Você está na página 1de 7

PANTANAL

1. INTRODUÇÃO

O Pantanal Mato-grossense constitui-se um dos maiores sistemas de áreas alagáveis


do mundo (Da Silva, 1998), sendo considerado a maior área de inundação do continente
sul americano (RADAMBRASIL, 1982). O Pantanal é uma planície sedimentar, com área
de 138.183 km2, preenchida com depósitos aluviais dos rios da bacia do Alto Paraguai,
com 65% de seu território no estado de Mato Grosso do Sul e 35% no Mato Grosso. A
região é uma planície aluvial influenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai,
influenciada por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Chaco e Mata Atlântica
(Prance et al., 1982).
De acordo com Ross & Santos (1982) as planícies pantaneiras foram formadas no
Período Quaternário, resultantes de processos erosivos promovidos por climas semi-árido e
úmido alternados, com rebaixamento contínuo das depressões e deposição de sedimentos,
principalmente arenosos, procedentes das bordas das Bacias Sedimentares dos Parecis e do
Paraná, nos terrenos mais rebaixados. As planícies e pantanais mato-grossenses constituem
uma unidade geomorfológica caracterizada por um relevo plano e com complexa rede
hidrográfica.
Essa unidade geomorfológica representa as porções internas da depressão do rio
Paraguai, na periferia da qual estão instalados os planaltos residuais do Alto Guaporé e a
província serrana, ao norte; os planaltos dos Guimarães, do Taquari-Itiquira e de Maracaju-
Campo Grande, a leste; o planalto da Bodoquena, ao sul; e os planaltos residuais do
Urucum-Amolar, a oeste. A rede de drenagem faz parte da Bacia Platina, abrangendo na
área o alto curso do rio Paraguai e seus afluentes, pela margem esquerda o Cuiabá, o
Taquari e o Negro e, pela direita, o rio Jauru (Ross & Santos 1982).
O clima da região é caracterizado por uma estação seca e fria entre maio e setembro
e uma chuvosa e quente entre outubro e abril. As temperaturas médias do ar nos meses de
verão, de dezembro a fevereiro, é de 32ºC e durante o inverno o clima torna-se muito mais
frio e seco na faixa de 21ºC. A média da precipitação anual da planície alagável está entre
1000 e 1400mm, com picos máximos em janeiro e mínimos em julho. A precipitação varia
durante o ano, causando um ciclo regular de seca e cheia, o que torna o Pantanal um
ecossistema único (PCBAP 1997).
Os solos da planície alagável são compostos por sedimentos soltos, datados do
Período Quaternário, principalmente arenosos, com algumas áreas de argila e com maior
teor de matéria orgânica. Os tipos de solos encontrados são: podozólicos vermelho-
amarelos, regossolos, litólicos, brunizéns avermelhado e solos concrecionários (PCBAP
1997). De acordo com Pott (2003) a qualidade dos solos variando dos mais pobres em
nutrientes, como as areias lixiviadas aos vertissolos muito férteis, têm influência marcante
sobre a flora. Predominam cerrados nos solos distróficos, sem aporte de sedimentos
fluviais, enquanto nas áreas de inundação dos rios, com solos eutróficos, há espécies da
Amazônia e do Chaco úmido. Como particularidades, há solos orgânicos (histossolos) das
ilhas flutuantes (batume) e os solos de conchas (calcimórficos petrocálcicos) de capões, em
sítios arqueológicos, nos quais são encontradas algumas espécies pantropicais de uso
medicinal, possivelmente disseminadas por povos indígenas, como Argemone mexicana L.
e Caparia biflora L
Segundo Valls et al. (2003) os ciclos anuais de inundação e rebaixamento das
águas, assim como a aglutinação em períodos de vários anos com inundações mais
volumosas, alternadas com períodos mais secos, determinam forte zonação na distribuição
da vegetação, principalmente a vegetação rasteira.
Para Prance & Schaller (1982) e Adámoli (1986), a diversidade fitogeográfica no
Pantanal é de primeira magnitude devido à convergência de quatro grandes províncias
fitogeográficas da América do Sul: Amazônica, Cerrado, Florestas Meridionais e
Chaquenha. Sua maior ou menor expressão está condicionada a fatores ambientais que
atuam localmente. Segundo Prance & Schaller (1982), o aspecto que mais chama atenção
no Pantanal é a combinação de vegetação mésica e xérica crescendo lado a lado. E as
razões para esta mistura, são a topografia e a sazonalidade climática. Assim, a oferta
biológica das linhagens florísticas destas províncias passa por diversos filtros e as espécies
adaptadas a diferentes condições farão parte da fisionomia característica dos diversos
pantanais. Segundo Pott & Pott (1997), com cerca de 1700 espécies vegetais, o Pantanal
abriga uma incrível variedade de plantas, as quais têm-se dispersado por toda a América do
Sul, e subseqüentemente, formaram populações maiores que as iniciais como os
cambarazais (Vochysia divergens) e paratudais (Tabebuia aurea).
De acordo com Pott & Pott (1997) o ecossistema pantaneiro pode ser dividido em
até 10 sub-regiões diferentes, cada fisionomia resultando de uma interação única de fatores
edáficos, hidrológicos e biogeográficos. Estas sub-regiões são: Cáceres, Poconé, Barão de
Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda e Nabileque.
A Constituição Federal promulgada em 1988 considera o Pantanal Mato-grossense
como “Patrimônio Nacional”. De acordo com a “Convenção de Ramsar”, sobre áreas
úmidas, o Brasil decretou o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense e a Reserva
Particular do Patrimônio Natural do SESC como sítios RAMSAR.
A UNESCO (Organização nas Nações Unidas para a Educação, Saúde, Ciência e
Cultura) concedeu ao Pantanal os títulos de Reserva da Biosfera do Pantanal e Patrimônio
Natural da Humanidade, em 2000 (Tocantins, 2004).

2. LOCALIZAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO PANTANAL

O pantanal está inserido na região Centro Oeste do Brasil, na bacia do Alto


Paraguai, entre as latitudes 14º e 23º Sul e longitudes 55º e 60º Oeste (Bittercourt Rosa,
2004), possuindo distribuição nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
ocupando cerca de 4,2% do território nacional (Crispim e Cardoso, 2004).
A bacia do Alto Paraguai (BAP) no Brasil ocupa uma área de 361.666 km2 e o
Pantanal no Brasil, uma área de 138.183 km2, pertencentes a BAP. De acordo com Silva e
Abdon (1998), a planície intermitentemente inundada pela bacia do Alto Paraguai é
denominada Pantanal. Tanto a divisão geopolítica quanto a divisão fisiomorfológica
(considerando os aspectos ecológicos) podem ser utilizadas para delimitar o pantanal.
As delimitações para o Pantanal foram propostas por diversos autores, incluindo o
Estudo do desenvolvimento Integrado da Bacia do Alto Paraguai (EDIBAP) e os autores
associados ao projeto RADAMBRASIL. Os estudos utilizaram parâmetros físicos e
bióticos de grande importância para o Pantanal, como relevo, drenagem, solos e vegetação,
por meio de produtos de sensoriamento remoto de grande potencialidade (Silva e Abdon,
1998).
Os autores dividiram o Pantanal em 11 sub-regiões, distribuídas em 16 municípios
nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Quadro 1), com área de 138.183 km2,
ocupado 38,21% da bacia do Alto Paraguai.

Quadro 01 – Municípios onde está distribuído o Pantanal Mato-grossense, com o tamanho


das áreas cobertas pelo Planalto e Pantanal, em MT e MS.
Municípios Planalto Pantanal (A) Total (B) Total IBGE A/B A/C(%)
(%)
MT 31.170 48.865 80.035 81.955,89 61,0 35,36
Barão de Melgaço 83 10.782 10.865 11.611,78 99,2 7,80
Cáceres 11.051 14.103 25.154 25.321,14 56,1 10,21
Itiquira 6.751 1.731 8.482 8.836,98 20,4 1,25
Lambari D’Oeste 1.439 272 1.711 1.719,1 15,9 0,20
Nsa Sra Livramento 4.019 1.115 5.134 5.331,57 21,7 0,81
Poconé 3.434 13.972 17.406 17.126,38 80,3 10,11
Sto. Ant. Leverger 4.393 6.890 11.282 12.008,94 61,1 4,99
MS 37.193 89.318 126.511 131.417,50 70,6 64,64
Aquidauana 3.936 12.929 16.865 17.008,00 76,7 9,36
Bodoquena 2.500 46 2.546 2.514,30 1,8 0,03
Corumbá 2.858 61.819 64.677 65.165,80 95,6 44,74
Coxim 4.351 2.132 6.483 10.844,40 32,9 1,54
Ladário 311 66 377 341,40 17,5 0,05
Miranda 3.421 2.106 5.527 5.494,50 38,1 1,52
Sonora 3.598 719 4.317 4.088,90 16,7 0,52
Porto Murtinho 12.739 4.717 17.456 17.782,90 27 3,41
Rio Verde de MT 3.479 4.784 8.263 8.177,30 57,9 3,46
Total (C) 68.479 138.183 203.546 213.373,39 66,9 100,00
Fonte: Silva e Abdon (1998).

A seguir, descreve-se a localização das sub-regiões do Pantanal em relação aos


municípios que a compõem:
1. Cáceres: agrega área dos municípios de Cáceres e Lambari D’Oeste;
2. Poconé: agrega área dos municípios de Cáceres, Poconé, Nossa Senhora do Livramento,
Barão de Melgaço e Santo Antônio do Leverger;
3. Barão de Melgaço: agrega área dos municípios de Itiquira, Barão de Melgaço e Santo
Antônio do Leverger;
4. Paraguai: localiza-se no oeste do Pantanal e agrega área dos municípios de Poconé,
Corumbá e Ladário;
5. Paiaguás: agrega área dos municípios de Sonora, Coxim e Corumbá;
6. Nhecolândia: agrega área dos municípios de Rio Verde de Mato Grosso, Aquidauana e
Corumbá;
7. Abobral: agrega área dos municípios de Aquidauana e Corumbá;
8. Aquidauana: localiza-se somente no município de Aquidauana;
9. Miranda: agrega área dos municípios de Aquidauana, Bodoquena e Miranda;
10. Nabileque: agrega área dos municípios de Corumbá, Porto Murtinho e Miranda;
11. Porto Murtinho: localiza-se somente no município de Porto Murtinho.
3. VEGETAÇÃO

PCBAP (1997) apresenta a seguinte classificação da vegetação pantaneira:

Floresta
mata Ciliar, mata seca ou floresta estacional semidecidual
mata, mata Seca, mata calcária ou floresta estacional decidual

Cerrado
cerradão ou savana florestada
campo cerrado, campo aberto, cerrado ou savana arborizada
lixeiral, canjiqueiral, para tudal ou savana parque
po alagado ou savana gramíneo-lenhosa. campo, campo limpo, campo sujo, caronal,
cam
Vegetação Chaquenha
, mata chaquenha ou savana estépica florestada. chaco
chaco ou savana estépica arborizada
carandazal ou savana estépica parque
campo, campo limpo, campo sujo, campo alagado ou savana estépica gramíneo-
lenhosa.
Sistema Edáfico de Primeira Ocupação (Formações Pioneiras)
ação com influência pluvial e/ou lacustre (buritizal, espinheiral, cambarazal, veget
pirizal, saranzeiro, macega, pateiral, pimenteiral, caetezal, brejo, baceiro e campo
sujo).
Corpos d’água
vegetação aquática (baías, lagoas, lagos, batume, baceiro, corixos, vazantes, salinas).

No Pantanal são características as diversas unidades de vegetação, formando um


mosaico com diferentes comunidades, com freqüentes mudanças abruptas (Prance et al.,
1982). Variando de um tipo para outro em pequenas distâncias, é freqüente ocorrer
cerradão, floresta estacional e mata ciliar em apenas 100 m de cordilheira ou capão (Pott e
Pott, 2003).
De acordo com Prance et al. (1982), a topografia e o clima sazonal justificam a
mistura entre espécies, adaptadas à seca e presença de água, vivendo no mesmo lugar.
4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E SUGERIDA

AB'SABER, A.N. O Pantanal Mato-Grossense e a teoria dos refúgios. Revista Brasileira


de Geografia, 1988.
ADÁMOLI, J. O Pantanal e suas relações fitogeográficas com os cerrados: discussão sobre
o conceito de complexo do Pantanal. In Anais do 32° Congresso nacional da Sociedade
Botânica do Brasil, Teresina, Universidade Federal do Piauí. 1982.
http://www.cpap.embrapa.br/pantanal/
Ab’SABER, A.N. O Pantanal Mato-Grossense e a teoria dos refúgios. Rio de Janeiro:
Revista Brasileira de Geografia, 50, n. especial, t.2,. p.9-46. 1988
ADAMOLI, J. 1982. O pantanal e suas relações fitogeográficas com os cerrados.
Discussão sobre o conceito de “Complexo do Pantanal”. IN: XXXII Congresso
Nacional de Botânica. Anais. Teresina, PI, p. 109-119.
ADAS, M. Geografia. São Paulo: Editora Moderna, 1994. 168p.
ALLEM, A.C. & VALLS, J.F.M. 1987. Recursos forrageiros nativos do Pantanal Mato-
Grossense. Brasília, EMBRAPA, CENARGEM, 339p.
ALVARENGA, S.M. et al. Levantamento preliminar de dados para o controle de
enchentes da Bacia do Alto Paraguai. Goiânia: Projeto RADAMBRASIL, 1980.44p.
AMARAL FILHO, Z.P. do. Solos do Pantanal Mato-grossense. In: Simpósio Sobre
Recursos Naturais E Sócio-Econômicos Do Pantanal, 1, Corumbá. 1984.
Anais...Brasília, EMBRAPA. 1986.p.91-103.
AMARAL, D.L. e FONZAR, B.C. Vegetação. As regiões fitoecológicas, sua natureza e
seus recursos econômicos. Folha SD-21 Cuiabá, Rio de Janeiro, 1982, Projeto
RADAMBRASIL, p.401-452.
ANDRADE-LIMA, D. 1966. Vegetação IN: Atlas Nacional do Brasil, I. Rio de Janeiro,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 1p.
CUNHA, N.G. da. 1980. Considerações dobre os solos da sub-região da Nhecolândia,
Pantanal Mato-grossense. Corumbá, Circular Técnica 1. EMBRAPA/UEPAE, 45p.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA-EMBRAPA. Pantanal.
Corumbá, MS, 1990. n.p.
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. Macrozoneamento geoambiental do Estado de
Mato Grosso do Sul. Campo Grande, TM, 1989. 241p.
FERRI, M.G. Vegetação Brasileira. Belo Horizonte:. Itatiaia, 1980. 157p.
FRANCO, M.S. do e PINHEIRO, R. Geomorfologia. In: Brasil, Ministério de Minas e
Energia, Projeto RADAMBRASIL, Folha SE-21 Corumbá e Folha SE-20, Geologia,
Geomorfologia, Pedologia, Vegetação e Uso potancial da terra. Rio de Janeiro, 1982.
p.161-224.
GARCIA, E.A.C. Zoneamento agroecológico e econômico da Bacia Hidrográfica
Brasileira do Rio Paraguai: uma abordagem numérica preliminar. Corumbá, MS:
EMBRAPA, 1990. 123p.
HOEHNE, F.C.. Phytophysionomia do Estado de Mato Grosso. Bol. Agric. São Paulo, p.
53-58. 1923
HOEHNE, F.C.. O grande Pantanal de Mato Grosso. Bol. Agric. São Paulo, p.443-470.
1936
KULHMAN, E.. Os grandes traços da fitogeografia do Brasil. Bol. Geogr., 117:268-618.
1953
LOUREIRO, R.L. et al. Vegetação. As regiões fitoecológicas, sua natureza e seus recursos
econômicos. Folha SE-21-Corumbá e Folha SE-20, Rio de Janeiro, 1982. p.329-72.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA
AMAZÔNIA LEGAL. Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai. PCBAP.
Brasília, DF, 1997. 369p.
PRANCE, G.T. & SCHALLER, G.B.. Preliminary study of some vegetation types of the
Pantanal, Mato grosso, Brazil. Brittonia 34(2):228-251. 1982
REZENDE, M. et al. Zoneamento agroecológico do Sudeste do Estado de Mato Grosso.
Cuiabá: Secretaria de Agricultura, POLONOROESTE, 1987. 150p.
RIBEIRO, J. F. & WALTER, B. M. T. Fitofisionomia do Bioma Cerrado. In: CERRADO:
ambiente e flora. Planaltina, DF, EMBRAPA-CPAC, 1998. 556P.
RIZZINI, C.T. & COIMBRA FILHO. A.F. & HOUAISS. A. Ecossistemas Brasileiros, São
Paulo. Index, 1988. 200p.
ROMARIZ, D.A. Aspectos da Vegetação do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1974. 60 fs.
soltas dobrs.
SÁNCHEZ, R.O. Las unidades geomórficas del Pantanal y sus connotaciones
biopedoclimaticas. Brasília, DF, EDIBAP, 1977. 29p.
SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE-SEMA. O pantanal e o pantaneiro.
Campo Grande, MS, 1993. n.p.
STEFAN, E.R. 1964. O pantanal Mato-Grossense. Rev.Bras.Geogr. 26:177-190
VELOSO, H.P. 1947. Considerações gerais sobre a vegetação do Estado de Mato-Grosso.
II - Notas preliminares sobre o pantanal e zonas de transição. Mem. Inst. Oswaldo Cruz
45(1):253-272

Você também pode gostar