O documento discute a teologia e a nova evangelização em Portugal. Apresenta o trabalho teológico de João Manuel Duque, um jovem teólogo português que publicou vários livros influentes sobre teologia fundamental e a identidade cristã no contexto pós-moderno. O autor argumenta que o trabalho rigoroso de Duque fornece uma contribuição importante para a reflexão teológica em Portugal.
Descrição original:
artigo Bento Domingues
Título original
Teologia Em Portugal e Nova Evangelização (Bento Domingues) _ PÚBLICO
O documento discute a teologia e a nova evangelização em Portugal. Apresenta o trabalho teológico de João Manuel Duque, um jovem teólogo português que publicou vários livros influentes sobre teologia fundamental e a identidade cristã no contexto pós-moderno. O autor argumenta que o trabalho rigoroso de Duque fornece uma contribuição importante para a reflexão teológica em Portugal.
O documento discute a teologia e a nova evangelização em Portugal. Apresenta o trabalho teológico de João Manuel Duque, um jovem teólogo português que publicou vários livros influentes sobre teologia fundamental e a identidade cristã no contexto pós-moderno. O autor argumenta que o trabalho rigoroso de Duque fornece uma contribuição importante para a reflexão teológica em Portugal.
domingues, o.p. Teologia em Portugal e nova evangelização 20 de Novembro de 2005, 0:00
1.Sobre cada povo está suspensa uma
escala de valores. Esta é a opinião de F. Nietzsche. Não precisamos de Pascal para saber que o "coração tem razões que a razão desconhece". Jorge Dias, reputado antropólogo da nossa identidade, sustenta que, para o português, o coração é a medida de todas as coisas.Durante o século XX, o catolicismo português não se preocupou com a reflexão teológica, mas nunca lhe faltou devoção, sobretudo devoção cordial, mariana, feminina, que se concentrou em Fátima, no Imaculado Coração de Maria. O Congresso da Nova Evangelização foi movido por duas mulheres: uma francesa em diminutivo - a Teresinha do Menino Jesus - e Nossa Senhora de Fátima, que não pode ser mais portuguesa nem mais universal, nada menos que "Altar do Mundo". E se, como disse D. José Policarpo nos Jerónimos, "uma das ameaças que pesa sobre a Igreja dos nossos dias é o risco de perder a mulher", enquanto houver portuguesas, é de esperar que também haja mulheres "santas e capazes de abraçar o mundo num acto de amor". Se o catolicismo português não se preocupou com a reflexão teológica, não admira que a nossa religiosidade, marcada pelo fenómeno de Fátima, dispensasse a teologia. A Fátima basta-lhe, como se viu no Congresso, continuar a ser o recurso permanente para as crises da nossa especial arte de ser católicos. 2. Não se vá dizer, porém, que os portugueses não são dotados para a elaboração teológica. Tivemos momentos na nossa história que provam o contrário e de forma eloquente. Mas não é um produto espontâneo. É preciso fazer por ela. Notam-se já alguns sinais de que estamos a sair da paisagem dos soluços intermitentes. Hoje, quero destacar um caso sério de intensa prática teológica. Estou a referir- me à obra de um jovem teólogo, João Manuel Duque (1), nascido em Monção em 1964 e professor, desde 1996, da Faculdade de Teologia da UCP, docente convidado na Faculdade de Ciências Sociais (Braga), na Escola das Artes da UCP (Porto) e no Instituto Teológico Compostelano. Concluiu, em Braga, a licenciatura na Faculdade de Teologia (UCP), em 1987. Entre 1990 e 1996, frequentou a pós- graduação em Teologia, na faculdade jesuíta de Sankt Georgen, em Frankfurt (Alemanha). Concluiu o doutoramento em Teologia Fundamental com uma tese sobre a filosofia da arte de Hans-Georg Gadamer, publicada na Alemanha, em 1997. Não repousou sobre essa tese nem se contentou em ser um professor muito apreciado. Em três anos, publicou quatro obras que cumprem o que anunciam. No âmbito da Teologia Fundamental, Homo Credens representa um contributo essencial para a teologia da fé, passando em revista oito modelos da sua fundamentação: antropológico-transcendental, estético- fenomenológico, hermenêutico, sistémico, práxico-comunicativo, experiencial, crítico e doxológico. O estilo não podia deixar de ser escolar. Inscreve-se numa colecção de Teologia académica. Para mim, Dizer Deus na Pós-modernidade é a obra mais estimulante. É um pensamento que se constrói em confronto com autores fundamentais da revisão da Modernidade e da Pós-modernidade. Estar ou não estar de acordo com as conclusões de João M. Duque não importa. Decisivo é o rigor, o cuidado com o próprio percurso, no qual manifesta uma notável capacidade analítica e argumentativa. A Cultura Contemporânea e Cristianismo é o resultado da reunião de artigos dispersos. Mas esta reunião produz um efeito novo: as várias fases da cultura contemporânea provocam o cristianismo e este mostra que pode dar que pensar outra coisa à cultura contemporânea. O seu último livro, O Excesso do Dom é a investigação da identidade do cristianismo, tentando apreender a sua lógica interna a partir da fonte, de Deus que se dá porque é o excesso do dom. Este livro pode ser considerado a coroa dos anteriores. Tem um contexto. Para o autor, é indiscutível que o cristianismo, nas suas mais diversas manifestações e derivações, constitui o factor mais determinante da identidade europeia, mesmo que a actualidade cultural não pareça revelá-lo de forma tão explícita como outras épocas. De facto, por mais "secularizada" que pretenda afirmar- se a Europa dos nossos dias - num discurso apenas "politicamente correcto", mas com pouco fundamento histórico e talvez real -, continua a ser inegável que os mais profundos valores que permanecem, após ou mesmo ainda durante a passagem da Modernidade e da Pós-modernidade, são valores essencialmente de origem cristã, sobretudo no que à concepção da pessoa humana, sua archê e seu telos diz respeito. É dentro desta convicção - e continuando a servir-me das palavras de João M. Duque - que O Excesso do Dom constitui uma proposta de leitura da identidade cristã em alguns dos seus elementos fundamentais, com base numa doação primordial, trabalhada, ao longo do volume, por referência ao próprio conceito cristão de Deus e respectivas consequências pragmáticas e existenciais, de âmbito pessoal e social. O Deus-dom torna-se, em Jesus Cristo, Deus-carne, revelando-se e agindo no Espírito como Deus-trino e sendo acolhido e celebrado como Deus- pão, sobretudo na festa eucarística. Este trajecto termina com a abordagem do Deus-outro, que convoca o cristão a viver segundo o modelo da relação de diferentes. O cristianismo é, assim, repensado no contexto dos desafios que lhe são lançados por outras mundividências, religiões ou fenómenos para-religiosos, assim como pelo desenrolar dos movimentos sociais, em manifestações mais pacíficas ou mais violentas. Não cabe neste espaço procurar possíveis correspondências entre esta teologia e as devoções do Congresso da Nova Evangelização. Este também se exercitou noutras expressões.
(1) João Manuel Duque, Homo Credens.
Para Uma Teologia da Fé, Lisboa, UCP, 2002; Dizer Deus na Pós-modernidade, Lisboa, Alcalá, 2003; Cultura Contemporânea e Cristianismo, Lisboa, UCP, 2004; O Excesso do Dom. Sobre a identidade do cristianismo, Lisboa, Alcalá, 2004.