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Tema

 
Conceito atual das doenças peri-implantares: parte básica e implicações clínicas
Current concept on peri-implant diseases: basic knowledge and clinical implications
 
Autores
 
Mauro Pedrine Santamaria*
Marcio Zafallon Casati**
Francisco Humberto Nociti Júnior***
Antônio Wilson Sallum****
Enilson Antônio Sallum*****
 
Resumo
 
Os implantes osseointegrados tornaram-se a primeira escolha para a reabilitação de
espaços edêntulos. Por isto, o número de implantes colocados aumenta a cada dia e,
com eles, as complicações como a mucosite e a peri-implantite. O objetivo do
presente trabalho é trazer informações atualizadas disponíveis sobre a etiologia das
doenças peri-implantares, suas prevalências, formação do biofilme sobre os implantes,
características histológicas, características clínicas das doenças peri-implantares e o
papel do trauma de oclusão na perda dos implantes osseointegrados.
Unitermos - Implantes dentais; Mucosite; Peri-implantite.
 
Abstract
 
Osseointegrated implants have become the first choice for the rehabilitation of
edentulous patients. Therefore, the number of implants placed is increasing and so its
complications such as mucositis and peri-implantitis. The aim of this revision is to
bring updated information available on the etiology of peri-implant disease, its
prevalence, the biofilm formation on the implant surface, its histological features,
clinical characteristics of peri-implant disease, and the role of occlusal trauma on the
loss of osseointegrated implants.
Key Words - Dental implants; Mucositis; Peri-implantitis.
 
* Doutor em Clínica Odontológica - Faculdade de Odontologia de Piracicaba -
Universidade Estadual de Campinas.
** Livre-docente da Disciplina de Periodontia - Faculdade de Odontologia de
Piracicaba - Universidade Estadual de Campinas.
*** Professor Titular da Disciplina de Periodontia - Faculdade de Odontologia de
Piracicaba - Universidade Estadual de Campinas.
**** Professor Titular da Disciplina de Periodontia - Faculdade de Odontologia de
Piracicaba - Universidade Estadual de Campinas.
***** Professor Titular da Disciplina de Periodontia - Faculdade de Odontologia de
Piracicaba - Universidade Estadual de Campinas.
 
Texto
 
Introdução e Proposição
Desde a comprovação da osseointegração na década de 1960, feita por Brånemark, os implantes endósseos,
ou implantes osseointegrados, têm sido utilizados em larga escala na reabilitação de indivíduos edêntulos. Com o
aprimoramento das técnicas cirúrgicas, dos materiais utilizados e dos próprios cirurgiões os implantes
constituíram-se na primeira opção terapêutica para a reabilitação oral, desde casos onde um único elemento tem de
ser substituído, bem como nos casos de reabilitação total. Estima-se que aproximadamente 500.000 implantes são
colocados somente nos Estados Unidos todos os anos1.
Este sucesso se deve às inúmeras vantagens que a reabilitação através dos implantes têm sobre as demais
formas de reabilitação. Estas vantagens incluem maior estabilidade protética, o que aumenta a segurança e a
autoestima dos indivíduos reabilitados, maior poder de mastigação, maior conforto e a possibilidade de preservar as
estruturas dentárias vizinhas, pois, muitas vezes, não há necessidade de se utilizar os elementos dentais vizinhos
como pilares nas próteses.
No entanto, a manutenção, por um longo período de tempo, dos implantes já osseointegrados em função
depende da manutenção da integridade da osseointegração conseguida e da saúde do selamento de tecido mole ao
redor do implante. Estudos anteriores têm demonstrado que uma das maiores causas de perda da osseointegração, e
por consequência da perda dos implantes, é a inflamação dos tecidos moles ao redor do implante, causada pelo
biofilme dental, a peri-implantite. Assim como os dentes naturais, os implantes se encontram em condição
transmucosa e a reabilitação sobre o implante, também como os dentes naturais, oferece uma superfície não
descamante propícia ao acúmulo de biofilme dental. Por isto, os implantes também estão sujeitos às consequências
trazidas pelo excesso de acúmulo de biofilme, que pode se traduzir em mucosite peri-implantar e peri-implantite.
Devido a alta frequência que os clínicos estão utilizando os implantes para tratar seus pacientes, o objetivo da
presente revisão é trazer as informações atualizadas disponíveis sobre a etiologia das doenças peri-implantares, as
suas prevalências, a formação do biofilme sobre os implantes, as características histológicas e clínicas das doenças
peri-implantares e o papel do trauma de oclusão na perda dos implantes osseointegrados.

Revisão da Literatura
Doenças peri-implantares
Assim como as doenças que envolvem os dentes naturais, a gengivite e a periodontite, os implantes
osseointegrados também possuem estas duas categorias de doenças. Para os implantes, a doença similar à gengivite
é chamada de mucosite peri-implantar, que é definida com a reação inflamatória nos tecidos moles ao redor dos
implantes em função, sem sinais de perda óssea; enquanto a peri-implantite é a inflamação da mucosa ao redor do
implante associada a perda de suporte ósseo2.
Para a detecção da inflamação ao redor do implante é importante não só o exame visual para checar os sinais
de inflamação (vermelhidão, edema, perda de forma e contorno do tecido mole), mas também o estímulo mecânico
com uma sonda periodontal. A sondagem vai oferecer parâmetros clínicos, como a presença ou ausências de
sangramento a sondagem e a profundidade de sondagem, que são vitais para a detecção das doenças. Quando a
mucosa peri-implantar sangra a sondagem feita com pressão adequada (10 a 20 gramas), isto indica a presença de
inflamação. Para a avaliação da peri-implantite é importante a observação da margem óssea através de radiografias.
Neste contexto, é fundamental a distinção entre o remodelamento ósseo que ocorre nos estágios iniciais após a
colocação do implante e a perda óssea provocada pela doença. A Figura 1 mostra supuração a sondagem de
implante em mandíbula e a Figura 2 mostra a perda óssea atingindo até a segunda rosca do mesmo implante da
Figura 1, caracterizando uma peri-implantite.

Doenças peri-implantares vs doenças periodontais


Assim como as doenças periodontais, as doenças peri-implantares são a resposta ao acúmulo de biofilme dental.
Autores3, através de um estudo clássico de gengivite experimental, demonstraram que o biofilme é o causador da
gengivite e que o seu acúmulo leva, invariavelmente, à inflamação gengival em 100% dos casos. Estudos semelhantes
foram feitos com pacientes que possuíam reabilitação com implantes. Pesquisadores4 incluiram 20 pacientes que
haviam sido reabilitados com implante. Estes pacientes foram mantidos, durante seis meses após a instalação das
próteses, em um regime de profilaxia e instrução de higiene oral mensal, até que saúde peri-implantar e periodontal
fossem alcançadas. Após a tomada dos parâmetros clínicos, os pacientes foram requeridos a não fazerem mais a
higiene oral por três semanas, nas quais nenhuma medida de higiene oral, seja fio dental ou escovação, foi permitida.
Após as três semanas, foi observado que o biofilme dental se desenvolveu de forma semelhante nos dentes naturais e
nos implantes. Houve uma transição similar em dente e implante de um biofilme gram positivo aeróbio para um
biofilme com bastonetes móveis, bactérias gram negativas e anaeróbias, característico de doença periodontal. Os
parâmetros clínicos também tiveram mudanças semelhantes quando implantes e dentes foram comparados com o
aumento da inflamação gengival (sangramento a sondagem) e aumento na profundidade de sondagem.
Em um estudo semelhante ao anterior, outros autores5 avaliaram a resposta dos tecidos moles ao redor de
dentes e implantes em 12 pacientes saudáveis. Estes pacientes tiveram os cuidados com a higiene oral
interrompidos por três semanas e o exame clínico e biopsia de tecido foram feitas antes da interrupção da higiene
oral e, após as três semanas, foi observada que a inflamação dos tecidos moles, seja ao redor dos dentes ou dos
implantes, acompanhava o crescimento do biofilme dental, confirmando os achados do estudo anterior.
Em estudos em animais, foi avaliada a resistência da mucosa peri-implantar a longos períodos de acúmulo de
biofilme. Para tais estudos foi utilizado um modelo em cães, no qual os pré-molares de um lado da mandíbula foram
extraídos. Após três meses de cicatrização dos alvéolos, implantes osseointegrados foram instalados. Após a colocação
dos implantes, mais três meses foram esperados para que a mucosa do local cicatrizasse e, após isto, os cães foram
submetidos a um meticuloso controle de placa para que, tanto a gengiva ao redor dos dentes contralaterais da
mandíbula (que serviram como controle nos estudos), quanto a mucosa ao redor dos implantes, apresentassem saúde.
Constatada saúde, uma ligadura de algodão foi colocada ao redor dos dentes e implantes e dieta pastosa foi dada aos
cães para facilitar o acúmulo de biofilme. Após três meses de acúmulo de placa, os resultados demonstraram que o
volume de biofilme acumulado ao redor dos implantes foi semelhante ao volume ao redor dos dentes. Porém, a
histologia mostrou que o infiltrado inflamatório na mucosa peri-implantar se estendia mais apicalmente quando
comparada com a gengiva6. Adicionalmente, a mucosa peri-implantar apresentava um número de fibroblastos menor
do que a gengiva dos dentes naturais, característica semelhante ao tecido cicatricial. Na doença periodontal, a
destruição tecidual se dá de forma episódica, ou seja, alternando fases de destruição e fases de reparo. Da mesma
forma, no tecido peri-implantar a destruição se dá de forma semelhante, em ciclos de destruição e reparo. Porém,
como o número de fibroblasto é menor do que na gengiva, esta característica faz com que a fase de reparo não seja
suficientemente eficiente para repor todas as fibras destruídas pela inflamação, culminando assim, em maior extensão
do infiltrado inflamatório visto pelo estudo. Em outro estudo7 foi demonstrado que a formação de biofilme e extensão
do infiltrado inflamatório independe do sistema de implante utilizado com o mesmo tipo de superfície.
Em outros estudos em cães, onde peri-implantite foi comparada com doença periodontal, observou-se que o
infiltrado inflamatório peri-implantar se estendia até dentro do trabeculado ósseo do processo alveolar,
diferentemente da doença periodontal, em que sempre havia uma faixa de aproximadamente 1 mm de tecido
conjuntivo entre a crista óssea e o infiltrado inflamatório8. Em biopsias feitas em lesões de peri-implantite em
humanos foi observado, em muitos casos, que as lesões peri-implantares não são encapsuladas como as lesões
periodontais e que muitas vezes o biofilme está em contato direto com o tecido conjuntivo9.

Peri-implantites em diferentes superfícies de implante


Em outro estudo utilizando o modelo em cães, foi avaliada a progressão das lesões peri-implantares em
diferentes tipos de superfícies de implantes. Os animais tiveram os pré-molares mandibulares extraídos de ambos os
lados. Após a cicatrização dos alvéolos, implantes de superfície lisa foram instalados de um lado e implantes de
superfície tratada (jato de areia e ataque ácido) instalados no lado contralateral. Após a cicatrização dos tecidos moles,
lesões peri-implantares foram induzidas com ligadura de algodão e dieta pastosa. Após cinco meses foi feito o exame
histológico dos animais e foi observado que os dois tipos de implantes apresentaram lesões peri-implantares, porém,
os implantes de superfície tratada apresentavam mais biofilme acumulado, a lesão inflamatória tinha um tamanho
maior e o defeito ósseo também era maior. Os autores concluíram que as lesões peri-implantares que não forem
tratadas tendem a evoluir mais rapidamente em implantes com superfícies tratadas10.

Epidemiologia das doenças peri-implantares


Prevalência é definida como a porcentagem ou número de indivíduos, dentro de uma determinada população,
que são acometidos por uma doença ou condição. Embora poucos estudos estejam disponíveis com dados sobre a
prevalência das doenças peri-implantares, o sangramento da mucosa peri-implantar sem a perda de tecido ósseo, a
mucosite, tem sido reportada em 80% dos pacientes com implantes e em 50% dos implantes. Já a inflamação da
mucosa associada a perda óssea, que caracteriza a peri-implantite, acomete entre 28 e 56% dos indivíduos que
possuem implantes e entre 12 e 43% dos implantes11.
Existem ainda, algumas condições que podem aumentar a prevalência das doenças peri-implantares. Estudos
demonstraram que a higiene oral pobre aumenta as chances de peri-implantite (OR 14.3) 11-12. Outros estudos13-14
demonstraram que implantes colocados em pacientes com histórico de doença periodontal apresentam,
significativamente, mais doença peri-implantar e menor taxa de sobrevivência. O cigarro também tem sido
associado a uma maior prevalência de peri-implantites em pacientes fumantes comparados aos não fumantes e
menor taxa de sobrevivência15. O consumo de cigarro pode influenciar negativamente as infecções periodontais e
peri-implantares de diversas formas. Uma delas é a vasoconstrição provocada pelo produto da queima do cigarro.
A vasoconstrição diminui o aporte sanguíneo para os tecidos periodontais e peri-implantares e com isto diminui,
também, a chegada de células de defesa como neutrófilos e linfócitos, diminuindo assim a capacidade de defesa do
local. Além disto, o ambiente subgengival fica com um gradiente menor de oxigênio o que favorece o crescimento
de bactérias anaeróbias, como Prophiromonas gengivalis, Aggregatibacter actinomycetemcomitans e Treponema
denticola, que são consideradas patogênicas16. Outro mecanismo pelo qual o cigarro pode atuar é o efeito que a
nicotina tem sobre as células de defesa. Estudos demonstraram que a nicotina suprime as funções de defesa de
neutrófilos e macrófagos, podendo assim facilitar a progressão das lesões periodontais e peri-implantares17.
Além do cigarro, indivíduos com diabetes descontrolada apresentam maior risco para doenças peri-
implantares12. O aumento na glicemia pode aumentar o risco das doenças peri-implantares através de alguns
mecanismos. Um grupo de pesquisadores18 constatou que indivíduos que tinham a glicemia descontrolada,
apresentam proporção maior de bactérias relacionadas à doença periodontal, como Prophiromonas gengivalis,
Prevotella intermedia e Aggregatibacter actinomycetemcomitans. Outro mecanismo é que o aumento da glicemia
gera resposta imune piorada, pois há redução na função de células polimorfonucleares como os neutrófilos, por
exemplo, que funcionam como a primeira linha de defesa contra o biofilme dental no sulco gengival, além de
causar uma deficiência na quimiotaxia destas células até o local infectado19. Também, foram encontrados maiores
níveis de citocinas pró-inflamatórias como IL-1 e PGE no fluido gengival de pacientes com glicemia acima do
normal. Estas citocinas podem provocar reações que levam a maior reabsorção óssea20.

Trauma de oclusão e perda dos implantes osseointegrados


Ainda não está estabelecido qual o real papel que o trauma de oclusão ou a sobrecarga oclusal tem sobre a
osseointegração. Em um estudo utilizando em cães21 foi avaliado o papel da sobrecarga oclusal em implantes já
osseointegrados. Foram extraídos os pré-molares mandibulares dos animais e após três meses os implantes foram
instalados de ambos os lados. Após o período de cicatrização de três meses, coroas de ouro foram colocadas em
supraoclusão para gerar prematuridades oclusais de um dos lados da mandíbula e os implantes contralaterais não
foram carregados. Durante todo o período do estudo foi feito controle de biofilme dos animais. Radiografias e
parâmetros clínicos foram avaliados entre um, três, seis e oito meses após a instalação das coroas e aos oito meses os
animais foram sacrificados para avaliação histológica. Os autores não observaram nenhuma diferença estatisticamente
significante em relação a altura da crista óssea, no nível de inserção, profundidade de sondagem e mobilidade. A
histologia também não demonstrou diferenças entre o grupo que recebeu sobrecarga em relação ao que não recebeu.
Outros estudos, também em cães, tiveram o objetivo de avaliar o papel de forças axiais e não axiais nos
implantes. De forma geral, no estudo anterior não foi observada perda óssea marginal nos implantes que receberam
as forças quando comparados aos implantes que não receberam as forças. As avaliações histológicas demonstraram
maior atividade osteoclásticas, maior contato osso/implante e maior densidade mineral nos implantes
sobrecarregados, sinais estes que foram interpretados como uma remodelação adaptativa do osso peri-implantar22-23.
Em um estudo em macacos24-25 foi observado que em determinadas condições, a sobrecarga oclusal pode levar
a perda do implante osseointegrado. Nesse estudo quatro macacos receberam 18 implantes, nos quais oito deles
foram submetidos à força oclusal excessiva não axial (fora do longo eixo do implante) e nos dez restantes foram
induzidas lesões de peri-implantite. Após 18 meses, dois, dos oito implantes que haviam recebido forças oclusais
excessivas, foram perdidos e a análise histológica demonstrou um encapsulamento com tecido fibroso de toda a
extensão do corpo do implante. Além disto, o osso trabeculado adjacente a estes implantes apresentava-se pouco
denso comparado aos outros implantes e não apresentava perda óssea na crista do rebordo. Outros dois implantes
do grupo, nos quais foram induzidos peri-implantite, apresentaram perda parcial da osseointegração a partir do
crista óssea marginal. O autor concluiu que a sobrecarga pode gerar perda dos implantes onde não há uma
densidade adequada do osso alveolar.

Discussão
Os implantes osseointegrados são a primeira escolha na reabilitação de elementos dentais perdidos, por serem
uma alternativa eficiente para devolver a função e a estética. No entanto, quando se decide extrair um dente para
posterior reabilitação com implantes osseointegrados, seja qual for a indicação, deve ser levada em consideração a
posterior manutenção do implante na cavidade oral; visto que, como anteriormente descrito, os implantes têm
muitas características em comum com os dentes naturais.
Estas características em comum incluem biofilmes similares, tanto em saúde quando em doença. A sequência de
colonização vai de cocos gram positivos aeróbios em saúde, que transitam para bactérias gram negativas anaeróbias
em doença (peri-implantite e periodontite). Os estudos demonstraram que em períodos de curta duração de acúmulo de
biofilme (três semanas) a mucosa peri-implantar e a gengiva respondem de forma semelhante, produzindo uma
resposta inflamatória de tamanho e características semelhantes. Porém, quando o acúmulo de biofilme é mais longo,
os estudos demonstraram que a mucosa peri-implantar parece responder pior quando comparada à gengiva ao redor
dos dentes. O maior infiltrado inflamatório e a falta de encapsulamento da lesão parecem estar relacionados ao menor
número de fibroblastos a orientação paralela das fibras conjuntivas presentes no tecido peri-implantar. O
conhecimento destas informações sugere que a manutenção das condições de saúde dos tecidos peri-implantares deve
ser tão ou mais rigorosa do que para os dentes naturais, devido a esta diferença de resposta. Medidas de orientação de
higiene oral, constante avaliação dos tecidos peri-implantares com sondagem, radiografias e profilaxia para controle
da formação do biofilme e de cálculo devem ser feitas em intervalos frequentes de dois a quatro meses.
Outro cuidado especial estaria relacionado ao tipo de superfície do implante utilizado. Vários estudos
demonstram que o tratamento de superfície do implante tem um efeito benéfico para se conseguir a
osseointegração. Estes implantes parecem favorecer o processo de formação óssea e, com isto, a espera para o
carregamento dos implantes tende a diminuir. Por este motivo, a utilização dos implantes de superfícies tratadas
vêm aumentando. No entanto, estudos demonstram que a superfície tratada, por ser mais rugosa, pode aumentar a
retenção de placa nas lesões peri-implantares podendo, assim, favorecer a progressão das lesões peri-implantares.
Como foi constatado anteriormente10, as lesões peri-implantares em implantes de superfície tratada tendem a
evoluir mais rapidamente. Isto também sugere que o monitoramento das condições de saúde dos implantes, com
superfície tratada, tem de ser rigoroso e que a eficiência em se conseguir a osseointegração promovida pelo
tratamento de superfície não pode ser confundida com a diminuição do risco de aparecimento de lesões peri-
implantares.
Em vista das semelhanças relacionadas ao fator etiológico (biofilme dental) e a resposta inespecífica dos tecidos
frente a este biofilme (inflamação), entre doença periodontal e as doenças peri-implantares, foi sugerido que as
doenças são bastante semelhantes. Por consequência, poderíamos assumir que os fatores de risco ou indicadores de
risco para a doença periodontal, que são as condições que podem influenciar na iniciação e progressão das doenças
periodontais, como fatores que poderiam interferir também nas doenças peri-implantares. Ou seja, a presença de
determinadas condições sistêmicas, ambientais e comportamentais poderiam acelerar o processo das doenças peri-
implantares. Foi observado em estudos que o diabetes mal controlado, tabagismo, assim como a má higiene oral
podem aumentar as chances de peri-implantite (o que também acontece nas doenças periodontais). Os mecanismos
pelos quais estas condições aumentam as chances de periodontite e peri-implantite incluem a supressão das funções de
defesa de células do sistema imune e o favorecimento do crescimento de bactérias, que são consideras patogênicas.
Por este motivo, atenção especial deve ser dada para os pacientes que apresentam estas condições e são portadores de
implantes osseointegrados.
Outro dado importante é o fato dos pacientes com história de doença periodontal apresentarem maior risco
para perda do implante e para o desenvolvimento de peri-implantite. Muitos dentes com perda de suporte
decorrente de doenças periodontais são extraídos para a colocação de implantes. No entanto, a extração dos
elementos dentais com doença periodontal não elimina a susceptibilidade do indivíduo para o desenvolvimento de
uma resposta inflamatória, que vai levar a perda óssea, seja ela ao redor de dentes naturais ou ao redor de
implantes. É esta a conclusão que chegaram estes estudos que avaliaram o sucesso de implantes osseointegrados
em pacientes com história positiva para doença periodontal.
Em relação ao trauma de oclusão, ainda há poucos estudos disponíveis sobre o real papel da sobrecarga
oclusal na manutenção da osseointegração. Além disto, estes estudos não permitem que uma conclusão seja feita
por diversos motivos. O primeiro deles é que a maioria dos estudos foi feita em cães, o que não permite a detecção
precisa de sinais e sintomas clínicos que indiquem a sobrecarga oclusal das metodologias utilizadas. Outro ponto, é
que não há certeza de que as forças aplicadas, realmente, são forças excessivas que ultrapassam o limite de
adaptação dos tecidos dos animais, o que caracterizaria o trauma oclusal. Ainda há a necessidade de estudos em
humanos para avaliar o papel do trauma oclusal nos implantes. No entanto, de acordo com as informações
produzidas por pesqusiadores24-25, forças excessivas podem desempenhar um papel na perda da osseointegração.
Apesar de outros estudos indicarem que não há uma relação entre trauma e perda de implantes, seria prudente um
ajuste oclusal meticuloso fosse feito após a instalação das peças protéticas e que a avaliação da oclusão deveria ser
feita nas visitas de manutenção. Além disto, atenção especial deveria ser dada à oclusão, especialmente, nas áreas
onde a densidade óssea é menor, como em regiões posteriores de maxila.
A manutenção dos implantes, em função a longo prazo, depende do monitoramento das condições de saúde do
selamento de tecido mole ao redor dos mesmos e checagem da oclusão. Como visto anteriormente, os implantes
guardam semelhanças muito grandes com os dentes naturais, em relação ao desenvolvimento de doenças inflamatórias
nos tecidos adjacentes, seja na etiologia, na patogênese e até no tratamento destas condições. Por este motivo, seria
inteligente utilizar da experiência acumulada que a Periodontia possui para favorecer os implantes. Apesar das
doenças peri-implantares evoluírem lentamente, assim como as maioria das doenças periodontais, elas podem levar
a perda do implante. Já está bem estabelecido na literatura que dentes comprometidos periodontalmente podem ser
mantidos por longos períodos de tempo em função através da terapia periodontal de suporte. Os implantes podem
se favorecer disto também.
A terapia periodontal de suporte consiste em uma série de medidas que visam prevenir o aparecimento ou a
recorrência de doenças, no caso as doenças de tecido mole (periodontais e peri-implantares). Para isto, chamadas
constantes, em intervalos curtos de tempo (dois a cinco meses), são feitas para avaliação clínica, radiográfica e
anamnese. Que inclui avaliação da oclusão, do controle de placa feito pelo paciente e exame dos tecidos moles,
através de inspeção visual de sinais de inflamação e através de sondagem do sulco peri-implantar. A sondagem é
fundamental para estimular mecanicamente a mucosa peri-implantar em busca de sangramento a sondagem,
supuração e aumento na profundidade de sondagem, o que indicaria a presença de inflamação e uma possível perda
de suporte ósseo. A sondagem pode ser feita com qualquer tipo de sonda periodontal, plástica ou de metal,
respeitando-se o limite de 10 a 20 gramas na sondagem, evitando injúrias aos tecidos. Além disto, radiografias
anuais, para o monitoramento da altura da crista óssea, e uma entrevista com o paciente para avaliar possíveis
indicadores de risco para doenças peri-implantares que possam ter aparecido. A conquista e manutenção da
osseintegração foi um grande passo na reabilitação oral; evita as doenças peri-implantares é responsabilidade de
quem tem pacientes que foram ou serão reabilitados com os implantes.

Endereço para correspondência:


Mauro Pedrine Santamaria
Faculdade de Odontologia de Piracicaba
Avenida Limeira, 901
13414-901 - Piracicaba - SP
Tel.: (19) 2106-5301
maurosantamaria@gmail.com

 
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