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N.º 45 Out-Dez 2017 Pág.

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Evangelista Rocha
Hospital das Forças Armadas – Polo de Lisboa
Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública - Faculdade de Medicina
da Universidade de Lisboa

Saúde e objetivos de desenvolvimento sustentável

Palavras-Chave: Saúde; Desenvolvimento sustentável; Doenças não-transmissíveis;


Cobertura universal da saúde

Resumo outros setores, numa visão da saúde glo-


bal e para maximizar o progresso.
A saúde é um valor intemporal. A boa
saúde é uma precondição para o trabalho
e uma medida do desenvolvimento sus-
tentável. Abordam‑se os diversos deter-
minantes da saúde, com alguma ênfase Saúde e os determinantes
nos sociais, na perspetiva de definir A saúde, pela sua importância, foi legal-
ações eficazes para melhorar a saúde mente reconhecida na Carta das Nações
das populações. Desde 2000, a ONU, Unidas como um direito internacional, um
em Resoluções, e a OMS, em programas acordo conseguido logo a seguir à Segunda
de apoio, têm definido objetivos progra- Guerra Mundial.
máticos e intervenções globais para um No ano seguinte, em conformidade com
mundo melhor para todos. Sumaria- a Carta foi criada, como agência especiali-
mente, apresentam‑se os objetivos destas zada em saúde, a Organização Mundial da
importantes iniciativas, com alguns pon- Saúde (OMS), fundada a 7 de Abril de 1948.
tos de vista de autores. A evolução, por Na sua Constituição os Estados Membros
parcerias e esforços internacionais, tem declararam alguns dos princípios conside-
sido positiva e de convergência em Saúde rados basilares para a felicidade dos povos.
Global mas para ser grande não dispensa A saúde é definida como um completo
a abordagem das doenças não‑trans- bem‑estar físico, mental e social e não
missíveis, principalmente das doenças apenas a ausência de doença ou de enfer‑
cardiovasculares, do cancro, da diabe- midade.
tes e das doenças respiratórias crónicas. O objetivo da OMS é a aquisição, por
No entanto, as desigualdades em saúde todos os povos, do nível de saúde mais ele-
colocam diversos e enormes desafios vado que for possível. Em consonância, é
que implicam o envolvimento de muitos reconhecido que «a saúde é um dos direi-
atores, quer do setor da saúde, quer de tos fundamentais de todo o ser humano que

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depende da mais estreita cooperação dos ambiente, incluindo os efeitos do clima e do
indivíduos e dos Estados e a sua proteção estilo de vida5.
por cada Estado é um valor para todos». Desde então o conhecimento muito evo-
Também «o desenvolvimento saudável da luiu, o mundo muito mudou, a consciência
criança é de importância basilar, a extensão da influência do ambiente físico, social e
a todos os povos dos benefícios dos conhe- económico na saúde aumentou, e a equi-
cimentos médicos, psicológicos e afins é dade em saúde constitui um desafio para
essencial para atingir o mais elevado nível todos os países mas que não se pode disso-
de saúde, a opinião pública esclarecida e ciar do sistema económico e político glo-
uma cooperação ativa do público são capi- bal.
tais para a melhoria da saúde dos povos e os No âmbito da justiça social foi criada
Governos têm responsabilidade pela saúde pela OMS, em 2005, a Comissão dos Deter-
dos seus povos, assumida com medidas minantes Sociais da Saúde para definir o
sanitárias e sociais adequadas»1. que devia ser feito para promover a equi-
A definição de saúde da OMS tem sido dade em saúde e fomentar um movimento
alvo de críticas por muitos que a conside- global para o conseguir. No seu trabalho
ram utópica, inatingível, mas outros des- (livro de 17 capítulos), com base na evi-
tacam o mérito do conceito ser positivo, dência relativamente às condições de vida,
otimista, não restritivo (não há saúde de abordam ações no âmbito de: desenvol-
órgãos), antes abrangente (corpo e mente). vimento e educação desde os primeiros
Os principais determinantes da saúde anos de vida, lugares saudáveis (condi-
são múltiplos e classificáveis no domínio da ções de vida urbana e rural, infra‑estru-
biologia, do ambiente (físico, social e eco- turas e serviços), emprego (trabalho e con-
nómico), dos comportamentos (estilos de dições satisfatórias), proteção social ao
vida) e dos cuidados de saúde2. longo do ciclo de vida (universal) e cuida-
Em teoria, numa estimativa de quanto os dos de saúde (universais, financiamento,
determinantes major influenciam a saúde acesso, qualidade dos serviços); na parte
da população, os determinantes sociais sobre poder, dinheiro e recursos, qualquer
representam a maioria, cerca de 75%, destes influenciados por escolhas políti-
enquanto os genes, a biologia e os compor- cas, defendem: a equidade em saúde em
tamentos de saúde no seu conjunto con- todas as políticas, sistemas e programas, o
tribuem para aproximadamente 25% da financiamento justo, a responsabilidade do
saúde da população3. Este resultado per- mercado, a igualdade de género, o empo-
mite concluir que os determinantes sociais deramento político (inclusão e voz), a boa
estão na base da maioria das desigualdades governança global.
em saúde e que o direito à saúde não con- Neste último tema exemplificam como
segue ser garantido apenas pelo setor da ação de boa governança global o Projeto
saúde. No mesmo sentido concluiu Rose: Millennium das Nações Unidas6.
«Os determinantes primários da doença No Millenium Summit, em 2000, na
são principalmente económicos e sociais e maior reunião de líderes mundiais, estes
portanto os seus remédios devem ser tam- assumiram o compromisso das suas nações
bém económicos e sociais. A medicina e a colaborarem numa nova parceria global
política não podem nem devem ser manti- para reduzir a extrema pobreza e atingir
das separadas»4. uma série de objetivos até 2015, conheci-
Hipócrates no seu escrito Ares, Águas e dos como os Objetivos de Desenvolvimento
Lugares (400 anos AC) foi talvez o primeiro do Milénio (MDGs). Com os valores e prin-
a estabelecer uma relação entre doença e o cípios adotados na Declaração – United

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Nations Millennium Declaration – defini- devem dar prioridade para atingir os novos
ram‑se oito objetivos7 (Quadro 1). Objetivos para o Desenvolvimento Susten-
Estes alvos foram dirigidos à extrema tável (SDGs)8 .
pobreza nas suas múltiplas dimensões – Os SDGs são mais numerosos (17 obje-
baixo salário, fome, doença, falta de proteção tivos, 169 metas), amplos e ambiciosos do
adequada e exclusão – enquanto promotores que eram os MDGs (8 objetivos, 21 metas).
da igualdade de género, educação e susten- A Agenda 2030 para o desenvolvimento sus-
tabilidade ambiental. São também direitos tentável, nos SDGs e desafios, reconhece que
humanos básicos os direitos de cada pessoa a melhoria da saúde depende de interven-
no plano da saúde, educação, proteção e segu- ções específicas de saúde mas também da
rança. Todos os MDGs se relacionam com justiça social, proteção do ambiente e pros-
ações sobre determinantes sociais da saúde peridade compartilhada, os pilares princi-
e representam uma mudança de paradigma, pais do desenvolvimento sustentável, vistos
um novo ponto de partida para o desenvol- como integrados e indivisíveis9 (Quadro 2).

Quadro 1 Quadro 2
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável
(MDGs)7 UN 2000 (SDGs)8 OMS 2015
MDG SDG
1. E
 rradicar a pobreza extrema e a fome; 1. Erradicar a pobreza;
2. Conseguir um ensino básico universal; 2. Acabar com a fome;
3. Promover
 a igualdade entre o género 3. Promover a saúde e o bem‑estar;
e a autonomia das mulheres; 4. Uma educação de qualidade
4. Reduzir a mortalidade infantil; e inclusiva;

5. Melhorar a saúde materna; 5. A igualdade de género;


6. Água limpa e saneamento;
6. Combater o HIV/SIDA, a malária
e outras doenças; 7. Energia limpa, renovável;
7. Garantir a sustentabilidade ambiental; 8. Emprego, trabalho digno
e crescimento económico;
8. Desenvolver uma parceria mundial
para o desenvolvimento. 9. Inovação em infra‑estruturas
resilientes;
vimento da comunidade na medida em que 10. Reduzir as desigualdades
pretendem dar oportunidade aos grupos vul- nos países e entre países;
neráveis, mais desfavorecidos, de melhorar a 11. Cidades e comunidades sustentáveis;
saúde e o acesso aos serviços de saúde. 12. Produção e consumo sustentáveis;
Saúde e desenvolvimento sustentável 13. Combater as alterações climáticas;
No Relatório da OMS Health in 2015: 14. Utilizar os mares e recursos
from MGDs to SDGs estão identifica- marinhos de forma sustentável;
dos os progressos em saúde relativos aos 15. Promover o uso sustentável dos
MDGs (diminuição da mortalidade infan- ecossistemas terrestres;
til e materna e na luta contra HIV, tuber-
16. Paz, justiça e instituições sólidas;
culose e malária nos países em desenvolvi-
mento) e definidas as ações a que os países 17. Implementar a parceria global.

14
Embora a erradicação da pobreza, a plos objetivos; a inclusão da meta 3.8, alcan-
saúde, a educação, a segurança alimentar e çar a cobertura universal da saúde (UHC)
a nutrição continuem a ser prioridades, os com proteção do risco financeiro, além do
SDGs integram as dimensões de um desen- acesso a cuidados de saúde e acesso a medi-
volvimento sustentável – económica, social camentos e produtos de saúde essenciais
e ambiental – com o princípio subjacente de de qualidade, seguros e eficazes e vacinas
«não deixar ninguém para trás». para todos, confere à saúde um lugar privi-
Assim, a Agenda de 2030 com os SDGs legiado na construção de sociedades pacífi-
corresponde a uma abordagem mais ampla, cas e inclusivas e contribui para erradicar
inclusiva, interativa para o desenvolvimento. a pobreza, um objetivo geral. Por isso con-
Procura modelar um mundo em que há sidera a UHC a expressão máxima da jus-
diversas formas de extremismos, desres- tiça, um dos mais poderosos equalizadores
peito pelo direito internacional e conflitos sociais entre todas as opções políticas»11.
armados, com a preocupação da equidade na O SDG3 é específico da saúde (garantir
distribuição dos benefícios numa perspetiva uma vida saudável e promover o bem‑estar
de sociedades mais pacíficas e inclusivas. para todos, em todas as idades) e engloba
Tem em conta que o desenvolvimento 13 metas. Uma delas, a SDG3.4, é relativa
sustentável pode ser afetado por ameaças a doenças não transmissíveis (DNT) e pre-
à saúde com origem em alterações climáti- coniza a redução em 1/3 da mortalidade
cas (secas, fogos, tempestades, inundações, prematura por doenças não‑transmissíveis
ondas de calor), energias poluentes, agentes com medidas de prevenção e tratamento e a
resistentes a antibióticos, evolução demográ- promoção da saúde mental e do bem‑estar,
fica (envelhecimento), migrações, aumento até 2030.
da carga global de doenças crónicas, mui- Nas metas do SDG3, na continuidade
tas delas resultantes de estilos de vida pouco dos antigos MDGs mas com maior ambi-
saudáveis cujo controlo está menos depen- ção, constam a eliminação da SIDA, da
dente das autoridades de saúde do que as tuberculose, da malária, das doenças tropi-
doenças infecciosas (saúde pública)10. cais negligenciadas, o controlo da hepatite,
A OMS, nesta publicação, ainda des- a redução da mortalidade materna e o aca-
creve de que modo a saúde contribui para bar com os óbitos neonatais e infantis evitá-
os outros 16 SDGs e de um modo recí- veis; novas metas abrangem as doenças não
proco deles beneficia, isto é, numa rela- transmissíveis, a saúde mental, as substân-
ção bidirecional e de mútua influência, e cias de abuso, o consumo nocivo de álcool,
as implicações dos avanços tecnológicos e as lesões e a violência.
de alterações ambientais na saúde global A OMS tem programas de apoio para as
(Figura 1). 13 metas do SDG3 embora uns mais estru-
Alguns autores argumentam que na turados e financeiramente mais apoiados
Agenda 2030 a saúde tem menos desta- que outros.
que do que se justificaria mas a Diretora da É bom exemplo o Plano de Ação Glo-
OMS, Margaret Chan, discordou por diver- bal para o Controlo das DNT 2013‑202012,
sos motivos: «os desafios da saúde não reforçado recentemente com o documento
podem ser abordados apenas pelo setor da apresentado em Montevideu para prosse-
saúde (por exemplo, o papel da agricultura guir uma política de coerência para atingir
na diminuição da resistência aos antibió- o SDG3.4 e mais especificamente nas DNT
ticos, ou o acesso à energia moderna para (SDG3.4.1).
reduzir a doença pulmonar crónica); o pro- No documento é reconhecido que a mor-
gresso na saúde reflete o sucesso de múlti- talidade prematura (<70 anos), principal-

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mente por quatro tipos de DNT ‑ doenças ● Revitalizar a ação política;


cardiovasculares, cancros, doenças respi-
● Capacitar os sistemas de saúde para
ratórias crónicas e diabetes, constitui um
responder de forma mais eficaz às
dos maiores desafios para o desenvolvi-
DNT;
mento no Séc. XXI devido a determinantes
económicos, ambientais e sociais. ● Aumentar significativamente o finan-
Em termos de estratégia estão identifica- ciamento das respostas nacionais às
das algumas necessidades13: DNT e a cooperação internacional;

HEALTH IN THE SDG ERA

WWW.INTO.INTO/SDGS

Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) e sua relação com a Saúde e Bem-Estar OMS 2015
www.who.int.sgds

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● Aumentar os esforços para envolver Agenda de 2030 da ONU, a Declaração dos
setores para além dos mais específi- Economistas (267 de 44 países) convocada
cos da saúde; pela Fundação Rockefeller proclama que a
● Reforçar o papel de atores não‑gover- UHC impulsiona o crescimento económico
namentais; e, como tal, é um pilar essencial do desen-
volvimento, de tal modo que a «UHC não
● Procurar medidas para resolver o
é apenas a coisa certa a fazer, é também a
impacto negativo de produtos e fato-
coisa economicamente inteligente a fazer».
res ambientais prejudiciais para a
Estimam que os benefícios económicos de
saúde e reforçar o contributo e a res-
investir em cuidados básicos de saúde serão
ponsabilização do setor privado e de
dez vezes maiores do que os custos e exor-
outros atores não‑governamentais;
tam os decisores políticos globais a agir
● Continuar a confiar à OMS a liderança sobre esta evidência, a investir os recursos
e o papel‑chave na resposta global às necessários para tornar a saúde para todos
DNT, atuando em unidade. uma realidade14.
No entanto, a cobertura universal de
O direito à saúde constitui um dos direi- saúde coloca diversos desafios ao nível da
tos fundamentais de todo o ser humano governança (ações e meios para organizar
independente de diversas distinções e con- a promoção e proteção da saúde), finan-
dições económicas (OMS 1948, Alma‑Ata ciamento (orçamento da saúde), recursos
1978). Os percursos para realizar este prin- humanos (profissionais: disponibilidade,
cípio bem definido, quer no acesso quer na acessibilidade, aceitabilidade e qualidade
utilização, têm sido melhorados, mas per- dos cuidados prestados), produtos médicos
sistem iniquidades e muito trabalho para (medicamentos, sangue, vacinas e disposi-
ser feito. tivos), informação em saúde (sistemas de
A referência à Cobertura Universal da informação: disponibilidade, qualidade e
Saúde (UHC) surge em 2005 (58.ª Assem- uso de dados), serviços de saúde (disponibi-
bleia Geral da OMS) e significa que «todas lidade, qualidade e segurança) e investiga-
as pessoas devem ter acesso aos serviços ção (evidência da pesquisa para promover
de saúde que precisam e a um preço que a equidade e aumentar a qualidade dos cui-
elas podem pagar». Por isso, os serviços dados de saúde: tecnologia, sistemas e ser-
de saúde e a proteção financeira são dois viços de saúde)8.
ingredientes essenciais da UHC.
O investimento na saúde, para além de Saúde global
ser necessário para defender a saúde que – desafio para um mundo melhor
é um direito, não um privilégio, é conve- O termo «saúde global» surgiu em para-
niente porque tem uma relação direta com lelo com «globalização» e, apesar da falta
o desenvolvimento económico. de consenso em relação ao que significa
Este tipo de evidências justifica que nos «saúde global» entre autores, académicos,
princípios da Plataforma Global Coalition países ricos e países pobres, visa a melho-
For Universal Health Coverage conste que ria da saúde das populações e a equidade
a saúde promove a coesão da comunidade em saúde a nível mundial. A evolução no
e a produtividade económica. No mesmo sentido da convergência em Saúde Glo-
sentido, como contributo para a reflexão bal, baseada na prioridade em melhorar
e as deliberações dos líderes globais sobre a saúde, como uma síntese de prevenção
o investimento financeiro para maximi- ao nível da população e de cuidados clí-
zar o progresso até 2030, de acordo com a nicos a nível individual, e da equidade

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para todos os povos do mundo e em ações em ascensão, temos de intensificar os esfor-


(soluções de saúde) e investigação de cola- ços para assegurar que todas as pessoas,
boração interdisciplinar e transnacional sem discriminação, são capazes de aceder
tem sido positiva por aumento dos esfor- a oportunidades para melhorar suas vidas
ços internacionais. Todavia, não pode e as dos outros. Devemos construir socie-
haver «grande convergência» sem abor- dades inclusivas, promover o trabalho
dar as DNT15 . decente, reforçar graus de proteção social e
A saúde é universalmente reconhe- trazer as pessoas das margens. Em todos os
cida como crítica para o desenvolvimento nossos esforços, as parcerias são essenciais.
económico, político e social de todos os O desenvolvimento sustentável só é possí-
países. No entanto, as iniquidades em vel com o envolvimento ativo de governos,
saúde dentro16 e entre países são enor- parlamentos, empregadores, trabalhado-
mes. O estado atual é ainda de transição res, sociedade civil, setor privado e outros
para uma população global mais saudá- agentes de mudança»18.
vel. Estudos da carga global de doença, A OMS, fundada há 69 anos e subordi-
com base em indicadores robustos como a nada às Nações Unidas, tem como objetivo
esperança de vida à nascença, a mortali- desenvolver ao máximo possível o nível
dade prematura (<70 anos) ou os anos de de saúde de todos os povos. Este objetivo
vida perdidos em relação à longevidade ambicioso tal como o conceito de saúde
potencial (ILL) demonstram claramente e as metas do desenvolvimento sustentá-
a sua relação com o perfil sociodemográ- vel, em particular a cobertura universal
fico17. «A agenda de 2030 da ONU não é da saúde na visão da saúde global, prova-
um roteiro final para o desenvolvimento. velmente são bons demais para poderem
Em vez disso, é um conjunto de proposi- ser todos conseguidos, praticáveis. Porém,
ções que devem ser testadas em campo. num mundo com alguns traços de neohe-
Algumas ideias sobre como melhorar a donismo, em que as mudanças em todos
saúde, modificando os determinantes os setores ‑ «Saúde em Todas as Políti-
sociais, económicos e ambientais, terão cas» ‑ não são fáceis, a esperança da uto-
sucesso, outros falharão»9. pia «Saúde para Todos» não pode desa-
Os desafios de uma saúde para todos, parecer e correr o risco de ser substituída
efetivamente, são enormes, numa evolução por algo de muito mau para ser aplicável,
que se quer baseada no respeito por valores a distopia. Os pobres são parte de nós e
fundamentais como a equidade, ética, jus- todos nós somos parte da sociedade, con-
tiça e direitos humanos que não se podem forme defende Sir Michael Marmot, guru
dissociar entre si nem da saúde nem da dig- da equidade em saúde e dos determinantes
nidade e valor da pessoa humana. «A jus- sociais e económicos, as causas das cau-
tiça social deve estar no centro dos nossos sas, de como nós vivemos e de quando nós
esforços. Com a exclusão e a desigualdade morremos19‑20.

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