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Cultura Brasileira e Ditadura

Texto base: ALMEIDA, WEIZ, "Carro Zero e Pau de Arara: o Cotidiano da Oposição de Classe Média ao Regime Militar" in NOVAIS,
SCHWARCZ História da Vida Privada no Brasil 4. Contrastes da intimidade Contemporânea, São Paulo, Companhia das Letras, 1998

 1964: militares assumem o governo; com isso ocorre uma reviravolta na política
brasileira, com o desmoronamento de uma experiência democrática que aos poucos e com
dificuldade o país vinha construindo. O golpe também retirava um governo civil eleito que
tentava, mesmo que com reservas e problemas, passar reformas em beneficio do povo.
 A percepção das pessoas acerca da situação, que durou muitos anos, altera-se e
condicionam formas de oposição diferentes. Desta forma, a experiência cotidiana de ser
oposição no Brasil é o tema do texto, percebendo as vias de interação entre vida pública e
vida privada. Segundo o autor, em regimes de força os limites entre as duas dimensões são
mais imprecisas e movediças. Afinal, o autoritarismo procura restringir a participação política
autônoma, desmobiliza-la. Termina, com isso, arrastando a resistência e a política para a
órbita privada, de maneira que a atividade política ganha sentido clandestino, produzindo
conseqüências e influências diretas sobre o dia-a-dia
 A situação não institucionalizada do regime:
o Embora caracterizasse um regime de força e de cerceamento de liberdades, pode-
se afirmar, segundo o autor, que tratava-se mais de uma situação autoritária do
que um regime autoritário. Afinal, as regras eram cambiantes, móveis e as
fronteiras entre proibição e permissão se mostravam movediças.
o Ser oposição, fazer oposição, neste contexto pode assumir múltiplos significados
o A maneira como a estrutura social estava colocada condicionava insegurança e
medo como constantes
o Alteravam-se também os conceitos sobre o que era ser adversário do governo
entre 1964-1985
 Três momentos da Ditadura:
o 1964-1968:
 Antes do Ato Institucional no. 5
 Oposições criam um circuito denso e ativo, que incluía a atuação na
imprensa, na área cultural, teatro, música, escola e universidade. Assim,
portanto, fica mostrada a importância e o potencial crítico da cultura (em
1968 a canção “Pra não dizer que não falei das flores” é apresentada em
um festival de musica, tornando-se hino daqueles que se opunham à
ditadura)
 Testam-se os limites da ação permitida, para reconhecer o que se pode
escrever, compor, cantar, ensinar sem que represálias fossem atraídas.
 Ação publica e discussões em alguns sentidos antecipam a ação
conspiratória armada, que visa a derrubada do regime e a implantação do
socialismo (utopia socialista, com a Revolução Cubana exercendo forte
influencia sobre o imaginário da esquerda)

o 1969-1975
 Anos lacerantes da ditadura
 Aprofundamento do autoritarismo coincide com e é amparado por um
surto de expansão da economia (oportunidades de trabalho, bases de uma
diversificada e moderna sociedade de consumo, concentração de renda)
 Apesar dos militares no poder, os anos que seguiram ao golpe foram de efervescência
cultural.
o Glauber Rocha, Cinema Novo: abordagem de questões relacionadas a disputas de
poder
o Festivais musicais promovidos pelas redes de televisão Excelsior e Record
consagravam compositores e interpretes que se tornaram ídolos de gerações como
Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina. Os gêneros
musicais variavam muito, entre musicas de protesto, ritmos regionais e bossa
nova.
o Os músicos baianos foram expoentes de um movimento chamado tropicalismo,
que promoveria modificações efetivas na cultura brasileira ao introduzir
elementos da musica pop e do rock como a guitarra elétrica. Criticavam a
esquerda tradicional
o Vandré tornou-se símbolo da musica de protesto, com Disparada e Pra não dizer
que não falei das flores
o No inicio de 1968 a peça de Chico Buarque, Roda Viva, estreava, tendo como
tema central uma dura crítica à TV, vista como máquina de produzir e consumir
ídolos com rapidez
 Censura: o clima de incertezas no cotidiano de quem trabalhava na cultura era
fomentado pela repressão. Entidades da sociedade civil, da sociabilidade e cultura passaram a
ser vigiados e controlados segundo a lógica de segurança nacional. A idéia era desmobilizar a
sociedade politicamente para promover paz social
 A obsessão por vigilância como forma de prevenir a atuação subversiva acaba por
gerar uma lógica de suspeita
 Essa lógica era vivida pelos agentes do governo, delatores, funcionários. Produz-se o
fenômeno típico de autoritarismo e totalitarismos: mais importante que a informação, é a
produção da suspeita, que cria conspirações que mesmo sem coerência justificam a existência
dos serviços
 Nas representações simbólicas e imaginário dos serviços de informação, há valores
ultra moralistas, anti-democráticos, anti-comunistas
 Veto a tudo aquilo que aos olhos dos militares e aliados civis pudesse atentar contra os
valores da civilização ocidental, ameaçada de maneira simultânea pelos comunistas e pela
revolução dos costumes
 Aqui, a canção popular ocupa lugar de destaque por fazer parte da industria cultural e
da cultura da juventude. Foi amplo canal de denuncia. Nenhuma outra criação artística
simbolizou com tal vigor a oposição ao regime.

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