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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

(OU ESTADO DA ARTE):


"A partir de que diálogos?“

• É a pergunta que situa uma Pesquisa em uma rede de intertextualidades


com outros autores. Dito de outra forma, indaga-se aqui pelos
"interlocutores" da reflexão a ser realizada.

• Dificilmente uma pesquisa científica parte do "ponto zero“, sempre haverá


obras precedentes que já trataram sobre o tema.

• Nem que seja para contestar radicalmente os autores precedentes que já


se debruçaram sobre o mesmo problema, o pesquisador precisa inserir a
sua reflexão em um diálogo implícito ou explícito com a literatura e com o
conhecimento já existente.

• O mais comum é que, além das eventuais contestações e correções a


autores precedentes, o pesquisador também encontre autores e obras
que lhe servirão como pontos de apoio, como alavancas para se
impulsionar para mais adiante, como inspiração para novos caminhos.
Estado atual Novo Complementações
e constestações de
do problema de contribuições
conhecimento pesquisa anteriores

• A análise da bibliografia ajudará o pesquisador a definir


seu objeto e selecionar teorias, procedimentos e
instrumentos, ou evitá-los.

• Além disso, ajudar a evitar o disabor de descobrir mais


tarde que “a roda já havia sido inventada”.
QUADRO TEÓRICO OU CONSIDERAÇÕES
TEÓRICO- METODOLÓGICAS
"A partir de que fundamentos?”

• Remete-nos a todo um conjunto de possibilidades teóricas ou


mesmo de visões de mundo que, pelo menos em parte, o
pesquisador já deve trazer consigo ao iniciar a sua pesquisa.

• Esse item do projeto busca concentrar a referência a estes aspectos


fundamentais, verdadeiros alicerces mentais que nortearão as
ações e as escolhas feitas pelo pesquisador.

• Trata-se aqui, de definir desde as filiações mais amplas, até os


conceitos, expressões e categorias que serão utilizados na
elaboração reflexiva e na sua exposição de resultados.
Exemplo 1: diálogo entre autores
Em relação a esses territórios identitários Mendonça (2004, p. 327) considera que não basta nascer no território
que compreende o Cerrado para ser considerado cerradeiro, pois não se trata de um atributo do território. Para o
autor, “a condição de ser cerradeiro implica na condição da relação simbiótica do ser social com a natureza, que
resulta em um ser uno, sem estabelecer as dicotomias e os dualismos impostos pela racionalidade iluminista e mais
tarde científica”. Ainda segundo o autor:

Quando se indaga quem é o cerradeiro, não se está buscando apenas aqueles que ainda cultivam seus valores,
tradições, saberes e sabores, mas também aqueles que partilham da compreensão da importância dessas
vivências para estabelecer nexos de solidariedade e do reconhecimento da diferença e os que incorporam às suas
visões de mundo o sentimento de pertencimento, construindo uma identidade sócio-territorial (MENDONÇA,
2004, p. 327).

Em contraponto a Mendonça (2004), a proposição de Penna (1992) estabelece algumas hipóteses que atribuem
uma identidade regional ao sujeito, sendo elas: a naturalidade – a identidade é dada objetivamente pelo local de
nascimento; a vivência - a identidade é dada pela experiência de vida dentro das fronteiras da região; a cultura – as
práticas culturais indicam a identidade; e a auto-atribuição – o indivíduo se reconhece como tal. A autora examinou
essas hipóteses ao refletir sobre a identidade nordestina e constatou múltiplas possibilidades de identificação.
Contudo, concordamos com Mendonça (2004) no sentido de que, na relação com o Cerrado, os ditos povos
cerradeiros manifestam usos e apropriações diferenciados. Esses usos e ações, segundo Almeida (2005b) revelam a
compreensão que esses povos têm da natureza, e pelas representações feitas sobre essa natureza é possível
entender sobre a preservação ou extinção de expressões culturais que dão sentido à interação homem-Cerrado. Isso
também permite apreender como estas populações enraízam-se no território, pelo conhecimento que elas
demonstram sobre a fauna, a flora, os solos, os ciclos naturais e pela dependência desses elementos para a
manutenção de suas práticas cotidianas, econômicas, simbólicas e materiais.
Exemplo 2: confronto com um autor
A abrangência das interpretações que o termo “remanescente de
quilombos” assumiu gera intensos debates e pressões da sociedade sobre as
comunidades Kalunga, que passam a ser vistas como um tipo de “espetáculo”.
Elas são o alvo de numerosas pesquisas, reportagens, exposições fotográficas,
especulações turísticas, principalmente após o reconhecimento étnico. Muitos
visitam as comunidades motivados pelo conceito de quilombos da época da
escravidão, ansiando encontrar grupos vivendo em relações arcaicas de
produção e de reprodução social, de misticismos e de práticas associadas a
símbolos de uma identidade africana. Em outras palavras, procuram a “África”
no Cerrado.
Baiocchi partilha desta visão ao afirmar que: “Os Kalunga remetem-nos à
África, quando o isolamento geográfico-cultural possibilita a reificação das
tradições e costumes” (BAIOCCHI, 2006, p. 14); e ainda sobre as manifestações
culturais dos Kalunga ela enfatiza: “festeja-se Santo Católico em Espaço
Africano” (BAIOCCHI, 2006, p. 41).
Sobre esta afirmação, estudos feitos nos levam a discordar da antropóloga.
Entendemos que qualquer associação do modo de vida dos Kalunga com a
África é uma tentativa de manipulação identitária.

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