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PLANEJAMENTO DE UNIDADES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA:

ESTUDO DE QUATRO ESTABELECIMENTOS DA GRANDE


FLORIANÓPOLIS

BINS ELY, Vera Helena Moro (1);


CAVALCANTI, Patrícia Biasi (2);
CORDEIRO, Karine (3);
CRUZ, Ana Luiza (4)
KLEIN, Marina (5);
(1) Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora
e-mail: vera.binsely@gmail.com
U

(2) Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora


e-mail: patibiasi@yahoo.com
U

(3) Universidade Federal de Santa Catarina, Graduanda


e-mail: kacordeiro@gmail.com
U

(4) Universidade Federal de Santa Catarina, Graduanda


e-mail: analuizacruz93@hotmail.com
U

(5) Universidade Federal de Santa Catarina, Graduanda


e-mail: marinafklein@gmail.com
U

RESUMO

As Unidades de Urgência e Emergência possuem um importante papel no sistema de saúde, e seu


planejamento caracteriza-se pela complexidade relativa às atividades, indivíduos e ambientes envolvidos.
O presente estudo pretendeu contribuir para o entendimento do tema, baseando-se em revisão crítica de
literatura e em resultados obtidos em visitas exploratórias feitas a quatro destas unidades da grande
Florianópolis. Nestas visitas foram realizadas: entrevistas, observações diretas e registros fotográficos. O
trabalho é de natureza exploratória e qualitativa, e buscou apontar aspectos relevantes do ambiente a
serem considerados em projetos futuros, e que se referem aos seus usuários e às atividades
desenvolvidas.

ABSTRACT

The Urgent Care and Emergency Units have an important role in the healthcare system, and their
planning needs to take into account the complexity related to the activities, individuals and environment
involved. The present study intended to contribute with the subject comprehension, based on a literature
critical review and on the results taken from exploratory visits made to four of these units in great
Florianópolis. In such visits, the following procedures took place: interviews, direct observations, and
photographic registers. The study has exploratory and qualitative nature and it has aimed to highlight the
environment relevant aspects that refer to users and the developed activities, and that should be
considered in future projects.
As Unidades de Urgência e Emergência possuem um papel muito importante na rede assistencial de
saúde, realizam atendimento em situações de alto risco, e acolhem a pacientes, acompanhantes e
profissionais de saúde que frequentemente se encontram com elevados níveis de estresse (ROSSI et al,
2004). O planejamento destas Unidades é um desafio para projetistas, que além de terem de atender a
inúmeras questões técnicas e funcionais, precisam criar ambientes que contribuam para tornar essa
experiência no local menos estressante e mais satisfatória.
Buscando contribuir para o entendimento do tema, neste trabalho tem-se como objetivo introduzir alguns
aspectos significativos para o planejamento de futuras unidades, os quais se baseiam em revisão crítica
de literatura, e nos resultados de visitas exploratórias feitas a dois estabelecimentos de saúde públicos e
dois privados da grande Florianópolis. Nestas visitas foram feitas observações diretas por parte dos
pesquisadores, registros fotográficos e entrevistas com um profissional responsável pelo local. O
formulário utilizado nas entrevistas era composto de 20 perguntas, em sua maioria com respostas
abertas, objetivando o aprofundamento do entrevistado em relação ao tema. Os métodos aplicados
focavam na compreensão das principais atividades realizadas, do perfil psicológico e fisiológico dos
distintos grupos usuários e de como se configuram estas unidades.
O presente artigo é de natureza exploratória e qualitativa, e nele são sintetizados alguns dos principais
aspectos positivos e negativos verificados na relação entre os usuários, as atividades e o ambiente.
Visando preservar o anonimato dos participantes e evitar a identificação dos estabelecimentos
estudados, os mesmos serão referidos ao longo deste artigo como Unidades 1, 2, 3 e 4.
A Unidade 1 é um estabelecimento público, recentemente construído para a finalidade de atendimento
de Urgência e Emergência. O fato de tratar-se de uma edificação nova e planejada para este fim pode ter
contribuído para que ela fosse de modo geral avaliada positivamente pela funcionária entrevistada.
Contudo, apesar dos ambientes serem razoavelmente espaçosos, a entrevistada destacou como
principal problema a falta de consultórios e leitos de observação para a demanda atual de uso. Essa
situação se deve ao fato de que a Unidade atende também a localidades vizinhas, o que não foi previsto
durante seu planejamento. Assim, quando a procura é maior, é preciso adaptar ambientes, por exemplo,
utilizando-se a sala de assistência social como consultório médico. Ter uma demanda de atendimento
superior ao planejado é um problema comum a inúmeras outras Unidades de Urgência e Emergência
públicas do país. Além disso, limitações da rede pública de saúde fazem com que muitos pacientes que
não são de urgência ou emergência procurem equivocadamente estas unidades em busca de um
atendimento mais rápido, o que contribui para sua frequente superlotação (FERRER; TOLEDO, 2004).
A Unidade 2 é de caráter privado e também foi recentemente inaugurada. Cabe observar, no entanto,
que o local foi adaptado para abrigar a Unidade de Urgência e Emergência, pois a edificação já estava
previamente construída. Dentre os pontos positivos, destacados pelo entrevistado e confirmados por
meio da observação, encontram-se: o jardim de inverno, localizado junto à circulação principal, que
contribui para a iluminação natural e cria um visual agradável para os usuários; a presença de cadeiras
para acomodação dos acompanhantes na sala de observação; e também o cuidado com o planejamento
e a ambientação de interiores. Outro destaque foi a presença de uma sala de espera interna, junto aos
consultórios de Emergência, para os pacientes que já passaram pela triagem e aguardam pelo
atendimento, o que também é sugerido por Malkin (1992). As visitas exploratórias realizadas
evidenciaram que é comum haver tensão nas salas de espera gerais, especialmente quando há
superlotação e os pacientes que não caracterizam urgência ou emergência acabam aguardando por
horas pelo atendimento. A criação desta sala de espera interna facilita a organização do atendimento e
dá aos pacientes a percepção de que os mesmos estão sendo encaminhados, acomodando
separadamente aqueles de maior gravidade e que serão mais rapidamente atendidos. Como pontos
negativos verificados na Unidade 2 destaca-se a divisão do pronto atendimento em dois pavimentos, o
que dificulta o fluxo do corpo médico e de pacientes. Essa divisão foi condicionada pela configuração
espacial do prédio pré-existente. Pelo mesmo motivo, observou-se ainda o pé-direito baixo do pavimento
de entrada da Unidade, o que restringiu a circulação de ambulâncias e fez com que a sala de reanimação
fosse localizada na parte frontal, enquanto que o acesso principal de pedestres ficou nos fundos.
A Unidade 3 também se situa em uma instituição privada, recentemente inaugurada e planejada para o
fim ao qual se destina. De modo geral, o local foi avaliado positivamente pela funcionária entrevistada,
que destacou como aspectos positivos o dimensionamento suficiente dos ambientes para as atividades
desenvolvidas e a correta organização dos fluxos na Unidade. Como ponto negativo, a entrevistada
destacou a localização da sala de utilidades, na qual se faz o expurgo de secreções dos pacientes, visto
que a mesma se encontra junto ao corredor principal da Unidade, expondo a todos os odores advindos
do local. Outro ponto negativo mencionado foi a localização do aparelho televisor na sala de observação,
a qual não permite que todos os pacientes possam assistir, causando o desconforto de muitos que
acabam se posicionando incorretamente para ter acesso a essa forma de distração.
A Unidade 4 se situa em um estabelecimento de saúde público, construído na década de 70. Na
percepção da funcionária entrevistada, o dimensionamento dos ambientes, em geral, estaria adequado,
porém, a sua configuração espacial não favorece os fluxos e as atividades realizadas. No entanto, a
observação dos pesquisadores constatou que, mesmo o dimensionamento dos ambientes é pequeno
para a demanda de uso. Devido a problemas frequentes, como a falta de leitos de internação em
hospitais públicos (FERRER; TOLEDO, 2004), é comum que pacientes fiquem internados dentro da
Unidade de Emergência em leitos improvisados na sala de observação e ao longo de seus corredores,
ocasionando a superlotação. A entrevistada destacou ainda que os banheiros para público são em
quantidade insuficiente e que não incorporam os princípios de Desenho Universal. Faltam depósitos para
insumos, razão pela qual também há caixas e equipamentos dispostos em locais inapropriados. A
observação evidenciou ainda que o posicionamento do quarto de isolamento e da sala de reanimação, na
Unidade, dificulta a observação dos pacientes desses ambientes pela equipe de enfermagem. Além
disso, a localização do posto de enfermagem na extremidade da sala de observação, também não
favorece o controle visual dos leitos desse ambiente pelos profissionais de saúde. Pode-se ainda
observar problemas de manutenção de acabamentos internos, e também uma menor atenção dada à sua
ambiência, os quais não foram mencionados pela entrevistada, possivelmente devido ao fato de que há
no local questões de maior gravidade a serem resolvidas.
Os entrevistados dos quatro estabelecimentos visitados destacaram ainda ser desejável no planejamento
de futuras unidades considerar os fluxos de atividades, pessoas e macas, favorecendo a atuação dos
profissionais de saúde. Outras sugestões incluíram: dimensionar a sala de reanimação de forma a
acomodar uma equipe grande de médicos e enfermeiras, vários equipamentos e mais de um paciente em
atendimento; planejar o layout da sala de observação espaçando as poltronas ou leitos de forma a
assegurar a privacidade dos pacientes; dispor de uma farmácia satélite na unidade quando a mesma fizer
parte de um hospital e a farmácia central localizar-se a uma distância considerável; projetar ambientes
em geral mais amplos, prevendo o crescimento da demanda de atendimento ou planejar tendo como
critério projetual a flexibilidade de uso interno dos ambientes e de ampliação da edificação, como também
sugerem Ferrer e Toledo (2004) e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (1996).
Sabe-se que restrições financeiras limitam a realização de obras de reforma e manutenção, em especial
nas instituições públicas. Contudo, avaliações sistemáticas das unidades em funcionamento podem
contribuir para o planejamento de ambientes mais responsivos, ao proporcionar uma melhor
compreensão da complexidade das atividades desenvolvidas e do perfil de seus usuários.

1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MALKIN, Jain. Hospital Interior Architecture: creating healing environments for special patient
populations. New York: John Wiley & Sons, 1991.
TOLEDO, Luis; FERRER, Mario. Urgência e Emergência: Primeiros Cuidados Projetuais. In: CARVALHO,
Antonio Pedro Alves de. (org). Arquitetura de Unidades Hospitalares. Salvador: UFBA/FAU/ISC, 2004.
ROSSI, Luciane de, et al. Psicologia e emergências médicas: uma aproximação possível. Psicologia
Hospitalar, São Paulo, vol. 2, n.2, p. 0, dez. 2004. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1677-74092004000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 setembro 2012.
INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. Manual para elaboração de projetos de
edifícios de saúde na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBAM, 1996. 120 p.

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