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Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Educação – FE
Programa de pós-graduação – Doutorado em Educação
Disciplina: Epistemologia e pesquisa em ciências humanas e sociais – 392707-A
Professor: Bernardo Kipnis, PhD.
Aluna: Juliana Fonseca Duarte – 14/0072381

Considerações sobre:
BACON, Francis. Novum Organum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade.
Digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis. Versão para eBook. Fonte
digital: O dialético, 2002.

Em Novum Organum, Bacon (1561-1626) expõe a problemática da ausência de


método na pesquisa científica ao assumir e até mesmo a negar o parco desenvolvimento
histórico da ciência. Contudo, considerando sua carreira política e, consequentemente,
ser mais afeito ao discurso do que à prática, Bacon trata daquilo que alguém ausente da
relação com as ciências naturais e a criação experimental poderia dar conta. Basta
lembramos Leonardo da Vinci e Galileu e suas reais contribuições.
Com um discurso prolixo e reiteradas vezes nada modesto, suas colocações, de
caráter legislador, trata a ciência como um campo a ser descoberto a partir da abdicação
do homem a toda e qualquer tradição, sentidos, interpretação pessoal ou linguagem que
possam macular a descoberta da verdade, colocada/ externalizada na natureza por Deus.
Contudo, várias vezes deixa de abdicar o que ele mesmo propõe a favor de um discurso
baseado na observação alheia, em relatos de terceiros e na ausência de experimentos
desenvolvidos por ele mesmo, deixando ao longo da descrição do método vários pontos
a serem tratados, explícita ou implicitamente. Daí, facilmente questiona-se sobre sua
autoridade para “criar” um método a ser utilizado por todos os que aceitarem a
empreitada no desvelamento da verdade – afinal, não é Deus o “ordenador” da
natureza?
Além disso, nega o dogma, mas o traz como contraexemplo; nega os silogismos
pela confusão que as palavras apresentam, mas baseia todo o seu método em categorias
a serem rigorosamente seguidas mesmo sem terem sido sequer colocadas à prova – algo
que reiteradas vezes condena em outros autores.
Ademais, de modo a fortalecer seu argumento de abdicação humana, chega a
desconsiderar a matemática, instrumento de cálculo no desenvolvimento das ciências
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naturais, por ter seu desenvolvimento baseado na dedução. Estabelece o registro em


tábuas, mas não considera um eixo que os norteie, uma hipótese da qual partir, tornando
a empreitada a ser explorada de tal tamanho que sua incursão solitária seria
praticamente impossível – ao que ele mesmo considera a importância da
experimentação coletiva.
Positivamente, apesar de suas reflexões serem pouco filosóficas tendo em vista
serem muito mais descritivas, ressalta a importância da busca pela neutralidade,
objetividade e clareza nas observações e experimentos; da instrumentalização de modo
a facilitar a experimentação; da refutação, exceção e erro como partes importantes da
experimentação; do desenvolvimento da ciência baseado em fundamentos sólidos; da
exploração das sutilezas e “monstruosidades” da natureza com o mesmo rigor das outras
formas.
Mormente, alguns pontos parecem convergir com questões ainda em aberto:
Para que serve a ciência: para a descoberta da verdade ou para uma finalidade social? É
possível a neutralidade, a isenção do sujeito e seus dogmas e preconceitos na pesquisa?
E a ética? É necessário método único para desenvolvimento do conhecimento? E na
educação, como funcionaria?

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