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Uma Avaliação Ex-Post Dos Efeitos Do Açude Castanhão No Município de Nova Jaguaribara, Entre 2010-2014
Uma Avaliação Ex-Post Dos Efeitos Do Açude Castanhão No Município de Nova Jaguaribara, Entre 2010-2014
Uma Avaliação Ex-Post Dos Efeitos Do Açude Castanhão No Município de Nova Jaguaribara, Entre 2010-2014
entre 2010-2014
Resumo
As iniciais preocupações do Parlamento Europeu sobre o debate do desenvolvimento e o meio
ambiente consistiram a necessidade de uma metodologia científica integradora da questão de
desenvolvimento com a ambiental e na definição da estratégia de desenvolvimento sustentável
europeia. No nordeste cearense brasileiro, o debate sobre tal estratégia tomou uma orientação
contrário às preocupações latino-americano (epistemológico/metodológico), induzindo para
que o açude Castanhão fosse construído como vetor estratégico para o desenvolvimento
sustentável. Neste marco, de que se pode avaliar os efeitos da post-construção do açude
Castanhão no município de Nova Jaguaribara? Os resultados obtidos entre 2010-2014, através
do método ex-post, avaliaram de que o Castanhão impulsionou um incipiente o
desenvolvimento sustentável e que no município se acrescentou o patrimonialismo político-
institucional, fragmentaram as unidades geoambientais, se induziu à dependência científico-
tecnológica e precarizou a dimensão econômico-social. Conclui-se que tal avaliação reaviva as
velhas preocupações socioambientais sobre a integração entre desenvolvimento e meio
ambiente.
Palavras-chaves: desenvolvimento e meio ambiente. Açude Castanhão. Avaliação ex-post,
incipiente desenvolvimento sustentável, município de Nova Jaguaribara.
Introdução
Neste sentido, Eduardo Escobar (1995) advertiu da existência dos elementos discursivos
de uma outra estratégia de desenvolvimento sustentável, a dos grupos subalternos. Tratou-se
de um discurso ambíguo e contraditório que prometia mudanças na relação homem/natureza
através da crítica à escassez dos recursos naturais, a pobreza, as desigualdades sociais e
reafirmava os ajustes de mercado, baixar o alto preço da força de trabalho, resgatar a natureza
como fonte de vida material, monetarizar o ambiente, usar a genética e a biorevolução nas
atividades econômicas rurais e prometia manobras institucionais e/ou programas públicos.
Para finalmente, outras pesquisas propor outras ferramentas para a investigação, como
por exemplo, a regressão lineal que identificava perfis de desenvolvimento sustentável
(DOBROVOLSKI, 2001), a Análise de Componentes Principais (ACP) que identificava níveis de
desenvolvimento sustentável (VIANA et al., 2010) e a Análise Fatorial múltiplo (AFM) que
identificava as correlações entre os fatores (BENALI; ESCOFIER, 1990) (AGUADO, 2005).
Portanto, os resultados do debate epistemológico indicavam que a estratégia de
desenvolvimento sustentável do Parlamento Europeu era uma estratégia de destruição do meio
ambiente e para o colapso das populações. E o resultado do debate metodológico, mostravam
a necessidade de “sistêmização” da estratégia e uma maior interligação de suas dimensões
econômico-social, geoambiental, científico-tecnológica e político-institucional.
No nordeste cearense brasileiro, o debate sobre desenvolvimento sustentável como
eixo conector da questão desenvolvimento/sustentabilidade tomou uma orientação contrário
ao debate latino-americano. Não foram os intelectuais, nem os cientistas nem a sociedade civil
nem a sociedade organizada que buscaram debater epistemológica nem metodologicamente
essa problemática, epistemes e metodologias. Foram os novos/velhos coronéis e as suas
alianças com autoridades estaduais e locais, tecnocratas, elites empresariais e financeiras,
partidarizados e profissionais liberais que ditaram as estratégias sustentabilidade, a seguir:
euro-coronelistas.
Mas também nos municípios atingidos pelo açude, a construção do Castanhão foi
questionada e rejeitada pelos moradores, políticos e profissionais por ter sido faraônica,
inapropriada, incalculável financeiramente, custosa, não benéfica e insegura
populacionalmente, criticada por sua falta de projeção e insustentabilidade técnico-científica e
por ter assentado o poder e a dominação das elites oligárquicas locais.
Em primeiro lugar, por que os efeitos relacionados à construção de barragens de grande
porte no mundo mostraram efeitos adversos: Três Gargantas na China (LOPEZ-PUJOL, J.
PONSETI, M, 2008), INGA (I, II e III) (REPUBLIQUE DEMOCRATIQUE DU CONGO, 2013) e Porce II
na Colômbia (BANCO INTERAMERICANO DE DESARROLLO, 2010). E, o mesmo RIMA Castanhão
mostrou os mesmos resultados. (DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS,
1990).
Em segundo lugar, porque até hoje, é fato desconhecido o custe financeiro público final
da construção do Açude Castanhão, como foi apontado pelo DNOCS no Projeto Base que
apresentou um custe total de 145.5 milhões de dólares, incrementado, reajustado e
sobrecalculado seu valor de 197 milhões de dólares para 300 milhões e finalmente para mais de
500 milhões de dólares (BORGES, 1999, p. 163-172). Em terceiro lugar, por não ter garantido o
abastecimento de água, e, ter sido construído em uma área de tensão tectônica, como avaliaram
Sólon (1999) e Camarão Jr. (2001). Em quarto lugar, pela desocupação violenta dos moradores
ao término da construção (LIMA, 2008). Em quinto lugar, pelos questionamentos técnicos
ambientais ao projeto base e na construção do açude (BORGES, 1999, p. 35). E, em sexto lugar,
o atual uso e controle governamental das águas do açude Castanhão garanta um
desenvolvimento sustentável para as elites oligárquicas, como apontou Monte (2005).
Problema
Neste marco, de que se pode avaliar os efeitos da post-construção do açude Castanhão
no município de Nova Jaguaribara?
Hipóteses
Para atingir tal objetivo geral, na pesquisa se propus como objetivos específicos: a)
identificar a área municipal de Nova Jaguaribara e localizar os efeitos nos recursos naturais
(terra, água e homem) e nos agrupamentos populacionais; b) correlacionar econômico-social,
geoambiental, científico-tecnológica e política-institucional, os efeitos e grupos populacionais;
c) analisar e discutir as questões socioambientais gerados.
Métodos e ferramentas
É importante indicar que a pesquisa usou um questionário com respostas fechadas. Mas,
no momento da aplicação, os entrevistados acrescentaram informações e dados muito
reveladores. O acumulo destas informações e dados obrigou para um complemento
metodológico instrumental da pesquisa. Em adiante, ao AFM e Sensoreamento Remoto, se
integrou a Análise da Perspectiva Socioambiental.
Resultados e discussão
A mesma área jaguaribense conta com a principal fonte hídrica artificial, o Açude
Castanhão, mas que também possuem pequenas fontes hídricas naturais e artificiais. De norte
ao sul, encontraram-se cursos de água intermitentes e permanentes, lagoas intermites e
permanentes, como por exemplo, a Lagoa das Pedras, a Lagoa da Onça, a Lagoa dos Canudos, a
Barragem de Junqueira, o rio Jaguaribe e os riachos: da Felicidade, Junqueiro e do Meio. Desde
a sede até Mandacaru, do oeste ao leste, encontraram-se os riachos: Velame, Pau Branco,
Gafanhoto e Serra; e o açude Sossego. E de norte ao sul da sede, os riachos dos Ossos, do Meio,
Pinhão e dos Pinhões; e o açude Riacho Fechado, entre outros.
Os resultados também mostraram, no plano sobre o eixo fatorial, que tal estratégia de
desenvolvimento sustentável esteve mais influenciada pelos efeitos da dimensão político-
institucional que pelos efeitos da dimensão econômico-social. O plano graficou que os efeitos
“capacidade de assumir tarefas comunitárias de liderança”, “capacidade de assumir tarefas
comunitárias de segurança” e “capacidade de assumir tarefas comunitárias fiscalização” e
“capacidade de mitigar a delinquência” influenciaram mais que os efeitos “capacidade de
mitigar os conflitos por terras” e “capacidade de mitigar os conflitos por água”, na dimensão
patrimonialista político-institucional. E que os efeitos econômico-sociais ficaram muito
dispersos.
Com relação à gestão pública dos recursos hídricos, a pesquisa manifestou que o açude
não atingiria seu objetivo de acumulação de água, nem garantiria o abastecimento de água
durante os próximos períodos de seca hidrológica, de acordo com as previsões de Bezerra (1996)
e Solón (1999). Sobre a gestão pública de terras, que o Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE)
reservou lotes de terras férteis, aclimatadas e irrigadas para empresários privado locais e
forâneos.
Ainda os estudos sobre os pequenos açudes e as pesquisas sobre a construção de
pequenos açudes de modo comunitário estão marginalizadas, são recentes, pouco incentivadas.
Na região do semiárido cearense brasileiro, os primeiros esforços procederam do Laboratório
de Hidrosedimentação (HIDROSED) na Universidade Federal do Ceará (UFC). Marginalizados
talvez em razão que não significaria endividamento público e a apropriação das terras
revitalizadas seriam reservadas para os moradores das comunidades construtoras. Mas, os
primeiros passos das pesquisas indicaram que os pequenos não são planejados com relação ao
porte, volume e implicações nos parâmetros climáticos e segurança populacional; os efeitos
destes açudes são acumulativos são consideráveis, mas inseguros com relação a possíveis
rupturas, e que esses pequenos açudes acrescentariam as necessidades e conflitos por água
entre as comunidades (montante e jusante) (De Aráujo, 2011).
Através do Programa SPAD 5.5, se fez um cálculo estatístico porcentual que mostrou
que a precarização da dimensão econômico-social esteve correlacionada à muitas necessidades
por água (49%), muitas necessidades por alimentos (48,41%), a pouca capacidade de
atendimento na educação (37,39%), à pouca capacidade de atendimento dos serviços de saúde
(41,74%), à nula capacidade de atendimento da rede de esgoto (39,42%) e ao pouco
atendimento na coleta e tratamento do lixo (30,72%), como informaram os 339 entrevistados.
Através do cálculo das correlações entre as necessidades e capacidades com os
agrupamentos populacionais, encontraram-se 5 grupos de precariedade. O primeiro grupo
esteve formado pelos reassentamentos Curupati Peixe, Sitio Lages, Umarizeira, Barra I, Curupati
Irrigação, a sede planejada e o reassentamento Mandacaru; o segundo grupo esteve composto
pelas fazendas (Três Coroas, Boa Vista, Canudos, Residencial, Vista Alegre e Meio do Mundo); o
terceiro grupo, pelos reassentamentos Desterro e Muluguzinho; o quatro grupos, pelas
pisciculturas (Jaburu, Tacílio e Tanque) e o reassentamento Mineiro; e o quinto grupo esteve
formado pelos reassentamentos Sossego, Fazenda Serra e o Sabiar.
Considerações finais
Então será possível que outros atores e/ou outras alianças façam do açude Castanhão
um vetor que estimule um desenvolvimento sustentável pleno na região jaguaribense? Ou será
que na complexidade sociohídrica exista já ator (es) que impulsiona (m) um outro modo de vida
que re-organize a produção e que respeite ao homem e à natureza?
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