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MÓDULO I – PRÁTICA JURÍDICA TRABALHISTA II

Recursos Trabalhistas - Introdução

1) Conceito
Recursos constituem um instrumento assegurado aos interessados para que, sempre que
vencidos, possam pedir aos órgãos jurisdicionais um novo pronunciamento sobre a questão
decidida. (Amauri Mascaro Nascimento). Já para Nelson Nery Junior, recurso é o remédio
processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público ou de um terceiro, a
fim de que a decisão judicial possa ser submetida a novo julgamento, por órgão de jurisdição
imediatamente superior, em regra, àquele que a proferiu.

2) Princípios
a) Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
É a previsão normativa contida em um sistema jurídico para que as decisões judiciais de um
processo possam ser submetidas, por intermédio de um recurso voluntário ou de ofício, a um
novo julgamento por um órgão judicial hierarquicamente superior, geralmente colegiado.
É um direito fundamental, conferido a toda pessoa, de interpor recurso das decisões judiciais
para um juiz ou tribunal superior, à luz dos parágrafos 2° e 3° do artigo 5° da Constituição
Federal, embora não seja absoluto.

b) Princípio da Irrecorribilidade Imediata das Decisões Interlocutórias ou Princípio da


Concentração
As decisões interlocutórias, proferidas pelo Juiz do Trabalho, não podem ser impugnadas por
agravo, como ocorre no processo civil, salvo quando se tratar de decisão terminativa do feito, no
âmbito da Justiça do Trabalho, nos termos do § 1º do artigo 893 da CLT, Súmula 214 TST e
Instrução Normativa 39/2016.
Dessa forma, uma vez interposto o recurso contra a decisão final, é nesse momento que o
recorrente deverá suscitar, como matéria preliminar de suas razões recursais, todas as nulidades
protestadas e consignadas em ata ou em petição própria.
Artigo 893, §1º CLT: Os incidentes do processo são resolvido pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a
apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recurso da decisão definitiva.
Súmula 214 do TST: Decisão Interlocutória - Justiça do Trabalho - Recurso - Na Justiça do Trabalho, nos termos
do art. 893, §1º da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão:
a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do
Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; e c) que acolhe exceção de
incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo
excepcionado, consoante o disposto no art. 799, §2º da CLT.
IN 39/2016 - Art. 1° Aplica-se o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo do
Trabalho.... §1º - Observar-se-á, em todo caso, o princípio da irrecorribilidade em separado das decisões
interlocutórias, de conformidade com o art. 893, §1º CLT e Súmula 214 TST.

c) Princípio da Taxatividade
Os recursos, colocados à disposição das partes, são unicamente os previstos em lei, de forma
taxativa (Artigo 893 CLT: Das decisões são admissíveis os seguintes recursos: I. embargos; II.
recurso ordinário; III. recurso de revista; IV. agravo).

d) Princípio da Transcendência ou Prejuízo


Princípio consagrado nos artigos 794 CLT e 282, §1° NCPC, segundo o qual as nulidades
relativas somente devem ser declaradas se e quando puderem acarretar prejuízo às partes.
Artigo 794 CLT: Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá nulidade quando resultar
dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes.
Artigo 282 NCPC: Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências
necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados. §1 o - O ato não será repetido nem sua falta será suprida
quando não prejudicar a parte.
e) Princípio da Fungibilidade
Princípio segundo o qual poderá ocorrer o aproveitamento de recurso erroneamente nominado,
como se fosse aquele que deveria ter sido interposto, quando houver dúvidas acerca do recurso
cabível e inexistir erro grosseiro ou má-fé da parte.
Artigo 277 NCPC: Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará
válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

f) Princípio da Proibição da “Reformatio in Pejus”


Não poderá o tribunal decidir mais do que lhe foi pedido pelo recorrente, reformando, de forma
desfavorável ao mesmo, a decisão impugnada, na parte não discutida no recurso.
Artigo 1.013 NCPC: A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. §1º - Serão, porém,
objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que
não tenham sido solucionadas. desde que relativas ao Capítuloimpugnado. §2º - Quando o pedido ou a defesa tiver
mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos
demais. §3o - Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o
mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela
congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos,
hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. §4o - Quando
reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. §5 o - O capítulo
da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação.

g) Princípio da Singularidade
De cada decisão judicial recorrível é cabível um único tipo de recurso, sendo vedado à parte, ou
ao interessado, interpor mais de um tipo de recurso contra a mesma decisão.

3) Pressupostos Recursais
Para ser conhecido o recurso, a parte deve preencher condições específicas previstas em lei:
3.1) Pressupostos Subjetivos ou Intrínsecos:
a) Legitimidade para recorrer: é a habilitação, outorgada por lei, para que se possa recorrer.
Podem recorrer: * a parte vencida, total ou parcialmente; * o terceiro prejudicado ou interessado;
* o Ministério Público (artigo 499 CLT); * o Sindicato, nas ações por ele ajuizadas (artigo 839,
"a" CLT), inclusive nas hipóteses em que atua como substituto processual (artigo 8°, III, CF); * o
INSS, em relação às contribuições que lhe forem devidas (artigos 831 e 832, §4° CLT)
b) Capacidade: é preciso que, no momento da interposição recurso, o recorrente seja plenamente
capaz de fazê-lo.
c) Interesse Recursal: decorre da situação desfavorável da parte, em razão da decisão ----
Somente quem foi sucumbente na ação, total ou parcialmente, tem interesse em interpor recurso
--- No caso de terceiro, este deverá demonstrar que tem interesse em recorrer, quando a sentença
também o afeta (esse interesse não deve ser meramente econômico, mas jurídico).

3.2) Pressupostos Objetivos ou Extrínsecos:


a) Recorribilidade de decisão: o ato judicial impugnado deve ser recorrível, pois o recurso
somente poderá ser processado e apreciado se não existir no ordenamento jurídico óbice ao
exercício do direito de recorrer --- Com efeito existem alguns atos judiciais irrecorríveis, tais
como, os despachos de mero expediente, as decisões interlocutórias e as sentenças proferidas nas
causas de alçada (Lei 5.584/70, artigo 2°, §4°).
b) Adequação: é imprescindível que o recurso utilizado esteja em conformidade com a lei, para
impugnar a decisão judicial. De fato, existe um recurso adequado e próprio para atacar o ato
judicial passível de impugnação recursal.
c) Tempestividade: o direito de recorrer deve ser exercitado no prazo legal: os prazos para a
interposição de recursos são peremptórios, isto é, não podem ser alterados pelas partes.
No Processo do Trabalho, os prazos recursais foram unificados em oito dias, contados da
intimação da decisão: em audiência, por via postal ou publicação no jornal oficial ---- Os
recursos de natureza civil, obedecem aos prazos do processo civil (recurso extraordinário: quinze
dias; embargos de declaração: cinco dias) ---- Entes públicos e MPT têm prazo em dobro para
recorrer --- Quando litisconsortes têm procuradores diferentes, a regra do artigo 191 CPC (prazo
em dobro) não é aplicada, conforme entendimento adotado pela OJ n° 310 da SDI-1 do TST:
OJ n° 310 da SDI-1 do TST: Litisconsortes. Procuradores Distintos. Prazo Em Dobro. Art. 191 do CPC.
Inaplicável ao Processo do Trabalho - A regra contida do art. 191 do CPC é inaplicável ao processo do trabalho,
em decorrência da sua incompatibilidade com o princípio da celeridade inerente ao processo trabalhista.

d) Preparo: No processo do trabalho, há a exigência do recolhimento das custas e do depósito


recursal para o processamento de diversos recursos.
* Custas: constituem espécie do gênero despesas processuais: seu recolhimento é regido pelo
artigo 789 da CLT.
Artigo 789 da CLT - Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de
competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício
da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento),
observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e serão calculadas: I – quando houver
acordo ou condenação, sobre o respectivo valor; II – quando houver extinção do processo, sem julgamento do
mérito, ou julgado totalmente improcedente o pedido, sobre o valor da causa; III – no caso de procedência do
pedido formulado em ação declaratória e em ação constitutiva, sobre o valor da causa; IV – quando o valor for
indeterminado, sobre o que o juiz fixar. § 1º - As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da
decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal. § 2º -
Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das custas processuais. §3º -
Sempre que houver acordo, se de outra forma não for convencionado, o pagamento das custas caberá em partes
iguais aos litigantes. §4º - Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo pagamento
das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou pelo Presidente do Tribunal.
* Depósito Recursal: Previsto no art. 899 CLT, tem natureza de garantia do juízo, para futura
execução: é exigido apenas do reclamado, quando este interpuser Recurso Ordinário, Recurso de
Revista, Embargos no TST, Recurso Extraordinário, Recurso Ordinário em Ação Rescisória.
Seu montante equivale ao valor arbitrado à condenação na sentença, até o limite do teto máximo
previsto pelo TST ---- A parte recorrente está obrigada a efetuar o depósito recursal,
integralmente, em relação a cada novo recurso interposto, sob pena de deserção --- Atingido o
valor da condenação, nenhum outro depósito é exigido para qualquer recurso (Súm 128, 1 TST);
O depósito deve ser feito, nos autos, dentro do prazo do recurso, sendo que a interposição
antecipada do mesmo não prejudica a dilação legal. (Súmula 245 TST) ---- O recolhimento das
custas e do depósito recursal deve ser feito no montante exato: se houver diferença do valor,
ainda que ínfima, ocorrerá a deserção (OJ 140 SDI-1, TST).
Pode ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial - Art. 899,§11. Seu valor
será reduzido pela metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos,
MEIs, MEs e EPPs (Art. 899,§9o). São isentos do depósito recursal: beneficiários da justiça
gratuita, entidades filantrópicas e empresas em recuperação judicial (Art. 899,§10).
e) Regularidade de Representação: caso a parte interponha o recurso por meio do seu advogado,
este deve ter procuração para tal fim, sob pena de não conhecimento do recurso, por inexistente,
salvo na hipótese de mandato tácito. (Súmula 164, TST)

4) Efeito dos Recursos


Recursos trabalhistas têm, regra geral, apenas o efeito devolutivo, regido pelo princípio “tantum
devolutum quantum appellatum”, ou seja, limitado pelo objeto da impugnação (ataca total ou
parcialmente a decisão ocorrida) --- A parte não impugnada recorrente escapa ao conhecimento
do órgão “ad quem”, salvo se tratar de matéria de ordem pública ------ A exceção é o dissídio
coletivo, em que o presidente do Tribunal Superior do Trabalho pode dar efeito suspensivo.
Artigo 899 da CLT - Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo
as exceções previstas neste Titulo, permitida a execução provisória até a penhora.
5) Forma de Interposição de Recurso
Salvo exceções (ex. embargos de declaração), os recursos são interpostos mediante a
apresentação de duas peças: a) petição de interposição do recurso: é a petição na qual o
Recorrente informa a interposição do recurso, indica seu inconformismo (as razões são
apresentadas na sequência), bem como requer a juntada das guias de recolhimento de custas de
preparo e do depósito recursal, se o caso; b) razões do recurso: após a identificação das partes,
o Recorrente deve elencar os motivos ensejadores da reforma da decisão judicial recorrida, com
a apresentação de preliminares, se o caso, e da matéria de mérito recursal.

Fac-Símile e Processo Eletrônico Trabalhista


Súmula 387 do TST: Recurso. Fac-Símile. ---- I - A Lei nº 9.800, de 26.05.1999, é aplicável
somente a recursos interpostos após o início de sua vigência. II - A contagem do quinquídio
para apresentação dos originais de recurso interposto por intermédio de fac-símile começa a fluir
do dia subsequente ao término do prazo recursal (art. 2º da Lei nº 9.800/99), e não do dia
seguinte à interposição do recurso, se esta se deu antes do termo final do prazo. III -
Não se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de notificação, pois a parte, ao
interpor o recurso, já tem ciência de seu ônus processual, podendo coincidir com sábado,
domingo ou feriado. IV - A autorização para utilização do fac-símile (art. 1º da Lei n.º 9.800/99),
somente alcança as hipóteses em que o documento é dirigido diretamente ao órgão
jurisdicional, não se aplicando à transmissão ocorrida entre particulares

Processo Eletrônico Trabalhista


A Instrução Normativa nº 30 do Tribunal Superior do Trabalho regulamenta, no âmbito da
Justiça do Trabalho, a Lei nº 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do processo
judicial. No seu art. 9º, orienta que o Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de
Documentos (e-Doc), ao receber a petição da parte, expeça um recibo da entrega e da petição e
dos documentos que a acompanham, em que conste, entre outras informações, a identificação do
remetente da petição e do usuário que assinou o documento.

6) Juízo de Admissibilidade dos Recursos


Regra Geral: O juízo de admissibilidade é exercido em dois momentos por juízes distintos: 1) o
juízo a quo (juízo que proferiu a decisão); e 2) o juízo ad quem (juízo ao qual se recorre) ----
Importante: o primeiro exame, pelo juízo que proferiu a decisão recorrida (a quo), não vincula o
juízo ad quem.

7) Orientações Gerais para a Elaboração de uma Peça Recursal


a) Seja objetivo e foque os pontos principais que serão objeto do recurso;
b) Seja educado e cortês: o recurso é interposto contra uma decisão judicial e não contra a parte
contrária;
c) Ao fazer referência a documentos, depoimentos ou qualquer outro elemento dos autos, indique
o número da folha respectiva (ex. às fls. x);
d) Ao citar dispositivos legais, seja “econômico”, transcrevendo apenas o essencial para
demonstrar o desacerto da decisão.

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