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Apresentação 7
1 Avaliação e ética 9
1.1 Do significado etimológico da avaliação ao conceito de “valor” 9
1.2 Dimensão ética e política da avaliação 12
1.3 Compromisso com a educação e com a aprendizagem 15
Gabarito 99
7
Apresentação
Este livro apresenta uma série de reflexões acerca dos conceitos e das práticas avaliativas de
aprendizagem escolar.
Tão importante quanto entender o processo avaliativo é entender sua trajetória, portanto
faz-se necessário situar os períodos históricos da avaliação diante dos paradigmas educacionais de
época e suas influências nas práticas de avaliação atual. Nessa compreensão, também se evidencia
a legalidade – a regulamentação dos sistemas avaliativos –, trazendo reflexões significativas sobre
os principais artigos da LDB que contemplam a avaliação.
Diante do exposto, o livro também apresenta os sistemas externos de avaliação, como Saeb
e Sinaes, e referenciais para a avaliação da educação infantil, analisando os documentos elabo-
rados pelo governo federal por meio do Inep e do MEC, abordando sua organização, bem como
inserindo discussões acerca de sua efetividade. São abordadas questões sobre gestão da educação,
especificamente a gestão institucional, tal como a elaboração do projeto político-pedagógico e a
avaliação docente.
Dessa forma, esta obra traz conceitos sobre o currículo e o planejamento e como esses as-
pectos contribuem para uma avaliação efetiva e responsável da aprendizagem dos alunos. Para
concluir, são trabalhadas as diferenças entre critérios e instrumentos de avaliação, proporcio-
nando uma discussão sobre as formas de registro e devolutivas às famílias, compreendendo a
avaliação como um momento de aprendizagem e tentando desconstruir a ideia da avaliação com
um fim em si mesma. Desse modo, busca-se construir um caminho para se pensar a avaliação
como um processo de desenvolvimento humano, útil para acrescentar e aprimorar o processo
de aprendizagem.
Bons estudos!
1
Avaliação e ética
Avaliação é um termo que circula entre as relações sociais em que estamos inseridos
de maneira contínua e frequente, portanto a compreensão etimológica se torna imprescindí-
vel para que possamos reverberar na concretização dos objetivos educacionais para uma boa
educação. Nessa via de raciocínio, este capítulo aborda algumas reflexões acerca do conceito
de avaliação, diferenciando-o do significado de verificação, exigindo, assim, uma análise refle-
xiva sobre o que se entende por valor. Na sequência, as ideias se centram nas dimensões éticas
e políticas da avaliação, apresentando os conceitos de ética, moral e política, associando-os à
avaliação educacional. Por fim, a avaliação é compreendida no contexto da aprendizagem, con-
centrando-se nas análises sobre o significado da educação, bem como sobre sua importância
como processo de ensino e aprendizagem e sua finalidade educativa como um instrumento
pedagógico indissociável à prática docente.
Nesse sentido, a verificação perpassa o campo de investigação, o qual tem mera fun-
ção de constatar fatos, de elucidar dados sem atribuir juízos de valor. Aponta a verdade no
10 Avaliação da educação e da aprendizagem
modo pelo qual ela se apresenta sem analisar fatores que interferem direta ou indiretamente no
resultado. Por exemplo, um docente que utiliza como instrumento de avaliação uma prova e faz
a correção do número de erros e acertos de modo quantitativo (sem qualquer análise mais ampla
e, de certo modo, complexa) não utiliza o instrumento como avaliativo, e sim como verificador
de aprendizagem. Essa verificação se torna, nesse exemplo, simplista e superficial, visto que faz
sua constatação com base em um único instrumento verificador, medindo somente o número de
erros e acertos. Nesse processo não se avaliou, e sim se verificou o que o aluno acertou naquele
determinado instrumento.
Os dados apresentados pela verificação da aprendizagem não são utilizados para uma refle-
xão mais crítica sobre a prática docente e discente, nem mesmo para reorganizar o planejamento
das aulas; eles se encerram no próprio levantamento de dados. Este é o objetivo central da verifica-
ção, como a própria palavra diz: verificar a aprendizagem. Nessa compreensão, a ação de verificar
termina no momento em que se constatam os fatos sinalizados, em que se comprova a verdade; na
medida em que se apresentam os dados investigados, encerra-se o processo verificador.
Já o ato de avaliar conota um novo sentido. Etimologicamente, vem do latim, e segundo Luckesi:
O termo avaliar também tem sua origem no latim, provindo da composição
a-valere, que quer dizer “dar valor a...”. Porém, o conceito “avaliação” é formula-
do a partir das determinações da conduta de “atribuir um valor ou qualidade a
alguma coisa, ato ou curso de ação”, que, por si, implica um posicionamento po-
sitivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. Isto quer
dizer que o ato de avaliar não se encerra na configuração do valor ou qualidade
atribuídos ao objeto em questão, exigindo uma tomada de posição favorável
ou desfavorável ao objeto de avaliação, com uma consequente decisão de ação.
(LUCKESI, 2006, p. 91)
Assim como afirma Agnes Heller (1989), dentro de uma realidade social existem outras rea-
lidades complementares a uma totalidade de elementos que se constituem em valores e representa-
ções, oferecendo sentido à vida de cada sujeito. Para a autora, o cotidiano se subdivide em esferas
de cotidianidade para produzir o simbólico. Segundo Heller (1989, p. 4), “o decurso da história é o
processo de construção dos valores, ou da degenerescência e o caso deste ou daquele valor”.
Nessa via de raciocínio, o valor e a avaliação são processos em construção e desconstrução
– ou, como afirma Heller, de degenerescência do fim de um ou de outro valor –, pois, na medida
em que a sociedade se constitui historicamente por meio de seus sujeitos, modifica-se ao mesmo
tempo em que é modificada. Conforme evoluímos, certos valores são alterados cultural e social-
mente. Determinados conceitos, que em tempos passados eram considerados importantes, hoje
talvez não tenham grande relevância, como os relativos ao comportamento feminino, que vêm se
transformando no decorrer da história.
Esses valores são construídos pelos seres humanos em função das esferas sociais que circu-
lam a realidade política, social e econômica, circunscrevendo todas as relações humanas. Por isso,
a avaliação é atravessada sempre por conceitos de sentido múltiplo, plural, ou seja: que são cons-
truídos pela troca de vivências e de experiências. Além disso, apresentam uma objetividade natural
e social. É independente de avaliações dos indivíduos isolados, mas não da atividade dos homens.
Quem impõe os valores somos nós, por meio de nossas relações sociais e culturais. Inconsciente e
conscientemente, impomos certos valores culturais que subsidiam a prática social e suas relações.
Portanto, fica clara a necessidade de compreender o sentido epistemológico de avaliar e a
importância de entender o conceito de valor, pois avaliar está associado ao conjunto de valores que
constituímos à medida que amadurecemos física e intelectualmente.
Para Luckesi, atribuir valor nas questões relativas à educação acaba sendo muito amplo, por
todas as questões já apresentadas. Por isso, prefere atribui-lo à qualidade de ensino, o que aparenta
ser mais assertivo para as situações escolares, objetivando alcançar algo.
Desse modo, a avaliação permite exercer uma ação sobre si mesma, ou seja, na medida
em que se atribui um conceito de qualidade bom ou ruim, oferece-se material que sinaliza novas
ações, proporcionando novas tomadas de decisões que interferem na busca da qualidade de ensino.
De acordo com Luckesi:
O ato de avaliar importa coleta, análise e síntese dos dados que configuram o
objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade, que se
processa a partir da comparação da configuração do objeto avaliado com um
determinado padrão de qualidade previamente estabelecido para aquele tipo
de objeto. O valor ou qualidade atribuídos ao objeto conduzem a uma tomada
de posição a seu favor ou contra ele. E, o posicionamento a favor ou contra o
objeto, ato ou curso de ação, a partir do valor ou qualidade atribuídos, conduz a
uma decisão nova, a uma ação nova: manter o objeto como está ou atuar sobre
ele. (LUCKESI, 2006, p. 96)
Por isso, é necessário ter uma compreensão mais filosófica dos conceitos abordados, pois
entender o sentido epistemológico das palavras nos leva a refletir sobre algumas ideias que, com
o decorrer do tempo e o exercício da prática docente, são atropeladas pelas questões cotidianas e
burocráticas, fazendo com que o ato de avaliar muitas vezes seja reduzido ao de verificar.
O fato de agir mecanicamente não é o mais preocupante, mas sim o de naturalizar o proces-
so avaliativo como uma simples verificação, sem atribuir nenhum conceito de qualidade, é o que
torna muito frágil o nosso sistema de ensino.
Avaliar, no sentido de atribuir um valor, faz com que se pense também sobre a prática do-
cente, minimizando certas situações de desresponsabilização sobre a falta ou a baixa qualidade de
ensino, evitando situações em que se considera o aluno como único responsável por ela mediante
seu desempenho nas “avaliações”.
Portanto, avaliar se torna uma questão ética também, o que a deixa com uma carga de res-
ponsabilidade que vai além da verificação, ultrapassando o levantamento de dados para um estudo
sistematizado de ações sobre a prática docente em busca de uma qualidade de ensino condizente
com as potencialidades humanas.
Assim, fica claro que se relaciona moral com regras, normas, direitos/deveres, isto é: são
os valores que os seres humanos criam em função da vida harmoniosa em sociedade. A ética, se-
gundo o mesmo autor, também faz isso. O que a diferencia da moral é que ela é influenciada pelo
meio, pela cultura do grupo a que pertence, ou seja, tem a ver com o ethos (espaço). Por essa razão,
transcende o conceito da moral; ela questiona as normas estabelecidas pela moral e faz as pessoas
refletirem sobre o que estão fazendo.
Avaliação e ética 13
Nessa via de raciocínio, observa-se que os dois conceitos – moral e ética – estão correlacio-
nados, mas é importante deixar claro que a ética não pode ser confundida com um conjunto de
normas. Ela é, sim, uma reflexão crítica sobre as normas, sobre a análise dos nossos atos.
A dimensão política tem a ver com relações de poder, com os interesses de um determinado
grupo social – ou, como afirma Saviani (2008, p. 68),
A dimensão política da educação consiste em que, dirigindo-se aos não
antagônicos a educação fortalece (ou enfraquece) por referência aos antagônicos e
desse modo potencializa (ou despotencializa) a sua prática política. E a dimensão
educativa da política consiste em que, tendo como alvo os antagônicos, a prática
política se fortalece (ou enfraquece) na medida em que, pela sua capacidade de
luta, ela convence os não antagônicos de sua validade (ou não validade) levando-
-os a se engajarem (ou não) na mesma luta.
Para o autor, as relações entre política e educação têm existência histórica e, por isso, de-
vem ser entendidas como manifestações da prática social própria da sociedade de classes. Saviani
afirma ainda que a importância da política na educação reside na sua função de socialização do
conhecimento. Ele também sinaliza para o fato de que só se pode afirmar que a educação é um ato
político, ou seja, que contém uma dimensão política, na medida em que se captam determinadas
práticas como sendo primordialmente educativas e secundariamente políticas.
Compreendendo a responsabilidade da educação na sua dimensão política, que é a de so-
cializar os conhecimentos, e em sua dimensão ética, que é a de analisar criticamente os valores
impostos na sociedade por determinados grupos e culturas, torna-se imprescindível entender a
avaliação como um ato político e ético, indissociável à prática educativa. Segundo afirma Dias
Sobrinho (2004, p. 706-707):
Além de política, há uma forte dimensão ética na avaliação. Ernest House talvez
tenha sido um dos primeiros autores da área a explicitar com muita clareza esses
sentidos: “Há muitas pessoas interessadas, porque as decisões sobre um progra-
ma baseadas na avaliação afetarão a todos. A avaliação faz parte, de maneira
fundamental e inextricável, de uma situação pública: uma decisão coletiva”.
Quanto à questão ética, referindo-se ao avaliador, House diz: “Sua avaliação não só deve ser
veraz e crível, também deve ser justa” (HOUSE, 1994, p. 19 e 22).
Nessa direção, avaliar é uma ação que exige cautela e tem responsabilidade na vida das pessoas
que fazem parte dela – avaliados e avaliadores –, pois toda e qualquer avaliação tem consequências
para os seres humanos. Por essa razão, é necessário analisar a repercussão da avaliação adotada,
ou seja, se é justa, comprometida, crítica e responsável.
Desse modo, pensar na finalidade da educação, e consequentemente das práticas pedagó-
gicas e da concepção de avaliação adotada, torna-se inerente à prática docente. Portanto, alguns
questionamentos devem estar presentes, como: a quem se destina a avaliação? Quem está sendo
beneficiado ou prejudicado? Ela está colaborando para uma boa educação? Está contribuindo para
a vida das pessoas envolvidas?
Essas e outras questões devem ser continuamente abordadas no interior das instituições de
ensino como um processo de formação continuada. Deve-se buscar o entendimento, para todos,
14 Avaliação da educação e da aprendizagem
de que a avaliação não tem um fim em si mesma, é mais um recurso pedagógico para reorganizar o
planejamento e a sequência das aulas.
A avaliação deve ser vista como uma ferramenta de trabalho inerente ao planejamento do
professor, que fornecerá subsídios de análise crítica de sua prática e de compreensão dos conhe-
cimentos trabalhados, bem como oferecerá dados que podem apresentar novos caminhos a se-
rem trilhados na busca de uma melhor aprendizagem. Isso porque, como afirma Dias Sobrinho
(2004, p. 708):
Na realidade, a avaliação nem sempre é aplicada com função pedagógica,
formativa e, portanto, de emancipação pessoal e social. Muito comumente,
ela tem exercido funções de controle, seleção social, restrições à autonomia.
O fenômeno da avaliação tem sentidos muito mais amplos e complexos que
aqueles que as noções escolares mais singelas e o senso comum transmitem
de geração a geração.
Para a autora, avaliar é um momento muito importante, pois influencia na vida das
pessoas. Porém, mais do que isso, o que deve fundamentar todas as práticas avaliativas são os
critérios estabelecidos para cada etapa ou área do currículo.
Estabelecer critérios é uma forma de garantir uma avaliação mais justa, priorizando o apren-
dizado dos alunos e evitando certas atitudes inibidoras, que privilegiam atitudes comportamentais
acima das relativas ao aprendizado.
As atitudes dos docentes devem estar pautadas na tríade ação-reflexão-ação, ou seja, a ava-
liação é um movimento dialético, que circunscreve as práticas educativas, evidenciando a aprendi-
zagem dos alunos e fornecendo subsídios para um repensar, para um novo planejamento que visa
a uma melhor qualidade de ensino.
A avaliação deve se desprender das análises quantitativas (com foco nas notas, nos índices de
aprovação e reprovação) e caminhar para uma transformação em favor de uma aprendizagem mais
consciente e fundamentada, que busca uma formação emancipatória. Portanto, é preciso com-
preender que a avaliação se forma dentro de um contexto, objetivando orientar, preparar e formar
o aluno para ele exercer a cidadania. O ser humano utiliza a avaliação para poder se expor, para se
Avaliação e ética 15
manifestar diante das situações que surgem ao interagir. Por isso, vale lembrar o que Luckesi (2006)
diz a respeito da avaliação: “é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade,
tendo em vista uma tomada de decisão”.
Essa tomada de decisão deve estar pautada na construção coletiva dos critérios, bem
como na análise dos índices de avaliações internas e externas à instituição, que influenciam
direta e indiretamente a prática docente, para que o ato de avaliar reverbere para uma melhor
qualidade de ensino.
Complementando a ideia de Saviani, a educação pode ser entendida também de acordo com
Paro (2000, p. 110):
A Educação consiste, pois, na mediação pela qual se processa a formação in-
tegral do homem em sua dimensão histórica. Dessa perspectiva, considerar a
qualidade do ensino em nossas escolas fundamentais é, como vimos, levar em
conta em que medida se alcança essa formação, tendo presentes as dimensões
individual e social. A dimensão individual refere-se à própria formação da per-
sonalidade do educando pela apropriação da cultura [...] A dimensão social, por
sua vez, deriva da condição de pluralidade do homem como ser histórico.
A especificidade da educação está definida por seu objeto (identificação dos elementos
culturais necessários à constituição da humanidade em cada indivíduo) e pela descoberta das
formas adequadas ao atingimento dele. Dessa forma, configura-se em trabalho – dado aqui inten-
cional – com um fim a atingir, voltado à formação, cujo produto não se separa do ato de produção,
considerado dessa maneira como de segunda natureza, a cultural, histórica. Segundo Leontiev
(1978, p. 272):
O indivíduo forma-se, apropriando-se dos resultados da história social e obje-
tivando-se no interior dessa história, ou seja, sua formação realiza-se por meio
da relação entre objetivação e apropriação. Essa relação se efetiva sempre no
interior de relações concretas com outros indivíduos, que atuam como media-
dores entre ele e o mundo humano, o mundo da atividade humana objetivada.
A formação do indivíduo é sempre um processo educativo, podendo este
ser direto ou indireto, intencional ou não intencional, realizado por meio de
atividades práticas ou de explanações orais etc. No caso específico da educação
escolar, trata-se de um processo educativo direto e intencional por meio do qual
o indivíduo é levado a se apropriar das formas mais desenvolvidas do saber ob-
jetivo produzido historicamente pelo gênero humano.
Atividades
1. Aponte alguns aspectos deste capítulo relativos às dimensões éticas e políticas que você con-
siderou relevantes para o processo educativo.
2. Descreva situações em que você presenciou, durante sua vida profissional ou acadêmica,
a ausência de critérios específicos no processo avaliativo.
Referências
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mercadoria? Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 88, p. 703-725, Especial, out. 2004. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/%0D/es/v25n88/a04v2588.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2018.
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Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbla/v6n2/02.pdf>. Acesso em: 7 fev. 2018.
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______. Pedagogia histórico-crítica. 10. ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 1991.
______. Sentido da pedagogia e papel do pedagogo. In: Revista Ande, São Paulo, n. 9, 1985.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 3. ed. Campinas:
Papirus, 2006.
2
Trajetória da avaliação educacional
e da aprendizagem
Aprofundar os conceitos sobre avaliação na sua trajetória histórica se faz tão necessário
quanto entender os paradigmas educacionais ao longo do tempo da educação brasileira. Assim,
busca-se, com este capítulo, fazer um percurso histórico desde a origem primitiva da avaliação,
a qual surge com a civilização humana, passando pela formalização de exames, com início na
China, até chegar aos modelos de avaliação da atualidade. Com o entendimento da avaliação
segundo os conceitos contemporâneos, faremos uma breve trajetória sobre as concepções de
educação brasileira.
com o próprio homem, se entendermos por avaliação a visão apresentada por Stake – o homem
observa; o homem julga, isto é, avalia.”
Sendo assim, a avaliação é uma constante em nosso dia a dia, pois, ao olharmos os nossos
semelhantes, emitimos um julgamento. Ou seja, o ato de avaliar é natural da atividade huma-
na. Saul (2008) afirma que a ação de avaliar é inerente ao pensar, ao sentir e ao agir humano,
e que no decorrer da história tem se apresentado das mais variadas formas, em opiniões acerca dos
outros, de determinadas situações, de decisões a serem tomadas (individuais ou coletivas). Os fatos
que circunscrevem a vida em sociedade são carregados de valores, conceitos e preconceitos em
relação aos outros, a si mesmo, às coisas, à sociedade em geral, enfim, ao mundo a que pertencem.
Compreendendo a avaliação como indissociável à atividade humana, é necessário encontrar
seu aspecto mais formal, entendê-la no seu sentido mais sistematizado e buscar sua trajetória his-
tórica, que concretiza suas ações nos espaços escolares. Nesse sentido, é preciso esclarecer que a
avaliação já era utilizada nas sociedades antigas – naquelas consideradas primitivas – como modo
de classificar os indivíduos nas diferentes funções sociais do trabalho. A primeira avaliação formal
se evidenciou com os exames, sendo os chineses os primeiros a usá-los com o objetivo de selecio-
nar candidatos para cargos públicos.
A utilização de exames com a finalidade de selecionar, de medir a capacidade e de quan-
tificar vem desde o século XII a.C., tendo o propósito principal de prover o Estado com homens
capacitados. A avaliação como atividade humana na sociedade não se dissocia dos espaços e das
escolhas. Para Dias Sobrinho (2001, p. 35-36):
Antes mesmo da institucionalização das escolas, a avaliação já era praticada
para fins de seleção social. Com efeito, a avaliação está ligada à questão de esco-
lhas, e a seleção social é tão “naturalmente” aderida a ela que passa como cons-
tituinte de sua essência [...] Os chineses praticavam uma seleção de indivíduos
para a guarda dos mandarins. Os gregos utilizavam mecanismos de seleção de
indivíduos para o serviço público ateniense, séculos antes de Cristo [...] [a ava-
liação] tinha um caráter público.
Na China, três mil anos antes de Cristo já se usavam os exames para selecionar homens para
o exército. Os testes eram feitos para a admissão e/ou progressão no serviço público. “A avaliação
era usada como medida já em 2205 a.C. [...]. Nessa época, o grande ‘Shun’, imperador chinês, exa-
minava seus oficiais a cada três anos, com o fim de os promover ou demitir” (EBEL; DAMRIN,
1960 apud DEPRESBITERIS, 1989, p. 5).
No entanto, a cultura dos exames se evidenciou no Ocidente por volta dos séculos XVI e
XVII, e pode ser justificada pela aplicação de testes por três correntes distintas: jesuítas, Comênio
e sociedade burguesa.
Numa perspectiva histórica, os jesuítas aplicavam os exames para orientar as práticas es-
colares. Serviam como meio de evitar determinadas práticas e linguagens que não fossem as de
ordem religiosa. Ou seja, os jesuítas adotaram o ideário pedagógico Ratio Studiorum, que centrava
suas ideias ao que denominamos, na atualidade, de pedagogia tradicional. Nessa via de raciocínio,
Saviani afirma que:
Trajetória da avaliação educacional e da aprendizagem 21
Essa prática avaliativa, com a concepção de educação voltada para um ensino focado nos
ensinamentos religiosos e a utilização de exames e provas, foi realizada em colégios católicos da
Ordem Jesuítica e em escolas protestantes a partir do século XVI.
Para Cipriano Luckesi (2005), no século XVI a pedagogia jesuítica, apesar do rigor nos pro-
cedimentos para um ensino eficiente com uma hegemonia católica, destinava uma atenção especial
ao ritual das provas e exames, que caracterizava-se por sessões solenes com formação de bancas
examinadoras e comunicação pública dos resultados.
Diferentemente da pedagogia jesuítica, a de Comênio, denominada pedagogia
comeniana, ressaltava a importância da avaliação por meio de exames finais como estratégia
de ensino. No século XVII, essa pedagogia entendia a ação do professor como centro de interesse
à educação, utilizando os exames como forma de estímulo aos estudantes para a aprendizagem.
O que predominava eram as notas, independentemente do modo ou por quais caminhos foram ob-
tidas. Os exames e as provas eram usados como instrumentos de verificação, sem qualquer relação
com o processo de ensino e aprendizagem.
Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional emergiu e se estratificou, aperfei-
çoando seus mecanismos de controle e classificação, destacando-se a seletividade escolar e seus
processos de formação das personalidades dos educandos (LUCKESI, 2005). A sociedade burguesa
aperfeiçoou os exames como modo de controle, de seleção.
A avaliação, no decorrer da história, foi se cristalizando com a aplicação de exames e acabou
incorporando, no dia a dia das instituições escolares, fundamentalmente quatro papéis: o seletivo,
o disciplinador, o coercitivo e o de controle. Eles nos levam a realizar profundas reflexões diante
da realidade da educação.
4) Realismo;
5) Profissionalização.
O período denominado pré-Tyler – ou primeiro período da trajetória da avaliação – ocorre
no final do século XIX e início do século XX, precisamente nas primeiras três décadas. Caracteriza-
-se pela utilização de medidas psicofísicas (capacidades sensoriais, tempos de reação), sendo mar-
cado pelos testes de QI (quociente intelectual), com enfoque instrumental e mecanicista para ana-
lisar as aptidões individuais de cada aluno.
Esse tipo de avaliação utilizava normalmente provas para medir a aprendizagem; tal fato
originou a expressão medidas educacionais. As propostas avaliativas eram quantitativas e se con-
centravam nos alunos. Não estabeleciam relações diretas com o planejamento, o currículo ou com
o projeto político-pedagógico. A avaliação nessa fase era eminentemente técnica, consistindo em
testes de verificação, mensuração e quantificação da aprendizagem dos estudantes.
O segundo período ocorreu de 1934 até aproximadamente 1945, sendo baseado no estudio-
so Ralf Tyler, considerado por muitos autores como o pai da avaliação educacional. Nessa fase, os
objetivos educacionais se constituíram como o centro da avaliação. Eram descritos padrões técni-
cos e critérios relativos ao desempenho escolar dos alunos, objetivando determinar coincidências
e discrepâncias entre o planejado e o efetivado. Ainda para Tyler, havia uma congruência entre a
avaliação e os objetivos instrucionais.
Nesse período, a avaliação se tornou um instrumento diagnóstico quantitativo da rentabili-
dade e eficiência da escola e dos processos pedagógicos e administrativos, ampliando seu campo de
atuação. A avaliação era considerada um processo de aperfeiçoamento contínuo de um programa
voltado para a reformulação de currículos e das propostas educacionais para reflexão e reconstru-
ção dos objetivos pedagógicos a serem cumpridos.
Segundo Souza (2005, p. 28), Tyler apresentou pesquisas direcionadas à avaliação da apren-
dizagem que fomentam investigações sobre as análises de currículo e de programas de ensino.
A autora ainda explica que:
A abordagem avaliativa de Tyler gradualmente sistematizou-se e ganhou pro-
jeção com a publicação, em 1949, do trabalho intitulado “Princípios básicos de
currículo e ensino”. Neste, o autor expressa a concepção de avaliação por objeti-
vos, bastante difundida entre nós, a qual caracteriza-se por conceber a avaliação
como procedimento que permite verificar se os objetivos educacionais estão
sendo atingidos pelo programa de ensino. Tem por finalidade fornecer infor-
mações quanto ao desempenho dos alunos em face dos objetivos esperados,
possibilitando que se verifique o quanto as experiências de aprendizagem, tal
como previstas e executadas, favorecem o alcance dos resultados desejados.
Nessa via de raciocínio, observa-se que essa abordagem de avaliação se baseou na perspecti-
va objetivista de produção do conhecimento e no modelo de avaliação escolar reprodutivista.
O terceiro período, denominado período da Inocência, ocorreu entre 1946 e 1957. É consi-
derado um momento em que muito se refletiu e se escreveu sobre a avaliação, porém, em termos
práticos, não houve avanços nem surgiram novas estratégias, permanecendo as práticas avaliativas
que vigoravam até então.
Para Melo (2008), nesse período surgiram as primeiras reflexões sobre a avaliação no con-
texto do processo de ensino-aprendizagem. Para ele, essa foi uma vertente caracterizada pela:
proposta de avaliação da aprendizagem cuja sistematização é denominada
Taxonomia de Bloom, em referência a seu autor, Benjamin Bloom, que estabeleceu
três categorias para a organização dos objetivos educacionais: cognitiva, afetiva
e psicomotora. A intenção dessa proposta era classificar os comportamentos
do aluno, demarcando as aquisições e os modos de raciocínio para auxiliá-lo a
progredir em direção aos objetivos traçados. Também apontava a necessidade
de o professor estabelecer uma relação entre esses objetivos, os comportamentos
que os alunos deveriam aprender e que seriam avaliados. (MELO, 2008, p. 8)
Foi com base no trabalho de Bloom que surgiram as primeiras reflexões e os apontamentos
sobre uma avaliação com caráter formativo, a qual vigorou na fase posterior a esta.
O quarto período, que durou de 1958 até 1972, época do Realismo, contrasta com o ante-
rior, que idealizava avançar significativamente no que tange à prática. Em 1958, o senador Robert
Kennedy propôs que a avaliação fosse um componente obrigatório nos contextos escolares, permi-
tindo, dessa forma, que surgissem os programas avaliativos, que conhecemos hoje como processos
avaliativos externos de larga escala, dimensionando de que modo o recurso público destinado à
educação é justificado pelo cumprimento de seus objetivos.
Essa fase representou uma grande ampliação da concepção de avaliação, que saiu de um foco
só do aluno para avaliar também professores, escolas, sistemas de ensino e, inclusive, as próprias
políticas educacionais.
Além disso, ocorreu uma mudança de foco dos objetivos para a tomada de decisões. Dias
Sobrinho (2001) ressalta que essa descentralização acabou repercutindo de maneira negativa no
conceito de accountability (ideia de prestação de contas). O autor faz uma crítica ao dizer que uma
avaliação política de educação com perspectiva ampla tem sido tomada como principal critério. Essa
etapa foi caracterizada pela realização de muitos trabalhos práticos na área e também de orientação
positivista e quantitativista, mas ainda com enfoques naturalistas ou fenomenológicos e qualitativos.
24 Avaliação da educação e da aprendizagem
Esse período, que segundo Dias Sobrinho (2001) caracterizou-se como um momento de
intensa mobilização, evidencia três práticas avaliativas: a avaliação como prestação de contas aos
pais; como forma de ampliação dos objetos avaliados, ponderando, além das aprendizagens dos
alunos, a atuação dos professores e do sistema escolar como um todo por meio de técnicas com en-
foque quantitativo e qualitativo para a aferição de resultados; e a avaliação de programas, durante
seu desenvolvimento, que possibilitam soluções contextualizadas, reforçando a ideia de avaliação
para melhorar a formação continuada de professores e programas de ensino.
Essa fase da avaliação apresenta alguns avanços na escolha dos objetos a serem avaliados,
porém ainda mantém o mesmo entendimento que as fases anteriores, que buscavam classificar a
aprendizagem dos alunos – desde seu comportamento até o modo como raciocinam –, tentando
definir padrões de aprendizagem a serem alcançados ao final de cada etapa de ensino.
O quinto e último período, de 1973 até a atualidade, é marcado por um grande avanço nas
práticas e políticas da avaliação. De acordo com Dias Sobrinho (2001), pode-se caracterizá-lo pelos
seguintes aspectos:
• aprimoramento sobre os conceitos de avaliação, em que se passou a desenvolver alguns
mais claros e objetivos;
• organização de programas de formação continuada de avaliadores;
• realização de parcerias e cooperação entre instituições e profissionais envolvidos com o
processo de avaliação e de ensino-aprendizagem como um todo;
• aprofundamento teórico em relação aos métodos, bem como um diálogo entre as concep-
ções que permeavam no campo positivista e no fenomenológico.
Segundo o mesmo autor, essa fase da trajetória histórica da avaliação ficou marcada pela
compreensão da complexidade desse conceito, passando-se a considerar a subjetividade dos resul-
tados, bem como o foco no processo, e não no produto final.
Nesse contexto, em 1961 foi promulgada a primeira LDB (Lei n. 4.024/61) e, em 1962, foi
aprovado o Plano Nacional de Educação, homologado pelo ministro Darcy Ribeiro. Fechou-se, de
certa forma, a fase de predominância dos ideais renovadores. Segundo Saviani (2008), a promulga-
ção da LDB, ensaiou-se a implementação de experiências inovadoras. Porém, a crise dessa tendên-
cia acelerou, articulando-se então um novo ideário, que é a pedagogia tecnicista.
No campo educacional, entrou em vigor, em 1969, a Lei n. 5.540 (reforma universitária,
regulamentada pelo Decreto n. 464, de 11 de fevereiro de 1969) e houve a aprovação do Parecer
n. 252/69, que introduziu as habilitações técnicas no curso de pedagogia. As reformas do ensino
pensadas e reorganizadas pelo governo militar, desde 1964, iniciaram sua implementação em
1969, sob a égide da pedagogia tecnicista, tornando-se a orientação oficial. Enfrentaram, desse
modo, resistência das lideranças intelectuais expressivas, que passaram a difundir a crítica à pe-
dagogia oficial baseada fortemente nas ideias oriundas das teorias crítico-reprodutivistas. Esse
período foi marcado, de acordo com Saviani (2008), pela “crise da pedagogia nova e articulação
da pedagogia tecnicista”.
No modelo tecnicista de educação, aprendizagem é modificação de desempenho e ensino é
processo de condicionamento/reforço da resposta que se quer obter com base na operacionaliza-
ção dos objetivos e da mecanização do processo. Pressupõe que a escola deve funcionar como uma
empresa, e se trabalha nesse sentido para alcançar eficiência, eficácia, qualidade, racionalidade,
produtividade e neutralidade.
Os representantes dessa teoria são Skinner, Gagné, Bloom e Cosete Ramos, e a função da
escola se resume em se articular com o sistema produtivo para aperfeiçoamento do sistema capita-
lista, formando para o mercado de trabalho, de acordo com as exigências da sociedade industrial e
tecnológica. O professor, nesse contexto, é um elo entre a verdade científica e o aluno, ou seja, é o
técnico responsável pela eficiência do ensino. O aluno é um ser fragmentado, espectador que está
na escola para aprender a fazer e ser preparado para o mercado de trabalho.
Ainda na década de 1970, o Brasil sofreu grande influência das teorias crítico-reprodutivis-
tas, em que se evidencia o comprometimento da educação com os interesses da classe dominante.
Elas apontam para o fato de que, quanto mais se ignora que se está reproduzindo a sociedade ca-
pitalista, mais eficazmente a reproduz e se descarta a possibilidade de a escola ser um instrumento
de luta proletária. Segundo Saviani (2008), essas tendências são consideradas críticas porque as
teorias que as integram postulam não ser possível compreender a educação senão com base em
seus condicionantes sociais, e são reprodutivistas porque suas análises chegam invariavelmente à
conclusão de que a função básica da educação é reproduzir as condições sociais vigentes, ou seja,
não consideram a escola como uma possibilidade de transformação da sociedade.
No campo pedagógico, nesse período, surgiu a emersão de propostas pedagógicas; segundo
Saviani (2008), contra-hegemônicas, pedagogias progressistas, em uma escola que era condiciona-
da pelos aspectos sociais, políticos e culturais. Porém, contraditoriamente, existia na escola um es-
paço que apontava a possibilidade de transformação social. Nele podia-se compreender a realidade
histórico-social e o papel do sujeito construtor/transformador dessa mesma realidade.
Trajetória da avaliação educacional e da aprendizagem 27
Dessa forma, educador e educando são sujeitos do ato do conhecimento, sendo o professor
o coordenador de debates, que estabelece uma relação horizontal, adaptando-se às características e
necessidades de sua turma. A relação pedagógica é baseada na cultura do grupo, e o aluno é sujeito
participante dele. O ensino é a partir da palavra geradora, que é de uso corrente dos alunos.
A escola, todavia, tem como papel a formação da consciência política do aluno para atuar
e transformar a realidade, além de ser responsável também pela problematização dessa realidade,
das relações sociais do homem com a natureza e com os outros homens, visando à transformação
social. Essa metodologia empregada a partir do aluno e das palavras geradoras não incorpora essa
outra necessidade, que é a formação política dos alunos por meio da transmissão/assimilação/
produção do conhecimento que o ensino do saber científico e crítico possibilita. Esse é o espírito
da pedagogia histórico-crítica, formulada pelo professor Dermeval Saviani e em desenvolvimento
dialético teórico-prático.
Atividades
1. Construa uma tabela com os cinco períodos da avaliação, contemplando os objetivos, a fun-
ção do professor e a do aluno em cada um deles.
Referências
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Trajetória da avaliação educacional e da aprendizagem 29
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SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
O que se pretende aqui não é fazer nenhuma crítica ao governo, mas sim explicitar a forma
com que foi conduzida a implementação da Lei n. 9.394/96, que ignorou grande parte das pro-
postas elaboradas pelo grupo de docentes e alunos da sociedade civil. Por isso, tal lei apresenta
uma série de contradições que se estendem pelos diversos campos de atuação que ela estabelece,
inclusive no que tange às discussões sobre a avaliação. Desse modo, é necessário compreender qual
concepção de avaliação está circunscrita no corpo da LDB e que mudanças se estabeleceram em
relação às leis anteriores.
A Lei n. 4.024, de dezembro de 1961, previa:
Art. 39. A apuração do rendimento escolar ficará a cargo dos estabelecimentos
de ensino, aos quais caberá expedir certificados de conclusão de séries e ciclos e
diplomas de conclusão de cursos.
§ 1° Na avaliação do aproveitamento do aluno preponderarão os resultados
alcançados, durante o ano letivo, nas atividades escolares, asseguradas ao pro-
fessor, nos exames e provas, liberdade de formulação de questões e autoridade
de julgamento.
§ 2° Os exames serão prestados perante comissão examinadora, formada de
professores do próprio estabelecimento, e, se este for particular, sob fiscalização
da autoridade competente. (BRASIL, 1961)
A nova legislação estabelece critérios para que as instituições de ensino possam seguir e
assim criar um padrão nacional, ressaltando a necessidade de proporcionar a todos os cidadãos
brasileiros a formação básica comum. Também enfatiza a importância de prevalecerem os aspectos
qualitativos em função dos quantitativos e define a avaliação como um processo, e não mais um
fim, no que diz respeito à aprendizagem escolar em todos os níveis de ensino.
Essa nova formulação da lei pressupõe um conjunto de ações para que se determine o mí-
nimo necessário para uma avaliação, tanto em nível de currículo como de sistema de ensino, para
tentar garantir um padrão em todo o país.
A nova LDB assegura um processo nacional de avaliação de rendimento escolar no ensino
fundamental, no ensino médio e no ensino superior, legitimando a implementação de testes que
servirão de referência para a consolidação dos sistemas de avaliação em larga escala – Saeb, Enem
e Sinaes. Também define a avaliação como um processo contínuo e cumulativo do desempenho
do aluno, em que os aspectos qualitativos prevalecem sobre os quantitativos, com priorização do
processo, e não dos exames finais.
Estabelece ainda a obrigatoriedade de recuperação de estudos e coloca a avaliação como
um instrumento de diagnóstico de todo o processo avaliativo, proporcionando às instituições a
possibilidade de elaborar ações com base em dados oferecidos pelas avaliações realizadas. Enfim, a
avaliação passa a ser entendida como um diagnóstico.
Além dessas questões relativas à aprendizagem, a LDB, em seu artigo 9°, também assegura
o que cabe à União:
Art. 9° [...]
VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino
fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, obje-
tivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
VIII – assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação
superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre
este nível de ensino. (BRASIL, 1996)
Nesse sentido, o Ideb é uma ferramenta para melhorar a qualidade da educação brasileira.
Ao unir as informações de rendimento e de fluxo, gera um índice, apresentando dados que cons-
troem um novo desenho sobre a educação brasileira e que acabam induzindo à criação de novas
estratégias para assegurar o acesso universal à escola. Mas a pergunta que se faz é: só o acesso é
suficiente para garantir a qualidade da educação?
Uma análise utilizando só um condicionante não é suficiente, pois isso não traz uma repre-
sentação da realidade. Para a qualidade da educação, são necessárias condições de acesso e perma-
nência na escola, por isso é extremamente importante ter igualdade de condições e oportunidades.
É preciso garantir que todos, sem exceção, tenham plenas chances de aprender, independentemen-
te de etnia, idade, condição social e/ou qualquer outra situação.
A escola deve ser o local de formação humana igualitária, sem qualquer tipo de distinção ou
discriminação, e, nesse sentido, os professores são a referência de ensino; devem prestar seus servi-
ços com excelência a todos que precisam da escola para que possam se tornar sujeitos emancipados
pelo conhecimento e pela cultura historicamente produzida pelos homens.
Nesse sentido, o Ideb objetiva também identificar as instituições de ensino que apresentam
maiores fragilidades no desempenho escolar, possibilitando a intervenção com ações que auxiliam
na superação das dificuldades.
Para uma melhor compreensão sobre esse indicador, faz-se necessário um entendimento
sobre como é feita a sua fórmula, que é a seguinte (INEP, 2018):
Segundo Almeida, Dalben e Freitas (2013), esse pensamento não é atual. No Brasil, essas
questões são discutidas há décadas.
No Brasil, esta lógica vem ocorrendo desde a década de 1990, quando as avalia-
ções externas passaram a ser inseridas no cotidiano escolar através do aparato
normativo-jurídico, vinculando seus resultados ao financiamento da educação
e, ainda, revestida de plausíveis argumentos pedagógicos (PCNs). (ALMEIDA;
DALBEN; FREITAS, 2013)
O que se faz necessário diante dessas questões é refletir sobre a forma como são utilizados
esses resultados, que em sua maioria são manipulados de maneira indevida, não estabelecendo um
vínculo positivo com a aprendizagem, bem como proporcionando ações que não são condizentes
com a realidade.
O Ideb vem sendo usado entre as escolas municipais como forma de competição, desfocan-
do seu real objetivo. Essas instituições utilizam o resultado para se afirmarem diante das demais e
acabam “fazendo marketing”, estabelecendo um ranking.
Essa visão competitiva deforma a visão da avaliação e do currículo. Não é esse o objetivo;
não há razão para existirem essas avaliações se os resultados não forem instrumentos para subsi-
diar o planejamento e as ações da escola. Para que esse instrumento se torne mais um indicador
na formulação de um diagnóstico preciso sobre a escola, não se deve manipular os dados e muito
menos realizar treinamentos com os alunos, pois essas situações acabam mascarando uma reali-
dade e não fornecem dados que possam contribuir para uma intervenção que pense e sugira ações
de superação concretas.
Também é necessário compreender que a educação não pode se prender a poucas variáveis,
por isso o indicador de desempenho escolar deve ser mais um aliado para a elaboração de um
diagnóstico mais próximo da realidade, e não o único instrumento.
Portanto, cabe a todos os envolvidos nesse processo de ensino-aprendizagem repensar a prá-
tica e o uso desse indicador para que não se prendam às análises sobre a qualidade de educação (ou
a falta dela) com base em um único instrumento. Deve-se dar somente a atenção que é necessária;
não se pode desperdiçar o trabalho com ações que não condizem com a realidade, pois, se assim
for, essas ações não apresentarão os resultados esperados.
resultados e caminhando para uma reflexão acerca de uma avaliação articulada com os indicadores
nacionais e demais condicionantes.
Nesse sentido, a avaliação também está contemplada no Plano Nacional de Educação (PNE),
que historicamente vem sendo tratado como algo a ser formulado e implementado, ou seja: desde
a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei n. 4.024/61), o PNE está sen-
do citado, porém foi só na nova LDB (Lei n. 9.394/96), nos artigos 9° e 87, que se estabeleceu sua
imediata formulação:
Art. 9° A União incumbir-se-á de:
I – elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios;
[...]
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da pu-
blicação desta Lei.
§ 1° A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encami-
nhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e
metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos. (BRASIL, 1996)
De acordo com a meta 7 do PNE, as metas para cada biênio são estabelecidas conforme a
tabela abaixo:
Tabela 1 – Meta 7 do Plano Nacional de Educação
Segundo essa meta do PNE, também é necessário fomentar a qualidade da educação básica
em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a
atingir as médias destacadas na tabela apresentada anteriormente. Ainda no PNE:
A elevação da qualidade da educação básica, em todas as etapas e modalidades,
com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, tem adquirido importância
central na última década, tendo em conta a garantia do direito à educação, a
melhoria da qualidade de vida da população e a produção de maior equidade e
desenvolvimento econômico-social do País. A qualidade da educação vincula-
-se aos diferentes espaços, atores e processos formativos, em seus distintos ní-
veis, etapas e modalidades educativas, bem como à trajetória histórico-cultural
e ao projeto de nação, que, ao estabelecer diretrizes e bases para o seu sistema
educacional, indica o horizonte jurídico normativo em que a educação se efetiva
como direito. (BRASIL, 2014, p. 31)
A grande preocupação é garantir uma educação básica de qualidade, pois esta engloba uma
complexidade de ações e de especificidades que se torna para o Poder Público um grande desafio
a ser superado. Pelos indicadores de avaliação, observa-se certo avanço no acesso e na melhoria da
aprendizagem. Vale destacar que é preciso um esforço conjunto entre a articulação das avaliações
nacionais e as iniciativas de cada local.
Dessa forma, faz-se necessária uma política nacional de avaliação voltada para a democrati-
zação do acesso, da permanência, da participação e da aprendizagem. A avaliação deve ser enten-
dida como processo contínuo que contribua para o desenvolvimento dos sistemas de ensino.
Vale destacar que, além das metas, o PNE estabelece 36 estratégias que apontam, entre outros
aspectos, para a necessidade de debate e planejamento intenso em função do uso indevido do Ideb, que
vem sendo utilizado de maneira deturpada, quantitativamente, sendo desvirtuado de seu real objetivo.
Atividades
1. Cite quais avanços se estabeleceram entre a primeira LDB (Lei n. 4.024/61) e a última LDB
(Lei n. 9.394/96) no que diz respeito à avaliação.
2. Descreva de maneira sintética de que forma os resultados do Ideb devem ser trabalhados no
interior das instituições.
3. Faça uma análise sobre a meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) e escreva algumas
estratégias que possam contribuir para a sua efetivação.
Políticas públicas de avaliação 39
Referências
ALMEIDA, Luana Costa; DALBEN Adilson; FREITAS, Luiz Carlo de. O IDEB: limites e ilusões de uma po-
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4
Avaliação da educação básica
e da educação superior
5 anos (nas pré-escolas), as questões relativas à matrícula e frequência são fatores obrigatórios de
acordo com a CF, alterada pela Emenda n. 59/2009.
Além das questões relativas à matrícula e à frequência, a LDB também afirma em seu artigo
29 que “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvol-
vimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996).
Em seu artigo 30, postula ainda que a educação infantil será organizada com algumas regras
em comum, tais como: avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das
crianças, sem o objetivo de promoção; carga horária mínima anual; atendimento à criança de, no
mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar; e expedição de documentação que
permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Compreendendo que, apesar dos grandes avanços relativos à democratização, da qualifi-
cação da educação infantil e da busca de conceitos e definições mediante sua organização, não se
observa nesses documentos uma consolidação de propostas que venham a sistematizar a avaliação
na educação infantil. O Plano Nacional de Educação (PNE), em sua meta 1, almeja universalizar
a educação infantil para as crianças de 4 e 5 anos de idade e ampliar a oferta em creches para no
mínimo 50% das crianças de até 3 anos de idade. Com isso, prevê, como uma das estratégias:
1.6) Implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, avaliação da educação
infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos, com base em parâmetros nacionais
de qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as
condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade, entre
outros indicadores relevantes. (BRASIL, 2014)
Portanto, para consolidar esse sistema de avaliação da educação infantil, no âmbito das
Políticas Nacionais de Avaliação da Educação Básica, identifica-se que os indicadores de quali-
dade deverão ser definidos em níveis progressivos de exigência no sentido vertical e em âmbitos
também progressivos de abrangência (local, regional, nacional) no sentido horizontal, permitindo
ainda que cada instituição ou município incorpore indicadores de qualidade construídos pela co-
munidade que representam.
Sendo assim, os Indicadores de Qualidade para a Educação Infantil se caracterizam como
um instrumento que foi elaborado com base em aspectos fundamentais para a qualidade da insti-
tuição de educação infantil. Eles foram expressos em sete dimensões:
44 Avaliação da educação e da aprendizagem
1) planejamento institucional;
2) multiplicidade de experiências e linguagens;
3) interações;
4) promoção da saúde;
5) espaços, materiais e mobiliários;
6) formação e condições de trabalho dos professores e dos demais profissionais;
7) cooperação e troca com as famílias e participação na rede de proteção social.
Para essa consolidação, identificam-se algumas referências que devem ser base para a ava-
liação, tais como:
• Acesso, no que diz respeito à viabilização/ampliação da oferta.
• Insumos, questões relativas aos espaços, recursos financeiros e humanos, materiais etc.
• Processos, como de gestão de currículo e propostas pedagógicas (BRASIL, 2012).
No que tange à avaliação da educação infantil, são essas questões que perpassam o meio aca-
dêmico e institucional. No entanto, no que se refere à avaliação na educação infantil, é importante
definir que ela é realizada internamente no processo educativo, pelo professor e por outras pessoas,
e se concentra na criança e no seu desenvolvimento.
Desse modo, as instituições de ensino devem garantir uma avaliação que considere o de-
senvolvimento único e singular de cada criança, com foco no trabalho pedagógico, sem objetivar
a seleção, promoção ou classificação. Devem criar procedimentos para acompanhamento que pos-
sam garantir, segundo Oliveira (2012), a observação crítica e criativa das atividades; a utilização de
múltiplos registros, realizados tanto por adultos como por crianças (aqui devem ser considerados
relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); a continuidade do processo de aprendizagem por
meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição em que a criança
passa; documentação específica que possibilite à família compreender o trabalho da instituição,
bem como os processos de desenvolvimento e aprendizagem de cada aluno; e a não retenção das
crianças na educação infantil.
A Aneb e a Anresc são realizadas bienalmente e, além de subsidiarem o cálculo do Ideb, são
avaliações em larga escala e circunscrevem entre os mesmos objetivos. Apesar de suas diferenças,
buscam: identificar os problemas e as diferenças regionais de ensino; oferecer subsídios à formula-
ção, reformulação e monitoramento de políticas públicas e programas de intervenção ajustados às
necessidades diagnosticadas nas áreas e etapas de ensino avaliadas; produzir informações sobre os
fatores do contexto socioeconômico, cultural e escolar que influenciam o desempenho dos alunos;
proporcionar aos agentes educacionais e à sociedade uma visão clara dos resultados dos processos
de ensino e aprendizagem e das condições em que são desenvolvidos; desenvolver competência
técnica e científica na área de avaliação educacional, ativando o intercâmbio entre instituições
educacionais de ensino e pesquisa (INEP, 2018d).
Incorporada recentemente ao Saeb, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é uma
avaliação censitária que envolve os alunos do 3º ano do ensino fundamental das escolas públicas.
Seu objetivo principal é avaliar os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa e
conhecimentos em Matemática, bem como as condições de oferta do Ciclo de Alfabetização das
redes públicas (INEP, 2018e). A ANA foi incorporada ao Saeb pela Portaria n. 482, de 7 de junho
de 2013, e é aplicada anualmente.
Também passou a integrar recentemente o Sistema Nacional de Avaliação a Provinha Brasil,
ou a Avaliação da Alfabetização Infantil, sendo esta uma avaliação diagnóstica que visa a investigar
o desenvolvimento das habilidades relativas à alfabetização e ao letramento em Língua Portuguesa
e aos conhecimentos em Matemática em crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental
das escolas públicas brasileiras. Diferentemente das outras avaliações, é aplicada duas vezes ao ano
– no início e no final deste – e permite que professores e gestores identifiquem o que foi incorpora-
do e/ou agregado na aprendizagem das crianças durante esse período (INEP, 2018f).
Além dessas avaliações, foi incorporado pelo Inep, em 1998, o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), com a finalidade de avaliar o desempenho do aluno ao término da
escolaridade básica.
Atualmente, o Enem é usado como forma de ingresso em algumas universidades, eliminan-
do, em muitas ocasiões, a necessidade de prestar vestibular. Na edição de 2014, foram incluídos nos
resultados por escola indicadores contextuais para permitir uma melhor compreensão da realidade
de cada uma, favorecendo uma análise mais adequada de seus resultados de proficiência. Os indi-
cadores foram:
• Indicador de nível socioeconômico, que possibilita, de modo geral, situar o público aten-
dido pela escola em um estrato social, apontando o padrão de vida referente a cada um de
seus níveis ou estratos. Esse indicador é calculado com base no nível de escolaridade dos
pais e da posse de bens e contratação de serviços pela família dos alunos.
• Indicador de formação docente, que analisa a formação dos professores que lecionam no
ensino médio na escola. Apresenta o percentual de disciplinas que são ministradas por
professores com formação superior de Licenciatura (ou Bacharelado com complementa-
ção pedagógica) na mesma disciplina que lecionam.
Avaliação da educação básicae da educação superior 47
Entendendo essa avaliação como uma forma de garantir uma referência de qualidade da
educação superior, foi instituído o Sinaes, pela Lei n. 10.861/2004, elaborada com três componen-
tes principais: a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos alunos. Essa avaliação
considera dez dimensões:
1) Missão e plano de desenvolvimento institucional (PDI);
2) Política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação e a extensão;
3) Responsabilidade social da Instituição de Ensino Superior (IES);
4) Comunicação com a sociedade;
5) Políticas de pessoal, carreiras do corpo docente e técnico-administrativo;
6) Organização de gestão da IES;
7) Infraestrutura física;
8) Planejamento de avaliação;
48 Avaliação da educação e da aprendizagem
Considerando esses princípios e atribuições, o Sinaes avalia todos os aspectos que giram
em torno de ensino, pesquisa e extensão, responsabilidade social, desempenho dos alunos, gestão
da instituição, corpo docente, instalações etc. Os resultados das avaliações possibilitam traçar um
panorama da qualidade dos cursos e das instituições de educação superior no país. Além disso, o
Inep gera indicadores e um sistema de informações que subsidia tanto o processo de regulamenta-
ção (efetivado pelo MEC) como a transparência dos dados sobre a qualidade da educação superior.
No que se refere aos instrumentos utilizados pelo Sinaes, a Autoavaliação Institucional é
o primeiro deles, sendo feita pelo autoestudo por meio de Comissão Própria (CPA), seguindo
um roteiro proposto para todo o país, acrescido de indicadores específicos, projeto pedagógico,
institucional, cadastro e censo. O relatório da autoavaliação deve conter todas as informações e
demais elementos avaliativos constantes no roteiro comum de base nacional, análises qualitativas
e ações de caráter administrativo, político, pedagógico e técnico-científico que a Instituição de
Ensino Superior pretende empreender em decorrência do processo de autoavaliação, identificação
dos meios e recursos necessários para a realização de melhorias, assim como uma avaliação dos
acertos e equívocos do próprio processo de avaliação (INEP, 2018h).
A avaliação externa é realizada pela visita in loco de especialistas designados pelo MEC. É es-
tabelecido um Conceito Institucional (CI), calculado com base em determinadas referências, entre
elas o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e as políticas de ensino, de pessoal e de gestão.
O Índice Geral de Cursos avaliados da instituição (IGC) se trata de uma medida institucional, e
é calculado por meio de média ponderada de todos os cursos e níveis de graduação, mestrado e
doutorado. Tanto o CI quanto o IGC são propostos em uma escala de 0 a 5 (INEP, 2015).
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), de acordo com a Portaria
Normativa n. 40, de 12 de dezembro de 2007, tem como objetivo aferir o desempenho dos estu-
dantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo
curso de graduação, assim como as habilidades e competências em sua formação. Participam alu-
nos ingressantes e concluintes dos cursos avaliados, que realizam uma prova de formação geral e
específica (INEP, 2018i).
A avaliação dos cursos é feita por meio de visitas in loco por comissões de avaliadores
designados pelo Inep aos cursos e instituições públicas e privadas. Essas visitas se destinam a
verificar as condições de ensino – em especial aquelas relativas ao perfil do corpo docente –,
as instalações físicas e a organização didático-pedagógica. Os cursos devem ser avaliados pe-
riodicamente, passando por três tipos de avaliação: para autorização, para reconhecimento e
para renovação de reconhecimento.
Para autorização: Essa avaliação é feita quando uma instituição pede autori-
zação ao MEC para abrir um curso. Ela é feita por dois avaliadores, sorteados
entre os cadastrados no Banco Nacional de Avaliadores (BASis). Os avaliado-
res seguem parâmetros de um documento próprio que orienta as visitas, os
50 Avaliação da educação e da aprendizagem
Atividades
1. Diferencie avaliação da educação infantil de avaliação na educação infantil.
2. Cite quais são os principais desafios diante das avaliações de larga escala na educação básica.
Referências
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Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 19 jun. 2018.
Avaliação da educação básicae da educação superior 51
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jun. 2018.
5
Avaliação como estratégia
de gestão educacional
Com efeito, a avaliação se torna mais uma ferramenta importante da gestão, pois a ins-
trumentaliza com dados que orientam as decisões acerca das questões fundamentais da escola.
Portanto, a avaliação pode ocorrer externa e/ou internamente nas instituições escolares e pode
ser desdobrada em duas modalidades:
1) Avaliação acadêmica ou científica.
2) Avaliação institucional – administrativa ou organizacional.
A primeira diz respeito aos resultados da aprendizagem escolar, com o objetivo de acom-
panhar e revisar as políticas públicas educacionais, contribuindo para a formulação de indi-
cadores de qualidade de ensino. Já a segunda tem como meta formular um diagnóstico com
dados das diferentes origens dentro do sistema escolar, ou seja, pesquisa informações que vão
54 Avaliação da educação e da aprendizagem
desde a aprendizagem escolar até as questões materiais (físicas) que interferem na qualidade da
educação. Segundo Libâneo (2004, p. 239), a avaliação institucional é:
uma função primordial do sistema de organização e gestão dos sistemas esco-
lares e das escolas. Essa avaliação, também chamada de administrativa, visa à
obtenção de dados quantitativos e qualitativos sobre os alunos, professores, a
estrutura organizacional, os recursos físicos e materiais, as práticas de gestão, a
produtividade dos cursos e dos professores etc., com o objetivo de emitir juízos
de valores e tomar decisões em relação ao desenvolvimento da instituição.
Assim, a avaliação institucional contribui para uma melhor utilização dos recursos, bem
como se torna um subsídio importante para o planejamento tanto dos docentes quanto dos
gestores da instituição. Porém, para que realmente exerça essa função, é necessário que o grupo
compreenda seu verdadeiro sentido: o de contribuir para um melhor direcionamento das práticas
administrativas e pedagógicas.
Portanto, esse vem a ser um mecanismo que estimula o desenvolvimento pessoal e profissio-
nal das pessoas envolvidas, para que possam gradativa e continuamente melhorar as ações realiza-
das na instituição. Conforme afirma Veiga (1997, p. 26):
Ao analisar a estrutura organizacional, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao si-
tuar os obstáculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando
a realidade escolar, estabelecendo relações, definindo finalidades comuns e con-
figurando novas formas de organizar as estruturas administrativas e pedagógi-
cas para a melhoria do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos disponíveis (humanos,
materiais e financeiros) e a realidade escolar, cada instituição educativa assume
sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando
consequentemente a construção de uma nova forma de organização.
Sendo assim, a avaliação institucional é um instrumento fundamental para uma boa ges-
tão, para um bom trabalho pedagógico visando a um desempenho educativo em sua totalidade.
Nessa perspectiva, pode-se atribuir pelo menos duas funções importantes para a avaliação insti-
tucional: 1) promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos envolvidos no processo edu-
cativo; e 2) melhorar os programas que estão em desenvolvimento na instituição. Porém, para
Melchior (2004, p. 4):
A função principal da avaliação é subsidiar e fornecer informações relevantes ao
processo de tomada de decisão dos indivíduos envolvidos nos programas para
melhoria da qualidade da educação. É parte integrante da organização institu-
cional, tanto para os administradores usarem os resultados para orientar suas
ações, no sentido de estimular e fomentar iniciativas voltadas para a melhoria
da qualidade da educação, como para cada um, individualmente, fazer sua au-
toavaliação e buscar a autoqualificação.
Ainda para essa autora, é por meio da utilização dos mecanismos avaliativos que conduzem
os profissionais à autorreflexão que é possível melhorar as ações institucionais. Para ela, o papel da
avaliação no processo, além de regular as ações, é antecipar eventuais imprevistos e permitir que
determinadas situações possam permanecer no percurso preestabelecido.
Avaliação como estratégiade gestão educacional 55
Considerando esses pressupostos, ainda se faz necessário pensar para que e o que se avalia.
Nesse sentido, avalia-se com base nos pressupostos citados por Melchior, mas deve-se contemplar
a avaliação da organização e do planejamento institucional, ou seja, as formas de gestão e o projeto-
-político pedagógico, o desempenho dos componentes da equipe, a aprendizagem dos alunos e os
recursos físicos. E, para avaliar esses itens, é preciso adotar técnicas e estratégias de autoavaliação
e realizar observações formais e informais, além de considerar os princípios éticos e políticos que
emergem nas/das relações e interações escolares.
Por essas questões, fica evidente que a decisão de avaliar não pode existir somente porque
está prevista no projeto pedagógico da instituição, mas precisa necessariamente estar vinculada a
determinados princípios, que, ainda com base em Melchior (2001, p. 7), representam uma concep-
ção de educação que perpassa a instituição:
1) Como elemento do processo – o princípio primeiro da avaliação institucio-
nal está relacionado ao seu significado. 2) Legitimidade – pressupõe o acordo
da comunidade escolar quanto aos critérios e quanto à institucionalização do
processo avaliativo. 3) Comparabilidade – o princípio da comparabilidade exige
que se busque um linguajar comum tanto dentro da instituição como entre as
outras. 4) Globalidade – estabelece a necessidade de avaliar todos os elementos
que fazem parte ou que podem interferir no processo. 5) Participação/adesão
voluntária – os objetivos de qualificação serão atingidos, através da avaliação, se
houver participação. 6) Continuidade – a cultura da melhora contínua impul-
siona inovações e criatividade.
56 Avaliação da educação e da aprendizagem
Dentro dessa perspectiva, a situação ideal que se almeja para um processo de avaliação,
que busque uma melhor qualidade de educação, é aquela em que: a participação do coletivo
das instituições seja efetiva; haja uma identificação e reflexão acerca dos problemas e das con-
tradições que emergem na prática educativa; as alternativas para solucionar os problemas e as
contradições sejam detectadas e planejadas; e, de maneira imprescindível, tenha-se o compro-
misso concreto dos envolvidos para a implementação das possíveis mudanças.
A partir dos princípios estabelecidos, segundo Melchior (2001, p. 8), “propõe-se um
processo contínuo de aperfeiçoamento e uso dos resultados da avaliação como ferramenta
para a gestão em um processo contínuo, sistemático, legítimo, global e participativo de avalia-
ção institucional”.
pois faz parte de um processo ao mesmo tempo em que é um produto em constante mudança,
construído coletiva e continuamente.
Portanto, o projeto político-pedagógico é um documento que orienta todas as ações da es-
cola. Nele deve estar contida a realidade em que a instituição se encontra e os conceitos que fun-
damentam a prática docente, as ações que são planejadas para a superação da realidade em busca
de melhores condições.
Diante disso, é fundamental pensar nos princípios que norteiam a elaboração e a execução
do projeto pedagógico. Segundo Veiga (1997), a abordagem do projeto pedagógico como organi-
zação do trabalho da escola deve se fundar em princípios que reforcem as práticas democráticas e
o sentido da escola pública e gratuita, delineando cinco princípios:
1) Igualdade de condições para acesso e permanência na escola.
2) Qualidade, a qual implica em duas dimensões indissociáveis: a formal e a política. A for-
mal se caracteriza pelos instrumentos e métodos, e a política pela condição imprescindí-
vel de participação.
3) Gestão democrática, que é um princípio constitucional e abrange as dimensões pedagógi-
ca, administrativa e financeira.
4) Liberdade, também prevista na Constituição, e que está ligada à ideia de autonomia.
5) Valorização do magistério, considerado pela autora como um princípio central na discus-
são do projeto, pois se trata de formação inicial e continuada.
Um projeto elaborado com esses princípios se configura em um instrumento de luta, contra-
pondo-se à fragmentação do trabalho pedagógico, tornando-se um mecanismo de atuação política
em que se projetam mudanças na trajetória de cada instituição, de cada grupo de profissionais,
pois são propostas ações que possibilitam a construção da autonomia e delimitam as finalidades da
instituição, bem como definem a diretriz e projetam o “vir a ser” da escola.
Nessa construção do projeto pedagógico, é preciso refletir sobre alguns elementos consti-
tutivos da organização da escola, os quais podem trazer contribuições significativas. Dentre eles,
segundo Veiga (1997), podem ser sinalizados sete elementos básicos:
1) Finalidades – é necessário estabelecer coletivamente os objetivos das instituições, com
critérios bem definidos.
2) Estrutura organizacional – divide-se em dois tipos: 1. administrativa, que se refere a re-
cursos, arquitetura, equipamentos etc. e 2. pedagógica, que trata das interações políticas e
das questões de ensino-aprendizagem.
3) Currículo – define-se como a construção social do conhecimento, pressupondo a
sistematização dos meios para que essa construção se efetive.
4) Tempo escolar – é um dos elementos constitutivos da organização do trabalho
pedagógico, pois prevê calendários, horários, entre outros.
5) Processo de decisão – deve ser orientado por princípios de participação de todos
nas decisões.
Avaliação como estratégiade gestão educacional 59
Essas questões são importantes para que algumas reflexões acerca do sistema avaliativo
sejam repensadas, como quais os objetivos de se avaliar, quem está sendo avaliado e o que será
avaliado, entendendo a avaliação com um sentido amplo, observando o avaliador e a estrutura
da instituição como um todo. Nesse aspecto, encontram-se alguns desafios, como a resistência
de alguns professores (bem como de alguns gestores) a propostas que objetivam avaliar seu
desempenho, inviabilizando alguns modelos de avaliação, o que dificulta assim a elaboração de
novas estratégias de intervenção.
Continuando com a ideia de Tasso, a avaliação de desempenho docente pode ser considera-
da parte de um processo mais amplo – a avaliação institucional. Dessa forma, não se pode pensar
em isolar o docente do contexto institucional em que está inserido e, além disso, não podem ser
60 Avaliação da educação e da aprendizagem
Nesse sentido, o professor é o sujeito singular nesse processo avaliativo, pois torna-se indis-
sociável de sua prática docente pensar em critérios/referências de qualidade que possam orientar
seu direcionamento pedagógico, garantindo uma unificação dos princípios contidos no projeto
político-pedagógico, ultrapassando as técnicas isoladas.
Diante das questões postas na atualidade, do nível de compreensão acerca da educação e dos
diferentes desafios que se põem cotidianamente, faz-se necessário refletir sobre alguns aspectos re-
lativos ao ato de avaliar, começando com a forma como se avalia. Sobre isso, Libâneo (2004) aponta
os seguintes itens a serem analisados em uma proposta de avaliação docente:
• observação sistemática das aulas;
• implementação de diálogos e de reflexão conjunta com os professores;
• pesquisa-ação, como instrumento de análise sobre a prática docente e sobre a aprendiza-
gem dos alunos.
Para o autor, torna-se tão importante saber como avaliar quanto ter clareza do que avaliar –
e, sobre esse aspecto, ele sugere alguns pontos da prática docente em sala de aula, como:
Avaliação como estratégiade gestão educacional 61
Atividades
1. Explicite como a avaliação institucional pode reorientar o trabalho da gestão.
3. A avaliação docente perpassa por inúmeras questões subjacentes à prática pedagógica. Cite
alguns pontos positivos e negativos dessa avaliação.
Referências
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6
Interdependência entre avaliação,
currículo e escola
Segundo a autora, a história das concepções de currículo é marcada por decisões básicas
tomadas com o intuito de: 1) racionalizar, de maneira administrativa, a gestão do currículo para
adequá-lo às exigências econômicas, sociais e culturais da época; 2) elaborar uma crítica à escola
capitalista; 3) compreender como o currículo atua; e 4) propor uma escola diferente, seja na pers-
pectiva socialista ou na libertária.
A teoria curricular sofreu influências recentes, como a postulada por Taylor, no início do
século XX. O livro de Bobbitt, The curiculum, afirmava que o currículo devia se submeter às mes-
mas regras que a indústria, implementando os conceitos de produtividade, eficiência e eficácia, e
adotando inclusive medidas de resultado e uso de testes padronizados de inteligência, introduzin-
do uma perspectiva tecnicista.
Por volta da metade da década de 60, foi percebido um movimento crítico chamado de
reconceptualização do currículo, o que para Silva (s/a) significa que esses enfoques vestem nova
roupagem com os referenciais da análise sistêmica. Para a autora, o currículo passa a ser tratado
como um sistema tecnológico de produção e propõe que os resultados da aprendizagem sejam
traduzidos em comportamentos específicos definidos operacionalmente, com verbos adequados,
tendo em vista os objetivos pretendidos com a prática pedagógica.
Já na década de 70 emergiram diversos discursos e questionamentos sobre a escola e acerca
do currículo, acarretando um pluralismo teórico, conforme afirmam Ferreira e Grahl (2012, p. 2):
Esta multiplicidade de abordagens na produção do campo do currículo ocasio-
na debates que decorrem e apontam as grandes transformações pelas quais vem
passando as sociedades contemporâneas no contexto da globalização econômi-
ca, da mundialização da cultura e da redução das distâncias espaço temporais
que a ciência e a tecnologia propiciaram na tentativa de compreendê-los. Tais
transformações, consideradas crises, exigem atento cuidado dos educadores em
suas análises e decisões. As chamadas crises atuais – econômica, social, ecoló-
gica, democrática, ideológica – se entrelaçam formando uma verdadeira teia a
ser desvencilhada pelo intelectual professor e dirigente educacional a fim de,
com lucidez, trabalhar o essencial e prioritário em seu âmbito educacional, seja
unidade escolar ou sistema educacional.
Interdependência entre avaliação,currículo e escola 67
Nesse mesmo documento há um entendimento de que toda política curricular é uma polí-
tica cultural, pois:
o currículo é fruto de uma seleção e produção de saberes: campo conflituoso
de produção de cultura, de embate entre pessoas concretas, concepções de co-
nhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e perceber o mundo. Assim,
as políticas curriculares não se resumem apenas a propostas e práticas enquanto
documentos escritos, mas incluem os processos de planejamento, vivenciados
e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplas singularidades no corpo
social da educação. (BRASIL, 2013)
Nesse contexto, avaliar o currículo se faz imprescindível à prática educativa e pode ser ana-
lisado por dois aspectos: 1) currículo avaliado na escola com base nas propostas pedagógicas e
nos planos de trabalho, bem como pela avaliação da aprendizagem; e 2) currículo avaliado pe-
los Sistemas Nacionais de Avaliação e pelo Sinaes, que avaliam de maneira indireta o currículo.
Utilizando esses aspectos, pode-se compreender melhor a complexidade e a amplitude do currícu-
lo no processo de aprendizagem.
Com a nova Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), que define conteúdos e
habilidades mínimos a serem trabalhados nas escolas públicas e privadas da educação básica, es-
pera-se que diminuam as desigualdades de aprendizado no país, pois todos os alunos terão acesso
a conteúdos considerados essenciais. Esse documento foi construído de maneira colaborativa e
democrática, por meio de contribuições pela internet e seminários em todos os estados, organi-
zados pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e pela União dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime). Cada escola, baseada na BNCC, pode criar seu próprio currí-
culo, acrescentando conteúdos que considerar importantes à sua comunidade, tornando o ensino
mais próximo da realidade local.
b) Entendendo que a práxis tem lugar num mundo real, e não em outro, hipotético, a
construção do currículo não deveria se separar do processo de realização nas con-
dições concretas dentro das quais se desenvolve.
c) A práxis opera num mundo de interações, que é o mundo social e cultural, com-
preendendo a aprendizagem como ato social e entendendo a interação entre o ensi-
no e a aprendizagem dentro de determinadas condições.
d) Pelo fato de o mundo das práxis ser um mundo construído, não natural, o conteúdo
do currículo é uma construção social. E é com base na aprendizagem do currículo
que os alunos se convertem sujeitos de sua própria aprendizagem.
e) Conforme o princípio anterior, entende-se que a práxis assume o processo de cria-
ção de significado como construção social, não distante de conflitos.
Propõe-se, desse modo, uma mudança conceitual; busca-se reverberar para uma ideia de
currículo que supere a concepção técnica, siga para um entendimento prático, processual, de ação,
em que sua efetivação se dá numa situação social e, dessa forma, a atividade de reflexão prévia é
feita de maneira naturalizada entre os protagonistas da ação educativa.
Com base nos princípios citados por Sacristán, o currículo se configura em um contexto em
que as condições são determinantes para a sua efetivação e para o entendimento junto aos protago-
nistas desse processo de construção. Segundo Felício (2013), alguns elementos são essenciais para
uma análise das práticas curriculares, sendo eles:
• O contexto – as práticas curriculares devem obrigatoriamente estar inseridas no seu
contexto social, que inclui os aspectos políticos, econômicos e sociais.
• A cultura – deve-se considerar a própria cultura da instituição, sem perder de vista
a cultura do educando e dos demais envolvidos.
• A ideologia – deve-se perceber o conjunto de valores, de crenças e de ideias que
sustentam ou que servem de base ao sistema curricular da instituição.
• Os educandos – deve-se diagnosticar as características dos indivíduos que fazem
parte desse contexto, descobrir quais elementos os identificam como sujeitos de
sua própria história.
• Os professores – deve-se observar a formação inicial e a forma como ela se traduz na
ação pedagógica com os educandos, seja de maneira mais técnica ou por uma postu-
ra mais ideológica, marcada por sua identidade profissional e prática investigativa.
Enfim, compreender os diversos aspectos em que o currículo pode influenciar e atuar de
modo significativo é uma condição para estabelecer ações de intervenção pedagógica que possam
superar as dificuldades subjacentes ao processo de ensino-aprendizagem, muitas vezes amarrado a
questões conceituais ultrapassadas diante da nova realidade educacional e social.
Sendo assim, a prática avaliativa das ações pertencentes a esse currículo em ação também
esboça um panorama de discussões e enfrentamentos sobre a intencionalidade das ações e a con-
cretização delas pelos responsáveis. Segundo Felício e Possani (2013), há, diante dessas questões,
Interdependência entre avaliação,currículo e escola 71
outros elementos que podem contribuir para uma avaliação mais crítica sobre a proposta curricu-
lar e sobre seu trabalho, auxiliando na busca de soluções para os possíveis problemas encontrados
no percurso. Ainda de acordo com as autoras, outros aspectos também devem ser considerados na
análise de práticas curriculares, com base em uma perspectiva crítica:
a) Natureza das práticas curriculares: são identificadas pelas ações que norteiam
o currículo em questão [...] b) Enquadramento conceitual da prática curricular:
a concepção de educação e de currículo presente nas práticas curriculares se
expressa nos princípios que norteiam o currículo [...] c) Âmbitos específicos da
ação curricular: os caminhos que o currículo percorre até chegar ao educando
passam necessariamente por estes três âmbitos, ou seja, político-administrativo,
de gestão e de sala de aula. (FELÍCIO; POSSANI, 2013, p. 134)
De acordo com os autores, não se pretende fazer julgamentos do que é certo ou errado, e
sim constatar a pluralidade de conceitos que refletem variados posicionamentos, compromissos
e pontos de vista teóricos, a que se incorporam discussões sobre os conhecimentos escolares e os
procedimentos e as relações sociais que delineiam o cenário em que os conhecimentos se ensinam
e se aprendem, sobre as transformações que buscamos efetuar nos educandos na busca da constru-
ção da identidade.
Para os autores, de maneira sintética, pode-se conceituar o currículo “como as expe-
riências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais,
e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as estudantes” (CANDAU;
MOREIRA, 2007, p. 18).
Porém, eles alertam para o fato de existir o reflexo das ações mais implícitas do currículo,
o que se refere ao denominado currículo oculto, que se caracteriza pelas atitudes, posturas e pelos
72 Avaliação da educação e da aprendizagem
valores subjacentes à prática docente. Muitas vezes, não é nem percebido, mas traz alguns elemen-
tos que ajudam a caracterizá-lo em suas formas de se expressar, como:
• rituais e práticas;
• relações hierárquicas;
• regras e procedimentos;
• formas de organização dos espaços e tempos escolares;
• distribuição dos alunos em grupos e turmas;
• mensagens subliminares nas falas dos docentes e nos livros didáticos.
Nessa compreensão, associa-se o conceito de currículo ao de avaliação informal, a qual se
efetiva de maneira constante e espontânea no interior das salas de aula, partindo de opiniões, de
valores. Candau e Moreira citam como exemplo de currículo oculto a forma como a escola incen-
tiva a criança a chamar a professora (“tia”, “Fulana”, “professora” etc.); a maneira como arrumamos
as carteiras na sala de aula (em círculo ou alinhadas); as visões de família que ainda se encontram
em certos livros didáticos (restritas ou não à família tradicional de classe média).
Diante desses aspectos, observa-se que o conceito de currículo perpassa por dois momentos
importantes: um relacionado ao conceito de conhecimento escolar e outro ao de cultura.
Inicialmente, será abordado o conceito de conhecimento escolar, visto que se trata de um
dos elementos centrais do currículo e que sua aprendizagem, segundo Candau e Moreira (2007),
constitui condição indispensável para que os conhecimentos socialmente produzidos possam
ser apreendidos, criticados e reconstruídos por todos os estudantes a nível nacional. Ainda para
esses autores, é importante reforçar o potencial que o currículo tem de tornar as pessoas capazes
de compreender o papel que devem ter na mudança de seus contextos imediatos e da sociedade
em geral, bem como de ajudá-los na aquisição das habilidades necessárias para efetivar essas
ações. Ou seja, é importante salientar como os conhecimentos escolares e as experiências podem
formar sujeitos autônomos.
Na mesma linha teórica, compreende-se que o currículo escolar pode ser concebido como
uma construção específica do campo educativo e ser composto de características próprias que o
diferenciam de outras formas de conhecimento. Assim, o currículo engloba de maneira articulada
um mecanismo que envolve as relações entre sociedade e escola, entre os saberes e as práticas so-
cialmente construídas e os conhecimentos escolares.
Para Candau e Moreira (2007), configura-se em conhecimentos que são provenientes de sa-
beres e conhecimentos socialmente produzidos nos chamados âmbitos de referência dos currículos,
que são:
• instituições produtoras do conhecimento científico;
• mundo do trabalho;
• desenvolvimento tecnológico;
• atividades desportivas e corporais;
• produção artística;
Interdependência entre avaliação,currículo e escola 73
• campo da saúde;
• formas diversas de exercício da cidadania;
• movimentos sociais.
Justamente por serem conhecimentos socialmente produzidos, não se torna viável e possível
levá-los para a sala de aula da mesma maneira que se efetivam em seus contextos de origem, pois
sofrem o que se denomina descontextualização. Eles passam por um processo de recontextualiza-
ção quando:
• são selecionados e organizados conforme os ritmos e as sequências propostas pela
psicologia do desenvolvimento;
• tendem a se submeter aos ritmos e às rotinas que permitem sua avaliação.
Sob essa perspectiva, a avaliação do conhecimento escolar e a própria compreensão do pro-
cesso de construção do conhecimento escolar se tornam um mecanismo com duplo sentido: o de
perceber a aprendizagem dos alunos e ser um instrumento que subsidia a prática docente, em que,
com base nos dados observados sobre a aprendizagem dos alunos, pensa-se em novas estratégias
de aperfeiçoamento da prática docente.
Candau e Moreira (2007) afirmam que há alguns processos na fabricação dos conhecimen-
tos escolares e sinalizam quatro deles. O primeiro é a descontextualização dos saberes e das práti-
cas, deixando as críticas e discussões de lado; traz um conhecimento pronto, acabado. O segundo
aspecto é o que os autores denominam de subordinação dos conhecimentos escolares ao que conhe-
cemos sobre o desenvolvimento humano, estabelecendo relação à divisão dos conhecimentos, à
seleção e à organização, com base na psicologia do desenvolvimento.
O terceiro aspecto, para os autores, diz respeito aos conhecimentos escolares que tendem a se
submeter aos ritmos e às rotinas que permitem sua avaliação, ou seja, abordam a ação docente que
pensa prioritariamente em conhecimentos que podem, de certo modo, ser avaliados. O quarto e
último aspecto é o que afirmam ser os efeitos de relações de poder estabelecidos no interior das
instituições, referindo-se a exemplos de conselho de classe, que supervalorizam as disciplinas
científicas e secundarizam os saberes referentes às artes do corpo, reforçando, dessa maneira,
a manutenção das desigualdades e das diferenças que caracterizam a estrutura da sociedade.
É possível perceber que a orientação cultural do currículo tem privilegiado algumas ques-
tões, como:
• interferências e referências do grupo no qual a instituição escolar se insere;
• cultura da instituição;
• cultura do aluno.
Tal fator chama atenção para um cenário de multipluralidade de conceitos, com uma diver-
sidade de culturas que circunscreve a prática docente e que interfere direta e indiretamente na sua
condução. Segundo Candau e Moreira (2007), podem-se apontar alguns princípios que sugerem:
“intensificar a sensibilidade do(a) docente e do gestor para a pluralidade de valores e universos cul-
turais, [...] para a conveniência de resgatar manifestações culturais de determinados grupos cujas
identidades se encontram ameaçadas” (CANDAU; MOREIRA, 2007, p. 30).
74 Avaliação da educação e da aprendizagem
Assim, os autores afirmam que a intenção do currículo deve ser desenvolvida com base em
conceitos e práticas que evidenciem a construção histórica dos conhecimentos humanos, respei-
tando a diversidade e a pluralidade de ideias sob uma perspectiva de gestão democrática da educa-
ção, o que privilegia uma formação humana emancipatória.
Atividades
1. Conceitue o que é currículo.
Referências
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Brasília, Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
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Interdependência entre avaliação,currículo e escola 75
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VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 3. ed. Campinas:
Papirus, 2006.
7
Avaliação da aprendizagem –
fundamentos teóricos e metodológicos
bons resultados sejam alcançados, fazendo da avaliação um dos elementos diagnósticos que fazem
parte de um contexto mais amplo para se repensar as ações da escola como um todo.
Portanto, a avaliação pode ser compreendida de diferentes formas:
• como elemento integrador entre aprendizagem e ensino;
• como ajuste e orientação da intervenção pedagógica.
Nessa concepção, a avaliação não tem um fim em si mesma; é um mecanismo pedagógico
de intervenção com o objetivo de melhorar as condições de ensino-aprendizagem, portanto supera
o entendimento de verificação da aprendizagem, em que a responsabilidade por aprender se con-
centrava nos alunos. De acordo com essa nova compreensão de avaliação, isso cabe a todos os en-
volvidos no processo – gestores, professores, pedagogos, alunos e familiares –, por isso a avaliação
pode ser entendida também como:
• informações sobre o que e como foi aprendido;
• elemento de reflexão contínua.
Diante dessas possibilidades de compreender a avaliação, podemos citar três modelos e fun-
ções da avaliação da aprendizagem:
1) avaliação diagnóstica;
2) avaliação formativa;
3) avaliação somativa.
A avaliação diagnóstica, como o próprio nome sugere, trata-se de um diagnóstico da apren-
dizagem dos alunos, mas também do trabalho do professor. É o momento de compreender qual
é a intencionalidade da avaliação e repensar os caminhos a serem direcionados para garantir de
maneira mais precisa a aquisição dos conhecimentos por parte dos alunos. Isso deve proporcionar
a eles ainda um momento de reflexão sobre o seu estágio de desenvolvimento, tendo por objetivo
melhorar sua dinâmica de estudo. Ao professor, cabe repensar e reorganizar seu planejamento. Na
concepção de Darsie (1996, p. 48):
Avaliar é uma atividade intrínseca e indissociável a qualquer tipo de ação que
vise provocar mudanças. Nesse sentido a avaliação é uma atividade constituinte
da ação educativa, quer nos refiramos à avaliação do projeto educativo, avalia-
ção do ensino ou à avaliação de aprendizagem. Por ser reflexão da ação, aqui
da ação educativa, podemos inferir que a avaliação torna-se a possibilidade de
superação da própria ação e que, se permanente, provocará mudanças na ação
educativa, rumo à efetivação de sua intencionalidade.
À luz dessa compreensão, a avaliação diagnóstica pode ser considerada a avaliação inicial, e,
diante dessas considerações, leva-se a acreditar que toda a avaliação é diagnóstica, bem como afir-
ma Hadji (2001, p. 19), ao dizer que isso ocorre “na medida em que identifica certas características
do aprendiz e faz um balanço, mais ou menos aprofundado, de seus pontos fortes e fracos”.
A avaliação formativa se fundamenta também na ideia de avaliação como contínua e
processual e na intenção de reajustar o trabalho do professor, tendo como premissa básica um
processo ininterrupto de reflexão e reorganização do planejamento e da didática do docente.
Avaliação da aprendizagem –fundamentos teóricos e metodológicos 79
Como afirma Hadji (2001, p. 19), “trata-se de levantar informações úteis à regulação do processo
de ensino-aprendizagem”.
Assim, essa avaliação apresenta um foco formativo, ajuda na regulação do processo de cons-
trução da aprendizagem, tendo ainda função corretiva, sendo considerada a melhor forma de ilus-
trar se o professor efetiva essa avaliação ou não, pois permite verificar se este alterou/aumentou
suas estratégias – ou, como afirma Hadji, se “houve aumento da variabilidade didática” –, se após
as práticas avaliativas foram realizadas mudanças nas estratégias de aula.
Além desses elementos apresentados, é importante salientar que a avaliação formativa
traz um aspecto muito importante denominado de feedback, que é considerado por Villas
Boas (2008) como elemento-chave dessa avaliação, pois se refere à informação direcionada ao
próprio estudante. É o momento em que se conversa sobre como foi o desenvolvimento do tra-
balho realizado. Porém, o autor chama atenção para o fato de que o feedback só pode ser con-
siderado sob essa perspectiva se for conduzido de modo que traga as informações adequadas,
que possibilitem ao aluno alterar seu estado de aprendizagem, proporcionando-lhe alcançar os
conhecimentos necessários e almejados.
Então, o aluno deve ser capaz de julgar a qualidade do seu trabalho e melhorar sua aprendi-
zagem, passando a:
• saber o que esperar;
• comparar seu aprendizado atual com o esperado;
• envolver-se em ações que levem ao fechamento da distância entre o nível atual e o esperado.
Hadji (2001) considera a avaliação formativa como uma utopia promissora e descreve três
características dela:
1) A avaliação se torna formativa na medida em que se insere em um projeto educativo espe-
cífico: o de favorecer o desenvolvimento daquele que aprende, deixando de lado qualquer
outra preocupação.
2) O professor, que será informado dos efeitos reais de seu trabalho pedagógico, poderá
regular sua ação com base nisso, e o aluno, que não somente saberá onde anda, mas po-
derá tomar consciência das dificuldades que encontra, tornar-se-á capaz, na melhor das
hipóteses, de reconhecer e corrigir seus próprios erros.
3) Corrigir sua ação, modificando, se necessário, seu dispositivo pedagógico, com o objetivo
de obter melhores efeitos por meio de uma maior “variabilidade didática”.
Para o autor, a ideia de avaliação formativa corresponde ao modelo ideal de uma avaliação,
colocando-se deliberadamente a serviço do fim que lhe dá sentido: tornar-se um elemento, um
momento determinante da ação educativa, propondo-se tanto a contribuir para uma evolução do
aluno quanto a dizer o que se deve implementar de ações na continuidade da ação pedagógica.
Já a avaliação somativa, também denominada terminal acumulativa, está focada no final
do processo e tem uma função certificativa, que objetiva ter uma visão geral sobre o desem-
penho dos alunos. Portanto, essa avaliação tem enfoque no resultado, ao emitir um parecer de
aprovação ou reprovação.
80 Avaliação da educação e da aprendizagem
Diante das considerações apresentadas, cabe refletir sobre o fato de que, apesar de as três
avaliações citadas terem funções diferentes, não são incompatíveis, e sim complementares. Uma
não é pior ou melhor do que a outra, mas cada uma tem funções diferentes, na medida em que um
diagnóstico pode contribuir para o planejamento do professor, melhorando o processo de ensino e
aprendizagem, e uma avaliação contínua pode subsidiar a avaliação final.
Para Batista (2008), os critérios decorrem dos conteúdos; é possível compreendê-los como o
detalhamento do conteúdo, aquilo que é essencial, que o torna imprescindível para a compreensão
do conhecimento na sua totalidade. Ainda para o autor, estão diretamente ligados à intencionali-
dade do ensino de um determinado conteúdo específico – a forma como o professor, juntamente
com sua instituição de ensino, espera que os sujeitos da aprendizagem compreendam, analisem e
se relacionem com o mundo, com o outro, e, dessa forma, com o objeto de conhecimento, expres-
sando dessa maneira a concepção de ensino da instituição.
Assim, os critérios também são a via para acompanhamento da aprendizagem e, de acordo
com Batista (2008), devem subsidiar a base de julgamento dos níveis de aprendizagem dos alunos
e, consequentemente, do ensino do professor. Para tanto, as instituições de ensino devem ter por
finalidade auxiliar a prática pedagógica do professor, visto que uma constante reflexão do processo
de aprendizagem é necessária.
Nessa perspectiva, os critérios têm como atribuição se constituir em uma das vias para se
acompanhar o processo de aprendizagem. Segundo Luckesi (2011, p. 412): “[o critério] depende de
um conjunto de decisões que tomamos. O critério define o que queremos como resultado de nossa
atividade e, desse modo, estabelecer a direção tanto para o ato de ensinar quanto para o de avaliar”.
De acordo com essa mesma compreensão, é possível pensar em uma possibilidade de
avaliação pautada em objetivos claros, preocupada em verificar o nível de apropriação dos co-
nhecimentos pelos alunos para além da atribuição de notas e conceitos. Segundo Depresbiteres
(1998, p. 167): “Com toda a dificuldade que temos para definir critérios, uma coisa é certa: é im-
prescindível que eles sejam claros e precisos. Os critérios tornam as ‘regras do jogo’ mais explícitas
e podem ser mais adequados, quanto maior for a integração entre professores e alunos”.
Assim, é possível ter total clareza de que critérios não são instrumentos, mas também não
são pesos. Portanto, a elaboração de instrumentos de avaliação está atrelada à definição dos crité-
rios voltados para a intencionalidade dos conteúdos, e não para os instrumentos, bem como afirma
Batista (2008, p. 5):
Assim, é essencial estabelecer a relação entre os conteúdos que se pretende
ensinar, o objetivo para este ensino à forma de sistematização destes conteú-
dos, para então estabelecer instrumentos e critérios de avaliação claros e es-
pecíficos que serão utilizados no processo avaliativo. [...] Não basta, apenas, a
divisão dos conteúdos, mas é fundamental que se tenha clareza do que se quer
com este ou aquele conteúdo (objetivos) e a forma como serão sistematizados
(metodologia) e também o modo que estes conteúdos serão avaliados, ou seja,
a definição de alguns instrumentos para avaliações pontuais da aprendizagem
e o estabelecimento de critérios de avaliação pertinentes e coerentes com os
conteúdos determinados.
Por agregar essa função social, as instituições escolares têm como responsabilidade, ineren-
te à sua existência, disseminar os conhecimentos mais elaborados, os saberes científicos. Porém,
devido ao fato de a escola fazer parte de um grupo social maior, que exige uma forma de expor as
condições e os estágios de desenvolvimento, faz-se necessário estabelecer instrumentos de registro
e documentação de avaliação, como notas, conceitos, boletins, diplomas, certificados etc.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os registros e a documentação da avaliação pre-
cisam perpassar por uma diferenciação entre a comunicação e a qualificação da avaliação. Nesse
mesmo documento a comunicação da avaliação é descrita como a interlocução necessária entre o
avaliador e o avaliado e seus responsáveis; é a forma como são repassadas as informações relativas
ao processo de aprendizagem de cada aluno, “incluindo também o diálogo entre a avaliação e au-
toavaliação realizada pelo aluno” (BRASIL, 2000, p. 90).
A qualificação da avaliação é o que se adquire da comunicação da avaliação, expressa em
notas, conceitos, nos documentos escolares, como históricos, boletins, pareceres, diplomas, certifi-
cados – os quais cumprem uma função social. É importante salientar que a avaliação restrita a esses
registros, ou seja, as qualificações, minimamente contribui para o processo.
Os registros da avaliação devem ser explorados de modo que possibilitem aos alunos uma
ampliação de seu próprio conhecimento, pois a avaliação na sua totalidade é um momento de
aprender e ensinar. Por isso, devem ser consideradas e repensadas todas as formas de conduzir
esse processo, para que ele seja o mais agregador possível no desenvolvimento de cada indivíduo,
proporcionando reflexões acerca de seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Segundo Zabala (2007), o sistema educacional tem a obrigação de informar os resultados
obtidos. O autor afirma ainda que é a sociedade que estabelece os requisitos prévios para cada
uma das carreiras profissionais, mas sinaliza para o fato de a escola superar essa visão fragmen-
tadora e excludente e direcionar o trabalho educativo para contemplar a pluralidade existente.
Segundo o autor:
A função da escola e da verdadeira responsabilidade profissional passa por con-
seguir que nossos alunos atinjam o maior grau de competência em todas as
suas capacidades, investindo todos os esforços em superar as deficiências que
muitos deles carregam por motivos sociais, culturais e pessoais. (ZABALA,
2007, p. 212)
Os registros devem ser feitos de modo que possam contribuir na ação reflexiva de cada alu-
no, portanto dentro de uma concepção de avaliação formativa. Acredita-se que o envolvimento do
aluno no processo de comunicação dos resultados de sua aprendizagem aos pais/responsáveis pode
propiciar a apropriação dos resultados da avaliação, além de desenvolver sua autonomia cognitiva
(VILLAS BOAS, 2008).
Atividades
1. Descreva as características das avaliações diagnóstica, formativa e somativa.
Referências
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CANDAU, Vera Maria; MOREIRA, Flávio Barbosa. Currículo, conhecimento e cultura. In: BEAUCHAMP,
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nov. 1996. Disponível em: <http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/785>. Acesso em: 19
jun. 2018.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
______. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. Cortez: São Paulo, 2011.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Virando a escola do avesso por meio da avaliação. Campinas:
Papirus, 2008.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2007.
8
Avaliação da aprendizagem –
metodologias, técnicas e instrumentos
que pressupõe muita cautela, ética e responsabilidade de todos os envolvidos nesse processo, bem
como afirma Liblik (2005, p. 5):
o ato de avaliar pressupõe o acompanhamento constante de todas as ações de-
senvolvidas em períodos determinados de acordo com os tempos escolares.
Assim “... a avaliação, em seu cerne, contém as atividades de ensino e vice-versa.
Apenas se muda a nomenclatura no momento desejado: agora é ensino, agora é
avaliação. Ambos momentos são de aprendizagem e não deveria haver necessi-
dade (a não ser burocráticas) de separá-las.
alunos, que devem ser complementadas com outros instrumentos avaliativos que elenquem, con-
juntamente, informações mais precisas do rendimento dos estudantes.
Portanto, a observação pode ser utilizada com diversas finalidades, permitindo a avaliação
de algumas questões que não podem ser percebidas em outros instrumentos. Pode ser classificada,
segundo Haydt (2004), em casual ou sistemática. A observação casual acontece informalmente e
com mais frequência no dia a dia da sala de aula, porém a observação sistemática pode ser regis-
trada por meio de:
• Lista de verificação e/ou checagem – diz respeito à aglutinação de informações relativas à
relação de comportamentos/aprendizagens a serem observados e que auxiliam o profes-
sor a focar atenção nessas questões.
• Registro de casos ou anedotários – referem-se às anotações e aos registros de situações
significativas da vida escolar dos alunos em determinado tempo e/ou etapa.
• Escalas de classificação – correspondem às fichas de observação que contemplam com-
portamentos/aprendizagens a serem avaliados em uma escala/amplitude que aponta o
grau/nível em que o objeto avaliado se apresenta.
Já a testagem inclui as provas objetivas e subjetivas elaboradas pelo professor, bem como
os testes produzidos em larga escala e os exames orais. Segundo Hoffmann, tem a finalidade de
constatar resultados e faz refletir sobre o fato de os testes não se resumirem à aplicação e ao seu re-
sultado, mas sim a como devem ser utilizados esses resultados, que precisam fundamentar a prática
avaliativa, devem ser considerados como processo investigativo.
Por fim, sobre a autoavaliação, dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000,
p. 86): “A autoavaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno desenvolve estratégia
de análise e interpretação de suas produções e dos diferentes procedimentos para se avaliar”. Essa
técnica é considerada uma apreciação do próprio percurso de aprendizagem e dos resultados al-
cançados ao longo do seu processo de aprendizagem.
Conforme Haydt (2004) afirma, é o processo pelo qual o próprio aluno analisa as atividades
realizadas e em desenvolvimento, apontando e registrando suas percepções, identificando, assim,
possíveis ações de superação que possam reverter algumas dificuldades que impedem um melhor
avanço na sua aprendizagem.
Segundo Sanmartí (2009, p. 50), o principal objetivo da autoavaliação é que “os alunos
construam um bom sistema interno de pilotagem para aprender e o melhorem progressiva-
mente”. Ou seja, que construam sua própria autonomia de se autoconhecer, de identificar seus
conhecimentos dentro do processo e intervir para melhorar – ou, ainda no pensamento do
mesmo autor, a fim de que possam estar em constante processo de reformulação de seus sabe-
res em sua caminhada profissional.
Nesse sentido, é preciso ser cauteloso para não confundir autoavaliação com autonotação,
na qual o aluno atribui a si mesmo uma nota ou conceito, ou analisa sua produção escolar. A autoa-
valiação tem uma profundidade e complexidade maior, pois ultrapassa a ação de estabelecer notas,
90 Avaliação da educação e da aprendizagem
indo em direção a uma prática de intervenção com base nos resultados observados, em movimento
contínuo de ação-reflexão-ação, pelo avaliador e pelo avaliado.
Diante desses aspectos, considera-se que os pereceres descritivos se tornam um grande ins-
trumento avaliativo se utilizados de maneira adequada, pois possibilitam contemplar informações
muito específicas de cada educando – e, sendo assim, devem ser utilizados pelos professores como
meio de compreender o processo de aprendizagem. De acordo com Hoffmann (1993, p. 57), “os
registros de avaliação sob a forma de pareceres descritivos [...] surgem justamente na educação
infantil”, em uma ação contínua e altamente reflexiva, de modo a expressar “avanços, conquistas,
descobertas dos alunos, bem como relatar o processo vivido em sua evolução, em seu desenvolvi-
mento, dirigindo-se aos encaminhamentos, às sugestões de cooperação entre todos que participam
do processo” (HOFFMANN, 1993, p. 134).
Ainda para Hoffmann (1993), a expressão parecer descritivo, usada tradicionalmente pe-
los professores, poderá ser substituída por relatórios de acompanhamento, pois tem a respon-
sabilidade de contemplar todo o processo de construção do conhecimento, desvinculando-se
da prática avaliativa tradicional, que tem roteiro pronto com indicadores de desempenho se-
lecionados pela escola.
Nesse contexto, Albuquerque (2008, p. 274) afirma que os pareceres descritivos, na pers-
pectiva de avaliação formativa, vão além da constatação, tendo por objetivo “informar sobre o
processo de aprendizagem do aluno, no sentido mais amplo e sobre o seu processo de formação
plena, interpretando essas informações à luz da proposta educacional da escola”. Nessa perspectiva
de avaliação, esse instrumento deve servir para que o professor também possa tomar decisões e
indicar orientações aos pais quanto às dificuldades apresentada pelo aluno.
Assim, Villas Boas (2008, p. 104) apresenta dois tipos de relatórios ou pareceres descritivos,
sendo que um deve ficar sob poder do professor, para uso exclusivo da escola, e outro deve ser
destinado aos pais. Segundo a autora:
o relatório de uso da escola pode ter seu formato construído pelo grupo de
professores, com itens previamente definidos, ou ser de anotação livre. Nele
registram-se as evidências de aprendizagem do aluno, tomando como refe-
rência os objetivos ou capacidades estipulados pela escola. (VILLAS BOAS,
2008, p. 104)
Contudo, os pareceres descritivos que se destinam aos pais são constituídos de modo a
contemplar objetivos um pouco diferentes dos estabelecidos para a instituição escolar e seus
profissionais, pois
92 Avaliação da educação e da aprendizagem
Para a autora, os aspectos comportamentais devem ser registrados separadamente, para não
interferirem nos avanços e nas conquistas do aluno com relação às suas aprendizagens cognitivas,
as quais devem ser tratadas com prioridade. Dessa forma, avaliar utilizando como instrumento o
parecer descritivo só ganha significado quando a avaliação é realizada durante o percurso das ati-
vidades. Nesse sentido, Carrion (2008, p. 6) expressa que “o olhar avaliativo do educador frente ao
educando deve priorizar não apenas aquilo que ele conseguiu alcançar, mas sim aquilo que ainda
poderá conquistar, incentivando-o para o desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades”.
Nessa mesma via de raciocínio, Luckesi (2005, p. 52) afirma que, “muitas vezes, nossos edu-
candos são competentes em suas habilidades, mas nossos instrumentos de coleta de dados são
inadequados e, por isso, os julgamos, incorretamente, como incompetentes. Na verdade, o defeito
está em nossos instrumentos e não no desempenho do estudante”.
Portanto, selecionar instrumentos que possam elencar as informações mais precisas sobre
o desempenho dos alunos se torna um grande desafio na prática docente. De acordo com Luckesi
(2005), para que não sejam coletadas, incorretamente, informações que não condizem com a rea-
lidade do aluno, é necessário se atentar para a utilização de instrumentos adequados, que vão ao
encontro dos objetivos propostos pelo professor.
Desse modo, Depresbiteris e Tavares (2009, p. 16) afirmam que diversificar os instrumentos
de avaliação “pode ser possibilidade para o professor, na perspectiva de um trabalho de análise
mais profunda da aprendizagem [...] sob diferentes ângulos e dimensões”. Assim, além de ser ne-
cessária a utilização de mais de um instrumento (como fichas de observação, produções de textos,
mapas conceituais, pareceres descritivos, questionários, portfólios, entre outros), o professor tam-
bém deve ser cauteloso ao escolher os instrumentos mais adequados para coletar as informações
de que precisa para mapear a situação de aprendizagem do aluno. Para isso, deve optar por aqueles
que permitam encontrar as necessidades de cada turma.
Dessa forma, Vasconcellos (1998, p. 82) afirma que a finalidade maior da avaliação da apren-
dizagem é “ajudar a escola a cumprir sua função social transformadora, ou seja, favorecer que os
alunos possam aprender e se desenvolver, levando em conta o compromisso com a construção de
uma sociedade mais justa, solidária”.
Outra finalidade da avaliação é que, por meio dela, o professor possa ter subsídios para en-
contrar a melhor forma para ensinar, percebendo se o tipo de trabalho que vem sendo realizado
está, de fato, atingindo os alunos, melhorando também sua maneira de ensinar.
Outro instrumento que também pode contemplar a aprendizagem dos alunos e contribuir
de maneira significativa na construção de mecanismos de intervenção se concentra na elaboração
Avaliação da aprendizagem –metodologias, técnicas e instrumentos 93
de fichas avaliativas, sendo uma possibilidade de registro dos resultados da avaliação. Porém, elas
devem respeitar certos princípios, de acordo com suas finalidades e a quem ou ao que se destina.
A ficha pode ser utilizada como forma de acompanhamento da vida escolar do aluno, configuran-
do-se como uma ficha cumulativa, individual, que acompanha o aluno em cada etapa de ensino, e
onde são registrados dados significativos de sua escolarização (HAYDT, 2004).
Outra forma de obter informações relevantes da aprendizagem dos alunos, possibilitando
visualizar o caminho da aprendizagem, são os portfólios de avaliação, que podem contemplar
pareceres, relatórios ou fichas. O portfólio é uma construção do aluno, caracterizando-se como
uma coleção de produções escolares que representam evidências da aprendizagem. De acordo com
Vasconcellos (1998), os portfólios costumam ser organizados em uma pasta e pelos próprios alu-
nos, de modo que eles e os professores possam, conjuntamente, acompanhar sua evolução.
Trata-se de um procedimento de avaliação que possibilita aos educandos participar da for-
mulação dos objetivos de sua aprendizagem e avaliar seus avanços, sendo participantes do pro-
cesso de avaliação, de modo a incluir em seus portfólios a seleção das melhores amostras de seus
trabalhos. Conforme Villas Boas (2008), os portfólios de um ano podem ainda ser analisados por
professores do ano seguinte.
Os portfólios contribuem para que não haja descontinuidade no processo de aprendizagem,
e podem constituir uma maneira autêntica de os pais acompanharem o que seus filhos fazem na
escola. Entretanto, a autora alerta para os possíveis riscos ao se buscar implementar o trabalho com
portfólios, sendo que um deles é
reduzir-se a uma pasta em que se arquivam textos e se fazem registros das aulas.
Se isso acontecer, ele não assumirá o feitio de um procedimento de avaliação.
Essa pasta poderá até cumprir a função de organizar o material de aula e servir
a outros propósitos, como, por exemplo, de fonte de consulta futura. Contudo,
não se pode chamar isso de portfólio. (VILLAS BOAS, 2008, p. 30)
Deve-se, assim, ter muita cautela para não transformar o portfólio em uma pasta que
aglutina atividades dos alunos sem contemplar o percurso de aprendizagem. Devem ser sele-
cionadas, conjuntamente com os alunos, as atividades mais significativas, que contemplem seus
principais avanços em um espaço determinado de tempo, e ter cautela para que o portfólio não
seja confundido com um dossiê, que efetivamente é uma pasta em que se colocam todos os ma-
teriais produzidos pelo educando, cronológica e frequentemente organizados pelos professores,
para cumprir fins burocráticos.
Isso nos leva a pensar que nem tudo pode ser medido, pois há certas questões inerentes
ao processo educativo às quais não podem ser estabelecidos padrões mínimos nem máximos de
referência por se trabalhar com a subjetividade humana; e esta deve ser sempre considerada como
prioritária no processo de ensino-aprendizagem.
Ao estabelecer notas, intrinsecamente se lançam padrões comparativos entre os alunos, que
subscrevem a finalidade maior da educação em detrimento da atribuição de um conceito nem
sempre fidedigno ao conhecimento adquirido. Em muitas situações cotidianas são estabelecidos
critérios de medidas com base em comportamentos, desvirtuando o processo avaliativo para uma
ação de empoderamento do professor, que se utiliza do sistema fragilizado de educação para impor
sua autoridade por meio do medo atribuído à nota.
Arbitrariamente, utiliza-se esse método de avaliação reduzindo o conhecimento a uma
forma de medir, transformando-o em um conceito. É necessário e urgente repensar essas ações,
para se modificarem em atitudes conscientes visando a uma avaliação mediadora, e não simples-
mente qualificadora, mediante o uso de notas expressas por números ou conceitos. Como afirma
Depresbiteris (2007, p. 101), a avaliação pode ser apoiada “por bons instrumentos com significado
para as pessoas diretamente a eles relacionadas”.
Nessa perspectiva, Luckesi (2006) ressalta que ainda se observa no interior das instituições
escolares a utilização de práticas avaliativas classificatórias que objetivam estabelecer resultados
de aprovados, reprovados, bons e maus alunos, entre outros, sendo que na maioria as ocasiões de
Avaliação da aprendizagem –metodologias, técnicas e instrumentos 95
revisão dos conteúdos são propiciadas visando a melhorar a nota, e não aprofundar um determi-
nado conhecimento – sendo desvinculada de sua finalidade, que é a aprendizagem. Desse modo,
Luckesi (2006, p. 24) enfatiza que
as notas se tornam a divindade adorada tanto pelo professor como pelos alunos.
O professor adora-as quando são baixas, por mostrar sua “lisura” (“não aprovo
de graça; sou durão”), por mostrar o seu “poder” (“não aprovo qualquer aluno e
de qualquer jeito”). O aluno, por outro lado, está à procura do “Santo Graal” – a
nota. Ele precisa dela, não importa se ela expressa ou não uma aprendizagem
satisfatória; ele quer a nota. Faz contas e médias para verificar a sua situação. É a
nota que domina tudo; é em função dela que se vive na prática escolar.
À luz dessas reflexões, faz-se necessário e imprescindível uma prática docente responsável
com a formação integral do homem e que reveja suas formas avaliativas. Portanto, o processo ava-
liativo deve ser agregador ao de aprendizagem, portanto os registros do percurso de aprendizagem
individual dos alunos devem ser instrumentos que subsidiam o planejamento do professor e da
equipe escolar como um todo.
Deve-se pensar em formas de registro que contemplem da maneira mais precisa possível um
processo educativo integral. Então, registrar a aprendizagem dos alunos com anotações, filmagens
e observações diárias é imprescindível para uma prática docente que considera o aluno como um
ser em constante desenvolvimento, respeitando-o como um sujeito que se constitui historicamente.
Da mesma maneira, pensar na forma de apresentar os resultados de aprendizagem aos fami-
liares é extremamente relevante, pois é um momento de reforçar a concepção de educação e, conse-
quentemente, de avaliação adotada pela instituição. Por isso, ela deve ser cuidadosamente pensada
para que não se torne um momento de tortura, e sim de oportunidade para refletir conjuntamente
sobre o processo de aquisição dos saberes, que proporciona a todos condições de participar e inter-
vir no processo em curso com o objetivo de aperfeiçoá-lo.
Em muitas instituições esse contato direto com a família vem se perdendo devido à con-
duta de disponibilizar os resultados em meios eletrônicos. Segundo Villas Boas (2008), isso não
é adequado, devido ao distanciamento que ocasiona entre escola e família, “com a escola em um
momento significativo, o de discussão conjunta do desempenho do aluno. Esses encontros são
necessários” (VILLAS BOAS, 2008, p. 6).
Reforçando a ideia de Villas Boas, a avaliação pode e deve ser um momento conjun-
to de reflexão, para conduzir as ações da escola e das famílias a posturas verdadeiramente
democráticas do e no processo educativo. Isso determina as responsabilidades de cada indivíduo
pertencente a esse ciclo de desenvolvimento humano, em que todos ensinam e aprendem em um
movimento dialético historicamente constituído pelo e para o ser humano.
Dessa maneira, é de suma importância repensar a ação pedagógica e a forma de avaliar os
alunos, pois, segundo Moraes (2008, p. 11), “é preciso encontrar novos caminhos no que diz respei-
to ao processo de ensinar e aprender, isto é, passar do superficial para o significativo”. A mudança
da avaliação implica transformações na própria avaliação (seu conteúdo, sua forma e sua intencio-
nalidade), bem como nos aspectos com os quais estabelece relações: a prática pedagógica como um
todo (vínculo pedagógico, conteúdo e metodologia de trabalho em sala de aula).
96 Avaliação da educação e da aprendizagem
Atividades
1. A autoavaliação, em sua opinião, é uma prática que está presente nas instituições escolares
das quais tem participado?
2. Que tipo de reflexão deve ser conduzida para levar as pessoas a pensar sobre a atribuição de
nota ou o conceito sobre a aprendizagem?
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Gabarito
1 Avaliação e ética
1. Deve-se escrever sobre a diferença entre ética e moral, bem como explicitar o sentido de política
como prática social e aquisição do conhecimento, inerentes à prática educativa.
2. Pode-se escrever que o Ideb deve ser um instrumento diagnóstico de reflexão e análise de possí-
veis ações a serem desenvolvidas nas instituições.
3. Descrever algumas sugestões de ações com base na meta 7 que possam subsidiar a prática docente.
2. As reflexões devem perpassar as questões de uma avaliação que transcenda aquela relativa ao
desempenho dos alunos, mas que incorpore discussões em assuntos mais amplos, como insumos,
processo, estruturas etc.
3. Deve-se escrever sobre a necessidade de atender aos anseios de uma sociedade que buscava a
democratização do país e objetivava elaborar uma diretriz para o ensino superior.
3. Aspectos positivos: dados que possam subsidiar planejamento, autorreflexão, autocrítica, reorganiza-
ção da prática e crescimento individual e coletivo. Aspectos negativos: resistência de determinados
grupos de docentes e de gestores, inviabilizando o processo de crescimento de modo geral.
2. Deve-se destacar a avaliação como subsídio do professor, instrumento de avaliação e reflexão sobre a
prática na perspectiva da tríade ação-reflexão-ação.
3. Deve-se destacar um panorama do currículo como seriação e organização de conteúdos. Por um ou-
tro viés, aponta-se a multipluralidade de conceitos no interior das salas de aula.
3. A ação de registrar a avaliação de maneira reflexiva faz parte de um movimento inerente à prática
educativa, para pensá-la constantemente e direcionar o planejamento conforme a necessidade dos
alunos, por isso é necessário descrever sobre esses aspectos.