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Universidade Potiguar

Escola da Saúde
Curso de Psicologia
Técnicas de Pesquisa

AS CONSEQUÊNCIAS DO CONSUMO DE DROGAS NA GESTAÇÃO PARA


O DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ

Janaína Bulhões de Araújo


Ruth Caroline de Morais Fonseca
José Deildo de Souza

Natal/RN
2018
Janaína Bulhões de Araújo
Ruth Caroline de Morais Fonseca
José Deildo de Souza

AS CONSEQUÊNCIAS DO CONSUMO DE DROGAS NA GESTAÇÃO PARA


O DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ

Trabalho de Pesquisa apresentado ao curso


de Psicologia da Universidade Potiguar – UnP,
como requisito parcial para conclusão de
semestre da disciplina Técnicas de Pesquisa.
Professor: Daniel Carvalho

Natal/RN
2018
Em nossos estudos, discutiremos acerca das consequências do
consumo de drogas na gestação para o desenvolvimento do bebê.

O interesse desse tema, surgiu em virtude do aumento do consumo de


álcool e outras drogas entre as mulheres, e por se tratar de um grande problema
de saúde pública que repercute de maneira aterrorizante na sociedade.

Ademais, acreditamos que a discussão desse tema contribui


sobremaneira à sociedade, por se tratar de um assunto que vai além do efeito
nos indivíduos que consomem drogas de abuso, como também, por promover o
conhecimento da realidade da situação do consumo dessas substâncias e os
riscos do uso durante a gestação, posto que leva ao comprometimento
irreversível da integridade da gestante, feto e recém-nascido.

Da mesma maneira, tal tema se torna relevante, por colaborar com a


academia, tendo em vista que há uma carência bibliográfica sobre essa temática.
Nesse sentido, tal debate possibilitará o incentivo à futuras pesquisas,
objetivando a orientação, prevenção e tratamento adequados às mulheres em
idade fértil, gestantes e puérperas usuárias de drogas, tendo em vista que, no
Brasil, há uma insuficiência de protocolo específico para o atendimento das
gestantes usuárias de álcool e outras drogas.

Por fim, o estudo tem por objetivo geral, descrever os efeitos do uso de
drogas na gestação e as implicações para o recém-nascido e de maneira
específica, levantar as causas que levam as mulheres a iniciarem o uso de
drogas antes e durante a gestação, identificar as drogas mais comumente
utilizadas pelas gestantes, bem como, apontar as principais repercussões
físicas, neurológicas e psicológicas ao recém-nascido exposto à drogas no
período gestacional.

Nesse tópico se faz relevante compreender os fatores desencadeantes


associados ao uso de drogas antes e durante a gravidez a fim de explicitar
melhor os perigos e consequências desse uso.
Para tanto, se faz necessário entender, primeiramente, acerca do uso de
drogas, que é visto como uma prática do ser humano, tida como milenar.
Para (MARANGONI e OLIVEIRA, 2013), nas diversas sociedades, as
drogas eram usadas com fins medicinais, culturais e religiosos. Porém, é a partir
do século XX, que o consumo se tornou preocupação mundial, em função da
frequência e dos danos sociais associados ao uso, comércio ilegal e tráfico. Vale
salientar, que o consumo abusivo de droga acarretam custos com justiça e
saúde, dificuldades familiares e notícias na mídia mundial.
A grande diferença do uso de drogas no passado para atualidade, é que
elas deixaram de ser um componente de integração e coesão em nível social e
emocional e passou a ser vista, na atualidade, como forma de uso individualizada
e abusiva, devido à enorme variedade de substâncias disponíveis no mercado e
fácil aquisição, contribuindo para a disseminação e iniciação ao consumo.
De forma geral, as drogas de abuso são classificadas, em lícitas e
ilícitas. Tradicionalmente, a relação dos problemas envolvendo o consumo de
álcool e outras drogas eram mais frequente entre os homens, mas as mudanças
no papel social da mulher vem determinando a diminuição dessa diferença.
(MARANGONI e OLIVEIRA, 2013), ainda ressalta outros fatores
relacionados ao aumento do consumo entre as mulheres, como: estímulos dados
às drogas lícitas como álcool, tabaco e anorexígenos pela mídia, que tende a
veicular o consumo associado à beleza, sedução, sucesso profissional e riqueza,
havendo dessa maneira, o apelo psicológico, que acaba influenciando de forma
negativa também as adolescentes. Ademais, em muitos casos, o uso de tabaco
e de álcool inicia-se primeiramente na família ou entre amigos.
Se faz notório observar, um aumento considerável do número de
mulheres usuárias de álcool e outras drogas de abuso que dão entrada em
hospitais da rede pública, com alterações clínicas, cirúrgicas e obstétricas em
virtude do comportamento aditivo. Nesse sentido, é de fundamental importância
conhecer os fatores desencadeantes do uso abusivo de drogas por essas
mulheres, com o intuito de direcionar ações de saúde para mãe e filho, perante
as políticas públicas, para que acolham e vinculem este público alvo.
Nesse sentido, é importante destacar, que o fenômeno das drogas de
abuso em mulheres, tem sido influenciado pelos contextos econômico, social e
cultural. Dentre os fatores desencadeantes do uso de drogas de abuso, estão: o
gênero, a baixa escolaridade, a idade, a inexistência de vínculo empregatício, a
presença da droga na comunidade em que mora, a influência de amigos,
familiares e do companheiro, seja ele atual ou do passado, dentre outros.
Por outro lado, (MARANGONI e OLIVEIRA, 2013) destacam, que há
relatos na mudança de comportamento de usuários de drogas quando há
eventos significativos de vida que tendem a favorecer a interrupção do consumo,
onde esses indivíduos passaram da fase compulsiva do uso de drogas para
níveis controlados, como forma de autorregulação do próprio usuário. Levando-
se em conta a gravidez, como sendo um evento significativo da maternidade,
deveria ser um ponto de virada, com consequente diminuição ou abstinência de
drogas, o que na prática, em alguns casos, isso não ocorre.
Em relação a iniciação ao uso de drogas, pode ser considerada
multifatorial e não está associado unicamente à experimentação, dentro de um
processo, onde fatores individuais, familiares e sociais adversos se combinam
de forma a aumentar a probabilidade da continuidade disfuncional do uso, muitas
vezes ligadas à necessidade que o indivíduo tem de manter sua consciência
alterada. Ademais, a iniciação e a continuidade do uso podem ocorrer, tanto pela
ineficiência de políticas públicas sociais, como de empoderamento.
Para (MARANGONI e OLIVEIRA, 2013), Outro fator relevante, diz
respeito à relação do papel da família, na iniciação ao uso de drogas, tendo em
vista, a existência de familiares usuários de drogas, lícitas ou ilícitas. Embora o
consumo de drogas pelos pais esteja relacionado ao maior risco dos filhos se
tornarem usuários, pois tal comportamento lhes servem de modelo, é a atitude
permissiva, que mais predomina. Logo, a família tem papel determinante na
criação de condições relacionadas, tanto ao uso abusivo quanto aos fatores de
proteção e deve ser vista de forma integral.
Infelizmente, a violência doméstica e as situações de conflitos no âmbito
familiar, são experiências frequentes no cotidiano das famílias, com histórico de
drogadição. Em sua maioria, a violência praticada em ambiente domiciliar,
mostra que o agressor estava alcoolizado. Neste contexto, a família pode ser um
fator de risco ou de proteção para o uso de drogas.
Não obstante, apesar da existência de programas governamentais
educacionais, assistenciais e de saúde, direcionados aos usuários de drogas,
estes, na prática, não atendem à demanda. Além disso, na maioria das vezes, a
família não possui conhecimento da rede assistencial do Sistema Único de
Saúde e acesso aos serviços, nos quais as usuárias e sua família podem receber
possibilidades de tratamento e reinserção social.
Segundo, ROCHA, et al., (2016), o período da gestação, envolve
grandes mudanças na vida da mulher, ocasionando transformações relevantes
de ordem física, psicológica e em seu papel social e familiar. Todavia, o uso, o
abuso e a dependência de drogas, por serem capaz de provocar consequências
físicas graves, tanto para a mãe quanto para a criança, refletem uma grande
apreensão para as diversas instituições e sociedade.
Nesse contexto, o uso de drogas consideradas lícitas durante a
gestação, podem levar ao comprometimento, muitas vezes irreversível, da saúde
da mulher e da criança. A gestante que costuma usar tais drogas lícitas, pode
ter abortamento e o feto apresentar lesões neurológicas e orgânicas, podendo a
criança nascer com sinais e sintomas da síndrome alcoólica fetal (SAF), além
disso, os filhos revelam menor peso ao nascerem, e com isso, há um aumento
do índice de mortalidade fetal e neonatal, malformações fetais e abortos
espontâneos.
Já no que tange ao uso de drogas ilícitas na gestação, estas são
consideradas danosas e ocasionam sérios agravos à saúde física e ao bem-
estar psicossocial da mãe e da criança, como aborto, prematuridade, baixo peso
ao nascer e diminuição do perímetro cefálico.
Nessa perspectiva, ROCHA, et al., (2016) preconiza que:
O consumo de drogas ilícitas é apontado como sendo uma
grande problemática de saúde pública, que necessita de estudos
epistêmicos no Brasil, haja vista a dificuldade em observar a
ocorrência deste fenômeno que acomete as mulheres gestantes
que estejam em atendimento pré-natal, levando-se em conta, a
baixa adesão ao atendimento, que pode ser por questões
individuais, institucionais ou de dificuldade de acesso aos
serviços.

Em última análise, e diante dessa realidade, deve-se ressaltar que a


detecção das gestantes com maior risco de uso de drogas durante o pré-natal,
possibilitará uma intervenção antecipada, diminuição de comportamentos de
risco à saúde e melhoramento na qualidade da assistência tanto da mãe, quanto
do bebê.
Se faz importante, nesse momento, realizar um levantamento das
drogas mais comumente utilizadas durante a gestação, para que se possa
elaborar um perfil dessas gestantes usuárias de drogas, com o propósito de
conhecer melhor os fatores de risco, bem como, direcionar medidas de controle,
tratamento e prevenção.

Para (WRONSKI, et al., 2016), a gestação é um período de grandes


modificações físicas e psicológicas para a mulher. Nessa fase, a gestante passa
por experiências que irão influenciar sobremaneira a sua vida, envolvendo
questões de sua personalidade, história pessoal, resoluções de conflitos,
circunstâncias em que ocorre a gestação, atributos de sua evolução, fator
socioeconômico, contexto assistencial, apoio conjugal e familiar e perspectivas
relativas ao bebê.

Dessa maneira, o uso de álcool e drogas, continua sendo uma


problemática de saúde pública, e no contexto das gestantes, essa questão ganha
ainda mais relevância, pois a exposição dessas mulheres às drogas pode
comprometer de forma irreversível a integridade da mãe e do feto.

Segundo YAMAGUCHI, et al., (2008), existem poucos estudos


relacionando gestação com consumo de drogas. Inclusive, há pouca modificação
no comportamento dessas gestantes quanto ao consumo de drogas, tanto no
Brasil, quanto em outros países, haja visto que o diagnóstico dessa problemática,
deveria ser feito durante a anamnese da consulta pré-natal, porém, muitas
vezes, ocorre apenas durante a investigação de infecções, como a hepatite e o
vírus (HIV), por serem exames obrigatoriamente solicitados, durante consulta
pré-natal e estão ligados ao consumo de drogas.

Vale ressaltar, que o preconceito a essas mulheres gestantes só cresce,


dificultando, muitas vezes, um pedido de ajuda e com isso, essas gestantes
dificilmente fazem acompanhamento pré-natal e, quando o fazem, escondem o
uso de drogas.

Para (MAIA e MESQUITA, 2015), o álcool é considerado uma droga lícita


e sem restrições de consumo, e por isso, a torna mais acessível e utilizada
durante a gestação, contribuindo para o uso abusivo. Inclusive, no Brasil,
verifica-se um aumento no uso de álcool em gestante de faixas etárias cada vez
mais precoces, indicando assim, a necessidade de ações de controle, tratamento
e prevenção.
No tocante aos fatores de risco, relacionados ao uso abusivo de álcool,
durante a gestação, se faz oportuno esclarecer, que o álcool consumido pela
gestante atravessa a placenta, e assim, o feto fica exposto às mesmas
concentrações do sangue materno, fazendo com que o líquido amniótico
permaneça impregnado de álcool.
Nesse contexto, é oportuno frisar que o abuso de álcool durante a
gravidez, possui relação ao aumento do índice de abortos, bem como, de fatores
que podem comprometer o parto como, risco de infecções, deslocamento
prematuro de placenta, hipertonia uterina, parto prematuro e presença de
mecônio no líquido amniótico.
Ainda segundo (MAIA e MESQUITA, 2015), o tabaco é a segunda droga
mais consumida entre a população jovem, no Brasil e no mundo. Isso se deve
ao fácil acesso, estímulos para aquisição do produto através da mídia e a falta
de compreensão relacionados aos graves prejuízos causados à saúde. Tanto é,
que a maioria dos fumantes iniciam o uso do cigarro, antes dos 19 anos de idade.
E trazendo o contexto dessa problemática do uso do tabaco, durante a
gravidez, tal perspectiva, só reafirma os sérios riscos para a saúde materna e do
feto. Isso pode ser constatado, através de complicações ocorridas com a
placenta, através de episódios de hemorragia materna, além de abortos
espontâneos, nascimentos prematuros, complicações no parto, bebês com baixo
peso, mortes fetais e de recém-nascidos. Além disso, quando a mãe fuma
durante a amamentação, a nicotina é absorvida pela criança, por meio do leite
materno. (MAIA e MESQUITA, 2015)
A maconha, segue como sendo a substância ilícita mais consumida em
todo mundo e comumente usada pelas gestantes. Dentre os efeitos do uso da
maconha, se destacam: diminuição da memória, perda da inibição, sensação de
relaxamento ou euforia, alterações de percepção do tempo e espaço.
Yamaguchi, et al., (2008), ainda citam que o consumo da maconha,
concorre ao retardo do amadurecimento do sistema nervoso do feto e distúrbios
neurocomportamentais. Para as gestantes, o autor ressalta problemas no
sistema respiratório, bem como, irritabilidade.
Outro tipo de droga descrita por (MAIA e MESQUITA, 2015), que
também é utilizada na gestação é a cocaína, que no organismo materno provoca
grave vasoconstricção e, por atravessar a barreira placentária, estende esse
efeito maléfico ao feto. Além de propiciar essas anormalidades no
desenvolvimento da gravidez, a cocaína é hoje considerada teratogênica já que
se observa nas gestações de usuárias da droga, maior prevalência de
malformações fetais principalmente as do trato geniturinário, do coração e dos
vasos da base e da face.
Yamaguchi, et al., (2008) vem corroborar com tal perspectiva, quando
expressam que: “A prevalência do uso da cocaína, assim como de seu produto
alcalinizado (crack), tem aumentado dramaticamente na população obstétrica
durante as últimas décadas” (p.46). Os autores ainda evidenciam que esta droga,
rapidamente, perpassa a barreira placentária, provocando entre outros danos ao
feto, problemas cardiovasculares e no sistema nervoso central (YAMAGUCHI et
al.,2008).
No tocante ao perfil das gestantes usuárias de drogas, é importante
destacar, que em conformidade com a literatura, Moraes e Reichenheim (2007),
pontuam que os casos discutíveis de consumo excessivo de álcool durante a
gestação, são mais reiterados entre as mulheres com mais de 30 anos, que
possuem baixa escolaridade, entre as que se autodenominaram de cor branca,
não têm companheiro fixo e estão em relações onde o tabagismo e o abuso de
drogas ilícitas são habituais. Além disso, pontuam que o apoio social é escasso
e frágil.
Partindo dessa realidade, (MORAES e REICHENHEIM, 2007), ainda
evidencia que, o conhecimento sobre o perfil dessas gestantes usuárias de
drogas, deve ser aplicado, apenas como base para priorização de clientela em
situações de carência de recursos, haja visto, que muitos casos de consumo
abusivo, ocorrem entre mulheres que fogem do padrão convencionado na
literatura.
Os resultado mostram, que as consequências do uso excessivo de
drogas lícitas e ilícitas, bem como a influência de outros fatores como: violência,
agressão, mortes, problemas familiares e perdas afetivas, sejam pelo consumo
ou pelo tráfico dessas drogas, tem demonstrado que os mesmos também
refletem na saúde pública brasileira. Inclusive, sendo causas provenientes de
internações e atendimentos emergenciais, demonstrando assim que trata-se de
uma problemática social, que parece eterna, e mais ainda, em se tratando dessa
realidade, entre as gestantes. (MAIA e MESQUITA, 2015)
Nesse sentido, as ações de prevenção merecem maior destaque, nas
comunidades em situação de vulnerabilidade, com problemas provenientes do
uso de drogas. Dentre os inúmeros fatores de risco associados ao uso abusivo
de drogas, deve-se destacar aqueles onde há, precárias condições de moradia,
existência de tráfico de drogas e ausência de expectativas de trabalho.
Por fim, (MAIA e MESQUITA, 2015) propõem, a construção de políticas
públicas e programas sociais, que sejam mais adequados e direcionados a
gestante, dentro desse contexto, para que haja um maior controle e tratamento
do uso de drogas, com o intuito de estabelecer métodos de prevenção, que
minorem os efeitos causados por elas, tanto na gestante, quanto no recém-
nascido. Ademais, devido à complexidade que tal assunto merece, o mesmo
deveria ser amplamente discutido, mais veemente, de forma multiprofissional.

Diante de tais considerações, se faz oportuno nesse ponto, destacar as


consequências mais evidentes que acometem o recém-nascido exposto a
drogas, mais especificamente, às drogas lícitas, como o álcool e o tabaco
durante a gestação, com o intuito de enfatizar a importância do
acompanhamento médico multidisciplinar para prevenção, diagnóstico precoce
e tratamento tanto à gestante quanto ao bebê.
Para tanto, se faz pertinente relembrar acerca do abuso de tais drogas
na sociedade, que além de serem consideradas um preocupante problema de
saúde pública, que acomete milhares de pessoas em todo mundo, também é
responsável por diversas repercussões imediatas e tardias. E nas gestantes,
essa problemática é ainda maior, tendo em vista que a exposição de grávidas às
drogas, pode levar a malformações nos diversos sistemas do feto.
ALEXANDRINO, et. al., (2016), salienta ainda que, no que tange aos
parâmetros de consumo, especialmente, de álcool, durante a gravidez, alguns
estudos indicam que, quando a mulher tem consciência de que está grávida e
continua a consumir álcool, existe uma maior probabilidade de continuar a beber
até o final da gravidez, no entanto, outros estudos sugerem, que o consumo de
álcool por uma gestante tende a diminuir ao longo dos primeiros três meses.
Segundo Grinfeld (2009), existem pois, um número alto de mulheres que
consomem álcool durante a gravidez, no entanto, nesse período, é ainda
desconhecida a quantidade mínima e a frequência do consumo de álcool que
possa não afetar o feto. Isso faz crer, que mesmo os dados relativos a
associação das quantidades de álcool e padrões específicos a consequências
específicas, ainda serem desconhecidos, existe a síndrome Alcoólica Fetal –
SAF, que está associado a grandes consumos de álcool.
Isso posto, infelizmente, muitas mulheres não estão suficientemente
informadas, que durante toda a gravidez, mesmo baixos níveis de exposição ao
álcool, interferem no desenvolvimento e podem causar sérios danos ao feto.
(Grinfeld, 2009).
Nessa perspectiva, é oportuno frisar, que no Brasil, há poucos estudos
acerca dos efeitos do álcool e do tabaco, bem como suas consequências à mãe
e ao feto. Inclusive, (ALEXANDRINO et. al., 2016), salienta que, de forma geral,
o álcool é uma droga psicotrópica, que atua no sistema nervoso central,
provocando mudanças no comportamento, na qual desenvolve dependência. Da
mesma maneira, o tabaco também atua no sistema nervoso central com ação
similar, levando à dependência mesmo aos mínimos contatos.
Tal dependência, muitas vezes se caracteriza como sendo um ciclo
vicioso, com consequências devastadoras ao indivíduo, principalmente em se
tratando da gestante, onde os malefícios são ainda maiores, haja vista que o feto
de gestantes fumantes, também devem ser considerados fumantes de forma
ativa.
Para Rocha, (2015), as repercussões diretas do consumo de álcool para
o feto e para o recém-nascido são diversas e a exposição intra útero ao álcool é
extremamente perigosa, tendo em vista que todo o álcool ingerido pela gestante,
atravessa a barreira placentária, fazendo com que o feto esteja exposto às
mesmas concentrações do sangue materno.
Nesse sentido, a exposição fetal a tais níveis de concentração de álcool,
é maior, uma vez que o metabolismo e a eliminação são mais lentos, fazendo
com que o líquido amniótico permaneça absorvido de álcool não modificado,
podendo provocar danos ao embrião, com maior probabilidade de sofrer
doenças como: lesões cerebrais, problemas comportamentais, cognitivos,
alterações físicas, entre outros, podendo ser permanentes e irreversíveis.
Outrossim, (ALEXANDRINO, et. al., 2016), acrescenta que o álcool
também causa microcefalia, anormalidades estruturais e funcionais do cérebro,
incluindo defeitos na região cerebral crucial para memória, aprendizado e
atenção.
Além disso, a principal consequência do consumo de álcool é a SAF
(Síndrome Alcoólica Fetal), que diz respeito a diversidade de anormalidades
físicas, comportamentais e cognitivas que ocorrem na criança, como resultado
do abuso de álcool durante a gestação.
Dentre essas anormalidades que ocorrem às crianças que foram
acometidas pela SAF, inclui problemas na fala e comunicação, podendo falar
demais e/ou muito rápido, ter dificuldades com a desorganização e a perda de
pertences, mudanças de humor ou reações extremas, disfunções motoras,
déficit no desempenho escolar, dificuldade em iniciar/completar tarefas,
desatenção, interações sociais incorretas, por não conseguirem avaliar as
consequências do seu comportamento, bem como, respostas fisiológicas
incomuns.
No que tange a gestantes que fazem uso do cigarro, (ALEXANDRINO,
et al., 2016), enfatiza que o monóxido de carbono atravessa a barreira
placentária e, no feto, atinge níveis de concentração mais altos que no organismo
materno, nos quais agridem o sistema nervoso central do feto, podendo causar
lesões neurológicas irreversíveis.
Dentre as consequências mais evidentes ao feto e ao recém-nascido
estão as malformações, podendo acarretar defeitos no tubo neural, espinha
bífida e exencefalia. Inclusive, a nicotina também age causando danos celulares,
diminuição do número de células neuronais, possuindo relação com alterações
da cognição e do desenvolvimento psicomotor e sexual no jovem.
(ALEXANDRINO, et. al., 2016).
Em última análise, Rocha, (2015), ressalta que a prevenção possui um
papel fundamental, no sentido de alertar a população para as consequências do
consumo de álcool, tabaco, mas também de outras drogas durante a gravidez,
que refletem à mãe e ao recém-nascido. Inclusive, toda a informação deveria ser
transmitida através dos profissionais de saúde, governo e pela mídia, havendo
um maior engajamento de ordem intersetorial e multiprofissional.
Nesse sentido, seria crucial que o governo demonstrasse um papel mais
ativo, no sentido de implementar medidas para restringir o consumo de álcool e
outras drogas na gravidez, por meio da implementação de ações advindas de
políticas públicas mais eficientes, uma vez que se relaciona também com
questões sociais, que vão para além do foco individual, como já acontece noutros
países. (ROCHA, 2015)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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MARANGONI.S.R.; OLIVEIRA.ML.F. Fatores desencadeantes do uso de


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WRONSKI et al. Uso do crack na gestação: vivências de mulheres


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