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CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
elaborado por
David Luersen Moreira
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________
Rutinéia Tassi, Drª
(Presidenta/Orientadora)
______________________
Francisco Lorenzini Neto, Msc. (UFSM)
______________________
Jean Ricardo Favaretto, Msc. (UFSM)
Agradeço primeiramente à minha mãe Suzan, a quem eu simplesmente devo tudo que sou.
À minha irmã Natália, por ser a referência do que procuro ser como pessoa.
À Prof. Drᵃ. Rutinéia Tassi, por toda orientação, atenção e paciência durante um período
que se estende muito além do tempo de realização deste trabalho, fazendo meus sinceros
agradecimentos parecerem pequenos frente a toda ajuda prestada.
A todos meus amigos, irmãos e irmãs que a vida me deu. Em especial aos amigos Felipe
Gravina, Guilherme Quevedo, João Eduardo Azevedo e Raul Todeschini que foram técnica e
motivacionalmente indispensáveis para a realização deste trabalho.
À UFSM e a todo corpo de professores, por terem sido fundamentais na minha formação
profissional.
George Harrison
RESUMO
A urbanização é um processo que resulta em uma grande alteração no ciclo hidrológico natural por
implicar em mudanças como a impermeabilização do terreno e afetar processos naturais da água
como a evaporação, precipitação, infiltração e evapotranspiração das plantas. Estas alterações
causam o aumento dos picos e vazões de escoamento, efeitos que são contornados através do uso
de dispositivos de drenagem que visam minimizar os efeitos da água no ambiente urbano, evitando
problemas locais. Entretanto, tal drenagem é convencionalmente feita a partir de métodos que
propõem apenas a remoção da água rapidamente, causando problemas a jusante como inundações
e a contaminação dos corpos hídricos receptores. Assim, foram desenvolvidos métodos alternativos
de drenagem que fazem uso de diferentes conjuntos de técnicas que promovem um comportamento
do escoamento mais próximo ao natural, tratando a água mais como um recurso do que como um
problema a ser resolvido. Dentro destes conjuntos está o Desenvolvimento Urbano de Baixo
Impacto – LID. Dentro deste contexto, este trabalho compara através do modelo SWMM os
volumes de escoamento gerados no campus sede da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
atualmente, fazendo uso das técnicas convencionais de drenagem, com um cenário idealizado onde
estão sendo utilizadas as técnicas de drenagem de baixo impacto – LID. Foram utilizadas as
técnicas de pavimentos permeáveis, trincheiras de infiltração, células de biorretenção e cisternas.
Atestou-se de modo geral a efetividade das técnicas de LID na redução do volume de escoamento
superficial gerado. Destaca-se o desempenho dos pavimentos permeáveis e trincheiras de
infiltração, e salienta-se o baixo desempenho das células de biorretenção e cisternas nesta
configuração.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 13
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 13
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 14
3.1 EFEITOS HIDROLÓGICOS DO CRESCIMENTO URBANO E DA URBANIZAÇÃO
14
3.2 SISTEMAS DE DRENAGEM ....................................................................................... 16
3.2.1 Drenagem convencional: conceito Sanitário – Higienista .................................. 16
3.2.2 Drenagem alternativa, seguindo um enfoque Ambiental .................................. 17
3.2.3 Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto – LID ............................................ 18
3.3 SOFTWARE DE MODELAGEM COMPUTACIONAL SWMM ................................ 19
3.4 TÉCNICAS DE LID UTILIZADAS NESTE ESTUDO ................................................ 21
3.4.1 Células de Biorretenção ........................................................................................ 22
3.4.2 Trincheiras de Infiltração ..................................................................................... 24
3.4.3 Pavimentos Permeáveis ......................................................................................... 25
3.4.4 Barris de chuva e cisternas ................................................................................... 27
4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 29
4.1 LOCAL DE ESTUDO .................................................................................................... 29
4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS SUB-BACIAS UTILIZADAS NO SWMM..................... 30
4.2.1 Características físicas gerais das sub-bacias ....................................................... 31
4.2.2 Chuvas de Projeto.................................................................................................. 31
4.2.3 Método de Infiltração – SCS Curve Number (CN) - USDA .............................. 32
4.2.4 Escoamento e Armazenamento em depressões ................................................... 35
4.2.5 Caracterização das técnicas de LID ..................................................................... 35
4.2.5.1 Camada de Superfície .......................................................................................... 36
4.2.5.2 Camada de Solo ................................................................................................... 37
4.2.5.3 Camada de Armazenamento ................................................................................ 37
4.2.5.4 Camada de Pavimento ......................................................................................... 38
4.3 CENÁRIOS DE SIMULAÇÃO ..................................................................................... 38
5 RESULTADOS ..................................................................................................................... 40
5.1 DIVISÃO DA ÁREA EM SUB-BACIAS...................................................................... 40
5.2 CONFIGURAÇÃO DAS TÉCNICAS DE LID DENTRO DAS SUB-BACIAS .......... 43
5.3 RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES ........................................................................... 45
5.3.1 Chuva de projeto com duração de 2 horas (TR 2, 5 e 10 anos) ......................... 45
5.3.2 Chuva de projeto com duração de 24 horas (TR 2, 5 e 10 anos) ....................... 50
5.3.3 Influência da condição de umidade antecedente do solo (AMC) ...................... 54
5.3.4 Eficiência dos dispositivos de LID........................................................................ 57
6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 61
7 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 64
APÊNDICES ................................................................................................................................ 67
11
1 INTRODUÇÃO
Estes fatores foram determinantes para expor a necessidade de novas alternativas no âmbito
da drenagem urbana. Desta forma, foram desenvolvidas técnicas que procuram simular as
condições hidrológicas de pré-desenvolvimento das áreas urbanas, ampliando seus espaços verdes
e reduzindo suas áreas impermeáveis, constituindo assim um conceito de drenagem sustentável.
Esta evolução conceitual na drenagem urbana começou a ocorrer no mundo mais
efetivamente nas décadas de 1980 e 1990 (FLETCHER et al., 2014). Entretanto, no Brasil ainda
vivemos um cenário onde a implantação de qualquer conceito de drenagem torna-se difícil por
existirem fatores como a urbanização acelerada e desordenada, criação de um mosaico de
ocupações (favelas desassistidas vizinhas a bairros equipados) e nível de educação ambiental
deficiente (arroios e bocas-de-lobo vistos por grande parte da população como locais de destino de
dejetos de lixo) (SILVEIRA, 2002).
Tem-se, portanto, a necessidade de meios que ressaltem a importância de serem implantadas
as novas técnicas de drenagem, para o entendimento e conscientização da população como um
todo. Dentro deste contexto, este trabalho visa verificar a efetividade destas novas alternativas de
drenagem em escala regional, sendo as mesmas aplicadas primeiramente em um cenário hipotético
no campus sede da UFSM, para serem melhor compreendidas e aceitas. Após isto, espera-se que
este trabalho possa servir de incentivo para que a aplicação destas técnicas possa ser difundida para
nossas casas e cidades.
13
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
artificiais de drenagem (TUCCI, 1995). Destaca-se também que, segundo Neto (2010), a redução
na infiltração da água aliada ao aumento de águas servidas resulta numa diminuição da recarga
subterrânea, restringindo as vazões básicas dos cursos receptores das águas pluviais, o que pode
comprometer a qualidade das mesmas.
Tem-se também como fruto do crescimento urbano a possível incidência de inundações, de
severas consequências econômicas e sociais. Segundo Tucci (1995), estas inundações são
decorrentes de dois processos que ocorrem isoladamente ou de forma integrada, sendo eles: a
urbanização e as inundações de áreas ribeirinhas. A causa básica das inundações ocasionadas pela
urbanização é o sobrecarregamento dos dispositivos básicos de drenagem, resultado da forma como
ocorre a ocupação das cidades, que se dá geralmente de jusante para montante, devido às condições
do relevo. Desta forma, caso não exista um planejamento e uma regulamentação prévia do
crescimento urbano, as áreas mais antigas, a jusante, estarão passíveis de serem inundadas devido
ao aumento da geração de escoamento nas áreas a montante. Já nas áreas ribeirinhas as inundações
são caracterizadas como um processo natural, porém o assoreamento dos corpos hídricos
ocasionado pelo aumento de detritos e sedimentos transportados pelo sistema pluvial de drenagem
torna estas mais frequentes, de tal forma que um planejamento prévio para ocupação destas áreas
também é indispensável para evitar prejuízos (TUCCI, 1995).
Outro fator acarretado pela urbanização é a deterioração da qualidade da água dos corpos
hídricos receptores devido à lavagem das ruas, transporte de material sólido e as ligações
clandestinas de esgoto cloacal e pluvial (TUCCI, 1997). Dentro deste contexto, ressalta-se que,
segundo Campbell e Ogden (1999), em muitos casos a primeira descarga da água da chuva em um
ambiente urbano possui um nível de contaminação muito maior do que o presente no esgoto
cloacal, caso recorrente de grandes centros urbanos.
De forma geral identifica-se que todos os efeitos decorrentes das alterações hidrológicas
nos centros urbanos podem ser atenuados ou contornados através de um devido planejamento e
regulamentação (TUCCI, 1995). No entanto, Villanueva et al. (2011) relatam que atualmente no
Brasil muito do trabalho de drenagem urbana está orientado a solucionar problemas em áreas que
já estão total ou parcialmente urbanizadas, limitando muito o leque de medidas disponíveis, seja
por questões físicas (onde não há espaço para medidas que proporcionem a infiltração ou o
armazenamento da água), legais (onde o direito adquirido impede de modificar o já existente) ou
sociais (onde os moradores não gostam de algumas soluções propostas). Tucci (1995) reforça a
16
Devido ao crescimento das cidades, aliado à evolução nas áreas médicas referentes a
microbiologia e epidemiologia no século XIX, constatou-se que a água pluvial tem atuação como
transmissora de doenças (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012). Com o intuito de evitar a proliferação
destas doenças na população a concepção das relações entre águas urbanas e urbanismo teve de ser
revista. Nasceu então a ideia de livrar-se da água nas cidades, seja ela de origem cloacal ou pluvial,
da forma mais rápida possível, levando ao desenvolvimento do conceito sanitário - higienista de
drenagem (TUCCI, 2008).
Segundo Silveira (2002) o conceito de drenagem sanitário – higienista pode ser resumido
pelo princípio de que toda água circulante deve ir rapidamente para o esgoto, evitando
insalubridades e desconfortos, nas casas e nas ruas. Contudo, Baptista et al. (2005) destacam que
por meio desta abordagem ocorre a transferência do problema para áreas a jusante, resultando em
novas obras de ampliação do sistema com custos incrementais crescentes. Também dá ênfase ao
fato desse conceito dar uma falsa sensação de segurança na população com respeito às inundações,
culminando em grandes prejuízos à sociedade, além da limitação de outros usos presentes ou
futuros da água no meio urbano.
Tucci e Orsini (2005) afirmam que os sistemas sanitários-higienistas de drenagem estão
presentes em boa parte das municipalidades brasileiras. Entretanto, a exemplo de outros países em
desenvolvimento, há um agravante de o conceito ser erroneamente aplicado, seja pela falta de
recursos, mau dimensionamento, má execução ou por manutenção deficiente (SILVEIRA, 2002).
Finalmente, Silveira (2002) ressalta que o conceito sanitário-higienista está muito enraizado
na nossa sociedade, tornando-se quase um senso comum. Porém deve ser referido como antigo,
para enfatizar o seu caráter ultrapassado.
17
Dentro deste contexto vieram sendo estudadas e desenvolvidas técnicas capazes de captar,
armazenar e utilizar a água da chuva dentro da bacia hidrológica ao invés de construir grandes
estruturas de drenagem (BURIAN; EDWARDS, 2002). Em virtude disso, houve o surgimento de
diversos conjuntos de técnicas como as Melhores Práticas de Gestão (Best Management Practices
– BMPs), Sistemas de Drenagem Sustentável (Sustainable Drainage Systems – SuDS),
Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto (Low Impact Development – LID), entre outros.
Tais conjuntos de técnicas visam aplicar os conceitos da drenagem alternativa, porém se
desenvolveram sob características e em regiões distintas apresentando, portanto, certas diferenças
que se devem à sua abordagem. Fletcher et al. (2014) ressaltam que é sempre importante ser
explícito ao exemplificar o conjunto a ser utilizado, porque caso contrário até mesmo as técnicas
particulares (muitas vezes comuns aos diferentes grupos) correm o risco de serem aplicadas sem
estar claramente relacionadas aos objetivos ambientais, econômicos e sociais que elas visam
18
satisfazer. Neste trabalho tem-se a utilização de tais técnicas sob a ideologia do Desenvolvimento
Urbano de Baixo Impacto - LID.
DIEGO STORM WATER DIVISION, 2011). US EPA (2015) cita ainda que em maior escala a
utilização de LID pode até mesmo manter ou restaurar as funções hidrológicas naturais de uma
bacia ou de um ecossistema. Aplicações de LID são encontradas em muitas regiões da América do
Norte e Europa, sendo capazes de atender aos critérios estabelecidos em certificações ambientais
para edificações quando devidamente empregadas (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012).
Segundo US EPA (2015), o EPA Storm Water Management Model (SWMM) é um modelo
dinâmico de simulação de chuva-escoamento utilizado para simular e mensurar a quantidade e a
qualidade do escoamento superficial, principalmente, de áreas urbanas. Tais simulações podem ser
feitas de forma contínua ou para um evento único.
O componente do SWMM relacionado ao escoamento opera sob um esquema de sub-bacias
que recebem precipitação gerando escoamento superficial e acúmulo de poluentes. A porção de
transporte do SWMM é responsável por transportar esse escoamento por um sistema de dutos,
canais, dispositivos de armazenamento e tratamento, bombas e reguladores. No SWMM o
acompanhamento da quantidade e da qualidade do escoamento gerado é feito dentro de cada sub-
bacia. Este processo é realizado durante o período de simulação, que é composto de múltiplos
intervalos de tempo.
O SWMM possui a capacidade de simular diferentes processos hidrológicos que
contribuem para a geração de escoamento nas áreas urbanas, como a infiltração da água em
camadas não saturadas de solo, percolação da água infiltrada para camadas de águas subterrâneas
e a captura e a retenção da chuva e do escoamento superficial através de diferentes práticas de LID.
A variabilidade espacial destes diferentes processos hidrológicos é obtida subdividindo a área de
estudo em sub-bacias homogêneas e menores, cada qual possuindo suas características particulares
de declividade, distância do ponto mais distante onde exista escoamento até o exutório, parcela de
impermeabilização do terreno, valores de rugosidade de Manning, quantidade de armazenamento
de água nas depressões e características do solo a partir da metodologia de infiltração escolhida
pelo usuário. Além disso, o modelo também é capaz de encaminhar o escoamento superficial
através do sistema de drenagem e estimar a produção de poluentes associada ao mesmo.
20
Dentro do SWMM as técnicas de LID são representadas como uma combinação de camadas
verticais cujas características são definidas por unidade de área. Isso possibilita práticas de LID
com um mesmo dimensionamento, mas com áreas diferentes, serem aplicadas facilmente dentro
de diferentes sub-bacias. Durante uma simulação é feito um balanço entre as camadas e é medida
a quantidade de água que fica armazenada ou infiltra em cada uma delas. Os controladores de LID
são considerados como propriedades de uma dada sub-bacia, tais como são considerados o pacote
de neve e os aquíferos dentro do modelo. O SWMM pode modelar oito tipos diferentes de técnicas
de LID, apresentadas a seguir:
Como citado anteriormente na seção 3.3 as células de biorretenção são depressões rasas e
cultivadas, efetivas na redução da taxa e volume do escoamento superficial através dos processos
de armazenamento, evaporação e infiltração. Além dessas características, elas também podem
contribuir com um aumento na biodiversidade local, promover um refrescamento do microclima
local através da evapotranspiração de seus componentes vegetais e atuar como sistemas naturais
de bela aparência, autônomos no que se deve a fertilização e irrigação (CIRIA, 2015).
Tais técnicas são usualmente utilizadas para armazenar e tratar a água da chuva resultante
de eventos chuvosos mais frequentes em pequenas áreas de contribuição (CITY OF SAN DIEGO
STORM WATER DIVISION, 2011). Onde eventos com maior tempo de retorno são direcionados
para o sistema é necessário considerar o uso de outros sistemas de controle de cheias
conjuntamente, ou então direcionar o volume de água diretamente para os canais regulares de
drenagem a jusante. Segundo Ciria (2015), os sistemas não vão funcionar apropriadamente caso
tenham que drenar grandes áreas de contribuição que desaguam dentro do sistema em um único
ponto sem o controle de vazão.
23
Recomenda-se que a dimensão máxima de uma célula de biorretenção seja de 800 m², com
uma largura máxima de 40 m e que possua de 2% a 4% do tamanho da área impermeável a ser
drenada para ela, para evitar a distribuição desigual de água no sistema (CIRIA, 2015). Na prática
o valor de 800 m² é dito como irreal, visto que a maioria dos projetos executados no mundo
possuem áreas muito inferiores a esta e são integradas ao relevo natural como pequenos recursos
locais. Desta forma, utilizam-se esses valores de área e largura como limitantes do
dimensionamento deste tipo de técnica no presente trabalho. Além disso, Davis (2008) recomenda
que a área máxima a ser drenada para uma célula de biorretenção seja de no máximo 8000 m².
Outro ponto determinante do dimensionamento de células de biorretenção é a questão do
seu posicionamento no espaço. Sua distância ao nível do lençol freático não deve ser inferior a 1
m, caso seja permitida a infiltração através da sua camada drenante (CIRIA, 2015). Da mesma
forma, as células de biorretenção devem ser posicionadas a pelo menos 3 m de construções
existentes para evitar a percolação de água nas fundações (UACDC, 2010).
Na Figura 3 estão representadas as camadas componentes do sistema de uma célula de
biorretenção genérica:
É de entendimento geral que a atuação das trincheiras de infiltração deve ser feita em
conjunto com dispositivos filtrantes, como por exemplo faixas gramadas, para potencializar sua
efetividade devido ao fato de limitar o volume de detritos que entram no sistema, diminuindo assim
os riscos de colmatação do mesmo (SEMCOG, 2008). Também salienta-se que fluxos com alta
carga de poluentes não devem chegar até a trincheira, devido a sua incapacidade de tratar o efluente
por meio da infiltração no solo, podendo resultar em contaminação das águas subterrâneas
(SILVEIRA, 2002).
Com base na descrição da seção 3.3, verifica-se que os pavimentos permeáveis constituem um
terreno que permite o tráfego de pedestres e veículos ao mesmo tempo que permite a infiltração da
água na sua superfície e nas suas camadas estruturais. Estes sistemas agem normalmente no
controle de pico e volume do escoamento superficial, no controle da poluição difusa e, quando
26
permitem a infiltração da água no solo, promovem a recarga das águas subterrâneas (SILVEIRA,
2002).
Suas principais aplicações encontram-se no uso em estacionamentos, vias particulares,
rodovias com baixo volume de tráfego e calçadas. Entretanto, CIRIA (2015) ressalta que alguns
tipos específicos de pavimento podem até mesmo ser empregados em portos, áreas multiesportivas
e playgrounds. No entanto, locais onde materiais tóxicos ou com alta carga poluente forem
carregados, descarregados ou estocados sua utilização não é permitida (CITY OF SAN DIEGO
STORM WATER DIVISION, 2011). A Figura 6 apresenta alguns exemplos de pavimentos
permeáveis modulares.
em superfície e o tempo apropriado para ela permanecer na mesma (CIRIA, 2015). A Divisão de
Águas Pluviais da cidade de San Diego (2011) alerta que medidas para evitar o acúmulo de
sedimentos nos pavimentos permeáveis devem ser tomadas para evitar a colmatação dos poros, o
que resulta na perda de funcionalidade do mesmo. Este fator é de tal importância que CIRIA (2015)
recomenda um fator de segurança 10 para os valores de infiltração superficial.
Outro fator construtivo importante é a necessidade de serem instalados drenos em sua
camada de armazenamento em caso de solos naturais com baixa permeabilidade. Outra medida a
ser tomada neste caso é a impermeabilização total do dispositivo, também utilizada em casos onde
a água captada é pretendida para ser reutilizada, em que área está contaminada e, onde o
espalhamento de poluentes deve ser minimizado ou o lençol freático se encontra a uma distância
menor que um metro da base do dispositivo (CIRIA, 2015).
Estas técnicas LID apresentam um vasto campo de aplicações, podendo ser inseridas nos
meios doméstico, comercial, industrial e institucional (SEMCOG, 2008). Segundo CIRIA (2015),
estas técnicas fornecem três benefícios-chave:
podem fornecer parte da demanda de água requerida pelo prédio onde estão
inseridas, criando um ambiente mais sustentável;
podem ajudar a reduzir o volume de escoamento superficial da área onde estão
inseridas;
podem reduzir o volume do reservatório de atenuação do local, quando o mesmo
existe.
4 METODOLOGIA
Neste trabalho como área de estudo foi escolhida o campus sede da UFSM, localizado em
Santa Maria – RS. No local, foram quantificados os volumes de escoamento superficial gerados no
contexto atual e comparados com uma situação planejada utilizando-se técnicas de LID. A
modelagem hidrológica da área foi executada utilizando-se do software SWMM.
As quantificações e medições do local de estudo foram realizadas a partir de imagens de
satélite obtidas por meio do software Google Earth, datadas de março de 2016, e georreferenciadas
com ajuda de sistemas de Informação Geográfica (SIG). A partir destas imagens já processadas,
foram utilizados softwares de desenho assistido por computador (Computer-aided design – CAD)
que permitiram as medições realizadas dentro da área, assim como a subdivisão desta em diferentes
sub-bacias. Este conjunto de processos permitiu idealizar a aplicação de técnicas de LID no espaço,
que culminou na criação dos diferentes cenários de simulação, descritos mais adiante na seção 4.3.
Finalmente, com o estabelecimento dos diferentes cenários, foi realizada a modelagem numérica
através do software SWMM.
Não foi realizado qualquer estudo de campo para obtenção de dados físicos utilizados no
modelo.
Para tanto, esta seção descreve detalhadamente o local de estudo e todos os parâmetros
utilizados no SWMM para a execução das simulações.
O campus sede da Universidade Federal de Santa Maria está localizado no bairro Camobi,
na cidade de Santa Maria-RS, e possui uma área total de aproximadamente 1128,6 ha. Entretanto,
o campus pode ser dividido em duas diferentes bacias hidrográficas, de modo que a parte que
especificamente contém a cidade universitária possui uma área de cerca de 558,3 ha e está
representada na Figura 8.
Esta área específica foi dividida em sub-bacias, sendo as mesmas delimitadas basicamente
seguindo o traçado das ruas e avenidas que, segundo Neto (2010), constituem caminhos artificiais
de drenagem e fazem com que o escoamento superficial se comporte de modo diferente ao da bacia
original, e pelas fronteiras do campus. Em alguns casos, por razões topográficas ou de pequena
30
parcela imperméavel, o traçado das ruas não foi respeitado para a delimitação das sub-bacias.
Tomou-se o cuidado também de serem escolhidas somente áreas que pertencessem ao projeto
idealizado do campus, já possuindo, ou em vias de possuir, acesso à rede de drenagem pluvial.
Figura 8 – Contorno da área do campus sede da UFSM em março de 2016. Sem Escala.
Nesta seção são apresentadas todas as propriedades utilizadas no modelo SWMM que
caracterizam as sub-bacias que foram criadas para a simulação da área de estudo. Desta forma,
nesta seção encontram-se também as configurações das técnicas de LID utilizadas, pelo fato das
mesmas serem consideradas como propriedade das sub-bacias pelo modelo.
Ressalta-se que, com exceção dos dispositivos de LID, todas as propriedades aqui descritas
são necessárias para a execução das simulações em todos os cenários de simulação.
31
Foram utilizadas nas simulações chuvas de projeto com tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos
e duração de 2 e 24 horas. Para definir estas chuvas de projeto foi utilizada a equação Intensidade
– Duração – Frequência (IDF) desenvolvida por Roman (2015), por ser a equação mais atualizada
disponível para a região de Santa Maria (Equação 1):
32
870,289×𝑇𝑟 0,1632
𝑖= (1)
(𝑡+8,76)0,7258
18
16
14
Precipitação (mm)
12
10
TR 2
8
TR 5
6
4 TR 10
2
0
25
5
10
15
20
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
110
115
120
Duração (min)
Fonte: Autor.
O método de infiltração escolhido para ser utilizado nas simulações foi o método do SCS,
desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA), que
pode ser definido como um método empiríco que permite estimar o volume e a distribuição
temporal do escoamento superficial (SARTORI; GENOVEZ; NETO, 2005). A chuva excedente,
ou não infiltrada, é estimada através da Equação 2:
33
(𝑃−0,2.𝑆)2
𝑄= (2)
𝑃+0,8.𝑆
25400
𝑆= − 254 (3)
𝐶𝑁
O valor de CN varia de acordo com o grupo hidrológico do solo e com seu tipo de ocupação.
Isto deve-se ao fato destes dois fatores implicarem em diferenças na geração de escoamento
superficial da área (NRCS, 2009). Os 4 tipos de grupos hidrológicos de solo são:
Como tipo de ocupação de solo considerou-se toda a área do campus como uma área urbana
totalmente desenvolvida, com vegetação já estabilizada e características de espaços abertos
possuindo vegetação majoritariamente rasteira.
A partir desses dados, utilizou-se o mapa dos grupos hidrológicos do solo da região da
cidade de Santa Maria –RS onde está localizado o campus sede da UFSM, representado na Figura
10, e foi possível extrair os valores de CN utilizados de NCRS (1986).
Outro fator que provoca alteração nos valores de CN é a condição de umidade antecedente
do solo (AMC). Existem três AMC diferentes, definidas por Sartori; Genovez; Neto (2005) como:
AMC I: Condição em que os solos de uma bacia estão secos, mas não o suficiente
para o ponto de murcha das plantas;
AMC II: Condição em que os solos se encontram na “umidade ideal”, isto é, nas
condições que precederam uma enchente máxima anual;
AMC III: Condição em que os solos de uma bacia encontram-se quase saturados,
quando da ocorrência de chuvas fortes ou fracas durante cinco dias anteriores a uma
determinada chuva.
Como citado na seção 2.3, dentro do SWMM as técnicas de LID são representadas como
uma sobreposição de camadas verticais, cujas características são definidas por unidade de área.
Sendo assim, esta seção dedica-se a especificar cada camada constituinte de cada uma das
diferentes técnicas utilizadas. As camadas constituintes de cada técnica de LID na forma como
foram utilizadas no SWMM, apresentadas na direção do topo ao fundo, são:
Por estar sendo considerado nas sub-bacias apenas o volume de escoamento superficial
gerado e não o seu encaminhamento, a camada destinada a conter o dispositivo de drenagem não
está sendo considerada.
O tipo de pavimento permeável utilizado neste trabalho foi o construído com blocos
modulares, e a trincheira de infiltração foi considerada sem nenhuma vegetação em sua superfície.
Cada camada possui diferentes parâmetros que regem seu comportamento, sendo estas
definidas nas sub-seções a seguir.
tratar da média entre os dois valores extremos. O fator de colmatação não foi considerado nas
presentes simulações pelas mesmas serem constituídas apenas de eventos únicos.
Nas cisternas esta camada constitui a altura do dispositivo, considerada 2000 mm.
é a própria existência das técnicas de LID no espaço, não alterando, por exemplo, o parâmetro de
impermeabilidade da bacia.
A partir destes dois cenários foram criadas situações simulando o comportamento das sub-
bacias em função de diferentes chuvas de projeto, para que assim pudessem ser comparadas as
diferenças na geração de escoamento superficial entre ambos.
Além disso, para o segundo cenário foram criadas situações que considerassem os efeitos,
na geração de escoamento superficial, ocasionados pela mudança na condição de umidade
antecedente do solo (AMC). Para estas simulações, foram utilizadas chuvas de projeto com duração
de 2 horas e tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos.
No total foram realizadas 19 simulações diferentes, sendo 6 referentes ao primeiro cenário
e 13 referentes ao segundo cenário.
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5 RESULTADOS
A partir do uso do método para divisão da área total do campus em sub-bacias apresentado
na seção 3.1, foram criadas 19 sub-bacias diferentes a fim de se obter uma satisfatória discretização
da área de estudo. As Figuras 11, 12, 13, 14 e 15 apresentam como ficaram divididas as sub-bacias
dentro da área de estudo.
Figura 16 – Representação da Sub-bacia 11 com aplicação das técnicas LID – Sem Escala
Os resultados obtidos a partir das simulações realizadas para a bacia com chuvas de projeto
com duração de 2 horas e tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos, estão apresentados nos hidrogramas
presentes nas Figuras 17, 18 e 19. Nas Figuras o primeiro cenário foi nomeado somente pelo tempo
de retorno e o segundo cenário foi nomeado pelo período de retorno mais a palavra LID.
Através da análise dos hidrogramas verificou-se, como esperado a partir da IDF desenvolvida por
Roman (2015), um aumento gradual nos volumes de escoamento com o crescimento dos tempos
de retorno utilizados. Da mesma forma, o emprego das técnicas de LID reduziu de maneira
considerável as vazões de escoamento. No entanto, esperavam-se aumentos razoáveis nos valores
46
de infiltração da água ao solo natural com a utilização de técnicas de LID, fato que não foi
verificado através dos resultados obtidos.
Figura 17 – Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 2 horas e TR – 2 anos
Fonte: Autor.
Figura 18 – Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 2 horas e TR – 5 anos
Fonte: Autor.
47
Para um tempo de retorno de 2 anos foram verificados para o primeiro e o segundo cenário
volumes totais de escoamento da ordem de 37720 m³ e 26340 m³, respectivamente, apresentando
uma redução na ordem de 30% do volume gerado inicialmente.
Figura 19 – Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 2 horas e TR– 10 anos
Fonte: Autor.
Figura 20 – Gráfico dos volumes de escoamento acumulados da bacia para chuvas de projeto com
duração de 2 horas
Fonte: Autor.
Figura 21 – Gráfico com as amplitudes do Coeficiente de Escoamento das sub-bacias com chuvas
de projeto com duração de 2 horas
Fonte: Autor.
Verificou-se também a alta efetividade das trincheiras de infiltração quando utilizadas para
chuvas com os períodos de retorno simulados, sendo capazes de drenar todo o escoamento a elas
direcionado. Ressalta-se, porém, que por medidas construtivas elas puderam ser utilizadas em larga
escala somente em bacias que apresentavam áreas de grande parcela permeável, não sendo assim
demonstrada sua efetividade através do gráfico de amplitude do coeficiente de escoamento.
50
Analisaram-se as chuvas de projeto de duração de 24 horas da mesma forma que foi feito
para as chuvas com tempo de duração de 2 horas. Os hidrogramas gerados para os tempos de
retorno de 2, 5 e 10 anos estão representados nas Figuras 22, 23 e 24.
Como previsto, o aumento do tempo de duração da chuva de projeto implicou em grandes aumentos
nos volumes precipitados e, consequentemente, nos volumes de escoamento gerado. Para um
tempo de retorno de 2 anos os volumes totais de escoamento para o primeiro e o segundo cenário
foram respectivamente de 109620 m³ e 87380 m³, representando uma redução na ordem de 20%.
Para um tempo de retorno de 5 anos, os volumes totais de escoamento foram de 13264 m³ e 10958
51
m³, com redução de 17,4%. E utilizando-se o tempo de retorno de 10 anos, obtiveram-se os valores
de 153000 m³ e 129420 m³, apresentando uma redução de 15,4%. Na Figura 25 estão apresentados
os valores de volume acumulado para cada situação simulada.
Foi possível identificar que o aumento da duração implicou em uma diminuição
significativa da eficiência dos dispositivos de LID em reter o escoamento para um mesmo tempo
de retorno. Esta diminuição fica explicitada nas baixas taxas de redução do volume de escoamento
entre ambos os cenários, e ainda mais evidente quando comparadas as de uma chuva de projeto
com duração de 2 horas.
Figura 22 - Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 24 horas e TR – 2
anos
Fonte: Autor.
52
Figura 23 - Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 24 horas e TR – 5
anos
Fonte: Autor.
Figura 24 - Hidrograma da bacia para uma chuva de projeto com duração de 24 horas e TR – 10
anos
Fonte: Autor.
53
Figura 25 – Gráfico dos volumes de escoamento acumulados da bacia para chuvas de projeto com
duração de 24 horas
Fonte: Autor.
Conforme a Figura 10, apresentada na seção 4.2.3, verificou-se que a área de estudo é
composta basicamente por solos dos grupos hidrológicos B e D. Existem também algumas
pequenas regiões onde é possível identificar a presença de solos do grupo hidrológico C, mas que
devido a sua pouca representatividade no espaço não foram levadas em consideração.
Como já citado anteriormente, assumiu-se para este trabalho que a sub-bacia número 15
possuísse toda sua área composta por solos do grupo hidrológico D. A justificativa desta escolha
foi a de analisar o comportamento de dispositivos de LID que atuam no controle do volume de
escoamento, mas que não promovam a infiltração da água ao solo natural.
De acordo com a seção 4.2.3, os solos pertencentes ao grupo hidrológico B possuem um
potencial moderadamente baixo de gerar escoamento superficial quando completamente saturados
e a transmissão de água através do solo é desimpedida. Estes solos são tipicamente compostos por
uma parcela de 10% a 20% de argila e uma parcela variando entre 50% e 90% de areia, possuindo
características de areia argilosa ou argila arenosa. A taxa mínima de infiltração deste grupo
hidrológico de solo varia entre 3,81 mm/h a 7,62 mm/h (NCRS, 1986). Desta forma, solos deste
grupo são adequados para a utilização de técnicas que proporcionem a infiltração da água para o
solo, permitindo a utilização de todas as técnicas de LID selecionadas para o presente trabalho.
Entretanto, os solos pertencentes ao grupo hidrológico D possuem um alto potencial de
gerar escoamento superficial quando completamente saturados e a transmissão de água através do
mesmo é restrita ou, em certos casos, muito restrita. Tipicamente possuem uma parcela maior que
40% de argila e uma parcela menor que 50% de areia, possuindo características argilosas. Sua taxa
mínima de infiltração tem valores inferiores a 1,27 mm/h (NCRS, 1986). Devido a estas
características, os solos deste grupo não são recomendados a possuir técnicas de LID que
promovam a infiltração da água no solo natural (SEMCOG, 2008). Por este motivo, no presente
estudo foi utilizada apenas a técnica de LID de cisternas na sub-bacia número 15.
Também a partir da seção 4.2.3 verifica-se que os valores de CN utilizados no presente
trabalho seguem os valores uma área urbana totalmente desenvolvida, com vegetação já
estabilizada e características de espaços abertos possuindo vegetação majoritariamente rasteira.
Para condições médias onde a grama cobre de 50% a 70% da área total, os valores de CN dos
grupos B e D são respectivamente, 69 e 84. Ressalta-se que estes valores de CN são
55
correspondentes a uma condição de umidade antecedente II (AMC II), onde os solos encontram-se
na umidade ideal. NCRS (2004) apresenta uma tabela de conversão da AMC II para as AMC I e
AMC III. Desta forma, os valores na condição de AMC I dos grupos hidrológicos B e D são
respectivamente, 50 e 68. E para a condição AMC III, os valores de B e D são respectivamente 84
e 93.
Apesar da mudança no CN devido à condição de umidade antecedente do solo, o valor da
taxa de infiltração da água no solo natural foi mantida constante na camada de armazenamento dos
dispositivos de LID. Justificou-se isto pela falta de bibliografias que relacionassem diretamente as
alterações da AMC com os valores de CN. Sendo assim, as técnicas de LID atuaram com mesmo
desempenho para um mesmo tempo de retorno independentemente da condição de umidade
antecedente do solo.
Os hidrogramas gerados estão apresentados nas Figuras 26, 27 e 28, e representam a área
de estudo no segundo cenário, submetida à chuvas de projeto com tempo de duração de 2 horas e
tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos.
Os hidrogramas apresentaram formatos semelhantes, apresentando, contudo, diferenças
significativas na sua magnitude. Consequentemente, pôde-se notar o crescimento notável dos
volumes de escoamento ocasionados pela mudança da condição de umidade antecedente do solo.
Os volumes totais de escoamento gerados na bacia para as diferentes configurações estão
apresentados na Tabela 2.
Figura 26 –Hidrograma da bacia com diferentes AMC de uma chuva com tempo de duração de 2
horas e TR de 2 anos
Fonte: Autor.
Figura 27 – Hidrograma da bacia com diferentes AMC de uma chuva com tempo de duração de 2
horas e TR de 5 anos
Fonte: Autor.
57
Figura 28 – Hidrograma da bacia com diferentes AMC de uma chuva com tempo de duração de 2
horas e TR de 10 anos
Fonte: Autor.
A partir da análise dos coeficientes de escoamento apresentados nas seções anteriores, foi
possível quantificar a efetividade das técnicas de LID para as situações simuladas.
Os pavimentos permeáveis apresentaram significativa eficiência na redução do volume de
escoamento. Sua menor parcela de redução do escoamento aconteceu para uma chuva de projeto
com duração de 24 horas e tempo de retorno de 10 anos na sub-bacia 18, onde o dispositivo foi
capaz de drenar 77,7 % do volume de escoamento a ele submetido. O desempenho desta técnica de
LID se mostrou determinante na área total de estudo em razão destes altos índices de redução de
58
escoamento, aliados às grandes áreas ocupadas pela mesma dentro de cada sub-bacia, situação
possibilitada pelo fato dos pavimentos permeáveis possuírem a função dupla de atuar como
pavimento e como dispositivo drenante conjuntamente.
As trincheiras de infiltração para as chuvas de duração de 2 horas se comportaram como o
esperado, e foram capazes de drenar todo o escoamento que para elas foi direcionado. Entretanto,
para o tempo de duração de 24 horas as trincheiras apresentaram uma grande queda na capacidade
de drenar o escoamento, chegando a apresentar até mesmo um valor máximo de 0,4 no coeficiente
de extravasamento, o que representa a absorção de 60% do volume escoado.
Para as cisternas, não era esperado que fosse apresentada uma diminuição significativa no
volume de escoamento da sub-bacia onde foi inserida, o que foi, de fato, verificado. Seus
coeficientes de extravasamento apresentaram valores variando no intervalo de 0,89 a 0,96.
Entretanto, pelo fato de o volume de armazenamento ter sido mantido constante, e não variável em
relação à área de contribuição, conclui-se que esses coeficientes de extravasamento podem
apresentar variações positivas se usados para áreas de contribuição menores.
Porém, a situação mais crítica identificada foi a das células de biorretenção. Estas, mesmo
para tempos de retorno de 2 anos, apresentaram altos índices de extravasamento. O valor mínimo
do coeficiente de extravasamento encontrado entre todas as situações simuladas foi de 0,76, para
uma chuva com duração de 2 horas e tempo de retorno de 2 anos. Desta forma, não se pôde
considerar satisfatório o desempenho das mesmas quando relacionadas à redução no volume de
escoamento superficial.
CIRIA (2015) recomenda que as áreas superficiais das células de biorrentenção sejam da
ordem de 2% a 4% da área total a ser drenada pelas mesmas, para evitar que rapidamente ocorra a
sua colmatação.
As simulações foram todas executadas com as áreas de dispositivo na ordem de 2% da área
total a ser drenada para eles, no entanto, como foi identificado o seu não funcionamento efetivo
para a drenagem das chuvas de projeto utilizadas, verificou-se também o desempenho das células
de biorretenção como possuindo uma área igual a 4% da área total a ser drenada, para chuvas de
projeto com duração de 2 horas. Os coeficientes de extravasamento obtidos estão mostrados na
Tabela 3.
59
Tabela 3 – Coeficientes de extravasamento nas sub-bacias das células de biorretenção com área
total equivalente a 4% da área total a ser drenada
Biorretenção
Sub-bacia TR 2 TR 5 TR 10
1 0.57 0.62 0.66
2 0.63 0.67 0.71
3 0.67 0.71 0.74
4 0.64 0.69 0.72
5 0.60 0.65 0.68
6 0.57 0.62 0.66
7 0.58 0.63 0.67
8 0.66 0.70 0.73
9 0.61 0.66 0.69
10 0.62 0.67 0.70
11 0.65 0.70 0.73
12 0.66 0.70 0.73
13 0.66 0.70 0.73
14 0.62 0.66 0.70
16 0.65 0.70 0.73
17 0.64 0.69 0.72
18 0.63 0.68 0.71
19 0.65 0.70 0.73
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
61
6 CONCLUSÕES
Por meio deste estudo realizou-se uma breve análise dos possíveis efeitos da implantação
de técnicas de Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto (LID) no volume de escoamento
superficial gerado no campus sede da Universidade Federal de Santa Maria. A área de estudo foi
dividida em sub-bacias hidrológicas para uma melhor discretização da variabilidade de dados
apresentada no local.
Os resultados encontrados referentes à diminuição do volume e da vazão de escoamento
superficial gerado em toda área de estudo foram satisfatórios, porém devem ser analisados com
ressalvas. O fato da análise da área ter sido executada unicamente através de imagens de satélite
implica no fato de os dados, apesar de razoavelmente condizentes com a realidade, não serem
suficientemente precisos para aplicações em um projeto real de engenharia. Ressalta-se também
que, o fato de ter sido ignorada a existência de mecanismos que se utilizem da água pluvial no
campus pode ter superestimado os valores obtidos.
Sobre a utilização do modelo de simulação SWMM notou-se a dificuldade de trabalhar com
áreas que apresentam grande variabilidade topográfica. O fato do modelo considerar as sub-bacias
somente como uma porção de terreno de mesma largura e inclinação pode implicar em muitas sub-
divisões de uma mesma área para a obtenção de dados precisos, tornando a sua aplicação um tanto
quanto trabalhosa.
O fato de terem sido aplicadas técnicas de LID dentro de áreas já desenvolvidas reduziu o
número de possibilidades de aplicação, tendo de ser descartadas, por exemplo, os valos de
infiltração. Entende-se que a aplicação das técnicas selecionadas, em certos locais escolhidos,
acarretaria em trabalho e custos excessivos tornando-as inviáveis, porém esta análise não foi levada
em consideração no presente estudo. O modelo SWMM foi tido também como um limitante para
o número de técnicas de LID utilizadas nas simulações. Previamente tinham sido também
consideradas as utilizações de jardins de chuva e desconexões das calhas do telhado nas sub-bacias,
porém estas tiveram de ser descartadas devido aos altos índices de erro acumulado ocorridos dentro
do modelo.
A efetividade das técnicas de LID como um todo foi inferior ao que estava sendo planejado. Todas
as bibliografias consultadas indicavam células de biorretenção como uma grande alternativa no
tratamento de chuvas frequentes. Porém, seguindo os parâmetros construtivos sugeridos para as
62
mesmas, estas não foram capazes de drenar satisfatoriamente nem mesmo a chuva de projeto de
menor intensidade simulada, para as configurações utilizadas. As trincheiras de infiltração
apresentaram-se como boas alternativas para as chuvas de durações reduzidas, porém, acabaram
perdendo um pouco da sua efetividade para eventos de durações maiores. Os dispositivos de
pavimento permeável e cisternas apresentaram o comportamento mais satisfatório dentre todas as
técnicas simuladas, estando condizentes com a previsão inicial.
Entende-se que, pelo fato da imensa maioria do material consultado para a aplicação de
técnicas de LID ser de origem estrangeira, e os critérios de dimensionamento serem diretamente
relacionados ao regime local de chuvas, existiriam disparidades entre os resultados esperado e
ocorrido. Acredita-se que, este fato foi um limitante para a efetividade das técnicas de LID
utilizadas neste trabalho, mas, que em um cenário real, tais critérios poderiam ser reavaliados.
Explicita-se também que para cenários simulados, procuraram-se utilizar parâmetros
mínimos de dimensionamento e em um caráter puramente de engenharia. O desenvolvimento dos
cenários juntamente com projetos arquitetônicos e biológicos detalhados resultaria em resultados
muito mais efetivos.
Notou-se também através do SWMM um comportamento não usual na capacidade de
infiltração da água no solo natural das sub-bacias após a aplicação das técnicas de LID. Este fato
pode ser justificado pelo baixo valor da taxa de infiltração no solo natural utilizado, da ordem de
5,72 mm/horas, e pelo mesmo ter sido mantido constante mesmo para condições de umidade
antecedente do solo (AMC) diferentes. Como o SWMM não permite um acesso direto à sua linha
de comando, não foi possível configurar o parâmetro de taxa de infiltração ao solo natural das
práticas de LID diretamente com o parâmetro CN utilizado. Acredita-se também que este fato tenha
sido o maior responsável pela baixa efetividade dos dispositivos de LID no modelo.
De maneira geral, crê-se que a análise da efetividade de técnicas LID somente no âmbito
da redução dos volumes de escoamento é um tanto quanto injusta, pelo fato de esta compor apenas
uma pequena parcela dos benefícios que os diferentes dispositivos proporcionam ao local onde
estão inseridos. Para um estudo significativo sobre sua real aplicabilidade, um balanço total entre
seu custo e efetividade multidisciplinar deveria ser executado.
63
7 RECOMENDAÇÕES
Como citado na seção 6, para estudos futuros é interessante que sejam realizadas análises
mais abrangentes da aplicação das técnicas de LID. Uma possível análise é a de custo-benefício
em escala local, realizando um balanço entre o custo estimado de implantação das técnicas de LID
com a economia provocada pela possibilidade de diminuição do tamanho dos dispositivos de
drenagem convencional.
Como seguimento do presente estudo, poderiam ser alteradas as características das camadas
das técnicas de LID utilizadas no SWMM, fazendo a comparação entre ambos desempenhos e,
posteriormente, relacionar os custos adicionais. Aliado a isto, poderiam também ser realizadas
simulações contínuas na mesma área de estudo, visto que foram realizadas somente simulações
para eventos únicos.
Como refinamento do presente estudo, poderiam ser alterados os métodos de obtenção dos
dados utilizados, sendo recomendável a realização de estudos de campo para a obtenção de
dimensões precisas do local, assim como, estudos de campo para obtenção das características reais
do solo. A utilização de áreas menores para uma maior discretização do problema também é válida.
Outro estudo possível seria, utilizando-se da porção de transporte do SWMM, estimar a
redução do risco de inundação dos corpos hídricos receptores do campus sede da UFSM, ou de
outra localidade, fazendo-se uso de dispositivos de LID. Neste estudo seria também cabível a
utilização de técnicas que promovam somente a detenção do escoamento, fato que não foi levado
em consideração no presente estudo. Poderiam ser considerados eventos chuvosos de diversos
tempos de retorno e serem feitas diversas configurações diferentes da aplicação dos dispositivos
de LID, visando maior eficiência.
Em um caráter mais arquitetônico e urbanístico, poderia ser realizado, em trabalho conjunto
com a Pró-Reitoria de Infraestrutura da UFSM, a aplicação de dispositivos de LID nas áreas de
expansão do campus sede da UFSM, assim como um desenvolvimento de uma política de
drenagem alternativa no campus, passível de ser inserida em seu plano diretor.
64
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65
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US EPA, United States Environmental Protection Agency. Storm Water Management Model
Applications Manual. Cincinnati, OH: National Risk Management Research Laboratory Office
of Research and Development, 2009. 180 p.
% IMP. SEM ARMAZENAMENTO DE DEPRESSÃO (%) 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00 25.00
CN
GRUPO HIDROLÓGICO B B B B B B B B B B B B B B D B B B B
ARC I 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 68 50 50 50 50
APÊNDICES
ARC II 69 69 69 69 69 69 69 69 69 69 69 69 69 69 84 69 69 69 69
ARC III 84 84 84 84 84 84 84 84 84 84 84 84 84 84 93 84 84 84 84
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Camada Parâmetro Biorretenção Pavimento Permeável Trincheira Cisternas
Superfície Altura de berma (mm) 150 0 50 x
Vegetação (fração) 0,1 0 0 x
Rugosidade de Manning ("n") 0 0,015 0 x
Inclinação da superfície(%) 0 2 0 x
Solo Espessura(mm) 750 0 x x
Porosidade (fração do volume) 0,437 0 x x
Capacidade de campo (fração) 0,062 0 x x
Ponto de murcha (fração) 0,024 0 x x
Condutividade(mm/hr) 120,396 0 x x
Curva de Condutividade 48 0 x x
Carga positiva de sucção(mm) 49,022 0 x x
Armazenamento Espessura/Altura da cisterna(mm) 400 400 1500 2000
Índice de vazios (Vvazios/Vsólidos) 0,35 0,35 0,35 x
Taxa de infiltração(mm/hr) 14,472 14,472 14,472 x
Fator de colmatação 0 0 0 x
Pavimento Espessura(mm) x 100 x x
Índice de vazios (Vvazios/Vsólidos) x 0,6 x x
Fração de superfície impermeável x 0,85 x x
Permeabilidade(mm/hr) x 120,396 x x
APÊNDICE B – Tabela referente às configurações das LID utilizadas no SWMM
Fator de colmatação x 0 x x
68
Sub-bacia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Área do Dispositivo (m²) 352 140 602 220 1769 x x 671 140 x
Trincheira
Área de Contribuição (m²) 2583 1011 1582 1120 4290 x x 3493 590 x
Área do Dispositivo (m²) 104.16 335.14 162.26 159.74 173.22 475.88 276.3 215.18 133.34 358.12
Biorretenção
Área de Contribuição (m²) 5208 16757 8113 7987 8661 23794 13815 10759 6667 17906
Área do Dispositivo (m²) 6732 6221 x 2782 7571 17079 10141 x 3400 5923
Pavimento Permeável
Área de Contribuição (m²) 6732 6221 x 2782 7571 17079 10141 x 3400 5923
Sub-bacia 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Área do Dispositivo (m²) 720 1209 570 x x 1358 430 x 961
Trincheira
Área de Contribuição (m²) 2311 6225 2125 x x 9615 3098 x 5132
Área do Dispositivo (m²) 149.16 30.3 378.94 265.32 x 77.94 284.52 711.68 354.6
Biorretenção
Área de Contribuição (m²) 7458 1515 18947 13266 x 3897 14226 35584 17730
Área do Dispositivo (m²) 1205 x x 6569 x x 3913 12707 x
Pavimento Permeável
Área de Contribuição (m²) 1205 x x 6569 x x 3913 12707 x
Área do Dispositivo (m²) x x x x 37.5 x x x x
Cisternas
Área de Contribuição (m²) x x x x 12000 x x x x
APÊNDICE C – Quadors com os valores das áreas das técnicas LID em cada sub-bacia
69