, compostos de 3 a 5 alunos. primeiras noções, através da atividade perceptiva, sensorial. Isso
5 - Atividades especiais se faz, na aula, através da observação direta, conversação didáti-
O autor destaca entre as atividades especiais, que são aquelas que ca, explorando a percepção que os alunos têm do tema estudado;
complementam os métodos de ensino e que concorrem para a assimilação deve-se ir gradativamente sistematizando as noções;
ativa dos conteúdos, o estudo do meio. elaboração mental dos dados iniciais, tendo em vista a compreen-
são mais aprofundada por meio da abstração e generalização, até
Meios de ensino
consolidar conceitos sobre os objetos de estudo;
O autor chama de meios de ensino todos os meios e recursos materiais
sistematização das ideias e conceitos de um modo que seja possí-
utilizados pelo professor e pelos alunos para a organização e condução
vel operar mentalmente com eles em tarefas teóricas e práticas,
metódica do processo de ensino e aprendizagem.
em função da matéria seguinte e em função da solução de proble-
Sugestões para tarefas de estudo mas novos da matéria e da vida prática.
O autor cita algumas perguntas para o trabalho independente dos alu- 3 - Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos e habilidade
nos, entre elas: “Por que não pode existir um método único de ensino?” e Segundo o autor, a consolidação pode dar-se em qualquer etapa do
“Explicar o princípio da atividade consciente e autônoma do aluno e o papel processo didático: antes de iniciar matéria nova, recorda-se, sistematiza-se,
dirigente do professor”. são realizados exercícios em relação à matéria anterior; no estudo do novo
Bibliografia complementar conteúdo, ocorre paralelamente às atividades de assimilação e compreen-
Como bibliografia complementar o autor cita, além de outras: MAR- são. Mas constitui, também, um momento determinado do processo didáti-
TINS, José do Prado. Didática Geral. São Paulo. Ática, 1986 e NERICI, co, quando é posterior à assimilação inicial e compreensão da matéria.
Imídeo. Didática - Uma Introdução. São Paulo. Atlas, 1986. A consolidação, segundo Libâneo, pode ser reprodutiva ( que tem caráter
de exercitação), de generalização (implica a integração de conhecimentos de
A Aula como Forma de Organização do Ensino forma que os alunos estabeleçam relações entre conceitos, analisem os fatos
e fenômenos sob vários pontos de vista, façam a ligação dos conhecimentos
Segundo Libâneo, deve-se entender a aula como o conjunto dos meios com novas situações e fatos da prática social) e criativa (refere-se a tarefas
e condições pelos quais o professor dirige e estimula o processo de ensino que levam ao aprimoramento do pensamento independente e criativo).
em função da atividade própria do aluno no processo da aprendizagem
escolar, ou seja, a assimilação consciente e ativa dos conteúdos. 4 - A aplicação
Segundo o autor, a aplicação é a culminância relativa do processo de
Características gerais da aula ensino. Ela ocorre em todas as demais etapas, mas aqui se trata de prover
Segundo o autor, cada aula é uma situação didática específica, na qual oportunidades para os alunos utilizarem de forma mais criativa os conheci-
objetivos e conteúdos se combinam com métodos e formas didáticas, mentos, unindo teoria e prática, aplicando conhecimentos, seja na própria
visando fundamentalmente a propiciar a assimilação ativa de conhecimen- prática escolar, seja na vida social. O objetivo da aplicação é estabelecer
tos e habilidades pelos alunos. Na aula se realiza, assim, a unidade entre vínculos do conhecimento com a vida, de modo a suscitar independência
ensino e estudo, como que convergindo nela os elementos constitutivos do de pensamento e atitudes críticas e criativas expressando a sua compreen-
processo didático. são da prática social.

Didática 35 A Opção Certa Para a Sua Realização


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5 - Controle e avaliação dos resultados escolares Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou
Segundo o autor, a verificação e controle do rendimento escolar para qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e
efeito de avaliação é uma função didática que percorre todas as etapas do expressos em juízos de valor acerca do aproveitamento escolar.
ensino, e abrange a consideração dos vários tipos de atividades do profes- No texto, a avaliação é considerada uma tarefa complexa que não se
sor e dos alunos no processo de ensino. A avaliação do ensino e da apren- resume à realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas
dizagem deve ser visto como um processo sistemático e contínuo, no proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitati-
decurso do qual vão sendo obtidas informações e manifestações acerca do va. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnósti-
desenvolvimento das atividades docentes e discentes, atribuindo-lhes co e de controle em relação às quais se recorre a instrumentos de verifica-
juízos de valor. ção do rendimento escolar.
Tipos de aulas e métodos de ensino Uma definição de avaliação escolar
Segundo Libâneo, em princípio, a programação de aulas correspon- Libâneo cita o professor Cipriano Carlos Luckesi, que diz que a avalia-
dentes a cada passo didático ou a utilização de todos os passos numa só ção é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de
aula depende dos objetivos e conteúdos da matéria, das habilidades e ensino e aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o
capacidades mentais exigidas nas tarefas, do número de aulas semanais e seu trabalho. Os dados relevantes se referem às várias manifestações das
da própria duração da aula, conforme o sistema adotado em cada escola. situações didáticas, nas quais o professor e os alunos estão empenhados
Na concepção de ensino que o autor propõe, as tarefas docentes vi- em atingir os objetivos do ensino. A apreciação qualitativa desses dados,
sam a organizar a assimilação ativa, o estudo independente dos alunos, a através da análise de provas, exercícios, respostas dos alunos, realização
aquisição de métodos de pensamento, a consolidação do aprendido. Isso de tarefas, etc., permite uma tomada de decisão para o que deve ser feito
significa que, sempre de acordo com os objetivos e conteúdos da matéria, em seguida.
as aulas poderão ser previstas em correspondência com as etapas ou Libâneo afirma que se pode, então, definir a avaliação escolar como
passos do processo de ensino. um componente do processo de ensino a que visa, através da verificação e
Segundo o autor, em qualquer tipo de aula, entretanto, deve existir a qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes
preocupação de verificação das condições prévias, de orientação dos com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em rela-
alunos para os objetivos, de consolidação e de avaliação. ção às atividades didáticas seguintes.
Segundo o autor, não há um processo de ensino único, mas processos Nos diversos momentos do processo de ensino, são tarefas de avalia-
concretos, determinados pela especificidade das matérias e pelas circuns- ção: a verificação, a qualificação e a apreciação qualitativa.
tâncias de cada situação concreta. Além disso, os passos didáticos são Verificação: coleta de dados sobre o aproveitamento dos alunos,
interdependentes e se penetram mutuamente. A preparação e a introdução através de provas, exercícios e tarefas ou de meios auxiliares, como obser-
do tema no início da aula pode incluir exercícios, recordação da matéria vação de desempenho, entrevistas etc.
anterior. O tratamento didático da matéria implica a recordação da matéria Qualificação: comprovação dos resultados alcançados em rela-
anterior, a sondagem dos conhecimentos que os alunos já trazem. A orien- ção aos objetivos e, conforme o caso, atribuição de notas ou conceitos.
tação para os objetivos, na fase de introdução do tema, bem como a avalia-
ção estão presentes em todos os passos, e assim por diante. Apreciação qualitativa: avaliação propriamente dita dos resulta-
dos, referindo-os a padrões de desempenho esperados.
A tarefa de casa Segundo o autor, a avaliação escolar cumpre pelo menos três funções:
Para Libâneo a tarefa para casa é um importante complemento didático pedagógico-didática, de diagnóstico e de controle.
para a consolidação, estreitamente ligada ao desenvolvimento das aulas. A A função pedagógico-didática se refere ao papel da avaliação no cum-
tarefa para casa consiste de tarefas de aprendizagem realizadas fora do primento dos objetivos gerais e específicos da educação escolar. Ao se
período escolar. Tanto quanto os exercícios de classe e as verificações comprovar sistematicamente os resultados do processo de ensino, eviden-
parciais de aproveitamento, elas indicam ao professor as dificuldades dos cia-se ou não o atendimento das finalidades sociais do ensino, de prepara-
alunos e as deficiências da estruturação didática do seu trabalho. Exercem ção dos alunos para enfrentarem as exigências da sociedade, de inseri-los
também uma função social, pois através delas os pais tomam contato com no processo global de transformação social e de propiciar meios culturais
o trabalho realizado na escola, na classe dos seus filhos, sendo um impor- de participação ativa nas diversas esferas da vida social.
tante meio de interação dos pais com os professores e destes com aqueles.
Ao mesmo tempo, favorece uma atitude mais responsável do aluno em
Segundo o autor, essas tarefas não devem constituir-se apenas exercí- relação ao estudo, assumindo-o como um dever social. Cumprindo sua
cios; consistem, também, de tarefas preparatórias para a aula (leituras, etc.) função didática, a avaliação contribui para a assimilação e fixação, pois a
ou de tarefas de aprofundamento da matéria (um estudo dirigido individual, correção dos erros cometidos possibilita o aprimoramento, a ampliação e o
etc.). aprofundamento de conhecimentos e habilidades e, desta forma, o desen-
Sugestões para tarefas de estudo volvimento das capacidades cognoscitivas.
O autor sugere perguntas para o trabalho independente dos alunos, en- A função de diagnóstico permite, segundo o autor, identificar progres-
tre outras: “Explicar as funções que deve ter a aula para atingir os objetivos sos e dificuldades dos alunos e a atuação do professor que, por sua vez,
do ensino” e “Como devem ser combinados os tipos de aula e os métodos determinam modificações do processo de ensino para melhor cumprir as
de ensino?”. exigências dos objetivos. Na prática escolar cotidiana, a função de diagnós-
tico é mais importante porque é a que possibilita a avaliação do cumprimen-
Bibliografia complementar to da função pedagógico-didática e a que dá sentido pedagógico à função
Como bibliografia complementar, o autor sugere, entre outras: AUSU- de controle. A avaliação diagnóstica ocorre no início, durante e no final do
BEL, David P. et alii. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro, Interamerica- desenvolvimento das aulas ou unidades didáticas. No início, verificam-se as
na, 1980 e SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. São Paulo, Cor- condições prévias dos alunos de modo a prepará-los para o estudo da
tez/Autores associados, 1986. matéria nova. Esta etapa inicial é de sondagem de conhecimentos e de
experiências já disponíveis bem como de provimento dos pré-requisitos
A Avaliação Escolar para a sequência da unidade didática. Durante o processo de transmissão e
Segundo o texto, a avaliação é uma tarefa didática necessária e per- assimilação é feito o acompanhamento do progresso dos alunos, apreci-
manente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o ando os resultados, corrigindo falhas, esclarecendo dúvidas, estimulando-
processo de ensino e aprendizagem. os a continuarem trabalhando até que alcancem resultados positivos. Ao
Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do tra- mesmo tempo, essa avaliação fornece ao professor informações sobre
balho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos como ele está conduzindo o seu trabalho: andamento da matéria, adequa-
propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o traba- ção de métodos e materiais, comunicação com os alunos, adequabilidade
lho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o da sua linguagem etc. Finalmente, é necessário avaliar os resultados da
nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. aprendizagem no final de uma unidade didática, do bimestre ou do ano

Didática 36 A Opção Certa Para a Sua Realização


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letivo. A avaliação global de um determinado período de trabalho também dos à repetência são isolados no canto da sala de aula e, não raro, aban-
cumpre a função de realimentação do processo de ensino. donam a escola.
A função de controle, segundo o autor, refere-se aos meios e à fre- O quarto equívoco é daqueles professores que rejeitam as medidas
quência das verificações e de qualificação dos resultados escolares, possi- quantitativas de aprendizagem em favor de dados qualitativos. Consideram
bilitando o diagnóstico das situações didáticas. Há um controle sistemático que as provas de escolaridade são prejudiciais ao desenvolvimento autô-
e contínuo que ocorre no processo de interação professor-alunos no decor- nomo das potencialidades e da criatividade dos alunos. Acreditam que,
rer das aulas, através de uma variedade de atividades, que permite ao sendo a aprendizagem decorrente preponderantemente da motivação
professor observar como os alunos estão se conduzindo na assimilação de interna do aluno, toda situação de prova leva à ansiedade, à inibição e ao
conhecimentos e habilidade e no desenvolvimento das capacidades men- cerceamento do crescimento pessoal. Por isso, recusam qualquer quantifi-
tais. Neste caso, não se deve quantificar os resultados. O controle parcial e cação dos resultados.
final se refere a verificações efetuadas durante o bimestre, no final do Os equívocos apontados por Libâneo, mostram, segundo ele, duas po-
bimestre e no final do semestre ou ano, caso a escola exija o exame final. sições extremas em relação à avaliação escolar: considerar apenas os
Segundo o autor, essas funções atuam de forma independente, não aspectos quantitativos ou apenas os qualitativos. No primeiro caso, a
podendo ser consideradas isoladamente. A função pedagógico-didática avaliação é vista apenas como medida e, ainda assim, mal utilizada. No
está referida aos próprios objetivos do processo de ensino e diretamente segundo caso, a avaliação se perde na subjetividade de professores e
vinculada às funções de diagnóstico e de controle. A função diagnóstica se alunos, além de ser uma atitude muito fantasiosa quanto aos objetivos da
torna esvaziada se não estiver referida à função pedagógico-didática e se escola e à natureza das relações pedagógicas.
não for suprida de dados e alimentada pelo acompanhamento do processo O entendimento correto da avaliação, segundo ele, consiste em consi-
de ensino que ocorre na função de controle. A função de controle, sem a derar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e qualitativos. A
função diagnóstico e sem o seu significado pedagógico-didático, fica res- escola cumpre uma função determinada socialmente, a de introduzir as
tringida à simples tarefa de atribuição de notas e classificação. crianças e jovens no mundo da cultura e do trabalho; tal objetivo social não
Avaliação na prática escolar surge espontaneamente na experiência das crianças e jovens, mas supõe
as perspectivas traçadas pela sociedade e um controle por parte do profes-
Para Libâneo a prática de avaliação em nossas escolas tem sido criti- sor. Por outro lado, a relação pedagógica requer a interdependência entre
cada, sobretudo, por reduzir-se à sua função de controle, mediante a qual influências externas e condições internas dos alunos; o professor deve
se faz uma classificação quantitativa dos alunos relativa às notas que organizar o ensino, mas o seu objetivo é o desenvolvimento autônomo e
obtiveram nas provas. Os professores não têm conseguido usar os proce- independente dos alunos. Desse modo, a quantificação deve transformar-
dimento de avaliação - que, sem dúvida, implicam o levantamento de dados se em qualificação, isto é, numa apreciação qualitativa dos resultados
por meio de testes, trabalhos escritos etc. - para atender a sua função verificados.
educativa. Em relação aos objetivos, funções e papel da avaliação na
melhoria das atividades escolares e educativas, têm-se verificado, segundo Ele considera que a atitude de dar notas somente com base em provas
ele, na prática escolar alguns equívocos. escritas tem limitações. As provas frequentemente são empregadas apenas
para medir capacidade de memorização. Os livros didáticos e as tarefas
O mais comum, segundo ele, é tomar a avaliação unicamente como o dadas pelos professores estão repletos de exercícios desse tipo. Os pro-
ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. O professor fessores, por sua vez, têm dificuldades em avaliar resultados mais impor-
reduz a avaliação à cobrança daquilo que o aluno memorizou e usa a nota tantes do processo de ensino, como a compreensão, a originalidade, a
somente como instrumento de controle. Continua ele, dizendo que, ainda capacidade de resolver problemas, a capacidade de fazer relações entre
hoje há professores que se vangloriam por deter o poder de aprovar ou fatos e ideias etc.
reprovar. Quantas vezes se ouvem afirmações inteiramente falsas sobre o
que deve ser um trabalho docente de qualidade, como por exemplo: “O Entretanto, coloca ele, as provas escritas e outros instrumentos de veri-
professor X é excelente, reprova mais da metade da classe”, “O ensino ficação são meios necessários de obtenção de informação sobre o rendi-
naquela escola é muito puxado, poucos alunos conseguem aprovação”. mento dos alunos. A escola, os professores, os alunos e os pais necessi-
tam da comprovação quantitativa e qualitativa dos resultados do ensino e
Tal ideia é descabida, segundo o autor, primeiro porque a atribuição de da aprendizagem para analisar e avaliar o trabalho desenvolvido. Além
notas visa apenas ao controle formal, com objetivo classificatório e não disso, por mais que o professor se empenhe na motivação interna dos
educativo; segundo, porque o que importa é o veredicto do professor sobre alunos, nem sempre conseguirá deles o desejo espontâneo para o estudo.
o grau de adequação e conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. As crianças precisam de estimulação externa, precisam sentir-se desafia-
Essa atitude ignora a complexidade de fatores que envolve o ensino, tais das a fim de mobilizarem suas energias físicas e intelectuais.
como os objetivos de formação, os métodos e procedimentos do professor,
a situação social dos alunos, as condições e meios de organização do Portanto, se os objetivos e conteúdos são adequados às exigências da
ensino, os requisitos prévios que têm os alunos para assimilar matéria matéria e às condições externas e internas de aprendizagem dos alunos e
nova, as diferenças individuais, o nível de desenvolvimento intelectual, as se o professor demonstra um verdadeiro propósito educativo, as provas
dificuldades de assimilação devidas a condições sociais, econômicas, dissertativas ou objetivas, o controle de tarefas e exercícios de consolida-
culturais adversas dos alunos. Ao fixar critérios de desempenho unilaterais, ção e outros tipos de verificação são vistos pelos alunos como efetiva ajuda
o professor avalia os alunos pelo seu mérito individual, pela sua capacidade ao seu desenvolvimento mental, na medida em que mostram evidências
de se ajustarem aos seus objetivos, independentemente das condições do concretas da realização dos objetivos propostos.
ensino e dos alunos e dos fatores externos e internos que interferem no Características da avaliação escolar
rendimento escolar.
Com relação às características da avaliação escolar, o autor cita aque-
O outro equívoco, segundo ele, é utilizar a avaliação como recompensa las que considera principais, que estão listadas como segue.
aos “bons” alunos e punição para os desinteressados ou indisciplinados. As
notas se transformam em armas de intimidação e ameaça para uns e 1 - Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos
prêmios para outros. É comum a prática de dar e tirar “ponto” conforme o Segundo o autor, a avaliação escolar é parte integrante do processo de
comportamento do aluno, ou a preocupação excessiva pela exatidão da ensino e aprendizagem, e não uma etapa isolada. Há uma exigência de que
nota, às vezes reprovando alunos por causa de décimos. Nestas circuns- esteja concatenada com os objetivos-conteúdos-métodos expressos no
tâncias, o professor exclui o seu papel de docente, isto é, o de assegurar as plano de ensino e desenvolvidos no decorrer das aulas. Os objetivos expli-
condições e meios pedagógico-didáticos para que os alunos sejam estimu- citam conhecimentos, habilidades e atitudes, cuja compreensão, assimila-
lados e aprendam sem necessidade de intimidação. ção e aplicação, por meio de métodos adequados, devem manifestar-se em
O terceiro equívoco é o dos professores que, por confiarem demais em resultados obtidos nos exercícios, provas, conversação didática, trabalho
seu “olho clínico”, dispensam verificações parciais no decorrer das aulas. independente etc.
Neste caso, o prejuízo dos alunos é grande, uma vez que o seu destino Um aspecto que o autor considera relevante é a clareza dos objetivos,
costuma ser traçado logo nos primeiros meses do ano letivo, quando o pois os alunos precisam saber para que estão trabalhando e no que estão
professor estabelece quem passa e quem não passa de ano. Os condena- sendo avaliados.

Didática 37 A Opção Certa Para a Sua Realização


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2 - Possibilita a revisão do plano de ensino A avaliação escolar envolve a objetividade e a subjetividade, tanto em
O levantamento das condições prévias dos alunos para iniciar nova relação ao professor como aos alunos. Se somente levar em conta aspec-
matéria, os indícios de progresso ou deficiências detectados na assimilação tos objetivos, acaba tornando-se mecânica e imparcial; atendo-se somente
de conhecimentos, as verificações parciais e finais são elementos que às necessidades e condições internas dos alunos, pode comprometer o
possibilitam a revisão do plano de ensino e o encaminhamento do trabalho cumprimento das exigências sociais requeridas da escola.
docente para a direção correta. Não apenas nas aulas, mas nos contatos Para superar criativamente essa aparente ambiguidade entre o objetivo
informais na classe e no recreio, o professor vai conhecendo dados sobre o e o subjetivo, o professor precisa ter convicções éticas, pedagógicas e
desempenho e aproveitamento escolar e crescimento dos alunos. sociais e, ao fazer a apreciação qualitativa dos resultados escolares, deverá
A avaliação, segundo o autor, ajuda a tornar mais claros os objetivos levar em conta os seus propósitos educativos.
que se quer atingir. No início de uma unidade didática, o professor ainda Instrumentos de verificação do rendimento escolar
não está muito seguro de como atingir os objetivos no decorrer do processo
de transmissão e assimilação. À medida que vai conduzindo o trabalho e Quanto aos instrumentos de avaliação do rendimento escolar o autor
observando a reação dos alunos, os objetivos se vão clarificando, o que cita:
possibilita tomar novas decisões para as atividades subsequentes. A prova dissertativa: compõe-se de um conjunto de questões ou te-
3 - Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades mas que devem ser respondidos pelos alunos com suas próprias pa-
lavras, sendo que todas as questões pedidas devem referir-se a ob-
Segundo o autor, todas as atividades avaliativas concorrem para o de- jetivos e atividades que foram anteriormente trabalhados durante as
senvolvimento intelectual, social e moral dos alunos, e visam a diagnosticar aulas.
como a escola e o professor estão contribuindo para isso. O objetivo do
processo de ensino e de educação é que todas as crianças desenvolvam A prova escrita de questões objetivas: em que se pede que o aluno
suas capacidades físicas e intelectuais, seu pensamento independente e escolha uma resposta entre alternativas possíveis de resposta.
criativo, tendo em vista tarefas teóricas e práticas, de modo que se prepa- Questões certo-errado: em que o aluno escolhe a resposta entre du-
rem positivamente para a vida social. A avaliação deve ajudar todas as as ou mais alternativas onde cada item é uma afirmação que pode
crianças a crescerem: os ativos e os apáticos, os espertos e os lentos, os estar certa ou errada.
interessados e os desinteressados. Os alunos não são iguais, nem no nível Questões de lacunas (para completar): que são compostas por fra-
sócio-econômico nem nas suas características individuais. A avaliação ses incompletas, deixando um espaço em branco (lacuna) para ser
possibilita o conhecimento de cada um, da sua posição em relação à clas- preenchido com uma só resposta certa.
se, estabelecendo uma base para as atividades de ensino e aprendizagem.
Questões de correspondência: que são elaboradas fazendo-se duas
4 - Voltar-se para a atividade dos alunos listas de termos ou frases para que o aluno faça a correspondência
A avaliação do rendimento escolar, segundo o autor, deve centrar-se certa.
no entendimento de que as capacidades se expressam no processo da Questões de múltipla escolha: que são compostas de uma pergunta,
atividade do aluno em situações didáticas. Por esta razão , é insuficiente seguida de várias alternativas de respostas.
restringir as verificações a provas no final de bimestres.
Questões do tipo “teste de respostas curtas” ou de evocação sim-
5 - Ser objetiva ples: também chamados de provas objetivas, compõe-se de testes
Para o autor a avaliação deve ter caráter objetivo, capaz de comprovar que são respondidos na forma de dissertação, resolução de proble-
os conhecimentos realmente assimilados pelos alunos, de acordo com os mas ou simplesmente de recordação de respostas automatizadas.
objetivos e os conteúdos trabalhados. Isso não significa excluir a subjetivi- Estes instrumentos, entre tantos outros, devem ser utilizados em con-
dade do professor e dos alunos, que está sempre presente na relação junto com procedimentos auxiliares, como a observação e a entrevista. As
pedagógica; mas a subjetividade não pode comprometer as exigências observações dos alunos feitas pelos professores visa a investigar, infor-
objetivas - sociais e didáticas - inerentes ao processo de ensino. Para malmente, as características individuais e grupais dos alunos, tendo em
garantir a exigência de objetividade, aplicam-se instrumentos e técnicas vista identificar fatores que influenciam a aprendizagem e o estudo das
diversificadas de avaliação. matérias e, na medida do possível, modificá-los. Já a entrevista é uma
6 - Ajuda na autopercepção do professor técnica simples e direta de conhecer e ajudar o aluno no seu desempenho
A avaliação é, também, um termômetro dos esforços do professor, se- escolar e deve ter sempre um objetivo, que pode ser o de ampliar os dados
gundo Libâneo. Ao analisar os resultados do rendimento escolar dos alu- que o professor já tem, tratar de um problema específico detectado nas
nos, obtém informações sobre o desenvolvimento do seu próprio trabalho. observações ou esclarecer dúvidas quanto a determinadas atitudes e
O professor pode perguntar-se: “Meus objetivos estão suficientemente hábitos da criança.
claros? Os conteúdos estão acessíveis, significativos e bem dosados? Os Atribuições de notas ou conceitos
métodos e os recursos auxiliares de ensino estão adequados? Estou con-
Segundo o autor, a avaliação escolar tem também a função de contro-
seguindo comunicar-me adequadamente com todos os alunos? Estou
le, expressando os resultados em notas ou conceitos que comprovam a
dando a necessária atenção aos alunos com mais dificuldades? Ou estou
quantidade e a qualidade dos conhecimentos adquiridos em relação aos
dando preferência só aos bem-sucedidos, aos mais dóceis e obedientes?
objetivos. A análise dos resultados de cada aluno e do conjunto dos alunos
Estou ajudando os alunos a ampliarem suas aspirações, a terem perspecti-
permite determinar a eficácia do processo de ensino como um todo e as
vas de futuro, a valorizarem o estudo?”.
reorientações necessárias.
7 - Reflete valores e expectativas do professor com relação aos alunos.
Para Libâneo as notas ou conceitos traduzem, forma abreviada, os re-
Segundo Libâneo, os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os sultados do processo de ensino e aprendizagem. A nota ou conceito não é
hábitos, bem como a maneira de ser do professor, indicam as crenças e o objetivo do ensino, apenas expressa níveis de aproveitamento escolar em
propósitos em relação ao seu papel social e profissional diante do alunos. relação aos objetivos propostos.
Se o professor dá mostras de desatenção à criança pobre ou mal-sucedida,
isso pode estar indicando uma discriminação social com esta criança. Se Sugestões para tarefas de estudo
não se empenha na organização dos alunos, nos hábitos de higiene, no Dentre as perguntas sugeridas pelo autor para o trabalho independente
relacionamento entre as crianças, indica que não valoriza estes aspectos. dos alunos, podemos citar: “Por que a avaliação escolar é um processo
Atitudes de favoritismo por certos alunos, de preconceito social, de ironia contínuo?” e “Como deve ser efetivada, na prática, a avaliação diagnosti-
em relação ao modo dos alunos se expressarem, etc. são antidemocráticas, ca?”.
portanto deseducativas.
Bibliografia complementar
A avaliação é um ato pedagógico. Nela o professor mostra as suas
qualidades de educador na medida que trabalha sempre com propósitos Como bibliografia complementar, o autor cita, entre outras: PILETTI,
definidos em relação ao desenvolvimento das capacidades físicas e intelec- Claudino. Didática Geral. São Paulo, Ática, 1987 e VEIGA, Ilma P. A .
tuais dos alunos face às exigências da vida social. (org.). Repensando a Didática. São Paulo, Papirus, 1988.

Didática 38 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
O Planejamento Escolar 2 - Condições prévias para a aprendizagem
Para o autor, o planejamento é uma tarefa docente que inclui tanto a Segundo o autor, o planejamento da escola e do ensino dependem das
previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coorde- condições escolares prévias dos alunos.
nação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação De nada adianta introduzir matéria nova, se os alunos carecem de pré-
no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio para se requisitos. A introdução de matéria nova ou consolidação da matéria anteri-
programar as ações docentes, mas é também um momento de pesquisa e or requerem necessariamente verificar o ponto de preparo em que os
reflexão intimamente ligado à avaliação. alunos se encontram, a fim de garantir a base de conhecimentos e habili-
Segundo o autor, há três modalidades de planejamento, articuladas en- dades necessária para a continuidade da matéria.
tre si: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas. 3 - Princípios e condições de transmissão/assimilação ativa
Importância do planejamento escolar Segundo o autor, este requisito diz respeito ao domínio dos meios e
Para Libâneo o planejamento é um processo de racionalização, organi- condições de orientação do processo de assimilação ativa nas aulas. O
zação e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a planejamento das unidades didáticas e das aulas deve estar em correspon-
problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são dência com as formas de desenvolvimento do trabalho em sala de aula.
integrantes da dinâmica social, o que significa, segundo o autor, que os O plano da escola
elementos do planejamento escolar - objetivos, conteúdos, métodos - estão Para Libâneo, o plano da escola é o plano pedagógico e administrativo
recheados de implicações sociais, têm um significado genuinamente políti- da unidade escolar, onde explicita a concepção pedagógica do corpo
co. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das docente, as bases teórico-metodológicas da organização didática, a contex-
nossas opções. tualização social, econômica, política e cultural da escola, a caracterização
Dentre as funções do planejamento escolar, apontadas pelo autor, po- da clientela escolar, etc.
demos destacar: Segundo ele, o plano da escola é um guia de orientação para o plane-
Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho do- jamento do processo de ensino e, enquanto orientação geral do trabalho
cente que assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigên- docente, deve ser consensual entre o corpo docente. Este plano deve
cias do contexto social e do processo de participação democrática. expressar os propósitos dos educadores empenhados numa tarefa comum.
Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir da consideração O plano de ensino
das exigências postas pela realidade social, do nível de preparo e das Para Libâneo, o plano de ensino é um roteiro organizado das unidades
condições sócio-culturais e individuais dos alunos. didáticas para um ano ou semestre. Recebe também a denominação de
Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didático plano de curso ou plano de unidades didáticas e contém os seguintes
em tempo hábil, saber que tarefas professor e alunos devem executar, componentes:
replanejar o trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer A - Justificativa da disciplina
das aulas.
A justificativa da disciplina responderá a três questões básicas do pro-
Segundo o autor, para que os planos sejam efetivamente instrumentos cesso didático: o por quê, o para quê e o como.
para a ação, devem ser como um guia de orientação e devem apresentar
ordem sequencial, objetividade, coerência e flexibilidade. B - Delimitação dos conteúdos
Salienta também o autor que, é preciso que os planos estejam continu- O conteúdo da disciplina é selecionado e organizado em unidades di-
amente ligados à prática, de modo que sejam sempre revistos e refeitos. dáticas, estas subdivididas em tópicos. A principal virtude de uma unidade
didática é que os seus tópicos não são simplesmente itens de subdivisão
Requisitos para o planejamento do assunto, mas conteúdos problematizados em função dos objetivos e do
Para Libâneo, os principais requisitos para o planejamento são: os ob- desenvolvimento metodológico.
jetivos e tarefas da escola democrática; as exigências dos planos e pro- C - Os objetivos específicos
gramas oficiais; as condições prévias dos alunos para a aprendizagem; os O autor coloca que, uma vez redigidos, os objetivos específicos vão di-
princípios e as condições do processo de transmissão e assimilação ativa recionar o trabalho docente tendo em vista promover a aprendizagem dos
dos conteúdos. alunos. Passam inclusive, a ter força para a alteração dos conteúdos e
1 - Objetivos e tarefas da escola democrática métodos. Na redação, o professor transformará tópicos das unidades numa
Para o autor, a escola democrática é aquela que possibilita a todas as proposição que expresse o resultado esperado e que deve ser atingido por
crianças a assimilação de conhecimentos científicos e o desenvolvimento todos os alunos ao término daquela unidade didática.
de suas capacidades intelectuais, de modo a estarem preparados para Os resultados são conhecimentos e habilidades.
participar ativamente da vida social. Continua ele dizendo que, desse modo, Na redação dos objetivos específicos, segundo o autor, o professor po-
as tarefas da escola, centradas na transmissão e assimilação ativa dos de indicar também as atitudes e convicções em relação à matéria, ao
conhecimentos, devem contribuir para objetivos de formação profissional, estudo, ao relacionamento humano, à realidade social.
para compreensão das realidades do mundo do trabalho; de formação
política para que permita o exercício ativo da cidadania; de formação cultu- Para o autor os objetivos refletem a estrutura do conteúdo da matéria.
ral para adquirir uma visão de mundo compatível com os interesses eman- D - Desenvolvimento metodológico
cipatórios da classe trabalhadora. Segundo o autor, o desenvolvimento metodológico de objetivos e con-
2 - Exigências dos planos e programas oficiais teúdos estabelece a linha que deve ser seguida no ensino e na assimilação
Segundo o autor, uma das responsabilidades do poder público é a ela- da matéria de ensino.
boração de planos e programas oficiais de instrução, de âmbito nacional, E - Introdução e preparação do conteúdo
reelaborados e organizados nos estados e municípios em face de diversi- São atividades que visam à reação favorável dos alunos ao conteúdo.
dades regionais e locais. Os programas oficiais, segundo ele, à medida que A escolha de métodos e procedimentos depende do conhecimento da
refletem um núcleo comum de conhecimentos escolares, têm um caráter matéria, da criatividade do professor e de cada situação concreta.
democrático, pois, a par de serem garantia da unidade cultural e política da
F - Desenvolvimento ou estudo do conteúdo
nação, levam a assegurar a todos os brasileiros, sem discriminação de
classes sociais e de regiões, o direito de acesso a conhecimentos básicos É a fase de assimilação e sistematização do objeto de estudo, visando
comuns. ao máximo de compreensão e elaboração interna por parte do aluno. As
atividades podem ser: exposição oral pelo professor, conversação, entre
Para o autor, os planos e programas oficiais de instrução constituem,
muitos outros.
portanto, um outro requisito prévio para o planejamento. A escola e os
professores, porém, devem ter em conta que os planos e programas oficiais G - Aplicação
são diretrizes gerais, são documentos de referência, a partir dos quais são Segundo o autor, esta é a fase de consolidação, que revisa cada tópico
elaborados os planos didáticos específicos. da unidade remetendo à pergunta central. As atividade aqui têm o sentido
Didática 39 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
de reforço: exercícios de fixação, organização de resumos, etc. Segundo A autoridade técnica constitui o conjunto de capacidades, habilidades e
ele, o significado mais importante desta fase é a consolidação de conheci- hábitos pedagógico-didáticos necessários para atingir com eficácia a
mentos e habilidades para início de uma nova unidade didática. transmissão e assimilação de conhecimentos aos alunos.
O plano de aula Segundo o autor, a disciplina da classe depende do conjunto dessas
características do professor, que lhe permitem organizar o processo de
Segundo o texto, o plano de aula é um detalhamento do plano de ensi- ensino.
no. As unidades e subunidades que foram previstas em linhas gerais são
agora especificadas e sistematizadas para uma situação didática real. Sugestões para tarefas de estudo
Na preparação de aulas, o professor deve reler os objetivos gerais da Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos,
matéria e a sequência de conteúdos do plano de ensino. o autor cita, entre outras: “Em que condições os aspectos cognoscitivos do
ensino influem na interação professor-aluno?” e “O planejamento e a prepa-
Sugestões para tarefas de estudo ração da aula podem influir no controle da disciplina?”.
Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos,
o autor cita, entre outras: “Qual a importância política e pedagógica do Bibliografia complementar
planejamento de ensino?” e “Como devemos articular os planos e progra- O autor cita, como bibliografia complementar, entre outras: NOVAES,
mas oficiais no plano de ensino?”. Maria E. Professor Não é Parente Postiço. Revista Ande, (4): 61-62, São
Paulo , 1982 e VEIGA, Ilma P. A .(org.) Repensando a Didática. São Paulo,
Bibliografia complementar Papirus, 1988.
Como bibliografia complementar, o autor cita, entre outras: BALZAN,
Newton C. Supervisão e Didática. In: ALVES, Nilda (org.) et alii, Educação e
Supervisão - O Trabalho Coletivo na Escola. São Paulo, Cortez/Autores 7 O compromisso social e ético dos professores.
Associados, 1984 e FUSARI, José C. O Planejamento Educacional e a A questão do compromisso do profissional com a sociedade nos colo-
Prática dos Educadores. Revista da Ande, (8): 33-35, São Paulo, 1984. ca alguns pontos que devem ser analisados. Algumas reflexões das quais
não podemos fugir, necessárias para o esclarecimento do tema.
A expressão “o compromisso do profissional com a sociedade” nos
Relações Professor-Aluno na Sala de Aula
apresenta o conceito do compromisso definido pelo complemento “do
Segundo o autor, a interação professor-alunos é um aspecto funda- profissional”, ao qual se segue o termo “com a sociedade”. Somente a
mental da organização da situação didática, tendo em vista alcançar os presença do complemento na frase indica que não se trata do compromisso
objetivos do processo de ensino: a transmissão e assimilação dos conhe- de qualquer um, mas do profissional professor.
cimentos, hábitos e habilidades. Entretanto, esse não é o único determinan-
O trabalho docente constitui o exercício profissional do professor e este
te da organização do ensino, razão pela qual ele precisa ser estudado em
é o seu primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é
conjunto com outros fatores, principalmente a forma de aula.
preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na
O autor ressalta dois aspectos da interação professor-alunos no traba- família, no trabalho, nas associações de classe, na vida cultural e política. É
lho docente: o aspecto cognoscitivo (que diz respeito a formas de comuni- uma atividade fundamentalmente social, porque contribui para a formação
cação dos conteúdos escolares e às tarefas escolares indicadas aos alu- cientifica e cultural do povo, tarefa indispensável para outras conquistas
nos) e o aspecto sócio-emocional (que diz respeito às relações pessoais democráticas.
entre professor e aluno e às normas disciplinares indispensáveis ao traba-
A característica mais importante da atividade profissional do professor
lho docente).
é a mediação entre aluno e sociedade, entre as condições de origem do
Aspectos cognoscitivos da interação aluno e sua destinação social na sociedade, papel que cumpre provendo as
O autor entende por cognoscitivo o processo ou o movimento que condições e os meios (conhecimentos, métodos, organização de ensino)
transcorre no ato de ensinar e no ato de aprender, tendo em vista a trans- que assegurem o encontro do aluno com as matérias de estudo. Para isso,
missão e assimilação de conhecimentos. planeja, desenvolve suas aulas e avalia o processo de ensino.
Segundo o autor, o trabalho docente se caracteriza por um constante O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é
vaivém entre as tarefas cognoscitivas colocadas pelo professor e o nível de seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, diri-
preparo dos alunos para resolverem as tarefas. gindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os
conhecimentos básicos e as habilidades, e desenvolvam suas forças,
Segundo Libâneo, para atingir satisfatoriamente uma boa interação no capacidades físicas e intelectuais, tendo em vista equipá-los para enfrentar
aspecto cognoscitivo, é preciso levar em conta: o manejo dos recursos de os desafios da vida prática no trabalho e nas lutas sociais pela democrati-
linguagem; conhecer bem o nível de conhecimento dos alunos; ter um bom zação da sociedade.
plano de aula e objetivos claros; explicar aos alunos o que se espera deles
em relação à assimilação da matéria. O compromisso social, expresso primordialmente na competência pro-
fissional, é exercido no âmbito da vida social e política. Como toda profis-
Aspectos sócio-emocionais são, o magistério é um ato político porque se realiza no contexto das
Para o autor, os aspectos sócio-emocionais se referem aos vínculos relações sociais onde se manifestam os interesses das classes sociais.
afetivos entre professor e alunos, como também às normas e exigências O compromisso ético-político é uma tomada de posição frente aos inte-
objetivas que regem a conduta dos alunos na aula (disciplina). resses sociais onde se manifestam os interesses sociais em jogo na socie-
Libâneo salienta que o professor precisa aprender a combinar severi- dade. Quando o professor se posiciona, consciente e explicitamente, do
dade e respeito. lado dos interesses da população majoritária da sociedade, ele insere sua
atividade profissional ou seja, sua competência técnica na luta ativa por
A disciplina na classe esses interesses: a luta por melhores condições de vida e de trabalho e a
O autor acredita que a disciplina da classe está diretamente ligada ao ação conjunta pela transformação das condições gerais (econômicas,
estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional, moral e técnica políticas, culturais) da sociedade. Para que desenvolva esse função funda-
do professor. mental dentro da sociedade é necessário que tenha a convicção do papel
essencial que exerce.
A autoridade profissional se manifesta no domínio da matéria que ensi-
na e dos métodos e procedimentos de ensino, no tato em lidar com a classe
e com as diferenças individuais, na capacidade de controlar e avaliar o 8 A interação professor-aluno.
trabalho dos alunos e o trabalho docente.
9 O valor pedagógico da relação professor-aluno.
A autoridade moral é o conjunto das qualidades de personalidade do
professor: Sua dedicação profissional, sensibilidade, senso de justiça, Segundo Libâneo, a interação professor-alunos é um aspecto funda-
traços de caráter. mental da organização da situação didática, tendo em vista alcançar os
objetivos do processo de ensino: a transmissão e assimilação dos conhe-

Didática 40 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
cimentos, hábitos e habilidades. Entretanto, esse não é o único determinan- O projeto político-pedagógico, ao se constituir em um processo democrá-
te da organização do ensino, razão pela qual ele precisa ser estudado em tico de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do
conjunto com outros fatores, principalmente a forma de aula. trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações
O autor ressalta dois aspectos da interação professor-alunos no traba- competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando
lho docente: o aspecto cognoscitivo (que diz respeito a formas de comuni- impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações de trabalho
cação dos conteúdos escolares e às tarefas escolares indicadas aos alu- no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do traba-
nos) e o aspecto sócio-emocional (que diz respeito às relações pessoais lho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
entre professor e aluno e às normas disciplinares indispensáveis ao traba- Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a organiza-
lho docente). ção do trabalho pedagógico em dois níveis: como organização da escola
como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação
Aspectos cognoscitivos da interação com o meio social imediato, procurando preservar a visão de totalidade.
O autor entende por cognoscitivo o processo ou o movimento que A principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico
transcorre no ato de ensinar e no ato de aprender, tendo em vista a trans- passa pela relativa autonomia da escola, pela sua capacidade de delinear
missão e assimilação de conhecimentos. sua própria identidade. Isso significa resgatar a escola como espaço públi-
Segundo o autor, o trabalho docente se caracteriza por um constante co, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.
vaivém entre as tarefas cognoscitivas colocadas pelo professor e o nível de Tem-se como princípios norteadores do projeto político-pedagógico:
preparo dos alunos para resolverem as tarefas.
a) igualdade de condições de acesso e permanência na escola;
Segundo Libâneo, para atingir satisfatoriamente uma boa interação no
aspecto cognoscitivo, é preciso levar em conta: o manejo dos recursos de b) qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e
linguagem; conhecer bem o nível de conhecimento dos alunos; ter um bom sociais;
plano de aula e objetivos claros; explicar aos alunos o que se espera deles c) gestão democrática;
em relação à assimilação da matéria. d) liberdade e autonomia;
Aspectos sócio-emocionais e) valorização do magistério;
Para o autor, os aspectos sócio-emocionais se referem aos vínculos A construção de um projeto político-pedagógico, para gestar uma nova
afetivos entre professor e alunos, como também às normas e exigências organização do trabalho pedagógico, passa pela reflexão sobre esses
objetivas que regem a conduta dos alunos na aula (disciplina). princípios. Num segundo momento, parte-se para a reflexão sobre os
Libâneo salienta que o professor precisa aprender a combinar severi- elementos constitutivos da organização do projeto, quais sejam:
dade e respeito. a) As finalidades da escola.
Sugestões para tarefas de estudo - Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, o que a
Como sugestão de perguntas para o trabalho independente dos alunos, escola persegue, com maior ou menor intensidade?
o autor cita, entre outras: “Em que condições os aspectos cognoscitivos do - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de preparar
ensino influem na interação professor-aluno?” e “O planejamento e a prepa- culturalmente os indivíduos para uma melhor compreensão da sociedade
ração da aula podem influir no controle da disciplina?”. em que vivem?
Bibliografia complementar - Como a escola procura atingir sua finalidade política e social, ao
O autor cita, como bibliografia complementar, entre outras: NOVAES, formar o indivíduo para a participação política?
Maria E. Professor Não é Parente Postiço. Revista Ande, (4): 61-62, São - Como a escola atinge sua finalidade de formação profissional, ou
Paulo , 1982 e VEIGA, Ilma P. A .(org.) Repensando a Didática. São Paulo, melhor, como ela possibilita a compreensão do papel do trabalho na forma-
Papirus, 1988. ção profissional do aluno?
- Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao procurar
10 A importância do dialogo na relação pedagógica. promover o desenvolvimento integral da pessoa?
11 Projeto Político Pedagógico: b) A estrutura organizacional.
uma construção coletiva. - O que sabemos da estrutura pedagógica?
- Que tipo de gestão está sendo praticada?
VEIGA, Ilma Passos A. (org.) - O que queremos e precisamos mudar na nossa escola?
Projeto Político Pedagógico da escola.
Campinas: Ed. Papirus, 1996. - Qual é o organograma previsto?
- Quem o constitui e qual é a sua lógica interna?
Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva.
- Quais as funções educativas predominantes?
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de sua fragmen-
tação e do controle hierárquico, precisa criar condições para gerar uma - Como são vistas a constituição e a distribuição do poder?
outra forma de organização do trabalho pedagógico. - Quais os fundamentos regimentais?
A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora. O c) O currículo.
fulcro para a realização dessa tarefa será o empenho coletivo na constru- - O currículo não é um instrumento neutro. Passa ideologia.
ção de um projeto político-pedagógico e isso implica fazer rupturas como
existente para avançar. - Ele não pode ser separado do contexto social.
É preciso entender o projeto político-pedagógico da escola como uma - Ele deve contemplar a interdisciplinaridade.
reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela precisa de um tempo razoável de - Deve ser estruturado de forma a veicular contestação e resistên-
reflexão e ação, para se ter um mínimo necessário à consolidação de sua cia aos conteúdos tradicionais.
proposta. d) O tempo escolar.
A construção de um projeto político-pedagógico requer continuidade - Quanto mais compartimentado for o tempo (calendário escolar,
das ações, descentralização, democratização do processo de tomada de distribuição diária das atividades, etc.), mais hierarquizadas e ritualizadas
decisões e instalação de um processo coletivo de avaliação de cunho serão as relações sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se
emancipatório. institucionalizar o currículo de integração que conduz a um ensino em
Finalmente, há que se pensar que o movimento de luta e resistência extensão.
dos educadores é indispensável para ampliar as possibilidades e apressar e) O processo de decisão.
as mudanças que se fazem necessárias dentro e fora dos muros das esco-
- Uma estrutura administrativa da escola, adequada à realização
las.
de objetivos educacionais, de acordo com os interesses da população, deve
Didática 41 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
prever mecanismos que estimulem a participação de todos no processo de nistração num ato pedagógico, ao se assumir novos paradigmas de conhe-
decisão. cimento, superando o individualismo.
f) As relações de trabalho. c) Meios e fins no processo decisório.
- Há uma correlação de forças e é nesse embate que se originam Como atividade regular das organizações a administração é articulado-
os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas ra dos meios para atingir fins desejados e definidos. Todos os membros da
formas de relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva organização administram. Mas como atividade de chefia, a administração
que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os diferentes torna-se mais complexa e apresenta-se como gerenciadora e/ou articulado-
segmentos envolvidos no processo educativo, a descentralização do poder. ra de pessoas.
g) A avaliação. Integrar adequadamente os meios para chegar aos resultados espera-
- A avaliação é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios dos implica um conjunto de atividades devidamente articuladas e contextua-
ao projeto político-pedagógico. Ela, também, imprime uma direção às ações lizadas de modo a assegurar a eficácia da organização. De tal contextuali-
dos educadores e educandos. zação decorrem a relação com o meio externo e a busca correta das condi-
ções necessárias à vitalidade da organização.
- O processo de avaliação envolve três momentos: a descrição e a
problematização da realidade escolar, a compreensão crítica da realidade d) Agentes organizacionais.
descrita e problematizada e a proposição de alternativas de ação, momento No caso da organização escolar, as questões éticas e administrativas
de criação coletiva. têm a ver com a questão pedagógica. A equipe diretiva ou coordenadora, a
- A avaliação não pode ser instrumento de exclusão dos alunos quem cabe gerenciar o pessoal docente, discente, técnico-administrativo e
provenientes das classes trabalhadoras, portanto, deve ser democrática. de serviços, não pode dissociar da tarefa de gerência seu caráter formativo,
razão maior da ação escolar a ser expressa no seu projeto político-
- O projeto político-pedagógico e a gestão da escola. pedagógico.
Uma das exigências do processo de construção do projeto político- e) Conflito organizacional.
pedagógico é indicar e reforçar a função precípua da equipe diretiva ou
coordenadora no sentido de administrar e liderar sua consecução, em Dada a própria natureza das organizações, constituídas de indivíduos e
sintonia com o grupo. grupos com diferentes visões, necessidades, valores, interesses, em sínte-
se, com diferentes racionalidades, o conflito é uma realidade sempre pre-
Dessa forma, as demandas da gestão da escola remetem-nos a algu- sente no dia-a-dia da organização e, sem dúvida, um grande desafio para
mas reflexões sobre a administração escolar, pois esta auxilia-nos a com- os administradores.
preender, situar e realizar, coma devida abrangência e visão integradora, o
processo e os procedimentos de planejamento da escola, de sua organiza- De bandido a herói, hoje ele é tido como ingrediente indispensável da
ção e de seu funcionamento para que alcance seus objetivos e cumpra sua atividade administrativa, caracterizando o administrador atual também como
tarefa sócio-educativa, como organização de natureza social que é. um administrador de conflitos, em cuja bagagem devem constar não ape-
nas habilidades para conviver, por vezes para abrandar, mas também, por
a) As organizações. vezes, instigar a instauração ou a intensificação de conflitos. Um clima
- De forma genérica, pode-se definir “organização” como um con- organizacional excessivamente pacífico, acomodado – “em time que está
junto de pessoas e recursos articulados par a realização de um objetivo ou ganhando não se mexe” – pode inviabilizar a organização, tanto quanto um
um conjunto de objetivos, mantendo interação com o meio. clima por demais turbulento.
- A escola é uma organização e como tal precisa ser administrada. f) Gestão da escola.
A ação administrativa da escola deve estar referida permanentemente: Caminhar na direção da democracia na escola, na construção de sua
1) à sua missão que, por sua vez, define-se pelas concepções dos identidade como espaço-tempo pedagógico com organização e projeto
elementos inerentes à sua razão de existir que são o homem, a sociedade, político próprio, com base nas convicções que envolvem o processo como
o conhecimento; construção coletiva, supõe e exige:
2) ao seu público-alvo; - rompimento com estruturas mentais e organizacionais fragmen-
3) ao ambiente em que opera. tadas;
- Público e ambiente estes que apresentam características sócio- - definição clara de princípios e diretrizes contextualizadas;
econômicas e culturais diferenciadas que condicionam também as condi- - envolvimento e vontade política da comunidade escolar;
ções de acesso à escola. - conhecimento da realidade escolar baseado em diagnóstico
b) Administração em educação. sempre atualizado;
- Essa atividade, que se distingue em vários aspectos da adminis- - análise e avaliação diagnóstica para criar soluções às situações-
tração empresarial, exige preparo específico que, na maioria dos problema da escola;
casos, os atuais administradores da educação, nas várias instân- - planejamento participativo que aprofunde compromissos, estabe-
cias do sistema educacional, inclusive na escola, não receberam. leça metas claras e exequíveis e crie consciência coletiva;
Muitos demonstraram certa competência na sua área de formação
e, em nome, dessa competência, foram chamados para a área - clarificação constante das bases teóricas do processo com revi-
administrativa, na qual nem sempre demonstraram igual compe- são e dinamização contínuas da prática pedagógica;
tência. Por sua vez, a formação administrativa será insuficiente se - atualização constante do pessoal docente e técnico;
não levarmos em conta a especificidade da escola e da educação. - coordenação administrativo-pedagógica competente e interativa.
- A globalidade do processo educativo e sua complexidade tornam
imperioso que se busque um nível de interdisciplinaridade e de
complementaridade epistemológica para dar conta da consecução PARADIGMA – RELAÇÕES DE PODER – PROJETO POLÍTICO-
dos fins educacionais. PEDAGÓGICO: DIMENSÕES INDISSOCIÁVEIS DO FAZER EDUCATIVO.
- Na concretização dessa tarefa tem importante papel a ação admi- Há que ser desencadeado um processo que leve a comunidade escolar
nistrativa. Ela se situa no espaço-tempo entre as decisões políticas a buscar o autoconhecimento e o conhecimento das realidades que intera-
que o processo educativo exige e a implementação dessas deci- gem em seu contexto.
sões. Sem a percepção de que somos pessoas do e no mundo, dificilmente
A racionalidade necessária, expressa por intermédio de organização, poderemos captar que ao dar um aula, por exemplo, estamos comparti-
processo decisório participativo, consciência coletiva, critério no atendimen- lhando com nossos alunos uma multiplicidade de elementos, tais como
to de necessidades, descentralização, corresponsabilidade e ação planeja- conhecimentos, valores, sentimentos, imaginação, memória, enfim, o ser
da, caracteriza hoje a dimensão pedagógica peculiar da atividade adminis- todo em ação. À medida que a escola conseguir inter-relacionar subjetivi-
trativa na escola e nas demais instâncias do sistema e transforma a admi- dades, permitirá e provocará a construção e a reconstrução do saber.

Didática 42 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
A primeira condição para se pensar a mudança é aquela que contem- c) confrontar o dito e o feito, em todas as esferas de atuação da
pla a figura do educador, esteja ele na função que estiver. Isso por que se escola, tanto no nível administrativo como no nível pedagógico;
ele não se dispuser a reconstruir sua formação e autogerir o aprimoramento d) buscar a educação continuada como via de acesso da compe-
profissional, todo o processo estará comprometido. tência necessária, pois sem ela será difícil solidificar uma proposta de
A abertura e o espaço para prosseguir as reflexões e os estudos são a organização coletiva da escola. Existe uma matriz teórica que respalda
raiz sustentadora de qualquer processo de (re)construção, pois, a partir daí, nossa ações, de forma que o querer nem sempre é poder, mesmo que se
passam a ser menos preocupantes os comportamentos, as crenças, e até constitua em elemento importante de realização;
as concepções vigentes, visto que estarão passíveis à análise, à crítica e) construir coletivamente um projeto político-pedagógico como
fundamentada e, portanto, prontas para a mudança. consequência de uma proposta de organização de trabalho que seja coe-
Os autoritarismos, as mesmices, os comodismos, os imobilismos e as rente com os encaminhamentos relativos à transformação de uma socieda-
resistências infundadas são os ingredientes perfeitos para que uma escola de que se propõe mais justa e democrática.
voltada para a maioria da população não se concretize em projeto viável, ao
contrário, continue sendo só de utopia de alguns. AUTONOMIA DA ESCOLA PÚBLICA: UM ENFOQUE OPERACIONAL.
É importante, nesse ponto da reflexão, ampliar a pertinência dos proje- A autonomia da escola é um exercício de democratização de um espa-
tos político-pedagógicos na efetivação de uma escola que tantos pleiteiam. ço público: é delegar ao diretor e aos demais agentes pedagógicos a possi-
É importante enfatizar a concepção de projeto pedagógico também como bilidade de dar respostas ao cidadão (aluno e responsável) a quem servem,
político, pois são dimensões indissociáveis, na medida em que se tornam em vez de encaminhá-los para órgãos centrais distantes onde ele não é
intrinsecamente dependentes o fazer educativo e o fazer político. conhecido e, muitas vezes, sequer atendido.
A escola é um texto escrito por várias mãos e sua leitura pressupõe o A autonomia coloca na escola a responsabilidade de prestar contas do
entendimento não apenas de suas conexões com a sociedade, mas tam- que faz ou deixa de fazer, sem repassar para outro setor essa tarefa e, ao
bém, de seu interior. Atrás de um projeto político-pedagógico ficam resga- aproximar escola e famílias, é capaz de permitir uma participação realmen-
tadas a identidade da escola, sua intencionalidade e a revelação de seus te efetiva da comunidade, o que a caracteriza como uma categoria eminen-
compromissos. temente democrática.
Autonomia e racionalidade.
Para a escola concretizar a construção de seu projeto precisa antes:
Há uma segunda dimensão do conceito de autonomia das escolas que
a) ter clareza do aluno, do ser cidadão que deseja alicerçar; é mais pragmática e refere-se a aspectos organizacionais: a autonomia tem
b) estar organizada em princípios democráticos; uma dimensão operacional, ligada à identidade da escola, que pode garan-
c) valorizar o interativo; tir maior racionalidade interna e externa e, portanto, melhoria da qualidade
dos serviços prestados.
d) que possa contar com profissionais que priorizem as orientações
teórico-metodológicas de construção coletiva do projeto. No entanto, o exercício da autonomia é mais complexo que sua aceita-
ção em tese. Como tantos outros conceitos mais abstratos, muitas vezes
Um projeto político-pedagógico corretamente construído não garante à torna-se difícil identificar com precisão seus componentes. A retórica acaba
escola que a mesma se transforme magicamente em uma instituição de por confundir os agentes educacionais que transformam esses conceitos
melhor qualidade, mas certamente permitirá que seus integrantes tenham em algo grandioso e inacessível ao cotidiano da escola.
consciência de seu caminhar, interfiram nos seus limites, aproveitem me-
lhor as potencialidades e equacionem de maneira coerente as dificuldades Na pesquisa realizada pela autora, em todas as obras consultadas e
identificadas. Assim será possível pensar em um processo de ensino- nas respostas dadas pelos diretores, fica bem claro que a autonomia con-
aprendizagem com melhor qualidade e aberto para uma sociedade em solida-se em três eixos básicos, relacionados com a racionalidade interna e
constante mudança; a escola terá aguçado seus sentidos para captar e externa e articulados entre si: administrativo, pedagógico e financeiro.
interferir nessas mudanças. Como, porém, decompô-los para que, nas escolas, possam ser mensu-
Não apenas o projeto de uma escola, mas os saberes, o poder, as rea- rados e transformados em linhas de ação? Essa foi uma das preocupações
lizações, os sentimentos são construções comuns a todos quantos se da pesquisa, e a intenção de apresentar como que um rol de itens que
arvorarem a verdadeiramente viver nesse mundo, sejam crianças, jovens, transformasse em prática a dimensão racional da autonomia tem um cará-
adultos ou velhos. A plenitude não deve estar reservada a alguns poucos. ter descritivo e não pretende esgotar as possibilidades de ações autônomas
Não é possível negar a alguns e à maioria dois elementos essenciais à nas escolas, mas são um ponto de partida mais concreto para aqueles que
vida, primeiro, a aspiração e, segundo, a possibilidade verdadeira da auto- desejam operacionalizar a autonomia no seu cotidiano.
ria. 1) O eixo administrativo.
A primeira tem sido massacrada por tantas circunstâncias sociais, polí- Refere-se à organização da escola como um todo e nele destacam-se
ticas e econômicas. É aterrorizante a cena de execuções e agressões seja o estilo de gestão e a figura do diretor como agente promotor de um pro-
de menores de rua, seja de bandidos, seja de cidadãos considerados cesso que envolve um outro padrão de relacionamento não só interno, mas
menos marginais. Mas a sociedade não deve ficar menos perplexa diante também com a comunidade e com o sistema educacional no qual a escola
de outras formas de execução, ao encontrar jovens alunos que já não está inserida. Pode ser medido através das seguintes dimensões:
aspiram, por estarem anestesiados em suas perspectivas pelo imobilismo, a) forma de gestão;
pelo imutável, pela desesperança.
b) controles normativo-burocráticos;
A segunda também pode ser constatada por tantos “conduzidos”, tolhi-
dos, impedidos que são de construir sua autonomia pessoal ao longo do c) racionalidade interna;
processo de suas vidas. d) administração de pessoal;
O grupo de profissionais da educação que estiver suficientemente in- e) administração de material;
comodado em se perceber mero reforçador de propostas de manutenção f) controle de natureza social ou racionalidade externa.
de uma sociedade barbarizada, mesmo que conhecedor do fato de que a
2) O eixo pedagógico.
escola emerge do mesmo projeto social mais amplo, estará pronto para:
Está estreitamente ligado à identidade da escola, à sua missão social,
a) desencadear um processo de reconhecimento e análise das dife-
à clientela, aos resultados e, portanto, ao projeto político-pedagógico em
rentes formas de relação de poder que fluem nos confrontos que aconte-
sua essência. Embora guarde relação com os outros dois eixos, e normal-
cem na escola, seja por meio da análise dos documentos como o regimento
mente até dependa deles para concretizar-se, diz respeito a ações voltadas
escolar, como o organograma, mas também os planos de ensino, as falas,
para a melhoria da qualidade do ensino e ao atendimento das necessida-
as representações, etc.;
des básicas de aprendizagem em seus diferentes e crescentes níveis.
b) desarmar-se de posições radicais e irreversíveis, admitindo que Abrange os seguintes aspectos:
a verdade é uma construção dialética e fundamentalmente histórica e,
a) poder decisório referente à melhoria do ensino-aprendizagem;
portanto, passível de revisão.
b) adoção de critérios próprios de organização da vida escolar;

Didática 43 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
c) pessoal docente; 2) A segunda ideia contida na definição proposta é a de capacida-
d) acordos e parcerias de cooperação técnica; de, que está relacionada à dimensão técnica. Por ser um fato político,
filosófico, administrativo, econômico, jurídico, sociocultural e pedagógico, a
3) O eixo financeiro. autonomia é uma categoria densa, que exige alto grau de compromisso e
Frequentemente o mais associado à autonomia, trata da gestão dos de competência ético-profissional.
recursos patrimoniais, da aplicação das transferências feitas pelo sistema 3) Em terceiro lugar, o conceito apresentado traz elaborar e imple-
educacional, da possibilidade de dispor de orçamento próprio e da capaci- mentar um projeto político-pedagógico. Essa (árdua) tarefa deve contem-
dade de negociar e atrair parcerias e recursos externos que permitam fazer plar:
face às demandas concretas do processo educativo. Engloba três verten-
tes: - a identidade da escola;
a) dependência financeira; - sua racionalidade interna;
b) controle e prestação de contas; - a racionalidade externa (advinda da comunidade);
c) captação de recursos. - a autonomia e,
Autonomia e compromisso ético-profissional. - a totalidade do sistema nacional de educação.
A terceira dimensão do conceito de autonomia refere-se à questão do 4) O quarto elemento é a ideia de relevância para a comunidade, o
papel dos agentes pedagógicos. Num modelo centralizado, as escolas são que reforça a categoria da racionalidade externa. A educação é relevante
meras executoras de políticas definidas em gabinetes; com a autonomia, quando respeita a cultura do educando e, com base nela, é capaz de:
elas são sujeitos ativos de sua própria história. - situá-lo num horizonte maior, que amplie sua visão de mundo;
A autonomia, democratizando internamente a escola pública, valoriza o - fornecer-lhe conhecimentos que lhe permitam influir nos proble-
trabalho dos profissionais, realça sua competência técnica e cria condições mas e nas soluções de sua coletividade, enriquecendo sua própria cultura.
mais favoráveis ao exercício de seu compromisso social, que é educar. 5) Daí, a quinta ideia contida no conceito: o projeto pedagógico deve
A autonomia, assim, valoriza os agentes pedagógicos que atuam nas ser relevante também para a sociedade, essa sociedade que se caracteriza
escolas e cobra-lhes, diretamente, o compromisso ético-profissional de pela globalização, pelo dinamismo tecnológico, pela descentralização de
servir ao público em matéria de educação. É contrária ao paternalismo, à governos e sistemas públicos e privados, exigindo dos cidadãos a capaci-
dependência, à inércia, à divisão pormenorizada de trabalho, à centraliza- dade de participar e a autonomia para buscar prender constantemente.
ção e à burocracia excessiva. 6) Finalmente, a sexta e última lembrança do conceito: a dimensão ser-
No entanto, é preciso lembrar que o quadro de destruição pelo qual viço – a que serve. A escola pública é uma instituição prestadora de servi-
passou a escola pública brasileira deixou marcas tão profundas, que a ços aos cidadãos, logo, precisa ouvir alunos e responsáveis, o que, na
simples outorga de uma nova ordem não conseguirá modificar. O que fazer, prática, significa estar aberta à participação da comunidade, ser transparen-
então? Investir nos recursos humanos, valorizá-los com políticas concretas, te e abrir-se à avaliação externa e, também, interna.
tornar atraente a carreira, motivando os melhores recursos humanos exis-
tentes no mercado a querer exercê-la e não a abandoná-la, como vem PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: UMA MANEIRA DE PENSÁ-LO
acontecendo. E ENCAMINHÁ-LO COM BASE NA ESCOLA
O planejamento participativo propõe e pode implementar intervenções
A relação entre autonomia e projeto político-pedagógico. coletivas sobre o social, refletidas e conscientes. Ainda que venha desen-
A centralização fez com que as escolas se acostumassem a esperar do volver-se em micro espaços do social, pode desempenhar uma atuação
órgão central suas linhas de trabalho. Quando essas não vinham, a atitude estratégica e construir sentido.
mais comum era (e, em muitos casos, ainda é) o professor repetir seu diário Essa possibilidade existe porque os micro espaços, ao reproduzirem a
de classe de anos atrás e a direção recopiar um plano educacional antigo, heterogeneidade do social, passam a conter, a seu modo, elementos estru-
como se as crianças fossem sempre as mesmas e como se nenhuma turais deste. Atuando sobre esses elementos, o planejamento participativo
mudança tivesse acontecido na escola – e de fato não tinha. poderá imprimir consequências sobre outros ambientes e âmbitos do social,
Um projeto tem, dentre outras, a característica do dinamismo. Isto por- além das mudanças que venha a implementar sobre seu objeto singular de
que, se ele for elaborado com base em um contexto que se queira mudar e atuação.
se a ação dos agentes for bem-sucedida, o contexto passa a ser outro. Poderá atingir a “enxurrada” de seu tempo. E, se chegar a estabelecer
Para a escola, um projeto ilumina princípios filosóficos, define políticas, intervenções democraticamente planejadas, com sustentação teórica para
racionaliza e organiza ações, otimiza recursos humanos, materiais e finan- serem suficientemente incisivas e clareza política que permita o avançar e o
ceiros, facilita a continuidade administrativa, mobiliza os diferentes setores retroceder quando necessário, o planejamento participativo poderá contri-
na busca de objetivos comuns e, por ser de domínio público, permite cons- buir para o estabelecimento de mudanças significativas no curso das águas
tante acompanhamento e avaliação. da “enxurrada” a que nos referimos.
Em suma, o projeto político-pedagógico dá voz à escola e é a concreti- A experiência de planejamento participativo com base na escola já
zação de sua identidade, de suas racionalidades interna e externa e, con- aponta algumas aprendizagens. Em relação à definição do objeto de plane-
sequentemente, de sua autonomia. jamento devemos buscar a demarcação do âmbito das relações da “comu-
nidade escolar”: escola e grupos; escola e instituições. A seguir, temos que
Autonomia da escola: um conceito operacional. definir qual é, ou quais são, as esferas do social que vamos priorizar, nos
Como definir autonomia de um modo que não permaneça num patamar níveis de conhecimento e da ação planejada, para darmos conta de atingir
utópico, mas possa ser operacionalizada no cotidiano das escolas públi- os objetivos do planejamento.
cas? A proposta da autora tem valorizado a esfera da vida cotidiana, uma
Norteada por essa questão, a autora elaborou o seguinte conceito: vez que foi eleito, como foco de investigação, os processos de socialização
“A autonomia é a possibilidade e a capacidade de a escola elaborar e vivenciados no micro espaço da comunidade escolar e, também, por verifi-
implementar um projeto político-pedagógico que seja relevante à comuni- carmos que é principalmente com base nas integrações na cotidianidade
dade e à sociedade a que serve”. que os indivíduos constroem-se.
Analisemos esse conceito parte a parte. Os sujeitos do planejamento participativo são parte do mesmo objeto
sobre o qual propõem-se a refletir e agir. Sua ação prático-reflexiva resulta
1) Em primeiro lugar, o conceito introduz a ideia de possibilidade,
em projetos e em organização.
que tem a ver com a viabilidade, isto é, mecanismos que transformem o
ideal de autonomia em prática. A possibilidade fundamenta-se na argumen- A proposta de planejamento participativo mobiliza sujeitos vinculados a
tação de que autonomia não é mera descentralização administrativa, mas processos de socialização em desenvolvimento no micro espaço da comu-
uma forma de delegação que se liga à temática da liberdade, da democra- nidade escolar: no bairro, na escola e na família, especialmente. Processos
cia e do pluralismo. que os integram à cotidianeidade.

Didática 44 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Esses sujeitos – homens, mulheres, crianças e jovens – já estão mar- dos correlacionem-se em decorrência da aprendizagem deles, desde as
cados por seu estar no mundo: por suas primeiras inserções sociais. Eles aplicações simples, lineares, até a exploração autônoma das possibilidades
constituem-se também em “grupos de pares”, na esquina, na igreja, na com que acenam, segundo os critérios:
associação, no clube. Suas experiências primeiras são estruturantes de seu - da generalização, isto é, da abrangência e da articulação inte-
“ser”; da capacidade de viverem, “por si”, as oportunidades que a sociedade gradoras com os conceitos correlatos no seio mais amplo de uma teoria;
lhes oferece. Essas experiências poderão facilitar ou dificultar, em cada
indivíduo, a construção da própria maturidade. - da aplicabilidade a universos mais extensos;
O planejamento participativo pode constituir-se num instrumental peda- - da precisão e da coerência interna de suas relações mais fun-
gógico de grande valia para potenciar e trabalhar o processo de maturação damentais;
desses indivíduos. - da capacidade de abstração, vale dizer, de análise, síntese e
transferência das relações percebidas.
ESCOLA, APRENDIZAGEM E DOCÊNCIA: IMAGINÁRIO SOCIAL
E INTENCIONALIDADE POLÍTICA. Currículos, programas, matérias e materiais de ensino, metodologias e
técnicas: tudo o mais são apenas pretextos para a densidade das relações
O imaginário da constituição da escola na ordem simbólica. que se estabelecem entre seres humanos que se respeitam e se admiram.
A escola, e as aprendizagens a que se destina, antes de serem obje- Constituem-se a docência e a aprendizagem no relacionamento pedagógico
tos concretos de nosso saber e nosso querer, estão prefiguradas no imagi- da ação da palavra e da palavra da ação, pelas quais os sujeitos fazem-se
nário social, no campo simbólico da fantasia, onde se espelham o mundo singularizados em sua generalidade humana.
dos possíveis, o remoto, o ausente, o ainda obscuro, os objetos do desejo,
o campo avançado das utopias. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA:
DESAFIO À ORGANIZAÇÃO DOS EDUCADORES
Somente na ordem simbólica existem as instituições sociais onde se
combinam os componentes do imaginário com os da funcionalidade prática, Como cidadãos de uma nova época, em que o exercício da democracia
pois é no campo simbólico que se instauram os desejos inscritos nas pers- exige clareza de opções e coerência nas ações, os educadores precisam,
pectivas de futuro, antes de se constituírem em projetos manifestos de vida diante desse novo apelo por mudanças, clarificar os propósitos que definem
e de ação solidária. a intencionalidade e a dimensão das transformações que, necessariamente,
deverão ocorrer na escola, a fim de que não se restrinjam elas a políticas
Na base de qualquer ideal, ou projeto, de escola, situa-se a verdade do de legitimação de programas oficiais, ou meras inovações metodológicas
desejo, não apenas por parte daqueles que formalmente a constituem, mas, que atingem apenas o âmbito da sala de aula sem preocupação com o
sobretudo, por parte dos que a fazem no dia-a-dia, dando-lhe vida e efetivi- inevitável comprometimento de qualquer prática pedagógica com um proje-
dade. to político.
A intencionalidade política do projeto pedagógico Nessa perspectiva, é preciso que a organização coletiva dos educado-
A escola justifica sua existência e torna válida sua atuação ao traçar res na construção de propostas pedagógicas, que de fato se fazem neces-
sua proposta pedagógica no livre consenso dos nela interessados e por ela sárias no nível da escola e do sistema, esteja, pautada em concepções
solidariamente responsáveis e ao propiciar-lhe as condições de efetividade claras que, ao conduzirem as mudanças intra-escolares, inscrevam as
com eficiência. práticas pedagógicas em projeto histórico consensualmente assumido pelo
grupo, porque emanado da compreensão construída na análise da conjun-
Dessa forma, imbricam-se na proposta pedagógica as duas dimensões tura social e na comunicação arguementativa dos sujeitos que instituem as
do instituinte e do instituído: a dimensão ético-política da natureza intersub- relações escolares.
jetiva da formação da vontade coletiva e a da coordenação e da condução
da atuação solidária. Se pretendemos inserir a escola na nova ordem da mudanças instituci-
onais exigidas pelo atual momento histórico, é preciso que o projeto políti-
A questão dos valores consensualmente definidos e consequentemen- co-pedagógico assumido pela comunidade escolar esteja estruturado em
te por todos assumidos na co-responsabilidade das práticas efetivas torna- dois eixos básicos reciprocamente determinantes:
se, por isso, a questão primordial, pois é necessário, antes de tudo, definir
qual cidadão a escola pretende formar para qual sociedade, sem o que a - a intencionalidade política que articula a ação educativa a um projeto
ação política restringir-se-ia à luta por vantagens individuais ou grupais. histórico, definindo fins e objetivos para a educação escolar;
Por essas razões, uma proposta política de educação para todos só - o paradigma epistêmico-conceitual que, ao definir a concepção de
pode ser gestada na ampla mobilização política de toda sociedade em suas conhecimento e a teoria da aprendizagem que orientarão as práticas peda-
diferenciadas esferas igualmente lúcidas e ativas. Isso se dá desde a gógicas, confere coerência interna à proposta, articulando prática e teoria.
articulação das propostas das escolas singulares no interior dos respectivos Em outras palavras poderíamos dizer que um projeto pedagógico politi-
sistemas de ensino e entre eles, de maneira a se considerarem as peculia- camente comprometido deverá (re)estruturar a escola em articulações
ridades culturais, os saberes e os poderes locais, as organizações dos coerentes, imprimindo-lhe uma unidade interna que se expressa:
profissionais da educação nos níveis próximos e imediatos e nas suas - no modo de conceber, organizar e desenvolver o currículo;
articulações políticas regionais e nacionais.
- nas formas de orientar o processo metodológico de condução do ensino;
A aprendizagem na mediação da docência em sala de aula.
- nas relações amplas e complexas do cotidiano escolar responsáveis
São suportes necessários à docência atenta à qualidade das efetivas pelas aprendizagens mais significativas, uma vez que consolidam valo-
aprendizagens intencionadas: res e desenvolvem cultura.
1) Um projeto político-pedagógico, cuja marca seja a permanente Esse projeto político-pedagógico deverá ser objeto de permanente vigi-
redefinição conceitual, por parte da comunidade escolar (interna e externa) lância teórica, tanto quanto aos conteúdos de ensino, as metodologias, a
sobre o que ela entende por: conhecimento, sociedade, educação, escola, avaliação e as normas administrativas:
ensino-aprendizagem, a educação que quer e para que, isto é, uma ética
dos valores a serem perseguidos. - as relações professor/aluno/escola/comunidade, entendidas co-
mo espaço sociocultural da ação educativa;
2) Uma programação para o curso dos estudos na escola (dinâmica
curricular), em que se correlacione a processualidade do ensino- - o planejamento e a organização do tempo pedagógico expresso
aprendizagem em cada ano, ou série, e para cada turma de alunos, na na forma de calendário e horários que privilegiem o tempo da ação e da
linha conceitual da escola e em eixos de articulação da concentração das reflexão, das atividades singulares e das ações coletivas;
atenções e da recorrência diversificada dos conceitos em cada etapa ou - as tecnologias educacionais e os instrumentos didáticos;
período letivo. - as atividades dos setores, desde os serviços mais simples, como
3) Um programa de atuação integrada da turma de alunos e da limpeza e merenda, até os que têm como função específica apoiar a ação
equipe de professores em cada período e subperíodo (semestre, bimestre, pedagógica, tais como o serviço de supervisão escolar, a orientação edu-
etc.), em que as disciplinas e os temas não apareçam isolados, nem os cacional, a biblioteca, a assistência em saúde, os clubes, as associações
alunos e os professores atuem cada um por si, mas os conceitos trabalha- de pais, os grêmios estudantis, etc.

Didática 45 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: A EXPERIÊNCIA DE UMA ESCO- 02. A classe social proprietária dos meios de produção retira seus
LA DE PERIFERIA URBANA NA CONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE. lucros da exploração do trabalho da classe trabalhadora, sendo que
Entendendo que os aspectos administrativos e burocráticos devem dar esta última, à qual pertencem ____ da população brasileira, é obrigada
sustentação à proposta pedagógica, a primeira condição para que esta se a trocar sua capacidade de trabalho por um salário que não cobre as
viabilizasse foi a organização foi a organização do tempo pedagógico suas necessidades vitais e fica privada, também, às satisfações de
através da elaboração de um calendário escolar prevendo espaço para suas necessidades espirituais e culturais.
reuniões e estudos. a) 60% b) 70% c) 50% d) 40%
Nessas reuniões, retomando as construções anteriores referentes à
função social da escola, o grupo de professores definiu princípios básicos 03. A formação profissional do professor é realizada nos cursos de
para a ação educativa centrados na concepção de que: Habilitação ao Magistério a nível de _____ e superior.
a) a ação pedagógica deve formar cidadãos conscientes, críticos, partici- a) infantil b) 1º grau c) 2º grau d) magistério
pativos e capazes de atuar na transformação do meio em que vivem;
b) o resgate da historicidade devolve aos sujeitos o poder da palavra
04. Porém, a escola pública está longe de atender essas finalidades e
espontânea e consciente;
o Poder Público não tem cumprido suas responsabilidades na manu-
c) o espaço da sala de aula transcende os limites da escola, atingindo a
tenção do ensino obrigatório e gratuito. Libâneo cita dados recentes
comunidade;
do Ministério da Educação que mostram que, ainda hoje, na maioria
d) o ensino precisa considerar os elementos culturais e valorativos im-
das regiões do país, cerca de 50% das crianças matriculadas na 1ª
bricados nas práticas sociais;
série repetem ou deixam a escola antes de iniciar a ______.
e) as formas como os sujeitos produzem sua existência (trabalho e la-
zer) geram o saber popular que, articulado ao conteúdo escolar, a) 5ª série b) 4ª série c) 3ª série d) 2ª série
promove o desenvolvimento da cultura;
f) o desenvolvimento da cultura permite aos sujeitos vislumbrarem me- 05. O movimento de renovação da educação, inspirado nas ideias de
lhores condições de vida por intermédio da participação, exercitando _______, recebeu diversas denominações, como educação nova,
sua cidadania. escola nova, pedagogia ativa, escola do trabalho.
Com base nessas concepções a organização curricular foi definindo a a) Rosseau b) Chaianov c) Platão d) Royseau
função de cada série no currículo, os conceitos básicos que deveriam ser
estruturados pelo aluno em cada etapa da escolaridade e os critérios gerais 06. A Pedagogia Renovada inclui várias correntes: a progressista (que
para uma avaliação progressiva que permitisse o acompanhamento da se baseia na teoria educacional de ________).
processualidade na construção do conhecimento.
a) John Deey b) John Dewey
Dessa tarefa, que envolveu os professores durante todo um ano letivo – já
que o cotidiano da escola implica uma complexidade de relações e tarefas que c) John Dewwey d) Joyhn Dewrey
não permite a dedicação exclusiva a uma só atividade -, resultou uma proposta
curricular, articulada e sequencial, da pré-escola à 5ª série, definindo: 07. Todas, de alguma forma, estão ligadas ao movimento da pedago-
gia ativa que surge no final do século ___ como contraposição à
a) objetivos gerais para cada modalidade de currículo (atividades
Pedagogia Tradicional.
ou áreas de estudos);
a) XVIII b) XX c) XIX d) XXI
b) objetivos específicos para cada série;
c) conceitos básicos que deveriam ser desenvolvidos em cada área
08. Entretanto, segundo estudo feito por Castro (___________), os
do conhecimento (conceitos linguísticos, matemáticos, sociais, das ciências
conhecimentos e a experiência da Didática brasileira pautam-se, em
naturais, da expressão estética e corporal, etc.).
boa parte, no movimento da Escola Nova, inspirado principalmente na
A concepção de que uma proposta curricular precisa ser flexível e estar corrente progressista. Destacaremos, aqui, apenas a Didática ativa
em permanente (re)construção, associada à circunstância de que essa inspirada nessa corrente e a Didática Moderna de Luís Alves de Mat-
escola analisada está implantando gradativamente o primeiro grau comple- tos, que incluímos na corrente culturalista.
to, faz com que a cada ano a proposta seja avaliada e complementada de
a) 1987 b) 1983 c) 1985 d) 1984
acordo com as construções próprias de um grupo que permanece sempre
atento às questões da prática, teorizando sobre elas.
09. Em paralelo à Didática da Escola Nova, conta Libâneo, que surge a
A consolidação da proposta, registrada e apresentada à Secretaria
partir dos anos __ a Didática Moderna proposta por Luís Alves de
Municipal de Educação abriu espaços de autonomia para que a direção
Mattos.
pudesse tomar as medidas administrativas coerentes com o projeto. A
limitação do número de alunos por turma, que requer aumento do quadro a) 50 b) 60 c) 40 d) 80
docente e também de espaço físico, é um exemplo dessa conquista: visan-
do a oportunizar uma interação organizada no processo de construção do 10. Na segunda metade da década de __, com a incipiente modificação
conhecimento e atender os alunos em suas individualidades, a escola do quadro político repressivo em decorrência de lutas sociais por
forma grupos de mais ou menos 25 alunos por turma. maior democratização da sociedade, tornou-se possível a discussão
A importância do dialogo na relação pedagógica de questões educacionais e escolares numa perspectiva de crítica das
instituições sociais do capitalismo.
A importância do diálogo na relação pedagógica é a própria construção
do conhecimento, em ambas as partes, pois não é só o aluno que aprende a) 50 b) 70 c) 80 d) 60
e cresce com a construção do conhecimento, o professor também é atingi-
do nessa relação, ele acaba aprendendo com o aluno. Pois como dizem, o GABARITO
professor procura captar toda a riqueza que as crianças trazem para de fato
aprender com elas.
01.A 06.B
TESTES 02.B 07.C
01. A Pedagogia, segundo _______, recorre à contribuição de outras 03.C 08.D
ciências como a Filosofia, por exemplo, ao estudar a educação nos 04.D 09.A
seus aspectos sociais, políticos, econômicos, psicológicos, para
descrever e explicar o fenômeno educativo. 05.A 10.B
a) Libâneo b) Piaget c) Leptóteno d) Lames

Didática 46 A Opção Certa Para a Sua Realização

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