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Quando se indaga quem é o cerradeiro, não se está buscando apenas aqueles que ainda cultivam seus valores,
tradições, saberes e sabores, mas também aqueles que partilham da compreensão da importância dessas
vivências para estabelecer nexos de solidariedade e do reconhecimento da diferença e os que incorporam às suas
visões de mundo o sentimento de pertencimento, construindo uma identidade sócio-territorial (MENDONÇA,
2004, p. 327).
Em contraponto a Mendonça (2004), a proposição de Penna (1992) estabelece algumas hipóteses que atribuem
uma identidade regional ao sujeito, sendo elas: a naturalidade – a identidade é dada objetivamente pelo local de
nascimento; a vivência - a identidade é dada pela experiência de vida dentro das fronteiras da região; a cultura – as
práticas culturais indicam a identidade; e a auto-atribuição – o indivíduo se reconhece como tal. A autora examinou
essas hipóteses ao refletir sobre a identidade nordestina e constatou múltiplas possibilidades de identificação.
Contudo, concordamos com Mendonça (2004) no sentido de que, na relação com o Cerrado, os ditos povos
cerradeiros manifestam usos e apropriações diferenciados. Esses usos e ações, segundo Almeida (2005b) revelam a
compreensão que esses povos têm da natureza, e pelas representações feitas sobre essa natureza é possível
entender sobre a preservação ou extinção de expressões culturais que dão sentido à interação homem-Cerrado. Isso
também permite apreender como estas populações enraízam-se no território, pelo conhecimento que elas
demonstram sobre a fauna, a flora, os solos, os ciclos naturais e pela dependência desses elementos para a
manutenção de suas práticas cotidianas, econômicas, simbólicas e materiais.
Exemplo 2: confronto com um autor
A abrangência das interpretações que o termo “remanescente de
quilombos” assumiu gera intensos debates e pressões da sociedade sobre as
comunidades Kalunga, que passam a ser vistas como um tipo de “espetáculo”.
Elas são o alvo de numerosas pesquisas, reportagens, exposições fotográficas,
especulações turísticas, principalmente após o reconhecimento étnico. Muitos
visitam as comunidades motivados pelo conceito de quilombos da época da
escravidão, ansiando encontrar grupos vivendo em relações arcaicas de
produção e de reprodução social, de misticismos e de práticas associadas a
símbolos de uma identidade africana. Em outras palavras, procuram a “África”
no Cerrado.
Baiocchi partilha desta visão ao afirmar que: “Os Kalunga remetem-nos à
África, quando o isolamento geográfico-cultural possibilita a reificação das
tradições e costumes” (BAIOCCHI, 2006, p. 14); e ainda sobre as manifestações
culturais dos Kalunga ela enfatiza: “festeja-se Santo Católico em Espaço
Africano” (BAIOCCHI, 2006, p. 41).
Sobre esta afirmação, estudos feitos nos levam a discordar da antropóloga.
Entendemos que qualquer associação do modo de vida dos Kalunga com a
África é uma tentativa de manipulação identitária.