Uma Avaliação Ex-Post Dos Efeitos Do Açude Castanhão No Município de Nova Jaguaribara, Entre 2010-2014

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Uma avaliação ex-post dos efeitos do Açude Castanhão no Município de Nova Jaguaribara,

entre 2010-2014

Prof. Dr. (UFC) Carlos Enrique Tupiño Salinas


Prof. Dr. José Carlos de Araújo

Resumo
As iniciais preocupações do Parlamento Europeu sobre o debate do desenvolvimento e o meio
ambiente consistiram a necessidade de uma metodologia científica integradora da questão de
desenvolvimento com a ambiental e na definição da estratégia de desenvolvimento sustentável
europeia. No nordeste cearense brasileiro, o debate sobre tal estratégia tomou uma orientação
contrário às preocupações latino-americano (epistemológico/metodológico), induzindo para
que o açude Castanhão fosse construído como vetor estratégico para o desenvolvimento
sustentável. Neste marco, de que se pode avaliar os efeitos da post-construção do açude
Castanhão no município de Nova Jaguaribara? Os resultados obtidos entre 2010-2014, através
do método ex-post, avaliaram de que o Castanhão impulsionou um incipiente o
desenvolvimento sustentável e que no município se acrescentou o patrimonialismo político-
institucional, fragmentaram as unidades geoambientais, se induziu à dependência científico-
tecnológica e precarizou a dimensão econômico-social. Conclui-se que tal avaliação reaviva as
velhas preocupações socioambientais sobre a integração entre desenvolvimento e meio
ambiente.
Palavras-chaves: desenvolvimento e meio ambiente. Açude Castanhão. Avaliação ex-post,
incipiente desenvolvimento sustentável, município de Nova Jaguaribara.

Introdução

As iniciais preocupações do Parlamento Europeu sobre o debate do desenvolvimento e


o meio ambiente consistiram na construção de uma metodologia científica que integra a
questão de desenvolvimento com a questão ambiental e, na definição da estratégia de
desenvolvimento sustentável europeia.
Neste sentido, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CMMAD) propus o desenvolvimento sustentável como conceito integrador do
desenvolvimento e o meio ambiente, e o sistêmico como método de interligação entre as
dimensões econômico-social, geoambiental, científico-tecnológico e político-institucional
(COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1991).

Em sucessivos atos, o Parlamento Europeu definiu a estratégia de desenvolvimento


sustentável, suas prioridades, agenda, metas e tarefas para o 2030.

Em 1997, o Parlamento Europeu definiu a estratégia europeia de desenvolvimento


sustentável como o promotor de progresso e como questão primordial para a aplicação nas
políticas públicas europeias (PARLAMENTO EUROPEU, 1997).
Entre 2000-2006, os conselhos europeus - reunidos em Lisboa, Gotemburgo, Barcelona
e Bruxelas - ditaram as prioridades financeiras e tecnológicas da estratégia, não obstante
avaliaram-se de lentos os avanços e a falta de ações concretas no que respeita às metas de
sustentabilidade do crescimento econômico e emprego qualificado (CONSELHO EUROPEU DE
LISBOA, 2000) (CONSELHO EUROPEU DE GOTEMBURGO, 2001) (CONSELHO EUROPEU DE
BARCELONA, 2002) (CONSELHO EUROPEU DE BRUXELAS, 2006).
Ato seguido, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
divulgou a Agenda 21. Uma agenda que priorizou ações governamentais e empresariais para o
desenvolvimento e a sustentabilidade. (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1995).

E em 2015, a Assembléia Geral da ONU resolveu o seguimento de objetivos e metas


para que os municípios e localidades locais priorizassem a estratégia de desenvolvimento
sustentável do Parlamentou Europeu, bem como, se adoptem os 17 objetivos e 169 metas até
2030 (ASSEMBLÉIA GERAL DA ONU, 2015).

Em resumo, uma estratégia que orientou os rumos do desenvolvimento sustentável


capitalista europeu no mundo, as suas prioridades de financiamento e modalidades de
transferência de tecnologia.

No entanto, isso, as preocupações latino-americanas sobre o desenvolvimento e o meio


ambiente entre os intelectuais intensificaram com o debate conceitual, epistemológico e
metodológico sobre a estratégia de desenvolvimento sustentável europeu.
No debate epistemológico, Leff (2008, p. 53-56) argumentou que o desenvolvimento
sustentável do Parlamento Europeu passava de ser um discurso para se converteu em uma
estratégia de poder. Enquanto discurso continha incongruências científicas e como estratégia
dos grupos financeiro/mercantilista, nasceu sem hegemonia política. Como discurso revelava os
fundamentalismos ideológicos e como estratégia mostrava seu poder técnico-ecológico-
financeiro, mas limitada à mercantilização da natureza e as ineficiências de mercado, e por outro
lado, advertia para a emergência das heterogêneas forças, identidades, saberes e culturas com
enorme poder criativo, diversificador e diferenciador.
Para Boaventura de Sousa e César Rodrigues (2006, p. 161) não existia uma única
estratégia de desenvolvimento sustentável, senão variadas estratégias, mas que entre todas,
duas destacaram: a estratégia do Parlamento Europeu, fundamentada no marco conceptual da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e exclusiva das elites e do Estado
e as estratégias das comunidades marginalizadas.

Neste sentido, Eduardo Escobar (1995) advertiu da existência dos elementos discursivos
de uma outra estratégia de desenvolvimento sustentável, a dos grupos subalternos. Tratou-se
de um discurso ambíguo e contraditório que prometia mudanças na relação homem/natureza
através da crítica à escassez dos recursos naturais, a pobreza, as desigualdades sociais e
reafirmava os ajustes de mercado, baixar o alto preço da força de trabalho, resgatar a natureza
como fonte de vida material, monetarizar o ambiente, usar a genética e a biorevolução nas
atividades econômicas rurais e prometia manobras institucionais e/ou programas públicos.

Assim entanto que para Leonardo Boff (2012), o desenvolvimento sustentável do


Parlamento Europeu seria uma estratégia de controle dos recursos naturais que teria como eixos
estruturantes a exploração, injustiça e desigualdade, essa mesma estratégia serviria como
contraproposta de mudança de paradigma de trabalho e produção.
Por outro lado, na América do Sul, as sociedades colombianas, peruanas e boliviana,
desconstruíam epistemológica e metodologicamente o desenvolvimento sustentável capitalista
europeu e avaliavam seu impacto sobre o homem e a natureza e, propunham o “Bem Viver”
como um outro modo alternativo ao desenvolvimento sustentável capitalista europeu (FARAH
I.; VASAPOLLO L., 2011).
Já o debate metodológico sobre a estratégia de desenvolvimento sustentável do
Parlamento Europeu se intensificou a partir da adaptação do conceito elaborado pela Comissão
Bruntdland, insuficiência de métodos de avaliação quantitativa e unidimensionais e a
experimentação de métodos de avaliação quanti-qualitativos e multidisciplinares.

Em primeiro lugar, os Relatórios de Impacto Ambiental-RIMAs- que avaliaram o impacto


econômico, geográfico e ecológico da construção das bases do desenvolvimento sustentável nas
localidades foram taxativos em ponderar de adversos os efeitos econômicos, sociais e
ecológicos.

Em segundo lugar, as pesquisas que os efeitos quantitativos concluíam a abertura


metodológica devido à generalidade e pouco detalhados resultados (RIECHMANN, 1995) (ARIAS,
2003) (VEIGA, 2009) (GUIMARÃES & FEICHAS, 2009).

Em terceiro lugar, se ensaiar índices compostos e análise ex-post como intentos


metodológicos para avaliar a multidimensionalidade e a estrutura do desenvolvimento
sustentável, como sugeriram e recomendaram e advertiram Schuschny & Soto (2009, p.13-24).

Para finalmente, outras pesquisas propor outras ferramentas para a investigação, como
por exemplo, a regressão lineal que identificava perfis de desenvolvimento sustentável
(DOBROVOLSKI, 2001), a Análise de Componentes Principais (ACP) que identificava níveis de
desenvolvimento sustentável (VIANA et al., 2010) e a Análise Fatorial múltiplo (AFM) que
identificava as correlações entre os fatores (BENALI; ESCOFIER, 1990) (AGUADO, 2005).
Portanto, os resultados do debate epistemológico indicavam que a estratégia de
desenvolvimento sustentável do Parlamento Europeu era uma estratégia de destruição do meio
ambiente e para o colapso das populações. E o resultado do debate metodológico, mostravam
a necessidade de “sistêmização” da estratégia e uma maior interligação de suas dimensões
econômico-social, geoambiental, científico-tecnológica e político-institucional.
No nordeste cearense brasileiro, o debate sobre desenvolvimento sustentável como
eixo conector da questão desenvolvimento/sustentabilidade tomou uma orientação contrário
ao debate latino-americano. Não foram os intelectuais, nem os cientistas nem a sociedade civil
nem a sociedade organizada que buscaram debater epistemológica nem metodologicamente
essa problemática, epistemes e metodologias. Foram os novos/velhos coronéis e as suas
alianças com autoridades estaduais e locais, tecnocratas, elites empresariais e financeiras,
partidarizados e profissionais liberais que ditaram as estratégias sustentabilidade, a seguir:
euro-coronelistas.

Doravante, a estratégia de desenvolvimento sustentável do Parlamento Europeu que foi


implantada no nordeste cearense brasileiro através de vários testes. A aceptação do “Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Ceará 1995-1998”, a execução do açude Castanhão e a
controle dos recursos hídricos, atualmente a continuação das obras da transposição do rio São
Francisco. Como fez referência Aziz Nacib Ab’Sáber (1999, p. 34-35) uma nova solução
oligárquica que exumou “velhos projetos tecnocráticos, de validade parcial, faraônicos, custosos
e demorados”.

O “Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará 1995-1998” teve como princípio


norteador a sustentabilidade; como vetores estruturantes, duas políticas estratégicas: o
reflorestamento da cobertura vegetal e a política nacional de recursos hídricos; e como
programa de desenvolvimento da infra-estrutura hídrica estratégica: o acompanhamento da
construção do açude Castanhão e a transposição do rio São Francisco. (CEARÁ, 1995).
Por outro lado, para o Projeto ÁRIDAS (1995, p. 17-115), a execução do projeto
Castanhão significou implantar o vetor estruturante para a modernização das áreas atingidas, e
a controle dos recursos hídricos o principal objetivo que justificou a interligação das medidas
econômico-social, geoambientais, científico-tecnológico e político-institucional com os
programas de agricultura irrigada, piscicultura, turismo, abastecimento de água e eletricidade,
e secundariamente, aos programas de compensação para os moradores atingidos.

Os estudos assinalaram que o Castanhão comporta uma capacidade máxima de


armazenamento de água de 6.700.000.000 m3. Está encaixado em rochas graníticas e concretas,
possuindo uma bacia de 44. 850 km2. Formou uma lagoa artificial que abarca 558 km2; uma área
com precipitação meio anual de 745 mm e volume morto de 250.000.000 m 3 (TIMBÓ ARAÚJO
et al., 2001, p. 240-258).

Em outras palavras, a construção do açude Castanhão criou a expectativa de converter


os municípios qualificados de subdesenvolvidos e atrasado em potenciais áreas de
desenvolvimento sustentável.

Mas também nos municípios atingidos pelo açude, a construção do Castanhão foi
questionada e rejeitada pelos moradores, políticos e profissionais por ter sido faraônica,
inapropriada, incalculável financeiramente, custosa, não benéfica e insegura
populacionalmente, criticada por sua falta de projeção e insustentabilidade técnico-científica e
por ter assentado o poder e a dominação das elites oligárquicas locais.
Em primeiro lugar, por que os efeitos relacionados à construção de barragens de grande
porte no mundo mostraram efeitos adversos: Três Gargantas na China (LOPEZ-PUJOL, J.
PONSETI, M, 2008), INGA (I, II e III) (REPUBLIQUE DEMOCRATIQUE DU CONGO, 2013) e Porce II
na Colômbia (BANCO INTERAMERICANO DE DESARROLLO, 2010). E, o mesmo RIMA Castanhão
mostrou os mesmos resultados. (DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS,
1990).
Em segundo lugar, porque até hoje, é fato desconhecido o custe financeiro público final
da construção do Açude Castanhão, como foi apontado pelo DNOCS no Projeto Base que
apresentou um custe total de 145.5 milhões de dólares, incrementado, reajustado e
sobrecalculado seu valor de 197 milhões de dólares para 300 milhões e finalmente para mais de
500 milhões de dólares (BORGES, 1999, p. 163-172). Em terceiro lugar, por não ter garantido o
abastecimento de água, e, ter sido construído em uma área de tensão tectônica, como avaliaram
Sólon (1999) e Camarão Jr. (2001). Em quarto lugar, pela desocupação violenta dos moradores
ao término da construção (LIMA, 2008). Em quinto lugar, pelos questionamentos técnicos
ambientais ao projeto base e na construção do açude (BORGES, 1999, p. 35). E, em sexto lugar,
o atual uso e controle governamental das águas do açude Castanhão garanta um
desenvolvimento sustentável para as elites oligárquicas, como apontou Monte (2005).

E, consequentemente, a construção do açude Castanhão incrementou entre os


moradores dos municípios atingidos e entre os moradores, o colonialismo, subdesenvolvimento,
a corrupção, a desigualdade local, a pobreza, a fome, o desemprego, a violência e os conflitos
sociais.

Problema
Neste marco, de que se pode avaliar os efeitos da post-construção do açude Castanhão
no município de Nova Jaguaribara?
Hipóteses

Através de uma avaliação interpretativa ex-post, entre o período de 2010-2014, se


levantaram resultados quantitativos e qualitativos de que o açude Castanhão impulsionou um
incipiente o desenvolvimento sustentável e que no município se acrescentou o patrimonialismo
político-institucional, fragmentaram as unidades geoambientais, se induziu à dependência
científico-tecnológica e precarizou a dimensão econômico-social.

Objetivos: geral e específicos

O objetivo geral desta pesquisa consiste em avaliar e interpretar ex-post os efeitos do


açude Castanhão no município de Nova Jaguaribara, entre 2010-2014.

Para atingir tal objetivo geral, na pesquisa se propus como objetivos específicos: a)
identificar a área municipal de Nova Jaguaribara e localizar os efeitos nos recursos naturais
(terra, água e homem) e nos agrupamentos populacionais; b) correlacionar econômico-social,
geoambiental, científico-tecnológica e política-institucional, os efeitos e grupos populacionais;
c) analisar e discutir as questões socioambientais gerados.

Métodos e ferramentas

A avaliação ex-post usou duas classes de instrumentos metodológicos: quantitativo e


qualitativo. No primeiro momento, utilizou-se o Sensoriamento Remoto e a Análise Fatorial
Múltiplo (AFM) como instrumentos de avaliação quantitativas. E, como instrumentos de
interpretação a análise qualitativo, da Perspectiva Ambiental.
Assim, para identificar e localizar os efeitos nos recursos naturais e nos agrupamentos
populacionais se usou o método de Sensoriamento Remoto e os programas ARCgis (NANN et
al., 2012). Para correlacionar os efeitos com os grupos populacionais e a hierarquização geral
entre os grupos se usou o método de Análise Fatorial Múltiplo (AFM) através do programa SPAD
(CENTRE INTERNATIONAL DE STATISTIQUE ET D'INFORMATIQUE APPLIQUÉES, 2001). E, para
análise e discussão das questões socioambientais, a análise de Perspectiva Ambiental (LOPES,
2012).

É importante indicar que a pesquisa usou um questionário com respostas fechadas. Mas,
no momento da aplicação, os entrevistados acrescentaram informações e dados muito
reveladores. O acumulo destas informações e dados obrigou para um complemento
metodológico instrumental da pesquisa. Em adiante, ao AFM e Sensoreamento Remoto, se
integrou a Análise da Perspectiva Socioambiental.
Resultados e discussão

O Município de Nova Jaguaribara é uma região sertaneja do nordeste cearense brasileiro


que está localizada nas coordenadas geográficas: latitude (S) 5º 39’ 29”, longitude (WGR) 38º
37' 12" e altura, 89 m.; ocupa uma área de 668,29 km.; dista da capital do Ceará-Fortaleza, em
190 km.; e limita ao norte com as cidades de Alto Santo e Jaguaretama, ao sul com os municípios
de Jaguaribe e Perreiro, ao leste com os municípios de Iracema e Alto Santo e ao oeste com
Jaguaretama e Jaguaribe.

Segundo o Governo do Estado do Ceará (2013), o Município de Nova Jaguaribara


contaria com 10,339 moradores. Mas ainda que, o Prefeito da cidade, Evaldo Silveira apontou
que seria maior de 10 mil o número de moradores no município, o que ocasionaria problemas
no atendimento dos principais serviços públicos, como foram os casos do apagão do 04 de
agosto do 2011 e a subvenção municipal para o pagamento da energia elétrica (CEARÁ, 2013).
A área municipal de Nova Jaguaribara conta com solos não obstante salinos, são férteis
e possui uma associação de: Neossolos Flúvicos com Planossolos e Vertissolos; Luvissolos com
Neossolos Litólicos; Planossolos com Neossolos Litólicos; Argissolos com Neossolos
Quartzarênicos; Neossolos Litólicos com Planossolos; Neossolos Litólicos com Argissolos,
afloramentos de rochas; e Neossolos Litólicos com Afloramentos de rochas.

A mesma área jaguaribense conta com a principal fonte hídrica artificial, o Açude
Castanhão, mas que também possuem pequenas fontes hídricas naturais e artificiais. De norte
ao sul, encontraram-se cursos de água intermitentes e permanentes, lagoas intermites e
permanentes, como por exemplo, a Lagoa das Pedras, a Lagoa da Onça, a Lagoa dos Canudos, a
Barragem de Junqueira, o rio Jaguaribe e os riachos: da Felicidade, Junqueiro e do Meio. Desde
a sede até Mandacaru, do oeste ao leste, encontraram-se os riachos: Velame, Pau Branco,
Gafanhoto e Serra; e o açude Sossego. E de norte ao sul da sede, os riachos dos Ossos, do Meio,
Pinhão e dos Pinhões; e o açude Riacho Fechado, entre outros.

Além de vastos recursos naturais, os agrupamentos populacionais com os que conta o


município de Nova Jaguaribara são: a sede planejada; os reassentamentos: Curupati Peixe,
Curupati Irrigação, Mandacaru, Sossego, Mineiro, Sabiar, Barra I, Umarizeira e Lages; as
fazendas: Três Coroas, Recreio, Boa Vista Florêncio, Lagoa do Meio do Mundo, Canudos, Vista
Alegre e Residencial; e as pisciculturas: Tacílio, Tanque e Jaburu.
Através de uma avaliação quantitativa ex-post, entre o período de 2010-2014, se
levantaram resultados quantitativos e qualitativos de que o açude Castanhão orientado pela
estratégia coronelista sertaneja, injetou o desenvolvimento sustentável do Parlamento
Europeu, mas que precarizou a dimensão econômico-social, fragmentou as unidades
geoambientais, induziu à dependência científico-tecnológica e acrescentou o patrimonialismo
político-institucional no município de Nova Jaguaribara.

Então é possível afirmar que existe desenvolvimento sustentável em sociedades com


um capitalismo colonial, subdesenvolvido, atrasado no semiárido cearense brasileiro, como por
exemplo, o capitalismo do município de Jaguaribara?
As avaliações e interpretações deixaram observar que existem algumas falácias entorno
do debate sobre o desenvolvimento sustentável que permitiram suster que no município de
Nova Jaguaribara se injetou um incipiente desenvolvimento sustentável. Que se usou uma
estratégia que obteve resultados bivalentes: beneficiou alguns e eliminou a muitos. Uma
estratégia dirigida pelas necessidades dos grupos oligárquicos, os coronéis sertanejos; orientada
pelos interesses dos capitalistas financeiros; um modelo que teve como objetivo a acumulação
através da re-apropriação dos recursos naturais; que ainda não do todo, desumaniza, ao homem
sertanejo nem consegue desarmonizar, do todo, o meio ambiente do sertão jaguaribense.

A primeira falácia do debate sobre o desenvolvimento sustentável consiste em pensar


em duas únicas visões: a primeira visão de um desenvolvimento sustentável pleno versus a visão
de um desenvolvimento sustentável inexistente. Mas que entre o desenvolvimento sustentável
pleno como discurso das promessas da modernização ecológica e o discurso de um
desenvolvimento inexistente como discurso para modernização de ambientes rurais, está em
marcha uma aliança estratégica de desenvolvimento sustentável para o domínio do homem e
expropriação de seus recursos naturais.
A segunda falácia do debate tratou de contrapor o modelo de desenvolvimento
sustentável de Estado frente ao modelo de desenvolvimento sustentável gerador de relações
capitalistas. Mas, que entre o desenvolvimento sustentável de Estado que viabilizaria a
acumulação capitalista por privatização e o desenvolvimento sustentável que viabilizaria a
acumulação originária das áreas não capitalistas; o que se estabeleceu foi um modelo de
acumulação do capitalista financeiro global através da apropriação dos recursos naturais.

E finalmente o debate sobre o desenvolvimento sustentável consistiu em enfrentar o


desenvolvimento sustentável dos partidarizados e das organizações não governamentais frente
ao desenvolvimento sustentável alternativo das empresas e das organizações governamentais,
o que ocultou da vista foi as outras formas, entre elas a forma comunitária, de integrar o
progresso humano com a natureza. Em este sentido, a pesquisa mostrou a prática de relações
sociais comunitárias na construção de um pequeno açude, como a questão que problematiza
ainda mais a complexidade integração do desenvolvimento com o meio ambiente.

Os resultados também mostraram, no plano sobre o eixo fatorial, que tal estratégia de
desenvolvimento sustentável esteve mais influenciada pelos efeitos da dimensão político-
institucional que pelos efeitos da dimensão econômico-social. O plano graficou que os efeitos
“capacidade de assumir tarefas comunitárias de liderança”, “capacidade de assumir tarefas
comunitárias de segurança” e “capacidade de assumir tarefas comunitárias fiscalização” e
“capacidade de mitigar a delinquência” influenciaram mais que os efeitos “capacidade de
mitigar os conflitos por terras” e “capacidade de mitigar os conflitos por água”, na dimensão
patrimonialista político-institucional. E que os efeitos econômico-sociais ficaram muito
dispersos.

Os resultados na dimensão político-institucional, indicaram o incremento do


patrimonialismo político-institucional. Os resultados quantitativos foram: a não mitigando os
conflitos por água (26,38%), não mitigando os conflitos por terras (26,67%) e não mitigando a
delinquência (43,77%). E, finalmente, pela obstrução nos moradores por assumir tarefas
comunitárias: de segurança alimentar (43,19%), liderança (43,19%) e de fiscalização ambiental
(42%).
Os resultados quantitativos correlacionados com os resultados qualitativos mostraram
que o patrimonialismo da dimensão político-institucional se acrescentou não somente pelos
conflitos por terra e água e pela incapacidade dos moradores de assumir tarefas comunitárias
senão também pela formação de alianças para a controle dos recursos hídricos, como apontou
Santos (2002, 506-507), ao se referir sobre as alianças estratégicas de acomodo e sobrevivencia.

Como em grande parte do semiárido do nordeste cearense brasileiro, as alianças de


acomodo patrimonialistas foram formadas por grupos financeiros- nacionais/internacionais –
associados aos grupos locais: coronéis sertanejos. Pode-se observar em Nova Jaguaribara,
durante o tempo que levou a pesquisa, que os grupos de poder foram formados por extrativistas
e comerciantes, principalmente aliados aos extrativistas de recursos piscícolas (Tilápia do Nilo)
e frutíferos (goiaba), por sua vez aliados a funcionários locais (municipais do partido verde e
funcionários estaduais do Departamento Nacional de Obras contra ás Secas (DNOCS) e ao
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), principalmente. A partir desses
pactos, pode-se interpretar que foi esta aliança a que creu e fomentou as condições políticas
iniciais para pôr em marcha as medidas de desenvolvimento sustentável e que permitiram
estabelecimento das Unidades de Desenvolvimento Sustentável (UDS) no município de Nova
Jaguaribara. Outro tipo de aliança encontrada em Nova Jaguaribara foi aos moradores e os
membros da igreja católica, como assinalou o Instituto da Memória do Povo Cearense (1995),
com os participam na ‘Bolsa Família’ e as famílias de trabalhadores atingidos e não
indemnizadas.
Através das visitas de campo realizadas no município do sensoreamento remoto,
encontrou-se que o açude dividiu a área municipal em três complexos geoambientais.

Mediante a combinação de operações de sensoriamento remoto e estatísticas,


mostrou-se que a dimensão geoambiental no município foi dividida e fragmentada.
Primeiramente, as imagens revelaram que o Castanhão dividiu a área municipal em: área sul,
área central e área norte, e subdividiu a área em uma franja reservada para as empresas
piscícolas e fazendas irrigadas e empresas turísticas, e uma segunda reservada como moradia. E
em segundo lugar, que o Castanhão alterou os parâmetros climáticos: não influenciando em
nada na mudança de sensação de umidade (44,46%), influenciando muito na mudança de
quantidade de chuvas (48,41%) e influenciado muito no aumento da sensação de ventos
(35,94%), como indicaram os depoimentos.

O primeiro complexo geoambiental está composta por um a área hidro-ambiental


formada pelo lago artificial, o açude Castanhão; parte de uma franja sedimentar periférica ao
açude, composta por lotes de terras férteis, cultiváveis, irrigada e climatizados, reservada para
os antigos proprietários das fazendas e/ou empresas piscícolas, agroexportadoras privadas e
comunidades de pescadores e onde se localizam as pisciculturas Jaburu, Tacílio e Tanque e as
fazendas; uma área urbano-ambiental formada pela sede municipal planejada de Nova
Jaguaribara; outra área periférico-ambiental, entre o açude e as áreas urbanas e rural, formada
pelos reassentamentos Umarizeira e Lages; e uma área rural-ambiental formada por
reassentamentos (Desterro e Muluguzinho) e pequenas fazendas não periféricas ao açude.
O segundo complexo geoambiental está constituída pela outra parte da franja
sedimentar periférica ao açude, onde se localizam o reassentamento Curupati Peixe e Curupati
Irrigação, reservadas para moradores compensados; uma área hidro-urbano-rural que servem
de moradia, atividades piscícolas e para a agricultura irrigada, respectivamente; mais longe do
açude, localizam-se uma área rural de fazendas e os reassentamentos Mineiro, Sossego, o
reassentamento “Fazenda Serra” e Sabiar; e já próximo ao município de Jaguaribe, se encontrou
uma área comunitárioambiental, onde se localiza o reassentamento Barra I que, como se
mencionou anteriormente, construiu um pequeno açude comunitário.
E entre o primeiro e segundo, um terceiro complexo geoambiental composto pelas Ilhas,
reservadas para eventuais atividades dos pescadores não cooperativados das comunidades
anexas ao município e para a pesca de lazer dos visitantes do Castanhão.
A pesquisa assinalou que na Nova Jaguaribara, existia uma franja sedimentar próxima
ao açude. E como fenômeno similar como o ocorrido na amazônia brasileira, com os Sistemas
Agrícolas Itinerantes (SAI) (PEDROSA JÚNIOR, MURRIETA & ADAMS, 2008), a reapropriação
desta franja teve dois processos: um de apropriação privada e outro, de ocupação comunitária.
O primeiro como produto de processos capitalista de acumulação com desapropriação de terras
públicas, como indicou Harvey (2004) e o segundo como produto do processo de luta dos
atingidos pelas barragens e dos trabalhadores sem terra.

Com relação à gestão pública dos recursos hídricos, a pesquisa manifestou que o açude
não atingiria seu objetivo de acumulação de água, nem garantiria o abastecimento de água
durante os próximos períodos de seca hidrológica, de acordo com as previsões de Bezerra (1996)
e Solón (1999). Sobre a gestão pública de terras, que o Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE)
reservou lotes de terras férteis, aclimatadas e irrigadas para empresários privado locais e
forâneos.
Ainda os estudos sobre os pequenos açudes e as pesquisas sobre a construção de
pequenos açudes de modo comunitário estão marginalizadas, são recentes, pouco incentivadas.
Na região do semiárido cearense brasileiro, os primeiros esforços procederam do Laboratório
de Hidrosedimentação (HIDROSED) na Universidade Federal do Ceará (UFC). Marginalizados
talvez em razão que não significaria endividamento público e a apropriação das terras
revitalizadas seriam reservadas para os moradores das comunidades construtoras. Mas, os
primeiros passos das pesquisas indicaram que os pequenos não são planejados com relação ao
porte, volume e implicações nos parâmetros climáticos e segurança populacional; os efeitos
destes açudes são acumulativos são consideráveis, mas inseguros com relação a possíveis
rupturas, e que esses pequenos açudes acrescentariam as necessidades e conflitos por água
entre as comunidades (montante e jusante) (De Aráujo, 2011).

Na dimensão científico-tecnológica, avaliou-se a dependência cultural se intensificou,


principalmente, pela transferência de material genético, uso de técnicas de manipulação
genético e comercialização destas mercancias, tanto para a piscicultura como para a agricultura
irrigada. Para a piscicultura em tanque rede em Curupati Peixe, importou-se o material genético
da Tilápia do Nilo, Oreochromis Nicoticus. Mercadoria que teve forte demanda e comercialização
na sede planejada. Mas, também a sede planejada foi o centro de venda de sementas
modificadas geneticamente para as fazendas e a área rural. Entre as sementas modificadas mais
utilizadas em Curupati Irrigação e as fazendas foram: a sementa da goiaba (Psidium guajava L.),
de a maracujá (Passiflora edulis Sims), melão (Cucumis melo L.), melancia (Citrullus lanatus),
milho, Banana (Musa spp.) e da sementa de mamão (Carica papaya L.). Já em Mandacaru se
cultivou a agropecuária e Capim (Cynodon dactylon L.).

O médio comprometimento dos serviços educativos em Nova Jaguaribara propiciou o


surgimento de um regime educativo de caráter fundamental. A pesar do modelo de
desenvolvimento econômico ter promovido a construção de escolas primárias, secundárias,
creches maternais e incentivar o Programa ‘Pro-Jovem’, os resultados para atingir uma
população plenamente instruída, são muito precários. Programas educacionais que incluam à
população jovem, adulta e idosa ajudariam a mitigar a situação de risco dos mais vulneráveis
ante o trabalho forçado, delinquência, tráfico de drogas, prostituição e abandono. A pesar desta
situação, o estado do Ceará nos últimos anos vem sendo cenário de uma inquietante discussão
sobre a prática pedagógica e instrumentos de ensino. Discussão que teve como princípios
pedagógicos: a solidariedade e o corporativismo no ensino médio. E, como ferramentas
pedagógicas: a pedagogia de Paulo Freire e a formação de grupos. Em um artigo não publicado,
avaliou-se a experiência do Programa Coração de Estudante (PRECE). Esta pesquisa indagou
sobre a prática pedagógica do PRECE como, uma prática pedagógica solidária ou corporativa?
Através de uma revisão documental, entrevistas e o método de ação-participante, mostrou-se
que não obstante os criadores do programa difundiram nas suas apresentações e discursos as
bases pedagógicas de Paulo Freire e a solidariedade, os benefícios e privilégios que obtiveram
eram distribuídos principalmente entre um grupo familiar e os membros criadores do programa.
O que levou a considerar a prática pedagógica do PRECE como uma prática pedagógica
corporativa. Uma prática muito enraizada no nordeste cearense brasileiro e nas suas sedes
urbanas. [SALINAS, s/n].

Através do Programa SPAD 5.5, se fez um cálculo estatístico porcentual que mostrou
que a precarização da dimensão econômico-social esteve correlacionada à muitas necessidades
por água (49%), muitas necessidades por alimentos (48,41%), a pouca capacidade de
atendimento na educação (37,39%), à pouca capacidade de atendimento dos serviços de saúde
(41,74%), à nula capacidade de atendimento da rede de esgoto (39,42%) e ao pouco
atendimento na coleta e tratamento do lixo (30,72%), como informaram os 339 entrevistados.
Através do cálculo das correlações entre as necessidades e capacidades com os
agrupamentos populacionais, encontraram-se 5 grupos de precariedade. O primeiro grupo
esteve formado pelos reassentamentos Curupati Peixe, Sitio Lages, Umarizeira, Barra I, Curupati
Irrigação, a sede planejada e o reassentamento Mandacaru; o segundo grupo esteve composto
pelas fazendas (Três Coroas, Boa Vista, Canudos, Residencial, Vista Alegre e Meio do Mundo); o
terceiro grupo, pelos reassentamentos Desterro e Muluguzinho; o quatro grupos, pelas
pisciculturas (Jaburu, Tacílio e Tanque) e o reassentamento Mineiro; e o quinto grupo esteve
formado pelos reassentamentos Sossego, Fazenda Serra e o Sabiar.

Para a discussão da dimensão econômico-social, a pesquisa revelou que o açude


Castanhão criou uma dívida pública financeiramente incalculável. O DNOCs, no Projeto Base,
apresentou que o custo da construção seria de 145,5 milhões de dólares; posteriormente,
Bezerra (19996, p. 15) calculou que um valor adicional de 197 milhões de dólares. Borges (1999,
p. 163-172) indicou um reajuste de duas vezes (200 milhões para 300 milhões de dólares) e um
reajuste de mais de 500 milhões de dólares.

Outra questão socioambiental, foi a discussão de trabalhadores e crianças empregadas


como terceirizados e trabalhando em casa em condições de trabalho escravo. Informações e
dados obtidos revelaram que existiam mulheres e homens entre 40 a 50 anos que faziam
serviços de limpeza na rua, trabalhavam como terceirizados e obtiveram salário de R$ 400.00,
menor do salário-mínimo legal. E por outro lado, que existiam casos de crianças trabalhando na
construção de tanques-rede.
Estes casos indicariam a prática de trabalho escravo entre crianças, mulheres e homens?
Então, pode-se pensar que os jaguaribenses trabalham em condições de subemprego e/ou
trabalho escravo? Talvez uma pesquisa mais detalhada sobre a mudança de cenários (de
exportador de força de trabalho para sede exploradora de trabalho escravo) confirmariam as
mudanças nas condições do trabalho no município, e desatualizariam as informações da OIT
(2006) sobre o trabalho escravo no semiárido do nordeste cearense brasileiro.

Mas, o que vem fazendo os trabalhadores jaguaribense frente ao desemprego e


abandono do Estado com políticas públicas de geração de emprego e renda? Eles incrementam
os casos de delinquência? Muito interessante foi descobrir que diferente da sede planejada, de
pisciculturas e fazendas e de outros reassentamentos, que no reassentamento Barra I se
incentivava a prática de trabalho coletivo comunitário. Segundo os depoimentos dos moradores,
está prática consistia; em jornadas de oito (8) horas de trabalho; eram executadas pelos chefes
de família, mas em casos necessários por uma mulher chefe de família; para a construção de
prédios públicos ou para labores coletivas, como por exemplo, para a construção da escola
municipal, o posto de saúde, para a construção da igreja local, limpeza de terrenos ou limpeza
da pequena lagoa local e de o pequeno açude comunitário.

Ainda também a pesquisa mostrou, através do tratamento estatístico de dados, a


diminuição da capacidade de resistência física e mental da população jaguaribense. A situação
de saúde no município se agravou com a proliferação de doenças e infecções de transmissão
hídrica, como por exemplo, o surgimento da malária, parasitos, infeção vaginal, hepatites, dor
de cabeça constantes, diarreia constante, dengue, disenteria, cólera, desnutrição, anemia,
leucemia, cegueira, dor de ouvido, infeções na pele e mudanças de comportamento, como foi
já antecipado em um artigo nosso, no I Simpósio de Ciências Ambientais na Universidade de São
Paulo. (SALINAS, C.E.T; DE ARAÚJO, J.C. 2015).
Finalmente, o estudo de apontou para a precariedade das fundamentais medidas de
desenvolvimento sustentável, a precarização da sede planejada e dos serviços públicos básicos
e dos programas públicos dos principais reassentamentos (Curupati, Alagamar e Mandacaru),
de acordo com as pesquisas de Moro et al. (2011). E que a gestão federal-estadual do Castanhão
beneficiou as empreiteiras, agentes financeiros, grupos oligárquicos locais, agentes
partidarizados, agentes técnico-administrativos, em sacrifício das famílias atingidas.

O tema da falta de redes de esgoto no Brasil, e particularmente no nordeste cearense,


foi um tema economicamente inviável e socialmente muito benéfico. Neste sentido, para a
grande maioria dos moradores deste município a necessidade de redes de esgoto é urgente. Por
isso, para 39,42% a capacidade de atendimento da rede de esgoto foi nula, para 22,32% foi
pouca e para 20,29% foi muita. Como apontou Galvão Junior (2009) no Brasil, ainda é um desafio
a universalização dos serviços sanitários. E que, a pesar dos moradores contar com uma
legislação constitucional, estes serviços não são ainda realizados a favor dos contribuintes. Tal
vez por causa do alto custe financeiro e sua baixa taxa de retorno empresarial, mas, que, nos
términos de saúde pública significaria uma grande ganancia socioambiental. Por tanto, se não é
política municipal construir redes de esgoto, a população tem que se organizar mediante o
trabalho coletivo comunitário para a edificação de redes de esgoto no município. Políticas
sociais organizadas e executadas pela própria população jaguaribense não é um fato novo.

Na Nova Jaguaribara, a prefeitura tem a responsabilidade de coletar e depositar o lixo.


Enquanto a coleta realiza-se por domicílio, o depósito deste lixo efetua-se nos lixões a céu
aberto. Um caso exemplar ocorre no reassentamento Curupati Peixe onde não se encontrou lixo
nas ruas. A coleta é realizada pela prefeitura em triciclos casa por casa. Em cada rua se encontrou
um cilindro de lixo. O que ainda não se tem podido erradicar é o aterro sanitário que existe entre
este reassentamento e o reassentamento Curupati Irrigação. Aterro que é motivo de muitas
reclamações, sobre tudo, ao queimar-se os resíduos sólidos e expandir-se a fumaça para as
casas, ocasionando não só mal-estar senão também problemas de saúde entre os moradores.
Situação que se repete tanto na sede planejada como nos reassentamentos Mandacaru e
Umarizeira e a vila Lages, donde existem aterros ao ar livre.
A construção de moradias através do trabalho comunal no final da construção do açude
e a construção de escolas, postos de saúde, entre outras no reassentamento Barra I depois de
terminada construção do açude, reforçam a necessidade e a capacidade da população para
implantar-se políticas públicas com este objetivo. No município de Nova Jaguaribara está em
marcha uma política municipal de tratamento do lixo. Mas que suas instalações funcionam
focalizadas e precariamente. Entre a sede planejada e o reassentamento Mandacaru há um
grande lixão ao céu aberto e que serve de fonte de alimentos para os suínos e gado e uma
pequena área de reciclagem para os moradores. Isto explicaria, em parte, porque para a maioria
dos moradores é limitado o tratamento dos resíduos sólidos. Assim para 30,72% o tratamento
do lixo foi pouco, para 29,57% foi muito e para 22,90% não se realiza nenhum tratamento.

Considerações finais

Finalmente, se pode concluir, mediante a avaliação interpretativa ex-post, entre 2010-


2014, que o açude Castanhão foi um indutor de um incipiente desenvolvimento sustentável no
Município de Nova Jaguaribara. E, que a sistematização da estratégia de desenvolvimento
sustentável europeu dirigida pelas alianças entre os novos/velhos coronéis e as autoridades
estaduais e locais, tecnocratas, elites empresariais e financeiras, partidarizados e profissionais
liberais no município de Nova Jaguaribara vêm sendo incipiente e malsucedida.

Então será possível que outros atores e/ou outras alianças façam do açude Castanhão
um vetor que estimule um desenvolvimento sustentável pleno na região jaguaribense? Ou será
que na complexidade sociohídrica exista já ator (es) que impulsiona (m) um outro modo de vida
que re-organize a produção e que respeite ao homem e à natureza?

As preocupações da população nordestina sertaneja que relacionam açudes ao


desenvolvimento e meio ambiente semiárido brasileiro passam necessariamente por
correlacionar as velhas questões sociohídricas com as novas questões sociopolíticas e
sociocientíficas. Mais essas preocupações não parecer ser novas, mas ainda pouco perceptível
para a comunidade científica. Um passo inicial para tal desafio consistiria em formar estudiosos
com sensibilidades sociohídricas sobre questões hídricas ambientais, o que contribuiria com o
debate local epistemológico e metodológico sobre o desenvolvimento e meio ambiente e sobre
sua abordagem internacional.

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