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mesmo, as eleicdes ¢ 0 exercicio das fungdes parlamentares sito cercados de garantias especiais, de modo a preservar a liberdade desse 6rgao politico diante do chefe de Estado. (Comparato, 2003, p. 56) Para saber mais A Comissao de Direitos Humanos da Universidade de Sao Paulo (USP) mantém uma pagina na web para sua Biblioteca Virtual de Direitos Humanos. La, vocé encontra diversos textos sobre essa tematica, incluindo a Declaragao Inglesa de Direitos, de 1689. USP — Universidade de Sao Paulo. Biblioteca virtual de Direitos Humanos. A Declaragao Inglesa de Direitos - 1689. Disponivel em: . Acesso em: 7 dez. 2017. (3.3) A REvoLUGAo INDUSTRIAL A Revolucao Industrial foi o processo mediante o qual se alterou a maneira de producao e reproducdo de bens materiais com a intro- ducao do uso de maquinas. Isso possibilitou a multiplicacao acele- rada e quase ilimitada de bens materiais e ampliou 0 poder da agao humana sobre a natureza gracas 4 mecanizacao da produgao e a uti- lizacdo de novas fontes energéticas. A Revolugao Industrial alterou significativamente as relagGes sociais e influenciou o pensamento e © governo dos paises em que ocorreu. PERCURSOS DA HISTORIA MODERNA. (202) Segundo o historiador Eric Hobsbawm (1917-2012), esse processo teve inicio por volta de 1780, quando, “pela primeira vez na historia da humanidade, foram rompidos os grilhdes do poder produtivo das sociedades humanas, que a partir dai se tornaram capazes da mul- tiplicacao rapida, constante, ¢ ilimitada, de homens, mercadorias e servigos” (Hobsbawn, 2003, p. 20). Antes da Revolugao Industrial, a forma de produgao de bens se dava por meio de artesanato e manufatura. Abordaremos, primeira- mente, as caracteristicas dessas duas formas de producao. 3.3.1 ARTESANATO: O TRABALHO DE UM HOMEM SO O artesanato surgiu na Pré-Hist6ria e € praticado ainda nos dias de hoje. Caracteriza-se pela fabricacao de bens materi utilizagdo das maos e de ferramentas simples. Até a Idade Média, is mediante a na Europa, a transformacao artesanal da matéria-prima em bens de consumo era realizada por artesaos, que trabalhavam em casa e eram os proprietrios de suas ferramentas e de seu tempo de traba- Iho. O artesdo dominava todas as etapas produtivas, desde a esco- lha do material até a venda do produto final, trabalhando muitas vezes sozinho. O fato de ter uma qualificacao era 0 que 0 diferenciava dos demais, em uma sociedade basicamente agricola ¢ pastoril. O artesanato local concentrava-se nos burgos, e atendia satisfatoriamente a necessidade material das classes mais simples. Os artigos de luxo utilizados pelas classes abastadas, via de regra, eram importados do exterior e trans- portados por caravanas de comerciantes estrangeiros. Andréa Maria Carneiro Lobo e José Roberto Braga Portella (203) 3.3.2 MANUFATURA: A SEGMENTACAO DO TRABALHO No século XVI, com a consolidagao dos Estados nacionais, do mer- cantilismo e da expansao comercial e maritima, e com a forma¢ao. de impérios coloniais na Asia, na Africa e na América, cresceu 0 poder econémico dos construtores de navios mercantes, banqueiros e comerciantes. A burguesia, apés ter conquistado o mercado europeu e internacional, j4 nao obedecia as regras de preco justo impostas pelas corporacoes de oficio e pela Igreja. Suas atividades bancarias e comerciais, a partir de entao, passaram a ser voltadas para a obtencao de lucro, que possibilitava o pagamento das despesas ¢ o investimento em novos negécios. Entretanto, para produzir em escala local ¢ internacional, havia a necessidade de implementago de um novo sistema produtivo. Nesse momento, portanto, houve 0 declinio das oficinas artesanais e 0 surgimento das manufaturas. A manufatura é um sistema de produ- ¢do no qual o processo de fabricagéo manual é dividido em varias etapas, desempenhadas por trabalhadores diferentese especiali- zados em uma tinica parte da producao, perdendo, assim, 0 conhe- cimento da totalidade do processo. Inicialmente, o sistema de manufaturas dividia-se entre o traba- Iho do burgués e do artesdo. O burgués comprava a matéria-prima e oferecia aos artesdos menos favorecidos um salrio para que traba- Ihassem na produgao artesanal em suas proprias casas. O lucro obtido coma venda da producao artesanal possibilitava a burguesia manufa- tureira investir na contratacdo de mais empregados e matéria-prima. Com o passar do tempo, o trabalho deixou de ser realizado na esfera doméstica e passou a ser feito em barracées proprios para esse fim. A medida que aumentava o ntimero de funcionarios, 0 salario pago PERCURSOS DA HISTORIA MODERNA. (204) diminuja proporcionalmente. Além disso, a divisdo do processo em indmeras etapas privava os trabalhadores da possibilidade de apreen- der o offcio por inteiro e de se tornarem verdadeiros artesdos. Com tais caracteristicas, entre os séculos XVI e XVIII, as manufaturas alcancaram praticamente todas as regides da Europa. 3.3.3 MAQUINOFATURA: 0 INicIO DA RevoLucAo INDUSTRIAL Jano século XVIII, o sistema de manufaturas evoluiu para o sistema das maquinofaturas, que deu origem a Revolugao Industrial. Alguns fatores explicam o nascimento da industria moderna na Inglaterra: * A Revolucdo Inglesa e a instauracao de uma monarquia par- lamentar - Com as revolugées burguesas ocorridas entre 1649 € 1689, a Inglaterra deixou de ser uma monarquia absolutista e se tornou uma monarquia parlamentar. Por intermédio do Parlamento, a burguesia inglesa criou condigées politicas favo- raveis ao desenvolvimento econémico e industrial. ¢ A politica dos cercamentos — Durante os séculos XVII e XVIII, © uso capitalista da terra foi acentuado gragas ao incentivo da pratica dos cercamentos (enclosures). Essa pratica consistia no alar- gamento das possess6es senhoriais mediante a expropriagao das terras camponesas, que eram transformadas em pastagens para a criacdo de ovelhas. O objetivo era ampliar os negécios por meio da crescente industria da la, que exigia mais terras constantemente. * — Osatos de navega¢ao - Aprovados por Oliver Cromwell, tais atos estabeleciam que todo o comércio entre a Inglaterra e suas colé- nias deveria ser feito em navios ingleses ou pelos paises de origem dessas mercadorias. Tais medidas propiciaram o desenvolvimento Andréa Maria Carneiro Lobo e José Roberto Braga Portella (205) das manufaturas inglesas e da industria naval, e favoreceram 0 dominio inglés sobre 0 comércio maritimo, eliminando a con- corréncia holandesa. * Oadvento de inovacoes técnicas - Imbuidos do espirito do Renascimento cientifico do século XVI e motivados financeira- mente pela burguesia, muitos inventores passaram a desenvolver mecanismos que produzissem em uma escala maior e em menor tempo. Diferentes fontes de energia foram estudadas para substi- tuira humana, chegando-se ao vapor, ao petr6leo € a eletricidade. Além das novas fontes de energia motriz, os cientistas ingleses desenvolveram maquinas de tecelagem e fiacao para as fabricas de tecidos. A primeira fase da Revolucao Industrial, que teve ini- cio em meados de 1750, € conhecida como Era do vapor, sendo a industria téxtil 0 setor que mais se desenvolveu nas primeiras décadas da maquinofatura. Figura 3.6 - O trabalho de operarias inglesas em uma industria téxtil Classic Image/Alamy/Latinstock PERCURSOS DA HISTORIA MODERNA (206) * Grande disponibilidade de recursos naturais - Havia, no solo inglés, muita disponibilidade de carvao, 0 que beneficiou a primeira fase da industrializagao inglesa, quando as maquinas eram movidas por caldeiras a vapor, alimentadas por carvao. Outro mineral presente em abundancia no solo inglés era a hulha, da qual obtiveram um ferro de melhor qualidade e sem impu- rezas, com 0 qual forjaram as maquinas que movimentaram as primeiras fabricas. Aassociacao desses fatores proporcionou a Inglaterra do século XVIII as condi¢6es necessarias para que se realizasse uma evolucdo econdmica € técnica acelerada. Nesse contexto surgiram as primeiras maquinas e as primeiras indistrias, que tinham como fungdo combinar recursos mecanicos, manuais e naturais para transformar a matéria-prima em bens materiais, com a finalidade de atender as necessidades humanas. A dimensao das transformagoes ocorridas nesse periodo pode ser percebida pela quantidade de invencoes desenvolvidas na Inglaterra do século XVIII, algumas das quais listamos no Quadro 3.1, a seguir. Quadro 3.1 - A Revolucao Industrial na Inglaterra: invengSes do século XVIII ee Inventor | Ano_| Utilidade Maquina Thomas 1698_| Criada para drenar a agua dos a vapor Savery pogos das minas de carvao. Maquina ‘Thomas 1712 _ | Utilizava o vapor para movimentar a vapor Newcomen © pistom, o qual movia um enorme braco que bombeava a agua das minas. Maquina James Watt | 1765 | Converteu o movimento de sobe e a vapor desce dos cilindros em movimentos rotativos, adaptando 0 uso do vapor para moinhos e maquina. (continua) Andréa Maria Carneiro Lobo e José Roberto Braga Portella (207) (Quadro 3.1 ~ conclusao) eet ences no | Utilidade Tear John Kay | 1733 _| Primeiro tear movido mecanico mecanicamente. Fiandeira James 1733_| Primeira maquina de fiar mecanica, mecanica Hargreaves produzia oito fis de uma 6 vez. Fazia 0 trabalho de oito fiandeiros com maquinas manuais. Tear Richard 1767 Primeira maquina de fiar acionada hidréulico | Arkwright por roda hidraulica, Fiandeira Samuel 1760 _| Produzia mais fios que 300 hidraulica__| Crompton trabalhadores manuai 3.3.4 AS TRANSFORMACOES SOCIAIS Ao mesmo tempo que a Revolucao Industrial resultou em avan¢o técnico e riqueza para a burguesia, acarretou mudangas radicais nas telagdes de trabalho. No ambiente da fabrica, trabalhadores e bur- gueses passaram a conviver diariamente e de forma conflituosa. Isso por causa dos interesses contrapostos dos dois grupos: ao burgués interessava a produtividade das maquinas e dos operarios, visando cumprir os prazos para atender a crescente demanda por bens indus- trializados; aos operarios, restava trabalhar o maximo de horas por dia para poder sustentar sua familia e manter a casa. A respeito desse quadro, Hobsbawm (2003, p. 19) explica que, “a exploracdo da mao de obra que mantinha sua renda a nivel de subsisténcia, possibilitando aos ricos acumularem os lucros que finan- ciavam a industrializagao (e seus proprios e amplos confortos), criava um conflito com o proletariado”. Entretanto, sob a 6tica dos capita- listas, 0 historiador afirma que “estes problemas sociais s6 eram rele- vantes para 0 progresso da economia se, por algum terrivel acidente, viessem a derrubar a ordem social, e certas falhas eram ‘inerentes’ PERCURSOS DA HISTORIA MODERNA (208 ) ao processo econémico, mas [...] ameagavam o seu objetivo funda- mental, que era 0 lucro” (Hobsbawm, 2003, p. 28-29). Desse modo, embora a mecanizagao tenha acelerado e ampliado os niveis de produtividade, reduzindo, assim, os custos por unidade produzida, ela o fez as custas das precdrias condicoes de trabalho da mao de obra contratada, como explica Hobsbawm (2003, p. 29): A mecanizagdo aumentou muito a produtividade e reduziu 0 custo por unidade produzida da mao de obra, que recebia saldrios abomindveis ja que era formada em grande parte por mulheres e criancas. Em 131 fabri- cas de Manchester, na Inglaterra, os saldrios médios eram de menos de 12 shillings. Por outro lado, a construgao de fidbricas era relativamente barata; em meados de 1846, uma fiibrica inteira de tecelagem, com 410 maqui- nas, incluindo o custo do terreno e dos prédios, podia ser construida por aproximadamente 11 mil libras. (3.4) A REVOLUGAO FRANCESA Nesta seco, abordaremos um evento de dimensdes tamanhas que foi considerado por historiadores oitocentistas como um divisor de Aguas entre a Idade Moderna e a Idade Contemporanea. Trata-se da Revolucao Francesa, iniciada em 1789. Tal qual a Revolucao Inglesa, foi inspirada por ideais liberais e incitada por interesses burgueses, mas envolveu grandemente a par- ticipacdo popular e apresentou-se, pelo menos durante alguns anos, como um movimento de mudangas estruturais na sociedade e na politica. Inspirados pelos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade (Liberté, egalité, fraternité — slogan dos revolucionarios), os representantes do povo e da burguesia francesa deram inicio a Andréa Maria Carneiro Lobo e José Roberto Braga Portella (209 )

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