Você está na página 1de 6

1º de Agosto Bruno Latour

15h30 Erick Felinto “Where do objects reside if not in the res extensa?”
16h Bruno Latour While there has been so much insistance on objectivity in the Western self repre­
sentation, very little effort has been invested in designing for objects a decent
place in the naturalists’ official philosophy because of the symmetric obsession
2 de agosto for subjectivity and intentionality. Hence the somewhat clandestine life objects
had to accept. Through works done in science and technology studies, the lecture
9h Culturas pós­humanas: objetos, afetos e tecnologia
will offer a few propositions for designing such alternative places.
Lúcia Santanella, Steven Shapiro, Ivana Bentes
11h Pensar os objetos técnicos: fil. e comunicação
Siegfried Zielinski (Universität der Künste Berlin)
Graham Hamman, Erick Felinto
“Para uma Diligente Filologia das Coisas Precisas”
14h30 Novos objetos, novas temporalidades
Dado que no mundo da natureza não pode existir nenhuma perfeição, ela tam­
Siegfried Zielinsky, Maurício Lissovisky bém não existe no mundo da técnica. Conhecemos apenas tentativas de aproxi­
mação à mais alta perfeição. Cada coisa que nós produzimos e construímos é algo
16h40 Teorias, Objetos e Mídias
aperfeiçoável, improvisado, inadequado e provisório (Pye). Essas imperfeições
Adalberto Muller, Sybile Kramer fundamentais das coisas técnicas e dos sistemas conduz­nos à fundação e emba­
samento de um conceito. O que se pleiteia é uma (possível) filologia diligente
(mas não perfeita) de coisas precisas, que se forma e origina na meta de possibili­
3 de agosto tar e apoiar as comunicações com os outros, para produzir um acontecimento
9h Imagem e sensorialidade extraordinário. A função sistêmica dos meios não interessa a essa filologia. A tal
projeto corresponde fundamentalmente a idéia de que a linguagem também
Joachim Paech, Tadeu Capistrano pode ser compreendida como artefato – e a noção mesmo de artefato é discuti­
11h Cognição, estética e intermedialidade da. Como conseqüência da descoberta do estruturalismo, forma­se a noção básica
de que o objeto técnico vivido deve ser entendido não como ideologia, mas como
Fátima Régis e Kathlin Startingen doador de idéias para um método de trabalho fundamental. O intercâmbio inten­
14h30 Materialidades e medialidades: novos paradig sivo entre o ato da desmontagem e aquele da remonategem não é apenas a pos­
sibilidade de tornar a ordem da linguagem transparente e transformável. Dominá­
Simone Pereira de Sá, Richard Grusin lo pode também nos ajudar a “compreender o jogo da produção do novo” (Rhe­
16h30 Meios e fenomenologia alienígena inberger), que se encontra na base dos sistemas experimentais que nós chama­
mos, em diferentes campos, de pesquisa. As artes, na medida em que produzem o
Ian Bogost e Vinícius Andrade experimantal, nos envolvem naturalmente nesse processo.

Graham Harman (American University of Cairo)


“McLuhan as a Philosopher of Media”
Despite widespread name recognition, Marshall McLuhan continues to be under­
rated as a serious intellectual figure. This lecture makes the case for McLuhan as
pivotal in the humanities, showing that his strongest insights anticipate and even
outstrip many of the sharpest insights of the most recent European philosophies.
My focus will be on the “tetrad” structure presented in the posthumous Laws of
Media, co­authored by McLuhan with his son Eric. Of special interest are the me­
chanisms by which an overheated medium reverses into its opposite, and the
parallel methods by which “artists” (McLuhan’s term) are able to reverse clichés Steven Shaviro (Wayne State University)
into archetypes. I maintain that McLuhan’s insights into these processes are not
“Thinking Blind”
just flashy cultural observations, but shed much light on the workings of reality as
a whole. Sentience beyond the human: what might it mean? Maureen McHugh’s science
fiction short story, “The Kingdom of the Blind,” adresses this dilemma. The story
concerns a computer programmer who comes to suspect that the software sys­
Richard Grusin (University of Wisconsin – Milwalkee) tem for which she helps provide technical support just might be “aware.” The
story is something of a speculative realist fable, as it moves from the epistemolog­
“Mediashock”
ical question of how we might know that a piece of software is sentient, to the
Media today thrive on crisis, shock, and disaster. At the first sign of meteorologi­ ontological one of what such sentience might be, in and for itself, apart from any
cal turmoil, social unrest, financial turbulence, or natural cataclysm, print, televi­ correlation with our own thought, or our own ability to understand it and com­
sual, and networked news media shift into crisis mode, generating on­the­ground municate with it. The story does not provide any definitive answers, but it sug­
reports, live updates, multiple commentaries and breaking news. This talk offers gests the possibility of a different (nonhuman) model of thought: one that is non­
the concept of “mediashock,” as a way to try to make sense of the mood or at­ cognitive, non­intentional, non­phenomenological, and “autistic” (taking this
mosphere of shock or crisis which media in the 21st century work simultaneously latter word without the usual pejorative connotations).
to create and to contain. “Mediashock” can be understood as a form of what
Nigel Thrift has characterized as “non­representational theory,” and as such parti­
cipates in the critique of representationalism that has intensified in cultural, polit­ Erick Felinto (UERJ)
ical, and media theory over the past couple of decades. Throughout the talk I
“Sobre Alguns Gestos de Flusser e Warburg, ou, como Dar Vida aos Objetos”
emphasize the affectivity of our media themselves and how this is related to the
affectivity of these natural/technical disasters or crises, these geotechnical media Com Mnemosyne, seu extravagante projeto de um atlas de imagens, Aby War­
events which are produced neither by nature or society or technology but which burg inaugura uma nova técnica de leitura iconológica baseada no movimento, na
emerge as complex assemblages, new kinds of events or objects or actants in the gestualidade e na célebre noção de Pathosformel. Mais que isso, como se sugere
world that are related to but not finally reducible to the explosion of new infor­ no presente trabalho, Warburg abriu campo para inauditos procedimentos analí­
mation and media technologies in the past few decades. In this talk I will focus ticos e investigativos no domínio das ciências humanas. Através de uma aproxi­
mainly on an exemplary case of the connection between the mediation of disas­ mação do projeto de Warburg com a fenomenologia flusseriana dos gestos, de­
ters or crises and the affectivity of disaster or shock that they produce, modulate, senvolvida em sua obra Gesten (1994), ainda sem tradução para o português,
amplify, and shape—the remediation and premediation of the Japanese earth­ pretendemos esboçar as linhas de força essenciais de um modelo de crítica cultu­
quake and tsunami in March 2011 and the still ongoing disaster at the Fukushima ral fundado em intuição e sensação. Esse projeto apresenta ainda interessantes
Daichii nuclear plant. While mediashock” names a specific condition of the 21st semelhanças com a proposta de Hans Ulrich Gumbrecht de uma leitura das obras
century, the concept also has its historical antecedents. Despite the intensification de arte em base não hermenêutica, mas sim fundada na apreensão das “ambiên­
of media saturation, the unprecedented distribution of communication media and cias” (Stimmungen) singulares de cada experiência artística. O que se quer sugerir,
technical devices, and an everyday mediasphere that is much more complex, portanto, é que esse intrigante encontro entre Flusser e Warburg pode trazer
multiple, and contradictory than in previous centuries, the concept of “media­ significantes contribuições especialmente para o campo da crítica de arte.
shock” itself has a genealogy that goes back at least to the beginning of the 20th
century. One of the tasks of this initial foray into the concept of mediashock is to
sketch out some pieces of this genealogy, to show how earlier theorists have Fátima Régis (UERJ)
articulated the way in which new technologies of mediation have entailed and
“Repensando as articulações entre Comunicação, Cognição e Objetos Técnicos”
brought about fundamental changes in what Walter Benjamin called the “human
sensorium” or what Marshall McLuhan denoted as “sense ratios.” A palestra propõe repensar as articulações entre tecnologia, entretenimento e
cognição no sistema de mídias contemporâneo. Parte­se da constatação de que
as transformações no sistema de mídia e entretenimento têm potencializado
práticas de comunicação que demandam uma maior participação do indivíduo
(conexão de informações/narrativas fragmentadas, exploração de ambientes,
aprendizado de linguagens e interfaces e interação social), estimulando um refi­
namento de diversas habilidades do usuário. O ponto de interesse aqui se refere
ao modo como nessas práticas de comunicação as habilidades cognitivas estimu­ cos anos, todas as coisas que nos rodeiam, de certa forma, vão se transformar em
ladas não se reduzem ao conjunto de operações lógicas, associativas e represen­ seres comunicantes. A informação, que atualmente ainda se encontra confinada
tacionais que, tradicionalmente, considera­se que a mente produz independente em bases de dados, telas de monitores, i­phones, i­pads etc., saltará para os obje­
do corpo, dos objetos e do mundo. Em vez disso, os processos cognitivos envolvi­ tos, arquiteturas, roupas e corpos. Virtualmente, qualquer informação transitará
dos nas práticas de comunicação e de entretenimento na cibercultura evidenciam das nuvens para quaisquer superfícies com as quais passaremos a estabelecer
o uso de todo o tipo de sinais e estímulos sensoriais e perceptivos que permitem diálogos. Será que, com isso, as últimas trincheiras das velhas dicotomias episte­
tanto a formulação de códigos e linguagens atuantes em um regime de represen­ mológicas entre sujeito e objeto irão , por fim, desabar?
tação e simbolismos, quanto de outros processos de intensidades, trocas e afetu­
osidades que extrapolam o campo da linguagem, embora construam igualmente
nossas práticas comunicativas e de sociabilidade. Para discutir os processos de Ian Bogost (Georgia Institute of Technology)
cognição das práticas da cibercultura, recorremos a autores das ciências cogniti­
“Woodworking for Philosophers: The Future of Carpentry”
vas, neurociências, filosofia e biologia evolucionista (DENNETT, 1996; LAKOFF &
JOHNSON, 1999; CLARK, 2001, VARELA, s/d, MATURANA, 2001) que defendem In my book Alien Phenomenology, I advance a theory of “carpentry,” the con­
que, para conhecer e atuar no mundo, a mente conta com corpo, ambiente, obje­ struction of artifacts that do philosophical work. Yet, I made this argument in
tos técnicos e interações sociais. Desse modo, se as Tecnologias da Informação e written form, the usual method by which philosophical positions have been ad­
da Comunicação (TIC) podem ser pensadas como tecnologias da inteligência não é vanced for as long as modern philosophy can remember. What would it mean to
somente porque colocam à nossa disposição incontáveis bancos de dados ou practice carpentry in philosophy more earnestly, to do metaphorical “woodwork­
potencializam a produção, armazenamento e distribuição de conteúdos. Antes, ao ing” as much as or even more than we do writing? This talk suggests some inroads
estimular atenção, percepção, funções hápticas, aprendizado de linguagens, soci­ into such a future.
abilização e outras habilidades, as TIC possibilitam a ativação de todo um conjun­
to de habilidades e fatores que parece ser a base dos processos cognitivos. Nesse
contexto, os objetos técnicos também não são meras ferramentas ou extensões Adalberto Müller (UFF)
de habilidades humanas, mas atuam de forma dinâmica e complexa no processo
“Mídias: profecias, ontologias e arqueologias”
cognitivo (HUTCHINS, 1996; NORMAN, 1993; CLARK, 2001, BRUNO, 2002; BRUNO
E VAZ, 2002; LATOUR, 2005; VARELA, s/d). A irrupção do pensamento sobre as mídias nos países de língua alemã, onde se
publicaram desde os anos 80, inúmeros volumes sobre teoria das mídias (Medien­
Essa nova concepção de cognição “ampliada” demonstra a fragilidade das frontei­
theorie), ciência das mídias (Medienwissenschaft), História das Mídias (Medien­
ras científicas na atualidade e a rentabilidade do diálogo entre disciplinas como
geschichte), Estética das Mídias (Medienästhetik) e, last but not least, sobre in­
comunicação, educação, antropologia game studies e outras.
termedialidade (Intermedialität), está ligada a um progressivo abandono do es­
sencialismo que caracterizou o surgimento das Geisteswissenschaften (Ciências
Humanas), além de uma tentativa de sair para fora da tradição hermenêutica,
Lucia Santaella (PUCSP)
muito forte nesses países. Para entender esse media turn, propomos um panora­
“Pós­humano: próximos passos” ma dentro do qual podem ser contempladas três tipos de posturas relativamente
às mídias: a profecia, a ontologia e a arqueologia. Entender essas três atitudes
Conforme já explicitei em vários trabalhos anteriores, por trás da diversidade de
epistemológicas poderia permitir uma navegação segura por um oceano infindá­
interpretações, adesões e rejeições às noções do pós­humano subjazem distintos
vel de textos, posturas e conceitos.
modos de conceber a tecnologia. São essas diferentes concepções que orientam
os pontos de vista assumidos diante das determinações históricas contemporâ­
neas que adubaram o terreno em que brotou o pós­humano. Concordando com
Sybille Krämer (Freie Universität Berlin)
Sloterdjik de que o horror ao tecnológico é inversamente proporcional ao apego a
velhas verdades metafísicas, desprendidos desse apego, temos de constatar que a “Medium, Messenger, Trace. Why Transmission Matters”
complexidade dos avanços tecnológicos vem colocando o humano cada vez mais
The impact of the ‘media turn’ can be distilled as follows: Media not only transmit
no limiar de uma condição inaudita que vem recebendo o nome de pós­humano.
their content, but they construct and constitute what they make present. Media
Tendo isso em vista, este trabalho visa discutir os próximos passos e perplexida­
produce what they transmit and thus became a kind of autonomous instance. This
des que se anunciam para essa condição, colocando em destaque a transmutação
position of ‘media generativism’ flourished especially in Germany. But to think of
daquilo que tranquilamente nos acostumamos a chamar de objetos. Daqui a pou­
media in terms of a more or less autonomous instance is not the only possible
approach. We want to go further in elaborating an alternative view. The messen­ Simone Pereira de Sá (UFF)
ger who does not speak ‘in his own voice’ but ‘in the voice of the other’ is its cen­
“Por uma arqueologia das materialidades sonoras”
tral figure. Our question runs as follows: how can we identify the forming and
creative power of media with respect to the mediated nature of our experience, A palestra vai abordar algumas premissas do campo das materialidades, colocan­
perception, communication, and thinking without falling back upon an autonomi­ do­a em interlocução com autores do campo dos Estudos de Som (Sound Studies),
zation of media understood as historical or epistemological apriori? Our answer para fazer um balanço da temática ligada à reflexão sobre som, música, corpo e
is: by rehabilitating the fundamental heteronomy of media. We propose to ex­ espaço urbano.
plain this heteronomy by recourse to what we will call the messenger­model. Our
assumption is that the figure of the messenger is an illuminating model to ex­
pound what is the epistemological and cultural impact of transmission. Yet, our Vinicius Andrade Pereira (UERJ)
characterization of the messenger model stays incomplete as long as we forget to
“Efeitos materiais dos meios e pesquisas neuro­midiáticas”
include the phenomenon of traces, the unintended version of the messenger.
Messenger and trace are like the front and flipside of a leaf. What does all this O trabalho abordará o que o autor propõe como um novo campo de estudos para
mean for media philosophy? a comunicação – nomeado “pesquisas neuro­midiáticas”(Pereira, 2011) – cujo
foco são os efeitos materiais dos novos arranjos eambientes midiáticos envolvidos
em práticas de comunicação, de sociabilidade e de entretenimento, sobre os
Maurício Lissovisky (UFRJ) – A Vida Dupla das Imagens corpos e mentes das audiências na contemporaneidade. Para tanto, o autor recu­
pera o que nomeia como “episódios midiáticos extremos”, bem como um conjun­
Desde tempos imemoriais desconfia­se que as imagens levam uma vida dupla. No
to de games e de novas formas de consumo de entretenimento através das mí­
entanto, com a solitária exceção de Aby Warburg (e sua proposta de uma ciência
dias digitais, contrapondo­os a estudos de campos correlatos ao campo da comu­
das formas páticas), as epistemologias e iconologias modernas insistiram longa­
nicação que parecem indicar algumas modulações dos padrões perceptivos, cog­
mente nas operações de distinção que, quase sempre em pânico, visavam reduzir
nitivos e sensoriais dos novos públicos. Tal proposta é claramente inspirada em
sua vida oculta aos domínios instrumentais da retórica, da cultura, da arte ou da
Marshall McLuhan e buscará, ainda, pensar possíveis consequências das referidas
história. Mas, como Benjamin havia previsto, a expansão da reprodutibilidade
modulações em campos distintos como educação, consumo de informações e do
técnica acabou por criar uma nova iconomia – um novo regime de circulação das
próprio entretenimento.
imagens. Do mesmo modo que o desenvolvimento dos microscópios abriu nossos
olhos para toda uma vida minúscula que habitava a superfície árida das coisas do
mundo, assim também as novas tecnologias digitais tornaram possível observar,
Tadeu Capistrano (UFRJ)
em bases cotidianas, o que antes era o lento e obscuro trabalho do sonho que
constituía a vida íntima das imagens. O dispositivo teórico desta nova condição “A perturbação fotogênica: Poe, Usher e a fantasmagoria”
do imaginário é este que busca inscrever no próprio corpo da imagem as dores da
Durante as primeiras décadas do século XIX, as transformações nos estudos sobre
virtualização generalizada.
a propagação da luz inauguraram uma nova concepção da óptica, a partir de ex­
perimentos de estímulo e resposta com a fisiologia ocular. Nesse contexto, a visão
não se tornou apenas um campo de saber a serviço da automação para a produti­
Joachim Paech (Universität Konstanz)
vidade industrial, mas foi se erigindo também como a matriz de uma cultura visu­
“Das Unding: Intermediality as a phantasmagorical view of an objective reality” al alicerçada em diversos aparatos e espetáculos ilusionistas. Focalizando essa
peculiar confluência entre ciência e ilusão, o objetivo deste trabalho é analisar o
The concept of intermediality (or Remediation) is based on a negative media
conto “A queda da casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, como um espaço de truca­
theory (Mersch) which changes objects of the reality for their representation into
gens fantasmagóricas. Observaremos que nesse texto de 1839 não são apenas
immaterial ghosts or interbeings (‘Undinge’), before it describes intermedially the
tematizadas certas descobertas científicas e alguns entretenimentos visuais de
relation of their forms. My communication will be about history, theory and oper­
sua época, mas são assimilados também seus mecanismos e objetos, elaborando
ations of the intermediality of the “non­things”
assim uma composição estética baseada em efeitos de montagem e sugestão,
cujos ingredientes ópticos e acústicos sugerem um certo “inconsciente cinemato­
gráfico”. Ao esmiuçar essa construção sombria, que reúne clausura, devaneios e
aparições espectrais, analisaremos de que modo a casa de Usher guarda os se­
gredos da fantasmagoria de Etienne Gaspard­Robertson, ao mesmo tempo em
que antecipa a concepcão de “fotogenia neurastênica”, elaborada por Jean Epste­
in para relacionar experiência cinematográfica e estados alterados de percepção.

Kathrin Sartingen (Universidade de Viena) – “A vida secreta das abelhas: Ques­


tões de intermedialidade e transculturalidade”
Este trabalho parte da hipótese de que um conjunto de textos literários e fílmicos
do repertório cultural ibérico de meados do século passado, aparentemente sem
conexão entre si, estejam interligados pelo papel exercido por um único objeto, o
mel, e sua correspondente figura, a abelha. Porém, por ser um detalhe minúsculo,
quase invisível nos textos, esse objeto parece dotado de uma certa ‘in­existência’,
uma vida secreta, flutuando na superfície dos textos sem nunca ganhar corpo e
vida própria. É somente a partir de uma leitura intermedial desses textos ibéricos
contrapostos a uma narrativa pré­colonial sul­americana que se desdobram as
funções estéticas e narratológicas desse objeto: o mel, antes objeto ocul­
to, aparece agora como elo de ligação conectando as diferentes narrativas entre
si. Assim, o objeto “mel” e a figura “abelha” se tornam uma chave de leitura de
um diálogo transcultural, transformando e ressignificando as diferentes trajetó­
rias subjetivas nos textos.

Você também pode gostar