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APLICAÇÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AOS JUIZADOS


ESPECIAIS CÍVEIS

Bruno Arcoverde Cavalcante1

Prof.ª Me. Sonia de Oliveira2

RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade investigar a possibilidade ou não da


aplicação do novo código de processo civil, promulgado no ano de 2015, ao
microssistema dos Juizados Especiais cíveis, considerando a independência deste
sistema, regido por procedimento próprio. Inicialmente, apresenta-se uma breve
exposição histórica do microssistema dos Juizados Especiais, desde a criação dos
Juizados de Pequenas Causas, passando pelas leis 9.099/95, 10.259/01 e
12.153/09, que estabeleceram os Juizados Especiais no âmbito estadual, os
Juizados Especiais Federais e os Juizados Especiais da Fazenda Pública,
respectivamente, e finalizando com uma breve exposição da problemática da
aplicação da nova legislação processual civil a este microssistema. Posteriormente,
após ampla revisão bibliográfica, realiza-se uma breve diferenciação entre as
normas do novo código de processo civil que teriam aplicação aos juizados
especiais que tem aplicação expressa e as que tem aplicação supletiva e
subsidiária, sendo feito em seguida um estudo mais detalhado sobre duas hipóteses
de normas de aplicação expressa e outras duas de aplicação subsidiária. Por fim,
verificou-se a necessidade de um amadurecimento dos entendimentos acerca da
aplicação das mencionadas normas, uma vez que se trata de uma modificação
normativa recente.

Palavras chave: Juizados Especiais Cíveis. Código de Processo Civil. Aplicação.

1 INTRODUÇÃO

Historicamente, a preocupação do legislador brasileiro em disciplinar de forma


diversa a ritualística processual conferida às causas de menor valor econômico data
antes mesmo da Constituição Federal de 1988. A Lei nº 7.244, de 07 de novembro
de 1984, popularmente conhecida como a Lei dos Juizados de Pequenas Causas,
1
Bacharel em Direito pela Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC, Advogado atuante na
área cível, estudante de Pós-graduação latu sensu em Direito Processual Civil pelo Centro
Universitário UNINTER.
2
Mestre em Direito na PUC/PR. Especialista em Direito Criminal pela Unicuritiba. Especialista em
Direito do Trabalho pelo Centro Universitário UNINTER. Graduada em Direito pela PUC -PR.
Advogada atuante nas áreas trabalhista e cível. Professora Orientadora de TCC no Centro
Universitário UNINTER.
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foi a primeira medida para a criação de um modelo processualístico diferenciado,


visando a solução rápida de conflitos ordinários, de menor valor econômico, que
afligem o cidadão comum, a um custo menor ou até mesmo inexistente.
Posteriormente, em 1988, a nova Constituição Federal determinou à União,
Estados e ao Distrito Federal, por meio de seu art. 98, inciso I, a criação de Juizados
Especiais cíveis, visando a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis
de menor complexidade.
Assim, em atendimento ao comando constitucional, em 26 de setembro de
1995, foi aprovada a Lei nº 9.099, que revogou a antiga Lei dos Juizados de
Pequenas Causas e disciplinou a organização e o funcionamento dos Juizados
Especiais Cíveis no âmbito da Justiça Estadual.
Após a instituição dos Juizados Especiais estaduais, foram criados ainda os
Juizados Especiais Cíveis no âmbito da Justiça Federal e os Juizados Especiais da
Fazenda Pública no âmbito estadual, por meio das Leis nº 10.259, de 12 de julho de
2001 e nº 12.153 de 22 de dezembro de 2009, criando assim o chamado
microssistema dos Juizados Especiais.
No entanto, dentre os mencionados diplomas legais, apenas a Lei 12.153/09
apresenta, de forma expressa e inequívoca, comando para a aplicação subsidiária
do Código de Processo Civil no âmbito dos Juizados Especiais da Fazenda Pública.
Destarte, com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, a
aplicação do mencionado diploma processual aos processos regidos pela Lei
9.099/1995, tanto de forma direta quanto de forma supletiva, passou a contar com a
expressa disposição legal.
Assim, tendo em vista não somente a possibilidade, mas também a
imperiosidade da aplicação subsidiária da novel legislação processual civil às
lacunas existentes na norma reguladora dos Juizados Especiais Cíveis, bem como
das aplicações diretas e expressas, necessário se faz um estudo mais aprofundado
das hipóteses em que tais aplicações se farão necessárias.
Ante o exposto, o presente trabalho tem como objetivo realizar um breve
estudo sobre algumas das hipóteses em que as disposições Novo Código de
Processo Civil serão aplicadas no âmbito dos Juizados Especiais, por meio de
ampla revisão bibliográfica.
Deste modo, visando uma melhor abordagem ao assunto estudado, realizar-
se-á uma divisão entre as hipóteses de aplicação expressa das disposições do Novo
3

CPC e as hipóteses de aplicação supletiva e subsidiária da novel legislação


processual civil.
Portanto, o presente artigo investigará a possibilidade ou não da aplicação do
novo CPC ao procedimento dos juizados especiais, tendo em vista a independência
deste, considerando o procedimento próprio definido pela Lei 9.099/95.

2 APLICAÇÕES DO NOVO CPC AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

No presente capítulo será realizada uma abordagem das aplicações do novo


Código de Processo Civil ao sistema dos Juizados Especiais Cíveis, tendo em vista
as alterações trazidas pela nova legislação, uma vez que as possíveis aplicações
são objeto de grande controvérsia.
Conforme mencionado anteriormente, excetuando-se determinações pontuais
de expressa aplicabilidade do novo CPC ao sistema dos juizados especiais, a regra
geral é de que a aplicação do novo código se dará de forma supletiva e subsidiária,
conforme disposto no já mencionado art. 1.046, §2º (BRASIL, 2015).
Contudo, diante da ausência de disposição expressa nas leis 9.099/95
(BRASIL, 1995) e 12.259/01 (BRASIL, 2001), determinando a aplicação subsidiária
do diploma processual civil aos Juizados Especiais Cíveis, tanto federais quanto
estaduais, alguns magistrados e doutrinadores têm defendido a autonomia e
independência dos Juizados Especiais, destacando-se o posicionamento da ministra
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Corregedora do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), Nancy Andrighi.
Conforme noticiado pelo site de assuntos jurídicos ConJur, a ministra entende
que “as regras do Código de Processo Civil, tanto do anterior como do que entrou
em vigor no último dia 18 de março, não se coadunam com o sistema dos juizados
especiais”. E, ainda conforme seu entendimento, “isso tem um motivo: dar aos juízes
liberdade para, com base nos princípios da informalidade e simplicidade que regem
essas instâncias, adotarem o procedimento mais adequado à resolução dos
conflitos” (NIEMEYER, 2016).
A referida Ministra, em discurso proferido no Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, em Belo Horizonte, no dia 27 de fevereiro de 2015, afirmou:
A Lei 9.099/95 veio sob o signo da simplicidade, da informalidade, da
oralidade, da celeridade e da economia processual, critérios, que a fazem
diferenciada, distinta e sem nenhuma semelhança com a Justiça
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Tradicional, tanto que, na parte Cível da referida Lei, sequer menciona


eventual aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. (ANDRIGHI,
2015. p. 30)
No entanto, o posicionamento adotado pela excelentíssima ministra não é
unânime. O fato de que o artigo 2º da Lei 9.099/1995 estabelece determinados
princípios a serem observados no processamento de causas perante os Juizados
Especiais Cíveis, privilegiando os já mencionados "critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade"(BRASIL, 1995), não
significa que certos regramentos responsáveis pela certeza do direito e pela
segurança jurídica devam ser prescindidos e inobservados.
Como bem menciona Niemeyer:

Malgrado nem a Lei 9.099/1995, nem o CPC/1973 contenham qualquer


norma expressa no sentido de determinar a aplicação supletiva deste em
relação àquela, a supletividade é uma consequência do próprio sistema
jurídico em vigor com baldrame legal nas disposições da LINDB, bem como
reflexo do desenvolvimento científico do direito em geral e do direito
processual em específico. Exatamente em razão disso o CPC/1973 sempre
se aplicou supletivamente aos processos perante o Juizado Especial Cível
desde o advento da Lei 9.099/1995. (NIEMEYER, 2016)

Da mesma forma, é possível verificar ainda que, quando o legislador do novo


código de processo desejou estender as novas determinações normativas aos
juizados especiais, este o fez de maneira expressa. Tal fato pode ser notado com as
referências explícitas aos juizados nas disposições concernentes aos incidentes de
demandas repetitivas e de desconsideração da personalidade jurídica, arts. 985, I e
1.062 (BRASIL, 2015), respectivamente (BOLLMANN, 2015. p. 38-39).
Contudo, durante o XXXVIII Encontro do Fórum Nacional de Juizados
Especiais - o FONAJE, que foi realizado na cidade de Belo Horizonte, ficou
consolidado o entendimento de autonomia dos Juizados Especiais quando da
aplicação do novo Código de Processo Civil (FONAJE, 2015).
Dentre os enunciados aprovados no encontro, o enunciado nº 161 dispõe, de
maneira restritiva, que:

ENUNCIADO 161 - Considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015


somente terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de
expressa e específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os
critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95 (XXXVIII Encontro – Belo
Horizonte - MG) (FONAJE, 2015).

Assim, pela leitura do mencionado enunciado, é possível verificar que,


durante o encontro, foi definido o entendimento de que há uma incompatibilidade
normativa entre o novo CPC e a sistemática já estabelecida dos Juizados Especiais,
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sendo possível a aplicação apenas dos dispositivos que atendem os critérios


previstos no art. 2º da Lei 9.099/95 (BRASIL, 1995).
Neste aspecto, em certa contrariedade ao entendimento firmado pelo
FONAJE, interessante mencionar o afirmado por Monteiro:

Todavia, existiam vários institutos processuais do Código Buzaidiano que


eram aplicados nos juizados, a exemplo da concessão de tutelas
antecipadas, que não há previsão nos juizados, e mesmo assim
corriqueiramente eram de há muito utilizados nesse universo processual, e
certamente continuaram a ser aproveitadas com as regras do novo CPC,
referente às tutelas provisórias (CPC/2015, art. 294, e seguintes).
(MONTEIRO, 2016)

Desse modo, apesar do enunciado acima mencionado demonstrar uma


desejada autonomia do microssistema dos juizados especiais, o entendimento
doutrinário, conforme será demonstrado no presente trabalho, tem sido no sentido
de que, sempre que possível for, mister se faz a existência de um diálogo
instrumental entre tal microssistema e o novo CPC, através de normas que
repercutam naquele de forma subsidiária, e que estejam em conformidade com a
sistemática dos Juizados.
De tal forma, ante as considerações acima realizadas, no estudo das
aplicações do recente Código de Processo Civil ao microssistema dos Juizados
Especiais, é possível então estabelecer uma divisão bem nítida entre as normas de
aplicação expressa e as normas de aplicação subsidiária.

2.1 Normas do NCPC com aplicação expressa nos Juizados Especiais

Dentre as normas de aplicação expressa do NCPC aos processos que


tramitam nos Juizados Especiais, é possível verificar algumas poucas situações,
dentre as quais cabe destacar: o artigo 1.062, segundo o qual “o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência
dos juizados especiais” (BRASIL, 2015); os arts. 1.064 a 1.066, que alteram a
dinâmica dos embargos de declaração (BRASIL, 2015), alterando expressamente os
arts. 48, 50 e 83 da Lei nº 9.099/1995 (BRASIL, 1995).
Importante salientar ainda que, mesmo com a determinação legislativa para a
expressa aplicação dos já citados artigos, ainda houve espaço para o
estabelecimento de algumas controvérsias. Destarte, de modo a melhor delimitar o
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escopo de pesquisa do presente trabalho, serão objeto de estudo apenas os


regramentos acima elencados, os quais serão abordados a seguir.
2.1.1 Incidente de desconsideração de personalidade jurídica

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é procedimento


próprio, trazido ao ordenamento jurídico pátrio pelo novo Código de Processo Civil,
estando disciplinado nos arts. 133 a 137 do mencionado diploma legal, conforme
bem salientado por Ribeiro (RIBEIRO, 2015. p. 133).
Por meio do disposto no já mencionado art. 1.062 do CPC, referido incidente
também pode ser aplicado nos JECs, fato que gera razoável polêmica. Tal
controvérsia reside no fato de que, no CPC, mencionado incidente tem natureza
jurídica de intervenção de terceiros, o que, por sua vez, não é permitido nos
juizados, por força do art. 10 da Lei 9.099/95 (BRASIL, 1995).
Ademais, verifica-se ainda que o referido incidente encontra outra barreira,
uma vez que, no sistema dos juizados especiais, não se admite, com apenas uma
exceção, a suspensão do processo, fato que ocorre no incidente de
desconsideração de personalidade jurídica previsto no CPC.
Entretanto, apesar de ainda não existir entendimento doutrinário firme e
consolidado, a solução preconizada por Ribeiro para evitar o conflito entre as
diferentes disposições legais merece destaque:

Numa primeira reflexão, para que não haja colisão, o cabimento da


desconsideração da personalidade jurídica nos juizados especiais cíveis, na
fase de conhecimento, somente será possível quando requerido na petição
inicial, tal como preconizado no art. 124, §2º no CPC de 2015, já que
dispensa a instauração de incidente e, nesse caso, não se trata de
intervenção de terceiro, mas sim, num litisconsórcio facultativo. (RIBEIRO,
2015. p. 136)

Ademais, Ribeiro destaca ainda que um “pedido incidental de


desconsideração da personalidade jurídica (art. 135, §3º do CPC) só teria cabimento
nos Juizados Especiais, somente nas ações de execução de título executivo
extrajudicial” (RIBEIRO, 2015, p. 136).
Contudo, a controvérsia gerada pela aplicação do mencionado incidente não
se limita ao momento de sua interposição, conforme bem salienta Gajardoni:

Além disso, a previsão trouxe a reboco questão prática de difícil solução: o


CPC/2015 fala em cabimento de agravo de instrumento contra a decisão
que julgar, com ares de coisa julgada, o incidente de desconsideração (art.
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1.015, IV, CPC/2015). Mas, como regra, não é admitido agravo no


procedimento dos Juizados. (GAJARDONI, 2016)

Trata-se de questão deveras controvertida, entretanto, a possibilidade de


interposição de agravo de instrumento nos juizados especiais será abordada mais
adiante no presente trabalho.

2.1.2 Modificações quanto aos embargos de declaração

Outras repercussões expressas do diploma processual civil aos Juizados


Especiais são as modificações concernentes à interposição dos embargos de
declaração, notadamente com relação dos efeitos aplicados quando da oposição
dos embargos de declaração.
Anteriormente, sob a vigência do Código de Processo Civil de 1973, os
embargos de declaração impetrados nos Juizados Especiais recebiam o efeito
suspensivo.
Com a mudança, a interposição dos embargos de declaração passou a
conferir efeito interruptivo, assim como já ocorria no procedimento comum e
ordinário, interrompendo, e não apenas suspendendo, os prazos para interposição
de outros recursos, conforme disposição constante nos arts. 1.065 e 1.066, § 2º da
Lei nº 13.105/2015 (BRASIL, 2015), alterando o art. 50 da Lei dos Juizados
Especiais (BRASIL, 1995).
Os efeitos de tal mudança são bem explanados por Silva:

A mudança da Lei Especial dos Juizados trazida pelo Novel Código de


Processo Civil é, portanto, inquestionável, por ter sido feita expressamente,
e tem aplicação desde sua entrada em vigor a partir de 18 de abril de 2016,
encerrando um problema que muitos advogados inexperientes com os
Juizados Especiais acabavam enfrentando ao fazer a contagem integral do
prazo para Recurso Inominado a partir da publicação da decisão que julgou
os Embargos de Declaração opostos contra a Sentença do Juizado, sem
considerar os dias já transcorridos entre a publicação da Sentença e a
oposição dos Embargos, os quais, tendo em vista que antes eram apenas
suspensos, e não interrompidos, tinham obrigatoriamente que ser
computados no cálculo do prazo fatal para interposição do Recurso
Inominado à Turma Recursal dos Juizados. (SILVA, 2016)

Além da mudança nos efeitos aplicados aos embargos de declaração, o novo


código processual realizou ainda outra alteração na referida modalidade recursal.
Por meio do disposto no art. 1.064, a redação do art. 48 da Lei dos Juizados
Especiais passou a vigorar da seguinte forma: “Art. 48. Caberão embargos de
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declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo


Civil. ” (BRASIL, 2015).
Tal modificação, a princípio, pode não aparentar maiores repercussões, já que
a redação atualizada não difere muito da anterior. No entanto, após detida leitura do
art. 1022 do CPC/2015, é possível verificar uma possível controvérsia:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial


para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão
de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento; III - corrigir erro material. (BRASIL, 2015)

Como é possível perceber pelos trechos acima mencionados, a remissão feita


pela nova redação do art. 48 da Lei 9.099/95 ao art. 1.022 do CPC/2015, pode gerar
dúvidas e debates, uma vez que o comando constante no diploma processual é
abrangente, enquanto a disposição da lei dos juizados restringe as hipóteses de
interposição dos embargos de declaração apenas a sentenças e acórdãos.
No entanto, apesar da aplicação restritiva do disposto no art. 48 da Lei
9.099/95 ser compreensível, ante os diversos princípios atuantes sobre os Juizados
Especiais, “forçoso aceitar que ‘a pretensa informalidade e celeridade dos Juizados
Especiais não imunizam o processo da existência de decisões interlocutórias que
exigem uma integração por meio de embargos de declaração’” (XAVIER, SAVARIS
apud KOZIKOSKI, 2015, p. 618).
Neste sentido, complementa Kozikoski:

Assim, apesar das Leis 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009 não


contemplarem a oponibilidade dos embargos de declaração contra as
decisões interlocutórias, torna-se recomendável a aplicação subsidiária do
art. 1.022 do NCPC em prol do aperfeiçoamento do sistema recursal dos
Juizados Especiais, permitindo a ampla “embargabilidade” no tocante a
qualquer espécie de pronunciamento decisório. Ou seja, é de se permitir o
seu emprego em face das decisões interlocutórias, sentenças e acórdãos.
(KOZIKOSKI, 2015. p. 618)

Dessa forma, apesar da disposição mais restritiva existente na lei dos


Juizados Especiais, a aplicabilidade da norma contida no novo CPC é medida que
se impõe, ante a necessidade de integração entre os sistemas.

2.2 Normas de aplicação subsidiária e supletiva nos Juizados Especiais

Em um diferente prisma, encontram-se as normas de aplicação subsidiária e


supletiva ao microssistema dos Juizados Especiais cíveis. Como já dito
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anteriormente, devido a existência de lacunas na legislação constitutiva dos


Juizados, se faz necessária a aplicação de tais normas de modo a suprir a ausência
de tais regulações.
Assim, exatamente por não possuírem previsão expressa de sua aplicação,
tais normas são as que geram as maiores dúvidas e debates, ante a imperatividade
de se delimitar os limites e a abrangência de sua repercussão.
Por igual razão, as hipóteses de aplicação (ou não) destes regramentos
acabam por ser mais numerosas, necessitando assim de uma maior delimitação da
matéria a ser estudada. Para o presente trabalho, serão abordadas apenas a
contagem de prazo em dias úteis e a necessidade de fundamentação de decisões
judiciais.

2.2.1 Contagem de prazos em dias úteis

Algumas das maiores modificações promovidas pelo novo CPC estão


relacionadas à questão dos prazos processuais. Dentre elas, destaca-se a
disposição do art. 219 (BRASIL, 2015), que altera de forma significativa a contagem
dos prazos, que antes em contados em “dias corridos”, passando a ser
contabilizados em “dias úteis”.
Cabe notar, contudo, que a mencionada modificação não altera nenhum dos
prazos já previstos para os Juizados Especiais, que continuam sendo os constantes
nas leis especiais. E, como já mencionado anteriormente, somente serão utilizados
os prazos propriamente previstos no CPC quando não houver previsão de prazo
específico a ser contabilizado.
Diante do mencionado, é possível chegar à conclusão lógica de que apenas a
contagem dos prazos previstos para os Juizados Especiais é que deverá seguir os
critérios adotados pela nova legislação processual cível, uma vez que a Lei
9.099/1995 não dispõe de qualquer norma regulando a contagem dos prazos
processuais nos Juizados Especiais Cíveis.
Entretanto, apesar da aparente conclusão que se obtém quando da leitura
das disposições relativas à contagem dos prazos processuais, muitos juristas têm
defendido posição diametralmente oposta, sustentando que “a aplicação prevista no
Novo CPC para contagem dos prazos processuais em dias úteis não deve ser
imposta aos Juizados Especiais” (SILVA, 2016).
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Neste mesmo sentido se manifestou o Fórum Nacional dos Juizados


Especiais - FONAJE, ao publicar a Nota Técnica nº 01/2016:

Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se aplica ao rito
dos Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade com o critério
informador da celeridade, convindo ter em mente que a Lei 9.099 conserva
íntegro o seu caráter de lei especial frente ao novo CPC, desimportando,
por óbvio, a superveniência deste em relação àquela. (FONAJE, 2016)

De forma semelhante, a já citada Ministra Nancy Andrighi também entende


que a contagem de prazos em dias úteis, conforme prevista no Código de Processo
de Civil de 2015, não deve ser aplicada aos processos dos Juizados Especiais, em
virtude de uma afirmada incompatibilidade com os princípios orientadores dos
juizados, em especial o da celeridade, da economia processual e da simplicidade,
conforme relata Monteiro (MONTEIRO, 2016).
Em posicionamento contrário, a questão foi pacificada no âmbito dos Juizados
Especiais Federais com o entendimento pela aplicabilidade da contagem de prazo
em dias úteis, com a publicação da Resolução CJF-RES-2016/00393, que alterou o
Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais
Federais (TNU), notadamente, o disposto no art. 6º-A: “Na contagem de prazo em
dias, computar-se-ão somente os dias úteis” (BRASIL, 2016).
Todavia, no âmbito estadual o imbróglio não restou pacificado. Em oposição
ao entendimento adotado pelo Fonaje, a Turma de Uniformização de
Jurisprudências dos Juizados Especiais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal -
TJDF posicionou-se favorável à contabilização dos prazos processuais em dias
úteis, publicando o Enunciado nº 4: “Enunciado nº 4 - Nos Juizados Especiais Cíveis
e de Fazenda Pública, na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo
juiz, computar-se-ão somente os dias úteis, nos termos do art. 219, do Código de
Processo Civil (Lei nº 13.105/15)” (DISTRITO FEDERAL, 2016).
Posicionamento semelhante foi adotado pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB, que se manifestou favorável à aplicação da contagem
de prazo em dias úteis prevista no NCPC aos Juizados Especiais, tendo, inclusive,
requisitado ao FONAJE a revisão dos enunciados que tratam da matéria (OAB,
2016).
Ante o exposto, é possível verificar que a questão é bastante controversa,
sendo imprescindível um posicionamento do Conselho Nacional de Justiça - CNJ
para a solução do impasse.
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2.2.2 Fundamentação das decisões judiciais

Dentre as várias modificações trazidas ao processo civil pelo novo código,


uma das que mais causou discussões, especialmente entre os magistrados, é novo
regramento atinente à fundamentação das decisões judiciais, positivado no art. 489,
§ 1º (BRASIL, 2015), que visa dar concretude à disposição do art. 93, IX da
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
De forma sucinta, o referido art. 498, §1º, elenca um rol de situações que, se
presentes em uma decisão judicial, caracterizam um vício de fundamentação da
decisão. Em outras palavras, uma decisão será considerada como não
fundamentada quando se encaixar em qualquer das hipóteses do mencionado
dispositivo legal.
Ademais, a doutrina tem se posicionado no sentido de que o mencionado rol
de situações é um rol exemplificativo, ou seja, não exaustivo, conforme dispõe o
Enunciado nº 303 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “as hipóteses
descritas nos incisos do §1º do art. 489 são exemplificativas” (Fórum Permanente de
Processualistas Civis, 2015).
No entanto, a aplicação do mencionado regramento às decisões proferidas
nos Juizados Especiais tem encontrado resistência, em especial a hipótese contida
no inciso IV, que considerada como não fundamentada a decisão que “não enfrentar
todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador” (BRASIL, 2015).
Nas palavras de Gajardoni:

É duro golpe contra a celeridade e simplicidade do processo oral e sumário


dos Juizados. O enfrentamento de todas as questões impede a consecução
do ideário de que, nas causas em curso nos Juizados, as decisões são
tomadas informalmente, “na ponta do martelo”, com fundamentação sucinta,
breve. (GAJARDONI, 2016)

Além da alegada violação aos princípios da celeridade e simplicidade dos


processos conduzidos nos Juizados, outro argumento contrário a aplicação do
dispositivo é de que questão contaria com disciplina própria, conforme
regulamentação do art. 38 da Lei 9.099/95, que estabelece que “a sentença
mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos
relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório” (BRASIL, 1995).
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Todavia, tal posicionamento não tem sido completamente acolhido pela


doutrina. Como bem salienta Silva:

Quando o art. 38 da Lei 9.099/95 prescreve que a “sentença mencionará os


elementos de convicção do juiz”, não quer, com isso, alijar uma
fundamentação completa, sobretudo porque – ainda mais no rito
sumaríssimo, em que as partes podem vir desacompanhadas de advogados
em causas até 20 salários mínimo -, aqui, a fundamentação torna-se mais
premente. (SILVA, 2015. p. 511)

O entendimento favorável à aplicação do art. 489, §1º, como acima


demonstrado, tem encontrado apoio, conforme é possível perceber pela leitura do
Enunciado nº 309 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, que claramente
dispõe: “o disposto no §1º do art. 489 do CPC é aplicável no âmbito dos Juizados
Especiais”.
Por fim, novamente nas palavras de Silva: “não há qualquer choque entre o
novel dispositivo processual e a Lei nº 9.099/95, não se havendo que falar em
derrogação desta lei especial na parte relativa à sentença” (SILVA, 2015. p. 511).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, é possível verificar que, de fato, o novo CPC terá
ampla aplicação em relação aos procedimentos sob a égide da Lei 9.099/1995, tanto
de forma expressa quanto supletiva.
Como pôde ser visto no presente trabalho, a maior parte das aplicações
expressas do novo CPC ao sistema dos Juizados Especiais é bem recepcionada
pela doutrina, como o incidente de desconsideração de personalidade jurídica e as
alterações referentes aos embargos de declaração, apesar de não estarem de livre
de críticas e controvérsias.
Por outro lado, as aplicações subsidiárias da nova legislação processual civil
aos juizados cíveis encontram maior resistência, geralmente por parte da
magistratura, como visto em relação à contagem de prazos processuais em dias
úteis e a questão da fundamentação das decisões judiciais, sob a afirmação de
incompatibilidade de tais regramentos com os princípios orientadores dos Juizados.
De tal maneira, não é possível afirmar, com a segurança necessária, quais
regramentos processuais trazidos pela nova legislação serão efetivamente aplicados
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aos juizados, ou ainda, qual será a extensão de sua aplicação, tendo em vista a
demonstrada controvérsia doutrinária.
De qualquer forma, todo entendimento que existe atualmente ainda é muito
recente, embrionário, uma vez que ainda não houve tempo suficiente para os
posicionamentos se consolidarem de forma segura, seja na jurisprudência ou na
doutrina, sobre quais dispositivos do novo CPC serão definitivamente aplicados ou
não aos Juizados Especiais.
Igualmente, o que se tem no momento são meros ensaios, oriundos, em
parte, da magistratura, que sustenta um posicionamento de autonomia e
independência dos Juizados, e que, consequentemente, defende que não deve
haver maiores repercussões do CPC 2015 aos institutos processuais dos Juizados.
Todavia, tal posicionamento não é unânime. Como visto, o Fórum Permanente
de Processualistas Civis, bem como a Ordem dos Advogados do Brasil, tem
entendido pela aplicação de diversos dispositivos do novo CPC aos Juizados
Especiais, em posição diametralmente oposta ao posicionamento adotado, por
exemplo, pela Ministra Nancy Andrighi.
Assim, é questão de urgência a busca pela conciliação dos dois sistemas
processuais, visando a atuação de ambos em uma “simbiose” normativa, para que
se possa entregar aos cidadãos um serviço de melhor qualidade, seja nos juizados
ou na justiça comum, e que, ao final, seja realizada a prestação jurisdicional
pretendida de forma rápida, eficiente e útil.

REFERÊNCIAS

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