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Olavo de Carvalho
A mitologia infantil que a população consome sob o nome de “jornalismo” ensina que o
Leitmotiv da história mundial desde o começo do século XX foi o conflito entre “socialismo” e
“capitalismo”; conflito que teria chegado a um desenlace em 1990 com a queda da URSS. Desde
então, reza a lenda, vivemos no “império do livre mercado” sob a hegemonia de um “poder
unipolar”, a maldita civilização judaico-cristã personificada na aliança EUA-Israel, contra a qual
se levantam todos os amantes da liberdade: Vladimir Putin, Fidel Castro, Hugo Chávez, Mahmud
Ahmadinejad, a Fraternidade Muçulmana, o Partido dos Trabalhadores, a Marcha das Vadias e
o Grupo Gay da Bahia.
A dose de burrice necessária para acreditar nessa coisa não é mensurável por nenhum
padrão humano. No entanto, não conheço um só jornal, noticiário de TV ou curso universitario,
no Brasil, que transmita ao seu público alguma versão diferente. A história da carochinha
tornou-se obrigatória não só como expressão da verdade dos fatos mas como medida de
aferição da sanidade mental: contrariá-la é ser diagnosticado, no ato, como louco paranóico e
“teórico da conspiração”.
Como já me acostumei com esses rótulos e começo até a gostar deles, tomo a liberdade
de passar ao leitor, em versão horrivelmente compacta, algumas informações básicas e
arquiprovadas, mas, reconheço, difíceis de acomodar num cérebro preguiçoso:
Mas às vezes a concorrência fraterna entre fabianos e comunistas desanda: com a queda da
URSS, aqueles acharam que tinha chegado a hora de colher os lucros da sua longa colaboração
com o comunismo, e caíram sobre a Rússia como abutres, comprando tudo a preço vil, inclusive
as consciências dos velhos comunistas. O núcleo da elite soviética, porém, a KGB, não consentiu
em amoldar-se ao papel secundário que agora lhe era destinado na nova etapa da revolução
mundial. Admitiu a derrota do comunismo, mas não a sua própria. Levantou a cabeça, reagiu e
criou do nada uma nova estratégia independente, o eurasianismo, mais hostil a todo o Ocidente
do que o comunismo jamais foi. O fabianismo, que nunca foi de brigar com ninguém e sempre
resolveu tudo na base da sedução e da acomodação (inclusive com Stálin e Mao), finalmente
encontrou um oponente que não aceita negociar. A “Guerra Fria” foi, em grande parte, puro
fingimento: a elite Ocidental concorria com o comunismo sem nada fazer para destruí-lo. Ao
contrário, ajudava-o substancialmente. Putin não é um concorrente: é um inimigo de verdade,
cheio de rancor e sonhos de vingança. A verdadeira “Guerra Fria” só agora está começando, e
aliás já veio quente. A concorrência entre “capitalismo” e “socialismo” foi um véu ideológico
para uso das multidões, mas a luta entre Oriente e Ocidente é para valer. Não por coincidência,
o fiel da balança é o Oriente Médio, a meio caminho entre os dois blocos. Ali as nações
muçulmanas terão de decidir se continuam servindo de instrumento dócil nas mãos dos russos,
se aceitam a acomodação com a elite fabiana ou se querem mesmo fazer do mundo um vasto
Califado. A elite Ocidental, que fala pela boca do sr. Barack Hussein Obama, parece decidida a
fazê-las pender nesta última direção, por motivos que, de tão malignos e imbecis, escapam ao
meu desejo de compreendê-los. Isso, caros leitores, é o que está acontecendo, e nada disso você
lerá na Folha nem no Globo.