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THE LIBRARY
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THE UN1VERSITY
OF TEXAS
DO
SESSÃO DE 1853
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1853
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SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 75
S. Ex. consinta que eu observe que se nesso Rio de Janeiro que fallou na ultima sessão so
paiz onde existem maiores meios de exame, do bre esta materia, que lhe faça unia reflexão.
que entre nós, se nesse paiz onde um deputado O nobre deputado com esse estylo que mós lhe
offerece uma moção muitas vezes para examinar reconhecemos traçou a epopéa doi tres Srs. mi
o procedimento de um general; o procedimento nistros que se . asso n tílo juntos nestas tres ca
de um ministro nas eleições, o procedimento de deiras e calou-se sobre os actos dos outros.
outro qualquer grande funccionario, ou uma mo O Sr. Pereira da Silva: — Não apoiado.
ção para examinar-se qual o estado do paiz, a O Sr. Ferraz? — Perdóe-me.
sua situação economica e commercial, etc. ; se
nesse paiz, digo, onde se offerecem tantos meios O Sr. Pereira da Silva : — Disse sobre o Sr.
de exame sobre a administração, isto se dá, ministro do imperio alguma cousa.
como não dar-se entre nós que estamos reduzi O Sr. Ferraz : — O nobre deputado traçou um
dos pelo nosso regimento a duas discussões geraes, circulo tão forte, um circulo que chamarei de
a do orçamento e a da resposta á falia do throno? ferro, eu que imaginei que o nobre deputado se
Sr. presidente, nem embarga a razão aqui pro ria um daquelles que ponsidera a serra dos Or
duzida de que a camara é composta de deputa gãos a baliza do Brazil.
dos que já tomarão parte nas sessões passadas Dou apoio ao ministerio, Sr. presidente, na
nas suas deliberações, quando existia o gabinete firme esperança de que elle por meio de medi
actual; não, no interregno parlamentar podem-se das prudentes e firmes, por meio de reformas
dar taes e taes actos, de taes e taes ministros, uteis que garantão a propriedade e os direitos
ou msemo do ministerio inteiro, que faça com individuaes e politicos dos cidadãos, possa cha
que a confiança que então fei prestada na es mar a um centro e accordo essas opiniões mo
perança de que a sua marcha seria conforme deradas, que muitas vezes a injustiça ou circum
os interesses do paiz seja retirada, ou seja ne stancias muito pequeninas os alongão de nós.
cessario examinar os seus passos, e .dessa nna- Eu sou, Sr. presidente, tão amjgo da conci
lyse e exame póde resultar um voto de censura liação, que faço os votos os mais sinceros para
ao ministerio, ou ainda mesmo um voto que o que tambem o gabinete, por meio de uma com
faca apartar da administração publica. (Apoiados.) binação prudente, possa chamar em torno de si
E' isto que se dá no interregno parlamentar os nossos amigos das provincias do Ceará e de
quando a camara é a mesma ; muito mais se Pernambuco. Failo em uma combinação prudente,
póde dar quando a camara é nova, quando ella senhores, porque, segundo os estylos e princi
e a expressão de um voto novamente manifes pios do nobre presidente do conselho, enunciados
tido, e se reuno pela primeira vez, composta em creio que na sessão do anuo passado, o minis
grande parte do membros inteiramente novos ao terio tem de soffrer uma pequena modificação.
parlamento, e talvez mesmo á politica dominante. E por esta occasião poço á casa que me consinta
Assim pois, Sr. presidente, peço licença ao no que lhe represente a necessidade que ha de me
bre deputado para que, deixando a pratica e lhor organisar-se os gabinetes conforme as con
estylo que elle deseja que se estabeleça no nosso veniencias parlamentares.
parlamento, e aceitando o convite do gabinete actual, Os gabinetes de certa época para cá têm sido
expresse o meu votodeadhesão ao mesmo gabinete. compostos em sua maioria de senadores, dei
Senhores, eu tenho tomado por norma da mi xando apenas um ou dous lugares para os mem
nha vida — fidelidade aos meus amigos, — não bros desta camara. Daqui resulta o que todos
aos amigos politicos, porque estes são passagei os dias vemos, que quando um membro desta
ros, desapparecem com as necessidades do mo camara que é ministro passa para o senado, ha
mento, e a maior parte das vezes os homens necessidade de uma modificação, e taes modifica
politicos do nosso paiz como que rebaixão o ções mais ou menos fazem desarranjo ao serviço
merecimento para tel-o melhor na sua depen publico, porque um ministro que tem passado
dencia ; mas aos meus amigos particulares. E já por um tirocinio, que tem mesmo planejado ou
tambem eu creio que na situação actual do projectado algumas medidas dignas de ser ado
nosso paiz qualquer ministerio que por ventura ptadas, por este facto de passar pura o senado
se pudesse organisar não deixaria de sa'hir do e sahir do ministerio as abandona, e aquelle
circulo das capacidades donde sahirão os actuaes que o tem de substituir leva muito tempo pri
Srs. ministros, nem poderia mudar de norma e meiro que faça o sou tirocinio, que tome pé,
marcha de politica, porque taes mudanças não se como se costuma dizer, na administração. E nem
fazem de um dia para outro. é só por isso ; nos outros paizes es ministerios
E quando se quizesse sahir desse circulo, onde se compoem mais de membros da camara tem
se irião procurar ministros? Nos velhos, que já poraria do que da camara hereditaria. Parece
nos deixarão victimas de tantas decepções? Os que como os membros da camara temporaria são
velhos, conforme diz um distincto litterato in- renovados, e como deste modo so presume que
glez (Carlile) são o que são. Nos moços? Senhores, elles exprimem mais os sentimentos da opinião
entre nós os moços sempre encontrão opposição, publica, porque estilo com ella mais em conta
muitas vezes dos outros moços, e ha tantas ra cto, na confecção dos ministerios se adopta maior
zões mesquinhas, tantas razões partieul ires que numero de membros da ' camara dos communs
impedem a sua marchai que elles não podem da I .glaterra, ou da camara dos represent intes
nunca surgir á tona d'agua. Todo e qualquer em França e em outros paizes.
ministerio qne por ventura se organisasse náo E eu . temo tambem um grande perigo da pra
apresentaria outra cousa mais que novos nomes; tica que entre nós S6 tem seguido Actualmente
a politica, dadas as circumstancias actuaes, não o conselho de estado é composto em quasi a
póde deixar de ser a mesma. sua totalidade de senadores, havendo unicamente
Dou apoio ao ministerio, senhores, porque te dous conselheiros que existem como reliquia da
nho nelle amigos, mas não dou apoio sómente primeira org misação deste conselho ; e se assim
a esses meus amigos ; a confiança que tenho caminharmos, não sei se alguem poderá dizer o
nelles faz com que eu estenda esse meu apoio que em 181'' dizia Canning a respeito da forma
a todos os seus collegas. Nem concebo que se ção do ministerio ou do conselho na Inglaterra,
ssa dar a hypothese de que eu deva descon- « que as familias inglezas querião ter o direito
r daquelles que não são meus amigos particu exclusivo de compor não só o ministerio, mas
lares, quando pelo facto da existencia dos meus os grandes conselhos de estado. »
amigos nesse gabinete não posso deixar 'de crer Dou apoio ao ministerio, Sr. presidente; mas
que seguem a verdadeira senda. não posso renunciar por maneira alguma o di
E neste ponto permitta o nobre deputado pelo reito de exame e analyse sobre as medidas que
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elle propuzer, sobre os seus actos, não só por sidade do tudo, a que nós nada lhe forneciamos
que seria indigno do mim, do meu paiz, da ca em seu bem; quando vii em outros paizes que
mara a que pertenço, e do proprio ministerio, habalisados escriptores opinaváo pelos melhora
um apoi - cego 0 material, come tambem porque, mentos oiateriaes; quando via que nessas épo
nas circumstancias presentes, esse exame e aua- cas em differentes estados proclamou-se que a
lyse é summ imente importante. nnica politica de porvir e de grande prosperi
• Quando um una ca é ara existem dous partidos - dade para os povos era a do progresso moral e
representados, ou quando uma camara se acha material, ti io a desgraça de incorrer no des
fraccionada por dom pensamentos inteiramente agrado dos meus colíegas por enunciar aqui o
diversos, parece que a diligencia e cuidado da mesmo pensamento, e para se mostrar a ne
opposição suppro esse exame e anatyse que nos nhuma significação que tinha esse pensamento
cabe a cada um ; m is nesta camara, no momento ou essa bandeira, foi ella proclamada bandeira
actual, em que, se ha divergencia, ella versa do Espirito Santo, que só vivia durante algu
sobre cousas pequenas e accidentaes e não sobro mas noites de festins á luz de fogueiras, que
objectos reaes, supponhoque não podemos deixar de symbolisava um imperio de dous dias, passa
examinir profundamente eanalysar todas asmedi las geiro e ephemero sem fundamento e sem força.
que forem propostas pelo ministerio. (Apoiados.) Mas, Sr. presidente, felizmente depois que eu
E, Sr. presidente, permitta V. Ex. que eu apro tive de sahir desta casa o nobre ministro do
veite esta occasião para declarar que o systema imperio, assim como o nobre ministro da fa
de nimia confiança que foi inaugurado depois de zenda, seguirão ou antes adoptárêo esse mesmo
1839 não tem produzido aquelles effeitos que são pensamento, esse systema, essa bandeira, e ue-
de desejar. (Apoiados.) pois os proprios que tinhão taxado de bandeira
Senhores, a camara dos deputidos, em con do Espirito Santo esses principios do ordem, de
sequencia desse systema, tem deix id0 de exa paz e de tranquillidade, adoptárão-a em toda a
minar cartos projectos de lei, como o do codigo sua plenitude, e mesmo forão mais além. (Apoia
commercial, o os tem enviado ao senado, sem dos,) Se nesse tempo, Sr. preside. ite, eu ado
discussão, com toda a pressa, e como se não ptava essa bandeira, hoje mais do que nunca a
houvesse cousa nlguma a corrigir. considero como a mais util, a unica necessaria
Senhores, a camara dos Srs. deputados em e de vida para o nosso paiz.
consequencia desse systema tem deixado de exa Se nós, Sr. presidehte. não conspirarmos todas
minar certos projectos de lei, como, por exem as nossas forças para realisar esse grande prin
plo, o codigo commercial, que se tendo enviado cipio, veremos o nome de nossa patria entre as
para o senado, o senado tem demorado as vezes potencias barbarescas, porque, Sr. presidente, não
dous annos em discussões prolongadas sobre a na paiz n0 mundo civilisado, nem governo algum
materia e depois nos reenviado com na sua-i «m inte da prosperidade de seu paiz que não
emendas que são inteiramente approvadas por lance mão de todos os seus recursos para pro
nós; estes factos denotáo contra o conceito da mover o seu progresso material, esses mesmos
cam ira. Parece que aquillo que nós approvamos homens, senhores, que se hão apossado na Europa
com enthusiasmo e dei repente, sem exame, o da politica por meios talvez menos regulares e
fazemos sem consciencia, ou porque não temos legaes, não recorrem n outros meios para faze
a n»cessaria capacidade, e isto mais comprov i rem esquecer a origem do seu poder, e assim
o òutro facto, de, depois do senado por um vemos na França o governo actual dispen ler
exame aprofundado haver corrigido em quasi tudo quanto tem de recurso para conseguir esto
todas as suas partes taes obras e remettido grande fim, não poupando dinheiros, nem a favor
a esta camara as suas emendas, nós as ap- da agricultura, nem do coinmercio, nem da indus
Êrovarmos sem a menor refi-xão e de prompto. tria fabril.
iaqui procede, senhores, que muitas pessoas já Na Austria depois do grande movimento e abalo
consideráo a camara dos Srs. deputados uma que soffreu essa potencia, não procurou o seu
camara do registro (apoiados) ; e esse systema, governo outro meio, outro systema para melhorar
se a alguem tom aproveitido, tem sido algumas o seu estado; e como entre nós, assim como em
incapacidades que á mercê do principio de cega toda a parto a opinião tem um livro unico em
confiança pod-m sem receio algum subir a em que le, e por que se dirige ; este livro é os factos.
pregos mais altos do estado. (Apoiados.) Ella, como V. Ex., observa bem, poucas vezes
Sr. presidente, dou o meio apoio a i ministerio se dá com os discursos eloquentes, com os gran
em todos os pontos que não forem contrarios des escriptos politicos, com os homens que cuidáo
ás opiniões que eu tenho sustentado nesta casa sómente da politica, e ao passo que se reune
em epocas anteriores, e neste passo eu pedirei om torno dauuelles que promovem um boneficio
ao nobre deputado que em ultimo lugar fallcu material no lugar, na provincia ou no imporio
na sessão a:iterior que lhe pondere que a cen (apoiados), a outros ficão no escuro.
sura que elle fez ao nobre deputado pela Bahia Segundo essa opinião, Sr. presidente, cu tenho
(o Sr. Dutra Rocha), quindo este senhor apon de pedir ao nobre ministro dos negocios estran
tava a conveniencia da adopção de cortas me geiros a graça de ouvir-me sobre algumas dessas
didas, porque do certo modo infringia os nossos materias que tocão a sua repartição, porque tambem
estylos ministeriaes, perniitta-me, digo, o nobre é preciso que eu diga que como melhoramentos
deputado que lhe pondere não haver elle atten- materiaes ou não reputo como alguns sóinente
tauo bem para a natureza de nossa missão. O estradas e navegação fluvial, mas comprehndo,
nobre deputado estava acostumado ao ritual an seguindo a Pecqueur, todos os trabalhos, todis
tigo, e o costume tem grande força. as empresas, todos os meios na ordem phy-ica
O nobre deputado por força desse habito não que tendem ou i\ creação supplementar do rique
póde soflrer que um ministerial pudesse fazer zas, ou a sua producção mais economica, o assim
sentir ao governo a necessidade de medidas ne todas as instituições , todas as combinações
cessarias para o bem do paiz I economicas que conspirão a este grande fim, tudo
Sr. presidente, comquanto as opiniões que eu quanto a econo.nia social ou politica, e a hygiene
tenho professado nesta casa sejão conhecidas do publica ou particular aconselhão para conseguir
publico, e esse conhecimento me dispensassem n0 interior homens mais esclarecidos, mais mo-
de nbvamente manifestal-as, comtudo cu não ralisados e fortes, e no exterior segurança, im
posso deixar de tornar a cousignal-as. portancia, respeito e consideração do estado para
Em 1848, quando depois de lutas estereis de oom_ as mais potencias estrangeiras.
discussões que não podião de maneira alguma Não sei se terei a fortuna de ver o nobro
ser proficuas, vi que o nosso paiz tinha neces ministro de estrangeiros no seu lugar nesta camara ;
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mas se não tiver esta fortuna, estou certo que duetos de ambas as partes contractantes em seus
o nobre miuistro do imperio terá a bondade d» territorios, mas de certa classe de productos, os
levar ao seu conhecimento as observações que despojos do gado, inclusive a cirne socca ou de
vou fazer, as qunes não têm p ir fim, ne charque. Eu creio que esto tratado não innovon
nhuma delias, o menor pensamento de hostilidade, cousa alguma a nosso respeito, porque existia
nem de leve otfendel-o ; mas que sáo dietad is a lei, creio que de 18 de Setembro de 1815, que
pel i amizade no art 25 dava entrada livre a todos os des
As observações que tenho n fazer, Sr. presi pojos do gado que entrassem pela fronteira do
dente, são sobre os seguintes pontos : parte Rio-Givinde do Sul. Sendo assim, se alguma cousa
commercial dos tratados celebrados com as re ganhámos, foi na sahida livro de semelhantes
publicas do Uruguay o do Perú; a questão de productos do nosso territorio para o territorio
limites com a Bolivia; a -questão de limites com vizinho; eu considerava porém vantajosa a livre
a Inglaterra e a questão de limites com a França ; circulação petas nossas fronteiras de todos os
a questão fluvial com a B divia ; a questão sobre productos da nossa industria e agricultura, e da
o bill de lord Aberdeen sobre t questão de Afri dos estados vizinhos.
canos; o finalmente sobre a necessidade de di Esta grande medida tem a seu favor não só
rigir as nossas legações e consulados de um modo um interesse commercial, mas um interesse po
proficuo ás industrias e commercio do paiz. litico, e um interesse fiscal. Permitta-me a camara
Senhoros, depois dos successos que correrão que em apoio desta minha asserção traga a
na republica do Prata, o em que o Br zil tomou opinião do grande autor do espirito .das leis.
tão grande parte, eu não tive occasião ainda Diz elle: « O commercio tem a grande vanta
de manifestar a minha adhesão á politica seguida gem de levar a paz a todos os paizes por onde
nnqnelles lugires, e o que cu poierei dizer agora,' percorre em suas operações ; tem a grande van
não ó por certo uma opinião ou juizi formado tagem de tornar dependentes as nações que pro-
depois do resultado. O paiz sabe, assim como miscuamente commerciáo : a necessidade de ven
os meus collegns que commigo tomárão assento der e a necezsidalo de comprar traz essa inutua
nesta casa de 1M |5 a IH Ití, que eu co nliati, sempre dependencia , o essa dependencia firma e ga
que julguei um obstaculo para o- paiz, esse go rante as mais solidas uniões o allianças.
verno do dictador R is is, o que «ie adquirio, Já se vê que quanto mais faceis tornarmos
acarretou injurias da parte da* imprensa de Buenos- as relações commerciaes pela nossa fronteir i
Ayres, que cl? gou a pontj ate de chamar- me t rrejre com os nossos circumvizinhos, tanto
— Portuguez não interessado no progresso do meu mais poder unos obter em resultado uma van
paiz (lllj — Um periodico redigido aqui sob os tagem commercial, uma vantigem politica e ainda
auspicios da legação da republica Argentina, e uma vantagem fiscal. Uma vantagem politica,
que apoiava o gabinete de 2S) de Setembro de 18W, porque o commercio adoptando os costumes, le
tamb.ru me fez passar pelas ruas de amarguras. vando a civilisição, prendendo todos os indivi
Eu, Sr. presidente mao considero esse facto duos interessados em suas operações pelo pro
que se deu nas republicas do Prata em relação prio interesse faz desapparecer essa rivalidade
ao que disse o nobre ministro, isto é, de se ter que infelizmente herdámos das metropolis de que
estabelecido uma politica americana, politica que descendemos. Um interesse fiscal , porque é im
eu desconheço, politica que a camara ignora, e possivel, por maiores que sejáo as despezas que
politica de que o paiz não tom conhecimento fizermos, por maior que seja o numero dos em
algum; mas considoro-o em relação á justa, pregados qne tivermos nas nossas fronteiras,
proficua e legitima influencia que nos deu nesses evitar o contrabando.
estados, porque fixou os limites do imperio e Temos ainda como resultado o interesse mo
acabou com questões que poderião dar azas a ral, porque o contrabando, sendo infallivel, como
grandes contrariedades, porque deu solução ás nos mostra a historia da Fi anç i , e a de todos
questões fluviaes pendentes, e que versavão sobre os paizes commerciaes e da propria Inglaterra,
os rios em que te nos parte ; finalmente, Sr. dando-se a medida da livre circulação dos pro
presidente, porque desenlaçou to las as questões ductos naturaes do paiz nesses lugares ganha-
que dizião respeito ás fugaz dos nossos escra rião os nossos costumes , porque deixarião de
vos, dos nossos desertores, extrndicçáo, etc. Essas perpetuar-se esses actos, esses delictos que as
forao as grandos vantagens que resultarão dos nossas leis punem. Parece-nie pois , Sr. presi
esforços que o governo empregou para conseguir dente, que nesta parte falhou a parte commer
isso, o não a inaugurução de um i politica une- cial desse tratado. E porque este mal póde ser
ricana, que não sei, como já disse, em que se reparado, eu pondero ao nobre ministro a ne
funda. cessidade de por qualquer meio estabelecermos
O S:í. Pereira da Silva dá um aparte que alli o mesmo que a lei de 18 de Setembro de
não ouvimos. 1845 estabeleceu para as republicas com quem
confrontamos pelo lado do Pará.
O Sr. Feubaz — Agradeço ao illustre deputado Outro ponto sobre que tenho do fazer obser
esse seu aparte, não existe pois ossa politica vações ao nobre ministro vem a ser a parte do
americana. . . trat ido do Perú, em que não foi estabelecido o
O Sr. Pereira da Silva: — O nobre deputado vantajoso commercio de transito , e pelo qual
sabe que sempre combati com elle no mesmo não se creou na provincia do Pará um entre
campo; tainhem fui insultado pela imprensa de posto. Pondero ao nobre ministro a razão por
Rosas. que considero que nesta parte o tratado falhou.
(O Sr. ministro dos negocios estrangeiros entra Por este tratado as mercadorias estrangeiras,
no salão e toma assento.) 4 depois de pigarem direitos de importação ou con
sumo nas alf mdegas de Calháo de Lima, ou
O Sr. Ferraz :— Alegro mo de ver o nobre outra qualquer do Perú e r.i Pará, podem tran
ministro dos negocios estrangeiros nesta casa, sitar livremente pela nossa fronteira,' mas noto
porque assim posso obter algumas informações, o nobre ministro que esta operação dependo de
fazcr-lhes algumas observações, não, como já disse, um adiantamento de capital, e da certeza da
com espirito de hostilidade, mas reli xões ami venda da mercadoria no lagar do seu destino.
gaveis. Tratarei primeiramente dos tratados de Esta parte nos é fatal, porque pela nossa po
commercio celebridos com a republica do Uruguay sição geographica, poderiamos obter ou tornar o
e com a republica do Perú. porto do Pará um emporio do commercio dessas
No tratado com a republica do Urugrny con- republicas ; mas com os direitos de 30 °/o, e ás
sagrou-se a disposição da entrada livre dos pr> vezes mais, sobre as mercadorias estrangeiras,
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o negociante não poderá procurar o porto do de Matto-Grosso, quando um alarma sem base
Pará para fazer transitar as mercadorias desti appareceu em Cuiabá, todo o mundo procurava
nadas a" Perú, porque, para o fazer, é mister por munições, e dizii-so que não existião. Eu
o desembolso da importancia dos direitos de achava muito necessario estabelecer um. depo
consumo, o não será provavel que com til onus sito rico da munições de guerra naquella pro
procure pelo porto do Pará expedir as suas fa vincia ; os bolivianos têm pretenções muito exage
zendas, ainda na duvida de poder achar mercado radas ; como os antigos papas, pretendem dividir
no Perú. Se nós attentarmos bem para a grando o mundo por meio de seus decretos.
vantagem de commercio de transito, commercio Pedirei ao nobre ministro algumas outras in
que hoje tem sido admittido por todos os paizes, formações. . .
que a França, não obstante o seu systema O Sr. Corrêa das Neves : — A respeito dos
nimiamente restrictivo, adoptou em grande escala papas Y
sem perceber delle o menor direito, estou ,que o O Sr. Ferraz : — Não será a respeito dos papas,
gabinete actual creará e promoverá o entreposto mas a respeito dos leões. Pedirei so nobre mi
o Pará com este fim. nistro algumas informações sobre as nossas fron
O barão Portal, que foi ministro em França teiras com as colonias ingleza e franceza que
em 1816, dizia que o commercio de transito era ficão ao norte do imperio. Julgo conveniente
tão vantajoso para o puiz, em consequencia dos que apressemos a solução de t ies que-tões, em-
lucros que dava á industria dos transportes e á quanto esses terrenos se achão virgens, emquanto
industria das commissões, que elle avaliava que o commercio não correr para aquellàs partes,
100 kilogrammas ou 218 libras brazileiras de porque depois que a p ipulii7ão e o commercio
café trnzião no seu transito pela França 10 % crescer nesses lugares, será impossivel tirar a
de lucro. Achava pois vantagem nesta minha presa nos leões.
idóa, por isso que chama para aquelle ponto Sati?fez-me sobremodo a maneira por que o
um commercio extenso, e por isso que póde nobre ministro procedeu a respeito da navegação
trazer ás margens do Amazonas uma grande fluvial com as republicas do Prata. Mas dese-
população que de ordinario o commercio acar jára que, por todas as medidas que a politica
reta: vantagens que estão muito além .das que póde suggerir, obtivessemos a mesma solução
resultão da cobrança dos direitos de importação.
E demais. pódo o Perú julgar vantajoso di com a republica do»Paraguoy.
minuir os direitos de importação que se cobrão E já que trato dessa questão. fluvial, pedirei
em suas alfandegas, a ponto de que seja mais ao nobre miuistro toda n attenção para essas
lucrativa a importação das mercadorias estran reuniões que se fazem nos Estados-Unidos em
geiras no Perú, e a sua expedição pelas nossas referencia ã livre navegação do Amazonas. A
fronteiras para o Pará do que do Pará para opinião que domina nos Estados-Unidos é,' con
o Perú. Todos sabem que os nossos direitos de forme a expressão do Tocqueville, muito tyran-
importação são excessivos. nica, e hoje atormentada pela febre de con
Procurarei agora chamar a attenção do nobre quistas, vai-se tornando tambem tyrannica no
ministro sobre um ponto que já foi objecto de exterior ; e a essa opinião muitas vezes o go
observações do nobre ministro nesta camara, verno dos Estados-Unidos vê-se na necessidade
como deputado ; vem a ser a questão das nossas de obedecer
fronteiras com a Bolivia no lugar do Jaurú. Um O principio que segue nessa questão o go
decreto foi promulgado pelo governo da Bolivia verno dos Estados-Unidos é o perfeito direito das
creando uma villá em parte cujo dominio e posse nações ribeirinhas quanto á communicáção de
ó contestada por nós, ou de que estamos de seus rios; mas a opinlao publica naquelle paiz
posse. O nobre ministro nesse tempo pediu pro considera que os grandes rios não são mais que
videncias serias, chamava a attenção do go depedencias do mar, e que. assim como esto é de
verno sobre esta materia, lembrava mesmo que uso geral o não póde ser apropriado, tambe:n
as nossas fronteiras de Matto-Grosso não estavão o Amazonas, como todos os grandes rios, póde
bem guarnecidas, não estavão bem municiadas. ser livremente navegido por todas as nações.
Creio que na época actual as nossas circunistancius Esti, porém não ó a solução que tem tido ques
ainda são peiores. tões tans no mundo diplomatico : o direito de
No Jornal dos Debates foi publicado um decreto innocente uso, como se explicão os publicistas,
do governo do Pirú em que se estabelecião dos rios pjlas nações ribeirinhas é um direito
entrepostos em differentes lugares cujo dominio imperfeito que só póde sor exercido mediante
me parece é contestado por nós. Se me não en accordo das potencias ribeirinhas. Assim sus
gano, o nobre ministro nada póde obter do go tentarão a Inglaterra e a Hespanha nas ques
verno boliviano com a missão que para alli tões do Missisipe e S. Lourenço, sendo ellas
mandou. Eu considerei sempre uma grande diffi- resolvidas debaixo desse principio; assim pro
culdade a influencia do general Rosas naquella cedeu o congresso do Vienna sobre a navegição
republica para o arranjo de nossa questão, e de diversos rios da Allemanha. Parece-me pois
esta influencia creio que ainda persiste, e tem fóra de duvida que o principio estabelecido por
tomado um caracter de odio. em consequencia esses cidadãos dos Estados-Unidos que se reunem
da expulsão do mesmo general. Circulão alguns com o fim de promover a navegação do Ama
boatos ; dizem que a missão que mandámos á zonas, não é fundado, não tem base alguma
Bolivia não foi bem recebida, ou foi tratada de segura.
modo que o nosso ministro teve de retirar-se Consta-me tambem que com esse fim o governo
para Venezuela com parte de doente, e «IH por dos Estados-Unidos tem mandado por agentes
muito tempo permaneceu, e as cousas cprrêrão seus explorar o rio Amazonas. Consta-me tambem
de tal maneira que o nobre ministro dos nego que alguem veio encarregado de sondar a opi
cios estrangeiros vio-se na necessidade de acabar nião do gabinet'5 a esto respeito, ou que pelo
com essa missão, e nosso miniátro então em menos ao governo dos Estados-Unidos alguem
Venezuela não seguio aquillo que os estylos diplo prometteu isto fazer. E o resultado desse prin
maticos estabelecem quando se extinguem as cipio, Sr. presidente, foi esses decretos a quo
missões ou se retirno os ministros. me referi, em que o governo boliviano declarou
Já vê, pois, a camara que ha muito que pensar ao mundo inteiro que ficavão francos o Para-
sobre esta materia, que qualquer amigo do mi guay, o Madeira e o Amazonas para a nave
nisterio deve chamar a sua attenção para este gação de todos os povos.
ponto, e tanto mais quanto, apezar dos trabalhos O. Sr. Pereira da Silva : — Esses decretos não
do fortificação que se têm feito na provincia têm feito impressão alguma.
i
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O Sr. Ferraz : — Diz o nobre deputado pelo ção de empregados, sei que em toda a parte o
Rio de Janeiro que esses decretos não têm feito ministro ás vezes faz o que não quer, porque
impressão alguma. . nós mesmos, nossos amigos, tudo nos desvia da-
O Sr. Pereira da Silva : — Até parece serem quella senda que queremos seguir.
apocryphos. Tambem pedirei ainda ao nobre ministro que
occupu as missões de mera representação em
O Sr. Silveira da Motta : — Apoiado. adquirir dados, informações, tudo que possa in
O Sr. Ferraz : — Não são apocryphos ; e a teressar ao melhoramento da nossa agricultura,
' importuni ia que se lhes deve dar deve ser a do nosso commercio, de nossa industria. Não ó
mesma que o nobre ministro deu, como membro isto um vão desejo, mas sim fundado na pratica
desta casa, á elevação de uma villa em um das nações : a Russia encarrega sempre a sua
lugar deserto das margens do Jaurú. missão em França de obter os modelos, as in
Entendo que devemos celebrar convenções com formações sobre os diff trentes processos da in
a Bolivia para o livre transito ou innocente dustria, m ichinas, instrumentos novo? que se
uso de -nossos rios, porque este é o principio offeieci m ao mercado frances, e ao mesmo tempo
fundamental de nossa politica ; -mas que sem de visitar os grandes estabelecimentos industriaes;
nosso accordo isso não póde ter lugar. Creio tanto a propria França nesse sentido dirige as suas
mais necessario que sustentemos esse principio, missões, e esse grande trabalho sobre a historia
quanto á navegação do Paraguay, que o go das instituições de credito rural o territorial na
verno da Assumpção nos tem trancado, torna-se Allemanha é o resultado da missão de Vienna :
eminentemente necessaria para a provincia do e a Inglaterra tambem não deixa de despender
Mitto-Grosso. grandes sommas, e todos esses meios em adqui
Sr. presidente, tratarei agora desse celebre bill rir esse grande fim. ,
de lord Aberdeen sobre o trafico. Sinto a diffi- Creio pois que as nossas missões podião con
culdide que ha da prirte do ministerio em con vergir para esse grande objecto de progresso
seguir a sua revogação, pelo facto de se achar material ; e que poderiamos tirar dessa despeza,
bojo o seu aut r á testa do gabinete inglez ; que em muitos lugares é inteiramente inutil,
mas vejo tambem que nesse gabinete existe lord grandes vantagens. Repito ao nobre ministro, são
John Russel, e lembro-me de suas palavras nessa considerações que faço, não com o liin de hos-
celebre discussão dos direitos differenciaes sobro tilisal-o," mas apenas pam pedir informações, por
o assucar, producção do braçb escravo, que teve que dedico ao nobre ministro sumuia nttenção,
lugar em 1814. o reconheço seus talentos. Quando muito poderá
Então dizia esse estadista inglez a sir Robert figurar isto como uma das minhas esquisitices.
Pell : O Sr. Ministro de Estranoeinos :—Não apoiado.
a Não é a força, não é a intimidação, não são O Sr. Wanuerlet: — Exquisito no sentido de
as tarifas protectoras qua podem obter a cessa sub TOSO.
ção do trafico no BrazJ; é somente a opinião O Sr. Ferraz:— Sr. presidente, entrarei agora
esclarecida, porque embora empreguemos a força na parte interior.
e a intimidação, . embora decretemos tarifas pro- Senhores, o grandi= principio de melhoramonto
hibitivas, o interesse e principio da escravidão material não Um tido de noss i parte a verda
apadrinhado pelo da conservação da independencia deira significação. Suppomos que com estra
nacional fará com que vossos esforços sejão bal das , com banco commercial ou nacional e com
dados. » a colonisação temos tudo obtido ; mas é um
O Sr. Silveira da Motta :— O Sr. Russell foi engano.
quem mandou queimar mais navios. as tres grandes alavancas de que depende o
melhoramento material de um paiz são : as
O Sr. Ferraz:— Lord John Russell está -no communicações por agua e por terra , institui
ministerio inglez, c ninguem póde deixar do ções de bancos, e educação profissional. A agri
reconhecer que tem havido da parte do parla cultura , a industria fabril , o commercio têm
mento brazileiro e da parte do governo o maior tanta necessidade de communicações como de
interesse em reprimir o trafico. (Apoiados.) homens instruidos, ou de homens professionaes
Embora, Sr. presidente, nesta casa se tenha como de instituições de credito. Promovei , se
fallado a respeito do désembarque de Bracuhy, nhores, a colonisação ; mas com que meios po
embora se tenha querido achar negligencia da dem os agricultores haver braços? Precisão elles
fiarte do governo, direi que tenho observado, no de instrumentos, de machinas novas : como as
ugar em que me acho coilocado nesta córto, podem comprar? Como as podem obter?
que da parte do governo tem havido precipita Assim, pois, eu creio que uma das necessida
ção em muitas medidas para conseguir este fim, des mais instantes da agricultura vem a ser —
e até medo de que seu zelo seja taxado de fraco. instituição de credito rural ou territorial. —
Apenas com a simples denuncia de um ou outro (Apoiados.) Dir-se-ha porém que o banco com
individne, talvez interessado em algum desem mercial ou o banco nacional supprirá esse va
barque, tem-so expedido navios em diligencia ; cne. E' um engano: esses bancos basêão todas
e os traficantes têm feito jogo disso, e isto prin as suas operações s*bre o credito pessoal. En
cipalmente se deu a respeito do desembarque de tre nós , como na frança , e como em alguns
Bracuhy. outros paizes , a legislação que existe é um
Sr. presidente, tocarei no outro ponto a que obstaculo para taes instituições,
me referi : representar ao nobre ministro a ne A terra, como diz Dupin, que devia ser a ga
cessidade de duas medidas. rantia mais segura do capital , oflerece fraca
Nós passamos no exterior como um povo ainda garantia , e é a garantia que menos segurança
" não inteiramente civilisado ; ha no exterior uma fornece aos capitaes ; e qual a razão ?
idéa pouco vantajosa de nossa civilisação ; e eu O defeito nasce da nossa legislação sobre o
entendia que nas missões da mera representa dominio, da nossa legislação sobie hypothecas,
ção deviamos empregar pessoas que pelo seu da falta de sua publicidade, e, o que é mais,
tratamento, pelis suus ma ieiras, pela sui lit- da nossa legislação defeitnesa do processo ^ que
teratura, e finalmente pelo seu merecimento, embaraça muitas vezes por longos annos a co
pudessem desfazer a impressão desfivoravel que brança das dividas provenientes de captiaes em
existe a respeito do Brazil. Isto não é mais do prestados.
2ue uma representação que faço, porque sei a Reclamarei do nobre ministro toda a sua efi
ifliculdado com que luta um ministro na nomea cacia e zelo sobre este ponto.
80 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
Seuhores, eu disse que nós tinhamos precisão actos que são filhos de mero engano, contra
do instrumentos e machinas, e não podiamos acções em que não entrou intenção de praticar
obter os moios de havêl-os ; agora ain la direi o mal, a o nosso commercio soffre o peso dessa
mais, e ê que a nossa legislação fiscal emba legislação civil.
raça , íragmenta as despezas da acquisiçãó de E o commercio interno I Oh I Por esse lado as
taes instru nentos. Sobre todos os instrumentos provincias vivem ufna com as outras como na
da agricultura o.s direitos vãj de 2ô a 30 °/° , e ções estrangeiras. Os productos que remettemos
todos nós sabemos que os direitos de importa de umas para as outras pagão direitos de sa-
ção sobre as materias primas , accrescendo a hida o direitos de entrada ; esses direitos vão
despoza dá sua acquisição ao mesmo tempo , a 10 94, e na provincia de Sergipe vão a 20 %',
destroem capitaes. até as iboboras pagão ahi 20 % I
Mas, Sr. presidente, obtenhamos tudo quanto A legislação fiscal maia ferrenha rege certos por
é necessario para melhorar a nossa agricul tos alfandegados ; as limitações que existem a
tura, obtenhamos todos os precisos instrumen este respeito, que forio arrancadas pelo clamor
tos ; qu m os mane Tá? Quem ensinará aos nos publico, são as mesmas que se dão em todos os
sos feitores o m meio desses instrumentos? Os ^aizes sobre os productos de nações estrangeiras.
nosso í agricultores onde beberão a necessaria Senhores, eu pedirei aos nobres ministros, ea
instrucção? Nós não tomos instrucção profissio vós, que reflictão sobre a grande conveniencia
nal, temo-nos contentado unicamente com a in de estreitar cada vez mú-, por meio de um com
strucção classica das materias de direito, de me mercio franc i e livre, e tão livre como o pensa
dicina, etc. mento, 'as nossas provincias, as nossas locali
O Sr- Góes Siqueira:— E essa mesma imper dades. (Apoiados. )
feitissima. Quando na França existia a distineção de pro
vincias estrangeiras e de provincias não estran
O Sr. Ferraz : — Assim, creio que os nobres geiras, gr nides escriptores, como Mellon, Veau-
deputados estão illudidos quando julgão obter bran, o outros proclaniavão o grande principio
todo o desideratum das vias de cosimunicaçáo. do liberdade do commercio interno, nas diffe-
Fallarei agora , Sr. presidente , a respeito da rentes raias da provincia : a França adoptou isto,
industria fabril : ella é nascente entro nós, vivo e o resultado foi o app irocimento de maior pros
debaixo da influencia dos direitos protectores ; peridade e de grandes vantagens commeroiaes.
mas encontra, por uma contradicção que nau Na Inglaterra, diz Adam Smith, a sua immensa
póde ser por maneira alguma justificada , obsta prosperidade provém da grande liberdade que
culos em toda a parte. existe no commercio interno.
Para obter-se a isenção de direito das mate Nos Estados-Unidos o mesmo acontece.
rias primas necessarias para seu alimento , o Recorremos a ox mplos modernos com o que a
maldito systema regulamentar fuz depender esse Austria tem qnerido acabar com a liberdade da
beneficio , primeiramente do uma carta que se Hungria? Os deputados daHespanha dizião na
denomina de fabrica nacional, que custa dinheiro, D ela : « E n proveito de nossa nacionalidade a
que paga sullo, direitos novos e velhos, etc, Providencia ha conservado as barr iras fiscaes
e depois de um requerimento ao thes iuro. Este que nos sepárão da Austria. "O principe Schau-
requerimento vai a informar á piovi ,cia res zemberg a pri ueira cousa que promoveu depois
pectiva, o presidente dessa provincia nnnêa pes di sua entrada no ministerio foi a oxtincção de
soas que possão colher as precisas informações, todas as barreiras fiscaes que separaváo a Hun
volta o requerimento, ha muita demora , muita gria da Austria. A Russia adoptou o mesmo sys
despeza e trabalho para obter-se uma solução tema, procurou acabar com as barreiras fiscaes
favoravel, e esta solução depende do pedidos, que existião entre a Polonia e o seu territorio.
empenhos e solicitações, e ás vezes se consegue O Zoliverein corno obteve essa grande proprie
a custo para um anno ou para dous. dade de que goza ? Tambem por meio da des
Senhores, o que a industria precisa para viver truição de todas as barreiras fiscaes que existião
é de liberdade, que não se impeça a sua mar entre os differentes estados de que se compoz :
cha, que se não colloque na dependencia de favo então, e em virtude de sua composiçao, pare
res, o que a não faça esmolar aquillo que se lho ceu que a Alleminha tornou-se a unica patria
deve, por interesse do paiz, livremente dar. do habitante di Strya, do habitante do Baltico,
(Apoiados ) do hibitante da Prussia, seu paiz é actualmente
Encontra obstaculos por outro lado ; os seus a Allemenha inteira.
productus pagão na exportarão, contra o systema Se pois, senhores, para acabar com as nacio
seguido por lodos os povos, direitos que em al nalidades, o commercio livre é o meio mais forte
gumas pri vincins vão a 20 por cento, e cm ou de que se póde lançar mão, para unir as diffe
tras, como na da Sergipe, a 27 para o exterior, rentes partes de*se grando todo que se chama
o aqui no Rio de Janeiro a 7 por cento, quer imperio do Brazil, para extinguir essas iiiffer-h-
para o exterior, quer para o interior. ças e rivalidades que se observão em differentes
A nossi navegação, a coustrucção naynl se localidades, como não lançar mão daquelle meio
acha sujeita aos mesmos embaraços, o o favor civilisador, que aperta e estreita os laços dannião?
que se lhe tem querido dar não pó le exoneral-a Eu reclamaria pois toda a attenção do governo
do grande peso que lhe verga «s costas Ha ahi pira esse ponto, porque essa é a grande poli-
uma lei, nao muito bem pensada, que dá um pre tiea, a politica necessaria ao nosso paiz (apoia
mio por tonelada ás pessoas que construirem ein- dos) ; tudo o mais, em comparação desse grande
barcuções ; mas sabeis, senhores, qual a vanta objecto, é mesquinho ou do pequena imporían
gem que se colhe ? Os direitos que se pagão pa cia.
las materias primas são maiores, vão muito além . A instrucção publica tambem 6 um meio que
du que aquillo que se dá do premio por cada to S ' considor i consentaneo para obter esse grande
nelada. fim do progreso material e moral do paiz, e
O commercio vive debaixo do peso d.j u na le- eu pedirei ao nobre ministro do imperio que não
y gislaçã i fiscal, que não póde estar ern harmonia se empenhe unicamente nas reformas dos estatu
com o progresso da sociedade. Admira, Sr. pre tos das escolas classicas juridicas e medicas, mas
sidente, que possão haver disposições mais ty- sim na creação do ensino especial ou profissio
ra,. nicas, mais vexatoiias, do que as do regula nal. Como póde prosperar a indu-tria fabril se
mento do porto da cidade da Bahia I Admira nós não temos estabelecimentos onde bebamos as
mesmo qne possa haver legislação que imponha noções necessarias para esses estabelecimentos ?
penas, que fulmine muitas muitas vezes contra (Apoiados.)
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 81
O menino me ctberia dizer sobro a parte da quando ellã não existe é necessario inven-
hygieno publica e pirticular ; nós tambem temos tal-a (Apoiados.)
necessidade de medidas qu possáo tender ao me Um Sr. Deputado : — E' isso que se fez (iíe-
lhoramento da hygiíne ; esta materia, porém toca clamações. Cruzão-se differentes apartes.)
a outros.
Sr. presidente, são estas as opiniões mais inti O Sr. Ferraz : — ... mas parece-me que ho
mas que tenho a respeito di politica do nosso mens como o nobre deputado não se devem
paiz, a ellas sacrifico todo outro qualquer prin contentar com razões tão frivolas para se apre
cipio, on o adio para tempo melhor, o debaixo sentarem em opposição ; eu me reservaria para
deste principio e a vista do que acabo de expen lugar competente, para quando tivesse razões
der eu apoio o gabinete actual. sérias. Senhores , eu não quizera de maneira al
Sr. presidente, agora passarei em revista os dis guma fazer recriminações ao nobre deputado
cursos de alsjuus deputados que mo precederão pela provincia de Pernambuco que na sessão
durante esta discussao, para fazer algumas con passada fallou em ultimo lugar , mas lhe peço
siderações sobre alguns de seus topicos, e lhes que não supponha que tenho tenção de oflen-
peço que se por acaso eu me desviar daquelle tra der-lhe por lhe dizer que tenho motivos justos
tamento e urbani dade que nos devemos como ho para fazer opposição ao actual gabinete lançasse
mens de letras, o como membros de uma assu-nbléa mão em seu discurso de factos tão mesquinhos,
tão augusta o digna de tanto respeito, que elles e que não podem demonstr ir outra cousi mais
uie observem o meu desvio, contando que serei do que a carencia de razões.
prompto a lhes dir a satisfação e corrigir ou re Senhores," o que foi que os nobres deputados
tirar minhas palavras. trouxerão para mudarem a sua opposição ? Foi
Quando, Sr. presidente, se hastêa uma ban a falta da expedição da tabella de custas , de
deira de opposição, quando se leva .ta um depu fixação ou reforma da alçada dos juizes, foi a
tado para combiter um ministerio que esteja no falta da nomeação de vice-presidentes e de offi-
poder, deve primeiramente medir o grande alcanca ciaos da guarda nacional para a provincia de
que suas palavris podem ter (apoiados), não por Pernambuco Ml O nobre deputado, Sr. presi
que possa offender aos ministros, mas porque se dente, com um talento tão' distincto omo tem,
suas palavras forem destituidas de provas podem se tem ju-tiça deve declarar a razão do seu
perder toda a força moral o seu discurso e a sua proceder. (Apoiados.) As razões do nobre depu
bandeira (apoiados), o inutilisar seu empenho ; tado não são essas que olle allegou , sabe o
pois, eu admiro que o m bre deputado pela pro p iz inteiro quaes são essas razões : são , por
vincia de S. Paulo, tão distincto como nós sa exemplo , a falta do consideração para com a
bemos, apresentando- se em opposição no minis provincia de Pernambuco , a falta do promoção
terio passasse, como passão as borboletas sobre de seus melhoramentos materiaes....
as flores, uma revista sobre seus actos sem O Sr. Sayão Lobato:— Talvez não tenha ami
apoiar com provas ou factos as suas palavras I... gos no ministerio. (Apoiados.)
(Apoiados.) O Sr. Araujo Lima: — Isso e amesquinhar as
O Sr. Nebias : — Tambem ainda não vi as ra questões ; é preciso avaliar aos mais com gene
zões que o nobre deputado tem para apoiar o rosidade.
ministerio no discurso que está pronunciando. O Sr. Ferraz : — a falta de recompensa
O Sr. Ferraz : — Quando não fossem outras, aquelles que expuzerão a sua vida e fortuna
são meus imigos, * não preciso por conseguinte para sustentar as nossas instituições naquella
dar a razão neste caso de meu pro.ceder. (Apoia provincia. . . .
dos.) O Sr. Auousto de Oliveira: — Existe muito
Permitta-ine o nobre deputado que lhe diga, mais; existe uma hostilidade feita ao partido por
refiro-me agora á parto do seu discurse que diz meio da Imprensa. (Reclamações.)
respeito ao ministério da marinha. O nobre de
putado notou unicamente a falta de carvão em Um Sr Deputado: — Tambein forão claros.
um vapor e a perda do outro (o vapor Aff»nso); (Trocão-se alguns apartes.)
eu aceito os principios do nobre deputado e
acenso o nobre ministro da marinha por não se O Sr. FtRiíAZ : — Eu responderei ao nobre de
achar na tolda do navio, por não se achir na putado.
bitaco la, por não dirigir o rumo com acerto, A vespoito da falta que encontrão da execução
por não pór a inachiua a meia força, por não dessa lei que autorisa a tabella de custas não
pairar, ou não collocal-o a capa, por não reconhe é defeito do ministerio, é sim defeito da camara,
cer a terra, e o perigi ; mas tambem mepermitta pirque ella joga sobre o ministerio tudo, como
o nobre deputado que pelos mesmos principios se olle tivesse tempo para tudo fazer, ou se elle
aceuse o ex-presidente da provincia de S Paulo pedisse.... (Apoiados J
pelos successos que tiverão lugar em S. José Uma Voz :— Tem pedido.
aos Pinhaes por occaslão das eleições e pelo san O Sr. Ferraz :—O principio aceito de confiança,
gue ahi derramado o principio de preguiça é que faz jogar sobre o
O Sr. Nebias : — Peço a palavra para res ministerio materias que devião ser decididas e
ponder.' feitas aqui....
O Sr. Ferraz : — Eu não quero accusario no O Sr. Bandeira de Mello: — Mis o gabinete
bre deputado, engana-se se pensa ass m . por aceita o onus coin muito gosto, e o tem pedido.
que estou convencido que o nobre deputado não (Apoiados }
podia prevenir o que aconteceu , e se assim me Um Sr. Deputado-— E quem não aceitará con
exprimo é porque quero fazer applicação do seus fiança ? 1
principios afim do mostrar a injustiça de sua
asserção (apoiados) , para mostrar a inconvenien O Sr. Ferraz : — Eu abrirei aqui um periodo
cia de se estabelecer em opposição fundado em para responder ao nobre deputado pelo Rio de
taes factos sem pensar no mal que dahi vinha, Janeiro.
por não poder, baseado em provas, justificar esta Como é que o nobre deputado defendendo os
opposição. (Apoiados.) outros miuistros e os elogiando, só so pegou
Eu creio, Sr. presidente, que no systema re corpo a corpo com um ? Parece me que o nobre
presentativo é tão precisa a opposição, assim deputado tem razões de amizade o de inimizade. ..
como é o- pão para a boca ; e creio mais que (Reclamações.)
tomo 3. 11
85J SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Sayão Lobato: — Está enganado ; se fiz lado o que occorreu. Cochrane chegando a Lon
isto foi pelou principios que ap .utei. dres registrou o seu contracto; a lei ingleza,
O Sr. Ferraz : — Nós fallamus perante uma outro registrado u-n contracto, não admitle que por
canina que att-ntu nos escuta, qu - prescruta os mesmoqualquer da mesma natureza e sobre o
possa servir do base a qualquer operação
nossos pensam entos, que pensa e que dá oeso a de credito,
tudo aquillo que nos a |ui expendemos (apoiados,; Apresentou-seá formação de qualquer sociedade.
Cochrane ao nosso ministro de
o nobre deputado, incommolado em sua sau le, baixo da direcção de um habii corrector, o Sr.
e podendo o esforco que fez causar- lhe mina, Hashwood.
pensa acaso que não se notará t r desprezado
tudo isso para só tratar de um ministro, e do quem Depois um grande capitalista, o Sr. Hope, de
um unico objecto, com a 'força com que o fez? nosso oministro nobre deputado tratou , exigio que o
declarasse se aquelle contracto
O Sr. Sayão Lobato : — Para tratar de um ob era valido; o nosso .ministro deciarou por es-
jecto du importancia para o paiz. cripto -ue sim, porque tiuha sido celebrado em con
O Sr. Ferraz: — O nobre deputado revelou nas formidade da lei, creio que de 18 de Agosto de
sU is palavras, tornou transparentes as suas ra 1828; a este respeif) Co hrane consultou diffe-
zões quando disse : « o nobre ministro não com- rentes advogados, e todos forão da mesma opi
prehendeu a lei de 2d de Junho de 1852, e ao nião. Nem carecia dar tratos a imaginação, nem
mesmo tempo repelllio tudo que não fosso essa átr icto sciencia, para consider ir-se perfeito um con-
lei, o que não tinha outro fim senão fazer ca feito em consequencia de urna autorisação
ducar.e co,, tracto de Cochrane e entabolar outro dada ao governo., Participou o mesmo ministro
de sua affeição ; » e o nobre deputado não tinha todas as occurr.-uci is, todas as esperanças de
outro fim senão o que todos nós temos, que é feliz successo dessa empresa do ministro do im
ver sustentadns , executadas todas as nossas perio d'í então, o Sr. visconde de MonfAlegre,
idéns, todas us nossas vontades ... este senhor, depois de ter passado essa medida
que perturbou tudo, que ia impossibilitando a
O Sr. Sayão Lobato: — O nobro doputado in realisação desse gra ide objecto , esse projecto
terpretou tudo que eu disse com o seu systeuia que o nobre deputado enunciou nesta camara,
de amizade e de inimizade. ein consequancia dos grandes estudos feitos por
O Sr. Ferraz : —Eu direi que o nobre deputado homens de grande saber, de grande patriotismo,
interpretou tudo pelo seu systeuia de odios e de grande merecimento: o Sr. visconde de MonfAle
de vingança gre, digo, declarou que estava caduco o contracto.
Ú Sr. Macedo houve de replicar, demonstrando
O Sr. Sayão Lobato: — Peço a palavra para que o direito de Cochrane era direito que estava
responder. acima de tudo, era direito perfeito que havia de
O Sr. Ferraz: — Senhores, permitta-me a ca dir lugar a indemmsações, a reclamações e a
ma a que eu persista neste pmtoedeixeo mais. embaraços com o governo iuglez, como outr'ora
Quando veio a esta ca nara o contracto cele deu a questão do Young, e como á Grecia deu
brado com o nifjlez Cochrane em 1S49 pelo vis a de D. Pacifico.
conde de MonfAlegre, na praça do Rio de Ja Nesse tempo estava creio que já na adminis
neiro, na propria provincia desse nome, apre- tração o nobre ministro do imperio, o qual refle-
sentárão-so idéas de novas empresas sobre o ctio sobre essas razões, e não respondendo logo
mesmo objecto. Us Srs. Waring e Davis apresen- ao Sr. Macedo sujeitou tudo ao conselho de es
tárão-sa com iguaes pensa nentos e emb.ircárão tado e a vista de t lo fortes razões deu as suas
para Europa, onde já se achava o Sr. Cochrane.... iustrucções, e tudo que tem corrido sobre este
Hom. ns (usando da palavra do nobre deputado), negocio em Londres e o necessario effeito dessas
homens de muito merecimento, de grande patrio instrucções.
tismo, trabalhárão com todo o afinco no esto lo Perguntarei agora o nobre deputado . quem per
de taes objectos, escreverão, apresentárão a de turbou a operação? Foi por ventura o governo,
putados e a ministres memorias, e então no meio ou
de todas estas circunistancias nasceu nesta casa cas i foi essa medida imprud nta iniciadi nesta
que não respeitava um direito basea lo em
uma emenda substitutiva ao projecto que appro- um contracto celebrado em conformiudade da
vava o contracto de Cochrane. Esta emenda sub
stitutiva não póde conseguir preferencia na sua legislação vigente'...
discussão, e por consequencia o projecto afinal O Sr. Sayão Lobato:—A medida deixava toda
cahio sob os golpes do nobre deputado e- de a faculdade ao governo, quj podia fazer tudo..._
outros seus" collegas, e o resultado foi a apre O Sr Ferraz: — Se concedeis que o governo
sentação dessa mesma emenda substitutiva como podia fazer tudo, como o censurais só porque....
projecto original, que afinal passou como lei.
Disse o nobre deputido que o desazo, a imbe O Sr. Sayão Lobato : — Porque fez tudo em
cilidade, permitta-se-mo a expressão, do ministro um sentido máo.
do imperio ião fazendo com que esse grande O Sr. Ferraz : — No sentido que o nobro de
objecto, a estrada de ferro, inteiramente ba putado desejava, no sentido de suas .idéas, con
queasse. Conceda-me o nobre deputado que eu, formo as suas affeições ? 1 I
escudado com uma grande autoridade, autoridade O Sr. Sayão Lobato : — Eu responderei em
a que o nobre deputado recorreu nesta discussão, tempo.
o nosso ministro em Londres, lhe diga que o
procedimento do nobre deputado nesta camara, O Sr. Ferraz: — Ha cousas que se não podem
fazendo caducar um contracto que sómente de responder, est io muito calvas, estão muito claras;
pendia da sua approvação em dous artigos, é o nobre deputado aceusa o nobre ministro por
•1 ue apres niava ante o eslrangeim o governo não ter lançado mão da concurrencia. e ao mes no
o paiz como incapaz de poler sitisfazer ans tempo diz que a concurrencia tinha matado tudo.
seus empenhos ; esta consideração alheava tolas O nobre deputado me pareco qm não tem idéas
as in di las de credito que por veníura -m bene precisas sobre a concurrencia. O principio da
ficio dessa grau le empresa se puJ.-sssem obt*r. concurrencia ó o mais salutu- possivel, quando
Esse nosso digno ministro, cujos conhecimentos ost i concurrencia pó le efivetuar-se , quando a
juridicos ninguem póuv contestar, foi além do -materia sobre que ella versar póde offerecer
que desejava o nobre deputado, e affirmou que lucro ao capitalista especulador (fallo em espe
a camara tinha-se torn ido omnipotente , tinha culador no termo conunercial). A estrada entre
usado de uma tyrannia. Vejamos agora por outro a provincia do Rio de Janeiro e as provincias
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 83
de Minas e S. Paulo offerecia vantagem e lucro questão para Lendres, porque alli se offerece
igual ou maior, talvez a 28 %, que oifcrece a de m íior garantia de successo, qual é a accusação ?....
Cuba; suas circunistancias até são melhores; o O Sr. Bandeira de Mello : — O governo, que
principio, pois, da concuriencia neste ponto era já tinha feito um contracto, devia respeital-o.
principio de summa importancia. Houve concur-
rencia, houve propostas, mas o nobre deputado O Sr. Ferraz : — Bem diz o nobre deputado ;
não queria que desse a empresa aos Sis Ottoni creio em suas palavras, piesto-lhe todo o assen
e C, porque as vantauens que offerecião por timento, como profissional n i materia.
exageradas erão fantasticas ; não queria que se Disso tambem o nobre deputado que não po-
désse a Cochrane, porque o seu contracto tinha di i haver grande successo om uma estrada que
caducado ; a quem queria pois que se désse ?... não tive-ise por pónto extremo uma grande po
O Sr. Sayão Lobato: — Não disse semelhante pulação. Perdóe-me o nobre deputado que lhe
pondere que esie seu principio falha, por exem
cousa. plo nus Èstados-Unidos...
O Sr. Ferraz: — Está no seu discurso, ahi O Sr. Sayão Lobato : —Este .meu principio
diz o nobre deputado que as vantagens offere- não foi tomado na generalidade em que o nobre
cidas pelos Srs. Ottoni e C. erão fantasticas , deputado o toma.
entretanto erão as mais vantajosas. O nobre
deputado disse igualmente que não tinha havido O Sr. Ferraz : — A' vista desta reclamação
verdadeira concorrencia da segunda vez, quando cedo, porque não quero mais que o esclarecimon-
dos actos e annuncios consta que a estrada foi to do negocio.
posta a concurso. O nobre deputado ainda cen Por uma não interrompida experiencia na Eu
surou o nobre ministro porque delegou essa ope ropa conhece-se, segundo o conde Daru, grande
ração ao nosso ministro em Londres.... engenheiro francez, que os pontos intermedios
O Sr. Sayão Lobato. — Não censurei tal, antes de uma linha sempre produzem mais lucro do
dei 'parabens. que os pontos extremos, por uma razão muito
facil de apreciar-se, e é que nos differentes pon
O Sr. Ferraz: — O nobre deputado disse que tos intermedios ha estreita ligação, ha frequentes
ao nobre ministro do imperio tinha sido precisa communicações que incessantemente se augmon-
a direcção do nosso ministro em Londres para tão entre as familias que os habitão. Estis
poder lazer alguma cousa ; que se a qstrada so relações tornão-se mais intimas, estas commuui-
fizer ó devida sómente aos esforços do nosso mi cações muito mais frequentes, pelas facilidades
nistro em Londres. Senhores, eu creio que a em que creão as estradas de ferro ; entretanto que
presa se effoctuará, não do modo porque o nobre nos pontos extremos o mesmo não s« dá, e ás
deputado deseja, não do modo porque muitos a vezes só são frequentados pelos agentes dos cor
Querem, mas do modo o mais conveniente : a reios o pelos mensageiros do governo. E os Es-
direcção que devia servir de cabeça á associação tados-Uuidos não ofl.irecem aos nossos olhos a
que se creasse em virtude dn contracto de Co maior prova disto ? Eu desejára que o nobre
chrane declarou francamente que não importava deputado dissesse a razão...
com o empreiteiro, que aceitava qualquer em que o O Sr. Sayão Lobato : — A linha da lei de 26
governo confiasse. Este facto, esta vantagem por de Junho deve ser preferida pela razão do que
sem duvida não é um effeito partido desta ou comprehende immensas povoações.
daquella individualidade, ó o' effeito necessario
do credito do governo do Brazil na Inglaterra O Sr. Ferraz : — Comprehende immensas po
e em toda a Europa; ó cffeito tambem , é ver voações I Mas qual é a linha que o nobre de
dade, da habilidade que teve o nosso ministro putado quer ? Será a do engenheiro Chapinan?
em pór um paradeiro ao mal , resultado dessa O Sr. Sayão Lobato : — Pois não temos o
medida iniciada pelo nobre deputado, em des conhocimento das localidadas ?
truir as consequencias desse acto que fez caducar
um contracto devida e legitimamente celebrado O Sr. Ferraz : — O conhecimento das locali
pelo governo. dades por nós pódo inteiramente falhar ; porque
pódo haver razões para que uma linha não
O Sr. Sayão Lobato : — Faz-me muita honra. possa seguir por todos esses lugires.
O Sr. Ferraz : — Sim, estabelecida a questão O Sr. Nebias: — Já temos a linha estabeleci
na sua genei alidade faz honra, mas est ibelecida da por lei. .
a questão sobre a sua verdadeira base, conside O Sr. Ferraz:—Mis quaes os trabalhos sobre
radas as circumstancias que lhe lerão origem, e nue foi decretada ? Serão os do engenheiro
as suas consequentes, como seja a de destruir Champmam ?
um contracto celebrado conforme á lei, creio que
não lhe póde honrar, pelo menos tiuha-se esque O Sr. Wanderlev: — Nem a lei precisou linha
cido do grande principio de direito, que por uma alguma, apenas fallou de provi. .cias.
lei se não póde dissolver um contracto feito na con O Sr. Fiirraz : — Diz muito bem o meu nobre
formidade da legislação do paiz amigo, a lei não precisou linha alguma, apenas
O Sr. Sayão Lobato: — Em conformidade das fallou de provincias (apoiado?! ; e o governo
leis do paiz? ' está mais habilitido, conforme as informações
O Sr. Bandeira de Mello : — Em virtude da pnticas que colher, para determinal-a, do que
lei podia o governo sustentar o contracto. nós outros que muitas vezes nos lev imos por
informações pouco exactas, informações dictadas
O Sr. Ferraz : — Diz o nobre deputado, que pelo interesse
nestas materias é profissional, que o governo O Sr. Sayão Lobato : — A natureza do solo já,
podia sustentar o contracto que a lei destruio ou é conhicida.
quiz destruir...
O Sr. Bandeira de Mello : — Não quiz ; O Sr. Fhiraz : — O nobre deputado conhece
autorisou ao governo para sustentar a sua firma. profissionalmente o solo ? Eu não sou engenheiro,
e portanto não posso apreciar se o solo serve
O Sr. Ferraz : — Então qual é a questão ? para uma estrada de ferro ; e uma lei que sem
Se a lei autorisou francamente ao governo para prévio exame, sem plano, determinasse que a es
sustentar o contracto, se dentro dos limites da trada passasse pela casa de fulano e pela extrema
lei o governo o celebrou conforme lha pareceu de sicrano, por tal ou tal povoação, seria uma lei
melhor e mais justo, se remetteu o desfecho da inteiramente destituida de razão. (Apoiados.)
84 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
Sr. presidente, o nobre deputado tambem accu- siderou-se que ( permitta-me o nobre deputado
sou ao ministerio porqae em um dos seus edi- que use das suas expressões) ora pr 'ciso ac ibar
taes estabeleceu o reD ;ixamenlo i la tarifa quando com ussns intrigas mesquinhas que se inovêráo
o juro excedesse do 12 % ; o então exclamoui" Oh I nesta córte, e que já causaváo tédio e nojo, e
é assim que quereis que os nossos capitaes con- que p di io peiorar a s irte desta empreza ; de-
virjao para essa grande empveza ?» po s que a lei imcia la pelo nobre deputado póz
O Sr. Sayão Lobato : — Está enganado, não problematica a realisaçãu dos contractos celebra
foi por isso. Censurei as condições novas que o dos pelo governo, é que pareceu indispensavel
Sr. ministro tentou estabelecer para execução da a garantia de 4 ou 5 % de juros, o se não puderáo
lei, sendo uma delias fazer que a empreza fosse obter condições mais vantajosas. Pelo receio de
de fundos perdidos. que, á vista de tantas dificuldades, podi i succe-
uer que não houvesse quem quizesse contraetar
O Sr. Ferraz : — Isso precisa de explicação, sem esta condição, sem esta garantia, é que es-a
porque podemos não saber o que sejão fundos medida foi aconselhada. Foi isto o que vi da par
perdidjs. ticipação do"Sr. Sergio, pessoa a quem o nobre
O Sr. Sayão Lobato : — Ter a companhia de deputado e eu muito respeitamos.
perder seus capitaes no fim do prazo. Mas, no meio de tudo isso, poderá alguem
receiar o exito da empreza ? Eu não receio, por
O Sr Ferraz : — Bem, Vou ahi. que não me importo com o empreitiiro, só me
Senhores, ha ama grande vantagem em que os importo com a realidade da mesma empreza.
capitais do paiz não se immobilisem nas estradas (Apoiados.)
de ferro, porque nossos capitaes são limitados e O Sr. Sayão Lobato : — Deve-so importar com
faltarão para nossa industria, que tambem deve o omprezario, porque se a primeira estrada não
prosperar. A grande vantagem está em chamar der lucro ninguem quererá mais emprohender
os capitaes estrangeiros. (Apoiados.) - estradas de ferro no paiz.
A garantia de 5 ou de 4 % ^e juros, a provi
dencia de rebaixar a tarifa quando o lucro exce O Sr. Ferraz :— Fallo d'aquelles que fizerão
der de 12 %, são medidas mui importantes ; propostas ao governo, ou sejão homens de grande
porque por ellas se presta ao commercio, ao paiz saber e merecimento, ou Cochrane, ou outra qual
e á população, meios mais commodos de commu- quer pessoa. Seja quem quer que fõr que faça a
nicação. (Apoiados.) proposti, offerecenio garantias suflicientes em
O Sr. Sayão Lobato : — Essas providencias são que possamos repousar nossas esperanças que se
da lei. lhe dê ; pouco importa saber quaes sejão essas
pessoas, só me importo com o exito da obra;
O Sr. Ferraz : — Mas o nobre deputado tam o credito do Brasil é grande, mo inspira muita
bem fallou nisso. confiança sobre o bom exito dos capitaes que a
Os homens profissionaes nesta materia, entre levantarem.
elles Robert Kennards, que tem sido incumbido O nobre deputado fallou tambem ácerca dessa
de iguaes em prezas na Belgica, na Azia, e na companhia de Mauá, e usou da palavra espe
propria Grã-Bretanha, assentão que se deve dis culações em máo sentido. Sinto grande dificul
pensar a garantia de juros pela gran le vantagem dade em tratar desta materia, porque as vozes
de arred ir se toda influencia do governo, todos sabidas daqui deste circulo podem muito bem
os seus exames nas operações da companhia, por peiorar a sorta díssa empresa; mas se a camara
que esses exames demorão o progresso da em- me permltte, direi que, em vez de autorisar
preza, e então propõem que a tarifa marque. o uma especulação, esse novo contracto a que o
médio e o minimo da portagem, e exigem maior nobre deputado se refere emp dorou a sorte
augmento de annos do privilegio. dessa co npanhia, isto é, actualmente, porque
Vejamos agora o outro ponto, e 6 esse de que para o futuro pódo dar grandes lucros. O mes
quando se acabar o tempo volverá tudo ao governo. mo nobre deputado disse que talvez essa em
Qual seria o resultado de restar á companhia todo presa não se pudesse realisar.
trem, todo o material da estrada? Poderia ella O Sr. Sayão Lobato : — E' irroalisavel.
impór a lei ao governo, elevar a tarifa como qui-
zesso, obrigar-nos a condições onerosas, porque O Sr. Ferraz : — Não sei, não sou engenhei
ella se achava na posse do unico caminho de ro. Creio que é realisavel com outras condições,
ferro que teriamos, e dessa medida por ventura com maiores capitaes ; e digo que não foi uma
poderia resultar grandes desvantagens. Para pre especulação, porque, senhores, o resultado polo
venir pois isso, era preciso que o governo estabe principio de que os lucros so tornarião mais
lecesse essa condiçao, a qual não é por certo remotos tem sido que a* suas acções, que tinhão
filha delle, é filha das propostas que lhe forão obtido até 100$ de premio, baixárão, estão ao
feitas ; não é calculo do governo, é base das pro par, e talvez não tenháo compradores. Que espe
postas que lhe forão offerecidas ; e portanto o culação pois podia ser esta no sentido que o
governo não deve ser responsavel por aquillo nobre deputado trouxe ?
que os empreiteiros julgão que devem offerecer. O Sr. Sayão Lobato : — Eu disse que seria
O Sr. Wanderlev : — Isso é muito util, e não sómente u na especulação, se realmente tinha-aa
prejudica aos empresarios, porque estes durante em vista a execução da lei de 26 de Junho,
o tempo do privilegio podem amortiz ir o capital porque é incompatível com a execução dessa lei,
duas ou mais vezes. visto que. . .
O Sr. Sayão- Lobato : — Entretanto o Sr. Sprgio O Sr. Ferraz (ao tachygraphof: — Ahra pa-
asseverou que era impossivel realisar a empreza renthesis, e escreva o discurso do nobre de
sem a garantia de juros. puta lo.
O Sr. Ferraz : — Como está enganado o nobre Senhores do que tenho dito já se vê que o
deputado I A primeira p irticipação do Sr. Sergio negocio não era para o nobre deputado faltar do
era a da proposta de Roberto Kennards, uma modo que fallou, usando dos termos — embaça-
das pessoas mais influentes na direcção. della, especulação, e outros que taes. (Apoia
dos.)
O Sr. Sayão Lobato : — Não prevaleceu o seu Senhores, eu disse que o nobre deputado tinha
voto. rebaixado a discussão, e não que o objecto do
O Sr. Ferraz: — O Sr. Sergio participou a seu discurso, as estradas de ferro A maneira por
possibilidade desta base ; depois porém que con- que fallou, as expressões dur is qua empregou,
-
Senhores, eu terminarei o meu discurso decla uma attenção exclusiva e cencentrada, parece que
rando mui sincei amento que, quando tantas ra nada perde, que pelo contrario mais se fortifica
zões que temos não preponderassem na mente na opinião do paiz com a demora e o estudo
illustrada da maioria, declarando alguns mem .da alguns dias na illustre commissão da casa
bros que querem pouco tempo para meditarem "que corresponde á confiança ministerial-
sobre a materia, e sendo esta incontestavelmente Eu vejo, Sr. presidente, no projecto, desde o
ardua e espinhosa, as conveniencias que resultão seu primeiro artigo, a intervenção do governo
de um debate interessante, as attenções devidas na organisação o gerencia do banco, desde a
a collegas que se estimão reciprocamente, eriio approvação dos seus estatutos. (Apoiados.)
mais que bastantes para se approvar o requeri O Sr. Paula Candido :— Se não fosse isso eu
mento de adiamento, pelo qual pretendo votar. não votava por elle.
O Sr. Neblas:—Senhores, por mais urgente O Sr. Nebias :— O nobre deputado que me dá
e util que seja o projecto, paroce-me que o go o seu aparte vê na intervenção do governo uma
verno e a maioria não devem enxergar um des garantia sempre boa, um principio absoluto e
credito e um perigo para a sociedade na demora necessario. Nem ao menos se devo attender á
de mais 3 ou 4 dias que por ventura possa gas organisação dos bancos, á sua natureza o mis
tar a commissão em um exame mais aprofun são especial, haja ou não haja subvenção do
dado acerca deste importante assumpto. ~ estado. Tudo é materia liquida e estudada, e
O Sr. Paula Baptista: — Isto ó inais claro do nada pesão as opiniões encontradas dos homens
que a luz meridiana. da sciencia.
O Sr. Nebias: —Nao tratamos aqui do nos pór muito Ainda hoje foi votado esse outro projecto que
em luta com o senado, não tratamos de advo importa para o mercado e praçi do Rio
de Janeiro, mas que por certo não tem a mesma
gar a nossa precedencia em prejuiso daquella extensão
corporação ; cada camara tom seu lugar no paiz, opiniões não do que nos oceupa agora ; e quantas
tem sua intelligencia, tem necessidade de exa apparecerão sobre essa crise, que
minar seriamente os objectos que lhes são dados afelizmente não passa de alguma falti que sente
praça para suas operações de commercio. Con
para ordem do dia. testarão alguns a crise que outros virão muito
Que o objecto é grave e muito importante, carregada,
creio que a camara toda o sabe e concorda ; ella. Vião oo mal assignárão-se causas diversas para
que na camara dos Srs. deputados ainda não crescente de tantasoraemprezas na febre insustentavel o
houve um exame , ainda nao appareceu uma na cessação do trafico o alta dosimultaneas, ora
preço dos ser
base para os nossos trabalhos e discussão, tam viços, ora na retirada dos capitaes para o in
bem creio que a camara toda concorda. terior de nossas provincias, e mesmo na expor
Uma questão, Sr. presidente, muito grave ap
pareceu por occasião do adiamento, e veio a ser etação de muitos capitaes para fóra do imperio,
a camara, que concedeu uma medida de con
essa da iniciativa. Alguns dos meus nobres col
legas já provãrão, por uma parte do projecto, fiança ao Sr. ministro, poderá por ventura hoje
dizer francamente sua opinião ao paiz sobre
que a iniciativa delle pertencia a esta camara, tal crise? Por isso, digo, quando esse projecto,
e eu tomarei ainda por outro lado essa ques
tão, porque ninda vejo no projecto outra ab- que não jogava tanto com os interesses da so
sorpção em identico sentido de conflicto e golpe ciedade brazileira, foi um objecto do tantas du
vidas, de tanta contestação, não póde tambem a
para os nossos poderes ; e para esse ponto opinião do nobre deputado o de outros sobre o
chamo a attenção da camara e do Sr. ministro. actual soffrer muita contestação, encontrar diffe-
O que faz o projecto, Sr. presidente? Crêa rentes opiniões?
um banco, pede, ordena um emprestimo, e de
pois estabelece o modo por que esse empres O Sr. Paula Candido dá um aparte que não
timo e seu juro deverá ser satisfeito ; e não será percebemos.
isso da iniciativa da camara dos Srs. deputados ? O Sr. Nedias. — Sr. presidente, ha demais uma
Sim, sem duvida. Creado o banco, trata-se de outra questão muito grave no projecto, porque
pois do resgate do papel-moeda. pedindo-se para eu vejo que elle no seu segundo artigo declara
esse fim, por emprestimo ao banco, a quantia que o banco é sómente de interesse commer
de 2 mil contos de réis annualmente, e para cial e não estende seus boneficios a outros
pagamento desse emprestimo assim contrahido interesses, a outras industrias, nem a nossa
assigna-sa desde já, ou destina-se, uma certa agricultura, que demanda especial reparo
parte das rendas publicas.
Quando nós na lei do orçamento todos os Um Sr. Deputado : — Discutamos o projecto,
annos applicamos uma certa quantia 'para amor não ndiomos, porque isso o atraza muito.
tização da nossa divida interna e externa, usa O Sr. Nebias:—Quem quer que vá o projecto
mos sem duvida da iniciativa que nos compete. a uma commissão, afim de qne elli atte adendo
Como pois se quer privar a camara dos Srs. aos pontos capitaes do mesmo interponha o seu
deputados dessa iniciativa no objecto de que se parecer sobre elles, quer adiantar a discussão,
trata. , porque procura assim uma base methodica para
Talvez, Sr. presidente, eu esteja enganado; os nossos trabalhos.
talvez eu não comprehenda bem o artio do Em verdade, Sr. presidente, o projecto é -de
projecto que estabelece o emprestimo , assim natureza sómente commercial, porque vemos o
como estabelece o m do do seu pagamento, e seu art. 2° que diz: « crear-se-hão caixas filiaes
por isso não terei razão no que digo ; mas pa- onde as necessidades do commercio exigirem... »
rece-me que da maneira por que ello está re No entretanto que todos os dias claina-se pelo
digido não se póde entender outra cousa. favor a industria, á nossa agricultura tão cheia
Agora, Sr. presidente, que o negocio é muito de embaraços, tão cheia de vexames, e reduzida
giave, que o projecto apresenta pontos compli de braços, vemos nós que sómente esse pro
cados para uma discussão muito séria, pontos jecto é de interesse commercial.
muito palpitantes de interesse publico, que Vejo, mais, Sr. presidente, que se trata nelle
affecti altamente a fortuna do estado, o movi do resgate do papel-moeda e da nossa divida,
mento commercial em todo o imperio, 0 verdade, ponto este que a commissão tem de examinar
e ninguem póie pór ein duvida todo o seu al muito seriamente, para nos dizer o seu parecer
cance ou influencia monetaria. E um projecto a respeito. Além destes artigos, aqui leio outro
semelhante, que depende de um serio e deta muito melindroso, que por muita confiança que
lhado examo, que reclama do corpo legislativo mereça o Sr. ministro julgo que deverá ser de
2^8 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
liberado o discutido com calma e reflexão supe Aquelle a quem pertence fazer as cousas, tam
rior a esse principio de confiança, attendendo-se bem pertence destruil-as ou removêl-as.
a sorte do banco assim organisado, e ao futuro Entendo que esto principio não tem applicação
do paiz ou da fortuna publica que nelle póde para o caso vertente : teria applicação se por
ficar compromettido, já pela emissão facultada ventura fossem dous poderes differentes, um que
no dobro de seus fundos, c já pelo arbitrio que fizesse, e outro que destruisse. Mas no caso em
noto no § 7° do primeiro artigo. (Lê). Todas questão a camara dos Srs. deputados e o senado
estas considerações, Sr. presidente, acho muito têm a mesma attribuiçã o de fazer leis. Logo,
procedentes, e muito louvaveis esses escrupulos o poder que estabelece e o poder que tira não
em objecto de tamanha importancia, ainda qire ê differeme. Se o poder legislativo praticasse
muito sabiamente debatido no senado ; e a ca uma cousa, e o poder executivo pretendesse ti
mara póde ter necessidade do ndiimento para rar ou destruir essa mesma cousa, então teria
regularisar e ainda mais instruir os seus tra applicação o principio apresentado pelo nobre
balhos. deputado. Creio, Sr. presidente, que esta dis-
Sem offender pois a dignidade da outra ca tineção é muito clara.
mara, o salvo todo o respeito que tributamos ás O Sr. Paula Baptista: —Na opinião do nobre
suas luzes, entendo que temos justas razões para deputado quem ó o competente para conhecer se
adoptar o adiamento ufferecido pelo nobre de um imposto é ou não prejudicial?
putado do Ceará. O Sr. Theopihlo Gaspar: —Aqui não se esta
O Sr. Thpophilo Gaspar: — Sr. presi belece im osto algum, tira-se o gravame de um
dente, a materia do que se trata tem sem du imposto que existe. '
vida dous fundamentos ; em primeiro lugar se O Sr. Paula Baptista: —Mas quando um im
tem procurado demonstrar que ha necessidade posto é máo, a quem ipertence supprimil-o ?
de que a cau.i ra considere completamente o ob
jecto importante que se vai tratar. Se por O Sr. Theofhilo Gaspar: —Ha ainda uma ra
ventura toda a discussão versasse sobre este zão juridica. A iniciativa da camara dos Srs. de
ponto, eu me limitaria a dar o meu voto sym- putados sobre os impostos ó um privilegio, e
bolicamente, porque seria indifferente que fosse segundo os principios de hermeneutica juridica
a questão tratada hoje ou amanhã, ou nesses e de direito, os privilegios nunca são extensivos
tres ou quatro dias ; mas, Sr. presidente, nesta e sim restrictivos, e então segue-se que não se
questão de adiamento, se ha em segundo lugar póde levar a disposição da constituição além das
aventado um principio que na minha opinião é suas palavras.
muito importante, se tem querido pór em duvida Por conseguinte, se a constituição determinou
que ao senado compita' o direito de iniciar essa simplesmente que á camara dos Srs. deputados
medida. pertence decretar os impostos, não ó o mesmo
Se eu entendesse que á camara dos Srs. de que dizer que quando a camara tenha decretado
putados é que competia a iniciativa nessa ma um imposto sómenta a ella pertence alteral-o
teriar eu seria de accordo qne se remettesse o ou supprimil-o.
projecto para o senado, dizendo-lhe que não era Quanto ás outras observações que forão feitas,
aceito por ser elle attentatorio das attribuições mp parecem de pouco momento ; e por isso não
da camara dos Srs. deputados ; esse é o meio me oceuparei delias. A materia está bastante-
que deveria ser empregado, e não o adiamento, mente conhecida ; todos nós temos observado a
que não remedêa esse mal. discussão que a respeito delia houve no senedo:
Essa reflexão que acabo de fazer é a primeira temos visto a sua publicação nos jornaes ; aqui
observação sobre a materia ; a outra, a que pas tambem terá essi discussão de durar muito
sarei agora, ó a mais importante. Pergunto •- tempo, o conseguintemente todos teremos occa-
pertence a iniciativa desse projecto á camara sião de manifestar as nossas opiniões.
dos Srs. senadores ou á camara dos Srs. depu O Sr. Araujo Lima : — Autor do adia
tados? Para mim é a iniciativa nessa questão mento, vejo-me obrigado a expòr com mais lar
indiflerente que seja tomada por uma ou por gueza os fundamentos por que o propuz.
outra camara. (Recíamaçfcs). Apezar, Sr. presidente, da opposição que tem
Segundo a constituição, Sr. presidente, pertence apparecido ao adiamento, os honrados deputados
á camara dos Srs. deputados a iniciativa quando que o têm combatido me permittirão que eu
se tratar de estabelecer impostos ; mas a questão lhes diga que reputo intactos os motivos em
presente ó muito differente disso ; r.ão crea im- que o fundei. Qual foi a primeira consideração
§ostos o projecto, apenis isenta do de sello os em que fundamentei o adiamento ? A importan
ilhetes do banco ; e embora o nobre deputado cia da materia, e conseguintemente a necessi
pela provincia de Pernambuco (o Sr. Paula Ba dade de ser oxaminada pelas com missões da
ptista) dissesse que tanto valia estabelecer como casa. Por ventura este motivo foi destruido?
supprimir impostos... De fórma nenhuma.
- O Sr. Paula Baptista.—Apoiado I Muito bom I A camara divide-se ein commissões que com-
poem-ae das especialidades que ella reputa mais
O Sr Theophh.o Gaspar: — . . . emqnanto ao apropriadas para- estudar as materias e apre
estabelecimento de impostos pertence sem con sentai as ao seu exame com a madureza e sa
testação a iniciativa á camara dos Ss. deputa bedoria que é necessaria.
dos ; porque a constituição entendeu que sendo Esta materia é importante ? Acredito que nin
os Srs. deputados eleitos directamente pelo povo, guem o contesta : se pois esta materia c impor
e tendo de voltar ao seio do mesmo no fim de tante, porque razão não deve ser ella submetlida
quatro annos, zelarião muito mais os interesses a meditação o exame da commissão respectiva?
do povo.. . . Acaso aceitará a camara o juizo que me parece
O Sr. Paula Baptista:—Muito bem 1 se faz das commissões da casa, a saber, de que
ellas não servem para nada, não examinão ma
O Sr. Tneopihlo Gaspar: — . . . e não crearião teria alguma ?
impostos onerosos ao povo tendo de voltar para . O Sr. Taques : — Quem faz esse juizo?
elle ; mas na questão de que se trata não é
assim ; o projecto em lugar de trazer esse gra O Sr. Araujo Lima : — So este juizo é verda
vame, em parte o tira. deiro, se assim como os francezes em uma outra
Agora vou ao principio apresentado pelo nobre ordem de idéas dizem a respeito dos program-
bre deputado: Ejus est tollere, cujus est condere. mas — mentiroso como um programma —, esta
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 239
mos nós autorisadns a dizer de nossas commis- em geral, mas contesta-se com relação ao caso
sões — preguiçoso como uma commissão —, então da que so trata. Se esta materia por sua natu
em verdade o adiamento é inutil. Ora, isto ó reza devia fazer pirte de uma proposta, o governo
nhsolutamente inadmissivel. não póde por meio disfarçado despil-a da natu
Mas dizem os nobres d'putidos combatendo reza que lhe ó propria ; por conseguinte, qualquer
o adiamento : « Este projecto foi discutido no que soja a verdade do principio em geral, a sua
senado ; essa discussão appareceu impressa no applicação falha no^ciso de qne se trata.
Jornal do Oommercio em resumo, e mais larga Direi ainda, Sr. presidente , duas palavras a
mente no Diario do Rio, e estas [olhas forão respeito de um outro fundamento em que baseei
distribuidas na casa juntamente com o pro o meu adiamento, isto é, o iniciativo.
jecto. » Maravilho-me, Sr. presidente, da fórma porque
Mas nem essa discussão no senado , nem a tenho visto combater semelhante principio 1 1 Ao
impressão nas folhas, nem a distribuição que passo que é uma disposição tão expressa na con
foi feita na casi, nullificáo por fórma alguma stituição, ao passo que essa disposição é violada
o principio de que as materias importantes, - manifestamente com o projecto que se discute,
devem ser enviadas ás commissões respectivas os nobres deputados dão-llie uma interpretação
para que sejão devidamente examinadas. a mais singular que se póde imaginar I I
Como pois os nobres deputados pretendem es- Meus senhores, como e que se póde contestar
tabelecr o principio, inteiramente novo, de que o principio de que a quem compete fazer a lei
por isso que uma materia se discute na ca compete revogil-a ? Se á camara dos Srs. depu
mara vitalicia , por isso que essa discussão tados compete a iniciativa dos impostos, como
apparece impressa nos jornaes, ff por isso que se lhe ha de negar o direito de abolil-os ou al
esses jornaes são distribuidos na cisa, nenhum terai- os em certos casos ?
vigor deve ter a disposição consagrada no nosso Dir-so-ha, como affirmou um nobre deputado
regimento de remetter taes imterias ás commis- por Minas, que a disposição da constituição só
sões da casa ? Piirece-me pois que, qualquer se applica na creação do imposto, em que ha
que seja a força de que estejão revestidas as gravame, cessando por conseguinte na suppressão
considerações que os nobres deputados apresen- . delia, em que tal gravame se não dá ? O meu
tárão, não so póde dizer que o meu argumento nobre collega permittirã que lhe diga que foi um
está destruido. interprete muito infiel da constituição.
Qual foi ainda, Sr. presidente, o segundo fun Representante immediato do povo, apalpando
damento em que baseei o meu adiamento ? Foi por assim dizer suas necessidades, a camara dos
este • a materia do projecto de que se trata - deputados é a mais apropriada para decretar a
acha-se consignada na fulla do threno, ó uma croação ou cc-sação do imposto.
idéa que o gabinete reputou tão importante , Se pois esto . é o fundamento da iniciativa de
que julgou dover incluil-a em um dos topicos que a constituição nos investe, elle se applica,
da falia do throno. quer para a decretação de impostos novos, quer
Se pois esto projecto é pensamento do g ibi- para a abolição ou alteração dos que já existão.
nete, se como tal devêra ter a natureza de Nem, meus sonhores, apresenta o menor peso
uma proposta, será licito ao mesmo gabinete a cousideração que foi emittida pelo nobre de
despil-a de sua natureza propria, submettel-a putado pela minha provincia. O meu honrado
ao conhecimento desta camara em fórma de pro collega disse : « Os privilegios não podem ter
jecto vindo do senado ? Ser-lhe-ha licito chegar uma interpret ição extensiva. » O principio é sem
ao mesmo flui por vias indirectas ? Por certo; applicação. Qualquer que seja a natureza do pri-
os nobres deputados conhecem bem o perigo que vilegin, deve-se forçosamente comprehender nello
haveria em semelhante fórma do proceder , pas aquillo que faz parto essencial do mesmo privi
sando o precedente o goveiv.o poderia apresen legio.
tar no senido sob o caracter de um projecto Assim, com relação á iniciativa, seja embora
ordinario suas idéas, aquellas que devem ter a considerada como um privilegio, faz parte essen
natureza de uma- proposta, fazel-as enviar para cial da sua natureza a abolição do imposto, a
aqui, e prival-as por tal fórma dos tramites e dispensa delle ; porque este direito não póde
exames que a constituição o o regimento con- deixar de ser concedido áquelle poder a quem
sagrão. compete a creação do imposto, que é a camara
Quererão os nobres deputados dar como licita dos Srs. deputados.
uma linha de conducta tão pouco regular ? Se Acredito portanto. Sr. presidento, que se achão
os nobres .deputados acreditão que a disposição em pó os motivos em que foi baseado o adia
da constituição que submetto as propostas do mento. Ninguem contesta a importancia da mate
governo ao conhecimento desta camara não tem ria, donde se segue a necessidade do exame por
utilidade alguma, então devem ser francos tra uma commissão, segundo a ordem que têm os
tando de a reformar ; mas emquanto esse prin trab ilhos desta casa ; não podendo os meios de
cipio fór e dever ser respeitado, é fóra de du informações quo podem aliunde esclarecer á ca
vida que o governo procedenio pela fórma por mara dispensar aquelles exames que estão mar
que o fez não teve o devido respeito, nem para cados no nosso regimento. A natureza da pro
com as disposições da constituição, nem para Eosta do governo que tem este projecto deveser tam-
com as prerogativas que são concedidas a esta em respeitada, porque o governo não póde estar
camara. autorisado para fizer indirectamente aquillo que
Mas acerescentão alguns dos nobres deputa não pódo fazer directamente. Finalmente é fóra
dos : « Então todas as idéas do governo deve- de duvida que prerogativas da camara forão pouco
rião ser convertidas em propostas. » respeitadas, iniciando -se na outra camara uma
Meus senhores, o argumento não tem a devida materia que é da nossa peculiar attribuição.
paridade. A idéa de que se trata fez, como disse, Occupar-me-hei agora, Sr. presidente, de uma
parto da falia do throno, é toda do gabinete. consideração que fez o nobre deputado por Minas
E'-lhe pois essencial a fórma de proposta. Não que se oceupou em respondor-me. O nobre depu
estão porém no mesmo caso quaesquer outros tado disse que a remessa do projecto a uma
pensamentos que um ou outro membro do gabi commissão envolvia uma offensa ao senado. A
nete reduza a projecto de lei na camara vita esto respeito o nobre deputado não tem razão
licia a que pertença. neuhuma, nem iheorica nem praticamente. Se a
Disse-se ainda : « Us membros do senado estão camara dos Srs. deputados está investida do poder
autorisados para apresentarem projectos ou emen de legislar que lhe dá a constituição, é conse
das, etc. » Ninguem, meus senhores, contesta isto quencia que ella deve ter todos os meios que
240 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
forem precisos pnra esclarecer a sua consciencia, tudos para amanhã não prestão para nada...
para habilital-a a exercer este seu direito. Quando, (Apoiados.)
pois, a camara usa dos meios que são precisos
Fiara esclarecer-se no exercicio doa direitos que o Onosso Sr. Araujo Lima : — Não é assim que falia
regimento.
lio são conferidos, não so póde dizer que faz
oflensa a quem quer que seja ; o contrario seria O Sr. Silveira da Motta: —Responderei ainda
autorisar a chegar a um fim preterindo-se os a outra consideração a favor do adiamento-
meios que são para isso precisos. Disse-se que este projecto, sendo remettido pelo
Direi tambem que o meu honrado collega está senado, é apresentado por este facto com me
enganado até praticamente, porque os estylos da nos uma discussão, e que isto nos deve indu
casa são de conformidade com o que digo. Es- zir a um maior exame. Senhores, o facto de
tabeleceu-se nesta casa em U de Marco de 1850 ser o projecto renjettido pelo senado, e de ter
o precedente de que os projectos e emendas vindos nesta camara sómente duas discussões, é facto
do senado podião ser remetidos ás commissões que foi apreciado, e muito bem apreciado, no
quando a casa assim o deliberasse... nosso regimento. Desde que os projectos são
elaborados por uma camara já (em uma garanti*
Um Sr. Deputado: — Não é obrigatorio. a seu favor, e por isso o nosso regimento muito
O Sr. Araujo Lima:— Sei bem que não é obri- sabiamente estabeleceu que reciprocamente os
§atorio ; mas o nobve deputado a quem mo refiro projectos do uma camara remettidos para outra
isse que o exercicio deste direito envolvia uma não tém tanta necessidade de discussão como
otfensa á outra camara. Isto é o que nego, por quando a camara inicia a discussão. Atém disto,
que não só 'este principio é condemnado pela devo lembrar ao nobre deputado que nisto ha
razão, mas até pelos nossos estylos, pois que inteira reciprocidade...
ha o precedente de que fallo, de ser um projecto O Sr. Akaujo Lima:—No senado não é assim.
e emendas da outra camara remettidos a uma
commissão para serem reconsiderados. O Sr. Ferraz : — Os projectos desta camara
Quando pois, Sr. presidente, a opposição apre vão ás commissões.
senta o adiamento que se discute, a camara deve O Sr. Silveira da Motta : — Quanto a essa
convencer-se de que é ella a isso levada por pensa razão da necessidade do exame em que se funda
mento muito nobre, pensamento que muito im o adiamento, entendo que tenho respondido ca-
porta, não só á opposição, como a to la a camara,' balmente desde que pondero á camara que é
O grande pensamento da opposição nesta materia é uma materia que está na ordem do dia não só
zelar com todo o cuidado as prerogativas que são da camara como do publico, que está estudada. . .
concedidas pela constituição do estado á camara (Apoiados.)
dos Srs. deputados. A experiencia vai mostrando O Sr. Araujo Lima : — Não pelas especiali
que, quer da pirte da outra camara, quer da dades da camara.
parte do governo, não ha o necessario respeito
para aquellas attribuições que nos são confe O Sr. Silveira da Motta : — Se não está
ridas. estudada pelas especialidades da camara, essas
A camara, portanto, me permittirá que eu lhe especialidades não são capazes de estudal-a em
recorde quanto convém que seja approvado o adia tros dias. A este respeito creio qu{i poderia dar
mento, para que ao menos depois do exame da ás especialidades da camara o conselho que o
commissão fique claro e manifesto que nossas Sr. senador Vasconcellos deu aqui em uma sessão
prerogativas forão respeitadas. a um nobre deputado que se valia deste argu
Nem póde ser attendivel a consideração que mento, pedindo tempo para estudar ; dizia-lhe
elle com o seu reconhecido espirito:— Opportet
fez o meu honrado collega pelo Ceará, isto é, studuisse. (Apoiados e risadas.)
que em tal caso a opposição deveria reprovar
logo e logo o projecto. Não, esta consideração Uma Voz : — Para estudar-so um ponto dão-se
não é valiosa; a opposição está na opinião do 21 horas a um estudante, e então 3 dias não
que o projecto não foi apresentado regularmente, bastão ?
todavia não se fia nas suas proprias forças, de O Sr. Silveira da Motta : — Todas as razões
seja que seja a materia devidamente examinada, da necessidade do exame constituem uma arma
estudada pela commissão, pelas especialidades da geral das minorias a respeito de todas as ma
casa, que a camara reputa mais habilitados para terias. (Apoiados.)
o exame dessas materias. Feito este exame, de
monstrada a regul iridade com que o projecto foi ;e Agora quero responder aos nobres deputados
é por isso que tomei a palavra) sobre a par
apresentado, bem póde ser que' a opposição des te em que protendêrão excitar os nossos escru
ista das idéas em que está. Não é portanto desne pulos a respeito da competencia do senado para
cessario o exame quq se propõe. Voto pois a iniciar a discussão deste projecto, e nesta parte
favor do adiamento. tenho de referir-me em primeiro lugar ao nobre
O Sr. SlivoJn» da Molla : — Eu não deputado por Pernambuco, a quem ouvi contes
oceuparia ainda a attenção da camara com esta tar ao senado o direito de estabelecer certas
materia se acaso no correr da discussão não disposições que ha no projecto do banco nacio
tivesse a camarn ouvido algumas expressões nal a respeito do nvsmo banco, e ao nobre de
que podem ter causado alguma impressão nos putado pela provincia . que tombem represento,
espiritos escrupulosos a respeito da intelligencia que apresentou o mesmo escrupulo contestando
de uma disposição da constituição que so in ao senado a iniciativa para emprestimos. '
vocou.
Todos os argumentos produzidos pelos nobres daO opposição,
Sr. Araujo Lima : — Esse escrupulo á geral
deputados a favor do adiamento se reduzem
primeiro á necessidado geral do exame. Quanto O Sr. Silveira da Motta : — Refiro-mo espe
a esta parte, respondo aos nobres deputados cialmente aos oradores que escutei, e os quaes
que esta materia e objecto da curiosidade pu entendem que o projecto do banco não póde
blica ha muito tempo (apoiados), que tem sido conter, vindo do senado, disposições a respeito
discutida no senado, e que esta camara tem de isenção de sello e emprestimo.
acompanhado essa discussão com muita attenção; Senhores, parece-me que os nobres deputados
que todos nós, que temos tenção de tomar afoutárão-se a avançar uma proposição "desta
parte no debate, devemos ter feito os nossos ordem levados pelo ascendente de theorias que
estudos; se não os temos feito, os nossos es aliás ninguem contesta ; porque julgo que nin
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 241
guem nesta camara contesta o principio con O Sr. Silveira da Motta : — Não applica ren
stitucional da iniciativa da camara dos Srs. de da alguma. -
putados sobre impostos. Mas como se entende a O que ê da privativa competencia da camara
iniciativa da camara temporaria sobre impostos dos Srs. deputados é a iniciativa sobre estes
segundo o principio constitucional ? Entende-se tres pontos : impostos, recrutamentos, o escolha
sómente a respeito da creação e suppressão dos de nova dynastia ; e portanto não sei onde o
impostos (apoiados) ; e nisto vou mais além do nobre deputado foi achar que tenhamos iniciativa
que o nobre deputado por Minas, que entende privativa a respeito de emprestimos. Pelo contra
que ó sómente privativa desta camara sobre rio, o nobre deputado achará no art. lõ g 13
a iniciativa para a creação dos impostos. da constituição, que pertence ao poder legislativo
O Sr. Araujo Lima : — Então já a maioria autorisar ao governo para contrahir emprestimos ;
discorda. e por conseguinte e claro que os emprestimos
tanto podem ser iniciados no senado como na
Alouns Srs. Deputados : — Não ha discor camara dos Srs. deputados.
dancia. E o honrado membro , quando apresentou o
O Sr. Silveira da Motta : — Entendo que seu escrupulo a respeito dos emprestimos, se
essa guarda da fortuna publica foi entregue com referio ao modo de pagal-os ; e portanto ainda
muita sabedoria á camara temporaria pelns ra foi inexacta a sua observação. No projecto tra
zões que explicitamente expóz o nobre deputado ta-se unicamente de estabelecer as bases do res
por Pernambuco. Mae, senhores, no projecto que gate do papel-moeda ; mas, quando o governo im
se vai discutir não se crêa nem se supprime perial tiver de fazer o pagamento desse empres
impostos. timo, tem necessidade, não obstante a decretação
da lei do banco nacional, de vir pedir um cre
O Sr. Araujo Lima: — Ha isenção parcial. dito a esta camara.
O Sr. Silveira da Motta : — Nem ha isen • O Sr. Nebias : — Lêa o artigo ; se o projecto
ção ; porque, senhores, trata-se de organisar um passar, fica tudo determinado.
banco, e a respeito de creacões que não existem
ainda no paiz... O Sr. Silveira da Motta : — Já li, não fica
tal. No artigo o que se estabelece é o modo do
O Sr. Paula Baptista : — Já existem. resgate do papel-moeda ; mas não se applica im
O Sr. Silveira da Motta : — Não existem. posto especial para isto, e o gdverno fica intei
O Sr. Paula Baptista : — Temos bancos. ramente dependente de uma medida secundaria.
O Sr. Silveira da Motta : — Mas as isenções O Sr. Nebias : — Donde ha de sahir esse di
desses bancos já são reguladas por uma lei exis nheiro, essas apolices ?
tente ; e não se trata no projecto senão de O Sr. Silveira da Motta : — Dos cofres pu
fazer uma declaração a respeito das letras ou blicos.
bilhetes do banco que se vai crear. Não se O Sr. Nebias : — Ha de ser dos impostos?
crêa o imposto, nem. tão pouco se supprime
imposto algum ; porque, senhores, como pode O Sr. Silveira da Motta : — Quem os ha de
ria o senado supprimir um imposto a respeito crear, se fór necessario, será a camara des de
do uma cousa que não existe ? putados ; quem ha de dar o credilo para esse
pagamento será esta camara, mas por um acto
O Sr. Paula Baptista : — Existe o imposto posterior.
do sello. Portanto creio que os nobres deputados não
O Sr. Silveira da Motta : — Existe um im têm razão em seus escrupulos, nem quanto a
posto do sello, tuas não existe o imposto do iniciativa dos impostos, nem quanto aos empres
sello o respeito da nova creação contida no timos. Estas são as razões que me provocárão a
projecto. oceupar ainda. a attenção da casa sobre este as
O Sr. Bandeira de Mello : — De sorte que sumpto, e por isso, deixando de parte as outras
um sujeito que nasce agora póde deixar de pa razões geraes da necessidade do adiamento, he
gar impostos. de votar contra elle, porque não acho proceden
tes os argumentos em que se basêa. (Apoiados.-
O Sr. Nebias : — Esse argumento prova de Vozes : — Votos I Votos I
mais.
Julga-se a materia discutida, e o adiamento á
D Sr. Paula Baptista : — Existe a disposiçao Jo rejeitado.
que os bilhetes hão de pagar imposto. (Apoia A discussão do projecto fica adiada pela hora-
dos.)
O Sr. Silveira da Motta : — Senhores, se Designa-se a ordem do dia, e levanta-se "a ses
acaso se quer levar esta theoria até este ponto, são ás 2 V, horas da tarde.
então tambem o senado não póde crear serviços
publicos alguns que importem despezas, porque
não póde haver despeza autorisada e legal que Sessão em 18 de Junho
não seja paga por impostos, e portanto temos de
disputar ao senado o direito de legislar sobrea PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
creação de todos os serviços publicos. (Apoiados
e reclamações.) Summario.—Expediente.— Apresentação de pro
Isto é quanto ao escrupulo a respeito da crea jectos. —Ordem do dia.—Emolumentos pa.ro-
ção ou suppressão de impostos cuja iniciativa chiaes.—Creação de um banco nocional. Dis
pertence privativamente a esta camara ; mas cursos dos Srs. Bandeira de Mello e Viriato.
quanto a outra consideração feita pelo honrado
deputado pela provincia que tambem tenho a A's dez horas, feita a chamada, achuo-se pre
honra de reDresentar, ainda é menos procedente sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paulo Candido,
seu escrupulo. O nobre deputado fallou de um Aprigio, Ferraz, barão de Maroim, Luiz Araujo,
emprestimo, deu-nos a entender que o projecto Siqueira Qupiroz, conego Leal, Vieira de Mattos,
creava um emprestimo pela emissão o para res Fernandes Vieira, Paes Birreto , Mendes da
gate de papel... Costa, Miranda, Araujo Lima, Seára, Ferrreira
O Sr. Nebias : — Applica unia renda para o do Abreu, Cruz Machado, Paula Santos, Ribeiro
pagamento desse emprestimo. da Luz, Teixeira de Souza, Domingues. Raposo
tomo 2. 31
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
da Camara, Góes Siqueira, Almeida e Albu « A assembléa geral legislativa resolve :
querque, Livramento, Brusque, Theophilo, Ri s Artigo unico. Fica approvada a pensão an
beiro, Pimenta Magalhães, Vasconcellos , João nual concedida por decreto de 10 de Janeiro -do
Jacintho, Saraiva, Lindolpho, Paranaguá, Jordão, corrente anoo a D. Rita de Cassia da Concei
GouvÔa, Pereira da Silva, Candido Borges, Ma ção, correspondente ao meio soldo da patente de
cedo, Machado, Castello Branco, Silverio, Ca seu filho, o alferes de guardas nacionaes Ho
sado, Angelo Custodio, Rocha, Brandão, Dutra norio da Fonseca Feijó, morto em combate na
Rocha, Rego Barros e Belfort. cidade do Rio Pardo, devendo percebêl-a desde
Comparecem depois da chamada, os Srs. Horta, a data do sobredito decreto, revogadas para este
Assis Rocha, Fleury, Pereira, Jorgo, Zacharias, fim quaesquer disposições em contrario.
Henriques, vigario Silva, Baependy, Barreto Pe « Paço da camara dos deputados. 16 de Junho
droso, Bandeira do Mello, Evangelista Lobato, de 1853. — Gomes Ribiiro. — Mendonça Castello
Pacca, Nebias, Gomes Ribeiro, Monteiro de Bar Branco . » i
ros, Fiusa e Fausto.
Havendo numero legal, o Sr. presidente abre « Foi presente a commissão de pensões e or
a sessão ás onze horas menos dez minutos. denados o decreto de 10 do Setembro do anno
Lida, e approvada, a acta da antecedente, o proximo passado com os papeis que o acompa
Sr. 1.» secretario da conta do seguinte nhárão, pelo qual foi concedida a pensão an
nual de 240$ a D. Maria Angelica de Jesus,
EXPEDIENTE irmã do alferes do corpo policial da provincia
do Rio de Janeiro Antonio Ferreira do Jesus,
Um officio do Sr. ministro do imperio commu- visto que sendo a agraciada orphã de pai e
nicando já haver expedido as necessarias ordens mãi, estiva sua subsistencia a cargo daquelle
para que soja chamado o supplente que deve - sobredito irmão, que fallecêra no desempenho
Êreencher n vaga deixada pelo Sr. deputido de diversas diligencias de que o governo o en
. Francisco Balthazar da Silveira pela dispensa carregara na repiessão do trafico de africanos,
que lhe foi concedida.—Inteirada. em uma das quaes adquirio a enfermidade a
que suecumbio : esta circumstancia se acha com
Outro do mesmo enviando uma representação provada pela exposição que ao governo imperial
da camara municipal pedindo um auxilio pecu dirigira o vice-presidentu da provincia do Rio
niario para acudir a algumas necessidades ur de Janeiro, o qual aceresceata que este official
gentes do municipio, visto não ser sufficiente a morrera pobre deiyando na miseria sua referida
renda ordinaria.—A' commissão de camaras mu- irmã orphã de mãi e pai, que por muito hon
nicipaes. rado e zeloso fòra escolhido para aquella dili
Do Sr. ministro da guerra enviando as infor gencia, e resistira a todas as seducçoes com a
mações pedidas ácerca do requerimento do ex- maior honestidade.
tenente Norberto Alves Cavalcinti, em que pede «A commissão, posto que reconheça que esta
ser reintegrado no exercito.—A' quem fez a re mercê está fóra da regra geral e dos principios
quisição. que dovem vigorar para a concessão de graças
semelhantes, como sejão os casos de morte ou
APRESENTAÇÃO IiE PROJECTOS ferimentos graves em combate, comtudo, atten
dendo á importancia e gravidade dos fundam "tos
São lidos e julgados objectos de deliberação, que. dirigirão o governo imperial neste assumpto
e vão a imprimir para entrar na ordem dos tra e á conveniencia de premiar aq .elles que não
balhos, os seguintes projectos : poupão sacrificios para pór termo a um com-
« Foi presente á commissão de constituição o mercio tão illicito como immoral, pira cujo exter
requeriment i documentado de João Baptista minio muito espera a commissão da perseverante
Alves Ferreira, subdito de S. M. Fidelissima, vontade do governo imperial, se apress i a uffe-
estabelecido em Mangaratiba, provincia do Rio recer a resolução seguinte :
de Janeiro, no qual pede dispensa do lapso de « A assembléa geral legislativa resolve :
tempo que lhe falta para nataralisar-se cidadão
brazileiro. « Art. unica. Fica approvada a pensão annual
de 240$ concedida por decreto de 16 de Setem
« A commissão de constituição, attendendo aos bro do anno passado a D. Maria Angelica de
documentos com que se acha instruida essa pe Jesus, orphã do pai e mnl, em remuneração dos
tição, e concessões cm identicas circumstancias valiosos serviços prestados na repressão do tra
decretadas, é de parecer que se adopte o se fico de africanos por seu irmão o alferes do
guinte, projecto de resolução. corpo policial da provincia do Rio de Janeiro
« A assembléa geral legislativa resolve : Antonio Ferreira de Jesus, que fallecêra de mo
« Artigo unico. O governo é autorisado a con lestia adquirida no desempenho desta commissão :
ceder carta de naturalisação do cidadão brazileiro revogadas para esto fim quaesquer disposições em
ao subdito portugnez João Baptista Alves Fer contrario.
reira, dispensado o lapso de tempo exigido na « Paço da camara dos deputados, 16 de Junho
lei do 23 de Outubro de 1832. de 1853. — Gomes Ribeiro. — Mendonça Castello
« Paço da camara dos deputados, 18 de Junho Branco.»
de 1853.—F. D. Pereira de Vasconcellos.—J. A.
de Miranda.—J. C. Bandeira de Mello. » « A commissão de pensões e ordenados, exa
minando attentamente o decreto imperial de 28
« A commissão de pensões e ordenados, exa de Maio ultimo com os competentes documentos,
minando os papeis que acompanhárão o decreto feio qual se fez mercê ao religioso carmelita frei
do governo datado de 10 de Janeiro proximo osé dos Santos Innocentes da pensão annual
passaio, pelo qual foi concedido a D. Rita de do 400$ em remuneração dos serviços relevantes
Cassia da Conceição a pensão annual corres que pelo seu ministerio tom ha longos annos
pondente ao meio soldo da patente de seu fal- prestado, e continua a prestar na provincia do
lecido filho, o alferes de guardas nacionaes Ho Alto-Amazenas, de que lhe tem resultado moles
norio da Fonseca Feijó, morto em combate na tias graves o incuraveis, é_ de parecer que seja
cidade do Rio Pardo, é de parecer que seja approvada a referida pensao de 400$, porquanto
approvada a referida pensão, para o que offe- vê-so das informações do vice-presidente e vi
rece a resolução seguinte : gario geral ser verdade tudo quanto allega o
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 243
Eev. supplicanto Agraciado,' isto é, que ha longos ção que a supplicante entende não ser-lhe appli-
annos é o unico sacerdote que se tem achado cavel, pois não é companhia incorporada por
á testa de todas as freguezias do Alto Rio-Negro concessão do governo, ou por contracto do go
em lugares doentios, supperando todas as difi verno, em que se tivesse estipulado a obrigação
culdades, que grandemente têm concorrido para de pagamento de algum imposto ou interesse á
ficar quasi iuhabilitado, como se acha presente fazenda publica, sendo pelo contrario a compa
mente; que seus serviços forão 'prestados com nhia supplicante do numero das que se fundárão
zelo e actividade, alguns dos quaes são os mais em terras de sua propriedade sem dependencia
relevantes que pelo seu ministerio se podem de autorisação do governo, ou de alguma outra
prestar no meio dos gentios e de um povo sel obrigação que não fosse a da legislação mlativa
vagem ; que o estado inorboso do peticionario é á mineração, nos termos do decreto de 27 de Ja
veridico, mas que não o impede de servir ainda neiro de 1829.
nas igrejas do Rio Negro. « O governo, como se vê do of£c.io do ministro
« Em sua petição allega o Rev. supplicante que da fazenda de 11 do corrente, tendo achado de
nenhnns vencimentos tem, senão os que lhe equidade a pretenção da companhia, todavia he
provêm do serviço interno de vigario ; que ó sitou de lhe deferir, por não parecer bem defi
prégador imperial ; que ha mais de 10 annos nida a mente da citada lei de 1848, na parte
soffre as molestias adquiridas; que de tempos relativa a companhias do mineração , julgando
em tempos o inhabilitão para todo o serviço ; necessaria uma interpretação, pelo que remetteu
que ha 28 annos se entregou á vida parochial, h petição ao corpo legislativo.
não se recusando a trabalho algum ; que fóra « A commissão de fazenda entande que a com
missionario em 1836 no rio Pacajá, por ordem panhia de Macaúba e Cocaes está bem compre -
do presidente, que subira pelo dito rio até ás heudida na regra geral do art. 32 da lei de 28
suas nascentes, através de immensas cachoeiras de Outubro de 1848, e por isso a isenta do im
e furor dos indios bravios ainda não communi- posto de 5 % do ouro extrahido de suas minas,
cados. visto que nunca pagou , nem podia pagar , em
« Mostra haver servido por diversas vezes de virtude da estipulação especial, mas pela dispo
missionario em differentes lugares e épocas, e sição da lei, que impunha esse onus á minera
encommendado em todas as freguezias do Rio ção do ouro em pó; o tanto ó assim, que a com
Negro. Menciona a commissão que lhe fóra con panhia tendo solicitado do governo imperial
fiada pelo presidente do Pará para missionar licença para poder exercer sua industria , por
no Pixarará, no Rio Branco, pelo que merecêra aviso de 22 de Setembro de 1829 se declarou
um aviso do governo imperial de 7 de Julho ue ella não precisava de autorisação ou licença,
de 1843 agradecendo-lhe. vista do decreto de 27 de Janeiro do mesmo
« Mostra além de tudo isto» haver coadjuvado anno.
gratuitamente ós reparos do forte de S. Joaquim « Ora , o decreto reconheceu que os subditos
no Rio Branco, e do hospital de S. Vicente na do imperio não precisavão de autorisação para
Barra; que se acha servindo ainda de vigario po lerem emprehender a mineração nas terras de
de todas as freguezias do Rio Negro, infestadas sua propriedado ,por meio de companhias de so-
de febres, percorrendo-as, não obstante suas en cius nacionaes e estrangeiros, ficando sujeitos ás
fermidades, lev.mdo seu sacrifício ao ponto de leis do imperio o obrigados a pagar os impostos
visitar o rio Ipana, onde não consta ter ido nestas declarados, ou que para o futuro se de
sacerdote algum, attrahindo como d? facto attrahio terminassem.
os- indigenas para terem relações commerciaes « O imposto que vigorava quando ioi publi
com os habitantes da fronteira de Marabinas, cada a lei de 28 de Outubro de 1818 era o de 5 %,
ondo em 1850 benzeu a reconstruida igreja matriz, abolido pelo art. 32, e as disposições da lei co-
e a igreja nova do rio Xié. Allega serviços pres meçárão a ser execução desde a sua publicação,
tados nas desordens ultimas do Pará, e final na conformidade do art. 35.
mente o zelo e submissão com que tem sempre « Por conseguinte a companhia supplicante não
servido. Todas estas allegações se achão com devia pagal-o desde que a lei foi publicada, e é
provadas por documentos authenticos acerca dos de justiça a restituição que requer.
quaes fallou favoravelmente o desembargador pro
curado da coróa ; é portanto a commissão de « E para que se torne effectiva, é a commis
parecer que seja approvada a seguinte resolução, são de fazenda de parecer que se adopte a seguinte
que submette á consideração da camara: resolução :
« A assembléa geral legislativa resolve : « A assembléa geral legislativa resolve :
. o Artigo unico. Fica approvada a pensão annual « Artigo unico. O art. 33 da lei de 28 de Ou
de 400$ concedida por decreto de 28 de Maio tubro de 1848 isenta do imposto de 5 % o ouro
deste anno ao religioso carmelita frei José dos em pó extrahido pelas companhias de minera
Santos Innocentes em .remuneração de seus ser ção ; e a. excepção que faz o mesmo artigo na
viços. prestados no Alto Amazonas, onde adquirio parte segunda só diz respeito ás companhias que
molestias graves e incuraveis ; revogadas para por concessões especiaes feitas pelo governo, ou
este fim quaesquer disposições em contrario. por contractos com este celebrados , estejáo su
jeitas a pagar alguma imposição pela sua mi
« Paço da camara dos deputados, lã de Junho neração.
de 1853.— Gomes Ribeiro. — Mendonça Castello « Paço da camara dos deputados, 17 de Junho
Branco. o de 1853.—F. A. Ribeiro.—Lisboa Serra. »
« Foi presente á commissão de fazenda o reque E' approvada sem debate a redacção de varias
rimento da companhia de mineração estabele resoluções.
cida na provincia de Minas-Geraes denominada Entra 'em discussão a redacção da resolução
de Macaubas e Cocaes, pedindo a restituição dos a respeito da pretenção de Thomaz Pereira
direitos de 5 % que pagou depois da publicação Jeremoabo.
da lei de 2i de Outubro de 1848, visto como
está no art. 32 isentou desse onus o ouro em O Sr. Teixeira de Macedo i—O pro
pó, o salvo o extrahido pelas companhias de mi jecto que se acha sobre a mesa parece-me que
neração que se achassem incorporadas em vir contém uma especie de absurdo quando se
tude das concessões especiaes ou contractos cujas diz... (U.)
condições continuarião a ser observadas; » excep E' nesta palavra—juizo—que a commissão en
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DÉ 1853
244
tendeu que havia um manifesto absurdo, por fazendeiros do norte as cópias desses contractos
que o que se quer é fazer um beneficio ao Sr. para ver se lhes aproveitão tambem.
Jeremoabo concedendo-se-lhe um prazo mais O Sr. Visconde de Baependy. — Eu já deiao
longo para os pagamentos a que esta obrigado Sr. deputado as cópias de contractos que me
á fazenda nacional. pedio.
Ora, se o devedor não póde ser obrigado a O Sr. Gomes Ribeino: — E' verdade, mas elles
pagar a sua divida no espaço de 10 annos, en são sobro o fabrico do café, que é quasi exclu
tendo que é inteiramente desnecessaria a pala sivo da provincia do Rio de Janeiro e Minas, e
vra juizo, porque ó innegavel que autoridade mesmo os contractos sobre o fabrico do café,
alguma o poderá constranger a fazer o paga segundo o que mo consta, são muito diflerentes
mento. dos do fabrico do assucar.
Por outra parte mé parece, o á commissão E' pois isto o que desejo conseguir por via do
tambem, que a intenção da camara não é a que requerimento, que mo parece que deve ser appro-
está exarada na resolução ; a intenção foi fazer vauo, porque õ de utilidado publica.
ao Sr. Jeremoabo um beneficio que dependia do O Sr. Wanderlev manda á mesa a seguinte
poder legislativo ; porém conservando-se a pala
vra juizo, não era favor dependente do poder emenda, que é apoiada e entra em discussão:
legislativo. O que o poder executivo não podia « Em vez das palavras—que se recommende, etc.
fazer, e que depende de uma resolução legisla —diga-se—que se pergunte ao governo se existem
tiva, era dispensal-o do juro pela demora do pa na secretaria cópias dos contractos, etc, e se tém
gamento. sido remettidas aos presidentes de provincia, etc.
Portanto a intenção da camara não está ainda —O mais como no requerimento.»
satisfeita conservando-se a palavra juizo. Vou E' approvado o requerimento do Sr. Gomes
pois em nome da commrssão de reducção offe- Ribeiro e a emenda do Sr. Wanderley.
recer uma emenda para que em vez da: palavra
—juizo — se diga— juro. emolumentos panochiaes
Assim será um verdadeiro beneficio concedido
ao Sr. 'Jeremoabo em consequencia dos melho Entra em 3* discussão a resolução n. 33 deste
ramentos que tem introduzido no fabrico do as- auno, sobre emolumentos parochiaes.
sucar. Mando á mesa a emenda.
E' apoiada, entra em discussão e é approvada O Sr. Paranaguá: — Pedi a palavra unica-
sem debate. mento para rogar a V. Ex. que mande ler a
advertencia ao r. 4 do' tit. 1° que se manda
O Sr. Ferrar.: — Sr. presidente, tenho de supprimir, afim do sabermos o que votamos ; '
fazer uma reclamação ãcerca de um aparte meu mesmo porque a tabella creio que ainda não foi
que vem publicado no Jornal do Commercio, e lida na casa, e por isso não me acho habilitado
que eu entendo que não deve passar sem recti para dar o meu voto com conhecimento de causa.
ficação. O Sr. Presidente: — A' tabella não existo na
Quando em uma das sessões passadas orava
o Sr. Lisboa Serra disse que o credito depen secretaria da casa.
dia dos governos ; eu disse-lhe em um aparte O Sr. Paranaouá : — Sr. presidente, a materia
que o credito particular não dependia do governo, me parece grave. O projecto acha-se em terceira
mas no Jornal sahio : « a propriedade não de discussão, já foi approvado em primeira e se
pende do governo.» gunda, e para que nós possamos dar um voto
Lê-se o seguinte requerimento do Sr. Gomes consciencioso, e tomemos uma decisão acertada,
entendo que não podemos prescindir da tabella
Ribeiro :
«Requeiro que se recommende ao governo haja para approvarmos o projecto.
O que vamos fazer é nada menos do que
de remetter aos presidentes das provincias có lançar um imposto sobre a população, e por
pias dos contractos de parceria com colonos isso convém que se generaliso o conhecimento
para o fabrico de assucar, afim de que se lhes da tabella.
dê a devida publicidade e cheguem ao conheci Mando pois á mesa o seguinte requerimento
mento de todos. » (Reclamações.) do adiamento.
O Sr. Gomes Ribeiro: — Sr. presidente, 1 Requeiro que seja adiado o projecto até ser
fiz este requerimento porque na provincia das presente á casa a tabella a que o mesmo so
Alagoas se deseja obter cópia desses contractos refere, sendo impressa no Jornal do Commercio .
que aqui se tém celebrado de parceria com os
colonos a respeito do fabrico do assucar e café. —Paranaguá.»
E' apoiado e entra ein discussão.
No norte o que se deseja é unicamente os
contractos ácerca do fabrico do assucar, porque O Sr. Corrêa das Novos: — Sr. presi-
é o que mais produz naquellas provincias, e os dento, não posso votar polo adiamento proposto
seus fazendeiros desejão ter conhecitnonto desses pelo nobre „deputado, porque vejo que este pa
contractos para ver se lhes são convenientes, ou recer, que foi assignado por nós, membros actuaes
mesmo para delles terem conhecimento. da commissáo dos negocios ecclesiasticos, já tinha
Tenho procurado obter cópia desses contractos, sido apresentado a esta camara pela commissão
te^iho mesmo fallado avarias pessoas que se achão que nos antecedeu, e já tinha sido por duas
presentes, porém não me tem sido possivel con- vezes discutido. Nessa occasião sem duvida appa-
seguil os: e por isso desejava que so satisfizes receu a tabella... „
sem os agricultores do norte, porque nem todos O Sr. Paranaou.1 : — Eu não a vi.
têm conhecimento do como se fazem os contra
ctos ou de como isto se passa. (Apoiados.) O Sr. Corrêa das Neves: — Tenha paciencia o
Não ha nada mais obvio do que o governo meu nobre eollega, que eu já toco ahi. Nessa
remetter cópia aos presidentes das provincias do occasião, repito, appareceu sem duvida a tabella
norte para que elles os fação publicar nas suas que foi vista não só pelos membros da com
provincias. missão que nos antecedêrão, como pela camara
Eis-aqui o que eu desejo conseguir apresentando queDizemapprovou em duas discussões esse parecer.
os meus nobres collegas : « nós não
o meu requerimento ; e se file não está redigido vimos a tabella, portanto não podemos votar por
de fórma que possa ser approvado, einendem-o, cila; » mas permittão-me que lhes diga que a
porque o que cu quero é que se remettão aos
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 2Í5
tabella não existe no archivo da camara, mas sata, já que tomos todos os dados para julgar
deve existir na secretaria da justiça... que ella é justa, razoavel e sensata. E' justa,
O Sr. Paranaouá : — Mas não devemos votar porque foi apresentada polo bispo diocesano,
qa fé dos padrinhos* cujo caracter exclue qualquer duvida ; e é ra
zoavel o sensata, porque já passou em duas
O Sr. Corrêa das Neves: — Diz o nobre de discussões nesta camara.
putado que não devemos votar na fé dos padri A paralysia ou syneope, como quer o nobre
nhos. Seria a observação valiosa se eu houvesse deputado, ó prejudicial, porque a tabella já está
de votar sempre por consciencia propria, o assim em execução. Mas, senhores, o Exm. bispo dio
como o nobre deputado... cesano de Pernambuco, vendo a irregularidade
O Sr. Parananuá : — Eu procuro sempre escla- com que na sua diocese erão arrecadados os
recer-me sobre as materias. benesses parochiaes, irregularidade toda preju
O Sr. Corrêa das Neves : — Pois somente dicial á população, pirque qualquer vigario
porque o negocio ó ecclesiastico é que o nobre tinha sua maneira de cobrar, sua tabella espe
deputado não póde votar pela fé dos padrinhos, cial, irregularidado que segundo ma informão,
quando nós todos temos uma fé tão robusta, não se dá em quasi todas as freguezias de todos os
só no que vemos por nós mesmos, como no que bispados do imperio (apoiados), tratou de apre
vêm ás vezes os padrinhos ? sentar um regulamento e uma tabélla para a
cobrança desses benesses ; e foi mui acertada
Senhores, nós passamos uma grande parte da essa sua deliberação, porque o povo ficou livre
nossa vida na fé ; e posso eu ser censurado, do arbitrio, algumas vezes exagerado, dos pa-
póde o nobre doputado ser censurado por prestar rochos, alguns dos quae-i, esquecidos «los seus
íó a opinião da camara transacta, cuja maioria deveres, esquecidos dos principios de caridade,
compõe a actual, que approvou este parecer ja tratavão de
em duas discussões, e que o approvou porque
o julgou sensito, porque vio que elle versava O Sr. Góes Siqueira :—Esfollar as evelhas.
sobre uma tabella feita pelo Exm. bispo dioce O Sr. ConRê\ das Neves :—Tem muita appli-
sano de Pernambuco, e revista pela nobre com- cação esso pensamento ; tratavão de esfollar .is
missão ? (Apoiados.) ovelhas. E se pois o Exm. bispo de Pernambuco
O Sr. Paranaouá : — Reservão-se talvez para teve o bom senso de apresentar essa tabelia
discutir melhor em terceira discussão. regularisando os benesses parochiaes, tabella
O Sr. Corrêa das Neves : — Permitta-me o que já está em execução, por que motivo ha
nobre deputado que não ache muito a proposito vemos de retardar sua approvação, havemos
este seu aparte. lançar n'uma syneope o parecer que autorisa a
execução desse regulamento ?
O Sr. Paranaouá : — Não primo em apartes. Um Sr. Deputado : — Pòde entrar segunda-feira
(Risa4as .) em discussão.
O Sr. Corrêa das Neves :—Tambem não quero O Sr. Corrêa das Neves:— Diz o nobre de-
roubar-lhe esta bella qualidade. Parece-me que, bro deputado com a melhor boa té conhecida,
podendo-se na primeira e segunda discussão elu que o parecer póde entrar segunda-feira em dis
cidar com precisão e scientificamente uma ma- cussão ; mas que dados tem o nobre deputado
terin, ninguem se reservará para tirar duvidas para asseverar isso?
na terceira discussão, e para pedir este ou feO Sr. Saraiva : — Votamos pelo parecer, mas
aquelle esclarecimento sobre a materia depois
de se ter roubado tempo a camara com a pri queremos ver a tabella.
meira e segunda discussão. Mas esta não é o O Sr. Corrêa das Neves : — Para que quer o
questão que me occupa. nobre deputado ver a tabella, se já tem seu
Disse o meu nobre collega que não podemos juizo formado, se já hypotheca seu voto ao pa
dar um voto consciencioso e acertado sem ter recer? Se só quer ver a tabella por simples es
mos presente a tabella, o que por isso elle pro- timulo de curiosidade, comprometto-me a apre-
puzera o adiamento até que ella fosse remeítida sental-a depois que o parecer fór approvado.
a camara. O Sr. Saraiva: —Para ver se é possivel tornal-a
Mas, senhores, eu desconfio desse adiamento, extensiva a outros bispados.
e so desconfio, certamente é porque os nobres O Sr. Corrêa das Neves:— Isso ó um so-
deputados me têm ensinado a desconfiar delles.- phisma legislativo, um dos sophismas muito em
Sou principiante na carreira parlamentar ; mas vota nesta camara, é o tal sophisma das medi
quasi t idos os dias, quando se apresenta qunl- das geraes, e irmão daquelle outro das medidas
.quer adiamento, ouço immediatamente dizer : radicaes. Todas as vezes que se apresenta nesta
« E' um projecticidio. » Pois se os nobres de casa uma medida que tende a reparar um de
putados são os que mo têm feito temer dessa feito da legislação, a prevenir um caso omisso,
maneira de matar suave e naturalmente os ne a melhorar uma disposição, diz-so logo : « A
gocios ás vezes os mais importantes, como que medida é boa, mas não é radical ; » o o caso é
rem que eu seja tão facil em acceder a que seja que não se vota a medida parcial o nem appa-
adiado um negocio que julgo de tanta conside reco a tal medida radical. Apresenta-se uma
ração ? outra medida : « E' muito boíla na especiali
O Sr. Saraiva : —Essa adiamento não é uma dade, mas deve-se tomar uma medida geral ; »
morte. e nem esta nem aquella passão. São pois dous
O Sr. Paranaouá :—E' pelo contrario vida sophismas parlamentares, irmãos no meu enten
der; e se nós, quando apresentamos medidas espe-
O Sr. Corrêa das Neves :— O pensamento de ciaes, medidas parciaes, nada fazemos por causa
que os .adiamentos são projecticidios não é meu, dos taes sophismas, o que direi quando se apre
não me quero apropriar de sua paternidade , sentarem as medidas radicaes, as medidas geraes,
que pertence d camara toda ; mas, ainda quando que sempre encontrão milhares de embaraços ?
esse adiamento não fosse uma morto, ainda quando E até da parte daquelles que não julgarem tão
fosse uma syneopo bu paralysia, como mo lem geraes tão radicaes como quererião?
brado nobre deputado, pergunto: qual a conve Disse o nobre deputado : « Desejo ver a ta
niencia que deite resulta? Nenhuma. So ó para bella, para ver se póde sor applicada a todos
que votemos com consciencioa, se ó para os bispados do imperio ; » mas, pergunto, o no
que votemos uma tabelia justa, razoavel o sen bre deputado poderá fazer essa explicação ?
246 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Saraiva : — Póde haver propostas de contra elle, npezar .do pensamento do nobre
outros bispos. deputado.
O Sr. Corrêa das Neves : — Logo, segunda- O Sr. Saraiva : — Peço a palavra.
feira não póde entrar em discussão o parecer. O Sr. Presidente :— Esta Hiscussão fica adiada»
O Sr. P. de Campos : — E o que tem o bispado
de Pernambuco com os outros bispados' CREAÇÃO DE UM BANCO NACIONAL
O Sr. Corrêa das Neves: — O meú nobre Entra em 2° discussão o art. 1« do projecto
amigo, collega e companheiro pergunte isso aos r. 23 deste anno, vindo do senado, creando um
que me dão os apartes. banco nacional.
O Sr. P. de Campos:—E' a elles mesmo que per O Sr. Bandeira de Mello : —Peço a palavra.
gunto ; estou ajudando.
O Sr. Corrêa das Neves:— Como estava vol O Sr. Presidente:—Tem a palavra o Sr. Ban
tado para mim, julguei que a sua pergunta me deira de Mello. Mas agora lembro-me que o
era dirigida. ultimo orador que faltou .sobre esta materia foi
contra, por isso que apresentou um adiamento ;
- O Sr. Paranaouá: — Eu sou o menos exigente, por tanto deve seguir-se o Sr. Viriato.
porque contento-me com ver e examinar a tabella. O Sr. Viriats : — Peço licença a V. Ex. para
O Sr. Corrêa das Neves : — Mas o mesmo di fali ar depois do nobre deputado, por isso que
reito que tem o nobre deputado de pedir pouco o Sr. Araujo Lima limitou-se a apresentar o
tém os outros de pedir muito ; e por isso digo adiamento.
que este adiamento é um projecticidio, porque O Sr. Presidente : — O Sr. Araujo Lima se
e nobre deputado contentase em ver a tabella, havia inscripto centra o projecto.; e ao nobre
outro quer fazel-a extensiva a todo o imperio, deputado que se inscreveu logo depois a favor é
outro quererá ouvir os bispos a respeito delia, que agora cabe a palavra, segundo o regimento.
e assim nunca será approvada. Se desiste, ó outro caso.
O Sr. Paranaouá:—Poisdê uma idéa da tabella. O Sr. Viriato:—Bem, desisto.
O Sr. Corrêa das Neves : — Oh I senhores, O Srv. Bandeira de Mello:—Sr. presi
pois julga o nobre deputado que não me occupo dente, eu hontein pugnei pelo adiamento que
com cousas mais sérias do que decorar uma foi proposto pelo meu nobre amigo, deputado
tabella de emolumentos parochiaes, eu que nunca pelo Ceará, e tive toda a razão, maximo com
fui vigario ?
relação a mim proprio, de votar por esse adia
O Sr. Paranaouá : — Acho um negocio muito mento, sentia me pouco habilitado para entrar
sério. nesta discussão, queria tempo para esclarecer-me;
O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, deve - a camara, porém, entendeu em sua sabedoria
mos attender a que essa tabeliã já está em exe que devêra não assentir ao adiamento : em con-
cução em grande parte das freguezias do bis squencia pois deu-me um direito especial á sua
pado de Pernambuco; e que, so inales existião indulgencia para desculpar quaesquer erros que
antes do Exm. bispo ter uniformisado a cobrança eu possa commetter sobre o importantissimo
dos benesses nas differentes pirochias, esses objecto que vamos discutir.
males não estão inteiramente sanados com essa Quizera antes de tudo, senhores saber, se "o
tabella, por isso que ella ainda não recebeu a projecto que discutimos é aquelle a que alludid
sancção do poder legislativo, e algumas pessoas a falia do throno. O banco que esta recom-
duvidão pagar por ella por ainda não ter o menda, diz a mesma falia, é destinado a auxi
caracter de lei que devêra. liar a industria e ao commercio ; no entretanto
O Sr. P. de Campos :— E' verdade que tem en que o banco do projecto que discutimos, não
contrado duvidas por essa causa. só poder-se-ha dirigir a esse fim, como prin
cipalmente tende a melhorar o nosso meio cir
O Sr. Cobbêa das Neves : — Se tomos visto culante, idéa esta muito cardeal, muito impor
(ssa difficuldade com que tem lutado o Exm. bispo tante, que sem duvida não está contida no pen
de Pernambuco, porque razão havemos de re samento emittido pela coroa.
tardar essa medida, que vai utilisar aquella parte Se este projecto é o mesmo a que a falia do
de cidadãos brazileiros somente porque que throno se refere, então me parece que o tra
remos generalisal-a ? mite pelo que elle nos foi apresentado não é
Senhores, estou convencido de que, approvada regular, como hontem aqui se ponderou ; o pen
essa tabella para o bispido de Pernambuco, os samento da coroa não póde ser considerado pelo
demais bispos reconhecerão sua conveniencia e corpo legislativo senão chegando directamente á
farão iguaes propostas ao poder legislativo, não camara dos deputados.' Assim, pois, eu não sei
tanto para tornar a do bispado de Pernambuco se devemos esperar ainda alguma proposta do
vigente nos seus bispados, porque é mister notar poder executivo sobre este objecto ; cuido que
que o povo de todos os bispados não póde não a teremos mais, porém pergunto eu : é isto
pagar igualmente, visto que ha provincias ni regular ? E' isto conforme ao preceito consti
miamente pobres que não podem sujoitar-se por tucional ?
uma tabella igual a essa ; como pira tornir os Feitas estas considerações, Sr. presidente, en
benesses iguaes em todas as parochias de seus trarei em materia. Trata-sa de um grande es
respectivos bispados. Daqui tambem vê a camara tabelecimento de credito. Não é possivel negar
que não ó possivel que essa tabella de Per os beneficios que estabelecimentos desta ordem
nambuco seja applicada indistinctamente a todos costumão produzir a bem do commercio e da
os bispados. Estou bem convencido de que ao industria : elles, como todos sabem, tendem a
bispado do Rio-Grande do Sul não se póde reunir os capitaes, a dar-lhes vida, actividade
applicar essa tabella feita para o bispado de e elasterio. Os capitaes que se achavão inacti
Pernambuco, é mister que para alli se tação as vos, dormentes nas caixas dos negociantes, ou
necessarias modificações. de qualquer individne, por falta de industria ou
Se, pois, não ó possivel gencralisar essa tabella, por outras circumstancias, vão aos bancos agglo-
se grandes inconvenientes podem provir, como merar-se, e os bancos por meio das suas ope
têm provindo, do retardamento de sua approvação, rações dão-lhes emprego e movimento, e com
e se nenhuma utilidade resulta do adiamento este movimento lucros aos respectivos proprie
dessa approvação, não posso deixar de votae tarios. O negociante, o ompresaaio que na au
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 247
sencia de instituições de credito teriiio necessi mesmo gmero. Depois os privilegios de que eles
dade de guardar em seus cofres avultadas som mas é revestido attrahirão á si todos os capitaes
em pura perda, só ^ira fazer face ao desem disponiveis , serão causa de uma decidida prefe
penho de seus compromissos , ao vencimento rencia, e essa preferencia afastará a possibili
de seus debitos, libertão-se dessa necessidade, dade de organisar no paiz nenhuma outra*' in
entregão ao giro do banco os capitaes que, a stituição, que possa rivalisar com o banco pro
sua industria ou comauercio não reclamão, ou jectado.
dá maior desenvolvimento, maior expansão ás Os privilegios, Sr. presidente, d» que o banco
operações do seu proprio commercio ; e auferem que se pretende incorporar é revestido, não são
assim lucros que não t não em circumstancias extraordinarios ; eu chamarei ao depois a atten
contrarias. ção da, camara sobre cada um delles ; entretanto
Se, porém, em lugar dessas sobras de capi enumeremol-os desde já . 1°, privilegio ou dura
taes, elles sentem mingua, f mil lhes é, com as ção por 30 annos ; 2°, recebimento das suas notas
letras de seus devedores, que têm em suas car nas estações publicas; 3°, fiança aos empresti
teiras, obter dos bancos, por meio do desconto, mos de dez m\l contos que o banco tiver de
as sommas que possão reclamar as operações ou fazer ; 4°, caixas filiaes nas provincias para dar
especulações a que por ventura se queiráo aven sabida a seus effeitos de credito ; 5°, faculdade
turar. E' fóra, pois de duvida que são de grande de emittir bilhetes até a importancia minima de
vantagem semelhantes estabelecimentos; elles 10$ nas provincias; B°, isenção do imposto do
são combinações engenhosos que têm por fim sello ; 7°, augmento de emissão, quando o governo
fazer passar a mãos de homens que os fazem houver por bem permittir.
fructificar em proveito de todos, os capitaes, A' vista dos privilegios especiaes de que o banco
que sem isto permanecerião improductivos , ou de que trata o projecto é dotado , poder-se-ha
terião um emprego menos fructuoso on menos esperar que alguma outra instituição bancai se
proprio a favorecer a diffusão do beneficio e estabeleça a par desta? Julgo que não Se piis,v
prosperidade geral ; são na phrase de Pecquer, á vista disto, devemos desesperar da pluralidade
a arte de dar circulação às utilidades por meio de bancos entre nós, consideremos este estado
do credito ; mos o que é credito ? de cousas unitario. O primeiro inconveniente,
O credito é o caminho de ferro dos capitaes, Sr. presidente, que se me antolha na creação de
e mesmo os caminhos do ferro não prestarião banco unico, de um banco assim privilegiado, é
os serviços que effectivamente prestão, nem rea o risco que corre o credito desse mesmo banco.
lisarião as vantagens que effoclivamente ottere- Um banco que tem em torno de si outros ban
cem, se não fossem as instituições de credito, cos zela mais o seu credito (apoiados), porque
porque e-.tas instituições , multiplicando prodi esses outros bancos são interessados em fisca-
giosamente os escambos ou trocas, determinão lisal-o, em observar o seu andamento. A certeza
consequentemente a circulação frequente, o mo que um banco tem de que outros o espião , o
vimento, por assim dizer, instantaneo dos ho observão, o contém na sua marcha, obriga-o a
mens e das mercadorias, movimento sem o qual dar uma -direcção sempre prudente, sempre cal
os caminhos de forro serião como sem objecto, culada ás suas operaçoes ; achando-se porém só,
e por isso diz o mesmo autor que os caminhos descuida-se, relaxa-se, e então póde o seu credito
de ferro presuppoem a existencia e extensão dos perigar.
estabelecimentos de credito. - Muitas vezes quem nos faz o maior bem é
A sociedade, Sr. presidente, considerada debaixo quem nos deseja fazer o maior mal . é o nosso
de vista economica, não é senão uma instituição adversario que notando os nossos defeitos, adverte-
de trocas ; por conseguinte á proporção que as nos que esses defeitos não estavão tão escondi
trocas, que as transacções se multiplicarem , dos, tão occultos como pensavamos, e então o
maiores vantagens virão ã sociedade ; os seus resultado é que nós desenganados do mysterio,
commodos sem duvida augmentaráõ ; mas como vendo que este mysterio não existe, olhamos
sómente o credito tem forças para accelerar para nós, observamo-nos, e emendamos os nossos
semelhantes trocas e transacções, é claro que o passos. Ora, a ausencia desse adversario , desse
credito é uma poderosa alavanca de riquezas, rival, é sem duvida para o banco projectado um
um poderoso elemento de propriedade para qual perigo que conviria evitar a bem do seu pro
quer sociedade. Estas considerações, Sr. presi prio credito ; nesso isolamento, nessa falta de fis-
dente, são obvias, cu poderia dispensar-me de calisação de contraste que procede da concur-
apresentai- as, e quasi que me arrependo de o renciu, elle adquire, por anticipação, digamos
nao ter feito. , assim o monopolio da banca-rota. (Oh.' oh.') E'
Mas, senhores, se as instituições de créditos o monopolio de banca-rota que ha de vir desse
são um efficaz poderoso instrumento para a descredito provavel, imminente, achando-S) o
prosperidade de um estado, tambem e um agente banco sem coucurrentes. Eis porque a concur-
poderosissimo para o mal. Convém por isso que rencia é um grande principio I Salva a todos,
reflictamos muito sobre a medida que vamos espalhando os seus benificios ainda sobre aquel-
tomar; ella é de uma alta importancia. Não les que o desconhecem.
nos illudumos sómente com as vantagens que Vamos a outra consideração : refere-se ao cre
os estabelecimentos de credito, que as institui dito individual. Quando ha muitos bancos, o
ções bancaes podem produzir, lembremo-nos tam negociante que não tem credito ante um banco
bem de muitos moles que podem acarretar á so recorre a outro ; se os directores de um banco
ciedade, quando não são firmadas sobre os seus ajuizão mal dos seus recursos, dos seus meios
verdadeiros alicerces, sobre os principios que a de pagamento , e ajuizão mal , talvez par des
pratica e a sciencia recommendao como essen- peito, talvez por intrigas, talvez por filta de
ciaes á constituição desses estabelecimentos. informações , elle não fica perdido , dirige-se a
Entremos agora, Sr. presidente, com mais es outro banco, e póde ahi salvar, a sua? honra
pecialidade no exame do projecto. Nelle se au- mercantil ; as suas letras serão descontadas, a
toriia ao governo incorporar um banco com as sua firma não ficará infamada, terá recurso na
condições no mesmo prescriptas. Tendo attenção pluralidade dos bancos do seu paiz. Mas um
a estas condições, vejo que este banco será um banco só... elle terá tambem o monopolio do
banco único no nosso paiz : será um banco unico, credito alheio, póde, quando quizer , arrumal-o'
porque reunindo avultadas somuins que não estão destruil-o.
muito a parda nossa fortuna, dos nossos meios, dos Um banco unico ainda traz um outro incon
nossos recursos, absorverá todos os capitaes que po- veniente , e é que podendo deixar de offere-
derião ser consagrados a outras instituições do cer sufficiente garantfa aos capitaes dormentes,
218 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
estes capitaes deixão de ter emprego, porque os O Sr. Lisboa Serra:— Que desejo ver mais
possuidores não querem arriscal-os nos cofres pronunciada.
de um banco que não lhes inspira confiança, O Sr. Bandeira de MelÍD :— Mas organise-sn
antes querem ter os seus capitaos sem activi esta força no meio do estado, de-se ao dinheiro
dade, sem vida, sem lucro, do que têl-os em pe
rigo, envolto nas operações de um banco , nas da poder
o immenso que resulU da concentração,
unidaue, e eu direi que é o quinto poder do
circumstancias que acabei do descrever. Eis pois estado ; o ministerio ha de estremecer na sua
o banco unico tambem com o monopolio da
vida, da actividade dos capitaes; porque só Vd eresença, ha de pedir-lhe licença para viver, hão
ser deputados quem a administração do banco,
nesto banco unico é que elles achão recurso paro ou pessoas que merecem sua affeição quizerem. . . .
fructificarem.
A industria tambem perde com a unidade de Sem egoismo,
a sua valiosa protecção nesta época de
de cubiça, nada poderá sustentar-se.
um banco , porque este banco unico póde esta Esse poder tem
belecer a seu talante a taxa dos juros, a taxa dos grandes interesses.em suas mãos grandes molas,
capitaes. Fazendo differentes operações, dispondo
de immensa massa de capitaes, retirando os capitaes O Sr. Lishoa Serra: — Ha de querer ter seus
conforme lhe parecer, negando-se aos descontos, representantes.
o tudo isto sem concurrente , póde este banco O Sr. Bandeira de Mello :— Não ha de que
unico ter em suas mãos a sorte da industria ; rer ter só seus representantes, ha de querer
a industria vive dos capitaes proprios ou em predominar, decidir ; os ministerios hão de ir
prestados , e quando os capitaes encarecem , pedir-lhe venia para viver. Isto, Sr. presidente,
quando a taxa do juro augmenta , a industria não é utopia ; ainda agora em Portugal V. Ex.
recua, soffre, deixa de ter o desenvolvimento terá notado os embaraços que o banco alli tem
conveniente. Ora, convirá por a industria do um apresentado ao governo ; o governo portuguez
paiz ã mereê de um só banco ? Convirá , por luta com essa potestade dentro do paiz. E a po
assim dizer , dar-lho o monopolio da taxa do testade do dinheiro, Sr. presidente, é temivel
juro ? (apoiados), temivel por muitos motivos, porque
E não só se dá o monopolio do juro ao banco não é possivel que uma potestade que tem tan
unico , como dá-se-lhe tambem o monopolio do tos recursos para beneficiar e para corromper
cambio, porque um banco unico , um banco que não exerça uma influencia proxima, quer para o
maneja avultadas sommas, que dispõe de grandes bem, quer para o mal. E' sem constestação um
capitaes, como disse, póde fazer operações de cam banco unico com as forças que vamos estabe
bio que tragão em resultado pór a sou arbitrio a lecer a aristocracia organisada entre nós, a aris
baixa ou a subida do cambio ; comprando e tocracia do dinheiro, que é a mais perigosa, a
vendendo saques, póde, sem duvida , pela força mais temivel, porque não suppõe merecimento, "
de que dispõe, influir de uma maneira arbitra não suppõ'e saber, não suppõe senão esforços do
ria , e talvez desastrosa sobre o cambio. Mas uma economia continuada e severa.
será conveniente que o cambio seja monopoli- Do passagem farei uma observação. Não sei
sado? se um banco unico está de accordo, não digo
Mas não ó só a estes objectos qne os incon- com a letra, mas com o espirito da constituição.
nientes de um banco unitario se referem ; a for- A constituição não quer o monopolio de maneira
una publica tem igualmente motivos de re- alguma, excepto no caso em que o reclamo a
ceiar-se de uma instituição que para só no meio moral ou a saude publica. Um banco, se nós
da sociedade. Um banco com as proporções da- reconhecermos que e unico, não é exactamente
quelle que se vai estabelecer sem duvida que uma instituição que tem a seu favor o exclusivo,
tem nos seus cofresuma boa parto da fortuna dos o monopolio de vender os effeitos do commer
particulares ; se elle praticar alguma operação cio? Que quer dizer monopolio? Vender só; o
menos pensada, estremece, por assim dizer, toda banco pois será a unica instituição para vender
a propriedade, e se elle fallir, então os desas oa effeitos do commercio; e assim é um mono
tres se sentem longe, podem causar profundos polio de que se póde duvidar com alguma razão
soffrimentos , muitas lagrimas ; muitas familias que esteja no espirito da constituição.
poderão acharse reduzidas á miseria de um mo Examinemos agora, Sr presidente, se o banco
mento para outro. Não embarquemos portanto a que se pretende instituir tem por objecto o be
fortuna publica em um só navio, em um só Affonso: neficio da industria e do commercio- será esto
velegemos em differentes navios ; procuremos que o ponto que agora oceupará a minha attenção,
o naufragio , no caso de realisar-se não traga e para o qual reclamo igualmente a attenção
comsigo infortunios tão geraes , não abra um dac casa.
ahysmo de tantas desgraças, de dores táo gran No discurso da coróa se recommenda ao corpo
des, não concedamos, senhores, a ninguem o mo legislativo a creação de um banco que, em har
nopolio dos desastres I monia com as nossas circumstancias, auxilie van
Sr. presidente, eu ainda direi que a liberdade tajosamente a industria e o commercio ; eu per
Eublica reclama contra a instituição de um guntarei, Sr. presidente, se a industria e o
anco unico. Um banco uuico com as proporções commercio já não encontrão sufficientes recursos,
que se vão estabelecer é a aristocracia do di sufficientes beneficios com os bancos que se achão
nheiro erganisada, ha -do ter uma influencia im instituidos nesta còrte? Se com effeito ha neces
mensa sobre os nossas cousas politicas.... sidade para esse fim do novo banco projectado?
Se
O Sr. Fioueira de Mello : — Foi isto que se desempenhão os dous bancos existentes nesta córto não
attribuio aos bancos dos Estados-Unidos. a sua missão? Eu julgo que sim ;
acredito que esses dous satisfazem ao fim dese
O Sr. Bandeira de Mello: — V. Ex. bem sabe jado, prestão todo o serviço e utilidade que podem
que Jackson nos Estados-Unidos receiou a influen prestar ; estou convencido que a industria e ' o
cia do banco nacional, retirou-lhe, todos os de commercio nada reclamão a respeito.
positos, porque fazendo isto enfraquecia; sentio que Attendondo porém para o 2° artigo do proje
o banco actuava sobre todas as liberd ides publicas cto reconhece-se que o seu grande fim é o me
do um modo funesto, de um modo prejudicial. V.Ex. lhoramento, a reforma, a substituição do meio
sabo qne o commercio em toda a parte exerce circulante ; tudo o mais é secundario ; mas por
grande iufluencia ; hoje mesmo não se póde des que este pensamento não se apresentou na
conhecer que os nossos negociantes fazem depu frente, não mereceu a honra de ser trazido a
tados pelas suas relações com os seus devedores; consideração, á memoria do corpo legislativo
exercem uma influencia que" aliás 6 legitima na falia do throno ? Porque ficou lente, quando
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 * 949
elle é o pensamen\o cardial, predominante do dade do numerario não fór augmentaja, se elle
projecto que discutimos ? Não tel-o-hia ainda fór mantido nas condições actuaes, o seu credito
depurado o governo quando redigio a falia do nos dispensará de tomarmos providencias cujo
throno? Será este ' pensamento novo? E se não alcance não podemos perfeitamente apreciar, e
e novo, porque não acompanhou a idéa do ban que por isso mesmo são arriscadas. Nestes as
co nacional que o throno recommenda ? sumptos, quando o presente é bom, importa não
Sr. presidente, so por esse lado julgo eu o arriscal-o sómente pela ambição do melhor. Todas
banco inutil, ainda o julgo inutil por outro as previsões podem falhar; não anticipemos, todo
principio, e poderei mesmo dizer que e prejudi .o tempo tem o seu trabalho proprio.
cial. Uai das grandes vantagens das institui Póde-se dizer hoje, Sr. presidente, que o nosso
ções bancaes nos paizes aonde o meio circulante papel-moeda são bilhetes, de confiança, e são bi
metallico abunda, é retirar-se esse meio circu lhetes de confiança em certo sentido, porque
lante para o substituir por bilhetes de credito ; elles têm casa aberta para serem trocados...
porque assim temse um agente de permutas qu , Um Sr. Deputado :—• Aon le ?
preenchendo o seu fim, dá lugar a que se con-
vertão em capitaes os valores que eráo absor O Sr. Bandeiba dii Mello : — Nas alfandegas,
vidos nesse emprego om prejuize da produeção. nas recebedorias. O governo tem uma renda de
Esta conversão facilmente se comprehen Je : o 3:1,000.0 H)$, quero dizer, o paiz tem uma renda
estrangeiro que recebe o numerario ou metal, de 3J;00 )-000$, e o nosso meio circulante em papel
manda em retormo mercadorias, e estas merca anda por 10,000:000$. por conseguinte a diffe-
dorias verdadeiros capitaes, vêm dar a industria rençi o pouca, é apenas do 13,000:000$ Direi
do paiz novas forças, que desenvolvem o seu agora como existo a casa aborta para roalisal-o.
increment i e prosperidade. O governo recolhe todos os annos -em paga
Esta grande vantagem é reconhecida por Cha- mento dos impostos a quantia de 30,000 000$,
vnlier, quuido considera o excesso de moeda me mas á proporção que recolhe, emitte de novo no
tallica que existe em Franga, listimando que não pagamento das despezas do estado. Sem contes-
se tenhão creado estabelecimentos do credito que testaçáo, quando o corrtribuinte paga o imposto,
convertão em forças productivas esses valores que realisa assim o papel que tinha recebido do es
estão debaixo da fórma do numerario. Ora, como tado ; elle conheco de mtemão um destino, um
não temos superabundancia de especies metalli- emprego certo para o efleito de credito que rece
cas, não podemos por conseguinte attrahir capi beu, digo de credito, porque a moeda-pipel
taes por meio de uina nova instituição de cre quando está reduzida a tão diminuta quantidade
dito. Portanto, com a consideração desta vantagem como o nosso papel, que apenas excedo a cifra
s se não poderá justificar, demonstrará convenien dos impostos, póde-se considerir como um effeito
cia de um banco além dos que já existem. realisavel, e por isso coino que fiduciario, tendo
Entrarei agora, Sr. presidente, em outro ponto. em todas as repartições da fazenda casa aberta
Acredito que não temos necessidade de tocar no para ser roalisado.
nosso meio circulante ; ó opinião minha, e talvez liu comprehendo bem, senhores, que o papil
. cause sorpresa, visto como parece forma-la, sel- ainda nestas circumstancias não é verdadeira
laila a opinião que reconhece como urgente, pal mente um effeito do confiança como um bilhete
pitante essa necessidade. Eu suscito a questão e do banco ; é mister a oocasião do pagamento do
submetto ao criterio esclarecido da camara os fun imposto para realisal-o, mas tambem e certo
damentos que susteutão o meu modo de ver, de que um papel em taes condições do existencia
apreciar este ponto economico do nosso estado merece mais do que bilhetes chamados—de con
financeiro. E' provavel que eu esteja em erro, fiança—, quando a base dessa confiança é pre
mas o erro não deixa de ter convicção ; eu im caria, aventurosa, e mais ou menos dependente
ploro da camara, por amor da convicção, a indul de imprevistas eventualidades.
gencia para o erro em que eu possa estar a se Sr. presidente, ha além disto um banco para
melhante respeito. resgatar esse papel. Esto banco é a praça pu
Sr. presidente , o nosso meio circulante , o blica. Quando eu quero em troco da cedula que
nosso pipel-moeJa pela suaescassez, pela pouca tenho no bolso moeda metallica, qualquer cam
uantidaue em que se acha com relação á massa bista a que me dirija dá-me a moeda metallica
ú as transacções, tem adquirido grande valor ; sem o menor agio. Não é só o cambista, qual
aqui se demonstrou que elle era deficiente para quer pessoa faz o mesmo, 6 indiffereuto possuir
as precisões da circulação, a se assim é, elle tem uma ou outra moeda, o talvez o papel seja pre
subido de valor, tem por forçi das cousas, gran ferido. E isto o que prova ? Prova o que eu
demente melhorado. E de certo isto é incontes drsso a que a praça, o mercado, era como um
tavel. grande bancD onde era realisado constantemente
O nosso papel-moeda exactamente vale hoje o pelo seu legitimo valor o nosso meio circulan
metal que ello promotte, segundo o padrão da lei de te. » Tanto é o credito de que goza. Duvido
1816 ; não existo em consequencia o menor agio que o banco projectado tenha bilhetes mais
entre elle a moeda metallica que nominalmente apreciados.
representa; so po"is o nosso papel está assim tão Mas, Sr. presidente, se não so póde negar o
acreditado, que necessidade ha de mudançis, de que eu acabo do dizer, por que principio se
substituicões em objecto tão .melindroso, tão de quer dar a projectada transformação ao papel-
licado? Ha sempre nisto algum risco, porque o moeda ? Será só para que se cumpra a pala
imprevisto é quasi inherente a este objecto. Para vra da lei, que diz que o papel-moeda é resga-
qne pois, repito, substituições? Porque o nosso tavel, que quem tiver uma cedula tem effectivo
papel está sujeito á falsificação ? Se é por isso, direito ao ouro que ella representa ? Quando a
os bilhetes do banco estão sujeitos tambem á fal promessi da lei so cumpre por um modo equi
sificação, e na Inglaterra as condemnações por valente, parece-mo. ser um escrupulo demasiado
falsificação de bilhetes de banco têm sido muito o empenho de attendor á fórma mais do que á
numerosas, e João Baptista Say as lamenta. Para realidade no pagamento do que se trata.
que, repito, substituir o nosso papel? Porque o Ainda uma outra observação apresentaroi,
seu valor póde declinar? Na diminuta quanti Sr. presidente, e é que o nosso papel a não ser
dade em que elle existe, como se pretende, não auginentado na sua quantidade, tende a aug-
podemos receiar que elle se desaprecie ; ao con mentar do valor, o so o cambio subir, elle po
trario, devo tornar-se mais valioso, segundo todas derá t_qr um agio a seu favor contra as especies
as previsões de crescente prosperidade industrial metallicas.
em que marcha, o paiz. Portanto, se a quanli- Tendo demonstrado, Sr. presidente, que não .ha
tomo 2. 32
250 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
verdadeira necessidade de dar nova fórma ao Direi ainda, senhores, que o papel do banc3
nosso meio circulante nas condições favoraveis projectado custará á nação muito mais caro do
eui que elle se acha, indagarei se com effeito que o papel que actualmente circula como moeia.
dá-se o melhoramento pretendido com a insti Hoje o nosso meio circulante naia nos custa,
tuição do novo banco, e com as providencias mas o meio circulante que vai substituil-o cus
que o projecto encerra. tará não pouco á nação. O governo presta sua
Sr. presidente, o nobre ministro até uma certa poderosa g irantia ao banco para que obtenha
época julgou que o principal expediente de me do estrangeiro por omprestiino 30,000:000$, mas
lhorar o moio cireul inta do paiz era a provin- em compensação tambem nenhum juro pagi ao
cialisaçáo das notas. Tive oceasião de op|)òr-ine banco de igual quantia que o mesmo é obrigado a
a essa medida, e de alguma sorte vanglorio-ine emprestar lhe, segundo as condições do projecto ;
do ver hoje que afinal o nobre ministro con mas, vencidos os 30 annos do privilegio, o go-'
cordou commigo, e não póz em execução a pro verno passa a pagar o juro dessa quantia ; e,
videncia que com todas as forças reclamou do pergunto eu, o juro proveniente desses 10,000:000$,
corpo legislativo como essencial ao melhoramento embora se realiso depois de 30 annos, não vem
do meio circulante. Abandonou pois o nobre mi sobrecarregar as nossas despezas? Não repre
nistro esse recurso, que julgou até então muito senta para o paiz o custo do papel do banco
valioso, e agora apresenta o outro, que vem a que vai substituir o papel actual? Por conseguinte
ser a intervenção do banco. Apreciemos este o papel do banco, sem vantagens reaes que com
novo recurso. pensem o sacrificio, traz á nação um onus que
Julgo , Sr. presidente , que não se meiho- no futuro gravemente se ha de sentir.
ra de maneira alguma o meio circulante pelo Ainda mais i o banco é obrigado pelo projecto
modo porque tem de ser feita a substituição. a adiantar ao governo todos os annos 2,000:000$,
Vejo que esta não importa em mais do que tro e o governo paga de 3 em 3 mezos os 2,000:000$
car papel por papel, papel do governo que tem que o banco tiver adiantado ; mas, pergunto,
a garantia da nação por papel com a garantia se as nossas circumstancias não permittirein
do banco. Eu não sei se inspira mais confiança esse pagamento, não teremos de carregar com
a garantia de um banco do que a garantia da uma despnza que hoje não fazemos ? Sem du
nação. vida. Podamos sempre estar tranquillos a res
Quando nós atten lermos a esta circumstancia peito do nosso credito ? Estará elle sempre tão
especial —que a nação tem bastante prudencia bem estabelecido, tão consolidado que náo possa
para não augmentar o seu papel alem do justo soffrer quebra ? O nosso systema de impostos ó
limite—, porque quando o papel está dentro do pór ventura tal que se considero inaccessivel ás
justo limito tem um valor real, um valor, como eventualidades que possão fazer descer a nossa
cabalmente demonstra J. B. Say , que lho dá receita ? Já hontem o nobre deputado (olhando
a necessidade das permutas, a necessidade da para o Sr. Serra) notou que a nossa renda está
circulação dos cffeitos da industria ; quando atten- diminuindo.
dermos a isso, digo, devemos concluir que o O Sr. Lisboa Serra : — Por causa da crise.
papel tendo a fiança da nação não é inferior, não
deve merecer menos confiança, do que as notas O Sr. Bandeira de Mello: — Mas ninguem
de um banco. póde affirmar que não haja crises ou quaesquer
Ninguem, Sr. presidente, quer o papel ou a outras circumstancias, por exemplo, uma guerra ;
moeda metillica para satisfazer uma necessidade e por conseguinte, se essas eventualidades não
immediatai mas sim como um meio de escambo, podem apparecer, poderemos nós assegurar sem
este é o seu officio ; por conseguinte, se existe pre o. pagamento desses 2,000:000$ que o banco
uma mercadoria mais barata nas condições que annualmento emprestará ao governo ? E se não
acibo de dizer, ella é um optimo meio circulante, realisar se esse pagamento, não teremos de pa
porque satisfaz o seu fim. gar esse j uro *
Ainda observarei que as notas do novo banco O Sr. Lisboa Serra:— No projecto está pre
não podem merecer mais confiança do que o venido isso.
papel actual, porque vejo que afinal aquellas notas
vêm estribar-se no credito do governo. O go O Sr. Bandeira de Mello : — No projecto
verno presta ao banco a garaniia de 10.000:000$; não se diz que, se o governo não pagar na
em virtude dessa garantia, dessa fiança do go fórma convencionada, immediatameute o banco
verno, o banco vai ao estrangeiro, porque sup- deixe de emprestar-llie ; por conseguinte a ope
ponho que dentro do paiz não poderá achar di ração póde continuar e gravar os cofres publi
nheiro bastante, o obtem essa somma ; recolhe a cos com uma despeza enorme que hoje não fa
aos seus cofres, e empresta logo ao governo, ou zemos.
se nao é isto, o governo obtem do banco que O Sr. Paula Santos dá um aparte que não
retire com seus capitaes a quantia de 10,000:000$ ; ouvimos.
esse emprestimo feito ao governo de qualquer fórma
desfalca o capital do banco, e desfalcado o capital O S«. Bandeira de Mello : — O papel-inoeda
do banco, o que acontece é que as notas que póde ficár, e emquanto a quantidade fór dimi
existem em circulação não achão em seus cofres nuta não ha inconveniente. As cousas estão feitas,
o valor correspondeute ; se acaso o banco que e quando chegão ao ponto vantajoso em qua
brar, e todos os seus bilhetes forem apresentados de estão, podem permanecer. Não aconselho, não
uma vez, em consequencia da quebra, a admi louvo em theoria este estado de cousas, que
nistração ha de dizer : u p irto desses valores reria que fosso outro ; mas temos chegado a
deveis achar no thesouro publico.» um ponto (felicidade para o Brazil), que póde
Por conseguinte, uma parte do credito de que continuar a permanecer sem perigo. Considere
goza o banco é o credito do governo ; e se acaso mos a actualidade, as nossas cousas, aprovei
se julga que essas notas do banco podem me temos o que essa apreciação nos mostrar como
recer o titulo de cffeitos do confiança, tendo vantajoso, e deixemos o melhor em theorias.
aliás o credito delias por base em grande parte Sr. presidente, se acaso entendermos que é es
o credito do governo, não ha motivo para de sencial offerecer o troco do nosso papel-moeda
preciar o papel actual comparativamente ás fu afim de cumprir a promessa da lei, então parece-
turas notas do banco projectado. Estas, como me que é de um meio facillimo de que já tive
demonstrarei não prescindem do credito do governo, occasião de fallar o é consignar se uma somma
e portanto em um sentido relativo e de compa em todas as thesourarias, e proclamar-se: « Quem
ração talvez devão inspirar menos confiança. quizer trocar por metal a cedula que possuir
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 Í51
recorra a thesouraria. » Estou persuadido que figurou, o que demonstra que a confiança dos
tal é o credito do nosso papel, que, sem duvida, bilhetes que o banco tem de emittir não 6 tão
ninguem irá. ás thesourarias ; e eu mesmo sou plena como S. Ex. suppóz. Vejo, pois, que um%
um exemplo disso * tenho muitas vezes, quando circumstancia ou eventualidade já se apresenta
vou cobrar meu ordenado, preferido o papel ao em que os bilhetes do banco podem não ser rea-
ouro. Portanto, eis-aqui um meio facilimo de cum- lisados ; e se a razão dada pelo nobre ministro
Srir materialmente , litteralmente , a promessa com relação aos bancos actuaes é valiosa, tambem
a lei. deve ser valiosa para o banco que se vai insti
Eu, Sr. presidente, direi que se se quer por tuir. Desejarei muito ouvir o nobre ministro
força commetter ao banco a substituição do nosso ácerca desta reflexão que acabo do fazer.
papel, então, como julgo que o banco "ha de A outra vantagem vem a ser « fiança ao em
fazer avultados lucros, melhor seria que a nação prestimo. » Já sobre isto apresentei tambem
se associasse ao banco, que pedisse por empres algumas considerações,o dispenso-ine de repetil-as.
timo esses 10,000:000$ o os entregasse ao banco. Segue a outra vantagem, relativa ás caixas
O banco lho havia de dar um interesse superior filiaes. E' sem duvida, Sr. presidente, uma van
ao juro que tivesse de pagar, e a nação teria tagem d ida ao banco o ter caixas filiaes,' oor-
sem duvida alguma uma.vantagem, um lucro, prin que por meio destas caixas estendo o mercado
cipalmente se essa operação fosso feita nas cir- dos seus effeitos de credito, qua sem isto terino
cumstancias actuaes,em que o cambio é summa- uma emissão muito inferior, e couseguintemente
mento favoravel. os seus lucros serião proporcionalmente menores.
Portanto vê-se que esta substituição vai dar ao A esto respeito so uma observação se me
banco todas as vantagens que, podem resultar da offerece fazer, e é perguntar se estas caixas
differença dos juros qne vai pagar pelo empres-' filiaes que o projecio institue compoem, com o
timo, e os lucros qne effectivamente vai realisar banco estabelecido na capital, uma sociedade de
por meio de seus effeitos de credito. lucros e perdas, ou se somente existe entre
Tomarei agora, Sr presidente, em consideração essas caixas filiaes e o banco conta corrente,
as differentes vantagens que o governo offerece porque a instituição dessas caixas póde diversi
ao banco em compensação do emprestimo que ficar, visto não haver uma norma para organi-
lho faz, emprestimo que eu julgo que o banco sal-as ; e eu julgo que será muito mais conve
faz com grande interesse para si proprio, e sem niente que ellas constituão com o banco uma
o menor sacrificio. sociedade de perdas e lucros, porque sem duvida
Vamos ver quaes são essas vantagens ; eu já do outra maneira não prosperão, não poderão
as apresentei numericamente á camara ; mas farei entrar em competencia com o banco estabele
agora sobre cada uma delias de per si algumas cido no Rio de Janeiro, e revestido de privi
considerações. legios e vantagens especiaes.
A primeira vantagem ó o privilegio de dura Uma outra vantagem que so concede ao banco
ção por 30 annos. Sr. presidente, este tempo me é a faculdade de emitir bilhetes até a ininima
parece excessivo. Se acaso tivermos motivo de somma de 10$ nas provincias. Esta faculdade,
lamentar a instituição deste banco, estaremos Sr., presidente, bem demonstra que o pensamen
presos por muito tempo; é prudente que o paiz to do projecto é que as notas do banco sub-
não sé prenda por um tempo tão futuro, diga- - stituião exactamente o nosso papel-moeda, mas
mos assim, tão remoto, de maneira que o arre nesta substituição tão extensa, tão completa,
pendimento seja infructifero, apreciemos mais a noto um inconveniente, ú qne o ouro o a prata
nossa liberdade. Quem poderá assegurar as exi devem ser exportados, porque esses pequenos
gencias do futuro ? bilhetes do 10$ e 20$ irão procurar todas as
Eu não sei se ha algum banco que goze de arterias da circulação ; os negocios mais pe
privilegio por tanto tempo; pódo ser que haja, quenos poderão ser feitos com taes bilhetes de
mas parece-me que todos os privilegios são de um tão diminuto valor, e por conseguinte o
20 ou 25 annos para baixo ; porém mesmo quando ouro o a prata deixarão de ser precisos, dei
se dê exemplo do contrario, acredito que não é xarão de percorrer nessas arterias logo que
para imitar-se, que não é acto de circumspecção haja qualquer excesso de numerario, o resulta
e aviso esse de comprometter-nos a um contracto do será a exportação desses metaes preciosos,
desta ordem por um tempo tão grande. Elie póde cuja existencia no paiz, ein uma certa proporção,
ser renovado, ,so o resgate da moeda o exigir, e ó sempre do grande vantagem, mesmo para
nos fizer conta a renovação. Não podemos que assegurar o credito dos papeia da confiança.
rer mudar de systema de resgate? De certo I Os bancos de ordinario não emittem cedulas
A segunda vantagem offerecida ao banco em de um valor tão pequeno, porque são instituidos
troca do emprestimo é o recebimento das suas para as relações entre pioductor e prodactor, e
notas nas estações publicas. Ora, a este respeito não entre o productor e consumidor. Sendo o seu
Já eu disse em uma das sessões anteriores o fim proteger á industria e ao commercio, não tem
que tinha de offerecer á consideração da casa ; necessidade do fazer omissão de bilhetes com
Sômente agora observarei que é preciso mandar valores tão pequenos, porque os negociantes fazem
ft mesa alguma emenda que ponha este projecto pagamento do quantias avultadas, e assim tam
de accordo com aquelle que liontem se votou, bem os productores. Para o pagamento de quan
isto é, que as notâjS deste banco tambem sejão tias diminutas a especie deve ser outra; mas o
recebidas em pagamento dos particulares. mal que principalmente noto é fazer desappa-
O nobre ministro disse que a necessidade que recer do paiz a moeda metallica , com prejuizo
havia de permittir que os particulares recebes da proporção que convenientemente se deve man
sem em pagamento das suas dividas as notas ter.
do banco, era porque se o governo recebesse A outra vantagem é a isenção do imposto do
essas notas em pagamento das contribuições, e os sello. Porque razão, Sr. presidente, se concede
particulares a quem clle devesse não as quizessem este privilegio ao banco ? Pois o banco que ó
receber em pagamento, teria o governo de levar uma potencia tão rica, que é uma instituição
de um jacto ao banco uma grande somma de para a qual concorrem pessoas que têm valores
notas, e o banco so declararia impossibilitado superiores ás suas necessidades, e que es vão
de realisal-as. levar a esse deposito para o effeito da produc-
Agora ponderarei ao nobre ministro que isto ção, deve ser dispensado do pagamento deste im
que «lie disse prova que os bancos a que álludia posto que nós outros pagamos ?
com semelhante observação não estão sufficien Eu anlis quizera que, quando o dividenda ex
temente garantidos para essa eventualidade que cedesse do um certo maximo, a lei exigisse uma
252 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
quota cm certa proporção para alguma obra de houvessem de descontar tivessem o prazo de 3
piedade. Não seria isso sem duvida C'iusa que mezes. Se isto é bom, se é uma garantia que
não se pudesse fazer: por exemplo, so o banco se julgou conveniente que partisse do corpo le
désse dividendo de mais 1 %, certa quantia fosse gislativo, porque tambem o cAVpo legislativo não
reservada para uma obra pia, esta occasião se ha de exigir do nov i banco a mesma garantia,
podia aproveitar para promover algum estabele prescrevendo que elle não possa descontar letras
cimento desta natureza. Entretanto, em lugar que tenhão um prazo maior de 3 mezes ? E'
disto, o que se faz ? Dispensa-se o banco do certo que- esta clausula assegura melhor -o cre
imposto do scllo I Não comprehendo a razão ; é dito do banco, porque se o banco descontar
proteger a quem já está protegido por muitas letras de longo prazo, se acaso adiantar som
circumstancias, a quem já vive pelo menos na mas avultadas que não possão voltar aos seus
abastança, n quem não precisa, a quem só tem cofres dentro de um tempo proximo, para fazer
em vistas especulações do lucro paranugmentar face ao troco dos bilhetes que por ventura lhe
a sua fortuna , como aliás é razoavel, a bem forem apresentados, sem duvida do se achar
mesmo da communhão. . em graves dificuldades, difficuldades que são
Ainda uma outra vantagem.... não será van mortaes para semelhantes instituições.
tagem, é observição á parte. O projecto diz que Tambem quizera que na lei se prohibisse ao
a emissão será do duplo capital disponivel, excepto banco conimerciar, E>ta prohibiçáo é essencial,
se o governo determinar que se augmente. Aqui não só porque não devo arriscar os capitaes que
invoco a voz poderosa do nobre deputado pela estão em seu poder ás eventualidades do com-
Bahia, o meu amigo o Sr. Ferraz ; peço ao nobre mercio e da industria, como tambem porque elle
deputado que mo ajude a não conceder ao go com a sua poderosa concurrencia mataria qual
verno uma automação que elle nos póde, e a quer industria que lhe fosse rival. Portanto,
importante autorisação de permiitir que o banco, devo ser expressa na lei a prohibiçáo de nego
que segundo o projecto que discutimos apenas ciar. Sei que está marcado no projecto o fim
póde fazer uma emissão dupla do seu valor dis do suas operações, mus o commercio toma dif-
ponivel, possa augmentar essa emissão conforme ferentes fórmas, e ninguem poderá com o banco,
entender o governo. com essa poderosa aristocracia, quando ella
Eu julgo que o nobre deputado concordará quizer sopbismar, illudir o destino das operações.
commigo em que o augmento dessa emissão ó Sr. presidente, estas forão as observações que
cousa muito séria, é cousa muito grave. Se ncaso me occarrêrão. Confesso que não tive bastante
lia necessidade de fazél-o, o corpo legislativo é tempo para esclarecer-me ; no principio do meu
que deve determinar, e não o governo, porqne discurso o manifestei á camara ; por isso peço-
se acaso se deixar isto ao governo, elle poderá lhe perdão pela má exposição (não apoiados) da
permiitir abusos nessa emissão; as unidades minhas idéas, pela- inexactidão dessas mesmas
monetarias descerão do valor, e grandes prejuizos idéas.
podem resultar. E' preciso pois que reservemos Alouns Senhores : — Muito bem I muito bemI
para nós, como acontece na Inglaterra, a facul-
dado de permittir o augmento da emissão. Coin O Si-. Viriato : — Antes de dizer alguma
que facilidade, mediante essa permissão, não cousa ácerca da materia qne oceupa a nossa
poderá o governo pedir ao banco, por emprestimo, -attençáo, considerindo m.-.us mal seguros "conhe-
avultadas sommas I cimentus, devo pedir desculpa á camara por
Notarei, Sr. presidente, algumas omissões que querer tomar parto nesta discussão, onde se
mo parece que apresenta o projecto. A primeira agitão questões , tão gr ives, onde o homem a
omissão é esta : e eu quizera que o projecto cada passo encontra opiniões diversas, sustenta
estabelecesse a responsabilidade solidaria dos das e combatidas por escriptores famosos e de
administradores de uma tão importante institui subidos talentos.
ção de credito. Esta instituiçao não é uma in Usanlo do palavra, não tenho a esperança
stituição particular, é uma instituição de alta de produzir axiomas infalliveis, nom aspirações
importancia, qne tem um jogo immenso com todas a convencer alguem pela força de meus argu
as fortunas, tem uma responsabilidade immensa. mentos; quiz somente atirar no meio da discus
E se esti iesponsabilidade é immensa, porque são um ou outro pensamento de verdade e uti-
razão não havemos de procurar garantias corres lidade que possa acompanhar os que forem
pondentes? Por que razão os administradores do cieados por mais vigorosos talentos. E obrando
banco não hão de ficar empenhados por toda a assim, cumpro uin dever.
sua fortuna por quaesquer prejuizes que o banco Sei mesmo que em discussões de semelhante
possa ter? Não será isto uma garnntia valiosa natureza a leitura dos livros, a tlieoria, não são
de boa administração? NSo serão clles mais ze o meio mais forte para se chegar á verdide :
losos, quando virem Tmo têm de pogar com suas a leitura des livros e a theoria é superior á
particulares fortunas os prejuizos que possão pratica, meio muito mais poderoso para se co
resultar de sua gestão ? Sn o banco não tivesso nhecer a vida, o movimento dos agentes da pro-
as proporções que tem, se não envolvesse fortunas ducçáo da riqueza nacional. E eu não tenho
tão grandes, não reclamaria eu esta responsa essa pratica. So meu discurso pois fór inteira
bilidade; mas não sendo assim, bom será exi- mente esteril, contra o meu mais ardente desejo,
gil-a, mesmo para maior credito do banco. Ainda peço á camara que me releve haver-lhe tomado
uma observação. o tempo inutilmente.
No projecto que hontem votámos se excluio do Discutindo-se a creação de um banco de depo
desconto dos bancos as apolices da divida pu sitos, descontos e emissão, eu tinha dado ao
blica e outros effeitos, determinando-se quo só- meu discurso uma marcha mui differente da que
mente os bancos descontassem letras commer- ora sou forçado a seguir ; apresentava á casa
ciaes. Se isto é bom, se isto é uma garantia para as principaes vantagens de estabelecimentos
os bancos actuaes, porque tambem não se ha desta ordem, comparava depois essas vantagens
de estabelecer o mesmo para o novo banco ? com as disposições do projecto, e concluia que
Porque não se ha de determinar que elle possa ellus tendião a produzil-as todas.
sómente descontar letras commerciaes ? Julgo Passava depois a enumerar os abusos que a
pois que com relação ao que approvámos, atten- experiencia tem mostrado em instituições destas,
dendo a que isto é uma garantia, se o é, devemos comparava esse meu trabalho com o mesmo
prescrever pira o novo banco a mesma cousa. projecto, e ia provar que nelle não existia «uma
Nós tambem no mesmo projecto a que me re só disposição que facilitasse o apparecimenlo e
firo determinámos que as letras que os bancos* permanencia do mal. E' mister porém que eu
»
SESSÃO EM 18 PE JUNHO DE 1853 253
despreze essa ordem que me parecia a melhor, culantes, augmentando a somma das riquezas
e que corra mais rapido na expressão de minhas nacionaes, faz desapparecer o medo de que elle
idéas, por*' mo ter chegado a palavra em hora absorva todos os capitaes, e prejudique aos bancos
avançada, tendo mui pouco tempo á minha dis ora existentes.
posição. Assim, procurarei somente responder ao Mas concedamos a possibilidade desse aconte
que acaba de dizer o honrado deputado pelo cimento, a centralisação de agentes tão podero
Ceará, meu nobre amigo. sos da producção (o que não ora verdadeiramente
Os primeiros argumentos que julgou conveniente um mal), nem assim se darião os resultados no
produzir o nobre deputado contra o projecto tem civos lembrados pelo nobro deputado.
origem em dous principios inteiramente oppostos, Se o novo banco se constituisse só e unico
e que se revelão nesse topico de seu discurso. no paiz, por isso mesmo toria ao contrario maior
Quando pretendeu crear razões contra o pro credito do que existindo e operando com outros.
jecto, expendo os males resultantes do demasiado Do sua propria posição tiraria o publico fortes
crescimento e importancia dos bancos, elle deu razões para crer firmemente que o governo, que
como certo o credito, duração e força futura do os empregados de nomeação desse mesmo governo,
banco, que está em discussão , quando precisou e interessados no banco, serião tão zelosos, tão
mostrar os numerosos e pesados males de bancos cuidadosas e prudentes, como póde ser humana
desordenados e mal fundados, para justificar seu mente possivel na direcção de suas operações.
voto deu como certo o descredito , a pouca du Por certo que o estimulo produzido pela concur-
ração , e fraqueza futura do banco que se quer rencia não offerece garantias tão poderosas I
estabelecer. Os bancos, senhores, forão lembrados e crea-
Exposta esta especie de contradicção em que dos para nugmentar as sommas das riquezas na
sem sentir cahio o nobre deputado, eu vou tocar cionaes ; para augmentar a actividade da industria;
na sua primeira argumentação. Tendo elle ava para facilitar a importação de valores que são
liado as vantagens das companhias ou bancos de consumidos prod activamente, etc. Não forão só e
circulação, os serviços que prestão ao mercado, exclusivamente instituidos para bem dos capita
o augmento que dão ã somma da riqueza na listas, ou possuidores de meios circulantes ; têm
cional, e dito que são quando mal dirigidos uma fins mais nobres e uteis. A existencia pois de
forte alavanca para o mal, affirmou que o banco um banco, não deixando a esses capitalistas a esco
em discussão vai ser o unico no Brazil, vai absor lha de melhor emprego para seus capitaes, por ser
ver todos os capitaes pela escassez de nossas for o unico no paiz, não devia merecer ao nobre de-
tunas e pelo poder que lhe dão os privilegios do putdo a importancia que lhe deu
governo, sendo certo que a existenci i de um só Não julgo porém (como já disse), que o novo
banco dará origem aos seguintes males : a perda banco so vá constituir com exclusão de outros,
do credito do banco no futuro ; a ausencia abso e que tenha um futuro de descredito. Os capi
luta da escolha que deve ter o capitalista no taes acharão um emprego seguro e gozarão, da
emprestimo de seus capitaes ; o apparecimento escolha no emprego.
de grandes sommas de capitaes dormentes.estereis, Porém disse-se mais ; a realisação deste banco
sem emprego; a elevação da taxa dos juros á concorrerá para a formação de grandes sommas
vontade do banco ; os riscos da imprudento crea- de capitaes dormentes e estereis, que *jião se
ção de um estabelecimento, que vai ser um unico animarão a entrar para um banco desacreditado.
lugar de deposito e emprego de grandes sommas Neguei já que o descredito- fosse o futuro deste
ila fortuna publica, estabelecimento que fal lindo novo banco, e poderia agora concluir que, se
arrasta comsigo para a ruina a maior parte da a causa de formação de grandes sommas de
riqueza nacional. capitães estereis é esse descredito que se teme,
O projecto que está em discussão, senhores, não teremos diante de nós o mal. Mas quero
crêa um banco com o fundo capital de 30,000:0000$, aceroscentar á minha proposição as seguintes
obrigado a ter sempre empregada na operação, considerações.
Sue vai ficar a seu cargo, de retirar o papel moeda Para que as previsões desse futuro fossem
a circulação, a somma de 10,000:000$. Descon provaveis e attendiveis era mister extrahir do
tando esta somma fica o seu maximo fundo dis projecto em discussão razões qne as apadrinhas
ponivel reduzida a 20,000:000$, e a sua maxima sem. Eu íulgo esse trabalho difficil, senão im
somma de emissão a 10,00):000$, porque não lhe possivel. Temos em vista a creação de um banco
é dado elevar a sua emissão a do duplo de seu com o fim principal o dominante de retirar da
' fundo disponivel. circulacão o papel do goverue que actualmente
Suppondo-se mesmo que o banco nos primei f iz as funeções do numerario, isto é, concorrer
ros dias de sua vida espalhe pela circulação por meios possiveis e seguros para mais acre
20,000:000$, o que não é natural, poderá essa ditar o governo, de cujo credito nasce e alimen-
quantia influir tão fortemente no paiz que vá ta-se sempre o credito dos bancos em geral.
fazer damno ás operações dos outros bancos, Temos em vista a creação do um banco, qne
que torne impossivel a creação de novas compa tem a prohibição de elevar suas emissões além
nhias com -is mesmas operações, com os mes do duplo do seu fundo disponivel. Temos em
mos fins? Não creio que assim aconteça. As nossas vi^ta finalmente a creação de um banco que vai
fortunas não são tão pequenas, o Brazil não está tão ser dirigido por um presidente de nomeação do
atrás no caminho da civilisação para que se tema governo, e interessado no mesmo banco em 50
tal influencia no derramamento desta somma, ac.;ões. Ahi nessas disposições existem antes
e com a expansão que lhe dá a faculdade di motivos para previsões mais risonhas.
creação de caixas filiaes. São muitas as causas da variação da taxa dos
Além disto, quando por qualquer operação se juros. A maior ou menor demanda do capitaes
augmenta a m issa das moedas, a somma dos produzirá a alta e baixa dos juros; o credito
capitaes em circulação sempre se faz sentir como dos novos governos, a estabilidade das cousas
resultado dessa abundância una vantigem real publicas fara subir a taxa dos juros; o emprego
que vem a ser um grando crescimento de acti mais ou menos seguro do capital que so pre
vidade na industria e creações de novos valores. tende, o credito da pessoa que o pede, produzirá
Assim aconteceu nas primeiras emissões do banco variação, etc. O que ó certo é que não está na
de Law, dos assignados em 1791, o. nas épocas vontade de uma só pessoa physica ou moral
em que se multiplicárão os bilhetes do banco regular essa taxa, e por muito tempo. A eleva
dc Inglaterra. A benefica influencia do cresci ção e diminuição delia é dependente dessas cau
mento industrial pelas emissões do novo banco, sas, de acontecimentos filhos do serviço dos ca
alargando o campo da procura de capitaes cir pitaes no augmento ou diminuição da industria.
254 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
Se o paiz levar rapido caminho no progresso renlisavel como são os bilhetes do banco. Mas
augmentando seus meios de producção, crescerá nas incertezas de um futuro que póde ser negro,
a demanda dos capitaes o com ella a taxa dos eC trazer-nos deprecianiento dessa moeda, fazemos
juros ; e se o contrario acontecer, a demanda bem, e obramos judiciosamente cm preferir-lhe
dos capitaes diminuindo baixará a taxa dos os bilhetes de banco que tirão seu credito do
juros. Esses factos, que são logo sentidos, ?ão valor que representão rcalisavel logo á apresen
os reguladores do valor do serviço dos capitaes. tação.
Se o novo banco se tornar unico no paiz e . Não tenho lembrança de outras razões de gravi
pela sua importancia tiver a estulta pretenção dade comparavel á destas trazidas á discussão
de regular a taxa dos juros, como diz o nobre pelo nobre deputado. Recordo-mo somente que,
deputado, não poderá sustentar seu proposito depois do censurar os privilegios ou favores que
por muito «tempo. Elie so curvará á lei geral se concede no projecto ao banco, tratara de es
afinal, e se verá forçado a soltar seus capitaes tranhar a ausencia de medidas do segurança,
para que facão o trabalho para que forão des geralmente usadas nas operações dos bancos.
tinados. E além disso cllo teria que lutar com Disse elle afinal que não havia no projecto
o concurso dos capitalistas quando insistisse na disposição alguma que marcasse ao banco o dever
idéa de ordenar á sua vontade os juros da praça. de não fazer seus descontos senão sobre letras
Finalmente, Sr. presidente, não concordo com que tivessem duas a tres firmas de credito ; que
o nobre deputado na apreciação dos riscos re não via disposição alguma que limitasse o tempo
sultantes da confiança publica collocada em um do vencimento dessas letras que em suas ope
só estabelecimento desta ordem. Acho os bases rações o banco tem de receber, como se costuma
e disposições essenciaes para o novo banco con a proceder em todos os bancos da Europa. Mas
signa ias no projecto tão seguras e prudentes, julgo que essas providencias não devião vir
que não receio nada da nocivo ás fortunas dos consignadas no projecto em discussão, e que só
particulares. podem ser bem cabidas nos estatutos do banco.
Além destas considerações ha pouco feitas O Sr. Bandeira de Mello:— Mas essas mes
contra o projecto, outras produzio o nobre de mas providencias passárão na lei que ultima
putado á quem couhe-me a honra de responder, mente votámos.
o das quaes vou tratar segundo a ordem de
minhas notas. O Sr. Viriato :— Os estatutos já estavão feitos.
« A influencia que pelas suas elevadas pro O Sr. Bandeira de Mello. — Mas essas provi
porções o pelos privilegios concedidos vai ter dencias tambem podem ter lugar na lei.
este banco, torna-o um podor perigoso para as
liberdades publicas, » disse elle. Não concebo O Sr. Viriato: — Uma lei não deve descer a
como em instituições destas se descobre risco essas minuciosidades ; apresenta principios ge-
para as liberdades publicas. Pela natureza das raes, fundamentaes.
operações de um banco, pelo seu fim e pela sua Eu poderia tomar o projecto e analysal-o todo,
fórma seja-nos licito dizer que é essa proposi e talvez mostrasse ao nobre deputa lo que elle
ção ahi mui mal cabida. tem em si todas as garantias de um futuro feliz ;
E' preciso estabelecer, senhores, a regra geral, mas como não é dado fazer isto, não só por
admittida por todos, de que os bancos não se haver soado a hora, como por temer cançar a
constituem para fazerem beneficios a si mesmos; attenção da camara, limitt ir-me-hei a apontar
que os bancos não são mais do que simplices a semelhança das disposições deste projecto de
agentes intermediarios da producção da riqueza banco com disposições de outros bancos acredi
nacional. Se o bunco floresce, se tem algum lu tados.
cro, ahi temos florescendo os accionistas, os in O banco de Inglaterra na sua instituição teve
teressados do banco ; com çlles o paiz tambem obrigação de pagir os juros da divida publica, e &
vem a florescer, porque crescendo a riqueza na imitação desto o de França principiou tambem
cional cresce com ella a actividade da industria logo com este dever. Já o infeliz banco hespa-
do paiz. Se porém o banco não prosperar, temos nhol do S. Carlos tinha a obrigação de prestar
uma infelicidade publica ; temos a perda da for soccorros ao governo ; e não fallio por isso, mas
tuna dos accionistas, dos interessados, ou de parto pela illimitada concessão de emissoes.
delia ; temos a perda de nossas esperaças de Ha entre nós tambem a lei do ti de Outubro
melhoramento do meio circulante na especie pre de 1833, creando o banco do Brazil, que não se
sente ; mas nas vantagens que elle produzir á realisou ; e nessa lei eu encontro disposições quasi
industria e ao commercto, nas desvantagens que identicas ás que se achão no projecto ácerca do
elle possa dar, eu não vejo nada que vá de en papel- moeda.
contro ás liberdades publicas. E para que se Estes estabelecimentos concorrendo para sus
enxergasse nos bancos alguma cousa contra as tentar, e mesmo elevar o credito dos governos ;
liberdades publicas, era necessario primeiro con- reconhecendo tacitamente a intima ligação de
sideral-os, não como simplices agentes intermedia seu proprio credito com o do governo, quando
rios da riqueza publica, era mister consideral-os, operao de harmonia com esse fim, produzem
nnd como uma pessoa moral, mas como uma bens no futuro incalculáveis. Tornão-se finalmente
pessoa physici jogando com grandes capitaes , um dos mais fortes elementos de estabilidade e
dispondo de uma só vontade, e de suas proprias ordem. E isto reconhece hoje o mundo civili-
forças. sado, e já era apregoado por escriptores da
Accrescentou depois o nobre deputado que não elevados talentos como Bouchaud, De Maillane,
considerava a creação do banco como consequen e De Lalande.
cia das necessidades do commercio, ou levando A discussão fica adiada pela hora. Levanta-se
por fim principal favor á industria, e antes como a sessão ás 2 J{ horas da tarde.
um meio do substituição do papel do governo,
que faz actualmente . as funeções de numerario.
E que achava desnecessaria esta providencia ,
porque a moeda papel era acreditada presente
mente e realisavef.
Se o nobre deputado ou alguem me pudesse
afiançar 'a duração não interrompida desse cre
dito do papel-moeda, cu concordaria com elle,
que acha desnecessaria a substituição, sem toda
via aceitar a moeda-papel com a virtude de ser
SESSÃO EM 20 DE JUiXHO DE 1853 255
Sess&o em 20 de Junho a A assembléa geral legislativa resolve :
« Art unico.—Fica approvada a pensão annual
PRESIDENCIA DO aB. MACIEL MONTEIRO conce lida por decreto de 19 de Agosto do anno
pissado a José Rodrigues dos Santos Neves,
Summario. — Expediente. — Ordem do dia. — Em- 2° sargento do 2° baiallião de gu irdas nacionaes
lumentos parochiaes. Discurso do Sr. Nabuco. do municipio do presidio d i provincia de Minas-
Votação.—Registro de hypothecas. Discurso do Geraes, correspondente ao soldo e etape de -400 rs.
Sr. Ferraz.—Pensão a D. Anna de Macedo. — que percebia pela respectiva thesouraria provin
Pensão d viuva do desembargador Agostinho cial, em remuneração dos serviços prestados á
de Souza Loureiro. Disciírso do Sr. Oliveira causa da ordem, na sobredita provincia, onde foi
Bello.—Banco nacional. Discurso do Sr. Ro gravemente ferido em combate nos campos de
drigues Torres. Votação. Santa Luzia, percebendo-a desde a dada do referido
decreto, revogadas para este fim as disposições
A's 10 horas, feita a chamada, achão-so pre em contrario.
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido, « Paço da camara dos deputados, 18 do Junho
Araujo Lima, Fleury , conogo Leal , Siqueira do 1853.— Gomes Ribeiro.—J. E. de N. S. Lo
Queiroz, Miranda, Ribeiro, Ferraz, Paula Santos, bato. »
Horta, Pereira Jorge, Machado, Lindolpho, L. ORDEM DO DIA
Araujo, Nabuco, Magalhães Castro, Candido Men EMOLUMENTOS TAROCHIAES
des, Mendes da Costa, barão de Maroim, Livra
mento, Wilkens, Castlllo-Branco, Vasconcellos, Continua a discussão do adiamento proposto
Pereira Rocha, Pacheco Jordão, Teixeira de Souza, pelo Sr. Paranaguá ao projecto r. 53 deste anno
Domingues Silva, José Assenso, Bello, Monteiro a respeito de emolumentos parochiaes.
de Barros, Rodrigues Silva, Fernandes .Vieira, Posto o adiamento a votos não é approvado, e
Gouvêa, Teixeira de Macedo e Aprigio, continua portanto a discussão do projecto.
Comparecem depois da chamada os Srs. Brus- O Sr. Nabuco: — Sr. presidente, pedi a
gue, Candido Borges, Theopliilo, Ignacio Barboza, palavra para offerecer á consideração da casa
vieira de Mattos, vigario Silva, Bretas, Ribeiro uma emenda substitutiva que me parece de
da Luz, Fausto, Pimenta Magalhães , Gomes grande importancia.
Ribeiro, Paula Fonseca, Dutra Rocha, visconde Em 181Ó o Exm. diocesano de Pernambuco
de Baeponly, Rego Barros, Souzi Leão, padre organisou uma tabella dos emolumentos paro-
Campos, Sã Albuquerque e Paes Barreto. - chiaes e direitos da estola, e pedio a sua approva-
E havendo numero legal, ãs 11 horas menos ção ao governo imperial.
10 minutos, o Sr presidente declara aberta a Submottido esto negocio á secção de justiça
sessão. do conselho de estado, opineu ella a favor desta
Lido e approvada a acta da sessão antecedente tabella, quanto á sua materia, mas entendeu que
o Sr. 1° secretario dã conta do seguinte. não era da competencia do poder executivo, senão
do legislativo, a approvoção delia; porquanto os
EXPEDIENTE emolumentos parochiaes constituem um imposto,
cuja iniciativa compete & camara dos deputados,
cuja creação pertence ao poder legislativo.
Um officio do Sr. ministro do imperio, parti Vindo esse negocio a esta camara, a com
cipando qne expedira aviso aos presidentes das missão dos negocios «eclesiasticos, da qual era
provincias de Pernambuco, Piauhy, Minas-Geraes, relator o Exm. bispo conde de Irajá, approvou
Maranhão, Alagoas e Rio de Janeiro, para que, essa tabella com algumas emendas que tinhão
na conformidade do que resolvêra esta camara em vista resguardar os direitos dos parochos
sobre as eleições de deputados pelas ditas pro das freguesias e provincias que fazem parte do
vincias u actual legislatura, expeção as ordens bispado de Pernambuco, os quaes serião preju
e communicações necessarias.—Fica a camara in dicados por unia medida geral e comprehensiva
teirada. do toda a diocese.
Outro do Sr. deputado Viriato Bandeira Duarte, Em consequencia a commissão dos negocios
communicando que não póde comparecer por mo ecclesiasticos de 1846 offereceu para esso Um a
tivo de molestias. —Inteirada. seguinte resolução, que diz assim :
Um requerimento de Eugenio Augusto de Mi « A assembléa geral lo jislativa resolve :
randa Monteiro de Barros, pedindo dispensa do « Artigo unico. A tabella que regula os direitos
exame de mathematicas para se matricular na parochias e emolumentos que se devem perceber
escola de medicina.—A' commissão de instrucção pelas fuucções ecclesiasticos em todas as fregue-
publica. zias do bispado de Pernambuco, mandada orga-
E' julgado objecto de deliberação, e vai a im nisar o assignada pelo bispo desta diocese em
primir para entrar na ordem dos trabalhos o data de 21 do Maio de 1845, ó approvada com as
seguinte parecer : seguintes alterações :
« § 1.» O estipendio das missas cantadas, de
« A commissão de pensóes e ordenados, exa que tratão os §§ 1°, 2°, 3° e U do tit. 1°,
minando attentamente o decreto do governo sem as distincçóes que ahi são feitas, é fixado
de 19 de Agosto do anno proximo passado, o em 4$000 e- em 2$O0J tambem sem essas dis
os papeis que o acompanhárão, pelo qual foi tincçóes o estipendio dos -ministros que servsm
concedida a pensão aunual, correspondente ao ao altar nessas missas.
soldo e á ctape de ICO rs. que percebia pela « § 2 ° O estipendio ao parocho por cada dia
respectiva thesouraria provincial ao segundo sar de neTnna, de que trata o tit. 6°, é elevado
gento do" 2» batalhão de guardas nacionaes do a 2«000.
municipio do Presidio da provincia de Minas- « § 3.» No memento ou enterro solemne, tanto
Geraes, José Rodrigues dos Santos Neves, que de adultos como de parvulos, de que trata o
fóra gravemente ferido em combate nos campos tit. 11, a offerta ao parocho pela sua assistencia
de Santa Luzia, de que resultou ficar impossi sem pluvial é elevada a 2/f000.
bilitado de haver os necessarios meios para a « § 4.» Ao parocho pela sua presidencia, e por
sua subsistencia, é de parecer que se approve cantar a missa no officio parochiat, de que trata
a sobredita pensão, para o que offerece a se- • o tit. 14, dar-se-ha a esmola de 6#, e de 2$ aoa
guinta resolução : outros sacerdotes assisteutes.
256 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
« 5.» No tit. 15 g ultimo, quando sa trata do da secção de justiça do conselho de estado. Mando
estipendio pela licença que der o parocho para á mesa a emjndi.
outro sacerdote b»)itisar em qualquer igreja fóra Sendo apoiada entra em discussão, juntamente
da freguezia, accrescentese — não se achando o com o projecto, que posto a votos , não é ap-
parocho em desobriga. —E no tit. 10 § 5°, em lu provalo, c é approvada a seguinte emenda :
gar das pai ivras — conforme o costumo da dio « Ofiereço como emenda a resolução r. 40 de
cese — digu-se—conforme o costume da parochia. 1840. — Nabuco. »
« § 6.» Ao parocho pela certidão de baptismo,
casamento e outras da que trata o tit. 17, pa- REOISTRO DE HYPOTHECAS
gar-se-háo .480 rs. de busca, quando essas certi-
dõeã forem extrahidas de livros findos. E se as Continua a discussão dos adiamentos propostos
certidões que so pedirem forem do data do mais pelos Srs. Silveira da Motta e Ignacio B u bosa ao
de 30 annos, a busca será paga segundo fór con Íirojecto r. 03 do anno passado sobre registro de
vencionado entre o parocho o o que pedir tal lypothecas.
certidão.
. « g 7.» Para intelligencia e execução do tit. 20, O Sr. Forraz : — Sr. presidente, as palavras
versando sobro disposições particulares relativas que o nobre deputado pelo Ceará empregou no
ás freguezias do campo, serão consideradas taes correr do seu discurso me obrigárão a tomar
as que não se acharem comprehondidas nas ci parte nesta discussão.
dades. O nobre loputado disse que porque era obra
sua o projecto em discussão elle aceitava o ar
« Paço da camara dos deputados, 3 de Julho bitrio de ir a uma commissão o mosmo projecto
de 1840. — Bispo conde capelWomúv. — Thomaz para ser melhor elaborado.
Pompêo de S. Brazil —Antonio Pinto de Men Senhores, se houvesse um motivo sufficionte
donça . » para eu votar contra o adiamento, seria certa
Esta resolução nunca teve discussão nesta casa, mente as palavras do nobre deputado. Eu presto
ficou no olvido. Entretanto, posto o negocio es ao nobre deputado o maior reconhecimento e res
tivesse affecto ao poder logislativo, o Exm. bispo peito aos seus talentos e á sua capacidade, e este
diocesano organisou em 1850 uma outra tabella, reconhecimento não data de hoje, daU desde que
que submetteu á approvação do poder execu pela primeira vez o ouvi como advogado do tribunal
tivo. do jury desta corte que então dirigia. Já vê pois
As differenças de uma tabella a outra são pou o nobre deputado que eu presto grande confiança
cas, entre ellas as seguintes : 1°, o Exm. bispo nos s 'us conhecimentos, e que tilvez a olhos
diocesano elevou os direitos do sacramento do fechados, as cégas, eu votasse pelo projecto que
baptismo, sendo que, conforme o costume, nas elle apresentou, so esta consideração fosse uni
freguezias da provincia de Pernambuco os direi camente sufficionte para um voto.
tos parochiaes de baptismo erão 320 rs. na ma Se o nobre deputado mb permittir algumas re
triz, o estes direitos pela tabella de 1850 são ele flexões verá quu ou encontro alguma difficuldade
vados a I$ na matriz o 2$ nas filiaes. em votar pelo projecto tal qual está, e por isso
Eu tenho uma memoria que me dirigio a ca é que eu votarei por qualquer adiamento que
mara municipal do Garanhuns da minha pro tenha por fim proporcionar ao credito hypotliecario
vincia reclamando contra esta elevação nos direi ou territorial tudo quanto ó de mister pira que
tas parochiaos do baptismo. Senhores, augnien- elle seja uma realidade entrenós.
tem-se embora os direitos respectivos ás festivi O nobre deputado dissõ que havia muitas me
dades e os que são de luxo e ostentação, porém didas que tendião a formar ou augmentar o cre
devem diminuir-se quanto é posslvel os direitos dito hypotliecario ou territorial ; trouxe a instruc-
sobre a administração dos sacramentos. (Apoia ção especial, trouxe as vias de communica-
dos.) ções, e outras muitas cousas; mas o nobre de
putado mo permittirá que eu lhe considere que
Portanto, a tabella de 1840 levou grande van todas estas cousas que referio podem augmontar
tagem a esta neste ponto importante : a outra o valor da propriedade, mas não formar o cre
differença da tabella de 18õ0 consiste em que o dito hypotliecario ou territorial, que não vem a sor
Exm. bispo diocesano autorisa os capelláes das outra cousa mais"do que a confiança que inspira a
irmandades do Santissimo Sacramento cantar as piopriedado áquelles que têm de emprestar sobre
missas semanarias, direito que pertence aos pa ella os seus capitaes. Ora, esta confiança póde
rociio?., e dos quaes não os podia o bispo oxau- despparecer muito bem á vista do estado da le
torar ; não tratarei porém desta questão, porque gislação do qualquer paiz, se esta legislação não
ella está fóra da alçada do poder temporal , é garantir a publicidade do seu onus, tal que re
uma questão puramente eccleslastica ; o recurso duza os calculos dos capitalistas á unica opera
occlesiastico que podem ter os parochos se soffrem ção do sommar as vantagens o diminuir os en-
injustiças, é o recurso á corõa. coigos a uma verdadeira operação aritlnnetica.
O Sr. Corrêa das Neves : — A commissão to Eu creio que o credito territorial não pòde
mou isso em consideração. de maneira alguma estabelecer-se assim como se
acha a fice da nossa legislação civil. O nobre
O Sr. Nauuco : — A commissão supprimio essa deputado parece reputar a publicidade ou o re
disposição da nova tabella, não porque reconhe gistro das hypothecas um dos meios mais pode
cesse a incompetencia do poder legislativo, mas rosos para promover este fim ; permitta-me porém
porque tomando conhecimento da materia reco a seguinte reíluxáo. Este meio sómepte póde
nheceu a injustiça feita aos parochos. comprehender as que podem liquidar-se na época
Ora, se a tabella do 1840 tem por si o exame actual : mas naquellas, perguntarei eu, que se
da secção de justiça do conselho do estado, tem não podem liquidar, ou porque as pessoas já
por st o voto do Exm. Sr. bispo conde de Irajá, não existem ou por outra circumst meia seme
que é um voto muito respeitavel e competente lhante ? Por exemplo, o tutor que já não existe
na miterin, parece-me que devo sor do preferen não póde cumprir o preceito da publicidade, no
cia adoptada ossa tabella do 1Ò40. r-ntretanto que os seus bens estão sujeit is á hy-
Portanto atrevo-me ã submetter á considera pitheca legal ou taciia. Mas não me embaraçarei,
ção da casa uma emenda quo consiste em ser não entrarei nesta questão, irei á outra ; direi
preferida a tabella de 1840. Ella está impressa, entretanto á camara que são breves reflexões
e póde ser examinada por todos os Srs. deputa que apresento ; a materia offerece muito para se
dos, além do que ella tem, como já disse, o exame discutir.
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 257
O nobre deputado disse : « O governo em re obstante o respeito que consagro aos seus ta
gulamento determinará o modo pratico do regis lentos, a suas idéas e a suas obras, votar pelo
tro das referidas hypothecas e que os effeitos adiamento. Não duvido comprometter-me com o
legaes do mesmo registro, etc. » Pois eu hei de nobre deputado para envidar tod is as minhas
delegar ao governo a principal, a mais impor forças ahm de que nesta sessão alguma cousa
tante commissão que nós temos, o determinar se apresente que de algum modo melhore o
quaes os effeitos da falta do registro das hypo projecto do nobre deputado, e ao mesmo tempo
thecas, es effeitos legaes desse registro? Senhores, estabeleça as verdadeiras bases, ou as primeiras
o registro das hyputliecas não pode trazer bem bases quando menos, do credito territorial. Eu
algum sem que seja acompanhado da competente não quererei que tudo vá do repente, quererei
saneção, e ó justamente esta saneção que o nobre algumas cousas, algumas bases, depois. nos fare
deputado deixa ao governo. 0«a, porque não mos e mais.
havemos nós de estudar o que é de mister ? Porque Não fallarei a respeito do outro projecto que
não havemos nós de deliberar aquillo que con se quer que vá á commissão : esse outro pro
vém em um caso de tanto momento como este ? jecto tem um fim muito especial, que é autorisar a
Em outro artigo estabelece o nobre deputado dispensa do privilegio do que gozão dous ramos
como garantia contra a fraude dos tutores pela da nossa industria, a industria, permitta-se-ine
falta do registro a sua punição, ns penas do a expressão, sacharina ou dos senhores do en
crime de estellionato, mas diz entretanto «qual genho, e a industria mineira. Bein so vê que
quer que fõr a falta do tutor, os tutelados não isto é cousa muito especial. Entretanto quando
podem por maneira alguma soffrer o menor pre so tratar desse projecto, pedirei licença ás pes
juizo em seus interesses, em sua propriedade.» soas nelle interessadas para lhes rogar que atten-
Eu peço ao nobre deputado que reflicta bem no dão para o grande mal que vem desse privilegio,
estado em que fica o capitalista se acaso se mal que tem sido revelado por todas ns pes
der esta falta do tutor. Esta, medida deve ser soas }ue têm tratado dos interesses das colo
tal que o capitalista fique seguro : é preciso asse nias francezis, mal que entre nós tambem so
gurar não só o interesse do capitalista, mas dá; é a faculdade que têm os proprietarios de
ainda os interesses dos menores, dos desassisados engenho de dispór, como bem quizerem, dos es
e outras pessoas que gozão úo favor da legislação. cravos, em perda do capitalista que lhes em
Assim que noste ponto a vantagem do registro prestou dinheiro.
cessa. Elles gozão da integridade, mas a capitalista
Ora, como esta outras muitas cousas se po- não se conserva a integridade. Os proprietarios
dião ainda ponderar, e esta era a razão porque podem roduzir a fabrica ao casco, e sabemos que
particularmente, quando a nobre deputado orava, entre nós qualquer fabrica sem braços não serve
eu lhe pedi que admiftisse o adiamento. de nada, ó uni capital talvez improductivo, se
Não ha nada mais importante hoje entre nós do não se lhe applicar a força necessaria para
que prover o credito territorial com aquillo que movèl-o.
é de mister para leval-o a esse estado da reali Neste sentido, se o nobre deputado me per-
dade. (Apoiados.) Em outra occasião já tive de mitte, votarei por qualquer dos dous adiamentos.
ponderar á camara com as palavras de um cele Julga-se a materia suficientemente discutida.
bre jurisconsulto francez (o Sr. DuprnJ, que a E' approvado o adiamento proposto pelo Sr. Igna
tetra, que devia ser a cousa que mais garantia cio Barbosa para que o projecto seja remettido
deve prestar, é a qne entre nos menos presta, e a uma commissão especial ; fica portanto preju
não só entre nós como em outros paizes. dicado o do Sr. Silveira da Motta, remettendo
Senhores, a legislação franceza ó de data pos ta"nto este projecto como o do Sr. Carneiro de
terior á nossa legislação civil ; o codigo Napo Campos á commissão de justiça civil.
leão, tão luminoso como é, e que por sou merito
tem sido adoptado como legislação de differenles O Sr. Presidente : — O autor do adiamento
povos, como disse o grande Rossi, não está ao não designou o numero de membros do que se
par do progresso social, o todos os escriptores deve compór a commissão, disse simplesmente
ponderão a necessidade de revêl-o par i assentar que o projecto fosse a unia commissão especial
bem o credito hypothecario ou o credito territo sem declarar de quantos membros. Devo crer
rial. Em 182ò Cassimir Perrier propòz um premio tambem que esta commissão é interna e não
áquelle que apresentasse a melhor reforma da externa. Em todo o caso, proporei á camara a
legislação nesta parto ou as melhoras bases da duvida que tenho sobre o numero de membros
reforma da legislação nesta parte. Posteriormente de que deve ser composta a commissão...
o ministro Martin (du Nordi mandou fazer unia in Vozes : — Do tres membros, como as commis-
quirição, mandou consultar todos os tribunaos, sões permanentes da casa.
todas as academias sobro esta materia. Ainda de
pois um outro ministro, creio -qne Cunin Gridaine, O Sr. Presidente : — As commissões da casa
oceupou-se desta materia. Entretanto ainda nessa são todas de tres membros. .
celebre discussão havida sobre o credito territorial O Sr. Oliveira Bello :—Proponho que a com
na assembléa franceza, um celebre jurisconsulto, missão seja de tres membros.
que V. Ex. deve bem conhecer, o Sr. Vattes- Alguns Srs. Deputados : — Interna ou ex
menil, ponderou qu* antes de tudo convinha a terna ?
reforma das leis hypothecarias, para que se
pudesse assegurar ao capitalisti a inteira reali- O Sr. Fiusa:—Bom seria que fosse externa.
sação de suas dividas. O Sií. Presidente : — O Sr. deputado pelo
Ora, se isto succede na França, onde existo o Rio-Grande do Sul propõe que a commissão seja
codigo Napoleão, um dos mais luminosos -do do tres membros ; vou pór a votos este re
seculo, codigo que tem sido adoptado por muitas querimento.
nações civilisadas, como entie nós não se dar Consultada a camara a este respeito, decido
a mesma necessidade, nós cujas leis remontão que a commissão seja do tres membros da
a épocas muito obscuras, cuja lei mais proxima casa.
é de 1774, promulgada ha perto de um seculo ?
Senhores, eu poderia ainda tocar em alguns Um Sr. Deputado : — Agora outra questão ;
pontos do discurso do nobre deputado em relação por quem será eleita a commissão ?
ue credito da Allemanha. mas creio que isto O Sr. Presidente: — Julgo que deve ser
seria impertinente agora para o caso. Pedirei eleita píla camara, o vai-so proceder a essa
pois ao nobre deputado que me consinta não eleição por escrutínio secreto.
tomo 2. 83
258 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Wanderlev : — E' melhor ficar isto ção daquella provincia, e nessa occasião pres
para ordem do dia de amanhã. tou relevantes serviços á causa da integridade
O Sr. Presidente : — Bem, eleger- se-ha a do imperio, pondo em contribuição toda sua in
commissão amanhã. fluencia de primeiro magistrado daquella loca
lidade, não só para combater as machinações
PENSÃO A D. ANNA DE MACEDO dos rebeldes, como para reunir força em favor
da legalidade. Estes serviços achão-se provados
Entra em discussão a resolução r. 2 deste anne, pelos documentos que acompanhão o docreto da
que approva a pensiio de iS008 concedida a D. Anna concessão da pensão.
de Macedo, viuva de Alvaro Teixeira de Macedo, Quando os rebeldes conseguirão dominar a
encarregado de negocios ein Bruxcllas. comarca de Missões, e intercoptárão a commu-
nicação com a capital da provincia, elle abandonou
O Sr. Pereira da Silva ( pela ordem) pede o imperio emigrando para o Paraguay, e depois
que esta resolução tenha uma só discussão, a para a confederação Argentina, donde se retirou
exemplo das outras de que a camara já tem para esta córte, e aqui esteve até que foi re
tratado. movido para a comarca do Porto-Alegre. Nesta
Sendo approvado esto requerimento, entra a comarca servio até 1846, vendo com a maior
resolução em uma unica discussão, na qual é resignação e sem fazar reclamação alguma serem
approvada sem dehatè por escrutinio secreto. promovidos a desembargadores muitos juizes de
direito mais modernos do que elle, e que menos
PENSÃO A D. MARIA GENEROSA LOUREIRO serviços havião prestado.
Em 1846, não podendo continuar a servir por
Entra em discussão o seguinte parecer soh sua avançada idade de 68 annos, aggravada
r. 39 de 1848 : por molestias chronicas, requereu e obteve a
« Por decreto de 12 de Maio de 1847 foi con sua aposent idoria com o predicamento de des
embargador. Porém pouco gozou do beneficio da
cedida a D. Maria Generosa Loureiro uma sua aposentadoria, porque cinco mezes depois mor
pensão animal de U00$, em plena remuneração reu, legando ã sua familia, composta de sua
dos serviços de seu finado marido o desembar mulher e cinco filhos menores, sóinente a me
gador Agostinho de Souza Loureiro. moria de sua vida honrada e o valor moral
« A coininissão de pensões e ordenados, a dos seus serviços.
quem foráo presentes a cópia do citado decreto O governo imperial acudio a essa familia,
e os docuTnentos que a aconipanhárão, enten concedendo-lhe, para tiral-a das garras da in
dendo, depois de examinal-os com acurada atten- digencia, uma pensão annual de 600$ pelo de
ção, que estes serviços não são relevantes, e creto de 12 de Maio do 1817, em plena remu
procedendo apenas do exercicio de varios lu neração dos serviços do honrado magistrado, mas
gares de magistratura do Ia instancia, estão esse decreto não mereceu a approv ição da com
sufficientemente retribuidos com os yencimentos missão de pensões e ordenados de 1848, pelos
percebidos pelo marido da agraciada, o qual fundamentos exarados no parecer qua o Sr. 1°
sendo juiz de direito da 1* vara crime da co secretario ha pouco leu.
marei da capitaI da provincia do Rio-Grande Esses fundamentos são : 1°, que os serviços
do Sul, foi aposentado em 1840 com as honras prestados por esse magistrado foráo sufficiente-
de desembargador da relação do Rio de Ja nn:nte retribuidos com o ordenado .iue percebia ;
neiro ; que é rigoroso dever dos empregados 2", que elle nunca prestou serviços extraordina
publicos servir com zelo e honr idamente ; que rios : que as finanças do paiz não podião
par o haverem feito e morierem pobres não supportar a despeza da pensão annual de 600$
corre ao estado a obrigação de sustentar suas concedida á sua viuva e orphãos.
familias ; que fòra injusto e mesmo odioso con- Quanto ao primeiro fundamento, senhores, diroi
ceder-se assim a agraciada um favor recusado que se elle fosse procedente a viuva e orphãos
a outras viuvas em circumstancias identicas ; e de nenhum funecionario publico, nem mesmo do
finalmente, que o estado financeiro do paiz exige militar que no campo de batalha expõe a sua
a mais severa economia na applicação da fenda vida, terião direito á gratidão da patria , por
publica, é de parecer : que todos os funecionarios publicos de qualquer
« Que se não approve a pensão annual de ordem que sejão recebem um ordenado ou soldo
600$ concedida por decreto de 12 de Maio de em retribuição de seus serviços. Portanto não
1847 a D. Maria Generosa Loureiro, em plena póde proceder essa razão, sob pena de passarem
remuneração dos serviços prestados por seu fi por injustas todas quantas pensões o poder exe
nado marido o desembargador Agostinho de cutivo tem concedido e o poder legislativo tem
Souza Loureiro. approvado ás viuvas e aos orphãos dos servi
« Sala das cominissões da camara dos -depu dores do estado.
tados, 16 de Junho de 1818.—Lopes Netto. — Quanto ao segundo fundamento, direi que outras
P. de A . Cerqueira Leite. » muitas pensões têm sido concedidas pelo governo
O Sr. Oliveira Bollo : — Sr. presidente, e approvadas pelo poder legislativo a viuvas e a
pedi a palavra para combater o parecer da com orphãos de funecionarios publicos que não tiverão
missão e offerecer uma emenda substitutiva, afim occasião de prestar os serviços extraordinarios
de que a camara dos Srs. deputados se digne de que falia o parecer.
approvar a pensão concedida pelo governo im E a este respeito ainda direi que não ê ver
perial em 1817 a viuva e orphãos do desem dadeira até certo ponto a opinião da commissão,
bargador Loureiro . porquunto eu já disse de passagem que o des
O desembargador Loureiro, senhores, foi um embargador Loureiro além do ter servido com
dos mais antigos magistrados da primeira instan honra e probidade ai funeções do emprego de
cia no nosso paiz. Em 1823 foi elle nomeado magistrado de primeira instancia por 24 annos,
juiz de fóra para uma das comarcas de Minas; prestou na occasião da revolução da provincia
depois de ter alli servido por alguns annos do Rio-Grande do Sul serviços a que não era
sempre o melhor possivel, passou a sor ouvi obrigado em prol da integridade do imperio.
dor na provincia de Santa Catharina ; o depois Além disto o desembargador Loureiro soffreu
da promulgação do codigo do processo criminal pacientemente innumeraveis preterições , e por
foi elle nomeado juiz de direito para a comarca tanto parece que o paiz deve a seus herdeiros
do Missões na provincia do Rio-Grande do Sul. uma tal ou qual compensação dessas preteri-
Nessa comarca servio até á época da revolu
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 259
Quanto ao terceiro fundamento, finalmente , semelhante natureza , aindí assim fóra pre
direi que se ein 1848, quando o poder legisla ciso suppór, para ser exacta a proposição do
tivo teve de approvar um numero muitissimo honrado membro, que o'Brazil não progredirá,
consideravel do pensões para remunerar os ser que nos conservaremos estacionarios eternamente,
viços prestados pelos defensores di ordem em Per que a riqueza não augmentará.
nambuco e Rio-Grande do Sul, e quando as cir Mas, se não podemos acreditar que assim
cumstancias do p»iz erão mui pouco lisongeiras, aconteça, se não podemos presumir que o Bra-
esse fundamento poderia ser procedente, certo, zil so conservará estacionario para todo sempre,
senhores, não o e hoje, que todos nós sabemos ainda que os capitaes hoje existentes ficassem
que as financas têm melhorado muito, que em exhauridos pela creação do banco de que tra
vez do grande deficit que então havia ha um tamos, os que se formarem d'ora em diante po
saldo a favor do thesouro. derão ser applicados na creação de outros es
A' vista destas razões, julgo que a camara tabelecimentos de credito.
dos Srs. deputados fará um acto de verdadeira E será com effeito exacto que todos os .capi
justiça se, rejeitando o parecer, approvar a taes disponiveis do Brazil serão absorvidos pelo
emenda substitutiva que vou mandar á mesa banco de que trata o projecto? Ex-istem já no
approvando a pensão concedida á viuva e or- Rio de Janeiro duas instituições bancaes ; mal
pli aos do desembargador Loureiro. organisadas no meu conceito, imperfeitas , em
A discussão fica adiada pela hora. verdade, mas que possuem já realisado o ca
pital de 12,000:000/). .Convém aos interesses do
BANCO NACIONAL paiz , aos interesses do publico, e mesmo
aos interesses desses dous estabelecimentos ,
Continua a discussão do projecto r. 23 deste que elles se refundão no banco nacional. Sendo
anno, creando um banco nacional. assim, já ahi estão 12,000:000)} para fazerem
parte do fundo Jo novo banco.
O Sr. Presidente :—Se não ha mais quem Ainda mais, estes estabelecimentos, além dos
peça a palavra vou por a votos. seus, girão com capitaes estranhos na impor
O Sr. Roiirioues Torres (ministro da fazenda) : tancia de 12 a 18,000:000$. E estes capitaes que
— Peço a palavra. os bancos existentes recebem por emprestimo é
O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. mi natural que concorrão para tomar acções do
nistro. novo banco. E' muito de presumir que ninguem
prefira emprestar dinheiro a empregal-o em ac
O Sr. Rodrigues Torres (ministro da ções que lhes darão maiores lucros do que o juro
fazenda) :—Enttndi, Sr. presidente, não ' dever que recebem dos bancos. Devemos portanto con
deixar encerrar a discussão do projecto do que tar que uma grande porção de 12 a 18,000'000$
nos occupamos sem dar algumas explicações que que fazem parte do giro dos estabelecimentos
me forão pedidas pelo honrado membro que fat bancaes hão de concorrer para o fundo do novo
iou em primeiro lugar na sessão de ante-hon- banco. Se os avaliarmos em 12,000:000$, e os
tem. reunirmos aos outros 12,000:000)) de que já fallei
Esse illustre deputado forrou-me ao trabalho teremos 21,000:000$, que poderão constituir fundo
de mostrar as vantagens das instituições bancaes incorporado do banco nacional. Ora, se ê pro
e desenvolveu-os com tanta lucidez e tão am vavel que só na capital do imperio so possão
plamente, que nada me deixou a accrescentar ; haver 24,000:000$, sem contar as quantias com
infelizmente porém não está elle de accordo com- que poderão concorrer as provincias, não vejo
migo em todas as bases do projecto que dis razão para pens ir que o fundo de 30,000:000$
cutimos, e obriga-me assim a justificar as que ha de exhaurir todos os recursos do imperio.
forão impugn idas. Procurarei fazêl-o do modo Esta proposição me parece inteiramente gra
mais breve qne me fór possivel. Antes, porém, tuita.
de encetar essa tarefa," seja-me permittida uma Disse-se ainda que os privilegios que se con
observação. cedem ao estabelecimento de que se trata im
Tem-se dito que o projecto submettido a esta pedirão a formação de outros da mesma natureza
augusta camara tem por fim principal o melha- mas que privilegios são esses ?
ramento do meio circulante. Esta proposição não O Sr. Bandeiua de Mello :—São privilegios
me parece exacta. O' fim principal do projecto muito importantes.
é dar desenvolvimento e expansão ao credito,
e por este meio auxiliar as operações do com- O Sr. Rodrioues Torres:— O projecto não es
mercio e da industria ; mas como o melhora- tabelece outro privilegia exclusivo senão o de
ramento do meio circulante é, no meu entender soi em admitidos nas estações publicas os bi
uma necessidade publica, e concorrerá igual lhetes do bunco.
mente para que as instituições ' bancaes obrem O Sr. Bandeira de Mello :—E tambem o de
co.n mais liberdade e desembaraço, entendi que estender ou de permittir a emissão de suas no
convinha chamar tambem o concurso da insti tas nas provincias onde houver caixas filiaes.
tuição que so pretende crear em auxilio deste
melhoramento. O Sr. Rodhioues Torres :—Isto póde-se con
Dada esta explicação procurarei examinar até ceder a qualquer outro banco que se tenha de
que ponto s.io fundadas as objecções feitas a organisar. O unico privilegio exclusivo é, como
algumas das bnses do projecto. Disse-se que se disse, e de serem, admittidos nas estações pu
elle fór approvado importará uma prohibição de blicas os bilhetes do banco ; mas em compensa
qualquer outro estabelecimento bancai que não ção não lhe impõe tambem o onus do emprestimo de
seja o do que agora tratamos: 1°, porque o 10,000:000$ por espaço de 30 annos, sem que o
fundo capital de 30,000:0001) absorverá todos os governo pague juro algum desta quantia? Tal
recursos do paiz, e tornará irrealisavel a cr a- vez que o banco preferisse antes que não se
ção de outros estabelecimentos da mesma or admittissem os seus bilhetes nas estações pu
dem ; 2°, que ainda quando assim não fosse , blicas, se ficasse isento da obrigação de fazer
os privilegios concedidos pelo projecto tornarião o emprestimo de que trata o projecto ; é isto
impossivel a concurrencia de outros bancos. muito possivel.
Sr presidente, ainda concedendo que a for Não servirá pois o privilegio a que me refiro
mação do fundo capital de 30,000:000$, absorva de obstaculo a outros bancos que se queira
todos os recursos do paiz, todos os capitaes que crear : su is notas não serão admittidas nas os-
podem ser destinados para estabelecimentos de tações publicas, mas tambem não se lhes im
260 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
porá o ónus de fazerem emprestimos no governo saber se é necessaria ou não a concurrencia doa
Sa terça parte de seus respectivos fundos in bancos ; não pretendo entrar neste exame, sei que
corporados. Os bilhetes do banco da Inglaterra é questão que tem sido muito discutida, e sobre
não têm só o privilegio de serem adinittidos a qual hão pronunciado opiniões dilTerentes muitos
nas estações pnblicas, são demais moeda de homens celebres ; mas o que digo ó que, se a falta
pagamento, e entretanto não tem este privilegio de concurrencia tem inconvenientes, a rivalidade
inhibido que naquelle paiz se creóm muitos dos bancos tambem as tém...
outios bancos. Um Sr. Deputado:— Isso 6 quando ha abuso.
O Sr. Bandeira de Mello:—Julgo que os ou O Sr. Rodrioues Torres: — O que diga é que
tros não fazem emissão. não tratamos de decidir esta questão : o projecto
O Sr. Rodrioues Torres:—O honrado membro de que nos oceupamos não inhibe a cr. ação da
está enganado. outros bancos. . .
O Sr. Bandeira de Mello:—Assim como tam" O Sr. Fiusa.-— Apoiado; o projecto não inhibe
bem julgo que o banco da Inglaterra não faz a concurrencia.
descontos senão em occasiões extraordinarias. O Sr. Rodrioues Torres: — O honrado membro
O Sr. Rodrioues Torres:—Perdõo-me o hon receia tambem que a creação do banco nacional
rado membro; ha naquelle paiz bancos particu irá dar origem a uma aristocracia do dinheiro
lares, qne não tendo sufficiente credito para fa que o assusta e aterra ; parece-lho que vamos
zerem aceitar pelo publico as suas notas, aiustão-se erigir um colosso, cujos braços nervosos suffo-
com o banco de Londres, e em lugar das suas carãõ em breve tampo as instituições o liberda
emittem as notas deste banco ; mas o joint- des patrias.
stock-banks não só tem a faculdade do emittir, Senhores, quando o honrado membro manifes
mas emittem effectivamente. Esta faculdade foi tava esses receios assegurava-se-me que elle evo
restringida em 1844 polo acto de Sir Robert cava um phantasma do mundo das chimeras para
Peei, que limitou a emissão ao termo médio da ter o prazer de combatêl-o. Receia-se a influen
dos tres annos anteriores; mas não foi cassada cia da aristocracia de dinheiro iu Brazil, onde
por essa lei. o espirito de igualdade e democracia transuda
Assim, pois, o projecto não inhibe que possão per todos os póros da sociedade ?. . . Não, se
ser creados outros bancos além daquelle de que nhores, no meu entender esses receios são exage
tratamos ; o projecto, digo, não inhibe a con- rados. De ordinario, o espirito commercial ó
currencia dos bancos: posso pois dispensar-me antipathico do espirito de partido ; o commercio,
do trabalho de examinar até que ponto são fun as instituições bancaes o que procurão é fazer
dados os receios que o honrado membro deri negocio, é alliciar clientes, sem se importarem
vou da falta de concurrer.cia dos estabelecimentos que sejão tirios ou troyanos aquelles que lhes dão
bancaes a que julga que n projecto dará lugar. dinlunro a ginhar. (Muitos apoiados.)
Reconheço com o honrado membro que u falta U.m Sr. Deputado:— E aquelles que se diri
de concurrencia tem inconvenientes ; mas ha do girem por politica morrem.
permittir-me dizer-lhe que a concurrencia tambem
tem inconvenientes, o inconvenientes talvez mais O Sr. Rodrioues Torres :— Entendeu-se tam
graves ainda. . . bem, Sr. presidente, ser desnecessario o banco
O Sr. Bandeira de Mello:— A concuríen- que se pretendo crear, porque já existem dous
cia? I... estabelecimentos semelhantes nesta capital, mas
parece-me que foi o honrado membro a quem
O Sr. Rodrioues Torres :— A concurrencia dos respondo que daquelle mesmo lugar onde está
bancos, senhores, tem sido a causa principal de assentado nos disso que as instituições bancaes
quasi todas as crises commerciaes. (Apoiados.) existentes no-ta praça são imperfeitas...
Uma Voz :— Nego. O S*r. Bandeira de Mello: — Não fui eu.
O Sr. Fioueira- de Mello: — Na nova Ingla O Sr. Rodri jues Toriies : — que não
terra, aonde ha mais liberdade na constituição podem satisfazer os fins dos bancos de circula
dos bancos, o credito é mais extenso ção. . .
O Sr. Rodrioues Torres :— E' a porfia em que O Sr. Bandeira de Mello:— Não fui eu; foi
cada qual luta por fazer mais negocio, por alli- o Sr. Ferraz quem disse isso.
ciar mais freguezes, por dar maiores dividendos O Sr. Rodrioues Torres í— Pois, ou fosse o
a seus accionistas, que de ordinario occasiona a nobre deputado, ou o digno representante pela
facilidade de descontarem titulos sem as neces provincia da Bahia, disse a verdade, não aven
sarias garantias; que faz baixar demasiadamente turou uma preposição . de que passamos duvidar.
o juro ; que excita emprezas aleatorias ; que faz Os bancos actuaes, além de defeituesos em sua
desapparecer do mercado os capitaes disponiveis organisação, náo po.lem desempenhar satisfacto-
reaes para os substituir por capitaes ficticios o riamente os fins das instituições de credito; não
de imaginação ; é a rivalidade dos bancos que podem auxiliar o commercio e a industria como
concorre poderosamente para produziras quebras,
a ruina, o desespero de milhares de familias, convém.
quando chega o dia em que essa fantasmagoria Disse-se que uma das maiores vantagens dos
desapparece. bancos de circulação consiste em substituir a
« A concurrencia dos bancos, dizia um escriptor moeda metallica pelo seu papel, convertendo deste
tão illustrado como pratico, a concurrencia dos modo um instrumento de circulação muito dis
bancos prepara para os productores avidos e im- pendioso em outro que quasi nada custa ; mas
rndentes essas elevações do fortuna, essas qué- que o banco de que tratamos deverá produzir o
s as precipitadas, que dão ao trabalho o á in effeito inverso. Que uma das vantagens dos bancos
dustria todos os delirios, todas as angustias do do circulação é a que referio o nobro deputado,
jogo... ». ninguem contesta, posto que no meu entender
Um Sr. Deputado :— Mas essa concurrencia só não é a unica, nem a mais importante ; mas por
é perniciosa nos paizes em que a concurrencia que motivo o banco de que tratamos não a rea-
de capitaes é excessiva. lisará como os outros?
(Ha um aparte que não ouvimos.) Allegou-se que o banco terá de exportar ca
pitaes productivos para importar inetaes preciosos
O Sr. Rodrioues Torres:— Não se trate da que venhão formar seu fundo incorporado. E'
I
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 261
uma disposição que não vejo consignada em artigo O Sr. Rodrioues Torres :— O honrado membro
algum do projecto. Não teremos no paiz quantia não leu com attenção o projecto...
sufficiente para completar o fundo capital do
banco? Parece-me que sim. e o projecto não O Sr. Fioueira de Mello:— E se os bancos
exige que o banco seja organisado com o fundo quebrarem essas garantias não se perdom ?
de o0,000:000i) em mueda metallica... O Sa. Rodrinues Torres: — Mas como podem
O Sr. Bandeira de Mello: — Afinal deve sor. quebrar bancos organisados conijrmo as regras
estabelecidas no projecto? Seria preciso que elles
O Sr. Rodrioues Torres:— Tambem não. fizessem operações tão loucas, tão insensatas, que
O Sr. Bandeira de Mello :— Recolhida a moe- perdessem ab menos mais de metade dos titulos
da-papel deve ser. sobre que omittem seus bilhetes. Para que os
O Sr. Rodrioues Torres: — Tambem não; não portadores dus bilhetes de um banco percão o
ha necessidade disso ; bastará que tenha o fundo valor delles ó preciso que este não possa rea
disponivel correspondente á metade do sua emis lisar a cobrança das letras" com merciaes que des
são. conta, e que dom ds perca tambem o seu fundo
capital.
O Sr. Bandeira de Mello:— Mas se fór total O Sr. Bandeira de Mello :— Supponha que os
a emissão? 10,000 .O00if emprestados ao governo não são
O Sr. Rodrioues Torres:— Se a emissão cor pagos.
responder ao duplo do fundo capital, nesse caso O Sr. Rodrinues Torres :— Ainda assim não
o fundo disponivel deverá ser igual ao fundo poderia o banco fallir. Em uma palavra, o nobre
capital. membro suppõe que a promessa do governo,
Prguntou-se ainda por que razão se pretende embora iricalisavel, offerece girantia mais solida
retirar o papel-moeda qne tem a garantia do go do que a do banco, ainda que este pague as
verno para substituil-o por bilhetes do banco que suas letras á vista e ào portador, o tonha effecti
não terão senão a garantia desse estabelecimento. vamente recursos para satisfazer a estes paga
' E eu perguntarei em que consisto a garantia mentos. Será curteza de minha intelligencia, mas
que o governo dá ao papol-moeda ? Apenas na não parece-me que maior garantia offerecerá o-
promessa que fez do realisalo em metaes pre banco do que o governo nos termos em que este
ciosos ; mus promessa que não tem um prazo a deu.
determinado, que nunca so realisou, que uté Por que razão, perguntou-so ainda, se pretende
agora não so tem tomado providencia alguma para substituir o papel-moeda, que vale tanto como
realisar a promessa de que o publico está pro o ouro, por papel do banco, fazendo-so assim
fundamente convencido que não pódo ser reali- uma operação dispendiosa para o thesouro ? Se
sado do prompto, visto não ser possivel que o nhores, a razão me parece clara : ella consisto
estado pague em curto prnzo d6.00O:0il0íf em ouro principalmente om que o papel-moeda não é
pelo papel que se lhe apresentar. Logo, esta ga moeda ; em que o instrumento das permutas não
rantia A illusoria, ou ao menos tem-o sido até póde, não deve estar sujeito a fluctuações em
agora. Não ó delia que o papel-moeda deriva o sou valor, a fluctuações constantes o rapidas ; por
valor que tem, mas da necessidade que existe que essas fluctuações influem sobro todos os
do um instrumento de permutas, só os povos bar contractos, p.rturbão todas as operações do com •
baros o podem dispensar. inercio e da industria, são fataes ao crescimento
O papel-moeda expellio da circulação os metaes da riqueza publica. (Apoiados.)
preciosos ; ficou existindo só ; e não havendo outro
intermediario para as transacções do paiz, dahi Ha ainda outra razão. O coinmercio ó cosmo
tirou o pipel-moeda o seu valor; não o tirou de polita, o bom que não seja cosmopolita de hoje,
certo da promessa que fez o governo de conver- porque foi elle que começou a civilisar as na
tòl-o em moeda metallica. ções modernas, é fóra de duvida que o augmento
Ora, qual é a garantia que o banco dá aos seus da civilisação tem reduzido as distancias de uma
bilhetes? E' da mesma natureza? E' illusoria maneira prodigiosa ; tom facilit ido e tornado
como esta ? Não ; a garantia do banco consiste menos dispendiosns as commnnic ições ; tem es
na sua reserva metallica, nos creditos particu tendido e multiplicado as relações entre os po
lares que elles têm descontado o que são rea- vos; em uma palavra, as nações tendem cada
lisaveis dentro do prazos curtos c determinados, vez mais a constituirem, commercial nonto fal-
consiste ainda no rfundo capital do mesmo banco, lando, um mercado universal. Nesse mercado ó.
consiste finalmente na confiança que o publico preciso quw todos fallem, por assim dizer, a
deposita nelle ; confiança que resulta da expe mesma linguagem ; que apresentem como instru
riencia quetidiana de que aquelles que vão levar mento das transacções que houverem do fazor a
suas notas ao banco para serem realisadas ro- mesma unidade, aceita e reconhecida por todos.
cebem effectivamente em troco delias moeda me Ora, qual ó o instrumento de permutas reconhe-.
tallica. E são estas garantias da mesma ordem, eido e aceito universalmente? São os metaes precio
da mesma natureza que as garantias que tem o sos, li ó isto resultado de uma convenção i.rbitraria?
papel-moeda? Ninguem o dirá... Não ; esta convenção tacita funda-so ein que os
metaes preciosos gozão do propriedades que os
O Sr. Bandeira de Mello: — O papel-moeda tornão mais aptos do que qualquer outra mer
tem casa aberta nas alfaudegas o nas recebe cadoria para desempenharem as fiincções de
dorias? « agente da circulação ; funda-so principalmente
O Sr. Rodrioues Torres :— Hoje. . . em que elles têm um valor proprio, valor in
O.Sr. Bandeira de Mello:— Sim, hoje. trinseco, valor que já tinhão antes de serem esco
lhidos para servirem do moeda. A nação que
O Sr. Rodeioues ToRR..s : — O honrado membro nesse mercado universal se apresentasse com um
me assegura que sempra ha de ser a mesma instrumento do circulação que não fosse reco
cousa?. . . nhecido e aceito pelas outras, achar-se-hia em
O Sr. Bandeira de Mello:— Tom a garantia condições de inferioridade, em condições muito
do governo. menos vantajosas que as outras.
O Sr. Rodrioues Torres :— Não ba -ta a garan Assim é que os capitaes emigrão com difilcul-
tia do governo. dade para os paizes cujo meio circulante e pa
pel-moeda ; porque não havendo ahi um instru
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que mento de circulação cujo valor seja invariavel,
não ouvihios. ou ao monos que não esteja sujeito a fluctua
262 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
ções tão rapidas, tão extensas, como o papel- Ha outra razão que nos aconselha o resgate
moeda, os possuidores dos capitaes correm sempre do papel-moeda ; é a palavra do governo. Desde
mais ou menos risco de perder parte delles, ue o estado aceitou como' divida os bilhetes
quaiido tiverem de exportal-os dahi. Assim e a o antigo banco do Brazil, obrigou-se para com
que nos paizes onde o meio circulante é papel- os portadores delles a pagal-os em moeda me-
moedu, a menor perturbação, o menor aconteci tallica. Nunca cumprimos essa obrigação, por
mento sinistro póde dur lugar á exportação de que as circuinst meias em que nos achámos não
grande massa de capitães : os capitalistas ns- o permittião ; mas é força cumpril-a. A lealdade
sustão-se ; apoderão-se do receio de que a des aconselha que se tomem providencias para que
cida de cambio, a depreciação a que está sujeita a fé desse contracto seja religiosamente obser
esta especie de moeda lbes dará prejuizo ; pro- vada.
curão pois evital-o, exportando promptimente os O Sr. Bandeira de Mello : — Com o padrão
seus capitaes, essa exportação traz de facto a actual.
descida do cambio, a depreciação do papel ; a
depreciação augmento o receio, e esse augmento O Sr. Rodrioues Torres : —Disse-se: « O papel
de receio produz augmento do exportação. Assim do governo vale ouro » ; mas vale ouro quando ?
póde acontecer que uma cautela de que tinhão Agora, senhores. Tambem o papel do governo
lançado mão os capitalistas para evitarem os valia ouro em principios de 1818, e entretanto
prejuizos que lhes pudessem resultar da flu- vimos que um acontecimento desgraçado, que
ctuação do valor do papel-moeda tomo as pro teve lugar a milhares de leguas do Brazil, fez
porções de uma verdadeira crise commercinl. baixar o cambio de 28 % a 24, 23 e 2-J , e os
Eis os inales a que estão sujeitas as nações bilhetes, que valião tanto como ouro, depreciá-
cujo meio circulante é papel-moeda, que não tem rão-se em relação aos metaes pteciosos: os bi
a estabilidade, a inalterabilidade de valor que lhetes, que erão recebidos a par do ouro, não
é attributo dos metaes preciosos, ou de que forão mais recebidos senão com grande desconto
elles gozão em maior grito do que as outras em relação ao mesmo ouro.
mercadorias. Está o honrado membro certo de que nenhum
Ha outra razão ainda que aconselha a substi acontecimento de semelhante natureza poderá
tuição ou resgate do papel moeda, ó a facilidade ainda aigum dia produzir identicos resultados?
da falsificação. A falsificação causa prejuizos Póde assegnrar-nos que uma calamidade phy-
quetidianos a um grande numero de familias sica que reduza a duus terços, a metade, os
(apoiados), põe em perigo muitas fortunas, ali os productos da nossa lavoura em um ou doas
menta a immoralidade. (Apoiados-) Ora, todos annos consecutivos, não produza resultado se-
estes males não devem merecer a consideração melhinte aos -que uma calamidade politica pro-
do corpo legislativo para que, procuro quanto duzio em 1848? E devemos deixar o paiz per
está em suas mãos acabal-os de uma vez?... manentemente sujeito ás consequencias de taes
calamidades; aos prejuizos, aos males que re-
O Sr. Bandeira de Mello: — Os bilhetes do sultão
banco estão no mesmo caso. sempre da depreciação da moeda, só-
mente porque se diz que hoje o papel vale
O Sr. Rodrioues Torres: — Não ó assim; o tanto como o ouro ?
honrado membro sabe que os bilhetes do banco Tenho exposto as razões porque julgo que é
hão de girar dentro de circulos muito mais
limitados ; será faoil dentro delles conhecer do nosso rigoroso dever procurar por todos os
meios possiveis retirar o papel-moeda da cir
as assignnturas dos membros da directoria do culação. Não digo retiral-o de um só jacto,
banco ; será muito facil levar os bilhetes ao es
tabelecimento afim de verificar se sãoxverdadei- com pesados sacrificios do estado, mas retiral-o
ros ou não. Acontece isto por ventura com o lentamente, á medida que as circumstancias o
permittirr.m. Procuremos empregar meios effica-
papel-moeda? Um habitante de Matto-Grosso, do zes de conseguil-o, até para que se não diga
Alto-Amazonas ou de outras partes remotas do no mundo civilisado que a respeito de moeda
imperio tem meios de conhecer se a assignatura o Brazil e Buenos-
do papel com que se lhe faz um pagamento é que não estão a parAyres são os unicos estados
dos outros.
verdadeira ou nSo? Tem meios de mandal-o á a O minimo dos bilhetes do banco, disse o
caixa de amortisação para comparar-se com o hoarado membro, é excessivamente baixo, n Não
talão e verificar se é ou não falso?... sei qual o minimo que o honrado membro de
O Sr. Bandeira de Mello:— Os bilhetes de seja que se fixe, se 20$, 30£, 40$ ou 50$.
10$ estão no mesmo caso. O Sr. Bandeira de Mello : — O que sei é que
O Sr. Rodrioues Torres: — Porque ? as notas do banco são nas relações de produ-
O Sr. Bandeira de Mello : — Porque percor ctor a productor e não nas relações de consu
rem todas as arterias da circulação. midor a consumidor.
O Sr. Rodrioues Torres : — Percorrem todas disse O Sr. Rodrioues Torres : — No senado se
as arterias da circulação em um circulo limi que o minimo de 10$ era excessivamente
tado.. . alto, que devia ser de l$; e o honrado membro
entende que o de 100 é muito baixo. Entre
O Sr. Bandeira de Mello : — O circulo é estas duas opiniões parece-me que estou no
quasi todo o imperio. meio termo, e portanto mais na verdade.
O Sr. Rodrioues Torres: — Está enganado, o notas O que é certo é que o minimo do valor das
projecto não diz isto... > do banco da Escossia é de uma libra
O Sr. Bandeira de Mello:— Onde houverem esterlina, que vem a ser ainda menos de 10jj ;
e entretanto não me consta que na Escossia
caixas filiaes. tenhão resultado inconvenientes desta medida.
O Sr. Rodrioues Torres : — Sim, onde houve O Sr. Bandeira de Mello : — Facilita a fal
rem caixas filiaes correm os bilhetes das respe- sificação.
pectivns caixas. Assim na Bahia serão recebidos
nas estações publicas os bilhetes da caixa filial O Sr. Rodrioues Torres : — Facilita-se a fal
da Bahia, mas esses bilhetes não são recebidos sificação, é verdade, quando as notas são de
na provincia de Pernambuco, nem na do Ma valor nimiamente pequeno ; mas se os bilhetes
ranhão, etc. E' isto o que diz o projecto ; e de uma libra esterlina não represeetão valo
portanto não tem força, quanto a mim, a ob res nimiamente pequenos na Escossia , creio
servação do illustre membro. que 109 tambem não os represetio no Brasil.
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 263
Poder-se-hia fixar um minimo mais subido , ó approvado em todas as suas parte por grande
é verdade ; porém limitar-se-hia tambem a cir miioíia.
culação dos bilhetes do banco, e não sei se é Entrão em discussão pela sua ordem os arts. 2°,
conveniente esta limitação. 3°. 4» e 5°, e sem debate são approvados.
O Sr. Bandeira de Mello:— O banco de In Passa afinal o projecto para a terceira dis
glaterra elevuu o seu minimo. cussão.
O Sr. Rodrioues Torres:— O minimo dos bi O Sr. Fiúza (pela ordem) :— Julgo urgente
lhetes do banco da Inglaterra é de 5 libras ester a materia deste projecto, e par isso peço dis
linas, mas elle já teve bilhetes de uma libra; pensa do intersticio para que entre hoje mesmo
elevou-se o minimo a ii libras esterlinas quando ou amanhã em terceira discussão. Nós estamos
se quiz limitar a emissão desse banco; mas nós jà no meio da sessão, e ainda não tratámos da
que limitamos a emissão na propria lei, parece- lei de fixação de forças de mar e terra, e da
me que não temos motivo para recorrer a lei do orçamento. sA medida contida neste pro
mesma medida de que o parlamento inglez lan jecto é muito importante, e como a camara tem
çou mão em 1826. votado a respeito delia com confiança, peço que
Allega-se que as notas de pequeno valor são essa confiança seja completa.
mais sujeitas á falsificação do que as grandes ; O Sr. Presidente: — E' necessario que o nobre
o parece que isto é um facto averiguado ; mas deputado precise o sou requerimento.
não sei se uma noia de 108 se póde chamar de
grande ou de pequeno valor ; o que sei é que O Sr. Fiuza : — Para entrar em terceira discus
actualmente os bilhetes que em maior numero são amanhã.
apparecem falsificadas são de 1$, 2$ e 5$, e que O Sr. Brandão: — Sim, que passe de carreira,
as nntas do banco não serão tão facilmente fal a galope.
sificadas como o papel do governo, pelas razões Uma Voz.— A palavra gfíope é anti-parla-
qu*i já expendi. mentar.
O Sr. Bandeira de Mello :— Por conseguinte O Sr. Araujo Lima : — Não será a gilope, mas
é bom eluvar-se a quantia. é querer fazer passar a vapor uma lei tão im
O Sr. Rodrioues Torres :— Mas, elevar-se a portante como esta.
quantia traz o inconveniente que jã apontei, Sem debate é approvado o requerimento do
limita a circulação dos bilhetes do banco... Sr. Fiuza para se dispensar o intersticio,
O Sr. Bandeira de Mello : — Mas com o pro Vai ã mesa a seguinte declaração de voto :
veito dá segurança.
« Declaro qua votei contra o art. 5» do projecto
O Sr. Rodrioues Torres : — . . . e eu entendo r. 23 do 18.33, que ó relativo á isenção do sello
que isso equivale a crear-sa uma difficuldade que iniciou o sen ido.— 20 de Junho de 1853.—
para organisaçãn desse estabelecimento. A expe Silva Ferraz. »
riencia mostrará se os bilhetes do 108 são mais
sujeitos á falsificação do que os do 20$, e O Sr. Presidente : — Está esgotada a segunda
quando a experiencia o demonstrar eu não du pirte da ordem do dia; voltamos para a pri
vidarei concorrer com o meu voto para uma lei meira.
que d«termine que as notas de lO$ sejão expellidas O Sr. Vasconcello» (pela ordem) :—Sr. pre-
da circulação. sidonte, V. Ex. recorda-se-ha de que foi dado para
Perguntuu-se tambem por que razão não se a ordem do dia o projecto, que tive a honra de
determina, a exemplo do que se praticou no apresentar, creando um bispido na provincia de
projecto que ha poucos dias foi approvado, que Minas-Geraei ; como temos de voltar á primeira
as notas do banco não possão ser emittidas parte da ordem do dia, pedia a V. Ex que consul
senão por desconto de leiras commerciaes a tasse a casa se quer discutir de preferencia o
prazo de 90 dias e com duas assignaturas. Não referido projecto, visto que é reconhecida a sua
se inserio no projecto que discutimos nenhuma utilidade, e eu desejava offerecer uma emenda
disposição desta natureza pela mesma razão por comprehendendo tambem nas disposições dessa
que não se inserirão outras ; o projecto tambem projecto a provincia do Ceará.
não determina quaes as opera. ões que o banco U Sr. Gomes Ribeino : — Vamos a esse casa
póde fazer, qual o numero de assignaturas que mento de Minas com o Ceará. (Risadas.)
devem ter as letras que descontar, qual o ma
ximo prazo, se o estado do estabelecimento deve O Sr. Corrêa das Neves : — Arranje as dis
ser publicado semanalmente, mensalmente ou pensas.
trimestralmente, e outras disposições que estão O Sr. Presidente : — Vou pór a votos o reque
reconhecidas como condições essenciaes destas rimento do nobre deputido.
instituições. Não se determinou nada disso, por
que se entendeu que taes providencias são mais Alouns Srs. Deputados: — Não ha casa.
proprias dos estatutos do que do uma lei que O Sr. Paula Candido (I° secretario): — Conto
não trata senão de estabelecer certos principios apenas 50 membros em seus lugares. (Risadas. )
geraes. O Sr. Presidente : — Se não ha casa para se
Tambem se me perguntou se as caixas fi- votar, vai-se proceder á chamada, e levantar a
liaes hão de constituir com a do banco uma sessão. (Pausa.)
sociedade de lucros e perdas. Devo declarar
que chamo banco ao complexo de todas as cai O Sr. Paula Candido (1° secretario) (procurando
xas, quer central e flliaes : portinto todas ellas contar): — Não se póde contar bem; alguns
constituirão uma sociedade de lucros e perdas. membros estão a entrar o a sahir a todo o
Não me recorde, Sr. presidente, "se me forão momento. (Risadas.)
pedidas outras explicações. Sa o honrado mem O Sr. Presidente : — Convido aos Srs. depu
bro ainda tomar parte na discussão, u quizer tados a se conservarem nos seus lugares. Vai-
que eu lhe dê mais algumas informações, fique se proceder á chamada, o só serão reputados
certo de que procurarei satisfazel-o, pois que tal como presentes os que estiverem dentro do re
é o meu dever. cinto. (Apoiados )
Não havendo mais quem peça a palavra, julga- Procede-so á chamada. Estão presentes 50 de
se a materia sufficientemente discutida, e o art. 1* putados, e verifica-se terem-se retirado sem causa
2(54 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
participada os Sr*. Wilkens, Belfort, Machado, baixou com o decreto r. 783 da 24 de Abril de
Domingues Silva, Bandeira de Mello, BapoSft da 1851, lhe seja paga desde que foi nomeado cU.
Camara, Assis Rocha, Seá.ia, Figueira de Mello, rurgião-mór por decreto de 7 do Julho de 1849,
Rego Barros, Souza Leão, Pinto de Campos, Paes bem como todos os papeis e pareceres relativos.
Barreto, Augusto de Oliveira, Sá Albuquerque, « Entendendo a commissão de marinha e gufcrra
Gomes.. Ribeiro, Magalhães Castro, Pereira da que semelhante objecto propriamente pertence a
Silva, Candido Borges, Miranda, Barreto Pe attribuição da terceira commissão de orçamento,
droso, Bernardes de Gouvéa, José Matliias, Pe é de parecer que á mesma commissão sejão re-
reira Jorge, Bello e Brusque. mettidos os mencionados requerimentos c papeis.
Dada a ordem do dia, levanta-se a sessão á « Paço da camara dos deputados, em 20 fo
1 'A hora da tarde. Junho de 1853. — J. A. de Miranda. — A. C.
Sedra. »
E' julgado objecto de deliberação, e vai a im
Sessão cm SI tio Junho primir para entrar na ordem dos trabalhos, o
seguinte parecer :
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO « O tenente reformado José Xavier Pereira de
Brito pede regressar á primeira classe do exer
Summario.—Expediente.—Ordem do dia.—Commis cito ; e consultado o governo a respeito, informa
são especial.—Pensão d viuvado desembargador o ministerio da guerra que o mesmo fóra pas
Agostinho de Souza Loureiro.—Banco nacio sado para a terceira classe em consequencia de
nal.—Discursos dos Srs. Nebias e Lisboa Serra. ter sido julga lo incapaz do serviço por molestia
incuravel, como so vê de um termo de inspecção
A' dez horas feita a chamada, achão-se pre a que se procedeu em 10 de Agosto de 1850.
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Jaguaribe, Ma « Desse termo consta que o peticienario soffria
chado, Ferraz, Fernandes Vieira, Santos e Al aleijão no membro inferior esquerdo por abcesso
meida, Fiusa, Aprigio, Cruz Machado, Angelo na parto média exterior da coxa correspondente,
Custodio, Domingues Silva, Assis Rocha, Ca e bem assim enterites chronica.
sado, Góes Siqueira, Ribeiro, Luiz Araujo, co « Allega o pretendente que nenhuma molestia
nego Leal, Fleury, Silverio, Nebias, Barbosa hoje
da Cunha, Belfort, vigario Silva, Bretas, Souza todo soffre, o que se acha prompto e apto para
o serviço, como demonstra com a nova
Leão, AVilkens, Lindolpho, Rocha, Macedo, Maga- inspecção a que so submettou em 27 do Novem
-lhães Castro, Mendes da Costa, Vieira do Mattos, bro do nnno
Brusque, Candido Mendes, Sa o Albuquerque, recimento dasproximo findo. Invocando o desappa-
molestias que soffróra, e dedicação
Almeida e Albuquerque, Teixeira de Souza Ri e lealdade com que sempre servira, pretendo
beiro da Luz, José Assenso, Vasconcellos, Li
vramento, Hyppolito, Pimenta Magalhães, Araujo assim justificar a graçi que solicita.
Lima, Monteiro de Barios, Viriato, Ferreira da s Com effeito o peticionario fez a campanha do
Abreu, Paula Candido, Paula Fonseca, Brandão, Sul desde- 1840 atê a pacificação, tendo assistido
Wanderley, Siqueira Queiroz, Bello, Miranda e aos ataques de S. Borge=, da Estancia do Meio,
Thcophilo. o o do Banhado <áe Inhatinhu, nos quaes se mos
Comparecem depois da chamada os Srs. Jor trara com brio e coragem.
dão, Titara, Horta, Gomes Ribeiro 6 Mendonça. assistio, « Em Pernambuco, durante a rebellião de 1818,
como ajudante de ordens do comman lo
A's 11 horas menos 10 minutos, havendo nu das armas, aos ataques de Catucá, e de Cruangi.
mero sufficiente o Sr. presidente abre a sessão. « Na terceira classe mesmo em que fóra collo-
Lida e approvada a acta da sessão antecedente, cado, foi prompto em prestar todos os serviços
o Sr. 1° secretario dá conta do seguinte do que era incumbido, servindo outrosim de aju
dante de ordens da pessoa do general comman-
EXPEDIENTE dante das armas desde Outubro de 1851 até
Um officio do Sr. 1° secretario do senado, Abril do corrente anno.
communicando que o senado approvou e vai di « São honrosos ao peticionario os attestados
rigir á saneção imperial a resolução que appiova dos
como
generaes e officiaes com quem servira, bem
as ordens do dia que lhe respeitSo. Por
a pensão concedida a D. Maria Cheks Nina. esses documentos se vê qne não lhe faltão co
—Fica a cunara inteirada. ragem, brio, honradez e boa conducta civil o
E' recebido com agrado o oflerecimento do A. militar.
de Roosmalen, de um exemplar da sua obra « Em reconhecimento de taes serviços, e por
VOrateur, e o prospecto do seu estabecimento.
Um requerimento dos correios das secretarias oentender a commissão de marinha a guerra quo
tenente José Xavier se acha na actualidade
pedindo melhoramento do seus ordenados. — sem molestia, e é dotado das qualidades milita
A' commissão de pensões e ordenados. res que lhe reconhecem seus superiores, não du
Sem discussão são approvados os seguintes pa vida offerecer á consideração desta augusta ca
receres: mara a seguinte resolução :
« A commissão de marinha e guerra ê do pa « A assembléa geral legislativa resolve :
recer que a respeito do requerimento do major ii Art. 1.» E' o governo autorisado a admittir
graduado João Homem Guedes Fortilho, que a classe activa do exercito o tenente reformado
pede melhoramento de reforma, se ouça o go José Xavier Pereira de Brito.
verno. i. Art. 2.» Ficão revogadas quaosquer disposi
« Paço da camara dos deputados, em 20 de Ju ções om contrario.
nho de 1853.— João Antonio de Miranda.—Anto « Paço da camara dos deputados, em 20 da
nio Correa Sedra. » Junho de 1853. — A. C. Sedra. —J. A. de Mi
« A' commissão de marinha e guerra foi pre randa. »
sente um officio do governo cobrindo o requeri
mento doDr. Joaquim Candido Soares do Meirelles, O Sr. Gomos rtiljolro: — Sr. presidente,
cirurgião em chefe do corpo dc saude da armada, desde Agosto do anno passado que a direcção
o qual pede que a gratificação de l0O$ mensaes, do monte-pio dos servidores de estado dirigio
marcada na tabella annoxa ao regulamento que uma representação a esta casa, que foi remettida
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 265
a commissão de fazenda e até hoje ainda não ' mores de povo, porque sabidos do seu seio
appareceu resultado algum a semelhante res estamos mais habilitados para sentir suas miserias
peito. e ouvir mais de perto o grito de suas neces
V. Ex. comprehende bem a importancia deste sidades ; nós temos direito de expor todas as
estabelecimento do que vivem muitas viuvas e duvid is que por ventura possão esclarecer um
orphãos desvalidos (apoiados), e V. Ex. sabe objecto de tamanha importancia.
mais que não á esta uma da|uellas pretenções Trata-se de um unico banco central, de na
que não possão ser attendidas. tureza todo commercial em suas operações, bem
Rogo pois o V. Ex. a sua poderosa inter declaradis em um dos artigos do projecto.
venção, como presidente da casa, para que a Primeiro, Sr. presidente, cu vejo que um banco
commissão de fazenda dê o seu parecer o mais tão fortemente constituido como é o actual, com
breve que lhe seja possivel. tantos privilegios, com tamanhos fundos, com a
O Sr. Presidente: —Os membros da commis permissão de dobrar a sua emissão na razão
são a que o Sr. deputado se refere ouvirão o dos seus fundos disponiveis, um banco que póde
seu pedido, e por isso o tomarão na duvida con elevar a mais de 30,u00:00O$ o seu fundo ca
sideracão, até mesmo pela importancia da ma pital, que póde elevar as suas emissões além do
teria. dobro do seu capital disponivel, como se deter
O Sr. Jaouaribe, allegando motivos de mo mina em um dos artigos, é certamente um banco
que vai constituir um verdadeiro monopolio no
lestia, pede dispensa do lugar de 3° secretario. paiz. Apoiados.)
A camara decide pela aflirmativa. Nem ao menos póde esperar-se que este banco
O Sr. Presidente convida o Sr deputado se acuda ou satisfaça ás necessidad s das outras
cretario supplento h tomar o seu lugir. praças commerciaes do imperio, porque consti
tuido como elle se acha, é natural, é quasi
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA certo que esses poucos fundos disponiveis que
por ventura so achão espalhados pelas nossas
NOMEAÇÃO DA COMMISSÃO ESPECIAL provincias affluão para elle, para a capital do
Procede-se a eleição da commissão especial imperio.
que tem de examinar o projecto do Sr. Ignacio O nosso commercio, Sr. presidente, tanto como
Barbosa sobre registro de hypothecas, e sanem a nossa agricultura, tanto como as outras indus
eleito-, os Srs. Nabuco com 72 votos, Ignacio Bar trias, tanto como as nossas artes, e os nossos
bosa com 70, e Ferraz com 64. . homens de trabalho diario, merecem toda a pro
tecção do governo e do corp i legislativo. Eu vejo
PENSÃO A VIUVA DO DESEMBARGADOR AGOSTINHO DE que em um dos artigos do projecto se faculta a
SODZA LOUREIRO creação de caixas filiaos onde as necessidades do
Continua a discussão do parecer r. 39 de commercio o exigirem ; mas, diç-a-mo V. Ex.,
1848, rejeitando a pensão concedida á viuva do diga me a camara, digiio-mo os illustres mem
desembargador Agostinho de Souza Loureiro, bros da commissão, já que o nobre ministro da
com a emenda do Sr. Oliveira Bello approvando fazenda não se acha presente quando é que hão
a pensão. do ser creadas essas caixas? Debaixo de que
regimen começarão ollas as suas funeções ? Que
Dando-so a materia por discutida, procede-se influencia hão de ter im's mercados e circulação
á votação por escrutinio secreto, e ó rejeitado das diversas provincias ? Que systema adoptará
o parecer. o governo a respeito dos seus estatutos e das
O Sr. Presidente apresenta algumas duvidas suas operações? Não flearão ellas sempre liga las
a respeito d i votação immediata da emenda. o presas ao banco nacional estabelecido na
A camara decide que a emenda seja votada corte? Certa mento que sim; ainda que o proi
immediatamente, e posta a votos por escrutinio jecto não fosse apenas facultativo m-ssa parto,
secreto é npprovada. ainda que estabelecesse a prompta creação das
caixas fiíiaes, eu achava que por este lado não
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA se remediava o mal que tenho apontado, porque
essas caixas nas provincias, segundo as bas:s
BANCO NACIONAL o condições do projecto, havião do resentir-se dos
Entra em terceira discussão o projecto n. 23 mesmos defeitos e monopolio; e certamente que
deste anno, vindo do senado, sobre a creação de ellas liã ' de ter lugar depois de formudo o banco,
um banco nacional. depois do algum abalo ou vexame muito sen
sivel que por ventura se note nesta ou naquella
O Sr. Ncbtus : — Sr. presidente, não estou provincia do imperio, e isto já é um mal que
habilitado para entrar, com conhecimento de nos cumpre atteuder e remediar. (Apoiados.)
causa em uma discussão tão alta e transcendente Sr. presidente, tratou-so no corpo legislativo
pai a o nosso paiz ; conheço que para fazêl-o seria da lei que auiorisava o governo para provin-
mister estudos longos o especiaes sobro a ma cialisar a nossa moeda, porque entendeu-se que
teria, que eu não possne. era isso uma necessidade urgento das provincias ;
Assim, pois, Sr. presidente, limitar-me-hei so o no emtanto essa lei, que era considerada da
mente a expor algumas duvidas e offerecer al maior urgencia e das mais salutares consequen
gumas considerações até onde puder chegar minha cias, até hoje tom ficado sem execução.
fraca intelligencia. • Eu não sei se o banco do q"uc se trata e as
Não estou habilitado para entrar na discussão caixas tem algum parentesco com esse arbitrio
dos estabelecimentos bancaes, nem para discutir de provincialisar a moeda que outr'ora se con
e apreciar os elementos do credito publico ou cedeu ao governo.
particular; apenas tratarei de alguns pontos Sr. presidente, considerarei ainda o projecto
positivos do projecto, porque mo julgo nessa por outro lado, e é o lado principal, é o mais
obrigação como representante immediato de uma grave inconveniente que nelle descubro. Trata-so
das provincias do imperio. de um banco todo eito de influencia commercial,
Este projecto, Sr. presidente, como já se tem espalhando os snis beneficios sómente pelo mer
dito, joga com a fortuna particular e com o cado commercial, no emtanto que para a agii-
estado financeiro do paiz, tanto no presente como cultura e para as outras industria nada se tem
no futuro. resolvido, nenhum remedio se tem applicado até
Nós, membros de uma camara electiva e tem ao presente.
poraria, devemos acompanhar por isso os cla- Eu vi, Sr. presideute, que desde a sessão do
TOHO 3. 34
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anno passado apparccêrão nesta casa dou s pro [ o commercio, são adoptadas e seguidas por toda
jectos muito importantes, que tratavao de liquidar a parte.
ou desembaraçar a nossa propriedade territorial, 1 . Comecemos pela Russia, Sr. presidente, paiz
ou antes que tratavão de modificar o nosso re absoluto, mas cujo governo sempre se interessa
gimen hypothecario no imperio, no emtunto estes pela sua prosperidade, pelo augmento da sua
projectos têm andado aqui em uma discussão vaga renda, pela felicidade dos seus subditos, tanto
desde a sessão do anno passado, e não tenho quanto é possivel em semelhante fórma de go
visto que o governo tenha tomado parte algunri verno ; o que veníos ali i ha muitos aunos ? Desde
em semelhante debate, que , tenha apresentado a creação do bem conhecido banco intitulado—do
alguma idéa sua propria, que o tenha adoptado credito systema—até esse banco—dos paisanoaç-
ou rejeitado. creado ha poucos aunos, desde o imperio pro
Um Sr. Deputado:— O Sr. ministro ,d i fazenda priamente dito até suas possessões fóra do im
perio, vemos essa protecção á agricultura, ve
falia disto no seu relatorio. mos estabelecimentos de credito territorial muito
O Sr. Nêbias : —- Sim, senhor, falia como se bem organisados, e fazendo serviços recornmen-
falia em diversas medidas : no emtanto conside- daveis a agricultura daquelle paiz.
rando-se de alta magnitude a modificação do
nosso regimen hypothecario para os interesses busO Sr. Paula Santos :—Sempre depois dos ban"
commerciaes.
da nossa agricultura decadente não se tem ado
ptado providencia alguma a este respeito 1 O Sr. Nebias :—Eu mostrarei que muitos con-
O Sr. Brandão : — Porque se entende que a junctamente. Não estou muito ao facto desta
materia, como estão outros senhores ; mas sen
agricultura não merece attenção I tindo a consciencia do meu dever procurei examinar,
O Sr. Nebias : — Quando, Sr. presidente, se pira satisfizer assim o mandato da minha pro
estabelece um projecto da ordem deste de que vincia. (Apoiados.)
tratamos, sem se attender á agricultura do paiz, Vemos que, além desse principal banco cha
além de outros inconvenientes pen»o que não só mado de « credito systema, » que foi estabele
se deixa de dar attenção a esse rumo impor cido pa a crear recursos á agricultura decadente,
tante, como ate so llie faz grande mal poudo-o depois dessa guerra extraordinaria e longa que
fóra doscapities, porque, Sr. presidente, creado a Europa sustentou durante o imperio francez,
o banco com os favores^ e lucros certos que ha do vemos esse banco ercado para dar recursos aos
ter com a emissão que lhe é facultada, eu vejo senhores das terras, que vião-se sem meios de
que todos os capitaes que ha nas provincias explorar as suas propriedades ; vemos em todas
niio de necessariamente procurar um emprego as partes desse grande imperio, nas provincias
seguro e mais vantajoso, e esse emprego acharao do Buitico, etc, um banco territorial ; vemos
no banco, de fórma que mesmo esses poucos afinal esse, que é um dos ultimos bancos cha
capitaes que ainda hoje podem ser empregados mado « dos paisanos » que tem um fim ainda
nas diversas provincias com mais ou menos mais philantropico, banco por meio do qual se
facilidade correrão todos para a cÔTte. quiz habilitar os pequenos proprietarios e lazer a
O Sr. Dutra Rocha : — Não ha tal, as caixas acquisição das terras dos grandes senhores, dos
nobres, que elhjs cultivavão como sorvos, ou
filiaes lã estarão.
pagando uma renda muito alta, ou dando pro-
O Sr. Kebias: —As caixas filiaes I Pois creuo-se dueto.s em especie, ou prestando certos dias de
já essas caixas ? Não so deixa isto a arbitrio serviço, que era o sytema chamado das cor-
do governo ? Se se julga necessaria a creação de veias.
taes caixas, mande-se ã mesa uma emenda neste Vamos ã Prussia ; o que vemos nós, senhores,
Sentido. nesse paiz tão bem orgaaisado, tão feliz, onde
O Sr. Silveira da Motta : —Não so ha do tra a fortuna publica é tão animada e as rendas tão
tar dos filhos antes do pai. (Risadas.) florescentes? Vemos em todas as suas provin
O Sr. Nehias : —Sr. presidente, a nossa agri cias bancos territoriaes, sendo um dos mais
cultura sente-se muito da falta de braços e do notaveis aquelle que se creou no ducado de Posen,
na Pomerania, Brandeaburg, etc. E' por isso
outros recursos, isso é opinião corrente conhe
cida por todo o paiz ; aqui mesmo têm appare- tambem que nós vemos esse progresso espan
cido essas razões, e ainda ha poucos dias forão toso, essa actividade inaudita que se observa
apresentadas por occasião da discussão do outro nas margens do Rheno.
O que vemos na Allemanha? E' talvez este o paiz
projecto quasi analogo que foi adoptado pela onde os estabelecimentos de credito territorial
casa. ainda se achão mmto acanhados; tenho somente
Eu vejo que o systema seguido pelo nobre .noticia de um creado na Gallicia. Na Austria
ministro, creando um banco todo commercial sem vemos creado o banco commercial nacional, mas
attender á sorte das industrias e da agricultura este exemplo mesmo ine serve para apoiar as
é um systema contrariado por todos os paizes minhas idéas. E' verdade que o espirito da
onde se conhece tambem a sciencia do credito agricultura alli, ou talvez o estado actual do
publico, e a scienci i de promover os interesses paiz não tem desafiado a creação de muitos es
du nação. tabelecimentos ruraes ou hypothecarios, mas eu
Não foliando nesse prodigio dos Estados-Uni- lembro aos nobres deputados que sustentão o
dos, que em toda a sua superficie está coberto k projecto, que impugoão as idéas que estou
de bancos de todas as especies para proteger emittindo, que ahi mesmo na Austria eu acho
o commercio, a agricultura e aos trabalhos, desse argumento para convencêl-os de que o projecto
prodigio que junto ãs estradas de ferro e á se que discutimos ó ruinoso.
gurança extraordinaria de que se goza naquelle O governo da Austria tanto conhece a neces
paiz ti m-lhe dado um progresso espantoso, tem sidade de sustentar a agricultura, de ministrar-
feito surgir dentro de pouco tempo populações lhe recursos promptos, que ainda ha dous an-
e cidades em lugares ermos, e até que so jul- nos, segundo a minha lembrança, a commissão
gavão inhabitaveis. como sejão essas populações de finanças reunida em Vienna teve de tomar
que têm nppaiecido lã para as montanhas pe em consideração este negocio, o governo lhe
dregosas, não fallando dessa nação toda excepcio propóz esta questão : « Se o banco nacional da?
nal ; eu recorrendo aos estados da Europa, vejo Austria devia fornecer capitães á agricultura do
q ue as idéas emittid is por mim de se favorecer imperio. » E' verdade que esta grande questão
á agricultura, ao menos em concurrencia com foi resolvida pela negativa, mas para isto houve
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 267
causas especiaes. Primeiramente o banco da verno zeloso que deve com tempo preparar as
Austria já estava sobrecarregado com uma emis-* cousas no paiz para dotal-o de um gr mde me
são extraordinaria; esse branco creio que emitte lhoramento, aceresce que eu não vejo nisto uma
oito vezes mais que o seu fundo de reserva. grande difficu;dade. Nós já temos uma circum-
O Sr. Paula Santos : — ííão apoiado , hoje stancia muito poderosa a bem dos bancos terri
não. toriaes ; fallo do registro publico das hyputhe-
cas ; isto é ia um grande principio, talvez o
O Sr. Nebiis : — Só se é por alguma reforma rincipal fundamento em que se têm baseado os
nfuito recente, e essa reforma ha de trazer tal í; ancos territoriaes nos diversos estados da Eu
vez a idéa de favor á agricultura... ropa que tenho mencionado.
O Sr. Paula Santos : — Hoje emitte conforme Em algwis desses estados que tenho trazido
as necessidades da circulação. para exemplo era estt a grande difficuldade, -erão
O Sr. Nebias : — Até o anoo passado asseguro as hypothecas occultas e geraes, estabelecidas em
ao nobio deputado que era assim como estou di grando parte pelo codigo Napoleão, codigo que
zendo ; emittia oito vezes mais que o seu nume vigorou em varias partes da Europa, cíhio por
rario de reserva.. . exemplo na Baviera, na Polonia hoje deslembrada,
e em alguns principados alleniães. Conheceu-se que
O Sr. Paula Santos : — Está enganado. esse principio do codigo N ipoleão não podia vigo
O Sr. Nebias : — Talvez, mas eu lhe posso rar, que era um obstaculo para o verdadeiro
mostrar em que me fundo para dtzer isto. Mas estabelecimento do credito territorial, e pois tra-
havia essa grande causa , e por isso recuárão ; tou-se de revogal-o nesta parte ; tratou-se de
havendo já muito papel do banco, qne é pa- adoptar a publicidade como base segura e geral
pel-moeda, não quizerão augmentar a omissão, do regimen hypothecario.
ainda que fosse em favorda agricultura. Foi esta Ora, porque não faremos nós a mesma cousa ?
a razão por que a commissão de finanças não Porque não completaremos essas disposições que já
tratou de resolver a questão favoravelmente á temos ? Porque não sc hão de executar do modo
agricultura. possivel a lei Uas terras, para que fiquem ao
Demais, hl tambem outra causa proxima. Posto menos conhecidas, demarcadas e avaliadas ? Por
que não haja muitos bancos territoriaes, nem que não ha de o governo tomar parte activa na
mesmo essas caixas ou bancos do credito ngricolu discussão desses projectos que andão aqui envol
pessoal e movei, comtudo a agricultura da Aus vidos desde a sessão do anne passado ? Mas,
tria marcha muito desembaraçadamente ; nunca lhe nada ; uma idéa capital, muito reclamadi pelo
faltão capitaes, por isso que recorre ella cou- paiz, vai-se deixando-dormir nas pastas das com-
tantemente ao grande bmco muito bem estabele missões I
cido na Baviera , banco que fornece fundos con- Sr. presidente, tenho mais algumas observações
tanmente para a sua agricultura. a fazer, mas, em verdade nesta materia até mesmo
Agora, so vamos a Baviera, o que encontramos os homens de sciencia costumão usar de um es-
tambem? Ahi é que se acha o estabelecimento tylo laconico e do theoria positiva, e por isso
mais completo o mais satisfactorio. Por muito não cansarei mais a cas i ; terminarei fazendo
tempo varias commissões do governo tratarão do unia pergunta. Sinto que o Sr. ministro não es
conhecer qual seria o melhor estabelecimento de teja presente, o por isso me dirijo á nobre com
bancos na Baviera, e afinal assentarão que se missão, que represent i o pensamento ministeria-
ria um banco territorial e de desconto. Adoptada lista e seus illustres membros me poderão res
esta idéa, creou-se definitivamente o banco da ponder.
Baviera. E como se creou esse banco ? Com que Entrará no plano financeiro do Sr. ministro a
condições ? Funccionando como banco commercial, amorlisação da nossa divida externa ? Creio que
como banco de agricultura , como banco indus não se negará, e mesmo que a conversão da
trial e como banco de credito publico. Assim nossa divida externa pira interna é de grande
se tem conservado até agora, e diz um escriptor interesse para o paiz ; creio que não so póde pór
que por seus sabios e bem combinados estatutos isso em duvida ; creio que o Sr. ministro se
esse banco tem feito serviços permanentes ao prepara para essas operações ; creio que esse
paiz nos differentes ramos da sua industria, com- pensamento já tem sido apresentado no paiz, as
mercio e agricultura. sim como creio que vant igens certas nos podem re
Emfim, Sr. presidente , eu poderia analysar sultar ; mas o que eu vejo no projecto é um pensa
muitos outros bancos para provar que todos elles mento contrario á realisação desse plane ; ve;o que
são dominados por este principio. Cumpre pois em lugar de acabar com a divida externa, ella so
aproveitar este poderoso instrumento a bem da augmenta, porque observo que o governo toma
nossa agricultara chamando para a circulação va por emprestimo ao banco 10,000:000S; podendo
lores immoveis que tanto hão de facilitar os seus autorisar ao banco para contrahir no estrangeiro
melhoramentos. um emprestimo conveniente para a segurança desse
E' verdade que a Inglaterra não tem bancos outro emprestimo; c não é isso m íis um em
territoriaes; mas os nobres deputados sabem me penho externo , com a garantia que o imperio tem
lhor do que eu a que é devida esta falta ; é á de offerecer ? (Apoiados.)
constituição da propriedade da Inglaterra, é á. Ora, por isso digo que, em lugar de amorti-
abundancia de capitaes, é a baixa do juro, á zar-so a divida externa, teremos de crear mais
taxa do interesse muito baixa, é ao iinmenso cre um empenho, mais um embaraço par i o nosso
dito, aos grandes capitaes que os diversos ban paiz (apoiados) ; e talvez eu ache mais conve
cos poem em movimento. E isto tudo que dis niente o acabarmos com a divida externa, do
pensa na Inglaterra um auxilio directo e posi que cuidarmos da amortização do papel-moeda ;
tivo a bem da sua agricultura... póde ser que isto seja por ora mais indispen
Um Sr. Deputado : — Isto ó exacto. savel.
Sr. presidente, no estado em que está o nosso
O Sr. Nebias j — Na França e na Belgica têm-se paiz, nós não temos muito de que nos queixar
tratado de estabelecer os bancos territoriaes ha de Deos, antes devemos lhe dar mil graças, por
pouco tempo. que o paiz ha de prosperar', e apezar de todos
Talvez se me diga que o estado da nossa pro os males a nossa agricultura tão acabrunhada,
priedade não comporta ainda a creação de um 'o nosso commercio, todos os ramos de nossa
Danço territorial. Senhores, além de que essa industria, mesmo sem qualquer auxilio. . . (Apoia
razto n&o deve nunca servir de escusa a um go dos.)
208 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O Sb. Fioueira de Mello:— E' preciso saber- conceder-se tão grande monopolio? Deixe-se a
por que meios. liberdade, e hão de apparecer bancos; os pro
O Sr. Nijbias :— Quero dizer que não temns prios capiLalistas se reunirão entre si para esta
belecerem os seus bancos no sentido que achiretri
muito de que nos queixar, porque o solo do paiz mais conveniente para favorecerem ao commercio,
é muito productivo.. . (Reclamações.) á agricultura... Os capitalistas no seu gabinete
O Sr. Brandão : — Apoiado ; só por esse meio. são optimos banqueiros.
(Novas reclamações.) (Os apartes simultaneos continuão, uní dirigi
Um Sr. Deputado:— Só pela theoria do calor dos ao orador, outros trocados entre differentes
e da humidade. senhores.) -
O Sr. Nebias:— E' um agente indispensavel o Eu quero instituições de credito, mas não se
calor e a humidade, e por muito iutelligente que gundo os principipos do projecto, e bem se sabe
seja a administração, não poderia nada conseguir que podem haver instituições de credito combi
sem o galor e a humidade, porque são agentes nadas por outra fórma e admittid is em mentido
que se ajudão reciprocamente. benefico. Haja liberdade e boa fé que essas insti
Sr. presidente, como ia dizendo, nn estado em tuições hão de apparecer no paiz.
que eslá o paiz, eu não vejo grande vantagem
na suppressão do papel-moeda, porque é uma lasUmcomo Sr. Deputado:— Serão associações anóma
a do banco commercial do Brazil.
moeda aceita é que desempenha bem as func-
ções de moeda circulante, que se não é bom, ao O Sr. Nebpas:— Eu não sei o estado em que
menos concorre para que a industria, para que esse banco se acha, não sei se elle poderá func-
o commerciõ, assim como á agricultura, possão cionar regularmente; parece-me qre elle vai fuac-
fazer as suas operações independente deste banco cionando e vivendo bem, ao menos p ira a praça
privilegiado... do Rio de Janeiro ; mata-se assim esse banco, e
Um Sr. Deputado : — Está sujeito a falsificações ordemhão de se matar todas as companhias dessa
continuadas. ; e apenas se favorece o monopolio para
o banco nacional do Brazil : a isso é que eu
O Sr. Nebias :— Está sujeito a falsificações me opponho, e não posso consentir pela minha
continuadas, diz o nobre deputado ; é essa o parte.
grande mal que so encontra no papel-moeda : Eu, Sr presidente, não irei adiante; exponho
pe gunto eu, o papel do banco tambem não está estas poucas observações, o ainda que tivesse
sujeito a essa falsificação? Creio que sim.
Mas, dizia eu, Sr. presidente, que não havia eu odarnegaria
de um voto de confiança ao Sr. ministro,
neste projecto (apoiados), porque,
por ora urgencia para se reeolher o papel-moeda, segundo as suas
quando vejo que se quer substituir pelo papel elle não satisfaz obases e condições, vejo que
não acode aos interesses e
do banco... necessidades do imperio em toda a sua vasta
O Sr. Viriato :— Que ó superior ao papel- extensão. (Apoiados.)
moeda. O Sr. BnANDÃg e outnos Sns. Deputados:—
O Sr. Nebias : — Queria que o nobre deputado Muito bem, muito bem.
me dissesse-em que existe a superioridade do um Aloumas Vozes : — O adiamento. . .
sobre o outro.
O Sr. Viriato:— Em ser realisavel o papel Sr. ministro O SR. Nebias:— E' verdade, Sr. presidente, o
não estã presente, o não é por mim
do banco. (Reclamações.) que eu proporia o adiamento; porém muitos
O Sr. Nebias:— Mui felizes somos nós que, companheiros estão com a palavra, e parece-me
tendo o papel-moeda tanta circulação, nunca o que seria bom adiar-so o projecto até que o
governo se vio atropelado para o trocar, e nunca Sr. ministro compareça; e, comquanto elle tenha
se ha de ver emquanto as cousas marcharem assim nesta casa quem por elle muito bem represente,
bem ou mal. . . comtudo ó elle que tem de dar execução ao seu
(Cruzão-se differentes apartes. Mcvimento pro projecto, o por conseguinte ó do grande vanta
longado na camara.) gem que so acho presente, assim como é justo
e conveniente que assista e esclareça a discus
O projecto quasi que trata especialmente do res são de quaiquer projecto ou proposta sua, para
gato do papel-moeda; quasi que não vejo outro que nos apresente todo o seu pensamento pratico,
beneficio nelle para o paiz; mas, Sr. presidente, o portanto julgo necessario esperarmos atê que o
o papel moeda subsiste por muitos annos, e não Sr. ministro compareça...
ha nisso inconveoiente algum E qu indo se pre O Sr. Aprioio: — Nas terceiras discussões os
tenda suppi imil o basta unia operação financeira, ministros não comparecem ; só comparecem nas
e muito simples, que póde ser feita pelos proprios segundas.
recursos do thesouro, não havendo necessidade
de se dar um privilegio ao banco para que se O Sr. Presidente :— Eu não sei se o Sr. de
recolha essa moeda, e mesmo não é necessario putado propõe o adiamento.
para esse fim crear-se um banco. (Apoiados.) O Sr. Nebias:— Eu proporei, e para isso peço
Todos os annos na lei do orçamento determi
naremos uma quantia para resgatar o pápel- papel.
moeda, poderemos dar 1,000:000$, e por conse Vai á mesa o seguinte requerimento do adia
guinte não vejo necessidade de crearmos um mento ;
banco sómente para esso fim, concedendo-lhe « Requeiro o adiamento até que o Sr. ministro
tantos favores o lucros, que desanimáo outras possa comparecer. »
forças ou associações concurrente. E' apoiado e rejeitado sem debate por grande
(Cruzão-se differentes apartes.) maioria. -
O Sr. Nebias: — Deixe-se liberdade, e muitas O Sr. Lisboa Serra : — Sr. presidente,
associações hão de apparecer ; não é preciso crear-se a antes de entrar detalhadamente na apreciação
esse banco assim, porque elle não remedêa nem das observações que acaba de fazer o nobre de
as proprias necessidades do commercio das pro putado que mo precedeu, eu julgo conveniente
vincias, quanto mais as necessidades de nossa oflerecer á camara algumas considerações geraes
agricultura e mais industrias. Para que tanto sobre o que disse, na discussão hontem encer
trabalho, tantos privilegio», tantas isenções, para rada, o ultimo orador que fallou contra o pro
SESSÃO EM 21 DE JUNHQ DE 1853 269.
jecto, porque não tendo ainda sida publicados rém eu peço venia para dizer ao nobre deputado
os dous ultimo3 discursos a favor delle pronun que isto é um puro engano seu.
ciados pelo nobre ministro da fazenda presidente Certamente que o paiz não comporta actuai
do conselho, e pelo meu illustre amigo deputado mente muitos estabelecimentos desta ordem ; eu
por Matto-Grosso, acho-me em duvida sobre quaes creio até que oste banco será por muito tempo
os pontos que tomarão a seu cargo elucidar, sufficiente para satisfazer as necessidades das nos
e quaes os que careção ainda de ser esclare sas praças ; elle porém não tem privilegio ex
cidos. clusivo, não ha prohibição alguma de que se orga-
O nobre deputado pelo Ceará que então fallou niseiu outros bancos, desdo que necessidades reans
estava nessa occasião tão propenso á melancolia, os reclamarem ; o que o projecto quer é crear
e o seu espirito tão carregado de idéas negras, um banco solidamente constituido, que possa me
que póde elle compór um verdadeiro quadro de lhorar o meio ciiculanto o que não poderião
horrores; ouvindo-o não me fez o seu discurso fazer muitos pequenos bancos, e o que podo ser
toda a impressão qne devia operar sobre uma feito polo actual com maior segurança e perfei
constituição tão fraca como a minha, porque o ção. Repito pois que este banco não é creado em
nobre deputado quando exprime suas idéas fal-o prejuizo de todos os outros qne podem recla
por modo tão agradavel e insinuante que muito mar as necessidades do paiz, embora tenha ello
suavisa o seu rigor; ao lêl-o, porém, Confesso do sor o unico por algum tempo...
que fiquei horrorizado, tomado de susto e nf- O Sr. Brandão : — E as caixas filiaes ?
flicção pelo prognostico de tão eminentes des O Sr. Lisboa Serra : — . . . é justamente com as
graças. snas caixas filiaes que poderá fazer ao paiz todo
Em verdade, pelo modo por que o honrado o beneficio que delle se espera.
membro encara a instituição de que se trata,
em vez de ser ella uma forte alavanca para a O Sr. Nebias : — Ha de absorver os recursos
prosperidade, riqueza e civilisação do paiz, será das provincias.
como ama machina infernal que tem de fazer O Sr. Lisboa Serra : — Será justamente o con
explosão no centro da sociedade e reduzil-a a trario ; são os grandes mercados, como o do Rio
cinzas. de Janeiro e outros, que hão de por muito tempo
Maravilhoi-me mesmo ao considerar como par ministrar recursos aos pequenos mercados do im
tindo eu o o nobre deputado de principies iden perio ; já actualmente isso acontece, o coma orga-
ticos, os principios da sciencia economica e fi nisação das caixas filiaes acontecerá em muito
nancial, houvessemos chegado a conclusões tão maior escala.
differentes ; porque eu estou convencido, em boa O Sr. Nebias : — Mas agora no Rio de Janeiro
fé o digo, que a instituição com que queremos se fez um emprestimo de 4,000 iOOO8OOO.
dotar o- paiz ha de ser fonto de muitos bene
ficios. O Sr. Brandão : — Ao mercado do Rio de Ja
neiro faz-se um emprestimo da 4,000:000$, o as
O Sn. Brandão : — Nem todos pensão assim. pequenas praças do imperio não se lhes empresta
O Sr. Lisuoa Serra :— E' certo, nem ó isso para nada.
maravilh ir. O Sr. Lisboa Serra : — Deste emprestimo feito
Não estranho que hijão 'opiniões contraria-, que á praça do Rio de Janeiro reverte certamento
se encare a questão de diversos mo los, e debaixo de uma grande parto ein beneficio das peqnonas pra
pontos de vista que còndusão a differentes conclu- ças do imperio. (Apoiados.)
•sões; p rém partir-se dos mesmos principios, racioci- O Sr. Brandão: — Não sei como.
nar-se sobre as mesmas bases e ti rarein-se conelusõi s
contrarios, isso é que eu não comprehendo facil O Sr. Lisboa Serra : — E' clarissimo, o nobre
mente : foi somente isso o que mo maravilhou. deputado não nega do certo, porque seria negar
O nobre deputado começou declarando que via a evidencia dos factos, que pelas circumstancias
uma como soipresa no projecto em relação em que ha mezes se aenou o mercado do Rio
áquillo que se recommendava na falia do throno, de Janeiro uma parte de seus capitaes emigrou
e disse que nolla se alludia a instituições que para certas provincias em busca de empregos
déssem expansão ao credito do paiz, emquanto mais lucrativo. . .
que a medida proposta tinha por fim principal O Sr. Brandão : — Isso que importa /
o melhoramento do meio circulante. O Sr. Lisboa Serra: — Importa qne elles te-
Eu, senhores, acho que são pontos tão liga rião de voltar immediitamente ao seu centro, ao
dos, tão identicos entre si, que não sei como o lugar em que residem seus proprietarios, o onde
nobre deputado possa assim ser sorprendido ainda com menores lucros sb julgarião por mo
pol i face ein que o governo considerou a ques tivos bem olvidos melhor oompensa los se não ces
tão. sassem sem perda de tempo as difficuldades da
O credito, senhores, é composto de dous elemen praça do Rio de Janeiro ; eis como o emprestimo
tos disti netos, porque elle é baseado na crença votado vai directamente beneficiar essas provincias.
de que a som ma que se empresta, que se confia Disso-so mais que este banco assim organisado
a outrem, não será restituida, não diminuida, podia exercer uma influencia mui decisiva e per
mas angmeniada, o para alcançar-sa este resul niciosa nos destinos do imperio ; eu, senhores,
tado duas considerações são necessarias ; não sinto-me amesqninhado, como brazileiro, com a
basta que se entregue a s imma com ganho no enunciação de semelhantes itléas. Pois institui
minal, é necessario que essa somma, assim aug- ções que em toda parte são um poderoso ele
mentada, seja intrinsecamente maior do que a mento de ordem, pois, a riqueza, pois a proprie
despendida, e isso é u que não acontecerá por dade do paiz podem jámais ser infensas á sut
certo se a moeda que serve hoje de medida dos felicidade, ao seu progresso ? Póde-se razoavel
valores não tiver esso mesmo valor, porém me mente receiar sua influencia n i administração do
nor no termo do contracto ; vê-se pois que o cre paiz? Pela minhi parlo em vez do prejudicial,
dito da moeda, ou melhoramento do meio circu como suppõem os nobres deputados, eu estou con
lante, está intimamente ligado com expansão do vencido cie que ella seria util e muito util á
credito propriamente dito. nação.
Ficou tambem o nobre deputado impressionado O Sr. Nebias : — E' por issso que eu quero
pela idéa do que e-le bmeo impediria, pela fór
ma por que se acha constituido, a creação de os bancos territoriaes.
outras inttituições de semelhanta natureza ; po (Cruião-se varios apartes.)
270 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Lisboa Serra : — O que eu digo é que cente data : coinquanto não se achassem domi
não posso desconfiar da influencia dos bancos, não nados de odio os dous bancos desta córte, de-
posso pór-me em guarda contra. a propriedade e rão de algum modo pela sua concurrencia causa
riqueza do paiz ; eu não supponho o governo do para as difflculdades que actualmente soffre a
meu paiz tão fraco, estabelecido sobre bases tão praça.
precarias, que tenha de sujeitar-se á influencia O Sr. Brandão:—Eu não tenho convicção al
indebita de um banco para engrandecêl-o em pre guma de quaes fossem as causas da crise mo
juizo das instituições patrias. (Apoiados.) netaria.
E' preciso pelo contrario que os brazileiros se
reunãõ, que alliem as suas forças, porque só as O Sr. Lisboa Serra:—Estes dous bancos oon-
sim poderemos conseguir alguma cousa de util e corrião um com o outro na tomada do dinheiro,
grandioso para o nosso paiz. ambos desejavão que os depositos corressem
O Sr. Brandão ? — Todos nós queremos isso, para seus cofres ; cada um delles offerecia mais
vantagens ; tínhão isto como um signal da con
O Sr. Lisboa Siirra : — Pois se todos querem fiança publica ; mas á medida que esses depo
isso, como se pretenda tolher os meios e coarctar sitos se ião verificando e accumulando em suas
os melhoramentos que por ventura podem trazer caixas, elles se forão achamlo em má posição,
instituições semelhantes ? então começou a concurrencia na applicação
Eu não receio desta instituição, torno a re desses capitaes, indo adiante da sua demanda,
petir; espero delia grandes benefícios para o paiz : barateando-os emfim, e produzindo com as fa
e se os receios dos nobres deputados ácerca da cilidades de então as difliculdades que hoje se
sua influencia alcanção a politica , so alcanção a sentem na praça do Rio de Janeiro, e de que
representação nacional e o governo da nação, já não só o governo, como esta camara julgárão
ainda assim não tenho medo algum delia, por dever tomar conhecimento.
que desejo que todas as classes sejão legitima O Sr. Brandão:—Eu vejo os das provincias
mente representadas no parlamento, e que tenhão estar funecionando muito bem, com grande van
tal ou qual preponderância no governo do paiz. tagem.
O Sr. Nebias : — Estamos de accordo. O Sr. Lisboa Serra: —O nobre deputado aca
O Sr. Lisboa Serra :—E' verdade, mas eu não bou este periodo de suas censuras denominando
faria estas observações se proposições em con o pr.ijecto de « monopolio de banca-rota antici-
trario não fossem enunciadas nesta casa. pada. » Não comprehendi bem este pensamento
O Sr. Bandeira de Mello :—Não forão nesse do nobre deputado, por isso hão poderei res
sentido. ponder completamente a elle ; mas me parece
que o nobre deputado toma esta banca- rota como
O Sr. Lisboa Serra : — Os nobres deputados consequencia da falta de concurrencia do banco ;
tambem enristarão suas lanças em defesa de um eu porém acabo de demonstrar que essa con
principio que ninguem podia atacar, porque é currencia nas circumstancias actuaes do paiz
o principio promotor dos maiores beneficios de seria um mal.
que goza a sociedade ; fallo da concurrencia. Disse o nobre deputado que um banco so
Seria loucura negar a conveniencia deste prin mente, dispondo de grandes capitaes e obrando
cipio ; mas senhores, quando tratarmos de appli- com grande intensidade sobre o mercado dos
cal-o como legisladores, não basta adoptal-o em cambios, podia alteral-o a seu bel-prazer. Com
toda a sua generalidade : essa inflexibilidade es batendo esta idéa, Sr. presidente, eu não quero _
colastica não se dá nunca na applicação á na parecer contradictorio, podendo-se dizer que já"
tureza e aos factos : a escola do legislador tem advoguei, e a bem poucos dias; mas peço á
tanto de theoria como de pratica. camara que medite um pouco na diversidade
Alguns economistas têm, é certo, procurado das circumstancias. Tratava-se então das opera
mostrar a conveniencia da concurrencia nos ban ções que os bancos poderião fazer mediante o
cos, porém nem por isso eu deixo da ser for recurso que se lhes facultava ; este recurso era
talecido na minha opinião pela do celebre es temporario, portanto terião de fazer operações
tadista Pitt, que igualmente entendia que a que se liquidassem dentro do prazo estipulado
concurrencia dos bancos podia até certo ponto para a duração da lei que confeccionavamos ;
ser de utilidade para o paiz, porém que ordi poderião pois lançar de um só jacto sommaa
nariamente produzia a ruina destes estabeleci enormes sobre o mercado dos cambios e pro
mentos com grave detrimento da sociedade. duzir nolle grande perturbação: o caso actual
O Sr. Nebias: — Então não haverião tantos é differents ; é justamente a concurrencia de
bancos nos Estados-Unidos. muitos bancos á compra de cambios que podia
O Sr. Lisboa Serra:—Não se disvirtuem po e devia produzir o desequilibrio na praça.
rém as minhas palavras ; quando a concurrencia Quando um negociante quilquer ou uma cor
não fosse no sentido destruidor, quando o paiz poração pretende fazer uma operação, e conta
estivesse bastante rico para comportar todos os para ella com todos os meios, não se afadiga,
bancos que por ventura nelle se achassem esta espera a opportunidade, obra sem descobrir a
belecidos, de modo que todos pudessem lucrar mao, e deste modo um só banco póde operar
sem se declararem reciprocamente guerra de ex com muita circumspecção. Quando, porém, mui
terminio e de morte, eu não julgaria prejudicial tos bancos sentindo ao mesmo tempo a conve
a concurrencia. niencia de fazer uma mesma operação, acudissem
ao mercado, elles se guerrearião para obter o
O Sr. Nebias:—Se os paizes estão bastante mesmo objecto, e isto é o que podia produzir
ricos não precisão de operações de crédito. alteração no preço da mercadoria demandada.
O Sr. Lisboa Serra: —Precisão sempre, e cada O Sr. Brandão :—Essa doutrina traria em re
vez mais ; porém quando os bancos se lazem sultado que nunca em paiz algum devia haver
uma guerra mutua, quando cada um procura mais de um banco.
aniquilar o seu competidor, tornáo-se prejudicia-
lissimos, e isso é que eu quero evitar. O Sr. Lisboa Serra:—Eu estou apenas res
O Sr. Brandão:—Essa hypothese não está de pondendo á objecção que foi apresentada pelo
monstrada no nosso paiz. nobre deputado, estou mostrando que este in
conveniente é maior a respeito de muitos do
O Sr. Lisboa Serra :—Eu posso demonstral-a que de um só banco, porque elle emittio a
ao nobre deputado, e com exemplos de mui re opinião contraria.
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 271
O nobre deputado figurou alguns casos em melhantes ; quero que para se poder entreter
que a moeda-papel podia valer até mais do que o troco da moeda-papel que existe em circula
o ouro que ella representa, ter um agio sobre ção não se conservasse nas caixas do thesouro
o metal ; mas antes disto fez uma longa expo e thesourarias mais do que a terça parte do
sição de principies para provar que a circula seu valor ; mas sendo a nossa divida compu
ção de papeis do credito tinha vantagens sobre tada acima de 46,000:0O0$ approximadamente,
a circulação de moeda metallica. Eu professo ainda assim a quantia necessaria para este ser
tambem esta opinião. Entendo que a somma viço, guardada a proporção que a sciencia re-
dos valores que inutilmente se emprega na commenda, seria do 15 a l6,000:000$. Isto im-,
moeda, que não é mais do que um meio de fa portaria um emprestimo para cujo juro ficaria
zer o commercio, é inutilmente distrahida da onerado o nosso orçamento com a despeza de
industria e fica improductiva. Entendo que quanto 900 a 1,000:000$ annualmente.
menor capital se amortecer nesse serviço, tanto O Sr. Nebias : — Dá-se o mesmo caso a res
mais lucrará o paiz ; mas não sei como o no peito do banco.
bre deputado estabelecendo este principio com
bate o banco, que não tem outro fim senãó O Sr. Lisboa Serra : — Desta maneira ti
fazer a maior somma de transacções no mer nhamos um empate de dinheiro que não se dá
cado com a menor - somma possivel de moeda. no banco , e não diminuiriamos um real na
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que nossa divida. O nobre deputado propunha este
não pudemos ouvir. meio como de puro e simples expediente para
acreditar o nosso papel-moeda , e ' conservar
O Sr. Lisboa Sehra : — E' justamente este eternamente na circulação a mesma somma que
o fim que se quer conseguir. Supponho ter já hoje existe. Esta . operação, repito, importaria
demonstrado a conveniencia de sanirmos do es a necessidade do um emprestimo, traria uma
tado actual de um papel irrealisavel para um despeza permanente e eterna para o pagamento
papel realisavel ; feito isto, é preciso então do juro...
aproveitar o principio estabelecido pelo nobre O Sr. Bandeira de Mello : — Não precisa
deputado, isto é, fazer as transacções do paiz vamos ter 15 ou 16,000-000/J no thesouro ou nas
com a menor somma possivel de moeda me thesour irias ; bastava muito menos ; e logo que
tallica. e entendo que por força desto princi se visse que ninguem concorria para o troco,
pio que defende deve o nobre deputado votar como sem duvida havia de acontecer, diminuia-
pela medida que se discute. se o fundo disponivel.
Mas em que casos, senhores, poderá a som O Sr. Lisboa Serra : — A proporção que a
bra, o reflexo da cousa valer mais do que a sciencia rccoinmenda ó a que acabei de expòr,
propria cousa 1 Não posso conceber hypothese e deve notar-se que neste caso a garantia era
alguma. O nosso papel-moeda, que ó um re imp»rfeita, porque esta proporção suppõe tam
presentínte do ouro, cuja unidade de valor está bem a existencia de muitos outros valores nos
determinada em lei, não póde ganhar com as c.jfres dos bancos, valores de prompta realisa-
vicissitudes do cambio, nao é possivel em hy ção, com os quaes poderáõ sempre honrar a
pothese alguma. O papel não ó senão a pro sua emissão ; o que não acontece nos cofres
messa do ouro. Quando o cambio desce, está da fazenda publica.
revelada a tendenci i que tem o numerario para
sahir do paiz ; nestas circuinstancias, que valor O Sr. Bandeira de Mello : — Sustento que
poderia ter o papel, que não póde ser expor muito menos era sufficiente.
tado ? O Sr. Lisboa Serra : — Mas eu tenho de
E' esto justamente o caso em que o nobre monstrado aos nobres deputados que ainda essa
deputado suppõe que o papel vinha a valer quantia seria insufficiente, e se correria o pe
mais do que o ouro ; mas é uma hypothese rigo de não poder acudir ao troco senão dentro
impossivel, porque está evidentemente demons de certos limites. Senhores, nós não devemos
trado que quando o cambio tende a descer é legislar somente para circumstancias ordinarias;
quando o papel se acha mais depreciado, e o cumpre-nos tambem attender ás circumstancias
ouro lhe é por todos os titulos preferido. extraordinarias que se podem dar ; em épocas
O Sr. Bandeira de Mello : — Sa o cambio normaes é sem duvida o papel acreditado como
subir, o papel valerá mais do que o ouro. está o nosso uma boa moeda ; mas, dada uma
O Sr. Lisboa Serra : — Se o nosso papel crise qualquer, uma simples diminuição de co
acompanhasse as oscilações do cambio, o nobre lheitas successivas, teriamos de lutar com im-
deputado podia concluir como concluio ; mas mensas difficuldades e grandes desgraças,
note que ello tem um valor determinado em O nobre deputado vio um grande defeito no
lei ; a unidade réis representa sempre o mesmo projecto, era elle que o banco se poderia tor
peso de ouro. nar credor do governo por toda a quantia que
O nobre deputado apresentou uma idéa que, a se trata do resgatar, visto que o governo po
poder ser realisada, não restaria nenhuma difi deria não lhe fazer nem o primeiro pagamento,
culdade a vencer. Disse elle que no thesouro continuando no emtanto o banco no resgate do
e nas thesourarias podia abrir-se troco ás notas papel-moeda. Lendo o projecto, não vejo este
correntes , á nossa moeda-papel. Senhores, eu perigo. Havendo na caixa do banco 10,000:0X1$ de
votava desde já contra n intervenção do go notas correntes, se dihi a 3 mezes o governo
verno nesta creação de banco, deixaria isso in não mandar pagar a parte que se tiver de mais
teiramente á praça, se pudessemos abrir troco resgatado, usa o banco do seu direito so não
no thesouro e nas thesourarias ao nosso papel- continuar no resgate. Nem elle poderá fazel-o,
moeda ; mas isto tem mais alguma difficuldade porque coinprometteria inteiramente as outras
do que ao nobre deputado em seu patriotismo se operações que tom de fazer ; seria levado a
afigurou, e levaria á mais completa e inevita iinmobilisar todo o seu capital, reduzindo-o a
vel ruina as finanças do imperio. apolices do governo.
Não quero já adoptar, par i que o governo Julgando que estas forão as principaes obser
pudesse fazer face a este troco, a base estabe vações do nobre deputado pela provincia do
lecida para a emissão na projecto que discuti Ceara, passarei agora a dar uma humilde res
mos, ella é um pouco forte ; quero antes ser mais posta ao nobre deputado que hoje fallou, e desde
liberal; quero regular-me pelo que está adoptado já peço-lhe licença para não concordar absolu
em quasi todos os paizes para instituições se tamente com as idóas que a este respeito expoz.
272 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O nobre deputado partio do principio de que O Sr. Brandão: — E 0s bancos existentes fi
o banco qne se trata de crear ia prejudicar carão mortos.
instituições ssmeihantes em sua provincia c em O Sr. Lisboa Serra: — Os bancos existentes
outras. Nesta p.into nunca acharei demasiada a serão optimo principio de caixas filiaes. Já disse
explicação. A maior expansão do credito de que que não podemos contar senão com os capitaes
possa gozar o mercado do Rio de Janeiro, o que temos ; não havemos do estabelecer uma
estabelecimento de caixas filiues nas provincias luta contra interesses legitimos estabelecidos no
que estejão com o estabelecimento central da paiz ; supponho que todos" os interesses hão de
corte em completo jogo de correspondencia, não ser consultados, conciliados com a medida que
póde ser senão de mui benefico alcance para discutimos. . .
todas essas provincias. De ma condição so fi
carão aquellus ondo não fór possivel estabelecer O Sr. Bjiandão : — Deos permitta que não
as caixas liliaes, porque são estas que, facili aconteça o contrario 1
tando a passagem do fundos de um para outro O Sr. Lisboa Serra: — O nobre deputado fez
mercado, hão dn levar ao dessas provincias as uma brilhante exposição do systema bancario,
mesmas vantagens, a mesma facilidade, a mesma de que algumas nações felizmente hoje gozão.
barateza de capitaes de que se gozar na corte, Eu o acompanho completamente nos seus dese
feito somente aquelle desconto que se deve fazer jos, na sua admiração por essa bella organisa
por certas vantagens que os capitaes hão de ção; mas a questão não é esta. Poderemos nós
sempre encontrar no Rio do Janeiro. possuir todo o bello desses paizes ? De certo eu
Nem o projecto é inteiramente escuro, como daria a minha vida para conseguil-o. . .
dizem os nobres deputados, a respeito da orga-
nisação das caixas filiaes. Não-é logico suppór-so O Sr. Branhão : — Não ó bello, é necessario.
que a parto não sêrá de natureza identica á O Sr. Lisboa Serra: — Mas, senhores, as in
do seu todo, que a organisação das partes não stituições de eridito nascêrão todas ao mesmo
será conforme á do todo. O nobre ministro da tempo ? Não ha na maneira por que appaiecem
fazenda, autor do projecto, disse claramente que uma successão natural de idéas? Não são .jus
as caixas filiaes hão de ser organisadas sob as tamente os interesses commerciaes os primeiros
mesmas bases estabelecidas para o banco cen que conseguem organisar-èo em nucleo, os pri
tral. Já vê pois o nobre deputado que nho podia meiros que inspirão confiança, aquelles que mais
entrar ahi a minha desconsideração para com as de piompto se podem realisar, que mais facil
provincias, e que, so ellas são tratadas de igual mente se podem acompanhar ? Não sabem os
a igual com a corte, não podom receber senão nobres deputados que em toda a parte os
beneficios desta instituição... capitaes estremecem antes de se entregarem á
O Sr. Bandeira de Mello : — Eu entendo o terra que se apropria delles, que só lentamente
contrario ; desejava que mo convencessem que os entrega no espaço de longos annos, mediante
estou em erro. muito trabalho? Por isso mesmo que emquanto
não gozarmos do menos não poderemos gozar
O Sr. Lisboa Serra : — As instituições de do mais, e que devemos ir do menor para o
credito existentes nas provincias não serão por maior, e qne nos arriscaremos a perder tudo so
nenhum modo prejudicadas; os capitaes que não obrarmos systematicamente. E' preciso que
funecionão actualmente na córte são justamente o paiz tenha primeiro uma especie de credito
os que continuarão a funecionar depois da or solidamente constituido ; isto não embaraça que
ganisação do banco ; não contamos com novos atteiuiamos o protejamos igualmente todos os
capitaes para este fim — interesses que reclamão a nossa intervenção;
O Sr. Nebias :— Creio que o Sr. ministro mas seria uma loucura, seria perder tudo, não
disse que contava com capitaes das provincias I querer começar segundo a ordem natural das
O Sr. Lisboa Serra: — Formado o banco, idéas e dos factos.
seria crueldade privar as provincias de ter o Julga o nobre deputado que seria hoje muito
seu quinhão nos lucros do mesmo banco. Se o possivel incluir em qualquer das instituições do
nobre deputado tanto oxagera os lucros do banco credito movei uma parte imirtovel ou agricola?
que se vai crear, fique certo que as provincias Isto traria a ruina desses estabelecimentos. Eu
hão de ter a sua qneta nas acções ; se fór serei sempre dedicado aos interesses da lavoura
grando o negocio, hão de participar delle na e da industria; o nobre deputado me achará
proporção das suas forças. As caixas filiaes hão sempre ao seu lado pugnando por estas idéas;
ser organisadas á custa desse mesmo capital mas tenho medo de perder tudo pela precipi
que se estipula para o banco central ; os capi tação, de fazer com que o paiz retrograde por
taes do Rio de Janeiro já so derramão pelas muito tempo da estrada de progresso e adian
provincias ; os differentes bancos da Bahia, Per tamento que vai trilhando...
nambuco, Rio Grande do Sul, tom recebido ca O Sr. Nebias : — E para quando isto então ?
pitaes desta praça ; se hoje á dificuldade na
passagem delles, se não se póde aproveitar de O Sr. Lisboa Serra : — Para seu tempo, talvez
Erompto todas as vantagens do seu movimento, par/k tempo muito proximo. Antes de sujeitarmos
averá de menos essa difficuldade quando exis a nossa propriedade a este onus, antes de en-
tirem instituições que se correspondáo e possão volvêl-a nesta especie de jogo, será primeiro
entender se no sentido de suas reciprocas con necessario definil-a. Como é que o nobre depu
veniencias. tado quer que tenha credito na praça um ti
O nobre deputado fallou em abalo commercial tulo que não é conhecido, não é definido? Um
por occasião da organisação do banco. Não con titulo desconhecido e mysterioso poderia obter
cebo nem na còrte, nem nas provincias, nenhum dinheiro em qualquer mercado do mundo? Ora,
abalo, nenhum desequilibrio procedente de se- a nossa lavoura por ora é esse titulo indefinido
melhanto causa. o mysterioso...
Os nobres deputados se persuadem que haverá O Sr. Nebias :— Pois vamos definil-o.
absorpção de capitaes das provincias ; é o que
não ha de acontecer absolutamente, porque na- O Sr. Lisboa Serra :— Felicito-me por ver o
quellas provincias em que o credito se puder nobre deputado animado destas idéas, porque
estabelecer solidamente, e que offerecerem as primeiramente devemos guiar a opinião, devemos
necessarias garantias, serão cieadas caixas fi mostrar aos capitaes que não se arriscão entre-
liaes... gando-se á lavoura. Só depois de bem formada
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 273
essa opinião é que devemos crear estabeleci os capitaes commerciaes que hão de ir todos en-
mentos desta ordem... tregar-se á lavoura ?
(Cruzão-se divarsos apartes.) O Sr. Nebias: — Sim, senhor.
O Sr. Nebias : — Aqui não se conhece um O Sr. Lisboa Serra: — E' um engano, Sr. de
agricultor de minha provincia, mas lá são co putado. O primeiro trabalho que temos a fazer
nhecidos. e nrganisar esse credito, e na organisação desse
O Sr. Lisboa Serra: — Receio no que vou credito não entrão os capitaes fluctuantes exis
dizer quebrar as illusões dos nobres deputados, tentes no Rio de Janeiro...
quizera consoival-os nessa persuasão, porque Um Sr. Deputado:— Entrão os capitaes fixos
não desejava que afrouxassem no seu zelo, que e fluctuantes das provincias.
deixassem de trabalhar na grande obra de crear O Sr. Lisboa Serra: — Não concebo senão in
o credito agrario no nosso paiz. stituições de credito da ordem daquellas de que
Mas, senhores, a propriedade agraria será o nobre deputado tem perfeito conhecimento, que
fcntre nós o mesmo que nesses paizes em que existem na maior parte da Europa, e que têm
essas instituições do credito tem dado tão bom já dado bons resultados praticos ; alliem-se os
resultado? Nutom os nobres deputados que os nossos lavradores entre si, apresentem-se no
bons resultados de taes instituições não se obtém grande mercado, solidarios uns pelos outros, e
só pelo bom uso que se faz do dinheiro, isto o podem bem fazer, pois se conhecem reciproca-
é, pelo lucro que os capitaes possão dar á la camente, o então acharão facilidade, e os seus
voura; é preciso saber se as instituições que titulos, que então inspirarão certa confiança, acha-
ministrão esses capitaes lambem progridem no rão capitaes ao seu serviço ; mas até então, até
paiz, porque do contrario não seria senão des chegarmos a esse ponto temos muito que fazer.
locação das fortunas de uma classe da socie Ora, essa primeira organisação, digo eu, não fica
dade em favor da outra. Ora, nesses paizes a prejudicada com as instituições bancarias ; pelo
que so referio o nobre deputado, a terra tem contrario, é necessario ir desdo já dando grando
um valor real, ó por assim dizor a terra ela extenção ao credito, o que ha de vir a servir
borada o unico valor real : a terra valo par si, para essas outras instituições ein tempo dado.
vale mesmo independente dos braços, porque
não ha nunca receio que elles faltem; mede-se O Sr. Nebias :— Aqui não se faz caso da la
por braças, por palmos, por pollegadas, tudo é voura.
valor, tudo produz. Mas entre nós a terra é O Sr. Lisboa Serra: — Mas, perdóe-me, o nobre
ainda indefinida, tem o valor das cousas inde deputado está-me ajudando a mostrar porque não
finidas que se podem obter com muita facilidade. se faz caso da prosperidade agraria; isso não
O valor das terras entre nós quasi que resulta depende dos poderes do estado, não depende da
do seu preparo, quasi que em si não tem ellas fraqueza do credito desses proprietarios, entre
valor intrinseco; inse preparo depende do bra os quaes ha caracteres de integridade a toda a'
ços, de muitos braços ; o paiz não possue esses prova ; isso dependo somente da especie da pro
briiÇ0s. . . priedade e da maneira precaria por que ella
.O Sr. Nebias :— E vamos deixando as cousas está estabelecida no paiz ; os agricultores goza-
cada vez a peiorl rião de mais confiança. que ninguem se a sua
propriedado pudesse ser convertida em valores
O Sr. Lisboa Serra :— Não, devemos fazer que pudessem servir para as necessidades do
alguma cousa, temos muito a fazer; mas o que commercio. . .
estamos fazendo não se oppõe ao que se possa O Sr. Nebias:— Então queria que elles ven
fazer, pelo contrario entendo que assim se vai dessem as suas propriedades?
preparando o terreno, vai-se preparando o paiz
para gozar desse beneficio. O Sr. Lisboa Serra :— Não queria isso, mas
Senhores, quando a propriedade urbana entre queria que pudessem fazer transacções sobre
nós ainda não está de tal modo definida que se ellis. i
preste completamente á organisação de um cre O Sr. Nebias:— Pois bem, com os bancos ter-
dito fundado sobre ella, como -queremos nós já ritoriaes se consegue isso.
attingir a fundar o credito agravio ?
O Sr. Lisboa Serra:— Com estas instituições
Um Sr. Deputado:— Trabalhemos para isso. nos grandes mercados é que elles hão de achar
O Sr. Lisuoa Siirra: — Estamos trabalhando, a vida; é ahi onde elles irão buscar seus meios
vamos fazendo o possivel. Bem vê o nobre de- de subsistencia...
utado que emquanto não so puder ter um favor O Sr. Aprioio :— isso é que ó sensato.
; irecto, emquanto não so puder apresentar na O Sr. Nebias: — Mas eu desejo saber qual éa
praça directamente com o seu titulo em punho opinião do Sr. ministro a respeito da conversão
e reclamar capitaes á medida que o credito com- do emprestimo estrangeiro.
mercial se fór melhor fundando e tendo maior
expansão, a lavoura ha de gozar indirectamente, O Sr. Lisboa Serra: — So o nobre deputado
se não de todas, ao menos de algumas de suas me faz essa pergunta, e se o Sr. tachygrapho
vantagens. .. tem tomado nota delia, eu lhe responderei.
O Sr. Nebias:— A terra em algumas provin O Sr. Fioueira de Mello: — Faz, sim, senhor.
cias constitue uma propriedade liquida. O Sr. Lisboa Serra: — Pois bem, eu respon
O Sr. Lisboa Serra: — Em algumas provincias derei porém por mim somente, por minha pro
não duvido ; mas as nossas propriedades rusti pria conta, porque não me acho autorisado a
cas não se podem comparar ás propriedades ur fazer declaração alguma relativamente á opinião
banas, e ainda a respeito destas vejo graudes do nobre ministro, a qual até ignoro ; mas, fa
dificuldades. zendo justiça ao bom senso e patriotismo do Sr.
Mas concedo ao nobre deputado (porque para Rodrigues Torres, julgo que se conformará com-
minha argumentação não resulta o menor pre migo no pensamento da inconveniencia de seme
juizo;, concedo que desde já possamos fundar o lhante medida na actualidade. E se o nobre de
credito immovel, o credito agricola, o credito putado quer proteger a agricultura, facilitar
industrial entre nós; supponha-se que se póde capitaes aos lavradores, organisar para elles
desde já fazer tudo isto, em que fica prejudicada instituições de credito, como ç qne ha de querer
faculdade com a medida actual? Acaso são reduzir os capitalistas á posição inerte, inac
tomo 2.
274 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
tiva de pensionistas do estado ? (Apoiados.) bundancia do capitaes manifestada nesta praça
Não vê o nobre deputado que a consequencia no anuo de 1851, a pretendi em parte altribuir
obvia da conversão seria a emigração de todos á cessação do trafico de africanos ; mas o nobro
os nossos capitaes disponiveis para paizos es deputado não me comprehendeu certamente, ou
trangeiros? Êu não concebo modo algum de eu me não expliquei com bastante claresa ; eu
pagar a divida externa senão por um empres não disse que esses capitaes affluião de fóra que
timo interno, e tanto diminuiria a divid i externa erão estranhos ao nosso mercado ; somente affir-
quanto tivesse de augmentar-se a divida interna mei que tinhão soffrido uma deslocação, que
fundada. Isso justamente ó que, na minha opi fluctuarão algum tempo no mercado antes de
nião, seria, por emquar.to ao menos, uma cala- encontrar nova applicação, e que emquanto a não
midado para o nosso paiz. (Apoiados.) Faço achassejn augmentarião necessariamente a massa
votos par i que a superabundancia da nossa riqueza dos capitaes offerecidos, e tombem do numera
nos habilite para que em um dia bem proximo rio, sob cuja fórma em grniíde parto so achavão,
possamos ficar tambem neste ponto completamente devendo necessariamente resentir-se de sua au
desassombrados; mas quando lutamos para es sencia o mercado quando se retirárão delle ; foi
tabelecer o nosso credito, proteger a industria e somente neste sentido, e como uma das causas
conceder favores a outros ramos da riqueza das facilidades do anuo ds 1851, e dos conse
publica, não seria uma loucura fatil, um erro quentes apertos da praça do Rio de Janeiro, que
imperdoavel, pensarmos em semelhante operação? eu me referi a esses capitaes.
O Sr. Nf.bus:— E a amortização? Entretanto o nobre deputado afflrmou que
fazendo-se essas transacções com capitaes desta
O Sr. Lisboa Serra :— A amortização actual ó praça não podia a sua cessação ter influencia
uma obrigação derivada dos nossos contractos alguma na crise, e que esta cabia exclusiva
que devemos cumprir religiosamente, o que não mente ao uso que havião os bancos feito do seu
importa a mais levo contradicção com a opinião credito.
que acabo do' emittir. O actual Sr. ministro da Eu peço licença para lembrar ao nobre depu
fazenda é digno não só de louvor, mas da gra tado que na época em que esses factos se deráo,
tidão do paiz pelo relevantissimo serviço que durante todo o anno de 1851 não havia como
soube fazer-llie restabelecendo, ou antes firmando já tive occasião de demonstrar, emissão alguma
por maneira brilhante o nosso credito om todas dos bancos na circulação. Se pois não existia
as praças da Europa; os tundos brazileiros ostão* essa emissão, se não influindo ella no mercado
cotados a par, ou acima do de muitas outras os capitass baixavão a ponto de tor o thesouro
nações antigas o poderosis... durante todo o decurso desse anno dinheiro a
O Sr. Nebias: — O que eu digo ó que se au- 3 o 3 K %, ó claro que não podia ella a esse
torisa a fazer novos emprestimos. tempo concorrer para a abundancia dos capitaes
O Sr. Lisboa Serrai — Agradoço ao nobre de fluctuantes, sem com isto querer concluir que as
putado por me haver lembrado um ponto sobre causas que então apontei são as verdadeiras ou
o qual eu desejava dar algumas explicações, e as unicas.
que não tem por certo o alcance que os nobres O Sr. Nebias: — A falta de dinheiro que agora
deputados têm querido d;ir-lhe, porque a garan se seutio ó uma consequencia.
tia que o governo promette ao banco nas praças O Sr. Lisboa Serra : — Isso foi já bem dis
da Europa não é mais do que uma medida de cutido. Eu quiz somente agora dar uma explica
cautela, da qual o banco nunca se aproveitará, ção ao nobre deputado ; e estou convencido de
sem duvida, senão quando fór obrigado por que se elle me tivesse entendido bem me daria
grande necessidade, por gravissimos embaraços, certamente o seu assentimento.
quando fór indispensavel esse emprestimo para Tambem o nobro deputado não concordou
salvar o paiz de uma crise. commigo em outro ponto, isto é, que pudesse
O Sr Nebias: — E' quando o banco julgar ne haver então na praça superabundancia de capi
cessario. taes, mesmo estrangeiros, porque se elles tives
O Sr. Lisboa Serra: — Note-se, senhores, que sem vindo ao nosso mercado so tcrião saldado
o governo não ha de facultar a sua firma para immediatamente * á custa da" nossa producção.
se levant irem quantias em Londres senão quando Ora, a nossa exportação tem sido muito min
fór necessario para evitar que os nossos capitaes, guada em relação á importação. Das tabellas
o nosso numerario emigrem para o estrangeiro: apresentadas pelo Sr. ministro da fazenda no
o banco não ha de querer abrir em Londres um seu relatorio se vê que nesse exercicio houve
credito, onorar-so com as despezas que disso um excesso de importação no valor de nove mil
n«cessariamente lhe provirão, senão dado o caso e tantos contos.
do urgente necessidade, quando vir que isso se Mas se isto é assim, de que modo se poderia
torna indispensavel para favorecer o nosso mer saldar uma quantia maior á custa de uma me
cado, ou para evitar uma crise proxima ou pro nor? E' pois forçoso confessar que nesse tempo
vavel, caso em que na falta do banco ao mesmo fluctuarão no nosso lhercado capitaes estrangei-
governo cumpriria tontar as necessarias opera rbs que se podião naturalisar no paiz ; mas me
ções de credito para evitar ou minora» o mal, parece que foi justamente o facto em que o
nobre deputado não concordou.
porque então usaria do uma faculdade que já
possue, c lhe foi outorgada pela lei que fixou o O Sr. Ferraz : — Não se nacionalisárão.
nosso padrão monetario. O Sr. Lisboa Serra : — E' outra questão, e
Não sabendo, Sr. presidente, se terei ainda eu não entrarei agora nella ; o que digo só é
occasião de fallar nesta materia, eu pedirei ao que no memento era impossivel saldar-se a
meu nobre amigo deputado pela provincia da conta.
Bahia me consinta que, correspondendo á deli O Sr. Bandeira de Mello : — Noi paizes no
cadeza e bondade com que me tratou no final vos os capitaes estrangeiro? naturalisão se facil
do seu discurso, eu vá depositar em seu saio mente.
as duvidas que ainda alimento ácerca dos pontos
em que discordamos, e que elle se dignou In- O Sr. Ferraz : — Podião ser immobilisados.
dicar-me, já em seus honrosos apartes, já no O Sr. Lisboa Serra : — Ou então forão em
seu lucido discurso. prestados dentro do paiz, e neste raso podião
Na opinião do nobre deputado eu fui inexacto concorrer nas empresas, viajar para outras pro
quando fallando em outra occasião da supera vincias, etc. O que é certo e que existe um
SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853 27 5
deficit de praça a praça, ou esses capitaes se outras especies de capital, e se um desses ramos
naturalisem no paiz, ou hajão de sildar-se no de riquezas, se as manufacturas, por exemplo,
futuro. crescerem muito á custa da moeda, não é claro
Em outro ponto ainda me honrou o nobre de que o equilibrio ha de romper-se , que haverá
putado com suas observações. Ponderava eu que alguma difficuldade na permut i dos valores ? E'
algumas vezes, e menos raramente entre nós, a assim que eu concebo o prestimos e officio da
moeda metallica representava parte- do capital. moeda como capital, sem duvida porque tem um
Eu julguei ter bebido esta doutrina mesmo no valor, porque representa o trabalho, e porque
discurso do nobre deputado. . . se reproduz ; eis como eu julgo que a sua falta
ou diminuição produz os Apertos que soffre a
O Se. Ferraz : — A minha questão não era praça. Grande parte da moeda que servio no
com o nobre deputado, era com o Sr. ministro primeiro periodo para operações materines, para
da fazenda. transacções e permutas, tem hoje desapparecido
O Sr. Lisboa Serra:— Tanto era commigo que O Sr. Ferraz: — Mas veja que destróe tudo
me ficárão impressas na memoria as palavras quanto disse a respeito de terem os bancos com
então pronunciadas pelo nobre deputado. Mas seus bilhetes substituido a moeda metallica.
em algumn parte do seu discurso, que li com
muita attenção, porque ò nobre deputado sabe 0 Sr. Lisboa Serra : — Pelo contrario, esse di
o respeito que lhe consagro, disso o nobre de nheiro foi substituido pelos bilhetes dos bancos,
putado : « Emquanto, permitta-se-me a expressão, e foi por isso por isso que se não sentio a sua
a moeda viaja e esta assim inactivo o instru falta no momento em qne elle se retirou, nem
mento que nas transacções e permutas sorve de então se deu a crise. Nem se póde' tambem di
medida, e ás vexes por si mesmo é equivalente zer, como se tem feito nesta casa c pela im
aos objectos que fazem objecto das transacções prensa, que não ha falta da meio circulante, por
e permutas, a sua falta se resente de quando em que ainda não se sentio grande differença nos
quando, e em certos lugares mais do que em preços das mercadorias e dos serviços, porque
outros. » Aqui pareceu-mo ver incluida a idéa a falta dos bilhetes do banco que produzio esse
de que a moeda ao menos algumas vezes repre desequilibrio na circulação sõ teve lugar no
sentava parte do capital. Ora, sendo esta tam meiado do mez passado....
bem a minha opiniao bem fixa,, devia achar-me O Sr. Ferraz: — Já ha muito tempo um banco
do accordo não só com a do nobre deputado dava em pagamento parte de bilhetes e parte
como com a do economista que uesta occasião de moedas.
citou, sómento com uma diferença, e vem a ser
que Adam Smith na classificação que fez da ri O Sr. Lisboa Serra : — Eu mandarei ao nobre
queza publica considerou os metaes amoedados deputado, para que a examino, uma nota do
como uma parte do capital fluctuante, e não do thesouro em que se vê o preço porque o mez
fixo, como sffirmára o nobre deputado ; nem passado o thesouro teve todo o dinheiro de que
entendeu elle a fixidez e a mobilidade dos capi precisou.
taes como aqui expòz o nobre deputado em re E' tambem um facto verdadeiro que o banco com-
lação ás modificações por que erão susceptiveis mercial não teve em todo o anno de 1851 emissão
de passar, ou alterações que poderião soffrer, e alguma. Apenas conservava fóra 5:000S que não
tão somente em relação á sua mobiliaade ou im- apparecião, talvez importancia de bilhetes per
mobilidade no acto de produzir a renda ou be didos ou desviados do seu centro de circulação,
neficio. Assim, são fixos os capitaos que podem e que só no fim desse anno se organisou o banco
reproduzir-se sem mudarem de lugar ou rte do Brazil.
possuidor... Eu estou pois plenamente convencido da falta
de meio circulante ; ella não se pódo conhecer
O Sr. Ferraz : — Outros economista classificão perfeitamente agora ; não se revela ainda nos
de outro modo. preços, porque essa falta não foi ainda sentida
O Sr. Lisboa Serra : — Não fallo em geral na classe baixa da sociedido, nem nas transac
da opinião dos economistas, mas refiro-me aquelle ções miudas em que ainda se opera sobre valo
que o nobre deputado citou, Adam Smith ; sabe res negociados antes da crise ; sente- se apenas
o nobre deputado que elle fazendo a sua divisão nas grandes transacções e dahi ha de ir des
da riquezu publica em tres grandes grupos, um cendo até alcançar as minimas, e ha de então
dos quaes não considerou capitaes, por isso que ser sentida por todas as classes da sociedade.
erão destinados ao uso proprio dos individuos Não podia influir no preço do serviço e das
que os possuião, dos dous outros fez duas clas mercadorias que já estavão, por assim dizer,
ses—capitaes fixos e capitaes circulantes ou vendidas : mas esse desequilibrio ha de necessi-
fluctuantes. A moeda está expressamente com- riamente, se as cousas seguirem seu curso re
prehendida nessa parte dA capitaes fluctuantes... gular, affectar todos os preços do paiz. Sem
O Sr. Ferraz : — Considerada como moeda ? duvida seria absurdo que dando-se deficiencia do
meio circulante, esta deficiencia não influisse no
O Sr. Lisboa Serra : — Mesmo como moeda valor do serviço e das mercadorias ; mas peço
tem um certo valor, e este valor tanto é classi mais algum tempo: se não houver providencia
ficado como capitai fluctuante que elle muitas alguma, isto se ha de dar, e o facto ha de ser
vezes se converte nesse capital, e dahi resulta reconhecido por todo o paiz, o antes disso não[será
o desequilibrio que então se sente por falta de rigorosa uma conclusão negativa.
moeda. Era este o ponto a que eu queria che- Alouns Srs. Deputados: — Muito bem.
Êar. Os capitaes moveis ou fluctuantes compre
endem as producções do lavrador, as colheitas A discussão fica adiada pela hora.
que elle destina ao morcado, a parte que não ó O Sr. Presidente marca a ordem do dia se
necessaria ao seu consumo, as materias primas guinte, e levanta a sessão ás 2 horas e 3/1 da
em geral, os artefactos ou a materia prima ma tarde. -
nufacturada que ainda está no poder do fabri
cante ou do negociante que a ha de lançar, no
consumo, e finalmente a moeda por meio da qual
as outras partes desta especie de capital conse
guem circular.
Agora pergunto eu : se a moeda é o meio que
ha do servir para a permutação e circulação das
876 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
Sessào em 28 de Junho juiza definitivo sobre a materia é de parecer que
se remetta o requerimento da que trata ao go
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO verno, para informar.
« Sala das coinmissões da camara dos depu
Summario. —Expediente. — Ordem do dia.—Favores tados, 21 de Junho de 1833.—Frederico de Al
d colonia D. Francisca. —Creação de bispados meida Albuquerque.— Viriato Bandeira Duarte.»
Discursos dos Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos
e Barbosa.—Creação de um banco nacional. PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
Discurso do Sr. Bandeira de Mello.
A's 10 horas feita a chamada, achão-se pre FAVORES A COLONIA D. FRANCISCA
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido, E' approvado sem debate em primeira dis
Luiz Araujo, Aprigio, Siqueira Queiroz, Lin- cussão o projecto r. 21 deste anno offerecido
dolpho, Miranda, barão de Maroim, conego LeaI, pela commissão de commorcio, industria e artes,
Pacheco Jordão, Ferraz, Mendes da Costa, Paula concedendo varios favores aos colonos que se
Santos, Fleury, Macedo, Almeida e Albuquerque, estabelecerem nas terras de Suas Altezas o prin-
Seára, Pimenta Magalhães, Wilkens, Livramento, cipo e princeza de Joinville.
Domingues, Teixeira do Souza, Góes Siqueira,
Belfort, Viriato, Souza Leão, Henriques, Rodri CREAÇÃO DE BISPADOS
gues Silva, Angelo Custodio, Fausto, Kocha,
Candido Borges, Paula Fonseca, Figueira de Entra em segunda discussão o projecto r. 13
Mello, Ribeiro, Dutra Rocha e Silverio. deste anno, creando um bispado na provincia
Comparecem depois da chamada os Srs. Gou- de Min is-Geraes.
vêa, Vasconcellos, Brusque, Ignacio Barbosa, Rego
Barros, Candido Mendes, padre Campos, Maga O Sr. Vasconcellos (pela ordem) manda ã
lhães Castro, Paranaguá, Araujo Lima, Nebias, mesa a seguinte emenda sbbstitutivi e additiva
Zacharias, Gomes Ribeiro, Castello Branco, Mon do projecto :
teiro de Barios, Harta, Jagu iribo, Wanderley, « A assembléa geral legislativa decreta:
Pacca, Fiuza, Nabuco e Barbosa da Cunha. « Art. 1.» O governo fica autorisado a impetrar
E havendo numero legal, o Sr. presidente abre da Santa Sé as 'bulias da creação o divisão de
a sessão ás 11 hora* menos dous minutos. dous bispados, segundo as disposições contidas
Lida e approvada a acta da antecedente, o Sr. nos seguintes paragraphos:
1° secretario dá conta do seguinte « § 1.» Ni provincia de Minas-Geraes, do da
Diamantina, tendo por sede a cidade deste nome,
EXPEDIENTE o por territorio as comarcas do Serro, S. Fran
cisco, Jequitinhonha e o municipio de Curvello.
Um officio do Sr. ministro da guerra, dando « $ 2.» O termo de Paracatú da mesma pro
as informações por esta camara pedidas ácerca vincia fica incorporada ao bispado de Goyaz, e
do requerimento do tenente reformado Joiquim pertencerá ao de Marianua o territorio que no
José de Souza, que pede voltar para a primeira municipio do Pitangui presta obediencia a Per
classe do exorcito. —- A' quem fez a requisição. nambuco.
Outro do da justiça, communicando que expe « Art. 2.» Identica autorisação se confere ao
dira ordem para que os presidentes das provin governo para impetrar da Santa Sé ns bulias
cias informem ácerci de um requerimento de da creação de uni bispado no Ceará, tendo por
dous membros desta camara. — Fica a camara limites os da provincia, e por sêdo a cidide
inteirada. da Fortaleza.
Um requerimento de Henrique Itacolumim Lopes, « Paço da camara dos deputados, 21 de Junho
pedindo dispensa para matricular-se no segundo de 1853. —Francisco Diogo Pereira de Vascon
anno da escola do medicina.—A' commissao de cellos.°
instrucção publica.
Outro de João José de Miranda, negociante O Sr. Góes Siqueira: — Sr. presidente,
da cidade de Miceió, pedindo o pagamento da em vista do que passou-se na primeira dis
quantia de 1:440$, importancia de polvora e cussão desta projecto julgo-me compromettido a
chumbo que o supplicaiite depositou no quartel exigir do honrado deputado por Minas-Geraes
militar por ordem do presidente das Alagoas.— as informações que ellu disso ter ácerci deste
A' coinmissão do fazenda. assumpto, e aproveitarei tambem a palavra para
exigir do alguns dos Srs. ministros que mani
Outro de Raymundo Remigio de Mello, al festem sua opinião, dáendo-ine se por ventura
feres do 11 batalhão de infantaria do linha, re está habilitado o gorcrno com os documentos
clamando os postos c antiguidade do que sem necessarios para apreciar a conveniencia não só
razão fóra despojado.—A' commissão de marinha do bispado que se pretenda crear na provincia de
e guerra. MinasGoraes, mas de um outro na provincia
Um officio do Sr. deputado F. Octaviano de dj Ceará.
Almeida Rosa, participaddo não ter comparecido Sr. presidente, paroco-me que a camara dos
por se achar de nojo pelo fallecimento do uma Srs. deputados não devo tomar uma deliberação
sua irmã.—Manda-se desanojar. deflnitivi sobre um assumto de tanta impor
São approvadas sem debate varias redacções. tancia sem ouvir a opinião dos respectivos dio
E' sem debate approv.ido o seguinte parecer: cesanos, o cu tenho em abono deste meu pensa-
« João Eduardo Lajoux, cidadão brazileiro na- meuto o voto de - homens esclarecidos, e com-
turalisado, requer a esta augusta camara que o quanto não seja profissional, comtudo permitta-me
poder legislativo lhe garanta os juros de 6 % a camara que assim me pronuncie.
elo tempo de 2õ annos, do capital de mais Notarei, porém, de passagem que esta camara
s e 200:0000 que pretendo empregar.em um esta em objectos de pequena monta e de pouca im
belecimento que elle tenciona montar para fa portancia procura sempre obter todos os escla
bricar acido sulfurico e sal de soda artificial. recimentos que pòde, afim de bem deliberar,
entretanto que ácerca dos objectos como este, que
_« A commissão de commercio, industria e artes, é de magnitude, parece obrar de modo muito
não tendo meios de averiguar certos factos, e diverso.
de fazer alguns exames de que depende o seu Sr. presidente, é incontestavel que a divisão
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 277
civil e eoclesiastica do nosso paiz não está de o & camara para ler uma carta, na qual o
accordo com os interesses da nossa população Sr. arcebispo da Bahia emitte o Seu juizo a
(apoiados) ; convém que haja uma divisão maia respeito do projecto que está ein discussão.
regular com as commodidadea dos povos, porque Estou autorisado pelo nobre deputado, meu amigo
não e justo que una tenhão todas as commodi- o Sr. Aprigio, a apresentar esta carta, em que
dades e vantagens, emquanto que outros nenhuma S. Ex. diz, referindo se ao projecto que eu tive
vantagem e commodidade tem, o vivim como a honra de apresentar :
que sequestrados de todos os recursos. « Quanto á pergunta do nosso amigo Aprigio ,
Ficarei pois aqui, e peço ao honrado depu mande-lhe dizer que eu ha muito suspiro por
tado por Minas-Geraes e ao Sr. ministro que essa creação. de um bispado, que me livre das
ve acha na casa .. fteguezias da provincia de Minas pertencentes
O Sr. Correa das Neves:— Mis esse é da ao arcebispado. Eu mesmo om 1827 ou 1828
marinha. propuz na camara essa creação. Alguns annos
depois, pedindo-a igualmente á assembléa pro
O Sr. Góes Siqueira: — . .. que me f jrneção os vincial de Minas Ger ies, exigirão ambas as cama
esclarecimentos necessarios a este respeito. ras o meu parecer, o eu de novo insisti pela
O Sr. Corrêa das Neves: — Querem inetter a ci tação. Mas até hoje nãi se fallon mais nella,
marinha na igreja. talvez porque o finado senador Vasconcollos,
O Sr. "Vasconcello s: — Sr. presidente, o segundo mo affirmarão, insinneu, não sei s0 por
nobre deputado que acaba do fallar desej i ser deferencia a mim, que ella ficasse reservada para
esclarecido acerca do projecto que loi apresen depois de minha morto. Ora, se isto é verdade,
tado nesta casa pela deputação da provincia .lo como eu tenho a esperança do ainda viver muito
Minas-Goraes, o dirige se a mim especialmente tempo, bom é que se acuda quanto antes a
para lho prestar esses esclarecimentos. estes povos, onde quasi não chega a acção da
Eu procurarei dar ao nobre deputado as infor autoridade pelo lado da Bíhia (apoiados), e são
mações que á minha noticia têm - chegado, cantos realmente no espiritual governados só pela Divina
de o fazer unirei ás suas as minhas vozes, Providencia (apoiados) ; concordo, pois, de muito
reclamando que qualquer dos Srs. ministros que boa vontade na referida creação. »
esteja na casa nos communiquj a opinião do Vê, pois, a camara que não procedo lcvia-
gabinete áarca deste assumpto. Sr. presidente, namento quando justo pela necessidade desta
desde muito tempo que têm soado nesti! recinto creação. '
as vozes de oradores, quer deputados pela pro Creio ter satisfeito na primeira parta ao pedido
vincia de Minas-Goraes, quer deputados por outras do meu honrado amigo deputado pela Bahia.
provincias, por exemplo, de Pernambuco, pro. Quanto a segunda, isto é, a necessidade que o
pondo para aquelle lado da provincia esto bis nobrs deputado considera da nenhum pisso dar
pado. a camara sem prévia audiencia dos diocesanos,
O nobre deputado póde recordar-se das dis eu informarei ao nobre deputado o que pude
cussões que téni havido nesta casa, das informações colher da leitura superficial , ó verdade, mas
que se tem pedido, e mesmo póde esclarecer- se attenta que fiz desta materia.
Antigamente,
todas as Sr.
sufficientemente lendo as obras qne anteriormente presidente, putiãopassos
da curia
romana informações, todosios para
se têm publicado sobre estn materia, as quaes creação dos bispados, isto é, o summo pontifico
todas ooncordão na necessidade de crear-se ao creava e supprimia os bispados sem intervenção
norte da provincia de Minas uni bispado. Reflro-mo do poder temporal. Depois de certo tempo ao
principalmente a unia memoria que sobre este poder temporal ficou competindo dar todos esses
objecto a camara dos deputados mandou imprimir passos que servem como do preambulo á crea
no anno de 1817 O que se tem passado aqui ção dos bispados. O que achei de direito a este
é o seguinte : respeito é o seguinte. A Santa Sé hoje não cos-
O illustre e venerando metropolita da igreja tu na determinar essas creações senão instada
brazileira em 27 de Junho de 18:29 propóz a pelo poder temporal ; as informações que a Santa
creação deste bispado nesta casa, e a creação Só pede são as seguintes : extenção de territorio
do bispado do Ceará; em 19 de Julho de 1831 do novo bispado, sua população, a necessidade
o mesmo Sr. arcebispo da Bahia a pedio igual do um novo pastor, a igreja que se deva ele
mente : em 3 de Junho do 1.S35 a commissão do var a cathedr d, e audiencia do bispo da dioceso
estatistica solicitou informações sobre a neces desmembrada.
sidade da creação deste bispado; em 1 do Julho Dadas estas informações pelo governo depois
de lifòõ a commissão deu o seu parecer ; em do acto legislativo, a Santa Sé por via do encar
30 de Março de 1840 uma representação d i camara regado de negocios recebe esses papeis e defere
municipal de Minas-Novas^que pertence ao ter ou não defere a pretençao.
ritorio e:n que se pretende erigir o novo bispado, Eis-aqui qual ó a pratica seguida. Dizem
pedio a sua creação ; eai 7 de Janeiro de 1813 mesmo os canonistas que este acto de pedir o
a assembléa provincial de Minas Geraes fez uma colher as informações é propriamente uma attri-
representação pedindo a creação deste bispado; buição hoje da Santa Se, e como que o prin
e em lõ de Maio de 18 lô um nobre deputado cipio de expedição de bulias. Nós, nesta casa,
de então, o Sr. Muniz Tavares, apresentou um tratando de determinar o acto legislativo, limi-
projecto creando uma prelazia nesse lugar. tamo-nos a decretar as divisas dos bispados,
Vê pois a camara que são constantes as recla porque nós não fazemos senão um pedido á
mações dos deputados do Minas-Goraes, da assem Santa Sé ; todo esse trabalho que precede no
bléa provincial e da camara municipal.- corpo legislativo não é senão um traDallio pre-
O Sr. arcebispo da Bahia insta pela creação par. torio a um trabalho todo de supplica. (Apoia
deste bispado, e paiece-me que á vista de recla dos.)
mações tao uniformes, tão continuadas, que é da (Ha um aparte.)
maior urgencia que a camara dos Srs. deputados
se çreoceupe deste objecto e o resolva (muitos E' como diz o nobre deputado, muito com
apoiados), a ver se ainda nesta sessão podemos petente na materia, uni trabalho que prepara
dotar a provincia de MinasGeraes com ONta crea o governo para prestar essas informações á
ção, que interessa es|encialnionte á civiiisação e Santa Sé. Portanto, creio que o nobre depu
moralidade daquelles povos. (Apoiados.) tado por oste lado ainda não enxergará preci
Para seguir até a actualidade o que se tem pitação quando insto pela adopção da medida
a este respeito passado pedirei licença a V Ex. que se discute.
278 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
Senhores, ou queremos que a religião catho- gumas informações, porque essas informações
lic i e apostolica romana seja a religião do es tratará o governo de colligir quando tiver de
tado, ou então sejamos francos, tratemos de outra motivar o pedido á Santa Sé, se passar a auto
cousa. Pois se desde lt£2!) estamos a pelir nesta risação.
casa creação desse bispado, em todas legisla Se são estas as declarações que desejava o no
turas se embaraça essa- creação com duvidas bre deputado pela Bahia, creio que. o tenho sa
iguaes ás que hoje se apresentão, porque have tisfeito.
mos de estar illudindo o povo ? Só quein não co Não tratarei do justificar a utilidade da me
nhece o sertão dessas provincias póde duvidar dida, porque ella tem sido demonstrada pelos
da conveniencia, da urgencia desta medida nobres deputados que têm fallado a favor do
(apoiados) ; os habitantes daquelles lados do ser projecto, e eu nada poderia acrescentar. A ca-»
tão vão da pia baptismal ao tumulo sem ter a mara sabe que desde 1809 se tem julgado conve
consolação de ver uma só vez o seu pastor, niente a creação de um bispado no Ceará e outro
porque elle não póde a longa distancia apas na parte do bispido de Pernambuco e da Bahia
centar, como convéin, e conhecer o seu rebanho. que civilmente pertencem á de Minas Geraes.
Ora, abandonados os p-irochos a si proprios, o Ora, se esta necessidade era reconhecida nessa
que podem fazor ? O que ha a esperar delles? época, muito mais o deve ser hoje com o aug-
Eu nao quero con lemnar o clero ; mas é preciso mento da população que tem havido em tão
ue haja um pastor vigilante que inspeccione a longo periodo.
a iocese, e que evangelise o povo com a palavra O Sr. Góes Siqueira : — Sr. presi
e com o exumplo. Sem nos empenharmos por dente, antes de tudo direi que me não satisfaço
esta medida no corpo legislativo, estou persua com as informações dadas pelo honrado Sr. mi
dido qne não cumprimos a nossa missão, ao nistro da justiça. Julgava que S. Ex. estava
menos eu não fico satisfeito, não fico tranquillo munido de outros documentos pelos quaes eu
como deputado por Min is Geraes. ficasse convencido da necessidade da creação de
'Ha um aparte.) um bispado na provincia de Minas e outro no
Eu entendo que não cumpro o meu mand ato Ceará. Além disto, eu ainda fiz uma outra obser
como representante da nação negando o meu voto vação, o foi pedir ao governo que lançasse, suas
a medidas desta ordem, que são altamente re vistas para a 4'v>são ecclesiastica e civil do
clamadas pelo brado imperioso das necessidades paiz, porquanto não é justo que alguns habi
publicas (apoiados) ; entendo que nestas circum- tantes deste vasto imperio gozem de todos os
stancias eu não seria digno do lugar que oceupo commodos, de todas as vantagens, entretanto
se não dissesse a verdade á camara, se qui- que outros não possão gozar desses mesmos com
zesse com palliativos demorar a decretação de modos, dessas mesmas vantagens, e vivão como
uma medida que desde tanto tempo, segundo a sequestrados da sociedade. (Apoiados.)
historia que acabei de fazer, é reclamada pela O novo deputado por Minas pareceu dar a en
provincia. tender que eu me oppunha á creação de bis
O nobre deputado disse que se nós em cousas pados porque de alguma maneira não nutria
insignificantes ouvimos o governo, ouvimos as sentimentos religiosos. (Não, não.)
autoridades, porque razão em objecto do tanta O Sr. Vasconcellos: — Se entendeu isto de al
magnitude havemos de preterir estas informa guma palavra que cu dissesse, eu retiro seme-
ções? Sr. presidente, se fosse a camara dos Ihanto palavra.
deputados, o corpo legislativo, que resolvesse a O Sr. Góes Siqueira : — Na primeira dis
creação dos bispados, eu não tinha escrupulo cussão deste projecto eu mostrei a necessidade
nenhum em decretar a creação deste bispado em que havia não só da creação de um novo bis
vista da carta do Sr. arcebispo da Bahia que pado na provincia de Minas, como em outros
acabei da ler ; creio que ó a informação mais lugares do imperio ; e até disse que considerava
ampla, mais completa que é possivel prestar-se taes bispados como verdadeiros nucleos ou cen
a respeito da creação desse bispado. (Apoiados.) tros donde partirião os raios luminosos da nossa
Além disto, o nobre deputado póde ficar certo, religião para diffundirem -se sobre a população do
póde ficar tranquillo que o governo nade recorrer imperio. Nem podia deixar de emittir outros
aos bispos a quem interessa a desmembração sentimentos, quando estou convencido que a re
ou annexação de territorios antes de mandar os ligião catholica, apostolica, romana, unica ver
papeis á curia romana, porque é isto sua obri dadeira,, é uma grande necessidade social (apoia
gação. Entroianto parece-me qne a camara dos dos), é o mais poderoso meio de civilisação
Srs. deputados, segundo o que tenho expendido, (apoiados) ; quando estou convencido dos grandes
segundo o que consta da sua secretaria, está serviços prestados pela igreja christã, a qual,
sufficientemente habilitada para pedir a creação segundo a phrase de uni escriptor sabio, foi
deste bispado. (Apoiados.) o verdadeiro laço, verdadeiro centro ou meio
Sr. presidente, eu não me demoro mais a este entre o mundo barbaro e o mundo civilisado.
respeito, porque não quero que a sessão se ter Eu, pois, não podia desconhecer a vantagem da
mine hojo sem ouvirmos algum dos Srs. mi creação de bispados e de outros objectos ten
nistros, se [os ha na casa, que nos possa pres dentes ao desenvolvimento do elemento religioso.
tar as informações a que se referio o nobre Sr. presidente, o nobre deputado pela mesma
deputado que fallou em primeiro lugar. fórma tratou de responder a outra questão qne
O Sr. narbosa (ministro da justiça) : — eu estabeleci, o vem a ser, se não soria conve
Soube ao chegar a esta camara que um nobre niente que para a camara dos Srs. deputados
deputado pela Bahia deseja saber muito a opi tomar uma deliberação a semelhante respeito
niao do gabinete a respeito da creação de um ouvisse em primeiro lugar ao poder espiritual.
novo bispado em territorio pertencente a pro Disse o nobre deputado que isto era dispensavel,
vincia de Minas, e que pertence hoje aos bispa que se podia ouvir depois, na occasião em que
dos da Bahia e Pernambuco, e sobre a creação o governo Houvesse de impetrar as bulias da
de outro na provincia do Ceará. Direi franca Santa Sé.
mente á camara que o governo não se oppõe â Senhores, eu não sou profissional nesta ma
creação desses bispados, antes entende que delles teria, mas pelo que tenho lido, peço licença á
póde resultar bastante utilidade publica. Aceita camara para dizer duas .palavras. Em | outras
pois o governo a autorisação que lhes quer dar. épocas, ê verdade que as divisões ou circums-
Julgo lambem que não ó razão para que se cripção das dioceses erão da atttibuição exclu
demore a discussão do projecto a falta de al siva da autoridade espiritual.
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 279
Um Sr. Deputado : — E ainda hoje. SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
O Sr. Góes Siqueira : — A camara se ha CREAÇÃO de um banco nacional
de recordar, Sr. presidente, da resposta que o
papa Innocencio I deu ao bispo do Antiochia Continuação de 3a discussão do projecto r. 23
sobre esta questão « se as dioceses podião ser para creação de um banco nacional.
divididas pelo principe. » Nessa resposta o C Sr. Presidente:—Tem a palavra o Sr. Ban-
papa a que me refiro dizia que a igreja do Jesus doira de Mello.
Christo náo devia ser dividida conforme os ca
prichos do mundo. O Sr. Bandeira clo Mollo : —Sr. presi
dente, quando as idéas preoceupão vivamento o
O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado. nosso espirito, determinão certas acçõas, mesmo
O Sr. Góes Siqueira : — Dava pois elle a nosso pezar, têm uma influencia immediata
a entender que o poder temporal nenhuma sobre o que praticamos Eu em um dos discursos
intervenção devia ter nisso, e sim o poder que proferi nesta casa, como tratassemos de ban
espiritual. cos, e estes presuppoem o credito, abusei do
O Sr. Correa das Neves: — Apoiadissimo. credito dos autores, citei-os á larga, para dar
au toridade á minha palavra. Mas o que acon
O Sa. Góes Siqueira : — Porém, Sr. presi tece tambem á camara? Preoccupada com a
dente, eu não adopto esta doutrina, ella é sum- idéa do credito, tem abusado do credito ministe
mamente exagerada ; reputo a ultramontana. rial, tem aborto um largo credito ao Sr. ministro
Com o correr dos tempos, com o desenvolvimento da fazenda, talvez mesmo contra os seus desejos.
da civilisação," então vio-se que era conveniente Esta discussão, aliás tão importante, tem sido
consultar não só os interesses do estado, como precipitada por esse abuso de credito. V. Ex. se
os interesses da igreja. Mas o nobre depu recordará de que, apenas veio do senado este
tado nos argumentos que apresentou não me prpjecto, foi elle logo dado para a ordem do dia,
satisfez dizendo que o poder espiritual podia o que apenas votou-se em segunda discussão,
ser consultado depois. Não, eu entendo que na immediatamente pedirão urgencia para entrar em
occasião de se tratar da divisão ou circumseri- terceira ; isto sem duvida tem. prejudicado ao es
pção da diocese o poder temporal e o poder tudo e meditação de tão importante assumpto.
espiritual devem de ser consultados reciproca O nobre ministro da fazenda, preparado como
mente. (Apoiados.) está pela pratica dos negocios, pelos seus talen
A carta que o nobre deputado apresentou do tos e luzes, de certo que não pedirá que a ca
aabio e digno metropolita da Bahia não é uma mara lhe abra um credito tão vasto de confiança,
informação officiel ; e demais, ó relativa só- e elle talvez comsigo ria-se com a exageração
mento ao bispado de Minas ; entretanto -é pre desse credito, e diga : « Esses senhores pensão
ciso que se ouça aos outros diocesanos. que eu sou eterno ? Pois elles não vêm que este
objecto
O Sr. Araujo Lima : — A respeito do Ceará - jecto contém não é de mera confiança ? Que o pro
ha informações antigas. providencias e medidas que hão de
ser tomadas por successores meus, que muitos
O Sr. Góes Siqueiba : — Appareção essas in annos depois desta época virão ? Por ventura o
formações, eu mão as tenho visto.
Mas, Sr. presidente, dis9e o nobre deputado opagamento da divida que contrahirmos para com
banco s-irá realisada por mim ? »
que o governo, na occasião de impetrar as Sr. presidente, se mesmo o nobre ministro da
bulias da Santa Sé é que tinha de ouvir a fazenda sem duvida não desejará esse excesso
opinião dos honrados prelados. Eu observarei de confiança, esse credito tão exhorbitante, por
á camará que semelhante doutrina poderá dar que razão havemos
nascimento a conflictos muito graves. Emquanto que o papa ? Dizia-sede que ser mais catholicos do
o poder temporal e o espiritual estiverem har- panha em outra época erão os domicios da Hes-
tão vastos que o sol
monisados, bom ; mas, suppouha-se, senhores, era sompre visto no seu horizonte,
que esta camara trata da creação de um bispado, pro illuminando algum ponto desseestava sem-
vastissimo
que emfim este acto legislativo complota-se, territorio ; parece igualmente, Sr. presidente,
ue o governo ouve a opinião dos respectivos que a confiança da camara, que o credito que
;í iocesanos, que estes informão em sentido con
trario e vão estes papeis para a Santa Sé. Não ella deposita no Sr. ministro da fazenda nunca '
so recolhe, está sempre presente no seu hori
poderá acontecer que ali so liguem mais ás zonte, não tem oeste, não tem poente, ainda nas
informações dadas pelos diocesanos, e que não materias mais estranhas á confiança.
attendão ás informações dadas pelo governo ? E esta confiança tão illimitada será conve
Dahi não poderão resultar cenflictos gravissimos ? niente ? Eis um facto que demonstra que ella
(Apoiados. ) Não se poderá dizer que o corpo
legislativo do Brasil foi um tanto leviano em tem O
prejudicado aos esclarecimentos convenientes.
nobre ministro da fazenda faltava sobre
legislar sobre materia desta ordem sem se
munir de todos os documentos e informações ? uma das disposições do projecto ; eu dei-lhe um
ap irto, o qual contrariou ao nobre ministro, e elle
Eu pois, Sr. presidente, entendo qua seria
muito prudente que nos munissemos de todas odeputado que me deu em resposta ? Disse-me: « O nobre
não leu o projecto, o se leu não foi
as provas e documentos, afim que d'ahi não com attenção. » Ora, .Sr. presidente, se eu que
resultassem conflictos, dos quaes muitas vezes tenho tomado parte na discussão não li o pro
nascem consequencias funestas. jecto, ou se o li, não foi com bastante attenção,
Conheço, Sr. presidente, a necessidade que então o que vai por ahi ? E' mais natural,
tem essa população immensa que vive disse pois, que a precipitação com que marchamos,
minada pelo centro do nosso paiz do todos os preterindo os transmites do nosso . regimento,
soccorros espirituass, e por isso não me oppo- tenha dado occasião a que o nobre ministro
nho ã creação deste ou de outros bispados ; ness i proposta fizesse uma especie de censura á
apenas desejo que procedamos com toda a camara, pois o seu reparo envolve virtualmente
prudencia e circumspecção mediante todos os o reconhecimento de que não se tem dado bas
documentos que possamos obter ; e novamante tante tempo para ler-se o projecto com a atten
farei sentir ao honrado Sr. ministro da justiça ção precisa.
a conveniencia que ha em que o governo olhe Feita estas considerações, Sr. presidente, en
para este objecto, tomando uma providencia trarei particularmente no objecto da discussão.
geral. Apoiado*.. Sr. presidente, este projecto tem dous flns.es-
Esta discussão Soe adiada pela hora. senciaes : o primeiro fim é proteger a industria
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
e ao commercio ; o segundo fim é o melhora ao banco emprestado certa quantia ; discuto a
mento do nosso meio circulante. Consideremos o directoria a proposta do governo, dividem- se os
primeiro fim, e vejamos se o projecto é efficaz v«tos, e afinal resolvc-se não se fazer o em
para o conseguir. Digo que não, qne elte não prestimo ; o presidento suspende a execução
tem sufficiente efficacia para isso, pois que con dessa deliberação, e a leva ao conhecimento do
tém varios defeitos, varios vicios, que chamarei governo, e o governo determina que se faça o em
radicaes : o primeiro vicio é o que resulta do em- prestimo. . .
restimo feito ao governo, porque, Sr. presi- O Sr. Ferraz : — Essa hypothesc não se póde
I ente, a experiencia dos outros povos nos con admittir.
vence de que sempre que os bancos emprestão
ao governo elles estão a borda de um precipicio O Sr. Bandeira de Mello : — Póde-se admittir,
imminente. porque de qualquer deliberação que não agradar
Pelo projecto que discutimos o banco é obri ao presidente tomada pela directoria, aquelle
gado a emprestar ao nosso governo 10,000 :000$, recorro ao governo, que deliberará definitiva
emprestimo que é como a indemnis ição, a re mente ; por conseguinte, so o emprestimo pro
tribuição dos privilegios o vantagens que lhe posto se póde discutir na directoria, se é obje
sãc concedidos ; perguntarei agora de onde tirii cto sobre que ella póde resolver, póde dar-se
esses 10,000:0008 ; só póde tirar do duas font es esse appello para o governo, e dando-se esse
—ou do seu fundo capital, ou do sua emissão.— appello, claro está que o governo ha de decidir
Se tira do seu capital, então temos que a emis para que so faç i esse emprestimo...
são necessariamente ha de diminuir. O Sa. Ferraz: — Não é possivel.
O fundo do capital do projecto em discussão é
de 30,000:00O$, e se cllo emprestar 10,000:000S O Sr. Bandeira de Mello : — », deter-
ao governo, fica esse cnpital reduzido a 20,000:0005; minando-o, não ó claro que se devião os fundos
e como a omissão, segundo um artigo do pro do bano ou suas emissões do destino do sua
jecto, deve ser do duplo do fundo capital, se- instituição, isto é, a protecção da industria o
gue-se que fazendo-se esse emprestimo, íila ha commercio ? Certo que sim. E, Sr. presidente,
de vir a ser de 40,000:000$, e reduzida assim a tanto isso é possivel, qne so diz no § 7° do
uma menor quantia, o banco perde proporcio art. 1» do projecto o seguinte : « Em nenhum
nalmente as forças, os meios de conseguir o seu caso poderão as emissões do banco eluvar-so a
fim. mais do duplo do seu fundo disponivel, senão
Ksse fim é lançar na circulação bilhetes em com autorisação dada por decreto do governo »
uma certa proporção com as necessidades do Por consequinte, so o governo determinar que
commercio ; mas se esses bilhetes, em conse a emissão não esteja na razão dupla, mas sim
quencia do emprestimo, são em quantidade me com relação só.nente u um terço, o poderá fazer,
nor pela relação que a omissão deve guardar e é autorisado por esta disposição.
com o fundo capital, resulta que fim primordial Tambem está autorisado pelo § 1» do mesmo
e essencial do banco, a protecção a industria e artigo a permittir o augmento do fundo capital.
commercio, deixa de ter a amplitude e desen O Sr. Ferraz : — Poderá permittir ; não ó
volvimento que teria se esse emprestimo não obrigar.
fòra feito, e o seu fundo capital não fóra dis-
trahido para um objecto que é sempre fatal a O Sn. Bandeira de Mello : — Poderá per
instituições desta ordem. mittir ; por conseguinte o governo póde auto-
Se o emprestimo é deduzido do total da emis risar. . .
são, temos igualmente o mesmo resultado. O O Sr. Brandão : — Apoiado, a autorisação
banco inhabilita-so para o seu fim, desfalcão-so está dada.
as forças e recursos que elle devera destinar a
favorecer o commercio e a industria, e de mais a O Sr. Ferraz : — Os accionistas são cegos ?
mais o papel que elle emitte nesta circumstancia O Sr. Bandeira de Mello : — Ora, Sr. presi
convcrte-se em parto, em verdadoiro papel-moeda; dente, uma autorisação semelhante jámais foi
digo em parto, porque este caracter sò póde refe- dada ao governo em parte alguma p Io corpo
rir-se ás notas até á concurrento quantia do legislaiivo, porque ella é importantissima, porque
emprestimo, sendo que dentro desse computo a emissão das notas traz o depreciainento do
cilas não têm por garantia senão o credito do meio circulante.
governo ; isso é inquestionavel. Portanto, con Uma autorisação dessa importancia, que alfecta
clne que o emprestimo de que se trata essen essencialmente o credito d is bancos o o valor
cialmente vicia a instituição, emprestimo que, relativo do numerario, nunca foi em parte al
como já disse, tem sido sempre fatal ás insti guma nem póde convenientemente ser commettida
tuições b.incaes. a discrição do governo. So o governo entre nós
Um outro vicio que perverte inteiramento o meámos nem estatutos faz, por exemplo, para
banco, c imo igualmente nos demonstra a historia, as nossas academias, sem que esses estatutos
é a intervenção directa do governo. O projecto venhão á nossa approvação, como havemos de
diz que haverá um presidente da escolha do psrmittir que o governo autorise a emissão do
overno ; que esse presidente estará á testa da bilhetes do banco, autorise o augmento do seu
irectoria ; que quando a directoria determinir fundo capital, talvez para em ciicumstmcias
alguma cousa que o presidente julgar menos urgentes apoderar-se desse fundo capital, dessa
conveniente, ello suspenderá a execução do que emissão ? As necessidados de uma guerra, ou
houver determinado a directoria , e appellará qualquer outra, não podem determinar o" governo
para o governo, que resolverá definitivamente. a este recurso prompto e immediato ?
Sr. presidente, as instituições de credito para O nobre deputado que ha pouco deu-me um
prosperarem, para progredirem, necessitão essen aparte 6 inimigo de todas as autorisações ao
cialmente da liberdade, e muito principalmente governo, já protestou contra isso, já censurou
recisão de independencia, pois o só com a li- o corpo legislativo por ser facil em concedêl-as. . .
D ordade e independencia do governo que . ellas O Sr. Fioueira de Mello : — Fez muito bem.
podem inspirar confiança. Quando se pefmitte
que o governo intervenha nas discussões do O Sr. Bandeira de Mello : — Por conseguinte
banco, elle não poderá inspirar essa confiança, não póde deixar de fazer o repiro que fez, do
nem aos accionistas, nem aos portadores dos que essa concessão é extraordinaria, ê extrava
bilhetes. Uma hypotbese mostrará os motivos gante. Quando a directoria publica as suas trans
disto. Supponhamos que o governo quer tomar acções com curtos intervallos os interesses do
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 281
publico estão garnntidos, e a intervenção do prejuizo á sociedade, porque das apolices vivem
governo, além do escusada, ó sempre desastrosa, muitas familias, qne dahi tirão meios de subsis
á excepção de casos mui raros. tencia ? Em consequencia, emittindo o governo
O Sr. Ferraz : — E' preciso estudar a organi- essa avultada somma de apoiices, o soffrimento
será geral, os clamores serão immensos, e o que
sação dos bancos para se dizer isso : os capit ies resultará
não são particulares ? Dependem alguma cousa clamores, ? diante O governo ha de recuar diante desses
desse sofirimento, não emittirá
do governo ? as apolices, dirá ao banco que continue com as
O Sr. Fioueira de Mello: — Durante 30annos notas que representão a quantia emprestada ; o
cessa o poder legislativo relativamente ao banco. o que são então essas notas ? Papel-moeda, por
O Sr. Bandeira de Mello-. — Ainda ha outro qne não existe no cofre do bando fundo algum
vicio radical no projecto, o vem a ser o não para garautil-o.
achar-se efectivamente prohibido que o banco Senhores, o paiz que uma vez almittio no seu
pos-a negociar em apolices, da divid i publica em seio o papel-moeda, não se livra delle senão
jundos publicos; porque, Sr. presidente, eu já disso por meio do um i operação rapida e dolorosa ;
que o fim do banco eram protecção á industria e ao não ha outro meio, não ha outro recurso, tudo
commercio, e, se se concede ao banco essa permis mais são pilliativos, expedientes infructiferos.
são do negociar em fundos publicos, elle distra- A historia nos dá exemplo disso. Creou-se o
hirá para isso grande parte da sua emissão, e banco de Copenhague positivamente para resga
então qu indo o commercio ou a industria recor tar o papel-moeda; até parece-me que essa insti
rer a elle para obter sua prot-cção por meio de tuição servio de modelo ao nobre autor do pro
descontos, achai á a emissão empregada em um jecto qne so discute, porque nello vejo as mes
objecto contrario ao fim do banco. mas disposições: mas, senhores, o papel-moeda
A experiencia o a historia tambem nos mos- continueu naquelle paiz.
trão que quando os bancos não estão inliibidos O longo periodo que é necessario para resga-
de fazer semelhante negociação considerão a agio tal-a, segundo esse systema, sempre dá lugar á
tagem como fim principal de sua instituição ; esse circunistannia, sempre acareta emergencias que
jogo fatal os preoccup i com preferenci i ás ope determinão o govorno a continuar a pedir ao
rações de desconto ; elles são o foco da agiota banco . as suas notas, e por conseguinte ellas
gem ; são o arbitro da alta e da baixa dos fun perimnecem em circulação comjo caracter de
dos publicos ; isto é fatal não só ao govorno papel-moeda. Dahi vem, como eu já disse e ob
como aos particulares ; ao governo , porque o serva Storch, não ha meio de sahir do papel-
banco, achando-se senhor de uma grande massa moeda senão praticando uma operação rapida e
dos fundos publicos, póde fazêl-os baixar o o dolorosa.
credito do governo padecerá : e aos particulares, Sr. presidente, não se pense que é facil dar
por isso que, baixando os fundos publicos, elles apolices em pagamento ; as apolices em elevada
terão de soffrer prejuizos mui notaveis em suas quantidide na circulação, não só grandemente
fortunas. prejudicão aos possuidores, aos rendeiros do es
Sr. presidente, ó um principio reconhecido tado, mas tambem aos interesses, ao credito do
como protector de uma boa organisação bancai governo.
prohibir-se aos bancos o negociar em geral, não Em 1840 tratou se nesta camara dos meios de
só com fundos publicos como a respeito do qual occorrer ao deficit ; propunhão uns a emissão
quer objecto, porque o negocio ó sempre alea do notas, o augmento do nosso papel ; propu
torio, o banco que negocia arrisca capitaes que nhão outros a venda das apolices ; mas notou-se
não são seus, que lhe são commettidos para então que as apolices estavão muito baixas, isto
outras operações, e arriscando esses capitaes, ao embaraçava ao corp i legislativo de resolver a
mesmo tempo prejudica qualquer industria que venda delias. Então tive a honra de offerecer &
tenha a pretenção de rivalisar com esse gigante camara um projecto que foi adoptado no qual se
de dinheiro. Não ha por isso instituição bancai determinou qne se emittissem notas do nosso
bem organisada que nSo deva tor por base a papel-moeda,
chegassem a
mas que, ss entretanto as apolices
80, o governo as vendesse, e com o
prohibiçáo de negociar o banco, quer em fundos
publicos, quer em qualquer outro objecto. Esta produeto delias resgatasse as notas. Ora, isto o
omissão do projecto devera ser remediada, per- que prova ? Prova que não ó indifferente lançar-
initta Deos que os estatutos do banco supprão-a, se do pancada na circulação 10,001) :000$ para
fazendo expressamente somelhanto prohibiçáo. pagar ao banco o emprestimo, o tanto que a ca
mara nas circumstancias referidas proforio pro
O Sr. Fioueira de Mello : —Temos o exemplo visoriamente a emissão do papel.
dos Estados-Unidos, onde os bancos fizerão ope Nenhuma fó pois tenho de que por esse meio
rações ruinosas. moroso, contingente, o papel mooda venha a
O Sr. Bandeira de Mello:—Considerarei agora desapparecer da nossa sociedade. Se o mal
o banco com relação ao meio circulante, e digo é urgente, se não podemos supportal-o, animo-
que elle não conseguirá o fim desejado. mo-nos a tomar uma providencia eilicaz, ainda
Sr. presidente, ha uma disposição nesse artigo que nos seja dolorosa: só assim a cura será
que determina que, depois dos trinta annos con completa, o mais dará lugar a constantes reca
cedidos ao banco para seu privilegio, o governo tadas.
pagará a quantia devida ao banco em apolices Sr. presidente, passarei agora a outro ponto.
da divida publica ao par. Ora, vencido esse Sinto que não esteja na casa o nobro ministro
prazo, o que acontecerá? O poverno lançará no da fazenda ; quizera fazer-lhe algumas questões
meio da. circulação de um jacto mais 10,000:000(1 que mo parecem muito importantes sobre o ob
em apolices. Qual o resultado disso? E' que as jecto que discutimos. Eu perguntaria ao nobre
apolices necesaariamento hão de baixar. ministro como elle pretende fazer o troco nas
Mas dir se-ha « O governo 'nada perderá, por- provincias onde não houverem caixas filiaes;
i1 ue as dá ao par. » Porém, senhores, não temos quizera que o nobre ministro mo explicasse qual ó
e attender somente aos interesses directos do, o expediente que já tem em seu pensamento
governo : o governo em outro sentido é a socie para tetirar dess is provincias o papel que nellas
dade ; e se a sociedade soffre em uma grande existe. Vejo alguns embaraços para o com
massa de individues, não podemos limitar as mercio. ' ■
vistas, a prudencia governativa aos interesses Figuremos uma hypothese ; demos que em
parciaes da entidade chamada governo. Pernambuco so tenha já retirado todo o papel,
Ora, a baixa das apolices não importa grande e que sómente exista na circulação moeda me-
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tallica o o papel do banco ou di caixa filial mente com o cambio existente, será muito fa
que houver alli ; um negociante do Ceará vem voravel , como tambem terá uma receita, lu
a Pernambuco, vende os seus cffeitos, e não cro. . . .
achando objecto do retorno, qutr voltar com a O Sr. Fioueira de Mello : — E esta idéa foi
moeda que apurou ; mas como ha de fazer isto? adoptada peia lei de 8 de Outubro de 1833.
Notas do banco náo póde elle levar, lá não
são recebidas. Dir-se-ha que levará ouro ou O Sr. Bandeira de Mello : — Perguntaria
prata ; mas então dá-se um inconveniente ; ó que aindi ao nobre ministro se elle pretende providen
necessariamente o ouro e prata hão de ter um ciar nos estatutos para que o banco não emitta
agio sobre o papel, do banco, porque sendo en bilhetes em virtude de penhores. Os penhores
tão mais procurados para esse retorno dos ca não são mercadorias, não são cousas que este-
pitaes ás provincias onde não ha papel do banco, jão na escala do commercio ; um penhor não
de necessidade hão do por isso obter um agio suppõe senão uma necessidade que póde ter
sobre esse papel. Isto ó um inconveniente serio uma pessoa estranha ao commercio; a institui
que sem duvida o nobre ministro já. terá pre ção do banco é inteiramente uma instituição
visto o considerado para remedial-o com as pro commercial, uma instituição para proteger o
videncias adequadas. • - commercio ; por consequencia o banco se quer
Tambem perguntiria ao nobre ministro por satisfazer aos seus fins, se não quer distrahir os
que, se elle tem confiança nas sobras da nossa seus recursos, não deve admittir penhores dando
receita sobre a despeza, não faz o troco dire os seus bilhetes como garantia dos mesmos penho
ctamente? So os 2,000:000$ que elle presuppõe res. O banco póde com vantagem para elle e para
que devem ser o excesso da nossa renda sobre o commercio emittir bilhetes, tomando para ga
a despeza são reaos, não poderá S. Ex com rantia mercadorias armazenadas ; isto observa-se
independencia do banco mandar fazor o resgato ? na Inglaterra ; o banco alli dá os seus bilhe
Não poderia fazel-o pelo mesmo meio por que tes por essas mercadorias que lhe ficão empe
S. Ex. sem duvida projecta fazer nas provin nhadas com a condição de vendel-as dentro de
cias ondo não ha caixas filiaes? O meio, a certo prazo so não forem competentemente res
providencia que S. Ex. entende conveniente e ap- gatadas ; mas isto se admitte porque essas mer
plicavel a essas provincias não poderia esten- cadorias pertencem ao commercio, são objectos
der-se a todos? do commercio.
Eu perguntaria ainda ao nobre ministro quaes Eu perguntaria ainda ao nobre ministro por
são as idéas, as providencias com que pretende que razão ò fundo disponivel se eleva até me
no seu regulamento proteger o pequeno com- tade da emissão. Eu vejo que as instituições
mercio. Senhores, e o pequeno commercio que bancaes dos outros paizes, instituições que se
principalmente precisa da protecção dos bancos. reputão bem estabelecidas, apenas julgão ne
(Apoiados.) Se acaso não se permittir o des cessario para fazer face á Yealisação dos seus
conto com duas firmas, o pequeno commercio bilhetes que o seu fundo de reserva seja de
ha de soffrer muito, só lucrarão com a exis uni terço da emissão. O projecto eleva esta cifra,
tencia dos bancos os capitilistas, os cambist is quer que o fundo de reserva seja de metide da
propriamente ditos, porque o pequeno commer emissão. Sem duvida aqui não ha senão excesso
cio não' tem senão letras de duas firmas. Elle de garantia: mas para que este excesso? Elle,
vende a credito, o devedor passa-ihe a letra Sr. presidente, dentro de pouco tempo ha de
respectiva, elle igualmente firma a letra, o pro desaparecer, porque logo dir-se-hi que é muito,
cura nogocial-a: se acaso não é" admittiuo com que isto não so vê em parte alguma, que em
a firma do sou devedor e com a firma dello a nenhum banco existo um fundo disponivel tão
descontar a letra no banco, qual será o resul forte, que é um mal que esteja tão avultada
tado? Irá ao cambista, o este lho descontará a somma de capitaes paralysada nos cofres do
letra a 6 %, letra com que, acerescentando a sua banco.
..responsabilidade, vai ao banco e tira o dinheiro O governo, autorisado como está para fazêl-o,
a 4. Por consequencia, se não se providenciar a ha de deixar-se convencer desta necessidade tão
este respeito, o banco não prehencherá um dos apregoada, e assim dentro de poucos annos este
fins da sua creação, que deve ser principalmento a excesso de garantia deixará de existir. Eu não
protecção do pequeno commercio. o reprovo, porque este banco é, nas nossas cir-
Vejo que isto é men^s seguro para o banco ; cuinstancias, um estabelecimento de muita im
sem duvida tres firmas segurão mais o desconto, portancia, affecta a muitos interesses, e por
são um penhor mais forte ; mas é da natureza consequencia toda a garantia nunca me parece
dos bancos, visto que seu fim é proteger a in-. demasiada; mas estou que esta desapparecerá.
dustria, arriscar tambem alguma cousa a favor Estimarei que a minha previsão nunca se realise.
da mesma industria. Se acaso uma ou outra Entrarei agora, Sr. presidente, em outra ordem
letra perde-se, o banco tem bastante força para de idéas ; a ultima parte do meu discurso re-
carregar com este prejuizo ; deve por conse fere-se inteiramente a polemica : tonho de res
quencia fazer algum sacrificio a bem do fim ponder ás observaçõos que fez o nobre ministro
para que é creado. De outra maneira, atten- em contestação ao que eu aqui tive a honra de
dendo só á sua segurança, aos seus interesses, ofierecer á consideração di camara.
pedindo tres firmas para o desconto, não po Eu disso que o banco em questão estabelecia
derá attingir no fim muito importante de pro um grave e importante privilegio, não só porque
teger o pequeno commercio. não era possivel que nas circumstancias actuaes
Perguntaria ainda ao nobro ministro so não do Brazil tão cedo se pudesse estabelecer um
seria providencia mais conveniente aos interes outro banco, quando este absorveria quasi todos
ses publicos que em lugar dé pedir ao banco os capitaes disponiveis ; como igualmente porque,
10,000:000$, embora sem juros, tomal-os empres quando fosse possivel essa creação, os privile
tados fóra do paiz, ainda com juro, e associar- gios especiaes concedidos ao novo banco aca-
se o governo ao banco, como se fez nos Estados- barião com qualquer pretenção a respeito. O
Unidos quando se creou o banco da Pensylvania, nobro ministro respondeu-mo que o Brazil ia ena
que hoje é o banco chamado dos Estados-Unidos. via do progresso, que os seus capitaes dentro
Que inconveniente haverá nisto ? Se acaso o de pouco tempo sem duvida augmentarião, e
banco tiver- de dar avultados lucros aos accio que já existia grande somma, quasi bastante
nistas, como se espera, não só o governo po para a creação do novo banco, e por conse
derá pagar o juro do emprestimo para este quencia não se podia dizer que os capitaes serião
intuito, emprestimo que, se fór feito actual todos absorvidos na nova instituição.
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 283
Um privilegio, Sr. presidente, não se crêa só suas vantagens, está mesmo em contradicção com
por uma disposição directa da lei, crêa-se tambem o nobre ministro do imperio, que ainda ha
por meio do direitos protêctores ; vantagens im poucos dias demonstrou nesta casa do modo
portantes, quando privativas, estabelecem sem mais vantajoso que a competencia era um grande
constestação um monopolio muito ciracterisado, elemento de prosperidade. Duas palavras sobre
muito pronunciado, não é preciso que a lei o esto ponto.
constitua de um modo directo, excluindo outras Se acaso, porque a competencia ou rivalidade
industrias de tomar parte nas vantagens do traz comsigo alguns inconvenientes, não deve
estabelecimento protegido ; isto seria muito odioso existir a respeito dos bancos, então é preciso
nos tempos actuaes. qne proscrevamos a liberdade do commercio, que
Mas, se acaso ao banco que se trata de incor- não se funda senão nessa competencia; porque
parar, se concedem vantagens espèciaes, direitos dessa liberdade tambem resultão serios incon
protectores, como negar-so que está revestido de venientes.
um perfeito monopolio? Pergunta-se. poder-se-ha A liberdade do commercio produz muitas vezes
incorporar um outro banco, não obstante esses a corrupção das mercadorias, traz ás vezes com
direitos protectores ? Entendo eu que não, ao sigo a immoralidide, porque para fazer lucros
menos por muitos anãos; na actualidade, por ás vezes o recurso o praticar actos reprovados;
certo que isto não é possivel. Que banco podei a mas quem dirá que para evitar esse mal deve
vantajosamente lutar contra tantos fivores de o governo apoderar-se do commercio, como ha
que goza o banco privilegiado? quem tenha aconselhado, ou monopolisal-o em
Os capitaes, Sr. presidente, não augmentão de certas mãos? Se isto não se tem julgado con
um dia para outro, levão muito tempo, são o veniente, como sustentar que a unidade do banco
resultado das economias, estas não se fazem é uma vantagem real ?
com facilidade, o principalmente em um paiz
agricola como o nosso; o agricultor com diffi- O Sr. Brandão : — E' uma fatalidade.
culdade faz algumas reservas: por conseguinte O Sr. Bandeira de Mello: — Eu vejo que os
no nosso paiz, embora novo, não hão de haver escriptoros mais notaveis recommendão a plu
ião depressa avultadas economias que façã i re- ralidade dos bancos, como um beneficio, como
gorgitar os capities, e facilitem a instituição de uma vantagom recommendavel, porque essa plu
um novo banco. E no entretanto, omquanto ralidade, não só estabeleca uma fiscalisação con
esses capitaes não augmentão, poder-se-ha negar veniente ao credito dos mesmos bancos, como
que se dá o exclusivo a que me tenho referido, mesmo quando elles estão em crise encontrão
e com elle todas as desvantagens que lhe são protecção uns nos outros.
inherentes ? Além .de que, e natural qne os Para melhor assegurar estas vantagens, vejo
novos capitaes prefirirão o banco privilegiado, que na Belgica creou-se um baneo chamado da
onde se dão maiores favores, e não tentem facil —Mutmlid ide mercantil.— Este banco foi princi
mente a creação de uma nova instituição. palmente instituido para estabelecer a compe
O nobre ministro, quando sobro este ponto tencia, e colher com cila os respectivos bene
respondeu-me, mostrou-se muito esperançoso no ficios.
progresso da nossa industria, no augmento dos O nobre ministro em resposta & minha duvida
nossos capitaes; mas adiante, respon lendo a disso que não via esses favorns ou privilegios
outro topico do meu discurso, de repente perde concedidos ao banco de que se trata, que apenas
essa esperança, e encara as eventualidades como vio o privilegio de se lhe conceder a faculdade
mais provaveis para o atrazo do que para a de que as suas notas fossem recebidas como moeda
prosperidade. Querendo demonstrar os inconve de pagamento nas estações publicas.
nientes do não resgaste do papel-moeda, ex
clamou : « Não vês que de um momento para O Sr. Brandão :— Esse pouco I
outro a insufficiencia ou escassez dos nossos O Sr. Bandeira de Mello :— Mas, senhores, a
productos agricolis, em consequencia de uma esta privilegio, que aliás é de grande alcance,
secca, póde fazer exportar os nossos capitaes, e acerescem outros muitos ; temos a notar a re
assim tornar abundante a moeda que agora pa missão do imposto do sello, o favor do estabe
rece diminuta?» Este receio que o nobre mi lecimento das caixas filiaes, que dão sahida aos
nistro tem a respeito do futuro, não o acom productos ou mercudorias do banco.
panhou quando teve de responder-me a respeito da
pifficuldade da creação de novos bancos. Em um O Sr. Ferraz : — Sahida ás mercadorias do
caso, elle julgou facil, provavel o augmento pro banco I Está enganado.
gressivo da prosperidade, da riqueza publica ; O Sr. Bandeira de Mello: — O que são os bi
em outro caso, encheu-so de terror, encarou um lhetes do banco, senão a sua mercadoria ou pro-
regresso, o atrazo de nossa industria, diante de ducto 1 -
uma calamidade physica, como uma secca, que
trouxesse comsigo a escassez, a diminuição dos O Sr. Ferraz:— Está enganado.
nossos productos. Mas, stmhores, um aconteci O Sr. Bandeira de Mello :— Penso que não;
mento desta ordem deve ser sempre reputado ao menos como eu, entendem muitos.
passageiro, e podemos delle prescindir, podemos Ha além disto o notavel favor de se lhe dar
deixar de considoral-o, quando tratamos de apre vida por 30 annos, favor notavel, repito, porque
ciar instituições, ou providencias que alcanção essa longa vida garante-lhe todas as vantagens
um longo futuro. Su apparecessem eventuali missionadas ainda mesmo com prejuizo do bem
dades más, tambem podem apparecer eventuali publico. Pergunto eu, se se entender que convém
dades favoraveis. mudar o systema do resgate, podemos nós fazêl-o?
O nobre ministro julgou até, Sr. presidente, O banco não póde julgar que tem direito adqui
que quando mesmo se désse o privilegio ou mo rido a operar o resgate? N
nopolio do banco de que trata o projecto, não O Sr. Ferraz :— Tambem póde entender que ó
dava- se nisso inconveniente algum; elle para direito seu ir para o céo.
este fim fez-nos lembrar que da concurrencia e
rivalidades graves e serios desastres têm vindo O Sr. Bandeira de Mello: — Se acaso nós qui-
a algumas instituiçães bancaes. zermos daqui a algum tempo tirar ao banco a
Eu julgava, Sr. presidente, que era já um prin faculdade que se lhe concede, de que as suas
cipio incontroverso o principio da competencia; notas sejão recebidas como moeda de pagamento
mas, agora vejo que o nobre ministro, tão escla nas estações publicas, não poderá elle reclamar
recido como é, o põe em duvida, desconhece as e dizer. « vós não podeis recuar, eu me consti
284 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
tui, mediante esta condição, de serem recebidos papel-moeda como no dos bilhetes do banco que
os meus bilhetes por espaço de 30 annos como vão substituil-o.
moeda de pagamento na* estações publicas ? » Disso mais o nobre ministro : « O papíl deva
Mas isto, pergunto, estará sempre nos interesses ser resgatado porque foi uma promessa directa
do paiz? Creio que ninguem o dirá: por con o p"ositiva da lei; não resgatai-j ora commetter
seguinte a vida por 30 annos que se concedo ao de facto uma fraudo. » Eu direi porém ao nobre
banco ó um grande privilegio, porque é, como ministro qne quando o papel esta no crjlito de
disse, uma garanti» de todas as outras vanta que goza entro nós, o resgato dava-se efiectiva-
gens que lho são dadas. meute pelos modos indirectos que eu já mencio
Entro em outra questão que suscitei, e o nobre nei, e o mais mu pareco um escrupulo excessivo,
ministro teve a bondade de tomar em conside escrupulo que para ser coheronte em su i sus
ração. Eu disse, Sr. presidente, quo gozando o ceptibilidade devia offarecer o resgato, não com
nosso papel-moeda de tão vantajoso credito em o padrão de 1840, mas com o de 1833, porque
ordem a que elle encontrava, por assim dizer, foi com este padrão que o governo se apoderou
um banco para realisal-o em todas as praças o dos dinheiros que agora trata de pagar com unia
mercados, tendo igualmente em todas as recebe moodu qne tem o valor de então, que não está
dorias e alfandegas uma realisação prompta e em relação ou correspondencia com os valores
efficaz, mediante o pagamento dos impostos, não dos metaes no mundo mercantil.
era necessario, urgente, fazermos o sacrificio que O Sr.' Paula Santos dá um aparte que não
vamos fazer para o seu resgate ; que pelo menos ouvimos.
ora uma necessidade que podia ser adiada para
melhores tempos, pira quando fossemos mais O Sr. Bandeira de Mello:— Eu não julgo que
ricos, para qua'ndo dispuzessemos de maiores devemos fazer o resgato pelo padrão antigo, por-
recursos O nobre ministro porém nao entendo que considero que as pessoas que soffrem com
assim. essa alteração já hojo não podem gozar das van
Vendo que temos 2,000:000$ de sobras, parece- tagens do resgate feito, caso fosse feito com osso
lhe que não ha nenhuma outra necessidade que padrão ; não pugnarei portanto por semelhanto
resgate só trouxo estas observações para fazer
seja mais urgente, que reclime de preferencia a mostrar
applicação ou emprego dessas sobras. que para o Sr. ministro ser coherente
Para mostrar-nos a conveniencia desta medida, dovião os seus escrupulos estender-se até este
a necessidade fmperiosa desta medida, o nobre ponto. (Apoiados.)
ministro descrevou-nos os inconvenientes, os Já ponderei em outra occasião que se o nobro
males que resultavão do papel-moeda, e então ministro tinha esses escrupulos, havia um meio
disse o que ha pouco já expendi, e que a ca facil de reuiovêl-os ; seria pór nas thesourarias
mara permittirá que por amor da minha argu uma somma do moeda metallica para que quem
mentação torne a repetir. quizesse fosse realisar as suas notas por essa
Disse que se acaso tivessemos a infelicidade do moeda ; tinha assim o nobre ministro desencar-
ter uma secca, se acaso os nossos productos regádo a sua consciencia, porque quem lá não
agricolas diminuissem, que veriamos? Veriamos fosso é porque não queria realisal-as, o se acaso
que a moeda-papel não estando em proporção no futuro houvesse algum transtorno, queixasse-so
com as transacçoes havia de depreciar-se, havia de si; o governo tinha empregado os meios para
de perder grando parte do seu valor. qne a sua promessa fosso effectiva ; e eu estou
Sr. presidente, ia anteriormente fiz o reparo bem corto que ninguem aceitaria o convite, nem
de que o nobre ministro nesta occasião deixou-se procuraria essa realisação da promessa da lei
apoderar de um panico que aliás não tem quando quanto emjltio o papel.
considera outros . pontos dos nossos negocios O Sr. Lisboa Serra :— Se já não houvesse mais
financeiros; mas pondo de parte esta conside dinheiro ?
ração, direi eu que se acaso houvesse um i cala O Sr. Bandeira de Mello: — Ipso tambem se
midade physica que trouxesse comsigo a dimi
nuição dos nossos productos, por ventura o dá nos bancos, porque so corressem os possui
inconveniente que o nobre ministro notou com tempo, deo bilhetes
dores a realisal-os todos ao mesmo
relação ao papel-moeda se não daria tambem fallido, ou banco por força se havia de declarar
suspender os seus pagamentos.
com relação aos bilhetes do banco? De certo.
Os bilhetes do banco havido de depreciar-so O Sr. Lisboa Serra : — Sempre tem algumas
nessa circuinstancia imaginada, porque não es letras de cambio.
tando então em relação com os productos e com O Sr. Bandeira de Mello : — Perdóe-me o nobro
as transacções, esse 6 o resultado necessario, e deputado, o seu argumento não procede, porque
dado este resultado os possuidores dos bilhetes não ha banco nenhum que possa resistir á liy-
irão ao banco receber a mueda que não se fiz pothese d% todos os possuidores de bilhetes
precisa pai a as transacções e a exportação ; mas concorrerem ao mesmo tempo a realisarem-se.
nosta hypothese, perguntarei eu.— Não ha tam Um Sr. Depdtado: — Liquidão-se de facto.
bem uni soffrimonto geral, igual ao que se daria
com o desapreciamento do papel-moeda? Nessas O Sr. Bandeira de Mello: — Como é que se
circunistancias figuradas quem é que soffre ? — liquidãodo facto, depois de terem cobrado e suspen
Dir-se-ha : — Soffrem os accionistas do banco, dido os seus pagamentos? (Apoiados.)
estes é que perdem com o depreciamento dos Portanto, a hypothese ó a mesma: se todos
bilhetes que correm ás caixas do banco para os portadores de bilhetes concorrerem a ir rea
serem realisados. — Mas, Sr. presidente, o que lisal-os, tanto o banco como as thesourarias, dada
é um banco, principalmente um banco como o a hypothese, não poderião satisfazer aos seus
que quer-se estabelecer? Quando elle fór preju empenhos.
dicado, o por consequencia os respectivos accio Disse o nobre ministro que o resgate era es
nistas, não soffre por ventura uma grande parte sencial porque a facilidade da falsificação tirava
da sociedade? E' mdifferente por ventura que o do alguma sorto o valor ao n isso meio circu
numero avultado de possoas que estão interes lante, que ó preciso uma moeda que não ió lugar
sadas no banco soffrão quando os seus bilhetes a essa falsificação; mas por ventura os bilhetes
forem levados á caixa para se realisirem em do banco não estão tambem sujeitos a essa fal
consequencia desse desequilibrio entre o meio sificação ? Os bilhetes do banco de 10$ que andão
circulante e os productos ou transacções do paiz? pela mão do povo, que, não póde fazer o reparo
Creio que não. Logo, as consequencias que o conveniente para conhecer, a sua falsidade ? Os
nobre ministro figurou tanto se dão no caso do bilhetes de grandes valores, percorrendo um cir
SESSÃO EM n DE JUNHO DE 1853 285
culo de pessoas que attendem mais para as causas, mittem semelhante flagello. » Não direi que o
e attendom especialmente, porque a importância nobre ministro ontende que ha para nós desar
os convida a isso, esses bilhetes, sim, não são em termos este unico ponto de contacto com
facilmente falsificados, mas os bilhetes do uma Buenos-Ayros, mus direi ao nobre ministro que
emissão, como a que o banco projectado tem de não ha desar para nós em termos moeda-pipel;
fazer bilhetes de 1iW, esses estão sujeitos ao mesmo pelo contrario ó honroso para o nosso paiz e
inconveniente da [dsificação; os do banco de In para o nosso governo o credito que sustenta o
glaterra são muitas vezes falsificados. nosso meio circulante com o valor que te.n, a
O Sr. Ferraz :— Mas o banco tem muitis pre prudencia com que o temos conservado den
venções. tro das. raias da necessidade da circulação.
(Apoiados.)
O Sr. Bandeira de Mello : — Mas apezar des Observaremos todavia a este respeito que nós
sas prevenções desde 1793 a 1823, isto é, no 0 Buenos-Ayres não somos os unicos povos que
espaço de 30 annos que decorro, têm havido em temos moeda-papel. Napoles e Veneza tambem
Inglaterra 1,820 condemnações por falsificação de têm moodu papel , embora se dig> que têm
bilhetes do banco, o que corresponde a 60 con bancos, bancos porém que não re ilisão os seus
demnações por anue. bilhetes ; por conseguinte, no passado temos
O Sr. Fioueira de Mello :— Fóra as que não modelos, no presente companheiros, e no futuro
forão punidas por falta de provas. muitas nações, segundo as necessidades do sou
O Sr. Bandeira de Mello. — Portanto, não se estado financeiro, hão de obedecer á lei impe
riosa que essas necessidades costuinão impór,
argumente com o receio da falsificação para mos
trar a necessidade de substituir o papel-moeda hão de igulmente ter papel-moeda.
por papel do banco; tudo é papel; o tudo póde Sobre o minimo estabelecido para as notas
ser falsificado. ainda considerarei uma razão apresentada pelo
Sr. presidente, eu disse que os bilhetes do nobre ministro ; disse elle , « No senado argui-
banco não devião ser de uma quantia tão baixa «« rão-me vós me
de que o minimo era excessivo, e aqui
arguis do que esto minimo é muito
como se acha no projecto, porque elles são des
tinados ás transacções de productor a productor, 1 baixo. » Sr. presidente, quisquis sne senso
e não ás transacções do productor ao consumidor; abundai Pensáráo .alguns senadores de modo
aquclles uão precisão de bilhetes de tão diminuta differerente ; m is quid inde ? Eu attendi á
6omma como os de 10S ; o contrario é desconhe natureza das notas do banco, attendi que elles
cer o fim dos bancos, e por consíquencia dos ductor não tinhão por destino senão as relações de pro
seus productos, quero dizer, do seu papel. Os gião uma productor, que essas relações não exi-
bancos somente descem a essa quantia tão baixa tenho razãominimo tio baixo, e pirece-ine que
quando se convertem uni casa de moeda dos go ; o minimo baixo é causa, como já
vernos, porque então é preciso que o seu pro- tallica disse, da emigração, da exportação da moeda me-
ducto chegue a todos, regorgite em todas as transac ; elle faz que a circulação regorgite, em
ções e percorra todos os canaes da circulação, todas as suas arterias, do papel do banco, e o
entrando em todas as operações, ainda minima metal, tornando se por isso desnecessario, ó ex
da divida cambial, ou das permutas. Mas quando portado importa,
necessariamente ; mas se se quer, como
detêl-o, conserval-o em uma certa quan
os bancos não pervertem o fim da sua institui
ção, quando elles se cifrão a serem com effeito tidade, ó necesssario que as transacçoes mi
nimas sejão feitas com matai; isso é uma dou
mudianeiros entre o producto e o productor, então trina
não precisão elles de notas de um valor tão insignifi autoresreconhecida e confessada por todos os
cante, ao menos com relação ás transacções mer que tratão dessa materia.
cantis. Eu, Sr, presidente, notoi que a creação do
O nobre ministro disse ainda: « Nada de papel- novo banco diminqia necessariamente os noisos
moeda, o couimercio é cosmopolita, o moio cir capitaes, porque o banco, tendo um fundo me-
culante deve, como elle, acompanhal-o por todo tallico de 30,00O;0J0$, funio que afinal ha de
o mundo. » E' verdade, Sr. presidente, o com- realisar-se logo que o resgate do papel-moeda
mercio é cosmopolita, mas não ha necessidade se completar, esso fundo não pódo ser adquirido
que o numerario tambem o seja, porque a ri senão pela exportação dos nossos productos, dos
queza não exige que o objecto tenha valor em nossos capitaes productivos, que irão buscar esses
todas as partes, muitas cousas ha que têm muito • metaes para serem depositados nos cofres dos
vai r em certos lagar^s, mas que fóra delles não bancos como fundo de reserva, de necessidade,
têm valor algum : muitos objectos na Asia têm e 0s capitaes que hoje existem no laboratorio
grande valor, ao passo que fora dessa região da producção vão tonar essa fórma metallica
nudu valem, e por conseguinte, não ha necessi improductiva no fundo do banco, isto é verdade;
dade que o numerario seja cosmopolita, e talvez o«quereis nobre ministro reconheceu, mas disse-nos :
ter o papel-moeda com os inconve
suja isto mui conveniente, porque um dos incon nientes da falsificação ? » Portanto é incontro
venientes que ainda offerece a moeda de ouro e
prata é a facil exportação; apenas ella vale menos verso que, nas circumstancias actuaes em que o
em um paiz, immediatamente o abandona em nosso meio circulante é quasi toio de papel,
procura do outro paiz aonde a mass i crescente os nossos capitaes na concurrente quantia de
das transacções dã-lho maior valor, mas daqui 30,000:000$ vão-se tornar improductivos nos fundos
resulta a oscilação dos valores monetarios ; en dos cofres do banco. (Reclamações. Cruzão-se
tretanto que a moeda-p ipel não podendo ser expor alguns apartes.)
tada, não está tão sujeita a essa oscillação, mas Sr. presidente, om uma das sessões anteriores
para isso ê uma condição necessaria, essencial, o nobre ministro disse que não considerava o
que o governo não augmeute a respectiva quan papel que era recebido nas estações publicas, e
tidade. Esta augmentada sogue-se necessariamente tambem em pagam nto das dividas particulares,
a depreciação relativa. Na facilidade que têm os coino uma moeda ; mas como o effeito de con
governos imprevidentes de augmenlal-a o seu bel- fiança, quando esse papel tinha sempre diante
prazer é que está com effeito todo o perigo do de si a possibilidade immediata do um resgate.
meio circulante, que assenta em unia materia tão Eu divergi do nobre ministro, pensando que
barata como o papel. ainda nessas circumstancias osso papel ora effe-
O nobre ministro disse : «Não tenhamos papel- ctivamente papel-moeda, porque moeda, Sr. pre
moeda, para que não se diga que somente nós sidente, quanto a mim, não é senão aquella
e Buenos-Ayres somos os unicos povos que nd- mercadoria que é aceita geralmonto. ..
2815 SESSÀO EM 22 DE JUNHO DE 1853
O Sr. LisnoA Serra:— Só? I . . . do banco de França, não quiz reeeber o orde
O Sr. Bandeira de Mello: — ... porque nin nado que lho foi dado, porque doeu-lhe a con
guem quer a moeda para satisfazer ás necessi sciencia, reconheceu que essa retribuição não lhe
dades immediatas. era devida por alguns passeios que fazia ao
Quando essa mercadoria é geralmento aceita, banco.
quando ninguem procura informar-so do principio O Sr. Aprioio: — Porque era muito rico e muito
que a garante, quando conserva independente das generoso.
circumstancias sempre o seu valor desde o mo O Sr. Bandeira de Mello : — Não se póde
mento em que alguem a recebe até áquelle em negar que a presidencia de um banco tem bem
que a transmitte, essa mercadoria é moeda. Ora, pouco que fazer.
só o governo, só a sua intervenção póde occa- Sr. presidente, antes de concluir não posso i
sionar essa generalidade de aceitação, essa segu deixar de tomar em consideração a disposição
rança do seu volor ; e como consegue isto? do projecto relativamente ao pagamento do sello,
Recebendo essa mercauoria, isto ó, o papel como de que fica isento o banco em questão. Essa
moeda de pagamento, recebendo-o nas" estações isenção, como todos nós sabemos, foi iniciada no
publicas, ou admittindo-o nos pagamentos dos senado ; e com isso sem duvida, ao menos no
particulares. meu conceito,, se deu uma usurpação da inicia
Por isso tenho que os bilhetes dos bancos de tiva que a esto respeito nos compete.
Inglaterra são verdeiramente papel-moeda, por A constituição positivamente commette á ca
isso que esses bilhetes estão nas circumstancias mara dos Srs. deputados a iniciativa em ma
que acabo de considerar, com relação aos paga teria de impostos; e é claro que essa iniciativa
mentos, são coino dizem os inglezes legal tender. diz respeito, não só á decretação, como á sup-'
Para confirmar esta opinião tenho a poderosa pressão dos impostos; a lei nenhuma distineção
autoridade de Chevalier, porque diz elle : « Em faz ; e visto que não cabo nas nossas attribuições
Inglaterra, os bilhetes do banco de Londres são desistir d is prerogativas que a constituição nos
uma moeda legal. » Logo abaixo no seguinte concedeu e devemos zelar, porque todas ellas
periodo diz o mesmo: « Outro meio do augnientar envolvem grandes principios, grandes interesses,
a circulação de nossa moeda-papel consistiria em é preciso que ao menos haja uma voz que pro
emittir cedulas de um mais fraco valor.» Eis ahi testo contra esse procedimento do senado.
o autor nessa segunda citação recenhecendo o Ainda uma observação, Sr. presidente.
papel de França como moeda, e entendendo que Em uma das sessões passadas, quando tive
a circumstancia de serem as cédulas de um di occasião de fallar, disse que o resgate do pa
minuto valor reveste-as com mais perfeição do pel-moeda sahia-nos muito caro, que faziamos
caracter de moeda, dando-lhes um emprego e grande sacrificio para esse rosgate, que aliás
aceitação mais geral, como requer o destino da não passará de troco de papel por papel. E
moeda na immensa massa de transacções em que onde está o sacrificio ? Perguntar-nos-lião, está
tem de intervir no seguinte :
Não basta pois, para que com effeito um papel O governo se obriga para com o banco a en-
seja considerado effeito de confiança, qi.o elle tenha tregar-lhe de 3 em 3 mezes as quantias que
possibilidade de um prompto resgate ; é preciso o bínco houver adiantado para o resgate da
que elle seja recebido livremente, e não por inter moeda, além dos 10 mil contos de que temos
venção da lei, por qualquer modo que seja, por fallado. Ora, se se der a circumstancia de que
que se a lei determina o seu emprego, elle toma a nossa receita não offereça moios de fazer esse
por necessidade uma circulação que não é propria pagamento por qualquer eventualidade impre
da confiança ; então não se recebe esse papel vista, não teremos de pagar ao banco os juros
porque so confie nello, mas porque se tem neces dessa somma que elle adiantou? Do certo que sim.
sidade delle, e porque se sabe que tem prompta Portanto fundar o systema do resgate do nosso
sahida. papel no excesso que houver da receita sobre
Toda vez que um papel qualquer tem assim a despeza, excesso precario, hoje muito even
um mercado tão extenso em virtude da lei, esse tual, é certo pouco prudente, pouco cordato.
papel circula, não em virtude da confiança ; de Esse systema deve sem duvida assentar-se em
certo ninguem dirá que o povo, quando por uma base mais segura, menos sujeita a contin
exemple recebe uma nota do 10$, a reeeba porque gencias.
tem confiança no banco que a emittio. O nego Não devemos descansar para obter esse resul
ciante porém que recebo de um banco uma cé tado em uma cousa que póde fallir : a emergen
dula de 500S, esse sim a recebe porque tem cia de uma guerra, uma diminuição da nossa
confiança no banco, porque considera essa cedula industria, nos proúuctos da nossa agricultura,
como effeito do credito que merece na praça o Íiódo pòr-aaos em grandes difficuldades, póde
mesmo banco. azer desapparecer essa renda com que contamos
A' vista pois disso não se póde deixar de re para essa resgate. Assim o que nos aconselha
conhecer que todo o papel em que o governo a prudencia e a previsão é que não contemos
tem qualquer influencia, que todo o papel qne ainda com essa receita para fazer face a uma
tem uma circulação tão vasta que se estende ás medida tão importante como esta que temos em
minimas transacções da sociedade, esse papel é vista ; devemos esperar para tomal-a que nossa
moeda-papel ; e ainda acerescentarei que tanto riqueza augmente, que a nossa renda seja maior
o papel do banco do Inglaterra, o qual está e maior em tal ponto que não nos deixe a
nessas circumstancias, é moida que os outros menor duvida da sua efificacia para a fim que
bancos emittem bilhetes para pagar com os bi nos propomos ; porém tendo apenas 2,000:000S
lhetes do banco de Inglaterra. por anno de excesso da receita sobre a despeza,
Sr. presidente, firei ainda uma observação sobre applical-os immediatamente a esta medida, e ap-
uma disposição do art. 1°, a qual refere-so ao plical-os todos, contando assim com o futuro, é
honorario que dever ter o presidente do banco. sem duvida um procedimento que não revela a
Entendo que esse honorario é verdadeiramente circumspecção e aviso com que devemos pro
a retribuição de uma sineeura. Talvez que seja ceder.
avultado, porque quem o tem de pagar è rico ; Em consequencia pois, Sr. presidente, do que
mas a presidencia de um banco tem muito pouco tenho tido a honra apresentar á consideração
3ue fazer, apenas terá de observar um ou outro da casa, parece-me que o projecto, que aliás
ia a marcha do banco, não tem um trabalho se apresenta como capaz de produzir grandes
effectivo, diario. Lafitte, quando foi presidente beneficios á nossa industria e agricultura, e ao
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 287
mesmo tempo ao nosso meio circulante, não teiro de Barros, Fausto, Seárn, Zacharias, Sá
poderá produzir esses resultados, aliás muito Albuquerque, Rego Barros, padre Campos, Paula
desejaveis. Parece-me que o futuro está prenho Santos e Raposo da Camara.
de acontHciinentos que não de revelar a impre Comparecem depois da chamada os Srs. Costa
visão das nossas providencias ; a historia nos Machado, Ignacio Barboza, Paula Baptista, Paes
offerece, como já disse, exemplos da impioco- Barreto e Jose Ascenso.
dencia, da esterilidado de meios a que vamos E havendo numero suffleiento, o Sr. presiden
recorrer. Lembrarei ainda a croàção do banco te abre a sessão ás 11 horas.
de Copenhague.
Desejarei muito que meus vaticinios não se Lidas e approvadas as netas das sessões de 22
realisem ; os votos que faço pela prosperidade e 23, o Sr. 1s secretario dá conta do seguinte
do meu paiz não podem inspirar-me outro de
sejo. EXPEDIENTE
Termino aqui, Sr. presidente, votando contra
o projecto, não obstante possa elle offerecer ao Um officio do Sr. ministro da justiça, enviando
paiz os melhores resultados. as informações dadas pelo vice-presidente da
Aloons Srs. Deputados:—Muito bem I provincia de Goyaz e pelo bispo daquella dio
cese, por esta camara exigidas por omeio datado
O Sr. Aprioio: —Muito bem, quanto ás suas de 5 de Agosto proximo passado, ácerca das
boas intenções. representações dos moradores e da camara mu
A discussão fica adiada pela hora. Levanta-se nicipal da villa de Carolina, pedindo como me
a sessão ás 2 horas. dita util que o referido termo seja desmembrado
daquella provincia e incorporado á do Maranhão.
-a» — A quem fez a requisiçao.
Outro do Sr. deputado José Antonio Saraiva,
Acta de a:t de Junho communicando que por incommodo de saude não
pdde comparecer á sessão do dia 23. — Fica a
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO camara inteirada.
Um requerimento do padre Raphael Jacintho
A's 10 horas, feita a chamada, achão-se pre Ramos, subdito portuguez, pedindo ser naturali-
sentes os Srs. deputados Maciel Monteiro, Paula sado cidadão brazileiro. — A' commissão do con
Candido, Macedo, Miguel Fernandes, Aprigio, stituição e poderes. ' .
Rocha, Belfort, Ferraz, Nabuco, Fleury, Ribei E' sem debato approvada a redacção da reso
ro, Viriato, Leal, Angelo Custodio, Domingues, lução que approva a pensão concedida a D. Maria
barão de Maroim, Wilkens do M.atos, Soares de Generosa Loureiro.
Gouvéa, Hyppolito, Brusjue, vigario Silva, Men
des da Custa, Teixeira de Souza, Raposo da O Sr. Fioueira de Mello manda á mesa. o
Camara, Paula Baptista, Pimenta Magalhães, seguinte requerimento, que é approvado :
Costa Ferreira, Tlieopliilo, Jacintho do Mendon « Requeiro que se peção ao governo por cópia:
ça, Paula Fonseca, Coes Siqueira, Bello, Luiz 1°, o relatorio da commissão por elle nomeada
Araujo, Livramento, Henriques, Pedreira, Vas- em 27 de Julho de 1852 para examinar as contas
concellos, Nebias, Machada Costa, Araujo Lima, da repartição de saude do exercito em operações
Paes Barreto, Miranda, Rego Barros, Taques, na provincia do Rio "Grande do Sul ; e 2», quaes-
Paranaguá, Paula Santos, Almeida Albuquerque, quer informações que existão na secretaria da
Dutra Rocha e Zacharias. guerra relativamente ao exame das contas do
Faltão com causa participada os Srs. Saraiva, commissariado do exercito. »
visconde de Baependy, Siqueira Queiroz, Eusebio, E' remettida com urgencia á commissão de po
Sousa Mendes, Sayão Lobato e Octaviano. deres uma indicação do Sr. Gomes Ribeiro para
Sendo onze horas, e não havendo numero le a chamada de supplentes pela Bahia e Alagoas,
gal, o Sr. presidente declara não haver sessão. com úm adiamento do Sr. F. Octaviano para
que se chamem supplentes por todas as provin
cias cuja representação não se ache completa.
Vão á commissão de poderes.
Sessão cui SS de Junho
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
CREAÇÃO DE DOUS BISPADOS
Summario. — Expediente. — Requerimento. — In
dicação. —Ordem do dia. — Creaçõo de bispa Continua a discussão do projecto r. 13 de 1853
dos. Discursos dos Srs. Corrêa iias Neves e creando um bispado na provincia de Minas-Ge-
Jaguaribe.— Chamada de supplentes. — Creaçflo raes.
de um banco nacional. — Pensão a Manoel Está em discussão o art. 1° com a emenda
dos Anjos Peres.—Collegios eleitoraes em Matto- substitutiva.
Grosso. — Navegação do rio Parnuhyba. Adia
mento. " O Sr. Correa das Noves : — Sr. presi
dente, tendo de votir hoje a favor da emenda
A's dez horas' feita a chamada achão-so pre, apresentada pelo nobre deputado por Minas ao
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido- projecto que tinha por fim ercar mais uni bis
Octaviano, Brusque, Wilkeni, Lindolpho, Leal, pado na provincia, - emenda que pedio tambem
Figueira de Mello, Fleury, Almeida e Albu- a ercação de um bispado na provincia do Ceará;
q uerque, GouvAa, Luiz Carlos, Teixeira do Souza eu que quando se discutia o projecto fallei con
j ordão, Gomes Ribeiro, Livramento, Henriques, tra elle, sob fundamento do julgar que esta' ca
Pereira Jorge, Belfort, Assis Rocha, Luiz Araujo, mara não está autorisada para crear bispados
Machado, Aprigio, Macedo, Rocha, Mendes da sem audiencia dos respectivos bispos e ser. a
Costa, Ribeiro, Fernandes Vieira, Nebias, João approvação do papa, devo, para que não pareça
Jacintho, Góes Siqueira, Vieira de Mattos, Hyp estar em contradicção, dar a razão porque voto
polito, Miranda, Vasconcellos, Pimenta Maga em favor dessa emenda sem que s-) tenhão preen
lhães, Ferraz, Dutra Rocha, Ferreira de Abreu, chido todas aquellas formalidades que eu jul
Viriato, Cruz Machado, Candido Mendes, Mon gava e ainda julgo essenclaes. Voto em favor da
288 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
emenda, porque estou hoje convencido do que a O nobre deputado, que eu julgo muito cenho
creação do novo bispado do Minas já foi pedida cedor do direito canonico, certamente não teria
e proposta a esta casa pelo Exm. Sr. arce desperdiçado essa occasião de aprosentir uma
bispo da Bahia, e podida em beneficio espiritual disposição qualquer, se acaso ella existisse*, mas
dessa importante porção do seu rebanho que, o nobre deputado não a apresentou nem o podia
longe dos seus desvelos paternaes, lho náo podem fazer. O que tem havido de ha certo tempo
aproveitar seus cuidados. Voto em favor delia, para cá e uma invasão que se tem querido fazer
porque de uma carta do mesmo Exm. arcebispo nos direitos espirituaes, invasão toda prejudicial
da Bahia, apresentada na casa pelo nobre depu aos interesses da igreja.
tado por Minas , .vejo que aquelle digno pre Um Sr. Deputado: — E' a concordia dos po
lado deseja ardentemente a creaçao desse bis deres.
pado a beneficio de suas actuaes ovelhas. Voto
finalmente a favor da emenda, porque estou inti O Sr. Corrêa das Neves : — Diz-me o Sr. de
mamente convencido do que Sua Santidade cos putado que é a concordia dos poderes; mas,
tuma dar o verdadeiro apreço que merecem essas senhores, on le encontra o nobre deputado essa
leis do creação de bispailos, oncarando-as como concordia? Quando, em que tempo, em que anno,
pedidos feitos, ou como lembrança da necessidade em que lugar foi cila feita? O nobre deputado
dessa porção de rebanho de que elle é o unico não póde aprese ntar-m'a.
cabeça e chefe, deixando prudentemente de re O Sr. Ionacio Barboza : — O objecto não é es
clamar os direitos que lhe pertencem, sem com- piritual.
tudo confirmar o esbulho que se lhe quer fazer
de uma de suas attribnições , sem sanecionar O Sr. Corrêa das Neves : — A esse aparte não
essa invasão do poder temporal no espiritual. responderei ou, porque não desejo que elle saia
Sendo isso assim, não seiei eu quem sacudirá o no meu discurso.
facho da discordia fazendo na-cer questões que O Sr. Aprioio (rindo se) .— Ora, essa é boa.
podem produzir conflictos entre a igrej i o o poder
temporal ; náo serei ou o imprudente que vá des O Sr. Corrêa das Neves: — Sr. presidente,
pertar rivalidades que dormitão , que vá pro sempre os imperantes pedirão á Santa Sé a
vocar satyras injustas , aceusações acrimoniosas creação dos bispa los,"quando julgavão que essa
contra a "honrada classe a que pertenço, e isto creação era conveniente aos seus estados : sem-
na occasião em que esses conffictos, essas saty pro as pedirão, ê mister attendermos a esta pa
ras, essas aceusações, parecem dormir no jazigo lavra, porque estando a Santa Só distante quasi
dos inimigos da igreja , produzidos pelo seculo sempre dos reinos ou imperios em que taes
passado. bispados dovião ser creados, não podia conhecer
Tambem voto pela creação do bispado do Coa da necessidade que havia dessas creações, tanto
rá, parque estou convencido de que essa creação quanto os respectivos imperantes. Essa doutrina
foi pedida por muitas vezes, o de longa data, foi sempre seguida pelos reis do Portugal, o foi
pelo Exm. bispo do Pernambuco, e pelas razões seguida pela primeiro imperador, pelo fundador
que deixei expendidis, sem me esquecer do inte do nosso paiz. (Apoiados.)
resse espiritual dos habitantes do Ceará, os quaes Em 155Ti pedio D. João III a creação do bis
são sujeitos a longas e dispendiosas viagens para pado da Bahia, e pela bulia super specula mi-
virem a Pernambuco solicitar os soccorros espiri- litantis ecclesiccs do papa Julio III datada do 1°
tuaes de que carecem ; o ainda mais votarei por de Março foi elle çreado : já se vé que D. João III
todos os bispados que so quizerem crear no im não creou o bispado, pedio sim a sua creação.
perio, indo do accordo assim com o meu pensa O Sr. Ionacio Barboza : — Isso não prova nada.
mento, de que cada provincia deve ter um bis
pado. (Apoiados .) O Sr. Corrêa das Neves: — Logo llio direi so
Julgo, Sr. presidente, que tenho justificado o prova. Por cart i régia de 7 de Outubro de 1 631)
voto que daqui a pouco vou dar; julgo que pedio a creação do bispado do Rio de Janeiro.
tenho mostrado jue não ha contradicçào i o meu Em 10)42, por morto do bispo D. Pedro da Silva,
pensar do agora coiii o meu pensar anterior foi eleito D. Pedro Soares de Castro, o qual mor
(apoiados) ; mas V. Ex. permittir-meha que eu reu sem ser confirmado, porque estando Portu
aproveite a occasião para mostrar que quando gal sujeito ao dominio da Hespanha, D. João,
ine oppuz a esse projecto de creação de bis duque de Bragança, unida aos portuguezes, fez a
pados enunciei uma doutrina orthodoxa; per- sua independencia o emancipação politica, inde
mittir-me-ha que aproveite a occasião para pendencia e emancipação politica que então
acudir a um convite do nobre deputado por não tinha sido reconhecida pelo papa, o qual
Minas, mostrando-lhe que a minln doutrina era pela mesma razão recusou confirmar a apresen
fundada em disposições canonicas, contra o que taçao.
elle disse asseverando que eu não podia apre Em 1670 obteve o principe regente permissão do
sentar taes disposições ; que finalmente apro papo Innocencio XI para a elevação do bispado
veite a occasião para combater certos principios da Bahia em metiopoli. Em 1677 creou-se o bis
por elle ante-hontem enunciados, principios qne pado do Maranhão desligado da metropoli da
eu entendo que vão ferir de frente os direitos B ihia e snffraganeo ã metropoli de Portugal,
pipaes. creio que suffraganeo do arcebispido de Lisboa.
Eu poderia usar para com o nobre deputado Pela bulia de Novembro de 1720, passada por
de um simples argumento, argumento todo ba Clemente XI, a instancias de D. João V, se creou
seado nas palavras do mesmo nobre deputado o bispado do Pará, tambem suffraganoo do arce
por Minas; para mostrar-lhe que a divisão dos bispado de Lisboa. O decreto da assembléa geral
bispados está unica e exclusivamente depen de 13 de Setembro de 1S27 approvou a creação
dente da approvação do papa, isto é, depois dos bispados do Goyaz o Cuiaba, creados pela
do ouvidos os bispos ; mas, Bervindo-me delle, bulia do Leão XII solicita catliolicw gregis cura.
apresentarei outros. Eis aqui pois o acto da assembléa geral pos-
Disse o nobre deputado por Minas : « Antiga terio á creação desses bispados. A pedido do fun
mente a creação dos bispados estava dependente dador do imperio o papa Lcãn XII pela bulia
do papa, mas hoje não é assim. » liomanorum pontificum vigilantia , de 5 de
Não é assim, porque ? Por ventura apresenta Junho do 182S declarou que as dioceses do Ma
o nobre deputado uma disposição de concilio ranhão e Pará, até então pertencentes ao pa-
que tirasse ao papa esse direito, e que o désse triarchado de Lisboa, ficavão suffraganeas á me
ao poder temporal 1 tropoli da Bahia.
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 289
Notemos que ahi não havia creação de bis ceses particulares ; e a sábia administração dos
pados : os do Maranhão e Pará estavão já crea- bens ecclesnsticos. . .
dos, tinhão unicumente de ser retirados do pa- Um Sr. Deputado: — Isto é inconstitucional.
triaichado de Lisboa para passarem ao arcebis
pado da Bahia ; entretanto o fundador do imperio O Sr. Corrêa das Neves: — Pois a disciplina
não se julgou para isto competentemente habi da igreja é inconstitucional?...
litado, tove de solicitar do papa uma bulia.... O Mesmo Sr. Deputado i — A divisão das
Um Sr. Deputado:—E nós agora o que fazemos ? dioceses nos pertence.
O Sr. Corrêa das Neves : — Tenho pois mos O Sr. Corrêa das Neves : — Eu tocarei no
trado ao nobre deputado que sempre as creações que o nobre deputado quer, tenha paciencia
dos bispados partirão dos papas. Agora passarei de ouvir-me. Creio que não são contestadas tres
a mostrar-lhe que este procedimento sempre foi partes da disciplina ecclesiastica ; contesta-se
conforme com as disposições canonicas. uma quarta, a divisão dos bispados. Já mos
Sr. presidente, é um principio hoje muito em trei que nunca ella foi contestada pelos impe
voga (pelo menos na pratica se tem observado) rantes, nui.ca foi contestada pelo poder civil
que o poder temporal muito favor faz ao espiri senão de pouco tempo a esta parte; agora vou
tual em conserval-o no gremio da sociedade, em mostrar que a sua contestação é contra os
consentir intactos os seus dogmas, a sua disci priuncipios canonicos, é contra a decisão dos
plina. Estes principios, que forão proclamados concilios.
por Voltaire, Rousseau, Diderot, Frerit, Talley- O concilio tridentino na secção 21 cap. 4°
rand e outros que, a titulo de reformar abusos de reformatione diz : In iis vero, in quibus ob
da igreja, como de Luthero disse ha muito pouco locorum distantiam, sive difHcultate parochiani,
tempo talvez irreflectidamente um nobre deputado sive magno incommodo ad percipienda sacra
por Pernambuco. . . . menta, ad divina officia audienda, decidire non
possunt, novas parochias, eliam invictis recto-
O Sr. Fioueira de Mello :— Está onganadoi ribus, justa formam constitutionis Alexandre III
disse muito pensadamente. qiue incipit — ad audientiam Episcopi — consti-
O Sr. Corrêa das Neves : — ... ou já para des tuere possunt.
truirem para essa magestosa obra do dedo do Um Sr. Deputado : — Isto é clarissimo
Deos, prepararão para a França um cataclisma, O Sr. Corrêa das Neves : — A mesma dou
durante o qual os francezes prestando cultos e trina se acha na secção 21 In civitatibus et
adoração á deosa razão, lhe fazião largas heca- locis, ubi parochialis Ecclesiaa}, etc.
tombas no seu altar da guilhotina. Eu que gosto Temos pois duas disposições terminantes desse
do procurar em sua origem a causa dos males, concilio que decidem que a divisão dos bispa
nenhuma outra posso consignar a esse diluvio dos pertence ao papa com audiencia dos bispos.
de sangue e lagrimas que submergio a França, Ora, tendo a constituição do estado admittido
senão a relaxação dos laços moraes, pelo amor como religião do imperio a catholica, não podia
tecimento, quando não total desapparecimento, jámais deixar de approvar as disposições de
dos principios religiosos do coração dos disci um concilio geral ecumenico. Nós devemos tra
pulos desses philosophos que se dizião o apre. tar de conciliar, de combinar as disposições
goavão--novos regeneradores do genero humano. da nossa constituição com as disposições cano
(Apoiados.) E conv. nci.lo desta verdade, na qual nicas di religião por ella recebida, o que po
não receio ser contestado, digo que grande favor, demos fazer sem grande difficuldade. Sabemos
immenso beneficio, recebe o poder temporal da que nos bispados existem duas cousas, territo
religião (apoiados); que sins mais impoi tintes rio e jurisdicção espiritual. A divisão de terri
necessidades, seus mais vitaes interesses, exigem torio incontest rvelmeute pertence ao poder tem
que elle conserve intactos e puros seus dogmas, poral ; a decretação das congruas, visto que o
seus principios, sua doutrina. (Apoiados.) foverno chamou a si o dizimo que pertencia
Senhores, os inales que apresentei não ficárão igreja, pertence tambem ao civil ; mas a di
na França ; elles correrão com a velocidade do visao da jurisdicção espiritual pertence incon
fluido electrico e alcançárão o Brazil. Nós ainda testavelmente ao papa. Ora, assim como nós
hoje soflremos os funestos resultados da immo- fazemos uma lei, ou queremos fazer, dizendo
ralidade que foi plantada na nossa população, — fica creado um bispado, — se dissermos — flea
desarraigando-se-lhe ou procurando desarraigar- o governo autorisado para pedir a creação de
se-lhe os principios religiosos, o a não ser um um bispado, —certamente iremos mais de ac
governo prudente, um governo sabio, que conhe ordo não só com a doutrina ecclesiastica, como
cendo o mal procurou fazel-o sustar, que tem mesmo. . .
lançado mão da mesma religião para fazer sus O Sr. Vasconcellos : — Parece-me que não
pender o curso dos males que já nos ião que leu a emenda que apresentei.
rendo submergir, certamente hoje estariamos em
tristissimas circumstancias. . . . O Sr. Corrêa das Neves : — Note o nobre
O Sr. Aprioio i— Apoiado; até querião casar deputado que eu estou combatendo os apartes
os padres. que me dão. Chamão-me até ultramontano, e
eu quero mostrar que a minha doutrina não é
O Sr. Corrêa das Neves .— Trago estes prin ultramontana ; por ora não me refiro ao nobre
cipios para provar que nós, que esta camara, deputado.
que todos os brazileiros devem ser em um só . . . Como mesmo seria mais de accordo com
pensamento constantes em prestar todo o culto, a propria dignidade da camira que não nos
em auxiliar a religião, em conservar intactos expuzessemos ao risco de recusar o papa a
todos os seus direitos, toda a sua doutrina e approvação de um bispado que está definitiva
disciplina. (Apoiados.) mente, ou que se julga definitivamente decre
A disciplina ecclesiastica, diz o Sr. Muzarelli, tado pela assembléa geral do imperio.
é uma regra pratica determinada pela igreja para Senhores, suppouhamoa que a assembléa geral
manter os enristãos em sua fé, e conduzil-os divide um bispado, marca-lho o territorio ; pu-
mais facilmente 4 felicidade eterna. Elia com- rém, que diz o papa? Eu não consinto, eu não
prehende quatro cousas : o culto divino, que convenho, eu não divido a jurisdicção espiritual.
consiste na administração dos sacramentos, os E entao estará creado este bispado? Desejava
ritos sagrados ou ceremonias ecclesiasticas ; a ouvir algum dos nobres deputados que me dão
policia e governo do clero ; a divisão das dio- apartes responder a esta pergunta...
tomo 3. 87
290 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
. Ujj Sr. Deputado i — Acho que não está creado. pouco habilitado, é especialmente porque se trata
O Sr. Corrêa das Neves : — Logo, o que fez da creação de um bispado na minha provincia,
a as9embléa geral?... o eu entendo que não devo ser estranho a ne
gocios que me tocão tão de perto.
O Mesmo Sr. Deputado:— O que faria depois , Feitas estas considerações, começarei justifi
da approvação do papa. cando o projecto, e demonstrando que não acho
O Sr. Corrêa das Neve* : — Aquilio que se muita razão no nobre deputado pela Bahia que
devia fazer depois da approvação do papa era encetou esta discussão, e nem tão pouco no
uma lei que devia subsistir ; uias o que se faz nobre deputado que acaba de assentar-se, quando
antes desta approvação é cousa que não se qu' r contestar a marcha por que o projecto quer
sabe se subsistirá, se será approvada ; e não chegar ao seu lim ; p irecendo-me entretanto que
vê o nobre deputado a differença que vai de o nobre deputaio que ultimamente fallou está
um a outro caso?.. . de accordo com aquelles que sustentão o pro
jecto, e que apenas diversifica no modo de appli-
O Mesmo Sr. Deputado : — Não acho nenhuma ; car os principios que elles professão.
é questão de tempo. O Sr. Corrêa das Neves :— Não me entendeu
O Sr. Corrêa das Neves: — Não entende nada bem.
de questões de tempo, e por isso não posso „O Sr. Jaouauibe :— Entendi muito bem.
responder ao nobre deputado. O nobre deputado que encetou a questão con
Sr. presidente, quando me oppunha ao pro testou que tivessemos o direito de iniciar estas
jecto, tive occasião de dizer que a doutrina materias, por isso que ao poder espiritual com
das pessoas que sustentavão que os bispados pete a divisão das parochias, bispados, etc, pelo
se podião crear independente da approvação do direito que lhes assiste de apascentar os seus
papa. . . rebanhos.
Um. Sr. Deputado: — Ninguem disse isso. Ora, eu creio que ninguem contesta o princi
O Sr. Corrêa das Neves:— .. .tinha seu tanto pio de que ao poder espiritual incumbe a jnris-
ou quanto de heretica. O nobre deputado por dicção de marcar limites, ou de estabelecer a
S. Paulo me respondeu então : « terá alguma cxten-.ã j do rebanho que deve ser confiado a um
cousa schism itica, porém não heretica. » Eá prelado ; mas, senhores todos sabem que os
sinto não estar -presente o nobre deputado para dous poderes espiritual e temporal, sendo entre
lhe mostrar que eu estava ainda neste ponto si independentes, de sorte que é um paru o outro
do iccordo c m a doutrida ccclesinsticu... Ah 1 status in statu, para se não chocarem, ou em
parece-uie que descubro o nobre deputado o que pecerem sua marcha reciproca, fizerão concor
muito estimo. data entre si derão-se aa-mãos, resultando que toda
a vez que o estado carrega com a obrigação da
O meu pensamento foi exacto o verdadeiro : pagar as congruas e de fazer as despezas da
ha principios disciplinares da igreja que por se sustentação do culto publico, o poder temporal
acharem intimamente ligados com o dogma, por não póde ser de modo algum estranho a essas
estarem muito proximos, muito dependentes divisões, a respeito das quaes tem elle de tomar
dellc, passão quasi como principios dogmaticos. uma parte muito activa, quer por esses onus, a
Esto pensamento, senhores, não é meu, é de que deve satisfazer por meio do impostos razoa
uma autoridade nada suspeita á autoridade dos veis e bem entendidos, quer pelas vantagens que
papas, é do Sr. Pedro da Marca. Se pois ha o estado colhe do esplendor da religião, visto
estes principios disciplinares que são muito con- que a sua poderosa voz, quando bnm dirigida,
junctos no dogma, não ha duvida nenhuma que concorre mais do que tudo para amenisar os
âquelles individues que atacarem taes principros costumes, diminuir os crimes, o plantar o amor
cemmettem não tanto uma quasi heresia, como ao trabalho.
disse, mas sim uma heresia qu isi formal. A auto O nobre deputado contestou a existencia de
ridade do papa, a decisão de que elle é o chefa taes concordatas. Eu não citarei a suas datas
visivel da igreja, da que elle ó cabeça do reba porque sendo materia tão sediça, que julguei
nho de Christo, de que elle é o unico autorisa- ninguem contestar, não me dei ao trabalho de
do para dividir, para distribuir, para organisar, tomar apontamentos a respeito; mas afianço ao
e pura dirigir o seu rebanho como mais conve nobre deputado que em diversos escriptores que
niente fór aos interesses da igreja o desse mes tratão sobre direito ecclesiastico, tenho encontrado
mo rebanho, acha-se consignada na disposição noticia de taes concordatas, celebradas entro a
do concilio Florentino na sua Soe. 25, é um
principio de disciplina quasi dogmatico. Santa Sé e os estados catholicos, e citarei espe
cialmente não só Portugal, cuja legislação pas
Esse concilio é um concilio geral ; portanto sou a ser nossa, como tambem a França, a cujo
todos aquelles que atacão a algumas das suas respeito invocarei unicamente a autoridade do
disposiçoes, sobre principios dogmaticos, com- um escriptor, o Sr. Foucart, em uma obra sna,
mettem uma heresia. Eu, pois, enunciei um que posto não trato especialmente do direito eccle
principio orthodoxo, que foi contestado pelo no siastico e sim do direito publico administrativo,
bre deputado a que me refiro. Tenho portanto, todavia menciona muitas concordatas existentes
Sr. presidente, justificado a minha doutrina, entre a Santa Só e o governo francez, com o fim
tenho apresentado contra a expectativa do nobre de promover ora a circumspecção, ora o a"ugmento
deputado de Minas principios canonicos que a das dioceses francezas.
abonem, e tenho tambem justificado o voto que
hei de dar em favor da emenda. O Sr. Corrêa das Neves:—Isso é para a França.
O Sr. Juguaribe :— Sr. presidente, a ma O Sr. Jaouaribe : — Pois á França, sendo paiz
teria de que se trata é bastante importinte, e catholico, está em circumstancias differentes das
sou eu talvez o menos proprio para entrar nella... em que estamos nós? O nobre deputado saba
O Sr. ArRioio : — Não apoiado. bem que, do todos os paizes catholicos, a França
tem sido o mais zeloso pelas suas prerogativas,
O Sr. Jaouaribe:—Começarei, portanto, pedindo a ponto de pór duvida, e mesmo não aceitar
licença ãquelles que mais habilitados do que eu algumas disposições disciplinares do concilio de
a podião discutir, especialmente aos profissionaes, Trento ; este mesmo paiz, cioso de suas prero
para que sobre ella eu faça algumas considera gativas, fez essas concordatas, pelas quaes, tanto
ções declarando que se me atrevo a tomar parte a curia romana como o governo francez, têm
na discussão de uma materia para que me julgo de intervir infallivelmente na divisão dos bis
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 291
pados das parochias ; e portanto fica provada a é que está agora confundindo o governo com a
existencia das concordatas havidas entre os doua nação.
poderes, e que o nobre deputado me quiz con O Sr. Jaouaribe :— O nobre deputado sabe que
testar quando lhe dei o meu aparte. o cabeça da nação a representa : se hoje esses
O Sr. Corrêa das Neves:— Isto é contrapro diversos poderes symbolisão a nação ou a repre-
ducente. sentão, assim tambem os reis absolutos a sym-
O Sr. Jaouaribe :— Contraproducente como, se bolisavão ; com a differença que hoje se caminha
eu lhe estou provando que os dous poderes obrão por linhas um pouco mais retardadas, visto que '
de accordo, e não por usurpação do temporal são tliversos os ramos que compoem a soberania
sobre o espiritual, como disse o nobre deputado ? nacional.
Demais, permitta-me o nobre deputado que eu Creio pois que tenho demonstrado que quando
apresente um argumento de menor para maior. assim procedemos marchamos pela mesma ma
O nobre deputado sabe que entre nós se tem neira por que marcharão os soberanos que soli-
suscitado a questão se as assembléas provinciaes citavão a creação de bispados.
podem ou nau decretar as divisões de fregue - Além disso entendo mesmo que esta questão
zias sem intervenção do poder espiritual, questão está prejudicada. Sinto não ter íi mão os jornaes
que se deduz do acto addicionul, que dá u essas que tratárão desta materia em 1K46, por ocen-
assembléas a faculdade de dividir freguezias, .e sião da creição do bispado do Rio Grande do
não falia de intervenção do poder espiritu il ; mas Sul : creio que nelles se encontrarão discursos
eu concoriando com o nobre deputado em que do Exm. bispo capellão-mór, que então era digno
o direito canonico ó legislação entro nós, visto membro desta casa, demonstrando que tanto o
que a constituição estabeleceu que a religião do Exm. arcebispo da Bahia, como o Exm. bispo
estado seja a catholica, da qual fazem p irte os de Pernambuco, já tínhão autorisado ou dado
canones, entendo que devemos procur ir conciliar seu assentimento á creação destes bispados.
o acto addiciotial com as disposições canonicas, O Sr. Corrêa das Neves :—Eu procurei entrar
não decretando divisões de freguezias sem a in nesta questão só.«ente para explicar a minha
tervenção do poder espiritual ; mas, pergunto opinião.
eu, quando se trata de dividir uma freguezia a O Sr. Jaouaribe:—Se o papa, como cabeça da
quem se tem d» ouvir é aos vigarios? Não, se igreja, quizer ouvir aos pastores parciaes, diri-
nhores, é aos bispos ; pois é exactamente o que gir-se-ha a elles ; uns observo que esses bispos
se faz agora. já derão o seu assentimento,
O Sr. Corrêa das Neves :— Pois um bispo está Demonstrada, Sr. presidente, como creio que
para um vigario na mesma' relação? tenho feito , a faculdade de approvar o projecto
O Sr. Jaouaribe :— Sim, senhor, um bispo está de que se trata, visto que, pelos tramites por
para o papa na mesma relação em que está um que marchamos, conciliamos o poder temporal
vigario para o bispo. com o espiritual, aquelle pela intervenção que
deve tor nest«s negocios, pois que lhe incumbe
O Sr. Corrêa das Neves :— Está enganado ; a obrigação do fornecer as co igruas o os meios
os vigirios são delegados dos bispos. para a sustentaçio do culto publico, e est i pe
Um Sr. Deputado :— Creio que estamos em um las attribuições que se derivão do jus pascendi
synodo. inherente au chefe da igreja catholica, como suc-
cessor de S. Pedro, tratarei de mostrar a neces
O Sr. Jaouaribe:— Eu não trato da jurisdicção sidade da creação dos bispados de que falia o
que exerce o papa sobre os bispos ou da que projecto, e começarei pela creação do bisp ido
exercem estes sobre os parochos ou sobre os na minha provincia por ser aquella de que te
seus respectivos rebanhos, e sim unicamente de nho mais conhecimento.
fazer a applicação deste principio servatis ser- Esta necessidade, Sr. presidente, é de tal sorto
vandis. Assim, dizia eu, se para se dividir uma sentida que, des le tempos muito anteriores á
freguezia se ouve o bispo que é superior aos nossa emancipação politica , já minha provincia.
vigarios, aquelle julgando conveniente ouve então reclamava pira que fosse satisfeiti, afim do
a estes, do mesmo modo dividindo -se bispados, que os povos pudessem ter soccorros espirituaes
como faz o projecto que se discute, começa elle mais á porta e não os fossem buscar a grandes
dizendo que o governo fica autorisado a impetrar distancias na cidade do Recife.
da Santa Sé a approvação dessa medida, demon- Refiro me ao tempo em que governou a provin
strando-lhe as vantagens que dahi colherão os fieis cia do Coará o governador Luiz Barba Alirdo
disseminados dentro dos limites dos novos bispa do Menezes, o qual dirigio ao governo portuguez
dos, e por sua vez o papa, se julgar conveniente, em 10 de Abril de 1809 o seguinte officio, enca
ouvirá us prelados de cujas dioceses são demem- minhado ao ministro do interior, que era então
brados os terrenos dos novos bispados. o conde de Aguiar :
O nobre deputado teve um equivoco a este « A lastimosa decadencia em que se acha a
respeito, quando contestando-nos o direito de religião nos asperos sertões desta capitania, a
intervirmos nessas divisões de bispados, susten multiplicidade do monstros que a infestão e in-
tou que antigamente só tinhão ellas lugar a sultão com seus pessimos o escandalosos cos.
pedido dos reis, e consistio o seu equivoco em tumes, tudo isto me obriga a representar a
não reparar que approvando nós o projecto nada V. Ex., que seri i da maior importincia nella
mais fazemos do que aquillo mesmo que fazião rosidir um prelado douto e virtueso, munido de
os antigos reis de Portugal, com a differença de plenos poderes pira fazer observar com puroza
que elles sendo absolutos encerravão o poder as leis do christianismo , e remediar de mais
legislativo e outros ramos da soberania em sua perto a sensivol falta de mil recursos indispen
propria pessoa, entretanto que hoje, prevalecendo saveis, que estes desgraçados habitantes experi-
entre nos o systema representativo, os diversos mentão pelo embaraço da distancia que vai desta
poderes do estado se achão diffundidos por d i flo a Pernambuco.
rentes entidades, como sejão camara temporaria, « A decadencia do clero e seu pequeno numero
senado, etc. é tambem uma consequencia infallivel daquella
O nobre deputado pois confundio a questão, e falta e daquelles vicios . pois como poderaõ 23
por isso, seguindo os mesmos principios que eu vigarios acudir com os sacramentos a perto de
adopt', deduzio delles conclusões tão diversas. 130,000 almas espalhadas pelo centro da circum-
O Sr. Corrêa das Neves:— O nobre deputado ferencia de 500 leguas .' Como poderão elles ca
292 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
techisar e convencer os povos com a sagrada eu tinha de expender já forão quasi todas prduo-
doutrina do Evangelho, se as suas forças não zi las por [Ilustres oradores que me precedêrão,
são bastantes para o desempenho das funoções não duvido aguardar-me p ira outra oc casião.
do Seu ministerio em tinta longitudeI Julga-se a materia sufficientemente discutida,
« Eis aqui, Exm. senhor, o importante objecto é rej atido o projecto e approvado o artigo sub
da cópia da carta junta, que a camara da villa stitutivo.
do Aquirás me dirigio. » O Sr. Presidente :—Passa-se á segunda parte
Eis o officio que o governador daquelle tempo da ordem do dia.
dirigio ao governo portuguez, o que foi como eu O Sr Jaouaribe (pela ordem) • —Como ouvi no
disse, em 1809. dia em que se leu este projecto que se tratava
Passados alguns annos, em 1811 ou 1812, esse de um projecto substitutivo áquelle que se dis
mesmo governador , sendo deputado ás cortes cutia, creio que tendo-se votado a primeira parto
portuguezas, apresentou ahi um projecto creando do substitutivo, deve-se votar a segunda relati
um bispado no Coará. Essa idéa não sen lo vamente ao Ceará.
então adimttida, em 1820, civio eu, quando na
assembléa constituinte em Lisboa houverão de O Sr. Presidente : — O projecto substitutivo
comparecer alguns deputados do Brazil, o Sr. contém 3 artigos; estamos na segunda discus
Alencar, actualmente senador do imperio, e.en são; votou-se agora o primeiro artigo, e o pre
tão deputado pelo Ceará, apresentou alli de novo ciso que cada um dos dous outros sej.a discu
um projecto contendo essa mesma creação. E tido, para que possa, ser sujeito á votação.
finalmente, como a'iui já foi demonstrado, creio 0 Sr. Jaouaribe :—Bem.
ue mesmo pelo nobre deputado por Minas autor
d o projecto, foi apresentada essa idéa d s creação O Sr Luiz Carlos : — Sr. presidente, requeiro
pelo Sr. arcebispo da Bahia em 1827, assim urgencia para que continue a discussão do pro
como em 1829, e finalmente em 1840, épocas jecto, afim de que sí possa votar Sobre a crea
essas em que foi sempre essa idéa desattendida, ção do bispado do Ceará.
até que hoje se reproduz de novo no projecto A urgencia é apoiada e approvada.
ue se discute, o que espero, attenta a justiça São approvados sem debate os demais artigos
a a causa, será approvado pela camara. do projecto substitutivo, que passa para terceira
Ora, se 1809, quando a provincia do Ceará discussão.
continha população muito menor, e muito menor
numero de freguezias, se reclamava por essa CHAMADA DE SUPPLENTES
medida, sendo a necessidade de um bispado ge
ralmente reconhecida, hoje que a populacão e as E' lido o parecer da commissão de constituiçAo o
freguezias daquell i provincia têm augmenlaio, essa poderes, ácerca da indicação do Sr. Pereira da
necessidade e da maior evidencia. (Apoiados .) Silva para ser chamado o supplente pela provincia
A provincia do Ceará, Sr. presidente, devide-se do Rio Grande do Norte.
hoje em 11 comarcas, 26 municipios, 34 paro-
chias e 73 districtos de paz , comprehendendo O Sr. Paes Barreto:—Peço a palavra pela ordem.
seguramente toda provincia mais de 340,000 al O Sr. Presidente ;—Tem a palavra.
mas, isto é, mais do dobro da" população da- O (Sr. Paes Barrelo : — Aehando-so na
uelle tempo, e por conseguinte a necessidade mesa o parecer da comniissão de constituição e
d1 e um bispado alli tem crescido visivelmente. poderes que trata do chamamento do supplente
Quanto á necessidade do bispado de Diaman pelo Rio Granae do Norte, julgo que deve entrar
tina, quasi que nada devo dizer. O nobie depu- em discussão com preferencia a outro qualquer
putado por Minas Geraes demonstrou com toda objecto, porque contém materia que foi sempre
a evidencia qne nem o arcebispo da Bahia, considerada urgente.
nem os bispos de Pernambuco e Marianna (sob
cujas respectivas jurisdicções se acha toda a Entra portanto em discussão o seguinte parecer:
extensão do novo bispado projectai! ) podião oc- « A commi«são de constituição e poderes, a
correr a todas as precisões espirituaes dessa quem foi presente a indicação dos Srs. depu
immensa porção de paiz comprehendida no pro tados Paes Barreto e Pereira da Silva, para
jecto. A população do Minas é das mais nume- que se dê assento ao Sr. Amaro Bezerra Ca
rosis do Brazil; monta, segundo qs calculos valcanti como supplente pela provincia do Rio
mais exactos , a mais de 1 milhão 210 mil al Grande do Norte, considerando que o deputado
mas ; a provincia comprehende 173 parochias effectivo o Sr. José Joaquim da Cunha, presi
segundo os dados que colhi, e oceupa a exten dente da agora,
provincia do oPará não fazer
tem comv
compare
são de 15 mil leguas quadradas ; e portanto não cido até e não poierá bre
é possivel que o bispo de Marianna, e ainda vidade ; attendendo igualmente que é de iníeresse
menos o arcebispo da Bahia e bispo de Per publico que a representação nacional se complete
nambuco, possão occorrer ás necessidades espi quanto seja posslvel, e que o dito Sr. Bezerra
rituaes de uma população tão numerosa e dis Cavalcanti se iclia na corte, é de parecer que o
seminada por um territorio tão extenso, colloca lo mesmo senhor preste juramento e tpma assento
a tão longas distancias das respectivas Sés, como supplente pela mencionada provincia do
como é todo aquelle que se acha comprehondido Rio Grande do Norte.
no projecto.
A' vista pois de todas estas considerações, en « Paço da camara dos deputados, 25 de Junho
tendo que a camara não póde deixar de votar de 1853. — J. C. Bandeira de Mello. —J. A. de
pela creação dos dous bispados de que se trata. Miranda, o
(Apoiados.) . O Sr. Gomos Ribeiro : —Sr. presidente»
O Sr. Presidente :—Esta discussão fica adiada creio que o parecer está incompleto, por isso
pela hora. que achando-se o supplente pela provincia do
Rio Grande do Norte nas mesmas circumstanoias
Vozes ' —VotosI votosI em que se achão os supplenles de outras pro
O Sr. Presidente :—Só se o padre Campos ceder vincias, parece-me que as intenções que hoje
a palavra. apparecem nesta casa do serem completas as
deputações de todas as provincias devem apro
Alouns Srs. Deputados :—Ha de ceder para se veitar a todos que se achão nas mesmas cir-
votar. cumstancias, e por isso tenho de mandar um
O Sr. P. de Campos Como as doutrinas qu« adiamento, c e que sejão chamados todos os
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 293
supplentes dos deputados daquellas provincias qual errou a barra, e ia precipitando o vapor
que deixarão de comparecer até o presente, em baixios que lhe erão desconhecidos, e que
como sejão os de Alagóas, Bahia e Pernambuco... dahi iria para sua commissão por terra. Já vê
Uma Voz : —Mas não está aqui na córte sup- pois o nobre deputado que em presença de tanta
plente algum senão o do Rio Grande do Norte. moratoria, e de embaraços desta ordem, o pre
sidente que actualmente está em Sergipe só che
O Sr. Gomes Ribeino : — Não importa, man- gará a Santa Catharina com muita demora, tilvez
dem-se eh imar. antes de Setembro não esteja lá, o de Santa
Eis pois, Sr. presidente, a razão por que pedi Catharina não deixa a presidencia sem a chegada
a palavra ; foi para mandar essa emenda. do seu successor, logo, o Sr. Dr. Sobral não vem,
Ai razões que se dão a respeito da provincia por impedido, tomar assento por este anno nesta
do Rio Grande do Norte são as mesmas ra cisa. Esta é que ó a verdade, este é que - ó
zões que se devem dar para as outras provin- o resultado iufállivel, que convém providenciar
. cias. Pelo parecer' é admittido um supplente chamanio-se o seu supplente como deve ser
visto que o proprietario ainda não veio, e nem chamado, para que a representação da provincia
communicou cousa alguma ; este principio até seja completa, como cumpre que seja.
corto ponto eu approvo, porque julgo que um O Sa. Titara : — Eu tive uma carta Sr. Dr. So'
deputado por semelhante omissão não pòde pri bral em que participa que vem tomar assento
var esta camara e a sua provincial da pirte que este anno.
devo ter na representação nacional, e do direito
inquestionavel que tem o supplente do fuzer as O Sr. Gomes Ribeino : — E' por isso mesmo que
suas vezes. Quando não póde ello comparecer digo que o nobre deputado labora em um engano ;
deve participar á camara municipal para cila suppõe talvez o Sr. Dr. Sobral que o presidente
expedir o diploma a quem de direito fòr; o. como, nome ido para as Alagoas muito breve alli se
Sr. presidente, ha deputados que não têm até apresentará; está elle em erro, o não menos o
hoje participado cousa alguma a esta camara, nobre deputado. Saiba que esse presidente ainda
?ue não tem dado ao menos o motivo da sua se ach i administrando a provincia de Santa
alta ã camara municipal declarando as razões Catharina, que tem de esperar pelo seu successor,
de seu impedimento, julgo que esta camara tem de vir á córte, aqui deve preparar-se, e
deve tomar um arbitrio, que eu approvo, arbi seguir então para as Alagóas. Este e que e o facto
trio que, sendo tomado pela commissão de con verdadeiro. (Apoiados.)
stituição e poderes no parecer que se discute, Um Sr Deputado : — Não me ó estranho esse
quizera que elle por identidade de razão se es facto. -
tendesse e abrangesse a todos que se achão nas O Sr. Gomes Ribeino : — Demais, senhores,
- memas circumstancias. quando sejão chamados os supplentes para vir
Não ha razão, senhores, para que se esteja tomar assento, elles- estão na provincia ; se na
adoptando esta medida por partes ; a justiça da occasião de vir o Sr. Dr. Sobral tiver de largar '
causa do supplente pela provincia do Rio Grande a administração para seguir a esta córte, está
do Norte ó a justiça da causa dos supplentes visto que elle cá não virá. (Apoiados,) Forão
das provincias de Alagoas , Pernambuco , Ba estes os receios que o nobre deputado apre
hia, etc. (apoiados) ; até hoje os Srs. Chaves, sentou, o por isso digo que labora em um en
Sobral e Aguiar não têm comparecido e nem gano , não duvidando aliás de suas boas in
participado a esta camara, e menos á camara tenções.
municipal, a causa de seus impedimentos... Vozes : — Votos I votos I
Um Sr. Deputado: —Já existem participações a Julga-se a materia discutida. K' approvado o
esse respeito. parecer da commissão" para que tome assento
O Sr. Gomes Ribeino : — . . . o portanto eu o Sr. Bezerra Cavalcanti como deputado sup
quero apresentar neste sentido um additamento plente pelo Rio Grande do Norte. Tambem se
ao parecer que se discute. approva que sejão chamados os supplentes de
Vai a mesa o seguinte additamento, que de todos aquelles Srs. deputados que não têm com
pois de apoiado entra em discussão : parecido.
« Que da mesma sorte sejão chamados os sup CREAÇÃO DE UM BANCO NACIONAL
plentes daquelles deputados que até hoje não
têm comparecido. — S. a R. — Em 2ô do Junho Continua a 3» discussão do projecto r. 23 deste
de 18 .o. —Gomes Ribeiro. » anno, vindo do senado cteando um banco nacional.
O Su. TitAra oppõe-se ao additamento. O Sr. Paula Fonseca : — Peço a palavra pela
O Sr. Gomes Ribeino: — Não duvidando das ordem.
boas intenções do illustre deputado que me pre O Sr. Fioueira de Mello : — Pois temos já o
cedeu quando combateu o meu additamento ao encerramento ? I
parecer da illustre commissão, direi comtudo
que elle labora em um erro, que está comple O Sr. Cruz Machado : — Oh 1 Já sabem o que
tamente em erro no que acaba de affirmar a o nobre deputado vai dizer?I
esta camara, porquanto o membro que falta na O Sr. Aprioio:—Está no seu direito.
deputação das Alagois não póde chegar com a
presteza que o nobre deputado julga, e que acaba O Sr. Figueira de Mello:—Qual direito ; ó
de asseverar, porque parece-me, não o affirmo, uma oppressão da maioria sobre a minoria.
que ha instiucções do governo imperial para O Sr. Paula Fonseca : — Já que o nobre de
que o presidente que está na provincia de Santa putado me lembra a necessidade do encerra
Catharina, o que foi nomeado para presidente mento. . .
das Alagoas, não deixe a administração da pro O Sr. Fioueira de Mello : — Isto é um abuso
vincia de Santa Catharina sem que alli che- da rolha 1
§n0 o seu Successor, que é o actual presidente
e Sergipe. O Sr. Paula Fonseca: — O nobre deputado fal
Ora, ainda hoje li no Jornal do Cornmercio tando em despotismo da maioria contra a mi
que o presidente nomeado para Sergipe teve de noria, como que já nos dá a entender que a
voltar para a Bahia por impericia do comman- minoria está disposta a protelar as discussões
dante do vapor que o conduzia para Sergipe, o de maneira a impedir que a maioria dote o
r
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
294
paiz còm os beneficios que elle com razão espera Posto a votos é approvado o requerimento do
Sr. Gomes Ribeiro.
delia...
O Sr. Nebias : — A maioria, como a minoria, a Julga-se
votos é
a materia do projecto discutida, e posto
approvado por escrutinio secreto.
é interessada em que as causas se fição bem
feitas. COLLEG10S ELEITORAES DE MATTO-GROSSO
O Sr. Fioueira de Mello:—A utilidade publica
conhece-se pela discussão. Segue-se a primeira discussão do projecto r. 26
O Sr. Paula Fonseca: — Eu não contesto o deste anno alterando a ordem de alguns colle-
direito que tem a opposição ; mns tambem o glos eleitoraes da provincia de Matto-Grosso .
nobre deputado ha de permittir que eu, depu O Sr. Presidente : — Se não ha quem peça a
tado da maioria, deseje eeonomisar o tempo que palavra vou pór a votos.
já se vai passando sem termos ainda começado Alouns Srs. Deuutados : — Não ha casa.
as discussões das leis animas. (Apoiados.) Eu
rogo pois a V. Ex., Sr. presidente que h 'ja de O Sr. Presidente : — No recinto não ha nu
consultir a camara se é ou não tempo de enceriar mero sufficiente de Srs. deputados para se poder
esta discussão. votar. Talvez t.a sala vizinha estejáo alguns se
nhores, e apezar dos esforços que tenho feito ,
Pondo-se a votos este requerimento do Sr. Paula como
Fonseca, contão-se a favor delle 34 votos, e con a camará é testemunha, para que as dis
cussões progridão (apoiados}, não é possivel ha
tra 34. ver casa. Convi lo pois novamente aos nobres depu
Alouns Srs. Deputados:—Fica empatado, con tados a oceuparem os seus lugires, do contrario
tinua a discussão. mandarei fazer a chamada, e levantarei a ses
Outnos Srs. Deputados:—Não ; deve ficar adiada são considerando como ausentes os qne não es
para amanhã. tiverem no recinto. (Apoiados.)
O Sr. Santos e Almeida : — Peço a rectifi Entrão alguns senhores e tomão os seus as
cação. sentos.
O Sr. Paula Candido : — A camara bem vê O Sr. 1° Secretario : — Agora ha numero suf
que podia haver erro de um ou de outro lado ; ficiente.
por isso seria bom que se rectificasse a vo Julga-se a materia discutida, e posto a votos
tação. o projecto, é approvado e passa para a segunda
O Sr. Presidente:—Vou por o encerramento discussão.
novamente & votação. NAVEGAÇÃO DO RIO PARNAHYBA
Consultada de novo a camara, decide por 36
, votos contra 3õ que a discussão deve ser encer Entra em segunda discussão o projecto r. 31 de
rada. 1850, autorisando o governo para contratar uma
O Sr. Fioueira de Mello: — Apenas por um Companhia que faça a navegação do lio Parna-
voto, por um reforço que chegou 1 E' uma oppres- hyba.
são, repito, da maioria contra a minoria ; é um O Sr. Teixeira, d© Macedo : — Julgo, Sr-
abuso da força. presidente, muito importante a materia deste pro
O Se. Araujo Lima: —Até nem quizerão ouvir jecto, porque com ella se tem de onerar os co
ao Sr. Ferraz 1 fres publicos, visto que se garante a esta com
Pendo-se a votos a adopção do projecto em 3° panhia um minimo de juro. Assim entendo que
discussão, ó elle adoptado. se deve adiar esta discussão para que o pro
jecto seja remettido á eommissão de industria
PENsÃ0 A MIGUEL DOS ANJOS PERES para dar sobre elle o seu parecer, ouvindo-so tam
bem a opinião do governu a respeito ; e neste
O Sr. Gomes Ribeiro (pela ordem): — sentido vou mandar á mesa um requerimento.
Achando-se na ordem do dia a resolução que Lê-so e depois de apoiado entra em discussão o
approva a pensão concedida a Mlgu 1 dos Anjos seguinte requerimento do Sr. Teixeira de Macedo :
Peres, que perdeu uma perna em serviço, julgo de « Requeiro o adiamento do projecto para que
equidade que V. Ex. prefira este projecto a outros
designados na ordem do dia. E' uma pequena seja remettido á eommissão de commerclo, in
dustria o artes, ouvindo-se a respeito a opinião
pensão concedida a um pobro soldado. Julgo qua
a camara quererá que elle entre no usufructo do gove.rno.— S. R:»
dest« beneficio, O Sr. Brandão : — Sr. presidente, tendo a
O Sr. Presidente:— O projecto de qne falia o honra de haver offerecido á consideração da casa
nobre deputado está tambem na ordem do dia : e otado projecto que se discute, e que o nobre depu
por isso, sem ser preciso votação da camara, vou neste deseja adiar, já tive occasião de sustentar
recinto a sua conveniencia. Agora, estando
pêl-o em discussão. elle submettido á 2» discussão, pretendia upro-
Entra em discussão o projecto r. 18 deste veitar-me da oppartunidade para apresentar um
anno que approva a pensão annual de l67fc'lõ0 projecto substitutivo, no qual, deixando ao go
concedida ao soldado do 1° batalhão de arti verno a faculdade de dar uma subvenção, sup-
lharia a pé Miguel dos Anjos Peres, ferido em primo a garantia do juro que se offerecé á com
combate, de que' lhe resultou soffrer amputa panhia que emprehender a navegação projectada,
ção da perna esquerda, sem prejuizo dos ven garantia que o honrado membro receia que venha
cimentos que por sua reforma lhe competem. onerar sobremaneira os cofres publicos.
vO Sr. Gomes Ribeino : — Como V. Ex. julgou Não sei, portanto, se offerencendo este projecto
estar dentro de auas attribuições submetter a substitutivo o honrado membro insistirá no seu
discussão este projecto de preferencia a outro adiamento. Como quer que seja, subsistindo sem
qualquer, pediria que elle tivesse uma só dis pre uma subvenção, sem a qual não é possivel
cussão, como se tem praticado com todos que se que se leve a effeito esta empresa, que julgo de
achão nesta circumstancia. maior alcance, e que é altamente reclamada pela
O, Sr. Presidente: — Convido aos Srs. depu provincia que tenho a honra de representar, e
tados a tomarem seus assentos, do contrario não edesejando que a camara tome uma decisão justa
conscienciosa a este respeito, uão me opporoi
pode haver votação.
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 295
ao requerimento do honrado membro, comquanto na legislatura passada um projecto autorisando
me julgue habilitado para dar as precisas in o governo a organisar uma companhia que rea-
formaçoes, e na casa exista um illustre membro lisasse a navegação entre o Ceará e o Mara
presidente- da minha provincia, que estudou esta nhão. Tive ordem do governo para informar
questão, e póde illustrar-nos sobro a materia de ácerca disso, e então oflereceu se-me occasião
que se trata com o fructo de suas observações. para dizer ao Sr. ministro do imperio que me
Em objecto de tanta magnitude como é este, sem parecia que a navegação do litoral entre o
- duvida ó de muita conveniencia ouvir-se a opi Ceará e o Maranhão não podia ser feita com
nião do governo ; elle que na sua marcha em vantagem sem que se estabelecesse a navegação
relação aos interesses materiaes tem tomado sem interna, pelo menos até á nova capital do
pre em consideração tudo quanto póde trazer van Piauhy ; porque V. Ex. concebe facilmente que
tagens reaes para o paiz, não terá seguramente os fretes devem augmentar muito com a nave
deixado do cousiderar a materia do projecto. gação interna, e que com esse augmento de fre
O honrpdo ministro do imperio no seu relato tes muito deve lucrar a navegação do litoral,
rio nos offerece sobre ella alguns esclarecimea- pelo que virá esta a precisar de menor auxilio
tos, que já tive occasião do trazer á memoria da do governo, o que ó favoravel aos cofres pu
camara : estou pois persuadido de que S. Ex. blicos. Isto foi o que eu disse ao Sr. ministro
tem muito em vista a navegação do Pirnahyba, do imperio, e depois, tendo occasião de conver
que en desejo ver levada a effeito por meio do sar com elle, deu-me a entender que se devia
projecto que offereci, habilitando o governo para cuidar da navegação fluvial ou interna.
semelhante fim. Reconheço as habilitações da no V. Ex. sabe que a respeito desta questão só ha
bre commissão de commercio e industria, e estou dous pontos sobre que se deve ouvir a opinião
muito convencido de que sondo o objecto de tanta do governo : o 1° ó se a navegação do Parna-
importancia, ella so empenharia, omais que fosse
fiossivel, em orientar a casa, apresentando um hyba será conveniente, e me parece que no es
tada actual, em que a politica tem cedido um
uminoso parecer om pouco tempo; mas conside immenso terreno aos melhoramentos materiaes,
rando que as commissões achão-se ordinaria não se póde contestar a conveniencia da nave
mente sobrecarregadas de muitos trabalhos, de gação- de um grande rio, tão facil em grande
maneira que nem sempre podem com a -precisa distancia. Sobre o segundo ponto, isto é, so as
urgencia auxiliar- nos com os seus pareceres, eu forças dos cofres publicos podem comportar as
ousaria, se o honrado membro me permitisse mo despezas pedidas no projecto para o auxilio dessa
dificar o adiamento que propoz, para que a este empresa, creio que ninguem pódo negar que,
respeito fosse somente ouvido o governo. Com a havendo sobra da receita, póde parte desta ser
opinião do ministro respectivo, e com as infor empregada neste melhoramento, que se na actua
mações que sobre a materia podem dar alguns lidade não produzir grandes vantagens indus-
membros da camara, estou convencido de que triaes, ao menos produzirá a de fortificar a ac-
nenhuma duvidi haverá acerca do melhor ac- çãc da autoridade nos altos sertões do Piauhy
corde que a camara deva tomar sobro o projecto e Maranhão, que tem estado até bojo entregue
em discussão, á sua propria acção. Portanto sobro estes dous
Lê.se, e sendo apoiado entra conjunctamento pontos a casa póde resolver com sabedoria sem
em discussão, o seguinte requerimento do Sr. informações estranhas á discussão.
Paranaguá : Agora quanto ás vantagens que se devão dar
« Requeiro qne seja ouvido o governo sobre a qualquer compinhia que emprehenda essa na
a materia do projecto. » vegação, o Sr. deputado pelo Piauhy já resol
O Sr. t. de Macodo:—Sr, presidente, não veu apresentada,essa difficuldade em uma emenda que vai
foi minha intenção, propondo o adiamento, demorar ser e que dispensa qualquer decla
ração do governo a tal respeito. Nessa emenda
o andamento do projecto, porque sou o primeiro a se diz que o governo dará á companhia a sub
conhecer as suas vantagens ; só tive em vista venção que entender mais' conveníonte sujeitan
habilitar a camara a, puder conscienciosamente do- a depois á approvação do corço legislativo ;
votar sobre uma matéria que onera os cofres e portanto para que ouvir sobro isso a opinião
publicos. do governo, quando este vai ter um arbitrio
O nobre deputado apresentou essas-idéas .con tão largo ?
forme as concebeu ; entretanto que a commissão A' vista pois das razões que tenho expendido,
respectiva póde, depois de ouvir o governo, e attendendo-so mais a que o nobre ministro
apresentar um projecto mais em conformidade da marinha póde expór á casa não só a sua opi
com os interesses publicos, á vista do outras nião, como a do nobre ministro do imperio,
idéas que talvez deixassem de occorrer ao no
bre deputado, e que podem ser apresentadas porque este negocio póde já ter sido tratado
em conselho, julgo desnecessario o adiamento,
pela commissão. o que o projecto deve ser approvado em segunda
Foi unicamente para dar esta explicação que discussão, podendo a camara ouvir em terceira
pedi a palavra. a opinião do Sr. ministro da marinha, que en
O Sr. Saraiva :—Sr. presidente, eu dese tão poderá enunciar a de seus i Ilustres collegas.
java votar pelo adiamento, porque elle importa Entretanto a camara decidirá em sua sabedoria
a acquisição de esclarecimentos que podem il- o que julgar mais acertido, porque estou mesmo
lustrar a casa; porém entendo que, não. só o disposto a votar pelo adiamento, so as razões
requerimento do nobre secretario, como o do hon que dei não induzirom o nobre secretario a re
rado membro pelo Piauhy, podem sér dispen tirar o seu adiamento, que em nada póde pre
sados pelas informações que o nobre ministro judicar o projecto..
da marinha está no caso prestar. Além disso O Sr. Zachartas (ministro da marinha) :—
estou habilitado para dizer á casa a opinião Como presidente que fui da provincia do Piauhy,
do Sr. ministro do imperio a respeito desta comprenendo
quostáo, porque tendo, como presidente do e as vantagensbem o assumpto que se discute,
que hão de resultar da medida
Piauhy, de dar esclarecimentos afim de que o proposta no projecto; e como membro do ga
governo formasse seu juizo ácerca da navega binete posso dizer que o governo pronuncia-se
ção do litoral, posso dizer o que se passou so em favor da empresa de que se trata.
bre isso, com o que talvez se satisfaça o no Mas, uma vez que o projecto apresenta uma
bre secretario. innovação, elevando ao dobro a quantia cuia
A camara estará lembrada de que votou-se concessão havia passado na casa.-..
296 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Paranaouá:—Eu pediria licença para as informações do governo ser submettidas ao
offerecer logo o meu projocto substitutivo. conhecimento, ao exame da commissão compe
O Sr. Zacharias: —Uma vez que o mesmo no tente. Supponha-se que o governo entende que
bre deputado pelo Piauhy. autar do projecto o o projecto devo soffrer alguma alteração, que
quer modificar como acaba de dizer, parece con deve ser emendado neste ou naquelle sentido,
veniente ser ouvido o nobre ministro do imperio, como se discutirá o projecto sem que a com
como aquelle a cuja repartição o negocio espe missão competente laça as alterações que julgar
cialmente pertence. convenientes, conforme a opinião do governo ?
Eu poderia incumbir-me de, bem inteirado de Depois de se obterem as informações do go
sua opinião, apresental-a na casa na terceira verno, devem ellas ser consideradas pela com
discussão... missão afim de emendar-sa o projecto, so assim
fór necessario ; isto é que é regular.
' O Sr. Paranaouá: —Apoiado. Talvez porém que acamara entenda que não pre
O Sr. Saraiva:—Seria melhor. cisa do auxilio, das luzes da commissão de
commercio, industria o artes, por não se achar
O Sr. Zacharias:—Mas que razão de utilidade ella habilitada para tomar conhecimento da ma
ha para que se embarace o adiamento com que tem ; ó verdade que ao menos pela minha
se pretende habilitar o proprio ministro do im parte, nenhum esclarecimento poderei dar, ne
perio n dar a sua opinião sobre esta materia? nhum serviço poderei prestar... (Não apoiados.)
Elie a expenderá brevemente em resposta ao O Sr. Paranaouá: —Eu fui o primeiro a reco
officio que receber, com todos os esclarecimentos
que estiverem no seu alcance. nhecer as habilitações da commissão.
Portanto, entendo que não deve haver escru O Sr. Almeida Albuquerque:— . .. se assim é,
pulo algum em votar-se pelo adiamento pro a culpa não é da commiisão, c sim da camnra
posto afim de ser ouvido o ministro da repar que nomiou uma commissão que não se acha
tição competente. Eu dou-lho o meu voto. habilitada para tomar conhecimento dos negocios
O Sr. Paranaguá (pela ordem) :—Sr. pre a seu cargo. (Não apoiados.)
sidente, tendo o governo de ser ouvido sobre Pelas razões, pois, já apresentadas na casa,
o projecto a respeito do qual versa a que-tão e que escuso repetir, voto pelo adiamento pro
do adiamento, e desejando eu apresentar, como posto pelo nobre deputado pelo Rio de Janeiro.
já declarei, um projecto substitutivo modificando Dando-se a materia por discutida, é appro-
o primitivo relativamente á navegação entre o vado o requerimento do Sr. Teixeira do Ma
Ceará e o Maranhão, quizera que V. Ex. me cedo.
dissesse se o regimento me permitte apresen O Sr. Araujo Lima requer dispensa de in
tai-o desde já, para que o governo possa bem tersticio para qne entre em terceira discussão
conhecer o estado da questão. na segunaa-feira o projecto que crêa os bispa
O Sr. Presidente: —Parece-me que será facil dos do Ceará e Minas Geraes.
ao nobre deputado, se o adiamento fór appro- O Sr. Presidente: —Vou consultar a casa se
vado, apresentar ao governo as suas idêas, sem approva a urgencia requerida pelo Sr. deputado
que seja necessario offerecer um projecto sub pela provincia do Ceará.
stitutivo quando se trata do um adiamento.
O Sr. Paranaouá: —Suje:tar-mo-hei á decisão O Sa. Aprioio: —Peço a palavra pela ordem.
de V. Ex. O Sr. Presidente:—Tem a palavra.
O Sr. Virialo: —Sr. presidente, visto que O Sr. Aprieio (pela ordem) : — O nobre
se trata do ouvir ao governo, julgo que será deputado pelo Ceará quer dispensa de intersti
melhor remetterem-se todos os papeis que ha cio afim de qne o projecto que crêa os dous
sobre essa materia. Por isso vou mandar á bispados seja dado para ordem do dia do se-
mesa um novo requerimento, porque entendo gunda-feira, o não requereu a urgencia; se a
que ao governo será mais facil dar o seu pa requeresse eu me opporia a ella, viste que as
recer sobre esse objecto tendo juntos todos os leis nnnuas são mais urgentes do que a crea-
papeis que lhe 'dizem reopeito, assim como os- ção destes bispados ; por conseguinte peço a
dous projectos, o primitivo e o substitutivo. V. Ex. que consulte a casa sobre a dispensa
Neste sentido mandarei um requerimento á do intersticio e não sobre a urgencia...
mesa. Um Sr. Deputado: —O resultado é o mesmo.
Achando-se na sala immediata o Sr. Amaro O Sr. Aprioio: —Não, senhor : a urgencia ó
Bezerra Cavalcanti, supplente pelo Rio Grande para que o projecto entre infallivelmente se-
do Norte, é introduzido com as cerimonias do gunda-leira, e a dispensa de intersticio é para
estylo, presta juramento e toma assento.—Con
tinua a discussão. ' fim diverso...
Vai á mesa o seguinte requerimento, que de O Sr. Corrêa das Neves:—Esses velhos sa
pois de apoiado entra em discussão : bem muita cousa.
« Accrescente-se ao requerimento do Sr. Pa O Sr. Aprioio:—.... é para que o projecto
ranaguá — remettendo-so ao governo todos os entre somente na ordem do dia de segunda-feira.
pipeis que dizem respeito a materia em dis Consultada a casa sobre o requerimento do Sr.
cussão. —S. R. — Viriato. » Araujo Lima, é approvado por grande maioria.
O Sr. Almeida Albuquerque:—Sr. pre Dá-se a ordem do dia e levanta-so a sessão
sidente, estou persuadido que a camara deve ás 2 Vi horas da tarde.
approvar o adiamento proposto pelo nobre de
putado pelo Rio do Janeiro, e não o que offe-
recêra o nobre deputado pelo Piauhy. Ou a
camara está suficientemente esclarecida sobre a
materia do projecto que se discute, o neste
caso não tem necessidade de informações e es
clarecimentos do governo, e portanto não deve
approvar adiamento algum, proseguindo na dis
cussão, ou precisa de ouvir o governo, attenta
a importancia da materia, e neste caso devem
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 297
Sessão em S7 de Junho « N. 8. — Requerimento de José Maria Xavier
da Cunha, pedindo em 28 de Junho de 1841 au-
1-RESILENCIA DO SB. PAULA CANDIDO (1° SECRETARIO). torisação para ter carta de cidadão brazileiro,
dispensado o tempo, que lhe faltava, da resi
Svaunmo,—Expediente.— Ordem do dia.—Creação dencia marcada na lei. Procede o mesmo funda
de bispndos. Discursos dos Srs. Livramento, mento.
Wanderley, I. Barbosa e Correa das Neves.— « N. 4.— Um requerimento de Jacques Gouffó
Fixação das forças de mar. Discursos dos dirigido á camara em 28 de Agosto de 1841, em
Srs. Paula Baptista e Saraiva. o qual solicita a mesma graça que o anterior.
Procede o mesmo fundamento.
A's dez horas, feita a chamada, achão-se pre « 1843— N. 5.— Uma queixa dirigida á camara
sentes os Srs. deputados Aprigio , Lindolpho , em Março de 1813 pelo padre Alexandre Francisco
Machado, Macedo, Jose Ascenso, Leal, Horta, Cerbelon Verdeixa contra differentes actos, de
Ribeiro, barão de Maroim, Gomes Ribeiro, Mi que accusava o então presidente do Ceará bri
randa, Bretas, Almeida e Albuquerque, Ferraz, gadeiro José Joaquim Coelho. Essa representa
Fleury, Bello, Teixeira de Souzi, Fernandes ção não tem documentos, que fizessem acreditaveis
Vieira, Monteiro de Barros, Belisario, Siqueira os actos denunciados. Procede o mesmo funda
Queiroz, Octaviano, Brusque, Livramento, Paula mento.
Cindido, Assis Rocha, Góes Siqueira, Ferreira
de Araujo, Araujo Lima, Pereira da Silva, Pa « N. 6.— Dous requerimentos dirigidos ao go
ranaguá, Pimenta Magalhães, Wilkens, Angelo verno imperial em 1812 por Marcellino Pereira
Custodio, Rocha, Taques , Saraiva, Vieira de de Vasconcellos contra a administração do pre
Muttos, vigario Silva, Paula Santos, Souza Leao sidente de Sergipe Sebastião Gaspar de Almeida
e Seára. Boto.— Nas actas da casa não consta a entrada
Comparecem depois da chamada os Srs. Ne- de semelhantes papeis na commissão. Procede a
bias, Ignacio Barbosa , Cruz Machado , Dutra mesma razão.
Rocha, Ribeiro da Luz, Belfort, Jacintho de « N. 7.— Uma petição de José Ignacio Pinto,
Mendonça, Wanderley, Domingues Silva, Bar subdito portuguez, pedindo dispensa do resto de
reto Pedroso, Soares de Gouvêa, Luiz Carlos, tempo de residencia legal, para ser naturalisado
Candido Mendes, padre Campos, Viriato, Paula cidadão brazileiro. E' datada de 16 de Junho de
Fonseca, Paula Baptista, Paes Barreto, Fiusa e 1843. Procede a mesma razão.
Nabuco. « N. 8.— Uma petição do padre Manoel José
Havendo numero legal, ás dez horas e tres dos Reis, subdito portuguez, assignada em 16
quartos, o Sr. presidente abre a sessão. de Abril de 1813, supplicando a mesma graça.
Lida, e approvada a acta da sessão anterior, Procede a mesma razão.
o Sr. 2° secretario, servindo o lugar de 1°, dá « N. 9.— Uma representação da camara de
conta do seguinte Campinas da provincia de S. Paulo, submettida
ao conhecimento da camara em 7 de Janeiro de
EXPEDIENTE 1843, em a qual pode se declare se os presi
dentes de provincia são compotentes, para annul-
Um requerimento de João Ferreira Lousada, larem eleições das camaras municipaes. Esta
solicitador da fazenda da segunda instancia no especie acha-se regulada pelo art. 118 da lei r. 387
tribunal da relação, pedindo augmento de or de 19 de Agosto de 1846.
denado.—A' commissão de pensões e ordenados. « N. 10.—Uma representação do actual depu
E' sem discussão apoiado o seguinte parecer: tado Dr. Candido Mendes de Almeida, contra
« Raymuudo Remigió de Mello, alferes do 11° as eleições a que se procedeu em 1842 na pro
batalhão de infantaria de linha, dirige a esta vincia do Maranhão, a qual foi presente á ca
augusta camara uma petição, sem documentos, mara em 2 do Janeiro de 1843. Está prejudicada.
em a qual reclama os postos e antiguidade de « N. 11. — Requerimento de José Antonio da
que fóra privado passando para a terceira Souza Yianna, subdito portuguez, pedindo em 15
classe. de Setembro de 1843 dispensa da residencia legal,
« Para que possa acr tomada em considera para ser naturalisado cidadão brazileiro. Está
ção a mencionada petição, é de parecer a com prejudicado.
missão de marinha o guerra que se peção in « N. 12.— Representação dirigida á camara dos
formações ao governo. — Paço da camara dos Srs. deputados em Fevereiro de 1813, por Fran
deputados, em 27 de Junho de 1853. — A. C. cisco José dos Santos Diamante contra as elei
Seára. — j. A. de Miranda. » ções geraes, a que se procedera na provincia de
E' tambem sem debato approvado o seguinte Sergipe em 1812. Está prejudicada.
parecer : « N. 13.—Uma petição de Joigo Guilherme Reut,
k A commissão de constituição e poderes, tendo pedindo em 21 de Agosto de 1843 dispensa da
examinado os papais, que fazem objecto deste lei, para ser naturalisado cidadão brazileiro.
parecer, e que vuo abaixo mencionados, é de Está prejudicada.
opinião ques os mesmos sejáo archivados pelas « N. 14.—Um officio do governo, cominunicando
razões que passa a expender a respeito do cada em Março de 1849 achar-so creada a villa da
um delles. Capivary, cabeça do districto para as eleições do
« 1841 — N. 1.— Um requerimento do deputado senadores e deputados. Sobre semolhmte materia
Marinho, offerecendo alguns documentos relativos nada ha hoje a providenciar.
á prisão do bacharel Francisco Ignacio de Souza « N. 15.—Uma indicação pelo deputado Pessoa
Gouvêa, e pedindo se recommendasse ao governo de Mello, em 22 de Abril de 1843, pedindo que
fizesse cessar a sua injusta detenção. Está pre a commissão interpuzesse o seu parecer sobre a
judicado. legalidade de se conservarem os presidentes do
« N. 2.— Um officio do governo, acompanhando Para, Pernambuco no exercicio de suas funeções,
a copia do decreto r. 68 de 29 de Março de 1841, durante as sessões da camara dos deputados.
pelo qual forão suspensos por um anno, na pro Procede o mesmo fundamento.
vincia do Rio Grande do Sul, as formalidades « 1844.—Um offlcio do governo de 16 de De
que' garantem a liberdade individual. Procedo a zembro de 1843, cobrindo a informação dada pelo
mesma razão. presidente do Maranhão ácerca da representação,
tomo X n
298 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
que á camara 'dos Srs. deputados dirigirão os tica, corpo de saude, estalo-maior de 1» e 2*
moradores da freguezia da Victbria, capital da classes, engenheiros e estado-maior general,
mesma provincia , contra as eleições a que se « § 2.» De vinte mil praças de pret de linha em
havia procedido em 1842. Existe a mesma razão. circumstancias ordinarias comprehendidos os cor
« 184C—N. 17.— Um officio do governo, cobrindo pos Je guarnição nas provincias, em que fór
a representação, que dirigira an corpo legislativo necessaria esta especie de força, podendo ser
o 2° tenente da armada José Bernardo de San licenciados cinco mil, na conformidade das dis
tarem, queixando-se de haver sido pr«so, quanlo posições do art. 3° do decreto r. 503 de 21 de
a sua posição de membro da assembléa provin Julho de 1850, e vinte e seis mil praças em cir
cial em exercicio, devera de impedir um seme cumstancias extraordinarias.
lhante procedimento da parte do governo. O 2° *i § 3.» De novecentas e sessenta praças de pret
tenente Santarem ó fallecido ha anaus. em companhias de pedestres.
« N. 13.—Uma representação dos habitantes da « Art. 2.» As forças fixadas no artigo prece
freguezia de Paz dos Afogados, provincia de dente completar-se-hão pelo engijamento volun
Pernambuco, queixando-se contra irregularidades tario, e, na insufficiencia deste meio, ptlo recru
commettidas na eleição de eleitores , a que alli tamento, feito em conformidade da carta de lei
se procedera em 30 de Março de 1844. Está pre de 29 de Agosto de 1837, elevada a seiscentos
judicada. mil réis a quantia que exime o recrutado do
« N, 19.—Requerimento de José Joaquim do serviço. Os que. se alistarem voluntariamente
Amarai , subdito partuguez , pedindo em 2 de serviráõ seis annos, e os recrutados nove annos.
Abril de 1845 dispensa da lei para ser nnturali- « Os voluntarios perceberão uma gratificação
sado cidadão brazileiro. E4á prejudicado. que não exceda á quantia do quatrocentos mil
« N. 20.—Um reouerimento do subdito João Téis, e, concluido o tempo de serviço, terão uma
Baptista Matazana, pedindo dispensa da lei para data de terras de vinte e duas mil o quinhen
ser naturalisado ciaadòo brazileiro, sendo este tas braças quadradas. O contingente necessario
para completar as dilas forças será distribuido
requerimento datado em 23 de Abril de 1345. em
Está prejudicado. circumstancias ordinarias pela capital do im
« Paço da camara dos deputados , em 27 de perio e provincias.
Junho de 1853, — J. A. de Miranda. — F. D. « Art. 3.» O governo fica autorisado a desta
Pereira de Vasconcellos. » car até quatro mil praças da guarda nacional,
em circumstancias extraordinarias.
Vão a imprimir os seguintes pareceres :
« A commissão do marinha e guerra, a quem EMENDA
foi presente o projecto do Sr. deputado Gomes
Ribeiro pelo qual é creado o lugar de substi « Artigo. Fica creado um commando de armas
tuto do secretario da capitania do porto desta na provincia do Amazonas.
córte e provincia do Rio de Janeiro, tendo em « Paço da camara dos deputados, em 27 de Junho
vista as informações a semelhante respeito dadas
pefò governo em o relatorio da repartição di de 1853.—A. C. Sedra.—J. A. de Miranda. »
marinha, julga o mencionado projecto digno da O Sr. Wlikens de Mattos : — Sr. presi
approvação desta augusta camara, e é por Uso dente, pedi a palavra para fazer um pedido a
do parecer que o mesmo entre na ordem dos V. Ex. Ha poucos dias foi distribuido na casa
trabalhos afim de ser discutido. um projecto, creio que r. 32 deste anno, apre
« A assembléa geral legislativa resolve : sentado pela nobre commissão de pensões e or
denados , approvando a pensão concedida por
« Art. l.» Fica creado o lugar do substituto decreto de 28 de Maio ultimo a frei José dos
do secretario da capitania do porto e provincia Santos Innocentes , residente na provincia do
do Rio de Janeiro, que perceberá o ordenado Amazonas, onde, o na do Pará, tem prestado
annual de 800$. mui valiosos serviços no longo espaço de 28
« Art. 2.» O governo marcará em regula annos, e no desempenho dos quaes adquirio mo
mento o modo por que devem funecionar estes lestias graves e incuraveis. Rogo pois a V. Ex. ,
empregados o suas respectivas attribuições. Sr. presidente, que se digne de admittir este
« Paço da camara dos deputados, em 27 de vel, projecto na ordem dos trabalhos que fór possi
Junho de 1853. — J. A. de Miranda. — A. C. favorvisto que o agraciado não tem aqui em seu
senão a minha fraca e mui fraca voz.
Sedra. » Aproveitarei a palavra para pedir ainda a
« A commissão de marinha e guerra, a quem V. Ex. um pequeno esclarecimento. O meu hon
foi presente a proposta do governo sobre fixa rado collega deputado pelo Pará (Pimenta Ma
ção das forças de terra para o anno financeiro galhães) pedio em uma das sessões passadas que
do 1855. ó de parecer que a mesma entro em fosse dado para ordem do dia o projecto r. 100
discussão. do anno passado, que vers i sobre a reforma dos
« Entende, porém, a commissão ser conve nfiiciaes da guarda policial do Pará e Amazonas.
niente adoptar uma idéa que vui indicada na Não sei se já foi dado para ordem do dia esse
projecto : recorrendo ao Jornal e ás actas não
respectiva emenda. E' a creação de um com
inando de armas na provincia do Amazonas, me tem sido possivel deparar com elle ; por
tanto, so ainda não foi dado para ordem do
no que está de accordo com o respectivo mi
nistro. dia. ...
« Reservando-so para em occasião competente O Sr. Pimenta Maoalhães: — Já o foi a meu
expender os fundamentos que justificão 'a men pedido.
cionada emenda, tom a honra de offerecer a O Sr. Wileens de Mattos : — uno minha
proposta do governo, convertida no seguinte pro fraca rogativa á do meu honrado collega, para
jecto de lei: que seja tambem dado quanto antes, visto versar
« A assembléa geral legislativa decreta : esse projecto sobre direitos adquiridos por muitos
cidadãos que valiosos serviços prestárão durante
« Art. l.» As forças de terra para o anno longos annos a favor da integridade do imperio
financeiro de 1854 a 1855 constarão : o do restabelecimento do Pará, os quaes hoje se
« § l.» Dos officiaes dos corpos moveis e de vêm obrigados, por não terem tido a felicidade
guarnição, dos quadros da repartição «eclesias de serem aproveitados na organisação da guarda
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 299
nacional, a servir debaixo das ordens daquelles O Sr. Livramento : — Sr. presidente, por
que mais afortunados agora forão então seus mais de uma vez a assembléa da minha pro
commandados. Peço pois a V. Ex. que tenha para vincia tem procurado obter do corpo legislativo
commigo a necessaria indulgencia por haver feito a desannexação do termo de Lages, pertencente
estes pedidos. ao bispado de S. Paulo, para transferil-o para
O Sr. Peesidente : — Eu não sei se o projecto o bispado do Rio de Janeiro: esta medida foi
a que se refere o nobre deputado já foi distri julgada de tão urgente necessidade que a assem
buido na casa ; assim como não sei tambem se bléa de minha provincia no anno de 1835, jul-
está incluido em alguma das ordens do dia pre gando-se autorisada a legislar a este respeito,
cedentes o projecto relativo á reforma da guarda determinou que a jurisdicção ecclesiastlca do
pplicial do Pará ; mas o nobre deputado bem vê termo de Lages fosse transferida para o bispado
que a posição em que me acho hoje é um pouco do Rio de Janeiro ; porém a assembléa provin
melindrosa, um pouco delicada, porque, servindo cial de S. Paulo, julgando-se lesada em seus
interinamente este lugar, não me parece muito direitos por essa resolução, representou á assem
attencioso para com o Sr. presidente effectivo da bléa geral contra cila, e pela resolução do 1° de
camara alterar as ordens do dia estabelecidas Maio de 1843 foi revogada a lei provincial pela
por S. Ex.; porém, como S. Ex. attende sempre qual se havia transferido a jurisdicção ecclesias-
as materias mais importantes para essas serem tica do termo de Lages para o bispado do Rio
dadas para ordem do dia, me parece que os pro de Janeiro.
jectos a que o nobro deputado allude serão to Desde então a assembléa da provincia que mo
mados em consideração por S. Ex., dando-lhes elegeu tem sempre reclamado da assembléa ge
a preferencia que merecem. ral legislativa uma medida que tenda a evitar
O Sr. Siqueira Queiroz : — Sr. presi" os inconvenientes que actualmente existem, anne-
dente , representante da provincia de Sergipe xando este termo ao bispado do Rio de Janeiro,
nesta camara, correndo-me por isso a rigorosa pois que os inconvenientes que se dão por elle
obrigação de clamar por seus direitos, de os fazer pertencer ao bispado de S. Paulo são obvios ;
valer na representação nacional, entendi que de e attendendo-se a que o termo de Lages dista
vera encetar esta tarefa pedindo o augmento de ao menos 150 leguas ua capital de S. Paulo ,
sua deputação, em perfeita harmonia e accordo que as communicações para essa provincia são
com o meu illustrc collega o nobre barão de Ma- de difficil e perigoso trajecto ; que aquelle muni
roim, por me parecer que esta é uma de suas cipio se acha soparado da provincia de S. Paulo
Srimeiras necessidades, um de seus direitos, que por immensos sertões, emquanto que dista ape
e ha muito devião ser attendidos. nas 29 a 30 leguas da capital de minha pro
São passados, Sr. presidente, já 20 annos que vincia ; attendendo-se a tudo isto, fica claro
o conselho geral da provincia de Sergipe enviou quaos são os Inconvenientes que ha para aquelles
aos poderes centraes representações, pedindo o povos de irem demandar soccorros espirituaes a
augmento de sua deputação, justificando sua pre- uma distancia tão longa, quando têm um lugar
tenção com irrefragaveis documentos, que em 1835 tão proximo em que poderião procural-os.
foi attendido pelo projecto r. 4ti6, offerecido pela Além disso, Sr. presidente, sempre resultão
commissão de estatistica; mas então desconhe- inconvenientes entre o poder temporal e o poder
ceu-se sua justiça, não obstante vir apadrinhado espiritual : o vigario vendo-so isol ido do dioce
com o augmento da /deputação pela provincia sano por uma tão consideravel distancia, pela
do Rio de Janeiro, que mereceu a approvaçáo, falta mesmo de commuuicações, póde elle prati
e a provincia de Sergipe continueu sem a repre car quantos escandalos bem quizer ; as queixas
sentação nesta casa, a que tem direito. que houverem contra elle chegarão tarde e serão
Ora, Sr. presidente, se ha 20 annos já se reco de difficil averiguação; embora o poder temporal
nhecia que a provincia de Sergipe tinha direito saiba dessas queixas e represente contra ellas,
ao augmento de sua deputação, como hoje mais tem de representar ás autoridades de uma outra
manifesto, e incontestavel não será este seu di provincia para fazêl-as chegir ao diocesano.
reito 1 A provincia de Sergipe, que a olhos vis Vé-se, pois, que graves transtornos podem resul
tos progride no augmento de sua população, de tar por continuar a pertencer aquelle termo á
sua riqueza, de sua illustração, que conta cres jurisdicção ecclesiastica da provincia de S. Paulo.
cido numero de moços esperançosos, será con- Em 1851 eu tive a honra de apresentar um
demnada a não ver nunca augmentada a sua projecto nesta casa pedindo a separação daquello
deputação, como ordenão os principios constitu- termo do bispado de S. Paulo para annexal-o
cionaes ? Por certo que esta camara justiceira, ao bispado do Rio de Janeiro. Este projecto
como é, não deixará de attemler a esta necessi foi remettido á commissão de negocios ecclesias-
dade, do reconhecer este seu direito : portanto ticos, que entendeu não pertencer ã assembléa
julgando occasião azada animo-mo a rogar a V. geral decidir esta materia; este parecer foi com
Ex. que com urgencia' dando para ordem do dia batido por mim e por uma emenda do nobre
sujeito á discussão o projecto r. 16 de 1852 qne deputado por S. Paulo o Sr. Silveira da Motta,
permitte á provincia do Sergipe dar mais tres foi remettido ao governo paro se ouvirem as
deputados, o um senador, embora reconheça que opiniões dos respectivos diocesanos ; até huje
este augmento ainda não se acha em relação á porém semelhantes informações não vierão ain
sua população que todos os annos cresce acom da á casa e eu creio que não conyém que con
panhada de illustração e riqueza. tinue a demorar-so uma medida de tão urgente
O Sr. Presidente:— Faço ao nobre deputado necessidade. Creio por isso conveniente apre
a mesma observação que fiz ao nobre deputado sentar um artigo additivo a este projecto pedin
pelo Pará o Sr. Vfrlkens do Mattos. Incluirei na do que igualmente o governo seja autorisado a
ordem do dia o projecto a que o nobre deputado impetrar da Santa Se a bulia conveniente para
se refere, a o Sr. presidente effectivo da camara que o termo de Lages seja desannexado da ju
lhe dará a preferencia que lhe merecer. risdicção ecclesiastica de S. Paulo, para que
fique como os outros termos de minha provincia
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA pertencendo á jurisdicção do bispado do Rio de
Janeiro.
CREÀÇÃO DE DOUS BISPADOS . Mando á mesa o artigo additivo.
Entra em 3* discussão o projecto r. 13 deste « E' igualmente autorisado o governo a impe
anno creando um bispado na provincia de Minas, trar da Santa Sé a bulia necessaria para desan-
e outro no Ceará. nexar da' jurisdicção episcopal de S. Paulo o
300 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
termo de Lages, que ficará pertencendo a juris bom som que era sua opinião que cada pro
dicção do bispado do Rio de Janeiro. — Livra vincia tivesse um bispado.
mento. » O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado.
O Sr. Wanderley : — Sr. presidente, é O Sr. Ionacio Barbosa:— O nobre deputado
reconhecido como summamente vantajoso que a impugnou o projecto, porque, no seu modo de
circumscripção ecclesiastica vii quanto ser possa entender, elle invadia as prerogativas da Santa
de accordo com a circumsci ipçáo civil, e nesse Sé, porque creava um bispado sem que o poder
sentido acaba de fallar o honrado deputado re temporal tivesse para isso o mais leve titulo
presentante pela provincia de Santa Cathatina. de competencia ; mas o nobre deput ido encarre-
Eu dou o meu completo assenso ás razões um gou-se de responder a si mesmo, declarando
que o .nobro deputado se fundou para propòr a que desistia dos seus escrupulos, porque estava
desmembração de uma freguezia pertencente ao convencido que sua santidalu, pela sua bondade o
bispado de S. Paulo, e unil-a aquello de que pelo bem que queria ao seu rebanho, reconhecendo
faz parte a provincia de Santa Cithmna. a necessidade e utilidade desse bispado, acolhe
Por essas mesmas razões tenciono mandar á ria o pedido sem que por isso julgasse preju
mesa uma emenda destacando dos bispados de dicado o seu direito de exclusiva competencia
Pernambuco e do Rio de Janeiro algumas fre- para a creação de bispados.
guezias que estão encravadas no territorio da Além destes dous nobres deputados nenhum
provincia da Bahia, reunindo-as ao arcebispado outro mais impugnou o projecto ; e nestas cir-
desta provincia, para se seguir assim aquelle cumstancias bem vê a camara que eu devera
principio de utilidade publica que enunciei de que limitar-me a dar o meu voto symbolico de
a circumspecção civil deve, quanto ser possa, ir adhesão ao projecto. Mas o nobre deputado pela
ue accordo com a circumspecção ecclesiastica e Parahyba do Norte collncou-me na necessidade
vice-versa. de entrar nesta discussão, porque tendo eu dito
Para que a camara reconheça a conveniencia em um aparte ao nobre deputado que a creação
e necessidade da emenda que pretendo mandar do bispados não era materia que d-pendia es
á mesa, basta dizer que na provincia da Bahia sencialmente da jurisdicção papal...
existem sete freguezias pertencentes ao bispado
de Pernambuco, freguezias que distão da séde nãoO ouvimos.
Sr. Corrêa das Neves dá um aparte que
deste bispado mais de 300 leguas, e que nen
huma communicação directa têm com a provincia O Sr. Ionacio Barbosa: — ... quando se pro
de Pernambuco.. . punha o nobre . deputado a mostrar que a
O Sr. Aprioio : — Apoiado. creação de bispados era da competencia unica,
exclusiva da Santa Sé, que o poder temporal
O Sr. Wanderlev : — Toda a communicação não tinha para isso jurisdicção alguma, que
das autoridades ecclesiasticas dessas freguezias essa creação não era do jurisdicção mixta, que
com o bispado de Pernambuco faz se pelo inter o poder temporal devia limitar-se a pedir ,
medio da capital da projincia da Bahia, pois assim como fazião os antigos reis de Portugal,
me parece incontestavel a conveniencia de re- essa creação, o nobre deputado não duvidou
unir-se ao arcebispado da Bahia essas freguezias clizer-me que não respondia ao meu apirte para
em numero de 7, que ora pertencem ao bispado não dar lugar a que fosse elle consignado no
de Pernambuco. seu discurso.
Igualmente existem pertencentes a provincia Sr. presidente, o governo ecclesiastico tem,
do Rio de Janeiro 10 freguezias que compre- intimasnem póde deixar de ter, as relações as mais
hendem duas comarcas da provincia da Bania ; com a ordem e a felicidade do paiz.
são as comarcas de Porto Seguro e Caravellas. Dahi resulta necessariamente que o poder tem
Toda a camara sabe que pouca ou nenhuma poral não póde nem deve ser estranho á. orga-
communicação existe entre estas duas comarcas nisação ecclesiastica. Ora, a creação dos bispados
e a provincia do Rio de Janeiro senão por inter e divisão das dioceses iaz parte implicita da
medio da provincia da Bahia. organisação ecclesiastica ; portanto parece-me que
O que disse o Sr. arcebispo da Bahia a res não emitti nenhuma proposição absurda, dizendo
que o poder temporal tem jurisdicção e motivo
peito das freguezias daquelle arcebispado, que muito
estão na provincia de Minas, eu applico as valioso para a creação dos bispados.
comarcas de Porto Seguro e Caravellas, em re Em conformidade com este principio de di
lação ao bispado do Rio de Janeiro; e portanto reito publico, principio que não póde razoavel
mandarei uma emenda para que tambem se mente ser contestado, a igreja por dilatados
possa impetrar da Santa Sé a sua acquiescien- seculos, até o seculo XVI, na maior parte dos
cia para essa desannexação de que acabo de paizes vio n mear os seus bispos por eleição,
fallar. (Apoiados.) e eleição popular; os papas não tinhão inter
ferencia, não tinhão intervenção alguma na no
O Sr. Ignacio Barbosa: — Sr. presi meação dos bispos.
dente, era meu proposito não tomar parte na dis Ora, se isto se deu por dilatados seculos, em
cussão, não só porque não tenho habilitações época em que o poder papal tinha invadido até
para entrar em questões desta ordem, como as attribuições do poder temporal, como na
porque ainda não vi contestada por ninguem a média idade, devo. crer que a creação dos bis
utilidade da creação dos dous bispados a (que se pados não depende essencialmente di jurisdicção
refere o projecto de que tratamos. papal. Foi depois da concordata de 1516, con
O nobre deputado pela provincia da Bahia cordata feita para prevenir um schisma, que os
ue impugnou o projecto fel-o com fundamento papas passáráo a ter o direito de intervir na
e que não havião informações dos diocesanos ; nomeação dos bispos.
mas o nobre deputado deve estar satisfeito com O nobre deputado pela Parahyba do Norte
as explicações que se lhe deu, e com a exhibi- nos trouxe o exemplo dos antigos reis de Por
ção de cartas do nosso metropolitano, donde se tugal, que constantemente pedirão & Santa Sé
colhe que elle é de opinião que se creem esses as bulias da creação de bispados ; e o nobre
bispados. deputado, dizendo que os antigos reis de Por
O nobre deputado pela provincia da Parahyba tugal havião pedido, insistio na palavra — pedir
do Norte, que tambem impugnou o projeoto — para mostrar que os reis de Portugal, quando
não desconheceu a utilidade da creação desse, pedião, reconhecião a exclusiva competencia da
dous bispados, pelo contrario declarou alto e Santa Sé para a creação dos bispados...
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 301
O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado. | dos Srs. deputados que fica creado um bispado,
O Sr. Ionacio Barbosa : — Mas o nobre depu tem o direito de fazêl-o, declara-o muito bem,
tado esqueceu-se que nessa época os reis de 1 porque crea-o emquanto pódo crear nos limites
Portugal rcpresentavão a soberania da nação, e da sua competencia ; á Santa Sé fica o direito
que portanto o pedido desses reis significava a livre de não acquiescer a essa creação. Se o
expressão da vontade do poder temporal de nobre deputado, autor do projecto, teve a deli -
uma maneira urbana, attenciosa paru com o cadeza de declarar por uma emenda que ficava
chefe da igreja. Dalii, pois, não se póde dedu o governo autorisado para impetrar da Santa
zir que esse pedido fosse uma concessão ao .Sé essa creação de bispidos, fêl-o porque quiz ;
principio emittido pelo nobre deputado, isto é, da mesma maneira os reis do Portugal quando
a exctusiva competência da Santa Sé para a podião, não renunciarão a esse direito, fazião o
creação dos bispados. que nós hoje fazemos, isto é, os reis de Portugal
O n ibre deputado nos trouxe ainda disposi pelo poder absoluto que Unhão declaravão á Santa
ções do concilio de Trento. Sr. presidente, o Sé que o poder temporal por seu orgão queria
concilio de Trento no que diz respeito ao a creação de um bispado, mas declaravão-o de
dogma, á fé, foi aceito, é geralmente recebido uma maneira attenciosa, urbana, como quer
por todas as nações catholicas ; mas no que fazer a camara.
respeita á policia da igreja, no governo eccle Sr. presidente, eu ainda acho no discurso do
siastico, no que respeita a attribuições ecclo- nobre deputado um argumento para sustentar
siasticas nunca foi recebido indistinctamente. qne o poder temporal não póde ser estranho á
Diz o Sr. Borges Carneiro a respeito desse creação dos bispados, e mais ainda que ao poder
concilio o seguinte : « Posto que o alvará de temporal pertence e deve pertencer a iniciativa
12 de Setembro de 1561 mandasse a todas as desta cieação. O nobre deputado disse que,
autoridades do reino e dominios que dessem quando os reis de Portugal pedião a creação
toda a ojuda e favor que pel-is prelados lhes dos bispados, partindo delks e não dos papas
fossem requeridos para execução dos decretos a idéa da creação, era isto devido á circum-
do concilio tridentino, mandados guardar pela stancia de serem elles os mais habilitados para
buliu de 25 de Janeiro do dito nono, a qual se conhecer da necessidade dessas creações....
havia com elles publicado na Só de Lisboa ; e O Sr. Courèa das Neves : — E isto é argu
posto que o decreto de 8 de Abril de 1569 mento que prove contra o direito do Papa ?
acoitisse nova e indistinctamente o dito conci
lio e o mandasse inteiramente praticar neste O Sr- I inacio Barbosa : — Servo para provar
reino e conquistas ; comtudo e*tas leis, devidas que a iniciativa da creação dos bispados deve
li educação do Sr. rei D. Sebastião, que contava pertencer ao soberano, á autoridade temporal.
então 10 annus de idade, e á nociva influencia Portanto, Sr. presidente, ou creio que náo disse
dos jesuitas, nunca se puzerão em observancia, nenhuma heresia, nem mesmo podia ser taxado
bem como nem o mesmo concilio assim indis de scismatico quando oinitti a proposição de que
tinctamente. Pois nas materias temporaes não a Santa Sé não tinha a competencia exclusiva
podião ser valiosas tantas novidades contrarias para a creação dos bispados, que esta creação é
as leis, costumes, concordatas e regalias de de jurisdicção mixta.
Portugal, dependentes da soberania o não do Pesumindo-me, Sr. presidente, direi que a crea
poder espiritual e esta mesma sorte teve o ção dos bispados não é por sua natereza essen
concilio em Veneza, Napoles, Flandres, etc. » cialmente pertencente á jurisdicção papal, e creio
Em verdade, Sr. presidente, como se poderia têl-o demonstrado, não só pelas necessidades a
admittir o concilio de Trento no que respeita que cumpre prover de remedio o poder tempo
ao governo ecclesiastico, á policia da igr. ja e ral, senão tambem polo facto observado em uma
nos privilegios dos ecclesiasticos, se esse con longa serie de seculos, qual a dos bispos eleitos
cilio determina que os ecclesiasticos tenho attri pelo povo ; 2", que polo nosso direito actual e
buições e privilegios em materias puramente nela relação em que está o estado com a igreja,
temporaes, para que não possão ser punidos a creação dos bispos é hoje de jurisdicção mix
pelas autoridades temporaes, e nem devão a ta ; 3°, finalmente, que a opinião por mim pro
ellas obedecer ? fessada, por muito pouca orthodoxa que seja não
(Ha um aparte) póde ser qualificada de heretica (e nisso tenho
muito empenho como catholico.)
Diz -o nobre deputado que ha leis nossas a
esse respeito ; ha com effeito os alvarás de 3 O Sr. Corrêa dás Neves : — Não tenha receio
e 17 de Março de 1770, que declarão, e declarão disso.
muito terminantemente, que para a erecção e O Sr. Ionacio Barbosa : — . . . porque o governo
divisão dos bispados tem perfeita jurisdicção o ecclesiastico, que é o objecto que nos oceupa, não
soberano, isto e, a erecção ou divisão dos bis tem nem nunca teve cousa alguma de dogma
pados pertence á jurisdicção mixta, é da auto tico ou de fé, nada implica com o dogma oucom
ridade do papa e da autoridade do poder a fé.
temporal. Logo, quando a camara dos Srs. de O Sr. Corrêa das Neves : — Peço a pilavra.
putados dá autorisação ao governo para impe
trar da Santa Sé na bulias da creação de um O Sr- Ionacio Barbosa : — Concluindo direi que
bispado, a camara exerce um direito, porque espero bem que o nobre deputado pela Parahyba
tem competencia paru a creação dos bispados do Norte, quando tiver de responder-me, não me
fulmine, excommunhão, não me considere heretico,
O Sr. CouhÈA das Neves : — Quem lh'a deu ? porque posso apadrinhar-me com S. Luiz, rei da
O Sr. Ionacio Barbosa : — Derão-lhe os dous França...
alvarás que acabei de citar, e que ainda não
forãc revogados; derão-lhe os principios da tãoO longe. 8r. Corrêa das Neves : — Não é preciso ir
,
organisação politica que temos admittido, por
que não posso comprehender que sub-ista um O Sr. Ionacio Barbosa : — . . . que pela sua
governo ecclesiastiçq, entre nós sem que seja pragmatica de 1268 declarou que os papas não
superintendido pelo governo do estado, sem tinhuo competencia para creaçao dos bispados,
que o poder temporal tenha i. torvenção, e in sustentando o direito da eieição dos bispos na
tervenção muito legitima, nessa organisação. sua nação sem interferencia da Santa Sá.
(Apoiados.) O Sr. P. de Campos : —Creio que disse o con
Assim, Sr. presidente, declarando a camara trario : recorra ao direito ecclesiastico da França
302 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
S. Luiz não podia consagrar semelhante dou se devião pagar o tributo a Cesar, Jesus-Christo
trina. lhes respondeu fazendo-lhes antes uma pergunta :
O Sr. Corrêa das Neves : — Talvez fosse erro « De quem é a imagem que se acha impressa
de typographia ; devia recorrer a errata. no vosso dinheiro?—E' do Cesar, lhe responde
rão.—Pois bom, tornou-lhes elle, dai a Deos o
O Sr. Ionacio Barbosa : — Eu me comprometto que é do Deos, e a Cesar o que é de Cesar. »
a apresentar ao nobre deputado o Sr. Laferriére, fazendo assim sentir a distincção palpavel que
onde o nubre deputado encontrará essa disposi ha emre o poder temporal e espiritual, a inde
ção da pragmatica de 068. Tenho concluido. pendencia clara dos dous poderes.
O Sr. Corrêa das Novos i — Aindfl de Quando Jcsus-Christo reunio seu apostolado,
baixo das influencias dos principios enunciados deu a um dos apostolos a supremacia sobre os
pelo nobre deputado pelo Ceará, que acaba de outros, o nem Cesar, nem os governadores da
sentu-se, tomo a palavra tremulo e vacillante... Galiléa e nem o povo forão consultados, o nem lhes
forão pedidos os nomes dos individnes que havião
Um Sr. Deputado :—Isso é que máo. de compor aquelle apostolado.
O Sr. Araujo Lima : — Não ha motivo para Quando Judas trahio sem Divino Mestre e
tanto. aguillioado pela consciencia se enforcou, deixando
O Sr. Correa vas Neves :— . . . porque não soi vago um dos doze lugares, os apóstolos se
se o mesmo nobre deputado consente que eu reunirão e elles mesmos elegerão d'entre os
sustente os meus principios sem pedir licença discipulos quem devia devia succeder ao trahidor :
ao governo temporal. num Herodes, nem Pilatos, nem qualquer outro in
dividue que exercesse poder temporal ou religioso
O Sa. Araujo Lima :—Isso é exageração. entre òs judeos, foi chamado a esse concilio para
O Sr. Corrêa das Neves:—O nobre deputado dizer quem devia oceupar o lugar vago por morto
disse que hoje estavamos em um tempo em que de Judas.
o governo temporal deve te* uma suprema in Pois o nobre deputado, que ó tão entendido
specção, deve ter o direito de intervir em todos na materia, que foi revolver as primeiras paginas
os negocios ecclesiasticos, em todos os seus prin do christianismo para nos apresentar a eleição
cipios e disciplina... dos bispos feita pelos fieis no estado excepcio
nal em que se achava a primitiva igreja, por-
O Sr. Araujo Lima : —Não disse isso. ?(ue não voltou algumas folhas mais, e não
O Sr. Corrêa das Neves :— ... do sorte que oi ver a eleição de Mathias feita pelos apos
o poder ecclesiastico, e não só elle como suas tolos ?
doutrinas, está actualmente entre nós, em tudo O Sr. Siqueira Queinoz : —Nesse tempo não
ou quasi em tudo sob a dependencia do governo havia constituição.
civil.
O Sr. Wanderlev :—N$o foi tão lato. O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, ó ver
dade que nos primeiros tempos da igreja os
O Sr. Corrêa das Neves:—O nobre deputado fieis se reunião para indicar o individne de
apresentou os principios que me parecem muito seu gremio que tinha mais virtudes, que tinha
semelhantes aos apregoados pelos maiores ini soffrido mais por amor do christianismo, e que
migos dà igreja... devia ser elevado ao episcopado ; mas devemos
O Sr. Ionacio Barbosa :—Está enganado. attender a que a igreja em seu começo era
perseguida ; que os fieis se reunião nas catacum
O Sr. Correa das Neves : — . . . o vendo cu bas, fugindo do poder civil, e não tinháo ainda
que esses principios, bem longo de serem re regularisado esse nexo essa ordem harmoniosa que
provados unanimemente, acharão assentimento em hoje se observa nas differentes jerarchias ecclesias-
alguns de meus illustres collegas, realmente re ticas, que existindo de diroito ainda não func-
ceio que se me não queira privar do direito cionavão. Como pois argumentar o nobre depu
que, não como sacerdote, mas como cidadão, tado com o tempo primitivo, em que a igreja
como representante do povo, devo ter de sus era perseguida, em que essas nomeações tinháo
tentar intactos e puros os direitos da igreja. de ser feitas fóra das regras geraes, para o
O Sr. Góes Siqueira: — Faz muito bem, é uma tempo presente?
cousa nobre. , O Sr. Ionacio Barnoza: — Isso aconteceu até o
O Sr. Corrêa das Neves : — O nobre depu seculo XVI, época em que a igreja mais pre
tado pelo Ceará fulminou o direito que o papa dominou.
tem de fazer unica e exclusivamente a divisão O Sr. Corrêa das Neves : — Póde ser que
dos bispados ; o nobre deputado fulminou até o ainda sobre isso haja algum erro typographico
concilio de Trento ; o nobre deputado, ao que no expositor do nobre deputado ; mas damos
parece, ainda foi mais adiante, mostrou querer que esse costume alcançasse a esse seculo, e
que a nomeação dos bispos seja eleição po neste caso direi que essa maneira de eleger
pular. continuava porque delia ainda não tinhão resul
O Sr. Araujo Lima :' — Não quer isso ; apenas tado abusos; mas desde o momento em que o
fez o historico dos tempos passados. chefe da igreja reconheceu os abusos qne pro-
vinhão dessa eleição popular, dessa eleição demo
O Sr. Corrêa das Neves -• — Senhores, sou muito cratica, elle chamou a si um direito, só por
amigo da democracia, mas não quero a democra delegação tacita parava na mão dos fieis. Pois
cia na religião. Nós temos na igreja differentes não ó cousa tão comesinha, tão usual entre nós,
gráos de jurisdicção e poder gráos de jurisdicção e mesmo conforme o direito, que quem tem
e poder dimanados directamente de Deus sem um poder o possa delegar? Como admirar que
o concurso do poder civil ou do povo. Jesus- o summo pontifice delegasse por mais de uma
Christo, quando se apresentou prgeando a sua vez o direito que tinha e tem de nomear os
doutrina, quando tratou de instiuir a igreja, não bispos ?
foi pedir licença a Cesar, não foi rogar-lhe que Um Sr. Deputado : — Foi delegação tacita ou
lhe desse autorisação para prégal-a, para crear expressa ?
a sua, e nem foi pedir aos judeos ou pagãos de
legação para isso. O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, as diffe
Quando os Scribas, e doutores da lei, que rentes nações catholicas têm alcançado de alguns
rendo tental-o, maliciosamente lhe perguntarão , summos pontifices certas prerogativas em com
SESSÁO EM 27 DE JUNHO DE 1853 303
pensação do zelo com que seus imperantes ani- é a terceira vez que a peço, e não cedo mais
mayão a religião. Em Portugal, por exemplo, os delia.
firincipes ftur direito de padroado, pelo qual O Sr. Presidente^ (dirigindo-se ao Sr. Corrêa
lies pertence apresentar os padres que devem das Neces): —Eu nao quero impedir e nem de
ser nomeados bispos á approvação do papa. Esse maneira alguma obstar ao Sr. deputado a apre
direito passou para o Brazil por uma especie sentação de suas idéas sobre o projecto, sómente
de jus hereditario, que tem sido confirmado pelos lhe qulz lembrar que estamos para entrar na
mesmos pontifices tacitamente. 2* parte da ordem do dia.
Na França, porém, a maneira de escolher os bis-
posjá é lifferente. O nobre deputado citou o exem O Sr. Corp'\v das Neves :—Pois bem, vou f izer
plo daquelle paiz, mas se esqueceu de que ali pjr concluir o meu discurso.
ha pouco tempo, creio que no reinado de Luiz O nobre deputado que me combateu, o que
Philippe, houve se de tratar da creação de varios tem estudado as materias theologicas, que está
bispados, e o summo pontifice, por certas cir- sufficientemente instruido do direito canonico, por
cumstancias, por váfias conveniencias entendeu que felizmente o direito cononico ó de facil accesso
que devia annuir sem audiencia dos bispos, mas a tod i e qualquer pessoa, e qualquer homem
estes so oppuzerão, e grandes embaraços appa- póde ser casuista theologo, póde tratar e tratar
recerão, pelo que forão enviados varios legados ex processo do direito ecclesiastic> ; o nobre depu
perante a curia romana, e só então foi que se tado, digo, apresentou-se combatendo o concilio
decidio esse negocio de uma maneira conveniente de Trento, e disso : « Senhores, esse concilio
a ambos os poderes, então foi que ficárão crea- nunca foi recebido em todos os paizes, e só o
dos esses bispados. foi em Portugal, porque nesse toixipo reinava
Se o poder civil é que tem direito de nomear um principe menor que tinha sido educado pelos
os bispos (coifio quer o nobre deputado), se não jesuitas (homens cujos nomes ainda hoje são tidos
pertence ao poder espiritual senão o direito de por horrorosos,) e por isso não deve e nem póde
intervir cummulativamente nessa nomeação, como vigorar hoje entro nos a disposição desse concilio. »
tambem quer o nobre depuUdo, direi que os Senhores, creio que o nobre deputado sómente
bispos eleitos na Inglaterra pelos papas não são attendeu a que nas disposições do concilio de
bispos legitimos, porque na nomeação delles não Trento ha principios dogmaticos e principios de
ha o concurso do poder temporal. E se taes bispos disciplina, mas deve tambem attender que nessas
o erão legitimamente, como o não serião, se para disposições ha prneipios disciplinares que versão
a sua nomeação fosse mister o concurso do poder sobre as relações intimas da igreja e poder
temporal? Se n doutrina do nobre deputado é temporal, que essas só poderião ter vigor na
verdadeira, não vê que ella deve ir suscitar duvi sociedade se o governo lhes prestasse o seu assen
das na consciencia dos fieis catholicos romanos timento, porque dizião respeito aos fieis como taes
que pertencem á nação ingleza. e como cidadãos. O nobre deputado certamente não
O papa nunca entendeu, e nem com a ello igreja, fez essa reflexão.
que fosso indispensavel que o poder temporal E' certo que algumas dessas disposições do
tivesse parte simultanea na creação dos bispados, concilio de Trento não forão aceitas pela nossa
e nós vemos como disse na Inglaterra, nos lugares constituição, como não forão as que o nobre
aonde é reconhecido o poder do papa, que este deputado apresentou, as de privilegio de fóro,
faz a divisão dos bispados, e ellas são legitimas ; que nos quiz atirar em rosto, como se nós quizes
e sendo pois esse facto verdadeiro, como argu se mos constituir uma classe privilegiada, que não
mentar com a tolerancia dos papas? Ao esbulho pudesse ser julgada senão no fóro privativo,, fóro
que se lhe tem feito? que, direi, de direito nos pertence, e que em-
Eis a razão porque a primeirai vez que se quanto não fór restabelecido, a igreja não póde
apresentou esse projecto em discussão eu pedi a ter a importancia oyie deve ter. Sr. presidente,
palavra para advogar o direito da igreja, visto com esses privilegios nós tinhamos penas mais
que o poder temporal, pollegada a pollegada, rigorosas, e não estavamos fóra da alçada de
palmo á palmo, vai invadindo o terreno do po uma justiça; e o que vemos nós hoje depois que o
der espiritual, e logo que não encontre opjjfcsi- nosso fóro foi supprimido?. . .
ção, irá passando avante e argumentando com Senhores, cu não quero entrar em questões
as conquistas que fór conseguindo, como se ellas odiosas, não quero mesmo offender a uma parte
dessem direito. Só logo que o governo temporal co do poder judiciaria do meu paiz, mas direi que
meçou suas invasões a igreja sustentasse seus talvez fosse mais conveniente á moral publica
direitos, certamente que nós hoje não estariamos e á sociedade que ainda hoje o fòro do clero
argumentando contra factos, e contra aquelles que subsistisse. Infelizmente, Sr. presidente, ao passo
com elles querem provar que o papa não é o que se nos atira á face com uma aceusação
unico e legitimo para a creação dos bispados. odiosa de privilegios, talvez com a insinuação
Tal foi a razão por que me oppuz em termos de querermos ser irresponsaveis, quando se nos
a esse projecto sómente, e não porque quizesse diz: k vós já constituistes uma classe privile
que a minha doutrina, qne é o meu pensa giada, » nós vemos que a classe dos Srs. juizes
de direito querem privilegios de fóro pira si...
mento prevalecesse, porque me reconheço fraco, Vós, juizes de direito, que não quereis privi
e qne minha debil voz nada mais conseguiria do legios de fóro para a classe dos sacerdotes, qual ,
que fazer apparecer no seio da represpntação a razão porque quereis privilegio de fóro para
nacional (foi isso o que eu tive em vista) uma a vossa?...
voz, um protesto para que se reconhecesse que
não passava desapercebida uma usurpação aos Uma Voz : — Nessa parte teta razão.
direitos da igreja sem a maior impugnação, como O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, nem eu
direito reconhecido... nem os meus collegas queremos restabelecer esse
O 6r. Presidente : — Perdòe-me o nobre dopu- fóro ; assús de dores temos soffrido, assás de
pulado a observação que lhe vou fazer. Notarei satyras nos têm pungido, porque infelizmente o
ao nobre deputado que está dada a hora de en homem que pertence á classe sacerdotal, hoje
trarmos na 2'parte da ordem do dia, o por isso é olhado com indffferença (não apoiados), não
desejo saber se ainda terá muito a dizer ? direi com desprezo, mas digo com indifferença,
O Sr. Corrêa das Neves:— Eu muito tinha porque em sua vida tudo é reprehensivel, poia
a dizer; porém... se se apresenta com certa seriedade é increpado
de hypocrita e impostor (não apoiados) ; é im-
O Sa. Pinto de Campos:—Eu pedi a palavr.i, moral, de costumes pouco severos se so porta
304 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
com fraqueza, para desejarmos qualquer um elo poder civil, como dizer-se que elle deve ter uma
gio, que nos desafiem odiosidades. .. (Não apoia inspecção sobre a igreja no sentido em que
dos.) fallou o nobre deputado ? Eu quero que o poder
Um Sr. Deputado: — E não ha um meio termo? civil tenha uma tal ou qual inspecção ou inge
rencia na igreja ; mas quero uma iuspecção ou
O Sr. Corrêa das Neves: — Senhores, o calor gerencia servatis servandis, que seja uma ge
du discussão me levou fóra da materia, mas eu rencia ou protecção, mas não do usurpação, não
tornarei a elli. de perturbação, não de dominio.
O nobre deputado que me combateu, senho Creio que tenho respondido ao nobro doputado.
res, não comprehendeu os meus principios, talvez Esta discussão fica adiada pela hora.
porque não me expressa bem em ordem a ser
por elle comprehendido ; mas eu disse que votava SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
pelo projecto, porque não queria suscitar rivali
dades ; disse que votava pelo projecto porque reco FIXAÇÃO DAS FORÇAS DE MAR
nhecia a necessidade da creação dos dous bispados
de que ello falia, assim como a necessidade da Entra om 2* discussão o projecto fixando a
creação de um bispado em cada provincia ; sem força naval do imperio para o anno financeiro
comtudo cahir em contradicção com o meu pens ir, ' de 1854 a 18."».
quando sustentei que não podiamos decretar taes
creações srm o concurso do curia romana ; e tendo O Sr. Presidente (depois de alguma pausa) :
expendido esta doutrina, me corria o dever de sus- — Não havendo quem peça a palavra, vou pór
tent il-a ; o por isso apresentei disposições clo um a votos.
concilio, disposições que não podião estar revoga Alouns Srs. Deputados : Votos, votos.
das pela constituição ; apresentei mais a disponição
do concilio de Florença, que decidio que o papa era O Sr. Presidente : — Os senhores que d3o a
o unico e exclusivo para dirigir o seu rebanho materia por discutida....
da maneira mais conveniente, e se não apre Os Srs. Paula Baptista e Fioueira de Mello
sentei outras disposições como unicas, foi por pedcui a palavra.
que um nobro deputado, a quem presto toda a
consideração, me pe.lio que não fosse mais ex O Sr. Presidente : — Tem a palavra o Sr.
tenso, para que se pudesse encerrar a discussão Paula Baptista.
e votar-se nesse dia, porque a não querer acceder O Sr. P.iuia Baptista : — Sr. presi
a resposta do concilio geral do Calcedonia—Xon dente, visto ser congruente com os estylos par
licet, hoc est preeter regulas—a pergunti—se era lamentares, e. segundo penso, de conveniencia
permittido com rescripto do principe aliena jura publica o fallar-se da politica geral nas dis
ab aliis episcopis ar>erti, apresentaria a este pe cussões das leis de fixação de forças e nos
dido, uma carta de Inuocencio 1, escripta a orçamentos, quero aproveitar-me destes estylos
Alexandre, bispo de Antiocliia, na qual- elle de para responder ao discurso do Sr. ministro da
clarou não querer que se mudassem as dioceses marinha proferido na discussão sobro a resposta
«eclesiasticas á imitação das dioceses civis, con á falia do throno, o que ino não foi possivel
forme as divisões imperiaes. O nobre deputado fazer naquella occasião por se haver encerrado
destruio algum dos meus argumentos com outros a discussão.
de maior ponderação? Creio que não. E' corto que dous forão os senhores minis
Eu mostrei tambem como se podia conciliar o tros qne so dignárão responder-me na discussão
poder temporal com o poder espiritual na cre ição sobie a resposta á falia do throno, a saber, o
dos bispados, porque nessa creação, disse ou, ha honrado presidente do conselho de ministros, o
duts cousas a attender: territorio, o jnrisdicção ; o Sr. ministro da marinha. Mas deixarei, de res
o territorio deve sor dividido pelo poder tem ponder agora ao primeiro, porque além de
poral, e a jurisdicção pelo espiritual. nchar-se ausente, elle orou com tanta conve
Mostrei tambem que, existindo as mencionadas niencia de palavras, com tanta gravidade de
disposições de concilios, e sendo as determina post£, que até certo ponto augmentárão os res
ções de um concilio leis ecclesiasticas, o a reli peitos que já lho tributo, o do minha parte de
gião do estado a catholica apostolica romana, sejo, apezar do opposicionista, fazer justas dis-
não podia a constituição que a adoptou deixar tineções dos ministros, que sabem componetrar-se
do respeitar as disposições dos concilios. da gravidado do seu caracter o do lugar que
Supponhamos por um pouco que a igreja que oceupão. (Apoiados.)
rendo fazer respeitar seus direitos, diz ao poder
temporal,: « Visto que mio quereis marchar coin- O Sp.' Aprioio- : — Todos elles o sabem igual
migo de h irmonia, que querois esbullnr-mo de mente.
direitos de qne não posso prescindir, dirigi os O Sr. A. de Oliveira : — O senhor é que é o
cidadã s como melhor ent mderdes a bem da so- juiz?
ciedado civil, que eu dirigirei as consciencias O Sr. Aprioio : — Como o senhor. Quem lhe
como julgar conveniente a bem da salvação das deu a primazia ?
almas.» E quem lhe poderá obstar a esta reso
lução ? Que embaraços, regularmente failanlo, O Sr. A. de Oliveira : — O senhor é suspeito.
lho poderá oppòr a sociedade ? So Nero, Caligula . O Sr. Aprioio : — O senhor ainda o é mais.
o todos esses tyiannos que martyrisárão os apos (Apoiado.)
tolos não puderão conseguir qne não se pre
gasse a religião de Christo, que cila não cres O Sr. Paula Bapusta • — Portanto, limitar-me-
cesse e prosperasso apezar das violencias, como hei a responder ao Sr. ministro da marinha.
o poderá fazer hoje o poder civil que ó todo Eu, senhores, não pretendia hoje fallar , pois
beneficio ? todos me vêin doente ,- quando não, teria trazido
O Sr. Siqdeira Queinoz: — A camara não quer o discurso d u Sr. ministro da marinhi, para sub-
isto. metter todos os seus trechos á analyse, e não
ser forçado a recorrer á minha memoria, que,
O Sr. Corrêa das Neves: — Estou muito certo, não é das mais felizes. Mas, emfim farei
persuadido de que não quer, é apenas um ar grande esforço para apresentar a minha resposta,
gumento do supposição. Se, pois, a igreja póde que já antevejo que não será aquella que pre
marchar desassombradamente, e sem algum tendia dar.
emb?raço, independente, e a despeito mesmo do O Sr. ministro da marinha, respondendo a al
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 305
umas accusações feitas ao governo pelo nobre Tenho respondido precisamente a esta parte
eputado por S. Paulo concernentes ao desem do discurso do nobre ministro da marinha ;
barque de africanos em Bracuhy, para defender-se passarei agora a outra,, que ó ainda uma conti
desenrolou todo ó catalogo ias providencias (e to nuação da primeira.
das estereis) do governo para evitar aquelle des Disse ainda o nobre ministro da marinha que.
embarque, entretanto que de suas proprias palavras mesmo quando o governo tivesse no lugar da
se conclue evidentemente que houve imprevidencia denuncia muitos vapores a cruzar, foi tal a cer
da parte do governo, e que pelo seu desacerto ração do tempo no dia do desembarque, e é tal
foi que ellas se mallogárão. a perspicacia e tino dos negreiros, que npezar
Assim, por exemplo, disse o Sr. ministro da de tudo o dosembarque sempre se havia de effe-
marinha que o governo, tendo denuncia de que etaar sem perigo para os negreiros.
em "Bracuhy se tentava um desembarque) de afri Senhores, isso não ó razão nem argumento,
canos, depois Je haver o patacho Theresa cru mas desculpa, que sempre vem nos ultimos
zando, mandou depois o vapor Thetis, que daqui apertos. Quando o corpo legislativo consigna,
sahio, se bem me lembro, no dia 1°, e o va como consignou o anno passado, 80O:000$ para
por Golphinho, que diqui sahio no dia 5. Não construcção de novos vapores que sirvão de
me lembro bem dis datas ; mas o certo é, cruzar as nossas costas para a effectiva repressão
que um sahio depois de outro com differença de do trafico ; quando tantos sacrificios temos feito,
4 dias. e não hesitaremos fazer para tão gravide fim ;
Ora, não devia S. Ex. antever que este sys- quando neste ponto a honra do Brazii está em
tema de mandar muitos vapores ao mesmo tempo penhada em solemnes contractos com a Ingla
cruzar um lugar havia trazer o resultado delles terra, tudo isso é apreciado pelo Sr. ministro
voltarem um após outros por falta de combusti da marinha em tão pouco, que a simples cer
vel, e ficar assun o lugar da denuncia desampa ração do tempo é bastante não só para inuti-
rado ? E voltando o Thetis, como afflrmou S. Ex., lisar todos esses sacrifícios, e mallograr todas
no dia 25 de Novembro, por falta de combusti as medidas de prevenção o repressão contra o
vel, não devia logo S. Ex. prever que o Golphinho, trafico, como para justificar o governo que, sa
que sahira quatro dias depois, deveria estar na bendo com antecedenci i da tentativa de um des
mesma falta de combustivel, para immediata- embarque de africanos, deixou o porto indicado
mente fazer partir para o lugar outro cruzeiro, livie aos negreiros ; pois que, no firme conceito
e desta sorte não so preencher a falta do The de S. Ex., ainda que o governo lá tivesse va
tis como a do Golphinho, que doveria estar pres pores, o crime se havia sempre consummar a
tes a realisar-se ? salvo.
Tudo isso que facilmente se comprehende, e E emfim, póde o Sr. ministro da marinha en
deve ser coniprehendido com viva penetração tender muito e muito de cerração do tempo,
por um governo destro, activo e zeloso do ser póde estar muito ' certo da sagacidade, tino e
viço, não foi comprehendido pelo Sr. ministro astucia dos negreiros, póde comprehender tudo
da marinha ; e tanto assim, que, como elle o isso melhor do que eu ; porém jámais me po
confessa, voltou a esta cidade o vapor Thetis derá convencer, e nem convencer algum homem
no dia 25 de Novembro, e logo voltou depois o de criterio, de que ainda quando os cruzeiros
Golphinho no dia 28, ficando o lugar livro e estivessem no Bracuhy, o dosembarque que de
franco para o desembarque do africanos, des africanos sempre se havia de effectuar ; por
embarque que sem risco e perigo para os cri quanto, para plena prova disso, fóra preciso
minosos podia tf.r tido lugar naquella época. que lá estivessem os vapores, e apezar disso o
Entende, porém, S. Ex. que o governo está crime se perpetrasse; mas como não estava, e
innocente de tudo; que são injustas todas as o bom senso confia tanto da efficacia das me
censuras ; porque , como S. Ex. afinal decla didas que todos os poderes do estado as têm
rou, o governo não teve má fé. ' exigido e continuão a empregal-as, a presumpção
Senhores, admira-me este modo de defesa. O de verdade é que se lá estivessem os vapores,
nobre ministro da marinha devéras sabe por o desembarque não se realisaria pelo modo im
ventura o que é, em negocios desta natureza, pune porque se realisou. (Apoiados.)
um ministro obrar de ma fé, para, connivente Continuando o nobre ministro a justificar-se da
com o crime, comprometter tão altos interesses falta de não haver mandado immediatamente
da nação ? Ah 1 eu creio firmemente que se o para o lugar um outro vapor, depois que che-
nobre ministro da marinha houvesse pesado de gárão o Thetis e Golphinho, disse que o vapor,
vidamente essa allusão que elle proprio, e não supponho que o Golphinho, chegára todo arrui
a opposição, fez a si mesmo, e se se arripiasse nado, pelo que foi preciso entrar em grandes
com a hediondez de um tal procedimento, não concertos : e que se por ventura antes de con
teria tido o pessimo gosto de atirar-se ao pó cluidos os concertos o mandára para Sahy, foi
para erguer-se depois lisongeiro. porque o respectivo commandante sabendo que
Parece, senhores, que neste celebre meio de em Sahy se tentava um outro desembarque de
defesa ha um erro occulto, e é pensar o Sr. mi africanos não o communicára a elle ministro ;
nistro da marinha que um ministro e um go pelo que S. Ex. não só reprehendeu este com
verno só se torna merecedor de censuras e res mandante, como em castigo de sua falta o obrigou
ponsabilidade quindo, surdo a tudo e até es- a sahir assim mesmo com o vapor em máo es
?|uecido da dignidade de homem, obra de má tado, e obrigou a afrontar todo o perigo (são as
é, Mas, não ; S. Ex. deve saber que um go mesmas expressões de S. Ex.) para ir cruzar em
verno que toma sobre si a direcção e governo Sahy.
dos interesses de uma nação é responsavel tam Poucas palavras, Sr. presidente, direi sobre
bem, e muito responsavel, pelas suas imprevi- esta. parte do discurso do nobre ministro. Pri
dencias e pelo desacerto de suas medidas (mui meiro que tudo vê-se claramente que quando
tos apoiados), e pela falta de zelo e actividade S. Ex. quer laz sahir um vapor mesmo arrui
no desempenho dos seus grandes deveres. E a nado e em máo estado do perigo para cruzar.
este respeito repito que sinto compaixão quando Depois disto aconselharei a S. Ex., que não se
vejo que a opposição, cheia de nobresa e do costume a punir faltas do commandante com o
minada pela justiça, não querendo levar as suas obrigal-o a navegar em vapores que çstão em
censuras e accusações para o terreno da má fé, estado do innavegabilidade, pois que o resultado
é um ministro de estado, que se diz habil e póde ser funesto ; tanto mais quando estou bem
ornado de grande talento, quem para ahi se di- convencido de que, se por effeito de taes ordens
jrige desaffogadamente. se der alguma desgraça lamentavel que sensibi-
tomo 2. 39
300 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
lise o publico, S. Ex. ha de contiríuar a ser mi O Sr. Ministno da Justiça :— O nobre depu
nistro, porque não obra de má fé. tado ó quem está compromettendo este official
Um Sr. Deputado : — Então o 6r. ministro fez com a infidelidade da historia.
bem em não mandar vapores arruinados. O Sr. Fioueira de Mello : — Coitado do offi
O Sa. Paul* Baptista : — Mas é que, para cial se souber.
castigo do commandante do Golphinho, mandou O Sr. Paula Baptista : — Me parece, repito,
esto para Sahy. E a este respeito estou dominado que o facto acontecido está de accordo com o
por uma verdade que ha de achar acolhimento que narrei : e, senhores, muita gente aqui na
no espirito de todos, sem excepção de ninguem ; córte sabia que apezar de todos os exames o
e é que, se por ventura, na execução desta or vapor Paraense estava fazendo agua quando foi
dem ao Sr. ministro da marinha, o Golphinho mandado para Montevidéo, e que voltou ou
sossobrass°, e algum desastre Acontecesse em arribou com grande risco.
Íiresença da responsabilidade, S. Ex. não vos viria O Sr. P. de Campos : — Até um frade francis
aliar em ordens para aflrontar perigos, pelo con cano contou-me essa historia.
trario, diria : « O vapor estava bom e perfeito ; O Sr. Paula Baptista ( depois de alguma
foi um sinistro que se não pòde precaver.» Pelo -pausa ) : — Ouço algumas vozes que confirmão o
menos é esta a escola em que eu tenho apren que digo. Tudo isso parece bagatella, e como
dido com alguns dos nossos homens de estado : que perde a sua importancia no juizo de uma
animosos em fazerem tudo que querem, e co maioria compacta....
bardes em aceitarem a responsabilidade de seus
actos. Cabe nesta occasião contar um facto. O Sr. P. de Campos :—Compacta? Peço vista.
Um Sr. Deputado: — Vamos a isso. O Sr. Paula Baptista : — Como que perde a
O Sr. Paula Baptista : — No anno passado sua importancia, porque uma consciencia viva é
soube eu que o vapor Paraense, que andava capaz de ralar com remorsos os culpados de
Íiara o sul, estava fazendo agua, e no cintanto miseras catastrophes, parece que foge ou dor
oi mandado para Montevidéo , faltei com um mita nestas questões politicas.
dos officiaes desse vapor, e elle confessou que O Sr. Fioueira de Mello : — E' uma ver
realmente o navio estava fazendo agua ; mas dade.
que elle obedecia ás ordens ; sahio o vapor, e O ' Sr. Wanderlev : — Tambem póde ser a
na noite desse mesmo dia disse em presença de consciencia da minoria.
varios amigos : « Deos queira que não tenhamos
amanhã o vapor Paraense por aqui arribado i. ; O Sr. Aprioio : — Aliquando bonus dormitai
e com efleito arribou o vapor na manhã seguinte, Homerus.
e o mesmo official que estivera antes commigo O Sr. Paula Baptista : — Tocarei agora, Sr.
disse-me, para satisfazer a minha curiosidade a presidente, na parte do discurso do nobre mi
respeito daquelle successo, de que já eu estava nistro da marinha, na qual S. Ex. procurou re-
prevenido, que arribárão em razão do vapor fazer futar-me, e principiarei dizendo que S. Ex.
tanta agua que as bombas não podião vencer, e esqueceu-se do ponto essencial, sobre o qual
que toda a felicidade foi terem mar bonançoso, muito desejei, e ainda desejo ouvir o governo.
que a ser mar grosso e encapellado terião sos- Disse que o governo se havia ingerido nas
sobrado. eleições, e que esta intervenção para indicar os
(Ha um aparte.) deputados que devem sahir do mesmo partido
O Sr. Paula Baptista :— Não sei, pois que que apoia o governo, quanto á opposiçáo, conscia
cada um de nós sabe o que ó um official de da inefficacia dos seus meios de acção contra a
marinha em presença de altos superiores. autoridade, e esmorecida, abandonava o campo
eleitoral, esta intervenção dizia eu, em taes cir-
Alouns Senhores : — Conte tudo. cumstancias é o mais alto descredito do regimen
O Sr. Paula Baptista:— O facto se deu; e constitucional : porquanto aqui não lhe serve de
tenho dito o que é bastante acerca delle. pretexto a victoria e o triumpho sobre opiniões
que são adversas" ao governo ; mas uma escolha
O Sr. Ministno da Marinha : — Mas o official que desnatura as istituicões, suffoca o merito, e
lhe havia de dizer que eu mandei examiuar o só faz apparecer as effeições pessoaes do go
vapor por uma commissão. verno e...
O Sr. Paula Baptista : — Não sei disso; e O Sr. Aprioio : — A unica provincia em que a
sei sim que com estes exames, feitos nos vapo opposição se retirou do campo eleitoral foi Per
res, é quo S. Ex. ha de procurar dofender-se : e nambuco.
sei mais que se eu, simples particular e sem O Sr. P. ue Campos : — O nobre deputado está
grandes conhecimentos da córte, tenho conheci fazendo um epigramma ao governo.
mento de todas essas cousas, com muito mais
razão as deve sabor S. Ex., que é o ministro O Sr. Fioueira de Mello : — Lá houve toda a
da marinha. O que me parece é que para um liberdade : violencias houverão na Bahia.
ministro saber precisamente dessas e outras muitas Alouns Srs. Deputados da Bahia:— Está en
cousas precisa que, se por um lado faça sempre ganado.
valer a autoridade e o prestigio do seu poder,
por outro lado tenha docilidade para ouvir a O Sr. Paula Baptista : — Desejava saber se o
todos, -e sincero desejo de saber por si mesmo Soverno conscio de que assim faz a felicidade
ide certos factos. o paiz, aceita neste sentido franca discussão,
O Sr. Ministno da Marinha : — Ou não lhe ou se antes quer desta vez passar por menti
contárão bem a historia, ou a sua memoria roso aos olhos do paiz.
não é feliz. . O Sr. Wanderley : — A expressão é que não
O Sr. Paula Baptista : — Tudo póde ser ; acho boa.
mas é que já estou arrependido do que disse ; O Sr. Aprioio:— Não ó parlamentar.
porque sinto o nobre ministro muito interes O Sr. Paula Baptista: — Não tendo, pois, o
sado em saber quem é esse official, e já se me nobre ministro da marinha tocado nestes factos
figurão penas fulminadas sobre a cabeça da e pontos de doutrina, sou forçado a oceupar-me
innocencia. de outros que merecerão sua especial atteução.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 307
Disse o nobre ministro que eu não tivera razão e não como homem politico. E em verdade é
em interpellar o governo a respeito das injus para sentir e lastimar que em . um paiz novo,
tissimas accu?ações que se nos fazião, de ser uma capacidade tão alta e illustrada, associada
exigentes e querermos a separação do norte. á virtude, não tenha sido aproveitada, e viva
Quanto a primeira, disse que isso era rumor submergida em injustiças e soffrimentos.
sem fundameuto. O Sr. Dutra Rocha: — O Sr. Urbano ó uma
O Sr. Ministno da Marinha - — A este res capacidade.
peito não disse uma palavra. O Sr. Paula Baptista:— Sim, senhor, ó um dos
O Sr. Paola Baptista : — E sobre a separa brilhantes talentos que temos, e sem duvida mui
ção do imperio ? . illustrado ; porém, repito, não é disso que tratei,
O Sr. Ministno da Marinha : — A esse res e nem que agora trato. O nobre deputado não
peito sim. Se colloque na situação de confundir as cousas ;
creio que ha de comprehender perfeitanvnte a
O Sr. Paula Baptista : — S. Ex. disse que o grande distancia de um talento illuminado em
governo nunca seria capaz de nos considerar differentes ramos dos conhecimentos humanos de
culpados em uma accusação tão grave, quão in um outro grande talento, que por sua vida in
justa e immerecida, a qual nao passava de teira devutado aos estudos de uma sciencia com
gazetas, pelas quaes não podia responder um plicadissima, chega a conquistar geralmente a
governo il lustrado. alta reputação de profundo jurisconsulto.
O Sr. Ministno da Marinha: — Não accresoen- O Sr. Dutra Rocha: — Então não se negue a
tei esta ultima parte, porque seria faltar á mo capacidade do Sr. Urbano.
destia. Vozes: — Não, não se nega; ninguem o nega.
O Sr. Paul* Baptista : — Já disse que estou O Sr. Paes Barreto : — Se o Sr. Dr. Urbano
me soccorrendo á memoria, porque não me foi quizer vir para nós, nós o queremos.
possivel trazer o discurso de S. Ex., e por con
seguinte não posso sempre citar suas proprias • O Sr. Paula Baptista : — E, senhores, que sa
palavras. crificios não estou fazendo em aceitar a dis
Em todo o caso essa confissão do nobre mi cussão neste pé em que a collocou o nobre mi
nistro é já um triumpho, e grande tiiumpho, nistro ? O nobre ministro, certo, illudio-se, talvez
que temos alcançado contra injustas vontades de em julgar por si a mim, que faço devoção dos
quem quer que seja. (Apoiados .) principios sem importar-me com o nome das
Disse ainda o nobre ministro que nem o go pessoas. E convença-se S. Ex. de que nós o que
verno podia dar credito a isso ; pois que, além desejamos sobretudo é a segurança e triumpho
de outras razões, Pernambuco não é todo "o nor dos nossos principios e opiniões [muitos apoia
te, e que os interesses de muitas familias não dos) ; quem quizer sinceramente nos ajudar neste
podem alliar-se a semelhante idéa. Quanto á pri empenho muito lhe agradeceremos. (Apoiados.)
meira parte, eu deixo á consciencia, e só á Mas perguntou o Sr. ministro: «Se quereis a
consciencia do nobre ministro a apreciação certa conciliação, como não trouxestes eleito um só
da importancia de Pernambuco. E quanto á se homem da opinião contraria?»
gunda, nada ha a dizer em verdade, senão que Senhores, isso é o que ha de mais celebre e
ninguem deseja mais do que nós a integridade interossanto I Agora tambem quero responder fa
do imperio (apoiados), e que todas as convenien
cias da população è todas as suas convicções zendo uma intorpellação, e convidando o nobre
se prendao a este grande e sagrado pensamento, ministro e a seus parentes e defensores...
qne não só exprime o dever, como os verdadei Uma Voz : — Patrono ? 1 1
ros e unicos interesses de todos os brazileiros. O Sr. Ministro da Marinha : — Eu nunca tive,
(Apoiados ; muito bem.)
Eu disse tambem em meu discurso proferido nem tenho patrono.
sobre a resposta ao discurso da coroa : « Ou a O Sr. Paula Baptista:—... para me respon
politica que o governo entende dever seguir na derem.
provincia de Pernambuco é boa ou má. Se boa, O Sr. Ministno da Marinha: — A expressão—
por exemplo a da conciliação, para que reser patrono—não é parlamentar.
vas ? E se má, fóra um crime imaginal-a. »
Eis-ahi pois um rico assumpto pira largas con O Sr. Dutra Rocha: — Devo retirara expressão.
cepções de um ministro habil e esclarecido ; O Sr. Paula Baptista :— Sim, desejo que me
entretanto S. Ex. desceu ao proposito de res respondão a isso : pois quando de todas as pro
ponder ás minhas perguntas fazendo outras per víncias não veio um só membro do partido li
guntas, e de occupar-se de individualidades ; e beral para esta camara, e quando um único de
assim nos perguntou o nobre ministro : « E vós suas summidades que tinha largas e profundas
quereis realmente a conciliação ? » affeições, o Sr. conselheiro Souza Franco, foi par
Bespondo-lhe agora : não a recusamos sob ticularmente guerreado na eleição pelo Sr. mi
duas condições inviolaveis : o profundo respeito nistro da marinha... (Reclamações. Apoiados e
á paz e segurança publica, e religiosa venera não apoiados.)
ção a toda a constituição, desde o seu primeiro O Sr. Dutra Rocha :— O Sr. deputado devia
até seu ultimo artigo. (Muitos apoiados.) Ga- ter esse procedimento antes das eleições na sua
gantidos estes dous pontos de fé da nossa reli provincia. (Apoiados e reclamações.)
gião politica, o nobre ministro, que em si mes
mo é o exemplo de transições rapidas e sem O Sr. Paula Baptista :— Repito, quando úm
explicações sofemnes, é o mais proprio para distincto membro do partido opposto, que podia
tomar a iniciativa na obra. ter assenti nesta camara, não teve porque foi
Perguntou ainda o nobre ministro > itE porquo guerreado na eleição particularmente pelo Sr. mi
faltastes unicamente no Sr. Dr. Manoel Mendes nistro da marinha. (reclamações), quando final
da Cunha e Azevedo, e não no Sr. Dr. Urbano? ■ mente o governo levou muito a mal e reprovou
Sinto bastante que o nobre ministro me não a conciliação havida no Rio Grande do Sul, é o
tivesse comprehendido, tendo eu sido tão claro. nobre ministro quem tão cordialmente nos inter
Quando eu fallei no distincto jurisconsulto bra- roga, porque nao trouxemos, como eleito por
zileiro, o Sr. Dr. Mendes, foi como uma espe Pernambuco, um membro da politica opposta á
cialidade preciosa em um dos ramos da sciencia, nossa?I1 Negará tambem S. Ex. o ter o go
308 SESSÃO EM Tl DE JUNHO DE 1853
verno reprovado a conciliação feita no Rio Grande do passado? Sustento (e ninguem o contestará)
do Sul? que quando se discutem t io grandes negocios, e
O Sr. Ministno da Marinha : — Apresente os os meios do levar uma grande nação ao comple
factos que justifiquem o que está dizendo. mento de seu valor e prosperidade, recriminações
desta ordem só servem de patentear a ruim marcha
O Sr. Wanderlev : — E a conoiliação para a dos nossos negjcios publicos. (Muito* apoindos.
eleição de partidos politicos oppostos é impossi Cruzão-se varios apartes.) Querem fazor com-
vel no governo constitucional. nosco o que fazião com os membros de outra
O Sr. Paula Baptista : — Não vê V. Ex., Sr. opposição ; isto é, defenderem-se do aceusações
presidente, como estes dous apartes successivos feitas não as destruindo, mas lançando outras
se, destróem reciprocamente. O nobre deputado iguaes ; no emtanto as chagas do corpo politico
pela Bahia, que, segundo creio, é o chefe da e social continuavão e continuão a sangrar. Fe
maioria. . . . lizmente, senhoris, não tendo contra nós a arma
favorita, não nos podeis chamar revolucionarios ;
O Sr. Wanderlev :— OhI dessa sorte me pro- estais neste ponto tolhidos, e isso vos deve mor
hibe que lhe dê mais apartes. tificar muito. (Reclamações.) E porque os males
O Sr. Paula Baptista:—... e cujas palavras, continuão? Porque nunca uma so voz, ao menos,
por conseguinte, são de grande peso, manifes é ouvida quando falia e reclama. (Muitos apoia
tou que a conciliação, como se fizera no Rio dos.) Mas, emfim, como não nos pódo atacar por
Grande do Sul, contraria a marcha e principios este lado, inventão outro; isto é, sois incohe-
do regimen constitucional ; pelo que é claro que rentes; opponde-vos a um governo que tom os
por essa razão foi que o governo a não appro- nossos principios, e outros ditos sem signifi
vou, e nem devia approval-a. Nesta manifestação cação.
ha o merito da franqueza, e eu louvo isto ; entre O Sr. Aprioio : — Têm muita ; seryem para mos
tanto que o Sr. ministro da marinha negou o trar a incoherencia.
facto da reprovação, o já me tinha atirado para
a difficuldaae de exhibir provas. Comtudo, convém O Sr. Paula Baptista (com força):— Está en
que fique bem consignada a substancial diffe- ganado ; não valem nada quando entre legisla
rença entre o aparte do Sr. ministro e do digno dores se discutem os meios de fazer a felicidade,
chefe da maioria. (Apoiados e risadas.) onde não devem apparecer caprichos, nem arre
O nobre deputado peU Bahia perguntou-me pendimentos por se esposar uma causa de con
porque não procedemos assim antes da eleiçlo sciencia, e, quando muito, podem servir para
em Pernambuco. Respondo-lhe brevemente, que estrategias, para convers is particulares, e para
pelo seu aparte o honrado membro mostra que interesse da partidos, porque só a esses se póde
não está certo da marcha dos negocios em Per enganar. (Muitos apoiados. Reclamações.) E isso
nambuco. (Apoiados.) é tanto mais verdade quanto a maioria esta certa
e convencida de que um membro desta camara
Um Sr. Deputado :— Não sabe nada delles. que hoje se colloca na opposição não é o transfuga
O Sr. Paula Baptista : — Persuade-so o nobre reprehensivel, e em cuja fronte se possa ver o
membro que . . . estigma da apostasia. (Muitos apoiados.)
O Sr. Dutra Rocha :— O que disse foi que V. Ex. O Sr. Aprioio:— Não ha injustiça alguma da
devia dizer na eleição, que vinha fazer opposição maioria.
ao governo. Um Sr. Deputado :— Não ha poucas. (Recla
O Sr. Paes Barreto :— Disse-se isso, e ninguem mações. )
O duvidava. (Cruzão-se varios apartes.) O Sr. Paula Baptista:— Pelo contrario, um
O Sr. Dutra Rocha : — Porque V. Ex. não disse membro da opposição hoje é o homem de dispo
isso no anuo pass ido ? sição, que arrisca sua posição, e só ouve os dicta-
mes de sua razão. Senhores, fallemos claro : no
O Sr. Paula Baptista : — Agora já o nobre de Brazil, a popularidade não tem que dar, não
putado so dirigo particularmente a mim : sou eu seduz pelo interesse (apoiados) ; o governo, sim,
agora o unico alvo : isso vai interessante, Sr. pre a autoridade é que é tudo ; não são, portanto,
sidente. (Risada*. ) Eu appello para a leitura dos interesses mesquinhos que podem mover homens
meus discursos na sessao passada, dos quaes so experimentados no serviço, conhecidos por suas
verá que apoiei ao governo, Sempre Ihu adver opiniões e seu proceder, a fazer opposição. (Muitos
tindo a verdade, sempre e com franqueza (apoia apoiados.)
dos) ; porém haverá por acaso ainda algum fiel O Sr. Auousto de Oliveira :— Isso é irrespon-
tão crente que se convença que com tal governo
seja possivel a idéa de conciliação dos partidos? divel.
(Apoiados.) O Sr Paula Baptista:— E quando, senhores
O Sr. Dutra Rocha :— Porque não disse isso o da maioria, nos atirais esses epigrammas, julgais
anuo passado ? que não temos a precisa coragem para'repel-
lil-os com outros, talvez mais bem merecidos ?
O Sr. Paula Baptista:— O nobre deputado Não, não o fazemos, porque queremos acima das
continua a queier ferir-me com suas insinua animosidades respeitar o lugar que aqui oceupa-
ções. mos. (Muitos apoiados.)
O Sr. Dutra Rocha :— Não é insinuação. O Sr. Fioueira de Mello :— Nesta parto a op
O Sr. Paula Baptista:— Eu já disse qual fóra posição fica muito além da maioria : guarda as
o meu proceder durante a legislatura. conveniencias.
O Sr. Auousto de Oliveira : — Tanto assim Um Sr. Deputado :— Dá-lhe uma lição. (Cru-
que algumas vezes desagradou bem ao Sr. zão-se varios apartes. Reclamações.)
Aprigio. O Sr. Paula Baptista E' mesmo para admi
O Sr. Aprioio : — Pelo contrario : ouvi-o sempre rar que, quando a opposição quer ser calma e
com satisfação. moderada, a maioria pareça ás vezes um pouco
frenetica. (Apoiado*. Vivas reclamações.)
O Sr. Paula Baptista :— E, prescindindo de O Sr. Dutra Rocha dá um aparte que não
tudo o mais, o que quer dizer, senhores, quando
se apresenta o exame da verdade, e daquillo que ouvimos.
deve ser, lançar-se mão de recriminações tiraaas O Sr. Aprioio :— Qnal frenetica; isso é que ó
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 309
não saber guardar conveniencias. (Apoiados e não ao nobre deputado... (não apoiados) lhe venha
apoiados.) roubar alguns momentos, expondo ao menos o
O Sr. Wanderlev :— E abusar de nossa pa juizo que fórmo do estado do paiz em relação
ciencia. ás questões que se hão ventilado na casa, o
juizo que tenho ácerca da intervenção do go
O Sr. P. de Campos :— Quando tudo emmudecia verno nas passadas eleições; a apreciação emnm
diante de Holophernes, houve um pronheta que ue faço dos factos que têm sido trazidos á
levantou a voz. (Apoiados. Risadas.) ' iscussão, e cuja responsabilidade tem sido lan
Uma Voz :— Estamos em um dialogo em que çada em grande parte ao governo.
todos querem dar o seu aparte. (Agitação.) Sr. presidente, sinto sobremaneira ter de res
O Sr. Presidente ••— AttençãoI ponder a uma opposição que sahio do seio da
maioria da casa. V. Ex. comprehende bem que
O Sr. Paula Baptista :— Ouvi vivas reclama nos deve ser summamenU doloroso responder
ções, porque disse—parecia ás vezes frenetica. De aos honrados deputados da opposição que ainda
sejo ardentemente retirar essa expressão ; mas se achão ligados a nós da maioria por princi-
quizera antes saber o que significa dizer-se que -pio politicos. (Apoiados.)
somos hoje arrastados por despeitos pessoaes, O Sr. Paula Baptista :— Estamos em opposi
por resentimentos pequenos? ção pela má execução que o governo tem dado
Um Sr. Deputado:— E a maioria já disse a esses principios. (Apoiados da minoria.)
sso ? O Sr. Saraiva :—Entendo que além de nos ser
O Sr. Paula Baptista :— Oh I se disse ; aqui muito sensivel uma discussão com alliados quo
e no senado, e por ministros de estado. (Apoia ainda hontem se achavão comnosco , é summa-
dos.) mento difficil guardar em tal discussão todas as
Não posso mais continuar, para fazer ligeiras conveniencias que nos merece a minoria, pois
observações sobre a materia. que muitas vezes o orador não tem o sangue
O Sr. Aprioio :— Apoiado, está incommodado. deve frio indispensavel para dizer somente aquillo que
(Risadas.) dizer e quer dizer, e por isso muitas vezes
vai além dos seus desejos. Além disso é ainda
O Sr. Paula Baptista : — E não posso princi bem difficil a um deputado da maioria, em se
palmente entrar, como pretendia, nos detalhes dos melhantes questões firilar de maneira tal que a
negocios de Pernambuco, pela mesma razão de discussão produza alguma utilidade, porque V. Ex.
incommodo. reconheco quanto nos custa attender a todas as
reclamações, a todos os apartes, a todas as in
Um Sr. Deputado :— Então ainda não está de sinuações
monstrada a cousa. que a discussão , ou a enunciação de
verdades que nflo agradão, de ordinario acarreta.
O Sr. Paula Baptista :— Daixo estar, que ha Para prevenir, portanto, todo o conceito desfa
vemos de entrar nos detalhes ; agora não me é voravel ao juizo que formo dos motivos pelos
possivel. (Apoiados.) Por agora parece me ter quaes a minoria se acha separada de nós, e dar
respondido cabalmente ao nobre ministro da ma a discussão um lado vantajoso, peço aos nobres
rinha, cujo discurso não me pareceu estar muito deputados da minoria que se convenção de uma
ao par do seu reconhecido talento. verdade , e é que náo serei eu quem formará
Ax0uns Srs. Deputados: — Apoiado, muito bem, delles opinião desvantajosa, que não será a
muito bem. maioria da casa quem formará da minoria opi
O Sr. Aprioio :— Não apoiado. nião alguma desfavoravel. ( Muitos apoiados.)
Não somos nós, de certo, que nos suppomos
O Sr. Saraiva;— Sr. presidente, V. Ex. com direito de dizer aos membros da minoria
aprecia bem a posição em que se acha collocada que elles se apartárão de nós por motivos pe
actualmente a maioria. Desde que se discutio a queninos, por interesses mesquinhos, por consi
resposta á falia do throno, a maioria achou-se derações taes que. não tenhao peso algum em
alguma cousa offendida pelos nobres deputados suas consciencias.
que se achão em opposição. (Cruz&o-se differentes apartes.)
O Sr. Fioueira de Mello :— Sem razão. O Sr. Presidente : —Attenção I
O Sr. Aprioio :— Com toda a razão. O Sr, Saraiva :—Creio que a questão é outra :
O Sr. Saraiva:— Com mais motivos de queixa nós entendemos que os motivos pelos quaes os
ficárno aquelles deputados que têm occupado po illustres membros da minoria se achão separa
sições officiaes, que têm sido delegados do governo dos de nós, ainda quando producentes, não são
nas diffiTontes provincias do imperio, porque a bastantes para essa separação. (Apoiados e não
casa ainda se ha de lembrar de que o governo apoiados.) Os illustres membros da minoria dão
actual foi nccusado fortemente, primeiramente a esses motivos um peso maior do que aquelle
pelo nobre deputado p ir Pernambuco, que neste que nós damos, e ó nessa divergencia, na di
momento está mo olhando com a sua luníta..- versa apreciação de taes motivos, que se deve
O Sr. Aprioio :— Elie sente falta de vista. achar a razão ou a sem-razão da situação em
que se collocárão os honrados membros que fazem
O Sr. Saraiva :— ... de uma intervenção fu parte da minoria.
nesta e illegitima nas eleições para esta cimara, Peço, portanto, aos honrados membros a quem
e ultimamente nas eleicões para senadores, a respondo que aceitem sem prevenção as ligeiras
respeito das quaes o nobro deputado muito fal- observações que vou fazer e que tem por fim
lou, attribuin'lo aos presidentes das provincias a mostrar que apoio o govern.0, que lhe tenho
responsabilidade, pois que estes são os delegados dado o meu voto, convencido de que a politica
do governo, os executores de seu pensamento ; quê ha elle desenvolvido tem sido hoa, tem sido
desta intervenção funesta e anti-contitucional, de muito proveitosa e tem sido respeitadora dos
que ainda agora se oceupou o nobre deputado direitos politicos e individuaes de nossos conci
que acabou de foliar, os presidentes têm sido, dadãos. (Muitos apoiados.)
na opinião dos honrados membros, instrumentos Sr. presidente, eu deixo ao nobre ministro da
cégos do governoI (Vivas reclamações. Diffjrcntes marinha, que necessariamente tem de fallar nesta
Srs. deputados pedem a palavra.) Suestão, as respostas ás observações que o nobre
Portanto, Sr. presidente, a camara não estra eputado por Pernambuco acaba de fazer sobre
nhará que eu, sem habilitaçõos para responder alguns dos factos relativos á repartição" a seu
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cargo. Occupar-me-hci somente da parte politica de uma provincia pequena, se nelle eu posso lêr
do seu discurso, porque, como "disse, acho-me eoutras, estudar a marcha dos negocios publicos nas
até de alguma sorte na obrigação de responder a affirmar estou de alguma sorte habilitado para
que não é uma verdade que o governo
todas as accusações feitas ao governo por" inter seja tudo no paiz, que o governo possa impór
venção illegitima nas eleições , principalmente sua vontade, fazer aceitar os seus caprichos, sem
da provincia que tive a honra de administrar,
porque tenho convicção do que se vicios, se irre que o paiz deixe de sentir essa quietação de que
gularidades houverão no ultimo processo eleito goza actualmente.
ral, devem ser antes attribuidos aos defeitos e aceusar Sr. presidente, nós estamos acostumados a
vicios de nossas instituições , do que a desejo servamoso os governo por todas as cousas. Não ob
factos que se passão no paiz, obser
que tivesse o governo de substituir pela sua vamos unicamente a conducta do governo, e se
vontade a opinião do paiz. estamos em opposição, somos sempre inclinados
E' falso que o governo, Sr. presidente, tenha a a suppêl-a ma. E' preciso proceder de outra
influencia tão grande, tão perniciosa que lhe é fórma; é preciso examinar todos os factos, e
nttribuida pelo nobre deputado por Pernambuco, ligar esses factos a suas causas naturaes, por
e que dessa influencia usasse nas eleições a que que é preciso que a opposição se faça acreditar
se procedeu ultimamente. (Muitos apoiados, e não em suas censuras, afim de que o paiz creia nella
apoiados.) quando na realidade o governo houver procodido
O Sr A. de Oliveira:— Em Pernambuco usou mal. E' necessario que estudem o paiz por uma
de sua influencia. maneira mais proveitosa, examinando o que se
O Sr. Paula Baptista:— O nobre deputado falia passa om todas as provincias, examinando como
os negocios publicos correm nellas. E se assim
a respeito de todas as provincias, ou somente da- procederem, hão de reconhecer que, se o governo
quella que governou como presidente? tem sido algumas vezes no paiz alguma cousa
O Sr. Saraiva :— Estive na administração da mais do que deve ser, tem sido arrastado a isso
provincia do Piauhy, e sei o que houve alli por pela opinião que o cerca, que o constrange muitas
occasião das eléições ; sei tambem alguma cousa vozes a ir além do que eleve ir...
da provincia da Bahia, porque sou um dos seus O Sr. Fioueira de Mello :— Oh I pois não I
representantes; o sei igualmente de outras pro
vincias porque procuro informar-me do que se deputados O Sr. Saraiva:—... é, sim, porque os nobres
passa nellas. E' pois com a consciencia dos factos e todos nós temos concorrido, e muito,
que se derao no paiz que dou a minha opinião. para quu assim aconteça. (Apoiados.)
O Sr. Paula Baptista: — Pois eu sej da pro O Sr. Fioueira de Mello: — Logo, o governo
vincia de Pernambuco, e de outras mais onde o oé um santinho, não quer attribuiçoes, nao quer
poder, está contra a sua vontade adminis
governo exerceu indebita influencia nas elei
ções. (Apoiados r hão apoiados.) trando o paizI
O Sr. Saraiva: — Eu entendo, Sr. presidente, disseremO Sr. Saraiva :— Quando os nobres deputados
que as observações politicas que fora i apresen que o governo ó tudo no paiz, nós de
vemos
tadas pelo nobre deputado são as mesmas que inicião nesta perguntar-lhes porque é que elles não
até ngora tém sido feitas nesta tribuna quando não seja tudo camara medidas para que o governo
no paiz? (Apoiados.)
se quer aceusar o governo do paiz. Os nobres de Porque é que, quando amigos do governo, se
putados, quando formavão a maioria desta casa, queixão muitas vezes de não prestar o governo
não achavao certamente razão nos membros da a seus amigjs o apoio que um partido politico
opposição de então que nesse tempo fazião igunes tem direito de exigir?
accusações ao governo. Os nobres deputados por Só quando se está na opposição é que se vê
certo não entendião que o governo é tudo e faz o poder do governo, a sua omnipotencia, e a
tudo no paiz, e sem duvida disserão, ou pelo necessidade de considerar
menos deverião dizer, que o governo não era santo, porém um malvado a o quem governo não um
se deve tirar
tudo no paiz como a opposição apregoava. (Apoia
dos.) Digo que na legislatura passada os nobres todo o poder para fazer mal.
Os extremos, Sr. presidente, não são quasi
deputados combatêrão essa aceusação, e foi nos sempre a expressão da verdade. O governo pro
seus discursos que eu aprendi. cede muitas vezes mal ; porém V. Ex. note que
O Sr Fioueira de Mello :— Entre na questão, em nosso paiz os nossos nulos tém vindo mais do
deixe-se desses argumentos ad hominem. governo como expressão de um partido, do que
O Sr. APRtoio :— Prosiga, que elles estão-se e o vivendo
governo como um ente separado dos partidos,
sõmente de suas aspirações como go
fricommodando. verno. (Muitos apoiados e não apoiados.)
O Sr. Sarai v i : — Perdòe-me, não são argumen Sr. presidente, não sei onde chegarei, porque
tos ad hominem ; invocai principios aceitos pelos os nobres deputados mo tém collocado na neces
nobres deputados, trazer a sua autoridade e o sidade de os acompanhar em seus apartes, e
seu nome para mostrar que o governo não ê tudo me têm desviado do fio que queria seguir.
no paiz, e não é certamente um argumento ad Digo que os nobres deputados receião hoje
hominem, estou dizendo; o que os nobres depu tanto do principio de autoridade, do poder illi-
tados deverião ter dito á opposição de outr'ora mitado do executivo, devem iniciar medidas que
em resposta ás suas constantes accusações ao tendão a restringir esse poder. E se o poder
governo do paiz ; estou me servindo dos mesmos ministerial amplia-se por causa de nossos habitos,
principios emittidos pelos nobres deputados, e do nossos defeitos, os nobres deputados compro .
sffirmando que não estamos em um paiz onde o henderão bem que a reforma de nosso clero, de
governo pode tirdo, faz tudo, porque estamos nossos juizes, da instrucção publica, e outras,
aqui para protestar contra semelhante doutrina. são indispensaveis para collocar o paiz em uma
Digo isto, Sr. presidente, porque estou conven situação regular, em tal posição que o governo seja
cido de que é isto uma falsidade e porque me contido em seus justos limites pela força de uma
pcirsuado de que eSsa convicção de fazer o go opinião publica illustrada e severa.
verno i tudo recebida no paiz póde trazer-nos O Sr. Fioueira de Mello:— Não temos obri
males. Não tenho tido a honra de governar uma gação disso. . .
parte muito importante do paiz, nem me pre
sumo com conhecimento perfeito de nossas cou O Sr. Aprioio e outnos Srs. Deputados : —
sas : se me serve porém o tirocinio do governo Têm, têm.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 311
O Sr. Fioueira de Mello : — Não temos ini O Sr. Presidente : — Attenção I Os nobres
ciado medidas tendentes a esse fim, para não deputados podem fallar sobre tudo...
sermos escarnecidos pela maioria, que não as Uma Voz : — Sobre tudo ?
quer.
O Sr. Aprioio : — E' boa I O Sr. Presidente : — ... sobre tudo que está
em discussão ; por consequencia peção a pala
O Sr. Fioueira de Mello : — Quando for vra, não interroinpão o orador.
mos governo havemos de inicial-as. O Sr. Saraiva : — Não sei como possa ligar
O Sr. Aprioio : — Os senhores não sabem o minhas idéas com tantas interrupções. Vou to
que querem. davia responder aos apartes a que puder, e
O Sr. Fioueira de Mello : — Nós lhe res áquelles que me censurão porque digo que por
ponderemos. causa das instituições do paiz e não por má
O Sr. Saraiva : — V. Ex. , Sr. presidente , vontade do governo, se tem em grande numero
'terá notado que accusações e muito graves, se de casos dado os factos de que se queixão os
têm feito e se farão ao governo a proposito honrados membros.
Senhores , não nos illudamos : os principios
de violencias, de omnipotencia, etc. Essa ac- politicos
cusação se repete porque, como já observei, interessesformão os partidos. Esses partidos têm
, esses interesses se complicão com
todo o mundo está disposto a ver somente no todas as queixas, com todos os despeitos, e
governo a origem de todos os males. Não digo
que o governo seja sempre bom, quero só- querem ser satisfeitos ; satisfeitos completamente,
mento que o governo não seja responsavel pelos sua vontade ; d'alu governo
elles applaudem o e se submettem á
a omnipotencia do poder.
defeitos de nossa legislação , e porque ainda Não satisfeitos, elles se agitão contra o governo,
não podemos ter um poder judiciario tão bem e d'ahi todas as nossas complicações, todos os
organisado e tão perfeito que possa oppõr-se nossos males. (Apoiados e não apoiados.)
nas eleições tanto aos abusos do poder como E' por isso que eu digo, Sr. presidente, que
aos desvarios da opposição.
E', Sr. presidente, na defeitnesa organisação em veza de accusações ao governo procurem in
do poder judiciario, na organisação actual de dagar causa de nossos males, examinar as
nossos partidos, em nossos habitos, na circum- em projectos de lei. necessidades
nossas verdadeiras , e attendel-as
Façamos ao governo uma
slancia tão gravo de sermos uma nação nova, opposiçao diversa. Acabemos com essa omnipo
que devemos achar a causa dessa facilidade
com que ás vezes damos tudo ao governo e tencia, tornando o paiz mais illustrado, mais...
(Apoiados). E' para ahi que se deverião dirigjr
não achamos que seja elle omnipotente, e ás as vistas dos nobres deputados que se a;hao
vezes lhe queremos tirar até os meios indispen
saveis para governar e para poder carregar em opposição, porque se reconhecem que o go
verno, pelas leis ou por geito, se tem tornado
com a responsabilidade do bem ou mal que fizer omnipotente
ao paiz. Senhores, é preciso confessar que em representativo,e falseado os elementos do systema
evitem o transtorno deste mesmo
um paiz novo o governo quando é intelligente systema por meio
e zeloso do bem publico pede o deve ter muito. suras que deixão asde cousas reformas, e não de cen
o o poder nas mes
Quando elle não se acha em taes condições mas condições em que se achão.
elle nada é. Se o governo actual tem feito
muito, tem feito tudo, e se o paiz o soffre, é Uma Voz : — A nós na minoria ? Não isto de
porque certamente elle tem usado bem dessa ver da opposição.
omnipotencia que lhe ó attribuida. ( Apoiados O Sr. Saraiva : — Deverião pelo menos dis
e não apoiados. ) Cada um dos poderes deve cutir aqui as suas idéas, e mostrar ao paiz
ter sua esphera legal, porém não são repetidas ?[ue, se não foráo aceitas, culpa tambem não
accusações, porém reformas muito pensadas e oi dos nobres deputados.
meditadas que hão de trazer-nos essa situação, O Sr. Auoosto de Oliveira : — A maioria
hão de fazer com que o governo deixe do ser não aceita estas doutrinas.
accus&do, de ser tudo... pois que eu quero
conceder que elle, quando dominado por boas O Sr. Aprioio : — Quem lhe disse isio ?
intenções, póde muito no paiz, e quando apoiado Alouns Srs. Deputados s — Deixem o orador
Í)or um grande partido, e quizer fazer mal, póde fallar.
azer muito mal.
O Sr. Saraiva:— Eu não estou aceusando só
Uma Voz : — Logo, confessa o facto ? aos nobres deputados, estou aceusando a todos,
O Sr. Saraiva : — O que importa dizer isso estou mostrando que não devemos aceusar ao
se posso dizer e provar que o governo , que governo quando nós todos somos culpados, por
podia fazer esse mal, tem até para fazer o bem que, até hoje, em vez de cuidarmos de melhorar
desaproveitado a sua grande força e enthuslas- as nossas instituições, temos gastado o tempo
mo do seu partido ? Porque não lhe tem satis em aceusar o governo por tudo quante elle faz
feito todos os seus desejos, todas as suas as de bom e de mão.
pirações. Digo pois que o governo póde muito (Diversos apartes se dirigem ao orador.)
no paiz ; observo, porém, que o poder do go
verno, quando fatal, t m vido sempre, e ha de O Sr. Fiusa : — Vá por diante ; não responda
vir sempre do excesso das opiniões politicas que a apartes.
elle representa, da maneira porque as cousas O Sr. Presidente:— Attenção 1 A discussão
se achao organisadas. Ora, os nobres deputados não póde continuar em fórnia de 'palestra. (Ri
em lugar de censurarem o governo , que é le sadas.)
vado pela força das circumstancias, devem antes
apresentar nesta casa medidas indispensaveis ciario O Sr. Saraiva : — Quando houver poder judi
para que as cousas seião collocadas nos seus tido que bem organisado e collocado entre o par
devidos eixos. Os nobres deputados deverião opposição• apoia o governo e o partido que faz
principiar por censurar a nós todos antes de acha em uma ao governo, eu direi que o paiz se
censurar o governo, por iniciarem medidas que dade do voto ; situação muito favoravel a liber
tendessem a purificar os elementos em que está verdadeira pois que essa é que será a nossa
assentada a sociedade brazileira. reforma eloitoral, porque sem isso
nunca se executará perfeitamente qualquer lei
(Diversos apartes se cruzão; ha algnm rumor de eleições. Só então, só quando os grandes cir
na sala.) culos oleitoraes não nullificarem as forças da
312 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
òpposição deveremos desconfiar do facto de uma S. Paulo podia sor aceusado por elles, pois que
unanimidade do parlamento- Ness) caso mesmo era incapaz de autorisal-os. ..
cumpre, como agora apontar os abusos que appa- O Sr. Nbbias dá um aparte que não ouvimos,
recêrão, dar ao governo a parte que nelles teve.
Sr. presidente, sem que o paiz esteja nas con O Sr. Saraiva:— O nobre deputado sabe que
dições que lembro, não se deve pirtir de facto muitas vezes uma demissão é dada por motivos
de uma maioria quasi unanima no parlamento, que não offendem de modo nenhum ao demit-
o par:i asseverar que, se ella existe, é porque tido ; o nobro presidente do conselho já explicou
foi obtida por grandes abusos do govorno. Quando a razão porque demittio-so ao nobre ex-presi
vejo o poder organisado pela fórma porque está, dente de S. Paulo.
quando examino que o governo não póde muitas Mas o que queria dizer era que as accusações
vezes conter os excessos dos dous partidos que feitas por quem parecia ter direito de fazêl-as
se disputão o triumpho eleitoral; quando, como já forão destruidas nesta casa por aquelles mes
disse, observo esses grandes circulos eleitoraes, mos que se achão em opposição e que hoje re
que dão em resultado o triumpho ou a perda petem as mesmas accusações feitas contra o'
total de uma lista de nomes ; quando recordo- governo o contra elles. Os nobres deputados
me de que o Brazil é um p iiz novo, o que em um têm direito para censurar ao governo , nunca
piiz novo a força governativa ha do ser sempre por causa de eleições passadas, porque censu
muito grande, muito forte, porque o governo é rando o governo censurão a si proprios, porque
quem servo mais o paiz, visto como os partidos apoiárão o governo moralmente, e por conse
se estragão em accusações, em excessos, em uma quencia são responsaveis tanto como o governo
vida muitas vezes esteril para o paiz -e para si, por todos os factos relativos ás eleições pas
não posso ver accusar o governo sómente pelo sadas. Não entendo nem sei que os homens
- facto de uma maioria quasi unanime no parla de partido devão 'ser tão exagerados que pres
mento. Não posso ver que por esse unico facto, tem ao govorno um apoio tão valioso, como lhe
e sem achar-se a explicação delle, se faça uma foi dado poios honrados membros, quando se
accusação formal ao governo, e se diga, como se acharem convencidos do que o governo quer ser
houvesso necessidade de salvar a patria por um tudo para substituir pelo seu o interesse do paiz;
grande discurso, que elle tem invadido as attri- digo que apoiamos moralmente o.governo, quando,
buições de outros poderes. Queremos provas, não nos dsclarando contra elle em tempo oppor-
factos positivos que mostrem que o governo abu tuno, temos deixado do concorrer para que elle
sou do seu poder para violentar a liberdade do não pratique violencias, não escarneça da liber
voto. Mas é isto o que nós temos visto ser feito dade do voto ; no momento em que um indi
poios nobres deputados qne pertencem á maio vidue vir o governo praticando violencias, vio
ria? Quaes são os factos que os nobres deputa lentando a liberdade do voto, dove-so declarar
dos apresentárão para dizer que as eleições não em 0pposição mesmo na vespera, no dia da
forão regulares ? eleição ; mas não consta que em provincia al
E aqui cabe notar a contradioção que existe en guma os nobres membros da minoria se decla
tre a opposição liberal, aquella que pleiteou a rassem em opposição ao governo, deixassem de
eleição com o governo, e a opposição que se apoiar o governo com a força moral que lhes
acha representada nesta camara. V. Ex., Sr. pre dá o seu prestigio, a sua autoridade, e as dis-
sidente, havia do ter lido nos jornaes da época tinctas qualidades que os caracterisão. Portanto,
que a opposição liberal nccusou o governo de são os nobres deputados da minoria que me dão
factos acontecidos na comarca da Coritiba ; a argumento paru dizer que as eleições do imperio
0pposição, partindo de taes excessos, disse que correrão muito livre, muito regularmente, por
nao tinha havido liberdade na eleição, que ti- quanto erão os nobres deputados, por seu pa
nhão havido assassinatos, que tinha sido coa triotismo, incapazes de nutorisar com o seu
gido o voto em toda a parte, que as eleições nome uma farça eleitoral. (Diversos apartes.)
finhão sido feitas a custo de sangue brasileiro ; O Sr. Presidente:—Attenção I
entretanto erão alguns dos nobres deputados da O Sr. Saraiva: —Já que o nobro deputado pelo
minoria os mais aceusados por causa desses
factos pela 0pposição, e são hoje os que se Ceará se interessa tanto em pugnar as humil
apresentão aqui para fallar contra as eleições, des observações que tenho feito, devo dizer ao
para censurar um grande acto politico, para o nobre deputado que ainda o espero ver, assim
qual concorrêrão apoiando o governo a quem como a seus collegas, darem nesta casa apoio
hoje fazem opposição I Digo mais que a oppo ao governo, porque se o seu ponto de divergencia
sição, unica que podia fazer censuras ao go provém da maneira porque ha o governo proce
verno a este respeito, era aquella, o não as dido nas provincias em relação a liberdade do
s pessoas que se achão hoje na opposição ou na voto, devo crer que os nobres deputados e seus
minoria desta camara. Portanto os honrados illustres collegas, pelo que diz respeito á sua
membros, ou se háo de reconhecer culpados com provincia, não podem de modo algum aceusar o go
o governo, ou^hão do reconhecer que as suas verno por causa de eleições, porquanto são os nobres
razões não servem para o fim que têm em deputados pelo Ceará os primeiros que dizem, e eu
vista. creio piamente, que o Sr. Almeida Rego foi um
E se a 0pposição não tem razão, Sr. presi optimo presidente, e não seria optimo presidente
so não tivesse defendido a liberdade do voto. Os
dente-, nisto, na acre censura que faz ao governo nobres deputados por Pernambuco poderáõ al
por ser tudo,, isto é, por ter feito as eleições, guma cousa dizer, porque so achárão pouco tempo
o qun se segue ? E' que as eleições forão feitas antes ou depois (não sei em que época), em di
muito livre, muito regularmente, o mais livre vergencia com o nobre ex-presidente daquella
e regularmento que póde ser entre nós, e que provincia.
os excessos não partirão do governo, e provierão
dos partidos. Um Sr. Deputaço:—Depois da oleição.
E com effeito, Sr. presidonte, o que houve no O Sr. Saraiva:—Mas os nobres deputados pelo
Íiaiz ? A' excepção dos factos que a opposição Ceará, que achárão em todos os tempos boa a
iberal trouxe a imprensa, o de que os nobres administração do Sr. Rego, não poiem dizer
deputados mostrárão, e mostrarão muito bem, nada nesta materia, porque elles, quanto á ad
que o governo não tevo culpa nenhuma, porque ministração do O urii, se devem achar conten
nós sabemos que nem o governo geral teve culpa tissimos por lhe ter dado o governo um «ptimo
desses factos, nem o nobre ex-presidente de presidente no Sr. Rego.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 313
Sr. presidente, a divergencia, da minoria com possivel, porque eu entendo por conciliação, por
a maioria, a posicão que a minoria tom tomado politica de conciliação, a politica que respeita
deve ser meditada o bem considerada," íiorque é todos os direitos (muitos apoiados), acata todos
uma situação que considero grave, e digna de os interesses legitimos, e que dá ao merito da-
ser meditada por todas as opiniões do paiz ; e quelles que têm opiniões politicas diversas o
digo isto porque esse estudo deve ser interes apreço que deve sempre merecer. E' por ahi
sante pelas observações que tenho a mim foito, que se poderá tentar talvez a conciliação de
e que vou dizer á camara. principios politiebs que se secarão mais pelas
Até agora, senhores, os partidos politicos se nossis brigas do que por sua natureza inconci
achavão tão extremados que nem querião ouvir liavel.
foliar de ideas d« conciliação ; e aportavão o Digo que a politica do governo tem sido con
governo por tal fórma, que muitas vezes elle ciliadora, no sentido em que entendo essa pala
tinha necessidade de ser intolerante para com a vra, polo que observo nas differentes provincias.
opinião politica que o hostilisava Mas hoje, Vejo que no Pará (fali irei da primeira ao norte,
Sr. presidente, são os próprios partidos que e depois daquellas de que me lembrar) o parti
apregoão a necessidade da conciliação ; são os par do que sempre protege a candidatura do Sr. con
tidarios "rio governo que se sepa'ão delle, por selheiro Sonza Franco nunca aceusou o governo,
achar boa e justa & conciliiçao; são partida e só o fez na occasião em que o presidente da
rios o amigos seus de outr'ora, que dizem provincia julgou que um vereador não devia
que o governo modere seus principios, que se estar na camara ; observo que alli os dous par
torne tolerante, que concilie cousas que pare tidos achárão-se contentes com a administração
cião inconciliaveis, o que indica de alguma sorte moderada e justa do Sr. Fausto de Aguiar, e
que se a conciliação dos partidos é uma cousa com a de seu successor.
séria, possivel entre nós, deve ser tentada, es No Maranhão, vejo que o partido que corres
tudada e debatida nesta cimara e no paiz. ponde ao partido liberal facilita e applaude ao
(Apoiados.) Se até agora o governo, como notei, Sr. Olympio Machado. Do Piauhy não devo
parecia ceder á opinião do seu partido quando fallar, porque fallaria de mim sem necessidade.
se mostrava intolerante, é de crer que hoje Na provincia do Ceará as cousas devião ter
possa marchar em taes principios pelo que te corrido bem, porque os nobres deputados da
mos observado. Portanto devo felicitar á camara opposição actual nao coutestão, e antes elogião,
e ao paiz pela marcha dos negocios, publicos. a boa administraç io do Sr. Rego.
O Sr. Paula Baptista:—Ora, muito obrigado. A respeito de Pernambuco quero guardar si
O Sr. Nebias : — O Sr. ministro do imperio lencio, pois que aguardo a discussão que por
não disse isso no senado. ventura possa haver ácerca delia observo só-
mente que 6 nessas provincias' do norte, onde
O Su. Saraiva : — Sr. presidente, ha certas exactamente mais queixas faz a opposição, onde
idéas que uma vez avent idas devem ter uma os partidos estão mais. extremados, onde o go
discussão prolongada ; e eu entendo que os mo verno, pelo que acabamos de ver, n:io tem sem
tivos pelos quaes a minoria se acha separadi do pre obtido a adhesão plena de seus amigos ; e
nós, e essa theoria de conciliação que tanto se são exactamente as deputações dessas provin
apregóa, devem soffrer uma vasta discussão ; cias que se separão do ministerio. Esse facto
porquanto se forem uma superfluidade, um en deve ser estu lado. E' preciso conhecer-lhe a
gano, uma ironia, ou uma bonita inscripção causa.
para bandeira de partido, devo ser desprezada, O Sr. Araujo Lima : — Está muito esquecido.
c se fór razoavel e digna de attenção, a deve
mos abraçar, e dizer ao governo : « Vós deveis Alouns Srs". Deputados:—E a Bahia tambem.
marchar com estes principios, ou deveis deixar
o poder.,» (Apoiados.) Portanto, convido aos O Sr. Saraiva : — Vejo, Sr. presidente, que
nobres deputados para essa discussão. na provincia da Bahia, passada a effervescencia
Permitta porém V. Ex. que eu a esse respei dos interesses eleitoraes, nem se sabe quem ó
to fuça algumas observações. opposioionistt ou governista ; a não serem
Entendo, Sr. presidente, que o governo do aquelles que se têm dado ao jornalismo, e que
paiz tem sido conciliador quanto é possivel, e nelle expendem a sua opinião e a de seus ami
que se não tem sido mais, ó porque no systema gos. Quando estava fóra delia, e lia as gazetas,
constitucional tem o governo necessidade cle um parecia-me que tudo estava pegando fogo, porém
partido forte por causa dos ataques continua quando lá estive ultimamente parecia-me que
dos da opposição. V. Ex. comprehende que o nem havia odios politicos Todos parecem con
governo, quando se acha sobro a pressão de tentes com a administração do actual presidente,
uma opposição que desconhece a legitimidade a quem reconhecem como pessoa de caracter
de todos os seus actos, que o aceusa por todas moderado e principios liberaes.
as fórmas, o governo sente a necessidade de Vejo que na proviccia de S. Paulo a opposi
apoiar-se em um partido que opponha a precisa ção recebeu muito bem ao Sr. Josino do Nas
resistencia a essa opposição. cimento Silva, e o ha tratado bem. Sei que na
provincia de Minas Goraes caracteres muito no
O Sr. Nedias : — E' um bom aviso esse para bres da opposição estimão ao actual Sr. minis
os amigosi tro da justiça, qm isso não obteria se proce
O Sr. Saraiva : — Senhores estou fallando, se desse com violencia, se não fosso justo para a
gundo disse o nobre deputado por Pernambuco, opinião contraria. Observo qne no Rio de Janei
como um homem novo, e que portanto pódo ro pessoas muito imparciaes se exprimem de
dizer aciuillo que não quer, e como um homem uma mineira muito lisongeira ácerca do actual
do quem os i. obres deput dos podem aproveitar presidente. Observo que a provincia do Rio
esquecimentos, arrastamentos de tribuna, etc. ; Grande do Sul (de quem não tenho muito co
fallo com franqueza, e creio que os nobres de nhecimento) não faz a seu administrador ainda
putados hão de relevar faltas mesmo graves a opposição de que se falle.
quem não tem o habito da tribuna. O Sr. Francisco Octaviano :— E' um excel-
O Sr. Ferraz:—Aproveite o aparte do Sr. Ne lente caracter.
bias, que é apreciavel. O Sh. Paula Baptista : — De sorte que está
O Sr. Saraiva : — Eu disse, Sr. presidente, tudo conciliado.
que o governo tem sido conciliador o quanto é O Sr. A. de Oliveira:— Só o Sr. Ribeiro é
tomo 3. 4*
311 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
que é um judeu, em Pernambuco foi desprezado tas vezes da amizade, dão a taes queixas uma
por todos. grande importancia, e entendem que a politica
O Sr. Saraiva: — Quero esperar pelo que se do governo deve ser modificada neste ou naquelle
disser a respeito dos negocios dessa proviucia. sentido. Dahi, Sr. presidonte, os grandes emba
raços da administração, embaraços que vêm até
(Crusão-se muitos outros apartes.) complicar o governo neste recinto, e que têm
O Sr. Presidenje:—Attençãu l Peço aos Srs. de por origem os desgostos que nascem nas diversas
putados que deixem continuar o orador. localidades, que se traduzem em accusações que
são recebidas pelos membros proeminentes do
0 Sr Saraiva: — Portanto, senhores, vejo que partido.
o governo tem sido conciliador o quanto t-m Entendo, Sr. presidente, que se o governo não tem
podido, o quanto lhe é peimittido pelas regras do procedido bem, não tem andado em regra na admi-
systema constitucional, Dois que tem dado ás nistração.aquelles que o accusão deve* apesentar os
provincias homens moderados, justos e que têm factos mãos praticados por elle, devem mostrar em
respeitado os direitos da opposição do paiz. que elle obrou mal (muitos apoiados; reclamações),
O Sr. Fioeira de Mello : — De sorte que só e eu dou a minha palavra aos nobres deputa
não havia isso se houvessem desordens. dos que, se me provarem que o goverllo obrou
O Sr. Saraiva: — Por ventura querem os nobres mal em Pernambuco, se elle ultrapassou os li
deputados que o governo procure a conciliação mites legaes, se não cuinprio suas obrigações,
dos partidos fazendo chapas para deputados com repito, dou a minha palavra aos nobres depu
nomes de liberaes e de saqnaremas. Isto é con tados que retirarei desde esse momento a con
ciliação dos partidos quando elles transigirem fiança qne até agora tenho concedido ao gabi
com seus princpios, ou tiverem menos odio uns nete, porque eu dou mais importancia aos
aos outros. Isso seria um absurdo ; o governo principios do que aos homens.
não faz chapa, os partidos é que fazem a eleição, O Sr. Fioueira de Mello: —O nobre deputado
é que podem conciliar se sobre esse ponto. diz isso porque não tem estudido os factos appa-
Vozes da Minoria : — Ora I Ora I reuidos.
O Sr. Araujo Lima:— Até daqui vão as chapas O Sr. Saraiva: —Sr. presidente, seria mais con
para as provincias. veniente que se' o governo não tem desenvolvido
✓ uma politica, mais util para Pernambuco, que,
O Sr. Saraiva : — Seria uma ineptidão do go mesmo quando os nobres deputados tivessem
verno se por ventura concorresse que para esta factos que provassem e justificassem a sua se
casa viesse uma maioria qne o hostilisasse, paração, seria melhor, repito, que os nobres
quando prlo systema representativo -esta camara deputados mostrassem antes a inconveniencia
deve ser o thermumetro da opinião do paiz. (Muitos da politica do governo, o esperassem pela per
apoiados.) Mas, a não querer-se - isto, não se sistencia do governo no seu systema anterior,
póde negar que o governo tem sido conciliador, afim de que então se declarassem em opposição.
tem respeitado todos os direitos, todos os inte Desta maneira os nobres deputados terião dado
resses das provincias, dando- lhes .administra mo paiz a razão de sua opposição antes mesmo
dores moderados e justos, impondo-Ibes uma de se haver ella manifestado.
politica que salve todos os inteiesses legitimos, Os nobres deputados, bem seguros, poderião
todos os direitos dos amigos e dos inimigos do fazer opposição ao governo, accomettêl-o com
governo ; que se opponh í, mesmo com perigo uma força muito superior talvez, o que hoje
de falta de apoio para o governo, aos desregra não acontece, porque a maioria não sabe positi
mentos da opinião que o sustenta, que não póde vamente quaes os pontos de divergencia entre
acreditar-se senão por uma marcha muito regular os nobres deputados e o governo na maneira de
e muito legal. dirigir os negocios publicos de Pernaiqbuco. A
O governo- nomêa os presidentes, e lhes or maioria só sabe que está na dura necessidade,
dena que procedão com justiça e imparcialidade, que deve ter o profundo desgosto de se bater
que procurem mod«rar as exagerações do seu com alliados que ella reconhece distinctos por
proprio partido. Chegão ás provincias os pre seus serviços, por seus talentos, e com quem
sidentes, são accusados por uns por falta de sa- ella se acha ainda de accordo em todos os pon
quaremismo, o por outros por muito saquare- tos de politica que se referem á ordem publica.
mismo ; ora, isto o que demonstra ? Demonstra (Muitqj apoiados.) Estou certo, Sr. presidente,
que o governo tem procedido de boa fó nos ne que os nobres deputados em questões graves
gocios publicos ; demonstra que o governo muitas hão de sustentar o gabinete, porque não serão
vezes tem-se arriscado a perder o apoio dos os nobres deputados os que hão de levar a sua
seus amigos, cujas qualidades respeita, cujo me opposição aos extremos, pois que esses extre
rito aprecia, só com o fim de não consentir mos so não combinão com seus principios de
que o paiz continue a ser arrastado para um governo.
abysmo pelo excesso dos partidos, pela exagera Agora, Sr. presidonte, não obstante estar um
ção dos odios politicos. E não é isto bom, se pouco cansado, direi aiguma cousa ao nobre de
nhores ? Não procede de boa fé um governo que putado pela provincia de Pernambuco, que de
procede assim ? alguma sorte me obrigou a tomir a palavra. O
(Cruzão-se varios apartes.) nobre deputado disso que nas eleições de sena
dores do imperio, feitas na provincia do Piauhy,
Eu não digo que os nobres deputados da mi o governo tinha mandado chapa, tinha mandado
noria são esses exigentes, porque seria deixar nomes que nem ao menos erão conhecidos pela
de reconhecer a sua illustração ; mas permittão provincia. Essa referencia do nobre deputado
os nobres deputados que lhes diga uma cousa, e aquella provincia me autorisaria a responder ao
é que póde acontecer que uin presidente, que nobre deputado, nesta questão, da seguinte ma
deve realisar a politica do governo em quasi neira : eu poderia dizer ao nobre deputado que
todos os pontos da provincia, se ache embara o presidente da provincia do Piauhy era inca
çado em muitos pelos estorvos que lhe são paz de aceitar uma ordem, uma chapa que o
oppostos pela prepotencia individual, ou por esses governo lhe mandasse para impór uos seus
cidadãos que se dizem, e querem, ser os domi administrados ; eu poderia dizer ao nobre de
nadores dfs localidades em que vivem. Esses putado que o Sr. conselheiro Vianna foi votado
homens queixão-se para as capitaes a seus amigos. e eleito pela provincia do Piauhy por unanimi
Esses, mal informados dos factos, levados mui dade, e pelos dous partidos politicos daqueUa
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 315
provincia, e assim teria respondido á accusação O Sr. Fioueira de Mello (com força): — Não
que indirectamente soffri. mandou ordem, mas mandou suas cartinhas.
O Sr. Araujo Lima : — Isso demonstra bem o Um Sr. Deputado : — O que se sabe é que
estado do paiz. (Apoiados, reclamações.) não foi eleito um filho da provincia.
O Sr. Saraiva : — A isso se poderia respon (Numeroso.' apartes se cruzão.)
der, Sr. presidente, dizendo-se que essa asser O Sr. Saraiva : — Mas 0s nobres deputados
ção é um insulto jogado a uma provincia que não sabem que não havia no Piauhy notabili-
o não merece. dades politicas com mais de 40 annos que tives
O Sr. Paula Baptista : — Não apoiado I sem esse interesse de pleitear eleições o se oppór
'O Sr. Fioueira de Mello : — A provincia ha a um nome só porque era estranho á provincia ?
de me fazerjustiça. Os nobres deputados não obâervão que os fazen
deiros e os homens que não pertencem á vida
(Reclamações. Trocão-se muitos apartes. Agi activa da politica não fazem muito para entrar
tação. ) em lista triplice, o que os homens que se apre-
O Sr^Presidente : — Attenção 1 sentavão erão fazendeiros que apenas pedião
para si, e não brigavão por deixar de entrar
O Sr. Saraiva : — Sr. presidente, V. Ex. sabe, este ou aquelle? (Reclamações. Trocão-se muitos
sabe o paiz que a provincia do Piauhy este apartes.)
ve por muitos annos debaixo do dominio do
visconde do Pariiahyba, e que ella aceitou com O Sr. Presidente : — Attenção I
os braços abertos o novo presidente que depois Uma Voz: — Faça mais justiça ao Piauhy.
deste se lhe enviou. Esse presidente, a quem O Sr. Saraiva.- — Os nobres deputados não
me refiro, foi o Sr. Souza Ramos, o qual foi sabem que o partido governista no Piauhy podia
substituido pelo Sr. conde do Rio Pardo, o raciocinar da seguinte maneira : « O Sr. Vianna
V. Ex. sabe como essa provincia se oppóz a é homem distincto, possue bastantes conheci
esse presidente, a opposição que lhe fez ; e por mentos e nos tem prestado relevantes serviços.
isso se pòde conhecer se ella teria ou não cora O Sr. Vianna se apresenta candidato, e os nossos
gem sufficiente para se oppòr a uma imposição amigos de todas as provincias pedem por elle,
do governo, e se essa ujianimi dade exprime, e portanto nós não podemos deixar do votar
com o quer um Sr. deputado» o estado do paiz, nelle.» Não vêm os nobres deputados que a pro
senão no sentido de que ainda podemos pensar, vincia toda podia tambem raciocinar da mesma
e fazer o que pensamos. maneira ?...
V. Ex. sabe que o Sr. conde do Rio Pardo
foi substituido pelo Sr. ministro da marinha O Sr. Fioueira de Mello:— Ha melhores ra
actual, que o Sr. ministro da marinha foi sub ciocinios do que esse. (Reclamações.)
stituido pelo Sr. Marcos Antonio do Macedo, e O Sr. Sarhva: — E tanto mais, Sr. presi
V. Ex. sabe a opposição com que esse presi dente, quanto a provincia reconhecia que com
dente teve de lutar (muitos apoiados); o Sr. pre elle mandava alguns de seus filhos; e que se
sidente, uma provincia que se mostrou sempre fosse legitima, se fosse coustitucianal a doutrina
muito independente e muito zelosa de suas pre- dos honrados membros,' ella poderia ter no se
rogativas em todos os tempos... nado um filho do Piauhy.
Uma Voz : — E todavia ella não teve um filho Eu disse que se no Piauhy os homens poli
seu para mandar como senador. (Muitos apoia ticos que existem tivessem mais de 40 annos,
dos. Reclamações.) a eleição. poderia ser mais complicada, e appa-
(Cruzão-se muitos apartes.) recer esse interesse de excluir candidaturas es
O Sr. Paula Candido : — Senhores, á ordem, tranhas. Nenhuma notabilidade politica do Piauhy
tenhão attenção a que eu sou presidente interi apresentou-se na arena eleitoral, e pois como
no. (Risadas.) Não queirão os nobres deputados suppõr luta e coacção ?
que se diga — guardião fóra, frades agora. (ífí- Um Sr. Deputado : — Votárão nelle pela coacção
laridade prolongada.) em que se virão.
O Sr. Saraiva:— E* um facto constante, Sr. pre O Sr. Seãra : — O Sr. deputado agora é que
sidente, que na eleição de senador daquella pro está fazendo uma injuria a provincia do Piauhy
vincia a presidencia não interveio, não expedio em dizer que ella entre seus filhos não achou
ordem alguma ; a segunda eleição se fez com o um capaz de a representar no senado ; isso agora
maior socego e com a maior liberdade. é que é injuria. (Apoiados. Reclamações.)
O Sr. Fioueira de Mello : — Não mandou O Sr. Saraiva : — Eu não sei aonde se póde
ordem, porém mandou suas cartinhas. (Apoiados-) enxergar essa injuria nas palavras que disse,
O Sr. Saraiva : — Escreveria tambem ao par porque o que eu disse é que nessa eleição apre-
tido da opposição ? Venderia cl lo tambem seus sentãrão-se candidaturas de pessoas que não
votos ás cartinhas do presidente? São aceusações pertencem á vida activa da politica, e não de
sem fundamento essas que na ausência de notabilidades da provincia que tivessem inte
facto se sustenlão com semelhantes observações. resse de excluir este ou aquelle. Além de que,
Sr. presidente, não ó injuria dizer que a elei
O Sr. Fioueira de Mello : — Mandou as ção de senador perdeu muito do interesse que
suas cartinh*. se toma em taes eleições, porque os talentos,
O Sr. Saraiva : — Não houve luta forte dos as capacidades daquella provincia estão todos
partidos, cada um fez as suas eleições o venceu ou quasi todos sem a condição de idade re
onde tinha mais força, mais prestigio, e o re querida pela lei. Não digo que o Piauhy não
sultado foi esse que os nobres deputados conhe tivesse a quem ter por senador , pois que elle
cem ; o governo não interveio em tal eleição, e até mandou dous nomes de filhos seus na lista
não tinha interesse nenhum politico para mes triplice.
mo fazer nella o que poderia fazer, o que lhe ó Os nobres deputados tambem hão de concordar
fermittido fazer pelo systema constitucional, que que a provincia do Piauhy se dividio mui es
convencer a seus amigos algumas vezes da pontaneamente. Os pai tidos votarão livremente
legitimidade, da conveniencia de apoiarem elles no Sr. Vianna, porque não erão esses homenB
esta ou aquella candidatura. O governo nada que o elegêrão daquelles que entendem que nós
ordenou. estamos em estado tal que procisamos reformar
316 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
o artigo da constituição que trata dos senado Sess&o em 88 de Junho
res, e estabelece a doutrina jle que póde ser
senador por qualquer provincia o brazileiro que PRESIDENCIA DO *R. PAULA CANDIDO (l1 SECRETARIO)
tiver as condições dn elegibilidade, embora te
nha nascido em provincia diversa. (Muitos apoia Summario. — Expediente. — Apresentação de dom
dos Reclamações, e continuão os apartes.) projectos.—Observacão úo Sr. Aprigio. — Ordem
O Sr. Puesi dente : — Attenção I Desanimo e do dia. — Creação de dous bispados. Discurso do
receio não poder manter a ordem da maneira Sr. Pinto de Campos. VotaçQo. — Fixaçfio das
porque vai a discussão. (Apoiados.) forças navaes Discursos dos Srs. Figueira de
Aiello, Pimenta de Magalhães,Nebias e Miranda.
O Sr. Saraiva : — Estou convencido que não
infrigi os meus deveres, que mo não tornei in A's dez horas, feita a chamada, achão-so pre
strumento do governo , o que a provincia do sentes os Srs. Paula Candido, Apri^i, Machado,
Piauhy tevo cnnsciencia do que fez, e que pro barão de Maroim, Almeida e Albuq^rque, Bar
cedeu nesso negocio com liberdade, com digni bosa da Cunha, Belfort, Vieira do Mattos, Ma
dade. (Muitos apoiados.) cedo, Araujo, Mendes da Costa, Fernandes Viei
Um Sr. Deputado : — A opposição não lhe fez ra, Leal, Siqueira Queiroz, Lindolpho^Fleury,
semelhante aceusação. Brusque, Ribeiro , Cruz Machado , Teixeira de
Souza, Ferraz, Wilkeus, Miranda. Ribeiro da
O Sr. Saraiva : — O que o governo pode Luz, Seára , Livramento, Bretas, Rocha, Assis
ria fazer na provincia do Piauhy para coagir, Rocha, Gomes Ribeiro, Bello, Ignacio Barbosa,
para obrigar os piauhyenses a votar nesto ou Taques, Paranaguá , Pimenta Magalhães, Theo-
naquelle ... philo, Bidisario, Luiz Carlos, Souza Leão, Men
Vozes : — Ora I ora I ora I donça, Rego Barros , Angelo Custodio , Viriato,
O Sr. Saraiva : — O partido governista sabia Paula Fonseca , Góes Siqueira , Dutra Rocha,
que votar no Sr. Vianna nu nao votar era a Henriques, Jaguaribe, Domingues, padre Campos,
mesma cousa para mim, porque eu não havia Vasconcellos, Araujo Lima, Paula Fonseca, Wan
de desmontar a nlliados sinceros , a pessoas derley, Gouvêa, Paes Barroto e Sá e Albuquerque
de consideração para assegurar o triumpho de E havendo numero legal, ás dez e tres quar
uma candidatura que nem ao menos tinha sido tos, o Sr. presidonte. declarou aberta a sessão.
recommendada pelo governo. Lida, e approvaíla, a acta da sessão antece
O Sr. Araujo Lima : — Quem sabe o que acon dente, o Sr. 2° secretario, servindo de 1°, lo o
teceria se o Sr. Vianna não fo|se eleito? seguinte
O Sr. Saraiva :—O nobre deputado está muito EXPEDIENTE
assustado a respeito do futuro do paiz ? Um offleio do Sr. ministro do imDerio enviando
Um Sr. Deputado : — Não se deve collocar a o officio do presidente do Maranhão, dando as
questão nesse terreno pessoal. informições a cerei dos limites entre a mesma
O Sr. Saraiva: —Sr. presidente, eu disse que provincia e a de Goyaz.—A' commissão de esta
as posições officiaes da provincia erão oceupa- tistica.
das por pessoas a quem eu não podia des Ontro do mesmo, enviando o officio do vice-
montar, porque até mesmo em alguns lugaros presidente da provincia da Purahyba, acompa
não havia quem as pudesse substituir. Quanto nhado da cópia da acti dos trabalhos da eleição
ás posições da guarda nacional , V. Ex. sabe primaria da fregu^zia de Piancó.—A' commissão
que os postos da guarda nacional devem ser da constituição e poderes.
dados aos homens mais ricos e honestos dos Outro do Sr. ministro da guerra enviando um
lugTes; e porventura o nobre deputado sup- requerimento, em o qual o capitão reformado Fran-
porá que eu tivesso tão pouco senso que por cisco Jozé Camará pede voltar á primeira classe,
causa do Sr. conselheiro Vianna fosse dar pos e juntamento informações que msta occasião
tos da guarda nacional a pessoas que os não julga necessario dar acerca da pretenção do mesmo.
merecessem, para obter votos para elle, a quem — A' commissão de marinha e guerra.
nem tinha a honra de conhecer?
Sr. presidente, eu vejo que a camara já se Outro do mesmo, dando informações exigidas
acha bastante cansada; a hora está muito avan por esta camara acerca dos requerimentos do
çada, o por isso paro aqui, certo de que V. Ex. major reformado Nuno Anastacio Monteiro .de
Mendonça, que pede melhoramento de reforma ;
permittirá que eu em outra occasião diga alguma e do 2° tenente José Antonio de Araujo, que
cousa que me resta. pede ser restituido ao quidro do exercito. — A
Muitos Srs. Deputados: —Apoiado, muito bem, quem fez a requisição.
O Sr. Araujo Lima: — Muito bem em aparte. Outro do Sr. ministro da fazenda, remettendo
o requerimento da companhia imperial de mine
O Sr. Paula Baptista:—Eu apoiei todo o prin ração estabelecida no Gongo-Soco, pedindo a re
cipio do seu discurso e algumas das snas propo missão temporaria dos direitos de ouro que ex-
sições. trahe das minas.—A' commissão de fazenda.
A discussão fica adiada pela hora. Outro do presidenta do Maranhão, enviando o
O Sr. Presidente marca a ordem do dia se lequerimento do desembargador il% relação da
guinte, e levanta a sessão ás 3 horas da tarde. mesma provincia Manoel Bernardino de Souza
Figueiredo, pedindo dous annos de licença com
os seus ordenados para ir á Europa tratar de
sua saude. — A' commissão de ponsoes e orde
nados.
Uma representação da camara municipal da
cidade de S. José de Mipibú, da provincia do
Rio Grande do Norte, contra o procedimento do
presidente e assemblóa provincial da mesma pro
vincia, privando-a do seu patrimonio.—A' com
missão de camara municipaes.
Um requerimento de José Maria Gomes, nego
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 317
ciante e proprietario na praça do Rio de Janeiro, datado em 27 de Agosto, de 1845, em o qual
subdito hespanhol, pedindo para ser naturalisado dá parto de haver instaurado o collegio de S. Ma
cidadão brazileiro. — A' commissão de constitui theus, o de ter croaia um outro em Santos Cos
ção e poderes. mo o Damião. — Está prejudicado.
Outro do subdito portuguez Joaquim Antonio « N.» 7.— Quatro officios do governo, datados
Baviuso, fazendo igual pedido. —A' mesma com- em 7 de Outubro e 9 de Dezembro do 1815, 21
missão. de Abril e 12 de Junho do 1846, em os quaes
Sáo sem discussão approvados os seguintes pa dá conta da creação de varios collegios em
receres: Piauhy, Matto-Grosso, Pernambuco.—Estão pro-
« Sondo presente ú commissão de fazenda um judiçados.
requerimento da directoria do monte-pio dos « N.» 8. — Uma representação da assembléa
servidores do estado pedindo o usofructo do uni provincial de Minas Geraes, datada de 16 de
proprio nacional fronteiro ao edificio das Bellas- Março de 1840, em a qual pede que se decretem
Artes, e achaodo-se a petição, qne é dirigida varias incompatibilidades para a eleição do do-
ao governo imperial e não á camara, inteira putadoa á assembléa geral.
mente desacompanhada de qualquer documento « A camara dos Srs. deputados tomará seme
ou iuformação, é a commissão de parecer que, lhante materia na devida consideração, qumdo
se peça ao governo, não só os esclarecimentos houver de conhecer das reformas a que possa
que puder ministrar, como a sua opinião a res dar lugar a vigente lei de eleições.
peito de tal pretensão. « N.» 9. — Uma indicação do deputado Coelho
« Paço da camara dos deputados, 23 de Junho Bastos, datada em 23 de Maio de 1846, para
de 18-33.— Ribeiro.—Lisboa Serra. » que so tome um i providencia a respeito do pa
« Foi prpsento ás commissões de fazenda e de gamento aos parochos, no intento de fazer cessar
commercio industria o artes, uma proposição do o conflicto existente entre a assembléa geral, e
Sr. deputado Candido Mendes de Almei la, jul as provincias.—Esta materia já está providen
gada objecto de deliberação em sessão de . 17 ciada.
do corrente, abrindo ao governo um credito de n 1847. — X.» 10. — A acta da eleição feita no
100:000$ afim de occorrer ás despezas necessarias collegio eleitoral de Nossa Senhora das Dores da
pira que productos da nossa industria possãu Serra da Saudade do Indaiá na provincia de
tambein figurar na exposição universal que de Minas Geraes, em 7 de Novembro de 1847.—Está
verá ter lugar em Paris no mez de Maio de prejudicada.
1855, o são ellas de parecer que se peça ao go « N.» 11. — Vinte e um officios do governo
verno as informações que puder ministrar, bem datados em 5 e 16 de Setembro, 4 do Novembro,
como a sua opinião a respeito do semelhante 12 e 14 de Dezembro de 18 1G, 9 e 18 de 'Feve
proposta. reiro, 18 de Março, 17 de Abril, 12, 19, 27 e
« Paço da camara dos deputados, 23 de Junho 31 do Maio, 17 de Junho, 8, 10 e 28 de Julho,
de 185;j. —Lisboa Serra.—Ribeiro.—Almeida e Al 2 do Agosto e "'9 de Setembro de 1847, versando
buquerque. —A. de Oliveira. » todos sobre a designação de collegios nis pro
« A commissão do constituição e poderes é de vincias do Rio Graudo do Norte, Pernambu
parecer, que sejáo archivudos os papeis abaixo co, Parahyba, S. Paulo, Rio Grande do Sul,
declarados pelos motivos, que acompanhão sua Piauhy, Bahia, Goyaz, Minas Geraes, Sergipe,
mensão. Pará, Matto Grosso, Espirito Santo, Maranhão
« 1845. — N.» 1 — Uma representação de Ma e Alagoas. — Sobre a materia do todos esses
noel Joaquim de Souza Medeiros, juiz de paz da officios está providenciado em lei.
cidade do Rio Grande, provincia do S. Pedro, « N.» 12. — Quatro officios do governo, datados
em a qual representa centra a. illegalidade coin em 21 de Maio, 19 o 25 de Junho e 16 de Agos
que se fizerão as eleições primarias naquella to de 1847, cobrindo differentes avisos impress is
cidade em o anno do 1841, sendo aquella repre relativos á execução da lei de eleições, os
sentação datada de 14 de Junho de 1845.—Está quaes não puderão ser incluidos na respectiva
prejudicada. collecção. — A camara fica inteirada.
« N.» 2. — Frei Francisco de S. Diogo, subdito « N. 13. — Um officio do deputado Frederico
portuguez, religioso, franciscano da provi, icia da Augusto Pamplotm, declarando não poder com
Conceição do Rio de Janeiro, pede em um re parecer á sessão de 1817. — Está prejudicado.
querimento datado de Julho de 1845 dispensa « N. 14.— Um offiVio da camara municipal do
da lei para naturalisar-se cidadão brazileiro. Recife, datado em 25 de Junho de 1847, cobrin
—Está prejudicado. do officios dos Srs. deputados Maciel Monteiro,
« N.» 3. — Uma representação da assembléa Affonso Ferreira e Mello, em os quaes por dif
legislativa da provincia do Maranhão, datada ferentes motivos declarão não poder comparecer
do Agosto de 1844, em a qual solicita o aug- a sessão legislativa. — Estão prejudicados.
mánto do numero de deputados á assemblea « N.» 15. — Uma representação dos eleitores da
girai. — Semelhante pedido já se acha providen freguezia de Santo Antonio das Queimadas da
ciado em lei. provincia da Bahia ; dita da camara municipal
« N.» 4. — Uma indicação do Sr. deputado da villa de Tucanos da mesma provincia ; dita
Silva Ferraz, datada eni 22 de Fevereiro de 1845, dos eleitores da mesma villa, versando todos
pedindo que a commissão dê o seu parecer a sobre decisão eleitoral—Estas materias já estuo
respeito da legilidade do procedimento do go providenciadas em lei.
verno, quando se arroga o direito de decidir « N.» 16. — Uma representação da camara mu
questões sobre eleições de camarás municipaes, nicipal de Vianna, da provincia do Maranhão,
e juizes de paz.—Esta materia já se acha provi contra a administração do Sr. Franco de Sá
denciada na lei de eleições. em a sobredita provincia em 1848.—O Sr. Franco
« 1846.—N.» 5. — Um officio do deputado João de Sá ê fallecido.
José de Oliveira Junqueira, datado em 11 de « N.» 17. — Uma indicação do Sr. Jobim assig-
Agosto de 1846, em o qual lhe participa, que lhe nada em 10 de Junho de 1818, relativa a estatu
não ó possivel continuar a assistir á sessão tos da escola do medicina.—Esta materia acha-,
daquelle anno. — Está prejudicado. se providenciada nos estatutos autorisados por
« N. 6. — Um officio do presidente do Geará, lei, cuja approvação ponde do corpo legislativo.
318 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
« N.» 18. — Um officio do deputado Isidoro O Sr. Aprígio (pela ordem):—Sr. presidente,
Jansen Pereira communicando não poder vir pedi a palavra para saber sa V. Ex. já tem
tomar parte nos trabalhos legislativos em o nomeado a. commissão que deve levar ao throno
anno de 1818. — Está prejudicado. o voto de- graças desta camara, já approvado ha
« N.» 19. — Um requerimento do João Cypria- muitos dias. Bum que mo recorde de que era de
no Huet, subdito francez, o qual- pede dispensa costume esperar-se que a outra camara tivesse
do todas as condições da lei, afim de ser natu apromptado a sua resposta para serem ambas
ralisado cidadão brazileiro.—Esso requerimento levadas ao mesmo tempo á coroa, vejo que agora
acha-se assignado por um individne, que se diz não poderemos ter a mesma satisfação, á vista
procurador, mas que o não mostra. Se o pre da demora que se observa na discussão do voto
tendente, depois dessa pretenção, fez a devida de graças no senado, e das opiniões que alli se
declaração na respectiva camara, esta ella prejudi estabelecem a respeito desta materia.
cada. Se o não fez, não ó possivel tomal-o em Li hoje o extracto das discussões havidas hon-
consideração á vista de seu conteudo.. tem no senado, e vi que um nobre membro da
« Paço da camara dos deputados, em 28 de quela augusta camara entende que a resposta á
Junho de 1853. — F. D. Pereira de Vasconcellos. falia do tlirono póde ser apresentada depois ou
— J. A. de Miranda.—Foi approvado. no fim da sessão ; outro nobre senador, que esse
acto da mesma camara é de pequena significação
O Sr. Livramento pede urgencia para apre á vista de muitos actos e n que o parlamento se
sentar dous projectos. póde pronunciar com mais franqueza e procedencia.
Consultada a camara é approvada a urgencia- Sendo estas duas opiniões proferidas por mem -
e vão á mesa os seguintes projectos. bros tão illustrados e tão importantes, é de crer
que fação grande impressão, e sirvão de base a
« A assembléa geral legislativa decreta: . maior prolongamento da votação, tanto mais
« Art. unico. A ordenação do livro 4°, titulo quando pelo regimento daquella augusta camara
8°, não permitte aos que não sabem, ou não não ha numero limitado de vezes de fallar em
podem ler fazer testamento cerrado ; ficando re commissão geral, nem outro expediente que faça
vogada qualquer interpretação em contrario. — terminar uma discussão que se pretenda eterni-
S. R — Paço da camara dos deputados, 27 de sar; acerescendo que ainda depois determinada
Junho de 1853. — Joaquim Augusto do Livra a discussão em que se acha a resposta, tem de
mento. » haver uma terceira, em que naturalmente sa
« A assembléa geral legislativa decreta: consumirá outro tanto tempo.
Na presença destas observações, pensando eu
« Art. 1.» Os dous terços de votos, de que por modo differente dos dous illustres membros
tratão os arts. 15 e 1C do acto addicional, serão do senado a cujos discursos me refiro, entendo
contados em relação ao numero de membros que esta augusta camara está no caso de perder
presentes á sessão do dia em que tiver lugar a a esperança de ter a satisfação de enviar ao throno
votação. o seu voto de graças conjunctamente com o senado.
« Art. 2.» As palavras do art. 15—por dous V. Ex., se ainda nao nomeou a commissão com
terços dos votos—referem-se ás palavras—ado petente, tomará na consideração que merecerem
ptado tal qual—e não ao adjectivo— modificado ; estas minhas humildes observações, afim de que
—sendo suuiciente a maioria dos membros pre esta augusta camara manifeste ao throno os
sentes para adoptar o projecto, modificado no sentimentos de profundo respeito, amor e venera
sentido das razões do presidente. ção de que é possuida para com o mesmo throno.
« Art. 3.» Quando não o projecto, mas sómente O Sr. Presidente: — Penso que as reflexões
um ou alguns de seus artigos forem pelo pre do nobre deputado têm cabimento ; mas tambem
sidente aceusados de contrarios á constituição, devo ponderar á casa que o que me parece que
aos tratados, ou aos direitos de outras provin deve fazer-se primeiro é officiar ao respectivo
cias, e não obstante isto a assembléa o adoptar ministro para que este marque dia e hora om
tal qual, só poderá o presidente sustar a exe que commissão deve apresentar-se. Depois desta
cução desse artigo ou artigos que tiver aceusado resposta proceder-se-ha á nomeação da commissão.
de algum daquelles defeitos, devendo desde logo Quanto a eu não ter nomeado ainda a com
dar execução á lei em todas as outras suas missão, a camara sabe que ha apenas dous dias
partes. que eu substitue mal nesta cadeira (não apoia
« Art. 4.» A disposição do art. 16 do acto addi dos) o digno presidente nffectivo, e como ó na
cional comprehende as leis que não são sujeitas tural que quando vier a resposta á camara, S. Ex.
á saneção do presidente, o qual poderá suspender se ache presente, eile tomará na devida consi
a execução na parte em que offenderem á consti deração as ponderações do nobre deputado.
tuição, aos tratados, ou aos direitos de outras
provincias. ORDEM DO DIA
« Art. 5.» As disposições do art. 23 do acto CREAÇÃ0 DE BISPADOS
addicional são só applicaveis aos empregados pu
blicos que tomarem assento nas assembléas pro- Continua a 3a discussão do projecto r. 13 deste
vinciaes. anno, creando um bispado na cidade da Diaman
« Art. 6.» Nos casos figurados no art. 19 do tina e outro no Ceará, com as emendas que
acto addicional, se a recusa da saneção se veri hontem forão apoiadas.
ficar depois de encerrada a sessão annua, o
presidente da assembléa mandará publicar a lei. O Sr. Pinto de Campos: — A camara
« Art. 7.» Ficão revogadas quaesquer interpre ha de ter observado que durante esta discussão
tações em contrario. me tenho conservado silencioso, não porque con
sidero de pouca importancia a materia de que
« Paço da camara dos deputados, 27 de Junho se trata, mas sim porque reconhecendo em todos
de 1853 — S. R.—.Joaquim Augusto do Livra os membros desta mesma camara as melhores
mento.» disposições em favor de sua adopção, entendia
O primeiro destes projectos é julgado objecto que não devia prolongar os debates com obser
de deliberação. O segundo vai á cúmmissão de vações que me parecião desnecessarias ; e neste
constituição depois de breves observações dos proposito me conservaria se no correr da dis
Srs. presidente, Aprigio, Livramento e Cruz cussão não houvessem apparecido algumas pro
Machado, posições que, quando não encerrem uma offensa
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 .319
directa ás prerogativas do poder pontificio, são nestes casos funeciona essencialmente como poder ;
pelo menos mal cabidas e de máo efleito: á e por esti razão, repetirei ainda, foi muito im
vista disto resolvi, não como ecclesiastico, nem propria a palavra favor, empregada pelo illustre
mesmo como membro da commissão respectiva, membro a quem aliás muito respeito.
mas sim como catholico romano, combater taes O Sr. Candido Mendes: — Era preciso que fos
proposições — semos o par, amento da Inglaterra.
Um Sr. Deputado : —Todos nós somos catholi- O Sr. Pinto de Campos:— E' verdade; mas
cos romanos. como nos achamos no parlamento braziloiro,
O Sr. Pinto de Campos : — Bem sei disto; eé somos forçados a reconhecer que o primado de
por esta razão que muito me honro de afzer honra e jurisdicção, que por direito divino com
parte de um parlamento que professa idéas tão pete ao successor de S. Pedro, fiz parte muito
puras e orthodoxas. (Apoiados.) essencial da constituição da igreja. Cabeça visivel
Antes, porém, de entrar em materia, notarei a da igreja universal, centro da unidade catholica,
singularidade desta discussão. Desde que se o papa é o ponto luminoso donde, na phrase
apresentou na camara a idêa da creação dos do immortal Bossuet, partem tffdos os raios do
bispados, diversos oradores se têm empenhado governo ecclesiastico (muito bem.'); como, pois,
na luta. As suas opiniões, accordes quanto aos negarem-se-lhe as prerogativas que derivão imme-
fins, são as mais divergentes quanto aos meios, diatamente do seu poder jerarchico, e que forão
e dahi o antagonismo bem pronunciado ; mas altamente reconhecidas pelo concilio de Trento?
felizmente todos acabão por votar pela resolu Mas o nobre deputado, longe de recorrer ás
ção. A este respeito eu direi o que penso, e fontes puras do direito, valeu-se de praticis dis
quaes as informações que hei obtido de fontes persas e peregrinas que nenhum valor contém,
insuspeitas acerca do melholo que se tem se e que apenas poderião servir do arestos antes da
guido em negocios desta natureza. celebração do citado concilio, que não foi senão
Quaiído se trata da creação ou divisão de bis o depuradouro de todas as doutrinas e princi
pados a camara nada mais faz do que adoptar, pios relativos ao governo da igreja. (Apoiados.)
uma resolução que aiitorise o governo a impe O Sr. Ionacio Barbosa :— O que eu disse foi
trar aa Santa Sé as bulias da instituição cano que esse pedido é o exercicio de um direito.
nica. (Apoiados.) Habilitado por este modo o
governo, antes de encaminhar o negocio a Roma, O Sr. Pinto de Campos : —Mas o exercicio d e
rocura ouvir os respectivos prelados daquellas um direito subordinado ás leis canonicas, que
I ioceses com cujo territorio entende o novo bis exigem o mutuo accordo dos poderes.
pado. Estas informações baséão a supplica da O Sr. Ionacio Barbosa :—Logo, é legitima a in
creação : sendo certo que sem ellas o papa não tervenção do poder temporal.
prestaria a sua annuencia, visto que se não
havia preenchido- as disposições canonicas , que O Sr. Pinto de Campos:— E quem nega isto?
requerem em cisos taes a plena intervenção do O que eu me proponho mostrar ó que o poder
poder espiritual. Eis aqui , Sr. presidente , a temporal não póde por si só levar a effeito estas
marcha que segundo estou informado, tem sem medidas sob pena de serem nullas.
pre soguido a camara dos Srs. deputados ; e nem O nobre deputado, no intuito de excluir toda a
outra devia ser, em face das leis ecclesiasticas. intervenção pontificia na creação das dioceses,
(Apoiados.) trouxe o facto da escolha dos bispos por eleições
Mas o nabre deputadp pelo Ceará, partilhando populares. E' verdade, se bem me recordo, assim
a opinião de alguns, disse hontem neste recinto se praticou por algum tempo ; mas imagina o
que a camara estava no seu direito creando illustre memoro que os papas eráo estranhos a
as dioceses, visto ter a constituição do estado táes operações ? Engana-se manifestamente , a
lhe conferido este poder, c que por muito favor menos que apresente u.n outro poder da igreja
se recorria ao poder pontificio I Esta proposição que na ausencia dos papas conferisse a institui
me parece inaudita o sem justificação possivel I ção canonica. Saiba o nobro deputado qne nos
SenhoresI é pena que proposições do semelhante fins do seculo XIII, á medida que essas eleições
natureza sejão emittidas no seio do uma camara mudavão de fórma , ou que produzião graves
que funeciona sob as luzes de um seculo que inconvenientes, os p 'pas, guiados pelo maior bem
brilha por umi phllosophia a mais esclarecida e utilidade da igreja, forão reservando para si
e .orthodoxa I Entretanto, peiguntarei ao nobre o direito do instituir e confirmar os bispos ;
deputado , dada a hypothese de que a camara direito que até então elles exercião indirecta
creasse o bispado sem intervenção nenhuma do mente pelo ministerio dos patriarchas e dos me-
poder espiritual , quem conferiria a instituição tropolitas instituidos e confirmados immediata-
canonica, sem a qual não póde haver episcop ido mento pelos mesmos papas. Vê, pois, a camara
que os patriarchas o metropolitas exercião então
legitimo ? uma verdadeira delegação pontificia ; e por conse
Senhores , eu reconheço a competencia da ca guinte so deve considerar insubsistente o argu
mara em iniciativas d^sta ordem; alei funda- mento do nobre deputado sobre as eleições po
mentil a investio desta attribuição; mas lem pulares dos bispos ; e se o nobre deputado con
brarei ao nobre deputado que essa mesma lei sultasse melhor o concilio de Trento, havia de
fundamental, adoptando a religião catholica ro se compenetrar do todas os verdades.
mani como religião do estado, reconheceu igual
mente todos os seus canones o as consequencias O Sr. Corrêa das Neves: — Mas se o nobro de
delles (apoiados) ; o nobre deputado sabe qne putado pelo Ceará não quer o concilio de Trento ?
interpretar materialmente uma lei é desnaturar O Sr. Pinto de Campos: — So assim é, o nobrfl
o sentido genuino delia, i desconhecer o espirito deputado pelo Ceará segue uma doutrina pouco
e a vontade do legislador ; por conseguinte é catholica, e até inconstitucional ; mas eu faço
no mesma lei fundamental que eu procuro abri muita justiça aos seus sentimentos de ortho-
gar os principios que acabo de emittir. doxia.
O Sr. Ionacio Barbosa : — Nega V. Ex. que a O Sr. Ionacio Barbosa : — A constituição sus
creação dos bispados seja disposição mixta? tenta o concilio em todas as suas disposições ?
O Sr. Pinto de Campos:— Não nego isto, mas O Sr. Pinto de Campos : — Sustenta implicita
nego que o poder temporal possa discriciona- mente todos os canones que dizem respeito ao
riamente adoptar qualquer medida a este res dogma, e todas as disposições disciplinares que
peito sem a prévia intervenção do papa, que com elles têm intima relação. (Apoiados.)
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Ionacio Barbosa : — Mas o disciplina da do legislador o pensamento domiuante da lei
igreja é variavel. (apoiados) ; já fiz ver tambem como se fazião
O Sr. Pinto de Camfos : — Sim, senhor, é va essas eleições ; por conseguinte a pragmatica
riavel segundo as diversas necessidades dos tem de S. Luiz ó o meu maior escudo nesta occa-
pos e dos lugares ; mus não é senão a ella mesma sião. (Risadas.)
que competo fazer quaesquer alterações, sub pina E' verdade, Sr. presidenta, que muitos autores
de ir por terra a suprema erarehia instituida por têm posto em muita duvida a authenticidade
Jesus-Christo, que confiou, não aos principes desse documento, mas tambem é certo que certo
temporaes, mas aos legitimos pastores o regimen arcebispo do Paris, analysando-o, conclue que
da igreja do Deos. quando a pragmatica seja apocrypha, pelo menos
Estas theorias, que se achão incorporadas no encerra todos os principios que a igreja galli
cana tem seguido, mutatis mucandis.
direito publico ecclesiastico de todas as nações Luiz XIV, por exemplo, que foi o memarcha
catholicas, tem sido sempre executadas na França, mais absoluto do seu tempo, o que nos excessos
apezar das invasões e interpresaa do poder civil de seu justo orgulho ousava dizer : o estado
em certas épocas de commoções, e apezar mesmo sou cu; Luiz XIV, emfim, que vio algumas vezes
das amplas liberdades da igreja gallicana. A pro a curia romana curvada diante delle...
posito disto filiarei de uma pragmatica de Luiz
IX rei de França, citada hontem pelo nobre de O Sa. Fioueira de Mello: — Succedeu isso al
putado a quem me tenho referido. Esse docu guma vez ? Creio que não.
mento, senhores, não póde garantir as aversoes O Sr. Pinto de Campos — Succedeu, sim,
do illustre membro, esse documento é todo em senhor ; até uin sobrinho do papa veio em pes
meu favor, isto é, das doutrinas que eu tenho soa a Versailles dar uma satisfação solemne
hoje expendido. Eu o reproduzirei integralmente; pelo insulto que soffrêra em Roma o embaixa
elle se acha na collecção do direito civil eccle dor francez. Mas dizia eu, Sr. presidente, que o
siastico da França. Rogo pois á camara que se proprio monarcha que legou seu nome ao seculo
digne de continuar a honrar-mecom a sua attenção. em que vivera, em outras occasiões curvou a
O Sr. Wanderlev: —Com muito gosto; é muito fronte magestosa ao poder pontificio. Quando o
extensa a pragmatica ? papa Innocencio XII (se bem me recordo) re
O Sr. Pinto de Campos : — Contém poucos arti cusou a instituição dos bispos nomeados, que na
gos. Eil-a : celebre assembléa do clero de 1682 havião ap-
provado as quatro proposições que tanto moles
« Desejando a elevação o tranquillidade da tarão a coite de Roma, aquelle grande rei, bem
« igreja do nosso reino, diz o santo rei, a pro- longe de romper em ameaças, não somente in
« pagação do culto divino o salvação das almas sinuou aos bispos que dirigissem ao papa expli
« fieis a Jesus-Christo, afim de que possamos cações respeitosas sobre as quatro proposições
« obter a graça eo soccorro de Deos todo poderoso, indicadas, como tambem escreveu ao mesmo papa
« de cuja protecção dependeu sempre o nosso asseverando-lha que não instaria pela execução
« reino, o da qual queremos que dependa no delias. Diz um historiador moderno, creio quo
« futuro : nós, depois de haver maduramente Capengue, que em tudo isso iniluio o espirito
« pensado, ordenamos o que se segue : esclarecido o conciliador do immortal Bossuet.
« Art. l.° As igrejas, os prelados, os patro- Muitos annos depois el-rei Luiz-Philippe, mo
« nos o colladores ordinarios dos beneficios do delo de sabedoria o prudencia, exhibio grandes
« nosso reino, conservarao o pleno exercicio de exemplos de sua deferencia para com a curia
«seus direitcs e cada um gozará da jurisdicção romana. Nos começos de sou glorioso reinado
« que lho pertence. deu-se o segundo facto, segundo li ha tempos.
« Art. 2.» As igrejas cathedraes e outras go- Creon-se unia diocese em França : o governo im
« zarão do livre exercicio do suas eleições, pio- petrou as bulias da Santa Sé ; mas como quer
« moções ou collações. que se não houvesse preenchido as disposições
canonicas, ouvindo-se os respectivos prelados,
« Art. 3.» Queremos que a simonia, este crime o papa recambiou, permitta-se-me a expressão, a
«• prejudicial á igreja, seja inteiramente banido petição do rei exigindo que fossem ouvidos os
« do nosso reino. prelados. Immediatamente o bom nionarcha fez
« Art. 4.» Queremos o ordenamos que as pro- cumprir as ditas disposições, o o negocio foi
« moções, collaçoes, provisões do prclaturas, di- de novo encaminhado a Roma ; mas o papa,
« gnidades e todos os beneficios ecclesiasticos, de conformando-se com a creação da diocese, não
« qualquer natureza que sejão, se fação segundo conveio. da nomeação do bispo proposto por du
« a ordem do direito commum, regras dos con- vidar da pureza de suas doutrinas; e ainda
« cilios e estatutos dos santos pidres. nessa recusa Luiz-Philippe mostrou o seu aca
n Art. õ.» ... (Omitto este artigo por não vir tamento para com o suecessor do S. Pedro ,
muito ao caso.) propondo um outro padre, que foi logo aceito
pelo papa.
« Art. 6.° Renovamos e approvamos por estas
« presentes letras an liberdades, as franquezas, O Sr. Corrêa das Neves:— Temos um exem
« immunidadas, prerogativas, direitos c privile- plo domestico.
« gios concedidos pelas luis dos nossos prede- O Sr. Wanderlev: — E' verdade.
« cessores, e por nós, ás igr jas, aos mosteiros, O Sr, Pinto de Campos : — M is eu muito de
« e outros lugares de piedade, assim como a proposito fui procurar na França exemplos desta
« outras pessoas ecclesia*ticas. » urdem ; nós, que só parecemos imitar os fran-
Vê, portanto, a camara que o nobre deputado cezes no que elles têm de mais frivolo (apoiados,
não foi muito feliz na exhibição deste documento, risadas), devamos tambem imital-os em suas ac
que aliás é um protesto vivo contra os principios ções illustres, em suis obras boas. (Apoiados.}
que emittira o nobre deputado. • O nobre deputado pelo Ceará fallou igualmente
O Sr. Iqnacio Barboza : — Lêa o art. %° que na couducta dos antigos reis do Portugal. Não
trata da liberdade das eleições dos bispos. sei bem que concordatas havião entre elles e a
cúria romana, mas sei que aquelle paiz foi
O Sr Pinto de Campos : — Eu já fiz ver ao sempre eminentemente catholico. Apresentarei
nobre deputado que á sciencia da lei não está uma passagem, extrahida de um ensaio sobre a
na sua letra, nem nos paragraphos isolados. E' supremacia do papa, ácerca do solemne e ex
mister ir mais adiante, e procurar na mente | plicito reconhecimento das prerogativas da Santa
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 321
Sé pelo governo e nação portugueza, na mesma permittir, debaixo de pretexto algum, o inter
melindrosa época de el-rei D. João IV Note a pretadas. »
camara que esta passagem a que me refiro M. de Bonald, escriptor mui acreditado nos
aclia-se citada nas obras do eruditissimo Sr. ar tempos modernos, diz que « a sociedade mais per
cebispo da Bahia, cuja voz eloquente levantou-se feita é aquella cuja censtituição é a mais reli
muitas vezes neste recinto em favor das pre- giosa, e a administração a mais moral. A re
rogativas do papa (apoiados) ; e é pena que de ligião deve pois constituir o estado ; porque é
pois de seus luminosos discursos a respeito destas contra a natureza das cousas que o estado con
materias ainda haja quem as impugnei A passa stitua a religião. » O celebre papa Ganganelli
gem é em latim ; mas como os nobres deputa assignala como uma das causas das perturbações
dos não ignorão a lingua de Cicero, de quem das sociedades as continuas invasões do poder
são discipulos na arte de fallar bem, por isto temporal nos dominios da igreja, cujos canones
não recuso lêl-a integralmente. procura a cada instante subordinar ás conve
Alouns Sus. Deputados —Vejamol-a. niencias do momento. Santo Agostinho, um
dos grandes padres da igreja, diz que recusar a
O Sr. Pinto de Campos :—Ella é um pouco ex ingerencia immediata do poder espiritual nos ne
tensa ; mas o que é bom não aborrece. Eis a gocios puramente ecclesiasticos, ou que com elles
passagem : o Fatetur Lusitania non aliunde ec- tenhão relação, é desconhecer a divindade de sua
« clesiis suis remodium esse petendum, nisi A di missao sobre a terra.
te vina supreini Numinis providencia. Certum Apresentirei tambem a opinião de Van Spen,
ci enim illud esse, summum pontificem romanum celebre canonisia, aliás protestante : sendo o
« caput ecclesise, et Christi vicarium esse , in christianismo, diz elle, aquelle que lançou as
« qne fons, et caput t.tius potestatis, et juris- bases dis sociedades existentes, % elle compete,
« dictiemis ecclesiaãtica) situm est, quam imme- pelo monos, a mais plena liberdade de acção em
« diaté a Christo acceperat ut ab eo in omnes tudo que diz respeito ao seu regimen econo
« alios inferiores príelatos derivaretur, tanta su- mico ; e Grocio, tambem protestante, diz que o
« bordinatione, ut possit pro sue arbitrio con- direito de protecção, exercido pelo poder tempo
« trahere , augere , imminuere , revocaro eam ; ral, só é legitimo e benefico emquanto se limita
« ulterius principes seculares. .. compescere , et a proteger os canones e não violal-os : ad tu-
« frsenare possit, si audeunt regimen spirituale tendos non ad violandos canones.
« interturbare, aut overtere ; nec enim ad' eos O Sr. Paes Barreto : — Apoiado ; muito bem.
« quidquam spiritualis potestatis pertinet, nisi
« qned ecclesias possunt, ac debent tueri, et O Sr. Pinto de Campos: — Mr. Dupradt, cujas
« conservare. Quiu dubitari minimi potost, elsi opiniões liberaes são bem conhecidas, nega em
« varii eligendi episcopos variis Wmporibus modi sua Concordata d'America que o poder temporal
« in ecclesiazticis historiis reperiantur, eos orn possa por si só restringir ou ampliar as juris-
ei nes ex cencensu saltem tacito, et permissivo dicções ecclesiasticas.
« Pontiflcum fuere , qui eos, vel apprababant, Se a conservação da globo, diz Santo Ambrosio,
a vel permittebant, vel tolerabant, quoad intelli- depende do equilibrio regular entre as suas leis
« gerent id tunc statui convenire. » physicas, segundo a admiravel disposição do Su
A' vista disto como dizer o nobre deputado que premo Artifice, da mesma sorte a conservação
os antigos reis de Portugal tomarão a iniciativa das sociedades catholica* depende da harmonia
na escolha dos bispos, sem que nisso interviesse e boa intelligencia entre os dous supremos po
a curia romana? deres sociaes. Rematarei o meu discurso com os
pensamentos do iininortal Bossuet. ultimo padre
O Sr. Ionacio Barbosa:—Não ha tal, o que eu da igreja, na phrase de um moderno escriptor i
disse foi que os reis de Portugal nomeavão os ■ Nos negocias, não sómente de fé, como ainda
bispos, e o papa os confirmava. da disciplina eccleslastiea, compete á igreja a de
O Sr. Pinto de Campos : — Então estamos já cisão ; ao principe a protecção, a defeza e a exe
de acordo ; mas o nobre deputado manifestou cução dos seus canones, porque o espirito de
aqui idéas contrarias. cliristianismo ó que a igreja- se governe canoni
Senhores, se eu não quizesse fatigar a pacien camente. (Muitos apoiados.)
cia da camara, continuaria A demonstrar com a (Depois de alguma pausa continua o orador) :
historia na mão qual a marcha que em todos — Creio que se acha sobre a mesa uma .emenda
os tempos seguirão os paizes catholicos em ne que tem por fim autoris ir tambem o governo a
gocios desta natureza; mas receio entrar muito impetrar da Santa Sé as bulias que desliguem
nestas questões, não pelo qun já disserão o do bispado de Pernambuco algumas freguezias
nobre arcebispo e outros escriptores de igual para incorporal-as no arcebispado da Bahia. Se o
nota, cujas doutrinas não faço mais do que re espirito de justiça não predominisse em mim muito
produzir, como porque, em se tratando de as mais profundamente que o espirito de parcialidade,
sumptos desta natureza, chovem os epigrammas por certo que eu votaria contra easa emenda
e por via de regra os padres são quem pagão (apoiados) ; mas eu tenho necessidade de provar
(risadas, não apoiados) ; eu vejo e obserVo o aos nobres signatarios da emenda que quando
que se passa. . . se trata de fazer o que é justo, ponho de parte
Entretanto, Sr. presidente, sempre apresentarei tudo que sibe a parcialidade.
ainda á 'consideração da camara as opiniões e Alouns Srs. Deputados da Bahia : —Apoiado ;
doutrinas dé homens de muito credito no mundo fazemoslhe toda a justiça.
catholico ; começarei por citar uma passagem do O Sr. Pinto de Campos : — Voto pela emenda,
grande arcebispo de Cambraia, muito conhecido Sr. presidente, porque sempre entendi que é
dos nobres deputados. (Apoiados.) .0 nobre autor mais regular que as circumscripções ecclesias
da Telemico, fullando das preiogativas da igreja, ticas sigão as circumscripções civis, como se
diz -o seguinte : praticava antes da dissolução do imperio romano;
« Ella aceita essa protecção do poder temporal eutendo que é uma anomalia entrar a jurisdicção
como as offrendis dos fieis, sem a exigir,- e nos ecclesiastica de Pernambuco no arcebispado da
beneficios dos principes n9b vê senão a mão do Bahia ; e sei que o Sr. bispo de Pernambuco
seu divino fundador. Não permitta Deos que o nutre desejos do que se submetta á direcção do
piotector governe, nem previna jámais em cousa metropolita essa porção do seu rebanho, que,
alguma o que a igreja regular. O seu dever é pela distancia em que se acha do seu pastor,
apoiar as decisões que delia emanarem, sem se não póde ser soccorrida com a promptidão e
TOM» 3. 41
322 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
desvelos necessarios (apoiados) ; entretanto, como das as vezes que em um paiz qualquer cidadão
um e outro prelado ha de ser ouvido a esse por obscuro que seja, puder emittir livremente
respeito, as suas informações orientarão melhor suas opiniões sem obstaculo nem perigo, essa
o governo no tocante á impetração das bulias. paiz é livre ; e que nós representantes do povo
Não voto somente, Sr. presidente, pela emenda e defensores dos seus direitos e interesses, não
indicada, voto por todas quantas facilitarem as estaremos na altura da nossa missão se acaso
c:i cações de bispados no Brazil, porque é isso píla discussão não mostrarmos que conhecemos,
uma idéa eminentemente civilisadora (muitos que comprehendemos , que queremos defender
apoiados) ; e aproveito este ultimo momento esses direitos e interesses, e fazer com que
para declarar á camara que li a bulia que sanc- elles sejão reconhecidos e respeitados.
cionou a creação do bispado do Rio Grande do Sei, Sr. presidente, que estes principios não
Sul, na qual o santo padre, depois de fizer agradão aos Srs. ministros ; elles desejão por
muito valer as informações dos respectivos bis todas as maneiras destruir a discussão ; elogião
pos, manifesta os mais ardentes desejos que se o nosso patriotismo, elevão-nos até ás nuvens,
multipliquem no Bmzil as dioceses, porque só so acaso nos tornamos silenciosos e consentimos
assim as luzes da verdadeira religião se propa assim que a sabedoria ministerial seja preferida
garão profundamente neste v isto e immenso ter á sabedoria legislativa. . .
ritorio. (Muito bem; muito bem( O orador ê fe O Sr. Wanderlev dá um aparte que não ou
licitado por seus collegas.) vimos.
O Sr. Ionacio Barbosa:—Peço a palavra. O Sr. Fioueira de Mello: — E' exacto, vou
Alouns Srs. Deputados:—Ceda para se votar. mostrar pelos factos. Entretanto a experiencia
Votos, votos.!*" nos tem mostrado que quando não discutimos
as leis, ell is não sómente se tornão inuteis,
O Sr. Cruz Machado: —Pela ordem. inexequiveis, como não têm no paiz aquella
O Sr. Ionacio Barbosa :—Eu pedi a palavra. força e saneção moral que devem ter. Para prova
O Sr. Presidente :—Tem a palavra pela ordem desta asserção, eu lembrarei a lei da provin-
o Sr. Cruz Machado. cialisação das notas, que tendo aqui passado
quasi sem discussão, porque apenas um orador
O Sr. Cruz Machado : — Roqueiro o encerra a havia impugnado, e sendo sanecionada poste
mento desta discussão. riormente pelo poder competente, não foi ainda
Posto a votos este requerimento é apptovado, executada, em razão dos inconvenientes que
e procedendo-so A votação sobre a materia ap- dahi resultavão ; eu lembrarei ainda a lei que
prova-se o projecto com todas as emendas. autorisa o governo a reformar o ensino prima
rio e secundario do municipio da córte, que tem
fixação das forças de mar encontrado na execução obstaculos que têm
feito com que até hoje não tenha sido executada,
Continua a discussão do art. 1° do projecto e entretanto os Srs. ministros a fizerão passar
ue fixa as forças de mar para o anno financeiro com toda a pressa, sem grande discussão I
3 o 1854 a 1855. Sr. presidente, tanto é verdade que o governo
não quer a discussão, que para o provar bas
E' lida a seguinte emenda que, por estar as- tará attender tanto para o que se passou na
signada por diversos senhores, julga-se já apoiada: discussão da resposta á falia do throno, que
« Fica revogada a ultima parte do art. 5» da como todos sabem, offerece occasião pira se
lei r. 646 de 31 de Julho de 1852, das palavras— discutir os actos ministeriaes, como pelo que se
continuando porém a regular—em diante. Esta observou quando se discutio a proposta do go
disposição terá vigor desde jã, e será perma verno para soccorrer os bancos da praça e des
nente. truir a crise commercial que se dizia existir ;
« Paço da camara, em 27 de Junho de 1853. — ambas essas discussões deixárão de continuar
A. C. Sedra. — P. Baptista. — A. de Oliveira.— por se ter pedido o encerramento delias. A ma
Nabuco de Araujo. — Sebastião do Rego. — Pinto neira porque foi discutida a lei que crêa um
Pacca. — F. X. Paes Barreto. —Brusque. — Fi banco nacional, fornece-me ainda uma outra
gueira de Mello.—Mendonça C. B. » prova : não podendo essa lei ser devidamente
discutida na segunda discussão, porque os ora
O Sr. Figueira de Mollo :—Sr. pre dores da opposição que podião tomar parte nella
sidente , quando entrou em segunda discussão achárão-se impossibilitados de fazêl-o, elli pas
este projecto, eu hesitei em pedir a palavra, sou" immediatamente para a terceira discussão,
como a camara teria observado, tanto porque dispensados os intersticios do regimento, o foi
me faltavão os conhecimentos proprios r ospe- afinal adoptada pela camara, tendo apenas dous
ciaes para podêl-o fazer com vantagem em ma ora lores fallado sobre materia tão importante 1
teria tão importante, e conhecia que outros Assentou-se que se- devia em tal assumpto ad-
oradores poderião esclaiecêl-a melhor do que eu, mittir o systema da rolhai
como porque eu via que tanto o governo como Ora, senhores, pedir o encerramento de uma dis
a casa não querem a discussão (não apoiados) ; cussão sobre bancos que chama toda a attenção do
e entretanto, Sr. presidente, se as dnvidas é o commercio, e que deve excitar necessariamente
meio de chegar á verdade, a verdade não se a de todos os homens que procurão firmar e es
póde Conhecer senão por meio de discussões sé tender o credito, e promover os interesses do
rias e profundas que esclareção não sómento a paiz, o pedir esse encerr imento quando apenas
nós, que temos de tomar uma decisão, como se hão proferido dous discursos, e s.: achão outros
tambem ao povo para qnem legislarmos. oradores %com a palavra, demonstra claramente
Por outro lado eu entendo que a discussão é que se nao quer a discussão.
a alma, é a vida do systema representativo. Releva ainda observar-se que os Srs. ministros,
(Apoiados.) Nos governos despoticos manda o seguindo o plano de não quererem a discussão
senber, e todos obedecem; ninguem deseja dis na casa, não apresentão as suas propostas em
cutir as questões administrativas, não só por tempo para que os Srs. deputados possão tomal-as
que' é inutil fazêl-o, mas tambem é perigoso ; em consideração e estudal-as devidamente. Assim
mas no governo representativo, no governo da o Sr. ministro do imperio tendo-nos dito no seu
liberdade, no governo em que se conhece e res relatorio que teria muito brevemonte de apresen
peita a dignidade do homem, a discussão é ne tar uma proposta sobro uma nova organisação
cessaria e inevitavel. Estou persuadido que to das nossas municipalidades, até hoje não o tem
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 323
feito I Desde já eu prevejo que quando essa pro lho naval, e achando-se elle já em terceira dis
posta se apresentar, a commissão que a tiver de cussão no senado, o nobre ministro não o tivesse
examinar ha de dizer que ella é muito bem de querido adoptar, e nem ao menos se dignasse
lineada, que contém as medidas mais sabias, dar-nos a razão de seu procedimento, e viesse,
mais justas que se devem adoptar para bem do por assim dizer, substituir a sabedoria ministe
paiz.\ . rial á sabedoria legislativa, não podendo ignorar
Um Sr. Deputado : — Como sabe disto ? que esse projecto era o resultado de uma pro
posta do governo, e que sobre elle tiverão lugar
O Sr. Fioueira de Mello : — E' o que ha de nesta camara discussoes muito aprofundadas.
acontecer; mas não ha de apresentar-nos um Tambem não posso deixar de observar com
parecer desenvolvido o aprofundado da materia; algum reparo, Sr. presidente, que o Sr. ministro
essa proposta ha de ser immediatamente para a da marinha queira organisar o conselho naval
ordem do dia, e como não temos tempo para antes pelo systema francez do que pelo systema
consultarmos' a opinião esclarecida do paiz, para inglez, adoptado p ir muitos paizes, em que a
consultarmos os factos, segue-se que havemos marinha tem chegado a alto gráo de esplendor.
de adoptar a proposta do Sr. ministro quasi sem Estou persuadido que, embora o ministro da
discussão. O mesmo direi a respeito de outras marinha pelo systema inglez não possa ser tudo
propostas que estão promettidas, ; ellas passarão nas decisões dos negocios da competencia do
sem a menor discussão, e os factos mostraráõ conselho naval, dahi não resultão inconvenien
se o que eu digo é ou não a verdade, se mi tes ao serviço publico, e que sómente assim é
nhas previsões forão ou não fundadas. que se poderá remediar todos estes inconve
Se destes factos passo para o que se observa nientes que o nobre ministro nota no seu rela
relativamente ao ministerio da marinha, eu vejo torio devem existir por falta do^onselho naval
o que digo confirmado por actos do Sr. ministro. fortemente organisado. Por outro rado parece-me,
Faltando da necessidade de um conselho naval, Sr. presidente, que quando nós tem is de escolher
declarou S. Ex. que entre os diversos systemas exemplos p ira poder conseguirmos os resultados
adoptados por algumas nações, isto é, de dar-se favoraveis á nossa marinha, devemos procural-os
ao conselho naval voto deliberativo sobre os ob antes nas nações em que a marinha tem chegado
jectos de sua competencia, ou de ser apenas con a alto grão de esplendor, em que esse ramo do
sultivo, e de deixar-se ao ministro da marinha serviço publico tom chegado ao maior gráo de
o direito de seguir ou não seus pareceres, era elle perfeição; do que"naquelles paizes em que pela
de opinião que devia adoptar-se o ultimo sys- confissão dos seus proprios escriptores, e dos
tema que vigora em França, e não o primeiro seus mais habeis marinheiros, a marinha ainda
adoptado pela Inglaterra; e concluindo o seu re se acha muito acinhada, e precisa de grandes
latorio nesta parte por esta maneira. S. Ex. melhoramentos.
disse-nos : « O modo de dotar-se quanto antes Seguindo o mesmo systema de não querer
a marinha de tão util instituição creio que seria discussão, o Sr. ministro tambem pedio-nos au-
autorisar o corpo legislativo ao governo para torisação para fazer as reformas que julgasse
creal-a por um decreto, sujeitando-a depois em convenientes nas intendencias o contadorias da
um prazo marcado, que deverá ser razoavel para marinha, sem entretanto nos dizer quaes erão
haver tempo de consultar-so a experiencia, á sua essas reformas, quaes as vantagens que delias
definitiva approvação. poderião resultar. A esse trabalho porém furta-se
Ora, se por ventura o Sr. ministro desejasse o Sr. ministro da marinha, e conforme eu de
que houvesse discussão sobre a utilidade e van duzo do seu relatorio, para reconhecer-se se os
tagem de um conselho naval, sobre sua respe regulamentos que tiver de fa/.er são bons ou
ctiva organisação, sobre as attribuições que se mãos, ó mister appellar-se para a experiencia
lhe deverião confetir, não teria o Sr. ministro futura, e nunca basear-se na experiencia passada.
vindo apresentar a sua proposta nesta casa, não Sr. presidente, é ainda por causa desse sys
teria vindo mostrar-nos os fructos de sua expe tema de evitar 'toda a discussão que o Sr. mi
riencia, e os motivos que deverião levar a ca nistro, fazendo a sua proposta para fixação das
mara a adoptar esse conselho naval? De certo forças navaes, não apresentou, na minha opinião,
âue sim ; mas isso de nenhum modo convém ao todas as idéas que devia nella incluir ; assim o
r. ministro ; elle sómente quer que o autorise- Sr. ministro na proposta não incluio aquellas
mos a organisar o conselho naval, e que nada providencias que, em sua opinião, se deverião
discutamos. adoptar relativamente ao corpo de saude, offi-
Ora, Sr. presidente, se para dotarmos a nação ciaes do culto e de fazenda, contadorias de ma
de qualquer instituição util, não ha melhor modo rinha, intendencias, marinhagem, e a outros
do que autorisarmos o governo a estabelecel-a objectos mencionados no seu relatorio.
como bem quizer, á vista do que nos diss-l o Ora, me parece que a proposta de um ministro
Sr. ministro, parece-me que por um artigo de lei relativamente á fixação de forças não devo se
deveriamos desde já autorisar ao Sr. ministro da limitar ao quantum dessa força ; mas estender-so
marinha para fazer quanto entendesse conveniente ás medidas que elle entender convenientes,* para
na repartição a seu cargo, porque sómente assim que o serviço publico a seu cargo se aperfeiçóe
a nossa marinha poderia chegar a maior gráo de o mais possivel, exceptuando-se apenas as que
perfeição, ter o maior desenvolvimento e força, disserem respeito ao orçamento, porque sómento
e mesmo igualar ás marinhas dos Estados-Uni- ahi têrião lugar. De semelhante systema resulta
dos, da «Inglaterra e da França. que nós não possamos discutir essas medidas
O Sr. Aprioio : — Apoiado. com o necessario desenvolvimento, porque não
sendo ellas apresentadas em segunda discussão,
O Sr. Fioueira de Mello : — Segundo o pensar senão como artigos additivos, esses artigos addi-
do Sr ministro, não devemos discutir, os meios tivos são discutidos todos ao mesmo tempo, e
que devão ser empregados para conseguir-se não podendo passar por uma discussão conve
esse fim ; o melhor modo, segundo o pensar do niente (que é o que quer o Sr. ministro), tam
Sr. ministro, é dar-selhe automação para elle bem ficamos inhibidos de adoptar o melhor. Por
obrar como julgar conveniente. Ora, senhores, esta razão, Sr. presidente, eu não posso deixar
um tal systema de legislar póde ser adoptado? do reprovar semelhante systema ministerial, que,
Póde-se conferir um semelhante arbitrio? na minha opinião, se mostra tão cheio de incon
Sr. presidente, já que toquei neste ponto, eu não venientes.
posso deixar de notar que, tendo sido approvado Sr. presidente, antes de entrar na discussão
por esta casa um projecto que crêa um conse do projecto, permitta-me V. Ex. que eu faça
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
ainda algumas observações relativamente á ma de obstar a que as aréas descidas da ilha do
neira porque o Sr. ministro tem dirigido alguns Nogueira obstruão a barra, disse o Sr. Tosta que
ponto' da repartição a seu cargo. Observarei em se h ivião feito "-Í40 braças, ao passo que o actual
primeiro lugar que tendo a lei do orçamento de Sr. ministro diz-nos que existem feitas sómente
1852 a 185:4 concedida ao Sr. ministro * quantia 170, e eu desejava por isso saber qual a razão
de 10:000$ para com ella concertar os quarteis dessa contradicção. Será por ventura porque
de Bragança, o Sr. ministro em vez de limitar as tenha cabido parte dessa muralha ?
despezas á quantia determinada pelo poder legis Entrarei- agora na materia. Tratando da força
lativo, fez um contracto em virtude do qual a naval, diz o projecto que ella se comporá no
nação deve gastar a não pequena som ma de anno financeiro de 18u4 a 1855 de 3,000 praças
54.H00ÍI000. de todas as classes em circunstancias ordinarias,
Ora , senhores , alguns dos deputados que se e de cinco em circu nstancias extraordinarias.
achaváo nesta casa no tempo da discussão dessa Ora, estas praças são as que compoem a nossa
lei sabem muito bem que ao principio se tratm marinhagem, e o Sr. ministro, faltando ácerca
de se vender esse quartel como inutil, e até se desta, diz-nos que tem sido extrema a difficul
deu autorisação ao governo nesse sentido ; mas, dade com que luta a repartição a seu cargo alim
tendo-se observado depois qno essa venda era de obter a marinhagem sufliciente para os vasos
prejudicial e que se devião fazer esses concertos, de nossa armada, tinto porque o nosso recruta
porque elles não poderião importar em muito, mento não é sufliciente, como porque não concor
determinou-se que fossem feitos com 10:000$. En rem pessoas a engajarem-se voluntariamente.
tretanto, o Sr. ministro, não obstante a clara Examinando as causas de semelhantes factos,
e terminante disposição legislativa , despendeu , o Sr. ministro decl ira-nos igualmente no seu re
como já disse, muito maior quantia do que a latorio que são duas ; primeiro a eflicaz relu-
votada 1 ctancia que têm os brasileiros pura a vida do
Ora, senhores, com semelhante procedimento mar, e segundo a diminuta remuneração que o
do Sr. ministro e de outros iguaes de seus col- estado offerece comparativamente aos vencimentos
legas póde de maneira alguma a lei do orça que os marinheiros percebem nos navios mer
mento ter vigor ? Deixar de ser letra morti, como cantes, e em consequencia destas causas entende
desgraçadamente o tem sido? Sem duvida que o Sr. ministro que, para as remover, deve elle
não. ser autorisado a despmder 40.000$ pouco mais
Sr. presidente, se o nobre ministro tem vio ou menos, augmentaudo as vantagens dos indi
lado a lei do orçamento, fazendo uma despeza vidnes que se quizessem engajar no serviço dos
superior á que ella queria que sé fizesse, tambem navios de guerra.
a tem violado em outros pontos deixando de fa Sobre este objecto eu observarei em primeiro
zer despezas que por ella forão determinadas. lugar á camara que o remedio apresentado pelo
Por exemplo , pela lei do orçamento para o nobre ministro não me parece consentaneo a
anno financeiro de 1851 ar 1852 foi consignado remover as causas que S. Ex. aponta, porque
para o melhoramento do porto de Pernambuco a se uma delias consiste na repugnancia para a
quantia de 120: Ot0$ ; mas apezar de ser esse vida do mar, segue-se que o maior premio que
melhoramento muito reclamado pelo commercio dermos aos que se engajarem não a póde remo
da terceira provincia do imperio, as ordens que ver, e que portanto essa repugnancia na de con
têm partido do ministerio da marinha têm sido tinuar a existir emquanto não destruirmos todos
taes que têm embaraçado o progresso das os motivos que lhe derão origem ; o pelo que
obras respectivas, e apenas nestas se ha gasto respeita ao augmento do premio aos vngijados
a quantia de :{10:000$, segundo estou informado, ou voluntarios, parece-me que o emprego desse
durante o anno financeiro a que me hei refe meio só momentaneamente destruirá as difficul-
rido. dades que agora sentimos em tripular os nossos
O Sr Auoosto de Oliveira : — Ap liado, é exa navios, não sómente porque, uma vez consumida
ctissimo. a consignação marcada para esse engajamento,
hão de necessariamente apparecer as mesmas
O Su. Fioueira de Mello : — Ora, senhores, difliculdades, o que me convence de que o
um tal proceder a respeito do porto da terceira remedio proposto é ephemero, inefficaz e empi
cidade do imperio, a respeito dos melhoramen rico mesmo, como porque o thesouro ha de ficar
tos que têm sido considerados urgentes afim de sobrecarregado com as despezas que todos os
que não seja obstruido pelas arêas que continua annos temos de fazer, de sorte que hão de
mente são acarretidas pelos rios, que para elle subsistir os mesmos inconvenientes que o Sr.
corre, esse proceder, digo, não póde deixar de admi- ministro desejava destruir, e que apenas será
rar-me, « de chamar a attenção do corpo legisla destruida uma ou outra circumstancia que para
tivo, e é por isso que eu desejo que o Sr. mi elles concorria.
nistro nos declare quaes as razões por que não Ora, Sr. presidente, qual será a causa princi
tem despendido com os melhoramentos desse porto pal da repugnancia dos brasileiros para a vida
a quantia designada pela lei. do mar ? Será por ventura porque os brasileiros
O Sri Ministno da Marinha : — Não seria me nSo tenháo, nem possão de modo agum adquirir
lhor que reservasse is,to para a discussão do or as qualidades necessarias para se empregarem
çamento ? em tal trabalho ? De certo que não. Os nossos
indios têm sido apregoados como os mais habeis
O Sr. Fioueira de Mello : — O que eu es marinheiros, e eu vejo que todas as nações têm
tou dizendo, Sr. ministro, se póde tratar tam sido mais ou menos habeis para o serviço ma
bem nesta occasião, porque na discussão da fi ritimo, quando as suas leis e instituições são
xação de. forças de mar e terra se póde tratar bem reguladas ; tenhamos leis e instituiçoes
não sómente da politica geral, como igualmente que tornem a vida do marinheiro commoda,
da marcha de toda a administração, e eu em vez apreciavel, gloriosa mesmo, e eu estou persua
de usar desse direito , limito.me apenas a tratar dido que ha de acabar essa repugnancia.
de alguns pontos da administração de V. Ex. Sr. presidente, eu entendo que as causas que
Por esta occasião, Sr. presidente, tambem dese concorrem para semelhante estado de cousas, e
java que o Sr. ministro me explicasse uma no que devem ser quanto antes removidas, são
tavel contradicção que eu julgo dar-se entre o não sómente a falta de sufficiente remuneração
seu relatorio e o do seu antecessor o Exm. Sr. aos nossos marinheiros, como disse o Sr. minis
Tosta. Faltando da muralha que se tem procu tro, porém muito principalmente o máo trata
rado fazer no porto de Pernambuco com o fim mento alimenticio que elles têm a bordo dos
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 325
navios, as continuas arbitrariedades de que são parecerem convenientes para que a nossa ma
victimas, como se não tivessem senão obrigações rinha augmente, dando assim o Sr. ministro
e não direitos, a má fé que se tem para com uma prova do seu patriotismo, e de que. toma
elles, e o nenhum futuro que se lh«s antolha a peito um assumpto de grar.de alcance para o
no fim de sua carreira. paiz.
Consta-me que os generos fornecidos para con Passando agora a outro assumpto, eu observo
sumo da marinhagem são em" geral de má qua 3ue a nossa força maritima se compõe tambem
lidade, e que actualmente esse fornecimento se o batalhão naval, que d'antes se chamava corpo
faz por monopolio igual ao que em outro tempo de fuzileiros navaes. Ora, ou desejava saber que
se tazia no arsenal de guerra, visto que os for motivos teve o Sr. ministro para mudar essa
necedores dos nossos arsenaes de marinha, e denominação já aceita e reconhecida; eu não
principalmente du arsenal da córte, são sempre conheço razão alguma de conveniencia em seme
os mesmos, segundo mo consta lhante mudança, muito principalmente attenden-
A respeito das arbitrariedades que soffrem os do-se que tanto um como outro corpo prestão
nossos marinheiros, pareco-me que não ha nin o mesmo serviço, e fazem destacamentos a bordo
guem que tenha embarcado nos nossos navios dos navios armados, e nos arsenaes, fortalezas,
de guerra que as não tenha, observado e lasti e estabelecimentos da repartição de marinha.
mado ; os nossos marinheiros não têm garantia Talvez que eu esteja em erro, e que o Sr. mi
alguma a bordo, os officiaes de marinha, salvas nistro da marinha para essa mudança tivesse
honrosas excepçoes, se têm acostum ido n tra- motivos muito poderosos, e por isso eu desejo
tal-os como escravos, e todos Sabem que de se que o Sr. ministro nos explique quaes elles
melhante estado de cousas não póde resultar forão.
senão repugnancia e aversão á vida de mari Por esta occasião não posso deixar de obser
nheiro. var que o Sr. ministro da marinha, sendo auto-
Qual é o futuro dos nossos marinheiros? Tem-se risadn pela lei do orçamento para o anno finan
tratado desde 1346 de crear um estabelecimento ceiro de 1850 a 1854 a dar ao corpo de fuzileiros
para invalidos, porém até hoje ainda nada se navaes a organisação que fosse mais conve-
fez de efiicaz para concluir osta obra; apenas o j niente, tivesse no regulamento de 21 de Novem-
nobre ministro, talvez para mostrar que não des j bro de 1852 deixado de cumprir a lei na parte
prezou inteiramente essa idéa, publicou ultima relativa ao tempo de serviço das praças desse
mente um decreto pelo qual, se mandava proceder corpo. Nesse regulamento se diz que o tempo
a alguns trabalhos. ( de serviço das praçis do batalhão naval será
Em fim, da má fé que se tem para com os aquelle que se acha marcado para as praças do
marinheiros nos seus engajamentos provém muitos exercito, ou que se houver de marcar, ao passo
embaraços, porque quando elles pensão que alis- que a lei do orçamento determina que elles sirvão
tando-se por certo numero de annos, terão, findos tanto tempo quanto está marcado para as praças
elles, immediatamente as suas baixas, depressa de pret do exercito de terra. Parecendo-me que
se vêm enganados, porque se em pregão todos houve manifesta alteração da lei, acerescentarei
os meios, os sophismas e tudo o mais quanto agora que a disposição do regulamento ministe
podem imaginar para os reter no serviço, de rial é prejudicial, porque deixa o recruta ou
sorte que o marinheiro continua a servir sem voluntario do corpo r.a ignorancia do tempo em
appellação nem aggravo todo o tempo que bem que deve acabar o seu serviço. Assim, quando
aprouver aos seus superiores. elle suppnzer que no fim de 4 annos que lhe marca
Sr. presidente, além destas causas que con a lei terá a sua baixa, ha de conhecer que fóra
correm para afastar os brazileiros do serviço da illudido, porque o farão servir ainda mais um
marinha de guerra, ha outrns mais geraes que ou dous annos, se essa lei tiver sido posterior
produzem as d.fliculdades referidas pelo Sr. mi mente alterada, porque no regulamento se diz
nistro, e são a decadencia da nossa marinha que elle servirá o tempo que estiver marcado
mercante, o nenhum favor dado ás pescarias. para as praças do exercito e mais o que se houver
A camara e o Sr. ministro sabem que a marinha de marcar. Portanto, me parece que não posso
mercante e as pescarias são principalmente o dispensar-me de pedir ao Sr. ministro a expli
grande viveiro da marinha de guerra, e portanto cação dos motivos que o levárão a fazer essa
que esta ha de encontrar grandes embaraços na alteração de lei, tornando incerta a sorte das
ãcquisição de marinheiros se aquelles ramos de praças do batalhão naval.
industria forem desprezados, ou retrogradarem, Eu desejava igualmente que o Sr. ministro nos
como tem ncontecido ; porquanto eu observo nos dissesse se elle entende que se acha bem orga-
relatorios do Sr. ministro da fazenda que nossa nisado o corpo da nossa armada, quer quanto á
navegação de longo curso, se compararmos os maneira de lazer o serviço, quer quanto ao nu
mappas do anno de 184(5 a 1847 comos do anno mero de postos que segundo as leis existem
de 1851 a 1852, tom diminuido 10,000 toneladas actualmente, quer quanto á denominação desses
pouco mais ou menos, ao passo que a navega postos. Do seu relatorio nada consta a esse res
ção estrangeira tem augmentado em proporções peito, entretanto me parece que alguns inconve
extraordinarias. E conseguintemente eu não posso nientes podem resultar dessa organisação.
deixar de pedir ao governo que lance suas vistas Eu desejava saber, por exemplo, se S. Ex.
ácerca da nossa marinha mercante e das pes entende que temos necessidade de tantas classi
carias; que procure protegél-as por medidas ficações de officiaes, como almirantes, vice-almi-
adequadas; que destrua assim todos os obstacu rantes, chefes de divisão, chefes de esquadra,
los que vedão o desenvolvimento da nossa na capitães de mar e guerra, capitães de fragata,
vegação, certo de que somente assim teremos capitães-tenentes, primeiros tenentes, segundos
grande numero de bons mainheiros, e a ar tenentes, ou, se pelo contrario, não deveriamos
mada nacional delles se poderá servir com pro admittir o systema que se acha em pratica em
veito. algumas nações, reduzindo os postos ao menor
Sobre este assumpto eu lembrarei que em 1815 numero possivel. Na Inglaterra e na França ha
ou 1816 foi apresentado pelo Sr. Souza Martins apenas seis postos ; e dizem-me que nos Esta-
um projecto importantissimo tendente u facilitar dos-Unidos elles não passão de tres.
o augmento da nossa ma°rinha mercante ; e como Talvez que, segundo o exemplo destas nações,
esse até hoje não foi discutido, e i:ós continua nós pudessemos supprimir alguns postos, como
mos no mesmo estado, eu entendo que o governo de capitão de mar e guerra, nu reduzir a um
devia fazer discutir esto projecto, ou aliás pro- só os postos de Ia* e 2°* tenentes, e de chefes
pór ao poder legislativo as medidas que lhe de divisão e de esquadra. Talvez que feita essa
326 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
alteração no numero e denominação dos postos, as questões que se têm suscitado sobre este ou
estes melhor correspondessem aos serviços p ira aquelle ponto, sem nunca as resolver de modo
que são designados os officiaes que os occupão. algum. Parece que o Sr. ministro não deseja
Éu desejava finalmente saber se acaso com o apresentar suas idéas e esclarecer o corpo legis
actual systema do promoções que temos, com esse lativo, como convinha. %
grande numu-o de officiaes que já existe, o ser Observando mesmo o que tem feito o Sr. mi
viço publico não padecerá. nistro na repartição a seu cargo, parece-me que
Fallando a respeito dus aisenaes de marinha, se póde afiançar sem erro que elle não tem
o Sr. ministro nos declarou que se achão alguns passado do expediente ordinario. Nada apparece
navios em construcção e que outros já têm ca- que demonstre que o Sr. ministro se tem ap-
hido ao mar, etc. Entretanto me parece que o plicado seriamente a fazer com que a nossa ma
systema actualmente admittido pelos Srs. minis rinha seja levada a maior perfeição e desenvol
tros da marinha de fazerem muitas construcções vimento, o a que o Brazil tem direito, quer
sem terem preparado os meios necessarios quer quanto ao seu pessoal, quer relativamente ao
para que ellas se tornem sqlidas, quer para que seu material, quer quanto ás instituições mari
sejão conservadas, ó demasiadamente prejudicial timas de que temos necessidade. Devo porém
ao paiz. confessar, Sr. presidente, que em parto não é
Senhores, eu entendo que emquanto não tivermos do estranhar isso no Sr. ministro, porque todos
grandes depositos de madeiras, em que ellas por sabemos que elle não pertence á marinha, a
muitos annos sequem, paia então serem appli- que, tendo entrado para essa repartição sem ter
cadas ao serviço naval, somente faremos navios nenhum conhecimento delia, muito tempo deve
para apodrecerem nos portos dentro de pouco gastar para int"irar-sí dos nogocios, e saber o
tempo, e despenderemos grandes quantias com que cumpre fazer. Não havendo no imperio um
immenso prejulzo dos cofres nacionaes. Portanto conselho naval a quem possa consultar, S. Ex.
eu desejava que a nobre ministro me declarasse se ha de ver-se na necessidade de estudar as me
para essas construcções se hão precedentemente nores questões, e de distrahir a sui attenção das
preparado grandes depositos de madeiras, e qual questões importantes.
o tempo que ellas ahi devem, estar para serem Em um paiz como a Inglaterra, onde existe
applicadas ás construcçõ'S. um conselho naval, a, cujo cargo estão as gran
Tambem mo parece que essas construcções são des resoluções da marinha, póde-se talvez dis
ainda prejudiciaes, se antes não tivermos pre- pensar ojue o ministro pertença a essa repar
arado os meios de conservar os nossos navios tição ; mas no nosso paiz é isso inteiramente
5 e guerra. A experiencia nos mostra que tendo inconveniente. E' por este motivo que eu pediria
comprado ou construido alguns navios de guerra, ao Sr. ministro que oinpregasse toda a sua in
.estes, cessadas as causas que os fizeráo comprar fluencia para que se discutisse o projecto de
ou construir, vão ser logo desarmados, e bcão lei creando um conselho naval que se acha pen
nos nossos portos abandonados, entregues ao dente no senado, ou que vouha apresentar- nos
tempo, e são afinal, por causa do deleixo, a sobre a materia a sua proposta, se entende que
presa do bicho. Consta-me que a -fragata Para- esse projecto não póde prestar, dando-nos as
guassú, tendo necessidade de fazer grandes con razões da organisaçao que se deve adoptar. Se o
certos fóra do paiz, e havendo feito antes de Sr. ministro esclarecer-nos com os seus conheci
seguir para Inglaterra os reparos indispensaveis mentos e experiencias, havemos do dar to los os
para a viagem na importancia de 80:00u$, deixou meios de que necessitar para que o imperio se
de ter esse destino por ordens posteriores, ficou torne uma nação maritima, e aproveite as mui
no -porto até agora, e se acha incapaz de serviço tas proporções que tem para conseguir esse
por estar inteiramente podre. Ora, se acaso ti fim.
vessemos preparado os meios de conservar os Sr. presidente, tendo exposto as minhas idéas
nossos navios, se tivessemos construido docas, em relação ao projecto que se discute, a camara
se tivessemos empregado outros cuidados mais, me permittirá que eu ainda oceupe por alguns
elles se conservarião por muito- mais tempo; momentos a sua attenção em resposta a um
entretanto é isso o que se não tem feito, e al nobre deputado pela Bahia que na sessão de
gumas publicações têm apparecido nos jornaes bontem fallou em ultimo lugar.
da corte denunciando deleixo havido a esse res Esse nobre deputado lançou-nos em rosto o
peito. fazermos actualmente opposição ao governo ,
Sr. presidente, tambem me parece que se com- quando na legislatura passada o apoiámos; e o
mette grande erro, e erro muito prejudicial , nobre deputado baseou toda sua censura refe
qumdo se quer construir grande numero de rindo-so a eleições geraes. Entretanto, Sr. presi
navios guerra, quando com antecedencia se não dente, cumpre que se saiba qne nós fazemos
ha preparado o pessoal que os deve t ri polar e opposição ao governo não pelos fictos eleito-
guarnecer, ou a officialidade que os deve dirigir raes, embora uin ou outro nesta ou naquella
e commandar. Para o provar eu lembrarei o provincia possa merecer censura, mas sim por
que aconteceu á França. Essa nação, desejando differentes outros motivos, todos ponderosos, que
competir coin a Inglaterra sobre os mares, fez tem sido apresentailos, _e que eu não me can
uma grande armada; mas esta, por falta de bons sarei de repetir. Dizer o nobre deputado que
officiaes, foi derrotada em Trafalgar e Aboukir, e somente por causa das eleições é que nos oppo-
desde então a França, de segunda nação mari mos ao gabinete, é querer desconhecer de pro
tima que" era passou a ser a terceira. posito tudo o que se tem praticado, é ter olhos
Taes são, Sr. presidente, as questões para as. para não ver o que é evidente.
quaes eu chamo a attenção do Sr. ministro, o O nobre deputado observou igualmente que
que eu desejava ver discutidas por elle nesta nós tinhamos dito em outro tempo que o go
casa, ou muito desenvolvidas no seu relatorio ; verno era tudo no paiz, e que hoje não susten
arece porém que o nobre ministro não gosta tando o mesmo, somos contradictorios. Se acaso
I e entrar em semelhantes assumptos, e sómento em outro tempo dissemos que o governo era
quer autorisações para poder obrar como julgar tudo no paiz, esta asserção apenas consigna um
conveniente, e dinheiro para poder despender á facto, e nunca póde justificar a pretenção do
larga. Basta ler-se o relatorio de S. Èx. para governo, as suas manifestas tendencias para ser
conhecer- se que é verdade quanto digo. Ahi ver- tudo no paiz.
se-ha que o nobre ministro, tratando de varios O governo não deve ser mais mais do que
assumptos importantes, não emitte sobre elles a aquillo que a constituição que quer elle seja
sua opinião definitiva ; e que elle apenas cita (apoiados) ; deve limitar-me ás suas attribuições,
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 327
e nunca invadir as do outros poderes, ou pro das sessões antecedentes eu apresentei alguns
curar reduzil-os á nttllidade. Por conseguinte desses actos para corroborar a minha proposi
quando dissenws na sessao do anno passado, se ção ; agora lembrarei alguns outros. Oonsta-me
e qu.i o dissemos, que o governo era tudo no que certo official da nossa armada, que se
paiz , apresentámos um facto, mas não decla achava commandando um navio de guerra neste
ramos que para tanto o governo tinha di porto, e que nelle abatroára uma escuna mer
reito. cante, fóra coudemnado a não commandar por
Disse igualmente o nobre deputado que nós espaço de um anno, e entretanto se acha em
faziamos opposição ao governo porque elle pro pregado pelo Sr. ministro da marinha.
punha taes e taes medidas que entendemos O Sr. Ministro da Marinha:—Está comman
convenientes ao paiz, e perguntou-nos porque dando ?
não propunhamos nós essas medidas, se ti
nhamos uma tal convicção. A isto responderei O Sr. Fioueira de Mello.—Não está comman
Sr. presidente, que a opposição está no seu dando mas está om pregado. A pena foi imposta
direito propondo qualquer medida logo que en a esse oflicial por causa do seu máo procedi
tenda que ó util ao paiz, mas não tem a obri mento; parecia que se o Sr. ministro da marinha
gação de o fazer, tanto porque seguindo cila quizesse respeitar um pouco mais a decisão do
sobre a administração principios oppostos, as poder judiciario, devia deixar ficar esse official
suas medidas ou projectos não serão adoptados desempregado por aquelle espaço de tempo. O
pela maioria, como porque a minoria não se cominando é um titulo pelo qual se percebe
deve expór a ver suas idéas rejeitadas e des- certas vantagens ;o poder judiciario quiz retirar
moralisadas pela força numerica, quando co ao official essas vantagens, o Sr. ministro lh'as
nhece que não tem força pira dar-lnes tiium- restituio por outro titulo, por outra fórma : em
pho. pregou um methodo mais ou menos encapotado
O Sr. Corrêa das Neves : —Sendo ollas justas para proteger o official e mostrar o seu des
e boas, todos nós as quereremos. prezo ás decisões do poder judiciario.
O Sr. Fioueira de Mello : — A maioria que Na repartição da guerra tambem tom occor-
governa, ou o governo que está a testa da sua rido alguns factos dignos de censura. Sendo
maioria, e que pela posição em que se acha, aceusados de depredação dos dinheiros publicos
em estado de connecer aqui lio que e conveniente alguns cirurgiões que servião no exercito do
é quem deve iniciar essas medidas. K-ta dou Rio-Grande do Sul, o Sr. ministro da guerra
trina é professada geralmente, e foi approvada mandou proceder a exame nas contas da repar
aqui pelo Sr. ministro dos negocios estrangeiros tição de saude desse exercito, e á vista do re
na sessão do 1850 ou 1851. Conseguintemente latorio que lhe endereçou a "commissão para
eu entondo que a opposição não tem obrigação esse fim nomeada mandou que esses cirurgiões
de apresentar medidas formuladas em projecto viessem presos para a córte. Ora, senhores, pa-
de lei ; que sua missão deve limitar-se a cen rece-me que se o Sr. ministro da guerra qui
surar o governo pelos seus erros, e apenas in- zesse respeitar um pouco mais o poder judiciario,
dicir as suas ioéas em globo, e nunca a ma devia sujeitar taes cirurgiões a censelhos de
neira de as pór em pratica, afim de não as guerra na provincia onde tinhão commettido o
ver desmoralisadas peh maioria. délicto que se lhe imputava, onde existião os
corpos a que elles so achavão ligados, onde
O nobre deputado, querondo explicar as cau existião os archivos desses corpos, e por con
sas por que o governo era tudo no paiz, disso- seguinte todos os precisos documentos para
nos que essas causas erão duas: primeiramente que pudessem ser punidos ou absolvidos, con
o clero, e depois o poder judiciario. A respeito forme merecessem. Assim porém não aconteceu,
do clero não me lembro qual foi a demonstra mandou-os vir presos para a córte, e a quatro
ção que o nobre deputado deu ; mas a respeito mezes que elles aqui se achão sem responder
do poder judiciario disse elle: « Emquanto não a conselho de guerra, isto porque o Sr. minis
tivermos um poder judiciario que se interponha tro da guerra entende que deve substituir o seu
entre o poder e o povo, afim de fazer com que arbitrio á disposição da lei, e talvez satisfazer
o povo não seja opprimido na lula eleitoral, os seus caprichos.
não podemos ter eleições livres no paiz. » E'
isto uma verdade ; entretanto, Sr. presidente , O Sr. Dutra Rocha: — O Sr. general Seára,
o que temos nó.-) presenciado nesta mesma ses que entende destas cousas, está rindo-se ao lado
são? Que todas as medidas propostas para dar do nobie deputado, e parece que não concorda
força e garantia ao poder judiciario tinhão sido com o que o nobre deputado está dizendo.
adiadas pelo governo, ou por sua maioria. Prin- O Sr. Fioueira de Mello:—A mim me parece
cipiou-se a discutir a medida que concedo fóro que o nobre deputado é muito máo interprete
privativo aos juizes de direito nos crimes iiuli- de risos.
viduaes : este projecto p.irecia ter merecido a
acquiescencia da camara; mas o Sr. ministro O Sr. Dutra Rocha:—Ao contrario.
da marinha, pedindo a palavra, exigio que o O Sr. Fioueira de Mello: —Seria bom que o
projecto fosso adiado até que sobre *a sua ma- nobre deputado não quizesse tomar a si o pri
toria fosse ouvido o Sr. ministro da justiça, e vilegia de interpretar risos.
nunca mais semelhante projecto entrou em iiis- O nobre deputado pela Bahia tambem tratou
cussão 1 Relativamente aos juizes municipaes, que de defender-se de uma imputação quo julgou que
oceupão na mngistratura do paiz um lugar muito eu tinha feito relativamente á ultima eleição
importa. .te, tambem um membro da maioria de senadores, que teve lugar na provincia do
apresentou um projecto pelo qual se nutorisava o Piauhy. Sr. presidente, não tenho nenhum mo
governo a removêi-os em certos e determinados tivo para desestimar" a esse Sr. senador a que
casos, e como parecesse pela discussão que elle se referio o nobre doputado ; pelo contrario, co
ia ser rejeitado pela casa, ficou ainda adiado á nheço que elle tem prestado serviços ao paiz,
espera de melhor occasião. que é dotado de muita capacidade, e que e digno
Senhores, o desprezo pelo poder judiciario da de ser eleito senador; porém entendo que não
parte do governo e, n i minha opinião, evi lente ; tendo elle nunca ido á provincia do Piauhy,
o governo nêo quer que o poder judiciario so não tendo alli nenhumas relações, nenhuns bens,
organise, se consolide, tenha força alguma no ou outro quulquer interesse, não seria de modo
paiz. Os actos diarios do governo tendem a algum eleito senador por essa provincia se um
desacreditar as decisões desse poder; em uma poder mais alto não tivesse influido para isso
328 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
(apoiados) ; e esse poder, póde-se declarar a priori Uma Voz: — Era o mesmo Sr. Souza Franco
que foi a' acção governativa, a intervenção do que escrevia.
Srs. ministros. O Sr. Pimenta de Maoalhães:—... o Nunca
Sr. presidente, se nós observarmos que se acha- se vio no Pará eleição tão voluntaria, como é a
vão no governo dous cidadãos que forão presi actual do Sr. conselheiro Souza Franco, que,
dentes da provincia do Piauhy, o que um outro além de acreditadissimo, é finorio (risada), e
ministro tinha relações muito immediatas com o sabe ganhar a si a todos, e tratar com affubi-
presidente da mesma provincia, parece-me que lidade o pobre e o rico, o que tem para ser-
poderemos concluir da maneira porque o fiz, sem vil-o somente a boa vontade o a lingui. »
que com isto se faça insulto algum á provincia, Ein outra carta do mesmo correspondente, com
do Piauhy, cuja opinião publica esclarecida es data de a de Novembro de 1852, dia proximo
pero que me ha de fazer justiça. ao da eleição de eleitores, dizia o correspon
O nobre deputado disse igualmente que o dente o que vou ler : «A respeito de eleições,
Piauhy tinha muita coragem para resistir a continua o presidente a se mostrar imparcial, e
quaesquer insinuações que se fizessem ; entretanto ha esperanças de que se não envolva nellas, a
o que vejo eu? E' que quem não tem a pro exemplo do que já fez aqui o sempre lembrado
tecção ministerial não póde ser senador em parte Sr. Coelh.i.»
alguma. Em um manifesto feito pelo propriq, Sr. Souza
Ainda disse o nobre deputado que a provincia Franco em data de 29 de Janeiro, já depois de
do Piauhy podia para eleger o Sr. Vianna ra feita e reconhecida a eleiçao, agradecia nesse
ciocinar por esta maneira : O Sr. Vianna é cidadão papel nos eleitores a votação que tinha tido,
instruido, tem prestado grandes serviços no paiz ; deduzindo-se dahi que o presidente tinha proce
a constituição permitte que os brazileiros possão dido com toda a imparcialidade, porque (dizia
ser senadores, comtanto que tenhao talentos o elle) até então tinha sido respeitada a liberdade
virtudes, independente de serem nascidos na pro do voto. São estas as proprias expressões do
vincia, e o artigo competente não se acha re Sr. conselheiro Souza Franco.
vogado ; por consequencia nós .podemos eleger Quando, Sr. presidente, eu não tivesse outros
ao Sr. Vianna. Quando o nobre deputado assim fundamentos para demonstrar que a eleição tinha
fallava, disse eu que havia um outro raciocinio. sido feita com calma e coin liberdade do voto,
Com effeito, quando se quiz Impór á provincia creio que o que tenho apresentado seria suffleieute
de Pernambuco dous senadores, a provincia ra para proval-o. Mas não quero limiiar-me a isto
ciocinou por maneira muito differente e o Piauhy só, vou ainda produzir factos pelos quaes se
poderia racio ;inar igualmente como a provincia mostra que essa eleição com e(feito foi calma,
de Pernambuco ; cila podia dizer que esse senador, foi livre, foi a expressão dos para. nses.
não tendo relações na provincia, não lendo nella No collegio da capital reuniráo-se seteutjj e qua
bens, não tendo familia, não devia ser eleito, tro eleitores ; destes eleitores dez erão empregados
tendo a provincia aliás filhos com a necessaria publios, não entrando neste numero alguns viga
capacidade, com bom senso, e portanto muito rios, dous conegos, dous beneficiados, tres subde
habilitados para oceupar esse lugar. legados, emuitos supplentes destes. Ora, haverá
São estas as observações que tinha a fazer em quem de boa fé pos-,i acreditar que se o governo
resposta ao nobre doputado. Termino aqui. tivesse intervenção na eleição, e mesmo a policia,
O Sr. Pimenta do Magalbâet :—Sr. pTe- não poderia conseguir que muitos desses eleitores
sidente, entro nesta discussão com acanhamento, deixassem de votar no Sr. conselheiro Souza
porque tenho de contrariar o nobre deputado por Franco ? Se o governo tivesse essa intervenção,
Pernambuco que hontem lallou, e a quem eu consentiria que tivesse nesse collegio o Sr. Souza
ainda dedico acatamento por ter sido meu mestre ; Franco unanimidade de votos , quando outros
mas como o nobre deputado me provocou para candidatos o Sr. Fausto e o Sr. Angelo, tiverão
a discussão, sou forçado a accital-a, um s :te votos e o outro apenis tres ? Creio que
O Sr. Auousto de Oliveira:— Não o provocou. a unanimidade de votos dada no Sr. conselheiro
O Sr. Pimenta, de Maoalhães : — Digo que o Souza Franco na capital prova exuberantemente
nobre deputado me provocou para a discussão, que houve liberdade de voto. (Apoiados.)
fiorque declarou nesta casa que o governo tinha Um Sr. Deputado: — Todo o mundo está con
ntervindo directamente ni eleição do Para, e vencido disto.
que por esta razão o Sr. conselheiro Souza O Sr. Pimentv de Maoalhães : —Asseguro á ca
Franco não havia sido incluido no numero dos mara que muitos dos eleitores procurárão o pre
tres deputados por aquella provincia. sidente pera saber qual era a sua opinião sobre
Eu desejava, senhores, que o nobre presidente a eleição, e que esse nobre administrador com
da provincia do Pará se achasse nesta casa, visto a dignidade que lhií é propria e com o respeito
que tem assento nella, para com vantagem mostrar que presta á liberdade do voto, dizi i a cada um
a sem-razão desse dito ; mas como assim não dos eleitores « vote nos candidatos em quem
acontece, e o individue que tem agora a honra bem quizer. »
de se dirigir á camara seja o chefe de policia Se o governo tivesse feito opposição á' eleição
daquelli provincia, e portanto tambem delegado do Sr.. Soifta Franco, dar-se-hia o caso de que
do governo, vê-se na necessidade de dar algumas o Sr. Leitão da Cunha, que nesta casa fez o
explicações sobre essa eleição. seu protesto de fé, que nos declarou que era
Senhores, eu reconheço que o Sr. conselheiro siquarema de carne e osso, sahindo eleitor désse,
Souza Franco é homem de illustração, é homem como deu, o seu voto ao Sr. Souza Franco ?
de merito, digno de representar a provincia do (Apoiados.) Se o governo fizesse opposição á elei
Para, e tão digno que por muitas vezes a repre ção do Sr. Souza Franco, veriamos o Sr. Paes
sentou ; mas pergunto : —porque tem elle estas de Souza, que era eleitor, o que nesta camara
qualidades, devemos nós abafar a vontade pro acompanhou sempre a maioria, que votou sem
nunciada da provincia, que foi desta vez não pre com ò governo, deixar a capital para ir á villa
elegei o deputado ? De certo que não! daViijia fazer u eleiçao a favor do Sr. Souza Fran
Para mostrar, senhores, que a eleição do Pará co ? Se o governo fizesse opposição á eleição deste
correu calma, que se respeitou a liberdade do senhor, o chefe de policia teria só nente 8 ou 9
voto, principiarei pur ler a correspondencia do votos p ira eleitor , quando os opposicionistas
Pará dirigida ao Mercantil, que não é suspeito. dizem que a policia é o mais poderoso agente
Em uma carta com data de 21 d« Outubro que ha em materia de eleição ?
de 1852, dizia o correspondente o seguinte... | Senhores, quem falia por esta fórma parece
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 329
demonstrar que a eleição no Pará foi calma, que nobres deputados, então a conciliação será com
não houve violencias, n.'m arbitrariedades, como os contrarios, o nesse caso direi eu : vós, se
aqui se tem querido inculcar, contra o Sr. Souza nhores da minoria, que sois influencias das loca
Franco. (Apoiados.) lidades do vossas provincias, vós que vos fizes
Fallou-se muito sobre a eleição da Vigia, mas tes deputados o a vossos amigos, porque não
calou-se uma oircumstancia, e circumstancia muitò fizestes a conciliação antes da eleição o não
notavel, e vem a ser que o delegado da Vigia, trouxestes entre vós alguns Jos nossos inimigos
que teve parte, e parte muito directa na eleição, politicos? (Apoiados.) Mas, não: isso não fizes
depois de ella concluido foi demittido. Este pro tes vós {apoiados), e nem o farieis: (Reclamações.)
cedimento do presidente revela que elle não tole Uma Voz: — Por alii não vai direito.
rava que pessoas que tenhão posições officiaes
tivesse parte na eleição. O Sr. Aprioio: — Vai muito bem.
Talvez se diga que houve o calculo de deixar- Outra Voz :— Isso ó materia velha.
se livre a eleição na capital para depois espe-
rar-se o triumpho nos outros lugares. Mas, per Uma Voz: — E' porque não faz conta.
gunto eu, 74 votos do collegio da caprtnl não O Sr. Dutra Rocha: — Continue, continue neste
devião entrar em linha de conta ? Erão elles ponto ; o que querem ó interrompel-o ; vai muito
para se desprezar ? Não podido esses votos de bem
cidir, e decidir por grande maioria, da candida (Trocão-se mais alguns apartes.)
tura daquelle a favor do qual se dava aquella
votação ? O Sr. Auousto de Oliveira : — E' bom que
Entretanto o que se passou em alguns oolle- nos esclareça sempre sobre as eleições do Cametá
gios de fóra 1 Apontarei o coll gio de Muaná. e Cintra. -
Neste collegio o subdelegado sahio eleitor, e com Vozes:— SimI siml Oral oral
elle amigos taes que se o governo quizesse, e
mesmo a policia, bem podião conseguir que hou O Sr.. Auousto iie Oliveira:—Explique o oflicio
vesse desvio de alguns votos do Sr. conselheiro do presidente sobre a eleição de Cintra.
Souza Franco. E sabe a cam ira quantos votos O Sr. Pimenta de Maoalhães (dirigindo-se ao
teve ahi esse senhor ? Teve a unaniminidade. Sr. Augusto de Oliveira) : — Já que me chama
No collegio de Bragança o delegado de policia para este ponto...
era eleitor ; esse delegado teve tambem por com
panheiros nas eleições muitos amigos ; o Sr. Souza Uma Voz :— Deixe ; não responda.
Franco, teve nesse collegio grande maioria; ne O Sr. Pimenta de Maoalhães — Não, quero
nhum dos outros candidatos teve mais votos que responder; e pergunto eu ao nobre deputado a.inde
elle. está a intervenção do presidente da provincia
Os subdelegados de Curuca e de Collares não nessa eleição? Eu não sei, porque não vejo que
só votarão no Sr. conselheiro Souza Franco, como haja intervenção, quando ella é consultado Snbro
mesmo trab ilhárão muito pura a sua eluiçãn; e Con- uni ponto de duvida, e dá apenas sua opinião
tinuão, senhores, esses subdelegados nos seus em em resposta, notando-se que essa resposta é di
pregos. Isto ainda prova que nem o governo nem rigi la a quem o consultou, pessoa competente
a policia teve intervenção na eleição da provincia. para isso, porque era um eleitor e 2" juiz do
Desafio a quem quizer que seja que 'i presente paz. Aon do está a ma fé em o presidente dar
uma carta ao menos, e que nessa cui ta se veja a sua opinião? Essa má fé só p"derá ser jus
uma só linha em que appareça, já não digo um tificada se se provar qae houve convençao na
pedido expresso, mas uma insinuação ou do pre resposta e entrega do offleio, porque só assim
sidente ou do chefe de policia para que o Sr. con se poderá tirar a conclusão de que o presidente
selheiro Souza Franco não tivesse votos. Quem tinha intervindo na eleição.
falia por esti fórma não pó le ser contestado, por Creio que satisfiz nesta parto aos nobres depu
que diz uma verdade. (Apoiados.) tados. . .
O nobre deputado por Pernambuco a quem me
refiro nos disse que a eleição foi dirigida directa O Sr. Aprioio :— Apoiado.
mente pelo governo, para que o Sr. conselheiro Uma Voz :— Vamos á conciliação.
#iuza Franco não sahisso deputado, mas apenas O Sr. Pimenta de Maoalhães:— Sr. presidonte,
apresentou essas expressões e não factos, não já disse que não entendo essa conciliação, por
demonstrou o que d'sse. que a palavra—conciliação—traz comsigo a idéa
Fallou-nos tambem em conciliação ; mas não de união eutio pessoas que Unhão pensamentos
nos declarou como seria essa conciliação. O oppo-tos, pois que entre pessoas que seguem o
nobre deputado pelo Ce irá como que já quiz fazer o mesmo pensamento não tem que haver con
alguma explicação a este respeito ; mas como o ciliação (apoiados) ; mas agora, se os nobres
fez ? Na presença do nobre ministro da fazenda deputados, como eu creio, seguem o principio po
nos disse: « Vós, governo, não quereis a conci litico que hoje domina, se sao saquareinas, como
liação, porque demittisse o presidente e o chefe nos têm dito tintas vezes, devem não protelar
de policia do Ceará ; não quereis a çonciliação, as discussões, devem consentir que o governo .
porque demittistes o presidente e o chefe de po siga no seu programma, que ó f izer o maior
licia de S. Paulo. » O nobre ministro deu uma beneficio possivel ao paizI 1
resposta tão satisfactoria o honrosa aos exone
rados (apoiados), qua me julgo dispensado do O Sr. Nebias:— Somos nós que protelamos
fallar a tal respeito. a discussao? I
Entretanto qual será essa conciliação qne se O Sr. Paes Barreto: —Então é melhor não se
pretendo ? Parece que se quer que seja entre discutir nada. ó melhor fech ir-se a eamara se
os mesnms alliados ; mas então será traducção não querem que se discutáo as materias.
bom clara que o nobre deputado quiz dizer : — O Sr. Pimenta de Maoalhães :—Nem eu quero
Nós, governo, somos vossos alliados, nós somos e nem pessoa alguma quer fechar a camará ;
do vosso partido, nós, que estamos nas posições O que queremos é que so não intarrompão as
officiaes, embora seja do conveniencia para o discussões com materias para enclier tempo.
mesmo partido, embora seja de necessidade para
oprincipio politico dominante, e que seguimos, O Sr» Nebias : — Os senhores ó que inter
não podemos deixar essas posições, o devemos, rompem as discussões com <fcs seus encerra
'sim, negar pão e agua aos nossos inimigos po mentos.
liticos; o, se não é essa conciliação que querem os O Sr. Pimenta de Maoalhães :— Os encerra
TOMO a.
330 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
mentos têm lugar quando as materias estão para as forças de mar e terra. Mas não é assim
sufflcientemente discutidas ; devem e podem to que procede o nobre ministro.
mar parte nas discussões , porém não exigirem Sabemos, Sr. presidente, que muitas causas
mais do que deve sei . podem concorrer para esse desanimo e desgosto
Sr. presidente, en disse que tinha sido pro na vida da nossa armada e do nosso exercito,
vocado para a discussão para dar alguns es causas que já f rão analysadas e apresentadas.
clarecimentos sobre as eleições do i-ara. Longe, A falta de incentivo para essa carreira, no seu
e bem longe estava eu de tomar pario na dis estalo presente e no seu futur.i, foi reconhecida
cussão, o fiz porque fui provocado , pois que se peli Sr. ministro . mas não vejo que apresen
disse que o nobre ministro da marinha priuci- tasse idéas convenientes e efficazes para reme
fialmente interveio na mio eleição do Sr. conse- diar esse mal; e sem duvida que a discussão da
lieiro Souza Franco. Não respondo ao nobre depu proposta era opportuna píra se tratar de seme
tada que acabou de orar, porque reduzio o seu lhante necessidade.
discurso em intarpellações feitas ao nobre mi Não trata o nobre ministro de melhorar a
nistro da marinha, que estando presente cabe- lhe sorte actual dos homens empregados n i nossa
responder a" nobre deputado, e de certo o fará armada, que é tão mesquinha, como reconhece
satisfatoriamente. Conclue aqui. o nobre ministro no seu relatorio; não trata de
Alouns Srs. Deputados :—Muito bem ; garantir o futuro de su is pobreí familias quando
lhes aconteça morrerem ou ficarem inutilisados no
O Sr. Presidiínte : — Tem a palavra o Sr. serviço de sua nação ; nem ao menos os nossos
Nebias. invalidos, os nossos bravos que ficárão mutila
Alouns Srs. Deputados : — Quem deve ter a dos e perdêrão para sempre sua saude podem
pnlavra é o Sr. August, de Oliveira encontrar um estabelecimento philantropico, mo
ral e necessario p ira que vivne ao abrigo da
O Sr. Auousto de Oliveira :—Troquei 'com o miseria ; pois é doloroso, Sr. presidente, ver que
Sr. Nebias. esses homens , depois de perderem pelos estra
O Sr. Nibias: — Eu cederei da palavra para gos da guerra os braços que lhes firnO dados
não atrupellar a discu-são. pelo CreaJor, andem pelas ruas abandonados,
Vozes : — Ora I Ora I Falle, queremos ouvil-o. na mais triste degradação, mendigando a cari
dade publica, e denunciando a ingratidão nacio
O Sr, IN"eblu« : —Já o nobre deputado que nal apoiados) ; e , Sr. presidente, não vejo que
precedeume hoje, Sr presidente, tratou do al se olhe para esses miseraveis.
guns pontos que têm toda a relação com o pro O que acabo de dizer é quanto ao pessoal da
jecto de fix içao de forças, que temos em con armada; mas a respeito do seu material o que
sideração; por esse ladn, pois, eu farei mui vemos nós, Sr. presidente? Vejo, lançando os
breves reflexões, ainda tendentes á mesma ma olhos para o relatorio do Sr. ministro, que. não
teria, apenas com o fim de provocar explicações temos armada; apenas no quadro dos navios
do nobre ministro da marinha. vemos dous, tres, alguns poucos em bom estado,
Com effeito, Sr. presidenta, o nobre ministro e na maior parte ou condemnados, ou incapazes
da marinha, no seu relatorio, que não tenho para qualquer serviço, ou sempre na alternativa
presente, pois que nem suppunha faltar hoje, de concertos perdidos, e ameaçados de ir ao
aponta ou i, dica algumas medidas e algumas fundo. (Reclamações.)
necessidades da nossa arma.la que nós deseja E' isso o que eu vejo no relatório do Sr. mi
riamos ver consideradas e discutidas pelo corpo nistro, quer" não tenho agora presente, mas que
legislativo ; mas vemos que já estamos no fim tive occasião da lêr. Ora, se isso é assim, como
do sefjnndq mez de sessão , e ainda nada tem é que se póde conservar marinha no Brazil com
apparecido por parte do governo a esse res tantas despezas, e por fim se nos apresenta um
peito. Apenas tivemos a descarnada proposta da quadro tão lastimoso como esse que se vê no
fixação de forças, e ainda nesse projecto devondo relatorio do Sr. ministro ?
o Sr. ministro apresentar algumas dessas me Entendo mesmo, Sr. presidente, que não se
didas de que nos falia no seu relatorio, não o deve dar pessoal, porqua não vejo onde elle se
fez. O meu nobre collega que fallou ha pouco empregue, e assim pois é melhor não darmos os
notou essa mesma falta, notou que o nobre mi 3,000 homens pedidos além das companhias avul
nistro para animar o pessoal da armada, devia sas, que vão longe.
apresentar na proposta de fixação de forças de Temos igualmente um trem enorme, fallo do
mar alguns desses melhoramentos que considera arsenal, fazendo uma despeza extraordinaria, e
para esse fim tão importantes, o que não fez. que nesta parte para nada tem servido, pouco
Eu vejo, Sr. presidente, que o pessoal da ou nada tem adiantado. Apenas temos alguns
nossa armada não é satisfactorio e completo, barcos fabricados na Ponta da Areia, qus possão
como já confessou mesmo o nobre ministro prestar serviço; mas no arsenal não foi fabri
quando nos disso que havia deficiencia de gente cado um só; sempre se diz: temos muitos bar
q ue se prestasse ou concorresse para o serviço cos em coustrucção, e no fim nada apparece.
(I a nossa armada , e que por tal necessidade se Nesta occasião perguntarei ao Sr. minisíro se
tinha dirigido aos presidentes das provincias elle tem (ratado de chamar ao paiz, ou se tem
do imperio, official e particularmente recommen- tratado de aproveitar bons constructores que dêm
dando todo o desvelo na aequisição de volun impulso aos nossos arsenaes, para se aproveitar
tarios para o serviço da armada, e sempre de assim tantos elementos que podem vir das pro
balde. Eu tambem, quando presidente da pro- vincias, e com isso pór os arsenaes em bom
vincia da S. Paulo , recebi uma carta do Sr. estado para servirem a nossa marinha de guerra
ministro, na qual me recommendavi todo o cui e mercante.
dado no recrutamento e engajamento de pessoas Perguntarei ao nobre ministro se conhece e
para a armada. aprecia justamente o prestimo e merecimento de
Sr. presidente, sabemos que ha uma grande re um Sr. Napoleão, constructor muito acreditado
pugnancia em todos os brazileiros para o serviço que foi mandado á Europa pelo nosso governo,
do exercito e armada, esses dous ramos de nossa tendo ultimamente voltado com todas as habi
vida publica , que mais dedicação reclama por litações necessarias; e se pretende aproveitar-se
ser exposta a perigos certos, a continuados sa delle para nossas construcções navaes.
crificios ; e por éiso com partieul ir attenção de- O Sr. Ministno da Marinha:—Logo que chegou.
vêra o governo tratar do modo pratico de ven
cer essa repugnância, e adquirir homens proprios 0 Sr, Xiídias ;— Consia-me que andou muito
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 331
tempo B«m ser" empregado, e que ha pouco é ração, ora porque os vapores tinhãn ido para a
que o Sr. ministro o chamou para o arsenal. Lagoinha, ora por falta do combustivel ; e afinal
O Sr. Ministno da Marinha: — Está mil infor .o que nos disse o Sr. ministro? Que todos os vapores
mado. vierão pr-dres para o Rio de Janeiro concerta-
rem-se. Vejão lá que marinha temos nós, que
O Sr. Nebias: — Ao menos são os factos pu nem ao menos temos vasos para andarem nas
blicos que apparecem ; consta que andou muito nossas costis fazendo esse serviço tão necessaria,
tempo sem ser empregado. pois que affecta mesmo a nossa dignidade, o
O Sr. Ministno da Marinha :— E' inexacto, nosso credito exterior. Em verdade, Sr. presidente,
O Sr. Nebias : — Julgo que esse constructor, muito mal nos achamos, sobretudo em vapores,
tão habil como é, devia sor logo e logo apro ainda que figurem muitos nesse mappa.
veitado. Hontem dei aqui um aparte por occasião desse
negocio, quando fallava o nobre deputado pela
O Sr. Ministno da Marinha :—Foi logo e logo. Bahia, e é que desgraçadamente pelo que tenho
O Sr. Nebias:— Bem I confio na palavra do ouvido na casa os traficantes são melhores na
nobre ministro. vegantes e conhecem melhor a costa do que a
O Sr. Ministno da Marinha:— Se não quizer nossa marinha. Mas isto é o que se deduz da
confiar continue. discussão, porque sou o primeiro a fazer a de
vida honra á nossa marinha.
O Sr. Nebias:— Sei que não precisada minha O Sr. Ministno da Marinha : — Que não sabe
confiança, mas estamos pagos ; se quizer atten- navegar, que não conhece a costa I
der, attenda, que muito pouco me importo com O Sr. Nebias : —Foi o nobre ministro quem
isso. Estarei mal informado, mas t imbem quem
sabe se o facto existio? o disse.
O Sr. Ministno da Marinha : — Não existio. O Sr. Ministno da Marinha : — O nobre de
putado está perturbado.
O Sr. Ribeino :— O meio de acabar com essa O Sr. Nebias : — Mas não com a discussão,
questão é combinar o dia da entrada do navio
com o dia em que esse individne foi empregado. nem com a presença do nobre ministro.
O Sr. Nebias:— Se está empregado, ao menos O Sr. Ministro da Marinha : — Mas depois
não está convenientemente. da questão do costructor. '
O Sr. Ministno da Marinha:— E' o primeiro O Sr. Nebias : — Podia o nobre ministro ar
constructor. ranjar as cousas de tal maneira que pudesse
dar uma resposta prompta : a discussão não
O Sr. Nebias :— Agora ou sempre? me perturba, nem a presença do nobre minis
O Sr. Ministno da Marinha: — Sempre. tro ; como sempre c minho com a consciencia
em procura da verdade, nunca hei de ser per-
O Sr. Nebias:— Einfim, Sr. presidente, já que - turbado.
q nobre ministro me assegura isso, estou certo O Sr. Fioueira de Mello : — Apoiado ; boa
que como essa se hão de dar muitas outras circum-
stancias favoraveis á nossa armada, e que d'ora fé em tudo.
em diante teremos muitos bons navios feitos aqui O Sr. Nebias: — Continuando, Sr. presidente,
ou de encommenda; estou certo que. havemos de e resumindo o que já tenho dito, direi que quero
sahir desse estado de podridão em que andamos que o nobre ministro me dectrare quaes são as
ha muito tempo. c msas da falta de pessoal da nossa armada ;
Isso é o que eu vejo do quadro que o nobre se é exiguidade do soldo, se é falti de favores,
ministro nos apresenta em seu relatorio ; de ma se é repugnancia da vida, e o que faz o Sr. mi
neira que so houvesse qualquer emergencia, um nistro para remover o mal. Quant i ao material
caso repentino, não teriamos navios. da marinha, quero que me declare se havemos de
O Sr. Oliveira Bello:— O anno passado ti continuar nesse estado que apresenta o seu qua
vemos tantos 1 dro , sem uma armad i digna da nação brazi-
leiri, ou ao menos corresponde. ite aos sacrificios
"O Sr. Nebias:— Pois o nobre deputado não que fazemos annualmente. Eis ao que se re
se lembra do que se disae hontem a respeito duzem as minhas perguntas.
desse que foi para o Rio da Prata, o Paraense? Concluindo estas observ ições, Sr. presidente,
O Sr. Dutra Rocha:— Lembramo-nos do que direi quatro palavras com relação ao que hon
houve lá. tem disso o nobre deputado da Bahia.
O Sr. Nebias:— E que armada «ntão tivemos? Fallando a respeito da conciliação dos parti
O vapor Affimso e mais dnus ou tres navios, dos, Sr. presidente, não sei o que divisei hon
isso em uma época de enthusiasmo, depois de tem no discurso do nobre deputado ; mas uma
um grande esforço, e para lutar com que mari proposição sua me fez muita impressão. O nobre
nha? Com a mi rinha de Rosas, cujo principal deputado, querendo justifleir o governo por não
vaso era aquelle vapor Carlota que por aqui ter podido levar a effeito um plano geral de
andava sem nenhuma serventia. Hoje se tives conciliação, disse-nos entre outras cousas, se
semns necessidade urgente de collorar uma boa gundo minha lembrança, que não era possivel
força na estação de Buenos-Ayres, isso havia de fazer de repente uma conciliação. Nisto esta
ser muito difficil. mos de accordo ; e até já tive occasião de citar
aqui um pensamento muito luminoso do Sr. Thiers
O Sr. Dutra Rocha: — Deus permitia que seja a respeito da possibilidade de uma conciliação não
máo propheta. é obra de um dia , embora esteia esse senti
O Sr. Oliveira Bello :— Dos navios que lá mento ne coração de todos ; não e obra de uma
estiverão só se perdeu o Affonso. época, nem de uma geração.
O Sr. Nebias:— O nobre ministro aqui por Mas o que mais notei foi uma proposição
occasião da questão do Bracuhy, que eu não quero muito grave que lançou o nobre deputado da
agora avivar, o que nos disse? Sabemos até hoje Bahia, e que deu lugar a um aparte meu que
qual foi a causa do desembarque de Bracuhy ? foi observado, e talvez mal entendido, por um
0 que nos disse o nobre ministro? Ora que esse outro nobro deputado da mesma provincia.
desembarque tinha tido lugar por causa da cer O nobre deputado pela Bahia, justificando ao
332 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
governo, dizia que o governo via-se na neces O Sri. Aprioio : — Creárão-se seminarios, etc.
sidade ainda de sorvir-se dos seus amigos. O Sr. Nebias : — Seminarios já nós os ti
Um Sr. Deputado : — Na necessidade de apoiar- nhamos em quasi todas as partes ; e quanto
se em um lado. ao poder judiciario, que é a principal causa a
que querem nttribuir tudo, o que é que se tem
O Sr. Nebias : — Aceito a correcção. A esta feito?
proposição do nobre deputado disso eu do meu enxame Reconhece-so que o poder judiario ó un
de defeitos o nada so tem remediado
lugar : e um bom aviso para os amigos do go
verno. Esto meu aparto talvez não fosse bem para que elle não vexe o povo. Apenas apparece
na casa um o outro projecto isolado sobro seme
entendido , e eu desejo explical-o. O que quer lhante m itoria, os Srs. ministros nada dizem a
dizer, Sr. presidente, uma proposição destas lan tal respeito, não emiitem suas opiniões, quanto
çada na casa por um illu4re membro, aliás mais apresentarem uma pr posta completa e sé
muito distincto, que apoia o ministerio, o que ria ácerca de tal assumpto ; e depois vêm lan-
tratava de o defender ? Quererá isto mostrar çar-nos ein rosto este grande mal I E' como eu
que lia principios, que se procede por princi
pios , que lia lealdade e boa fé da parte do digo, senhores , o ministerio no anno passado
cansou, e aind i até agora não desappareceu o
governo ? Não, senhores ; quer dizer que o go cansaço para os outros.
verno servé-su dos seus amigos, compromette-os São estas, senhora, as observações que eu tinha
emquanto é necessario. a fazer.-Coocluirei o meu discurso dizendo que, com
O Sr. Dutra Rocha : — Ora essa é boa. quanto eu reconheça que o governo precisa ser
O Sr. Nebias : — Perlóe-me, é uma deducção habilitido com forças de mar e terra para o
que tiro das palavras do nobre deputado, isto serviço ordinario o extraordinario , não podia
ê, proposição quer dizer que o governo ha de deixar de fazer estas breves observações, para
servir-se dos seus amigos emquanto delles pro- nssim provocar algumas explicações do nobro
cisar quer dizer — vós que sois amigo do go- ministro da marinha.
vorno, preveni-vos, vêde bom qual é a sorte que O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. Can
vos espera, não andeis em uma luta eterna com dido Mendes,
Os vossos adversarios, vêde que desta luta o O Sr Candido Mendes : — Sr. presidente, a
governo quer-se aproveitar para depois abundo
nar-vos, u em ultimo lugar se vos lançará o hora está tão adiantada que não me atrevo a
odioso dizemlo-se que até neste plano grandioso fallar. Nesta circumstancia cedo da palavra.
de conciliarão o governo achou-se em opposição O Sr. Presidente :'—Tem a palavra o Sr. João
pela impertinencia, ou exageração dos seus ami Ant mio de Miranda.
gos. (Apoiados.) Se não ó isto, o que quer di O Sr. J. A. de Miranda : — Sr. presidente,
zer a proposição do nobre deputado ? Elie que como membro da coinmissao de marinha e guerra
de a explicação do seu pensamento. tenho muito qjie dizer sobre a materia em dis
O Sr. Dutra Rocha dá um aparte que não cussão, e como ó já bastante tarde, muito es
pudemos ouvir. timaria que V. Ex. me désse a palavra para
O Sr. Nebias: — Sr. presidento , dizia tam depois de amanhã.
bem o "nobre deputado pela Bahia, hontem, que O Sr. Presidente : — Em vista da disposição
o grande defeito contra a liberdade eleitoral do regimento, que manda que as sessões dia
estava na organisação do corpo judiciario, e na rias durem i horas, eu não podia deixar de
organisação ou influencia do nosso ctero. dar a palavra ao nobre deputado ; mas attenta
O Sr. Corrêa das Neves : — Ahi não con a gravidade da materia, mio devo obrigar a que
cordo eu. se falle sobre ella em tão pouco tempo, e então,
segundo os exemplos, levantarei a sessão.
O Sr. Neuias : — Sem duvida o nobre depu
tado não ha de concordar em que tenhamos a Um Sr. Deputado : — Ex cute-se o regimento.
theocracia no paiz, nem eu tambem concordo. O Sr. Preiidente : — Os nobres deputados não
Relativamente ao poder judiciario, dizia esse têm reclamado isto em outras occasiões.
nobre deputado a que mo refiro, que emquanto O Sr. Ferraz : — Nunca so deu esta circum
esse poder não fór um poder intermediario que stancia.
sirva de equilibrio entre as usurpações do go
verno e os direitos do povo nada teremos feito. O Sr. Presidente: — O nobre deputado não
A isto dei eu um aparte, dizendo : « O nobre póde contrariar um facto que por vezes tem sido
deputado está aceusando ao governo. » E em presenciado pela camara.
verdade, se oste mal existe no clero o no poder O Sr. sI. A. clo Miranda : — Bem, não
judiei irio, cumpre que o governo se ponha á haja questão a semelhante respeito. Não quero
testa das reformas precisas , porque o governo
devo tratar sempre dos grandes interesses do zer umda discurso
ceder palavra; direi alguma cousa para fa
, porque quero ter direito a
paiz. fazer um segundo discusso quando me convier.
O Sr. Aprioio :— Pois não tem Uatado ? Os Não me será muito custoso fazer um discurso.
grandes males não se remedeião de um dia Principiarei , porém , por observar a V. Ex.
para outro. que será bom, para evitar estes inconvenientes,
O Sr. Nebias : — Sr. presidente, nós tivemos estas reclamações , estes protestos, que o regi
um ministerio, e especialmente um ministro que mento da casa so executo sempre inalteradamente,
tinha projetado e mesmo levado a effeito algu que se trabalhe 4 horas constantemente , por
mas dessas reformas ; mas desgraçadamente esse que esta é a letra do regimento. Que não se
ministro cansou no anno passado, e não póde ir faca mais como até aqui , pois que algumas
ávante com as suas reformas : ó isto o que ou V zes tem succedido que se dê por finda a ses
lamento. são quando apenas tem havido tres horas de
trabalho. A não terem havido estes precedentes,
O Sr. Aprioio : — Os outros continuão, que, segundo entendo, me dão direito a ser
O Sr. Nebias : — O que é que se feito do tratado no mesmo pé de igualdade qua outros
anno passado para cá relativamente á organi- muitos, eu não ousaria reclamar de V. Ex. o
sação judiciaria, o mesmo ao clero ? obsequio de adiar o meu discurso para depois
Passou aqui Uma lei dando privilegio de fòro de amanhã. Nestas questões não se improvisa,
aos Srs. bispos... ha nellas muito de positivo. Não sou minis
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 333
tro ; membro da commissão da marinha e guerra, ouvir, senhores, da boca de um illustrado repre
represento aqui apenas o papol de um triste ma sentante do paiz, de um doputado brazileiro,
rujo. Não tenho portanto cabedal necessario, e por de um collega e amigo, que outrora commigo
isso devia de suppril-o com o estudo, afim da nestas tribunas emittia idéas bem differentes
poder mini-trar as explicações que se exigem, sobre este ponto, proposições que tendem a tirar
e com as quaes desejo chegar ao fim que me á nossa armada a f oça moral e o prestigio, a
tenho proposto, qual é a de sustentar a reso desacredital-a emfini ? IApoiado*.)
lução que assignei. Sr. presidente, permitta-me o fazer sentir uma
Em verdade, é bastante critica a minha posi verdade, que me ó bastante dolorosa, antes de
ção 1 <Eu não esperava fallar hoje. Acabo de entrar em contestação com o meu honrado amigo.
ouvir dous discursos em opposição a este pro Se nossa marinha eitá atrasada, se está em
jecto, e lhes devia dar cabal e completa resposta. abandono, em mão estado, menos bo:n organi-
Por is>o, apadrinhado pelos precedentes da casa, sada emfim, a culpa não e só do actual governo.
me parecia ter direito a algum favor. Vou res A culpa é de todos nós, de todos os partidos,
ponder, como me for possivel, as observações de todos os governos. (Apoiados.) Não é só a
que se flzerão, aproveitando quanto possa dos marinha que soffre, tambem sotVre o exercito ;
papeis, notas e regulamentei que aqui tenho ta nbein Soffrem todos os ramos da publica admi
em phjna confusão. nistraçãoI A culp i ó de todos nós I (Signaes de
Dad i esta satisfação, e podida assim uma adhesão ; apoiados.)
desculpa, a que tenho todo o direito, vou en Não ha muito tempo perguntavamos nós á op-
trar em materia ; mas só com o fim de fazer um posição radical, que se sentava naquehes bancos
discurso para ter direito a fallar quando me —que fizestes vós durante o vosso dominio dos
parecer. cinco annos?—Que fez cila ? Nada, ou quasi nada,
Começou liontem a discussão desta projecto o expediente, uma ou outra proposta, que anda
por dous brilhantes discursos, oppostos entre si, por ahi nas pastas das commissoes. Se por uma
e tive a magoa de ver que uma só proposição ordem bem natural das cousas ella subir ao po-
se não enunciasse em referencia ao importante der, e nos perguntar tambem a seu turno—que
assumpto que nos occupal Sim, Sr. presidente, fizeste vós durante os vossos cinco r.nnos de
uma só idéa, um só principio não appareceu dominio ?— Que lhe responderemos? Podemos
que tivesse a menor connexão com as graves responder-lhe que sempre alguma cousa fizemos,
questões que se prendem á materia da fixação e com effeito alguma» cousa ha feita; porém po
de forças I deremos dizer que fizemos tudo quanto dev.a-
Uma só vez não ouvi soar as palavras—official mos e podiamos?
de marinhaI —Uma só vez não ferirão meus ou Uma Voz:—Muito bem.
vidos as palavras— armada brasileira I—Nenhum
pensamento, nem a mais fraca idéa em favor O Sr. Miranda —Não o diremos, porque eal-
da sorte da armada I Parece-me que não se dis mente não temos feito tudo, e muito mais , ir
cutia a importantissima resolução que fixa as deriamos ter feito. A marinha podia achar-so
forças de mar I competentemente organisada, e melhor animada I
Vozes:—E' verdade, ó verdade. A culpa é nossa, façamos alguma cousa, traba
lhemos.
O Sr- Miranda: —Parece que os dignos orado Onde está a nossa armada ? Disse o nobre de
res que se havião interessado na discussão putado. Que é feito das trandes soinmas votadas
voltavão o rosto, ou fugião, como que de propo pelo corpo legislativo, para eleval-a ao pé de con
sito, de se comprometterem neste debate I sideração de que digna ? Que ó dos sacrificios
Não acompanharei, Sr. presidente, os honra com que concorro o paiz ? Onde o complemento
dos membros que hontem orarão nis observa dos nossos desejos ?
çoes de politica geral em que se perderão. Não As perguntas do nobre deputado não se achão
tenho necessidade disso. Squ bastante conhe bem formuladas, Sr. presidente. Não nos deve
cido nesta casa, e em alguns pontos do meu mos illudir com a sublimo idéa de uma armada
paiz. A minha lealdade e a minha dedicação brilhante o magestosa.
aos meus amigos,o á politica que professo estão A questão, restricta a seus verdadeiros ter
fóra do toda o qualquer duvida. (Apoiados.) mos, formula-se assim. — O plano da nossa ar
Vozesi—E' bem conhecido. mada, quer om relação ao pessoal, quer pelo
que respeita ao material esta em conformidade
O Sr. Miranda: —Não tenho portanto necessi com as nossas circunstancias ? As necessidades
dade de tecer programas, nem de fazer protestos do paiz exig m, reclamão maior pessoal, mais
a est« ou áquelle principio. Na posição de sim consideravel material ? E' possivel, uma vez re
ples marujo, (risadas), em que tenho o summo solvida a questão sobre este terrena, dar á nossa
prazer de me collocar, o' meu dever é tratar de armada uma importancia de que é credora, quer
forças de mar, de officiaes, marinheiros, fuzi por amor delia, quer do paiz, a quem ha tão digna
leiros navaes, etc. ele. mente servido ?
E demais, Sr. presidente, no essencial destas Esta é a occasião solemno e propria de resol
questões a politica não póde influir. Quaesquer ver todas iestas questões 1 Resolvemol-as 1 Que
que sejão os lados politicos da casa : quaesquer numero de embarcações deve ter a nossa mari
que sejão os grupo-, qu ilquer que seja o seu nha de guerra ? Quaes as suas qualidades ? Con
pensamento, e a sna cor ; ninguem poderá ne vém que se observe, que se altere o decreto de
gar ao governo as foiças que pede, forças que Janeiro de 1850 que designou o numero e qua
a commissão lhe concede, o que forão conce lidades dos navios ? Que pessoal devemos de vo
didas 0 antorisadas em tod is as leis anteriores. tar 1 Como chegaremos i completar as nossas
(Apoiados.) forças ? Como tornaremos mais instruido e mais
Não tendo, pois, necessidade de me eminaranhar elevado o caracter dos nossos officiaes ? etc, etc.
na politica, entrarei em matoria, principiando Discutamos , senhores. Nosso pensamento ahi
pelo discurso do nobre deputado por S. Paulo. está nessa resolução, e nas disposições anteriores
O illustre deputado que acabou do oceupar a vigentes. Impugnais nossas idéas ? Venhão as vos
attenção da casa fez uma tal pintura da armada sas, emitti vosso pensamento do um modo pro
brazileira, quer em relação ao pessoal, quer em veitoso, apresentai vossos trabalhos, discuti em
relação ao seu material, considerou-a tão d- ca regra, ajudai-nos a elevar a nossa armada ao
dente, em tal estado de abandono e de ruina, brilhante pó de importancia e de renome a que
que excessivamento me coniuiovou I Como se pódo tom incontestavel direito I
334 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
Ora, Sr. presidente, a força material de nossa O Sr. Miranda : —Está perfeitamente enganado I
armada não será conveniente ? Os nossos navios Sabe o nobre deputado mui bem que nas ultimas
de guerra estaváo com effeito nesse estado de lutas nas provincias do Prata não f á necessario
ruina que accusa o nobre deputado ? Não é pos elevar a força a mais de 4,000 praças, coinpre-
sivel acreditai -o I Basta, para se mostrar o con didas as tripulações dos transportes. Tivemos a
trario, que se recorra aos quadros a que se achão gloria de alli collocar uma força respeitavel com
appensos a este relatorio. posta do 17 vasos, inclusivo 6 vapores. Toda essa
O Sr. Nebias : — Recorra a elles, e veja quanta flotilha foi guirneclda por 2,000 homens
podriqueira.. . . O Sr. Nebias dá um aparte que não ouvimos.
O Sr. Miranda : — O nobre deputado me diz que O Sr. Miranda7:—Com outros 2,000 homens guar"
. recorra a elles, ê o que vou fazer ; ou recor necemos o resto da nossa armada ou os outros
rerei .... pontos do imperio, e a nossa marinha deu as
O Sr. Nebias : — Recorra, recorra. mais concludentes provas do que ó e do que
será. O material, portanto, da nossa armada é,
O Sr. Miranda: — porque esta discussão termo médio, sufficiento para o nosso serviço, e,
deve ser muito esclarecida, visto, como o nobre uma vez que póde em casos extraordinarios receber
deputado no seu discurso diz, que da força da um maior pessoal, desapparece o receio de um
armada só comprehende. navios incapazes de perigo qualjuer. A grande difSculdade está na
prestarem o menor serviço, e isto não deve pas prompta acquisição desse pessoal.
sar desapercebido. O estado, pois, de uma ou outra embarcação con-
O Sr. Nebias: — Lóal... desarmados e con- demnada, incapaz do serviço no momento ou
demmidol... está ahi uma porção delles, e gista- menos soffrivet, não póde influir no todo da
se dinheiro com isso. nossa marinha, nem autorisir um juizo que lhe
seja desfavoravel. Qual é a nação que não tem, na
O Sr. Miranda: - Vamos ver o que o governo vios em fabrico, em concerto, ou mesmo emfim
aqui figura neste mappa. (Consulta alguns pa completamente inutilisados ? Os navios não são
peis e depois de folhear o relatorio por alguns eternos, ta nbem cansão ile servir.
instantes dix) : Aqui está o mappa, com o qual O Sr. Nebias: — Combine esse mappa com outro
pretende o nobre deputado provar que o material
da nossa marinha se acha .decadente, arruinado, que vem unido ao relatorio.
sem importancia I Aqui se notão os nossos na O Sr. Miranda: — Eu não sei qual é.
vios classificados segundo as quatro estações em O Sr. Nebias : — O que trata dos navios" estra
que se acha hoje dividido o nosso litoral pelo
decreto de 3 de Novembro de 1852. gados, podres, cmdemnados.
Maranhão : 1 brigue, 3 brigues-escunas, 1 es O Sr. Miranda : — Não ha tal ; aqui um mappa
cuna. que indica os navios que uecessitáo de concerto,
Pernambuco: 2 brigues, l biigue-escuna. ou que se achão em fabrico, e mesmo um ou
Bahia: 2 corvetas, 2 brigues-escunas. outro plenamente condemnsdo. Não vejo porém
Rio de Janeiro : 1 fragata, 3 corvetas, 1 bri o que diz o nobre deputado.
gue, 2 brigues escunas, 1 patacho, 1 barca, 1 O Sr. Nebias: — Só?
escuna, 1 canhoneira, 1 hiate. 1 fragata a vapor
e 1 corveta. -. O Sr. Miranda : — Sr. deputado, eu li os do
Um Sr. Deputado : — Então? Vejão bem I cumentos com que lhe provei que as suas asser-
çõ'S erão inteiramente inexactas. Diga-me o que
O Sr. Miranda: — Além destes, mais 6 vapo quer em termos claros e positivos. Estou prompto
res, dos quaes alguns talvez se achem ainda no para lhe responder , mas quero uma arguição
sul. deduzida, quero facto comprovados, documentos....
Temos no Rio da Prata 2 corvetas, 1 brigue- O Sr. Nebias:— Confronte esse mappa com o
barca, 1 brigue-escuna, 1 corveta a vapor. outro.
Temos finalmente, Sr. piesidente, 6 transportes,
sendo : 2 charruas, 2 brigues, 1 patacho, e 1 ca O Sr. Miranda: — (folheando por algnm tempo,
nhoneira. e offerecendo os papeis ao Sr. yebias): — Ahi está
Ora, quem poderá em verdade dizer que ã tudo, veja. examine, mostre . . Ahi tem o nobre
vista deste estado de nossa força naval em serviço, deputado os mappas, escolha aquelle de que falia;
e disposta para todo o serviço, estejão os nossos faça-o por compaixão ao.menos, senhor I
navios na maior parte arruinados, imprestaveis, O Sb. Aprioio :— Apoiado.
perdidos? O Sr. Nebias : — Pois bem, dè cá os mappas,
Um Sr. Deputado:— A isso não se responde. que eu lhe mostrarei. (Risadas.)
O Sr. Nebias:— Mais nada? (Passão differentes papeis das mõos do orador
O Su. Miranda:— Vejo por este quadro que para as do Sr Nebias.)
existem muitos navios em óptimo estado, e quc O Sr. Miranda : — Emquanto o nobre depu
tal é a força que possuimos, que só ella pódi- tado procura o mappa em que deve de encontrar
ser tripulada não só por 3,000 homens em cir os navios condemnados e podres irisadas), eu
cumstancias ordinarias, como por i ou 5 mil, offerecerei algumas obsorvi.ções a um outro to
ou mesmo 6 mil, em circumstancias extraordi pico do seu discurso.
narias. Disse o nobre deputado : « Esta resolução é
Apezar de que o nosso material possa auto manca, defeituosa. » Nisto acompanhou elle o
risar o emprego de avultada tripulação, é toda Eensamento do illustre deputado por Pernam-
via certo que ainda não nos tem sido necessa uco. E porque é manca, senhores ? Porque, dis-
rio elevar o pessoal ao intimo gráo da autorisação sorão elles, não se trata nella de muitas neces
concedida pelo corpo legislativo. Isto mostra que sidades, reformas, melhoramentos ; nada se diz
não temos necessidade de uma grande armada sobre o material, sobre um conselho naval, sobre
e que a que possuimos, bem tratada e consi o corpo de' saude, etc, etc.
derada, nos póde prestar em qualquer crise muito Por semelhante modo a fixação de forças viria
valiosos serviços, como tem acontecido. a comprehender uma completa organisaçáo da
O Sr- Nebias : — Se houver uma necessidade marinha em todos os pontos em que necessita
urgente para o sul, não nos acharemos conve de ser considerada e protegida. O calendario das
nientemente preparados. reformas e melhoramentos iria longe. Começaria
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 335
ella pelo conselho supremo militar, e acabaria O Sr. Miranda :— Olhe o qne ? (Risadas.) Pre
no guarda-marinha I cisa do fabrico, não está perdido, e, apesar de
E' inquestionavel, senhores, a necessidade de precisar de fabrico, serve comtudo de quartel ao
reformar n organisação do conselho supremo mi commandanti' das barcas de soccorro naval.
litar, que se não acha em harmonia com as Fragata Prineipe Imperial : em sofrivel es
nossas leia o com a indole das institui. ões mi tado.
litares. Corveta Dous de Julho : acha-se querenando.
A nossa marinha necessita de uma lei de pro O Sr. Nebias dá um aparte.
moções, e de outra de reerutimunto.
E' urgente a creação de um conselho naval O Sr. Miranda: — Mas não está perdida.
lembrado pelo digno ministro, não modelado Paraguassú : .em bom estado.
pela organisação ingleza, mas pel i francuza ; Capiberibe : continua com o fabrico.
nosso regimento provisional, os artigus de guerra, Galera Canadá: em bom estado.
os conselhos de guerra, necessitão de instantes Urania : em bom estado.
providencias. Guapiassv : em bom estado.
O corpo dos escrivães e commissarios da ar Hiate Caçador: precisa alguma obra e cala
mada não póde continuar como está I fetar.
Muita cousa ha por fazer, e muita deve de Temos conseguinteinente nesses dez navios, qua
ser feita. tro em bom estado, tres em soffrivel estado...
Não obstante, senhores, sempre alguma cousa O Sr. NE3IAS : — Como é que faz o senhor essa
ha feita, e a resolução que se discute deve de conta?
ser entendida com as leis de fixação de forças
anteriores. Na lei vigente, por exomplo, ha O Sr. Miranda : —Contando I (Apoiados; risa
interessantes disposições permanentes a que das.) Paraguassú, Canadá, Urania, Guapiassú
cumpre attender. O corpo de fuzileiros navaes em bom estado...
acha-se definitivamente organisado. Aqui e>tá o O Sr. Nebias dá um aparte.
decreto da 24 de Novembro do anno findo que o
organisa. O Sr. Miranda: —E' necessario tudo isso. Devo
Fallou o nobre deputado em asylo de invali ser minucioso. Pois quando um membro i Ilus
dos da marinha. Veja o que a respeito delle se trado desta casa, como é o nobre deputado,
diz no relatorio do Sr. ministro. Aqui está o de profere do alto da tribuna que não temos ar
creto de 3 de Abril do corrente anuo, que esta mada, que todos os nossos navios estão em
belece o asylo de invalidos, para a arm ida, a deploravel estado, será possivel que se deixem
qual será em mui pouco tempo dolada dessa taes arguições sem a mais cabal resposta?
instituição, que tanto reclamáo as indigentes cir- (Apoiados j E' indispins ivel que se leve até á
cumstancias dos nossos leaes servidores. evidencia a inexactidão de semelhantes princi
O discurso do nobre deputado a respeito deste pios. (Muito bem; apoiado.)
assumpto foi todo em seu desfavor, e concorre O Sr. Nebias : — Lêa essa grande nota, que
poderos imente para desconceituar essa instituição ostá nesse quadro.
nascente, porque diz que nada é no presente, O Sr. Miranda (lendo): —« Em 21 de Janeiro
e nada promette no futuro. O asylo de invalidos de 1852 passou mostra de armamento a corveta
acaba de ser decret ido, e uma commissão de Imperial Marinheiro.» Isto é contra o Sr. de
honrados officiaes nomeada para começar, admi putado. ^Apoiados.)
nistrar, e concluir as obras necessarias. Princi
piamos, emfim, agora que nos é possivel, a abrir O Sr. Nebias:—Vá lendo.
estrada para esse precioso auxilio aos nossos O Sr. Miranda:—« A 27 de Fevereiro do dito
invalidos. E' desarrazoado, pois dizer-se que nada anuo passou mostra de desarmamento o vapor
promette no futuro aquillo que se entra apenas Pedro II. »
em começo, e com a garantia de solidos alicer
ces.. . O Sr. Nebias:—Desarmamento ; vamos lá.
O Sr. Nebias (depois de haver por algum tem O Sr. Miranda:—E o que quer dizer passar
po procurado o mappa) : — Aqui está elle. ' mostra de desarmamento?
O Sr. Miranda : — Acaba o nobre deputado por O Sr. Nebias :—Tive o cuidado de em casa
S. Paulo de me fornecer o mappa em que fun passar a vista nisso.
dava as suas esperanças I E' mais um triumpho O Sr. Miranda :—Ah 1 estudou para accusar,
para mim I Este quadro ? Este quadro mostra o e a mim nem ao menos me dão tempo de ver
esta lo material de alguns navios que não po as minhas notas I
dem ser eternos 1 O Sr. Nebias:—Quem defende deve estar pre
O Sr. Nebias : — Condemnados, desarmados' parado para tudo.
inutilisadòs I O Sr. Miranda :—Essa não é mál Pois eu
O Sr. Miranda : — Tudo isto vem a dar no havia de adivinhar o que o nobre deputado
mesmo. São navios que necessitão de reparos ou tinha a dizer, eu que nem mesmo agora entendo
fabrico. Não é possivel que um navio se con o que quer dizer? (Risadas.)
serve sempre em perfoito estado, ha de ter uma O Sr. Nebias : — Tal é o estado das nossas
avaria, um desarr injo, uma falta qualquer. Quando cousas, que á preciso adiviuhar para defender.
chega a esse estado, fabrica-so, concerta-se, ven-
de-se, inutilisa-se, etc. O Sr. Miranda :—De certo I Tal é o estado
Noto neste mappa destes navios, que não se das accusações, que é necessario adivinhar o
achão disponiveis para todo serviço. Compare o que se pretende dizer para fazer a defeza I
nobre deputado com os quarenta e tres, que lhe (Apoiados.)
apresenta o inappa anterior, e conclua. O Sr. Nebias :—Vamos adiante.
O Sr. Nebus : — Vá lendo. O Sr. Miranda :—Creio que o nobre deputado
O Sr. Miranda : — O patucho Desterro está em está divertindo-se commigo. Para que confundir
soffrivel estado, e serve de quartel-general. mais ?
O brigue-escuna Victoria precisa de grande fa O Sr. Nebias :—O nobre deputado é que está
brico. confundido com a leitura da acta, o por isso
p Sr. Nebus : — Olhe 1 não a quer ler.
336 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Miranda : —Beni ; vou adiante. Eu pre de uma forte reserva, sempre prompta com pouca
tendia fazer urn discurso para matar o tempo : despeza, conservando-se a bordo a menor quan
preenchamos a hora. tidade de munições sujeitas á avaria, a artilharia
«A 11 de Março do dito anno ficou sol) meu necessaria, e menos força de pessoal.
cominando o vapor Urania. A 16 dito ficou addido Com esta organisação póde a França reunir
aos navios desirm 'doz, interinamente, o vapor nos criticos annos de 1810 a 18 11 maior força
Pedro II. A 7 do Abril do dito anuo foi entre do que a Inglaterra nos mares do Mediterraneo,
gue o patacho Patagonia que so achava ao ser nas indias Occidentaes, e em outros pontos I
viço da alfandega, a Francisco Dias da Cruz, Não sei a que fim trouxe o nobre deputado
que o arrematou em hasta publica. A 17 do diio por Pernambuco a fatiada bataihi de Trafalgar,
foi lançado ao mir o brigue Maranhão ..» nem a que póde elle attribuir os triumphos do
Será aqui? Felizmente nas propria»i palavras, almira-ite i:.glez. Protestando, pnréin, desde já
e nos mesmos documentos que me indica o nobre contra a excellencia que se quer dar em tudo e
deputado, acho eu a refutação de suas idéas I por tudo ao systema inglez, eu declaro ao nobre
O Sr. Nebias: — Vá lendo, senhor. deputado que "ao systema francez deve a mari
nha franceza muitos e mui gloriosos triumphos
O Sr. Miranda: — «Em 11 de Maio dito foi obtidos mesmo contra a Inglaterra. Recorra-se á
entregue á capitania do porto a canhoneira Cam época de 1830, tão brilhante para a marinha
pista. A 17 do dito ficou addija ao* i. avios des franceza. Lembrem-se tambem de S. João do
armados a corveta União. A 19 ficou tambem Ulhóa. A continuarem os melhoramentos, o em
addido o patacho Thereza. A 30 foi entregue a penho, a ambição de futuro, o amor do paiz da
Domingos Viegas Lopes a barca Edelmonde, a marinha franceza, é minha opinião que em pou
qual foi vendida em hasta publica. O patacho cos annos ella estará adiante da ingleza. Sinto
portoguez Rio Tamega, apresado pelo hiato Pa- a falta de tempo para entrar nestes desenvolvi
rahybano, foi entregue em 8 de Julho a Raphael mentos, mas ainda hoje terei talvez occasião do
Pereira de Carvalho, que o arrematou em hasta tocar neste assumpto.
publica. A 9 de Julho do dito anno pasmou Voltando ás cousas da nossa terra, eu dese
mostra de armamento em guerra o vapor Pe jaria que os nobres deputados não se conten
dro II. . . » tassem tão somente com interrogações. Assim,
Já não basta, senhores, para mostrar a sem- parece antes que querem saber do que instruir
razão com que o illustre deputado se servo para e dirigir.
-.ecusar, de documentos com os quaes eu o con Eu poderia tambem por minha vez perguntar-
fundo? lhes : O nosso systema de armamento em cir-
O Sr. Nf.bias dá um aparto que não ouvimos. cumstancias ordinarias, com maior ou menor
modificação, não equivalerá ao systema de reserva
O Sr. Miranda: — Como é possivel argumentar de que acabo do fallar? A differença que vai do
assim ? 3,000 praças para 5,000, e a possibilidade de nem
O Sii. Nebias: — Vá lendo, lêa tudo. (Ora .' ora .') mesmo oceupar as 3,000 em circumst incias ordi
O Sr. Miranda: — Eu lerei; mas noto que narias, bem revela o meu pensamento, e a pos
falta pouco. sibilidade da medida, com a qual não deixava
« ...Em 10 de Agosto passou mostra do des de sympathisar o antecedente digno ministro da
armamento o patacho Desterro, e de armamento marinha, e a que mo parece que mesmo não pódo
o patacho Theresa. Em i:i de Outubro passou ser opposto o actual honrado Sr. ministro. Assim
a corveta Pous de Julho a cabrea para metter o concebo pelo monos.
os mastrns grande e do traquete. » Se se seguisse a idéa que me pareceu resum-
Este mappa, estas observações denotão, aceu- brar das opiniões dos nobres deputados a quem
são as diflerentes phases, os differentos inciden respondo, seria do mister em tal caso conservar
tes que soffrêrão os navios no decurso do anno. todo o material da nossa armada em constante
Nenhuma delias porém autorisa o temerario juizo pé do guerra, isto é, com o seu pessoal em estado
que formula o nobre deputado a respeito da completo, e portanto a fragata Constitui;fio com
nossa armada. (Apoiados.) uma lotação de 518 praças em lugar de duzentas
e tantas ; a corveta Bahiana com 260 em lugar
. O Sr. Nebias : — Vá lendo ; acabe. de metido, e assim por diante.
O Sr. Miranda (í tirando para o lado o rela Para conservar a esqui* ira em um pé do
torio) : — O nobre deputado está gracejando 1 Não constante importancia e brilho, nós a deviamos
póde ser outra cousa 1 montir em. épocas ordi iarias com maior numero
do praças do que ultimamente as tripulavão nos
Aloumas Vozes:—-E' verdade, é verdade. Está negocios do Prata. So então, como já disse, não
gracejando I se empregarão mais de 4,000 praças, 5 a 0.000
O Sr. Miranda: — Isto ó muito serio 1 Tudo deverião ser empregadis para a especie de que
isto é importante, e digno de ser discutido com trato, porque esse numero, e ainda maior quando
toda a attenção e interesse. (Apoiados ) nos chegarem os navios encomiueudadoa comporta
a nossa armada.
O Sr Nedias : — Oh 1 tudo está muito bom.. Ora, este systema seria irrisorio, nenhuma
O Sr. Miranda : — Mas onde é que está o mal 1 nação o possne, nem mesmo a França, bem
(Depois de ali/uns momentos de socego.) Senho montada como está, nem a Inglaterra, .iue bastan
res, os nobres deputados emmaraohái ão-su em tes apertos soffVe para obter marinhagem.
uina questão gravissima, que para logo abando Quando mesmo as considerações expendidas não
narão, receiosos de discutil-a. Fallárão em im servissem para excluir a idéa de" tuna armada
portancia do material e do pessoal da armada. em posição permanentemente brilhante e respei
Parevou-me, que sa pretendia, ora que o mate tavel bastaria uma simples consideração para
rial fosse mais reforçado e numeroso, ora que excluil-a—a falta, a difficuldade de augmentar o
hnuvesso maior pessoal. pessoal.
Nestas pretenções euvolve-so uma outra ques O nosso recrutamento é vexatorio e quasi im
tão não menos grave e ponderosa, e ó a da proficuo, tanto para terra como pare. o mar. Os
disponibilidade, que os francezes chamão dispo- engajamentos não tem produzido os resultados
nibilitc en rade, questão que divido 0s entendi qne são para desejar. O espirito do nosso povo
dos e profissionaes, questão na qual a marinha repollc a profissão do mar. A falta de garantias
frani eza tem tomado parte no sentido da dispo no futuro o desanima. Com esses embaraços por
nibilidade. Consiste esse systema na conservação longo tempo ainda lutaremos. A Inglaterra.,.
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 337
O Sr. Nebias: — Qual é a medida que propõe luta o pessoal da nossa armada para completnr-se.
o governo? Para isto conseguirmos convém que trabalhemos,
O Sr. Miranda : — Está ahi no relatorio ; maio que sejamos prudentes, que" não nos deixamos
res vantagens, premios I arrastar pelo espirito de partido. Nestas ques
A Inglaterra, cuja organisação' maritima, como tões não ha, nem póde haver partidos. Não se
já disse, não ó adoptavel em muitos pontos, contentem os nobres deputados com declamações
acaba de repellir, ou pelo menos repellirá bem e arguições vagas, desção ao positivo, discutão,
depiessa todos os seus meios de angariar mari trabalhem, ajudem-nos, e vamos fazer alguma
nhagem, afim de preferir um unico, o dos pre cousa.
mios. Lembra-me de haver lido nos jornaes O nobre deputado por Pernambuco, citando as
inglezes do mez de Abril deste anno, creio que marinhas ingleza e dos Estados-Unidos, nações
no Correio de Glasgow, o haver o governo inglez mais adiantadas que a nossa, senhoras do mar,
nomeado uma comniissão composta de lords do e que nos podem servir de mestras, convida-nos
almirantado e de outras eminentes personagens a que sigamos os seus exemplos, e imitemos as
da profissão, para interpórem o seu parecer sobre suas instituições.
os melhoramentos a adoptar na esquadra bri- Não é isso bastante. Corro o nobre deputado
tannica. O meio mais adequado que se reco o dever de mostrar no que peccão as nossas
nheceu para captar a marinhagem foi o dos instituições militares maritimas, indicar a van
premios. . . tagem de preferir as estrangeiras e desenvolver
O Sr. Nebias: — Para a marinha o que voga a natureza destas. O mais não conduz' ao fim
na Inglaterra é o recrutamento. que se pretende. Duas batalhas ganhas, dez ou
O Sr. Miranda : — Está enganado ; não é tanto doze, nao decidem do merecimento absoluto de
assim. um systema. Tambem a França as tem ganho,
A Inglaterra reconhece quatro meios de fazer e tem ganho sobro a Inglaterra. A Inglaterra
marinhagens. O primeiro e o engajamento vo com todo o seu systema de organisação, qne
luntario ; o segundo é o alistamento voluntario chamarei fraca o imperfeita a muitos respeitos,
com a esperança em uma gratificação ; o ter tem recuado, e diante da França. Ahi está o
ceiro é o embargo em todos os navios mer Taity.
cantes até que a esquadra real esteja tripulada ; A instituição do almirantado, a respeito da
o quarto e o ultimo é o da agarração, permit- qual o nobre deputado se declara pelo systema
tão-me a expressão. inglez, é um argumento contra a bondade da orga
A Inglaterra tem lutado com os inconvenien nisação ingleza. O primeiro lord do almirantado
tes de todos esses systemas : digão-o os annos inglez não offerece as mesmas proporções que
de 1835 o 1836. A agarração é o seu inteiro encontramos na organisação franceza para os
recurso, é verdade, mas é só dnpois de empre melhoramentos da marinha. Na maritima Ingla
gados os outros, ou em caso de extrema neces terra o primeiro lord do almirantado é o chefo
sidade. Quando em 1835 e 1830 armarão de uma da administração naval, faz pu-te do gabinete,
só vez um maior numero do navios de guerra, e nada mais. Na França militar o ministerio
esperárão seis mezes pelos marinheiros, e ficárão da marinha estende ns suas azas o a sua in
mal servidos. fluencia sobre tudo quanto póde interessar á
Com ju*to fundamento quer hoje, portanto, marinha de guerra. Colonias, pescarias, mari
repellir a marinha ingleza todos esses meios de nha mercante, prefeitos maritimos, administra
recrutamento, substituindo-os pelos premios. A ção consular, tudo esta centralisado, e serve de
maior economia neste caso deve de ser a maior consideravel alavanca para fortalecer e engrandecer
liberalidade a armada.
Se isto acontece á Inglaterra, onde ha um O meio de tripular as embafeações de guerra
gosto formado para marinha, onde tudo conspira é, como já dis-e, mais expedito e efficaz na França
para que a nação brita,mica ostente uma verda do que na Inglaterra. Mas facilmente a Fra ça
deira marinha, o que não nos succederá a nós preenche is lotações de seus navios em dispo
que agora principiamos, e onde tudo concorre nibilidade do que a Inglaterra. Isso ó devido
para que se fuja da vida do mar? ao systema de recrutamento, e a que a miri-
O Sa. Nebias : — O ministerio não póde man • nha "mercante, que está toda sob a influencia
dar fazer engajamentos? do ministerio da marinha, é o nucleo, o alimento,
q sustentaculo da marinha de guerra. As in
O Sr. Miranda : — Póde, o tanto póde, que stituições francozas produzem mais iorça moral,
manda; mas os resultados são os mesmos; nada o é bem sahido que muitas vezes não è o maior
se obtem. Que fizerão os presidentes de provin numero das praças de uma esquadra, ou de um
cias, a quem o governo recorreu official e par exercito, o elemento precursor da victoria. Essa
ticularmente ? força moral, que faz de um dous, que duplica
Se recorrermos ao engajamento estrangeiro, os os exercitos o as esquadras e facilita as victorias,
obstaculos não são menores, principiando por não se planta tão facilmente contra os homens
não ser mui prudente admittir estrangeiros em agirrados na Inglaterra, como entre os alistados
larga escala em a nossa armada. Os estrangei ua França.
res repugnão servir sob pavilhão alheio ; são O Sr. Neuias : — Pela mesma razão o exercito
custosos de so sujeitarem á disciplina militar francez é melhor.
do imperio; limitão muito os sous contractos, etc.
Attenda o nobre deputado ao que succedeu O Sr. Miranda : — Ha muita differonça entre
com o engajamento, que so mandou fazer, de o soldado e o marinheiro, o exercito o a armada.
menores para o corpo de imperiaes marinheiros. Um homem tirado do matlo póde ser muito bom
Manejou-so a arma da intriga e da calumnia, soldado em seis mezes; mas para ser bom ma
fazendo-se até passar por barbaro e deshumano rinheiro são necessarios muitos quesitos. E' pre
o tratamento que aqui se dá aos engajados. O ciso ter vocação natural, começar muito cedo, ter
resultado disto foi que o nosso governo mandou muitos annos de serviço, e instrucção muito parti
eontra-ordem daqui e o engajamento se não effe- cular e constonte. Muitas vezes acontece que nos
ctueu. combates navaes a victoria não ó devida á pe-
Cumpre, conseguintemente, recorrer aos pre riciu da esquadra, mas a um elemento de in
mios, e nisto acompanhar a intenção da marinha strucção bem diverso á artilharia.
inglesa. Vejamos se com a liberalidade podemos Quero conseguintemente haver-me em certos
vencer os innumeros inconvenientes com que e determinados casos com as intituições fran-
tom» 8. 43
338 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
cezas com o seu almirantado, com o seu recru A's 11 horas menos cinco minutos, o Sr. pre
tamento, com a moralidade marinhagem. sidente abre a sessão.
O Sr. Nebias : — Ha mais igualdade; esse onus Lida e approvada a acta da anterior, o Sr. 1° se
pesa sobre todos. cretario da conta do seguinte
O Sr. Miranda : — Quando eu digo—ovganisação EXPEDIENTE
mais perfeita, /mais morigerada—explico tudo, e
muito folgo de ver que o nobre deputado, dis Um officio do Sr. ministro do imperio enviando
cordando do meu illustre collega por Pernam uma representição da assembléi legislativa da
buco apoia esta minha maneira de ajuizar do provincia da Bahia, solicitando do corpo legis
merecimento das esquadras estrangeiras. lativo uma medida que evite a total ruina dos
Sr. presidenta, esta materia me levaria muito bens da ordem dos carmelitas calçados da dita
longe, e eu só queria fazer um discurso para provincia. — A's commissões reunidas do assem-
ter direito a um segundo discuiso. bléis provinciaes e ecclesiastica.
Se a hora não 1 esta dada, quero continuar, Outro do mesmo, remettendo um officio do
porque não desejo que succeda a outro o que presidente da provincia do Maranhão, e o reque
acaba de acontecer. Se porém a hora esta ven rimento do coaimendador Antonio Carneiro Ho
cida, não adianto. mem de Souto-Maior, em que pede uma pensão.
Eu já mo acho fatigado, e além disto sup- —A' commissão de pensões e ordenados.
ponho mesmo que tenho causado fastio a estes" Do Sr. ministro da justiça, commun icando que
senhores, que me fizerão a honra de ouvir. (Não expedira as convenientes ordens aos presidentes
apoiados.) das provincias para que remettão com a brevi
Alouns Srs. Deputados:— Tem fallado muito dade possivel os mappas crimes.
bem. Do Sr. 1° secretario do senado, participando
O Sr. SeAra: — Fallou muito bem, e com muito que S. M. consente em varias resoluções. — Dô
conhecimento da materia. i ambos fica a camara inteirada.
O Sr. Miranda: — Muito obrigado, meus se Um officio do Dr. Roberto Jorge Haddock
nhores. Lobo, enviando uma cópia manuscripta do recen
seamento da população do municipio neutro,
Alouns Srs. Deputados:—Ainda falta um quarto relativo ao anno de 1849, por elle organisado.—
de hora. E' recebido com agrado.
Outnos Srs. Deputados:—Não, já deu a hora. Um requerimento de D. Rita Maciel Franco
O Sr. Presidente: — A sessão começou ás 11 de Lima pedindo solução de um requerimento a
menos um quarto. São 2 horas e tres quartos, esta camara já dirigido, pedindo metade do soldo
e portanto estão preenchidas as horas. que percebia seu marido, o 2° tenente José do
Rego Lima Barros.—A' commissão a que se acha
O Sr. Miranda: — Bem ; paro aqui. aflecto este negocio.
O Sr. Nebias : — Encheu muito bem as horas, Outro do desembargador Henrique Velloso de
Sr. Miranda. Oliveira, pedindo auxilio de 30:000!? para poder
O Sr. Miranda : — Hoãie mihi, crasjiibi. imprimir uma grammatica da lingua aliem 5,
composta por elle, para uso dos braziteiros que
O Sr. Presidente marca a ordem do dia e quizerem-se dedicar a esse estudo, sujeitando-s6
levanta a sessão ás 2 horas e tres quartos da a um exame feito por pessoas competentes. —
tarde. A' commissão de petições.
Outro do ex-tenente do exercito Norberto Alves
Cavalcanti reclamando contra a sentença dada
Sessão cm 30 de Junho pela junta de justiça de Pernambuco, tendo
havido empate na votação.— A's commissões de
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO, justiça criminal e de marinha e guerra.
Outro do tenente coronel graduado Joaquim
Summario.—Expedien te. —Ordem do dia. —Pensão de Souza Guimarães Cinanéa, reclamando contra
d viuva da brigadeiro Costa Ferreira.—Indem a reforma que por decreto de 25 de Setembro
nisação d confraria de Nossa Senhora da Con de 1852 lhe foi dado.— A' commissão de marinha
ceição. Discurso do Sr. Silveira da Motta.— e guerra.
Fixação das forças de mar. Discurso do Sr. mi Outro do tenente reformado do exercito Antonio
nistro da 'marinha. Votação. — Requerimento da Costa Coelho, pedindo, ou voltar ao serviço
do Sr. Bezerra Cavalcanlti. do exercito, ou melhoramento de reforma, que
em consequencia das disposições e.n que foi ella
A's 10 horas feita a chamada achão-se pre baseada, lhe é, sem para isso haver elle concor
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Ribeiro, Aprigio, rido, mui lesiva. — A' commissão de marinha e
barão de Maroim, Miranda, conego Leal, Ferraz, guerra.
Gomes Ribeiro, Fleury, Paula Candido, Bello, Outro do major Henrique Dias, Francisco José
Machado, Barbosa da Cunha, Macedo, Octaviano, de Mello, administrador da imperial capella de
Pedreira, Candido Mendes, Assis Rocha, Brusque, N. S. da Assumpção, na provincia de Pernam
Domingues Silva, Taques, Saraiva, Augusto de buco, pedindo uma loteria que se extrahirá na
Oliveira, Góes Siqueira, Monteiro de Barros, Lin- còrte, para reparos e concertos da mesma igreja.
dolpho, Lisboa Sem, Paula Santos, Siqueira — A oommissão de fazenda.
Queiroz, Piiranagná, Belfort, Dutra Rocha, Nebias,
Silveira da Motta, Livramento, Fernandes Vieira, O Sr. Auguslo do Oliveira: — Sr. presi
Pimenta Magalhaes, Wilkens, Paula Fonseca, dente, é para fazer uma rectificação que eu pedi a
Raposo da Camaia, Mendonça e Nahuco. palavra. No Jornal se me attribue um aparte que
Comparecem depois da chamada es Srs. Pereira eu não dei ; o que eu disse foi que a politica
da Silva, Pacca, Silverio, Luiz Carlos, Titára, do governo em Pernambuco se tinha collocado
"Viriato, Casado, Theopliilo, Kego Barros, Amaro, em posição de judeu, e que foi repudiada por
padre Campos, Evangelista Lobato, Jaguaribe, ambos os partidos. Foi isto o que eu disse, e
Paes Barreto, Sã Albuquerque, João Jacintho, não o que so acha no Jornal do Commercio.
Rocha e Zacharias. O Sr. 2° Secretario ( Macedo ) pede RO Sr.
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 339
presidente nomêe um membro para a còm- que elle até então tinha adoptado de não se
missão de redacção, na falta do Sr. visconde de concederem pensões senão a viuvas de militares
Baependy, que esta ausente. mortos em combate, tinha o governo de ser a
O Sr. Presidente noméa o Sr. Oliveira Bello, . cada passo incommodado com pretenções exage
e em seguida a deputação composta dos Srs. radas.
Eusebio, Pereira da Silva, Aprigio, Serra, Ban Não foi portanto sem espanto que eu vi este
deira de Mollo, Paranaguá, Almeida o Albuquer anno o Sr. ministro, não só abrir essa porta de
que, Seara, Gomes Ribeiro, barão de Maroim, que tanto se receiava, mas tambem outras,
Saraiva, Ferreira de Araujo, Teixeira e Sousa, pois muitas pensões têm sido este anno apre
Belisario, Fleury, Araujo Jorge, Silveira da Motta, sentadas a casa sem estarem nas condições que
Sousa Leão, Livramento, Brusque, Sá Albuquer então o Sr. ministro julgava necessarias.
que, Wilkens de Mattos, Fausto e Monteiro de Devo ainda observar á camara que o parecer
Barros que tem do levar ao throno o voto de da commissão envolve uma grande injustiça re
graças. lativa, porque concedo a esta senhora um favor
muito maior do que-aquelle que a camara tem
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA feito ás viuvas de militares mortos em combate.
No caso de que se trata a agraciada está no
PENSÃO k VIUVA DO BRIGADEIRO COSTA FERREIRA. goso do meio soldo que lhe compete, entretanto
que muitas pensões approvadas pela camara
Entra em discussão o projecto r. 30 deste anno em favor daquellas viuvas incluiáo já esse meio
approvando a pensão de 600$ concedida a D. soldo. Voto portanto contra o parecer da com
Carolina Pedroso Barreto di Costa Ferreira, missão.
viuva do brigadeiro Josó Feliciano da Costa O Sr. Soara :— Sr. presidente, tomei a pala
Ferreira, em attenção aos seus serviços militares vra para informar ao nobre deputado que acaba
e de campanha, devendo contar-se o vencimento de sentar-se dos serviços prestados pelo bene
da data da concessão. merito militar cuja viuva nos pede uma punsão.
O Sr. Bflfort pede que o projecto tenha uma O nobre deputado está manifestamente enga
só discussão. nado quando considera que os serviços prestados
A camara decide pela affirmativa. pelo Sr. José Feliciano da Costa Ferreira são
de mui pouca monta I muitos apoiados ) ; e eu
O Sr. Mendença : — Tenho, Sr. presidente, estou habilitado pira assim fallar por isso que
de pronunclar-me contra o parecer da commis- este distincto oflicial { apoiados ) servio tambem
são de pensões e ordenados que se acha em dis debaixo das miuhis ordens, e direi á camara
cussão, apezar de ver nesse parecer os nomes que foi pelos sous relevantes serviços, pelo zelo
dos nobres deputados por S. Paulo e pelas Ala que desenvolveu a pró da ordem, qui adqui-
goas que tão severos zeladores se tém sempre rio as molestias de que depois foi victima.
mostrado nesta casa • dos dinheiros publicos. (Apoiados.)
Tenho observado, Sr. presidente, que em regra Diroi mais a V. Ex. que o Sr. José Feli
eral a camara tem approvado as pensões conce- ciano da Costa Ferreira foi commandanta de
idas a viuvas de militares mortos em combate, uni dos melhores batalhões do exercito do sul,
fazendo apenas uma ou outra excepção em casos o bitilhão de S. Paulo; servio distinctamente
extraordinarios de serviços muito relevantes. em campanha quando commandava o Sr. Santos
Ora, na pensão em questão eu não posso, por Barreto, em alguns conflictos se distinguio por
mâis que queira, enxergar esses serviços relevan acções ussignaladas de valor (apoiados), e mui
tes. Se consulto os documentos que servem du tas vezes expóz sua vida no campo da batalha.
base ao parecer, eu vejo que esses serviços são (Muitos apoiados )
inuito ordinarios, são serviços que todos os mili E, senhores, só porque elle não falleceu em
tares têm obrigação de prestar ao seu paiz. Se combate, havemos deixar de soccorrer sua in
pois admittirmos o principio de se approvarem feliz viuva, que ficou pobre porque este bene
pensões apenas fundadas nessa expressão — ser merito e virtuoso general sempre foi honrado ?
viços relevantes —, expressão que V. Ex. e /i Alouns Crs. Deputados: —Muito bem.
casa sabem quanto é vaga, iremos abrir uma porta
a mil pretenções Quantas viuvas não existem de O Sr. Seara:—Não quero cansar a camara; o
militares que têm prestado ao paiz relevantes meu fim é que se faça justiça á viuva do mes
serviços * Quantos orphãos ha de pais militares mo general, que merece por muitas razões e
que também prestárão muitos serviços ? Assim muitos titulos a consideração desta casa. (Apoia
pois se approvarmos a pensão de que se trata, dos. )
todas essas viuvas, todos esses orphãos se jul Julga-se discutida a resolução que é appro-
garão com direito a exigirem do governo igual vada por escrutinio secreto.
favor.
O Sr. Silveira da Motta : — Nem todos os r INDEMNISAÇÃO A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA
DA CONCEIÇÃO
militares têm os serviços do Sr. José Feliciano.
(Apoiadas) Entra em segunda discussão o projecto r. 25,
O Sr. Mendonça : — Não vejo quaes são esses vindo do senado, concedendo indemnisação á
serviços, estimaria muito que o nobre deputado confraria de Nossa Senhora da Conceição, pelos
pedisse a palavra e nos mostrasse esses serviços prejuizos que houver soffrido por não se veri
relevantes. Noto mais, Sr. presidente, que até ficar o seu cemiterio no terreno que para isso
ao anno passado tinha o Sr. ministro do imperio havio comprado, contiguo ao da veneravel or
esta mesma opinião que agora sustento, o se me
não falha a memoria, sendo apresentados ao Sr. dem terceira de S. Francisco de Paula.
ministro naquelle tempo alguns documentos com O Sr. Slivnlra da Motta:—Sr. presi
que uma senhora respeitavel, creio que viuva de dente, este projecto, creio eu, anda a muito
um distincto ollicial de marinha, o Sr. Pedro dado para 'ordem do dia, mas tem sido prete
Nunes. baseava um requerimento pedindo uma rido por outros mais urgentes, e esse abandono
pensão ao governo, ouvi ao Sr. ministro dizer em que tem estado tem feito com que a atten
que julgava muito justa a pretenção desta se ção da camara, ou no menos a minha, se tenha
nhora, mas que não se atrevia a propor a pen distrahido da materia.
são, porque iria abrir uma porta a cincoenta Vou fazer pois ilgumas observações a respeito
mil pretenções, pois que, infringindo o principio do projecto, esperando que a camara me des
340 SESSÃO EM 30 DE JUNHO 'DE 1853
culpará 'a 3ua ligeireza, porque não estava pre nas suas especulações de compra e yenda, quando
venido para esta discussão. qualquer medida administrativa affectar o valor
Sr. president0, este projecto póde ser que de propriedades particulares....
encerro uma medida de muita equidade ; ess.j. O Sr. Paula Candido :—Não foi especulação.
indemnisação á confraria do Nossa Senhora da
Conceição pelos prejuizes que soffre, que sof- O Sit. Silveyra da Motta: — Póde ser que não
freu ou houver de soffrer por uáo ter o seu fosse, mas eu estou argumentando com appli-
cemiterio no terreno que pua isso havia com cação do principio....
prado, póde ser qne seja objecto de muita O Sr. Paula Candido dá ainda um aparte.
equidade ; mas, senhores, nós não podemos como O Sã. Silveira da Motta :—Não me importo
legisladores fazer equidade com violação dos com o negocio da irmandade, o que quero é
principios fundamentaes da sciencia. Creio qne salvar o principio. Eu comecei o discurso di
esto projecto envolve uma inversão completa... zendo que talvez houvesse equidade n'isto, mas
O Sr. Paula Candido : —Ora essa I entendo que nós não podemos fazer equidade á
O Sr. Ferraz dá um aparte que não perce custa dos principios...
bemos. Um Sr. Deputado : — E' justiçi rigorosa.
O Sr. Silveira ha Motta :— . . . envolve uma O Sr Silveira da Motta:—Póde ser que haja
inversão completa de todos os principios que justiça rigorosa ; reconheço mesmo que o acto
devem distinguir as questões judieiues, adminis legislativo que estabeleceu privilegio para os
trativas o legislativas j envolve essa- inversão cemiterios havia de trazer comsigo alguns des
completa porque vai aar ao corpo legislativo apontamentos para as irmandades que já tinhão
aut.irisação para tratar da materia das indem- f ito sous calculos para o estabelecimento de
nisuções, que aliás deve ser tratada pela acção seus cem.terios, que ellas havião de ter alguns
competente, e no competente fóro. prejuizos; mas o que quero que o nobre depu
Nuo concebo in smo, Sr. presi lente (permitta- tado ventille não é a hypothese, é a these. Por
me a camara dizêl-o), não concebo mesmo como ventura não ó pela nossa legislação o poder ju
materia desta natureza póde salvar-se no se diciario o unico competente para verificar, para
nado biazileiro, onde reconheço tanta illustração, liquidar os damnos recebidos pelos particulares,
tanto patriotismo. Este projecto tem por fim quando esses damnos resultao de um acto do
auloiisar ao governo para indemnisar uma ir- governo ?
mand ide que havia comprado um terreno (uao Senhores, eu entendo que se passar o princi
sei que irmandade é)... pio, a confusão que se dá ó entre as attribui
Um Sr. Deputado:—De Nossa Senhora da Con ções do poder legislativo, ou as attribuições do
ceição. poder administrativo e judiciario. O projecto
O Sr. Silveira da Motta:—.. . para indem está concebido de maneira que nem dá a en
nisar a irmandade de Nossa Senhora da Con tender se houve ou não já alguma liquidação de
ceição do prejuizo que ella soffreu com a com prejuizos...
pra da um terreno para o seu cemiterio, quando Um Sr. Deputado: — O prejuizo está liquidado
ainda não estava pelo corpo legisl itivo designado á -vista do escripturas publicas.
o lugar competente em que todas as irmanda O Sr. Silviiiiu da Motta: — Prejuizos não se
des devião estabelecêl-os. A irmanda' de Nossa liquidão por escriptura publica; os procuradores
Senhora da Conceição comprou o terreno, sup- da fazenda publica não podem fazer transacções
p onhamos nós, por 10:000fi (croio que se reduz em escriptura publica, o nem em juizo, reco
a isto a medida), e como agira é obrigada a nhecendo prejuizos resultantes aos particulares;
ter o seu cemiterio na Ponta do Caju verbi gra- por isso digo que ha uma inversão completa
iia, no lagar designado para as irmandades , de todas as idéas juridicas, appellando-se para
tem ella de vender esse terreno, e tendo "ella o reconhecimento dos prejuizes em escriptura
de fazer esta venda, uma de suas hypotheses publica. O que póde dizer essa escriptura ? Póde
temos do considerar: ou que já vende u e ven dizer que a irmandade comprou por 10 o que
deu por menos do que aquillo porque tinha agora vendeu por 8 ? Mas por isso corre al
comprado, e então ha a tal hypothese do prejuizo, guma obrigação aos poderes publicos de indem
ou ainda não o vendeu. Ora , a resolução tem nisar aquelle que comprou por mais e vendeu
por fim indemnisar um dam no illiquidido ainda, por menos, embora este prejuizo fosse resul
que póde ser que não exista, porque até ó tante de am acto do poder publico ? Dahi o
muito natural que um terreno nos arrabaldes que póie resultar ó o direito a pedir a in
do Rio de Janeiro não soffra diminuição de demnisação, mas pelos meios competentes.
preço por este lapso de tempo da compra até Portanto ó preciso as questões de competen
a venda. Temos, pois, estas duas hypotheses a cia de direito. Quanto á equidade, não duvido,
contemplar. não quero entrar na sua indagição, o que po
Supponhainos que a irmandade já vendeu o deria fazer, porque não sei mesmo se poderá
-terreno que, tendo comprado por 10:000$, vendeu rigorosamente chamar equidade ir fazer boa a
por 8:000$. O projecto diz que tem por fim in acquisiçáo que a irmandade fez desse terreno
demnisar a esta irmandade a differença, isto é, pela indemnisação, quando nessa acquisição os
2:000$. Ora, perguntarei eu, não é uma inver poderes publicos não tiverão uma intervenção
são completa das nossas attribuições, como le immediata : a irmandade comprou o terreno,
gisladores, intromettermo-nos a reconhecer, an porque quiz....
tes de ser pelo poder judiciario reconhecido, o
direito e o quantum da indemnisação que com O Sr. Paula Candido:—Autorisado pela autori
pete em virtudo do um damno recebido, resul dade competente.
tante do um neto do governo ou do corpo le O Sr. Silveira da Motta :—Mas reconhecendo
gislativo? So passar este principio anarchico que a irmandade foi levada a fazer essa acqui
(não tem outro nome), que o poder legislativo sição por um principio da utilidade publica,
póde conhecer dos planos conhecidos pelos qual foi o estado sanitario do Rio de Janeiro,
dam nos recebidos pelos particulares á decretar por isso digo, que não quero intrometter-me
fundos para elles antes que esses damnos so- na questão de equidade, porque vejo que até
jáo verificados pelo poder competente, eu creio certo ponto ella fez um serviço, e como agora
que estamos de porta aberta para fazer esmo foi obrigada a remover o seu cemiterio, vem
las ahi a todo o mundo que se ache mallogmdo podir esta indemnisação ; não contesto mesmo
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 341-
que essa irmmdade tenha rigoroso direito a esta 1 ue mais tratarão da materia do que da pessoa
indemnisação, mas pedindo-a pelos meios regu d o ministro.
lares, o poder legislativo, se a dér faz um Esses dous nobres deputados forão accordes
favor. om censurar o governo por fugir da discussão,
Esta indonfuisaçã i deve sír pedida perante por temor os debates. Disserão clles : « Vai já
os tribunaes judiciarios, a quem compete veri moiada a sossão, o ainda nào forão presentes á
ficar. os prejuizes, perdas e damnos resultintes camara propostas aliás annunciadas pelos minis
aos particulares d..s actos do poder administra tros nos respectivos relatorios. »
tivo. Mas o projecto anticipa-se, diz: « O go Sr. presidente, se alguma demora houvesse este
verno fica autorisado para indemnisar, » sem anno da parto do governo em offerecer á camara
que o corpo legislativo tenha consciencia de que materias que alimentassem as respectivas discus
houve prejuizo. Nós não podemos ter esti con sões, o seu proce l T acharia completa justifica
sciencia senão depois do acto do poder judi ção nas circumstancias que distinguem a pre
ciario... sente sessão de todas as sessões da ultima le
O Sr. Paula Candido : —O nobre deputado que gislatura. Na legislatura passada apresentou-se
reria fazer uma casa no cemiterio ? apoiando o governo um partido compacto que,
ainda resentido de suppostas offensas recebidas
O Sr. Silveira da Motta:—Não soi, mas croio de uma ordem de cousas que deixára de pre
que mesmo em Catumby, no lugar onde houve ponderar em Setembro da 18 IS, não perdia occa
cemiterio , tem-se edificado , porque ha muita sião de mostrar, por todas as mineiras, a mais
gente que não tem medo de almas do outro completa adhosão ao gabinete; mai esse partido
mundo... compacto, senhores, que aspecto tomou no prin
O Sr. Paula Candido:— E' o corpo neste mundo cipio dosta legislatura? Esse partido, ou fosse
que faz mal, e não a alma. p :1a sociedade , qne produz o uso prolongndo
do poder, ou por outras circumstancias que não
O Sr. Silveira da Motta :—Pela regra do no me cabo aqui averiguar, sentio rasgar-se-lhe o
bre deputado todo o mundo devia ter medo de seio para delle sahir , com o caracter de oppo-
edificar, e nós poderiamos ter medo de estar sição , uma minoria como todo o publico terá
aqui legislando na camara dos deputados tão presenciado e sabe ; e então travou-se uma luta,
perto da igreja de S. José. não entre principios politicos de um lado e
Senhores, o legislador, como poder publico, principios politicos de outro, mas uma luta se
tem raias marcadas que devo respeitar, mesmo melhante ás guerras intestinas, e ás dissensões
para exemplo dos outros poderes ; o poder le domesticas, que são as peiores • de todas as lu
gislativo nao póde fazer actos que exorbitão do tas, porque nellas tudo se compromette, tudo se
suas attribuições. Ora, eu entendo que este acto arrisca, o até 0s mais intimos segredos confia
é exorbitante das attribuições do poder legisla dos á amizade são arrojados á praça publica.
tivo, e por isso hei de votar contra o projecto. Nestas circumstancias pois , se alguma atonia
Não duvidaria dar o meu voto para um credito apparecesse nos trabalhos cuja iniciativa per
que o governo pedisse para indemnisar as pes tence no governo , explicar-so-hia naturalmente
soas que se apresentassem com sentenças pedindo com o facto de que tenho tratado.
indemnizações reconhecidas, com as condições da Mas tal esmorecimento não houve; o governo
lei ; mas anticipar-me, eu, legislador, que não comprehendeu bem o que lhe cumpria fazer, e
conheço damno, que não sei das circumstancias, tem marchado regularmente no desempenho de
dizer ao governo : « Póde pagar, » sem saber o sua tarefa. Apenas acabada nesta casa a dis
que ha de pagar, é cousa que não faço. cussão das eleições do Pará , em que não con
Creio que o corpo legislativo devia evitar que sa- vinha de modo algum que houvesse interrupção,-
hissem actos destes do seu seio ; é opinião mi apenas concluida a discussão da resposta á falia
nha muito humilde; póde ser que esteja em do throno, em que por interesse do todos, para
erro, que saja uma filagrana juridica que não haver completa explicação das causas do diver
tem apreço algum ; mas estou persuadido que o gencia e separação, que acabava de ter lugar,
poder legislativo devo ser o primeiro a não sa- convinha que os debates fossem largos, como
hir das suas orbitas. forno ; o governo apresentou-se pedindo autorisa-
A discussão fica adiada pela hora. ção para auxiliar os bancos desta capital , que
padecião eui consequencia do estado da praça ;
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA immediatamento depois discutirão-se as bases do
um banco nacional, instituição importantissima
FIXAÇÃO DAS FORÇAS DE MAR que por si só basta para fazer memoravel a
primeira sessão desta legislatura; e em seguida
Continua a segunda discussão do art. 1» da senhores, começou- se a discussão que presente-
proposta do governo que fixa as forças de mar mentemente nos oceupa. Não vejo que tenha
para o anno financeiro de 1851— 1S55. havido um i hora perdida de nossas sessões,
não vejo que tenha havido uma ordem do dia
O Sr. Zaoharlas (ministro da marinJia) : para a qual se não hajáo dado materias de
.—Sr. presidente , sendo do meu rigoroso dever importancia.
sustentar a proposta de forças navaes do anno M is disse um dos nobres oradores : « O go
de 1854 a 1855 , espero que a camara me rele verno, que tem o dever de apresentar a ref ir
vará que occupe por alguns momentos a sua ma do ensino primario e secundario da corte,
attenção. não o fez; o governo que annunciou a reforma
Tres oradores, Sr. presidente, têm impugnado das municipalidades, nao tem apresentado esse
a proposta. Ao primeiro que fallou não respon trabalho. » Eu, Sr. presidente, estou habilitado
derei , porque uma parte do seu discurso fun- a dizer que o ministro competente cuida mui
dou-se em má interpretação dada a palavras seriamente desses objectos, e que, coadjuvado
que proferi por occasião da discussão da res por pessoas cipazes de dar uma opinião segura
posta á filia do throno, e a outra parte foi um a tal respeito , têm já trabalhos para apre
composto de doestos com que procurou moles- sentar.
tar-me , mas a que julgo-me superior. Tomarei Soo meu. nobre collega, porém, não trouxe
pois sómente em consideração alguns factos que ainda á camara esses trabalhos, apresentou já a
o nobre deputado mencionou, e isto farei mais reforma do ensino superior do imperio, a qual
adiante no correr do meu discurso. No ern tanto póde dar assumpto para longos e amplos de
passo a responder aos dous nobres deputados bates, e todavia o concurso de materias que a
342 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
sabedoria chs camaras tem julgido do maior a mesma responsabilidade do ministro, viessem a
urgencia ha obstado a discussão de tal reforma, ter as mesmas prerogativas.
donde se sague que se o meu nobre collega Eis e que por ora me julgo na obrigação de di
houvesse apresentado aquellea dons projectos, zer á'ierca do conselho naval, porque em verdade
elles terião corrido a mesma sorte que a re essa discussão é intempestiva ; em occasião op-
forma da instrucção superior do imperio, e suas portuna poderemos tratal-a melhor ; e desde já,
discussões não se terião encetado. Logo, nossa rogo ao nobre doputado que se prepare para en
accusação do honrado deputado ha um luxo de tão fornecer-me os esel ireciinentos que a sua
exigencia. leitura e acurada meditação me puderem sub-
O Sr. Fioueira de Mello ; — Teriamos tempo ministrar.
para estudar essas materias. O nobre deputado por Pernambuco estranhou,' .
e neste ponto foi acompanhado pelo honrado mem
O Sr. Zacharias :—Passando ao ministerio da bro por S. Paulo, que a proposta viesse descar
marinha, começou o nobre deputado pela pro nada ; querião os honrados membros que na pro
vincia de Pernambuco, etc, trazendo por diante posta viesse incluido tudo o que foi lembrado no
o conselho naval, e disse que desejava ouvir de relatorio ácerca dos diversos ramos da adminis
mim qual a razão por que preferiria uma au- tração da marinha.
torisaçao geral para crear essa instituição a uma Admira, senhores, que membros da opposição,
proposta minuciosamente desenvolvida. a quem incumbo velar na flol observancia da con
Senhores, eu responderia com acerto ao nobro stituição, viessem aqui estranhar que uma pro
deputado , dizendo-lhe que em occasião oppor- posta do forças navaes não trouxesse alguns des
tuna daria as razões que tinha para isso. Mas ses chamados enxortos, que em todas as occa-
comprehende-se bem que relativamente a uma siões forão constantemente impugnados por quan
instituição tão importante como o conselho naval, tos membros da opposição têm tido a palavra
cuja realisação, sem duvida por dlfficil, tem sido sobro a materia.
até hoje retardada , apezar de tantos talentos A constituição, senhores, manda que annual-
eminentes terem occupado a pasto da marinha, mente se fixem as forças de terra e de mar, e
pareceria temeridade em mim propór e instar fixar as forças de mar é determinar quantos ho
para que fosse adoptada definitivamente uma mens são necessarios para sobre os mares de
organisação que ém breve a experiencia poderia fender a indopendnecia do imperio e a dignidade
mostrar conter taes ,e taes defeitos, e carecer de de seu pavilhão: esta é a questão principal, e
certas modificações. Por isso tncliuava-me a en pois uma proposta rogular deve cingir-se o mais
saiar a instituição de modo que antes de ser possivel a este ponto. Na pratica tem se ás vezes
submettida á definitiva approvação do corpo le admittido na lei do forças navaes algumas dis-
gislativo, pudesse, em prazo sufficiente, consul posiçõm estranhas 4 especialidade ; porém as me
tar- se a pratica e a experiencia a tal respeito. didas pelo menos, que lembrei no relatorio, não
Mis, pensando assim, não estou longe de julgar cabião razoavelmente na proposta de fixação de
conveniente uma autorisação para crear o conse forças navaes.
lho sobre bases que dêm ao governo uma certa O Sr. Nebias t — O melhoramento dos gratifi
latitude, uma certa liberdade, comtanto que pos cações podia acabar.
samos em breve dotar o paiz de uma institui
ção tão necessaria, e neste slntido espero que O Sr. Zacharias : — Diz o illustre deputado que
algum trabalho haja de se apresentar opportu- me fica a esquerdi que o melhoramento das gra
namente no senado. Confesse, entretanto, o nobre tificações dos voluntarios podia ser acautelado na
deputado que trouxe fóra de tempo para a casa lei qu« discutimos ; respondo que não. O artigo
uma semelhante questão. da proposta, seohores: que estabelece o modo de
No sou proposito de aventurar observações um se prover a armada do pessoal necessario, trata
tanto improprias da discussão vertente... em geral de gratificações e premios a volunta
rios e engajados ; fixar oqwmtum s> deve appli-
O Sr. Fioueira de Mello : — Não entendo car para esse ramo do serviço pertence á lei do
assim. orçamento, e não á loi de fixação de forças ; assim
O Sr. Zacharias : — ...perguntou o nobre ora se tem praticado sempre, e por tanto é na lei
dor qual a razao porque o ministro da marinha do orçamento que eu pretendo tratar desse ob-
inclina-se antes ao almirantado francez do que jocto. ,
ao almirantado inglez. Senhores, se o nobre de Faz me o nobre deputado uma grave censura
putado tivesse examinado mais a materia, não dizendo que eu, autorisado pela lei do orçamento
me faria uma tal pergunta, O almirantado inglez a gaitar 10:000.) com p edificio pertlncente á re
não é um conselho de administração, é uma ad partição do marinha, situado na rua de Bragança,
ministração activa ; não da pareceres, decide to fizera um contracto no valor de õl:0J3$ para este
das as questões da marinha britannica : ó o que concerto, excesso que tem por injustificavel em
ha de mais particular na especialissima constitui Íiresença da lei. Senhores, quando o corpo lagis-
ção da Inglaterra ; é uma instituição que nenhum ativo autorisa o governo a despender em um
aiz póde imitar no sentido dos desejos do no exercicio certa quantia em uma obra, mormente
E te depulido. Nem mesmo o projecto de 1838, a se não foi determinada em vista de um orça
que o nobre deputado alludio, e por cuja adopção mento regular, não quer dizer que deixará de
pareceu instar, adopta o systema inglez ; a idéa dar outras quantias para essa obra, ainda que
que ahi prepondera é tazír do ministro o ver na pratica se mostro a insufficiencia da somma
dadeiro director supremo da marinha, dando-lhe votada. Ao governo incumbe trazer ao conheci
o voto decisivo, e ao conselho somente o con mento do corpo legislativo essa circumstancia pe
sultivo. dindo mais fundos para conclusão da obra : foi
O Sr. Fioueira de Mello dá um aparte que precisamente o que eu fiz.
não ouvimos. Autorisado a gastar 10:0005 com o reparo do
edificio da rua de Braginça, dei providencias para
O Sr. Zacharias : — Sr. presidente, se á vista que elle começasse ; mas todas as iuibrmações que
de nossa constituição os negocios da marinha não tive forão que não convinha mandar fazer a obra
podem ser resolvidos definitivamente senão pelo por administração, que melhor era leval-a a ef-
ministro respectivo, como o unico responsavel leito por meio de um contrate. Publicárão-se an-
que é, seria absurdo insustentavel querer-se que nuncios, e em resultado não se apresentou quem
esse ministro se cercasse de um conselho, cujos quizesse fazer essa obra por menos de 54:000$,
membros tivessem voto decisivo, isto é, que com em um praso de 16 mezes . Então não hesitei em
SESSÃO EM 30 DE' JUNHO DE 1853 343
fazer o contracto, mandando dar a primeira pres cerca de oitenta braças cubicas, segundo se vê
tação de 8:000$, e trazendo, como tronxe, o ne da exposição que li, creio que bem fez o rela
gocio ao conhecimento do corpo legislativo, e so torio deste anno em dizer que tem mais de cento
licitando a consigação de maior quantia. e setenta braças. Agora, se houve erro de typo-
Consultai, senhores, na leis de orçamentos, e graphia no relatorio do meu antecessor, ou se
vêde que ahi, j)or exemplo, se diz : « Para o os documentos que elle teve em vista o induzi
cáes da Sagraçao no Maranhão, tanto ; para o rão em erro, não sei, nem sou obrigado a explicar
melhoramento do porto de Pernambuco, tanto. » contradicções que hajão entre um trabalho meu
Entretanto novas quantias se consignão em os e o de outrem.
orçamentos dos annos subsequentes. Entrando propriamente na materia da proposta,
Se por este lado, senhores, fui accusado de disse o nobre deputado que o governo pedia
excesso, por outro lado fui arguido de mesqui 3,000 praças para tempos ordinarios, e 5,000 para
nho quando o nobre deputado asseverou que para extraordinarios; que essas praças são us que
o melhoramento do porto de Pernambuco o mi compoem a nossa marinhagem, e que reconhe
nistro da marinha que tinha um credito de cendo o ministro a extrema difficuldade de obtêl-a,
120:000,? npenas gastára 30:00Ú$ I Excesso na des- longe de propór um meio efficaz para remover
peza com o concerto do edificio situado na rua semelhante inconveniente, contentava-se com lem
de Bragança, no Rio de Janeiro; mequinhoz com brar no relatorio um meio inefficaz, empirico,
o melhoramento do porto de Pernambuco I Para qual é o de se augmentarem as gratificações e
responder ao nobre deputado vou ler um trecho os premios. Notarei primeiramente qua o nobre
deste officio (mostrando), do inspector do arsenal deputado confunde 3,000 ou 5,030 praças pedidas
de Pernambuco, datado de 1° de Junho corrente. na proposta com marinhagem propriamente dita.
Apresenta elle um quadro das rubricas, das Marinhagem ó um elemento da força pedida, mas
quantias consignadas e das que existem, e diz não fórma o todo.
que para obras fixarão se 12:000$ e existem O Sr. Fioueira de Mello :— Isso sei eu.
59:318$010. Logo, no melhoramento do porto de
Pernambuco tem-se gasto a quantia de 60:081$900, O Sr. Zacharias: — O nobre deputado pensou
isto é, mais do dobro da Bomma que o nobre que qualificava desairosamente o expediente lem
deputado asseverou haver-se despendido. brado dizendo que era empirico, isto é, fundado
Dirá o" nobre deputado : « Talvez houvesse re- na pratica e na experiencia; mas enganou-se.
commendação para que não se gastasse mais Não ha duvida, senhores, que uma das dificul
com essa obra. » A isto respondo com a infor dades de alcançar voluntarios e engajados para
mação do referido inspector, que é um off.cial a armada procede de que os homens proprios
de muita confiança. Esse empregado diz: a Tenho para a vida do imar ganhão mais na marinha
conservado regularmente o numero de 300 ope mercante, e portanto ouso pedir ao corpo legis
rarios apontados, e muitas vezes maior numero, lativo que eleve a consignação para voluntarios
e ultimamente 346. (Lê um trecho do officio.) e engajados da armada, ao ponto de habilitar
Vê-se, pois, que gastou-se, neste exercicio, até o governo a offerecer-lb.es maiores vantagens do
o primeiro do mez corrente, o dobro, como já que até agora.
disse, da quantia que mencionou o nobre depu Actualmente podem-se gastar na repartição da
tado, e que o inspector empregou quantos tra marinhi uns 10:000$ com esse ramo de serviço.
balhadores razoavelmente podia admittir. E' preciso Eu pediria á camara que elevasse essa quantia
notar que as obras do porto de Pernambuco são pelo menos no quadruplo, porque ó natural que
naturalmente lentas, porque ora dependem de assim se possa remover, ao menos em parte, o
maré, não se podendo trabalhar o dia inteiro, inconveniento a que se tem alludido. Não quero
ora dependem de objectos que têm de vir da com isso dizer que uma gratificação maior venha
Europa, no que ás vezes ha alguma demora. a ser um remedio heroico para sinar comple
Eis algumas das razões por que taes obras tamente o mal apontado; mas o que o nobre
marcháo lentamente, e não porque o governo deputado não póde negar é que este remedio
tenha a infeliz lembrança de estorvar o progresso produzirá bom offeito.
de um melhoramento, que é menos da provincia O Sr. Fioueira de Mello:— Em todo o caso
de Pernambuco do que do imperio. subsistirá a repugnancia que existe para a vida
O Sr. Fioueira de Mello :— Sabe-se bem que maritima.
não faz isto do proposito. O Sr." Zacharias:— Entende o nobre deputado
O Sr. Zacharias :— Então não aceuse o governo. que o augmento das vantagens pecuniarias of-
Quando o governo descuida-se de uma obra que ferecidas aos marinheiros não é medida satis-
o poder legislativo recommenda, falta aos seus factoria, porque a mesquinhez de remuneração
deveres, e é isto exactamente o que se não dá é apenas (são palavras suas) uma sub-causa
ácerca do melhoramento do porto de Pernam da repugnancia que se nota. Não sei bem o
buco. Por océasião ainda de fatiar da mesma que seja sub causa, acho isso um tanto meta-
obra? observou o nobre deputado que havia um i physico.
contradicção entre o meu relatorio o o que o Quererá acaso o nobre deputado dizer que a
meu antecessor apresentou o anno passado Ahi causa primaria/ da repugnancia ao serviço naval
dizia o Sr. Tosta que a muralha da ilha do No é a sua escassa remuneração, e que ha outras
gueira tinha já 210 braças, e eu affirmo no meu causas de miior importancia e alcance que expli-
relatorio que mais de 170. Lerei a exposição que cão a escassez de voluntarios e engajados ? Ou-
a este respeito faz em officio do 1° de Março çamol-o.
deste anno o capitão de mar o* guerra João Hen Os nossos compatriotas, disse o nobre depu
rique do Carvalho, inspector do arsenal de Per tado, fogem da marinha do guerra, não por
nambuco, o offioial de muito credito, que diz serem mal pagos, porém porque recebem dos
assim : officiaes da armada terriveis tratamentos. En-
« Quando entrei para a inspecção, havião perto carregou-se o nobre deputado de ser o echo do
de cem braças de muralha; têm-se feito nif meu que banalmente se diz, isto é, que os officiaes
tempo oitenta braças cubicas (proximamente), e da nossi armada tratão mal os nossos mari
mais não tem sido possivel por haver-se esgo nheiros ; mas para que o nobre deputado não
tado toda a pedra de lastro fornecida pelos na apresenta factos que fundamentem essa aceu-
vios ; falta ainda o reboque de' cimento, etc. » sação 1
Eis-aqui em que me fundei. Uma muralha que Não, isso não faz elle. A presumpção é que
tinha perto de cem braças feitas, c agora mais os officiaes da armada com a educação que têm
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
cumprem seus deveres sem apartar-se do que O Sr. Zacharias : — Pois se o nobre deputado
exige, já não digo .a lei, mas a polidez e a me faz es>a justiça, porque não se presta a
humanidade. Quem estiver convencido do con informar o governo das prevaricações de que
trario, e souber de factos que os desaboneui, tenha noticia, p ira serem punidis. Uma outra
apresente-os e deixe-se de generalidades. Na In causa apresentou o nobre deputado para expli
glaterra o anno passado, tratndo-se do orça car a repugnancia dos brazileiros para o serviço
mento da marinha, houve orador que se lembrou da marinha de guerra, e foi que os nossos ma
de explicar a repusn'ncia pira o serviço da rinheiros não têm futuro, visto que quando se
armada com o máo tratamento que recebem a inutilisão flcão reduzidos á miseria e mendici
bordo dos naviós daquella nação os marinh iros dade. Sr. presidente, todos sabem que ha unia
que nelles são empregados, e esse orador, Sr pre promessa formal da lei áquelles que se inutili
sidente, não se contentou com generalidades, são no serviço da armada esses iuvilidos têm
referio factos, disse, por exemplo, que tendo-se direito aos seus vencimentos e a serem recolhi
lançado ao mar de bordo de um navio de guerra dos ao respectivo asylo.
um marinheiro para desertar, o commandante Ponderou o nobre deputado que tal asylo, que
desse navio mandou que um soldado de marinha aliás
fizesse fogo sobre elle ; que o soldado a quem mada, diminuirá a repugnancia ao serviço da ar
dera essa ordem a não desempenhára ; que o val-o anáo existe, que se não ha tratado de le-
effeito. Mas aqui, em .vez de censuras,
commandante a repetira, e ella fõra então se devêra o nobre deputado fazer elogio á adminis
guida do seu effeito. O facto deu lugar a recla tração, porque consta do relatorio apresentado
mações, e a verdade assim pòdc-se liquidar. Eis á camara que o governo não se tem descuidado
o que eu desejo que o nobre deputado faça ; se de fazer cumprir a intenção da lei : achão-se
lhe consta que a bordo dos navios de nossa convenientemente arrecadadas .as q uantias desti
armada ha sevicias, ha barbaridades, cite alguns nadas para esse fim, trata-se de escolher um lo
factos para que se castigue quem merecer e se cal apropriado em que seja construido o edifi
tomem providencias ; mas emquanto o nobre de cio, e agora o que mais cumpre é que o corpo
putado se entrincheirar no seu—consta e dizem,— legislativo proteja, quanto é mister, a realisaçao
o governo dirá que não tem de que defonder-se, da .ibra, afim de que os invaiidos da marinha
porque quem adeusa é que deve exhibir os factos tenhão o asylo de que são dignos.
e provas que os sustentão.
O Sr. Nebias: —Audão mendigando pelas ruas.
O Sr. Fioueira de Mello : — O nobre ministro
não se lembra que um marinheiro 'assassinara O Su. Zacharias : —Dou-me pressa em dissipar
um offici il da armada pelo máo tratamento que a má impressão que possão causar as palavras
elle lhe deu? E' verdade que isso náo se deu do nobre deputado do S. Paulo quando diz que
no tempo da administração do nobre ministro, os invalidos da armada andão pelas ruas men
e sim tempo antes. digando a caridade publica
O Sr. Zacharias: — Uma causa que, na opinião O Sr. Nebias : — Consta isso.
do nobre deputado, explica a má vontade, a O Srí. Zacharias : — Senhores, não me consta
repugnancia para a vida do mar, é o pessimo isso; os invalidos pertencem a uma companhia,
alimento que a bordo se dá aos nossos mari têm os seus vencimentos, o não sei que andem
nheiros ; diz elle que certos fornecedores mono- mendigando ou esmolando pelas ruas.
polisão o fornecimento do arsenal de marinha Disse o nobre deputado por Pernambuco que
por tal modo que ha mais de 20 annos se achão na a má fé do governo, recusando dar baixa ás
posse desse pingue negocio, sem que haja sido praças que têm cumprido o seu tempo do ser
possivel deslocaí-os, nem se tenhi | rovidenciado viço, era tambem uma das primeiras causas da
em ordem a melhorar o fornecimento. antipathia ao serviço naval. Senhores, não ha
Sr. presidente, ha fornecedores de antiga data duvida que nem sempre, vencido o prazo por
no arsenal de marinha ; uns ha bastante tem que cumpre as praç is da nrmada servir, se lne3
po fornecem pão, outros farinha, outros aguar dá iminediatamente baixa; mas esse facto, que
dente, etc ; mas 6 certo é que esses contractos não é tão ordinario como pensa o nobre depu
sempre se fazem, precedendo annuncios, e em- tado, explica-se com a falta de pessoal, que em
pregando-se as precisis cautelas ; o que é certo certas circumstancias obriga o governo a não
tambem é que algumas vezes têm sido exclui poder escusar do serviço todas as praças que
dos esses sujeitos, contractando-se com outros, pedem baixa sem desguarnecer completamente
e se depois lorão aquelles preferidos, sem duvi vasos da armada, cujo serviço aliás o paiz alta
da isso aconteceu por oiferecerem elles condi mente reclama.
ções mais favoraveis o melhores generos... . Pela minha parte estou sempre disposto a
O Sr. Fio deira de Mello :—Ha certeza disso? reconhecer o direito daquellas praças que pedem
O Sr. Zacharias : — Pergunta o nobre depu" baixa, completo o seu tempo de serviço, e grande
tado so ha certeza de que esses fornecedores numero delias têm recebido suas escusas.
sempre tenhão fornecido melhor ? Respondo-lhe pugnancia ao serviçosão
Outras, s nhores, as causas da notada re
naval que não as indicadas
que sempre que viveres tem de ser recebidos pelo honrado membro...
para uso da armada, officiaes do corpo de
saude da mesma armada os examinão e se mos- Um Sr. Deputado: — Vamos a ellas, melhor
trão nessa exame muito rigorosos. Agora, se o será.
nobre deputado pensa que todos estão conspira O Sr. Zacharias: — Nuo referirei todas; mas
dos contra o estomago dos marinheiros, não só notarei como unia das principaes a facilidade
fornecedores, senão empregados da repartição, . extrema que o territorio do imperio ofierece aos
o os proprios medicos, parecia-me que relevante pebres para viver.
serviço faria o honrado membro ao paiz se, dei Notarei que a indole dos nossos indios, e a
xando proposições vagas, denunciasse formal
mente os abusos. Eu muito lh'o agradeceria, pois darmada,
iquelles que que estadão no caso de servir na
desejo cumprir o meu dever, o sou incapaz d svia-os pola maior parte inclinados ao ocio,
de, conhecendo-os, tolerar abusos em nenhum além de naturalmentemuito
deumi profissão em que,
trabalho, têm do encontrar o
dos ramos da administração a meu cargo. (Mui rigor da disciplina, que por mais humana que
tos apoiados.) por mais humana que seja a legislação não póde
O Sr. Fioueira de Mello ; — Eu tambem não deixar de haver a bordo c'e navios de guerra.
digo que o Sr. ministro consinta os abusos. O nobre orador pela provincia de Pernambuco
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 345
lembrou um grande recurso ao governo, afim de á sombra do governo, e logo, a marinha mer
ter tripulação para os vasos da armada, dizendo cante, não podendo escapar ao destino commum
que protegesse as pescarias e a marinha mer das outras industrias, deve tambem chegar-se á
cante, como viveiros da marinha de guerra. asa do poder.
Senhores, ou o nobre deputado enunciou uma Faltando do batalhão naval, o nobre orador
banalidade, ou um anachronismo... fez-me duas aceusações horriveis...
O Sr. Fioceira de Mello: — Obrigado. O Sr. Fioceira de Mello : — Perguntas.
O Sr. Zacharias:— Não lhe faço uma injuria O Sr. Zacharias: — ... disse que eu contra a
com Uso, nem quero offendêl-o. disposição da lei mudei o nome de corpo de fuzi
Senhores, esses dous ramos de trabalho me leiros navaes para batalhão naval ; e em segundo
recem protecção do governo, e quanto lhe fór lugar, que contra o disposto da mesma lei (peço
possivel, o governo do paiz deve protegêl-os, mas muita attenção da camara) alterei o tempo do
esso protecção a que tem direito é semelhante serviço marcado ás praças do corpo de que se
équelli que merecem a lavoura e mais indus trata...
trias do paiz, porque a pescaria é a agricultura
do mar, e os navios da marinha mercante são nãoO Sr. Fiou eira de Mello dá um aparte que
ouvimos.
meios de transporte e formão um ramo de in
dustria como qualquer outra. Debaixo desse ponto O Sr. Zacharias. — Folgo de ouvir o nobre de
de vista a recommen dação do nobre deputado putado confessar que não houve violação de lei
ao governo é uma banalidade. • na mudança de nome. A lei de 11 de Julho
Se o honrado membro, porém, recommenda a de 1847, que autorisou a creação deste batalhão,
pescaria e a marinha mercante, não como se diz: «O governo é autorisado a organisar desde
recommendu qualquer outra industria, mas par já um corpo especial de infantaria para o ser
ticularmente como viveiros da marinha de guer- viço da armada.» O Sr. Candido Baptista, mi
rra, então descubro em sua idéa um anachro nistro da marinha então, deu por decreto de 11
nismo. Os paizes em que outrora a marinha de Setembro do mesmo anno organisição ao dito
mercante se considerava como viveiro da de corpo, denominando-o—corpo do luzileiros navaes.
guerra tem abandonado esse pensamento : foi —A lei da fixação de forças do anno seguinte
idéa de outro tempo ; hoje não passa de tra declarou que essa organisação ficava dependente
dição. de arbitrio á i governo, que podia dar-ln'a nova
Hoje, senhores, quer na Inglaterra, quer nos se quizesse. Esta autorisação foi passando de
Estados-Uni los, o recurso de eng.mhosas ma- anno a anno, até o anuo passado, em que ainda
chinas dispensa braços que outr'ora em grande o corpo legislativo se dignou concedêl-a...
numero se empregaváo na marinha mercante: o
vapor diminue consideravelmente a necessidade O Sr. Fioueira de Mello:— Houve anno em
de marinheiros, e os carros dos caminhos de que essa autorisação não passou.
ferro se encarregão de transportar boa parte de O Sr. Zacharias: — Mas o anno pissado deu-se
objectos que dantes os navios conduzião de um ao governo autorisação para,organisar o corpo
paja outro lugar. Assim, reduzida a necessidade da maneira que julgasse conveniente, o pois a
de braços na marinha mercante, deixou ella de organisação primitivamente dada estava sujeita a
ser o viveiro da marinha de guerra, e desde ser de todo transformada, começando pelo nome.
então vio-se o governo britannico obrigado a lançar Declaro ao nobre deputado que não admiro que
suas vistas para o estabelecimento de uma força não sympathisasse com a nova denominação do
naval permanente que trata de crear, abandonando —batalhão naval,—pois é queslS) de nome e de
emfim, ou recorrendo com menos confiança aos gosto, em que cada um pensa como quer ; o
meius com que costumava arrancar á marinha nobre deputado quereria que se chamasse—corpo
mercante as tripulações precisas aos vasos do de fuzileiros navaes ;—cu entendi que se podia
estado. chamar—batalhão naval,—isto é, um corpo de
E aqui seja-me licito dizer com algum orgulho infantaria da armada. Mar ivilha-me porém que
que aôuillo que -hoje se procura obteí na Grã- movesse tal questão o nobre deputado, que entre
Bretanha, nós, por lembrança feliz de um de os defeitos que fez ( sentir na jerarchia naval
meus antecessores, já ha bastantes annos pos lembrou a conveniencia de mudar o nome de
suimos, com a instituição dos imperiaes mari capitão'de mar e guerra...
nheiros. As tripulações dos nossos navios de
guerra compoem-se, na verdade, em grande queO Sr. Fioueira de Mello: — O que disse foi
talvez fosse necessario supprimir alguns
parte, de imperiaes marinheiros, que são uma postos.
força permanente com que em qualquer occasião
o governo póde contar. O Sr. Zacharias : — Mas vamos a outra aceu-
Direi mais ao nobre deputado que, com rela sação mais essencial, pois, a ser exacto o que
ção ao nosso paiz e no sentir de muitos homens observou o nobre deputado, eu commetti uma in
praticos, longe de ser a marinha mercante o vi fracção de lei, porque marcando ella certo espaço
veiro da nossa marinha de guerra, a marinha de tempo de serviço, o governo no regulamento
de guerra é, pelo contrario o viveiro de nossa determinou que esse periodo seja outro. Em
marinha mercante. Em verdade, creando bons verdade eu não esperava esta aceusação I A ul
pilotos e excellentes marinheiros que, depois do tima lei de fixação de forças navaes diz : « O tempo
seu tempo de serviço, se largio pelo paiz, não de serviço das praças dnsto corpo será igual ao
têm ouiro meio de subsistencia senão applicar-se marcado p ira as do exercito.» No art. 5» do re
a vida maritima, a que estão habituados, póde-se gulamento se diz: « O tempo pelo qual serão
afflrmar que a marinha de guerra é um grande obrigadas a servir as praças do pret ilo batalhão
recurso para a marinha mercante. A marinha , naval será o mesmo que está marcado ou houver
de guerra fornece commandanies á maior parle de marcar-sa para iguaes praças dos corpos do
dos vapores pertencentes a diversas companhias : exercito.»
ha uma anxiedade em obtel os, nem querem A lei annua diz que o tempo de serviço das
outros individnes para commandal-os que não praças do batalhão naval será o que está m ir-
sejão officiaes da arm ida. E' pois a marinha de cado para as praças do exercito ; no regulamen
guerra o viveiro da marinha mercante, longe de to que é permanente se determina que sirvão
ser a marinha mercante o viveiro da marinha o tempo marcado actualmente para o exercito,
de guerra. Nem e isto de admirar, porque em ou que se haja de marcar para o futuro : onde
um paiz nascente todas as industrias prosperão está a violação de lei?
fona 9. 44
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346 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Fioueira de Mello dá um aparte que ordens ao digno presidente daquella provincia
não ouvimos. Sara pór-se no estaleiro a corveta forão expe-
O Sr. Zacharias : — A questão com que o idas com certeza de haver alli em deposito a
nobre deputado quer agora desviar-me do meu' madeira indispensavel para a obra. O governo
discurso é de facil resposta. Está entendido que sabe que ha de precisar, e está continuamente
o tempo para cada praça que entra no serviço precisando de madeiras ; e, pois, não se des
conta-se conforme a lei que vigora nessa occa- cuida de adquiril-as com anticipação. Se neste
sião. Semelhante duvida não é propria de uma ponto não estamos adiantados como as grandes
illustração da ordem do nobre deputado. O seu nações, cujos livros parece ter em vista o nobre
aparte não é bem cabido, nem mesmo como deputado, não é um mal a que de prompto se
uma simples pergunta. possa dar remedio. E' do tempo e dos progressos
Disse o nobre deputado que era má, ou antes do paiz que dependem taes melhoramentos.
perguntou-me se nao achava defeituesa a actual « E' um mal construir navios sem bons meios
jeaarchia naval, quer quanto ao numero de do reparal-os.» Isso é exacto em grande parte ;
ãráos que tem, quer quanto aos nomes desses mas então tem o governo direito ao applauso
iversos gráos, lembrando que a jerarchia na de nobrti deputado, pois que tal é a convicção
val ingleza tem seis grãos, a dos Estados-Uni- que tem da necessidade de bons meios de reparar
nos tres, e a riossa onze. Perguntou se não os vasos da armada que mandou construir no
seria conveniente reduzir a um menor numero Maranhão um dique, e não se descuida de adiantar
de grãos, á imitação dos inglezes; a jerarchia a solução do problema relativo ao dique da ilha
naval brazileira, o mudar o nome de capitão de das Cobras.
mar e guerra. Mas para que vir dizer-nos que não temos esses
Respondo ao nobre deputado que a questão grandes depositos, esses meios de reparo? Será
ue suscita é muito accidental em relação aos para aconselhar que não se faça por ora navio
S estinos da armada e desenvolvimento do seu algum ? Esta lembrança seria admiravel I
estado-maior. Dado o caso, o que não concedo, O Sr. Fioueira db Mello : — Para [preparar
de que exista grande disparidide entre o nu esses meios.
mero de grãos de jerarchia naval brazileira, e O Sr. Zacharias : — Convém preparar esses
os grãos de jerarchia naval ingleza, que pro meios conforme a arte e a sciencia ensinão ;
veito haveria em que circumscrevessemos a nossa mas antes de os obster cumpre construir os
para imitar a ingleza ? Havia, sim, um grande navios que forem necessarios, e lembrarei ao
inconveniente, que era destruir a semelhança, a nobre deputado que com -os meios que actual
correspondencia que as nossas leis têm estabe- mente temos possuimos uma soffrivel armada, e
cido entre a jerarchia naval e a jerarchia do que esta armada tem prestado ao paiz os mais
exercito que convém manter, porque, como relevantes serviços. (Apoiados.)
muitas vezes a força de mar succede estar em Por occasião de fallar na falta de meios para
terra e vice-versa, sem essa relação entre os conservação dos navios, o nobre deputado trouxe
gráos de uma e outra jerarchia, poderão appa- o caso da fragata Paraguassú, que, disse elle,
recer condidos Quando não houvessse outra tendo necessidade de;ir a Inglaterra concertar-se,
razão que embaraçasse a adopção das indicações fez aqui uns pequenos reparos, que todavia che-
do nobre deputado, bastava essa. gárão ao valor de 80:000$, mas não foi á Ingla
O Sr. Fioueira de Mello :—O que sei ó que terra e alii ficou, achando-se hoje em deploravel
as outras naçoes não têm isto. estado. Não sei quem informou isso ao nobre
O Sr. Zacharias : — Não ó porém exacto que deputado; a fragata Paraguassú, que tem mais
seja tão reduzido, como suppoe o nobre depu de 30 annos de existencia, e se acha ainda em
tado, o numero de gráos na jerarchia naval da bom estado por ser construida de tecka, nunca
Inglaterra. Não são seis, são muito mais. Com houve, que me conste; intenção de mandal-a á
a seguinte passagem dos novos annaes da ma Inglaterra. E' certo que esteve dearmada mas
rinha de Março deste anno (lendo) mostro ao o desarmar-se um navio não significa necessa
nobre deputado que o jerarchia naval ingleza riamente que elle esteja arruinado, como pensou
consta de mais de seis grãos : « admirai, vice- o nobre deputado por S. Paulo no seu discurso
adiniral, commodore, captain, commander, lieu- de hontem.
tenant 1° e 2°, master. » Àqui estão oito gráos... Talvez que o nebre deputado por Pernambuco
quizesse referir-se á fragata Constituição ; esta,
(Ha um aparte que não ouvimos.) sim, foi á Inglaterra concertar-se, mas sem
Assim como, porém, o nobre deputado incluo fazer-se aqui a despeza preliminar de 80:000$; e
na nossa jerarchia os aspirantes e os guardas- hoje acha-se nas melhores condições, é o melhor
marinhas, tambem deve incluir na ingleza o ca- vaso da armada brazileira, tendo custado mais
det e o medshipman, e então me dirá que dif- de 250:000$ ao imperio a obra que nella se fez
ferença substancial dá-se a tal respeito entre na Inglaterra. Veja V. Ex. como uma infor
uma e outra marinha. Na opinião ,de pessoas mação mal dada e apressadamente trazida á ca
entendidas a jerarchia naval ingleza é mais com mara altera tudo I Uma tal informação faz da
plicada que a nossa. fragata Constituição a fragata Paraguassú, e con
Continuando em suas censuras, disse o nobre verte em censura o louvor, que o nobre depu
deputado : « E' máo construir sem ter depositos tado, se estivesse melhor informado, daria ao
de madeiras, e ainda peior fazer navios sem ter ministro que tomou a deliberação de mandar á
meios de concertal-os. » Se o nobre deputado Inglaterra a fragata Constituição concertar-se
uer dizer que o imperio não tem arsenaes e radicalmente, pois consta que estava tão arrui
3 epositos como os da Inglaterra e das outras nada e tinha o fundo tão podre, que facilmente
randes potencias, disse aquillo de que ninguem poderia sossobrar.
uvida ; mas se quer alhrmar que estamos tão Não forão sómente 80:000$ que se gastárão
as cegas, que estamos tão na primitiva que nessa obra, porém mais de 260:000$; e se o nobre
mandamos fazer navios sem previamente provi deputado tem coragem, venha dizer-nos que essa
denciar a respeito das madeiras, esta enganado. despeza foi desnecessaria e em pura perda.
Ha na córte um deposito de madeiras, assim como Passando á outra ordem de censuras, o nobre
em Jaraguá e outras partes. deputado disse, referindo-se ao meu relatorio ;
Na Bahia, quando o governo mandou ultima « O relatorio não resolve nada, nada decide. »
mente . construir a corveta D. Isabel, estavão com Senhores, não sei que seja da natureza de uma
anticipação promptas as madeiras precisas. As peça desta ordem decidir cousa alguma: relato-
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 347
rio de uma repartição, como a palavra indica, 3uaes sejão actualmente as principaes necessi-
é a exposição do estado do serviço dessa repar ades' da marinha brazileira, e depois ver se na
tição e de suas necessidades. As desci sões com apreciação dessas necessidades o ministro des-
petem ao corpo legislativo ; aos ministros toca viou-se ou chegou-se a esse typo que por ven
enunciar com clareza os factos, e ás vezes na tura o nobre deputado houvesse formado. Ora,
clareza com que se estabelecem as questões vai pergunto ao nobre deputado, quaes são as prin
meia resolução delias. (Apoiados.) Talvez me cipaes necessidades da nossa marinha ? Não fat
illuda, mas creio que se o nobre deputado exa iemos da mudança de nome dos capitães de mar
minasse bem o relatorio a respeito dos diversos e guerra, nem de outras reformas semelhantes
pontos de que trata, conheceria que a opinião a que o nobre deputado tem alludido. Quaes são
ue quem o escreveu é claramente dada. (Apoia essas necessidades ? Uma armada se constituo
dos.) com homens, com navios, e com dinheiro, o que
« O ministro não trouxe ao corpo legislativo importa o mesmo que dizer que na materia de
todas essas idéas convertidas em projectos, d que se trata as principaes necessidades se refe
E quem assim falia, senhores, é o nobre depu rem ao pessoal, ao material, e á contabilidade.
tado que todos os dias xensura o governo por Quanto ao pessoal, senhores , actualmente em
querer tomar a si tudo, afim de que recaia sobre nossa marinha de guerra não ha necessidade
elle a gloria de todas as medidas importantes I que sobrepuje a de melhor organisar-se o centro
Pois não cumpre já o governo um dever estu d i admimstração, dando-se ao respectivo minis
dando as necessidades publicas e indicando-as tro um conselho ? Ora, houve descuido ácerca
ao corpo legislativo ? Lêa o nobre deputado o deste objecto? Creio que não. Poderia crear-se
relatorio e as idéas delle que achar dignas de esse conselho sem determinação do corpo legis
ser adoptadas, formule-as em projectos, apro- lativo ? Reunido o corpo legislativo poderia dis-
sente-as ã consideração da camara. Já disso cutir-se essa idéa primeiro que a resposta á falia
têm dado exemplo outros membros da camara : do throno, para o nobre deputado clamar : « Não
imite-os o nobre deputado. se discuta isso antes do voto de graças, antes
Disse mais : « O ministro da marinha tem-se que se saiba se o ministerio merece confiança »?
occuppado somente do expediente ; os seus actos . Havia de improvisar um conselho quando o nobre
não revelão senão o expediente diario. « Se deputado me nega o direito de fazer um contracto
nhores, na posição de homem particular qualquer de 50:000$ sujeitaado-o á approvação do corpo
tem direito não só ao trabalho, mas ao 0cio ; legislativo ? Não de certo. (Apoiados.)
se se disser a um individue particular : « Vós Depois de organisado o centro da repartição
sois inactivo, sómente vos occupais com o que de marinha, não ha necessidade, no tocante ao
é de mero expediente de vossa administração pessoal, que exceda-a da reforma do ensino' aca
domestica », não se lhe faz uma oflensa ; mas demico. (Apoiados.) Senhores, dai aos nossos offi-
contra o homem publico que dirige uma repar ciaes os vencimentos, que quizerdes, dai-lhes as
tição, uma tal insinuação dá-lhe direito de de- gratificações que vos parecer, e todavia a nossa
fender-se e mostrar a injustiça de quem a faz. armada não será o que deve ser se esses offi-
Ou eu não sei o que seja simples expediente, ciaes não forem convenientemente instruidos e
ou o nobre deputado não teve razão em dizer educados. Ora, não se póde duvidarque a in-
que a repartição da marinha vive sómente vida strucção que as nossas leis presentemente man
do expediente. Não quero com isso dizer que dão dar aos nossos officiaes, é muito insufficiente,
eu tenha trabalhado a apresentado alguma cousa é quasi a mesma da primitiva ereação do esta
que não seja mero expediente ; mas não devo belecimento, e dessa incompleta instrucção nascem
occultar os esforços e trabalhos daquelles que, males mui sérios.
já em razão do seu officio, já por espontanea Perde-se um «vapor e se diz: « G ministro
mente me quererem coadjuvar, têm contribuido teve a culpa em confiar o cominando de um
para alguns actos uteis á repartição da marinha. official imperito. » Mas, senhores, que obrigação
Se o nobre deputado lesse o relatorio com tem o official de marinha de saber aquillo que
olhos mais imparciaes, veria antes de tudo que se lhe não ensinou 1 (Apoiados.) No estado pre
não ha autorisação do corpo legislativo de que sente das cousas, quando tem tomado tanto in
no intervallo da sessão eu não fizesse uso. cremento a navegação a vapor, o que ê o offi
O governo estava autorisado a organisar, como cial de marinha que commauda um vaso desses,
conviesse o corpo de fuzileiros navaes : publicou- e não entende de machinas como o proprio ma-
ae o regulamento de 24 de Novembro do anno pas chinista, que não comprehende perfeitamente a
sado. theoria e pratica do vapor ? Um official de ma
A conservação e boa guarda dos navios des rinha em certa conjectura falta á consideração
armados reclamava providencias mais adequadas que deve ao navio de outra nação, e pratica
e conformes ao estado actual das cousas do que um acto reprovado contra um estrangeiro. Obra
as do aviso de 12 de Maio de 1829 e publicou- ria do mesmo modo se houvesse aprendido,
se o regulamento de 9 de Abril do corrente anno. durante o seu curso literario, o conservasse na
Para melhor administração dos hospitaes da ar memoria as regras do direito internacional ?
mada deu-se o regulamento de 3 de Janeiro deste E' licito duvidar. Em summa, a camara concor
anno. As estações em que se achava dividida a dará commigo que uma das necessidades mais
costa do imperio augmentarão-se e derão-se re palpitantes da nossa marinha quanto ao pessoal
gras para o respectivo serviço, de accordo com e a refórma dos estudos da respectiva acade
as indicações da experiencia. mia. (Apoiados.) .
Relativamente ao serviço da secretaria e seu Ora, não me era dado reformal-os, mas tomei
archivo, tomárão-so providencias proprias a tor- todas as informações, solicitei a opinião de
nal-o mais regular. Ora, me parece que esses todos os homens que parecerão-me competentes,
actos e outros que é escusado referir, não são de e creio que no relatorio indice bem claramente
méro expediente. (Apoiados.) , o meu pensamento ácerca dos pontos sobre que
Na ausencia mesmo dos poucos actos que tenho deve versar a refórma da academia de marinha,
referido, o nobre deputado se quizesse poderia que me exforçarei por ver adoptada.
fazer-me justiça debaixo de outro ponto de vista. No que toca ao material, Sr. presidente, a
O Sr. Fioueira de Mello : — Fiz-lhe toda jus primeira necessidade da nossa armada é um di
tiça. que. O nobre deputado não póde justamente
aceusar-me de omisso neste ponto ; póde antes
O Sr. Zacharias : — O nobre deputado devêra censurar-me porque mandei começar no Mara-
fazer um sério exame, um estudo acurado sobre | nhão uma obra dessa natureza, trazendo depois
348 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
ao conhecimento do corpo legislativo a medida processar os officiaes do corpo de saúde, que
que se começou já a executar. P revaricáião no sul, no Rio Grande, lugar do
Um Sr. Deputado.—E . foz muito bem. d iilicto ; e a segund i foi de ter havido demora
em os mandar processar aqui uma vez que o
O Sr. Zacharias : — Só a importancia e a ur ministro tinha tomado o expediente de o-- m indar
gencia de semelhante obra mo faria arrostar a vir para a corte. Quanto ao primeiro ponto, o
censara do n bio deputado, e de nutro* que de nobre deputado foi muito infeliz. Primeiramente
tudo lançrto mão para fazer invectivas contra os offlciaes do corpo do saúde de que so trata
Os ministros. delinqnirão no Estado-Orieilal, paiz estrangeiro;
Quanto á contabilidade, senhores, não ha du e, pois, não tinhão direito a ser processados no
vida que se faz sentir a necessidade de algumas Rio-Grande do Sul. Em segundo lugar, so o
reiórmas, o eu t oito não me descui lei dessa delido tivesse sido commetti lo no Rio-Grande
materia, que entendendo-mo com os illustres do Sul, ainla esta circumstancia não mhibia o
membros da cominissão de orçamento, pedi lhes f;overno de mandar vir á còrte os officiaes de-
que ampliassem u,m projecto que está na ordem inquentes, para os mandar processar. Sempre
do dia, sobre a suppressto das contadorias de se entendeu, senhores, que a córte ó a residencia
marinha nas provincias, incluindo a autorisação do official ; do qualquer parte onde esteja, com-
de rnorganisar a contadoria geral de marinha, mettendo um delicto póde ser chamado á córte
assim como a intendencia, que pelo modo por para. responder ; isto é pratica antiga. O vis
que se acha organisad», concentrando nas mãos conde da Laguna e o general Brown, por factos
de um só homem funcções diversas e incompa praticados no Rio-Granle do Sul, vierão res
tiveis, tem evidentes defeitos: a commissão di- ponder aqui. Pedro Ivo veio responder na capital
gnou-se aceitar a minha idéa. do imperio por seus feitos em Pernambuco, e
Se o nobre deputa lo tivesse considerado a um official que em meu tempo portou-se mal na
repartição da marinha debaixo deste ponto de provincia do Piauhy, em Oeiras, respondeu fóra
vista, veria que ella não tem vegetado tanto dalli a conselho de guerra. Senhores, o direito
como lhe parece. Não tenho feito mais porque commum determina como districto da culpa o
isto repugna á pouca pratica que tenho da ad o lugar onde o réo reside, ou aquelle onde
ministração, e mesmo a mesquinhez do meu ta commetteu o delicto, á vontide do qu«ixo-o.
lento (Não apoiados.) O Sr. Sr. F/quiiira de Mello : — Devo res-
O nobre deputado pela provincia de Pernam pander onde está domiciliado.
buco, senhores, accusou ainda o ministro da Um Sr. Deputado : — O militar não tem fóro
marinha o o da guerra; o primeiro de desres
peitar q poder judiciario, e o outro de calcar de residencia.
aos pés os direitos de certos officiaes do corpo O Sr Zacharias : — Essa restricção não é do
de saúde. Vou examinar ambas essas propo direito militar. Ainda o nobre deputado poderia
sições. sustentar, com algum vislumbre de razão, que
Pela minha parte sou arguido de ter mandado houvera desacerto na providencia toinadi pelo
admittir ao serviço do quartel general da ma meu collega de mandar vir esses officiaes res
rinha um 1° tenente condemnado pelo poder ponder na córte, se dissesse que não ha nem
competente a um anno do suspensão de com podem haver aqui testemunhas pira depór, e
inando. Senhores, que relação l a entre a sus documentos para o competente processo ; mas
pensão do qualquer commando por espaço de um essa lembrança do nobre deputado cahiria por
anno, e o admittir-se a escrever «m uma repar si mesma, porque depois que cessárão os acon
tição ? Não foi o ministro da marinha quem tecimentos do sul, os corpos que alli estiveráo
ndmittio esse official a escrever am uma repar tem se distribuido por diversas partes, e portan
tição ; isso não podia pertencer ao ministro ; é to não faltão na córte testemunhas para jura
um detalhe muito subalterno, que compete ao rem no processo dos offlciaes de saude que
quartel general ; mas se o quartel general o fez, delinquirão no sul.
como creio, estava no seu direito, porque, se Vamos ao outro ponto da aceusação. Disse o
nhores, suspender um official da funeção de com- nobre deputado que uma vez que o governo
mandar por espaço de um anno não é condem- tinha assentado em fazer processar esses offl
nal-o á fome. (Apoiados.} ciaes aqui na córte, deveria ter já feito instau
rar o processo. E' regra de jurisprudencia, com
O Sr. Fioueira de Mello: — Tinha o seu soldo. effeito, que a punição siga o mais depressa
O Sr. Zacharias: — E' verda; mas o simples porfsivol o delicto : mas cumpria ao nobre depu
soldo de um official de marinha desembarcado, tado averiguar se não houve alguma razão que
e de um official de poquena patente que tem estorvasse essa rapidez que elle deseja. Na no
familia, que leni, por exemplo, do sustentar mãi, meação, senhores, dos officiaes qne Unhão de
não é bastante para occoirer ás suas necessi comoór os conselhos de investigação e de guerra
dades. Que relação ha entre o dirigir um navio, suscitou-se a duvida se os officiaes de saudo po-
leval-o a seu destino convenientemente, e o es dião ser chamados para fa?er parte desses con
crever no quartel general 1 Se o official com- selhos ; isto foi objecto de consulta.
metteu abuso no commando em que se achava, O Sr. Fioueira de Mello : — Esta consulta
abuso de que dá testemunho a sentença que o teve lugar ultimamente, levou-se muito tempo
suspendeu por um anno, fica por isso inhabili- para fazer.
tado de exercer a mais subalterna funeção desta
mundo, qual ó copiar papeis? Como pois o O Sr. Zacharias : — Está visto , porque para
nobre deputado que tem uma cadeira nos tribu- se aconselhar precisa-se de tempo. O conselho
naes do imperio, vem dizer que o ministro di supremo militar quiz meditar, quiz reflectir ; isto
marinha desrespeitou o poder judiciario porque é louvavel, tanto mais quando a materia parecia
admittio um official a escrever no quartel ge difficil e os votos divergião, sustentando uns que
neral, estando aliás suspenso do commando por podião fazer parte dos conselhos officiaes de sauue,
um anno? e outros que não ; este negocio decidio-se ha
O Sr. Aprioio: —Foi um erro de direito da muito pouco dias
parte do nobre deputado. O Sr. Fioueira de Mello ; — Qual foi a deci
O Sr. Zacharias:— Pelo que toca á repartição são do Sr. ministro da guerra ?
da guerra, o nobre deputado fez a meu colkgi ó Sr. Zacharias : — A quem vem semelhaute
duas aecusàçõea ; a prim»ira foi de não mandar pergqnta .agora ?
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 m
O Sn. Figueira de Mello : —Eu pergunto, o Sr. Se o nobre deputado lesse os mappas como
ministro rvsponcH se sabe. devia, conheceria que não temos s0 dous ou
O Sr. Zacharias : — A provisão ha do appare- tres navios em bom estado, mas algumas deze
cer. Criio ter destruido a arguição feita ao Sr. mi nas delles.
nistro da guerra --els demora do conselho, pois O Sr. Nebias ;— Dezenas ? I Por exemplo, quan
que essa demora proveio de difficnldadea que tos vapores aciiaria? 1
tiverão de ser consideradas pelo conselho su O Sr. Zacharias :— Sim, algumas dezenas. Só
premo. na divisão do Rio da Prata acharia os vapores
Agora, Sr. presidente, V. Ex. permitta que eu Pedro II e Thetis, a corveta D. Francisca, o Eolo,
responda ao nobre deputado por S. Paulo. Pouco a Berenice e a corveta Imperial 'Marinheiro.
direi, porque a hora está adiantada, e tanbem Se lêra attentamente os mappas, verá no mar
porque esse nobre deputado muito pouco disse. pacifico a corveta Bahiann, que não é de certo
O honrado membro chamou a minha attençáo um navio podre. Se examinasse esses mappas,
sobre Napoleão João Baptista Levei, constructor veria que pelos portos das diversas provincias
habil, que, educado na Europa a expensis do e na estação do Rio de Janeiro, ha em bom
governo brazileiro, viera para o Rio de J me iro, estado, e prestando serviços, grande numero do
e aqui andára sem occupação por muito tempo. navios.
Apezar de lhe ter eu dito em um aparte que era Nem qualifique de contradicção esse numero
inexacta, o nobre deputado procurou por todos de vasos attribuidos á armada, e a escussez de
os modos insistir na informacao que tinha ; devo vapores apropriados ás enseadas e baixios de
pois expór o facto tal elle se passou. alguns pontos da costa : póde o numero destes
Levei chegou a esta capital no vapor Amazo ser pequeno como é, sem dam no da exactidão
nas no dia 2 de Junho do anne passado ; veio do numero dos vasos da armada em geral que
como commissario desse vapor , e cumpria-lbe o nobre deputado desconhece, por errar na con
desvencilhar-se dessa commissão. D-pois procu sulta que fez dos mappas annexos ao relatorio,
rou -me com um seu irmão que é medico nosta O nobre deputado asseverou que eu tinha dito
corte, pedindo algum tempo afim de retirar se que os officiaes da nossa armada tinháo menos
par i fóra da cidade emquanto se aclimatava, pois conhecimento da costa do imperio do que os con
tinha medo da febre amarella. Eu, que o acolhi trabandistas, e foi nesta occasião qne eu lhe
com benignidade porque estava informado do seu disse que estava perturbado, expressão de que
merito, dei-lhe a licenca que pedia, e quando re tanto se offendeu e de que lhe peço desculpa.
gressou para a cidade e se me apresentou foi Senhores, a minha asserção foi que o vapor fun
immediatamente empregado. O decrpto que o no- deado nas aguas da ilha Grande, em noite de
mêa primeiro constructor do arsenal da corte é cerração, poderia ser facilmente evitado por um
de 6 de Julho de 1852- Teve a graduação de navio negreiro que viesse desovar, tendo previ i
1° tenente e as vantagens do 800$ por anno. intelligencia edm pessoas de tem, e disposto a
Dir-se-ha - « á muito pouco ; » mas eu responde incendiar-se ; e pois essa minha asserção poderá
rei : < trata- se de um individne que foi educado por acaso justificar o dizer do nobre deputado
a exp. nsas do governo, e depois, fossem as infor dq uando assevera que julgo menos conhecedores
mações que a seu respeito coirião, cumpria que a costa os officiaes da nossa armada do que
os f ictos justificassem as palavras, u E' seu o os traficantes? Pois uma cousa tem relação com
risco de um vapor que se esta construindo no outra ?
arsenal, que tendo sido enviado para Londres Qu iixou-se o nobre deputado de que o arsenal
para encommenda da machina, mereceu elogios da córte d« nada nos sirva, porque alguns vasos
alli de cpnstructores notaveis. Com as prov is têm sido construidos nav Ponta a'Ateia, sem que
que tem dado de sua aptidão, adquirio direito a um só tenha sahido do mesmo arsenal ; disse
maior vencimento ; tem agora 1:600S por anno. que sempre i-e affirma estarem alguns navios ahi
Ainda é pouco para o seu merito; mas tambem construindo-se, mas que, verdadeiras obras de
as obras que encetou não estáo concluidas, e eu Santa Engracia, nunca têm fim. Zeloso como é
entendo que assim como no punir deve h.iver das cousas da patria, devêra o nobre deputado
leflexão, tambem em renumernr cumpre guar- saber que são obras do arsenal, nestes ultimos
dal-a. (Apoiados ) Mas posso assegurar que e*se tempos, a corverta Bahiana, a Imperial Mari
habil constructor, a proporção que fór mostrando, nheiro, e o brigue Maranhão.
por tactos, que e digno da reputação de que
goza, ha do sem duvida ter toda a remuneração Sr. presidente, o nobre deputado pela pro
que merecer. vincia de Pernambuco, a quem eu me escuso de
Passando a tratar do material da nossa armada, responder, limitando-me sómente B explicar dous
o nobre deputado disse que deplorava o estado factos que elle citou, disse que o vapor Paraense
deli i, pois que compulsando os mappas annexos (que o anno passado arribou da viagem que
ao relatorio do ministro da marinha, vinha no tentára ao Rio da Prata em commissão do go
conhecimento de que se compõe de dousou tres verno) sahira daqui arruinado, como era de todos
vasos em bom estado, e que tudo o mais (eu até sabido, menos do ministro da repartiçã .
tenho repugnancia de empregar a expressão de Era constante, Sr. presidente, que esse vapor
que elle se servio, mas, como foi dita na casa, no Rio da Prata havia batido e estivera enca
e um jornal a publicou, eu a repetirei) disse o lhado, em consequencia do que tendo de ir á
nobre deputado que, além destes dous ou tres commissão, quo já referi, ordenei ao quartel
vasos em bom est ido, tudo o mais era —jpodri- general fizesse proceder a um rigoroso exame a
queira — , e o nobre deputado aventurou essa respeito do estado em que se achava, e tive em
proposição por ler no relatorio o mappa r. 20, resposta estes oflficios (lendo um officio do quartel
que dá conta dos navios desarmados. . . general e outro do inspector do arsenal), que de-
clarão achar-se o vapor capaz de ir ao Rio da
O Sr. Nebias: — E combinei com os outros Prata, conforme o juizo da respectiva mes-
mappas. trança.
O Sr. Zacharias : — .... e não lançar os olhos Partio, pois o vapor Paraense, e pouco de
sobre o mappa que mostra qual é a força naval pois recolheu-se ao porto fazendo bastante agua ;
do imperio. Enganou-se de um modo inexplica mas o ministro, com as informações que exigio,
vel, e não se vexe com as minhas observações, e de accordo com as a que procedeu, salvou sua
porque o proprio Homero que fazia os melhores responsabilidade. (Apoiados.)
versos 4ao»bem os fez. imáos, E' injusta a insinuação- do nobre deputado por
350 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
Santa Catharina, guando perguntou : « E forão nobre deputado pela provincia de Pernambuco
demittidoa es6es informantes ? » a respeito desta matéria. ,
Além do que esses informantes são Napoleão O nobre deputado disse que a opposição tem
Levei e outros homens profissionaes de mereci direito de formular um plano de politica o admi
mento, accresce que não podião responder por nistração que mais convenha ao paiz, mas que
avarias do vapor, que só conhecerião se tives não ó isso do seu dever. Creio, porém, que,
sem visto o fundo, o que não lhes era possivel. qualquer que seja o respeito que mercção as auto
O outro facto que o Sr. deputado por Per ridades que o nobre deputado cite em sou abono,
nambuco trouxe a consideração, da casa e que está completamente enganado, que não ó só di
não posso deixar sem resposta, é que eu influi reito mas dever da opposição formular suas idéas
para que não tivesse assento neste recinto o de governo. (Apoiados.)
conselheiro Bernardo de Souza Franco, ou essa Observou o nobre deputado : ec Para que for-
asserção do nobre deputado se rofira á eleição mulal-as se não são aceitas ? » Por isso mesmo ;
na provinc a do Pará, ou ã votação da camara se a opposição não póde com exposição do que
sobre essa eleição, é sempre falsa. julga ser a verdade, e com a eloquencia dos seuí
Senhores, não ha na provincia do Pará um discursos chamar a maioria á suas idéas, conse
amigo qne tenha uma só carta minha relativa a guirá desacreditar as dos adversarios, fazendo-as
eleições. (Apoiados.) Consta-me que alguem disso confrontar e contrastar com as suas. Dirá então
alli que tinha recebido letras minhas durante o á maioria : « O vosso programma e vistas gover
periodo das eleições ; -mas se ha quem isso nativas conipromettem a prosperidade do paiz ;
affirme falta inteiramente á verdade. A nenhum confrontai-a? com os nossos principios, e conhe
dos meus amigos do Pará escrevi, nem mesmo cereis que não soffrem o parallelo. »
dando resposta a cartas aliás bem estranhas á Então nas camaras e fóra delias todos ficarão
eleição, para ter hoje o direito de dizer o que, habilitados a instituir um exame entre os dous
sem medo de ser contrariado, acabo de affirmar programmas, a confrontar as vistas politicas e
(apoiados) ; e se o nobre deputado se refere á administrativas de um e outro lado, e a pro-
votação da camara tambem e falsa a sua asser nunciar-se por quem inais razão tiver.
çao, porque não existe na casa um só deputado Mas como será isso possivel se a opposição
a quem eu me diiigisse no sentido a que allude não apresentar, não formular suas idéas ? Se se
o nobre deputado de Pernambuco. (Muitos apoia limitar sómente a censuras estereis, guardando
dos.) em segredo os seus planos do politicas e admi
Um Sr. Deputado : — E' até uma injuria feita nistração ? Em tal caso dir-se-lhe-ha : « Vós sois
á camara. - architectos de ruinas sómente, tendes a habili
dade de Aristharco sem os predicados de verda
O Sr. Aprioio:—E' uma joelhada muito triste. deiros" homens de estado. »
O Sr. Zacharias : — Eu sou muito franco ; Termino, pois, sustentando que é um erro affir-
apreciando a questão que se discutia, eu era de inar-se que a opposição está no seu direito, mas
parecer que a razão estava em favor daquelle não no seu dever formulando suas idéas, porque não
por quem a camara se decidio, e a quem rece merecem o apoio da maioria. (Muitos apoiados.)
beu om seu recinto (muitos apoiados) : uma vez Alouns Srs. Deputados : — Muito bem I Muito
tive occasião de conversar com o nobre relator bem I
da commissão, incumbido de dar o seu parecer
sobre a eleição do Pará, e elle que diga a fórma Cedendo da palavra alguns senhores que a
por que eu me exprimi, se não lhe disse que têm,julga-se discutido o artigo ; ó elle approvado
devia examinar-se a questão em rigor de direito, com todos os seus paragrapbos.
e não por consideraçoes politicas, porque se de O Sr. Paula Candido (presidente interino) diz
um lado estava um amigo a quem conviria não que vai pór a votos a emenda que ostá sobre
desgostar, do outro lado estava um adversario a mesa.
politico a quem se devia fazer justiça, e tanto Suscita-se questão de ordem, se por ventura
mal causava admittir-se um inimigo com pre deve ser considerado como artigo additivo ou
juizo de um amigo, como faltar-se á justiça a como emenda a moção que existe sobre a mesa.
um amigo para se cortejar um inimigo... (Nu Consultada a camara a este respeito, decide que
merosos apoiados.) ê artigo additivo, e por consequencia fica a sua
O Sr. Aprioio .- — Foi uma joelhada bem triste. discussão reservada para depois da dos artigos
O Sr. Zachabias : — E, demais, senhores, se da proposta.
ninguem procede sem motivos que determinem • Entra em discussão o art. Z», quem sem debate
suas accções, que razão teria eu para obrar é approvado.
da maneira que o nobre deputado me attribue? Segue-se a discussão do artigo additivo.
Eu, que conheço a necessidade da opposição no Não havendo quem falle sobre esta materia,
seio das camaras, e sua conveniencia quando dá-se dia por discutida, e pondo-se a votos o
funda-se em principios politicos, não tinha inte artigo, é rejeitado por 35 contra 27.
resse em ver deste recinto excluido quem em tal
sentido animasse os debates. Pouca vontade de O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : —
ver aqui o cidadão de que se trata poderião ter Deputado novo, não tendo ainda recebido o re
outros que não eu ; poderião talvez, ler aquelles gimento da casa, não sei se é permittido em
que premeditavão já nma scisão no partido, e qualquer occisião apresentar um requerimento. . ,
não quererião ver aqui quem viesse sorri r-se de O Sr. Presidente :— Ainda não se concluiu a
pequenos enredos, de pequenas queixas que votação em que estavamos.
jámais podem levar-se á altura de opposição
constitucional... O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Bem, ò por isso
O Sr. Reoo Barnos : — E quem é o juiz ? mesmo qne estou perguntando, é para infor-
mar-me.
Vozes : — Oh I oh I oh 1 O Sr-. Presidente : — Eu julguei que o nobre
O Sr. Wanderlev :—Não ha juizes mas ha deputado pedia a palavra pela ordem para di
quem ajuize. rigir a votação da casa, pois que não posso
O Sr. Zacharias: — E já, senhores, que fallei admittir discussão senão depois de concluida a
em opposição constitucional , permittão-me que votação.
eu conteste uma proposição lançada na casa pelo O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Eu apenas per
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 351
guntei se em qualquer occasião podia apresentar O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Comecei decla
um requerimento. . . rando que não estava sciente dos estylos da casa,
Alouns Srs. Deputados :— Não, não. que não tinha o regimento da camara, e que
por isso não podia estar muito em dia com a
Outnos Srs. Deputados :—No sabbado. marcha das discussões. Parece-me que se dev«
O Sr. Presidente : — O nobre deputado poderá relevar esta falta, e que não se deve tolher-me
pedir Urgencia em qualquer outra occaâião para a palavra...
apresentar o seu roquerimento ; mas como a vo O Sr. Presidente: —Votada a urgencia, o nobre
tação do projecto que estava em discussão não deputado póde fallar, mas a urgencia é votada
está concluida, não póde agora apresentar esse sem discussão.
requerimento. O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Antes de se votar
Consulta-se a camara se o projecto deve passar a urgencia eu pediria a V. Ex. licença para de
para 3* discussão. Decide pue sim. clarar o motivo por que a pedi.
O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — O Sr. Presidente : — Quando se propõe ur
Como V. Ex. disse que se poderia requerer ur gencia, as palavras sicramentaes do regimento
gencia em qualquer occasião, peço essa urgencia são: «tenho materia urgente », o não se admitte
para apresentar um requerimento. discussão.
A camara vota a urgencia, e o Sr. Bezerra Ca O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Mas V. Ex. quer
valcanti manda á mesa o seguinte requeri ser muito restricto e inexoravel com um depu
mento : tado novo que não está em dia com os estylos
« Para fundamentar uma representação ao go da casa. . . Tratarei de obter um regimento para
verno ácerca da administração da provincia do daqui por diante melhor me regular.
Bio- Grande do Norte, requeiro que revertão ao O Sr. Presidente : — A consciencia do nobre
meu poder a representaçao e documentos que deputado ha de persuadil-o que não estou im
dirigi a esta casa ácerca da eleição daquella pondo a minha vontade.
provincia. »
Alouns Srs. Deputados :— Ora 1 Oral O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Não fallei em
vontade, disse restricto ou rigoroso na obser
O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Peço aos nobres vancia da lei que nos regula.
deputados que tenhão a bondade de ouvir-me. O Sr. Presidente : — Com este crime desejo
Não se trate com indifferença e desprezo aquillo carregar, é verdade.
que é muito serio.
O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Como não ha
O Sr. Presidente: — O nobre deputado pedio casa, desejo retirar a urgencia que requeri. O
urgencia para apresentar um requerimento, mas motivo por que apresentei este requerimento é
não para discutil-o. não existirem na secretaria onde devião estar
O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — a representação e documentos que enderecei a
Peço tambem urgencia para que o requerimento esta casa, mas em poder do nobre deputado
se discuta, pela mesma provincia que ora represento, o qual
se comprometteu com o presidente do Rio-Grande
Um Sr. Deputado : — Para que requerimento ? do Norte a remetter-lhe cópias de todos os meus
Podem-se pedir esses documentos na secretaria e documentos, para que exerça elle, como está
serem entregues ao nobre deputado. exercendo na provincia, vinganças contra as pes
O Sr. Bezeera Cavalcanti: —E' justamente por soas que m'os fornecerão. Mas como não posso
não estarem na secretaria que eu pedi urgencia fundamentar o meu requerimento, desisto da ur
e apresentei o requerimento. gencia que pedi por agora.
Indo-se pór a votos a urgencia para se discutir O Sr. Presidente : — Bem, o nobre deputado
já o requerimento, verifica-se não haver casa. retirou a urgencia para so discutir já o seu re
O Sa. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — querimento ; está no seu direito, procedeu bem.. .
Tendo pedido a palavra para apresentar o meu O Sr. Bezerra Cavalcanti: — Em que?...
requerimento, parece-me que se deveria conçe- O Sr. Presidente :— Retirando a urgencia...
der-me dizer duas palavras em sua susten Mas o nobre deputado parece que está preve
tação... nido contra mim.
O Sr. Presidente: — Ainda não se decidio a O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Polo contrario,
urgencia para se discutir o requerimento. ainda tal não declarei.
O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Mas ha um facto Procede-se á chamada, e reconhece-se terem se
âue tenho necessidade de oflferecer á consideração retirado os Srs. Belfort, Souza Mendes, Machado,
a casa. . . Domingues, Bandeira de Mello, Ignacio Barboza,
O Sr. Presidente : — O nobre deputado bem Rapozo ria Camara, Corrêa das Neves, Pereira
vê que é preciso que a camara vote primeiro Rocha, Seára, Figueira de Mello, Rego Barros,
a urgencia. Paes Barreto, Gomes Ribeiro, Taques, Ferraz,
Magalhães Castro, Saraiva, Mattoso da Camara,
O Sr. Bezerra Cavalcante:— Creio que quando Peroira da Silva, Octaviano, Barreto Pedroso.
se pede a palavra para apresentar um requeri Soares de Souza, Rocha Paula Fonseca, Paula
mento ha direito de fundamental-o... Santos, Fleury, Viriato, Araujo Jorge, Silveira
O Sr. Presidente : — O nobre deputado quando da Motta, Ferreira de Abreu, Livramento e
apresentou o seu requerimento não o funda Sayão Lobato.
mentou... Levanta-se a sessão ás 2 1/2 horas da tarde.
das matérias que o a Jornal «lo Commercio» «lei vou «le publicar
nas respectivas sessões, e que por sua importância julguei
acertado inserir:
« A integra da relação dos deputados presentes ás sessões diarias, q«o foi omittida pelo Jornal
do CommerrÁo. »
TOMO 2. -|.-i
/
A Capital do imporio — projecto do Sr. Octaviano
autorisando o governo á auxiliar a camara
municipal com a quantia de 400:000$ para
Asscnibléas provinciaes — leis enviadas á ca obras publicas de mais urgencia na dita capital,
mara, na fórmado auto addicional para seu oxa- -pag. 38.
me, — pag. 5.
Aposentadorias concedidas a funecionarios pu Colónia D, Francisca estabelecida em terras per
blicos, — pags. 5, 19, 101, 103 e 141. tencentes á pvinceza de Joinville — petição da
sociedade colonisadora de Hamburgo ; parecer
o projecto da commissão de commercio, indus
tria e artes, e projecto r. 21 de 1853,— pags. 87
B e 276.
Bispado — discussão do projecto r. 13 de 1853 Contínuos do supremo tribunal do justiça —
creando o bispado da Diamantina, na provin discussão do projecto r. 10 do 1851, elevando
cia de MinasGeraes,-pags. 40, 276, 287, 299 os vencimentos,— pag. 102.
e 318.
• Importante foi o debate ácerca da creação do bis Casas do prisão com trabalho — requerimento
pados expondo-so largas considerações sobre o dos Srs. Miranda e Pereira da Silva,— pag. 153.
poder temporal e o espiritual, o relativamente
as attribuições de um o outro no caso ver Cabido — creação do um cabido na provincia do
tente. S. Pedro do Sul — projecto r. 12 do 1853,—
pag. 214.
Orarão os Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos, Corrêa
das Neves, Aprigio, Livramento, Barbosa (mi Chefe de policia — projecto do Sr. Octaviano o
nistro da justiça), Wanderley, Ignacio Barbosa outros estabolecenao que o cargo de chefe do
o Pinto de Campos. policia não ó obrigatorio, podendo ser exercido
Bispado — creação de um bispado no Ceará; por qualquer bacharel formado em direito,—
parecer da commissão ecclesiastica e projecto, pag. 227.
— pags. 102, '211, 276, 278, 299 e 318.
Companhia de mineração em Minas-Gcraes de
Oráião os Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos, Bar nominada de Macaubas e Cocaes — parecer da
bosa (ministro da justiça), Correa das Novos, commissão do fazenda com projecto sobro o
.Taguaribe. Livramento, Aprigio, Wanderley, requerimento da mesma companhia pedindo a
Ignacio Barbosa e Pinto de Campos. restituição dos direitos do 5 % que pagára
depois da publicação da lei do 28 de Outubro
Banco nacional — discussão do projecto n. 28 de de 1848,— pag. 243.
1853 vindo do senado creando um banco na
cional,— pags. 231, 216, 259, 265, 279 e 293. Companhia de Gongo-Socco —requerimento pe
Orarão os Srs. Araujo Lima, Vasconcellos, Ban dindo a remissão temporaria dos direitos do
deira de Mello, Cruz Machado, Paula Baptista, ouro que extrahisse das minas,— pag. 316.
Nebias, T. ophilo Gaspar, Silveira da Motta,
Viriato, Rodrigues Torres (ministro da fazenda), Confraria de N. S. da Conceição — projecto r. 25
e Lisboa Serra. vindo do senado, concedendo indemnisação á
dita confraria pelos prejuizos que soffreu por
não se verificar o seu cemiterio no terreno
G que havia comprado contigue ao da ordem 3°
de S. Francisco de Paula, — pag. 339.
£ollcgios cleitoraes— creacão, — paps. -'Ai, 37,
140 e 291. Orou o Sr. Silveira da Motta.
D M
Deputados — projecto augmentando a deputação mineração — projecto r. 101 de 1852 sobre o
do Piauhy, apresentado pelo Sr. Paranaguá ; imposto de mineração,—pags. 8,. 210 e 228.
e sobre igual augmento na provincia de Ser Orárão os Srs. Henriques, Paula Santos, Ferraz,
gipe,— pags. 227 e 209. Wanderley, Paula Candido, Bandeira de Mello
Dous terços de votos de que tratão os arts. 10 c Mendes de Almeida.
e 16 do acto addicional — projecto do Sr. Li Honte-pio dos servidores do estado — requerendo
vramento, estabelecendo que os referidos dous o uso-fructo do predio uacional onde estava
terços fossem contados em relação ao numero collocado,— pag. 317.
de membros presentes á sessão do dia em que
tivesse lugar a votação, etc.,— pag. 318.
N
E Navegação do rio Parnahyba — discussão do
projecto r. 34 de 1850,— pags. 5 o 294.
Eleição da mesa— sahem eleitos, presidente o Orárão os Srs. Teixeira de Macedo, Brandão, Sa
Sr. Maciel Montoiro; vice-presidente o Sr. Luiz raiva, Zacharias (ministro da marinha), Pa
Antonio Barbosa , 1° secretario o Sr. Paula ranaguá, Viriato e Almeida Albuquerque.
Candido ; 2» o Sr. Siqueira Queiroz ; 3° o Sr. Ja-
guaribe ; 4° o Sr. Paes Barreto,— pag. 30. Naturalisaeão — concessão a diversos estrangei
Empréstimo aos bancos do Brazil e commer- ros,— pags 203 , 214 o 242.
cial — parecer da commissão do fazenda ao pro
jecto r. 22 de 1853,— paas. 129, 156, 169, 203, Nota das materias que o Jornal do Commercio
814 e 231. deixou de incluir nas respoctivas sessões e que
por sua importancia forão colligidas,—pag. 353.
Orárão os Srs. Viriato, Ribeiro, Silveira da Motta,
Lisboa Serra, Bandeira de Mello, Rodrigues
Torres (presidente do conselho), Figueira de P
Mello, Ferraz, Paula Baptista e Paula Santos.
P-haroes na Lagoa dos Patos — representação da
Emolumentos parochiaes — tabella organisada a^sembléa provincial do Rio Grande do Sul
polo diocesano de Pernambuco ; parecer da res sobre as despezas com seu costeio,— pag. 19.
pectiva commissão e projecto r. 33 de 1853,—
pags. 214, 214 e 255. Privilégios — projecto dos Srs. Pereira da Silva
e João Antonio de Miranda prohibindo a con
Orárão os Srs. Paranaguá, Correa das Neves o cessão de privilegios para a navegação a vapor
Nabuco. nas aguas da bahia do Rio de Janeiro,— pag. 37.
Exposição universal de Paris — projecto do Sr. Pensões á diversos— pags. 48, 71, 87, 141, 142,
Mendes de Almeida, abrindo um credito para 169, 186, 212, 243, 255, .258, 261, 265, 287, 294
as despozas do transporte dos productos bra- o 339. ., '
zileiros dirigidos á exposição,— pags. 228 e 317.
Pretcnção do tenento-coronel Ignacio Joaquim
Pitombo,— pag. 19.
F » de Norberto Alves Cavalcanti , —
pags. 48 e 242. '
Fixação da força naval— parecer da commissão; » de Francisco Pedro Gorjão,—pags. 122,
discussão,— pags. 203, 304, 322 e 341. 156, 169 o 202.
Houve debate
Orárão os Srs. Paula Baptista, Saraiva, Figueira » do Francisco de Salles Poreira Pa
de Mello, Pimenta de Magalhães, Nebias, Mi checo, — pag. 186.
randa e Zacharias (ministro da marinha). » de D. Victoria Carlota da Silva— pro
jecto r. 59 do 1852,— pag. 210.
Fixação das forças de terra— parecer da res » de Thomaz Pereira Goromoabo— pro
pectiva commissão, — pag. 298. jecto r. 91 de 1852, — pags. 214
e 243.
Houve debate.
L » de Joaquim Ribeiro do Avelar, —
pag. 227.
Lotcrlas — concessão á irmandades, casas pias, » de João Homem Guedes Portilho,—
matrizes, etc.,— pags. 86, 227 e 228. pag. 264.
b do Dr. Joaquim Candido Soares do
Lotcrlas-— isenção do imposto para as loterias Meirelles,— pag. 264.
da santa casa da misericordia da Bahia; pro » de José Xavier Pereira de Brito,—
jecto r. 79 do 1852,— pag. 122. pag. 264.
» de João Eduardo Lajoux,— pag. 276.
Limites entre as provincias de Goyaz c Matto- o de Raymundo Remigio de Mello,—
Grosso, e entre as do Maranhão e Goyaz — offi- pag. 297.
cio do ministro do imperio enviando informações, » de D. Carolina Pedroso Barreto da
— pags. 213 e 228 (projecto do Sr. Mendes de Costa Ferreira,— pag. 339.
Almeida nesta pagina) c 316. Houve debate.
— 9
Gomes Ribeiro creando o lugar de substituto
R daquelle secretario,— pags, 227 e 298.
Resposta á Falia do Throno—discussão,—pags. 11, Supplentes de deputados—chamada de,—pags. 287
19, 38, 54, 74, 91, 106, 123, 129 e 143. e 292.
Orárão os Srs. Sayão Lobato, Enzebio de Queiroz, Orárão os Srs. Paes Barreto e Gomes Ribeiro.
Gonçalves Martins (ministro do imperio), Dutra
Rocha, Paula Baptista, Pereira da Silva,- Fi T
gueira de Mello, Ferraz, Candido Borges, Pau
lino, Zacharias (ministro da marinha) Araujo
Lima e Nebias. Trafego de escravos — remessa á camara do re
latorio do chefe de policia da provincia do Rio
Tratou-se longamente do assumpto — Estradas de de Janeiro sobre as ultimas oceurrencias rela
ferro — desde o contracto Cochrane em 1849. tivas ao trafego de africanos,— pag. 186.
Reforma eleitoral — projecto dos Srs. João Anto Terras de indips — projecto do Sr. Taques c outros
nio de Miranda e Pereira da Silva creando estatuindo que as terras de indios de aldêas
circulos eleitoraes, etc, — pag. 37. ou missões extinctas fossem annexadas ao pa
trimonio das camaras municipaes em cujo mu
Remoção de juizes municipaes — discussão do nicipio estivessem situadas,— pag. 227.
projecto il. 4 de 1852 autorisando a remoção
^dos juizes municipaes,— pags. 71, 88 e 102. Termos — projecto do Sr. Almeida Albuquerque
commettendo aos presidentes de provincia a
Orárão os Srs. Araujo Lima, Wanderley, Gomes faculdade de reunir dous e tres termos, para
Ribeiro, Vasconcellos, Viriato e Ignacio Bar formar conselho' de jurados, mediante appro-
bosa. vação do governo,— pag. 228.
Registro de hypotbecas — discussão do respectivo Testamento cerrado^ — projecto do Sr. Livra
projecto r. 53 de 1852, — pags. 142, 228, 256 mento estatuindo que não fosse permittido aos
e 265. que não soubessem ler ou não pudessem ler,
fazer testamento cerrado,— pag. 318.
Orárão os Srs. Silveira da Motta, Ignacio Bar
bosa e Ferraz. V
s Verificação de poderes,— pags. 48 e 228.
Secretario da capitania do porto da curte e Voto de graças. — Vid. Resposta d Falia do
•provincia do Rio de Janeiro — projecto do Sr. Tlirono.
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