Você está na página 1de 366

G328.B11 C99 1853 V.

2 LAC


THE LIBRARY
OF
THE UN1VERSITY
OF TEXAS
DO

kvmm |m8 dl |om |i§igtóra

SESSÃO DE 1853

Dons
vi Kiib
3
janeiro 1IO D1- JANEIRO
1'vjs l's provincia iLTypngtv "iia— Pahiamev. - — Hua do Hospicio, 218
187-3
He Vtkary
Jic l/aiversity
of Tex2»

1853

GAMARA DOS SRS. DEPUTADOS

Sessão em 1 de ifunho de Julho do anno passado ; o outro enviando a


cópia da mesma com os actos legislativos da
PRESIDENCIA DO SB. MACIEL MONTEIRO assembléa provincial de S. Paulo promulgados
em 1852.—Vão á commissão de assembléas pro-
Scmmario . —Expediente. —Ordem do dia.—Navega- vinciaes.
çõo do rio Parnahyba. —Imposto de mineração. Uma petição de alguns Srs. desembargadores
Discursos dos Srs. Henriques, Paula Santos, da relação do Maranhão para que se lhes mande
Ferraz, Wanderley, Paula Candido e Ban ppgar os ordenados, que pela thesouraria do
deira de Mello.—Resposta á falia do throno.'' Maranhão lhes forão negados, correspondentes ao
Discurso do Sr. Sayão Lobato. tempo entre a nomeação e a posse.—A' commissão
A's 10 horas, feita a chamada, achárão-se pro- de justiça civil.
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido, Lê-se e ó approvada a redacção da resolução
Luiz Araujo, Euzebio, Aprigio, Candido Borges, que approva a aposentadoria concedida ao con
Teixeira de Souza, Vieira de Mattos, Gomes Ri selheiro Adriano Jo.só Leal.
beiro, Ribeiro, Sá Albuquerque, Almeida Albu
querque, Lindolpho, Raposo da Camara, Assis Í5RDEM DO DIA
Rocha, Ignacio Barbosa, Leal, Ferraz, Mendes
da Costa, Rocha, Teixeira de Macedo, Baependy, NAVEGAÇÃO DO RIO PARNAHYBA
Paes Barreto, Domingues, Fleury, Cruz Machado,
b irão de Maroim, Luiz Carlos, Machado, Rego Tendo ficado encerrada na sessão de hontem a
Barros, padre Campos, Wanderley e Vascon- primeira discussão do projecto que autorisa o
cellos. governo a contractar com alguma companhia na
Comparecerão depois da chamada, os Srs. Vi cional ou estrangeira u navegação por vapor do
riato, Barbosa, Nehias, Belfort, Angelo Custodio, rio Parnahyba, ó submettido o projecto a vo
Paula Baptisti, Wilkens de Mattos, Fausto, Sa tação, e approvado em primeira discussão.
raiva, Paranaguá, Magalhães Castro, Sayão Lo
bato, Miranda, Ferreira de Abreu, Zacharias, IMPOSTO DE MINERAÇÃO
Paula Santos, Fiusa, Dutra, Bandeira de Mello,
Paula Fonseca, Taques, Soares de Gouvêa, Góes Entra om discussão o seguinte projecto sob
Siqueira, Fernandes Vieira, Jaguaribe, Pimenta r. 101 de 1852 :
de Magalhães, Monteiro de Barros, Figueira de « Art. 1.» A prata, cobre, o outros quaesquer
Mello, Rodrigues Silva, Araujo Lima, vigario metaes extrahidos das minas do paiz, fleão isentos
Silva, Pedreira, Ferreira Bretas, Riboiro da Luz, de qualquer imposto interno, e pagarão somente
D. Francisco, Nabuco,' Mendonça, Henriques e direitos do exportação iguaes aos que paga o
Octaviano. ouro.
Verificando-se haver numero sufficiente, o Sr. pre « Art. 2.» Ficão revogadas as disposições em
sidente, abrio a sessão ás 11 horas menos um contrario.
quarto . « Paço da camara dos deputados, em 19 de
Lê-se e approva-se a acta da sessão antece Agosto do 1852. — F. de Paula Santos. — J. F.
dente. Vianna.—J. M. Wanderley.»
O Sr. 1» Secretario dá conta do seguinte O Sr. Henriques : —?Sr. presidente, o pro
jecto tem por flui isentar do pagamento de im
EXPEDIENTE posto interno a prata, cobre e metaes que se
extrahirem das nossas minas, mas parece-me que
Dous offleios do Sr. ministro do imperio, en- examinando a legislação nue nos rege não en
) viando um a cópia da consulta da secção dos contraremos disposição alguma que sujeite a
negocios do imperio do conselho de estado de 12 prata, cobre e outros metaes a imposição alguma
de Janeiro deste anno subre os actos legisla interna.
tivos da provincia de Matto-Grosso, com a lei O ouro era o unico metal que antigamente
da assembléa da mesma provincia r. 2 de 5 pagava o quinto, depois foi essa imposto redu
6 SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
zido a 5 %, e finalmente o nrt. 32 da lei do cepção a lei, referindo-se a diversas companhias
orçamento de 1848 extinguio esta imposição man estrangeiras, as quaes, em meu modo de pensar,
dando que o ouro pudesse correr livremente devião ser consideradas no mesmo pé em que
como mercadoria. são considerados os' outros productos, tanto mais
Ora, á vista da não existencia do imposto, en quanto ellas trazem para o paiz grandes som-
tendo- que o projecto o inutil, e como talvez mas que aqui muitas vezes consomem improdu-
esteja na casa algum Sr. deputado membro da ctivamente. Isto porém me parece' questão diversa
commissão que assignou, desejava que me escla que não devo agora discutir.
recesse afim do poder votar com conhecimento, Voto portanto pelo projecto em primeira dis
de causa. cussão, reservando-me para na segunda discussão
O Sr. Presidente: — Convém que a camara mandar uma emenda, ou apoiar alguma que
saiba que este projocto foi organisado o apre alguns outros senhores mandarem.
sentado na sessão do 1852, apparecendo depois O Sr. Ferraz (depois de algumas palavras
como artigo additivo ; e que quem do mesmo que não ouvimos): — Os nobres deputados sabem
projecto. tomou conhecimento foi a commissão do muito bem que o contrabando é muito facil a res
orçamento, por quem o mesmo projecto se acha peito daquelles objectos do pequeno volume que
assignado. são faceis de se esconderem ; e neste caso se
O Sr. Paula Santos:—Eu tenho lambem al acha o imposto de que se trata no projecto de
gumas duvidas sobro a utilidade do projecto que que ora nos oceupamos.
se discute , mas essas duvidas são muito dif- Nós, Sr. presidente, temos necessidado de fa
ferentes das que allegou o nobre doputado vorecer como todos os paizes productores a ex
que ultimamente fallou. O nobre deputado en portação livro destes" productos (apoiados), e
tende que não ha legislação que autorise o im porque nós vamos entrar em uma nova éra eco
posto sobre o cobre, prata o outros metaes, e nomica, ein que se devem profundamente estudar
eu entretanto estou convencido que ha. Ha uma todos os interesses da nossa producção, da nossa
legislação antiga que impõe uma taxi elevada agricultura o da nossa mineração, devemos já
sohre a producção da mineração de todo e qual começar por impór um tributo sobre os metaes
quer mineral - creio que é a ordenação, o re- que se extr&hirem das nossas minas, e cuja
cordo-me mesmo de que quando se discutio este exportação ainda se não dá ? Não será pois issa
projecto uma commissão a quem foi remettido, um contrasenso ? De corto que sim.
ou o seu autor allegou a existencia dessa lei que Um Sr. Deputado:— Trata-so do um imposto
impunha o imposto do 20 % sobre a extracção interno.
dos metaes, imposição que de certo obstará a
que possa subsistir qualquer industria seme O Sa. Ferraz : — O projecto estabelece um tri
lhante. buto sobre os metaes exportados, e é justamente
As leis antigas estabelecião o imposto de 20 % contra" isso que cu fallo, porque entendo que de
sobre todos os metaes preciosos que se extra- vemos alliviar a nossa exportação de todos quantos
hissom ; a respeito porém do ouro houverão mo impostos sobre ella pesão. (Afuitos apoiados.)
dificações diversas, até que o imposto sobra essa Sr. presidente, eu entendo que quando se trata
producção foi abolido. Ora, não tendo havido dis de uma materia destas, estabelecendo impostos,
posição alguma nova sobre o cobre, prata e não se deve por fórma alguma prescindir da
todos esses outros metaes de que so trata, pre opinião do governo; além do que, sempre direi
sumo que elles estão obrigados ao que dispõe a que na lei da receita do estado, isto é no orça
ordenação, disposição que de certo não deve mento, não acho receita alguma proveniente de
mais subsistir. O imposto do ouro foi primeira imposto interno, conforme a exprossão do pro
mente reduzido de 20 % que era a 5, o final jecto sobre esta materia bruta, na sua expor
mente pelas leis do orçamento de 1848 foi ex- v tação. Ora, eu não sei o que o projecto diz,
tincto, conservando-se o da exportação ; o antigo creio que me disserão que se tratava tambem do
imposto tinha a denominação de quintes de ouro, um imposto sobre moeda.
e todos os productores desse genero erão obri Um Sr. Deputado: — Sobro moeda, não, senhor.
gados a pagar o quinto. O Sr. Ferraz:— Fallou-so tambem de impostos
A minha duvida, Sr. presidente, está na ge internos, o eu não sei que existem taes impos
neralidade com que é concebido o art. 1°. Alii tos, ou então não estão em uso, porque não
se diz que o cobre, a prata e todos os outros figurão no capital da nossa receita. Ha uma
metaes extrahidos no paiz ficão isentos de quaes- imposição que existe a este respeito, e figura
quer direitos internos. Ora, tendo a lei de Ou na receita do estado," ó o arrendamento dos ter
tubro de 1848 estabelecido algumas excepções renos de inineraes.
ácercado imposto sobre a mineração, excluindo do
beneficio as companhias encorporadas, o que tra- Um Sr. Deputado: — Isso não é imposição, é
balhavão em virtude de concessões ospeciaes renda.
feitas pelo governo, não sei agora se pela gene O Sr. Ferraz:— E cu admitto que seja impo
ralidade do artigo em discussão tssas excepções sição, e ou sobre palavras não discuto ; além
da lei de 1848 ficárão sem vigor. Eu sou de desta não sei que haja outra imposição; pelo
opinião que a isenção do imposto sobre ouro menos não figura ella nu nossa receita, conforme
seja posta no mesmo pé de igualdade para todos a lei do orçamento, e por consequencia é innex-
os que so empregão nessa industria, que poucos acto que exista tal tributo, porque delle se não
interesses deixa em geral, mas penso que esta faz menção na nossa receita.
questão deveria ser tratada em outro lugar.
Um Sr. Deputado:— Ainda no nosso orçamento
O Sr. Paula Candido : — Isso é objecto de uma existe esta imposiçao interna.
emenda em 2* discussão.
O Sr. Ferraz:— Está enganado o nobre depu
O Sr. Paula Santos:—Diz-me o nobre Sr. 1° se tado, delle se não faz menção no orçamento da
cretario que isso é objecto de uma emenda em receita do estado, e como nenhum tributo se pódo
segunda discussão, e talvez em vista dessa con cobrar sem que esteja consignado na lei do
sideração eu devesse deixar de fallar mais sobre orçamento, por isso «ntendo que elle não existe,
o objecto. Devo porém dizer que, a passar o pro
jecto como está, talvez se entenda que elle com- O Sr. Paula Santos dá um aparte que não otí-
prehende todos os estabelecimentos de mineração, vimos.
ainda mesmo aquelles acerca dos quaes fez ex O Sr. Ferraz : — Eu, Sr. presidente, ou sou
•i.
t
*
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 7
muito ignorante da nossa legislação financeira, a bondade da formular o seu additamento, mas
ou entendo que esta opinião não póde ser admit- devo observar que est# projeto já esteve na com-
tida. missão de orçamento.
Nos paizes constitucionaes não se podem arre O Sr. Cruz Machado : — E' a commissão de
cadar impostos senão quando figurão na lei do fazenda c não de orçamento.
orçamento da receita e dospezas do estado, não
podem ser cobrados sem que sejão annualmente Lê-se e apoia-se o seguinte :
votados pelo corpo legislativo. (Apoiados.) « Addite-so : — Remettendo-se o projecto á com
O Sr. Wanderlev : — Está enganado. missão respectiva. »
O Sr. Ferraz: — Ohl senhoresI pois aquillo O Sr. Wanderioy:—Vejo agora que acho -me
que figura no orçamento não é votado ? assignado neste projecto que foi impugnado pelo
O Sr. Wanderlev : — Mas nem todos são an- honrado membro pela minha provincia, que jul
nuaes. gou necessario remettêl-o novamente á commissão
afim de ser tomado em consideração na ocecasião
O Sr. Ferraz : — Mas todos são votados na loi da discussão do orçamento. Notarei que a ma
do orçamento, e se o não fossem o governo não teria deste projecto foi proposta em artigo addi-
podia arrecadal-os ; o contrario seria um absurdo tivo ao orçamento do anno passado, e por deli
em direito constitucional. (Apoiados.) beração da camara deslocada do mesmo orçamento
Pois o que é o orçamento na parte d i receita ? •para ser discutida saparadamente ; e portanto é
E' a autorisação que tem o governo para cobrar uma coi:tradicção adial-a para incluir de novo
os impostos que são mencionados no mesmo orça na lei do orçamento.
mento, ou sejão indirectos, ou de outra qual O Sr. Ferraz:— Peço a palavra.
quer natureza.
Porém a intenção do nobre deputado era fazer O Sr. Wanderlev: — O projeefo poderá ir a
a distineção entre impostos fixos o os que o não uma commissão para desenvolvêl-o melhor ; a
são ; mas eu direi ao nobro deputado que a loi isto não me opponho ; mas que torne a uma com
não faz distineção alguma entre os que são missão para ser de novo incluido no orçamento,
cobrados sempre e os que não estão neste caso. é o que não possovidmittir.
O Sr. Wanderlev : — Mas, a dotação do im O illustre deputado entendeu que este projecto
perador não é fixa , o entretanto não está su era inutil, crendo que nenhuma imposição ou
jeita todos os annos á votação? renda, como melhor nomo haja, se deve cobrar
dos metaes extrahidos das minas. Mas, se me
O Sr. Ferraz : — Sobre a materia da dotação a não engano, existem disposições antigas que erão
questão é outra, e a dotação imperial é apenas extensivas ao cobre, prata, etc, segundo as quaes
mencionada no orçamento, porque é uma despeza devia-se cobrar ou na qualidade de imposto, ou na
fixa, que na fórma da constituição tem de ser vo qualidade do renda, um certo quantum pela ex
tada no principio do reinado, ou antes dello, o ploração das minas. Do ouro, segundo o illustre
então não se faz mais do que mencionar esta deputado sabe, cobrava-se um direito para ser ex-
despezas cffectiva ; demais, o governo pódo dizer, trnhido das minas; e este direito sendo abolido
despeza com taes o taes, tanto ; emquanto que pela assembléa geral e substituido por uns tantos
em impostos o não póde fazor. por cento na exportação, ficou existindo a ano
Creio, pois, Sr. presidente, que se se quer arre malia de serem sujeitos ao antigo imposto ou
cadar esse imposto em virtude de alguma antiga renda os outros metaes. Ora, o que o autor
lei é um erro, um abuso, que ao governo com deste projecto quiz foi que esse beneficio que
pete acabar. (Apoiados.) Que se se quer que se se foz-ao ouro fosse extensivo aos outros metaes.
inicie alguma medida, não devemos por maneira Recordo-me que na occasião om que se apre
alguma tomal-a, sem que o ministra respectivo sentou o artigo additivo que deu lugar a esto
seja ouvido. Em 3° lugar, se os nobres depu projecto, notou o seu autor, que me parece ter
tados querem estabelecer o imposto de exportação sido o Sr. Oliveira, ex-deputado pelo Matto-Grosso,
sobre essas materias brutas.não posso votar por que não so podia estabelecer uma companhia para
elle. Finalmente, o lugar mais proprio para tra- a extracção da prata e outros metaes naquella
tar-se desta materia éo capitulo da receita. Tal provincia por causa dessa imposto ou ronda,
vez que as ponderações dos nobres deputados e não sei que noma lhe dó. Eu não tenho pre
algumas que por ventura eu possa offerecer sentes ossas disposições ; mas so existem, como
sajão sufficientes para que o nobre ministro tome creio, ellas não so achão revogadas por lei al
alguma medida a esse respeito. A ordenação a guma (apoiados), embora o illustre deputado pela
que se referio o nobre deputado pela Parahyba minha provincia diga quo não se deve cobrar
não póde do manei™ alguma ser considerada esse imposto ou renda, porque não se acha no
uma lei de contribuição em nosso paiz. orçamento.
O Sr. Presidente : —O Sr. deputado pretende Eu entendo o contrario. Ha certas rendas ou
mandar alguma emenda ? imposições que não figuravão directamente no
orçamento ; nesto caso estará essn imposto, ou
O Sr. Ferraz : — Eu pretendia limitar-me a essa renda, que é paga em consequencia do uso
votar contra o projecto, mas emfim offerecorei ou do reconhecimento do dominio que tem a na
um adiamento. ção sobre esses terrenos.
Lê-se e apoia-se o seguinto requerimento : (Ha um aparte.)
« Requeiro que o projecto fique adiado para A questão será de redacção. Existe ou não uma
ser tomado na dovida consideração na lei do or lei que manda que aquelles que se aproveitão
çamento. —Ferraz, » dos terrenos publicos para extrahirem metaes
O Sr. Cruz Machado : — Pedi a palavra, Sr. paguem certa quantia ? Existe, não ha duvida.
presidente, apenas para additar ao adiamento do Ora, se o projecto trata de isentar de qualquer
nobre deputado esta idéa, ficando esto projecto imposição aquelles que extrahem das minas esses
para ser tomado em consideração na lei do or metaes, ó visto que o projocto é util, embora
çamento, remottehdo-se desde já á respectiva com- não figure no orçamento em verba especial.
missão. Pareceu ao illustre deputado uma doutrina
obsoleta, um absurdo constitucional, que eu dis
O Sr.IFerraz : — Sim, senhor. sesse om um aparte que imposições havia que
P Sr. Presibb^te.: — O nobro deputado tenha não precisayão ser votadas annualmente.
8 SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Ferraz :—Entre nós. O Sr. Ferraz : — Isto é que é um principio
O Sr. Wanderlev :—Nfio duvido que a dou falso.
trina seja obsoleta, mas anti-constitucional não. O Sr. Paula Candido:— Como o nobre deputado
(Apoiados.) Pedirei licença ao honrado deputado diz quo o principio que eu allego, de renda
para lhe citar o art. 171 da constituição, que é sem vir no orçamento como imposto, é falso,
muito explicito, que não admitte a menor du devo dar um exemplo. Digo que se podom aug
vida. (Lê.) mentar as rendas publicas sem impostos ; o
Daqui se vê primeiro que as contribuições do facto de se poderem augmentar legalmente
indirectas não precisão ser estabelecidas annual- sem imposto póde-se concluir que as rendas
mente; e isto é muito conforme com todos os publicas não dependem unicamente do que está
principios, não só constitucionaes, como de como imposto
•houver no orçamento.
uma transacção Porcom
financeira exemplo, se
os fundos
economia politica, porquanto nem a camara está
habilitada, nem convém que vote todos os annos publicos da qual resulte grande lucro para o
impostos, por exemplo, sobré alfandegas. A ca thesouro, será isto por ventura um imposto ?...
mara não lia de estar todos os annos reformando O Sr. Ferraz - Offereça a especie para que
e fazendo leis sobre as contribuições indirectas ; se lhe responda.
e em segundo lugar mesmo a respeito das con
tribuições directas, por exemplo, aquellas que O Sr. Paula Candido : — Em apolices, por
são applicadas á amortização da divida publica, . exemplo....
a assembléa geral praticaria um estellionato se O Sr. Ferraz:— Nao póde ser nunca uma
acaso revogasse essas imposições, porque são transacção, é uina divida.
garantias da amortização e dos juros da divida
contrahida. Por consequencia' não é doutrina O Sr. Paulà Candido : — Supponhamos que o
obsoleta e anti-constitucional dizer-se que ha governo ó accionista das companhias de estrada
contribuições que não devem ser estabelecidas de ferro...
annualmente. O Sr. Ferraz : — Não está autorisado para
Embora nnnualmente se votem no orçamento isto.
essas imposições, isto não inQue sobre a natureza O Sr. Paula Candido: — Estou argumentando
delias, porquanto o orçamento é por assim dizer, em hypothese. Supponhamos que a camara hou
um balanço da receita o despeza do estado. vesse decretado que o governo ou o thesouro
Tambem a respeito da despeza ha verbis que fosse accionista dessas companhias, e que depois
nós votamos todos os annos, e entre'.anto sobre o governo vendo augnentado o valor dessas
ellas nã.i póde haver duvida alguma : citarei ao acções, as vendesse. Seria isto imposto ? Não.
illustre dípntado a dotação imperial. Augmenlar-se-hia a renda publica ? Sem duvida
O Sr. Ferraz : —Já respondi a isso. nenhuma, porque o governo vendou estas acções
O Sr. Wanderlev:— Todos os annos vem mais c iras do que custárão ao thesouro. Eis
essa verba no orçamsnto e votamos sobre ella ; aqui portanto a renda publica augmentando sem
mas acaso essa votação equivale a uma appro- impostos.
vação? Se a verba não fór approvada, deixará Além de que, senhores, quando se trata de
por isso do ser pa.;a ? De certo que não. Assim, dar faculdade a uma companhia para extrahir
pois, é preciso que nas leis do orçamento soja ouro, cobre ou ferro dos terrenos nacionaes,
o imposto expressamente revogado para que póde muito bem o governo dizer : « Se vós que
deixe de ser cobrado, sendo imposto de certa na reis estes terrenos, haveis de me dar tanto. »
tureza, bem entendido. Será por ventura isto um imposto dos que se
pagão annualmente, ou antes um contracto ? Por
Quero concluir daqui que o projecto não é consequencia, julgo que é muito exacto dizer-se
inutil ; trata de alliviar um onus que pesa sobre que se póde augmentar receita publica sem im
a mineração, onus que se acha estabelecido em posição.. .
leis anteriores que estão em vigor. Dêm-lhe o
nome que quizerem, de imposto, de renda, isto O Sr. Ferraz: — Ora, pelo amor de Deos I
é outra questão ; os illustres deputados que são O Sr. Paula Candido : — E' preciso que se me
profissionaes na materia, que entendem muito negue que uma transacção lucrativa em apolices
da legislação da fazenda, ó que bem podem emen possa ter lugar para se me negar que as rendas
dar o projecto, substituindo a palavra —imposto— publicas se podem augmentar sem imposições.
por outra que fõr mais adaptada á intenção do A constituição manda com efieito que não se
autor da projecto. Vá o projecto a uma com- paguem impostos senão os que forem decretados
missão, menos á do orçamento para incluil-o annualmente. . . .
no orçamento, vá á commissão de fazenda para Um Sr. Deputado : — Não manda isto.
examinal-o o dar sobre elle o seu parecer, não
me opponho a isto ; mas opponho-mo a que elle O Sr. Paula Candido : — Não manda que se
seja adiado da maneira porque o meu illustre paguem impostos annualmente?
collega e amigo exige. O Mesmo Sr. Deputado:— Ha impostos que não
O Sr. Paula Candido : — Eu creio que os são decretados annualmente, e que entretanto
nobres deputados que fundamentão o seu pensar se mandão cobrar.
para o adiamento desta discussão no facto do O Sr. Paula Candido :— Pois ó o que eu sus
que a renda publica só provém de impostos, tento ; o que a constituição diz é que os im
fundão esse seu pensar em Um facto menos postos uma vez votados, emquanto não forem
exacto - revogados devem continuar a serem pagos. Ora,
Um Sr. Deputado : — Ninguem disse isto. sc a constituição no art. 171 manda que os im
O Sr. Paula Candido :— O nobro deputado postos que não forem expressamente revogados
disse que a receita resulta sómento do orçamento, continuem a ser pagos, veja o nobre deputado
que tudo que não estiver no orçamento não faz que, se se não fizer menção de um imposto este,
parto da receita. Ora, como as rendas publicas anno, mas esto imposto tiver sido votado o anno
resultão, ou pelo menos podem resultar, tambem passado, e a assembléa positivamente não o re
de verbas que não so achão no orçamento, que vogou, este imposto, embora não esteja no orça
não precisão estar no orçamento para que delias mento, pela mesma constituição deve continuar
venha augmento da mesma renda publica, creio a cobrar-se.
não ser exacto tal principio emittido. O Sr. Ferraz : — Isto é que chamo absurdo.
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 9
O Sr. Paula Candido :— Chama absurdo o art. Se a commissão vir que são ponderosas as
171 da constituição ? razões apresentadas por um deputado de Matto-
O Sr. Ferraz :— Não, a applicação do principio. Gi osso na sessão passada, fará o que fór do mister.
Nem julgo, Sr. presidente, grande autoridade a
- O Sr. Pauca Candido : — Lêamos o tal ab que o nobre deputado citou. Eu pensava, e por
surdo art. 17i I « Todas as contribuições dilectas, isso não queria tocar no projecto, que elle era
ã excepção daqnellas que estiverem applicadas filho da nobre commissão de orçamento, dous
ao juro e amortização 3a divida publica, serão do cujos membros se achão actualmente na casa ;
annualmentc decretidas pela assembléa geral, mas agora o nobro deputado revelou que era
mas continuarao até que se apresentu a sua de- obra filha de pensamento de um senhor que era
rogação ou sejão substituidas por outras. » Logo, deputado por Matto-Grosso. . .
se um imposto foi , lançado no orçamento do O Sr. Wanderlev :— Não estou bem certo, pa
anno passado, e não fõr revogado este anno, rece- me.
embora nao venha no actual orçamento, pelo
art. 171 da constituição ello deve-se cobrar. O Sr. Ferraz : —Entrarei agora na grande
Portanto, eu entendo que so queremos acoro- questão de principios, e V. Ex. terá a bondade
çoar a extracção dos metaos, se os capitaos es de conceder-me um pouco de tempo para este
trangeiros que devem vir para o paiz emprogar-se fim.
nas diversas industrias, precisão contar com Senhores, quando a constituição se decretou
algumas condições favoraveis, fixas e claras, é nós tinhamos impostos creados por differentes leis
necessario que alguma coma fnçamos, e por este o alvarás ; a constituição no art. 171 referia-se
motivo entendo que o projecto deve pissar á a estos impostos, e ertão determinava que elles
segunda discussão. Não me opponho a que com fossem cobrados, emquanto uma lei não dispu-
madureza se reflicta sobre este objecto, o por zesse o contrario; era uma medida meramente
isso se mande a uma commissão. provisoria nesto ponto, a qual devia ser substi
O Sr. Ferraz : — Sr. presidente, vejn-me na tuida por uma lei de impostos. Depois que a
necessidade de tomar alguns minutos a camara constituição foi promulgada, depois que houve a
para responder ao meu honrado amigo deputado primeira lei do orçamento, por consequencia a
pela Bahia. primeira lei de. impostos, esse artigo de que o
O primeiro argumento que o meu nobre amigo nobre deputado tratou, e que ó objecto do pro
apresentou foi o seguinte: « Esta medida foi jecto em discussão, figurou jámais em alguma
lei do orçamento? Figurou' em alguma lei de
apresentada na lei do orçamento passada como impostos? Qual é a lei de impostos que temos ?
artigo additivo, a camara ordenou que todos os E' a ordenação?...
artigos additivos fossem separados da lei do
orçamento, o que formassem pario de projectos Um Sr. Deputado dá um aparto que não ou
espe.ciaes. » Vejamos qual o procedimento da vimos.
camara, qual a origem deste procedimento. O Sr. Ferraz:— O nobro deputado está enga
A camara entendo que materias de tanta im nado, aqui não se trata da renda da minera
portancia como esta não devem passar desaper ção; esta renda é objecto de uma lei novis
cebidas, não devem ser discutidas levemente; a sima. . .
camara deseja que em materia de impostos e des-
pezas se institua um exame como quer a con O Mesmo Sr. Deputado dá um aparte que ainda
stituição, como querem os cstylos, como quer a não ouvimos.
natureza da cousa. Por meio de um artigo ad- O Sr. Ferraz: — Vou ao principio. Eu disse e
iditivo esse grande fim não- se póde obter, o por sustento que o governo não póde cobrar por modo
sso a cmnara mandou separar tudo quanto era algum impostos ou renda para que não esteja
artigo additivo, que não tinha passado pelo ca devidamente autorisado por uma lei de impostos
dinho respectivo, sobro que a commissão de or ou pela lei do orçamento, pois que nós não temos
çamento não tinha dado o seu parecer, sobro que lei de impostos senão a do orçamento. Ahi se
não tinha sido ouvi lo o ministro nem constava diz: « a receita geral do imperio- é orçada em
de proposta para fazerem parte de uma discus tanto, e esta receita será effectuada com o pro-
são em separadu. ducto da renda geral arrecadada dentro do exer
Mas por ventura o pensamento da cumara foi cicio dn presente lei, sob os titulos abaixo de
estabelecer uma regra que não passe na lei dós signados. . . »
impostos, a unica lei de impostos que temos, a Um Sr. Deputado :— Não se podem crear im
revogação de uns e a creação de outros? De certo postos novos ?
aue não; a camara o que quer é que materias
desta ordem passem pelo cadinho do regimento, O Sr. Ferraz:— E quem póde creal-os? A as
sejão examinadas pelas suas commissões, seja sembléa geral por meia de uma lei...
ouvido o ministro respectivo sobre cilas. Eu per O Mesmo Sr. Deputado :— O governo, autori-
guntarei ao nobre deputado qual é o meio mais sados por uma lei particular, o depois classificados
proprio que temos para estabelecer impostos ou no orçamonto.
revogal-os senão a lei do orçamento no capitulo O Sr. Ferraz: — Está enganado, o governo não
respectivo? Decerto que ninguem me contestará tem autoridade para çrear impostos. . .
isto.
Já vê pois o nobre deputado que a razão que % O Mesmo Sr. Deputado :— Não ó o governo, ó
apresentou não póde sor procedente, e que a a camara.
razão que apresentei para o adiamento não póde O Sr. Ferraz: — A camara pódc estabelecer
deixar de merecer a consideração da camara. E' quantas leis de impostos quizer: mas vamos ao
preciso ouvir no ministro respectivo, ó preciso facto; ha alguma lei de impostos em que este
que examinemos profundamente, se se admitte a artigo de ronda esteja classificado?...
expressão, esta materia. Se depois deste exame O Mesmo Sr. Deputado : — Não é esta a questão.
virmos que ó ocioso iniciar esta medida, para
que figurar na nossa collecção mais uma lei que O Sr. Ferraz :— Agora a questão não é esta
nno tem fim algum ? Eu creio, pois, que é pru pois a questão é sobre o projecto.
dente, que é acertado, que procedamos com todo Trouxe o nobre deputado o art. 171 da consti
o tento, mandando este projecto á nobre commis tuição. Argumentão os nobres deputados que,
são de orçamento para attendêl-o na respectiva estabelecida uma lei de impostos directos, em- *
lei. quanto não fór derogada esta lei devem os impos-
TOMO 2. 2
10 SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
tos ser cobrados. Assim, quando esta lei existir, pelo nobre deputado da provincia da Bahia. A
hypothesa que não so da na premente conjunctura resolução que discutimos não está perfeitamente
relativamente ao projecto de que se trata, vale de accordo com a emenda que o i Ilustre depu
o argumento, a sua ipplicação é legitima ; mas tado o Sr. Joaquim José de Oliveira apresentou
quando não existe essa lei, como póde ter legi na sessão do anno passado. Esse nHustro depu
tima applicação o principio dos nobres deputa tado queria isentar a prata, cobre e outros me-
dos ? Mas acerescentãj elles : « e os impostos taes do imposto de mineração; ó isto o que so
indirectos, quando mesmo a assembléa não cs collige da pequena exposição que fez a nobre
tenha decretado annualmente, passão a ser cobra commissão dizendo : « Por julgar util a sua
dos. » Isto ó o que eu disso que era um absurdo adopção, etc. (do imposto de mineração).
no direito constitucional. O principio do governo Ora, o imposto do mineração ó aquelle que
representativo relativamente a esta materia é a recahe sobre a terra cujo dominio directo per
decretacão dos impostos pela assembléa geral. tence á nação; é o que justamente o nobre de
O principio aceito pela nação brazileira vem a putado pela Parahyba chamou renda. Este foi o
ser a decretação animal dos impostos. pensamento do nobre deputado pelo Matto-Grosso,
Nós não temos lei especial de impostos, a unica o Sr. Joaquim José de Oliveira, no entretanto
lei que autorisa o governo para sua cobrança que a nobre commissão o traduzio do uma
é a do orçamento, e desta lei elle não se pódu inanoira que não corresponde á idéa que elle
jámais apartar. Se o governo entender que sem tinha apresentado á consideração da cisa; isen
uma lei póde exigir tal ou tal imposto, o con- tou esses metaes do imposto interno, o que é
tribuinto por maueira alguma deverá ceder a cousa bem difforeote do imposto a que alludia o
seus desejos, é preciso que haja tuna lei ; e qual nobre deputado por Matto-Grosso. Portanto,, esta -
é entre nós essa lei ? A do orçamento. consideração parece bastante para que o pr. jecto
O Sr. Wanderlev :— Que é preciso a votação vá de novo á commissão, afim do apresentar
da assembléa geral não entra em duvida. aquillo que o nobre deputado por Matto-Grosso
na legislatura passada tevo em vistas.
O Sr. Ferraz:— Einquanto, por conseguinte, o Depois, ainda apresento uma duvida que faz
corpo legislativo não decretar uma lei, um im mudar muito a questão. A industria da mine
posto fixo, o nobre deputado não póde de ma ração é uma industria como qualquer outra, of-
neira alguma basear razoavelmente a sua argu ferece provavelmente áquelles que dedicão a cila
mentação. uma renda ; e então, f)or que razão será esta
Vamos á hypothese : qual é a lei que depois industria alliviada do imposto interno que pagão
da constituição estabeleceu o imposto sobre as todas as. outras industrias?
minas do cobre e do prata? Onde, em que legis
lação existo isto? Não a vejo. No capitulo da O Sr. Wanderlev :— Nenhuma paga.
receita eu encontro tudo quanto é renda que O Sr. Bandeira dh Mello : — Se nenhuma paga,
fórma a receita do estado; quer provenha de para que então o projecto ?
proprios nacionnes, quer provenha de alienação O Sr. Wanderlev : — Só paga esta.
do bens, quer provenha dos terrenos mineraes, etc,
tudo está consignado no capitulo especial da lei O Sr. Bandeira de Mello: — Temos ainda a
do orçamento. observar que, no caso de que actualmente não
Mas o nobre deputido pela provincia de Minas, pague, será conveniente que continue a não pagar?
o muito digno Sr. 1° secretario figurou uma hy Não sei porque uma industria que ó cultivada
pothese do governo poder cobrar, por meio de no paiz e offerece uma renda a queai a cultiva
transacções, grandes rendas ; é hypothese incom- deve ser isenta de contribuir para as despezas
prehensivel I Eu o chamei para espee. ficar algum do estado como todas as outras industrias. Esta
caso, trouxe-mo o das apolices da divida publica ; então ficará sem nenhum onus, nenhum tributo
ora na verdade... pesará sobre ella: o porque ha de gozar deste
O Sr. Taques :— Qualquer dessas receitas está favor? Ha deter este privilegio?
no orçamento debaixo do titulo de receita even Portanto, voltando este projecto á commissão ó
tual ? essencial que ella nos mostre a necessidade de
O Sr. Ferraz:— Qual é a receita eventual? alliviar esta industria do imposto interno, nos
mostre as razões do conveniencia publica, que
O Sr. Taques: — Essa de que fallou o Sr. 1° reclamão semelhante isenção. Torno a dizer, se
secretario. a industria da mineração existe, se é cultivada,
O Sr. Ferraz: — A venda do apolices não se é porque, como disse, offerece áquelles que se
póde considerar renda. dedicão a ella um renda, e então justo é que.
contribaão com uma queta desta renda para a'
O Sr. Taques :— Naquella hypothese não. despezas do estado.
O Sr. Ferraz : — Então já vê o nobro depu O Sr. Wanderlev :— As outras pagão na ex
tado que é uma hypothese destituida de funda portação.
mento. O Sr. Bandeira de Mello :—E o Ouro que ficar
Entendo portanto, Sr. presidente, que não se no paiz pagarã algum imposto?
póde tomar o projecto em consideração debaixo
dos fundamentos que os nobres deputados anui Um Sr. Deputado -. — Não. '
apresentárão. A ordenação, que é, segundo alle- O Sr. Bandeira de Mello : —Logo, é um favor,
a-se, a fonte deste imposto sobre a producção o portanto convem que a commissão nos informe
í as minas de prata e cobro, é neste ponto uma ácorca da necessidade da concedel-o.
lei caduca, e não póde por maneira alguma ser
valida u i presente conjunctura, o por conseguinte O Sr. Taques:— Todas as industrias pagão na
o projecto falha nesta parte. Ainda filha em exp rtação. * ,
outra, porquanto no momento actual, quando O Sr Bandeira de Mello: — Ha alguma cujos
tudo converge para o grande principio da expor objectos não são exportados, e paga todavia im
tação livre, seria como que um contrasenso crear posto no paiz sem ser por occasião da expor
um imposto sobre a exportação do prata e cobre, tação.-
producto que não exportamos, nem ainda é Não se devendo pois confundir o imposto- in
objecto de nossa industria. terno de que trata o projecto com a renda dos
O Sr. Bandeira de Mello: — Sr. presi terrenos diamantinos; o devendo tambem distiu-
dente, tenho de votar pelo adiamento proposto guir-se esse imposto interno do imposto lançado
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 11
sobre a exportação, que é pago pelo estrangeiro, O Sr. Sayío Lobato (profundo silencio}:
parece conveniente que a commissão de novo — Sr. presidente, creio que é chegada a occasiao
tome em consideração a materia da resolução de prescindirmos de um debate sobre politica
em questão, para comprehendermos bem o al abstracta, sobre politica geral, que do costume
cance da pi^tecção que se pretende. era sempre o objecto de discussoes em occasião
Chevalier diz que na França, onde o ouro abunda semelhante. Felizmente está passada a quadra em
muito, s ria conveniente que as moedas fossem que o governo do Brazil tinha por unica tarefa
substituidas por papel, entre outras razões, afim acudir á ordem publica ameaçada, a época em
de que as republicas da America Meridional não que erão com isto absorvidos todos os esforços
lançassem sobre a França um imposto, qual ó do governo, os poucos meios de que elle podia
este que se paga na occasião da exportação. Isto dispor ; digo poucos meios de que elle podia dis
demonstra que o objecto de qne traiamos tem re pòr, porque as repetidas revoluções, as agita
lações importantes que devem ser meditadas o ções que nesta o naquella localidade apparecião,
convenientemente apreciadas. impedião o desenvolvimento dos germens da for
Quanto ã questão que aqui se ventilou, se todos tuna publica e minguavão as rendas do paiz, que
os impostos se achão consignados na lei do or erão pactas pelo governo em salvar as institui
çamento, direi a minha opinião. Entendo que a ções fundamentaes combatendo os revolucionarios.
assembléa não tem obrigação de lixai' annunl- Então, Sr. presidente, em semelhantes occasiões
mente as contribuições indirectas (apoiados) ; o o debate versava sempre sobre assumptos de
q"ue ó expresso na constituição é a attribuição politica geral ; os representantes oppnsicionistas,
que lhe cabe do repartir aimualmente a contri alguns dos quaes se firma vão neste partido, que
buição directa, mas acontece que o poder legis queria até por meios revolucionarios alluir as
lativo marca annualmente tambem as contribui nossas instituições politicas, provocando reformas
ções in lirectus ; este é o facto. cardiaes na constituição do imperio, aqui vinhão
Dando -se este facto, a conclusão ó que fòra do faltar larga e vehementemente contra leis feitas
orçamento não so deve considerar existente ne muito discret imento segundo as circumstancias
nhuma contribuição ou imposto. Só ha uma ex do paiz, e praguejar instituições necessarias para
cepção, e é se depois de confeccionada a lei do o bom governo do estado o accommo iadas ao
orçamento passar uma lei lançando um imposto; verdadeiro sentido pratico da mesma constituição
então deverá ser cobrado, por isso que não é pos do imperio ; felizmente. está passula essa quadra;
sivel que aquella o comprehendesse. hoje o bom senso dos brazileiros, a lição salutar
que temos aproveitado das desgraças de povos
Um Sr. Deputado : — Supponha que não ha em circumstancias aliás mais propicias do que
uma lei que mande arrecadar as rendas dos pro as nossas, e que tanto mais se achão adiantados
prios naciouaes, ellas por isso deixarão de ser em civilisação do que nós, tudo tem concorrido
coradai- ? para firmar no espirito dos brazileiros o amor
O Sr. Bandeira de Mello :— Rendas não são a constituição, unica capaz do nos dar os bene
impostos. ficios reaoi que desejamos ; hoj o nem nessa ca
O adiamento pois, Sr. presidente, é necessario mara apparece um íô representante que tenha a
pira que a commissão attenda, considere conve intenção de provocar uma reforma na constituição
nientemente o pensamento do autor do projecto, que nos rego ; o nn-smo fóra desta camara nota-
pensamento que mo parece não foi por ella se sensivel modificação ; e na imprensa, por exem
comprehendido para. que tambem a camara mais plo, esses orgãos que outr'ora prégavão a constl-
esclarecida julgue sê convém ou não alliviar a stituinte concitando paixões turbulentas, esses
industria da mineração de todo e qualquer im orgãos, digo, têm em muito modificado sua lin-
posto. Snagem, hoje so exprimem por um modo muito
Da solução desta questão terá o ouro de ser ex ilTerente. Assim coherentemente tudo mais nos
portado com mais ou menos facilidado do nosso leva a considerar a quadra actual como muito
paiz; donde resulta que a mateili ó mais impor propicia e lisongeira.
tante do que parece, quando ó considerada debaixo A ordem publica está firmada, as rendas pu
deste ponto de vista. Portanto voto pelo adia blicas são florescentes o prometlem muito crescer
ainda ; todos reconhecem que em grande parte ó
mento. isso devido á boa e proba administração do actual
A discussão fica adiada. ministro que preside este ramo de administração
publica (muitos apoiados); a habilidade e zelo
DISCUSSÃO DA RESrOSTA A FALLA DO THRONO fiscal do nobre ministro da fazenda é geralmente
por todos reconhecido e estimado ; mas não basta
, Grnnde numero de Srs. deputados pedem a pa que haja acurada fiscalisação, é sobretudo mister
lavra, e são inesriptos os seus nomes na ordem que haja o que arrecadar, é preciso que os ger
seguinte : mens de prosperidade publica do paiz sejão des
Contra os Sis.: Sayão Lobato, Nebins, Paula envolvidos, e pois cumpre para isso applicar com
Baptista, Figueira de Mello, Araujo Lima, Do esforço todos os meios convenientes : nesta ordem
mingues, Brandão, Pinto de Campos, Jaguaribe e entruo principalmente os melhoramentos mata-
Livrimento; e a favor os Srs.: Euzebio de Quei riaes.
roz, Dutra Rocha, Wanderley, Ferraz, Candido A osse respeito a legislatura passada muito
Borges, Vasconcellos, Aprigio, Kibeiro, Pereira da bem havia comprehendido as mais urgentes e
Silva, Nabuco, Silveira da Motta, Lisboa Serra, palpitantes necessidades do paiz ; ella muito bem
Barboza, Fiuza, Paula Fonseca, Saraiva, Taques, reconheceu que entre os melhoramentos a nro-
Almeida e Albuquerque, Paranaguá, Titára. Cor mover-se no paiz, sobre todos se recommendava
rêa das Neves, Góes Siqueira, Mendes da Costa, a construcção de estradas de ierro. Taes melho
Siqueira Queiroz, Bandeira Duarte e Paula Can ramentos hoje são os indicios demonstrativos da
dido. civilisação de um povo, pois que em verdade
E' lida e apoiada a seguinte emenda ao para- não ha hoje paiz civilisado que as não possua;
grapho ultimo do projecto da resposta á falia do mesmo povos ainda mais atrazados em muitos
respeitos do que o Brazil já possuem semelhantes
throno : melhoramentos, o com elles vão marchando e pro
« Em vez das palavras—a V. M. Imperial — diga- gredindo ás mil maravilhas nesta parte do globo
se — ao governo de V. M. Imperial. — Euzebio de a que pertencemos ; sem fallar nos Estados-Unidos,
Queiroz Coutinho Mattoso Camara.— João Ma a cujos immensos progressos por ora não nos é
noel Pereira da Silva.— Aprígio José de Souza. » dado aspirar, ahi estão as antigas possessões d*
lí SESSÃO EM i DE JUNHO DE 1853
Hespanha; ba annos que a ilha de Cuba, simples garantindo o estado um minimo de interesse que
colonia hespanhola, tem em si estradas de feiro póde chegar até 0 %, e isentando de imposto as
de que tirão tanto lucro os emprezarios, como materias primas e até o carvão de pedia neces
utilidade os habitantes da ilha ; no Chile já foi saria para construir a estrada, e conceden io ainda
inaugurada uma primeira linha importante, o outras consideraveis vantagens, como terrenos,
com grande enthusiasmo se promovem outras. madeiras, etc., etc
Era pois uma necessidade urgentissima, e não Todos esses meios não forão dados ao governo
simplesmente uma grande utilidade no Brazil a por mera formalidade ou pompa vã, foi por muito
construcção de uma estrada de ferro do capaci reflectida deliberação, pelo reconhecimento pro
dade a prestar as immensas vantagens proprias fundo da necessidade desses meios para se obter
de tal melhoramento. Um paiz tão rico de vastas tão grande empreza, e por isso mesmo mais dif-
terras por certo que precisa principalmente de ficil de so reiizar.
meios de facil communicição, especialmente para Assim, Sr. presidente, parecia que tudo concor
o interior, onde ficão as suas melhores terras ria para que as esperanças do paiz fossem do
pela fertilidade miraculosa, riqueza de madeiras, uma vez realizadas ; porquanto o enthusiasmo
benignidade do clima, etc, e onde, a despeito de que essa lei de 26 da Junho pioduzio na popu
todos esses excellentos e preciosos predicados, lação do imperio, enthusiasmo filho do reconheci
quasi que absolutamente falta a população e mento da grando vantagem da empreza da estrada
subsistem desaproveitados os terrenos como um de ferro, e devido principalmente á illustrada dis
verdadeiro thesouro inutil, tão somente porque cussão que houve a esse repeito e aos bem dedu
os portos do littoral estão muito ao lenge e os zidos artigos qua sobre a maioria em differentes
meios de communicaçãi são pessimos ou ne joinaes forão publicados ; esse enthusiasmo da
nhuns. população, digo, afiançava mesmo dentro do paiz
Demais, uma circumstancia appareceu que, a consideraveis capitaes para serem empregados
ser possivel, ainda mais necessaria tornou a in- nessa empreza , e fóra do imperio não menos
troducção deste melhoramento. Reflro-me, Sr. pre lisongeira era a disposição de acreditados capi
sidente, ao flagello da febre amarella que desgra talistas.
çadamente se desenvolveu em todo o littoral do Na Inglaterra havia a melhor disposição de se
Brazil. Sem duvida alguma que para so acudir levantar todos os capitaes necessarios para a
á importantissima necessidade de se attrahir es realisação dessa estrada; banqueiros de primeira
trangeiros para povoar essas terras incultas do ordem, banqueiros de fortuna colossal e de um
interior que promettem tantas vantagen, era de credito immensn, desdo logo se propuzerão a
mister que eSicazinente se combatesse esse mal, entrar nessa empreza. Parecia que com taes cir-
que, como uma verdadeira sentinella sinistra, se cumstancias devia-se contar com toda certeza um
collocou ás portas do Brazil para arredar o es resultado seguro.
trangeiro. Isto ao menos em parte se consegue Accresce ainda, - Sr. presidente, que a lei de
abrindo-se uma communicação facil e rapida que 26 do Junho, além das sabi is disposições a res
facilite a introduecão no interior, onde, a par de peito dos amplos e eflicazes meios concedidos
todas as vantagens, da abundancia de terras e ao governo para a realisação dessa estrada, tinha
sua fertilidade, concorre uin elinia benigno, e tal attendido a certa difficuldade da situação, e tratou
que se póde dizer sem exageração que é o mais de livrar o governo de um tropeço ou difficul
propicio que existe no mundo, como reconhecem dade qim podia derivar-so de certa circumstancia
judiciosos viajantes que visitárão o centro das que so dava com a projectada estrada.
provincias de Minis e S. Paulo. Porquanto, senhores, anteriormente , quando
Tambem a legislatura passada, como muito bem ainda não se tinha seriamente attentado no paiz
o governo assinalou na falia de abertura da pre pira os melhoramentos desta ordem, que nin
sente sessão, foi solicita em attender a essa cla guem cuidava de promover-lhes a introducção,
morosa necessidade. Ella providenciou a esse ou porque não sendo aqui ainda bom conhecidos
respeito mediante a lei de 20 de Junho. Por não podião ser devidamente apreciados, ou por-
essa lei se determinou a construcção de uma quq recuava-se adiante das grandes difficuldades
estrada de ferro que , partindo do municipio que sempre apresentão emprezas de tal magni
neutro, subisse a Serra do M ir e se dirigisse por tude, appareceu um estrangeiro, o Dr. Thomaz
duas linhas ás provincias de Minas o S. Paulo. Cochrane, que tendo uma ioiéa fixa de realisar
O corpo legislativo foi muito bem inspirado na uma estrada de ferro do Brazil, se dirigio ao
decretação dessa lei, por isso que acertadamente governo eia que então servia xo Sr. Andrada
reconheceu, e positivamente decretou as unicas Machado, e propóz se a fazer uma que, pai tindo
linhas de estradas de ferro que por emquanto do municipio neutro, subisso a Serra do Mar e
podião ser construidas no Brazil com grande pro fosse até Rezende, 0u por ahi algures.
veito. Attendeu para o territorio mais povoado, O fallccido Sr. Andrada Machado, illustrado
mais cultivado, que apresenta 'maior numero de como era, seguramente teve repugnancia de re-
producções, que precisão de meios faceis.do trans pellir in limine o projecto de uma empreza em
porte ; attendeu que por esse modo se abria esse que não podia desconhecer toda a conveniencia
interior tão rico, tão esperançoso; e, finalmente, e vantagem para o Brazil, e por outro lado pa
attendeu que era esse o verdadeiro principio de rece que tambem, reconhecendo então a impos
um systema completo de construcções de estradas sibilidade de sua realisação, não recebeu essa
de ferro em grande escala no Brazil, que todas proposta coin o cuidado do um homem que a teria
ellas naturalmente se devião dirigir ao centro de fazer executar. E' minha conjectura que em
principal, ao centro administrativo, commercial e taes circumst incias o Sr. Andrada Machado disso
politico do imperie, — esta capital. comsigo : « Ao menos fica assighalado que no
Então, Sr. presidente, o corpo legislativo, assim meu ministerio acolhi um homem que intentava
bem inspirado, reconhecendo todas as vantagens introduzir no paiz um semelhante melhoramento ;
que traria a realisação dessa empreza, tratou de que mesmo um acto do meu governo decretou a
prover sobro ella com meios amplos, isto é, com construcção de um caminho de ferro. »
os unr os meios efficazes de se levar a effeito tão E assim, sem mais exame o Sr. Andrada Ma
magnifico e necessario projecto. Toda essa lei de chado tratou com o Sr. Cochrane, concedendo-lhe
26 de Junho de 1852 e um composto dessas provi um privilegio por 70 ou 80 annos para o con
dencias que por muito nece.-sarias farão decretadas. strucção dessa estrada de ferro que, partindo dó
Ahi autorisou-se ao governo a contratar com uma .municipio neutro, subisse a Serra do Mar e se
ou mais companhias a construcção dessa estrada, dirigjsse para o lado de S. Paulo até as imme-
concedendo grandes vantagens, como por exemplo diaçoes da villa de Rezende ou Barra Mansa.
íLe Likary
Tht Uaiveisity
of Texas
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 .13
Conseguido este acto, que foi praticado pelo go ria um magistrado que, comprehendendo as dis
verno sem maior reflexão, o Dr. Cechraue, con posições da lei e sendo verdadeiro executor delias,
tinuando com a tenacidade que llie ó caracte condemjjasse a Cochrane a desempenhar as clau
ristica, porque não se póde negar que elle se sulas onerosas da um contracto illegal, nullo, e
tem mostrado homem "acerrimo no proposito de que não pode produzir eff.dto.
construir uma estrada de feiro, veio a incorrer, Sustentar-sa pois que osse contracto é legal
por transgressão de um prazo fixo para dar somente quanto ás obrigações do governo ó es-
começo á execução da empreza, em uma multa tabelecor-se um absurdo contrario ao principio
que pagou, obtendo de um outro ministeri i em fundamental que preside ã nossa legislação a
que estava o Sr. Manoel Alves Branco a reno respeito da fazenda publica, sempre considerada
vação do contracto ; e por fim ainda obteve do e garantida como parto privilegiada. Como que
Sr. viscondo de MonfAlegre, creio que em 1819, reis que o governo, que é representante da parte
a renovação desse mesmo contracto. publica, esteja por si só ligado a um contracto
Quanto aos actos dos Srs. Alves Branco e vjeioso, illegal, nullo, e que o particular, a outra
viscondo de MonfAlegre, é necessario que eu parte contractante, não possa, como de facto não
falle com franqueza. Esses Srs. ministros tambem póde, ser compellida ao cumprimento do mesmo
não entrarão n'um exame aprofundado do ne contracto ?
gocio; como acharão o contracto feito pelo Taes forão as verdadeiras razoas que levárão
Sr. Andrada Machado, com facilidade o forão re a camara a votar o art. 3° da lei. Por este ar
novando. v tigo o qua está fóra da questão ó que o contracto
Entretanto, Sr. presidente, o que ha de ver de Cocnrane era nullo , insubsistente, então,
dade nisso ó que o governo illegalmente contra querendo a lei providenciar efficazmente a rea
a lei expressa celebrou esse contracto com Tho- lização de uma empreza de tanta magnitude, não
maz Coenrane. O governo não tinha a faculdade só armou o governo de todos os meios neces
ou autorisação para conceder um privilegio por sarios para levar a effeito tal empreza, como
80 annos para a construcção do uma estrada de declarando sem vigor esse antigo contracto afas
ferro; a lei expressa, positiva e terminantemente tava talvez uma difficuldade que poderia a ella
isso vedava. so oppõr, pois que talvez não conviesse ao go
Porque a lei diz: «Ao inventor ou aperfeiçoa- verno contractar com Cochrane, podia não ser
dor de uma industria o governo poderá conce elle o honioin mais proprio para tomar seme
der privilegio até 20 annos, o além de :Í0 annos lhante empreza, o por isso a lei de 'M de Junho
só por neto legislativo. » Note-so, senhores, que desde logo o póz fóra; não foi elle julgado in
n lei diz: a ao inventor ou aperfeiçoador de uma capaz, mas foi posto na linha de qualquer cou-
industria. Ao introductor so um premio pódo currente que por ventura apparecesse.
conceder. » Era nessas circumslancias qua foi votada a lei
E' verdade que na pratica esse premio so tem de 26 de Junho, era quando a espectação pu
convertido em privilegio; mas tambem ó certo blica estava atteuta á espera da reaiisação de
que, ainda quando esse privilegio seja por poucos uma lei tão previdente, lei qua parecia dever
annos, é de mister um acto do corpo legislativo. ser tão efficaz que o Sr. ministro do imperio'
Foi o qne aconteceu ainda o anno passudo a achou-so encarregado de executal-a ; portanto, era
respeito dos privilegios para esses carros cha da esperar que apparecesse logo todo o neces
mados Andorinhas, para a conservação de cou sario empenho bem dirigido para se conseguir
ros, ctc. tão grande fim.
Portanto, emquanto o espirito e a letra da lei Entretanto, senhores, é força que reconheça
valerem alguma cousa, emquanto não so mos mos, a lei de 26 le Junho não foi executida,
trar que a omnipotencia é um predicado essen e até parece que o procedimento do Sr. ministro
cial ao governo, 6 claro qua esto não podia foi todo dirigido em um sentido de estorvar em
conceder um privilegio jjor 80 annos; pir isso qualquer tempo a execução desta lei I Senhores, .
que não estava nas suas attribuições, a lei es- se de proposito se quizesse embaraçar, impos
cripta o vedava, o espirito delia ainda mais ; e sibilitar o grande fim da lai, não podia so acer
portanto como sustentar-se que o privilegio an tar co n o meio mais proficuo do que aquelle
teriormente concedido pelo governo a Coclirane que foi empregado pelo nobre ministroI Prin
por espaço de 80 annos para a construcção de cipiou S. Ex. por levantar os direitos de Cochrane,
uma estrada de ferro era e fosse valido, que tal reconhecendo que elle íinha direitos especiaesem
contracto tinha sido legitimamente celebrado? virtude do seu contracto para execução de uma
Repito, Sr. presidente, emquanto a omnipotencia estrada de forro, que pelo art. ;í° da lei só se
não fór predicado caracteristico do governo, e tinhío rejeitado as clausulas que unieamonta
.emquanto a letra e espirito da lei valerem, a forão propostas á approvação da assembiéa gorai,
conce-são de privilegio por 80 annos feita so isto é, a garantia do minimo do interesso o a
mente pelo governo era e será nulla, não podia isenção de certos direitos.
o nem póda produzir effeito. Entretant i, cumpro notaivque foi o mesmo no
Foi assim, senhores, que esta cámara, que o bre ministro que na discussão do senado disse
corpo legislativo, tomando conhecimento desso que reconhecia que a camara doi deputados
contracto o verificando a sua illegalidade, mui tinha reprovado as duas clausulas —garantia do
claramente o julgou insubsistente. Tal é a dis midimo do interesse e privilegio por 80 annos.
posição do art. 0° da lei de 2ó do Junho de — Ora, se esta intelligencia que então deu o
1852 : nobre ministro no sou discurso prevalecesse, o
« O governo restituirá a Thomaz Cochrane a contracto do Cochrane desapparecia, nadi ficava
quantia de 1:0003 , o o respectivo juro do 6 % de semelhante empreza. Desde que a base sub
ao anno que. pagou de multa pelo filta le cum stancial o essencial nesta negocio, o privilegio
primento do centracto para a construcção da es por 80 annos, era reprovada, nada ficava. Mas
trada de feiro, que foi reconhecido sem vigor. » o nobre ministro, não obstante aquella sua de
Ficou reconhecido sem vigor porque faltava ao claração, sustentou o reconhecimento dos direitos
governo attribuição, autorisação, direito de fazer de Cochrane, manifestando que elle tinha direitos
um semelhante contracto. ospeciaes para a reaiisação dá empreza, suppri-
Em taes circumstancias, Sr. presidente, se a midas tão somente as clausulas — garantia do
Cochrane não fizesse conta desempenhar as clau- minimo do interesso, e isenção de certos di
sulas onerosas desse contracto, não po lia a isso reitos.
ser compellido, porque o governo do paiz não • Depois o nobre ministro consultou o conselho
havh de achar um tribunal judiciario, não acha de estado, que em sessão plena, não sei se una
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
nimemente, deu o seu voto a esto respeito. Em do seu anterior contracto, porque uma estrada
verdade a autoridade do conselho de estado ó que se dirigisse do Rio de Janeiro até Rezende
tamanha que devo impor a uma opinião tão hu ou suas immediações não era bastante, jámais
milde como é a do individuo que tem a honra podia ser com proveito emprehon lida, era mister
de se dirigir á camara. Eu cerraria os olhos ao ntten li r-so a muitas circumstanci is, que com
que mo dieta a rnzão, e esse tal ou qual conhe effeito forão attendidas na lei de 26 de Junho.
cimento que tenho de algumas noções de direito, No entanto o nobre ministro disse que Cochrane
e jur.iria nas palavras do conselho do estado ; tinha direitos especiaos, que elle devia ser pre
mas quando a verdade chega á luz da evidencia, ferido a outros concurrentes, - mesmo quanto á
não é possivel quó haja autoridade para entra- estrada do que trata a lei de 20 de Junho.
balançal-a. Se a lei que o veda é tão precisa e E nesta disposição de espirito o que fez o
tão terminante, so não é sustentavel o principio nobre ministro? Abrio concurrencia para se co
que tudo quanto pratica o governo é ipso facto nhecer quem melhores condições apresentava para
valioso, porque fui praticado, então devo encarar a realisação di sta empreza. Senhores, o principio
o voto do conselho do estado do um modo muito da concurrencia para obras publicas ó segura
diffeiente, devo arredar o absurdo, a estranheza mente um principio muito necessario, é o grande
que causaria semelhante voto ; e pois como devo meio de se conhecer melhor, de se preferir o
entendel-o? Devo tomal-o como um conselho dado mais vantajoso; mas por ventura o nobre mi
ao governo, visto que Cochrane por tres vezes nistro foi somente levado pela excellencia do
tem-s0 dirigido ao governo do paiz, tendo tra principio da concurrencia ? Não, e eu passo a
tado com elle, tendo a palavra do governo, tendo demonstrar. O Sr. ministro contractou com Mornay
em virtude deste contracto, que por sua parto sobre uma importante linha de ferro, e não abrio
acreditava que era bom e v dinso, despendido di concurrencia; tratou com o Sr. Irenói Evange
nheiro, gastado muito tempo o passadas ; estando lista de Souza por esse mesmo tempo ein que so
o governo depois revestido, em virtude da lei agitava a execução da lei de 26 de Junho, e para
de 26 de Junho, de todas as faculdades neces esse contracto tambem não abrio concurrencia,
sarias para contractar a construecão dessa es tratou o negocio lã no seu gabinete.
trada de ferro, devia ser coherente, e moralmente Este contra to sobre um caminho de ferro que
era obrigado a ratificar com Cochrane tudo deve ligar a estrala de Mauá ao Parahyba e
quanto sem jurisdicção tinha feito anterior depois chegar até o Parahybuna, que o nobre
mente. ministro celebrou com o Sr. Irenêo, coustitue um
Assim se vê a differença que vai entre acon verdadeiro e forte emb iraço par i a execução da
selhar uma conveniencia, um meio de sahir da lei do 26 de Junho, uma muito clara infracção
difliculdadr , um plano a seguir, e a questão do feita a essa lei, e quasi que diria um verdadeiro
ostricto direito; pelo lado do estricto direito, attentado entra o futuro do paiz, contra a sua
torno a dizer, o negocio esta liquido, esta posto prosperidade, porque, se semelhante contracto
em luz da evidencia. O que é fóra do questão pudesse ser traduzido em factos, era morte certa
é que pelo estricto direito >ó assiste a Cochrane do einprezas semelhantes, de que tanto dependo
o direito do pedir indemnisações. o engrandecimento do paiz o a sua prosperi
A lei do 20 de Junho tanto reconheceu isto, dade.
que pelo art. manda-lhe restituir a multa O nobre ministro entendia que Cochrane tinha
que elle tinha pago e os respectivos juros; e direitos especiaes ; e está visto que se tinha taes
quanto ao mais, elle como parte interessada pe direitos excluia toda a concurrencia, que se tor
disse as - indemnisações a que se julgass ' com nava esta em tal caso uma verdadeira farça, uina
direito. Com effoito, tendo despendido dinheiro, burla. A priori hem so reconheco que é um
gastado tempo e fadigas por causa do contracto verdadeiro coutrasenso o estabelecer-se concur
que tinha celebrado com o governo, tinha direito rencia entre um individue privilegiado e outros
a ser indemnizado de todas as perdas e damnos. som o mesmo privilegio; e Como se póde dar
E, pois, tomo a consulta do conselho de estado concurroucia quando os direitos do uin já ex
no ponto em qne devo tomal-a, prestando a cluem a pretencão dos outros?I Como fazer figu
devida homenagem o reverencia ú autoridade de rar na mesma linha individnes que se achão em
cada um de seus membros; o consdho do es- differentes planos? Não via o nobre ministro
estado conheceu a necessidade moral em que es que esta concurrencia era verdadeira burla? Que
tava o governo do ser coherente comsigo mesmo, aquelles qne se apresentassem tendo jã certeza
de sustentar a sua palavra, de revalidar o que de não poderem ser preferidos, terião de propór
tinha "feito sem poderes, mas não tratou do no- condições impos-iveis, visto que taes condições
gocio "do estricto direito. tã i somente erão recebidas para marcar a me
Mas que illação se tirou daqui? Note-so que dida de concessões a um rival mais avautajado,
esta illação foi o principio regulador para o a quem é natural hostilisar, procurando-se até
nobre ministro. Tirou-se a illação de que Cochrane por osso meio lançal-o fóra da empreza á força
tinha direitos especiaes, por virtude do sou an de tornal-a gravosa ? I
tigo contracto, a ter a empresa da estrada de Está visto que a concurrencia em taes circum-
ferro, excluidas as clausulas da garantia de um stancias era uma f irça, u na verdadeira burla.
minimo de interesses pelo thesouro e isenção A posteriori o facto correspondeu á previsão, não
de certos direitos, e com obrigação do sujeitar- houve resultado algum. Quando aberto este cer-
se a outras clausulas onerosas além das pre- tamo da concurrencia apparecêrão as melhores
scriptas na lei do 2G de Junho qne por ventura propostas, propostas tão cxcellentes, qne por de
parecesse no Sr. ministro impór lhe ; e quando masiadamente vantajosas se tornavão suspeitas,
a isso não quizesse se prestar, teria então o di porque neste negocio não é a vantagem apparente,
reito de executar a estrada do seu antigo con mas a verdade, a realidade que se deve attender.
tracto, Megundo o prescripto nelle, sem as duas O Sr. Ottoni, adversario politico nosso, porém
clausulas que não tiverão a approvação do corpo homem, como commerciante, do um credito, de
legislativo 1 1 uma reputação acima de toda a suspeita. . .
Ora, a estrada contractada com Cochrane não O Sr. Ceuz Machado: — Apoiado.
é a da lei de 26 de Junho, é cousa muito dif-
ferente ; é tal que sendo eu, como é publico e O Sr. Sayão Lobato :— . . uni dos negociantes
notorio, um dos individues quo tivo a ho.ira desta praça que muito respeito e muita estima
de concorrer com o meu voto e com as minhas merece (apoiados), o Sr. Ottoni apresentou-se
palavras para a lei de 26 de Junho, não apoia offe recendo as condições mais vantajosas ; dispen
ria a estrada projectada por Cochrane, constante sava o minimo do interesse garantido pelo the
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 15
souro. No entretanto o nobre ministro vio-se dirige a capitalistas inglezes ; estes capitalistas,
peado, não póde nom attender r. esta proposta.; com a circunispocção propria da gravidade do
e porque? Porque não se podia dar concur- caracter inglez, entendem se com o nosso minis
rencia. tro -mi Londres, inquirem-o sobre o contracto de
Depus, senhores, que correu o panno sobre Cochrane, e o nosso ministro por um lado, como
essa farça de concurrencia, o que se seguio ? O bom brazileiro, reconhecendo a importancia e
nobre ministro disse a Cochrane : « Realisai a necessidade mesmo de um melhoramento desta
estrada do vosso antigo contracto.» E' celebre, ordem, e por outro lado acreditando em não
senhores, que o nobfo ministro, no proposito menos de 8 decretos imperiaes que davãn este
de executar a lei de 2ó de Junho, tomasse se privilegio a Cochrane, assegurou lhes ou deixou-
melhante resolução, porque a estrada do antigo Ihes a persuasão de que Cochrane tinha um bom
contracto de Cochrane não ó a mesma da lei de 26 direito ao contracto, o então, senhores organi-
de Junho, nem quanto á direcção, nem quanto sou-se um directorio para osta empresa a cuja
a sua importancia. Entretanto tão eminaranliado testa se achava o Sr. Hoppe, homem de uma
andava o nobre ministro nesse tempo que pif- fortuna immensa, de uma probidade reconhecida,
mente acreditava que a estrada de Cochrane era homem cujo nome por si só seria bastante para
a mesma da lei de 30 do Junho, e a demonstra garantir qualquer grande empresa ; havia tambem
ção está em um acto do nobre ministro, isto é, os Srs. Kinnard e C°, grande fabricante de ferro
nu condição 4a do contracto feito com Irenêo fornecedor das compariias das indias, de varias
Evangelista de Souza para uma estrada de ferro estradas de ferro da B dgica e mesmo da Ingla
de Petropolis á Parahyba, etc. Nessa condição terra, e assim o privilegio de Cochrane achou-se a
diz o nobre ministro o seguinte : « Durantu o abrigo de homens que dispuuháo dos meios os
tempo do privilegio a ninguem mais será permittido mais efficazes.
construir caminhos de ferro dentro da distancia Já se vê que Cochrane não cedia este privi
de õ legu is tanto do um como de outro lado, legio de amor e graça, naturalmentê tratou com
salvo por accordo vcom a companhia. Esia pro- esses capitilistas inglezes, o obteria um grande
hibição porém não impede a execução da proje premio, aliás devido á suas fadigas e trabalhos
ctada estrada do ferro contractada com Thomas empregados neste negocio.
Cochrane, ou que venha...» E' publico e notorio mais, Sr. presidente, que
Para a intelligencia dos senhores que não co osto estado em que se póz a empresa de Co
nhecem a disposição deste terreno, a que se re chrane na Inglaterra foi communicado muito cir-
fere esta condição, devo observar que o contracto cumstanciadamente ao nosso governo pelo scudigno
feito com o Sr. Irenêo Evangelista do Souza é ministro em Londres, o qual, dando toda a im
pai a a coustrncção de uma linha de ferro do Pe portancia a este negocio, acompanhou de perto,
tropolis para as bandas de Minas, por conse n até pessoalmente entrou muito na organisação
guinte pira. o lado do norte; o nobre ministro desse directorio de capitalistas capazes de exe
suppõe, portanto, o dá como certo nesta sua cutar essa estrada de ferro Sim, o Sr. Sergio
condição •!s, que a estrada do Cochrane se dirigia Teixeira de Macedo fjz ver ao nosso governo que
ara a banda do norte, quando o seu contracto devia contar com cipitais b istantes e com a
muito preciso; a linha de Cochrane era do melhor disposição para a construcçào desta linha
municipio do Rio de Janeiro a subir á serra, em de ferro. E então digo eu ao nobre ministro :
direcção a Rezende, para o lado de S. Paulo, se Cochrane, que nestas circumstancias não era
por conseguinte para o sul. Assim, entendo eu mais o u"mein leviano, o jnedico que saltava
que o nobre ministro piamente acreditava que a da allopathia á honoeopaihia, o sujeito que
estrada de Cochi ano era a mesmissa da loi de andava um pouco levianamente vagando por varias
26 de Junho; mas equivocou-se, e par não ser provincias do Brazil, se elle tinha encontrado
a mesma é que eu noto com estranheza que o capitilistas inglezes taes que outros melhores o
nobre ministro executando a lei de 26 de Junho, governo, não podia achar para realisar estr es
depois desta fantastica concurrencia, deliberasse trala, como não celebrastes com Cochrane este
conceder a Cochrane o realisar o seu antigo contracto, vós que lhe reconhecestes em primeiro
contracto. lugar os seus direitos especiaes ?
Isto, senhores, é muito notavel; nem estava E, senhores, reconhecidos esses direitos espo
nas disposições da lei de 20 de Junho, nem por ei ies de Cochrane na empresa, elle devo têl a ;
certo cabia nas forças de homem algum executar excepto em dous casos ; ou se voluntariamente
aquelle contracto em taes circumstancias. Se, pois, renunciar com a acquiescencia da outra parte
realmente o nobre ministro entendia que a Co contractante, ou se a empresa por alguma cir-
chrane assistião direitos especiaes a osta empresa, cumstancia de forfa maior não puder ser levadi
certamente que devia habilital-o a attingir o fim a effeito; fóra destes casos não. Mas vós, go
Íiositivo e verdadeiro do realisar a estrada de verno do Brazil, que depois de tudo isto, por
erro, o não trazel-o em embaraços e por meio facto proprio, prescindistes do caminho errado
de argucias e chicanas despil-o de taes direitos ; em _ que andaveis, e remettestes ao vosso agente
o que pois o nobre ministro devia fazer, era sé- em Londres este negocio autorisando-o a con
riamente contractar com Cochrane a construcção tractar a einpreza dentro das condições da lei
do caminho de feiro de que trata a lei de 26 de de 2ó de Junho, como podereis agora justificar
Junho. o vosso procedimento a respeito de Cochrane?
E tanto mais, sonhores, que hoje é facto conhe Cochrano dirá: «Tinha tomado ao sério o con
cido, ninguem o ignora, que a empresa de Co tracto .feito com o governo do Brazd para o fim
chrane por esse tempo estava muito bem figu p isitivo ne executar n estrada de ferro que con
rada na Inglaterra. Cochrane, com a tenacidade tratei ; erão-nio necessarias condições que a- lei
e diligencia que sempre empregou para realisar havia estabelecido, vós m'as negastes, puzeste-me
essu idéa fixa que tinha de construir uma estrala em um circulo de ferro, e agora por vosso motu
de ferro, levou o seu contracto á Inglaterra re proprio mandais pelo vosso agente em Londres
conhecido pelo consul inglez. contractar co n outros essa obra com as mesmas
Checando alli, fez regisíral-o competentemente, condições que eu pedia.» Tal é o negocio: o Sr.
e, segundo a lei ingleza, o effeito do tal registro ministro não póde desaggravar a causa da justiça,
efa embaraçar a incorporação de outra qualquer que neste caso tanto soflro na pessoa de um
companhia para a mesma empresa emquanto não Cochrane como na .pessoa do maior magnate ou
fosse demonstrada a nullidade do privilegio re do maior sabio do mundo.
gistrado. *" Note-se,"sephores, que o pobre ministro quando
Cochrane, armado deste documento valioso, se por, esse mesmo tempo audava, coaio disse, em
16 SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
maranhado em executar a seu modo a lei do 26 linhas projectadas, opportunid ide das empresiS
de Junho, estava bem certo do que se passava e. a responsabilidade ôo thesouro »
em Lendres pelis informações circumstanciadas Note-se : « em quaeiquer outros pontos do im
do nosso agu,, te diplomatico ; elle sabia que não perio poderá o governo igualmente contractar
era possivel contar com capitães inglezes para com companhias sobro as mesmas bases decla
semelhante empresa som que largamente se fizesse radas no artigo antecedente, etc.,u porque dentro
uso das cooees-ões da lei de 20 de Junho. Não dos pontos da comprehensão da estrada decretada
sustentava o Sr. Sergio Teixeira de Macedo que pela loi de 20 de Junho deve necessariamente
sem a garantia do minimo interesso não era pos ser lançada essa estr ida que com pleno conhe
sivel aehar-se dinheiro em Londres para realisar cimento e peio modo mais positivo foi deliberad i
esta estrada de ferro ? o decretada na dita lei ; ao nobre ministro en
E' senhores, ilesdo que o nobre ministro não carregado de executai a fielmente não assiste o
teve duvida alguma em conceder essa garantia direito de alterar o plano fixado para a mesma
de 5 °/° á empresa Mornay, o regal a a esta estra la decretada, tanto mais que nenhum i con
empri sa de muito superior vantagem seria levar veniencia publica ha em fazer-lhe essa alteração.
aos animos os mais desprevenidos a desconfiança Dado porém que a obra do contracto com o
na mesma empresa ; e portanto desde logo devia Sr. Irenêo não se complicasse com a da lei do
não contar com os capitaes de homens que têm 20 de Junho, ainda assim deveria, s gun lo a
tido a reserva e discrição em se empenharem lei, o respectivo contracto ser submetti lo á
em empresas assim mal figuradas. Dirião elles : approvação do corpo legislativo, afim de resolver
« Se o governo do Brazil, que tem tanta neces sobre a conveniencia das linhas projectadas; á
sidade desta estrada de ferro, recusa fazer uso opportunidade das empresas e á responsabilidade
das faculdades da lei de '-'i3 do Junho, é sem do tliesnuro.
duvida porque desconfia de tal empresa: sim, Senhores, áindi neste caso, que por méra hy-
pelo conhecimento pratico que tem das cousas pothese figuro, só depois que o corpo legisla
do seu paiz não quer gravir o thesouro com se tivo tivesse decidido (conforme a lei) era que
melhante responsabilidade, e por certo que não realmente poderia sor considerado valioso o per
seremos nós inglezes, que estamos a 2,000 leguas feito, emfim, capaz de ser ex. cutado o tal con
de distancia, que não sabemos como as cousas tracto. Aqui cabe fazer uma observação á camara
marchão no Brazil, os que havemos arriscar os antes de concluir a minha demontração.
nossos capitaes sem ao menos a garantia do Eni que so fundou o Sr. niinistio para dar
minimo interesse.» esse seu contracto como acto consumm ido, firme
O Sr. ministro amesquinhou o alto objecto da o valioso, emfim, inteiramente a coberto do qual
lei de 20 de Junho, não comprehendeu, perdoe quer contingencia? No seu -relatorio não nos
qne lhe diga, toda a importa. icia desta estrada, declara com grande satisfação que até já se acha
porque do contrario reconheceria que as condi incorporada a respectiva companhia com est itu-
ções estabelecidas na lei tinhão por fim realisar t'.s já npprovados por decreto imperial ? No do
essa glande necessidade para o Brazil, e que cumento soleinno da falia do thiono não vem
não erão demasiadas, nem dispensaveis. assignalado esse contracto como um facto sub
sistente que infallivelmeute terá de dar todos os
O nobre ministro foi convertido á verdadeira resnlt idos, não só do que se espera propriamen
intelligencia da lei de 26 du Junho pelo ministro te delle, como tambem o do servir de incentivo
plenipotenci irio do Brazil em Londres, o Sr. a outras empresas ? Emfim, este negocio, segun
Sergio Teixeira de Macedo ; foi este diplomata do ó exposto pelo Sr. ministro, é negocio feito
que lhe fez ver que era necessario seriamente . e perfeito, está decidido.
tratar desse negocio; que não era, para assim Senhores, isto faz-me recordar do que refere
dizer, com embaçadellas quo se attingiria a tão Cicero narrando o esta lo do aviltamento a que
grando fim; e, senhores, deve-so recenhecer a tinha chegado o senado de Roma no tempo de
procedencia da minha demonstração a esse res Cesar, Escreve Cicero : « Muitas vezos acontece
peito; já disse que, como de proposito, em vez que eu receba cartas desse ou daquelle rei da
de ?o procurar dar execução á lei do 20 de Ásia agradecendo favores conferidos por algum
Junho, se tinha procurado impossibilitar essa Sanatus-consultus em que o meu nomo estava
execução, já com a tal farçi dos concursos, que assignado, quando eu rrão linha o menor co
nada concluião, e já por meio de>se contracto, nhecimento de tal objecto. » O caso era que
que por esse mesmo tempo foi assignado pelo Cesar lançava o seu firman o assiguava com os
iiobre ministro o pelo Sr. Irenêo Evangelista do nomes daquelles senadores que primeiro lhe
Souza, esse contracto celebrado contra a lei, occorrião.
"todo dirigido a obstar a execução d.i lei de 20 Mas aqui a sem ceremonia ainda é maior,
de Junho, e que não se póde ao certo explicar não é a um terceiro, e com as apparcheias sal
senão como ujn signal revelador da convicção vas, é ao mesmo corpo legislativo, a quem polo
em que estava o nobre ministro de que essa lei modo mais categorico se faz a intimação da
não seria executada, porque não era possivel que validado de u n contracto cuja final decisão lhe
passasse pela cabeça de um homem do senso o pertence I I Esta sua approvação é cousa que
celebrar algum contracto contando-se com a exe nenhuma realidade póde ter, delia so prescinde
cução da lei de 20 do Junho de 1852. como cou%a nnlla I 1 E, na verdade, nisto ha
Vou demonstrar esse ponto : coherencia, pois já passou o principio do que o
Primeiramente o contiacti feito com o Sr. governo podia conceder privilegios por 80 ou
Irenêi Evangelista do Souza é contrario á mesma itil nnnos contra o expresso na lei ; por conse
lei de 20 de Junho de 185'?, dri cuja execução guinte está firmada a doutrina do que tudo quanto
aliás tratava o nobre ministro ; eu o provo. faz o governo está bem feito, e é firme e va
O nobre ministro fundou-se para fazer este lioso.
contracto no art. 2° daquella lei; oiz este artigo V.dtemos á minha demonstração : o contracto
o seguinte: «Se apparecerem companhias que não é legal, porque o nobre ministro por elle
so proponhão a construir caminhos de ferro em altera o plano da lei de 26 do Junho, subor
quae.squer outras pontos ilo imperio, poderá o dina a estrada de ferro desza lei positivamente
governo igualmente contractar com ellas sobro as deliberada pelo corpo legislativo com toda dis
mesmas bases declaradas no artigo antecedente. crição, com todo o conhecimento de causa ; e na
Neste caso, porém, serio os respectivos contra verd ide, senhores, é esta a unica estrada de
ctos submettidos á approvação do corpo legisla ferro que póde por emquanto no paiz ser execu
tivo, afim de resolver sobre a conveniencia das tada com perfeita utilidade. Demonstrarei que o
SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853 17
nobre ministro infringio a lei com as disposições de questão, que esse contracto foi illegalmente
do mesmo contracto. feito, porque foi celebrado em pontos que podião
Eis a. condição quarta do contracto celebrado ser conprehendidos p«la estr ida de que trata a
pelo governo com o" Sr. irenêo Evangelista de lei de 20 de Junho ; bastava isto para o nobre mi
Sunza : « Durante o tempo do privilegio a nin nistro recuar de fazer o contracto e assim a(,tentar
guem mais será permittido construir caminhos contra o plano da estrada de 26 de Junho ; bas
de ferro dentro da distancia de cinco leguas, tava isto para o nobre ministro não fazer se
tanto de um lado como de outro, salvo por melhante contracto, que não era reclamado por
accordo com a companhia. Esta prohibição principio nenhum, que seria prejudicialissimo
porém não impede a execução da projectada es aos que realmente se aventurassem a executal-o.
trada de ferro contractada com Thomaz Cochrane, Felizmente não ha de sel-o, porque não ha de
ou que venha a contractar-se com outrem, a haver quem seriamente se proponha a executar
partir desia córte até á villa da Parahyba, fican semelhante cousa.
do nas proximidades do rio deste nome livre a Mas eu prescindo da ilegalidade com que foi
zona entre as duas empresas. » feito esse contracto; se attenderuios com toda a
Ora, senhores, a estrada de ferro de 26 "de reflexão para elle, devemos conhecer ainia muito
Junho não só devia pela sua linha do norte maior alcance, alcance tal que chega ao ponto
chegar a villa da Parahyba dii SuL, crfmo trans- de firmar o descredito do nosso governo e dar
pór todo esse municipio e penetrar pelo de a mais triste idéa do nosso paiz. Contrista, com
Cantagallo até tocar na provincia de Minas punge o coraçao de todo o brazileiro ver como
Geraos nesse mesmo lugar, Porto Novo do Cu negocios de tanta magnitude são tratados I Com
nha, designado como o ponto final da estrada punge ver a leviandade, a precipitação que se
do contracto de que me occupo, ou por ahi põe nas cousas que por sua natureza exigem
algures ; assevero, Sr. presidente, que era esse maior pondeiaçãol
o verdadeiro espirito daquelles qup concebêrão Senhores, está na lembrança de todos, e ainda
o projecto desta estrada, que o propuzerão e ha pouco commemorei que o 1° contracto que fez
sustentarão nesta camara. o Sr. Andrada Machado para a construcção de
E não é patente, Sr. presidente, que o nobre uma estrada de ferro, se não tem justificação, tem
ministro impõe um limito a que não é d ido uma explicação. Naquelle tempo as attenções de
transpór-se oim a estrada d i lei de 20 de Junho? todos estavão tão afastadas deste assumpto que
Não deve ella recuar e respeitar a zena reser os homens de fé mais robusta não se atrevião a
vada ao caminho concedido ao Sr. irenêo, que conceber esperanças da realisação de semelhante
aliás se dirige ao mesmo ponto a que devia melhoramento; por isso deve-se revelar que um
chegar aquella estrada ? I homem ill ustrado como o Sr. Andrada Machado,
Eis a razão porque eu digo que o nobre mi não querendo repellir uma idéa que elle reco
nistro subordinou á linha do seu contracto a ver nhecia digna de todo o acolhimento, tivesse a
dadeira e unica linha de estrada de ferro sensata, fraqueza de acolhel-a sem fructo, e foi assim que
tão terminantiMnento decretada pela lei de 26 de sem maior attenção celebrou e improvisou esse
Junho; e está visto que se na execução desta contracto. Era elle um documento que deixava
lei o empresario quizer, como lhe convém, pro do seu ministerio de que uma vez apparecida a
longar a sua linha de ferio do norte pelo mu idéa elle não a repellio, bem que por outro lado
nicipio de Cantagallo até o Porto Velho, ou outro não reflectio como cumpria, porque devia conhe
lugar azado, não o pódo fazer, porque esse con cer que nas circunstancias em que se achava
tracto feiio polo Sr. ministro quando tinha entro então o paiz não erão realisaveis empresas se
mãos a execução da mesma lei de 20, de Junho melhantes, nem jámais o serião por tal maneira.
dispõe que... (Lê.) Mas chegada a Época em que os espiritos forão
De sorte que esta empreza do contracto do Sr. chamados a encarar, a comprehender esta ques
írenêo é uma empreza tal que merece, pelo seu tão de estradas de ferro, em que pessoas de um
vulto e importancia, fazer face á estrada de ferro merecimento extraordinario, de muito patriotismo,
da lei de 26 de Junho, contrabalançal-a por tal tomárão a nobre tarefa de promover taes melho
modo que se estabelece uma zona neutra entre ramentos, já por artigos habilmente escriptos na
as duas. imprensa, já por informações dadas pessoalmente
Ainda mais, Sr. presidente, no art. 9» in fine, a este ou áquelle representante, a este ou ãquelle
o nobre ministro dispõe : « . . . Poderá tambem ministro; emfim, depois que se discutio no par
construir linhas transversaes de ferro, de ma lamento a lei de 26 de Junho, que se folheárão,
deira ou de qualquer outra especie, para facili que se estudárão os livros proprios, que se fez
tar o transito do generos e passageiros para a uma idéa exacta da importancia de uma tal ma-,
linha principal, sendo applicaveis a estes cami teiia, como ella é o sempre foi seriamente tra
nhos de fevro os favores da condição 5.* » tada na Europa, onde é tão conhecida e praticada,
Em verdade, construidi uma linha de ferro, con onde todo o terreno está nivellado, que se conheco
vém que os. empresarios possão fazer todos os palmo a palmo, ondo ha homens profissionaes,
rainaes que quizerem para chamar a concurren- abalisados, praticos experimentados, e no emtanto
cia, para levar a serventia da linha á maior es a concessão de uma linha de ferro ó negocio tão
cala possivel. Assim, essa condição era bem ponderoso que não se improvisa, que necessaria
posta; mas não notou o nobre ministro que essa mente sempre traz um cortejo de informações, de
condição, que tambem e principalmente era de inqueritos, de exames; depois de tudo isto, digo,
vida á empreza da lei de 20 de Junho, ficava um contracto como aquelle que foi celebrado é para
em parte coarctada com a disposição di sua compungir o coração do verdadeiro brazileiro,
condição do contracto? Desde que se fez recuar porque demonstra que não ha lição que sirva,
a linha de -ferro de 20 de Junho a certa distan que não ha paradeiro para essa desenvoltura de
cia, e reservou-se uma zona que não pidia ser se praticarem a esmo os actos mais graves, com
transposta, está claro que a principal linha de a facilidade do trovista que improvisa uma quadrai
26 de Junho não poderá ter ramal algum para Em que se fundou o- nobre ministro para ce
toda essa parte reservada, e assim fica privada lebrar semelhante contracto? Que conhecimento
de ter por esse lado outros caminhos comple tem desse terreno sobre o qual deve seguir a
mentares. Reconheça-se pois que ha verdadeira linha projectada? Quaes são os dados que tem?
alteração na estrada da lei de 26 de Junho com Que orçamento precedeu? Em que se fundou o
o contracto do Sr. irenêo. nobre ministro para considerar exequivel e van
Mas, senhores, nisto não está a minha prin tajosa a linha concedida? E quando concedida,
cipal objecção; eu reconheço, para mim é fora Sr. presidente? quando todo o tempo era pouco,
tomo 9. 3
18 SESSÃO EM 1 DE JUNHO DE 1853
era pouca toda a reflexão para bom executar a no uso de sua razão, ou não sendo induzido a
lei de 20 de JunhoI Foi nessas circumstancias erro. -
que o nobre ministro entendeu que lho convinha Allega-se, porém, que ha sempro uma vanta
complicar a execução da lei de 20 do Junho com gem, porque essa linha do contracto do Sr. Ire
esse contracto I I nêo abrevia ; é uma linha recta que abre com
Mas, senhores, não se póde conceber que esse municação directa da provincia de Minas Geraes
contracto fosse seriamente emprehendilo senão com a córte, quando pela linha de 26 de Junho
guando estivesse provado e assentado que era ha maior extenȋo a vencer. Senhores, nisto ha
inexequivel a lei de 20 de Junho, que ella não engano ; primeiramente não descubro vantagem
podia ser executada, porquanto executada ella, nenhuma nessa brevidade da linha ; quando se
como lovantar um concurrente para essa linha trata do construir um meio de communicação
de 26 de Junho ? Como não considerar no capital entro dous pontos extremos que por si tem bas
enormo que deve ser despendido nessa linha de 26 tante importancia pelo lado industrioso e popu
de Junho para ter uma retribuição como convém loso, o caminho mais breve é o melhor, porque
que tenha com o transporte do pessoal e da pro- esses dous pontos extremos assegurão uma ser
ducção do paiz? Como então autorisar mais esta ventia bastante para a - linha e portanto um
linha, que a poder ter serventia iria desviar da rendimento certo a empresa ; mas aqui quaes
estrada de 2(3 do Junho parte da concurrencia são os dous pontos que determinem a preferen
do pessoal o carga? '\ cia pela brevidade ? Nem a linha vem á córte,
A' vista disto não tenho razão de asseverar vem a Mauá, que ó um lugarejo que nenhumas
que um contracto assim tão levianamente cele proporções tom.
brado sorvo ató pira desconceituar o governo do Mas conceda-se que vem á córte ; qual ó o
paiz, afastar aquellos que confiados na prospera outro ponto extremo ? Toca na provincia de
face que apresenta o imperio querem empregar os Minas em um lugir em que só 4, 5, ou 6 fa
seus capitaes em melhoramentos delle ? Pois não zendas participão da linha de ferro além de uma
é para fazer recuar a homens reflectidos, tão unica estrada de communicação actual. Quando
graves como são os ingbizes, assim como em uma estrada destas chega a uma fronteira do
geral todos aquelles que pretendem empregar estrangeiro, ha uma grande differença, ha toda
parte de sua fortuna, o que a querem bem em a certeza que, se já não existe grande povoa
pregada a consideração de que tão levianamente ção, esta logo se formará, porque est v linha
nu Brazil se decidem negocios desta ordem? Que divisoria que ha entre nações differentes traz a
autoridade póde ter um governo que no assumpto necessidade de uma estação, sempre provocada
o mais grave o importante se conduz por til pelos regulamentos fiscaes, e pelos regulamentos
maneira ? E' desto modo que o nobre ministro de policia, etc. Mas aqui entre as provincias do
entende qne devemos inspirar confiança aos es Rio e de Minas que separação existe? E uma linha
trangeiros que dispoem de capitaes para os attra- imaginaria que separa uma provincia da outra,
hir ao nosso paiz ? • e nada importa em verdade que a estrada lá
chegue ou fique áquem.
Eu entendo, Sr., presidente, como já disse, que Porém, senhores, tal brevidade não se dá,
o contracto celebrado com o Sr. Irenóo não podia porque com as taes baldeações, com as taes in
ser concebido senão na hypothese de ser irrea- terrupções de Petropolis á raiz da serra, da raiz
lisavel a estrada da lei do 2G de Junho ; fóra da serra ao porto de Mauá, e a ultima viagem
disto esse contracto não passaria de uma mera em vapores como são todos esses que tomos,
especulação, que poderia com fructo ser tentada, necessariamente importa uma demora tres vezes
visto o enthusiasmo que tinha causado a dis superior á que por ventura pudosso occasionar
cussão sobre estradas do ferro, considerada a grando esse circuito da lei de 26 de Junho.
anxiedade que o publico de todas as classes Mas osso circuito da estrada de 20 do Junho
mostrava por semelhante melhoramento. Em taes ó um dos predicados que mais a recommenda ;
circumstancias era boa a especulação, especulação é esse circuito que faz com que a estrada seja
que devia dar resultado, porque as acções emit- do grande prestimo e serventia. E' elle que
tidas na praça devião ser compradas ; mas quanto absorve todas as communicaçõs quantas se dão
ao exito da empreza... isto para depois. de Minas para o Rio de Janeiro ; é elle que faz
Sendo realisavel a linha de 26 de Junho, seria com que a estrada de 20 de Juuho percorra os
mente não se podia tratar com o Sr. Irenêo , por terrenos mais povoados e productores do Rio
quanto, ralisada essa linha de 20 de Junho, de Janeiro ; com o que desde logo com toda^ a
teremos uma estrada de ferro que seguidamente segurança a empresa tem com certeza milhões
se dirige á córte, ao municipio neutro, que li de mercadorias a transportar.
gará portanto este centro commercial, adminis Entretanto, note-se, Sr. presidente, que o nobre
trativo e politico do imperio com o interior. ministro não hesitou, nas circumstancias em que
Ora, franqueado ao publico este moio rapido so achava, de, por um lado, como que aban
de communicação directa, não interrompida com donar a execução da lei de 20 de Junho, e por
a córte, ó acreditavel que pessoas e cousas outro de celebrar osse contracto com o Sr. Irenêo
que tivessem de ser transportadas para a córte Evangelista, contracto que para ser sensato pro-
deixassem de se aproveitar desta linha que lhes suppõo a impossibilidade de execução da lei de
assegura conducção rapida, e preferissem essa 20 de Junho; e por isso parece que o nobre mi
outra linha até Petropolis, onde terá do haver nistro tão contento ficou com a celebração dosse
uma baldeação de cargas o pessois para carros contracto que entendeu dever do uma vez aca
ou cavallos de aluguel, descer do Petropolis a bar com a lei do >-ti de Junho. « E' a lei de 26
serra da Estrella, vir a Maná para soffrer 2a de Junho que póde fazer mal á empreza mimosa
baldeaçao nas locomotivas, e no porto de Mauá do Sr. Irenêo? Acabe-se com ella.»
3» baldeação em barcos de vapor ? I E' possivel O nobre ministro tanto tomou ao sério esse
que alguem preferisso todos esses retardamen contracto fantasiado com o Sr. Ironêo, que quiz
tos e baldeações ? implantar na lei de 20 do Junho novas con
Senhores, é fóra do questão, entre uma linha dições. Pelo sou edital, em que abre nova con
rapida e não interrompida e outra com taes currencia, disse : « Vinde vós todos que quereis
interrupções, com taes baldeações, não ha que executar a empreza de estradas de ferro da lei
hesitar ; por consequencia emprehonder seme de 20 de Junho, vinde vós todos apresentar vossas
lhante empresa, dada a execução da lei de 26 propostas ao governo, na certeza de que não
de Junho, era uma verdadeira estultice, era tereis do governo garantia do minimo de inte
correr a uma perda certa, o que ninguem faz resses, porque o governo (isto disse o nobre mi
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 19
nistro comsigo) ja fez um contracto com o Candido, Jaguaribe, Pereira da Silva, Aprigio,
Sr. Irenêo Evangelista, em que não foi neces Wilkens, Ribeiro, sconego Leal, Rodrigues Silva,
sario garantir ominúmo de interesses; vinde vós Floury, Dutra Rocha, Viriato, Sayão Lobato
todos que quereis empregar vossos capitaes nessa Junior, Mendes da Costa, Horta, Pimenta Ma
grande empreza, na certeza de que, no fim de galhães, Barbosa da Cunha, Luiz Araujo, José
90 annos, essos capitaes deixarao de ser vossos, Ascenço, Lindolpho, Octaviano, Rocha, Ferraz,
essa estrada passara para o estado com todos os Theophilo, Domingues Silva, Belfort, Gomes Ri
seus acccssorios.» E sinceramente pareceu ao nobre beiro, Nebias, Paula Santos, Euzebio, Almoida
ministro que era cousa possivel que pela primeira e Albuquerque, Bretas, barão do Maroim, Taqnes,
vez no Brazil (o mesmo em qualquer outra parte Araujo Lima, Henriques, Paranaguá, Assis Ro
do mundo) se emprehendesso uma semelhante obra cha, Angelo Custodio, Saraiva , Paes Barreto,
sem que o governo nada garantisse, com a con Pacca Seara, Fiusa, Teixeira de Macedo, Zacha-
dição de que os que puzessem peito a uma se rias, Silverio e Brandão.
melhante empreza perderião seus capitaes no fim Comparecêrão, depois da chamada, os Srs. Fer
do 90 annos, não podendo ganhar senão um limi nandes ViSira, Mendes do Almeida, Silveira da
tado juro, porque a lei de 2j de Junho auto- Motta, Casado, Monteiro de Barros, Figueira de
risi ao governo a rever a tarifa e diminuir o Mello, Candido Borges, Góos Siqueira, padre
preço dbs passaportes. Acaso, senhores, no Brazil, Campos Rego Barros, Gouvêa, Paula Fonseca,
onde tanto dão os capitaes, principalmente no Ferreira de Abreu, Pedreira e Magalhães Castro.
interior, nas povoações mais florescentes, podia Havendo numero legal, o Sr. presidente abre
ser jãmais possivel que se achasse quem qui- a sessão ás dez horas e quarenta minutos.
zesse dispor de seus capitaes com as condições
do edital do Sr. ministro?II Lida, e approvada, a acta da sessão antece
E que ingratidão, Sr. presidente I Quando se dente, o Sr. 1° secretario menciona o seguinte
reconhece que a estrada de ferro será o instru
mento poderoso de activar e dar movimento a EXPEDIENTE
todas as industrias do paiz, e por isso mesmo Um officio do Sr. ministro da justiça remet-
terá de elevar o preço dos capitaes, que lucrarão tendo o decreto do 25 de Maio do corrente anno,
com esse movimento extraordinario de todas as pelo qual ha por bem S. M. Imperial aposentar
industrias, os autores desse instrumento pode o conselheiro Bernardo de Souza Franco, juiz
roso, os provocadores desse desenvolvimento dos de direito do eivei da comarca da capital da
germens de prosperidade publica, erão condem- provincia do Pará, em um lugar do desembar
nados pelo nobre ministro a provavel prejuizo
durante 90 annos e a perderem seus capitaes no gador da relação do Rio do Janeiro, com o or-
fim desse prazo I denado aunual da 1:100$. — A' commissão do
Era com esse edital que o nobre ministro queria pensões e ordenados.
executar sériamente a lei de 26 de Junho, e Dous officios, um do Sr. Bello, participando
nesta diligencia andou elle até que foi levado a não ter comparecido ás sessões por incommodado.
comprehender a verdade do disposto na lei de Outro, do Sr. Mendes do Almoida. participando
26 de Junho pelo seu agente em Londres, pelo não tér comparecido á sessão de hontem por ter
digno ministro plenipotenciario do Brazil naquella fallecido um seu primõ. — Fica a camara intei
capital o Sr. Sergio Teixeira de Macedo, a quem rada.
nesta occasião folgo de tributar louvores pela Um requerimento do Sebastião Fernandes Guer
parte activa e tão patriotica que tem tomado em ra, subdito portuguez, soldado da 4a companhia
prover que se possa levar a effeito a lei de 26 do regimento de cavallaria estacionado na corte,
do Junho. pedindo ser naturalisado cidadão brazileiro.—A'
E tambem digo, em conclusão, ao nobre mi commissão de poderes.
nistro que se em verdade foi por movimento Outro do 1° cadeto e 2° sargonto do exercito
espontaneo seu que se julgou suspeito e incapaz Angelo Antonio Cornelio do Souza Gralha, pe
de executar a lei de 26 de Junho, deu por certo, dindo que so npprove a pensão annual de 200$
por esse modo, uma demonstração sincera do que lhe fòra concedida em 1839, por ter sido
seu arrependimento ; mas, so a inspiração veio gravemente ferido no combate do Rio Pardo em
de outra parte, a essa outra parte devemos os 1838, e que ainda não teve andamento, e que
nossos agradecimentos. se lho conte esta pensão desde a dati da con
Tenho concluido. cessão, para se não nullificar o seu effeito.—A'
O Sr. Barbosa : — Justificou completamente o commissão de pensões e ordenados.
acto do governo. (Muitos apoiados e não apoiados.^ São approvados os seguintes pareceres :
O Sr. Dutra Rocha : — E discutio a resposta s Foi presente á commissão do marinha e
á falia do throno somente com a questão da es guerra o requerimento do tenente-coronel Igna
trada de ferro. cio Joaquim Pitombo, pedindo ser reintegrado
Muitos Srs. Deputados : — Discutio muito bem. na 1» linha do oxercito, contando-se-lhe sua an
A discussão fica adiada pela hora. tiguidade.
Designa-se a ordem do dia, e levanta-se a « Para que a commissão possa avaliar a jus
sessão ás 2 V, horas da tarde. tiça que por ventura tenha o supplicante no
podido, ó de parecer que seja ouvido o governo
a respeito.
« Paço da camara dos deputados, em 1° do
Sessão em 8 de Junho Junho de 1853.—/. A. de Miranda.—Sebastião do
Rego. »
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO « A's coinmissões reunidas de marinha e guerra,
e de fazenda, foi presente um officio do go
Scmmario. —Expediente.—Ordem do dia. Discus verno cobrindo uma representação da assembléa
são do voto de graças. Discursos dos Srs. Eu- legislativa provincial do Rio Grande do Sul,
zébio de Queiroz, Gonçalves Martins e Ne- em a qual pede ella não só que fique a cargo
bias. dos poderes supremos o costeio dos pharóes '
existentes na Lagoa dos Patos, como igualmente
A's 10 horas, feita a chamada, acharão-so pre que á custa dos cofres geraes se levante mais
sentes os Srs. deputados Maciel Monteiro, Paula uma no lugar denominado Itapoar.
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
a São as commissSes de parecer, que para com censuras talvez acres contra a marcha da
melhor poderem resolver, se peção informações administração publica.
ao governo, Nem ao menos conheço uma razão de utili
« Paço da camara dos deputados, em 31 de dade pratica que justifique essa especie de nher-
Miio de l8'J,i.—A. C. Seára.—João Duarte Lisboa ração dos principios mais treviaes da civilidade.
Serra.—J. A. de Miranda.—Sebastião do Rego. » O fim que a camara tem, e que se propõe,
quando faz inserir n'um voto de graças uma
O Sr. Magalhães o Lislro s — Sr. presi expressão de censura, descenfiança ou mesmo
dente, quando pedi a palavra contra o adia duvida sobre o acerto da administração, não póde
mento que se propoz nesta casa para regressar ser senão crear um conflicto com o ministerio,
á respectiva commissão o projecto em que se provocar uma mudança de gabinete iApoiados.)
roconnecia o privilegio do fóro aos'juizes de di Mas se é esto o fim que a camara s» propõe,
reito, eu disse que não achava o projecto in entendo qnc ella o póde proeurar em qualquer
completo pela razão de não comprehender elle outra occasião com a mesma eflicacia.
os crimes politicos, .porque estes crimes tambem E' verdade, Sr. presidente, que no voto do
são individuaes ; e citei para exemplo o crime graças a solemnidade da occasiao presta hercu
do sedicção que sendo um crime politico entra leas dimensões a qualquer signal de reprovação,
tambem na classe dos individuaes ; julguei por desconfiinça ou mesmo duvida, o constitue um
tanto o projecto completo nesta parte, e nem verdedeiro duello de morto oflerecido pela ca
podia deixar de o fazer, porque entendo e nin mara ao ministerio ; mas tambem é certo que a
guem póde contestar, que todo o crime politico é camara, sendo como é pela constituição o pelo
individual. seu regimento a unica reguladora da ordem e
Vejo porém o contrario no Jornal do Commercio marcha de seus debates, não se acha inhibida do
e nisto não póde deixar de haver falta do ta- chamar qnetidianamente a terreiro toda'* aquellas
chygrapho, porque leio no meu discurso contra- questões em que a divergencia de suas opiniões
dicções tão palpaveis que entendi dever fazer das do miuisterio a autorisa para concluir com
estas reflexões, declarando que protestei não cor a manifestação de sua reprovação e censura,
rigir discursos, seja o successo qual fór. manifestando-as em termos tão francos, energi
Rogo, portanto, aos Srs. tachygraphos que cos e mesmo duros, que a energia t dureza da
sejão mais um pouco cuidadosos em attender-me, expressão compenso o que se pede na solemni
lembrando-se de que nãq revejo os meus dis dade da occasião. Logo, se a camara, em outro
cursos ; sei que exprimo-me muitas vezes rapi qualquer dia, póde censurar us actos do minis
damente, e por isso desculpo aos Srs. tachy terio com a mesma certeza do obter o seu fim,
graphos. Foi para fazer este rectificação que entendo que não ha razão alguma solida que
pedi a palavra- justifique esse estylo parlamentar.
O Sr. Angelo Custodio : — Desejava Se porém exprimo esta opinião, não acredite
saber se existe sobre a mesa um parecer que a camara que eu tenha o proposito de pedir-lhe
tem por fim conceder licença a Francisco Pedro que, abindonando seus antigos estylos, ella
Gorjão, empregado de fazenda na provincia do adopte desde já uma innovação neste sentido.
Pará, para ir tratar de sua saude a Europa, c Certamente a occasião seria mal escolhida, o
so me é licito pelo regimento da casa pedir que meu pensamento mal comprehendido e as minhas
seja dado para ordem do dia. Se acaso existir palavras mal interpretadas; o meu proposito não
e V. Ex. acquiescer ao meu pedido, ficarei sa o esse ; desejo apenas consignar estas minhas
bendo que não infringi o regimento, e que devo idéas, que aliás não são novas, para que a ca
agradecer a V. Ex. a bondade com que acolheu mara reconsiderando-as em occasião opportuna,
a minha supplica. se desvie de uma pratica pouco fundada em
razão.
O Sr. Presidente : —Existe sobre a mesa um No 2° anno em que tive a hoara de oceupar
parecer em que se concede licença- ao empre uma destas cadeiras, a camara distinguiome com
gado na thesourarii do Paiá para ir tratar de a escolha do meu nome (e aind i com esta idéa
sua saude ã Europa, e será dado para ordem mo desvaneço) para membro relator da commissão
do dia opportunamente. do voto de graças; eu então senti, eu apalpei
as dificuldades e inconvenientes praticos de.-.se
ORDEM DO DIA estylo ; mas a escolha que fez do mim a ca
mara e a dos meus minto illustres collegas "da
RESPOSTA A FALLA DO THRONO commissão, era por tal maneira significativa,
impunha-nos tão honrosa responsabilidade, qne
Continua a discussão do projecto de resposta á não seria airoso declinai a. Aceitei pois tédas as
falia do throno. consequencias de tal nomeação, e ainda hoje
O Sr. Presidente : —Tem a palavra o Sr. Eu me não arrependo, mas formei logo o proposito
sebio de Queiroz. (Movimento geral de attenção.) de aproveitar a prjmeira occasião em que en
tiasse em discussão sobro o voto de graças para
O Sr. Eusébio d© Queiroz : —A Camara consignar este protesto; nunca de então em
me permittirá que antes de entrar propriamente diante so me oflereceu 'occasião, salvo na po
na materia eu me aproveite da ocasião para fazer sição do ministro, e nessa pqsiçãn a camara con
um pequeno protesto. cebe quão pouco delicado seria aventar idéas
Na minha opinião um voto de graças não é semolhantes. (Apoiados.) E-ta é a primeira oc
mais do que a manifestação dos sentimentos de casião que' so me offerece ; entendi do meu dever
gratidão da camara por occasião da abertura da aproveital-a, ainda que não julgue opportuna
assembléa geral, uma resposta de agradecimento para pedir a camara uma innovação desde já.
ás palavras com que o throno costuma saudar Faço pois esta declaração como uum simples
a primeira reunião dos representantes da na protesto, que tom apenas por fim consignar o
ção. meu pensamento, pedir á camara que em oc
Este simples enunciado baste, Sr. presidente, casião opportuna . tomando om consideração
para fazer sobresahir a impropriedade desses es- estas idéas, procure afastar dos votos de graças
tylos parlamentares que consignão no voto de um estylo que me parece pouco fundado em
graças um juizo critico sobre a marcha da ad razão.
ministração, e que assim produzem não poucas Procurarei entrar na materia.
teres essa estranha mescla dos primeiros pro- O nobre deputado pela provincia do Rio de
taslos da gratidão e lealdade de uma camara J moiro que encetou a discussão não combateu
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 21
o voto de graças; não censurou mesmo a poli" assim, em vez de dizer—ao governo de V. M.I.
tici d i administração; polo contririo, reconheceu — ligi se—a V. M. I.
expressa e explicitamente que o esta lo prospero Di facto, aceitamos a suppiessão da palavra—
das nossas finanças ora em grande pirte devido governo—sem outra razão que a do simples con
á a Iministração proba e zelosa do Sr. ministro veniencia de linguagem. Neste sentido se poz a
da fazenda (muitos apoiados) ; elle não dirigio limoo o voto de graças, neste sentido se publicou.
aos outros membros do gabinete censura alguma, Advertindo porém a commissão que na falia do
com excepção do Sr. ministro do imperio ; miis throno esse mes no , periodo, embora começasse
a este mesmo circuinsereveu-a unica e simples por fallar nos sentimentos do coração do impera
mente a questão das estradas de ferro. dor, concluia dizendo « conto que auxiliareis
O Sr. ministro do imperio me disse hontom meu governo, etc, » reconheceu a commissão que
que era seu proposito oceupar-sa especialment i a suppiessão da palavra—governo,—que aliás se
de^sa discussão; que elle se propunha responder achava na falia, poderia ser mal interpretada,
ás dilferentes arguições qjo lho forão dirigidas como exprimindo um pensamento que a commissão
peloTiobre deputado, meu illustre amigo, que não teve, e nem podia ter, pois seria ridiculo
encetou a discussão. promotter ao imperador auxilios que se não refe
A camara concebera perfeitamente que sendo rissem no seu governo; o imperador está sem
até agora só esse o ponto de discussão aven pre acima de quaesquer discussões e promessas
tada, eu mo acho em uma situação um pouco de apoio, pois com relação a elle o apoio é
difficil, lembrei-mo me<mo de desistir da pala um dever gorai de lealdade, e equivalia á pro
vra, mas o grande numero de oradores iu- messa de cumprir um rigoroso dever de todo
scriptos me poria fóra do combate se eu adoptasse o brazileiro. Tal pensamento seria improprio;
esse expediente ; assim, permuta a camara que a questão era do puro pliraseado, e mais nada.
me limite por agora a algumas observações ge- Ha quem queira ver um procedimento opposi-
raes, e que entretanté podem ter applicação ao cionista nas expressões relitivas a alguns topicos
objecto que nos oceupa ; depois poder me-hei especiaes," porque a commissão não as redigio
prevalecer do direito que mo dá o regimento do modo a approvar essas medidas annunciadas.
para responder, se por ventura o correr los deba Sr. presidente, a razão desse proceder é mui
tes assim o exigir. clara: segundo me parece, em uma discussão
Primeiro que tudo peço a camara licença para de voto de graçis não se trata de decidir por
fazer uma observação sobre o genuino sentido ventura se todos os actos do governo forão bem
em que foi redigido o votp de graças. O meu ou mal pensados ; não se trata de votar uma
proposito, issim como o dos distinctos membros approvação a medidas especiaes, e sim de approvar
da commissão, foi que ridigisse este voto de graças ou reprovar a marcha da administração consi-
em sentido francamente ministerial. . . der ida em geral (apoiados), porque ó muito pos
sivel reprovar-se um acto especial do governo,
O Sr. Aprioio: —Apoiado. approvando-se entretanto a sua politica geral
O Sr. Eusebio de Queinoz: — ...foi o pensa (muitos apoiados), e vice-versa approvar um acto
mento dos membros da commissão expressar uma especial do governo repiovando. ehtretauto sua
clara approvação á politica do governo, e debaixo politica.
deste ponto de vista, ou não enteado o valor Não seria mesmo proprio da camara approvar
das palavras ou é bem expressivo o voto. Pois ou reprovar medidas administrativas em um voto
quando a camara reconheco que a piz e tran de graças, dep as de uma discussão de politica
quilidade de que temos gozado é uma recom geral ; seria querer sorprender o juizo da camara ;
pensa concedida não só ao amor e lealdade da e tal não podia ser, e estou habilitado para
nação as instituições que jurou, mas unida á affiiinar que não era a intenção do governo,
politica justa e moderada do governo póde por que consignou esses factos para dar conta de
ventura duvidar-se do espirito em que foi o sua existencia, attenta sua importancia, e não
voto redigido? Ha maior adhesão que reconhecer para provocar uma intempestiva approvação. A
não só a justiça e moderação na politica do commissão, pois, concordando com o governo na
governo, como attribuir em parte a essa jus importancia das materias e no modo de encaral-as,
tiça e moderação a paz e tranquilidade pu absteve-so de approvar ou reprovar, pois nao
blica? (Apoiados.) Ou não entendo a significa era esse o lugar proprio. (Muito bem I muito
ção das palavras, ou esse pensamento ó de adhesão. bem .')
('Apoiados.) Explicado o sentido francamente ministerial
do voto de graças, é claro que aquelles senhores
A camara ainda mais declira que confia na que' entendem dever manifestar a sua reprovação
duruçã) desse immenso beneficio; isto é, olla ã politica do ministerio achão-se na restricta
está persuadida que com essa politica o governo obrigação de apresentarem emendas no sentido
não só tem concorrido para a paz e tranqui de sua opinião, iMuitos apoiados.) Uma camara,
lidade de que gozamos, como ainda nos afiança Sr. presidente, qne enceta sua vida parlamentar
fazei -a duradoura; ella vai adiante, e confia no por meio de um conflicto com o gabinete, ainda
consequente desenvolvimento dos germens de ri quando ella mal tem tiJo tempo de folhear os
queza e prosperidade nacional. Que mais póde relatorios dos ministros, quando para fazel-o essa
desejar uni governo do que ver classificar sua camara contenta-se com uma discussão de politica
politica do justa e moderada, e de que proim-tte geral, que abrangendo tantas, tao diversas e
firmar sobre bases solidas e duradouras a paz, tão importantes materias não póde deixar de
e de que promelto desenvolver os. germens da resentir-so de sua generalidade (apoiados), quando
riqueza e prosperidade nacional ? (Apoiados .) ella manifesta um tal açodamento que para con-
O ultimo periodo do voto de graças deu lugar demnar a politica do ministerio aproveita a pri
ao ofierecimento do uma emenda, que teve por meira occasião e a mais soljmno om que se
fim restituir uma palavra que se achava no dirige ao throuo, essa camara deve seguramente
projecto de resposta, e que havia sido suppri- fundar-se em fictos da maior gravidade e da mais
mida no momento em que se mandou passar inconcussa prova. (Numerosos apoiados. Muito
a limpo. E' o caso: como esse periodo começa bem( muito bem.')
por fallar dos sentimentos do coração d e S. M. I., Eu entendo, Sr. presidente, que para autorisar
appareceu uma reflexão que julgámos, e ainda um tal procedimento não basta allegar que o
creio que é muito ajuizada. Disse se—pirece mais ministerio procedeu mal nesta ou naquella me
delicado que neste periodo tu lo se refira" á au dida, quando aliás elln tevo um fim justo et}ue
gusta personagem, de cujos sentimentos se trata ; merece o assentimento da camara ; não basta
22 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
allegar que a administração teve um ou outro uma camara antiga para julgar um ministeria
desvio, se este consistio apenas na escolha menos nr-vo, somos uma camara nova que tem de jul
acertada dos meios de realisar um pensamento do gar um ministerio antigo, ministerio cujos actos
utilidade incontestavel. Para combater esses erros são conhecidos em todo o paiz , a respeito do
esses devios, a cimara tem nos debates especiaes, cujos actos o paiz tem tido occasião de mani
nos requerimentos e interpellações, tem finalmente festar o seu pensamento.
nas suas attribuições, nos eslylos parlamenta Eu vejo que o illustrado chefe do gabinete
res, muitos o diversos meios de os corrigir, de actual, que metade de seus membros fazião parte
os censurar, e do obrigar o governo a não repe- da administração do 29 de Setembro cie 1848 ;
til-es. Antes mesmo de os condemnar a camara essa administração dissolveu uma camara do de
deve provocar ns explicações do governo. (Apoia putados, foi consultar á opinião da nação nas
dos.) Quantas vezes no silencio do gabinete, suas fontes primordiaes, e a nação reunida nas
examinando nós um acto da administração, pen assembléas paroehiaes, representada nos collo-
samos que ella não está de accordo com a jus giis eleitoraes, mandou a esta casa represen
tiça, entretanto que o ministro teve presente tantes que prestavão á politica desse ministerio
uma somma de documentos e do informações que uma adhesão tão decidida, tão Jeil, tão desinte
o justificão completamento ? ( Muitos apoiados. ) ressada como é possivel desejar. (Muito bem .'...)
Quantas vezos chamado o ministerio para justi- Dir-se-ha que a organisação desse gabinete
ficar-se, elle nos faz ver com esses documentos, póde considerar-se profundamonte alterada, desde
e com essas informações, que é digno de louvor o que tres novos membros entrarão para a admi
mesmo procedimento que nós mal informados nistração. E' verdade, não negarei que assim
censuravamos?. . . seja, mas além de que os tres novos ministros
O Sr. Fioueira de Mello : — Dessa maneira forno escolhidos d'entre os homens que havião
justifica-se qualquer ministerio. oceupado posições elevadas .na administração do
O Sr. Eusebio de Queinoz : — Entendo, Sr. pre paiz durante o primeiro poriodo desse ministe
sidente, que com effeito ha pontos de divergen rio, além de que esse homens declarárão no seio
cia entro uma camara o um ministerio que auto- do parlamento que elles se consideravão conti-
risão a camara a manifestar sua reprovação nuaaores da mesma politica seguida , ha um
desde o começo de suas sessões, na peça mais facto altamente significativo que não posso dei
solemne que então tem de votar. Na nossa vida xar de trazer á memoria da casa.
parlamentar mesmo se encontrão exemplos do O ministerio, constituido como se acha, obteve
factos semelhantes. Mas é necess irio que essas um apoio decidido do parlamento durante a ses
divergencias repousem sobre questões muito gra são de 1S5'2. A camara achou-so em presença
ves do administração ou de politica ; é preciso do ministerio com a modificação existente, o qual
que haja motivos muito fortes para que a ca foi o procedimento da camara ? Deu ao minis
mara possa dizer ao paiz : « Nós provocámos terio o mais decidido apoio. ( Apoiados.) Ainda
realmente um duello de morto entro o gabinete nos ultimos dias de suas sessões o ultimo de seus
e a camara, provocámos a dissolução do gabi votos importantes foi um voto do confiança dado
nete; quizemos impór uma alteração importante a esse ministerio, tanto mais significativo quanto
na marcha dos negocios publicos » ( de outra ello tinha lugar exactamente depois do haver a
maneira não concebo a possibilidade da r&pulsa opposição exhaurido aqui todo o arsenal do suas
de um ministerio pela camara ) mas procedemos armas, de haver esgotado todos os seus recursos
fundados nas seguintes razões : o ministerio tinha para desacreditar essa administração. (Muitos
taes ou taes opiniões que nos parecêrão menos apoiados. ) Como respondeu a camara a este
conformes com os interesses do paiz ; seus pen appello da opposição ? Respondeu com um voto
samentos, os Uns que elle queria realisar erão quasi unanime de approvação ao ministerio.
estes ou aquelles, e se o conseguisse faria grande O Sr. Fioueira de Mello :—Não se tinha exa
desserviço e não quizemos tornar-nos complicos minado todos os actos da administração relati
de tal ministerio. Fóra disto estou corrvencido
que o meio de combater erros da administração vamente á guerra.
ue revelem antes simples desacerto na escolha O Sr. Eusebio de Queinoz: — Foi nessas cir
aos meios que verdadeira- discordancia de prin cumstancias qne se findou o mandato da camara
cipios ou de fins, erros finalmente que não esta- o 'que a nação foi chamada a approvar ou re
beleção um verdadeiro antagonismo entro as opi provar o procedimento de seus mandatarios. A
niões da camara e do gabinete, e apenas alguma nação se reunio novamente nas assembléas pa
divergencia do modo pratico de realisar essas roehiaes, fez-se representar nos collegios eleito
opinioes, o meio, digo, do combater esses erros raes, e quem foi ella escolher para deputados?
nao ó seguramente provocar a dissolução do Por ventura manifestou a sua reprovação ao
ministerio sem que pelo menos antes a ca procedimento de seus antigos representantes ,
mara tenha procurado provocar explicações da negando a reeleição áquellos que assim havião
parte do gabinete ; tenha procurado estabelccêl-o votado ? Pelo contrario, a nação se apressou a
com suas luzes, guial-o com sua opinião e ten manifestar sua approvação reelegendo os mesmos
tado por meio das discussões especiaes obter homens.... Apoiados.)
uma modificação reciproca que traga a harmo
nia onde havia divergencia. (Numerosos apoia O Sr. Fioueira de Mello :—Metade dos depn-
dos. Muito bem .' muito bem .' tados são novos.
Senhores, se om todas as circumstancias deve O Sr. Eusebio de Queinoz : — E quando teve
o deputado examinar com todo o escrupulo se de substituir alguns , onde foi procurar seus
por ventura na resolução importantissima que substitutos? Nas linhas da opposição? Suppondo
elle vai tomar, provocando uma modificação de que, firme em suas crenças politicas , não qui-
graves consequencias para o paiz, elle se deixa zesse procural-0s na opposição, foi por ventura
levar unicamente por motivos do tão alto quilate escolhei -os entre aquelles que, embora da mes
que possão justificar tamanha responsabilidade, ma politica, se tivessem feito conhecer por suas
algumas circumstancias especiaes existem em divergencias com a administração ? (Muito bem.)
que esto dever se torna mais imperioso, em que Não ; vejo que em todas as provincias os de
o escrupulo do deputado deve ser muito maior. putados sa recommendarão pela qualidade do
Nós nos achamos actualmente em uma destas amigos do governo. (Apoiados.) Assim pois, Sr.
circumstancias. Procurarei exprimir este meu pen presidente, o pensamento da nação, manifestado
samento com toda franqueza; nós não somos pela maneira mais solemne que so póde exigir,
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 23
foi ura pensamento favoravel á administração colherão foi exprimir um pensamento approvador
actual . do gabinete, e assim só em presença de muito
Eu não concebo como a camara, eleita sob a graves razões escrupulosamente examinadas nos
inspiração dessas idéas , cuja escolha parece tão poderemos afastar desta senda, (apoiados.)
significativa em favor do ministerio, poss^ ir O meu fim com este modo de enunciar é pri
de accordo com a vontade dos que a escolhe meiro estabelecor claramenti qual ó o nosso pen
rão, começando sua existencia por offerecer um samento a respeito da marcha da administração,
duello de morte ao gabinete.... qual o pensamento que presidio á redacção do
O Sr. Fisueira de Mello :—O tempo faz al voto de graças ; pedir aos nobres deputados que
guma cousa. julgarem conveniente combatêl-o o façao, mas
demonstrado o que tem de sinistro ou perigoso
O Sr. Eusebio de Queinoz :—E' verdade , mas os principios, as tendencias, os fins o as inten-
seria necessario mostrar que entre a época des çães dos ministros. Se conseguirem demonstrar
sas eleições e o -momento actual têm occoriido por actos altamente significativos que entre os
acontecimentos de tanta gravidado , ou appare- fins tendencial e pensamentos do ministerio, e
cido revelações tão importantes que sejão capa os fins , tendenciase e pensamentos da camara
zes de ter modificado profundamente a opinião existe desharmonia, desharmonia profunda que não
publica, a opinião desses que quando nos "esco- ha esperança, do modificar nom com explicações do
lhêrão parecião exprimir um pensamento favo ministerio nem com a luz dos debates, neste caso
ravel ã administração. Nesto caso eu cederia os nobres deputados padem contar com o meu
completamente da opinião que enuncio. Mas, voto nas suas filiras. (Muito bem.)
digo-o com toda a sinceridade , duvido muito Sr. presidente, pelo que tenho acabado de
que os nobres deputados o possão demonstrar. declarar, creio ter tomado na casa uma posição
(Apoiados.) clara, como sempre costumo. (Muitos apoiados.)
Sr. presidente, a força que têm os votos dos O meu pensamento é approvador da politica do
nobres deputados nesta casa , a força que as ministerio, eu mo considero ministerial ; a ca
nossas opiniões têm sobre a marcha dos nego mara porém me faria injuria se pensasse que
cios publicos, a grande importancia que cilas eu approvo todos e cada um dos actos do mi
exercitão não provém da importancia individual nisterio, que sou admirador de todos os pontos
de cada um de nós ; por grando que soja a e virgulas dos seus actos officiaes, que hypo-
importancia individual de 50 ou 6O homens, thoco um voto cégo a todas as pretenções da
suas opiniões individuaes pouco avúltão para administraçãu. Não, mas entendo que não ó isto
que possão determinar tão consideraveis altera o que caracterisa o deputado ministerial. (Apoia
ções na administração do estado. Toda a nossa força, dos.)
toda a importincia do nossos votus deriva de vehe- Era deputado opposicionista quando nesta casa
mentissima presumpção do que elles representão emitti o seguinte principio, de cuja verdade
os votos, a opinião diquelles que pira aqui nos cada vez estou mais convencido : — Um accordo
mandarão (muitos apoiados) ; toda esta força, que recaia sobre todos os actos de uma administra
toda esta importancia deriva da presumpção de ção é impossivel do obter, jã não digo entre
qne nós somos os mais habilitados para com- ministerio o camara, mas entre os membros do
prohender e zelar os verdadeiros interesses de mesmo ministerio ; o accordo indisponsavel entro
nossos constituintes. (Muitos apoiados.) os membros de um gabinete para que elle se
Creio que a camara concebe perfeitamente o possa dizer parlamentarmento organisado ó o
meu pensamento; não quer elle dizer que o de accordo sobre o modo de resolver as questões
putado seja um instrumento servil de opiniões graves da actualid ido. (Apoiados.)
alheias, pelo contrario reclamo para elle toda a Que importa que os membros do gabinete
liberdade no uso da sua intolligencia ; mas quando estejão divergentes em questões embora muito
o eleitor escolhe um candidato o lhe dá o seu graves, mas que não exigindo solução actual so
voto para deputado deposita toda a confiança n i achem ainda limitadas, circumseriptas ao campo
sua probidade politica e na sua intelligencia; na da theoria ? Em que essas divergencias podem
sua probidade politica, por esperar que elle, col- prejudicar a marcha dos negocios publicos ? E'
locado entre os representantes da nação , vá necessario que a concordancia exista naquelles
sustentar os mesmos principios, as mesmas opi pontos graves e importantes que reclamão uma
niões que anteriormente sustentava, vá defender solução ; e só nesses ;i o ainda assim se se
os mesmos interesses que antigamente defendia ; trata de questões menos graves; daquellas que
confia na sua intelligencia, por esperar que elle, não têm essa primeira importancia, embora exi-
tendo a capacid ide intellectual necessaria, nas jão uma solução os ministros não podoni estar
differentes emergencias da politica, ms differon- sempre de accordo ; ó necessario que elles se
tes circumstancias que não podem ser previstas, fação reciprocas concessões para que o ministe
escolha o meio pratico mais conveniente do rio possa marchar. Accordo em todas as ques
realisar esses piincipios, de proteger esses inte tões não existe no ministerio actual, não existio
resses'. nos passados, nem oxistirá nos futuros. E'
E' necessario pois que o deputado, quando tom impossivel pretender que seis homens de intel
de resolver questões tão graves como esta, exa ligencia encarem sempre todos os questões do
mine com toda a calma da razão, com todo o de mesmo modo, e do mesmo modo as resolvão.
sejo de acertar, com todo o escrupulo de uma (Muitos apoiados.)
consciencia que se preza, se por ventura os-mo- Ora, se um accordo tal não podemos exigir
tivos que o levão para resolvêl-a de um modo entre os membros do mesmo gabinete, como
Sodem produzir o mesmo effeito nas opiniões exigil-o a respeito dos deputados para que se
aquelle que o escolhórão ; se por ventura, re- considerem ministeriaes ? Se para ser ministerial
solvendo-a desse modo, elle consulta discretamente fosse necessario dar uma approvação implicita
os verdadeiros interesses que lho forão confia a todos os actos do ministerio, certamente eu o
dos. (Apoiados) não seria.
Ora, dizia eu que ha circumsMncias especiass Creio, Sr. presidento, haver explicado o pen
em que a necessidade deste escrupulo se faz mais samento do voto da graças que tivemos a honra
fortemente sentir, e dizia que nós estamos actual de submetter á camara. Eu aceito qualquer
mente nessas circumstancias Creio que expli consequencia ; so a camara em sua sabedoria
quei bem o meu pensamento. A organisação da entender que deve approvar este voto de graças,
camara actual, com relação ao gabinete, tem toda eu exultarei, julgar-me-hoi muito lisongeado,
a presumpção de que a intenção dos que a es com a segurança de que acertei ; se porém a
84 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
camara julgar em sua sabedoria que o deve O nobre deputado, e alguem mais, porque al
rejeitar, ha de me consolar a consciencia do gumas vezes tenho ouvido repetir-se, separão a
liavor cumprido o meu dever. (Muitos e repetidos causa do ministro do imperio da dos outros seus
apoiados. Muito bem.) companheiros ; ao passo que n nobra deputado
O Sr. Gonv.ilYPs Martins : (ministro do elogia a probidade e moralidade de uns, insinua
imperio) : — Sr. presidente, vou responder ao ou parece insinuar a conducta suspeita, cavilosa
discurso que o nobre deputado pelo llio de Ja o talvez deshonesta do ministro do imperio em
neiro offereceu á consideração da casa na sessão actos propriamente seus. Eu, senhores, devo,
de hontan contra alguns actos do ministerio a por fidelidade aos meus companheiros e para
meu cargo ; e principiarei por agradecer a satisfazer suas vontades, dizer qu% todos os
S. Ex. a occasião que me deu do explicar actos actos do ministerio são solidarios, que a todos
da repartição que dirijo, pedindo- lhe, e a quaes- nós pertence a responsabilidade delles.
quer outros senhores que me facilitem occa- Por outro lado, porém, allegando eu isto na
siões ignaes ; e quando mesmo não possão ncliar occasião em que se me separa de meus compa
sufficientes no ministerio a meu cargo, rogo-lhes nheiros, póde-se suppór que ó uma cobardia/
que, folheando minha vida anterior apresentem procurar força estranha para minha defesa. E'
lambem qualquer acto que eu haja praticado, nin aperto em que me vejo Collocado, "porque
como empregado publico, pelo qual ainda me devo satisfazer a generosidade de meus collegas,
julgarei Jbrigido a re.-ponder-lhes com aquella e ao mesmo tempo evitar a malignidade com
verdade e moderação que devo á camara e ao que se possa interpretar o meu procedimento.
Declaro pois que desejo continuar a defender-me
paiz. isoladamente, respondendo coiutudo por todas
Sr. presidente, cu nunca receiei a discussão, quantas necusações se fizer aos meus collegas
nem ella nunca me fez mal. Alguns incommodus nas suas repartições. #
tenho soffrido pela guerra disfarçada, pelas c i- Não pensem algumas pessoas n quem seja
Iainuias que se prouigalisa nos salões particu odiosa a posição que oceupa quein dirige a pa
lares e nos corredores ; mas todas as vezes que lavra á camara que essa po-ição deve ser muito
os meus actos têm sido discutidos perante o permanente para augmentar por este motivo o
publico o resultado sempre mo tem sido vanta rão de intensidade de seus ataques. Eu, ó ver-
joso. (Apoiados.) ade que segui por escala até chegar á posição
Eu não sou um homem novo, meus senhores, que oceupo, mas como por infelicidade o destino
e digo isto á camara porque esta é a primeira me plantou logo ã beira da estrada, rodeado de
sessão de uma legislatura. arvores muito copadas, cresci á sombra delias ;
Dezoito annos seguidos e sem interrupção con e sendo prejudicado por essa sombra, demorei
servei assento nesta casa ; ha deus annos tenho a minha vegetação. Nas raizes fortes que ellas
assento no senado ; e a posição que adquiri, ou tinháo encontrarão embaraços para se estenderem
no parlamento ou na gerencia dos negocios pu as minhas tenras. Cresci para vér o sol, subi,
blicos, não foi tomada do assalto, alcancei-a su mas sempre tive uma vegetação enfezada ; o não
bindo todos os degrãos da escala parlamentar e ha duvida que devo ter pouca duração ; não hei
administrativa. (Apoiados.) de rivalisar com as arvores a cuja sombra cresci,
Não a consegui tambem desapercebidamente, nem com os rebentões que dos pés das mesmas
porque poucos homens ha no pnz que no decurso brotarão nem ainda mesmo com as parasitas
da sua vida publica tivessem -offrido mais op- que se têm apoderado de alguns desses troncos
posição. Tão pouco não devo algum successo á já cansados, e os pretendem substituir.
fraqueza dos combatentes em oppusição, porque
todos quantos tive, ou uma grande parte delles, O Sr. Nebias : — E' muito forte I
forão as primeiras notabilidades da muiha pro O Sr. Sayão Lobato Junior : — E quem é o
vincia. Jã so vê pois que não tomei de assalto, parasita ?
nem desapercebidamente, nem por fraqueza dos O Sr. Gonçalves Martins : — Fallo em geral.
combatentes, o lugar que hoje oceupo.
Mas, sonhores, não foi a força do talento O Sr. Sayão Lobato Junior :—E' preciso que se
nem da intelligencia que me deu essa victoria ; explique.
foi a qualidade das armas com que pelejei, O Sr. Gonçalves Martins : — Fallo em geral ;
armas fabricadas pela divindade ; foi a ver respondo não só ao nobre orador, mas a todas
dade. Com ella os talentos conseguem cenquistas, as insinuações que têm apparocido. Náo posso
mas os fracos ao menos podem conservar-se, andar discutindo pelas gizetas, e creio que devo
porque com ella são invulneraveis. Se algumas faliu- com franqueza perante uma camara nova.
pessoas que me são desaffeiçoadas querem con O Sr. Aprioio : — Apoiado.
seguir minha derrota, procurem despir-me dessas
armas, porque, senhores, assim ficarei amarrado O Sr. Goncalves Martins: — Ainda hoje tive
como Sansão foi pelos Philistêos quando lhe corta occasião de ler o CoiTeio Mercantil, no artigo
rão os cabellos. Os c belios de Sansão erão a ima sobre camara dos deputa los, tratando da sessão
gem di verdade; cégo, sm meios de direcção, de hontem, o seguinte (lê): « Conserva-se, man-
só com ella elle destruio todos os seus adver tém-sc e é apoiado um ministerio que tem em
sarios, sepultando-os nas ruinas do templo da seu seio um membro que, não podendo por seus
malignidade. antecedentes o consequentes ser levi no, ou de
Portanto rogo' aos nobres deputados que me senvolto, ou falto de senso, fica sendo por
offereção occasiões de justificar nuus actos. Elles força pidrinho de- especulações ? ».
podem ser aceusados do erros, não duvido ; E isto de referencia á alternativa em que me
todos nós os commettemos, e ninguem está snppóz haver collocado o nobre deputado pelo
isento de os praticar ; de faltas lambem não Rio de Janeiro s ou de ser considerado falto de
duvido : mas de crimes o de immoralidades, bom senso, desenvolto e leviano, ou de ter sor
não 1 (Apoiados.) vido de capa jp padrinho a uma especulação. »
Na ni i uha administração é de crer que os erros Eis o que de muitis publicações, e de trechos
de inteligencia possão apenas ser de pequeno do discurso do nobre chputado e de artigos de
expediente ou de redacção ; porque os errou por jornaes, se pòde colher em detrimento de minha
falti de intclligenci» de um ministio em nego reputação ; e por isso faço bem em querer a
cios graves são suppi idos pelos talentos, de seus diseussão.
companheiros, em presença dos quaes todus liles O nobre deputado, Sr. presidente, não merece
se decidem. censura, a meu vér, por ter encetado a discussão
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 25
da resposta a falia do throno por um objecto esta camara logo depois de rejeitado um projecto
de tanta magnitude ; nesta parte o defendo. A do resolução offerecido pela respectiva commis-
hypothese que elle verificou veridica de que a são que approvava o contracto revalidado pelo
camara esta toda unisona em sentimentos poli governo a Thomaz Cochrane na parte que fora
ticos, e não achando nada do reprehensivel na submettida ã approvação do corpo legislativo ;
actual politica geral do paiz, nada mais razoavel e assim licou aquelle contracto substituido por
do que um deputado dotado de patriotismo, e uma lei, dando as mesmas o outras mais amplas
que deseja ver desenvolvidos os interesses mate- attribuições ao poder executivo para formar uma
riaes, encetar a discuasão da resposta á falia do nova empreza. Diz o nobre deputado : « esta
throno promovendo esses interesses pelo lado lei no art. 3° declarou terminantemente nullo todo
que julga do maior vantagem. o contracto de Cochrane, e absolveu o governo
Assim podia um deputado pelo Para, por exem de o respeitar. »
plo, encetar essa discussão desenvolvendo as Esta proposição deduz o nobre deputado das
providencias que ao governo cumpre adoptar seguintes palavras : « O governo restituirá a
para tornar mais ampla o mais bem favorecida Thomaz Cochrane a quantia de 4:000$ e o res
a navegação do Amazonas e seus confluentes. pectivo juro de 6 % ao anno, que pagou de multa
Assim poderia tambem um deputado pelo Ma pela falta do cumprimento do contracto para
ranhão pedir auxilios mais promptos para a cqnstrucção da estrada de ferro, que foi reco
grande obra do Arapapahy, e ao mesmo tempo nhecido sem vigor. »
' o estabelecimento do colonias militares nas mar A' vista disto diz o nobre deputado « aqui está
gens dos grandes rios, que convém tornar habi a declaração do corpo legislativo que reconhece
tadas e civilisadas. sem vigor o contracto de Cochrane. » O nobre
Assim igualmente um deputado do Piauhy deputado não leu bem o artigo ; este mandou
principiaria a presente discussão pedindo a na restituir uma multa paga pelo primeiro contracto,
vegação do grande rio Parnahyba, para se levar que tinha caducado, e que como tal estava sem
população e civilisação ao centro daquellas fer vigor; eja, pois, um contracto difierente do da
teis mattas. revalidação a que a camara se referio no citado
Do mesmo modo um deputado do Ceará pode artigo.
ria encetar esta discussão pedindo as providen Mas supponha-se que o corpo legislativo tinha
cias que julgasse convenientes para se evitar o tido em mento destruir o contracto de Cochrane;
flagello da secca naquella provincia. podia elle fazêl-o ? Não era um contracto entre
Um deputado por Pernambuco poderia tratar duas partes interessadas? Podia uma só declarar
dos meios mais amplos para que se auxiliasse sua annullação ? O nobro deputado, pretextando
a realisação da empresa Mornay, como a medida illegalidade na factura do contracto, diz - « o con
mais importante para a provincia. tracto de 1840 feito pelo Sr. Antonio Carlos de
Um da Bahia tambem podia discutir as van Andrada Machado e Silva foi illegal ; e descul
tagens da empresa da estrada de ferro do Joa- pavel o ministro, porque nesse tempo não se
zeiro e a navegação dos seus grandes rios. pensava em estradas de ferro, e nem mesmo-
Um deputado cio Rio Granda do Sul podia en se sabia muito desta materia, e atê -o proprio
cetar a discussão demonstrando a necessidade de ministro estava persuadido da inexequibilidade
estabelecer canaes de communicação entre os da obra; queria apenas animar uma idéa. » Isto
importantes rios daquella provincia. de certo não ó uma defesa para o nobre e illustre
Um deputado de S. Paulo poderia tratar da es Andrada.
trada de ferro que vai de Santos a villa da Con Mas aceresce que a este contracto precedêrão es
stituição, o poderia pedir. mesmo um desenvol tudos, e estudos importantes, precederão consul
vimento em maior escala da grande navegação tas de todas as repartições e tribunaes auxi
fluvial para o Cuiabá. E mil outras grandes em- liares, representações de camaras, e de todos
prezas que se offerecem, todas ellas dignas de quantos se podião interessar por semelhante em
ser trazidas á discussão na occasião de iniciar-so preza ; não foi pois um contracto que appare-
os debates parlamentares sobro a resposta á falia cesse com o caracter de inexequivel ; e mesmo
do throno. a elle procedeu o conhecimento da camara, por
Entremos agora na justificação dos actos do que Thomaz Cochrane antes de se dirigir ao mi
ministerio do imperio na parte em que elles forão nistro do imperio de 1840 dirigio-se á camara,
atacados. como autorisada para estas emprezas, e então
Disse o nobro deputado que a lei do 26 de ella, por um parecer de commissão, declarou o
Junho, que autorisou o contracto da grande es seguinte : (Lê.)
trada de ferro que devia communicar esta corte A lei de 29 de Agosto de 1828, a que se refe
com as provincias do Minas e S. Paulo, não foi rio o parecer ^da camara, tem com effeito dis
bem executada, foi porém antes amesquinhada, posições proprias para emprezas de caminhos
inutilisando-se os grandes melhoramentos que pro- e estradas, differentes das adoptadas para a na
mettia. Senhores, não é somente agora que soffro vegação dos rios,' e em um de seus artigos au-
ou tenho soffrido por causa dessa empreza da torisa a fixar o prazo do gozo da empreza por
estrada de ferro da lei de 26 de Junho ; muitas um certo numero de annos que se entender ne
•publicações tém apparecido a esto respeito ; in cessario para amortização do capital empregado
sinuações as mais perfidas tem-me sido prodi- na obra com os seus competentes interesses.
galisadas, o eu as recebo como uma consequencia Ora, sendo assim, determinado- que o privile
da posição em que estou. Muita gente como que gio seja proporcional á grandeza do sacrificio
inveja o arbitrio quando apparecem autorisações sem limitar-lhe prazo, bem disse a camara de
para contractos de emprezas, julgando isto uma 1839 que o governo estava amplamente autori-
grande fortuna pira o ministro ; e desde logo sado para contractar com Cochrane. Creio bem
todos se armão contra, como se se tivesse de que os legisladores de então não terião idéa de
explorar uma grande mina, quando se tem de um privilegio tão longo, porque não se pensava
cumprir leis autorisando . contractas. Senhores, tambem em emprezas do custo de 20 e 30 mil
dizia Lrvio que um homem nú diante do uma contos ; mas apparecendo estas, o arbitrio estava
mulher pudica era apenas uma estatua; eu ap- dado, e valido por conseguinte o contracto em
plicando a proposição direi que autorisações para que fosse exercido.
contractos diante do um ministro honesto ê apenas Mas supponha-se mesmo que a intelligencia
um excesso do trabalho, um augmento de res que o ministro deu nessa occasião á lei não foi
ponsabilidade. (Apoiados.) a mais razoavel ; o que competia ao corpo le
A lei de 26 de Junho, senhores, foi votada por gislativo ora censurar este acto, e mesmo re-
tomo 2. 4
26 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
proval-o. Entretanto não fez isto, e nem se diga é verdade, aquelle direito ; mas, julgando o
que não teve occasião de o fazer, porque Co- ministro de- difficil realisação a empresa de
chrane com o contracto primitivo recorreu ã ca Cochrane sem os dous favores recusados pelo
mara pedindo outros auxilios, que lhe forão con corpo legislativo; o ao mesmo tempo parecen-
cedidos, rejeitando- os porém o senado; c nessa do-lho que a intenção da lei era que aquelles
occasião podoria ter o corpo legislativo declarado favores fossem concedidos somente em concurso,
illegal o procedimento do governo. Porém decor porque se assim não fóra, não terião sido re
reu todo este tempo até 1819 sem a menor con cusados ao mesmo Cochrane, qual outro proce
testação á legalidade do contracto. dimento poderia ter ? Se contractasse com o
Em 1848 Cochrane pagou a multa que lhe antigo empresario, certamente contrariaria a in
impunha uma das condições do mesmo contracto; tenção das camaras, que muito bem lhe poderião
o novo ministro, o Sr. Manoel Alves Branco, reco- ter directamente concedido as duas condições
nheceu-o por conseguinte valido mandando recolher recusadas. Se tratasse com outro sem concur-
essa multa, e nesta caso não devia o contracto ser rencia, praticaria o ministro uma violencia
somente oneroso a parte. Em I8i'J foi elle revalidado contra Cochrane ; som nenhuma consideração de
pelo Sr. visconde do Mont'Alegre ; mas o foi por equidade o excluiria, dando lugar a bem fun
ventura ligeiramente ? Não, senhores, precedêrão dadas reclamações, desapossando-o de um direito
consultas do conselho do estado o outras informa qne lhe assistia ao seu primitivo contracto.
ções, depois do que teve lugar aquella revalidação, Em tal collisão o governo optou o que lhe
declarando-se expressamente que só, ficavão depen parecia mais justo e razoavel; poz em concurso
dentes do corpo legislativo os dous novos favores. a nova emprezn, para que a obtivesse quem
Portanto, senhores, no fim do 11 annos de melhores vantagens offerecesse (apoiados), notifi
despezas que Cochrane pudesse ter feito, de cando a Cochrane para que, ou se apresentasse
um direito reconhecido o revalidado, tendo-se-lhe no concurso, ou optasse pelo seu antigo con
feito effectivos os onus em que incorrêra, é que tracto, dando-lhe mesmo naquelle a preferencia.
o corpo legislativo podia declarar o contracto Parece-me, portanto, que se praticou o que
nullo, por sua só autoridade? Pelo menos peço era mais razoavel, e o que praticaria o mesmo
a camara que avalie se a -altenção que prestei nobre deputado se estivesse collocado em minha
ã reclamação de Cochrane era digna de sor ta posição.
xada de leviana, de inconsiderada e no pro O que se diria, senhores, se o ministro se re
posito do inutilisar a execução da lei de 2íi de solvesses desde logo a tratar com Cochrane di
Junho. rectamente, sem nenhuma ãttenção com outros
Cochrane acudio com sua petição logo dêpois concurrentes, concedendo-lhe favores que o corpo
da lei, reclamando o direito que lhe assistia ao legislativo lhe havia recusado? Sómente pelo
contracto, e mesmo á concessão dos novos fa simples facto do receber sua reclamação e de af-
vores ; o que fez o ministro ? Mandou consultar fectar ao conselho de estado tivo de supportar
a secção do conselho de estado, que unanime as mais violentas censuras o ns calumnias mais
mente declarou não soffrer duvida alguma que nojentas I O que seria, torno a dizer, se tudo
Cochrane tinha pleno direito ao_ seu contracto, lho • franqueasse ? (Muitos apoiados.)
menos quanto ás duas condiçoes não appro-
vadas. Não contente com isto, o governo con Disse porém o nobre deputado que ninguem
sultou o conselho de estado pleno o qual se apresentaria na concuriencia tendo algum dos
unanimemente docidio da mesma fórma. concurrentes a preferencia ; os factos destroem
Se se tratasse ainda do julgamento da recla esta asserção, porquanto o concurso se fez e ap-
mação do um cidadão brazileiro poderia o go parecêrão differentes propostas. Disse mais que
verno com o apoio do corpo legislativo negar- neste caso serião as offertas de impossivel rea
lhe a justiça qne lho assistisse sem outra con lisação contando com tal preferencia ; tambem o
sequencia do que a que so segue naturalmente facto provou o contrario. As propostas forão
de um acto injusto e arbitrario; porém a re todas razoaveis; apenas uma a muitos pareceu
clamação era de um estrangeiro em favor de inexequivel, dispensando a garantia do juro; mas
quem seu governo deveria intervir, podendo se- o nobre deputado me dispensou logo de justi
guir-so de um acto de injustiça reclamações bem ficar o seu autor fazendo com justiça elogios á
fundadas, o indemnisações justamente devidas, sua seriedade, circumspecção e credito na praça.
tanto mais quanto no caso em questão scrião Nem esta proposta portanto se resentio daquella
baseadas no voto unanime do conselho de es condição de preferencia. Esta pelo contrario po
tado. deria tiazer algumas vantagens. Cochrane não
Disse o nobre deputado que não se póds con seria demasiadamente exigente tendo outros con
formar com o parecer unanime do conselho de . currentes, nem estes contando com a preferencia
estado que reconheceu o direito do Cochrane, e daquelle.
que apezar da grande autoridade deste corpo Nenhum resultado porém se colheu do con
não está resolvido a jurar nas suas palavras curso, porque o antigo emprezario optou pelo
em vista da evidencia da verdade. seu primitivo contracto, podendo-o fazer porque
Eu, so fóra particular e estivesse no caso do estava ainda dentro do prazo concedido para o
nobre deputado, poderia sem maior inconveni começo da empreza.
ente repetir as mesmas palavras ; porém na O governo deixando a Cochrane a empreza con
posição de ministro o mesmo nobre deputado tratada apenas cumprio um dever que resultava
havia de obrar differentemente, e talvez abando de um contracto anterior; não teve em vista
nasse neste caso seu pensamento isolado. protelar nem chicanar ; quiz evitar todo o pre
Parece contradictorio o juizo que S. Ex. fez texto para reclamações. Pareco dar-se alguma
do parecer do conselho de estado com o que contradicção no nobre deputado que notou li-
logo pouco depois disse, quando affirmou que viandade no procedimento do governo reconhe
este c^rpo não reconheceu propriamente o di cendo o direito de Cochrane, e ao mesmo tempo
reito de Cochrane, e somente a necessidado elogiou o nos» digno ministro em Londres quando
moral de tratar-se com elle a nova empresa. autorisára naquella praça a empreza do mesmo
Convém saber pois qual foi o verdadeiro pensar Cochrane em vista de actos explicitos de tres
do conselho de estado, e fixar-se assim a ver ministros em differentes épocas, tirando dahi
dadeira censura do acto ministerial. mais um argumento para provar a necessidado
Disse o nobre deputado que, assim reconhe em que o governo se achava de entender-se com
cendo o governo o direito de Cochrane, devia -aquelle emprezario. Estes fact0s não forçarião a
Com elle tratar toda a empresa ; reconheceu-se, intelligencia do nobre deputado para justificar o
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 27
procedimento do governo quando respeitou o di ria para obter o concurso de capitaes estran
reito de Cochrane. geiros.
O nobre deputado pareceu querer ferir no mi A mimosa estrada de Mauá, como a denomi
nistro quando declarou que este adoptou a con- nou o nobre deputado, e o Mercantil acto de
currencia para um caso especial, sendo que não especulação (do que não duvido, porque ninguem
é sempre a concurrencia o seu principio, como procura organisar empresas para perder ; todos
o demonstrou nas empresas Mornay o Irenóo. buscão seus interesses, c estudão as circumstan
Sr. presidente, o meu principio com effoito não clas que os possão favorecer, não havendo pa
e sempre o da concurrencia, porque nem sempre triotismo bastante que se aventure a empresa
é cila tambem que dá as maiores vantagens ; de infallivel prejuizo,), foi tambem contratada
isto tenho colhido da experiencia ; mas se em sem concurrencia.
algum caso se tornava ella necessaria, era na O Sr. Irenêo Evangelista de Souza já havia
empresa da estrada de ferro de 26 de Junho, organisado uma empresa para a factura do uma
pelas razões que acabei do apontar. De nao se estrada de ferro de Mauá á raiz da serra da
dar a concurrencia resultava que havia de tratar Estrella, pedio apenas ao governo imperial uma
exclusivamente com Cochrane, e neste caso for segunda empresa do continuar a referida estra
çoso era sujeitar^me ás suas condições o ás da de Petropolis ao rio Parahyba, e mesmo, se
insinuações da malignidade ; mas por que razão fosse possivel, da raiz da serra até Petropolis.
não se deu a- concurrencia nessas outras duas Não parece que a continuação da estrada pro
empresas? Eu vou expêl-o á camara. jectada devesse ser objecto de um concurso, e
A empresa Mornay, ou a estrada de ferro do tanto mais quanto o ompresario não exigia do
Recife a. Agua-Preta, foi uma empresa lembrada governo o sacrificio da garantia que nenhuma
na provincia de Pernambuco, collocando-se a testa outra empresa tem dispensado, ou dispensa.
delia esse engenheiro ; era apoiada por toda a (Apoiados.) Com que justiça, on pelo menos
representação daquella provincia, e, devo dizêl-o equidade, recusar-sc-hia o governo imperial á
com alguma soffreguidão. pretenção do Sr. Irenóo, a quem o paiz deve a
Examinando os papeis que havia, entendi que organisação de tantas outras companhias ?
não estava ainda habilitado a fazer um contra Disse, porém, o nobre deputado, que foi in
cto como o que Mornay me requeria ; entretanto fringida a lei de 26 Junho. Sr. presidente, cada
dos poucos trabalhos que elle apresentou reco- vez desconfio miis da minha intclligencia. Pelo
nheceu-so que a empresa devia ser lucrativa se art. 1° da lei o governo ficou autorisado para
atravessasse sómento esse espaço de 20 leguas conceder a uma ou mais companhias a con-
onde a riqueza da producção do terreno o a falta strucção total ou parcial de um caminho de ferro
do outros meios de communicação lhe prometteu que partindo do municipio da córte vá terminar
um futuro prospero. Vi então que a pretenção em Minas e S. Paulo.
não era desarrazoada ; não paru se dar a em Por esta disposição podia o ministro dividir
presa a extensão de estrada que se pedia até a propria empresa da lei, exerceria mal o arbi
chegar ao rio de S. Francisco, mas sim ato trio, mas não illegalmente. A empresa Mauá,
aquelle ponto d'Agua-Preta atravessando terre porém, nada tem com a da lei do 26 de Junho,
nos povoados e com producção sufliciente para ella está incluida na autorisação do art. 3° da
manter a mesma empresa. mesma lei, que diz :
Teve tambem o governo em consideração o « So apparecerem companhias que se proponhão
estado da provincia de Pernambuco, que acaba construir caminhos de ferro em quaesquer outros
va de sahir de uma grande desordem ; convindo pontos do imperio, ppderá o governo igualmente
chamar a attenção do publico das idéas de riva contractar, etc. »
lidade para os melhoramentos materiaes, apro O contracto com o Sr. Irenêo tem, na con
veitando assim a primeira occasião de se ence formidade do citado artigo, de vir procurar a
tar a organisação de semelhantes empresas no approvação do corpo legislativo, como está de
norte, onde as supponho, em alguns lugares, de clarado no respectivo decreto (lê) ; havendo equi
difficil realisação. Vendo-me, emquanto colhia voco da parte do nobre deputado quando pen
informações,- como que censurado pelo vagar sou o contrario por ver o contracto nas collocções,
com que marchava aos olhos dos representantes como vêm todos os outros actos do governo.
de Pernambuco (no que de alguma sorte lhes O nobro deputado disse que offendi com esse
achava razão porque querião apressar uma idéa acto a intenção da lei de 26 de Junho que era
util), confiando em que o contracto tendo de que a empresa fosse ao Porto Novo do Cunha.
ser ainda sujeito ao corpo legislativo, o qualquer Ora, a camara, pela disposição que citei, na
erro que por ventura praticasse seria reparado,, qual foi traçada a direcção da estrada decretada,
não duvidei assignal-o, confeccionando porém por não póde persuadir-se de que o governo devia
tal fórma que se pudesse reparar conveniente entender que a estrada devia ir ao Porto Novo
mente o mal que resultasse da pressa. do Cunha. Esta seria a idéa dos autores do
O contracto, como disse, tinha de ser presento projecto, mas não ó o que se contém na letra
ao corpo legislativo, e isto era sem duvida um nem no espirito da lei.
correctivo á falta de concurrencia ; porquanto Disse mais : « Faltou á condição da lei, que
sem a approvação não podia ter execução. ,O era dar uma zona de 5 leguas para ambos os
acto ministerial, por conseguinte, foi sujeito á lados da estrada da lei de 20 do Junho. » Com
censura publica ainda em tempo, e á do parla effeito, senhores, o § 1° do art. 1° declara que
mento ; nesta occasião o nobre deputado, ou durante o tempo do privilegio da empresa outros
qualquer outro, poderia combatêl-o ; o que não caminhos de ferro nao sejáo concedidos dentro
succedeu, obtendo prompta e immediata appro da distancia de 5 leguas, tanto de um como de
vação, que parece devel-o pór a coberto do outro lado, salvo o accordo com a companhia.
qualquer censura. Mas isto quer dizer que quando estiver orga-
Procurou-se ridicularisar a empresa Mornay, nisada a companhia o governo não possa ferir
e com outras foi taxada de insensata. Não imi o seu contracto concedendo outros caminhos
tarei os que assim o fizerão, nem quereria por dentro da referida distancia.
tal fórma. suffocar o espirito de progresso que Verificou-so esta hypothese ; e já estava orga-
parece começar a desenvolver-se em algumas loca nisada a companhia aa lei quando o governo
lidades do imperio. fez a concessão de que se queixa o nobre depu
Não acho vantagem alguma no descredito de tado ? Não de certo ; e quando tivesse de ser
taes empresas, tirando-lhes a confiança necessa organisada, já deveria saber o novo empresario
28 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
que em um certo ponto não poderia obter a tambem, quando do todo não pudesse ser evi
zona das 5 loguas. Apoiados.) tado, a diminuição do mesmo onus, porque, se
Mus ainda nesta caso eu não obrei sem cau 5 % é o maximo da lei, o governo deve es-
tela, senhores ; ouvi os differentes concurrentes, forçar-so por obter alguma cousa menos ; e pos
e delles procurei saber sa abandonarião a em sivel era contractar com a garantia de 4 ou 1 %,
presa por causa dessa modificação. Disserão-me o que em todo o caso era uma vantagem.
que não, o assim o executarão, poia que se apre Sabido é que era isto tanto possivel, que pro
sentarão todos á concurrencia. postas houverão contentando-so com a garantia
O Sr Paula Candido : — Isso até póde ser de 4 o de 4 %. Poder-se-ha objectar que sendo
favoravel. a empreza de vantagem nunca ofierecerá occasião
O Sr. Gonçalves Mastins:— Ora, como as duas a que o governo pague o juro garantido. Não
empresas partem de extremos oppostos, só po quero duvidar desta proposição ; mis a camara
derá haver uma approximaçao de menos de 5 deve reconhecer que um governo prudente e em
leguas nos lugares onde .vão terminar, que distão certas dadas circumstancias deveria procurar roa-
um' do outro o espaço de 4 % á 5 leguas. lisor a empreza de que se trata sem offerecer
Mas accusa-se o ministro de haver matado a pretexto de reclamação a muitas outras locali
dades, que na partilha destes grandes beneficios
empresa da lei com semelhante mutilação, cr. ando querem com razão cada uma o seu quinhão.
uma outra" parallela e visinha, porque uma em (Apoiados.) Temos 19 provincias, e é muito na
presa dessa ordem precisa apresentar aos capi tural o louvavel que os representantes de cada
taes muitos moios de lucros para se organisar. uma queirão estender á sua o bem de que outras
Ora, como resposta a isto não é preciso citar gozão, e facilmento nesta caso, e com especiali
outro facto senão que essa mutilação não foi dade quando a empreza era em bem da capital
tal que apartasse os concurrentes. Não loi a mu do imperio e de sins vizinhanças, poder-se-hia
tilação tal que nesses artigos escriptos no Itio pretextar reclamações do favores semelhantes
de Janeiro em opposição ao acto do ministro, e para emprezas menos bem calculadas.
quando se pretendeu desacreditar a estrada de Sein duvida serião ellas rejeitadas, mas res
Mauá, não lesso eu que a estrada da lei de 2(3 taria aos que menos bem pensassem o ciume,
de Junho, ainda tal qual tinha ficado depois da e dello resultarião as intrigas. Demais, muitas
mutilação, ora a primeira estrada da America ; outras emprezas existirão por contractar. e
logo, a diminuição das vantagens em proveito é uma vantagem dar garantias ao menor nu
dessa segunda estrada nenhum mal fez á empresa mero delias ; porquanto, sendo nossos recursos
que pudesse influir em sua existencia ; o foi limitados, nos acontecerá, como ao negociante
util á população, dando-lhe concurrencia, o evi que firma excessivo numero de letras, a dimi
tando um monopólio desnecessario. (Apoiados.) nuição do preciso credito, que cumpre poupar
O nobre deputado cahio em uma contradicção para as emprezas que o não possão dispensar.
muito palmar quando chamou a estrada de Mauá Port into, se fór possivel realisar-se esso con
uma estrada mimosa, filha da especulação, n5o tracto sem garantir juros, o que todavia o go
sei se do ministro ou se do empresario, e ao verno ainda não recusou, será no meu modo de
mesmo tempo concluio declarando que apezar pensar, uma grande vantagem.
disso é ella irrealisavel, e qne a empresa não
deve sortir effeito com as condições com que- foi Mas disso o nobre deputado : « no segundo edi
organisada. E' esta uma declaração, permitta-me tal o ministro tornou impossivel a empreza, cha
o nobre deputado, pouco prudente ; para que mando para o publico a propriedade da estrada
estar fazendo, mal a essa empresa ? Não póde no fim ilo prazo do 90 annes, o não querendo
evitar que se realise o contracto, porque já está que se pudesse lucrar mais de 12 %.» O nobre
feito; logo, vai ferir a propria empresa, quando deputado devia accre.scentar : « e exigindo depo
os capitaes estão nella já aventurados, e as acções sito para o contracto fazer-se. » Senhores, eu pro
na praça. curei pòr nas novas condições as vantagens que
Disse o nobre deputado que eu não quiz que já tinhão sido oilcrecidas nas novas propostas,
a empreza Cochrane se organisasse ; e não quiz, e uma dessas vantagens era restituir todo o ma
porque regateei e neguei-lho mesmo os 5 %, terial da estrada no fim do prazo. Achei isto con
contra a disposição expressa o terminante da lei. veniente para mo tirar do embaraço de aceitar
Sr. presidente, o nobre deputado não tem razão, condições mais onerosas do que aquellas que já
não neguei os 5 °/° da lei ; S. Ex. praticaria o tinhão sido offerecidas. O Sr. Ottoni mesmo pro-
mesmo que fiz se estivesse na minha posição. poz isso ; e essa empreza de Mauá, além do não
Em uma reunião havida em Londres para tratar ter garantia de juros, obrigou-so a entregar a
da projectada estrada de ferro discutio-se entre estrada no fim do prazo. Por conseguinte não
os grandes capitalistas subscriptores a conve tive em vista, quando estabeleci essas condições,
niencia da garantia dos juros, e opiniões houve apartar a concurrencia.
para aceitar-se a empreza sem esse favor; por- Vamos aos 1- %• Disse o nobre deputado que
ue sabe-se que os inglezes não gostão muito o ministro não quiz dar á empreza maiores lu
d1 a fiscalisação inherente a semelhante garantia ; cros do que esto maximo. A lei dispõe no § 8»
portanto já não era uma cousa tão pouco sen do art. 1° : « que o governo fixará, de accordo
sata a falta delia, visto que capitalistas mettidos com a companhia, o maximo dos dividendos, dado
na empreza houve que julgavão podêl-a dis o qual tera lugar a reducção nos preços das ta
pensar, posto que a maioria declarasse que, es bellas do transpertes. Ora, isto é o que pretendo
tando já concedida essa garantia, não prescindia fazer o governo no contrato da estrada desta lei ;
delia, ainda que depois tivesse de renuncial-a. isto foi o que fez em todos quantos tem cele
' Talvez possa descobrir alguma incoherencia na brado com outros empresarios ; assim o praticou
opinião do nobre deputado, quando classifica de tambem com a estrada de Mauá, n qual aliás não
insensata qualquer proposta que tivesse por fim concedeu garantia de juro. O maximo escolhido
organis ir uma empreza para a estrada de seu ò para todos de 12 % por ora, podendo outra
ensamento sem a garantia dos 5 °/° ; porquanto cousa resolver-so de accordo ontre ambas a« par
eve lembrar-se que semelhante proposta apre- tes, e durante a existencia das companhias. Quan
sentou-se n*i concurrencia, da qual era autor o do se verifica o dividendo de 12 °/° é chegada
Sr. Ottoni, que com tanta justiça c razão de a occasião de rever as tabellas, o que não quer
clarou ser pessoa de muito conceito e credito. dizer que, não obstante esta revisão, se- não possa
Além da possibilidade de poder-se dispensar realisar maior dividendo.
este onus para o governo, era preciso tentar-se Pareceu o nobre deputado muito irritado por
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 29
haver ousado o governo pór em parallelo as duas Para completamente orientar aquelle digno func
emprezas rivaes, como querendo assenielhal-as 1 cionario imperial forão-lhe remettidas todas as
Perinitta-mo que lhe diga que 6 muita parcia propostas dos dous concursos com os trabalhos
lidade em favor de uma e opposição á outra, quando mais minuciosos que era possivel fazer-se no
se escandalisa com a expressão — uma zona entre estado de de nosso adiantamento em semelhante
as duas empresas. obiecto.
Não foi somente á companhia de Maui'i que se Todas as ordens, instrucções e explicações da
concedeu fazer caminhos transversaes ; a todas das se achão registradas neste livro , que offe-
se tem concedido, e so ha de conceder á que o reço á leitura de qualquer dos nobres deputados,
nobro deputado protege ; somente na zona inter o especialmente do orador aquem respondo, para
media entre os dous pontos do rio Parnhyba, ondo de tudo inteirado fazer-mc uma opposição mais
ambas as empresas devem terminar, podem cilas fundamentada.
promiscuamente fazer taes caminhos. (S. Ex. lê o aviso que acompanha o" traba
A exageração do nobre deputade le"vou-a a avan lhos acima mencionados.)
çar que bastava a possibilidade de ter a estrada
da lei necessidade deste ou daquelle ponto para O ministro neste procedimento não se julgou
o governo dever recuar, e não o entregar a ou suspeito para a celebração do contracto por que
tra empresa. sua consciencia lha attestava o contrario. Não so
Sem duvida é muito querer monopolisar ; a tanto julgou tambem incapaz, porque na falta de la-
não julgo eu que chegasse a intenção do corpo zes podia invocar o auxilio de seus collegas.
legislativo. Creio ter justificado o proceder do governo no
Contesta o nobre deputado qne o ministro tivesso contracto Cochrane (apoiados) ; mas como póde
os dados sufficient'!S para contractar a empresa ser que algum topico me tenha escapado, e a
Mauá ; o ministro teve-os como os que se offere- discussão tenha de continuar, eu em outra oc
cerão para o contracto da lei de 26 do Junho, que casião pedirei a palavra o exporei o que me te-
o nobre deputado censura não ter sido feito im- nlia faltado.
mediatamonte depois da publicação da mesma Tenho dito. (Apoiados.)
lei. O Sr. rfoiuas : — Já se julga mesquinho,
Para a estrada de Maua somente óque o nobre de Sr. presidente, o importanto e grande assumpto
putado invocou a circumspecção que se dã na In das estradas de forro para oceupar a attenção
glaterra, onde diz que so não improvisa uma da camara no voto de graças I As estradas de
estrada de ferro, apezar do tudo alli estar conhe forro entrarão em um topico especial do discurso
cido e disposto para taes emprezas. da coróa, e nem se quer ao menos por este
Resta-me ultimamente tratar do motivo por que motivo se julgou que era objecto digno da at-
nste negocio foi terminar-se em Londres, tendo tenção da camara na discussão do voto de
havido nesta certo dous concursos. graças ? I
A'cerca do 1° já tive occasião defallar; tendo Não comprehendo I...
npparecido apenas no 2° o Sr. visconde do Bar
bacena, além do Gochrane, que cemtinuava em O Sr. Ferraz:—Eu responderei pelas minhas
suas infundadas pretenções. opiniões, que são muito pronunciadas.
Propoz se o referido visconde a organisar a com O Sr. Nedias : — Eu não me dirijo ao nobre
panhia com a garantia de 4 «/» dizendo-so suf deputado, assim como não me dirijo a este ou
icientemente autorisado por capitalistas inglezes ; áquelle, porque não sei quem o disse hontem no fim
na fórma do edital, offarecia igualmente o depo do discurso do nobre deputado pelo Rio de Ja
sito dos 100:000$, que perderia no caso do não rea- neiro.
lisar-so o contratado.
Sendo elle o unico concurrente estava eu dis O Sr. Ferraz : — Eu não disso que o objecto
posto a propor á coroa a aceitação de uma pro era mesquinho; o que disso foi que o objecto
posta ; o que não fiz por nessa occasião rece tinha sido amesquinhado, usando-se de palavras
ber offieios do nosso ministro naquella corte, em injuriosas, como embaçadelas. (Numerosos apoia
que explicitamente declarava não ser possivel dos.)
realisar-se alli semelhante empresa corri garantia O Sr. Nebias :—Aceito' o correctivo para não
menor de 5 até 4 1/2 %. Não tendo eu uma certeza aventurar alguma cousa no mesmo terreno em
de que o visconde se não enganasse, ainda que que hontem fallou o nobre deputado.
o tivesse de poder fazêl-o perder 100:00$, julguei Sr. presidente, o nobre deputado relator da
que seria mais prudento não contractar desde commissão, e que em primeiro lugar oceupou
logo com S. Ex. a attenção da camara, declarou-nos positivamente
Não me parecia que poderia apresentar-me airoso que era preciso, ou que a camara apoiasse o
ao carpo legislativo sem verificar so a estrada ministerio actual, ou que désse motivos muito
que elle decretara , ainda que pudesse mos- fortes e poderosos que justificasse a sua posi-
trar-lhe 100.000$ qne tivesso feito perder a uma sição. (Muitos apoiados.)
familia. A cirnara com razão me responderia que Não comprehendeu o nobre deputado que por al
tinha querido a empresa e não semelhante quan guma circumstancia ou por algum acto deste ou da-
tia, e acereseentaria que meu engano não podia qucllo membro do ministerio se pudesse organisar
ser justificado ein vista das terminantes infor uma posição no parlamento. Sr. presidente, eu
mações ofliciaes do nosso agente na praça de respeito muito, respeito quanto se póde respeitar a
Londres. opinião do nobre relator dacommissão, mas V. Ex.
O que faria portanto qualquer dos nobres de me permittirá que eu diga que pelo sou principio
putados ? O que faria o mesmo senhor a quem severamente apresentado creio que só se poderá
rospondo ? Talvez o que praticou o governo. fazer opposição a um gabinete qualquer, em casos
Remotti a proposta Barbacena ao Sr. Sergio de alta gravidade, se fór por exemplo um ga
Teixeira de Macedo, declarando-lho que deixou binete conspirador que pratique grandes atten-
ella de ser aceita unicamente em virtude de suas tados, que ponha em risco a sociedade ; ao
informações, cumprindo que verificado so era ou menos foi isso o que comprehendeu a minha
não razoavel ; e no caso de o ser, do prompto intelligencia.
ultimasse com elle o contracto, ou com qualquer Sr. presidente, eu não sei que homens que
outro que offerecosse em primeiro lugir a con professão uma doutrina, que estão sempre mar
dição efe prouipta execução, o d pois outras me chando no mesmo terreno, sejão obrigados a
lhores vantagens, nunca auhiudj da lei du 20 do estar sempre adstrictos a certas e determinadas
Junho. pessoas.
30 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
Eu creio, (sem manifestar a minha intenção Um Sr. Deputado : — Foi doutrina do Sr. Eu
o respeito do ministerio actual), creio, digo, sebio.
que esse ministerio podia marchar, na opinião O Sr. Nebias:—De sorte que não é aceita pelo
de muitos, bom, e apresentar actos que des ministerio nem pela maioria. Mas se não disse
agradassem á opinião de muita gente. (Muitos o Sr. ministro, queixou-se das accusações que
apoiados. ) se lhe fazião.
Todos os que estamos sentados nestes bancos Tratando do que disse o meu illustre amigo
professamos as mesmas idéas, todos somos do a respeito da pessoa do Sr. ministro em relação
minados pelas mesmas crenças ; mas desse prin aos outros membros do ministerio, declarou :
cipio, dsssa unitormidade de nossas opiniões « eu respondo pelos meus actos : hei de defen
póde-se tirar a obrigação que temos sempre de der tambem sempre os meus companheiros. E'
apoiar o mesmo ministerio? (Apoiados.) Creio verdade que eu cheguei ao posto no qual mo
que não; era preciso para isso estabelecer ho acho collccado não de sorpresa, mas com muito
mens necessarios no paiz. trabalho, com muito tempo , e com muito
Sr. presidente, já que o nobre deputado rela sacrificio ; tambem é verdade que tenho uma
tor da commissão quer que apresentemos fran desgraça, tenho sobre mim altas sombras, tenho
queza e motivos para uma opposição ao gabinete sobre mim muita gente que me faz sombra... »
actual, eu pela minha parte satisfaço ao seu
convite. Um Sr. Deputado :—Traduzio mal o pensa
O voto de graças, redigido pelo nobre depu samento ministerial.
tado e assignado pelos seus illustres companheiros Outno Sr. Deputado: — A sombra ó da tra-
da commissão, me offerece um topico appar,ento ducção.
de opposição ; ê embora queira o nobre aeputado O Sr. Nebias : — «... tenho a infelicidade de
explicar e pensamento geral dessa resposta, estar ao lado de muita gente que mo faz som
parece que não se deve entender assim no ponto bra »
que tenho indicado.
Sr. presidente, a discussão que hontem foi O Sr. Aprioio :—Disse que tinha nascido ao
encetada pelo nobre deputado do Rio de Janeiro pó de arvores que lhe assombravão.
versou exclusivamente sobre aquella parte. Não O Sr. Nebias:—Mas, ou o nobre ministro se
vi que o nobre deputado relator da commissão expressasse por essas, proprias palavras, ou dis
procurasse an menos pór este topico da res sesse pouco mais ou menos cousa semelhante,
posta em harmonia e consonancia com o dis eu fiquei persuadido, póde ser erro da minha
curso da coróa. O discurso da coróa diz : « Bre parte, que o nobre ministro queixava-se de seus
vemente vos hão de ser apresentados os contractos companheiros
e estipulações feitas para a realisação de estradas O Sr. Aprioio :—Esta não pega.
de ferro, segundo a lei que foi decretada, etc. »
O que é que responde nesta parto o voto de gra O Sr. Nebias :—Todas estas proposições que
ças? « Senhores, a camara dos deputados conhece o nobre ministro emittio forão para de alguma
que as estradas de ferro conduzem muito para maneira rep^llir a separação que se quiz, esta
prosperidade do nosso paiz, etc. » belecer entre elle e seus companheiros ; no en
Ora, quer a camara uma declaração mais fran tanto, eu pela minha parte (e creio qne mais
ca em um ponto tão importante ? Certamente que alguem na camara) fiquei persuadido que o
não ; não póde haver nenhuma explicação que nobre ministro tinha queixas muito sérias de
concilie o pensamento exarado neste topico com seus companheiros
ossa adhesão que o nobre deputado manifestou O Sr. Ministno do Imperio:—Declaro que não.
nas outras partes da resposta. Isto significa muito
a falta de confiança. O Sr. Nebias : — .... pelo que eu pretendia,
Quer o nobre deputado mais factos para ao usando da palavra, -pedir ao nobre ministro e
menos alguns representantes da nação que se a seus companheiros que se harmonisassem.
achão aqui sentados duvidarem do apoio que de Estimo muito estar nesta parte enganado, es
vem prestar á administração actual ? Foi o no timo muito que os meus apontamentos me fa
bre ministro do imperio mesmo que hoje no lhassem neste momento —
principio do seu discurso me forneceu o maior Um Sr. Deputado :—Tomou as palavras do Sr
thema, para que não possamos considerar o mi ministro com má vontade.
nisterio no estado de merecer a plena adhesão da O Sr. Nebias:—Não, com muito boa vontade.
camara. Eu me explico. Daqui concluia cu que havia qualquer vicio na
O nobre ministro queixando-se desses boatos organisação do actual ministerio ; estava tão
vagos ou dessas conversas de reposteiro que mais persuadido das queixas do nobre ministro que
ou menos querião inquinal-o ou compromettel-o eu tinha de tirar esta conclusão—que o ministerio
(não sei como se explicou o nobre ministro : actual tinha vicio na sua organisapão pessoal.
creio que de alguma maneira quiz estranhar o Ora, como estou ainda persuadido que este
q ue hontem disse o meu lllustre amigo ácerca vicio existe, emquanto não fór inteiramente ex
d e divergencias entre os diversos ministros, ou plicado o pensamento que ha pouco emittio o
entre o Sr. ministro do imperio e seus compa nobre ministro, razão teria para dizer ao illustre
nheiros) ; mas o nobre ministro queixando-se des relator da commissão que por este motivo tam
ses boatos disse : o ministerio marcha todo de bem não podemos dar um franco apoio ao mi
accordo ; ó verdade que em certos actos não nisterio.
póde haver perfeita harmonia, que em certos Sr. presidente, analysando ainda alguns facto?
actos os ministros não se podem entender sem eu creio que nós temos razão bastante para
pre.. . pedir explicações solemnes aos nobres minis
O Sr. Aprioio :—O Sr. ministro não disse isto. tros.. ..
O Sr. Nebias : — Pois bem, direi que não é Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou
este o ponto principal a que atiro. Disse porém vimos.
o Sr. ministro que em muitos actos de menor O Sr. Nebias :—Estou proporcionando ao mi
importancia nem sempre o ministro podia mar nisterio occasião de acabar com algumas duvi
char de accordo com seus collegas.... das (apoiados), tanto mais que o nobre minis
O Sr. Ministno do Imperio : — Eu não disse tro do imperio, acerescentando esse pensamento
isto. quo eu mal havia comprehendido, chegou a di-
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 31
zer não em relação a seus companheiros, mas O Sr. Ministno do Imperio :—Considere o ho
em .relação a esses boatos que por ahi correm mem mais elevado da terra ; não preciso delle.
que ello era uma das victimas apontadas para O Sr. Nebias :—E' bastante a resposta do nobre
a modificação ministerial. . . ministro para me persuadir de que não errei,
O Sr. Apríoio :—Elie não disse isto, está en quando tomei os apontamentos de suas queixas.
ganado. Tratando dos outros ministerios, Sr. presidente,
O Sr. Nebias : — O nobre ministro declárou poderemos tambem achar em uma analyse mais
francamente que nas versões ministeriaes que ou menos longa , em um exame mais ou menos
por abi se espalhavão era elle apontado como severo, actos que nos ponhão em duvida sobre
um dos que devem sahir do ministerio, como o apoio que por ventura merece a administração
uma das victimas da modificação ministerial acuai.
mais ou menos proxima... A respeito do ministerio da marinha, com effeito
ahi não vemos factos capitaes. Vemos o nobre
O Sr. Ministno do Imperio:—Nem fallei nisto- ministro deàsa repartição com seu talento muito
O Sr. Aprioio :—Foi conversa que o senhor conhecido ; vemos a marinha brazileira composta
ouvio em outra parte. de elementos que fazem tanta honra ao paiz; nada
O Se. Presidente :—Eu reclamo attenção. ha pois de notavel que provoque uma opposição.
Apenas algum desembarque de africanos por falta de
O Sr. Nebias :—Tanto fiquei persuadido desta fogo nos vapores e um naufragio por falta d'agua.
queixa do nobre ministro.... Cumpre notar que a respeito do caso que
(Ha palavras trocadas entre o Sr. Fiusa e o mencionoi em primeiro lugar, o desembarque do
Sr. Figueira de Mello ; o orador pára por al africanos, os nobres ministros da marinha e da
guns instantes.) justiça não se mostrárão com a desejada soli
dariedade ; porque , Sr. presidente , o que tirei
O Sr. Presidente: —Attenção I Eu peço aos outro dia em resultado das minhas interpella- '
Srs. deputados que deixem o orador continuar ções ao Sr. ministro da justiça foi, não no ponto
o seu discurso. por mim provocado, mas em outro sobre que versa
O Sr. Nebias :—Tanto fiquei persuadido dessaa a discussão, que o Sr. ministro da justiça lan
queixas do nobre ministro? que disse commigo; çou a carga sobre o Sr. ministro da marinha,
não tenho ouvido fallar na do Sr. ministro do o que o Sr. ministro da marinha lançou a carga
imperio, tenho ouvido sim proximamente fallar sobre o combustivel. Assim pois é de lamentar
na sahida do Sr. miuistroda justiça, porque até que em um ponto desses, em que as duas re
a respeito deste dá-so aivgra do equilibrio que partições devião marchar na maior intelligencia,
o anno passado trouxe a nova oiganisação do apparecesse uma contradicção e uma aceusação
ministerio. Mas em verdade cu estou entendendo reciproca entre os Srs. ministros.
muito mal ao nobre ministro do imperio ã vista das Se lanço os olhos sobre o ministerio dos ne
interrupções que soffro: é defeito meu,estimo muito gocios estrangeiros, tão sabiamente dirigido, vejo,
que em tempo fossem reti ficados estes meus Sr. presidente , essa questão do Rio da Prata,
erros, estimo muito que o nobre ministro tenha assumpto melindroso e de toda reserva , mas
com seus companheiros toda essa solidariedade que em verdade, marchando como vai, humilde
de probidade. mente declaro que a mim o a alguns brasileiros
O Sr. Ferraz :—Duvida ? causa desde já serios receios
V. Ex. sabe, o nobre ministro dessa reparti-
O Sr. Nebias :—Para que me interrompem? çãs melhor tem sabido e comprehendido a triste
O Sr. Ferraz :—Desejo que seja franco. situação do imperio durante o dominio do dicta-
O Sr. Nebias : — Para que me- interrompem sem dor Rosas. V. Ex. sabe dos esforços sinceros que
en concluir o meu pensamento ? com enthusiasmo aqui fizemos, do voto de pura
confiança que demos ao governo para habilital-o
Quero persuadir-me que o nobre ministro tem a pór os negocios do Rio da Prata no estado
com seus illustres companheiros toda a solidarie em que a civilisação e a humanidade exigião,
dade de probidade que pareceu pór ein duvida, na tanto como nossa honra , nossa segurança e
aua opinião , o meu illustre amigo que houtem nossos proprios interesses. V. Ex. sabe da in
fallou. Ora, ainda estarei em erro, senhores? tervenção do imperio nessa luta , intervenção
' Quero persuadir-me que se o nobre ministro necessaria, reclamada pela nossa situação interna,
do imperio fosse atacado naquillo que e tão essen sempre perturbada nas nossas fronteiras. Maa
cial a todo homem... V. Éx. bem vê que desgraçadamente o resul
O Sr. Ministno do Império : — Não póde ser tado não tem cossepondido a tanto trabalho., a
atacado. tantos sacriflcios.
O nobro ministro no seu relatorio disse-nos
O Sr. Nebias :—Não o estou atacando : o nobre que o nosso ministro naquella republica tem as
ministro é que me deu o direito de fallar desta instrucções necessarias para marchar sempre de
maneira pela insinuação que enxergou hontem accordo com a nossa honra e os nossos interes
no discurso do meu nobre amigo pelo Rio de ses, e que no emtanto o nosso governo assentava-
Janeiro. que a politica que devia seguir era a de neu
Ora, dizia eu, se o nobre ministro do imperio tralidade , reconhecendo sempre o director pro
fosse atacado em sua probidade, quero persuadir- visorio da Confederação.
me que seus illustres companheiros havião de Não sei, Sr. presidente, se no estado a que che
defendêl-o. gárão as cousas naquella republica a neutrali
O Sr. Ministno do^ Imperio : — Não preciso de dade será o que nos convém ; nem sou capaz de
ninguem para defender minha probidade. aventar idéa alguma a este respeito, porque sou
mnito humildo para o fazer. O que digo a V. Ex.
O Sr. Nebias :—Nem dos seus companheiros que ó que na nossa posição, dopois dos transtornos,
estão presentes? trabalhos e sacrificios porque já passámos com
O Sr. Ministno do Imperio : — De ninguem no essa vizinhança, creio que o Brazil não se deve
mundo.' pór a um canto amuado, sem obrar efficazmente.
O Sr. Nebias :—Basta I Isto por um lado ; o por outro lado, Sr. presi
dente, não sei o que dirão de nós as nações
O Sr. Dutra Rocha:— E todo homem honrado civilisadas e o que farão vendo o ostado de
assim deve pensar. ploravel daquello paiz por causa da guerra ci
32 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
vil que dilacera aquella familia dividida, a sna tuna detratar exclusivamente deste objecto, pedindo
nacionalidade ; nem sei se dahi nos virá alguma por um momento a indulgencia da camara. Tambem
responsabilidade tremenda perante Deos e os ho não quero servir-me de um principio que foi lan-
mens. Entretanto direi, servindo-mo de um pensa do nesta casa em certa discussão pelo Sr. Gonçaçal-
monto muito conhecido, que não basta que o san ves Martins, então deputado ; não quero estabele
gue brazileiro não tenha corrido, ó preciso que cer essa idea, essa sisania que muito pódo preju
a nossa honra tambem não corra. dicar a -marcha regular do nosso systema ; sim,
Se olho, Sr. presidente, para a repartição da não quero dizer, como disso outr'ora esse nobro
guerra, depois dessas questões odiosas que ap- deputado quando contando-nos a sua historia ,
parecórão no paiz e no parlamento, sinto dizêl-o, com todas as circumstancias, a respeito do capi
o ultimo resultado das averiguações tão miudas, tão Pedro Ivo, declarou, segundo a minha lem
tão severas que se fizorão, a sentença preferida brança que não era da córle que se governava as
pelo tribunal competente, absolvendo aos homens provincias ; não me servirei dessa grande auto
que o nobre ministro demittio e julgou crimi ridade.
nosos, ossa sentença condemna ao nobre minis'- Tratarei agora, Sr. presidente, do alguns to
tro. (Apoiados enão apoiados.) picos do discurso da coroa em relação ao voto
Uma Voz : — E' a absolvição do ministro. do graças que estamos discutindo. Censurou-se
muito ao meu nobre amigo deputado pel i pro
O Sr. Nebias : — Eu não o condemno, e fallo com vincia do Rio do Janeiro por encetar esto so-
toda a reserva o bastante pezar. lemne debate com o mesquinho assumpto das
Ora, pois, quando da minha parte considero estradas de ferro. Não é meu proposito entreter
as cousas neste estado, creio que tenho alguma a ca.uara neste momento com as estradas de
razão para apresentar-mo em divergencia com o ferro, assim como o nobro ministro nos confes
ministerio actual. sou que queria entreter as povoações do norte....
Sei bem, Sr. presidente, que se me ha de lan Dou parabens ao paiz, e a mim tambem que
çar em rosto o descontentamentj ; não dissimulo fui enthusi ista das estradas do forro em 1831
essa arguição que se mo ha de fazer por parte nesta camara, por ver que hoje o Brazil já conta,
do ministerio ; sei bom que já se tem dito que a para principio, de quatro a seis estradas de
camara actual tem uma opposição, porque tem lerro I Só neste pcçjueno circulo, deste centro
muitos descontentes. Mas V. Ex. vê que ao lado industrial do Rio de Janeiro para as povoações
daquelles que estão descontentes ha uma grande de sua provincia, de Minas e S. Paulo, lia tres :
fileira de contentes o contentissimos. a ostradn da lei de 26 do Junho, a do Sr. Iri-
nóo, o a do Sr. Cochrane. Além destas tomos a
. O Sr. Sayão Lobato Junior : — Apoiado. estrada de Pernambuco, temos a projectada es
O Sr. Nebias : — Quero dar de barato desdo já trada de S. Paulo, da qunl nos fallou o nobre
o meu descontentamento, não quero que se me ministro, o que penso estar em via de execução,
lance isso em rosto ; mas o que digo a V. Ex. porque o actual presidente daquella provincia
e o que procurarei mostrar em occasião oppor- declarou á assembléa provincial que tinha toda
tuna é que o meu descontentamento não é me a garantia, o depositava a maior confiança nas
nos legitimo o nobro do que o contentamento de pessoas respeitaveis que ostavão á testa de so-
muita gente. -melhante empresa ; o tomos tambem a estrada
da Bahia á villa de Jòaseiro. Realmente esta
O Sr. Taques : — E-tão no mesmo posto em mos ameaçados do seis estradas do ferro, o que
que sempro estiverão. ó do certo um progresso espantoso. E ainda nos
O Sr. Nebias : — Tambem ou estou nos mes levão a mal que tratemos com preferencia das
mos principios e pretendo sempre militar com estradas de ferro, que despertemos a industria
cllos. e estes interesses sociaes ?
O Sr. Taques : — O contentamento ó o mesmo O Sr. Ferraz dá um aparte não ouvimos.
de outras éras. O Sr. Nebias : — Já tive a honra de discutir,
O Sr. Nebias ; — O mesmo tenho até agora, o não com o talento do nobre deputado que mo
marcho com iguaes motivos. dá o aparto, mas com a mesquinha capacidade
_Bem explicadas as correspondencias que sahi- que a natureza mo concedeu, esta materia pe
rão no Jornal do Commercw talvez pudessemos rante meus companheiros na sessão de 1851.
tirar alguma cousa. . Sr. presidente, quero ni ausencia do meu
O Sr. Dutra Rocha : — Seria bom explicar o illustria amigo deputado pelo Rio de Janeiro,
seu pensamento, que não entendemos. não destruir, mas desfazer alguma impressão
desagradavel que por ventura um ou outro pen
O Sr. Nebias : — Essa luta que houve ahi, que samento seu tenha deixado na casa. Não tra
rendo uns conservar fulano, outros sicrano, por tarei ex-professo dosta materia, até porque tenho
esto ou por aquelle motivo, talvez signifique al medo do desafio que me acaba de fazer o nobro
guma cousa. deputado pela Baiiia.
O Sr. Dutra Rocha: — São mecliericos que so Disse o meu illustro amigo (quem melhor poderá
devo desprezar. responder ao nobre ministro, mas que agora so
acha ausente) que a unica estrada sensata na
O Sr. Sayão Lobato Junior : — Nascêrão da sua opinião, como representante da nação, era
primeira correspondencia. a linha que se dirige para este centro indus
O Sr. Nebias : — Não sei donde partem os me- trial do Rio de Janeiro com ramificações para
chericos. Minas e S. Paulo, cujo centro acha-se oxpli-
cado no mappa que tenho em mão para obser
O O Sr. Dutra Rocha : — Nem nós. var. Ora, eu não sei que o meu illustie amigo
O Sr. Nebias : — Tambem não sei qual foi a quizesso com isso desacreditar as outras em
primeira correspondencia. presas o offender aquellas pessoas que estão á
Sr. Presidente :— Não posso admittir dialogos. testa delias, e as promovem. Pois, Sr. presidente,
O o orador tem a palavra, continue a discorrer. póde-se pór em duvida que no estado actual do
nosso paiz não convém, não é mesmo judicioso
O Sr. Nebias : — Sr. presidente, não quero alimentar duas linhas parallelas que mutuamente
agora oceupar a attenção da camara com a mi se perturbão e se prejudicão ? E' isto offender as
nha demissão, negocio todo pessoal e do puro outras estradas, ou é sustentar um pensamento
descontentamento ; talvez tonha occasião oppor- muito justo e muito pratico ? Dcvéras assenta o
SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853 33
nobre minstro, e assenta uma grande parte da ca- ao passo que essa outra chamada de 36 de Junho
marn, que seria sensato para o futuro do paiz, e quando chega a tocar-se com a de Mauá já tem
mesmo destas empresas, alimentar duas linhas percorrido e comprehendido uma grande porção
parallelas, quando nós sabemos que toda a pro- de terras cultivadas, grandes povoações, que for
ducção desses confornos será talvez indispen- necem talvez a principal e abundante producção
vel para alimentar um i só dessas linhas ? com que se póde sustentar uma estrada de ferro;
No anno atrasado discutimos muito seria sahe do municipio neutro pela Pavuna, compre-
mente, e com dados muito positivos, esta mate hende o municipio de Iguassu, Vassouras, onde
ria ; calculámos todo o rendimento da produc- terá de dividir-se em dous ramaes , um para o
ção desses lugares, calculámos toda a despeza Porto Novo do Cunha atravessando os munici
da factura e do costeio dessas estradas, calcu pios de Vassouras, Parahyba do Sul e Magé, '
lámos uma quantia que pudesse no futuro resal- devendo introduzir todos os objectos transporta
var a garantia do thesouro, e calculámos uma veis hoje pelos portos de Iguassu, Pilar, Estrella,
reducção em proveito de todas as pessoas, pro- Magé e Piedade , outro para Rezende , atraves
ductores, commerciantes , passageiros, que se' sando os municipios de Pirahy e Barra Mansa,
pudessem utilisar de taes estradas. que deve conduzir os objectos que passão hoje
O Sr. Ferraz : — Sobre que dados se fizerão por Itaguahy, Jerumirim e Mangaratiba.
esses calculos? Veja pois V. Ex. qual das linhas está mais bem
figurada e garantida, qual das duas é mais pos
O Sr. Nebias : — Sobre os dados mais ou me sivel, qual mais provavel, mais praticavel, se esta
nos approximados que se podião ter das esta ou a outra que se quer franquear , que apenas
tisticas desses lugares e da producção que avulta, tem por si a cidade da Parahyba do Sul. Ora,-
e que corre dos differentes pontos para esta vê pois o nobre ministro e muitos membros da
grande cidade, e daqui para esses lugares. camara que hontem se agastárão com a exposi
O Sr. Ferraz:— Fallo dos calculos da estrada. ção do nobre deputado pelo Rio de Janeiro, que
elle não proferio nenhum absurdo quando disse
O Sr. Nebiab : — Forão feitos sobre a base de que a estrada projectada na lei de 20 de Junho
outras nações, procurando- se iguaes terrenos, ou era a unica sensata que por ora se podia levar a
differentes terrenos, tudo isto mais ou menos, e então effeito no paiz. '
entendêmos nós que não era possivel que a pri Sr. presidente, eu não quero acompanhar as
meira empresa desta ordem fosse estabelecida complicações dessa empresa, mas farei uma só
no Brazil com bases positivas, como acontece na pergunta ao nobre ministro. A' vista do seu re
Inglaterra, que, como o nobre deputado sabe, latorio chegárão as cousas até o ponto que ó
quando se apresenta uma proposta destas na publico, e o nobre ministro nos communica então
camara dos communs, já é calculada exactamente ; que remetteu o uegocio para Londres, onde po
e então pelos dados possiveis, pelos exames fei dia haver uma concurrencia publica, e em ordem
tos, e pelo conhecimento que tinhamos daquellas a se realisar mais proniptamente e com melhores
localidades, julgámos que podiamos tentar a condições. Para lá forão daqui alguns concur-
arriscar a primeira empresa. rentes que já se havião apresentado. O Sr. Co
Lembro-me bem que nessa occasião, não só chrane disputando sempre os seus direitos, e o
por falta de calculoe dados positivos, como por Sr. Barbacena que queria tambem a empresa.
uma especie de rivàlidado que appareceu na dis Julga o nobre ministro que remettendo a questão
cussão, houve muita gente que se oppóz á es tal qual se achava para o nosso ministro tratar
trada projectada ; notamos mesmo um tal ou de formar a companhia, tudo está decidido ? V. Ex.
qual ciume que não devia apparecer do lado de mesmo, Sr. ministro, no seu relatorio confessa
certas pessoas. Eu não estou discutindo agora a que o Sr. Cochrane ainda disputa seu privile
possibilidade das estradas de ferro, estou apenas gio, que continúi a fazer opposição apezar do go
dizendo aquillo que se passou, estou mostrando verno ter declarado caduco o sou contracto...
os prejuizos e inconvenientes que por ventura
podem resultar de duas linhas parallelas, entre O Sr. Ministno do Imperio : —Isso é outra cousb,
tanto que o nobre deputado pela Bahia ainda é negocio aparte.
a respeito de uma só põe em duvida todos os O Sr. Nebias: — Ora, pergunto eu, emquanto
calculos, toda a probabilidade da receita e des o governo e o paiz não se desembaraçar do
peza. privilegio disputado pelo Dr. Cochrane, poderá
Sr. presidente, eu sou inimigo do monopolio; uma estrada de ferro, que tenha de encontrar-se
mas neste caso não sei o que podiamos fazer para com essa, ir avante com prosperidade? Digo a
se alimentar a primeira empresa desta ordem: não V. Ex. que não. Emquanto na praça de Londres
sei se poderiamos deixar franco todo o territo se apresentar um concurronte, que foi cá do
rio com o intervallo do 5 leguas para se crea- Brazil, disputando o direito (como diz o Sr. mi
rem differentes linhas ou caminhos de ferro ; o nistro no seu relatorio) do seu primitivo contracto,
resultado seria o que pouco mais ou menos estamos não se ha de facilmente organisar uma companhia
presenciando, eternisar-se, nunca levar-se a effcito que traga para o Brazil fundos tão altos e precisos
a primeira estrada de forro no Brazil. para uma empreza desta magnitude.
Sr. presidente, as cousas chegárão a tal ponto O Sr. Ministno do Imperio : — Tenho boas in
que eu não sei realmente qual das estradas te formações a esse respeito.
nha de ser levada a efleito, não sei se será
aquella vulgarmente chamada da lei de Junho, O Sn. Nebias : — O nosso ministro em Londres
ou essa de Mauá: eu não sei qual delias o nobre declara qual ó o seu pensamento, e vem a ser
ministro julga mais conveniente, porque não sei que no Brazil não se poderá estabelecer uma
se ambas poderião sor approvadas, poderião sor estrada do ferro sem privilegios certos e sem a
apoiadas pelo nobre ministro. Ambas partindo garantia e segurança dos fundos desde o seu
desta córte em differentes direcções irão encon- primeiro emprego, que tudo mais seria negocio
trar-se no rio Parahyba, e ahi é ondo pela pri irrisorio que nunca teria execução. Mas não
meira vez a estrada de Maua encontra alguma terá nada isso com a duvida que proponho ao
população , com probabilidade de obter alguns nobre ministro.
productos para o seu movimento , ao passo que O nobre ministro sabe que o Sr. Cochrane
a outra estrada de 26 de Junho (mas que eu não ha pouco rejeitou esse favor que se lhe quiz fazer,
sei se o nobre ministro confunde com a estrada querendo o nobre ministro ampliar-lhe o prazo
do Sr. Cochrane, ou alguma outra que póde ser para dar começo á sua obra, ou perder o seu
autorisada pela disposição geral do 1° artigo), ' direito ou entrar com a multa; o Sr. Cochrane
tomo 3. 5
34 SESSÃO EM 2 DE JUNHO DE 1853
rejeitou, segundo disse o nobre ministro no re e moderação do governo o estado de paz e tran
latorio, preferio entrar com a multa. Foi por isso quillidade, então ou tirava uma triste conse
que lia pouco pedi no nobre ministro o acto de quencia, e era que os governos passados, aos
revalidação do contracto de 1849. Emquanto o quaes de todo o meu coração apoiei, aos quaes
Sr. Cochrane estiver debaixo dessas idéas, e con sempre defendi, que tiveráo a desgraça de ver
vencido do seu direito, quizer nos prazos deter uma revolução em Pernambuco, uma revolução
minados entrar com essas multas... em Minas e outra em S. Paulo, erão governos
O Sr. Ministno do Imperio:— Não póde mais sem moderação, governos injustos e perversos.
Tenho muito medo dessa conclusão, e por isso
O Sr. Nebias: — Então ha um prazo só? Quando achei de mais a parte a que me tenho refe
finda elle? O nobre ministro julga isto muito rido no voto do graças, achei que era saliir
facil; mas o Sr. Cochrane Iá foi parada Inglaterra, fóra do pensamento ministerial, inserto na falia
e virá fazer suas reclamações. Pergunto eu, em no throno, e por isso, Sr. presidente, entendo
quanto este negocio não estiver definitivamente que alguma modificação é necessaria nesta parte.
declarado, emquanto não se convencer por qual E' aceitando ainda o conselho ou dictame
quer modo ao proprio Sr. Cochrane que elle do nobre relator da commissão que talvez eu
não tem mais o direito desse contracto, não ha c alguns collegas meus tenhamos de apresen
de haver duvidas muito sérias para qualquer tar emendas nesse sentido aqui e em alguns outros
companhia que se tenha de organisar em Londres topicos.
para este, fim ?. . . Sr. presidente, hoje é verdade reconhecida no
O Sr. Ministno do Imperio dá um aparte que paiz, creio que todos nós reconhecemos que não
não ouvimos. se quer revoluções. O paiz está escarmentado ;
O Sr. Nebias: — Não sabemos ainda se o Sr. Co aquelles que oufrora por suas loucuras se atiravão
chrane poderá organisar outra companhia. O que aos meios revolucionarios estão desenganados,
quero diaer e que sem so embaraçar a questão já estão convencidos de que por esse modo
desta difficuldade hão de continuar os tropeços, nada conseguem nem para o progresso do paiz
e quem sabe quando teremos de ver começada nem para o progresso de suas idéas. E' poi3,
a ostrada de ferro. Eu sei que mesmo nu paiz Sr. presidente, a Divina Providencia, o bom
havia capitalistas respeitaveis, pessoas de muito senso dos brazileiros, a experiencia dolorosa do
probidade e muito jledicadas ao trabalho e execu nossa vida passada, quem traz a paz e a tran
ção desta obra, que julgando o Sr. Cocliruue quillidade. Se não fóra isto, se dominasse ainda
com mais ou menos direito a indemnisações pelos a mesma fascinação de idéas exageradas, o go
seus trabalhos, pelas suas grandes despezas, esta- verno com toda a sua moderação e prudencia
vão promptas a entrar com a quantia necessaria não seria capaz de obstar a uma explosão po
para a indemnisação do Sr. Cochrane; não sei pular.
se se offereceráo o quizerão depositar 300 ou O Sr. Vasconcellos:— Como em outras épocas
300:000$000. Era este seguramente o moio mais não póde obstar.
prompto e mais digno de acabar a questão. O Sr. Nebias :—E era justo o moderado. Aceito
Mas o que eu perguntava ao nobre ministro o" aparte do nobre deputado. Se disserem que a
era se emquanto as cousas estiverem assim o prudencia e moderação do governo é que nos traz
nobre ministro julga que 6 possivel incorporar a paz e tranquillidade, então se poderia concluir
promptamente e com vantagem uma companhia que revoluções de outras épocas como a de Per
na praça de Londres. Nada mais direi a este nambuco, S. Paulo e Minas, forão por causa do
respeito. procedimento do governo ; e é esta triste e fu
Agora passo a fazer algumas observações ácerca nesta . consequencia que quero evitar propondo a
do primeiro topico di falia do throno em relação suppressão dessas palavras no voto do graças ;
á resposta da commissao. emenda essa que vai do accordo com a>esposta
A falia do throno disse : « Rendamos graças tambem muito meditada do senado, e que temos
á Divina Providencia pela paz e tranquillidade presente.
de que gozamos ; á sombra delia se desenvolvem Agora , Sr. presidente , direi quatro palavras
de dia em dia os geimens da riqueza e pros
peridade nacional. » A resposta da camara ou sobre o topico que diz respeito ao trafico de afri
voto de graças proposto pela illustre commissão canos. Outro dia tive occasião de interpellar ao
diz : « Rendemos graças á Providencia e d po ministerio sobro esses fataes acontecimentos que
litica moderada e justa do governo que tem tra tiverão lugar no municipio do Bananal, na minha
zido em compensação a paz e a tranquillidade provincia. O nobro minstro da justiça, não que
publica. » Esta differença tão notavel que vejo rendo dar uma resposta cabal, usou de alguma
entro o discurso da coroa e o voto da commissão reserva : não lhe contesto.
suggerio-me algumas observações. Eu disse então, Sr. presidente, que tinhão ha
O discurso da coròa dá graças á Providencia vido alli excessos e abusos que punhão em pe
pela paz e tranquillidade que reina no imperio ; rigo a propriedade do nosso paiz , em grande
por que razão não havemos de responder no mesmo parte consistente em escravos, excessos e abusos
sentido á coroa? Por que razão não havemos de que não erão necessarios ; havendo uma perfeita
aceitar a benefica influencia da Providencia sem anarchia nas diligencias alli praticadas , tudo
fallar na justiça e moderação do governo ? com o fim de so descobrir africanos onde não
Se nós tivessemos sahido de um estado cala existião.
mitoso, se o paiz tivesse passado por alguma O nobre ministro no seu relatorio apresentou
desgraça recente, e a politica actual do governo uma emenda do accordo com seus companheiros
tivesse concorrido para lhe dar paz o tranquil do ministerio, julgando-a necessaria para a com
lidade, eu admittiria essa condição notada no voto pleta cessação do trafico ; e essa emenda re-
de graças ; mas quando vejo que desdo o ministerio duz-se a tirar do jury todos os julgamentos dos
passado nós estamos em estado normal, quando diversos crimes que ainda pelo jury erão julga
vejo que o governo actual não tem feito nada dos. Senhores, eu sempre hei de dar o meu voto
de mais, nada de novo, nada de differente que para 'tudo quanto seriamente possa concorrer
contribuisse para firmar 'a paz e tranquillidade, para a extincção do trafico; mas nunca votarei
eu até enxergo neste- topico do voto de graças por medidas que julgue infundadas e intem
uma coutradicção cóm o que temos praticado em pestivas.
outras occasiões semelhantes. Senhores, o trafico está quasi extincto entre nós,
Sr. presidente, se quizessemos attribuir á justiça e quem nega que a opinião esclarecida do paiz tem
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 35
coneorrido muito «fficazmente pira esse grande e veis do paiz têm havido absolvições, o ninguem
nobre resultado ? ainda ha clamado pela sua reforma.
O Sr. Vasconcellos : — E também os esforços O Sr. Aprioio:—Clamo eu.
do governo.
O Sr . Nebias :—Ha pouco a relação de Bahia
O Sr. Nebias :—Ninguem o nega. absolveu ao negociante Antonio Pinto da Fon
O Sr. Vasconcellos : — E' bom que se con seca, e absolveu, segundo penso, muito bem.
signe. Concluirei aqui, Sr. presidente, as observações
O Sr. Nebias:—Não contesto isso. Póde haver que tinha a fazer. São estes os topicos, sobre
um ou outro erro, um ou outro desencontro de que tenho faltado, que quanto a mim, merecem
vapores, mas isto não accusa o governo. Eu já algumas emendas que talvez no correr da dis
declarei que não contestava os esforços do go cussão tenhamos de apresentar ; é aquello quo
verno ; e não é certo qne o nobre ministro da diz respeito ás medidas da repressão do tranco,
marinha até gostou muito da maneira por que e que já pelo senado não foi inuito bem aceito
então fallci ? Não nego isso; não pense que por quando na sua resposta diz que examinará com
causa da posição que tomo hei de faltar á mi muito escrupulo as medidas ^ae o governo pro-
nha dignidade ; está enganado o nobre deputado puzer; ij o outro topico que quer attribuir ás
e enganados estão todos aquelles que mo fazem providencias ou politica do governo a paz e a
essa injustiça. tranquillidade de que goza o paiz ; é aquelle que
diz respeito ás estradas de ferro, qne para mim,
O Sr. Vasconcellos :—Não lhe faço injustiça. e para muita gente, envolve uma censura amarga
O Sr. Nebias : — Ainda conservo os mesmos ao Sr. ministro do imperio.
principios, sou saqnarema conservador, hei de Entendo que estes tres topicos justificão uma
apoiar sempro o systema que por elles se tem opposição, e devem ser seguramente votados
desenvolvido. pela camara em toda sua consciencia Eu até
Mas, dizia eu, Sr. presidente fnem o aparto fiquei admirado quando vi o nobre deputado
do nobre deputado era necessario para o meu fim), ela B ihia, membro da commissão de resposta
que ninguem nega que a opinião esclarecida do a* falia do throno, assignado no parecer que se
paiz tem concorrido efficazmente para a extinc- discuto I Não sei como o nobre deputado póde
ção do trafico: a* coroa o tem dito ás cama tragar o topico relativo" ás estradas de ferro.
ras, as camaras o têm dito á coróa, a Ingla O Sr. Aprinio: —Então fui illaqueado talvez ?1
terra o reconhece ; ó um pensamento . univer O Sr. Nebias: —Será possivel que o nobro de
sal. . . putado entenda que este topico é muito minis-
O Sr. Ministro dos Neoócios Estranoeinos faz terialista, e esta em correspondencia com o
signal affirmativo. - discurso da coróa?
O Sr. Nebias:—E agora, Sr. presidente, quando O Sr. Aprioio: — Então o que acha? Julga
a opinião do paiz offerece todas estas garantias, que não sou sincero?
quando cila tem mostrado por factos e por uma O Sr. Nebias :—Ao contrario, digo que por co
conducta perseverante e até soffredora, que não nhecer mesmo a sinceridade do nobre deputado
quer o trafico, ó que o ministerio julga neces e o seu ministerialismo..i.
saria e opportuna a reforma que tira ao jury,
a esse tribunal que acompanha e explica a opi O Sr. Aprioio :—Apoiado.
nião, o julgamento desses outros crimes que ain O Sr. Nebias:— custou-me muito ver sou
da lhe restavão? Realmente não sei com que se nome assignado no parecer.
possa fundamentar esta doutrina. Que abusos,
que grandes crimes, que grandes horrores tem O Sr. Aprioio :—Sinto isto muito.
commettido o jury no julgamento do trafico, O Sr. Nebias :—Desejo ouvir ao nobro deputado
nestes ultimos tempos ? Apparecem reclamações o sustentar o apoio ministerial dtste topico, e
escandalos contra o jury? E' só porque o jury senão, ha do concordar commigo e votar no
absolveu a esses homens do Bananal, muito mesmo sentido, tanto mais que o illustre relator da
mais que innocentes, que alli se tratou do com- commissão, fallando em geral sobre o pensnniento
prometter? Nunca se procurou reformar o jury, que domina a resposta, não tocou neste ponto
e agora unicamente que se trata disto quando e por que? Certamente que elle nf.o favorece
apenas dosembarcárão 500 africanos em um anno ao ministerio, sobretudo depois da analyse do
inteiro. meu nobre amigo deputado pelo Rio de Ja
O Sr. Dutra Rocha:—A medida não é só para neiro.
agora, é para o futuro. Tenho concluido, Sr. presidente ; neste accordo
o com estas modificações pretendo votar pela
O Sr. Nebias :— Quando não so garantir o fu- resposta em discussão.
turo com outras medidas, creia o nobrò depu Alc.uns Senhores :—Muito bem I
tado que não será com esto que ficará garantido.
O nobre deputado sabe bem o calculo que os A discussão fica adiada pela hora. #
nobres ministros de estrangeiros e da justiça O Sr. Presidente marca a orflem do dia se
apresentárão em seus relatorios, do limitadis guinte, e levanta a sessão ás 3 horas da tarde.
simo numero de africanos que desembarcárão
no ultimo anno. Portanto, digo eu, quando a
opinião está no seu verdadeiro terreno, quando
conhece os seus legitimos interesses, • tem au Sessão em 3 de Junho
xiliado as diligencias do governo, quando por
toda a parte as autoridades locaes têm dado PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
provas de um zelo tão louvavel na repressão
ao tranco, não é esta a occasião mais propria Summario.—Expediente.—Eleição da mesa —Apre
Sara fazermos semelhante alteração no tribunal sentação de projectos. — Discussão do voto de
a opinião. Não tem elle apresentado escandalos graças. Discursos dos Srs. Dutra Rocha e
em seus julgamentos ; só porque forão absolvi Paula Candido.
dos 3 ou 4 fazendeiros do Bananal, repito, é
que se quer fazer essa reforma I ( A's dez horas feita a chamada, achárão-se
Senhores, em outros tribunaes muito respeita- presentes os Srs. Maciel Monteiro, Siqueira Quei-
36 SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853
roz-, Pedreira, Luiz Araujo, Miranda, Pereira da que o Sr. Dutra Rocha exprimiu alguns outros
Silva, Aprigio, Mendes da Costa, Ribeiro, barão conceitos que provocárão contestações.
de Maroim, Fleury, Assis Rocha , Lindolpho, Este ó que e o facto ; o Jornal não dá idéa
Teixeira de Souza, Paula Candido, Rocha, co exacta do que aconteceu, o julgo "do meu dever,
nego Leal, D. Francisco, Belfort, Fernandes Vieira, como membro da camara, fazer esta reclamação,
Viriato, Almeida Albuquerque, Macedo, Octa pedindo a V. Ex. que, so fòr possivel, dê alguma
viano, Evangelista Lobato, Paula Santos, Macha providencia afim de que não seja transviada a
do, Dutra Rocha, Monteiro de Barros, Wanderley, opinião publica com semelhantes inexactidões.
Angelo Custodio, Paes Barreto, Firmino Silva, (Apoiados.)
Fiuza, vigario Silva, Euzebio, Nebias, visconde O Sr. Vaíconcollos (para um pedido á
de Baependy, Vasconcellos, Barbosa, Bandeira de mesa):—Sr. presidente, logo nos primeiros dias da
Mello, Figueira de Mello, Pimenta de Magalhães, sessão apresentei um projecto sobre bispados as-
Domingues Silva, Ferreira de Abreu, Livramento, signado por mim e por alguns illustres collegas,
Ferraz, Wilkens e Raposo Camara. e manifestei o desejo de que attentas as suas
Comparecêrão depois da chamada os Sm Theo- disposições, fosse adoptado esteanno; mas como
philo, Rego Barros, Ribeiro da Luz, Horta, pa ainda não foi dado para a ordem do dia depois
dre Campos, Gouvoa , Silverio, Araujo Lima, de 20 e tantos dias v de apresentação, peço a
Brandão, Paula Fonseca, Bretas, Casado, Pereira V. Ex. se digne offerecêl-o á consideração da
Jorge, Castello Branco, Seára, Costa Machado, casa, para vermos o que merece, se a sua appro-
Frederico de Oliveira, Paranaguá, Taques, Santos vação ou rejeição.
e Almeida, Zacharias e Gomes Ribeiro. O Sr. Presidente : —Esse projecto ainda não
Havendo numero legal o Sr. presidente abre foi impresso e distribuido, por isso não tem
a sessão ás onze horas menos um quarto. sido dado para a ordem do dia ; mas o nobre
Lida, e approvada a acta da sessão antecedente, deputado será attendido onportunamente.
o Sr. 1» secretario dá conta do seguinte
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
EXPEDIENTE ELEIÇÃO da mesa
Um officio do Sr. deputado José Agostinho Procede-se a eleição para nomeação de presi
Vieira de Mattos participando não comparecer dente o recebem-so 80 cedulas. Sahe eleito o
ás sessões por estar de nojo pela morte de seu Sr. Maciel Monteiro com 09 votos.
sogro.—Manda-se desanojar. Segue-se a eleição de vice-presidente. Reco-
O Sr. Aprígio (para uma reclamação) : — lhem-se 79 cedulas. Sahe eleito o Sr. Luiz
Sr. presidente, o Jornal do Commercio, que dá Antonio Barbosa com 57 votos.
os traballios da casa, traz hoje uma inexactidão Procede-se á eleição de secretarios. Recolhem-so
muito notavel, e que esta augusta camara não 79 cedulas. Sahe eleito o Sr. Luiz Antonio Bar
deve por fórma alguma sanccionar. Rofiro-me bosa com 57 votos.
ao final do discurso do nobre deputado pela
provincia do Rio de Janeiro, que orou em pri Procede-se á eleição de secretarios. Recolhem-se
meiro lugar contra a resposta a falia do thiono, 77 cedulas, e sahem eleitos os Srs. :
e lerei o que diz o Jornal. Paula Candido com 61 votos.
« O Sr. Sayão Lobato : —Tenho concluido. Siqueira Queiroz » .50 »
Jaguaribe . . » 46 »
« O Sr. Barbosa :—Justificou completamente o Paes Barreto . » 4(! »
acto do governo (Não apoiados.)
« O Sr. Dutra Rocha :—E discutio a resposta Havendo empate entre os Srs. Paes Barreto
ã falia do throno somente com a questão de e Jaguaribe, a sorte decide que seja 3° secre
estradas de ferro. tario o Sr. Paes Barreto.
Supplentes os Srs. F. Octaviano e Teixeira de
« Muitos Srs. Deputados: — Discutio muito Macedo.
bem. »
A camara, que altentamente assistio a todo o apresentação de pnojectos
discurso do nobre deputado pelo Rio de Janeiro,
deve estar muito lembrada de que o Jornal do São julgados objectos de deliberação e vão a
Commercio traz o final do discurso que acabo de imprimir, para entrar na ordem dos trabalhos,
referir essencialmente differente do qne so passou os seguintes projectos :
realmente (Apoiados.) « A assembléa geral legislativa resolve :
A verdade é osta que vou expór:—Quando o « Art. 1.» São concedidas á provincia de Goyaz
nobre deputado pelo Rio de Janeiro acabou o quatro loterias, que serão extrahidas na córte,
seu discurso, parece-me que só teve um ou conforme o plano das concedidas á santa casa
dous membros da casa, representantes por Per da misericordia.
nambuco, que lhe derão signaes de assentimento. « Art. 2.» O producto destas loterias será posto
O Sr. Fioueira de Mello:—Muita gente. á disposição do presidente da provincia ; divi
O Sr. Aprioio : —Só forão esses dous senhores, dido em quatro partes iguaes, serão applicadas;
sendo um delles o nobre deputado.... uma á construcção da matriz da villa do Santa
O Sr. Reoo Barnos : — Isso em nada influe. Cruz, outra á construcçãí do novo hospital da
caridade de S. Pedro de Alcantara, e duas para
O Sr. Aprioio :—Não estou dizendo que influe, as matrizes pobres.
estou restabelecendo os factos taes quaes suc- « Paço da camara dos deputados , em 3 do
cederão, e que forão as únicas adhesões dos Junho de 1853. — Antonio de Padua Fleury. — O
dous Srs. representantes pela provincia de Per conego, Feliciano José Leal. »
nambuco ao discurso do nobre deputado pelo
Rio de Janeiro, e um assentimento quasi geral « A assembléa geral legislativa resolve :
ao- dito do nobre deputado pela provincia de « Art. 1.» Ficão creados na provincia de Goyaz
Minas-Geraes, acompanhado de muitos apoiados, mais dous collegios eleitoraes ; um se reunirá
o que differe muito do que aquillo que aqui se na villa do Pilar, composto dos eleitores das
diz no Jornal, isto é, nao apoiados. Depois foi freguezias do Pilar, Crixaz e Amaro Leite;
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 37
outro se reunirá no arraial da Conceição , com eleitores das freguezias do municipio da mesma
posto dos eleitores da freguezia do dito arraial. cidade.
« Paço da camara dos deputados , em 3 de « § 2.» O collegio de Matto-Grosso, composto
Junho de |853.—Antonio de Padua Fleury. — O dos eleitores do mesmo municipio.
conego, Feliciano José Leal. » « § 3.» O collegio do Diamantino , composto
« A assembléa geral legislativa resolve : dos eleitores do respectivo municipio.
« Art. l.» Fica prohibida a concessão de pri « § 4.» O collegio de Poconé, composto dos
vilegios para a navegação a vapor nas aguas da eleitores das freguezias do mesmo municipio.
bahia do Rio de Janeiro e provincia do mesmo « § 5.» O collegio de Miranda , composto dos
nome. eleitores das freguezias de Miranda e Albuquerque.
« Art. 2 ° • Os actuaes privilegios, uma vez ex- « Art. 2.» Fica nesti parte alterada a lei
tinclos por qualquer principio, não poderão ser r. 671 de 13 de Setembro de 1852, e revogadas
renovados, qualquer que seja o pretexto. as mais disposições em contrario.
« Paço da camara dos deputados , em 3 de « Piiço da camara dos deputados , 3 de Junho
Junho de 1853. — João Manoel Pereira da Silva.— de 1853.—/. A. de Miranda. — Viriato Bandeira
João Antonio de Miranda. » Duarte. —S. F. Araujo Jorge. »
Vai á eommissão de estatistica, a pedido do E' julgado objecto de deliberação , e vai a
Sr. Miranda, a seguinte resolução : imprimir o seguinte projecto :
« A lei n. 671 de 13 de Setembro de 1852 de « A assembléa geral legislativa decreta :
termina que a provincia de Cuiabá tivesse qua
tro collegios. « Art. 1.» As provincias do imperio serão di
« Creou ella um collogio na villa de Nossa Se vididas em tantos circulos quantos forem os res
nhora da Conceiçao de Albuquerque. pectivos deputados geraes.
« Essa villa que havia sido creada por lei « § unico. O municipio da córte terá quatro
provincial de 5 de Julho de 1850 , deixou de circulos, e dará os respectivos deputados e se
existir por lei provincial do 17 de Junho de 1851, nadores, conservando a provincia do Rio de Ja
e as freguezias do Miranda o de Santa Anna da neiro o actual numero de deputados e competentes
Parnahyba passárão a fazer parte do municipio senadores.
da capital. A freguezia de Albuquerque não póde « Art. 2.» O governo, ouvidos os respectivos
constituir um collegio por si só. presidentes, fará a demarcação de todos os circu
a Creou mais a mesma lei um collegio na villa los, a qual, uma vez feita, só poderá ser alterada
de S. Luiz do Paraguay, composto dos eleitores por lei.
de S. Luiz de Matto-Grosso e Poconé. « S unico. Poderá o governo, se entender con
« Essa villa era a antiga freguezia de Villa- veniente, e para melhor commodidade dos povos,
Maria, e sendo erecta por virtude da lei pro crear subcirculos com collegios distinctos, cuja
vincial de 28 de Junho de 1850, deixou de exis- apuração geral será feita na cidade ou villa que,
-tir em consequencia da lei de 17 de Junho de como cabeça de circulo, fòr designada.
1851. « Art. 3.° Pelo mesmo modo se fará em todas
« Essa froguezia dá 3 eleitores, Poconé 13 e Matto- as provincias a eleição de membros das assem-
Grosso 10. Ella é hoje portanto apenas uma fregue bléas legislativas provinciaes, declarando o go
zia de Poconé." verno em seus regulamentos qual o numero que
compita dar a cada um circulo, não excedendo
« Sendo Poconé cabeça da segunda comarca, o numero que se acha actualmente em vigor para
e dando 13 eleitores como tirar delia o collegio cada provincia.
e obrigar seus eleitores a se irem reunir em um « Art. 4.» Não poderão ser votados para sena
ponto militar, que só dá 3 eleitores, qual ó Villa- dores, deputados geraes, ou membros das aslsem-
Maria? bléas provinciaes nos districtos em que exercerem
« Demais, com que utilidade se ha de obrigar autoridade ou jurisdicção os presidentes de pro
os 10 eleitores da antiga cidade de Matto-Grosso, vincias , seus secretarios , os commandantes de
que deve ser conservado, emquanjto alli se puder armas, os generaes em chefe, os inspectores de
elle reunir. fazenda geral e provincial , os chefes de policia ,
« A lei portanto de 13 de Setembro de 1852 os juizes de direito e municipaes, os delegados e
sancciona um grave inconveniente, que arredará subdelegados.
das urnas 26 eleitores pelo menos. « § unico. Os presidentes de provincia, com
« Um officio do honrado presidente de Cuiabá, mandantes de armas, generaes em chefe e chefes
dirigido ao governo em data de 7 do Dezembro de policia não poderão tambem ser eleitos, du
do anno findo , o qual se acha affecto á eom rante o exercicio de seus empregos, em qualquer
missão do estatistica, sustenta as idéas ex outra provincia que não seja a de seu nasci
pendidas. mento.
« E' minha opinião, pois, que se deve resta « Art. 5.» As funeções de deputados ge/aes
belecer u antiga divisão eleitoral. serão gratuitas. A nenhum pretexto lhes é devida
« Todavia, considerando qne aos eleitores da indemnisação de especie alguma.
freguezia de Albuquerque e de Miranda é mui « Art. 6.» O deputado que , durante a legis
penoso irem votar a Poconé , que ó o circulo a latura, aceitar do governo emprego ou eommis
que pertencerão, n a que virião a pertencer, são de qualquer especie , terá por esse iacto
acho de justiça c|ne se crêe um quinto collegio, renunciado ao lugar na camara, o qual será pre-
não em Albuquerque, mas em Miranda, visto sor henchido pelo supplente respectivo.
essa freguezia mais populosa, e que mais de prompto ct Art. 7.» A lei r. 387 de 19-do Agosto de 1816
póde ser elevada ã categoria de villa. será executada com as seguintes alterações :
« Em presença, portanto, dos dados enuncia « g 1.» O presidente da junta de qualificação
dos , tenho a honra de offerecer a seguinte re e mesa parochial , que será sempre o juiz de
solução : paz mais votado, não poderá exercer durante o
« Art. 1.» A provincia de Matto-Grosso terá quatriennio emprego algum que faculte o direito
cinco collegios eleitoraes. de prender.
a £ l.» O csllegio do Cuiabá, composto dos « § 2.» Os membros das juntas de qualifica
38 SESSÃO EM 3 DE 'JUNHO DE 1853
ç5o e das mesas parochiaes serão tirados á sorte nem tão pouco pessoa que se não acho quali
cTentre os eleitores e supplent^s presentes. O go ficada.
verno marcará o modo pratico do semelhante « Art. 13. Ninguem poderá entrar no lugar
operação. da eleição com armas, de qualquer especie que
« § 3.» No caso de impedimento ou dispensa tiver seja, inclusive chapéo de sol, ou bengala. O que
de qualquer membro da mesa, será 'o seu substi arma occulta, e que fór por isso denun
ciado, sorá em continente remettido á autoridade
tuto aquello que designar o mesario eleitor , se policial
fór o impedido um eleitor , ou o mesario sup- competente para ser devidamente pro
plente, se fór o impedido um supplente. Se fal cessado, perdendo por esse facto o direito de
tarem os dous eleitores ou os dous snpplentes, votar, se o tiver.
serão substituidos os primeiros por dous elei « Art. 14. Ficão revogadas as disposições em
tores, e os segundos por dous supplentes, sendo contrario.
tirados á sorte publicamente. E assim se irá « Paço da camara dos deputados, em 2 de
praticando de modo que nunca deixem de ser Junho de 1853. — João Antonio de Miranda.—
representadas a maioria e a minoria. Na falta João Manoel Pereira da Silva. »
absoluta de eleitores o supplentes , chamar-se-
hão quaesquer cidadãos, comtanto que notoria O Sr. v. Octaviano ; — A capital do im
mente pertenção ao lado politico dos substituidos. perio se acha em um estado lamentavel pelos de
sastres que soffreu ainda ha poucos dias. Omiti o
« Art. 8.» Serão rejeitadas em toda e qualquer a elegia desses sinistros, porque têm sido pa
eleição : tentes a todos os membros desta casa. '
« 1.» As cedulas que se acharem assignadas. A camara não ignora tambem que a municipali
« 2.» As que se não acharem fechadas. dade da córte, empenhada em algumas.obras im
portantes, onerada de gravissimos encargos o que
« 3.» As que se contiverem dentro de outras, tem de satisfazer, não póde distrahir da sua
quer essas outras se achem inutilisadas, quer limitada renda a quantia necessaria para occor-
não, não podendo tambem ser estas apuradas. rer a esses desastres. Ouso, portanto, em nome
« 4.» As que se acharem com nomes emenda da deputação fluminense, solicitar um auxilio
dos, borrados ou riscados e com entrelinhas. ' ara osse fim. Convém advertir que não será
« õ.» As que além dos nomes votados contive isso mais do que um adiantamento, pois me
consta que o governo pretende iniciar uma
rem provocações de qualquer genero, ou insultos medida
a quem quer que fór, exerça ou não funeções e ó de crer para a reforma das municipalidades ;
publicas. que tenha muito em vista aquillo
que é reclamado como um remedio vital parà
« 6.» As impressas, lithographadas ou autho- ellas, isto é, o augmento de sua receita, a des-
graphadas. centralisação da renda em proveito dos muni
« 7.» As que tiverem dentro ou no sobrescripto cipios.
carimbo, numeros ou signaes especiaes. Isto é materia muito urgente, o por isso re
« Art. í).» As juntas de qualificação e as mesas queiro a urgencia para poder apresentar um
parochiaes reunir-se-hão nos consistorios das projecto no sentido do que expuz á camara.
igrejas matrizes, e, quando esses não "sojão O Sr. Presidente : — O Sr. deputado póde
snfãcientes, nos lugares designados com a de apresentar o seu projecto sem a votação de
vida antecedencia pelas respectivas camaras mu- urgencia.
nicipaes. Ficão prohibidas as reuniõesdentro do E' julgado objecto de deliberação o seguinte
recinto das matrizes e dos templos.
projecto :
« Art. 10. A acta da apuração deverá ser la k A assembléa geral legislativa resolve :
vrada em seguida, e sem interrupção, nem mes
mo da noite. O tabellião do lugar, ou onde liar« Art. 1». O governo fica autorisado a auxi
desde já ã Illma. camara municipal da córte
houver mais de um, aquelle que fór com a de com a quantia de 400:000/!000, que serão empre
vida antecedencia designado pela respectiva ca
mara municipal, deverá assistir á escripturação gados nas obras publicas de mais urgencia da
da acta de apuração, e tambem logo, e sem in capital do imperio.
terrupção, nem mesmo da noite, a lançará no « Art. 2 ° Esta autorisação ficará sem effeito
mesmo lugar em o seu livro de notas, devendo se dentro do anno financeiro a renda da dita
ser cila assignada pela mesa e pelos eleitores camara fór elevada a um ponto tal que, dedu
que o quizerem. zidos os outros encargos municipaes, reste ainda
« O tabellião será obrigado a dar immediata- lente para as obras publicas uma quantia equiva
mente o primeiro traslado que se pedir, e 24 á decretada no artigo 1°.— S. a R. — F.
horas depois quantos forem pedidos. Octaviano. »
« O tabellião que infringir em qualquer sen SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
tido os deveres que lhe sao por esta lei impos
tos, perderá o emprego, com inhabilUação por DISCUSSÃO DO VOTO DE GRAÇAS
toda a vida para qualquer outro.
« O juiz de direito da comarca respectiva o Continua a discussão do projecto da resposta
metterá em processo immediato, com recurso ex- á falia do throno.
officio para a relação do districto no caso de O Sr. Dutra Rocha : — Sr. presidente, é
não pronuncia ou de absolvição. com bastante acanhamento que eu entro nesta
« Art. 11. Durante o recebimento das cedulas discussão ; deputado novo, ti sendo esta a pri
não poderão os espectadores unir-se ás mesas. meira vez que tenho a honra de fallar perante a
Estas deverão estar em um centro, apartadas representação nacional, já vê V. Ex. que tenho
d'aquelles por um gradil na distancia de cinco de pagar este tributo.
passos em circulo, do mndo que o votante, á Na verdade, Sr. presidente, que poderei eu
proporção que fór chamado, saia da multidão e dizer que valha a pena ser ouvido pelos nobres
seja distinctamente visto e reconhecido até o deputados (não apoiados), em todos os quaes
momento de lançar a sua cedula, em que pes reconheço grande capacidade ? O que podorei ou
soa nenhuma da mesa tocará. dizer, Sr. presidente, que valha a pena ser ou
« Art. 12. Não é permittido a pessoa alguma vido depois do luminoso discurso hontem profe
de parochia diversa tomar parte nas discussões, rido pelo nobre deputado pelo Rio do Janeiro,
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 39
um dos ornamentos da magistratura e da tri graças, limitou-se a tratar das estradas de ferro;
buna brazileira ? (Apoiados.) O que poderei eu e comquanto eu não desconheça as vantagens
dizer, Sr. presidente, que possa ser ouvido com que a Europa tem tirado delias, e mesmo alguns
favor por aquelles que só enxergão nos depu lugares da America, comquanto reconheça que
tados ministeriaes sentimentos menos dignos do ellas podem prestar grande beneficio ao paiz,
que aquelles que dirigem os deputados opposi- entendo comtudo que não são as estradas de
cionistas ? Entendo que os deputados ministe ferro os unicos assumptos de importancia para
riaes são guiados por motivos tão nobres, e o corpo legislativo, acho que o corpo legislativo
pela mesma independencia de caracter que di tem outras materias muito importantes de que
rige os deputados opposicionistas. (Apoiados.) oceupar-se, mesmo na ordem dos melhoramentos
Sr. presidente, vou fallar, porque não é meu materiaes. Portanto, não foi fóra de proposito que
proposito agradar a alguem ; pretendo simples alguns Srs. deputados estranhárão o discurso do
mente aquiescer aos dictames da minha con nobre deputado, por se haver exclusivamente
sciencia e corresponder á confiança dos meus nelle oceupado das estradas de ferro.
concidadãos. Sei mesmo que tenho de dizer cou E nem forno, Sr. presidente as estradas de
sas que não agradem, porém estou no firme ferro, foi sómente a estrada de ferro mandada
proposito de continuar o mesmo systema que fazer pela lei de 26 de Junho, foi esta a unica
tenho seguido até hoje na minha curta vida pu que elle considerou sensata, as outras não prestão
blica, declarando sempre as minhas opinioes para nada.
com franqueza, agrade ou não a quem quer Mas, Sr. presidente, como tratou o nobre de.
que seja. P utado pela provincia do Rio de Janeiro a questão
Sendo esta a primeirá vez que fallo nesta d as estradas de ferro ? Em muitos pontos não
casa, não será fóra de proposito que faça uma o pude comprehender, e em outros o achei con-
declaração : eu presto ao governo actual o meu tradictorio.
voto de confiança, e presto-o ..sem distincções dos O Sr. Aprioio : — Apoiado.
Srs. ministros (apoiados ; ) porque, Sr. presi
dente, eu não comprehendo no systema repre O Sr. Dutra Rocha : — O nobre deputado pelo
sentativo esse ministerialismo pessoal que separa Rio de Janeiro censurou ao governo por ter en
um ministro dos outros.; e desde que um minis trado em contractos com Cochrane, o ao mesmo
terio se declara solidario como o actual se tem tempo o censurou por deixar de contrastar com
declarado, eu considero todos os seus actos não Cochrane. O nobre deputado fez elogio á con-
currencin em taes materias, disse que era um
deste ou d'aquelle ministro, mas de todo o mi
nisterio- (Apoiados.) O ministerialismo feito a meio optimo ; ao mesmo tampo censurou ao
este ou aquelle ministro me parece mais filho Sr. ministro do imperio porque estabelecia a con-
das sympathias, das amizades particulares, dos currencia. Disse o nobre deputado que erão con-
despeitos, o não do interesse publico. ( Não currencias fantasticas essas que por ahi se apre-
apoiados. Apoiados.) sentárão com um juro muito diminuto ; mas o
Eu entendo, Sr. presidente, que os motivos nobre deputado censurou o governo porque não
aceitou uma proposta que justamente estava
que nos devom guiar no apoio ou recusa deste neste
ao governo deve ser o interesse publico e não o nobrecaso ; fallo da proposta do Sr. Ottoni que
deputado elogiou, e na qual se davão
motivos particulares (apoiados), salvo o caso em os defeitos que elle encontrou nas outras que
que um ministerio se não declare solidario ; mas
eu creio que tal se não dá no ministerio actual, chamou de fantasticas.
porque o Sr. presidente do conselho acaba de O nobre deputado deu o contracto feito com o
dizer que o ministerio é solidario nos seus actos. Sr. Irenéo Evangelista de Souza como perfeito
( Apoiados.) e acabado , quando esse contracto esta ainda
O Sr. Rocha:— Todo o ministerio 6 s.ilidario. dependente de approvação da camara, e censu
rou o governo por semelhante contracto.
O Sn. Dutra Rocha: — O nobre deputado por Finalmente , Sr. presidente, o nobre deputado
Minas acaba de dizer que todos os ministerios censurou o governo pelo desfecho dessa negocia
são solidarios, e na verdade eu não compre ção de estradas de ferro, por ter remettido o
hendo no systema representativo senão minis negocio para Londres; entretanto concluio o nobro
terios solidarios, e desde que se combate o deputado dizendo-nos que era este o melhor ex
poder não se deve fazer distincção de ministros' pediente, que era justamente em Londres que o
(Apoiados.) contracto se podia fazer bem por haver alli todas
Sendo esta a minha opinião, declaro mais com as proporções, e porque o nosso ministro na-'
franqueza, que pretendo prestar ao governo um quelle paiz estava habilitado para bem desempe
voto consciencioso e independente ; consciencioso, nhar esta missão. E por esta occasião o nobre
porque, apoiando o ministerio, estou no firme deputado dirigio todos os elogios a esse nosso
proposito de enunciar as minhas opiniões com ministro em Londres, como querendo tirar toda
franqueza, censurando mesmo aquelles actos do a intervenção do Sr. ministro do imperio a res
governo que entender que não marchão de accordo peito desta negociação , como que se aquelle
com os interesses publicos ; e presto o meu voto nosso ministro não obrasso segundo as deter
independente, porque declaro alto o bom som minações do governo brazileiro.
que nada pretendo do governo, não sou aspi Ora, Sr. presidente, olhando com toda a im
rante a nada que lhe pertença, nem mesmo co parcialidade para todo este negocio, o que de
nheço a maior parte dos Srs. ministos senão por vemos concluir ? Que o desfecho foi o melhor
seus actos, seus serviços, illustração, etc. possivel, que o Sr. ministro do imperio atten-
Sr. presidente, o nobre deputado pelo Rio de deu a todos os interesses do paiz, e que por
Jatíeiro que hontem fallou sobre a resposta á tanto, longe de merecer censuras, parece que
falia do throno apresentou o systema que na merece elogios.
sua opinião devia seguir-se na discussão do voto O nobre deputado pelo Rio de Janeiro nem
de graças ; e eu não duvido da bondade desse perdóou ao Sr. ministro do imperio o ter en
systema ; mas o que é verdade ó que não sendo trado em njustes afim de que o contracto se
este systema seguido no principio da discussão, fizesse o melhor possivel; chamou a isto rega
me vejo forçado a seguir a carreira que tri- tear. Ora, senhores, usemos de uma palavra
lhárão os nobres deputados que têm fallado na mais parlamentar , e digamos : « não é o que
questão. deve fazer todo o funecionario encarregado do
O nobre deputado pela provincia do Rio de uma negociação destas; procurar por todos os
Janeiro que encetou a discussão do voto de meios que ella saia o melhor possivel T » Como
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853
se chama isto regatear ? Não me demorarei mais Os Srs. Ferraz e Nebias dizem algumas pa
sobre este assumpto ; fazêl-o seria dar a enten lavras que não ouvimos.
der que o nobre ministro do imperio não se O Sr. Dutra Rocha : — Mas eu observarei o
defendeu cabalmente do tudo quanto se disso a seguinte : perguntar-se a um ministro se elle,
este respeito ; achu que o nobro ministro justi sendo solidario com seus collegas em lodos os
ficou completamente o seu acto. (Apoiados.) actos da administração, o é tambem quanto á
Sr. presidente, o nobre deputado pola provin probidade, não quer isto dizer que esse minis
cia do S. Paulo que liontem fallou contra o voto tro, ou algum dos outros não tem probidade ?
de graças disse-nos que não prestava no minis Eu entendo, senhores, que o ministro que é probo
terio actual a sua confiança ; mas o nobre de e honrado devo permanecer com todos os seus
putado não nos deu as razões, disse apenas que collegas probos o honrados (apoiados) , e se o
era descontento ; e eu creio, Sr. presidente que contrario acontece não deve continuar no mi
estas cousas não são particulares do cada um nisterio.
de nós, creio que o paiz tem o direito de saber.
O Sr. Aprioio :— Apoiado. O Sr. Saraiva : — Apoiado. A solidariedade da
probidado é consequencia da solidariedade dos
O Sr. Dutra Rocha: — Pelo menos eu, que actos.
muito confio nas bases do nobre deputado, na O Sr. Dutra Rocha : — Logo , Sr. presidente,
sua probidade, etc. (apoiados), desde que o vejo como é que do alto da tribuna se lança uma
recusar o seu voto a um gabinete a quem con insinuação desta ordem ?
stantemente prestou adbesão, a um gabinete de
quem o nobre deputado foi delegado em um O Sr. Nebias : — Poss» dar uma explicação, se
emprego importantissimo, como o de presidente quizer.
da provincia de S. Paulo, desejo saber as razões O Sr. Dutra Rocha : — Eu a pedi ha pouco, em
do descontentamento do nobre deputado. occasião competente, e o nobre deputado não a
O nobre deputado por esta occasião fallou em quiz dar.
contentos e contentissimos, e tendo o nobre de
putado pela Bahia dado um aparte, o nobre O Sr. Nebias : — Como está continuando a
deputado fallou em correspondencias do Jornal fallar a este respeito....
do Commercio ; do meu lugar eu pedi que se O Sr. Dutra Rocha : — Concluirei sobre este
explicasse, porque, senhores, uma cousa de que ponto, passarei adiante.
gosto muito é a discussão; não gosto das re Então se isto so dissesse, desejaria saber desde
servas, das reticencias ; pedi ao nobro deputado guando o nobre deputado tem esta convicção, se
que esclarecesse este ponto, o nobro deputado data mesmo da época em . que aceitou um em
não o quiz, passou adiante. prego do confiança deste governo, ou se é ne
Que correspondencias são essas a que o nobre gocio de recente data. Todas estas cousas quero
deputado so referio do Jornal do Commercio t saber, porque, deputado novo , procuro saber
Serão essas anonymas que ahi apparecêrão, nas como hei de dirigir-me na minha carreira, tenho
quaes vinhão umas intriguinhas de provincia- razão em procurar saber como devo traçar a
lismo ? So o nobre deputado se refcre a isto, se minha conducta. Porque se o nobre deputado
acha a materia digna de a trazer para a tribuna, me convencesse de que era exacto o que mo
traga- a, porque nós queremos discutir franca pareceu dizer, eu recusaria o meu voto ao gabi
mente ; mas so o nobre deputado considera estas nete ; como porém estou convencido do contra
cousas como eu as considero, verdadeiras mi rio , hei de prestar-lhe o meu apoio franco e
serias (apoiados), então não as traga para aqui, leal.
deixemol-as entregues a seus autores. Senhores, eu entendo que um deputado pódo
O nobre deputado, Sr. presidente, dirigindo- se recusar o seu voto ao governo quando está con
a um dos membros do gibinete, *o Sr. ministro vencido de que o governo tem commettido faltas ;
do imperio, disse: « Será o nobre ministro tam mas quando o deputado chega a convencer-se
bem solidario com seus collegas na probidade, de que um membro do gabinete tem commettido
como eu o sou com o meu illustre amigo, de mais alguma cousa do que faltas, tem crimes,
putado pela provincia do Rio de Janeiro ? » Pa- então esse deputado tem o meio que a consti
receu-me ouvir isto ao nobre deputado, e desejaria tuição estabelece, deve promover a aceusação do
que elle explicasse o seu pensamento. ministro, e não dar a entender, como hontem
. O Sr. Nebias : — Eu o farei depois. me pareceu o nobre deputado....
O Sr. Dutra Rocha: — O que eu entendi foi O Sr. Nebias : — Está enganado perfeitamente ;
isto. O nobre deputado perguntou se o Sr. mi se quizesse aceusar em materia grave, havia de
nistro do imperio não queria solidariedade na ser muito franco,
probidade relativamente aos seus actos, e o O Sr. Dutra Rocha: — Permitta-me o nobre
Sr. ministro do imperio disse: o não, para res deputado que lhe dig i que não duvido da sua
ponder sobre a minha probidade sou bastante.» franqueza, mas hontein não foi muito franco...
O nobre deputado como que estranhando estas
palavras do Sr. ministro do imperio, acernscentou : O Sr. Nebias : — Muitissimo.
«pois V. Ex. diz isto? Basta, não pergunto mais O Sr. Dutra Rocha : — O nobre deputado está
nada.» Senhores, eu desejo que se me diga que na obrigação de dizer ao paiz os motivos por
resposta mais digna poderia dar o nobre mi que recusa a sua confiança ao gabinete, por
nistro do imperio do que aquella que deu ? quanto o apoiou, foi seu delegado ; por conse
(Muitos apoiados.) O que diria o nobro depu quencia deve entrar minuciosamente neste de
tado se alguem lhe perguntasse : « quereis que bate.
o vosso collcga se incumba da defeza da vossa Eu desejo que estas cousis se esclareção bem,
probidade?» Seguramente o nobre deputado res porque vejo no paiz uma grande tendencia para
ponderia « para defender a minha probidade sou desconceituar os funecionarios publicos (apoia
sufficiente. » Logo, como estranhar o nobre depu dos) ; "vejo que uma imprensa licenciosa não res
tado a resposta digna que lho deu q Sr. ministro peita o caracter, por mais bello que seja (apoia
do imperio ? dos) ; vejo que todos os dias os mais bellos
O Sr. Nebias : — Não estranhei nada disto, caracteres são conduzidos ao pelourinho de uma
está enganado. imprensa prostituida para serem açoutados...
O Sr. Dutra Rocha : — Pois então eu ouviria Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou
mal. vimos.
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 Al
O Sr. Dutra Rocha:— Não faço excepção; sem intelligencia e sem probidade. (Apoiados.)
digo i}ue ha esta tendencia no paiz, e que é Ora, eu vejo que o pessoal da magistratura em
preciso que os poderes do estado dem exemplo alguns pontos não satisfaz a necessidade publica...
do contrario. O Sr. Silveira da Motta : — Em geral ó proba
O nobre deputado, querendo censurar aos di o intelligente.
versos ministerios, não se demorou sobre cada
um delles como era para desejar; fallou muito Um Sr. Deputado :— O pessoal é bom, a orga-
de leve sobre cada um dos ministerios, sem nisação é pessima.
descer á analyse dos factos. Como censurou o O Sr. Dutra Rocha : — Quando alguem enun
ministerio da marinha? Só ouvimos'fallar sobro cia, como acabo de fazer, diz-se logo : « Indique
o naufragio de um vapor, e nada mais ; não os individues, apresente as provas. » Senhores,
entrou o nobre deputado na analyse desse f icto, a camara não é tribunal proprio, onde se vai
não nos mostrou que o ministro era culpado promover a aceusação do» juizes e seus julga
desse naufragio. Destas discussões é que preci mentos ; o que cumpre no deputado é apontar
samos : não basta dizer que o ministro da ma os fictos, dizer que o mal existe, para que se
rinha é máo por que um vapor naufragou. trate de remedial-o.
O mesmo succedeu acerca do ministerio dos Concordo com os nobres deputados em que em
negocios estrangeiros. Tratando da questão do geral a magistratura é boa ; vejo que em gera
Rio da Prata, disse o nobra deputado, o que ?— os Srs. juizes de direito e os Srs. juizes muni-
Não houve intervenção, o queira Deus que para cipaes são probos e intelligentes ; mas não sei
o futuro não sejamos culpados do sangue que alli se outro tanto se póde dizer a respeito da alta
se derramar 1—Contentou-se com isto, não entrou magistratura em um ou outro ponto do imperio,
no exame detalhado e minucioso desses nego salvas as honrosas excepções.
cios. No meu entender, se lia negocio que tenha O Sr. Nebias: — Falto á franqueza agora.
sido tratado de uma maneira digna do governo
brazileiro, é sem duvida nenhuma esse a res O Sr. Dutra Rocha : — Falto á franqueza em
peito da questão do Rio da Pi ata. (Muitos apoia que, senhores ? Acaso quer o nobre deputado que
dos.) eu venha aqui. indicar nomes ? Já declarei que
O Sr. Mendes de Almeida: — A politica tem esta camara não é o lugar competente para isso ;
sido boa em todos os negocios exteriores. e nem quero tomar esse papel de aceusador de
ninguem para dar lugar a bonitas defezas.
O Sr. Dutra Rocha:— Concordo. Póde ser con Appello para muitas decisões dos tribunaes do
testado por alguem o desfecho glorioso que alli paiz ; e se quizerem entrar commigo em uma
ti verão as armas imperiaes? Se o nobre depu discussão dessas, apresentarei julgados das ro
tado tem queixas contra esses negocios do Rio tações inteiramente contrarias a direito. (Muitos
da Prata, se se propõe a discutir esta materia, apoiados.)
discuta largamente, para que se lho possa res
ponder, porque eu entendo que a politica que o O Sr. Finueira de Mello:—Se são resultados
governo do Brazil seguio e segue no Rio da da intelligencia e consciencia, não ha motivo
Prat.i é uma boa politica. para censura o aceusação. (Reclamações.)
Assim, Sr. presidento, eu peço ao nobre depu O Sr. Silveira da Motta:—Essa não está máI
tado, e áquelles que se oppoem ao governo, que O Sr. Dutra Rocha : —Ainda mesmo que seja
discutão largamente estas njaterias, pira que contra principios de direito ?
possamos ser instruidos nellas, o vermos a ma
neira por que nos devemos comportar, o não per- O Sr. Silveira da Motta : — Bello principio
functoriamente como fez o nobre deputado, que esse I '
aliás pelos seus reconhecidos talentos póde bem O Sr. Dutra Rocha:—E' contra isso que re
discutir todas estas questões. Passarei á outro clamo, é que as leis so prestem u tudo quanto
assumpto. quizerem certos juizes.
Entendo, Sr. presidente, que a camara tem O Sr. Silveira da Motta : — Elles é que se
contrahido para com o paiz um compromisso prestão a tudo.
muito sério. Desde que se apresenta uma camara
perante o paiz com uma grande maioria, com O Sr. F. Octaviano :—Ha pouco foi pronun
um governo illustrado á frente dos negocios pu ciado um juiz municipal de S. Paulo por igno
blicos, é necessario que so realisem certas me rancia de direito.
didas que a meu ver o paiz reclama. Ha certas O Sr. Viriato :— Está a magistratura outra
reformas indispensaveis qne cumpfe que sejáo vez no pelourinho.
feitas, e a camara acha-se em uma epoca pro
pria para que ellas so realisem. (Apoiados.) O Sr. Dutra Rocha : — Está enganado, não
Permitta-me a camara, peimitta-me o governo está no pelourinho. Para que diz estas cousas
que eu apontu algumas reformas que no meu o nobre deputado ?
entender . devem ser feitas ; sei que nada sou O Sr. Viriato : — Peço ao nobre deputado que
para indical-as, reconheço que na camara exis vá adiante.
tem altas capacidades para encarregar-se desta
tarefa, mas ainda neste ponto satisfaço,ao dever (Crusão-se outros apartes.)
da minha consciencia. Se minhas opiniões não O Sr. Presidente : —Attenção I
forem boas, eu desejo vêl-as combatidas pelos O Sr. Dutra Rocha : — Pois então não ha de
nobres deputados. um deputado apresentar os factos que entende
A justiça ê uma necessidade palpitante de um que são máos, e pedir medidas e providencias
povo, é a sua primeira necessidade, está a par
do alimento qnetidiano. Póde-so dizer que o sobre elles ?
poder judiciario está estabelecido no paiz de uma O Sr. Nebias:—Veja que os primeiros apartes
maneiia capaz de satisfazer esta necessidade pu vierão de lá.
blica ? Entendo que- não; entendo que .o paiz O Sr. Dutra Rocha :—Do lá ou de cá, me é
reclama altamente uma reforma neste poder. indifferente. Não me zango com os apartes, até
Ninguem mais do que eu respeita o acata o poder gosto delles, para ver se vou mo desembara
judiciario ; digo- mesmo que nenhum funecionario çando e se me acostumo com esta vida parla
publico me mereee tanto respeito como um juiz mentar. (Riso.)
probo e intelligente ; mas tambem não vejo nada
menos digno, menos respeitavel do que o juiz O Sr. Presidente :—Attenção 1 Peço ao nobre
tomo 2. ti
42 SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853
deputado que se cinja a materia e não responda O Sr. DuTnA Rocha : — Pois V. Ex. não quer
aos apartes. que eu responda aos apartes ?
O Sr. Dutra Rocha :—Não me incommodão, O Sr. Presioente :— Quero cumprir o regula
Sr presidente, e ato gosto delles, como já mento; continue o orador o seu discurso, sem
disse. attender ás reflexões estranhas.
Por conseguinte fique bem entendido que não O Sr. Dutra Rocha: — Por conseguinte acho
tenho a menor intenção de offender a magistra que é necessaria a reforma tambem por esse
tura ; se actualmente oceupo o lugar de juiz, lado ; porque os juizes de direito , ainda mesmo
como posso offender aos Srs. juizes? Mas o que querendo cumprir com os seus deveres, têm muito
desejo é que realmente a magistratura seja col- pouco a f izer ; presidem ao jury, fazem a cor
iocada no pó em que deve ser. reição e mais nada, á excepção da decisão de
O Sr. Maoalhães Castno:—Perde- o seu tempo. algum recurso que raras vezes lhe apparece.
Passando ao outro ponto , á reforma eleitoral
O Sr. Dotra Rocha : —Diz o nobre deputado que entendo deve-se fazer, direi qne o governo
que perco o meu tempo, mas quando me con alguma cousa tem feito neste sentido. Uma com-
vencer disso vou-me embora. missão respeitavel está nomeada para indicar
os melhoramentos necessarios no processo elei
O Sr. Ferraz : — Trabalhemos semprA. toral Porém julgo, Sr. presidente, que não são
O Sr. Dutra Rocha : — Pelo que diz respeito essas somente as reformas que devemos fazer
á organis ição judiciaria, creio que ella é má. no nosso systema do eleições ; julgo que é pre
Principiando pelos juizes municipaes, direi que ciso reformar a propria base do systema, e ó
ou elles são os juizes que a constituição quer, neste ponto que creio estir em divergencia com
ou não ; se são, não ó possivel que continuem muitos dos meus amigos politicos.
dessa maneira ; e não são, então melhor é acabar Sr. presidente, a minha opinião é que o sys
com eiles. O que quer dizer, Sr. presidente, o tema de eleições indirectas não é o melhor.
juiz municipal sobrecarregado de attribuições, O Sr. F. Octaviano: — Apoiado.
processando e julgando no eivei, exercendo func-
ções importantissimas pelo codigo commercial, O Sr. Dutra Rocha : — Sou partidario das elei
preparador no crime, incumbido da policia quasi ções directas
sempre. . . O Sr. Fiuza: — Deos nos livre delias.
O Sr. Silveira da Motta : — E até da policia I . O Sr. Dutra Rocha: — .... uma' vez que se
O Sr. Dutra Rocha : — Diz bem o nobre de estabeleça um censo razoavel. Não quero o suf-
putado, e até da policia ; e entretanto com orde fragio universal, não ; é contra isto mesmo que
nados mesquinhos, tendo a seu' lado os juizes tente o ; que
reclamo porque, meus senhores, pela lei exis
temos nós no paiz senão o suffra-
de direito... gio universal ? Quem n que não vota nas assem-
m O Sr. Ferraz : — No dulce far niente. bléas parochiaes ? (Apoiados e não apoiados.)
O Sr. Dutra Rocha : —. . . com ordenados bons ; O Sr. Nemas: — Só em Cameta.
e na verdade, meus senhores, com muito pouco O Sr. Dutra Rocha : — Só em Cametá, diz o
que fazer. (Reclamações.) Desejo que os Srs. juizes nobre deputado.
do direito tenhão muitas attribuições (apoiados) ;
desejo que se lhes dó essas attribuições que O Sr. F. Octaviano : —Só não votão os desaffe-
estão ahi pelos juizes municipaes ; desejaria mesmo ctos á qualificação.
que so desse a policia aos juizes de direito ; os O Sr. Dutra Rocha: — E' contra isso que re
nobres deputados ainda ha poucos dias, quando clamo. Não vne refiro á população esclarecida ;
aqui so discutio o privilegio de fòro, não mos- mas o que vão fazer ás assembléas parochiaes
trárão os inconvenientes de estar um juiz de osses homens do matto que em todas as épocas
direito subordinado á força policial de um sub votão, esses homens que realmente não sabem o
delegado, etc? Tudo isto donde nasce, Sr. pre que vão fazer, que não vão exercer direito al
sidente, é dos juizes de direito não estarem com gum, que vão cumprir uma obrigação ? (Apoia
as attribuições que lhes pertencem, e que lhes dos.) Não fallo da população esclarecida, da po
devemos dar. pulação das cidades. . . .
O Sr. Silveira da Motía : — Attribuições não Alouns Srs. Deputados: — Tambem em parte.
é o caso. O Sr. Dutra Rocha :— Ahi ha illustração ; mas
O Sr. Dutra Rocha : — E' porque os juizes appello para os Srs. deputados que conhecem os
municipaes estão com todas, e os juizes de sertões das nossas provincias.
direito (os nobres deputados que o são não Vozes : — Não é só nos sertões.
se escandalisem com isso), nada têm que fazer,
como tenho ouvido dizer a muitos. O Sr. Dutra Rocha:— Apoiado; e nem toda a
O Sr. Viriato : — Queria mais do que as cor gente do sertão. Alli tambem ha illustração.
reições? Mas. sonhores, essa proposição geral os nobres
deputados e ninguem me contestará, senão com
Muitos Srs. Deputados : — Ora I Ora I o facto de uma ou outra localidade ; os nobres
O Sr. Dutra Rocha : — As correcções I 1 Mas, deputados em suas consciencias hão do estar
convencidos de que existem homens que vão
senhores, o que são ellas? votar nas assembléas parochiaes sem saber o
O Sr. Viriato:— Basta a palavra. que vão fazer. ( Reclamações, apoiados e não
O Sr. Dutra Rocha : —As correições limitão-se apoiados.)
Senhores, eu não quero as eleições indirectas,
a isto: vão os autos aos juizes de direito, e
elles vão botando na ultima pagina—vistas em quero as eleições directas e com senso razoa
correição. vel, afim de que tenha voto somente quem o
compreliende, e póde exercer. (Apoiados.)
O Sr. Viriato : — São os que não cumprem o . Eu desejo, Sr. presidente, que tambem no sys-
seu dever; diga o que se deve fazer e não. o temi eleitoral se estibeção as eleições por cir
que se faz. culos, por que acho nesta medida grandes van
O Sr. Presidente : — A discussão não póde tagens (apoiados) ; as influencias locaes ficão as
continuar assim ; isso é um dialogo. sim muitos adstrictas, o so a sua influencia fór
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 43
perniciosa, não sabe desse circulo, não se es sustentavão um governo ? Creio que ninguem ou
tende a Joda uma provincia ; é uma grande van sará negai -o ; o contrario seria matar toda a idéa
tagem que eu descubro nesta reforma, além de de dever, impór condições ao desenvolvimento da
outras proprias para serem indicadas em uma consciencia, e destruir toda a possibilidade de
discussão de detalhes que agora não póde ter movimento na ordem das idéas e das cousas. De
lagar. minha parte prometto apresentar as razões que me
Finalmente, Sr. presidente, desejo que se ad- levão a negar o meu apoio ao governo, e a vista
mittão as incompatibilidades, porque ellas trazem delias a camara e o paiz conhecerá que não é o
comsigo melhoramentos altamente reclamados pe descontentamento por motivos pouco nobres quem
las necessidades publicas (apoiados); as incom move e dirige os membros de uma opposição nas
patibilidades devem por uma vez ser decretadas cida do seio do partido ; mas motivos justos, de
pela camara dos Srs. deputados. (Apoiados.) alcance immenso, e superiores ao espirito de par
Um Sr. Deputado : — Apoiado I É a necessi tido que só olha as cousas pelo lado que convém
dade do paiz. aos seus designios, e mu tas vezes não alcança
aquillo que esta em grande altura. (Apoiados.) E
O Sr. Dutra Rociia : — A experiencia todos os talvez, senhores, que seja esta a occasião mais
dias nos vai mostrando que esse resultado não opportuna para fallar de um* reunião de mui
se ha de conseguir com medidas indirectas. (Apoia tos dos Srs. deputados, presidida pelo honrado
dos) ministro presidente do conselho, na qual elle dis
Um Sr. Deputado : — Neste resultado é que sera que a camara dividida em grupos como pa
eu quero ver o governo seriamente empenhado. recia estar...
O Sr. Dutra Rocha : —. . . é uma reforma que O Sr. Ministno da Fazenda : — Como se dizia
julgo trará melhoramentos não só ao corpo legis- estar. (Apoiados.)
tivo como mesmo a essa classe a que pertenço, O Sr. Pauli Baptista: — Bem, como se dizia
os individuos cujos empregos se tornarem incom estar não podia fortificar nem ao gabinete actual,
pativeis ; por exemplo, a magistratura ha de sen e nem a outro qualquer que por ventura o houvesse
tir muitos melhoramentos. de substituir. Se o facto de uma opposição real
Sr. presidente, são essas as reflexões que eu mente existe, cumpre examinar a sua origem, e
tenho de apresentar nesta discussão ; outras terei saber onde está o mal para ser curado : cumpre
de fazer em occasiões opportunas ; no entanto vou saber se vicio está inherente á camara, ou se
concluir pedindo á camara dos Srs. deputados que é inherente ao governo, afim do que se não
me desculpe algumas idéas proprias de um ca augmentem as trevas em vez de crear-se a luz.
louro. (Não apoiados.) (Apoiados; muito bem.)
Uma Voz : — Não mostrou ser. O honrado deputado, membro da commissão
O Sr. Dutra Rocha : — Peço aos nobres deputa da resposta á falia do throno, tambem avançou
dos que me relevem os momentos de tedio que hontem que esta não era a occasião propria para
lhes causei, e que lhes prometto serão compen debates sobre a politica geral. Se este distincto -
sados pelas horas de silencio que me imporei, membro quiz referir-se aos estylos do parlamento
limitando-me sómente a dar o meu voto simbo inglez, ahi jãmais elle achará exemplos em favor
licamente naquellas discussões suscitadas e sus de sua opinião no ponto da camara actual não
tentadas,* e esclarecidas pelos nobres deputados dever fazer opposição a um governo que repre
(itfwito bem I) senta a mesma opinião ; pois elle deve saber
perfeitamente que na Inglaterra muitas vezes
O Sr. Paula Baptista : — Senhores, pelo dissidencias, não sobre politica, mas sobre ma
modo porque eu encáro os negocios publicos do terias industriaes e do administração, bastão para
meu pau estou no dever de fazer opposição franca motivar as quedas dos ministerios, e a elevação
e decidida a todos os membros do actual gabi de novas ' intelligencias ao poder. Parece, por
nete. JApoiados.) E esta maioria, que, ao passo tanto, que não é com esses exemplos que se
que desafia os seus adversarios para apresen poderá invocar a necessidade da conservação dos
tarem os motivos e razões que os movem a fa partidos e a desconveniencia da divergencia entre
zer opposição ao ministerio, se mostra em extremo os seus alliados, em favor do actual ministerio,
intolerante, permitta que nas difficuldades de minha tanto mais quanto essas conveniencias collectivas
situação, eu procure como abrigo a sua honra são apenas invocadas em momentos criticos, e
e a dignidade de toda a camara. em apoio de um governo que diz que não precisa
Principiarei, Sr. presidente, fazendo algumas de partidos para governar,, que ostenta podar
observações contra o discurso que foj hontem governar sem o concurso solicito e esclarecido
proferido pelo nobre deputado pelo Rio de Ja a opinião, e unicamente com a força e influencia
neiro, digno membro da commissão da resposta das posições officiaos.
a falia do throno. Esse distincto membro disse que O Sr. Aprioio:— E se disse isso ?
não julgava conveniente, e nem mesmo conforme
a marcha regular do regimen representativo, que O Sr. Brandão:—Se se não disse, os factos' o
uma camara composta de tantos e tão distinctos provão evidentemente.
membros que apoiárão o governo na legislatura pas O Sr. Paula Baptista : — Sr. presidente, en
sada, e que forão reeleitos debaixo da influencia trarei primeiro que tudo em alguns topicos da
e dominio dos mesmos principios politicos, fi falia do throno, e depois irei a algumas observações
zessem opposição a esse mesmo governo geraes.
Senhores, quando um governo provido de todos Um dos topicos da falia do throno consiste*
os meios de acção, e por conseguinte em estado na necessidade da creação de um banco de cir
de dar toda a expansão ao genio e á capacidade culação que facilite as operações de commercio-
para conciliar os interesses 3e todos os cidadãos Aguardando a occasião em que se houver de tratar
e de todos os partidos, não concilia-se com os seus do projecto do honrado presidente do conselho
adversarios, e aliena de si as sympathias dos para tratar desta materia segundo os principios
seus, este facto depõe vivamente contra a apti da sciencia, limitar-me-bei por agora a algumas
dão desse governo (apoiados), e nem é facto que considerações politicas. O nobre ministro da fa
possa passar desapercebido em um paiz que se zenda, presidente do conselho, discutindo no se
governa pela opinião. nado o seu projecto para instituição de um banco
E depois disso, de uma situação dada não po geral de circulação, respondeu ao distincto se
dem nascer circumstancias de peso que motivem nador o Sr D. Manoel, dizendo que as vistas
prolundas divergencias entre aquelles mesmos que do seu projecto erão unir, e muito, as provin-
U SESSÃO EM 3 DE1 JUNHO DE 1853
cias. Eu receio muito das opiniões extremas partido não soffre somente o abandono, mas in
nestas materias, peço-lhe portanto permissão para justiças: o esmorecimento e o desanimo, é o mal
lhe dizer o que penso. qu» lavra entre homens de convicções puras e
Senhores, a centralisação, objecto de nossos prestimosos, confio porém em Deos que se o erro
cordiar-s desejos, é uma necessidade indeclinavel tem produzido este mal, elle é provisorio, o nunca
dos estados, ó uma lei providencial, pela qual poderá ser perpetue ; sim, que quando a neces
as nações marchão para o complemento do seu sidade o exigir (o que Dcos nunca permitia) os
destino, que é a prosperidade e a grandeza ; todos entliusiasmos dos pernambucanos reviverao, e as
desejão ligar suas forças, sua actividade, seus suas valentes armas se hão' do empenhar em de
esforços para um bem commum ; mas não se fesa dos sagrados penhores da felicidade publica
deve por qualquer fatalidade confundir a cen do Brazil. (Muitos e repetidos apoiados.)
tralisação, que exprime o pensamento de muitas E' chegado o momento, Sr. presidente, de nos
partes fazendo um todo com um centro e um justificarmos das censuras (não digo bem), das
coração que recebe todo o movimento de vida calumnias que nos laução ; é preciso que venhão
social, para transmittil-o a todas as partes mais á luz dia todos os factos, é preciso que sejamos
vigoroso e mais animador, com a concentração, julgados pelo paiz.
que absorvo a si todas as forças das differentes Dizem : « Sois exigentes, quereis massacrar os
partes, para deixal-as enfraquecidas : a primeira vossos adversarios, e o governo não está disposto
e filha de uma politica illustrada, grande e nobre; a transigir com medidas desta ordem... »
a segunda, filha do egoismo ; a primeira, na O Sr. Sayão Lobato Junior :— E nas outras
linguagem de M. Cormenin, engrandece os im
perios ; a segunda, mata-os. Não se deseja, provincias partidos.
o governo não quer a conciliação dos
o menos se deve querer levantar vontades lo-
caes contra a vontade geral ; ó estabelecer centro O Sr. Paula Baptista :— Senhores, eu presumo
fora do centro; mas tambem se não deve re tão bem de mim mesmo, confio tanto na ver
gressar ao feudalismo ; o seculo é o do meio dade, que invoco a honra dos nobres ministros
termo, e não dos extremos cegos e obtusos; é o e dos membros da administração passada para
seculo do desenvolvimento e conciliação de todos que digão, apontem qual foi aquelle d'entre nós
os interesses ; ó o seculo da verdadeira alliança que já fez alguma exigencia contra os nossos
entre o»rei e o povo, é o das vivas crenças da adversarios politicos. (Apoiados.) O nosso trium-
monarchia constitucional como o unico e só o pho sobre os nossos concidadãos dissidentes
unico governo capaz de dar garantias de esta sempre nos foi doloroso, sempre a dór nos em
bilidade e operar a felicidade das nações. (Apoia bargou a voz para não aggravarmos a sua si
dos; muito bem.) tuação. (Apoiados.) As constantes e repetidas in-
Debaixo do dominio destas considerações talvez terpellações nesta casa á deputação pernambucana
que na discussão do projecto do nobre presi sobre a amnistia e outros assumptos nunca nos
dente do conselho eu possa mostrar defeitos em porque tirárão do silencio ; não podiamos dizer tudo,
suas bases. sentiamos profundamente que uma fracção
Direi ainda mais que, se bem que esteja con dos nossos partidos tivessem dado occasião a se
vencido da necessidade de tomarmos uma pro fazer o bem com violencias ; tinhamos o coração
videncias que melhore a nossa moeda, todavia magoado tinhão
por vermos que as paixões vMentas
occasionado o sacrificio de alçar-se tem
existem outras necessidades que requerem a protec
ção, ou pelo menos 0s cuidados do governo, e plos á segurança publica tintos de sangue bra-
que aliás não forão centempladas no voto de zileiro.
graças. Fallarei da agricultura, que hoje lula Digão-nos quaes têm sido nossas exigencias ?
com a falta dí braços pela extincção do trafico. Em vez de exig ncias não achareis, Srs. minis
O Brazil é agricola e commerciante, e não obstante tros, senão sacrificios filhos do accordo fiel em
o grande poder deste como fonte de riqueza, defender a monarchia, a integridade e a paz pu
aquella nunca poderá ser esquecida ; porquanto, blica. (Apoiados.)
o em razão .d a larga sahida que os nossos pro- Ousão ainda dizer que temos disposições pro
ductos achão nos mercados da Europa, é em nunciadas para a separação das provincias do
virtude da fertilidade do nosso solo, que nos norte. Os factos, que devem ser nossos, mestres,
dá uma riqueza immensa, que o estrangeiro nos protestão contra esta perfida calumnia, que fere
procura, se mantém e prospera o nosso com- os brios e a honra de tantos pernambucanos e
mercio. de um partido que só se julga ennobrecido pela
Ora, o governo até hqje tem cuidado unica sua lealdade ao throno e pela sua adliesão á
mente da colonisação de familias a quem se dão constituição. (Apoiados.) Apesar de fazermos ago
terras e instrumentos de trabalho para fundarem ra opposição ao governo por desleal, por não
a pequena propriedade territorial, o que é in ter comprehendido a sua missão, agora mesmo,
contestavelmente um bem no presente, e que dizemol-o com accento de uma convicção inaba
será ainda maior no futuro ; porém não tem lavel, contai ainda com os vossos antigos allia-
attendido á necessidade da colonisação para sub dos em tudo aquillo que está acima de nós,
stituição dos braços que de dia em dia nos vão fal acima dos partidos e de nossas dissensões, u
tando ; e desejo muito estar enganado, porém saber : a constituição e a integridade do imperio
quer-me parecer que neste ponto talvez se de a do Brazil. (Apoiados.) Quanto ao mais, se não
necessidade da acção protectora do governo, muito vos servem alliados desse typo, a cujas queixas
principalmente quando lutamos contra velhas ro- respondeis com calumnias, tomai sobre os vossos
• tinas e descrenças industriaes. hombros a obra que vos convém, fique sobre as
Depois deste topico da falia do throno, chamo vossas cabeças a responsabilidade dos aconteci
a attenção do governo para a provincia de Per mentos.
nambuco, e antes de tudo invoco, em apoio do Eu, Sr. presidente, faço uma interpellação de
que pretendo dizer, o grande pensamento do ul boa fé aos nobres ministros, para que declarem
timo trecho da mesma falia: « desenvolver as e manifestem qual 6 a sua politica a respeito
nossas instituições para bem e interesses de todos. » de Pernambuco. Ou essa politica é boa ou má.
Oh I parece que mãos mesquinhas têm querido Se boa, se a da conciliação dos partidos, para
levantar uma excepção a este grande pensamento. que reservas 1 Para que a taciturnidade ? Sane
(Apoiados de alguns senhores.) O que é que se por ventura o governo se haverão muitos per
tem dado na provincia de Pernambuco com o nambucanos distinctos dispostos a abraçal-a ?
partido cheio de dedicações á ordem publica, â Sabe por ventura o governo se esse desejo é o
constituição e á integridade do imperio ? Este mesmo que domina muitos pernambucanos illus
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 45
trados pela experiencia do passado ? Creio, so- o principio da autoridade não estava bem conso
nhores, que esta obra exige confiança, manifes lidado no paiz e o espirito de desordem aggre-
tações francas, exposição do motivos nobres o dia a sociedade o tentava derrubal-a, não admira
generosos, e não póde ser levantada com mutuas que muitos homens conservadores, porém de
desconfianças dos puriidos e com as reservas. idéas liberaes, cencorressem a fortificar a auto
Se porém a politica do governo ê má, se ó ridade; mas hoje que o espirito publico moa-
(quero ser franco) em nos ter constantemente tra-s8 naturalmente propenso á paz, uma auto
desunidos, e como inimigos, isto, Srs. ministros, ridade sem respeito á opinião publica, antipoda
fóra imprudente imaginar I Quem vos falia não das idéas, forte e intolerante, é o elemento mais
ó suspeito, mas é um homem que tom tido todo efficaz para a desordem (apoiados) ; nelle é que
o tino, toda a prudencia em contraiiar, em des está o grande perigo.
mentir e em suffocar essa primeira idea do quo O Sr. Aprioio;—Isso ó o que resta provar.
os i-iimigos que estudadamente nos dividem estão
na corte. (ApoiaAon.) O assumpto é delicado, e O Sr. Paui-a Baptista : — Bem a meu pezar
sobre elle nada mais direi. entrarei em alguns factos, o antes disso per-
Direi mui ligeiras cousas sobre o topico rela miUa-me o nobre ministro da fizenda, presi
tivo á reforma das municipalidades. Não posso dente do conselho, que lhe faça confissão in
prover o sentido em que o governo entende que genua. Eu que sou reconhecedor dos talentos de
se deve fazer esta reforma. Quanto ao meu pen S. Ex., que- presto vivo reconhecimento aos seus
sar, acho que nem na França, onde a uniformi- serviços, não posso deixar de estar vivamente
dado governamental e administrativa offerece bons magoado por nie ver obrigado a fazer opposição
exemplos, nem nas instituições belgas poderemos a S. Ex., e sinto que S. Ex. não me tivesse
achar o -que justamente convém ao nosso paiz, querido poupar este sacrificio, como talvez lhe dic-
cujas circumstancias são diversas. E qualquer tassea prudencia. Todos têm consciencia dos altos
que seja a reforma projectada, entendo que pri merecimentos do nobre presidente do conselho
meiro que tudo se deve procurar dotar as munici e todos igualmente o censurão por querer es
palidades com maiores rendas, pois que as actuaes tender o seu manto prestigioso para abrigar ou
são insufficientes. Cqgitar e pensar boas cousas cobrir a quem a opinião publica repelle com
para operar a reforma da instituição das cama toda a força. (Movimento.)
ras municipaes, incumbil-as dos grandes objectos O Sr. Dutra Rocha: — Só tom manto presti
que naturalmente lhes pertencem, sem lhes dar gioso o imperador.
os meios precisos, é nada querer fazer com uti
lidade pratica. O Sr. Fmueira de Mello :—Pois troque iss0
Entendo ainda mais que qualquer que seja a pela téga senatorial.
refórma, as camaras deverão ser electivas, sob O Sr. Paula Baptista (depois de alguma
pena de se não dar uniformidade entre as nossas pausa) -. —Eu estava no proposito inabalavel de
instituições, o para isso deve "influir muito uma não responder a apartes, mas tocando o nobre
lei de eleições sobre uteis precauções, de modo deputado em um objecto mui delicado...
que haja no voto livre, e o quanto ser possa,
esclarecido. Entretanto que esto assumpto, aliás O Sr. Dutra Rocha : — O nobre deputado o
tão reclamado pela nossa situação, delle se não trouxe.
fez mensão na falia do. throno quando no anno O Sr. Paula Baptista : — . . . e pronunciando um
passa lo foi um dos pontos principaes da falia nome que só deve ser pronnnciado para se lhe
do throno. renderem profundas homenagens e respeitos, col-
E que importancia liga o governo a uma lei locou-me na dura necessidade de explicar-me.
de eleições que melhore neste ponto o estado Eu fallei do manto prestigioso do Sr. ministro
actual das cousas ? Senhores, o governo consti da fazenda em sentido figurado, como pira
tucional não poderá jámais marchar convenien mostrar que elle não dovóra ter querido abusar
temente sem o concurso de todas as opiniões: da alta reputação de que goza, o jámais podia
é necessario que elle alimento todas as devoções reforir-me a quem da cupula social em que se
publicas, todas as aptidões na nobre paixão de acha não póde ser trazido para as nossas dis
servirem, bem ao paiz; fóra disso tudo o mais cussões. (Muitos apoiados.)
é falsificação de principios: são interesses pe Quizera não ter mão para descortinar certos
quenos que se não casão com os grandes inte factos, e exhibir um dos motivos que movem
resses da sociedade. Nesta parte não nos deve e animão a opposição a não dar seu apoio ao
ser lisongeiro o facto que vai apparecendo do governo, e só o farei bem a custo, e só pelo idéa
partido da opposição abandonar o campo elei 3o dever, promettendo todavia ser cavalhoiro, e
toral pela certeza de nãc poder lutar com as respeitar todas as conveniencias.
forcas do governo ; e já nos deve assustar o abuso Existe, Sr. presidente, a opinião publica pro
do governo escolher d'entre os seus aquelles que nunciada contra alguns ministros ; e eu muito de
devem ser eleitos. leve tocarei nos factos do arsenal de guerra. (Movi
Eu não vsei se o ministerio tem a disposição mento.) Não quero ser écho do que se diz contra o
precisa para aceitar a responsabilidade dessa sua Sr. ministro da guerra; quero affrontar nesta parte
intervenção nas eleições, ou se esta disposto a a opinião pnhlica contra o nobre ministro.
respondei- me com uma negativa absoluta. No O Sr. Pereira da Silva : —Não affronta.
primeiro caso achar-me-ha disposto a patentear-
lhe os gravissimos perigos que da lei provêm ; O Sr. Paula Baptista :—Quero remover todas
no segundo dir-lhe-hui : « Ani estão as provin as suspeitas, e dizer conscienciosamente que o,
cias e todo o pai/. que vos desmentem e vos nobre ministro não teve parte directa* nesses
aceusão por lalta de sinceridade. » acontecimentos. (Apoiados.) Mas permitta a ca
Sim, eu desejára ver o governo conscio do que mara que eu tambem conscienciosamente lavre
faz e leal eui sustentar seus actos í porque então a sentença condemnatoria do nobre ministro da
queria saber se elle ignora em boa fé que está guerra por incuria, negligencia e deleixo nunca
exercendo uma usurpação calamitosa para o paiz ; visto no mundo; e sem estar de animo de en
que tem ido com suas tendencias ao ponto de trar no desenvolvimento da materia citarei ape
apagar as verdadeiras crenças, para duixar em nas um facto para que se não diga que sou
troco delias o egoismo e o nada do excepticismo; temerário em minhas proposições. Não foi o
estas tendencias, portanto, devem hoje encontrar nobre ministro o mesmo que depois destes acon
barreiras. Em tudo é preciso olharmos para a tecimentos lavrou um aviso para que de hoje
variedade das circumstancias edos tempos. Quando em diante se não comprem generos para o ar
46 SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853
senul senão nas- proprias casas importadoras? pura e genuina do governo geral em Pernambuco,
E o nobre ministro nao devêra, ha mais tempo uma Mim chamada Justiça. E eu quero com-
tomar essa providencia, mormente quando se mentar esse aviso do nobre ministro, afim do
tratava da expedição do nosso bravo exercito 3ue o nobre ministro, coinprehendendo os pontoa
para as fronteiras do sul, e se gastárão enor a aceusação que lhe faço, possa com precisão
mes, som mas em provimentos? defender-se.
O seu zelo de fiscalisação, o seu dever de Senhores, como o governo se anima a fulmi
evitar abusos e fraudes e a sua sincera dedica nar arbitrariamente uma pena contra as decisões
ção aos negocios de sua repartição, não lhe im- do poder competente ? Este aviso importa dizer :
punhão o dever de tomar esta medida como « eu ministro posso mais do que a constituição e
justa precaução? E não podia o nobre ministro as leis, e por isso não vale para mim qualquer
communicar-se directamente com o arsenal sem decisão proferida pelos juizes e tribunaes, e por
confiar isso ao seu 1° secretario Cunha Mattos? minha autoridade seja fulminada a este cadete
De certo que sim. a pena de baixa por infamia. » Póde o governo
Assim, apezar de toda a minha benignidade para fulminar uma pena de sua propria autoridade ?
com o nobre ministro da guerra, e do desejo de O Sr. SeAra:—Quando a boa disciplina do go
poder defendêl-o. . . verno exigir, póde."
O Sr. Pereira da Silva :— Póde defendêl-o, que O Sr. Paula Baptista :—E observai, senhores,
o faz com toda a consciencia. (Apoiados.) que este cadete precipitou-se em excessos cri
"O Sr. Paula Baptista:— A minha sentença minosos contra o cheio de policia porque este o
esta dada. provocára, ameaçando-o com arrancar-lhe as es
O Sr. Siqueira Queiroz:— Já está appellada. treitas. Neste caso é inquestionavel que, para
(Apoiado.) exemplo do boa disciplina, o cadete devia ser
castigado, e ao sahir eu de Pernambuco tinha
O Sr. Paula Baptista:— Da negligencia e de- elle sido condemnado; mas, sendo o sentimento
leixo no omprego e applicação dos dinheiros pu do honra e o amor proprio offendido as causas
blicos, negligencia fatal aos cofres publicos, S. Ex. que o arrastarão ao crime, toda a pena lhe póde
se não póde defender. ser cabida, menos a de infamia.
O Sr. Candido Boroes : — Não basta avançar, Um Sr. Deputado :—O chefe de policia tambem
ê preciso provar. devia ser punido.
O Sr. Paula Baptista :— E então, Sr. presi O Sr. Paula Baptista : —Pelo que respeita á
dente, eu digo que não posso deixar de pronun- administração da justiça farei breves reflexões,
ciar-me em opposição, porque acima de tudo esperando a discussão do respectivo orçamento
está o meu dever, o dever de salvar a morali para alargar-me sobre a materia, e por agora
dade deste partido. content ir-me-hei com o fazer sensivel a tibieza
O Sr. Pereira da Silva: — Esteja tranquillo, do nobro ministro da justiça, que, encarregado
o credito do Sr. ministro está bem estabelecido, de uma repartição tão importante durante um
não só para este, como para todos os partidos. anno inteiro, não deu signaes de vida. Já não
(Apoiado*.) quero fallar de reformas de que precisamos, e
que requerem homens de iniciativa o altas ca
O Sr. Paula Baptista:— Sr. ministro, peço-lho pacidades; porém fallo mesmo desses trabalhos
encarecidamente que não acredite nisso. (Risadas.) ordinarios o praticos, desses avisos que são hoje
Acredite em quem lhe diz o contrario, isto é, que necessarios para remover as difficuldades que se
todos os partidos sentem que S. Ex. não está vão encontrando nas complicadas materias
muito bem na opinião publica (apoiados e não commerciaes ; e para intelligencia e conciliação
apoiados) ; que muitos homens notaveis e impar- de avisos existentes que. parecem contradictorios
ciaes estão convencidos disso ; que muitos dos entre si, e estão dando occasião a julgamentos
ue se mostrão seus affeiçoados sentem, doem-se irregulares que não inspirão confiança, do nada
3 estes successos, nenhum lho quer dizer em sua absolutamente tratou o Sr. ministro da justiça ;
presença esta ver Jade. parece que dormio um anno a somno solto ;
Não podemos ser indifferentes a estes factos, nada fez, nada estudou para fazer; e no emtanto
desprezar esta opinião que se resente do desprezo como theorico o pratico nestas materias, apoian-
q ue delia se quer fazer. Senhores, a moralidade do-me no juizo entendido dos profissionaes, eu
d os governos é necessidade do que se não póde não hesito affirmar que sobre este ramo tão
fugir impunemente e sem graves embaraços, e importanto da administração existe uma multidão
não sei se é porque sou fraco de corpo, fraco de interesses preciosos que reclamão altamente
de espirito o fraco de animo (não apoiados), de importantes medidas; o tocarei, como prova evi
claro que duas cousas me assustão no governo dente do que digo. na orphanologia sujeita saos
constitucional como funestos presagios - o descre abusos o imperfeições de velhas leis, quando em
dito geral do parlamento, e o descredito geral outros paizes existem instituições tão vantajosas
do governo ; estas duas cousas têm illudido a p ira garantia dos orphãos, bem como o conselho de
muitos abalisados estadistas, mesmo nos momen famiha e outras providencias mais.
tos em que so julgão mais seguros, e illudirão Aproveitando a occasião para dar breve res
aquelle mesmo que dizia como uma grande ma posta ao nobre orador que me precedeu, e que de
xima de prudencia: que o seu primeiro minis reformas nos fallou, desejára que elle me dis
tro era o tempo. Da minha parte não hei de sesse que reformas devemos esperar contra as
concorrer para estes dous males. ruins nomeações do governo para os cargos de
Aproveito a occasião, Sr. presidente, para fazer judicatura. (Apoiados!) Todos os annos a con
uma interpellação ao nobre ministro da guerra gregação dos lentes da academia juridica de
sobre o facto seguinte : Olinda remette ao govoino informações reservadas
Em Pernambuco publicou-se um aviso do S. Ex. sobro o talento, aproveitamento e conducta dos
concernente a uma questão havida naquella pro estudantes que se formão no anno, e estou ha
vincia entre o chefe de policia e um primeiro bilitado a dizer que taes informações tem silo
cadete ; e nesse aviso S. Ex. declarou ao ex-pre- dictadas pela mais severa e religiosa imparcia
aidente.daqu.ella provincia que désse baixa por lidade. E por ventura as nomeações correspon
indigno a esse primeiro cadete, ainda quando dem a estas informações ordenadas pelos esta
fosse absolvido pelos tribunues do paiz. Isso foi tutos ? Pareca que ellas correspondeu aos em
publicado em unia folha que se dizia expressão penhos dos pretendentes. Entretanto o certo é que
SESSÃO EM 3 DE JUNHO DE 1853 47
temos uma mocidade rica de brilhantes talentos, todos os deputados, quando o elegêrão para
e de incontestavel probidade. presidente da sociedade, e quando era preciso
O Sr. Dutra Rocha :—Apoiado. toda a fortaleza de animo para não aceitar a
complicidade por condescendencias, eile renunciou
O Sr. Paula Baptista:—E quem examinar as tudo, rompeu todas as considerações pessoaes,
causas conhecerá que o maior mal parto do go repellio com vehemencia e acrimonia as propos
verno. tas e insinuações que lhe fazia ; e forão suas
Uma Voz : —Elles t6m sido nomeados pelo go terminantes palavras : « Fui, sou e serei mo-
verno. narchista, e obdiente ao meu dever. »
O Sr. Paula Baptista : —Sim, senhor, ó isso Saiba mais que este magistrado, sendo da
mesmo ; quando o govorno escolhe as verdadei opinião decahida, processou e prendeu em Per
ras habilitações, nomêa estes magistrados, que nambuco empregados publicos por crimes de
bem conhecemos, e que honrão a nossa magis responsabilidade, o que erão do coração do par
tratura; quando cede aos empenhos, prejudicando tido.
o merito, os fructos de seus actos vão ser dam- O Sr. Aprioio :—Em tempo de conciliação não
nosos ao povo, que é quem mais soffra em se deve metter a mão no armazem do passado.
seus direitos. O Sr. Paula Baptista : — Senhores, declaro que
Apresentarei um exemplo vivo do que acabo tenho vontade de cobrir o rosto com as maos
do manifestar. Eu sinto repugnancins em oceu- quando vejo uma capacidade e illustração, um
par-me das pessoas, e mesmo neste momento brazileiro que nos honra como o Sr. Mendes,
solemne e publico em que mo lenho pronunciado pobre, desempregado, esquecido, a andar pelas
contra o ministerio me julgo superior a consi ruas do Recife. Oh I que terrivel testemunho contra
derações pessoaes ; mas preciso agora, permitta-se nós...
a expressão, preciso alliviar uma mágoa que
me opprime. Creio que são muitos os honrados O Sr. Aprioio :— Ninguem fallou contra.
membros que conhecem de perto o Sr. Dr. Manoel O Sr. Paula Baptista :— Ah I não fallão contra
Mendes da Cunha e Azevedo. Qual será o ministro porque se não atrevem : e bastará isso ? Prou
cuja mão estremeça em lavrar o decreto de no vera a Deos que minhas palavras possão mover
meação deste jurisconsulto profundo, deste es o animo do governo a fazer justiça a este dis-
pecial typo de honradez c probidade para um lu tincto brazileiro. e a dar um pleno testemunho
gar de magistratura? Talvez se diga que Sr. de que as virtudes valem alguma cousa no nosso
Dr. Mendes, sendo removido para uni certo lu paiz.
gar, não comparecêra para tomar posse em tempo, Vou pór termo ao meu discurso, e antes de
o que hoje está fóra do quadro da magistratura. fazêl-o desejo continuar a merecer a attenção da
Sim, o Dr. Mendes foi removido, mas in camara na exposição da allegoria do nobre mi
justamente; suas enfermidades que então se nistro do imperio. Não mo animo a ser inter
havião aggravado, seu estado de pobreza lhe prete dos seus pensamentos, não quero dar versão
não permittirão ser pontual no exercicio do seu alguma ás suas palavras ; mas apenas referil-a
emprego na comarca para que fdra removido. para afinal fazer-lhe um pedido, ao qual S. Ex.
Seja o que fór, o certo é que o ministro que o não poderá negar a sua acquiescencia. O nobre
nomeasse seu acto seria applaudido unanime ministro disse que fóra um pequeno arbusto,
mente pelos homens de todos os partidos que conhe cuja vegetação fóra estorvada por grandes arvo
cem o Dr. Mendes. (Apoiados.) redos cujas ramas copadas lhe embaraçavão a
Senhores, eu respeito o merecimonto dos meus luz do sol, e cujas raizes profundas prejudica-
proprios adversarios ; no fundo de todo o coração vão as suas, ainda fracas e tenues ; e que assim
justo este sentimento se desenvolve espontanea foi crescendo, sempre" fanado, até que póde re
mente. Quereis um homem mestre em todos os ra ceber a luz do sol ; mas que apezar disso, destas
mos da jurisprudencia, profundo e abalisado na grandes arvores, hoje troncos velhos ainda vêm
historia do direito para o magisterio? Vós o acha rebentões e parasitas que damnificão o seu cres
reis no Sr. Dr. Mendes. (Apoiados.) Quereis cimento.
um magistrado dominado pelo sentimento de
justiça, honrado em toda a extensão da pala O Sr. Corrêa das Neves:— Está paraphra-
vra? Vós o achareis no Sr. Dr. Mendes. (Apoia seado.
dos.) O Sr. Paula Baptista :— Eu presumo ter repe
O Sr. Aprioio :—O mesmo a respeit) do Sr. tido as proprias expressões de S. Es., pois estive
Dr. Peixoto de Brito ; é mui illustrado, foi meu nesta occasião bem attento : gostei mesmo de sua
collega, conheço-o muito. eloquencia.
Eu não sei e nem quero saber que arvores são
O Sr. Paula Baptista (depois de alguma pausa) : essas que obscurecião S. Ex., e não lhe deixa-
—O nobre deputado que gosta de chamar todas vão o livre desenvolvimento de sua vegetação,
as questões para o espirito de partido... nem que rebentões são esses que ainda hoje
O Sr. Aprioio :—Não apoiado. o oflendem; e apenas peço que, já que S. Ex.
teve a dita de ver a luz do sol, não olhe somente
O Sr. Paula Baptista: — ... talvez não tenha para os seus, mas para Pernambuco tambem e
conhecimento perfeito da vida desse magistrado... outras provincias. (Apoiados da deputação dePer-
O Sr. Aprioio :—Tenho. nambuco.)
O Sr. Paula Baptista :—Não tem ; terá faci O Sr. Aprioio :— Esse pedido é um egoismo.
lidade em dar apartes (risadas), mas facilidade O Sr. Ministno do Imperio :— Talvez seja ella
em aprofundar estes negocios, e fallar com co quem se não possa queixar.
nhecimento de causa, não.
O Sr. Aprioio :—Tenho de responder. O Sr. Corrêa das Neves :— Apoiado ; ha outras
que têm mais razão de queixa.
O Sr. Paula Baptista :—Não poderá respond«r. O Sr. Paula Baptista :— Oh I senhores, não
O Dr. Mendes da Cunha era do partido da op- vejo objecto para questões : todos que peção o
posição ; conquistou merecidamente muitos cro
ditos e reputação, foi um dos eleitos como de mesmo ; no pedir com moderação não ha o que
putado pela politica decahida, e quando appareceu se possa censurar.
a revolta em Pernambuco, revolta que foi adhe- O Sr. Corrêa das Neves:— Não posso acom
rida por um manifesto publico assignado por panhar o nobro deputado. *
48 SESSÃO EM i D JUNHO DE 1853
O Sr. Paula Baptista : — Pôde acompanhar, cito, queixa-se contra uma sentença da junta de
porque acompanha em um sentimento mui lou justiça da provincia de Pernambuco, pela qual
vavel. foi expulso do serviço por haver incorrido nas
O Sr. Coruêa das Neves :— Não acho a estrada disposições da lei de 26 de Maio de 1835, e pede
boa. que, pira esclarecimento de sua justiça, se re-
queirão ao governo as consultas do conselho su
O Sr. Fiuza:— O sol allumia a todos. premo militar e do conselho de estado que se
O Sr. Paula Baptista:— Tenho, Sr. presidente, referem á questão.
concluido. (Muito bem .' muito bem.' O orador ê « A commissão do marinha e guerra, par i poder
comprimentado por seus amigos.) resolver com sufficiente esclarecimento sobre a
A discussão fica adiada. mataria do requerimento, é de parecer que se
Designa-se a ordem do dia, e levanta se a ses peção informações no governo, devendo essas
são ás 2 horas e 3 quartos da tarde". acompanhar as consultas a que se refere 0 final
da petição.
« Paço da camara dos deputados, em 4 de Junho
tie 1853.— A. D Seára.—Sebastião do Rego.— J.
Sessão em 4 de Junho A. de Miranda. » '
E' julgado objecto de deliberação e vai a im
Presidencia do sr. maciel montedio primir o seguinte projecto :
Summario. — Expediente. — Pareceres de commis- « Foi presente á commissão de pensões e orde
sSes.—Ordem do dia.— Creação de um bispado. nados o decreto do governo, datado de 22 de
Discursos dos Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos, Abril proximo passado, que concede a pensão an-
Corrêadas Neves e Aprigio. Approvação — Dis noal de 167$ 150 ao soldado do artilharia a pé
cussão da resposta d falia do throno. Dis Miguel dos Anjos Peres, feri lo em combate, de
cursos dos Srs. Pereira da Silva e Figueira que lhe resultou soffrer amputação da perna es
querda, ficando por isto inteiramente incapaz do
de Mello. sertiço militar, sem prejuizo dos vencimentos
A's dez horas, feita a chamada, acharão-se que por sua reforma lho competem. A commis
presentes os Srs. deputados Maciel Monteiro, são, á vista dos documentos que acompanhão o
Paula Candido, Siqueira Queiroz, Aprigio, Tei referido decreto, vé que, verificada a circuuistan-
xeira de Souza, Eusebio, Lindolpho, Pereira Rocha, cia pela qual se conferio esta mercê, não póde
Pereira da Silva, Miranda. Luiz Carlos, Ferraz, ella deixar de ser approvada, e por isto offe-
Theophilo, Candido Borges, Fernandes Vieira, rece á consideração da camara a resolução se
Góes Siqueira, Luiz Araujo, barão de Maroim, guinte :
Mendes da Costa Silveira da Motta, Almeida e « A assembléa geral legislativa resolve :
Albuquerque, Gomes Ribeiro, Fleury, José As- « Art. 1.» Fica approvada a pensão annual de
cenço, Belfort, Domingues Silva, Ribeiro, conego 167$ 150 conferida por decreto de 22 de Abril
Leal,. Nebias, Sayão Lobato, Pedreira, Paula deste anno ao soldado do 1« batalhão de arti
Baptista, Evangelista Lobato, Jaguaribo, Rocha, lharia n pé Miguel dos Anjos Peres, ferido em
Henriques, vigario Silva, Paula Santos, Pacca, combate, do que lho resultou soflrer amputação
D. Francisco, Barbosa da Cunha, Titara, Viriato, da perna esquerda, sem prijuizo dos vencimentos
Paes Barreto, Dutra Racha, Livramento, Araujo que por sua reforma lhe competem.
Lima, José Mnthias, Fausto, Sá Albuquerque, « Art. 2.» O agraciado perceberá a referida
Gouvêa, Bandeira de Mello, Figueira de Mello, pensão desde a data do decreto de sua conces
Augusto de Oliveira o Belisario. são ; revogadas para este fim as disposições em
Comparecêrão, depois da chamada, os Srs. Souza contrario.
Leão, Teixeira de Macedo, Nabuco, Wanderley, « Paço da camara dos deputados, 2 de Junho
Fiuza, Santos Almeida, Paula Fonseca, Seára, de 18õ3.— D. Francisco. — Gomes Ribeiro. »
Mendonça, Machado, Paranaguá, Wilkens, Cruz
Machado, Octaviano, Angelo Custodio, Pimenta E' lido e s-rn discussão approvado, o seguinte
Magalhães, Vasconcellos, Pereira Jorge, Saraiva, requerimento :
Taques, Raposo da Camara, Silverio. Barbosa, « Requeremos que se peça ao governo cópia
Brandão, Costa Machado, Casado, Serra, Can do relatorio remettido á secretaria do estado dos
dido Mendes, viscondo de Baependy e Horta. negocios da justiçn pelo Dr. chefe de policia in
A's dez horas e tres quartos, havendo numero terino da provincia do Rio de Janeiro, Antonio
jogai, o Sr. presidente declara nherta a sessão. Ladisláo de Figueiredo Rocha, concernente ás
Lida e approvada a acta da sessão antece ultimas oceurrencias havidas na provincia men
dente, o Sr. 1° secretario dá conta do se cionada relativamente ao trafico iilicito dos afri
guinte canos.
expediente « Paço da cam ira dos deputados, em 4 de Junho
de 185U. — J. M. Pereira da Silva. — A. de
Achão-se sobre a mesa um quadro demonstra Miranda. » ,
tivo das operações do preparo, assignatura e E' lido e approvado o seguinte parecer :
substituição do papel-moeda na córte o munici « A' commissão de constituição e poderes foi pre
pio do Rio de Janeiro, a cargo da junta admi sente o diploma dos Srs. Carlos José Versiani,
nistrativa da caixa da amortização desde 21 do deputado eleito pela provincia do Minas Geraes,
Dezembro de 1885 ato 31 de Maio de 1853, que e iichando-o conforme as actas geral e parciaes
vai á commissão de fazenda, e o diploma do da eleição pela dita provincia, é do parecer que
Sr. Carlos José Versiani, deputado eleito pela
provincia de Minas-Geraes, que com urgencia é o mesmo Sr. Vers'ani seja admittido a prestar
remettido á commissão de poderes. juramento e tomar assento.
« Piço da camara dos deputados, 4 de Junho
PARECERES DE COMMISSÕES de 1853. — F. D. Pereira de Vasconcellos.—J. A.
de Miranda. »
E' lido e sem discussão approvado o seguinte O Sr. Tilara : — Tenho de apresentar um re
parecer : i querimento, o V. Ex. me permittirá que diga
« Norberto Alves Cavalcante, ex-tenente do exer- algumas palavras para o fundamentar. -
SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853 49
Desde que se creou a thesouraria provincial lugares, de sua população e commercio, etc., e
das JUagóas, em 1839, que se reconheceu a ne que o governo, ouvindo as autoridades compe
cesaidade de um ajuste de contis entre ella e tentes, pó le vir esclarecer-nos.
a de fazenda ; e por mais diligencias que se em Desde já protesto que pretendo dar o meu
pregassem para leval-o a effeito, sóinente com voto a favor do projecto oflerecido pelo honrado
muito trabalho, difficil e vagarosamente se póde deputado meu digno amigo, mas é no caso de
conseguir, cflecfuando-se em lSõ0 ou 1851; e que as informações do governo sejão do accordo
dahi resultou uni saldo a favor da thesouraria com elle.
provincial, cuja cifra não tenho presente. Senhores, eu entendo que a creação de novos
Desde entã se tem feito requisições ao governo bispados em nosso paiz é de summa necessidade
acerca do pagamento dessa quantia, mas não (apoiados) : eu entendo que semelhantes bispados
tem sido até ao presente possivel obter-se esse serão um nucleo, serão, permitta-se-me a expres
mesmo saldo t Uvez por ser uma divida de exer são, verdadeiros centros donde partirão os lumi
cicios findos, e que o governo por si não pu nosos raios da nossa religião por sobro a populaçjD
desse pagar ; sendo porém de muita utilidade deste vasto imperio ; elles incontestavelmente
que a repartição provincial receba essa quantia, concorrerão para desenvolver o elemento reli
pois que, como se sabe, existem em andamento gioso, objecto este da maior importancia em uma
algumas obras publicas de grande importancia sociedade (apoiados) ; mas para que procedamos
naquella provincia, obras de muita utilidade com toda a prudencia e circumspecção, consul
como são estradas, e principalmente uma grande temos em primeiro lugar a opinião da adminis
ponte que se começou a fazer na administração tração.
do Sr. conselheiro Cunha e Figueiredo em o rio
Satuba. Sr. presidente, o projecto do nobre deputado
além disso parece-me incompleto, porquanto não
Havendo pois naquella provincia obras desta attende a uma das necessidades primordiaes dos
magnitude e de interesse geral, parece-me que nossos bispos: fallo das mesquinhas congruas
seria de grande utilidade que a camara tomasse quo os mesmos percebem. Bom seria que a res
em consideração este objecto quando se tratasse peito tomassemos providencias geraes. (Apoiados.)
da lei "do orçamento, afim de que, mandnudo-se Estes altos funecionarios do estado não têm
pagar essa divida, se possa levar a effuito algum indubitavelmente as rendas devidas ã sua posi
melhoramento material da provincia. ção, e por isso quando se trata de desannexar
Mandoportar.to á mesa um requerimento neste ' territorios para crear novos bispados, offenden-
sentido, pedindo que sejão remettidos a esta casa do-se desfarte a interesses já est ibelecidos, julgo
todos os papeis que existem sobre o ajusto de que alguma providencia se deve tomar para que
contas entre as duas thesourarias. tão respeitaveis empregados sejão melhor aqui
E' lido e approvado o seguinte requerimento : nhoados. (Apoiados.)
« Requeiro que se peção ao Roverno, por inter Peço, portanto, licença ao nobre deputado di
medio do ministerio da fazenda todos os papeis gno autor do projecto para offerecer um reque
relativos ao ajuste de contas entre a thesouraria rimento no sentido em que me enunciei.
provincial e a da provincia das Alagoas, remet E' apoiado o requerimento e entra em discussão.
tidos ao mesmo governo pela presidencia desta O Sr. Vaiconccllos . — Sr. presidente,
provincia. quando tive a honra de apresentar a esta ca
«Paço da camara, 4 de Junho de 1853. — José mara o projecto que V. Ex. acaba de declarar em
Cotrèa da Stlva Titdra. » 1« discussão tinha eu procedido por terto ás
averiguações mais miudas, aos mais escrupo-
ORDEM DO DIA losos exames ácerca da materia de que trata o
projecto ; e quando por essa mesma occasião
CREAçXo DE UM BISPADO justifiquei o projecto, offereci tambem ã consi
Entra em 1J discussão o projecto r. 13 deste deração da camara os motivos graves e ponde
rosos que me aconselhárão a que semelhante
anno sobre a creação de um bispado na provin medida fosse iniciada e adoptada na presente
cia de Minas Geraes, com a denominação de sessão legislativa.
bispado da Diamantina. Eu discorri sobre o territorio da provincia de
O Sr. Góes Siqueira. — Sr. presidente, Minas Geraes, que tenho a honra de representar
não sei se a camara dos Srs. deputados prestará nesta casa, e mostrei que não era possivel que
assentimento ás poucas palavras que vou dizer territorios que se achão a 5'JO e 600 leguas
acerca do projecto em discussão. Julgo a materia distantes do bispado de Pernambuco, o quasi em
do projecto offerecido pelo honrado deputado por igual distancia do arcebispado da Bahia, con
Minas Geraes de summa importancia (apoiados), tinuem a prestar obediencia ao bispado do Per
e por esta razão mesmo entendo que devemos nambuco e arcebispado da Bahia (apoiados) ;
ouvir a opinião do governo, porque é só o go mostrei que a população dostes bispados que se
verno que nos poderá fornecer informações por pretende crear era bastante e não inferior á
meio das quaes nos possamos dirigir com per população do bispado novamente creado na pro
feito conhecimento da materia. vincia do Rio Grande do Sul (apoiados) ; mostrei
Sr. presidente, em uma das sessões passadas, que as suas parochias são tão distantes que a
apresentaudo-se na casa um projecto que tinha falta dos recursos ecclesiasticos era sentida de
por fiai a creação de uma nova provincia no uma maneira que não soffria contestação alguma.
centro da Bahia e Minas Geraes, aiguns honra 'Apoiados.) Quaes são pois os motivos que o
dos deputados mostiáráo a conveniencia de se meu honrado amigo deputado pela provincia da
ouvir a opinião do governo sobre objectos destn Bahia sfferece pira demorar o projecto em 2»
natureza, e neste sentido foi approvado um re discussão, se a camara me fizer a honru de o
querimento pela camara dos Srs. deputados. Ora, approvar em 1» ? Quaes são motivos que o meu
uando se irata do um projecto que tem por honrado amigo enunciou pura sustentar o re
m a creação de um novo bispado, pedir a opi querimento que se discute?
nião do governo, ouvindo ao nosso illuatrado V. Ex. sabe, Sr. presidente, que em primeiro
metropolita, parece-me muito curial. (Apoiados.) lugar os motivos se reduzem á falta de audiencia
Sr. presidente, creio que a camara ou grande das autoridades para a nova creação que se
parte dos honrados deputados não tem conheci projecta ; e talvez neste ponto eu possa contrariar
mentos muito positivos da typographia desses o nobre deputado.
tom* 2. 7
50 SESSÃO EM í DE JUNHO DE 1853
Nesta casa o venerando metropolita da igreja Senhores, ha nisso um grande equivoco ; adian
brazileira.... tarei já a minha opinião a esse respeito. Os pre
O Sr. Presidente : — Permitta-mo o Sr. de lados lêm todo o direito de iinpedir a creação das
putado que o interrompa para fazer uma obser freguezias que não julgão convenientes, negando
vação. Eu estava preoocupado quando o reque a missão do sacerdote ; ó este o direito que lhes as
rimento veio á mesa ; e agora vejo que ó um siste ; mas não o do perturbarem as assembleas
adiamento para ser tomado em consideração de legislativas em o direito que a lei fundamental
pois da 1» discussão do projecto. Está portanto lhes dá.
ainda em discussão o projecto, e qualquer Sr. du- O Sr. Nebias : — Para não haver essa luta é
Íiutado que o queira impugnar póde pedir a pa- melhor que haja essa audiencia previa.
avra. O Sr. Vasconcellos : — Não apresento este ar
O Sr. Góes Siqueira : — Houve com effeito um gumento senão p ira demonstrar que o direito do
lapso na redacção do requerimento, e aceito de poder legislativo é independente dessa audiencia ;
bom grado a reflexão de V. Ex. ; mas mandarei mas não digo que esta não seja conveniente ; ê
. ft mesa requerimento em outro sentido para que uma outra questão.
V. Ex. o offereça á consideração da casa. O Sr. Corrêa das Neves : — Tire a palavra—
E' apoiado o seguinte requerimento : conveniente—o a substitua por— necessaria.
« Que o projecto seja remettido ao governo O Sr. Vasconcellos : — No caso de que se trata
para dar sobre elle as informações precisas. — é desnecessaria a audiencia, porque a opinião que
Góes Siqueira. » tinhamos da consultar já 'nos e conhecida.
O Sr. Vasconcellos : —Dizia eu que o Sr. ar Eu, meus senhores, entendo que o maior be
cebispo da Bahia fóra favoravel á idéa da crea- nefico que podemos fazer ao paiz, a par dos me
ção deste bispado, e não ha duvida sobre qual lhoramentos materiaes que tratamos, é de certo
sua opinião nesse ponto, tanto que o venerando esse que tende a moralisar nosso paiz, e dar
ancião arcebispo da Bahia já tinha iniciado nesta esplendor ao culto em muitos lugares do imperio
casa uma medida identica quando foi membro do Brazil. -
delia.... O Sr. Corrêa das Neves ; — Mas isso não per-
Um Sr. Deputado : — Em 1827. mitte o abuso.
O Sr. Vasconcellos : — . . . e estou mesmo in O Sr. Vasconcellos : — Chamo a attenção prin
formado que um çolloga nosso se dirigio a uma cipalmente daquelles senhores que são sacerdotes
pessoa de sua amisade na provincia da Bahia, para que me coadjuvem nesta missão, que acho
solicitando a opinião de S. Ex. o Sr. arcebispo muito importante...
sobre este projecto, e direi a casa que a resposta O Sr. Corrêa das Neves :— Pelos meios legi
do Sr. arcebispo foi a mais fivoravel que po timos.
dia esperar-se; e nessa parte me permiitirá V. Ex., O Sr. Vasconcellos: — ... nesta missão que
ainda contra o regimento, que eu invoque o tes diz respeito á civilisação do nosso povo.
temunho do Sr. deputado Aprigio. . . Tambem o nobre deputado pela Bahia julgou
O Sr. Aprioio : — Apoiado ; houve uma carta que o meu projecto era incompleto, por isso que
do Rev. arcebispo em qne se pronunciava favo eu não tinha ao lado de suas disposições consi
ravelmente pela creação dos novos bispos. - gnado o augmeuto da congrua dos bispos. Pa-
O Sr? Vasconcellos : — E S. Ex. nessa carta se recendo-mo muito rozoavel a observação do nobre
referia a apresentação que tinha feito de um pro deputado, todavia não a aceito para esta discus
jecto identico e á necossidaie que tinha a provin são, visto que ou em projecto a parte ou na lei
cia de Minas de uma igual medida. do orçamento podemos augmentar conveniente
O nobre deputado pretende adiar o projecto, mente a congrua dos bispos , quo reconheço ser
com que fim ? Com o fim de ouvir o governo ; o mais exigua possivel. (Apoiados.) Vou adiante :
mas, meus senhores, na primeira discussão dos entendo que tambom deyemos augmentar a con
projectos não se trata senão de sua convenien grua do metropolita.
cia e utilidade em geral ; o hoje, pelos nossos O Sr. Campos : — E dos parochos e dos vigario*
estylos parlamentares, podemos ter a opinião do geraes tambem.
governo éentro de uma hora, dentro de meia hora,
no momento mesmo em que se discute qualquer O Sr. Vasconcellos : — Se eu for informado de
P rojecto, por isso que temos o direito de convi- que as forças do thesouro supportão esse aug-
d ar o ministro da repartição competente para vir mento, esteja o nobre deputado certo de que
assistir ao debate e interpor a respeito a opi para isso concorrerei com o maior prazer possi
nião do governo. vel ; porque entendo que em toda a sociedade bem
Sr. presidente, qual será a outra razão que so organisada se deve promover com efficacia esse me
possa allegar para a necessidade da audiencia do lhoramento, visto que o esquecimento de Deoa
traz o esquecimento dos deveres, o o esqueci
governo, depois que no* ó conhecida a opinião do mento dos deveres é a causa da desgraça e da
venerando ancião metropolita da igreja brazileira ? decadencia dos povos. (Apoiados.)
A este respeito entendo que á assembléa geral Não tendo ouvido por ora objecção alguma que
legislativa pertence o direito de creação ou des me autorise a approvar o requerimento de adia
membração dos bispos sem audiencia dos bispos : mento proposto pelo meu honrado amigo, sou
assim se tom praticado. Entendo o estou prompto de parecer que o projecto deve passar em pri
a sustentar esta opinião com o direito canonico, meira discussão, porque em segunda teremos
com os principios do nosso direito desde que per occasião de ouvir a opinião do governo.
tencemos a metropole portugueza. Se ó p ira ahi Achando-se na sala im mediata o Sr. Barreto
qun os nobies deputados me querem chamar, es Peitrosordoputado supplente pelo Rio de Janeiro,
timarei muit i ouvil-os nas oprniões contrarias a é introiuzido com as formalidades do estylo,
esta. Não póle o governo estar inhibido do di presta juramento o toma assento.
reito do decretar a creação de bispados sem que
se cinja a essa audiencia prévia ; assim como en Continua a discussão.
tendo que as assembléas provinciaes são livres O Sr. Corrêa das Novos:— Sr. presi
na creação, desmembração o união das freguezias dente, voto pelo adiamento proposto, não porque
sem audiencia dos prelados. (Apoiados t nSo entenda que me devo oppór á creação de novos
apoiados.) bispados no imperio, não porque desconheça a
SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853. 51
necessidade que temos de promover o culto e O Sr. Corrêa das Neves : — Isto é o que está
dar todo o lustre e brilho à nossa religião, afim em questão ; portanto o nobre deputado veja a
da com seus auxilios conseguirmos os fins que minha conclusão, e então a combata.
o nobre deputado que acaua de fallar enun Mas, como ia dizendo, a assembléa provincial
ciou. de Pernambuco tratou de fazer divisões do paro-
O nobre deputado convidou-me, e convidou a chias sem ouvir o ordinario. Mas o bispo entendeu,
todos os meus collegas sacerdotes, para que de e entendeu com toda a razão, que seus direitos
accordo com elle procurassemos moraiisar o povo tinhão sido offendidos, que a assembléa pro
pela religião, desenvolvendo-a como merece ; mas, vincial tinha querido usurpar suas attribuições,
Sr. presidente^ o convite do nobre deputado, e então disse : « Não approvo essa divisão que
perdóe-me que lhe diga, foi feito com alguma tendes feito. » E qual foi, senhores, o resultado 1
antecedencia, porque o nobre deputado não sabia Por ventura essas parochias novamente creadas
se estavamos no accordo de acompanhal-o em forão providas ? Por ventura houverão sacerdotes
tão justo fim, visto que não nos consultou a que aceitassem a direcçio e cura das almas
respeito, e assim não podia duvidar de nosso dessas freguezias? Temporalmente, dir-me-hão,
concurso. estava feita a divisão das freguezias ; mas, per
Mas, Sr presidente, comquanto eu entenda que gunto eu,, que importa a divisão temporal se a
devemos promover o culto, que devemos dar espiritual nao existia, se os parochos aos quaes
todo o lustre e brilho a religião, e que devemos se tinha tirado parte de suas freguezias conti-
por este meio moralisar o povo, fazendo-lhe conhe nuaváo na jurisuicção espiritual, jurisdicção que
cer seus deveres civis e religiosos, julgo tam os parochos não recebem _da camara nem dos
bem que devemos fazer isso pelos tramites legaes, homens, mas sim da igreja, que a recebeu de
Selos meios que a disciplina ecclesiastica e o Deos ?
ireito canonico determinao; porque, se proce O Sr. Aprioio : — Cite o concilio tridentino.
dermos em sentido contrario, então, bem longe
de cumprir um dever, nos arredaremos delle, O Sr. Corrêa das Neves: — Foi o que eu
esqueceremos as bases da religião, offendoremos ouvi ; ouvi mesmo o que nobre deputado que
a disciplina da igreja ; e nem eu, e nenhum sustenta o projecto, combatia. o direito que têm
dos meus collegas sacerdotes que têm assento as autoridades ecclesiasticas de ser ouvidas nestas
nesta casa, jamais esqueceremos essa disciplina e divisões e creações, e ó o que eu estou im
esse dheito que nos rege. pugnando. O nobre deputado reconheceu tanto
Enunciou o nobre deputado, a quem muito em sua consciencia que havia necessidade de
respeito, cuja illustração reconheço, o principio serem ouvidas as autoridades ecclesiasticas, que
de que as assembléas legislativas, não tínhão nos disse : « O metropolita foi ouvido e deu
necessidade alguma de ouvir aos ordinarios, de uma informação muito favoravel. » Creio piamente
ouvir aos metropolitas na creação das freguezias, nisto; o nobre deputido reforçou o seu teste
na divisão dos bispados ; e o nobre deputado munho com o de um outro a quem tambem
prometteu-nos mesmo provar que estes seus prin presto toda a confiança ; mas esse nobre deputado
cipios estão de accordo com o direito canonico. não tem caracter official ; e comquanto para mim
Mas eu, Sr. presidente, comquanto não tenha seja muito digno de toda a confiança, todavia
grande conhecimento do direito canonico para observarei que o arcebispo podia particularmente
Íioder discutir como o nobre deputado seme- dizer-lhe a sua opinião, mas póle tambem não
hante these ; comquanto mesmo não tenha o prescindir de dar u na resposta officiaL, porque
seu talento e illustração, comtudo muito desejaria se o arcebispo em tal conviesse, certamente faltaria'
ouvil-o sobre esta materia para lhe dizer o que a seus deveres deixando usurpar uma das suas
penso a respeito. mais importantes attribuições, vindo a dar com
Parece-me que é principio que nunca foi dispu isto occasião a que no futuro não só se lhe contes
tado, que os bispos devem ser ouvidos na divisão tasse o direito de ser ouvido, como mesmo que
das freguezias, que o metropolita deve ser ouvido outras usurpações apparecessem.
na divisão dos bispados, e o papa o deve ser na E demais, senhores, a questão não interessa
divisão dos arcebispados. só ao metropolita, interessa tambem aos bis
O Sr. Gomes Ribeino:—Não ha base para uma pos, pois que elles têm um direito á jurisdic
ção espiritual daquella porção do rebanho que
divisão. se lhe quer tirar.
O Sr. Corrêa das Neves:—Não tratamos de O Sr. Vasconcexlos : — Faça o favor de citar
bases, tratamos do direito. as disposições que lhe dá essse direito.
Se pois é esse o principio único e verdadeiro
que tem sido sustentado pela igreja, e que deve ser O Sr. Corrêa das Neves:— Não posso citar de
respeitado por esta illustro camara, como dizer o momonto, porque não vim preparado para esta
nobre deputado que provará canonicamente que as discussão, e nem mesmo tenho muita memoria
assembléas legislativas podem dispensar esse prin para conservar- datas ; mas posso asseverar ao
cipio? Creio que não estou em engano, creio que nobre deputado que esta é doutrina orthodoxa
estou na doutrina ecclesiastica, creio que estou em da igreja.
perfeita obediencia aos principios a que devo O Sr. Vasconcellos : — Contesto com a his
obedecer como sacerdote, aos preceitos a que todos toria.
nós como christãos devemos obedecer.
Quererá por ventura esta augusta camara crear O Sr. Corrêa das Neves:—Ora, contestar com
um schisma, plantar a desordem entre o clero a historia a doutrina ecclesiastica I
e o administrativo; fazendo a divisão de um bis O Sr. Vasconceijlos:—Sim, senhor.
pado que com toda a justiça e direito póde ser
reprovada pelo chefe da igreja? E por ventura O Sr. Aprioio : — E' do concilio tridentino.
nesse estado de desaccordo e desharmonia entre O Sr. Corrêa das Neves E' do concilio tri
o espiritual e temporal podemos dizer que mo- dentino o que ?
ralisamos o povo, damos brilho á religião, quando O Sr. Aprioio : —A sua opinião.
estamos tirando ã igreja suas incontestaveis
attribuições ? Certamente que não podemos dizer. O Sr. Corrêa das Neves : — Logo vi que o
Sei que a assembléa provincial de Pernambuco, nobro deputado não me contestava, porque anda
talvez mal aconselhada... mos sempre de accordo. (Risadas.)
O Sr. Vasconcellos:— Não apoiado; em seu O Sr. Presidente : — Attenção I A discussão
direito. não póde marchar em dialogos.
52 SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Corrêa das Neves:—Eu, Sr. presidente, e bispos, quero que sejamos os primeiros a res
gosto muito destes apaites. peitar os direitos das autori lades d !ssa religião
O Sr. Presidente : — Mas isto não é materia que nós asseveramos desejar vêl-a brilhante.
de gosto, é do regimento. São estas as razões pelas quies voto pelo
O Sr. Corrêa das Neves:—Senhores, lu fui adiamento. Póde-se muito bem dispensar a
apanhado nesta questão, como se costuma dizer, audiencia do governo, porque entendo que tão habi
de sorpresi ; se a tivesse estudado com o vagir litado estará o governo para conhecer da necessi
que cila exige, apresentaria ao nobre deputado as dade e conveniencia dessa creação, como podem
disposições canonicas a respeito. estar os nobres deputados das respectivas pro
vincias que o novo bispado tem de abraçar, e
O Sr. Vasconcellos:—Ha de 'ser difficil. talvez que esses nobres doputados conheção
O Sr. Corrêa das Neves: — Não o tanto como melhor os inconvenientes que resultão de irem
parece. Além disto, eu poderia remetter o nobre procurar os soccorros »spiritaaes nas dioceses a
deputado para o que o Exm. Sr. arcebispo da que pertencem actualmente.
Bahia tem escripto sobre esta materia susten Concluirei pedindo ao nobre deputado autor
tando seus direitos. E até a doutrina do nobre do projecto desculpa de não concordar com elle
deputado, perdóe-me dizer-lhe, não o quero offen- em toda a sua doutrina.
der, tem urn vislumbre de heretica. (Risadas.) O Sr. Aprigio : — Sr. presidente, o nobre
O Sr. Cruz Machado : — Então não ouvio bem deputado que me precedeu expóz, sem duvida algu
o que elle disse. ma, doutrina digna de ser recebida ; pela minha
parte declaro que o adopto, tanto que em occa-
O Sr. Corrêa das Neves : — Talvez ; mas, se siões como esta tenho-a sempre sustentado e
nhores, terá ou não um pequeno toque de he deliberado om sua conformidade ; mas eu não
resia negar-se aos bispos a jurisdicção espiritual vejo que se désse motivo a essa exposição quando
sobre suas ovelhas ? o projecto não a contraria, antes a consagra
O Sr. Silveira da Motta : — Algum schisma {apoiados), e o adiamento proposto póde ser
sim, heresia não. combatido dentro dos limites da doutrina que
tenho como verdadeira.
O Sr. Corrêa das Neves : — Pergunto eu ao O projecto tem por lim a creação de um bis
nobre deputado, será principio de dogma admit- pado ; logo, diz o nohre deputado, faz-se precisa
tido pela igreja, e de que ella não prescinde, a a intervenção do Summo Pontifice.
jurisdicção espiritual que tem sobre os catholi-
cos ? Dopois de me responder a isto eu provarei Um Sr. Deputado : Não foi isso.
que sei differençar um pouco o schisma da he O Sr. Aprioio : — Perdóe-me. O illustre re
resia. (Cruzão-se differentes e simultaneos apartes presentante pela provincia da Parahyba estabe
que não pudemos apanhar.) Não sei quem estará leceu que para "a creação ou divisão de uma
mais atrasado em direito canonico. freguezia necessita o poder civil do concurso do
O Sr. Silveira da Motta: — Talvez eu. poder ecclesiastico ; assim como para a creação
O Sr. Corrêa das Neves :— Talvez eu ; V. Ex. ou divisão de um bisp ido é necessario o con
é lente de uma academia, e necessariamente curso do Summo Pontifice.
deve saber ex- professo o direito ecclesiastico. Outno Sr. Deputado: — E' verdade.
O Sr. Silveira da Motta : — Sou lente, é ver O Sr. Aprioio: — Eu direi mais: para se de
dade, mas não de direito ecclesiastico ; e o nobre cidir ou crear um bispado convém ouvirem-se os
deputado é padre. fretados, de cujas jurisdicções se tirão as loca-
O Sr. Corrêa das Neves: — Bem, mas V. Ex. idades que devem compór o bispado que se
já disse aqui em uma occasião que nem todas pretende creir Ainda assim tenho razões muito
as cabeças com coroa erão de padres. (Risadas procedentes para sustentar que o adiamento não
geraes. ) está no caso de ser adoptado.
O Sr. Silveira da Motta:—Isto não se entendia (Ha um aparte que não pudemos ouvir.)
com o nobre deputado. O nobre deputado que se pronunciou pelo adia
mento parece-me que não leu o projecto, ao
V.O Ex.
Sr. Corbêa
• das Neves :— E' muita bondade de contrario veria que elle autorisa o governo para
Entendo pois, senhores, que não é possivel impetrar da Santa Só a creação do bispado que
que esta assembléa deixe passar este projecto faz o seu objecto.
sem ser ouvido sobre sua materia o metr..polita, O Sr. Silveira da Motta: — Dopois de creado.
e sem que este ouça os respectivos bispos. O Sr. Aprioio: — Depois de so ter designado
Eu disse em principio, e repito, desejo muito o , territorio da comprehensão que deve ter o
a creação de novos bispados, desejo muito que novo bispado. Este caso não e novo temos o
as congruas, não só as dos Srs. bispos, como exemplo de outras creações identicas. Não foi
tambem as dos parochos, sejão elevadas ; mas por esta mesma lórma que se procedeu quando
sobre a divisão projectada entendo que o me- se teve de crear o bispado do Rio Grande do
tropolita deve emittir a sua opinião. Sul...
O Sr. Vasconcellos : — E foi ouvido quando Um Sr. Deputado:— Sendo ouvidos os bispos.
se creou o bispado do Rio Grande ? O Sr. Aprinio:— Então o que falta é a au
O Sr. Corrêa das Neves : — Não sei, não. diencia dos bispos ; bem. Havendo audiencia dos
estava na camara nesse tempo, e por isso não bispos, o projecto deve proseguir e ser adoptado
lhe posso responder. afim de que fique o governo habilitado para
O Sr. Nauuco : — O bispo do Rio de Janeiro impetrar da Santa Sé as bulias de creação do
tinha nessa época assento nesta casa, e deu o bispado proposto. Se isto é assim, votemos
seu parecer a favor. contra n adiamento, porque essa exigencia já
está desempenhada.
O Sr. Corrêa das Neves : — Concordo muito
em que nós procuremos moralisar o povo, e- por Alouns Srs. Deputados :— Ainda não.
meio da religião ; é o meio mais efficaz de se O Sr. Aprioio: — Não tenhão os nobres depu
poder conseguir este fim salutar ; mas não quero tados tanta sofreguidão, oução-me por alguns
que se menospreze as autoridades dos arcebispos momentos, e creio que votarão commigo.
SESSÃO EM h DÉ JUNHO DE 1853 53
Sr. presidente, o illustre deputado pela pro O Sr. Aprioio • — Não é outra cousa : é o que
vincia de Minas Geraes, meu honrado amigo eu tinha a dizer, e não me qusrião ouvir, in-
e autor do projecto, invocou o mm testemunho terrompendo-me, e decidindo antes de mo atteu»
a respeito da informação que dera o Exm. ar derem. (Risadas.)
cebispo metropolitano sobre esta materia; dahl O Sr. Corrêa das Neves:— O nobre deputado
nasceu uin duplicado dever, que me acompanha, podia ter dito isto em um aparte.
de rogar a attenção da casa. Prestando a maior
deferencia ao meu muito respeitavel prelado, O Sr. Aprioio:— Não, porque dando um aparte
acostumado a seguir os seus sabios conselhos de ordinario rospondem-me com um insulto...
e a obedecel-o em todos os negocios ccclesiasti- Um Sr. Deputado: — E' injustiça feita á ca
cos, apenas foi o projecto de que se trata offe- mara.
recido á consideração desta augusta camara,
comquanto estivesse pessoalmente habilitado para O Sr. Aprioio : — Vai a quem toca. Assentei
dar uin voto consciencioso, por não me ser estra pelo temor dos insultos de tomar parte na dis
nha nem a posição nem a somma das necessidades cussão, o expor com toda a solemnidade aquillo
das localidades de que se deve compór o nosso bis que bem poderia dizer em apartes, poupando
pado, escrevi para a minha provincia a um do meus tempo... .
intimos amigos, que tem a felicidade de communi- O Sr. Corrêa das Neves : — O nobre deputa
car-se constantemente com o Exm. arcebispo, do deu-me um aparte, e eu não lhe respondi
pirticipando-lhe a apresentação do projecto, e com insulto.
pedindo-lhe que me communicasse a opinião que O Sr. Aprioio : — Esso meu aparte foi em
S. Ex. Revm. tinha a tal respeito, afim de que apoio
eu pudesse regular bem o mou voto. O meu amigo lhe o doconcilio que dizia o nobre deputado, lembrei-
desempenhou a commissão com toda a presteza, que partilhava a tridentino, declarando-lhe logo
opinião do nobre deputado, que
enviando me uma carta do digno metropolita, esses erão os meus principios Em verdide, a
em que afirma o seguinte :— que ha muito sus doutrina do nobre deputado e corrente na minha
pira pela creaíão do um bispado que o deso
nere das freguezias -da provincia de Minas Geraes provincia, a muito assembléa provincial a tem seguido
pertencentes ao arcebispado ; que no anno de sustentada
lejo. (Hilaridade
especialmente por esto anima-
prolongada.) Peço perdão á
1827 ello mesmo liavia proposto nesta casa se
melhante creação ; que alguns annos depois, casa pela expressão, qué aliás está já parla
pedindo-a igualmente a assembléa provincial do mentar. . .
Minas Geraes, exigirão ambas as camaras o seu O Sr. Presidente : — Não, senhor, não ó par
parecer, o qual clíectivamente déra instando pela lamentar.
creação ; e que emfim, convém acudir-se quanto O Sr. Aprioio : — Pelo que- tenho exposto
antes a esses povos, onde quasi não chega a julgo que o adiamento não deve ser adoptado,
acção da autoridade do prelado da Bahia, sendo ao menos por agora, podendo ser satisfeitos sem
realmente no espiritual governados só pela Pro elle aquelles senhores que julgão não dever
videncia. A carta a que me refiro está em minha Íiassar o projecto sem audiencia dos Rvms. pre-
casa, posso mostral-a a quantos a desejarem vêr, adoss ainda temos duas discussões, o em quai
e se fór preciso a trarei para lêr aqui. squer delias podem apparecer as informações
Poderão dizer que além do parecer e informa dadas, ou o pedido delias, se não apparece-
ções do Exm. arcebispo da Bahia são precisos rem.
os pareceres o informações dos outros prelados, O Sr. Corrêa das Neves : — Mande requeri
de cujos bispados por ventura se tirem partes mento neste sentido.
dos territorios, e que por isso ainda resta a
necessidade de ouvir-se a estes. Eu responderei O Sr. Aprioio : — Não so póde mandar reque
que se a representação da assembléa provincial rimento neste sentido, segundo observou o Sr. pre
de Minas Geraes foi por deliberação de ambas sidente quando o illustre deputado pela minha
as camaras a informar ao Exm. arcebispo da provincia offereceu o primeiro requerimento. O
Bahia, porque o bispado pedido envolvia uma que é regular é rejeitar-se o requerimento em
desmembração daquello arcebispado, seguramente discussão, approvar-se o projecto em primeira
essa exigencia se fez extensiva aos outros bispos, discussão para passar á segunda, e vermos se
de cujos bispados tambem se desmembravão nesse intervallo apparecem as informações. Como
partes. Disto conclue que devem existir na casa me parece ter conciliado todas as opiniões di
todas as informações precisas... versas sobre o adiamento, tomarei a liberdade de
aconselhar ao tneu nobre amigo e ctillega autor
Um Sr. Deputado : — Mas ainda não appare- do requerimento, que peça a sua retirada, no
ceráo aqui. que vai de accordo com sua primeira intenção
O Sr. Aprioio:— Elias appareceráõ. . . manifestada no requerimento, que o Sr. presi
dente não admittio por ir contra as disposições
O Sr. Corrêa das Neves :— hxistem por con regimentaes. O voto que temos agora de pro
clusão. nunciar e sobre a utilidade geral do projecto ;
O Sr. Aprioio : — Se os principios são certos, a esta não tambemé, nem póde ser contestada ; ninguem
conclu-ão que delles se tira não poderá deixar contesta a necessidade do concurso da
autoridade ecclesiastica nas creações de fregue-
de ser verdadeira. (Apoiados.) Eu não posso du
vidar da palavra do nobre metropolita, nem zia* e bispados ; estamos todos de accordo com
a doutrina orthodoxa que fez objecto do discur
julgo haver quem delia possa duvidar. (Apoia so do nobre deputado que me precedeu; demos
dos.) Logo qne ella tem informado, ó certo. fim a este debate. (Apoiados.)
(Apoiados.) Poderá ser apenas provavel que os
demais prelados fossem ouvidos, como era na O Sr. Góes Siqueira : — Tendo conseguido 0
tural ; e nesta probabilidade como devemos pro fim que tinha em vista, pelo que acaba de dizer
ceder? Eu indicarei: approvemos o projecto em o nobre deputado, peço que se me conceda reti"
primeira discussão ; no intervallo que se der rar o meu requerimento, compromettendo-me
entre esta e a segunda consultem-sc os archivos ; porém a apresental-o na 2* discussão, caso as
se ,taes informações não existirem, peção-se então, informações a que se referio o nobre deputado
e não duvidarei de acompanhar em tal caso ajs não satisafção.
que hoje querem o adiamento... A camara consente na retirada do requerimen
Alouns Srs. Deputados : — Isto é outra cousa. to, e o projecto é approvado em Ia discussão.
54 SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
RESPOSTA Jl FALLA DO THRONO. idéa do meu amigo relator da commissão, do
que o voto de graças não deva tratar do poli
- Continua a discussão da resposta á falia do tica, e sim apenas se considere uma peça de
hrono. respeitoso comprimento e agradecimento ao throno
O Sr. Pereira (ia Silva ; — O meu illus- para evitar discussões que em outra qualquer cir-
tre amigo relator da commissão da resposta á cumstancia e lugar serião mais bom cabidas: não;
falia do throno, expóz, com toda a franqueza, eu acho excellentes os nossos estylos parlamen
no seu discurso proferido na sessão de ante- tares de se considerar a falia do throno peça
hontem,' o pensamento que dirigira a commissão ministerial, e de dever o voto de graças com-
ao redigir o voto de graças. Pareceria que de prehender a politica que entende o corpo legis
pois da sua declaração nenhuma sombra de duvida lativo ser a conveniente ao paiz ; é a unica
deveria mais apparecer ; foi porém o que se occasião solemne em que o corpo legislativo se
não realisou. Alguns nobres deputados tornárão apresenta perante o throno, e deve lhe fallar a
a enxergar desaccordo entre uns e outros perio verdade.
dos e topicos do projecto. Membro da com O systema que melhor parece ao meu nobre
missão, releve-me a camara que venha intro- amigo é o do parlamento britaonico ; mas ahi
metter-me no debate ; tenho a cumprir o dever usa o parlamento dirigir-se ao tlirono por meio
de explicar a iotelligencia que dei ao projecto que do mensagens pra lhe pedir demissão dos mi
assignei, e ao mesnw tempo aproveitarei a occa- nistros cuja politica não approva ; nós não temos
sião para expòr com lealdade o meu pensamento estes usos e estylos; o voto de graças e a sua
ácerca das questões que se têm aventado, e da discussão larga e franca substituem entre nós
posição que ora tomo na casa. aquelles estylos de mensagens.
A resposta á falia do throno apresentada pela O meu nobre. amiso combinou ainda comnosco
commissão tem indubitavelmente uma physiono- conservar esses "estylos nossos ; aproveitou porém
mia ministerial ; é ella expressa no topico se a discussão para aventar a sua idéa e fazer
gundo em que segundo os estylos parlamenta assim um protesto.
res, tratando-se da politica do governo, con Mas se o voto de graças deve ser politico,
sagrámos a idéa que não só adhesão que tributão deve approvnr ou reprovar claramente a poli
os brazileiros ás instituições do paiz, senão tica do governo, não é isto razão para que deva
tambem a politica justa e moderada do governo conter tambem approvação ou censura a todos os
se deve a paz e tranquilildade publica de que actos ou objectos propriamente administrativos.
oza o imperio ; é este topico o transumpto Ora, os quatro periodos censurados não con
as opiniões dos membros da commissão, e re tém, é verdade, approvação do governo a respeito
vela todo o espirito do voto de graças. das propostas que nos promette elle em tempo
E não é uma politica nova essa, como .o pre apresentar, sobre reforma das camaras munici
tende dar a entender um illustre deputado da paes, de trafico de africanos, de organisação de
um banco nacional e de estradas de ferro ; tam
S. Paulo; não é uma politica exclusiva do mi bem não tem censura. Os tres primeiros objectos
nisterio actual ; é a politica caracterisada com são propostas que o poder executivo tem de
o titulo de justiça e moderação que o gabinete apresentar-nos : o que dizemos é que, concor
de 29 de Setembro do 1848 inaugurou, e que o dando desde já que são objectos de necessi
ministerio actual tem declarado continuar. dade publica, os tomaremos na devida conside
O estado presente do paiz é prospero, conies- ração.
são todos ; o espirito revolucionario que nos ul Nem outra resposta podiamos dar, ainda não
timos annos ameaçou conflagrar o imperio perdeu conhecemos as bases das propostas annunciadas,
sua força, seus elementos, seus instrumentos; a como anticiparmos nosso juizo, afiançando ou
doutrina da autoridade foi restaurada; a ordem negando a sua approvação? (Apoiados.) Na oc
publica parece consolidada por toda a parte ; casião em que nos forem presentes é que po
estes beneficios são devidos ao bom senso dos deremos ajuizar delias. (Apoiado.)
brazileiros, á sua adhesão ás instituições do paiz; A respeito especialmente de estradas de ferro,
são tambem em grande parte fructos da politica me parece que a maneira por que se exprimio
de justiça e moderação que dirige o imperio a commissão é a mais propria ; por lei foi o
desde '29 de Setembro de 1848, e que trazendo governo autorisado a contractar a construcção
a calma aos espiritos, e infiltrando em todos os de uma estrada de ferro que da cidade do Rio
animos o interesse da tranquillidade publica, e de Janeiro siga pela provincia do mesmo nome
a necessidade da obediencia ás leis, cocseguio a buscar as provincias de S. Paulo e Minas
fazer esquecer por um pouco os debates e lutas Geraes. Diz-nos o discurso da coroa que o con
dos partidos nos campos indefinidos da politica tracto não se achava ainda feito, e que para
especulativa, e chamar as forças dos cidadãos Londres se mandarão ao diplomata brazileiro
para questões importantes de industria, do com- poderes especiaes para lá o celebrar, e que
merclo e de progressos materiaes, que nos ul quando viesse, o que esperava que fosse breve
timos tempos absorvem as attenções, e promet- mente, o submetteria á camara.
tem mais vantajosos resultados. Ora, quaesquer que sejão as nossas opiniões
Exprimio assim a commissão o seu pensamento ácerca dos meios de que lançou mão o governo
politico de accordo com a marcha politica do para aqui tratar, ou para tratar em Londres,
gabinete ; deu-lhe franco apoio ; foi orgão das convém-nos esperar que se faça o contracto e
opiniões que sempre professárão seus membros, que venha, para então o examinarmos acurada
e apresentando o voto de graças por ella ela mente, e quer a respeito de suas bases, quer a
borado, deu-lhe o colorido e a physionomia mi respeito dos meios empregados na negociação,
nisterial. darmos com franqueza a nossa opinião e cen
Disse-se porém que nos topicos em que a com surar ou approvar o acto do governo ; antes disto
missão trata da creação de um banco nacional, tudo me parece extemporaneo ; depois tudo se
da reforma da lei das camaras municipaes, do delucidará e se explicará melhor, e com mais
trafico de africanos, e especialmente de caminhos conhecimento da questão ajuizaremos.
de ferro, outro pensamento revelavão suas pala E' o pensamento que teve a commissão, e que
vras, pensamento inteiramente differente daquelle exprimio no seu projecto.
que acabei de enunciar. Demais, parece que nunca da redacção destes
Senhores, esses quatro topicos, a que se referem quatro topicos, importando todos questões e ob
os reparos de alguns nobres deputados, tratão jectos administrativos, deverá resultar uma intel-
de objectos administrativos; eu não partilho a ligencia contraria ao pensamento ministerial que
SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853 55
caracterisa o projecto, quando se observar que Senhores, eu não aceito a opinião de um hon
essa intelligencia equivaleria a uma injustificavel rado deputado de que as buscas em fazendas
contradicçáo (apoiados) com todos os seus outros do interior não devao ser dadas ; não. A lei não
periodos. fez distincção; prohibindo e condemnando o tra
As suspeitas, pois, dos honrados membros de fico de africanos admittio, as buscas para desco
que em alguns periodos do seu projecto não brimento do crime; as formulas que as rodeião
inscrevera a commissão pensamento favoravel são as da lei geral. Mas ao juiz compete fazer
aos actos c idéas ministeriaes, são sem base, e distincção entre uma busca para apprehender
deve valer, sem mais discussão, a declaração ex objectos que se não forem encontrados apenas
plicita que, em nome de todos os membros da offende a um cidadão, e buscas em procura de
commissão, fez o illustre relator delia. (Apoiado.) africanos livres em fazendas, da qual podem re
Depois destas declarações permitta-me a camara sultar males gravissimos á sociedade toda ; nestas
que eu use tambem da liberdade da palavra, deve marchar com toda a prudnncia e tino
pira, como o illustre relator da commissão, fazer (apoiado), não a praticar mesmo sem uma cer
um protesto, e é que approvando a politica do teza ou quasi certeza de encontrar o que pro
ministerio, julgando-a conveniente e necessaria cura, e haver-se na diligencia de modo a não
a.) paiz, protestando-lhe e afiançando-lhe apoio comprometter a segurança da propriedade e a
franco e seguro, guardo todavia em reserva o da sociedade. Ora, derão-se buscas em fazendas
meu direito de fazer reparos ou censuras a al das provincias do Rio de Janeiro e S. Paulo por
guns actos administrativos de um ou outro mi longo espaço de tempo, muito tempo depois do
nistro, e de contrariar uma ou outra idéa admi desembarque dos africanos. . .
nistrativa do governo que me não pareça Um Sr. Deputado : — Parece-me que não ó
conveniente. exacto.
Posso dar, o dou com effeito apoio á politica
geral, ao complexo mesmo dos actos da administra O Sr. Pereira da Silva : — Perdóe-me; perdóe-
ção ; mas não me considero por isso obrigado a achar me. O desembarque em Bracuhy foi em 12 de
bom tudo o que pretender, disser ou pensar o Dezembro; aljuns dias depois já tinhão, segundo
ministerio ; preferiria renunciar a honra de re as participações das autoridades, sahido do termo
presentar o meu paiz (apoiado) se fosse obri- de Angra todos os africanos e seguido para o
§ado, deputado ministerial como sou e me honro Bananal ; a busca dada na fazenda de Ricardo
e ser, em tempos calmos como estes, em que Guimarães, na Barra Mansa, é dos ultimos dias
a força da autoridade está firmada, em aue nem de Janeiro, e a que se deu tía fuzendi do com-
ousão apparecer os adversarios de suas dou mendador José de Souza Breves é de Abril ,
trina*, a sacrificar minha intelligencia, minha isto é, mais de i mezes depois, qumdo já se
razão a todas as idéas ministeriaes ; póde ser, sabia que nem um africano existia na provincia
e eu estou persuadido que em tempos calami do Rio de Janeiro.
tosos, quando ha luta de partidos politicos que Algumas camaras municipaes representárão con
ameacem a ordem publica, não convenha que se tra o modo por que se davão as buscas no Ba
tire força nenhuma ao poder, nem mesmo com nanal ; talvez haja exageração nessas represen
o mais pequeno reparo, acerca de qualquer pe tações ; mas houve sempre alguma cousa ahi de
queno acto de administração ; mas em tempos mao ; eu digo o que consta no paiz, e uso do
calmos é obrigação de todos enunciarem com direito que me cabe para o fazer, afim de que
franqueza suas idéas, e o governo ganha com o nobre ministro da respectiva repartição faça
isto, porque ou se esclarece melhor, ou do de examinar e esclarecer essa materia...
bate faz sobresahir mais victoriosamente o seu O Sr. Ministno da Justiça : — Ella está bem ,
principio ou a sua idêa. (Apoiado.) esclarecida ; mas se o nobre deputado quer con
Essas divergencias, porém, o divergencias em tinuar a sua declamação, prosiga nella.
pequenos pontos de administração, não me tirão
a obrigação de defender o governo na sua poli O Sr. Pereira da Silva : — Eu estou apresen
tica, na sua marcha administrativa, com que eu tando os factos que vierão ao meu conhecimento ;
esteja de accordo. sou deputado pela provincia do Rio de Janeiro ;
Peço licença para apresentar um exemplo : 6 devo dizer que houvorão sustos ua provincia
um reparo que faço sobre um acto do minis emquanto se andou com essas buscas, porque
tério. os boatos circulavão desfavoraveis ao modo por
Todos sabem que em 12 de Dezembro de 1852 que se fazião ellas ; não approvo o acto crimi
houve um desembarque de africanos em Bra- noso, altamente criminoso dos traficantes, quem
cuhy, lugar pertencente a provincia do Rio de quer que elles sejão ; mas em negocios melin
Janeiro ; approvo todas as medidas energicas que drosos como este, em que se pisa sobre brazas,
tomou o governo para apprehender os africanos faço estas observações com o fim de pedir e
desembarcados, capturar os criminosos, fazel-os obter do governo maiores cautelas na prevenção
processar; no mar, no lugar do desembarque, do crime, mais rigorosas providencias no mar,
nas estradas, nos pontos de deposito e escon- no desembarque, nos pontos o nas estradas, pro
drijo, nenhuma providencia era excessiva. A lei videncias mais repentinas e não demoradas, para
de 1800 fez-se para se extinguir para todo o não chegar-se ao ponto do so ver obrigado a
sempre no Brazil o trafico ue escravos ; a fá varejar municipios e fazendas do interior, porque
dos tratados, nosso proprio interesse, exigem ha muito perigo nisso ; e se felizmente esse pe
todo o rigor na execução. Exprimindo-mo assim, rigo não houve, é porque, senhores, parece que
tenho sido bem claro, e estou que bem com- a Providencia Divina vela muito sobre o Brazil.
prehendido. (Apoiado.) (Apoiados.) Demos pois graças á Divina Provi
Mas alguus factos têm chegado ao meu conhe dencia, porque de um acontecimento tão grava
cimento que me parece terem exagerado as pro como esse não resultou o menor perigo á socie
videncias do governo. A obrigação era prevenir, • dade brazileira I
e não podendo conseguil-o, ir logo sobre os lu-_ O Sr. Ministno da Justiça: — E' porque tal pe
§ares do desembarque , dar ahi buscas imme- rigo não havia. ' . -
iatas, acompanhar os criminosos, não lhes dar O Sr. Vasconcellos : — Demos graças a Deos
folego ; mas algumas buscas se deráo em fa pela repressão do trafico. (Muitos e repetidos
zendas do interior, nas quaes nada se achárão, apoiados.)
e que pelo modo por que forão procedidas mais
revelão excesso e violencia do que execução O Sr. Pereira da Silva :— Perdóe-me, o nobre
da lti. deputado parece-me que não me ouvio perfeita.
56 SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
mente; dei sempre, como deputado, ao governo do épocas ; crearão-se factos. O ministro fez tudo
meu paiz toda a força para acabar com o tra indagar ; em vez desses creados achão-se outros ;
fico ; estou prompto a dar-lhe ainda toda quanta o ministro providencia, demitte empregados. Ao
queira para de uma vez extinguil-o ; mas peço principio fora accusalo porque conservava máos
que na execução do seu. cargo seja muito pru empregados, demitte-os; vira-se a accusação.
dente e cauteloso (apoiados) ; e 3e avancei algu Entretanto, senhores, posso assegurar que nunca
mas observações foi mais para cumprir com o ministro algum empregou maior zelo para desco
dever de representante do paiz, que diante de brir e punir prevaricações na repartição da guerra,
um facto tão grave não emmudecia, do que para já remettendo commissões ao Rio-Grande do Sul,
ter o dissabor, que sempre tenho, de dirigir um apenas recolhido o nosso exercito ás fronteiras,
reparo ou censura. já apertando os empregados pelas contas, já em-
Senhores, não ha hoje um brazileiro sensato fim providenciando por toda a parte, e ao seu
que se não opponha ao trafico ; sua continuação alcance, afim de obstar a que se dessem prevari
traria a ruina do paiz ; é unia causa santa a da cações, como infelizmente sempre houve entre
sua suppressão ; mas o que desejo ó que se" nós, e ha em toda a parte do mundo, qualquer
attendão aos meios a empregar ; não podemos que seja o zelo dos administradores. (Apoiado.)
deixar de aceitar a sociedade brazileira como Afóra a repetição desses factos do arsenal ape
ella se acha ; o enthusiasmo não nos deve levar nas nppareceu uma censura nova nesta camara
ao ponto do tudo sacrificar.... contra o Sr. ministro da guerra; é relativa á
Passemos a outra ordom de considerações. baixa que mandou dar a um cadete em Pernam
Ainda mesmo que maiores fossem minhas di buco Se bem que mesquinha e miseravel seja
vergencias ou reserva a respeito de alguns a questão, e nem mesmo merecesse as honras
outros actos da administração, eu não po de chegar á altura da tribuna, comtudo, já que
deria recusar o meu apoio ao ministerio, quando veio, quero sobre ella dar duas palavras.
nelle vejo tres dos antigos membros do gabi Uin cadete, levando recrutas a entregar ao chefe
nete de 29 de Setembro de 1848, aos quaes de policia de Pernambuco, começou, na impacien
prestei todo o apoio a que tinhão direito seus cia de esperar pelo chefe do policia, a usar a
relevantissimos serviços a causa publica. (Apoia respeito de phrases injuriosas; chegado o chefe
dos.) Merecem-me ainda toda a confiança. de policia, ou que começasse este por saber o
Um delles e o Sr. ministro da guerra. Em 1848 que o cadete dissera na sua ausencia, ou que o
não tinha o nosso exercito metado da força de cadete continuasse á presença a considerar-se
cretada ; essa mesma força então existente com autorisado a censural-o, travarão discussão, na
punha se na maior parte de individues que ti qual o cadete desattendeu, injuriou e ameaçou o
nhão acabado o seu tempo de contracto ou chefe de policia. Assim vierão ao ministro as in
recrutamento ; essa mesma força estava mal ar formações. O ministro ordenou que se sujeitasse
mada. Ao nobre ministro da guerra cabe a gloria o cadete a conselho de guerra, e fosse qual fosse
de ter por assim dizer organisado o exercito, ar- a sentença, se lhe desse baixa.
mal-o, conseguir com ello uma victoria contra
ihimigos externos, e conserval-o disciplinado e O Sr. Paes Barreto: — Por indigno ; o governo
prompto a bem servir sempre ao paiz ; ó este não póde chamar ninguem de indigno.
do certo importantissimo serviço. (Apoiada.) O Sr. Pereira da Silva .— Senhores, examine
Accusou-so entretanto o nobre ministro pela mos a questão agora. A classe dos cadetes não
administração do arsenal de guerra : os mesmos está incluida ou considerada na classe dos offi-
pontos do accusação que ha dias formulou no ciaes; constitue uma classe do aspirantes a offi-
senado um nobre senador, o Sr. D. Manoel, a ciaes.
respeito do arsenal de guerra, da commissão no O Sr. Brandão: — Constitue uma classe nobre.
meada para o examinar, da absolvição dos dous
ex-directores pelo conselho supremo militar, e do O Sr. Aprioio : — Contra a constituição.
official-maior da secretaria, forão os unicos aqui O Sr. Pereira da Silva: — Não têm todos os
repetidos, quasi pelas mesmas palavras. Para privilegios de officiaes, não são senão aspirantes,
responder á repetição que fez nesta camara, eu aos quaes o governo póde dar baixa quando en
chamo a attenção delia para o discurso que o tender que não devem continuar a fazer parto
Sr. ministro da guerra proferio no senado em do exercito, ou por defeitos, ou por incapacidade,
resposta a todos os topicos da accusação Uo ou por qualquer outra razão.
honrado senador a quem me referi. (Apoiados.)
E' a resposta mais cabal, que tudo elucida O Sr. Silveira da Motta: — Os cadetes são
e esclarece, e justifica perfeitamente o ministro. uina excentricidade do nosso exercito.
Senhores, o credito do Sr, Manoel Felizardo O Sr. Pereira di Silva: — Mas disse-se : « O
de Souza e Mello, a sua reputação de honradez, ministro deu baixa ao cadete sem que fosse jul
estão tSo bem firmados no paiz, qúe têm podido gado. »
atravessar incolume por entre o chuveiro de
boatos e de factos que se derão no arsenal de O Sr. Auousto de Oliveira: — O nobre depu
guerra. (Apoiados.) Apenas seus maiores inimigos tado tein ommittido circumstancias muito impor
ousão accusal-o de incuria e deleixo, quando tantes.
nem essa accusação podem provar, mesmo dando O Sr. Pereira da Silva : — Senhores, a baixa
a hypothese de pretenderem que um ministro do cadete era da attribuição o competencia do
de esiailo deve abandonar os elevados negocios ministro. O nosso exercito presta serviço ás auto
de sua repartição e da politica para fazer-se di ridades civis como auxiliar, e como a primeira
rector de um arsenal, converter-se em uni exer qualidade do militar é a disciplina e a obediencia,
cito de homens, que estejão por toda a parte, de certo que o cadete faltou ao respeito devido
conheção, espiem, examinem tudo, e se multi á autoridade a quem devia , obedecer, e portanto
pliquem em iodos os lugares e pontos das mais á obedienci i o disciplina, que é o brazão da classe
pequenas repartições publicas. militar; e bem fez o ministro mandando-lhe dar
Essa accusação sobre arsenae? foi ajui apre a baixa.
sentada na camara quando, exhnusta de meios
para combater o governo, lembrou-se a opposição O Sr. Brandão : — Mandou demittil-o por in
dessa arma e a foi procurar nas vesperas de elei fame.
ções para prevenir o espirito publico. Tinha ha O Sr. Pereira da Silva : — Mas se disse :
vido uma guerra : houverão sempre aceusuções « Devia o ministro esperar o resultado do pro
contra os nossos arsenaes em todos os tempos e cesso. ii Senhores, o processo nada tinha com a
SESSÃO EM A DE JUNHO DE 1853 57
baixa, o processo não foi senão para conhecer constantemente com o governo da Grã-Bretanha,
se o cadete era ou não criminoso, teudo neste conseguindo-se que esto expedisse nova ordem aos
caso de cumprir a devida pena, porque além do seus cruzadores para não tentarem mais appre-
facto por que merecesse a baixa, que só ao mi hender navios dentro dos maios territoriaes. do
nistro competia, podia ser considerado criminoso, Brazil; é a elle que se devo o estudo e o reco
e condemnado pelos tribunaes a uma pena. nhecimento dos nossos limites com as republicas
Ora, um facto destes e tão pequeno, que não do Uruguay, do Perú o de Venezuela ; espero que
merece, como eu disse, as alturas da tribuna, breve obteremos o mesmo resultado de Nova Gra
será sufficiente para nodoar o caracter de um mi nada o Paraguay, e bem assim alguns tratados
nistro, para comprometter a sua moralidade ? de navegação e commercio, que devem estreitar
O Sr. Paula Baptista :— Eu pergunto qual é a nossos laços com os estados da America nossos
lei que autorisa o ministro a pratical-o? conterraneos ; foi durante o seu iministerio, se
nhores, que tivemos a grande questão do Prata,
O Sr. Pereira da Silva :— E' a ordenança mi que tanta gloria lançou sobre o nome brazileiro.
litar. (Apoiados.) (Apoiados. ) -
O Sr. Paula Baptista : — O cadete só pódo ser Entretanto hontem um nobre deputado por
demittido por pedir mesmo a sua demissão ou S. Paulo avançou que não podia comprehender
por sentença. a vantagem da politica de neutralidade que con
servava o governo brazileiro nas lutas actuaes
O Sr. Pereira da Silva :— Está completamente da Confederação Argentina; que não podia com
enganado. Só os officiaes ó que não podem per prehender como se continuava a reconhecer o
der os seus postos senão por sentença. Os ca general Urquiza na qualidade de director da
detes podem ter baixa por acto espontaneo do Confederação ; e temia uma immensa responsa
ministro e por um simples aviso ; por exemplo, bilidade perante Deos e o mundo não cahisse
se o ministro entende que um cadete não tem sobre nós pelo abandono daquellas questões, o
qualidades para ser bom official, ou que não tem pelp^ derramamento de sangue daquelles nossos
bons costumes, etc, póde demittil-o por um sim irmaos da America.
ples aviso. Mas, senhores, o que cumpria ao nobre depu
O Sr. Aprioio : — Apoiado, foi o que disse hon- tado era notar differença da politica passada o
lem aqui o Sr. general Seára. da actual politica, e bem assim discriminar a
O Sr. Pereira da Silva :— Senhores, a camara época da intervenção brazileira e a época actual.
so recorda da maneira porque hontem o nobro Quando ,se combate uma politica tão grave como
deputado por Pernambuco se exprimio a respeito a de negocios estrangeiros, convém oppõr sys-
do Sr. ministro da guerra : disse elle ,que o Sr. tema a systema, politica a politica.
ministro da guerra estava compromettido perante Senhores, a politica brazileira naquelles lugares
a opinião do paiz, que o Sr. ministro da guerra foi sempre a de neutrilidado ; era a unica con-
estava desmoralisando o proprio governo. Se veniento e a unica legitima. Essa politica teve
nhores, quando se avança uma proposição des uma pUase distincta, ou umi excepção; foi
tas, quando se apresentão aceusações semelhantes, qumdo, achando-so em luta o general Oribe contra
é preciso ter-se muito cuidado em exhibir-se im- os montevideanos da praça o senhor di cam
mediatamente as provas dos factos que se alle- panha, cÔmeçou por atacar as pessoas e as pro-
gão. ^Apoiados.) Mas quando esta proposição prieda les dos brazileiros residentes no Estado
não passa de uma mera declamação, quando a Oriental, o mesmo a praticar nas nossas fron
exigencias de factos só se apresenta a historia teiras factos que offendião a nossa independencia
do tal cadete. . . , e dignidade; recusou-so a dar-nos devidas satis
fações: entendemos conveniente expellil-o do Es
O Sr. Auousto de Oliveira: —Os factos ahi tado Oriental, o então interviemos na luta ; con
estão ; o arsenal de guerra. seguimos expellir o general Oribe. Então o
0 Sr. Pereira da Silva : — ... não é possivel dictador D. João Manoel do Rosas declarou-nos
que semelhante proposição possa merecer o as por si a guerra em uma mensagem á sala dos
senso dos homens serios. (Apoiados.) Demais, representantes de Buenos-Ayres, e em uma nota
senhores, como já eu disse, o nome do Sr. Ma ao diplomata de S. M. Britannica. Em vez de
noel Felizardo de Souza e Mello é um nomo co esperar que viesse elle cá trazer-nos a guerra,
nhecido no paiz; tem elle oceupado cargos im levamol-a nós a Buenos-Ayres. Cahio o dictador;
portantissimos, e por muitos annos, no seu paiz ; acabou-so a intervenção, acabárão-se nossas ques
e eu creio que todos os homens, amigos ou ini tões alli.
migos do Sr. Manoel Feiizardo, fazem justiça Note agora a camara a differença de circum-
plena a sua intelligencia e probidado; e feliz stancias ; nós interviemos por causa das depre
mente na época actual, em que só um caracter dações de Oribj contra subditos brazileiros ; foi
firme, robusto e puro póde resistir a calumnias, no Estado Oriental que, sendo nosso vizinho
o Sr. Manoel Felizardo tem sahido incolume ; ó mais proximo, com suas lutas intestinas mais
porque sua reputação de probidade está solida nos affecta. Ora, actualmente o Estado Oriental
mente estabelecida. (Apoiados.) acha-so em perfeita paz.
Levamos a guerra a Buenns-Ayres porque
O Sr. Aprioio: — Muito bem. Rosas nol-a declarou, e era preciso combatêl-o ;
O Sr. Fioueira de Mello : — Ninguem duvida era uma guerra estrangeira, e não propriamente
da probidade do Sr. Manoal Felizardo ; falla-se uma intervenção. Mas hoje o que so passa em
da sua má administração. Buenos-Ayres para sahirmos da nossa verda
deira politica, a do neutralidade, que foi sempre
O Sr. Pereira da Silva: — Aceito a declaração; approvada por todos os poderes do ostado?
serve para dar força ao que avancei. O general Urquiza, derrotado Rosas, foi decla
Senhores, acha-se tambem no ministerio actual rado pelas provincias todas da Confederação Ar
o Sr. Paulino José Soares de Souza, membro do gentina director provisorio delia para as relações
gabinete de 29 de Setembro do 1848. Quem pódo exteriores e negocios graves ; cada provincia
deixar de reconhecer os importantissimos serviços continueu a ter seu governo proprio o a guardar
que na sua repartição tem prestado ? (Apoiados.) a sua independencia nos seus negocios particu
E' durante o seu minjsterio que se acabou con; lares. O general Urquiza, no intuito do orga-
o trafico ; e se creou* a politica do verdadeira nisar a Confederação, promove e obtém o con
abolição dello ; foi durante o seu ministerio que venio de S. Nicoláo dos Arroyos, pelo qual os
se aplanárão as difficuldades que o Brazil tinha governadores das provincias, munidos do poderes
tomo 3. 8
58 SESSÃO EM A DE JUNHO DE 1853
do suas salas de representantes, estipulárão reunir Diz-se: « o ministerio não trata da agricul
um congresso para reorganisar a Confede tura » ; pois tratemos nós ; estudemos as neces
ração Argentina. sidades da agricultura, indiquemol-as, formule-
Este convenio não foi aceito pela sala de repre mol-as em propostas; não deixemos tudo ao
sentantes de Buenos-Ayres, levada esta pro ministerio, que temos tambem o direito da ini
vincia pelo receio de perder a sua preponde ciativa."
rancia ; e logo que o general Urquiza deixou Tambem o ministerio não apresentou e nem
Buenos-Ayres, para voltar para o seu governo Èromette apresontar uma reforma á lei eleitoral.
especial de Entre-Rios, houve uma revolução em ,11, e outro amigo meu pelo Rio de Janeiro,
Buenos-Ayres, os amigos do Urquiza forão expel- que entendemos necossidade urgente do paiz re-
lidos dos seus cargos, declarou-se a nullidade formar-so a lei eleitoral, formulámos um pro
do convenio de S. Nicoláo dos Arroyos, e cas- jecto, iniciando a idéa das incompatibilidades,
sou-se ao general Urquiza os poderes relativos que é uma grande necessidade do paiz, e a
á provincia de Buenos-A.yres para o cargo de idéa de circulos, que abre mais espaço ás mi
director da Confederação e encarregado dos ne norias para se fazerem representar no parla
gocios exteriores. mento ; esse projecto foi hontem por nós apre
O nobre deputado estranhou que o governo sentado na camara, e julgado objecto de deli
brazileiro continuasse a reconhecer o general beração.
Urquiza como o director da Confederação Ar Um Sr. Deputado:—A camara só approva o que
gentina ; mas se sómento uma provincia, do vem do ministerio.
treze provincias, lhe cassou os poderes, que foi
a do Buenos-Ayres, elle o ó por todas as mais, O Sr. Pereira da Silva: — A camara appro-
o o governo brazileiro não podia tirar-lho uma vará o que achar bom ; seria injustiça clamorosa
qualidade que elle tem ; continua portanto muito feita á camara persuadir que ella não approva
bem a reconhecêl-o como tal, e em Buenos- senão aquillo que vem do ministerio.
Ayres, só trata com o governo inaugurado na Outro motivo que o nobre deputado apontou para
praça pelos negocios telativos a esta provincia. fazer opposição ao ministerio e o estado de centra-
Que questões, repito, se tratão nesta luta de lisaçao em que se achavão todos os negocios. Não
que é victima a Confederação Argentina ? Ques comprehendi bem o que o nobre deputado quiz
tões perfeitamente internas, do organisação in dizer com a palavra centralisação. . .
terna do paiz, em que nada tem o estrangeiro O Sr. Paula Baptista :— O nobre deputado não
que ver e notar. Como pois uma intervenção me ouvio bem.Jnão fallei nisto para fazer opposição
brazileira ? Como sahir da neutralidade que ó ao ministerio.
a nossa politica ? Offerecer nossos bons serviços,
amigavel mediação, para trazer esses nossos O Sr. Pereira da Silva: — Eu a deixo então
vlsinhos a um accordo, afim de poupar o sangue de parte; entretanto devo dizer que a minha opi
delles, é o nosso dever, temol-o feito, mas in nião é que toda a centralisação politica ó neces
felizmente até agora sem o menor successo. saria para podermos tor a integridade do im
Em vez de carregarmos com responsabilidade perio ; mas que propendo tambem para uma
tremenda no futuro, como o nobre .deputado molhor descentralisação administrativa para os
temeu, e com que de certo carregariamos se nos negocios inteiramente do interesse provincial.
fossemos inlromotter nessa luta, eu esporo que Disse-so que era precisa conciliação de partidos.
6j comportamento do governo brazileiro lhe gran- Conciliação de partidos com principios definidos,
gêe as sympathias daquelles povos pela sua e em frente um do outro, não posso comprehen-
lealdade o pelo seu desinteresse, e que conheção, der. Conciliação dos animos pela marcha dos
como se vai conhecendo, que ó o Brazil o amigo acontecimentos, pelo estado do paiz, que tem mo
mais sincero que tom os americanos do sul. dificado as idéas, e gasto a bandeira dos par
(Apoiados.) tidos, acredito, quero, desejo muito. Ha em todos
Está tambem no gabinete actual o Sr. minis os partidos homens do bem e de intelligencia ;
tro da fazenda, a cujo zelo se deve a prosperi- o maior serviço ao paiz seria reunil-os e fazel-os
dado constante e crescente de nossa renda pu marchar para um fim commum. A época actual
blica, mais ainda do nuo ao calor e humidado não mo parece longe desse beneficio ; quasi quo
do paiz, como aqui se fallou ; essa prosperidade se tem abandonado as questões do politica es
já nos pcrmittio diminuirmos o pesado impçsto peculativa ; os espiritos estSo levados para ques
sobre a exportação dos productos brazileiros ; o tões mais praticas, que hão de tomar o passo,
apezar do naver uma guerra externa, o nosso e tornar-se da primeira ordem ; pormitta Deoa-
credito financeiro e nossos fundos se conservá- que o consigamos I
rão a preços elevados, e com vantagens termi Disse um nobre deputado por Pernambuco quo
námos em Londres o pagamento do emprestimo o governo abandonava algumas provincias, qua
portuguez do 1826; essa prosperidade piomette a a umas governava de um modo, a outras de outro,
organisação de um banco nacional, cousa, annos e que por isso elle e seus amigos daquella pro
antes, tida sem duvida por fabulosa, e que eu vincia se collocavão em opposição. Eis, senhores,
espero que em vez do tirar capitaes da circula o facto mais grave que me apresentou o nobre
ção o arjsorvêl-os, como teme um nobre deputa deputado. Collocarem-se em opposição amigos
do por Pernambuco augmentará a riqueza pu tão leaes, tão prestimosos, como são os de Per
blica dando maior desenvolvimento aos capitaes. nambuco, que tantos serviços têm feito ao paiz
Tal administração, guardando em seu seio tres em épocas criticas, me parece um facto grave,
tão importantes ministros, e completada com pes denota uma falta qualquer, cujas causas convem
soas que adherirão sempre á politica de 29 de investigar o remover por parte do governo. Sim,
Setembro de 1848, e entre as quaes um distincto chamo a attenção do governo para este ponto,
e antigo parlamentar, que tautos serviços prestou peia influencia que um semelhante faclo póda
na Bahia como presidente da provincia (apoia ter na opinião do paiz ; a separação neste caso
dos), é de conveniencia mesmo do paiz que se seria uma vordadeira calamidade.
conserve e se sustente, quaesquer que sejão peque Mas tombem peço a estes amigos que pro
nas divergencias. Está ou não collocado na mesma curem ainda esclarecer o govorno antes que sa
posição em que estava o auno passado ? Não colloquem em opposição; eu ainda não vi factos
iistamos nós todos tambem na mesma posição? bem articulados pelos quaes deva ajuizar. Mas
O que occorreria de novo, que grande modificação, o que tenho visto é que um ou outro presidenta
para desde já se fazer uma guerra de morte e geral daquella provincia, nomeado pelo governo, e que
ao ministerio? se achou separado dos nossos amigos seus legi
SESSÃO EM A DE J.UNHO DE 1853 59
timos representantes, teve de largar o lugar, e outra sorte serião os combatentes meros instru
que ultimamente o governo para alli nomeou mentos de destruição.
presidente um filho e deputado de Pernambuco, E' preciso pois oppór-sa á proposta do gabi
e ligado perfeitamente com os meus illustros nete sobre qualquer questno um plano ou sys
amigos ; se houve alguma divergencia anterior, tema ; ao principio emittido pelo governo outro
cessou ella com esta providencia do governo, principio, e principio que tenha a probabilidade
que póde ser tomada como razão ás queixas dos de se sustentar, porque o maior talento é de
dignos representantes de Pernambuco. conservar o poder depois de o haver conquis
O Sr. Auousto de Oliveira:— Mas não declarou tado, e não do o conquistar sómente (apoiídos) ;
que reprovava a politica do seu delegado. e entretanto cu ainda não vi que se apresen
tasse nesta camara um systema que se quizesse
O Sr. Pereira da Silva : — Tudo parece sanar- oppór ao systema ministerial, mesmo em ques
so com esta nomaação, e os actos deste presi tões administrativas ; apenas vejo que um ou
dente novo são os que dovem prevalecer. Assim outro membro so apresenta censurando um ou
parece que não pretende o governo separar-so outro acto da administração, exercendo um di
delles, e que todos podem vir a um accordo. reito que lhe cabe ; ou o fiz ; mas dahi á oppo
O Sr. Auousto de Oliveira:— Mas a imprensa sição vai longe, e essas censuras são mais ou
tem mostrado o contrario. menos legitimas e justas, conformo o provar a
discussão ; por ora não vejo opposição com
O Sr. Pereira da Silva :— Permitta-me o nobre principios, com bandeira, com idéas contrarias.
deputado que eu lhe diga que nós todos deve Sennorés, tenho ouvido dizer que a camara se
mos respeitar a imprensa séria e digna, devemos acha fraccionada ; eu faço-lhe a justiça de o não
respeitar o escriptor serio, seja qual fór o ter acreditar ; as divergencias em questões admi
reno politico em que elle se colloque ; mas a nistrativas não importão fraccionamentos poli-
respeito de artiguinhos de gazetas, que nada signi- ticos ; ella ha de manifestar sempre coherencia
ficão, de enredii/hos, de artigos miseraveis, es- e unidade de vistas no que diz respeito á poli
criptos para se levantar a sizania, para se fo tica, para que assim unida possa dotar o paiz
mentar a intriga, essa imprensa permitta-me o dos beneficios que elle tem o direito de exigir
nobre deputado que eu a não aceite, e lhe peça de nós ; eu conto com o patriotismo da camara,
que não attenda. • com a união e concordancia de todos os seus
Disse-se., senhores: « Temos differonças em membros, para mostrar que no poder somos
?uestões administrativas , e por ellas se póde incansaveis em fazer progredir os melhoramentos
azer opposição ao gabinete » ; disse-se mesmo e os beneficios que reclamão as necessidades
que na Inglaterra por simplices questões admi publicas : muito já trabalhámos ; á legislatura
nistrativas se fazião cahir ministerios. passada cabe immensa gloria ; muito nos resta
Senhores, ha questões de administração graves, porém ainda a fazer ; temos a desenvolver nossas
da primeira ordem, que tomão o caracter de instituições com reformas eleitoraes ; afim de
questões politicas, e de gabinete, e de cuja so melhor garantir o voto do cidadão, e de abrir
lução depende a sorte dos ministerios ; em In para o parlamento maiores enxanças e serem
glaterra apparecem ellas, porque já quasi desap- representadas todas as opiniões ; temos a refor
parccêrão as questões de politica administrativa; mar a legislação do paiz, especialmente a lei do
mas a maior parte ou quasi todas as questões 3 de Dezembro de 1841, lei que precisa sor
administrativas não podem ter esse caracter. retocada, conforme a experiencia dos tempos,
O parlamento acha-se muitas vezes em Ingla separando-so principalmente a parte judiciaria
terra em divergencia com os ministros, e estes da parte policial ; temos de tratar de uma lei
não se demittem, antes continuão no seu posto, sobre a educação nacional ; temos a cuidar na
o acei tão as idéas do parlamento ; não ha perda reforma do systema municipal ; na grande ques
de confiança politica ; não ha ministerio em tão da colonisação, da qual todo o futuro do
Inglaterra que em uma ou outra questão admi paiz depende ; temos a continuar na tarefa de
nistrativa secundaria não se subordine á opi dirigir e encaminhar os melhoramentos materiaes,
nião do parlamento. Em França mesmo, de l&i0 abrindo-llies vasta carreira ; e como poderemos
a 1848, em quantas questões administrativas fazer todos esses bens ao paiz se começamos
não ficavão os ministerios em minoria, sem que divididos ? Divididos vamos dar um triste espe
Í)or ieso o parlamento lhes declarasse retirar- ctaculo ao paiz (apoiados), e mostrar que nunca
hes a confiança I Basta lembrar a questão do poderemos prestar-lhe os beneficios que elle tem
direito de visita e de busca. Não se podem con direito de exigir de seus representantes ; unidos
siderar taes questões ministeriaes, e nem porque caber-nos-ha a gloria de. ajuntar ao nosso titulo
se diverge nellas do governo se deve fazer oppo de conservadores e sustentadores da ordem pu
sição a elle... blica e da doutrina da autoridade, o titulo uão
menos honroso de desenvolver a verdadeira li-'
Um Sr. Deputado í— Mas aqui tudo é questão berdade, assegurando-a com bases solidas contra
ministerial. as pretenções do poder e os ataques da dema
O Sr. Pereira da Silva : — Não deve sêl-o. gogia.
Um Sr. Deputado: —Até 0s adiamentos são Eis o sentido do voto de graças que se dis
questões ministeriaes. cute, e que a camara sanecionará sem duvida
com o seu voto. (Apoiados, muito bem.)
O Sr. Pereira da Silva : — Ha mais, senhores ; O Sr. Figueira, de Mello! — ár. presi
nessas mesmas questões administrativas que têm dente, sendo a discussão da resposta á falia do
o caracter de politicas, e que se considerão de throno nma daquellis em que se procura exami
gabinete no parlamento britannico ; nessas ques nar os actos da administração, a sua politica, eu
tões de cuja solução depende a sorte ministerial ; levanto-mo para fazer algumas observações sobre
não basta combater o ministerio, o systema re este assumpto, o desde já declaro que não posso
presentativo exige que se opponha um systsma dar o meu voto, o meu fraco apoio ao gabinete
ou plano ao plano ou systema do ministerio, c actual, em vista dos actos que elle tem praticado,
que os combatentes estejão promptos para entrar o que, ou violadores das leis, ou prejudiciaes ao
para o poder, caso venção os seus contrarios, e bem publico . . .
para praticar o seu plano ou systema. Não se
laz opposição só porque se acha máo, pelo de O Sr. Auousto de Oliveira : — Apoiado.
sejo de derrubar. Opposição presuppõe governo. O Sr. Fioueira de Mello : — Porém , Sr. presi-
Quando se faz opposição, visa-se ao governo. Do donto, antes do entrar na apreciação dos factos
60 SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
que me levão a julgar o actual gabinete por essa ministrativos do gabinete actual para fundamen
maneira, cu julgo conveniente definir claramente tar minhas asserções, permitia mo acamara que eu
a minha posição nesta casa, afim do que o pu a entretonha alguns momentos com algumas re
blico possa, em vista delia, julgar-me com todo flexões ácerca dos discursos, tanto do nobre re
o conhecimento de causa, com imparcialidade. lator da commissão do voto de graças como do
Sr. presidente, quando o ministerio do 29 de um outro deputado pela provincia da Bahia que
Setembro subi ao poder, eu saudei a sua eleva fallou no mesmo sentido.
ção com toda a satisfação, com verdadeiro pra Dirigindo-me ao nobre relator da commissão,
zer do meu coração. Já como particular, já como sinto profundamente não poder conformar-me com
empregado publico, consagrei-lhe todo o meu certas idéas por elle apresentadas, e ver-me as
apoio e dedicação, e vindo tomar assento nesta sim em divergencia com nm parlamentar tão
camara em 18õ0, entendi que devia proceder pelo distincto, com um administrador cujo tino poli
mesmo modo. Então eu via que no paiz estavão tico e sabedoria sou o primeiro a proclamar, e
amontoados fortes elementos de desordem, e que de cuja amizade muito me honro ; mas entendo
o governo acabava de triumphar de uma revolução que as minhas convicções estão em primeiro
que ameaçava envolver todo o imperio ; eu obser lugar.
vava que o paiz estava ameaçado Com os hor Sr. presidente, o nobre relator, tratando de
rores de uma guerra estrangeira por parte do defender o voto de graças, declarando que dava
dictador de Buenos-Ayres ; eu notava que uma o seu valioso apoio ao astual gabinete, por essa
nação poderosa, empenhada em extinguir o trafico occisião disse que, sendo o voto do graças um
de africanos, e sempre tenaz em seus projectos cumprimento, um agradecimento ao inonarcha
e emprezas,
nossos navios,visitava, aprisionava
bloqueava e queimava
os nossos os
portos •, eu brazileiro pela reunião do corpo legislativo, não
era conveniente tiatar-se dos actos da adminis
finalmente, via que durante as duas anterioreres tração, o mesclar-se a esse agradecimento ex
legislaturas os melhoramentos do paiz não tinhão pressões mais ou menos acerbas contra o gabi
progredido, e entendia que a acção do governo nete. Sr. presidente, quando não estivesse consa
muito pouco poderia concorrer para elles. Em grado pelos estylos da casa o pela pratica de todos
taes circumstanci is não duvidei prestar ao ga os parlamentos que a discussão da resposta á
binete de '29 de Setembro o meu apoio, e na- falia do throno é a mais conveniente para se
bilital-o com todos os meios de poder, aflm de tratar da politica geral o dos actos do ministerio,
que ello mantivesse a ordem o sustentasse a digni pareco-ine que era do nosso dover fazê-lo, por
dade nacional do paiz ; eu entendi que como ci- que não fariamos senão obedecer ás determina
dão, como legislador, assim devia proceder, e sup- ções do art. 37 da constituição, que faz exclu
ponho que todos na minha posição havião ter o siva attribuição da camara dos Srs. deputados
mesmo comportamento politico, pois a razão e o o exame da administração passada, isto é, dos
patriotismo não podião aconselhar outro. actos que so passárão antes da reunião do corpo
Mas, Sr. presidente, hoje felizmente está pas legislativo, porque somente desse oxamo póde
sada essa quadra I A ordem ;mblica se acha res resultar a convicção de que essa administração
tabelecida ; o amor ás instituições constitucionaes devo ser ou não sustentada pelos ropresentautes
se fortalece; o imperio está em paz com todas da nação.
as nações, o por todas é respeitado ; o por con O exame dos actos da administração durante a
seguinte parece-me ser chegado o tempo do exa discussão da resposta á falia do throno me pa
minar os actos da administração, se estes forão rece tanto mais conveniente quanto essa dis
ou não acertados, convenientes e conformes com cussão não diz respeito a um ou outro acto da
as leis e interesses publicos. Nenhum mal póde administração, por mais importante que seja,
resultar de uma tal aualyse que póde conter o go mas sim a todo o complexo desses actos, e nos
verno no caminho da legalidade, e que dá força habilita por essa fórma, e só então, a podermos
ao governo representativo, garantindo os direitos saber com mais profundeza se a administração
dos cidadãos ; e eu julgo tinto mais necessario este tem cumprido a constituição e as leis, attendido
exame quanto me parece indubitavel que o go aos interesses publicos, e respeitado os direitos
verno tem abusado de sua posição ; e entendo dos cidadãos.
com Guizot que o servilismo, embora desinteres Sr. presidente, me parece mesmo que para
sado, daquelles que defendem o governo em todos conseguirmos esto resultado, a actual discussao
os seus actos, é tão prejudicial uj mesmo go- da resposta a falia do throno nos offereco o
• verno como os ataques de seus mais ardentes e ensejo o mais conveniente e insuspeito, porquanto
encarniçados inimigos ; porquanto, essa defesa, sendo nova a camara actual, não se poderá dizer
em lugar de favorecer a boa marcha na adminis jámais que os deputados ultimamente eleitos,
tração, faz somente desenvolver a corrupção do go dando ou negando o seu voto no gabinete, são
verno. Esse mesmo escriptor dizia : « A opinião movidos e fazêl-o por motivos de gratidão, ou
que antos de tudo quer a ordem o só a espera do por causa de seus resentimentos particulares.
poder, que ama a justiça e teme a liberdade, e Quando uma camara enceta uma legislatura, o
que somente se inquieta com o presente o fica de institue o mais profundo exame ácerca dos actos
ordinario cega sobre o futuro ; essa opinião deixa da administração, a calumnia não pódo atrever-se
ao governo toda a facilidade do corromper-se, o a desvirtuar o seu procedimento com esperança
não deve espantar-se que dessa corrupção re de ser acreditada..
sultem revoluções.» Ora, so esse exame so deve instituir na dis
Sr. presidente, fazendo este exame e pronun- cussão da resposta á falia do throno, parece-mo
ciando-ine por tal fòrma e com tal franqueza a que nonhum inconveniente póde haver em quo
respeito do actual gabinete, devo declarar que não lhe intioduzamos como emendas quaesquer cen
lenho mudado do principios politicos, que a mi suras ao gabinete e patenteemos assim a opinião
nha religião politica é sempre a mesma; a dedi de um dos ramos do poder legislativo, porque
cação á monarchia imperial, amor á constituição do contrario essa discussão ter-se-hia feito em
do imperio, defesa das instituições por ella con pura perda , ficaria sem resultado para o governo
sagradas, sustentação da integridade da nação. Ne e para o .paiz.
gando portanto o meu fraco apoio ao gabinete em Sr. presidente, o maior cumprimento que po-
vista dos seus actos, eu não me refiro aos prin domos fazer ao imperador é fallar-lhe a verdade
cipios geraes do politica constitucional que elle (apoiados) ; e certo não ha occasião mais oppor-
segue, e somente aos principios especiaes de sua tuna para o fazer do que aquella om que o
administração. corpo logislativo a elle se dirige directamente.
Antes porém dc entrar no exame dos actos ad- Por ventura a verdade algum dia foi prejudi
SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
ciai? Por ventara ha de o mnníircha brazileiro O Sr. Fioueira de Mello : — Votei, porque
julgar suspeito á verdade quando ó enunciada essas despezas já estavão feitas ou se devião
pela boca dos representantes do paiz, e depois necessariami nte fazer : votei, porque havião em
de uma discussão solemne ? Do corto que não. penhos contrahidos pelo paiz, o eu entendi que
Por consequencia entendo que na resposta á não me devia oppór a que elles fossem satisfeitos.
falia do throno nós não só podemos fazer ã Sr. presidenteI exprimindo-me por esta maneira,
administração as censuras que julgarmos fun eu aproveito agora a occasião para tambem re-
dadas, como tambem que, se as pudermos in pellir as insinuações daquelles que, acostumados
cluir na resposta, o devemos fazer porque a a amesquinhar todas us questões, e a desconhecer
nossa obrigação é fallar a verdade, ó exprimir as Intenções mais puras, só querem ver na oppo
ao throno os votos da nação, o esclarecêl-o sição nascente o resultado de resentimentos par
acerca da opinião ou conceito que o paiz fórma ticulares, o assim o têm propalado em alguns
do poder executivo. jornaes. Não, Sr. presidente, não são resentimen
Sr. presidente, o nobre relator da commissão tos particulares que movem aquelles que fazem
de resposta ao voto de graças tambem procurou opposição ao gabinete (muitos apoiados) ; é ne
mostrar que toda e qualquer opposição que cessario que esses senhores o o publico saibão
,apparecesse hoje ao gabinete actual era incon que os deputados que tomo taes se apresentão
veniente, dizendo que os deputados ultimamente têm bastante prtriotismo para porem de parto
eleitos o tinhão sido sob a influencia do governo, seus resentimentos, e sómente tratar da causa
ou se havião recommendado como amigos poli publica so acaso entendessem em suas conscien
ticos do governo. Sr. presidente, quero concordar cias que o gabinete actual por seus actos tenha
no facto que o nobre relator mencionou, mas bem merecido do paiz, ou que de sua opposição
não posso admitlir a consequencia que deduzio poderião resultar males ao paiz. (Muitos apoia
delle, declarando ã camara que se por ventura dos.) Sr. presidente, o que nos colloca em uma
alguns deputados se apresentao em opposição ao tal situação não são resentimentos particulares,
governo, não so oppõe á politica conservadora ó a opinião do paiz manifestada muito antes de
e constitucional do partido, mas á maneira por nós por todos os meios por que ella costuma
que o paiz tem side governado, aos actos pro mostrar- so; ó a opinião do paiz, apregoada por
priamente da administração. Os principios poli jornaes independentes desta córte que anterior
ticos fundamentaes do partido nada tém, nada mente se dizião ministeriaes ; é a opinião do
soffrem com a opposição que fazemos. paiz manifestada em Pernambuco e em muitas
Por ventura, Sr. presidenla, quando o ministe outras partes do que tenho conhecimento.
rio demitte a qualquer dos delegados, que colloca O Sr. Aprioio : — Quaes são esses jornaes da
á testa da provincia, o faz somente porque corte ?
tonhão deixado de satisfazer a sua politica ? De O Sr. Fioueira de Mello : — Sr. presidente,
serto que não : demitte-os tambem por Berem quasi sempre acontece explicar-so qualquer diver
mãos administradores, por não ter comprehendido gencia que apparece em uma seita ou partido
ou desenvolvido 0s seus principios administra por causas mesquinhas ; entretanto que para ella
tivos. Eu pois applico este exemplo ao minis concoirêião causas profundas que é necessario in
terio em relação á camara dos Srs. deputados ; vestigar, motivos mais ou menos razoaveis que
so hoje lho fazemos censuras, se nos oppomos cumpre attoTider, necessidades que se devem sa
ás suas vistas, se esclarecemos o paiz sobre n tisfazer. Citarei um facto. Quando Luthero upre-
injustiça, illegalidade ou inconveniencia do seus sentou-se com suas idéas do reforma na disci
actos, nossa opposição tem por causa não só oa plina da igreja romana, o que so disso parà
seus. principios politicos, mas somente a sua niã desacredital-o 1, Que elle apregoava suas dou
administração. trinas, impellido de resentimentos contra a Santa
O nobre relator do voto de graças querendo Sé, por não ter sido satisfeito em taes e taos
demonstrar a inconveniencia de fazer-se opposição cousas ; entretanto, como essa reforma fulminava
ao actual gabinete, depois de se havor dado a os abusos existentes, ella achou os ospiritos pre
circumstancia de se rocommendarem ou tendo os parados para recebêl-a , creou raizos , ganhou
deputados sido eleitos como amigos do governo, corpo, e hoje ó adoptada em grande parto da
trouxe á consideração da camara o facto de que Europa. Portanto, se hoje fazemos opposição ao
ainda na sessão passada derão elles seu apoio gabinete actual, deve concluir-se que elle excitou
ao ministerio, approvando 0s creditos que lho no paiz grandes descontentamentos, quo nós nos
forão pedidos pelo mesmo governo ; mas, Sr. pre deixamos levar de impulso do paiz, e não fazemos
sidente, esse facto não serve para provar que o mais do que exprimir os seus votos. Procedendo
nobre deputado teve em vista, porquanto se a assim nós apenas tomamos a iniciativa, mani-
importancia desses creditos tinha já sido des festando-a por uma fórmula; esta fórmula é oppo
pendida com a guerra que tivemos de fazer aos sição parlamentar ; ao paiz agora competirá dar
nossos inimigos externos ; ou o devia ser com sua saneção aos nossos esforços.
os empenhos contrahidos pelo governo, pnrece-me Ora, Sr. presidente, quando se nota que o poder
qne a camara, sem approvar a conducUi do go executivo hoje e tudo no paiz pela sua extraordina
verno no dispendio dos dinheiros publicos, podia ria força ; quando se observa, que elle tem procu
dar ao governo os meios precisos para satisfazer rado absorver todos os outros poderes parece
essos empenhos, o reservar entretanto para que ó chegada a occasião em que os amigos do
occasião opportuna o exame aprofundado dos governo constitucional devem procurar oppòr-lhe
actos do governo, foi desta maneira que mo regulei algumas barreiras, não sómente para o dirigir,
em tão importante assumpto, e aproveito o en porém pira o conter na sua marcha. E' neces
sejo para ag ra declarar á camara que, com- sario que agora appareça uma util reacção, que
quanto fosse membro da 2» commissão de orça se restabeleça o equilibrio perdido por quatro
mento, a quem foi submettido o credito relativo annos de deferencia do corpo legislativo para
ao ministerio da guerra, não tomei parte n0 pa com o poder executivo, deferencia que eu não
recer da commissão que foi apresentado, porque censurarei, porque foi exigida por imperiosas cir-
tendo dito a meus collegas que era conveniente cumstancias. mas que não póde mais ter lugar
requerer-se a apresentação das tabellas justifi depois de terem taes circumstancias desappare-
cativas dessas dospezas como determina a lei, cião, como mostrei. (Apoiados.)
elles não estiverão por essa exigencia, e apre- Senhoros, dizia um escriptor distincto: «muita
sentárão seu parecer sem a minha assignatura. liberdado destróo o poder o a ordem ; muito poder
O Sa. Aprioio:— Mas votou. destróo a folicidado e a liberdade. E' do sou equi
62 SESSÃO EM 4 D! JUNHO DE 1853
librio que deve resultar o bem do estado, e por um systema em que alguns membros do gabi
conseguinte á manutençã.) desse equilibrio devem nete que se sentem fracos para as camaras se
os homens de bem consagrar os seus esforços. escudã i para melhor so sustentarem ; sophisma
Quandu só ha um poder, póde-se dizer sem temor que a generosidade de seus collegas admitte, por
que elle ó excessivo ; ora, quem póde fazer tudo, que tem por effeito marcharem todos sem em
póde lazer o mal, o quem póde fazer o mal póde baraços, e sustentsrem-se mutuamente.
tambem querêl-o. » Esse mesmo escriptor dizia : Sr. presidente , so acaso essa solidariedade
« Passem os timidos ou coagidos para o mais devesse ser estendida a todos e quaesquer iactos
forte ; homens corajosos sustentai o fraco. Eis o do gabinete, então seguir-sc--hia que nos só po
nosso dever quando o equilibrio se rompe. » diamos aceusar, a um gabinete inteiro, o não a
Seguindo, portanto, estes conselhos, julgo cum um ou a outro ministro ; entretanto que pela con
prir o meu dever com apresentar-mo a favor dos stituição do estado, e pela lei da responsabili
fracos para sustentar o equilibrio. (Apoiados.) dade dos ministros, nós podemos aceusar a um
ou a outro membro do gabinete. (Apoiados.)
O Sr. Aprioio : — Muito bem. O Sr. Bani»eira de Mello : — A solidariedade
O Sr. Fioueira de Mello : — Disse tambem o ás vezes não é senão sophisma.
nobre relator da commissão que se, apezar de O Sr. Fioueira de Mello :—Portanto, Sr. pre
todas as considerações por elle expendidas,se preten
dia na discussão da proposta a falia do throno sidente, eu não posso adoptar essa solidariedade
aceusar o gabinete pelos actos de sua adminis geral dos ministros por actos secundarios de admi
tração, devião-se exhibir factos importantes ; que nistração que correrão em repartições indepen
um ou outro facto sem significação, umaouontra dentes de sua inspecção especial ; como porém
divergencia não podia ser trazida para condem- os Srs. ministros se agarrão uns aos outros para
nal-o. Notarei em primeiro lugar, Sr. presidente, sc sustentarem, o não se póde fazer opposição a
a contradicção em que me parece estar o nobre um sem fazer a todos, nem sustentar um sem
relator com outro membro da commissão qne ulti sustentar a todos , então é forçoso declarar-ine,
mamente fali ou nesta casa; este pretendeu que e nesta alternativa eu declaro-me contra todo o
na resposta á falia do throno não se devia tentar gabinete, e praticamente sigo os principios do no
nem da politica, nem da administração. bre deputado a quem respondo.
O Sr. Pereira da Silva : — Perdóe-me, eu disse Sr. presidente , o nobre deputado tambem , na
que da politica sim, da administração não. continuaçao do. seu discurso, procurou chamar a
attenção cia casa e do gabinete para certas re
O Sr. Fioueira de Mello: — Bem, que não se formas que elle entendia convenientes ao paiz,
devia tratar da administração, mas sim da poli e entre ellas apontou especialmente duas como
tico; entretanto que o nobre relator da commis as mais necessarias e importantes ; a organisação
são disse o contrario, isto é, que se devia tratar do poder judiciario, e a reforma do nosso sys;
da administração, porém somente em relação aos tema eleitoral. Quando o nobre deputado fallou
actos importantes. Segundo a opinião de que na neste sentido, eu pensei que elle estava em
'discussão que nos oceupa devemos examinar os opposição ao gabinete ; porque, senhores, doudo
actos da administração, parece-me que é indubi provém que essas, reformas não tenhão sido de
tavel a contradicção que notei entre os dous cretadas? Sem duvidado ministerio, que não tem
dignos membros assignatarios de voto de graças. tratado seriamente de as fazer, nem ha permittido
(Apoiados.) que so fação. (Apoiados.)
Um Sr. Deputado—Sem duvida nenhuma. A respeito do systema eleitoral, eu me lembro
que em 1850 , estando em terceira discussão no
O Sr. Fioueira de Mello :—Sr. presidente, cu senado um projecto de lei que lhe tinha sido
entendo que o nobre deputado relator da com en viado por esta camara, se me não engano, o
missão teve razão quando aqui nos declarou que ministro do imperio dessa época declarou que
somente os actos importantes do gabinete devião el'e devia ser adiado até que so apresentassem
ser trazidos para a discussão presente ; eu me emendas de conformidade com certas observações
associo inteiramente ás suas idéas , e por con feitas pelo conselho de estado. Ora , esse minis
seguinte apresentarei os actos praticados pelo tro deixou a administração em Maio de 1852, suc-
gabinete que me parecem dignos de censura , e cedeu-lhe outro, e este outro não tratou de realisar
me impellem a negar-lho o meu voto. Antes - as promessas do seu antecessor, nunca procurou
porém de passar a este ponto , permitta-me a oceupar-se da reforma eleitoral.
camara que ainda por alguns instantes eu oc- Tratando do mesmo assumpto o nobre depu
cupe a sua attenção na resposta que pretendo tado tambem disse que entro nós devia ser admit-
dar ao nobre deputado pela Bahia que nesta tido o systema das incompatibilidades, para que
discussão hontem se encarregou de defender o não apparecesse uma camara composta de func-
actual ministerio. cionarios publicos.
Pretendeu esse nobre deputado que se devia O Sr. Dutra Rocha:—Não disse assim.
apoiar ou censurar a todo o ministerio , e não
somente a um ou outro de seus membros, porque O Sr. Fioueira de Mello .-—Talvez não usasse
o ministerio era solidario , e assim o havia de destas mesmas palavras ; mas ó este sem du
clarado. Sr. presidente, eu concordo inteiramente vida o fim a que o nobre deputado quer chegar ;
com o nobre deputado se elle se refere aos prin por consequencia parece que o nobre deputado
cipios politicos, ou mesmo aos grandes principios quiz ainda por esta fórma dirigir uma censura
administrativos, pelos quaes os diversos membros ao gabinete actual.
do um gabinete assentão na maneira por que O Sr. Dutra Rocha :—Não, senhor.
Sretendem governar o paiz ; mas quando se trata
e actos secundarios mais ou menos importan O Sr. Fioueira de Mello:—Por ventura não
tes da administração, que fazem a especialidade tem sido o gabinete actual quem ha mandado
de qualquer das repartições confiadas a cada eleger nas provincia funecionarios publicos ?
um dos membros desse gabinete, parece-ine que (Apoiados) e não apoiados.) Não vimos o gabi
qualquer deputado póde conforme a sua con nete actual influir quanto foi possivel para quo
sciencia, dar ou negar o seu apoio a este ou fosse eleito senador por uma provincia um func-
áquelle ministro. (Apoiados.) cionario publico que nunca foi a essa provincia,
Entendo que a solidariedade admittida e apre e que entretanto se achava com elle em relações
goada pelo nobre deputado quando se quer es intimas ? (Apoiados e não apoiados.) Não vimos
tender aos casos que figurei, não é mais do que o proprio gabinete actual, depois de haver ado
SESSÃO EM A DE JUNHO DE 1853 63
ptado o principio de que os presidentes não se rio ; é elle quem deveria, durante o seu minis
devem fazer eleger deputados pelas provincias terio, procurar organisar, reformar este poder. E
que governão, ser aquelle mesmo que os manda demais, não foi o governo quem nomeou essa
eleger por outras ? Não vimos que o gabinete máo possoal a que o nobre deputado se referio?
actual , pondo-se em contradicção com esse sa Sobre o governo, por consequencia, recahe toda
lutar principio, fez com qne um dos seus mem a culpa, quer de não ter procurado reformar,
bros se elegesse senador pela provincia de Minas? organisar melhor o nosso poder judiciario, quer
(Reclamações.) de ter feito essas ruins nomeações com que luta
O Sr. L. A. Barbosa :—O ministerio em nada a justiça. (Apoiados.)
influio para essa eleição. (Apoiados.) Pronunciandò-me por esta fórma, Sr. presidente,
eu não posso ainda deixar de dizer que me pa
O Sr. Cruz Machado . — O Sr. Souza : Ramos rece muito inconveniente que nesta casa se apre
é filho da provincia de Minas, e geralmente alli sentem insinuações contra a moralidade e intel
estimado. (Apoiados.) ligencia do poder judiciario, consagrado pela
O Sr. Aprioio :—Tinha direito a ser escolhido constituição do estado. Eu entendo que se existem
por todo o Brazil. (Continuão os apartas.) membros do poder judiciario que estejão nas
circumstancias indicaias pelo nobre deputado,
O Sr. Presidente :—Attenção I os seus nomeá devem ser publicados para que
O Sr. Fioueira de Mello : — Se o ministerio a execração publica os marque com o ferrete da
actual, repito, entende que é prejudicial á admi ignominia.
nistração e ao paiz que os presidentes das pro O Sr. Dutra Rocha :— Não pertence isto ao
vincias sejão eleitos deputados pelas provincias deputado.
que governão, elle está m rigorosa obrigação de
levar esse seu principio adiante , de o applicar O Sr. Fioueira de Mello:— Assim o acredito;
a si proprio, e não querer arrogar-so o privilegio mas nunca se dove desacreditar o poder judi
de fazer eleger senadores os seus membros, como ciario em geral, que serve de garantia aos cida
se fez eleger o Sr. ministro da justiça. .Apoia dãos contra ns perseguições do poder.
dos e não apoiados. Vivas reclamações dos Srs. de O Sr. Dutra Rocha :—Não desacreditei em geral.
putados de Minas.) O Sr. Fioueira de Mello :— Senhores, se nós
So ha immoralidade em que um presidente se na representação nacional desconsideramos, ames-
faça eleger pela provincia que governa, tambem quinhamos o poder judiciario pela maneira por
ha immoraliclndo em que um ministro so faça que o fez o nobre deputado pela Bihia, então
eleger por qualquer provincia do imperio em- nenhum estrangeiro terá confiança nas decisões
quanto estiver com a pasta, porque o presidente dos nossos magistrados.
está para a sua provincia como o ministro está O Sr. Dutra Rocha:— Os magistrados bons
para todo imperio. (Apoiados.) não se hão de oflender com o que eu disse.
Uma Voz :—E' indignidade um ministro fazer-se (Apoiados.)
eleger. •
O Sr. Fioueira de Mello: — Disse igualmente
O Sr. L. A. Barbosa : — Isso é um despropo o nobre deputado que tanto o poder judiciario
sito. se achava mal organisado no seu pessoal, que
Um Sr. Deputado : — Desproposito ó o senhor elle tinha visto accordãos de relaçoes que erão
dizer semelhante cousa. contrarios á letra "expressa da lei. Quando o nobro
deputado declarou um semelhante facto, eu im-
(Cruzão-se differentes apartes em sentido op- mediatamente repliquei—o magistrado, não res-
posto. onde perante os tribunaes pelas sentenças quo
O Sr. Fioueira de Mello (olhando para o Sr. d' á de conformidade com a sua intelligencia e
Barbosa) — Queira o nobro deputado ser mais consciencia. . .
commedido em suas palavras. ( Apoiados- j Eu O Sr. Dutra Rocha:— Isto é principio admit-
nunca lhe faltei ao respeito, tenho-o tratado com tido relativamente ao jury.
deferencia, consnguintemente tonho direito a ser
correspondido da mesma fórma pelo nobre de O Sr. Fioueira de Mello :— Isto é principio
putado. O nobre deputado não está autorisado admittido por todos os paizes em que ha um
para dizer-me : « IsSb é um desproposito. » (Apoia poder judiciario independente. O poder judiciario
dos.) Quando enuncio na casa as minhas convic sómente póde responder pelos seus julgamentos
ções', e ellas são sinceras , o nobre deputado, quando estes forem proferidos por motivos de in
assim como toda a camara , deve respeital-as. teresse, de affeição ou odio, e por outros casos
(Apoiados.) marcados nas leis quando se lho provar dolo a
má fé, e nunca porque interpretou a lei deste ou
O Sr. L. A. Barbosa :—Eu disse que era um daquello modo, e applicou-a aos factos em boa
desproposito avançar que um ministro não po consciencia. Se o nobro deputado entende a lei
dia ser eleito deputado ou senador sem indi por uma certa maneira, outros a entendem por
gnidade. outra, e por consequencia o ficto que o nobro
O Sr. Presidente:— Attenção I O Sr. deputado deputado apresenta nenhum valor tem para des-
póde continuar. conceituir a magistratura...
O Sr. Fiouedãa. de Mello:— Sr. presidente, pa- O Sr. Dutra Rocha :— Pois não I Está bem
rece-me que os nobres deputados que fazem suas servido 1
reclamações devião ser oommigo mais tolerantes ; O Sr. Fioueira de Mello : — Se acaso a sen
se têm razão attimdão. Oução, e dêm depois, tença que o magistrado profere conforme a sua
como já aqui o disse um nobre deputado pela consciencia pudesse servir para desconceitual-o
Bahia. como corrompido ou incapaz, então teria acabado
O nobre deputado pela Bahia a quem respondo, toda a justiça. Eu peço ao nobre deputado que
tratando do poder judiciario, disse que so devia attenda que para descobrir-se a verdade legal
trabalhar por dar- lhe uma nova organisação, poia são necessarias polo menos as sentenças, -no caso
que esto poder se achava muito mal composto de se darem alguns recursos.
em seu pessoal, por falta de intelligencia e pro O Sr. Dutra Rocha :— Assim não ha respon
bidade. Ora, eu perguntarei : a quem se dirige sabilidade possivel.
esta censura? Sem duvida ao -nobre ministro da
justiça, porque é elle o chefa do poder judicia (Gruzão-se diversos apartes.)
64 SESSÃO EM i DE JUNHO DE 1853
O Sr. Presidente :— Attenção I Não é possivel censuravel a incuria do governo nesta parte
que todos os Srs. deputados fallem ao mesmo quanto essa lei foi aqui adoptada com «nnuen-
tempo. Póde continuar o Sr. Figueira de Mello. cia e approvação dos antecessores do nobre mi
O Sr. Fioueira de Mello :— Senhores, já eu nistro do imperio, pelo ministerio com que o
disse que não podia prestar o meu fraco apoio nobre ministro se declarou solidario. Por ventura
ao actual gabinete, porque entendia que os seus deveria o governo deixar de lançar suas vistas
actos erã ) ou violadores das leis ou prejudiciaes ao sobre um objecto de tal natureza e importancia ?
paiz. Agora eu quero dar a demonstração desta Não deveria elle fazer quanto antes cessar essa
these, e para o fazer distinguirei os actos do relaxaçã.. dos estudos, essa falta do regularidade
governo nas seguintes classes, dizendo : oppo- no ensino, todos esses inconvenientes que a camara
nho-mo ao governp : 1°, porque não executa ou quiz prevenir com essa lei? Entretanto a esse
viola as leis ; 2°, porque mal administra o paiz ; respeito nada se fez.
3°, porque avilta o poder judiciario, rebaixa a Sr. presidente, se me refiro agora r.o ministe
representação nacional, o compromette a coroa; rio da justiça, eu vejo que o governo foi autori
4°, porque segue para com a provincia de Per sado para organisar um novo regimento de custas,
nambuco, que tenho a honra de representar, elevar as alçadas, marcar as férias e dias feria
uma politica de desconfiança o de absorpção ; dos; entretanto dous annos .se têm passado, e
5°, finalmente, porque tem sido desleal com nada se tem feito I Note-so que o ministerio no
seus amigos. Tratarei destes pontos pela mesma sou relatorio apresentado em 1852 dizia que sobre
ordem porque o tenho indicado. este objecto já tinhão sido ouvidos os presiden
Sr. presidente, uma das primeiras necessida tes de nossas relações; que já estavão dispostos
des que sentem as provincias do norte é de re os elementos, preparados os trabalhos precisos,
mediar os males provenientes das seccas, e em para que o regulamento apparecesse, e que assim
pregar por conseguinte todos os meios proprios por consequencia brevemento deveria acontecer.
para obstar o apparecimento desse fiagello. As Por outro lado devo reflectir que essa lei tinha
leis de 6 de Setembro de 1850 o de 11 do Setem sido exigida pelo proprio governo, e era e é re
bro do 1852 autorisãrão o governo para fazer clamada como uma necessidade publica pelo poder
todas as despezas necessarias com os exames judiciario. Não é possivel que ainda hoje sub
exigidos para conseguir-se aquelle fim. sista o regimento de custas do 10 de Outubro
Tudo quanto o governo ifizesse a esto respeito de 1751; feito ha um seculo...
era uma obra de caridade, uma obra de politica, O Sr. Aprioio :— Está quadruplicado.
de elovada administração, porque os povos dessas
provincias que tanto têm soffrido com as seccas, O Sr. Fioueira de Mello :— Perdóe-me, onga-
cujos assoladores efleitos é desnecessario descre na-se o nobre deputado. Não é possivel que ainda
ver, abençoarião ao governo que os tivesse li hoje subsista esse regimento de custas sem que
vrado delle, verião augmentar-so a sua prospe no fóro se dêm immoralidades, se fação exigen
ridade, e cada vez se devotarião na sustentação cias que nem sempre é possivel prevenir, obstar
do mesmo governo. ou punir. Por ventura não ora conveniente que
éhtre nós as alçadas, hoje muito diminuidas pelas
Entretanto o governo nada fez ; não deu um circumstancias do paiz, fossam elevadas, e so
passo, para melhorar a sorte dessas infelizes obstasse assim a continuação de demandas o
provincias ; apenas me consta que já nos ultimos pleitos que só o capricho sustenta, e que somente
mezes do anno findo se expedira ás respectivas servem de dar oceupação e lucros aos que vivem
presideneias um aviso pedindo-lhes informações. de enredos forenses ? O mesmo direi a respeito
Ura, estas informações não podem servir de das férias.
cousa alguma, porque a repartição do imperio,
pela qual corre este importante assumpto, não Emfim, a lei que passou na assembléa geral
póde ignorar que existão seccas, quaes os seus foi uma lei reclamada pelo Sr. ministro da jus
estragos na população e na riqueza publica, tiça quando apresentou o seu relatorio de 1851 ;
sendo como são taes factos de notoriedade publica. por consequencia o Sr. ministro que o substi-
Era necessario mandar a esses lugares engenhei tuio, que , ó o continuador da mesma politica,
ros habeis c praticos, e não limitai-se a actos deveria procurar executar essa lei, e publicar o
banaes de expediente. seu respectivo regulamento.
Parece, Sr. presidente, que neste ponto o go Sr. presidente, tendo mostrado que o ministe
verno entende que as seccas são um mal incu rio tem deixado do executar as leis, julgo'tambem
ravel, o que é forçoso sujeitar-se á fatalidade que ter demonstrado que elle tem mal administrado
persegue as provincias do norte. o paiz, porque as leis se fazem com o fim de
Parece que nesta parte o governo combina com satisfazer as necessidades publicas, e se os Srs.
alguns nobres deputados, que quando foi apre ministros não as exoeutão, claro fica que não
sentada na direcção do orçamento o artigo da attendem a essas necessidades, o por consequen
lei a que me refiro apregoárão que elle era inex cia que são máos administradores. Apezar, porém,
equivel, e- somente o approvárão para satisfazer desta razão geral, eu quero ainda referir-me a
aos representantes dessas provincias, que assim alguns ministerios em particular, e provar mais
procuravão dar-lhe o mais importante melhora positivamente as minhas asserções. Principiarei
mento material. Sr. presidente, estou persuadido pelo ministerio da justiça.
que se o governo tratasse seriamente de executar Sr. presidente, durante o tempo em que o Sr.
a lei não encontraria dificuldades invenciveis. ministro da justiça se acha á testa da reparti
O Egypto, onde nunca chove, o havião seccas, ção, eu não vi ainda trabalho seu ácerca da
apezar das inundações do Nilo, tornou-se ainda organisação da nossa magistratura, ou da reforma
mais fertil logo que Mehemet-Ali adoptou o sys- do nosso codigo criminal, ou mesmo de qual
tema chamado das barragens, pelo qual as aguas quer outro ram i do nossa legislação patria. Por
do rio ficárno represadas em grande parte, e se outra, parecia-me que sendo a agricultura um
tornárão uteis ao paiz. Não deveria o governo dos ramos do nossa industria, que nós deve
brazileiro seguir o exemplo do Mehemet-Ali ? riamos m lis favorecer, e tendo-se declarado
Sr. presidente, para provar a falta do execu muitas vezes que ella não podia melhorar, não
ção das leis, eu tambem apresentarei o facto de podia encontrar os capitaes necessarios para o
não ter o governo até hoje procurado reformar seu desenvolvimento emquanto subsistisse o nosso
o ensino primario e secundario do municipio da regimen hypothecario, deveria o governo empre
còrte, conformo fóra autorisado pela resolução gar todos os seus cuidados para reformar as
de 17 de Setembro de 1851. E' tanto mais nossas leis de hypotheca e facilitar a creação
SESSÃO EM A DE JUNHO DE 1853 65
de bancos agricolas, cujas vantagens gozão outros Empenhopolis, o Sr. - ministro da guerra tratou,
paizes. de resto essa aceusação, e não deu passo algum
Entretanto, não vejo que o Sr. ministro da efficaz para saber se erão ou náo exactos os
justiça tivesse tratado desse importante assumpto, factos que ella mencionava, e poder tomar as
assim como do muitos outros que já forão lem providencias tendentes a acautelar o prejuizo da
brados na casa, e do que eu não tratarei. Pa- nação; do sorte que, senhoTes, foi preciso que esse
rece-me, Sr. presidente, que o nobre ministro da membro a quem me refiro viesse de novo denunciar
justiça, duranto todo o tempo de seu ministerio, nesta camara os factos attribuidos á gerencia do
não tratou senão da sua eleição senatorial. (Re arsenal de guerra, para que só então se excitasse a
clamações quasi geraes ; muitos não apoiados ; attenção do nobre ministro...
movimento prolongado.) O Sr. Auousto de Oliveira:—Foi um serviço
Uma Voz:—A sua eleição. não foi imposta, foi que nos fez a opposição.
eleito espontaneamente. Um Sr. Deputado : — Mas no tempo delia já
O Sr. Fioueira de Mello:— Pelo que eu vejo existião esses factos. (Apoiados.)
do seu relatorio, pelo que me mostrão os seus O Sr. Fioueira de Mello: — Senhores, poderia
actos, parece-ino que o nobre ministro se entre talvez desculpar essa incuria do Sr. ministro da
teve apenas com o mero expediente de sua re uerra se se tratasse de 'uma repartição insigni-
partição, cm dar algumas respostas a esse ou cante, pela qual não corresse uma grande parte
aquelle presidente, em organisação á guarda na dos dinlieiros publicos ; mas sendo o arsenal
cional nesto ou naquello municipio, em nomear do guerra uma repartição importantissima, uma
este ou aquelle empregado. Finalmente, o unico repartição destinada a fornecer ao. exercito todo
acto mais importante que descubro na repartição o armamento, fardamento, equipamento, etc, de
da justiça é o que trata da revisão do segundo que ello necessita, como poderei eu conceder que
alistamento da guarda nacional. o nobre ministro da guerra não lhe prestasse
Sr. presidente, passarei agora a tratar do mi toda a sua attenção, deixasse de inspeccionar
nisterio da guerra, e antes de tudo desde já continuamente um tal estabelecimento, de acompa-
previno á camara que quanto eu disser sobre nhal-o em todas as suas operações, como os factos
esta repartição não póde de maneira alguma o confirmarão ? Se outro fosse o comportamento
prejudicar a probidade e honradez do Sr. minis do Sr. ministro da guerra, se a sua vigilancia
tro, a quem respeito muito, e que julgo não será fosso sempre activa, poderia o prejuizo do paiz,
capaz de commetter actos que possão trazer quebra a delapidação dos dinheiros publicos nesse arse
em taes qualidades.. .(Muitos apoiados.) nal montar a 300:000$000 ou 40O:000$000, somente
O Sr. SeAra :— Apoiadissimo. no nnno financeiro do 1851 a 1852, segundo me
disso um nobre deputado que foi membro da
O Sr. Fioueira de Mello: — ..portanto peço commissão encarregada do exame do mesmo arse
aos nobres deputados amigos do Sr. ministro nal? E quando appareco uma tão má fiscalisa-
que não se persuadão que eu tenho outro fim ção, um tão avultado descaminho dos dinheiros
que o do demenstrar que o nobre ministro da publicos, posso eu dar o meu apoio ao actual
Guerra não teve nos negocios que lhe são con ministro da guerra?I...
fiados aquello cuidado o solicitude que era do Um Sr. Deputado : — E entretanto forão as auto
esperar ; que elle foi mesmo muito infeliz em todos ridades do arsenal absolvidas 1
os actos da sua administração, e que estes actos
são taes que me obrigão a dizer que em tudo O Sr. Fioueira de Mello:— E, Sr. presidente,
acompanha ao Sr. ministro da guerra uma grande tal tem sido a incuria do actual Sr. ministro
e triste fatalidade. da guerra, já não digo sobre o arsenal do guerra,
O Sr. Auousto de" Oliveira:—Apoiado I mas sobre o exercito brazileiro, que este mar
chou para o sul, para a campanha de Montevidéo,
O Sr. Aprioio : — Não apoiado I sem o fardamento e equipamento de que tinha
O Sr. Fioueira de Mello : — Sr. presidente, necessidade. (Reclamações.)
depois de termos visto na sessão pissada um Vozes:—Está enganado I está enganadoI Como
deputado pela provincia de Minas denunciar que saba disso ?
tinhão apparecido no arsenal de guerra roubos
escandalosos ; depois de termos visto o nobra O Sr. SeAra: — Está enganadoI Não ha tal,
ministro da guerra nomear uma commissão para o exercito estava armado, fardado e equipado
examinar esses factos o lido o relatorio dessa convenientemente.
commissão, que em grande parto confirmou as O Sr. Fiouei ra de Mello : — Tanto é verdade
aceusações desse deputado ; depois do termos, o que digo, que o Exm. Sr. marquez de Caxias,
lido as defesas que apresentárão o director o general em chefe do nosso exercito, para poder
vice-director do arsenal de guerra, que havião fornecer o exercito desse fardamento e do abar-
sido chamados a responder por esses factos perante racamento que lhe era preciso para entrar em
os tribunaes ; de termos observado que esses dous campanha, vio-se obrigado a contractar o seu
cidadãos forão considerados innocentes e absol fornecimento com um negociante do Rio Granda
vidos completamente pelos tribunaes que toma do Sul sem as formalidades legaes.
rão- conhecimento dessa causa, eu sinto não
poder dar o meu apoio ao actual ministro I (Recla O Sr. SeAra : — Isto foi para fornecer e equipar
mações.) as guardas nacionaos em numero consideravel, e
Um Sr. Deputado : —E' por essa razão que o de que o exercito necessitava.
devo apoiar. (Apoiados.) O Sr. Finueira de Mello : — Desdo meados do
anno de 1850 que se tiiiha previsto um rompi
O Sr. Fioueira de Mellò : — Cada um tira di.s mento coin o dictador da republica nrgentina, e
factos a conclusão que lhe parece; eu não penso por isso se o nobre ministro da guerra devida-
como o nobre deputado. inento zelasse os interesses publicos, teria pro
Para provar a incuria, o deleixo, a negligencia curado com antecedencia prover as necessidades
do Sr. ministro da guerra nos negocios da sua do nosso exercito, e sem prejudicar o paiz...
repartição, eu lembrarei em primeiro lugar que Uma Voz : — E com que verba havia do prover
tendo apparecido em um dos jornaes mais lidos a isso ?
desta córtí diversas aceusações ao arsenal de
guerra, que nellas era denominado a cidade de O Sr. Fioueira de Mello :— Não foi a falta da
tomo 2. 9
GO SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
verba o que reteve ao nobre ministro da guerra, da opposição, porque razão o nobre ministro da
porque tambem lhe faltava verba para outras guerra não a completou com individues de iguaes
despezas, e elle entretanto as fez, c no caso sentimentos ? Não posso portanto deixar de. fazer
do que trato elle sabia que tinha o apoio da algum repuo em semelhante omissão.
camara. Sr. presidente, tambem não posso deixar de
O Sr. Aprioio :— Tudo isso disse o Sr. Mello- censuíar ao mesmo Sr. ministro por não ter feito
Franco, e nós contrariámos. publicar o parecer da commissão de exame do
arsenal do guerra, apesar das vivas reclamações
O Sr. Fioueira de Mello : — Dessa falta de que se lizarão pela imprensaI Que motivos
prevenção, Sr. presidente, resultou : 1°, perigo induzirão ao Sr. ministro a furtar á publicidade
para o nosso exercito, por não entrar em cam um documento de semelhante natureza, um do
panha armado convenientemente ; 2°, a demora cumento que esclareceria a opinião publica, e
que elle teve em reunir-se ao do general Ur que podia servir mesmo de defesa- ao governo ?
quiza no dia convencionado, e o não poder colher Não posso deixar de considerar extraordinario
os louros que lhe erão destinados expellindo semelhante procedimento ; e a esse respeito
Oribe do territorio uruguayano. . . perinitta-me a camara que eu cite a opinião do
Um Sr. Deputado : — Mas provo que não havia Sr. Cherbulier, escriptor muito distincto, que
fardamento. escreveu sobre as garantias constitucionaes : « A
publicidade, dizia elle, não ó sómente uma ga
O Sr. Fioueira de Mello:— Tanto não o havia rantiá para os governados, mas tambem para
qne o Exm. Sr. conde de Caxias tratou de obtel-o os governantes, para aquelles, pelo menos, que
por meio de um contracto especial. so não querem afastar do seu dever. Um go
O Mesmo Sr. Deputado : — Pergunte ao nobre verno que toma precauções contra a publicidade
Sr. general Seara, que o competente para dar in de seus actos faz a critica mais mordaz de suas
formações a esse respeito, porque foi o antecessor intenções ; ó um demandista que, julgando má
do Sr. marquez de Caxias. a sua causa, se esforça por subtrahir aos juizes
os documentos proprios a esclarecòl-os sobre o
O Sr. Seara : — Estou habilitado perfeitamente fundo da materia. »
para dar essas informações como ha pouco dei, Passo agora a mostrar como o Sr. ministro da
isto é, que o exercito estava armado, fardado e guerra tem sido infeliz na sua repartição, o
equipado convenientemente. fundar-me-hei mesmo no seu relatorio. Já a
O Sr. Fioueira de Mello: — Sr. presidente, da camara tem conhecimento dos factos relativos
incuria do Sr. ministro da guerra resultou tam ao arsenal de guerra, já a camara sabe que o
bem que o arsenal da guerra, n i indeclinavel o exercito do sul marchou sem armamento, sem
urgente obrigação de fornecer o exercito dos ob fardamento, sem as munições, sem as barracas
jectos de que precisava, so visso forçado a sof- de que tinha necessidade. Agora direi que pelo
•frer a lei do dous ou tres monopolisadores desta relatorio do Sr. ministro da guerra vê-so que na
corte que o fornecerão delles, e que dahi resul repartição de saude da provincia do Rio Grande
tasse avultadas despezas, despezas que se terião se commettêrão tambem grandes dilapidações
evitado, se o nobre ministro da guerra se ti (Lê a parte do relatorio acerca deste assumpto. )
vesse dirigido nesta córto a tres ou quatro casas Sr. presidente, consta-mo que foi tal o des
importadoras desses generos, ou mesmo na Eu perdicio dos dinheiros publicos que, pela repar
ropa aos nossos ministros, para quê elles nos tição da saude no sul, o chá consumido em um
fornecessem o fardamento necessario ao exercito. mez, distribuido pelas praças que estiverão no
Reflicta-so que não se tratava do fardamento do hospital, vinha u caber 3 ou 1 libras para cada
3 ou 4,000 homens, mas sim do fardamento de soldadoI O mesmo acontecia a respeito de outros
24,000 homens que deverião entrar em campa- generos, em cujo detalhe não entrarei porque
. nha; refiicta-se que o Sr. ministro da guerra, tenho ainda de oceupar-me da outras cousas o
tendo consciencia de que a guerra era inevi não quero por isso alongar-me nas reflexões que
tavel quasi dous annos antes delia apparecer, poderia fazer sobro cada artigo.
poderia em tempo ter tomado as providencias Quanto ao commissariado do exercito, consta-
a que me refiro. me igualmente que grandes abusos so derão ahi,
O Sr. Aprioio : — Felizmente a respeito do que se flzerão grandes despezas, que se com
exercito nós temos o testemunho do nobre gene prarão generos em maior quantidade do que
ral, que lã se achava. (Apoiados.) aquillo que era necessario, e por preços exces
sivos, ou summamente lesivos a fazenda pu
O Sr. Fioueira de Mello : — E eu tenho o blica.
testemunho das despezas, que forão grandes. Relativamente á contadoria geral da repartição
Sr. presidente, o nobre ministro da guerra, da guerra, tambem o nobre ministro deplora no
calculando sem duvida que estas aceusações lhe seu relatorio a falta de empregados que possão
havião de ser feitas, tratou dn apresentar a sua desempenhar o serviço a cargo desta repartição
defesa no relatorio da sua repartição ; mas a entretanto que essa repartição foi ainda ha pouco
camara me permittirá que eu faça um succinto creada pelo Sr. ministro da guerra, que não
exame dessa relatorio, o depois passo a tratar podia ignorar as suas principaes necessidades,
do parecer da commissão encarregada do exame que deu-lhe não menos de 37 empregados, e que
do arsenal de guerra. delia esperava os melhores resultados, de sorte
Sr. presidente, o nobre ministro da guerra que parece que tudo se deteriora sob a admi
disso no seu relatorio que tinha nomeado uma nistração do Sr. ministro da guerra.
commissão composta na sua maioria do pessoas Vê-se igualmente que durante o tempo da
da opposição, mas que tendo-se separado dous administração do Sr. ministro da guerra duas
desses membros, os Srs. Mello Franco e Luiz explosões se tem dado na fabrica da polvora,
Antonio Barbosa de Almeida, elle mandará con das quaes resultãrão para o estado uma des-
cluir o exame pelos outros dous membros so pezn de não menos do 100:000$.
mente. Noto ainda que o exercito do Rio Grande do
Ora, quando o nobre ministro da guerra nos Sul, por propria confissão do Sr. ministro da
disse que a maioria doa membros dessa com guerra em seu relatorio, não linha uma adminis
missão pertencia ao lado da opposição, quiz tração militar tão bem montada que pudesse
dar-nos a entender qua tinha prescindido de fornecer os dados exigidos pelo governo a res
toda influencia do governo nesse negocio ; entre peito dos objectos de que esse exercito tinha
tanto tendo-se ausentado esses dous membros necessidade, e evitasse os descaminhos dos mes
SESSÃO EM í DE JUNHO DE 1853 67
mos durante a guerra. Ora, semelhante falta so nunciado pelo chefe de policia ; mas tendo re
mente ao Sr. ministro da guerra póde ser corrido para a relação do districto, esta deu-lhe
attribuida. provimento, despronunciando-o Apezar, porém,
Vejo igualmente que S. Ex., querendo estabe deste facto, o nobre ministro ordenou que se
lecer no Campinho uma casa de fogos pyrothe- executassa a anterior ordem de fdeportação. Ora,
chnicos, e mandando engajar na Europa um parece-me que uma vez absolvido esse negociante
engenheiro para esse estabelecimento, esse en por um tribunal do segunda instancia, por um
genheiro não servio para o fim que o Sr. mi tribunal insuspeito, o nobre ministro não devia
nistro tinha em vista, por incapaz, e teve outro ser o primeiro a desconsiderar os actos desse
destino. tribunal, muito principalmente tendo aceitado o
Observo ainda que tendo o Sr. ministro remet- campo de combate que lhe tinha offerecido o
tido para o arsenal do guerra de Porto- Alegro Sr. Antonio Pinto da Fonseca, e em que somente
differentes artigos bellicos, esses artigos ficarão a justiça do paiz devêra decidir. O estrangeiro
escondidos por muito tempo, e em nada puderão que vê o descredito que o proprio governo faz
servir ao nosso exercito, que delles muito pre recahir sobre os tribunaes do paiz, não pódo
cisava. deixar de fazer o mais triste conceito, e é isso
Vejo tambem que no relatorio do Sr. ministro com effeito o que estamos vendo.
da guerra so diz que as nossas fortificações e Agora perguntarei ; que interesse ha em fazer
obras militares têm-se damnificado extraordina sahir do paiz estrangeiros uteis, cujas riquezas
riamente ; de sorte que em vez de augmentar- podem animar a industria do paiz, que por tal
mos em melhoramentos, temos rítrogradado du fórma se têm mostrado innocentes de toda a
rante a longa administração do Sr. ministro. culpa, de toda a ingerencia no trafico de afri
Eu leio ainda no relatorio do nobre ministro canos ?
da guerra que existem no exercito corpos que Sr. presidente, não é somente pelo ministerio
ignorão as simplices manobras da sua arma ; da justiça que se procura desconceituar os tri
emfim, vejo que em todas as repartições per bunaes do paiz ; iguaes tendencias, ataques ma
tencentes ao ministerio da guerra so tem dado nifestos, igualmente so revelão em outras repar
a maior relaxação possivel. tições, e com especialidade na da fazenda. Entre
Ora, senhores, quando apparece semelhante muitos citarei dous factos. Na provincia da Bahia
fatalidade relativamente a um ministro, parece sendo demandados a viuva e herdeiros do des
que é de utilidade publica que esse ministro embargador Joaquim José da Silva Azevedo, para
abandono o posto, afim de que a fatalidade que responder por uma certa importancia do decimas
o acompanha não possa reproduzir-se. que elle devia, tendo corrido a causa os seus
Sr. presidente, o nobre ministro da guerra em tramites, e acliando-se .em liquidação, determinon
diversos lugares do seu relatorio nos apresenta o nobre ministro da fazenda que esta f.isse feita
os triumphos do Moron e Monte-Caseros ; parece perante a thesouraria da Bahia. O Sr. João An
que o Sr. ministro, para divertir a attenção dos tonio de Vasconcellos, juiz dos feitos da fazenda
representantes do paiz dos actos da sua admi e irmão, não quiz estar por semelhante ordem,
nistração, quer parodiar a Scipião Africano obrigado por ordens posteriores do governo,
quando disse : « Komanos, no dia de hoje venci cedeu, e em virtude do seu despacho a liqui
os carthaginezes ; vamos dar graças aos deoses.» dação devia ter lugar perante a tliesouraria.
Mas que differença, senhores I Se o povo ro Desse despacho se interpoz appeliação para a
mano acompanhou esse general, grande pelos relação do districto, e esta por seu accordão
seus talentos, e grande pelos serviços presta declarou que a liquidação não podia nem devia
dos á republica, o povo brazileiro deixa sózinho ser feita senão perante o fóro em que princi
o Sr. ministro da guerra. piára a causa, e nunca perante a thesouraria,
Passarei agora a tratar do 3» ponto da accu- como o governo pretendeu, fazendo sustar contra
sação que faço ao actual ministerio, que são os a constituição o andamento das causas. Desse
ataques ao poder judiciario; e em primeiro lugar accordão interpoz o procurador da coroa o re
referir-me-hei ao nobre ministro da justiça. curso de revista, o o supremo tribunal sustentou
Um estrangeiro negociante desta córte, o que a liquidação devia sor feita perante o fóro,
Sr. Antonio Pinto da Fonseca, foi no anno e obstou a invasão do poder judiciario tentada
findo denunciado como tendo parte no trafico pelo ministro da fazenda.
de africanos, que as nossas leis sevorathento LembrarePainda outro facto. Tendo o inspector
prohibem, o teve ordem do nobre ministro da da thesouraria da Bahia feito prender o collector
justiça para sahir do imperio dentro de certo Francisco Peixoto de Mascarenhas, e havendo
prazo-; mas tratando-se de executar esta ordem, esse collector interposto recurso de habeascorpus
esse negociante procurou demonstrar que depois para a relação da Bahin, esta assim lhe defo-
da lei de ti de Setembro de 1850 não tinha nen rio, e ello foi conseguintomente posto em liber
huma parte no commercio de africanos, o erão dade. Levando este facto ao conhecimento do
inteiramente falsas as imputações que a mali Sr. ministro da fazenda, o nobre ministro man
gnidade e a calumnia lhe fazião. Elie apresen dou prender de novo a esse collector, o so ani
tou além disto um documento muito valioso em mou a censurar a decisão desse tribunal como
meu conceito, qual o attestado dos primeiros injuridica, irregular e praticada com manifesta
negociantes dosta corte, que confirmão suas offensa da independencia das autoridades admi
asserções, e que por sua honradez erão incapa nistrativas, baseando-se em leis que não mo
zes de avançar um facto de que não estivessem parecem favorecer a decisão ministerial. Em pri
convencidos, chegando o escrupulo de alguns a meiro lugar, eu entendo que S. Ex. não tem
ponto do reverem os proprios livros commerciaes nem pódo ter o direito de reprehender um tri
ao Sr. Pinto da Fonseca para se convencerem bunal superior judiciario, que no exercicio dos
da verdade. Firmado na sua consciencia, e em .seus deveres sómeuto attende a sua consciencia
tão importante apoio, esse negociante pedio que, e ás leis, e sómoute responde perante o supremo
ou se revogasse a ordem para sua dlportação tribunal de justiça ; um acto tão illegal somente
ou que o sujeitassem aos tribunaes do paiz para póde concorrer para tirar aos tribunaes a força
provar a falsidade de seus occultos accusadores, moral de que devem gozar para bem do paiz.
e o Sr. ministro da justiça não podendo deixar Em segundo lug%r parece-me que para a con
de attender a semelhante declaração, com toda cessão ou denegação do uma ordem de habeas
a razão sujeitou este negociante aos tribunaes, corpus as relações não têm outra regra que o
c o mandou daqui para a Bahia, onde se dizia determinado no nosso codigo do processo, e lei
ter sido commettido o crime. Ahl foi elle pro do 3 de Dezembro do 1841, c que portanto a
08 SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853
relação da Bahia estava no seu direito quando gisladores do paiz não podendo fazer o bem
deferio favoravelmente ao collector preso. Em não poderão igualmente adquirir a menor glo
terceiro lugar parece-me que a legislação citada ria, não poderão merecer as bençãos, a estima,
por S. Ex., pela qual os inspectores das thesou- o apoio e gratidão dos" serrs concidadãos.
rarias podem prender os recebedores dos dinheiros (Apoiados.)
publicos, somente tem por fim obrigar estes a Sr. presidente, ha pouco aqui se disse que o
prestar contas, e a caucionar a fazenda; o por orgulho dos Srs. ministros ó tal que elles não
tanto, logo que elles apresentão essas contas, e querem a menor opposição a seus actos. Uma
se achão afiançados, a prisão não póde mais ter simples questão de adiamento, por mais insig
lugar, e por consequencia o accordão da relação nificante que seja, logo que o ministro sobre ella
da Bahia que concedeu habeas corpus a esse col se tem pronunciado não póde ser votada senão
lector veio a ser fundado em direito. no sentido da opinião ministerial. Cumpre que
O Sr. Henriques : — Não apoiado, ó contra a a camara aceite cegamente a sua opinião.
legislação expressa de fazenda. -(Apoiados.)
, O Sr. Fioueira de Mello : — Sr. presidente, O Sr. Gomes Ribeino : — Isso é verdade, os
tambem direi que o ministerio actual procura des Srs. ministros estão tomando conta ato dos
considerar a representação nacional, quer na pes ponto"s o virgulas da discussão.
soa de cada um dos seus membros nas suas O Sr. Fioueira de Mello:— SS. EExs. têm
relações individuaes , quer nas suas relações adoptado a commoda theoria de que se acaso
nollectivas , quer nas suas relações parlamen não fòr adoptada qualquer opinião que emi
tares. • tem , ainda eni materia insignificante , e que
Nas relações individuaes eu vejo que elle trata mesmo não interessa a administração, o minis
com profundo desprezo todas as considerações terio leva um choque e a patria suecumbe.
que a bem de suas provincias lhe fazem os Sr. presidente, estas considerações que tenho
deputados, julgando-as quasi sempre filhas do feito, me parecem ainda secundarias diante de
patronato e de interesses mesquinhos. Nas suas um facto que vou apresentar, e que considero
relações collectivas eu observo o mesmo facto, e do maior alcance, de grande influencia no sys
nova prova descubro nessa reunião que ainda tema representativo que temos adoptado, e ó
ha poucos dias teve lugar na secretaria do im que os Srs. ministros actnaes compromettejm a
perio, e do que os jornaes fallãrao. O nobre coróa. Não ha acto ministerial que encontre
ministro da fazenda, segundo me consta, porque grandes objecções que elles não declarem logo:
não tive a honra de ser convidado para essa « A coròa assim o determinou. » Se nomeão ou
reunião, apenas disse aos Srs. deputados que deixão de nomear a tal ou tal individue para
para cila os tinha convidado, afim de lhes de este ou aquelle emprego, elles desculpão-se logo
clarar que o governo. desejava que elles na dis dizendo : « A coròa assim o quiz » ; e julgão-se
cussão da resposta á falia do throno declarassem assim dispensados de toda a imputação e res
com franqueza se lhe prestavão ou não o seu ponsabilidade. (Apoiados e não apoiados.)
apoio, afim de que a administração soubesse se O Sr. Apbioio : — E' uma calumnia. (Apoiados.)
devia marchar ou não , mas que não queria
naquella reunião discussão alguma. Entretanto Aloumas Vozes: — E' verdade, é verdadeI (Re
mo parece que quando os ministros reunem os clamações.)
deputados, não o simplesmente para que elles (Gruzão-se differentes apartts.)
vão saber as intenções do governa, mas sim
para lhes explicar os seus actos, mostrar que O Sr. Fioueira de Miillo : — Tenho estado no
são dignos de sua confiança, patentear as fataes seio da representação nacional, tenho vivido
consequencias de uma desunião parlamentar , muito tempo nesta còrte, e sei o que tem-
indagar as causas qne a promoverão, o_ os so passado a este respeito. Não quero entrar
meios de evital-a em bem da administração e em minuciosidades sempre odiosas, mas digo
do paiz. com toda a convicção da verdade que os Srs.
ministros actuaes compromettem a coroa pela
O Sr. Dutra Rocha : — O nobre deputado não maneira por que .estão procedendo.
esteve lã, está filiando de orelha.
O Sr. Apbioio : — Não apoiado, não ó exacto.
O Sr. Fioueira de Mello:— Para o que disse
o nobre presidente do conselho na secretaria do O Sr. Brandão : — E' exactissimo.
imperio, como me consta, não era preciso que O Sr. Fioueira de Mello : — Sr. presidente,
se fizesse essa reunião , e se incommodassem quão differente não foi o procedimento desse
os representantes do paiz ; bastava que no celebre general francez Turenne, modelo de valor,
parlamento elle exprimisse os seus desejos. de probidade, do patriotismo, que vendo desfar-
(Apoiados e não apoiados.) dados alguns regimentos tratou de os vestir á
Nas suas relações parlamentares dá-so ainda sua custa, e disse no fim que ao rei Luiz XIV
a mesma desattenção dos ministros para com devião elles aquelle beneficio. O actual minis
a representação nacienal; não ha projecto de terio brazileiro faz o contrario; os benefícios
deputado que lhes possa merecer considera partem delle , o odioso dos actos provém da
ção. Elles dizem logo: « Deixe isso do parte, coróa (apoiados e não apoiados ; vivas reclama
que o governo tem de apresentar um outro pro ções) ; da coróa que elles deverião cobrir com
jecto mais desenvolvido. » - a sua responsabilidade, e que não quer e nem
Parece que os Srs. ministros querem ter a póde querer senão o bem do paiz.
gloria de dizer : « Somos os unicos legisladores Tenho ainda de tratar de dous pontos, o serei
do paiz. » Nos negocios mais importantes, em breve ; peço a attenção da camara por poucos
que mais interessa a fortuna publica, os direitos, instantes. Sr. presidente, eu tambem não posso
dos cidadãos, todos os ramos do serviço pu npoiar o gabinete actual pela maneira por que
blico, elles rejeitão a discussão esclarecida da elle tem tratado a provincia de Pernambuco, de
casa, e pedem que sc lhes dê automação para que me honro ser representante. Tal é o quarto
fazerem o que entenderem, sem nenhuma limi motivo que me induz a isso. A politica do go
tação, sem nenhumas bases, o por tempo illimi- verno para com a provincia do Pernambuco tem
tado, de sorte que em consequencia de um tal sido uma politica que eu chamarei de descon
systema nós vamos pouco a pouco perdendo fiança o de absorpção. (Apoiados dos Srs. depu
aquella influencia que devemos ter sobre os ne tados de Pernambuco )
gocios do paiz. O que resultará daqui í Os le O governo desconfia dos pernambucanos que,
SESSÃO EM 4 DE JUNHO DE 1853 09
collocados nas posições as mais elevadas, têm que quiz que Pernambuco nomeasse a este ou
feitoi alli immensos sacrificios em prol da ordem aquelle cidadão para senador, e Pernambuco tem
publica, da legalidade e da constituição do im resistido, tem procurado nomear seus filhos...
perio. Para o governo estes homens nenhuma O Sr. Aprioio :— V. Ex. não se oppoz á eleição
consideração merecem, todas quantas lembranças do Sr. Tosta.
partem delles em bem da provincia são votadas
ao esquecimento ou tidas por suspeitas. O Sr. Fioueira de Mello : — Não tomei parte
Ha muito tempo que na provincia de Pernam nenhuma em favor delia (e posso confessal-o sem
buco me arrepender nem me envergonhar) , e não
dentesestão vagos alguns
da provincia, lugaresosdeoutros
achando-sev vice-presi-
pre tomei parto , tanto porque apezar dos grandes
enchidos por homens que, bem que sejão muito serviços do Sr. Tosta á provincia esta parecia
honestos, muito respeitaveis e muito benemeritos oppòr-se a tal candidatura, como porque o mesmo
por seus serviços, têm todavia uma idade tal senhor escreveu-me em tempo desistindo de sua
que não lhes permittirá dirigir com a necessaria candidatura.
actividade e energia os negocios publicos se por O Sr. Auousto de Oliveira:— Nem o presi
qualquer emergencia forem chamados a tomar dente da provincia tomou parte.
conta da administração da provincia. O Sr. Fioueira de Mello : — O mesmo presi
O Sr. AtuusTO de Oliveira: — Apoiado. dente não tomou parte, é eu não devia ir de
O Sr. Fioueira de Mello : — Apezar porém encontro a esse procedimento da primeira auto
disto, o governo não acha na provincia de Per ridade. Ultimauirmte parece que o ministerio quiz
nambuco nenhum magistrado, nenhum advogado, impòr á provincia de Pernambuco a eleição do
nenhum proprietario a quem possa nomear vice- certo-j deputados e a rejeiçao do outros mais ou
presidente. Donde provém uma semelhante falta? menos directamente, e a provincia não se im
Por ventura a provincia de Pernambuco não portou com as insinuações ministeriaes, e elegeu
tem em si homens que possão ser escolhidos a quem quiz.
para esse lugar por seu saber , patriotismo e O Sr. Ministno da Justiça : — Póde dizer o
moderação? Porque razão o governo actual não que sabe.
procede para com a provincia do Pernambuco O Sr. Fioueira de Mello :— O que sei ó que
do mesmo modo que o faz com a da Bahia, a provincia não quiz estar pelas insinuações mi-
onde todos os lugares de vice-presidente se achão nistefiaes relativamente a alguns deputados...
oceupados até por bachareis qne ainda. Im pouco
subirão das nossas academias ? Donde vem que O Sr. Ministno da Justiça:— Ouvirei essas in
esses homens de Pernambuco não sirváo ao sinuações.
menos para um emprego mais honroso que O Sr. Fioueira de Mello :— Senhores, se essa
real. politica de desconfiança que o ministerio tem
.O Sr. Correa pas Neves : —Estamos com o tido para com a provincia de Pernambnco podia
espirito de bairrismo. ser posta em duvida até certo tempo, de certo
O Sr. Fioueira de Mello : — Então o nobro tempo para cá tem chegado para mim até a
deputado quer que os vice-presidentes sejão grão do certeza. Para o provar eu lembrarei
dous factos ainda : o primeiro é uma celebro cir
filhos de outras provincias ? cular do ex-presi lento dessa provincia, em que
Sr. presidente, eu observo mais que o minis elle se declarava isolado de todo o apoio. .
terio actual como que do proposito tem deixado
do organisar a guarda nacional da provincia de O Sr. Rjbi ino (com forço) :— Nunca estive iso
Pernambuco, pois não posso suppòr que tendo lado : desprezei certos apoios.
sido essa provinci"i administrada por presidentes O Sr. Auousto de Oliveira (no mesmo tom) :
em quem o ministerio depositava a maior con- Isso é que é preciso explicar.
f.ança, deixe a guarda nacional respectiva de se O Sr. Ribeino : — Explicarei.
achar devidamente organisada, como é de toda a
conveniencia, se o ministerio não tivesse algum O Sr. Fioueira de Mello : — Se o nobre de
motivo especial para conserval-a neste estado putado não estava isolado , para que publicou
de anarchia em que a vemos. Bem que ha dous essa circular? Mas deixemos esto incidente; o
annos e meio tivesse sido feita a lei da guarda primeiro facto é essa celebre circular do ex-pro-
nacional, até hoje só se tem organisado na pro sidente da provincia, a qual se dizia feita em
vincia de Pernambuco os batalhões dos munici virtudo de instrucções do governo geral...
pio* do Recife, Olinda e lguarassú, ao passo que O Sr. Ribeino :— Soube delias ao depois.
olhando-se para as outras provincias, ainda
mesmo pata as mais centraes, vê-so que a O Sr. Fioueira de Mello : — 0 segundo facto
guarda nacional delias se acha organisada na dessa politica de desconfiança e absorpção foi a
maior parte. (Não apoiados.) creação e sustentação de um jornal sobre o ti
O Sr. Ai-rioio : — Na Bahia grande narte da tulo d») Justiça , que existia em ' Pernambuco
guarda nacional não está ainda organizada. quando de lã vim , o que não sei se existirá
ainda agora, o qual sustentava os actos desse
Um Sr. Deputado : — O mesmo acontece na de governo de desconfiança que foi creado o susten
Minas c em quasi todas. tado pelo nobre deputado quando presidente da-
O Sr. Auousto de Oliveira : — Estão generali- quella provincia, e que parecia não ter oi'tra
sando a aceusação ao giverno. missão que a de insultar o calumniar as pjs-
soas mais respeitaveis do partido conservador
O Sr. Fioueira dl Mello : — Diz muito bem o da provincia.
meu illuatre collega. Se é exacto o que os nobres O Sr. Ribeino: — E a sua gazeta insultava o'
deputados acabão de declarar nos seus apartes,
estão sem duvida generalisando as aceusações governo.
que dirijo ao governo pelo que tem acontecido O Sr. Finueira de Mello: — Sr. presidente,
em Pernambuco. pareco que os nobres ministros com um tal pro
Sr. presidente, se eu perscruto o motivo de cedimento não procurão mais do que meios de
semelhante procedimento penso descobril-o na tornar a provincia de Pernambuco dependente
independencia que ostenta :i provincia de Per da sua administração em tudo, por tudo, na sup-
nambuco, por não querer sujo.tar-se á influencia posição do que polo engodo dos postos da guarda
ministerial em tudo e por tudo. Ministerio houve nacional o dos empregos publicos os filhos de
70 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
Pernambuco ficarão de mãos e pés atados ao Sessão cm 6 do Junho
carro mimsterial ; mas os nobres ministros estão
muito enganados I Os nobres ministros devem-se PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
lembrar que quando em 2 de Fevereiro de 1844
caliio a politica que boje domina, nenhum per Slmmario. — Expediente. — Pensão ao 1° cadete
nambucano sectario dessa politica annuio aos Souza Gralha. — Remoção aos juizes munici-
principios de seus adversurios para conser- paes. — Ordem do dia. — Discursos dos Srs.
var-so nos lugares , porque pernambucanos não Araujo Lima, Wanderley, Gomes liibeiro, e
se deixão . arrastar pelo engodo de empregos. Vasconrellos. — Discussão do voto de graças.
(Apoiados.) O seu caracter repelle estas indig Discurso do Sr. Ferraz.
nidades.
O Sr. Brandão :— Apoiado. A's 10 horas feita a chamada , achão-se pre
O Sr. Dutra Rocha:— Peço isso para todos os sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candide,
filhos do Brazil. (Apoiados.) Paes Barreto, Eusebio, Aprigio, Sa Albuquerque,
Pedreira, --Almeida e Albuquerque, Lindolfo, Ri
O Sr. Fioueira de Mello : — Sr. presidente, beiro, conego Leal, Horta, vigario Silva, Bretas,
resta-me ainda tratar do ã° ponto, que é aquelle Teixeira de Souza , Fernandes Vieira, Ferraz,
em que tencionava mostrar que o governo não Theophilo, barão de Maroim, Paula Santoi, Bar
tinha tratado os seus amigos com a lealdade e boza da Ounha, Assis Rocha, Luiz Araujo, Del
franqueza a que delles tinhao direito ; mas deixo fino da Luz, Pimenta Magalhães, Rodrigues Silya,
do fazêl-o, porque estou muito fatigado, e porque D Francisco, Nebias, Sayão Lobato, Vieira de
dizendo respeito a factns pessoaes, temo que se Mattos, Góes Siqueira, Cruz Machado, Domin
diga que" eu amesquinho a discussão. Contento- gues Silva, Siqueira Queiroz, Miranda, Jagua-
me por ora em annunciar somente o meu pen ribe, Angelo Custodio, Santos e Almeida, Wan
samento. derley, Fiuza, Seára, Birboza, Pereira Jorge, e
Sr. presidente, permilta-me V. Ex. que em Vascòncellos.
conclusão eu diga que, oppondo-me - ao actual Comparecem depois da chamada, os Srs. Gouvêa,
gabinete, não me deixo levar das minhas apre Livramento, padre Campos, Rego Birros, Ma
ciações particulares, mas que exprimo a opinião chado, Rocha, Viriato , Wilkens, Mendes de
geral de todo o imperio, sem a qual não póde Almeida, Paula Fonseca, Taques, Saraiva, Para
subsistir governo algum. Hoje não ha ninguem naguá, Assenço, Fausto , Bolfort, Fleury, Mon
que não queira a queda do actual gabinete. (Mo teiro do Banos, e Mendes.
vimento dasapprovador de diversos Srs. depu
tados.) A's 10 horas e meia, havendo numero legal,
Vozes :—Ninguem ? I I 1 Ninguem ? 1 1 1 o Sr. presidenta abre a sessão.
Lida e approvada a acta da sessão anterior ,
O Sr. Bandeira de Mello :—E' um modo de o Sr. Secretario menciona o seguinte
fullar, é uma hyperbole.
O Sr. Fioueira de Mello :—Todos reconhecem EXPEDIENTE
que o ministerio não tem satisfeito as necessi
dades publicas , e que é preciso que elle não Um requerimento dos empregados do archivo
continue. Este é o desejo da população, mani publico do imperio , pedindo que se dê anda
festado por diversos modos, e para prova de mento ao projecto r. 25 de 1840. remettido em
qne digo a verdade vêde, Srs. ministros, que 1850 á 2° commissão de orçamento, adiado em
nesta mesma cidade do Rio de Janeiro, onde o 3> discussão, ou que o governo seji autorisado
partido da ordem sempre tem encontrado maior a marcar ostes ordenados, o reformar o regula
apoio, e onde tem a maior força, não so en mento r. 2 de 2 do Janeiro de I803.— Vai á 2*
contra quem defenda ou • desculpe o actual ga commissão de orçamento.
binete. Outro de Lino José Lopes pedindo indemnisa-
O Sr. Silveira da Motta : — Isso é fallando ções do prejuizo que teve pela demolição de
hyperbolicamente. , um predio seu em 1836. — Vai a commissão de
O Sr. Aprioio : — Então é que o senhor não fazenda.
sahc do casa. Outro do João Simões da Silva, juiz de direito
O Sr. Fioueira de Mello :— Tenho sahido e da comarca de S. Gonçalo da provincia de Piauhy,
sempre, mas não encontro quem defenda o go pedindo licença por um anno para fazer uma
verno. viagem maritima, aconselhada em consequencia
de seu mão estado do saude, com seus venci
O Sr. Aprioio :— E' porque só conversa com mentos.— Vai á commissão de pensões e ordo-
os que tem as suas ideas. nados.
O Sr. Fioueira de Mello :— Portanto, entendo Um oflicio do Sr. ministro do imperio com-
que os Srs. ministros devem deixar as pastas municando ter expedido as convenientes ordens
a estadistas mais babeis ou mais felizes ; e que, para que o presidente da provincia do Pará in
se o fizerem, darão a maior prova de seu pa forme ácerca do conteúdo no officio de 30 ultimo.
triotismo, e mostrarão que não as conseivão —A' quem fez a requisição.
para terem as vantagens e honras do seu cargo. -Constando achar-se na sala immediata o Sr-
Emfim, senhores, voto contra a resposta á falia Carlos J jsó Versiani, deputado eleito pela pro
do throno. ( Signaes de approvação alternados vincia de Minas Geraes, e introduzido com todas
de não apoiados.) as formalidades", presta juramento o toma assento.
A discussão fica adiada.
Design a- se a ordem do dia, e lovanta-se a O Sr. Pimenta de Maoalhães :— Se existe sobre
sessao ás 3 1/4 horas da tarde. a mesa, Sr. presidente, como penso, o projecto
r. 100 que trata das reformas dos officiaes, da
guarda policial do Pará e Amazonas , rogo a
V Ex. queira dá-lo para ordem do dia. Esto
projecto é obra de uma commissão em que re
para um mal que a lei da guarda nacional causou
a esses officiaes ; por isso empenho-me para qne V.
Ex. se digne dá-lo para a ordem do dia.
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 71
O Sr. Presidente : — O Sr. deputado será sa Examinando, Sr. presidente, a fórma por que
tisfeito opportunamente. estão constituidos estes juizes, conhece-se facil
mente que elles se achão em a posição a mais
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA detrimsutosa ; tem uma natureza não permanente
nu temporaria ; estão dotados de mui dimiuutos
PENSÃO AO 1° CADETE SOUZA GRALHA ordenados, (Apoiados ) Se, pois, aos males que
são inherentes a semelhante instituição nós ac-
Entra em discussão o seguinte projecto, sob crescentarmos a faculdade da remoção concedida
r. 1 de 1840: ao governo, então melhor será acabar-se com a
« A commissão de pensões e ordenados, exa instituição.
minando o requerimento e inais documentos do Entendo portanto, Sr. presidente, que, a pas
1° cadete Angelo Antonio Cornelio de Souza sar o projecto de que se treta, desvirtua-se
Gralha, e reconhecendo os relevantes serviços completamente a instituição dos juizes munici
por elle prestados na provincia do Rio Grande paes, segrega-se-os da classe da magistratura, e
do Sul, onde, combatendo contra os rebeldes, arranca-se-lhw essa sombra de independencia
foi gravemente ferido, ó de parecer que se ap- que lhes é garantida como a juizes pela consti
provo a pensão annual de 200$ concedida pelo tuição do Estado.
governo, para o que offerece a seguinte resolução : Não sei portanto, Sr. presidente, como se vai
« A assembléa geral legislativa resolve : armar o governo de tão estupondo arbitrio. Nem
« Art. unico. Fica appr jvada a pensão annual posso ainda, Sr. presidente, comprehendor com
de 200$ concedida pelo governo ao l» cadete An que motivos de utilidade publica póde o autor
gelo Antonio Cornelio de Souza Gralha por de do projecto fundamental-o. Ha inconvenientes na
creto de 25 de Janeiro de 1839. permanencia de taes juizes? Cencido facilmente
que assim seja ; mas se esta consideração é va
« Paço da camara dos deputados, 24 de Agosto liosa, então, meus senhores, deitemos por terra
de 1839. — J. M. Carneiro da _Cunha. — M. J. a perpetuidade ou independencia do poder judi
Cavalcanti de Lacerda. » ciario, porque bem podem apparecer em um caso
O Sr. Taques pede que o projecto tenha uma ou outro motivos que aconselhem a intervenção
só discussão, e manda á mesa uma emenda do governo, especie de Divindade, para corrigir
para que o agraciado perceba a pensão desde a e cohibir seus erros ou abusos.
data da concessão. Noto ainda, Sr. presidente, que quando se
A camara decide pela affirmativa, e posto o creou essa magistratura, era o tempo em que
projecto á votação e approvado sem discussão dominavão idéas chamadas de regresso, ideas
com a respectiva emenda. que tratavão de robustecer o poder dando-lho a
maior expansão, não lhesendo porém concedida
REMOÇÃO DOS JUIZES MUNiCIPAES semelhante attribuição Hoje que estamos em
circumstancias oppostas, hoje que o poder está
Entra ein discussão a seguinte resolução, sob revestido de força immensa, é que havemos do
r. 4 de 1852 : conforir-lhe mais esta faculdade, ó que havemos
de dotal-o ainda de mais attribuições, cujo uso,
«A assembléa geral legislativa resolve: por excessivo, não póde deixar de ser nocivo
« Art. unico. Os juizes municipaes poderão ser a causa publicai Isto não póde ter lugar.
removidos nos mesmos casos e pela mesma Vou portanto mandar á mesa um requerimento
ftrma por que o são os juizes de direito ; ficando de adiamento para ser o projecto enviado á com
revogadas quaesquer disposições em contrario. missão respectiva, afim do que o reconsidero, e
« Paço da camara dos deputados, em 21- de dê sobro elle seu juizo.
Maio de 1852. — João Mauricio Wanderley. » - E' apoiado o adiamento e entra em discussão.
O Sr. Araujo Lima : — Não tinha tenção, O Sr. Wanderley : — Sr. presidente, op-
Sr. presidente, de fallar sobre a materia em ponho-me ao adiamento proposto pelo illustre
discussão, ou o projecto que autorisa o governo deputado pelo Ceará; não que eu ligue grande
para remover os juizes municipaes pela mesma importancia a que o projecto seja remettUo ou
fórma o nos mesmos casos por que remove os não a commissão de justiça civil e' criminal,
juizes de direito. Distrahido com a discussão porque sou o primeiro a reconhecer a fraqueza
do voto de graças, que absorve todas as atten- do qualquer concepção minha (não apoiado) ; mas
ções, occupo-me pouco com a primeira parte da ligando alguma importancia á materia do proje
ordem do dia. Atê mesmo ignorava achar-se elle cto, entendo que elle não merece que o illustre
comprehendido nas materias que fazem parte da deputado o queira suffocar nas pastas da com
mesma ordem do dia. Não tanto pois, Sr. pre missão.
sidente, para combater o projecto, como para Oppór-se decidida e francamente ao projecto,
Íiropòr um adiamento, pedi a palavra, de que combater a sua idéa, é-, não direi mais nobre,
arei uso apresentando mesmo adiamento, e ex mas muito mais util do que estas excepções di
pendendo em poucas palavras meu pensamento. latorias.
Fructo, Sr. presidente, de uma legislatura que Ouvi com a attenção que sempre costumo
passou, me parece que seria conveniente fazer prestar ao honrado deputado, e confesso que al
examinar este projecto por uma commissão que guma cousa me admirei vendo-o trazer contra
tenha origem na camara actual. Acredito mesmo o projecto razões que de modo nenhum lhe são
que seria isso de acordo com o que tem esta applicaveis.
camara praticado em casos analogos ; tinto mais Disse o illustre deputado que o projecto des
quanto a materia importante que faz o objecto naturava o poder judiciario, ou a instituição dos
do projecto, a remqção de magistrados que con juizes municipaes, que tornava estes empregados
vém ser revostidos de todas as condições de in méros commissarios do governo, e sobre este
dependencia, aconselha toda a cautela e prudencia thema começou o illustre deputado a desenvol
a tal respeito. ver os perigos das grandes attribuições de que
Direi agora de passagem minha opinião sobre já estava revestido o governo.
a materia. Senhores, ó preciso que o illustre deputado
Trata-se de saber se ás immensas attribuiçõea se explique, que declare o que suppõe serem os
de que o governo se acha investido se lhe ac- juizes municipaes, se elles são ou não membros
crescentará mais esta, de remover os juizes do poder judiciario, ou se constituem alguma
municipaes. creação nova, se são ou não nascidos dos prin
1t SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
cipios constitucionaes. Se os juizes municipaes O Sr. Wanderlev:— O projecto ó util, póde
formão parte do poder judiciario, como devem ser imperfeito, muitissimo imperfeito, porque nada
as leis applicar-lhe principios diversos danuelles neste mundo é perfeito ; mas contêm em si um
que se applicão aos outros membros do mesmo principio de «vidente utilidade publica, que a
poder e do muito maior graduação do que na propria constituição reconheceu, quando autorisou
realidade são os juizes municipaes? a remoção dos juizes de direito.
A importancia do projecto é reconhecida, por Sim, o projecto 6 imperfeito. Que custa ao il-
que se funda em um principio de grande utili luslre d o.utado lazer emendas no sentido em que
dade publica reconhecida por todos os homens entende necessarias? Somente a commissão de
que applicão um pouco de attonção aos nossos justiça civil é que poderá apresentar essas emen
negocios, a saber, a conveniencia da remoção do das? Quanto mais que o projecto não pre
magistrado em certos casos. cisa dessas emendas; os casos do que fallou o
Um juiz municipal despachado pela primeira illustro deputado serão rarissimos. Em todo o
vez, inexperiente o muita vez sem instrucção, caso o projecto não ê, como pareceu ao illustre
mandado para termos remotos, em que a in deputado, um meio de entregar os juizes muni-
fluencia de um juiz ó iminensa; -um juiz muni paes ao governo. O governo usou desta attribui-
cipal que tem de exercer todas as funeções eiveis ção por muito tempo, removeu como lhe pareceu,
e criminaes, não é um empregado de uma na fundado na mesma lei que o illustre deputado
tureza tão secundaria como parece ao illustro citou; o Sr. Eusebio de Queiroz, quando ministro
deputado, e que possa causar grandes males. da justiça, foi que em um decreto declarou que
(Apoiados.) os-juizes municipaes não podião ser removidos
Os juizes de direito, que a constituição reco durante os quatro annos, decreto que do um dia
nhece como vitalicios ou antes perpetues, podem para outro póde ser revogado por um outro mi
ser removidos nos casos e pela maneira que a nistro
lei mirca, e um juiz municipal não poderá sel-o O Sr. Gomes Ribeino : — Não póde ser, ó contra
tambem, nem mesmo nos casos em que podem a lei.
ser removidos os juizes de direito? Pois um O Sr. Wanderlev :— Não ha lei nenhuma que
juiz de direito póde sor perigoso na sua comarca, proliiba isto. . .
e o juiz municipal não póde sel-o, o muito mais
perigoso do que o mesmo juiz da direito? O Sr. Gomes Ribeino:— Ha a lei de 3 de De
(Apoiados.) zembro de 1841.
Um Sr. Deputado.-— E' responsavel perante o O Sr. Wanderlev : — Não diz isso; essa lei
juiz de direito e póde ser suspenso pelo presi ou o regulamento de 31 de Janeiro tem sido en
dente. tendido por todos os ministerios que se succedê-
O Sr. Wanderlev :— Tambem o juiz do di rão como nao prendendo o governo. . .
reito póde ser suspenso pelo imperador, mas ha O Sr. Gomes Ribeino:—E' a nossa infelicidade
casos em que a responsabilidade ó uma medida querer copiar de ministerios differentes aquillo
insufficiente, é preciso tirar o juiz do lugar em que nos convém I
que exerce jurisdicçao (apoiados) , para evita- O Sr. Wanderlev: — Isto não vem nada ao
rerh-se males que depois serião irremediaveis. caso ; não so trata, se-é a nossa felicidade ou nossa
(Apoiados.) infelicidade; o que digo é que a inamovibilidade
Senhores, acontece mesmo que muitos juizes dos juizes municipies funda-se nesse decreto do
municipaes depois de terem tomado posse dos ministerio do Sr. Eusebio ; mas assim como houve
respectivos lugares, por este ou aquelle motivo ministerios que removessem o- juizes municipaes,
abandonão-os, e dão parte do doentes, e nem fundados no regulamento de 31 do Janeiro, póde
ao. menos podem ser substituidos ; do modo que acontecer que venhão outros ministerios qne re
o governo vê-se ás vezes pelo espaço de quatro voguem esso decreto e entendão esse regulamento
annos com as mãos atadás sem poder attender como dantes. Ora, o projecto dá aos juizes mu
ao interesse dos povos... nicipaes mais garantia, porque é uma lei sabida
Um Sr. Deputado dá um aparto que não. ou do corpo legislativo, que declara que sómente em
vimos. i taes o taes casos podem ser removidos.
Sr. presidente, em tudo neste mundo, e mesmo
O Sr. Wanderlev :—Perdóe o illustre deputado, na camara, entra um pouco de moda I Assim
eu sei perfeitamente, ou deixão os lugares a como muda-se o córto das casacas, etc-, timbem
principio com licença ou dão parto de doentes, varia o modo de encarar as questões; ha épocas
e retirão-se das respectivas comarcas ás vezes em que é moda dar-so tudo ao governo ; ha outras
para a capital, donde nunca mais sahem. em que é moda nada dar-se ao governo; nós
Um Sr. Deputado :— Proceda-se a uma visto agora estamos na época de nada conceder ao go
ria. verno I
O projecto devo ser discutido; apresentem os
O Sr. Wanderlev :— Diz o illustre deputado illustres deputados as idéas qne tém contra, não
que se proceda a uma vistoria. Não vejo lei que queirão matil-o, mandando-o á commissão. De
autorise esse exame, e o inconveniente que noto claro que não tenho amor proprio de autor;
têm-se realisado innumeras vozes (apoiados) : e votem ou não pelo projecto, para mim é istoin-
assim a população destes termos soifre por falta differentissimo ; quiz attender a uma necessidade
de juizes letrados sem que haja um remedio publica; so acamara julgar que com este pro
legal. jecto não se vai attender a uma necessidade pu
Podor-se-ha dizer i « Pois um juiz municipal blica, sujeito-mo á sua decisão. Digo mais a V. Ex.
ha de se transportar da comarca em que se acha que estou tão inimigo de questões que, se V. Ex.
para outra quo 1 lie fica a grande distancia sem ine fizesse o favor de perguntar se cu desejava
ter meios para o fazer? » que esto projecto entrasse em discussão, eu pe
Então a questão já não é sobro a utilidade diria a V. Ex., até pelo amor de Deos, que não
das remoções, mas sobre o modo do realisal-as o désse para ordem do dia I Estou curado da
com menos detrimento dos juizes ; dê-se uma mania de apresentar projectos; é muito facil op-
ajuda de custo aos juizes municipaes quaudo pór-so a qualquer medi ia; achar defeitos em tra
forem removidos. . . balho alheio, o attribair-se tudo a fins que nunca
Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou tivemos em vista.
vimos. O Sr. Gomos Ribeiro : — Principiarei,
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 73
Sr. presidente, agradecendo ao honrado deputado presidente da provincia representar contra elle,
que me precedeu o juizo que de mini faz, isto dando os motivo-i; e quem não vê que os dous
e, que estou no numero daquelles que se achão casos apresentados pelo nobre deputado não são
no proposito de negir medidas ao governo este motivos sufficientes p ira fuudamentar uma queixa,
anoo. Se o honrado deputado tivesso bem em de modo a dar lugar a uma remoção? Por ven
lembrança o passado, talvez se recordasse que tura o presidente da provincia não tem meios de
eu por vezes pedi a palavra contra esto projecto^ obrigar a um juiz municipal a ir para o seu
mas que nunca me coube a vez de fallar. V. Ex., lugar? Se um juiz municipal está indisposto,
Sr. presidente, talvez ainda se recorde deste facto, se tem commettido essas arbitrariedades inau
visto que por vezes manifestei á mesa o desejo ditas que figurou o honrado membro em sua
que tinha de discutir este projecto. Já vê pois imaginação, se é incapaz mesmo de continuar
que as minhas intenções a respeito da materia no serviço publico, dou de barato tudo isto, o
são de lor^ga data, não são de hoje. presidente não tem o poder de suspender a esse
Está consignado neste projecto, em seu unico juiz municipal ? Não poderá mandal-o respon-
artigo, que os juizes municipaes possão e devão sabilisar? Não ha emfim uma immensidade de
ser removidos pela mesma fórma e nos mesmos correctivos contra elle ?
casos em que o são os juizes de direito ; creio Um Sr. Deputado:— E se elle se der por
que nelle não ha mais outra disposição. E' pelo doente e estiver passeando na capital ?
discurso mesmo do honrado membro que eu en
tendo que o projecto em questão ê imperfeitis O Sr. Gomes Ribeino: — Oh que motivo tão
simo, e que por isso, longe de o derribarmos forte para uma remoçãoI Supponha V. Ex. que um
devmos remettêl-o para a commissão, afim de juiz municipal está na capital, que não quer ir
emendai- o; assim como está não posso votar por elle. para a sua comarca ; não tem o presidente em
Sr. presidente, a lei de 1850 diz a respeito dos suas mãos a nomeação dos supplentes que o
juizes de ■ I ireito que elles poderão ser remo substituão a contento do governo ?
vidos quando apparecer rebellião ou sedição na Alouns Srs. Deputados : — Os supplentes já
provincia, ouvido o juiz de direito e o conselho estão nomeados e durão tambem 4 annos.
de estado. Ora, o projecto diz que os juizes O Sr. Gomes Ribeino: — Os supplentes dos juizes
municipaes serão removidos nos caso e pela fórma municipaes, meus senhores, sempre são pessoas
porque o são os juizes de direito; e então, per nomeadas pelo presidente, por consequencia de
gunto eu: será ouvido a conselho de estado? sua intima confiança. Senhores, para que esta
O presidente da provincia mandará ouvir ao con mos com cousas ; o defeito está nas nossas in
selho de estado? stituições, o mal provém de nós mesmos ; as
Diz mais a lei que os juizes de direito terão nossas leis vicião entre nós em sua base, em
uma ajuda de custo. Consigna por ventura o seu começo, esta instituição de juizes muni
projecto unia ajuda de custo ao juiz municipal? cipaes: entre nós ha urna lei, e.se a minha
Não ; fica o governo com a faeuld ide de remo- memoria me não é infiel, creio que é a lei do
vêl-o sem ajuda de custo? E será isto admis orçamento de 1841, que obriga o juiz municipal
sivel, será consentaneo com os interesses da jus que tem 400$ de ordenado a pagar 40 °/° desse
tiça, com a independencia que o juiz municipal ordenado, o que o reduz no primeiro anno á
deve ter? Remover, Sr. presidente, sem ajuda miseria I Isto é, sem questão, no primeiro anno
de custo a um juiz que além de ter um orde-- em que elle mais precisa de recursos, em que
nado muito insignificante, deve necessariamente nào tem feito ainda economiás, ó°quando elle
no começo de sua carreira contrahir empenhos está sujeito a uma imposição exorbitante ; taes
para se estabelecer em sua comarca 1 Não é desta foráo as vistas dos nossos legisladeres, viciando
sorto, senhores, que se deve remover um juiz em sua base, em seu começo uma instituição
municipal que apenas tem 400ÍJ ou 600$, que tão nobre como é a do julgador, porque o reduz
não chegão fJara estabelecer-se, que não chegão a miseria, porque o reduz a contrahir empenhos
para comer, e que nem mesmo sei como elles no seu lugar, onde tem do julgar; e quando se
vivem em seus lugares I nhores, não tem elle ainda podido satisfazer esses
Um Sr. Deputado: — Pois dê-se-lhes uma ajuda empenhos, a que infelizmente se vê obrigado, ó
de custo. quando se lhe diz : « Vá, Sr. juiz, removido; por
exemplo, da Bahia para Matto-Grosso, ou do Pará
O Sr. Gomes Ribeino: — E' por isso que de para as Alagoas, oú para outro qualquer ponto re
sejo que o pr jecto vá á commissão, para que motoI » Sr. deputado, nem tanto ; não peça tanto I
esta e outras medidas sejão nelle attendid is Assim é reduzir a estado lastimoso o nobre officio
quando tenha elle de passar. de julgador, attenda que os presidentes de pro
Sr. presidente, eu disse no começo de meu vincia, fortificados como estão pela acção do
discurso que foi mesmo pela exposição do hon poder executivo, que lhes dá toda a importancia
rado membro por eude conheci que não devia e todo o apoio, podem fazer desses juizes a sua
passar o projecto tal qual está. O nobre depu m nnvella, e o instrumento de eleições.
tado, senhores, estabeleceu logo as C.indições, Voto pelo adiamento por julgar o projecto im
isto é, as razões pelas quaes no seu modo de perfeito.
entender deverião ser removidos os juizes mu
nicipaes; por exemplo, disse elle, quando o juiz O Sr. Vasconccllos : — Os honrados depu
municipal estiver malquisto na comarca, de modo tados que têm impugnado o projecto laborão em
que ajustiça venha a soffrer ; outro exemplo que equivoco, persuadidos de que a legislação actual
deu, quando o juiz municipal em vez de estar não confere ao governo o direito de remover os
no exercio de seu emprego andar passeando pela juizes municipaes no quatriennio. Já o honrado
capital, e o presidente da provincia não tiver deput ido autor do projecto referio-se á intelli-
m»ios de o fazer voltar ao seu lugar. geocia que se tem dado ao artigo da lei de 3
São estes, Sr. presidente, os casos que o de Dezembro de 1841. V. Ex. não igoora que
nobre deputado apresentou, pelos quaes entende o ministerio que tomou conta da direcção dos
que o juiz municipal deve ser removido; entre negocios em 2 de Fevereiro de 1844 removeu con
tanto que a lei de 1850, quanto trata dos juizes stantemente juizes municipaes, fundado nesse lei
de direito, dá somente o caso em que haja na de 3 de Dezembro de 1811.
provincia rebellião ou sedição. Os ministerios da mesma còr politica que se
O Sr. Wanderlev: — Está muito enganado. succedêráo exercêrão esse direito, embora se re
clame que essa nao é a verdadeira intelligencia
O Sb. Gomes Ribeino:— E tambem quando o da lei a que me tenho referido. Nestas circum»
tomo 2. 10
74 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
stancias uma medida legislativa que trate de mente porque nessa resposta não houve a nobre
determinar a maneira por que devem ser remo co nmissão de seguir a marcha sempre nesta
vidas os juizes municipass, longe do ser um casa praticada em taes materias; a nobre com
ataque ao poder judiciario, como inculcou o nobre missão pareceu-me que queria cingir-se a alguns
autor do adiamento, me parece que é uma ga estylos parlamentares de outros paizes, onde,
rantia que se procura para esses juizes. quando se quer mostrar frieza ao gabinete, se
O Sr. Livramento :— O governo já docidio que contantão os autores de taes peças de paraphra-
não podia removel-os. soarem a falia do throno, do que tambem no
nosso parlimento têm apparecido exemplos
O Sr. Vasconcellos : — Perdóo-mo o honrado O cuidado tambem, Sr. presidente, que a nobre
membro: essa foi a opinião, de um illustre mi commissão teve de evitar tudo quanto pudesse
nistro que póde ser revogada pola opinião de um denotar alguma confiança a certos ministros, o
outro que entenda a lei de 3 de Dezembro pela empeaho que ella teve de fazer resultar a sua
maneira por que a entendeu o ministerio de 2 aihesão a respeito de outras, ainda mais mo
de Fevereiro ; subsistira a mesma duvida a os juizes firmou nessa convicção. A politica moderada c
municipies serão sujeitos a continuadas remocões. justa que a nobre commissão quiz apoiar não
O honrado membro pela provincia das Alagoas designando, na minha opinião, politica alguma,
disse que o projecto era inconveniente porque os mas sim o modo por que qualquer politica pódo
presidentas da provincia não p .dião ouvir o con ser realisada, não poderia tambem deixar de mos-
selho de estado. Mas, senhores, quem nomêa e trar-me esse! tibieza, essa frieza que acabo de netar.
quem remove os juizes municipaes não são os Senhores, a politica da um gabinete não é por
presidentes de provincia, é o ministerio da jus certo a moderação e justiça; a moderação e jus
tiça, e o ministerio da justiça ouvirá o conselho tiça é a obrigação do todas as autoridades no
de estado, assim como tem do ouvil-o nos cisos desempenho da seu dever. A politica de .um ga
de re noção dos juizes de direito. binete vem a ser um complexo das medidas que
O Sr. Gomes Ribeiro: — E' peior : da Bahia a o gabinete acha necessarias para bem desempe
Matto-Grossu, o das Alagoas para Goyaz. nhar a sua missão ; e no emprego desses meios
O Sr. Vasconcicllos: — Tambem acontece o deve sempre elle haver-se com moderação e jus
mesmo com a re noção dos juizes de direito, por tiça. Seria mesmo absurdo, Sr. presidente, con-
que tambem os temos nessas provincias. ceber-se que houvesse um gabinete que tomasse por
Sr. presidente, não posso approvar o adiamento, bandeira o prograiruna a immoderação e ainjustiça.
porque, se.as razões unicas que se tem produzido Demais, Sr. presidente, a ausencia da palavra
contra o project - são as que se dignárão expor tolerancia que nestes ultimos tempos tem feito
os meus honradas collegas pelas provincias do sempre um topico de todas essas peças, da pa
Ceará a das Alagoas, essas razões, longe de me lo- lavra tolerancia que em todos os documentos
varum a votar contra o projecto, induzem-me adar- officiaes costuma o governo inserir, me pareceu
lhe meu fraco apoio, porque ine parece que é alta tambein um ponto sobre que eu devia reflectir.
mente inconveniente ^ue os juizes municipaes Essa palavra applicada ao gabinete actuil por
possão ser removidos a capricho do governo geral. ventura será um contrasonso, e por isso a no
Se interessa a justiça que os juizes de direiLo bre commissão a retirou? Por ventura quererá
sejão removidos depnis de certas formulas, depois essa ausencia iniciar uma outra voreda por onde'
da sua audiencia, por exemplo, e da audiencia devoremos seguir? Creio qua não.
do consellio de estado, interessa tambem que os Debaixo de tal impressão pedi a palavra. De
juizes municipaes sejão pela mesma fórina remo pois porém, Sr. presidente, que o nobre depu
vidos, porque não foi na vantagem pessoal dos tado pelo Rio do Janeiro, cujos talentos e
juizes da direito que sí instituio ou que se de merecimentos muito respeito, nos houve, como
terminou nu lei de 18-00 o modo da sua remoção; um perfeito tender do p uiamento inglez, de nos
foi no interesso publico. traçar o circulo de nossas operações, de illumi-
Não tendo ouvido nzão alguma procedente em nar-nos sobre o verdadeiro sentido das palavras
favor do adiamento, voto contra elle, porque estou da commissão, e desta modo commentou as ou
disposto a prestar meu fraco apoio ao projecto. mesmo explicou-as, julguei do meu dever aban
Esta discussão fica adiada pela hora. donar a palavra que havia tomado ; e deste
proposito demoveu-me uma unica consideração
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA — o convite que o gabinete fez a todos nós de
expressar-nos nesta occasião de um modo franco
DISCUSSÃO DO VOTO DE GRAÇAS a seu respeito.
Continuando a discussão, vai á mesa, lê-se e Acho convoniente, Sr. presidente, essa pratica
apoia-se a seguinte emenda : que os nossos estylos têm adoptado, essa pra
« O piriodo que responde a. coróa relativamente tica que o gabinete actual segue, da no princi
às estradas. da feiro, substitua-so pelo seguinte. S. pio da sessão, quando apresenta o programma
R.—Senlioi, a camara dos deputados confiando no das medidas qne são de mister para o desem
zelo, e sabedoria do gove rno de Vossa M igostade, e penho da sua missão, as adhesões c resistencias
bem persuadido que dos contractos celebrados para sã manifestarem, porque se as guardarmos para
consti ncção dos caminhos de ferro, ha de o paiz co o futuro, para uma ou outra questão incidente,
lher todos os beneficios que reclama, e que lhe pro- o governo ficará vacill ante, não poderá marchar
mettem semelhantes emprezas, espera cheia da seguro no caminho que tem encetado.
maior s 'tisfação, que as ditos contractos veuhão Se nós, Sr. presidente, procurarmos na histo
ao seu conhecimento, para lhas dar sua franca ria dos outros paizos nua seguem o systema
plana approvaçao. Sala das sessões, 6 de Junho representativo exemplos desta naturezi, os vere
de 1853.—J. O. Nebias. » mos em quasi todos elles. Na I iglaterra, por
exemplo, não segue-se o cadinho por que passa
O Sr. Formz : — A leitura do projecto de entre nós a falia ou o discurso da coróa ; este
resposta á falia do thr.mo, o estudo que sobra não vai a uma commissão; um membro do par
elle fiz, ma convencêrão do que as palavras e lamento apresenta immediatamente a resposta
expressões da nobro commissão tinhão sido cal que so devo dar sobro ess i falia, o debato se
cula las do modo qne' pudessem aproveitar a todas trava, o exima da idmioistração se faz, appa-
as fracções d i camara, a deixar para o futuro, para recem emendas, a administração então é defen
algumu occasião particular, todas as questões que dida ou aceusada, e o resultado da votação lhe
pudessem interessar á existencia do gabinete actual. mostra quaes os passos que tem de dar no pro
Convenci-me disto, Sr. presidenta, primeira gresso da sessão.

i
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 75
S. Ex. consinta que eu observe que se nesso Rio de Janeiro que fallou na ultima sessão so
paiz onde existem maiores meios de exame, do bre esta materia, que lhe faça unia reflexão.
que entre nós, se nesse paiz onde um deputado O nobre deputado com esse estylo que mós lhe
offerece uma moção muitas vezes para examinar reconhecemos traçou a epopéa doi tres Srs. mi
o procedimento de um general; o procedimento nistros que se . asso n tílo juntos nestas tres ca
de um ministro nas eleições, o procedimento de deiras e calou-se sobre os actos dos outros.
outro qualquer grande funccionario, ou uma mo O Sr. Pereira da Silva: — Não apoiado.
ção para examinar-se qual o estado do paiz, a O Sr. Ferraz? — Perdóe-me.
sua situação economica e commercial, etc. ; se
nesse paiz, digo, onde se offerecem tantos meios O Sr. Pereira da Silva : — Disse sobre o Sr.
de exame sobre a administração, isto se dá, ministro do imperio alguma cousa.
como não dar-se entre nós que estamos reduzi O Sr. Ferraz : — O nobre deputado traçou um
dos pelo nosso regimento a duas discussões geraes, circulo tão forte, um circulo que chamarei de
a do orçamento e a da resposta á falia do throno? ferro, eu que imaginei que o nobre deputado se
Sr. presidente, nem embarga a razão aqui pro ria um daquelles que ponsidera a serra dos Or
duzida de que a camara é composta de deputa gãos a baliza do Brazil.
dos que já tomarão parte nas sessões passadas Dou apoio ao ministerio, Sr. presidente, na
nas suas deliberações, quando existia o gabinete firme esperança de que elle por meio de medi
actual; não, no interregno parlamentar podem-se das prudentes e firmes, por meio de reformas
dar taes e taes actos, de taes e taes ministros, uteis que garantão a propriedade e os direitos
ou msemo do ministerio inteiro, que faça com individuaes e politicos dos cidadãos, possa cha
que a confiança que então fei prestada na es mar a um centro e accordo essas opiniões mo
perança de que a sua marcha seria conforme deradas, que muitas vezes a injustiça ou circum
os interesses do paiz seja retirada, ou seja ne stancias muito pequeninas os alongão de nós.
cessario examinar os seus passos, e .dessa nna- Eu sou, Sr. presidente, tão amjgo da conci
lyse e exame póde resultar um voto de censura liação, que faço os votos os mais sinceros para
ao ministerio, ou ainda mesmo um voto que o que tambem o gabinete, por meio de uma com
faca apartar da administração publica. (Apoiados.) binação prudente, possa chamar em torno de si
E' isto que se dá no interregno parlamentar os nossos amigos das provincias do Ceará e de
quando a camara é a mesma ; muito mais se Pernambuco. Failo em uma combinação prudente,
póde dar quando a camara é nova, quando ella senhores, porque, segundo os estylos e princi
e a expressão de um voto novamente manifes pios do nobre presidente do conselho, enunciados
tido, e se reuno pela primeira vez, composta em creio que na sessão do anuo passado, o minis
grande parte do membros inteiramente novos ao terio tem de soffrer uma pequena modificação.
parlamento, e talvez mesmo á politica dominante. E por esta occasião poço á casa que me consinta
Assim pois, Sr. presidente, peço licença ao no que lhe represente a necessidade que ha de me
bre deputado para que, deixando a pratica e lhor organisar-se os gabinetes conforme as con
estylo que elle deseja que se estabeleça no nosso veniencias parlamentares.
parlamento, e aceitando o convite do gabinete actual, Os gabinetes de certa época para cá têm sido
expresse o meu votodeadhesão ao mesmo gabinete. compostos em sua maioria de senadores, dei
Senhores, eu tenho tomado por norma da mi xando apenas um ou dous lugares para os mem
nha vida — fidelidade aos meus amigos, — não bros desta camara. Daqui resulta o que todos
aos amigos politicos, porque estes são passagei os dias vemos, que quando um membro desta
ros, desapparecem com as necessidades do mo camara que é ministro passa para o senado, ha
mento, e a maior parte das vezes os homens necessidade de uma modificação, e taes modifica
politicos do nosso paiz como que rebaixão o ções mais ou menos fazem desarranjo ao serviço
merecimento para tel-o melhor na sua depen publico, porque um ministro que tem passado
dencia ; mas aos meus amigos particulares. E já por um tirocinio, que tem mesmo planejado ou
tambem eu creio que na situação actual do projectado algumas medidas dignas de ser ado
nosso paiz qualquer ministerio que por ventura ptadas, por este facto de passar pura o senado
se pudesse organisar não deixaria de sa'hir do e sahir do ministerio as abandona, e aquelle
circulo das capacidades donde sahirão os actuaes que o tem de substituir leva muito tempo pri
Srs. ministros, nem poderia mudar de norma e meiro que faça o sou tirocinio, que tome pé,
marcha de politica, porque taes mudanças não se como se costuma dizer, na administração. E nem
fazem de um dia para outro. é só por isso ; nos outros paizes es ministerios
E quando se quizesse sahir desse circulo, onde se compoem mais de membros da camara tem
se irião procurar ministros? Nos velhos, que já poraria do que da camara hereditaria. Parece
nos deixarão victimas de tantas decepções? Os que como os membros da camara temporaria são
velhos, conforme diz um distincto litterato in- renovados, e como deste modo so presume que
glez (Carlile) são o que são. Nos moços? Senhores, elles exprimem mais os sentimentos da opinião
entre nós os moços sempre encontrão opposição, publica, porque estilo com ella mais em conta
muitas vezes dos outros moços, e ha tantas ra cto, na confecção dos ministerios se adopta maior
zões mesquinhas, tantas razões partieul ires que numero de membros da ' camara dos communs
impedem a sua marchai que elles não podem da I .glaterra, ou da camara dos represent intes
nunca surgir á tona d'agua. Todo e qualquer em França e em outros paizes.
ministerio qne por ventura se organisasse náo E eu . temo tambem um grande perigo da pra
apresentaria outra cousa mais que novos nomes; tica que entre nós S6 tem seguido Actualmente
a politica, dadas as circumstancias actuaes, não o conselho de estado é composto em quasi a
póde deixar de ser a mesma. sua totalidade de senadores, havendo unicamente
Dou apoio ao ministerio, senhores, porque te dous conselheiros que existem como reliquia da
nho nelle amigos, mas não dou apoio sómente primeira org misação deste conselho ; e se assim
a esses meus amigos ; a confiança que tenho caminharmos, não sei se alguem poderá dizer o
nelles faz com que eu estenda esse meu apoio que em 181'' dizia Canning a respeito da forma
a todos os seus collegas. Nem concebo que se ção do ministerio ou do conselho na Inglaterra,
ssa dar a hypothese de que eu deva descon- « que as familias inglezas querião ter o direito
r daquelles que não são meus amigos particu exclusivo de compor não só o ministerio, mas
lares, quando pelo facto da existencia dos meus os grandes conselhos de estado. »
amigos nesse gabinete não posso deixar 'de crer Dou apoio ao ministerio, Sr. presidente; mas
que seguem a verdadeira senda. não posso renunciar por maneira alguma o di
E neste ponto permitta o nobre deputado pelo reito de exame e analyse sobre as medidas que
76 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
elle propuzer, sobre os seus actos, não só por sidade do tudo, a que nós nada lhe forneciamos
que seria indigno do mim, do meu paiz, da ca em seu bem; quando vii em outros paizes que
mara a que pertenço, e do proprio ministerio, habalisados escriptores opinaváo pelos melhora
um apoi - cego 0 material, come tambem porque, mentos oiateriaes; quando via que nessas épo
nas circumstancias presentes, esse exame e aua- cas em differentes estados proclamou-se que a
lyse é summ imente importante. nnica politica de porvir e de grande prosperi
• Quando um una ca é ara existem dous partidos - dade para os povos era a do progresso moral e
representados, ou quando uma camara se acha material, ti io a desgraça de incorrer no des
fraccionada por dom pensamentos inteiramente agrado dos meus colíegas por enunciar aqui o
diversos, parece que a diligencia e cuidado da mesmo pensamento, e para se mostrar a ne
opposição suppro esse exame e anatyse que nos nhuma significação que tinha esse pensamento
cabe a cada um ; m is nesta camara, no momento ou essa bandeira, foi ella proclamada bandeira
actual, em que, se ha divergencia, ella versa do Espirito Santo, que só vivia durante algu
sobre cousas pequenas e accidentaes e não sobro mas noites de festins á luz de fogueiras, que
objectos reaes, supponhoque não podemos deixar de symbolisava um imperio de dous dias, passa
examinir profundamente eanalysar todas asmedi las geiro e ephemero sem fundamento e sem força.
que forem propostas pelo ministerio. (Apoiados.) Mas, Sr. presidente, felizmente depois que eu
E, Sr. presidente, permitta V. Ex. que eu apro tive de sahir desta casa o nobre ministro do
veite esta occasião para declarar que o systema imperio, assim como o nobre ministro da fa
de nimia confiança que foi inaugurado depois de zenda, seguirão ou antes adoptárêo esse mesmo
1839 não tem produzido aquelles effeitos que são pensamento, esse systema, essa bandeira, e ue-
de desejar. (Apoiados.) pois os proprios que tinhão taxado de bandeira
Senhores, a camara dos deputidos, em con do Espirito Santo esses principios do ordem, de
sequencia desse systema, tem deix id0 de exa paz e de tranquillidade, adoptárão-a em toda a
minar cartos projectos de lei, como o do codigo sua plenitude, e mesmo forão mais além. (Apoia
commercial, o os tem enviado ao senado, sem dos,) Se nesse tempo, Sr. preside. ite, eu ado
discussão, com toda a pressa, e como se não ptava essa bandeira, hoje mais do que nunca a
houvesse cousa nlguma a corrigir. considero como a mais util, a unica necessaria
Senhores, a camara dos Srs. deputados em e de vida para o nosso paiz.
consequencia desse systema tem deixado de exa Se nós, Sr. presidehte. não conspirarmos todas
minar certos projectos de lei, como, por exem as nossas forças para realisar esse grande prin
plo, o codigo commercial, que se tendo enviado cipio, veremos o nome de nossa patria entre as
para o senado, o senado tem demorado as vezes potencias barbarescas, porque, Sr. presidente, não
dous annos em discussões prolongadas sobre a na paiz n0 mundo civilisado, nem governo algum
materia e depois nos reenviado com na sua-i «m inte da prosperidade de seu paiz que não
emendas que são inteiramente approvadas por lance mão de todos os seus recursos para pro
nós; estes factos denotáo contra o conceito da mover o seu progresso material, esses mesmos
cam ira. Parece que aquillo que nós approvamos homens, senhores, que se hão apossado na Europa
com enthusiasmo e dei repente, sem exame, o da politica por meios talvez menos regulares e
fazemos sem consciencia, ou porque não temos legaes, não recorrem n outros meios para faze
a n»cessaria capacidade, e isto mais comprov i rem esquecer a origem do seu poder, e assim
o òutro facto, de, depois do senado por um vemos na França o governo actual dispen ler
exame aprofundado haver corrigido em quasi tudo quanto tem de recurso para conseguir esto
todas as suas partes taes obras e remettido grande fim, não poupando dinheiros, nem a favor
a esta camara as suas emendas, nós as ap- da agricultura, nem do coinmercio, nem da indus
Êrovarmos sem a menor refi-xão e de prompto. tria fabril.
iaqui procede, senhores, que muitas pessoas já Na Austria depois do grande movimento e abalo
consideráo a camara dos Srs. deputados uma que soffreu essa potencia, não procurou o seu
camara do registro (apoiados) ; e esse systema, governo outro meio, outro systema para melhorar
se a alguem tom aproveitido, tem sido algumas o seu estado; e como entre nós, assim como em
incapacidades que á mercê do principio de cega toda a parto a opinião tem um livro unico em
confiança pod-m sem receio algum subir a em que le, e por que se dirige ; este livro é os factos.
pregos mais altos do estado. (Apoiados.) Ella, como V. Ex., observa bem, poucas vezes
Sr. presidente, dou o meio apoio a i ministerio se dá com os discursos eloquentes, com os gran
em todos os pontos que não forem contrarios des escriptos politicos, com os homens que cuidáo
ás opiniões que eu tenho sustentado nesta casa sómente da politica, e ao passo que se reune
em epocas anteriores, e neste passo eu pedirei om torno dauuelles que promovem um boneficio
ao nobre deputado que em ultimo lugar fallcu material no lugar, na provincia ou no imporio
na sessão a:iterior que lhe pondere que a cen (apoiados), a outros ficão no escuro.
sura que elle fez ao nobre deputado pela Bahia Segundo essa opinião, Sr. presidente, cu tenho
(o Sr. Dutra Rocha), quindo este senhor apon de pedir ao nobre ministro dos negocios estran
tava a conveniencia da adopção de cortas me geiros a graça de ouvir-me sobre algumas dessas
didas, porque do certo modo infringia os nossos materias que tocão a sua repartição, porque tambem
estylos ministeriaes, perniitta-me, digo, o nobre é preciso que eu diga que como melhoramentos
deputado que lhe pondere não haver elle atten- materiaes ou não reputo como alguns sóinente
tauo bem para a natureza de nossa missão. O estradas e navegação fluvial, mas comprehndo,
nobre deputado estava acostumado ao ritual an seguindo a Pecqueur, todos os trabalhos, todis
tigo, e o costume tem grande força. as empresas, todos os meios na ordem phy-ica
O nobre deputado por força desse habito não que tendem ou i\ creação supplementar do rique
póde soflrer que um ministerial pudesse fazer zas, ou a sua producção mais economica, o assim
sentir ao governo a necessidade de medidas ne todas as instituições , todas as combinações
cessarias para o bem do paiz I economicas que conspirão a este grande fim, tudo
Sr. presidente, comquanto as opiniões que eu quanto a econo.nia social ou politica, e a hygiene
tenho professado nesta casa sejão conhecidas do publica ou particular aconselhão para conseguir
publico, e esse conhecimento me dispensassem n0 interior homens mais esclarecidos, mais mo-
de nbvamente manifestal-as, comtudo cu não ralisados e fortes, e no exterior segurança, im
posso deixar de tornar a cousignal-as. portancia, respeito e consideração do estado para
Em 1848, quando depois de lutas estereis de oom_ as mais potencias estrangeiras.
discussões que não podião de maneira alguma Não sei se terei a fortuna de ver o nobro
ser proficuas, vi que o nosso paiz tinha neces ministro de estrangeiros no seu lugar nesta camara ;
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 77
mas se não tiver esta fortuna, estou certo que duetos de ambas as partes contractantes em seus
o nobre miuistro do imperio terá a bondade d» territorios, mas de certa classe de productos, os
levar ao seu conhecimento as observações que despojos do gado, inclusive a cirne socca ou de
vou fazer, as qunes não têm p ir fim, ne charque. Eu creio que esto tratado não innovon
nhuma delias, o menor pensamento de hostilidade, cousa alguma a nosso respeito, porque existia
nem de leve otfendel-o ; mas que sáo dietad is a lei, creio que de 18 de Setembro de 1815, que
pel i amizade no art 25 dava entrada livre a todos os des
As observações que tenho n fazer, Sr. presi pojos do gado que entrassem pela fronteira do
dente, são sobre os seguintes pontos : parte Rio-Givinde do Sul. Sendo assim, se alguma cousa
commercial dos tratados celebrados com as re ganhámos, foi na sahida livro de semelhantes
publicas do Uruguay o do Perú; a questão de productos do nosso territorio para o territorio
limites com a Bolivia; a -questão de limites com vizinho; eu considerava porém vantajosa a livre
a Inglaterra e a questão de limites com a França ; circulação petas nossas fronteiras de todos os
a questão fluvial com a B divia ; a questão sobre productos da nossa industria e agricultura, e da
o bill de lord Aberdeen sobre t questão de Afri dos estados vizinhos.
canos; o finalmente sobre a necessidade de di Esta grande medida tem a seu favor não só
rigir as nossas legações e consulados de um modo um interesse commercial, mas um interesse po
proficuo ás industrias e commercio do paiz. litico, e um interesse fiscal. Permitta-me a camara
Senhoros, depois dos successos que correrão que em apoio desta minha asserção traga a
na republica do Prata, o em que o Br zil tomou opinião do grande autor do espirito .das leis.
tão grande parte, eu não tive occasião ainda Diz elle: « O commercio tem a grande vanta
de manifestar a minha adhesão á politica seguida gem de levar a paz a todos os paizes por onde
nnqnelles lugires, e o que cu poierei dizer agora,' percorre em suas operações ; tem a grande van
não ó por certo uma opinião ou juizi formado tagem de tornar dependentes as nações que pro-
depois do resultado. O paiz sabe, assim como miscuamente commerciáo : a necessidade de ven
os meus collegns que commigo tomárão assento der e a necezsidalo de comprar traz essa inutua
nesta casa de 1M |5 a IH Ití, que eu co nliati, sempre dependencia , o essa dependencia firma e ga
que julguei um obstaculo para o- paiz, esse go rante as mais solidas uniões o allianças.
verno do dictador R is is, o que «ie adquirio, Já se vê que quanto mais faceis tornarmos
acarretou injurias da parte da* imprensa de Buenos- as relações commerciaes pela nossa fronteir i
Ayres, que cl? gou a pontj ate de chamar- me t rrejre com os nossos circumvizinhos, tanto
— Portuguez não interessado no progresso do meu mais poder unos obter em resultado uma van
paiz (lllj — Um periodico redigido aqui sob os tagem commercial, uma vantigem politica e ainda
auspicios da legação da republica Argentina, e uma vantagem fiscal. Uma vantagem politica,
que apoiava o gabinete de 2S) de Setembro de 18W, porque o commercio adoptando os costumes, le
tamb.ru me fez passar pelas ruas de amarguras. vando a civilisição, prendendo todos os indivi
Eu, Sr. presidente mao considero esse facto duos interessados em suas operações pelo pro
que se deu nas republicas do Prata em relação prio interesse faz desapparecer essa rivalidade
ao que disse o nobre ministro, isto é, de se ter que infelizmente herdámos das metropolis de que
estabelecido uma politica americana, politica que descendemos. Um interesse fiscal , porque é im
eu desconheço, politica que a camara ignora, e possivel, por maiores que sejáo as despezas que
politica de que o paiz não tom conhecimento fizermos, por maior que seja o numero dos em
algum; mas considoro-o em relação á justa, pregados qne tivermos nas nossas fronteiras,
proficua e legitima influencia que nos deu nesses evitar o contrabando.
estados, porque fixou os limites do imperio e Temos ainda como resultado o interesse mo
acabou com questões que poderião dar azas a ral, porque o contrabando, sendo infallivel, como
grandes contrariedades, porque deu solução ás nos mostra a historia da Fi anç i , e a de todos
questões fluviaes pendentes, e que versavão sobre os paizes commerciaes e da propria Inglaterra,
os rios em que te nos parte ; finalmente, Sr. dando-se a medida da livre circulação dos pro
presidente, porque desenlaçou to las as questões ductos naturaes do paiz nesses lugares ganha-
que dizião respeito ás fugaz dos nossos escra rião os nossos costumes , porque deixarião de
vos, dos nossos desertores, extrndicçáo, etc. Essas perpetuar-se esses actos, esses delictos que as
forao as grandos vantagens que resultarão dos nossas leis punem. Parece-nie pois , Sr. presi
esforços que o governo empregou para conseguir dente, que nesta parte falhou a parte commer
isso, o não a inaugurução de um i politica une- cial desse tratado. E porque este mal póde ser
ricana, que não sei, como já disse, em que se reparado, eu pondero ao nobre ministro a ne
funda. cessidade de por qualquer meio estabelecermos
O S:í. Pereira da Silva dá um aparte que alli o mesmo que a lei de 18 de Setembro de
não ouvimos. 1845 estabeleceu para as republicas com quem
confrontamos pelo lado do Pará.
O Sr. Feubaz — Agradeço ao illustre deputado Outro ponto sobre que tenho do fazer obser
esse seu aparte, não existe pois ossa politica vações ao nobre ministro vem a ser a parte do
americana. . . trat ido do Perú, em que não foi estabelecido o
O Sr. Pereira da Silva: — O nobre deputado vantajoso commercio de transito , e pelo qual
sabe que sempre combati com elle no mesmo não se creou na provincia do Pará um entre
campo; tainhem fui insultado pela imprensa de posto. Pondero ao nobre ministro a razão por
Rosas. que considero que nesta parte o tratado falhou.
(O Sr. ministro dos negocios estrangeiros entra Por este tratado as mercadorias estrangeiras,
no salão e toma assento.) 4 depois de pigarem direitos de importação ou con
sumo nas alf mdegas de Calháo de Lima, ou
O Sr. Ferraz :— Alegro mo de ver o nobre outra qualquer do Perú e r.i Pará, podem tran
ministro dos negocios estrangeiros nesta casa, sitar livremente pela nossa fronteira,' mas noto
porque assim posso obter algumas informações, o nobre ministro que esta operação dependo de
fazcr-lhes algumas observações, não, como já disse, um adiantamento de capital, e da certeza da
com espirito de hostilidade, mas reli xões ami venda da mercadoria no lagar do seu destino.
gaveis. Tratarei primeiramente dos tratados de Esta parte nos é fatal, porque pela nossa po
commercio celebridos com a republica do Uruguay sição geographica, poderiamos obter ou tornar o
e com a republica do Perú. porto do Pará um emporio do commercio dessas
No tratado com a republica do Urugrny con- republicas ; mas com os direitos de 30 °/o, e ás
sagrou-se a disposição da entrada livre dos pr> vezes mais, sobre as mercadorias estrangeiras,
78 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
o negociante não poderá procurar o porto do de Matto-Grosso, quando um alarma sem base
Pará para fazer transitar as mercadorias desti appareceu em Cuiabá, todo o mundo procurava
nadas a" Perú, porque, para o fazer, é mister por munições, e dizii-so que não existião. Eu
o desembolso da importancia dos direitos de achava muito necessario estabelecer um. depo
consumo, o não será provavel que com til onus sito rico da munições de guerra naquella pro
procure pelo porto do Pará expedir as suas fa vincia ; os bolivianos têm pretenções muito exage
zendas, ainda na duvida de poder achar mercado radas ; como os antigos papas, pretendem dividir
no Perú. Se nós attentarmos bem para a grando o mundo por meio de seus decretos.
vantagem de commercio de transito, commercio Pedirei ao nobre ministro algumas outras in
que hoje tem sido admittido por todos os paizes, formações. . .
que a França, não obstante o seu systema O Sr. Corrêa das Neves : — A respeito dos
nimiamente restrictivo, adoptou em grande escala papas Y
sem perceber delle o menor direito, estou ,que o O Sr. Ferraz : — Não será a respeito dos papas,
gabinete actual creará e promoverá o entreposto mas a respeito dos leões. Pedirei so nobre mi
o Pará com este fim. nistro algumas informações sobre as nossas fron
O barão Portal, que foi ministro em França teiras com as colonias ingleza e franceza que
em 1816, dizia que o commercio de transito era ficão ao norte do imperio. Julgo conveniente
tão vantajoso para o puiz, em consequencia dos que apressemos a solução de t ies que-tões, em-
lucros que dava á industria dos transportes e á quanto esses terrenos se achão virgens, emquanto
industria das commissões, que elle avaliava que o commercio não correr para aquellàs partes,
100 kilogrammas ou 218 libras brazileiras de porque depois que a p ipulii7ão e o commercio
café trnzião no seu transito pela França 10 % crescer nesses lugares, será impossivel tirar a
de lucro. Achava pois vantagem nesta minha presa nos leões.
idóa, por isso que chama para aquelle ponto Sati?fez-me sobremodo a maneira por que o
um commercio extenso, e por isso que póde nobre ministro procedeu a respeito da navegação
trazer ás margens do Amazonas uma grande fluvial com as republicas do Prata. Mas dese-
população que de ordinario o commercio acar jára que, por todas as medidas que a politica
reta: vantagens que estão muito além .das que póde suggerir, obtivessemos a mesma solução
resultão da cobrança dos direitos de importação.
E demais. pódo o Perú julgar vantajoso di com a republica do»Paraguoy.
minuir os direitos de importação que se cobrão E já que trato dessa questão. fluvial, pedirei
em suas alfandegas, a ponto de que seja mais ao nobre miuistro toda n attenção para essas
lucrativa a importação das mercadorias estran reuniões que se fazem nos Estados-Unidos em
geiras no Perú, e a sua expedição pelas nossas referencia ã livre navegação do Amazonas. A
fronteiras para o Pará do que do Pará para opinião que domina nos Estados-Unidos é,' con
o Perú. Todos sabem que os nossos direitos de forme a expressão do Tocqueville, muito tyran-
importação são excessivos. nica, e hoje atormentada pela febre de con
Procurarei agora chamar a attenção do nobre quistas, vai-se tornando tambem tyrannica no
ministro sobre um ponto que já foi objecto de exterior ; e a essa opinião muitas vezes o go
observações do nobre ministro nesta camara, verno dos Estados-Unidos vê-se na necessidade
como deputado ; vem a ser a questão das nossas de obedecer
fronteiras com a Bolivia no lugar do Jaurú. Um O principio que segue nessa questão o go
decreto foi promulgado pelo governo da Bolivia verno dos Estados-Unidos é o perfeito direito das
creando uma villá em parte cujo dominio e posse nações ribeirinhas quanto á communicáção de
ó contestada por nós, ou de que estamos de seus rios; mas a opinlao publica naquelle paiz
posse. O nobre ministro nesse tempo pediu pro considera que os grandes rios não são mais que
videncias serias, chamava a attenção do go depedencias do mar, e que. assim como esto é de
verno sobre esta materia, lembrava mesmo que uso geral o não póde ser apropriado, tambe:n
as nossas fronteiras de Matto-Grosso não estavão o Amazonas, como todos os grandes rios, póde
bem guarnecidas, não estavão bem municiadas. ser livremente navegido por todas as nações.
Creio que na época actual as nossas circunistancius Esti, porém não ó a solução que tem tido ques
ainda são peiores. tões tans no mundo diplomatico : o direito de
No Jornal dos Debates foi publicado um decreto innocente uso, como se explicão os publicistas,
do governo do Pirú em que se estabelecião dos rios pjlas nações ribeirinhas é um direito
entrepostos em differentes lugares cujo dominio imperfeito que só póde sor exercido mediante
me parece é contestado por nós. Se me não en accordo das potencias ribeirinhas. Assim sus
gano, o nobre ministro nada póde obter do go tentarão a Inglaterra e a Hespanha nas ques
verno boliviano com a missão que para alli tões do Missisipe e S. Lourenço, sendo ellas
mandou. Eu considerei sempre uma grande diffi- resolvidas debaixo desse principio; assim pro
culdade a influencia do general Rosas naquella cedeu o congresso do Vienna sobre a navegição
republica para o arranjo de nossa questão, e de diversos rios da Allemanha. Parece-me pois
esta influencia creio que ainda persiste, e tem fóra de duvida que o principio estabelecido por
tomado um caracter de odio. em consequencia esses cidadãos dos Estados-Unidos que se reunem
da expulsão do mesmo general. Circulão alguns com o fim de promover a navegação do Ama
boatos ; dizem que a missão que mandámos á zonas, não é fundado, não tem base alguma
Bolivia não foi bem recebida, ou foi tratada de segura.
modo que o nosso ministro teve de retirar-se Consta-me tambem que com esse fim o governo
para Venezuela com parte de doente, e «IH por dos Estados-Unidos tem mandado por agentes
muito tempo permaneceu, e as cousas cprrêrão seus explorar o rio Amazonas. Consta-me tambem
de tal maneira que o nobre ministro dos nego que alguem veio encarregado de sondar a opi
cios estrangeiros vio-se na necessidade de acabar nião do gabinet'5 a esto respeito, ou que pelo
com essa missão, e nosso miniátro então em menos ao governo dos Estados-Unidos alguem
Venezuela não seguio aquillo que os estylos diplo prometteu isto fazer. E o resultado desse prin
maticos estabelecem quando se extinguem as cipio, Sr. presidente, foi esses decretos a quo
missões ou se retirno os ministros. me referi, em que o governo boliviano declarou
Já vê, pois, a camara que ha muito que pensar ao mundo inteiro que ficavão francos o Para-
sobre esta materia, que qualquer amigo do mi guay, o Madeira e o Amazonas para a nave
nisterio deve chamar a sua attenção para este gação de todos os povos.
ponto, e tanto mais quanto, apezar dos trabalhos O. Sr. Pereira da Silva : — Esses decretos não
do fortificação que se têm feito na provincia têm feito impressão alguma.

i
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 79
O Sr. Ferraz : — Diz o nobre deputado pelo ção de empregados, sei que em toda a parte o
Rio de Janeiro que esses decretos não têm feito ministro ás vezes faz o que não quer, porque
impressão alguma. . nós mesmos, nossos amigos, tudo nos desvia da-
O Sr. Pereira da Silva : — Até parece serem quella senda que queremos seguir.
apocryphos. Tambem pedirei ainda ao nobre ministro que
occupu as missões de mera representação em
O Sr. Silveira da Motta : — Apoiado. adquirir dados, informações, tudo que possa in
O Sr. Ferraz : — Não são apocryphos ; e a teressar ao melhoramento da nossa agricultura,
' importuni ia que se lhes deve dar deve ser a do nosso commercio, de nossa industria. Não ó
mesma que o nobre ministro deu, como membro isto um vão desejo, mas sim fundado na pratica
desta casa, á elevação de uma villa em um das nações : a Russia encarrega sempre a sua
lugar deserto das margens do Jaurú. missão em França de obter os modelos, as in
Entendo que devemos celebrar convenções com formações sobre os diff trentes processos da in
a Bolivia para o livre transito ou innocente dustria, m ichinas, instrumentos novo? que se
uso de -nossos rios, porque este é o principio offeieci m ao mercado frances, e ao mesmo tempo
fundamental de nossa politica ; -mas que sem de visitar os grandes estabelecimentos industriaes;
nosso accordo isso não póde ter lugar. Creio tanto a propria França nesse sentido dirige as suas
mais necessario que sustentemos esse principio, missões, e esse grande trabalho sobre a historia
quanto á navegação do Paraguay, que o go das instituições de credito rural o territorial na
verno da Assumpção nos tem trancado, torna-se Allemanha é o resultado da missão de Vienna :
eminentemente necessaria para a provincia do e a Inglaterra tambem não deixa de despender
Mitto-Grosso. grandes sommas, e todos esses meios em adqui
Sr. presidente, tratarei agora desse celebre bill rir esse grande fim. ,
de lord Aberdeen sobre o trafico. Sinto a diffi- Creio pois que as nossas missões podião con
culdide que ha da prirte do ministerio em con vergir para esse grande objecto de progresso
seguir a sua revogação, pelo facto de se achar material ; e que poderiamos tirar dessa despeza,
bojo o seu aut r á testa do gabinete inglez ; que em muitos lugares é inteiramente inutil,
mas vejo tambem que nesse gabinete existe lord grandes vantagens. Repito ao nobre ministro, são
John Russel, e lembro-me de suas palavras nessa considerações que faço, não com o liin de hos-
celebre discussão dos direitos differenciaes sobro tilisal-o," mas apenas pam pedir informações, por
o assucar, producção do braçb escravo, que teve que dedico ao nobre ministro sumuia nttenção,
lugar em 1814. o reconheço seus talentos. Quando muito poderá
Então dizia esse estadista inglez a sir Robert figurar isto como uma das minhas esquisitices.
Pell : O Sr. Ministro de Estranoeinos :—Não apoiado.
a Não é a força, não é a intimidação, não são O Sr. Wanuerlet: — Exquisito no sentido de
as tarifas protectoras qua podem obter a cessa sub TOSO.
ção do trafico no BrazJ; é somente a opinião O Sr. Ferraz:— Sr. presidente, entrarei agora
esclarecida, porque embora empreguemos a força na parte interior.
e a intimidação, . embora decretemos tarifas pro- Senhores, o grandi= principio de melhoramonto
hibitivas, o interesse e principio da escravidão material não Um tido de noss i parte a verda
apadrinhado pelo da conservação da independencia deira significação. Suppomos que com estra
nacional fará com que vossos esforços sejão bal das , com banco commercial ou nacional e com
dados. » a colonisação temos tudo obtido ; mas é um
O Sr. Silveira da Motta :— O Sr. Russell foi engano.
quem mandou queimar mais navios. as tres grandes alavancas de que depende o
melhoramento material de um paiz são : as
O Sr. Ferraz:— Lord John Russell está -no communicações por agua e por terra , institui
ministerio inglez, c ninguem póde deixar do ções de bancos, e educação profissional. A agri
reconhecer que tem havido da parte do parla cultura , a industria fabril , o commercio têm
mento brazileiro e da parte do governo o maior tanta necessidade de communicações como de
interesse em reprimir o trafico. (Apoiados.) homens instruidos, ou de homens professionaes
Embora, Sr. presidente, nesta casa se tenha como de instituições de credito. Promovei , se
fallado a respeito do désembarque de Bracuhy, nhores, a colonisação ; mas com que meios po
embora se tenha querido achar negligencia da dem os agricultores haver braços? Precisão elles
fiarte do governo, direi que tenho observado, no de instrumentos, de machinas novas : como as
ugar em que me acho coilocado nesta córto, podem comprar? Como as podem obter?
que da parte do governo tem havido precipita Assim, pois, eu creio que uma das necessida
ção em muitas medidas para conseguir este fim, des mais instantes da agricultura vem a ser —
e até medo de que seu zelo seja taxado de fraco. instituição de credito rural ou territorial. —
Apenas com a simples denuncia de um ou outro (Apoiados.) Dir-se-ha porém que o banco com
individne, talvez interessado em algum desem mercial ou o banco nacional supprirá esse va
barque, tem-so expedido navios em diligencia ; cne. E' um engano: esses bancos basêão todas
e os traficantes têm feito jogo disso, e isto prin as suas operações s*bre o credito pessoal. En
cipalmente se deu a respeito do desembarque de tre nós , como na frança , e como em alguns
Bracuhy. outros paizes , a legislação que existe é um
Sr. presidente, tocarei no outro ponto a que obstaculo para taes instituições,
me referi : representar ao nobre ministro a ne A terra, como diz Dupin, que devia ser a ga
cessidade de duas medidas. rantia mais segura do capital , oflerece fraca
Nós passamos no exterior como um povo ainda garantia , e é a garantia que menos segurança
" não inteiramente civilisado ; ha no exterior uma fornece aos capitaes ; e qual a razão ?
idéa pouco vantajosa de nossa civilisação ; e eu O defeito nasce da nossa legislação sobre o
entendia que nas missões da mera representa dominio, da nossa legislação sobie hypothecas,
ção deviamos empregar pessoas que pelo seu da falta de sua publicidade, e, o que é mais,
tratamento, pelis suus ma ieiras, pela sui lit- da nossa legislação defeitnesa do processo ^ que
teratura, e finalmente pelo seu merecimento, embaraça muitas vezes por longos annos a co
pudessem desfazer a impressão desfivoravel que brança das dividas provenientes de captiaes em
existe a respeito do Brazil. Isto não é mais do prestados.
2ue uma representação que faço, porque sei a Reclamarei do nobre ministro toda a sua efi
ifliculdado com que luta um ministro na nomea cacia e zelo sobre este ponto.
80 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
Seuhores, eu disse que nós tinhamos precisão actos que são filhos de mero engano, contra
do instrumentos e machinas, e não podiamos acções em que não entrou intenção de praticar
obter os moios de havêl-os ; agora ain la direi o mal, a o nosso commercio soffre o peso dessa
mais, e ê que a nossa legislação fiscal emba legislação civil.
raça , íragmenta as despezas da acquisiçãó de E o commercio interno I Oh I Por esse lado as
taes instru nentos. Sobre todos os instrumentos provincias vivem ufna com as outras como na
da agricultura o.s direitos vãj de 2ô a 30 °/° , e ções estrangeiras. Os productos que remettemos
todos nós sabemos que os direitos de importa de umas para as outras pagão direitos de sa-
ção sobre as materias primas , accrescendo a hida o direitos de entrada ; esses direitos vão
despoza dá sua acquisição ao mesmo tempo , a 10 94, e na provincia de Sergipe vão a 20 %',
destroem capitaes. até as iboboras pagão ahi 20 % I
Mas, Sr. presidente, obtenhamos tudo quanto A legislação fiscal maia ferrenha rege certos por
é necessario para melhorar a nossa agricul tos alfandegados ; as limitações que existem a
tura, obtenhamos todos os precisos instrumen este respeito, que forio arrancadas pelo clamor
tos ; qu m os mane Tá? Quem ensinará aos nos publico, são as mesmas que se dão em todos os
sos feitores o m meio desses instrumentos? Os ^aizes sobre os productos de nações estrangeiras.
nosso í agricultores onde beberão a necessaria Senhores, eu pedirei aos nobres ministros, ea
instrucção? Nós não tomos instrucção profissio vós, que reflictão sobre a grande conveniencia
nal, temo-nos contentado unicamente com a in de estreitar cada vez mú-, por meio de um com
strucção classica das materias de direito, de me mercio franc i e livre, e tão livre como o pensa
dicina, etc. mento, 'as nossas provincias, as nossas locali
O Sr- Góes Siqueira:— E essa mesma imper dades. (Apoiados. )
feitissima. Quando na França existia a distineção de pro
vincias estrangeiras e de provincias não estran
O Sr. Ferraz : — Assim, creio que os nobres geiras, gr nides escriptores, como Mellon, Veau-
deputados estão illudidos quando julgão obter bran, o outros proclaniavão o grande principio
todo o desideratum das vias de cosimunicaçáo. do liberdade do commercio interno, nas diffe-
Fallarei agora , Sr. presidente , a respeito da rentes raias da provincia : a França adoptou isto,
industria fabril : ella é nascente entro nós, vivo e o resultado foi o app irocimento de maior pros
debaixo da influencia dos direitos protectores ; peridade e de grandes vantagens commeroiaes.
mas encontra, por uma contradicção que nau Na Inglaterra, diz Adam Smith, a sua immensa
póde ser por maneira alguma justificada , obsta prosperidade provém da grande liberdade que
culos em toda a parte. existe no commercio interno.
Para obter-se a isenção de direito das mate Nos Estados-Unidos o mesmo acontece.
rias primas necessarias para seu alimento , o Recorremos a ox mplos modernos com o que a
maldito systema regulamentar fuz depender esse Austria tem qnerido acabar com a liberdade da
beneficio , primeiramente do uma carta que se Hungria? Os deputados daHespanha dizião na
denomina de fabrica nacional, que custa dinheiro, D ela : « E n proveito de nossa nacionalidade a
que paga sullo, direitos novos e velhos, etc, Providencia ha conservado as barr iras fiscaes
e depois de um requerimento ao thes iuro. Este que nos sepárão da Austria. "O principe Schau-
requerimento vai a informar á piovi ,cia res zemberg a pri ueira cousa que promoveu depois
pectiva, o presidente dessa provincia nnnêa pes di sua entrada no ministerio foi a oxtincção de
soas que possão colher as precisas informações, todas as barreiras fiscaes que separaváo a Hun
volta o requerimento, ha muita demora , muita gria da Austria. A Russia adoptou o mesmo sys
despeza e trabalho para obter-se uma solução tema, procurou acabar com as barreiras fiscaes
favoravel, e esta solução depende do pedidos, que existião entre a Polonia e o seu territorio.
empenhos e solicitações, e ás vezes se consegue O Zoliverein corno obteve essa grande proprie
a custo para um anno ou para dous. dade de que goza ? Tambem por meio da des
Senhores, o que a industria precisa para viver truição de todas as barreiras fiscaes que existião
é de liberdade, que não se impeça a sua mar entre os differentes estados de que se compoz :
cha, que se não colloque na dependencia de favo então, e em virtude de sua composiçao, pare
res, o que a não faça esmolar aquillo que se lho ceu que a Alleminha tornou-se a unica patria
deve, por interesse do paiz, livremente dar. do habitante di Strya, do habitante do Baltico,
(Apoiados ) do hibitante da Prussia, seu paiz é actualmente
Encontra obstaculos por outro lado ; os seus a Allemenha inteira.
productus pagão na exportarão, contra o systema Se pois, senhores, para acabar com as nacio
seguido por lodos os povos, direitos que em al nalidades, o commercio livre é o meio mais forte
gumas pri vincins vão a 20 por cento, e cm ou de que se póde lançar mão, para unir as diffe
tras, como na da Sergipe, a 27 para o exterior, rentes partes de*se grando todo que se chama
o aqui no Rio de Janeiro a 7 por cento, quer imperio do Brazil, para extinguir essas iiiffer-h-
para o exterior, quer para o interior. ças e rivalidades que se observão em differentes
A nossi navegação, a coustrucção naynl se localidades, como não lançar mão daquelle meio
acha sujeita aos mesmos embaraços, o o favor civilisador, que aperta e estreita os laços dannião?
que se lhe tem querido dar não pó le exoneral-a Eu reclamaria pois toda a attenção do governo
do grande peso que lhe verga «s costas Ha ahi pira esse ponto, porque essa é a grande poli-
uma lei, nao muito bem pensada, que dá um pre tiea, a politica necessaria ao nosso paiz (apoia
mio por tonelada ás pessoas que construirem ein- dos) ; tudo o mais, em comparação desse grande
barcuções ; mas sabeis, senhores, qual a vanta objecto, é mesquinho ou do pequena imporían
gem que se colhe ? Os direitos que se pagão pa cia.
las materias primas são maiores, vão muito além . A instrucção publica tambem 6 um meio que
du que aquillo que se dá do premio por cada to S ' considor i consentaneo para obter esse grande
nelada. fim do progreso material e moral do paiz, e
O commercio vive debaixo do peso d.j u na le- eu pedirei ao nobre ministro do imperio que não
y gislaçã i fiscal, que não póde estar ern harmonia se empenhe unicamente nas reformas dos estatu
com o progresso da sociedade. Admira, Sr. pre tos das escolas classicas juridicas e medicas, mas
sidente, que possão haver disposições mais ty- sim na creação do ensino especial ou profissio
ra,. nicas, mais vexatoiias, do que as do regula nal. Como póde prosperar a indu-tria fabril se
mento do porto da cidade da Bahia I Admira nós não temos estabelecimentos onde bebamos as
mesmo qne possa haver legislação que imponha noções necessarias para esses estabelecimentos ?
penas, que fulmine muitas muitas vezes contra (Apoiados.)
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 81
O menino me ctberia dizer sobro a parte da quando ellã não existe é necessario inven-
hygieno publica e pirticular ; nós tambem temos tal-a (Apoiados.)
necessidade de medidas qu possáo tender ao me Um Sr. Deputado : — E' isso que se fez (iíe-
lhoramento da hygiíne ; esta materia, porém toca clamações. Cruzão-se differentes apartes.)
a outros.
Sr. presidente, são estas as opiniões mais inti O Sr. Ferraz : — ... mas parece-me que ho
mas que tenho a respeito di politica do nosso mens como o nobre deputado não se devem
paiz, a ellas sacrifico todo outro qualquer prin contentar com razões tão frivolas para se apre
cipio, on o adio para tempo melhor, o debaixo sentarem em opposição ; eu me reservaria para
deste principio e a vista do que acabo de expen lugar competente, para quando tivesse razões
der eu apoio o gabinete actual. sérias. Senhores , eu não quizera de maneira al
Sr. presidente, agora passarei em revista os dis guma fazer recriminações ao nobre deputado
cursos de alsjuus deputados que mo precederão pela provincia de Pernambuco que na sessão
durante esta discussao, para fazer algumas con passada fallou em ultimo lugar , mas lhe peço
siderações sobre alguns de seus topicos, e lhes que não supponha que tenho tenção de oflen-
peço que se por acaso eu me desviar daquelle tra der-lhe por lhe dizer que tenho motivos justos
tamento e urbani dade que nos devemos como ho para fazer opposição ao actual gabinete lançasse
mens de letras, o como membros de uma assu-nbléa mão em seu discurso de factos tão mesquinhos,
tão augusta o digna de tanto respeito, que elles e que não podem demonstr ir outra cousi mais
uie observem o meu desvio, contando que serei do que a carencia de razões.
prompto a lhes dir a satisfação e corrigir ou re Senhores," o que foi que os nobres deputados
tirar minhas palavras. trouxerão para mudarem a sua opposição ? Foi
Quando, Sr. presidente, se hastêa uma ban a falta da expedição da tabella de custas , de
deira de opposição, quando se leva .ta um depu fixação ou reforma da alçada dos juizes, foi a
tado para combiter um ministerio que esteja no falta da nomeação de vice-presidentes e de offi-
poder, deve primeiramente medir o grande alcanca ciaos da guarda nacional para a provincia de
que suas palavris podem ter (apoiados), não por Pernambuco Ml O nobre deputado, Sr. presi
que possa offender aos ministros, mas porque se dente, com um talento tão' distincto omo tem,
suas palavras forem destituidas de provas podem se tem ju-tiça deve declarar a razão do seu
perder toda a força moral o seu discurso e a sua proceder. (Apoiados.) As razões do nobre depu
bandeira (apoiados), o inutilisar seu empenho ; tado não são essas que olle allegou , sabe o
pois, eu admiro que o m bre deputado pela pro p iz inteiro quaes são essas razões : são , por
vincia de S. Paulo, tão distincto como nós sa exemplo , a falta do consideração para com a
bemos, apresentando- se em opposição no minis provincia de Pernambuco , a falta do promoção
terio passasse, como passão as borboletas sobre de seus melhoramentos materiaes....
as flores, uma revista sobre seus actos sem O Sr. Sayão Lobato:— Talvez não tenha ami
apoiar com provas ou factos as suas palavras I... gos no ministerio. (Apoiados.)
(Apoiados.) O Sr. Araujo Lima: — Isso e amesquinhar as
O Sr. Nebias : — Tambem ainda não vi as ra questões ; é preciso avaliar aos mais com gene
zões que o nobre deputado tem para apoiar o rosidade.
ministerio no discurso que está pronunciando. O Sr. Ferraz : — a falta de recompensa
O Sr. Ferraz : — Quando não fossem outras, aquelles que expuzerão a sua vida e fortuna
são meus imigos, * não preciso por conseguinte para sustentar as nossas instituições naquella
dar a razão neste caso de meu pro.ceder. (Apoia provincia. . . .
dos.) O Sr. Auousto de Oliveira: — Existe muito
Permitta-ine o nobre deputado que lhe diga, mais; existe uma hostilidade feita ao partido por
refiro-me agora á parto do seu discurse que diz meio da Imprensa. (Reclamações.)
respeito ao ministério da marinha. O nobre de
putado notou unicamente a falta de carvão em Um Sr Deputado: — Tambein forão claros.
um vapor e a perda do outro (o vapor Aff»nso); (Trocão-se alguns apartes.)
eu aceito os principios do nobre deputado e
acenso o nobre ministro da marinha por não se O Sr. FtRiíAZ : — Eu responderei ao nobre de
achar na tolda do navio, por não se achir na putado.
bitaco la, por não dirigir o rumo com acerto, A vespoito da falta que encontrão da execução
por não pór a inachiua a meia força, por não dessa lei que autorisa a tabella de custas não
pairar, ou não collocal-o a capa, por não reconhe é defeito do ministerio, é sim defeito da camara,
cer a terra, e o perigi ; mas tambem mepermitta pirque ella joga sobre o ministerio tudo, como
o nobre deputado que pelos mesmos principios se olle tivesse tempo para tudo fazer, ou se elle
aceuse o ex-presidente da provincia de S Paulo pedisse.... (Apoiados J
pelos successos que tiverão lugar em S. José Uma Voz :— Tem pedido.
aos Pinhaes por occaslão das eleições e pelo san O Sr. Ferraz :—O principio aceito de confiança,
gue ahi derramado o principio de preguiça é que faz jogar sobre o
O Sr. Nebias : — Peço a palavra para res ministerio materias que devião ser decididas e
ponder.' feitas aqui....
O Sr. Ferraz : — Eu não quero accusario no O Sr. Bandeira de Mello: — Mis o gabinete
bre deputado, engana-se se pensa ass m . por aceita o onus coin muito gosto, e o tem pedido.
que estou convencido que o nobre deputado não (Apoiados }
podia prevenir o que aconteceu , e se assim me Um Sr. Deputado-— E quem não aceitará con
exprimo é porque quero fazer applicação do seus fiança ? 1
principios afim do mostrar a injustiça de sua
asserção (apoiados) , para mostrar a inconvenien O Sr. Ferraz : — Eu abrirei aqui um periodo
cia de se estabelecer em opposição fundado em para responder ao nobre deputado pelo Rio de
taes factos sem pensar no mal que dahi vinha, Janeiro.
por não poder, baseado em provas, justificar esta Como é que o nobre deputado defendendo os
opposição. (Apoiados.) outros miuistros e os elogiando, só so pegou
Eu creio, Sr. presidente, que no systema re corpo a corpo com um ? Parece me que o nobre
presentativo é tão precisa a opposição, assim deputado tem razões de amizade o de inimizade. ..
como é o- pão para a boca ; e creio mais que (Reclamações.)
tomo 3. 11
85J SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Sayão Lobato: — Está enganado ; se fiz lado o que occorreu. Cochrane chegando a Lon
isto foi pelou principios que ap .utei. dres registrou o seu contracto; a lei ingleza,
O Sr. Ferraz : — Nós fallamus perante uma outro registrado u-n contracto, não admitle que por
canina que att-ntu nos escuta, qu - prescruta os mesmoqualquer da mesma natureza e sobre o
possa servir do base a qualquer operação
nossos pensam entos, que pensa e que dá oeso a de credito,
tudo aquillo que nos a |ui expendemos (apoiados,; Apresentou-seá formação de qualquer sociedade.
Cochrane ao nosso ministro de
o nobre deputado, incommolado em sua sau le, baixo da direcção de um habii corrector, o Sr.
e podendo o esforco que fez causar- lhe mina, Hashwood.
pensa acaso que não se notará t r desprezado
tudo isso para só tratar de um ministro, e do quem Depois um grande capitalista, o Sr. Hope, de
um unico objecto, com a 'força com que o fez? nosso oministro nobre deputado tratou , exigio que o
declarasse se aquelle contracto
O Sr. Sayão Lobato : — Para tratar de um ob era valido; o nosso .ministro deciarou por es-
jecto du importancia para o paiz. cripto -ue sim, porque tiuha sido celebrado em con
O Sr. Ferraz: — O nobre deputado revelou nas formidade da lei, creio que de 18 de Agosto de
sU is palavras, tornou transparentes as suas ra 1828; a este respeif) Co hrane consultou diffe-
zões quando disse : « o nobre ministro não com- rentes advogados, e todos forão da mesma opi
prehendeu a lei de 2d de Junho de 1852, e ao nião. Nem carecia dar tratos a imaginação, nem
mesmo tempo repelllio tudo que não fosso essa átr icto sciencia, para consider ir-se perfeito um con-
lei, o que não tinha outro fim senão fazer ca feito em consequencia de urna autorisação
ducar.e co,, tracto de Cochrane e entabolar outro dada ao governo., Participou o mesmo ministro
de sua affeição ; » e o nobre deputado não tinha todas as occurr.-uci is, todas as esperanças de
outro fim senão o que todos nós temos, que é feliz successo dessa empresa do ministro do im
ver sustentadns , executadas todas as nossas perio d'í então, o Sr. visconde de MonfAlegre,
idéns, todas us nossas vontades ... este senhor, depois de ter passado essa medida
que perturbou tudo, que ia impossibilitando a
O Sr. Sayão Lobato: — O nobro doputado in realisação desse gra ide objecto , esse projecto
terpretou tudo que eu disse com o seu systeuia que o nobre deputado enunciou nesta camara,
de amizade e de inimizade. ein consequancia dos grandes estudos feitos por
O Sr. Ferraz : —Eu direi que o nobre deputado homens de grande saber, de grande patriotismo,
interpretou tudo pelo seu systeuia de odios e de grande merecimento: o Sr. visconde de MonfAle
de vingança gre, digo, declarou que estava caduco o contracto.
Ú Sr. Macedo houve de replicar, demonstrando
O Sr. Sayão Lobato: — Peço a palavra para que o direito de Cochrane era direito que estava
responder. acima de tudo, era direito perfeito que havia de
O Sr. Ferraz: — Senhores, permitta-me a ca dir lugar a indemmsações, a reclamações e a
ma a que eu persista neste pmtoedeixeo mais. embaraços com o governo iuglez, como outr'ora
Quando veio a esta ca nara o contracto cele deu a questão do Young, e como á Grecia deu
brado com o nifjlez Cochrane em 1S49 pelo vis a de D. Pacifico.
conde de MonfAlegre, na praça do Rio de Ja Nesse tempo estava creio que já na adminis
neiro, na propria provincia desse nome, apre- tração o nobre ministro do imperio, o qual refle-
sentárão-so idéas de novas empresas sobre o ctio sobre essas razões, e não respondendo logo
mesmo objecto. Us Srs. Waring e Davis apresen- ao Sr. Macedo sujeitou tudo ao conselho de es
tárão-sa com iguaes pensa nentos e emb.ircárão tado e a vista de t lo fortes razões deu as suas
para Europa, onde já se achava o Sr. Cochrane.... iustrucções, e tudo que tem corrido sobre este
Hom. ns (usando da palavra do nobre deputado), negocio em Londres e o necessario effeito dessas
homens de muito merecimento, de grande patrio instrucções.
tismo, trabalhárão com todo o afinco no esto lo Perguntarei agora o nobre deputado . quem per
de taes objectos, escreverão, apresentárão a de turbou a operação? Foi por ventura o governo,
putados e a ministres memorias, e então no meio ou
de todas estas circunistancias nasceu nesta casa cas i foi essa medida imprud nta iniciadi nesta
que não respeitava um direito basea lo em
uma emenda substitutiva ao projecto que appro- um contracto celebrado em conformiudade da
vava o contracto de Cochrane. Esta emenda sub
stitutiva não póde conseguir preferencia na sua legislação vigente'...
discussão, e por consequencia o projecto afinal O Sr. Sayão Lobato:—A medida deixava toda
cahio sob os golpes do nobre deputado e- de a faculdade ao governo, quj podia fazer tudo..._
outros seus" collegas, e o resultado foi a apre O Sr Ferraz: — Se concedeis que o governo
sentação dessa mesma emenda substitutiva como podia fazer tudo, como o censurais só porque....
projecto original, que afinal passou como lei.
Disse o nobre deputido que o desazo, a imbe O Sr. Sayão Lobato : — Porque fez tudo em
cilidade, permitta-se-mo a expressão, do ministro um sentido máo.
do imperio ião fazendo com que esse grande O Sr. Ferraz : — No sentido que o nobro de
objecto, a estrada de ferro, inteiramente ba putado desejava, no sentido de suas .idéas, con
queasse. Conceda-me o nobre deputado que eu, formo as suas affeições ? 1 I
escudado com uma grande autoridade, autoridade O Sr. Sayão Lobato : — Eu responderei em
a que o nobre deputado recorreu nesta discussão, tempo.
o nosso ministro em Londres, lhe diga que o
procedimento do nobre deputado nesta camara, O Sr. Ferraz: — Ha cousas que se não podem
fazendo caducar um contracto que sómente de responder, est io muito calvas, estão muito claras;
pendia da sua approvação em dous artigos, é o nobre deputado aceusa o nobre ministro por
•1 ue apres niava ante o eslrangeim o governo não ter lançado mão da concurrencia. e ao mes no
o paiz como incapaz de poler sitisfazer ans tempo diz que a concurrencia tinha matado tudo.
seus empenhos ; esta consideração alheava tolas O nobre deputado me pareco qm não tem idéas
as in di las de credito que por veníura -m bene precisas sobre a concurrencia. O principio da
ficio dessa grau le empresa se puJ.-sssem obt*r. concurrencia ó o mais salutu- possivel, quando
Esse nosso digno ministro, cujos conhecimentos ost i concurrencia pó le efivetuar-se , quando a
juridicos ninguem póuv contestar, foi além do -materia sobre que ella versar póde offerecer
que desejava o nobre deputado, e affirmou que lucro ao capitalista especulador (fallo em espe
a camara tinha-se torn ido omnipotente , tinha culador no termo conunercial). A estrada entre
usado de uma tyrannia. Vejamos agora por outro a provincia do Rio de Janeiro e as provincias
SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 83
de Minas e S. Paulo offerecia vantagem e lucro questão para Lendres, porque alli se offerece
igual ou maior, talvez a 28 %, que oifcrece a de m íior garantia de successo, qual é a accusação ?....
Cuba; suas circunistancias até são melhores; o O Sr. Bandeira de Mello : — O governo, que
principio, pois, da concuriencia neste ponto era já tinha feito um contracto, devia respeital-o.
principio de summa importancia. Houve concur-
rencia, houve propostas, mas o nobre deputado O Sr. Ferraz : — Bem diz o nobre deputado ;
não queria que desse a empresa aos Sis Ottoni creio em suas palavras, piesto-lhe todo o assen
e C, porque as vantauens que offerecião por timento, como profissional n i materia.
exageradas erão fantasticas ; não queria que se Disso tambem o nobre deputado que não po-
désse a Cochrane, porque o seu contracto tinha di i haver grande successo om uma estrada que
caducado ; a quem queria pois que se désse ?... não tive-ise por pónto extremo uma grande po
O Sr. Sayão Lobato: — Não disse semelhante pulação. Perdóe-me o nobre deputado que lhe
pondere que esie seu principio falha, por exem
cousa. plo nus Èstados-Unidos...
O Sr. Ferraz: — Está no seu discurso, ahi O Sr. Sayão Lobato : —Este .meu principio
diz o nobre deputado que as vantagens offere- não foi tomado na generalidade em que o nobre
cidas pelos Srs. Ottoni e C. erão fantasticas , deputado o toma.
entretanto erão as mais vantajosas. O nobre
deputado disse igualmente que não tinha havido O Sr. Ferraz : — A' vista desta reclamação
verdadeira concorrencia da segunda vez, quando cedo, porque não quero mais que o esclarecimon-
dos actos e annuncios consta que a estrada foi to do negocio.
posta a concurso. O nobre deputado ainda cen Por uma não interrompida experiencia na Eu
surou o nobre ministro porque delegou essa ope ropa conhece-se, segundo o conde Daru, grande
ração ao nosso ministro em Londres.... engenheiro francez, que os pontos intermedios
O Sr. Sayão Lobato. — Não censurei tal, antes de uma linha sempre produzem mais lucro do
dei 'parabens. que os pontos extremos, por uma razão muito
facil de apreciar-se, e é que nos differentes pon
O Sr. Ferraz: — O nobre deputado disse que tos intermedios ha estreita ligação, ha frequentes
ao nobre ministro do imperio tinha sido precisa communicações que incessantemente se augmon-
a direcção do nosso ministro em Londres para tão entre as familias que os habitão. Estis
poder lazer alguma cousa ; que se a qstrada so relações tornão-se mais intimas, estas commuui-
fizer ó devida sómente aos esforços do nosso mi cações muito mais frequentes, pelas facilidades
nistro em Londres. Senhores, eu creio que a em que creão as estradas de ferro ; entretanto que
presa se effoctuará, não do modo porque o nobre nos pontos extremos o mesmo não s« dá, e ás
deputado deseja, não do modo porque muitos a vezes só são frequentados pelos agentes dos cor
Querem, mas do modo o mais conveniente : a reios o pelos mensageiros do governo. E os Es-
direcção que devia servir de cabeça á associação tados-Uuidos não ofl.irecem aos nossos olhos a
que se creasse em virtude dn contracto de Co maior prova disto ? Eu desejára que o nobre
chrane declarou francamente que não importava deputado dissesse a razão...
com o empreiteiro, que aceitava qualquer em que o O Sr. Sayão Lobato : — A linha da lei de 26
governo confiasse. Este facto, esta vantagem por de Junho deve ser preferida pela razão do que
sem duvida não é um effeito partido desta ou comprehende immensas povoações.
daquella individualidade, ó o' effeito necessario
do credito do governo do Brazil na Inglaterra O Sr. Ferraz : — Comprehende immensas po
e em toda a Europa; ó cffeito tambem , é ver voações I Mas qual é a linha que o nobre de
dade, da habilidade que teve o nosso ministro putado quer ? Será a do engenheiro Chapinan?
em pór um paradeiro ao mal , resultado dessa O Sr. Sayão Lobato : — Pois não temos o
medida iniciada pelo nobre deputado, em des conhocimento das localidadas ?
truir as consequencias desse acto que fez caducar
um contracto devida e legitimamente celebrado O Sr. Ferraz : — O conhecimento das locali
pelo governo. dades por nós pódo inteiramente falhar ; porque
pódo haver razões para que uma linha não
O Sr. Sayão Lobato : — Faz-me muita honra. possa seguir por todos esses lugires.
O Sr. Ferraz : — Sim, estabelecida a questão O Sr. Nebias: — Já temos a linha estabeleci
na sua genei alidade faz honra, mas est ibelecida da por lei. .
a questão sobre a sua verdadeira base, conside O Sr. Ferraz:—Mis quaes os trabalhos sobre
radas as circumstancias que lhe lerão origem, e nue foi decretada ? Serão os do engenheiro
as suas consequentes, como seja a de destruir Champmam ?
um contracto celebrado conforme á lei, creio que
não lhe póde honrar, pelo menos tiuha-se esque O Sr. Wanderlev: — Nem a lei precisou linha
cido do grande principio de direito, que por uma alguma, apenas fallou de provi. .cias.
lei se não póde dissolver um contracto feito na con O Sr. Fiirraz : — Diz muito bem o meu nobre
formidade da legislação do paiz amigo, a lei não precisou linha alguma, apenas
O Sr. Sayão Lobato: — Em conformidade das fallou de provincias (apoiado?! ; e o governo
leis do paiz? ' está mais habilitido, conforme as informações
O Sr. Bandeira de Mello : — Em virtude da pnticas que colher, para determinal-a, do que
lei podia o governo sustentar o contracto. nós outros que muitas vezes nos lev imos por
informações pouco exactas, informações dictadas
O Sr. Ferraz : — Diz o nobre deputado, que pelo interesse
nestas materias é profissional, que o governo O Sr. Sayão Lobato : — A natureza do solo já,
podia sustentar o contracto que a lei destruio ou é conhicida.
quiz destruir...
O Sr. Bandeira de Mello : — Não quiz ; O Sr. Fhiraz : — O nobre deputado conhece
autorisou ao governo para sustentar a sua firma. profissionalmente o solo ? Eu não sou engenheiro,
e portanto não posso apreciar se o solo serve
O Sr. Ferraz : — Então qual é a questão ? para uma estrada de ferro ; e uma lei que sem
Se a lei autorisou francamente ao governo para prévio exame, sem plano, determinasse que a es
sustentar o contracto, se dentro dos limites da trada passasse pela casa de fulano e pela extrema
lei o governo o celebrou conforme lha pareceu de sicrano, por tal ou tal povoação, seria uma lei
melhor e mais justo, se remetteu o desfecho da inteiramente destituida de razão. (Apoiados.)
84 SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853
Sr. presidente, o nobre deputado tambem accu- siderou-se que ( permitta-me o nobre deputado
sou ao ministerio porqae em um dos seus edi- que use das suas expressões) ora pr 'ciso ac ibar
taes estabeleceu o reD ;ixamenlo i la tarifa quando com ussns intrigas mesquinhas que se inovêráo
o juro excedesse do 12 % ; o então exclamoui" Oh I nesta córte, e que já causaváo tédio e nojo, e
é assim que quereis que os nossos capitaes con- que p di io peiorar a s irte desta empreza ; de-
virjao para essa grande empveza ?» po s que a lei imcia la pelo nobre deputado póz
O Sr. Sayão Lobato : — Está enganado, não problematica a realisaçãu dos contractos celebra
foi por isso. Censurei as condições novas que o dos pelo governo, é que pareceu indispensavel
Sr. ministro tentou estabelecer para execução da a garantia de 4 ou 5 % de juros, o se não puderáo
lei, sendo uma delias fazer que a empreza fosse obter condições mais vantajosas. Pelo receio de
de fundos perdidos. que, á vista de tantas dificuldades, podi i succe-
uer que não houvesse quem quizesse contraetar
O Sr. Ferraz : — Isso precisa de explicação, sem esta condição, sem esta garantia, é que es-a
porque podemos não saber o que sejão fundos medida foi aconselhada. Foi isto o que vi da par
perdidjs. ticipação do"Sr. Sergio, pessoa a quem o nobre
O Sr. Sayão Lobato : — Ter a companhia de deputado e eu muito respeitamos.
perder seus capitaes no fim do prazo. Mas, no meio de tudo isso, poderá alguem
receiar o exito da empreza ? Eu não receio, por
O Sr Ferraz : — Bem, Vou ahi. que não me importo com o empreitiiro, só me
Senhores, ha ama grande vantagem em que os importo com a realidade da mesma empreza.
capitais do paiz não se immobilisem nas estradas (Apoiados.)
de ferro, porque nossos capitaes são limitados e O Sr. Sayão Lobato : — Deve-so importar com
faltarão para nossa industria, que tambem deve o omprezario, porque se a primeira estrada não
prosperar. A grande vantagem está em chamar der lucro ninguem quererá mais emprohender
os capitaes estrangeiros. (Apoiados.) - estradas de ferro no paiz.
A garantia de 5 ou de 4 % ^e juros, a provi
dencia de rebaixar a tarifa quando o lucro exce O Sr. Ferraz :— Fallo d'aquelles que fizerão
der de 12 %, são medidas mui importantes ; propostas ao governo, ou sejão homens de grande
porque por ellas se presta ao commercio, ao paiz saber e merecimento, ou Cochrane, ou outra qual
e á população, meios mais commodos de commu- quer pessoa. Seja quem quer que fõr que faça a
nicação. (Apoiados.) proposti, offerecenio garantias suflicientes em
O Sr. Sayão Lobato : — Essas providencias são que possamos repousar nossas esperanças que se
da lei. lhe dê ; pouco importa saber quaes sejão essas
pessoas, só me importo com o exito da obra;
O Sr. Ferraz : — Mas o nobre deputado tam o credito do Brasil é grande, mo inspira muita
bem fallou nisso. confiança sobre o bom exito dos capitaes que a
Os homens profissionaes nesta materia, entre levantarem.
elles Robert Kennards, que tem sido incumbido O nobre deputado fallou tambem ácerca dessa
de iguaes em prezas na Belgica, na Azia, e na companhia de Mauá, e usou da palavra espe
propria Grã-Bretanha, assentão que se deve dis culações em máo sentido. Sinto grande dificul
pensar a garantia de juros pela gran le vantagem dade em tratar desta materia, porque as vozes
de arred ir se toda influencia do governo, todos sabidas daqui deste circulo podem muito bem
os seus exames nas operações da companhia, por peiorar a sorta díssa empresa; mas se a camara
que esses exames demorão o progresso da em- me permltte, direi que, em vez de autorisar
preza, e então propõem que a tarifa marque. o uma especulação, esse novo contracto a que o
médio e o minimo da portagem, e exigem maior nobre deputado se refere emp dorou a sorte
augmento de annos do privilegio. dessa co npanhia, isto é, actualmente, porque
Vejamos agora o outro ponto, e 6 esse de que para o futuro pódo dar grandes lucros. O mes
quando se acabar o tempo volverá tudo ao governo. mo nobre deputado disse que talvez essa em
Qual seria o resultado de restar á companhia todo presa não se pudesse realisar.
trem, todo o material da estrada? Poderia ella O Sr. Sayão Lobato : — E' irroalisavel.
impór a lei ao governo, elevar a tarifa como qui-
zesso, obrigar-nos a condições onerosas, porque O Sr. Ferraz : — Não sei, não sou engenhei
ella se achava na posse do unico caminho de ro. Creio que é realisavel com outras condições,
ferro que teriamos, e dessa medida por ventura com maiores capitaes ; e digo que não foi uma
poderia resultar grandes desvantagens. Para pre especulação, porque, senhores, o resultado polo
venir pois isso, era preciso que o governo estabe principio de que os lucros so tornarião mais
lecesse essa condiçao, a qual não é por certo remotos tem sido que a* suas acções, que tinhão
filha delle, é filha das propostas que lhe forão obtido até 100$ de premio, baixárão, estão ao
feitas ; não é calculo do governo, é base das pro par, e talvez não tenháo compradores. Que espe
postas que lhe forão offerecidas ; e portanto o culação pois podia ser esta no sentido que o
governo não deve ser responsavel por aquillo nobre deputado trouxe ?
que os empreiteiros julgão que devem offerecer. O Sr. Sayão Lobato : — Eu disse que seria
O Sr. Wanderlev : — Isso é muito util, e não sómente u na especulação, se realmente tinha-aa
prejudica aos empresarios, porque estes durante em vista a execução da lei de 26 de Junho,
o tempo do privilegio podem amortiz ir o capital porque é incompatível com a execução dessa lei,
duas ou mais vezes. visto que. . .
O Sr. Sayão- Lobato : — Entretanto o Sr. Sprgio O Sr. Ferraz (ao tachygraphof: — Ahra pa-
asseverou que era impossivel realisar a empreza renthesis, e escreva o discurso do nobre de
sem a garantia de juros. puta lo.
O Sr. Ferraz : — Como está enganado o nobre Senhores do que tenho dito já se vê que o
deputado I A primeira p irticipação do Sr. Sergio negocio não era para o nobre deputado faltar do
era a da proposta de Roberto Kennards, uma modo que fallou, usando dos termos — embaça-
das pessoas mais influentes na direcção. della, especulação, e outros que taes. (Apoia
dos.)
O Sr. Sayão Lobato : — Não prevaleceu o seu Senhores, eu disse que o nobre deputado tinha
voto. rebaixado a discussão, e não que o objecto do
O Sr. Ferraz: — O Sr. Sergio participou a seu discurso, as estradas de ferro A maneira por
possibilidade desta base ; depois porém que con- que fallou, as expressões dur is qua empregou,
-

SESSÃO EM 6 DE JUNHO DE 1853 85


os termos que referi, de que lançou mão, por mesmo ao nobre deputado, cujo credito eu zelo ; o
certo amesquinhárão a discussão. que se dirá do nobre deputa lo ? Pois agora é que
A discussão do voto do giaças, Sr. presidenta vos lembrastes do fazer opposição ao ministerio
(permitla-ine V. Ex. que eu use de algumas por este motivo ?
palavras proferidas por V. Ex. em outra época), O Sr Bandeira de Mello: — Agora é que o
é unia rica tela onde os artistaí costumão Sr. ministro confessou em o seu relatorio.
assentar os seus primores, e os flus mareados,
a linha nu lãa suja, aquillo que a urbanidade O Sr. Ferraz:—Perdóe-me, eu zelo o credito dos
repelle e a boa educacão mio per nitte, não de- nobres deputados.
vem nessa téla ter cabimento. (Apoiados. Muito O Sr. Auousto de Oliveirai —Naquelle tempo
bem .') eião declamações di opposição, dizia o governo.
Sr. presidente, o meu discurso foi alterado
pelo aparte do nobre deputado Agora permitiu O Sr. Ferraz (dirigindo-se ao Sr. Augusto de
V. Ex. que cu faça algumas reflexões sobre Oliveira): —Eu não desejo que o nobre deputado
essa emenda que hoje foi apoiada. se zangue coinmigo.
Senhores, consideremos a emenda ; o que ella O Sr. Auousto de Olivuira:—Nã me zango, fallo
é ? A revisão ou a destruição de tudo o que mais alto para s -r ouvido.
está feito pelo governo e para que o governo O Sr. Ferraz: —Eu desejo que entre amigos se
está devidamente autorisado. Admira p is que cruzem armas. Esse pensamento de que tudo o que
contra o bom senso, infringindo todas as regras, diz a opposição é banalidade é que perde aos no
e despresando todas as conveniencias, o nobre bres deputados, e perdeu ao Sr. ministro quando
depuLado se animasse a assignar e apresentar defendeu aqui os negocios do arsenal.
essa emenda censurando um contracto que não Senhores, é preciso examinar os factos, exhibir
está feito, um centracto que ainda está na massa, as provas. Porque os nobres deputados havifto
nos seres -possiveis. (Apoiados.) considerar como declamações os factos da falta de
O Sr Nerias : — Mas sempre a emenda deu fardamento denunciada pela opposição, quando
algum incommodo. era attestado por ufticio* do nobre general o
O Sr. Ferraz : — Faço justiça ao caracter do Sr. marquez de Caxias, e referido mesmo pelo vice-
nobre deputa lo, e por isso creio que, se pea- presidente da provincia do Rio Grande o Sr. de
sasse nus effeitos des-a emenda, de certo não putado Oliveira 13 lio ? Pias não merecia conceito
teria o incom modo de apresenial-a. o que referia o nobre general o Sr. marquez de Ca
'. O. nobre deputado o que quer é embuaçar xias, o o Sr Oliveira Bello? Já se vê pois que
qualquer contracto que por ventura se possa aquelle que lança mão de factos que despresou não
fazer ; o nobre deputado o que pretende com póde ser bem crido na opini i0 publica, e eu desejo
esta sua emenda e resfriar o ardor com quí os quí a nova opposição seja uma opposição inteira
capitalistas inglezes se entregão a esta grande mente parlamentar.
empresa ; o nobre deputado o que pretende é O Sr. Auousto de Oliveira:—Apoiado, e não
frustrar tudo quanto póde fazer uma empresa de amizades.
mais prospera : e por que ? Porque, segundo
diz o nobre deput ido, não se comprehendeu a O Sr. Ferraz:—0 nobre deputado parece que
lei de 2o' de Junho. E admira como o nobre quer "ffender-mo, ou dar-me uma alflnetida com a
deputado se acha tã i encarnado nestas idéas, palavra—amizade 1
idéas que não podem ser senãg filhas de um O Sr. Auousto de Oliveira: —Não apoiado.
despeito mal cabido I Eu não desejava ver o O Sr. Ferraz: —Senhores, a amizade ó que nos
nobre deputado, cujos conhecimentos aprecio, une e estreita ; essa amizade foi que fez com que eu
cujo caracter eu louvo, tão encarnado nestas nestes bancos tomasse a defesa dos nobres- depu
exagerações. tados de Pernambuco (apoiados) ; a amizade ó que
O Sa Nebias : —Não dev fazer repaio ; já fui me faz muitas vezes tolerar os desvios d is meus
enthusiasta destas estradas em 1851. amigos, porque e atendo que no nosso paiz não ha
O Sa. Ferraz: —E o nobre deputado não tem es-e grande numero de capacidades com que se
sido "enthusiasta do ministerio actual? De que p -ssão preencher bem todos os cargos publicos, e
medidas do actual gabinete o nobre deputado não que pequenas rixas se devem disfarçar.
te n sido enthusiasta até o anno passado? Até E, senhores, o grande Conning, no parlamento
foi delegado deste ministerio, e nesse tempo, me inulez dizia: «Eu tomo por norte o seguinte prin
parec'. foi que se derão todas estas cousas que o cipio : — fi lelidade aos meus amigos. » E não foi
nobre deputado combate. reparada esta sua phrase ; e entretanto, nós que
s Sr. presidente, eu voltarei a algumas considera f zemos tudo por amizade, que sustentamos o mi
ções em qu : fui interrompido. Eu desejára que os nisterio por amizade, ij que havemos de censurar
nobres deputados baseassem as suas aceusações, ao deputado que francamente diz que dá o seu
não anda sem pela rama. apoio ao governo porque entre os nobres ministros
O Sr. Wanderlev: —Apoiado. se achào amigos em quem deposita grande con
fiança 1 ?
O Sr. Ferraz: — Esse facto que se dá na presente Um Sr. Deputado: —E' um sentimento nobre.
discussão pó le tirar essa força moral de que uma
opposição nascente precisa ; e porque honro-me O Sr. Ferraz: — Prescrutai todas as acções dos
com a amizade dos nobres deputados não posso homens nestes ultimos tempos, e vêde se não foi a
suppór que nao tenháo motivos sufficientes para amizade que lhes sérvio de base ; porque fallais
um tal passo, receio que essa força moral lhes a respeito de vossa provincia 1 Não é porque alli
falte. reside a vossa familia, vosso pai, irmãos, parentes
O nobre doputado pela provincia de Pernambuco, a amigos ?
meu amigo, dirigio-se ao nobre ministro da guerra O Sr. Auousto de Olivuira: —E' porque os ne
e o aceusou pela falta de fardamento que sentio o gocios publicos são alli mal administrados.
exercito quando em campanha. Creio que esta ma
teria é velha: esta materia devia ser ponderada O Sr. Ferraz: — Estais enganado; ó porque
pelo nobre deputado nas sessões anteriores. esses negocios affeetão directamente vossos pa
O Sr. Wanderlev: —Apoiado. rentes e amigos. Senhores, é este sentimento
nobre — a amizade — que os une, os enraiza
O Sr. Ferraz' —Eu faço esta reflexão não em re com as localidades, é a base mais verdadeira
lação ao nobre ministro da guerra, mas em relação do patriotismo (apoiados), é osge sentimento que
86 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
os faz vir para estes bancos promover os inte O Sr. Aprioio : — E muito attendidos.
resses di sua provincia. O Sr. FerIraz : — O mesmo diijo a respeito
Sr. presidente, a hora está muito adiantada, dos melhoramentos materiaes de outras provin
e eu teria muitas considerações a fazer ; mas cias. (Apoiados.) Referirei ainda um facto rela
permitta a camara que eu discorra alguma cousa tivo á provincia de Pernambuco: a administração
sobre a centralisação de que fallou o nobre do Sr. barão da Boa-Vjsta foi grandemente
deputado por Pernambuco. proficua aos melhoramentos materiaes dessa
Centralisação, defiuio bem o nobre deputado, provincia. (Apoiailoi.) Mas, senhores, estes males
no sentido philosophico é a harmonia entre não são do systema, são dos homens.
todas as partes de um todo das .quaes uma é Seja-me ainda permittido, Sr. presidente, fazer
o coração e a cabeça; mas no nosso paiz muitas uma reflexão com a autoria ide de um aistincto
pessoas imbuidas nas doutrinas dos escriptores escriptor (Benjamin Oonstant). O verdadeiro pa
francezes pareco que querem applicar taes dou- triotismo, é aquelle que nasce da localidade; em
trinás ao Brazil, quando as circumstancias não toda » parte se achão os prazeres da vida so-
são as mesmas. Na França a organisação mu ciaes, mas não podem rehavor as reminiscencias,
nicipal ó falha e mesquinha, embora adoçada os costumes das localidades ; cumpre enraizar
em 1831 e 1887. Na Fiança não existe esse re os homens aos lugares a que os ligão as lem
gimen de provincias que nós temos ; alli tudo branças costumes e tradicçoes ; para este fim se
o centralisação, e entre nós predomina mais a conseguir é mister dar toda a importancia com
descentralisação. Nós temos as assembléas pro- pativel com a ordem publica a estes mesmos
vinciaes e as camaras municipaes; as as-em- homens n is seus municipios, nas suas com ircas,
bléas provinciaes estão incumbidas de certos nas suas provincias. (Muitos) apoiados.) E' ne
negocios importantes, e as camaras municipass cessario que se estendão todos os recursos,
do outros ; na França isto não acontece, e o todas as commodidades a todas as partes desse
que dahi resulta ó o quadro que traçou Corme- mesmo todo sobre que versa o grande systema
nia, a que se referio o nobre deputado. Paris, da centralisação, e neste ponto ainda responderei
é tudo, Paris é a cabeça da França, as provin ao nobro deputado pelo Rio de Janeiro que en
cias são. os pí's. Os pés se inovem sob a di cetou a discussão do projecto de resposta á falia
recção da cabeça que os conduz. Paris regor- do throno.
gita de pletorio intellectual ; as provincias, as Dis-e o nobro deputado que a unica estrada
cidades apenas por intervullos luzem pelo reflexo que considerava sensata era a estrada que po
que de Paris recebem. Os pés desse todo, as dia unir as communicações entro as provincias
províncias, emquanto Paris vive no fausto e na do Rio do Janeiro, S. Paulo e Minas, direi ao
grandeza, se submergem no carvão, nas tintas, nobre deputado que se assim opinou foi porque
no melasso, e no oleo de suas f ibricas. Paris tomou o seu horisente pelas balisas do Brazil.
governa, faz regulamentos para toda a França ;
Paris brinca, come, bebe, diverte-se, assiste aos O Sr- Sayão Lobato : — Attendendo ás cir
espectaculos pelos departamentos e ciiades da cumstancias actuaes do Biazil é a unica sensata.
França. Eis o que diz Cormenin, o outros es- O Sr. Ferraz : — Senhores, os nossos pensa
criptores, como Tronfred, quando falluo da cen mentos, as nossas opiniões são movidas das
tralisação das riquezas em Paris; mas entre nós idé is que nos circundão, das affeições que nos
isto não se póde dar. ligão. (.-lpoíados.) '
E' verdade, Sr. presidente, que a centralisa E' preciso que os beneficios se estendno a
ção entre nós tem sido dosproveitosa, porque as todas as partes e na distribuição dos beneficios
nossas assembléas provinciaes e as nossas ca alguma preferencia se póde dar; as ultimas sejão
maras municipaes não tem meios para fazerem as primeiras. (Muitos apoiados.)
faco aos seus encargos ; ó verdade que temos Vozes : — Muito bem.
descentralisação, mas que o nosso espirito pu
blico é eminentemente centralisador, e esta ver O Sa. Araujo Lima : — Muito bem em parte.
dade não se póde negar. Assim nós vemos de Varios Srs. Deputados:»—Muito bem em tudo.
toda a parte recorrer-se a todo o instante ao A discussão fica adiada- pela hora.
poder geral exigindo-se medidas que vão do
algum modo attenuar os males que soflrem as Levanta-se a sessão ás 2 horas e meia da tarde.
localidades.
Senhores, eu não desconheço tambem um fa
cto, e este facto ó que nos contentamos com o Sessão em 7 de Junho
verdadeiro systema de centralisação. Entre nós
o serviço mais apreciado, 0s interesses de prom- PRESIDÊNCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
pto satisfeitos sao sempre aquelles que nos ficão
mais ante os olhos. Summario — Expediente.—Pareceres. — Ordem do
Permittão os nobres deputados que eu falle dia. — Remoção dos juizes municipaes Discur
com franqueza, com verdade ; ás 'vezes os ser sos dos Srs. Araujo Lima e Viriato.— Discus
viços prestados em alguma freguezia desta córte são do voto ãe graças. Discurso do Sr Nebias.
são mais apreciados do que os serviços mais
relevantes feitos á ordem publica nus outras A's 10 horas, feita a chamada, acharão-se pre
provincias. (Apoiados.) sentes os Srs. Maciel Monteiro, Siqueira Quei
As piovincias sentem muito, gritão contra a roz, Aprigio, Luiz Araujo, Ribeiro, Sayào Lo
centralisação pela falta de cuidado de nomear-se bato , Nebias , Domingues , Vieira de Mattos ,
presidentes habeis qiie p.omovão os seus me barão de Maroim, Jose Ascenso, Fleury, Igna
lhoramentos. Nós os procuramos d'entre as cio Barbosa , Barbosa da Cunha, Ferraz , An
classes dos homens menos habilitados para os gelo Custodio, Paes Barreto , Sá Albuquerque ,
enviarmos ás provincias. conego Leal, Macedo, Mendes da Costa, Dutra
A respeito da minha provincia eu direi que Rocha, Gomes Ribeiro, Eusebio, Pimenta Ma
até certa época cila viveu e estava entregue a galhães, Wilkens, Teixeira de Souza, Machado,
nma administração meramente do expediente, e Paula Santos, Góes Siqueira, Rego Barros, Mon
não melhoravão os seus interesses materiaes ; teiro de Barros, Miranda, Rocha, Theophilo ,
depois, porém, da administração do nobre mi Seara, Lindolpho , Paula Fonseca , Zacharias ,
nistro do imperio os seus melhoramentos forão Almeida e Albuquerque, Souza Leão, Saraiva,
attendidoe. (Apoiados.) Belfort, Octaviano, Evangelista Lobato , Horta ,
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 87
Gonvên, Pedreira, Pereira da Silva, Livramento, assim consideravelmen ,e a riqueza o prosperidade
padre Campos, Mendonca, Rodrigues Silva, do Brazil, não despreza por isso deveres mui
Araujo Luna, Delfino, Bretis, Jaguaribe, Ver- graves que nascem dos principios de justiça o
siani, D. Farncisco, Raposo da Camara, Wm- igualdade, e do direito escripto da nação.
derley, Burri to Pedroso, Silverio, Casado, Vas- « E, pois, entende a commissão que devenlo-s)
concellos, Fausto, Fiusa, Nabuco, Barbosa, San alguns indultos pedidos pelo supplicante, a ou
tos e Almeida, Lniz Carlos, vigario Silva, Fi tros se não póde uttender.
gueira de Mello, Taquus, Paranaguá, Assis Ro «A primeira isenção ou indulto que exige o
cha e Paula Cundido. requerente vem a ser tornarem-se extensivas as
E havendo numero legal, ás 10 horas e um disposições do decreto n. 3U7 de 3 de Setembro
quarto, o Sr. presidente declara aberta a sessão. de ISíti aos seus colonos, para que sejão «lies
Lida e appruvada a acta da sessão antece naturalisados cidadãos brazileiros, som outra for
dente, o Sr. 1° secretario dá conta do seguinte malidade mais do que a do assignarem termo
do declaração na respectiva camara municipal
EXPEDIENTE -de ser essa sua vontade, etc.
« Parece á commissão justo e conveniente que so
Um requerimento de Cincinato Mavignier pe conceda semelhante indulto aos estrangeiros que
dindo permissão para offerecer a esta augusta vindo estabelecer colonias no paiz presião servi
camara um retrato de S. M. o Imperador, dan- ço importante.
do-se-lhe uma coadjuvação ou gratificação. — E' « A segunda isenção ou indulto pedido é não
remettido á commissão de policia. serem os colonos obrigados ao pagamento da
Outro do cidadão Cirios Antonio do Amaral, contribuição alguma directa durante os primeiros
carcereiro da cadêa da capital da provincia do dez annos do sua residencia nas terras do SS. AA.!
Maranhão, pedindo augmenlo de ordenado.—Vai bem como serem isentos do serviço militar no exer
á commissão de pensões o ordenados. cito e armada por toda a vida, excepto o da guarda
Do cididão Manoel Rufino do Oliveira Jama- nacional dentro do districto da colonia.
cane, pedindo indemnisação dos dinheiros com « Quanto á isenção do pagamento das contribui
que entrára para os cofies publicos em substi ções directas por espaço do d'-z annos, a com
tuição de cedulas provinciaes que lho não forão missão po-to que não se julgue mui competente
aceitas na" prestação de conta-, quando taes ce para tratar desta materia, que deverá ser consi
dulas forão recebidas peles executores no tempo derada pela commissão da fazenda, entende que
em que corrião.— Vai á commissão du fazendi. semelhante isenção póde ser concedida como uma
Do major griduado João Homem Guedes Por- animação á colonia, e que pouco poderá preju
tilho, pedindo melhoramentos du reforma, tendo dicar a receita do estado.
o tempo preciso para sei reformado com as van « A respeito da isenção do serviço militar é
tagens que requer, se lhe fór contado o em que justa nente o que se- acha determinado pela lei
servio na provincia de Matto-Grosso, tempo que n. 001 de 18 i\* Setembro de 1850 no art. 17.
pede lhe seja contado.—A' commissão de mari
nha e guerra. « O terceiro indulto versa sobre o pagamento
PARECERES pelos cofres publicos das passagens da Europa
até. o lugar da colonia dos meninos de 5 até 12
Sío julgadas objecto de deliberação e vão a annos d« idade pelo preço de 19 pesos fortes por
imprimir para entrar na ordem dos trabalhos cabeça até o numero do 200 por anno, durante o
da casa as seguintes resoluções : lapso de tempo do contracto com SS. AA.. (5 ou
« A commissão de pensões o ordenados tomando 10 annos).
em toda a consideração o decreto de 20 de De « A commissão eutende que devendo promover
zembro ultimo, pelo qual foi concedida a pensão a colonisação em grande escala, serião os cofres
annual de 174$720 ao grumete do córpo de impe- pubhcos sobremaneira gravados se por ventar i se
riaes marinheiros) Amaro- Rodrigues da Cunha, concedesse o favor que pede o supplicante, sendo
que em combat* perdeu ambos os braços, tem a de razão que elle se estendesse ás outras em-
honra de apresentar a seguinte resolução : prezas da mesma natareza. Julga pois a com
« A assembléa geral legislativa resolve : missão que não deve ser nttendido o requerimento
« Art go unico. Fica ipprovada a pensão annua nesta parte.
de 174$7Í0 concedida por decreto de 20 do De « O quarto indulto consiste no pagamento de
zembro de 1852 no grumete dos imperiaes mari congruas para dous ecclesiasticos allemáes, um
nheiros Amaro Rodrigues da Cunha, que em com calholico o outro protestante, que devem dirigir e
bate perdeu ambos os braços, devendo contar-se aconselhar os colonos. A commissão porém jul
o vencimento desde, a data do refeiido de gando, conveniente que seja pago peio estado um
creto. ecclesiastico allemão catholico, não póde accordar
em que seja subvencionado um ecclesiastico pro
« Paço da camara dos deputados, 0 de Junho testante, porquanto a constituição só reconhece a
de 1863. — D. Francisco. —J. E. de N. S. Lo religião catbolica apostolica romana como reli
bato.—Gomes Ribeiro.» gião do imperio, sendo os outros permittidos com
« Foi presente á commissão do comrnercio, in seu culto domestico ou particular.
dustria e aítes, uma petição da sociedade Colo- « O quinto indulto requerido vem a ser a per
nisadora de Hamburgo, representada nesta corte missão aos colonos (que já sobem actualmente
por s iu procurador João 0r. Kagel, solicitando ao numero do cerca do mil) de livres instituições
ao poder legislativo algum is isenções ou indul inunicipnes, semelhantes ás que regom a colonia
tos para o fi n do levar a efli ito uma colonia de Petropolis, etc.
nas terras pertencentes a SS. AA. o principo e «A commissio entende que não póde ser at-
princeza de Joinville. tendido seinclhantu pedido, porquanto são obvios
« A commissão tendo examinado a materia com os obstaculos lagaes que existem em serem os
a attenção qun exige a sua importancia, e ten habitantes do niesmo paiz governados por leis o
do a convicção profunda d i grande utilidade que instituições diversas.
ao paiz .leve resultar da acquisição de bruços « O sexto indulto, finalmente, que se pretende
livres que venhão cultivar tao grande extensão haver é a declaração expressa de serem sustenta
de terreno até hojo improductivo, augmentando dos e tornados effectivos com todo o rigor das
88 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
lds, os contractos feitos pela sociedade, ou pelos ceptibilidale que chegou a pedir a V. Ex. que
seus «gentes com os colonos. O que pede o re- não désse para ordem do dia materias ou pro
qnorimonto é justamente e '|no is leis do paiz jectos por elle elaborados, e entretanto que eu
determinão, e o que portanto cumpro aus tribuimes se julgasse que a declaração da minha v ntade
fazer observar. merecia algu n peso na presença do 3 . Ex . ,
« A' vista do que a coinmissão acabado expen lhe faria um pedido inteiramente opp isto, lhe
der é ellii de parecer que a assembiéa gerai le rogaria que apresentasse para os trabalhos da
gislativa adopte a seguinte resolução, que em pro cas i as medidas que o nobre deputado nos tem
jecto tem a honra do offerecer á esta augusta apresenta io, por isso que é mui natural que
camara. sejão ellas revestidas de toda a sãbedoria, e
c inseguintemento accommodadas a promover o
« A assembiéa geral legislativa resolve : bem publico.
« Art. I.» As .disposições do decreto r. 3!)7 de O nobre deputado no sou systema de enfado
3 de Setembro da 1S16, ficão cxtensivis aos es checou a tratar do uma mo I i que diz elle se
trangeiros que so estabelecerem na colonia quo acha introduzida no parlamento, fallo do sys-
existo na-s torras pertencentes a SS. AA. o prin temi da desconfiança. Mas, Sr. presidente, so a
cipe e princeza de Joinville. observação do nobre deputado tem aplicação
ci Art. 2.° Os colonos, d s quaes trata o artigo a alguem, não cabe por C'.rto a mim. O nobre
antecedente ser o isentos d i pigamento de qual d pntado e a camara, em presença de quem
quer contribuição directa dur mto os primeiros falio, recordar se-hão perfeitamente que pela pri-
dez annos de sua residencia n0 lugar da colo m. ira vez em que mo vi obrigado a dizer duas
nia. palavras nost i casa foi no sentido d.' reprovar
« Art. 3.» Fica o governo autorisado para dar essa confiança illimitada que se concede io go
una cong ua que não exce la a 800$ annuaes a verno, pois sempre entendi, e ainda eutendo qile
um ecclosiasticu allemõo catliolico, que deve di isso é um mal c im relação ao paiz e até ao
rigir e aconselhar aos colonos acima mencio proprio governo.
nados. E devo acerescentar que, se a memoria me
não engana, creio que o nobre deputado não é
« Art. 4». Ficão revogadas as disposições em o mais apropriado para combater essa moda de
contrario. desconfiança. Quando, Sr. presidente, me ach iva
« Paço da camara dos deputados , 3 de Junho fóra do parlamento, costumando lêr os discursos
de 1353. — Viriato Bandeira Duarte. — Frede dos deputados que mo parecião mais dignos
rico de Almeida e Albuquerque. — Augusto Fre desse trabalho, recordo-me, se não eHou em
derico de Oliveira. » erro, que em uma das discussões desta casa o
O Sr. Ribeiro: —E' para fazer uma pequena nobre deputado asseverára que o systema re
reclamação. presentativo ^ra fun la lo na desconfiança, .sendo
Quuido na ultima sessão fatiou o Sr. Fi combatido por um nobre deputado pelo Rio de
gueira de Mello, e tratou de uma circular que Janeiro que dizia ser tal opinião fu ida la nas
eu expedi quando presidente de Pernambuco, doutrinas erroneas do Penii, e de mais alguns
disse que eu recebera iostrucções do governo escriptores de que não tenho presentes.
para publicar essa poça oflieial : eu dei um Assim, pois, Sr. presidente, se essa moda ap-
apartj dizendo que não havia recebido instruc- parecer nas c imaras ou no parlamento, o nobre
ções, o que o governo só delia tivera conheci deputado ha de perinittir-mo que eu lhe diga
mento depois de publicada. que si abriga debaixo de uma bandeira que o
O aparto não vem assim no Jornal do hoje, proprio nobre deputado hasteou. Não devo portanto
e por isso faço esta reclamação. • strnuhir o nobre deputado, e antes muito levar
a bem, que eu e que aquelles membros da casa
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA que vão do accordo commigo a tal respeito, o
acompanhemos debaixo dessa bandeira que o
REMOÇÃO DOS JUIZKS MONICIPAES nobro deputado levantou.
Sr. presidente, nem me paroce ainda que o
Continua a discussão do adiamento proposto nobre deputado argumentasse com nquella dia-
na sessão passada pelo Br. Araujo Lima, ao lectida que constantemente ih - conheço, quan lo
projecto r. 1 de 1852, sobro a remoção dos juizes asseverou que não tinha podido compreliender
municip ies. os iundamentus p.ir que eu dissera que a dis
posição do projecto desvirtuava o poder judi
O Sr Araujo Uma : — Sr. presidente, cial.
quando hontem eu havia pedido a palavra a Se acaso, 5r. presidente, as idéas que tenho
respeito do projecto que se discute aulorisando a respeito do poder judicial, idéas que tenho
o governo a remover os juizes municipaes nos bebido nos poucos livros que tenho lido, me
mesmos casos o pela mesma fórma por que re não enganão, me parece fóra do duvida, fóra
move os juizes do direito, emittindn mui breves de contestação, que a essencia do poder judi
consideracões a semelhante respeito, propondo o ciario consiste na independencia delle, na in
adiamento, bem longe estava de Mippòr que dependencia com que ello tem de decidir as
havia de molestar o meu illustre collega peU questões que são submettidaa ao síu conheci
Bahi i, a quem aliás tributo o maior iespeito e mento, não obedecer senão á sua consciencia
consideração, e com quem desejo nrdentemento e á lei. iApoiados.) Ora, so isto é verdade, se
achar-me sempre no maior accordo. é um principio incontestavel, acaso se poderá
Enten lo, Sr. presidente, que não assiste bas dizer que os juizes municipaes que se aclião
tante razão ao nobre deputado e:n seu enfado, constituidos por uma fórma tão desgraça la, por
por isso que por mais elevado qne seja o con uma tal fòrm i que eu chamo o parto mais des
ceito que faço da sua illustração, da sabedoria graçado que podia sabir da cabeça do legisla
i1 ue acompanha a todas as medidas apresenta dor... (Muitos apoiados.)
cl as por ello nesta augusta casa, nem por isso
me é possivel renunciar ao livrê direito do exa- O Sr. Apiuoio : —Não apoiado.
mo que me compete a respeito de qualquer ma O Sr. Araujo I.ima:— ... retribuidos tão mi
teria. Rogo pois ao meu illustro collega que seravelmente (apoiados), sem garantia da per
remova os seus enfados, que não tem o menor manencia, senão ainda ser sujeitos a remoções?
fundamento. (Apoiados.) E' possivel que elles possão conser
0 nobre deputado levou tão longo sua sus- var sequer uma sombra da natureza quo a
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 89
constituição lhes afiança? (Apoiados.) Assim, dos meios que a lei puzesse á sua disposição
pois, a proposição que emitti é fundada na na para corrigir uma ou outra vez os erros e
tureza das cousas, isto é, o projecto de que se abusos do poder judiciario.
trata desvirtua perfeitamente o poder judiciario Assim, pois, meus senhores, prescindindo dos
.arrancando-o da sua classe propria de juizes muitos meios do acção que o governo tem
para os converter em agentes do poder ou do afim de remover esses inconvenientes que se
governo. apresentão, entendo que esta consideração não
Mas, accrescentou o nobre deputado, os juizes é bastante valiosa, não só porque os inconve
de direito não são tambem removidos, e ficão nientes da disposição contraria serião supe
por causa dessas remoções desvirtuados? riores a esses , como porque provarião de
Sr. presidente, o nobre deputado comprehende mais.
perfeitamente que os argumentos de analogia não Mas, Sr. presidente, deixando agora de parta
procedem senão quando se dá identidade de cir- o meu illustro amigo, a quem me tenho refe
cumstancias. Ora, estarão collocados os juizes rido, darei uma breve resposta ao honrado de
de direito nas mesmas circumstancias em que putado pela provincia de Minas. O honrada
os juizes municipaes ? deputado disse : « Os juizes municipaes não estão
Pois será possivel comparar os juizes de di isentos de remoção pela lei da sua creação, estã isto
reito, que são perpetnes (apoiados), que estão consagrado em um regulamento do governo ; o
dotados de elevados ordenados, ou pelo menos governo ó autorisado para revogar os decretos
sufficientes, com os juizes municipaes, cuja po que expede , já têm apparecido factos dessa
sição ó tão differente? (Apoiados.) ordem, vamos pois legitimar esses factos, vamos
Além disso , Sr. ' presidente, diversidades de regularisal-os. »
outra ordem autorisão a diversidade de dispo Sr. presidente, eu já tenho dito nesta casa, e
sições nos dous casos de que se trata. Bem repetirei por esta vez, tenho medo de invocar a
póde ser que seja sustentavel a conveniencia da constituiçao nas nossas discussões, porque a ex
remoção dos juizes de direito como está na con periencia me tem ensinado que a constituição
stituição. (Apoiados.) prova tudo e não prova nada; todavia afastar-
Bem póde ser, digo, que razões «lo conve me-hei do meu proposito apresentando mui bre
niencia, fallando em abstracto, justifiquem a fa ves considerações pelas quaes estou convencido
culdade de remoção quanto aos juizes de direito. de que o governo não tem a faculdade que se
São elles as primeiras autoridades na sua co arroga do remover os juizes municipaes.
marca ; não têm superior que os chame á res Se esses factos existem 6 pelo principio de
ponsabilidade pelos excessos e abusos que podem que o governo usa de uma omnipotencia que
commetter, e que escaparião á acção da lei. lhe não é conferida pelas leis.
Mas os juizes municipaes com superior na co Meus senhores, o artigo da constituição que
marca que os sujeita á responsabilidade sob a trata da remoção dos magistrados é o £4 ; mas
acção do governo com a faculdade de suspensão, elle refere-se aos juizes perpetuos, que são os
estarão nas mesmas circumstancias para se que juizes de direito. Porém fique assentado que a
rer que, como os juizes de direito, sejão tam disposição da constituição tanto não póde ap-
bem removidos ? plicar-se aos juizes municipaes que não estão
Entendo pois, Sr. presidente, que não existe a nesta casa.
menor analogia entre uns e outros, e que por No art. 151, Sr. presidente, em que se estatue
consequencia se lhes não póde appíicar as mes que os juizes figurarão tanto no crime como no
mas disposições. eivei, do modo que as leis determinarem, ó que
Accrescentou mais o nobre deputado que havia se encabeça a constitucionalidade dos juizes mu
casos em que se tornaria indispensavel a remo nicipaes. Vejamos porém o que é que dispõe a
ção, e notou varios abusos dos juizes munici lei da instituição dessa magistratura.
paes, entre os quaes figurão alguns provenientes O art. 14 da lei de 3 de Dezembro diz que
de licença, etc. Sr. presidente, eu não nego que esses magistrados durarão 4 annos. Se para a
possão apparecer inconvenientes que tornem ne legislação que fundou a instituição dos juizes
cessaria a remoção dos juizes municipaes. municipaes não consagrou o principio da remo
O Sn. Aprioio : — Está combatendo o projecto, ção, em que se funda ella? Assi.n, pois, é sem
fundamento a faculdade da remoção. Quando a
e o que se acha em discussão é o adiamento. constituição tratou dos juizes do direito, e con-
O Sr. Araujo Lima: — Não nego, digo, que stituio a sua natureza, immediatamente consa
esses inconvenientes appareção; mas, meus se grou a faculdade da remoção, o que não podia
nhores, quando se trata de avaliar os inconve deixar de ser assim, porque tal disposição exerce
nientes de uma instituição não é bastante con- uma influencia poderosa sobre a natureza do
sideral-os isoladamente, preciso é tambem atlender poder judiciario.
aos inconvenientes que resultarião das disposi Se pois a lei da reforma, creando juizes mu
ções contrarias. Ora, não serião superiores os nicipaes, não estatue ao mesmo tempo o direito
males que se dão, e que uascerião da faculdado da remoção, ó que foi elle virtualmente repro
da remoção, ficando os juizes municipaes pri vado pela lei, por isso que não é possivel que
vados da independencia precisa para a boa de a lei deixasse uma attribuição tão importante
cisão daquelles negocios que são submettidos a ao arbitrio do governo , quando ó certo que
sua jurisdicção ? ella modifica profundamente a natureza de taes
Não ficarião essas autoridades na dependencia juizes. (Apoiados.)
completa das influencias locaes, que buscarião Ainda mais, o regulamento expedido para a
todos os motivos do arredal-as dos seus termos, execução da reforma, regulamento que foi ela
quando isto estivesse nos seus interesses? Taes borado por um jurisconsulto distincto, que havia
inconvenientes não subrepujão as considerações tido tão grande parte na confecção desta lei, o
de utilidade publica, que podem apparecer em que estatuio ? Estabeleceu a não remoção, pois
um caso ou outro a favor da remoção de que uma lei executada apenas - feita, executada por
se trata? Além de que, Sr. presidente, se este aquelles que tomárão parte na sua confecção,
argumente procedesse, provaria até de mais, pro que melhor conhecião sua letra e espirito, não
varia que seria conveniente sujeitar o poder consagra uma faculdade de tanta importancia, o
judiciario em . certos casos ao poder executivo, depois ministros, sem ao menos terem a de
porque é possivel que o governo, que é uma cencia de revogarem os decretos expedidos por
especie de divindade, que tudo sabe, que tudo seus antecessores por outros decretos, arrogárão-
pôde, e que não quer senão o bem, se servisse se criminosamente essa attribuição, e se fia de
tomo 3. 12
90 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
aqui vir dizer-nos : rogularisemos , legitimemos á discussão do adiamento, todavia pelas ulti
taes factos I mas palavras que ainda colhi, entrou na dis
Meus senhores, a não remoção está compre- cussão da materia principal, discorrendo sobro
hendida virtualmento nas leis, expressamente a faculdade que se quer dar ao governo para
nos regulamentos do governo; o contrario oppõe- remover os juizes municipaes. Pouco ouvi, como
se a todas as noções do poder judiciario, e é disse, das razões apresentadas pelo nobre depu
um puro facto que nunca devemos legitimar, tado, não só por haver chegado tarde, como
que, pelo contrario, é nossa obrigação estigma- por não esperar que o nobre deputado, dei
tisar, fulminar, condemnar com toda a soleinni- xando a questão do adiamento, tratasse da
dade. Portanto, Sr. presidonte, me parece que questão principal; por isso força é que eu dê
as considerações pelas quaes o meu honrado á casa simplesmente os fundamentos de minha
collega impugnou o adiamento não tem o ne opinião.
cessario peso. Não ha duvida, senhores, que ha grande incon
Agora direi, Sr. prosidente, que os motivos em veniente do se não conceder ao governo a facul
que baseei o adiamento achão-so no mesmo ter dado de remover jos juizes municipaes durante
reno, achão-se perfeitimente intactos. Materias o quatriennio. Ha muitos juizes municipaes que,
tão importantes como a do projecto de que se ou por inexperiencia, ou mesmo por não serem
trata, jogando com as attribuições e namreza feitos para a magistratura, têm-se tornado in
do poder judiciario, me parece que devem ser capazes de continuar a servir nos lugares para
meditadas pelas commissões respectivas, que são os quaes forão nomeados. Não vejo pois razão
as innis habilitadas para esse exame , ã vista para que o guverno possa estar preso ã espera
do qual poderemos tomar uma deliberação grave que decorra o tempo marcado na lei para livrar
e acertada. Legislatura nova, que póde estar pos os povos de um verdadeiro flagello, como ó um
suida do um espirito diverso da que findou , juiz municipal que não comprenende os sous de
entendo eu que a camara actual devo imprimir veres ou não os quer cumprir.
o sello da sua personalidade a todos os actos Ora, se este inconveniente que so dá para os
das camaras anteriores que são sujeitos á sua juizes municipaes offectivos ainda vai adiante,
meditação. chega aos supplontes dos juizes municipaes,
Acredito ainda , Sr. prosidente , que não está porque por differi-ntes avisos se determinou que
esses supplentes não podião ser removidos du
bem justificada a necessidade de semelhante me rante o quatriennio, nem mesmo trocados na
dida , porque não sei que os diversos minis
terios que se tém succedido no paiz a hajão ordem numerica em que se achão collocados.
Sabemos todos que os supplentes do juiz muni
reclamado
Quan lo pois vejo em discussão uma materia cipal são tirados de classes que não so applicão
ao estudo do direito, são tirados d'entre os par
que reputo da maior importancia, uma materii ticulares
que é submettida ao julgamento de uma camara não são qne têm outros encargos sociaes, e que
feitos para administrar justiça. Estes
nova, uma materia a respeito da qual o governo homens não são competentes de ordinario para
não emittio a sua opiniao, não justificou a ne
cessidade delia, estarei baldo, meus senhores, do as funeções do magistrado, para a vida de juiz
motivos para pedir que seja sobre este assumpto municipal, e sempre so entregão a ella a contra
ouvida a commissão especial, orgão desta casa, gosto, ou então por necessidades e exigencias po
composta das especialidades destinadas ao es liticas.
tudo de taes materias , para dar uma solução Os presidentes das provincias são forçados a
qire seja submettida ao nosso conhecimento re sustentar as nomeações dos supplentes dos juizes
vestida de madureza e sabedoria? Assim, não municipaes durante o quatriennio. Ora, este prin
tendo visto abalados os fundamentos por que cipio não se basóa em utilidade alguma, é filho
apresentei o adiamento de que se trata , sou da lei que impõe o preceito de respeitar o juiz
obrigado a continuar a votar a favor delle, ro municipal durante os 4 annos, assim como os
gando por fim ao meu illustre collega autor do seus supplontes ; o governo é forçado nesta parte
projecto que não se moleste com a discussão e a executar a lei. Digo que é forçado, porque,
manifestação de opiniões contrarias á sua, por quando alguns ministerios anteriores ao de 29
que isso em nada offendeu no conceito da sa de Setembro removêião alguns juizes municipaes,
bedoria de que goza quando apenas exprime o todos nós censuramos esses actos e dissemos que
livre direito que cada um de nós tem de ex erão illegaes.
pender sobre as materias sujeitas ã discussão Não se póde, pois, negar os inconvenientes
aquellas considerações que julga couvenientes. da ausencia da faculdade ao governo para re
Não havendo mais quem peça a palavra, põo-se mover os juizes municipaes. Dizem que esta
faculdade ó prejudicial a esses juizes, mas eu
a votos o requerimento de adiamento, e é repro não sei em que se póde firmar semelhante pro
vado. Continua portanto a discussão do pro posição. Se a faculdade de remover os juizes mu
jecto. nicipaes so achar adstricta aos termos em que
O Sr. Viriato: — Dosdo que se principiou é dado -remover os juizes de direito, onde está
a discutir este projecto fui de opinião que se o mal desta faculdade concedida ao governo ?
devia dar a faculdade de remoção dos juizes Se não se dão os mesmos males na remoção dos
municipaes. A minha opinião revela o principio juizes de direito, porque o juiz municipal no
de que a lei da reforma tem estabelecido que acto do ser removido, ouvindo o conselho de es
duranto o quatriennio não ó dado ao governo tudo, apresentando- se as razões que existem
remover esses juizes. Sobre isto não tenho a para a remoção, ouvido o mesmo juiz e gozando
menor duvida, o o digo porque apparece na casa de todas as garantias da remoção dos juizes de
opinião em contrario a esta minha. A' vista do direito, terá razão de queixa ? Se os juizes de
art. 4° da lei e do art. 3ò do regulamento da direito qne são autoridades superiores aos mu
reforma' judiciaria, conclue-se sem duvida alguma nicipaes, não têm soffrido mal nenhum da re
que não tem o governo faculdado para remover moção debaixo destas garantias, como se póde
os juizes municipaes durante os 4 annos, e o dizer qne os juizes municipaes vão soffrer com
'nobre autor do projecto pensou certamente da esta faculdade que se pretende conceder ao go
mesma maneira, por isso que achou necessario verno? Não posso aceitar a argumentação do
apresentai o. nobre deputado que se tem declarado contra o
Como cheguei tardo, não pude ouvir o dis projecto.
curso do nobre deputado que me precedeu ; e se Aquelles que fallárão contra o projecto não at-
bem que me pareça que deveria elle limitar-se tentarão nas duvidas que mesmo apresentão os
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 91
arts. 14 da lei e 36 do regulamento, porque se sou 18U revele vontade ou pensamento de regresso,
da opinião que os juizes municipaes não podem antes me persuado que essa lei veio apresentar
ser removidos durante o quatrienio, ha alguem do reformas mui judiciosas a magistratura brazi-
opinião contraria, alguem que deve merecer toda a leira ; reprovando pois o pensamento ou o es
consideração do nobre deputado que opina contra pirito que a essa lei attribuem, . eu vou tocar
o projecto, e como sejão ministerios inteiros que se na argumentação do nobre deputado tirada do
tem abalançado a fazer essas remoções, dizendo juizo que corre sobre a lei.
que a lei lhes dá esto direito. Ora, no caso de du Disse-se que a lei da reforma, que revelava
vida, e de duvida apresentada por pessoas de se um espirito de regresso, nem assim deu ao go
melhante qualidade, não será mais util aos juizes verno a faculdade do remover os juizes muni
municipaes que passe o projecto para haver essas cipaes. Creio que s& labora em um grande erro
garantias no caso da remoção? Passando o pro de principios ; porque se a lei désso então ao
jecto que dá esta faculdade ao governo, debaixo governo a faculdade de remover os juizes mu
das garantias que o mesmo projecto apresenta, nicipaes debaixo das garantias apresentadas neste
isto é, ouvido o conselho de estado, ouvido o mesmo projecto, ella não revelaria regresso, mas sim
magistrado que se pretende remover, julgo que a progresso, porque dando força ao governo dava
sorte dos juizes municipaes fica muito melhor que tambem mais garantias á independencia dessas
na actualidade, sendo que qualquer governo pode autoridades ; a par de um remedio para o mal
no futuro, se entender que a lei lhe da a faculdade 'resultante de um juiz que não administrasse bem
de removêl-os, usar deila sem ser ouvido o juiz, a justiça no lugar em que existisse, armando o
sem se darem as garantias que o projecto apre governo com a força do acabar com o mal, ga
senta. rantia tambem a independencia desses magistra
O caso é duvidoso ; quanto a mim- entendo que a dos quando honrados e exactos no cumprimento
lei não permitte que durante oquatriennio o juiz de seus devores.
municipal possa ser removido ; mas posso estar Ora, é este o pensamento que revela o pro
em erro ; ha muitas pessoas de reconhecidos ta jecto, porque se ha inconveniente de se con
lentos que pensão em contrario, e além dessas pes servar durante 4 annos um i autoridade que ó
soas têm existido governos que pensão differente- prejudicial em um lugar onde administra jus
mente de mim. Assim pois, o honrado membro tiça, ha por outro lado garantias para a inde
deve confessar, que approvadoo projecto e reduzido pendencia dessas autoridades.
a lei, fica muito melhor a sorte dos juizes munici Entendo, pois, sonhores, que o projecto deve
paes, ficão com maior independencia que no pre passar ; ello dá força ao governo para remover
sente. um obstaculo á felicidade; publica, isto 6, con-
Não sei que outras razões se podem apresen cedo-lhe remover uma autoridade que não cum
tar que sejão mais valiosas que estas ; eu mesmo pre com o seu dever, que produz o desordem em
não me lembro de nenhuma mais que possa lugar da ordem, e ao mesmo tempo dá garan
ser comparada ás que ficão ditas, isto é, o in tias e essas autoridades.
conveniente de não se dar ao governo a facul O maior e mais forte argumento contra o pro •
dade de remover os juizes municipaes durante jecto vem a ser em verdade aquelle tirado da
o quatriennio, e do outro lado o crescimento de exiguidade dos ordenados qne têm os juizes mu
garantias para esses juizes. A' vista destas todas nicipaes, ordenados que não lhes podem ministrar
as mais razões de menor peso cedem, e deixo meios para o transporte, dado o caso das remo
por isso de as expór. Occupar-me-hei de res- ções. Sou da opinião do nobre debutado, o a
onder a algumas partes do discurso proferido passar o projecto, é mister que se apresente al
ontem pelo nobro deputado que me precedeu. guma cousa de mais, para que a sorte dos juizes
Disse elle que é desnaturar a classe dos juizes municipaes não fique peiorada, para que não
municipaes a faculdade que se dá ao governo fiquem elles reduzidos ao estado do embaraço
Sara removêl-os com as garantias do projecto. invencivel; mas podemos remediar este mal apre
Ias como se vai desnaturar a classe dos juizes sentando um artigo additivo em que se determine
municipaes ? A passar oste principio era mister que os juizes municipaes, quando removidos,
que tambem se concedesse que a faculdade dada tenhão ajudas de custo marcadas pelo governo.
ao governo de remover os juizes de direito com Se o nobre deputado quer apresentar este artigo
as mesmas garantias qne hoje abraça o projecto additivo. . .
era desnaturar a classe dos juizes de direito' ; O Sr. Araujo Lima: — Quem, eu?
mas pelo contrario isso foi mais firmar a inde-
endencia dos juizes de direito, porque antes O Sr. Viriato:— Se alguem apresentar este
avia faculdade lata para o governo de remover artigo additivo, eu lhe darei o meu voto, porque
os juizes de direito conforme lhe aprouvesse. Se é essa a unica razão, a meu ver, do se poder
a faculdade de remover os juizes de direito, ba dizer que o projecto não ó inteiramente justo,
seada sobre essas garantias, não desnaturou a que não se basêa sobre fundamentos innegaveis
classe desses magistrados, como se póde dizer de utilidade publica.
il ue_ a mesma disposição vai desnaturar a classe A discussão fica adiada pela hora.
d e juizes municipaes? Entendo que não é pro
cedente a opinião do nobre deputado. SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
Creio outrosim que foi no calor da discussão
que escapou ao nobre deputado as seguintes ex DISCUSSÃO DO VOTO DE GRAÇAS
pressões : se ha necessidade de remover os jui
zes municipaes durante o quatriennio acabe-se Continua a discussão do projecto do voto de
com elles. Por outra fórma não posso entender graças com as emendas apresentadas.
o fim do nobre deputado, quando atirou estas
palavras. Não entendo que o nobre deputado O Sr. Presidente : — O Sr. Nebias tem a pa
possa suppór, attentando para o seu reconhecido lavra para responder-
talonto, que a necessidade de uma reforma venha (Moinmento de attenção seguido de profundo si
crear a idéa da destruição inteira, para dizer-se: lencio.)
acabe-se com tudo, destrua-se aquillo que se quer O Sr. ivobias ; — O nobre deputado que
reformar. hontem fallou, Sr. presidente, principiou o seu
Tem-se por differentes vezes argumentado nesta discurso declarando que dava seu apoio ao mi-'
casa com a idéa de regresso , que no parecer nisterio ; e com effeito ficámos todos sorprendi-
de muitos revela a lei da reforma judiciaria. Eu dos ao ouvir o nobre deputado no correr do seu
não entendo que a lei de 3 de Dezembro de discurso. Não sei, Sr. presidento, o que mais
92 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
faria o nobre deputado se tivesse protestado que O Sr. Nebias : — Nesta sessão?...
ia se declarar em opposição ao governo ; não sei Queria eu dizer que então, a ser verdadeira
se elle poderia accusal-o de modo mais ou menos a minha memoria, o nobre deputado fóra levado,
violento de que o fez. não por motivos politicos, não pela influencia
Até vi, Sr. presidente, que o nobre deputado mais ou menos salutar ou nociva que o Sr. Gon
estabeleceu um principio inteiramente novo, que çalves Martins poderia exercer na provincia da ♦
não póde de fórma alguma prender e dirigir Bahia, mas sim pelas suas relações individuaes,
aos representantes da nação ; até vi que o nobre que então seguramente erão de inimizada e de
deputado se declarou vinculado com o minis odio com o Sr. Gonçalves Martins.
terio somente pelas suas relações individuaes Sr. presidente, este principio que o nobre de
com o Sr. ministro do imperio, e talvez que putado apresentou é, como eu ja disse, de uma
com o Sr. ministro da marinha ; de fórma que natureza muito elastica, e nos põe sempre em
as relações individuaes são os motivos ponde bom abrigo 1 Eu estava persuadido que o nobre
rosos que o homem publico tem de apresentar deputado, nas diversas phases de sua vida po
e pelos quaes tem de moderar a sua conducia. litica, procurava sempre, quando andava pelos
diversos campos de batalha, salvar as victimas
E' sem duvida nenhuma, Sr. presidente, uma da destruição fatal. . .
theoria muito elastica essa que nos põe em O Sr. Ferraz :— Andava como o nobre depu
bom abrigo em todas as eventualidades da tado a respeito dos negocios da provincia de S.
vida I De fórma que, se não estivesse no ga Paulo.
binete o Sr. ministro do imperio, o nobre de
putado so teria declarado em franca opposição O Sr. Nebias : —Já ostamos desafiados ha muito
ao gabinete I tempo para isso, e, pequenino como sou, não
O Sr. Ferraz : — Está enganado ; ha mais recne diante de um gigante como o nobre de
alguem. putado.
O Sr. Nebias : — Mas eu fiquei admirado, Sr. O Sr. Ferraz:— Qual gigante 1 Já vio um filho
presidente, dessa adhesão do nobre deputado do norte ser gigante? {Movimento.)
ao Sr. ministro do imperio, porque a camará e O Sr. Rocha:— E' preciso marcar-se a linha
todo o paiz estão lembrados de que, apenas for divisoria do norte, para so saber onde prin
mado o gabinete de 29 de Setembro, o nobre cipia.
deputado declarou aqui em um discurso muito O Sr. Nebias:— Eu pensava que o nobre de
notavel, como são todos os seus discursos, que putado, quando fazia seus pisseios pelos nossos
estava em opposição ao novo gabinete só pelo campos de batalha, era para salvar as victimas,
facto de ter nomeado ao Sr. Gonçalves Martins era sempre dominado polo grande e nobre prin
( ara presidente da provincia da Bahia. cipio do fanatismo politico, esse crime da vir
O Sr. Ferraz : — Está enganado ou tem per tude, como dizia o chanceller de Aguesseau, mas
dido a sua memoria. eu estava completamento enganado, e o nobre
O Sr. Nebias : — Emflm, Sr. presidente, esta deputado declarou que nelle somente influe a
rei enganado, mas cuido que o que acabo de força das considerações individuaes, que abandona
dizer póde ser verificado. principios, amigos politicos, a mesma politica o
tudo, menos ós seus amigos individuaes.
O Sr. Ferraz : — Se quer mande vêr o meu
discurso. " O Sr. Ferraz :— Tambem é seu isso; eu não
disse que abandonava principios.
O Sr. Nebias : — Não sei se forão estas as
proprias palavras do nobre deputado, mas foi O Sr. Nebias : — O nobre deputado disse que
essa a impressão que deixou na casa o seu dis toda politica é transitoria, que toda politica é
curso. passageira, mas que os amigos individuaes sempre
restão.
O Sr. Ferraz : — Está enganado ; a respeito
do Sr. Eusébio sim. O Sr. Ferraz:— Não foi isso.
O Sr. Nebias : — Eu estimaria que os nobres O Sr. Nebias : — Foi o que disse o nobre
deputados pela Bahia se recordassem desse facto. deputado.
O Sr. Wanderlev dá um aparte que não ouvi O Sr. Ferraz : — Não foi isso o que eu
mos. disse.
O Sr. Nebias : —Não se recorda ? O Sr. Nebias : — Senhores , é um principio
elastico e fatal aquelle que estabeleceu o nobre
O Sr. Wanderlev :—Não. deputado.
O Sr. Nebias :—Assim se esquece tudo neste O Sr. Ferraz : — Pois não o siga.
mundo I (Apoiados.) Talvez que o nobre ministro O Sr. Nebias : — Não seguirei, com licença
do imperio, que foi a pessoa mais affectada do nobre deputado.
nesse discurso, tenha disso lembrança mais Do fórma que podem os nossos amigos indi
viva. viduaes merecer a censura publica por suas
O Sr. Ministno do Imperio . —Eu não estava culpas, e nunca os devemos abandonar 1
presente. O Sr Ferraz : — Do certo que nunca so deve
O Sr. Nebias : — Daqui a pouco hei de procu abandonar a um amigo.
rar a collecção do Jornal ao Ctnmercio, e não
hei de achal-o em parte alguma I (Risadas.) O Sr. Nebias : — Tambem tenho principios
O Sr. Ferraz : — E" por certo invenção do nobre de generosidade
deputado. O Sr. Ferraz : — Não sei
O Sr. Nebias:— O nobre deputado nega que O Sr. Nebias : — Não aceito o aparte do no-
tal dissesse ; os honrados membros pela Bahia bra deputado , porque cuido ter sido bem com-
não se lembrão disso, e até o Sr. ministro do prehendido.
imperio declara que não estava na casa : não De fórma que os nossos amigos politicos ,
posso pois continuar nesse sentido. - sendo nossos inimigos individuaes, devem me
recer nosso odio e nosso vingança, devem ser
O Sr. Ferraz:— Será infelicidade do nobre de abandonados , não ha prisão que nos ligue a
putado nesta sessão. elles, nem interesse publico , nem ecórdo, nem
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 93
nada, embora procedSo em ordem na sua vida O Sr. Fiuza : — Esta parodiando. (Reclama
publica, sejão honrados , tenhão mostrado toda ções )
dedicação ao paiz no qual existem I E' horrivel O Sr. Sayão Lobato: — Forão proposições que
o principio do nobre deputado I o nobre deputado fielmente enunciou na camara.
Eu, Sr. presidente, se não tivesse razões, não
para accusar ao ministerio, a respeito do qual O Sr. Nebias: — Eu apoio o ministerio (con
não quiz instituir uma accusação solemne, mas tinneu o nobre deputado) porque as relações
para negar meu voto ao ministerio que até o estrangeiras não forão bem dirigidas... Lem-
anno passado apoiei , encontraria no discurso bre-so o nobre deputado que eu hontem dei um
do nobre deputado desde a primeira até a ul aparte dizendo-Ihe que não via em que razões
tima palavra motivos muito fortes, muito plau se fundava o nobre deputado para apoiar o mi
siveis para o fazer. nisterio. . .
Em verdade , o que vemos nós no discurso O Sr. Ferraz: — Eu já tenho 40 annos, e a
do nobre deputado ? Além do despeito que o memoria me falha.
nobre deputado tanto me lançou em rosto , e
que eu vejo desde a primeira palavra no seu O Sr. Nebias: — Ha mais tempo que a me
discurso, eu encontro no meio de suas propo moria falha ao nobre deputado. (Apoiados e ri
sições, mais ou menos acobertadas , uma cen sadas.)
sura ampla feita ao ministerio , de fórma que Dizia o nobre deputado, em resposta ao nobre
tive razão para dizer que o nobre deputado com deputado pela provincia do Rio de Janeiro que
a franqueza de que tanto se tem, não digo van se tinha pronunciado em favor do ministerio,—
gloriado, mas de que na verdade tanto tem não é pela influencia americana que se quer
dado provas no parlamento, devia antes se de firmar nas republicas do Prata que eu apoio o-
clarar em opposição ao ministerio, prescindindo ministerio, não é por isso, o qua eu quero ó
das suas relações individuaes com o nobre mi que o ministerio fiça bons tratados de com-
nistro da marinha. . . mercio. . .
O Sr. Ferraz : — Está enganado. O Sr. Ferraz : — Tambem não disse isso, não
O Sr. Nebias : — O nobre deputado que tem me alevante aleives.
apresentado tanta franqueza, o nobre deputado O Sr. Nebias (dirigindo-se ao Sr. Aprigio) :—
que me provocou a ser franco, o nobre deputado Disse ou não disse, Sr. Aprigio? (Risada*.)
que sempre se apresenta com a coragem que O Sr. Aprioio:— Ora essaI... Dou-me de sus
não lhe negamos, devia nestas circumstancias peito. (Risadas.)
tomar outra posição...
Sr. presidente , o que foi que disse o nobre O Sr. Nebias: — O nobre ministro fez alguns
deputado ? Disse : « Eu apoio o ministerio por tratados de commercio, e não procurou garantir
que nelle existem algumas pessoas de minha o mercado brazileiro nesses lugares...
amizade ( este foi o pensamento geral do seu O Sr. Ferraz : — Olhe que o nobre deputado
discurso), ou apoio o ministerio porque 'o no não tem idéas exactas do que eu disse.
bre deputado pelo Rio do Janeiro , o Sr. Pe
reira da Silva, apenas se occupou em defender O Sr. Nebias : — ... os tratados do nobre mi
ou fazer a epopea dos tres ministros que se nistro nesta parte falharão completamente, de
achãrão naquellas tres cadeiras. . . » (O orador maneira que o nobre deputado, em vez de pesar
aponta para as tres cadeiras da direita do o predominio da nossa influencia legitima nesses
lugar em que se assentão os Srs. ministros.) lugares, nessas provincias que formão a confede
ração Argentina, queria que o ministerio logo
O Sr. Ferraz : — Essas não forão as razões em principios fizesse tratados de commercio 1
O Sr. Nebias : — ... eu apoio o ministério Com que bases ? Em que estado ?
Íiorque aqui no Rio de Janeiro se pensa que os O Sr. Ferraz : — Eu não disse isso.
imites do imperio estão na serra dos Orgãos... O Sr. Nebias: — Eu apoio o ministerio porque
O Sr. Ferraz : — Isso ó traducção sua. ainda nas relações estrangeiras eujvejo que não
O Sr. Nebias:— ... eu apoio o ministerio por se tem nomeado para certas missões pessoas
que nelle se achão cinco senadores, e deixou-se proprias e habilitadas. Depois, Sr. presidente,
um só lugar para os deputados... (Reclamações.) além de algumas outras considerações e prin
cipios muito luminosos com que o nobre de
O S«. Ferraz: — Ora I oral... putado nos occupou hontem, merecendo de nós
O Sr. Nebias: — Eu estou relatando o que muita attenção, tratou de alguns objectos per
disse o nobre deputado. Eu apoio ao ministerio tencentes a certa parte da administração in
porque vejo algumas incapacidades oceupando terna, por exemplo, oceupou-se da organisação
as eminencias do estado. interna a respeito de impostos e queixas que as
O Sr. Sayão Lobato : — Foi o que se ouvio na provincias fazem, de pesados vexames que as
casa claramenie enunciado pelo nobre deputado. provincias sentem, o nesta parte eu vi que o
nobre deputado ainda apoiava ao Sr. ministro
O Sr. Nebias:— Eu entendia até, Sr. presi da fazenda por elle não ter tratado até agora de
dente, que o nobre deputado estava fazendo uma certas isenções, de certos favores que o nobre
opposição ironica ao ministerio. (Reclamações. deputado fez-lhe o obsequio de lembrar no seu
Movimento.) discurso, não só em relação ao nosso commercio
O Sr. Ferraz : — Quod volumes facile cre- e industria, como em relação á navegação cos
dimus. teira e interna. Depois o nobre deputado ainda
O Sr. Nebias : — Eu apoio o ministerio, disse oceupando-se com o Sr. ministro da fizenda,
o nobre deputado, porque as relações estran tratou da questão de bancos..
geiras têm sido mal dirigidas... O Sr. Ferraz dá um aparte que não ouvimos.
O Sr. Ferraz:— Isso ainda é tradiKção. ' O Sr. Nebias:—... e perguntou se é o banco
actual esse que se tratou de apresentar ao corpo
O Sr. Nebias: — Eu estou traduzind -, mas os legislativo bastante para dar remedio aos males
Srs. ministros estão vendo so é verdade ou não que soffre a agricultura e o commercio...
o que digo. Estou referindo o que o nobro depu O Sr. Ferraz : — Não disse isso.
tado disse na presença de algum dos. Srs. mi
nistros... O Sr. Nebias:— Disse o nobre deputado que
94 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
em vez desse banco devia o governo tratar doa O Sr. Ministno da Marinha: —Pois diga.
bancos ruraes e hypothecarios. . . O Sr. Nebias: — . . . não a respeito do nobre mi
O Sr. Ferraz:— Não disse isso. nistro da marinha ; mas entendo que este objecto
O Sr. Nebias: — Ate aqui, senhores, cu não é muito melindroso, e por isso não entrarei agora
tenho dito nada que não fosse enunciado pelo nesta questão.
nobre deputado no seu discurso ; o paiz nos está O Sr. Ferraz:—E' pretexto.
ouvindo, assim como esta augusta camara... O Sr. Nebias:— Não é pretexto, o o nobre de
O Sr. Ferraz:—Os discursos do nobre deputado putado não me provoque com os seus apartes.
sempre são assim. Não tenho o talento do nobre deputado, nem a
O Sr. Sayão Lobato:—Foi isso flelmonte o que sua coragem, porém crêa que posso responder-
sc disse. , lhe com muita vantagem.
O Sr. Nei;ias:—Não somos nós somente que es O Sr. Wanderlev : — Presumpção o agua
tamos ouvindo. . . . benta. . . i
O Sr. Ferraz:—O nobre deputado pareco que O Sr. Nebias (para o Sr. Wanderley) : — Ap-
esta surdo. plico ao nobre deputado a mesma cousa.
O Sr. Nebias: — Eu quizera estar surdo pura O Sr. Wanderlev : — Oh I quer brigar com-
muitas cousas, e ha muito tempo... migo por tão pouco I
O Sr. Ferraz:—Muito mais eu. O Sr.- Nebias :— Nem eu quero brigar, respondo
ao seu aparte.
Uma Voz:—E' muito máo gosto de parte a parte. O Sr. Wanderlev : — Não desejo brigar com
O Sr. Nebias:—Não fui eu que provoquei esse o illustre deputado.
máo gosto. O Sr. Xebias : — E' que os senhores não estão
Assim pois o que fez o nobre deputado ? Apenas acostumados a ouvir estas cousas.
tratou de eefender o Sr. ministro do imperio. O Sr. Ferraz :— Não se zangue.
O Sr. Ferraz:—E tambem ao Sr. ministro da O Sr. Nebias :— Estou muito tranquillo; não
marinha. penso o nobre deputado que me altero "por isso.
O Sr. Nebias:—Lá vou. . . Lá vou. O nobre deputado é que hontem se alterou muito
Apenas, dizia eu, n nobre deputado tratou de de e gritou bastante.
fender ao Sr. ministro do imperio na questão das O Sr. Ferraz : — E' o meu natural.
estradas de ferro, e defendendo nesse ponto era de O Sr. Nebias:— Era, Sr. presidente, o que cu
sua obrigação, porque assim vigorava o principio tinha a dizer a respeito do nobre ministro da
das suas relações individuaes; não porque o nobre
ministro tivesse procedido como devêra, não forão marinha.
essas as razões que deu, mas porque praticando Qu into ao Sr. ministro da justiça, o nobre de
assim mostrava que era seu amigo... putado nada disse.
O Sr. Ferraz:—Isso tambem ó traducção do no- O Sr. Ferraz :— Deixei ao nobre deputado/
bro deputado. . . Eu não faria um discurso assim. . . O Sr. Nebias: — A respeito do Sr. ministro
O Sr. Nebias: —Tratou depois do Sr. ministro da guerra, disse o nobre deputado que as ac-
da marinha, e o que disse o nobre deputado para cusações que so lhe fazião erão já velhas, nada
responder-me, para notar-me um despeito como mais observou, o fez igualmente os seus pro
este que descobrio da minha parte em todo o seu testos de amizade ao Sr. ministro.
discurso? Disse que eu tinha aceusado ao Sr. mi O Sr. Ferraz . — Está enganado ; não fiz pro
nistro pelo naufragio do vapor Affonso. Não ad testo algum de amizade.
mira, senhores, que eu esqueça taes palavras e O Sr. Nebias : — Tanto melhor.
proposições lançadas nesta casa, quando o nobre Sr. presidente , devo tambem esclarecer um
deputado esquecen-se do que eu disse a esse res ponto sobre qu) não fallei, e que me foi attri-
peito, quando o nobre deputado quer figurar uma buido. Respondo nesta parte a um nobre de
aceusação que o nobre ministro da marinha certa putado pela Bahia que primeiramente faltou
mente não enxergou no meu discurso, porque na nesta materia, e ao mesmo Sr. ministro do im
verdade eu não o aceusei. perio.
Nem mesmo aceusei esses distinctos officiaes Não fiz insinuação alguma ao Sr. ministro do
brazileiros sobre quem pesou a dura mão da fatui imperio a respeito da sua probidade : as pala
dade nesse desgraçado naufragio. Se eu quizesse vras do que usei estão no meu discurso im
aceusar ao nobre ministro da marinha no episodio presso. Poderei, Sr. presidente, ser dominado
de que se tratou, accusal-o-hia pelo facto de Bra- pelo despeito, ter muitos erros na minha vida ;
cuhy. Eu apenas disse: « Na repartição da mari mas declaro a V. Ex. que tenho um principio
nha não vejo nada que mereça opposição, noto muito sagrado para mim : quando se trata da
sómente um desembarque por falta de fogo, e um probidade e da reputação alheia, ou tudo ou
naufragio por falta d'agua. » E não é isso verdade, nada, mormente quando se trata da probidade
senhores ? Quiz eu attribuir ao nobre ministro e reputação de um homem de estado. (Apoiados.)
estes factos ? Não usaria, pois, de insinuações e reticencias
Se eu quizesse tratar de semelhante ponto sem em objecto tao sagrado.
certa reserva, nem aceitaria a escusa que o nobre Havião-me provocado a que fosse franco a este
ministro da marinha nos deu por occasião das mi respeito : o nobre deputado pela Bahia, e o
nhas interpellações : eu diria ao nobre ministro que orador a quem respondo, tambem em seus apar
não foi por falta do combustiveis que deixou de tes disserão que eu estava fazendo uma insi
haver cruzeiro nesse lugar ; diria ao nobre mi nuação ao Sr. ministro do imperio, e pedirão
nistro, revendo os jornaes da época, que os vapores que eu fosso franco.
TTietis, Golfinho e Recife achavão-se todos nesta Sr. presidente, o nobre ministro do imperio
córte até o dia 7 de Dezembro pouco mais ou me quando fallou achou uma insinuação no discurso
nos, e que de 7 do Dezembro a 12 havia tempo do ao meu particular amigo deputado pelo Rio de
sobra para mandar algum vapor a esse lugar. Eu Janeiro, e achou-a enunciando-se pelo modo
poderia dizer mais alguma cousa que sei sobre seguinte : « Quando o Sr. deputado pelo Rio
este negocio. . . de Janeiro fallava a respeito dos meus compa
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 95
nheiros do ministerio, servio-se de termos hon emenda : se as cousas têm marchado milito bem
rosos, por exemplo, a respeito do nobro ministro a respeito dos caminhos de ferro, se com of-
da fazenda, e não. "sei se a respeito de algum feito estes contractos hão de trazer ao paiz os
outro meu collcga; (estou repetindo as palavras beneficios que elle reclama, adopte-se a emenda ;
do nobro ministro do imperio), ao passo que e se entendem o centrario, so entendem que
dirigindo-se a mim faria insinuações que de al este negocio está emmaranhado, e que dahi não
gum modo tendião a prejudicar a honestidade do nos virão os beneficos resultados que esperamos,
meu caracter. » Então eu disse, quando fallei em diga-se tambem com franqueza. Está justificada
resposta ao nobre ministro, que não vi a insinuação a minha emeada. Eu, Sr. presidente, tinha dito
alguma no discurso do meu amigo, o que assim como que este topico da commissão envolvia falta de
o Sr. ministro tinha dito que era solidario com confiança : por ora ainda estou convencido disto ;
os seus companheiros do ministerio em todos quero ver a sorte da minha emenda.
os seus actos, que havia de defender-se a si e Ainda o nobre deputado apresentou algumas
aos seus collegas quando fosso necessario, eu res outras proposições no seu discurso, que me pa
pondi que estava certo disso, e qne havendo recem dignas de algum reparo. Vi mesmo o que
solidariedade de probidade entre o nobre mi hoje o nobre deputado tornou a replicar por um
nistro e os outros membros do ministerio, tam seu aparte, eu vi mesmo que o nol)re deputado,
bem quando fosse necessario elles o defenderião. goveinista
A isto respondeu-mo o nobre ministro dizendo da politica como é, sustentador do ministerio,
que elle tem desenvolvido, eu vi que
que não precisava de defesa de ninguem, e eu o nobre deputado apresentou aquella idéa fatal
tornei-lhe : « Kem da defesa de seus compa
nheiros? » Disse-me ainda o nobre ministro: de norte e sul, pensamento que já se achava
plantado na serra dos Orgãos.
« De ninguem neste mundo, mesmo do mais Sr. presidente, quando se trata de melhora
alto collocado. » Onde está, pois a insinuação mentos, d i politica do paiz, não ha provincia que
da minha parto ? seja a primeira nem a derr ideira (apoiados) ;
Sr. presidente, torno a repetir, em objecto quando so trata da politica do paiz todas ellas
tão importante cu seria muito franco, ou havia
de accusar o ministerio por improbo, ou não devem receber benefico influxo, desde a primeira
diria uma só palavra. A probidade e reputação até a ultima (apoiados) ; quando so trata de
do homem é cousa muito sagrada (apoiados) ; amelhoramentos, nem todos se podem accommodar
o digo mais, quem a tem não teme perdel-a. pecco poras provincialista,
todas provincias. (Apoiados.) Eu tambem
mas conheço que nem
Um assassino póda nos tirar a vida com um
punhal ; mas a reputação tem bases formadas, todos os melhoramentos so podem dar a todas
resume o complexo de uma vida inteira, e não asEprovincias.
póde ser arrancada pela calumnia. (Muitos sassea este proposito de estradas de ferro, se pas
apoiados.) precedente, como devemos decretar,
por exemplo, uma estrada de ferro para Matto-
Não sei so 9 nobro deputado a que me refiro Grosso,
tambem quiz achar uma especie de insinuação provincias outra para Goyaz, e assim outras para
ou de algum pensamento occulto na emenda que dições longinquas que não ^fierecem as con
tive hontem a honra de apresentar á consideração necessarias para o gozo e sustentação de
da casa, emenda que nunca pensei que tivesse semelhantes estradas? Lembro-me que essas ri
tamanho alcance e que fosse motivo do tantas validades apparecêrão na sessão em que se dis-
interpretações. Foi uma emenda formulada do- cutio esto importante objecto ; vi que o princi
baixo da franqueza que presumo ter, e que de pal espirito que dominou aos nobres deputados
sejo que a camara tenha em todos os objectos que se oppuzerão aos caminhos de ferro foi
melindrosos. esse; vi que querião logo que se désse cami
Tinha eu notado que apezar das explicações nhos o
de ferro para o centro, para o norte, pira
sul, para toda a parte ; dissemos até nessa
que se derão sobre o pensamento que dominava occasião : apresentai um projecto pedindo tal e
no voto do graças, no topico relativo ás estra tal estrada, mostrai que elle está n0 caso do
das de ferro [não havia franqueza alguma, que ser
eu não comprehendia bem o que significava vernoapoiado pelo corpo legislativo e pelo go
; se aquelles que sustentão o projecto
este topico ; e para bem comprehender o pen
samento da commissão e da camara, eu que não principal negarem o seu voto para novas crea-
sou deputado ministerial, apresentei a emenda ções razão
em identicas circumstancias, tereis então
de notar essa rivalidade.
que se acha sobre a mesa, o contra a qual o
nobro deputado hontem tanto se conspirou. Eu não direi mais nada a este respeito, até
O discurso da coroa nos diz que brevemente porque já se tem discutido bastante o aãsumpto
hão de ser submettidos á consideração da casa das estradas do ferro ; não quero incorrer na
os contractos celebrados para a construcção de mesma' pecha que ao principio foi lançada sobre
caminhos de ferro, etc : o voto de graças ape aquelles que se oceuparão deste objecto.
nas! responde que a camara reconhece que os Eu apoiaria muito, apoiaria até certo ponto
caminhos de ferro são muito convenientes para as queixas que hontem pareceu fazer o nobre
a prosperidade e grandeza do paiz. O que fiz deputado pela Bahia em beneficio das provincias,
eu, Sr. prosidente? Mandei á mesa uma emenda mas eu vi no seu discurso, não o fim princi
concebida pouco mais ou menos nestes termos : pal dessas queixas ; entre os laivos de provjn-
« Senhor, a camara dos deputados confiando no cialismo que o nobre deputado apresentou, vi
zelo e sabedoria do governo de V. M., persua que elle era dominado por outro principio ; po
dida que os contractos celebrados para a con dia talvez avançar que o nobre deputado se
strucção dos caminhos de ferro hão do trazer ao daria por satisfeito em beneficio das provincias,
paiz todos os melhoramentos que elle reclama, desse se por atéexemplo a serra
á Bahia... s dos Orgãos se esten
espera cheia de satisfação que estes contractos
vonhão ao seu conhecimento para lhes dar a O Sr. Ferraz :—E' verdade.
sua plena e franca approvação. ii O que ha de
maligno ou de reprovado nesta emenda? Por que O Sr. Nédias :—Não lhe levo a mal, mas devo
razão não teria eu o direito do apresentar uma dizer que o nobro deputado apenas apresentou
emenda desta ordem ? Eu, que quero toda a este seu pensamento, esto seu despeito que eu
franqueza por que motivo hei de ser censurado notei em todo o seguimento do seu discurso.
pelos nobres deputados que querem tambem fran Nada direi sobro a Bahia, até porque se eu
queza? De duas uma, âr. presidente, e creio dissesse uma palavra, ahI... \
que é o resultado que poderei tirar da minha O Sr. Ferraz : —Está engraçado. -
96 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Nedias : — Sei que não sou engraçado, victoria, não precisamos disto. » Quando do al
isto ó só para o nobre deputado. guns pontos se me pedia força, eu respondia neste
O Sr. Ferraz :—Hoje está. sentido. Poderia citar muitos factos ; uma discus
são mais detalhada me proporcionará occasião.
O Sr. Nebias : — Hontem dizia o nobre depu Achei alguns pontos da provincia um pouco di
tado, a proposito de defender o Sr. ministro da vididos, outros um pouco desgostosos. Tive a
marinha (que não precisa de defesa), que eu tam felicidade de chamar todos a uma conciliação, de
bem poderia ser aceusado pelos tristes aconte despertar mesmo certo enthusiasmo (fallo em re
cimentos que ti verão lugar em S. José dos Pi- lação ao "partido que apoia ao governo , depois
nhaes, mas que elle não mo aceusava. Accuse- (aliarei em relação ao outro) ; foi uma felicidade
mo ou não o nobre deputado ; a sua indirecta que tenho de agradecer do alto da tribuna a todos
tomo-a por uma aceusação ; desejo que o nobre os meus amigos de uma extremidade a outra da
deputado seja franco, que me aceuse, que vá provincia. Nunca me esquecerei do apoio generoso,
mais longe do que tem feito a opposição da da franca manifestação que encontrei em todos
minha provincia, mesmo nos seus dias de maior os pontos da provincia. Aos esforços de meus
furor contra mim. amigos, á sua união o ao seu enthusiasmo...
O Sr. Ferraz dá um aparte que não ouvi O Sr. Ferraz : — Cicero pro domo sua.
mos.
O Sr. Nebias : — Opposição de principios ; o O Sr. Nebias :—... sem duvida é devido o grande
nobre deputado conhece isto... triumpho que obteve o partido saquarema na luta
eleitorat. Diga o nobre deputado o que quizer...
O Sr. Ferraz : — Não é por principios que o O Sr. Ferraz : — Eu nada disse.
nobre deputado está nu opposição ?
O Sr. Nebias :—Já declarei que tenho e hei de O Sr. Nebias : — Desde as sessões preparato
continuar a ter os mesmos principios politicos. . . rias que o nobre deputado está prevenido contra
as eleições de S. Paulo : aceito pois a sua pre
O Sr. Ferraz:— Ah I venção, entremos em debate serio, que tenho
O Sr. Nebias:— Sr. presidente, eu pretendia documentos valiosos para apresentar quando seja
instituir uma discussão especial a respeito dos necessario. Estou faltando sinceramente, ninguem
acontecimentos que se derão em S. Paulo du nem aqui nem na minha provjncia, nem em parte
rante a minha presidencia, tanto mais porque alguma, é capaz de contestar o que estou di
fui deznittido daquelle cargo depois desses acon zendo. Não preciso de ser refalsado ; seguro na
tecimentos, e não sei se em consequencia delles. minha consciencia, não temo a respeito desses
Não entrarei agora em uma analyse detalhada factos estrondosos que apparecerão, nem a dis
desses negocios ; mas a camara ha do permiti ir cussão do nobre deputado, nem a discussão
que apresente algumas observações geraes. Torno daquelles que de mais perto estão ao facto desses
a dizer, até hoje na minha provincia o homem negocios. .
mais frenetico da opposição não se lembrou de O Sr. Ferraz : — Não se .incommode tanto.
fazer-me" culpa dos acontecimentos lamentaveis O Sr. Nebias : — Talvez o nobre deputado se
de S. José dos Pinhaes. incommode mais com alguns apartes meus.
En tinha prómettido que havia de aproveitar-
me do primeiro ensejo para chamar a esta casa O Sr. Ferraz:— Não.
um membro da opposição, o primeiro supplente O Sr. Nebias : — Peço ao nobre deputado que
que se acha nesta corte ; estimarei ter occasião tenha muito cuidado com seus apartes...
para faze-lo, apezar de que já me dou por muito
satisfeito com o desafio do nobre deputado, por O Sr. Ferraz:— E o nobro deputado com suas
que o nobre deputado deve ter recebido todos os palavras.
esclarecimentos necessarios para entrar commigo O Sr. Nebias :— Quando tiver de lançar aceu-
na discussão de toda a eleição da minha provincia. sações dessa gravidade, ainda que seja indirecta
Quando aceitei a presidencia da provincia de mente, contra qualquer pessoa, lembre-se que já
S. Paulo cu não desconhecia as difficuldades com tem sido victima de aceusações falsas. . .
que tinha de lutar. Tomei posse do governo da Aproveito a occasião, Sr. presidente, para do
provincia no .1° de Outubro (vou tratar resumi- alto da tribuna agradecer o apoio generoso que
dameute deste objecto, porque ainda tenho de encontrei em minha provincia. A elle e sómente
oceupar-me com outro assumpto que não diz res a elle, á força do partido saquarema, á sua união,
peito á provincia de S. Paulo), tomei posse do ao seu enthusiasmo devemos a victoria que al
governo da provincia no dia 1° de Outubro, fal cançámos. Ella não é devida a mim, não quero
tava um mez e tantos dias para a eleição pri ter essa gloria, não quero adornar-me com pennas
maria ; tratei logo de fazer ver aos meus amigos de pavão. A opposição de minha provincia re
politicos e individuaes qual era o meu pensa conheceu isso, e deu graças a Deos . . não digo
mento, o pensamento do governo ; tratei com a bem a Deos. . . deu graças ao nosso infortunio
franqueza propria de um amigo, dè um homem por esses acontecimentos de S. José dos Pi
dedicado á sorte do partido saquarema na minha nhaes, porque sem elles nada teria para suas
provincia ; tratei, digo, de chamar os es declamações.
piritos á necessaria harmonia: fiz mais, tratei Sr. presidente, sabe V. Ex. qual foi a parte
muito seriamente de lhe fazer sentir que o go que tive nesses desgraçados successos? Foi a
verno não queria excessos , que se contentava com emoção que soffri o as lagrimas que verti quando
os esforço» legitimos dos seus amigos (apoiados}i no dia 20 de Novembro á noite o Sr. Rodrigues
fosse qual fosse o resultado da eleição. ^Apoiados.) dos Santos foi ao palacio do governo levar- me
Eu dou licença á opposição desta capital, á op as primeiras participações. Os meus amigos todos
posição da minha provincia, para correr todos os que me tratavão do perto conhecérão a emoção
angulos delia, o recolher toda a minha corresp in- que soffri, e que nem podia deixar de soffrer.
dencia com os meus amigos mais reservados, com (Apoiados.) Sejão quaes forem os meus defeitos,
aquelles a quem fallava, não como presidente da as minhas fraquezas, seja qual fór o odio do
provincia, não em peças officiues, mas comò quem meus inimigos, tenho coragem para resistir a
apresentava o intimo do sen coração : « Perdei a todos os insultos ; sómente falta-me a coragem,
eleição, embora, não vos ficará mal ; o governo Sr. presidente, quando vejo o soffrimento de meus
não vos ficará tendo em menos consideração por isso ; semelhantes e o sangue das victimas ; então perco
mas nada de excessos, não manchemos a nossa toda a coragem e exalta-se a minha sensibilidade,
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
no que felizmente para o genero humano tenho deve necessariamente nudificar o governo da
muitos complices. (Apoiados.) provincia. »
Nos primeiros dias. . . Peço ao Sr. tachygrapho Não pude, pois, bem a meu pezar, aceitar a
que tomo com todo o cuidado esta parte do meu transacção que me foi proposta.
discurso, porque tenho necessidade de ser bem Chegarão as eleições, e então teve lugar esse
ouvido e comprehendido pela camara, pelo mi desgraçado conflicto de S. José dos Pinhaes. Com
nisterio e pelo paiz inteiro ; não para me defen um niez de presidencia, na distancia do 120 le
der, porque graças a Deos, até hoje não tenho guas da capital, eu não podia adivinhar seme
de que, mas para que não vaguem por ahi pro lhantes acontecimenfos, nem tinha razão alguma
posições falsas, causas erroneas. para adivinhal-os e providenciar. Eu me explico.
Nos primeiros dias da minha administração, a O delegado de policia daquelle termo, que tem
opposiçno não sei se contando com a sua der sido positivamente accusado por esses successos,
rota certa na provincia, ou se querendo por bons era um homem que me inspirava confiança, era
principios uma cenciliação qualquer, maudou-me um delegado que estava servindo desde tres admi
offerecer uma transacção ; facto qne até hoje não nistrações, com o Sr. Piros da Motta, o Sr. Na-
se tem publicado, e que apenas communiquei buco, o o Sr Hippolyto ; o não havia contra ello
em particular a alguns amigos. A transacção nem queixas politicas, nem reclamações parti
consistia em dar o partido saquarema seis depu culares : como pois havia de chegar eu na pro
tados o o da opposição tres. Essa proposta me vincia e ir tratando logo de demittil-o ? Seria
foi apresentada por meio do meu venerando amigo, somente para satisfazer a opposição ? Era um
o Sr. bispo diocesano, e ainda posteriormente o systema falso.
Sr. Rodrigues dos Santos fallou-me nisso.
Eu disse ao Sr. bispo aquillo que todo homem Demais, Sr. presidente, além de que eu não
leal deve dizer. Eu estimaria muito, Sr. presi tinha razões para domittir esse delegado, tinha
dente, ver unida, não- só a familia de minha pelo contrario motivos para conserval-o com re
provincia, como-a familia brazileira ; e muito lação mosmo ao processo eleitoral. Constava-me
estimaria que cessasse essa luti desesperada dos que esse delegado se apresentava candidato nas
partidos ; mas não é em um só dia que se consegue proximas eleições ; constava mais que no inte
tão grande resultado : a camara me dispensará resse, muito natural, de sua candidatura, esse
de citar aquellas palavras muito judiciosas do delegado estava em boa harmonia com o lado da
celebre Sr. Tbiers a respeito de uma conciliação. opposição, porque nello tinha parentes e amigos,
Eu disse ao Sr. bispo diocesano : « V. Ex. co constando-me até procurando fazer uma transac
nhece os meus sentimentos, sabe que como homem çao na cidade de Coritiba, algumas influencias
particular não tenho odios contra mim, o que, da opposição lhes disserão que, posto que não
embora pertença a um partido e seja nello muito aceitasse a transacção, ficasse elle certo de que,
decidido, tambem tenho immensas relações até vencendo o partido da opposição, teria elle toda
de familia no partido contrario ; mas V. Ex. bem a votação naquelle grande collegio. As cartas,
vê que uma transacção desta ordem nada signi Sr. presidente, as correspondencias que issoprovão
fica. Primeiramente pergunto a V. Ex. : esses foráo lidas e publicadas na assembléa provincial
homens serão sinceros na sua proposta? » de S. Paulo na vasta discussão que alli houve
Disse-me S. Ex., e o mesmo me repetio depois a respeito destes successos.
o Sr. Rodrigues dos Santos : • O Sr. Barbosa da Cunha:— Esses factos forão
« Quando se trata de negocios desta ordem com muito elucidados na assembléa provincial.
pessoas que estão em certa posição, não se póde O Sr. Nebias : — Ora, Sr. presidente, quando
duvidar da sinceridade delias. » alem de tudo isso eu sabia até que o delegado
« Pois bem, concordo que assim seja;' mas, de Coritiba tinha ido a certas povoações da Ma
diga-me V. Ex. uma semelhante transacção para rinha com o fim muito, louvavel de plantar certa
Sue entrem de um lado seis deputados e tres harmonia eutro alguns espiritos no interesse da
o outro, póde trazer alguma vantagem, algum sua candidatura, podia eu persuadir-mo de que
futuro e duração ? Não ó uma cousa tão transi esso delegado havia de ser accusado de ter pro
toria?... Será essa a conciliação que devemos movido as desordens de S. José dos Pinhaes ?
querer? Ainda quando entrem seis de um lado e De certo que não, e pelo contrario entendi, Sr.
tres do outro, o que adiantaremos? Os que forem presidente, que attentas as relações em que se
excluidos de um e outro lado não formarão um achava, o pelas informações que eu tinha, a con
novo partido, e não continuará a mesma luta? servação daquelle delegado era mais uma garantia
Já vê V. Ex. que essa não é a conciliação que para a ordem publica e para regularidade dos
o governo deve cimentar ; mas, pondo tudo isto trabalhos eleitoraes naquelle ponto.
de parte, ainda tenho a ponderar a V. Ex. que Sr. presidente, eu não quero entrar agora na
faltão 15 dias para a eleição primaria, e em 15 apreciação dos factos que tiverão lugar em S. José
dias não posso tratar de um- negocio de tanta dos Pinhaes : ha um facto que fiz ver na minha
gravidade. » correspondencia com o governo ; é certo que por
Eu, Sr. presidente, não queria tomar a mim prevenção existia uma pequena guarda de policia
essa tarefa^, porque seria basofia. Eu tinha ne na poria da igreja, é certo que no grupo do
cessidade de entender-me com todos os pontos juiz de paz, que ia para a igreja, ia uma pes
da minha provincia, ao menos com as principaes soa com duas pistolas carregadas, e á vista. A
influencias do partido a que pertenço, porque, opposição não o tem negado. Deixando pois de
embora fosso presidente da provincia, embora dar a minha opinião a esse respeito, e de entrar
fosse um membro muito pronunciado do partido em outros detalhes, porque esse negocio pende
pelos mui poucos serviços que na minha curta dos tribunaes, eu direi que se não estivesse na
esphera tenho prestado, não mo suppunha em porta da igreja este destacamento não teria ha
estado de impor uma transacção dessas; era vido tamanha desgraça, assim como não teria
preciso pois que eu ouvisse muito seriamente ao havido se não tivesse ido uma- pessoa com duas
menos as principies influencias das localidades. pistolas á vista no grupo do juiz de paz. Se
« Demais, disso ainda eu ao Sr. bispo dioce não estivesse alli esse destacamento, o povoteria
sano, como delegado do governo imperial, não devo entrado para a igreja com aquelle homem assim
dar um passo desses sem communicar-lhe, por armado em um dia de eleições, nesse dia tão
que uma transacção desta ordem, uma transac solemne e tão sagrado, houvesse depois o que
ção com o fim de harmonisar os espiritos, tem houvesse no templo. So não fosse no grupo um
de ser approvada pelo governo geral, quando homem armado, que despertou a attenção da força
tomo 2. 13
98 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
publica, o povo teria entrado sem altercação, e vencido que o delegado e;a o algoz, porque isso
o juiz teria funccionado. dependia do um juiz.) muito reflectido e muito im
Nada mais direi a tal respeito. parcial sobre informações exactas, informações que
Sr. presidente, a opposição da minha provincia eu não tenho desse lugar na distancia de 120 le
ine conhece mais de perto, o por isso não ma tem guas da capital da provincia, e pois eu não podia
leito essa injustiça que o nobre deputado hontem suppór que houvesse de um lado algoz e do outro
me t-z ; fui accusado' de um só facto na assembléa victimas.
Srovmcial da minha provincia, aondo so achavão Demais, Sr. presidente, eu tinha a meu favor
abeis oradores da opposiçã», que tinhão procu outras circumstancias. Quando por ventura eu
rado examinar muito bem todos os factos ; apenas pudesse desconfiar que o deiegado de policia pu
fui accusado pela conservação do delegado de po desse abusar, eu tinha uma garantia immediata
licia depois dos acontecimentos. . . Eu explico no Dr. juiz municipal, e pois como presidente da
esse f icto que não tive occasião de explicar, nem provinda podia estar tranquillo, e certo que não
ao governo e nem tão pouco ao paiz. haverião vinganças, porque, quando o delegado
No di»20 de Novembro á noite recebi por mão quizesse abusar do seu poder, quando elle quizesse
do Sr, Rodrigues dos Santos as primeiras partici tirar vinganças e fazer victimas, lá estiva o juiz
pações d o juiz de direito daquelle lugar... Faço municipal de Coritiba, correctivo promplo, legal e
" pausa aqu para notar que as primeiras participa necessario para prevenir ou obstar a esses abusos,
ções forão recebidas no dia 20 de Novembro o á juiz municipal que não era suspeito á propria op
noite, com o fim de destruir assim um erro que um posição, que muitas vezes invocava a sua inter
correqiom ente do Jornal do Commercio cminet- venção, o seu apoio, e que na assembléa provincial
teu, quando declarou em suas curtas que eu tinha teve de reccorrer ou se referir a elle como homem
sido tardio nas minhas providencias, e que as pri de justiça. E' irmão do digno companheiro e meu
meiras participações recebidas sobre esse negocio amigo o Sr. Ferreira de Abreu.
tinhão sido em 17 de Novembro, referindo-se de Havia mais outra grrfintia, que era o juiz de di
certo ás particip ições dos juizes do direito da co reito, pessoa não suspeita, e que.na phrase do juiz
marca, quando essas participações, como já disse, de paz representava o antagonismo da época na-
farão por mim recebidas em 20 de Novembro á quella comarca, o que por conseguinte não havião
noite por mão do Sr. Rodrigues dos Santos. de consentir abusos nem violencias, servindo elles
Sr. presidente, essas participações que recebi de recurso ás victimas, para que ao menos não
carreguvão muito sobro o delegado ,de policia e fossem sacrificadas. Nada porém aconteceu, nada
subdelegado, e por is-so esperei um, dous, tres dias soffrerão.
para ver so chegavão mais algumas noticias. Não Sr. presidente, notarei a V. Ex. que o juiz mu
me chegavão nenhuma das outras autoridades. nicipal de que tenho feito tanta menção era a
Sem mais esclarecimentosL devendo eu dar impor mesma pessoa que eu tjnha nomeado delegado de
tancia a uma communicação official do juiz de di policia, o cuja nomeação ficou sustada para em
reito da comarca, homem de tão alta categoria, tempo o com calma realisar-se á vista de poste
embora seja elle homem da opposiçao (no que não riores informações.
lhe faço eu um crime), pois que foi mesmo o seu Todas estas providencias, porém, erão proviso
correligionario muito distincto da Coritiba, um rias ; o remedio que me tranquillisava, que tran-
juiz de paz, o Sr. Proença Brandão, um dos chefes quiliisava ao governo, e que satisfazia, era a pre
da opposiçao em Coritiba, que lhe disse em um sença do Sr. chefe de policia, que tinha de partir
officio o seguinte (depois de pedir-lho sua inter para Coritiba, afim de verificar 6sses aconteci
venção) : a V. S., que nesta comarca representa o mentos, e a viagem do Sr. chefe do policia nio
antagonismo da epoca neste tempo de geral in tevo lugar como eu tinha communicado ao governo,
versão,» recebendo eu as ditas participações do juiz e como disso ao meu successor, porque no dia em
de direito que muito pesavão sobre o delegado. de que tinha de partir recebemos as nossas demissões.
policia e subdelegado, ainda esporei, como disse, Eis a razão porque não foi. Para accelerar á sua
as communicações das outras autoridades, pira viagem já estava fretado um vapor, que-o havia de
sobre ellas formar um juizo prévio mais ou menos conduzir em dous dias a Paranaguá, de modo que
fundado, e tendo de partir o correio resolvi, de dentro de quatro dias havia de achar-se elle em
accordo com o meu amigo, o Sr. chefe de policia, Coritiba.
a demissão do delegado e subdelegado. Passados Tinha-se fretado esse vapor de que fallo, para
tres ou quatro dias, creio eu, recebi as outras par que o chefe de policia chegasse ao mesmo tempo
ticipações mais circumstanciadas do delegado, que chegassem as outras providencias, assim como
do subdelegado, do commandante da guarda para impedir que o delegado, abusando da sua
nacional, de algumas pessoas respeitaveis, e posição, quizesse fazer victimas ; tinha tomado a
do juiz municipal daquelle termo, cuja autori responsabilidade de fretar esse vapor, e quando o
dade nao é suspeita á propria opposição, e cujo tes governo não quizesse approvar essa despeza extra
temunho tem sido invocado ato mesmo na assem ordinaria, eu o o meu nobre amigo o Sr. chefe de
bléa da minha provincia ; passados pois, como ia policia estavamos dispostos a pagal-a. Não somos
dizendo, tres ou quatro dias depois da partida do ricos, mas haviamos de fazer este sacrificio.
correio, recebi essas participações de que fallo, e Por terra ou pela cesta a viagem era muito tar
por ellas pude julgar que o negocio não era como dia e dimcultosa pela má estação, que tornava
pintava o juiz de direito da comarca, ou ao menos muitos passos intransitaveis ; e pois era neces
me deixavao em duvida, porque, se as participa sario que fosse embarcado.
ções das autoridades não erão bastantes para re- E noto V. Ex. uma circumstancia muito essen
pellir as do juiz de direito, ao menos me obrigavão cial ; não era possivel que o chefe de policia fosse
a suspender o meu juizo sobre esses desgraçados antes porque andava de viagem pelo norte da pro
successos. A' vista destas considerações, Sr. pre vincia : isto ó muito publico, nem é objecto de
sidente, entendendo que não devia damittir e de- contestação que no dia 0 de Dezembro, creio eu,
sairar uma autoridade sem proceder a outros exa voltou elle do Norte debaixo de copiosa chuva, e
mes, a outras averiguações mais severas, suspendi não podia ir por terra nem pela costa.
as demissões, e deixei as cousas no estado em que Eu tinha combinado todas as cousas desta ma
se achavão ; e desse procedimento não resultou e neira, mas não tive tempo de as levar a effeito.
nem podia resultar mal algum. Eu me explico. Por esta exposição já se vê qual foi o meu proce
Náo entreguei, como disse a opposiçao na minha dimento, o qual o peso que podem merecer aceusa-
provincia, o processo das victimas ao delegado ções feitas neste milindioso successo ; no entanto,
accusado, não entreguei por conseguinte as victimas Sr. Presidente, em resultado de tudo isto fui eu de-
ao seu algoz. Primeiramente não podia estar con mittido pelo governo. . . não sei se por ter mandado
SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853 99
fuzilar gente em S. José dos Pinhaes, ou se por Um Sr. Deputado:— Do chamado partido li
algum outro acontecimento ; não sei se foi o go beral.
verno de seu motu proprio que me demittio, ou se O Sr. Nebias — . .. é um facto, além de outros
po r algumas influencias alheias que eu ignore, caracteristicos que poderei apresentar de natureza
O que me doeu muito, Sr. presidente, foi a ma analoga.
neira arrebatada, injusta e desleal por que fui de- Uni votante julgado como tal, isto é, que o
mittido. Nunca procurei presidencias, nem me ora em presença da lei, entregou a sua cedula
julgo digno delias ; sempre tenho vivido vida mo & mesa.como tambem outros votantes que já tinhão
desta e sem pretenções, porque conheço minha entregado as suas ; era em uma cidade impor
insufliciencia por meus habitos e por meu caracter ; tante da minha provincia ; e sabe V. Ex. qual
não tenho ambições nenhumas, e os meus amigos foi o attentado, qual era o plano para perturbar
sabem que talvez não teria voltado para aqui se a a eleição nostes e outros pontos ?
necessidade da minha posição a isso me não obri Depois do votante ter entregado a sua cedula
gasse (muitos apoiados) ; os meus amigos sabem com o assentimento do toda a mesa o do proprio
que lhes fallo de todo o meu coração quando lhes juiz de paz, que era da opposição, es.te virou-se
mostro minha repugnancia polii vida publica. para o votante, reconheceu que era um moço
Doeu-me muito o modo arrebatado e injusto por saquarema, o disse-lhe : « Você não tem idade
que se me deu a minha demissão ; o fiquei enten para votar.» E mette mão criminosa na urna,
dendo que eu tinha sido demittido em consequencia tira uma cedula e a rasga, atirando-a por des
dos negocios de S. José dos Pinhaes. E, senhores, feita ao votante. (Sensação.)
para um amigo leal que tem sempre acompanhado Quer V. Ex. um attentado mais criminoso ? Não
com toda a lealdado e defendido os seus amigos, devia isso trazer algum desaguisado naquelle
havia outro procedimento (apoiados) ; podião de fugir? Houve como era natural, alguma excitação,
mittir-me, mandassem-me a minha demissão, mas mas felizmente passou sem outras consequencias.
dessem-me alguma razão que ao menos me tran Sr. presidente, valendo-mo desta historia que
quilizasse, que me pudesse justificar perante o tenho feito dos acontocimentos de S. Paulo, e
publico ; não me expuzessem ao despreso publico do modo por que fui demittido pelo governo a
e aos insultos da opposição (apoiados) ; não expu quem sempre tratei com toda a lealdade, eu
zessem um amigo leal, que s0 tem sempre sacrifi tenho razão para responder ao nobre deputado
cado, e que aceitando aqnella presidencia ainda foz pela Bahia qne em uma das sessões passadas
um grande sacrifício para servir ao governo e a tanto me provocou para ser franco a respeito do
provincia. Deinittirão-me de um modo brnsen, meu descontentamento : digo a V. Ex. que, além
injusto e com a mais sensiveljdeslealdade. (Muitos dos outros motivos aue ligeiramente apresentei
apoiados ; muito bem.) para negar o meu apoio o confiança ao minis
Ainda não foi isto, Sr. presidente, o que me doeu terio actual, eu tinha um motivo para mim muito
mais ; a opposição encheu-me de insultos, estava nobre e muito legitimo, a minha demissão. Sou
no seu direito, mas não lhes gabo o gosto ; o que muito franco : a demissão de um amigo, do um
mais me doeu, senhores, foi um pensamento falso presidente de provincia, que foi dada sem razão
e inique que appareceu na imprensa da opposição. alguma, sem lealdade, sem systema, é motivo
Doeu-me muito que tomassem a minha demis bastante para que se desconfie do governo que
são como um triumpho seu, e trouxessem o assim procedeu. Se isto ó descontentamento, ó
nome augusto do monarçha para as disputas da muito distincto e nobre (apoiados), náo por ser
minha demissão. Doeu-mo sobretudo vor-me assim demittido. Eu não estava apegado á presidencia,
debaixo do peso da imperial reprovação : doeu-me os meus amigos intimos sabem que eu quiz pedir
no intimo do coração passar de repente por cri minha demissão; nunen procurei presidencias,
minoso e condemnado sem recurso por essa in- nunca me julguei habilitado para cilas, nunca
telligei cia superior, por essa vontade sempre bóa, pedi cousa alguma ao governo a quem sempre
e sempre pura (muitos apoiados), que não quer tenho tratado com toda a lealdado e franqueza.
senão o bem dos seus subditos, que não quer Sr. presidente, eu queria ainda fazer algumas
injustiças, nem violencias, nem ultragos. (Apoia observações a respeito de certos principios que
dos; muito bem.') Não pjnho em duvida este emittio o illustro relator da commissão, e u farei
artificio da opposição, considero a sagrada pes em poucas palavras. Não sei se entendi mal a
soa do imperador fóra do alcance das nossas applicação dos seus pensamentos quando nos
discussões, fóra do alcance das nossas paixões, disse que a camara actual estava presa e obri
e de nossas intrigas politicas. (Muitos apoiados.) gada a sustentar o ministerio.
Não dou psso algum a estas diatribes sardoni Sei que o nobre relator da commissão refe-
cas que apparecórão nos orgãos officiaes da rio-se aos nossos principios , tambem reconheço
opposição na provincia de S. Paulo, nem peço a força desses principios, delles não me pretendo
explicações ao governo ; estou convencido que fui separar, sempre seguirei a mesma send i, e digo
demittido bem ou mal pelo ministerio. (Muitos a V. Ex. que se algum dia o meu partido se
apoiados; muito bem.) esquecer de mim, eu nunca me esquecerei delle.
Um Sr. Deputado :— Era quem podia demit- O Sr. Aprioio:— Apoiado, muito beml
til-o.
O Sr. Aprioio :— Isso mostra que o senhor O Sr. Nebias :— Digo particularmente a mous
ainda ó do meu partido. comprovincianos que, por mais que se me queira
arrancar das suas fileiras, sempre estarei firme
O Sr. Nebias:— Termino aquii por ora, esta no meu posto, ainda que reformado.
breve analyse, e se algum' Sr. deputado, o que O Sr. Aprioio :— E' isso muito nobre.
eumuito desejava, quizer provocar-me a uma discus
são mais minuciosa, então adiantar-me-hei mais, O Sr. Nebias:— Reconheço a força dos princi
apresentarei documentos comprobativos do que pios sem adoptar a theoria dos mandatos im
avançar ; fallarei do todos os pontos da eleição perativos ; procurarei consultar a opinião que me
da minha provincia ; mostrarei, senhores, que mmdou para esta «asa. Não vejo porém aqui
a opposição da minha provincia estava tão certa uma prisão ; se alguma vez a mesma opinião
da derrota, que primeiro me propoz uma tran errar, nós temos o direito do esclarecêl-a, com-
sacção ; vendo porém que esta não conseguião, pote-nos essa tarefa.
calculárão todos os planos para perturbar a eleição O nobre relator da commissão declarou que
de todos os pontos da provincia (apoiados) ; não só pelos principios, como porque jã tinha
mostrarei um attentado dessa gente do partido mos apoiado o ministerio actual, e mais ainda
liberal. . . porque na sua nova eloição ss tinha a camara
100 SESSÃO EM 7 DE JUNHO DE 1853
recommendado como amiga do goveimo, que por uma missao muito nobre, tem uma tarefa muito
tudo isto não podiamos de fórma alguma fazer justa, e o nobre deputado não póde uchincalhal-o.
opposição ao ministerio actual. Não sei que exten- O Sr. Fiusa : — Nem o estou achincalhando.
çao possa ter a doutrina do nobre deputado I
O que ó feito então dos nossos partidos nas O Sr. Nebias : — A i menos elle servirá para
provincias? O que é feito dos seus serviços e mostrar que o governo precisa do corpo legisla
da sua coadjuvação ? Pira que essa luta deses tivo para governar o paiz, servirá para mostrar
perada dos partidos em todo o Brazil? Não foi que o governo não quer rebaixar o corpo legisla
a essa opinião, aos nossos titulos mais ou menos tivo, que deve sim haver intolligencia reciproca
valiosos, mais ou menos aceitos, pela opinião o essa mutua confiança e apoio entre os dous
que devemos a nossa eleição, e sim porque nos poderes.
fizemos recofnmendados como amigos do governo ? Sr. presidente, ó uma necessidade da nossa triste
posição essa vida de sacrificios ; nossas pro
Sr. presidente, cada palavra que diz o nobre vincias mesmo os reclamão, e os reclamão em
relator da commissão tem um peso extraordina sentido legitimo e necessario. Sabemos que todos
rio na camara e no paiz. Eu digo com fran nós representamos a opinião dos nossos amigos,
queza, se esta proposição fosse nmittida por que temos necessidade de sustentar nossas idéas
algum Sr deputado que se assentasse alli nos em as nossas provincias.
bancos da montanha, nós todos nos teriamos Se todos nós viermos para a córte e não tra
levantado para protestar contra ella. tarmos dos negocios de nossas provincias, secada
O Sr. Aprioio :— Não comprehendeu bem ao um du nós quizerinos fazer O seu grupo, se qui-
Sr. Eusebio. zormos ostentar um isolamento e idéas excentri
O Sr. Nebias: — Não desconheço a influencia cas, qual será o resultado ? Aquelles que nos man
benefica dos governos nas lutas eleitoraes, não dárão para a camara hão de queixar-se, e com
ignoro que essa influencia benefica e legitima razão, hão de dizer que não cumprimos 8 seu
póde muito servir om apoio dos partidos : os mandato, que não attendemos para a sua sorte.
partidos estão geralmente constituidos por tal Reconheço, Sr. presidente, que para se attender á
fórma que o governo ha de necessariamente sorte dos partidos nas provincias é preciso fa
fazer pender a balança para um ou para outro zei alguns sacrificios. Na opinião de muita gente
lado; é a pura verdade, ninguem a póde con não basta ser amigo leal, é preciso mais alguma
çousa, é preciso uma abnegação completa para
testar. haver algum procedimento reciproco da parte do
O Sr. Sayão Lobato :— Não acho que seja governo.
tanto assim. Um governo como o actual vale Se não ha uma completa abnegação, se em tudi
muito, porque tem um apoio muito largo na e por tudo não estamos promptos, V. Ex. sabe
sociedade brazileira ; outro qualquer que não qual é o resultado ; nós o sentimos ; porém as
sustentasse os sãos principios não valia tanto. provincias sentem mais...
O Sr. Nebias:— Mas olhe o meu illustre amigo Começa logo uma especie de desconfiança, se-
que aqui mesmo no Rio de Janeiro outros go gue-se os arrufos, e não sai que mais I Daqui
vernos já têm mostrado para quanto prestão. resulta o que ? Que o deputado nos melhores
principios, dominados pelas melhores idéas, não
O Sr. Sayão Lobato : — A' força de escandalos póde muitas vezes nem obter aquellas providen
e de violencias. cias que são da interesso geral muito conhecido,
O Sr. Nebias :— E ainda a ultima eleição de a que tendem positivamente a consolidar o par
camaras municipaes ê um argumento contra o tido e desenvolver nossas idéas, no interesso
nobre deputado. mesmo das proviucias que representamos.
O Sr. Miranoa: — Aqui na córto essa eleição Vê pois V. Ex. que no parlamento é preciso
foi feita com toda a independencia e sem inter muito sacrificio para se manterem boas relações
venção de alguem. com o governo. Eu tambom já fui aceusado dessa
mania ; ainda hontem o nobre deputado me disse
O Sr. Neuias :— Então a opinião não é tão que eu fui aqui. sempre enthusiasta do govorno.
liquida como querem ostentar. É' verdade, confesso que fiz algum sacrificio, al
O Sr. Miranda:— Não, senhor, quero dizer gum sacrificio que julgava necessario jio empe
que houve toda a liberdade plena, sem sugges- nho dos meus principios, na sustentação dos in
tão alguma. teresses da minha provincia. Digo a V. Ex. que
nessa conducta tinha sempre por diante o estado do
O Sr. Nebias:— Sr. presidente, esta doutrina, minha provincia, quiz sempre conseguir dos meus
talvez mal entendida por mim, póde ser funesta amigos que estavãn no governo toda a benevolen
ao parlamento, póde concorrer para essas quei cia para com ella. Tenho este peccado, muitas
xas e esse rebaixamento de que tanto se tem vezes o disse o Sr. Eusebio de Queiroz, fiz muU
fallado nestes ultimos dias. tas queixas em nome da minha provincia, passava
Se o governo se persuadir que o parlamento mesmo por muito provincialista. No omtanto devo
está necessariamente obrigado a apoial-o, ó um declarar que, apezar de ser necessario fazer tudo,
mal, porque o governo repousando nessa falsa e tudo para obter a benevolencia do governo nos
theoria póde ir adiante, póde absorver tudo, tor- negocios provinciaes, nunca abdiquei minha in
nar-so o unico poder do estado ; e depois, Sr. teira independencia. A algumas medidas, e medi
presidente, quem sabe se tambem o governo das capitaes, dei o meu voto franco e leal ao
algum dia será absorvido ; e ai da sociedade I governo ; carreguei com a odiosidade de muitos
E' daqui especialmente, Sr. presidente, que eu actos ; não me contentava com o meu votosym-
tiro algumas queixas muito justas, esses «sen bolico ; muitas vezes a camara fez-me o favor
timentos que -lia em algumas provincias pelo de ouvir ; mas declaro a V. Ex. que, a par desta
modo por que se encarão as cousas. Para que dedicação, sempre reservei um resto de liberdade ;
dizer-se : o governo não precisa da camara, a quando apparecia alguma idéa que eu entendia
camara é que precisa do governo ? Para que que particularmente affectava as cousas de minha
dizer-se até que algumas palavras ditas em uma provincia, eu me oppunha ou sustentava com fran
reunião envolvem uma ameaça á camara. queza. Tratava, por exemplo, da creação de re
lações em S. Paulo, Minas e Rio-Grande do Sul ;
O Sr. Fiusa :— Em que reunião ? Na do partido o honrado Sr. Eusebio de Queiroz oppunha-se a
pirlamentar ? esta medida, e creio que se oppõe ainda agora ;
O Sr. Nebias:— O partido parlamentar tem fallava o Sr. Eusebio nesta casa em tal sentido,
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 101
e immediatamente eu me levantava e fallava em tido pelo ministerio a quem servi com toda a
sentido contrario ao Sr. ex-ministro da jusliça, lealdade, tinha necessidade de oceupar a attenção
a quem aliás presto tanta veneração. Tratava-se, da camara, o que talvez não faça por muitas
por exemplo das incomratibidades indirectas (não vezes.
ó negocio provincial), mão projectos offerecidos pelo Alouns Senhores: — Muito bem I
nobre ex-ministro da justiça, que parece que nunca
desconfiou da minha adhesão ; tratava-se das in A discussão fica adiada pela hora. Levanta-so
compatibilidades a respeito dos juizes de direito, a sossão ás 2 horas.
e eu dizia : « E' preciso coniprehender tambem
os desembargadores : » o honrado Sr. Eusebio
respondia : « Não : os desembargadores não de
vem ser comprehendidos.» Apezar disto, levan- Sessão cm 8 de Junho
tava-me no lado de S. Ex . e fallava em sen
tido contrario. PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
Tratava-se de um decreto do honrado Sr. mi
nistro da fazenda que eu suppunha ser nocivo ao Summanio.—Expediente.— Ordem do dia. — Aug-
commercio de provincia; o nobre ministro con mento de ordenado para os continues do su
siderava essa medida muito necessaria, muito con premo tribunal de justiça. —Remoção dos juizes
veniente ; eu tive a franqueza de failar em sen municipaes. Discursos dos Srs. Ignacio Bar
tido contrario, de oxpór ao nobre ministro as bosa e Viriato.—Diacussão do voto de graças.
minhas reflexões, de mandar á mesa uma emenda Discursos dos Srs. Candido Borges e Rodri
no sentido em que fallava. gues Torres.
Não quero agora estar recordando minha vida
passada ; fui sempre muito amigo do governo, A's dez horas, feita a chamada, acharão-so pre
defendi-o e com muita lealdade nesta casa e fóra sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula _Candido,
delia ; não qnero renunciar o meu passado, nem Jaguaribe-, Siqueira Queiroz , Paes Barreto, co
nunca o renunciarei, sobretudo qnando este pas nego Leal, Aprigio, Luiz Araujo, barão de Ma-
sado está ligado com meus pensamentos, com roim, Fernandes Vieira, Sayão Lobato, Domin
os meus principios politicos. (Apoiados.) • gues Silva, Ribeiro, Fleury, Araujo Lima , Vi
Sr. presidente , estou muito fatigado ; podia riato, Miranda, Corrêa das Neves, Almeida Al
dizer mais alguma cousa em relação ao princi buquerque, Belfort, Theophilo , Paula Santos,
pio que foi aventado pelo nobre relator da coin- Ferraz, Francisco Octaviano, Angelo Custodio,
missão , a esse principio da influencia que vigario Silva , Monteiro de Barros , Wilkens ,
fez triumphar nossa eleição nas provincias ; tal Vieira do Mattos, Pimenta Magalhães, Rodrigues
vez ainda para diante tenhamos occasião ; não Silva, Ribeiro da Luz, Machado, Bernardes de
quero fatigar mais a camara, aos nobres minis Gouvêa, Sá Albuquerque, Dutra Rocha, Mendes
tros, e ao publico, que mo tem ouvido com tanta da Costa, Bretas o Seára.
indulgencia ; terminarei somente com uma re- Comparecerão , depois da chamada os Srs.
, flexão. D. Francisco, Macedo, Assis Rocha, Horta, Ver-
Fui muito franco a respeito do alguns topicos siani, Zacharias , Rego Barros, José Assenço,
do voto de graças, declarei-mo contra aquelle Bandoira do Mello, Souza Leão, Silveira da Motta,
onde se ennuncia a idéa da justiça o moderação Rocha, Paranaguá Saraiva, Paula Fonseca, Igna
do actual governo, e dei a r izão porque o fiz ; cio Barbosa, Barreto Pedroso, Teixeira de Souza,
fil-o ainda por ser uniforme com os meus prin Barbosa da Cunha , Livramento , Nebias, Góes
cipio=!, com os votos que nas sessões passadas Siqueira, Baepen ly, Candido Borges, Cruz Ma
se tem m mdado á coróa ; pronunciei-me tambem chado, João Sayão, padre Cinapos, Candido Men
a respeito de uma medida que o nobre minis des, Pacca, Paula Baptista , Silverio, Brandão,
tro da justiça iniciou no seu relatorio, o o fiz Fausto, Luiz Carlos, Santos e Almeida , Fiuza,
porque a f ilia do throno faz disso mensão ; pro Titára, Gomes Ribeiro, Wanderley, Raposo da
nunciei-me a respeito do topico rolativo ás estra Camara, Barbosa, Augusto de Oliveira, Maga
das de ferro ; fallei a este respeito com muita lhães Castro, Pedreira, Taques, Belizario, Nabuco,
franqueza, o ainda hontem apresentei uma emenda, Pereira da Silva, Vasconcellos, Costa Machado,
que quero ver apoiada ou rejeitada, para bem Figueira de Mello o Mendonça.
conhecer qual é o pensamento da resposta nesta A's 10 horas e vtres quartos abre-so a sessão.
parte. Outros nobres deputados, porém, não forão
tão francos como eu ; outros nobres deputados, Lê-se e appjrova-se a acta da sessão antece
servindo se da latitude dos debates, fizerão ou dente.
tras censuras mais ou menos encobertas. Lem- O Sr. 1° Secretario dá conta do seguinte
bra-me que o nobre deputado pela Bahia até
notou faltas ; notou que não so tratava na falia EXPEDIENTE
do throno nem no voto de graças da incompa
tibilidade dos magistrados, do melhoramento do Um officio do Sr. ministro da fazenda, remot-
nosso syst. ma eleitoral e de outras medidas , tendo os decretos pelos quaes forão aposentados
faltas estas que eu tomo como uma censura ; diversos empregados do ministerio a seu cargo.
e até lembrarei tambem que nã i se diz rfada —A' commissão de pensões e ordenados.
sobre o recrutamento, uni dos negocios de mais
gravidado no nos.30 paiz. um dos negocios sobre Dous officios do Sr. ministro da justiça, en-
que ate hoje se trabalha. Queria dizer que o viamlo um as informações por esta camara pe
nobre deputado, em vez de apoiar o voto do didas ácerca do regulamento do bacharel Domin
raças , pelo contrario achou- lho estas faltas ; gos Martins de Faria, em que pede ser reinte
izia o nobre deputado que para este lado é que grado no lugar de juiz de direito, e que é en
se devia chamar a discussão , pois tive razão viado a quem fez a requisição, e outro remettendo
para entender que o nobre deputado queria cen uma representação da praça do commercio desta
surar aquella peça ministerial. cidade em que pedo a reforma do urt. 343 do
Kmfim, Sr. presidente, tenho exposto estas con codigo.—A' commissão de justiça civil.
siderações do modo que me foi possiv 1; a ca Um officio do Sr. ministro da marinha,- en
mara me desculpará o tampo que lhe tomei . viando os requerimentos do Dr. Thomaz Antenio
podia ser mais bem empregado (não apoiados) ; de Abreu, 1° cirurgião do corpo de saude da
mas eu, provocado por alguns nobres deputados, armada, e de alguns outros cirurgiões do mesmo
eu, em uma posição especial do presidente demit- corpo, pedindo ser admittidos a contribuir para
102 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
o monte-pio, afim de que suas familias possão Junho de 1853.—Antonio José da Silva. — Lin-
gozar do beneficio desta instituiçao e as infor- ãolfo José Corrêa das Neves.— Joaquim Pinto de
. mações que a tal respeito déra o chefe de es Campos. »
quadra encarregado do quartcl-generel da mari Lê-se, e com urgencia vai á commissão . de
nha com os pareceres do conselheiro procurador poderes a seguinte indicação :
da coroa, soberania o fazenda nacional.—A' com-
missão do marinha e guerra. « Indicamos que na falta do Sr. Cunha, depu
Outro do mesmo ministro, enviando os decre tado pelo Rio Grande do Norte, se chame - o
tos pelos quaes S. M. Imperial houve por bem Sr. Amaro Bezerra Cavalcanti, primeiro sup-
aposentar com os respectivos ordenados a José plente, ora nesta corte. — Pereira da Silva. —
Corrêa dos Santos, escrivão das officiuas do arse Paes Barreto. »
nal de marinha da córte, e João Manoel Migueis,
terceiro official di contadoria da marinha da PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
provincia de Pernambuco, os requerimentos, dos
mesmos, e os demais papeis que servirão de base AUGMENTO DE ORDENADO PARA OS CONTÍNUOS DO
para esta concessão. — A' commissão do pensões SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
e ordenados.
Um requerimento de Francisco Jacintho Fernan Entra em discussão o seguinte projecto sob r. 40
des, porteiro-mór graduado desta augusta camara, de 1851:
pedindo melhoramento de ordenado.— A' commis « A's commissões reunidas de justiça civil o
são de policia. 2» de orçamento foi presente a petição de Luiz
Outro de Manoel Joaquim Guimarães Teixoirai Antonio de Oliveira Malta, e José Manoel de
subdito portuguez, pedindo ser naturalisado cida Santa Anna, continues do supremo tribunal de
dão brazileiro. — A' commissão de constituição e justiça, requerendo augmento de seus ordenados;
e attendendo as comniissões á justiça do pedi
poderes. do, comprovada pelas competentes informações,
Lê-se, é julgado objecto do deliberação e vai a julgão deferir a petição dos supplicantes com a
imprimir para entrar na ordem 'dos trabalhos, o seguinte resolução ;
seguinte : « A assembléa geral legislativa resolve :
« Foi presente á commissão ecclesiastica uma « Art. 1. Fica elevado a 600J o ordenado que
representação da assembléa legislativa da pro vencem os continues do supremo tribunal da
vincia do Ceará, em que pede a esta camara a justiça.
creação de um bispado naquella provincia, como
meio mais consantaneo de promover a instrucção « Art. 2.° Ficão revogadas todas as leis e
e moralidade do clero, e do exercer sobre as disposições em contrario.
funcções desde a inspecção salutar e acção recla « Paço da camara dos deputados, 2 de Julho
mada pelos canones o conveniencias publicas, e de 1851. — Carvalho Moreira. — J. J. Pacheco.
expõe que esta medida, acolhida e applaudida — V. de Daependy. — A. J. Henriques. F. de
Por toda provincia, já moreceu a nppmvação A. Pereira Rocha. — Azambuja. » »
d o Exm. bispo diocesano, e que o Exm. arce O Sr. Piul.i Candide —Sr. presidente,
bispo metropolitano, em 182(5, fizera ver perante tudo que tende a poupar tempo me parece que
a assembléa geral, sendo deputado, a necessi deve merecer a attenção desta casa ; e como ou
dade de tal creação. entendo que a materia do projecto se acha suf-
« A longitude de cerca de 200 leguas, em que ficientemente discutida, por isso peço a V. Ex.
fica a provincia do Coará da de Pernambuco, que consulte a camara se permitte qne haja uma
motivando a difficuldade de recursos espirituaes, só discussão. \
muito mais sensivel para os pobres , que náo Acamara decide-sepela afirmativa, e posto o pro
odom demandar certos recursos sem graves sacri- jecto a votos por escrutinio secreto ó approvado.
cios e incommodos ; o augmento progressivo da
populição e adiantamento mateiial da capital, e O Sr. Barrolo Pedrozo: — Desejava que
uma bella igreja prestes a concluir-se com todas V. Ex. me dissesse se me é permitido mandar
ns proporções necessarias para servir do cntlie- um artigo additivo á resolução que a cimara
dral, são os motivos em que se funda a assem acaba de votar.
bléa provincial para merecer a medida que exigo; O Sr. Presidente : — O Sr. deputado podêl-o-
e a commissão, comquunto não tenha diante de hia ter apresentado quando o projecto estava em
si documentos que comprovem o que se allega discussão ; porém agora, depois de votado, não
na representação, crendo nas palavras da assem- ó possivel.
bléa provincial do Ceará, e observando que já
em 1B33 a commissão ecclesiastica desta augusta O Sr. Barreto Pednoso : — Então aproveita
camara entendeu, depois de acurado examej ser rei a occasião, visto ijue a camara já votou o
necessaria a creação de um bispado no Ceará, pr ijecto, para pedir a V. Ex. que rogue ás
6 de parecer que se attenda á representação da commissões de justiça civil e segunda do orça-
asssembléa legislativa daquella provincia, ado monto para que dêm o seu parecer ácerca
ptando o seguinte projecto : do requerimento que a semelhante respeito diri-
gio o porteiro do supremo tribunil de justiça,
« A assembléa geral legislativa decreta : que se acha em iguaes circumstancias. Esse re
« Art. 1.» Fica creado um bispado na' provin querimento foi dirigido ás commissões a que já
cia do Ceará, comprehendendo o territorio da me referi em Julho do anno passado ; e eu por
mesma provincia. isso peço que V. Ex. interponha o seu valimen
« Art. 2.» Este bispado terá um cabido como to para que as commissões dom o seu parecer
tem o bispado de Pernambuco. sobre o dito requerimento.
« Art. 3 ° Para esta creação é o governo auto- REMOÇÃO DOS JUIZES MUNICIPAES
risado a impetrar da Santa Sé as necessarias
bulias. Continua a discussão do projecto r. 4 de 1852
« Art. 4.» A congrua do respectivo bispo será sobre a remoção dos juizes municipaes.
igual á que têm os outros bispos do imperio, O Sr. Ignacio Barbosa:— Com bastante
a Ficão revogadas as disposições em contrario. acanhamento entro na discussão do projecto de
« Paço da camara dos deputados, em 8 de que ora se trata, porque versa elle sobre a
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 103
remoção dos juizes municipaes a cuja classe per eivei muito menos porque em nada entendem
tenço. Acredite porém a camara, e nisso me faia com o governo.
justiça, que só as minhas convicções me empu O Sr. Wanderlev:— Não se trata do mal que
xão para a discussão. (Apoiados.) elles possão fazer ao governo, mas do mal que
Pronuncio-me contra o projecto. Entendo, fazem aos povos. (Apoiado.)
Sr. presidente, que as disposições da lei que
resulão as remoções dos juizes de direito não O Sr. Aprioio : — Por causa dos abusos que
podem ser applicadas aos juizes municipaes, elles comniettem para com os povos é que se
porque estes juizes estilo constituidos de modo quer a sua remoção. (Apoiado.)
bem diverso daquelle por que o estão os juizes (Cruxão-se varios apartes.)
do direito. (Apoiados.)
O Sr. Araujo Lima : — Não ha analogia nen Um Sr. Deputado : — Querem as remoções por
huma entre os juizes do direito e os municipaes. que querem acabar com olles.
O Sr. Ionacio Baruoza : — Assim, Sr. presi O Sr. Ionacio Barbosa : — Senhores, eu creio
dente, eu vejo que os juizes de direito por sua que considerando aquastão por este lado, isto
instituição são perpetnes, entretanto que os jui é, com relação aos povos, e não com iolação á
zes municipaes são nomeados por um quatrien- administração, creio, digo, que este projecto não
nio somente. Ora, dahi resulta que o principio pòde ser senão um presente funestissimo ao
mi:smo governo. . . (Apoiados ; não apoiados).
de inamovibilidade appliçado aos juizes de direito
póde ser considerado um absurdo, mas applica- O Sr. Wanderlev:—Está mnito enganado.
do aos juizes municipaes jámais o poderá ser, Um Sr. Deputado:—Não se vê razão nenhuma
porque esse principio recalio sobre um tempo de conveniencia publica para que elle possa ser
limitado. Eu accrescentarer mesmo que esse considerado do outra maneira.
principio applicado aos juizes municipaes é uma
garantia, c talvez a unica, porque fóra delle O Sr. Ionacio Barbosa: — ... porque os poten
não vejo na instituição desses juizes nada que tados da localidade hão de lançar mão de todas
assegure uma regular distribuição de justiça. as intrigis contra os juizes municipaes, e en
vidarão todos os recursos o seu valimento para
Examinando as attribuições dos juizes munici" com o governo afim de obterem do mesmo go
paes, na materia criminal eu observo que quan verno a remoção daquelles juizes municipaes que
do elles julgão definitivamente ha o recurso do se não quizerem curvar aos seus caprichos.
appellação para o juiz de direito, e nos casos (Apoiados.)
de pronuncia ou despronuncia ainda ha para o
mesmo juiz do direito o recurso em sentido O Sr. Fioueira de Mello : —E' exacto ; temos
estricto. Por consequencia o juiz municipal é alguns exemplos.
sempre um subordinado do juiz de direito, que O Sr Aprioio:—Não apoiado.
póde pór cobro a todos os seus abusos e exces O Sr. Santos e Almeida :—Ora, ora I I
sos, até mesmo porque o juiz de direito é o
encarregado da formação do processo de respon O Sr. Ionacio Barbosa : — Senhores, desgraça
sabilidade do juiz municipal. damente não é isto uma hypothese ; é a Histo
Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou ria do que aconteceu na provincia do Rio de
vimos. Janeiro e em algumas outras provincias quando
predominou a politica passada, (.apoiados.)
O Sb. Ionacio Barbosa : — Não é só a respon Dizem os nobres deputados que não se trata
sabilidade o nnico correctivo, porque em materias de conceder ao governo um arbitrio puro, mas
crimes ha o recurso de appellaçao para o juiz de regular eese arbitrio em certos e determi
do direito, e no caso de pronuncia ou despro nados casos. . .
nuncia, como já disse, tambem ha esse recurso
em sentido estricto. O Sr. Aprioio:—E' isso mesmo, apoiado.
Em materia eivei, com effeito os juizes muni O Sr. Ionacio Barbosa :— ... mas antes quero
cipaes tem uma jurisdicção na maior latitude, o arbitrio puro do governo do que as represen
igual á que tinhão os juizes de direito do eivei, tações fundadas dirigidas pelos presidentes de
e por isso talvez se possa dizer que nesta parte provincia, porque a sua vontade com facilidade
os juizes municipaes têm mais importância do fará apparecer os fundamentos, e estes podem pre
que os juizes de direito, visto como estes juizes judicar a reputação do juiz municipal. (Apoiados.)
estão reduzidos a uma jurisdicção muito limitada
no juizo eivei. Mas atter.la-se que não ó pelo Um Sr. Deputado : — Quem dá as informações
exercicio dessas attribuições que os juizes muni não é o presidente da provincia.
cipaes podem crear obstaculos ao governo para O Sr. Ionacio Barbosa : — Fallo das -repre
a manutenção da ordem publica, porque o obje sentações a que se refere a lei da remoção dos
cto sobre que Tecahe essa jurisdicção é inteira juizes de direito; que se quer applicar aos jui
mente alheio ao governo. (Apoiados.) zes municipaes ; as informações semestraes são
Se, portanto, o governo não precisa do arbi sem duvida dadas pelo juiz de direito e não pelo
trio da remoção dos juizes municipaes em ma presidente da provincia.
teria crime, porque nisso estão sujeitos ao O Sr. Wanderlev :—O presidento da provincia
correctivo do juiz de direito, e nas materias ci tambem informa ; eu tenho a experiencia.
veis, porque o objecto é estranho ao governo, O Sr. Ionacio Barbosa:—Os presidentes quando
qual o motivo por que se quer então esse arbi tiverem do fundamentar essas representações po
trio ? (Apoiados.) derão fazêl-o de modo que, em vez de ser a ne
O Sr. Wanderlev : — Está visto que todas as cessidade desses fundamentos uma garantia para
attribuições dos juizes municipaes sao criminaes o juiz municipal, se converta para elle em um
ou eiveis. mal. (Apoiados.)
O Sr. Ionacio Barbosa : — Eu não disso que, O Sr. Aprioio:—Não apoiado.
pelo facto de terem os juizes municipaes attri- (Cruzão-se diversos apartes.)
ções criminaes e eiveis, não se podia conceder
a sua remoção ; mas quiz fazer ver o alcance O Sr. Ionacio Baruosa Ainda farei outra
das suas attribuições fazeudo conhecer que nas observação pela qual se vê que aos juizes mu
materias crimes não era necessaria a remoção nicipaes não podem ser applicadas as mesmas
porque estão sujeitos ao juiz de direito, e no disposições que pela léi são applicadas aos
104 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
juizes de direito. Os vencimentos dos juizes mu- palavras ao nobre deputado pelo Matto-Grosso
nicipaes, como hontem ponderou o meu nobre que hontem sustentou o projecto.
amigo deputado pelo Ceará, são muito diminu Disse o nobro deputado que o projecto dava
tos, são mesmo insufficientes para a sua do uma garantia aos juizes municipaes, porque o
cente subsistencia ; e então como quer o pro decreto que prohibe a remoção dos juizes mu
jecto que estes juizes estejuo ainda sujeitos á nicipaes é um acto do poder executivo, e como
remoção do governo empeiorando por este modo tal póJo ser revogado por outro acto do mesmo
a sua sorte, o tornando-os mais dependentes ? podor. Sr. presidente, se o nobre deputado en
(Apoiados.) tende que a remoção dos juizes municipaes é um
O nobre deputado peio Matto-Grosso que hon- mal, o remedio não é por certo reguiarisar as
tem sustentou o projecto, reconhecendo esse in- remoções para que não possão ter lugar discri-
conveniento na sua adopção, lembrou o recurso cionariamonte ; o remedio é determinar em uma
das ajudas de custo ; mas cu observo ao nobro lei que os juizes municipaes não podem ser re
deputado que, por isso mesmo que esses venci movidos. Se o nobre deputado, pelo contrario,
mentos são insufficientes, na maior parto dos entonde que as remoções são necessarias, que
casos acontece que os juizes municipaes podem constituem uma exigencia do serviço a que cum
viver em certos e determinados lugares, porque pre prover, então revogue se o decreto que pro
além dos seus ordenados elles têm os recursos hibe as remoções, mas não so diga que é uma
chamados de familia ; mas desde que so deslo garantia aos juizes municipaes, porque se o de
car o juiz municipal, esse recurso desapparecerá creto póde ser revogado, póde tambem não ser,
o dar-se-ha o caso de lhe faltarem os meios de e é provavel que o não soja, porque esse de
creto foi feito depois de alguns annos de expe
sua subsistencia. riencia da lei, quando uma politica tinha usado
Um Sr. Deputado: — E' o mesmo que dizer- das remoções em larga escala, o ó ao demais
lhes : licão demittidos. fundado em uma consulta do conselho de estado,
O Sr. Ionacio Barbosa: — Sr. presidente, es não sendo por censeguinte um acto do poder
tranhou o nobre deputado autor do projecto que executivo que possa sem maior eximo ser revo
fazendo os juizes municipaes parte do poder ju gado.
diciario lhos não fossem applicadas as mesmas dis Depois, Sr. presidente, eu creio que esse de
posições que são applicadas aos outros membros creto não estabelece uma doutrina nova, mas
do mesmo poder ; porém permitta-me o nobre de antes se conforma eom as disposições da lei do
putado que a meu turno ou lhe estranhe esto 3 de Dezembro, porquanto diz esta lei que os
seu modo de pensar ; porquanto formando os juizes municipaes durarão quatro annos, findos
juizes municipaes uma categoria diversa da dos os quaes podem ser reconduzidos ou nomeados
juizes de direito, com uma organisação especial, para outros lugares.
não sei em vordade qual o motivo por que lhes O Sa. Wani erlev : — São collados?
não devãò ser applicadas disposições diversas ; O Sr. Ionacio Barbosa : — Combino-se a pri
o contrario ó que seria para mim objecto de meira parto desse artigo cotn a segunda. . .
admiração. Portanto me parece que sein deixar
de considerar os juizes municipaes como mem O Sr. Viriato:— O grando caso é que têm
bros do poder judiciario, conforme pareceu ne sido removidos.
cessario ao nobre deputado, póde-se bem julgar O Sr. Innacio Barbosa: — Estou mostrando
que lhes devão ser applicadas disposições diver que o decreto não fez mais do que havia deter
sas daquellas qne respeitão aos juizes de direito. minado a propria loi. Gombine-se, como eu di
Disse mais o nobre deputado autor do projecto zia, u primeira com a segunda parto do artigo,
que os juizes municipaes vivião muito tempo e ver-so-ha que o legislador estabeleceu que so
fóra dos seus respectivos lugares; mas eu en mente no fim dos 4 annos os juizes municipaes
tendo que se isso é assim, o primeiro culpado possão ser reconduzidos ou nomeados para outros
é o governo. (Apoiados.) lugares; logo, dentro dos 4 annos os juizes mu
O Sr. Aprioio : — Não apoiado. nicipaes durarão nos lugares para onde forem
nomeados. Isto mo parece muito logico. (Apoia
O Sr. Wahderlev :— Então dando parte de dos.)
doentes ha do negar-se-lhes o licença ? Ainda mais : o regulamento feito para execu
Um Sr. DEpuTAbo : — Quando isso não seja ção dessi lei, especilicando os casos em que os
exacto, instauro-so-lhos um processo. juizes municipaes perderáõ os seus lugares, não
O Sr. Santos e Almeida : —Valia a pena 1 1 apresenta o caso de remoção do governo, mas
somente do remoção a requerimento do proprio
O 8r. Ionacio Barbosa: — Se o governo não juiz municipal. Ora, senhores, é um principio
tem a coragem do recusar as licenças, mais dif- do hermeneutica juridica que, desde que uma lei
ficilmente removerá. Eu não sei, senhores, que ou um regulamento é casuistico, desde qne esta
interesso tenluio os juizes municipaes de estarem belece casos certos e determinados, fóra desses
fóra dos seus respectivos lugares ; entendo_ que, casos não é permittido estender as disposições
pelo contrario, o sou interesse os leva a- esta da lei ou regulamento.
rem nos seus termos todas as vezes que po.ssão, (Ha um aparte.)
para o mais cedo possivel findarem o seu qua-
triennio, porque este hoje só póde verificar-se Aceito o aparte; mas quem foi que primeiro
com o effectivo exercicio depois da lei que re removeu aos juizes municipaes? Foi a politica
gulou a antiguidade dos magistrados. que hoje domina e a que pertencem os nobres
O Sr. Wanderlev : — Dão parto de doente, e deputados? Não; foi a politica decahida que,
vão divertir-se na capital da provincia, sem que inaugurou o desenvolveu em longa escila as re
o lugar possa sor preenchido, com grande pre moções dos juizes municipaes. (Apoiados.)
juizo da administração da justiça dos povos. Antes dessa politica apenas houve um facto
praticado pelo Sr. Honorio Hermeto Carneiro
O Sr. Aprioio : — Apoiado ; tem succedido isso Leão na provincia do Rio do Janeiro ; màs o
muitas vezos. Sr. Honorio pedio á camara um MU de indem-
(Varios Srs. deputados pedem a palavra. Cru- nidade, expondo com razões mui valiosas a
3do-se muitos apartes.) necessidade urgente que se dava de semelhante
remoção. (Apoiados.) Portanto, asso facto prati
O Sr. Ionacio Barbosa :— Direi ainda duas cado pelo Sr. Honorio, longe de ser infenso a
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 105
doutrina que estabeleço, lhe ó inteiramente fa a uma população inteira, negando-lhe essa fa
voravel, porque o Sr. Honorio, membro proemi culdade.
nente íio partido que tinha tomado pirto na Partindo do principio de que o governo tem
discussão dessa lei, foi o primeiro a recouhecer muita força, principio que nego, porque entendo
que o governo não tinha direito a remover os que o governo ainda não está revestido de força
juizes municipacs. (Apoiados.) sufficiente para fazer respeitar a lei... (Apoia
(Ha um aparte.) dos e não apoiados.) *
Esse facto o que mostra ó que uma ou outra O Sr. Pioueira de Mello: — Os factos demon-
vez se póde dar essa necessidade, mas é me strão o contrario.
lhor que o governo então pratique esse acto e O Sr. Viriato : — Conheço muitos juizes muni
depois dó conta delle á camara, do que estabe cipaes que fazem a infelicidade dos lugares onde
lecermos um principio semelhante. administrão a justiça, e isso sem remedio algum.
Recordo-me ainda de um facto: o Sr. Eusebio O Sr. Fioueira de Mello:— Nem o despotismo
em 181tf sustentou o principio de que os juizes tomava conta aos juizes no exercicio de suas
municipaes não podião ser removidos ; que isso .funcções.
era um abuso do governo, uma faculdade que O Sr. Viriato: — E' um engano dizer-se que o
o governo se havia arrogado illegalmente com governo tem a força sufficiente...
detrimento da administração da justiça. Conse- O Sr. Corrêa das Neves : — Principalmente com
guintemente o decreto que prohibe a remoção a elasticidade da consciencia.
dos juizes municipaes, além das razões valiosas
em que assenta, é ainda um decreto que exprime O Sr. Viriato : — Eu até sou de opinião que
a opinião do partido censervador ; e havemos nòs os presidentes de provincia não têm a força
fazer uma lei para approvar aquillo mesmo que que lhes é necessaria, porque vêin-se continua
temos condemnado ? damente embaraçados, e quando querem pedir
Um Sr. Deputado : —Aquilio mesmo que achá remedio para isso logo se apresenta a idéa des
mos mão. truidora das reformas, de que não se deve dar
mais força ao poder ; idéa falsa, como já disso,
O Sr. Ionacio Barboza: — Sr. presidente, pondo porque o poder não tem entre nós bastantes meios
termo ás minhas observações, peço licença ao para fazer a felicidade publica. (Apoiados e não
nobre deputado autor do projecto para dizer-lhe apoiados.)
com muita franqueza que acho o seu projecto Apresento esta minha opinião com toda a
impolitico na actualidade. . . calma, despido do todo o espirito de paixão ; e
O Sr. Wanderley:—Foi do anno passado. , talvez que os honrados membros que têm opinião
contraria, sem o saberem não se achem no mesmo
O Sr. Ionacio Borboza : — . . . porque aflronta de caso. Se elles attontarem bem para o estado
frente as apprehensões do muita gente que entendo do paiz, para o jogo das forças administrati
que nao convém dar mais arbitrio ao governo, vas, verão que ao poder ainda falta alguma
que a autoridade está sufficientemente dotada do cousa para que possa fazer a prosperidade pu
meios de acção. Não sei se isto é ou não exacto, blica.
mas me parece que o mais necessario hoje é A respeito do projecto de que se trata, Sr. pre
conquistar os espiritos, fazendo lhes adoptarcom sidente, julgo que não se deve argumentar por
a adhesão da convicção que a autoridade tal qual ess a fórma, mas sim no sentido de mostrarse
se acha constituida é uma necessidade indecli a medida é de utilidade publica, e se está con
navel para a manutenção da ordem e para a cebida da modo a poder remover o mal qu«
prosperidade publica ; porque infelizmente a minha existe.
razão se recusa a acompanhar a opinião da- Passo a fallar sobre as argumentações apre
quelles que entendem que o espirito revolucionario sentadas pelo nobre . deputado que me precedeu.
está extincto entre nos ; me pareca <jue só estã Elie partio do principio, para tirar as suas con
adormecido. clusões contra o projecto, de que as disposições
O Sr. Viriato.— Sr. presidente, eu não da lei das remoções dos juizes de direito não
tinha noticia desso projecto antes que apparecesse podem ser applicadas aos juizes municipaes, por
na casa, mas achei tão boa a disposição d'elle, que estes são inamoviveis durante 4 annos, e
que não tive duvida em abraçal-a, porque do ha aquelles são perpetues ; mas tsto não tem nada
muito reconheço a necessidade de se dar faculdade para as' argumentações apresentadas em favor
ao governo para a remoção dos juizes municipaes do projecto, pois que o principio dominante
durante o quatriennio, porque do ha muito sou delle é a necessidade das remoções. O nobra
testemunha dos males causados nos termos, não deputado não se demorou neste ponto, nada provou,
só por alguns dos juizes municipaes como pelos apenas disse que não havia necessidade de*remo-
seus supplentes, para os quaes essa ausencia ções dos juizes municipaes durante o quatriennio,
de faculdade de remover se estende tambem ; e que mesmo no caso de remoções não se devia
sendo todavia a escolha destes muito arriscada, lançar mão desta faculdade que o governo tem a
e de ordinario feita entre particulares que na respeito dos juizes de direito, porque os juizes
vida privada apresentào actos mui differentes municipaes differem muito.
daquelles que desenvolvem na vida publica, baldos Não posso conceber mesmo a força de seu
de conhecimentos, cheios de fanatismo politico, argumento. O principio dominante é a neces
e, verdadeiramente ináoe juizes, sem que ao governo sidade d is remoções, façamos um projecto que
reste ao menos a faculdade de inverter a ordem estabeleça formulas para estas remoções.
numerica em que são collocados. O Sr. Ionacio Barboza : — Eu mostrei que não
Entendi mesmo que á vista do grande principio havia necessidade.
do utilidado publica tudo mais devia ceder, porque O Sr. Viriato: — A primeira argumentação do
é innegavel que o juiz municipal ó causa de nobre deputado foi baseada na diferença que
graves males quando não cumpre com seus deveres, existe entre os juizes de direito e os municipaes,
e que esses males são irremndiaveis ás vezes não porque uns são inamoviveis por i anuos sómsnte,
havendo da parte do governo a faculdade de o os outros são perpetuos ; mas este mesmo
remover taes autoridades durante o quatriennio ; argumento cede ao grande principio da necessidade
assim, pois, querendo o nobre deputado fugir publica, porque o nobre deputado não pólo con
de dar maior força ao governo do que presen testar que muitas vezes se dá a necessidade da
temente tem, vai cahir no absurdo de fazer mal uma remoção immediata.
tomo 2. U
106 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
Ainda mesmo que o projecto fosse ferir os moções, apenas se tem fallado em relação ao
juizes municipaes, neste caso o pequeno mal tempo em que o governo deve ou pódo lançar
devia ceder ao m dor, e sem duvida é maior mal mão desta faculdade ; nós queremos que seja
deixar de remover juizes que administrão a logo que haja necessidade delia, os nobres de
justiça de uma maneira prejudichl aos povos putados querem depois dos males feitos.
que estão debaixo da sua jurisilicção, e o me O nobre deputado tocou na exiguidade dos
nor mal é renWver esses juizes. Se todos se vencimentos que têm os juizes muuicipaes. Não
guissem a opinião do nobre deputado contra ha duvida: reconhecendo eu que os juizes mu
meu principio não serião possiveis as refor nicipaes têm pequenos vencimentos, 'o que por
mas. N isso não podião fazer as despezas das remo
Passou depois o nobre deputado a fallar sobre ções, estabeleci a idéa de se marcar ajudas do
a. differença das attribuições. Disso elle : « Os custo para estes casos, como hoje se procede
juizes municipaes nas suas attribuições crimi- a respeito dos juiz s de direito ; mas ainda,
naes têm para os conter os juizes de direito ; senhores, que não se fizesse isto, os transtor
quando no uso dessas suas attribuições elles nos que os juizes municipaes soffrem com taes
se tornarem perigosos aos juizes do direito per remoções são tão pequenos em comparação dos
tence fazel-os chegar ao cumprimento dos sons males que pódo soffrer uma população inteira
deveres : » e concluio que havendo estas auto onde se acho um juiz municipal administrando
ridades superiores para remediar qualquer mal indignamente a justiça, que eu assim mesmo en
que possão fazer os juizes municipaes, não havia tendo que o projecto deve ser adoptado.
necessidade de se conceder ao governo a faculdade Tenho concluido.
para os remover. Disse mais : « No eivei é que "A discussão fica adiada pela hora.
os juizes municipaes não estão debaixo da juris-
dicção dos juizes de direito, e sim de um tribunal SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
superior, mas no eivei elles não podem fazer mal
algum ao governo. » DISCUSSÃO DO VOTO DE GRAÇAS
Senhores, eu acho um grande defeito nesta
fórma de argumentar, o vem a sor olhar-se so Continua a discussão do projecto do resposta á
mente para o mal que estes juizes podem fazer falia do throno.
ao governo, e não se ter em vista a prosperi O Sr. Presidente : — Tem a palavra o Sr. Can
dade publica e a felicidade dos povos que- se dido Borges. (Profundo selencio.)
aclião debaixo da jurisdicção perniciosa dostes
juizes. Attenda-se que mesmo no eivei os juizes O Sr. CundldoBorgos. — Sr. presidente.
municipaes no exercicio do suas funeções, não V edi a palavra quando se encetou a discussão
podendo entorpecer a marcha do governo, podem d a materia que actualmente se agita no seio da
lazer muitos males aos povos daquelles lugares camara dos Srs. deputados, e declaro que por
em que se achão, como no exercicio das fune mais de uma vez tive desejos de desistir delia ;
ções crimes. entretanto alguns principios e algumas propo
Qualquer que seja o lado pelo qual oj nobres sições forno estabelecidas e emif.idas na casa,
deputados apresentem as suas argumentações, qne parece-me não deverem passar sem algum
todas ellas viráõ caliir debaixo da força do reparo.
grande principio das necessidades publicas. Tive desejos, disse, do desistir da palavra por
O Sr. Aprioio : — Apoiado. que certas o determinadas considerações, como
vou mostrar, a isso me levárão.
O Sr. Viriato : — O nosso ponto de partida Lombra-mo ter lido em principio de meus es
deve ser este : é ou não necessaria a faculdade tudos que uma certa academia poz em concurso
da remoção dos juizes municipaes ; se me conce uma these, se bem me recordo, no anno de 1788,
derem que ó necessaria, tudo mais cederá a não direi qual é a these porque não quero dar
isto. á malignidade uma occasião de emprestar-me pen
O Sr. Fioueira de Mello : — Se o nobre de samentos que não tive, que não sou capaz do
putado provar que ha necessidade de se conce ter ; porém direi que essa these foi sustentada,
der esta attribuição ao governo, eu tambem ce foi desenvolvida largamente por um grande oscri-
derei. ptor (João Jacques Rousseau ).
O Sr Viriato : — Negar tal necessidade é O Sr. Aprioio : — Na academia do Dijon ?
querer negar factos constantes e publicos. Po O Sr. Candido Boroes (rindo-se): — O trabalho
derâo nobre deputado suppór que todos os juizes desse escriptor foi fortemente contrariado por
municipaes são homens perfeitos ? Só neste caso grandes athletas, o entre elles com especialidade
é que não haverá necessidade da remoção, do pelo duque de Lorraine e por Gaultier. Respon
contrario não ; c se esta necessidade se dá a dendo a seus contradictores disse Rousseau > « Se
respeito dos juizes de direito, tambem se deve tirar-se dos vossos discursos tudo quanto não
dar a respeito dos juizes municipaes. De fórma destruio o mou, elles desapparecerão de todo ; se
que posso affirmar que os nobres deputados quH se -tirar do meu tudo quinto não foi destruido
opinão contra o projecto apenas são divergen pelos vossos, elle ficará tal qual o escrovi. »
tes sobro o tempo da remoção ; querem que a Fazendo agora npplicação direi : — Se se tirar
remoção seja feita depois do quatriennio, o nós dos discursos dos illustres deputados, que se têm
queremos que ella possa ter lugar immediata- declarado em oppnsição tudo quanto não destruio
mente que se de n sua necessidade ; isto sem o projecto da resposta á falia da' coroa, esses
duvida é mais justo o mais conforme ás con discursos desapparecerão completamente ; se se
veniencias publicas. tirar do projecio tudo quanto foi destruido pelos
Sr. presidente, todas as vezes que tenho de discursos dos illustres deputados, esse projecto
fallur o de estudar este proji cto reconheço a ficará tal qual foi redigido. — Vé, pois, a cam ira
justiça dello de tal maneira, e fico tão conven as razões que tive para o desejo que algumas
cido, por duas ou tres razões fortes que me vezes me dominou de desistir da palavra. Porém,
vêm ao pensamento, que me esqueço do mais disse eu qne algumas proposições ou principios
que pudesse colher a favor de sua adopção. foriio emittidos que não podem passar desaper-
Porque quando uma argumentação tão forto se cebidamenle.
apresenta, como é essa da necessidade publica, Um illustre e digno deputado pela minha pro
outra qualquer parece até escusada. Ninguem vincia tratou de demonstrar que na discussão
t?m argumentado contra a necessidade das re do projecto de resposta á falia do throno não
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 107
era occasião conveniente, não era a mais propria Não me demoraria, Sr. presidente, em mos
para que a camara emittisse Jim voto de appro- trar toda a injustiça e inconveniencia de se
vação ou reprovação á politica do gabinete. Não melhante trectio, se elle não importasse uma
tratarei, Sr. presidente, de saber se são ou náo grande injustiça ã maioria desta camara, que
bem fundadis as razões em que se biseou esto bem longe do mostrar fraqueza nas épocas mais
illustre e distincto deputado ; porém chamarei a arriscadas do paiz, mostrou sempre nellas ver
attenção da camara para um facto, e é o se dadeira coragem e dedicação... (Muitos apoia
guinte : — que a maioria dos membros que se dos.)
têm declarado em opposição ao governo não O Sr. Finueira de Mello : — Nessa mesma oc
mandárão á mesa uma emenda modificando, casião declarei que não censurava a condescen
reformando, alterando ou mudando o projecto de dencia da camara para com o governo. A po
resposta. Daqui sou obrigado a concluir que os litica varia segundo os tempos , segundo as
illustres deputados estão de perfeito accórdo com circumstancias.
a resposta á falia do throno ; e com eflVito de
duas uma, ou os illustres deputados ostavão O Sr. Candido Boroes : — Mas além da in
convencidos de que o gabinete havia marchado justiça que este trecho envolve a respeito da
bem, e então flzirão muito bem em não mandar maioria da camara, estou convencido, senhores,
uma emenda ao projecto em discussão que ha ainda uma grande injustiça feita pelo
O Sr. Fioueira de Mello : — Estamos de nobre deputado a si mesmo...
accordo com a falia , explicada como foz o O Sr. Aprioio :—Apoiado I A palinodia.
Sr. Ferraz. - O Sr. Candido Boroes : — O gabinete de 29
O Sr. Candido Boroes : — ... ou os illustres de Setembro não deslocou o poder de seus eixos,
deputados estão convencidos de que o governo o gabinete do 29 de Setembro conservou-se den
havia marchado mal, e então estavão para com tro di orbita da lei, o gabinete de 29 de Se
o paiz na obrigação de apresentarem á coroa tembro não teve portanto necessidade dessa con
um voto de reprovação a essa politica que elles descendencia apoiada o sustentada pelo voto do
condemnavão. illustre deputado. Se o ministerio do 29 <ie Se
Acredito, Sr. presidente, que os illustres de tembro se tivesse devéras deslocado de seus
putados estão concordes com o seu pensamento, eixos, para servir me da expressão do illustre
com a sua conducta, porque estou convencido deputado, de certo o illustre deputado tinha e
ue a primeira parte do meu dilemma é a ver- tem bastante patriotismo não só para lhe negar
a adeira, isto é, os illustres deputados estão con o seu voto, como e sobretudo para não servir
vencidos que o gabinete tem marchado perfeita com elle...
mente bem... (Apoiados.) O Sr. Aprioio :—Apoiado.
Alouns Srs. Deputados : — Não apoiado. O Sr. Candido Boroes : — Senhores, a leitura
daquelle trecho foi feita durante o calor da discus
Ò Sr. Auousto de Oliveira : — Isto ó querer são; ninguem concebo que haja quem venha no seio
negar sinceridade aos seus adversarios. E' pre do parlamento revelar um grande crime quando
ciso admittir sinceridade de parte a parte. a todas as luzes se apparece como importante
O Sr. Candido Boroes : — Qualquer que seja complico dello I (Apoiados .)
porém o juizo que se possa formar a semelhante O Sr. Fioueira de Mello : — Já expliquei
respeito, eu entrarei no exame da materia. isto.
Sr. presidente, um milhão de vezes tenho per O Sr'. Candido Boroes :—Poder-me-ha respon
guntado a mim mesmo : — os cidadãos que se der o nobro deputado, o com effeito elle o disse:
sen tão nestas cadeiras são ainda os mesmos que « Mas o paiz achava-se em circumstancias ex-
ncllas se sentavão nos fins da sessão do anno cepcionaes, e essas circumstancias me levarão a
passado ? Os illustres deputadas que com mais apoiar o gabinete. » Mas se o facto das circum
calor ao gabinete se têm dirigido são ainda os stancias excepcionaes podem justificar o voto do
mesmos que nessa m»sma época lhe davão tão nobre deputado , nàõ vê elle então que essa
franco e decidido apoio?... mesma razão com que justifica o seu voto de
O Sr. Fioueira de Mello : — Os tempos, os então seria razão com que se justificaria igual
factos são os mesmos ? mente a marcha do gabinete? Se o gabinete
devia marchar assim, porque se achava o paiz
O Sr. Candido Boroes :—A estas duas propo em circumstancias extraordinarias, como o afirma
sições respondo pela affirmativa, como respon o nobre deputado , donde lhe vem então o di
deria a maioria da camara — são. — Mas então reito de lançar nesta casa aceusações de tanta
como explicar esta opposição, que no meu en gravfdade ?. . .
tender não tem significação alguma em relação
aos interesses geraes do paiz ? O Sr. Fioueira de Mello < —Já vejo que não
O Sr. Aprioio: — Apoiado. attendeu para o meu discurso.
O Sr. Fioueira de Mello e outnos Srs. De O Sr. Candido Boroes : — Vó pois a camara
putados : — Não apoiado. que bem marchou o gabinete de 29 de Setem
bro, que bem marchou o nobre deputado que o
O Sr. Aprioio : — Muito bem. apoiou , e bem marchou a maioria da camara
O Sr. Auousto de Oliveira : — Existem na que sustentãu esso gabinete , maioria que não
casa deputados novos que não manifestarão a mostrou fraqueza, e que bem pelo contrario mos
sua opinião. trou força e firmeza do convicções....
O Sr. Candido Boroes : — Para responder a O Sr. Fioueira de Mello ; — Faz bons cas-
este meu reparo , vendo um illustro deputado tellos para derrocar.
pela provincia de Pernambuco que ia collocar-se O Sr. Candido Boroes: — Eu disse ha pouco
em posição falsa, quiz prevenil-o ou co'mbatel-o. que não podia comprehender como homens que
com o seguinte trecho : « Os mais timidos ou havião apoiado o gabinete de 29 de Setembro,
os mais fracos apoiem o governo ; os mais for que haviao dado a essa politica um verdideiro
tes e mais corajosos lhe fação opposição afim de apoio o anno passado , hojo lho vêm fazer oppo
que possa voltar a seus eixos, restabelecendo- sição. Mas os nobres deputidos respondem :
se o equilibrio que se perdeu por 4 annos de « Não, não fazemos opposição á politica , que
condescendencias. » remos a mesma politica, mas fazemos opposição
108 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
á ndmistração. » Senhores, ou eu estou perfeita não avançou a esse respeito opinião decisiva,
mente alheio te creio que é verdade) ao jogo e por isso eu não tratarei da materia pelp
do poder, sobretudo na fórma de governo que modo por que trataria delia, se o nobre depu
nos rege , ou os nobres deputados mo atordoão tado a tivesse desenvolvido.
com uma theoria que escapa a todas as investi Entretanto , Sr. presidente , eu vejo que em
gações da minha razão I gorai quando so quer fazer opposição a um mi
Eu acredito , Sr. presidente , que todos nós nisterio, ella se faz por aquillo qne o governo
conhecemos perfeitamente o que são principios fez, ou deixou de fazer ; mo lembro qne não
geraes de politica, o que é a politica em geral; está rc-mota uma época em que fortemente se
nenhum de nós ignora o que são principios ad aceusava ao governo por querer intervir nos
ministrativos, o que é administração em geral. negocios do Rio da Prata, simplesmente porque
Se a politica em geral pois reduz-se ás bazes o nosso exercito se havia demorado na Banda
cardiaes, a principios fundamentaes, leis abstra Oriental, suppondo-se que elle so pretendia in-
ctas que servem para dirigir ao governo na di trometter nos negocios internos d iquelle estudo,
recção do paiz ; so administração é a realisação simplesmente pori)ue pendia então a questão da
pratica dessas abstracções, se administração é a approvação dos tratados de 12 de Outabro I
politica pratica , como querem os nobres depu Se, segundo o direito das gent is, nenhum go
tados Separar administração da politica? Pirii verno pódo tomar ingerencia na organisação in
que semelh ente modo de argumentar pudesse terna de outro paiz , parece-me que não póde
ter f irça, seria indispensavel que os nobres de ser posto em duvida que o governo brazileiio
putados provassem que administração não era so deve conservar noutral nesta questão em-'
a expressão, não era a realisação dos principios quanto os interesses do Brazil não forem com-
goraes do politica , ou então que o gabinete promettidos.
havia renegado a politica com que subio ao Mas, Sr. presidente, como o nobre deputado
poder. não fez aceusação ao governo sobre esse nego
Mas dizem os nobres deputados : « Não, o cio, e apenas so contentou em perguntar o qtoe
que nós pretendemos demonstrar é que a ad levo dito, ou deixo essa questão, e tratrrei de
ministração não é a expressão pratica, não ó a responder a um outro deputado pela provincia
realisação dos principios geraes de politica » de Pernambuco, e insistirei sobre algumas pro
Digo então logo : « Ou haveis de conceder a posições que elle emittio, mas proposições que
imbecilidade do gabinete, ou haveis de accusal o são simplesmente theses...
de traidor. » Mas vê a camara que estas con O Sr. Aprioio :—Apoiado I
clusões, são por demais iniquas, estão muito
abaixo da illustração e da honra do gabinete, O Sr. Candido Boroes:—.... mas theses cuja
e o simples facto de qualquer esforço para re- desenvolução nos interessa , que interessa ao
batêl-as seria uma injuria juizo reflectido que a cimara tem dd emittir,
Mas , continuão os nobres deputados : « Não que o paiz deve conhecer completa e absoluta
fazemos opposição á administração toda, fuze- mente....
mol-a a um ou outro ministro. Senhores, Lão O Sr. Aprioio : —Apoiado I
comprehendo a sublimidade desta theoria : ou os O Sr. Paola Baptista : — Temos os orçamen
nobres deputados hão de hoje destruir toda* as tos, e prometto nelles ser muito minucioso , e
regras que presidem a organisação e conserva com essas minuciosidades cansar muito a camara.
ção de um ministerio parlamentar, ou os nobres (Não apoiados. )
deputados hão de confundir da maneira mais
clara o mais positiva a responsabilidade moral O Sr. Candido Boroes :—Eu nunca me cansa
e solidaria do um gabinete com a responsabili rei em ouvir o illustre deputado.
dade criminal que em todas as épocas , e se Disse o nobre deputado que quando o governo,
gundo todas as leis divinas e huinanas, foi o é eni vez de chamar os dissidentes, aliena os amigos,
puramente individual. esse governo tem po»co tino; mas convém exa
Eu a este respeito até creio estar um pouco minar aonde está a causa da discordia, se na
em harmonia com o nobre deputado por Per camara, ou se no gabinote.
nambuco , quando fazendo merecidos elogios ao Eu notarei do passagem que neste segundo
Sr. presidente do conselho, accusou entretintoa .trecho ha uma estrategia de dialectica, istoé, o
S. Ex. de cobrir alguns membros do gabinete nobre deputado confundio a discordia dos amigos,
com ti seu prestigio. e figurou discordia entre a cimara e o governo.
Eu creio que o illustre deputado se teria pro Feito este reparo entrarei na questão. Duas
nunciado com mais razão, com mais justiça, de aceusações diversas, Sr. presidente, encerra essa
um modo mais constitucional se dissesse que aceusação do nobre deputado, a primeira ó que
os ministros que se sustentão naquellas cadeiras, o governo não chamou os dissidentes. . . senhores,
alli se aclião por merecerem a confiança da essa proposição é absolutamente despida de fun
coróa (apoiados), confiança fundada no apoio que damento, porque o governo, por seu comporta
lhes presta a representação do paiz (apoiados), mento, tem evidentemente demonstrado que elle
e sustentada pelos desvelos com que tratão do não está resolvido a restabelecer o inferno de
desenvolvimento e prosperidade do paiz. (Muitos Dante, que nesta casa pedia em altas vozes que
apoiados.) se trancasse um ministro do gabinete de 31
O Sr. Paula Baptista : — Esperem pela res de Maio (apoiados), perqne o ministerio está
posta, não se previnão.... conto timbem com os resolvido a não estabelecer entro os brazileiros
apoiados dos nobres deputados. outra differença que não seja aquella marcada
pela constituição do imperio (apoiados) ; o que
O Sr. Candido Boroes :—Estabelecidos, Sr. pre o governo não quer, o que não póde querer, o
sidente, esses principios, tratarei agora de exa que nunca governo algum quiz é cercar-se desses
minar algumas proposições emittidas na casa espiritos irreflectidos o exaltados que se querem
pelo nobre depnUdo pela provincia de S. Paulo, apoesar das posições officiaes do paiz para con
ue fallou em uma das sessões pnssadas. Essu spirarem contra elle. (Muitos apoiados.)
eputado, Sr. presidente, dirigindo-se ao ministe Tratando agora ue responder a segunda parte
rio dos negocios estrangeiros, não interrogou po da aceusação, isto é, de que o gabinete aliena
sitivamente, mal póz em duvida, perguntou se a aos amigos, ou direi, Sr. presidente, que essa
neutralidade que o governo guardava nas ques aceusação dirigida ao gabinete me impressionou
tões que actualmente se agitão no Rio da Prata da maneira a mais dolorosa e profunda.
era ou não conveniente? O illustre deputado Sr. presidente, quando um particular aliena
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 109
um amigo é necessario que elle tenha motivos maioria da camara dos Srs. deputados. (Apoiados
de grande transcedencia, porque a perda de um e não apoiadas.)
amigo é sempre uma perda grave, mas os in Uma Voz : — O trecho foi mal apanhado.
convenientes que podem resultar dessa alienação
recalie toda sobre seu autor, e elle que supporte O Sr. Candido Boroes: — Não podia dirigir se
as consequencias do passo que deu, mas, quando melhante injuria á camara porque o illustre de;
o governo do paiz aliena amigos, o caso é de putado só teria direito de accusal-a de servilismo
muita gravidade, porque as consequencias não se pudesse provar que ella reconhecendo o poder
pesão somente sobre o governo, mas pesão sobre fóra de seus eixos ainda assim lhe havia pres
o povo, que não tendo culpa do passo que deu tado o apoio de seu voto, voto que- entretanto
o governo, prudente ou não, póde soffrer injus podia ser explicado pelas circumstancias excep-
tamente ; se isso assim é, vê V Ex. a necessidado cionaes do paiz.
que temos de discutir grandemente asse negocio, O Sr. Aprioio : — Muito bem.
necessidade tanto mais - urgente quanto é ver O Sr. Candido Boroes: — Continuou o nobre
dade que diversas hypotheses se podem formar deputado e disse : « A politica do governo ó
a esse respeito. unia politica de desconfiança, o governo não faz
O governo, por exemplo, alienaria os seus amigos caso dos representantes da provincia de Per
sem motivos justi (icidos, o então lhe caberá o nambuco ; não faz a Pernuinhuco o mesmo que
opithetu que lho d u o nobro deputado de in faz á Bahia. » Eis aqui, Sr. presidente, theses
grato? Os amigos do governo terão pedido ao go e nada maia; porém eu quizera o desenvolvi
verno tal ou til cousa que esto lhes tenha mento delias, quizera que o nobre deputado pro
negado ? Os amigos do governo desejarião al vasse até que ponto é justa essa accusação de
guma cousa que o governo não lhes conced sse, parcialidade dirigida ao governo, porque o que
porque não as póde advinhar? Os amigos do vejo ó que na presidencia de Pernambuco, na
governo lhe terno pedido tal ou tal cousa que época em que se faz essa accusação, está um
o governo lhe concedeu, e os seus delegados não pernambucano, e o nobre deputado me parece
terão cumprido as suas ordens? Se pois, estas ' e o menos autorisado para dirigir ao governo
hypotheses se podem fazer, vêm os illustres de essa accusação, porque não sendo filho da pro
putados que o paiz, que a camara devem ser vincia de Pernambuco, foi demittido de chefe
esclarecidos em todos os pontos, isto é, convém de policia, sendo substituido por um pernam
saber se o governo deixou que dello se alienas bucano, pessoa muito distincía, segundo me
sem os amigos que tanto o têm ajudado, sem dizem. . .
motivo justificado ; se esses amigos exigirão qual O Sr. Aprioio : — Muito distincta, diz muito
quer cousa que o governo entendeu não poder bem.
conceder-lhes sem alterar a linha de conduct.i
que a elle mesmo se tom traçado no desenvol O Sr. Candido Boroi^s: — Argumentou-se tam
vimento do sua politica; se finalmente o governo bem com a organisaçao da guarda nacional ;
cencedeu, e suas ordens não forão cumpridas, e disso o nobre deputado que o gabinete é tão
entretanto permanecem em suas posições as auto- parcial para com a provincia de Pernambuco,
ridades que as deixarão de cumprir. Aci editem que a guarda nacional apenas alli estava orga-
os nobres deputados que se no desenvolvimento nisada na capital, em Olinda e em Iguarassú ;
desta materia tiverem razão, eu os ajudarei na mas para provar essa parcialidade não basta
censura feita ao governo, porque não concedo isso, era preciso que o nobre deputado provasse
ao governo que por capricho aliene seus amigos. que se tinha organisado a guarda nacional em
E' preciso, Sr. presidente, darem-so razoes todo o imperio e em Pernambuco não.
valiosas para que os illustres deputados facão Mas poder-se-ha dizer ; « Vós estendeis, vós
opposição ao governo do modo por que a ampliais então a accusação feita ao gabinete.»
fazem... Isso seria um sophisma, pois os illustres depu
tados sabem muito bem as difficuldades que ha
O Sr. Aprioio : — Apoiado I Apresentem os para se organisar a guarda nacional, o milhão
factos. de informações que o governo tem necessidade de
O Sr. Candido Boroes : — Passando agora, colher. Como pois, se aceusa ao governo por não
Sr. presidente ; a tratar de outras proporções ter organisado alli a guarda nacional I Este argu
produzidas por outro illustre deputado pola pro mento é improducente.
vincia de Pernambuco, eu notarei em primeiro O Sr. Aprioio: — E até contra-producente.
lugar o trecho por elle lido logo depois do ter O Sr. Candido Boroes: — O nobre deputado
começado o seu discurso, no qual disse : « o ser continuando disse: « O ministerio ou o ministro
vilismo daquelles que apoião no governo é tão da justiça violou altamente as attribuições do
f itai ao mesmo como a opposição daquelles qua poler judiciario.» Mas qual foi a violação? Foi
lhe fazem guerra.» de ter sido Antonio Pii to da Fri nseca absolvido
Eu não sei, Sr. presidente, qual ó a appli- pela relação da Bahia, e apezar disso ser depor
cação que o nobro deputado pretendeu fazer com tado pelo Sr. ministro da justiça. Peço aos
este trecho... illustres deputados que são formados em direito
O Sr. Fioueira de Mello: — Parece que ella me perdoem, porque não sei se vou muito bem ;
esta bem comprehendida. mas deveras se poderá chamar a isto uma in
O Sr. Candido Boroes: — E' uma advertencia vasão das attribuições do poder judiciario ?JPois
ao governo, ella é mal cabida ;apoiados), por o governo não póde sujeitir a um tribunal judi
ciario o conhecimento de um crime, e entretanto
que o nobre deputado sabe que o governo não reservar para si as questões politicas, a respeito
póde guiar-se senão pelo voto da maioria da das quaes obra como entende, e de uma maneira
cása (apoiados) ; se é uma censura feita á maioria puramente administrativa? Sabe o nobre depu
ainda não acho razão ao nobre deputado, porque tado quaes as provas, quaes os documentos que
devia antes applaudir a opinião nessa maioria, o governo tinha em seu poder, qual a sua con
porque, sendo ella tão fatal ao gabinete como vicção a esse respeito? Notou o nobre deputado
a guerra dos que lhe fazem opposição, concorre as circumstancias peculiares do paiz ? '
naturalmente ao mesmo fim que esta to n em
vista. O Sr Araujo Lim* :— Então não sujeitasse ao
Mas, senhores, o que ó verdade é que a lei poder judiciario.
tura desse trecho foi uma injuria dirigida 4 O Sr. Candido Boroes—O crime, senhores, e
110 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
seu julgamento é uma cousa, e a conveniencia rar que desejava marchar comnosco, e que estava
politica é outra ; a subida do imperio ordenada disposto a conservar-se ou a retirar-se do podor
pelo governo não é sem duvida a deportação, segundo as regras marcadas na constituição do
em um caso temos a pena imposta pelo codigo imperio.
criminal, o em outro uma medida tomada pelo Acredito, Sr. presidente, que dos factos que
poder administrativo.' (Apoiados.) acabo de relatar se não póle tirar motivo para
Ainda, Sr. presidente, e isto é notavel, se aceusar-se o ministerio, e que realmente se o go
fez carga ao gabinete porque os Srs. ministros verno tem o dever de marchar com a camara,
andão sempre de má cara, de semblante carran devemos entender que o não tem.
cudo, trancão as portas e não fallão a todos. Mas disse-se : « Tanto o gabinete não faz caso
(Riso.) Ora, Sr. presidente, quando vi uma se da camara, que elle pretende fazer tudo, de tudo
melhante accusação, lembrei-ine de uma ordem se quer encarregar, e desde que a camara pa
do dia que li ha pouco tempo, publicada pelo rece recuar, ou parece duvidosa sobre qualquer
general duque de Saldanha.... votação, um ministro falia, e então vota-se á
O Sr. Araujo Lima :—Está muito exagerado. carga cerrada ; nós pois nada podemos fazer, só
nos cumpre obedecer. » Pois, senhores, no sys-
O Sr. Paula Baptista : —Esta no seu direito, tema representativo póde-se aceusar aos ministros
porque está só lançando mão daquillo que lhe pela iniciativa e influencia legitima que devem
faz conta. ter no pirlamento?
O Sr. Candido Boroes:—Estou no meu direito O Sr. Paula Baptista :— Oh 1 isso é verdade.
quando apresento á casa as convicções que tenho. O Sr. Candido Boroes:— Lembre-so a camara
(Apoiados.) o que acenteceu em 1851 no parlamento inglez.
O Sr. Auousto de Oliveira:—E ha pouco disse Governava então o ministerio de lord John Russell,
que os opposicionistas não tinhão convicções. o este ministerio, que parecia duvidar de si
O Sr. Aprioio : —Não ha quem tenha fallado lhe mesmo, não tomava no parlamento a posição que
com mais moderação e decencia. cumpria segundo as regras ou principios do
governo por que se rega aquelle. paiz ; mus o que
O Sr. Candido Boroes : —Nessa ordem do dia aconteceu ? Foi acremente censurado, mas foi cen
se dizia ou se recommendava aos soldados : surado pela razão inversa da pela qual se cen
« Vós nunca vos apresenteis diante de vossos surou o gabinete aclual; foi censurado por não
superiores de semblante bisonho , do cabeça se collocar na altura de sua posição ; isto é,
alta, etc. » E então eu disse commigo : « Ora, por não tomar a iniciativa de certas medidas e
o que terá isto com o serviço militar ? Pois não dirigir o parlamento; e a esse respeito per-
não bastará dizer-se ao soldado :—o vosso dever mitta a camara que eu leia um topico do dis
é a dedicação á lei quanto ao interior, e dedi curso de um distincto deputado daquelle parla
cação ao paiz quanto ao exterior ? » Fazendo mento.
applicação desse juizo que então fiz , direi : « De quem são as medidas financeiras e outras
« Que me importa que os illustres militares an da actualidade ? Perguntou o Sr. Roebuck ; são
dem com cara feia e carrancudos, se elles cui- da camara e não do ministerio. Semelhante ás
dão como devem nos negocios do paiz ? Até
acho, Sr. presidente , que elles terião razão convenções e á actual assenibléa de França, não
de sobra para assim andarem, Pois é agradavel, recebenão
as suas medidas de cima, apresenta-as o
considera o ministerio senão como um
senhores, carregar-so com o grande peso, com a
ardua tarefa de dirigir os negocios do paiz, e mestro de cerimonias, cujo poder do iniciação
pouco maior ó do qne o do presidente da camara,
soffrer, como elles tém soffrldo, aceusaçoes in
justas e mesmo tão dolorosas ? E' possivel ri- qne se limita a manter a ordem nas discussões.
Um tal estado de cousas ó prejudicial ao serviço
rem-se em taes circumstancias ? (Apoiados.) publico e desairoso pira o governo. Submetten-
Mas tambem se disse que o governo não taz do-se continuadamente a ver suas medidas substi
caso da camara, não faz caso da representação tuidas por outras, lord John Russell avilta o
nacional; e para prova citou o illustre deputado cargo de ministro ; convido-o portanto, por amor
a reunião que houve na secretaria do imperio, do seu paiz e de sua propria dignidade, a de-
dizendo que o Sr. presidente do conselho então mittir-se immediatamente, deixando o lugar a
declarára que não queria discussão, que não algum Pitt ou a algum Peei que não se assente
queria ouvir a opinião dos deputados. no banco ministerial para ser mero creado da
Senhores, estive nessa reuniao ; o que é ver camara. »
dade é que o Sr. presidente do conselho declarou So no parlamento inglez se aceusa ao minis
qun não exigia discussão. Continuando disse S. Ex. - terio por não exercer no parlamento toda a in
ue tendo-se espalhado que a camara se achava fluencia que lhe cumpre tomar, como se censura
d ividida em grupos, não podia elle deixar de no n^sso que tome elle a posição que lhe com
ponderar que, a ser verdade, a camara não só pete? Não rebaixemos, senhores, os poderes do
perdia a força de que tinha necessidade, mas estado ; o poder executivo como a camara dos
que não poderia sustentar nem este nem qual Srs. deputados, tem uma certa dignidade que
quer outro ministerio que se pudesse formar; e lhes é propria : se rebaixarmos o podor executivo,
declarou finalmente que seu desejo era que por rebaixaremos tambem a nossa propria dignidade.
occasião da resposta á falia do throno á camira (Apoiados.)
désso um voto decisivo de approvação ou repro
vação ao gabinete. O Sr. Bandeira de Mello :— Não é só no par
Ora, quando mesmo se tivesse dado isso que lamento inglez que se faz dessas aceusações ao
ministerio ; aqui e nesta mesma sessão os Srs.
o nobre deputado achou digno do censura, de
claro em minha consciencia que eu achari i objecto Dutra Rocha e Ferraz fizerão a mesma accu
de alto elogio, porque mostrava assim o gabinete sação.
que não queria essa politica tenebrosa, essa po O Sr. Candido Boroes :— Tocarei agora, Sr.
litica de corredores, essa discussão que se teme piesidente, nessa grande questão com a qual
na luz, e sim uma discussão no parlamento, uma tanto gemêrão os prélos e que tantas vezes tem
discussão clara e franca capaz de esclarecer o sido repetida no parlamento, isto é, entrarei no
paiz. Ainda mais, acredito que o simples facto exame da questão do arsenal de guerra.
dessa reunião foi um acto de deferencia e de Eu pensava, Sr. presidente, e estava conven
consideração para a camara, a qual deparou ao cido de que a questão do arsenal de guerra não
governo uma Doa opportunidade para nos decla seria mais trazida ao seio da camara; o tempo
SESSÃO EM 8 DE JUKHO DE 1853 111
decorrido entre o dia em que essas accusações eu muito respeito, e que mesmo invejo ; pois
forão aqui feitas pela primeira .vez e o dia de bem, eu vos provoco em nome dessa illustração.
boje me parecia mais que sufficiente para ter-se Eu vos reconheço como homens cheios de pa
estudado profundamente esta materia, e reconhe triotismo e de dedicação ás instituições do paiz;
cesse toda a injustiça de que se achava ella eu vos provoco om nomo desse patriotismo e
envolvida; e ultimamente a sentença proferida dessa dedicação. Eu vos reconheço como ho
pelo conselho supremo militar, julgando innocen- mens que receberão do paiz a grande missão
tes as autoridades que estavão immediatamente de velar na guarda de seus mais caros interesses;
á testa do arsenal, é para mim uma razão de eu vos provoco em nome desses deveres I Final
mais e bem sufficiente para firmar esta convic mente, senhores, eu vos reconheço como homens
ção mesmo nos espiritos mais recalcitrantes. de honra e de brio ; eu vos provoco em nomo
Entretanto, Sr. presidente, estas accusações dessa honra o desse mesmo brio 1 Correi, correi
têm continuado a apparecer, procurando-se por á tribuna, o ajudai-me com vossa eloquencia a
todos os modos dar-lb.es um caracter mais odios". defender a honra...
Seniores, nós não podemos continuar nesta po O Sr. Paula Baptista : — Aceito o desafio ;
sição I Estas accusações vagas, estas insinuações, mas quero que a maioria esteja calma nessa
estas accusações a que chamarei de meias pala occasião e me deixe fallar.
vras, não estão de certo na altura da camara
dos Srs. deputados I .. . O Sr. Candido Boroes : — Fazei uma aceusa
O Sr. Aprioio :— Apoiado. ção em regra, declarai aqui se se trata do dela
pidações ou de negligencias, e em todo o caso
O Sr. Candido Borol.6: — E' necessario que qual é a aceusação que se pretende fazer reca-
cada um de nós se convença da dignidade do hir sobre o ministro da guerra...
lugar em que se acha. Da duas uma, não ha O Sr. Paula Baptista : — Recebo a luva.
meio termo : ou prevaricações se derão, como se
diz, no arsenal de guerra, ou se não derão. Se O Sr. Candido Boroes A honra, Sr. pre
se derão, ou são por ellas responsaveis os em sidente, de qualquer cidadão é um objecto sa
pregados que estavão immediatamente á testa da grado, não póde ficar ao arbitrio das inspira
administração do arsenal, ou é responsavel o ções do momento, das paixões do dia ; e se isto
chefe da repirtição da guerra. Esses empregados é assim a respeito da honra do um particular,
porém, dizeis vós, já não são responsaveis, por com muito mais razão o deve ser quando se
que a justiça do paiz assim o decidio. Sim, diz trata de um alto funectonario do estado que
a sentença que os absolveu, e rogo ao Sr. ta- tem prestado a seu paiz importantes e valiosos
chygnpho que a tome tal qual, pondo em grifo serviços como inquestionavelmente os tem pres
as palavras sobre cuja pronuncia eu me demo tado o nobre ministro da guerra. (Numerosos
rar : « que nem uin dos réos praticou os apoiados.)
erros e faltas que a commissão lhe attribue, e O Sr. Aprioio : — Apoiado.
que, a serem verdadeiros, comprometterião sua O Sr. Candido Boroes : — Até aqui, Sr. pre
reputação e responsabilidade ; que, se alguma sidente, todas as accusações que na tribuna tem
falta ou irregularidade houve, foi de tal na apparecido com franqueza de modo a poderem
tureza que sem injustiça não se poderia elevar ser discutidas com lealdade, são accusações de
a categoria, e menos a prevaricação, ou outro negligencia da parto, do illustro ministro. Diz-se:
qualquer que comprometter pudesse a honra e « O ministro da guerra foi negligente, não zelou
probidade dos aceusados como empregados pú como cumpria os encargos que estavão inhe-
blicos. » rentes á sua repartição. » Vamos examinar esta
Vê pois a camara que já se não póde dirigir negligencia, e quando o illustre deputado me
accusações aos empregados que immediatamente der o prazer, quando fizer o grande serviço ao
estavão á testa da administração do arsenal de paiz de levantar a luva que atirei, póde 'contar
guerra, o é baseado nesse fundamento que se nella commigo. Vamos, pois, ás questões que
diz hoje,— a absolvição desses empregados 6 a se podem discutir por terem sido tratadas com
condemnação do ministerio ; — mas quando assim lealdade. Primeiramente tratarei da negligencia.
fosse, qual é essa aceusação? Persistirá ainda
essa aceusação injusta, iniqua de prevaricação, O Sr. Paula Baptista : — E porque o nobre
ou sustenta-se a de negligencia? deputado fez allusões inuteis, quando podia logo
Senhores, encaremos a questão no seu verda collocar-se neste terreno de negligencias ?
deiro ponto de vista, é de absoluta e indeclinavel O Sr. Araujo Lima : — Ninguem aqui se tem
necessidade que sejamos francos, que sejamos referido á honra do Sr. ministro da guerra.
claros o transparentes tanto quanto o exige a Um Sr. Deputado : — A propria maioria é que
gravidade da materia e os interesses do paiz, está fazendo essas allusões.
do contrario, é uma verdade, vós tornareis estas
cadeiras (apontando para as cadeiras dos mi O Sr. Candido- Boroes : — P»rdoai-me, estais
nistros) inaccessiveis á honra e á probidade... enganado. Eu estimo, eu folgo mil vezes em
(Numerosos apoiados.) ouvir que os honrados deputados que se dizem
O Sr. Aprioio : — Muito apoiado. em opposição declarão ã face da camara o do
paiz que elles não atacão a honra do Sr. mi
O Sr. Candido Boroes: — ...porque desde o nistro da guerra .Perdoai-mo, outra vez repito,
instante em que ellas estiverem convertidas em mas eu tinha necessidade invocando o vosso
pelourinhos da honra e da reputação, estarão patriotismo, de fazer chegar a ess is denegações
collocadas muito em baixo para que o homem que tanto honrão o vosso caracter. Estava mes
de illustração, de honra e do brio nellas se mo certo, senhores, que assim vos comportareis,
queira assentar. (Numerosos apoiados ; muito porque sempre estivo convencido que a honra
bem.) A questão pois não póde ficar no pé em nunca flagelou a honra (apoiados) . . . o peço ao
que se acha, é indispensavel que a camara Sr. tachygraplio que tome em letras bem gran
emitta um juizo franco e decidido a este res des esses pr. testos feitos em favor da honra do
peito, pois tem direito a ouvil-o, da boca de seus Sr. ministro da guerra.
representantes, o eu não sei qual ó o modo por O Sr. Paula Baptista :—O nobre deputado já
que hei de provocar-vos a uma linguagem sem teve occasião de ler o meu discurso e outros
equivocos. muitos que se tem publicado. .
Senhores, eu vos reconheço como homens de
verdadeira illustração, de uma illustração que O Sr. Candido Boroes : — Daqui a pouco eu
112 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
mostrarei ao illustre deputado que não foi sem mesmo ciso que so dá quando o negociante vai
algum motivo que provoquei a discussão sobro a uma repartição publica, leva amostras da sua
esío ponto, o os illustres deputados verão que fazenda, sujeita-se ás demoras dos necessarios
tive uma ruzão bem justificativa. exames, o depois leva a fizenda escolhida, en-
No estado em que se acha a questão não te trega-a, espera muito tempo pelo pagamento, de
nho pois, Sr. presidente, senão do oceupar-me pendendo tudo isto de exames, de informações,
da aceusação do negligencia. do documentos e de mil formalidades e portanto
Accuson-me o Sr. ministro da guerra por ter do empate de seu capital ? Senhores, havia um
autorisado compras consideraveis. Bem, vejamos moio, eu reconheço, para as repartições publicas
se para isso houve ou não razão. Essas com comprarem mais barato, e esse meio não esca
pras forão autorisadas pelos avisos de 8 o 30 pou á perspicacia do um illustre senador, creio
de Novembro de 1351 ; mas, pergunto eu, havia que no anno do 1845. Sim, o Sr. Hollanda Ca
alguma necessidade de fazel-as ? Examinemos : valcanti, que então era ministro da marinha,
no mez de Outubro do lsõl subio á secretaria assentou de fazer comprar particularmente as
da guerra uma representação do tenente-goneral fazendas precisas para aquella repartição; pro
marquez de Caxias pedindo fardamentos para o curou um homem de cuja probidade ninguem póde
exercito do sul, e em virtude desta representa duvidar, procurou o illustre senador o Sr. Ma
ção é que se mandarão fazer as compras de que noel do Carvalho Paes de Andrado para que com
trata o aviso de 8 de Novembro. Mas forão ex prasse na praça, a dinheiro, os objectos de que
cessivas ? Tanto não forão que aqui está um o srsenal precisasse ; e com effeito assim so póde
ofiicio do 22 do Novembro, sob n 4. do dire comprar mais barato. Mas, pergunto eu, o que
ctor do arsenal de guerra requisitando ainda do calumnias não cahiráo sobre estes dous dis-
mais fazendas para completar o fardamento pe tinctos cidadãos ? (Apoiados.)
dido por aquelle general. Vê-se pois que se o ministro procura zelar a
Vó pois a camara que esta aceusação ó intei fazenda publica comprando a particulares e em
ramente infundada, para que ella pudesse ser particular é aceusado porque Ccmpra não tomando
apresentada seria necessario demonstrar que a todas as garantias que so podem apresentar em
fazenda comprada em virtude do aviso de 8 de uma concurrencia ; se o ministro procura con-
Novembro estava muito aiém da necessidade que currencia, o quer assim justificar quando fór
havia para se satisfazer o pedido do general em injustamente aceusado,— aqui d'el-reil o ministro
chefe ue exercito. comprou mais caro 1 e, perguntarei eu, deveras
E tanto não so comprou do mais que" ainda o arsenal de guerra comprou mais caro do qne
houve necessidade do se fazer uma compra avul se havia comprado antes da administração do
tada em 24 de Àbril de 1852. Sr. Manoel Felizardo? De certo que não.
Mas diz-se : « Se a compra não foi excessiva, Exaininarão-se, por exemplo.no artigo casimiras
como ó que sobrão fazendas ? » A razão é mais as compras feitas polo arsenal na quatriennio que
clara do que a luz do dia, o ou quero que os corre desdo 1841 a 1848, o termo médio de cada
nobres deputados a conheção perfeitamente. O envado desta fazenda foi de 2JI919; mas se exa
dictador Rosas perdeu o poder, foi destrocado em minarmos o termo médio das compras feitas lo
3 de Fevereiro de' 1852 ; acabada á campanha o mesmo genero durante o quairiennio de 1818 a
nosso exercito devia voltar para a provincia do 18 2, veremos que o termo médio foi de 2$500.
Rio Grande do Sul ; mas lembre-se a camara Portanto, na administração do Sr. Manoel Feli
que qumdo o exercito brazileiro voltando para zardo, em que se davão as urgencias do uma
o imperio chegou á lianda Oriental, teve de ahi guerra, custou a casimira 419 rs. menos em cada
deuiorar-se por algum tempo, e isto ó sabido, covado do que no quatriennio do 1841 a 1848;
pois que atê houve quem acreditasse que essa e então como se diz que so comprou muito caro ?
demora era a consequencia das duvidas levan O que digo a respeito das casimiras, posso pro-
tadas ácerca da approvução dos tratados de 12 de val-o a respeito de muitos generos, o até posso
Outubro. provar ácerca das tão decantadas linhas que se
Ora, demorando-se ahi o exercito, e sobretudo diz compradas em tanta abundancia, mas que
approximando-se o inverno , era bem ' natural, infelizmente não chegárão para coser a boca da
era ini-smo urgente que o governo, attendendo maledicencia I (Muitos apoiados )
ãs necessidades dos nosscs soldados, inundasse Mas disse so: « a secretaria da guerra tem com-
apromptar o fardamento indispensavel afim de mettido graves faltas, porque, recebendo as in
evitar essa nudez que já aqui se quiz dar como formações do arsenal do guerra, ás vezes não
certa ; houve portanto necessidade de iazer-se estava por cilas.» Senhoros, é isto uma verdade ;
novas compras, e forão estas autorisadas pelo mas eu acredito que os illustres deputados que
aviso do 21 de Abril. fazem tão vehementes aceusações ao ministerio
Mas diz-se « sobrou fardamento, a E' verdade, da guerra não hão de apresentar mais esta ra
mas porque ? Porque tendo depois voltado o zão, porque ella não serve senão para mostrar
nosso exercito para o imperio, e sendo licenciada qne o Sr. ministro da guerra cuidou da econo
a guarda nacional, que em numero do 8,000 ho mia da fazenda publica tanto quanto foi possivel.
meus, so be n me recordo, fazia parte delle, devia Querois saber em que circumstaucias o Sr. mi
effectivamente sobrar o respectivo fardamento, o nistro não concordava com as informações do
qual ninguem poderá reputar como despoza per arsenal ? Eu vol-o digo.
dida. Havia necessidadb de panno p ira o fardamento
Diz-so : « Comprou-se por preços consideraveis, do exercito ; appareceu dous concurrentes, Pinto
por maior preço do que aquelle que corria na e Pimenta, e Binns o C. isto está escripto, (os
praça. » Não serei eu, Sr. presidente, que venha illustres deputados podem examinar) ; o arsenal
queimar aqui incenso podre aos Srs. ministros; de guerra vai examinar as amostras : o mestre
louvado Deus, posso passar sem estar na inde da officina do alfaiate, que é o perito designado no
pendencia delles, sustentarei sempre a verdade. regulamento para examinar pannos, diz que os
E' verdade, o arsenal de guerra comprou fazen pannos de Binns e C. são melhores que os de
das por maiores preços do que corria no mer- Pinto e Pimenta ; com esta informação concorda
tffido ; mas, senhores, investigai a razão desses o vice-director ; eé o negocio descoberto com ofiicio
preços. Em que -parte do mundo e em que época as do director, e mandado para a secretaria de estado ;
repirtições publicas comprárão mais barato do a contadoria porém examina e diz ao Sr. minis
que os particulares? Pois quando qualquer de tro — não .concordo, porque os pannos oflereci-
nós vai a uma loja, compra uma fazenda e im- do* por Pinto o Pimenta são inquestionavel
mediatamente paga o sou importe, está isto no mente melhores qu« os de Binns e C. ; — o que
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 113
fez, pois, o Sr. ministro ? Mostrou esse desleixo, que tem razão, que o Sr. ministro da guerra ó
essa negligencia, esse desperdicio dos dinheiros negligente. (Apoiados.)
publicos de que tão injustamente o accusão ? Qual a razão, perguntou-se ainda , porque o
Não ; - dirigio-se ao Sr. ministro da fazenda, ue- Sr. marquez de Caxias encommendou fardamentos
dio-lhe peritos da alfandega ; esses peritos forão e munições ou armamento no estado Oriental ?
nomeados, forão pua a secretaria da guerra, e A razão ê clara : tendo marchado o nosso exer
ahi reunidos ao honrado commundante do 1° re cito precipitadamente, não marchando, nem po
gimento de cavallaria do exercito e com outro dendo marchar com todos os meios indispensa
militar de cujo nome mio me recordo agora exa veis, porque os illustres deputados sabem que
minarão • os pannos, e disseráo : « O arsenal de em uma marcha precipitada, em que o exercito
guerra não informou bem ; com effeito os pannos tinha de atravessar rios a cada passo, não era
de Pinto e Pimenta são melhores.» E o que fez occ isião de levar comsigo grande bagagem, por
o Sr. ministro? Mondou comprar os pannos a que, ou retardaria sua marcha , ou ficaria na
Pinto e Kmenta o d mittio immediatnmente ao retaguarda exposti aos ataques do inimigo.
mestre alfaiate da officina do arsenal de guerra. Mas diz-se « Porque não mandou o general por
Pois um ministro que procede assim desperdiça mar para o estado Orient tl ? » Ainda respondo
dos dinheiros publicos ?. .. (Muito bem.) porque o ministro zelava os dinheiros publicos;
não sabia nem podia saber so Urquiza tinha
O Sr. Aprioio : — Apoiado. Isto ó que é res derrotado Oribe, ou se Oribe tinha triumphado de
posta, Urquiza, e então se tivesse mandado esse far
O Sr Candido Boroes : — Continneu ainda o damento e armamento por mar arriscava-se a que
illustre deputado por Pernambuco a dizer : «era cahissem nas mãos de Oribe, e por consequen
tal a negligencia do ministerio da guerra que o cia a vir servir contra o imperio, por consequen
exercito Tirazileiro marchou para a campanha do cia esperou-se pelas participações do Sr. muquez
Rio da Prata nú, sem fardamento. » Mas por de Caxias, e quando este mandou dizer que es
essa occasiuo o distincto general, representante tava no estado Oriental, o fardamento necessa
por Pornambuco , que commandava o exercito rio como que voou para aquelle estado.
antes de chegar o Sr. marquez de Caxias, disse A este respeito estou ainda autorisado pelo
« não é exacto ; o exercito não estava nú. » Se Sr. marquez de Caxias para declarar que o exer
eu tivesse do aceusar o ministerio da guerra de cito brazileiro apresentou-so na Binda Oriental
baixo deste ponto de vista , declaro que teria e em Buenos-Ayres por til modo fardado e mu
recuado completamente diante da afirmativa do niciado' que faz - honra a qualquer nação civili-
illustre general. Mas a aceusação continneu o sada, graças ao habil administrador que estava
eu quiz examinar até que ponto se podia quali á testa da repartição I (Apoiados , muito bem I)
ficar de deleixada a administração do nobre mi Mas, disse-se ainda : « Se o Sr. ministro da
nistro, o para isso não fui pedir informações a . guerra sabia que a organisação do arsenal de
elle, porque podiâ dizer-so que . era suspeito , Guerra não era conveniente, porque razão não a
tive 1 irga cenferencia com o Sr. general mar reformou ? » A camara sabe, Sr. presidente, que
quez de Caxias. Porguntei-lhe se, quando mar a esforços do Sr. ministro da guerra so deve ter
chou do Rio Grande do Sul, o exercito tinha mar passado a autorisação competente na lei de fixa
chado nú ; o estou autorisado pelo Sr. marquez ção de forças o anno passado ; por consequencia
do Caxias para declarar na camara que o exer cenhccia-se esta necessidade, mas não se podia
cito marchou vestido o prompto, Houve, é ver obrar sem o apoio, sem autorisação do corpo
dade, alguma falta debaixo do outro ponto de legislativo, necessidade apontada em todos os rela
vista, mas investigai qual foi ella e qual a razão, torios do nobre ministro.
que a encontrareis ; houve alguma falta para a Disse ainda : « Houve delapidação na reparti
guarda nacional ; mas porque ? Porque sabem ção de saude do exercito do sul. » M is, pergunto:
todos que o general Urquiza precipitou os acon quem foi nesta casa que disse ao nobre ministro
tecimentos, apreseniou-se em campanha antes da que havia essa delapidação I Não foi o exame
época convencionada, e então o Sr. marquez de que elle mesmo, zeloso como é, mandou proceder?
Caxias teve do dirigir-se para a campanha, pre Ainda se acerescentou : « Qual ó o resultado
cipitadamente de a marchas forçadas , atraves desse exame ? O que se tem feito ?» O Sr. minis
sando rios que não davão passagem. Aconteceu tro nomeou uma commissão para ir tomar contas
mais, o eis o -motivo principal da falta que se no Rio Grande do Sul ; esta commissão voltou,
aceusa, que elle teve a fortuna, e fortuna para apresentou o seu relatorio ; em consequencia desto
o paiz, e tendo invocado o patriotismo dos rio- relatorio forão presos os cirurgiões que a com
grandenses ; teve a fortuna, digo, de ver reunir-se missão entendeu se achaváo implicados em um
em 60 dias 8,000 homens da guarda nacional 1 crime ; elles forão remettidos para a corto e se
Veja mesmo a camara que, quando se tivesse achão presos. ,
julgado com antecedencia qual seri» o numero Observa-se que esses homens não têm sido jul
gados pelos tribunaes. • Isto depende do uma razão
de brazileiros que acudirião ao reclamo, ainda simples, e que suscitou-se duvida se os cirurgiões
assim so não podia contar com 4,000 brazileiros militares devem ser julgados por seus pares ou
residentes na Banda Oriental, que se vierao incor indistinctamente por officiaes do exercito. O Sr. mi
porar ao exercito. nistro ouvio já a este respeito o procurador da
Mas, pira provar ainda mais que não tem coroa, e esta questão pende hoje da decisão, se
nenhum fundamento semelhante aceusação, sou gundo creio, do conselho supremo militar. Por
lambem autoris do para declarar aos nobres de tanto o governo não tem dormido, tem zelado os
putados que assim accusúrão o ministro da guerra, dinheiros publicos.
o seguinte : « O exercito brazileiro ia tão mal Disse-se ainda: « O Sr. ministro da guerra
vestido, ião nú que, apresentando-so ao Sr. mar mandou engajar na Europa um engenhoiro para
quez de Caxias ;J,000 orientaes que so querião uma fabrica do fogos pyrothechnieos que se acha
bater em favor das armas do imperio, elle pasmou estabelecida no Campinho, e esse engenheiro não
revista do armamento o munições no campo creio dá contas do si, não sabe nada. » Senhores, guar-
que de Alexandre de Oliveira, e o exercito acha- dai-vos de lançar aceusações desta natureza l De
va-so tão nú, tão desprovido de armamento, que vendo o governo assentar uma fabrica desses
o Sr. marquez de Caxias póde tirar da columna fogos, que mais podia fazer do que pedir infirma
comu.andada pelo general Bento Manoel mil far ções aos seus delegidos na Europa, ordenando-lhes
damentos, com que fardou mil orientaes I » Con- que inculcassem uma pessoa habil, capaz de des
teste-me estes factos, o Sr. deputado que eu direi empenhar esta commissão ? Foi o que o governo
tomo 2. 15
114 SESSÃO EM 8 PE JUNHO DE 1853
fez: recebeu informações do nosso consul geral na to invoquei seu esclarecido patriotismo para
Prussia, o Sr. Sturtz, o qual lhe abonava a aptidão uma declaração franca o leal.
desse engenheiro. Mas. quando a camara enten Senhores, não nos illudamos ; mal avisados
desse que os conhecimentos do nosso encarregado andão aquelles que virão nas accusações feitas
de negucios não i rão sufficientes para o autorisar pda primeira vez nesta 'casa a voz da verdade,
a fazer u engajamento, noto a camara que esse impellida pelo zelo da economia do estado : se
engenheiro se apresentava com um attestado não assim fóra o aceusador não se teria subtrahido
de um sabio di Europa, de um sabio do mundo, o ao exame dessas faltas, quando o proprio aceu-
Sr. de Humboldt. Pois um ministro que se dicide sado, bem seguro de seus actos, a elle mesmo
diante de um attestado semelhante póde ser accu- h ivia entregado seu exime e demonstração
sado por haver engajado um engenheiro sem as (muitos apoiados) ; não nos illudamos, outra
garantias necessarias 1 Certamente que não. vez repito I A questão do arsonal não foi ques
Mas f.ii-se mais longe, finda se disse que no tão de economia, foi questão só e exclusivamen
ministerio do Sr. Manoel Felizardo até se derão te politica. (Muitos apoiados.)
duas explosões na fabrica da polvora I Ora, se Sr. presidente, o espirito de partido é infi
nhores, podem-se soffrer accusações deste genero ? nito em suas concepções exageradas ; felizmente
Eu declaro á camara que, se eu accusasse algum para a ordem publica, para o progresso das na
governo por semelhante modo, iria ainda mais ções, é tambem infinito em suas derrotas. Tudo
longe, não teria sido tão parco como o illustre de se tinha tentado desde muito tempo para se
putado ; diria até. . . — appareceu nestes dias um derrotar a politica que hoje rege no paiz ; a re
grande cometi, o que, segundo a opinião das forma do conselho de estado e a da lei de 3 de
nossas avós, indica peste, fome e guerra: o o Dezembro foi um grande achado ; mas essas
Sr. ministro da guerra não póde doixir de ser res necessidades desapparecérão sob as armas da lei
ponsavel por tão grandes calamidades. (Apoiados nos campos de Santa Luzia, sem mesmo resus-
Risadas.) citarem a época da ascensão ao poder do seus
A nccusações taes não se põdo responder por miis ardentes partidistas.
outro modo. O Sr. Fioueira de Mello : — Isso é historia
Mas foi em vista desses factos que o illustre de antiga.
putado disse: « Estas fatalidades dadas no minis
terio do Sr. Manoel Felizardo demenstrão que esto doUm Sr. Deputado : — E' mais moderna que a
Scipião Africano. (Apoiados.) •
senhor estã debaixo da influencia delias ; por con
sequencia é preciso que largue- a pasta afim do O Sr. Candido Boroes: — Na falta desses
que taes fatalidades não se repitão. —Senhores, o recursos procurárão-se outros, prógarão-se as
que é realmente fatalidade é que o illustre depu doutrinas as mais subversivas da ordem publica,
tado que as-im argumentou tivesse violentado os prégãrão-se as idéas de uma assembléa consti
recursos ile sua conhecida intelligencia, se tivesse tuinte, que na phrase dos homens do dia devia
afastado das regrus da justiça, e fizesse respon-. realisar as promessas do Todo Poderoso, de
savel ao nobre ministro por acontecimentos em que derrubar os reis de seus thronos para exaltar
ello não podia ter a mais pequena influencia, os povos. Mas essas idéas felizmente ainda
que se poderião reproduzir mil vezes, mesmo desapparecérão diante das armas da lei, em um
quando á testa da repartição da guerra estivesse dia memoravel para a ordem e para a civilisa-
um cidadão tão activo, do tanto patriotismo como ção, posto que bem doloroso para todos os co
o illustre deputado mesmo. rações brazileiros, na falta desses novos recur
Mas ainda disse o illustre deputado: « O Sr. mi sos, senhores, procurou-se ainda outros, procu-
nistro da guerra, querendo correr a esponja sobre rou-se abalar o poder por todos os lados e
essas desgraças, como que quer imitar a Scipião por todos os meios, julgou- se então necessario
ou teve-se como melhor, abalar o poder aniqui-
Africano na occasião em que dizia: « Romanos, lando-se o prestigio, a honra daquelles que o
demos graças aos Deoses, porque no dia de hoje exercião.
vencemos os Carthaginezes.» Com effeito, Sr. presi Foi nessa época que uma emprensa desabrida
dente, se o illustre ministro da guerra tivesse dito: atiçava
« Brazileiros, rendamos graças a Deos, porque as da oscalao até governo desde o ponto o mais baixo
nossas armas abatêrão, aniquillarão essa revolução neste proposito,á como cupula do edificio social, e foi
disse ha pouco, que se não
medonha que ameaçava destruir o provincia de escolhião os meios, aceitando-se mesmo até... os
Pernambuco, e envolver todo o imperio » ; se o mais vergonhosos I Sim, os mais
illustre ministro da guerra dissesse: «Brazileiros, Quando o estrangeiro exercia sobrevergonhosos.
nós verda
demos graças a Deos, porque as nossas armas deira tyranma,' quando invadia os nossos
apparecêrão viewriosas no meio do estrangeiro, quondo demolia as nossas fortalezas com asmares, balas
derribando um despota que ameaçava a integri do síus canhões, quando saltava armado em
dade e a paz do imperio;» se o Sr. ministro da nosso terrilbri • e nelle fazia prisões, quando
guerra, digo, assim tivesse dito, não teria imitado
a Scipião Africano, teria dito uma verdade; emfiin transformava em tapete e passava por
teria mostrado que não estava debiixo da in- cima da bandeira nacional... oh I tenho até ver-
fluenci i dessas fatalidades ; teria dito, emfim uma ggeiro,
inlia de dizêl-o I cantava-se hymnos ao estran
fazia-se-lhe elogio, ao mesmo tempo que
verdade, que a lingua póde negar, mas que o cora
ção cheio de patriotismo do illustre deputado ha do se apanhava a lama das ruas para atirar-se á
face do governo do paiz I (Muitos apoiados.)
reconhecer cheio de jubilo. (Apoidos.) Convencidos porém, Sr. presiiente, que o zelo,
Sr. presidente, eu talvez pirasse aqui se uão a dignidade e a illustração do gabinete havião
lesse uma aceusação tão injusta dirigida contra do iazer dosapparecer todas- as difficuldades, e
o Sr. ministro da guerra e que appareceu nos que nossos direitos havião de ser respeitados,
jornaes. No calor do seu discurso disse um re tratou-se então de apunhalar mais seriamente a
presentante da nação .- « se o parlamento bra honra dos membros do gabinete, o o ministro
zileiro tivesse o estylo de dirigir mensagens á da guerra foi a primeira victima designada no
coróa, eu proporia uma mensagem pedindo ao desempenho de tão inqualificavel proposito; (apoia
throno a demissão do Sr. ministro da guerra ; dos prolongados) chegou-so mesmo a ter a co
porque as accusações contra Teste e Cubiéres ragem do tullar-se aqui de Teste e Cubiéres I
concorrerão poderosamente p ira a quéda di mo- O Sr. Fioueira de Mello:— Isso é historia
narchia franceza. »
Ora, eis aqui a razão porque ha pouco taato antiga.
insisti com os nobres deputados, tanto pedi, tan O Sr. Aprioió :— Isso ó um evangelho.
SESSÃO EM 8 DE ÍUNHO DE 1853 115
O Sr. Candido Boroes:— E de onde vem, Sr. Um Sr. Deputado: — E quem as quererá ?
Eresidente, o direito de se atassalhar assim a O Sr. Candido Boroes : — Tenho mostrado,
onra e a reputação de outrem? (Apoiados.) Sr. presidente, qual é ou qual foi a origem das
Senhores, nos podemos dizêl-o, devemos dizêl-o accusações dirigidis contra o nobre ministro da
do alto da tribuna, que todo o paiz possa ouvir ; guerra, e creio têl-as ido bnscar desde sua ori
devem 'S dizêl-o por amor da verdade o em honra gem. Se isto ó assim, para que ainda hoje pro-
do caracter brazileiro, o Brazil não conhece em ferir-se palavras que se dobrão, que. se quebrão,
seu seio nem Teste nem Cubiérosl... (Muitos que desapparecem ante o mais leve examo ?
apoiados.) No Brazil a liberdade não precisa dessa (Apoiados.) -
conquista porque ella é effectivamente garantida Senhores I a época das utopias está passada ;
a toda a communhão brazileira. (Muitos apoia a paz ostá felizmente planta la no imperio ; as
dos.) nossas finanças florescem de uma maneira ver
Continuarei, Sr. presidente, no meu raciocinio. dadeiramente sorprendedora: a honra e a digni
Depois de 18 annos de paz e de verdadeira pros dade do paiz tem sido sustentada de um modo
peridade, a França vio levantar-so em seu -seio a orgulhar a todos os brazileiros, e um verda
um partido violento que aticava por todos os deiro futuro de prosperidade se nos antolha.
lados, e desapiedadamente o governo foi no Mas não cruzemos os braços, temos ainda
meio dessa desastrosa batalha que surgirão as muito que fazer ; a vida politica de um povo ó
accusações contra Teste e Cubieres. O gráo de um labor, é uma vigilia sem repouso ; trabalhe
verdade contido nessas accusações acabarão de mos pois para que este bello futuro se não burle;
abalar o poder, envolvendo essu abalo até o prin e a primeira condição desse trabalho, a mais
cipio da autoridade ; esse poder cahio, porque indispensavel, a mais urgente, ó que a cama
nada é mais fraco que o poder corrompido, ar ra dos Srs. deputados se procure conservar ua
rebatando infelizmente em sua quéda todas essas posição elevada em que a collocou a constitui
bellas instituições que tanto havião concorrido ção do estado. (Muitos apoiados.)
para a prosperidade de uma grande nação... Conclne, Sr. presidente, declarando que dou
O Sr. Fioueira de Mello : — Não se trata do o meu voto ao gabinete actual (apoiados) ; e
outra cousa se não do exame e censura ao go este voto, Sr. ministro, será o mais firme, o
verno, esse é que é o facto. mais decidido, o mais absoluto mesmo, se vós
O Sr. Aprioio :— Prosiga, está brilhando muito. de necordo com o estado actual, com as ten
dencias do paiz, estais dispostos, como eu creio,
O Sr. Candido Boroes : — O resultado, Sr. pre a continuar nessa grande obra de consagrar
sidente, obtido pelos chamados liberaes na Eu todos os brazileiros, de reunil-os por uma recon-
ropa, não foi perdido para os do Brazil, e então ciliição mutua, do acabar de uma vez com ven
pretendeu-se o mesmo effeito. cidos o vencedores, marcando assim uma época
O Sr. Ferraz dá um aparte que não ouvimos. de paz e de concordia, época que revel irá mais
e mais o /.elo de vosso patriotismo e illustração,--
O Sr. Candido Boroes : — E que effeito foi e verdadeira prosperidade para este grande p iiz
esse que se pretendia para o nosso paiz ? a que nos orgulhamos todos de pertencer. (Muto
Que effeito foi, senhores 1 Permita-se-me uma bem; muito bem.) Voto pelo projecto.
breve digressão. Sim, foi essa republica demo
cratica e social, cuja constituição foi discutida (O oi-ador é comprimentado por alguns se.
e votada nos mesmos dias em que as typogra- nhores.)
phias se havião convertido em quarteis de tropa, O Sr. Rodrlgaea Torre» (presidente do
em que Paris gemia sob o estado de sitio, o em conselho):—Sr. presidente, talvez eu não devesse
que 20,000 francezes estendidos por suas ruas tomar a palavra depois do brilhante discurso que
havião perdido a vida sob o fio liberal da es a camara acaba de ouvir, e fosse mais conveniente
pada do general Cavaignaic I fallar agora um orador da opposição ; mas creio
Um Sr. Diiputado : — A questão é outra. que me cumpre não deixar prolongar mais a dis
cussão sem dizer á camara algumas palavras que
Uma Voz : — Prosiga, prosiga. entendo do meu dever proferir neste recinto.
O Sr. Candido Boroes: — E o que ganhou a Que a opposição aos ministros póde ser legitima
França, senhores, pergunto outra vez ? O ter e muitas vozes um dever do consciencia para re
servido de centro a essas catastrophes medonhas presentantes da nação, é principio quo ninguem
que ensanguentárão o continente europeo I E pódo hoje desconhecer ; mas, p ira que ess i oppo
para que ?. . Para qun fosso anniquilada a li sição seja justificada, convém que a'[uelles que a
berdade da imprensa, para que desapparecesse fazem se mostrem convencidos de que os ministros
o systema- parlamentar (apoiados), para que se contrarião ou não promovem convenientemente os
passasse uma grande esponja sobre as insurrei interesses do paiz. Uma opposição, feita unica
ções de Bolonha e de Strasburgo, para qne con mente com o. fim de ver mudar do continuo as pes
tinuasse o exilio de Transdorffe de Claremont, soas que se sentão nestas cadeiras, não me parece
para que einfim o paiz chegasse ao ponto de dar propria de homens que aspirão a dirigir os nego
o nome de dynastia á autoridado o á ordem, cios publicos. (Muitos apoiados).
coroadas pela força e pela necessidade... As continuas mudanças de ministros sem razões
O Sr. Justiniano Rocha : — Bravo I apoiadis' que as justifiquem podem ter grandes inconve
simo, é um bello pensamento I nientes, náo para nquelles que se achão na honrosa
O Sr. Araujo Lima : — E' um bello episodio. mas afflictiva posição que oceupo com meus illus-
tres collegas, porém par i o púz, que vfj assim in
O Sr. Pinto de Campos : — Sem applicação terrompida a marchados negocios publicos (apoia
alguma. dos), que soffre com o tyrocinio dos novos minis
O Sr. Aprioio :— Muito bem, muito bem. tros e com o enfraquecimento das molas do
machinismo administrativo. (Apoiados .
O Sr. Candido Boroes : — E erão estas, se Um dos dignos deputados por Pernambuco cou--
nhores, as liberdades que se querião conquistar vidou-nos a que abandonassemos os lugares que
para o nosso paiz, á custa da honra e da pro oceupamos, que resignassemos as pastas, em-
bidade de nossos concidadãos ? 1 quanto havia quem as quizesse aceitar. De bom
Misericordia 1... que Deos por sua bondade grado, Sr. presidente, annuiriamos ao convite do
afaste de nós tanta calamidade. (Numerosos Honrado membro a que me refiro, se não estives
apoiados.) semos persuadidos de que obrando assim, commet
116 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
teriamos uma deslealdade para com a coróa males tão graves, tão oxtensos, como o descredito
(apoiados) e para com o paiz' (apoiados), o tambem e dissolução de uma camara. (Muitos apoiado*.)
um acto de cobardia. (Muitos apoiados). Eu disse isto, senhores, e accrescentei que não
Na posição em que agora nos achamos, senhores, era meu intento, nem exigia que os Srs. deputados
entendo que a dissolução do gabinete só póde ser estabelecessem um debate sobre esse objecto ; que
justificada ou por falta de confiança da coroa, ou apenas lhes fazia um requerimento, uma supplica
por falta de confiança dos representante da nação, que se dignuszem tomar em consideração quando
ou tambem por desintelligencia entre os membros julgasáem opportuno. Mas não declarei, senhores,
do ministerio. (Muito bem .') que não queria discussão (muitos e repetidos
Pelo que diz respeito as mutuas relações dos mi apoiados); só lhes pedi que francamente nesta occa
nistros, devo declarar á camara que existe entre sião solemne declarassem se davão ou não sou
nós a mais perfeita harmonia e concordia; ainda apoio ao gabinete. (Muitos apoiados.)
não discrepámos em nenhuma das queítões impor Senhores, ha muita gente que entende que o
tantes que temos sido obrigados a resolver. lugar de ministro é um leito de rosas. Eu declaro
Pelo que respeita a confiança da coroa, pa- que b julgo muito hqnroso, o que para aquelles
rece-mo que temos feito todos os esforços para que tê tu grandes talentos o podem fazer rele
servil; a como nos cumpre, (muitos apoiados), o vantes serviços ao sou paiz deve realmente ser
que portanto merecemos a sua confiança muito appetecido ; mas para mim, que não tenho
Pelo que diz respeito a confiança dos represen a necessaria capacidado (não apoiados) para des
tantes da nação, ê chegada, senhores, a occasião empenhar bem os meus deveres, e soffrendo como
solemne em que as camaras têm de decidir se a tenho soffrido amargos desgostos durante quasi
merecemos ou não. (Muito bem.) Aquelles que cinco annos, declaro á camara que conservo o
nos convidão a resign irmos as pastas pare se en lugar que occnpo porque o julgo do meu rigoroso
carregarem ou fazerem com que se encarreguem deyer (apoiados), porque a honra o exige ; porque
delias pessoas mais capazes do que nós do desem o exigem os meus deveres para com a coióa e para'
penhar esses deveres, a esses cumpre disputal-as com a opinião politica, de cujo seio sahi, e a que
na tribuna, porque é na tribuna que se conquistão ainda hoje tenho a honra de pertencer. (Muito
as pastas. (Apoiados.) bem.)
Se a camara dos Srs. deputados entender que Cuida a camara, ouidão alguns Srs. deputados
não merecemos a sua confiança, ou que póde con que ó pequeno soffrimento, que é pequena dór
correr para a organisação de outro gabinete que ver -me desquitado de antigos amigos e compa
mais confiança lhe mereça, ou que melhor desem nheiros, a quem de longo tempo estou acostu
penho os deveres dos lugares que oceupamos, pe- mado a tributar estima o veneração, o a quem
dimos-lhe muito instantemente que o decida com por mais que procure no fundo da minha con
toda a liberdade. Ainda quando existisse na terra sci-ncia não descubro que lhes tenha dado o
um poder que fosse capiz de arrancar a camara menor pretexío para esta immerecida separação?
contra a sua consciencia um voto, favoravel ao ga Julgão que em taes cirouinstaneias é muito agra
binete actual, e pudessemos dispor dessa força, de- davel conservar a posição em que me acho ?
claramol-o muito francamente, não faria. nos uso Julgão que não haveria grande vantagem em
desse poder (muito bem), e a deixariamos em plena abandoual-n, o deixar que outros homens que
o inteira liberdade para decidir conforme lhe di- professão as mesmas opiniões politicas venlião
ctasse sua consciencia u patriotismo. (Muitos apoia fazer ao piiz maiores serviços do que aquelles
dos ; muito bem.) que eu lhes posso fazer? (Muito bem.)
Se, porém, acamara entender que devemos con Não sentirei o menor desprazer, nem ficar-me-ha
tinuar a servir o paiz na posiçao em que esta a menor indisposição contra aquelles que enten
mos, e em que temos estado por havermos míre- derem em suas consciencias que devem dir um
cido até hoje a confiança dos representantes da voto contrario ao gabinete; mas julgo que a
nação, tambem lhe pedimos que continue a dar-nos justiça e o interesse do paiz exigem que os se
seu apoio de uma maneira franca e decidida (apoia nhores que são do opinião que temos dirigido
dos) ; porque um governo que não tem tal apoio, e mal os negocios publicos, exponháo francamente
cuja existencia é todos os dias posta em duvida, ó os factos em que se fundão para serem aprecia
fatal para o paiz. (Muitos apoiados.) dos. (Apoiados.)
Tem-se dito que em uma reunido a que tive a Fallou se, e tem-se insistido muitas vezes, nos
honra de assistir no secretaria do imperio declarei acontecimentos íio arsenal de guerra. Um honrado
que não admittia discussão a respeito do objecto membro, deputado pela provincia de Pernambuco,
de que alli se tratou. Senhores, nessa i oneião disso que lhe era necessario affiontar a opinião
apenas expuz aos illustres deputados que nos fizc- publica para declarar que o Sr. ministro da
rao o favor de comparecer a ella, que se procurava guerra não tinha tido parte alguma nesses acon
propalar a opinião que 'a camara estava dividida tecimentos.
em grupos, sem nexo, sem pensamento communi ; Senhores, eu creio que não era necessario a
que esta opinião, que eu aliás acreditava.infun- esse honrado membro affrontar a opinião publica
dada (apoiadosi, podia concorrer não Jsó par en para fazer semelhante' declaração : bastava lhe
fraquecer o gabinete, mas tambem para desacre ter coragem para arrostar o poder da calumnia
ditar a camara mesma ; porque se ella estivesse (apoiados) enve., íoada pelo rancor das paixões
com effcito reduzida á semelhante estado, só politicas (apoii'dos) ; coragem que é indispensa
podia produzir auarchia (apoiados), pois que uma vel a todos aquelles que tom a honra de so
camara dividida em grupos, que não póde dar sentarem neste recinto. Bastiva esta qualidade
apeio a gabinete algum ó incompativel com a para não ter a menor difliculdade em declarar
existencia de qualquer governo. que a reputação do Sr. ministro da guerra estã
Pedi portanto aos Srs. deputados que se achavão muito acima das calumnias que se lhe tem as-
presentes que procurassem organisar uma maioria, sucado. (Muitos apoiados.)
não neste ou naquelle sentido, mas uma maioria Mas lavrou-se contra o meu illustre collega
que concorresse para organisação de um gabinete sentença condemnatoria, por negligente no cum
a quem desse decidido apoio, afim do que os nego primento dos seus deveres. Se os honrados mem
cios publicos não soffre»sem interrupção, nem se bros que tão injustamente lavrarão esta sentença
enfraquecesse a acção governativa ; que fazia esta tivessem áveriguado melhor os factos, e compul
supplica mais por amor da dignid ide e credito sado cm espirito desprevenido os volumosos do
da propria camara do que por interesse do gabi cumentos que viérno a casa, reconhecerião quão
nete. O descredito e a dissolução de um gabinete infundado era o seu juizo. (Apoiados.)
produz, é verdade, inconvenientes, mas não causa Se o Sr. ministro da guerra em alguma cousa
SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853 117
pudesse ser culpado, seria em ter-se confiado em tração acontecêrão alguns factos de grande alcance
empregados de alta categoria, que os tribunnes na provincia de S. Patflo. ' Esses factos erão
acabáo do declarar que nem negligentes forão no de tal gravidade que, se não fossem bem ave
cumprimento dos seus deveres. E desde quando riguados, o so não se procurasse efficazmente
se admittio a theoria de que os ministros são punir os autores de semelhantes attentados, so
responsaveis pelos abusos praticados pelos mais o governo não demonstrasse da maneira a maia
subalt.-rnos impregados das suas repartições? cabal que as autoridades da provincia se h avião
(Apoiados.) comportado com imparcialidade; se o paiz se
Por mais do tres ou quatro annos se disse não convencesse que tal havia sido o procedi
nos jornacs desta córte, e talvez nos das pro mento do governo, sérias consequencias resul-
vincias," que havia abusos e fraudes nas alfan tarião dahi, náo só para a reputação do governo
degas do imperio; semelhantes censuras se fizerão a a do proprio administrador da provincia como
por vezes nesta mesma tribuna ; e por ventura ainda para a opinião politica a que pertencemos.
accuSou-se a algum ministro de ter parte eni O honrado membro, ds cuja lealdade nunca
taes abusos, ou de negligente no cumprimento duvidei, havia estado á testa da administração
de seus devores por não tomar immediatamento da provincia quando estes factos occoriêrão, era
providencias, ou não demittir logo certos empre candidato na eleição que deu lugar a esses acon
gados dessas repirtições ? Não se entendeu que tecimentos. Por maior que fosac a sua impar
era preciso verificar os factos, examinar a ve cialidade, e das outras autoridades a quem cumpria
racidade averiguar esses factos, processir seus autores e
nistros quedasestiverno
aceusações ou censuras? Os mi
nu poder durante tios ou • fazel-os punir, não haviamos nunca consoguir
quatr i annos que durárão essas aceusações forão ue os inimigos da politica do governo deixassem
algum di i taxados de conniventes ou de negli !! e allegar que os exames e processos havião
gentes e accusadus por esses actos da mesma sido feitos com parcialidade, por haverem sido
maneira por que se quer praticar com o Sr. dirigidos por homens que tínhão tido parte em
ministro da guerra ? taes acontecimentos. (Apoiados.)
Allegou-se, para provar a incapacidade do actual Assim, para pór o honrado membro na posi
gabinete, que não temos sabido conciliar os in ção de poder responder victoriosa nente ás íalum-
teresses de todos os cid idãos, nem os de todas nias que lhe assacassem sobro esto assumpto,
as opiniões politicas. - para pór o governo na posição de poder aizer o
Senhores, eu estou disposto a aceitar resigna que acabo de enunciar, e para convencer ao
damente esta sentença condemnatoria. Ignoro, paiz de que semelhantes aceusações não podião
declaro-o com ingenuidade, os moios de conciliar ser lançadas sobre o nosso partido, ente..déu o
o antagonismo das opiniões politicas. Mas, acei gabinete que devia substituir o honrado membro,
tando-», entendo que o honradu membro que a e o digno chefe do policia da provinci i, por outras
lavrou, para ser justo, deve fazêl-a extensiva autoridades do quem não pudesse haver a menor
não só a todos os gabinetes do Brazil, mas suspeita de interessados nesto negocio. (Apoiados .)
tambem a todos os que têm dirigido os destinos Eis pois, senhores, a explicação franca e leal
dos paizes onde existe o systema representitivo. do nosso procedimento, de que aliás tanto so
(Apinados.) Não me consta que haja algum no queixou o honrado membro. (Muito bem))
muud i regido pelo systema representativo cujos Accusou se-nos tambem de praticarmos uma
gabinetes tenhao sabido conciliar os interesses politica injusta o desleal para com a provincia
de todos os cidadãos, e o antagonismo do todas de Pernambuco; injusti por se haver feito aos
as opiniões politicas. Vejo em todos elles, e em homens mais proeminentes do partido politico a
tod«s as épocas, uma opp-siçfio mais ou menos que pertenço a imputação de serem nimiamente
vehemente, m iis ou menos numerosa. (Apoiado.?.) exigentes, de quererem opprimir aos seus adver
Mas, senhores, se o governo actual não tem sarios.
tido a habilidade de conciliar o antagonismo das Quem fez essas aceusações? Por ventura algum
opiniões politicas, parece de justiça confessar dia ouvio o honrado membro da nossa boca se
que ao menos tem procurado administrar com melhantes proposições ? Algum dia .dêmos a en
justiça e moderação (apoiados), conseguindo por tender, por palavras ou por qualquer maneira
este modo acalmar as p íixões politicas, sub- que fosse que faziamos essa injustiça aos illustres
stituil-as prla reflexão, e convencer os partidos cidadãos a quem me refiro nesta occasião? Se
que é pelos meios que lhes oflerecem as insti uma ou outra pessoa o disse somos nós os res
tuições, o não recorrendo ás armas ou actos ponsaveis, e devemos ser taxados de injustos
illegaes, que podem fazer predominar suas opi para com esses dignos membros? E' uma aceu-
niões e conseguirem dirigir os negocios do estado. sação que em verdade não me pirece que tenha
(Apoiados.) Temo-nos abstido de traçar um circulo o mais pequeno fundamento. (Apoiados.)
de ferro em torno da administração e dos em Praticamos uma politica desleal, diz-se, porque
pregos publicos, e de declarar que não póde procuramos conservar divididos os pernambuca
entrar para dentro delle quem náo pautar suas nosI... Senhores, para a provincia de Pernam-'
opiniões pelas dos ministros e de seus amigos buco o gabinete actual o o anterior cuja politica
politicos. Para os empregos publicos temos havemos continuado, nomeárão 6 presidentes : o
attondido mais á intelligencia e á probidade do Sr. conselh -iro Ferreira Penna, o Sr. conselheiro
que ás opiniões politicas (apoiados), seguindo Tosta, o Sr. visconde de Paraná, o Sr. Souza
assim o programma a que nos compromettemos Ramos, o Sr. Victor de Oliveira, o Sr. Ribeiro,
desde o dia 20 de Setembro de 1818. o finalmente o Sr. José Bento da Cunha Figuei
Por esta occasião, Sr. presidente, julgo do redo. Onde é que no Brazil podiamos achar
meu dever dar algumas explicações ao honrado caracteres mais elevados (apoiados), homens mais
membro, deputado por S. Paulo, que fallou na incapazes de se, prestarem ao procedimento do
sessão do hontem, o que fez amargas queixas que nos aceusão? Se fossemos tão imbíeeis, tão
contra o ministerio taxando -o de desleal pela estupidos, permitta-se-me a expressão, se tives
maneira por que se houve com elle. semos semelhante intenção, procurariamos ho
Ninguem mais do que meus illustres collegas mens desta ordem para desempenharem um pen
e eu faz justiça ao caracter, á lealdade, á illus- samento de perfidia tão revoltante?
tração, e ao tino administractivo do honrado Se temos constantemente recommendado a es
membro a quem me refiro; ninguem mau do que ses presidentes que procurem conciliar os espi
nós reconhece a rectidão com que elle adminis ritos, acalmar as irritações que necessariamente
trava a provincia de S. Paulo. O que porém dovião resultar das discordias e da guerra civil,
não se pódo negar é que durante sua adminis- administrar com justiça e moderaçao, proteger
118 SESSÃO EM 8 DE JUNHO DE 1853
os direitos, os interesses de todos ; se tal tem alterou o direito que competia ao governo.
sido cunstantomente a *nossa politica^ como nos (.Apoiados.)
increpão da praticar actos que não podem ser A relação não podia dirigir-se pelos mesmos
attribuidos senão a quem, além de perfido fosse motivos, pelas mesm is informações, pelas mes
nimiamente inopto para não vor as consequen mas suspeitas que o governo tinha ; o poder
cias que delles poderião resultar? judiciario precisava, para julgar, para condem-
O ministerio actual, disse-se ainda, procura nar esse individue, de provas muito distinctas,
desconsiderar a representação nacional, quer em daquellas que bastavão ao governo para fazel-o
suas relações individuaes com cada um de seus deportar.
membros, quer em suas relações collectivas, quer Çitárão-so tambem como prova da tendeneia
em suas relações parlamentares. Em suas rela do governo para desconsiderar os tribunaes do
ções individuaes, porque não ha nenhum peso, paiz duas decisões minhas.
nenhuma consideração ás medidas suggeridas por O primeiro facto é o seguinte. Em 181(1 foi
cada um dos Srs. deputsdos em beneficio de adjudicado á fazenda publica um predio sito na
suas provincias. cidade da Bahia para pagamento da 19:000$ e
Senhores, esta aceusação tambem é inteira tanto que lhe ficou devendo o fallecido desem
mente gratuita. Eu reconheço não só a influen bargador Azevedo de decimas que havia cobrado
cia que os representantes da nação devem exercer durante o tempo em que foi superintendente
no governo do paiz, mas ainda que cada uma delia. Depois de feita a adjudicação do predio
das -deputações deve ter no que diz respeito aos ordenou o thesouro que elle fosse vendido em
negocios de suas respectivas provincias ; entendo hasta publica.
que o governo deve attendel-as, uma vez que as Entretanto informou-me a tliesouraria da fa
medidas suggeridos por cada uma delias não zenda que se nchavão recebidos pori accordão
contrariem as regras geraes que o governo se da relação uns embargos na execução para sc
tem imposto para dirigir os negocios do paiz proceder a nova liquidação, e consultiva o the
inteiro. (Apoiados.) Se, pois, esta é a minha con souro sobre o que lhe cumpria praticir.
vicção, se por elli nos dirigimos, parece-me que Respondi á tliesouraria com a seguinte ordem.
nem ha justiça, nem se nos poderá apresentar (Li.)
um facto unico do qual se possa colligir que Parece-me que o honrado membro censura ao
differento tem sido o nosso procedimento. overno por ter declarado que a liquidação não
Nada direi a respeito da arguição que se nos evera ser feita senão perante a thesouraria.
faz de maltratarmos a cada um dos Srs. depu Devo declarar de pissagem que a ordem a que
tados. As regras da civilidado e da urbanidade me refiro ó de 16 de Novembro do 1850 : são
não nol-o consentirião. decorridos quasi tres annos depojs de sua ex
Disse-se que pretendemos desconsiderar a ca pedição, e merece algum reparo que só agora
mara, porque nessa reunião de que já fallei, essa ordem merecesse a censura do nobre de
exigi que não houvesse discussão. Já disse o putado. (Muitos apoiados.)
comportamento que tive, e chanio como tes As thesourarias e o thesouro são os unicos
temunhas todos os honrados membros que nos encarregados de tomar centas aos responsaveis
fizerão a honra de assistir a o-sa reunião. á fazenda publica; nas causas executivas dv fa
(Apoiados.) Pirece-me que em lugar de procurar zenda não se admitte defeza dos executados que
desconsiderar a camara, não procurei senão o não seja fundada nas quitações passadas por
contrario. (Muitos apoiados.) Fiz algumas obser ella; á fazenda pois pertence a liquidação das
vações tendentes a mostrar o que me parecia mais suas dividas. E ainda quando esta d mtrina não
consentaneo com os interesses do paiz, com a fosse verdadeira, não vejo na ordem que acabei
reputação da camara, e com o credito do svs- de ler motivo para censura.
teuia representativo, sem aliás manifestar nenhum O thesouro disse á thesouraria que a ella
desejo ou interesse em que ella désse um voto devia competir a nova liquidação, se o poder
favoravel ao gabinete (muitos apoiados) na res judiciario entendesse que se devia liquidar outra
posta á falia do tlirono que agora se discute. vez a divida do fallecido desembargador Aze
vedo ; não foz com esta ordem senão dirigir a
Disse-se tambem que os membros do gabinete thesouraria, dizer-lho o modo por que eutendia
têm procurado desconsiderar o poder judiciario, as leis de fazenda, e indicar-lhe o procedimento
e apresentárão-se por provas desta asserção tres que devia ter nesse negocio, o que de nenhuma
factos, sendo o primeiro a deportação de .um maneira prejudicava as decisões dos tribunaes.
subdito portuguez que havia sido absolvido pela Foi antes dessas decisões que o governo orde
relação da Bahia de um crime por que havia nou ao inspector da thesouraria que procedesse
sido pronunciado. do modo que fica indicado.
Já o honrado membro que me precedeu expóz Onde pois se póde ver um ataque feito pelo
quanto a este respeito eu poderia dizer ; pare- governo ás decisões dos tribunaes? O thesouro
ce-mo pois desnecessario alongar-me sobre este emittio a sua opinião ; deu instrucções aos seus
ponto. subordinados ; se o tribunal da relação ou outro
A relação da Bahia não podia decidir-se senão qualquer decidisse -o contrario , havia de cum-
pelas provas e documentos que lhe forão apre prir-se essa decisão. Não vejo por que motivo
sentados, vima vez que tratava de punir o crime deva ser censurado o governo por dizer a seus
que se imputiva a esse estrangeiro; mas o go subordinados a maneira por qne deve ser en
verno não precisava de formar pelo mesmo modo tendida esta ou aquella lei. (Apoiados.)
a sua convicção para tomar a medida policial O outro facto é mais recente : é do anno de
de fazer sahir esse subdito portuguez para fóra 1851. Foi preso administrativamente por estar
do imperio. alcançado com a fazenda publica, e por ordem
Uma cousa não tem absolutamente nada com da thesouraria da Bahia, |um collector chamado
a outra... Mascarenhas. Depois de preso esse collector re
O Sr. Fiodeira de Mello :— A mim parece-me quereu ordem de habeas-corpus á relação, que
o contrario. ln'o concedeu.
O Sr. Rodrioues Torres : — Parece ao honrado O Sr. Aprioio:— Mal é indevidamente.
membro, mas não a mim. Penso se o governo O Sr. Rodrioues Torres : — O inspector da
podia, antes mesmo de haver uma sentença da thesouraria deu parte desse acontecimento ao
relação , deportar esse estrangeiro sem submet- thesouro, e ouvindo eu a opinião do fiscal do
tel-o a um julgamento, este julgamento em nada mesmo thesouro que é muito habil juriscon
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 «9
sulto, foi elle de parecer que o thesouro tinha Lida, e approvada, a acta da sessão antece
direito de expedir novamente ordem de prisão dente, o Sr. l.» secretarie da conta do seguinte
contra esse individne (muitos apoiados), porque
subsistia ainda o facto de estar elle responsa EXPEDIENTE
vel á fazenda nacional pela quantia que devia
anteriormente. Expedi pois a seguinte ordem. Um officio do Sr. ministro do imperio, com-
(Lê.) municando que S. M. I. ficára inteirado .das
Ora, senhores, o que ha aqui de irregular? pessoas que compoem a mesa desta camara no
Eu disse que o acto da relaçao era injuridico, corrente mez.—Fica a camara inteirada.
irregular e praticado com offensa da autoridade Outro do Sr. 1.° secretario do senado enviando
administrativa no exercicio de suas attribuições ; as proposições do senado autorisando o governo
e disse-o porque era preciso fundamentar o meu para conceder a incorporação e approvar os es
aviso. (Apoiados.) tatutos de um banco da depositos, descontos e
E' isto uma reprehensão dada ao tribunal da emissões, e o que autorisa o governo a indem-
relação ? nisar á confraria de Nossa Senhora da Con
Dirigi-me ao presidente da provincia da Bahia ceição dos prejuizes que houver soifrido por se
ara declarar-lfie que ordenára á thesouraria não verificar o seu cemiterio no terreno com
zesse prender novamente o collector, se ainda prado para esse fim ; bem como que adoptou
não estivesse desonerado de sua responsabili e vai dirigir á sancção imperial aa resoluções
dade para com a fazenda publica (apoiados) ; e que approvão as pensões concedidas a D. Maria
ue se ellé recorresse de novo para a relação Luiza da Silva Tourinho e a D. Theodora Vaz
« everia o presidente estabelecer o conflicto de Souza ; e o decreto relativo a diversos cre
de jurisdicçao para ser competentemente deci ditos supplementares e extraordinarios.—As pro-
dido. (Apoiados. ) osições vão a imprimir para entrar na ordem
E ainda assevero ao honrado membro que não ;os trabalhos. Quanto ao mais fica a camara
me parece ter ultrapassado as minhas attribui inteirada. '
ções, nem ter menoscabado a relação. (Muitos Tres requerimentos, um do ministro provin
apoiados.) Não me parece portanto que os tres cial dos religiosos franciscanos desta córte, pe
factos que o honrado membro trouxe á consi dindo providencias para que não sejão os reli
deração da casa Dara provar que o gabinete giosos privados do seu convento por occasião
menospreza o poder judiciario possão demons de desmoron ir-su o morro. —Vai á commissão
trar a thfise que elle estabeleceu. de justiça civil.
Sr. presidente, a hora se acha tão adiantada,
o receio tanto cansar a paciencia da camara, Outro do desembargador João Candido de Deos
ue ponho aqui termo ao meu discurso. Se a e Silva, pedindo dispensa de certos exames que
d iscussão se prolongar, talvez peça ainda a pa ainda não fez seu filho para se matricular
lavra , e tratarei então de outros factos com na escola de medicina.—A' commissão de ins-
que pretendia hoje occupar. (Apoiados. Muito trucção publica.
bem, muito bem.} Outro do cidadão brazileiro Francisco de Souza
Levanta-se a sessão ás 2 % horas da tarde. Lobo, offerecendo a esta augusta camara un.
retrato de S. M. L, convencido de que merecerá
a approvação da camara, e pedindo por isto a
gratificação que aprouver á camara dar-lhe.—
SessAo em 9 de Junho A' mesa.
São lidas e approvadas varias redacções.
PRESIDENCIA. DO SR. MACIEL MONTEIRO E' lido o seguinte parecer :
Summario.—Expedimte.— RecUtmaçSes dos Srs. « A commissão de estatistica, a quem forão
Figueira de Mello, Silveira da Motta e Ne- presentes um officio do presidente da provincia
bias.—Ordem do dia. —Isenção de imposto a de Matto-Grosso de 7 de Dezembro de 1852, re-
loterias. —Pretenção de Francisco Pedro Gor- mettido a esta augusta camara com aviso da
jão. Discussão. —Discussão do voto de graças. 26 de Fevereiro deste anno, o o projecto as-
Discursos dos Srs. Paulino, Zacharias, e Sayão signado pelos Srs. deputados Miranda, Bandeira
Lobato. Duarte, e Araujo Jorge, ó do parecer que são
procedentes as observações contidas no dito of
A's dez horas comparecendo a chamada os ficio, não só pelo que diz respeito a imposslbi-
Srs. Maciel Monteiro, Jaguaribe, Paula Candido, lid ide de ter sido o decreto r. 071 de 13 de
Almeida Albuquerque, Fiusa, Aprigio, Seára, Setembro do anno passado executado naquella
Miranda, Eusebio, Fernandés Vieira, Figueira provincia, como ainda no que toca ás difficul
de Mello, Wanderley, Viriato, Bernardes, Pi dades que o íiiesuio decreto offereco em sua
menta Magalhães, Angelo Custodio, Corrêa das futura execução. Outrosim entende a commissão
Neves, Wilkens, Teixeira de Souza, Nebias, que o projecto offerecido remove essas difficul-
Sayão Lobato, Fleury, conego Leal, Ribeiro da didos, fazendo desapparecer a desharmonia em
Luz, Dutra Rocha, Machado, Gomes Ribeiro, que esta o § 11 do decreto de Setembro de
Theophilo, barao de Maroim, Luiz Carlos, Horta, 1852 com a divisão interna daquela provincia,
Ferraz, Domingues, Octaviano, Ribeiro, Paes e^satisfaz do melhor modo possivel a comino-
Barreto, Mendes da Costa, Fausto, José Assei. ço didade dos povos da provincia, estabelecendo
Mendes de Almeida, Araujo Lima, Pereira da cinco collegios eleitoraes, e marcando-lhes os
Silva, Belfort, Paula Santos, Luiz Araujo, pontos de reunião nelle ' indicados.
D. Francisco, Barbosa da Cunha, Vieira de « Assim, entend4 afinal a commissão que o
Mattos, e Queiroz ; e depois da chamada os Srs. mencionado projecto deve entrar em discussão.
Versiani, Paula Fonseca, Pedroira, Magalhães
Castro, Cruz Machado, Macedo, Santos e Al « Sala das commissões na camara dos depu
meida, Augusto de Oliveira, Mendonça, Ban tados, 8 de Junho de 1853. — Araujo Jorge. —
deira de Mello, vigario Silva, Silveira da Motta, Brandão. »
Souza Leão, Vasconcellos, Monteiro de Barros, O Sr. Puesidente:—Este parecer versa sobre
Ignacio Barbosa, Serra, Raposo da Camara, um projecto que ainda não foi julgado objecto
Paranaguá, Saraiva, Góes Siqueira, e Nabuco, de deliberação, o conforme está redigido não
ás onze horas menos um quarto o Sr. presi póda ser apresentado á camara por não estar
dente declara aberta a sessão. conforme com O regimento. '
m SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
Devolve-se pois o parecer á commissão para O Sr. Cruz Machado : —Tambem no discurso do
qne formulanchi-o, de «onformidade C.im o regi Sr. deputado eu dei muitos apartes que forão "
mento, elle possa ser. apresentado á casa. supprimidos. (Apoiados.)
O Sr. Figueira de Mello : — Sr. presi O Sr. Fioueira de Mullo :— Eu não supprimi
dente, levantei-me para fazer uma reclamação, aparte algum, e portmto repillo a insinuação do
e um requerimento pela ordem. nobre deputado ; ahi estão as notas tachygra-
A reclamação é a seguinte : Tendo na sessão phicas, que poderão comproval-o.
de hontem dado alguns apartes ao Sr. ministro O Sr. Presidente : — Peço ao Sr. deputado que
da fazenda, presidente do conselho de minis se cinja a notar as omissões que fazem o objecto
tros, observo agora no seu discurso publicado da sua reclamação
no jornal do Commercio que estes apartes não
forão publicados. O Sr. Fioueira de Mello:— Sr. presidente,
creio que tudo quanto tenho dito é com refe
Um Sr. Deputado: —E' verdade. rencia ás omissões dos meus apartes, e por isso
O Sr. Fioueira de Mello : — Em outras cir sómento acerescen tarei que, não me queixando
cunstancias eu não me levantaria para fazer dos Srs. tachygraphos, parece-me todavia que
essa reclamação, porque entendo que não ha toda a falta vèm de quem revio o discurso de
grande credita lm aar apartes (apoiados), porém S. Ex., ê que entendeu que podia supprimir os
tendo-se S. Ex. ocenpado com accusações ou meus apartes, uma vez que os cobrisse com os
censuras que eu tinha dirigido ao gabinete muitos apoiados que em realidade se derão nesta
actual n'uma das sessões anteriores, entendo casa a S. Ex. .
que devia-lhes dar esses apartes que não appa- O requerimento que pretendo fazer é o se
recérão, e que agora vou restabelecer. (Apoiados.) guinte :
O Sr. Aprioio :—Nem os meus. (Apoiados.) O Sr. Presidente: — O Sr. deputado pelo modo
Um Sr. Deputado : —Sahio o discurso todo al por que tem fallado deve concluir por alguma
terado. (Não apoiados.) proposta. . .
O Sr. Fioueira de Mello: —Eu entendo tinto O Sr. Fioueira de Mello :— Perdõe-me V. Ex.,
mais dever fazi r essa reclamação, quanto os eu disse que me levantava para fazer uma re
meus apartes servem de protestar contra o que clamação e um requerimento pela ordem, porque
S, Ex. disse, e será ao mesmo tempo unia res em' todos os tempos esses requerimentos se têin
posta indirecta ao nobre ministro, visto que feito ; e peço a V Ex. que me permitta que o
eu não tinha pedido a palavra para responder, de apresente, fundamentando o primeiro, paradeoois
me observar se estuu ou r.io na ordem.
sejoso que outros amigos que havião pedido a Sr. presidente, collocudo no partido parlamen
palavra pudessem têl a opportun tmente, c es tar, isto é, no pariido que quer o ixamo livre
perando que elles respondessem cabalmente no e aprofundado de todas as mat rias de que se
nobre ministro quando tivessem de exprimir o oceupa a camara, e de todos os actos da admi
seu voto na casa sobre a discussão do projecto nistrarão, eu dosejo estudar todos esses netos,
de resposta ã falia do throno. aftni de poder formular com fundamento as re
O primeiro aparte pnr que reclamo é o se flexões, censuras ou accusações que ou tenha de
guinte : £. Ex. filiando a respeito da ordem fazer ao gabinete, e para esse fim eu tenho ne
do governo para a deportação do subtlito por- cessidade de com antecedencia examinar o orça
tuguez Antonio Pinto da Fonseca disse que não mento e balanço da receita e despeza da fazenda
havia feito offensa alguma á relação da Bahia, nacional, que se nos devia ter apresentado.
ao que eu dei este aparte : « A mim me parece Ora, esso balanço até agora não tem sido dis
o contrario, V. Ex. devia mandar á relação da tribuido nesta camara, e como V. Ex. sabe o
Bahia todos os documentos ãcerca deste nego severo exame da arrecadação dos impostos, do
cio. » Entretanto este aparte não appirece. modo porque se fazem as despezas publicas, 6
O segundo aparte qne dei foi quando S. Ex. por assim dizer o proprio systerna representativo;
fallou da liquidação de uma divida do fallecido sem esto exame não ha systema representativo.
desembargador Azevedo, e reparou que sóinente Ora, além desta razão politica, Sr. presidente,
depois de decorridos quasi tres annos, a contar eu tenho um fundamento para exigir que o or
da data da or lem por elle expodida, e só agora çamento o balanço da reeeit i e despeza si jão
viesse eu a censural-a. Eu disse então em ter quanto antes apresentados á camara (apoiados),
mos muito claros e intelligiveis (apoiados) que porque a lei de 4 de Outubro de 1831, art. 8°, §2",
a ordem não tinha sido publicada nas collec- creio eu, determina que o Sr. ministro da fazenda
ções legaes, e que só agora é que eu tinha tido e presidente do tribunal do thesouro apresento
conhecimento delia por umu decisão do supromo nesta casa o seu relatorio até o dia 8 do Maio
tribunal de justiça. (Apoiados.) Com este aparte com o orçamento da receita e despeza do estado,
eu tinha destruido a insinuação que ;S. Ex. ti e o respectivo balanço.
nha feito com o reparo do que só tres annos Ora, tem-se passado um mez, e ainda este
depois de expedida a ordem ê que a tinhão cen importante .documento nos não foi remettido ;
surado. tendo-se portanto violado a lei, e eu não posso
O terceiro aparto ó o seguinte : « S. Ex. disse deixar do pedir que ella seja cumprida. Ou, os
que não tinha dado nenhuma reprehensão ao Srs. ministros, talvez pela nossa condescenden
tribunal da Bahia ; » eu lhe respondi que S. Ex. cia, se têm esquecido de que existe esta lei, ou
pela maneira por que se tinh i expre-sado o tinha então têm procura io furtar um documento extre
leito, e que ha muitos modos do dizer as cousas mamente necessario aos nossos exames e ás nossas
sem a menor offensa, e que S. Ex. era disso uma discussões.
prova. Este fado, tambem devo declarar, é a primeira
Sr. presidente, eu não culpo os Srs. tachygra- vez que acontece na casa ; e como é extraordi
phos pela falta destes incidentes da sessão, por nario, eu julgo não dever deixal-o passar des
que sei que elles são minuciosos em apresen- apercebido, mas sim consignal-o ; poder-se-ha
tal-os ainda nas sessões as mais turbulentas, as talvez dizer que toda a demora da apresentação
mais.... desses documentos provém da typographia na
Um Sr. Deputado : — As mais tempestuesas. cional ; mas se em outro tempo não tem havido
embaraços, quul é o motivo porque agora os ha?
O Sr. Fioueira de Mello:—... sim, mesmo Em outro tempo, quando a typographia nacional
nas mais tempestuosas. se achava mal organisada, isto é muito peior do
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 . 121
que agora, porque não é possivel suppòr que Creio mesmo, Sr. presidente, inclinado sempre
esse estabelecimento não tenha melhorado du a julgar bem do todos, que é mais facil, apezar
rante a administração do nobre ministro, nós da minha attenção, que o meu ouvido me en
tinhamos sempre esses documentos, e não sei ganasse, do que o nobre deputado alterasse o
porque hoje os não teremos: em outro tempo que proferio aqui, mas com esta explicação eu
davao-se igualmente grandes difficuldades e de vou annunciar qual ê o ponto de rectificação,
moras nas coinmunicações das thesourarias com contentando-me com a reclamação para servir
o thesouro em consequencia das difficuldados que de protesto. Sr. presidente, se eu tivesse ouvido
se achavão nas vias de communicação por terra a asserção do nobre deputado a que me refiro,
e por mar (apoiados), e portanto admira que eu certamente não ficaria silencioso, o reclamaria.
tendo cessado estes inconvenientes haja uma de O nobre deputado, fallando dos successos de
mora que dantes não se encontrava, principal S. José dos Pinhaes, e querendo arredar de si
mente quando se observa que pela reforma do o crime que os jornaes da opposição da minha
thesouro publico nacional... . provincia lhe nttribuirão, de conservar o dele
O Sr. Presidente:— Permitta-me o St. depu gado de Coritiba, entre as razões que deu para
tado que o interrompa para lhe fazer algumas explicar á camara esses acontecimentos deu a
observações. seguinte, que eu nã ouvi, e contra a qual teria
Desejo saber se o Sr. deputado pretende concluir prostestado se a ouvisse:
por uma proposta, porque se o Sr. deputado faz « Demais (está escripto no discurso do nobre
essa tenção, será bom que a apresente, e se deputado), Sr. presidente, além de que eu não
reserve Dara em outra occasião em que tiver a tinha razão para demittir esse delegado, tinha
palavra. (Apoiados.) Não é por fórma alguma polo contrario motivos para conserval-o com
conveniente que o Sr. deputado continue pela relação mesmo ao processo eleitoral. Constava-me
mesma maneira por que tem fallado ; isso seria (é este o ponto que tem grande importancia
um precedente muito prejudicial a esta casa, por para mim, porque diz respeito a pessoa que me
que então os Srs. deputados pedirião a palyra e muito proxima, e porque a asserção do nobre
no principio e fim das sessões para requerimen deputado é desairosa, injusta, inexacta, e quando
tos e farião censuras ao governo. (Apoiados.) a dissesse, eu a teria taxado de tal em re
Portanto, será bom que o Sr. deputado apre lação á pessoa a quem o nobre deputado se
sente o seu requerimento e quando tiver a pa refere) . . .
lavra poderá aproveitar, a occasião para apresen O Sr. Presidente : — Parece-me que o nobro
tar $ consideração da casa as censuras que deputado não está exercendo um direito que o
entender que devo fazer ao governo. (Apoiados.) regimeuto da casa -concede. . .
O Sr. Fioueira de Mello:— Sr. presidente, O Sr. Silveira da Motta : — Estou explicando
eu vou concluir já, dizendo que se me animei a rectificação que faço. . .
a fizer o requerimento pela fórma por que o fiz, O Sr. Presidente : — O nobre deputado está
foi talvez por não saber bem dos estylos. parla contrariando proposições proferidas pelo nobre
mentares, e mesmo porque já em outras occa- deputado por S. Paulo. O nobre deputado já
siões tive de fazer igual requerimento, e pri confessou que não tinha dado apartes, e por conse
meiramente os fundamentei com as razões que quencia não está reclamando contra alguma
a isso me levarão, sem opposição da parta de inexactidão ou omissão,, e foi para isso que dei
V. Ex. Mas não prolongarei mais as minhas a palavra ao nobre deputado.
reflexões, e limitar-me-hei a rogar a V. Ex. que
haja pelos meios ao seu alcance do fazer com O Sr. Silveira da Motta : — Estou enunciando,
que o Sr. ministro da fazenda remetta á casa com a maior delicadeza e urbanidade que devo
o orçamento, o balanço da receita e despeza do a todos os meus companheiros, um pensamento
estado, porque tendo eu de o examinar quero que declaro que não ouvi; mas já disse que
com elles demonstrar alguns abusos que me confiava mais na honestidaio do nobre i depu
consta terem-se coinmettido. tado do que em meus ouvidos ; entretanto isto
não me priva do rectificar.
O Sr. Presidente : — Será tomado em consi O nobre deputado disso que lhe constava que
deração o requerimento do nobre deputado, offi- esse delegado se apresentára candidato nas pro
ci .ndo-so ao Sr. ministro da fazenda a este res ximas eleições; que lhe constava mais...
peito.
O Sr. Presidente : — Então o nobre deputado
O Sr. Fioueira de Mello : — Era para isso pedio a palavra para fazer uma rectificação ao
que tinha pedido a palavra. discurso do Sr. deputado por S. Paulo relati
O Sr. Silveira da Motla: — Sr. presi vamente a um ponto que lhe diz respeito ?
dente, pedi a palavra para fazer uma rectificação O Sr. Silveira da Motta : — Sim, senhor.
á publicação dos trabalhos da casa, relativa O Sr. Presidente: — Bem ; está na ordem.
mente ao discurso que ante-hontem pronunciou
nesta casa o nobre deputado pela provincia de O Sr. Silveira da Motta : — « Constava-me
S. Paulo, o qual einittio, quando tratava dos (lendo um trecho do discurso do Sr. Nebias)
successos de S. José dos Pinhaes, algumas as que esse delegado se apresentava candidato nas
serções a que prestei a maior attenção, e lho proximas eleições (isto ouvi) ; constava-me, mais
prestei uma attenção mais do que ordinaria, que, por um interesso muito natural da sua
porque ellas dizião em parto respeito a uma candidatura, essa delegado estava em boa har
pessoa que me toca muito de perto, o cuja honra monia com o lado da opposição (isto não ouvi). . .
e probidade não consentirei que alguem ponha Alouns Srs. Deputados: — DisseI Disse I
em duvida.
Entretanto, Sr. presidente, posto que eu pres O Sr. Sayão Lobato : — Toda a camara ouvio.
tasse a devida attenção, já com o firme propo O Sr. Neiuas : — Venhão as notas originaes
sito de esperar a publicação do discurso do dos Srs. tachygraphos.
nobre deputado, e não lhe désse aparto algum, Muitos Srs. Deputados: — Todos ouvimos.
como nenhum dei, eu não poderia conservar o
meu proposito e silencio so acaso tivesse ouvido O Sr. Silveira da Motta (continuando na lei
algumas expressões que se achão no seu dis tura): — « ... porque nella tinha paréntus e ami
curso, e contra as quaes a minha rectificação gos; constando-me até (aqui julgo que ha algum
serve unicamente de protesto. erro typographico), constando-me até procurando
tomo 2. 10
122 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
fazer uma transacção na cidade de Coritiba. » apanhado esse meu discurso a que o nobre de
Esto é o ponto principal. Como o nobre ilepu- putado se refere, foi justamente aquillo que so
tado assignala que esse delegado procurara fazer me apresentou. Appello para os Srs. tachy-
uma transacção na cidade de Coritiba no inte graphos e para a redacção do Jornal.
resse da >ua candidatura, declaro que não ouvi O Sr. Aprioio: — E' verdale, ó um dos maia
estas palavras, que se is tivesse ouvido protes exactos discursos que apparece.
taria muito altamente contra ellas, como disse,
porque são inexactas, injustas.
Ao mais que disse o respeita á defeza deste PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
delegado não posso responder agora, porque não
esta nos limites de uma rectificiçao, e terei occa- ISENÇÃO DE IMPOSTO A L0TEKIAs
siòes muito opportunas do discutir esse facto.
Ouvi com religioso silencio o nobre deputado, Entra em 1» discussão , e é elle approvado
appellei mesmo para o seu discurso esciipto, e para passar á 2°, o projecto r. 79 de 18õ2, que
as expressões qne -intendi ter o nobre deputado isenta do imposto de 8 °/° as loterias concedidas á
proferido forão por outros termos ; houve algum santa casa da misericordia da Bahia.
engano no apanhamento, pelo menos eu não
ouvi esta parte C'imo está publicada—que o de . PRETENÇÃO DE FRANCISCO PEDRO GORJÃO
legado da policia da Coritiba procurou fazer uma
transacção com a 0| posição no. interesse da sua Segue-se a 1« discussão do projecto r. 7'? de 1852,
candidatura.— Não entro na defeza do facto agora, que autorisa ao governo para conceder a Francisco
mas reclamo contra esta proposição, e declaro Pedro Gorjão, chefe da secretaria da thesoura-
que se a tivesse ouvido teria protestado alta ria do Pará, licençi por um anno com seus
mente ; e esto meu protesto serviria pira que vencimentos para tratar de sua saude fóra do
em qualquer tempo pudesse instituir um exame imperio.
sobre esta questão. Estou satisfeito. 0í Sr. Anoelo Corrêa fpela ordem):—pede que
O Sr. Nrriab : — Peço a palavra pela ordem. esw projecto tenha uma só discussão em vez
O Sr. Presidente : — Tem a palavra, visto de tres que determina o regimento.
que o orador se referio ao nobre deputado. Consultada a camara sobre esto requerimento,
O Sir. Nebloa: — Não vou discutir pira o detide pela affirmativa. Entra por consequencia
que tenha mais direito que o nobre deputado ; em uma só discussão a resolução.
não preciso dar explicação nenhuma, porque a O Sr. Vasconcellos (pela ordem): — Desejava
camara toda ostá me apoiando quanto ã exactidão ouvir, para poder dar o meu voto, algumas
do discurso que sahio impressa (muitos apoiados) ; razões em abono da resolução que se discute.
tambem não aceuso ao nobre deputado ; tem Parece-me que se trata de conceder a um em
todo o direito de defender em um ponto tão pregado publico na provincia do Pará um anno
melindroso a seu irmão, que é o delegado de po de licença para ir á Europa, dispensadas quses-
licia da Coritiba de .quem se trata. Não aceusci quer leis em contrario. Ora, eu desejava que o
a esse seu irmão, pelo contrario tratei de de- nobie autor do projecto nps expuzesso os funda
fendêl-o pela maneira por que me cumpria. mentos que teve para apresental-o.
(Apoiados.) O Sr. Fausto de Aguiar'— B-!m que não
Eu não costumo alterar discursos meus em seja o autor do projecto, darei todavia as infor
pontos mais insignificantes, quanto mais em mações a meu alcance ao nobre deputado que as
pontos tão notaveis (muitos apoiados), e sobre pedio a respeito desti resolução.
tudo em uma discussão tão importante e na O empregado de que trata esta resolução, no
qual tinha tido todo o cuidado. Assim mesmo tavel pela sua intelligencia, e pelo zelo com que
não escapei das reclamações do nobre deputado I preenche as funeçõesde seu cargo,acha-se ha muito
Appello para as notas tachygraphicas originaes ; tempo gravemente enfermo dos olhos. Para seu
ellas dizem exactamente tudo quanto está no restabelecimento tem esgotado todos os meios que
meu discurso, e a camara confirma... se lhe tem offerecido na provincia do Pará; porém
Muitos Srs. Deputados : — Apoiado ; é ver infelizmente não tnm ahi encontrado todos os de
dade. que necessita. Foi-lhe por isso aconselhado por
O Sr. Silveira da Motta : — Contento-me em todos os medicos da provincia como de primeira
declarar que não ouvi. necessidade, o mudar elle de clima para poder
obter uma cura radical, apontando-se-lhe para
O Sr. Nebias : — Eu disse que me constava isto a Europa. Por estas circumstancias é que
q ue o delegado de Coritiba se apresentava can- elle deseja e pede licença...
d idato ; que mo constava que, procurando-se Um Sr. Deputado : — De que molestia soffre
uma transacção com a opposiçáo, a opposição ello ?
respondêra ao delegado de Coritiba que não
podin aceitar o accordo, a transacção proposta, O Sr. Fausto de Aouiar: — Sei que padece
mas que ficasse certo o Sr. delegado que, quando grave enfermidade dos olhos que o priva de
vencesse a opposição, o Sr. delegado hivia de poder-se dar a um trabalho aturado na sua
ter todos os votos naquelle collgio. O que eu repartição.
disse e mo constava, de alguma maneira o Essa molestia não é recente ; padece delia já
Sr. delegado, irmão do nobre deputado, deu a ha muito tempo, e por esta circuinst meia tem
entender na assembléa provincial, e até mostrou quasi que completamente desesperado de con
uma carta do Sr. padre Isaias, pessoa muito seguir o seu restabelecimento pelos meios a seu
importante da opposição... alcance no Pará ; pelo que intenta fazer uma
O Sr. Silveira da Motta: — Está impressa. viagem á Europa. E' para este fim que pede
O Sr. Neuias : — Então não disse eu nada de licença por um anno, sendo que menor tempo
mais. não lhe póde aproveitar.
Foi só por isso que pedi a palavra, para pro O Sr. Araujo Lima : — Que annos tem de ser
testar que não costumo nunca alterar aquillo viço ? '
que digo na casa (muitos apoiados) ; não cos O Sr. Fausto de Aouiar : — E' um empregado
tumo mesmo dar melhor redacção a meus dis antigo e dos mais intelligentes e zelosos que
cursos em minha casa. Quer fosse bem ou mal tem a thesouraria do Para.
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 123
O Sr. Luiz Carlos : — Sr. presidente, pedi a O Sr. Presidente : —Tem a palavra o Sr. mi
palavra para oferecer um adiamento até que se nistro dos negocios estrangeiros. (Profundo si
consultem os documentos com que é instruido lencio )
o requ' rimento da pessoa de quem se trata, O Sr. Paulino ( ministro dos negocios
para que possamos votar com conhecimento de estrangeiros) : — Pedi a palavra para dar ao
causa. Procedendo assim não tenho por fim pre nobre deputado pela provincia da Bahia que
judicar o projecto, mas tão somente procurar orou antes de hontem os esclaracimcntos que
esclarecer-me de modo a lhe dar meu voto com má fez a honra de pedir.
consciencia. Outro nobro deputado pelo provincia do S. Paulo
O Sr. Presidente : — O adiamento deve ser que orou em uma das sessões precedentes ta ;i
definido, e não somente até que se consultem bem se oceupou de assumptos relativos á repar
os documentos. tição que dirijo.
Lê-se e npoia-se o seguinte: Eu não pretendia pedir a palavra sómente
« Requeiro o adiamento da discussão por tres para responder-lhe, porque, na minha opinião,
dias. — L. Carlos. » )á tinha tido resposta muito sufficiente ; mas já
que mo levantei para responder ao nobre de
G Sr. Fausto de Aguiar: —Sr. presidente, putado pela Bahia, não posso deixar de fazer
acho desnecessario o adiamento proposto pelo algumas breves considerações sobre a parte do
nobre deputado por Minas. O peticionario dirigio discurso do nobre deputado por S. Paulo rela
um requerimento á camara dos Srs. deputados ; tiva á repartição dos negocios estrangeiros.
supponho que esse requerimento foi instruido Lastimo, Sr. presidente , que o nobre depu
com documentos que comprovão a enfermidade tado por S. Paulo, meu antigo amigo politico,
por elle allegada, e esses documentos devem pessoa á qual sempre consagrei affeição, viesse
existir na secretaria da cisa, porque a commis- procurar na marcha dos negocios da repartição
são provavelniento os entregou por occasião de a meu cargo, nas consequencias logicas, neces
dar o seu parecer. Roqueiro a V. Ex. que Unha sarias de uma politica que elle apoiou durante
a bondade de mandar procurar ess.-s documentos a legislatura passada; viesse procurar, digo,
na secretaria, porque á vista delles será satis sem razão ou fundamento algum, motivos para
feito o nobre deputado que exige saber qual a justificar a opposição que pretende fazer.
natureza da enfermidade desse empregado, tor- O nobre deputado por S. Paulo começou de
nando-se assim desnecessario o adiamento. clarando que a marcha seguida pelo governo
O Sr. Presidente: — Devo observar & casa nos negocios do sul lhe causavão desde já
que o individue de que se trata requereu ã as- sérios receios. Receios de que ? Receios por
sembléa essa licença; seu requerimento foi re- que ? Qual é a calamidade, qual ó o mal que
mettido á commissão de fazenda, e a commissão se lhe antolha no futuro ? E' justamente o que
de fazenda apresentou esta resolução. o nobre deputado não nos quiz dizer. Eu teria
OSr. Pimonlii Magalhães : — Sr. presi muito prazer em desvanecer esses receios, esses
denta, pedi a palavra para apresentar á casa e ao infundidos medos do nobre deputado ; mas como
nobre autor do adiamento o attestado que acompa não teve a bondade de se explicar sobre elles,
nhou o requerimento que deu lugir á resolução vejo-me privado de ter essa satisfação.
sobre que versa o adiamento. Vejamos porém se o pouco , o muito pouco ,
o quasi nada de positivo que contém o dis
Por esse attestado se prova que o peticionario curso do nobre deputado por S. Paulo póde re
se acha bastan temente doente dos olhos, e em sistir á analyse.
estado tal que se lhe torna indispensavel uma Começou elle ( o eu lerei o texto do seu dis
licença para ir á Europa afi n de ver se póde curso ) dizendo que não sabia se no estado a
restabelecer-se. A' vista pois de um tal docu que chegárão as cousas na republica Argen
mento passado pelos principaes medicos da capital tina a neutralidade será o q'ue nos convém.
do Pará, e á vista do testemunho apresentado O nobre deputado por S. Paulo não sabe se
á casa, não só por um deputado como por toda apolitica da neutralidade é alli a que mais con
a deputação daquella provincia, entendo que o vém, e se não sabe não póde formar juizo so
peticionario está no caso de merecer a licença bre ella , não póde approval-a nem tão pouco
requerida : elle é, como já disse o meu nobre condemnal-a.
collega, um empregado antigo, e intelligente, e Mas o nobro deputado seguia logo depois di
por isso aproveitavel em sua repartição uma vez zendo o que leio no seu discurso : a O que digo
restabelecido em sua saude. a V. Ex. é que na nossa posição, depois dos
Acredito portanto que o nobre autor do adia transtornos, trabalhos e sacrificios por que já
mento, á vista do exaino que está fazendo do passámos com essa vizinhança, creio - que o
attestado, removerá os seus escrupulos e votará Brazil não se deve pór a um canto amuado ,
por aquillo que se pede. sem obrar eflicazmente. »
O Sr. Luiz Carlos : — Se a camara está resol Ora, esse nmuamento é a neutralidade, o não
vida a votar pelo meu requerimento tão somente podemos sahir dessa posição efficazmente sem
pelo desejo que manifestei de esclarecer me so sahir da neutralidade. Logo, o nobre deputado
bre a materia, peço para retiral-o, porque pela cré que devemos sahir da neutralidade ; isto
leitura deste documento já posso votar com con é, o nobre deputado não sabe se a neutralidade
sciencia pró ou contra a resolução de que so convém, mas crA que convém sahir delia. Crê
trata. que convém sahir, delia, mas não sabe se con
O adiamento é retirado. vém. Cré o que não sabe ; não sabe o que cré.
Ficou adiada pela hora a discussão da reso Destas proposições tão contradictorias não se
lução. póde inferir qual é a opinião do nobre depu
tado sobre este assumpto. Sómente se póde co
nhecer pelo fim e tendencia do seu discurso, a
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA dando o nobre deputado a marcha seguida pelo
governo nos negocios do sul como um dos mo
DISCUSSÃO DO VOTO DE GRAÇAS tivos pelos quaes se declara em opposição, e
sendo a politica do governo a da neutralidade,
Continua a discussão do projecto de resposU parece que o nobre deputado se quer declarar
á falia do throno com as emendas apresen contra ella.
tadas. E não adverte o nobre deputado que essa po
124 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
litica que condemna hoje, actualmente seguida O Sr. Paulino — Portanto envolvêmo-nos na
nos negocios do sul, é a mesma, a mesmissima, luta por questões nossas, por interesse nosso,
sem tirar nem por, a que o nobre deputado paru segurança nossa, e é dahi que se derivava
deu o seu apoio durante toda a sessão pas o nosso direito. Resolvidas aquellas questões,
sada ? (Apoiados-) Eu o provo. removida a causa do m ih que nos ameaçava,
Senhores, essa politica não foi uma politica reduzidas as questões existentes a questões pu
occulta, foi muito clara , foi patente e formu ramente internas d iquelles pnzes, era necessaria
lada eui documentos solemnes, que forão pre consequencia da politica qne tão solemnemente
sentes ás camaras, está explicada em toda a haviamos proclamado, voltarmos á neutralidade
corivspondmcia e documentos da repartição ie de que haviamos sabido, e que ella em tal
negocios estrangeiros. Não posso cital-os todos, caso prescrevia.
mas apontarei alguns principaes. A falia do A politica seguida hoje á portanto a mesma,
throno de 1851 continha as seguintes e muito porque é aquella que foi proclamada no princi
claras palavras : « Por maior que fosse o meu pio da luta, ou pelo mento sua logica e ne
desejo de manter a paz, não deixarei de dar cessaria consequencia.
a meus subditos a protecção que lhes devo, Vejamos porem por um pouco qual é a natu
nem serei indifferento a acontecimentos que reza e alcance das questões hoje debatidas na
possão prejudicar a segurança c tranquillidide confederação Argentina , e qual é a applicação
futura do imperio, tendo sempro por um dever que pódo ter a essas questões aquella politica.
respeitar a independencia, as instituirdes e a Senhores, eu tive sempro muita repugnancia
integridada dos estados vizinhos, e nunsa me em trazer á nossa tribuna os negocios inter
envolver de modo algum em seus negocios in nos de outros paizes. Vejo-me porém obrigado
ternos. » a fazel-o, e fazendo-o limitar-me-hei a referir
Quando pedimos ao governo oriental facul factos, sem os apreciar, e sem emittir sobro
dade pára fazer entrar o nosso exercito em seu elles opinião alguma. O assumpto é mui vasto
territorio, a nossa legação em Montevidéo de o complicado, revestido de circumstaheias muito
clarava áquelle governo, por ordem do governo importantes ; ó difficil resumil-o , mas eu pro
imperial o seguinte : curarei resumil-o o mais possivel.
« Se a marcha do exercito brazileiro sobre o Todos Tabeni que o governador D. João Ma
territorio argentino está e estará sempro longe noel de Rosas durante vinte annos de domina
de ser um attentado contra a independencia do ção não organisou a confederação Argentina.
estado, é igualmente certo que tal medida não Cahindo, não deixou instituições que a manti
tem por fim intervir nos negocios internos da vessem. C seu poder era todo pessoal, o seu
republica ; e tanto assim que preenchido o sa poder e vontade suppria-as. A primeira necessi
bido objecto, se não houver accórdo em con dade era ligar as provincias debaixo da uma
trario com o governo oriental, e se circumstan- autoridade compativel com as fórmas fede
cias imperiosas não exigirem o contrario para rativas.
a segurança do imperio, o exercito imperial re Para esse fim reunirão-se em S. Nicoláo de
gressará para a provincia do Rio-Grande do los Arroyos os governadores de onze das pro
Sul ; mas cumpre observar que o movimento a vincias argentinas, e uhi celebrárão em 31 de
que se allude tambem não tem por fim atten- Maio' do anuo passado o accordo chamado de
tar o mais remotamente contra as instituições, S. Nicoláo de los Arroyos. Esse accordo conti
regimen e negocios intentos das provincias ar nha as bases para a reunião do congresso que
gentinas, ou contra a integridade do seu ter em Santa Fé devia organisar a constituição da
ritorio. confederação Argentina, e a esse accordo adhe-
« O governo imperial procede assim, porque rirão depois mais tres provincias cujos gover
a existencia do general Oribe no estado Orien nadores não tinhão tido parte na sua celebra
tal, e o seu procedimento, é incompativel com ção
a tranquillidade e segurança da provincia do Contém varias disposições que não é neces
Rio Grande do Sul, e porque o governo Orien sario referir para o meu proposito. Referirei
tal carece de forças para repelil-lo. » apenas algumas para a demonstração que tenho
Essa politica acha-se tambem expressa clara em vista. Um dos artigos declara que sendo as
mente no convenio de alliança que depois, em provincias iguaes em direito, como membros
21 de Novembro de 1851, celebrámos contra o da nação, daria cida uma dous deputados para
governador D. João Manoel do Rosas, com a o congresso constituinte. Outro, que sendo a
republica Oriental o com o general Urquiza. constituição nacional sanecionada por ella por
Diz o seu art. 1° : « Os estados alliados de maioria de votos, ficaria em vigor sem depen
clamo solemnemente que não pretendem fazer dencia de revisão e approvação pelas provin
a guerra á confederação Argentina, e nem coar cias. Dispõe o accordo tambem que o general
ctar de qualquer modo que seja a plena liber Urquiza seria o director provisorio da confe
dade de seus povos no exercicio dos direitos deração, qne teria o commando em chefe de
soberanos que derivem de suas leis o pactos, todas as forças militares das provincias, que
ou da independencia perfeita de sua nação. » poderia augmentar ou diminuir como enten
desse conveniente.
A politica que esses documentos rovelão não A sala de representantes da provincia de
era portanto interventora, lintravamos na luta Buenos-Ayres fez opposição a esse accordo e
por questões nossas, por offensas feitas a nós, foi depois dissolvida. Houve quem entendesse
que o general Oribe não queria reparar nem que a execução do accordo faria perder a essa
fazer cessar : " entravamos nessas questões por provincia a sua importancia, e aquella prepon
que o dictador argentino nos declarava a guer derancia que estava costumada a ter . como a
ra , e porque era necessario prover a nossa se cidade mais rica, mais populosa, mais commer-
gurança, e não esperar que viessem trazer a ciante, e portanto mais civilisada da confede
guerra a nossa casi. Essa politica e esses mo ração .
tivos forão patentes e claros, o eu não posso Em 11 de Setembro do unno passado reben
crer que o nobre deputado por S. Paulo, apoian- tou em Buenos-Ayres uma revolução, cuja con
do-a nas sessões precedentes, não soubesse o sequencia foi a declaração da sala de que a
que apoiava. (Apoiadas.) provincia não reconhecia o accordo de S. Ni
O Sr. Nebias : — Mas o nosso exercito foi coláo, o cengresso de Santa Fé, e o general
bater-só nas ruas de Buenos Ayres. Urquiza como encarregado de suas relações
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 125
exteriores. Esse movimento não foi seguido por O Sr. Nebias :— Entretanto ha muita gente lá
outras provincias. que desgraçadamente deseja a volta deite.
De então para cá tem havido varias tentati O Sr. Paulino :— Por ventura" a reorganisação
vas e varias negociações entre os contendores,
Varias mediações de agentes estrangeiros para edosestragador
paizes que sahem de um regimen violento
faz-se placidamente, sem difficulda-
levar as partes a um accordo e restabelecer a des, sem nhalos, e sem dór ? Onde vio o nobre
paz, mas infelizmente têm sido infructiferas.
Qual devia ser a posição do imperio nessas historia dos homens. disso?
deputado exemplos Não f. i por certo na
(Apoiados.) O que está acon
questões senão a da neutralidade ? Que direito tecendo na confederação Argentina havia de
tem elle de se envolver nellas ? acontecer ou mais cedo ou mais tarde, e ainda
O nobre deputado por S. Paulo deve saber que
que ha certos direitos derivados da soberania neral não tivessemos concorrido para a quéda do ge
Rosas. Era mortal, e por isso a sua vida
o independencia das nações, que os publicis havia de ter um termo. Poderia mesmo vir a
tas chamão direitos relativos á constituição in cahir por causas independentes do«nós. As causas
terior, que sómente competem ás proprias na e os elementos que produzem hoje os aconte
ções, e a respeito de cujo exercicio os estran cimentos a que alludimos havião de produzir
geiros nada têm que ver. (Muitos apoiados.) iguaes
E' justamente a respoito do exercicio de tae3 seguisseeffeitos emquanto a confederação não con
direitos que nos temos seguido a politica da deputado organisar-su. Como pois pretende o nobre
por S. Paulo por esta maneira lançar
neutralidade, e essa neutralidade é uma conse
quencia infallivel da politica que temos seguido sobre o governo do seu p úz a responsabilidado
de semelhantes acontecimentos ?
nos negocios do Rio da Prata.
Entende o nobre deputado que devemos sahir O Sr. Nebias : —Não, senhor.
delia, e parece que é essa uma das razões O Sa. Paulino :— Pois é o que se deduz das
pelas quaes está em oppòsição. O que have
mos pois fazer ? Iremos ao general Urquiza, e suas palavras , e é para destruir a impressão
dir-lhe-hemos : « Deveis ceder ás pretenções do que ellas possão produzir que eu me tenho de
morado sobre este ponto.
governo da provincia de Buenos-Ayres, admittir Passarei agora a dar uma breve resposta ás
ue a constituição que fizer o congresso de observações feitas pelo nobre deputado pela
anta Fé seja sujeita ao exame e aceitação da
dita provincia, e outras condições relativas á provincia da Bahia.
questão provincial. » O nobre deputado referindo-se ao tratado de
Como o nobre deputado quer que obremos commercio e navegação celebrado em 12 de Ou
tubro de 1851 com a republica do Uruguay, na
efficazmonte, so o director provisorio não esti
ver por isso, teremos de mandar ao Rio da parte commercial, fez algumas observações que
Praia uma esquadra e um exercito para liga- uecahem sobre o art. 4°. Esse artigo dispõe que
rem-se á praça e compellirem-o a aceitar aquel- será mantida por espaço de 10 ao nos a isen
las condições. Ou quer o nobre deputado por ção deo direitos de consumo de que actualmente
S. Paulo que vamos ao governo da praça e lhe goza porta los
charque, e mais productos do gado im
na provincia do Rio Grande pela fron
digimos: « Sujeitai-vos ao accordo de S. Ni- teira, os quaes continuarão a ser' equiparados a
coláo, e ao que fizer o congresso de Santa Fé, iguaes productos da dita provincia.
etc. ? » E se o governo da provincia de Buenos-
Ayres não quizer ? Mandaremos uma esquadra O nobre deputado pela Bahia não censurou
bloquear a praça e auxiliar ao general Ur a disposição desse artigo, que approva : sómente
quiza para o ajudar a reduzil-a ? Ou quer o observou que conviria que essa disposição tivesso
nobre deputado que buscando um meio termo sido estendida ' a todos os productos daquella
intimemos a ambos os lados para que cada provincia e do estado Oriental , afim de que
um ceda de uma parte de suas pretenções? pela fronteira pudesse ter lugar o commercio
Seria o melhor meio de os termos ambos contra livre e a permuta de todos os productos de am
nós. bos os paizes.
Se é esta a politica que o nobre deputado por Observarei primeiramente ao nobre deputado
S. Paulo quer, visto que elle reprova a neu (e não é essa a principal razão em que pre
tralidade, e quer que obremos efficazmente, ha tendo fundar-me) que sendo a quasi totalidade
de permittir que lhe diga que o que quer é impos dos productos da provincia do Rio Grande e do
sivel, que não é fundado em direito algum, que estado Oriental o charque e despojos do gado,
ê contraria a toda a politica que o governo im e não sendo de importancia os outros produ
perial tem seguido, e que o que elle indica não ctos, a comprehensão destes naquelle artigo não
poderia deixar de ser muito fatal ao nosso paiz. seria de consideravel vantagem. Faço apenas
Disse o nobre deputado por S Panlo : « Não esta observação que, como disse, não é razão
sei o que dirão de nós as nações civilisadas, e principal.
o que furão vendo o estado deploravel daquelle O nobre deputado sabe que ha duas especies
paiz por causa da guerra civil que dilacera aquella de tratados de commercio , ainda que um só
familia dividida e sua nacionalidade, nem sei possa envolver materias de ambos. Ao menos e
se dahi nos virá alguma responsabilidade tremenda esta a classificação que fazem alguns autores.
perante Deos e os homens. » Ha tratados de commercio que sao convenções
O nobre deputado parece assim chamar sobre geraes relativas ao commercio geral e trata
o governo do seu paiz a responsabilidade dos mento dos subditos dos dous paizes, que conce
acontecimentos qne estão tendo lugar do outro dem certas garantias , regulão attribuições con
lado do Prata. Entende o . nobre deputado que sulares, flxão e declarão certos principios do
esses acontecimentos são resultado da politica direito das gentes mais ou menos sujeitas a
do governo ilnperial ; mas diga-me quem na ahi praticas diversas e a contestações qne regulão
tão simples que pudesse acreditar que cahindo es direitos dos neutros em tempo de guerra,
Bosas o paiz que elle deixava desorganisado, ele. Ha outros tratados de commercio mais es
exhaurido, derrancado por uma longa tyrannia, pecialmente destinados a estabelecer vantagens
sem instituições que ligassem as provinciis, se especiaes concedidas ao commercio e navegação
havia de organisar sem abalo, sem convulsões, dos subditos dos dous paizes, a regular e modi
e sern grandes dóres? Os elementos que elle não ficar excepcionalmente os direitos de importação,
dispoz, que não dirigio, que não organlsou, soltos exportação, de transito, de porto, etc.
da sua mão de ferro, não havião de faz--i alguma Ora, o tratado de commercio de 12 de Outu
explosão ? bro, do qual se trata, pertence á primeira es
126 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
pecie. Não teve por fim regular direitos, nem blica do Peru, e notou que em lugar da dis
modifical-os. O art. 4° é excepcional, e entrou posição que se lê no seu art. 1° fóra mais con
no tratado por -uma razão muito especial, que veniente : ter-se estabelecido o vantajoso com
eu vou expor. Por aquelle tratado não teve o mercio de transito , creando-se no Pará um em
governo em vista alterar por qualquer maneira porio, ou entreposto.
o systema de direitos existente , fixar e des Observarei primeiramente ao nobre deputado
envolver, quanto a esse ponto, as suas relações que o tratado com a republica do Peru ó mera
commerciaes com o estado Oriental. Não sendo mente um ensaio. O seu preambulo diz : « S. M.
esse o seu fim, não podia falhar o tratado, como o Imperador do Brazil , e republica do Perú,
disse o nobre deputado. igualinente animados do desejo de facilitar o com
O art. 4°, do qual tenho filiado, tem, como mercio e navegação fluvial pela mutua fronteira
disse, unia razão muito especial. A camara sabe e rios, resolvêrão ajustar em uma convenção es
que as nossas desavenças com o general Oribe pecial os principios e o modo de fazer um ensaio
provinháo em parte das questões resultantes em que melhor sa conheça sob que bases e con
da prohibição da passagem dos gados do estado dições deverá esse commercio e navegação ser de
Oriental para a provincia do Rio Grande, eque pois estipulado deflnitivimente. » O art. 8° esta-
quando essa passagem era permittida, o era tue : « As altas partes contratantes concordão em
mediante o pagamento de impostos onerosos que que os arts. 1°, 2°, 3°, 1° e 5° desta convenção te
muito diminuião o valor do dito gado. Gjan le rão vigor por espaço de 6 annos, etc. »
numero, de brasileiros possuem estancias no es Portanto esse tratado é apenas um ensaio, não
tado Oriental povoadas de muito gado. Não po- prejudicou nenhum outro systema diverso daquelle
dião transportai- o para a provincia do Rio que estabeleceu , e nem o que o nobre depuíado
Grande, ou para o passar pagiváo impostos lembra. O que eu creio, porém, é que as circum-
muito oneroso*. Essa prohibição o esses vexa stancias não permittião est ibelecêl-o e tão cedo
mes derão lugar a que se procurasse por vezes não se prost iráõ a isso.
passar o gado por força de armas, e dahi nas- O n ibre deputado ponderou quanto fóra conve
cêráo algumas invasões no estado Oriental, afim niente estabelecer um entreposto no Pará. ou de
de retirarem dahi o gado, sua propriedade. Quando posito de mercadorias estrangeiras livres de di
se celebrou o tratado de commercio de 12 do Ou reitos de importação, sómente sujeitas a direitos
tubro, os nossos negociadores propuzerão a livre de transito, para fornecer o territorio peruano,
pissagem do gado e a extinccãodaquelleim posto. e disse : s Por este tratado as mercadorias es
Ora, esse im posto era um ramo de renda para o trangeiras , depois de pagarem direitos de im
governo orii ntal, e se bem me lembro, segundo vi portação ou consumo nas alfandegas de Calháo
de um orçamento apresentado ás cam iras em de Lima, ou outra qualquer do Perú, ou do
Montevidéo no anuo de 1841 , produzio nesse Pará, podem transitu- livremente pela nossa
anno a somma de 24 ou 25,000 pesos Isto em fronteira; mis note o nobre ministro que esti
tempos de guerra, e sendo muito mal arreci- operação depende de um adiantamento de capital,
dado. Em compensação dessa cessação de renda e da venda da mercadoria no lugar do seu des
estipulárão os nossos negociadores que seria tino. Esta parte nos é fatal, porque pela nossa
conservada em vigor por 10 annos a disposi posição geographica podariamos obter ou tornar
ção do -irt. 2õ da lei de 18 de Setembro de 1815, o porto do Pará um emporio do commercio des
que é justamente a do art. 4° do tratado. Por sas republicas : mas com os direitos de ancora
conseguinte essa disposição foi ahi inserida por gem elevados, com os direitos de 30 •/°. e ás
um motivo muito especial, como compensação, e vezes mais, sobre as merca lorias estrangeiras,
não porque se tivesse em vista nesse tratado o negociante não poderá procurar o porto do
alterar ou modificar os direitos existentes. Pará para fazer transitar as mercadorias desti
(Apoiado: .) nadas ao Porú, etc. »
Nesse tratado declarou -se commum a navega Permitta o nobre deputado ; a isso oppõe-se,
ção do rio Uruguay a dos seus aflluentes. e que e hão do oppór-se ainla por algum tempo, ob
essa navegação seria regulada por meio de re staculos maiores e de outra ordem
gulamentes fiscaes e de policia. Quando forem Os grandes nucleos de população do Perú
estabelecido} esses regulamentos paru a nave achão-se estendidos no litoral que fica entre o
gação e fiscalisação dos direitos será talvez Oceano Pacifico e a immensa cordilheira dos
occasião opportuna de os considerar. O nobre Andes. O territorio a leste dessa cordilheira, no
deputado sabe , e muito melhor que eu, que a magnifico ville do Amazonas, é deserto, e apenas
consideravel di 'eiença entre os direitos cobrados tem alii o Perú um pouco mais povoado o de-
no estado Oriental e no Brazil sobre mercadorias pirtainento de Maynas. A sua população, que é
estrangeiras favorece muito o contrabando. No es peuca, o quasi toda composta de indios, offjrece
tado Uriental pagão 12 °/°, no Brazil 30. Ha a um mercado muito pouco consideravel e poucos
enorme differeuça de 18 1ue dã grande lucro consumidores de mercadorias estrangeiras. Fa-
as contrab indo. Ha de ser necessario considerar zendo-se um outorposto delias no Pará, terião,
em grande, e regular com minuciosidade para para achar mercado e consumidores , de seguir
vantagem de ambos as nossas relações de com pelo Amazonas até o ponto navegado por vapo
mercio e navegação com o estado Oriental, e res, de atravessar a immensa distancia que separa
então será occasião mais opportuna do tomar esse ponto onde pára aquella navegação e aquelle
em consideração as observaçoes do nobre depu onde começa a cordilheira, e da transpór os
tado. No tratado em questão estabelecêrão-se Andes para ir buscar consumidores do outro
certas bases e principios geraes, e nada se al lado. As despezas enormes para |vencer tama
terou quinto aos direitos existentes. Conser- nhos obstaculos naturies, ainda mesmo que não
vou-se a legislação em vigor, o art. 25 da lei pagassem impostos da importação .no Pará, se-
de 18 de Setembro de 1815, que somente se re rião taes que as mercadorias não poderião soflrer
fere ao charque e mais productos do gado. E do outro lado do Andes a competencia daquellas
note o nobre deputado que o art. 12 da lei pos que por mar são levadas aos portos peruanos do
terior de 15 de Junho de 1850, autorisando o Oceano Pacifico.
governo para alterar o que fóra estabelecido O nobre deputado que é tão lido, que tem estu
por aquella, restringio essa autorisação ao char dado estas materias, nas quaes é profissional,
que, e productos do gado. O artigo do tratado ha de ter noticia de uma publicação mensal do
restrlngio-se aos termos dessas duas leis. Dr. Sarmiento, que começou a app irecer em
O nobre deputado pela Bahia lambem se oc- Santiago do Chile nos principios do anno de 1851,
cupou com o tratado celebrado com a repu- com o titulo de — Sud-America : Politica e com
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 127
mercio.— Essa importante publicação dá noticias communieações, e V.S. fará vêr que para o diante,
muito interessantes sobre o commercio de tran quan to fòr maior a população e mais avultado
sito entre o Chile, e as provincias transandinas o commercio, quando a experiencia nos tiver
da confederação Argentina. Della se vê qunes »s illustrado sobre taes assumptos, outra cousa se
obstaculos e dificuldades que a passagem dessa poderá estipular. Por ora convêm simplificar e
elevadissima cordilheira apresenta, as despezas pór de lado o appirato vexatorio e dispendioso
que occasiona, os melhoramentos que convém de qlfandegps e de um sem numero de agentes
promover. Entretanto essas passagens forão fran- fiscaes. »
quead is ao commercio desde os tempos da do O tratado é portanto um ensaio, uma expe
minação hespanhola, servião para as communi- riencia util para fazer depus cousa mais com
cações de nucleos de população importantes, as pleta e melhor. E' o primeiro aunei na longa
distancias são muito menos consideraveis. Do cadêa de esforços que sao necessarios para levar
lado do Oeste, descida a cordilheira, no Chile, a essas vastas regiões o trabalho do nomom, a
já se encontrão estradas de ferro. Não se acha populução e o commercio.
o Perú nas mesmas circumstancias, as comum- Não contesto as doutrinas que o nobre depu
nicações pelos Andes encontrão muito maiores tado pela Bahia emittio. São certamente as mais
difficuldades, e são apenas feitas por trilhos. Os largas as mais civilisadoras, as mais generosas.
lufares de passagem que offerecem menor ele São as mais conformes com o aperfeiçoamento
vação têm, segundo sou informado, 10,000 pés que nestes ultimos tempos tem tido as materias
de altura sobre o nivel do mar. Essas immensas commerciaes e as scioncias economicas. O que
alturas estão sempre cobertas de neve. creio é que não é ainda occasião de applical-as em
O nobre deputado pela Bahia observou que certos pontos. Demais, o ens áo qu4 vamos fazer,
na Europa se tem ultimamente introduzido o a experiencia que nos ha de trazer nos ha de
commercio do transito em varios lugares com esclarecer melhor e poderemos marchar com
gra «te vantagem. Não duvido ; mas quanto passo mais seguro.
tempo decorreu antes que se estabelecesse ? Esta- O nobre deputado a quem tenho a honra de
beleceu-se em paizes muito povoados, que offe referir-me fez um reparo que me não cabe. Disse
recem. todas as facilidades paru a flscalisação e elle : s Não considero esse facto que se deu nas
para o transito, onde os meios de communicação republicas do Prata em relação ao que disse o
são muito faceis, e o custo do transporte bara nobre ministro, isto é, de se ter estabelecido,
tissimo. uma politica americana, politica que eu desco
Para fazer comprehender melhor o espirito e nheço, etc. » Ora, eu não me recordo de haver
as vistas do governo no tratado celebrado com dado ã politica do governo a denominação de
a republica do Perii, lerei um trecho das ins- americana. . .
trucçóes dadas ao conselheiro Duarte da Ponte O Sr. Ferraz : — Dirigia-me ao nobre depu
Ribeiro : tado pelo Rio de Janeiro.
« Extracto das instrucçVes dadas ao O Sr. Paulino : — Como vem no seu discurso
conselheiro Duarte da Ponte Ribeiro em o — o nobre ministro....
1» de Março de 1851. O Sr. Ferraz : — Não corrigi quasi nada este
« O art. 25 da lei r. 369 de 18 de Setembro discurso.
da 1S4 i dispõe que os generos que fossem intro O Sr. Paulino :— Bem, não insisto. Não é minha
duzidos pelo interior da provincia do Pará, de intenção repellir a palavra americana Póde-se
qualquer ponto dos territorios estrangeiros que dizer politica americana aquella que diz respeito
limitão com a mesma provincia, e que forem de- a cousas da America, ;omo se diz politica européa
producção dos mesmos territorios limitrophes, fos aquella que diz respeito a cousas da Europa.
sem considerados como nacionaes, e sujeitos ao Mas essa denominaçao na minha boca poderia
pagamento dos mesmos direitos que estes pagão, parecer pretenciosa, e eu não sou pretencioso
etc etc. nem quero parecêl-o.
« Os arts. 12 e 13 da lei r. 553 de 15 de Junho Vou dar ao nobre deputado pela Bahia os
de 1860 autorisáo o govorno para sujeitar ao pa esclarecimentos que me fez a hoara de pedir
gamento de direitos de consumo e de transito, re ativamente á missão em Bolivia do Sr. con
quando destinados para o estrangeiro, aquelles selheiro Duarte da Ponte Ribeiro. Devo dizer-lhe
productos. que o governo boliviano não se recusou a rece -
bel-o, e que o Sr. Duarte não foi por elle
« Como porém esta trata somente de uma méra maltratado. O Sr. Duarte não chegou a fazer
autorisação no governo, poderá V. S. estipular proposições algumas, e por isso nenhuma pro
por tempo certo, e o mais curto que fór possivel, posição nossa foi repellida. A missão do Sr. Duarte
a ampla liberdade do commercio com o Perú, tinha varios fins, devia ser exercida em todas
pela fronteira e pelos rios. as republicas do Pacifico. Teve ordem para,
« Conseguintemente os productos do Perú que aproveitando à occasião, ir tambem á Bolivia,
entrarem para o imperio devem ser consideradjs mas não foi essa a sua unica e principal
como nacionaes, e mio pagarão direito algum de missão.
entrada no Brasil, e sendo exportados para fóra O nobre deputado sabe perfeitamente, porque
delle pagirão os mesmos direitos que pagão os tem-se occupado desses assumptos, as difficul
brasileiros na exportação. Os productos da Eu dades que apresenta um arranjo deflaitivo das
ropa importados no imperio, embora se allegue nossas questões de limites com o governo boli
que com destino ao Perú terão de pagar os im viano. Parte elle do principio de que o tratado
postos de im ortação, como se fossem destinados de 1777 está em vigor, e considera como usur
ao nosso consumo, e nenhum outro no acto da pações as passes antiquissimas em que fundamos
sahida do imperio pela fronteira. V. S. justifi p nosso direito. Ora. o goveruo imperial está
cará essas disposições com a dificuldade de fis- muit i firmemente resolvido a não ceder, por um
calisar o destino de taes generos, que têm de principio que não reconhece, uma parte impor
percorrer extensões tamanhas e tão desertas ae tantissima da provincia de Matto-Grosso e pontos
territorio ou ue rios, com a enorme despeza que que cobrem a nossa navegação interior. Quando
tal fiscalisação exigiria com os abusos a que o Sr. Duarte da Ponte Ribeiro chegou á Bolivia
daria lugar, e com os vexames que teria de achou que dominavão as mesmas pretenções exa
causar aos conductores. Isto tem principalmente geradas ás quaes acabo de referir-me.
lugar nos primeiros tempos da abertura de taes Demais, o estado em que se achava o paiz
128 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
a imminenoia de uma guerra com a republica e Ingleza. Direi ao nobre deputado que não tem
do Perú, tornavão ns circumstancias menos pro tido andamento.
prias para uma negociação. O congresso que Primeiramente, Sr. presidente, o estado em
acabava de decretar a nova constituição de 1851 que até certa época esti verão as nossas relações
tinha-se dissolvido. Pelo art. 33 dessa constitui com o governo britannico por causa do trafico
ção o congresso sómente se reune de dous ein não tornava a occasião propria para tratar de
dous annos. Os tratados feitos pelo governo só outras questões e provocar uma solução do ques-
mente têm vigor depois de approvados pelo tõ ss de limites. Hoje felizmente as nossas relações
congresso. Ainda que o Sr. conselheiro Duarte estão em muito melhor pé, e o governo poderá
da Ponte Ribeiro concluisse alguma negociação oceupar-se dessas questões opportunamente.
teria de esperar dous annos, findos os quaes O estado em que até certo tempo esteve a
poderia não ser approvada. O mesmo conselheiro França, cujo governo devia ter a sua attenção
expóz todas essas considerações ao governo, o absorvida nas suas graves questões interiores,
qual entendeu que a occasião não era á mais o nas da Europa que o; tocavão de mais perto, tor
propria para tratar, e o mandou retirar. nava a occasião menos propria para procurar
O nobre deputado referio-se a um decreto do distrahil-o para a solução da nossa questão de
governo boliviano, que é de 27 de Janeiro do limites, que podia demorar-se um pouco mais.
corrente anno, e que habilitando para o com- Além disso, senhores, quando se não dessem
mercio exterior varios portos do interior da Boli- essas razões, o tempo para cuidar de tantos, tão
via, abre assim os nossos rios ao commercio variados e complicados assumptos foi pouco, ao
de todo o mundo. Esse procedimento do governo menos para mim que. . .
boliviano não é novo. Em 1833 prometteu elle
um premio de '20 mil pesos ao primeiro barco O Sr. Ferraz : — Mostrei sómente desejo de ser
de vapor que subisse pelo Amazonas até o ter informado.
ritorio da republica, e 10 mil pesos áquelle que O Sr. Paulino : —Achei- me logo a braços com
subisse pelo rio Paraguay até o interior da Bo todas as complicações da questão do trafico, que
livia. accumuladas tinhão feito explosão, com todas
Ora a concessão desses premios suppõe que as complicações das nossas questões do Rio da
a navegação de rios nossos, pelos quaes aquelles Prata em estado de crise. Apezar disso forão
barcos devião infallivelmente passar, estava franca. resolvidas as nossas questões de limites com
Em 1844 o mesmo governo boliviano approvou o estaflo Oriental e com a republica do Perú.
um contracto feito por um de seus consules Regulámos os nossos limites com Venezuela, es
na Europa com a companhia de colonisação da tando pendente o resper.tivo tratado da appro-
Guyanna Franceza, e no qual se estipulava a vação do congresso. Está pendente o arranjo dos
navegação do Amazenas e do Madeira por barcos nossos limites e das questões fluviaes com o
de vapor, concedendo a essa companhia grandes Paraguay, Nova Granada e Equador. Não era
porções de territorio sobro a nossa fronteira. possivel fazer tudo ao mesmo tempo. (Apoiados.)
O governo imperial considerou esses decretos Essas questões de limites são questões do se
como disposições escriptas em papel, e que não culos que nunca forão resolvidas, muito com
podião ser executadas sem o seu consentimento. plicadas, e que exigem um .estudo profundo.
Não se incommodou com ellas. O decreto de Confesssarei mesmo ao nobre deputado que quando
27 de Janeiro, ao qual se rcferio o nobre deputado, entrei para esta repartição não tinha um conheci
não está ainda approvado pelo congresso. Se o mento completo e perfeito delias. Posso porém
fór, e se se tratar do executal-o, o governo imperial asse,gural-o de que o governo não perde de vista
sustentará o seu direito, e não - permittira que esses assumptos importantes.
barcos estrangeiros transitem pelos rios interiores O nobre deputado referio-se a doutrinas emit-
do Brazil sem seu consentimento. tidas em iornaes e reuniões feitas nos Estados-
O nobre deputado fez-me recordar que em Unidos relativamente ao direito de navegar o
outros tempos, quando eu tinha a honra de per Amazonas. Esses principios e essas doutrinas
tencer a esta camara, eu tinha chamado a attenção não estão reduzidas a actos officiaes, e duvido
do governo sobre o estado militar da provincia que o sejão. Não têm apparecido exigências fun
de Matto-Grosso por occasião de havei o con dadas nellas, e emquauto isso se nao verificar
gresso boliviano decretado a fundação de uma entendo não dever oceupar-me delias aqui, e que
villa no lugar denominado Marco dei. Jaurú, que posso dispensar-me de dar sobre ellas o meu
está evidentemente no nosso territorio. O nobre parecer. (Apoiados.)
deputado igualmente, e por occasião do decreto Pelo que respeita á revogação bill de 1815 ,
ao qual acabo de refertr-ma, chama a attenção do referir-mo-hei ao que tive a honra de dizer no
governo sobre o estado daquella provincia. meu relatorio. O governo britannico não so tem
Devo observar- lhe primeiramente que os casos recusado a propór a revogação do bill, comtanto
não são os mesmos. A execução do decreto que porém que antes sejão estipuladas em uma con
fundou a villa de que fallei suppõe a invasão venção cjndições e garantias que preenchão
do nosso territorio a mão armada, e era preciso convenientemente as lacunas que deixou a ex
repellil-a com força armada. E' cousa mais dif- piração da convenção addicional de 1817 o Tegu
ficil -e grave repellir uma invasão de territorio mentos annexos. O governo imperial deu ao
a mão armada em um ponto para oíide conver nosso ministro om Londres as convonientos in-
gem forças de um paiz vizinho, do que embaraçar strucções para tratar deste delicado e importante
um ou outro barco mercante em uma longa extensão assumpto, que está pendente. O governo britan
de rios em cujas margens possuimos fortalezas nico reconhece a efficacia o a sinceridade dos
e povoações. O perigo não é o mesmo. Porém esforços empregados pelo governo imperial para
folgo, de poder assegurar ao nobre deputado que a repressão do trafico , mas, á vista do pas
o governo tem dado e continua a dar ao estado sado, parece receiar que venha a reapparecer, e
das fronteiras de Matto-Grosso a maior attenção, por isso não se quer privar do bill, sem que
e que o seu estado e o das fortificações que preceda uma convenção que lhe dê seguranças.
ahi temos ó melhor do que tem sido ha muito O Sr: Ferraz : — Como pedio á Hespanha e
tempo, o que é devido em grande parte á actividade
e zelo do digno presidente da provincia Portugtl.
O nobre deputado pedio-me infarmação sobre O Sr. Paulino :—Trata-se de discutir as esti
o estado das nossas questões relativas á de pulações que podem preencher esse fim, e o no
marcação dos limites com as Guyannas Franceza bre deputado pela Bahia ha de permittir que,
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 129
limitando-me ao que acabo de dizer, passe EMENDAS DA COMMISSÃO
adiante.
O Sr. Ferraz :—Apoiado. « Accrescente-se : — A assembléa geral legis-
tativa resolve :
O Sr. Paulino : — Concluindo direi que estou « Em vez de— artigo unico—diga-se—art. 1.»
muito longo do considerar as observações que « Art. 2.», additivo.—O governo fica além disso
me fez o nobro deputado pela Bahia como hos autorisado para facultar aos mencionados bancos
tilidade. a elevação de sua emissão até á importancia de
O Sr. Ferraz : —Apoiado. 0,000:0008000, dividida entre elles na razão de
seus fundos effecti vamente realisados sendo as
O Sr. Paulino:—Considero-as antes, como elle suas letras recebidas nas estações publicas e nos
disse, como uma prova de amisade com que me pagamentos entre os particulares no municipio
honra. do Rio de Janeiro.
O Sr. Ferraz : —Apoiado. n § l.» Esta emissão será caucionada por igual
O Sr. Paulino :—O ser ministerial na minha valor em metaes preciosos, apolices da divida
opinião, não importa a abstenção do direito de publica, sendo tomadas ao par as de (5 °/°, le
pedir informações e esclarecimentos, de fazer tras do thesouro e bilhetes da alfandega com o
observações para a melhor direcção dos negocios, desconto correspondente ao prazo do vencimento,
de esclarecer o paiz sobre elles provocando a ou por titulos de credito particulares com boas
discussão. Pela minha parte estou prompto a dar garantias computados por metado do seu valor.
aquelles esclarecimentos e informações que me Esta caução será depositada nas casas dos pro
forem pedidos, principalmente quando o forem prios bancos n recolhida em cofres, dos quaes
pela jnaneira urbana com que o fez o nobre será claviculario o fiscal ou commissario que p ira
deputado pela Bahia. (Apoiados. Muito bem I) cada b inco fór nomeado pelo ministro da fazenda.
O Sr. Lisuoa Serra pede urgencia para a lei « § 2.» Esta emissão não poderá ser applicada
tura de um parecer da commissão do fazenda senão ao desconto do letras da torra com duas
de que faz parte. firmas pelo menos, e cujos prazos não pxcedão a
90 dias, e ao das letras do thesouro e bilhetes
A urgencia ó approvada, depois do que, é da alfandega.
lido e julgado objecto de deliberação o seguinte « § 3.» Os bancos são obrigados a realisar suas
letras em moeda corrente, conservando sempre
PARECEU para esse fim em cofre um fundo disponivel,
nunca inferior a um terço da respectiva emissão.
« A commissão de fazenda, tendo examinado « § 4.» Entre os limites de • quatro mezes e um
attentamente o relatorio e proposta do Sr. mi anno o governo marcará um prazo, findo o qual
nistro da fazenda relativamente á medida to não serão mais recebidas nas estações publicas,
mada pelo governo do emprestar aos dous .ban nenn nas transacções particulares, salvo o caso
cos estabelecidos nestu corto , sob caução de de convenção entre as partes, as letras dos men
apolices da divida publica e em letras do the- cionados bancos.
souro de 500$ cada uma, ato a quantia de « § õ.» Os fiscaes, ou commissarios de que trata
4,000:000fi000, é de parecer que se adopte a o § 1° do art. 2° serão incumbidos de inspec
mencionada proposta, para o que a converte em cionar as operações dos bancos, o de suspender
projecto de lei. qualquer deliberação contraria ás disposições desta
« Como porém entendesse a commissão que lei, dando immediatamente couta ao governo,
semelhante medida seria por si só insufficiente que deliberará definitivamente.
para produzir o desejado effeito de alllviar a « Art. 3.» additivo. Ficão revogadas todas as
praça do .Rio de Janeiro dos embaraços com disposições em contrario.
que actualmente luta por deficiencia de meio « Paço da camara dos deputados, em 9 de Junho
circulante, por isso que além de ser o empres de 185Í.—João Duarte Lisboa Serra.—Francisco
timo limitado pelo valor das apolices deposita Antonio Ribeiro. »
das, o que por certo o reduzira a mui tenues
proporções nas actuaes circumstancias dos ban O Sr. Porolra il» Silva (pela ordem) : —
cos, não podem aquellas letras desempenhar com E' para pedir a V. Ex. que,, visto ser urgente
pletamente as funeções. de moeda, já por não a materia do parecer, o mando imprimir no Jor
serem na totalidade dos pagamentos recebidas nal do Commercio, e o dê para ordem do dia de
nas estações publicas, já por não terem curso amanhã.
forçado nas transacções particulares, e já final- O Sr. Figueira de Mollo (pela ordem):—
mento pelo alto valor de cada uma delias, re Me parece que não temos motivos para cami
solveu a mesma commissão, tendo ouvido o res nhar com tanta pressa. . .
pectivo Sr. ministro, e de accordo com elle, O Sr Presidente :—Não póde haver discus
fazer ã referida proposta alguns additamentos, são alguma sobro este ponto.
e submette á vossa consideração a dita
O Sr. Fioueira de Mello : —Bem 1 O qae eu
queria era não deixar passar sem alguma lem
PROPOSTA brança o pedido do nobre deputado.
« Artigo unico.—Fica approvada a deliberação O Sr. Presidente :—Mandarei imprimir o pa
tomada pelo governo de emprestar «aos dous recer no Jornal do Commercio , e quanto ao
bancos desta cõrte em bilhetes do thesouro, sob dál-o para ordem do di i de amanhã, procurarei
caução de apolices da divida publica, a quan satisfazer ao nobro deputado pelo Bio de Ja
tia que fòr indispensavel pera snpprir a defi neiro.
ciencia de dinheiros que a praça do Rio de Ja Continua a discussão do voto de graças.
neiro está soffrendo actualmente, comtanto que O Sr. Zacbarlns (ministro da marinha):—
a somma emprestada não se elevo a mais de O honrado deputado pela provincia de S. Paulo
4,000:000$000 ; podendo taes bilhetes serem re que tem combatido e mesmo apresentado emen
cebidos com o respectivo desconto nas estações das ao projecto de resposta á falia do throno
publicas da corte, na razão que fór fixada pelo disse no seu primfiiro discurso, faltando da ma
ministro da fazenda. rinha o seguinte í « Neste ministerio não ha
tomo 2. 17
130 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
occorrido facto algum notavel que provoque de ordem do ministerio da justiça, o qual não
uma opposição ; apenas algnm desembarque de podia ingerir-se em repartição alheia, nem por
africanos por falta de fogo, e um naufragio por ordem do mintsterio da marinha que retirou-se
falta de agua. » Confesso, Sr. presidente, que não o vapor que existia nas aguas da ilha Gran
vi uma censura neste modo de exprimir se o de em fins de Novembro do anno passado, mas
o nobre deputado. por falta de mantimentos e combustivel, e ne
O Sr. Nebias :—Declaro francamente que não cessidade de reparos.
O que eu disse, e repito, é que não houve
quiz fazer. ordem superior para se retirar o vapor, porém
O Sr. Zacharias :—Não vi nisso mais que um que no curso natural das cousas, a falta de com
simples jogo de palavras. bustivel e do alimentos, e mesmo a necessidade
Parece, comtudo, que molestado o nobre do- de concertos, havião occasionado a retirada desse
putado pela supposta analogia que um distincto vapor. Portanto, como podia o nobre deputado
orador pela provincia da Bahia julgou encon aceitar uma escusa que lhe não dei?
trar entre a minha responsabilidade a respeito O Sr. Nebias:—Não foi a mim que deu a es
do naufragio do Affonso e a responsabilidade cusa, porque não fui eu que trate) deste ponto.
do nobre deputado pelos acontecimentos de S. José
dos Pinhaes, quiz no seu segundo discurso sor O Sr. Zacharias: — Continua o nobre deputado:
mais explicito. Elie asseverou que não aceusava n Se eu quizesse aceusar o nobre ministro da
o ministro da marinha pelo naufragio do vapor marinha diria que os vapores Thetis, Golphinho
Alfonso, que não estiva resolvido mesmo a ac- o Recife conforme os jornaes do tempo, esta-
cusar esses officiaes sobre quem pesára a dura vão nesta córte até 7 do Dezembro, e que do
mão da fatalidade em Ião desgraçado aconteci então até o dia 12 havia tempo de sobra para
mento; mas acerescentou : «Se cu quizesso ac- mandar algum vapor a esse lugar.
cusar o nobro ministro, accusal-o-hia polo facto Grande descoberta, senhores, é a do nobre
de Bracuhy. » Foi por esta proposição do no deputado se com effeito entendeu que se podia
bre deputado e por mais algumas que se lhe pór em duvida que de 7 a 12 de Dezembro ha
seguirão que fui levado a pedir a palavra para via tempo do sobra para ir algum vapor do
offereccv algumas considerações á casa. porto do Rio do Janeiro á ilha Grande I Mas
O nobro deputado, ainda querendo, não podia dirá o nobre deputado :. « Porque não foií »
aceusar o ministro da marinha pelo facto de Ahi esta a malicia, ahi está a insinuação. Se
Bracuhy, e, digo mais, não podia aceusar a ein principio de Dezembro havia no porto do
nenhum membro do gabinete sem implicar-se em Rio de Janeiro tres vapores, e a 12 não estava
uma formal contradieção com suas proprias pa nenhum na ilha Grande, pesa sobre o governo
lavras o asserções do discurso anterior; porque (eis o que se infere das palavras do noDre de
a primeira vez que- fallou, apertado pelo digno putado) a responsabilidade de se não haver ob
chefe de policia da córte , que reclamava stado al li o desembarque de africanos. Senhores,
para os esforços do governo a parte de louvor convém que eu exponha summariamente á casa
que lhe competia na repressão do tranco, o os faatos concernentes a este assumpto.
nobre deputado disse: « Não aceuso o governo: Às denuncias de um proximo desembarque de
póde haver um ou outro erro, um ou outro africanos na ilha Grande chegarão ,ao conheci
desencontro do vapores, mas isto não aceusa o mento do governo em principios de Outubro : a
governo. » E se na questão de Bracuhy ,o que 11 fez partir para aquelle ponto o vapor Tlietis,
houve foi um desencontro de vapores, o nobre o qual se recolheu ao porto da córte pelas ra
deputado que no seu primeiro discurso asseverou zões que já expendi a 28 do mesmo mez, tra
não poder o governo ser aceusado por taes des zendo a informação de que corria por alli com al
encontros, estava razoavelmente inhibido do no seu gum vulto o boato de tentar-se um desembarque de
segundo discurso, articular aceusação alguma a africanos. Nesse mesmo dia o govorno fez par
qualquer membro do gabinete. tir o patacho Tlieresa para cruzar naquella pa
« Se eu quizesse tratar de semelhante ponto ragem até receber segunda ordem, o élle esteve
sem certa reserva (continua ainda o nobre de até 15 de Novembro, dia em que partio para
putado) não aceitaria a escusa do nobre ministro Santa Catharina em consequencia de requisição
de que foi por falta de combustivel que no dia do presidente dessa provincia por suspeitas que
12 de Dezembro não havia um vapor nas aguas tinha de plano de desembarque de africanos em
da ilha Grande. «.Certamente o nobre deputado territorio delia. Entretanto havia partido, no
não podia aceitar, porque ninguem lh'a deu, dia 30 de Outubro, para a ilha Grande o vapor
essa escusa ; appello para a memoria da camara Thetis; o no dia 4 de Novembro o vapor Gol
e para o meu discurso que se acha impresso: phinho. Todo o mez de Novembro estiverão es
vou oxpór o que so passou. ses vapores naquelle lugar até que o Thetis, a
A camara ha de recordar-se que por occasião quem primeiro ião a faltar combustivel e man
do requerimento apresentado - no senado pelo timentos, recolhou-se ao Rio de Janeiro no dia
Sr. Fernandes Chaves, relativamente ao des 2õ de Novembro, e logo depois o Gotphinho em
embarque de africanos no Bracuhy, e as provi o dia 23 do mesmo mez. Qru, que noticias trou-
dencias que o governo teve então do dar, e das xerão esses vaporas ? *
interpellações do nobre deputado nesta camara, Por um lado, senhores, as autoridades locaes
appareceu a insinuação de que o vapor exis informavão que sendo a principio de algum vulto
tente na ilha Grande linha recebido ordem do os boatos de um pretendido desembarque de afri
ministerio da justiça para retirar-so daquelle canos, so havião ultimamente desvanecido. Por
ponto. O meu nobre collega, ministro dessa re outro lado, officiaes do numero desses a quem o
partição, asseverou que tal ordem não dóra, e nobre deputado tributa estima, ainda quando op-
quando me coubo a vez de fallar confirmei a pressos sob a dura mão da fatalidade, esses officiaes
sua asserção, accr.iscentando — que eu tambem t io acreditado? no serviço, sendo um delles até
tal ordem não expedira : que os vapores sa- conhecido j.or importantes diligencias praticadas
hião coai a commissão do cruzar por um certo em annos anteriores na repressão do trafico, di-
periodo, o nessa commissão se conservavão até zião ao . govorno que em resultado do todas as
que a proxima falta de mantimentos e com suas pesquizas, em terra o no mar, estavão per
bustiveis, ou a necessidade de reparos os con- suadidos de serem infundadas as suspeitas do
strangião a recolhjr-se a córte ; que assim sem- desembarque de africanos na ilha Grande.
pro se fez o cruzeiro ; e foi , o que aconteceu Demais, senhores, a fonte onde já o gabinete
nessa occasião ; que não foi pois em virtude transacto bebêra seguras informações para ferir
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 131
no coração o trafico de africanos, essa fonte abun no arsenal, ficando prompto ã 33 de Dezembro ;
dava tambem no sentido de desvanecer essas sus e tendo recebido carvão e mantimentos, sahio para
peitas. No emtanto estavamos em conferencia em . o Cruzeiro no dia do mesmo mez.
um dos primeiros dias de Dezembro, e um de « O Thetis entrou a .14 de Novembro, partici
meus collegas declarou que fóra informado por pando o respectivo commandante achar-se partido
certo negociante da praça de que no Sahy hou o tubo que esgota a agua das caldeiras ; esta
vera um desembarque africanos. obra, e outros concertos de urgente necessidade
Immediatámente um desses tres vapores que nov mesmo navio, forão feitas pelo arsenal , e
aqui estaváo recebeu ordem de partir, como de ficando por elle prompto e tendo recebido carvão
facto partio a 4 de Dezembro para o Sahy, e sahio para o cruzeiro em 17 de Dezembro. »
regressando trouxe-nos o seu commandante a Temos , pois, que é summamente compativel
certeza de que era inexacta essa noticia. T.ies com o facto de estarem nas aguas do Rio de Ja
erão as informações que o governo tinha em prin neiro 3 vapores, desde 7 até 12 de Dezembro, dia
cipio de Dezembro, relativamente ao desembarque do desembarque de Bracuhy, a boa fé e zelo do
do africanos pelo lado do sul, e parece que seria governo na repressão do traftco. Perguntarei agora /
desculpado se á vista delias descansasse um pouco. ao nobre deputado se não liga demasiada im
Descansasse, disse eu, mas não disse bem, por portancia á existencia de um vapor nas aguas da
que o governo não*tinha tempo para isso. Re- ilha Grande, para evitar o desembarque de africa
cebião-se denuncias acerca de diversos pontos, nos do brigue Camargo. Entende o nobre depu
requisições dos presidentes de differentes provin tado que se houvesse alli um vapor, o desembar
cias, e cumpria providenciar. que teria sido necessariamente vedado ? Pela
Se o governo tivesse de collocar vasos de guerra minha parte, tenho razões para duvidar.
em todos os pontos a respeito dos quaes havia Primeiramente é sabido que o desembarque se
denuncias de desembarque de africanos, por certo fez a noite, e noite de cerração ; e portanto podia
em nossas forças navaes não acharia recursos haver nas aguas da ilha Grande um vapor, e
sufflcientes. Mas instará o nobre deputado : « So deixar este de avistar o Camargo e perseguil-o.
tres vapores estiverão fundeidos na bahia do Rio Depois é para notar-se a circumstancia de que
de Janeiro desde 7 até 12 de Novembro , porque o navio Camargo tinha relações com a terra,
não foi algum para a ilha Grande ? » Em resposta sendo certo que abastados fazendeiros , cujos
ao nobre deputado vou ler um documento official interesses forão já aqui allegados no debate das
que mostra o estado em que se achavão então interpellações, estavão no segredo dessa especu
esses vapores, e o tempo que foi necessario para lação, e a favorecião.
csncertal-os : é um documento de cuja exactidão Nestas circjhnstancias, pergunto eu, se um navio
o nobre deputado póde completamente inteirar-so que, para desovar promptamente, tinha tomado com
recorrendo à repartição que dirijo. anticipação as necessarias providencias; se um
« O vapor Golphinho entrou do cruzeiro em 28 navio que contava com todos os auxilios de terra
de Novembro do anno findo, precisando, além de Eara fazer internar pelo paiz os africanos, e nen-
mantimentos e combustivel, das obras seguintes : um interesse tinha em conservar-se, tanto que
concertar o bolinete o os topos dos portalós, çinco foi incendiado; se um navio, digo, que era favo
turcos para os escaleres, pór ferragem nas bom recido por uma noite de grande cerração, seria
bas, uma chapa de ferro no convéz, e concertar inevitavelmente apprehendido pelo cruzeiro quo
as valvulas e um canudo da machina. Estas obras alli se achasse ? No dia 20 de Agosto de 1711,
se fizerão no arsenal, com interrupção de alguns dia de grande cerração, entrou, sem ser sentido,
dias por ter este vapor sabido em commissão no pela barra desta cidade, o general Dugó com
dia 4 de Dezembro. Ficando prompto pelo arsenal varias nãos -francezas, e a fez bombardear.
em 22, e recebeudo mantimentos e carvão sahio Ora, não se póde aAirmar que a cerração da
a 24 do mesmo mez. » noite de 12 de Dezembro do anno passado fosse
Fiz interromper t) concerto desse vapor para ir menos espessa que a do dia 20 de Agosto de
no dia, e direi á camara que o motivo foi porque 1711, nem o desejo de vingança que naquella
vim no conhecimento de que esse boato que cor occasião animava os francezes fazia-os mais de-
reu na praça de um desembarque no Sahy não ligentes em sorprender as nossas fortalezas, do
era estranho ao commandante desse vapor, pois que a avidez do lucro faria o navio negreiro
tendo-o mandado chamar para informar-me do evitar ser visto de um vapor de guerra.
que soubesse a tal respeito, assegurou-me que em Continua o nobre deputado polo seguinte modo:
verdade tinha ouvido esse boato quando estivera « Eu podoria dizer mais alguma cousa que sei
cruzando, mas que , por lhe parecer infundado, sobre esto negocio; mas enterrao que este obje
attenta a qualidade das pessoas que lh'o commu- cto é muito melindroso.»
nicafao, deixãra de fazer delle menção na sua Ora, senhores, não posso conciliar o caracter
parte. de franqueza tão apregoado do nobre deputado
Levei-lhe a mal esse procedimento, visto como com o uso de uma tal reticenciai Se o notjre
era do seu dever communicar a secretaria de es deputado sabe dê alguma cousa, se está bem
tado tudo o que lhe constasse relativamente ao informado a respeito de motivos desairosos
trafico no tempo em que estivesse cruzando, salvo que derão lugar a não sahirem esses vapores,
sempre ao governo o direita de apreciar como con se po.de por um modo diverso do que acauo de
viesse os factos, e lhe disse que, pois que commet- fazer explicar o facto de não haver em Bracuhy
têra essa falta, cumpria-lhe, arrostando qualquer algum vapor, porque não Talla com franqueza?
perigo, e não obstante os reparos de que neces Tenha a coragem da sua posição.
sitava o seu navio, ir ao lugar indioado colher Quando o nobre deputado dizia que sabia de
o mais promptamente possivel esclarecimentos mais alguma cousa, excitei-o com um aparte
relativos á noticia que corria. a que declarasse tudo ; mas o honrado orador
Proseguirei na leitura do documento. « O vapor respondeu : « não ó a respeito do nobre ministro
Recife entrou a 25 de Novembro do anno pas da marinha. » Com quem é, pois, que se entende
sado precisando, afóra carvão e mantimentos, de a reticencia do nobre deputado? Explique-se para.
4 descansos de grelhas nas fornalhas, duas gol- ter a resposta que convém. Sabe o nobre de
las de sola para o eixo das rodas, uma porta nova putado que com esse desembarque de africanos
em um dos camarotes das caixas das rodas, con em Bracuhy o governo teve de tomar medidas e
certar os mordentes do molinete, pór duas chapar providencias a que se oppunhão grandes obsta
de ferro no convéz, fechar as cavilhas do garu- culos, e cuja realisação devia descontentar a não
pés, calafetar a próa, concertar a escada do bo- poucos individnes, e a prova desses obstaculos
tafóra, e pintar o navio. Estas obras se Azerão e descontentamento de homons de certa ordem,
132 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
está mesmo nessas interpellações que aqui appa- sempre bem, ó para mim cousa estranha vél-o
recêrão, o em que se fallou dos abastados fa prosentemento não comprehender o verdadeiro
zendeiros do Bananal, e tambem no modo por sentido das palavras que lhe dirigem, nem cal
que alguns membros denta casa, alias distinctos cular convenientemente o alcance de suas asser
jurisconsultos, têm querido taxar de illegaes as ções de sorte que, ao passo que aceusa declara
buscas dadas em algumas fazendas sem certeza que não aceusa. Nisto me pareco que os discursos
ou quasi certeza de se acharem africanos livres. do nobro deputado se rosentem da falsa posição
A legislação do paiz autorisa expressamente em que se collocou. (Apoiados.)
as buscas quando lia indicios (apoiados), quando Creio, senhores, que basta de Bracuhy, e bas
ha suspeitas, e no emtanto aventura-se a idéa de taria mesmo de abusar de vossa paciencia sa
que, trátando-se de descobrir os africanos des não me parecesso conveniente apreciar, não todas
embarcados em Bracuhy, só havendo certeza ou as proposições enunciadas pela opposição neste
quasi certeza do serem achados, cumpria dar debate, muitas das quaes forão já completa e
buscas nas fazendas suspeitas. Isto mostra que victoriosamento combatidas (apoiados), mas algu
us interesses offendidos com as providencias que mas sómente que fizerão sobre o meu espirito
se tomarão são de algum alcance, que ha resen- maior impressão.
timentos da parte desses individnes contra o g- Um nobre deputado pela provincia de Pernambuco,
overno, aos quaes vêm naturalmente ajuntar-so depois do fazer declaração dts motivos nobres,
as queixas daquelles mesmos que mal cumprirão e de immen-o alcance, que o empuchárão ao
seus deveres em semelhante conjunctura, todos campo da opposição, dirigindo-se sempre aos
interessados em desfiguramos factos. ministros, perguntou : « Porque nos chainão exi
Diga o nobre deputado n quem sc refere, e- gentes, para que nos attribuem tendencias pro
seja franco em aceusar, porque a responsabili nunciadas de separação das provincias do norte?»
dade pelos actos que pratica é o timbre de um Nenhuma palavra direi ácerca das exigencias,
governo constitucional. Não agradou-me a de porque a esse ponto cabalmente respondeu o
claracão feita pelo nobre deputado de que não se nobre presidente do conselho. Quanto a tenden
entendia commigo a sua insinuação. . . cias do separação, o nobro deputado a quem mo
O Sr. Nebias:]— Eu não quiz agradar ao no refiro parece confundir insinuações de seus adver
bre ministro» sarios em Pernambuco, artigos violentos dos
jornaes de sua provincia, com o juizo e opinião
O Sr. Zacharias: —... e apezar dos termos hon do governo. Quem disse ao nobre deputado ter
rosos com que a meu respeito se exprimio, per ouvido jámais ao gabinete, ou a algum dos seus
mitia que positivamente o interrogue.: aceusa ou membros, que o governo julga o partido do
não aceusa o governo pelo desembarque de afri honrado deputado capaz de nutrir idéas de se
canos no Bracuhy ? A opposição devo ser franca. paração ?
Ou as palavras do nobre deputado não têm Para que tal cousa sentisse ou dissesse o go
significação alguma, ou, so são proprias de um verno fòra mister de duas uma : ou que o go
parlamentar da ordem do nobre deputado em verno não tivesse as luzes precisas para conhe
.opposição ao governo, contém ellas uma insinua cer a situação actual das cousas, e nem avaliar
ção contra a boa fé do governo, e sua sinceri o espirito nacional, ou que fosse tão maligno e
dade em obstar o desembarque de africanos em injusto que negasse ao partido do nobre deputado
qualquer ponto da costa. toda illustração e patriotismo para acolher e
Um Sr. Deputado : — Nesse ponto o governo affagar semelhante absurdo. (Apoiados.)
não soflre aceusação. Pernambuco, senhores, é uma das mais bri
O Sr. Zachahias : — Ora, eu pediria ao nobre lhantes estrellas da coróa imperial ; é uma pro
deputado a quem respondo que combino essa vincia que exerce ao norte uma grande influen
insinuação com as aceusações que faz ao governo cia ; mas Pernambuco não é o norte (apoiados),
pelo seu procedimento excessivamente rigoroso nem os interesses de Pernrmbuco resumem os
na opinião do nobre deputado, contra os abas interesses de todo o norte do imperio (muitos
tados fizendeiros que soffrêrão as buscas. Não apoiados) ; não resumem em si, repito os inte
ha palpavel contradicção em suppòr que houve resses da Parahyba, Rio Grande do Norto, Ceará,
propnsito de desguarnecer um ponto da costa e tantas outras provincias. (Muitos apoiados.)
para facilitar a especulação e perseguir em terra Essas provincias comprehendem perfeitamente
com excesso, com injustiças mesmo, essa espe que, unidas ao centro, formão um todo que vai
culação ? já fazendo no mundo uma bella figura, e que
Em resultado de tudo o que se ha dito ácerca divididas em pequenas fracções jámuis terão im
do desembarque de africanos no Bracuhy a con portancia alguma. (Muitos apodados.)
clusão unica que se póde tirar é que a vigilan E, senhores, se Pernambuco não é o norte,
cia do governo foi uma vez illudida pela astucia tambem um partido em Pernambuco não é Per
dos traficantes. Grande celeuma por um facto nambuco. Assim, pois, so um partido alli tivesse
que tantas vezes acontece em todos os paizos. . a absurda e impolitica aspiração de separar as
Qual é o governo, por mais vigilante que seja, provincias do norte, esso partido, no momento
que não é mil vezes victima da ma fé dos con em que so julgasse no apogêo do sua influencia,
trabandistas ? achar-se-hia so e abandonado de centenares de
cidadãos e de familias, que têm a mira na paz
Um Sr. Deputado :— Póde ser illudido muitas e tranquilliaade publica (apoiados), como con
vezes. dições de sua fortuna e prosperidade.
O Sr. Zacharias:— E qual é o contrabandista O_ governo qu». receiasse essas tendencias de
que seja mais ousado e astuto do que o que se que fallou o nobre deputado, em um partido de
emprega no trafico de africanos? Pernambuco, avaliaria mal o espirito publico, o
O Sr. Neb ias :— Veja o nobre ministro que faria a esse partido uma injustiça clamorosa.
não dei importancia a isso. Que o contrario diga algum artigo de jornal,
comprehende-se bem ; mas que o pense, que
O Sr. Zacharias :— Tanto o nobre deputado o diga o governo é impossivel. Um foliculario
deu-lha importancia, tanto não foi um simples derrama impunemente sobre o papel todo o fel
jogo do palavras, que affirmou saber de muitas - de suas paixões : o governa tem uma missão
cousas que não dizia por, ser o objecto bastan- muito elevada, tem uma grande responsabilidade
temente melindroso. Em verdade desconheço agora para aventurar juizos tão temerarios. (Muitos
o nobre deputado : habituado a ouvil-o discorrer apoiados.)
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 133
Disse ainda esse nobre deputado a quem me gabinete, mas procura definir e caracterisar o
refiro: « Faço uma interpellação de boa fé aos mal da actualidade, e propõe o remedio que julga
nobres ministros para que declarem e manifes asado a removêl-ó. .
tem qual é sua politica a respeito de Pernambuco. » O nobre deputado, governista outr'ora em pon
E accrescentou : « Ou essa politica é boa, ou ma. tos e virgulas, diz que o era, porque via no
Se ó boa (politica boa é, na opinião do nobre paiz amontoados fortes elementos de desordem, e
deputado, a que tende a conciliar os partidos), o govorn i acabando de triumphar de uma re-
para que reserva, para que taciturnidade? Se é bellião que ameaçava envolver todo o imperio,
má (e assim chama o honrado deputado a politica porque observava ' a nação ameaçada de uma
que se propuzer dividir os Pernambucanos), fóra guerra estrangeira pelo dictador de Buenos-Ay-
imprudencia imaginal-a. » res, e notava os insultos que o paiz soffria dos
Senhores, as tendencias do governo em relação cruzeiros britannicos. E como hoje as circum-
a Pernambuco são bem manifestas (apoiados) : stancias são outras, diz o nobre deputado que
ellas pertencem já ao dominio do publico. ((Apoia muda de proceder e linha de conducta.
dos. ) Essas tendencias, no sentido de conciliar O Sr. Fioueira de Mello : — Analysando os
os animos, revelão-se claramente na primptidão actos de administração ; este é o meu pensamento.
com que forão perdoados, com que se mandou O Sr. ZACHAniAS : — Não entrarei na aprecia
pór em eterno esquecimento os- crimes politicos ção dos motivos que determinão realmente a
commettidos naquella proyiricia (numerosos apoia marcha do nobre deputado no começo da pre-
dos), na lealdade com .que essa ordem tem sido sente legislatura. A questão de motivos é quasi
observada ; rovelão-se ainda, de um modo incon- sempre de pouca importancia para o merito da
trastavel, nas qualidades dos cidadãos escolhidos causa, e tanto mais cumpro abandonar essa in
Eelo governo para a presidencia de Pernam- vestigação de motivos quanto para tornal-a
uco [muitos apoiados), cidadãos distinctamente odiosa o nobre deputado soccorreu-se á autori
conhecidos por seu afeiro aos principios de dade de Luthero, dizendo que embora os homens
rectidão e justiça que constantemente professão. de pouca reflexão só enxergassem nos primeiros
Uma Voz : — E esses presidentes sempre dos passos desse heresiarca resentimento o despeito
amigos da ordem naquella provincia. (Reclama por não ter parte no proveito que outros tiravão
ções . ) da venda das indulgencias, suas doutrinas acha
O Sr. Ribeino (para o Sr. Figueira de Mello) : rão acolhimento, creárão raizes, e ganhárão cor
— O senhor é quem desconfiava de todos os pre po, sendo adoptadas em grande parte da Europa,
sidentes. porque revelavão e combatião grandes abusos
da Santa Sé. E' pois fóra do proposito exami
O Sr. Auousto de Oliveira : — Cumpre exami nar se o nobre deputado, abandonando a posição
nar bem os seus actos. ue outr'ora oceupára, assim procedo por causa
O Sr. Ribeino : — Se forem examinados por a as indulgencias, ou dos grandes abusos do
você principalmente. poder.
(Cruzão-se muitos apartes. Agitação.) Farei apenas duas observações ao honrado depu
tado. Faltava eu aqui acerca da conveniencia de
b Sr. Zacharias : — Agora seja tambem licito submetter a novo exame das commissões da casa
fazer de boa fé uma interpellação aos nobres cert) projecto, e o nobre deputado interrompeu-
deputados de Pernambuco que so mostrão des me com um aparte : « O direito muda com o
contentes do governo : estais sinceros e decidi tempo ? » Fiquei eu pensando que o nobre de
damente resolvidos a abraçar a conciliação dos putado pertence ao numero daquelles que aerc-
partidos na vossa provincia? Quereis adoptar ditão na immutabilidade do direito. Mas onde
uma conciliação que dê em resultado collocar está a immutabilidade do justo e do injusto, desde
na ordem das influencias as capacidades do par que o honrado membro, só em attenção ás cir
tido adverso, não só o Sr. Mendes da Cunha, cumstancias apoiou nhusos e violações do lei,
cujos talentos inculcais (e eu sou o primeiro a que hoje não tolera ? _
reconhecer), o Sr. Urbano. (Apoiados repetidos; Outra observação que tepho a fazer refere-se
reclamações; cruzão-se muitos apartes.) Se tal sómente a certas datas, e nada mais. O nobre
é o vosso pensamento, se tendes em vista uma deputado assevera que muda agora de opinião
conciliação tão completa, mais doloroso ainda relativamente ao gabinete, porque mudárão-se as
é para o governo uma separação no momento de circumstancias ; mas quando mudarão essas cir
effectuar-se obra tão meritoria I cumstancias ?
A conciliação em Pernambuco, onde os par Ha mais do anno que Rosas disfructa os ares
tidos são tão estremados, direi mesmo encarni da Europa ; ha mais de 4 annos que suffocou-se
çados I a rebellião de Pernambuco, e muito tempo tem
Um Sr. Deputado r— Como em outras provin decorrido depois que se não falia em propaganda
cias. os cruzeiros britannicos deixárão ha muito tompo
de praticar violencias nos mares territoriaes do
O Sr. Zacharias : — Pois seja como em outras imperio. E todavia, depois de estarmos no gozo
provincias. . do tão felizes circumstancias, muitas vezes ouvi
A conciliação, repito, em Pernambuco, provin e vi o nobre deputado apoiar o governo com
cia tão importante, provincia de primeira ordem, sua voz eloquente, e ajudal-o com seu voto con
seria um bello exemplo para todas as provincias sciencioso.
onde o mal das discordias e desavenças de O nobre deputado tem o seu nome na lista dos
partidos mais se fiz sentir. Mas então como honrados representantes que no fim do anno pas
entre os representantes do Pernambuco não se sado derão ao governo um voto de confiança. Ora,
encontra presentemente um nome sequer do par se então as circumstancias já erão outras, ee
tido adverso ? Porque ahi n io succedeu o que o paiz não temia rebelliões, nem guerra estran
teve lugar na provincia do Rio Grande do Sul ? geira, nem insultos de navios de uma nação po
Passarei agora ao discurso de outro nobre derosa, como sómente agora o nobre deputado
representante pela provincia de Pernambuco, que muda de proceder.
no meu parecer é o mais notavel que se ha
proferido do lado da opposição. Esse honrado O Sr. Fioueira de Mello : — D'ahi se segue que
membro conhecendo que era d.i seu dovor expli o nobre ministro fazia opposição ao ministerio
car a nova posição que acaba do tomar, não quando votava contra a lei chamada — Corta ca
só declara as causas que o fazem combater o beças.
134 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Zacharias : — Perdóo-me ; não votei por a influencia da camara acima de tudo, negando
que não estive presente, achava-mo então doente ; ao governo a dianteira na direcção dos negocios
mas votaria contra se me achnsso na casa. Fui publicos, o seu remedio é cem vezes peior do
sempre firme seguidor da politica do governo, que o nial que deplora, o equilibrio dos pode
e não só lhe dava o meu voto em materias de res seria profundamente alterado em sentido mais
confiança, como auxiliava-o algumas vezes .com desvantajoso, isto é, a camara absorveria todos
minha palavra ; mas quando se tratava de dis os poderes.
posições permanentes, de cuja conveniencia não Felizmente o mal que o honrado membro em
me achava convencido, não só votava contra, como seu discurso aponta é imaginario, não ha tal
usava da palavra para combatêl-as. desequilibrio. O poder judiciario funccioni desim-
O Sa. Fioueira de Mello : — A'cerca dessa lei peçadamente, sem temer indebita influencia do
o governo fez questão de gabinete. governo.
O Sr. Zacharias : — No fim da discussão o go O Sr. Fioueira de Mello:— A consciência pu
verno declarou-se nesse sentido. Já disse que por blica responde ao nobre ministro.
doente não assisti aos ultimos debates, nem pude O Sr. Zacharias: — E as camaras estão no
fallar, mas o meu voto seria contrario ainda pleno exercicio de suas prerogativas, que não
que não fallasse. perdem de certo quando apoião decididamente
O mal da actualidade, nosentir do honrado mem gabinetes que representão suas idéas e fazem o
bro a quem refiro-me, é o desequilibrio dos po em do paiz.
deres do estado, produzido por quatro annos Je Tenho concluido. (Muito bem, muito bem.)
deferencia, desequilibrio que consiste em absorver O Se. Presidente :—Tem a palavra o Sr. Sayão
- o governo o poder judiciario e o poder legislativo, Lobato. (Movimento de curiosidade.)
cujas attribuições perturba e usurpa. Um tal es
tado de eoasas, se existisse, seria sem duvida O Sr. Sayão Lobato : — Sr. presidente, '
a prova mais incontroversa de que a constitui tenho necessidade do replicar, não só com o fim
ção do imperio deixara de ser lei no paiz. de sustentar as proposições que einitti no pri
Nenhuma prova apresentou, nem podia o nobre meiro discurso que tive a honra de proferir nesta
- deputado apresentar em abono de sua asserção ; casa, como especialmente para dar uma resposta
limitou-se a accusações geraes, como outros que a outras proposições que me forão dirigidas pelo
fazem consistir a absorpção de poder legislativo nobre ministro do imperio e por alguns illustres
pelo executivo em automações que este tem tido deputados.
ara realisar certos trabalhos, que aliás no seio Tomando parte pela primeira vez nesta dis
as camaras jámais podem ser regularmente or- cussão, Sr. presidente, tive a occasião de assigna-
ganisados. Jar a minha approvação ã proba o zelosa admi
Concedendo, porém, a existencia do mal, dan- nistração do Sr. ministro da fazenda, presidente
do-se como real o supposto desequilibrio, o re do conselho. Pelo modo por que enunciei meu
medio que o nobre deputado propõe é incompa pensamento, Sr. presidente, seguramente não tive
ravelmente peior, e teria de produzir effeitos mais em vista fazer sentir que S. Ex. ê uma indivi
desastrosos do que aquelles que o nobre deputado dualidade no gabinete como homem probo e pe
deplora na actualidade. loso; não fiz mais do que referir uma circum-
Qual é, senhores, o expediente que o nobre stancia de todos reconhecida, por todos apregoada, ,
deputado offerece para regenerar o paiz? Qual ainda mesmo pelos mais decididos inimigos do
éo fim, o plano da nascente opposição ? Eis-aqui nobre ministro. Entretanto isso foi bastante para
as proprias expressões do honrado membro : « Os que o Sr. ministro do imperio entendesse que
amigos do governo constitucional devem procu lhe dirigia uma insinuação, derivando-a da' hon
rar oppór ao poder executivo " algumas barreiras, rosa menção que fizera do seu collega.
não somente para o dirigir, porém para o conter Sr. presidente, quando considerei os factos
na sua marcha. » praticados por S. Ex. na questão da execução
Uma opposição que tenha por fim levantar da lei de 26 de Junho, eu, abstrahindo inteira
barreira ao poder executivo, não só para contêl-o, mente a pessoa de S. Ex. limitei-me a rovelar
mas para dirigil-o, é uma novidade», e seria as minhas convicções com a franqueza propria
origem sómente de perturbação e desordem se de meu caracter, usando de termos portuguezes
pudesse levar a effeito o seu intento. proprios para significarem as idéas que natu
Senhores, no regimen constitucional a opposi ralmente eu" era levado a enunciar pela força
ção procura embaraçar que os planos do governo de meu raciocinio. Se moralisando os actos do
sejão bem succedidos, e tem o dever de mani S. Ex., se fazendo o meu juizo, S. Ex. en
festar ao paiz qual o melhor e mais conveniente tende que "o modo porque os julguei faz pouca
modo de administral-o ; mas a opposição. por honra a sua pessoa, a culpa não é minha,
isso mesmo que é minoria, não póde dirigir o Sr. presidente.
governo, e ainda mesmo por meio de barreiras, O que protesto e o que a camara deve re
que só podem ter o prestimo de embaraçar e de conhecer, e o paiz tambem , porque- o que eu
conter. . . disse está escripto no Jornal ; o que protesto
O Sr. Fioueira de Mello:— E' um trocadilho é que discuti com franqueza segundo minhas
de palavras. convicções, fiz reflexões sobre factos importan
tissimos, mas não dirigi á pessoa de S. Ex.
O Sr. Zachahias: — A opposição que tal aspi a menor insinuação desairosa.
ração tivesse quereria uma prerogativa que as Entretanto S. Ex. tomando á má parte o que
maiorias mesmas não podem ter. As maiorias eu disse, proclamando a solidariedade em que
com effeito não dirigem o poder executivo, são se acha com seus collegas, que o apoião in
dirigidas por elle. Um ministerio parlamentar- teiramente e que com elle estão refundidos
menlc organisado sahe do seio das maiorias, e nesta questão , S. Ex , depois de fazer essa
parte á sua frente; busca realisar as idéas e os manifestação, passou a tratar de si, e serviu-
planos que julga mais adequados ao bem da se de uma allegoria.
nação. [Apoiados.) Não póde haver desar da parte S. Ex. figurou-se um arbusto que nasceu á
das maiorias em prestar apoio franco e decidido beira do caminho , que por muito tempo se
a um governo nas circumstancias expostas, por vio embaraçado em sua vegetação e em seu
que assim apoia e sustenta suas proprias idéas. desenvolvimento pela sombra de outras arvo
Entretanto se a opposição parlamentar do nobre res frondosas ; mas que depois vio o sol ape-
deputado propõe-se realisar outras idéas pondo zar dessas arvores frondosas que o sombrea
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 135
vão , apezar dos rebentões que dos troncos O Sr. Ministno da Fazenda :—Nem podia re-
dessas arvores nascêrão, e apezar dos para ferir-se ao nobre deputado, que é superior a
sitas que a ellns se apegavão. qualquer suspeita.
S. Ex. enunciando-se por tal modo, Sr. presi O Sr. Sayão Lobato : — Não ó possivel que se
dente, fez uma allusão muito clara do que se me possa taxar de parasita, porque minha vida
dirigia a mim como um desses parasitas. (Não inteira, como particular, como magistrado e como
apoiados.) representante do paiz, é a mais clara e conti
O Sr. Ministno da Justiça :—Declarou que não. nuada prova do contrario. (Muitos apoiados)
O Sr. Sayão Lobato : — Fez-me uma allusão O Sr. Nebias:— E' muito honrado e distincto.
tão clara que até alterou o seu discurso, e O Sr. Sayão Lobato : — Se outro tivesse sido o
alterou por modo notavel. Eu não me achava meu procedimento, se durante uma longa serie
na casa, mas estou a esse respeito perfeita de annos eu tivesse passado uma vida de luxo
mente informado. Meu caro irmão, que então escandaloso, gastando tres e quatro vezes mais
aqui se achava presente, um unico aparte déra do que o rendimento que licitamente podia ter,
a S. Ex. , provocando-o a que dissesse com e no fim dessa serie de annos, bastantes para
franqueza quem era esse parasita, e S. Ex. exhaurir os recursos de credito e aniquilar uma
lhe respondeu : « Fallo em geral » ; meu irmão fortuna importante, eu ainda me apresentasse
não lhe repetio aparte algum, e entretanto no ostentando uma fortuna consideravel e inexplica
discurso vem um segundo aparte, talvez de pro vel, então, senhores, não só estaria debaixo da
posito aceresei ntado para S. Ex. addicionar o que suspeita de parasita, como até poderia soffrer a
se me informa, accrescentou sem que houvesse dito austéra reflexão de um homem da tempera do
nesta casa ; e assim está escripto que S.Ex. dissera. Sr. Victor de Oliveira, que de mim dissesse : « O
« Fallo em geral : respondo nao só ao nobre « Sayão Lobato tem precisão de provar que deve
orador, como a outros. » E a isto aceresce que s 200:000$, sem o que a sua probidade não ó
S. Ex. não fez mysterio nem reserva de sua « escudada das mais fundadas suspeitas. » (Recla-
intenção, porque sendo interpellado em uma reu a mações).
nião de senadores declarou que se dirigira á
minha pessoa. Eu pois, pela minha honra, que Yozes : — Isto é uma insinuação.-
tanto prezo, sou obrigado a dar toda a impor O Sr. Sayão Lobato :— Não ó uma insinuação ;
tancia e a procurar tirar a limpo este negocio, defendo a minha honra com o esforço, com a ener
para que o publico não se illuda a meu res gia propria de um homem que sabe prezar a
peito, fique eu infamado, ou de mim se desvie sua honra ; porque a minha honra é um thesouro
um tal bote. Êrecioso que herdei de meu pai, que foi um
Se em outras circumstancias me sobraria pru ornem venerado no paiz pela tempera de caracter
dencia e siso para desprezar semelhante insulto, e probidade proverbial. (Muitos apoiados.)
como indigno de qualquer proferir e como in Alouns Srs. Deputados da Bahia : — Mas não
capaz de chegar até a mim, porque tenho con offenda a honra do ministro do imperio. (Apoia
sciencia dc que em sentido nenhum me póde ca
ber a pécha de parasita (muitos apoiados), nes dos. —Agitação.)
tas circumstancias tenho direito de foliar alto e O Sr. Sayão Lobato : — Não offendo , da-
pedir uma explicação franca, porque o offendido fendo-me.
não é esta simples individualidade, é um depu O Sr. Fiusa : — Fez uma allusão ao Sr. mi
tado pela provincia do Rio de Janeiro que com nistro.
toda franqueia tem sustentado a politica que
segue o actual governo; e um deputado que, O Sr. Sayão Lobato : — Allusão faz o senhor
apezar de seu nenhum merito litterario (muitos com esse aparte.
não apoiados), sómento pela força de sua vontade O Sr. Francisco Octaviano : — De certo que
e pela herdade de suas convicções, teve occa- os apartes muitas vezes provocão mais.
sião de prestar serviços a esta politica, sendo
nas materias as mais importantes as suas vozes O Sr- Sayão Lobato : —- Entrando na materia,
ouvidas com attenção nesta casa e no paiz. alguma cousa devo dizer, apezar do estado em
(Muitos apòiados.) que me acho pela minha enfermidade e pelo
O Sr. Ministno da Justiça : — Não se dirigio, sobresalto que devo sentir tratando de um in
nem se podia dirigir ab nobre deputado. cidente para mim tão desagradavel.
O Sr. Octaviano :—Nem a deputação do Rio O Sr. Ministno da Marinha: — Porque quiz;
de Janeiro ouviria silenciosa um semelhante não foi ao senhor que se dirigio o meu col-
insulto ao nobre deputado: lega.
O Sr. Nedias :—Muito bem, Sr. Octaviano. O Sr. Sayão Lobato : — Emfim não se re
nove essa questão.
O Sr. Sayão Lobato : — Portanto, senhores, é Entrando na materia, o Sr. ministro do im
preciso que eu exija do Sr. ministro uma ex perio principiou por fazer sentir que eu tinha
plicação franca a tal respeito ; é preciso que trazido á discussão um objecto pouco impor
elle declare quaes as razões que o autorisão para tante ; porque S. Ex. ironicamente disse que
dirigir-me esse insulto, e com elle como que eu tinha muito bem trazido para esta discussão
dizer ao paiz : « Não acrediteis nesse homem, a questão de uma estrada que interessa á
que, tendo sido sempre um parasita do poder, minha provincia, assim como qualquer Sr. de
e tendo-lhe eu cerceado a ganancia depois que putado do Piauhy, do Ceará, do Pará, etc, po
pura o ministerio entrei, por isso me faz oppo- dia aproveitar-se desta occasião para tratar dos
sição. » melhoramentos de sua provincia. Nisto, Sr. pre
Eu pergunto aos Srs. ministros e principal sidente, ninguem poderá deixar de onxergar um
mente ao Sr. presidente do conselho : Tambem indicio revelador da má vontade do Sr. mi
sois solidarios em tal manifestação? Declarai nistro a respeito dessa estrada de ferro ; não
pois, Srs. miuistros, declarai ao paiz se durante se poderá desconhecer nisto um symptoma do
todo o tempo que tenho sustentado esta politica que eu já havia observado, isto é, que o Sr. mi
vos pedi favores, se os recebi, ou de qualquer nistro do imperio não comprehende, ou não
modo fui alentado pelo poder. quer comprehender o grande alcance dessa es
Muitas Vozes :—Não se referio ao nobre de trada.
putado. Pois será possivel, que o Sr. ministro., con
136 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
funda a estrada da lei do 26 de Janeiro com cumpre ainda notar que a estrada da lei de 26
qualquer melhoramento que se possa fazer nos de Junho é muito diflerente do plano que Co
sertões do Pinuhy, nos areiaes do Ceará, ou chrane tinha apresentado, que pela lei de 26
nas mattas do Pará ? Sr. presidente, a estrada de Junho conferem-se outras muitas clausulas
da lei de 26 de Janeiro, estrada importantis que não erão dadas a Cochrane, como a con
sima, tão reclamada pelas circumstancias locaes, cessão gratuita de madriras, de terrenos, isen
estrada geral que vai abrir em grande escala ção de direitos até para o carvão de pedra etc.
uma communicação franca e rapida para os E poder-se-ha sustentar com algum vislum
pontos mais povoados, ferteis o productivos do bre do razão que tão sómente por existir um
Brazil, estrada que seguramente será o princi contracto celebrado pelo governo, embora com
pio du grande ramificação das linhas de ferro patente quebra de principios consagrados pela
que algum dia deve ter o Brazil ; essa estrada constituição, é inhibido o legislador de estatuir
que deve ser lançada nesti parte do imperio sobre igual materia a autorisação de contractos
da qual no presente principalmente se levanta que reconhece ser reclamados pelas mais ur
a maxima parte da receita publica ; esssi es gentes necessidades do paiz ? I Porque o execu
trada não podia deixar de merecer no nobro tivo ultrapassando a esphera do sus attribuições
ministro, se attentamente, sem prevenções , a se arrogou o poder, que não tinha de conceder
considerasse em todas as suas circumstancias, um privilegio exclusivo por longo prazo, ficará
a justa estima e toda solicitude, como objecto desarmado o poder legislativo da faculdade, que
da maior importancia, não havendo segura aliás lhe é privativa, de providenciar a tal
mente outro no presente - que mais se lhe respeito, decretando todos aquelles moios que
avantage. entende serem proficnes e necessarios para se
Sr. presidente, em 33,000:000$ é orçada a re levajem a effeito melhoramentos que tão provei
ceita publica, e ninguem ignora que 24,000:000,1 tosos e necessarios são para o paiz ? I I Não,
são levantados nesta cidade e provincia do Rio ninguem com razão poderá contestar a validade
de Janeiro, e nas tres provincias que com ella e conpetencia da lei de 20 do Junho.
se grupão—S. Paulo, Minas e Rio-Grande do Sul. Mas, senhores, o que em verdade foi estatuido
—Uma estrada de ferro como essa da lei de 26 por esta lei, quaes são as suas disposições?
de Junho que deve necessariamente dar nesta A mais ampla o inteira faculdade dada ao go
parte do imperio um incremento fortissimo a verno para contractar com taes e taes condições
todos os ramos da industria, que concorrem para a construcção da estrada de ferro. O governo
tanto avantajar a renda publica, é sem duvida ficou com os braços inteiramente livres para
objecto da maior importancia que deve interes realisar o respectivo contracto, ou effectuando
sar, como, interessa, a "todos os Srs. deputados, com Cochrane, ou com qualquer outro que me
embora eleitos pela provincia do Piauhy , ou lhor o servisse.
pelas provincias de Sergipe, do Pará, Ceará, etc, Portanto aquelles que entendem que a Co
etc, e portanto como nao estranhar que pare chrane assistia um direito perfeito de ter a em
cesse ao nobre ministro jmuito natural confundir presa, devem reconhecer que o governo executando
este melhoramento com outro que pudesse ser a mesma lei, bem podia attender a esso direito
discretamente pedido por qualquer dessas outras e que portanto não foi a lei que de modo al
provincias? gum servio de obstaculo para que se desse a
S. Ex. depois sustentou que a lei de 20 do Cochrane o que lhe pertencia. Repito, segundo
Junho não podia acabar com o antigo contracto a lei do 20 de Junho o governo podia regular
celebrado com Cochrane, que esse contracto era mente contractar com Cochrane tudo quanto an
valioso, porque tinha o seu assento na lei de tes incompetentemente fez ; ou então com outrem
29 de Agosto do 1838 ; e nisto foi tambem apoiado contractar, salvas as legitimas e justas indemni-
por um nobre deputado pela Bahia. Sr. presi sações devidas a Cochrane, que em parte a
dente, ó mister que não so tenha lido, ou que mesma lei já estatuia.
não so tenha attentamente considerado as dis Eu censuro ao governo, Sr. presidente,*porque
posições da lei de 29 de Agosto de 1838 para não soube usar da faculdade que lhe foi dada
se avançar semelhante proposição 1 Essa lei, pela lei de 26 de Junho, porque francamente
trata das simples empresas de obras publicas não tratou de dar séria e dignamente execução
dadas a particulares para as construir com a á dita lei.
condição de as usofruir por um tempo estabe Se Cochrane era capaz on se achava habilita
lecido ; não trata do privilegios exclusivos, nem do para executar o plano da lei de 26 de Junho,
podia tratar. o governo, que lhe reconhecia direitos, devia
No assumpto de que tratamos o essencial é o contractar com elle, concedendo-lhe tantas facul
privilegio exclusivo, e a lei do 29 de Agosto, dades autorisadas por lei quantas necessarias
como disse, não autorisava nem podia autorisar fossem para levar a effeito esse contracto ; se
semelhante privilegio, porque não era nem é porém era incapaz ou não inspirava toda ne
attribuição do poder executivo o conferir ainda cessaria confiança, o governo tinha á sua dis
por utilidade publica direitos singulares com es posição outro arbitrio, isto é, indemnisal-o ; o
bulho da massa geral. Como é, pois, que o Sr. não lhe faltou occasião, por isso que prescin
ministro do imperio podia entender que' a lei dindo de abrir um credito para effectuar essa
de 29 de Agosto era o assento que legitimava indomnisação á custa do thesouro, podia tirar
o antigo contracto de Cochrane, quando por esse do proprio empresario com quem contractasse
contracto tão somente se confere a Cochrane a obra os precisos meios para semelhante in-
uma carta de privjjegio exclusivo ? demnisação, tailto mais que em verdade erão
Demais, Sr. presidente, quando em virtude da esses gastos que propriamente como prelimina
lei de 29 de Agosto so tem de commetter em res podião e devião ser encarregados á empresa,
presas de obras publicas a particulares, na visto que realmente Cochrane com o seu traba
forma da mesma lei principia-se por afixar edi- lho tinha do algum modo concorrido para a
taes para a concurrencia, exigi-so a exhibição realisaçáo da empresa. Digo que não faltou
do plmo e orçamento da obra, etc, etc, e com occasião, Sr. presidente, porque sei de boa par
Cochrane não se procedeu a cousa alguma des te que houve quem suscitasse a idéa ao governo
tas. Eis a razão porque a lei de 20 de Junho o o Sr. ministro do imperio não póde desco
julgou invalido o privilegio concedido a Co nhecer bue era facil obter, como disse, essa in
chrane, e não podia deixar de de o invalidar demnisação para Cochrane do empresario com
desde que o reconhecesse como reconheceu of quem contratasse.
ensivo do nosso direito constitucional. Demais Já se vê, Sr. presidente, que tendo sempre
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 137
considerado esta questão como acabo de expol-a, a multa referida foi por Cochrane paga na fórma
seguramente não tive em vista censurar o poder do contracto para poder renoval-o, visto que se
por não ter feito caducar o contracto de Co passára o primeiro prazo sem dar principio, como
chrane; pelo contrario em o meu primeiro dis se obrigára... Emfim é isto negocio tão claro
curso apparecem reparos graves pelo procedi que, como já observei, bem serve para dar-nos
mento contradictorio com que o governo se a medida da força da argumentação de S. Ex.
houve a respeito de Cochrane, E como pois o Sr. presidente, eu me vejo obrigado a resumir
nobre deputado pela provincia da Baiiia so jul muito o meu discurso, porque me sinto abatido,
gou autorisado para exprobrar-mo que o uso que e não quero abusar da paciencia da casa, e por
' queria era que o governo desse por caduco o tanto passo ao contracto que o nobre ministro do
contracto de Cochrane, insinuando que o meu imperio celebrou com o Sr. Irenêo Evangelista
empenho neste negocio era fazer chegar esse de Souza. Em meu primeiro discurso demonstrei
contracto a certas pessoas de minha amizade ? que esse contracto foi celebrado com infracção da
O Sr. Ferraz : — Perdóo-mo, está enganado ; lei de 20 de Junho, e sem alguma conveniencia
referi-me ás idéas da lei de 20 de Junho. publica ; qus esse contracto era em si mesmo um
rande estorvo, um obice posto á estrada da lei
O Sr. Sayão Lobato : — Como ou estou pro c:20 do Junho; a estas minhas observações res
vando que com a lei do 26 de Junho o gover pondeu o nobre ministro do imperio com o se
no podia fazer o contracto com Cochrane í I guinte (lê o trecho do discurso do Sr. ministro);
» O Sr. Ferraz : —Creia o nobre deputado que não e o Sr. Ironêo Evangelista pela sua parte com
lhe fiz insinuação alguma. pletou a exposição do nobre ministro expondo ao
publico as circunistancias em que fez esse con
O Sr. Sayão Lohato : — Aceito a rectificação ; tracto. A declaração do Sr. Irinêo Evangelista
porque nada autorisava ao nobre deputado a em- vem no Jornal de 5 do corrente, nelle se lê o
prestar-me sentimentos que nao tenho- O nobre seguinte : « Em Maio do anno passado creámos
deputado nté trouxe para a discussão o estado em poucas horas uma companhia para a con-
de miulilia saude. . strucção da primeira estrada de ferro no Brazil
O Sr. Ferraz : — Somente para mostrar o in (ainda não tinhão apparecido os luminosos dis
teresse que o nobre deputado mostrava pela dis cursos de S. Ex. no parlamento a. que attribua
cussão. o enthusiasmo do publico a respeito).... Mais
O Sr. Sayão Lobato : — Oh I sim, se o nobre tardo, apparecendo a pretenção dos Srs. Teixeira
Leito e Furquim do Almeida, vimos que se pro
deputado sa tem tornado sceptico ã força de ter jectiva descer o rio Parahyba, na execução da
provado na taça da sabedoria, o neste estado lei de 20 do Junho, até o Porto Novo do Cunha,
chegou a exclamar, como o rei Salomão : Va- bloqueando assim os grandes elementos de prospe
nitas vanitatum et omnia vanitas, politica va- ridade futura com que contavamos a favor da
nitas ; se á invasão desse soepticismo só lhe enipreza que acabavamos de crear. . . No mesmo
escapou um sentimento aliás muito nobre e ge dia em que publicou o Jornal do Commercio essa
neroso, a amizade, que ainda sacrifica, segura circumstancia que nos tomou de sorpresa, pois
mente faz mal em collocar-mo na mesma pha- até esse momento jámais so fallára, etc. »
lange, porque, não tenho merecimentos para isso. Agora quer saber a cemara o que ha de real
Serão prejuizos, mas, eu, Sr. presidente, ainda em tudo isto, e quaes esses direitos que o Sr. Irenêo
me sacrificio a verdadeiras convicções, a convicções tinha á contemplação do governo, por devêl-o pro
que em mim preponderão ainda sobre os senti teger em uma empreza em que so tinha envol
mentos da mais cordial amizade I vido sem ter a menor noticia da outra ? Isto se
Ainda mais, Sr. presidente, o nobre deputado reconhece no proprio contracto que o Sr. Irinêo
com muito pouca caridade christã chegou a accu- assignou com o presidente da provincia do Rio
sar-me damnando as minnas intenções, o infa de Janeiro, cujo contracto é relativo á construc-
mando os meus sentimentos, asseverando que eu ção dessa estrada que deve ir do Mauá á serra
era inspirado pelo odio e vingança na opposição da Estrella.
que fiz ao Sr. ministro do imperio pela exe Diz o 1° artigo desse contracto: « Art. 1°... .
cução da lei de 20 do JunhoI Limito-me a protes Ao mencionado emprezario, ou companhia que elle
tar contra tão injusta interpretação, declarando organisar, fica concedido privilegio exclusivo por
ao nobro deputado que na importancia que ligo 30 annos, etc Doclara-se porém que em cir
a esta materia, que com razão considero como cumstancia alguma esta clausula poderá preju
a mais interessante possivel para o Brasil, elle dicar a estrada do ferro já projectida, que par
acharia uma razoavel explicação dos esforços ex tindo do municipio neutro terá de seguir por
traordinarios que por ella faço. alguns municipios desta provincia até ás de Minas-
Não deixarei passar sem fazer reparo uma pro Geraes e S. Paulo. » O art. 11 do mesmo con
posição do nobre ministro do imperio, proposi tracto ainda é mais preciso ; diz elle : « Se para
ção que realmente nos dá a medida da proce o futuro resolver-so a construcção do um caminho
dencia da argumentação de S. Ex. O nobre mi de ferro do Petropolis para 0 ponto que fór julgado
nistro do imperio proferio o seguinte. (Lê.) mais vantajoso nos limites da provincia, dir-se-ha
O nobre ministro do imperio utrevou-se pois a preferencia á companhia que o emprezario orga
avançar nesta casa que a multa. que, segundo o nisar para a realisação dessa idéa, em igualdade
art. 3° da lei, so restituia a Cochrane, era porque de vantagens. Fica porém entendido como con
o corpo legislativo havia julgado que o primeiro dição essencial que a existencia desta clausula não
contracto tinha caducado, e era esse o julgado poderá de fórma alguma prejudicar qu.aesquer
sem vigor e não o da revalidação que era dif- condições do contracto que o governo tiver de
ferente e respeitado pela lei I I fazer com a companhia que houver de realisar a
Senhores, não sei como explicar tal distincção, estrada de ferro mencionada na primeira con
que em verdade sinceramente só podia ser feita dição. »
por quem tivesse discernimento abaixo de pueril ; E' patente pois, senhores, que a idéa da con
e não atino com o que póde por tal modo em strucção da estrada de ferro da lei de 20 de Junho
baraçar a vista perspicaz do nobre ministro do precedeu a empreza do Sr. Irinêo ; é notorio que
imporio para não reconhecer que aquella decla no anno de 1851 teve lugar nosta camara a dis
ração do corpo legislativo, se referia ao unico cussão da dita lei, onde foi bem nssignalada a
contracto que Cochrane tinha feito I projectada direcção da respectiva estrada ; é pois
Sr. presidente, este contracto, sempre o mesmo, sobremodo admiravel que o Sr. Irinêo se equivo
passou por tres phases, ou antes tres renovações; casse a tal ponto que chegasse a olvidar-se de
tomo 2. 18
138 SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853
substanciaes condições e9tipuladas em o seu con- | o nenhum outro resultado colhêrão de suas dili
tracto com o digno presidente da provincia do gencias senão o ficarem conhecendo que não se
Rio do Janeiro, que, por bem comprehender toda ] tratava seriamente do executar a lei de 20 de
a importancia dessi estrada, com oxcellente pre- I Junho.
videncia resguardou-a de quassquer embaraços Tenho pois razão, Sr. presidente, de me quei
que por ventura poderião resultar desta outra xar de uin procedimento tão desigual da parte
pequena empreza rte um mero interesse local, e do Sr. minjstro do imperio. Não so S. Ex deixou
que por certo não devia em circumstancia alguma de executar a lei, como a infringio celebrando
estorvar melhoramentos dn ordem da estrada da um contracto opposto ao principal objecto da
lei de 26 de Junho I mesma lei. E depois de um tal procedimento
Em vista das terminantes clausulas inseridas S. Ex. ainda procurou (permitta-mo que lhe
nò contracto do Sr. Irenêo ó visto que olle tomou diga; por um modo pouco proprio de um admi
a si a empresa da pequena estrada do Mauá nistrador, que deve ser um homem conhecido
bem certo de que se tratava de se levar a effeito das circumstancia? do paiz, censurar-me por haver
a estrada geral da lei de 20 de Junho e portanto eu sustentado que a estrada de 26 de Junho
não me parece que lhe assistão esses direitos pelas suas circumstancias especiaes era a unica
de reclamar contra um prejuizo ou ruina qne por ora sensata, que se poderia estabelecer no
não podia ter previsto, e que o tomava de sor- imperio, isto é, a unica que deveria no presente
presa. Se pois o governo mais attentamento hou produzir todos os resultados bons, que nao havia
vesse examinado a posição feita ao Sr. Irenêo pesar sobre o thesouro porque é certo que uma
pelo seu proprio contracto, reconheceria mesmo tal estrada ha do ter grande concurrencia do*
que tendo de tratar essa outra linha de Petro pessoas e cargas, que delia se sirvão em grande
polis para o limite da provincia de nenhum escala, hn de necessariamente portanto dar lucro
modo estiva inhibido do pól-a em concurrencia, avantajado e certo; e pois dizia eu ó a unica
visto que no contracto só se garantia a prefe estrada sensata que desde já deve ser feita, porque,
rencia em ideutidado de vantagens offerecidas. tendo a primeira estrada executada no paiz, deve
O meu reparo é pois, Sr. presidente, que o o governo empregar todos os meios para que o
nobre ministro do imperio com tanta desigual- resultado seja propicio, que do contrario ficará
dado se houvesse a respeito da exicução da lei para sempre, ou ao menos por muito tempo,
d,e 20 de Junho, sacrificando o importante e retardado esse melhoramento no paiz. O nobre
principal objecto desta lei a um contracto que ministro não podia deixar de reconhecer a razão
não era reclamado nem pela justiça por bem de que me assistia quando assim denominava essa
direitos adquiridos, nem pelas razões de conve estrada a unica sensata que so poderia estabe
niencia publica, que inteiramente faltão ; mos lecer por ora no paiz, sem comtudo querer emba
trando ter dous pesos e duas medidas, quando raçar quaesquer outras emprezas da mesma natu
tratou com Mornay, para cuja empresa tudo forão reza, nem mesmo desacredital-as.
facilidades e boa vontade, não obstanto a patente O Sr. ministro, insistindo em não admittir a
differença do circumstancias, que todas tanto preeminencia da estrada da lei de 20 de Junho
recommendavão a primasia da estrada geral da sobro todas as outras projectadas, dá-me direito
citada lei; a Mornay concessão ampla da garantia ainda a repetir qne S. Ex. não tem comprehendido
dos 5 %, e todas as mais concessões quantas toda a importancia, todo o alcance da estrada
se podia fazer, promptidão no firmar o contrato projectada e decretada pela referida lei.
independento do concursos, etc, etc A respeito delia o nobre deputado pela Bahia
Para a verdadeira estrada da lei tantas diffi- perguntou : « que estrada é essa? Qual é a linda
culdades, tantas tergiversações, recusa da garan conhecida? Em que se fundão os senhores para
tia do miniino de interesse, não obstanto dever reputar essa estrada como sendo tal ou tal, e
reconhecer o nobre ministro que para esta es portanto devendo comprehender parte do terreno
trada era isso uma simples formalidade, quando de que a priva o contracto celebrado com o
para a outra ella tem do ser uma realidade ; Sr. Irenêo Evangelista? » O nobre deputado faz
exigencia de concurrencias, quando o mesmo Sr. esta objecção (pormitta-me que lhe diga, e com
ministro era que reconhecia os direitos especiaes isto não lhe faço injuria) porque desconheco a
de (Jochrane, o que devia leval-o a tratar se topographia do terreno. Se o nobre deputado
riamente com elle, se o julgava habilitado para subisse a sorra e transitasse por essas locali
a empresa, ou então decididamente a arredal-o dades havia de conhecer que não era mister ter
indemnisando-o ; era isto o que cumpria fazer, conhecimentos profissionaes de engenheiro para
e não a tal farça de concursos que nida con saber qual era a direcção que se tevo em vista
cluirão nem podião em taes circumstancias con com a lei dar-se a estrada.
cluir cousa alguma. A natureza - tem predisposto esta [localidade
A esse respeito o nobre deputado pela Bahia para receber o melhoramento votado na lei de
disse que eu não mostrava comprehender o prin 26 de Junho ; nessa cordilheira que se chama
cipio de concurrencia. Senhores, em meu primeiro Serra do Mar ha uma depressão natural no lu
discurso parece-mo que fui bem explicito ; eu gar onde está a estrada do Rodeio, ou em suas
declarei que era um principio excellente o da immediações ; essa depressão é tão sensivel que
concurrencia, porque era p meio de se conhecer por essa estrada do Rodeio, aliás traçada tosca
o melhor, de se preferir o mais vantajoso, e mente por um simples curioso, a ascenção é
portanto era minha opinião que elle devia ser tão facil que se sobe até acima da serra sem se
empregado sempre que fosse possivel ; mas é no sentir, e já se vê que por alli deve subir a
tavel, senhores, que aquelle que prescindio de estrada de ferro. Transpondo-se depois mais ou
tal principio, contratando com Mornay, e depois menos tres leguas chega- se ao rio Parahyba,
contratando com o Sr. Irenêo, entenda que obrou cujas margens são um vai amenissimo de terreno
muito coherentemeute applicando semelhante meio em geral aplainado naturalmente...
em um caso em que era elle repugnante com os
direitos especiaes que se reconheceu em uma parte, O Sr. Paula Candido dá um aparte que não
o que era razão sufficiente para arredar quaes- ouvimos.
quer outras pretenções. No entretanto disse O Sr. Sayão Lobato : — O rio Parahyba, que
o nobre ministro : tanto podia se dar o concurso, nasce na provincia de S. Paulo, entra pela do
que apparecòião concurrentes serios com propos Rio de Janeiro, corta uma parte importantissima
tas dignasI Mas qual foi o resultado? Esses destt provincia, até ir banhar a provincia de
que acreditárão que em assumpto tão grave o Minas ; o rio Parahyba offerece em suas mar
governo procedia com acerto perdêrão seu tempo, gens que são evidentemente o terreno mais pia
SESSÃO EM 9 DE JUNHO DE 1853 139
no de serra acima, lugar proprio para se traçar ellas attender com vistas largas : em vista disto,
as linhas do ferro, um em direcção a S. Paulo, senhores, querendo-se introduzir no paiz, como
subindo o rio acima, e outra dirigindo-sé a Mi se pretende, este melhoramento tão reclamado,
nas, descendo mesmo rio até o ponto em que não é o plano da lei de 26 de Junho que deve
elle vai banhar a provincia de Minas-Geraes. ser preferido...
Fóra dessas disposições naturaes do terreno, á O Sr. Paula Candido : — Para Minas, não.
margem do rio Parahyba, quasi todo o terreno
de serra acima é muito montueso. o nelle mui O Sr. Sayão Lobato : — ... por ser o principio
poucas vargens se encontrão ; conseguintemente desse systema largo e geral de caminhos de ferro
basta o simples bom senso para se ver que pela que devem ser dirigidos para este pouto, que por
lei de 20 do Junho teve-se em vista aproveitar todas as circumstancias é o centro natural para
a facilidade que naturalmente oflerece o valle do ondo tudo gravita no Brazil? Mas eu ponde
Parahyba, e que o traçado da estrada de 26 do rando todos os inconvenientes que me figuravão
Junho deve ser nesse sentido, acompanhaddo o nesso contracto celebrado com o Sr. Irenêo Evan
rio descendo ou subindo, isto é, ou dirigindo-se gelista de Souza, perguntei ao nobre ministro
para a provincia de Minas, ou para a de S. Paulo. do imperio em que S. Ex. se havia fundado
Mas pelo contracto do Sr. Irenêo Evangelista o ara lazer semelhante contracto, quaes erão as
que se fez ? Fez-se recuar a estrada da direcção ases, que conhecimento tinha do terreno para
que devia ter ; chega sómento á Parahyba do a execuçao da obra, ao que S. Ex. rospondeu-me
Sul ; não vai a Minas ; ha até uma verdadeira com uma simples palavra, qua realmento na mi
infracção da letra e espirito da lei. nha opinião não faz honra ao tino do Sr. mi
Disse porém o Sr. ministro : « Pela lei está nistro, disse : » Tive os mesmos fundamentos que
o governo autorisado a fazer a estrada em todo se tevo para a decretação da lei de 26 de Ju
ou em parte. » Náo ó isso chicanar ? Quando se nho. »
deu essa concessão ampla ao governo não foi Ora, Sr. presidente, pela lei de 26 de Junho
para que elle caprichosamento disses?e : « Faça- tratava-se de uma simples autorisação, sobro
se a estrada até certo ponto. » objecto muito gravo é verdade, dada ao governo,
O Sr. Barbosa : — E- preciso que prove que a cujo cargo ficava tudo. Sim, ao governo que
elle deixou-se levar mais pelo interesse do empre tinha do executar a lei, que tinha de celebrar
sario do que pelo interesso publico. o contracto, ao governo incumbia entrar em to
das as averiguações, ordenar todos os iuquerir
O Sr. Sayão Lobato : — Vou mostrar qual é tos, e executar convenientemente as disposições
a disposição da lei, e que ella foi desattendida... legislativas ; mas esse contracto do Sr. Irenêo
O Sr. Paula Candido:— Ha de sor difficil. Evangelista de Souza estará na mesma razão ?
Náo; já é ponto decidido, o decidido ás cégas
O Sr. Sayão Lobato : — Quando se deu essa pelo nobre ministro do imperio, que nem ao
ampla concessão ao governo foi para que a es menos conhece a possibilidade da execução da
trada se fizesse até ondo pudesse ser feita, afim obra, porque absolutamente desconhece as res
de ser logo executada, porque desde que se sen pectivas localidades. Portanto, o Sr. ministro do
tisse no paia as iminensas vantagens de um tal imperio de modo algum se justificou, tantn mais
melhoramento, a estrada iria para diante; o que porque, quando foi decretada a lei do 26 de Ju
convinha era dar-lhe principio, e o legislador nho, outros conhecimentos existião colligidos por
foi tão previdente que quiz acautelar todas as homens profissionaes.
eventualidades : « Essa empresa podia se afigurar Antes mesmo de ser votada no corpo legisla
tão gigantesca que, sendo votada por' inteiro, tivo a lei do 26 de Junho, engenheiros praticos,
podia assustar e fazer recuar os empresarios ; homens profissionaes estudavão usando de in
portanto faculte-so que possa ser feita por par strumentos aperfeiçoados de parte do terreno
tes. » que deve receber a estrada da dita loi. Os
Ora, esse contracto feito com o Sr. Irenéo Srs. Waring e Davis tinhão conseguido até fa
Evangelista o que importa? Importa perturbação zer o orçamento da obra : o direi á camara,
no systema, no plano da lei de 20 de Junho. E, esse orçamento chegou a inspirar tanta confiança
além disso, o que ó esse contracto? E' uma a capitalistas importantes, que sobre elle não
cousa inexequivel, que em voz do aproveitar, duvidavãe contratar a obra com o g iverno. Por
sendo executada, ha de trazer o grave inconve tanto, Sr. presidente, a respeito da estrada da
niente de desacreditar por muito tempo as em- lei de 26 de Junho havia outros conhecimentos
Íirezas de estradas de ferro."- As condições que que inteiramente faltão a respeito do contracto
orão estipuladas nesse contracto, e das quaes o celebrado com o Sr. Irenêo Evangelista de Souza.
Sr. ministro do imperio se ostenta tão satisfeito, O Sr. Barbosa:— Não sa querem estradas para
dizendo : « Foi pela primeira vez que se fez um os empresarios, e sim para o publico.
contracto sem a garantia do minimo de interesse»;
podendo acerescentar « e até com a condição de O Sr. Sayão Lobato :— Senhores, é principal
reverter para o estado a estrada no fim do pri mente por isso mesmo que eu não quero estradas
vilegio » ; essas condições tornão impossivel a para os empresarios e sim para o publico que
reahsação da estrada. E esta ainda quando se eu clamo pela estrada de 26 de Junho, porque
execute, não póde dar lucro, deve ter limitada essa -estrada é a que póde servir ao publico ;
serventia : não é mesmo uma estrada de ferro ella por sua propria natureza é uma estrada
que satisfaça ; é um retalho de ostrada de ferro ; geral, porque ella partindo do municipio neutro
e uma pequena linha lançada de Petropolis para atravessa a grando parte da provincia do Rio
o limite da provincia, interrompida por uma de Janeiro, e vai comprehender duas provincias
parte da estrada de barro que* traz a necessidade importantes, quaes S. Paulo o Minas, é por con
desses meios rotineiros e tão incommodos do seguinte essa estrada realmente a unica que
conducção, e por fim ainda dirigindo-se a um deve produzir maior somma do vantagem ; e,
Sonto que não é o centro couimercial, dirigi n- senhores, quando tomos uma lei, qve singular
o-se ao porto de Mauá, donde ainda tem de e positivamente determina tal estrada, quando
percorrer um espaço de 12 leguas por agua até todo o mundo conhece que é necessario que se
chegir á cidade do Rio de Janeiro. reunão todos os meios, qne se envidem todos
Me parece que é cousa obvia que na construc- os esforços para se levar ella á excecução, é
ção desses caminhos se deve ter em vista um quando o nobre ministro entende que se deve
grando futuro ; são empresas essas que até não preterir um melhoramento desta ordem, o cui
podem dar fructo de momento ; deve-se pois para dar de outras estradas que nem têm a mesma
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
importancia, nem probabilidade alguma de exe estatistica relativo a um projecto que eu e os
cução ? nobres deputados por Matto Grosso tiveaios a
Sr. presidente, ainda n osso respeito tonho eu honra de offerecer á consideração desta casa.
de fazer uma observação, e c que o nobre mi V. Ex. deu a e*se parecer um destino que
nistro, sem esperar approvação do corpo legisla me parece se não devia dar-lhe, o por isso eu
tivo, entendeu que o seu contrato com o Sr. peço a V. Ex com a attanjão o respeito com
Irenêo estava salvo do todas e quaesquer con que sempre costumo fazel-o. que me seja per-
tingencias ; eu disse isso, e o nobre ministro mittido, na occasião em que a acta está em
primeiramente negou, e ao depois declara em seu discussão, reclamar contra o destino que so lhe deu.
discurso « que o contrato já esta feito, por elle O Sr. Presidente : — Devo dizer ao Sr. depu
os capitaes já estão aventurados as acções to tado que as suas observações serião muito bem
madas.» cabidas na occasião em que eu dei esso destino
E' poiso gr. ministro do imperio que catego ao parecer ; porém depois de consignado na
ricamente nos assegura que essa empresa já está acta não' me parece que o Sr. deputado possa
em execução, os seus estatutos estão demais appro- contrariar o destino que a mesa deu. Não
vados por resolução imperial, sem se esperar, se obstante, como o Sr deputado se referio a um
nhores, a approvação do poder legislativo, que procedimento que diz injusto da minha parte,
é assim estimado em nada, quando é certo que desejava que o Sr. deputado se explicasse.
o governo não podia autorisar a execução desse
contrato sem essa approvação. O Sr. Miranda: — V. Ex. sabe que eu me
Um Sr. Deputado :— Isso é culpa dos accio achava no archivo quando soube do destino
nistas, que contáo com a approvação da assem que V. Ex. acabava de dar ao parecer da com-
bléa. missão de estatística ; acudi immediatamente á
mesa pira conhecer as razões qne tinhão levado
O Sr. Satão Lobato :— Emfim, Sr. presidente, V. Ex. a lhe dar tal destino. Portanto já vê
tão fatigado me acho, tão prostrado, que não V. Ex. que não podia então reclamar contra
me ó possivel continuar; muito linha a dizer: ellas, porque me não achava presente.
se me sobrasse tempo e so tivesse forças, havia Segundo eu colligi da leitura da neta, foi o
de insistir em tudo quanto disse, havia de re parecer novamento remettido á commissão pelo
forçar a minha argumentação com novas razões, fundamento de que elle se não achava redigido
havia de afastar de mim essas figuradas contra- conformo o regimento.
dicções que me prestarao tanto o nobre ministro Entendo eu, Sr. presidente que ilesda que
como os illustres deputados que o apoiárão. apresentei o men projecto, e elle foi remettido
A discussão fica adiada pela hora. á commissão do estatistica, o esta deu o seu
Levanta-se a sessão ás 3 horas da tarde. parecer favoravel sobre elle, porque o achou re
gular o digno de ser approvado, entrando na
ordem dos trabalhos da casa, V. Ex. não podia
recusal-o e recambial-o á mesma commissão. Se
Sess&o em IO de Junho V. Ex. entendia que o projecto que eu tive a
honra de apresentar não estava conforme ás de
TRESIDENCTA DO SR. MACIEL MONTEIRO terminações* do regimento, é meu sentir que
V. Ex. devia não lho dnr andamento, e remet-
Summario.—Discussão sobre a acta.—Expediente. tel-o a mim, seu autor, para que o redigisse em
—Ordem ds dia. — Dispensa do Sr. D Fran conformidade com o regimento ; desde que, porém,
cisco.— Pensão. — Registro de hypotliecas. Dis isso não teve lugar, o elle foi logo remettido á
curso do Sr. Silveira da Motta. — Voto de commissão, nem mesmo n mim caberia mais o
graças. Discursos do Srs. ministro do imperio direito de o redigir, caso não estivesse em con-
e Araujo Lima. formidado com o regimento. Muito menos esse
direito caberia á commissão, cujas attribuições
A"s 10 horas, feita a chamada, acharão-se pre não consistem em dar melhor redacção a um
projecto offerecido por qualquer Sr. deputado,
sentes os Srs. deputados, Maciel Mont iro, mas sim o tão somente em emendar, rejeitir ou
Aprigio, Luiz Araujo, Siqueira Queiroz, Araujo approvar os projectos que lhe são romettidos
Lima, José Mathias, Lindolpho, Octaviano, Ferraz, para ellas darem os seus pareceres.
Fleury, Machado, Domingues Silva, Vieira do Allegarão-se alguns motivos para so justificar
Mattos, Ribeiro, barão de Maroim, Barbosa da o destino que se deu ao parecer, sendo o pri
Cunha, Fernandes Vieira, conego Leal, Theophilo, meiro o não estar o projecto em conformidade
Nebias, Teixeira de Souza, Macedo, Paes Bár- com o regimento, porque no alto delle não so
reto, Sá e Albuquerque, Pereira Jorge, Paula achavão as palavras; « A assembléa geral legis
Candido, Belfort, Paula Santos, Cisado, Jagua- lativa resolve ; i. mas estas palavras podião ser
ribe, Monteiro de Barros, Viriato, VersianL Eu immediatamente lançadas como forão no projecto,
sebio, Brandão e Miranda. permissão que V. Ex. me podia dar, da mesma
Comparecem depois da chamada, os Srs. Can lórnia que m'a coucodeu om uma das sessões
dido Mendes, Cruz Machado, Dutra Rocha, Mendes, passadas, quando commigo um nobre deputado
Raposo da Camara, Rocha, Horta, vigario Silva, pelo Rio de Janeiro oflereceu um projecto em
D. Francisco, Gouvêa, Pimenta Magalhães, Pe cuja frente so achavão, em vez de « A assem
reira Rocha, Mendonça, Seára, Angolo Custodio, bléa geral legislativa rosolve, » as seguintes pa
Góes Siqueira, Paula Baptista, Rodrigues Silva, lavras : « A -assembléa legislativa provincial re
Fausto, Silveira da Motta, Paula Fonseca, Rego solve. » Como segundo motivo se allega que os
Barros, Livramento, padre Campos e Costa Ma differentes paragraphos do projeçto não estavão
chado. em harmonia com o que determina o regimento ;
As 10 horas o quarenta minutos, havendo mas eu direi que so o projecto se acha assim
numero legal, o Sr. presidente abre a sessão. redigido, foi porque me quiz ligar, ou por assim
Lida, é posta em discussão, a acta da sessão dizer amarrar servilmente ás disposições da lei
antecedente. de 13 de Julho de 1832, lei que eu pretendo al
terar com a doutrina do meu projecto.
O Sr. Miranda.— Sr. presidente, pretendo A lei a que me refiro diz :
offerecer á consideração da casa algumas obser
vações a respeito do destino que V. Ex. se dignou « § 14. Na provincia de Matto-Grosso haverá
de dar hontem a um parecer da coinmissão de quatro collegios eleitoraes.
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 141
« l.» O da cidade de Cuyabá, composto dos EXPEDIENTE
eleitores das freguezias do municipio da mesma
cidade. Tres offleios do Sr. ministro do imperio; um
« 2.» O da villa do Nossa Senhora da Con enviando a cópia do decreto do 4 do corrente,
ceição do Albuquerque, composto dos eleitores pelo qual houve por bem S. M. I conceder ao
das freguezias do municipio da mesma villa. alferes reformado Rodrigo Lopes da Cunha Me
« 3.» O da villa do Alto Paraguay Diaman nezes a pensão annual do 193$, que, unida á
tino, composto dos eleitores das freguezias do quantia do 360$, em que importa o soldo da re
forma, completa os vencimentos do commissão
municipio da mesma villa. activa da respectiva patente, inclusive o soldo.
« 4.» O da villa de S. Luiz do Paraguay, —A" commissão de pensões e ordenados.
composto dos eleitores das freguezias de S. Luiz Outro enviando cópia do decreto de 2 do cor
do Paraguay, Matto-Grosso e Poconé. » rente, pelo qual houve por bem conceder S. M. I.
Ora, digo eu agora em o meu projecto : a pensão annual de 600$ a D. Carolina Pedroso
« Art. 1°. A provincia de Matto-Grosso terá Barreto da Costa Ferreira, viuva do brigadeiro
cinco collegios eleitoraes. gradua lo João Feliciano da Costa Ferreira.—
« § l.» O collegio do Cuyabá, composto dos A' mesma commissão.
eleitores daí freguezias do municipio da mesma Outro enviando cópia do decreto ultimo pelo
cidade. qual houve por bem S. M. I. conceder ao reli
« § 2.» O collegio de Matto-Grosso, composto gioso carmelita frei José dos Santos Innocentes
dos eleitores do mesmo municipio. a pensão annual de 400/f. — A' mesma com
missão.
« § 3.» O collegio do Diamantino, composto Um do Sr. ministro da marinha, enviando tres
dos eleitores do respectivo municipio. decretos com data, um de 22 de Dezembro pro
« § 4.» O collegio de Poconé, comp osto dos ximo passado, outro de 3 de Janeiro e outro
eleitores das freguezias do mesmo municipio. dé 19 de Fevereiro do corrente anno, pelos
« § 5.» O collegio do Miranda, composto dos elei quaes houve por bem S. M. I. aposentar a José
tores das freguezias de Miranda o Albuquerque. » Nunes Ribeiro, cOmmiásario do numero de não;
Portanto, se eu errei na redacção qne dei ao Caetano José do Moraes, comprador dos ar
meu projecto, se errei na mineira de enunciar mazens da intendencia da m irinlia da provincia
o mon pensamento a respeito da modificação da Bahia ; o Francisco do Abreu Bahia e Con
que desejo se faça á designação dos collegios treiras, escrivão das officinas do arsenal de ma
eleitoraes da provincia do Matto-Grosso, o por rinha da mesma provincia. — A' mesma com
que servilmente me cinji á letra da lei que actual missão.
mente regula. Ainda ha porém uma duvida Dous requerimentos, um dos empregados da
contra o meu desgraçado projecto, e me parece secretaria do governo da provincia de Goyaz, pe
que nasce ella do motivo de havel-o eu feito dindo algumas providencias que melhorem suas
acompanhar de uma exposição de motivos para lamentaveis circumstancias pelo atraso de seus
justinW-o. Creio que ainda nesta parto eu não vencimentos.—Vai á l* commissão do orçamonto.
deixo de ter razão. Outro de João Eduardo Lajoux, pedindo certas
Diz o art. 113 do regimento : « Cada projecto vantagens para fabricas que quer estabelecer para
deve conter simplesmente a enunciação da von factura do acido sulfurico, acido stearico, etc —
tade legislativa, sem preambulos, nem razões ; A' cbmmissão de commercio, industria e artes.
cumtudo, poderá o autor motivar em um discurso
escripto a sua proposição, quando não queira ou Lê-se o parecer a que se referio o Sr. Mi
não possa fazel-o verbalmente. randa, e olferecido ao apoiamento o seu projecto
Esta materia, relativa ã divisão dos collegios é julgado objecto do deliberação.
do cada provincia, é tão especial, o foge tanto
ao intéresse que deve prender a discussão, que DISPENSA DO RR. D. FRANCISCO
por isso eu assentei em dever fazer acompanhar
o meu projecto dos fundamentos que íinha para O Sr. r>. Francisco (pela ordem):— Pedi
o propor, e alterar a lei vigente. a palavra, Sr. presidente, para fazer uma sup-
Em resumo digo que V. Ex., levado sem du plica a esta augusta camara.
vida por motivos muito justos e procedentes, Tenho motivos de grave ponderação que me
assim entendeu que devia de proceder; porém inhibem de poder continuar a comparecer na
ou, (pv) assim nflo entendo, não posso deixar presente sessão; rogo por isso a V. Ex. que
do pedir a V. Ex. permissão para lho fazer uma em meu nome tenha a bondade do pedir a esta
respeitosa observação. illustrada casa que queira dispensar-me deste
Abaixo da dignidade de V. Ex. não está por resto de tempo. E' este o meu fim.
certo, reconsiderando os motivos que o levarão O Su. Cruz Machado : — Ha de pedir por es
bontem a tomar a deliberação contra que re cripto.
clamo, não está, digo, abaixo de sua dignidade
o resolver hoje por modo differente, se assim o O Sr. D. Francisco : — Creio que não é esse
julgar conveniente. Está, porém, Sr. presidente, o costume.
abaixo do meu nmor proprio acquiescer em si O Sr. Cruz Machado : — Não só ó esse o cos
lencio a um acto do V. Ex. que de algum modo tume, como ó mesmo o que determina o regi
o oflende. mento.
Espero que V. Ex. de -culpe o releve esta
pequena satisfação que dou a mim proprio, certo O Sr. D. Francisco : — O objecto ó tão sim
que em nada o offende. Qualquer que seja a de ples.. .
liberação de V. Ex., a ella me curvarei, respei O Sr. Presidente : — Não posso submetter ao
tando a V. Ex. como me cumpre, e como sempre iuizo da camara o pedido do nobre deputado.
o tenho feito. Entendia antes que devia sor formulado por
O Sr. Presidente expõe as razões em que escripto em uma indicação para ser remottido
fundou a sua deliberaçao, mas declara que o á cummissão respectiva, e ella interpór o seu
projecto será submettido a apoiamento pura entrar parecer.
na ordem dos trabalhos. O Sr. D. Francisco:— Pois bem, Sr. presi
E' approvada a acta. dente, vou escrever o meu requerimento e en
SESSÃO EM 10 I E JUNHO DE 1853
vial-o á mesa com urgencia, porque eu tenho mente na creação de um banco nacional, para
grande necessidade de retirar-me. poder adaptar esta instituição de credito de modo
Lê-se e remette-se com urgencia á commissão que possa ter prestimo ao credito territorial ; e
de constituição e poderes a seguinte indicação se nós vemos que o governo, por defeito da nossa
do Sr. D. Francisco: legislação hypothecaria, não achou bases sufi
« Requeiro ser dispensado de comparecer no cientes pata fazer com que as instituições ban-
resto da presente sessão legislativa.— D. Fran caes estabelecidas no paiz possuo ser adaptadas
cisco.» para garantia e desenvolvimento do credito ter
ritorial, dahi eu deduzo que nesta circumstancia
E' remettido á commissão de poderes. especial em que nos achamos, reconhecendo-se
O Sr. D. Francisco :— Peço a V. Ex. o favor universalmente que a nossa legislação hypothe
de lembrar «os illustres membros da commissão caria, como disse, carece de uma reforma radical,
que dêm o seu parecer quanto antes, tendo em não devemos fazer sahir do corpo legislativo
vista as razões que fcabei de expender. geral, em uma occasião destas em que os nossos
O Sr. Presidente: — O nobre deputado será agricultores estão pedindo providencias que sirvão
para dar credito e valor ás propriedades de
satisfeito. raiz, uma medida minguada, como e esta, sobre
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA o registro das hypothecas. O que devemos fazer
é decretar providencias que dêm á propriedade
PENSÃO AO PATRÃO DO ARSENAL DE MARINHA territorial as mesmas garantias que têm hoje as
outras industrias mais protegidas, sem razão,
Entra em primeira discussão o projecto appro- do que a industria agricola. (Apoiados.)
vando a pensão concedida a José de Mello, Todos nós vçmos que o conmercio e que a
ex- patrão do arsenal de marinha. industria fabril, mesmo acanhada como está no
paiz, recebem mais impulso das instituições de
A requerimento do Sr. Paula Candido tem uma credito que se tem estabelecido entre nós, en
só discussão, e não havendo quem peça a palavra tretanto que esse impulso ainda não chegou á
para fallar sobre a materia, ó o projecto posto industria agricola. (Apoiados )
a votos por escrutinio secreto, o aDprovado por Um Sr. Deputado:—Este projecto é uma me
59 votos. dida preparatoria.
Lê-se e sem debato á approvado o seguinte O Sr. Silveira da • Motta:—Hei do responder
parecer :
« Foi presente á commissão do poderes o a este aparte do nobre deputado, e mostrar
requerimento do Sr. deputtdo pela provincia que não ó exacto. Se acaso nós reconhecemos
do Maranhão D. Francisco Balthazar da Silveira, que se estão creando bancos tão protegidos e
no qual pede dispensa de comparecer no resto privilegiados no paiz para dar dinheiro ao com-
da presente sessão legislativa. mercio, emquanto enlanguece a nossa agricul
tura por falta de braços e de renda para a des
« A commissão attendendo aos motivos pelo envolver, ó nestas circumstancias que ha de o
dito Sr. deputado allegados, é de parecer que se poder legislativo geral, encarando a materia do
lhe conceda dispensa de continuar a assistir ás regimen hypothecario, fazer sahir do seu seio
sessões desta augusta camara ; officiando-se entre uma providencia sómento relativa ao registro
tanto ao governo para expedir suas ordens afim das hypothecas ? Porque, razão o paiz não nos
de ser o mesmo Sr. deputado legalmente substi dirá. « Pois não chega a vossa attenção para
tuido. verdes a palpitante necessidade de acreditar a
« Paço da camara dos deputados, em 10 de a propriedade territorial, que está abandona
Jnnho de 1853.—F. D. Pereira de Vasconcellos. da? » Póde-se por ventura edificar, como mesmo
—J. A. de Miranda.» diz o Sr. ministro da fazenda no seu relatorio,
Continua a ordem do dia. um banco para favorecer a nossa agricultura
emquanto não se reformar a legislação hypo
REGISTRO DE HYPOTHECAS thecaria ? Não é possivel ; e se não é possivel,
como nós legisladores, que estamos tratando
Primeira discussão do projecto r. 51. de crear um banco nacional cujo prestimo ha
de ser principalmente para uma só industria,
O Sr. SHvctra da Motla: — Sr. presi havemos do dizer: « A respeito de hypothecas,
dente, não contesto a utilidade do projecto em melhore-se um pouco o seu regimen ? »
geral, alcanço que elle tem por fim providenciar Melhore-se o registro das hypothecas quando
algumas faltas do regulamento que temos a res se quizer, nunca será possivel organisar-se um
peito do registro das hypothecas ; mas uma vez banco hypothecario emquanto a propriedade
que o corpo legislativo tenha de oceupar-se com territorial não tiver outros caracteres mais do
uma materia de tanta transcedencia e do utili que a garantia da fidelidade desses registros.
dade muito proxima, qual é a legislação hypo- Ora', se nós temos a obrigação de melhorar
thecaria do piiz, entendo que a camara dos Srs. de já e já o nosso regimen hypothecario, para
putados, na circumstancia especinl em que nos poder dar ás propriedades de ratz as garan
achamos, não deve approvar uma medida tão tias e auxilios do credito territorial, não pode
parcial c incompleta como é aquella de que se mos, sem alguma responsabilidade para com o
trata presentemente. paiz, fazer passar uma medida tão parcial como
Como já disse, reconheço algumas vantagens e a que so trata.
do varias disposições deste projecto quanto ás Além disto, Sr. presidente, me parece que
providencias sobre o registrp das hypothecas; este projecto melhorando o registro das hypo
mas o regimen hypothecario do nosso paiz, thecas legaes, judiciaes e privilegiadas, não
Sr. presidente, não precisa de reforma unica devia ser anteposto a um outro projecto do
mente na parte relativa aos registro dos titulos, meu honrado coflega, deputado tambem pela pro
e sim de uma reforma fundamental ; e emquanto vincia de S. Paulo, o Sr. Carneiro de Cam
esta reforma fundamental não se fizer, a pro pos, apresentado na sessão do anno passado,
priedade de raiz entre nós não ha de ter nunca estabelecendo varias providencias para o fim de
o valor que deve ter, nem poderá haver credito tornar mais transmissiveis os titulos hypothe-
territorial. (Apoiados.) carios. Essa idéa do projecto do Sr. Carneiro
Todos nós sabemos as difficuldades immensas de Campos tende a auxiliar mais proximamente
com que mesmo o governo tem lutado ultima- a idéa da creação dos bancos hypothecarios.
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 143
O Sr. Paula Santos:—Apoiado, positivamente. que fallava o nobre deputado. Eu duvido que
O Sr. Silveira da Motta: — Por isso mo pa houvesse senadores que asseverassem isto ao
rece que mesmo este projecto, quanao devesse nobre deputado ; porque faço muito bom con
ser discutido, devia sêl-o conjunctamente com o ceito de todos, e ôs acredito incapazes do re
outro do Sr. Carneiro de Campos, porque são ferirem o que não ouvirão, e eu não disse. So
disposições sobre a mesma materia tivesso de classificar o nobre deputado em al
Para dar a ultima razão porque entendo que guma cousa, seria antes entro as arvores copa
a discussão deste projecto não se póde fazer das, porque lhe dou grande importancia.
sem que seja remettido á commissão de justiça Alas quero crer que não foi esta a razão que
civil para ser, conforme o meu systema, recon moveu o nobre deputado a ^aggredir o ministro
siderado, direi que elle foi apresentado na mesma do imperio, porque entao não o teria aggredido
sessão do anno passado em que tambem foi da primeira vez antes que a allusãarfivesse sido
apresentado um do Sr. Carneiro de Campos ; feita (apoiados), e não me toria aggredido em
ambos tendem a estabelecer algumas providen outra occasião mais remota, quando eu acabava
cias a respeito da nossa legislação hypothecaria. do fazer algum tal ou qual serviço á provincia
Ora, se acaso ha um outro projecto sobre a de Pernambuco por occasião das desordens, fa
mesma materia, se ambos elles são de sessão zendo quinto um -homem na posição em que me
do anno passado, creio que com muito mais achava podia fazer ; entretanto já o nobre depu
razão se deve remetter este projecto juntamente tado então me sentenciava á calceta I E porque,
com o do Sr. Carneiro de Campos á commissão e qual o meu crime ? Porque consenti que um
de justiça civil para reconsideral-os, fundil-os, par fosse buscar seu filho, e procurasse desvial-o
augmental-os ou desenvolvêl-os como fór mais da cirreira do crime; e este filho era Pedro
convenionto, afim de satisfazer a uma grande Ivo ?
necessidade do nosso paiz, qual ó a reforma Supponha-se que este, vindo confiado em mim,
da nossa legislação hypothecaria, para que a foi tratado melhor do que o nobre deputado jul
nossa propriedade de raiz possa ter o desen gava que merecia ; talvez pudesse razeavelmente
volvimento que têm direito e favores iguaes aos taxar de excessivo cavalherismo o meu procedi
que se estão fazendo as outras industrias do mento ; mas sem duvida não merecia ser elle
paiz. taxado de criminoso, e classificado om crime digno
Vou portanto mandar a mesa o meu requeri da calceta. Por consequencia não ó da minha
mento, para que este projecto e o do Sr. Car allusão que vem a aggressão do nobre deputado ;
neiro de Campos sejão remettidos á commissão sem duvida vem de pontos anterioros. Devo di
de justiça civil. zer á camara que nunca fiz em tempo algum a
A discussão fica adiada pela hora. menor offensa ao nobre deputado. Enxergaria
elle como offensa o ter ido substituir-me no lugar
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA de chefe de policia da Bahia quando fui demittido
durante a regencia, e dahi a alguns mezes ter
RESPOSTA Ã FALLA DO THRONO sido eu reintegrado no lugar? Julgaria o nobre
deputado que foi esta reintegração uma offensa
Continua a discussão do voto de graças. a seus direitos ? Pois em toda minha vida é o
unico acto em que poderia ter offendido S. Ex.
O Sr. Gonçalves Slarllns (ministro do . Já se vê, portanto, que não é porque o nobre
imperio) : —Sr. presidente, eu hontem não tive deputado esteja revestido de um justo resenti-
occasião do continuar a estar na casa; entendi mento que me fez essas aggressões ; taes aggres
que o nobre deputado pelo Rio de Janeiro não sões são gratuitas, premeditadas. (Apoiados.)
fallaria, retirei-me antes das 2 horas em conse Mas seria patriotismo, zelo pelos interesses
quencia de uma noticia bastante desagradavel de publicos que levarião o nobre deputado a tanta
familia ; contava que o meu collega o Sr. mi extremidade ? Era o desejo do ver realisada essa
nistro dos - negocios estrangeiros continuasse a grande obra da estrada de ferro que o pertur
fallar até o fim, ou que o outro meu collega o bava ? Senhores, todos nós temos deveres a
Sr. ministro da justiça o substituisse. cumprir ; não é o ministro de estado só que os
Assim, pois, vejo-me embaraçado em respon tem ; o deputado, o representante da nação tam
der ao nobre deputado pelo Rio de Janeiro, por- bem os tem. (Apoiados.)
ue o seu discurso ainda não foi impresso, e Ora, quando o zelo é excessivo por uma cousa
a esejaria não incorrer no mesmo defeito do no semelhante, não podia receber interpretações da
bre deputado, tomando, a nuvem por Juno, mal malignidade ? Só o acto do ministro é que as
interpretando allusões. Parecia-me mais prudente póde merecer ? Pois o nobre deputado na posi
deixar apparecer o discurso no nobre deputado, ção em que se acha, com os seus talentos e
e aproveitar uma outra occasião para respon- recursos, está no caso de servir de esquina para
der-lhe ; mas o que li no Correio Mercantil cada individue ir pregar o seu edital de calumnia,
impõe-me a obrigação de dizer desdo já alguma e assim dizer: « ouvi alguem dizer contra o
cousa. Seria muito conveniente que o nobre de ministro isto ou aquillo? » Não seria mais pro-
putado estivesse presente para rectificar as suas pridf e digno dos seus talentos investigir os
proposições, porque nada ha mais triste do que boatos e meros ditos, e em respeito ao lugar
estar-se n'um pelourinho sendo açoutado, e di- que oceupo, quando a pessoa lhe não me
zer-se que não é açoutado ; estar-se sentindo as reça, procurar entrar na verdade dos factos, e
dóres e dizer-se : « não se dóa, isto não é sómente depois disto avançar proposições capazes
nada, não é com o senhor I » Assim, como de- de ser sustentadas?
fender-se aquelle que ó oflendido ou atacado. Sc o nobre deputado fez allusão ao ministro do
Disse o nobre deputado, para justificar as suas imperio quando allegou a autoridade do Sr. Victor
aggressões (segundo tenho ouvido dizer e collijo de Oliveira...
do quu li no Correio Mercantil), que eu havia
declarado em um circulo do senadores que tinha Os Srs. Aprioio e Wanderlev :—O Sr. Victor
feito allusão ã sua pessoa, denominando-o pa é incapaz disso.
rasita. O Sr. Gonçalves Martins .ha de me dar
O nobre deputado preferio o mexerico ao que licença para contestar-lhe a exactidão de seme
devia ter lido no meu discurso, ao que eu disse lhante insinuação.
exactamente, á declaração feita na casa por Na falta de factos, porque emflta seria muito
muitos Srs. deputados que estavão presentes diffleil, se não impossivel ao nobre deputado apre-
quando fallei, e que o repetirão na occasião em sental-os, não obstante minha vida offerecer para
144 SESSÃO EM, 10 DE JUNHO DE 1853
isto todas as proporções, quando estes existissem, governo imperial asseverar que suceoderia me
porque acreditando-sc aspirar eu á beatificação diante transacções aiiui feitas. (Muito bem.)
nu á canonisação, segundo se diz spr pratica em O Sr. Presidente : i— Tem a palavra o Sr.
Roma, não me tem faltado os advogados do diabo
que se têm encarregado do apresentar os meus Araujo Lima.
defeitos, quiz o nobre deputado insinuar cem I O Sr. Araujo Lima : — Tomando parte,
generalidades infundadas, e que fazem rir, so | Sr. presidente, no debate da resposta á falia do
mente acreditaveis aos desconhecidos, que o meu í throno, em uma occasião que para mim é mui
luxo era extraordinario, e fazia necessarias gran solomne por tantos motivos, começarei por assi-
des despezas 1 gnalar um facto importante que se passa nesta
Senhores, entenderá o nobre deputado que é camara, e que quero tornar bem sensivel.
Esto facto, meus senhores, ó que o gabinete,
luxo talvez lavar eu a cara (risadas), vestir roupi para a boa direcção dosj negocios publicos, não
lavada, cuidar que a casa esteja limpa, e não tem, na
desejar viver no mesmo da immundicie ? I Se se que lhe propria maioria que o sustenta, o apoio
julga isto o luxo digno de reprovação, bem fa- apoiados.)é necessario. (Reiterados apoiados e não
zião os Marats, que surgindo das cavas gritavão:
o Morra o aristocrata, o ladrão que não se accom- O Sr. Presidente:— Attenção I
moda com o meu genero de viver. » Mas inves O Sr. Araujo Lima:— Se acaso, Sr. presidente,
tigou o nobre deputado a vida do individne que os gabinetes não querem ter, no systema repro-
quiz assim offender ; teve noticia do viver elle tativn, uma vida de mero expediente; se têm
mergulhado nos prazeres dispendiosos, nos jan elles elaborado medidas sábias o profundas, apro
tares, nos bailes e nas funeções ? Nem ao menos priadas a promover o bem publico nos diversos
vio que já ha mais do um anno que estou no ramos de administraçao que esta a seu cargo ;
ministerio, e ainda não leve lugar uma só destas se são elles obrigados a marchar de ' accordo
festas em minha casa ? Não lhe constou que a com as maiorias das camaras, é de incontestavel
mesma maneira de proceder tive nos quatro annos necessidade que tenhão nessas mesmas maiorias
da presidencia da Bahia? Tom-so espantado por adhesões sinceras, francas o decididas. Ora, essas
ventura das ricas equipagens em que ando ? adhesões sinceras, francas o decididas é certo que
Onde pois este luxo, senhores, pará perder a fallecem ao actual gabinete, como facilmente de-
fortuna particular e dissipar a publica ? rehendo dos discursos daquelles honrados meffi-
O Sr. Wanderlev: — Não lhe dê resposta. E' ros da maioria que na tribuna o têm sustentado.
triste que se veja um homem na necessidade de (Apoiados e não apoiados .)
responder a isto I (Apoiados.) Se lanço os olhos, Sr. presidente, sobre os dis
O Sr. Gonçalves Martins : — Sem duvfda é cursos dos diversos oradores da maioria que tem
assim, mas alguns dos Srs. deputados são novos, prestado seu apoio ao gabinete, essa verdade para
e não conhecem o oflendido ; devo zelar o lugar mim se apresenta de uma maneira evidente e
que oceupo. incontestavel.
O Sr. Fiusa : — Mas isto não merece resposta. suaO honrado deputado pela Bahia que patenteou
adhesão ao gabinete, ao mesmo tempo ful
(Apoiados.) i minou o nosso systema eleitoral e judiciario, do
O Sr. Gonçalves Martins : — Devo porém que conclui eu em meu assento, que o nobre de
zelar a minha reputação, principalmente durante putado tacitamente confessava quanto o gabinete
a commissão com que estou honrado. Nem sei e incapaz 1 (Apoiados e não apoiados.)
mesmo qual é a insinuação que devo reuollir. se O Sr. Dutra Rocha dá um aparte que não
a da grando fortuna que possue, so das dividas ouvimos.
que tjnho 1 Até o nobre deputado quer saber o
que gasto e quanto devo. . . . Senhores, são mi O Sr. Araujo Lima : — Se examinando ainda,
serias. (Apoiados.) Resolvomo a esperar a lei Sr. presidente, o discurso de um dos talentos mais
tura do discurso do nobre deputado, e previno bellos, do um dos oradores mais distinctos desta
a camara que estou prompto para dar-lhe com camara, vejo que póde-se traduzir pouco mais
pleta resposta. ou menos sua opinião nestas palavras : « O paiz
Não posso responder á parte contra o proce reclama taés o taes medidas ; vós, Srs. ministros,
dimento havido sobro a estrada de ferro, porque, apacidade;
nenhuma delias satisfazeis , deploro vossa inca
como disse, não assisti á discussão ; porém desde vivei pois. tenho porém alguns amigos entre vós:
já acredito que não forão ditas cousas que pos- sidente, que» posso E' somente por esta fórma, Sr. pre
interpretar os pensamentos do
são pezar na razão do hemem ; e como o theatro nobre deputado pela Bahia a quem me refiro, e
proprio para semelhantes debates é o da discus acredito que a camara e o paiz assim o hão do
são do contracto Irenêo, que depende da appro- entender. (Apoiados e não apoiados.)
vação do corpo legislativo, nesta occasião ha
verá a precisa opportunidade. Por agora con-' Se V. Ex., Sr. presidente, em uma occasião nesta
tento-me de communicar á camara as noticias casa nos dizia que suas palavras nunca ião além
recebidas de Londres pelo ultimo vapor, e que do seu pensamento, pela minha parte acredito
lhe devem interessar, porque muito so deseja a que o honrado deputado pelo Rio de Janeiro a
roalisação da importante empresa da estrada vo quem me rofiro, pela circumspecção com que
tada pela lei de 26 do Junho. (Apoiados.) Eis expende suas opiniões, ê capaz de fazer recolher
o que manda dizer o nosso digno ministro em a palavra que já lhe tinha escapado da boca. Ora,
Londres : esse honrado deputado, que faz uma figura tão
(Lê um offlcio.) proeminente no parlamento , que é tão circuin-
specto, não presta ao gabinete um apoio franco
Em uma carta particular o nosso ministro ex e decidido como convida.
plica mais detalhadamente a marcha que tem tido Quando leio, Sr. presidente, a resposta á falia
este importante negocio, e declara ter esperanças do throno que se discute, o que em todos os
de que se organise uma empresa d is mais fortes tempos foi a para phrase fiel do todos os topi
que tenhão tido lugar para obras de semelhante cos da falia do throno, approvando-os ou repro-
natureza, junlanuo c concentrando as grandes vando-os, segundo o estado das camaras, vejo
firmas da praça Deve-se portanto esperar que ahi nma omissão notavel, com referencia á con-
venlia pelo primeiro vapor o contracto satisfato strucção dos caminhos de ferio que forãi votados
riamente feito, e garantida assim a empresa de na sessão passada. O que bem indica a não
uma maneira mais infallivel do que poderia o approvação nesta parte do proceder do gabinete.
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 Ub
Attentando ainda, Sr. presidente, na theoria rião alguma attenção perante vós, eu vos suppli-
perfeitamente nova que nos apresentou esso hon caria que não vos fizesseis réos de tão grande
rado deputado, sobre ser o voto de graças uma crime, banindo como quer o honrado deputado,
peça inteiramente incolora, ou sem pensamento, por amor de SS. EEx. os Srs. ministros, de
não posso deixar de ahi descobr.r a revelação nossas discussões (reclamações) os conceitos de
bem manifestada da falta de apoio que elle tão elevadas intelligencias.
preste ao gabinete, por mais qne acredite na O servilismo embora desinteressado, diz Gui
sinceridade das convicções com que o nobre de zot, daquelles que defendem o governo em todos
putado defende n theoria que expendo, como é os seus actos, ó tão prejudicial ao mesmo go
meu dever, não me sendo licito duvidar de sua verno como os ataques de seus mais ardentes
palavra que assim o affirma, sobre o que com- 0 incarniçalos inimigos, ctc.
tudo assignalarei com cuidado o a proposito - da Onde está a offeiisa, meus senhores, na cita
manifestição. ção geral e sem applicação de um pensamento ?
E quando, Sr. presidente, fossem necessarias | stará, apezar de tudo, no termo servilismo ?
mais provas par i justificar a falta de apoio do Mas a palavra servilismo, modificada convenien
nobre deputado, elle exprimio-se com tal fran temente por desinteressado, que outra cousa ex
queza que não deixaria a menor duvida, porque prime senão um apoio decidido a todos os actos
elle declarou que se podia apoiar um gabinete da administração?...
divergiildo-se delle em muitos pontos aliás.
O Sr. Eusebio de Queinoz : — O que eu disse O Sr- Fioueira de Mello : — Apoiado, é tra-
está escripto. (Apoiados.) ducção littaral.
O Sr. Araujo Lima : — Sejão portanto, Sr. pre" O Sr. Fiusa: — Resta provar que ha servilis
sidente, quaesquer que forem as explicações que mo da pirte da camara, a palavra servilismo
se dêm, o que é fòra de duvida é que o gabi sempre traz idéa de abjecção.
nete não tem nesta camara o apoio fraco e de O Sr. Araujo LimA : — O meu nobre amigo
cidido qne lhe seria necessario para bem dirigir possue bastante intelligencia, bastante dignidade
os negocios pubicos. (Reclamações ; apoiados e pua não irrogar uma injuria á camara a que
não apoiados.) pertence.
E nem, meus senhores, vos admireis que nós Uma Voz : — Então retire a expressão. (Movi
que apoiámos o ministerio na sessão passada, que mento. Trocão-se varios apartes.
nos fizemos eleger como não pertencendo ás filei O Sr. Presidente : — Attenção 1
ras opposicionistas, que não estamos com elle
em nntagonismo a .principios politicos, | nos apre O Sr. Araujo Lima : — Assim, meus senho
sentemos hoje em opposição, porque isso tem a res, em vez de estranhar, respeitai os pensa
explicação mais natural. Nas evoluções diversas mentos profundos de sabios distinctos e esta
da humanidade, Sr. presidente, surgem grandes distas abalisados, que so sentarão nos conselhos
principios ou idéas, que têm para, satisfa- de grandes principes, dirigirão os destinos de
zêl-os, a^signalados pela providencia os gran uma grande nação, e que os' entregarão á medi
des homens a quem os povos acompanhão. Com tação dos povos amadurecidos na ^sempre pro
pletadas no todo ou mesmo em parte essas idéas, veitosa escolha da adversidade, nos calabouços
os grandes homens descahem de proporções, sub do estado, ou no exilio.
stituem as paixões egoistas á sua missão pro Oxalá fossem taos conceitos meditados noite
videncial. Os povos se isolão delles. O gabinete e dia em vez de estranhados ou desprezados por
da legislatura passada completou em parte seus amor dos Srs. ministros. (Muitos apoiados. Re
elevados destinos. Dominado de paixões egoistas, clamações.)
o gabinete actual as substitue á sua missão pro Farei ainda, Sr. presidente, ligeiras observa
videncial. Nós o abandonamos. ções sobro proposições emittidas na casa por
Antes, Sr. presidente, de passar adiante, devo alguns membros da maioria.
uma breve resposta a um nobre deputado da Parece-me, Sr. presidente, fóra de duvida que
maioria que fulminou a opposição... o governo andou mal avisado no negocio de Ma
Um Sr. Deputado : — Então já reconhecem noel Pinto da Fonseca. O governo estava dis
maioria ? posto a fazer sahir do territorio brazileiro esse
Outno Sr. Deputado : — Aceitamos a confissão. subdito portuguez ? Fizesse-o, que ninguem lh'o
(Apoiados ; reclamações.) estranharia. Mas sujeitil-o aos tribunaes do paiz,
e depois da decisão favoravel dos mesmos, de-
O Sit. Araujo Lima :— Esse honrado deputado, portal-o I E' desacerto que não tem defesa. Não
no empenho de combater a opposição, na de refiectio o governo que seu proceder necessa
permittir que lhe diga : « Não recueu nem pe riamente acarretava profundo desprezo e des
rante o absurdo e nem perante o crime de lesa credito sobre o poder
nãojudiciario (muitos
intelligencia humana I... Vós combateis a res dos ; reclamaçõesi, só perante o paiz,apoia
como
posta á falia do throno, c não apresentais perante o estrangeiro. (Apoiados. Reclamações.)
emendas. Logo, estais de accordo com ella, ex O Sr. Corrêa das Neves : — O governo estava
clamava o honrado deputado. » no seu direito praticando assim ; o maia. é não
Aguardarei, meus senhores, que o honrado entender o que é o poder administrativo. '
deputado combata qualquer materia nesta casa
sem que apresente emendas. Perguntar-lhe-hei O Sr. Araujo Lima : — Notarei, Sr. presidente,
então se está de accordo com tal materia. Depois de passagem, com relação á reunião ministerial
'do sua resposta defenderei a opposição de tão de que fallou S. Ex. o Sr. presidente do con
esmagadora accusação 1 selho, que a conducta do govorno não póde
Novo Omar, Sr. presidente, acredito ainda que o deixar de ser estranhada em semelhanto materia.
honrado deputado lançaria ao fogo de bom grado Se o gabinete sabia, Sr. presidente, que appa-
as mais bellas produc?ões do espirito humano recião divergencias na maioria, nada mais facil
com o receio do ahi achar alguma allusão á e simples do que a linha de conducta a segjiir
actualidade que defende. Assim e que o honrado a tal respeito. Convocadas todas as deputaçoes,
deputado condemna os principios nobres e pro e sem exclusões, o que se não fez, me parece
fundos do Conde de PeyroneÉ e de Guizot, que que S. Ex., se tinha em vistas chamar a
o meu nobre amigo deputado por Pernambuco maioria a um accordo razoavel, deveria comme-
apresentou nesta casa. morar e expender a politica que seguira ou tinha
Se eu acreditasse que minhas palavras merece- a seguir, instituindo sobre ella uma discussão
tosio 2. 19
146 SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
franca e leal, para conhecer a natureza dos dis desculpa ã camara de minha ousadia, assogu-
sentimentos que appuecião, e se havia para rando-lhe que se não contasse com sua benegni-
elles uma solução possivel. dade jámais elevaria os meus vêos a tamanha
Mas estabelecer seccamente a questão nestes altura.
termos : « O gabineto na primeira occasião quer Quaes erão, Sr. presidente, nossas relações com
a declaração do vosso apoio ou não apoio », a confederação Argentina na legislação passada ?
S. Ex. me permittirá que lhe diga que se appro- Para garantir os interesses do imperio no pre
xima um pouco a pretender governar a Casimir sente e no futuro levámos a guerra a esse paiz ;
Perrier, de cujas maiorias se diz que executavão derrubámos o dictador D. João Manoel Rosas,
(apoiados) suas ordens como os soldados fazem e elevámos o general Urquiza. Em que estado se
o exercicio. achão hoje as mesmas relações? Apeado do poder
Notarei agora, Sr. presidente, com relação a pelas revoluções, que são tão frequentes naquelle
S. Ex. o Sr. ministro da marinha, que me pa ostado, o general Urquiza trata de rehavel-o;
rece que S. Ex. esteve um pouco abaixo de lavra a guerra civil entre aquelles povos.
seus talentos nas observações que fizera contra Desejaria ouvir a opinião de S. Ex-, tanto
o meu illustre collega deputado por Pernambuco... quanto a previsão humana ou a prudencia o
O Sr. Auousto de Oliveira : — Apoiado I Eermittisse, sobre as seguintes perguntas : Sa
irá- o general Urquiza vencedor dessa luta?
O Sr. Araujo Lima: — Quando o Sr. ministro Vencerá o partido que lhe ó opposto ? Não é
da marinha em certa occasião expressava a sua possivel, não é provavel mesmo que o dedo, que
opinião nesta casa, o meu illustro collega lhe o dinheiro do ex-dic.tador D João Manoel Rosas
perguntou do seu assento se o direito mudava entre por muito nas dissensões que dilacerão
com o tempo Ora, isto que póde ser verdadeiro esse paiz ? Não é possivel, não é provavel
não implica por fórma nenhuma com a opinião mesmo que esse homem fatal seja chamado para
que terá o mesmo meu illustre collega, em que dirigir de novo os negocios da confederação Ar
pretende S. Ex. achar contradicção, de que a gentina, ou pelas transformações tão rapidas que
politica varia com o tempo, quando é certo que se dão naquelle estado, ou como o homem ne
o ella no geral circumstancial e sujeita a seme cessario para firmar alli a paz, embora seja a
lhante variaçao. paz dos tumulos? E se acaso essa hypothese se
Tambom, Sr. presidente, ó um pouco peque verificar, não ficarão perdidos os immensos sa
nina a observação que fez o Sr. ministro Ha crificios que fizemos em relação áquelle estado?
marinha a respeito das expressões do meu illus Os interesses do Brazil no presente o no futuro
tre collega sobro — dirigir e conter. — O meu não se acharão novamente compromettidos ? Peço
illustre collega de que fallo é bastante illus- novamente, Sr. presidente, perdão á camara pela
trado para não ignorar que ao |poder executivo ousadia que tomo de entrar em questões tão
pertence iniciar uma politica, apresental-a ás elevadas ; mas como ou ainda pertenço áquella
camaras, a quem compete approval-a ou não. classe de homens que têm fé no systema repre
No sentido porém de esclarecer em que se ex sentativo, acredito que as altas questõos do es
plicou o meu illustro collega, seu pensamento é tado não podem ser melhor dobatid.is do que
som contestação. nos grandes conselhos da nação, de que nós faze
Sou ainda obrigado, Sr. presidente, por isso mos parto. Assim, pois, com o mais profundo aca
que agora me recordo, a dar uma breve res nhamento chamo a discussão para este terreno,
posta ao honrado deputado pelo Rio de Janeiro não tinto com o fim de einittir uma opinião de
de quem já filiei. Não forão, como o honrado finitiva, como para ter o prazer de ouvir a
deputado aqui observou, as censuras que se S. Ex. o Sr. ministro dos negocios estrangeiros,
fizerão aos ministros por occasião dos Teste e cujos talentos e sabedoria tanto respeito. A ca
Coubiêres que acarretarão essas calamidades que mara pois me pormittirá que, para bem avaliar
o honrado deputado nos desenhou em estylo a politica do governo, eu lance uma vista d'olhos
arrebatador e eloquente. Acontecimentos tão rapida sobre a America em geral.
fataes forão principalmente devidos á abstenção Se lanço os olhos, Sr. presidente, sobre a
de ministros que cerrarão os ouvid«s ás vozes carta da America, vejo quasi no centro um grupo
francas e generosas de amigos que lhes aponta- de nacionalidade s ; as republicas hespanholas ;
vão os perigos da situação (apoiados) : forão exemplo fatal dos perigos a que os povos estão
principalmente devidos á cegueira imperdoavel sujeitos quando adoptão fórmas de governo an-
de ministros que, confiados em maiorias que tipathicas a suas idéas, costumes e habitos, es-
tudo apoião, não offerecêrão satisfação ás ne trebuxando eternamente nas garras da anarchia,
cessidades que a opinião publica imperiosamente incapazes de existir, prestes a serem devoradas
reclamava. fior nacionalidades mais bem constituidas que se
O Sr. Aprioio:— Foi a falta de energia dos hes avizinlião. Quisi em um dos extremos, Sr.
ministros. (Apoiados e não apoiados.) presidente, descubro mais um grande povo, mo
desto em sua origem, lento em seus progressos,
O Sr. Araujo Lima :— Feitas. Sr. presidente, forte pela unidade do governo, de religião, de
estas observações preliminares, e com que peço costumes, o mais ainda pela sombra magestosa
desculpa á camara por haver " entretido a sua da inonarchia a que abrigou as suas instituições,
attençao, entrarei na materia principal, na dis chamado por sem duvida para os mais altos des
cussão da resposta ã falia do throno. tinos ; falto do Brazil. Qnasi no extremo oppostu
Entendo, Sr. presidente, que a falia do throno offeiece-se-me ainda á vista um grande povo, o
quanto aos negocios exteriores é pouco previ americano do norte, orgulhoso pela sua origem,
dente; quanto ao tranco, á emigração, e aos ban costumes, instituições, progressos espantosos, do
cos, é inefficaz, infundada ou incompleta ; quanto ambição demasiada, sonhando ã maneira dos
a. execução das leis é viol idora delias; quanto deoses de Homero, em quatro passadas apossar-se
ás necessidades do paiz, é perfeitamente esteril ; de toda a America. Daqui a 30 annos, diz este
quanto a reformas politicas que propõe, é ir povo, estaremos no isthmo de Paraná : e quem
risoria ; e quanto finalmente ã administração sabe onde chegaremos I Nem, Sr. presidente, os
interna do paiz, é sem justiça e moderação. projectos ambiciosos desta nação ficão em pala
(Apoiados e não apoiados.) vras; traduzem-se a factos.
Ultimo dos oradores da casa, Sr. presidente, Faltando no que é mais recente, ahi está a
tomando parte na discussão de materias que California absorvida, o Mexico proximo a sel-o,
estão tanto acima da minha comprehensão, obri e Cuba ameaçada. Ousarei eu tazer uma pergunta
gado a combater tão distinctos oradores, peço a S. Ex. o Sr. ministro dos negocios estrangei
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 147
ros? Se essa republica fòr ávante em seus pro descerei a regiões mais modestas, examinando
jectos gigantesces de engrandecimento, se absorver os outros topicos da falia do ihrono.
as nacionalidades vizinhas, se approximar-se ás A falia do throno, Sr. presidente, nos indica
fronteiras do imperio, elevando a sua população a necessidade de novas providencias para repres
com a corrente da emigração curopéa qne para são do trafico.
ahi affluirá a 40 ou £i0 milhões, o imperio não D'onde porém se deduz a insufficiencia da le
se achará em sério perigo? Acredita S. Ex. -que gislação que existe a semelhante respeito? Do
tudo isto não passa de mero sonho? No caso desembarque de Bracuhy de que aqui se fallou?
contrario, com que systema politico pretende Mas esse desembarque, Sr. presidente, não indica
S. Ex. conjurar esses perigos possiveis, ou pro outra cousa senão a imprevidencia, a violencia
vaveis? e o abandono do Sr. ministro da justiça. (Apoia
Perdoar-me-hia S. Ex. o atrevimento de inda dos e não apoiados-) Avisado o, Sr. ministro da
gar se na politica a seguir em tal hypothese justiça de que se tentava um desembarque em
invocaria S. Ex. o Sr. ministro dos negocios es certo ponto da costa do imperio, não fez con
trangeiros o exemplo de uma grande nação da servar ahi o cruzeiro, como devia; informado
Europa, e mesmo da America do Norte, em suas de que esse desembarque se effectuára, S. Ex.
absorpções, o que teria a vantagem de nos ha levou metade de um mez para dar providen
bilitar a jogarmos com armas iguaes ; (fallo do cias. . .
systema da Russia para com a Polonia e o im! ' O Sr. Pedreira : — Dérão-se no lugar todas
perio Ottomano), a politica consistiria em accele- as providencias que se podião dar, tanto por
rar a dissolução dessas nacionalidades impossiveis parte do juiz de direito da comarca como de
Sara mais facilmente obtermos o nosso quinhão outras autoridades.
e despojos? Mas esta politica, por immoral, O Sr. Araujo Lima : — Accommettido de re
acredito, não deveria ser repudiada? (Apoiados.) morsos por sua imprevidencia, S. Ex. lançou-se
Julgaria S. Ex. avisada e previdente a poli nas vias da violencia....
tica de perfeiti neutralidade, cruzando o imperio
os braços e deixando a America do Norte pro- O Sr. Pedreira : — Não é exacto.
seguir desimpeçadamento nas vias do engrande O Sr. Araujo Lima: — ...dérão-se buscas de
cimento, ate pela conquista? que nascerão o maior perigo para a sociedade
Adoptaria S. Ex. de preferencia o systema de fluminense.
consolidação dessas nacionalidades? Quando, Sr. presidente, tive de voltar o anno
Não encontraria porém semelhante pretenção passado para a minha provincia, observei com
uma fatalidade invencivel na historia dessas re espanto que os escravos fallavão em que a
publicas, que as apresenta em uma anarchia escravidão ia acibar, que na Europa não ha
eterna ; e na propria constituição de seus go via escravos. Cito este facto para chamar a
vernos, em que chefes militares sem meritos e attenção do gabinete sobre esta materia, que
sem talento assaltão tão constantemente o poder, encerra perigos muito graves para o paiz. Isto,
de que são precipitados por outros chefes mais pois, sorve de censura ao Sr. ministro . que,
felizes ou mais audazes ? sem nttender ás condições especiaes do paiz ,
Se pois a politica de precipitação da dissolu atira se a medidas violentas, de buscas, a res
ção dessas republicas seria immoral, a da neu peito das quaos devia consultar não somente a
tralidade pouco avisada , a da consolidação legislação do paiz , mas tambem com o maior
impossivel, não poderia ter o imperio aspirações desvela suas peculiares circumstancias. Sem que
de absorvel-as picifica ou bellicosamente : paci se saiba porque, S. Ex. o Sr. ministro da jus
ficamente, absorvendo-as na nacionalidade brazi- tiça abandonou ao depois a perseguição e pu
leira para gozarem das vantagens que offerece nição dos criminosos. '
um governo regular, deixando o estado anarchico Ora, quando vojo, Sr. presidente, que a im
em que se revolvem constantemente ; bellicosa previdencia, ou a violencia ou o abandono da
mente, quando por violação de nossos direitos, parte do Sr. ministro foi o que deu origem ao
invadisse seu territorio, oceupasse suas cidades acontecimento de que se trata, posso acreditar
e recebesse por indemnisação parte de seu ter na necessidade de reformar a nossa legislação
ritorio, se dinheiro ellas não tivessem? ácerca desta materia ? Não , não precisamos
O Sr. Corrêa das Neves: — Não seria seme de maior rigor para reprimir o trafico. A grande
lhante politica de perversidade? precisão que tom o paiz é de um ministro da
justiça que zelo os interesses publicos com o
O Sr. Araujo Lima: — Não seria esta politica mesmo desvelo com que S. Ex. soube cuidar
ha muito grandiosa e conveniente, que nos daria dos seus proprios.
augmento de territorio, de população e de re Em relação, Sr. presidente, á emigração, fa
cursos para combater os perigos possiveis ou rei mui ligeiras considerações, até porque não
provaveis que se antevêm ? se sabe ao certo sob que ponto de vista o go
Assim pois, Sr presidente, teria a maior sa verno encara esta materia. Notarei entretanto
tisfação em ouvir a S. Ex. Como porém me pa de passagem que se o governo quer promover
rece que S. Ex. o Sr. ministro dos negocios a colonisação effleazmente , então sua marcha
estrangeiros adopta o systema de neutralidade, deverá ser muito diversa da que tem seguido
combinado com o da consolidação dessas repu até aqui. Apresse o governo a execução da lei
blicas, se S. Ex. me désse licença, eu lhe pediria das terras, offereça ao estrangeiro a possibili
que désse um pouco mais de expansão a suas idéas, dade de ser proprietario , de chegar a uma
que tratasse de garantir os interesses do paiz condição independente pelo seu trabalho e eco
no presente, e com especialidade no futuro, for nomia, assente a paz e a tranquillidade pu
talecendo essas nacionalidades, buscando ahi al- blica em bases solidas, 'garanta propriedades e
lianças contra emergencias possiveis, porque em vidas, cubra o Brazil de estradas. Feito isto,
meu conceito a America do Norte encerra graves meus senhores, riscando-se da falia do throno
perigos para a America. Eis pois porque disse o topico de protecção á emigração, que enjóa
que a politica do governo me parecia pouco pre do morte, a população crescerá, a emigração
vidente. affluirá. Tudo que não fòr isto é não só con-
Deixando agora, Sr. presidente, esta parte demnado pela razão, como pela experiencia.
mais elevada do meu discurso, de que fui obri Observarei, Sr. presidente, e de passagem, a
gado a tratar principalmente para ter o prazer respeito dos bancos, que a medida que o gabi
de ouvir a S- Ex., por assim julgar conveniente, nete propõe é inteiramente incompleta, porque,
148 SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
como já se tem notado, ao passo que o com- dade, descubro por toda a parte aspirações e
mercio o a industria so achão revestidos da tendencias manifestas para os melhoramentos ma-
protecção, ao passo que ha bancos estabele toriaes, as vias do communicação, os caminhos
cidos em varias provincias do imperio que têm de ferro. Sabios o ignorantes, granles e pequenos,
feito em favor daqucllas industrias baixar a ricos e pobres, todo o povo ó somente do que se
taxa do juro, nenhuma medida apparece que oceupa-
promova os interesses da agricultura. Direi ape Assignalarei um facto que é pira mim impor-
nas isto, o passarei adiante. portante Quando este anno tinha de fazer uma
Sr. presidente, não aprofundarei a questão viagem por terra de 1:i0 leguas, maravilhei- in«
dos caminhos de ferro, porque osta materia de ver-me questionado a cada passo por homens
tem sido debatida nesta casa com uma supe os mais simplices, os mais ignorantes do paiz,
rioridade de dialectica que não foi nem póde ácerca dos caminhos do ferro. O que são caminhos
sor abalada ; todavia, em poucas palavras ex de ferro ? Quanto custão ? Como se fazem ? Em
porei o estado desta questão. O que fez o que tempo se anda nelles? E depois .de eu dar
parlamento na sessão passada ? Decretou uma as explicações que me parecião sufficientes, eu
linha de caminhos do feiro. via esses homens simplices e ignorantes rom
O que houve mais na discussão deste objecto ? perem nesta exclamaçao: AhI se tivessemos ca
As camaras reprováráo todos os contractos que minhos de ferro I
existião relativamente á censtiueção de cami O Sr. Corrêa das Neves : — Isso não é novo.
nhos de ferro apresentados por Cochrane, con
sagrando a incompetencia do governo para fazer O Sr. Araujo Lima:— Assim pois, Sr. presi
taes concessões. Entretanto o que fez o gabi dente, tenho observado que ha uma tendencia
nete ? Desprezando o voto das camaras, decla geral na nossa população para os melhoramontos
rou subsistentes esses contractos I Dahi nisceu materiaes.
essa serie do actos que qualificarei do incom- Mas, meus senhores, o que deveria fazer um
prehensiveis, de verdadeiramente pueris. O go governo sabio e previdente nesse estado dos espi
verno declara subsistente o contracto Cochrane ritos? Devia apossar-se desse instincto do povo
e todavia estabelece a concurrencia, uma cousa ex o satisfazêl-o propondo ao corpo legislativo um
clne outra ; o governo estabelece a concurrencia, e vasto systema do trabalhos publicos, de vias do
todavia ha uma preferencia certa ; uma cousa communicação ou do caminhos de ferro; um
exclue a outra ; apparece ao depois a clausula vasto systema que levasse a todas as provincias
de caducidade que não estava no contracto Co o desenvolvimento da producção, o crescimento
chrane, surdo ainda um novo concurso, u final dos diversos ramos de industria, a prosperidade,
mente é o negocio remettido para Londres I a civilisação.
Que é o que se vê em todo este negocio? Domi O Sr. Corrêa das Neves : — Quantos annos
nado do principio da omnipotencia do poder, o custou á Inglaterra obter isso ?
governo não quiz por fórma alguma recuar em
presença do contractos que tinhão sido cele O Sr. Araujo Lima: — Entretanto, meus so-
brados por governos anteriores, e a respeito dos nhores, o que ó que diz a falia do throno com
quaes havia o corpo legislativo doclarado que o relacão a essa necessidade do paiz, a mais ur
governo não era competente. gente, a mais palpitante, o sem a qual o nosso
Se acaso o governo se achou em embaraços paiz jazerá em uma barbaria eterna? Nem uma
taos que a execução da lei era impossivel, então p i lavra I
precedesse por uma maneira franca, afastasse-se Se estivesemos em um paiz de uma aristocra
da lêi, viesse dar conta da sua conducta ás ca cia poderosa, que ciosa do governo e de riquezas
maras, e lhes pedisse um bill de indemnid ide. colossaes, dotada do espirito de associação no
Mas quando votamos a construcção de uma linha gráo mais eluvad0 ; so acaso estivessemos em ou
de ferro, quando revogámos os contractos feitos tro paiz em que o povo faz tudo por sl mesmo,
a tal respeito, vir o governo dizer- nos que a lei então o governo poderia deixar a satisfação dessa
que fizemos não compreende esses contractos, necessidade ás forças individuaos. Mas se esta
que o governo está autorisvio para sustental-os, mos em condição inteiramente opposta, não deve
isto, meus senhores, é obrigar-nos a fazer o papel ria um governo sabio tratar de prover essa primeira
mais triste do mundo, o papel de tolosI Assim, necessidade do paiz? Eis-ahi, meussenhores, porque
com respeito ú execução da lei, o governo foi eu dizia que a falia do throno com relação ás
violador delia. necessidados do paiz é inteiramente esteril.
Foi ainda violador da lei om relação a essa Occupar-me-hei agora, Sr. presidente, das medi
estrada de Mauá, Sr. presidente, porque, se das politicas que o gabinete nos propõe, e, a esse
gundo a propria confissão do Sr. ministro do respeito a camara permittirá que eu faça consi
imperio, um dos pontos desta estrada ficou com- derações mui ligeir is sobre as nossas institui
Íirehenlido na zona da estrada decretada peia ções politicas.
ei de 20 de Junho. . . So acnso, Sr. presidente, as poucas noções que
O Sr. Paula Candido : — Não lia tal. tenho a semelhante respeito não me induzem per
feitamente em erro, acredito que as nossas insti
O Sr. Araujo Lima : — O Sr. ministro do im tuições politicas basêão-se no principio do reco
perio o confessou... nhecimento de todos os direitos do homem e do
O Sr. Paula Candido: — Não, senhor, está en cidadão, o na protecção olferecida a esses direitos
gano. por certas garantias, entro as quaes figura em
primeiro lugar a divisão e dependencia dos po
O Sr Araujo Lima: — Mas se em um caso, le deres politicos.. Vejamos, pois, se esses poderes
vado pelo principio da omnipotencia, o governo politicos funecionão com regularidade.
tinha em pouco as deliberações do parlamento, Em que estado de funecionamento se achão os
em cutro caso acredito que o desejo, a vaidade poderes politicos do imperio ? Fortemente consti
do ligar o seu nomo a empresas importantes, tuido, estende o poder executivo sua icção por
arrastrou o governo a não se importar com a todos os pontos do paiz, pelos ministros, presi
legislação do paiz. dentes, chefes de policia, autoridades policiies,
Mas, Sr. presidente, deixarei esta materia, que etc, o que so não contesta ; faz mais, invade os
tem sido tratada magistralmente. o irei adiante. demais poderes, e não tem coutrapeso nenhum.
Quaes são, Sr. presidente, as necessidades mais Sim, invidi o poder judiciario (apoiados), com
urgentes que apresenta a sociedade brazileira? quem julga por suas autoridades policiaes. Con
Se lanço os olhos, Sr. presidente, sobre a socie stituido sem as necessarias condições de indepeu
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 149
dencia, o poder judiciario não offerece necessaria O Sr. Wanderlev: — Mas sempre o alcançarão.
barreira nem contra as paixões do governo, nem O Sr. Araujo Lima:— E, senhores (chamo sobre
contra as da multidão. E em que estado, meus se esse ponto a attenção muito espscial do gabinete),
nhores, se acha o poder eleitoral? Mudo espe se tal ó o estado das nossas instituições politicas,
ctador das lutas eleitoraes, o governo deveria con se se achão profundamente viciadas, se demais
sultar a vontade nacional, apossar-se delia e um partido violento proclama por meios revo
traduzil-a em actos ; mas é isso é o que acontece ? lucionarios reformas raiicaes nessas instituições,
Não, o governo arroga-se uma intervenção nas não será de um governo sabio e avisado promover
eleições que nem lhe é concedida pela lei, nem por seus actos o jogo regular dessas instituições,
pela natureza das cousas. (Apoiados.) e applicar reformas moderadas, entenda-se bem,
O Sr." Ministno do Imperio : — Interveio no intacta a constituição (apoiados: , que fação essas
Ceará ? instituições marchar com a devida regularidade?
O Sr. Araujo Lima : — O governo quando as Entendo que sim.
sim procede, assemelha-se a esses oraculos men Entretanto, o que é que o governo nos propõe
tirosos di antiguidade, a quem se dictavão as com relação a medidas politicas? Propõe-nos a
respostas que se querião ; despe a sua quali reforma das municipalidades I Assim, meus se
dade do poiler protector para revestir a quali nhores, o governo quer acabar de suffocar em
dade de entidade malefica e oppressiva lançada suas garras esse derradeiro asylo da liberdade
pelo céo em colera para perturbar o povo no (oh.' oh.'); quer ter mais empregos que crear,
exercicio dos direitos que lhe são conferidos. mais afilhados que accommodar. (Apoiados e não
E, meus senhores, respondendo agora ao aparto apoiados.)
que me deu o Sr. ministro do imperio, direi : quando O Sr. Wanderlev:— A liberdade dos fiscaes I
examino o estado por que se achão constituidos O Sr. Paula Baptista: — A tal reforma ha de
os poderes politicos entre nós não me refiro a ficar na creação de alguns empregos de 8, 10,
hypotheses, fullo em tliese. Os abusos da parto
du governo são immensos ; e se em um ou ou l-':000$00í), e nada mais.
tro ea-.o não apparecem, é por um feliz acci- O Sr. Castello Branco: — Empregos para
dente, quando eu queria ver esses poderes con so darem a alguns mimosos do governo.
stituidos por fórmatai, que, ainda queren lo o go O Sr. Araujo Lima:— A falia é pois nesta parte
verno abusar, encontrasse nelles uma barreira uma perfeita irrisão.
salutar.
O Sr. Corrêa das Neves : — Apresente um Agora, Sr. presidente, entrarei em uma das
systema. partes mais importantes da materia, porque ó
um dos pontos principaes que -nos separão do
O Sr. Araujo Lima: — Se, Sr. presidente, con gabinete actual.
tinne no exame dos poderes politicos, vejo que o O governo, Sr. presidente, á maneira.do fidalgo
poder legislativo, impuro em sua origem pela que sem o saber fazia prosa, fez o seu epigramma,
intervenção adultera com que o governo o pro lavrou a propria sentença que o condemna, em
fana, está sujeito ao mesmo vicio a que deve a um topico da faila do throno. Diz elle: «Ren
sua existencia. damos graças á divina Providencia pela paz e
.O senado, meus senhores, está no mesmo caso- tranquillidade que gozamos.» Ora, meus senhores,
E a respeito do senado, assignalarei ainda um se a paz e a tranquillidade que gozamos é mero
abuso altamwnte opposto ás leis e aos interesses do effeito da bondade da Providencia, o governo que
imperio, o é que elle, pelo teor por que as cou isto confessa patentêa sua incapacidade, porque
sas vão, em breve será chamado, não o senado a paz e a tranquillidade que gozar qualquer paiz
biazileiro, senão o senado do Rio de Janeiro deverá ser, para não aceusar a inepcia de seu
(apoiados e não apoiados), porque o governo tem governo, não só effeito da bondade da Provi
traçado um circulo de ferro dentro do qual só dencia, mas ó lambem dos esforços bem com
entrão os predestinados por sua omnipotencia. binados do governo. Discreto como é o nobre
(Apoiados e não apoiados.) relator da commissão, percebeu elle o desacerto
O Sr. Fioueira de Mello :— São factos. da falia do throno, aprosentou-lhe a correcção
dizendo : « Sim, rendamos graças á Providencia
O Sr. Araujo Lima :— Quando se trata de' certas pela paz e tranquillidade que gozamos; mas re
materias, os honrados deputados entendem que conheçamos ao mosmo tempo que essa paz 6
se é a isso levado por considerações mesquinhas ; também o effeito de uma politica justa e mode
mas rogo-vos, meus senhores, que acrediteis que, rada, e do amor e fidelidade do povo ás insti
quando assim o faço, tenho os olhos fitos, com tuições que jurou, e este estado (disse ainda),
a consciencia a mais religiosa, nos interesses do prometia duração.» Os principios apresentados
meu paiz. (Apoiados.) pela commissão são verdadeiros. Quando um
Perguntarei aos Srs. ministros, que são homens governo justo, Sr. presidenta reconhece e garante
da monarchia, se não entendem que esse abuso todos os direitos, quando um gover.io moderado
ameaça profundamente as instituições do piiz. tempera os rigores da justiça segundo as circum-
O Sr. Candido Boroes :— Prove o abuso. stmcias que se apresentáo, quando um povo
tendo amor e fidelidado as instituições que jurou
O Sr. Araujo Lima : — Chamado o senado pela tolera os abusos inevitáveis para que busca re
natureza de sua constituição a moderar muitas medio nas mesmas instituições, é fóra de duvida
vezes o movimento rapido do progresso que é que a paz e tranquillidade está firmada em bases
representado n 'sta ca nara, que força terão esses solidas e duradouras. Mas se são verdadeiros os
anciões respeitaveis para combater os excessos principios que ficão expostos será conveniente
dos representanles temporarios se não tiverem que nós vamos confessar na resposta á falia do
raizes nas provincias, se todos ou quasi todos throno aquillo que o governo não reconhece ?
fórem do Rio de Janeiro? (Apoiados.) (Apoiados.) Quando o govbrno assevera que essa
O Sr. Candido Boroes :— Quantos existem pelo p i/ e tranquillidade é devida á providencia, nós
Ceará? quantos por Pernambuco? havemos de lhe dirigir uma lisonja indecente
dizendo : « Não Srs. ministros, vós sois muito
0 Sr. P. Campos:— E' porque tomos resistido modestos, essa paz o essa tranquillidade que
energicamente ás pretenções de cá. goz unos não é devida somente a Providencia,
O Fioueira de Mello: — Custou -nos muito mas tambem aos vossos esforços, á vossa poli
esse triumpho. tica de moderação... »
150 SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Corrêa das Neves:— E era melhor que explicações não podem por fórma nenhuma illudir
o governo dissesse isso, que fizesse o seu elogio a opinião publica, que ahi não vê senão a in
O Sr. Araujo Lima :—Vêde lá, meus senhores, justiça, a immoderação, a desconfiança do gabi
nete para com seus alliados. (Apoiados, recla
que os Srs. ministros vos não digão : « deixai-vos mações.)
de tantos encomios e elogios , que não pedimos,»
(Reclamações ; apoiados.) Entendo, por consequen O que é '"ue acontece em Pernambnco desde
cia, Sr. presidente, que a camara dos Srs. de que subio ao poder a politica dominante ? Essa
putados não deve adoptar essa parte da resposta provincia , meus senhores, jaz em completo os
a falia do throno, porque seria uma lisenja, que tracismo. (Apoiados repetidos da deputaçdo de
por fórma -nenhuma lhe convem. Pernambuco.) O governo não achou até agora
Mas, meus senhores, acredita a commissão como um só filho dessa provincia digno de a reger
assevera que esse estado de cousas promette dura (apoiados; reclamações) ; essa provincia que re
ção ? Será isso exacto ? Será verdade que o estado presenta um dos mais importantes papeis no
de paz e tranquillidade de que gozamos promette norte do imperio... (Apoiados ; reclamações.)
duração? Quando os proprios membros da maio
ria reconhecem que o nosso systema eleitoral está queUmPernambuco
Sr. Deputado : — Mas é mister advertir
não é o norte do imperio.
profundamente viciado, não permittindo a livre
manifestação das difforentes opiniões que se de O Sr. Araujo Lima :— .... que é tão rica de -
batem no paiz ; quando os proprios membros illustrações, de capacidades, e tão habilitada para
da maioria confessão que o poder judiciario não se encarregar de sua propria administração?III...
offerece as necessarias condições de independen (Apoiados.) E para que não havemos de ser fran
cia ; quando todo o paiz sente e proclama a om cos ? Quem não sabe , meus senhores, que o
nipotencia do poder executivo , e quem póde governo acredita não ter em Pernambuco um partido
tudo o que quer , muitas vezes quer o que não devidamente constituido em que se apoie. (Apoia
deve; havemos" nós de afflrmar que a paz e a dos ; reclamações.) Quem não sabe que o governo
tranquillidade está firmada sobre bases solidas e avalia alli seus alliados intolerantes, rancorosos,
duradouras ? Se foi uma lisonja alli dar a paz sequiosos da estrangular os seus adversarios ?
como effeito da politica do governo, seria aqui (Muitos apoiados; reclamações.)
uma illusão afiançarmos uma cousa de que não E, meus senhores, quanta injustiça, quanta in
temos, nem podemos ter confiança, porque a paz gratidão não ha em semelhante juizo, porque
não prometterá duração emquanto os diversos não ha partido , nem mais forte por seu numero e
poderes do estado não funecionarem com regula riqueza, nem mais poderoso por sua intelligen-
ridade. (Apoiados.) cia c saber, nem mais constante e fiel na pros
O Sr. àprioio :—Mande uma emenda de sup- peridade , nem mais inabalavel na adversidade
(apoiados), que só tem tido ató o presente, em
pressão. reconhecimento de tão bellos predicados^ os tes
O Sr. Araujo Lima : — Mas , meus senhores, temunhos de uma consciencia pura, os daquelles
irei adiante, se é verdade que o governo deve que os conhecem de perto , e os dessa provin
a todos os governados uma politica de justiça e cia heroica que vendo seus escolhidos entre o
moderação, não póde deixar de ser menos ver sorriso da perfidia, apunhalados pelas costas, os
dade que essa politica deverá ser extensiva a galardoa, enviando-os para esta casa, como seus
seus proprios alliados , acerescendo indubitavel segundos representantes. (Apoiados; reclama
mente a confiança, porque elles são os coopera ções.)
dores da execução do seu pensamento. Mas será
verdade, como o apregoa a resposta á falia do xarEmde vista disto, Sr. presidente, não posso dei
pedir ao governo que use de uma poli
throno, ser a politica do governo fundada em tica franca para com Pernambuco. Se o govorno
justiça e moderação caça com seus alliados 7
Este asserto é f ilso, mil vezes falso ; vou já entende
em que
não existirem alli elementos regulares
se aooie, tenha a coragem e sinceridado
demonstrar que a politica do governo para com necessaria para declarar os seus sentimentos
seus alliados não e de justiça, não é de mode (apoiados, rclamações) ; guerrêo, derribe influen
ração, não ó de confiança. (Apoiados; reclama cias maleficas que substitua por outras. Quanto
ções. Movimento geral na camara.) a mim , meus senhores , a politica muito bem
Uma Voz :—Prove isto. avisada seria a de plena confiança no partido
O Sr. Araujo Lima . — Se lançamos a vista, conservador.
Sr. presidente, pelis diversas provincias do im Este partido , revestido de toda a força, co
perio, Rio Grande, do Sul, 'Santa Catharina, S. nhecendo a provincia, e conhecido delia, impri
Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Pernambuco e miria por toda a pirte a obediencia á lei e res
Ceará, vemos por toda a parte lavrar o descon peito á autoridade , assentaria a paz e tran
tentamento contra o governo (apoiados e recla quillidade em solidas bases ; lançaria a provincia
mações.) que surge nas eleições ; e vem tomir nas vias dos melhoramentos materiaes ; conci
corpo no parlamento. (Muitos apoiados e recla liaria, quando não os homens de opiniões ex
mações ) No Rio Grande do Sul a politica sus tremas, os thomens moderados que formão a
peitosa do governo aliena os mais distinctos maioria de todos os partidos, por uma conducta
alliados, typos de constancia e lealdade. Quem generosa e patriotica, o porque nada é capaz de
ignora o que se passou em S. Paulo? Por uma approximar a proprios adversarios com mais
desgraçada oceurrencia em materia de eleições, força do que a nobreza e magnanimidade de
Íior essas desgraças que são possiveis em seme- proceder. (Apoiados.) Ao passo que na politica
hantes occasiões , em que as paixões tanto so de desconfiança os homens violentos couservão-se
exacerhão , o que fez o governo ? Sem exame, no seu posto, os moderados não têm motivo de
sem justiça, sem moderação, fulminou aos seus approximar-se a seus adversarios; no proprio
alliados... (Reclamações ; apoiados e uão apoia partido do governo as crenças se abalão, as
dos.) O que significa então, meus senhores, a fileiras so rarefazem. (Apoiados.)
mudança de autoridades de categoria tão elevada Assim pois, Sr. presidente, eu pediria ao go
apenas apparecem na corte noticias semelhantes? verno que fosso franco e leal com seus alliados.
(Reclamacões ; crutão-se diversos apartes.) Podem Se entende que elles possuem a intelligencia e
os nobres deputados considerar esses aconteci a capacidade precisas para se encarregar da di
mentos da maneira por que o quizerem : póde o recção dos negocios publicos , deposite nelles
governo mesmo dar lhes a explicação que lhe plena confiança ; se porém assim não pensa,
parecer conveniente ; mas o certo é que essas guerrê-os, derribe-os claramente. (Apoiados.)
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 151
Agora, Sr. presidente, sou chegado ao Ceará. graçadas oceurrencias em que esse digno ma
A camara reconhecerá perfeitamente o embaraço gistrado não teve a menor parte, e nem podia
em que me acho quando tendo de fallar da mi ter , por estar na corte quando se ellas derão
nha provincia fallarei de mim e dos meus ami (apoiapos) , em que seu crime é por haver pro
gos ; mas ella mu relevará attendendo a que o nunciado em face do todas as provas do pro
faço sob o imperio da necessidade. cesso os parentes do infeliz assassinado, dos quaes
Quando, Sr. presidente, em 1837 se inaugurou se provou que partira a aggressão ; esse digno
nesta casa essa politica grandiosa de que foi V. Ex. magistrado, digo, é tambem fulminado, sem uma
digno membro , e que dotou o paiz de tantos palavra sequer que adoçasse igualmente o seu
beneficios, V. Ex. se recordará de que duas jo calix de amargura. (Apoiados.)
vens intelligencias cearenses concorrerão com E quando factos desta ordem apparecem nos
seu voto para a elevação dessa politica. Orga- actos do gabinete contra seus proprios alliados,
nisou-se então na provincia o partido conserva havemos de confessar , com manifesta aberração
dor que já alli existia. Fiel na prosperidade, da verdade, que a politica do governo actual ó
constante na adversidade, este partido ndlierio fundada n i justiça e na moderação ?
com firmeza ás idéas a que tinha associado os Meus senhores, não foi por esta fórma que pro
seus destinos. (Apoiados., Este partido nunca se cedeu o governo de outra época em circumstancias
manchou com essas defecções que apparecem em mais arriscadas com relação mesmo ã provincia
outros pontos , foi constantemente envolvido no do Ceará. A camara se recordará de que em
turbilhão da politica geral. (Muitos apoiados.) 1841 appareceu um assassinato de pessoa im
Quando em 1849 rebentou na provincia de Per portante naquella provincia; presidia então a
nambuco essa revolução medunh i, que abalou a provincia do Ceará um distincto general ; a op-
sociedade politica em seus fundamentos , e até posição dosse tempo fez jogo com essa desgra
a sociedade social , segundo a expressão do Sr. çada oceurrencia , trouxe-a ao conhecimento do
Thiers, porque o direito ao trabalho é a nega governo imperial, dando a este distincto general
ção de toda a sociedade, V. Ex. e a camara se como autor de semelhante attentado ; entretanto
recordarão de que esse partido prestou muitos o governo não procedeu como hoje, não condem-
e valiosos serviços (muitos apoiados) ao imperio, nou, não fulminou o presidente da provincia,
que se terii achado nos mais graves perigos se conservou-o julgando-o com justiça.
os movimentos de Pern imbuco repercutisse. n no O que todo o Ceará, o que todo o Brazil então
Ceará. (Muitos opoiados.lAinda na legislatura de sabia já hoje o confessão os proprios parentes da
J850, se alguma gloria dahi resulta para o im victima, pois o tém dito perante os tribunaes, a
perio , o Ceará poderia reivindicar o seu qui saber, que este distincto general não teve parte
nhão, se do muito eu não soubesse que os sue aiguma em tal attentado. (Muitos apoiados))
res do soldado se não contào. Assim, pois, o governo de então depositava
Entretanto, Sr. presidente , qual tem sido a conliança, julgava com justiça e moderação aos .
politica do gabinete para com aquella provincia, seus alliados ; o governo de hoje não guarda,
para corn esse partido ? Se surge uni descontente porque não tem precisão, justiça, moderação e
no Ceará, como ha em todos os partidos, o ga-* confiança para com seus alliados ; reputa-os in
binete affaga-o, acolhe-o , eleva-o a proporçoes strumentos materiaes de sua elevação , escravos
gigantescas. Se se pede a bem do serviço pu- " de suas vontades desregradas. (Apoiados e não
blico uma medida qualquer, adia-se, rej-ita-se; apoiados.)
se apparece uma desgraça na provincia o go O Sr. Wanderlev : — Os senhores é que que
verno a imputa a seus alliados. Assignalarei dous rem que o governo seja escravo de suas vonta
factos bem recentes. des. (Apoiados.)
Presidia a provincia do Ceará o Sr. Dr. Joa
quim Marcos de Almeida Rego , cidadão credor O Sr. Araujo Lima:— Eu rogo aos membros
do todo o respeito e consideração (Apoiados.) do gabinete, rogo aos nobres deputados que se
Um Sr. Deputado : — E bem conhecido nesta houverem do oceupar com tss poucas considera
cidade. ções que tenho feito , que não amesquinhem a
discussão, colloquem-a no ponto elevado a que
O Sr Araujo Lima : — ... elogiado até pelos nós a coilocamos. (Apoiados e n&o apoiados.)
proprios adversarios da politica dominante que O Sr. Presidente do Conselho Somos cen
prestára valiosos serviços na repressão dos cri surados por termos demittido um chefe de poli
minosos (apoiados) , delegado fiel do gabinete a cia e um presidente de provincia 1 E' o grande
ponto de renunciar a candidatura á deputação crime do governo. (Apoiados.)
geral que a provincia lhe offerecia (apoiados) ;
entretanto por uma desgraçada oceurrencia, por O Sr. Araujo Lima : — Não . se trata de uma
umas mortes que tiverão logar no Canindé, na nomeação que fazer, não se trata de um em
eleição municipal , oceurrencias que o governo pregado que demittir, não se trata mesmo de
provincial não previo , nem podia prever, para encobrir faltas á sombra da politica; não, quo
que por fóima nenhuma concorreu (apoiados) ; por nós queremos ser julgados á luz do dia, pedindo
que nem nomeou as autoridades , nem para alli sómecie justiça o moderação, que a ninguem se
mandou força , esse digno delegado do governo nega. A questão ó mui diversa. « Não se governa
geral é condeinnado , ó fulminado, sem que ao sem partidos (diz o Sr. Thiers) a menos que se
menos apparecesse um acto, uma palavra sequer tenha o apoio de uma espada vencedora. » Se o
que adoçasse o calix de amargura que o flzerão governo tem esse apoio de uma espada vence
tragar. (Muitos apoiados.) E quando estes factos dora, diga-o, porque tomaremos a resolução da
se passão com os proprios alliados do governo nos resign irmos ou não á sua vontade, segundo
é que a nobre commissão acha na sua resposta julgarmos conveniente ; mas quando o governo
que a politica do governo é justá o moderada?" se apoia em um partido, é mister que deposite
O que fez mais o governo com o digno chefe confiança nos seus alliados ; que os julgue com
de policia daquella provincia ? M igistrado intel- justiça e moderação ; é mister que os habilite
ligente e honesto , reconhecido por seu zelo ao para promover a prosperidade de suas provin
serviço publico em varios pontos do imperio cias : porque, meus senhores , os partidos fortes
(apoiados) , compromettendo o socego e a pro são patrioticos, cuidão do bem publico, ao passo
pria vida- em commissão importantissima na co que os fracos são egoisticos, porque só tratão
marca du Iahauauns, onde fizera descarregar a de conservar-se.
espada da lei sobre a cabeça de potentados , A este respeito o Sr. presidente do conselho
réos de enormes crimes ; por essas mesmas des de ministros me permittirá que lhe observe a
152 SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
contradicção em que elle se ficha qumdo S. Ex. poleão subinlo ao consulado : — Quanto os ho
defendendo o seu collega da guerra, dizia que a mens são raros I
justiça não permittia que su sacrificasse um ho Quando, pois, meus sonhores, o governo não
mem que tinha uma longi carreira de probidade, comprebende as verdadeiras necossidades do
a insinuações, desconfianças, ou accusações que paiz, quando não dá o verdaleho desenvolvi
examinadas se reconheciao falsas, que assim se mento ás nossas instituições, quando não guarda
praticava em todas as repartições. O principio nem justiça, nem moderação, nem confiança para
e verdadeiro. Ora, a applicação deste principio com os seus proprios alliados, mas antes divide,
é o qne não pedimos. estrangula um partido tio forte e numeroso ,
Se julga S. Ex que imputações que se fazem que dotara o paiz d: tantos beneficios, e que
na imprensa, na camara, por inimigos e até por tinha ainda tão brilhantes destinos a preencher,
amig s do governo, não são suffic.ientes para n io . teremos nós moíivos le sobejo para nos
justificar a necessidade da retirada de um seu collocarmos em opposição a tal governo ?
collega , consinta-nos S. Ex. que lhe peçamos Não teremos nós motivos para abandonar esses
que, quando se nos fizerem accusações, S. Ex. allialos, nós que estamos reduzidos a um es
não as despreze, mas as examine com toda a tado que reputamos tão degradante? A camara
justiça , com toda a moderação ; e depois de sem duvida avaliará o peso dos motivos de
um exame aprofundado nos condemne então, ou ' baixo de que obramos, quando assim proce
nos absolva. dendo fazemos a m iior violencia ás nossas
E quando vejo, Sr. presidente, que o governo crenças, nossas affeições de tanto tempo, arris
procede com desconfiança para com seus allia- cámos as nossas posições individuaes, compro-
dos, quando vejo que a menor accusação que m.ttemos até o futuro das nossas provincias.
so levanta contra elles, o governo os condemna, (Apoiados.) Sim, temos pois motivos os mais
os fulmina, não serei autorisado a investigar valiosos de opposição, e de tal natureza, que
quaes os fundamentos em que o governo basêa tudo preferimos ao estado em que nos achamos,
semelhante conducta? Porque fUalida Jo, Sr. pre porque queremos antes a morto com dignidade
sidente, procede o governo assim para com os do que a vida com ignominia a que o governo
seus alliados, em algumas provincias ? Dar-se-ha nos tem querido condomnar. Voto contra n res
caso que o governo circumscreva a intelligen- posta á falia do throno. (Apoiados. Muito bem.)
cia, a probidade e a capacidade a uma, duas
ou tres provincias do imperio? Que repute que O Sr. Paula Candido: — Sr. presidente, oppresso
os alliados que conta em outras provincias não debaixo de tão eloquentes principios que tém
têm os predicados necessarios para que sejão sido expendidos nesta casa...
julgados com justiça, moderação e confiança? U.ir Sr. Deputado:— Alguns bem verdadeiros.
Deixarei do parte esta consideração por inju
riosa. Acaso será o governo levado, na con O Sr. Paula Candido : — Eu gosto de enganar
ducta que tenho assignalado, por algum motivo o mundo fallando a verdade, porque juigão que
de consideração publica ? Será porque receia eu não digo, o que penso, quando na realidade
algum perigo futuro para o imperio, forman- e a mesma verdade que eu exprimo.
do-so partidos fortes e poderosos nas provin Debaixo da influencia de tão simples e abstra- ,
cias ? Será porque se evapora pela separação ctos principios que aqui têm sido expendidos,
desse grande todo ? Senhores, eu folgo de con dizia eu, penso que ó emfhn t:mpo do descermos
fessar com a maior ufania sentimentos em que das abstracções para a pratica, e por conse
acredito que terei o apoio da camara e de todo quencia desejo adiar a discussão...
o paiz. A união do imperio está fundada sobre as
mais solidas bases ( muitos apoiados ), na uni Alouns Srs. Deputados: — Oh I adiar a dis
dade de governo, de religião, de lingua, de in cussão ?
teresses, de costumes, -de ideas, de habitos; O Sr. Paula Candido: — Sim, senhores, mis a
no porvir grandioso que aguarda este paiz es discussão dessas abstracções, para que possamos
tando unido. A união está fundida ainda, o nos elevar novamente a ellas partindo da pratica,
que é mais, na desnecessidade da separação isto é, quando tivermos de applicar estes su
(apoiados) ; com vapores do força de l,i(00 ca- blimes principios discutindo as nussas leis annuas.
vallos (quem sabe até onde chegarão os pro Portanto, peço o adiamento dessas abstracções
gressos da industria I ) em 20 ou 30 dias po de tão sublimes principios.
demos voar de um estremo a outro do impe E peço, Sr. presidente, o encerramento da dis
rio ; com estradas de ferro e carros a vapor cussão, por uma outra razão ainda... é porque
podemos voar em poucos dias da capital do desejo fallar...
grande imperio até os confins de Mato-Grosso.
Sabem os nobres deputados onde estão os Alouns Srs. Deputados :—Porque deseja fallar?
perigos para a união do imperio ? Eu lhes digo. O Sr. Paula Candido: — E tenho toda a razão,
Os perigos da união do imperio estão nessa senhores ; estou ainda illudindo fallando a ver
politica mesquinha, de desconfiança, que gera o dade. Acho-me inscripto no vigesimo lugar, e é
descontentamento por toda a parte, que faz ver provavel que tenha de ficar no quadragesimo con
umas provincias como filhas, outras como en tando com as palavras para responder, discursos
teadas, qne embarga os progressos das mesmas dos Srs. ministros, etc. Apezar desta grande
provincias, porque partidos fracos não podem possibilidade do poder eu ler a palavra, pro
cuidar dos melhoramentos delias,' oceupando-se ponho o encerramento da discussão; porque só
só da propria conservação. assim accelerando a discussão dos orçamentos,
Assim, meus senhores, quando vejo tão fu- onde so póde discorrer sobre os possiveis e im
esta te ideucia nos homens do sul, que são possiveis (risadas), se proporcionará á minha pro
aquelles que exercem maior quinhão do influen vincia opportunidade de apresentar suas reflexões
cia nos destinos do imperio, não posso deixar ácerca dos grandes interesses seus aqui agitados,
do lhes dizer : se tendes a ambição mui no- e que ella não póde fazer" nesta discussão por
bro de sentar-vos nos censelhos de um grande causa do lugar em que se achão inscriptos os
principe; so tendes a ambição mais nobre ainda seus deputados. Peço pois o encerramento da
de obter um lugar entre os grandes homens discussão.
de um grande povo , ah 1 evitai que por uma
politica tão mesquinha as gerações futuras, ao O Sr. Reoo Barnos:— Quem fallava agora era
verem dispersos aqui o alli os membros de um o Sr. Vasconcellos, de Minas.
grande imperio exclamem indignados, como Na O encerramento ó approvado.
SESSÃO EM 11 | s JUNHO DE 1853 153
, O Sr. Nebias:— O Sr. deputado do Coará me i casa nem sempre têm sido copiadas com a
recia alguma resposta. exactidão que eu desejava. Chamo portanto a
Procedendo-so á votição é approvada a res ' attenção dos Srs. tachygraphos a esto res
posta da falia do throno com a emenda da com- peito.
missão, sendo a outra rejeitada. Votão a favor 69,
e contra 22 Srs. deputados. APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTOS
A emenda do Sr. Nebias ê unanimemente re Lê-se e sem discussao é approvado o seguinte
jeitada.
Designa-se a ordem do dia e levanta-se a sessão requerimento :
ás 3 horas o 20 minutos da tarde. « Requeremos que se peção ao governo os es
clarecimentos seguintes -
o « 1.» Quaes as provincias em que ha concluí
das, ou em obras, casas de prisão com' traba
Sessào em 11 do Junho lho.
«2.» Donde partio a idéa de seu estabelecimento,
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO so dos conselhos goraes, se das assembléas pro-
vinsines, se dos respectivos presidentes.
Summario.—Expediente.— Apresentação de reque « 3.» A ordem, deliberação ou lei qua as de
rimentos .— Discursos dos Srs. Silveira da cretou.
Motta, Figueira de Mello e Livramento. — «4.° Todas as leis que nas differentes provincias
Ordem do dia. — Pretenção de Francisco Pedro tenhão até esta data alguma cousa deliberado a
Gorjão. Discurso do Sr. Fausto. — Empres semelhante respeito.
timo aos bancos. Discursos dos Srs. Viriato,
Ribeiro e Silveira da Motta. «5.» O plano circumstanciado e planta das
obras, os pareceres dos medicos, engenheiros, ju
A's dez horas feita a chamada, achão-so pre risconsultos e peritos que tenhão sido ouvidos, e
sentes os Srs. Mnciel Monteiro, Paula Candido, bem assim o systema que se tem seguido ou se pre
Paes Barreto, Rocha, Sá o Albuquerque, Vieira tende seguir.
de Mattos, Almeida e Albuquerque, Ribeiro da « 6.» Qual o regulamento das prisões, e o re
Luz, Miranda, Horta, vigario Silva, Bello, Mendes, gimen adoptado a todos os respeitos em referencia
Ribeiro, Luiz Araujo, Machado, Belfort, D. Fran aos presos.
cisco, Nebias, Lindolpho , Seara, Livramento, « 7.° Quantos presos têm sido recolhidos ás '
padre Campos, Ignacio Barbosa, Ferraz, Wilkens,
Angelo Custodio, Teixeira de Souza, Assis penitenciariasinfluencia
que por ventura existão, e que
tenha exercido sobre suas faculdades
Rocha. Cruz Machado, barão de Maroim, Apri physicas e moraos o systema adoptado.
gio, Tffeophilo, Figueira do Mello, Wanderley,
Silveira da Motta, Raposo da Camara, &inego « 8.» Quanto so despendeu ou se despende na
Leal, Domingues Silva, Fleury e Pimenta Ma construcção de cada um dos edificios, e quaes as
galhães. consignações annuaes marcadas para o sustento
Comparecem depois da chamada os Srs. Paula dos presos.
Santos, Fernandes Vieira, Barbosa, visconde de sidentes « 9.» Qual o parecer circumstanciado dos pro-
Baependy, Paula Fonseca, Mondes do Almeida, sentes c futuras ácerca do merecimento, vantagens pre
Bandeira de Mello, Magalhães Castro, Octaviano, de semelhantes estabelecimentos.
Gouvêa, Vasconcellos, Versiani, Souza Leão, Fiusa, « 10. So os presidentes entendem que possa
Rego Barros, Mendonça, Santos e Almeida, Cunha haver em suas provincias localidades ou pontos
Barboza -e Góes Siqueira. para colonias de degradados, e que juizo for-
A's dez horas o quarenta minutos, havendo lhante mulão a respeito de qualquer tentativa em seme
numero legal, o Sr. presidento abre a sessão. sentido.
« Paçi da camará dos deputados, om 4 de Junho
E' lida e approvada a acta da sessão antece de 18õ3. — J. A. de Miranda.— J. M. Pereira
dente. da Silva. »
O Sr. 1° Secretario menciona o seguinte O Sr. Silveira da Molla (pela ordem):— "
Sr. presidente, devo aproveitar a occasião para
EXPEDIENTE pedir certas informações ao governo a respeito
do uma importante obra publica da provincia de
Uma representação do cidadão Joaquim Ribeiro S. Paulo, para a qual o governo imperial tem já
de Avellâr, um dos proprietarios do morro de mais de uma vez lançado suas vistas, mas que
Santo Antonio, reclamando providencias contra não tem ido ao cabo porque os recursos desti
o procedimento illegal tido pelo Sr. ministro do nados pelo governo imperial para essa t3o im
imperio contra elle.— A' commissão do justiça portante obra da provincia, ou não têm sido
civil. sufficiontes, ou não têm sido applicados.
O Sr. Presidente : — Eu tenhoj de fazer uma Senhores, da qneta applicada pelo corpo le
rectificação a respeito do algumas palavras profe gislativo para melhoramentos provinciaes, diz-se
ridas por mim em uma das ultimas sessões, que o govírno dará alguma cousa para a factura
quando orava o Sr. deputado por Pernambuco da importante communicação da fabrica de ferro
Figueira de Mello. do Yp inoma com um porto de embarque no rio da
No fim do seu discurso vêm as seguintes pa Ribeiia ou no rio Juquiá.
lavras, como que proferidas por mim :— As ob Esta importnnto communicação está hoje obser
servações do Sr. deputado serão tomadas em vada, estudada, e é o unico meio de so dar valor
consideração e ofliciar- se ha ao governo a este a esse grande estabelecimento fabril, e de pro
respeito, mas não forão estas as minhas pala porcionar a todo esto vasto canal, proprio até
vras ; eu disse que as observações do Sr. de para grande navegação, meios do povoar-se, de
putado serião publicadas no Jornal do Com- engrandecer-se, para o que tem grandes ele
mercio ; e não podia dizer que se officiaria ao mentos.
governo, porque não houve deliberação nenhuma Já em outra occasião eu pedi certos esclareci
desta camara a tal respeito. mentos a este respeito, e creio que algum prestimo
Por esta occasião ainda observarei que as tiverão as minhas reclamações, porque ellas ser
minhas palavras em algumas das sessões desta virão ao menos de chamar a attenção do governo
tomo 2. 20
154 SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
sobre essa importante obra de communicação na Passarei agora ao requerimento relativo ao Sr.
provincia de S. Paulo, e o governo reconheceu ministro da justiça.
que essa obra era de natureza tal que devia Sr. presidonte, em todos os tempos o conhe
ser feita pelos cofres publicos geraes, porque be cimento dos factos sociaes servio de base ás
neficiava especialmente um estabelecimento fabril decisões do administrador e ás resoluções que o
que se acha no centro da provincia, e que per legislador tiver do tomar ácerca do piiz que
tenca ao governo geral. governa. Sem o conhecimento dos factos, da ma
Porém, mesmo que da qneta applicada para neira por que clles se desenvolvem, e da lei que
as obras provinciaes o governo alguma cousa os rege, não se pódo tomar resolução alguma
applique para a communicação do Ypanenia ao meditada e proficua, em seus resultados. Em todos
rio Juquiá, o meu requerimento tende conitudo os paizes se tem assentado que as estatisticas
a perguntar ao governo quanto dessa qneta ap suo os meios convenientes de se conhecerem esses
plicada para os melhoramentos provinciaes é des factos, o sem duvida merecem o primeiro lugar
tinada para aquella communicação. aquelles que dizem respeito á administração da
Como esta obra já está comprehendida pelo justiça criminal, enja missão especial consiste em
governo, eu desejava por isso que elle me in prevenir, o roprimir os crimes que tanto offen-
formasse, para que na discussão do orçamento dem á sociedede.
respectivo, com as informações que me der agora No nosso paiz por algumas leis e actos admi
o governo, possa eu sujeitar á consideração da nistrativos se tem determinado que os juizes de
casa algumas idéas que tenho a respeito desta direito fizessem mappas estatisticos a respeito da
obra. administração do justiça criminal do suas comarcas,
Mando, portanto, a mesa um requerimento pfc- e a lei do 3 de Dezembro de 1841 especialmente
dindo pela repartição competente, que ó a do incunibio esso trabalho nos chefes de policia,
imperio, informações a respeito dos fundos que ajudados não somente pelos seus delegados e subde
da qneta destinada para melhoramentos provin legados, como pelos juizes municipaes e de direito ;
ciaes são dvstinados para esta obra, de tanta masapezardisso, até hoje ainda não veio trabalho
utilidade na provincia que represento. nenhum completo a esta casa. Alguns Srs. ministros
E' approvado o seguinte requerimento : tém-se limitado a apresentar na casa com os seus
relatorios os mappas da administração da justiça
« Requeiro que se peça informações ao governo criminal durante o anno antecedente ; mas esses
pela repartição competente sobre a importtneia mappas tem si lo qnasi sempre incompletos, por
da qneta destinada para a factura da estradada que ou não dizem respeito a todas as provin
fabrica de ferro de Ypanema ao rio Juquia na cias do imperio, ou não comprehendem os crimes
provincia de S. Paulo, e se já foi applicada, de responsabilidade, e aquelles que são julgados
dando-se começo aos trabalhos da estrada.— Sil pelos delegados, subdelegados e juizes munici
veira da Motta. » paes, como sojão as infracções de posturas, e os
E' approvado um pirecer da commissão de delidos policiaes, cujo definitivo julgamento per-
poderes sobre a eleição dos Srs. deputados eleitos tojice a taos empregados.
pela provincia do Rio Giando do Sul, Francisco Portanto, não tendo nós até hoje podido obter
Carlos de Araujo Brusque e João Jacintho de uma estatistica' criminal completa, claro fica que
Mendonça; e achando-se estes senhores na sala nos achamos sem os esclarecimentos necessarios
vizinha, o Sr. presidente nomêa os Srs. 8o e 4° para que possamos melhorar a nossa legislação,
secretarios pai a irem recebêl-os : entrno, prestão tanto na parte penil, como na do processo.
juramento e tomão assento. Quando fui chefe de policia da provincia de
Continua a apresentação de requerimentos. Pernambuco, tanto por gosto, como por cumpri
O Sr. Figueira do Mello:— Levanto-me mento do meu dever, procurei ajudar o governo
nesta parto, e posso asseverar á casa que fui eu
para fazer dous requerimentos, uni relativo ao o primeiro chefe do policia de Pernambuco que
ministro da. marinha, o outro ao da justiça. rometteu mappas ao governo, e que o habitueu
O Sr. ministro da marinha, fallando das recla a apresentai os nesta casa.
mações que alguns oOiciaes da nossa armada Tendo feito estas observações geraes para de
dirigirão ao governo a respeito de certas presas monstrar a necessidade que temos de cuidar da
que tinhão feito no tempo da guerra da inde- organisação de nossa estatistica criminal, farei
• pendencia, e do Rio da Prata, diz que sendo estas agora observar á casa um erro que noto no rela
reclamações remettidas ás secções reunidas do torio do Sr. ministro da justiça, e que póde con
conselho de estado do fazenda, de guerra e ma correr para que se tirem conclusões falsas, se os
rinha, estas secções derão um parecer muito desen factos não forem rectificados.
volvido que com proveito póde ser consultado O Sr. ministro da justiça fallando, no seu re
pela casa no exame que ella tem de fazer sobre latorio, a respeito do jury, diz o seguinte : « O
este assumpto. mappa dos julgamentos do jury do anno do 1851,
O Sr. ministro da marinha em seu relatorio se faltando os parciaes de tres provincias, apresentou
exprime pela maneira seguinte : « Nos termos 1,518 réos, dos quaes 1,005 absolvidos ; o de 1852
desse pirecer ao corpo legislativo cabe : 1°, deci agora junto, faltando os parciaes de duas provin
dir i> questão preliminar se os apprehensores são cias, apresenta 854, dos quaes 520 absolvidos. »
responsaveis pelas presas julgadas improcedentes ; As conclusões que S. Ex., segundo me parece,
2°, arbitrar uma quantia que se divida por quem quiz que desto mappa tirassem são : 1°, que du
de direito fór ; e 3», prescrever a fórnia de pro rante o anno de 1852, em que S. Ex. tomou
cesso da partilha. Acerca dos tres indicados conta da administração das justiças, os crimes
pontos contém o trabalho dos dignos conselhei diminuirão por assim dizer de metade, pois que
ros de estado esclarecimentos o reflexões que os julgamentos, que em 1851 erão em numero
lanção muita luz sobre a materia, e podem ser do 1,518, reduzirão-se em 1852 a 854; o 2°, que
de grande proveito no exame que cumpre insti as absolvições feitas durante o anno de 1851 forão
tuir a respeito de tão importante assumpto. Ora, muito mais numerosas do que em 1852, e por
como o Sr. ministro deseja que nós tratomos consequencia que a administração da justiça tinha
desta materia na presente sessão, e eu quero sido feita com mais severidade no julgainenio
esclarecer-me com as informações obtidas a res dos crimes.
peito delia, eu requeiro por isso que esse pare Ora, estas conclusões são inteiramento inex
cer das duas secções do conselho de estado da actas, porque o mapça do Sr. ministro da jus
fazenda e da guerra e da marinha seja remettido tiça só se refere ao julgamento dos crimes com-
a esta casa. mettidos no anno de 1852, e julgados nesse mesmo
SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853 155
anno ; portanto não comprehendo os julgamentos armada, por presas feitas nas guerras da inde
então necessariamente havidos dos crimes que pendencia e do Rio da Prata. — Figueira de
forão commettidos nos annos anteriores. Pelo con Mello . n
trario, porém, os mappas apresentados pelo ante O Sr. Presidente:— Pedirei aos Srs. deputa
cessor do ministro da justiça, relativamente aos dos que quando tiverem de apresentar qualquer
trabalhos do anno de 1851, dizem respeito não moção a escrevão com tinta, porque muitas vezes
somente aos crimes desse anno, como ao dos acontece que ficando adiadas para serem discu
anteriores, que tinhão então sido julgados poios tidas dahi a alguns dias, não podem ser mais
jurys. Do que tenho dito, portanto, se vò que lidas, porque algumas letras se apagão.
o mappa do Sr. ministro da justiça é comple
tamente inexacto, e que por lhe faltar os neces O Sr. Fioueira de Mello:— Copiarei depois.
sarios dados a comparação por ello feita não Está em discussão o requerimento.
tem fundamento. Agora vou mandar á mesa o O Sr. Zaciiurios (ministro da marinha) : —
seguinte requerimento : Parece-me que o requesimento é escusado, porque
« Requeiro que se peça ao governo pelo mi o parecer das duas cemmissões a que elle alludo
nisterio da justiça: 1°, mappas demonstrativos foi sujeito ao exame do conselho de estado pleno.
de todos os julgamentos proferidos pelo tribunal O conselho do estado pleno já deu seu parecer,
do jury em cada uma das provincias do im o qual ainda não está lavrado, nem assignado ;
perio durante os annos de 1848, 1849, 1850, 1851 mas, logo que isto aconteça, esses papeis terão
e 1852, quer ácerca dos crimes commettidos nesses de- ser remettidos ao corpo legislativo, a quem
annos, quer dos que o forão nos anteriores ; o governo terá de dirigir-se a tal respeito.
fazendo-os acompanhar de um outro mappa re
sumido de todos os julgamentos havidos nesse O Sr. Fioueira de Mello : — A' vista da de
quinquennio ; 2°, mappas de todos os julga claração que acaba do fazer o nobre ministro da
mentos de crimes policiais e de posturas, feitos marinha, do que so ha de remetter á casa o
durante cada um dos annos acima indicados, parecer que requeiro, assim como tambem o do
acompanhados de outro igual mappa referido; conselho de estado sobre a mesma matoria, desisto
e 3°, mappas de todos os julgamentos por crimes do meu roquerimento, e peço a V. Ex. para re-
de responsabilidade, proferidos pelos juizes de tiral-o.
direito no mesmo tempo, acompanhados de outro O requerimento ó retirado.
mappa resumido.» O Sr. Livramento: — Peço a palavra.
Eu peço a camara que anprove este requeri
mento, e que não julgue que ello não póíle ser satis O Sr. Presidente : — São quasi findos os Ires
feito, porque quando o governo tem desejo de quartos do hora destinados pelo regimento paia
cumprir a sua missão, não ha obstaculo algum. apresentação de requerimentos ; se pois não ó
Para o provar eu lembrarei á casa que em uma muito urgente a materia sobre que o nobre de
das sessões anteriores, mo parece que na do 1845, putado tem do fallar, melhor seria guardar-se
o Sr. deputado Souza Martins pedio que se re para outra occasião.
questasse ao governo os mappas geraes da nossa O Sr Livramento : — E' sómente para breve
importação e exportação, e navegação nacional ; mente justificar um requerimento que tenho a
e que estes mappas, que jã tiniu sido mandados fazer.
fazer em virtude dos regulamentos do consulado O Sr. Presidente : — Tem a palavra.
e alfandegas, mas que até então ainda o não
havião sido, forão afinal organisados durante a O Sr. Livramento: — Sr. presidente, nas
administração do Sr. Rodrigues Torres, e remet- sessões preparatorias, quando ainda eu me achava
tidos constantemente a esta casa, o hoje muito privado de um assento nesta casa, tive a honra
nos esclarecem sobre o movimento do nossa im do dirigir a esta augusta camara uma recla
portação, exportação, e navegação nacional. mação contra a maneira fraudulenta porque fui
Julgo pois que não ha obstaculo algum em privado do diploma do deputado á assembléa
satisfazer-se o meu requerimento, logo que o go geral pela camara municipal da capital. de minha
verno queira, e que nos havemos de aproveitar provincia. A essa reclamação juntei muitos do
muito se assim acontecer. Nesta esperança pois cumentos, mas me parece que a nobre commissão
vou mandal-o á mesa. do poderes de ontão não tevo conhecimento nem
E' apoiado e npprovado sem debate o seguinte dessa reclamação nem desses documentos, em que
requerimento : eu, mostrando a fraude com que se houve aquella
« Requeiro que se peça ao governo, pelo mi camara municipal, pe.lia a sua responsabilidade.
nisterio da justiça. Para não oceupar por muito tempo a attenção
da camara, não entrarei agora na demonstração
n 1.» Mappas demonstrativos de todos os jul da fraudo com que se portou a camara muni
gamentos pelo tribunal do jury em cada uma das cipal da minha provincia na apuração dos votos
provincias do imperio durante os annos de 1818, para deputado geral.
1849, 1850, 1851 e 1852, quer acerca dos crimes O Sr. Presidente : — O nobre deputado falle
commettidos nesses annos, quer dos que o forão mais alto para que eu possa ouvir.
nos anteriores, fazendo-os acompanhar de um
outro mappa resumido de todos os julgamentos O Sr. Livramento:— Desses documentos consta
havidos nesse quinquennio. que na villa de S. Miguel, no dia 9 do Setem
« 2.o O mappa de todos os julgamentos de bro, um pequeno grupo que so achava dentro
crimes policiaes e de posturas feitos durante cada da igreja, atacando de repente a urna eleitoral,
um dos anues acima indicados, acompanhado de lançou-a por terra, misturando-se 83 cedulas com
outro igual mappa resumido. as que se achavUo dentro da urna : e que tendo
« 3. ° Mappa de todos os julgamentos por crime a mesa parochial dado parte immediatamente ao
de responsabilidade proferidos pelos juizes de di presidente da provincia desse successo, relatando
reito nos mesmos tempos, acompanhado do um até os nomes de seus autores, o presidente da
mappa resumido.— Figueira de Mello. » provincia não tomou providencia alguma para
que esse crime não ficasse impune.
E' lido o seguinte requerimento : Dosse acontecimento, Sr. presidente, podia re
« Requeiro que se peça ao governo cópia do sultar consequencias mais graves do que as que
parecer das secções reunidas do fazenda, mari tiverão lugar em S. José dos Pinhaes, se não
nha e guerra do conselho de estado, ácerca das fóra os esforços que fiz, porque então me achava
reclamações feitas por diversos officiaes do nossa na villa, para evitar a offusão de sangue.
156 SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
Parece-me, Sr. presidente, que o governo cerai tive a honra de presidir a provincia do Pará, tive
teve cenhecimento desse facto, porque, tendo eu sempre as melhores informações, tanto sobre as
requerido por certidão á presidencia da pro habilitações desie empregado, como a respeito do
vincia o omeio que a mesa parochial lhe dirigio seu zelo no cumprimento dos seus deveres. O
relatando este acontecimento, S. Ex. despachou digno inspector da thesouraria da provincia,
dizendo que não podia mandar passar a certidão muito conhecido pela severid 'de com que des
pelo original, porque este tinha sido remettido empenha as suas funcções (apoiados), foz-mo
ao governo. E' verdade que em uma carta par sempre elogios deste empregado, chefe de uma
ticular que tive a honra de dirigir ao Sr. ministro secção, dizendo que era um dos mais distinctos
da justiça narrando-lhe o facto e pedindo pro da sui repartição, lamentava porém que por
videncias, S. Ex. se dignou responder-me que o motivo dí sua enfermidade não pudesse prestar
governo geral não tiniu recebido a necessaria mais serviços do que aquelles que prestava, com
parte offirial, e por isso não podia por ora dar sacrificio mesmo da sua saude.
providencia alguma. Por estas considerações julgo que ó da maior
Parecendo-me pois, Sr. presidente, que não justiça conceder-se estn pequeno favor que pede
podem ficar impunes taes successos, mormente um empregado tão digno de consideração, em
o crime do ataque a urna, que é a primeira pregados cujos serviços têm sido apreciados por
vez que se dá na minha provincia e póde vir todos os seus chefes.
a ser imitado, eu, posto que não ouse requerer Esta discussão fica adiada pela hora.
directamente cousa alguma a esso respeito, peço
entretanto a V. Ex que se digno remetter estes SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
documer.tos (mostrando-os) á nobre commisaão
do poderes, para que ella interponha seu parecer EMPRÉSTIMO AOS BANCOS
a respeito do seguinte : 1°, se a camara muni
cipal da capital obrou ou não fraudulentamente Entra em 2* discussão a proposta do governo
contando votos em duplicata, de eleitores e de sobro o emprestimo aos bancos.
supplentes, com o fim de privar-me do diploma ; Differentes senhores pedem a palavra ao mesmo
e em segundo lugar, se o facto de se ter ata tempo.
cado a urna no dia 9 de Setembro, e de so ter
inutilisido. uma eleição que ató alli tinha cor O Sr. Presidente faz a classificação dos ora
rido pacificamente, merece ou não ser punido, dores inscriptos e dá a palavra ao Sr. Viriato.
para que não continue a grassar entre o povo O Sr. "Viriato:— Sr. presidente, desde que
qne ó licito fazer-se nas eleições tudo quanto apparecêrão as difficuldades nas transacções da
quizer. praça do Rio de Janeiro pela escassez do moio .
Dirijo pois á mesa os documentos. circulante, desde que se derão certos casos que
O Sr. Presidente : — O nobre deputardo não parecião demandar di parte do governo provi
devia ter apresentado á mesa esses documentos dencias para remoção dessas difficuldales, que
sem nenhuma formalidade. so dizia existirem, tratei de estudar esta mataria
O Sr. Livramento : — Se V. Ex. julga neces para poder dar o meu voto com segurança em
sario fazer por escripto o meu requerimento, eu ponto tão melindroso. Reconhecendo depois que
o furei. minha opinião não era accorde com a medida do
governo, tive receios de me apresentar nesta
O Sr. Presidents : —Agora vejo que não ó augusta camara combatendo a obra de um homem
necessario escrever o requerimento ; váo os do tão illustrado o do tanta consideração, como é
cumentos a commissão de constituição. o Sr. ministro da fazenda, e que me merece
plena confiança; obra que é ora aceita pela illus-
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA tre cominissão, composta de dous bellos talentos,
como se vò de seu parocer. Mas teve em mim
PKETENÇÃO DE FRANCISCO PEDRO GQRJÃO mais poder que esse receio o desejo de apresentar
minhas duvidas á cimara, e de vêl-as solvidas,
Continua a discussão da resolução que autorisa porque não sou daquellas pessoas que, sendo
o governo a conceder a Francisco P»dro Gorjão, convencidas p?la força da argumentaçao, vondo
chefe da secretaria da thesouraria do Pará, li cahir suas duvidas, reconhecendo a verdade, se
cença por um anno com seus vencimentos para envergonhão de mudar de opinião. E ó com esse
tratar de sua saude fóra do imperio. empenho que me animo a fazer ouvir a minha
O Sr. Fausto do Asuiar: — Sr. presi voz em tão difhcil discussão, esperando que pes
dente, quando ha dous dias se pòz em discussão soas mais illustradas do que cu me esclareção.
este projecto, um nobre deputado por Minis E se fór tão feliz que possa mudar de opinião,
Geraes pedio informações sobre a sua materia ficarei muito satisfeito em dar o meu fraco apoio
para poder votar conscienciosamente, e depois á medida do governo.
um outro nobre deputado pela mesma provincia Declarando o meu pensamento quando fallo
requereu o adiamento da discussão até que a contra este projecto, tirando todo e qualquer
casa fosse sufficientemento informada. lado por onde se possa deduzir malignas con
Observei msta oceasião que existia na secre clusões, eu entrarei na materia.
taria um documento que comprovava a justiça Apreciando a efficacia, os bons resultados desta
do requerimento desse empregado de que se medida, devemos indagar primeiramente se ha
trata, o qual era um attestado assignado por ossa crise, ou por outra so as difficuldades são
tres distinctos medicos da capital do Pará, em tão graves que exijão o emprestimo do governo.
que declarão qual a natureza da enfermidade que Muitos affirmão que existe a crise ou a falta de
obrigava esse empregado a requerer licença para meio circulante com essa gravidide, e apresen-
ir tratar-se na Europa. O nobre deputado de tão como uma prova desta affirmativa, entre ou
Minas desistio do seu adiamento. Como porém tras, até a diminuição das rendas da alfandega...
não foi lido na casa esse attestado, e entretanto O Sr. Lisboa Serra: — O governo não disse
elle justifica o requerimento, peço a V. Ex. que crise.
tenha a bondade de mandar proceder á sua lei
tura para esclarecimento dos Srs. deputados que O Sr. Viriato : — Existem difiiculdades, como
têm de votar na materia. se diz, por falta de meio circulante, o isto é
Aproveitando esta oceasião, julgo do meu de uma crise no commeteio. . .
ver declarar que durante todo o tempo em que O Sr. Lisboa Serra: — Não è verdadeira crise.
SESSÃO EM li DE JUNHO DE 1853 157
O Sr. Viriato:— Não será verdadeira o com mente produzem a escassez de capital, essa crise
pleta crise, mas em resultado pódo chegar a uma a que o governo quer dar remedio.
crise mui prejudicial ao mesmo commercio e á Tambem não se tem dado causas extraordi
naçãc narias que fazem com que os capitalistas retirem
A esta respeito, senhores, eu não concordo com seus capitaes ou se tornem timoratos no emprego
a opinião das pessoas que se basêão na" exis ou uso que delles devem fazer productivamente...
tencia da falta do moio circulanto nesso gráo Uu Sr. Deputado: — A baixa do juro.
de gravidade, porque não vejo o apparecimento
do certas causas que do ordinario produzem este O Sr. Viriato :— Responderei ao honrado mem
effoito. Para que houvesse falta de moio circu bro no correr do meu discurso.
lante, para que houvesse esta tal ou qual crise Digo que não se tem dado essa causa a que
commercial, era do mister que so dessem os se acabo de referir-me ; pelo contrario o paiz goza
guintes factos : primeiramente, a exportação çin de paz, tem fé no governo, e muito principal
grande escala, ou para o estrangeiro, ou para mente no honrado Sr. ministro da fazenda. O
o interior do paiz, do meio circulante. Esta pri paiz está certo que o ,em prego de capitaes não
meira causa não se pódo provar existir com ficará arriscado por medidas do governo que
muita facilidade. . . possão fazer cahir qualquer especulação indus
O Sr. Lisboa Serra : — Evidentemente. triosa ; 0s capitalistas estão certos da duração
da paz, do desenvolvimento da industria do paiz.
O Sr. Viriato :— Attenda-mo primeiro o no Não temos esta causa ou estes factos extraordina
bre deputado ; em sua resposta veja so póde dis rios que fazem com que o meio circulante seja es
solver as minhas duvidas; desejarei mesmo ser casso ou desappareça do mercado. Nenhum in
convencido. dustrioso, nenhum agente do riqueza terá falta
Digo que não ha exportação em grande escala de fé, temerá as commoções publicas, para re
do meio circulante para o estrangeiro, porque tirar do giro seus capitaes.
não tem havido mudança alguma notavel desde Finalmente, no desenvolvimento da nossa in
o tempo em que a praça tinha bastante meio dustria, nessas especulações novas que se têm
circulante até hoje para se poder dizer que ha ex creado, não tím havido quebra, perda alguma
portação da nossa moeda para paiz estrangeiro, e que possa fazer com que os capitalistas fiquem
muito mais quando ella tem um valor nominal temerosos no emprego de seus fundos: todas
muito maior que o valor roal e intrinseco. Nem essas especulações industriosas não têm dado
consta das repartições publicas, ou por informa razão para so temer do máo resultado do em
ções de particulares, que o corpo do commercio prego dos capitaes. Assim tambem não existe -
tivesse exportado grandes sommas do capital esta terceira causa da escassez do meio circu
circulante do paiz. lante. Poderão existir outras não conhecidas por
Tambem não tem havido exportação notavel mim, poderão mesmo existir algumas das tres
par.i o interior, porque a capital do imperio não causas que apontei, mais ainda não sou disso
tem necessidade de exportar capitaes para hiver convencido.
productos do interior do paiz, ou por outra não Mas se existe essa tal ou qual crise no com
demanda a capital do imperio productos das ou mercio, como do facto existe, mas não tão grave
tras provincias; aqui estão concentradas as forçus como so figura, deve haver uma outra causa,
da circulação, aqui existem quasi que exclusiva e cumpre conhecel-a. Procurarei mostrar as. cau
mente as forças todas da producção, e antes sas que me parece efficientes da falta de nume
para aqui finalmente convergem todos os capitaes rario, da escassez do moio circulante, o mostrarei
ercados nas provincias. que estas causas são naturaes, são consequencias
Ha ainda outra razão além destas. Quando os necessarias do jogo das forças da industria, e
meios de communicação não são tão faceis como que não demandao a medida ou o favor do go
so devia desejar, como são em alguns paizes da verno. Declaro outra vez que na exposição dos
Europa, quando o capitalista por isso não póde motivo? que tenho para negar por ora «o meu
facilmente conhecer a fórma por que emprega os voto ao projecto, caminho temeroso, porque te
capitaes, elle não os exporta, não os colloca nho contra mim uma opinião illustrada e res
longe de si com muita facilidade. Era mister peitada pelo paiz, e por mim a opinião do Sr.
que tivessemos melhores meios de communicação "ministro da fazenda.
que abreviassem as distancias, fazendo desappa- Eu entendo, senhores, que uma das verdadei
recer esse susto ordinario e natural do capita ras causas da escissez do numerario, da falta
lista, quando quer depositar os seus capitaes do meio circulante no mercado, ó a demanda
produclivamente ; era mister digo, que tivessemos excessiva de capitaes. Quando cresce a demanda
ao mí'nos estes dados para que se pudesse affir- de um producto, necessariamente elle sobe de
mar que houve exportação do meio circulante valor, como é sabido por todos, e fica escasso,
da capital para as provincias, para que fosse sendo mais procurado, sendo mais necessario
licito dizer que os capitalistas Unhão empregado para o consumo, quer productivo, quer impro-
os seus capitaes do lugar onde se achavao para ductivo. A demanda pois de capital no mercado
longe, podendo com facilidade rapidamente co ha tempos u esti parte, de meio circulante como
nhecer o consumo productivo que se fazia desses força productiva, á uma das principaes razões,
capitaes, e descansando seus animos sobre o no meu pensar, das difficuldades da praça do
presente e futuro do suas riquezas pelo uso dos Rio.
meios faceis de communicação, que abrevião ou Ora, ninguem que se supponha dotado de senso
acabão as distancias. pedn capital emprestado, ou procura haver ca
E, pois, parece-mo que não existe uma das pital como força productiva para empregal-o im-
causas da escassez do meio circulante, ou da productivamente ; é mister que á demanda de
existencia dcs?a tal ou qual crise commercial, a capital estejão ligadas outras circumstancias que
exportação desse mes r. o meio circulante; e ba- fação com que esta demanda continue, so con
seo-me nas razões que excluem a idéa dessa serve sempre. A maior demanda de capital ou
exportação, do fórma que se torne prejudicial. meio circulante que tem produzido essa tal ou
Depois do esclarecido a este rospeit •, depois que qual crise, as drfficuldades talvez dahi resul
so me provar que em verdade o meio circulante tantes demonstrão que a industria do piiz tem
tem sido exportado, que esta exportação é que crescido, tem tomado maior' desenvolvimento,
deu causa a criso commercial, deixarei de dizor porque, como disse, a procura do capital, do
que não houve tal exportação, isto é, que não meio circulante ou da força productiva deve ser
se deu uma das causas que mais poderosa para um emprego productivo o não improductivo,
158 SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
e havendo crescimento de demanda de capital retirada de parte de fundos da circulação são
para empregos productivos ha crescimento de todas naturaes, de pouca duração, e não aquellas
industria. violentas que fazem nascer uma verdadeira crise,
De tempos a esta parte tem -se desenvolvido e de porigo eminente.
no paiz uma febre de especulações industriosas, Mas quero conceder que o commercio e que
que, merco de Deos, tem tomado maior força as mais industrias soffrão gravemente com a
porque tem sido ajudada pelo governo. Assim, falta de meio circulante; o remedio applicado
contrariando esta medida do governo, apresento a esse mal, o emprestimo fará desapparecer a
como um dos fundamentos das minhas opiniões crise ? Creio que não ; o emprestimo que pretende
um argumento baseado no crescimento da in fa<er o governo, abraçado pelo parecer da illustre
dustria do paiz, crescimento de industria que não commissão de fazenda, não póde fazer cessar a
póde ser devido senão ao credito publico, o qual crise de uma maneira duradoura e permanente,
vem immediata e principalmente do credito que dado o caso que ella exista. Será medida tem
têm as pessoas que dirigem o governo do es poraria, porque partindo do meu principio, prin
tado. cipio geralmente conhecido, de que as industrias
O meu pensamento pois é que a demanda de novas que se têm creado no paiz têm pendor
capital produzida pelo desenvolvimento das for natural e necessario para tomar maior expansão
ças da industria do paiz é que crêa esta tal no futuro, para fazer germinar novas ramifi
ou qual crise commercial, que não nos deve as cações, teremos em resultado demanda maior de
sustar e precipitar nossas decisões meio circulante, e sempre crescente necessidade
Além destas considerações, ainda ha outra ra desse meio, á proporção que forem tomando
zão que, não tendo tanta importancia, produz mais vigor e idade. Esgotado esse meio, esgo
comtudo o mesmo resultado, produz a falta tem tado o emprestimo do governo, applicado elle
poraria do meio circulante. Quando um paiz é convenientemente, apparecerá de novo a crise, o
novo como o nosso, quando elle vacilla nos pas com elle de novo apparecerão as difficuldades
sos do progresso material, quando as industrias e será necessario novo remedio...
são novas, quando ellas ainda não estão esta Um Sr Deputa oo : — Logo, ó pouco o que se
belecidas no paiz ou conhecidas, vê-se sempre pede.
do lado dos capitaes signaes de desconfiança,
porque ninguem vai arriscar os seus capitaes O Sa. Viriato: — O honrado deputado não en
em industrias novas. tendeu então a minha argumentação, eu a re
Esse temor da parte de alguns capitalistas para petirei.
se metterem em especulações novas, e cujos re O desenvolvimento progressivo da industria
sultados não são por elles ainda conhecidos, têm irá demandando mais capitaes, e admittida a
produzido nas mãos desses mesmos capitalistas existencia da crise o emprestimo não ó suffi-
accumulação de capitaes improductivos, capitaes ciente para as demandas da industria sempre
que elles não lanção na circulação por não verem progressiva, sendo necessario novos emprestimos.
ainda claramente os lucros convenientes. Esse Creio que daqui não se poderá concluir que
procedimento não póde durar, é transitorio, bem eu approvo o emprestimo e que o acho ainda
que tenha produzido a crise até hoje. Vê os pequeno.
nobres deputados que não ha raeão ainda para Quando se dá uma verdadeira crise, um desses
esse emprestimo do governo. acontecimentos que ameação abalar em suas ba
Até agora vos tenho mostrado, senhores, as ses todos os agentes de producção, caso em que
causas que supponho effkientes da crise com os governos devem usar do medidas preventivas,-
mercial ou da falta de meio circulante em acti caso em que mesmo os productos das industrias
vidade bastante para o desenvolvimento, feliz não tendem para a formação de valores de cir
mente sempre progressivo da nossa industria. culação, os remedios devem ser mais fortes, e
E pelo que tenho dito julgo mais ser bastante até de outra natureza-
para íirovar que a crise não é tão grave que Descubro mesmo, ' senhores, outro motivo de
demande do governo o favor do emprestimo. Ainda duvida neste emprestimo, sendo elle feito sobro
não está bem reconhecida ao menos essa neces ciuções aos bancos nacionaes.
sidade. Mas se poderá dizer que se o governo Estes bancos terião fundos disponiveis no es
não fizer o emprestimo, que se elle não soe-' tado da crise para caucionar o emprestimo do
correr a praça do Rio de Janeiro, póde-se receiar governo? E' natural que os tenhão, porque o
que os juros subão a tal ponto que venhão npre- nobre ministro da fazenda, dotado como ó de
sentar-se quebras e máo resultado nas especu muito juizo prudencial, não concederia o favor
lações da industria. sem saber antes se o estabelecimento estaria
Não posso admittir isso porque estou conven para isso habilitado.
cido que a taxa dos juros sobe até um certo Fallando sobre isto com a reserva e cuidado
ponto determinado pela natureza das cousas, e que a natureza da materia exige, direi qui é
desse ponto para diante não póde mais subir, não conveniente estabelecer claramente a possibili
Íióde passar ; e accumulando-se os capitaes de dade da caução ds part.' do banco.
órma qne o juro do que estiver em circulação A apresentação da medida que se discute nesta
chegou até ahi, até esse certo e determinado augusta camara, a approvação delia, e depois a
ponto, não é possivel outra cousa senão a termi menor difficuldade na caução da parte do esta
nação da crise, como resultados dos principios belecimento bancai, uaria em resultado a dimi
da sciencia que regula esta materia, da razão nuição da importancia desse estabelecimento que
mesmo que nos manda assim pensar, porque não tivesse meios para dar a caução ao governo,
ninguem quer ter capitaes alugados ou a juros a quebra de seu credito talvez bem seguro e
subidos sem realisar o emprego productivo delles. firmado no presente.
A circumstancia tambem da proximidade do Mas, senhores, vamos conceder que o remedio
pagamento dos juros das apolices da divida pu apresentado pelo governo, o emprestimo, que faz
blica, trazendo grande acerescimo de meio cir objecto do projecto, acaba com o mal, faz cres
culante, produzirá a immediata diminuição da cer o meio circulante, consegue o fim que se
taxa dos juros. deseja. Esse passo do governo não irá offender
Tudo pois me leva a crer que não existe a a um dos agentes productivos? Esse empres
crise ou falta de meio circulante em tal gráo que timo não poderá ser tido como privilegio conce
exija remedios promptos, e que possa ser pre dido a outros agentes de industria em prejuizo
judicial ao desenvolvimento e curso regular da de um ? Creio que sim. Eu mu explico melhor.
riqueza publica, sendo certo que as causas da O capital dinheiro que é possuido por certa
SESSÃO ES 11 DE JUNHO DE 1853 159
classe de productores, deve ter ganho, porque a a paz e a boa ordem dos negocios publicos ;
taxa do juro tem crescido ; dando-se o empres industrias que multiplicadas pela sombra do bom
timo a taxa decrescerá com isso, e pelo facto governo, requerem sem cessar novos capitaes,
de resultados moraes mui fortes do apresentar-so elevando o alugnel dolles, ou a taxa de juros.
o governo emprestando fundos para outras in Factos passados nos demonstrão isto. Quando
dustrias, fazendo baixar o aluguel do capital, a França estava nos garras das agitações poli
prejudicando com esse favor a esta outra classe. ticas, a taxa de juros era diminuta, e porque?
E esse passo do governo é contra a liberdade Porque ninguem queria empregar seus capitaes
do commercio e industria, visto que capitalistas em especulações de industria; porque ninguem
vão perder com a diminuição da taxa de juros, era tão imprudente que quizesse arriscar sua
vão soffrer pelo favor: que neste caso é um pri fortuna entregando-a aos vaivens de uma época
vilegio, que se concede para certas classes pro- de revoluções continuadas, de muitos governos
ductoras, esquecida uma bem importante. não permanentes, o mal seguros.
Não se deve pór embaraço nenhum a esse Apresentando hoje minhas duvidas, peço que
desenvolvimento natural e proprio da vida dos ellas sejão tomadas no sentido do grande desejo
orgãos da producção de riqueza ; os governos que sempre tenho de acertar, e nunca no sen
devem limitar-se simplesmento a favorecer o des- tido de reprovação ao acto do nobre ministro
envolvimento_ industrioso do paiz, a favorecel-o da fazenda, porque me confesso muito inferior a
com a creação de meios de communicação, favo elle em talentos o conhecimentos, muito novo
recel-o com a cessação absoluta das distancias, na vida politica. Eu só tenho em vista obter
apagando mesmo essa palavra das folhas de sua explicações que possão demover-me do estado
existencia como uma idéa absurda. Mas, quando de duvida em que me acho, porque quero col-
o paiz não póde de um dia para outro ter essa locar-me em estado do poder dar o meu voto com
desenvolvimento, apresentar esse progresso ma conhecimento de causa, de ligar meu voto á
terial, não so deve por outro lado querer inter minha consciencia.
romper a marcha natural das forças industrio O Sr. F. A. Ribeiro : — Sr. presidente, o
sas, crcar-lhes embaraços c. m privilegios conce
didos a certas classes de industria, privilegios nobre deputado que fez opposição á proposta que
ora se discute nao apresentou, segundo penso,
que produzem um mal a outras classes não menos razão alguma valiosa que possa justificar a ne
ricas de força. gativa de seu voto ao projecto.
(Ha um aparte.) Disse que duvidava que os capitaes tivessem
Estou mostrando á honrada casa o meu pen sabido para o estrangeiro...
samento sobre estas materias, estou explicando- O Sr. Viriato: — Duvidava da existencia da
vos que sempre fui de opinião que se deve con
ceder nellas toda a liberdade, e que qumdo crise.
apparece um facto que julgamos extraordinario, O Sr. F. A. Ribeino: — ... ou mesmo para o
mas que não é senão um resultado do jogo con interior da provincia do Rio de Janeiro, ou para
tinuado o progressivo das forças industriosas, outras provincias vizinhas, donde pudesse re
devemos usar de um expediente hoje geralmente sultar a falta de numerario de que se resente
seguido, devemos adoptar o laisse3 faire ; deve esta praça. Mas o nobre deputado não se devia
mos entregar á propria industria, ás proprias limitar a duvidar...
forças productivas o seu desenvolvimento, o seu O Sr. Viriato: — Ohl senhor I
crescimento, a cessação de suas difficuldades, por
que as forças industriosas caminhão como as cargo O Sr. F. A. Ribeino: — ... devia ter-se feito
forças da' vitalidade humana, ellas chegão a mos de provar que na realidade não sahirão
trar certos phenomenos que parecem desordem, capitaes desta praça para o estrangeiro, ou para
mas que não são ás vezes senão annuncios de o interior da provincia, ou para as provincias
novas creações, de nova existencia. vizinhas, afim de so adquirirem com esses capi
São pois estas as duvidas que tenho ácerca diano taes productos de que o commercio faz , qneti
da proposta do governo e do parecer da nobre uso na praça do Rio de Janeiro.
commissão de fazenda. Em conclusão : não dou seuO discurso honrado membro segundo pude colligir de
quer que o governo nestas e em
a gravidade e perigo que revela o projecto ás outras occasiões semelhantes deixe aos particu
difficuldades do mercado, discordando nas causas lares cuidar dos meios de remediar os males e
efficientes dessas difficuldades, que não podem for
mar uma crise que demande o favor do governo; não inconvenientes que possão pòr em aperto o com
mercio ; e eu sigo a opinião contraria. Entendo
acho proporcional ao gráo de necessidade e pe que o governo deve sempre vir em auxilio da
rigo, dada a hypothese de verdadeira crise, a me industria do paiz, do commercio nas suas espe
dida do governo ; considero finalmente esta me culações, nos seus estabelecimentos importantes,
dida na actualidade, e negada a existencia da afim do que ambos cada vez mais floresção, e
crise, como um privilegio para certos agentes vão apparecendo continuados resultados de uma
prSductores de riqueza em prejuizo dos capita politica que cura seriamente dos verdadeiros in
listas. teresses do estado. Portanto a opinião do nobre
Ficarei aqui dizendo que a difficuldado de haver deputado de que o governo deve abandonar o
capital, ou antes meio circulante, e o cresci commercio na crise actual não póde ser abra
mento da taxa de juros é uma prova real, um çada...
elogio innegavel á fórma intelligente por que tem O Sr. Viriato: — Não fallei em abono.
caminhado a administração publica. Esse cres
cimento da taxa de juros nos demonstra cresci O Sr. F. A. Ribeino : — Foi o que o nobre
mento de prosperidade publica. Houve tempo em deputado disse : que era melhor que o governo
que alguns homens da sciencia dizião que a baixa cruzasse os braços e deixasse isso aos particu
da taxa de juros revelava crescimento da riqueza lares.
nacional ; mas hoje com mais fundamento é admit- O nobre deputado devia ter lido com attenção
tido que o crescimento da taxa de juros não os documentos que sahirão impressos no Jornal
revela outra cousa mais do que o crescimento do Commercio, o que demonstrão com eviden
da industria, o estado de progresso do paiz, e cia a necessidade da medida proposta pelo go
a fé ou o credito que tem a população no go verno (apoiados) ; ahi os dous bancos e a asso
verno, nas forças administrativas para empregar ciação commercial da praça do Rio de Janeiro
sem receio e livremente seus capitaes em indus expuzerão com muita clareza os motivos pelos
trias e especulações que principalmente demandão quaes o governo devia convencer-se dessa falta
160 SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
de numerario de que ora so resente esta praça ; O Sr. F. A. Ribeino : — Sim, sonhor, tratar
e uma vez que contraria a medida nolicitada desses factos para convencer a casa de que os
pelo governo, devia contestar a exactidão da ex nobres deputados não têm razão, e que pelo con
posição de motivos exarados nesses documentos, trario deverião prestar o seu apoio ao governo
e provar que não são reaes ou procedentes. nesta eem outras medidas semelhantes, qne têin
Entretanto lhnitou-se a duvidar ao mesmo por fim os interesses do paiz e não interesses
tempo que manifestou que não negava a sua individuaos.
confiança no governo. Se o honrado membro não O Sr. Fioueira de Mello: — O nobro deputado
está habilitado para contrariar a proposta, por quer distrahir a nossa attenção da medida pro
que não lho ouvi argumento algum que indicasse posta polo governo. Apoiados.)
ter lido a exposição do motivos dos bancos e
da commissão da praça, como lhe faz o-pposição? O Sr. F. A. Ribeino: — E tanto mais sou obri
O Sr. Viriato: — O hoarado membro me ha gado a tocar nesta materia, quanto não me coube
bilitará para outra vez. a vez do fallar na discussão da resposta ao
discurso da corda.
O Sr. F. A. Ribeino :— Paraco-mo que o il- O Sr. Fioueira oe Mello: —Trata-se agora de
lustre deputado, sem querer, cahio na doutrina uma questão financial.
da desconfiança apresentada pela nobro opposi-
ção da casa ; e ou entendo que os membros da O Sr. F. A. Ribeino : — Quanto a essa parte,
maioria, mesmo no caso do estarem duvidosos a isto é, á questão financial, o nobre deputado
respeito de uma materia que é do mera con tratara delia combatendo o projecto.
fiança prestada ao governo, devem pronunciar-se O Sr. Presidente : —Devo observar ao nobre
pela sua proposta. deputado que teria muito desejo de ouvil-o fallar
O Sr. Viriato: — Não faça disso materia po a respeito dos assumptos do que tratou ; mas
litica, que não vai bem. como o objecto da discussão é muito preciso e
O Sr. F. A. Ribeino : — Faço... determinado, se o nobre deputado levar o debate
para osse lado não terei remedio senão dar de
O Sr. Viriato: — Rogo-lho que não faça. pois a palavra a outros para responder-llie, e
O Sr. F. A. RrneiRO : — . . . porqua considera então a discussão não marchará bem. (Apoiados.)
a medida de mera confiança. O Sr. F. A. Ribeino: — Creio, Sr. presidente,
O Sr. Silveira da Motta:— Sem duvida ne que é costumi da casa nas discussões das pro
nhuma. postas do governo, em que so trata de dar um
voto de confiança, fallar-se da politica g:ral, e a
O Sr. F. A. Ribeino : — Pois o nobre depu meu respeito dã-se ainda a circumstancia espe
tado não considera medida de confiança ser au- cial de que não pude responder aos pontos da
torisado o governo para soccorrer aos bancos do aceusação que mo dirigirão os nobres deputados.
Rio de Janeiro com um emprestimo até 4,000:000$ O Sr. Auousto de Oliveira: — Póde apresentar
em letras do thesouro, addicionando-se que ainda um requerimento.
póde, se julgar necessario, conceder-lhes uma
emissão até 0,000:000«000? O Sr. F. A. Ribeino : — Não apresento requeri
O Sr. Viriato : —Tenho muito medo dessas mento, nem mesmo pretendo agora demirar-me
cousas. muito tempo ; os nobres deputados sabem que
poucas vezos tomo a palavra, e não costumo
O Sr. F. A. Ribeino: — Para dar-se um seme fazer perder tempo á camara.
lhante voto é preciso ter muita confiança no go
verno, não só pelo que respeito á sua intelligencia Um Sr. Diiputado : — Aguarde-so então para a
nessas materias, como pelo que respeita á sua discussão do orçamento.
moralidade o probidade. (Apoiados.) O Sr. Maciel Monteino larga a cadeira da pre
Bem que ainda não ouvi a nobre opposição sidencia, que é oceupada pelo Sr. L, A. Barbosa,
acerca deste objecto, penso que não errarei se- vice-presidente..
disser que a sua negativa deve basear-se prin- O Sr. F. A. Ribeino:— Eu disse que os nobres
palmente na falta de confiança tão francamente deputados me tinhão apresentado como causa
enunciada nesta casa, mórmente pelos nobres depu principal da sua dissidencia com o ministerio,
tados pela provincia de Pernambuco. Eu vi um dos e que não lhe prestavão o seu voto de confiança
nobres deputados por aquella provincia, apoiado por motivo da politica seguida em Pernambuco,
or quasi todos os seus collegas, intimar uma e portanto entendo dever dizer algumas palavras
; emissão ao ministerio, exigir que o ministerio a este respeito.
se retirasse, que abandonasse as pastas....
O Sr. Aprioio :— Emquanto havia gente que Outno Sr. Deputado : — Está inteiramente fóra
as quizesse. da ordem.
O Sr. F. A.-Ribeieo : — . . . . emquanto havia O Sr. F. A. Ribeino: — O primeiro que fallou
gente que quizesse apropriasse delias. a este respeito enunciou apenas que a politica
do governo na provincia de Pernambuco tinha
O Sr. Fioueira de Mello:—Apropriar-se nego. sido sempre uma politica sinistra...
O Sr. F. A. Ribeino: — Não tome á má parte O Sr. Fioueira de Mello : — De desconfiança.
a expressão — apropriar-se.
O Sr. Fioueira de Mello : — Parece que esta O Sr. F. A. Ribeino: — ... e encerrando um
discussão não tem cabimento agora que se trata pensamento occulto, não fez, porém, a enume
de uma medida financeira. ração dos factos que devião comprovar a sua
proposição, parece-me que esta parte ficou encar
O Sr. F. A. Ribeino: — .... e porque os nobres regada aos outros senhores. Portanto não tenho
deputados por Pernambuco me tivessem apresen que responder positivamente ao nobre deputado,
tado como causa principal da sui dissidencia que aliás na nssembléa provincial de Pernam
como o ministerio, com referencia ao tempo em buco já tinha feito opposição ate ao meu rela
que tive a honra do presidir a provincia de Per torio apresentado á mesma assembléa, taxando-o
nambuco , é de meu rigoroso dever acompa de manco nos principios mais triviaes da graui-
nhados m atiça.
O Sr. Fioueira de Mello:— Na presente dis O Sr. Paula Baptista : — E não se lembra que
cussão? tambem ataquei o seu relatorio por incompleto,
SESSÃO EM 1L DE JUi\HO DE 1853 161
visto não referir acontecimentos mui graves e dos estylos da casa na discussão destas propostas
de importancia? poder-se fallar sobre a politica em geral.
O Sr. F. A. Ribeino : — Não lho aceitai essas O Sr. Presidente: — Sim, senhor, com applica-
lições ; outras deu-ine o nobre deputado que me ção porém ao objecto Je que se trata.
ficáráo eternamente gravadas na memoria. O Sr. F. A. Ribeino: — E acerescentei então
O Sr. A. de Oliveira: —Deus queira que apro que "queria aproveitar esta occasião, visto não
veite. ter podido fallar na discussão da resposta á falia
O Sr. F. A. Ribeino: — Mas o nobre deputado do tiirono.
npresentou aqui um facto pele qual queria jus Alouns Srs. Deputados : — Guarde para outra
tificar a sua opposição ao governo, e nisto foi occasião.
acompanhado por outro Sr. deputado ; foi o O Sr F. A Ribeino : — Dar/do eu o meu voto
facto da demissão do cadete Boaventura. Devo de confiança ao governa, e tendo o governo per
dizer ao nobre deputado que o governo expedio dido esse voto do confiança de muitos Srs. depu
um aviso para lançar fóra do exercito osso ca tados de Pernambuco, alleganlo que a politica
dete, cumprio o seu dever, e deu um exemplo do governo naquella provincia tinha sido sempre
'I ue era necessario, sem o que, digo ao nobre sinistra, com especialidade no tempo ein que fui
d eputado, nenhuma autoridade em Pernambuco alii presidente, devo ex licar esses factos, defen-
poderia dalii em diante continuar a exercer suas dendo-me e ao mesmo tempo defendendo ao go
funcções; assim, não devia o nobre deputado verno. Se V. Ex. entende que não é este o pre
vir aqui justificar a conducta desse cadete. cedente da casa, que não tem sido este o' cos
O Sr. Paes Barreto : — Ninguem a justificou. tume, calar-me-hei.
O Sr. Paula Baptista: — Eu até a condem- O Sr. Presidente: — Parece-me que não ha
nei, léa o meu discurso. precedente algum que possa autorisar a resposta
do nobre deputado sobre negocios tão espoei aes,
O Sr. F. A. Ribeino : — O cadete disse na se quando ainda ninguem tratou delles. (Apoiados.)
cretaria da policia, ein face do chefe dessa re O Sr. F. A. Ribeino:—Já forão aqui tratados.
partição, palavras que não podem ser aqui
pronunciadas, e que nem mosmo o chefe de po O Sr. Presidextii: — Sim, senhor; mas na dis
licia as póde escrever no oflicio que me dirigio, cussão da resposta á falia do throno, e não po
dando parte desse acontecimento. dendo o nobre deputado fallar nessa occasião ;
O Sr. Paula Baptista: — E' isso uma verdade, podia depois ter apresentado um requerimento.
mas em retorno de que? (Apoiados.)
O Sr. F. A. Ribeino: — Se os nobres deputa O Sr. F. A. Ribeino: — Então V. 'Ex. agora
dos não examinarão o processo, mandrm-o bus estabelece que nas discussões das propostas do
car, leião os juramentos das testemunhas, e verão .governo não se pódo fallar neste sentido em que
ate que ponto foi insultado o chefe de policia estou fallando ?
por esse cadete. O Sr. Presidente: — Eu peço só qut) se re
O Sr. Paula Baptista:— Em retorno. corde do objecto que esta em discussão.
O Sr. F. A. Ribeino : — O nobre deputado diz O Sr. F. A. Ribeino: — Não perco isso de vista,
que foi em retor io, por ter o chefe de policia e depois tirarei as minhas conclusões sobre o
provocado ao cadete, vou contar o facto. O ca projecto.
dete vinha de um dos municipios de fóra da Então, quando estiver em discussão, por exem
capital coinmandando uni i escolta que conduzia plo, a proposta das forças de terra, nao posso
presos, chegou á secretaria de p ilicia, e não discutir sobre a politica geral ?
achando alh u chefe dessa repartição, teve de Vozes : — Póde I póde I
esperar ; dahi a pouco alguem perguntou pelo
chefo de policia querendo talvez algum despa O Sr. F. A. Ribeino:— E de que se trata nesta
cho, e o cadete respondeu : « Ainda não veio occasião ? Não ó de um voto de confiança ao
esse patife. » governo ?. . .
Vejão os nobres deputados como o cadete vi O Sr. Presidente: — Eu só recordei ao nobre
nha prevenido para insultar o chefe do policia ; deputado que se cingisse ao objecto 0in discussão...
isto consta da prova testemunhal, e de um do O Sr. F. A. Ribeino : —Eu deixarei de fallar,
cumento importante do Sr. Dr. Sette, hoje juiz procurarei outra occasião qualquer ; aproveitava-
de direito do uma das comarcas do Ceará, em me desta porque fui classificado muito em baixo
resposta ao chefe do policia, por isso que tendo na lista dos oradores que pedirão a palavra
do se retirar pira a sua nova comarca não po quando se tratou da resposta á falia do throno,
dia jurar no processo. sendo eu um dos primeir. s que a pedirão....
O Sr. Paes Barreto: — Eu queria que o no O Sr. Paes Barreto dá um aparte que não
bre deputado mostrasse em que lei so fundou onvimos. - (
o governo para demittir o cadete.
(Cruzão diversos apartes.)
O Sr. F. A. Ribeino: — Fundou-se no direito
que tem de demittir qualquer soldado. O Sr. Aprioio : — Até da mesa estio dando
apartes.
O Sr. Paes Barreto ": — O nobre deputado O Sr. Paes B.uireto (com vivacidade) :— Pois
sabe que um cadete não é soldado. o Sr. Aprigio não consente que eu dê um aparte,
O Sr. F. A. Ribeino: — E' um soldado, posto o senhor qite ó o perturbador-mór da camara ?
que privilegiado; somente os ofiiciaes do exercito Ò Sr. Aprioio : — Mas não dou apartes da
c que não podem perder as suns patentes se mesa.
mio em virtude de sentença.
O Sr. Presidente : — Peço ao nobro deputado O Sr. F. A. Ribeino : — Eu poderia ser classi
que attenda que o que está em discussão ó a ficado um pouco mais em cima na lista dos ora
proposta do governo relativa ao emprestimo aos dores; tinha necessidade do filiar. Entretanto
bancos. (Apoiados.) desejo saber se em qu ilquer das propostas do
governo poderei fallar sobre a politica geral e
O Sr. F. A. Ribeino: —Eu tinha dito que era fazer menção de quantos factos me recordar. . .
tomo 2. 21
162 SESSÃO EM 11 Dl ; JUNHO DE 1853
O Sr. Presidente : — Eu só recordei ao nobre Dando pois, Sr. presidente, o meu voto de con
deputado o objecto que está em discussão, e lhe fiança ao ministerio, não preciso fazer, para
pedi que se cingisse o mais possivel a elle. expor algumas consideríções sobro o projecto,
O Sr. F. A. Ribeino : — Cederei ; mas V. Ex. nem reservas nem limitações a respeito do di
como deputado antigo da casa, devo lei(ibrar-se reito com que por ventura fica um membro do
do que e precedente da camara poder-so discutir parlamonto ácerca de outras questões que se
neste sentido, quando se trata de qualquer pro ventilão nelle.
posta do governo. Ora, um deputado que foi Dando este voto do confiança ao ministerio,
presidente de uma provincia, que foi aceusado já digo claramente qual é a minha posição nesta
na assembléa provincial da mesma provincia e camara, não do meia opposição, nem de meio mi-
em suas gazetas, que o aceusado nesta camara, nistori-alismo ; acho que são as posições mais
parece-me que tem direito de explicar os factos, falsas (apoiados), mais perfidas que se podem
do se defender na camara... (Apoúidos.) oçcupar no parlamento essas do meio amigo e
de meio inimigo (apoiados), mesmo porqne no
Um Sr. Deputado: — Ninguem nega isto, mas complexo immenso de uma politica nós temos
a occasião é que não é propria. motivos muito sufficientes para nos declararmos
O Sr. F. A Riueiho : — Este direito parece-me ou inimigos ou amigos.
que é bom exercido quando se trata de uma pro- Com esta exposição de minha posição em ro-
p ista do governo, de dar um voto do confiança ração ao governo, ás medidas propostas, eu vou
ao governo ; parece-me que é occasião de de- . sujeitar á consideração da casa algumas razões
monstrar que é infundada a desconfiança daquelles que servirão ao menos para que o nobre minis
que estão em opposição. Entretanto cedo da pa tro de á sua proposta, assim como a commissão,
lavra. E como o nòbro deputado que so oppòz novos penhores de segurança, dando á camara e
ao projecto não mo convenceu de que o mesmo ao paiz explicações sobre alguns pentos, a res
projecto não deve ser npprovado, permitta-me peito dos quaes entendo que o governo deve ser
que o não acompanhe. Declaro que quero dis muito explicito.
cutir esses negocios do que aqui so tratou na Eu reconheço, Sr. presidente, todo o melindre
discussão da resposta ã falia do throno; hei de deste debate ; reconheço que elle não é mesmo
explicar tolos os factos que se trouxerão ao par para todos os oradoras ; reconheço que não seria
lamento, e estou persuadido que os nobres de talvez o mais proprio para tomar parta nelle ;
putados ficarão satisfeitos com as minhas expli mas possui r-me -hei detodt a necessaria reserva
cações. pua que minhas pudavras não possão prejudicar
O Sr. Aprioio : — Foi bom fazer esto pro os interesses tão susceptiveis da actualidade.
testo. Tomei mesmo, Sr. presidente, a resolução de
O Sr. • Silveira d.a Molta: — Sr. presi entrar nesta discussão por uma circumstancia
particular dí proposta, isto ó, por que uma das
dente, tomo parto neste importante debato, e medidas propostas pela commissão como emenda
inscrevi-me .contra, não porque tenha de dar o« ao projecto do governo me revelou inconvenientes
meu voto nem contra a proposta do governo, em relação ás transacções monet irias dos mer
nem contra o parecer da commissão, mas unici- cados ou praças secundarias ao sul do imperio
mente porque, fundamentando o voto que tenho com o mercado e praça do Rio de Janeiro. Esses
de dar em favoi da proposta o do parecer, tenho inconvenientes forao os que mo determinárão prin
de offerecor ã consideraçã - do nobre ministro e cipalmente a entrar no debate. Hei de expól-os
da illustre commissão de fazenda algumas obser ao nobre ministro o á camara, o folgarei muito
vações a respeito das medidas propostas ácerca se acaso forem reconhecidos, se o o nobre mi
da neaessidade que se quer satisfazer. nistro, accedendo ás minhas observações, concor
O meu voto, Sr. presidente, na presente occa rer com a sua pericia o o seu apoio para que
sião é um voto do pura confiança no goveriro. a medida proposta pela commissão seja corrigida
Como estou persuadido que a marcha geral do de modo que não traga os embaraços que hei do
gabinete deve ser approvada pelo paiz, como referir, principalmonte em relação a uma praça
estou persuadido especialmente de que as me- do commercio cujas transacções com a praça do
didis financeiras empregadas ultimamonto pelo Rio do Janeiro se fazem todas pn- meio de le
ministerio têm sido coroadas de bom successo, tras. Fallo da praça do Santos, e tambem da
têm dado ao paiz garantias do presente o do do Rio de Grande do Sul. que ficão prejudicadas
futuro, julgo-me na obrigação de dar mais espe com a medida proposta pela commissão.
cialmente o meu voto de confiança ás medidas Eu vou tratar desds já, Sr. presidente, desse
financeiras. inconveniente da proposta, e deixarei para o re
Além disto, Sr. presidente, entendo a posição mate do meu discurso as idéas gemes, assim
politica dos membros do parlamento em relação como algumas observações que eu tenho de fazer.
ao miaisterio do uma maneira que devo expór á Pula emenda da illustre commissão foi o go
casa. Todos nós reservamos a nossa consciencia verno autorisado para conceder ao banco a emis
para a apreciação dos actos politicos ou admi- são do 0,000:0 X)$, além da sua emissão já au-
ui-trativos do governo ; ninguem diria sem in torisada, dando curso forçado ás suas letras,
sulto ao parlamento que as maiorias ministe curso verdadeiramente forçado no municipio do
riaes precisão abdicar a sua consciencia para Rio de Janeiro ; estabelece a commissão, para
apoiarem os min ist rios, e- lhes darem votos de garantia desse favor que o governo vai fazer
confiança. Eu, pois, no .principio de que as aos bancos concedendo- lhes uma emissão além
maiorias ministeriaes, comquanto conservem a dos sons fundos disponiveis actualmente, algumas
sua consciencia para a apreciação do todas as restricções.
medidas, devom apreciar essas medidas comple Em primeiro lugar, a caução por inetaes pre
xamente, e não isolada, parcialmente, e como o ciosos, apolices da divida publica, bilhetes do
apoio qne as maiorias dão ao governo deve provir thesouro, bilhetes da alfandega, ou creditos par
da apreciação complexa das intenções e 'dos actos ticulares com boas garantias, computados por
do governo, eu, que muitas vezes posso enxergar metade do seu valor, e se estabelece 'uma fis-
em um ou em outro acto do governo disposições qua calisação especial destes depositos.
reprovo, quando trato entretanto de dar no par A segunda, a restricção, ó que esta emissão
lamento meu voto explicito, solemne, nas ques não possa ser applicada senão ao desconto da
tões de confiança, entendo que devo pór do parte letras da terra com duas firmas, e cujos prazos
as questões de detalhe, ser muito explicito, muito não excedão do 90 dias. Ora, é justamente contra
franco na exposição desse voto. essa restricção que eu levanto a minha voz, por.
SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853 163
que ella é muito offensiva dos interesses com- vintem do resultado da venda desses productos;
merciaes de uma praça de commercio que per vem receber essa importancia na praça do Rio
tence a uma provincia que eu tenho a honra de de Janeiro, e aqui viria a lutar com difficulda-
representar. des pelo embaraço em que fica o negociante
Senhores, o que tem em vista o governo o a desta praça sobre quem saca pela importancia
illustre commissão estabelecendo como rostricção, do genero sobro a praça do Rio de Janeiro, pela
que essa emissão novamente feita seja restricta nova difiiculdado ao desconto de suas letras.
somente ás letras da terra, e que não se refira O negociante sobre quem saca no Rio de Janeiro
essa restricção aos actuaes fundos disponiveis aceita a letra, o portidor dessa letra, quasi sempre
do banco ? Consideremos mesmo a emissão nova a mais de 30 ou 90 dias, quando quer embolsar o seu
concedida aos bancos, qual ó o fundamento da correspondente do sul do imperio para que este
restricção proposta pela commissão estabelecendo 'embolse ao dono do genero, esse portador vai
que essa emissão nao possa ser applicada senão ao banco, e com o seu endosso e com a firma
aos descontos das letras da terra com prazos dó aceitante, pede desconto aos bancos, onde o
não menores de 90 dias o com duas firmas? póde achar mais favoravel do que nos banquei
Entendo eu que as vistas da commissão, assim ros particulares; o esse é que é o beneficio que
co.no as do nobre ministro, não forão outras se deve esperar dos bancos em resultado do
senão restringira applicação da nova emissão privilegio que tem o banco de emprestar com
a titulos de maior garantia; e a nobre com os capitaes artificiaes que o credito crêa, e por
missão enxergará maior garantia nas letras da conseguinte deve emprestar mais baraio ; mas
terra do que" nas .letras canibiaes? desde que se estabelece que a nova emissão que
Se assim é, senhores, perguntarei, onde é que é permittida aos bancos não seja empregada
está a difforençi de garantias que enxerga o go senão no desconto das letras da terra, segue-se
verno nas letras da terra para suspender o que as letras sicalas dessas praças não podem-se
emprego da nova emissão nas letras canibiaes? aproveitar do favor que o projecto faz á do Rio
Onde está a dlfferença das garantias daquella de Janeiro; e então esta disposição dará em re
para as garantias que tenhão estas ? Não vejo sultado que os banqueiros particulares terão á
diflerença alguma, comparando mísnio as letras sua disposição os fundos do banco por baixo
cambiaes estrangeiras, porque mesmo a respeito juro para descontarem as letras de que fallo por
dessas eu acho que o governo não poderia ter premio maior.
razão alguma para as excluir da nova emissão, Porém, Sr. presidente, eu entendo que o fivor
porque todos nós sabemos, todos os que temos concedido aos bancos não é unicamente com vistas
idéas triviaes do direito mercantil , que , por geraes do favorecer ao mercado ou ao corpo do com
exemplo, uma letra sacada de Londres sobre a mercio do Rio de Janeiro, mas que tem vistas geraes
praça do Rio de Janeiro, e sacada alli por de favorecer aos interesses commerciaes de todo
um banqueiro de reconhecido credito, por exem o imperio ; o a restricção das letras da terra preju
plo, da casa de Rothschild, sobre o Sr. barão dica aquellas provincias que têin as suas trans
de Ypanema do Rio de Janeiro e a favor do acções em grande escala para a còrte. Felizmente,
Sr. barão da Guaratiba, essa letra de cambio Sr. presidente, essas relações se dão a respeito
uma vez que fór aceita pelo Sr. barão de Ypa de duas ou tres provincias do imperio cujos
nema, e o Sr. barão da Guaratiba a endossar mercados ficão ao sul, porque os mercados das
e apresentar ao banco, tem ella duas firmas de provincias da Bahia o d" Pernambuco, assim,
idoneidade incontestavel, e logo que essa letra como todas as mais que ficão ao norte da pro
fór levada ao banco com o endosso desse ul vincia da Bahia, fazem as suas transacções in
timo, ella está nas mesmas condições de segu dependentes da praça do Rio de Janeiro, salvo
rança em que podem estar as da terra, porque um ou outro caso especial.
tem duas firmas de reconhecida abonação da E fazendo essas praças as suas transacções in
praça da Rio de Janeiro, e então não haverá dependentes da praça do Rio de Janeiro, porque
razão para que essa letra seja jutgada inferior ellas têm commercio directo com a Europa, as
a respeito de credito e segurança a uma letra sim como têm para a Europa cambio directo
da terra. , que ás vezes varia do cambio do Rio de Janeiro
Não vejo pois a razõo dessa limitação, e desde para essas praças o indifferente, a restricção do
que o governo tivesse estabelecido que as letras projecto, mas para as praças do Santos e Rio
fossem revestidas de firmas de acrisolado cre Grande do Sul a restricção não pódeser indifferente
dito, então estavão essas letras cambiaes nas porque é uma limitação ao favor de uma nova
mesmas circumstancias em que podem estar as emissão, cujo fim é facilitar descontos.
letras da terra ; mas, senhores, no caso de se Eu vejo, Sr. presidente, que essa restricção
não conceder favor ás letras cambiaes estran é somente em relação á nova emissão, mas
geiras o prejuizo era para as praças estran não em relação ao actual fundo disponivel dos
geiras sacadoras , o que menos me importa , bancos, que fica mais desassombrado o accessivel
porque não sou aqui procurador das praças es aos descontos das letras cambiaes das outras
trangeiras , e sim sou procurador das praças {traças, e portanto que será possivel que uma
brazileiras, e por conseguinte quando se trata etra cambial de qualquer. dessas praças do sul
de letras cambiaes da praça do Brazil para. a do imperio de que tenho fallado possa sor le
praça do Brazil entendo que devo envolver-me vada ao banco e descontada apezar da res
na discussão , e principalmente devo tomar tricção posta no § 2°, que é só relativa ao
parte em favor das letras cambiaes das pro- emprego de nova emissão. Mas, seja como fór,
vincias que ficão ao sul do imperio, do Rio- Sr. presidente, é uma differença de favor á
Grande do Sul e ou de Santes, cujas transac praça do Rio de Janeiro, que fica com o favor
ções se fazem por intermedio da praça do Rio da nova emissão e com o fundo disponivel dos
de Janeiro. banços anterior á nova emissão para os seus
Senhores, toda a importante producção da pro descontos , entretanto que as praças do que
vincia de S. Paulo é remettida ou para o porto fallei ficão sempre reduzidas ao arbitrio das
de Santos, ou para os portos que ficão mais ao especulações dos bancos ; porque a restricção
norte de Santos, e que a envlão para o Rio de que ha de trazer a facilidade dos descontos ,
Janeiro, e em todos os casos as transacções so esta circumstancia fará com que os bancos
bre os generos exportados da provincia de possão responder aos portadores das letras,
S. Paulo se fazem sobre esta praça ; o nego quando fórem nelles descontai- as. « Nós temos
ciante da praça de Santos que vende os pro- fundos, mas os fundos que temos para des
ductos da provincia de S, Paulo não recebe um contos são os da nova emissão, o portanto não
SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 185:3
podemos descontar as vossas letras » , entretanto rença. Se acaso se tratasse sómente das letras
que na mesma occasião se apresenta u na letra cambiaes estrangeiras, eu conviria nisso.
do municipio do Riu de Janeiro, o essa letra O Sa. Lisboa Serra: — E' a mesma cousa.
é descontada, porque porque pó ia aproveit ir-se
da nova emissão e da emissão anterior. O Sr. Silveira da Motta: — Estou que. era a
Creio, Sr. presidente, que tenho tornado sen mesma cousa; não havia inconveniente nenhum
sivel a minha idéa. Quero porém fazer ain la nisso.
uma ponderação sobre este mesmo ponto, como O Sr. Lisboa Serra:— Nem o prejuizo na ge
que prevenindo uma resposta com que conto neralidade dos casos seria para a praça estran
para este meu argumento. geira.
Dilá o nobre ministro, e dirá a nobre com- O Sr. Silveira da Motta: — Não era: mas a
missão : « Essa letra, que não é descontavel vantagem da transacção, uma vez-.que se admit-
por ter a natureza de letra do cambio, é to tisse que o fundo novo do banco fosse applica-
davia convertivel uma vez que tenha as duas Vul ás letras cambiaes estrangeiras, aproveitaria
firmas garantidoras de uma letra da terra, fi ao sacador estrangeiro, facilitando as suas trans
cando em penhor nas mãos do portador da acções; e desde que não facilita com detrimento
letra. » Mas, pergunto, isso não importa ainda das garantias exigidas pelo governo, não havia
differença no valor da letra ? tois acaso ainda inconveniente algum em se lhes conceder o des
quando se converta em letra da terra essa le conto.
tra sacada em uma praça estrangeira, não tem O Sr. Lisboa Serra: — Facilitaria as transac
ella de pagir um sello novo proporcional ao ções do letras cambiaes sacadas sobre esta praça,
seu valor, para a letra cambial ficar como ga que são quasi sempre propriedade nacional. Posso
rantia ao portador emquanto descenta outra o ser dono de uma letra sacada em Londres, em
O Sr. Ministno da Fazenda dá um apart? que nada tenha com o sacador quando a desconto.
que não ouvimos. - O Sr. Silveira, da Motta: — Mas essas letras
O Sr. Silveira da Motta : — Isso é quanto não estão no projecto, não são descontaveis ; e
ás letras do banco, mas as letras dos particu então ahi se verifica mais um inconveniente, e
lares estão sujeitas ao sello proporcional ; e eu é que o brazdeiro que obteve uma letra sacada
fallo da hypothese em que o portador da letra em uma praça estrangeira, e se apresenta np banco
converta a "letra do sacador da -praca de Santos, para deseontal-a, não póde obter o desconto pelo
v. g., em uma outra letra da terra, para poder simples facto de ter sido a letra sacada em uma
descontal-a no banco : neste caso tem de pagar praça estrangeira, não obstante a transacção re
o sello, e portanto procede o meu ,argunleuto. verter em favor de um nacional, e estar reves
Ora, so a letra tem sello, é evidente que ha tida do garantias iguaes ás das letras da terra.
desfavor na estipulação do que só possão apro Estas considerações, que sujeito ao nobre mi
veitar da nova emissão as letras d i terra, por nistro, me forão suggeridas pelo conhecimento
que pelo menos, para se fazer o mesmo facto nuo tenho das rslações commerciaes de uma praça
na transacção, ê preciso impor ao sacador o da provincia a que pertenço com a do Rio de
sacrificio do novo sello proporcional da letra, J meiro ; e póde o nobre ministro ficar certo de
e ó preciso ainda o encargo de nova escriptu- que essa praça fica muito prejudicada com esta
ração, o que não é indifferente para o commer- medida.
cianto ; ficar com a letra que lhe foi sacada de O Sr. Lisboa Serra :— Fica favorecida.
Santos, por exemplo, passar uma nova letra da
terra, e dar ao mesmo tempo dous aceitantes qne O Sr. Silveira da Motta.— Fica muito pre
firmem a nova letra para poder ser descontad i judicada.
no banco, é uma openção que póde trazer suas O Sr. Lisboa Serra :— Com a medida em geral
difficuldades, porque o aceitante póde não querer fica favorecida.
aceitar a outra leira para o desconto.
Portanto, se acaso eu visse que se seguia O Sr. Silveira da Motta :— Fica favorecida
algum inconveniente em o nobre ministro ado desde que se alarga as operações dos bancos,
ptar para as letras de cambio a mesma medida desde que se lhes dá meios para sahirem da
qne para as letras da terra, de certo que não inercia em que se achá i actualmente, estou qua
faria esta opposição em beneficio das praças todas as praças que têm relações commerciaes
brazileiras que commercião com a do Rio de com a do Rio de Janeiro hão de aproveitar com
Janeiro ; mas vejo que não ha inconveniente a facilidade dos descontos ; neste sentido só em
nenhum. geral ellas ficão favorecidas ; mas especialmente
ficão prejudicadas com a differença que se faz
O Sr. Ministno da Fazenda dá um aparte para as letras da terra.
que não ouvimos. Isto, Sr. presidente, é quanto ao assumpto que
O Sr. Silveira da Motta : — Pois desde que me chamou especialmente ao debate ; mas, já
o nobre ministro disser que as letras ou da terra que nello tomei parto, vou, como annunciei no
ou cambiaes não possão ser descontadas senão principio do meu discurso, oflerecer á considera
tendo duas firmas reconhecidas da praça do Rio ção da camara algumas observações geraes sobre
de Janeiro, qual a inconveniencia que resulta o projecto.
pira as operações dos bancos ? O credito da Sr. presidente, a medida proposta pela nobre
letra cambial fica garantido pela solidariedade comniissão, do accordo com o governo, para acu
das firmas da praça onde é aceita e endos dir ao reclamo da situação actual financeira do
sada. maior mercado, do imperio, que ó o do Rio de Ja
O Sr. Ministno da Fazenda: — Não se attende neiro, consiste em um favor feito ás duas insti
só ao credito. tuições ile credito que ha na córte : o banco com-
mercial e o banco do Brazil. Esse favor consiste
O Sr. Silveira da Motta:— Mas o banco fica em facilitar aos dous bancos poderem elevir as
sufficientemente garantido pelas duas firmas que suas emissões até m iis do valor de 6,000:0(10S000.
no projecto se exige para as letras da terra ; o O Sr. Ministno, da Fazenda :— Perdõe-me, é
portanto não vejo razão para que uma letra, só o maximo.
Selo facto do ser sacada em Santos ou no
;io Grande do Sul sobre uma firma do Rio do O Sr. Lisboa Serra :— Eleva-se apenas até essa
Janeiro que é aceita pelo banco, deva ter diffe quantia; não se augmenta com essa quantia.
SESSÃO EM 11 Í)E JUNHO DE 1853 165
O Sr. Silveira da Motta :— Nisso é que está levar por meras formalidades, ou informações
o favor; mas dá-se-lhes o direito de emittirem inexactas. (Apoiados.)
talvez 6,000.000$000 mais. Mas, senhores, as restricções que o projecto
O Sr. Lisboa Serra: — Não, senhor, até essa traz á coucessão desse favor, e de outro ainda
quantia somente. maior, o do i:urso forçado das, letras do banco,
suppondo mesmo que o governo tem procedido
O Sr. Silveira da Motta:— Se a idéa do pro a todas as precisas averiguações, me suggerem
jecto não é a que acabo de expender, precisi a necessidade do fazer algumas observações a
ser enunciada de outro modo, porque no art. 2° respeito das causas que fizarão chegar o mer
do projecto se diz o seguinte : « O governo fica cado do Rio de Janeiro ao estado actual de pre
autorisado a facultar a elevação da sua emissão cisar este soccorro do governo.
até 6,000:000$000. » Senhores, nos annos de 1851 e 1852 verifleou-
O Sr. Lisboa Serra :— Não é acerescentar mais se no mercado do Rio de Janeiro um phenomeno
6,000:000$00) ; é elevar até essa quantia. economico, cuja solução então eu' não podia dar
O Sr. Silveira da Mctta:— Eu percebo o que e hoje a crise cummercial péde dar. Esse phe
diz o nobre deputado ; mas estou observando que nomeno foi o seguinte : baixa grande de juro
as pilavras que se achão no projecto podem dar de capitaes, e ao mesmo tempo expansão prodi
lugar a um grande abuso. A automação para a giosa das transacções e empresas commerciaes.
emissão eleva-se om relação a que ? Em relação Digo, senhores, que ou não polia então dar a
a actualidade de uma emissão Qual é a emissão solução d-íste problema economico, porque essas
actual dos dons bancos ? E' aquella para que duas idéas, no Brazil, não erão explicaveis senão
elles já têm autorisação. pola circumstancia que hoje estamos vendo rea-
hsada. A baixa do juro nos annos de 1851 e
O Sr. Lisboa Serra :— Exactamente. 1852, baixa espantosa, fóra de todas as regras
O Sr. Silveira da Motta:— E se se diz agora economicas, era incompativel ao mesmo tempo
no projecto : « vch, bancos, que já tendo a fa apresentando-se o phenomeno, que não se casava
culdade de emittir, supponhamos 20,000:000S000, com a expansão prodigiosa de que fallei, das
podeis elevar a vossa emissão até 6,000:000$000,» transacções e empresas commerciaes 1
o que se póde entender ? O Sr. Paula Candido : — A cessação do tra
O Sr. Pedreira-:— A autorisação que elles tem fego foi uma cau.-a.
até agora é somente de 4,000:000$000 : vão ser O Sr. Silveira da Motta : — A cessação do
pelo projecto autorisados a emittir até 6,000:000$. trafego é uma causa, mas em que vem a apro
O Sr. Silveira da Motta: — Me parece que ve, tar á solução que eu podia dar ao problema?
em materia de tanta importancia como é esta O Sr. Lisboa Serra : — Não forão factos si
se devia redigir o artigo de outra maneira, mais multaneos, e sim successivos.
clara, e que não deixasse pretextos para alguma O Sr. Silveira da Motta : — Como dizia eu,
tentação. nessa época eu não sabia conciliar bem estes
O Sr. Lisboa Serra:— Pois eu peço ao 'nobre dous factos economicos. Como o Rio de Janeiro,
deputado em nome da commissão redija essa sua á vista de uma momentanea estagnação de ca
idéa, que é tambem a da commissão, pela ma pitaes pela cessação do trafego, foi convidado ao
neira que julgar mais clara. estabelecimento de novas instituições de credito,
O Sr. Silveira da Motta:— Desde a primeira pois que o banco do Brazil é creação posterior,
vez que li o art. 2° do projecto occorreu-me que e estas instituições de credito que sem duvida
se queria dar uma faculdade para emittir mais alguma nascêráo" da consciencia de que havião
6,000:000$000. capitaes no paiz para sua fundação, v. g., essa
estagn ição de capitaes depois da cess ição do
O Sr. Lisboa Serra :— Elevar, creio que exprime trafego,, digo eu, podia nos explicar a baixado
exactamente o que temos em vista. •juro, mas não até o ponto a que chegou de 4 %,
O Sr. Silveira da Motta :— O que quer dizer e essa baixa do juro, para ser explicada econo
elevar da emissão? Da emissão já autorizada, e micamente, fera contrariada por esse furor devo
então podia-se entender até 10,0^0:000$000, pois rador de transacções e empresas commerciaes que
que a emissão já autorisada é de 4,000:000$000. 6e manifestou nos annos de 1851 e 1852.
Mas, Sr. presidente, tratando-se do fazer aos O Sr. Lisboa Serra : — Cujos capitaes nesse
bancos o favor de poderem elevar a sua emissão. . . tempo erão ainda nominaes.
O Sr. Lisboa Serra :— Lembre outro meio pra O Sr. Silveira da Motta :— Como ã vista deste
tico de salvar a praça. furor explicar os 4 °/° de juro?...
O Sr. Silveira da Motta : — Não duvido, e O Sr. Lisboa Serra :— E' consequencia.
eu já declarei que dava o meu voto á proposta, O Sr. Silveira da Motta:— E eu acho que é
estou apenas fazendo algumas observaçoes para antecedencia. . .
suscitar mesmo á illustro commissão a explica
ção do seu pensamento, que. comquanto seja Um Sr. Deputado: — A barateza do dinheiro ó
claro, todavia no encontro dos interesses com- que deu lugar a isto.
meiciaes póde dar lugar a interpretações e in O Sr. Silveira da Motta :— Senhores, a minha
teligencias que o p rlnmento não teve em vis proposição é esta—como conciliara baixa do juro
tas. Mas consistindo o fivor que se quer fazer com esse furor de especulações?...
a esrna instituições do credito, attendendo-se ás O Sr. Lisboa Serra : — São factos filhos da
necessidades da praça na elevação da emissão, mesma causa. _
eu presupponho que o governo dando a sua
annuencia a esta idéa havia procedido a todas O Sr. Silveira da Motta:— Esta difficuldade
as necessarias, averiguações e até creio que li de conciliar estes dous factos economicos me
nos jornaes que se estabelecêrão - inqueritos a condu.zio á procura de uma causa que explicasse
este respeito ; estou mesmo certo i i n i os dire o estado actual da praça do Rio de Janeiro ; e
ctores do banco não levarião ao conhecimento qual foi o meio de solver o probloma ? Foi o co
do governo uma representação falsa sobro mate nhecimento de que as instituições de credito qne
ria de tanta transcendencia, porque o nobre mi se tinhão plantado no nosso paiz tinhão a meu
nistro da fazenda não é homem que se deixasse vor abusado de sua missão. . . (Apoiados.}
16G SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Lisboa Serra :— Não apoiado : o juro não podia fazer as suas emissões com muito mais
era já 'baixo quando se organisou o segundo largueza, quando tinha concurrencia do banco
banco. do Brazil.
O Sr. Silveira da Motta :— A meu ver uma varChego a este exame, Sr. presidente, pnra obser
das causas que explica a presença desses dous letraso perigo que ha de se dar curso forçado ás
de bancos, quando o governo entre as
factos—a baixa do "iro e a expansão de trans restricções que põe para lhe fazer oste favor não
acções—está na emissão extraordinaria o abusiva faz Uma qne a meu ver talvez garantisse mais
de pipeis de credito pira fazer o officio dessas do que as providencias fiscaos que no projecto se
immensas transacções, e assim dar o resultado estabelecem para vigilancia da emissao. Esta
do 4 °/°, porque em um paiz cujo meio circulanto providencia entendo que seria antes a fixação do
ó insufficiente, e cujá industria reclama tão avi minimo do juro. . .
damente capitaes, não é explicavel o juro de
4 %i senão como explico. O Sr. Lisboa Serra :— Em uma medida tem
O Sr. Lisboa Serra :— Foi uma época de tran poraria como esta ?
sição da abundancia para a escassez do dinheiro. O Sr. Silveira da Motta : — A fixação do
minimo do juro poderia servir mais para corri
O Sr. Silveira da Motta :— E qual foi o re gir essa propensão natural das instituições de
sultado desto phenomeno de 4 °/° de juro diante credito para alargar excessivamente as suas
de transacções gigantescas? O resultado foi, em emissões do que poderá servir a providencia fis
primeiro lugar, não a retirada dos capitaes só cal, pela qual votarei pela confiança que deposi
para as nossas provincias, este foi um dos re to plenamente no nobre ministro, mas na qual
sultados, foi um beneficio pelo qual até felicito não posso descançar tanto, porque emfim poderá
os bancos por teremo provocado, mas foi a elle faltar e vir outro em quem não tenha tanta
retirada de uma immensidade de capitaes que confiança como em S. Ex. Na organisação de
estavão no nosso mercado para o estrangeiro. instituições de credito é muito melindroso con
Não concebo que os capitalistas inglezes tendo tar com a confiança nos ministerios ; é uma das
no seu paiz emprego para seus capitaes a 3 e cousas que me faz apprehcnsões fazer certas
a 4 %, quizessem fazet-oa viajar pelo oceano, •cencessões a instituições de creditos contando
andar mais do duas mil leguas á aventura de com a confiança que deposito nos governos...
instituições de credito da America Meridional
para perceberem o mesmo preço que alli podii O Sr. Lisboa Serra : — liai do mostrar que
perceber nesse colosso de transacções. não ha perigo dentro do tempo que a commissão
O Sr. Paula Candido :— Creio que está dando propõe. O Sr. Silveira da Motta :— Eu offereço
3 % agora na Inglaterra. esta idéa á consideração da commissão e do
O Sr. Silveira da Motta- — Póde ser que es nobre ministro, porque tenho conhecimento, por
teja dando 2 ou 3 % ; mas o nobre deputado algumas informações obtidas na praça do Rio
sabe que mesmo no inorcado da Inglaterra ha do Janeiro, que os bancos, por esse natural
uma crande lista de fundos publicos que dão mais pendor para sahirem do seu curso, têm procu
interesse que 2 ou 3 %... rado, têm obtido, e hão de obter sempre meios
O Sr. Lisboa Serra:— E como retirar depois de illudir as precauções do governo..'.
estes capitaes daqui senão por meio da exporta Um Sr. Deputado : — Apoiado ; isto é dos
ção de nossos pxoductos? • bancos em geral.
O Sr. Silveira da Motta :— Por meio -da O Sr. Silveira da Motta:—Mas, senhores, eu
exportação de metaes... descansava nessa restricção, porque vejo que os
O Sr. Lisboa Serra: — Não, a reexpbrtação de dade bancos estabel-cidos entre nos, por essa fertili
metaes não era admissivel ao cambio que domi que têm todos os bancos de descobrir meios
de sahirem da sua orbita legal, têin lançado mão
nava. de alguns meios que nos têm feito algum mal.
O Sr. Silveira da Motta :—Pois no nosso paiz, O Sr. Lisboa Serra : — E' preciso provar.
onde estamos reduzidos á miseria de quarenta e
tontos mil contos em papel e vinte e tantos mil O Sr. Silveira da Motta:—Não tenha duvida
contos em metal, queremos fazer o oflicio de de provar, porque posso fallar com toda a dis
todas as nossas permutações, que são hoje o crição que sei que dave haver nesta materia.
dobro ou o triplo em relação ás épocas ante Conheço o alcance da materia ; não fallarel se
riores em que tinhamos este mesmo meio cir não de transacções publicas.
culante, com esses 70,000:000$000 ? Reconheço que Os bancos pelos seus estatutos têm obrigação
temos precisão de augmentar a massa de nossos de não descontarem senão a certo praso ; as
papeis de credito para fazerem o officio das letras que elles emittem têm prazos e prazos
permutações ; mas isto não me dispensa de curtos ; os descontos da praça do Rio de Ja
indagar como as instituições de credito que temos, neiro mesmo nunca se fazem a mais de 90 dias,
o a quem vamos favorecer com esta proposta, em regra gorai...
chegárão ao ponto de por meio do suas emis
sões produzirem_no mercado do Rio de Janeiro talO limitaçãoSr. Lisboa Serra : — Creio que não existe
nos estatutos do banco. A pruden
uma abundancia' tal de capitaes. cia aconselha isto, mas não existe nos estatutos.
O Sr. Lisboa Serra:— Era já anterior. O Sr. Silveira da Motta : — Se não existe,
O Sr. Silveira da Motta :— Não era tanto é idéa tão substancial ao estabelecimento de
anterior. . . bancos que entendo que devia existir.
O Sr. Lisboa Serra :— Digo que o juro estava O Sr. Lisboa Serra : — Elles tém alguns de
para o thesouro a 3 % ; o thesouro já pagava a 3 %. feitos organicos, não é só este.
O Sr. Silveira da Motta:— Em que época? O Sr. Aprumo (para o orador) : — Olhe que
O Sr. Lisboa Serra : - Antes da fundação do já são 3 horas. . .
segundo Banco ;• o primeiro até á fundação do O Sr. Silveira da Motta : — E que me im
segundo não tinha em circulação letras suas. porta que sejão 3 horas ? Estou cumprindo o
O Sr. Silveira da Motta :— Mas depois da meu dever, e neste empenho, se o nobre depu
fundação do banco do Brozil o banco commercial tado se quizer retirar póde estar certo de que
SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853 167
me não fiz falta... Estou agora com mais vonta O Sr. Silveira da Motta : — ... ou, como
de de continuar... quizvrem, coutas assignadas pelos negociantes
O Sr. Aprioio : — Como esta susceptivel I que comprão nas casas do atacado, que têm
conta corrente com o banco, não póde estar
O Sr. Silveira da Motta (depois de alguma bem seguro contra qualquer eventualidade ;
pausa) : — Felizmente estou em uma discussão é um meio indirecto de desnaturar as opera
em que eu contava que se podia argumentar ções de um banco de desconto a curtos pra
desassombrado das interrupções importunas que zos. . . .
costumão apparecer nesta casa... O Sr. Lisboa Serra : — A lei não exclue a
Alouns Srs. Deputados : — E nos o estamos responsabilidade das casas de commercio pelas
ouvindo com muito prazer. . . quaes as contas vão assignadas.
O Sr. Lisboa Serra : — Apoiado ; esta fazendo O Sr. Silveira da Motta : — Entendo que
§rande serviço ã discussão desta materia, que não é muito cauteloso que se depositem como
eve ser largi e luminosa. garantia contas correntes ; ellas não poderão
O Sr. Silveira da Motta : — Mas, senhores, segurar o capital do banco de qualquer even
se não existe essa condição, ella devia existir ; tualidade ; mas ainda não pude chegar ã mi
se não existe, os bancos devião tomar como nha conclusão, porque ainda não pude liquidar
lei sua uma lei da praça, um costume da as minhas contas com os nobres deputados
praça. . . que mo interrompem.
Um Sr. Deputado :— Apoiado ; é o que elles Nesta discussão devemos adoptar até a lin
adoptão. guagem commercial. (Risadas.)
O Sr. Silveira da Motta : — Mas pergunta Senhores, desde que um banco recebe em ga
rei : os bancos não recebem em garantia con rantia, para abrir conta com um negociante,
tas correntes ? contas cuja realisação só se póde verificar em
um anno, pergunto eu : está isto na sua in
O Sr. com
correntes Lisboacaução,
Serrav mas
: — Admittem-se contas
com um prázo li stituição ? Póde-so considerar a conta corrente
de um negociante como effeito negociavel ?
mitado, e liquidáo-se semestralmente. O Sr. Paula Santos : — Póde-so sim, senhor,
O Sr. Silveira da Motta : — Bem ; liqui- ern um banco de circulação ; não se poderia con
dão-se semestralmente ; mas quaes são as ga siderar se elle fosse de emissão.
rantias dessas contas correntes ? O Sr. Silveira da Motta : — Mas nenhum
O Sr. Lisboa Serra : — Podem ser até apoli dos bancos do Rio de Janeiro se póde propria
ces da divida publica. mente chamar de circulação. Mis vê-se que a
O Sr. Silveira da Motta : — Mas as garan facilidade de obter dinheiro é uma das causas
tias que os bancos têm r.jcebido não consistem que provoca a maior facilidade da emissão nas
só em titulos do governo , porque os bancos operações do banco. (Apoiados.)
têm admittido como caução contas correntes.... Ecomo se realisa isso? Um negociante de ata
cado precisa para pagar ao estrangeiro 100:000$ ;
O Sr. Lisboa Serra : — Podem apresentar recebe as mercadorias, passão-se as letras, e
contas assignadas como garantia, mas com pra ao mesmo tempo vende essas mercadorias em
zos limitados, ou definidos. pequenas porções, . ou por atacado ou a retalho;
O Sr. Silveira da Motta : — Eu pretendo e o que apresenta depois em garantia para po
chegar á minha conclusão. As contas correntes der pagar as leiras ao estrangeiro 1
li.liridão-se em pirte com os freguezes do bunco Apresenta as contas correntes assignadas como
que têm conta aberta, e liquidáo-se semestral garantia não só para pagar suas letras, como
mente. . . : para servirem de garantia ao" banco que lhe
O Sr. Paula Santos : — Salda-se a conta, mas dá creio que metade e um terço* do seu valor...
a transacção continua, porque é da conveniencia Um Sr. Deputado :— Creio que não.
de ambos. O Sr. Silveira da Motta : — Não me re
O Sr. Silveira da Motta : — Eu entendo que cordo bem, cieio que dá ít quartos...
desde que os baucos recebem como caução effei- O Sr. Paula Santos:— Dá só metade.
tos que não são negociaveis, não póde haver
suficiente garantia, porque pado haver qualquer O Sr. Silveira da Motta : — Seja como fór ;
fallencia. . . . mas parece-me que havia differença entre os dous
O Sr. Paula Santos: — Mas perdóe-me V. Ex., bancos, e que o commercial foi mais restricto ;
a medida não é para os bancos, porque elles sempre deu uma quota menor ; mas o que se
não precisão delia, elles só figurão como orgão segue dahi ? Qui o "emprehendedor tinha sempre
para fazerem circular o capital na praça. - um meio de ter dinheiro, o de metter-se tema-
rariamente a fazer compras de fazendas de cujo
O Sr. Silveira da Motta : — Eu estou con pagamento não podia ter certeza.
siderando o facto em relação á sua instituição O Sr. Lisboa Serra : — Mas as fazendas têm
O Sr. Lisboa Serra : — A instituição é boa, sempre um valor real no paiz.
e ninguem pode contestar os beneficios que ella O Sr. Silveira da Motta : — Tinhão valor se
faz ao commercio. (Apoiados.) fossem ellis o deposito, mas não sendo assim,
O Sr. Silveira da Motta : — Todas as insti- esti o capital do banco por força sujeito ás alter
ções, ainda que boas, podem crear embaraços e nativas das fallencias.
terem defeitos. (Apoiados.) O Sr. Lisboa Serra : — Ainda não houve fal
O Sr. Paula Santos:— Mas os bancos estão lencia nenhuma.
em boa posição, porque trocão os seus valores O Sr. Silviiira da Motta : — Porque ainda as
com as garantias que entendem necessarias. não 'houve não so segue que não possa havel-as,
O Sr. Silveira da Motta : — Um bmeo que e se íis querem ver, demorem, ainda que poucos
recebe como garantia de uma divida contas dias, este projecto, não procurem dar-lhe cedo
correntes... uma solução, e depois se verá o resultado.
O Sr. Lisboa Serra : — Contas assignadas. O Sr. Lisboa Serba : — Ao commercio regular,
108 SESSÃO EM 11 DE JUNHO DE 1853
a este commercio de pequeno vulto, não chega Mas. senhores, o curso forçado da maneira
o aperto, nhi não vai. por que se estabelece vem importar uma altera
O Sr. Preiidiinte : — Seria mais conveniente ção na lei do pagamento, o credor que tinha o
direito de receber a importancia da sua divida
que os Srs. deputados se reservassem para res em dinheiro corrente vem a receber em letras
ponder ao Sr. deputado, e não estivessem con do banco, e logo nós vamos peiorar a condição
stantemente dnndo-lho apartes. do credor, estabelecendo proproprianente uoia
O Sr. Paula Santos: — O Sr. deputado não se moeda nova, que aliás o governo não garante,
perturba com estes apartes. e nós não devemos facilmente ir estabelecer isso
O Sr. Silveira da Motta : — Parece-me pois que vai offender aos credores anteriores á lei...
que esta pratica admittida nos bancos tem muito Não sei mesmo com que direito se vai estabe
influido na crise cujos resultados temos em vista. lecer a obrigação de aceitar as letras do banco
nos pagamentos particulares, quando o estado
O Sr. Lisboa Serra : — Ainda não houve quebra não so responsabilisa por essa- nova moeda I
nenhuma. O Sr. Lisboa Serra :—Veja se acha um meio
O Sr. Silveira da Motta : — Diz o Sr. depu do conciliar isso.
tado que ainda não houve quebras; mas qual e a .O Sr. Silveira da Motta :—O meio de conci
razão então porque se exige uma medida do go liar era reduzir o favor á ridmissibilid ide das
verno para reprimir a crise monetaria ? E" porque letras dos bancos no thesouro, e dar ao thesouro
os bancos pela sua facil emissão convidftrno o o privilegio de pagar com as mesmas letras
emprehendedor a empresas superiores ás suas for em uma proporção do i° ou 5o dos pagamentos ; o
ças, e cujos resultados se querem agora remediar esto curso official das letras dos bancos ja bas
com o auxilio do governo, para que não hajão taria para o fim que se tem em vista ; mas que
grandes desastres na praça. não se estabelecesse obrigação de pag iment i fóra
Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou de casos em que o governo interviesse no negocio.
vimos. Assim julgo que as letras entre particulares
O Sr. Silveira da Motta : — Os negociantes serião aceitas, o a medida não perderia nada do
fazem muito bem ; os bancos é que devião ser credito que o nobre deputado llie quer dar. J3o
as letras do banco forem aceitas nas repartiçoes
mais restrictos. (Apoiados.) publicas, assim como em todas as transacções
O Sr. Paula Santos : — Em these é admissivel em que o governo appareça como credor ou
o que acaba de dizer o Sr. deputado, mas como devedor, o se os bancos mantiverem o seu cre
hypothese não póde admittir-se. dito, reduzindo-as pontualmente a metal, con-
segue se o que se quer, e não é preciso alterar
-O Sr. Silveira da Motta:—Tenho. Sr. presi
dente, além dessa consideração de fazer outra, a Sr. lei dos pigamentos.
presidente, eu vou concluir as minhas ob
que sujeitarei ao Sr. ministro e á nobre com- servaçoes.
missão porque entendo haver necessidade de al- governo, o Eu hei de votar pela proposta do
apenas quiz apresentar as minhas
§uns esclarecimentos a respeito dos interesses observações ao nobre ministro o a conimissão.
os capitalistas, deòde que se dá curso forçado
ás letras do banco, embora se marque um prazo O Sr. Ministno da Fazenda: — E agradeço-lhe.
dentro do qual o governo possa cas.--ar esse fa- O Sr. Silveira da Motta : — Eu hei do votará
v..r; mas til concessão é de tão snbidi impor pela proposta do governo, porque reconheço no
tancia que eu desejaria quo- a commissão o o complexo dessas medidas a necessidade que se
nobre ministro expuzessem sua opinião sobro a tem delias na situação actual, e porque reco
influencia que póde ter na creação do banco' na nheça que ha duas grandes vantagens no favor
cional a concessão do curso forçado as letras que o governo vai lazer a eszes dons estabe
dos bancos actuaes; julgo que a concessão da lecimentos de crodito ; a primeira vantagem que
emissão forçada vai estabelecer uma grande dif- eu encontro nessas medidas é que o governo
ficuldade para ã creação do banco nacional, e me parece reconhecer com muita sagacidade que o
parece que se dá essa difficuldad,e porque, em meio circulante que existe no imperio é insi
primeiro lugar, se vai dar uma vantagem muito gnificante para as suas transacções actuaes, mais
grande aos bancos actuaes, cujos dividendos vão activas e exigentes, e que reconhecidu essa
crescer desmedidamente ; com a vantagem do necessidade é consequente que o governo acuda
curso forçado de suas letras se vai augmentar promptamente com o remedio, porque de qual
muito as suas forças para que no futuro poss&o con quer desequilibrio nas relações do meio circu
correr com o banco nacional, e talvez mesmo venhão lante podem resultar maiores difficuldades do
a amesquinhar as operações desse banco ; e me que as actuaes. (Muitos apoiados.) Portanto as
pirece pois que tendo o governo em vista or- medidas do governo tém um grande fim claro
ganisar uni banco nacional privilegiado como esse ou occulto, o qual é satisfazor a ii. significancia
que está em projecto e que já veio para esta do meio circulante actual por meio de um
camara, me parece, digo, que o governo não papel de credito; a segunda vantagem que eu
deveria ser facil em conceder um privilegio como descubro é que se o governo (embora nós te
esse de que se trata, principalmente esten- nhamos chegado a esse estado por imprevi
"dendo o curso forçado ao ponto do alterar a dencia; não tomar uma medida , nós teremos
lei dos pagamentos ; e eu entendo que o goveroo em pouco tempo um cambio desfavoravel aos
désse embora ás letras dos bancos accessibiliilade interesses do nosso commercio e lavoura, e essa
ás repartições publicas ; e dado esse facto estava alteração de cambio trará como consequencia
estabelecido o direito de pagamento entro particu inevitavel a baixa dos preços dos productos de
lares, porque isto Estabelecido, uma vez que as nossa lovoura, que se devem sustentar a todo
letras fossem recebidas nas repartições publicas; o cu>to, porque- dahi é que nos vêm os meios
todos pagarião com ellas, e serião recebidas ao de sustentar o nosso credito, e de manter a
menos nas grandes transacções. bilança da importação que nos enriquece e
(Ha um aparte que não ouvimos, e ao qual o civilisa.
orador responde pela maneira seguinte): Por isso, Sr. presidente, hei de dar o meu
Eu concederia mesmo que o governo pudesse voto de confiança pela proposta. (Apoiados.)
air.la tazer o pagamento com essas letras aos A discussão fica adiada pela hora.
empregados publicos, uma vez que ellas são con Levanta-se a sessão ás 3 horas e um quarto
vertiveis em metal. da tarde.
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 1G9
Sessão em 13 dc Junho tario, allegando que o seu estado de saude lhe
não permitte continuar nelle, aproveitando no
PRESIDÊNCIA DO SR. BARBOSA (VICE-PRESIDENTE) emtanto a occasiãu para agradecer á camara a
honra que lhe fez elegondo-o para o lugar de
Summaeio.— Expediente. — Ordem do dia. Preteri secretario.
ção de Francisco Pedro Gorjão. — Emprestimo A camara decide pela affirmativa.
aos bancos. Discursos do Sr. Lisboa Serra e
Bandeira de Mello. PRETENÇÃO DE FRANCISCO PEDRO GORJÃO
A's nez horas feita a chamada, achão-se pre Continua a discussão da resolução r. 78 de 1852
sentes os Srs. doputados Paula Candido, Paes autorisando o governo a conceder ao chefe de
Barreto, Pereira Jorge, Sa e Albuquerque, Euse secção da thesouraria da fazenda da provincia
bio, Fernandes Vieira, barão de Maroim, Aprigio, do Pará, Francisco Pedro Gorjão, um anno de
P'erraz, Lin lolpho, Paula Santos, Ribeiro, Rocha, licença com os respectivos ordenados para ir
Almeida o Albuquerque, Ignacio Barbosa, Fleui v, tratar de sua saude fóra do imperio.
conego Leal, Assis Rocha, Luiz Araujo, Octa Posta a votos a resolução, e approvada por
viano, Teixeira de Macedo, Mendes de Almeida, escrutinio secreto.
Machado, Vieira du Mattos, Angelo Custodio,
Brusque, Seára, Cruz Machado, Ribeiro da Luz, EMPRÉSTIMO AOS BANCOS
Teixeira de Souza, Belfort, Bindeira de Mello,
Horta, Araujo Lima, Serra, Evangelista Lobato, Continua a discussão do projecto n. 2°- deste
Luiz Carlos, Góes Siqueira, Wilkens, Pimenta anno sobre a pr oposta do governo relativa ao
Magalhães, Pedreira, Soares de Gouvêa, vigario emprestimo aos bancos.
Silva, J iguaribe, Viriato, Vasconcello-!, Mendon
ça, Barbosa, Livramento, Souza Leão, Gomes O Sr. Listo. i» Serra : — Sr. presidente,
Ribeiro, Rego Barros, Theophilo, Zncharias, Ta- conscio da minha incapacidade para a tribuna
ques, Paranaguá, Saraiva e Pereira da Silva. (não apoiados), eu não a oceuparia por certo, o
E havendo numero legal, ás onze horas, o mo resignaria ao mais completo silencio se pu
Sr. presidente declara aberta a sessão. desse concilial-o com a consciencia do meu de
ver ; sendo porém membro da commissão de
Lida o approvada a acta da sessão anterior, fazenda que não só deu parecer sobre o proje
o Sr. 1° secretario dá, conta do seguinte cto do governo, mas julgou dever fazer-lhe algu
EXPEDIENTE mas modificações, julgo-mo obrigado a justificar
o meu procedimento ; porém antes de entrar
Um officio do Sr. ministro da marinha, en nessa materia a camara permittirá que eu cum
viando os requerimentos em que o Dr. Joaquim pra o mais succintamento quo me fòr possivel
Candido Soares de Meirelles, cirurgião em chefe um outro dever a que me .julgo igualmente
do corpo de saudo da armada, p' de que a gra obrigado.
tificacão de 100$ mensaes, marcada na tabelia Membro novo de uma camara nova, não tendo
annex i ao regulamento que baixou com o decreto feito parto da legislatura passada, B só acciden-
r. 783 de 24 de Abril de It-õl, lhe seja paga talmente apparecido na politica em 1818, quando
desde que foi nomeado cirurgião mor por decreto donnnavão idéas contrarias ás que se achão
de 7 de Julho de 1849, o as. informações dadas hoje no poder, eu mo julgo obrigado a bem
pela contadoria geral da marinha, com os pa definir a minha çosição, não somente em re
receres do procurador da corõa. — A' commissão lação á administração actual, como á nova oppo-
do marinha e guerra. sição que começa a manifestar-se no parlamento.
Outro do da fazenda, enviando o requerimento E além de ser isso para mim um dever nas
da companhia de mineração, estabelecida na pro circumstancias em que me achoje acabo de expór,
vincia de Minas-Geraes sob a - denominação de entendo que é tambem de summa conveniencia
— Macaubas o Cocaes — ein que pede a resti que quando um gabinete que ha annos rege 0i
tuição dos direitos de 5 por cento qne pagou destinos do paiz, se apresenta em fuco de uma
depois da publicação da lei de 28 de Outubro camara nova, cada um dos seus membros ma
de 1848, afim de que o corpo legislativo dò a nifeste da maneira a mais franca e explicita o
devida interpretação ao art. 32 da citada lei, seu pensamento a respeito da administração
comquanto seja clara a intelligencia do mesmo (apoiados) ; só- assim poderemos fazer alguma
artigo em relação ás companhias de mineração, cousa de bom e util no curto periodo do nossas
comtudo torna-se ella indispensavel. — Vai á sessões legislativas ; só assim se poderão evitar
commissão de fazenda. as discussões estereis e as lutas interminaveis
que tanto têm prejudicado o credito do systema
São tambem enviados á commissão de fazenda representativo entre nós ; só assim poderão os
os seguintes requerimentos : partidos que se julgno aptos para fazerem a
De D. Maria Joaquina Corte-Real do Lima e felicidade do paiz, governando-o, ensaiar suas
outros, pedindo que se lhes perdoe uma divida forças, reunir seus recursos, e calcular as pro
contrahida para com a fazenda nacional, prove babilidades da Victoria na lucta com seus adver
niente de arrendamento da fazenda nacional do sarios ; só assim, finalmente, a coróa, do fasti
Saicam; e outro da irmandade da santa casa de gio dos poderes constitucionaes, poderá ouvir
caridauo da cidade de Cubo Frio, pedindo auto- as vozes reaes do paiz, e ser esclarecida sobro
risação para possuir em bens de raiz ate a suas verdadeiras necessidades.
quantia de 400:000$. Pouco effeito ás lutas tempestnesas dos partidos
Vai á commissão de instrucção publica um extremos incapaz de fanatisar-me por um prin
requerimento dos professores publicos de pri cipio qualquer a ponto de julgal-o o unico meio
meiras letras do municipio da córte, pedindo de salvação para o paiz, eu sou, senhores, por
augmento do ordenado. convicção, como por temperamento, essencialmente
Lê-se, e sem discussão é approvada a redac moderado em minha opiniões politicas
ção da resolução que approva uma pensão con O Sr. Paula Candido:—Pela sua illustração.
cedida a José de Mello, patrão do arsenal de O Sr. Lisboa Serra : — A' voz imperiosa dos
marinha da córte. chefes que exigem uma obediencia cega o abso
O Sr. Paes Barreto (pela ordem) pede dis luta, a essa voz que produz em outros um effeito
pensa de continuar a exercer o lugar de secre- electrico, respondo sempre com a calma da re-
tomo 2, 23
170 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
flexão, com a gravidade do raciocinio ; não abdi um ovidente testemunho do pensamento de que
carei jámais em outrem o direito de pensar, de se acha animado o governo. (Apoiados.)
examinar as questões a luz da minha fraca intel- Não me demorarei agora, no examo desses fa
ligencia, e creio que bei de sempre proceder se ctos, não só porque já flzerão elles objecto de
gundos os dictames da mi::ha consciencia. uma interpellação ao governo, como porque pouca
Sendo assim, senhores, já vê a camara que eu relação têm com o meu fim neste momento.
não posso pertencer exclusivamente a nenhum E' certo, senhores, é evidente que sem o con
partido, porque estes não admittem a minimá res- curso e intelligoncia do todos os poderes do es
tricção, o eu não posso prescindir das minhas. tado, fortemente escudados pola opinião publica
Se me fosse licito nestas circumstancias hastear esclarecida, não poderiamos nttingir um tao com
uma nova bandeira; se a minha voz soasse bas pleto resultado (Muitos apoiados.)
tante forte par i ser ouvida em to lo o paiz, ou Eu, pois, como brazileiro, encho-me de orgu
fosse tão sympathica que pudesse attrahir os lho quando considero o longo caminho que temos
animos dos homens eminentes na politica, eu se percorrido em tão curto periodo de tempo ; e um
ria, senhores, o mais sincero propugnado!' da grande passo para a civilisação. (Apoiados.) Já
idéa da conciliação dos partidos, não entendendo ninguem põe hoje em duvida as intenções do
por esta expressão a juneção anomala o informe de governo, ninguem ousa mais accusal-o de fraco
massas "discordes e heterogeneas que se repellem ; ou connivento (muitos apoiados) ; as queixas hoje
mas a fusão racional de principios i|uasi identicos são de natureza inteiramente diffeiente; referem -
o que já não podem constituir bandeiras diffe- se ao demasiado rigor, talvez mesmo a violencia
rentes; mas o esquecimento de antigos 0dios, das medidas de que tem clle lançado mão para
mas o braço fraternal das summidades do paiz, extirpar completamento o mal.
só e unicamente no interesso do paiz e da causa Mas comquanto entenda, senhores, como disse,
constitucional. que só á mais perfeita intelligencia, á fusão neste
Nem me desanimaria, senhores, a considera ponto dos esforces reunidos de todos os poderes
ção, aliás pungente ; do não ver nesta casa repre do estado, é devido este resultado, poderei cu,
sentada a opposição de paiz, lamentaria, ó certo, que em uma época tão proxima fui um dos pri
a ausencia desses campeões denodados, cujas meiros que erguerão sua fraca voz para pedir
vozes eloquentes e prestigiosas tanto nos poderião ao governo que adoptasse como ponto do seu
coadjuvar nesto patriotico empenho , mas bom programma politico o rigor na repressão ; poderei
longo de julgal-a motivo de impossibilidade ; pelo eu, digo, sem manifesta contradicção, negar hoje
contrario, entendo que, disseminados oomo se o meu voto ao governo, que tem tomado a peito
achão pelo imperio muito poderião ainda con tornar este pensamento unia realidade? Não, Se
correr para tão magnanima empresa, e grande nhores, meu fraco, mas sincero apoio ha de neste
quinhão do. gloria competir-lhes. Conscio porém ponto acompanhar ao gabinete até no escabello
da minha fraqueza-para uma empresa que requer do réo, quando o seu crime não fór outro senão
centuplicadas forças, eu me limitarei a fazer ar o de haver exagerado algum tanto um principio
dentes votos para que estas idéas justas, nobres bom e verdadeiro.
o generosas, estas idéas a que o paiz todo, estou Quanto ao segundo ponto de minhas exigencias,
certo, prestará o sen maij espontaneo assenti a promoção dos melhoramentos materias, eu sou
mento, sejão um dia, bem proximo o abraçados em verdade bastante exigente ; parece-me que
pelos homens eminentes do paiz. (Muitos apoiados.) nunca estaria porfeitimente satisfeito ; entretanto
Não passando isto porém de um desejo impo conheço as difficuldades que encontraria qualquer
tente, de um voto esteril no presente, torna-se governo que fizesse deste ponto o alvo principal
ainda necessario que eu defina melhor a minha da sm administração em um paiz como o nosso,
posição em relação á administração actual. baldo ainda dos grandes meios dos grandes re
Senhores, em uma época que não vai ainda cursos, e até da\ habilitações que taes trabalhos
muito longe, na sessão de 14 de Junho de 1818, exigem. Consola-mo todavia ver que todas as
neste mesmo lugir o em circumstancias quasi peças ministeriaes que têm este anno sido pre
identicas, eu fiz a mais completa manifestação sentes á camara demonstrão que o gabinete presta
do meu pensamento politico. a este ramo do serviço publico toda sua attenção;
Amo, senhores, a coherencia das idéas quando por todos os ministerios, em quasi todas as pro
ella se não oppõe á marcha progressiva do espi vincias, emprehendem-se obras uteis, e algumas
rito humano, e o que eu então disse ó o que até grandiosas.
ainda hoje sinto ; as minhas exigencias de então, Mas, repito, eu exijo mais espero que o gabi
em parte somente satisfeitas, são ainda as minhas nete, compreheudendo bem a sua missão na época
exigencias de hoje; hojo, como então, cu não em que se acha, se ponha á testa dos melho
reportarei o meu procedimento ás pessoas que ramentos materiaes do paiz , abra uma nova
compoem a administração, mas somente á sua mar época para a nossa civilisação, dê o mais de
cha administrativa, aos principios governamen- senvolvimento, a maior actividado compativel
taes, e ás garantias de felicidade que offereção coin as nossas forças a este ramo do serviço
para o paiz. Completa repressão do trafico de publico, porque só assim poderemos marchir
africanos, efficaz promoção dos melhoramentos com passo seguro para um futuro que se me
maUriaes do paiz, e inteira liberdade nas eleições antolha cheio de esperanças. Nesta parte tam
que têm de constituir o corpo legislativo, erão bem desde já me comprometto a apoiar o gabi
em suinmn as minhas principaes condições p ira nete em todas as medidas que dependeram do
dar meu apoio a qualquer gabinete; vejamos corpo legislativo.
pois de que modo eslas condições se achão satis Resta examinar o 3° ponte ; e na verdade este
feitas pela administração actual. tem mais alguma diffieuldade. Poderei eu, quanto
Quanto á primeira, senhores, porque não dire á liberdade das eleições, dar o meu voto con
mos toda a verdade ao paiz ? Esse trafego hediondo, sciencioso ao gabinete actual, quando olhando em
esse labéo da nossa civilisação, esse obstaculo, esse torno de mim não vejo um só membro da opposi
estorvo invencivel ao nosso progresso material ção nesta casa ? Será isto por falta de habili
o moral, deve considerar-se extincto (apoiados) ; tacões neste partido ? Creio que os factos des
os dados estatisticos o demonstrão, e esses mes mentem esta supposição , .
mos desembarques que tiverão ultimamente lugar
ainda mais me confirmão nessa opinião Um Sr. Deputado : — E' defeito do systema.
Q Sr. Paula Candido: — E a mim tambem. O Sr: Lisnoa Serra : — Entretanto quero ser
justo ; comprehendo bem que qualquer governo,
O Sr. Lisboa Serra : — .... porque dão elles embora possuido das melhores idéas, se quizesse
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 171
tornar esse grande acto politico uma realidade cedido nesta discussão fallárão contra a medida do
teria de lutar com gravissimos embaraços. A governo additata pela commissão. O primeiro,
immoralidade tem feito progressos espantosos no o meu nobre amigo deputado pela provincia do
paiz ; essas maximas funestas, ensinadas ao povo Matto-Grosso, limitou-se, creio eu, a dizer que
do alto da tribuna, propagarão-se velozmente ; negaria o seu voto a esta medida emquanto não
mil apostolos pregárão por toda a parte a nova fosse convencido de que existe algum aperto, al
doutrina de que em tempo de eleições ilcão guma difficuldade na praça, que ella não se acha
suspensas as garantias da honra e da probidade. no seu estado normal. Querendo justificar a du
Isto foi objecto de propaganda em certo tempo, vida em se achava de que se desse semelhante
e tantos proselytos nzerão estas idéas, que seria difficuldade, disse elle que não julgava que o
hoje mui difficil, se não impossivel, a qualquer meio circulante que havia no paiz, que sempre
governo completar a longa lista de autoridades se reputou suficiente para suas transacções,
que têm de intervir no processo eleitoral, sem tivesse diminuido por modo algum, porque nem
comtemplar os nomes de muitos d« seus adeptos. tinha sido exportado para fóra do imperio em
Já se vê pois a difficuldade de conseguir do grande escal i (e eu concordaria mesmo se dissesse
centro da administração, quando a immoralidade nem em minima, em nenhuma escala), nem tam
se tem irradiado tanto, uma eleição pura e livre. bem para o interior do paiz. Aproveito a occa
Quando entretanto considero que do gabinete sião para dar uma satisfação do meu procedi
actual tem partido medidasv e providencias para mento ao nobre deputado, porque vi que elle
a repressão de abusos e escandalos, algumas não me tinha levado muito a bem quando então
vezes praticados por ssus proprios correligiona lhe disso quo era isso negar a evidencia dos
rios, ou em respeito á opinião publica ou por factos ; quando o nobre deputado me tiver ouvido
sua propria consciencia, quando o vejo horrori- no que passo a expór, melhor entenderá o sen
s;ido á vista do sangue brazileiro derramado nesses tido deste meu aparte.
cenffictos em differentes pontos do imperio, não Antes de entrar na analyse dos argumentos
posso deixar de exultar com a opinião do paiz, contra a medida apresentada pelo mou nobre amigo
e de render, como representante da nação, sin e pelo nobre deputado.pela provincia de 5. Paulo,
cero louvor ao governo (Apoiados.) explicarei o estado em que a meu ver se acha
Nestas circumstancias, pois, não me julgando a praça do Rio- de Janeiro; e para melhor con
apto, como disse, para hastear uma bandeira seguir o meu fim dividirei estes tres ultimos
nova na nolitica, não querendo por outro lado annos em duas épocas bem distinctas: uma que
que o governo do paiz seja nunca supplantado chamarei das facilidades, e outra dos apert is
em questões como estas do dignidade, de dever, Poderia ainda admittir uma terceira época, e
de honra, eu hei de ainda neste ponto apoial-o c) ue chamaria de transição, o que de facto so
sinceramente. cl eu.
Coherente com os meus principios, eu entendo Pelo que disser estou que so convencerão
que sou chamado nesta occasião a dar um apoio aquiles sonhores que têm procurado attribuir a
franco e decidido á administração áctual, para uma ou outra causa isoladamente o que hoje se
tornal-a mais forte na luta em qne se acha vê na praça do Rio de Janeiro, de que só ao
empenhada com seus proprios correligionarios por coucurso do muitas causas obrando conjuncta-
que sem entrar na analyse dos motivos dessa mente se devo attribuir este estado.
divisão, mas reportando-me somente aos que têm Senhores, é cousa sabida que ,uma grande
sido manifestados no parlamento, julgo descobrir somma do novos capitaes, uma somma que se
da parte do governo mais generosidade para com computa mesmo em «lguns mil contos de réis,
os vencidos, mais tendencia para a conciliação. se achava empregada no commercio para a costa
Sem analysar mesmo todos os actos do gabinete d'Africa. A cessação deste commercio fez que essas
desde que subio ao poder, julgo que o meu apoio negociações se liquidassem, que parte desses
concorrerá para conserval-o na seDda da mode capitaes que pertencião a esta praça revertesse
ração o justiça em que hoje se acha, porque ó a ella. Notarei desde já que parto desses cipitaes,
só dirigindo o paiz debaixo destas vistas governa- que erão uvultidos, foi entrando á medida que a li
mentaes que poderemos chegar a ter um dia quidação se fazia em moedas metallicas, moedas ua
socego, tranquillidade," união, verdadeira harmonia antiga monarehia portugueza, que, como sabeis, são
entre os brazileiros. . . moedas nacionaes ; a circulação era pois im-
O Sr. Viriato : — E' membro do partido con mediata e effectivamento augmentada com essa
servador. especie do importação. Havia uma outra pirte
O Sr. Lisboa Serra:—Não sei o que sou, mas desses capitaes que se achava presa ou relacio
julgo que d -pois do que tenho dito posso ser nada com as praças com quem commerciamos,
e que tambem tendia a recolher-se para o paiz,
facilmente classificado. e que o fez iguilmente, mas debaixo da fórma
O Sr. Viriato: — E eu já o classifiquei. de outras mercadorias, augmentando assim muito
Um Sr. Deputado : — Mas quer o progresso ma a nossa importação com valores que não pro-
terial. curarião retorno.
Peço-vos que tomeis nota desta circumstancia.
O Sr. Lisboa Serra : — As minhas idéas de porque ella me servirá depois para explicar em
moderação sempro me levarão para este lado, parte o phenomeno que tinto admirou o nobre
para conservador; mas julgo que se póle con deputado por S. Paulo,—a alta do cambio com a
ciliar o desejo do progresso lento, compativel baixa do juro na praça.—Erão capitaes, e capi
com as forças do paiz, e o sentimento da con taes avultados, que entravão para o paiz debaixo
servação da ordem. E' isto o que entendo que da fórma do mercadorias...
convém ao paiz, e se com este progresso mode O Sr. Ferraz:—E será isto phenomeno?
rado se é conservador, declaro-me completamente
conservador. O Sr. Lisboa Serra : — Chamo phenomeno a
Senhores, tenho cumprido um dever que julgava qualquer acontecimento na ordem pliysiça ou
inherente ao meu caracter, á minha dignidade moral ; é nesta accepção que usei da expressão.
pessoal ; peço, pois, desculpa á camara por ter Este phenomeno financial ficará em parte ex
occupado sua attenção tratando da um objecto plicado quando demonstrar que durante as épocas
tão mesquinho considerado em relação á pessoa anteriores uma porção de mercadorias para con
a quem se refere. (Não apoiados.) Entrarei agora sumo do paiz foi importada sem necessidade
no exame da questão que nos interessa. daquelle capital que as praças importadoras
Dous dos nobres deputados que me tém pre costumão adiantar-nos, e que demandao um re-
172 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
torno de nossas mercadorias, ou que fazem pender do corrente anno o juro para o thesouro oscilou
muitas vezes contra nós a balança do commer- entre os limites de 3 e 1 °/o
cio ; e neste caso, sem que a nossa producção Então, so esses estabelecimentos tivessem, como
tivesse augmentado, a balança do commercio eu disso, muita previsão, terião restringido suas
ficaria pendendo em nosso favor, porque menos operações. Não entro tambem na questão da
necessidade haveria do passar fundos para pa opportunidade da fundação do sogun to banco
gamento dos fazendas que annualmento recebe nessas circumstancias ; era de prever-so que or-
mos : erão capitaes que se naturalisavão no ganisado ello pelos primeiros capitalistas da praça,
paiz. tendo por presidente o Sr. barão de Ypanema,
Mas esses phenomenos da alta ou da firmeza e por accionistas interessados na sua adminis
do cambio entre certos limites que hoje não tração homens importantes, necessariamente viria
serião sufficientes, não permittirião a importação a dispor do immenso credito, e que pejados os
de metaes, porque não cobririão todas as des- seus cofres de dinheiro tomado a juro viesse a
pezas da operação pela alta do juro ; naquella ter prejuizo não achando para elle applicação con
epoca foi bastante para alimentar por muito veniente.
tempo a importarão de metaes. Aqui esta pois Ha um facto que póde dar idéa approximada
como se introduzio o primeiro desequilibrio na da quantidade de moeda metallica que existia
circulação monetaria. em circulação no ultimo semestre de 1851. Or-
Digo desequilibrio, porque não podemos dizer ganisando-se por esse tempo o banco do Brasil
em absoluto que o meio circulante é muito lembrarão-se os sou directores, para maior faci
pouco. O meio circulante dove guardar uma lidade das transacções, do fazer recolher em
certa relação com a massa de transacções em deposito a moeda de ouro emittindo bilhetes con
que ello é chamado a figurar ; portanto esse tador. vertiveis no mesmo metal, á vontade do por
desequilibrio póde resultar nu do augmento di
recto da moeda, ou da diminuição das trmsac- Em poucos mezes achnvão-se recolhidos nos
ções, e vice-versa ; e eu digo que na nossa cofres do banco milhares de contos de réis em
ouro sem que se sentisse na circulação grando
praça so derão ambas as causas.
O meio circulante cresceu porque capitães que mingua dessa especie do moeda.
Ora, é claro que uma tal abundancia de meio
pertencião a outras praças entrarão para esta circulante o de capitaes podia produzir muitas
debaixo da forma de metaes que erão logo amoe
dados, ou mesmo debaixo da fórma de moeda. facilidades.
ou cujos
Individues sem capitaes proprios,
capitai s audavão envolvidos em suas
A este facto ainda se poderia addiccionar, outro: negociações ordinarias, suppuzorão que á custa
essa alta ou firmeza do cambio permittio que o do seu credito podião augmentar muito o giro
ouro das nossas lavras não fos-e mais expor
tado como antigamente, e que sendo aqui mesmo do sou commercio o haurir maiores interesses.
reduzido a moeda augmentasse assim a massa Folicito-mo do que so não lançassem, como em
do meio circulante. alguns paizes em identicas circumstancias, na
Alas eu disse tambem que se deu augmento carreira nventurosa do negocios aleatorios : as
transacções foião ainda solidas, o, como depois
do transacções ; e do feito esse augmento do mostrarei,
moeda o de capitaes que procuravão emprego no que o cie não prpduzirão effeito mais pernicioso
anticipar no paiz a importação de
nosso mercado, devia necessariamente estabele
cer facilidades não conhecidas até então ; a baixa mercadorias não reclamadas pelas necessidades
de juros devia animar muito as especulações o do seu natural consumo.
as eniprezas. Quando fallo em especulações e O Sr. Bandeira de Mello: —E as letras de
empregas não ijuero absolutamente exprimir circulação ?
neuhuma idéa illegitima. nenhuma idéa de cen O Sr. Lisnoa Serra: — Não forão estis nogo-
sura. Especulações e empresas muito legitimas
forão calculadas sobre a baso do modico juro ciações
os
que as produzirão, porque nossa época
bancos tinhão milhares do contos em moeda
que então reinava. para porem á sua disposição.
Assim, em uma época em que não existia ainda Isto durou por muito tempo ; e foi somente
senão um banco que quasi não conhecia o re
curso da emissão, tendo usado delle somente em depois que os bancos conseguirão dar emprego
a todo o dinheiro que lhoi era levado a mui
muito pequena escala; e, se mo reporto á época baixo
do 18õl, posso dizer que nem mesmo tinha usado culaçãojuro que começarão a apparecer na cir
as suas letras para supprir o vacue que
da emissão, porque em todo ello somente con nella deixava o numerario que essas novas es
servou na circulação 5:000$, que não póde re peculações o empresas distraliião do mercado.
colher de sua emissão autiga, não tendo preci
são de omittjr porque tinha quantias avulta O Sr. Bandeira de Mello:—Mas nessa época
dissimas desempregadas em seus cofres ; nessa tiverão lugar as letras om circulação.
época, digo, as facilidades que derão causa a O Sr. Lisboa Serra:—Sim, senhor, vou chegar
essas novas empresas, a essas novas negocia a essa época.
ções, não podem por modo algum attribuir-se Mas esss estado não podia ser permanente ;
como so tem pretendido, á acção dos bancos não nos achamos em circunistancia de ter juros
Não nego a sua influencia em outra época a 3, 4 e 5 »/o para toda a especie de titulos
para continuar uni estado já existente ; nem mo do credito. -
farei cargo do sustentar suas operações quanto As circumstancias erão mais favoraveis a s
á prudencia o previsão que elles devião ter; capita.es em algumas praças que se relacionão
quiz apenas demonstrar, e creio que conseguio com a nossa, o que devia produzir necessaria
evidentemente, que se derão todas e"ssas facili mente a sui emigração em busca de mais lucra
dades, que se estava na época de maior abun tivo emprego.
dancia do meio circulante, e da maior baixa do Nas provincias do norte, onde, por causas que
juro, e os bancos não tinhão entrudo absoluta seria agora longo enumerar, houvo falta do na
mente na praça com suas emissões. vios para exportar os ptoductos do nossa la
A posição .m que nesse periodo mo achei voura, acliavão-se armazenadas grandes quanti
como thes.iureiro geral do thes.mro publico na- dades dessi s productos, e tendo as felizes
eional em occasião em que havia uma divida colheitas anteriores permittido alguma anlicipa-
fluctuanto superior a 5,00O:U00$, me permittio ção nas remessas para as praças estrangeiras,
adquirir nesta parte perfeito conhecimento do o cambio se conservava firme.
eausa. Desde Abril do 1851 até dias de Maio Essa firmeza do cambio por muito tempo su
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 173
perior ao desta praça, e esses generos armaze E' pois claro que em taes circumstancias se
nados, chamavão capitaes a esses mercados, cuja levantarião muitos negociantes mais modestos
actividade crescia sensivelmente. E sendo simi para disputarem-lhe a competencia nesse ramo
lares aos da nossa cultura os generos produzidos do negocio ; o que foi preciso fazer ? O instincto
por essas provincias, e portanto mui tenue o da conservação não falha nunca. Esses ricos ne
nosso commercio directo com ellas, é claro que gociantes, que podião dispór de grandes caprtaes,
só em moeda se poderia fazer a passagem desses não esperavão já que os productos da nossa la
fundos. voura viessem procural-os na corte, erão elles
O thesouro rs facilitava quanto podia por meio que os ião demandar no interior, era o dinheiro
do saques sobre as tliosourarias quando alli ti que sabia da praça para os diflerentes portos do
nha saldos do que pudesse dispòr, o muitas cen- littoral, onde esses productos vinhão embarcar-se
tanas de contos forão assim passadas [ ara Per para o Rio de Janeiro. Isto tem dado lugar á for
nambuco, Bahia e Maranhão, etc. ; mas não po mação de mercados intermediarios, principalmente
dendo satisfazer a toda a domanda que havia de na provincia do Rio de Janeiro, e estes merca
saques, erão grandes sommas daqui remettidas dos não podem fazer as suas funeções sem nu
em ouro e notas. merarios. Assim ó que o lavrador chegando a
Essa emigração do metaes para as provincias qualquer desses portos, cuja navegação se tem
deve computar-se em muito ; e comquanto não tomado Ião activa, acha hojo não só dinheiro pelo
produzisse nellas uma baixa consideravel nos ju seu genero, mas tambem as mercadorias de que
ros por circumstancias que lho são peculiares, precisa abastocer-se.
sentio-se todavia um grande allivio, augmentan- Note bem a camara que ha aqui duas causas
do-se consideravelmente o seu movimento, assim absorventos do meio circulante do mercado prin-
commercUl como industrial. cip il, porque esses lavradores hão do sem duvida
Já observei ha pouco não poder nunca dizer-se levar algum dinheiro para as suas fazendas ; não
em absoluto que ha falta ou abundancia do moeda ; empregarão por certo immodiatamente todo va
a relação em que está a moeda com a somma de lor de seus productos na compra de objectos de
transacções do mercado é que constitue n sua abun que precisão, e ha de tambem nesses lilgares da
dancia ou falta. Não siria pois impossivel que, permuta flxar-so algum numerario, pois de outro
apezar da diminuição da massa do meio circu modo se não poderião entreter as transacções.
lante no Rio de Janeiro, a sua escassez se não O Sr. Paula Candido : — E teado-se falta de
fizesso sentir se na mesma razão diminuisse aqui bilhetes miudos lá iria o ouro.
a somma das transicções do mercado; neste caso O Sr. Lisboa Serra • — Os bilhetes miudos fo
o juro conservar-se-hia sem alteração.
Mas i?so não aconteceu porque, como já no prin rão os primeiros a desapparecer, e cu como the-
cipio expuz o hei de ainda provar melhor, as souri iro geral tive até de pedir ao Sr. ministro
transacçoes recebião maior incremento ao mesmo d i fazenda providencias qua me habilitazse n para
passo que a moeda diminuía. Não qu-ro attribuir podea- realisar os pagamentos a certos credores
a uma causa isolada tão grande pffeito como o minimos do estado.
que hoje se observa ; peçu tambem aos nobres Resta- mo ainda fallar-vos de uma poderosa
deputadoí que não se fação fortes na contrarie causa de perturbação que muito concorreu pari a
dade de um ou outro facto dos que tenho ponde desordem actual ; tratarei deli i de modo que não
rado ; ó preciso attender parn o concurso de to desperte susceptibilidade alguma no commercio.
das as causas que ohrárão simultaneamente. O Ainda no tempo das facilidides teve certa classo
facto da cessaçao do trafico de africanos fez i es de negociantes desta praça, a dos que ve idem
pirar mais livremente os nossos lavradores, que por atacado, a lembrança de celebrar um conve
nté entao julgavão que o unico emprego legitimo nio para evitar a concurreucia dos importadores
do producto do sen v trabalho era a. compra de na venda em pequenos lotes, coneurrencia que
novos braços para augnientarem suas lavouras. suppunháo uma aggressão a seus diroitos. Rouni-
Faltou esse emprego ; as grandes dividas que se rão-sa pois, e disserão : « excluamos da nossa
havião contraindo puderão ir sendo amortizadas freguezia todas ns casas importadoras que conti
pela excellencia das colheitas, o já não erã o elles nuarem a competir comnosco na venda de mer
obrigados a deixar todo o producto do seu traba cadorias ao commercio de varejo : » k feito. este
lho egi certas e determinadas mãos, na praça aicordo entre si, estibelecêrão uma multa para
do Rio do Janeiro. as casas importadoras que sahissem desse pre
Este estado, sem duvida mais prospero, per- ceito, e ameaçáião com' a exclusão completa da
mitt;a que o lavrador fizesse tambem as suas sua freguezia áquellas que não se submettessem
reservas, todos nós teremos tido occa-ião de ob a semelhante condição. O orgulho do muitas dessas
servar que a moeda metallica desenvolve, não casas importadoras foi ferido, ellas virão logo o
direi o sentimento da avareza, mas o gosto de a alcance deste convenio, o negárãc-llie o seu assen
possuir; despendo-se com muito mais facilidado timento.
o papel, cujo valor, posto que real, não toca tanto E assim essas casas, que não se tinhão até
os sentidos, e ó natural que os pequenos lavra então aproveitado das facilidades da época, vi-
dores quizessem levar para os seus lugarejos, como rão-so dahi em diante na necessidade de recorrer .
lambrança da còrte, algumas peças da nova moeda aos bancos pela consequente cessação de seus
de ouro, que são iealmente muito bonitas e bem lucros, porque o equilibrio das casas commerciaes
confeccienadas. E eu computo em muito, senho depende, além de outras circumstancias, de certa
res, o valor da moeda 'que se tem assim derra somma de vendas diarias ou mensaes com que
mado no interior do paiz, porque não era só sempre contão no calculo de su is despezas, e o
esse sentimento, a que aliás dou pouca impor convenio as privára quasi completamento dessa
tancia, que podia determinir semelhante derra especie d^ receita.
mamento; existe una causu muito mais racional. Algumas casas importadoras que ao principio
Os grandes lavradores, livres ou alliviados do hesitárão om assignar o convenio, comprehendê-
eso de suas dividas, começárão a ter mais li- rno ainda a tempo que se lhes proporcionava
í: erjade na escolha do seus commis?arios ou pro optima occasião para realisarem um magnifico
curadores nesta córte, entretanto que seus anti negocio ; assignáráo-o pois promptamente, consti-
gos credores, coutando com a permam-niia desso tuiudo-so por esse facto as unicas suppridoras
estado de Cousas, se tinhã i tomado os nnicos do commercio de atacado. Abrirão desde logo lei
vendedores desses productos para a exportação, e lões, em c!da um dos quaes acliárão-se centenas
mentado grandesrestabelecinn ntos para os receber de contos, subindo ao valor de muitos milhões
nesta córte. os capitaes assim permutados, antes queasver-
174 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
dadeiras necessidades do consumo do paiz o exi nados, que sa achavão assim exhubermtemente
gissem. suppridos pelas compras em leilão, vendo que
Os ncgocinntos de atacado não compravão e seus rivaes procuravão por todos os modos con
verdade a dinheiro, nem o podião fazer ; mas, vencer aos seus froguezes, negociantes dp inte
tendo muito credito, e constituindo uma das classes rior, sobre as vantagens que terião de tratar
que possue mais verdadeira riqiíeza no paiz, e directamente com elles. tomarão a respeito das
tendo os vendedores certeza de que as contas de mercadorias resoluçao identica á que a respeito
taes vendas com prazo fixo e assignada apelos do dinheiro já havião tomado os negociantes de
compradores serião julgadas boas garantias para café; mandárão-as a esses pontos, entendêrão-se
abrirem contas correntes nos bancos, ajustárão com os seus froguezss para que não viessem á
assim as transacções. córte, e é mesmo provavel que exagerassem um
Os bancos as aceitavão com effeito a par de pouco o rigor da fobre amarella para 0s ter por
outros valores como caução das contas correntes, lá bem seguros.
a cujo titulo levantavão sommas com que ante Assim deixou o commercio do interior de vir
cipárão sua remessa para Londres. pela maior parte supprir-se á córte, e uma certa
porção de moeda se foi naturalisando e fixando
O Sr. Bandeira de Mello : — Mas tomava como nesses mercados intermediarios para as indis
credito ? pensaveis funeções da permuta, sendo as remes
O Sr. Lisboa Serra : — Perdóe-me o nobre de sas para a córte realisadas sempre nos generos
putado; as contas de venda a prazo fixo, e as- da producção dessas localidades.
signadas pelos negociantes compradores, erão E eis como o convenio podia concorrer o do
levadas aos bancos para caucionarem as contas facto concorreu eficazmente para os apuros em
correntes, que não são mais do que creditos que hoje se vêm os bancos e a praça, pela grande
limitados, abertos nos bancos a essas casas. expmsão dad i ás operações de credito.
O Sr. Bandeira pe Mello :— Mas por certo não Podem, ou antes devem existir, além destas,
podião fizer isso. muitas outras causas que mais ou menos concor
ressem para este effeito, como sejão sommas
O Sr. Lisboa Seura : —Se não podião fazer isso, notaveis que a compra de diamantes tem pas
não podião fazer nada mais, porque os seus es sado para a provincia de Minas, cujas lavras se
tatutos lhes dão para isso plena faculdade. têm tornado ultimamente mais proiluctivas.
O Sr. Bandeira de Mello : — Permittião? O Sr. Ministno da Fazenda:— E' exacto; as
O Sr. Lisboa Serra :— A íespeito dos creditos nossas lavras têm sido muito felizes nestes ul
que podem caucionar contas correntes nos bancos, timos tempos. . .
não lia nenhuma restricção de prazo, basta que O Sr. Lisboa Serra : — Bem ; provado como
sejão determinados o não indefinidos. diz o nobre ministro da fazenda, que as nossas
O Sr. Bandeira de Mello : — E' o valor mais lavras forão muito felizes, em maior qnnntidade
fraco que se póde dar. devia ter sahido o numerario desta córte para
a compra dos productos delia ; e pois creio que
O Sr. Lisboa Serra:— Eu não o julgo assim. tenho censeguido responder ao menos á primeira
Entretanto nem só estes tiiulos cauciunáo, senão parte do discurso do meu nobre amigo deputado
tambem as apolices, as letras do thesouro, etc. pela provincia de Matto-Grosso, e espero mesmo
Se o nobre deputado tiver paciencia para me chegar a ccnvencêl-o em todas as outras duvi
ouvir, eu lhe exporei o processo seguido nessa das que apresentou. /
operação. Como membro da comniissão de fazenda O facto de que o nobre deputado duvidou, o
eu não assignaria por certo o parecer se não facto da sabida do meio circulante para o in
tivesse profunda convicção da regularidade das terior desta provincia, e mesmo para oatras ao
operações dos bancos. Visitei-os mais de uma norte e ao sul do imperio, me parece incontes
vez, não officialmente, mas por convite de seus tavel, segundo o que tenho exposto ; essa emi
directores, que com a maior franqueza e cava gração effectueu-se lentamente, mas em tao grande
lheirismo, e como quem tinha verdadeiro inte escala que chegou ao ponto de quasi exhaurir
resse em manifestar toda a verdade, ministráráo-mo todos os depositos desta praça. Ora, é claro que
todos os esclarecimentos, e de tudo me informa á medida que esta diminuição se fosse tor
rão completamente, entregando-me até um delles nando sensivel ; á medida que fossem sendo, não
o seu balanço desse dia,- comprehendendo todas já reformadas, mas cobradas nos seus venci
as operações e o estado dos seus cofres. mentos as letras dos bancos a prazo, que são
O Sr. Bandeira de Mello :— Com as contas aquellas que representão quantias tomadas a
correntes ? juro e empregadas em descontos, e constituem o
O Sr. Lisboa Serra:— Já disse ao nobre de seu passivo ; á medida que se fossem vendo
obrigados a não cobrar, mas tão somente reforr
putado que especie de titulos são essas contas ; mar quasi todas as letras que na época das
não são por certo moeda corrente, mas são o facilidades havião sido descontadas e fazião parte
resultado de nma operação muito legitima, re- do seu activo ; á medida que fossem vendo es
presentão mercadorias que o paiz tem de consu cassear em seus cofres o dinheiro offerecido a
mir e que ha de pagar com as suas producções; juro, irião sendo coagidos pela dura lei da ne
todo o mecanismo dos bancos, se exceptuarmos cessidade a fazer uso da faculdade de emittir ;
o deposito de metaes, é fundado no credito dos só então começarião a apparecer na circulação
titulos sobro que se opera, e á prudeucia e sa as suas letras. Em um desses estabelecimentos
gacidade de seus directores, sempre negociantes eu procedi, dia por dia, aos mais rigorosos exa
atilados e circumspectos, fica apreciados devi mes, folheando os seue livros mais reservados,
damente, segundo as circumstancias do mo e posso affirmar, referindo-me quanto ao outro
mento. uo testemunho dos empregados riscaes mandados
Mas, como ia dizendo, Sr. presidente, esses não ha muito a esses estabelecimentos pelo
grandes leilões feitos tão inoportunamente deter Sr. ministro da fazenda, que as bases consti
minarão antecipadas remessas de fundos ás praças tutivas dos bancos forão respeitadas nas suas
importadoras, e é natural que tão promptos pa emissões; não affirmo que fossem ellas opportu-
gamentos dessem em resultado novas e mais exces nas e convenientes, mas que forão legitimas e
sivas importações de fazendas muito antes que legaes em face de seus estatutos, o embora estes se
o consumo nacional do paiz as reclamasse.' resintão de defeitos organicos, entro os quaes
Ora, pela sua parte os negociantes convencio avulta aquella singular disposição de poderem
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 175
as proprias acções dos bancos caucionar seus mente a taxa do juro por transacções insigni
emprestimos, póde dizer-so que, mesmo abstra- ficantes ; com 10, 15, 20 ou 30 contos so estabe-
iiindo da parte do Sku capital compromettido lecerião hoje novas cotações no mercado, ti as
nessa espccio de transacções, nunca ficarão as primeiras firmas serião obrigadas para obter essas
suas emissões sensivelmente fóra das raias es minimas quanljns a descontar o seu papel por
tabelecidas nos seus estatutos... mais 1, 2, ou íT%.
O Sr. Paula Candido : — Foi muito bom sa- Tem-se procurado atacar a medida do governo
ber-se isso, porque por ahi se anda dizendo o pela influencia que ella tem sobre o cambio,
contrario. quando esta influencia, fazendo o declinar um
pouco, é uma influencia benefica. O estado do
O Sr: Lisboa Serra : —A emissão é facultada cambio hoje não é natural, não se explica pelas
na razão de um para tres, e ainda conside razões que determinão sempro as suis alterações :
rando o capital dos bmcos diminuido da quan não é o resultado da balança do commercio, ó
tia emprestada sob garantia de suas acções, apenas um reflexo deste desequilibrio da praça,
essa razão não foi nunca sensivelmente alterada podendo acontecer que soja timbem.em parte o
o de modo que pudesse compronietter os ver effeito do sentimento da dignidade de algumas
dadeiros interesses dos bancos e do publico.... casas, que a cada momento soffrem em seu or
O Sr. Paula Candido : — Apoiado, eu nunca gulho por essas singulares exigencias, e antes
enguli essas araras. querem dispor de suas fortunas na Europa, pre
ferindo na hora do aperto sacar com qualquer
O Sr. Lisboa Serra: —Portanto, repito, embora prejuizo.
so possa dizer que a emissão não foi oppor- Ora, que este estado de cousas não é natural,
tuna nem prudente, ó fóra de duvida que foi ninguem o porá em duvida estas mudanças
legal e conforme aos estatutos. quando vêm por força das transacções, doestado
Seguindo a litteral disposição dos estatutos de regular da praça, vêm lentamente e não de
um desses bancos, o mais antigo, não se lhe chofre; mas seria por ventura a suspensão dos
podo contestar o direito não já de emittir a descontos nos bancos que produziu todas estas
somina correspondente ao terço do seu capital difficuldades? Não, cilas já existião desde 1851,
effectivo, mas ainda no do seu capital nominal e o mal que os bancos fizerão foi submetterem-se
e im iginario. Devemos pois felicitar-nos e lou á torrente, não praticarem o que praticão em
var a circumspecção de seus directores, sem o taes occasiões os bancos que tem alguma previ
que teriamos por certo que lamentar resultados são para evitarem a reacção. Mas tão repentina
funestos. e inesperadamente se deu a suspensão dos des
Devemos porém observar que já então a emissão contos dos bancos, que a alta do juro é só a
era uma necessidade indeclinavel para os ban ella devida : os motivos do aperto serão e são
cos ; tínhão emprestado sobre verdadeiras ga certamente outros ; mas a alta do juro que
rantias, é certo, mas essas garantias, comquanto nestes dias se nota sem duvida procede desta
bons, não erão dinheiro, não Dastu vão para que causa... .
elles pudessem satisfazer de prompto aos en
cargos que tinhão contraindo imprudentemente O Sr. Gomes Ribeino:— Ao que se deve attri-
na época das facilidades ; ou hivião vexar seus buir não descontarem os bancos ?
devedores e anticipar a crise, ou usar daquella O Sr. Lisboa Serra :— Não tenho fallado senão
faculdade e pór suas letras em circulação. Desde para explicar isto; o devido á deficiencia de ca
esse momento existem as difficuldados com que pitaes e de meio circulante produzida pelas razões
hoje se luta. Os bancos com a sua emissão não que acabei de expór.
fizeráo mais que demorar a sua vulgarisação e E devia ser assim, devia sentir-se na occasião
procrastinar o seu infallivel desfecho. da suspensão dos descontos todos os effeitos que
O fim principal de tues estabelecimentos é se sentirião antes da emissão se ella não viesse
sem duvida dar expansão ao crédito, facilitar o dissimular um estado de cousas já então existente.
movimento dos capitaes e acudir de prompto ás Resentese mais hoje da sua acção o mercado,
necessidades legitimas do commercio, cabendo-lhe porque não só foi esta a ultima causa que se
tambem ser o prudente regulador das operações deu, quando todas as outras tinhão já exercido
da praça, não protegendo senão as que forem a sua influencia, e por assim dizer excitado a
regulares e sensatas. Ora, nesto caso estavão sensibilidade da praça, como porque obrou ella
então muitas que para serem tiradas a limpo do chofre e inesperadamente, tendo todas as outras
com vantagem só dependião de um elemento, o sido mui lentas e quasi imperceptiveis.
tempo. Nesta época, pois, que cu chamarei de Mas eu dizia que a conservação do cambio
transição, fez-se o que se devia fazer, era uma entre certos limites seria um beneficio para o
consequencia necessaria da época das facilidades, paiz. Com effeito uma alta do cambio, não de
unica em que a prudencia não foi consultada, vida á alteração da relação entre a importação
ou peln menos houve pouca previdencia. e a exportação, mas a causas excepcionaes, traria
Mas este recurso não podia ser duradouro, e o immediato resultado da perda de um equilibrio
os bancos em breve conhecerão que se o pre a que não chegaremos outra vez sem passar por
tendessem prolongar serião elles as primeiras uma época anormal ou de reacção.
victimas, pois já sentião nas suas reservas tanta Nestas circumstancias pois a subida do cambio
. deficiencia que mal nodião honrar a sua emis não significa senão a alta do juro. Vós sabeis
são existente. Foi então, foi somente pelo mes- que, para se avaliar uma dada quantidade de
do do mez passado, que os bancos resolvêrão moeda, ingleza, por exemplo, ó preciso calcular
n-stringir suas emissões, suspendendo seus des o que ella custa realmente na praça em que so
contos e limitando-se a reformar em parte os faz a operação; um negociante que tivesse hoje
creditos que se ião vencendo. de comprar uma libro sterlina, tendo de haver
Seria aíourdo suppór que o dinheiro estivesse primeiro dinheiro do paiz por meio de um des
aferrolhado nos cofres dos capitalistas, reinando conta de 10 %, necessariamente havia de sujei-
tanta confiança na praça que, quando não so tar-so a pagar mais cara essa libra sterlina do
póde fazer um pagamento, adia-se sem que até que se o juro fosse do 0 %, porque tinha essa
hoje tenha siuo protestada uma só letra. Era despeza addicional do excesso do juro. Eis o mal
impossivel que nestasi circumstanciis o dinheiro que se trata de remediar; ó justamente essa su
esiivess% recolhido. Note-se bem que os descontos bida não rogular, não explicada pelo movimento
durante todo este aperto, toda esta difficuldade, natural do commercio que se nota hoje no juro,
nao são avultados ; tem-se elevado successiva- e, conseguido isso, o cambio, se não fór actuado
176 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
por outras causas, lia do proporcionalmente acom- mentar uma só empreza em relação aos melho
Eauhal-o até nos seus limites naturaes, resta-, ramentos materiaes do paiz.
elecendo-se de novo o equilibrio no mercado. O Sr. Góes : — Não contesto.
Paroco á primeira vista que a operação, por exem O Sr. Lisboa Serra : — Releve o nobre de
plo, de mondar vir metaes da Europa para o putado que lhe faça bem sentir que o princi
nosso paiz fica muito prejudicada' com a descida pio de intervenção que invoca a favor das ne
do algum penny no cambio ; mas desde que osta cessidades provinciaes ó o mesmo que dieta
descida fóra acompanhada de uma descida pro esta medida, e que essa intervençao de facto
porcionada no juro da praça, a operação conti se exercerá por meio delia.
nuará a fazer-so do mosmo modo ; com o juro Senhores, em questões desta natureza é ne
de Ò % e ao cambio de 28 % cobre a despeza; cessario não só responder ás objecções enun
com o juro actual da praça do 9 ou 10% e ao cambio ciadas nesta casa, como ás que fóra delia le
de 20 apenas cobrirá ainda essa despeza. Por vanta, por seus orgàos, a opinião publica.
consequencia neste ponto não se prejudicão as Aproveitarei pois a occasião para com a de
operações da praça; não mo assusta nestas cir- vida venia fazer algumas observações a res
cumstancias a baixa do cambio até certos limi peito de um artigo que sobre a materia se
tes. Se outra fosse a minha convicção, eu me iê no Correio Mercantil di! nntu-honíem. Esse
julgaria na obrigação de observar ao nobre mi artigo revela as opiniões do illustrado Sr. Sal
nistro que não era esta occasião opportuna para les Torres •Homem ; não se acha assignado por
fazer remessas para Londres ; mas S. Ex. entendeu, eile, mas sua penna se revela facilmente; seu
e entendeu muito bem, que a occasião era opportuna estylo harmónico e florido, suas iiléas exactas,
porque ainda quando essa remessa pudesse contri seu todo doutrinario enifim, denuncião logo á
buir para alguma baixa no cambio, medidas dessa primeira vista, a penna brilliante do Sr. Salles
natureza acompanhadas da que hoje discutimos hão
do produzir o desejado equilibrio. Torres-Homem.
. Fazendo esse escriptor uma enumeração muito
Senhores, é preciso notar que, quando circum- minuciosa do todas as crises qne tém tido lu-
tancias reai s influem para a baixa do cambio, g ir e de que a historia faz menção nesses
é isto um mal que todos nós devemos sentir; a ultimos tempos, tanto nos Estados-Unidos, como
nossa lavoura geme, como gemem todas as clas na Inglaterra, Escossia, etc, o applicando ao
ses que possuem alguma cousa no paiz ; mas Brazil todo o rigor dos principios theoricos na
quando vemos que um effuito destes se produz sua maior generalidade, quer concluir que a
sem razão sufliciente, que vai pesar immediata- occasião é inopportuna para a medida de que
mente sobro a lavoura do paiz, sua unica in so trata , que esta ó contraria aos principios
dustria, não devemos fazer alguma cousa no sen da sciencia. Entretanto, sem negar a força da
tido de evitar o augmento deste mal? Que é a argumentação o a solidez dos principios, nego
lavoura a primeira a soffrer é evidente, porque completamente a applieação por falta de pari
é a primeira a produzir para o estrangeiro, o eu dade.
já demonstrei que o effoito deste estado de cousas O Sr. Ministno da Fazenda: — Apoiado.
é ficar-nos a unidade da moeda ingleza por maior
somma da moeda em réis ; logo, é claro que sondo O Sr. Lisboa Serra : — Em todas essas crises
as ordens que têm todos os negociantes para a tem-se a deplorar, ou a imprevidencia de go
compra de nossos productos em referencia á moeda vernos que não acudirão em te npo ao pro
ingleza, hão de elles ir necessariamente acompanhar gresso do mal, e só intervierão quando elle já
com diminuições successivas no preço o movi ara sem remedio, tendo dado lugar a grandes
mento ascendente do cambio. perdas, ou o desacerto de medidas pouco ade
Eu não sustento a opinião de que, sempre que quadas que tendem sempre a aggravar o mal ;
se der esse facto, o governo deva intervir ; essa são pela maior parte especies inteiramente di
intervenção não se deve dar quando esse facto versas da que nos oceupa.
fór filho do estado real do paiz ; mas quando é Ha porém entre as que enumera uma crise
somente filho de um estado/excopcion il, o governo que muito se approxima da nossa, e é a crise
tem entendido, e a commissão julga que muito monetaria de 1847 na Inglaterra.
bem, que lhe corre o dever de zelar sobre tão O Sr. Ferraz : — Monetaria ?
vital interesse. O Sr. Lisboa Serra : — Julgo que não ostou
O Sr. Góes:— Deve tambem intervir quando equivocado considarando-a monetaria.
alguma provincia o reclamar. O Sr. Ferraz : — Foi mais - rommercial do
O Sr. LisnoA Serra:— Esta medida é, Sr. de que monetaria.
putado, justamente a intervenção que o governo O Sr. Lisboa Serra : — De certo que devia
se julga na obrigação de prestar, nas circum- affectar á classe comniercial, que é a que mais
stancias nctuaes, a sua provincia, que .• uma precisa de meio circulante e capitaes para as
das que mais soffrerão se continuar esto estado suas operações.
da praça do Rio de Janeiro. Não é osta uma Mas uma das causas dessa crise, a principal,
medida de centralisação, ó uma medida que se sem a qual talvez ella não apparecesse, foi bem
casa perfeitamente com os interesses daquellas differente da que produz o aperto na nossa
provincias cujo credito estava já tiw bem fundado praça ; temos tido abundancia de colheita , a
qne pòde convidar os capit .es da praça do Rio Providencia nos tem favorecido por esse lado ;
de Janeiro a que par i lá fossem procurar em e a exportação da moeda e dos capitaes in-
prego. Essas provincias serião as primeiras a glezes foi effeito da deficiencia da colheita, a
sentir os effeitos da indifferença do governo : lalta dos cereaes. Era um grande povo, um
os capitaes viriã0 ao seu centro; os principios povo como o da Inglaterra que sentia fome e
da sciencia não falhão ; teriamos o juro barato; procurava por todo o mundo supprir-se de um
mas as provincias onde os capitaes que nos genero de primeira necessidade para elle.
faltão se naturalisárão, o se naturalisáráo pro O Sr. Ferraz . — Em grande parte foi a
duzindo o magnifico resultado de dar expansão immobilidade dos capitaes pulo emprestimo ao
ao credito, de diminuir a taxa do juro, de faci governo.
litar as emprezas, essas soffreráõ com a conti
nuação desse estado de cousas, e tanto mais O Sr. Lisboa Serra : — Ha no baneft de In
quanto açezar desse derramamento de capitaes, glaterra uma immobilidade constante de capi
ainda o juro não é talvez sufliciente para ali taes por causa do emprestimo feito ao go
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 177
verno ; mas fóra dessa immobilidade não me zer reverter para seus mercados os metaes que
consta que por outra qualquer pudesse o bunco tinhão ido para suas provincias, para seus mu
achar- so naquelles embaraços a não haver um nicipios, onde se -tinhão naturalisado fazendo
grande desequilibrio, filho de uma causa tão funcções muito importantes na industria e nas
extraordinaria como era a fome. As outras emprezas materiaes ; a Inglaterra tinha de ha-
causas podel-o-hiáo ter enfraquecido, mas só ver-se com nações estrangeiras, com cujo equi
lsti póde peli sua violencia e natureza obri- librio monetario são se importava.
• gil-o a piralysar as suas operações.
O Sr. Pereira da Silva : — Nações vizi
O Sr. Paula Santos : — As estradas de ferro. nhas.
O Sr. Lisboa Serra : — Mas eu guardo essa O Sr. Lisboa Serra : — Nesse caso não erão
circumstancia pira mostrar a disparidade ; por vizinhas, porque de mui longe vinhão os pro-
ora estou faltando na paridade. ductos de que a Inglaterra precisava, e de lá
Esta existe , porque houve diminuição de voltarão os capitaes que sempre andão em busca
capitaes moveis e do meio circulante que foi do maior interesse, desde que constou o feliz
para outros paizes, porque a moeda ingleza é emprego que podião ter na Inglaterra.
conhecida .em toda a parto, e porque nos Mas não diz a historia, ou não me dei ao
grandes depositos do banco havia immenso me trabalho de compulsal-a para ver se durante q
tal, que os inglezos confundem com a sua moe tempo que os capitaes se tinhão naturalisido
da, e que ainda considerada coir.o mercadoria nossos paizes o tinhão sido de modo que pela
era a mais propria pelas qualidades que todos sua sabida se desse alguma crise lá ; não exa
lhe reconhecem para a compra de cereaos em minei esto ponto , nem preciso disso : basta
paizes estrangeiros. dizer que as circumstancias erão differentos ,
Ora, o banco do Inglaterra, que tem sempre diiiorentes porque se tratava do nação a nação ;
uma parto de seus capitaes immobilisada, devia differentes porque tinha havido immobilisação
necessariamente sentir mais depressa o abalo de capiiaes que não podião servir ao banco na
do .que se tivesse uma organisação mais per occasião da crise ; differentes porque talvez mes
feita p ira o seu fim principal, a emissão ; e mo houvesse perda, consumpção do valores, o
desde logo vio-se na necessidade de restringir que não existe entre nós.
os seus descontos, porque exhauridos os seus Portanto, são verdadeiros os principios ex
depositos. . . postos pela imprensa, são lucidamente trazidos
para a questão polo escriptor que já mencio
O Sr. Ferraz : — Não exliaurio. nei; a minha duvida está somente na appli-
O Sr. Lisboa Serra : — Mas, com receio de cação. Se acaso a praça fosse abandonada no
quebrar aquella justa proporção que devo haver estado em que se acha , aposto que todos os
entre a emissão de um banco e seu fundo dis nobres deputados, os da Bahia e Pernambuco
ponivel para fazer face a essa emissão, restriu- principalmente, na futura sessão legislativa co-
gio 0s seus descontos. meçarião logo queixando-se , o teriáo muita
razão de queixar-so de que o governo não ti
O Sr. Ferraz : — Ao contrario, queria emit- vesse a tempo cuidado de tomar providencias
tir mais. , ácerca do desequilibrio que so manifesta.
O Sr. Lisboa Serra: — Pcrdóe-r.e ; o nobre O Sr. Góes : —Mas não ora melhor marcar o
deputado ostá conforme coinmigo em idéas ; mas minimo do juro?
toma o estado do banco da Inglaterra em um
certo ponto de suas difficuldades , quando a O Sr. Lisboa Serra:— Acho-me fatigado, mas
crise estava remediada pelo acto do governo, e esforçar-me-hei para entrar nesta questão.
eu estou fallando do seu estado anterior a 2õ de O Sr. Ferraz : - Isso iria forir a uma lei do
Outubro, antes que os poderes do estado fossem paiz.
chamados a intervir. O Sr- Lisboa Serra:—Não é só com relação
O Sr. Ferraz : — Tanto o banco não previo, á lei do juro que existe no paiz que não admitto
que deu a uma só companhia e por 6 mezes a medida ; ella ó mesmo desnecessaria neste
160,poo iibras. caso. Com isto desvio-ma do meu discurso; mas
O Sr LjgBOA Serra : — Esta circumstancia ó esta uma discussão de factos, e os factos ficão
concorreu para a crise, não o nego, o h iuve bem em todo lugar.
mais uma causa que obrou no mesmo sentido, A questão do juro a com missão não entrou
a filta de cereaos. Eu já disso que esses phe- nella, porque não se trata do uma medida per
nomenos raramente se davão por uma só causa, manente, e a conjinissão, como vedes pelo pouco
e estava tratando de uma, porque não posso que vos tenho exposto, julgou obrar com conhe
tratar de to ias ao Difamo tempo. cimento do causa, segundo suas convicções, e
M is a falta do cereaea , causa principal e então vio que era uma disposição inutil na lei, por-
que teve muito maior influencia' neste aconte que na fim de 4 mezes, que é o minimo" dessa
emissão, e que será certamente o pruzo que
cimento do que qualquer das que apontão os marcará o ministro da fazenda, não póde haver
nobres deputidos, essa causa foi aggr.ivada o perigo do juro baixar á taxa do tempo densas
pela coincidencia de muitas omprezas e pela facilidades ; Im muitas transacções a liquidar-se
facilidade que o banco tinha tido para com que exigem o serviço dos capitaes. A solução
ellas antes e não na crise , porque então não natural da crise depende do tempo, o tendo o
o podia fazer. nobre ministro da fazenda na sua mão o mi .imo
O governo inglcz não foi chamado a intervir o o maximo do tempo, e o minimo e o maximo
senão muito tarde ; o governo i .gloz nunca erra do emprestimo, com estes dous dados deu li
nessas cousas, mas então assustou-se debalde, cença aos bancos para que fação todo o esforço
era escusada a medida. afim de produzirem um estado que não seja
O Sr. Ferraz : — Foi escusada mesmo. real na praça, para que facão descer o juro
abaixo de certos limites : é possivel I
O Sr. Lisboa Serra : — Escusada, e foi por Eu daria alguma importancia á lei do juro,
isso que u tomou tão tarde ; so o caso fosse que iria de facto ser contrariada por esta me
indesculpa ao nosso não se demoraria tanto , dida, qua. ido tivesse de responder á outra ob
sob pena de errar indesculpavelmente. Era es jecção do uobro deputado por S. Paulo , que
cusada porque a Inglaterra não tratava de fa- tanto serviço prestou nesta discussão, iste é,
tomo 2. 33
178 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
ácerca do respeito em que se deve ter a lei do fosse recebida ms estações publicas, a violencia
pagamento ; quereria então mostrar- lhe que a então era para o thesouro : como pagaria ello
lei do pagamento não era nem levemente ferida aos seus credores quando rejeitassem semelhante
pela resolução, emquanto que a lei do juro era moeda? A base dos grandes bancos é nunca
algum tanto atacida. Já que cheguei a este ponto deixar do ter moeda para satisfazer as neces
eu o desenvolverei. sidades naturaes do eommercio.
A lei do pagamento nem levemente entende Mas poderia dizer o nobre deputado por S. Paulo:
com esta medida : ella refere-so ao padrão mo « o thesouro que mandasse receber o que está
netario, dá uma loi para se regular a nossa no banco. » Eu senhores, não confundo—meio
moeda, deline a moeda da nação, diz o pezo circulante—com—capital,—censura que tem sido
do ouro que corresponde á unidade réis no im feita p.da imprensa; digo; porém, que se o the
perio do Brazil ; mio faz mais nada, não estabelece souro tivesse de mandar ao banco para trocar
proporções nos pagamentos entre o papel o o todas as suas letras que lá reunisse mensal ou
ouro. Em que, pois, altera a medida proposta semestralmente, o fundo capital da emissão de
o valor da moeda, se cila não autorisa senão via estar sempre convertido em dinheiro para
um curso muito limitado de um titulo que ó acudir a semelhante exigencia, pois nem aos
convertivel na nossa moeda? E' preciso que o paiz primeiros pagamentos resistiria a caixa do fundo
saiba que nunca poderá haver titulo mais seguro e disponivel, porque o thesouro move todos os mezes
garantido nu praça do Rio Je Janeiro do que milhares do contos de réis: só para o thesouro
essas letras que forem ehiittidas. lApoiados.) é que não seria eflicaz aquella caix i ; para as
Essas letras se acharão caucionadas sempre por necessidades da praça seria mais que sufficiente.
muito mais do dobro do seu valor ; ellas sup- Portanto, o curso dado ás letras do banco neste
poem um deposito no thesouro que ha do neces municipio, curso que tanto tam impressionado
sariamente ser duplicadamento maior do que o ao publico, é de mui pouca significação, e eu
valor da sua massa, deposito que ficará repre em resumo direi que se essa emissão se fizer
sentando 7,000:0005, suppondo que somente a será a mais garantida de que tenho conhe
quarta parte se fará em titulos particulares, se cimento. Esso curso forçado não significará ou
se tratar do maximo da emissão. Mas a esses tra cousa senão a declaração de que ao credor
7,000:000$ devemos ajuntar os 2,000 000$ que não que cobra, e não ao devedor que paga, cabe o
se permitte nunca aos bancos deixar de ter em trabalho da sua cobrança no banco quando o
caixa para honrar essa emissão, que t o mesmo pagamento se fizer nessa especie, isto é, que
que dizer : « não se emitta senão quatro mil no jogo ordinario da praça o credor não a. póde
contos no maximo, » porque esses dous mil recusar.
contos vém a representar aquillo que está em O nobre deputado por S. Paulo fallou, e muito
caixa. bem, sobro uma difficuldade que clle antolhava
O Sr. Ministno da Fazenda :—Tem tambem em ser excluida desta medida, isto é, de não
todo o fundo actual dos bancos como garantia. ser admissivel ao desconto em troco das letras
dos bancos, certa especie de pipel procedente
O Sr. Lisboa Serra:—Vou primeiramente tra das praças que elle designou, de S. Paulo, Rio
tar da caução que o thesouro julgou necessaria: Grande, etc Eu disse então que pirecia quo
esta caução será inimediatamento no the estavamos em contradicção, e que entretanto assim
souro 7 mil contos, nos cofres dos bancos que não era.
estão ao serviço desta operação 2 mil contos; Quero provar que os meus apartes referião-se
os titulos que os bancos devem ter como em a uma tlieso verdadeira, mas desde já decluro
prego desta emissão que não se lançará na praça tambem que o pensamento do nobre deputado ó
senão recebendo titulos de credito em desconto, o pensamento da commissão o do nobre ministro
estes titulos representarão uma somma igual, da fazenda; nunca pretendemos excluir esse papel,
isto é, representarás 1,000:000$, que juntos aos o nesse sentido e para evitar má interpretação
9,000:O00$, prefazem 18,000:000$ para garantirem em alguns outros pontos, que, segundo ouvi, o
uma emissão de 0,000:000$ : isto se acaso a nobre deputado não achou muito claros, redigi
emissão fosse garantida somente pelos recursos de novo esse artigo, tirando todo o motivo de
da propria circulação ; mas notai que estes duvida, exprimindo com a maior clareza todo
bancos têm hoje um capital recebido na impor o pensamento da commissão, redacção que hei
tancia de 12,000:000$, e que esses 12,000:000$ de mandar á mssa, para que conjuntamente
não estão isentos de garantir essa emissão ; pelo com o projecto seja submettida ã consideração
contrario são uma reserva que provavelmente da casa.
ha de vir em soccorro delia. Quando o nobre deputado se queixava dessa
Disso o nobre deputado que os bancos deviãr< restricção, que suppunlia ferir os interesses daquel-
ter uma somm i de valores venciveis ou realisa- las provincias, cuja causa se julga elle mais
veis nos dias em qne se der algum apuro. Seria restrictamente obrigado a defender nesta casa
muito diflicil estabelecer um verdadeiro banco por ser representante por uma delias, eu disse lhe
de emissão com taes bases. Se nós autorisamos que erão mal fundados os seus receios, ainda
os bancos a comprometter em descentos a 90 dada a restricção de que so trata. Ora, é claro,
dias os dous terços do capital emissorio, como senhores, que havendo hojo uma certa somma
poderiamos iinpòr-lhe agora uma condição tão- de titulos de credito nesta praça que procurão
absurda? desconto nos bancos, isto é, que concorrem na
Nenhum banco, senhores, tom emissão mais demanda do serviço desses 12,000:000$000 que
garantida do que esta de que se trata. os bancos tem de capital proprio, auginentando-se
Disse tambem o nobre deputado por S. Paulo : agora esse capital, embora o augmeoto seja so
« o governo já é pela legislação credor privile mente destinado ao serviço de parte desses titulos,
giado, seja tambem devedor privilegiado. » A isto a outra parte delles pelo simples facto da ces
respondi eu do meu lugar, que seria uma com sação da concurrencia que soffria ficará gozando
pleta violencia: pois o credor do estado que tem de tantas facilidades como gozaria se esse augmento
encargos a satisfazer, p igameutos a realisir, que fosse sem distineção alguma unido á massa do
calculou sobro a pontualida le do governo como capital desses bancos ; augmenlando-se pois o
ha de usar desta moeda ? O que fará com cila capital que se destina para os descontos da praça
se, dando-lhe o destino de sitisfazer aos seus do Ria de Janeiro, augmenta-so o capital para
encargos, fór rejeitada? Se por outro lado náo os descoutos das praças de Santos e do Rio
se fizesse esta declaração, e ne dissesse somente, Grande do Sul, porque se deixa livre no banco
como propóz tambem o nobre deputado, que aquella parte do «eu capital que seria applicada
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 179
ao serviço de uma somma igual de titulos da dor, que de um momento para outro pudesse
praça do Rio de Janeiro. Mas eu estou cenven • produzir um completo desequilibrio nas relações
cido que ainda de melhor vontade votará o nobre do paiz com o estrungeiro.
deputado pela medida proposta quando souber quo Meus senhores , eu tinha ainda alguma cousa
o pensamento da commissão jámais foi o de querer mais
excluir esses titulos, porque isso seria desconhecer donão;a estou
dizer, mas as minhas forças me aban-
nma causa evidente, isto é, que as letras da narei pedindo bastante cansado e por isso termi
licença a casa para apresentar uma
terra não offerecem mais garantias, nem expri • emenda qu isi sómento á redacção do art. 1° do
mem uma transacção mais real do que as letias de
cambio, que representão sempre uma pissagem de projecto
pudesse
, afim de tirar qualquer duvida a que
dar lugar o modo por que so a ha con
fundos de praça para praça. cebido. Confesso que todas estis emendas me
O Sr. Ferraz:—As letras da terra é que signi- forão suggeridas polas observações quo fez sobre
ficão valores existentes na praça. essa materia o nobre deputado pela provincia
O Sr. Lisboa Serra: — Perdoe-mo o nobre de de S. Paulo ; assim as observações que elle fez
putado ; as letras de cambio que vêm do uma amerespeito do curso forçado das letras do banco
praça estrangeira, ou pelo menos de outra praça nar tornarão
qualquer
ainda mais exigente ; quero aplai
difficuldade que possa appirecer
do imperio, estão fora da suspeita do serem um na pratica, motivo porque substitui no art. 1»
simples meio de accommodaçao entre partes de a expressão—pagamentos ontre particulares—por
representarem um valor ficticio, de não serem esta—em todos os pagamentos, —que não deixa
representadas por capitaes reaes, porque ellas duvida alguma.
exprimem sempre uma remessa de fundos, e não
póde servir de capa á usura. Mas, pergunto eu, _Outra duvida tinha apparocido. não na discus
se pelo direito mercantil as letras da terra, são, é verdade, mas no circulo dos meus amigos
quando são endossadas a pessoa residente em e em conversa amigavel ; se o governo ficava
lugar differente daquello em que ellas devem ser com autorisação para permittir a emissão de 6
pagas, tomão a natureza do letras do cambio, ou de 10.000:OOOÍO(X).
porque razão as letras de cambio deixarão de Não foi o pensamento da commissão permittir
representar semelhantemente as letras de terra a emissão do 10.000,000$ , e por isso eu apro-
quando, sendo pagaveis nesta praça, já tiverem veito-ino tambem do ensejo para tirar tod i a
sido aceitas e endossadas por pessoas da mesma duvida a esse respeito, redigindo deste modo a
praça? Não são essas que a commissão quiz parto desso artigo, que trata da importancia da
excluir com a sua restricção, forão sim as letras emissão. (Lê.)
de cambio sacadas sobre outras praças, porque a Acho bom que fique isso bem claro na lei,
commissão deseja que a operação seja feita de tal porque , não obstante a declaração da commis
maneira que possa ser promptamente liquidada em são, poderia haver um governo qao, não atten-
qualquer tempo na propria terra, quero dizer, dendo ao que se passa nesta discussão , fosse
na propria praça. não elevar a emissão dos bancos a um certo limite
Tambem so disse que a commissão queria evitar marcado na lei, mas accrescental-a , sommal-a,
a introducção de metaes no paiz ; não, senhores, com a totalidade da emissão permittidi. -
a tal fim não se propoz a commissão, ella não Creio que o artigo estava claro . .
quiz pór embaraços a essa especie de operações O Sr. Presidente : —Ea peço licença ao nobre
que julga até convenientes ; mas ella entendo deputado para lembrar-lhe que o que ostã em
que logo que o juro da praça e as outras ope
rações o permittirem, ellas se hão de infallivel- discussão e sómonto o art. 1°.
mente fazer ; o que a commissão quiz foi evitar O Sr. Lisboa Serra : —Mas não estava em dis
que os bancos arrogassem a si o privilegio ou cussão sómente o art. 1° quando fallou o nobre
monopolio de tomar letras de cambio para a deputado a quem respondo ?
compra desses metaes. O Sr. Presidente diz algumas palavras que
E ' inteiramente indifferente ao paiz que o ouro não ouvimos.
que para elle entrar seja importado por meio O Sr. Lisboa Serra : — Perdóa-me V. Ex. ; eu
dos bancos ou por meio dos particulares; mas prescindo da emenda, estava apenas lendo-a, e
entendi que, sendo já os bancos tão favorecidos, respondendo
podendo dispor de tão grande somma sem juro, creio que isto ãsposso objecções que me havião feito :
fazer.
não se lhe devia dar mais esse favor, esse ex A emissão portanto, não é no sentido augmon-
clusivo ; mesmo eu pensei bastante na questão, tativo, mas no Sentido expansivo dentro de certos,
e vi que, quanto ao juro, do todos os lados limites. Ficava por certo bom clara a emenda
surgião embaraços á realisação da idéa de com
partir o thesouro uma porção do interesse que como ostava redigUa ; mas ainda a loptei essa
produzissem as sommas emprestadas aos bancos ; redacção porque a commissão não tinha bem no
entendeu por fim a commissão que o governo étado uma circumstancia i a emissão actual não
em letras ã vista e ao portador, ó em letras
não podia dignamente envolver-se nisso como
socio dos bancos, o previo mil difficuldades na que têm liinitadissimo prazo, mas que em rigor
liquidação final de semelhante socied ide, podendo por não
são
corto
á vista, e sem esta condição não são
as mais proprias para o curso forçado.
atê acontecer que então fossem encontrados alguns Por consequencia a commissão aproveitou a occa-
titulos duvidosos, ou mesmo perdidos, em que sião para melhorar nosti parto o artigo. (Lá.)
o governo houvesse de tomar a sua qneta,
sujeitando- se além disso a que se desvirtuasse uma Como resultado das considerações que acabo
operação que tendo um fim tão nobre podia tomar de fazer, da explicação que dei das intenções
os ares de uma especulação do governo em favor da commissão, tambem é necessario , para que
do orçamento. o seu pensamento fique bem comprehendido, que
Se o governo ou a commissão não procuras em lugar de — letras di terra — se diga — letras
sem de algum moda excluir das novas operações commerciaes; — e para excluir a faculdade que
dos bancos as letras de cambio, ó claro que tenho receio de dar aos bancos se diga— letras
nas actuaes circumstancias sertão elles os unicos commerciaes pagaveis nesta praça —Assim ficão
habilitados para fazerem a introducção de metaes, satisfeitas
das
todas as conveniencias que resultão
observações feitas pelo nobre deputado a quem
vindo pois a perceberem, além do interesse do
juro de que já fallei, os lucros resultantes de respondo.
Peço á camara que me dosculpa ; conheço que
qualquer differença no cimbio. Demais, seria tem tido bastante bondade em attender-me ; não
muito perigoso crear na praça um tão forte toma
180 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
tendo habito de fallar hei de ter muitas vezos tuna publica e particular. Portanto, esforcemo-
molestado * sua peciencia. nos por evital-o, examinemos a questão com todas
as forças da nossa intelligencia para resolvêl-a
Alouns Sus. Deputados : — Não , não ; fallou de um modo conveniente o conforme á reali
muito bem. dade do* factos. Por|ue será o numerario entre
O Sr. Bandeira do Mollo: — Sr. presi nós insufficiente ? Será porque o juro tenha su
dente!, acha-se a hora muito adiantada, tenho bido muito ? Tambem uáo é prova da insuffi-
por isso necessidade do dispensar algumas con cieneia do numerario a alta do juro, e para
siderações que poderia apresentar ao criterio da confir ar este meu juizo, visto que, como já disse,
camara, e precipitar um pouco as minhas idéas, pouco confio nos esclarecimentos da minha in
deixando de dar-lhes o desenvolvimento que por telligencia, citarei uma outra passagem de Storch.
ventura cilas poderião ter. Entrarei por conse « Ha alguns annos o intoresse tem subido na
guinte na discussão da materia. Russia a ponte que pessois de bom credito têm-se
Sr. presidente, a commissão, no parecer que visto obrigadas a tomar dinheiro a 12 e 13 °/°-
dou, parte da base de que não existe sufficiente Este . ffeito, este prejuizo é nttribuido á falta de
moeda no mercado para occorrer a todas as numerario, mas não ó causa lo senão pela falta
transacções que se possão effectuar, em conse de capitaes emprestaveis, falta produzida pelas
quencia do desenvolvimento da nossa industria circumstancias politicas em que a Russia se achou
e commercio. O nobre deputado, membro da depnis de 1S05. A guerra, como sabeis, ê do todos
commissãó, que ultimento fallou, procurou pro os consumidores o mais enarme, o mais destru-
var que com effeito havia esta insuficiencia ou ctlvo. Ora, nunca a Russia sustentou mais guerras
deficiencia de moeda; imo obstante porém os em tão curto espaço de tempo, nem guerras mais
seuz esforços e demonstrações, eu não posso dispendiosas do que durante estes ultimos annos
convencer-me inteiramente disto, e tenho de apre (note bem a camara o que se segue.) Ao mesmo
sentar as minhas duvidas a respeito. tempo em que ella fazia estes esforços, o go
Porque razão se diz que ha falta de moeda en verno teve do pagar uma parte da sua divida
tre nós? Será por ventura porque corre o boato, ao estrangeiro (note-se isto), o que tirou um ca
ha essa opinião, não sei se geral, de que com pital consideravel ás empresas do interior.
effeito o nosso meio circulante é insufficieute ? « A ruptura com a Inglaterra, o a sorte que
Eu uoto que na Russia se deu uma cireumstan- soffreu a Irlanda nos privarão dos capitaes que
cia analoga, correu : i 11i como certa a deficiencia essas nações derramavão outr'ora no nosso com
d.1 numerario, mas eu peço licença á camara, por mercio, e que fazião valer de diversas maneiras
que tenho pouca fé na minha intelligencia, para as nossas empresas. De outra parte, hoje a
ler a este respeito um trecho de Storch. Diz concurrencia entre os tomadores de dinheiro é
clle o seguinte : maior do que tem sido.
« Estes principios servem de esclarecer umiphe- « Pela primeira vez o governo tentou o em
nomeno que temos actualmente diante dos olhos, prestimo in interior, o offereceu condições muito
que perturba quasi todos os raciocinadores po vantajosas. Quando por uma parte, continua o
liticos ; é a raridade apparente do numerario. distincto economista, os capitaes emprestaveis di
Posto que o mesmo governo declare que isto minuem, e de outra pede-se mais para tomar
procede de emissões muito fortes, uma multidão emprestado, é forçoso que o interesse suba, e
de pessoas se obstinão em attribuil-o a outras é o que acontece na Russia (isto é tambem o
causas, e sustentão obstinadamente que a emis que se verifica entre nós.) Todos estes tomadores
são dos assignados é inferior ás necessidades de dinheiro não procurão na apparencia senão
da circulação (é isto que se dá entro nós.) assignados, mas como estes não sào procurados
« Como I dizem elles, continua o mesmo es- senão para comprar mercadorias, ou para pagar
criptor, clama-se contra o excepto dos assignados, a credores, que igualmente os empregão em
e não os lia para os emprestimos I Os proprie comprar mercadorias, na essencia são as merca
tarios de terras, os negociantes, todas as classes dorias que são procuradas. Vê-se gois que multi
da sociedade soffrem a falta de numerario. As plicar os assignados seria augmentar o menor
bancarrotas so multiplicão, provincias inteiras so- nominal das mercadorias, mas nunca o de fazer
licitão respiros e esperas, e nesta pressão geral baixar o intiresse. O interesso não póde baixar
dá-se ao governo o conselho perdido de aniquillar senão quando os capitaes augmentão, e estos
uma porçao desse p ipel tão preciso, que deveria ser não pndem augmentar senão pelo oxcedenle da
multiplicado para alliviar a miseria publica I Tal producção sobre o consumo. »
é (termina o autor do periodo), com effeito, a Perdóe-mo a camara esta longa citação , eu
linguagem de todas as classes que julgáo sobre tenho necessidade de apoiar-me em autoridades,
a simples apparencia das cousas. Felizmente o em escriptores desta ordem, para contrabalançar a
governo prosegue o seu plano de reforma sem autoridade reconhecida do Sr. ministro da fazenda
dar a menor attenção aos clamores publicos. » e da illustrada commissão que apresentou o tra
Eis o trecho que eu submetto ao apreciamento balho que discutimos, por isso releve a camara
da camara. Porque não procederemos da mesma que eu ainda offereça á sua consideração alguns
maneira que o governo da Russia a respeito do excerptos, ou extractos de outro illustre econo
objecto? Eu julgo que estamos em identicas cir- mista, João Baptista Say, os quaes me parecem
cumstancias; ha iguaes clamores ; diz-se da mesma muito frisantes ao objecto. Diz elle : « So a abun
sorte que o dinheiro ó insuficiente ; mas quem dancia do numerario influísse sobro a laxa do
sabe se algum interesse occulto, latente, não de interesse, este seria mais baixo no Peiú do que
termina estes clamores, não procura, como disse em qualquer outra parto, porque em nenhuma
um nobre senador por Pernambuco, sorprehender parte o metal é tão abundante, e seu valor rela
a religião do nobre ministro da fazenda ? Por tivo menor. A taxa do interesse é aliás ahi muito
consequencia não partamos para julgar da defi elevada. Em outra parte, diz elle, vê-se que a
ciencia do meio circulante desso clamor, desse abundancia, ou raridade do numerario não
rumor vago que tem sido talvez adrede formado ; tem nenhum effeito sobre o que so chanca pro
devemos suspeitar dello, appellar delle para um priamente o interesse do dinheiro, porque o inte
exame serio e aprofundado do assumpto. resso é o aluguel de um capital, e os valores
O erro em materia tão grave póde ser muito capitaes consistem em valores differentes dos va-
fatal, debaixo de muitos pontos de vista; é pre lores monetarios. Durante os assignados, a moeda
ciso prevenil-o por todos os modos possiveis : era certamente muito abundante, e sabeis que
elle affecta a graves interesses, entende com a for isto não fez baixar a taxa do interesse. »
SESSÃO EM 13 DE JUfsHO DE 1853 181
Àgora, sustentado pela doutrina esclarecida de os bancos nã.o creão capitaes não fazem senão,
tão abalisados escriptores, permitta a camara que como diz J. B. Say, dar-lhes uma direcção mais
eu faça as reflexões que ella suggere cum a util. O que faz um banco ? Desconta letras ; e
applicação aos factos que se passáo entro nós, o que significa a operação do desconto ? Significa
aprecian'lo-0s como me é possivel, na certeza de que levo ao banco uma letra que é um valor
que o que somente desejo ó o acerto de nossas creado por mim, mas que não posso realisar
resoluções, evitando que abracemos a nuvem por logo, o que o banco recebe com desconto, á es
Juno, prejudicando n propriedade que o homem pera do tempo em que o valor creado tenha de
civilisado ama, como diz Lamartine, a par da realisar-se em dinheiro ; conseguintemente a pro-
vida, porque a ausencia da propriedade nestes ducção está feiti por mim, o capital está creado
tempos de egoismo é o desprezo, é o abandono, dosdo o momento em que entrega ao banco a
é a morto moral do homem. Isto posto, per letra; posto que, repito, não se possa realisar
gunto, porque razão entrenós tem o juro subido logo, o que da lugar ao desconto. Esta ó a dou
tanto ? A razão disto, Sr. presidente, é porque trina de Coquelin, J. B Say, o Stêll, todos con-
nossos capitaes têm diminuido e têm diminuido cordão em que os bancos não treão capitaes.
por circumstancias muito notaveis, inteiramente
analogas ás que se derão na Russia : primeiro, cosVejimos agora se a autorisação dada aos ban
pelo projecto para emittir maior quantidade
«imo lá tivemos guerra, alludQ á guerra que de bilhetes restabelece o credito, caso elle não
tivemos no sul , a qual nos absorveu talvez exista actualmente na pr iça, como parece. Sup-
12,000:000$; depois, como lá tivemos um empres ponha V. Ex. que se diz aos bancos : « Emitti
timo no interior, o nobre ministro da fazenda 2,000:000$ em bilhotes. » V, Ex pensa que os ban
contrahio no interior um emprestimo, parece-me cos vão immediatamente descontar todas as letras
que de 4,00O:000$, emprestimo que levou para o que se lhes apresentar ? Não; os bancos,hão[de pedir
estrangeiro essa som ma tão importante de capi garantias para essas letras , se essas não forem
taes. Refiro-me ás apolices que o anno passado
forão emittidas a bem da operação financeira que sufficientemente garantidas, não farão uso da
faculdade de emittir. E isto o que demonstra ?
o nobre ministro fez para ter fundos em Lon Demonstra que os bilhetes de banco não podem
dres. Não trato de inoralisar, o muito menos de supprir a moeda ou a falta delia , porque não
censurar, o procedimento do governo a respeito
de qualquer dessas resoluções, ao contrario estou podem supprir a falta de credito. Se as letras
convencido que as despozas forão justas, forão offerecidas ao desconto não merecerem credito por
convenientes ao serviço publico, tanto com rela- si mesmas, se não tiverem sufficiente garantia,
-ção á guerra que tivemos no sul como com relação os bancos náo as descontarão, porque, como diz
a essa operação que S. Ex. fez a bem da nossa Coquelin, e, repito, os bancos não podem supprir
a falta de moeda, porqu8 não podem supprir a
divida estrangeira. falta de credito.
Uma ou outra causa mui notavel concorreu Ora, julgo que este é o estado provavel da
ainda para a falta do meio circulante ou dos nossa praça. O credito tem soffrido, e tem soffrido
capitaes que se offerecem a emprestimo, causa por causa dessas especulações mais ou menos
que tambem se verificou na Russia : forão as arriscadas que têm tido lugar.
empresas que entre nós têm tido lugar, ns quaes
têm immobilisado grande somma de capitaes que O Sr- Ministno da Fazenda :— Podem não ser
estão a espera de lucros futuros, e por conse arriscadas.
guinte são capitaes que estão presos, que não
são circulantes, que se retirão desse jogo entre lnsO um Sr. Bandeira de Mello:— Sempre ha nel-
risco qualquer, porque não se póde asse
a offerta e a procura ; capitaes que tomão o ca
racter de fixos, e que por conseguinte diminuem verar que essas companhias terão bom resultado.
(Apoiados.)
a offerta dos emprestimos, e diminuida esta of
ferta, a consequencia necessaria é a alta dos O Sr. Paula Baptista :— E' uma verdade in
juros. contestavel.
Investiguemos uma outra cousa que póde dar O Sr. Bandeira de Mello: — Os nossos bancos
lugar a esta alta. o que fizerão? A principio descontarão as letras
Talvez, Sr. presidente, se possa dizer que a dessas empresas, dessas companhias; mas de
alta do juro procede da falta de credito na nossa pois recuárão, notando que essas letras não erão
Eraça ; a isto muito me inclino, e acho que esta senão letras de circulação.
ypotbese explica melhor este phenomeno. Não V. Ex. sabe o que são letras do circuláção.
poiso assegurar isto, mas julgo ser a causa mais Letras de circulação são aqucllas que não re-
provavel do aperto que se nota nas nossas trans presentão transacções effectivas, mas sómente um
acções mercantis. ajust' entro dous ou mais capitalistas que se
A este respeito peço licença á camara para garantem reciprocamente, e fazem um jogo com
lembrar-lho o que diz Coquelir. Eu repito, ne suas firmas. Ora, provavelmente os bancos no
cessito de autoridade , e vanglorio-me nesto tarão esse jogo, notarão que essas letras erão
assumpto de fazer apenas a applicação do que sómente de circulação, como já defini, e então
têm dito os homens profissionaes. deixarão de descontal-as ; e deixando de descon
Diz elle • « As crises commerciaes não são ge tai -as. eis em aperto esses homens, que até
ralmente senão desapparecimentos momentaneos certo tempo tinhão esse auxilio que o banco lhes
de credito. » De accordo com elle, diz Say. « O retirou a bem de seus interesses, a bem de seus
credito não faz augmentar nem um soldo o valor compromissos, e então apparecêrão as queixas,
capitil, mas fiz muitas vezes passar um valor e se clamou: «Não ha numerario 1 »
capital ocioso a uma mão onde fructifica Essa Não ha numerario I Não se póde dizer isso só
é a sua unica vantagem. Esta consideração, con porque os portadores de letras de mera circu
tinua elle, mo parece fundamental em materia do lação encontrão difiiculdades para descontal-as,
credito, e se o é, o qne significa a doutrina que se assim
o credito é, como a moeda, um instrumento para uma letra,fosso, um homem fallido poderia lavrar
operar permutas f E a doutrina que a circulação como ninguemir quizesse á praça, procurar desconto, e
descontal-a, exclamar todo'
não pode prosperar sem v saccorro da con
fiança! Nunca a circulação seria mais activa e ansho: « Não ha dinheiro na praça. » Elle 6
mais proveitosa do que se cada um, possuindo que não tem credito, não merece confiança.
todo o capital que' reclama a sua industria, fizesse, (Apoiados.)
dinheiro a vista, todas as compras e vendas.» O Sr. Paula Candido :— Não ó o caso da praça
Ora, á vista destes principios é incontestavel que do Rio de Janeiro.
182 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Bandeira de Mello :—Supponho que é, O Sr. deputado (olhando para o Sr. Paula
o quererei ser convencidu do contrario. O nobre Candido) poderá traduzir este termo melhor do
deputado sabe que os bancos têm movimentos que eu; eu creio que ó mal criado...
respiratorios como o que nos introduz o ar nos O Sr. Paula Candido: — Eu traduzo por mi
bofes ; os bancos aspirão, recolhem o dinheiro d is moso. (Risadas.)
letras, cujo vencimento se realisa, e respirão,
expellem dinheiro sempre que têm de descontar O Sr. Bandeira de Mello : — Seja mal criado
letras ; por conseguinte os bancos, visto se orga- ou mimoso, oin francez é gátê. (Continua lendo) :
nisareni com fundos proporcionados ás necessi « Como meninos mimosos ou mal criados, relaxáo-
dades da praça em regra, estão sempre habili se para com elles, concedem -lhes, com violação
tados pira os descontos, quando não ha alguma dos seus compromissos, faculdades abusivas, que
circumstancia extraordinaria, e muito extraordi não fazem senão animal-os em vias falsas, o
naria. Mas o nobre deputado nessa observação preparar novos desastres. O governo deve aos
pareceu julgar cjue os bancos só respirão dinheiro, bancos protecção, liberdade, mas nenhum favor.»
só lanção de si dinheiro, e o não recolhem ; não, Nenhum favor, note a camara ; mas, senhores,
á proporção que o dinheiro sahe entra tambem contra a opinião de Coquelin, quantos favores,
em seus cofres. e que favores I Vamos nós conceder aos bancos I
O Sr. Paula Canjjido:— O facto é que casas O primeiro fivor que apparece noste artigo ó ;a
de muito credito não têm podido descontar suas elevação dos notas do binco. Ora, senhores, as
letras. notas do banco com as condições deste artigo
são o mesmo qne moeda-papel (apoiados), e o
O Sr. Bandeira de Mello: — Ainda que os Sr. ministro da fazenda no senado disse que, so
bancos não quizessem descontar essas letras por fosso obrigado a emittir papel, mais facil lhe
um panico qualquer, ellas se trocarião umas por seria sahir do ministerio.
outras, se fossem acreditadas, se offerecessem O Sr. Ferraz: — Se fosse obrigado a omittir
garantias, haveria o que se chama revirement pipel-moeda.
em francez, os credores aceitarião com facili
dade a reforma dos prazos das letras, e assim O Su. Bandeira de Mello:— Sim, que se fosse
se evitaria que os bancos, levados de um calculo obrigado a emittir papel-moeda elle deixaria o
falso, de um panico qualquer, prejudicassem as ministerio ; mas eu não desejo que S. Ex. saia
transacções não descontando as letras. A ausen do ministerio; não o apoio pelo principio da
cia pois desse recurso revela que a causa da amizade, por que S. Ex. me não honra com essa
crise ê a falta de credito, c a f ilta de confiança. amizade ; todavia não desejo que S. Ex. saia do
O Sr. Paula Candido:— Ainda não houve uma ministerio, porque reconheço a sua capacidade,
quebra. respeito a sua intclligencia, aprecio suas boas
intenções e importantes serviços que na reali
O Sr. Bandeira iie Mello: — Então a medida dade tem prestado. (Apoiados.)
que se discuto não é necessaria, porque ainda Não faço votos para que S. Ex. saia; era uma
não se revelou nenhum acontecimento que as cousa que não pretendia, mas que me sahio do
reclame. (Apoiados.) coração. . .
A' vista pois do que tenho dito, Sr. presidente,
duvido da falta do numerario ; mas quero porém O Sr. Aprioio : — E nem se arrependa.
admittil-a, e neste smtido vou discutir a medida O Sr. Bandeira de Mello: —Agora se o Sr. mi
proposta pela nobre commissão. nistro quizer sahir porque os outros sanem, então
Ella diz no art. 2°: «O governo fica alóm disto eu não poderei retél-o. ..
•auiorisado para facultar aos mencionados bancos O Sr. Ferraz dá um aparte que não ouvimos.
a elevação de sua emissão até A importancia de O Sr. Bandeira de Mello: — Eu sei que estou
6,000:000$000, dividida entro elles na razão de abusando da paciencia da camara...
seus fundos realisados, sendo as suas letras re
cebidas nas estações publicas e nos pagamentos Vozes: — Não apoiado.
entro os particulares no municipio do Rio de O Sr. Aprinio.— Não apoiado; estou até gos
Janeiro.» tando. (Risadas.)
Notarei, antes de tudo, que aqui a resolução
autorisa o governo a conceder que os bancos O Sr. Bandeira df. Mello:—... mas eu não
elevem a sua emissão até 0,000:000$000 : mas posso continuar amanhã, se pudesse... por isso
porque não se dará logo essa faculdade directa- e forçoso que continue. Ora, dizia eu que esta
'mente aos bancos ? Agora me recordo que o emissão com as condições deste artigo tem exacta
nobre deputado pela Bahia, o Sr. Ferraz, cri mente o caracter do papel-moeda: o papel-moeda
minou a camara passada por conceder muitas é caracterisado pelo curso forçado tanto nos paga
autorisações ao governo, o temo que tambem mentos ao thesouro em razão das contribuições,
não nos venha censurar se deixarmos passar o art.2° como em pagamentos dos particulares nas suas
como se acha redigido. Se se julga que isto é transacções cominerciaes. Tambem nesta patte
necessario, diga-se logo ao bar.co: « Podeis elevar vou autorisar-mo com a opinião de Mr. Storch,
vossa emissão ate ti,000:000$000, » e não se diga que é a seguinte:
que o governo fica autorisado para conceder essa « Reserva-se o nome de papel-moeda a bi
faculdade. lhetes que o soberano ordena receber em paga
Notarei, Sr. presidente, uma cousa : e ó quo mento em lugar do numerario metallico. Qual
parece que nós estamos debaixo de uma impres quer que seja a origem e fórma destes bilhetes,
são que nos leva a tomar medidas menos acer quer promettão um reembolso quer não, quer
tadas; e esta consideração convida-me a citar , sejão emittidos por particulares, quer o sejão
uma passagem de Coquelin que mo parece muito pelo governo, deste que sua circulação não é
apropriada. Diz Coquelin: «A maior parte dos somente o cffeito da confiança, cessão do ser bi
governos, do ordinario tão resorvados, tão difli- lhetes de confiança, e to rnão se, papel-moeda.
ceis, tão meticulosos quanto á' instituição dos « Esta intervenção do governo não é o unico
bancos, tão promptos a lhes iinpór regras arbi caracter que distingue estas duas especies do
trarias o vexatorias, mostrão-so muito timidos bilhetes. Os bilhetes de confiança tendo curso sem
quando se trata, em momentos criticos, de lhes qne o governo se intrometia nisso, é certo que
applicar os principios de direito commum. Tra- não haveria necessidade de ordenar a circulação
tão então os bancos como meninos (gátés) mal do papel-moeda, se se assemelhasse aos bilhetes
criados.» de confiança. Na verdade, se a autoridade su
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 183
prema se acha empenhada em sustentar a circu propriedade, importa a dispensa do pagamento
lação do papel, é que lhe falta commummento dos bilhetes, facilita o desconto do letras na
algumas daquellas qualidades que constituem os circulação, e importa uma excentricidade em
bilhetes de confiança, e assegurão o seu credito.» materia de bancos.
Ora, se esta é a opinião de Storch... Procurarei desenvolver cada uma dessas pro
Um Sr. Deputado : — E de muitos outros eco posições. Disse eu que o curso foiçado talvez
nomistas. encerre um privilegio inconstitucional ; porque ?
Porque os bancos não são senão associações de
O Sr. Bandeira de Mello: — Sim, e de muitos - negociantes, não tém o caracter de uma insti
outros economistas cujos nomes não citarei. Per tuição politica ou administrativa, as suas obri
gunto eu: esta emissão, tendo por condicão o gações aos olhos da lei devem valer tanto como
curso forçado, não é papel-moeda ? (Apoiados.) as obrigações de qualquer outro cidadão ; como
Não posso considerai a do outra maneira; e se é pois que se diz aos bancos : « As vossas letras
são bilhetes de confiança esses bilhetes do banco, serão admittidas no pagamento dos impostos,
então implica contradicção a força ou curso for os particulares serão constrangidos a recebêl-as
çado qud se pretende dar-lhes, porque a con no pagamento das suas dividas ? » Como se lhes
fiança não se consegue com a violencia, ó incom concede este privilegio que não tem outro qual
pativel com a força. Bilhetes de confiança e curso quer cidadão 1 Os bancos por ventura são um
forçado, não concilio, não entendo. Só concilio corpo politico ou administrativo que devão ser
com o curso forçado o papel-moeda. revestidos de privilegios particulares por inte
Portanto, parece-mo que não se póde negar que resse publico ? Se se demonstrar que o inte
éo mesmo que papel-moeda o papel que se vai resse publico pode este privilegio, ver-me-hei na
emittir pelos bancos, e se é papel-moeda, diga- necessidade de reconhecer que elle não é incon
mol-o claramente ã nação, carreguemos com esta stitucional, porque a constituição admitte privi
responsabilidade. Digamos: a moeda-papel é in legios, uma vez que a utilidade publica os re
suficiente, é preciso augmental-a ; a commissão clame.
que acredita nessa deficiencia, que seja logica, O curso forçado offende ao direito de proprie
tire a consequencia necessaria ou natural do' dade, porque a lei não póde obrigar a nenhum
principio que estabelece. Mas se não ha falta de nu cidadão a dar um objecto que lho pertença por
merario, que males, Sr. presidente, não procedem uma moeda em que elle não tenha confiança.
desta medida I Sr. presidente, isto é tão justo, que o contrario
Senhores* a primeira consequencia fatal é a só vemos nos governos absolutos.
desapreciação do papel , S. Ex. sabe, Sr. presi Na Inglaterra quando Pitt, em consoquencia das
dente, que as unidades monetarias estão em pro guerras com a França, so vio obrigado, ouvindo
porção com as mercadorias, e que quando o o conselho privado, a atmittir nas estações pu
numerario auginenta, as unidades monetarias des- blicas os bilhetes do banco, não lhes deu curso
aprecião-se : esto é um principio reconhecido forçado com relação ao pag imanto das dividas
por todos o que até entendo desnecessario re particulares ; aquelle que offerecia esses bilhetes
ferir. em paiçamjnto do suas dividas apenas se livrava
Portanto, augmentando o nosso meio circulante da prisão, era a unica vantagem que tinha ;<mas
por esta nova emissão, desaprecia a unidade não era ninguem constrangido a recebêl-os em
monetaria; e o que so segue? Segue-se a baixa pagamento.
do cambio, que é o resultado necessario, e bai No tempo de Napoleão, que governou despo
xando o cambio, temos o primeiro mal ; e o ticamente a França, esta provincia marchou gra
segundo mal é que, baixando o cambio, o metal dualmente ; a principio so s admittirão bilhe
necessariamente será exportado, e então, nós que tes do banco para pagamento das contribuições ;
temos ate agora attrahido metaes, veremos sahil-os depois então é que elle obrigou tambem a que
contra os nossos calculos o interesses. se recebessem em pagamento das dividas parti
Este resultado, porém, talvez não appareça, culares.
porque não ó tão grande a emissão de papel Na Rússia tambem, governo despotico, o curso
ue o produza infalivelmente ; não sei se o pro- forçado tornou-se extensivo ao pagamento de par
uzirá, nem dou muita importancia a esta cir- ticulares , mas foi gradualmente. Nos governos
cumstancia de ser ou não o metal exportado em constitucionaes o papel como este não póde ter
consequencia do desapreço da moeda que póde curso forçado, excepto se a nação intervem com
ter lugar pela nova emissão, é todavia um pe a sua garantia poderosa, porque então torna-se
rigo, e o mal póde realisar-so em maior ou meuer moeda n icional. Sobre este assumpto eis o que
escala Vamos a outra consideração. diz Coquelir. Permittt a camara ainda esta ci
Esta emissão nova seria inefficaz para o effei- tação. ,
to que so deseja, isto é, para alliviar a praça,
se não f-jsse acompanhada do curso forçado, « E' contra toda a razão que o governo favo
porque é elle que anima os bancos a descontar reça a emissão dos bilhetes do banco, ordenando,
essas letras de circulação de que tenlio faltado, por exemplo, que sejão recebidos em pagamento
animação que é um gravissimo mal ; o como do imposto. Aos bancos toca adquirir uma tal po
os anima ? Os bancos sabem que os bilhetes sição, o levar ião alto seu credito, a impòr a
dados em virtude do desconto dessas letras têm todo o mundo uma confiança tão extensa e tão
do ser recebidos nas estações publicas, e em completa, a tornar além disso tão facil a reali-
pagamento das dividas pirticulares ; certos de sação dos seus bilhetes, que todo o mundo ache
que não voltão para sorem realisados, terão fa vantagem e perfeita segurança em servir-se delles.
cilidade e condescendencia em. descontar letras Então os recebedores das contribuições não hesita
de mera circulação, facilidade e condescendencia rão em recebêl-os debaixo de sua propria res
de que recuárno. Eu já defini á camara o que ponsabilidade. O contrario é encorajal-os no nvl,
são letras do mera circulação. é impór ao estado um sacrificio que elle não
Eis aqui, pois, como o curso forçado torna deve aceitar, ou um perigo que elle não deve
efficaz a providencia da emissão das notas ; sem correr.»
isto ella não seria efficaz, semelhantes loiras Disse eu tambem que o curso forçado envolve
não serião descontadas. dispensa concedida aos bancos do pagamento de
Agora, Sr. presidente, vamos considerar e seus bilhetes, porque o quequer dizer curso for
apr. ciar particularmente o curso farçido. Eu çado ? Quer dizer isto : «Banco, emitti vossos
digo que o curso forçado encerra talvez um bilhetes, não tenhaes medo de que elles vos sejão
privilegio inconstitucional, offende o direito de entregues para 03 realisardes, porque aqui estou
184 SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853
eu, governo, para os receber, e obrigar os par tes de confiança, e ha apolices da divida pu
ticulares a recebêl-os.» blica em consequencia de emprestimos feitos
Era indiréctamente o mesmo que dizer aos ban pelo banco.
cos : « estais dispensados de realisar os vossos Ora, todos estes valores estão já empenhados
bilhetes,» pois o grande mercado que para os como garantias da emissão anterior de bilhetes
seus effeitos se abre lhes lira o medo do retorno, I inçados na circulação ; e p or isso ãigo eu que
elles ficão certos de que as suas mercadorias ha aqui um duplo emprego. Metaes preciosos, a que
bancaes não regorgitarão no mercado. titulo? Quilquer desses bancos tem semelhantes
Eu disse que o curso forcado facilita os des metaes ? A titulo de fundo incorporado, e então
contos das letras em circulação. Já eu demoiis- não póde servir de garantia a uma nova emis
trei isto, já fiz ver que se não fosse o curso são. Apolices da divida publica, so os bancos
forçado os bancos havião de ter toda a cau as tem , é sem duvida porque alguem lá as
tela em descontar as letras qne se lhes apre levou para , a titulo de emprestimo , retirar
sentassem ; mas como ha esto curso forçndo bilhetes ; e então, pergunto eu, os bancos po
então tornão-se benignos com todas as pessoas dem hypothecar aquiClo que lhes foi hypothe-
que po-são t r alguma influencia para com os caJo ? Podem hypotlieear aquillo que serve de
seus directores, porque não rooeíão que os seus fiança aos bilhetes que póz em circulação ? Não,
bilhetes corrfio o risco de sarem realisados por de certo.
moeda effectiva. Os bancos com o poder iminenso Letras do thesouro e biHiotes da alfandega
que têm, com esse mercado vasto que se lhes estão no mesmo caso
abre, não só pelo pagamento dos impostos, como Considerarei agora os titulos particulares. Os
tambem pelo pagamento das dividas particula titulos particulares que qualquer dos bancos
res, terão grandes lucros, e tendo esses gran actualmente têm são a fiança dos bilhetes qne o
des lucros não poderão deixar" de ter muita banco emittio em consequencia desses mesmos
benignidade, muita facilidade om descontar as titulos. Eu me explico melhor; vou eu, por exem
ietras sem perigo real algum para elles; um ou plo, ao banco e desconto lã uma letra de 1:000$,
outro prejuizo fica bem compensado pela nova dá-me elle bilhetes do igual valor ; a letra que
California da emissão que lhe concede. lá deixo ó para o publico a fiança dos bilhetes
Ainda outra consideração a respeito do curso que recebo, e como póde dir ello em caução
forçado, e e que se acaso esses bilhetes podem essa letra para elevar a sua emissão?
ser considerados realisaveis, porque existe um Eu figuro uma nova emissão, como o resul
artigo no projecto que diz que o banco conser tado de um terceiro banco, sendo indifferente
vará em reserva um terço do seu capitil para que essa emissão se faça pelos bancos já creados
resgatar os seus bilhetes ; pergunto eu então : ou pelo novo, e, na hypothose, a realidade é que
para que o curso forçado ? Se vós confiais no ciêa-Si! um novo banco com os fundos dos dous
fundo de reserva, se confiais no capital diiponi- já estabelecidos; ou, por outra fórina, dão-se aos
vel que o § 3° exige, se julgais que esta fundo' dous bancos existentes vantagens que sò pode-
disponivel e sufficiente para realisar quaesquer rião resultar da creação de um terceiro banco
bilhetes do banco quo sejão apresentudos, por com fundos proporcionaes ao augmonto da emis
que razão então estabeleceis o curso forcado? são que elles vão ser autorisados a fazer. E
E' por conseguinte uma especie de contradicçáo; se não é assim , pergunto eu : acaso os accio
conna-so no capital disponivel, e ao mesmo nistas concorrem com "Valor novo por essa nova
tempo desconfia-se estabelejeu.do-se o curso for emissão ? São cbnvidados a fazer alguma en
çado 1 I trada para dar alguma cousa ? Não. Por con
A excontricidade bancaria ii que alludi, Sr. pre seguinte isso importa um novo banco estnhele-
sidente, consiste nisto. Os governos nunca derão cido com os capitaes dos bancos que já existem.
curso forçado senão aos bilhetes dos bancos que Daqui resulta que os bancos existentes re-
lhes havião emprestado os seus fundos, e que bem um favor immenso, recebem, como que uma
por isso ficarão compromettidos, embaraçados, e grande protecção, e com essa grande protecção
não puderão em consequencia satisfazer aos seus elles consentem em descontar as letras da cir
empenhos.. Mas dar-se curso forçado aos bilhetes culação, certos de que, se vierem a perder al
dos bancos que existem entre nós, som que guma cousa, ficão compensados pela protecção
nada tenha o governo com elles, nada lhes deva, que recebem medianto essa nova emissão, sem
sendo esses bancos inteiramente particulares, é emprego de novos capitaes, nenhum sacrificio de
um procedimento que não posso qualificar se qualquer ordem. Ora, essa facilidade, essa habi
não de uma excentricidade bancaria ; foi a litação pira desco. itar souielliantes letras, ó o
qualificação que me offereceu para chamar so que principalmente lastimo, e lhes não quizera
bre elle a «ittenção da camara. conceder, porque vejo nisso grandes inales no
Agora, Sr. presidente, considerarei o art. 2°, futuro com relação ao credito da praça e for-
que trata do estabelecer a caução exigi di para a tuia publica, compromettida por semelhante pro
nova emissão. O que vem a ser esta caução ? cedimento, tão arriscado como ruinoso.
Diz o artigo : « Esta emissão será caucionada Agora, Sr. presidente, considerarei o segundo
por igual valor em metaes preciosos, apolices piragrapho, e proinetto concluir em poucos mo
da divida publica, sendo tomadas ao par de ti %, mentos ; diz o paragrapho 2° :
letras do thesouro e bilhetes da alfandega...
ou por titulos de credito particulares com boas « Esta emissão não poderá ser applicada senão
garantias, etc » ao desconto do letras da terra com duas firmas
Bem, esta caução de nada vale, não ó caução ; pelos menos, e cujos prazos não excedão a 90
ella importa, nu nu-u modo de considerar, um dias, e ao das letras do thesouro e bilhetes da
duplo emprego, a creução de um terceiro banco alfandega. »
sem o sacrificio de novos capitaes, importa uin Este artigo, Sr. presidente, afasta do desconto
grande favor feito aos bancos uctuaes, importa todas as letras que não forem da terra; feliz-
tambem uma excentricidade bancaria. mente já mandarao a respeito uma emenda, que
Diz-se, Sr. presidente, que os bancos para som duvida me parece muito attendivel ; mas,
fazerem essa emissão darão metaes preciosos, pergunto eu, por que razão os bancos não emit-
apolices da divida publica, bilhetes da :ilfandega, tiráõ bilhetes , tendo por penhor ou garantia
titulos particulares com boas firmas. Nos ban apolices da divida publica ? Não vejo motivo
cos, em meu modo de considerar, ha quatro justificado para que as apolices da divida pu
especies de valores ; ha o fundo incorporado, blica sejão excluidas dessa operação dos bancos,
ha valores pertencentes ao dividendo, ha bilhe para que não possão estes dar as suas notas,
SESSÃO EM 13 DE JUNHO DE 1853 185
ficando aquellas depositadas em seus cofres ; um campo vasto para a emissão, e depois lhes
isto é até um meio de dar ás apolices maior póde dizer : Realizai os vossos bilhetes, já não
valor, dando-lhes mnior circulação, mnbitisando- tem curso foiçado. Os bancos nestas circum-
as mais, por assim dizer. Não encontro tambem stancias não podarão sat.sfuzor a is seus com
razão sufliciente nara que a emissão dis bi promissos, as notas ou bilhetes affluiião ao
lhetes não possa ter lugar, em consequencia de seu escii|itorio ; e esta passagem rapi la de um
depositos da metaes preciosos, como até agora; estado para outro as obrigará a implorar do
parece por essa espacie do exclusivo que se quer governo, para que os tire do grave embaraço
monopolisar todos os bilhetes da nova emissão em que têm de achar-se, tendo-se estreitado o
a bem somente' das letras da terra, letras que mercado dos seus productos de credito, -O go
comprehendem muitas daquellas a que tenho verno terá então sobre elles o direito de vida e
alludido com a qualificação de letras Je cir de morte.
culação. E note se mais que nesse artigo se diz : « salvo
Agora, Sr. presidente, quanto ao § 3°, veja o direito do cenvenção entre partes », de sorte
mos o que diz elle « Os bancos são obrigados que depois desse toinpo pó.ln o governo, porque
a realisar suas letras em moeda corrente, con tambem, é pirte, dizer: «Receberei ainda as
servando sempre para esse fim em cofro um vossas notas em pagamento dos impostos, e assim
fundo disp mivel, nunca inferior a um terço da esta medida extraordinaria, excepcional, ficará
respectiva emissão. » somente dependento do governo. » Esto arbitrio
Trata pois este paragrapho do fundo disponi é sem duvija de uma influencia immensa sobre
vel dos bancos. Este fundo é em grande parto a sorte dos bancos, sobre a liberdade de suas
illusorio, ou pó le ser illusorio, e neste caso operações; o governo pó le fazer-lhes ou muito
será inefficaz para assegurar a realisação d.is bem ou muito mal, segundo o sentido em que
bilhetes emittidos ; e dig i isto porque nquelle exercel-o. Ameaçando do não receber mais nas
fundo póde abranger som mas que não pertencem estações publicas os biihetes, o que não poderá
a propriedade dos bancos, e taes são aquellas obter delles ?
que são nelles depositadas para abrir com as
mesmas contas correntes. Assim, por exooiplo, fimAlguem me disse que este arbitrio tinha um
premeditado, e era o grande desideratum
sou eu negociante, o quero abrir contas cor de fundir em -nm só ou dous bancos exisíentes,
rentes coin o banco, nelle colloco 5D:0J0$ KX) : be assim é, hoje estes bancos receberão um favor
pergunto : essa sommn, que ou posso retirar que os collocarã em uma posição de dependen
uando me aprouver, offerece bastante garantia cia para com o governo, o não poderáò resol
realização dos bilhetes ? ver sobre os seus interesses co.n a plena liber
Da certo que não ; mas no entretanto ella é dade de que precisão. Hoje muitas facilidades ;
considerada pelas leis ou organisação bancaria mas tilvez logo virá o tempo severo das pro-
como fundo disponivel. Portanto, se se quer não vanças, e então elles reconhecerão que ganhão
comprehender nesse fun lo dispo,iivel semelhante mais evitando relações que podem leval-os de
quantia ou capitaes, é preciso expressamente vencida em quaesquer emergencias de luta ou
excluil-os e não deixar o vago do,artigo. Esta contrariedade que na actualidade são impre
intelligencia do que é fuado disponivel, está de vistas.
accordo com a seguinte observação de C iquelin, Finalmente a respeito do ultimo artigo, que
a qual confirma igualmente as censiderações trata dos commissarios , só notarei que este
que acabo de ponderar. Diz elle : « A reserva commissario
metallica, se consiste em uma parte dos fundos sei porque nãohasedetrata ter ordenado, e então não
em conta coirento com os particulares, compro- ordenado ; sem duvida de estabelecer logo esse
elle não ha de prestar
hende-se bem que seria um recurso bem preca serviço gratuito. . .
rio, e que uma reserva assim formada poderá
não bastar sempre, quando mesmo . em tempo Um Sr. Deputado:— Ha de tor uma gratifi
ordinario excedesse metade dos valores dos bi cação.
lhetes da emissão. » Ora, diz elle, a metade O Sr. Bandeira de Mello : — Se o governo
não seria bastante. está autorisado a dar gratificações, não farei
A' vista disto, se so quer garantir melhor a disto questão ; mis se não está autorisado para
condição da realisação dos bilhetes, é essencial isto, estabeleça-se logo o que deve vencer esse
definir praticamente, positivamente, o que se commissario.
entende por fundo disponivel , excluindo as Um Sr. Dííputado dá um aparte que não ou
quantias depositadas, ou dadas para abrir con
tas com os bancos. vimos.
Vamos ao art. 4o ; diz elle : « Entre os limites O Sr. Bandeira de Mello : — Pois os bancos
de quatro mezls o um anno , o governo mar é que hão de pagar para serem fiscalisados ?
cará um prazo, findo o qual não serão mais re Emflni, tenho concluido ; são 3 horas ; e peço
cebidas nas estações publicas, nem nas trans
acções particulares, salvo o caso de convenção perdão ã camara por ter abusado tanto tempo
entre as partes, as letras dos mencionados bancos.» da sua attenção. m
Determina pois esto artigo o prazo dentro do Alouns Srs. Deputa D0s:— Não apoiado. Muito
qual o governo levanta o curso forçado : pri bem I Muito bem I
meiramente, pergunto eu, que quer dizer entre A discussão fica adiada pela hora.
o limite de quatro mexes ou um anno? Quererá Levanta-se a sessão ás 3 horas da tarde.
porventura dizer que, depois da execução da lei,
o curso forçado durará quatro mezes ou um anno,
ou quer dizer que, depois de qualquer tempo
decorrido, o governo póde dizer ao banco ; da
qui a quatro mezes ou um anno cessará o curso
forçado ? Preveni-vos , preparai-vos para esse
grande movimento 1
Este artigo dá ao artigo, qualquer que seja a
intelligeucia dada ás referidas' expressões, dá,
repito, ao governo o direito de vida e de morte
sobre os bancos actuaes, porque o governo pelo
projecto lhes abre, em virtudo do curso forçado,
tomo 2. Ml
186 SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853
Seasào em 14 de Junho u A assembléa geral legislativa resolve :
« Art. unico. Fica approvada a pensão annual
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO de O00Íf concedida pelo decreto imperhl de 2 do
Junho do corrente a D. Cirolina Pedroso Bír-
Suumahio. — Expediente. — Ordem do dia. — Em reto da Costa Ferreira, viuva do brigideiro João
prestimo aos bancos. Discursos dos Srs. minis Feliciano da Costa Ferreira, em attençáo aos
tro da fazenda-, Figueira de Mello e Ferraz. seus serviços militares e do campanha, devendo
coatar-se o vencimento da data do referido de
A's dez horas, feita a chamada, achão-se pre creto.
sentes- os Srs. Maciel Monteiro, Jaguiribe, Si « Paço da camara dos deputados, 10 de Junho
queira Queiroz, Aprigio, Lindolpho, Rocha, Fleury, de 1853. — Gomes Ribeiro. — J. E. de N. SaySo
conego Leal, Mendes da Costa, José Assenso,
Gomes Ribeiro, Assis Rocha, Paula Candido, Lobato. »
Cruz Machado, Belfort, Soares de Gouvêa, Luiz « A commissão da pensões e ordenados, em
Araujo, Paula Sautos, Ribeiro, Cindido Menios, vista dos documentos que ncompanhão a cópia
Baependy, Machado, Wanderley, Góes Siqueira, do decreto de 30 de Maio de 18"i0, pelo qual
Nebias, José Mathias, Yasconcellos, Do' iTi ugues, fii concedida a D. Francisca Thereza Gimes
Macedo, Barbos t da Cunha. Araujo Lima, Ta- Lisboa a pensão annual do 0H0$ em remuneração
ques, Poanaguá, Brusque, Vieira de Mattos, Sa dos valiosos serviços prestados por seu marido
raiva, F.rraz, Horta, Luiz Carlos, Teix.iia de o tenente-coronel di guardas-nacionaes Eduardo
Souza, Bello, Loaula Baptista, Miranda, Oclaviano, Gomes Lisboa, morto em combato em defesa da
Silveira da Motta e barão de Marouu. causa publica na provincia de S. Pedro do Rio
Comparecêrão depois da chamada os Srs. Cas- Grande lo Sul, é do parecer que a mesma pen
tidlo Branco, Ribeiro da Luz, Angelo Custodio, são está no caso de merecer a approvução do
Livramento, Seáru, Santos o Almeida, Fiust, corpo legislttivo, devendo ser paga desde a data
Monteiro do Burros, Pimenta Magalhaes, Ver- do decreto que a conferio, como constantemente
siani, Wilkens de Mattos, Souza Leão, Paes 58 tem praticado em casos identicos. Para esto
Barreto, Pereira da Silva, Augusto de Oliveira, fim, portanto, propõe a commissão que se adopte
Sá o Albuquerque, Dutra Rocha, Zacharias, e As a resolução seguinte :
sis Rocha. « A assembléa geral legislativa resolve i
A's onze horas menos um quarto abre-se a « Art. unico. Fica approvada a pensão annual
sessão. de 600$ concedida por decreto de 30 de Maio de
Le-se e approva-se a acta da sessão antece- 1850 a D. Francisca Thereza Gomes Lisboa, em
cedente, o Sr. 1° secretario dá conta do seguinte remuneração dos serviços prestados ppr seu ma
rido o te.iente-coronel da guarda nacional Eduardo
EXPEDIENTE Gomes Lisboa, morto em combate em defeza da
causa publica na provincia de S. Pedro do Sul,
Dous officios, um do Sr. ministro da justiça, devendo a agraciada perceber a mencionada pen
enviando n cópia do relatorio do chefe de po são desde a data do decieto que a conferio.
licia interino da provincia do Rio de Jane.ro « Paço da camara dos deputados, em 13 de
.sobre as ultimas oceurrencias relativas ao tra- Junho de 1S53. — J. E. de N. S. Lobato. — Gomes
fico de africanos, e a informação do presidente Ribeiro.»
da mesma; e outro do do imperio enviando, não n Francisco de Salles Pereira Pacheco, não
só o officio do presidente da provincia ae Mato- tendo podido fazer a parte dos exames prepara
Grosso, acompanhado da acta da eleição' primaria torios que lhe restava para podor matricular-se
a que se procedêra ultimamente na freguezit de na escola de medicina desta corte, não obstante
Matto-Grosso, como tambem o da camara muni suas habilitações, por se achar durante o tempo
cipal da cidade do Cuiabá, acompanhado da acta em que se fizerão taes exames, por motivos de
da apuração geral dos votos para os dous de molestia, inteiramente impossibilitado do compa
putados da referida provincia. — O primeiro ó recer á referida escola. como mostra por docu
enviado a quem fez a requisição, e o segundo mentos dignos do toda a attenção, e havendo,
ii commissão de poderes. como ouvinte, frequentado as aulas do 1° anuo
Um requerimento de João Henriques de Paiva do respectivo curso, pede que se lhe faculte fa
secretario da 'academia de marinha, e Luiz Josá zer os exames preparatorios que lhe faltão, e
da Fonseca Ramos, secretario da escolí militar conseguintemente o exame do 1° anno do curso
pedindo melhoramento de ordenado. — A' com de medicina que como ouvinte frequenta.
missão de pensões e ordenados. « A commissão, attendendo bem para a pode
Acha-se sobre a mesa, o com urgencia vai a rosa causa que motivou o não comparecimento
commissão de poderes, o diploma do Sr. Israel do supplicante na occasiáo competente para taes
Rodrigues Barcellos, deputiJo pela provincia do exames, é de parecer que se adopte a seguinte
Rio Grande do Sul. resolução :
Um officio do mesmo participando que não « Art. unico. O governo fica autorisado a per-
póde vir já tomar as-ento, "em razão da enfer mit-tir que Francisco de Salles Pereira Pacheco seja
midade que soffre. — Fica a camara inteirada. adinittido a fazer os eximes das materias do
primeiro anuo do curso de medicina, precedendo
PARECERES DE COMMISSÕES os competentes exames e approvaçáo em todas
as materias e estudos preparatorios que para tal
' São lidos e julgados objectos de deliberação fim se requerem, o a frequencia das respectivas
os siguintes pareceres : aulas como ouvinte, na lór.na exigida pelos res
pectivos estatutos para os que ein tempo se ma-
«A commissão de pensões e ordenados, to triculão, dispensadas deste modo as leis em con
mando em toda a consideração o decreto impe trario. 11 de Junho de 1S5J.—Silva Ferraz. —
rial de 2 de Junho corrente, que concede a pensão Dutra Rocha. »
ainiual de bu0á a D. Carolina Pedroso Barreto
da Costa Ferieiru, viuva do brigadeiro Joao Fe O Si-. Auguslo clo Oliveira- —Sr. presi
liciano da Costa Ferreira, pelos serviços mili dente, no supplemento do Jornal do Commercio de
tares e de campanha por e 11 a prestados, tem a 11 de Junho, em que se acha publicado o discurso
honra de apresentar a seguinte resolução: do Sr. ministro da marinha, vem um aparte meu
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 187
em referencia aos presidentes da provincia do dido a V. Ex. quanto a collocar-me immediata-
Pernambuco, concebido nestes termos : « Cumpre mente ao nobre deputado pela Bahia quando
examinar os seus actos. » Este aparte vem se se encetar a discussão sobre os negocios de
guido da seguinte resposta do Sr. deputado pela Pernambuco, e peço a V. E*. e aos meus col-
Bahia, ex-presidente daquella provinciu: « Se forão legas o amigos por Pernambuco que. conca-
examinados por você principalmente. » dendo-me essa graça, hajão de desculpar a minha
V. Ex. e a casa sabem que outro é o tratamento ousadia em querer ter a preferencia em um
a que tem direito qualquer membro desta casa. debate cuj i iniciativa a outro qualquer perten
(Apoiados.) Segundo o nosso regimento, V. Ex. cia, menos a mim, que me considero entre todos
e a casa tambem sabem que outro é o trata os meus collegas o merços digno de representar
mento adoptado pelos estylos parlamentares, afim a muito heroica provincia de Pernambuco. (Não
de que os nossos debates, quando não denotem apoiados.)
profunda sabedoria, ao menos não transgridão O Sr. Brandão : — Muito bem.
as regras de pura civilidade e cortezia que se
guem todos os homens civilisados quando so O Sr. Bjbeino : — O Sr. deputado não está ha
achão reunidos. (Apoiados.) bilitado para apreciar as minhas acções, para
Notarei, Sr. presidente, que esto meu aparto ser meú juiz em caso nenhum ; o aparte que
vem no discurso do nobre ministro da marinha, sahio no supplemento do Jornal do Commercio,
que aliás teve o cuidado, na correcção desse seu eu o dei não houve alteração alguma nelle ;
discurso, de adoçar certas expressões menos re quando o Sr. ministro da marinha corrige os
flectidas, o mesmo inconsideradas, improprias seus discursos não faz conferencia alguma cominigo
na boca do um ministro da coroa ; e tambem (risadas) ; posso afiançar-lhe isto.
notarei que outros apartes que eu dei não vêm Emquanto á discussão dos negocios de Per
consignados no mesmo discurso ; porém com uste nambuco, eu peço a V. Ex. que não satisfaça o
meu dizer não desejo fazer censura nem ao no pedido do Sr. deputado, porque... tenho medo.
bre ministro nem aos Srs. tachygraplios ; mas (Hilaridade prolongada.)
as duas observações que acabo de fazer, unidas O Sr. Auousto de Oliveira: —Quem tem os
ás circuinstancias de que o nobre deputidopeli peccados administrativos do nobre deputado deve
Bahia mora na casa do nobre ministro, me lo- ter modo até de um mosquito.
vão á persuasão de que esse aparte não só foi
realmente proferido, como houve proposito em EMPRÉSTIMO AOS BANCOS
consignal-o no Jornal do Commercio.
O Sr. Corrêa das Neves : —Isso é logico. Continua a discussão do projecta r. 22 deste
O Sr. Auousto de Oliveira : —Eu devo declarar anno, relativo á proposta do governo a respeito
á camara que não ouvi semelhante aparte, porque do emprestimo aos bancos.
se o ouvisse sobra-me a coragem para me fazer O Sr. Rodrigues Torres (presidente do
respeitar nesta casa e fóra deli i ; e também conselho):— Sr. presidente, o honrado membro que
estou persuadido, Sr. presidente, que V. Ex. o hontem faltou em ultimo lugar impugnou o pro
não ouvio, porque do certo V. Ex., que dirige jecto que discutimos : 1°, porque entendeu que ó
os trabalhos desta casa com tanta circumspec desnecessaria providencia do governo ou do corpo
ção e imparcialidade, não permittiria que se legislativo para acabar com as difliculdades que
violasse por tal maneira o nosso regimento. actualmente soffre a praça do Rio de Janeiro ;
(Apoiados.) 2°, porque ainda que essa providencia não fosse
Tambem direi que esse aparte, que aliás dos- desnecessaria, o projecto contém disposições in
abona mais ao seu autor do que aquelle a quem justas e prejudiciaes, e como tal não devo ser
foi dirigido, tem para mim ao menos o mereci approvado.
mento de provar a esta au«usti camara que o Procurarei expór as razões oin que mo fundo
ex-presidente de Pernambuco, vindo tomar as para pensar de modo di crente.
sento nesta casa, não veio animado desse espi O orador a quem me refiro suppõe que a allo-
rito de moderarão que devia acompanhar ao de gada falta ou deficiencia ao meio circulante não
legado de um gabinete cuja politica é de justiça ê senão a expressão do interesses latentes, o tal
e moderação. (Apoiado?.) vez illegitimos, que procuráo sorprerrder a minha
Como o nobre diputado já protestou que na religião, a da commissão , e talvez a desta au-
primeira occasião propicia entraria na discussão gust.i camara.
dos negocios de Pernambuco, eu peço por isso Não duvido que os interesses a que se roferio
desde já a palavra, rogando a V. Ex., como es o hoarado membro, e que não são lat' ntes, mas
pecial favor, que se digne colloc r-me como visiveis e na minha opinião muito legitinos, se
orador immediato ao Sr. deputado pela Bahia... tenhão assustado em demasia, e figurado maia
(Risadas ) graves do que realmente são as difficuldades da
Vozes :—Isto ó muita antecipação. praça ; mas é fóra do duvida que existem tam
bem interesses talvez monos patentes, t dvez menos
O Sr. Fioueira de Mello: —Faz muito bem. legitimos, que procuráo fazer acreditar que as
O Sr. Auousto de Oliveira:— . . . porque oo- difficuldades são muito transitorias, que desap-
sejo mostrar á casa que o ex-presidento de Per parecerão por si mesmas sem nenhum soffrimento.
nambuco não só commetteu esta falta de cortezia Procurar infundir em nossos animos tal con
e civilidade; mas ainda graves erros na admi vicção está de accordo com os interessados a quem
nistração da minha provincia. (Apoiados ; não alludo. O que, porém, devemos fazer por nossa
apoiados. Reclamações.) parte, o que pertence a homens reflectidos como
O Sr. Wanderlev:—O Sr. deputado (apontando somos, ou devemos ser, é examinar com impar
para o Sr. Ribeiro) deve ter a palavra para cialidade os factos, e averiguar quaLdos interesses
responder, já que so consente nesta discussão. precisa hoje ser protegido, ou se de protecção
algum dellos carece.
O Sr. Presidente : —Observo ao Sr. deputado O honrado membro a quem tenho a honra de
que tem ultrapassado os limites das observações responder entende que a alta do juro não é prova
que precisamente se referem ao aparte de que da allegada deficiencia de meio circulante ; que
tratou ; peço-lhe que se cinja ao assumpto só- ella não póde provir senão da diminuição dos ca
mente de tal aparte. pitaes do paiz. Na sua opinião esses capitaes
O Sr. Auousto pe Oliveira:—Obedeço á ad tém com effeito diminuido; mas como do aug-
vertencia de V. Ex., porém reitero o meu pe mento do meio circulante ou da facilidade que
188 SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853
pretendemos dar aos bancos de soccorrer a praça tude da guerra é avançar uma proposição contra
não póde resultar augmento de capital, impos riada por tod is os factos que esta nos obser
sivel é remediar por tal meio os males que ella vando .
soffre. Fdlou-se de emprestimos contrahidos para pa
E' uma verdade, ninguem ha &hi que a desco gamento da divida externa. Apenas ven lemos para
nheça, porque ó um principio rudimental, que a esse fim no imperio 1,0)0 apolices; e são estes
taxa do juro depende da relação entre a procura 1,000.000$ que podião produzir a diminuição dos-
e o supprimento de capitaes; mas de que capi capitaes? E se com effeito, contrahimos esse em
taes ? Dos eapitaes disponiveis, ou emprestaveis. prestimo de 1,0i)0:000$ para applicar ao paga
Uma nação póde ser rica, e muito rica, e toda mento da divida externa, por outro lado remimos a
via ter jpoucos capitaes disponiveis. Ninguem dirá divida fluctuante ua importancia de 5 a 6.000:000S.
que a Inglaterra em 1847 era mais pobre, tinlia O honrado membro ainda nos disse : « A abun
menos capitaes do que no anno de lliOt, entre dancia ou escassez da moeda não póde ter in-
tanto o juro em 1847 chegou a 13 o mais por flueneia no juro do dinheiro, e a prova ahi te
ciinlo, quando em 1694 elle regulava por 8. Nin mos na Rnssia, na França, na Inglaterra e nos
guem dirá que os Estados Unidos em 1837 erão Estados-Unidos.» N io era preciso ir tão longe,
menos ricos que em 1816, entretanto que naquella nem remontar-se a épocas tão remotas; ba taria
época o juro subio muito. o exemplo da nossa propria casa, bastaria re
Assim pois não 6 a deficiencia ou a abun correr ao anno .le 1848 e principio de 1840, em
dancia de capitaes de um paiz que regula a alta que tivemos nesta praça o cambio de 23 a 24 e
ou a baixa do juro, mas sim a deficiencia ou a o juro de 5, 5 '/, e 6 % ; mas o que significa isto ?
abundancia dos capitaes disponiveis. Ora, debai Por ventura deve-se considerar a escassez ou
xo de que fórma se opresentão entre nós a mór abundancia de meio circulante em relação ao va
parte dos capitaes disponiveis ? Quem planta lor nominal ou ao valor real delle ? Se em 1848
café, nssucar, algodão, etc, para emprestar café, e principios de 1849 a mas<a do meio circulante
assucar, algodão, etc? era representada por 46,000:000$ de papel moeda,
O Sr. Ferraz : — Em todos os paizes ó a é fóra de duvida que 40 ou 38,l)00:00u(i piderião
mesma cousa, ter satisfeito as mesmas necessidades que os -40
O Sr. Kodriouiis Torres : — Perdóe-me o no mil; porquanto em virtude da depreciação do
bre deputado, não é a mesmi cousa. Nos paizes papel os 46 mil não valião mais de 38 ou 40 em
manufactureiros, como a Inglaterra, existo sem relação ao valor de hoje. Se a moeda fosse me-
pre uma grande massa de capitaes disponiveis lallica não se teria depreciado ; a parto supera
sob a fórma de materias primas, e sob esta fór bundante teria procurado outros mercados. Mas
ma se fazem emprestimos em grande escala ; o como o papel-moeda não póde ser exportado, qual
piotuctor ou importador das materias primas quer que fosse a quantidade que existisse na cir-
empresta-as, ou, o que é o mesmo, vende-as a aulação não valeria mais do que a que fosse precisa
credito aos manufactureiros para que estes as pai a satisfazer as necessidades de todas as trans
convertão em productos das .suas f ibricas ; mas acções. Portanto os factos que apontou o honrado
nós não emprestamos café, algodão, assucar, etc, membro , e que se referem a esses paizes , e a
para esse fim ; ninguem guarda estes generos épocas em que a moeda era papel, não podem ter
para conservar capitaes na oceupação restricta força alguma para demonstrar a proposição que
deste termo. Exportainolos para consumo. elle quiz estabelecer.
Os capit ies disponiveis apresentão-se em outros Disse-se ainda que os capitaes têm diminuido,
paizes sob mil fórmas differentes : no Brazil a porque uma grande parte delles forão immobili-
mór parte delles se convertem em escassez ou sados ein virtudu das empresas que se têm co
augmento da moeda ; póde pois até certo ponto meçado no Brazil. Se assim é, o que eu não
fazer descer ou subir o juro. nego, tenho mais uina razão para pensar que a
O nobre deputado a quem me refiro entende eomma dos capitaes fluctuantes tem-se tornado
que os capitaes do Brazil diminuirão com a escassa porque sahio da circulação parte dos que
guerra do Ri i da Piota, com os emprestimos existião disponiveis ou emprestaveis. Mas esta
que fizemos para o pagamento da divida externa, proposição do honrado membro sustenta em lu
e não sei com que mais. Haverá ahi alguem gar de combater, as metidas propostas pela il-
que, tendo estudado os factos que se passão lustre conimissão de fazenda.
entre nós, diga que somos hoje menos ricos do O honrado membro, como alguns dos illustres ora
que er.mios ha 10 anno» a esta parle, ou mesmo dores que o precedêráo, duvidou de que existi>se
ha 5 annos ? As desp.zcs que fizemos no Rio du agora escassez do meio circulante na praça <lo
Prata desfalcárão com eflfeito os cipitaes ante Rio de Janeiro, por não poder explicar as causas
riormente existenles? Quaes forão os empresti que fizerão passar tão rapidamente a taxa do
mos que contrahimos para fazer face a essas jur i de 4, 4 X e 5 % a 10 %. O illustrado rela
despezas ? Não foi a renda ordinaria que nos tor da commissão de fazenda, fallando hontem
forneceu meios para ellas? E para obtermoi essa sobro esta materia, explicou sufficientemente as
renda aug nentámos os impostos, ou elevamos a causas que produzirão este resultado ; não me
tixa dos que existião ? Não : continuámos a cumpre portanto se. ião fazer muito ligeiramente
perceber dos contribuintes a mesma cota de seus algum is observações a semelhante respeito.
rendimentos ; o se esta cota se elevou é forçoso Segundo consta das tabellas annexas ao rela
concluir que tambem crescêrão os rendimentos torio que tive a honra de apresentar á camara
dos contribuintes, e por conseguinte a riqueza no principio desta sessão, vê-se que nos annos
do paiz. Se os capitaes do Brazil tivessem sof- de 1850— 18õl e 1851— 1852 a differença da nossa
frido diminuição poderiamos nós ter a satisfação importação sobre a exportação elevou-se a
de declarar ao mundo que fizemos todas as 3 1,000:000.1, sendo grande parte desta quantia re-
despezas da' guerra á custa d is rendas ordinarias? presentida por moeda metallica importada- quasi
O honrado membro poderá dizer-me : « se o toda na praça do Rio de Janeiro.
producto dos impostos tivesse sido gasto mais Daqui se vê que em curto espaço accumulou-se
productivamente do que nas despezas da guerra, nesta praça uma somma de capit ies monet irios
O paiz estiria mais rico. n Sein duvida alguma muito consideravel, que devia procurar natural
assim é ; mas estaria ainda mais rico se o go mente emprego lucrativo. O mais facil ; mais
verno não cobrasse impostos, se não fosse ne prornpto, oflerecião-lhe os bancos, que os rece-
cessario occorrer ás despezas do serviço publico. bião com um premio mais ou menos elevado.
Asseverar que os capitaes diminuirão em vir Estes estabelecimentos, ou porque não calculas
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 189
sem a extensão desta importação de moeda, ou gados não tinhão o 'nome de capital, porque não
por entenderem que não lhes era decoroso rejei erão destinados á reproducção...
tar o dinheiro que lhes levavão, ou finalmente por
que ia nisto o seu proprio interesse, virão em Um Sr. Deputado :— Derão vida, nunca creárão.
breve tempo seus cofres cheios de sommas iner O Sr. Ronrioues Torres : — Perióe-me o nobre
tes, de que estavão pagando premio ; tomárão deputado, não estou sustenta ido aqui uma dou
pois elles o arbitrio de facilitarem os descontos, trina, estou apenas expondo a opinião de um
conservando ou mesmo diminuindo o juro que até escriptor que o hoarado membro pelo Geará
então se pagava. hontem citou-nos muitas vezes...
Como acontece em todos os paizes, a baixa do Um Sr. Deputado: — Coquelin.
juro e a facilidade de obter-se dinheiro provocã i
necessariamente a creação de novas empresas, O Sr. Rodriouhs Torres:— Mas não ó para
de novas negociações. Os bancos creãrão assim que os bancos crêem capitaes que a illustre com-
muito maior numero de clientes do que tínhão missão de fazenda apresentou o projecto de que
tido até então. Ora, como todos sabem, a moeda se trata ; ella quiz apenas dar aos bancos a faci
não se consome no processo da producção de lidade de emprestar seu credito aos particulares
pois de desempenhar as funcções de intermedia que delle necessitão, porque o credito dos bancos,
ria na permuta das materias oti dos serviços dos substituindo o dos particulares, torna facil o mo
agmtes que concorrem para ella, volta ao mer vimento doa capitaes, e dá rapidez e actividade
cado e ás mãos dos capitalistas. K -tes a quem ás operações do commercio e da industria.
a experiencia havia mostrado não poderem obter Disse-se ainda: « Deixamos ao commercio e ao
seus capitaes juro *ã • vantajoso como poderião interesso particular o cuidado de solver as difti-
em outras praças, começãráo a expoftal-os pua culdades que apparecem, de curar os males que
as provincias e a privar putanto a praça do Rio suflre a praça.» Se um homem robusto e valido
de Janeiro de um instrumento que tinha servido ao atravossar uma estrada cahisse irreflectida
até então para dar expansão, e grande expansão, mente em uma cava que estivesse por acaso â
ás transacções da industria e do commercio. borda delia, eu entenderia razoavel a linguagem
Assim a somma do meio circulante que, por su daquelles que Rio dissessem : «recorrei ás vossas
perabundante, tinha provocado expansão de tr insac- proprias forças ; tende-as sufficientes ; ó uma
ções commerciaes , começou a diminuir e dimi lição para que andeis d'ora em diante com mais
nuir consideravelmente, mas depois que já tinha cautela » mas se quem cahisse na cava fosse
creado por assim dizer necessidade de maior apenas um menino que mal começasse a dar os
somma de meio circulante. Os bancos reeonhe- piimeiros passos, esta linguagem não só seria
cêrão, masja un tanto tirde, as consequencias pouco judiciosa, mas deshumana.
qne devião resultar de Semelhantes factos'; tra- O Brazil, senhores, acha- se nas circumstancias
tárão portanto de resguardar-se delias, começarão do menino quando se trata de materias indus-
pois a contrahir os seus descontos ; a difficul- triaes, de aperfeiçoamentos de melhoramentos
tal-os. mas contrahil-os e difficultal-os quando materiaes. (Apoiados.) Nós começamos a dar
já havião promovido operações commerciaes que apenas os primeiros passos, e começamos a mvlo,
necessit ivão da continuação de seu auxilio. a murto medo; não vamos concorrer para des-
O honrado membro que hontem fallou ein pri animal-o (apoiados), não vamos fazer com que esse
meiro lugar expóz á camara muito circumstun- espirito de associação, de industria, que apenas
eiadament'* os meios porque grande porção de começa entre nós, desappareça, desanime, morra
moeda salda do Rio de Janeiro : eu poderia ainda de uma vez. IApoiados.)
accrescentar outros factos tendentes ao mesino fim, Sejamos portanto mais previdentes ; não quei
mas parecem-me escusados. ramos applicar ao Brazil doutrinas que só se
Assim, pois. a deficiencia que existe hoje de podem applicar á França, á Inglaterra, aos Es-
meio circulante, nu por melhor dizer a defi tados-Uuidos (apoiados) ; não somos os Estados-
ciencia que se sente na praça do Rio de Janeiro Unidos nem a Inglaterra ; não temos os seus
de capitaes imprestaveis, é o resultado de causas recursos, a sua riqueza", a sua pratica, a sua
muito conhecidas, que em nada podem preju experiencia em os negocios de industria e ban-
dicar, quer o credito dos bancos, quer o das caes; não temos o genio audacioso, aventureiro-
casas que têm necessidade de descontar seus desses povos.
papeis de credito, e de maiores facilidades do Assim, se os poderes do estado alguma me
que hoje lhe podem dar os mesmos b incos. dida podem tomar sem prejudicar os interesses
- Alleg m-se : « O remedio que se quer dar é publicos para tirar a praça das difficuldades que
iuefflcae, porque os bancos não creáo capitaes, talvez a sua inexperiencia fez nascer, convém
e a praça tem necessidade dè capitaes. » Eu po que est i medida se tome.
deria responder ao honrado membro com u n Quaes são os inconvenientes que resultão da
escriptoi' inglez, que os bancos facilitão o mo medida proposta pela illustre commissão ? O hon
vimento doscipitaes, dão mai-T rapidez ás trans rado membro a quein eu me refiro apontou
acções, e que a rapidez das transacções e faci alguns que eu examinarei rapidamente, mas peço-
lidade do movimento de capitaes equivalem muitas lhe encarecidamente que contemple tambem o
vezes á creação de novos capitaes. Poderia dizer- reverso do quadro, veja se dahi não poderá
lhe ainda com um autor em que o honrado provir algum soffrimento que o corpo legislitivo
membro parece ter mu. ta fé, mas oin quem não póde, se não destruir inteiramente, ao menos mi
acredito muito, quj os bancus creão cipitaes.se norar.
se dá a esto ter no a nccopção que na sciencia Se 0s' poderes do estado nenhuma providencia
clle deve ter. O sentido desta palavra é vago, tomarem a respeito das difficuldades a que me
toma-se em diversos sentidos í mas se capital é, refiro, estou profundamente convencido que ellas
como define Rossi, uma porção da riqueza pro acabarão em um prazo mais ou menos curto,
duzida que é destinada á reproducçno, póde-se mas acabarão com soffrimento de muitos daquelles,
dizer que os bancos até certo ponto creáo ca- de grande parte daquelles que, levados da faci
pitals. lidade com que poderao obter dinheiro para em-
Supponhamos um banco" reunindo 10 ou 20 contos prehender obras uteis, vantajosas ao estado,
que existião inertes, para emprestal-0s n quem emprezas de que lhes poderão resultar grande
os vã empregar reproductivaincute, pó le se dizer utilidade, ver-se-hão todavia, se não arruinados
que esse banco cróa um caprtal de 10:000$ ou completamente, ao menos em difficuldades com
'J0:00O$, pois emquanto se achavão desempre que não calculárão qu«udo emprchendêrão essas
100 SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853
obras ou essas emprezas. Demais, reflictamos no Demais, so a illustre cnmmissão annuisse a
que acontecerá nas outras provincias do imperio. que os bancos pudessem emittir notas sobro caução
Os capitaes que forão daqui exportados quando de apolices, polia dar-se o caso de serem einit-
o juro era de 4 e 4 % °/° hão do necessaria tindos 4 ou 5,OJO:0OO$0O0 sobre esses titulos, e
mente refluir para o Rio de Janeiro peto mesmo quando fossem levadas as notas para serem tro
motivo porque forão exportados, o os apertos, cadas em moeda corre.ite, não tendo os bancos
os embaraços qne está soffrendo a praça do Rio moeda corrente serião obrigados a lançar no
de Janeiro hão de necessariamente reproduzir-se mercado uma grande mas-ia de apolices da divida ,
nas provincias. publica, o que concorreria para a depreciação
Convém desanimar por esse modo as emprezas desses titulos ; o que certamente não convém.
uteis e as operações commorcias que nessas pro Não seria eu nunca que désse aos bancos de
vincias tonhão sido principiadas ? Convém ex- circulação a faculdade de emittir notas sobre titu
pól-as a0s mesmas soffrimentos por que está los dessa or lem. Sei que ha bancos onde taes titu
passando a praça do Rio de Janeiro, que por los são admittidos, mas em substituição de uma
ser mais robusta, ter mais forças, pòde sup- firma, e nuo como unica e exclusiva garantia. Sei
portar melhor esses padecimentos? Estando nas que o bane i de França, e creio que o do Inglaterra,
mãos dos poderes do estado remedi ir esses in admittem para supprir unia das tres firmas das
convenientes, havemos de cruzar os braços e letras commeiciaes os titulos da divida publica;
dizer: «forão imprudentes e inexperientes, pa mas ainda restão duas firmas que estão obri
guem a sua imprudencia e' inexperiencia, mas gadas ao pagamento da letra no dia do seu ven
por esses tambem paguem todos aquelles a quem cimento.
o mal póde uflVctar?u Isso, senhor, s, não ó van A caução, disse-se, importa um duplo emprego.
tajoso nem justo. (Apoiados.) Náo pude coinprehender bem o se itido que o
Disse-se que o art. 2° do projecto da illustre honrado membro deu a ' estas palavras; pare-
com missão, que autorisa os bancos a omittir até ceu-me porém que queria inculcar que a caução
6 mil contos de réis em nota-, dá-lhes dema- representada pelos titulos de que trata o art. 2°
siado favor, e que só devemos protecção a taes é i 11 as. iria porque já servem elles de garantia
estabelecimentos, e nunca favores. a notas que já havião sido emittidas pelos ban
Senhores, so somente os interesses dos bancos cos. O honrado membro porém não attendeu que
mo preoceupassem, se eu não entendesso que as o projecto, ou ao menos a emenda que foi hon-
medidas propostas pela illustre commissão têin tem apresentada pela illmtro conunissão, não
por fim favorecer, não a esses estabelecimentos, permitti) que os bancos emittão mais de 6,00J:000$,
mas o commercio, a industria,a lavoura (apoiados), comprehendidas nesses 6,0JO:0O-J$000, as' notas
eu diria : «Não tomemos providencia alguma» ; que já estiverem em circulação. A caução por
porque estou convencido de que os bancos estão tanto que exige o projecto vai servir de garantia
muito solidos, e em circumstancias de satisfazer a todas as notas, tanto da primeira como da
o todas as suas obrigações posto que não possão segunda emissão.
actualmente offerecer as facilidades que em outras Demais, deve se notar que os dous bancos
occasiões encontravão aquelles que precisavão têm realisado um fundo cipital de 12 a 13,000:0000;
dos recursos do credito. e se a caução que se exige é da importancia da
E qual é o grande favor que se faz aos bancos ? emissão, e por conseguinte de 6.000:0003, ainda
Pelos seus estatutos têm elles o direito de lhes restão 0 mil e tantos contos que ficão su
emittir 4,900 e tantos contos ; o que se lhes jeitos ao pagamento das notas que emittirem e
dá pelo projecto ? A faculdade de emittir até tiverem oinittido, ou ao de outros titulos por
6,000:000$; isto é, mais -1,000:000$ do que actual- que elles se hajão responsabilisado. Não ha por-
mente. E em troco desse pequeno favor o que uin duplo emprego.
exigimos ? Uma caução do valor igual ou supe Accrescentun-se finalmonte, como o argumento
rior aos 6,00O:000$ ; a obrigação de conservarem mais valioso contra o projecto, que elle dá curso
um fundo disponivel nunca inferior ao terço da forçado ás notas do hanco, e que essa providen
emissão ; exigimos demais que estejão debaixo cia, além de inconstitucional, e offensiva do di
da flsealisação immediata e constante do governo. reito de propriedade. Para provar-se esta asserção,
. E entende-se que vamos fazer aos bancos grande citou-se a definição que Storch dá ao pupel-
favor ? Far-lhe hemos talvez menor do que já moeda. Segundo allegou o honrado membro, esse
tem ; porque os estatutos dos bancos actuass escriptor entendo por pipel-moeda todo o bilhete
não os obrigão a ter uma reserva determinada que o soberano manda adniittir nos pagamentos
(apoiados), não os obrigão a emittir notas so tanto aqui em lugar da moeda.
mente em desconto de letras commorciaes ; e o Parece-me que o Sr. deputado tomou muito ao
projecto o exige. Não são pois favores que va pé da letra as palavras de Storch ; se tivesse
mos fazer aos bancos, mis sim protecção a in lido mais atteotamente o titulo ou parte da
teresses de outra ordem. (Apoiados.) obra em que elle trata desta materia, reformaria
« Porque, perguntou-se, não sè permitte aos a definição que deu ; porquanto não basta que
bancos emittirem notas sobre dopositos de di os bilhetes sejão admittidos em pagamento por
nheiro ou apolices da divida publica 1 » Pareco- ordem do soberano para que devão ser conside
me que a illustre commissão considerou que, rados como papel-moeda ; para isto é indispen
quanto á emissão sobre depositos de dinheiro, savel que não estipulem um reembolso em prazo
seria uma inutilidade, porque ninguem iria levar determinado, ou estipulem um reembolso illu-
dinheiro aos bancos para receber em tròco notas sorio.
quando a procura é de dinheiro. So o simples facto de serem admittidos nos
Pelo que diz respeito ás apolices, entendo qire pagamentos désse o caracter de papel moeda a
a illustre commissão obrou muito judiciosa quaesquer representantes de valores, papel moeda
mente não permittindo que os bancos emittão serião os bilhetes dos bancos de Amsterdam,
notas sobre o deposito deltas. Convém que as creado em 1609, cujos estatutos determinavão que
letras dos bancos sejão realisaveis a prazos não se pagasse senão em bilhetes do banco todas
curtos, afim de que com o producto delias os as quantias de mais de seis mil florins. Papel-
bancos possão pagar as notas que forem levadas moeda serião os bilhetes do banco de Inglaterra,
ao troco. As apolices não são titulos que se porque o honrado membro sabe qua os bilhetes
venção em prazo curto ; não podem reatisar-se desse banco são considerados em toda a p irte
sempre promptamente, não têm um valor con legal-tender ou moeda de pagamento, excepto
stante, estão sujeitas a fluctuações de preços no nas caixas do proprio banco ; que quem tem
mercado. uma nota do banco póde fazer com ella paga
SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853 191
mento- a seu credor sem que este possa recusal-a ; apezar de achar-se em posição de saber todos os
entretanto ninguem até hoje disse que os bilhe factos relativos a este assumpto, ou de obter 0s
tes do banco de Inglaterra são papel-moeda No precisos esclarecimentos, 'teve oito dias para re
mesmo caso pois estarão os biJhetes dos dous solver ácerca das representações que lhe fizerão
bancos se passar o projecto apresentado pela os bancos, porquanto, segundo me parece, a pri
illustre commissão : seus bilhetes serão recebi meira representação que lhe endereçou o banco
dos nas estações publicas e nos pagamentos par do Brazil ó de data de 20 de Maio proximo pas
ticulares ; mas o portador delles fica com o sado, e só no dia 27 ou 28 tinha o Sr. ministro
direito de ir ao banco trocal-os por moeda ma- tomado a resolução que apresentou a esta casa.
tallica, á semelhança do que se pratica na Ingla Pelo que respeita á -•obre commissão de fazenda,
terra. Demai*, os bilhetes são caucionados, de a quem foi remettida a proposta do Sr. ministro,
modo que ainda admittida a possibilidade do consumio ella oito dias no estudo da materia,
fallimento dos bancos, o governo teria em seu apezir de estar ella em relação com o Sr. mi
poder quantia sufficiente para pagar ao portador nistro, e só depois desse prazo é que apresentou
dessas letras. Como, pois, se póde dar a uin o seu parecer.
papel desta ordem, com todas estas guantias, Pelo que acabo de dizer se vê que, tanto o
realizavel na caixa do banco e pagavel á vista, nobre ministro como a illustre commissão, tive-
o nome de papel-moeda ? E' alterar inteiramente rão tempo sufficiente para estudar a materia, e
a signicição das palavras. que isso mo não era possivel. Parece-me, Sr. pre
Perguntou-se por que razão se quer dar aos sidente, que a nobre commissão do fazenda en
bilhetes o curso forçado, isto é, por que razão so tendeu que devia aprosentar-nos, somente a sua
obriga os particulares a receberem taes bilhetes ? autoridade afim de que nós a seguissemos sem
E entende-se que é isto um grande favor conce o menor exime. (Apoiados e não apoiados.)
dido aos bancos. Não é uni favor concedido aos Eu deploro, Sr. presidente, a maneira porque
bancos, é uma segurança para o thesouro publico. nesta casa se discutem as materias mais graves
Se o governo receber as notas dos bancos nas e complicadas 1 as commissões a quem são re-
estações publicas, deve poder pagar tambem com mettidos os differentes negocios para os exami
ellas aos seus credores, ou será forçado a man- narem não tratão de dar sobre elles um parecer
dal-as trocar ás caixas desses estabelecimentos. preciso, esclarecido, desenvolvido em todas as
No segundo caso ficarão expostos os bancos a circumslancias. . .
não poderem realisar as suas notas, se forem O Sa. Pinto de Campos: — Isso é verdade.
apresentadas grandes sommas desses titulos, em-
quanto não estiverem vencidos os prasos das O Sr. FioutiRÀ de Mello :— ... dizem apenas
letras commerciaes que descontar. quaes os principios geraes em que se fundão, e
A camara sabe que os bancos de emissão contão, não nos esclarecem com a exposição de factos e
para garantir o pagamento de suas notas, não de raciocinios, proprios a resolver a questão, a
só com a reserva metallica que devem conser habilitarmos a fazer os nossos exames, e a fun
var em caixa, mas tambem com o producto das damentar os nossos votos. Essa pratica, Sr. pre
letras que elles descont i0, e que se vão vencendo sidente, por certo não é seguida nos paizes consti-
diiriamente; mas os bancos actuaes, a serem tucionaes, e eu estou p írsua lido que se esse estado
approvadas as disposições do projecto quo dis do cousas fosse mudado deixarião muit is vezes
cutimos, não poderão contar com semelhantes de apparecer tantas opposições aos pareceres das
recursos durante os tres primeiros mezes de sua commissões, as discussous serião mais esclareci
cxistenciu. Serão obrigados a soccorrer a praça das e profundas, e os negocios se decidirião
no aperto em que se acha, e as letras que elles com mais brevidade e com mais vantagem para
houverem de descontar a prazo de 90 dias só a nação.
lhes poderão ser pagas no fim desse tempo. So Sr. presidente, é ainda para notar-se que ten
antes disso o thesouro fór obrigado a exigir o do- se apresentad o á casa uma proposta do go
reembolso de grande somma de notas que absorva verno da importancia desta que nos oceupa, fosse
toda ou grande parte da reserva, será aos bancos ella remettida sómente ã commissão de fazenda,
impossivel satisfazer essa exigencia. quando parecia muito acertado que o fosse igual
Entendo pois, Sr. presidente, que a camara mente ás commissões de orçamento, ou ao menos
fará um grande serviço não só á praça do Rio a uma delias...
de Janeiro, como ás das differentes provincias, Um Sr. Deputado :— Isso não é negocio de dar
e especialmente á lavoura do nosso paiz, se dinheiro.
approvar as providencias propostas pela illustro O Sr. Fioueira dh Mello: — A commissão de
commissáo de fazenda. (Muitos apoiados. Muito fazenda, Sr. presidente, toma sómente conheci
bem .' Muito beml) mento, dos negocios em que interessa a legisla
O Sr. r-"ifívi»li"a. d© Aiello : — Sr. presi- ção fiscal, entretanto que a commissão de orça
. dente, sendo o projecto que actualmente se dis mento trata de dar ao governo os meios de
cute um dos mais importantes que têm appare- administrar o paiz.
cido nesta casa, e querendo dar sobro elle um Uma Voz : — Não é despcza.
"voto consciencioso, de que me não pudesse arre
pender, eu procurei estudal-o tanto quanto me O Sr. Fioueira de Mello:— Ora, parece-me
permittia a curteza da minha capacidade e a es indubitavel quo se se tivesse dado a circumstan-
tiei t' za do tempo. E digo estreiteza do tempo,- cia de ser este negocio remettido a essas com
pori|ue tendo sido apenas lido na casa o parecer missões, deveria resultar, attento a reconhecida
da nobre commissão de fazenda a cujo oxame intelligencia e zelo dos membros de que se com
fòra submettida a proposta do governo pedindo poem, um parecer mais esclarecido, mais completo
a approvaçáo dos meios por elle adoptados para ao que o presente. Com isto não quero dar a
auxiUar a praça do commírcio, V. Ex. deu logo entender que não sejão muito esclarecidos os dous
para ordem do dia o projecto ou emendis apre- membros que o assignárão, mas me parece que
sentidas pela commissáo de fazenda; e achau- se o nobre deputado pela provincia do Maranhão
do-me eu ocenpado C"in outros obj.jctos, não me que hontem fez um extenso discurso sobre a
foi possivel dar a este aquella attenção séria e maioria tivesse consignado no parecer os factos,
meditada que elle merecia, e que eu desejava os raciocinios, as conclusões que apresentou
com effuito dar-lhe; e tanto mais deploro a falta hontem, nos teria feito um bom serviço, e talvez
de tempo que tive para estudar essa materia, mnsmo que eu não estivesse agora oceupando a
quando observo que o Sr. ministro da fazenda, attençào da casa. Embora ou tivesse procurado
192 SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853
prestar toda a attenção ás proposições emittidas tantos contos. Logo, devemos suppór que existe
pelo nobre deputado, comtudo não pude coh- na circulação 14 mil contos de moedas de ouro
vencer-me da necessidade do approvar as medi e prata novamente cunhadas. Além disto, calcu-
das apresentadas pr-la nobre commissão de fazenda, lão pessoas entendidas qn.i temos na praça 5 mil
e impossivel era conseguil-o, não se me havendo contos de mojjda esírangeira ; 350 contos de bi
dado tempo pura estudar os factos, e formar o lhetes do thesouro, t mil contos da emissão dos
meu procedimento na votação. bancos; o temos finalmente essas emissões indi-
Sr. presidente, a questão que nos occupa ó viduies dos capit distas, que sem duvida têm
sem duvida muito importante, como jã disse; augmentado muito.
trata-se de saber se nós devemos ou não appro Ora eu pergunto se a quarta parte de nosso
var a medida dictatorial que tomou o governo numerario, isto é, se os 12,000:000$ do moeda-
de emittir quatro mil contos de réis em bilhetes pipel, o os 5,000:000$ de moeda metallica, que
denominados do' tliesouro para os emprestar a servião em principios de 1849 erão bastantes
bancos particulares ou não privilegiados, quando em principios de 1849 para fazer todo o ser
as nossas leis apenas permittem aos ministros viço das transacções da praça, satisfazião cont
da fazenda emittir taes bilhetes somente para P idamente as necessidades do commercio, como
remir as precisões do tlusouro como uma ante e que estando o nosso meio circulante agora
cipação de remias, e nunca em favor de bancos muito augmentado com 2',000:00j$, dos quaes
particulares, porque então a dar-se isso tambem a inaicr parte fica nesta praça , já elle não
poderia o Sr. ministro emittir bilhetes para soc- bast i para o serviço da praça ? Creio que basta ;
correr aos grandes capitalistas que se vissem em e pa a o provar será sufficiente comparar o
apuros. Sr. presidente, trata-se ainda de sabor quantum da nossa importação o exportação no
se nós devemos adoptar a medida proposta pela anno ue 1849 em relação ao meio circula. ite
commissão, qual a de emittirem esses bancos desse tempo, com o quantum da nossa impor
na praça 6,000:000$ em bilhetes alterando-se, ou tação o expoi tação em relação á moeda que
antes diminuindo-se a garantia que esses bancos supponho existir na praça.
prestão ás buis emissões, porque, segundo os Eni 1849 o quantum da nossa importação e
seus estatutos, ellés apenas podem emittir um exportação era de 10;).000:000$, o se para isso
terço do seu capital, e os dous terços devem servir bastavão sómente os (iO a 67,0i|0:000$ do meio
de garmtia ás sms emissões. circulante que tinhamos em p ipel, em prata e
Ora, Sr. presidente, para sabermos se devemos ouro. . . .
ou não adoptar estas medidas, quantas questões
não se suscitão que antes delias devem ser dis O Sr. Silveira da Motta : — Não era 'pos
cutidas e resolvidas? Nós vemos que o Sr. mi sivel.
nistro da fazendi e a illustre commissão dão O Sr. Bandeira de Mello : — Como não era
como base da crise ou das difficuldades com que possivel I Não se fazi i então o serviço ?
a praça luta a deficiencia do numerario.
O Sr. Fioueira de Mello : — ... muito mais
O Sr. Ministno da Fazenda:— Dos capitaes dis deve ser sufficiente o meio circulante que exista
poniveis. hoje de 100.000:000$ em relação ao computo
O Sr. Fioueira de Mello:— A commissão em actual da importação e da exportação reunida que
seu parecer diz—de meio circulante.— Para sanar é avaliada em 140,000:0003 pouco mais ou menos.
estas difficuldades o Sr. ministro da fazenda em- Sr. presidente, além destas razões que me
piegou certos meios, e a commissão os addicio- fizein suppór que não temos falta d» meio
nou. Temos por conseguinte de examinar tres circulante ' julgo que ha uma outra indestructi-
questões : a 1*, é se existe ou não falta de nume vel qual a que resulta do preço dos generos
rario ou meio circulinte; a 2*, é se existo ou no mercado. Se nós tivessemos falta de nu
não crise ou difficuldades no commercio que de merario na circulação, os nossos generos te-
mandem providencias especiaes da parte do go rião, infallivelmenta diminuido de preço, quero
verno do paiz ; a 8», é se os meios adoptados dizer que tornando-se a moeda mais escassa,
pela commissão e pelo Sr. ministro da fazenda ella augmentava de valor nominal, e por con
são ou não proficnes seguinte comprava-se uma maior quantidade de
Tratarei de examinar estas questões tanto quanto generos. Os generos conseguintemente teii io di
mo permitte, como já disse, a minha curta in- minuido de valor, porque por elles se daria
telligencia ; vou á primeira questão, que diz res- menor quantidade de moeda.
fieito á falta de numerario ou de meio circu- Ora, os nossos productos de exportação, e
ante, isto é, a causa da molestia que se diz' principalmente o nosso c i fé, que servo de ther-
existir nesta praça. moinetro á praça, não tem diminuido de preço,
Sr. presidente, o meio circulante de uma nação o portanto é consequencia de que não ha falta
não se compõe somente da sua moeda metallica, de meio circulante. Esta razão, quanto a mim,
ou da sua moeda-papel: compõe-se tambem das é indestructivel ; é aquella em que se basêão
emissões feitas pelos bancos particulares, da moeda todos os economistas para conhecer se o nume
estrangeira que por ventura exista no paiz ; e rario de um paiz tem ou não augmentado.
finalmente das letras da torra, das notas pro Accrescen tarei ainda uma outra razão deduzida
missorias, dos vales e dos ficas, que girão no das opiniões da praça do commercio do Rio de
paiz sob a garantia dos que os subscrevem. Janeiro. Tendo o negociante Urpia representado
Ora, segundo os dados apresentados pelo Sr. á praça a necessidade de pedir ao governo im
ministro da fazenda em seus relatorios deste anno perial o auxilio dos meios necessarios para tiral-a
e dos anteriores, o nosso meio circulante em papel das difficuldades em que ella se achava na sua
importa em 46 a 47,000:000$, e a nossa moeda opinião, e h ivendo-se nomeado para isso uma
metallica em 20,000:000$ pouco mais ou m^nos ; commissão, dous dos seus membros declararão
conforme as opiniões esclarecidas, a quarta parte positivamente que entendião a medida desne
desta moeda é que serve pira a circulação da cessaria, e o Jornal do Commercio, que sem
praça e municipio do Rio de Janeiro. Esse meio duvida ostá muto bem inteirado dos aconteci
circulante, porém, tem sido muito augmentado mentos da praça, disse posteriormente que a
depois de 1849 para oa : segundo o relatorio do opinião dos primeiros capitalistas era que não
Sr. ministro da fazenda, desde o 1° de Janeiro existe falta de numerario na circulação.
de 1849 ao ultimo de Dezembro de 1852 tem-se O Sr. Lisboa Serra : — A medida ê contra os
cunhado 12,712:000$, e me parece que de Janeiro grandes capitalistas ; por isso ellos emittem essa
para cá não se tem cunhado menos de mil e opinião.
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 193
O Sr. Fioueira de Mello: — Se esta medida Tratando agori das empresas que acima indi
é contra os grandes capitalistas, e a favor dos quei, parece-ine que a do giz, dirigida pelo
pequenos, scgue-se que p..r ella não se cncilião tir. trenêo Evangel.sta de Souza, tem sido coad
todos os interesses (apoiados), e portanto que juvada por consignações do thesouro ; creio que
nno deve ser approvada sem o maior exame. á proporção que a emprega chega a tal e tal
E aqui, Sr. presidente, sej i-me licito dizer que estado o thesouro subministra ao empresario
temos corrido muito depressa nesta discussão : certa quantia em virtude de seu contracto...
o unico papel que se distribuio na casa pura Um Sr. Deputado : — Por ora o empresario
servir de base aos nossos estudos e meditações não recobeu nada.
sobre o assumpto importante de que se trata
foi o parecer da nobre eommissão de fazendajentre- O Sr. Fioueira de Mello: — Pois bem, existe
tanto que se devia distribuir t nibem a proposta esta empresa que se opéra com capitaes desta
do Sr. ministro da fazenda, e os documentos a praça. A empresa do navegação do Amazonas
que ella se referio. por vapor, que pertence a unia companhia cuja'
O. Sa. Lisboa Serra:—Todos estes papeis estão directoria e,stá nesta còrte, é a segunda que tem
sobre a mesa. sido feita com capitaes desta còrte, embora o
não seja exclusivamente, porque o governo lhe
O Sr. Fioueira de Meli.o : — Estão sobre a dã uma subvenção A empresa da navegação a
mesa, sim, mas isto não ó bastante para que vapor na Bahia, que é dirigida pelo Sr. Pe
pudosseiu ser computados e estudados por todos droso, gasta capities que estão na Bihiá; e a
nós ; ellesN devião ser impressos e distribuidos empresa do mineração do Rio Claro, em Goyaz,
na casa. gista capitaes da lnglilerra. EinHiu, senhores,
O Sr. Lisboa Serra : — Forão impressos no eu não vejo no ' paiz essas grandes empresas
Jornal do Commercio. industriaes, que tenháo demandado grande somma
de capitaes, e hajáo consequentemente desfalcado
O Sr. Fhueira du Mello: — Essa impressão a praça do Rio de Janeiro daquelles que lhe
no Jornal pouco ou nada adianta, porque ou erao necessarios para o curso ordinario do seu
esses jornaes se extravinn, ou de ordinario nós mercado,
os enviamos para as provincias. E' fundado pois O nobre deput ido relator da eommissão de
em taes razões, que eu quizera que fossem im fazenda, querendo explicir as causas que têm
pressos todos esses documentos, e por nós dis concorrido para a diminuição do numera io ou
tribuidos, afim .de que os pudessemos confron meio circulaníe da praça do Rio de Janeiro,
tar com o parecer da illustre eommissão, que, disse-hos que depois que cessou o tranco de
como já deplorei, não é bastantemente desenvol africanos muitos proprietarios, não tendo de fazer
vido. mais avultadas despezas com a compra de es
Sr. presidente, póde-se dizer, e tem-so com cravos, tiverão um saldo, e se virão habilitados a
effeito dito que no municipio do Rio do Janeiro guardar ou enthesourar esse saldo, ou excedente
ha sahido grande quantidade de numerario para de sua receita, acerescentando até que para esse
fóra delle; mas eu observarei que este nume desejo muito concorria o circular hoje no mer
rario ou meio circulante salie para fóra do im cado a moeda de ouro, e ser esta muito bem
perio ou para as provinciis. Para fóra do imperio feita. . .
não póde ser, porque estou informado que ne O Sr. Lisboa Serra dá um aparte que não
nhuma moeda metailica tem tido este destino; ouvimos.
o cambio assim o demonstra ; e os mappas da
importação da alfandega provão que, longe de O Sr. Fioueira de Mello : — Estou referindo
se ter dado a exportação da nossa moeda de pouco mais ou menos o que disse o nobre de
ouro e prata, ao contrario tem vindo muito me putado; e sem querer dar consideração á cir-
tal para o paiz depois das leis de 11 de Setembro cumstancia de ser ou não a nossa moeda bonita
de 1846 e 20 de Setembro de 1847. e bem feita, vou ao argumento real do nobre
A' vista destes factos, segue-se que a sahida deputado, e mostrarei que elle não tem funda
do meio circulante só podia ter tido lugar para mento algum.
as provincias do imperio ; mas eu desejava saber Sr. presidente, logo que cessou o commercio
sobre que bises se funda uma semelhante as de africanos, as nossos proprietarios estavão de
serção. Primeiramente eu observarei qne ten- vendo grandes som mas á praça do Rio de Ja.
do-se creado nas provincia», pelo menos nas neiro ; por consequencia as economias qua elles
principaes, alguns bancos, esses bancos têm cha poderião fazer, em virtude da suspensão desse
mado a si os capitaes que existião dormentes ou commercio, apenas poderião hab.lit 1-os a pagar
sem circulação; sutisfizerão as differentPS necessi o qne devião; mas ainda supp nulo que elles
dades ilo respectivo mercido; e se empresas ahi flzeroo "essas economias, lu não posso do nenhum
se tentãrão, tambem paia ellas concorrerão sem modo conceder que elles tivessem enlhesourado
difficuldade ou embaraços. Por outro lado p t- esse dinheiro, e o guardassem em seus cofres,
gnntarei: quaes são as grandes empresas que se expondo-se aos riscos inherentes á sua conduc-
têm feito no paiz? Vejo muitas rmprebendi .as ção e guarda, e deixa ido de tirar delle um ra
e projectadas, e faço votos para que se reali- zeavel premio se o recolhessem ios bancos desta
sem; mas no rol daquellas que já se acliã i prin praça. Demais, ainda quan lo elles não tivessem
cipiadis apenas vejo a empresa da estrada de tomado a medida de levur seus dinh. iios aos
ferro de Maná, as empresas de navegação a va bancos, é por ventura provavel que esse dinheiro
por no rio Amazonas e nas costas da Bahia, a deixe agora de apparecer, um t vez que se dá a
empresa de mini ração em Minas Geraes, e a alta da laxa Jo juro? li' provavel que quem ti
empresa de gaz nesta corte. nha desejos da economisar e de enthesourar,
(Ha diversos aparte*.) tambem nao tinha o de querer tirar de seus
enpitaes um lucro razoavel e seguro, lucro que
Falla-se muito do especulações commerciaes em nao ó effeito de usar i, mas das circumstancias
grande escala tentadas nó paiz; . u desejava ?er especiaes da praça?
muito escl irecido a esie respeito, porque, se ob alas, ainda concedendo que tenha sahido daqqi
servo os factos, não descubro mais do que as uma porçao consideravel de capitaes, ainda assim
serções vagas. Em todo o tempo se fizerão essas isto não seria bastante para pòr a praça em
especulações commerciaes, e nunca apparecêrãu difficuldades, em apuros; o que resultaria de um
difficuldades na praça como agora se diz que ha tal estado de o usas era que íodas as operações
por causa delias. commerciaes tomariSo muito maior rapidez, e
tomo 3.
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853
portanto que uma letra do cambio poderia pas cio o arranjar os seus negocios como entender,
sar a diffoivntes possuidores até cln gar a época o subir do suas diffiouldadea paios seus proprios
do sou vencimento. Oim, essa. rapidez dns ope recursos. O commercio qne ar oou estas difflcul-
rações commerciaes fucilitaria a circulação da da ies, trate de as desarmai . A minha doutrina
praça, e suppri.ia, por assim dizer, a falta do nesU parte é a do laissez faire, laissez passei',
numerario. O qne ê que hos mostra a Inglaterra, com que os negociantes francozes respondêrão
por exemplo? begundo João Baptista S iy, a In a Colbert, se estou bem lembrado.
glaterra lein muito menos numerario do que a Nem se diga que virá grando mal de seme
França, do que a Italia mesmo, e entretanto lhante inação governativa, porque estou persua
com elle faz aquella nação todas as operações dido que. a alta do juro ha de trazer a praça
do seu extenso o vastissimo commercio sem a os cipitaes que delia subirão, ou de que ella
menor difficuldade. . . ainda necessiti, o isto de uni modo infallivel,
Um Sn. Deputado dá um aparte que não ou e dentro do muito pouco tempo. Os capitaes
vimos. procurão sempre os lugares em que podem ter
um lucro e logo que este apparece, aquelles
O Sn. Fioueira de Mello:—Mas, Sr. presi em outras partés encontrão menores vantagens
dente, concedamos que satura do Riu de Janeiro aquelles que so acháo iòrtt da circulação, nos
algum numerario para as provincias, o que a cofres publicos, em empregos não lucrativos, se
sua importancia chega a 12,0 K):0.i0,V pouco mais mo vem para obter maior lucro.. Nem sempre,
ou menos; qual seria o resultado de semelhante como diz um escriptor, ^da a massa de ca
facto ? O elevar-se a taxa da juro, e nu. .cu o pitaes de uma nação está em circulação; muita
coneluir-se que falia o dinheiro para as op -ra parte está nos cofres publicos, ou em outros
ções ordinarias da praça ; e por isso pnrece-me empregos/ Portmto parece-mo que, visto haver
que toda a causa do oiro nesta m teria provém nesta praça uma grande taxa de juros, para
no se haver confundido a elevação da taxa do cila ha de correr todos esses capitaes que dei-
jaro com a deficiencia do i.uuierario. Ora, essa xão de circular, ou que em outras partes não
.elevação do juro ó resultado natural do coin- dão lucro igual _ao que podem aqui obter. Nada
niercio, mas ó um resultado passageiro, o como temos pois que resolver.
tal não devo assustar-nos ; os caprtalistas, co Póde-so objectar- me que um governo illustrado
nhecendo que tinha deaapparecido da praça deve proteger os interesses sociaes; o Sr. mi
certa porção do numerario, ass. ntãrão que os nistro da fazenda, no discurso que acaba de
seus capitaes podião ter muito mais lucro, e proferir, tratou com efleito de desenvolver e
então elevárão a taxa do juro. justifica- esto pensamento. Mas Sr. presidente,
Cumpre, porém, notar que os capitalista* não entendo que quando uma molestia se pode curar
téin retirado da circulação os seu capitaes, somente pela força mudicidora da natureza, inu
ant'.s os lêm apresentado ; elles têm descon til, e mesmo p rigosa ó qne um medico em
tado letras, lêm ri torinado ouíras; o o que pregue remedios que podem, aggravar o mal, e
opparece ó simplesmente a elevação da taxa do eu peço licença a V. Ex., Sr. O indido Borges,
juro, acentecimento muito natural em todas as p"ara lhe perguntar, se esto principio é ou não
praças do -commercio, o que o commercio certo.
tambem faz c ssai' em pouco tempo. O Sr. Candido Boroes : —Não.
Vamos agora examinar a segunda questão,
isto é, quai é o estado da praça do Ri i do O Sr. Fioueira de Mello : —Julgo que a me
Janeiro, afim de que, a vista delle, possamos dicina expecta .to o ntil todas as vezes que as
saber o cumpre fazer em seu beneficio. molestias se podem curar pela força niedicadora
Existe com efleito uma criso nesta praça ? da natureza.
Não, uma criso s> manifesta sempre por meio Sinhoros, sigamos o exemplo que nos deu
do suspensão das transacções counnerci.ios, pela uma grande nação, onde os interesses commer
falta do cumprimento das obrigações contra- ciaes são muito attendidos, o ondo vamos pro
ctadis pelos negocios, por meio de quebras mais curar sempre regras para nossa direcção : fallo
ou menos estrondosas que por assim dizer ar- da Inglaterra. Quando em lS'2G houv.) uma ver
rastião no seu movimento todos os interesses dadeira criso na Inglaterra, por causi dos em
commerciaes de uma praça. Ora, têm -se dado prestimos feitos ás novas republicis da America
emrj nós semelhantes lactos T Ue modo nenhum. e a outros estados, p r causa das especulações
Quaes suo as causas que precedem uma crise? sobre a mineração e-trangúra, por causa e ufim
Suo ás perturbações de estado, os excessos do de muitas o arriscadas especulações commerciaes
commercio, as especulações arriscadas, as va e industriaes qucbrárão não menos do mil o
riações repentinas no preço das mercadorias ; tantos negociantes de Londres e de outros luga
por ventura temos tido estes acontecimentos pre res, e entretanto o governo inglez não soccorreu
cursores do uma crise ? Sein duvida que não. a esses negociantes, deix.m-os entregues a seus
Tanto é certo que não existe uma crise que o proprios recursos, disse-lhes que aprendessem á
Sr." ministro da fazenda em sua proposta es sua custa, e passado pouco tempo já o commer
creveu as seguintes palavras : « as indagações cio inglez tinha tomado o seu curso normal,
a que procedi conflrmáo a existencia de emba sahido das diffieuldades em que se tinha envol •
raços no mercado monetario cujas causas vido, restabelecendo-so dos grandes prejuizos que
principaes, apontadas no primeiro dos referidos havia s .ffrido.
documentos, longo de apresentar caracter assus O Sr. ministro disse-nos qne seria uma cruel
tadoi, não são senão concludente testemunho da dade não dar a mão a um menino quan io ella
maior actividade e desenvolvimento do nosso cabe para fazel o levantar, querendo com esta
commercio. » Logo, pel i propria confissão do semelhança demonstrar que, sen lo o nosso paiz
Sr. ministro, nós não temos crise, o que temos novo, o nosso commercio n isceute, devia por
são simpusuient j enbar iços no mercado mono isso o gov ruo apresentar-se a soccoriêl-o todas
tario. as vezes que o visse em diffioul lad. s. Mas essa
Miis, Sr, presidente, se não tomos crise, de s melliança d stróe-se com uma outra seme
vemos tomar medidas, como pretendem alguns lha iça Se acaso sempre carregarmos ao collo
se..hi.res, para tnar o commercio desses emba uni meuino, ellc nunca poderá an lar ; o se
raços a que lludio o Sr. mini iro da lazenda? a. aso pagarmos todas as despezas que faz uni
Eu entendo qu . nao. Priiueir .mente eu sigo a filho prodigo, esto nunca se corrigirá, o causará
opinião duquelles escriptorcS que, ein materias por hm a perda da fortuna paterna. Por con
de commercio, querem que se deixe ao commer sequencia, senhores, deixemos que os negocio;;
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 195
commercises corrão o curso que a natureza tem marchar simultaneamente para conseguir-se este
estabelecido ; os negociantes aprendáo á sua resultado .
custa, e recebão agora uma lição do que devem Sr. presidente, nesta occasião não posso deixar
ser prudentes o regulares em suas operações, de notar que o Sr. ministro, estando as camaras
evitar especulações arrisca las, não nutrir espe reunidas, tivesse empregado para soccorrer a
ranças infundadas na suposição de serem soccor- praça esse meio qne ha pjuco chamei diclato-
ridos pelo governo em seus máos lances. rial o illegal. Pirece-me que na presença do corpo
Sr. presidente, tambem parece que nos devo legislativo não devia por si to nar a resolução
servir de exemplo o que no nosso proprio paiz que fez o object i de sua proposta, mas apresen-
aconteceu em 1S51 e 1852. O que vimos então? tar-se iminedi itamente nesta casa, e pedir que
Uma verdadeira crise, e til vez uma crise maior ella appnvasse o melo que elle julgava mais
do que aquella que ora presenciamos. O juro, conveniente, ou qualquer outra medida que alli-
que nos paizes novos nunca é menor de ti %, viassa a praça das difficuldades em que estava.
porque nesses paizes a fertilidade dos terrenos (Ha um aparte.)
e a facilidade das empresas convidão os capi
taes : esse juro, que no nosso paiz nunca devia O Sr. ministro póde achar desculpa na sua con
ser menor dessa taxa, se é que não devia ele- vicção, de que o negocio era urgente, e se devia
var-se, desceu a 3 %. quanto antes fazer desapparecor assustadores o
Ora. so acaso a alta do juro dá lugar a uma extraordinarios embaraços; mas neste caso mo
crise, tainhom a baixa do juro produz o mesmo parece que o Sr. ministro devia ter tainhom
r- sultado. Naquelle tempo soffróráo os capitalis certeza de que esse meio seria adoptado pela praça,
ta" ou d inos do dinheiro, e ganharão aquelhs o produziria o desejado effeito, o isso não lhe era
que de dinheiro precisavão ; hoje lucrão os ca muito difficil saber se so tivesse entendido com
pitalistas e perdem os que precisão de dinhei os bancos. Os factos porém demonstrão que nada
ro. Agora, perguntarei eu, tintámos alguma disto houve, o somente uma violação de lei .
providencia para evitir em lyõl a crise que Passemos, agora, Sr. presidente, a examinar o
presenciámos ? Não, e [entretanto o commercio meio apresentado pela illustre commissáo de fa
tornou ás suas proporções normaes ; e se o não zenda, quai o de perinittir aos bancos a eleva
fizemos então, porque o faremos ag ira ? ção de sua emi-são de 4 mil e tantos contos a
Senhores, o que actualmente .vemos me pare 6 mil contos. Se. ido as suas letras recebidas nas
ce" ser um effeito da Providencia Divina, que estações publicas, c nos paga nentos entre os par
sempre justa quiz restabelecer o equilibrio que ticulares no municipio do Bio do Janeiro. Este meio
se havia destrranjado em 1851. Quem ganh iu , dert) ser inteiramente reprovado, na minha opi
hontem perde hoje, o quem perde bojo ganhou nião, porque sem entrarem grande desenvolvimento
hontem ; portanto ha compensação. da materia, não é elle mais do que tuna maneira
Vamos agora tratar da terceira questão, isto encapotada do emittir^papel-moeda. Slorck no seu
é, se são ou não proficues ou convenientes os tratado. de economia politica diz-nos que quando
meios adoptados pelo Sr. ministro da fazenda, ou o parlamento inglez approvou a suspensão de
apresentados pela illustre comrnissão da cisa p ira pagamentos que havia adoptado o banco d i Lon
soccorrer d praça. dres, e declarou que os seus bilhetes fossem re
O meio apresentado pelo Sr. ministro é de em- cebidos nas estações publicas e nas transacções
prestar-se aos dous bancos desta , corte em bi particulares, tinha dado .a essos bilhetes todos os
lhetes do thesouro, sob caução de apolices da caracteres do papel-moeda.
divida publica, a quantia que fór indispensavel Esla é a minha opinião; eu não querp entrar
para supprir a deficiencia de dinheiro que a praça em grande desenvolvimento para justifical-a, por-
do Rio de Janeiro estft soffrendo actualmente, qne acho-me incommodado, e tenho necessidade
comtanto que a somma emprestada não se eleve do concluir o meu discurso ; o apenas dir i, corno
além de 4,000:000$, podendo taes bilhetes serem jã notou hontem um orador que fallou contra o
recebidos com o devi.lo desconto nas estações projecto, que esta medida se acha em contr idic-
publicas da corte. ção com a opinião emittida no senado pelo Sr.
Sr. presidente, me parece que esto . meio estã ministro, e inseria no jornal que publica os tra
reprovado, não só pela praça como pela comnn — balhos daquella casa.
são de fazenda, e pelo Sr. ministro ; peli. praça, Sr. presidente, eu entendo que é papel-moeda
porque os bancos que representarão ao Sr. mi todo aquelle a que o governo dá o curso forçado,
nistro as necessidades, da praça não quizerão ordenando que sejão recebidos pelnS particula
sorvir-so da totalidade do favor que se lhes fazia, res, ou pelas estaçõos publicas, sem haver a
o apenas o banco do Brazil tomou 10):000S ; pela certeza de que serão pagos todas as vezes que
illustre comrnissão de fazenda, e pelo Sr. ministro, forem apresentados. Pergunto, podei ão por ven
porque aquella apresentou outro meio, e o Sr. mi tura os bancos commercial e do Brazil pagar
nistro com ella concordou, reprovando o seu pro todos os bilhetes que emittirem até a importan
prio facto. Se pois esse meio está reprovado cia do 0,000:000$, se acaso todos esses bilhetes
como insufficiente, julgo que a illustre commissão lhes forem apresentados conjunctamente ? Do modo
de fazenda devia ter a coragem de dizer : « Não nenhum. Por consequencia, dando-se a circumstan-
serve. » cia de não poderem agora os bancos fazer esso
O Sa. Lisboa Serra • — Não disse o motivo ? pigamento claro fica que as notas ou bilhetes por
elles emittidos na circulação |ierderão o caracter
O Sr. Fiouiira de Mello : — O motivo foi por de confiança que lhe dava valor, tomarão um ca
que era insufficiente ; mas neste caso devia com- racter obrigatorio, qual o de sero n recebidos nas re
P letal-o ; em vez de dar um emprestimo do partições publicas e transacções pirticulares, e
4 ,000:000$, devia concedêl-o de 12,000:0O0$, em sao assim um verdadeiro papel-moeda.
Tez de conceder que fossem esses bilhetes rece Mas, Sr. presidente, concedamos ijue ha defi
bidos somente nas estações publicas, devia orde ciencia de numerario na praça ; me parece que
nar que o fossem nas transacções particulares ; a medida adoptada pelo nobre ministro da fazenda
mas outro foi o procedimento da commissão. Ella e pela nobre comrnissão não é a mais conve
entendeu que mío devia reprovar o meio ado niente, porque essa medida tendo a introduzir na
ptado pelo Sr. ministro, mas somente coadju- circulação duas qualidades ie moeda, as cedulas
val-o com outro. Neste caso parecia-me de ne do governo e as notas do banco, com curso for
cessidade que ella declarasse porque razão çado. Ora; como ffs ce.lulas ou notas do banco
ella não admittia somente o meio por ellt lem tê m mais alguma garantia, porque parte delias são
brado, o devião 0s dous meios de alliviar a praça trocadas por moeda metallica , sogue-so que essa
190 SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853
moe la ha de ser preferida nas transacçõ 's, e por discussão com a maior timidez que se póde ter;
conseguinte ha do ter um agiu sobre as notas porque mat rias da natureza desta pertencem a
ou cudulas do governo. .uma sciencia que tem uma linguagem teclmica, e
Sr. presidente, disse-se ainda que osta medida como que seus signaes algebricos, e taes mate
cra necessaria para fazei' cessar as difficuldades rias não podem ser objecto de improvisos, nem
com que lut i a praça do Rio de Ja ieiro ; mas proprias da tribuna, o sim do gaoinete.
se a praca tem falta ile numerario, e a medida A discussão, Sr. presidente, tem tomado um
que se discute, ainda quando seja adoptada pelo amplo circulo, unte tudo, tem-se tratado da crise
senalo, somente em meados de Julho póde ser e do seu verdadeiro caracter, e tem-se jjosto em
posta ein pntica, para que lançarmos mão de duvida sua existencia, tem-se procurado indagar
um meio extraordinario o perigoso, se sem elle sua origem ocmsis, e finalmente tom-se exami
a praça terá o numerario de que necessita de nado se os meios propostos pela nobre commis-
vendo pagarse no proximo mez de Julho os juros são, e adoptados pelo governo, são aptos, con
das apolices da divida publica na avultaoa im venientes e idoneos para remover os males que
portancia de não menos de 2,20o\000â. Não será principiuo a pesar sobre a praça do Rio de Ja
essa porção de dinheiro suQiciente para destruir neiro.
no mercado as difficuldades que se dizem existir Eu acompanJiarei os nobres deputados no
presentemente? Creio que sim.- exame destes pontos. Não dissimularei a difi
Me parece, Sr. presidente, que nós devemos culdade que tonos de bem aquilatarmos a ori
ser cautelosos em adoptar semelhante medida. gem desses males. Ignoramos absolutamente qual
Em primeiro lugar eu devo fazer notar que ella sej i actualmenie o estado dos dous estabeleci
tem »ido muito desfavoravelmente recebida pelo mentos de credito que temos nesta còrte nesta
com nercio, e, segundo leio no Jornal do Com- época. Nada ha publicado, e nem a camara co-
mercio, elle desej iria que fosse modilicada, e nliecimento tein de cousa alguma. Os balanços
discutiria mesmo a sua conveniencia e utilidade destes estabelecimentos são publica los semes
se por acaso aqui não se nos tivesse declarado tralmente, e não offerecem a devida clareza e
que sua approvação importava uma medida ou distineção sobre suas op. r ições. Assim temos uni
voto de confiança que se dava ao governo, e por camente algum conhecimento de seu estado até
iSs0 "o commercio entendeu que não podia mais o ultimo do anno passado. Actualmente nao sa
fazer observação alguma. bemos o que elles têm em caixa, qual o seu
Em segundo lugar eu observarei que o binco activo e p issivo, qual a importancia de sua emis
do Brazil, por effeito de algumas palavras pro são e do sua reserva inetallica destinada ao em
feridas no senado, entendeu que si desconfiava bolso de seus bilhetes emittidos. Nada sabemos,
do seu credito, e pedio ao Sr. ministro da fa tudo vive na escaridão. '
zenda que mandasse fazer um inquerito nas suas Os estatutos dos bancos pelos seus vicios lhes
caixas, e em todas as suas operações. Ova, senho dão ampla faculdade de oporarem a descoberto,
res, se nós podemos em pouco tempo salvar o e não achaino-nos em circumstaucias de ipreciar
commercio das dificuldades que se lho attribue, qual o uso prudente que se tem feito dessa fa
que razão ha para se tomar uma resolução antes culdade perigosa e anomala do verdadeiro sys-
de se saber o resultado do inquérito que man tema .de credito.
dou fazer o Sr. ministro da fazenda naquello Faltando nos pois todos e_stes esclarecimentos,
banco ? Devemos Ser um pouco mais prudentes e bem difficil será discorrer com acerto sobre a
cautelosos, e seguir ainda nesta parte o exemplo origem o causas da crise da praça desta córte.
da Iuglutarra. O nobre deputado pela provincia de Pernam
Tendo Pitt permittido que o banco suspen buco que me precedeu negou a existencia da
desse o pigamento de seus bilhetes até que as crise pela razão de qne não tem chega lo ao gráo
camaras tomasse as providencias que julgassem de intensidade que de ordinario em outros pai-
necessarias para salval-o dos embaraços em que zes causa a perda e mina de muitas casas, e
estava, as camaras inglezas não tomarão medida a paralysação quasi total de todas as transac
alguma sem que as commissòes por cilas no ções.
meadas para examinarem o banco tivessem dado Porque, Sr. presidente, a crise se acha em .
o seu parecer P ira que, pois, concorrer-se tão de começo; porque não despontou logo acompa
pressa em materia tao importante , e tomarem-se nhada do cortejo de t idos os estragos de que
medidas de qué talvez daqui a poucos dias po le é susceptivel, não se segue que não exista. Os
remos ter razão de nos arrependermos? apertos (permitta-se-me a expressão), a pressão
Sr. presidente, tem -se dito que a adopção da pro que ora se observa na praça, comquanto ainda
posta do governo o das emendas da nobre com- não tenha produzido esses desastres, póde ainda
inissão de fazenda é um voto de confiança que acarretal-os, se dentro de pouco tempo seus sof-
se deve dar ao ministro ; mas eu entendo que frimentos não desapparecerem , ou não forem
não estamos nesse caso ; julgo que os votos de muito attenuados, e essas tristes consequencias
confiança só têm lugar naquellas questões em que não se limitaráõ a certos individues, o em nu
se trata de habilit ir o gabinete a cumprir a missão mero limitado, serão funestas ao nosso systema
de que foi encarregado ao confiai-se-lhe a admi de credito nasconte, ao commercio em geral e á
nistração dos negocios do paiz, e por conseguinte fazenda publica, porque a parte mais importante
não» estando essa medida nessas circumstancius, vda nossa receita provém dos direitos de i opor-
nós a devemos discutir maduramente e sem espi tação ou de consumo e está intimamente ligada
rito de partido (muitos apoiados); e sem atteu- com a sorte do commercio.
dermos muito ás razões do Sr. ministro (apoia (Cruxão-se apartes.)
dos), devemos discutir a materia com conheci
mento de causa e cautelosamente Emquanto pois Sr. presidente, o que existe, o estado da praça
não me convencerem da utilidade da materia, eu é o seguinte: não na capitaes para descontos,
voto contra ella. os bancos têm retirado grande parte dos seus
bilhetes da circulação, e não têm feito nenhuma
O Sr. Presidente : — Tem a palavra o Sr, operação de eminsão, e aiud i mesmo de outra
Ferraz. qualquer qualidade que importante seja; apenas
O Sr. Ferraz : — Cedo delra, se a casa quizer ref irmão as letras, não descontáo. Alguns capi
votar. talistas existem que algumas operações de des
Vozes : — Queremos ouvil-o. conto têm feito, mas om pequena extensão ; e
outros ha que inteiramente ab.mdonão as ope
o Sr. Forraz :—Sr. presidente, eu entro nesta rações de desconto, e preferem empregar seus
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 197
capitaes em titulos da divida publica e em bi adiantamento dos que devião substituir as que
lhetes do thesouro ; assim que se hoje se qui- como saldo existião nas provincias em conse
zer fazer alguma transacção, so algum nego quencia d is resgates que devia fazer-se, e qua
ciante se propuzer a isso , se vera muito nessa época de semelhante operação se originou
ernharaçad* para dar ainda que seja um só e o facto que acabo de expor.
pequeno passo. O nosso estudo neste ponto é identico áquelle
A marcha das transacções, a marcha do com- que se tem observai) em Françi on consequen
mercio, sa acha om termos de paralysar-se, e cia da pouca extensão do systema de crêd:to.
não obstante tudo isto, mister é confessar, existe Emquanto, permitta-se a expressão, a moeda
confiança. D idas estas circumstancias, logo que viaja, e está assim imetivo o instrumento que
. reaes obstaculos existem que etnharação , que nas transacções e permutas serve de medida, e
tolhem a marcha progressiva das operações da que ás tezes por si mesmo ê equivalente aos
praça, pergunto , não exista uma criso , uma objectos que fazem o objecto das transacções e
pressão? Creio que sim. Nestes termos, pois, permutas, a sua falta se reseute de quando em
não será preciso uma medida que previna seus quando, e em certos lugares mais do que em
desastres, que atteuue seus solrrimentos ? O que outros.
deve-se fazer quando u na p»aça principia a Senhores, para prevenir isto, as instituições
resentir-se de serios embaraços nas suas trans bancaes, os systemas de credito são indispen
acções? Ficarmos quedos o mudos, e esperarmos saveis ; porque inultiplicão os signaes represen
pela época em que já ao mal se não poderá tativos do vulor das cousas, suporem essa falta
oppór barreira ? Senhores, o interesse da praça o facilitão suo circulação. Na praça do Rio de
do Rio de Janeiro ostá inteiramente ligado no Janeiro essa falta era cabalmente supprida pelos
interesse da fazenda publica, ao de' outras pra bancos, e este suppriinento chegou a tal ponto
ças , e talvez ao de todo o imperio (muitos que em certa époc i se deu o segundo facto.
apoiados) ; os interesses da praça do Rio de Ja O unico numerario que se conhecia (e eu
neiro pod m complicar muito aos interesses de chamo numerario não só á moeda, como bilhe
outras praças (muitos apoiados{, e de forma al tes de confiança ou signaes representativos dos
gum.i deve á posição do governo nestas circum valores das cousas), digo, o unico numerario que
stancias assemelhir-se á de uma estatua entre se conhecia na praça erão as letras dos bancos
minas, vktiuia dos ventos e das tempestades vencidas que giravão como moeda, e os bilhetes
(apoiados),, elle deve lançar mão de tudo aquillo de sua emissão, e sc alguma parto por ventura
que a prudencia " permitte o exige pira empecer do nosso meio circulante, ou para molhor me
o progresso da crise, e para nao comprometter exprimir, de moed i papel se poderia achar na
a segurança das rendas do estado (apoiados). praça do Rio de Janeiro, era isto devido á ne
porque, dado o progresso e intensão da crise, cessidade de serem pagos os direitos de impor
essas rendas hão de diminuir, e haverá defi tação e exportação em moeda.
ciencia de meios para fazer face ás despezas C mstou-ine que varias representações se fize-
publicas, porquanto as nossas despezas são em rão para que os bilhetes do banco e suas letras
grande parte satisfeitas por meio dos direitos fossem aceitas nas estações publicas ; mas o
e importação, ou da renda das alfandegas. Sr. ministro creio que repellio inteiramente essa
(Apoiados.) idéa, supposto que me dissorão, não sei se é
Sr. presidente, os nobrís deputados têm dis exacto, que pela repartição do nobre deputado
corrido sobre as causas da crise, e eu não sei relator da commissão algumas vezes teve lugar
se deva entrar nesta questão depois de ter fat a recepção das leiras do banco, que erão imme-
iado o br. ministro da fazenda e o nobre depu diatamente' resgatadas.
tado relator da commissao, m is eu peço ao Sr. O Sr. Lisboa Serra : — Não ó exacto, e se
ministro e ao nobre relator que me consintáo eu ainda tiver a palavra me explicarei.
toda a liberdade ností parte e aceitem todas as
duvidas que tenho sobre as suas opiniões. O Sr. Ferraz : — Seja ou não, isto não vem
Senhores, eu não considero a crise como o para o caso. O que é verdade ó que o unico
effeito da falta de meio circulante (apoiados), meio circulante que existia, o principil instru
e sim da falta de capital, e por essa exagerada mento das transacções vinha a ser os bilhetes
extensão de credito que houve ha praça do Rio e -letras dos bancos ; este meio não desappareceu
de Janeiro. - ao todo ! mas os bancos tratárão de recolher
O Sr. Presidente do Conselho :—Estamos de em grande parte as suas letras o bilhetes, não
accordo, é apenas uma expressão por outra. as tem substituido por outras, e assim a es
cassez notada se ha dado, o os bancos depois
O Sr. Ferraz :—Senhores, em todos os tempos de terem como que originado o mal pela exten
em certas épocas e certos lugares se darão al são exagerada que derão ás suas operações,
ternativas de abundancia na escassez do meio pelas facilidades que creárão, aggravarão-o reti
circulante; era isto uma infallivel consequencia rando da circulação esses seus bilhetes e letras;
do nosso pouc i adiantamento no systema de cre restringindo essas facilidades, se não ao todo
dito, e do desligamento que ha entre os dif- extinguindo-as, ao principio limitando a exten
ferentes estabelecimentos de credito que existem são e termo de seus descontos, e agora não
no imperio. operando desconto algum, e circumserevendo
Por estas razões, senhores, o nnmerario, nem suas operações ás reformas- de letras I
digo bem, a moeda vê- se na necessidade de Eu não quero com isto culpar inteiramente os
viajar, e este facto faz apparecer em uma praça bancos, a sua segurança afinal os aconseihou
ora a abundancia, ora a escassez, e segundo que fossem cautelosos, e recolhessem nquillo que
estas alternativas a suspensão ou retorno das existia na circulação além de suas forçis ; a
transacções se dão em maior ou menor ponto. quem eu culpo é a quem approvou os estatutos
O thesouro não tem outros meios para con desses bancos, que os autorisou a operar a
centrar em seus cofres os saldos d i receita descoberto.
da provincia do que as suas remessas O Sr. Paula Baptista e outnos Srs. Depu
para, a còrte, e quasi sempre que lança mão tados ; — Apoiado.
deile, a abundancia ou escassez de meio circu
lante se dá em uma ou outra praça do im O Sr. Ferraz:—Senhores, o decreto que appro-
perio. va os estatutos do banco commercial deixa livre
Lembro-me de que em uma época nesta corte a emissão até á importancia do terço no valor
se lançou mão de uma emissão de cedulas por de suas acções. . ,
198 SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853
O Sr. Paula Baptista : — Muito bem. coniervou-se frequentemente com uma somma
O Sr. Ferraz : — ... ou para melhor dizer, pouco inferior ao dito acerescimo, por não offe-
dos S 'US fundos (e note-se que pelas suas ex recer-se moio algum de emprego vantajoso na
pressões, ainda dos que se não tivessem reali praça. »
sado), quando em todos os paizes a c«missão Além da fdta de solidez sobro as suas emis
deve estur na razão pelo menos do terço da sões, o binco do Brazil apartou-se inteiramente
reserva metallica que devo f izer face á mesma do grando preceito do que os cipitaes dos ban
emissão. Os estatutos do banco do Brazil, mais cos são meramente do pura circulação (apoia
cautelosos, determinão que n emissão deve e-tar dos), e devem est ir sempre disponiveis para a
na razin do terço do capital ou fundo renlisado ; sua principal missão, que vem a ser pr iteger e
mas ainda assim não previnem o grande mil ajudar o commercio. Vê-se pois que não só con
resultante de não haver pulo menos um terço tributo para estas transicçoes a longos prazos,
equivalente ao terço da emissão em moeda para mas ainda mo consta que emorestou para algu
fazer o reembolso dos bilhetes emittidos. mas empresas do dirKcil solução, aecrescendo que
não olhou para os seus haveres, foi na sua
Já se vê, pois, que o resultado de tudo ist° emissão muito além do que devia, e cuidou mais
não pódo ser senão os bancos a descoberta : e em satisfazer os seus clientes, do que mesmo
tanto era a confiança que existia na pra.a a em acautelar por sua propria segurança os de
respeito destas instituições bancaes que minca sastres que poderião abalar não só a sua exis
houve a menor vai:i Ilação em receber os seus lencia como o commercio.
bilhetes; o seu credito foi constituido de ma Esta razão, Sr. presidenta, me movo pois a
neira que nunca se deu a níenor duvida sobre crer que u na das causus principaes que origi
a sua solidez. nou h crise foi a má direcção das operações dos
E' justo que eu declare a V. Ex. e á camara bancos ; mas que tambem operou com grande força
que a administração do banco ccmmercial sem a falta ou diminuição de capitaes.
pre se houve com muita cauteli e prudencia; a Sr. presidwito eu entendo por — capital — a
sua emissão parece que nunca excedeu á sua re parte da riqueza adquirida que é destinada á
serva, o devo tambem prevenir que a pai ivra reprnducção de uma nova riqueza.
reserva, do que ora me sirvo, náo refere-se a
essa parte dos lucros, que não fiz parle do di O Sr. Paula Baptista: — Assim é que se deve
videndo, e que fica depositado para fazer fnce entender.
a qnalquer deficit ou successo imprevisto. Eu O Sr. Ferraz: — O capital, doslo Adam Smith
tomo aqui a palavra reserva ein referencia ao até hoje, considera-se dividido em duas partes
fundo disponivel que devo fazer face ao em — capitil fixo e capital circulante — que, con
bolso dos bilhetes emittidos. Assim, pois, as in forme a expressão ao Sr. Wilson, actual secie-
stituições que devião actualmente dar a seu tario da thesouraria da Inglaterra, é o capital
apoio ao commercio forão as que lhe causarão, fluctuante. O capital fluctuante comprehendo to
pela exageração de suas operações, as difficul dos estos offeitos : provisões, mercadorias ali
dades com que elle luta. menticias, e ni iterias primas que são necessarias
O Sr. Baldeira de Mello : — Houve abusos no para alimento da industria ; toda essa massa de
credito. valores de cousas o objectos que depois de pas
sar pelas mãos da industria, e. recebido diffe-
O Sr Ferraz :— Tenho nqui alguns balancetes rentes' fórm is o composição, volta toda inteira
dos dous bancos, o nelles sc evidencia clara-- por via do commercio ás mãos do productor, ás
mente o qne eu acabo do dizer. Do balanço do vez.s com um acerescimo.
banco do Brazil publicado em 31 do Dezembro O capital fixo comprehendo todos os immoveis,
de 1852 vê-se o seguinte :—O banco tinha em caixa, todo o material da industria, as vias ferreas,
em fundo disponivel ou de giro 1,443:005)3151. — etc. No capital todos os escriptores incluem a
Tinha em circulação , afóra as letras vencidas, moeda metallica, porque esta moeda nunca so
em bilhetes do emissão, 1,594:200$. Em letras a transforma como as cousas que constituem o ca
pagar, 5,950:2768141. pital fluctuante se modifica, consome, e passa
Ora, o fundo que o banco tinha em caixa era pelas reproducções e meiainorphoses que opera
inferior á sua emissão, o além disso não era a industria. Partindo destas idéas, eu mostrarei
um fundo disponivel para fazer os adiantamen que na verdade so dá entre nós escassez de ca
tos de qne precisa o commercio. pitaes.
Um Sr. Deputado : — Podia ter letras. Pergunta um escriptor a quem se referio o
illustre deputado pela provincia do Maranhão,
O Sr. Ferraz: — Diz o meu nobre amigo que relator da commissão : «Como do repente, exis
podia ter letras : sim, mas as letras descontadas tindo tantos capitaes, se deu sui escassez?» A
orçavão em 9,300:000$, entretanto que as letras respost i está nestas palavras : s Como de reponte,
a pagar orçavão em õ, 95O:00OS000. vivendo nós na penuria de capitaes, se deu uma
.Um Sr. Deputado: — Havia uma differença do tão grande abundancia delles ? » Senhores, os
4,000 e tantos contos. capitaes de um paiz se auí;montão o crescem
pelo excesso de producção sobro o consumo : são
O Sr. Ferraz:— O banco do Brazil fez bai o effeito desta abstinencia do uma parte da pro
xar o juro do capital até 4 •/- - ■ admittio ducção, ou untes o saido em favor da producção,
letras a prazos maiores do que tres mezos ; o qu« não é absorvido pelo consumo.
que, confirmo o relatorio da administração do Entre nós não ha outra medida para conhecer
banco commercial, como que obrigou a sua ad o augmento do capital do nosso paiz senão a
ministraçao a- obrar da mesma maneira. Diz nossa exportação comparada com a importação
este relatorio : ou consumo : não é verdadeiramente uma me
« Sendo pratica geril o passarem-se letras de dida infallivel, porque os nossos dados estatis
transacções commerciaes a seis mezes de praze, ticos falháo, e porque mesmo o contrabando póde
o o novo banco, denominado banco do Brazil, difficullar esta operação ; mas é no menos um
admittindo taes letras a desconto, a direcção dadd auxiliar para o conhecimento da verdaje.
determinou recobel-as igualmente a desconto, Conforme o resumo estatistico da commissão en
tendo em consideração o tornar assim o sello carregada da revisão da tarifa das alfandegasdo im
menos oneroso ao commercio O accresciino perio, deu- se o seguinte : «Estabelecendo-se a com-
de 3,000:000$ ao capital do banco foi neste se par ição entre a exportação e a importação, nos dous
mestre quasi improficne, visto que a caixa geral periodos do 1839 a 1844 ode 1815 a 1849, vê-se qno
SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853 199
o termo médio dos valores importados no primeiro pitaes paro lugares mais productivos. O capital
periodo foi superior ao dos valores exportados e cosmopolita, não pó le ficar dentro dos muros
rs. 13,653:2770 vdifferença contra » exportação de mna cidade, vai para onde se lhe apre-enti
equivalente a y0.^S °/°j, e que o termo iné lio dos maior pasto, procura os canaes mais lucritivos;,
valores importados no segundo piriodo foi in assim emigra da Françi para a Inglaterra logo
ferior ao dos valores exportados rs. 3,052:879$ que neste ultimo paiz mais vant igem póde obter,
Mifferença a favor da exportação equiv dente a e da Inglaterra pira a Pruss a, ou para outros
6,6 °/°: observa-se mais que no primeiro periodo paizes, conforme as circumstancias de seu mer
a importação excedeu sempre a exportação, o cado.
que no segundo, apenas no anno de 1840 a 1847 Conseguintemente, concedendo mesmo a existen
foi maior 5, 7 %• cia real dessa grande massa de capit .es de que
Segundo as tabellas apresentadas pelo nobre fallou o nobre, deputado, e a que se referio o
ministro no sou relatorio, varifica-so que nos nobre ministro, logi que o juro baixou na pro
annos seguintes deu-se tambem o que vou expór. porção que eu revelei, de necessidade devia de-
Em 1819 a 1850, 1851 a 1852 a importação foi sapparecer, ou parr. as provincias, ou para o
maior que a exportação, termo medio 20 %• exterior do imperio ; do necessidade, Sr. presi
Se nós applicarinos este exame á provincia do dente, devia dar nascimento a concepções exage
Rio de Janeiro, encontraremos sempre, quer nq radas, a empresis não só commerciaes, como
peri0do de 1839 a 1844, quer no periodo de 1815 industi i ies, devia mesmo habilitar outras trans
a 181!), a importação ou consumo superior ã acções ainda mais altas.
exportação ; a s iber: no» primeiro periodo, na E neste ultimo ponto permitta-me o nobre de
razão de 40,7 °/°, e no segundo, apenas na razão putado que eu use da comparação que o perio
de 0,8 1/2. Donde pois, Sr presidente, podia dico Times usou em 1847 a respeito da Inglaterra,
provir es>a grande abundancia de capitaes que e a applique ao Brazil. O Brazil está muito e
fez baixar o juro, que estiva de 9 a 12 °/° na muito pobre, e se já era pobre do capitaes, e
razão de 6, de 5 e de 4 % ? por certo um paiz novo nunca póde ser rico de
O nobre deputado pela provincia do Maranhão capines, hoje em dia se acha pobre como um
nos quiz explicar com a extincção do trafico homem rico que havendo contraindo muitos o
de africanos ; eu lhe peço venia, não se póde grandes empenhos, e muito maiores do que suas
explicar por este modo. O nobre deputado .-,up- forças lhe permittião, se vê na dura posição de
põe que os grandes capitaes empregados neste não poder satisfazel-os. Isto applicou esse jornal
commercio estavão fóra do paiz ; o nobre depu- ã Inglaterra, e o repetio o Sr. Leon Faucher,
tido enganou-se, as remessas das mercadorias não obstante os grandes capitaes de que esse
que erão dirigidas para a compra dos escravos, paiz dispõe, em virtude de, por meio das grandes
pouca demora tinlião no lugar de seu destino, e empresas dos caminhos de ferro, haver-se immo-
essas transacções no exterior erão nos ultimos bilisado uma grande parte de seu capital flu-
tempos saldadas quasi no mesmo acto da sua ctuante.
descarga. As transacções principaes que esse Nós tivemos todas essas grandes emprezas que
grande commercio fazia effectuavão-se dentro das o nobre deputado por Pernambuco referio, as
nossas praças: donde pois proveio? quaes ainda até agera não podem dar lucro
O Sr. Lisboa Serra : —Do desvio do emprego. algum, as quaes immobilisárão a parte dos ca
O Sr. Fereaz—Senhores, o cornmorcio de um pitaes fluctuantes que era destinada ás transac
paiz tonia-se sempre no complexo dos seus diffe- ções. Tivemos outr is emprezas industriaes não
rentos ramos ; e em suas operações se. não dis só nas provincias, como na propria córte; e,
tinguem, e interessão, qualquer que seja o ramo senhores, fallemos a verdade, qual é o pro
purticular a que se appliquem a todos os outros vinciano que, sibendo que na coi te havia tanta
ramos ; assim o commercio de escravos interes abundancia de capitaes que se davão a tres e
sava ao commercio de generos de estivi ou de quatro por cento, não os viesse aqui procurar e os
fazendas seccas, e de qualquer outra natureza. levasse para a sua provincia? Eu mesmo fui ga
. O nobre ministro da fazenda attribuio isso a rante de uma dessas transacções .Se na minha pro
grande importação de metal que se effectuou em vincia, por exe uplo, eu sò posso obter capit ies
certo periodo Senhores, esta importição creio com grandes difficuldades e por muito favor a doze
que procedeu do lucro que offerecia a moedagem ou nove por cento, entretanto que em poucos dias,
no nosso paiz, foi determinada p.las mesmas depois da navegação a vapor, eu os posso obtor na
razões por que «outra qual juar mercadoria con razão de quatro a cinco por cento nesta corte ;
corre ao no-so mercado, o fm feita ou por conta porque não os virei demandar aqui ?
de nossos capitaes, e portanto não p.idia aug- O Sr. Lisboa Serra : — E' dlfficil para certas
niental-os de um tal modo, ou de capitaes es peooas.
trangeiros, e neste caso tinh i-se de saldar por O Sr. Ferraz:—Não é tanto assim havendo ga
conta de nossa exportação, e sua permanencia no rantia: e eu posso afiançar ao nobre deputado
paiz não poderia deixar de ser transitoria. que isto succedeu.
E' verdade, senhores, que até 1819 nunca a Por outro lado o capitalista vendo que em
importação do metaes na córte do Rio de Janeiro outros lugares o juro era superior ao desta
excedeu de 1,000:000S000 a 1,700: 00 )«000. No anno córte, procuraria infallivslmente tiral-o do lu
de 1849 a 18õ0 chegou a 952:000$0U0, em 1830 a gar menos vantajoso para o que maior lucro
18Õ1 foi além de 5,500 :000$00), no de 1851 a offerecia.
1852 excede de 8,800 000$000, o até 10 de Junho Já vê pois o nobre deputado que infallivel-
do corrente anno financeiro chegou a 2,810:000$. mente essa falta de capitaes devia dar-sc em
Se alguma razão, pois, se pudesse dar sobre cert i época.
este ponto, se se udesse suppór que esta imp Mas o nobre ministro disse que não erão os
ortaçao determinasse a existencia de grande missa caprtaes, sim a moeda que corria para as pro
de capitaes que funecionassu no paiz, eu diria vincias. . .
que í.-s-a exist-ncia deveria ser momentanea, e O Sr. Ministno da Fazenda: — Não disse isto,
d«iia saldar-se, como já disse, por meio e por p :rdóe-me.
conta de n issa exportação.
Senhores, é preciso irmos á raiz das cousas. O Sr. Ferraz:—Então percebi mal; paroceu-mo
(Apoiados.) Logo que os bancos dérã i uma - xten- porém ouvir o nobre ministro diz r que o c i-
são exagerada âs suas transacções, devia correr, pital fluctuaute entre nós vem a ser o nume
como necessaria consequencia, a sabida dos ca rario.
200 SESSÀO EM 14 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Ministno da Fazenda: — Em grande sabe, é outro thermomotro da escassez ou abun
parte.' dancia do capitaes, o nio da moeda.
O Sr. Ferraz: — Entre nos (disse o nobre mi Já vê portanto a cimara que eu considero a
nistro) não su póde dar a mesma hypothese crise que apparece como resultado em grande
que sã da na Franca e na Inglaterra, onde o parte da exte"são exagerada das operações de
capital fluctuante v. m a ser as materias pri credito e da escassez de capitaes. Passarei agora
mas, o algodão, etc. ; entre nós não succede a a outro ponto : quaes os meios de que se deve
mesma cousa, o capital iluctuante é quasi sempre lançar mão, se os meios apontados são conve
a moeda. nientes.
Entre nós, senhores, como em todos os paizes, O meio de que lança mão o governo, e que
o- capital fluctuante são essas provisões, essas propõe a nobro commissão, me parece que está
materias primas, o ferro e outros metaes em dentro das operações ou dentro de um systema
bruto, que vão recebendo nova forma da indus de credito. O systeina de credito tem por fim
tria, esses instrumentos agrarios que se dão aos multiplicar os signaes representativos dos valo
agricultores fabricantes. Não é possivel que o res das cousas, e facilitar a circulação. O go
capital fluctuante de um paiz seja o que o nobre verno, querendo evitar o grande cachopo do curso
ministro chamou capital monetario, porque neste de um papel-inoeda, não fez mais do que lançar
caso, o capital fluctuante de um paiz virá a mão de um meio de que em outros paizes tem
ser igual á importancia do seu meio circulante, sortido bom efleito. Muitas pessoas su apoderão
á porção de moeda que elle possue. Creio que de medo em consequencia do máos re.-ultados
o nobro ministro não póde pensar assim, e por que póde acarretar o Emprego deste meio; mas
isso eu estou sómente rectificando as suas pro ahi estão ainda a França e a Belgica, que deste
posições. meio se valórão ha bem pouco tempo, de 1848 a
Disse-se tambem que o juro alto revelava a 1850, com optimo resultado.
falta de metal, a falta de dinheiro.., O grande principio que devemos fixar para
que este meio não seja perigoso, vem a ser a
O Sr. Bvndeira de Mello : — Disse que reve independencia do banco do governo. Tr iballio o
lava falta de capitaes. banco sob sua responsabilidade com os meios
O Sr. Ferraz:—E' a doutrina mais pura; mas que o projecto põe em disponibilidade sob as
creio que se apresentou este argumento, i- tanto solidas garantias que se requerem, sob o meca
que o nobre deputado pelo Ceará combateu esta nismo que para a emissão se estabelece, e ne
idéa. . . nhum mal póde esse meio produzir. Assim creio
O Sr. Bandeira de Mello: — Trouxe isto, mas qne o meu nobre amigo deputado pelo Ceará não
não para combater idéa alguma. poderá por maneira alguma comparar o papel-
moeda, cujos resultad -s nos são bem conhecidos,
O Sr. Ferraz : — Logo que o capital fluctuante cujos resultados sempre são terriveis para o
que é destinado ao serviço das grandes indus paiz que dello lança mão, com o meio proposto
trias, a alimentar a producção, se desvia-do seu pela nobre commissão e que o governo adopta...
flin, se immobilisa, como demonstrei, qual é o O Sn. Bandeira dii Miillo dá um aparte que
resultado? E' o aperto em que a praça do Rio não ouvimos.
de Janeiro se vé. Se esses apertos, podendo ser
obviados pelas instituições de credito, pelas fa O Sr. Ferraz- — Eu entendo que a expressão —
cilidades que são inlierentes á sua n itureza, sãq curso forçado— ião póde ser npplicada ao ca-o
ainda mais augmentados pela má gestão dessas presente. (Apoiados.) Logo que o governo exige
mesmas instituições, o resultado e aggravar-se umi quantia disponivel para fazer face ao em
ainda mais o mal, e é isto o que ainda se ob bolso dos bilhetes emittidos que sc apresentem
serva nesta praça. ao banco? logo que o governo garante esta emis
Permitta-me o nobre deputado pelo Maranhão são com fundos ainda maiores que a sua tota
que chame a sua attenção sobre o topico em lidade, não se pódo dizer que este papel vem a
que discordámos na sessão . anterior. O nobre ser uma simples promessa sem garantia, sem mesmo
deputado quiz attribuir a crise do 1817 da Ingla esperança di sua realisação. O que constitue o
terra á escassez monetaria ; e eu disse ao nobre papel-moeda com o seu triste cortejo de grandes
deputado que essa crise tinha sido propriamente males e ruinas, vem a ser a falta do garantia,
commercial. Consinta portanto o nobre deputado a falta de esperança de realisação da promessa
que em meu apoio tr iga a autoridade de escri- que encerra a falta de seu embolso em alguma
ptores muito distinctos, como são o Sr. Leon estação ao portador que apresenta. Embora, como
Faucher e n Sr. Chevalier. Este diz: «A irise nos assiguados da França, se diua : « Os bens
de 1847 na In«l iteira teve a sua origem na falta do clero e-táo sujeitos ao pagimento desta divida»,'
do capitaes; parte desses capitaes tinha ido pro como dizia Jaciues Luflitte, essa garantia no es
curar os mercados do trigo, ou parlo tinha sido tado em que pará.áo as cousas em França o.in
empregada em compra de terras, em titulos liy- ficticia, a terra, que os garantia, nio se podia
potliecarios na índia Oriental e em outras co conduzir debaixo do braço, nem por meio delia
lonias inglezas, b outra parto tinha sido convertida so podia realisar seu valor.
em vias ferreas e outras empresas Semelhan O Sr. Bandeira de Mello:— Lêa o relatorio
tes. Depois a escissez do metal tambem appa- da commissão, e ahi verá—curso forçado.—
receu. w li o Sr. Leon Foucher necresceutu que
erros graves do banco da Inglaterra duplicarão O Sr. Ferraz: — Mas que tem que a commis
o mal ; esses erros forão emprestimos a prazo são diga isto se o portador da 1 tra de emissão
maior de 9õ, a 4 e li mezes por elle feito ; ou vil buscar o recebe do banco, quando queira o
tro erro foi o emprestimo a unia companhia de seu valor equivalente em ouro ou em moeda ?
minas de cobre de 270,000 libras esterlinas. Ou Neste caso o bilhete emiltido tem um valor rea-
tros erros e imprudencias ainda se derá •, que lisavel pelo ref) xo do deposito que fica pela
s i0 pelo mesmo escriptor revelados, os quaes a realisação da promessa que contém, pondo-so e
camara me permittirá que por brevidade omitia. conservando-se disponivel, e como quer o projecto,
Assim pois o nobre deputado deve conven- em deposito quantia sufliciente para fazer face t
cer-se desta verdade, não só p la autoridade que tutilida ie da emissão. Não póde portanto esto
cito, como ainda por uma outra circumstancia, bilhete ser consider ido como papel-nmed i. Os
e é que depois ainda nppareceu abunda. .cia de perigos que se antolhão ao nobre deputado só
meties, e o juro todavia continuava alto, e a se podião dar se acaso a garantia que se propõe
alta ou baixa do juro, como o nobre deputado não satisfizesse. .. .
SESSÃO EM 14 DE JUNHO DE 1853 301
O Sr. Bandeira de Mello : — Em parte é insuf- ministro que accrescentasse ás medidas que elle
flciente, e em parte illusoria. tomou sobre a gerencia dos bancos o seguinte:
O Sr. Ferraz:— Não é insuficiente nem illu — a publicidade do suas operações.
soria. Não é insufficiente, porque está acima da O Sr. Ministno da Fazenda : — Necessaria
quantidade que póde ser emittida ; não é illu mente.
soria, porque consiste em fundos publicos, em O Sr. Ferraz : — Senhores, a publicidade das
titulos de credito publico ou particular, qu» daqui operações bancaes em um paiz que é novo no
a 2, 3 ou 4 mezes póde ser realisido. Esses ti systema d a creditos não só tende a acostumar
tulos de credito particular representão esses vinhos, ao paiz a encarar sem desconfiança essas mes
essas provisões, essas materias primas, essas mas instituições, mas atnda será um correctivo
mercadorias que têm sido objecto das operações para a má gestão e dará importancia áquellas
commerciaes, e por consequencia não podem dei administrações que bem se houverem no ma
xar de inspirar confiança, não podem deixar de nejo dos negocios bancaes. Em todos os pnizes
ser uma solida garantia, principalmente-quando esta é a doutrina, este é o preceito que se
a nobre commissão exigio que as contas assigna- exigo.
das e outros titulos particulares fossem tomados E eu tambem desejãra, Sr. presidente, que
em garantia da emissão somente na razão de -as contas desses estabelecimentos não se limi
50 % de sua importancia. Por consequencia o tassem ao que nós hoje om dia vemos ; dese
mesmo perigo que se podia antolhar ao nobre jára que houvesse uma distiucção entre as
deputado dá má gestão a respeito das contas us- operações da emissão e outras quaesquer ope
signadas, fica inteiramente acobertado pela me rações, e não se confundisse umas com outras
dida de tomar-se em garantia na razão da metade cousas.
do seu valor. . . O Sr. Lisboa Serra : — Da medida actual
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que necess iriamente deve resultar isso.
não ouvimos. O Sr. Ferraz: — Eu desejava que isto par
O Sr. Ferraz : — Perdòe-me o nobre deputado, tisse da nobre commissão, o que esta media a
não são estas contas de que falia; deve-se at- e aquella que o. nobre deputado quer que se
tender á linguagem da praça Chamamos contas tome para o capital disponivel seja igual a
assignadas aquellas que demonstrão o credito do um terço da emissão ficassem extensivas a
um negociante a respeito de outro, reconhecido todos os bancos ; assim como eu, tambem qui-
pela assignatura do devedor, as quaes são le zera que nos acautelassemos contra esse pro
vadas como caução aos bancos. O nobre depu gresso de bancos particulares, que sem ligação
tado refere-so á operação dos bancos reconhecida alguma aqui e alh se vão creando, e de orga-
sob o titulo de conta corrente, mas não ó a isto nisação defeituesa que se vão estendendo por
que eu me refiro. todo o impírio, e Deus permitia que daqui a
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que poucos dias não produzão os tristes efieitos
não ouvimos. porque passou a Inglaterra em consequencia das
operações de seus bancos particulares.
O Sr. Ferraz:— Mesmo em alguns bancos ellas Eu desejára, Sr. presidente, que nenhum banco
não são acuitas senão por cauçao com a obriga pudesse organisar-se e funecionar sem appro-
ção do 4 a 6 mezes, ainda que sejão de um vação de seus estatutos pelo poder legislativo ;
anno ; a pessoa que caucionou está obrigada a porque, senhores, póde se ainda dar o caso ,
restituil-a dentro de 4 a 6 mezes... que já se deu no nosso paiz de um ministro
O Sr. Bandeira de Mei.lo dá outro aparte que do imperio approvar sem a concordancia do
ainda não pudemos ouvir. seus collegas estatutos defeituesos que podião
O Sr. Ferraz :— O fundo disponivel do banco produzir a ruina do commercio de uma pro
está exarado no projecto da commissão. Até- se vincia. Não referirei nomes porque não ó preciso.
podia exigir, se não fosse um mal, em conse O Sr. Góes : — O banco da nossa provincia
quencia mesmo do aperto em que está a praça, tem produzido bem.
que os fundos publicos fossem vendidos. Mas O Sr. Ferraz . — Em geral , senhores, os
isto seria poiorar o estado das cousas, basta o nossos bancos têm prestado bons serviços ; o
gravo erro commettido pelo banco do Brazil de banco do Brazil, o banco commercial, o banco
fazer a chamada neste tempo de crise da parte da Bahia, a caixa economica, todos têm prestado
do seu fundo ainda,:náo realisado. serviços : ninguem póde negar isto, não os con-
A este respeito cumpre-me trazer para aqui demno ; somos noviços na sciencia bancai, e,
a opinião de um grande homem nesta m iteria, como observou o Sr. Leon Faucher, se o banco
o Si . Gaultier, qne é sub-diroctor do banco de da Inglaterra terp cahido em tantas erros, tem
Frauça. • causado tão grandes males em sua gestão, como
Disse elle : « Os bancos não têm necessidade podemos querer que tenhamos já e de prompto,
de grandes fundos para suas operações, mas a Iiomens habeis para esse mister, que não se
têm para seu credito ; e, ainda que se queira commettão algumas faltas em nosso tirocinio, e
dizer que os seus fundos não consistem somente que essas instituições sempre apresentom entre
na importancia realisada por conta da importan nós os melhores resultados?
cia de suas acções, mas sim na total importancia Senhores, a gestão de um banco é cousa dif-
desta-, que póde ser realisada, cumpre comtudo ficilicna; é preciso apreciar muitas circumst meias,
notar que no momento das crises e das difficul é mister uma incessante combinação de obsta
dades, com os mesmos embaraços que difficultão culos, perigos, facilidades o proveitos, que não
as operações bancaes lutão os accionistas, e cabe a todos, e que só uma pratica estabelecida
podem tornar irrealisuvel essa parto de seus póde ministrar. (Apoiados.)
fundos. » Não obstante todas as razões que tenho pon
Sr. presidente , ' destruido pois o argumento derado eu não daria meu voto a este projecto,
de papel-moeda e seus perigos , demonstrado Sr. presidente, se não tivesse muita confiança
que existo uma garantia sufficiente e não illu no nobre ministro da fazenda, e se não tivesse
soria a respeito da emissão de 6,000:000$, creio a convicção de que ello toma esta medida como
que em todas as outras partes o projecto se uma autôrisação do que só lançará mão no caso
acha ^escoimado jdejjualqusr'£duvida"; e de qual de imperiosa necessidade, e até o tempo que
quer contrariedade ; o eu só pediria ao nobre fór mister.
tom» 2. M
202 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Ministno da Fazenda :— Apoiado. ao nobre ministro que releve as minhas faltas,
O Sr. Ferraz:— Senhores, de 1818 em diante porque não sou mais do que um seu discipulo,
os bancos da Inglaterra, da França, da Belgica, que mais acuradamente se deu a estudos desta
de Vienna e de Genova, todos forão victimas ordem depois qne o nobre ministro entrou para
do crises ou de seus erros, ou de exigencias fu a administração ; e pedirei finalmente ao nobre
nestas dos governos que os protegião. deputado membro da commissão que me consi
O banco do Inglaterra sahio são o salvo polo dero inteiramente em boa fé a respeito das pro
fluxo dos capitaes nosso grande mercado ; e essa posições que emitti ; serão ellas filhas do erro,
mosma medida de que lord John Russell lançou mas nunca da intenção, que sempre é de seguir
mão, violando o bill de 18U que marcou o li os seus preceitos. (Muito bem, muito bem I )
mite da emissão do banco de Inglaterra, não foi A discussão fica adiada.
avante ; o o Sr. Carlos Hood, como ministro, Desigua-se a ordem do dia, e levanta-se a sessão
creio que da fazenda, declarou no parlamento, ás 3 horas da tarde.
em 30 de Novembro de 1817, que não se chegára
o banco a aproveitar daquella providencia, e -
que o governo a tinha cassado, em fins de No »
vembro, e então elle proprio pedio uma inqui
rição sobre as cansas que tinhão dado lugar á crise. Sessão em 1 S de Junho
O banco da França em 18-18 suspendou seus
pagamentos, os bancos proviuciaes da mesma PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
sorte, o dahi datou a sua crise. O banco da
Belgica tambem suspendeu seus pagamentos ; e Summario.—Expediente—Fixação das forças de
o governo, qner da França, quer da Belgica, mar. — Ordem do dia. — Auxilio aos bancos.
acudio com o soccorro necessario, dando curso Discursos dos Srs. Paula Baptista e Paula
forçado as notas dos bancos, não como querem Santos. Approvação.—Pretenção de D. Victoria
o nobre ministro e a nobre commissão, mas um Carlota da Silva. Approvação. — Imposto in
curso forçado ein toda a extensão da palavra, terno sobre metais. Discursos dos Srs. Paula
o qual existio em Fiança até Agosto de 18õ0. Santos, Ferraz e Mendes de Almeida.
Em Vienna o governo emittio letras do the- A's 10 horas feita a chamada, achão-se pre
souro, para fazer do algum modo cessar a crise sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido,
ue tinha apparecido ; mas essas letras imm-:- Siqueira Queiroz, Aprigio, barao de Maroim,
iatamente tiverão um abatimento de 5 %, aba Gomes Ribeiro, Fernandes Vieira,- Ribeiro, Vi
timento igual ao que tinha o papel-nveda. Emfini, riato, Baptista, Candido Mendes, Barbosa da
scuharos, o banco de Genova vio tambem seus Cunha, Luiz Araujo, Vieira de Mattos. José
bilhetes cahirem, o chegaram a ter o abatimento Mithias, Nebias, Gouvéa, Mendes da Costa, Dutra
de 5 a 6 %- Rocha, Macedo, visconde de Baependy, Belfort,
Entre nós nada disto se ha dado ; nem ha, conego Leal, Cruz Machado, Araujo Lima, Lin-
nem so projecta suspensão de pagamento, nem dolpho, Vasconcellos, Miranda, Pedreira, Brusque,
os bilhetes do banco têm corrido com abatimento Goes Siqueira, Paula Santos, Castello Branco,
algum. Bello, Souza Leão, Horta, vigario Silva, Teixeira
Ora, vamos a ver de todos esses recursos de de Souza, Seára, Firmino, Zacharias, Theophilo,
que lançarão mão governos de paizes mais adian João Jacintho, Ribeiro da Luz, Angolo Custodio,
tados do que nós qual será o preferivel. O do Pimenta Magalhães, Silverio, Evangelista Lobato,
Vienna, Deos me livre delle, porque importa a Jaguaribe, Rego Barros, Livramento, Pereira
emissão de maior somma de papel-moeda. O de Jorge, Luiz Carlos, Taques, Bandeira de Mello
Paris e da Belgica, estes apresentarão prosperos e Octaviano.
resultados. A crise passou, e o banco da França
hoje funeciona conforme seus estatutos. Portanto, Comparecem depois da chamada os Srs. Sil
este recurso ó preferivel. veira da Motta, Barreto Pedroso, Fausto, Para
Mas o que so apresenta á adopção da casa naguá, Raposo da Camara, Saraiva, Brandão,
ainda é mais completo, porque os portadores das Rocha. Titara, Fiuza, Wanderley, Santos e Al
letras têm para o seu embolso uma garantia suf- meida e padro Campos.
ficiente, da qual os bancos não podem dispór Havendo numero sufficiente, o Sr. presidente
por maneira alguma ; porque em todo o tempo, abre a sessão ás 11 horas.
e quando queirão, podem realisar a promessa Lê-se e approva-se a neta da sessão antece
que encerra o bilhete que têm em suas mãos. dente.
(Apoiados.)
Sr. presidento, estou tão convencido de que O Sr. 1° Secretario dá conta do seguinte
estas medidas serão sufficientes, que se a praça
do Bio de Janeiro fosse outra, se não estivesse EXPEDIENTE#
tão embaraçada e sujeita a tantos preconceitos
lhe succederia o mesmo que se deu na praça de Um officio do Sr. Luiz Antonio Barbosa par
Bordeaux. O banco achando-se em apuros sus ticipando que S. M. L houve por bem nomeal-o
pendeu seus pagamentos, o ao mesmo tempo ministro da justiça por decreto de 14 do cor
tornou com verdado patente a todos o seu es rente.—Fica a camara inteirada.
tado. Um requerimento de Joaquim da Costa Franco
Dessa manifestação reconhecendo-se a maneira e Almeida pedindo o lugar de continuo desta
louvavel por que tinha maneado suas operações, augusta camara, que se acha vago. — A' com
e reconhecendo-se que suas dividas estavão ga missão de policia.
rantidas, favoneado pela confiança da praça, con Officio do Sr. deputado Padua Fleury partici
tinua a funecionar como so tal successo se não pando não poder comparecer á sessão. — Intei
tivesse dado, suas letras de emissão corrêrão rada.
como dinheiro, e desde essa época, que foi depois
de 1830, o banco de Bordeaux, que caminhava Lê-se e approva-se a redacção da resolução que
com passos um pouco curtos e timidos, começou autorisa ao governo a conceder a licença pedida
uma nova éra, e hoje caminha inteiramente des por Francisco Pedro Gorjão.
assombrado. E' julgado objecto de deliberação, depois de
Pediroi á camara que me desculps a ousadia lido, e vai a imprimir para entrar na ordem
que tomei em oceupar-me desta materia ; pedirei dos trabalhos, o seguinte-
SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853 203
« Manoel Joaquim Guimarães Teixeira, na dos productos soffre, soffrem as rendas, soffre o
tural da cidade do Porto e residente na Bahia thesouro, todas as fortunas são abaladas e estre
ha 16 annos, pede a esta augusta camara a mecidas.
graça de lhe dispensar o intersticio da lei, para A diffienldado se manifesta pela razão .de que
o fim de se naturalisar cidadão brazileiro. O pre- o mundo financeiro em sua constante mobilidade
tedente fez as declarações da lei na secretaria apresenta ás vezes taes phenomenos, e casos de
da camara da cidade da Bahia, aos 19 de Feve uma natureza tão singular, qtte, nem nos livros
reiro do corrente anno prova : que chegára dos economistas, nem mesmo nos exemplos de
áquella cidade em Março de 1836, que exerce a outras nações, se fiodem encontrar sempre os
profissão do commercio, residindo alli desde então, materiaes para segura solução das questões agi
e que está no gozo dos direitos politicos de ci tadas. A este respeito assim se exprimio uma
dadão portuguez, achando-se livre de «ulpa no vez Garnier Pagés, uma das intelligencias mais
paiz. A vista do expendido, e das dispensas que penetrantes neste genero de indagações. « Não
em casos identicos a outros se lia concedido, é obstante os meus estudos desde a mocidade sobre
a commissão de constituição e poderes de parecer estas materias, eu tenho muitas duvidas, e
que se lhe defira com a seguinte resolução : grandes.»
« A assembléa geral legislativa resolve : A necssidade de uma medida se manifesta pela
o Artigo unico. Fica o governo autorisado a simples razão de que a crise financeira ó mal
conceder ao subdito portuguez Manoel Joaquim que corre veloz, para levar longe os seus de
sastres ; e neste caso nada peior cio que o senti
Guimarães Teixeira carta de naturalisação de mento de longa hesitação que acaba por nada
cidadão brazileiro, dispensando o lapso de tempo fazer.
que lhe falta para completar o bieunio da lei, Com estas geraes observações não quiz fazer
« Paço da camara dos deputados, em 13 da alguma exhortação preliminar para chamar a
Junho de 1853.—/. A. de Miranda.—J . C. Ban attenção da camara dos Srs. deputados para a
deira de Mello.—F. D. Pereira de Vasconcellos .» importancia da materia ; mas unicamente para
Vai a imprimir com urgencia o seguinte: fazer sentir o crer que o meu espirito neste mo
« A commissão de marinha e guerra, a quem mento está desprevenido ; que não tenho com
foi presente a proposta do governo que fixa as placencias nem resistencias a empregar ; que não
forças de mar para o anno financeiro de 1851 sou governista nem opposicionista ; meu partido,
a 1855, é da parecer que a mesma proposta entre agora, e unico, é o da escrupulosa imparcia
em discussão, para o que a offerece convertida lidade.
no seguinte projecto de lei: Sr. presidente, eu sou de opinião que ó real
o mal da falta do meio circulante que soffre a
« A assembléa geral legislativa decreta: praça do Rio de Janeiro, o penso que este mal
« Art. 1.» A força naval para o anno finan vai compromettendo interesses de outra ordem,
ceiro de 1854 a 1855 constará: o que é mais serio do que talvez muitos ima
« § 1.» Em circumstancias ordinarias de 3,000 ginem. Quanto ás suas causas, eu ussignalo uma
praças de todas as classes, embarcadas em -navios dupla causa, a saber : as novas emprezas de
armados e transportes ; e de 5,000 em circum caminhos de ferro, e outras que tem alierto
stancias extraordinarias. larga estrada para o emprego do uma grande
« § 2.» Do corpo de imperiaes marinheiros, com parte de capitaes moveis, que estão ali i immo-
24 companhias e 4 ditas de aprendizes mari bilisados sem lucros e á espera de futuros e
nheiros. grandes resultados, aggravada esta causa, o mui
aggravada, pela ordem de mãos serviços e im
« § 3.° Da companhia de imperiaes marinheiros prudentes operações dos bancos.
da provincia de Matto-Grosso. Um Sr. Deputado: — Não apoiado.
« S 4.» Do batalhão naval, com oito companhias
de 150 praças cada uma, conforme o respectivo O Sr. Paula Baptista: — Amstados pela idéa
regulamento. de annos felizes, e de dividendos prosperos o so
a Art. 2.» A força acima mencionada será preen berbos, os bancos levárão a elasticidade de seus
chida pelos meios autorisados no art. 4° da lei creditos até o ponto de quebrarem : assim, pois,
r. 613 de 21 de Agosto de 1851. não podem hoje trocar os seus bilhetes. (Recla
maçoes.)
« Art. 3.» Ficão revogadas quaesquer dispo Os senhores que me interrompem oução-rne, e
sições em contrario. depois discorrão no sentido de suas opiniões e
« Paço da camara dos deputados, em 9 de Junho respondão-me. Assim os bancos já não podem
de 1853.—Antonio Corrêa Sedra.—J. A. de Mi continuar nos descontos de letras (apoiados), já
randa.» não podem satisfazer essas grandes exigencias
ORDEM DO DIA (muitos apoiados) que elles mesmos ereárao com
as suas operações imprudentes e insensatas.
AUXILIO AOS BANCOS Um Sr. Deputado: — Forão creadas pelas novas
emprezas.
Continua a discussão do projecto r. 22 deste anno O Sr. Paula Baptista : — Entremos na nitida
relativo á proposta do governo sobre emprestimos resenha desta minha opinião ; discorramos um
feitos aos bancos. pouco sobre as hypotheses possiveis, e vejamos
O Sr. Paula Baptista:— Senhores, nas afinal se tenho ou não razão no que digo.
questões em cujo exame nos empenhamos, e as A que se deverá attribuir a alta do juro, e a
quaes affectão, não ao governo nem aos partidos, falta actual do meio circulante? Será, como a
mas a todo o paiz, devemos achar tres cousas principio se quiz crer, a especulações reprehen-
inseparaveis; o perigo, a difficuldade e a neces siveis dos mesmos bancos guardarem a moeda,
sidade de, affrontando a responsabilidade, tomar pararem os descontos, para assim calculada-
mos uma medida qualquer que nos pareça mais mente motivarem a alta do juro? Não por certo;
sábia e conveniente. porquanto, além de lhes ser bem difficil, senão
O perigo se manifesta pela justa consideração impossivel, porem todas as forças de uma praça
de que as perturbações ou a inacção do credito como h do Rio de Janeiro debaixo do dominio
e commercio algumas vezes invadem repentina e vassallagem do seu monopolio, a alta de juros
mente outras espheras de actividades ; a força que já ha muito reina offerece descontos mui
inicial da industria na producção e distribuição vantajosos ; e todos esses capitaes que não po
204 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
dem ficar dormindo para sempre improduti existe, para evitar a progressão do erro, a accu-
vamente, já deverião ter sahido desses calculos mulação das difficuldales e as complicações.
de inercia o abstenção para preencherem o seu Ora, nestas circumstancias em que nos acha
destino, e encherem o vazio nos canaes da mos, tendo entre ináos gigantescas empresas, os
circulação monetaria. E neste caso a medida de bancos que, quando boin instituidos, regulari-
emprestimo a novos privilegios que lhes dá a sados, e sendo a expressão alta e forte do cre
commissão serviria para augmentar o mal em dito, muitos beneficios poderião fazer, mal fun
vez de curai -o. dados como se achão, com estatutos defeitnesos,
Se deverá attribuir o mal a receios infundados e entregues a operações arriscadas e exorbitan
dos negociantes e capitalistas que, temendo al tes, são um agente da perturbaçao e desordem
guma cousa destes estabelecimentos de credito, nas forças vivas da industria e do commercio ;
guardárão seus capitaes monetarios, querendo são , em uma palavra, uma calamidade que
antes têl-os inertes, do que vêl-os expostos a obsta todo o bem e só produz o mal. (Apoiados.)
riscos e perigos ? Digo tambem que não, e eis Logo, é para ahi que devemos lançar vistas
a razão porque : senhores, um ministro de fi perspicazes, empregar serios cuidados no inte
nanças, que deve dominar o movimento do the- resse de remover as verdadeiras causas do mal.
souro e presidir a segurança das fortunas, deve Tendo pois como certo que os abusos dos
estar em um ponto culminante donde possa ver bancos, a aberração de sua missão que os ati
a regularidade dos bancos ; elle deve ter todos rou para o estado anormal em que elles estão,
os elementos de informações sobre a marcha dos é a causa mui séria da crise em qne se acha
estabelecimentos de credito ; e nem eu concebo a praça do Rio de Janeiro, que, afóra esta,
bancos bem instituidos senão quando ellia to outras plausiveis não vejo eu; entrarei agora na
mfio uma situação bem definida ante o governo. apreciação da medida do governo em relação á
Portanto, estou bem convencido de que, se sobredita causa existente, comprehendendo algu
fóra essa a causa da crise, o mal seria mui mas manifestações feitas na casa pelos honrados
ligeiro, e bastaria a palavra honrada e poderosa defensores da proposta do governo e das addi-
do honrado ministro da fazenda para dissipar ções apresentadas pela commissão.
este panico, este mal de puro receio e fantasia. Senhores, toda a proposta do governo, já na
Mas não, senhores, a causa é real, as discus parte ein que faz um emprestimo aos bancos, o já
sões, as proprias palavras do honrado presidente na parte em que os autorisa para o accrescimo
de ministros o têm revelado. Entre outras cou de uma nova emissão sob caução .de metaes,
sas aqui se disse em pleno dia que os estatutos letras e apolicos da divida publica, que já têm
dos bancos são mui defeituesos, que os autori- uma outra significação e servem de garantia á
são a fazer avanços sobre caução de contas velha emissão, toda esta proposta, digo eu, não
correntes que não são titulos nejociaveis; disse- ó senão para dar impulsão a bancos Inanidos.
rão-se outras cousas de que logo tirarei optimos Senhores, os bancos não produzem capitaes
argumentos em favor de minha opinião já emit- monetarios como quiz dizer o nobre ministro.
tida, isto é, que a causa do mal está na mar Qual é o officio de um banco ? Eu direi com os
cha perniciosa dos bancos, para a qual a me economistas e financeiros : é regularisar, simpli
dida tomada pelo governo, e hoje augmentada ficar e dar desenvolvimento ao movimento fi
pela commissão, não é a propria nem a conve nanceiro ; é facilitar a transferencia dos capi
niente. taes de umas mãos em que estarião estereis,
Deverá attribuir-se o mal á diminuição sen ou serião menos productivss, para outras em
sivel da nossa exportação em relação á impor que vão ter um emprego ou um giro mais lu-
tação, de sorte que todo o excedente fosse le crativo e vantajoso ; e é somente neste sentido
vado em moeda metallica para o estrangeiro ? que Rossi, citado pelo nobre presidente do con
Tambem digo que não; pois qus S. Ex., nas selho, e outros economistas, o contemplão como
tabellas que acompanhárão seus relatorios, dá um agente benefico e efittcaz na producção da ri
a nossa industria em progressão, e a nossa ex queza.
portação em certos annos, e creio que até 1850, Sendo isto assim, quando a praça do Rio de
como superior á importação, e nunca tão infe Janeiro se resente de falta de capitaes moneta
rior que pudesse produzir este resultado. Além rios, quando as novas empresas absorvêrão gran
de que, quando mesmo fosse essa a causa, tra de parte delles, quando a desconfiança reina
zendo a falta de moeda o depreciamento de contra bancos inanidos que suspeuderão os des
todos os valores trocaveis e mercadorias, a mes contos, o que esperão todos aquelles que em
ma marcha regular e certa da cousa nos trará taes circumstancia* querem reh abilitar' estes
a moeda e fará desapparecer esse passageiro bancos com a concessão de nova omissão, e
mal, sem que sejão precisos os remedios he com o curso forçado de suas notas, deixando fi
roicos que applicou o governo. car os vicios de seus estatutos ? Sem duvida que
Será a causa da crise a diminuição na massa seja perniciosissimo para o futuro aquillo que é
dos capitaes, real equivalente de valores crea- pernicioso no presente.
dos e economisados para o emprego da produc- Creio que ó esta a melhor occasião de res
ção de novos valores i Ah I neste pinto eu me ponder ao nobre deputado, membro da commis
abstenho de toda a negativa absoluta. Parece-me são, que nos declarou que os bancos havião dado
que até certo ponto esta ciusa é real. Novas e dinheiro sobre caução de contas correntes, que o
grandes empresas, como as estradas de ferro, permittião os seus estatutos, e que nisso não ha
como disse, têm feito absorpção de uma grande inconveniente.
parte de capitaes que serviao as industrias re Senhores, será possivel que se possa dizer de
gulares. nós o que dissera Napoleão 1 « Em França fal-
Nesta parte eu quero acompanhar o nobre tão homens que saiba i o que é um banco : é
presidente do conselho na sua habil compara uma classe de gente só para crer. »
ção de que o Brazil é como um ifienino que se Creio, senhores, que os fundos de um banco
ergue o caminha na estrada do progresso ma devem ser incessantemente liquidos e disponi
terial, e a quem se não deve por tropeços nem veis, i.xaminai as quédas e fallencias dos bancos
desanimar ; porém entendo que nesta marcha os na Inglaterra , França , Estados-Unidos , e acha
bons desejos de feliz exito aconselhão que se reis que não obstante as differentes marchas que
dê benefica mão a este menino para livral-o dos cada um delles seguio , não obstante as diffe
precipicios ; que aconselhão toda a prudencia, rentes causas que se derão, e das diversas es
tino e perspicacia para na remoção dos obices tradas que seguirão todas vierão dar neste ponto:
e embaraços atacar o mal onde elle realmente falta de fundos liquidos e disponiveis. E' dabi
SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853 205
que vèm as crises, ou ellas se tornão imminen- ção só para a nova emissão, o curso forçado é
tes, prestes a se realisarem. Desde que os ban para todas as letras dos bancos.
cos , abandonando a prudencia e previsões na O Sr. Ministno da Fazenda :—Ha uma emenda
ordem de seus serviços o operações, não accom- que explica isto melhor.
modão a expansão do seu credito ,ás forças do
paiz, e descem para o terreno das especulações, O Sr. Paula Baptista : —Eu não vi esta emenda-
arriscadas e de longos prazos, diz um economista Eu aceito a declaração de S. Ex. ; mas ainda
que neste caso elle já não ó um banco, mas uma continuão minhas duvidas. S. Ex. restringe as
casa de negocio : e eu indo mais longe, direi : letras que deverão ser recebidas pelas estações
é um elemento de desordem , é a expressão da publicas e pelos particulares , e diz que serão
confusão e discredito, o... (apoiados e reclama- unicamente aquellas que forem representantes da
çZes) e que já não podem merecer os favores do nova emissão.
governo , mas medidas radicaes que reprimão O Sr. Teixeira de Macedo :—A caução é dos
seus abusos, suas indiscrições e suas aberrações.
Eu penso assim. Entretanto, senhores, é forçoso 6.000:000«000.
ainda que eu diga que, além do que tem appa- O Sr. Ministno da Fazenda: — E' em relação
recido na discussão , outras informações tenho a toda a emissão até esta quantia.
eu, que não podem ter escapado ao nobre pre O Su. Paula Baptista :—Eu prometto respon
sidente do conselho. der respeitosamente nesta parte a S. Ex. Se a
Dizem-mo que os bancos descontarão letras de caução exigida é sómento para o valor e im
longos prazos, c que alguns dos seus accionis portancia da nova emissão, e se é só a estes
tas não effectuárão suas ulteriores entradas senão bilhetes que se dá curso forçado, então teremos
ficticiamente sobre caução de suas acções. notas do mesmo banco com differentes giros, e
Ora, não sendo para tudo isso sufficiente nem por conseguinte precisando de diversos caracte
adequada a proposta do governo , vamos ainda risticos ; e deste modo esta medida irá produzir
ás injustiças e outras muitas inconveniencias embaraços no commerclo, onde a boa fo poderá
dest i mesma proposta. ser illudida, e deverão os particulares estar sem-
Primeiro que tudo esse curso forçado, que se Ere em constante vigilancia para discernirem os
quer dar aos bilhetes, fere a lei dos pagamen ilhetes de cuja emissão ha garantias no the-
tos. Muitos credores, que tínhão de haver o pa souro daquelles que a não têm.
gamento de suas dividas , por esse modo são So, porém, a causão exigida ó para toda a
constrangidas a receber uma moeda que repu- emissão nova e velha , ó para os 6.000:000)?,
diarião se isso lhes fosse livre ; temos por con julgo primeiro que tudo que esta idéa devo ser
seguinte um privilegio que só se apoia na vio consignada no projecto com toda a clareza, sem
lencia ; temos, corno diz Coquelin , escriptor que lacunas e duvidas que nos afflijão ; e depois
não merece credito para S. Ex., a tyrannia com disto tenho razões para duvidar da extensão
todos os seus amargos fructo?. que so quer dar ás palavras deste artigo e pa-
O Sr. Ministno da Fazbnda : — Eu não disse ragraphos. Os bancos caucionando o emprestimo
de 4.000:000$ com apolices da divida ; os bancos
que me não merecia credito. caucionando de mais a mais 6.000:000$, maximo
Um Sr. Deputado :—Disse que não dava tanta do sua emissão, por igual valor em metaes pre
importancia, que ê cousa diversa. ciosos, apolices da divida publica, letras do the-
O Sr. Paula Baptista : —Pois seja isso. souro e bilhetes da alfandega, depositada a cau
ção nas casas dos proprios bancos, parece -mo
O Sr. Ministno da Fazenda:—Dou mais cre isso um i caução exagerada.
dito a outros. Supponho que na discussão do senado se não
O Sr. Paula Baptista :—Disse, porém, o nobre disse isso ; mas sim sfie esta caução era uni
ministro, presidente do conselho : « Mas essas camente do valor da nova emissão ; e por isso
notas não são papel moeda , mas uma moeda o honrado deputado p^lo Ceara disse bem ; que
fiduciaria , que promette um reembolso certo, o essas apolices e esses metaos preciosos já re-
que se não dá no papel moeda. presentavão o fundo da velha emissão, e que
Senhores , não posso conciliar estas idéas. A assim se queria estabelecer sobre ellas uma du
confiança se não impõe, porém conquista-se com pla caução, ou pira melhor dizer, se estabelecia
actos justos e com provas não duvidosas : é um uma caução, sobre signaes representativos de
acto de espontaneidade e não filho da força. valores que já devião estar constituindo um
Portanto, todas as vezes que se dá curso for- fundo em garantia de emissões, já feitas.
çado ás notas do banco , todas as vezes que se Ainda mais, a commissão quer n0s seus ar
impõe forçosamente a confiança, essas notas se tigos additivos que esta emissão (e sem nunca
rão moeda fiduciaria no nome, mas na realidade dizer que emissão é essa de quo falia) não possa
é papel-ineeda ; pelo menos é forçoso confessar ser applicada senão ao desconto de letras da
que a idéa de reembolso não é quem produz e terra com duas firmas pelo menos, e cujos prazos
anima a sua circulação , mas a obrigaçao legal. não excedão a 90 dias, etc. Disserão-me que esta
Não me quero importar com a fórma, nem com medida tende a um fim, isto é, a facilitar os des
o nome; a realidade é esta. contos de letras de circulação que alguns no-
Passarei a outros pontos. A commissão , que gociantes sacárão uns sobre outros, honrando-se
rendo tomar uteis precauções , diz no § 1° do reciprocamente com o valor de suas respectivas
art. 2° : « Esta emissão será caucionada por igual firmas, e que são justamente estas as que têm
valor em met ;es preciosos, etc. » Ora, as pala levado os bancos a maiores apuros ; e se é
vras — esta emissão— pelas regras da hermeneu assim, não parete conveniente nem acertada esta
tica devem -so referir sem duvida ao accrescimo disposição.
da nova emissão, e é destes novos bilhetes nni- Por outro lado, se por ventura se quer real
camente que a commissão quer garantir aos par mente levantar os bancos das difficuldades em
ticulares o reembolso, e por conseguinte parece que actuilmente se achão, e rehabilital-os com
qua só a estes bilhetes da nova emissão é que mais forças para a continuação de suas opera
se deve dar o curso forçado. Entretanto que no ções, parece que não ha razão plausivel para
art. 2° a commissão diz : « O governo fica au- se lhes vedar o desconto das letras de cambio,
torisado para facultar aos bancos a cl ivarão de quando estas contiverem boas firmas, e os des
sua emissão até a importância de (i.000:000fi. contos forom com curtos prazos e com interes
sendo as suas letras recebidas nas estações pu ses razoaveis. Isso me parece claro : não atino,
blicas, etc. ; » donde se conclue que sendo a c 'ti portanto com a razão de uma tal exclusão.
206 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
Agora perguntarei se os bancos têm defeitos salvar o commercio do mal que presentemente
em seus estatutos, e se pela marcha que têm soffre para deficiencia do meio circulante fizesse
seguido mostrão que não ha nem tem havido um emprestimo .directo ao mesmo commercio sob
sabedoria disciplinaria em sua acção, entenderá boas cauções e com condições razoaveis.
o governo, entenderá a commissão, que com es Posso estar em erro : e bem longe de ter a
tes simplices artigos do projecto em discussão vã ostentação de instruido nestas materias, de
garantirão de hoje em diante um movimento que não sou profissional, e apenas estudo pelo
regular e prudente ? Que por estas unicas me nobre desejo de alargar um pouco a estreita es-
didas do projecto fleão curadas e prevenidas to phera dos meus conhecimentos, pelo contrario
das as emergencias graves e tristes ? Ou antes me confesso o menos instruido. E não é muito
que, tirados da inacção em que se achão, reha- que eu duvide do acerto de minhas opiniões,
bilitados com importantes privilegios, no desejo quando M. Lanjuinais, em materias quasi ana
de se salvarem ,de suas antigas complicações, logas, assim se exprimio na tribuna franceza:
mais se compliquem em suas operações, e por « As observações que tive a honra de vos sub-
conseguinte que, quando se acabar o prazo dos metter,' e sobre que tenho meditado por muito
novos favores, seja este o periodo mais difficil tempo, me levão a pensar que no nosso paiz os
para elles ? E neste caso que fazer ? Sem du espiritos não estão sufficientemente prepara
vida prorogar-se o tempo dos privilegios. dos para a solução de questões tão graves i
Senhores, esta possibilidade não é fantasiada: somos chamados a examinal-as, e quanto a
as medidas propostas, não atacando o mal pela sou o menos esclarecido. »
sua origem, não a previnem capazmente, e, para Tenho concluido ; declarando que voto contra
dizer tudo de uma vez, o que eu enxergo nesta a proposta.
proposta ó uma providencia incompleta o egoista.
Sim, o governo temo o naufragio e o que quer O Sr. Paula Santos :— Sr presidente,
é que quando o naufragio fòr commum, haja depois do detalhado discurso que foi pronunciado
salvaçuo segura para o thosouro. Eu faço jus nesta camara pelo nobre deputado pela provincia
tiça ao nobre ministro da fazenda reconhecendo do Maranhão, que é relator da commissão ;
seus profundos conhecimentos nestas materias, depois do" importante discurso que tambem foi
e sem querer magoal-o, permitta-me S. Ex. que feito pelo nobre ministro da fazenda, quasi que
diga qne S. Ex. não póde deixar de conhecer nada mais resta a dizer-se em defesa do pro
e presentir todas essas cousas ; não póde dei jecto em discussão. Esta circumstancia me teria
xar de estar profundamente convencido do que imposto o dever do guardar silencio, e resignar
estes estabelecimentos de credito, segundo as a palavra, so não fóra a seguinte consideração:
confissões feitas na camara dos Srs. deputados, ue a classe dos homens praticos, que a humil-
não podem existir como estão ; que são um pe 5 e classe dos homens praticos que eu tenho a
rigo que está sobre o paiz; mas é que S. Ex. honra de representar nesta casa, não tem toma
nas difficuldades do momento contenta-se do parte neste debate.
com um simples palliativo, coritentu-se com Direi pois muito pouco, e verei se posso, para
uma medida provisoria, aguarda a approvação não cansar a attenção da camara, comprehen-
de seu projecto que já passou no senado, para der em algumas observações geraes uma resposta
na execução desta lei tomar uma medida defi resumida e precisa ás objecções que em geral
nitiva. Sim, Sr. presidente parece-me que se não forão postas pelos honrados- membros que im-
poderá resistir á força de minhas reflexões. pugnão o projecto, oceupando-me com especia
S. Ex. concebe admiravelmente a necessidade de lidade de uma ou outra proposição que não
providencias mais largas e sem duvida é na tenha sido completamente respondida por aquelles
creação do banco nacional que S. Ex. pretende que sustentão o projecto.
descarregar golpes profundos, e aproveitar-su so Senhores, a medida que se discute e se acha
mente doa alicerces dos bancos actuaes para consignado no projecto não é uma medida nova
sobre elles levantar novo edificio. E ne assim é, que não tenha exemplos nos fastos financeiros e
como realmente penso, porque S. Ex. se não commerciaes do mundo : não é uma medida que
explica francamente neste sentido? Porque o não tenha sido adoptada por nações muito adian
não diz? tadas na sciencia financeira e commercial.
Seja o que fór, como eu não partilho as opi Um escriptor distincto, Sr. presidente, um
niões do nobre ministro presidente do conselho escriptor que V. Ex. ha de necessariamente co
no seu projecto para a creação do banco na nhecer, porque V. Ex. está ao facto de todas estas
cional, como estou em divergencias mui capi cousas, esse escriptor, em algumas bellas paçinas
taes, não posso de modo algum dar o meu voto que dedica á analyse das crises commerciaes,
a esta medida provisoria, que mesmo provisoria exprime o seguinte pensamento : « Em todos os
reputo funesta pelas razões que tenho expendido ; paizes ha certos periodos de grande prosperi
o meu accordo nesta parte e tanto mais firme quanto dade, que são sempre seguidos de 'fortes con
eu vi que na discussão do projecto de que fallei tracções de credito, ou de excessiva demanda de
no senado, discussão lucida e brilhante, apezar capitaes disponiveis. » E este pensamento, se
dos esforços de alguns nobres senadores habeis nhores, é confirmado pela experiencia, como noa
e illustrados na materia para com suas emendas attesta a Inglaterra em dous notaveis periodos
aperfeiçoarem o projecto, nenhuma das emendas de sua historia financeira e commercial.
foi approvada, tendo assim occasião de ver que Havia a Inglaterra no anno de 1825 tocado a
nestes assumptos, em que tão abalisados finan um tão elevado gráo de prosperidade ; tão forte
ceiros desconfião de si mesmo, S. Ex. não achou . era então a acção do credito publico e particu.
uma só idéa digna de sua approvação, pelo que lar, que o espirito da empresa, não achando
nem o < peio nesta proposta a approvação de bastante amplo e espaçoso o theatro que a Grã
emendas que deva mandar, e nem no projecto Bretanha lhe offerecia nos variados ramos de
que tem de vir a esta camara. sua industria, atravessou o Atlantico, e pene
Todavia direi sempre que em presença da crise trando no Pacifico, veio especular nas entranhas
actual e de suas causas proximas e remotas, a do solo da America Meridional em demanda de
minha opinião é que se procedesse a um in ouro e prata, e mandou grossas sommas para
querito circumstanciado e mui circumspecto sobre serem emprestadas aos diversos estados desta
os bancos, e depois de verificada a sua ruim região I
gestão, os vicios de seus estatutos, interviesse Nessa occasião, e para taes empresas, forão
a acção do governo nas reformas necessarias lançadas na bolsa de Londres, a que os» inglezes
qualquer que fosse a difficuldade, e que para chamão Stok-Exchange, acções no valor, na som-
SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853 207
ma enorme e fabulosa de 248,000,000 esterlinos, as causas efficientes da situação, porque sempre
dos quaes 50 milhões (400,000:000$. note-se) ha- temi que na apreciação dessas causas uma ou
vião sido effectivamente pagos, em virtude de outra palavra menos prudentemente enunciada
chamadas feitis sobre essas mesmas acções. E tendesse a aggravar a intensidade das conse
qual foi, senhores, a consequencia de tudo isto ? quencias, em vez de attenual-a. Como porém
Uma immediata contracção de credito, uma ex os nobres deputados que entrárão na discussão
cessiva demanda de capitaes disponiveis, as se occupão largamente da investigação das cau
quebras emfim, com todas as suas funestas sas que creárão a situação presente, eu tambem
consequencias ; e se então o governo não hou me julgo com direito de fallar no mesmo sen
vesse intervindo com a sua autoridade, permlt- tido.
tindo que o banco de Inglaterra alargasse .a Todos aquelles senhores que combatem o
esphera de suas emissões e viesse em subvenção projecto, quando entrão no exame das causas
do credito individual, grandes calamidades se que constituem ou podem constituir as^difficul-
seguirião. Em pouco tempo porém todos os ne dades da situação, são quasi todos concordes
gocios havião cahido em seu estado normal. em considerar a gestão dos negocios dos ban
Em 1847, tres annos depois do celebre bill de cos como uma dessas causas. Um nobre membro
sir Roberto Peei, que renovou os privilegios do por Pernambuco que hoje fallou chegou ao
banco, e que limitou as suas emissões ao valor ponto de dizer que os bancos estavão inanidos,
dos seus empenhos com o estado, conformo os e não podião pagar as suas letras, entretanto
principios da escola metallica, seguidos por esse que se o nobre deputado fosse com algum bi
distincto estadista o por seus amigos ; em 1847, lhete dos bancos á rua da Quitanda, ou da
digo, em tambem .tão prospero o estado da Alfandega, onde residem os bancos, trocaria o
Inglaterra, o tão forte o credito, que o espirito seu bilhete por moeda corrente.
de empresa não recueu diante da temeraria pre- O Sr. Dutra Rocha:— Mas elle retractou-se
tenção de cortar todo o paiz com estradas de logo.
ferro, em diversos sentidos ; e para esse fim
forão de novo lançadas no Stok-Exchange acções O Sr. Paula Santos :— Sim, justiça seia feita
que representavão uma enorme somma nominal. ao nobre deputado, pois que, na verdade, elle
É qual foi ainda a consequencia de tudo isto ? retractou-se logo, mas continneu accusando os
Que tendo sobrevindo uma falta do cereaes, pelas bancos por terem suspendido ou contrahido os
minguadas colheitas daquelle anno, falta que descontos, clrcumstancia esta que elle conside
produzio a necessidade de so exportarem gran rou como constituindo causa das difficuldades
des sommas em especies metallicas para impor da situação. Eu confesso a V. Ex. com fran
tação de trigo, uma nova e espantosa contracção queza, Sr. presidente, que por mais que eu dó
de credito se manifestou, que teria produzido os tratos á minha imaginação para descobrir o
mesmos desastres de 18:25, se em conselho de como e o por que os bancos concorrem para
ministros se não houvesse suspendido o acto de estas difficuldades monetarias, não atino com a
1844, mandando-se que o banco ampliasse a razão, e nem acho na conducta dos bancos
esphera de suas émissões e fortificasse assim o acção que justifique a censura que lhe fazem
credito individual e particular ; e foi então que os nobres deputados. (Apoiados.)
se vio que os rigidos sectarios dos principios O nobre deputado pela provincia da Bahia,
da escola metallica dobravão a fronte ante a que hontem fallou tão brilhantemente, como cos
imperiosa evidencia dos factos U tuma, e cujo talento eu invejo, tambem cen
E ainda que esta suspensão não houvesse surou os bancos por falta de providencia em
sido posta em pratica por desnecessaria, como suas operações, deixando de satisfazer a uma
nos disse hontem o nobre deputado pela provin de suas principaes missões, quU a de regular
cia da Bahia, fundado na autoridade de sir convenientemente a circulação dos capitaes.
Charles Wood, ministro da fazenda então, ó Senhores, os bancos que existem no Rio de
comtudo evidente e incontestavel que aos effei- Janeiro são bancos de deposito, e não de emis
tos moraes dessa medida «e deveu então o res são ou circulação, e como bancos de deposito,
tabelecimento da marcha regular de todos os gozando de mui acanhada protecção, não podem
negocios. certamente . desempenhar missão que compete
E nem se diga que a nossa situação não é a sómente aos bancos de circulação, fortemente
mesma, ou que a medida em discussão não é constituidos e tanto assim que o nobre depu
analoga áquellas de que fallei, porque, se algu tado a quem me refiro, no desenvolvimento en>
ma differença ha, ella consiste sómente nisto : que entrou para provar a imprevidencia dos
que alli as crises erão definidas e regulares, e bancos actuaes , argumentou com os bancos
aqui ella é ainda uma crise incipiente, mas que da Inglaterra o de França, que são bancos de
se apresenta em nossos horisontes commerciaes circulação fortemente organisados.
com semblante carregado, e ameaçando uma Um Sr. Deputado : — Bancos de deposito não
tempestade, que, se não fór conjurada a tempo, emittem.
ha de produzir estragos consideraveis (apoiados); O Sr. Paula Santos : — Mas essa emissão
que alli havia já uma forte instituição de cre que estes bancos podem fazer é tão exigua
dito, da qual o governo se utilisava para for e tão fraca, que não lhes tira a qualidade de
tificar o credito individual, e aqui nós tratamos
agora de crear uma igual instituição e para os bancos de deposito. Em regra os bancos de cir
culação podem emittir outro tanto do seu capi
mesmos fins. E pois, Sr. presidente, quando tal social, as vezes o duplo e o triplo. Estes
outras razões eu não tivesse para justifica): o bancos porém só podem emittir uma somma que
projecto em discussão, bastarião essas conside
rações, que descansão na autoridade de uma corresponda á terça parte de seu capital social,
nação que com razão é considerada como a privados circumstancia
com a
de
de serem seus bilhetes
ingresso nas estações publicas. E
mais judiciosa e illustrada do mundo.
Eu desejava, Sr. presidente, que a discussão nem eu sei mesmo, -Sr. presidente, de que es
desta materia fosse collocada em um terreno pecie são estes bancos que temos, porque nem
elles são bancos puramente de deposito s nem
differente daquelle em que ella foi lançada ; de circulação : são bancos sui generis, porque
quizera que se tomasse a situição e se exami compulsando a historia dos bancos, não encontro
nasse o alcance dos effeitos que sentimos , o exemplo de instituição semelhante.
que se considerasse o projecto em suas relações
com esses effeitos e com os principios economi O Sr. Ministno da Fazenda : — Isso é bem
cos, mas que se apartasse a discussão sobre verdade.
208 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
. —
O Sr. Paula Santos : — C^que é corto é que estado de credito muito solido (Apoiador.) E esta
as suas funcções são mais de* bancos puramente observação serve, senhores, para responder á cen
de deposito. sura que os nobres deputados fizerão ao banco,
O Sr. Ferraz : — São mixtos. por haverem elles dado demasiada elasticidade
ao credito dos importadores. Se o banco deixasse
O Sr. Paula Santos : —E ainda que se possão de dar as possiveis facilidades a esta classe de
considerar bancos mixtos, não estão elles or- seus freguezes, que é sem duvida a que offerece
ganisados de modo que possão elles exercer so melhores garantias, teria de ver muito limitada
bre a circulação aquella influencia benefica que a esphera de suas transacções.
exercem os bancos de circulação solidamente Senhores, os bancos, no meu fraco modo de
constituidos. pensar, tém feito mui grandes serviços ao paiz;
E pois, senhores, estes bancos que não podem a elles se deve sem duvida o não ter appare-
exercer senão funcções puramente bancaes, li- cido ha mais tempo a crise, e ás suas medidas
mitão suas principaes operações em receber di de prudencia o não ter essa crise apresentado
nheiro, e emprestal-o aos freguezes de sua con caracter mais assustador; demos-lhes mais fortes
fiança, descontando as letras e effeitos commer- garantias, e elles farão oiaiores benefícios. Não en
ciaes que dão as necessarias garantias. A missão tendo, pois, que a excessiva importação de produc
sublime e importante de regular conveniente- tos estrangeiros possa ter constituido por si só e
mante a circulação dos capitaes, o de prever isoladamente a causa das difficuldades da praça.
as eventualidades do futuro, compete aos ban As causas verdadeiras da crise, e que obrão com
cos de circulação que nos dominios do credito maior força,» são outras, e entre ellas ha uma,
occupão o lugar de governo ou de autoridade e muito patente, que não foi ainda lembrada,
suprema, que corrige ou repara nos seus resul nem nesta casa nem fóra delia, a que eu me
tados geraes, os desvios e aberrações dos es referirei muis adiante.
forços individuaes. Senhores, uma das circumstancias que nos tem
Mas, diz-se : « os bancos contratarão seus conduzido a este estado penivel é sem duvida
descontos, e concorrem assim para aggravar-se alguma essa numerosa serie de empresas de
a situação». Senhores, em minha opinião os ban opinião e de imaginação, que o espirito de es
cos desta praça têm cumprido seus deveres tanto peculação ha lança lo simultaneamente sobre o
quanto é possixel. Emprestando-se os seus ca nosso mercado (apoiados) j as faculdades finan
pitaes e os de seus freguezes, dentro dos limi ceiras da nossa praça mal podem comportar essas
tes legaes de seus estatutos, eu creio que elles empresas de navegação de rios, cujas margens
prestarão um grande 'serviço ao paiz, o se nas estao despovoadas, o de estradas por desertos,
circumstancias presentes elles têm contrahido ou por lugares de acanhada producção, cujos
os seus descontos, não fazem com isso senão lucros ou serão nenhuns, ou estão muito re
imitar o banco da Inglaterra, que em 1847 ha motos , importando assim uma immobilisação
vendo descontado até o ultimo real existente muito longa de grandes capitaes. O nosso mer
em suas caixas e dentro dos limites legaes de cado ainda está na inlancia, e posto que a sua
-&ua oncorporação, contrahirão seus descontos ou infancia seja muito robusta e desenvolvida,
cessarão de os fazer, uté que o governo resol precisa todavia las forças da virilidade para
vesse a suspensão do bill que lhe interdizia a poder carregar sobre seus hombros com tão
emissão. enorme peso. (Apoiados.)
Apressemo-nos pois, senhores, em adoptar ao As nossas circumstancias serião hoje differentes
projecto que autorisa os bancos desta praça a se todas as empresas a que tenho alludido ti
elevarem sua emissão, e dã a seus bilhetes uma vessem sido lançadas no mercado da Inglaterra,
circulação mais ampla, habilitando-os assim a porque então não só os nossos capitaes não es-
prestar mais valiosos serviço.s. tariao immobilisados, inas tambem a massa cir
Os nobres deputados por Pernambuco que hon- culante dos agentes de producção se houvera
tem e hoje fallárão contra o projecto considerá- augmentado em beneficio do paiz. E pois, se
rão tambem como causa da crise actual a exces nhores, força é que sa assigne como causa prin
siva importação de productos manufacturados, cipal desta crise esse espirito de empresas de
superior ás necessidades de consumo: entendem opinião que creou tão grandes necessidades, ne
elles que os importadores, assim onerados, e re cessidades que renascem.
correndo ao credito, para satisfazerem seus em O Sr. Ferraz: —E na occasião mesmo da crise.
penhos, augmentão as demandas de numerario
e a gravidaie da situação. Se esta causa e na O Sr. Paula Santos: — E' verdade que renas
verdade tal, se esse facto de importação de ma cem em presença mesmo da crise, e ao aspecto
nufacturas superior ás necessidades do consumo desses ln^ubres anauncios de repetidas chama
póde ter influido, essa influencia é mui remota, das de que estão recheados os nossos jornaes
ou pouco efficaz. diarios, necessidades que affectão todos os inte-
Os productos manufacturados têm sempre um ressos do commercio e da industria regular e
valor, qualquer que seja a depreciação causada sensata.
pela superabundancia ; elles ropresentáo sempre Mas, senhores, serão os bancos ainda que te-
uma porção de capital, e como aquelles que im- nhão acoroçoado essas empresas, e que tenlião
porião tues fazendas e productos são ein regra dado elasticidade ao credito dos int ressados
pessoas que possuem algum capital proprio, nesse nellas, como já se tem querido fazer aqui sentir?
capital elles achão os recursos para saldirem as Não, senhores, essas empresas, esses desvios
differenças ; e a prova disto está na seguinte dos esforços individuaes estavão nas condições
consideração. O cambio tem subido a 29 'X, e naturaes da situação: o juro havia cabido a
não obstante sacadores houverão para uma som- muito baixo preço, e se o preço do interesse e
ma de lb. st. 450,000 pelo ultimo paquete. um seguro expoente da abundancia de capitaes,
Tirada esta somma a importancia de lb. st. 50,000 não é de admirar que o espirito de empresa
tomadas pelo Sr. ministro da fazenda, e que fosse seduzido então por esse estado do pros
representão interesses do th-souro, o resto, que peridade apparente. Deveria o banco elevar . o
são lb.st. 400,000, ou Rs. 3,200:000)» da nossa moeda, preço do interesse Isso seria absurdo. Pre-
exprime sem duvida alguma liquidação dessas cisavão essas empresas do auxilio do banco ?
differenças de valor entre os gastos de produc- Não, porque os capitaes se achavão com facili
ção e o preço do mercado ; e uma tão forte liqui dade fóra dos bancos. E. senhores, até um certo
dação neste ramo de industria não póde deixar ponto eu considero tudo isto que tem acontecido
de collocar esta classe de productores em um como -um beneficio para o paiz, porque em ul
SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853 209
tima anaiyse esta crise revela, em minha opi chegassem a tal ponto que o cambio cahisse a
nião, estado de prosperidade, e que o paiz tende, menos de 27, e a depreciação do meio circulante
com vigor e energia, para o desenvolvimento se seguisse. A exportação, porém, foi para as
de todas as fontos de riqueza. provincias, ou porque o cambio nellas estivesse
O Sr. Ferraz : — Só nos paizes ricos se dão mais alto, ou porque o capital nellas produzia
crises. maior interesse. E o que é, senhores, uma expor
tação de capitaes para as nossas provincias, cujas
O Sr. Paula Santos:—Sim, senhor, é nos paizes praças estão tão distantes entre si ? E' uma
ricos e prosperos que as crises são frequentes. grande dificuldade que se póde considerar como
Resta só que os altos poderes do estado inter uma campleta collocação que immobilisa por longo
venção e protejão esses esforços da sociedade tempo esses capitaes, e retarda a sua volta ; os
para que elles se não inutilisem com sacrificios que conhecem as leis da localisação podem apre
estereis. ciar as difficuldades com que os capitaes emprega
Mas, senhores, ha uma outra cansa muito po dos em qualquer industria lutão para serem delia
derosa a que já alludi, e que não tem sido con deslocados.
siderada. E quereis saber qual é ? E' a elevação Assim, senhores, differentes causas conspi
do preço de todos os serviços no paiz em geral. rando simultaneamente para os mesmos fins
O preço de todos os serviços, bu por outras creárão a situação presente. (Apoiados.) E devere
palavras o preço do trabalho, e os gastos de mos nós nestas circumstancias cruzar os braços
prdducção de certo tempo a esta parte têm du e deixar que o commercio, a industria, a agri
plicado, e triplicado mesmo. A nossa agricul cultura, debaixo de uma semelhante pressão,
tura, a nossa extensa e rica cultura de café, caião em deliquio e prostração ? Seriamos alta
por exemplo que até aqui, para obter o serviço mente responsaveis perante o paiz se tal fizes
de um homem, empregava (500$, hoje emprega o semos.
dobro, e o triplo ; o serviço forçado foi elevado O nobre deputado pela provincia dó Ceará,
depois de 1850 a um valor duplicado, e o ser que hontem faUou sobre a materia, disse, reco
viço livre que as necessidades indeclinaveis de nhecendo as difficuldades da situação, que havião
nossa lavoura começão a admittir, é ainda mais falta de capitaes no paiz, por se ter consumido
elevada. Um trabalhador livre não exige menos uma grande parte delles na guerra do sul,
de l/J diarios, que se elevão a 365$ no anno : e em outras despezas improductivas feitas pelo
esta somma considerada como juro representa estado, e que a medida proposta não produz effeito,
um capital enorme. porque ella não póde crear capitaes.
Se pois a nossa industria agricola e fabril, Senhores, ainda que as guerras do sul hou
se todos os serviços no paiz tão elevados são, vessem consumido improductivamente grandes
e assim os gastos de producção se augmentão, valores, essas guerras já cessáráo ha tanto tempo
ó evidente que até o anno de 1850 estes servi ue os seus effeitos não podem estar ainda in»
ços no paiz demandavão um capital de 100,000:000$, uindo, e tanto é isto assim que a grande baixa
por exemplo, hoje demanda o dobro e o triplo. .io preço do interesse dos capitaes que se mani
A camara sabe que nossa lavoura experimenta festou nesta praça foi posterior a essas guerras.
todos os annos uma consideravel perda de ca Se as guerras consumirão os capitaes como ó
pitaes, por morte de escravos e outras circum- que elles apparecêrão depois dessas guerras,
stancias que se podem bem classificar debaixo revolvendo-se por uma reducção do juro de 3
da phrase financeira—gastos de producção—e que o 4 % ? Esta consideração bastaria para destruir
ella precisa de os substituir annualmente para a objecção feita pelo honrado membro pelo Ceará.
que a sua lavoura não definhe. Mas supponhamos que não existem capitaes,
E nem se diga que havendo cessado o trafico como diz o nobre deputado, e que se devem
inteiramente em 1850, só agora ap parece esta crear.
necessidade, porque a razão é muito clara. O facto De dous modos se podem obter capitaes, ou
da extincção completa do trafico não foi olhado creando-os ou provocando os já creados ; creal-os
no principio como um acto irrevogavel, e muita é obra do trabalho e do tempo ; provocal-os ó
gente duvidava de que elle produziria os effeitos obra das fortes instituições de credito, e é isto
que se desejavão. Emquanto pois a convicção o que nós fazemos com a proposta em discus
da cessação do trafico não callou no espirito são, que tem por fim fortificar mais e mais o
publico, todos se puzerão em observação, e se credito dos bancos, para que os capitaes inva
forão sustentando na lavoura como lh'o per- lidos ahi sejão collocados e utilisem ao credito
mittião suas forças, circumstancia esta' que em individual. (Apoiados).
parte concorreu para essa baixa de juros que O nobre deputado pela provincia de S. Paulo,
por algum tempo houve nesta praça, e que que em primeiro lugar fatiou e impugnou alguns
apresentava uma superabundancia de capitaes. artigos da proposta com o habilidade que todos
Desde que porém a cessação do trafico foi um lhe reconhecem, enxergou nas cauções impostas
facto consummado, a necessidade urgente da agri pelos §§ 1° e 3° do art. 2° da proposta mui
cultura do paiz appareceu ; ella correu a nosso fracas garantias para resguardar os prejuizos do
mercado, e obrigada a demandar para seu ser thesouro, no ciso de algum sinistro, e uma vez
viço capitaes maiores que anteriormente, não que os bilhetes dos bancos devem correr nas
podia a sua concurrencia deixar de aggravar a estações publicas e gozar de um curso forçado.
intensidade da deficiencia de numerario, já As g irantias que pelos referidos paragraphos se
muito demandado por outras industrias. (Apoia exigem são : depois de metaes, apolices e bons
dos ; muito bem.) effeitos de commercio, computados estes por_ me
Além desta causa ha ainda outra que eu me tade do seu valor, e mais a reserva de um
esquecia de indicar, e que já foi lembrada aqui. terço em moeda corrente, para se realisnr a
Fatio da deslocação de capitaes. Pelas leis que conversão dos bilhetes de emissão ã vontade do
regem a circulação fogem sempre daquelles lu portador.
gares em que elles são menosprezados, e vão Estas garantias são superiores ao valor da
procurar collocar-se onde sejão nem apreciados. emissão que pelo projecto se concede, e além
Assim, desde que elles superabundarão nesta delias, estão legalmente hypothecados todos os
praça, começou a sua exportação, não para o fundos dos bancos. Se tão fones cauções não
estrangeiro, was para as provincias. são bastantes, então, senhores, não ha nas for
ças humanas meios de se prestar uma boa ga
O Sr. Ferraz:—Podião ir para o estrangeiro, rantia. Eu considero,' senhores, os metaes pre
O Sr. Paula Santos: — De certo.se as cousas ciosos, as apolices, os bilhetes da alfandega, a
tomo 3. 97
210 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
reserva metallica, e a responsabilidade de todo O Sr. Ferraz : — Senhores, permittão-me que
o fundo dos bancos como cinco fortes camadas lhes diga que não é possivel haver um decreto do
sobrepostas, tomando uma comparação na scien- governo creando uma imposição tal, ou outra qual
cia geologica que constituem o solo firme e com quer, nem tal decreto póde existir. Os decretos a -
pacto em que assenta a proposta ; e se esse solo que os nobres deputados se referem trazem con
assim formado não é firme, então tambem não e dições pelas quaes se concedeu um privilegio a
firme nem é soiido o terreno em que assenta, em uma companhia para a mineração' de prata, etc,
que descansa e em que repousa.... o que? O esse decreto é o de r. 290 de 21 de Dezembro
Corcovado I de... que concedeo a Irinêo Evangelista de Sou
O nobre deputado pela provincia de S. Paulo za o privilegio de minerar cobre em certas pro
impugnou o § 2° do art. 1°, por entender que vincias. (Lê) A esse decreto acompanhão as con
elle. prejudica algumas praças commerciaes de dições debaixo das quaes foi concedido esse fa
outris provincias , que negocião com esta, ex vor, e uma delias, a ultima, que tem o numero
cluindo as letras sacadas por aquellas praças do 8, que diz. (Lê )
desconto que pelo projecto se permitte ás letras Conforme esses principios a concessão de dif-
da terra. Creio que o nobre deputado não tem ferente privilegios sobre mineração de ouro e ou
razão nesta objecção, porque as letras de outras tros metaes de Goyaz concedida ao conselheiro
praças não ficão excluidas. Se o nobre deputado, Lopes Gama tambem tinha a mesma condição, e
como eu creio, não falia das letras que são sa esta condição imposta a este conselheiro foi offe-
cadas desta praça sobre aquellas, e sim das que recida mesmo por elle, ao passo que eu não sei se
sendo sacadas daquellas são aceitas nesta, é evi essa condição inserida no projecto de que se trata
dente, que sendo taes letras aqui aceitas, tendo seria tambem offerecida pelo individue a quem
a praça marcado no artigo, e as firmas exigidas, ella se impõe ; mas o que é verdade é que foi
tomno ellas o caracter de letra de terra, e podem aceita e é o effeito de um contracto.
ser negociadas. Vozes : — Não, não foi.
Senhores, se eu entrar em considerações, sobre
tudo quanto se tem dito nesta casa, cahirei em O Sr. Ferraz : — Vêm portanto os nobres de
uma exposição desagradavel, reproduzindo o que putados que o governo não creou o imposto, e nem
já. se tem dito. Dou fim portanto ás minhas ob podia creal-o.
servações, e concluindo direi que não só adopto Vamos agora a outra questão, de um escripto
a proposta, e lhe presto completa adhesão, como publicado pelo conselheiro de estado o Sr. José
?(ue prestaria mesmo um voto de confiança se Antonio da Silva Maia, pessoa de grande auto
osse necessirio, para que dentro delle o nobre ridade nestas materias ; na parte em que se trata
ministro procedesse como julgasse mais conve de imposto de mineração de difierentes metaes
niente, pois que tal é a confiança que me inspi- se encontrão as seguintes palavras : a A minera
,rão o patriotismo e a intelligencia do nobre mi ção de todos os outros metaes é tambem sujeita
nistro dos negocios da fazenda. (Apoiados ; muito ao imposto, a sua queta, a respeito da qual nada
bem.) tem estabelecido a legislação moderna, ainda de
Não havendo mais quem peça a palavra, jul- verá ser a de duas dizimas de todo o metal que
ga-se a materia sufficientemente discutida e posto se purificar, conforme o antigo regimento de 17
a votos o artigo da proposta, é approvado com de Outubro de 1510, capitulo 237.»
as duas emendas da commissão. O Sr. Mendes de Almeida : — Ah I isso já está
Segue-se a discussão do 2° artigo additivo da revogado.
commissão com todos os seus paragrnphos , e O Sr. Ferraz:— Eis o que elle diz. Vamos
com as emendas da mesma commissão já publi agora a nossa legislação : a primeira legislação
cadas. Sem debate são approvados e passa o pro q ue temos sobre impostos é de 15 de Dezembro
jecto para a 3* discussão por grande maioria. d e 1830. Esta lei, no art. 30, autorisou o governo
O Sr. Paula Santos (pela ordem,) : — Eu tenho a cobrar todas as rendas e imposições existentes
de apresentar um requerimento, é que este pro naquella época, qualquer que fosse a su i deno
jecto seja dispensado do intersticio que marca o minação e applicação, comtanto que tivessem sido
regimento, para ser dado amanhã para ordem reconhecidas pela assembléa geral. Do mesmo teor
do dia. procedeu a nossa primeira lei do orçamento que
e de 3 de Outubro de 1828, no art. 6'. Ficão em
Consultada a camara, approvo este requeri vigor todos os tributos existentes e continuarás
mento. a cobrar- se no anno financeiro de 1828 a 1829,
até que por lei se publique sua revogação. A
PRETENÇÃO DE D. VICTORIA CARLOTA DA SILVA. lei de 3 de Outubro de 1835 foi a que tez a se-
Entra em Ia discussão o projecto r. 57 de 1852, Êaração entre os impostos geraes e provinciaes.
intre os difierentes artigos que ahi se enumerão
declarando que D. Victoria Carlota da Silva tem acha-se o imposto sobre a mineração do ouro,
direito ao monte-pio de seu fallecido -pai o te- o producto dos contractos das novas companhias
nente-coronel Francisco José Ignacio da Silva. de mineração ; mas não se encontra enumerado
O Sr. Siqueira Queinoz çede dispensa dasduas o imposto geral de mineração.
discussões, afim de que o projecto tenha uma só. Na lei de 22 de Outubro de 1830 figura pela
Sendo opprovado este requerimento entra o primeira vez essa imposição sob a rubrica—Im
projecto em uma unica discussão, na qual é ap postos sobre a mineração de ouro e outros me
provado por escrutinio secreto por 50 jotos contra 3. taes—Depois dessa lei consecutivamente em todas
as leis do orçamento veio consignado o parapho
IMPOSTO INTERNO SOBRE METAES de imposto sobre a mineração de ouro e outros
metaes, ou simplesmente sobre mineração ; mas
Segue-se a discussão do requerimento de adia na lei publicada em 1848, que determinava o or
mento do projecto r. 101 que isenta de qual çamento de 1849 a 1850, creio eu, não foi con
quer imposto interno a prata, cobre e outros signada essa disposição, e não foi -pelo seguinte.
metaes extrahido das minas do paiz. Aqui estão os trabalhos da commissão do orça
O Sr. Paula Santos pronuncia um discurso mento de 1848, donde se evidencia qual a razão
que publicaremos depois. por que não foi consignada essa disposição. O pa-
grapho 43 do artigo do projecto do orçamento
Nota.—(Este discurso não foi posteriormente continha a seguinte disposição. «Ditos sobre a
publicado.) mineração.»
SESSÃO EM 15 DE JUNHO PE 1853 211
Ora, a razão por que na lei não foi consignada direito de lavrarem certos terrenos e veios mi
essa disposição é porqne o Sr. Ferreira Penna neraes. E' uma especie de indemnisação pela
offereceo a este paragrapho o seguinte paragra cessão desse direito, assim como o proprietario
pho substutivo. . . Notarei á camara que então de um terreno o poderia fazer a seu rendeiro.
eu era membro da eommissão do orçamento, e A unica renda de mineração que até certa
o tive de redigir para a terceira discussão época tinhamos era proveniente de contractos da
O paragrapho substituitivo offerecido pelo Sr. companhia de Gongo-Socco, etc. Por conseguinte
Ferreira Penna continha a seguinte disposição : se os nobres deputados quizerem estabelecer
« § 43 substitutivo. — Ditos de titulos de datas alguma medida que tenda a isentar as compa
mmeraes que d'ora em diante se concederem, e nhias desse onus, não ha de ser como está no
pelas ratificações das medições das já concedidas projecto...
na razão de 2$ por cada titulo. A presente dis Vozes: — Apoiado, sim, certamente.
posição não prejudica contractos com compa O Sr. Ferraz: — O que se póde dizer é que o
nhias de mineração.» favor concedido a essa companhia não ficará
O Sr. Mendes de Almeida:— Isto era sobre os sujeito a onus algum, mas tambem não se póde
terrenos diamantinos. approvar o projecto como está.
O Sr. Ferraz : — Sobre os terrenos diaman O Sr. Mendes de Almeida : — Mas não o
tinos já havião outras disposições. Do que expuz adiemos.
e li vê-se que a lei acabou com o imposto de O Sr. Ferraz : — Na lei do orçamento respe
mineração, mas que deixou ao governo a facul ctivo podia a eommissão de orçamento tomar a
dade de fazer contractos em que se estabele si este trabalho, e então discutirmos. Foi essa
cessem condições; isto era necessario, porqne a razão por que apresentei o meu requeri
em todos os tempos, por todas as disposiçoes mento de adiamento, além de que eu tambem
legislativas antigas, especialmente pela lei de 24 não sei se nós podemos discutir esse projecto
de Dezembro de 1734, todos os veios mineraes sem a assistencia do Sr. ministro da fazenda.
pertencião á coroa, e não se podia portanto con
ceder a sua exploração a particulares sem uma Uma Voz:— Convidemol-o.
retribuição ou indemnisação ; a lei, pois, fun O Sr Ferraz : — Sr. presidente, eu sou ini
dada neste principio, acabando com esses direitos migo dos direitos de exportação, principalmente
de mineraçáo, disse todavia: «Esta disposição cobrados sobre os productos de industrias nas
não tolhe a percepção de qualquer renda prove centes como essis ou que ainda não existem.
niente de contractos celebrados com companhias
de mineração.» O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. Mendes
O Sr. Mendes de Almeida: — De ourol... de Almeida.
O Sr. Ferraz: — Senhores, pelo amor de Deus, O Sf. Mendei de Almeida : — Sr. pre
para que o nobre deputado quer acerescentar sidente, eu não sabia que esse projecto entraria
aquillo que não estã nu intelligencia da lei? hoje em discussão, e por isso não estou muito
Nós não podemos admittir na intelligencia de preparado para entrar nella; mas não obstante
qualquer lei senão o sentido litteral de suas isso julgo conveniente dizer alguma cousa a respeito.
palavras, ' e principalmente naquellas que tratão Sr. presidénte, eu entendo que já é tempo de
de impostos, além do que vem consignado na no nosso paiz prestar-se alguma attenção á in
letra da lei ; e o que se acha nesta lei é o se dustria mineira. Nós ainda não temos essa indus
guinte: «A presente disposição não prejudica tria no nosso paiz, no rigor da expressão, e
contractos feitos com companhias de mineração.» entretanto é elle rico em minas ; não tendo pois
Como é que o nobre deputado quer dizer: esse grande recurso do nosso paiz sido conve
De ouro 1... nientemente aproveitado, parece- me que um adia
mento no caso presente não contém utilidade
0 Sr. Mendes de Almeida : — As unicas co alguma: o honrado deputado que o apresentou,
nhecidas no paiz. o cuja opinião eu tenho em grande consideração,
O Sr. Ferraz:— O nobre deputado póde argu não quer, é certo, de todo acabar com a dis
mentar com os factos, mas eu argumento com cussão do projecto, quando pretende que elle
o direito. seja discutido logo que se tratar do orçamento ;
A exploração dos veios e terrenos mineraes mas, Sr. presidente, é necessario attender-se p ira
Eertence á coróa e ninguem póde uelles lavrar, o que aconteceu no anno passado, para não
tndo propriedade da coróa, já vê o nobre de admittirmos a opinião do honrado deputado, por
putado que não se póde nelles minerar sem con quanto no anno passado quando se tratou da
cessão e estt concessão póde ser feita com onus, discussão do orçamento, um honrado deputado
e sob diversas condições. pela provincia de Matto-Grosso offereceu um
O Sr. Mendes de Almeida : — Conforme ; tam artigo additivo quasi identico á medida que actual
bem se pertencer a particulares seus proprie mente se discute. Estava presente o Sr. ministro
da fazenda, que aceitou-o; mas quando se discu-
tarios podem minerar. tião os artigos additivos, passou uma medida
O Sr. Ferraz: —O nobre deputado sabe que, retirando da discussão os mesmos artigos addi
quando o terreno é particular, se dá preferencia tivos, em cujo numero entrou esse, e mandando-os
aos particulares nos terrenos diamantinos ; mas ás commi8sães a que pela sua natureza poderião
a questão não é essa, a questão é que o go pertencer para elias os apresentarem em pro
verno não creou um imposto, fez sob condiçoes jectos separados.
uma concessão, celebrou um contracto ; do que Agora trata-se de discutir a idéa desse artigo
portanto se trata não é de dizer-se : nada se co additivo reduzido a projecto pela primeira eom
brará d'ora em diante, mas sim de levantar o missão do orçamento ; trata-se emfim da indus
dispensar as condições desses contractos ; ora já tria da mineração, e o honrado deputado quer
vê pois o nobre deputado que a questão não que só se trate delia quando houvermos de
é aquella que o projecto apresenta, a questão im apreciar e discutir o orçamento. Nessa occasião
porta a exhibição desse onus que o governo tem teremos que de novo se poderá adoptar a me
creado para certas companhias. dida approvada na sessão passada, e ficaremos
Sr. presidente, o que eu quero sustentar é que outra vez sem providencias sobre a mineração,
não é um decreto de impostos, e apenas é um que tão importante é, e de que tanto necessi
onus imposto ás companhias pela concessão do tamos.
212 SESSÃO EM 15 DE JUNHO DE 1853
Nós temos necessidade de tomar uma medida isto é, a mineração secca e a lavagem; porém
sobre este objecto depois do mais severo e de a nossa sempre foi uma mineração sem sciencia
talhado exame, porquanto convém que nos apro e simplesmente pelo processo vulgar da lavagem
veitemos dos recursos do paiz, qu« nesta parte por meio de batéas.
são immensos, e para isso é mister acabar com O Sr. Paula Candido: — E' conforme a capa
a antiga legislação que rege esta materia. Diz o cidade das minas.
nobre deputado que o governo não póde cobrar
impostos, de mineração além dos estabelecidos O Sr. Mendes de Almeida : — Mas, como di -
nas leis do orçamento; eu entendo o contrario. zia, com a diminuição dos direitos apparecórão
Quando o governo portuguez teve conhecimento companhias que quizerão explorar as minas de
das minas no Brazil, cuidou logo de regular pór metaes preciosos, ou antes o ouro unicamen°.e ;
actos legislativos a sua exploração. Quando se nunca houve quem se propuzesso a minerar os
descobrio a mina de ferro de Ypaneipa, talvez a metaes uteis. Ultimamente, de 1851 para cá, tem
primeira que se explorou no Brazil, foi em tempo apparecido quem queira entrar em taes explo
em que a ordenação do liv. 2o tit. 34 ainda não rações, o que antigamente não apparecia ; mas
existia ; por essa oocasião o governo portuguez consta-me que o governo, ou antes o Sr. vis
§romulgou algumas resoluções sobre mineração conde de MonfAlegre, que era então ministro
e todos os metaes, que por fim forão reduzidas do imperio, declarára ao Sr. Irenêo Evangelista
a um corpo sob o titulo de regimento de minas, de Souza e outros, aos quaes permittira por um
que é o alvará de 8 de Agosto de 1618, que privilegio a exploração de minas de prata e co
impóz o quinto sobre a mineração de todos os bre nas provincias de Santa Catharina e Rio
metaes, de conformidade com a ordenação que Grande do Sul, que não podia deixar de esti
já mencionei. pular o quinto pelo metal liquido que apuras
Em 1753 o governo portuguez, conhecendo que sem, porque era o que a ordenação ou legislação
não podia com esses impostos animar e estabe de minas determinava, mas que se propunha a
lecer a mineração dos metaes uteis, porque o iniciar uma medida no parlamento qun acabasse
unico metal que supportava esse onus era o ouro, com esse imposto, e foi com esta condição, ou
então promulgou outro alvará, creio de 5 de Maio melhor com esta esperança, que as compinhias
de 1753, determinando que na .exploração desses de mineração que pretendem explorar no Brazil
metaes se seguisse a legislação existente cobre metaes uteis subscrevêrão os contractos que se
o ouro, porém ficando o governo autorisado a achão nas nossas collecções de leis.
fazer as concessões que julgasse convenientes Todos estão convencidos que não ó possivel
como fim de animar essa industria. . . explorar metaes uteis neste e em qualquer paiz
senão por meio da extineção de todos os im
O Sr. Ferraz: — A provincia de S. Paulo foi postos que sobre elles pesão.
isenta de imposição alguma. Não ha paiz nenhum no mundo onde exista
O Sr. Mendes de Almeida: — Em 1799 o mesmo a exploração de metaes uteis, que lancem im
governo, que tinha tomado a si as minas de postos tão excessivos. Na Inglaterra, nos Esta-
ferro de S. João de Ypanema, descobertas por dos-Unidos, e em outros paizes em que a industria
Affonso Sardinha que ahi tinha levantado uma metallurgica se exerce em grande escala, ella não
forja, nunca mais póde aproveital-as, renovou carrega com semelhante onus.
suas ordens para a exploração por conta dessas Um Sr. Deputado dá um aparte que não ou
minas ; mas nem assim creio que conseguio cousa vimos.
alguma e só em 1809 é que essas minas attra- O Sr. Mendes de Almeida : — Em França
hirão com mais força a attenção do governo por faz-se isso por causa do systema protector; po
tuguez, que mandou vir mineiros da Suecia para rém estou persuadido que os onus lançados sobre
irem nellas trabalhar, cuja administração foi dada a industria metallurgica franceza desapparecérão
ao pai do nosso ministro em Hespanha, o Sr. Var- em vista das medidas ultimamente tomadas pelo
nhagem, o qual conseguio em Novembro de 1818 governo desse paiz ; e em outros estados onde
fundir a primeira peça de ferro, que foi uma essa industria tem grande importância esse facto
cruz- de ferro para ser levantada no alto do não se dá. Os lucros não são tão grandes que
morro de Guaracoiaba. o permittão. Em Inglaterra o cobre que se funde
Essas minas dahi em diante deixárão de pro é conduzido do condado de Cornwall para Swan-
gredir, e estando debaixo da administração do sen no paiz de Galles, onde já chega carregado
ministerio da guerra, desde 1831 nunca produ com um onu,s de 8 a 10 °/» se não me engano.
zirão beneficio algum ao estado ; pelo contrario Ora, senhores, se nos paizes mais adiantados
as suas despezas sempre são maiores do que a a mineração de metaes uteis se acha livre por
sua receita. assim dizer de todas as péas, como queremos
Não podendo portanto o governo portuguez fazer nós, que temos necessidade de crear e animar
minerar no Brazil os metaes uteis por mais de essa industria, que ella pague o imposto do
dous seculos, promulgou um novo regulamento, quinto, isto é, 20°/° do metal liquido, como se
creio que de 1803, para a mineração dos metaes determina na ordenação que o governo reconhece
uteis, e então em lugar de estabelecer o quinto, em vigor? E' não querer que os exploradores
impóz o dizimo. colhão fructo algum.
O Sr. Ferraz dá um aparte que não ouvimos. O Sr. deputado pela Bahia tem sobre esta ma
O Sr. Mendes de Almeida: — O governo bra- teria uma opinião muito justa, e que eu por
zileiro, conhecendo depois a necessidade de di certo desejaria ver em pratica; porém essa opi
minuir o imposto sobre a exploração dos metaes nião infelizmente não é seguida pelo governo.
preciosos, reduzio esse imposto a 8 e 5 °/°, e O Sr. Ferraz : — A mineração do ferro em
a menos, como hoje existe ; porém somente ob Minas não paga cousa alguma.
teve esse beneficio o ouro que entre nós se ex
plora, não por um processo scientifleo, complicado, O Sr. Mendes de Almeida : — Mas a do cobre?
mas e unicamente pela lavagem... O Sr. Ferraz : — Não existe.
O Sr. Ferraz : — Pela exploração. O.Sr. Mendes de Almeida: —Ninguem no
O Sr. Mendes de Almeida : — Sei que é pela Brazil se propõe a minerar o cobre, na duvida
exploração, que consiste na lavagem das arêas se deve ou não pagar o imposto do quinto. . .
auriferas; no Mexico se conhecem dous proces O Sr. Paula Candido: — Na duvida ninguem
sos de minerar sem o emprego de machJnas, quer.
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 213
O Sr. Mendes de Almeida:— Já disse que a Brazil é o paiz das minas, mas e infelizmente
opinião do nobre deputado pela Bahia era muito das minas improductivas. •
acertada ; porém, não .sendo ella aceita pelo go Estamos independentes ha trinta annos, e não
verno, é indispensavel que se reforme a antiga temos uma escola de minas; não temos talvez
legislacao mineira, a qual, principalmente, a res um engenheiro capaz de fazer uma exploração
peito dos metaes preciosos, sobe a mais de cem geologica; e porque? Porque não se presta at
actos legislativos ; e se nós queremos animar e tenção a este objecto, porque não se tem tomado
desenvolver a industria de mineração, e espe este negocio na devida consideração, perdendo-se
cialmente a industria dos metaes uteis, a mais o tempo em objectos de menos interesse.
importante e para o futuro a mais proveitosa Portanto, para que adiar um projecto de tanta
ao paiz, o que convém é examinar essa legis magnitude, pois que trata, não só de crear- como
lação e emendal-a, pois é ella sobremodo con de desenvolver no Brazil a industria mineira ?
fusa e prejudicial aos interesses publicos. Para que deixal-o para quando discutirmos o
(Cruzão-se varios apartes.) orçamento, onde se tem de discutir tantas outras
materias importantes? Portanto voto contra o
Se o governo partilhasse a convicção que tem adiamento, tanto mais que muito receio que
o nobre deputado pela Bahia de que não estão seja elle a morto do projecto.
em vigor os actos ultimamente promulgados para Para não cansar mais a casa, limito aqui o
este paiz, então .seria escusado este acto do poder que tinha a dizer sobre esta materia.
gislativo ; porém o contrario tem succedido como Indo-se proceder â votação, reconhece-se não
já vimos, máo grado o pensamento do mesmo haver casa, e a discussão fica encerrada.
governo em abolir semelhante legislação. En
tendo pois que se não póde prescindir desta me Dá-se a ordem do dia e levanta-se a sessão
dida, e que o paiz não póde ganhar com a sua ás 2 horas da tarde.
demora.
Não vejo utilidade em deixarmos a reforma da e>
legislação mineira para depois, quando se tratar
do orçamento, em que muitas questões terão de Sessslo em 1 6 de Junho
occupar a nossa attenção, podendo nós desde já
discutil-a com mais detalhe e com tempo sufi PRESIDENCIA. DO SB. MACIEL MONTEIRO
ciente para medital-a.
Portanto, Sr. presidente, comquanto, de novo Summario.—Expediente.— Ordem do dia.—Preten
o declaro, seja muito justa, muito digna de res ção do cidadão Thomaz Pereira Jeremoabo.—
peito a opinião do nobre deputado pela Bahia Creação do cabido da Sê do bispado de S. Pedro,
quanto á extineção completa dos impostos sobre — Creação de um bispado no Ceará.— Cartas de
a mineração de metaes uteis, cumpre que con naturalisação.— Auxilio aos bancos. Discursos
fessemos que ella não póde ser admittida, por dos Srs. Bandeira de Mello, Rodrigues Torres
que o governo não a comprehende assim; elle e Lisboa Serra.
entende que ainda neste caso está em vigor o A's 10 horas feita a chamada, achão-se pre
imposto do quinto ; e emquanto uma reforma sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido,
completa não fór feita na nossa legislação a este Jaguaribe, Aprigio, Queiroz, Octaviano, Lindolpho,
respeito, eu entendo impossivel, com tão avul Angelo Custodio, Candido Mendes, Domingues
tados direitos, attrahir capitaes estrangeiros que Silva, Gomes Ribeiro, Araujo Lima, Macedo,
venhão ao nosso paiz empregar-se na importante Ribeiro, Vieira de Mattos, Mendes da Costa, Fer
mineração de metaes uteis. nandes Vieira, Assis Rocha, Pimenta Magalhães,
Não descubro conseguintomente utilidade em Seára, Almeida e Albuquerque, conego Leal,
demorar esta discussão. Fleury, Theophilo, Brusque, Silveira da Motta,
Se, como já disse, passar a opinião do nobre Machado, Ferraz, Luiz Araujo, Paula Santos,
deputado e considerar-se a materia do projecto Góes Siqueira, Henriques, Jose Assenso, Gouvêa,
um artigo additivo para se discutir quando se Monteiro de Barros, João Jacintho, Livramento,
tratar do orçamento, temo que aconteça o mesmo Nebias, Miranda, Titára, Taques, Paranaguá,
que aconteceu o anno passado : nós sabemos Paula Baptista, Mendonça e Belfort.
qual foi a sorte dos artigos additivos nessa oc- Comparecem depois da chamada os Srs. Sa
casião. Nesta occasião é natural que na discus raiva, Bello, barão de Maroim, Ferreira de Abreu,
são do orçamento appareça logo uma alluvião Bandeira de Mello, Pedreira, Ribeiro da Luz,
desses artigos ; não se poderá discutir as mate vigario Silva, Cruz Machado, Horta, Pereira da
rias com todo o vagar preciso, principalmente Silva, visconde de Baependy, Wanderley, Ignacio
na presente sessão, que já está muno adiantada ; Barbosa, Dutra Rocha, Teixeira de Souza. Vas-
consequentemente serão arredados muitos artigos concellos, Raposo da Camara, Fausto, Casado,
additivos, e o projecto em discussão póde ser Souza Leão, Nabuco, Belisario, Luiz Cirios,
desse numero. E havemos de déixar para o anuo Paes Barreto, Sá e Albuquerque, Pacca, Santos
vindouro um projecto que promette tamanhos e Almeida, Candido Borges, Rego Barros, Fiusa,
lucros ao paiz, um projecto que já soffreu um Augusto de Oliveira, Silverio, Versiani, Barreto
adiamento? Pedroso, Rodrigues Silva, Costa Machado, Pe
A importancia da materia do projecto, Sr. pre reira Jorge, Serra e Zacharias. ,
sidente, é bem manifesta ; o seu fim é crear Havendo numero legal, ás 10 horas e 3 quar
uma industria que não temos, attrahindo ao Bra- tos, o Sr. presidente declara aberta a sessão.
zil capitaes estrangeiros, uma industria a que o Lida, e approvada a acta da sessão antecedonte,
Soverno por si só não tem podido e num po- o Sr. 1° secretario dá conta do seguinte :
erá dar vida.
Um exemplo está nessa fabrica de Ypanema, EXPEDIENTE
onde ha tanta abundancia de ferro o de tão boa
qualidade, e que comtudo só tem deixado pre Dous officios do Sr. ministro do imperio, en
juizos. Afóra a unica especie de mineração que viando informações sobre os limites entre as
temos, que é a lavagem de terras auriferas e provincias de Goyaz e Mato- Grosso, e entre as
diamantinas, nada mais existe ; não quero fatiar provincias do Maranhão e Goyaz.
do systema da mineração das duas companhias
inglezas de Morro Velho e Gongo Socco, do qual Um do Sr. ministro da guerra, dando as infor
nada temos " aproveitado, embora se diga que o mações pedidas sobre o requerimento do tenente
214 SESSÃO EM 16 DÉ JUNHO DE 1853
reformado José Xavier Pereira de Brito, em que O projecto ê approvado em primeira discussão
fede passar para a primeira classe do exercito. para passar a segunda.
—Forao todos a quem fez a requisição. CREAÇÃO DE UM BISPADO NO CEARA
Um officio do Sr. deputado João Wilkens de
Mattos participando que não comparecêra á Entra em 1» discussão o projectou. 24 deste anno,
sessão de hontem nem póde ainda comparecer, creando um bispado na provincia do Ceará, e é
por incommodo de saude.— Inteirada. approvado em primeira discussão.
Outro do Sr. 1° secretario do senado commu-
nicando que o senado adoptou e vai dirigir á CARTAS DE NATUBALISAÇÃO
sancção imperial varias resoluções.— Inteirada.
Lê-se, e vai a imprimir, o seguinte parecer da Entra em 1° discussão o projecto r. 84 de
commissão e redacção refundindo as emendas ofife- 1852, autorisando o governo a conceder carta de
recidas ao projecto r. 85 de 1852 que approva a naturalisação de cidadão brazileiro ao subdito
tabella orgbnisada pelo diocesano de Pernambuco sardo João Baptista Botto.
sobre os emolumentos dos parochos daquella dio O Sr. Siqueira Queinoz :— Para que esta pre-
cese. tenção goze do favor que merecêrão outras iden
r A assembléa geral legislativa resolve : ticas, requeiro que se dispensem duas discus
sões, ficando sujeita a uma sómente.
« Art. 1.» Fica approvada a tabella dos emo
lumentos parochiaes organisada pelo diocesano O Sr. Miranda: — Mando á mesa um addita-
do bispado de Pernambuco em 3 de Dezembro mento no projecto para que se conceda igual graça
de 1850, ficando supprimidas a advertencia ao ao subdito portuguez Dr. Luiz Joaquim de Oli
r. 4° do T. 1°, e a primeira parte do r. 33 do veira e Castro.
T. 4°, qee marcou honorario ao parocho pelas « Oflereço como emenda, o projecto r. 3 de
informações dos requerimentos relativos a dis 29 de Maio do corrente, pelo qual se concede a
pensas matrimoniaes. mesma graça ao Dr Luiz Joaquim de Oliveira
« Art. 2.» A disposição r. 30 do T. 3° da re Castro.— Paço da camara, em 16 de Junho de
ferida tabelia só terá vigor não havendo cemi 1853.— João Antonio de Miranda. »
terios geraes. O Sr. Pereira da Silva manda á mesa um
« Art. 3.» Ficão revogadas as disposições em additamento a favor de José Maria Gomes.
contrario. O Sr. Gomes Ribeino pede o adiamento para
« Sala das commissões, em 16 de Junho de 1853. que elle seja remettido á respectiva commissão.
— Antonio José da Silva.— Lindolpho José Corvia O Sr. Pereira da Silva, não querendo emba
das Neves. a raçar a passagem do additamento do Sr. Mi
randa, pede ã camara para retirar o seu addita
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA mento
A camara decide pela affirmativa ; fica preju
PRETENÇÃO DE THOMAZ PEREIRA JEREMOABO dicado o adiamento do Sr. Gomes Ribeiro, e é
approvado o projecto e o additamento do Sr. Mi
Entra em 2* discussão o projecto n . 91 de 1852. randa; sendo tanto este como o projecto, remet-
dispensando ao cidadão Thomaz Pereira Jere- tidos á commissão de redacção.
moabo de pagar nos primeiros 10 annos, conta
dos da data desta, as prestações a que está su SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
jeito para com o thesouro nacional como fiador de
José de Serqueira Lima e de Evens & O., e é auxilio aos bancos
approvado .
O Sr. Gomes Ribeino :— Peço a V. Ex. que Entra em terceira discussão o projecto do go
consulte a camara se permitto que este projecto verno, emendado pela commissão, sob r. 28 deste
entre desde já em terceira discussão. anno, sobre emprestimo aos bancos.
A camara decide pela affirmntiva, e é appro O Sr. Bandeira, de Mello :— Sr. presi
vado o projecto em terceira discussão. dente, sinto não estar na casa o Sr. ministro Ja
fazenda. Entra o Sr. ministro e eu mo felicito
CBEAÇÃO" DO CABIDO DA SÉ DA PROViNCIA DE S. PEDRO pela sua presença, e igualmente o felicito por
uma oceurrencia que tem tido lugar nesta sessao.
Entra em discussão a resolução do Sr. Oliveira Diz Boileau que os autores devem procurar ami
Bello r. 12 deste anno, creando um cabido na pro gos que os censurem.
vincia de S. Pedro do Sul Faites vous des amis prêts à vous censurer.
O Sr. Oliveira Bello : — Sr. presidente, Os ministros de hoje, Sr. presidente, tèm ami
a bulia que erigio o bispado de S. Pedro do Sul gos que os censurem, o que sem duvida é uma
creou tambem um cabido junto á Sé desse bis preciosa vantagem para elles ; não tiverão esta
pado, e o decreto imperial que concedeu o be felicidade nas sessões passadas, devem-nos agra
neplacito a essa bulia declarou que o estabele decer o grande serviço que lhes estamos pres
cimento do mencionado cabido se eftectuaria depois tando.
que o poder legislativo assim o resolvesse. Em Amigos laudativos. amigos que nos lisongeem
verdade o estabelecimento dessa corporação de não faltão ; mas amigos que nos digão sempre
pende de resolução da assembléa geral, e como a verdade, esses são raros. Julgo que o governo
sua utilidade em um bispado novo e em uma deve acolher com benignidade as observações
provincia como a de S. Pedro é da maior evi que tenho feito sobre o projecto que discutimos,
dencia, eu por isso submetti á consideração da são antes observações de amigo que lhe quer
camara o projecto que se acha em discussão dizer com franqueza o que pensa, do que obser
Não desejando tomar tempo inutilmente, nada vações de deputado opposicionista que quer atra
mais direi por ora, reservando- me para susten palhar e difficultar a solução das questoep apre
tar o projecto se por ventura for impugnada a sentadas na casa. (Apoiados.)
sua utilidade. Sr. presidente, ha dous pontos cardeaes de
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853 215
divergência entre as minhas opiniões e a opinião com a verdadeira confiança que necessariamente
do Sr. ministro da fazenda. tem por base a mais plena liberdade.
Eu enunciei que o papel do banco, segundo A promessa pois do pagamento dos bilhetes
as condições com que novamente era emittido, figurando no conceito publico, só pelo facto dessa
revesti* 0s caracteres do çapel-moeda. O Sr. mi intervenção, como um artificio mais para acudir
nistro, porém, contestou isto, e contestou-o di a urgencia do momento do que como cousa qua
zendo que havia no projecto a garantia de um tenha elementos de duração e permanencia, não
fundo disponivel sempre prompto a realisar os póde deixar de ser reputada mais -ou menos
bilhetes do banco, e que não se podia por isso aleatoria, ao menos com relação ao futuro : a
considerar esses bilhetes como moeda-papel. desconfiança em consequencia se introduz, appa-
Sr. presidente, segundo a minha intelligencia rece necessariamente, o nestas circumstancias,
e comprehensão, não basta esta simples enun como bilhetes que não terião curso sem essa
ciação do projecto para se dizer que os bilhetes protecção da lei, poderão ser chamados bilhetes
do banco são bilhetes de confiança. de confiança? Onde está a certeza de que o pa
Duas são as condições indispensaveis para gamento será impreterivelmente feito?
que os bilhetes de um banco, diz Droz, se possão Não é bastante que se prometta, mas é preciso
considerar bilhetes de confiança : a primeira é tambem que se acredite que a promessa se tor
que o curso seja livre; a segunda é que haja nará cffectiva.
sempre um meio prompto e efficaz do convertel-os Sr. presidente, se bastasse, para que qualquer
em moeda corrente. Sapel pudesse ser considerado bilhete de con-
Este distincto escriptor certamente não confun- ança, a circumstancia de que havia casa aberta
dio uma condição com a outra ; elle não se con para trocal-o, então facil seria de um momento
tenta em dizer que, para que os bilhetes de para outro converter a moeda-papel de um paiz
confiança possão ser considerados taes, basta, como em meio fiduciario, em notas de confiança, não
pretende o Sr. ministro, que possão ser realisa- haveria senão este simples recurso : depositar o
dos prompt imente ; elle exige mais, como con governo nas differentes thesourarias uma somma
dição essencial, o curso livre. Eu copiei aqui de numerario, e proclamar que quem quizesse
as suas proprias palavras, porque me reputo levar a moeda ás thesourarias encontraria troco,
sempre como tendo pouca autoridade sobre a encontraria moeda metallica para substituir o
materia ; e portanto, para que se não pense que papel, as notas que constituem o papel-moeda.
eu digo cousas sem tom nem som, consinta a Mas quem dirá que só porque assim se póde
camara que eu me reporte sempre a autores do proceder se estabelece um meio circulante fidu
importancia e de grande credito sobre o assumpto ciario ?
importante que discutimos. Se acaso isto póde ter lugar, então facil é
Diz Droz, pags. 189, traducção feita nesta còrte : remediar o mal que sentimos, o nosso papel-moeda
« Duas são as condições indispensaveis para que de um momento para outro poderia ser convertido
os bilhetes dos bancos mereçáo confiança. Que em papel fiduciario. Por consequencia, a casa
seja livre recusal-os, que quando se recebão haja aberta, 0í1 como dizem os francezes bureau ouvert,
certeza de os trocar á vontade e sem rebate por não basta para tornar fiduciario o papel, é pre
numerario. » ciso que se tenha confiança na casa aberta, que
Portanto, a doutrina deste rccommendavel es esteja sempre aberta agora e no futuro, que
criptor sustenta a opinião que emitti a respeito não haja nenhuma apprehensão de que isto é
da questão, isto é, nao basta a simples condição um recurso para aplainar difficuldades que de
de ser facil trocar por numerario esses bilhetes pois tenhão de apparecer, apprehensão que faz
de confiança, é essencial que o curso seja livre com que os bilhetes que ao principio parecem
para que elles possão ser, como taes, consi de confiança se caracterisem como papel-moeda
derados. dentro em pouco tempo.
Agora vejamos se o curso é livre segundo as O nobre ministro disse que não se poderia
condições do projecto, e se ha a certeza de rea considerar papel-moeda aquelle papel que tivesse
lisar os bilhetes dos bancos cuja emissão vamos sempre diante de si uma casa aberta para rea-
augmentar. Sr. presidente, para que se considere lisal-o, e tanto assim que na Inglaterra o papel
a realisação dos bilhetes do banco como efiectiva, do banco se considera papel de confiança, e só
teto é, para que possão ser esses bilhetes con por esta simples circumstancia. Eu observei a
siderados—de confiança,—é essencial ter a certeza S. Ex. que se tem duvidado muito disto ; póde-se
a que allude Storch, de elles poderem ser rea- dizer que o papel da Inglaterra éum papel-moeda,
lisados, não só no presente como no futuro. porque embora haja casa aberta para resgatal-o,
Se acaso a resolução que discutimos nos offe- todavia o que é que serve de garantia a esse
recesse esta certeza na actualidade, não póde papel ? São os titulos da divida do governo em
oflerecer-nol-a de futuro e basta esta simples grande parte.
eventualidade para que a confiança desappareça ; Se acaso o banco se liquidar, o que encontra
eventualidade que tem sempre tido um desfecho rão os portadores desses bilhetes? EncontraráÕ
fatal em iguaes circumstancias. Todos os bilhe titulos da divida publica que não podem ser rea
tes dos differentes bancos da Europa que têm lisados, porque as apolices vencem juro sim, mas
sido admittidos em pagamentos das contribuições não se realisão. Portanto, dá-se o mesmo caso de
{mblicas ou em pagamento das dividas particú- um banco que se estabelecesse sobre- titulos re
ares têm deixado afinal de ser realisados, e presentativos de propriedades territoriaes, e talvez
isso inhibe que appareça essa certeza que faz a que as propriedades territoriaes possão, por isso
base dos bilhetes de confiança, e que Droz julga que são vendaveis, offerecer moeda mais depressa
essencial, como caracter distinctivo dos mesmos do que essas apolices da divida publica, que
bilhetes. nunca são realisaveis senão pela venda, e quando
Ainda ha outra razão por que os bilhetes dos o credito baixa, venda nenhuma encontrão, no
bancos, segundo as condições do projecto, não emtanto que as terras poderáõ ter sempre um
podem ser considerados bilhetes de confiança; é valor.
que todas as vezes que em negocios bancaes o Para mostrar a V. Ex. que não é exacto que
governo intervem por qualquer modo que seja, não se tenha dito na Inglaterra que o papel que
o publico que têm um instincto muito perspicaz alli circula é papel-moeda, permittir-nie-ha V. Èx.
dos seus interesses conhece logo que esta inter que eu leia um trecho da obra de Chevalier
venção não tem senão por motivo a necessidade sobre economia politica. Suscitou-se uma grande
de crear um credito que não existe, um credito questão a este respeito, e então diz Chevalier :
artificial, e, como tal, precario e incompativel « Um homem de estado que contribuio mais do
216 SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853
que ninguém a restaurar, depois da paz de 1815, verno no caso da fallencia dos bancos? Quando
o systema monetario da Grã-Bretanha, sir Ro- os bilhetes são de confiança, se o banco quebra,
berto Peei, tem por occasião da lei de 1844 sobre digo eu, a minha boa fé, a minha confiança il-
o banco dado o apoio da sua valiosa opinião a ludio-me ; mas nas circumstancias actuaes, se o
uma definição de moeda que fazia entrar nessa banco quebrar, o me achar com uma Quantia
definição os bilhetes do banco. Esta definição qualquer de seus bilhetes na minha carteira, terei
sahio de um circulo de publicistas que têm sobre todo o direito de queixar-me do governo que me
os bancos opiniões particulares, que faremos obrigou a receber esse papel em pagamento de
conhecer no volume seguinte. » Vê pois V. Ex. minhas dividas ; poderei dizer que o governo é
que ha alguem que pensa que o papel da Ingla o culpado por me obrigar a receber esse papel,
terra não é um papel de confiança... que eu não teria recebido se não fosse a isso
O Sr. Ferraz :— Dahi não se segue. constrangido.
Ainda mais, se os bilhetes do banco são bi
O Sr. Bandeira de Mello : — Oh I na definição lhetes de confiança, nunca poderão ter contra si
de sir Roberto Peei se incluem os bilhetes do um agio, porque sendo elles representantes de
banco na moeda, e de certo esta moeda não póde moeda , valerão necessariamente sempre tanto
ser a moeda metallica, por isso mesmo que são como a moeda; mas nas condições do projecto e
bilhetes. nas circumstancias actuaes do paiz os bilhetes do
O Sr. Ministno da Fazenda dá um aparte que banco terno contra si um agio, porque se vou
não ouvimos. vender uma mercadoria qualquer e não tenho
O Sr. Bandeira de Mello:— V. Ex. entende confiança nesse papel do banco, o que faço ? Digo:
assim ; mas não se pode dizer que não se conlue Eu vos vendo esta mercadoria por 5, mas se
me pagardes em papel do banco haveis de me
do que eu li . . . pagar 6; tem por conseguencia este agio con
O Sr. Ministno da Fazenda dá outro aparte tra si.
que ainda não ouvimos. O Sr. Ferraz: — Logo que é realisavel, não se
O Sr. Bandeira de Mello:— V. Ex. disse que póde dar isto.
na Inglaterra não havia duvida de que erão O Sr. Bandeira de Mello : — Quando eu tiver
bilhetes de confiança os bilhetes do banco ; eu de vender um livro e disser: se me pagardes
trago esta opinião para mostrar que alguem pensa este livro em moeda do paiz, me dareis 2$, mas
que os bilhetes dolianco de Inglaterra são papel- se me pagardes em moeda do banco exijo 3, não
moeda, assim da mesma sorte que entendo que está já aqui o agio ?. . .
os bilhetes chamados de confiança entre nós, emit-
tidos pelos bancos segundo as novas condições, O Sr. Ferraz: — Vou trocar o papel do banco
são moeda e moeda-papel, não obstante essa e pago em moeda do paiz.
precaria promessa de realisação á vontade do O Sr. Bandeira de Mello : — Mas se se gene-
portador. ralisar esta desconfiança, não apparecerá o facto ?
Sr. presidente, ainda direi em confirmação do Não ha por consequencia um agio a favor da
que tenho dito o seguinte : — Se os bilhetes do moeda corrente?...
banco nas novas condições são bilhetes de con Um Sr. Deputado : — Se os bilhetes não fossem
fiança, é certo que qualquer poderá desembara- reolisaveis.
Sr-se delles logo que nelles não tenha confiança.—
as, pergunto eu, o negociante que quizer deixar O Sr. Bandeira de Mello: — Eu supponho que
de ter na sua carteira os taes bilhetes de con os bilhetes são realisaveis em nome ; as circum
fiança poderá fazêl-o? Elie recebe em pagamento stancias hão de mostrar que elles não se rea-
de uma letra bilhetes do banco ; vai ao banco, lisarão.
e troca-os por moeda do paiz porque não quer Ainda outra circumstancia. Quando os bilhetes
possuil-os, mas bem depressa vem outro deve do banco são bilhetes de confiança, eu ou qual
dor e lh'os torna a entregar ; volta elle outra vez quer os recebe pelo que elles em si mesmo me
ao banco, e neste circulo vlcii so cansa, e fica com recem ; mas, segundo as condições do projecto,
0s bilhetes, certo de que, embora os não queira, recebem -se estes bilhetes , não porque elles o
não póde desvencilhar-se delles. mereção, mas porque se tem certeza de um mer
Ora, nestas circumstancias poder-se-ha dizer cado vasto onde podem ter omprego, isto é, o
que semelhantes bilhetes eão bilhetes de con agamento dos impostos, o pagamento das divi-
fiança, bilhetes que possuimos, quer queiramos, I as particulares.
quer não, porque não podemos deixar de rece- Este resultado ou emprego que tem origem na
bôl-os ?... acção do governo na disposição da lei, é que dá
valor a semelhantes bilhetes ; resultado que não
Um Sr. Deputado: — E' ir primeira e segunda suppõe a confiança, que não é senão o effeito de
vez ao troco. um mercado artificial formado pela lei, o qual
O Sr. Bandeira de Mello .'— Àssim mesmo não póde de um momenjo para outro desapparecer,
Íiosso estar senão emaranhado em meio de bi- porque tudo que é artificial é fragil, é transito
hetes que se dizem de confiança e que não me rio, não póde inspirar inteira confiança. As acções,
recem a minha confiança... os movimentos bancarios, quando dependem dos
O Sr. Ferraz dá um aparto que não ou governos ou das leis, e não da sua propria orga-
vimos. nisação, não podem offerecer suffirientes garan
tias: é a opinião de todos os que têm escripto
O Sr. Bandeira de Mello: — Refficta o nobre sobre este assumpto.
deputado que, quando os bancos bem estabele Agora, Sr. presidenta, entrarei em outro ponto
cidos, não vêm o desejo de realisar o seu papel, em que se dá flagrante opçosição entre as minhas
mas segundo estas novas condições julgo que idéas e as do nobre ministro da fazenda. Re-
este desejo ha de vir f não se poderá deixar de fere-se esse ponto a caução que offerece o pro
estar cercado de bilhetes do banco, o de marchar jecto.
constantemente para o seu escriptorio em busca Eu disse que essa caução se resolve em um
de moeda. duplo emprego; e o nobre ministro comprehen-
Ainda outra consideração, Sr. presidente, os deu bem o que com isso eu queria dizer. Sus
bilhetes do banco segundo as novas condições, tento ainda, Sr. presidente, que ha um duplo
são bilhetes de confiança; mas não se poderá emprego ; e porque ? Porque nas caixas, nos co
dar a circumstancia de alguem queizar-se do go fres dos bancos, só ha quatro especies de valo-
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 217
res—o fundo incorporado, as sommas de lucros, O Sr. Ferraz :— Então a emissão não é appli-
e que são destinadas no dividendo, as letras ou cada a lucros delles ?
firmas do commercio que forão descontadas, e O Sr. Bandeira de Mello:— Mas se elles têm
finalmente depositos de moedas ou metaes pre 12 a 13,000:000$ realisados "e emittem sómente
ciosos que lá forão ter em troca de letras do 6,000:000$, come podem ter lucro? Acho esta
banco. conclusão tão excentrica, que sem duvida a at-
Ora, todas essas quatro especies de valores que tribue á falta de comprehensão da minha parte.
permanecem nos cofres dos bancos já se achão Sr. presidente, tendo discutido os dous pontos
hypothecadas á emissão feita, aos bilhetes que principaes de divergencia entre a minha opinião
se achão em circulação: o fundo capital ou incor e a do nobre ministro, tomarei em consideração
porado, como- outros chamno, já está hypothecado outras observações que elle fez.
a emissão feita; as quantias destinadas para o Disse o nobre ministro: « Os capitaes dispo
dividendo tem um destino especial, e no projecto niveis apresentão-se em outras partes sob mil
não se trata delias ; as letras que os bancos fórmas, e no Brazil a maior parte delles se con
têm em suas carteiras representão as notas que vertem em escassez ou augmento de moeda. »
em consequencia de desconto forão lançadas na
circulação ; e os fundos que os bancos têm em O Sr. Ministno da Fazenda: — Não póde ser
consequencia de depositos ou emprestimos feitos isso. . <
aos mesmos bancos, esses tambem estão affecta- O Sr. Bandeira de Mello:— Achei assim no
dos á garantia dos bilhetes emittidos em virtude Jornal e copiei.
das respectivas transacções, quero dizer, em O Sr. Ministno da Fazenda :— E' um erro ty-
virtude desses emprestimos ou depositos. Pare- pographico ; eu queria dizer que se convertem em
ce-me que a camara me comprehenderá ; augmen- moeda.
ta-se a emissão dos bancos ; pergunto, qual a
garantia dessa nova emissão? O que elles tinhão O Sr. Bandeira de Mello :— Attenderei á con
em seus cofres já representa a garantia dos va clusão que é o que importa (continuando a
lores emittidos. ler) ... « podem pois até certo ponto fazer descer
O Sn. Lisboa Serra:— E o capital dos bancos? ou subir o juro. » Por conseguinte o nobre mi
nistro entende que no Brazil a escassez do nu
O Sr. Bandeira de Mello:— Já considerei o merario, contra o que se dá em outros paizes,
capital póde fazer subir o juro.
Senhores, uma nova emissão equivale a um O Sr. Ministno da Fazenda :— Não é esse o
novo banco, porque tanto faz que um banco antigo meu pensamento.
emitta mais 1,000:000$, como que um banco novo
venha a emittir essa quantia. Se a um banco O Sr. Bandeira se Mello :— Eis-aqui o que
novo se pediria cnução, porque a um banco an diz o Jornal. (Lê o mesmo que já leu.)
tigo não se ha de pedir uma nova caução, quando O Sr. Ministno da Fazenda : — Não póde deixar
a- que elle deu tem já uma applicação aos va de ser erro de impressão; se permitte posso
lores anteriormente emittidos? explicar-me.
O Sr. Lisboa Serra:— Esta fica sendo a ultima O Sr. Bandeira de Mello :— Com muito gosto.
emissão. V. Ex., Sr. presidente, faz-me o obsequio de dar
O Sr Bandeira de Mello:— Embora seja a a palavra ao Sr. ministro da fazenda ?
ultima emissão, o que importa isto para o caso? O Sr- Presidente :— Tem a palavra o Sr. pre
Ou nada entendo da questão, ou não comprehendo sidente do conselho.
ao nobre deputado.
O Sr. Lisboa Serra:— Digo que fica cassada O Sr, Rodrigues Torres (ministro da
a faculdade de emittir que os bancos tinhão até fazenda e -presidente do conselho) : — Sr. presi
hoje. dente, o que eu disso foi que ninguem desco
nhece, por ser. um principio rudimental, que a
O Sr. Bandeira de Mello :— Fica cassada a taxa do juro depende da relação entre a procura
faculdade que os bancos tinhão de emittir, mas e o supprimento dos capitaes, ou por outras pa
dá-se-lhe nova em maior escala. lavras, que a alta ou baixa do juro deriva da
O Sr. Lisboa Serra :— Importa a mesma fa maior ou menor abundancia de capitaes, mas
culdade ; emittem mais 1,000:000]), que é o mesmo do capitaes activos , ou destinados á repro-
que os bancos podião fazer. ducção.
Disse ainda que ha paizes onde, mais do que
O Sr. Ferraz:— A caução dos bilhetes que em outros, os capitaes disponiveis podem ser
estão em circulação é a mesma que ha de servir emprestados debaixo Ja fórma de mercadorias
para esta nova emissão. para serem empregados immediatamente na re-
O Sr. Bandeira de Mello:— O nobre minis producção ; isto é, onde se faz grande somma
tro disse que ha uma grande garantia para essa de emprestimos de productor a productor. Na
nova emissão, então exprimio-se desta maneira: Inglaterra, por exemplo, os importadores de al-
« Deve-se notar que os dous bancos têm reali- §odão emprestão directamente ou vendem a cre-
sado um fundo capital do 12 ou 13,000:000$000 ; ito grandes porções desta materia prima aos
e se a caução que se exige é da importancia da fabricantes que o reduzem a fio: as fabricas de
emissão, e por conseguinte de 6,000:000$, ainda fiar emprestão sob a fórma deste producto grande
lhes restão 6 mil e tantos contos que ficão su porção de capitaes aos fabricantes dos tecidos
jeitos ao pagamento das notas que emittirem ou de algodão, sem que em todos estes empresti
tiverem emittido... mos successivos seja necessario converter o ca
pital em moeda.
O Sr. Ministno da Fazenda : — Toda a emissão O que digo a respeito das fabricas de algodão
não póde elevar-se a mais de 6,000:000$000. poderia dizer a respeito de muitas outras fa
O Sr. Bandeira de Mello : — O nobre ministro bricas. E' pois uma verdade que nos paizes mais
disse que os bancos têm realisado um capital adiantados em civilisação, ou para melhor dizer,
de 12 a 13,000:000$, e que apenas vão emittir nos paizes manufactureiros, uma grande parte
na circulação 0,000:000$; mas, pergunto eu, como dos capitaes activos passão de mão a mão, ou
esses bancos podem ter lucro se seu capital rea são emprestados de productor a productor dire
lisado é superior á emissão de bilhetes? Então, ctamente.
em lugar de ter lucro, deve ter perda. Nos paizes agricolas como o nosso as cousas
tomo 2. 88
2iS SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853
passão-se differentemente. O lavrador que pre parte explicar o estado actual de cousas, estado
cisar, por exemplo, do capital d» 20:000$ para que com relação aos capitaes seria outro e mais
melhorar seu estebelecimento, terá de empre- favoravel a não dar-se esse consumo.
gal-os em mil objectos diversos ; precisará com Se acaso tambem os impostos, embora conser
prar utensis ou alguma machina, inimaes, ali vassem a mesma cifra, fossem applicados em
mento para os escravos, pagar o serviço das pagamento da nossa divida interna, os devedores,
pessoas que emprega, etc. ; não poderá portanto achando-se com as sommas que receberão do
dirigir-se a cada um dos productores, e obter thesouro, offerecerião á circulação maior massa
delles directamente os objectos de que necessi de capitaes emprestaveis que poderião trazer a
tar ; recorrerá ao capitalista, receberá o em baixa do juro. Assim, pois, me parece incontes
prestimo de 20:000$ sob fórma de moeda, e com tavel o que asseverei, e tanto mais quanto tenho
esta moeda, que é representante de todos os pro- por mim uma grande autoridade, qual ó a de
du-ctos irá haver os differentes objectos ou ser Storch, citado sobre este ponto em meu ultimo
viços de que tem necessidade. discurso, e mesmo porque me parece obvio o
Assim pois, dizia eu, no Brazil onde grande resultado a respeito do qual acabei de apresentar
parte dos capitaes são emprestados debaixo da á camara estas considerações.
fóruia de moeda, póde-se dizer até certo ponto O nobre ministro disse igualmente : « Não foi
que o juro dependo da maior ou menor abun para que os bancos creassem capitaes que a com-
dancia delia. Èste modo do fallar ou osta locu missão apresentou o projecto. . . »
ção commercial póde aqui ser mais exacta do O Sr. Ministno da Fazenda :— Eu disse « Não
que em outros paizes onde os phenomenos de foi porque os bancos crém capitaes. »
producção se apresentão debaixo de differente O Sr. Bandeira de Mello : — Pois bem j « Não
aspecto. Não pretendi porém sustentar que a
taxa do juro depende da abundancia uu escassez foi porque os bancos crêem capitaes que com-
da moeda. Creio que o nobre deputado me terá missão apresentou o projecto, ella quiz dar aos
comprehendido. bancos a facilidade de emprestar aos particu
O Se. Bandeira de Mello: — Comprehendo. lares, porque o credito dos bancos, substituindo
o dos particulares, torna facil o movimento dos
O Sr. Rodrioues Torres : —Quiz dizer que esta capitaes, e dá rapidez e actividade ás operações de
expressão « o preço do dinheiro », em lugar do commercio e industria. » ,
« preço dos capitaes » póde ser mais justificada Notarei, Sr. presidente, que o nobre ministro
no Brazil do que em outros paizes Não quiz reconhece que as difficuldades do nosso mercado
estabelecer um principio : fiz uma observação monetario procedem das empresas que dentro
que me parece justa. do paiz se levantarão sem capitaes proprios ;
O Sr. Bandeira de Mello : — Sr. presidente, estas empresas, achando facil credito junto aos
á vista do que acaba de dizer o nobre ministro bancos, ahi obtiverão os fundos necessarios
tambem não faço questão, sómente observarei para sua gestão. Depois os bancos, que até en
que isto o que prova é que onde a industria tão dispunhão de grandes sommas que a elles
está mais adiantada, onde as operações com- se recolherão pela- maneira que o nobre minis
merciaes se fazem com mais rapidez, a moeda tro explicou, vendo que perdião em mantêl-as
póde ser em menor quantidade, porque faz as em seus cofres, entregárão-as a seus donos, e
suas evoluções mais depressa, em consequencia estes então procurárão nas provincias dar em
da actividade commercial e mercantil. Deixo prego a essas sommas, e assim faltou na ca
pois de continuar a fazer observações a respeito pital do imperio numerario, e esses emprehen-
deste ponto. dedores se achárão envolvidos em grandes dif-
Eu disse que uma das causas por que poderia ficulda ies. Então disse o nobre ministro : it Essas
entre nós ter encarecido o dinheiro, ter subido' empresas que são uteis ao paiz devem continuar,
o juro, era o emprego de çapitaes gastos im- ellas têm de trazer grandes beneficios, e por
productivamente na ultima guerra do sul, assim conseguinte convém auxilial-as. »
como tambem o emprestimo que o nobre minis Sr. presidente, não duvido que convém au
tro fez dentro do paiz, para uma operação de xiliar essas empresas, ellas podem efiectivamente
credito em Londres. O nobre ministro contestou-me trazer grandes vantagens, não só aos empre-
que estes acontecimentos ou estes actos pudes hendedores, mas tambem ao paiz : porém se ha
sem produzir a alta do juro, porque não podião osta necessidade, então confesse-mol-a claramente,
diminuir os capitaes, e então disse elle: « Por emprestemos, se é possivel, dinheiro a esses, em
ventura augmentou-se a cifra dos impostos ? presarios ; porém facilitar emprestimos a *taes
Não ; logo, como dizer-se que os capitaes dis empresarios por meio dos bancos com risco
poniveis forão diminuidos, e em consequencia de todos aquelles que têm transacções com os
tjuereis explicar isto como uma das causas da bancos, me parece pouco cordato, porque é ar
subida do juro? » riscar o que não é nosso, é comprometter a
Observarei a S. Ex. que embora a cifra dos fortuna alheia.
impostos não tenha augmentado, todavia uma Eu perguntarei, poderemos por este modo dar
nação faz despezas productivas e improductivas : facilidade aos bancos para fazer este empres
a guerra como observa Storch, é um dos con timo? Digo que não, e antes de o demontrar,
sumidores mais terriveis dos capitaes ; aquelle observarei que o nobre ministro negou os favo
que paga uma divida cumpre um dever, mas res que eu disse que o projecto fazia aos ban
sem duvida diminue os fundos disponiveis da sua cos ; S. Ex. não vio esses favores, e eu não
caixa. Nestas circumstancias estamos nós com obstante ter lido com muita attenção o seu dis
relação á guerra do sul, e com relação á ope curso, não mo posso convencer de que taes fa
ração que fez o nobre ministro. Do certo o nobre vores não lhes são feitos : e é só por meio desses
ministro não augmentou a cifra dos impostos ; favores que póde-se conceder aos bancos se
mas a importancia desses impostos, que em grande melhante facilidade a que se referio o nobre
parte podia ser applicada productivamente em ministro.
uma estrada ou em um canal, dando assim mo Se taes favores não lhes fossem feitos, elles
vimento á industria, com a guerra do sul, que não poderião ter essa facilidade que o nobre
a consumio improductivamento, deixou de pro ministro entende necessaria para arredar os em
duzir a sua acção benefica dentro do paiz ; e baraços com que lutão o mercado monetario e
deixando de produzir essa acção benefica, é o credito. Logo, ó por meio de favoros aos ban
visto que a ausencia dos valores desses impos cos que essa facilidade se alcança, e eu não
tos , consumidos improdutivamente , póde em levarei tempo a camara repetindo os favores que
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 219
anteriormente, no meu primeiro discurso, de já de agora conviria apreciar para atalharmos o
monstrei que erão feitos aos bancos. Eu disse mal emquanto é possivel sem o cortejo de desas'
até qua essa nova emissão era como uma doação tres que se me antolha.
que se fazia aos bancos, que os bancos por meio O credito, Sr. presidente, como ja tive occa-
ddlla so vião autorisados a pagar bilhetes seus sião de dizer nesta casa, não chama a moeda
por outros bilhetes procedentes dessa mesma que falta ; ao contrario, toma o lugar da moeda,
nova emissão. a expelle para outros mercados onde tem mais
Agora mostrarei como, não obstante esses fa valor. Portinto ó vão esforço pretender, como
vores, nada se poderá conseguir se os bancos quer o projecto, ter a moeda que julga insuffi-
attenderem bem aos seus interesses e lançarem cieute por meio do operações bancarias, porque
as vistas para o seu futuro. Se acaso os ban os bancos não podem supprir a moeda, e não
cos, para favorecer as industrias nascentes en podem supprir a moeda porque não podem sup
tre nos, quizerem embarcar-se nas eventualidade* prir ao credito.
dessas industrias, a sua ruina é certa. Sr. presidente, ainda tomarei em consideração
Os bancos.de emissão, Sr. presidente, não po alguma cousa que noto no projecto, e que me
dem partilhar das eventualidades ou chanças, parece digna de ssr apresentada ã casa, Sr. pre
permitta V. Ex. esta exepressão franceza, que sidente, ê reconhecido por todas as pessoas que
acompanhão as industrias ou as empresas ; se estudão a organisação e marcha dos bancos
tomão parte em taes eventualidades necessaria que os fundos de qualquer banco de emissão
mente arruinão-se, fazem ponto í é isto o que não podem ser senão moeda, porque os bilhetes
nos mostra a historia. Na Russia, achando-se o que emittem são representativos da moeda j mas
banco em descredito, Catharina II, para dar valor o que vemos nós no projecto ? Vemos que os
aos seus bilhetes, annexou-lhes uma companhia, fundos dos bancos são constituidos, não em
cujos fundos consistião em apolices da divida moeda, mas em valores mais ou menos aleato
publica ; mas como essa companhia não prospe rios, por exemplo, apolices da divida publica,
rou, o resultado foi que isto affectou o banco, que as quaes não podem fazer-se substituir á moeda,
brou, e teve-so de ordenar que as suas notas porque tem um valor menos fixo do que a
girassem forçadamente. moeda ; no mesmo caso estão os bilhetes do the-
O Sr. Lisboa Serra : — Por um principio de souro, os bilhetes da alfandega e os titulos
utilidade. particulares ; porque, se por acaso a nação dis
ser—não posso pagar agora os juros das apo
O Sr. Bandeira de Mello: — Portanto, repito, lices—ellas hão do descer do seu valor, o que
se acaso por meio desta facilidade concedida aos póde ser facil de acontecer porque ha immensas
bancos pretendemos que elles se associem áa eventualidades, como uma guerra, diminuição
empiesas.. . . de renda, etc, que podem trazer esse resul
O Sr. Ministno da Fazenda :— O projecto não tado, como muitas vezes entre as nações tem
diz isto. acontecido. Póde-se mesmo, por exemplo, não
se pagar a totalidade dos juros das apolices, o
O Sr. Bandeira de Mello :.— O nobre ministro ellas descerem, e por conseguinto é essencial a
disse que convinha dar facilidade aos bancos para um banco de emissão que o seu fundo, a sua
que elles déssem expansão ao credito, e em res caução, seja constituido sempre em moeda.
posta eu digo que os bancos não podem dar
expansão ao credito, quando as letras que elles O Sr. Paula Santos dá um aparte que não
houverem de descontar forem de mera circulação; ouvimos.
ao contrario, assim não só arruinarão o credito O Sr. Bandeira de Mello:—O exemplo da In
dos particulares, como o seu proprio credito, por glaterra não prova nadi, porque se sa reconhece
que logo que um banco apresenta letras para que é papel-moeda emittido, na um fundo muito
emprosas cujos lucros são incertos, não é possivel consideravel, disponivel e muito solido, e o que
que o credito appareça; nem com relação aos lá se nota de menos regular é effeito da neces
bancos, nem com relação aos individuos. sidade, porque o governo contrahio grandes em
Está claro, Sr. presideute, que se se quer dar prestimos, a nação vio-se na necessidade de dar
facilidade aos bancos para proteger empresas nas garantias ao banco ; mas nós náo estamos nas
centes, e se se emprestão capitaes, para empre mesmas condições, não estamos collocados na
gos cujos lucros sao demorados, está claro, re mesma necessidade, e por conseguinte não de
pito, que de necessidade essas letras não podem vemos fazer o mesmo , não devemos imitar
ser pagas dentro do prazo de tres mezes, e por aquillo que foi o effeito do uma necessidade, e
conseguinte são letras que se vão reformando nao se acha aconselhado pela sciençia.
constantemente com as mesmas firmas ; isto é O fundo do um banco de emissão não póde ser
fóra de toda a duvida. senão inoed i, senão o meio circulante do paiz ;
Sr. presidente, o desconto de uma letra não do outra sorte é incontroverso que os seus bi
representa, não figura senão um emprestimo ; des lhetes não seriáo sinnaes representativos de
contar uma letra é emprestar o valor dessa letra moeda, mas siin desses valores mais ou menos
deduzido o seu desconto, e não se empresta se aleatorios, que lhe servissem de caução, como
não a que tem credito, portanto diz judiciosa os que o projecto da commissão dá a nova
mente um escriptor que o banco não crêa cre emissão.
dito, apenas dá credito a que o tem. Quem não (Ha um aparte.)
tem credito não vai ao banco descontar letras, Vejamos, senhores, em que consiste o fundo
o eu acho essa observação inteiramente accorde disponivel dos bancos actuaes. O fundo dispo
com a realidade dos factos. nivel, diz o projecto, que nunca será inferior a um
Pois é, Sr.presidente, nas circumstancias actuaes terço da emissão, e que esse fundo deverá ser
em que, segundo a minha opinião, vacilla o cre consistente em moeda ; mas poderáõ esses fun
dito, é que se permitta maior emissão ? Pois é dos disponiveis comçór-se do moeda, quando o
nestas circumstancias em que os bilhetes são fundo incorporado nao tem especies metallic is T
levados ao banco para se haver moeda, que se
autorisa ao banco a emittir mais bilhetes ? Pois O Sr,. Paula Santos : — E' engano de V. Ex.
quando o credito vacilla é que se lhe dá expan O Sr. Bandeira de Mello : — Como engano?1
são ? 1 1 I Pare '.«-me, Sr. presidente, que isso é
um procedimento não conveniente, e que em lugar O Sr. Lisboa Serra : — Examine bem V. Ex.
de produzir o resultado que desejamos, ha de o projecto, porque parece que não lhe prestou
trazer complicações muito serias, mui graves, que muita attenção.
SESSÃO EM 10 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Bandeira de Mello (depois de exami citou ha dias, e sobre que tive de fazer algu
nar o projecto) : — Metaes preciosos .... inetaes mas observações a primeira vez que faltei,
preciosos é moeda ? consistio não em saber se os bilhetes ou notas
O Sr. Paula Santos: — Por certo que não. cuja emissão o projecto autorisa são bilhetes de
confiança ou não são bilhetes de confiança. O
O Sr. Bandeira iie Mello :— Se os metaes que se disse foi que essas notas senão verda
precioso"s de que f ilia o projecto é moeda, por deiro papel-moeda; e para desvanecer a impres
que razão não se diz moeda ? Mas eu não en são que estas palavras poderião produzir na ca
tendo que metaes preciosos sejão considerados mara e no publico, fiz algumas reflexões a este
moeda. . . respeito.
O Sr. Paula Santos : — Esses metaes é pre Procurei então demonstrai que os bilhetes para
caução. cuja emissão se auturisão os bancos actuaes
são convertidos em moeda corrente, e além disto
O Sr. Bandeira de Mello : — Por conse caucionados por uma somma . de titulos de di
guinte, se os bancos não têm no fundo incor- vida publica ou particulares igual «o menos ao
P orado especies metallicas, como podem ter fundo valor das emissões, e que sendo assim, estavão
d isponivel em dinheiro ? Figuremos uma hy- muito longe de merecer o titulo de papel-moeda.
pothese : estabelece-se o banco com 6 mil con
tos, valores recebidos em caução ; entre estes Hoje insiste-se em que essas notas não se po
valores não se encontrão especies monetarias, derão chamar bilhetes de confiança, porque
como é pois que o fundo disponivel ha de ser para isto, diz o honrado membro, estribado na
composto de semelhantes especies ? De que ma autoridade de Droz, são indispensaveis dous re
neira ha de ir para caixa do fundo disponivel quisitos : 1°, que o curso deites seja livre, in
a moeda ? Visto que o banco vai emittindo as teiramente livre ; 2°, que haja certeza do reem
suas notas á proporção que desconta as letras, bolso dos mesmos bilhetes. Se esta ê a definição
e quando elles se vencem , dão-lhe em paga de bilhetes de confiança, de certo os de que
mento tambem bilhetes, como é que elle póde tratamos não poderão merecer este nome; e
adquirir moeda para constituir o fundo dispo duvido mesmo que o possão merecer os bilhe
nivel ? Como póde-se fazer isso se não ha va tes de qualquer banco que se organise ou que
lor monetario nos cofres dos bancos ? se possa organisar, quer no Brazil, quer em
outro qualquer paiz do mundo. Eu porém en
O Sr. Lisboa Serra : — Esse é que é o en tendo, e entendo com autores cujas opiniões
gano. devem merecer tambem muito peso, que para
O Sr. Paula Santos : — Ha valor monetario. que se repute um bilhete de confiança basta
que elle seja convertivel em moeda e que o pu
O Sr. Bandeira de Mello : — Refiro-me ã blico acredite nessa convertibilidade
letra, ao que está escripto ; não ha valor mo
netario. Os valores que servem de caução não O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que
se compoem de moeda, e como haver moeda, não houvimos.
sobre este fundo ? Vou ao banco com uma O Sr. Rodrioues" Torres : —Não é necessario,
leUa, o banco desconta a letra e dá me notas para que as notas de um banco se reputem
suas ; vence-se uma letra descontada pelo banco, bilhetes de confiança, que haja certeza de serem
paga-se em bilhetes que ello emittio, e assim convertidas em especies metallicas, ainda quando
esta operação se multiplica. Onde esta a moeda a totalidade da emissão se apresentar de um
para o banco constituir o fundo disponivel ? só jacto nas caixas do estabelecimento. A ser
Não vejo. assim, não poderia dar-se o -nome de bilhetes
Em conclusão, Sr. presidente, direi que, para de confiança ao papel de nenhum banco, porque
que o papel de um banco seja verdadeiramente não ha banco nenhum que possa, salvo em um
um bilhete de confiança, não é bastante que ou em outro caso excepcional, conservar em seus
uma lei diga que ha um fundo disponivel, que cofres, em moeda metallica, quanto seja neces
o banco realisará as suas notas ; é preciso que sario para pagar todos os bilhetes que existi
se acrelite nisto. Emquanto não se acredita rem em circulação.
nisto, não apparecerá esse caracter de bilhetes Se assim fóra, se esta condição fosse indis
de confiança, e tanto mais isto não se poderá pensavel para a existencia de fes estabeleci
verificar quanto se dá ao banco faculdade para mentos, elles tornar-se-hiãò absolutamente im
essa emissão, não por causa de faltar moeda, possiveis, porque nenhum banco se organisaria
mas para facilitar, auxiliar as emprezas nas para emittir 20:000$ de notas, por exemplo, com
centes entre nós, porque como observa Storch, a obrigação de conservar sempre em seus cofres
o que assegura o credito de um banco de cir 20:000$ em moeda.
culação não ó unicamente o seu fundo, que não O Sr. Lisboa Serra :—E fazendo despeza.
é nem póde ser da mesma somma dos seus
bilhetes em circulação ; é a persuasão de que O Sr. Rodrioues Torres: — ... e fazendo des-
elle não emitte bilhetes senao sobre valores Êezas que exigem semelhantes estabelecimentos,
que assegura o seu pagamento. asta pois, para que as notas de um banco
Bilhetes emittidos sobre valores futuros, va não sejáo papel-moeda, que o estabelecimento
lores que se referem a estipulações mais ou pague effecti vamente as que lhe forem apresen
menos aleatorias, não podem merecer essa con tadas; fazendo assim, o banco ganha a confiança
fiança, não podem por consequencia se consi do publico ; os possuidores de suas notas acha
derar como um meio fiduciario. rão quem as queira aceitar como se fossem
Tenho concluido, Sr. presideute ; julgo que moeda, e moeda facil de transportar, e portanto
hei de ser convencido do contrario do que tenho não terão interesse nem necessidade de as le
sustentado, que talvez tenha de dar o meu varem ao troco. O credito pois que assim ga
voto a favor da resolução ; a autoridade va nha o papel do banco e o que resulta da im
liosa do Sr. ministro da fazenda e da nobre portancia de companhias tão poderosas, o mantém
commissão uão póde deixar de levar-me a isto, na circulação, e faz com que o banco possa com
se fór esclarecido e convencido de que são im um fundo de reserva comparativamente pequeno
procedentes as reflexões que tenho feito. conservar em giro grande somma de suas notas.
Alouns Srs. Deputados : — Muito beml Disse-se que os bilhetes do banco de Londres
são papel moeda, e para proval-o citou-se a
O Sr. Rodrigues Torro» (ministro da fa autoridade de um economista muito distincto.
zenda) :—Parece-me que a questão que se sus Mas as palavras desse economista, que forSo re-
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 221
produzidas na casa, não provão a these do no negava é que as despezas da guerra tivessem
bre deputado ; provão que no seu modo de diminuido os capitaes anteriormente existentes;
pensar ris bilhetes do banco da Inglaterra não tal era a nossa questão, e me parece ter de
suo moeda ; mas entre não serem moeda o serem monstrado claramente que era inexacta a propo
Íiapel- moeda ha uma distancia infinita. Na minha sição do honrado membro. (Apoiados.)
íumilde opinião nenhum bilhete de banco é O Sr. Bandeira de Mello : — Se ficassem esses
moeda ; todos elles são promessa de pagamento capitaes ?
em moeda corrente, e promessa de pagamento
não é o proprio pagamento. O Sr. Rodriodes Torres : — Sem duvida que
As notas cuja emissão se autorisa pelo proje o pai; estaria mais rico ; porém esta não e a
cto são suficientemente garantidas para que te- questão ; se cada um de nós não fosse obrigado
nhão fé no publico, para que os portadores a fazer despezas seriamos por certo mais ricos
delias tenhão toda a confiança de que hão de do que somos.
ser reembolsados do seu valor quando tiverem O Sr. Bandeira Mello : — Se os capitaes não
necessidade desse reembolso : 1°, porque os sahissem não appnreceria esse resultado.
bancos serão obrigidos a conservar em seus O Sr. Rodrioues Torres : — Os capitaes que
cofres o terço do valor dessas notas, o que a sahirão não forão os que existião anteriormente.
experiencia tem feito adoptar como regra em
todos os bancos bem organisados, ou bem diri O Sr. Bandeira de Mello : — Se não sahis
gidos ; 2°, porque além desta reserva existirá sem outro seria o nosso estado monetario.
uma caução de valor igual ao dn emissão, cau O Sr. Góes Siqueira : — Mas a guerra foi
ção que não isenta os outros haveres do banco necessaria.
de ficarem hypothecados ao pagamento das
mesmas notas. O Sr. Bandeira de Mello : — Não trato de
censurar a guerra, trato de avaliar um resultado.
Se us bancos, como suppóz o nobre deputado,
usando da faculdade que se lhes dá no proje O Sr. Rodrioues Torres : — Esse resultado ó
cto, viessem a fallir, os portadores das notas que eu nego, porque as difficuldides actuaes da
estarião certos de que o governo lhes pagaria o praça não podem ter nascido dessas despezas ;
valor delias até á importancia dos titulos de porque os capitaes que anteriormente existião
credito que tiver em seu poder pertencentes aos não forão censumidns : esta é que é a questão.
mesmos bancos. Estes titulos não são, é verda Não insistirei sobre ella, porque me parece ter
de, dinheiro disponivel, mas hão de realisar-se muito pouca applicação ao objecto de que se
dentro de um prazo mais ou menos curto. Assim, trata actualmente. (Apoiados.)
se os bancos fallissem, o governo, realisando « Os bancos não podem ou não devem pro
estes titulos, faria com o producto delles satis teger as empresas de que fallei, porque os ban
fazer aos portadores das notas dos mesmos cos não podem emprestar senão sobre titulos do
bancos. transacções reaes, e n curtos prazos », disse o
Ora, a bilhetes que têm semelhantes garantias honrado membro. E' uma verdade que não nego;
pòde-se chamar papel-moeda, isto é, titulos que no meu discurso achou o nobre deputado algu
não estipulão o reembolso, ou estipulão um ma cousa que contrariasse este principio ?
reembolso illusorio ? Se são precisas para a O Sr. Bandeira de Mello : — Não.
organisação de um estabelecimento de credito O Sr. Rodrioues Torres : — O que eu disse
todas as cautelas que o nobre deputado quer foi que convinha não desanimar as empresas
exigir dos bancos actuaes para se lhes conceder que navião começado ; mas segue-se dani que
a faculdade de emittirem 6,000 contos, declaro eu queira dar aos bancos a faculdade de fazer
desde já que impossivel é tambem a organisa emissões para proteger a essas empresas ? Não.
ção de um banco qualquer no Brazil. (Apoiados.) O honrado membro sabe perfeitamente que se
Disse o nobre deputado que ' se os bancos os bancos puderem dar maior expansão ao cre
q uebrarem os portadores da suas notas terão dito e descontar em maior escala letras que re
d ireito de queixar-se do governo. Terião direito presentem transacções commerciaes, grande parte
de queixar-se se não se lhes assegurasse o pa dos capitaes que hoje são empregados nessas
gamento das notas de que são portadores ; mas transacções tornar-se-ha disponivel e irá auxiliar
uma vez que se lhes da esta segurança, parece essas empresas. Eis-aqui como, se não directa
que nenhum direito terão de queixar-se tanto mente, porque os bancos de circulação não po
mais quanto não é vedado a nenhum delles recor dem fazer operações ou emprestimos dessa na
rer á caixa do banco logo que receba em paga tureza, ao menos indirectamente, a maior expansão
mento, semelhantes notas, para haver em moeda que os bancos derem ás suas operações favo
corrento o valor delias. recerá essas empresas, que em verdade devem
O honrado membro insistio ainda hoje em pro ser favorecidas, ou que ao menos não devem
curar convencer-nos de que a guerra do sul con ser desanimadas. (Apoiados.)
sumira improductivamente capitaes do paiz, e
que por esse modo havia concorrido para dimi « O fundo de um banco, disse o honrado
nuir a massa delles. Já hontem tive a honra membro, deve ser metallico. » Não pude bem
de dizer ao nobre deputado que .se elle entende comprehender do desenvolvimento desta propo
que as despezas feitas por occasião da guerra sição se elle quer- que os bancos de circulação
tinhão consumido uma porção de capitaes que tenhão sempre reservado em caixa a totalidade
poderia ter sido empregada reproduclivamente, do seu fundo capital, e representado por metaes
neste caso elle tinha razno ; mas que o mesmo preciosos.
se poderia dizer a respeito de todas as quantias O Sr. Bandeira de Mello : — O fundo que
Sue são despendidas pelo governo em pagamento Serve á creação do banco e a que chamo fundo
o serviço publico. incorporado.
O Sr. Bandeira de Mello : — Essas são pro- O Sr. Rodrioues Torres : — Ainda não vi
ductivas. semelhante opinião sustentada por autor algum.
O Sr. Rodrioues Torres : -i- Fallo das impro- O Sr. Bandeira de Mello : — Parece-me que
ductivas. João Baptista Say a sustenta.
O Sr. Bandeira de Mella : — E eu das prj- O Sr. Rodrioues Torres :— Creio que o no
ductivas. bre membro esta enganado, ou senão J. B. Say
O Sr. Rodrioues Torres : — Mas o que eu disse uma quasi heresia. (Apoiados. )
222 SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Bandeira de Mello : — Examinarei O Sr. Lisboa Srrra:— Esqueceu-se de todo seu
com mais cuidado. capital.
O Sr. Rodrioues Torres : — Se um banco de O Sr. Rodrioues Torres :—Os bancos actuaes
possuem um capital realisado de 12 mil e tantos
circulação se organisar com o fundo capital de contos.
20,000 : 000$, não poderá elle descontar letras dinheiro Têm é verdade, recebido depositos ou
commerciaes ou outros titulos com 15,000:000$ sentão asa quantias premio e emittido letras que repre-
que tomarão a premio. ..
em dinheiro, e reservar 5,000:000)? para fundo
disponivel, emittindo somente 10 ou 15,000:000$? O Sr. Lisboa Serra : — Podião perder 12 mil
Onde se impedio a um banco de circulação que contos sem prejudicar a ninguem,
fizesse descontos a dinheiro se isso lhe con O Sr. Rodrioues Torres :— se o honrado
vier ? Pois ó da essencia dos bancos darem membro quer contar no passivo dos bancos as
sempre notas em troco dos titulos que se lhes letras que
apresentáo para desconto ? Não mo consta que incluir no elles tém a pagar , deve tambem
seu activo os titulos que têm a
exista banco nenhum organisado com semelhan
te clausula. receber.
De ordinario, os bancos não podem, logo que O Sr. Bandeira de Mello : — Considerei tudo
são organisados, emittir grande somma de suas isso.
, notas, porque, como se sabe, o credito de esta O Sr. Rodrioues Torres :—Se considerou tudo
belecimentos desta ordem depende principalmen isso, como póde dizer que é illusoria a caução
te da confiança que inspirão, e essi confiança que se exige no projecto? Pois se os bancos têm
não se adquire rapidamente e de um dia para 12 mil contos de capital seu, para prejudicar ao
outro ; é preciso õue o publico se habitue por publico não seria necessario que perdessem a
algum tempo a vêi-os desempenhar com leal importancia de todo esse capital? Exige -se uma
dade suas obrigações, para receber e conservar caução para a emissão de 6 mil contos ; mas
na circulação as notas que elles emittem. note-se que nesses 6 mil contos ficão compre-
Ora, se se organisar um banco com 20,000:000$, hendidas não só as notas que os bancos forem
emquanto não adquirir o credito de que pre autorisados a emittir d'ora em diante, mas ainda
cisão taes estabelecimentos, e por conseguinte as que já existem effectivumente em circulação.
não puder fazer emissões senão em muito pe O Sr. Bandeira de Mello : —Então como lu-
quena escala, ha de ficar esse banco inhibido
de empregar productivamente seus capitaes, e crão os bancos se seu capital é tão grande, o
impossibilitado de descontar com dinheiro os ao mesmo tempo só podem emittir 6,000:000$000?
titulos particulares que lhe forem apresentados ? O Sr. Lisboa Serra: — Com esses 12,000:0008
Se eu, ou qualquer de nós, tivesse necessi podem descontar 30,000:000$000.
dade de descontar uma letra no banco queagora O Sr. Rodrioues Torres: — E'me difficil res
se creasse, e com receio de receber suas notas ponder
por não estarem suficientemente conhecidas ou membro,nosta parte ás objecções do honrado
a quem muito respeito, e a quem de-
acreditadas para serem aceitas com facilidade sejára tirar
pelas pessoas com quem tivessemos de fazer valioso apoio emescrupulos,
os afim de obter o seu
favor do projecto de que tra
transacções, exigissemos por isso que o banco tamos ; é-me diflicil, digo, porque uão pude com-
nos descontasse a letra a dinheiro, conviria que prehender todo o alcance de suas observações.
elle estivesse inhibido de fazêl-o ?
Segundo os principios do honrado membro, o O que me parece é que o projecto exige garan
banco de Inglaterra não póde ser considerado tias sufficientes, e mais que sufficientes., para
uma verdadeira instituição bancai , porque não que sejão
os bilhetes que os bancos têm de emittir
pontualmente pagos a seus portadores,
conserva como fundo de reserva metallica senão ainda mesmo na hypothese que eu não admitto,
os depositos que recebe e em troce dos quaes de virem a fallir. Só poderia eu admittir esta
emitte suas notas. hypothese se o procedimento dos bancos fosse,
O Sr. Bandeira de Mello :— O banco de In nao só irregular, mas insensato d'ora em diante,
glaterra não foi creado conforme os principios o que se não deve esperar á vista da maneira
da sciencia. como têm elles procedido nté aqui , tanto maia
O Sr. Rodrioues Torres : — Deveriamos dar porque exercerá o governo uma fiscalisação con
stante sobre suas operações, o que não se fazia
graças a Deos se todos os nossos bancos che até agora. [Além das outras garantias exige o
gassem ao gráo de prosperidade em que essa in projecto que os bancos não appliquem a emis
stituição se acha (apoiados) , e fizessem tantos são
serviços como esse banco tem feito ao seu paiz lêtrasquecommerciaes
se lhes permitte senão em desconto de
: e demoro-me na pronuncia-
e ao mundo commercial. ção destas palavras — letras commerciaes — para
O Sr. Bandeira de Mello:— Tem feito hoje que o honrado membro não entenda que a II-
que está bem estabelecido. lustre commissão ou eu julgamos que os ban
O Sr. Rodrioues Torres : — Tem hoje quasi cos podem proteger essas transacções irregulares
a mesma organisação que em 1691 , quando foi e illegitimas a que o honrado membro denomi
creado. nou—letras de circulação.
O Sr. Bandeira de Mello :—Nunca suspendeu O Sr. Bandeira de Mello :—Não as considero
seus pagamentos? illegitimas.
O Sr. Rodriodes Torres :—E qual é o banco, taes O Sr. Rodrioues Torres: — Eu entendo que
por melhor que seja sua organisação, que não bem transacções são illegitimas para um banco
tenha tido dessas crises ? Um banco bem diri organisado. Dous individues cujas firmar
gido pòde evitar as crises que dependem da sua sejão
des
acreditadas podem nssignar letras de gran
quantias, descontal-as nos bancos , e have
administração, mas não póde evitar as que são rem assim grandes sommas, som que entre elles
consequencias de subversões sociaes, de revolu tenha havido nenhuma transacção real, sem que
ções. [Apoiados.)
O honrado membro insistio hoje em que a taes letrascommercial.sejão o resultado de uma verdadeira
caução que o projecto exige dos bancos e illu- operação Essas sommas são dopois
soria; mas declaro que ainda não pude perce dadas a maior premio, ficando muitas vezes pri
ber o motivo por que elle assim pensa. Fez vado do auxilio do banco o negociante que tinha
uma resenha do passivo dos bancos actuaes, necessidade delie. Convém que os bancos se
porém não fez igualmente a do seu activo. opponhão a semelhante agiotagem. A difficuldada
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 223
consistirá em distinguir as letras bona fide com- i da primeira letra. Desde esse momento, logo que
merciaes das que o não são ; mas de ordinario começassem na operação da emissão, a especie
os administradores ou directores dos bancos corrente e as letras dos bancos tornar-se-hião
conhecem essas cousas, sabem avaliar pouco mais synonymos.
ou menos semelhantes operações. O nobre deputado partio de um equivoco, e ó
Acredito pois que o projecto procura evitar que os bancos não poderião começar a emissão
as operações de agiotagem que deixo indicadas senão por uma operação de desconto, em que
quando exige que a emissão dos bancos seja tivessem de empregar suas letras antes de for
applicada ao descdnto das letras commerciaes; mado o fundo disponivel.
é uma garantia de mais que não existe nos es Senhores, o governo não terá de crear bancos,
tatutos dos bancos actuaes. mas sómente de tratar com bancos que se achão
O honrado membro pireceu dar a entender estabelecidos com fundos proprios e grandes ca
que nós tratamos aqui da organisação de um pitaes em giro; é portanto inadmissivel a sup-
banco de circulação. Não, senhor; tratamos ape posição de que lhes falte desde logo o numerario ;
nas de um remedio provisorio , e do dar aos mas dado esse caso, que reputo impossivel, bas
bancos existentes , até certo ponto, as funcções taria que alguem, alguns de seus directores, por
dos bancos de circulação, e exigimos delles em exemplo, lhes quizesse officiosamente trocar a
compensação garantias que os seus estatutos primeira letra de 200$, no que por certo não
não estabelecem. Continne portanto a pensar que ahveria a minima difficuldade.
o projecto da illustre commissão deve ser ado O Sr. Bandeira de Mello : — Então o nobre
ptado por esta augusta camara. (Apoiados : muito deputado reconhece que precisão de um favor
bem.) para começar a operação.
Alouns Sbs. Deputados : —Votos I votos I O Sr. Lisboa Serra : — Eu já disse ao nobre
O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. Lisboa deputado que para se dar esta hypothese era
Serra. preciso suppór-se que os bancos não terião em
suas caixas a quantia de 100$ em dinheiro ; com
O Sr. Hsboa Serra : —Sr. presidente, eu essa quantia poderião levar a emissão até ao
vejo que a camara está disposta a votar, e nes infinito, quanto mais a somma limitada que o
tas circumstancias eu não deveria usar da pa projecto autorisa.
lavra ; mas como pretendo demorar-me pouco, Eu não devia fallar mais sobre os pontos
não ha receio de que possa comprometter ne explicados pelo nobre ministro, mas desejo levar
nhuma conveniencia. A camara acabou de ou a convicção a todas as intelligencias, usando de
vir ao nobre ministro da fazenda, e por isso muito uma linguagem mais vulgar d.o que aquella de
pouco terei a dizer ; mas usarei da palavra que qne sabo usar o nobre ministro, por modo que
me foi concedida , não sò por necessidade da muito invejo, pois entendo que esta discussão
minha posição como relator da commissão, mas não é só para a camara, mas tambem para o
tambem porque licou-me o escrupulo de que os povo ; vou pois ver se explico ainda mais o
meus apartes não fossem legitimamente inter pensamento que o nobre ministro já referio.
pretados pelo nobre deputado que fallava então, Senhores, um banco de circnlação, como con
e a quem consagro o maior respeito. Preciso cebe o nobre deputado, é impossivel inteiramente;
declarar ao nobre deputado que os meus apar direi mais, seria uma machina destruidora da
tes tinhão antes a significação da homenagem fortuna publiep. Um banco de circulação, na
ue rendo ao seu talento ; eu disse que o nobre phrase do nobre deputado, que recolhesse um
3 eputado estava necessariamente equivocado , certo capital, e o fizesse representar na praça
ÍIorque não podia conciliar as suas opiniões de por uma somma igual á dos seus bilhetes, e
ioje com as opiniões que emlttio quando fallou não tivesse fundo algum, ou renda propria, ha
ba dias, e de cujo discurso tive apenas conheci via de necessiriamente produzir a ruina da praça
mento pelo Jornal. Com effeito, o nobre depu em uma somma identica á do seu capital, e eu
tado se mostrou tão doutrinario, tão sabedor da posso dizer desde já ao nobre deputado exacta
materia, que eu não podia attribuir as suis mente em que tempo teria lugar esse phenomeno
opiniões de hoje senão a equivocação na appli- se eltc me dissesse em quanto calcula a des-
cação dos seus principios ; é por isso que eu, peza do material, do custeio e da administração
membro da commissão, me julgo na obrigação durante cada anuo ; visto que não se podem fa
de dar a respeito deste ponto pratico as expli zer com palavra) e sem despeza alguma todo o
cações que dependem de mim. serviço do troco e o preparo do papel circulante.
Os meus apontamentos estão tão mal organisados O Sr. Bandeira de Mello :— Não fazendo di
(olhando para umas tiras de papel) que irei fal- videndo não quebraria.
lando a esmo sobre o' que me lembrar. O Sr. Lisboa Serra. — Eu digo que se um tal
Uma das duvidas apresentadas pelo nobre banco durasse o tempo necessario para aniqui-
deputado foi a «da impossibilidade em que se lar-se, nem mesmo poderia fazer aquelle tenue
acharião os bancos de começar a operaçao por dividendo que fazem de ordinario as casas fal-
falta de numerario para o fundo disponivel, em lidas; o seu capital estaria completamente des
bora tivessem nos seus cofres os 6,000:0003 em truido, consumido pelas despezas da sua admi
letras que estão autoris idos a emittir. Senhores, nistração.
haverá difficuldade nisto, mas é justamente aquella
em que se acha cada um de nós, quando tendo moeda Um Sr. Deputado: — Isto é claro.
de uma especie deseja tiocal-a por moeda de O Sr. Lisboa Serra : — Estes estabelecimentos,
especie differente. Os bancos estão autorisados senhores, embora sejão poderosos auxiliares da
a emittir papel, prestárão caução no thesouro, riqueza publica, nunca se organisão senão com
precisão porém de ter 10, por exemplo, em di o fim de realizar lucros para os seus accio
nheiro para emittir 30 em letras. Se suppuzer- nistas, e todo o seu segredo consiste em con
mos que, como é mais natural, os bancos como ciliar o seu interesse proprio com o interesse
ção do pequeno para o grande , é impossivel da sociedade.
admittir a idéa de que elles não tivessem a E de que artificio se servirão para isso ? O
quantia necessaria em dinheiro para emittir a artificio ó o seu credito, que elles poem em jogo
primeira letra. Elles podem emittir bilhetes do com maior segurança do que o faria qualquer
valor de 200$ cada um ; seria pois preciso ad particular isoladamente; porque obrando sobre
mittir que ao começarem a operação não tives grandes massas de capitaes, e sendo os seus
sem 1000 em caixa para poder fazer a emissão encargos repartidos por uma população inteira,
224 . SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853
difficil e muito difficil será em circumstancias nenhuma de suas operações, e se o projecto não
ordinarieis achar-so em qualquer embaraço para autorisa augmento nessa emissão, como poderá
satisfazel-os. diminuir as garantias ?
Se um banco não pudesse tirar algum pro Sr. presidente, eu retomarei o fio do meu dis
veito da sua intervenção nos negocios alheios ; curso, que ha de necessariamente ficar sem nexo
se elle houvesse de limitar-se a pór em movi algum entre as suas partes.
mento o seu fundo capital unicamento, que in Note o nobre deputado que eu me referi ao
teresse teria unidos os accionistas? Não poderia
cada um delles gerir com mais economia a sua maximo lizaveis.
das desgraças que se póde dizer irre-
Na verdade, como podemos nós conce
qneta de capital ? Quererião onerar-se dus des ber uma perda que absorvesse todos os capi
pezas da administração e custeio, que certamente taes dos bancos? Como podemos nós admittir
tornarião ainda mais minguados os seus bene uma perda tão consideravel, a não ser por meio
fícios ?
Não seria raro, suppondo que fosse possivel de grandes desgraças, que são quasi impossiveis
do verificarem-se ?
manter-se por muito tempo uma tal instituição, Sr. presidente, o nobre deputado, fazendo a
vêl-a arruinar- se lentamente até a completa ani enumeração dos valores que os bancos tinhão
quilação. Não seria raro, porque seria quasi . em seus cofres, não se explicou de maneira que
certo que elle não pederia cobrir com seus lucros
as despezas indispensaveis ; e por muito pouco eu o pudesse bem comprehender, porque, se
que ellas entrassem pelo capital, a sua ruina nhores, os bancos não lanção lia circulação os
seria uma questão de tempo que, como no caso seus bilhetes ou numerario sem que fique em
ha pouco figurado do banco do simples circu suas caixas um representante real dessas soin-
mas em titulos de credito ; portanto o banco
lação, poderia antecipadamente determinar-se com que tem recolhido esse representante real dos
precisão, logo que se soubesse qual a differença seus bilhetes e do seu numerario não fica menos
entre os seus interesses e as suas despezas em forte, porque deve ter nelle um valor realizavel
um tempo dado. em um tempo determinado, a não terem os
Chamo a attenção da camara para um outro bancos uma directoria inhabil e deleixada, e
equivoco, de alguma maneira justificado, em que direi mesmo insensata.
têm laborado alguns oradores. Tem-se aqui fal- Ora, Sr. presidente, o nobre deputado, refe-
lado em tres especies de emissões distinctas ; rindo-se ao discurso em que o nobre ministro
vou demonstrar que não haverá mais do que tão lucidamente expóz a maneira por que en
uma, e nunca maior de 4,000: 000/jO0O. tendia o serviço dos capitaes no nosso paiz.
A commissão partio deste principio, não havia onde ha circumstancias especiaes , e aonde nós
difficuldade na praça emquanto cila podia dis não podemos encaral-os sobre as mesmissfmas
pòr do credito dos bancos, emquanto os bancos fórmas que em outras partes assume...
se podião aproveitar da faculdade que têm de O Sr. Fiirraz : — Tem as mesmissimas fórmns.
emitlir na justa proporção do seu capital; mas
os bancos se achárão na impossibilidade de pres O Sr. Lisboa Serra : —Eu mostrarei ao nobre
tar este serviço á praça poios motivos que já deputado que na nossa praça os capitaes estão
amplamente expuz ; suspenderão seus descontos ; muitas vezes debaixo de certas fórmas, sob as
deu se o desequilibrio que se nota hoje. A com quaes em outros paizes perdarião as suas qua
missão não propõe senão que se habilite os lidades distinctivas. Se os capitaes são aquelles
bancos para continuarem a prestar esse serviço valores que ompregados podem produzir interesso,
sem comprometter o seu futuro. augmentarem-so, reproduzirem-se. . .
O capital realizado que elles possuem hoje é O Sr. Ferraz:—E' isso mesmo que conhecemos
de 12,000:000(3 : 5,000:000» um e 7,000:000» o debaixo da palavra capitaes.
outro ; é pois claro que, segundo os seus esta
tutos, podião ter na circulação 4,000:000$, que é O Sr. Lisboa Serra: — ... se o ouro é uma
o terço do seu capital effectivo. E nas vistas do especie de mercadoria que pela sua homogenei
governo e da commissão nunca esteve o augmen- dade e outras qualidades invariaveis servem de
tar esta faculdade, mas tornal-a (-ffectiva. Assim, medida de valores 'nas transacções, mas se só
pois, ou os bancos usassem plenamente da fa pirde as qualidades de mercadoria depois que
culdade que têm pelos seus estatutos, ou o go amoedado tem, segundo a lei do paiz, um va
verno lhes fizesse o emprestimo em bilhetes do lor de convenção e invariavel ; se grandes som-
thesouro, ou finalmente lhes facultasse a maxima mas desse metal têm entrado no paiz como
emissão que este projecto nutorisa, nunca a cir mercadoria e para produzir um interesse que
culação poderia receber mais do que essa quan se torna effectivo pelo acto do amoedamento,
tia de 4,000:000», quantia essa que está sempre como até esse momento deixar de consideral-o
dentro das bases com que os bancos forão um capital, o tanto que entra immediatamente
creados, não se diminuindo por isso de modo em novas applicações para reproduzir-se de novo ?
algum as garantias das outras operações do Senhores , tambem eu , quaado consulto os
banco, e essa caução não é senão para o caso grandes mestres da sciencia, me engolpho nos
de poder a fazenda publica intervir no paga prazeres das abstrações, tambem o meu espirito
mento. Se, por exemplo, houvesse uma grande fica tão inteiramente dedicado aos principios lu
perda, se os bancos se houvessem compromet- minosos que se sustentão nas escolas como os
tido por qualquer circumstancia, se por um erro nobres deputados que aqui os apresentão por
fatal tivessem consumido o seu capital,, o the maneira tão absoluta ; mas quando tenho de me
souro faria sempre honra a esses bilhetes que referir a elles, quando tenho de passar da
autorisou os bancos a emittirem ; são 0,000 con theoria á pratica, luto sempre com grandes de
tos do seu capital que não podem responder cepções ; é necessario então modifical-os muito,
por nenhuma outra operação senão pela emis e contentar-me com achar só parte do seu re
são que os bancos houverem feito em virtude sultado ; do mesmo modo que (permitta-se-me
desta lei. uma comparação tirada da mecanica) lutaria
O Sr. Bandeira de Mello : — Então ha des com decepções aquelle que, dando impulso a
uma machina, esperasse delia o resultado thoo-
falque de garantias? rico mais completo sem ter dado nenhum des
O Sr. Lisboa Serra : — Perdóe-me o nobre de conto aos attrictos que necessariamente, dimi
putado, não ha diminuição de garantias, os ban nuindo a força empregada, retardarão o seu
cos podião ter em circulação, segundo os seus movimento.
estatutos, 4,000:000$, sem faltarem garantias a Não é precisa a medida porque os capitaes
SESSÃO EM 16 DE JUNHO DE 1853 225
diminuirão e com elles diminuirão as transac cumprimento do meu dever, em execução de
ções, diz o nobre deputado por Pernambuco. ordens expedidas em virtude de leis do paiz ;
Senhores, um dos pontos do meu discurso em obrei pois como machina, e nada têm ellas
que mais mo demorei quando expuz esta mate coinmigo ; mas não posso deixar sem contradicta
ria á camara foi sem duvida em mostrar que uma proposição aqui aventurada, isto é, que
os acontecimentos não se derão subita, mas esses bilhetes erão titulos aleatorios. Senhores,
successivamente. E' certo que os capitaes dimi quando se quer duvidir da solução das dividas
nuirão na praça do Rio de Janeiro, mas por do governo, não ha nada real no paiz I (Apoiados.)
isso mesmo é que se torna legitima e neces Todo o credito do paiz em summa remonta-se
saria a medida proposta no projecto. ao credito do governo, porque todos os represen
Quando foi que sahirão os capitaes do paiz ? tantes de valores de que a sociedade usa e
Quando avultavão as operações a que elles de põe em jogo dependem necessariamente do cunho
rão lugar ; quando ellas ti n hão do ser por força que lhes imprime o credito do governo...
continuadas, ou produzir prejuizos enormes. Só O Sr. Bandeira de Mello : — Mas o credito
então começarão a apparecer na circulação as - do governo é que tem compromettido muito os
letras dos bancos, que representavão ou enchião bancos.
o vacne que elles tinhão deixado ; era o credito O Sr. Ferraz : — A propriedade não depende
que substituio o capital, e que lia de necessa
riamente continuar a substituil-o por algum do governo.
tempo ainda. A solução desse embaraço depen O Sr. Lisboa Sebra : — Perdóe-me o nobre
de unicamente do tempo, depende, na mnxima deputado pela Bahia, meu amigo que me honra
parte, da extracção que o paiz tiver de dar aos com o seu aparte ; sustento que disse a ver
objectes sobre que vcrsárão as operações do dade, mesmo na sua maior generalidade : no
commercio. paiz em que os contractos feitos com o governo
Disse-se, senhores, que ha uma vaceillação no não tivessem o cunho dn solvabilidade, no paiz
credito assim dos bancos como dos particulares, em que a legislação pudesse affectar os capitaes
e trouxe-se isso como um motivo suficiente para e os tivesse tão precariamente protegidos que
embaraçar as vistas do governo e da commis- se pudesse pór em duvida a satisfação dos en
são, mas isso é um completo engano que eu cargos publicos ; no paiz em que dominasse um
tenho procurado quanto me é possivel afastar governo fraco e sem fé, nesse paiz toda a espe
da camara. Não ha falia de credito, senhores, cie de propriedade seria precaria ; a movei
nem nos bancos nem nos particulares, e a vacillaria sem limites, a immovel que estivesse
causa dos apertos actuaes da praça não nasce fi\ i ao solo teria em certas circumstancias tanto
de semelhante fonte ; as operações que produ valor como aquella que possuimos no reino da
zirão os apertos da praça são bem conhecidas, lua.
não houve distracção de capitaes para fins não Do principio do nobre deputado seguir-se-hia
commerciaes, nom forão compromettidas em em que para que os bilhetes do thesouro exprimis
presas arriscadas e perigosas ; não se confiárão sem uma garantia plena seria necessario que
capitaes alguns ã terra que os aproveita e só fossemos mendigar a fiança de um governo
retribue lentamente ; as empresas mesmo de estrangeiro, do governo inglez por exemplo.
que se tem fallado são entre nós muito pe Assim, todas as vezes que quizessemos fazer
quenas ; as acções das companhias que se aqui uma operação de credito era preciso procu
organisárão não forão rcalisadas na sua maxima rarmos uma força estranha que garantisse as
parte ; poucas entradas, se tem por ora feito. obrigações do nosso thesouro l . . .
O Sr. Bandeira de Mello: — Mas então os O Sr. Bandeira de Mello: — O credito do
bancos porque não descontão ? governo póde mudar com o tempo.
O Sr. Lisboa Serra : — Se o nobre deputado O Sr. Lisboa Serra : — Na hypothese de que
exigisse que eu desse completo desenvolvimento ratamos nem podemos ndmittir semelhante sup
a este ponto, obrigar-me-hia a reproduzir o que osição : não se trata de uma indisposição
já disse ; se pois tivesse a bondade de dispen- permanente. . . .
sar-me disto, muito estimaria. Já disse que O Sr. Bandeira de Mello :—'Póde haver uma
este. rffeito não dependia de um só motivo ; para
demonstrar esta minha proposição fui obrigado revolução no paiz que transtorne o credito do
a uma longa exposição de factos j julguei mesmo governo de um dia para outro.
haver provado que os bancos devião fazer o O Sr. Lisboa Serra : — Por 'esta maneira,
que fizerão, devião suspender seus descontos, com supposições desta ordem, contando com uma
porque estavão debaixo do perigo de ser-lhes força invencivel, inevitavel, a força do acaso, a
apresentada do um momento para outro maior mesma sabedoria das camaras não poderia nunca
sommii do suas letras do que elles pudessem votar completamente ; neste caso todas as nossas
de prompto pagar, o em muito peiores circum- instituições estão debaixo do mesmo perigo;
stancias ficariiio e incorrerião em bem merecida podem não existir amanhã por uma revolução,
censura se fossem empregar em novas opera por um caso extraordinario....
ções os poucos recursos que têm para honrar O Sr. Bandeira de Mello : — Essa supposiçã0
a sua emissao existente. é filha do enthusiasmo de que se acha pos"
O Sr. Ministno da Fazenda : — As expressões suido o ^obre deputado.
pronunciadas no senado devem ter contribuido O Sr. Lisboa Serra : — Procuro fallar sem
para isso. enthusiasmo, Sr. deputado, o somente com aquelle
O Sr. Lisboa Serra :— Portanto, a respeito accento que mo da a convicção : em matérias
dos bancos a concessão limitu-se a muito pouco, gemelhantes não posso conceber enthusiasmo...
torna effectiva a faculdade do qne já gozavão. O Sr. Bandeira de Mello : — Mas agora tem
E por esta occasião, digamos tudo francamento enthusiasmo no credito actual do governo. Estou
ao paiz, conseguir-se-ha melhorar a instituição, .certo que o governo 'está bem acreditado; mas
dar mais regularidade a certas operações e não soi se terá o mesmo credito daqui a dous
introduzir nella o elemento da fiscalisação do ou tres annos.
governo, que não Unha até aqui.
Os bilhetes do thesouro. .. talvez pareça isto O Sr. Lisboa Serra: — Esse credito do go
uma susceptibilidade minha por terem estes verno não é tão facil de abalar, porque não se
bilhetes a minha firma' mas ella lâ es?á em |- refere ás pessoas que estão no ministerio, refera-
tomo 2. 29
226 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
so a garantia solida que a nação póde offerecer deputado pela Bahia meu amigo quando hontem
com o estado do seu orçamento, com a compa- orava.
ração da sua receita o despeza, que um «oci Perguntou-mo o nobre deputado , porque lhe
dente qualquer de pequena monta não póde convinha para a cadêa do seu raciocinio, que
alterar profundamente. agora não posso reproduzir, se alguma vez o
Portanto a medida tem dous fins, qualquer del- thesouro tinha autorisado o curso dos bilhetes
les muito importante : evitar a crise, porque temos do
mento
banco, isto é, se os tinha recebido em paga
de impostos. Em parte o nobro deputado
visto bem demonstrado que ella póde ter lugar,
evitar que a nossa praça chegue a um ponto estava habilitado para dar a si mesmo a res-
desgraçado e desastroso somente por falta de um oosta a esta pergunta, porque presidindo a uma
auxilio que nada custa aos poderes do estado ; repartição importante, pela qual entra a maior
e tambem tratar dos interesses peculiares ã fazenda áparto das rendas que ao depois são recolhidds
repartição a que presido, devia ter bastante
publica, pois ninguem dirá que o governo não conhecimento
deva sempre attender ás despezas indisponsaveis tinha admittidode oque ao menos em parte não se
curso desses titulos, porque
da administração. tendo eu sido algumas vezes consultado pelos
O nobre ministro disse, e muito bem, na expo agentes recebedores de sua repartição, se deyião
sição que fez a camara por occasião de pedir esta ou
medida, que receiava embaraços administrativos, lhesnão receber os bilhetes do banco, respondi-
sempre negativamente. E' preciso porém ex
visto que o estado da praça produz uma para plicar o modo porque algumas vezes estes titulos
lisação no commercio, o que terá por consequen
cia infallivel a diminuição da nossa receita , servião a algumas transacções na mi'iha presença.
A thesourai ia geral, senhores, durante o tempo
que na maxima parte depende dos direitos de im em que o thesouro se achava com uma divida
portação. fluctuanto acima de 5,000:0003 tinha algumas ve
O Sr. Bandeira de Mello : —Isso diminue o zes grandes difficuldades no expediente material da
credito dò governo. repartição. Tratava-se, por exemplo, de pagar ou
O Sr. Lisboa Serra : — Não o comprehendo. ue roseber smnmas enormes, centenares de contos
de réis, e quando apparecia um mode de simpli
O Sr. Bandeira de Mello : — Tendo o paiz me ficar a operação material da verificação, eu sem
nos renda, o seu credito padece. pre a aproveitava ; dava-so o caso de se ter de
O Sr. Lisboa Serra": — Mas é para evitar esse fazer operações contrarias, recober e pagar, ncha-
va-se em minha presença o credor e o devedor;
grande mal que a administração pede essa me um tinha uma especie de moeda, isto é, as letras
dida. do banco, que ao outro convinha receber; a the-
O Sr Bandeira db Mello: — Mas isso faz reco souraria girai annuia a isso, fazia a escriptura-
nhecer que o credito pódo diminuir, e mesmo ção da entrada e sabida, ficando estes valores
desapparecer de um momento para outro. nas mãos das partes. Eis o que se fazia para
se poupar tempo e facilitar o expediente ; mas
O Sr. Lisboa Serra : —Pois lembre o nobre de nunca nos cofres que estavão sob minha respon"
putado um modo de tornar o credito immovel, sabiliiade conservárão-se bilhetes do bauco ; ahi
iivre-nos desse perigo, que votarei immediata- só entrávão as notas correntes o a moeda do
mente por esta idéa, o até desde já comprometto paiz.
o voto de meu colloga da commissão, posto quo Tenho concluido.
eu ainda não o consultasse a esse respeito.
Não havendo mais quem peça a palavra para
O Sr. Bandeira de Mello : — E' para mostrar fallar sobro a materia, e não si podendo votar
que ess i medida é mais oh menos aleatoria. por não haver na casa numero sufficiento de depu
O Sr. Lisboa Sebra : — Tom aquelle caracter tados, fica esta discussão encerrada.
aleatorio inherente ás cousas e instituições hu O Sr. Presidente marca a ordem do dia se
manas. guinte, e levanta a sessão ás 2 horas o 40 mi
O Sr. Bandeira de Mello : — Agora a escala nutos.
é que é mais ou menos arbitraria.
O Sr. Lisboa Serra : — Além de que, Sr. presi-
dento esse estado de cousas podia influir na renda Sessão em 17 de Junho
que o estado applica ãs suas despezas ordinarias,
tambem podia influir no nosso credito interno e PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
externo. E' claro que se a crise conlii uar, a
cotação dos nossos fundos deve immediatamente Sum.mauio. — Expediente. — Apresentação de pro
descer na relação do maior interesse que os ca jectos. — Ordem do dia.—Isenção de imposto
pities possão ter em qualquer outro genero de sobre metaes. -i- Registro de hyputhecas. Dis
emprego ; as apolices hão de descer na mesma cursos dos Srs. Ignacio Barbosa e Silveira
proporção em quir so crearem empregos mais lu da Motta. —Auxilio aos bancos. — Creação de
crativos para o dinheiro. um banco nacional. Adiamento. Discursos
Além disso , o thosouro costuma a ter uma dos Srs. Vaseoncellos, Bandeira de Mello,
divida fluctuante, nós autorisamos constantemente Cruz Macliado, Paula Baptista, Xebias, Theo-
ao governo no orçamento para supprir por moio philo, Araujo Lima c Silveira da Motta. Re
da emissão de bilhetes do thesouro o deficit que jeição .
se verificar : estamos portanto na dependencia
da. praça para esse supprimento, teremos do acom A's dez horas feita a chamada, achão-se pre
panhar o estado do juro o de submetter-nos a sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido,
todas essas condições onerosas, se não cuidar Jaguaribe, Aprigio, Jacintho de Mendonça, Brus-
mos em fazer desapp irecer o estado anormal em que, Bello, Gomes Ribeiro, Teixeira de Macedo,
que se icha a praça do Rio de Janeiro. Zacharias, Miranda, Almeida e Albuquerque, Vi
Não devendo mesmo entrar em maiores consi- ' riato, Ribeiro, Silveira da Motta, Góes Siqueira,
derações suppondo a materia sufficientemente dis F. Octaviano, Corrêa das Neves, Machado, Do
cutida, e em obediencia ao preceito de que me mingues Silva, Theophilo, Araujo Lima, Sousa
impuz, quando comecei a fallar , de que seria Leão, Belfort, Cindido Mendes, Fernandes Vieira,
breve, vou terminar este discurso dando sómente Luiz Araujo, barão de Maroim, Paranaguá, Ta-
uma resposta á pergunta que me fez o nobre ques, Saraiva, Fleury, Cruz Machado, conego
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 227
Leal, Vasconcellos, Pereira Jorge, Livramento,
Barreto Pedroso, Mendonça, Bernardes de Gou- é «obrigatorio,
Art. unico. O cargo de chefe de policia não
e póde ser exercido por qualquer
vêa, Monteiro de Barros, Assis Rocha, Rodri
gues Silva, Ignacio Barbosa, Dutra Hocha, Nebias, bacharel formado em direito.—S. R. — F. Octa
viano.—Siqueira Queiroz.—Silveira da Motta.—
Pimenta Magalhães, Mendes da Costa, Vieira
de Mattos, Teixeira de Sousa, Candido Borges, Araujo Lima.—J. A. de Miranda. »
Ferraz, José Assenso, Angelo Custodio, Seara e E' lido, julgado objecto de deliberação e vai
Queiroz. a imprimir, o seguinto :
Depois da chamada comparecem os Srs. Ro « A assembléa geral legislativa resolve :
cha, Belisario, Ribeiro da Luz, vigario Silva, n Art. unico. Ficão concedidas ao recolhimento
Paula Santos, Horta, Raposo da Camara, Ban
deira de Mello, Wanderley, Pedreira, Fiusa, ede ,.oNossa Senhora da Annunciação e Remedios
hospital dos Lazaros da provincia do Ma
Paes Barreto, Fausto de Aguiar, Luiz Carlos, ranhão quatro lolerias, que serão extrahidas
Titára e Rego Barros. nesta córte segundo o plano das concedidas á
A's dez horas o tres quartos abre-se a sessão. santa casa da misericordia, devendo o seu pro-
Lida e approvada, a acta da sessão antece ducto ser applicado na compra de apolices ge-
dente, o Sr. 1° secretario dâ conta do seguinte taçãoraes, cujos juros servirão para sua susten
.
EXPEDIENTE « Paço da camara das deputados, em 17 de
Junho de 18õ;5. — Antonio Raymundo Teixeira
Um officio do Sr. 1° secretario do senado, Vieira Belfort. — João Duarte Lisboa Serra. —
enviando a proposição do senado concedendo lo- José Ascenso da Costa Ferreira.—José Thomaz
terias a diversas matrizes o ao recolhimento de dos Santos e Almeida.— Viriato Bandeira Duar
Santa Thoieza creado por decreto de 14 de Março te.—Candido Mendes de Almeida. »
de 1852.—Vai a imprimir para entrar na ordem Lê-so, julga-se objecto de deliberação e é en
dos trabalhos. viado á commissão de maiinha e guerra, a pe
Dous requerimentos, um da irmandade do S in- dido do Sr. Queiroz, o seguinto projecto :
tissimo Sacramento du freguezia de S. José d'além « A assembléa geral legislativa resolve :
Parahyba, pedindo dispensa na lei de amortização
para possuir um terreno que constitue seu unico « Art. 1°. Fica creado o lugar de substituto
patrimonio, — A' commissão de fazenda. do secretario da capitania do porto da córtê
Outro do subdito portuguez João Baptista Al e provincia do Rio do Janeiro, que perceberá
ves Ferreira pedindo ser naturalisado cidadão o «ordenado annual do 800$000.
Art. 2° O governo marcará em regulamento
brazileiro.—A' commissão de constituição e po o modo por que devem funecionar estes empre
deres. gados e suas respectivas attribuições.
E' sem discussão approvado o seguinte pa « Paço da camara dos deputados, 17 de Junho
recer : de 1853.— Gomes Ribeiro.»
« A commissão de justiça civil, a quem foi
presente o requerimento de Joaquim Ribeiro E' julgado objecto de deliberação e vai a im,
de Avollar, pedindo providencias á camara dos primir, o seguinte :
Srs. deputados contra actos do ministro do im « A assembléa geral legislativa decreta :
perio, que julga o supplicante offensivos do « Art. 1°. As terras de indios de aldêas ou
§ozo da propriedade que tem em parte do morro missões extinctas serão anriexadas ao patrimo
e Santo Antonio desta cidade, é de parecer nio das camaras municipaes .em cujo municipio
que o mencionado requerimento seja remettido forem sitas.
ao governo para pedir-lhe a respeito informa
ções. — L. B. M. Fiusa.—Assis Rocha.—Igna « Art. 2.» As camaras municipaes, reservados os
cio Barbosa. » direitos precisos para logradouros , edificios e
O Sr. Gomes Ribeino : — Sr. presidente, como estabelecimentos publicos, darão em fóro para
edificar os terrenos de dentro da villa, e por
membro da commissão de pensões e ordenados arrendamento os outros, sujeitos os contractos
tenho de pedir a V. Ex. que nomêe um mem
bro para preencher o lugar do Sr. D. Francisco á approvação da presidencia da provincia.
Balthazar da Silveira. « Art. 3.° Os indios serão isentos do pagamento
O Sr. Presidente : —Nomeio o Sr. deputado execuçãode fóro ou renda dos terrenos que ao tempo da
Antonio Joaquim de Mendonça para substituir das, ou com desta lei oceuparem com Suas mora
o Sr. D. Francisco Balthazar da Silveira na com effectiva cultura, o desta isenção
missão de pensões e ordenados. continuarás a gosar os doscendentes dos ditos
actuaes possuidores, o não quaosquer Ojitros
Vão remettidos á commissão de poderes os seus successores nesses terrenos.
diplomas dos Srs. deputados eleitos pela provin « Art. 4.» As acções reaes relativas ás referidas
cia de S. Paulo Pacheco Jordão, o Hyppolito terras correráõ pelo juizo dos feitos da fazenda
José Soares de Sousa. nacional e com assistencia do seu procurador.
ArBESENTAÇÃO DE PROJECTOS « Art. 5.» As reclamações e contestações que
se suscitarem na execução desta lei sorão deci
E' lido'e enviado ás commissões do constitui didas pela autoridade administrativa, na fórma
ção e estatistica, a pedido do seu autor, o se dos regulamentos do governo, revogadas as dis
guinte projecto : posições em contrario.
« Art. unico. A provincia do Piauhy dará mais « Paço da camara dos deputados, 17 Junho de
dous deputados e um senador. 1853.—B. A. de Magalhães laques. —C. Mendes
« Revogão-se as disposições em contrario. de Almeida. — M . Theophilo G. de Oliveira.—
J. L. da Cunha Paranaguá. »
« Paço da camara dos deputados, 17 do Junho Julgado objecto de deliberação, ó enviado ás
de 1853. —João Lustosa da Cunha Paranaguá » commissões de fazenda, commercio, industria e
E' lido, julgado objecto de deliberação e en artes a pedido aio seu autor o seguinte :
viado á commissão de justiça criminal, a pedido « Art. I.» E' aberto ao governo um credito da
do Sr. Gomes Ribeiro, o seguinte projecto . 100:000S para despender com o (rausporte de
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
Sroductos de todas as provincias do império de 1853.—F. D. Pereira de Vasconcellos.—J. A.
cstinados á exposição universal que deverá de Miranda. »
ter lugar em Paris no inez de Maio de 1855, Constando achar-so na sala visinha os senhores
regendo-o o decreto do governo francez de Março de que trata o parecer, são introduzidos com as
deste anno ; c bem assim com o . pagamento de formalidades do costume, prestão juramento o
passagens, e de gratificações a pessoas habili tomuo assento.
tadas ; que irão visitar esse estabelecimento, Vai a imprimir por ser julgado objecto de do-
dando depois conta ao governo do que houverem
notado de preveitoso ao Brasil. liberação o seguinte:
« Art. 2.» Se essa exposição não se realisar, « A assembléa geral resolve :
continuará aberto o mesmo credito ao governo « Art. 1.» São concedidas 6 loterias segundo o
para empregal-o da mesma sorte em qualquer ex- plano das concedidas á santa casa da miseri
Sosição universal que se fizer em outras cida- cordia da córte em beneficio dos hopitaes dos
es dos estados mais notaveis da Europa e da lasaros da provincia de S. Paulo.
America. « Art. 2.» O producto destas loterias será em-
« Art. 3.» Ficão revogadas todas as disposições . §regado em apolices di divida publica e o ren-
imento destas será applicado á manutenção
em contrario. daquelle estabelecimento.
« Paço da camara dos deputados, 17 de Junho « Art. 3.° Ficão revogadas quaesquer disposi
de 1853. —(S. R.)—Candido Mendes de Almeida, » ções em contrario. »
E' julgado objecto de deliberação e ó enviado « Paço da camara dos deputados, 17 de Junho
ás commissões de estatistica e negocios eccle- de 1853.—Dr. Silveira da Motta. »
siasticos, a pedido do Sr. Mendes de Almeida, o
seguinte : ORDEM DO DIA
« Art. 1.» Os limites das provincias de Goyaz
e Maranhão são os rios Manoel Alves Grande ISENÇÃO DE IMPOSTOS SOUBE METAES
desde a sua embocadura no rio Tocantins, pro
curando suas primeiras vertentes, até encontrar E' approvado o adiamento offerecido pelo Sr. Fer
as do rio Pnrnahyba ; o dito rio Tocantins desde raz ao projecto n 101 de 1852 que isenta de qualquer
a foz do Manoel Alves Grande até a do Ara- imposto interno o cobre, prata e mais metaes ex-
guaya, no presidio de S. João de Araguya trahidos das minas do imperio, com o additamento
comprehendidas as ilhas proximas á margem do Sr. Cruz Machado.
direita ; e deste ultimo ponto até encontrar
as vertentes septentrionaes do rio Gurupy, de REGISTRO DE HYPOTHECAS
conformidade com o auto de demarcação, cele
brado em 9 de Julho de 1816, em cumprimento Continua a discussão do adiamento proposto
do aviso regio de 11 de Agosto de 1813, e re pelo Sr. Silveira da Motta ao projecto r. 53 de 1852
solução de 12 de Junho de 1852. do Sr. Ignacio Barbosa sobre registro e hypothecas.
« Art. 2.» Os mesmos limites terão as duas O Sr. Ignacio Barbuia: —Peço licença ao
diocí ses de Goyaz e do Maranhão naquelles pontos. nobre deputado por S. Paulo, que orou em uma
« Art. 3.» Ficão revogadas todas as leis em das sessões passadas sobre o projecto em dis
contrario. cussão, para oppór algumas observações ao seu
« Paço da camara dos deputados, 17 de Junho requerimento db adiamento.
Motivando este requerimento, disse o nobre
de 1853.— (S. R.)—Candido Mendes de Almeida. deputado que não desconhecia a utilidade da
—Antonio Raymundo Teixeira Vieira Belfort. medida iniciada pelo projecto, mas que lhe parecia
— Viriato Bandeira Duarte. —José Ascenço Costa ella muito mingoada para satisfazer necessidades
Ferreira. » de credito territorial.
E' julgado objecto de deliberação e vai a im Eu tambem estou convencido, Sr. presidente,
primir o seguinte: de que é conveniente e mesmo indispensavel,
« A assembléa geral legislativa resolve: porque o Brazil é essencialmente agricola, pro
videncia quanto antes para que o credito ter
« Art. 1.» Os presidentes de provincia po- ritorial se estabeleça com solidez, e se possivel,
derão, com approvação do governo, reunir dous fór, se oleve á altura a que tem attingido o
e tres termos para formar conselho de jurados, credito pessoal. Mas permitta-me o nobre deputado
não obstante haver em cada um dos termos que lhe observe que abundando nas suas con
reunidos o numero de 50 jurados: sendo neste vicções e votos de que seja protegido efficaz-
caso designados pelos presidentes os lugares das monte o credito territorial, não posso todavia
reuniões dos respectivos conselhos. deixur de enxergar uma injustiça neste seu
« Art. 2.» Feitas as reuniões dos termos, só modo de considerar e ver o projecto em dis
poderão ser alterados com autorisação do go cussão.
verno. Se o projecto, Sr. presidento, devesse ser con
« Art. 3.» Ficão revogadas todas as disposições siderado debaixo da relação especial do credito
territorial, eu seria o primeiro a declaral-o insuf-
em contrario. fleiente para satisfazer as exigencias legitimas
«Paço da camara dos deputados, 17 de Junho desse credito entre nós. Mas eu creio que o
de 1853.—Frederico de Almeida e Albuquerque. » projecto não póde nem deve ser assim consi
E' sem debate approvado o seguinte parecer: derado. Todos sabem, Sr. presidente, que o credito
« A commissão de constituição e poderes exa territorial em suas necessidades de existencia e
minou os diplomas dos Srs. Fernando Pacheco desenvolvimento presuppõe uma longa serie de
Jordão e Hyppolito José Soares de Souza, de factos, um complexo de medidas que jámais pode-
putados eleitos pela provincia de S. Paulo, e rião ser objecto das previsões de uma unica lei.
achando-os conforme com as actas geral e par- Não quer isto dizer seguramente que estas me
ciaes da eleição da mesma provincia, é de pa didas nem possão nem dovão mesmo ser subor
recer que esses senhores sejão admittidos a dinadas a um plano ou systema geral, que essas
prestar juramento e tomar assento. medidas não tendão entre si uma corelação de
a Paço da camara dos deputados, 17 do Junho vistas e do tendencias para um flui commum.
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 229
Mas isso não basta para que se as comprehenda adopta o principio de que a propriedade terri
em uma só lei, pois que em todo caso subsistirá torial pertence sempre e exclusivamente áquelle
a diversidade de sua natureza e origem pura individuo que está inscripto nos registros pu
determinar que devão fazer o objecto do mais de blicos como senhor da propriedade, e por con
uma lei, de medidas differentes entre si : pro sequência natural a sua legislação hypothecaria
curarei proval-o. determina que a inscripção jas hypothecas não
O credito territorial, como se sabe, tom por só complota a obrigação hypothecaria, mas tam
base a propriedade immovel. Ora, dahi resulta bem ó um titulo legal dos direitos hypothecarios,
que tudo quanto póde contribuir para augmentar de maneira que contra as hypothecas inscriptas
o valor da propriedade immovel, para tornar nada se póde allegar, nem mesmo o vicio da
certo e estavel esse valor, para tornar faceis e simulação.
seguras as transacções do semelhante propriedade, Ora, pergunto, convirá transportar esta legis
evidentemente interesse ao mesmo credito terri lação para o nosso paiz ? E' um dos pontos mais
torial. Assim, por exemplo, a facilidade das importantes da legislação hypothecaria: creio que
communicações e do transporte dos productos não convirá. Nos estados aliemães a propriedade
agricolas será sempre o objecto de uma medida não está fraccionada como entre nós, pelo contrario
do maior interessa para o credito territorial, alli a propriedade está concentrada. . .
porqu-! incontestavelmente terá de concorrer para O Sr. Ferraz: — Conforme os estados.
augmentar o valor das terras e de propriedado
rural em geral ; assim igualmente uma modida O Sr. Isnacio Barbosa : — Toda a legislação
ue tendesse a proporcionar á lavoura a facilidade tende a concentral-a, e a difficultar a sua transfe
a e haver%braços, 'tornando mais barato o serviço, rencia. Dahi resulta que uma legislação que exija,
e portanto os gastos de producção, augmontaria como a legislação allemã a inscripção mediante
com igual vantagem o valor da proprieiade, e muitas formalidades e despezas, só póde ser tole
pois favoreceria na mesma razão o credito terri rada onde a propriedade está _pouco dividida e
torial; uma medida, emfim, que tivesse por objecto as transferencias são raras, como alli, porque
a fundação de escolas normaes, de agricultura, os valores dos objectos transaccionados são muito
em que se ensinassem os methodos mais aper importantes, o então, por via de regra, as van
feiçoados de rotear e aproveitar as terras, vul- tagens compensão tidas as difficuldades e des
garisando o conhecimento e o uso das machinas pezas. Mas em um paiz como o nosso, onde a
já hoje introduzidas com proveito na agricul propriedade está dividida, ou pelo menos vai a
tura de outros paizes, por cçrto seria uma me isso tendendo, e onde ella se transmitte com
dida não menos util ao credito territorial. Entre facilidade, estabelecer-se o principio de que a
tanto, quem contest irá que todas estas medidas inscripção não só complete as obrigações hypo-
podendo ser objecto das mais sabias leis sobre thecarias, como tambem firme de uma maneira
viação publica, sobre colouisação, sobre institutos inatacavel, o direito hypothecario, ó uma me
agricolas, jámais poderão ser abarcadas por uma dida que não julgo conveniente.
unica lei ? Nós sabemos que a inscripção na Allemanha
E ainda não são estas as unicas medidas uteis, faz-se por um modo muito diverso dó que se faz
necessarias mesmo, que poderia reclamar o cre entre nós, que tem immensas garantias e torna-
dito territorial. Este credito exige tambem a se verdadeiramente judiciaria, porque os func-
certeza, o conhecimento, exacto de quem é o cionarios encarregados delia têm uma juris-
senhor da propriedade sobre que se tem de dicção, e por essa jurisdicção colhem todos os
transaccionar, porque a aciencia deste facto afasta documentos e informações que precisão para
a suspeita de fraude, e torna portanto mais admittirem a inscripção, de maneira que, uma
segura a transacção sobre a respectiva proprie vez admittida, importa ella o reconhecimento da
dade. A publicidade do todos os direitos reaes legitimidade da transacção que se tem feito, e é
ue podem de qualquer modo alterar esse direito Sor isso um titulo legal da propriedade e do
o propriedade, como os direitos do usofructo, ireito hypothecario. Estou, porém, persuadido
de servidões, etc., é pela mesma razão exigida de que todas essas garantias se. tornaráõ um
pelo credito territorial. (Apoiados.) Ora, pergunta vexame para nós no estado actual da nossa pro
rei ainda: as medidas que se propuzerem a priedade e da nossa legislação sobre dominio
obter esse resultado, mediante uma inscripção e posse. Outro principio muito importante que
regular, ou por qualquer outro modo, deverão eu vejo na legislação allemã é o da especialidade
fazer parte de uma lei especial sobre hypothecas 1 das hypothecas.
Parece-me que não. O Sr. Ferraz : — Apoiado.
Quanto á mim, Sr. presidente, o projecto de
ue se trata só póde e deve ser considerado O Sr. Ionacio Barbosa: — Na Allemanha.se
d ebaixu do ponto de vista do regimen hypothe- tem entendido, quanto a mim com razão, que
cario. Eu sei que um bom regimem hynoUiecario a especialidade das hypothecas é uma medida da
contribue poderosamente para o melhoramento maior utilidade, porque não só torna mais dif-
do credito territorial ; mas ha de se convir tam ficil a fraude, precisando o objecto hypothecado,
bem que constitue elle um objecto de uma natureza como tambem não retira da circulação indis-
especial, e portanto pertence a uma ordem de tinctamente todos os valores do devedor hypo
idéas e de disposições muito diversas daquellas thecario, como faz a hypotheca geral, que sujeita
que podem ser o objecto das outras medidas todos os bens do devedor a esse onus, e isto
uteis ao credito territorial. sem vantagem alguma para a sociedade, visto
Talvez ainda com relação aos cestrictos termos como excede os termos da garantia. Ora, eu
do regimem hypnthccario o nobre deputado a creio que esta grando vantagem está de algum
quem me tenho referido enxergue lacunas e omis modo attendida no projecto qun tive a honra do
sões, pois que o projecto respeita as bases e econo offerecer á consideração da camara, quando no
mia da nossa legislação hypothecaria. art. 7° se diz que se poderá reduzir a hypotheca
Em verdade, Sr. presidente, eu vejo que, em legal aos termos restrictos da garantia que ella
outros povos onde o credito territorial tem me é chamada a prestar.
drado mais, a legislação hypothecaria é diversa Talvez conviesse estender este principio ás hy-
em grande parte da nossa ; mas eu rejo tambem Eothecas convenciona, porque a respeito destas
ue essa legislação presuppõe uma ordem muito ypothecas dãoso as mesmas vantagens das hy
3 iversa de factos daquelles que se dão no paiz. pothecas legaes ; mas, tratando o projecto destas
Por exemplo : a Allemanha, que é u paiz o. de ultimas tão sómente, julguei não dever dar toda
estas instituições de credito têui mais prusperudo, a extensão a esse principio da especialidade das
230 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
hypothecas. A camara resolverá se cabe ou não oppuz á discussão do projecto. O nobre depu
fazer ao projecto esse additamento. tado mesmo reconheceu que o seu projecto, es
Apresentou o nobre deputado por S. Paulo uma tabelecendo unicamente providencias sobre o re
outra consideração, para que o projecto fosse adia gistro das hypothecas, não fazia mais do que
do, e foi qne no anno passado tinha sido sub- acerescentar ás garantias do registro mais alguma
mettido á consideração da camara um projecto publicidade para as transferencias das hypo
do Sr. Carneiro de Campos sobre materia ana thecas, e se o nobre deputado reconhece que as
loga, um projecto que, segundo o pensar do no Idéas que estabelece no projecto são somente
bre deputado, tem um maior alcance em favor para tornar publicas as transferencias das hypo
do credito territorial. thecas actuaes, elle convirá commigo que osta
Sr. presidente, eu não sou suspeito a respeito medida é insufficiente para o fim que tenho em
desse projecto do Sr. Carneiro de Campos. Quan vista
do elle apparecou o anno passado nesta camara Senhores, por ventura no estado de nossa legis
eu fiz pela imprensa algumas observações em lação a respeito das hypothecas, a publicidade
seu favor, reconhecia a sua utilidade, e ainda inteira, completa e absoluta ácerca das trans
hojo reconheço, e supponho que o nobre deputado ferencias das hypothecas actuaes seria sufficiente
o Sr. Paula Santos póde dar disto testemunho ; para dar á propriedade de raiz os caracteres
mas me parece que esse projecto é especial ás necessarios, para que essa propriedade tenha o
instituições bancaes, e por conseguinte gira em credito que devo ter para se poder organisar
um circulo de idéas diverso daquelle em que sobre cila as instituições de credito que podem
gira o projecto que ora se discute. favorecêl-a a desenvolvel-a ? De certo que não;
Creio , Sr. presidente , que o maior beneficio que por mais completa que fosse a medida a respeito
se póde fazer ás instituições de credito, eu direi do registro, por mais que ficassem conhecidos
mesmo, a sua primeira necessidade não é estabele todos os empenhos da propriodade territorial,
cer privilegios em seu favor, mas sim aplanar o ca com a legislação actual, com a lei que temos para
minho para que ellas possão marchar com se regular as preferencias das hypothecas, poderá
gurança nm suas transacções. Debaixo deste prin-' esta providencia chegar, bastar para que se edi
cipio talvez o projecto que se discute tenha es- fique o credito territorial que náo existe no nosso
tibilidade maior do que pareceu ao nobre depu paiz? Por corto que não.
tado. Não estabeleceu favores especiaes, mas tira O nobro deputado mesmo incumbio-se de de
as difficuldades por ventura maiores com que tém monstrar esta proposição. E' evidente para todo
lutado as iustiiuições de credito territorial, por o homem quo tem alguma luz do que ó a nossa
que até hojo está na ausencia de uma legislação legislação civil, que a vista dessa lei de hypo
que torna publico os empenhos hypothecarios, thecas que temos, o não só á vista dessa lei de
essas instituições de credito não têm podido se hypothecas que as privilegiou sem dar garantias
estabelecer, receinndo que a cada passo sejão es sufficientes aos que ficão prejudicados com esses
torvados nas suas operações pela incerteza da privilegios, não só á vista dessa legislação, digo,
existencia ou não existencia das hypothecas an mas de toda a nossa legislação civil a respeito
teriores, e do seu valor dos direitos reaes, ha um impedimento muito
Fazendo estas observações, Sr. presidente, não fundamental para que a - nossa propriedade possa
me opponho todavia a que o projecto va á com- ter credito. (Apoiados.) E se nós reconhecemos
missão do justiça civil, e mesmo não toreidnvida que é da nossa- legislação civil mesmo que nas
de propór 6. camara para que elle vá a uma com- cem os embaraços do credito territorial, o que
mÍ8são especial. cumpre fazer? Será uma medida palliativa (per-
dóe-me o nobre deputado) como esta que apre
O Sr. Silveira da Motta : — Apoiado. senta o nobre deputado, que não tem por fim
O Sr. Ionacio JUrbosa : — Porquanto, sendo senão melhorar o registro das hypothecas? E por
este projecto trabalho meu, sou o primeiro a re que sem nm registro de hypothecas que torne
conhecer que ha de ter muitas lacunas o faltas ; muito publicos os empenhos da propriedade não
se fiz algumas observações a respeito do que disso póde a propriedade ter credito, seguir-se ha que
o nobre deputado por S. Paulo, foi unicainrnte seja e.-ta a medida complementar de todas que
para mostrar que elle com alguma injustiça ha são necessarias para que este credito se dê?
via motivado o adiamento, e não para me oppór Por certo que não.
precisamente ao me^mo adiamento. Senhores, eu julgo que a medida apresentada
O Sr. Silveira da Motta:— Sr. presidente, pelo nobre deputado no seu projecto (e por isso
como autor do requerimento do adiamento do a taxei de palliativa) servira unicamente para
projecto sobre o registro de hvpothecas julgo-me tornar mais publicos os registros das hypothecas,
na obrigação de dar o illustre deputado, autor- isto é, nós reconhecemos todos (e eu tambem
do mesmo projecto, e que acaba de fazer obser com o nobre deputado) qne um dos impedi
vações relativas ao adiamento, explicação da in mentos para a organisação de instituição de
tenção com qne fiz opposição á adopção desde credito torritorial entre- nós ó a falta do conhe
já do seu projecte, principalmente porque o il cimento perfeito dos empenhos da propriedade ;
lustre deputado acabou o seu discurso julgando quem tem o seu dinheiro recusa-se a aceitar
injusta a opposição que lhe fiz. as garantias da propriedade territorial, porque
Não fiz opposição alguma ao projecto, não o está na incerteza de que esta propriedade esteja
considerei incompleto em relação ao fim que o empenhada algures ; mas por ventura ainda quando
illustre deputado teve em vista, que foi regular estivessem muito publicos, quando touos soubes
o registro das hypothecas, o sim unicamente o sem os empenhos da propriedade, não se sabe
considerei incompleto em relação á materia hypo- que em toda a nossa legislação civil é que está
thecaria, por precisar de providencias mais largas o embaraço radical para a organisação do cre
do que estas que são dadas pelo projecto. dito territorial? O nobre deputado mesmo não
acabou de reconhecer isto? Logo, o nobre depu
Toda a argumentação do nobre deputado nas tado deve convir em que esta medida póde ser
observações que fez a respeito do adiamento é considerada, como eu a considero, como com
producente para provar a minha proposição a que pleta em relação ao fim que o nobre deputado
o pr. jecto, tendendo somente a regular o re- se propóz, isto é, quanto no registro : as dis
istro das hypothecas, não satisfaz as necessi- posições do projecto poderão servir para ga
ades publicas actuaes e urgentes.» O nobre rantir a publicidade do registro, mas o projecto
deputado nas observações confirmou muito luci do nobre doputado ó incompleto om relação á
damente as conclusões que tirei, quando me materia.
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 231
Ora, como eu vejo que a necessidade real a falta de transmissibilidade, especialidade e pu
mais palpitante do nossa paiz ó dar-se garan blicidade dos titulos de hypotheca ? Por certo
tias á nossa propriedade agricola (apoiados) ; que foi este o verdadoiro inconveniente diante
como estamos em circumstaucias muito tristes do qual naufragou o banco hypothecario. . .
pela falta de braços para a cultura das nossas 0 Sr. Gomes Ribeino : — Não naufragou; não
terras; como a filta do braços ha de trazer a so realisou.
diminuição da renda da propriedade agricola, O Sr. Silveira da Motta : — Chame o nobre
e esta diminuição lia de trazer necessariamente deputado como quizer, naufragar ou não naufra
ainda mais o decrescimento dos capitaes des gar ; será uma metaphora de que usei ; mas o
tinados ao desenvolvimento desta industria, en que é certo é que chegou-so a fazer convites
tendo que o que deveriamos fazer para acudir
a este reclamo publico não era uma medida trun para a entrada dos accionistas; por consequen
cada que servisse somente para melhorar um pouco cia desde qne o banco reunio-se, chegou a con
o registro, e que não poderia servir para se edi vidar para entradas o não realisou a creação,
ficar instituições de credito, são precisas outras creio que a minha metaphora não é impropria...
medidas- O Sr. Gomes Ribeino : — Foi porque o governo
E porque eu julgo que a actualidade grita não quiz, isto é qne é uma verdade.
muito alto por essis medidas, porque o governo O Sr. Silveira da Motta : — Creio portanto
(como já disse a primeira vez que tomei parte que, considerado o projecto do nobre deputado
neste debute) quando crganisou o plano de um debaixo deste ponto de vista, póde ser taxado
banco nacional excluio a propriedade dos bene do incompleto, não em relação ao seu fim, mas
ficios que em grande parte podia prestar-llie em relação á materia. . .
esse banco, sem duvida porque reconheceu que Um Sr. Deputado: — Podemos completal-o.
não havia na nossa legislação garantias neces
sarias para um credito territorial ; quando vejo O Sr. Silveira da Motta: — Pois sim, aqui
que a industria commercial vai receber um favor sobre a perna. . .
tão grande com a creação de um banco nacional, O Mesmo Senhor : — Póde-se mandar a uma
qne de perto, proxima o directamente ha de commissão.
favorecêl-u ; como, quando temos necessidade de O Sr. Silveira da Motta : — Acho impossivel
desenvolver a nossa propriedade de raiz que o que o nobre -deputado quer no seu aparte, de
está desamparada de braços, do rendas, e de completar-se o projecto sobre uma materia tão
capitaes ; como havemos, senhores, quando o importante com emendas feitas sobre a perna...
publico incessante reclama de nós uma medida, O Mesmo Senhor : — Vá a uma commissão.
a nossa attenção, os nossos estudos sorios, ha
vemos de dizer unicamente : melhore-so o re 0 Sr. Silveira da Motta : — Eu entendo que
gistro do hypothocus ? Os homens que ostão se deveria propor como aventou o nobro autor
conhecendo a necessidade da organisaçao do cro- do projecto, nao só que este fosse a uma com
dito territorial, com a passagem desta medida missão de justiça civil mas que fosse a uma com
poderão por ventura cmprehender alguma cousa missão especial, e talvez que fosse conveniente que
util, do grande em beneficio da propriedade esta commissão especial so eompuzesse não só de
territorial? De certo que não; hão de dizer: a membros da camara, mas de membros externos ;
medida que sahio do corpo legislativo é incom talvez conviesse mesmo que esta commissão
pleta, não nos serve do nida; a medida do pro fosse permanente, o não qne existisso só du
jecto irá servir sómento para evitar em um ou rante a sessão. E' uma materia da maior tran
oni outro caso alguma fraude dessas a que a nossa scendencia que joga com a nossa legislação civil,
legislação hypothecaria dá ainda lugar. que precisa de muito estudo. Entretanto é ma
Um Sr. Deputado: — E' já alguma cousa. teria da mais proxima, da mais urgente neces
sidade no nosso paiz.
O Sr. Silveira da Motta : — . . . Servirá uni A alteração da legislação hypothecaria pão se
camente para isto, mas não poderá servir para póde fazer com emendas parciaes do parlamento ;
que na capital do imperio, onde os capitaes por isso eu insisto, peço ao nobre deputado que
«xistem em mais abundancia, se possa appellar aprecie devidamente a intenção com que apre
para uma instituição de credito que favoreça a sentei o adiamento, que foi porque queria apro
nossa agricultura. veitar a occasião para convidar a camara para
Nós todos sabemos que no Rio de Janeiro algum trabalho util sobre uma materia de tanta
fez-so a tentativa de organisar um banco hypo- utilidade, foi tambem por isso que me recordei
thecario ; sabemos tambem que osso banco hy- do projecto do Sr. Carneiro de Campos sobre
pothecario teve de naufragar, porque a consciencia materia analoga, porque esse projecto tambem
publica a respeito da nossa legislação hypothe tendia a estabelecer algumas providencias que
caria está formada... facilitassem a organisaçao de bancos hypothe-
O Sr. Gomes Ribeino: — A causa não foi esta. carios. Neste sentido offereci o adiamento e voto
por elle.
O Sr. Silveira da Motta: — A causa verda E' lido e apoiado o seguinte requerimento:
deira foi esta; talvez temerariamente -alguns « Requeiro que o projecto vá a uma commissão
emprehendessem a instituição, facilitando os in especial. — 17 de Junho de 1853. — Ignacio Bar
convenientes da legislação actual, mas forão pela bosa.»
reflexão, pela approximação dos sacrificios para
realisar a empresa, levados a reconhecer que' A discussão fica adiada pela hora.
pela legislação actual (isto tenho ouvido a prin-
cipaes negociantes o capitalistas), pela falti de AUXILIO AOS BANCOS
garantias da nossa legislação civil, devião desis
tir da empresa... Procedendo-se á votação da proposta do governo,
sob r.28 deste anno tal qual passou em 2» discussão,
O Sr. Ionacio Barbosa: — Pela falta de regis é ella approvada e adoptada em ultima discussão.
tro como deve ser.
O Sr. Silveira da Motta : — Não, senhor. Por creação de cm banco nacional
ventura com as leis que temos de hypothecas, de
privilegios, de preferencias, póde-se edificar um Entra om 2a discussão, dispensada a 1*, oart. 1°
banco nypothecario? Póde-se tentar isto, ã vista do projecto r. 23 deste anno vindo do senado, para
da nossa legislação civil, com inconveniente da creação de um banco nacional.
232 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Araujo Lima : — Sr. presidente, primeira commissão de orçamento, para dar sobre
pedi a palavra, não para emittir a minha opi elle seu parecer. — Araujo Lima.»
nião a respeito do projecto que se discute, mas
somente para propór um adiamento que reputo souO o Sr. Viisconcollos : — Sr. presidente,
primeiro a reconhecer a gravidade e im-
necessario e que fundamentarei em poucas pa I portancia da materia do projecto que crêa um
lavras. banco nacional; mas nem por isso, nem pelas
Materia da maior importancia por sua na considerações que o honrado membro apresentou,
tureza, impressa lia poucos dias e designada posso dar o meu assentimento ao requerimento
immediatamente para a discussão, a camara de que se trata.
comprehenderá facilmente a necessidade que ha
de ser o projecto que se discute remettido á Perdoar-me-ha o honrado membro que lhe diga
commissão respectiva, afim de que o estude e ue os fundamentos do requerimento que se
apresente sobre elle um trabalho elaborado por ignou offerecer á consideração da casa não têm
fórma tal que dó ás nossas deliberações a ma procedencia alguma para conseguir-se o fim que
dureza o sabedoria que convém. tem em vista.
Além desta consideração, Sr. presidente, uma serDisse o honrado membro que o projecto devêra
iniciado nesta casa por se tratar nelle de im
outra e mui grave me obriga a propór o adia postos, e que não podia a camara dos Srs. de
mento. Este projecto é indubitavelmente uma putados
proposta do governo, se bem que disfarçada. sidera r-sedar-lhe a sua approvação sem descon
abdicando as suas prerogativaa.
Na falia do throno deste anno vejo que o go
verno consigna expressamente o pensamento da Disse tambem o honrado membro que o pro
creação de um banco nacional. Ora, se isto é jecto devêra fazer parte de uma proposta do
exacto, o que reputo- indubitavel, me parece que poder executivo, porque tinha sido considerado
esto materia devia ser apresentada á camara na falia do throno, e que era estylo desta casa
dos Srs. deputados debaixo da fórma que lhe mandar sempre os projectos vindos do senado
era propria, debaixo da fórma de uma proposta do ás commissões respectivas, para ellas os recon
governo ; nunca porém como nos veio ella re- siderar de novo.
mettida pelo teor de um projecto substitutivo Sr. presidente, parece-me que o paiz todo tem
apresentada por um senador na camara vitalicia. altendido que esse projecto preoceupou o senado
Se, pois, o projecto de que se trata d.ve ser por muitos dias, alli a discussão foi muito es
considerado como uma proposta do governo, por clarecida o vasta. Não quero com isso dizer que
isso que faz parte essencial de uma das idéas nesta casa não deva ser por isso sujeito a uma
consignadas na falia do throno, julgo não sã discussão menos aprofundada. . .
que devia sera presentada primeiramente nesta Uma Voz: — Sem duvida.
casa, mas tambem que, segundo está marcado
no nosso regimento, só póde ser tomada em O Sr. Vasconcellos :— .. . mas me parece que
consideração depois de examinada pela commissão a razão de tempo que invocou o nobre deputado
respectiva. para que esse projecto seja considerado nova
Esta consideração é para mim tanto mais va mente não procede, porque sufficientemente es
liosa quanto descubro no governo uma tendencia clarecidos por ella devem estar os nobres depu
3ue reprovo em exagerar o principio da autori- tados, que deste o principio da sessão virão que
ade, em não ter o respeito devido aos demais esta medida tinha sido recommendada ás cama
poderes do estado. ras pelo discurso da coroa, e que o senado havia
Ainda por outro motivo, Sr. presidente, o ligado ás suas disposições grande importancia,
adiamento me parece necessario. O projecto em que alli foi esse projecto votado em primeira,
suas disposições comprohende impostos, porque sendo segundu e terceira discussão, assim como que,
consagra a isenção do pigamento de sello a res remettido para esta camara foi dado para
peito dos bilhetes do banco. Ora, estabelecendo ordem do dia, constituindo assim uma parte dos
a constituição o principio de que a iniciativa noss s importantes trabalhos, sendo obrigação
sobre impostos é da privativa competencia da dos Srs. deputados estudar a ordem do dia que
camara dos Srs. deputados, o projecto tambem V. Ex. designa, por conseguinto não ha falta
por este lado nao teve no devido apreço as at- de tempo, não houve sorpresa em entrarmos nós
tribuições que são conferidas a esta camara. nesta discussão ; habilitados devem estar todos
Assim, Sr. presidente, quer pela importancia a se prouunciar pró ou contra.
da materia, quer porque seja ella uma proposta Sr. presidente, quanto ao nobre deputado dizer
do governo disfarçada, quer finalmente, porque que é estylo desta casi serem os projectos que
joga com impostos cuja iniciativa ó da privativa vêm do senado remettidos a uma commissão
competencia desta camara, entendo que o adia para os reconsiderar, parece-me que o nobre de- ,
mento que vou apresentar está no caso de ser putado se engana. . .
approvado. O Sr. Araujo Lima :— Não disse isso.
Bem sei, Sr. presidente, que o destino que
pretendo dar ao projecto não sanará por certo O Sr. Vasconcellos :— Está bem, como não
os defeitos de que está elle inçado ; defeitos que disse isso passarei a outro ponto.
até no senado forão apontados, porque senado- Parece-me, Sr. presidente, que o nobre deputado
resjnui distinctos pelos seus talentos e posição estranhou que o projecto não fosse apresentado
decfarárão que seria mais regular que o projecto pelo poder exoeutivo por uma proposta ; os Srs.
fosse iniciado nesta casa ; mas ao menos servirá ministros que têm assento no senado não estão
isto de protesto contra a fórma irregular por que inhibidos do apresentar alli os seus projectos,
semelhante objecto é trazido ao conhecimento assim como os Srs. ministros que são deputados
desta camara ; ao menos a camara dos Srs. de tambem não estão inhibidos de apresentarem
putados mostrará que tom no devido apreço, aqui os seus projectos. . .
que véla quanto póde as attribuições que lhes O Sr. Araujo Lima:— E' um meio indirecto
são conferidas pela lei fundamental do estado. de nullificar as prerogativas desta casa.
Me parece pois, repito, que o adiamento que
vou mandar a mesa está no caso de merecer a queO esse Sr. Vasconcellos :— Disse o nobre deputado
projecto deveria ter sido apresentado
approvação da camara dos Srs. deputados.
nesta casa c não no senado, porque se crêão
Lê- se, apoia-se e entra em discussão o seguinte impostos. N»ste projecto, ou eu não o cumprehendo
requerimento : bem, ou o nobre deputado está enganado, neste
« Requeiro que o projecto seja remettido a projecto não se trata de impostos, o de que nelle
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 233
se trata é de isentar do pagamento do sello os isso mesmo, digo, é que nós devemos adiar o
bilhetes do banco, ou antes de uma »xcepção. . . projecto, e não tratarmos delle de chofre, o com
O Sr. Crdz' Machado: — Isso e claro. tanta pressa; é preciso que tenhamos algum
respiro para estudal-o ; dado hontom para a
O Sr. Vasconcellos: — e assim não sei como ordem do dia e já hoje em discussão, poderá
se possa considerar que haja desrespeito á ca elle ser discutido pela mesma fórma porque o
mara dos Srs. deputados quando o projecto, fez o senado? Acaba a camara de ter a sua
faltando de bilhetes de banco, diz que ficarão attenção empregada em objecto de não menor im
elles isentos do impostos, o nos seja necessario portancia, e o estudo qua o projecto em discus
recorrer ao artigo da constituição que estabelece são exige não poderá talvez ter sido feito como
que á camara dos Srs. deputados pertence a fóra para desejar-se. Portanto adquiramos pelo
iniciativa sobre impostos. adiamento tempo para este estudo, vamo-nos
Se no presente projecto se tratasse de impos prepara para aprecial-o debaixo de todas as
tos e elle fosse iniciado na outra casa do par suas relações, mediante as luzes e esclarecimen
lamento, nós não toriamos direito de nos queixar, tos que nos póde dar a commissão da casa, com
e eu seria o primeiro que reclamaria para que posta sem duvida de pessoas muito habilitadas
fossem mantidas as prerogativas desta casa, visto para orientarem a discussão, e darem sobre o
que eu não tenho razão alguma para querer que projecto um parecer desenvolvido e aprofundado,
seja desconceituada a camara dos Srs. deputados, como reclama o assumpto.
á qual tenho a subida h-.inra de pertencer ; não A segunda razão, Sr. presidente, que apre
considero pois que as razões produzidas pelo sentou o nobre deputado ó que nós deveriamos
honrado deputado sobre esse ponto possão obri- estar preparados para essa discussão porque
gar-nos a romettermos o projecto a uma com- ella foi muito debatida no senado ; mas, Sr.
missão. presidente, cada uma das camaras tem o seu
Senhores, eu creio mesmo que os termos em trabalho proprio, e não se deve suppór que o
que se expressa o requerimento de adiamento deputado que está preoceupado com os trabalhos
não são, perdõe-me o nobre deputado que diga, da camara a que pertence lenha tempo sufi
não são os mais convenientes, porque são um ciente para estudar as materias que se discutem
pouco offensivos da dignidado da camara dos na outra camara, em ordem de habilitar-se con
Srs. senadores e so nós quizermos que a nossa venientemente dentro do espaço de 21 horas
dignidade, que a dignidade da camara dos Srs. para a discussão de um projecto desta ordem,
deputados seja mantida, que sejamos respeitados, do uma materia de tamanha importancia. Nenhum
é necessario tambem que sejamos os primeiros deputado é estranho ás discussões do senado ;
a dar o exemplo de respeito a essa outra camara. mas basta a leitura rapida que fazemos dos dis
Diz o nobre deputido no seu requerimento : « Se cursos proferidos no senado para que possamos
queiro que esse projecto seja remettido a uma formar uma opinião esclarecida, conscienciosa,
commissão, para que ella reconsidere a sua ma sobre as proposições que elle submette á nossa
teria.» De sorte que por essas palavras o nobre consideração ?
deputado não dá a importancia que deve dar a Disse o nobre deputado ainda : « está na ordem
um projecto que, merecendo a approvação da. do dia, logo, é de necessidade que discutamos ; »
outra camara não está nas circumstancias de mas o estar na ordem do dia não é motivo
ser mandado a uma commissão para o reconsi sufficiente para que discutamos immediatamente
derar : entremos na discussão, e é-nos licito dar-lhe a materia ; os adiamentos se achão no regi
ou negar-lhe nosso apoio. mento para afastar da discussão aquelles objectos
O Sr. Araujo Lima: — Está nos estylos da casa. que se achão na ordem do dia, o que por qual
quer motivo particular não devão ser submetti-
O Sr. Vasconcellos: — Aqui está o art. 143 dc dos á discussão da camara ; o fim dos adia
regimento da casa, que diz. (Lê.) Por esta dis mentos é, por assim dizer, corrigir a ordem
posição se vê que os projectos vindos do senado do dia.
têm logo discussão, e se dispensa até a primeira, Ainda outra razão, Sr. presidente, existe para
em que se disserta sobro a utilidade em geral da marcharmos com mais consideração e com mais
doutrinados projectos. Os termos, pois, do reque pausa nesse negocio, e essa razão é que vindo
rimento me parecem fóra das conveniencias par esse projecto do senado, deve aqui somente ter
lamentares. Acreditando, Sr. presidente, que não duas discussões, ao passo que as medidas aqui
são justificados os motivos que levárão o nobre propostas têm tres, e poi conseguinte só de
deputado pela provincia do Ceará a propòr o vendo ter duas discussões este negocio parece
adiamento que apresentou, eu me pronuncio contra conveniente que tomemos a providencia proposta,
esso adiamento. (Apoiados.) isto é, remettermos o projecto á consideração
O Sr. Bandeira de Mello:— Sr. presi da commissão para de alguma sorte o exame
dente, agora mesmo anda o continne distribuindo delia nos compensar da falta dessa primeira
o projecto na casa, e é isto um argumento. . . discussão, e assim obtermos esclarecimentos que
essu exame nos pódo ministrar polo estudo
Vozes :— Não é o projecto. especial que para elle terá do fazer a mesma
O Sr. Bandeira de Mello :— Disserão-me que commissão.
era, perco este valioso argumento. (Risadas.) O nobre deputado ainda considerou que o adia
Mas, Sr. presidente, tomando em consideração mento importava como que uma offensa á digni
da casa o nobre deputado que acaba de fallar dade do senado. Não posso comprehender isso,
contra o adiamento, elle diz que a materia de Sr. presidente, porque com esso recurso não
que trata o projecto, n que se acha na ordem póde o senado m igoár-se, sendo que o nosso
rio dia, preoceupou por muito tempo a attenção procedimento não tem por fim senão obter um
do senado, que é materia debatida, e que por debato conveniente á importancia deste assumpto,
conseguinte a camara deve-se julgar habilitada senão assegurar uma discussão que demonstre
para a discussão. Pareco-me, Sr. presidente, que estudo e consciencia formada sobre as vanta
por essa mesma razão é que devemos approvar gens, ou inconvenientes do projecto.
o adiamento, isto é, por isso mesmo que a ma - O senado mesmo procede para com esta ca
teria é muito importante, muito gçave ; por isso mara por esta fórma que o nobre deputado
mesmo que ella preoceupou por muito tempo a julga que é offonsiva ao senado. Não ha pro
attenção do senado, encontrando sérias resisten jecto nosso que elle não remetia a uma commissão
cias e objecções, combatido pelas pessoas mais especial (apoiados) ; e então por que razão não
habilitadas para comprehenderem o assumpto, por podemos nós ter o mesmo procedimento para
tomo 2. 30
254 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
com os projectos do senado sem que elle se De tres ordens constão estas razões •- 1», falta
julgue offendido 1 de tempo pela immediata distribuição do pro
Sr. presidente, este projecto sem duvida não jecto ; 2', porque o projecto contém uma materia
contém materia urgente ; não está no caso da- que não podia ser iniciada senão na camara
quelle que liojo votámos, que tendia a remediar dos Srs. deputados ; 3a, porque o projecto devia
uma crise monetaria mais ou menos qualificada. formar unia proposta do poder executivo. Creio
Se não votarmos este projecto com a pressa que a estas tres se reduzem as razões apre
qne pareco que se deseja, não virá dahi nenhum sentadas pelos dignos deputados.
mal; tanto faz que elle passe nestes quinze dias, Sr. presidente, o projecto trata de um objecto
como que passe dentro de um mez. que nos foi annunciado na falia do throno desde
Julgo que o banco não c cousa que se possa o dia 3 de Maio ; portanto deviamos já ter oceu-
orgmisar do um momento para outro, e que pado a nossa attenção com esta materia. O pro
nenhum motivo de urgencia póde justificar a jecto oceupou tambem por largos dias a attenção
pressa o precipita- a discussão no obscurantismo, do senado, e comquunto o nobre deputado pelo
o com prejuizo das luzes que devemos pedir a Ceará entenda que cada camara tem os seus
commissão. Não se póde negar, Sr. presidente, trabalhos proprios, que a elles se applica espe
que este projecto é, como disse o meu nobre amigo cialmente, tambem ninguem desconhece que nós
deputado pelo Ceará, uma proposta do governo acompanhamos todas as discussões de assumptos
disfarçada. O seu objecto foi com especialidade que tem de ser depois submettidos á nossi con
commenioralo na falia do throno, Ou. ido se vê sideração; portanto o projecto não apanha a ca
que não é o pensamento do um senador, ou de mara de sorpresa.
um ministro de estado, ó o pensamento do go E demais, Sr. presidente, o nosso regimento
verno; e sendo assim, o caminho directo que a não marca o intervello de dias para se dar um
constituição lhe prescrevia era o de uma pro- projecto para ordem do dia, porém sim que deve
post i na camara dos Srs. degutados. Por con eer designado na sessão antecedente. Peio dizer
seguinte, se isto não se fez., segundo o preceito do nobre deputado deviase, quando se tivesse
constitucional, ao menos remídioaios este desvio de dar qualquer projecto para a ordem do dia,
por meio do adiamento. Por ventura dir-se-lia calcular a importancia da sua materia, e dar-se
que este projecto não é o projecto do governo? coai antecedencia para o ordem dos trabalhos.
Então o governo faltou com a promessa feita na Um Sr. Deputado: — Não se segue, e por isso
falia do throno ? Terá o governo de apresentar é que se pede o adiamento.
ainda a sua proposta ? Se assim é, nova razão
se offereco para o adiamento. O Sr. Cruz Machado: —Accresce, Sr. presidente,
So acaso a constituição julgou essencial que que a distribuição do impresso que contém o
toda a proposta do. governo fosse a uma com projecto .não foi que nos trouxe a noticia do seu
missão, e sem duvida para isso teve razões objecto. (Apoiados.! Este projecto foi discutido
muito valiosas, pois que ella nada prescreveria no senado o impresso no Jornal do Commercio,
sem taes razões, está visto que os resultados* que é aquelio que publica os nossos trabalhos,
que o legislador constitucional tevo em vista e é distribuído na casa ; e impressa tambem om
com semelhante prescripção deixão de apparecer t.ida a sim amplitude a discussão do senado no
por este desvio ; as propostas do governo po Dtario do Rio, que é o jornal oflicial do senado,
derão ser a-:sim apresentadas debaixo de uma o que tambem se distribue nesti casa. Portanto,
forma que illnde as vistas do legislador, o pen ao meu ver, a primeira razão dos nobres depu
samento do governo poderá assim entrar em tados não é procedente.
discussão sem os tramites ordenados pela con Não posso, Sr. presidente, de modo nenhum
stituição. aceitar a opinião do nobre deputado pelo Ceará
O meu nobre amigo, deputado pelo Coará, que ultimamente faíiou a respeito da intelligen-
ponderou que o projecto envolvia iniciativa sobre cia do art. 36 da constituiçao, e o que me faz
impostos, e o nobre deputado por Minas, obje não aceitar essa opinião éa razão desse mesmo
ctando, disse que o projecto apenas isentava o artigo. A constituição do imperio determina que
banco de um certo imposto, do imposto do sello ; seja da privativa attribuição da cimara dos Srs.
mas, Sr. presidente, eu julgo que a iniciativa sobre deputados a iniciativa sobre impostos e recruta
impostos eomprehende tanto o acto positivo da mento ; eu não descubro nessa disposição consti
imposição como o acto negativo da suppressáo tucional senão que contendo este objecto um
(apoiados) ; eomprehende tanto o acto da creação gravame ao povo , quer a constituição que a
como o acto da isenção í conseguintemente nenhum iniciativa desse gravame parla da resolução dos
imposto pódo ser em *um ou em outro sentido immediatos representantes do povo. Ora, quando
iniciado no senado. se trata da creação de um Danco não se vai
Pelo que tenho apresentado á consideração da fazer gravamo ao povo, o por conseguinte não se
camara p rece-mo essencial que o projecto vá a trata do caso especificado no art. 36 da consti
ur.a commissão. Estivemos até agora oceupados tuição, não ha portmto motivo pira que esta me
com a discussão de um projecto muito impor dida parta dos immediatos representantes uo povo.
tante, que absorveu a attençáo da casa, e por Um Sr. Deputado : — E' uma interpretação do
isso, torno a dizer, talvez muitos Srs. deputados nobre deputado.
não estejão ainda preparados para entrar na O Sr. Cruz Machado : — Perdóe-me, é uma in
discussão deste que está na ordem do dia ; terpretação qne nasce da philosophia do nosso
assim, conclue dizendo que voto a favor do direito constitucional, e eu desejo que o nobre
adiamento. deputado demonstro o contrario.
O Sr. cruz Macliude : — Sr. presidente, Demais, Sr. presidente, n3o se trata de uma
eu pretendia votar symbolicamente contra o adia-. verdadeira e positiva imposição ou suppressão de
mento, por não julgar convenientes as razões impostas, por isso que não se vai gravar ou exo
apresentadas pelos nobres deputados do Ceará nerar o povo de uma especie de imposição já
que acabarão de fallar em seu favor ; um aparte ercada, porém sim isentar do uma regra geral
porém que dei, e que foi mal entendido pelo uma especie nova, os bilhetes do banco : port into
meu illustre collega deputado pela Bahia, for- esta razão dos nobres deputados tambem não póde
çou-me a pedir a palavra; eotretaiu aprovei motivar 6 adiamento.
tarei a occasião para manifestar os motivos por A terceira razão apresentadi pelos nobres de
que não julgo procedentes as razões que forão putados ó que, sendo este objecto um daquelles
expendidas. de que tratou a falia do throno, devia formar
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 235
parte de uma proposta do poder executivo . Não urgencia, e por isso podia-se adiar. Esta razão
acho esta consequencia de rigor, porquanto en lambem não é procedente, porque está debaixo
tendo que qualquer deputado ou senador póde daquelle axioma g^ralde direito: « Quod probat
apresentar projectos relativamente a qualquer nimis probat nihil. » Se nós não tivessemos de
objecto que tenha sido tomado em consideração discutir projectos dados para ordem do dia senão
na falia do throno ou nos rolatorios dos Srs, mi quando fossem urgentes, raro seria o projecto
nistros, sem que deste modo tenha usurpado a discutido immediatamente.
attribuição do poder executivo. (Apoiados.} Quanto a dizer o nobre deputado que o pro
Além disso, Sr. presidente, eu não vejo infrac jecto fórma uma proposta disfarçada do poder
ção alguma na constituição porque um ministro executivo, isto póde se dizer de todos os pro
prefere a sua qualidado do senador ou do depu jectos apresentidos por senadores e deputados
tado á qualidade de ministro, e como senador ou que são ministros, por senadores ti deputados da
deputado apresenta um projecto ; e foi este o maioria, quando apresentarem qualquer medida
apart» que eu dei, que não foi bom entendido a respeito de necessidades reconhecidas pela falia
Antes pelo contrario julgo que o ministro que do throno ou pelos differentes relatorios. Esta
procede assim pratica um acto de deferencia para vazão, portanto, tauibem não é bastante para se
com o parlamento (apoiados); não vejo tambem condemnar o projecto. Mesmo quando so apre
nisto infracção alguma dos principios cqnstitu- sentasse qualquer projecto que se não pudesse
cionaes, por isso que entendo que em rigor só denominar de proposta disfarçada, dahi não vinha
devem formar objectos de propostas do poder desar ou inconveniente algum, o que se seguiria
executivo as leis annuaes ; porém os objectos era que o senador ou deputado que o tivesse
que tendão a melhorar algum ramo do serviço apresentado estava de perfeito accórdo com o
publico, embora formem parte do' discurso da governo quii tinha reconhecido 9 necessidade
coróa, podem ser discutidos em projectos apre dessa medida ou na falia do throno, ou nos re
sentados por senadores ou deputados. latorios.
Portanto a terceira razão apresentada pelo nobre Julgo terem sido estas as razões apresentadas
deputado tambem a meu ver não é procedente. pelos nobres deputados, e em vista do que acabo
Disse o nobre deputado que pelo nosso regi de expender voto contra o adiamento.
mento, art. 142, se determina que os projectos Aloumas Vozes :— VotosI votosI
vindos do senado só tenhão segunda e terceira
discussão, e que portanto o adiamento proposto, O Sr. Paula Haplisto: — Sr. presidente,
e a remessa do projecto a uma commissão para antes de defender o adiamento o responder áquel-
consideral-o, tem de supprir a falta que fará a les que o combatem, chamo a atteução de iodo
primeira discussão. Não acho v iliosa esta razão; o inundo para o s insivel contrasto do nosso pro
a primeira discussão pelo nosso regimento versa ceder com o do governo e sua maioria. O governo
sobre a utilidade do projecto ; ora, ninguem dei teve a fortuna do encontrar uma opposição con
xará do conhecer que um projecto que mereceu scienciosa, disposta a patentear os seus desvios
a profunda e respeitavel attenção do senado possa e a combater os seus erros, sem todavia lhe negir
ser considerado como não util Por consequen a razão quando elle a tiver ; e em retribuição
cia esta remessa á commissão, este adiamento do tão bons serviços recebe da maioria uma
não suppre a primeira discussão, a commissão obstinação som limites para nunca lhe dar razão,
não vai de modo algum considerar scfbre a utili- ainda quando essa opposição argumenta com a
dade do projecto. Nem podia ser este o fim dos letra da constituição e com verdades triviaes para
nobres deputados que propoem o adiamento ; pedir um adiamento recommendado pela dificul
tendo o projecto de entrar em segunda discussão, dade da materia. A maioria mostra-so mesmo
a commissão quando não achasso conveniente agoniada e afflicta.
alguma de suas disposições, não se limitaria a Vozes: — Não, não. ,
dizer que elle era util, inas apresentaria emen O Sr. Paula Baptista : — OhI pois não pedirão
das, porque a segunda discussão é a propria p u a votos antes de cu fallar, sem que a discussão
o melhoramento dos projectos, e não para tratar- já se tivesse alongado?I (Apoiados.)
se de sua utilidade.
O nobre deputado polo Ceará que ultimamente O Sr. Taques : — Queremos a discussão sobre
fallou não comprehendeu o meu illustre amigo o objecto principal, e não franjas.
deputado por Minas ; o meu illustre amigo não O Sr. Paula Baptista :— E' isso mesmo. E como
disse, nem podia dizer que o adiamento de um querem -nos negar o adiamento ?Com um transt imo
projecti vindo do senado, que a remessa dello a na ordem das idéas o nos principios mais sabi
uma commissão da casa fosse offensiva á digni dos da sciencia. (Não apoiados.) Tenhão alguma
dade dq senado ; o que disse foi que o adia paciencia para me ouvirem, e depois concluão
mento nos termos propostos e escriptos pelo nobre lá como quizerem.
deputado do Ceara offendia de certo modo a di Pela constituição a iniciativa sobre impostos
guidade do senado; porque se propunha, não a pertence á camara dos Srs. deputados. Ora, o
simples remessa do projecto á commissão, mas projecto estabelece uma medida isentando os bi
com o fim da commissão reconsideral-o, isto é, lhetes do banco do imposto do sollo.
desdo já julga-se que o projecto merece recon
sideração, que sem exame não póde ser julgado Um Sr. Deputado : — Logo, não impõe.
bom O Sr. Paula Baptista :— Espere. Logo, contém
Um Sr. Deputado:— Para que é a discussão? uma medida sobre impostos na generalidade da
O Sr. Cruz Machado : — E' precisa a discussão, disposição da lei fundamental, e no seu sentido
porque só depois delia é que podemos julgar se grammatical.
o projecto merece ser reconsiderado, em ndado ; Mas dizem os nobres deputados que esta dis
mas, quando sem ter precedido discussão, quando posição comprehendo restrictamente a decretação
os nobres deputados que dizem que não tiverão de novos impostos, e não a abolição dos que já
tempo de estudar a materia querem desde já con- existem .
demnar um projecto 'vindo do senado com um Senhores, esta intelligencia é muito forçada, e
adiamento proposto nestes termos, não se devo não póde ser aceita. A nossa iniciativa sobre
estranhar que o meu nobre amigo diga que isto impostos não acha esta distineção na lei, e é tanto
importa menos cortezia no corpo do senado. para crear como para supprimir.
Apresentou mais uma razão o nobre deputado Um Sa. Deputado :— Mas não se trata de abolir
pelo Ceará; disse que o projecto não era do imposto nenhum.
236 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Paula Baptista :— Espare : tomei apon rias, e mostre bem evidentemente que não lha
tamentos de todos os argumentos, e os respon importão argumentos e nem verdades, e só lhe
derei um a um. Senhores, se os eleitos da nação importão votos e maiorias que o apoiem. E' bom
com missão temporaria são aquelles que sahindo máo caminhar.
do povo têm de voltar ao seu seio, e por con Disse tambe-n um nobre deputido .por Minas
seguinte são os que mais de perto escutão 'as qua indo o projecto a uma commissã i faltava-se
suas necessidades, vêm os maios que as forças assim ao respeito que é devidu ao senado ; e tão
productivas jã soflrem com as imposições ; e de valonte pareceu aste argumento a um outro nobre
mais a mais não hão de querer ser injustos deputado por Minas, que chegou a dizer que se
comsigo mesmo, e por conseguinte são os mais por ventura queriamos ser respeitadis deveria
proprios para iniciarem sobre estas materias, é mos tambem respeitar o senado.
claro que devem ser considerados os mais pro Sr. presidente, este argumento, que parece ad
prios, não sò para não commetterem vexames, terrorem, nenhuma applicação tem para o caso.
como para alliviarem o povo dos veximes que A quentão é toda constitucional, e quando cada
existirem. Em objectos tributarios presume-se uma das camaras zela as suas attribuições, só
sempre que a camara temporaria nunca façi o com isso não offende a outra; tanto mais quanto
mal, e faça sempre todo o bem possivel; porque nós sabemos qjie o senado tem enviado para as
de todo o bem ou mal que fizer ha de partici suas commissoes os projectos por esta cimara
par depois directamente delles, além da respon approvados.
sabilidade para com aquelles que a elegêrão ; eis Alouns Srs. Deputados: — Manda sempre.
o espirito e a razão da lei. Mas para que isto
succeda é preciso que a camara dos Srs. deputa O Sr. Paula Baptista: —E se a reciprocidade
dos possa iniciar tanto sobre a creação como sobro está estabelecida, para que argumentos que não
a abolição dos impostos. prováo e não illudem ? E' por este moio que
E demais, senhores, acostumemo-nos com n in com toda a ufania so nos diz: os vossos argu
terpretação litteraria da constituição' e com aquillo mentos não procedem? Senhores, tendes o nu
que soão as suas palavras, que assim sem du mero de votos, e isto basta para o governo actua.
vida iremos muito bem. E parece mesmo que até O Sr. Candido B iboes: —E mais alguma cousa.
certo ponto se póde applicar em favor desta minha O Sa. Wanderlev: —E' que somos uma sucia
opinião o principio : ejus est tollere, cujus ent do brutos I
condere. O Sr. Paula Baptista: — Eu penso que todos
Disse, porém, um honrado membro que não esses argumentos, que tendem a pór o senado
se trata de um imposto creado. Oh I é bem sin
gular este argumento I Pergunto : os bancos actuaes, em tudo igual á camara temporaria, peccão em
que peio projecto actual terão de ser conside sua base, pois que são corpos legislativos sim.
rados como caixas flliaes, não pagão sellos do mas cada um com sua missão especial na ordem
seus bilhetes? constitucional. O senado é, pelas suas prerogi-
tivas e attribuições, um corpo conservador, que
O Sr. Cruz Machado: — Não li que os dous não está tanto em contacto coto o povo, não
bancos são filiaes. vê tão intimamente as suas necessidades...
O Sr. Paula Baptista :— Digo ao nobre depu Usi Sr. Deputado: —Isso ó novo.
tado que isso está bem claro no projecto. E de O Sr. Siqueira Queinoz : — Tem a mesma
mais, por que lei pagão os bancos -actuaes sello obrigação.
de seus bilhates senao pela mesma lei dos sellos
que creou este imposto, e que sujeita ao seu O Sr. Paula Baptista: —Então eu peço aos
pagamento as letras, titulos de dividas e outros nobres deputados que risquem todos estes artigos
titulos e bilhetes, etc. ? Logo, o imposto está da constituição que tão sabiamente marcão as
creado, e tanto jã está creado, que tirai, senho differentes attribuições ae caia uma das camaras,
res, esta disposição do projecto, que o futuro e que sobre certos objectos dão a iniciativa á
banco que se pretende crear ha de pagar este camara dos Srs. deputados Colloqusm a questão
imposto pelos seus bilhetes, e portanto não é uma neste terreno, e verão que este projecto não po
disposição ociosa que vem ahi no projecto, mas dia ser apresentado no senado (apoiados), e que
uma disposição de isenção do que existe. (Apoia de nenhum mo io convém nigar esta verdade, sob
dos.) pena de despojar-se acamara dos Srs. deputados de
Disse ainda o nobre deputado por Minas que, uma de suas prerogativas e attribuições (apoiados) ,
não obstante a idéa da creação de um banco e que ella deve ser a primeira a defender. (Apoia
nacional vir consignada na falia do throno, podia dos.) E .portanto não é pelo modo por que hão
qualquer senador que é ministro de estado pre discorrido os illustres membros da maioria que
ferir apresentar o projecto como membro do se esta poderá chegar ao desejado fim de reprova
nado. rem o adiamento.
Então, senhores, dizei-me, e explicai-me, e eu Tocarei, finalmente, nos argumentos deduzidos
desejo aprender; o que significa a falia do da difficuldade da materia.
throno ? Qual a sua importancia ? Que alcance Tem-se dito que sendo a creação de um banco
tem ella? Parece-me que quando se reunem os um dos objectos lembrados pela falia do throno,
corpos colegisladores para funecionurem, é nessa e tendo já sido discutido pelo senado, já nós de
occasião que o governo faz apparecer todo o seu putados devomos estar habilitados para discutir
pensamento em relação ás mais urgentes neces a materia.
sidades do paiz ; é nessa occasião que elle pa- Bom ó que já se conheça, que já agora -se co
tentêa o que lhe occorreu de mais serio e impor nheça que a creação de um banco entrou na falia
tante durante a ausencia das camaras, e as do throno, para, como uma proposta do governo
medidas que' tem como mais precisas para serem que teria de apparecer, nos prepararmos com
tomadas ; a falia do throno, pois, é o programma antecedencia para discutil-a.
do governo ; e tudo quanto vem nella exarado Todavia ignoro a origem deste dever. Eu, em
é pensamento seu, e é depois proposta sua. Fóra verdade, li toda a discussão havida no senado ;
disso, senhores, não ha senão fantasmagoria; e mas como? Como quem fazia um estudo pro
é para sentir que mesmo quando uma opposição fundo para fallar e discutir? Não, por certo. E nem
se levanta pugnando pela realidade do regimen era isso possivel aos Srs. deputados, que então
constitucional, tão desfigurado e sophismado, o so achavno com outros trabalhos entre mãos, e
Soverno entenda que contra a verdade e a razão se achavão oceupados com outras materias que
eve ainda continuar a viver destas fantasmago se discutião l
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 •237

Senhores, eu terminarei o meu discurso decla uma attenção exclusiva e cencentrada, parece que
rando mui sincei amento que, quando tantas ra nada perde, que pelo contrario mais se fortifica
zões que temos não preponderassem na mente na opinião do paiz com a demora e o estudo
illustrada da maioria, declarando alguns mem .da alguns dias na illustre commissão da casa
bros que querem pouco tempo para meditarem "que corresponde á confiança ministerial-
sobre a materia, e sendo esta incontestavelmente Eu vejo, Sr. presidente, no projecto, desde o
ardua e espinhosa, as conveniencias que resultão seu primeiro artigo, a intervenção do governo
de um debate interessante, as attenções devidas na organisação o gerencia do banco, desde a
a collegas que se estimão reciprocamente, eriio approvação dos seus estatutos. (Apoiados.)
mais que bastantes para se approvar o requeri O Sr. Paula Candido :— Se não fosse isso eu
mento de adiamento, pelo qual pretendo votar. não votava por elle.
O Sr. Neblas:—Senhores, por mais urgente O Sr. Nebias :— O nobre deputado que me dá
e util que seja o projecto, paroce-me que o go o seu aparte vê na intervenção do governo uma
verno e a maioria não devem enxergar um des garantia sempre boa, um principio absoluto e
credito e um perigo para a sociedade na demora necessario. Nem ao menos se devo attender á
de mais 3 ou 4 dias que por ventura possa gas organisação dos bancos, á sua natureza o mis
tar a commissão em um exame mais aprofun são especial, haja ou não haja subvenção do
dado acerca deste importante assumpto. ~ estado. Tudo é materia liquida e estudada, e
O Sr. Paula Baptista: — Isto ó inais claro do nada pesão as opiniões encontradas dos homens
que a luz meridiana. da sciencia.
O Sr. Nebias: —Nao tratamos aqui do nos pór muito Ainda hoje foi votado esse outro projecto que
em luta com o senado, não tratamos de advo importa para o mercado e praçi do Rio
de Janeiro, mas que por certo não tem a mesma
gar a nossa precedencia em prejuiso daquella extensão
corporação ; cada camara tom seu lugar no paiz, opiniões não do que nos oceupa agora ; e quantas
tem sua intelligencia, tem necessidade de exa apparecerão sobre essa crise, que
minar seriamente os objectos que lhes são dados afelizmente não passa de alguma falti que sente
praça para suas operações de commercio. Con
para ordem do dia. testarão alguns a crise que outros virão muito
Que o objecto é grave e muito importante, carregada,
creio que a camara toda o sabe e concorda ; ella. Vião oo mal assignárão-se causas diversas para
que na camara dos Srs. deputados ainda não crescente de tantasoraemprezas na febre insustentavel o
houve um exame , ainda nao appareceu uma na cessação do trafico o alta dosimultaneas, ora
preço dos ser
base para os nossos trabalhos e discussão, tam viços, ora na retirada dos capitaes para o in
bem creio que a camara toda concorda. terior de nossas provincias, e mesmo na expor
Uma questão, Sr. presidente, muito grave ap
pareceu por occasião do adiamento, e veio a ser etação de muitos capitaes para fóra do imperio,
a camara, que concedeu uma medida de con
essa da iniciativa. Alguns dos meus nobres col
legas já provãrão, por uma parte do projecto, fiança ao Sr. ministro, poderá por ventura hoje
dizer francamente sua opinião ao paiz sobre
que a iniciativa delle pertencia a esta camara, tal crise? Por isso, digo, quando esse projecto,
e eu tomarei ainda por outro lado essa ques
tão, porque ninda vejo no projecto outra ab- que não jogava tanto com os interesses da so
sorpção em identico sentido de conflicto e golpe ciedade brazileira, foi um objecto do tantas du
vidas, de tanta contestação, não póde tambem a
para os nossos poderes ; e para esse ponto opinião do nobre deputado o de outros sobre o
chamo a attenção da camara e do Sr. ministro. actual soffrer muita contestação, encontrar diffe-
O que faz o projecto, Sr. presidente? Crêa rentes opiniões?
um banco, pede, ordena um emprestimo, e de
pois estabelece o modo por que esse empres O Sr. Paula Candido dá um aparte que não
timo e seu juro deverá ser satisfeito ; e não será percebemos.
isso da iniciativa da camara dos Srs. deputados ? O Sr. Nedias. — Sr. presidente, ha demais uma
Sim, sem duvida. Creado o banco, trata-se de outra questão muito grave no projecto, porque
pois do resgate do papel-moeda. pedindo-se para eu vejo que elle no seu segundo artigo declara
esse fim, por emprestimo ao banco, a quantia que o banco é sómente de interesse commer
de 2 mil contos de réis annualmente, e para cial e não estende seus boneficios a outros
pagamento desse emprestimo assim contrahido interesses, a outras industrias, nem a nossa
assigna-sa desde já, ou destina-se, uma certa agricultura, que demanda especial reparo
parte das rendas publicas.
Quando nós na lei do orçamento todos os Um Sr. Deputado : — Discutamos o projecto,
annos applicamos uma certa quantia 'para amor não ndiomos, porque isso o atraza muito.
tização da nossa divida interna e externa, usa O Sr. Nebias:—Quem quer que vá o projecto
mos sem duvida da iniciativa que nos compete. a uma commissão, afim de qne elli atte adendo
Como pois se quer privar a camara dos Srs. aos pontos capitaes do mesmo interponha o seu
deputados dessa iniciativa no objecto de que se parecer sobre elles, quer adiantar a discussão,
trata. , porque procura assim uma base methodica para
Talvez, Sr. presidente, eu esteja enganado; os nossos trabalhos.
talvez eu não comprehenda bem o artio do Em verdade, Sr. presidente, o projecto é -de
projecto que estabelece o emprestimo , assim natureza sómente commercial, porque vemos o
como estabelece o m do do seu pagamento, e seu art. 2° que diz: « crear-se-hão caixas filiaes
por isso não terei razão no que digo ; mas pa- onde as necessidades do commercio exigirem... »
rece-me que da maneira por que ello está re No entretanto que todos os dias claina-se pelo
digido não se póde entender outra cousa. favor a industria, á nossa agricultura tão cheia
Agora, Sr. presidente, que o negocio é muito de embaraços, tão cheia de vexames, e reduzida
giave, que o projecto apresenta pontos compli de braços, vemos nós que sómente esse pro
cados para uma discussão muito séria, pontos jecto é de interesse commercial.
muito palpitantes de interesse publico, que Vejo, mais, Sr. presidente, que se trata nelle
affecti altamente a fortuna do estado, o movi do resgate do papel-moeda e da nossa divida,
mento commercial em todo o imperio, 0 verdade, ponto este que a commissão tem de examinar
e ninguem póie pór ein duvida todo o seu al muito seriamente, para nos dizer o seu parecer
cance ou influencia monetaria. E um projecto a respeito. Além destes artigos, aqui leio outro
semelhante, que depende de um serio e deta muito melindroso, que por muita confiança que
lhado examo, que reclama do corpo legislativo mereça o Sr. ministro julgo que deverá ser de
2^8 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
liberado o discutido com calma e reflexão supe Aquelle a quem pertence fazer as cousas, tam
rior a esse principio de confiança, attendendo-se bem pertence destruil-as ou removêl-as.
a sorte do banco assim organisado, e ao futuro Entendo que esto principio não tem applicação
do paiz ou da fortuna publica que nelle póde para o caso vertente : teria applicação se por
ficar compromettido, já pela emissão facultada ventura fossem dous poderes differentes, um que
no dobro de seus fundos, c já pelo arbitrio que fizesse, e outro que destruisse. Mas no caso em
noto no § 7° do primeiro artigo. (Lê). Todas questão a camara dos Srs. deputados e o senado
estas considerações, Sr. presidente, acho muito têm a mesma attribuiçã o de fazer leis. Logo,
procedentes, e muito louvaveis esses escrupulos o poder que estabelece e o poder que tira não
em objecto de tamanha importancia, ainda qire ê differeme. Se o poder legislativo praticasse
muito sabiamente debatido no senado ; e a ca uma cousa, e o poder executivo pretendesse ti
mara póde ter necessidade do ndiimento para rar ou destruir essa mesma cousa, então teria
regularisar e ainda mais instruir os seus tra applicação o principio apresentado pelo nobre
balhos. deputado. Creio, Sr. presidente, que esta dis-
Sem offender pois a dignidade da outra ca tineção é muito clara.
mara, o salvo todo o respeito que tributamos ás O Sr. Paula Baptista: —Na opinião do nobre
suas luzes, entendo que temos justas razões para deputado quem ó o competente para conhecer se
adoptar o adiamento ufferecido pelo nobre de um imposto é ou não prejudicial?
putado do Ceará. O Sr. Theopihlo Gaspar: —Aqui não se esta
O Sr. Thpophilo Gaspar: — Sr. presi belece im osto algum, tira-se o gravame de um
dente, a materia do que se trata tem sem du imposto que existe. '
vida dous fundamentos ; em primeiro lugar se O Sr. Paula Baptista: —Mas quando um im
tem procurado demonstrar que ha necessidade posto é máo, a quem ipertence supprimil-o ?
de que a cau.i ra considere completamente o ob
jecto importante que se vai tratar. Se por O Sr. Theofhilo Gaspar: —Ha ainda uma ra
ventura toda a discussão versasse sobre este zão juridica. A iniciativa da camara dos Srs. de
ponto, eu me limitaria a dar o meu voto sym- putados sobre os impostos ó um privilegio, e
bolicamente, porque seria indifferente que fosse segundo os principios de hermeneutica juridica
a questão tratada hoje ou amanhã, ou nesses e de direito, os privilegios nunca são extensivos
tres ou quatro dias ; mas, Sr. presidente, nesta e sim restrictivos, e então segue-se que não se
questão de adiamento, se ha em segundo lugar póde levar a disposição da constituição além das
aventado um principio que na minha opinião é suas palavras.
muito importante, se tem querido pór em duvida Por conseguinte, se a constituição determinou
que ao senado compita' o direito de iniciar essa simplesmente que á camara dos Srs. deputados
medida. pertence decretar os impostos, não ó o mesmo
Se eu entendesse que á camara dos Srs. de que dizer que quando a camara tenha decretado
putados é que competia a iniciativa nessa ma um imposto sómenta a ella pertence alteral-o
teriar eu seria de accordo qne se remettesse o ou supprimil-o.
projecto para o senado, dizendo-lhe que não era Quanto ás outras observações que forão feitas,
aceito por ser elle attentatorio das attribuições mp parecem de pouco momento ; e por isso não
da camara dos Srs. deputados ; esse é o meio me oceuparei delias. A materia está bastante-
que deveria ser empregado, e não o adiamento, mente conhecida ; todos nós temos observado a
que não remedêa esse mal. discussão que a respeito delia houve no senedo:
Essa reflexão que acabo de fazer é a primeira temos visto a sua publicação nos jornaes ; aqui
observação sobre a materia ; a outra, a que pas tambem terá essi discussão de durar muito
sarei agora, ó a mais importante. Pergunto •- tempo, o conseguintemente todos teremos occa-
pertence a iniciativa desse projecto á camara sião de manifestar as nossas opiniões.
dos Srs. senadores ou á camara dos Srs. depu O Sr. Araujo Lima : — Autor do adia
tados? Para mim é a iniciativa nessa questão mento, vejo-me obrigado a expòr com mais lar
indiflerente que seja tomada por uma ou por gueza os fundamentos por que o propuz.
outra camara. (Recíamaçfcs). Apezar, Sr. presidente, da opposição que tem
Segundo a constituição, Sr. presidente, pertence apparecido ao adiamento, os honrados deputados
á camara dos Srs. deputados a iniciativa quando que o têm combatido me permittirão que eu
se tratar de estabelecer impostos ; mas a questão lhes diga que reputo intactos os motivos em
presente ó muito differente disso ; r.ão crea im- que o fundei. Qual foi a primeira consideração
§ostos o projecto, apenis isenta do de sello os em que fundamentei o adiamento ? A importan
ilhetes do banco ; e embora o nobre deputado cia da materia, e conseguintemente a necessi
pela provincia de Pernambuco (o Sr. Paula Ba dade de ser oxaminada pelas com missões da
ptista) dissesse que tanto valia estabelecer como casa. Por ventura este motivo foi destruido?
supprimir impostos... De fórma nenhuma.
- O Sr. Paula Baptista.—Apoiado I Muito bom I A camara divide-se ein commissões que com-
poem-ae das especialidades que ella reputa mais
O Sr Theophh.o Gaspar: — . . . emqnanto ao apropriadas para- estudar as materias e apre
estabelecimento de impostos pertence sem con sentai as ao seu exame com a madureza e sa
testação a iniciativa á camara dos Ss. deputa bedoria que é necessaria.
dos ; porque a constituição entendeu que sendo Esta materia é importante ? Acredito que nin
os Srs. deputados eleitos directamente pelo povo, guem o contesta : se pois esta materia c impor
e tendo de voltar ao seio do mesmo no fim de tante, porque razão não deve ser ella submetlida
quatro annos, zelarião muito mais os interesses a meditação o exame da commissão respectiva?
do povo.. . . Acaso aceitará a camara o juizo que me parece
O Sr. Paula Baptista:—Muito bem 1 se faz das commissões da casa, a saber, de que
ellas não servem para nada, não examinão ma
O Sr. Tneopihlo Gaspar: — . . . e não crearião teria alguma ?
impostos onerosos ao povo tendo de voltar para . O Sr. Taques : — Quem faz esse juizo?
elle ; mas na questão de que se trata não é
assim ; o projecto em lugar de trazer esse gra O Sr. Araujo Lima : — So este juizo é verda
vame, em parte o tira. deiro, se assim como os francezes em uma outra
Agora vou ao principio apresentado pelo nobre ordem de idéas dizem a respeito dos program-
bre deputado: Ejus est tollere, cujus est condere. mas — mentiroso como um programma —, esta
SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853 239
mos nós autorisadns a dizer de nossas commis- em geral, mas contesta-se com relação ao caso
sões — preguiçoso como uma commissão —, então da que so trata. Se esta materia por sua natu
em verdade o adiamento é inutil. Ora, isto ó reza devia fazer pirte de uma proposta, o governo
nhsolutamente inadmissivel. não póde por meio disfarçado despil-a da natu
Mas dizem os nobres d'putidos combatendo reza que lhe ó propria ; por conseguinte, qualquer
o adiamento : « Este projecto foi discutido no que soja a verdade do principio em geral, a sua
senado ; essa discussão appareceu impressa no applicação falha no^ciso de qne se trata.
Jornal do Oommercio em resumo, e mais larga Direi ainda, Sr. presidente , duas palavras a
mente no Diario do Rio, e estas [olhas forão respeito de um outro fundamento em que baseei
distribuidas na casa juntamente com o pro o meu adiamento, isto é, o iniciativo.
jecto. » Maravilho-me, Sr. presidente, da fórma porque
Mas nem essa discussão no senado , nem a tenho visto combater semelhante principio 1 1 Ao
impressão nas folhas, nem a distribuição que passo que é uma disposição tão expressa na con
foi feita na casi, nullificáo por fórma alguma stituição, ao passo que essa disposição é violada
o principio de que as materias importantes, - manifestamente com o projecto que se discute,
devem ser enviadas ás commissões respectivas os nobres deputados dão-llie uma interpretação
para que sejão devidamente examinadas. a mais singular que se póde imaginar I I
Como pois os nobres deputados pretendem es- Meus senhores, como e que se póde contestar
tabelecr o principio, inteiramente novo, de que o principio de que a quem compete fazer a lei
por isso que uma materia se discute na ca compete revogil-a ? Se á camara dos Srs. depu
mara vitalicia , por isso que essa discussão tados compete a iniciativa dos impostos, como
apparece impressa nos jornaes, ff por isso que se lhe ha de negar o direito de abolil-os ou al
esses jornaes são distribuidos na cisa, nenhum terai- os em certos casos ?
vigor deve ter a disposição consagrada no nosso Dir-so-ha, como affirmou um nobre deputado
regimento de remetter taes imterias ás commis- por Minas, que a disposição da constituição só
sões da casa ? Piirece-me pois que, qualquer se applica na creação do imposto, em que ha
que seja a força de que estejão revestidas as gravame, cessando por conseguinte na suppressão
considerações que os nobres deputados apresen- . delia, em que tal gravame se não dá ? O meu
tárão, não so póde dizer que o meu argumento nobre collega permittirã que lhe diga que foi um
está destruido. interprete muito infiel da constituição.
Qual foi ainda, Sr. presidente, o segundo fun Representante immediato do povo, apalpando
damento em que baseei o meu adiamento ? Foi por assim dizer suas necessidades, a camara dos
este • a materia do projecto de que se trata - deputados é a mais apropriada para decretar a
acha-se consignada na fulla do threno, ó uma croação ou cc-sação do imposto.
idéa que o gabinete reputou tão importante , Se pois esto . é o fundamento da iniciativa de
que julgou dover incluil-a em um dos topicos que a constituição nos investe, elle se applica,
da falia do throno. quer para a decretação de impostos novos, quer
Se pois esto projecto é pensamento do g ibi- para a abolição ou alteração dos que já existão.
nete, se como tal devêra ter a natureza de Nem, meus sonhores, apresenta o menor peso
uma proposta, será licito ao mesmo gabinete a cousideração que foi emittida pelo nobre de
despil-a de sua natureza propria, submettel-a putado pela minha provincia. O meu honrado
ao conhecimento desta camara em fórma de pro collega disse : « Os privilegios não podem ter
jecto vindo do senado ? Ser-lhe-ha licito chegar uma interpret ição extensiva. » O principio é sem
ao mesmo flui por vias indirectas ? Por certo; applicação. Qualquer que seja a natureza do pri-
os nobres deputados conhecem bem o perigo que vilegin, deve-se forçosamente comprehender nello
haveria em semelhante fórma do proceder , pas aquillo que faz parto essencial do mesmo privi
sando o precedente o goveiv.o poderia apresen legio.
tar no senido sob o caracter de um projecto Assim, com relação á iniciativa, seja embora
ordinario suas idéas, aquellas que devem ter a considerada como um privilegio, faz parte essen
natureza de uma- proposta, fazel-as enviar para cial da sua natureza a abolição do imposto, a
aqui, e prival-as por tal fórma dos tramites e dispensa delle ; porque este direito não póde
exames que a constituição o o regimento con- deixar de ser concedido áquelle poder a quem
sagrão. compete a creação do imposto, que é a camara
Quererão os nobres deputados dar como licita dos Srs. deputados.
uma linha de conducta tão pouco regular ? Se Acredito portanto. Sr. presidento, que se achão
os nobres .deputados acreditão que a disposição em pó os motivos em que foi baseado o adia
da constituição que submetto as propostas do mento. Ninguem contesta a importancia da mate
governo ao conhecimento desta camara não tem ria, donde se segue a necessidade do exame por
utilidade alguma, então devem ser francos tra uma commissão, segundo a ordem que têm os
tando de a reformar ; mas emquanto esse prin trab ilhos desta casa ; não podendo os meios de
cipio fór e dever ser respeitado, é fóra de du informações quo podem aliunde esclarecer á ca
vida que o governo procedenio pela fórma por mara dispensar aquelles exames que estão mar
que o fez não teve o devido respeito, nem para cados no nosso regimento. A natureza da pro
com as disposições da constituição, nem para Eosta do governo que tem este projecto deveser tam-
com as prerogativas que são concedidas a esta em respeitada, porque o governo não póde estar
camara. autorisado para fizer indirectamente aquillo que
Mas acerescentão alguns dos nobres deputa não pódo fazer directamente. Finalmente é fóra
dos : « Então todas as idéas do governo deve- de duvida que prerogativas da camara forão pouco
rião ser convertidas em propostas. » respeitadas, iniciando -se na outra camara uma
Meus senhores, o argumento não tem a devida materia que é da nossa peculiar attribuição.
paridade. A idéa de que se trata fez, como disse, Occupar-me-hei agora, Sr. presidente, de uma
parto da falia do throno, é toda do gabinete. consideração que fez o nobre deputado por Minas
E'-lhe pois essencial a fórma de proposta. Não que se oceupou em respondor-me. O nobre depu
estão porém no mesmo caso quaesquer outros tado disse que a remessa do projecto a uma
pensamentos que um ou outro membro do gabi commissão envolvia uma offensa ao senado. A
nete reduza a projecto de lei na camara vita esto respeito o nobre deputado não tem razão
licia a que pertença. neuhuma, nem iheorica nem praticamente. Se a
Disse-se ainda : « Us membros do senado estão camara dos Srs. deputados está investida do poder
autorisados para apresentarem projectos ou emen de legislar que lhe dá a constituição, é conse
das, etc. » Ninguem, meus senhores, contesta isto quencia que ella deve ter todos os meios que
240 SESSÃO EM 17 DE JUNHO DE 1853
forem precisos pnra esclarecer a sua consciencia, tudos para amanhã não prestão para nada...
para habilital-a a exercer este seu direito. Quando, (Apoiados.)
pois, a camara usa dos meios que são precisos
Fiara esclarecer-se no exercicio doa direitos que o Onosso Sr. Araujo Lima : — Não é assim que falia
regimento.
lio são conferidos, não so póde dizer que faz
oflensa a quem quer que seja ; o contrario seria O Sr. Silveira da Motta: —Responderei ainda
autorisar a chegar a um fim preterindo-se os a outra consideração a favor do adiamento-
meios que são para isso precisos. Disse-se que este projecto, sendo remettido pelo
Direi tambem que o meu honrado collega está senado, é apresentado por este facto com me
enganado até praticamente, porque os estylos da nos uma discussão, e que isto nos deve indu
casa são de conformidade com o que digo. Es- zir a um maior exame. Senhores, o facto de
tabeleceu-se nesta casa em U de Marco de 1850 ser o projecto renjettido pelo senado, e de ter
o precedente de que os projectos e emendas vindos nesta camara sómente duas discussões, é facto
do senado podião ser remetidos ás commissões que foi apreciado, e muito bem apreciado, no
quando a casa assim o deliberasse... nosso regimento. Desde que os projectos são
elaborados por uma camara já (em uma garanti*
Um Sr. Deputado: — Não é obrigatorio. a seu favor, e por isso o nosso regimento muito
O Sr. Araujo Lima:— Sei bem que não é obri- sabiamente estabeleceu que reciprocamente os
§atorio ; mas o nobve deputado a quem mo refiro projectos do uma camara remettidos para outra
isse que o exercicio deste direito envolvia uma não tém tanta necessidade de discussão como
otfensa á outra camara. Isto é o que nego, por quando a camara inicia a discussão. Atém disto,
que não só 'este principio é condemnado pela devo lembrar ao nobre deputado que nisto ha
razão, mas até pelos nossos estylos, pois que inteira reciprocidade...
ha o precedente de que fallo, de ser um projecto O Sr. Akaujo Lima:—No senado não é assim.
e emendas da outra camara remettidos a uma
commissão para serem reconsiderados. O Sr. Ferraz : — Os projectos desta camara
Quando pois, Sr. presidente, a opposição apre vão ás commissões.
senta o adiamento que se discute, a camara deve O Sr. Silveira da Motta : — Quanto a essa
convencer-se de que é ella a isso levada por pensa razão da necessidade do exame em que se funda
mento muito nobre, pensamento que muito im o adiamento, entendo que tenho respondido ca-
porta, não só á opposição, como a to la a camara,' balmente desde que pondero á camara que é
O grande pensamento da opposição nesta materia é uma materia que está na ordem do dia não só
zelar com todo o cuidado as prerogativas que são da camara como do publico, que está estudada. . .
concedidas pela constituição do estado á camara (Apoiados.)
dos Srs. deputados. A experiencia vai mostrando O Sr. Araujo Lima : — Não pelas especiali
que, quer da pirte da outra camara, quer da dades da camara.
parte do governo, não ha o necessario respeito
para aquellas attribuições que nos são confe O Sr. Silveira da Motta : — Se não está
ridas. estudada pelas especialidades da camara, essas
A camara, portanto, me permittirá que eu lhe especialidades não são capazes de estudal-a em
recorde quanto convém que seja approvado o adia tros dias. A este respeito creio qu{i poderia dar
mento, para que ao menos depois do exame da ás especialidades da camara o conselho que o
commissão fique claro e manifesto que nossas Sr. senador Vasconcellos deu aqui em uma sessão
prerogativas forão respeitadas. a um nobre deputado que se valia deste argu
Nem póde ser attendivel a consideração que mento, pedindo tempo para estudar ; dizia-lhe
elle com o seu reconhecido espirito:— Opportet
fez o meu honrado collega pelo Ceará, isto é, studuisse. (Apoiados e risadas.)
que em tal caso a opposição deveria reprovar
logo e logo o projecto. Não, esta consideração Uma Voz : — Para estudar-so um ponto dão-se
não é valiosa; a opposição está na opinião do 21 horas a um estudante, e então 3 dias não
que o projecto não foi apresentado regularmente, bastão ?
todavia não se fia nas suas proprias forças, de O Sr. Silveira da Motta : — Todas as razões
seja que seja a materia devidamente examinada, da necessidade do exame constituem uma arma
estudada pela commissão, pelas especialidades da geral das minorias a respeito de todas as ma
casa, que a camara reputa mais habilitados para terias. (Apoiados.)
o exame dessas materias. Feito este exame, de
monstrada a regul iridade com que o projecto foi ;e Agora quero responder aos nobres deputados
é por isso que tomei a palavra) sobre a par
apresentado, bem póde ser que' a opposição des te em que protendêrão excitar os nossos escru
ista das idéas em que está. Não é portanto desne pulos a respeito da competencia do senado para
cessario o exame quq se propõe. Voto pois a iniciar a discussão deste projecto, e nesta parte
favor do adiamento. tenho de referir-me em primeiro lugar ao nobre
O Sr. SlivoJn» da Molla : — Eu não deputado por Pernambuco, a quem ouvi contes
oceuparia ainda a attenção da camara com esta tar ao senado o direito de estabelecer certas
materia se acaso no correr da discussão não disposições que ha no projecto do banco nacio
tivesse a camarn ouvido algumas expressões nal a respeito do nvsmo banco, e ao nobre de
que podem ter causado alguma impressão nos putado pela provincia . que tombem represento,
espiritos escrupulosos a respeito da intelligencia que apresentou o mesmo escrupulo contestando
de uma disposição da constituição que so in ao senado a iniciativa para emprestimos. '
vocou.
Todos os argumentos produzidos pelos nobres daO opposição,
Sr. Araujo Lima : — Esse escrupulo á geral
deputados a favor do adiamento se reduzem
primeiro á necessidado geral do exame. Quanto O Sr. Silveira da Motta : — Refiro-mo espe
a esta parte, respondo aos nobres deputados cialmente aos oradores que escutei, e os quaes
que esta materia e objecto da curiosidade pu entendem que o projecto do banco não póde
blica ha muito tempo (apoiados), que tem sido conter, vindo do senado, disposições a respeito
discutida no senado, e que esta camara tem de isenção de sello e emprestimo.
acompanhado essa discussão com muita attenção; Senhores, parece-me que os nobres deputados
que todos nós, que temos tenção de tomar afoutárão-se a avançar uma proposição "desta
parte no debate, devemos ter feito os nossos ordem levados pelo ascendente de theorias que
estudos; se não os temos feito, os nossos es aliás ninguem contesta ; porque julgo que nin
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 241
guem nesta camara contesta o principio con O Sr. Silveira da Motta : — Não applica ren
stitucional da iniciativa da camara dos Srs. de da alguma. -
putados sobre impostos. Mas como se entende a O que ê da privativa competencia da camara
iniciativa da camara temporaria sobre impostos dos Srs. deputados é a iniciativa sobre estes
segundo o principio constitucional ? Entende-se tres pontos : impostos, recrutamentos, o escolha
sómente a respeito da creação e suppressão dos de nova dynastia ; e portanto não sei onde o
impostos (apoiados) ; e nisto vou mais além do nobre deputado foi achar que tenhamos iniciativa
que o nobre deputado por Minas, que entende privativa a respeito de emprestimos. Pelo contra
que ó sómente privativa desta camara sobre rio, o nobre deputado achará no art. lõ g 13
a iniciativa para a creação dos impostos. da constituição, que pertence ao poder legislativo
O Sr. Araujo Lima : — Então já a maioria autorisar ao governo para contrahir emprestimos ;
discorda. e por conseguinte e claro que os emprestimos
tanto podem ser iniciados no senado como na
Alouns Srs. Deputados : — Não ha discor camara dos Srs. deputados.
dancia. E o honrado membro , quando apresentou o
O Sr. Silveira da Motta : — Entendo que seu escrupulo a respeito dos emprestimos, se
essa guarda da fortuna publica foi entregue com referio ao modo de pagal-os ; e portanto ainda
muita sabedoria á camara temporaria pelns ra foi inexacta a sua observação. No projecto tra
zões que explicitamente expóz o nobre deputado ta-se unicamente de estabelecer as bases do res
por Pernambuco. Mae, senhores, no projecto que gate do papel-moeda ; mas, quando o governo im
se vai discutir não se crêa nem se supprime perial tiver de fazer o pagamento desse empres
impostos. timo, tem necessidade, não obstante a decretação
da lei do banco nacional, de vir pedir um cre
O Sr. Araujo Lima: — Ha isenção parcial. dito a esta camara.
O Sr. Silveira da Motta : — Nem ha isen • O Sr. Nebias : — Lêa o artigo ; se o projecto
ção ; porque, senhores, trata-se de organisar um passar, fica tudo determinado.
banco, e a respeito de creacões que não existem
ainda no paiz... O Sr. Silveira da Motta : — Já li, não fica
tal. No artigo o que se estabelece é o modo do
O Sr. Paula Baptista : — Já existem. resgate do papel-moeda ; mas não se applica im
O Sr. Silveira da Motta : — Não existem. posto especial para isto, e o gdverno fica intei
O Sr. Paula Baptista : — Temos bancos. ramente dependente de uma medida secundaria.
O Sr. Silveira da Motta : — Mas as isenções O Sr. Nebias : — Donde ha de sahir esse di
desses bancos já são reguladas por uma lei exis nheiro, essas apolices ?
tente ; e não se trata no projecto senão de O Sr. Silveira da Motta : — Dos cofres pu
fazer uma declaração a respeito das letras ou blicos.
bilhetes do banco que se vai crear. Não se O Sr. Nebias : — Ha de ser dos impostos?
crêa o imposto, nem. tão pouco se supprime
imposto algum ; porque, senhores, como pode O Sr. Silveira da Motta : — Quem os ha de
ria o senado supprimir um imposto a respeito crear, se fór necessario, será a camara des de
do uma cousa que não existe ? putados ; quem ha de dar o credilo para esse
pagamento será esta camara, mas por um acto
O Sr. Paula Baptista : — Existe o imposto posterior.
do sello. Portanto creio que os nobres deputados não
O Sr. Silveira da Motta : — Existe um im têm razão em seus escrupulos, nem quanto a
posto do sello, tuas não existe o imposto do iniciativa dos impostos, nem quanto aos empres
sello o respeito da nova creação contida no timos. Estas são as razões que me provocárão a
projecto. oceupar ainda. a attenção da casa sobre este as
O Sr. Bandeira de Mello : — De sorte que sumpto, e por isso, deixando de parte as outras
um sujeito que nasce agora póde deixar de pa razões geraes da necessidade do adiamento, he
gar impostos. de votar contra elle, porque não acho proceden
tes os argumentos em que se basêa. (Apoiados.-
O Sr. Nebias : — Esse argumento prova de Vozes : — Votos I Votos I
mais.
Julga-se a materia discutida, e o adiamento á
D Sr. Paula Baptista : — Existe a disposiçao Jo rejeitado.
que os bilhetes hão de pagar imposto. (Apoia A discussão do projecto fica adiada pela hora-
dos.)
O Sr. Silveira da Motta : — Senhores, se Designa-se a ordem do dia, e levanta-se "a ses
acaso se quer levar esta theoria até este ponto, são ás 2 V, horas da tarde.
então tambem o senado não póde crear serviços
publicos alguns que importem despezas, porque
não póde haver despeza autorisada e legal que Sessão em 18 de Junho
não seja paga por impostos, e portanto temos de
disputar ao senado o direito de legislar sobrea PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
creação de todos os serviços publicos. (Apoiados
e reclamações.) Summario.—Expediente.— Apresentação de pro
Isto é quanto ao escrupulo a respeito da crea jectos. —Ordem do dia.—Emolumentos pa.ro-
ção ou suppressão de impostos cuja iniciativa chiaes.—Creação de um banco nocional. Dis
pertence privativamente a esta camara ; mas cursos dos Srs. Bandeira de Mello e Viriato.
quanto a outra consideração feita pelo honrado
deputado pela provincia que tambem tenho a A's dez horas, feita a chamada, achuo-se pre
honra de reDresentar, ainda é menos procedente sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paulo Candido,
seu escrupulo. O nobre deputado fallou de um Aprigio, Ferraz, barão de Maroim, Luiz Araujo,
emprestimo, deu-nos a entender que o projecto Siqueira Qupiroz, conego Leal, Vieira de Mattos,
creava um emprestimo pela emissão o para res Fernandes Vieira, Paes Birreto , Mendes da
gate de papel... Costa, Miranda, Araujo Lima, Seára, Ferrreira
O Sr. Nebias : — Applica unia renda para o do Abreu, Cruz Machado, Paula Santos, Ribeiro
pagamento desse emprestimo. da Luz, Teixeira de Souza, Domingues. Raposo
tomo 2. 31
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
da Camara, Góes Siqueira, Almeida e Albu « A assembléa geral legislativa resolve :
querque, Livramento, Brusque, Theophilo, Ri s Artigo unico. Fica approvada a pensão an
beiro, Pimenta Magalhães, Vasconcellos , João nual concedida por decreto de 10 de Janeiro -do
Jacintho, Saraiva, Lindolpho, Paranaguá, Jordão, corrente anoo a D. Rita de Cassia da Concei
GouvÔa, Pereira da Silva, Candido Borges, Ma ção, correspondente ao meio soldo da patente de
cedo, Machado, Castello Branco, Silverio, Ca seu filho, o alferes de guardas nacionaes Ho
sado, Angelo Custodio, Rocha, Brandão, Dutra norio da Fonseca Feijó, morto em combate na
Rocha, Rego Barros e Belfort. cidade do Rio Pardo, devendo percebêl-a desde
Comparecem depois da chamada, os Srs. Horta, a data do sobredito decreto, revogadas para este
Assis Rocha, Fleury, Pereira, Jorgo, Zacharias, fim quaesquer disposições em contrario.
Henriques, vigario Silva, Baependy, Barreto Pe « Paço da camara dos deputados. 16 de Junho
droso, Bandeira do Mello, Evangelista Lobato, de 1853. — Gomes Ribiiro. — Mendonça Castello
Pacca, Nebias, Gomes Ribeiro, Monteiro de Bar Branco . » i
ros, Fiusa e Fausto.
Havendo numero legal, o Sr. presidente abre « Foi presente a commissão de pensões e or
a sessão ás onze horas menos dez minutos. denados o decreto de 10 do Setembro do anno
Lida, e approvada, a acta da antecedente, o proximo passado com os papeis que o acompa
Sr. 1.» secretario da conta do seguinte nhárão, pelo qual foi concedida a pensão an
nual de 240$ a D. Maria Angelica de Jesus,
EXPEDIENTE irmã do alferes do corpo policial da provincia
do Rio de Janeiro Antonio Ferreira do Jesus,
Um officio do Sr. ministro do imperio commu- visto que sendo a agraciada orphã de pai e
nicando já haver expedido as necessarias ordens mãi, estiva sua subsistencia a cargo daquelle
para que soja chamado o supplente que deve - sobredito irmão, que fallecêra no desempenho
Êreencher n vaga deixada pelo Sr. deputido de diversas diligencias de que o governo o en
. Francisco Balthazar da Silveira pela dispensa carregara na repiessão do trafico de africanos,
que lhe foi concedida.—Inteirada. em uma das quaes adquirio a enfermidade a
que suecumbio : esta circumstancia se acha com
Outro do mesmo enviando uma representação provada pela exposição que ao governo imperial
da camara municipal pedindo um auxilio pecu dirigira o vice-presidentu da provincia do Rio
niario para acudir a algumas necessidades ur de Janeiro, o qual aceresceata que este official
gentes do municipio, visto não ser sufficiente a morrera pobre deiyando na miseria sua referida
renda ordinaria.—A' commissão de camaras mu- irmã orphã de mãi e pai, que por muito hon
nicipaes. rado e zeloso fòra escolhido para aquella dili
Do Sr. ministro da guerra enviando as infor gencia, e resistira a todas as seducçoes com a
mações pedidas ácerca do requerimento do ex- maior honestidade.
tenente Norberto Alves Cavalcinti, em que pede «A commissão, posto que reconheça que esta
ser reintegrado no exercito.—A' quem fez a re mercê está fóra da regra geral e dos principios
quisição. que dovem vigorar para a concessão de graças
semelhantes, como sejão os casos de morte ou
APRESENTAÇÃO IiE PROJECTOS ferimentos graves em combate, comtudo, atten
dendo á importancia e gravidade dos fundam "tos
São lidos e julgados objectos de deliberação, que. dirigirão o governo imperial neste assumpto
e vão a imprimir para entrar na ordem dos tra e á conveniencia de premiar aq .elles que não
balhos, os seguintes projectos : poupão sacrificios para pór termo a um com-
« Foi presente á commissão de constituição o mercio tão illicito como immoral, pira cujo exter
requeriment i documentado de João Baptista minio muito espera a commissão da perseverante
Alves Ferreira, subdito de S. M. Fidelissima, vontade do governo imperial, se apress i a uffe-
estabelecido em Mangaratiba, provincia do Rio recer a resolução seguinte :
de Janeiro, no qual pede dispensa do lapso de « A assembléa geral legislativa resolve :
tempo que lhe falta para nataralisar-se cidadão
brazileiro. « Art. unica. Fica approvada a pensão annual
de 240$ concedida por decreto de 16 de Setem
« A commissão de constituição, attendendo aos bro do anno passado a D. Maria Angelica de
documentos com que se acha instruida essa pe Jesus, orphã do pai e mnl, em remuneração dos
tição, e concessões cm identicas circumstancias valiosos serviços prestados na repressão do tra
decretadas, é de parecer que se adopte o se fico de africanos por seu irmão o alferes do
guinte, projecto de resolução. corpo policial da provincia do Rio de Janeiro
« A assembléa geral legislativa resolve : Antonio Ferreira de Jesus, que fallecêra de mo
« Artigo unico. O governo é autorisado a con lestia adquirida no desempenho desta commissão :
ceder carta de naturalisação do cidadão brazileiro revogadas para esto fim quaesquer disposições em
ao subdito portugnez João Baptista Alves Fer contrario.
reira, dispensado o lapso de tempo exigido na « Paço da camara dos deputados, 16 de Junho
lei do 23 de Outubro de 1832. de 1853. — Gomes Ribeiro. — Mendonça Castello
« Paço da camara dos deputados, 18 de Junho Branco.»
de 1853.—F. D. Pereira de Vasconcellos.—J. A.
de Miranda.—J. C. Bandeira de Mello. » « A commissão de pensões e ordenados, exa
minando attentamente o decreto imperial de 28
« A commissão de pensões e ordenados, exa de Maio ultimo com os competentes documentos,
minando os papeis que acompanhárão o decreto feio qual se fez mercê ao religioso carmelita frei
do governo datado de 10 de Janeiro proximo osé dos Santos Innocentes da pensão annual
passaio, pelo qual foi concedido a D. Rita de do 400$ em remuneração dos serviços relevantes
Cassia da Conceição a pensão annual corres que pelo seu ministerio tom ha longos annos
pondente ao meio soldo da patente de seu fal- prestado, e continua a prestar na provincia do
lecido filho, o alferes de guardas nacionaes Ho Alto-Amazenas, de que lhe tem resultado moles
norio da Fonseca Feijó, morto em combate na tias graves o incuraveis, é_ de parecer que seja
cidade do Rio Pardo, é de parecer que seja approvada a referida pensao de 400$, porquanto
approvada a referida pensão, para o que offe- vê-so das informações do vice-presidente e vi
rece a resolução seguinte : gario geral ser verdade tudo quanto allega o
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 243
Eev. supplicanto Agraciado,' isto é, que ha longos ção que a supplicante entende não ser-lhe appli-
annos é o unico sacerdote que se tem achado cavel, pois não é companhia incorporada por
á testa de todas as freguezias do Alto Rio-Negro concessão do governo, ou por contracto do go
em lugares doentios, supperando todas as difi verno, em que se tivesse estipulado a obrigação
culdades, que grandemente têm concorrido para de pagamento de algum imposto ou interesse á
ficar quasi iuhabilitado, como se acha presente fazenda publica, sendo pelo contrario a compa
mente; que seus serviços forão 'prestados com nhia supplicante do numero das que se fundárão
zelo e actividade, alguns dos quaes são os mais em terras de sua propriedade sem dependencia
relevantes que pelo seu ministerio se podem de autorisação do governo, ou de alguma outra
prestar no meio dos gentios e de um povo sel obrigação que não fosse a da legislação mlativa
vagem ; que o estado inorboso do peticionario é á mineração, nos termos do decreto de 27 de Ja
veridico, mas que não o impede de servir ainda neiro de 1829.
nas igrejas do Rio Negro. « O governo, como se vê do of£c.io do ministro
« Em sua petição allega o Rev. supplicante que da fazenda de 11 do corrente, tendo achado de
nenhnns vencimentos tem, senão os que lhe equidade a pretenção da companhia, todavia he
provêm do serviço interno de vigario ; que ó sitou de lhe deferir, por não parecer bem defi
prégador imperial ; que ha mais de 10 annos nida a mente da citada lei de 1848, na parte
soffre as molestias adquiridas; que de tempos relativa a companhias do mineração , julgando
em tempos o inhabilitão para todo o serviço ; necessaria uma interpretação, pelo que remetteu
que ha 28 annos se entregou á vida parochial, h petição ao corpo legislativo.
não se recusando a trabalho algum ; que fóra « A commissão de fazenda entande que a com
missionario em 1836 no rio Pacajá, por ordem panhia de Macaúba e Cocaes está bem compre -
do presidente, que subira pelo dito rio até ás heudida na regra geral do art. 32 da lei de 28
suas nascentes, através de immensas cachoeiras de Outubro de 1848, e por isso a isenta do im
e furor dos indios bravios ainda não communi- posto de 5 % do ouro extrahido de suas minas,
cados. visto que nunca pagou , nem podia pagar , em
« Mostra haver servido por diversas vezes de virtude da estipulação especial, mas pela dispo
missionario em differentes lugares e épocas, e sição da lei, que impunha esse onus á minera
encommendado em todas as freguezias do Rio ção do ouro em pó; o tanto ó assim, que a com
Negro. Menciona a commissão que lhe fóra con panhia tendo solicitado do governo imperial
fiada pelo presidente do Pará para missionar licença para poder exercer sua industria , por
no Pixarará, no Rio Branco, pelo que merecêra aviso de 22 de Setembro de 1829 se declarou
um aviso do governo imperial de 7 de Julho ue ella não precisava de autorisação ou licença,
de 1843 agradecendo-lhe. vista do decreto de 27 de Janeiro do mesmo
« Mostra além de tudo isto» haver coadjuvado anno.
gratuitamente ós reparos do forte de S. Joaquim « Ora , o decreto reconheceu que os subditos
no Rio Branco, e do hospital de S. Vicente na do imperio não precisavão de autorisação para
Barra; que se acha servindo ainda de vigario po lerem emprehender a mineração nas terras de
de todas as freguezias do Rio Negro, infestadas sua propriedado ,por meio de companhias de so-
de febres, percorrendo-as, não obstante suas en cius nacionaes e estrangeiros, ficando sujeitos ás
fermidades, lev.mdo seu sacrifício ao ponto de leis do imperio o obrigados a pagar os impostos
visitar o rio Ipana, onde não consta ter ido nestas declarados, ou que para o futuro se de
sacerdote algum, attrahindo como d? facto attrahio terminassem.
os- indigenas para terem relações commerciaes « O imposto que vigorava quando ioi publi
com os habitantes da fronteira de Marabinas, cada a lei de 28 de Outubro de 1818 era o de 5 %,
ondo em 1850 benzeu a reconstruida igreja matriz, abolido pelo art. 32, e as disposições da lei co-
e a igreja nova do rio Xié. Allega serviços pres meçárão a ser execução desde a sua publicação,
tados nas desordens ultimas do Pará, e final na conformidade do art. 35.
mente o zelo e submissão com que tem sempre « Por conseguinte a companhia supplicante não
servido. Todas estas allegações se achão com devia pagal-o desde que a lei foi publicada, e é
provadas por documentos authenticos acerca dos de justiça a restituição que requer.
quaes fallou favoravelmente o desembargador pro
curado da coróa ; é portanto a commissão de « E para que se torne effectiva, é a commis
parecer que seja approvada a seguinte resolução, são de fazenda de parecer que se adopte a seguinte
que submette á consideração da camara: resolução :
« A assembléa geral legislativa resolve : « A assembléa geral legislativa resolve :
. o Artigo unico. Fica approvada a pensão annual « Artigo unico. O art. 33 da lei de 28 de Ou
de 400$ concedida por decreto de 28 de Maio tubro de 1848 isenta do imposto de 5 % o ouro
deste anno ao religioso carmelita frei José dos em pó extrahido pelas companhias de minera
Santos Innocentes em .remuneração de seus ser ção ; e a. excepção que faz o mesmo artigo na
viços. prestados no Alto Amazonas, onde adquirio parte segunda só diz respeito ás companhias que
molestias graves e incuraveis ; revogadas para por concessões especiaes feitas pelo governo, ou
este fim quaesquer disposições em contrario. por contractos com este celebrados , estejáo su
jeitas a pagar alguma imposição pela sua mi
« Paço da camara dos deputados, lã de Junho neração.
de 1853.— Gomes Ribeiro. — Mendonça Castello « Paço da camara dos deputados, 17 de Junho
Branco. o de 1853.—F. A. Ribeiro.—Lisboa Serra. »
« Foi presente á commissão de fazenda o reque E' approvada sem debate a redacção de varias
rimento da companhia de mineração estabele resoluções.
cida na provincia de Minas-Geraes denominada Entra 'em discussão a redacção da resolução
de Macaubas e Cocaes, pedindo a restituição dos a respeito da pretenção de Thomaz Pereira
direitos de 5 % que pagou depois da publicação Jeremoabo.
da lei de 2i de Outubro de 1848, visto como
está no art. 32 isentou desse onus o ouro em O Sr. Teixeira de Macedo i—O pro
pó, o salvo o extrahido pelas companhias de mi jecto que se acha sobre a mesa parece-me que
neração que se achassem incorporadas em vir contém uma especie de absurdo quando se
tude das concessões especiaes ou contractos cujas diz... (U.)
condições continuarião a ser observadas; » excep E' nesta palavra—juizo—que a commissão en
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DÉ 1853
244
tendeu que havia um manifesto absurdo, por fazendeiros do norte as cópias desses contractos
que o que se quer é fazer um beneficio ao Sr. para ver se lhes aproveitão tambem.
Jeremoabo concedendo-se-lhe um prazo mais O Sr. Visconde de Baependy. — Eu já deiao
longo para os pagamentos a que esta obrigado Sr. deputado as cópias de contractos que me
á fazenda nacional. pedio.
Ora, se o devedor não póde ser obrigado a O Sr. Gomes Ribeino: — E' verdade, mas elles
pagar a sua divida no espaço de 10 annos, en são sobro o fabrico do café, que é quasi exclu
tendo que é inteiramente desnecessaria a pala sivo da provincia do Rio de Janeiro e Minas, e
vra juizo, porque ó innegavel que autoridade mesmo os contractos sobre o fabrico do café,
alguma o poderá constranger a fazer o paga segundo o que mo consta, são muito diflerentes
mento. dos do fabrico do assucar.
Por outra parte mé parece, o á commissão E' pois isto o que desejo conseguir por via do
tambem, que a intenção da camara não é a que requerimento, que mo parece que deve ser appro-
está exarada na resolução ; a intenção foi fazer vauo, porque õ de utilidado publica.
ao Sr. Jeremoabo um beneficio que dependia do O Sr. Wanderlev manda á mesa a seguinte
poder legislativo ; porém conservando-se a pala
vra juizo, não era favor dependente do poder emenda, que é apoiada e entra em discussão:
legislativo. O que o poder executivo não podia « Em vez das palavras—que se recommende, etc.
fazer, e que depende de uma resolução legisla —diga-se—que se pergunte ao governo se existem
tiva, era dispensal-o do juro pela demora do pa na secretaria cópias dos contractos, etc, e se tém
gamento. sido remettidas aos presidentes de provincia, etc.
Portanto a intenção da camara não está ainda —O mais como no requerimento.»
satisfeita conservando-se a palavra juizo. Vou E' approvado o requerimento do Sr. Gomes
pois em nome da commrssão de reducção offe- Ribeiro e a emenda do Sr. Wanderley.
recer uma emenda para que em vez da: palavra
—juizo — se diga— juro. emolumentos panochiaes
Assim será um verdadeiro beneficio concedido
ao Sr. 'Jeremoabo em consequencia dos melho Entra em 3* discussão a resolução n. 33 deste
ramentos que tem introduzido no fabrico do as- auno, sobre emolumentos parochiaes.
sucar. Mando á mesa a emenda.
E' apoiada, entra em discussão e é approvada O Sr. Paranaguá: — Pedi a palavra unica-
sem debate. mento para rogar a V. Ex. que mande ler a
advertencia ao r. 4 do' tit. 1° que se manda
O Sr. Ferrar.: — Sr. presidente, tenho de supprimir, afim do sabermos o que votamos ; '
fazer uma reclamação ãcerca de um aparte meu mesmo porque a tabella creio que ainda não foi
que vem publicado no Jornal do Commercio, e lida na casa, e por isso não me acho habilitado
que eu entendo que não deve passar sem recti para dar o meu voto com conhecimento de causa.
ficação. O Sr. Presidente: — A' tabella não existo na
Quando em uma das sessões passadas orava
o Sr. Lisboa Serra disse que o credito depen secretaria da casa.
dia dos governos ; eu disse-lhe em um aparte O Sr. Paranaouá : — Sr. presidente, a materia
que o credito particular não dependia do governo, me parece grave. O projecto acha-se em terceira
mas no Jornal sahio : « a propriedade não de discussão, já foi approvado em primeira e se
pende do governo.» gunda, e para que nós possamos dar um voto
Lê-se o seguinte requerimento do Sr. Gomes consciencioso, e tomemos uma decisão acertada,
entendo que não podemos prescindir da tabella
Ribeiro :
«Requeiro que se recommende ao governo haja para approvarmos o projecto.
O que vamos fazer é nada menos do que
de remetter aos presidentes das provincias có lançar um imposto sobre a população, e por
pias dos contractos de parceria com colonos isso convém que se generaliso o conhecimento
para o fabrico de assucar, afim de que se lhes da tabella.
dê a devida publicidade e cheguem ao conheci Mando pois á mesa o seguinte requerimento
mento de todos. » (Reclamações.) do adiamento.
O Sr. Gomes Ribeiro: — Sr. presidente, 1 Requeiro que seja adiado o projecto até ser
fiz este requerimento porque na provincia das presente á casa a tabella a que o mesmo so
Alagoas se deseja obter cópia desses contractos refere, sendo impressa no Jornal do Commercio .
que aqui se tém celebrado de parceria com os
colonos a respeito do fabrico do assucar e café. —Paranaguá.»
E' apoiado e entra ein discussão.
No norte o que se deseja é unicamente os
contractos ácerca do fabrico do assucar, porque O Sr. Corrêa das Novos: — Sr. presi-
é o que mais produz naquellas provincias, e os dento, não posso votar polo adiamento proposto
seus fazendeiros desejão ter conhecitnonto desses pelo nobre „deputado, porque vejo que este pa
contractos para ver se lhes são convenientes, ou recer, que foi assignado por nós, membros actuaes
mesmo para delles terem conhecimento. da commissáo dos negocios ecclesiasticos, já tinha
Tenho procurado obter cópia desses contractos, sido apresentado a esta camara pela commissão
te^iho mesmo fallado avarias pessoas que se achão que nos antecedeu, e já tinha sido por duas
presentes, porém não me tem sido possivel con- vezes discutido. Nessa occasião sem duvida appa-
seguil os: e por isso desejava que so satisfizes receu a tabella... „
sem os agricultores do norte, porque nem todos O Sr. Paranaou.1 : — Eu não a vi.
têm conhecimento do como se fazem os contra
ctos ou de como isto se passa. (Apoiados.) O Sr. Corrêa das Neves: — Tenha paciencia o
Não ha nada mais obvio do que o governo meu nobre eollega, que eu já toco ahi. Nessa
remetter cópia aos presidentes das provincias do occasião, repito, appareceu sem duvida a tabella
norte para que elles os fação publicar nas suas que foi vista não só pelos membros da com
provincias. missão que nos antecedêrão, como pela camara
Eis-aqui o que eu desejo conseguir apresentando queDizemapprovou em duas discussões esse parecer.
os meus nobres collegas : « nós não
o meu requerimento ; e se file não está redigido vimos a tabella, portanto não podemos votar por
de fórma que possa ser approvado, einendem-o, cila; » mas permittão-me que lhes diga que a
porque o que cu quero é que se remettão aos
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 2Í5
tabella não existe no archivo da camara, mas sata, já que tomos todos os dados para julgar
deve existir na secretaria da justiça... que ella é justa, razoavel e sensata. E' justa,
O Sr. Paranaouá : — Mas não devemos votar porque foi apresentada polo bispo diocesano,
qa fé dos padrinhos* cujo caracter exclue qualquer duvida ; e é ra
zoavel o sensata, porque já passou em duas
O Sr. Corrêa das Neves: — Diz o nobre de discussões nesta camara.
putado que não devemos votar na fé dos padri A paralysia ou syneope, como quer o nobre
nhos. Seria a observação valiosa se eu houvesse deputado, ó prejudicial, porque a tabella já está
de votar sempre por consciencia propria, o assim em execução. Mas, senhores, o Exm. bispo dio
como o nobre deputado... cesano de Pernambuco, vendo a irregularidade
O Sr. Parananuá : — Eu procuro sempre escla- com que na sua diocese erão arrecadados os
recer-me sobre as materias. benesses parochiaes, irregularidade toda preju
O Sr. Corrêa das Neves : — Pois somente dicial á população, pirque qualquer vigario
porque o negocio ó ecclesiastico é que o nobre tinha sua maneira de cobrar, sua tabella espe
deputado não póde votar pela fé dos padrinhos, cial, irregularidado que segundo ma informão,
quando nós todos temos uma fé tão robusta, não se dá em quasi todas as freguezias de todos os
só no que vemos por nós mesmos, como no que bispados do imperio (apoiados), tratou de apre
vêm ás vezes os padrinhos ? sentar um regulamento e uma tabélla para a
cobrança desses benesses ; e foi mui acertada
Senhores, nós passamos uma grande parte da essa sua deliberação, porque o povo ficou livre
nossa vida na fé ; e posso eu ser censurado, do arbitrio, algumas vezes exagerado, dos pa-
póde o nobre doputado ser censurado por prestar rochos, alguns dos quae-i, esquecidos «los seus
íó a opinião da camara transacta, cuja maioria deveres, esquecidos dos principios de caridade,
compõe a actual, que approvou este parecer ja tratavão de
em duas discussões, e que o approvou porque
o julgou sensito, porque vio que elle versava O Sr. Góes Siqueira :—Esfollar as evelhas.
sobre uma tabella feita pelo Exm. bispo dioce O Sr. ConRê\ das Neves :—Tem muita appli-
sano de Pernambuco, e revista pela nobre com- cação esso pensamento ; tratavão de esfollar .is
missão ? (Apoiados.) ovelhas. E se pois o Exm. bispo de Pernambuco
O Sr. Paranaouá : — Reservão-se talvez para teve o bom senso de apresentar essa tabelia
discutir melhor em terceira discussão. regularisando os benesses parochiaes, tabella
O Sr. Corrêa das Neves : — Permitta-me o que já está em execução, por que motivo ha
nobre deputado que não ache muito a proposito vemos de retardar sua approvação, havemos
este seu aparte. lançar n'uma syneope o parecer que autorisa a
execução desse regulamento ?
O Sr. Paranaouá : — Não primo em apartes. Um Sr. Deputado : — Pòde entrar segunda-feira
(Risa4as .) em discussão.
O Sr. Corrêa das Neves :—Tambem não quero O Sr. Corrêa das Neves:— Diz o nobre de-
roubar-lhe esta bella qualidade. Parece-me que, bro deputado com a melhor boa té conhecida,
podendo-se na primeira e segunda discussão elu que o parecer póde entrar segunda-feira em dis
cidar com precisão e scientificamente uma ma- cussão ; mas que dados tem o nobre deputado
terin, ninguem se reservará para tirar duvidas para asseverar isso?
na terceira discussão, e para pedir este ou feO Sr. Saraiva : — Votamos pelo parecer, mas
aquelle esclarecimento sobre a materia depois
de se ter roubado tempo a camara com a pri queremos ver a tabella.
meira e segunda discussão. Mas esta não é o O Sr. Corrêa das Neves : — Para que quer o
questão que me occupa. nobre deputado ver a tabella, se já tem seu
Disse o meu nobre collega que não podemos juizo formado, se já hypotheca seu voto ao pa
dar um voto consciencioso e acertado sem ter recer? Se só quer ver a tabella por simples es
mos presente a tabella, o que por isso elle pro- timulo de curiosidade, comprometto-me a apre-
puzera o adiamento até que ella fosse remeítida sental-a depois que o parecer fór approvado.
a camara. O Sr. Saraiva: —Para ver se é possivel tornal-a
Mas, senhores, eu desconfio desse adiamento, extensiva a outros bispados.
e so desconfio, certamente é porque os nobres O Sr. Corrêa das Neves:— Isso ó um so-
deputados me têm ensinado a desconfiar delles.- phisma legislativo, um dos sophismas muito em
Sou principiante na carreira parlamentar ; mas vota nesta camara, é o tal sophisma das medi
quasi t idos os dias, quando se apresenta qunl- das geraes, e irmão daquelle outro das medidas
.quer adiamento, ouço immediatamente dizer : radicaes. Todas as vezes que se apresenta nesta
« E' um projecticidio. » Pois se os nobres de casa uma medida que tende a reparar um de
putados são os que mo têm feito temer dessa feito da legislação, a prevenir um caso omisso,
maneira de matar suave e naturalmente os ne a melhorar uma disposição, diz-so logo : « A
gocios ás vezes os mais importantes, como que medida é boa, mas não é radical ; » o o caso é
rem que eu seja tão facil em acceder a que seja que não se vota a medida parcial o nem appa-
adiado um negocio que julgo de tanta conside reco a tal medida radical. Apresenta-se uma
ração ? outra medida : « E' muito boíla na especiali
O Sr. Saraiva : —Essa adiamento não é uma dade, mas deve-se tomar uma medida geral ; »
morte. e nem esta nem aquella passão. São pois dous
O Sr. Paranaouá :—E' pelo contrario vida sophismas parlamentares, irmãos no meu enten
der; e se nós, quando apresentamos medidas espe-
O Sr. Corrêa das Neves :— O pensamento de ciaes, medidas parciaes, nada fazemos por causa
que os .adiamentos são projecticidios não é meu, dos taes sophismas, o que direi quando se apre
não me quero apropriar de sua paternidade , sentarem as medidas radicaes, as medidas geraes,
que pertence d camara toda ; mas, ainda quando que sempre encontrão milhares de embaraços ?
esse adiamento não fosse uma morto, ainda quando E até da parte daquelles que não julgarem tão
fosse uma syneopo bu paralysia, como mo lem geraes tão radicaes como quererião?
brado nobre deputado, pergunto: qual a conve Disse o nobre deputado : « Desejo ver a ta
niencia que deite resulta? Nenhuma. So ó para bella, para ver se póde sor applicada a todos
que votemos com consciencioa, se ó para os bispados do imperio ; » mas, pergunto, o no
que votemos uma tabelia justa, razoavel o sen bre deputado poderá fazer essa explicação ?
246 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Saraiva : — Póde haver propostas de contra elle, npezar .do pensamento do nobre
outros bispos. deputado.
O Sr. Corrêa das Neves : — Logo, segunda- O Sr. Saraiva : — Peço a palavra.
feira não póde entrar em discussão o parecer. O Sr. Presidente :— Esta Hiscussão fica adiada»
O Sr. P. de Campos : — E o que tem o bispado
de Pernambuco com os outros bispados' CREAÇÃO DE UM BANCO NACIONAL
O Sr. Corrêa das Neves: — O meú nobre Entra em 2° discussão o art. 1« do projecto
amigo, collega e companheiro pergunte isso aos r. 23 deste anno, vindo do senado, creando um
que me dão os apartes. banco nacional.
O Sr. P. de Campos:—E' a elles mesmo que per O Sr. Bandeira de Mello : —Peço a palavra.
gunto ; estou ajudando.
O Sr. Corrêa das Neves:— Como estava vol O Sr. Presidente:—Tem a palavra o Sr. Ban
tado para mim, julguei que a sua pergunta me deira de Mello. Mas agora lembro-me que o
era dirigida. ultimo orador que faltou .sobre esta materia foi
contra, por isso que apresentou um adiamento ;
- O Sr. Paranaouá: — Eu sou o menos exigente, por tanto deve seguir-se o Sr. Viriato.
porque contento-me com ver e examinar a tabella. O Sr. Viriats : — Peço licença a V. Ex. para
O Sr. Corrêa das Neves : — Mas o mesmo di fali ar depois do nobre deputado, por isso que
reito que tem o nobre deputado de pedir pouco o Sr. Araujo Lima limitou-se a apresentar o
tém os outros de pedir muito ; e por isso digo adiamento.
que este adiamento é um projecticidio, porque O Sr. Presidente : — O Sr. Araujo Lima se
e nobre deputado contentase em ver a tabella, havia inscripto centra o projecto.; e ao nobre
outro quer fazel-a extensiva a todo o imperio, deputado que se inscreveu logo depois a favor é
outro quererá ouvir os bispos a respeito delia, que agora cabe a palavra, segundo o regimento.
e assim nunca será approvada. Se desiste, ó outro caso.
O Sr. Paranaouá:—Poisdê uma idéa da tabella. O Sr. Viriato:—Bem, desisto.
O Sr. Corrêa das Neves : — Oh I senhores, O Srv. Bandeira de Mello:—Sr. presi
pois julga o nobre deputado que não me occupo dente, eu hontein pugnei pelo adiamento que
com cousas mais sérias do que decorar uma foi proposto pelo meu nobre amigo, deputado
tabella de emolumentos parochiaes, eu que nunca pelo Ceará, e tive toda a razão, maximo com
fui vigario ?
relação a mim proprio, de votar por esse adia
O Sr. Paranaouá : — Acho um negocio muito mento, sentia me pouco habilitado para entrar
sério. nesta discussão, queria tempo para esclarecer-me;
O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, deve - a camara, porém, entendeu em sua sabedoria
mos attender a que essa tabeliã já está em exe que devêra não assentir ao adiamento : em con-
cução em grande parte das freguezias do bis squencia pois deu-me um direito especial á sua
pado de Pernambuco; e que, so inales existião indulgencia para desculpar quaesquer erros que
antes do Exm. bispo ter uniformisado a cobrança eu possa commetter sobre o importantissimo
dos benesses nas differentes pirochias, esses objecto que vamos discutir.
males não estão inteiramente sanados com essa Quizera antes de tudo, senhores saber, se "o
tabella, por isso que ella ainda não recebeu a projecto que discutimos é aquelle a que alludid
sancção do poder legislativo, e algumas pessoas a falia do throno. O banco que esta recom-
duvidão pagar por ella por ainda não ter o menda, diz a mesma falia, é destinado a auxi
caracter de lei que devêra. liar a industria e ao commercio ; no entretanto
O Sr. P. de Campos :— E' verdade que tem en que o banco do projecto que discutimos, não
contrado duvidas por essa causa. só poder-se-ha dirigir a esse fim, como prin
cipalmente tende a melhorar o nosso meio cir
O Sr. Cobbêa das Neves : — Se tomos visto culante, idéa esta muito cardeal, muito impor
(ssa difficuldade com que tem lutado o Exm. bispo tante, que sem duvida não está contida no pen
de Pernambuco, porque razão havemos de re samento emittido pela coroa.
tardar essa medida, que vai utilisar aquella parte Se este projecto é o mesmo a que a falia do
de cidadãos brazileiros somente porque que throno se refere, então me parece que o tra
remos generalisal-a ? mite pelo que elle nos foi apresentado não é
Senhores, estou convencido de que, approvada regular, como hontem aqui se ponderou ; o pen
essa tabella para o bispido de Pernambuco, os samento da coroa não póde ser considerado pelo
demais bispos reconhecerão sua conveniencia e corpo legislativo senão chegando directamente á
farão iguaes propostas ao poder legislativo, não camara dos deputados.' Assim, pois, eu não sei
tanto para tornar a do bispado de Pernambuco se devemos esperar ainda alguma proposta do
vigente nos seus bispados, porque é mister notar poder executivo sobre este objecto ; cuido que
que o povo de todos os bispados não póde não a teremos mais, porém pergunto eu : é isto
pagar igualmente, visto que ha provincias ni regular ? E' isto conforme ao preceito consti
miamente pobres que não podem sujoitar-se por tucional ?
uma tabella igual a essa ; como pira tornir os Feitas estas considerações, Sr. presidente, en
benesses iguaes em todas as parochias de seus trarei em materia. Trata-sa de um grande es
respectivos bispados. Daqui tambem vê a camara tabelecimento de credito. Não é possivel negar
que não ó possivel que essa tabella de Per os beneficios que estabelecimentos desta ordem
nambuco seja applicada indistinctamente a todos costumão produzir a bem do commercio e da
os bispados. Estou bem convencido de que ao industria : elles, como todos sabem, tendem a
bispado do Rio-Grande do Sul não se póde reunir os capitaes, a dar-lhes vida, actividade
applicar essa tabella feita para o bispado de e elasterio. Os capitaes que se achavão inacti
Pernambuco, é mister que para alli se tação as vos, dormentes nas caixas dos negociantes, ou
necessarias modificações. de qualquer individne, por falta de industria ou
Se, pois, não ó possivel gencralisar essa tabella, por outras circumstancias, vão aos bancos agglo-
se grandes inconvenientes podem provir, como merar-se, e os bancos por meio das suas ope
têm provindo, do retardamento de sua approvação, rações dão-lhes emprego e movimento, e com
e se nenhuma utilidade resulta do adiamento este movimento lucros aos respectivos proprie
dessa approvação, não posso deixar de votae tarios. O negociante, o ompresaaio que na au
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 247
sencia de instituições de credito teriiio necessi mesmo gmero. Depois os privilegios de que eles
dade de guardar em seus cofres avultadas som mas é revestido attrahirão á si todos os capitaes
em pura perda, só ^ira fazer face ao desem disponiveis , serão causa de uma decidida prefe
penho de seus compromissos , ao vencimento rencia, e essa preferencia afastará a possibili
de seus debitos, libertão-se dessa necessidade, dade de organisar no paiz nenhuma outra*' in
entregão ao giro do banco os capitaes que, a stituição, que possa rivalisar com o banco pro
sua industria ou comauercio não reclamão, ou jectado.
dá maior desenvolvimento, maior expansão ás Os privilegios, Sr. presidente, d» que o banco
operações do seu proprio commercio ; e auferem que se pretende incorporar é revestido, não são
assim lucros que não t não em circumstancias extraordinarios ; eu chamarei ao depois a atten
contrarias. ção da, camara sobre cada um delles ; entretanto
Se, porém, em lugar dessas sobras de capi enumeremol-os desde já . 1°, privilegio ou dura
taes, elles sentem mingua, f mil lhes é, com as ção por 30 annos ; 2°, recebimento das suas notas
letras de seus devedores, que têm em suas car nas estações publicas; 3°, fiança aos empresti
teiras, obter dos bancos, por meio do desconto, mos de dez m\l contos que o banco tiver de
as sommas que possão reclamar as operações ou fazer ; 4°, caixas filiaes nas provincias para dar
especulações a que por ventura se queiráo aven sabida a seus effeitos de credito ; 5°, faculdade
turar. E' fóra, pois de duvida que são de grande de emittir bilhetes até a importancia minima de
vantagem semelhantes estabelecimentos; elles 10$ nas provincias; B°, isenção do imposto do
são combinações engenhosos que têm por fim sello ; 7°, augmento de emissão, quando o governo
fazer passar a mãos de homens que os fazem houver por bem permittir.
fructificar em proveito de todos, os capitaes, A' vista dos privilegios especiaes de que o banco
que sem isto permanecerião improductivos , ou de que trata o projecto é dotado , poder-se-ha
terião um emprego menos fructuoso on menos esperar que alguma outra instituição bancai se
proprio a favorecer a diffusão do beneficio e estabeleça a par desta? Julgo que não Se piis,v
prosperidade geral ; são na phrase de Pecquer, á vista disto, devemos desesperar da pluralidade
a arte de dar circulação às utilidades por meio de bancos entre nós, consideremos este estado
do credito ; mos o que é credito ? de cousas unitario. O primeiro inconveniente,
O credito é o caminho de ferro dos capitaes, Sr. presidente, que se me antolha na creação de
e mesmo os caminhos do ferro não prestarião banco unico, de um banco assim privilegiado, é
os serviços que effectivamente prestão, nem rea o risco que corre o credito desse mesmo banco.
lisarião as vantagens que effoclivamente ottere- Um banco que tem em torno de si outros ban
cem, se não fossem as instituições de credito, cos zela mais o seu credito (apoiados), porque
porque e-.tas instituições , multiplicando prodi esses outros bancos são interessados em fisca-
giosamente os escambos ou trocas, determinão lisal-o, em observar o seu andamento. A certeza
consequentemente a circulação frequente, o mo que um banco tem de que outros o espião , o
vimento, por assim dizer, instantaneo dos ho observão, o contém na sua marcha, obriga-o a
mens e das mercadorias, movimento sem o qual dar uma -direcção sempre prudente, sempre cal
os caminhos de forro serião como sem objecto, culada ás suas operaçoes ; achando-se porém só,
e por isso diz o mesmo autor que os caminhos descuida-se, relaxa-se, e então póde o seu credito
de ferro presuppoem a existencia e extensão dos perigar.
estabelecimentos de credito. - Muitas vezes quem nos faz o maior bem é
A sociedade, Sr. presidente, considerada debaixo quem nos deseja fazer o maior mal . é o nosso
de vista economica, não é senão uma instituição adversario que notando os nossos defeitos, adverte-
de trocas ; por conseguinte á proporção que as nos que esses defeitos não estavão tão escondi
trocas, que as transacções se multiplicarem , dos, tão occultos como pensavamos, e então o
maiores vantagens virão ã sociedade ; os seus resultado é que nós desenganados do mysterio,
commodos sem duvida augmentaráõ ; mas como vendo que este mysterio não existe, olhamos
sómente o credito tem forças para accelerar para nós, observamo-nos, e emendamos os nossos
semelhantes trocas e transacções, é claro que o passos. Ora, a ausencia desse adversario , desse
credito é uma poderosa alavanca de riquezas, rival, é sem duvida para o banco projectado um
um poderoso elemento de propriedade para qual perigo que conviria evitar a bem do seu pro
quer sociedade. Estas considerações, Sr. presi prio credito ; nesso isolamento, nessa falta de fis-
dente, são obvias, cu poderia dispensar-me de calisação de contraste que procede da concur-
apresentai- as, e quasi que me arrependo de o renciu, elle adquire, por anticipação, digamos
nao ter feito. , assim o monopolio da banca-rota. (Oh.' oh.') E'
Mas, senhores, se as instituições de créditos o monopolio de banca-rota que ha de vir desse
são um efficaz poderoso instrumento para a descredito provavel, imminente, achando-S) o
prosperidade de um estado, tambem e um agente banco sem coucurrentes. Eis porque a concur-
poderosissimo para o mal. Convém por isso que rencia é um grande principio I Salva a todos,
reflictamos muito sobre a medida que vamos espalhando os seus benificios ainda sobre aquel-
tomar; ella é de uma alta importancia. Não les que o desconhecem.
nos illudumos sómente com as vantagens que Vamos a outra consideração : refere-se ao cre
os estabelecimentos de credito, que as institui dito individual. Quando ha muitos bancos, o
ções bancaes podem produzir, lembremo-nos tam negociante que não tem credito ante um banco
bem de muitos moles que podem acarretar á so recorre a outro ; se os directores de um banco
ciedade, quando não são firmadas sobre os seus ajuizão mal dos seus recursos, dos seus meios
verdadeiros alicerces, sobre os principios que a de pagamento , e ajuizão mal , talvez par des
pratica e a sciencia recommendao como essen- peito, talvez por intrigas, talvez por filta de
ciaes á constituição desses estabelecimentos. informações , elle não fica perdido , dirige-se a
Entremos agora, Sr. presidente, com mais es outro banco, e póde ahi salvar, a sua? honra
pecialidade no exame do projecto. Nelle se au- mercantil ; as suas letras serão descontadas, a
toriia ao governo incorporar um banco com as sua firma não ficará infamada, terá recurso na
condições no mesmo prescriptas. Tendo attenção pluralidade dos bancos do seu paiz. Mas um
a estas condições, vejo que este banco será um banco só... elle terá tambem o monopolio do
banco único no nosso paiz : será um banco unico, credito alheio, póde, quando quizer , arrumal-o'
porque reunindo avultadas somuins que não estão destruil-o.
muito a parda nossa fortuna, dos nossos meios, dos Um banco unico ainda traz um outro incon
nossos recursos, absorverá todos os capitaes que po- veniente , e é que podendo deixar de offere-
derião ser consagrados a outras instituições do cer sufficiente garantfa aos capitaes dormentes,
218 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
estes capitaes deixão de ter emprego, porque os O Sr. Lisboa Serra:— Que desejo ver mais
possuidores não querem arriscal-os nos cofres pronunciada.
de um banco que não lhes inspira confiança, O Sr. Bandeira de MelÍD :— Mas organise-sn
antes querem ter os seus capitaos sem activi esta força no meio do estado, de-se ao dinheiro
dade, sem vida, sem lucro, do que têl-os em pe
rigo, envolto nas operações de um banco , nas da poder
o immenso que resulU da concentração,
unidaue, e eu direi que é o quinto poder do
circumstancias que acabei do descrever. Eis pois estado ; o ministerio ha de estremecer na sua
o banco unico tambem com o monopolio da
vida, da actividade dos capitaes; porque só Vd eresença, ha de pedir-lhe licença para viver, hão
ser deputados quem a administração do banco,
nesto banco unico é que elles achão recurso paro ou pessoas que merecem sua affeição quizerem. . . .
fructificarem.
A industria tambem perde com a unidade de Sem egoismo,
a sua valiosa protecção nesta época de
de cubiça, nada poderá sustentar-se.
um banco , porque este banco unico póde esta Esse poder tem
belecer a seu talante a taxa dos juros, a taxa dos grandes interesses.em suas mãos grandes molas,
capitaes. Fazendo differentes operações, dispondo
de immensa massa de capitaes, retirando os capitaes O Sr. Lishoa Serra: — Ha de querer ter seus
conforme lhe parecer, negando-se aos descontos, representantes.
o tudo isto sem concurrente , póde este banco O Sr. Bandeira de Mello :— Não ha de que
unico ter em suas mãos a sorte da industria ; rer ter só seus representantes, ha de querer
a industria vive dos capitaes proprios ou em predominar, decidir ; os ministerios hão de ir
prestados , e quando os capitaes encarecem , pedir-lhe venia para viver. Isto, Sr. presidente,
quando a taxa do juro augmenta , a industria não é utopia ; ainda agora em Portugal V. Ex.
recua, soffre, deixa de ter o desenvolvimento terá notado os embaraços que o banco alli tem
conveniente. Ora, convirá por a industria do um apresentado ao governo ; o governo portuguez
paiz ã mereê de um só banco ? Convirá , por luta com essa potestade dentro do paiz. E a po
assim dizer , dar-lho o monopolio da taxa do testade do dinheiro, Sr. presidente, é temivel
juro ? (apoiados), temivel por muitos motivos, porque
E não só se dá o monopolio do juro ao banco não é possivel que uma potestade que tem tan
unico , como dá-se-lhe tambem o monopolio do tos recursos para beneficiar e para corromper
cambio, porque um banco unico , um banco que não exerça uma influencia proxima, quer para o
maneja avultadas sommas, que dispõe de grandes bem, quer para o mal. E' sem constestação um
capitaes, como disse, póde fazer operações de cam banco unico com as forças que vamos estabe
bio que tragão em resultado pór a sou arbitrio a lecer a aristocracia organisada entre nós, a aris
baixa ou a subida do cambio ; comprando e tocracia do dinheiro, que é a mais perigosa, a
vendendo saques, póde, sem duvida , pela força mais temivel, porque não suppõe merecimento, "
de que dispõe, influir de uma maneira arbitra não suppõ'e saber, não suppõe senão esforços do
ria , e talvez desastrosa sobre o cambio. Mas uma economia continuada e severa.
será conveniente que o cambio seja monopoli- Do passagem farei uma observação. Não sei
sado? se um banco unico está de accordo, não digo
Mas não ó só a estes objectos qne os incon- com a letra, mas com o espirito da constituição.
nientes de um banco unitario se referem ; a for- A constituição não quer o monopolio de maneira
una publica tem igualmente motivos de re- alguma, excepto no caso em que o reclamo a
ceiar-se de uma instituição que para só no meio moral ou a saude publica. Um banco, se nós
da sociedade. Um banco com as proporções da- reconhecermos que e unico, não é exactamente
quelle que se vai estabelecer sem duvida que uma instituição que tem a seu favor o exclusivo,
tem nos seus cofresuma boa parto da fortuna dos o monopolio de vender os effeitos do commer
particulares ; se elle praticar alguma operação cio? Que quer dizer monopolio? Vender só; o
menos pensada, estremece, por assim dizer, toda banco pois será a unica instituição para vender
a propriedade, e se elle fallir, então os desas oa effeitos do commercio; e assim é um mono
tres se sentem longe, podem causar profundos polio de que se póde duvidar com alguma razão
soffrimentos , muitas lagrimas ; muitas familias que esteja no espirito da constituição.
poderão acharse reduzidas á miseria de um mo Examinemos agora, Sr presidente, se o banco
mento para outro. Não embarquemos portanto a que se pretende instituir tem por objecto o be
fortuna publica em um só navio, em um só Affonso: neficio da industria e do commercio- será esto
velegemos em differentes navios ; procuremos que o ponto que agora oceupará a minha attenção,
o naufragio , no caso de realisar-se não traga e para o qual reclamo igualmente a attenção
comsigo infortunios tão geraes , não abra um dac casa.
ahysmo de tantas desgraças, de dores táo gran No discurso da coróa se recommenda ao corpo
des, não concedamos, senhores, a ninguem o mo legislativo a creação de um banco que, em har
nopolio dos desastres I monia com as nossas circumstancias, auxilie van
Sr. presidente, eu ainda direi que a liberdade tajosamente a industria e o commercio ; eu per
Eublica reclama contra a instituição de um guntarei, Sr. presidente, se a industria e o
anco unico. Um banco uuico com as proporções commercio já não encontrão sufficientes recursos,
que se vão estabelecer é a aristocracia do di sufficientes beneficios com os bancos que se achão
nheiro erganisada, ha -do ter uma influencia im instituidos nesta còrte? Se com effeito ha neces
mensa sobre os nossas cousas politicas.... sidade para esse fim do novo banco projectado?
Se
O Sr. Fioueira de Mello : — Foi isto que se desempenhão os dous bancos existentes nesta córto não
attribuio aos bancos dos Estados-Unidos. a sua missão? Eu julgo que sim ;
acredito que esses dous satisfazem ao fim dese
O Sr. Bandeira de Mello: — V. Ex. bem sabe jado, prestão todo o serviço e utilidade que podem
que Jackson nos Estados-Unidos receiou a influen prestar ; estou convencido que a industria e ' o
cia do banco nacional, retirou-lhe, todos os de commercio nada reclamão a respeito.
positos, porque fazendo isto enfraquecia; sentio que Attendondo porém para o 2° artigo do proje
o banco actuava sobre todas as liberd ides publicas cto reconhece-se que o seu grande fim é o me
do um modo funesto, de um modo prejudicial. V.Ex. lhoramento, a reforma, a substituição do meio
sabo qne o commercio em toda a parte exerce circulante ; tudo o mais é secundario ; mas por
grande iufluencia ; hoje mesmo não se póde des que este pensamento não se apresentou na
conhecer que os nossos negociantes fazem depu frente, não mereceu a honra de ser trazido a
tados pelas suas relações com os seus devedores; consideração, á memoria do corpo legislativo
exercem uma influencia que" aliás 6 legitima na falia do throno ? Porque ficou lente, quando
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 * 949
elle é o pensamen\o cardial, predominante do dade do numerario não fór augmentaja, se elle
projecto que discutimos ? Não tel-o-hia ainda fór mantido nas condições actuaes, o seu credito
depurado o governo quando redigio a falia do nos dispensará de tomarmos providencias cujo
throno? Será este ' pensamento novo? E se não alcance não podemos perfeitamente apreciar, e
e novo, porque não acompanhou a idéa do ban que por isso mesmo são arriscadas. Nestes as
co nacional que o throno recommenda ? sumptos, quando o presente é bom, importa não
Sr. presidente, so por esse lado julgo eu o arriscal-o sómente pela ambição do melhor. Todas
banco inutil, ainda o julgo inutil por outro as previsões podem falhar; não anticipemos, todo
principio, e poderei mesmo dizer que e prejudi .o tempo tem o seu trabalho proprio.
cial. Uai das grandes vantagens das institui Póde-se dizer hoje, Sr. presidente, que o nosso
ções bancaes nos paizes aonde o meio circulante papel-moeda são bilhetes, de confiança, e são bi
metallico abunda, é retirar-se esse meio circu lhetes de confiança em certo sentido, porque
lante para o substituir por bilhetes de credito ; elles têm casa aberta para serem trocados...
porque assim temse um agente de permutas qu , Um Sr. Deputado :—• Aon le ?
preenchendo o seu fim, dá lugar a que se con-
vertão em capitaes os valores que eráo absor O Sr. Bandeiba dii Mello : — Nas alfandegas,
vidos nesse emprego om prejuize da produeção. nas recebedorias. O governo tem uma renda de
Esta conversão facilmente se comprehen Je : o 3:1,000.0 H)$, quero dizer, o paiz tem uma renda
estrangeiro que recebe o numerario ou metal, de 3J;00 )-000$, e o nosso meio circulante em papel
manda em retormo mercadorias, e estas merca anda por 10,000:000$. por conseguinte a diffe-
dorias verdadeiros capitaes, vêm dar a industria rençi o pouca, é apenas do 13,000:000$ Direi
do paiz novas forças, que desenvolvem o seu agora como existo a casa aborta para roalisal-o.
increment i e prosperidade. O governo recolhe todos os annos -em paga
Esta grande vantagem é reconhecida por Cha- mento dos impostos a quantia de 30,000 000$,
vnlier, quuido considera o excesso de moeda me mas á proporção que recolhe, emitte de novo no
tallica que existe em Franga, listimando que não pagamento das despezas do estado. Sem contes-
se tenhão creado estabelecimentos do credito que testaçáo, quando o corrtribuinte paga o imposto,
convertão em forças productivas esses valores que realisa assim o papel que tinha recebido do es
estão debaixo da fórma do numerario. Ora, como tado ; elle conheco de mtemão um destino, um
não temos superabundancia de especies metalli- emprego certo para o efleito de credito que rece
cas, não podemos por conseguinte attrahir capi beu, digo de credito, porque a moeda-pipel
taes por meio de uina nova instituição de cre quando está reduzida a tão diminuta quantidade
dito. Portanto, com a consideração desta vantagem como o nosso papel, que apenas excedo a cifra
s se não poderá justificar, demonstrará convenien dos impostos, póde-se considerir como um effeito
cia de um banco além dos que já existem. realisavel, e por isso coino que fiduciario, tendo
Entrarei agora, Sr. presidente, em outro ponto. em todas as repartições da fazenda casa aberta
Acredito que não temos necessidade de tocar no para ser roalisado.
nosso meio circulante ; ó opinião minha, e talvez liu comprehendo bem, senhores, que o papil
. cause sorpresa, visto como parece forma-la, sel- ainda nestas circumstancias não é verdadeira
laila a opinião que reconhece como urgente, pal mente um effeito do confiança como um bilhete
pitante essa necessidade. Eu suscito a questão e do banco ; é mister a oocasião do pagamento do
submetto ao criterio esclarecido da camara os fun imposto para realisal-o, mas tambem e certo
damentos que susteutão o meu modo de ver, de que um papel em taes condições do existencia
apreciar este ponto economico do nosso estado merece mais do que bilhetes chamados—de con
financeiro. E' provavel que eu esteja em erro, fiança—, quando a base dessa confiança é pre
mas o erro não deixa de ter convicção ; eu im caria, aventurosa, e mais ou menos dependente
ploro da camara, por amor da convicção, a indul de imprevistas eventualidades.
gencia para o erro em que eu possa estar a se Sr. presidente, ha além disto um banco para
melhante respeito. resgatar esse papel. Esto banco é a praça pu
Sr. presidente , o nosso meio circulante , o blica. Quando eu quero em troco da cedula que
nosso pipel-moeJa pela suaescassez, pela pouca tenho no bolso moeda metallica, qualquer cam
uantidaue em que se acha com relação á massa bista a que me dirija dá-me a moeda metallica
ú as transacções, tem adquirido grande valor ; sem o menor agio. Não é só o cambista, qual
aqui se demonstrou que elle era deficiente para quer pessoa faz o mesmo, 6 indiffereuto possuir
as precisões da circulação, a se assim é, elle tem uma ou outra moeda, o talvez o papel seja pre
subido de valor, tem por forçi das cousas, gran ferido. E isto o que prova ? Prova o que eu
demente melhorado. E de certo isto é incontes drsso a que a praça, o mercado, era como um
tavel. grande bancD onde era realisado constantemente
O nosso papel-moeda exactamente vale hoje o pelo seu legitimo valor o nosso meio circulan
metal que ello promotte, segundo o padrão da lei de te. » Tanto é o credito de que goza. Duvido
1816 ; não existo em consequencia o menor agio que o banco projectado tenha bilhetes mais
entre elle a moeda metallica que nominalmente apreciados.
representa; so po"is o nosso papel está assim tão Mas, Sr. presidente, se não so póde negar o
acreditado, que necessidade ha de mudançis, de que eu acabo do dizer, por que principio se
substituicões em objecto tão .melindroso, tão de quer dar a projectada transformação ao papel-
licado? Ha sempre nisto algum risco, porque o moeda ? Será só para que se cumpra a pala
imprevisto é quasi inherente a este objecto. Para vra da lei, que diz que o papel-moeda é resga-
qne pois, repito, substituições? Porque o nosso tavel, que quem tiver uma cedula tem effectivo
papel está sujeito á falsificação ? Se é por isso, direito ao ouro que ella representa ? Quando a
os bilhetes do banco estão sujeitos tambem á fal promessi da lei so cumpre por um modo equi
sificação, e na Inglaterra as condemnações por valente, parece-mo. ser um escrupulo demasiado
falsificação de bilhetes de banco têm sido muito o empenho de attendor á fórma mais do que á
numerosas, e João Baptista Say as lamenta. Para realidade no pagamento do que se trata.
que, repito, substituir o nosso papel? Porque o Ainda uma outra observação apresentaroi,
seu valor póde declinar? Na diminuta quanti Sr. presidente, e é que o nosso papel a não ser
dade em que elle existe, como se pretende, não auginentado na sua quantidade, tende a aug-
podemos receiar que elle se desaprecie ; ao con mentar do valor, o so o cambio subir, elle po
trario, devo tornar-se mais valioso, segundo todas derá t_qr um agio a seu favor contra as especies
as previsões de crescente prosperidade industrial metallicas.
em que marcha, o paiz. Portanto, se a quanli- Tendo demonstrado, Sr. presidente, que não .ha
tomo 2. 32
250 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
verdadeira necessidade de dar nova fórma ao Direi ainda, senhores, que o papel do banc3
nosso meio circulante nas condições favoraveis projectado custará á nação muito mais caro do
eui que elle se acha, indagarei se com effeito que o papel que actualmente circula como moeia.
dá-se o melhoramento pretendido com a insti Hoje o nosso meio circulante naia nos custa,
tuição do novo banco, e com as providencias mas o meio circulante que vai substituil-o cus
que o projecto encerra. tará não pouco á nação. O governo presta sua
Sr. presidente, o nobre ministro até uma certa poderosa g irantia ao banco para que obtenha
época julgou que o principal expediente de me do estrangeiro por omprestiino 30,000:000$, mas
lhorar o moio cireul inta do paiz era a provin- em compensação tambem nenhum juro pagi ao
cialisaçáo das notas. Tive oceasião de op|)òr-ine banco de igual quantia que o mesmo é obrigado a
a essa medida, e de alguma sorte vanglorio-ine emprestar lhe, segundo as condições do projecto ;
do ver hoje que afinal o nobre ministro con mas, vencidos os 30 annos do privilegio, o go-'
cordou commigo, e não póz em execução a pro verno passa a pagar o juro dessa quantia ; e,
videncia que com todas as forças reclamou do pergunto eu, o juro proveniente desses 10,000:000$,
corpo legislativo como essencial ao melhoramento embora se realiso depois de 30 annos, não vem
do meio circulante. Abandonou pois o nobre mi sobrecarregar as nossas despezas? Não repre
nistro esse recurso, que julgou até então muito senta para o paiz o custo do papel do banco
valioso, e agora apresenta o outro, que vem a que vai substituir o papel actual? Por conseguinte
ser a intervenção do banco. Apreciemos este o papel do banco, sem vantagens reaes que com
novo recurso. pensem o sacrificio, traz á nação um onus que
Julgo , Sr. presidente , que não se meiho- no futuro gravemente se ha de sentir.
ra de maneira alguma o meio circulante pelo Ainda mais i o banco é obrigado pelo projecto
modo porque tem de ser feita a substituição. a adiantar ao governo todos os annos 2,000:000$,
Vejo que esta não importa em mais do que tro e o governo paga de 3 em 3 mezos os 2,000:000$
car papel por papel, papel do governo que tem que o banco tiver adiantado ; mas, pergunto,
a garantia da nação por papel com a garantia se as nossas circumstancias não permittirein
do banco. Eu não sei se inspira mais confiança esse pagamento, não teremos de carregar com
a garantia de um banco do que a garantia da uma despnza que hoje não fazemos ? Sem du
nação. vida. Podamos sempre estar tranquillos a res
Quando nós atten lermos a esta circumstancia peito do nosso credito ? Estará elle sempre tão
especial —que a nação tem bastante prudencia bem estabelecido, tão consolidado que náo possa
para não augmentar o seu papel alem do justo soffrer quebra ? O nosso systema de impostos ó
limite—, porque quando o papel está dentro do pór ventura tal que se considero inaccessivel ás
justo limito tem um valor real, um valor, como eventualidades que possão fazer descer a nossa
cabalmente demonstra J. B. Say , que lho dá receita ? Já hontem o nobre deputado (olhando
a necessidade das permutas, a necessidade da para o Sr. Serra) notou que a nossa renda está
circulação dos cffeitos da industria ; quando atten- diminuindo.
dermos a isso, digo, devemos concluir que o O Sr. Lisboa Serra : — Por causa da crise.
papel tendo a fiança da nação não é inferior, não
deve merecer menos confiança, do que as notas O Sr. Bandeira de Mello: — Mas ninguem
de um banco. póde affirmar que não haja crises ou quaesquer
Ninguem, Sr. presidente, quer o papel ou a outras circumstancias, por exemplo, uma guerra ;
moeda metillica para satisfazer uma necessidade e por conseguinte, se essas eventualidades não
immediatai mas sim como um meio de escambo, podem apparecer, poderemos nós assegurar sem
este é o seu officio ; por conseguinte, se existe pre o. pagamento desses 2,000:000$ que o banco
uma mercadoria mais barata nas condições que annualmento emprestará ao governo ? E se não
acibo de dizer, ella é um optimo meio circulante, realisar se esse pagamento, não teremos de pa
porque satisfaz o seu fim. gar esse j uro *
Ainda observarei que as notas do novo banco O Sr. Lisboa Serra:— No projecto está pre
não podem merecer mais confiança do que o venido isso.
papel actual, porque vejo que afinal aquellas notas
vêm estribar-se no credito do governo. O go O Sr. Bandeira de Mello : — No projecto
verno presta ao banco a garaniia de 10.000:000$; não se diz que, se o governo não pagar na
em virtude dessa garantia, dessa fiança do go fórma convencionada, immediatameute o banco
verno, o banco vai ao estrangeiro, porque sup- deixe de emprestar-llie ; por conseguinte a ope
ponho que dentro do paiz não poderá achar di ração póde continuar e gravar os cofres publi
nheiro bastante, o obtem essa somma ; recolhe a cos com uma despeza enorme que hoje não fa
aos seus cofres, e empresta logo ao governo, ou zemos.
se nao é isto, o governo obtem do banco que O Sr. Paula Santos dá um aparte que não
retire com seus capitaes a quantia de 10,000:000$ ; ouvimos.
esse emprestimo feito ao governo de qualquer fórma
desfalca o capital do banco, e desfalcado o capital O S«. Bandeira de Mello : — O papel-inoeda
do banco, o que acontece é que as notas que póde ficár, e emquanto a quantidade fór dimi
existem em circulação não achão em seus cofres nuta não ha inconveniente. As cousas estão feitas,
o valor correspondeute ; se acaso o banco que e quando chegão ao ponto vantajoso em qua
brar, e todos os seus bilhetes forem apresentados de estão, podem permanecer. Não aconselho, não
uma vez, em consequencia da quebra, a admi louvo em theoria este estado de cousas, que
nistração ha de dizer : u p irto desses valores reria que fosso outro ; mas temos chegado a
deveis achar no thesouro publico.» um ponto (felicidade para o Brazil), que póde
Por conseguinte, uma parte do credito de que continuar a permanecer sem perigo. Considere
goza o banco é o credito do governo ; e se acaso mos a actualidade, as nossas cousas, aprovei
se julga que essas notas do banco podem me temos o que essa apreciação nos mostrar como
recer o titulo de cffeitos do confiança, tendo vantajoso, e deixemos o melhor em theorias.
aliás o credito delias por base em grande parte Sr. presidente, se acaso entendermos que é es
o credito do governo, não ha motivo para de sencial offerecer o troco do nosso papel-moeda
preciar o papel actual comparativamente ás fu afim de cumprir a promessa da lei, então parece-
turas notas do banco projectado. Estas, como me que é de um meio facillimo de que já tive
demonstrarei não prescindem do credito do governo, occasião de fallar o é consignar se uma somma
e portanto em um sentido relativo e de compa em todas as thesourarias, e proclamar-se: « Quem
ração talvez devão inspirar menos confiança. quizer trocar por metal a cedula que possuir
SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853 Í51
recorra a thesouraria. » Estou persuadido que figurou, o que demonstra que a confiança dos
tal é o credito do nosso papel, que, sem duvida, bilhetes que o banco tem de emittir não 6 tão
ninguem irá. ás thesourarias ; e eu mesmo sou plena como S. Ex. suppóz. Vejo, pois, que um%
um exemplo disso * tenho muitas vezes, quando circumstancia ou eventualidade já se apresenta
vou cobrar meu ordenado, preferido o papel ao em que os bilhetes do banco podem não ser rea-
ouro. Portanto, eis-aqui um meio facilimo de cum- lisados ; e se a razão dada pelo nobre ministro
Srir materialmente , litteralmente , a promessa com relação aos bancos actuaes é valiosa, tambem
a lei. deve ser valiosa para o banco que se vai insti
Eu, Sr. presidente, direi que se se quer por tuir. Desejarei muito ouvir o nobre ministro
força commetter ao banco a substituição do nosso ácerca desta reflexão que acabo do fazer.
papel, então, como julgo que o banco "ha de A outra vantagem vem a ser « fiança ao em
fazer avultados lucros, melhor seria que a nação prestimo. » Já sobre isto apresentei tambem
se associasse ao banco, que pedisse por empres algumas considerações,o dispenso-ine de repetil-as.
timo esses 10,000:000$ o os entregasse ao banco. Segue a outra vantagem, relativa ás caixas
O banco lho havia de dar um interesse superior filiaes. E' sem duvida, Sr. presidente, uma van
ao juro que tivesse de pagar, e a nação teria tagem d ida ao banco o ter caixas filiaes,' oor-
sem duvida alguma uma.vantagem, um lucro, prin que por meio destas caixas estendo o mercado
cipalmente se essa operação fosso feita nas cir- dos seus effeitos de credito, qua sem isto terino
cumstancias actuaes,em que o cambio é summa- uma emissão muito inferior, e couseguintemente
mento favoravel. os seus lucros serião proporcionalmente menores.
Portanto vê-se que esta substituição vai dar ao A esto respeito so uma observação se me
banco todas as vantagens que, podem resultar da offerece fazer, e é perguntar se estas caixas
differença dos juros qne vai pagar pelo empres-' filiaes que o projecio institue compoem, com o
timo, e os lucros qne effectivamente vai realisar banco estabelecido na capital, uma sociedade de
por meio de seus effeitos de credito. lucros e perdas, ou se somente existe entre
Tomarei agora, Sr presidente, em consideração essas caixas filiaes e o banco conta corrente,
as differentes vantagens que o governo offerece porque a instituição dessas caixas póde diversi
ao banco em compensação do emprestimo que ficar, visto não haver uma norma para organi-
lho faz, emprestimo que eu julgo que o banco sal-as ; e eu julgo que será muito mais conve
faz com grande interesse para si proprio, e sem niente que ellas constituão com o banco uma
o menor sacrificio. sociedade de perdas e lucros, porque sem duvida
Vamos ver quaes são essas vantagens ; eu já do outra maneira não prosperão, não poderão
as apresentei numericamente á camara ; mas farei entrar em competencia com o banco estabele
agora sobre cada uma delias de per si algumas cido no Rio de Janeiro, e revestido de privi
considerações. legios e vantagens especiaes.
A primeira vantagem ó o privilegio de dura Uma outra vantagem que so concede ao banco
ção por 30 annos. Sr. presidente, este tempo me é a faculdade de emitir bilhetes até a ininima
parece excessivo. Se acaso tivermos motivo de somma de 10$ nas provincias. Esta faculdade,
lamentar a instituição deste banco, estaremos Sr., presidente, bem demonstra que o pensamen
presos por muito tempo; é prudente que o paiz to do projecto é que as notas do banco sub-
não sé prenda por um tempo tão futuro, diga- - stituião exactamente o nosso papel-moeda, mas
mos assim, tão remoto, de maneira que o arre nesta substituição tão extensa, tão completa,
pendimento seja infructifero, apreciemos mais a noto um inconveniente, ú qne o ouro o a prata
nossa liberdade. Quem poderá assegurar as exi devem ser exportados, porque esses pequenos
gencias do futuro ? bilhetes do 10$ e 20$ irão procurar todas as
Eu não sei se ha algum banco que goze de arterias da circulação ; os negocios mais pe
privilegio por tanto tempo; pódo ser que haja, quenos poderão ser feitos com taes bilhetes de
mas parece-me que todos os privilegios são de um tão diminuto valor, e por conseguinte o
20 ou 25 annos para baixo ; porém mesmo quando ouro o a prata deixarão de ser precisos, dei
se dê exemplo do contrario, acredito que não é xarão de percorrer nessas arterias logo que
para imitar-se, que não é acto de circumspecção haja qualquer excesso de numerario, o resulta
e aviso esse de comprometter-nos a um contracto do será a exportação desses metaes preciosos,
desta ordem por um tempo tão grande. Elie póde cuja existencia no paiz, ein uma certa proporção,
ser renovado, ,so o resgate da moeda o exigir, e ó sempre do grande vantagem, mesmo para
nos fizer conta a renovação. Não podemos que assegurar o credito dos papeia da confiança.
rer mudar de systema de resgate? De certo I Os bancos de ordinario não emittem cedulas
A segunda vantagem offerecida ao banco em de um valor tão pequeno, porque são instituidos
troca do emprestimo é o recebimento das suas para as relações entre pioductor e prodactor, e
notas nas estações publicas. Ora, a este respeito não entre o productor e consumidor. Sendo o seu
Já eu disse em uma das sessões anteriores o fim proteger á industria e ao commercio, não tem
que tinha de offerecer á consideração da casa ; necessidade do fazer omissão de bilhetes com
Sômente agora observarei que é preciso mandar valores tão pequenos, porque os negociantes fazem
ft mesa alguma emenda que ponha este projecto pagamento do quantias avultadas, e assim tam
de accordo com aquelle que liontem se votou, bem os productores. Para o pagamento de quan
isto é, que as notâjS deste banco tambem sejão tias diminutas a especie deve ser outra; mas o
recebidas em pagamento dos particulares. mal que principalmente noto é fazer desappa-
O nobre ministro disse que a necessidade que recer do paiz a moeda metallica , com prejuizo
havia de permittir que os particulares recebes da proporção que convenientemente se deve man
sem em pagamento das suas dividas as notas ter.
do banco, era porque se o governo recebesse A outra vantagem é a isenção do imposto do
essas notas em pagamento das contribuições, e os sello. Porque razão, Sr. presidente, se concede
particulares a quem clle devesse não as quizessem este privilegio ao banco ? Pois o banco que ó
receber em pagamento, teria o governo de levar uma potencia tão rica, que é uma instituição
de um jacto ao banco uma grande somma de para a qual concorrem pessoas que têm valores
notas, e o banco so declararia impossibilitado superiores ás suas necessidades, e que es vão
de realisal-as. levar a esse deposito para o effeito da produc-
Agora ponderarei ao nobre ministro que isto ção, deve ser dispensado do pagamento deste im
que «lie disse prova que os bancos a que álludia posto que nós outros pagamos ?
com semelhante observação não estão sufficien Eu anlis quizera que, quando o dividenda ex
temente garantidos para essa eventualidade que cedesse do um certo maximo, a lei exigisse uma
252 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
quota cm certa proporção para alguma obra de houvessem de descontar tivessem o prazo de 3
piedade. Não seria isso sem duvida C'iusa que mezes. Se isto é bom, se é uma garantia que
não se pudesse fazer: por exemplo, so o banco se julgou conveniente que partisse do corpo le
désse dividendo de mais 1 %, certa quantia fosse gislativo, porque tambem o cAVpo legislativo não
reservada para uma obra pia, esta occasião se ha de exigir do nov i banco a mesma garantia,
podia aproveitar para promover algum estabele prescrevendo que elle não possa descontar letras
cimento desta natureza. Entretanto, em lugar que tenhão um prazo maior de 3 mezes ? E'
disto, o que se faz ? Dispensa-se o banco do certo que- esta clausula assegura melhor -o cre
imposto do scllo I Não comprehendo a razão ; é dito do banco, porque se o banco descontar
proteger a quem já está protegido por muitas letras de longo prazo, se acaso adiantar som
circumstancias, a quem já vive pelo menos na mas avultadas que não possão voltar aos seus
abastança, n quem não precisa, a quem só tem cofres dentro de um tempo proximo, para fazer
em vistas especulações do lucro paranugmentar face ao troco dos bilhetes que por ventura lhe
a sua fortuna , como aliás é razoavel, a bem forem apresentados, sem duvida do se achar
mesmo da communhão. . em graves dificuldades, difficuldades que são
Ainda uma outra vantagem.... não será van mortaes para semelhantes instituições.
tagem, é observição á parte. O projecto diz que Tambem quizera que na lei se prohibisse ao
a emissão será do duplo capital disponivel, excepto banco conimerciar, E>ta prohibiçáo é essencial,
se o governo determinar que se augmente. Aqui não só porque não devo arriscar os capitaes que
invoco a voz poderosa do nobre deputado pela estão em seu poder ás eventualidades do com-
Bahia, o meu amigo o Sr. Ferraz ; peço ao nobre mercio e da industria, como tambem porque elle
deputado que mo ajude a não conceder ao go com a sua poderosa concurrencia mataria qual
verno uma automação que elle nos póde, e a quer industria que lhe fosse rival. Portanto,
importante autorisação de permiitir que o banco, devo ser expressa na lei a prohibiçáo de nego
que segundo o projecto que discutimos apenas ciar. Sei que está marcado no projecto o fim
póde fazer uma emissão dupla do seu valor dis do suas operações, mus o commercio toma dif-
ponivel, possa augmentar essa emissão conforme ferentes fórmas, e ninguem poderá com o banco,
entender o governo. com essa poderosa aristocracia, quando ella
Eu julgo que o nobre deputado concordará quizer sopbismar, illudir o destino das operações.
commigo em que o augmento dessa emissão ó Sr. presidente, estas forão as observações que
cousa muito séria, é cousa muito grave. Se ncaso me occarrêrão. Confesso que não tive bastante
lia necessidade de fazél-o, o corpo legislativo é tempo para esclarecer-me ; no principio do meu
que deve determinar, e não o governo, porqne discurso o manifestei á camara ; por isso peço-
se acaso se deixar isto ao governo, elle poderá lhe perdão pela má exposição (não apoiados) da
permiitir abusos nessa emissão; as unidades minhas idéas, pela- inexactidão dessas mesmas
monetarias descerão do valor, e grandes prejuizos idéas.
podem resultar. E' preciso pois que reservemos Alouns Senhores : — Muito bem I muito bemI
para nós, como acontece na Inglaterra, a facul-
dado de permittir o augmento da emissão. Coin O Si-. Viriato : — Antes de dizer alguma
que facilidade, mediante essa permissão, não cousa ácerca da materia qne oceupa a nossa
poderá o governo pedir ao banco, por emprestimo, -attençáo, considerindo m.-.us mal seguros "conhe-
avultadas sommas I cimentus, devo pedir desculpa á camara por
Notarei, Sr. presidente, algumas omissões que querer tomar parto nesta discussão, onde se
mo parece que apresenta o projecto. A primeira agitão questões , tão gr ives, onde o homem a
omissão é esta : e eu quizera que o projecto cada passo encontra opiniões diversas, sustenta
estabelecesse a responsabilidade solidaria dos das e combatidas por escriptores famosos e de
administradores de uma tão importante institui subidos talentos.
ção de credito. Esta instituiçao não é uma in Usanlo do palavra, não tenho a esperança
stituição particular, é uma instituição de alta de produzir axiomas infalliveis, nom aspirações
importancia, qne tem um jogo immenso com todas a convencer alguem pela força de meus argu
as fortunas, tem uma responsabilidade immensa. mentos; quiz somente atirar no meio da discus
E se esti iesponsabilidade é immensa, porque são um ou outro pensamento de verdade e uti-
razão não havemos de procurar garantias corres lidade que possa acompanhar os que forem
pondentes? Por que razão os administradores do cieados por mais vigorosos talentos. E obrando
banco não hão de ficar empenhados por toda a assim, cumpro uin dever.
sua fortuna por quaesquer prejuizes que o banco Sei mesmo que em discussões de semelhante
possa ter? Não será isto uma garnntia valiosa natureza a leitura dos livros, a tlieoria, não são
de boa administração? NSo serão clles mais ze o meio mais forte para se chegar á verdide :
losos, quando virem Tmo têm de pogar com suas a leitura des livros e a theoria é superior á
particulares fortunas os prejuizos que possão pratica, meio muito mais poderoso para se co
resultar de sua gestão ? Sn o banco não tivesso nhecer a vida, o movimento dos agentes da pro-
as proporções que tem, se não envolvesse fortunas ducçáo da riqueza nacional. E eu não tenho
tão grandes, não reclamaria eu esta responsa essa pratica. So meu discurso pois fór inteira
bilidade; mas não sendo assim, bom será exi- mente esteril, contra o meu mais ardente desejo,
gil-a, mesmo para maior credito do banco. Ainda peço á camara que me releve haver-lhe tomado
uma observação. o tempo inutilmente.
No projecto que hontem votámos se excluio do Discutindo-se a creação de um banco de depo
desconto dos bancos as apolices da divida pu sitos, descontos e emissão, eu tinha dado ao
blica e outros effeitos, determinando-se quo só- meu discurso uma marcha mui differente da que
mente os bancos descontassem letras commer- ora sou forçado a seguir ; apresentava á casa
ciaes. Se isto é bom, se isto é uma garantia para as principaes vantagens de estabelecimentos
os bancos actuaes, porque tambem não se ha desta ordem, comparava depois essas vantagens
de estabelecer o mesmo para o novo banco ? com as disposições do projecto, e concluia que
Porque não se ha de determinar que elle possa ellus tendião a produzil-as todas.
sómente descontar letras commerciaes ? Julgo Passava depois a enumerar os abusos que a
pois que com relação ao que approvámos, atten- experiencia tem mostrado em instituições destas,
dendo a que isto é uma garantia, se o é, devemos comparava esse meu trabalho com o mesmo
prescrever pira o novo banco a mesma cousa. projecto, e ia provar que nelle não existia «uma
Nós tambem no mesmo projecto a que me re só disposição que facilitasse o apparecimenlo e
firo determinámos que as letras que os bancos* permanencia do mal. E' mister porém que eu
»
SESSÃO EM 18 PE JUNHO DE 1853 253
despreze essa ordem que me parecia a melhor, culantes, augmentando a somma das riquezas
e que corra mais rapido na expressão de minhas nacionaes, faz desapparecer o medo de que elle
idéas, por*' mo ter chegado a palavra em hora absorva todos os capitaes, e prejudique aos bancos
avançada, tendo mui pouco tempo á minha dis ora existentes.
posição. Assim, procurarei somente responder ao Mas concedamos a possibilidade desse aconte
que acaba de dizer o honrado deputado pelo cimento, a centralisação de agentes tão podero
Ceará, meu nobre amigo. sos da producção (o que não ora verdadeiramente
Os primeiros argumentos que julgou conveniente um mal), nem assim se darião os resultados no
produzir o nobre deputado contra o projecto tem civos lembrados pelo nobro deputado.
origem em dous principios inteiramente oppostos, Se o novo banco se constituisse só e unico
e que se revelão nesse topico de seu discurso. no paiz, por isso mesmo toria ao contrario maior
Quando pretendeu crear razões contra o pro credito do que existindo e operando com outros.
jecto, expendo os males resultantes do demasiado Do sua propria posição tiraria o publico fortes
crescimento e importancia dos bancos, elle deu razões para crer firmemente que o governo, que
como certo o credito, duração e força futura do os empregados de nomeação desse mesmo governo,
banco, que está em discussão , quando precisou e interessados no banco, serião tão zelosos, tão
mostrar os numerosos e pesados males de bancos cuidadosas e prudentes, como póde ser humana
desordenados e mal fundados, para justificar seu mente possivel na direcção de suas operações.
voto deu como certo o descredito , a pouca du Por certo que o estimulo produzido pela concur-
ração , e fraqueza futura do banco que se quer rencia não offerece garantias tão poderosas I
estabelecer. Os bancos, senhores, forão lembrados e crea-
Exposta esta especie de contradicção em que dos para nugmentar as sommas das riquezas na
sem sentir cahio o nobre deputado, eu vou tocar cionaes ; para augmentar a actividade da industria;
na sua primeira argumentação. Tendo elle ava para facilitar a importação de valores que são
liado as vantagens das companhias ou bancos de consumidos prod activamente, etc. Não forão só e
circulação, os serviços que prestão ao mercado, exclusivamente instituidos para bem dos capita
o augmento que dão ã somma da riqueza na listas, ou possuidores de meios circulantes ; têm
cional, e dito que são quando mal dirigidos uma fins mais nobres e uteis. A existencia pois de
forte alavanca para o mal, affirmou que o banco um banco, não deixando a esses capitalistas a esco
em discussão vai ser o unico no Brazil, vai absor lha de melhor emprego para seus capitaes, por ser
ver todos os capitaes pela escassez de nossas for o unico no paiz, não devia merecer ao nobre de-
tunas e pelo poder que lhe dão os privilegios do putdo a importancia que lhe deu
governo, sendo certo que a existenci i de um só Não julgo porém (como já disse), que o novo
banco dará origem aos seguintes males : a perda banco so vá constituir com exclusão de outros,
do credito do banco no futuro ; a ausencia abso e que tenha um futuro de descredito. Os capi
luta da escolha que deve ter o capitalista no taes acharão um emprego seguro e gozarão, da
emprestimo de seus capitaes ; o apparecimento escolha no emprego.
de grandes sommas de capitaes dormentes.estereis, Porém disse-se mais ; a realisação deste banco
sem emprego; a elevação da taxa dos juros á concorrerá para a formação de grandes sommas
vontade do banco ; os riscos da imprudento crea- de capitaes dormentes e estereis, que *jião se
ção de um estabelecimento, que vai ser um unico animarão a entrar para um banco desacreditado.
lugar de deposito e emprego de grandes sommas Neguei já que o descredito- fosse o futuro deste
ila fortuna publica, estabelecimento que fal lindo novo banco, e poderia agora concluir que, se
arrasta comsigo para a ruina a maior parte da a causa de formação de grandes sommas de
riqueza nacional. capitães estereis é esse descredito que se teme,
O projecto que está em discussão, senhores, não teremos diante de nós o mal. Mas quero
crêa um banco com o fundo capital de 30,000:0000$, aceroscentar á minha proposição as seguintes
obrigado a ter sempre empregada na operação, considerações.
Sue vai ficar a seu cargo, de retirar o papel moeda Para que as previsões desse futuro fossem
a circulação, a somma de 10,000:000$. Descon provaveis e attendiveis era mister extrahir do
tando esta somma fica o seu maximo fundo dis projecto em discussão razões qne as apadrinhas
ponivel reduzida a 20,000:000$, e a sua maxima sem. Eu íulgo esse trabalho difficil, senão im
somma de emissão a 10,00):000$, porque não lhe possivel. Temos em vista a creação de um banco
é dado elevar a sua emissão a do duplo de seu com o fim principal o dominante de retirar da
' fundo disponivel. circulacão o papel do goverue que actualmente
Suppondo-se mesmo que o banco nos primei f iz as funeções do numerario, isto é, concorrer
ros dias de sua vida espalhe pela circulação por meios possiveis e seguros para mais acre
20,000:000$, o que não é natural, poderá essa ditar o governo, de cujo credito nasce e alimen-
quantia influir tão fortemente no paiz que vá ta-se sempre o credito dos bancos em geral.
fazer damno ás operações dos outros bancos, Temos em vista a creação do um banco, qne
que torne impossivel a creação de novas compa tem a prohibição de elevar suas emissões além
nhias com -is mesmas operações, com os mes do duplo do seu fundo disponivel. Temos em
mos fins? Não creio que assim aconteça. As nossas vi^ta finalmente a creação de um banco que vai
fortunas não são tão pequenas, o Brazil não está tão ser dirigido por um presidente de nomeação do
atrás no caminho da civilisação para que se tema governo, e interessado no mesmo banco em 50
tal influencia no derramamento desta somma, ac.;ões. Ahi nessas disposições existem antes
e com a expansão que lhe dá a faculdade di motivos para previsões mais risonhas.
creação de caixas filiaes. São muitas as causas da variação da taxa dos
Além disto, quando por qualquer operação se juros. A maior ou menor demanda do capitaes
augmenta a m issa das moedas, a somma dos produzirá a alta e baixa dos juros; o credito
capitaes em circulação sempre se faz sentir como dos novos governos, a estabilidade das cousas
resultado dessa abundância una vantigem real publicas fara subir a taxa dos juros; o emprego
que vem a ser um grando crescimento de acti mais ou menos seguro do capital que so pre
vidade na industria e creações de novos valores. tende, o credito da pessoa que o pede, produzirá
Assim aconteceu nas primeiras emissões do banco variação, etc. O que ó certo é que não está na
de Law, dos assignados em 1791, o. nas épocas vontade de uma só pessoa physica ou moral
em que se multiplicárão os bilhetes do banco regular essa taxa, e por muito tempo. A eleva
dc Inglaterra. A benefica influencia do cresci ção e diminuição delia é dependente dessas cau
mento industrial pelas emissões do novo banco, sas, de acontecimentos filhos do serviço dos ca
alargando o campo da procura de capitaes cir pitaes no augmento ou diminuição da industria.
254 SESSÃO EM 18 DE JUNHO DE 1853
Se o paiz levar rapido caminho no progresso renlisavel como são os bilhetes do banco. Mas
augmentando seus meios de producção, crescerá nas incertezas de um futuro que póde ser negro,
a demanda dos capitaes o com ella a taxa dos eC trazer-nos deprecianiento dessa moeda, fazemos
juros ; e se o contrario acontecer, a demanda bem, e obramos judiciosamente cm preferir-lhe
dos capitaes diminuindo baixará a taxa dos os bilhetes de banco que tirão seu credito do
juros. Esses factos, que são logo sentidos, ?ão valor que representão rcalisavel logo á apresen
os reguladores do valor do serviço dos capitaes. tação.
Se o novo banco se tornar unico no paiz e . Não tenho lembrança de outras razões de gravi
pela sua importancia tiver a estulta pretenção dade comparavel á destas trazidas á discussão
de regular a taxa dos juros, como diz o nobre pelo nobre deputado. Recordo-mo somente que,
deputado, não poderá sustentar seu proposito depois do censurar os privilegios ou favores que
por muito «tempo. Elie so curvará á lei geral se concede no projecto ao banco, tratara de es
afinal, e se verá forçado a soltar seus capitaes tranhar a ausencia de medidas do segurança,
para que facão o trabalho para que forão des geralmente usadas nas operações dos bancos.
tinados. E além disso cllo teria que lutar com Disse elle afinal que não havia no projecto
o concurso dos capitalistas quando insistisse na disposição alguma que marcasse ao banco o dever
idéa de ordenar á sua vontade os juros da praça. de não fazer seus descontos senão sobre letras
Finalmente, Sr. presidente, não concordo com que tivessem duas a tres firmas de credito ; que
o nobre deputado na apreciação dos riscos re não via disposição alguma que limitasse o tempo
sultantes da confiança publica collocada em um do vencimento dessas letras que em suas ope
só estabelecimento desta ordem. Acho os bases rações o banco tem de receber, como se costuma
e disposições essenciaes para o novo banco con a proceder em todos os bancos da Europa. Mas
signa ias no projecto tão seguras e prudentes, julgo que essas providencias não devião vir
que não receio nada da nocivo ás fortunas dos consignadas no projecto em discussão, e que só
particulares. podem ser bem cabidas nos estatutos do banco.
Além destas considerações ha pouco feitas O Sr. Bandeira de Mello:— Mas essas mes
contra o projecto, outras produzio o nobre de mas providencias passárão na lei que ultima
putado á quem couhe-me a honra de responder, mente votámos.
o das quaes vou tratar segundo a ordem de
minhas notas. O Sr. Viriato :— Os estatutos já estavão feitos.
« A influencia que pelas suas elevadas pro O Sr. Bandeira de Mello. — Mas essas provi
porções o pelos privilegios concedidos vai ter dencias tambem podem ter lugar na lei.
este banco, torna-o um podor perigoso para as
liberdades publicas, » disse elle. Não concebo O Sr. Viriato: — Uma lei não deve descer a
como em instituições destas se descobre risco essas minuciosidades ; apresenta principios ge-
para as liberdades publicas. Pela natureza das raes, fundamentaes.
operações de um banco, pelo seu fim e pela sua Eu poderia tomar o projecto e analysal-o todo,
fórma seja-nos licito dizer que é essa proposi e talvez mostrasse ao nobre deputa lo que elle
ção ahi mui mal cabida. tem em si todas as garantias de um futuro feliz ;
E' preciso estabelecer, senhores, a regra geral, mas como não é dado fazer isto, não só por
admittida por todos, de que os bancos não se haver soado a hora, como por temer cançar a
constituem para fazerem beneficios a si mesmos; attenção da camara, limitt ir-me-hei a apontar
que os bancos não são mais do que simplices a semelhança das disposições deste projecto de
agentes intermediarios da producção da riqueza banco com disposições de outros bancos acredi
nacional. Se o bunco floresce, se tem algum lu tados.
cro, ahi temos florescendo os accionistas, os in O banco de Inglaterra na sua instituição teve
teressados do banco ; com çlles o paiz tambem obrigação de pagir os juros da divida publica, e &
vem a florescer, porque crescendo a riqueza na imitação desto o de França principiou tambem
cional cresce com ella a actividade da industria logo com este dever. Já o infeliz banco hespa-
do paiz. Se porém o banco não prosperar, temos nhol do S. Carlos tinha a obrigação de prestar
uma infelicidade publica ; temos a perda da for soccorros ao governo ; e não fallio por isso, mas
tuna dos accionistas, dos interessados, ou de parto pela illimitada concessão de emissoes.
delia ; temos a perda de nossas esperaças de Ha entre nós tambem a lei do ti de Outubro
melhoramento do meio circulante na especie pre de 1833, creando o banco do Brazil, que não se
sente ; mas nas vantagens que elle produzir á realisou ; e nessa lei eu encontro disposições quasi
industria e ao commercto, nas desvantagens que identicas ás que se achão no projecto ácerca do
elle possa dar, eu não vejo nada que vá de en papel- moeda.
contro ás liberdades publicas. E para que se Estes estabelecimentos concorrendo para sus
enxergasse nos bancos alguma cousa contra as tentar, e mesmo elevar o credito dos governos ;
liberdades publicas, era necessario primeiro con- reconhecendo tacitamente a intima ligação de
sideral-os, não como simplices agentes intermedia seu proprio credito com o do governo, quando
rios da riqueza publica, era mister consideral-os, operao de harmonia com esse fim, produzem
nnd como uma pessoa moral, mas como uma bens no futuro incalculáveis. Tornão-se finalmente
pessoa physici jogando com grandes capitaes , um dos mais fortes elementos de estabilidade e
dispondo de uma só vontade, e de suas proprias ordem. E isto reconhece hoje o mundo civili-
forças. sado, e já era apregoado por escriptores da
Accrescentou depois o nobre deputado que não elevados talentos como Bouchaud, De Maillane,
considerava a creação do banco como consequen e De Lalande.
cia das necessidades do commercio, ou levando A discussão fica adiada pela hora. Levanta-se
por fim principal favor á industria, e antes como a sessão ás 2 J{ horas da tarde.
um meio do substituição do papel do governo,
que faz actualmente . as funeções de numerario.
E que achava desnecessaria esta providencia ,
porque a moeda papel era acreditada presente
mente e realisavef.
Se o nobre deputado ou alguem me pudesse
afiançar 'a duração não interrompida desse cre
dito do papel-moeda, cu concordaria com elle,
que acha desnecessaria a substituição, sem toda
via aceitar a moeda-papel com a virtude de ser
SESSÃO EM 20 DE JUiXHO DE 1853 255
Sess&o em 20 de Junho a A assembléa geral legislativa resolve :
« Art unico.—Fica approvada a pensão annual
PRESIDENCIA DO aB. MACIEL MONTEIRO conce lida por decreto de 19 de Agosto do anno
pissado a José Rodrigues dos Santos Neves,
Summario. — Expediente. — Ordem do dia. — Em- 2° sargento do 2° baiallião de gu irdas nacionaes
lumentos parochiaes. Discurso do Sr. Nabuco. do municipio do presidio d i provincia de Minas-
Votação.—Registro de hypothecas. Discurso do Geraes, correspondente ao soldo e etape de -400 rs.
Sr. Ferraz.—Pensão a D. Anna de Macedo. — que percebia pela respectiva thesouraria provin
Pensão d viuva do desembargador Agostinho cial, em remuneração dos serviços prestados á
de Souza Loureiro. Disciírso do Sr. Oliveira causa da ordem, na sobredita provincia, onde foi
Bello.—Banco nacional. Discurso do Sr. Ro gravemente ferido em combate nos campos de
drigues Torres. Votação. Santa Luzia, percebendo-a desde a dada do referido
decreto, revogadas para este fim as disposições
A's 10 horas, feita a chamada, achão-so pre em contrario.
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido, « Paço da camara dos deputados, 18 do Junho
Araujo Lima, Fleury , conogo Leal , Siqueira do 1853.— Gomes Ribeiro.—J. E. de N. S. Lo
Queiroz, Miranda, Ribeiro, Ferraz, Paula Santos, bato. »
Horta, Pereira Jorge, Machado, Lindolpho, L. ORDEM DO DIA
Araujo, Nabuco, Magalhães Castro, Candido Men EMOLUMENTOS TAROCHIAES
des, Mendes da Costa, barão de Maroim, Livra
mento, Wilkens, Castlllo-Branco, Vasconcellos, Continua a discussão do adiamento proposto
Pereira Rocha, Pacheco Jordão, Teixeira de Souza, pelo Sr. Paranaguá ao projecto r. 53 deste anno
Domingues Silva, José Assenso, Bello, Monteiro a respeito de emolumentos parochiaes.
de Barros, Rodrigues Silva, Fernandes .Vieira, Posto o adiamento a votos não é approvado, e
Gouvêa, Teixeira de Macedo e Aprigio, continua portanto a discussão do projecto.
Comparecem depois da chamada os Srs. Brus- O Sr. Nabuco: — Sr. presidente, pedi a
gue, Candido Borges, Theopliilo, Ignacio Barboza, palavra para offerecer á consideração da casa
vieira de Mattos, vigario Silva, Bretas, Ribeiro uma emenda substitutiva que me parece de
da Luz, Fausto, Pimenta Magalhães , Gomes grande importancia.
Ribeiro, Paula Fonseca, Dutra Rocha, visconde Em 181Ó o Exm. diocesano de Pernambuco
de Baeponly, Rego Barros, Souzi Leão, padre organisou uma tabella dos emolumentos paro-
Campos, Sã Albuquerque e Paes Barreto. - chiaes e direitos da estola, e pedio a sua approva-
E havendo numero legal, ãs 11 horas menos ção ao governo imperial.
10 minutos, o Sr presidente declara aberta a Submottido esto negocio á secção de justiça
sessão. do conselho de estado, opineu ella a favor desta
Lido e approvada a acta da sessão antecedente tabella, quanto á sua materia, mas entendeu que
o Sr. 1° secretario dã conta do seguinte. não era da competencia do poder executivo, senão
do legislativo, a approvoção delia; porquanto os
EXPEDIENTE emolumentos parochiaes constituem um imposto,
cuja iniciativa compete & camara dos deputados,
cuja creação pertence ao poder legislativo.
Um officio do Sr. ministro do imperio, parti Vindo esse negocio a esta camara, a com
cipando qne expedira aviso aos presidentes das missão dos negocios «eclesiasticos, da qual era
provincias de Pernambuco, Piauhy, Minas-Geraes, relator o Exm. bispo conde de Irajá, approvou
Maranhão, Alagoas e Rio de Janeiro, para que, essa tabella com algumas emendas que tinhão
na conformidade do que resolvêra esta camara em vista resguardar os direitos dos parochos
sobre as eleições de deputados pelas ditas pro das freguesias e provincias que fazem parte do
vincias u actual legislatura, expeção as ordens bispado de Pernambuco, os quaes serião preju
e communicações necessarias.—Fica a camara in dicados por unia medida geral e comprehensiva
teirada. do toda a diocese.
Outro do Sr. deputado Viriato Bandeira Duarte, Em consequencia a commissão dos negocios
communicando que não póde comparecer por mo ecclesiasticos de 1846 offereceu para esso Um a
tivo de molestias. —Inteirada. seguinte resolução, que diz assim :
Um requerimento de Eugenio Augusto de Mi « A assembléa geral lo jislativa resolve :
randa Monteiro de Barros, pedindo dispensa do « Artigo unico. A tabella que regula os direitos
exame de mathematicas para se matricular na parochias e emolumentos que se devem perceber
escola de medicina.—A' commissão de instrucção pelas fuucções ecclesiasticos em todas as fregue-
publica. zias do bispado de Pernambuco, mandada orga-
E' julgado objecto de deliberação, e vai a im nisar o assignada pelo bispo desta diocese em
primir para entrar na ordem dos trabalhos o data de 21 do Maio de 1845, ó approvada com as
seguinte parecer : seguintes alterações :
« § 1.» O estipendio das missas cantadas, de
« A commissão de pensóes e ordenados, exa que tratão os §§ 1°, 2°, 3° e U do tit. 1°,
minando attentamente o decreto do governo sem as distincçóes que ahi são feitas, é fixado
de 19 de Agosto do anno proximo passado, o em 4$000 e- em 2$O0J tambem sem essas dis
os papeis que o acompanhárão, pelo qual foi tincçóes o estipendio dos -ministros que servsm
concedida a pensão aunual, correspondente ao ao altar nessas missas.
soldo e á ctape de ICO rs. que percebia pela « § 2 ° O estipendio ao parocho por cada dia
respectiva thesouraria provincial ao segundo sar de neTnna, de que trata o tit. 6°, é elevado
gento do" 2» batalhão de guardas nacionaes do a 2«000.
municipio do Presidio da provincia de Minas- « § 3.» No memento ou enterro solemne, tanto
Geraes, José Rodrigues dos Santos Neves, que de adultos como de parvulos, de que trata o
fóra gravemente ferido em combate nos campos tit. 11, a offerta ao parocho pela sua assistencia
de Santa Luzia, de que resultou ficar impossi sem pluvial é elevada a 2/f000.
bilitado de haver os necessarios meios para a « § 4.» Ao parocho pela sua presidencia, e por
sua subsistencia, é de parecer que se approve cantar a missa no officio parochiat, de que trata
a sobredita pensão, para o que offerece a se- • o tit. 14, dar-se-ha a esmola de 6#, e de 2$ aoa
guinta resolução : outros sacerdotes assisteutes.
256 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
« 5.» No tit. 15 g ultimo, quando sa trata do da secção de justiça do conselho de estado. Mando
estipendio pela licença que der o parocho para á mesa a emjndi.
outro sacerdote b»)itisar em qualquer igreja fóra Sendo apoiada entra em discussão, juntamente
da freguezia, accrescentese — não se achando o com o projecto, que posto a votos , não é ap-
parocho em desobriga. —E no tit. 10 § 5°, em lu provalo, c é approvada a seguinte emenda :
gar das pai ivras — conforme o costumo da dio « Ofiereço como emenda a resolução r. 40 de
cese — digu-se—conforme o costume da parochia. 1840. — Nabuco. »
« § 6.» Ao parocho pela certidão de baptismo,
casamento e outras da que trata o tit. 17, pa- REOISTRO DE HYPOTHECAS
gar-se-háo .480 rs. de busca, quando essas certi-
dõeã forem extrahidas de livros findos. E se as Continua a discussão dos adiamentos propostos
certidões que so pedirem forem do data do mais pelos Srs. Silveira da Motta e Ignacio B u bosa ao
de 30 annos, a busca será paga segundo fór con Íirojecto r. 03 do anno passado sobre registro de
vencionado entre o parocho o o que pedir tal lypothecas.
certidão.
. « g 7.» Para intelligencia e execução do tit. 20, O Sr. Forraz : — Sr. presidente, as palavras
versando sobro disposições particulares relativas que o nobre deputado pelo Ceará empregou no
ás freguezias do campo, serão consideradas taes correr do seu discurso me obrigárão a tomar
as que não se acharem comprehondidas nas ci parte nesta discussão.
dades. O nobre loputado disse que porque era obra
sua o projecto em discussão elle aceitava o ar
« Paço da camara dos deputados, 3 de Julho bitrio de ir a uma commissão o mosmo projecto
de 1840. — Bispo conde capelWomúv. — Thomaz para ser melhor elaborado.
Pompêo de S. Brazil —Antonio Pinto de Men Senhores, se houvesse um motivo sufficionte
donça . » para eu votar contra o adiamento, seria certa
Esta resolução nunca teve discussão nesta casa, mente as palavras do nobre deputado. Eu presto
ficou no olvido. Entretanto, posto o negocio es ao nobre deputado o maior reconhecimento e res
tivesse affecto ao poder logislativo, o Exm. bispo peito aos seus talentos e á sua capacidade, e este
diocesano organisou em 1850 uma outra tabella, reconhecimento não data de hoje, daU desde que
que submetteu á approvação do poder execu pela primeira vez o ouvi como advogado do tribunal
tivo. do jury desta corte que então dirigia. Já vê pois
As differenças de uma tabella a outra são pou o nobre deputado que eu presto grande confiança
cas, entre ellas as seguintes : 1°, o Exm. bispo nos s 'us conhecimentos, e que tilvez a olhos
diocesano elevou os direitos do sacramento do fechados, as cégas, eu votasse pelo projecto que
baptismo, sendo que, conforme o costume, nas elle apresentou, so esta consideração fosse uni
freguezias da provincia de Pernambuco os direi camente sufficionte para um voto.
tos parochiaes de baptismo erão 320 rs. na ma Se o nobre deputado mb permittir algumas re
triz, o estes direitos pela tabella de 1850 são ele flexões verá quu ou encontro alguma difficuldade
vados a I$ na matriz o 2$ nas filiaes. em votar pelo projecto tal qual está, e por isso
Eu tenho uma memoria que me dirigio a ca é que eu votarei por qualquer adiamento que
mara municipal do Garanhuns da minha pro tenha por fim proporcionar ao credito hypotliecario
vincia reclamando contra esta elevação nos direi ou territorial tudo quanto ó de mister pira que
tas parochiaos do baptismo. Senhores, augnien- elle seja uma realidade entrenós.
tem-se embora os direitos respectivos ás festivi O nobre deputado dissõ que havia muitas me
dades e os que são de luxo e ostentação, porém didas que tendião a formar ou augmentar o cre
devem diminuir-se quanto é posslvel os direitos dito hypotliecario ou territorial ; trouxe a instruc-
sobre a administração dos sacramentos. (Apoia ção especial, trouxe as vias de communica-
dos.) ções, e outras muitas cousas; mas o nobre de
putado mo permittirá que eu lhe considere que
Portanto, a tabella de 1840 levou grande van todas estas cousas que referio podem augmontar
tagem a esta neste ponto importante : a outra o valor da propriedade, mas não formar o cre
differença da tabella de 18õ0 consiste em que o dito hypotliecario ou territorial, que não vem a sor
Exm. bispo diocesano autorisa os capelláes das outra cousa mais"do que a confiança que inspira a
irmandades do Santissimo Sacramento cantar as piopriedado áquelles que têm de emprestar sobre
missas semanarias, direito que pertence aos pa ella os seus capitaes. Ora, esta confiança póde
rociio?., e dos quaes não os podia o bispo oxau- despparecer muito bem á vista do estado da le
torar ; não tratarei porém desta questão, porque gislação do qualquer paiz, se esta legislação não
ella está fóra da alçada do poder temporal , é garantir a publicidade do seu onus, tal que re
uma questão puramente eccleslastica ; o recurso duza os calculos dos capitalistas á unica opera
occlesiastico que podem ter os parochos se soffrem ção do sommar as vantagens o diminuir os en-
injustiças, é o recurso á corõa. coigos a uma verdadeira operação aritlnnetica.
O Sr. Corrêa das Neves : — A commissão to Eu creio que o credito territorial não pòde
mou isso em consideração. de maneira alguma estabelecer-se assim como se
acha a fice da nossa legislação civil. O nobre
O Sr. Nauuco : — A commissão supprimio essa deputado parece reputar a publicidade ou o re
disposição da nova tabella, não porque reconhe gistro das hypothecas um dos meios mais pode
cesse a incompetencia do poder legislativo, mas rosos para promover este fim ; permitta-me porém
porque tomando conhecimento da materia reco a seguinte reíluxáo. Este meio sómepte póde
nheceu a injustiça feita aos parochos. comprehender as que podem liquidar-se na época
Ora, se a tabella do 1840 tem por si o exame actual : mas naquellas, perguntarei eu, que se
da secção de justiça do conselho do estado, tem não podem liquidar, ou porque as pessoas já
por st o voto do Exm. Sr. bispo conde de Irajá, não existem ou por outra circumst meia seme
que é um voto muito respeitavel e competente lhante ? Por exemplo, o tutor que já não existe
na miterin, parece-me que devo sor do preferen não póde cumprir o preceito da publicidade, no
cia adoptada ossa tabella do 1Ò40. r-ntretanto que os seus bens estão sujeit is á hy-
Portanto atrevo-me ã submetter á considera pitheca legal ou taciia. Mas não me embaraçarei,
ção da casa uma emenda quo consiste em ser não entrarei nesta questão, irei á outra ; direi
preferida a tabella de 1840. Ella está impressa, entretanto á camara que são breves reflexões
e póde ser examinada por todos os Srs. deputa que apresento ; a materia offerece muito para se
dos, além do que ella tem, como já disse, o exame discutir.
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 257
O nobre deputado disse : « O governo em re obstante o respeito que consagro aos seus ta
gulamento determinará o modo pratico do regis lentos, a suas idéas e a suas obras, votar pelo
tro das referidas hypothecas e que os effeitos adiamento. Não duvido comprometter-me com o
legaes do mesmo registro, etc. » Pois eu hei de nobre deputado para envidar tod is as minhas
delegar ao governo a principal, a mais impor forças ahm de que nesta sessão alguma cousa
tante commissão que nós temos, o determinar se apresente que de algum modo melhore o
quaes os effeitos da falta do registro das hypo projecto do nobre deputado, e ao mesmo tempo
thecas, es effeitos legaes desse registro? Senhores, estabeleça as verdadeiras bases, ou as primeiras
o registro das hyputliecas não pode trazer bem bases quando menos, do credito territorial. Eu
algum sem que seja acompanhado da competente não quererei que tudo vá do repente, quererei
saneção, e ó justamente esta saneção que o nobre algumas cousas, algumas bases, depois. nos fare
deputado deixa ao governo. 0«a, porque não mos e mais.
havemos nós de estudar o que é de mister ? Porque Não fallarei a respeito do outro projecto que
não havemos nós de deliberar aquillo que con se quer que vá á commissão : esse outro pro
vém em um caso de tanto momento como este ? jecto tem um fim muito especial, que é autorisar a
Em outro artigo estabelece o nobre deputado dispensa do privilegio do que gozão dous ramos
como garantia contra a fraude dos tutores pela da nossa industria, a industria, permitta-se-ine
falta do registro a sua punição, ns penas do a expressão, sacharina ou dos senhores do en
crime de estellionato, mas diz entretanto «qual genho, e a industria mineira. Bein so vê que
quer que fõr a falta do tutor, os tutelados não isto é cousa muito especial. Entretanto quando
podem por maneira alguma soffrer o menor pre so tratar desse projecto, pedirei licença ás pes
juizo em seus interesses, em sua propriedade.» soas nelle interessadas para lhes rogar que atten-
Eu peço ao nobre deputado que reflicta bem no dão para o grande mal que vem desse privilegio,
estado em que fica o capitalista se acaso se mal que tem sido revelado por todas ns pes
der esta falta do tutor. Esta, medida deve ser soas }ue têm tratado dos interesses das colo
tal que o capitalista fique seguro : é preciso asse nias francezis, mal que entre nós tambem so
gurar não só o interesse do capitalista, mas dá; é a faculdade que têm os proprietarios de
ainda os interesses dos menores, dos desassisados engenho de dispór, como bem quizerem, dos es
e outras pessoas que gozão úo favor da legislação. cravos, em perda do capitalista que lhes em
Assim que noste ponto a vantagem do registro prestou dinheiro.
cessa. Elles gozão da integridade, mas a capitalista
Ora, como esta outras muitas cousas se po- não se conserva a integridade. Os proprietarios
dião ainda ponderar, e esta era a razão porque podem roduzir a fabrica ao casco, e sabemos que
particularmente, quando a nobre deputado orava, entre nós qualquer fabrica sem braços não serve
eu lhe pedi que admiftisse o adiamento. de nada, ó uni capital talvez improductivo, se
Não ha nada mais importante hoje entre nós do não se lhe applicar a força necessaria para
que prover o credito territorial com aquillo que movèl-o.
é de mister para leval-o a esse estado da reali Neste sentido, se o nobre deputado me per-
dade. (Apoiados.) Em outra occasião já tive de mitte, votarei por qualquer dos dous adiamentos.
ponderar á camara com as palavras de um cele Julga-se a materia suficientemente discutida.
bre jurisconsulto francez (o Sr. DuprnJ, que a E' approvado o adiamento proposto pelo Sr. Igna
tetra, que devia ser a cousa que mais garantia cio Barbosa para que o projecto seja remettido
deve prestar, é a qne entre nos menos presta, e a uma commissão especial ; fica portanto preju
não só entre nós como em outros paizes. dicado o do Sr. Silveira da Motta, remettendo
Senhores, a legislação franceza ó de data pos ta"nto este projecto como o do Sr. Carneiro de
terior á nossa legislação civil ; o codigo Napo Campos á commissão de justiça civil.
leão, tão luminoso como é, e que por sou merito
tem sido adoptado como legislação de differenles O Sr. Presidente : — O autor do adiamento
povos, como disse o grande Rossi, não está ao não designou o numero de membros do que se
par do progresso social, o todos os escriptores deve compór a commissão, disse simplesmente
ponderão a necessidade de revêl-o par i assentar que o projecto fosse a unia commissão especial
bem o credito hypothecario ou o credito territo sem declarar de quantos membros. Devo crer
rial. Em 182ò Cassimir Perrier propòz um premio tambem que esta commissão é interna e não
áquelle que apresentasse a melhor reforma da externa. Em todo o caso, proporei á camara a
legislação nesta parto ou as melhoras bases da duvida que tenho sobre o numero de membros
reforma da legislação nesta parte. Posteriormente de que deve ser composta a commissão...
o ministro Martin (du Nordi mandou fazer unia in Vozes : — Do tres membros, como as commis-
quirição, mandou consultar todos os tribunaos, sões permanentes da casa.
todas as academias sobro esta materia. Ainda de
pois um outro ministro, creio -qne Cunin Gridaine, O Sr. Presidente : — As commissões da casa
oceupou-se desta materia. Entretanto ainda nessa são todas de tres membros. .
celebre discussão havida sobre o credito territorial O Sr. Oliveira Bello :—Proponho que a com
na assembléa franceza, um celebre jurisconsulto, missão seja de tres membros.
que V. Ex. deve bem conhecer, o Sr. Vattes- Alguns Srs. Deputados : — Interna ou ex
menil, ponderou qu* antes de tudo convinha a terna ?
reforma das leis hypothecarias, para que se
pudesse assegurar ao capitalisti a inteira reali- O Sr. Fiusa:—Bom seria que fosse externa.
sação de suas dividas. O Sií. Presidente : — O Sr. deputado pelo
Ora, se isto succede na França, onde existo o Rio-Grande do Sul propõe que a commissão seja
codigo Napoleão, um dos mais luminosos -do do tres membros ; vou pór a votos este re
seculo, codigo que tem sido adoptado por muitas querimento.
nações civilisadas, como entie nós não se dar Consultada a camara a este respeito, decido
a mesma necessidade, nós cujas leis remontão que a commissão seja do tres membros da
a épocas muito obscuras, cuja lei mais proxima casa.
é de 1774, promulgada ha perto de um seculo ?
Senhores, eu poderia ainda tocar em alguns Um Sr. Deputado : — Agora outra questão ;
pontos do discurso do nobre deputado em relação por quem será eleita a commissão ?
ue credito da Allemanha. mas creio que isto O Sr. Presidente: — Julgo que deve ser
seria impertinente agora para o caso. Pedirei eleita píla camara, o vai-so proceder a essa
pois ao nobre deputado que me consinta não eleição por escrutínio secreto.
tomo 2. 83
258 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Wanderlev : — E' melhor ficar isto ção daquella provincia, e nessa occasião pres
para ordem do dia de amanhã. tou relevantes serviços á causa da integridade
O Sr. Presidente : — Bem, eleger- se-ha a do imperio, pondo em contribuição toda sua in
commissão amanhã. fluencia de primeiro magistrado daquella loca
lidade, não só para combater as machinações
PENSÃO A D. ANNA DE MACEDO dos rebeldes, como para reunir força em favor
da legalidade. Estes serviços achão-se provados
Entra em discussão a resolução r. 2 deste anne, pelos documentos que acompanhão o docreto da
que approva a pensiio de iS008 concedida a D. Anna concessão da pensão.
de Macedo, viuva de Alvaro Teixeira de Macedo, Quando os rebeldes conseguirão dominar a
encarregado de negocios ein Bruxcllas. comarca de Missões, e intercoptárão a commu-
nicação com a capital da provincia, elle abandonou
O Sr. Pereira da Silva ( pela ordem) pede o imperio emigrando para o Paraguay, e depois
que esta resolução tenha uma só discussão, a para a confederação Argentina, donde se retirou
exemplo das outras de que a camara já tem para esta córte, e aqui esteve até que foi re
tratado. movido para a comarca do Porto-Alegre. Nesta
Sendo approvado esto requerimento, entra a comarca servio até 1846, vendo com a maior
resolução em uma unica discussão, na qual é resignação e sem fazar reclamação alguma serem
approvada sem dehatè por escrutinio secreto. promovidos a desembargadores muitos juizes de
direito mais modernos do que elle, e que menos
PENSÃO A D. MARIA GENEROSA LOUREIRO serviços havião prestado.
Em 1846, não podendo continuar a servir por
Entra em discussão o seguinte parecer soh sua avançada idade de 68 annos, aggravada
r. 39 de 1848 : por molestias chronicas, requereu e obteve a
« Por decreto de 12 de Maio de 1847 foi con sua aposent idoria com o predicamento de des
embargador. Porém pouco gozou do beneficio da
cedida a D. Maria Generosa Loureiro uma sua aposentadoria, porque cinco mezes depois mor
pensão animal de U00$, em plena remuneração reu, legando ã sua familia, composta de sua
dos serviços de seu finado marido o desembar mulher e cinco filhos menores, sóinente a me
gador Agostinho de Souza Loureiro. moria de sua vida honrada e o valor moral
« A coininissão de pensões e ordenados, a dos seus serviços.
quem foráo presentes a cópia do citado decreto O governo imperial acudio a essa familia,
e os docuTnentos que a aconipanhárão, enten concedendo-lhe, para tiral-a das garras da in
dendo, depois de examinal-os com acurada atten- digencia, uma pensão annual de 600$ pelo de
ção, que estes serviços não são relevantes, e creto de 12 de Maio do 1817, em plena remu
procedendo apenas do exercicio de varios lu neração dos serviços do honrado magistrado, mas
gares de magistratura do Ia instancia, estão esse decreto não mereceu a approv ição da com
sufficientemente retribuidos com os yencimentos missão de pensões e ordenados de 1848, pelos
percebidos pelo marido da agraciada, o qual fundamentos exarados no parecer qua o Sr. 1°
sendo juiz de direito da 1* vara crime da co secretario ha pouco leu.
marei da capitaI da provincia do Rio-Grande Esses fundamentos são : 1°, que os serviços
do Sul, foi aposentado em 1840 com as honras prestados por esse magistrado foráo sufficiente-
de desembargador da relação do Rio de Ja nn:nte retribuidos com o ordenado .iue percebia ;
neiro ; que é rigoroso dever dos empregados 2", que elle nunca prestou serviços extraordina
publicos servir com zelo e honr idamente ; que rios : que as finanças do paiz não podião
par o haverem feito e morierem pobres não supportar a despeza da pensão annual de 600$
corre ao estado a obrigação de sustentar suas concedida á sua viuva e orphãos.
familias ; que fòra injusto e mesmo odioso con- Quanto ao primeiro fundamento, senhores, diroi
ceder-se assim a agraciada um favor recusado que se elle fosse procedente a viuva e orphãos
a outras viuvas em circumstancias identicas ; e de nenhum funecionario publico, nem mesmo do
finalmente, que o estado financeiro do paiz exige militar que no campo de batalha expõe a sua
a mais severa economia na applicação da fenda vida, terião direito á gratidão da patria , por
publica, é de parecer : que todos os funecionarios publicos de qualquer
« Que se não approve a pensão annual de ordem que sejão recebem um ordenado ou soldo
600$ concedida por decreto de 12 de Maio de em retribuição de seus serviços. Portanto não
1847 a D. Maria Generosa Loureiro, em plena póde proceder essa razão, sob pena de passarem
remuneração dos serviços prestados por seu fi por injustas todas quantas pensões o poder exe
nado marido o desembargador Agostinho de cutivo tem concedido e o poder legislativo tem
Souza Loureiro. approvado ás viuvas e aos orphãos dos servi
« Sala das cominissões da camara dos -depu dores do estado.
tados, 16 de Junho de 1818.—Lopes Netto. — Quanto ao segundo fundamento, direi que outras
P. de A . Cerqueira Leite. » muitas pensões têm sido concedidas pelo governo
O Sr. Oliveira Bollo : — Sr. presidente, e approvadas pelo poder legislativo a viuvas e a
pedi a palavra para combater o parecer da com orphãos de funecionarios publicos que não tiverão
missão e offerecer uma emenda substitutiva, afim occasião de prestar os serviços extraordinarios
de que a camara dos Srs. deputados se digne de que falia o parecer.
approvar a pensão concedida pelo governo im E a este respeito ainda direi que não ê ver
perial em 1817 a viuva e orphãos do desem dadeira até certo ponto a opinião da commissão,
bargador Loureiro . porquunto eu já disse de passagem que o des
O desembargador Loureiro, senhores, foi um embargador Loureiro além do ter servido com
dos mais antigos magistrados da primeira instan honra e probidade ai funeções do emprego de
cia no nosso paiz. Em 1823 foi elle nomeado magistrado de primeira instancia por 24 annos,
juiz de fóra para uma das comarcas de Minas; prestou na occasião da revolução da provincia
depois de ter alli servido por alguns annos do Rio-Grande do Sul serviços a que não era
sempre o melhor possivel, passou a sor ouvi obrigado em prol da integridade do imperio.
dor na provincia de Santa Catharina ; o depois Além disto o desembargador Loureiro soffreu
da promulgação do codigo do processo criminal pacientemente innumeraveis preterições , e por
foi elle nomeado juiz de direito para a comarca tanto parece que o paiz deve a seus herdeiros
do Missões na provincia do Rio-Grande do Sul. uma tal ou qual compensação dessas preteri-
Nessa comarca servio até á época da revolu
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 259
Quanto ao terceiro fundamento, finalmente , semelhante natureza , aindí assim fóra pre
direi que se ein 1848, quando o poder legisla ciso suppór, para ser exacta a proposição do
tivo teve de approvar um numero muitissimo honrado membro, que o'Brazil não progredirá,
consideravel do pensões para remunerar os ser que nos conservaremos estacionarios eternamente,
viços prestados pelos defensores di ordem em Per que a riqueza não augmentará.
nambuco e Rio-Grande do Sul, e quando as cir Mas, se não podemos acreditar que assim
cumstancias do p»iz erão mui pouco lisongeiras, aconteça, se não podemos presumir que o Bra-
esse fundamento poderia ser procedente, certo, zil so conservará estacionario para todo sempre,
senhores, não o e hoje, que todos nós sabemos ainda que os capitaes hoje existentes ficassem
que as financas têm melhorado muito, que em exhauridos pela creação do banco de que tra
vez do grande deficit que então havia ha um tamos, os que se formarem d'ora em diante po
saldo a favor do thesouro. derão ser applicados na creação de outros es
A' vista destas razões, julgo que a camara tabelecimentos de credito.
dos Srs. deputados fará um acto de verdadeira E será com effeito exacto que todos os .capi
justiça se, rejeitando o parecer, approvar a taes disponiveis do Brazil serão absorvidos pelo
emenda substitutiva que vou mandar á mesa banco de que trata o projecto? Ex-istem já no
approvando a pensão concedida á viuva e or- Rio de Janeiro duas instituições bancaes ; mal
pli aos do desembargador Loureiro. organisadas no meu conceito, imperfeitas , em
A discussão fica adiada pela hora. verdade, mas que possuem já realisado o ca
pital de 12,000:000/). .Convém aos interesses do
BANCO NACIONAL paiz , aos interesses do publico, e mesmo
aos interesses desses dous estabelecimentos ,
Continua a discussão do projecto r. 23 deste que elles se refundão no banco nacional. Sendo
anno, creando um banco nacional. assim, já ahi estão 12,000:000)} para fazerem
parte do fundo Jo novo banco.
O Sr. Presidente :—Se não ha mais quem Ainda mais, estes estabelecimentos, além dos
peça a palavra vou por a votos. seus, girão com capitaes estranhos na impor
O Sr. Roiirioues Torres (ministro da fazenda) : tancia de 12 a 18,000:000$. E estes capitaes que
— Peço a palavra. os bancos existentes recebem por emprestimo é
O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. mi natural que concorrão para tomar acções do
nistro. novo banco. E' muito de presumir que ninguem
prefira emprestar dinheiro a empregal-o em ac
O Sr. Rodrigues Torres (ministro da ções que lhes darão maiores lucros do que o juro
fazenda) :—Enttndi, Sr. presidente, não ' dever que recebem dos bancos. Devemos portanto con
deixar encerrar a discussão do projecto do que tar que uma grande porção de 12 a 18,000'000$
nos occupamos sem dar algumas explicações que que fazem parte do giro dos estabelecimentos
me forão pedidas pelo honrado membro que fat bancaes hão de concorrer para o fundo do novo
iou em primeiro lugar na sessão de ante-hon- banco. Se os avaliarmos em 12,000:000$, e os
tem. reunirmos aos outros 12,000:000)) de que já fallei
Esse illustre deputado forrou-me ao trabalho teremos 21,000:000$, que poderão constituir fundo
de mostrar as vantagens das instituições bancaes incorporado do banco nacional. Ora, se ê pro
e desenvolveu-os com tanta lucidez e tão am vavel que só na capital do imperio so possão
plamente, que nada me deixou a accrescentar ; haver 24,000:000$, sem contar as quantias com
infelizmente porém não está elle de accordo com- que poderão concorrer as provincias, não vejo
migo em todas as bases do projecto que dis razão para pens ir que o fundo de 30,000:000$
cutimos, e obriga-me assim a justificar as que ha de exhaurir todos os recursos do imperio.
forão impugn idas. Procurarei fazêl-o do modo Esta proposição me parece inteiramente gra
mais breve qne me fór possivel. Antes, porém, tuita.
de encetar essa tarefa," seja-me permittida uma Disse-se ainda que os privilegios que se con
observação. cedem ao estabelecimento de que se trata im
Tem-se dito que o projecto submettido a esta pedirão a formação de outros da mesma natureza
augusta camara tem por fim principal o melha- mas que privilegios são esses ?
ramento do meio circulante. Esta proposição não O Sr. Bandeiua de Mello :—São privilegios
me parece exacta. O' fim principal do projecto muito importantes.
é dar desenvolvimento e expansão ao credito,
e por este meio auxiliar as operações do com- O Sr. Rodrioues Torres:— O projecto não es
mercio e da industria ; mas como o melhora- tabelece outro privilegia exclusivo senão o de
ramento do meio circulante é, no meu entender soi em admitidos nas estações publicas os bi
uma necessidade publica, e concorrerá igual lhetes do bunco.
mente para que as instituições ' bancaes obrem O Sr. Bandeira de Mello :—E tambem o de
co.n mais liberdade e desembaraço, entendi que estender ou de permittir a emissão de suas no
convinha chamar tambem o concurso da insti tas nas provincias onde houver caixas filiaes.
tuição que so pretende crear em auxilio deste
melhoramento. O Sr. Rodhioues Torres :—Isto póde-se con
Dada esta explicação procurarei examinar até ceder a qualquer outro banco que se tenha de
que ponto s.io fundadas as objecções feitas a organisar. O unico privilegio exclusivo é, como
algumas das bnses do projecto. Disse-se que se disse, e de serem, admittidos nas estações pu
elle fór approvado importará uma prohibição de blicas os bilhetes do banco ; mas em compensa
qualquer outro estabelecimento bancai que não ção não lhe impõe tambem o onus do emprestimo de
seja o do que agora tratamos: 1°, porque o 10,000:000$ por espaço de 30 annos, sem que o
fundo capital de 30,000:0001) absorverá todos os governo pague juro algum desta quantia? Tal
recursos do paiz, e tornará irrealisavel a cr a- vez que o banco preferisse antes que não se
ção de outros estabelecimentos da mesma or admittissem os seus bilhetes nas estações pu
dem ; 2°, que ainda quando assim não fosse , blicas, se ficasse isento da obrigação de fazer
os privilegios concedidos pelo projecto tornarião o emprestimo de que trata o projecto ; é isto
impossivel a concurrencia de outros bancos. muito possivel.
Sr presidente, ainda concedendo que a for Não servirá pois o privilegio a que me refiro
mação do fundo capital de 30,000:000$, absorva de obstaculo a outros bancos que se queira
todos os recursos do paiz, todos os capitaes que crear : su is notas não serão admittidas nas os-
podem ser destinados para estabelecimentos de tações publicas, mas tambem não se lhes im
260 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
porá o ónus de fazerem emprestimos no governo saber se é necessaria ou não a concurrencia doa
Sa terça parte de seus respectivos fundos in bancos ; não pretendo entrar neste exame, sei que
corporados. Os bilhetes do banco da Inglaterra é questão que tem sido muito discutida, e sobre
não têm só o privilegio de serem adinittidos a qual hão pronunciado opiniões dilTerentes muitos
nas estações pnblicas, são demais moeda de homens celebres ; mas o que digo ó que, se a falta
pagamento, e entretanto não tem este privilegio de concurrencia tem inconvenientes, a rivalidade
inhibido que naquelle paiz se creóm muitos dos bancos tambem as tém...
outios bancos. Um Sr. Deputado:— Isso 6 quando ha abuso.
O Sr. Bandeira de Mello:—Julgo que os ou O Sr. Rodrioues Torres: — O que diga é que
tros não fazem emissão. não tratamos de decidir esta questão : o projecto
O Sr. Rodrioues Torres:—O honrado membro de que nos oceupamos não inhibe a cr. ação da
está enganado. outros bancos. . .
O Sr. Bandeira de Mello:—Assim como tam" O Sr. Fiusa.-— Apoiado; o projecto não inhibe
bem julgo que o banco da Inglaterra não faz a concurrencia.
descontos senão em occasiões extraordinarias. O Sr. Rodrioues Torres: — O honrado membro
O Sr. Rodrioues Torres:—Perdõo-me o hon receia tambem que a creação do banco nacional
rado membro; ha naquelle paiz bancos particu irá dar origem a uma aristocracia do dinheiro
lares, qne não tendo sufficiente credito para fa que o assusta e aterra ; parece-lho que vamos
zerem aceitar pelo publico as suas notas, aiustão-se erigir um colosso, cujos braços nervosos suffo-
com o banco de Londres, e em lugar das suas carãõ em breve tampo as instituições o liberda
emittem as notas deste banco ; mas o joint- des patrias.
stock-banks não só tem a faculdade do emittir, Senhores, quando o honrado membro manifes
mas emittem effectivamente. Esta faculdade foi tava esses receios assegurava-se-me que elle evo
restringida em 1844 polo acto de Sir Robert cava um phantasma do mundo das chimeras para
Peei, que limitou a emissão ao termo médio da ter o prazer de combatêl-o. Receia-se a influen
dos tres annos anteriores; mas não foi cassada cia da aristocracia de dinheiro iu Brazil, onde
por essa lei. o espirito de igualdade e democracia transuda
Assim, pois, o projecto não inhibe que possão per todos os póros da sociedade ?. . . Não, se
ser creados outros bancos além daquelle de que nhores, no meu entender esses receios são exage
tratamos ; o projecto, digo, não inhibe a con- rados. De ordinario, o espirito commercial ó
currencia dos bancos: posso pois dispensar-me antipathico do espirito de partido ; o commercio,
do trabalho de examinar até que ponto são fun as instituições bancaes o que procurão é fazer
dados os receios que o honrado membro deri negocio, é alliciar clientes, sem se importarem
vou da falta de concurrer.cia dos estabelecimentos que sejão tirios ou troyanos aquelles que lhes dão
bancaes a que julga que n projecto dará lugar. dinlunro a ginhar. (Muitos apoiados.)
Reconheço com o honrado membro que u falta U.m Sr. Deputado:— E aquelles que se diri
de concurrencia tem inconvenientes ; mas ha do girem por politica morrem.
permittir-me dizer-lhe que a concurrencia tambem
tem inconvenientes, o inconvenientes talvez mais O Sr. Rodrioues Torres :— Entendeu-se tam
graves ainda. . . bem, Sr. presidente, ser desnecessario o banco
O Sr. Bandeira de Mello:— A concuríen- que se pretendo crear, porque já existem dous
cia? I... estabelecimentos semelhantes nesta capital, mas
parece-me que foi o honrado membro a quem
O Sr. Rodrioues Torres :— A concurrencia dos respondo que daquelle mesmo lugar onde está
bancos, senhores, tem sido a causa principal de assentado nos disso que as instituições bancaes
quasi todas as crises commerciaes. (Apoiados.) existentes no-ta praça são imperfeitas...
Uma Voz :— Nego. O S*r. Bandeira de Mello: — Não fui eu.
O Sr. Fioueira- de Mello: — Na nova Ingla O Sr. Rodri jues Toriies : — que não
terra, aonde ha mais liberdade na constituição podem satisfazer os fins dos bancos de circula
dos bancos, o credito é mais extenso ção. . .
O Sr. Rodrioues Torres :— E' a porfia em que O Sr. Bandeira de Mello:— Não fui eu; foi
cada qual luta por fazer mais negocio, por alli- o Sr. Ferraz quem disse isso.
ciar mais freguezes, por dar maiores dividendos O Sr. Rodrioues Torres í— Pois, ou fosse o
a seus accionistas, que de ordinario occasiona a nobre deputado, ou o digno representante pela
facilidade de descontarem titulos sem as neces provincia da Bahia, disse a verdade, não aven
sarias garantias; que faz baixar demasiadamente turou uma preposição . de que passamos duvidar.
o juro ; que excita emprezas aleatorias ; que faz Os bancos actuaes, além de defeituesos em sua
desapparecer do mercado os capitaes disponiveis organisação, náo po.lem desempenhar satisfacto-
reaes para os substituir por capitaes ficticios o riamente os fins das instituições de credito; não
de imaginação ; é a rivalidade dos bancos que podem auxiliar o commercio e a industria como
concorre poderosamente para produziras quebras,
a ruina, o desespero de milhares de familias, convém.
quando chega o dia em que essa fantasmagoria Disse-se que uma das maiores vantagens dos
desapparece. bancos de circulação consiste em substituir a
« A concurrencia dos bancos, dizia um escriptor moeda metallica pelo seu papel, convertendo deste
tão illustrado como pratico, a concurrencia dos modo um instrumento de circulação muito dis
bancos prepara para os productores avidos e im- pendioso em outro que quasi nada custa ; mas
rndentes essas elevações do fortuna, essas qué- que o banco de que tratamos deverá produzir o
s as precipitadas, que dão ao trabalho o á in effeito inverso. Que uma das vantagens dos bancos
dustria todos os delirios, todas as angustias do do circulação é a que referio o nobro deputado,
jogo... ». ninguem contesta, posto que no meu entender
Um Sr. Deputado :— Mas essa concurrencia só não é a unica, nem a mais importante ; mas por
é perniciosa nos paizes em que a concurrencia que motivo o banco de que tratamos não a rea-
de capitaes é excessiva. lisará como os outros?
(Ha um aparte que não ouvimos.) Allegou-se que o banco terá de exportar ca
pitaes productivos para importar inetaes preciosos
O Sr. Rodrioues Torres:— Não se trate da que venhão formar seu fundo incorporado. E'

I
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 261
uma disposição que não vejo consignada em artigo O Sr. Rodrioues Torres :— O honrado membro
algum do projecto. Não teremos no paiz quantia não leu com attenção o projecto...
sufficiente para completar o fundo capital do
banco? Parece-me que sim. e o projecto não O Sr. Fioueira de Mello:— E se os bancos
exige que o banco seja organisado com o fundo quebrarem essas garantias não se perdom ?
de o0,000:000i) em mueda metallica... O Sa. Rodrinues Torres: — Mas como podem
O Sr. Bandeira de Mello: — Afinal deve sor. quebrar bancos organisados conijrmo as regras
estabelecidas no projecto? Seria preciso que elles
O Sr. Rodrioues Torres:— Tambem não. fizessem operações tão loucas, tão insensatas, que
O Sr. Bandeira de Mello :— Recolhida a moe- perdessem ab menos mais de metade dos titulos
da-papel deve ser. sobre que omittem seus bilhetes. Para que os
O Sr. Rodrioues Torres: — Tambem não; não portadores dus bilhetes de um banco percão o
ha necessidade disso ; bastará que tenha o fundo valor delles ó preciso que este não possa rea
disponivel correspondente á metade do sua emis lisar a cobrança das letras" com merciaes que des
são. conta, e que dom ds perca tambem o seu fundo
capital.
O Sr. Bandeira de Mello:— Mas se fór total O Sr. Bandeira de Mello :— Supponha que os
a emissão? 10,000 .O00if emprestados ao governo não são
O Sr. Rodrioues Torres:— Se a emissão cor pagos.
responder ao duplo do fundo capital, nesse caso O Sr. Rodrinues Torres :— Ainda assim não
o fundo disponivel deverá ser igual ao fundo poderia o banco fallir. Em uma palavra, o nobre
capital. membro suppõe que a promessa do governo,
Prguntou-se ainda por que razão se pretende embora iricalisavel, offerece girantia mais solida
retirar o papel-moeda qne tem a garantia do go do que a do banco, ainda que este pague as
verno para substituil-o por bilhetes do banco que suas letras á vista e ào portador, o tonha effecti
não terão senão a garantia desse estabelecimento. vamente recursos para satisfazer a estes paga
' E eu perguntarei em que consisto a garantia mentos. Será curteza de minha intelligencia, mas
que o governo dá ao papol-moeda ? Apenas na não parece-me que maior garantia offerecerá o-
promessa que fez do realisalo em metaes pre banco do que o governo nos termos em que este
ciosos ; mus promessa que não tem um prazo a deu.
determinado, que nunca so realisou, que uté Por que razão, perguntou-so ainda, se pretende
agora não so tem tomado providencia alguma para substituir o papel-moeda, que vale tanto como
realisar a promessa de que o publico está pro o ouro, por papel do banco, fazendo-so assim
fundamente convencido que não pódo ser reali- uma operação dispendiosa para o thesouro ? Se
sado do prompto, visto não ser possivel que o nhores, a razão me parece clara : ella consisto
estado pague em curto prnzo d6.00O:0il0íf em ouro principalmente om que o papel-moeda não é
pelo papel que se lhe apresentar. Logo, esta ga moeda ; em que o instrumento das permutas não
rantia A illusoria, ou ao menos tem-o sido até póde, não deve estar sujeito a fluctuações em
agora. Não ó delia que o papel-moeda deriva o sou valor, a fluctuações constantes o rapidas ; por
valor que tem, mas da necessidade que existe que essas fluctuações influem sobro todos os
do um instrumento de permutas, só os povos bar contractos, p.rturbão todas as operações do com •
baros o podem dispensar. inercio e da industria, são fataes ao crescimento
O papel-moeda expellio da circulação os metaes da riqueza publica. (Apoiados.)
preciosos ; ficou existindo só ; e não havendo outro
intermediario para as transacções do paiz, dahi Ha ainda outra razão. O coinmercio ó cosmo
tirou o pipel-moeda o seu valor; não o tirou de polita, o bom que não seja cosmopolita de hoje,
certo da promessa que fez o governo de conver- porque foi elle que começou a civilisar as na
tòl-o em moeda metallica. ções modernas, é fóra de duvida que o augmento
Ora, qual é a garantia que o banco dá aos seus da civilisação tem reduzido as distancias de uma
bilhetes? E' da mesma natureza? E' illusoria maneira prodigiosa ; tom facilit ido e tornado
como esta ? Não ; a garantia do banco consiste menos dispendiosns as commnnic ições ; tem es
na sua reserva metallica, nos creditos particu tendido e multiplicado as relações entre os po
lares que elles têm descontado o que são rea- vos; em uma palavra, as nações tendem cada
lisaveis dentro do prazos curtos c determinados, vez mais a constituirem, commercial nonto fal-
consiste ainda no rfundo capital do mesmo banco, lando, um mercado universal. Nesse mercado ó.
consiste finalmente na confiança que o publico preciso quw todos fallem, por assim dizer, a
deposita nelle ; confiança que resulta da expe mesma linguagem ; que apresentem como instru
riencia quetidiana de que aquelles que vão levar mento das transacções que houverem do fazor a
suas notas ao banco para serem realisadas ro- mesma unidade, aceita e reconhecida por todos.
cebem effectivamente em troco delias moeda me Ora, qual ó o instrumento de permutas reconhe-.
tallica. E são estas garantias da mesma ordem, eido e aceito universalmente? São os metaes precio
da mesma natureza que as garantias que tem o sos, li ó isto resultado de uma convenção i.rbitraria?
papel-moeda? Ninguem o dirá... Não ; esta convenção tacita funda-so ein que os
metaes preciosos gozão do propriedades que os
O Sr. Bandeira de Mello: — O papel-moeda tornão mais aptos do que qualquer outra mer
tem casa aberta nas alfaudegas o nas recebe cadoria para desempenharem as fiincções de
dorias? « agente da circulação ; funda-so principalmente
O Sr. Rodrioues Torres :— Hoje. . . em que elles têm um valor proprio, valor in
O.Sr. Bandeira de Mello:— Sim, hoje. trinseco, valor que já tinhão antes de serem esco
lhidos para servirem do moeda. A nação que
O Sr. Rodeioues ToRR..s : — O honrado membro nesse mercado universal se apresentasse com um
me assegura que sempra ha de ser a mesma instrumento do circulação que não fosse reco
cousa?. . . nhecido e aceito pelas outras, achar-se-hia em
O Sr. Bandeira de Mello:— Tom a garantia condições de inferioridade, em condições muito
do governo. menos vantajosas que as outras.
O Sr. Rodrioues Torres :— Não ba -ta a garan Assim é que os capitaes emigrão com difilcul-
tia do governo. dade para os paizes cujo meio circulante e pa
pel-moeda ; porque não havendo ahi um instru
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que mento de circulação cujo valor seja invariavel,
não ouvihios. ou ao monos que não esteja sujeito a fluctua
262 SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853
ções tão rapidas, tão extensas, como o papel- Ha outra razão que nos aconselha o resgate
moeda, os possuidores dos capitaes correm sempre do papel-moeda ; é a palavra do governo. Desde
mais ou menos risco de perder parte delles, ue o estado aceitou como' divida os bilhetes
quaiido tiverem de exportal-os dahi. Assim e a o antigo banco do Brazil, obrigou-se para com
que nos paizes onde o meio circulante é papel- os portadores delles a pagal-os em moeda me-
moedu, a menor perturbação, o menor aconteci tallica. Nunca cumprimos essa obrigação, por
mento sinistro póde dur lugar á exportação de que as circuinst meias em que nos achámos não
grande massa de capitães : os capitalistas ns- o permittião ; mas é força cumpril-a. A lealdade
sustão-se ; apoderão-se do receio de que a des aconselha que se tomem providencias para que
cida de cambio, a depreciação a que está sujeita a fé desse contracto seja religiosamente obser
esta especie de moeda lbes dará prejuizo ; pro- vada.
curão pois evital-o, exportando promptimente os O Sr. Bandeira de Mello : — Com o padrão
seus capitaes, essa exportação traz de facto a actual.
descida do cambio, a depreciação do papel ; a
depreciação augmento o receio, e esse augmento O Sr. Rodrioues Torres : —Disse-se: « O papel
de receio produz augmento do exportação. Assim do governo vale ouro » ; mas vale ouro quando ?
póde acontecer que uma cautela de que tinhão Agora, senhores. Tambem o papel do governo
lançado mão os capitalistas para evitarem os valia ouro em principios de 1818, e entretanto
prejuizos que lhes pudessem resultar da flu- vimos que um acontecimento desgraçado, que
ctuação do valor do papel-moeda tomo as pro teve lugar a milhares de leguas do Brazil, fez
porções de uma verdadeira crise commercinl. baixar o cambio de 28 % a 24, 23 e 2-J , e os
Eis os inales a que estão sujeitas as nações bilhetes, que valião tanto como ouro, depreciá-
cujo meio circulante é papel-moeda, que não tem rão-se em relação aos metaes pteciosos: os bi
a estabilidade, a inalterabilidade de valor que lhetes, que erão recebidos a par do ouro, não
é attributo dos metaes preciosos, ou de que forão mais recebidos senão com grande desconto
elles gozão em maior grito do que as outras em relação ao mesmo ouro.
mercadorias. Está o honrado membro certo de que nenhum
Ha outra razão ainda que aconselha a substi acontecimento de semelhante natureza poderá
tuição ou resgate do papel moeda, ó a facilidade ainda aigum dia produzir identicos resultados?
da falsificação. A falsificação causa prejuizos Póde assegnrar-nos que uma calamidade phy-
quetidianos a um grande numero de familias sica que reduza a duus terços, a metade, os
(apoiados), põe em perigo muitas fortunas, ali os productos da nossa lavoura em um ou doas
menta a immoralidade. (Apoiados-) Ora, todos annos consecutivos, não produza resultado se-
estes males não devem merecer a consideração melhinte aos -que uma calamidade politica pro-
do corpo legislativo para que, procuro quanto duzio em 1848? E devemos deixar o paiz per
está em suas mãos acabal-os de uma vez?... manentemente sujeito ás consequencias de taes
calamidades; aos prejuizos, aos males que re-
O Sr. Bandeira de Mello: — Os bilhetes do sultão
banco estão no mesmo caso. sempre da depreciação da moeda, só-
mente porque se diz que hoje o papel vale
O Sr. Rodrioues Torres: — Não ó assim; o tanto como o ouro ?
honrado membro sabe que os bilhetes do banco Tenho exposto as razões porque julgo que é
hão de girar dentro de circulos muito mais
limitados ; será faoil dentro delles conhecer do nosso rigoroso dever procurar por todos os
meios possiveis retirar o papel-moeda da cir
as assignnturas dos membros da directoria do culação. Não digo retiral-o de um só jacto,
banco ; será muito facil levar os bilhetes ao es
tabelecimento afim de verificar se sãoxverdadei- com pesados sacrificios do estado, mas retiral-o
ros ou não. Acontece isto por ventura com o lentamente, á medida que as circumstancias o
permittirr.m. Procuremos empregar meios effica-
papel-moeda? Um habitante de Matto-Grosso, do zes de conseguil-o, até para que se não diga
Alto-Amazonas ou de outras partes remotas do no mundo civilisado que a respeito de moeda
imperio tem meios de conhecer se a assignatura o Brazil e Buenos-
do papel com que se lhe faz um pagamento é que não estão a parAyres são os unicos estados
dos outros.
verdadeira ou nSo? Tem meios de mandal-o á a O minimo dos bilhetes do banco, disse o
caixa de amortisação para comparar-se com o hoarado membro, é excessivamente baixo, n Não
talão e verificar se é ou não falso?... sei qual o minimo que o honrado membro de
O Sr. Bandeira de Mello:— Os bilhetes de seja que se fixe, se 20$, 30£, 40$ ou 50$.
10$ estão no mesmo caso. O Sr. Bandeira de Mello : — O que sei é que
O Sr. Rodrioues Torres: — Porque ? as notas do banco são nas relações de produ-
O Sr. Bandeira de Mello : — Porque percor ctor a productor e não nas relações de consu
rem todas as arterias da circulação. midor a consumidor.
O Sr. Rodrioues Torres : — Percorrem todas disse O Sr. Rodrioues Torres : — No senado se
as arterias da circulação em um circulo limi que o minimo de 10$ era excessivamente
tado.. . alto, que devia ser de l$; e o honrado membro
entende que o de 100 é muito baixo. Entre
O Sr. Bandeira de Mello : — O circulo é estas duas opiniões parece-me que estou no
quasi todo o imperio. meio termo, e portanto mais na verdade.
O Sr. Rodrioues Torres: — Está enganado, o notas O que é certo é que o minimo do valor das
projecto não diz isto... > do banco da Escossia é de uma libra
O Sr. Bandeira de Mello:— Onde houverem esterlina, que vem a ser ainda menos de 10jj ;
e entretanto não me consta que na Escossia
caixas filiaes. tenhão resultado inconvenientes desta medida.
O Sr. Rodrioues Torres : — Sim, onde houve O Sr. Bandeira de Mello : — Facilita a fal
rem caixas filiaes correm os bilhetes das respe- sificação.
pectivns caixas. Assim na Bahia serão recebidos
nas estações publicas os bilhetes da caixa filial O Sr. Rodrioues Torres : — Facilita-se a fal
da Bahia, mas esses bilhetes não são recebidos sificação, é verdade, quando as notas são de
na provincia de Pernambuco, nem na do Ma valor nimiamente pequeno ; mas se os bilhetes
ranhão, etc. E' isto o que diz o projecto ; e de uma libra esterlina não represeetão valo
portanto não tem força, quanto a mim, a ob res nimiamente pequenos na Escossia , creio
servação do illustre membro. que 109 tambem não os represetio no Brasil.
SESSÃO EM 20 DE JUNHO DE 1853 263
Poder-se-hia fixar um minimo mais subido , ó approvado em todas as suas parte por grande
é verdade ; porém limitar-se-hia tambem a cir miioíia.
culação dos bilhetes do banco, e não sei se é Entrão em discussão pela sua ordem os arts. 2°,
conveniente esta limitação. 3°. 4» e 5°, e sem debate são approvados.
O Sr. Bandeira de Mello:— O banco de In Passa afinal o projecto para a terceira dis
glaterra elevuu o seu minimo. cussão.
O Sr. Rodrioues Torres:— O minimo dos bi O Sr. Fiúza (pela ordem) :— Julgo urgente
lhetes do banco da Inglaterra é de 5 libras ester a materia deste projecto, e par isso peço dis
linas, mas elle já teve bilhetes de uma libra; pensa do intersticio para que entre hoje mesmo
elevou-se o minimo a ii libras esterlinas quando ou amanhã em terceira discussão. Nós estamos
se quiz limitar a emissão desse banco; mas nós jà no meio da sessão, e ainda não tratámos da
que limitamos a emissão na propria lei, parece- lei de fixação de forças de mar e terra, e da
me que não temos motivo para recorrer a lei do orçamento. sA medida contida neste pro
mesma medida de que o parlamento inglez lan jecto é muito importante, e como a camara tem
çou mão em 1826. votado a respeito delia com confiança, peço que
Allega-se que as notas de pequeno valor são essa confiança seja completa.
mais sujeitas á falsificação do que as grandes ; O Sr. Presidente: — E' necessario que o nobre
o parece que isto é um facto averiguado ; mas deputado precise o sou requerimento.
não sei se uma noia de 108 se póde chamar de
grande ou de pequeno valor ; o que sei é que O Sr. Fiuza : — Para entrar em terceira discus
actualmente os bilhetes que em maior numero são amanhã.
apparecem falsificadas são de 1$, 2$ e 5$, e que O Sr. Brandão: — Sim, que passe de carreira,
as nntas do banco não serão tão facilmente fal a galope.
sificadas como o papel do governo, pelas razões Uma Voz.— A palavra gfíope é anti-parla-
qu*i já expendi. mentar.
O Sr. Bandeira de Mello :— Por conseguinte O Sr. Araujo Lima : — Não será a gilope, mas
é bom eluvar-se a quantia. é querer fazer passar a vapor uma lei tão im
O Sr. Rodrioues Torres :— Mas, elevar-se a portante como esta.
quantia traz o inconveniente que jã apontei, Sem debate é approvado o requerimento do
limita a circulação dos bilhetes do banco... Sr. Fiuza para se dispensar o intersticio,
O Sr. Bandeira de Mello : — Mas com o pro Vai ã mesa a seguinte declaração de voto :
veito dá segurança.
« Declaro qua votei contra o art. 5» do projecto
O Sr. Rodrioues Torres : — . . . e eu entendo r. 23 do 18.33, que ó relativo á isenção do sello
que isso equivale a crear-sa uma difficuldade que iniciou o sen ido.— 20 de Junho de 1853.—
para organisaçãn desse estabelecimento. A expe Silva Ferraz. »
riencia mostrará se os bilhetes do 108 são mais
sujeitos á falsificação do que os do 20$, e O Sr. Presidente : — Está esgotada a segunda
quando a experiencia o demonstrar eu não du pirte da ordem do dia; voltamos para a pri
vidarei concorrer com o meu voto para uma lei meira.
que d«termine que as notas de lO$ sejão expellidas O Sr. Vasconcello» (pela ordem) :—Sr. pre-
da circulação. sidonte, V. Ex. recorda-se-ha de que foi dado para
Perguntuu-se tambem por que razão não se a ordem do dia o projecto, que tive a honra de
determina, a exemplo do que se praticou no apresentar, creando um bispido na provincia de
projecto que ha poucos dias foi approvado, que Minas-Geraei ; como temos de voltar á primeira
as notas do banco não possão ser emittidas parte da ordem do dia, pedia a V. Ex que consul
senão por desconto de leiras commerciaes a tasse a casa se quer discutir de preferencia o
prazo de 90 dias e com duas assignaturas. Não referido projecto, visto que é reconhecida a sua
se inserio no projecto que discutimos nenhuma utilidade, e eu desejava offerecer uma emenda
disposição desta natureza pela mesma razão por comprehendendo tambem nas disposições dessa
que não se inserirão outras ; o projecto tambem projecto a provincia do Ceará.
não determina quaes as opera. ões que o banco U Sr. Gomes Ribeino : — Vamos a esse casa
póde fazer, qual o numero de assignaturas que mento de Minas com o Ceará. (Risadas.)
devem ter as letras que descontar, qual o ma
ximo prazo, se o estado do estabelecimento deve O Sr. Corrêa das Neves : — Arranje as dis
ser publicado semanalmente, mensalmente ou pensas.
trimestralmente, e outras disposições que estão O Sr. Presidente : — Vou pór a votos o reque
reconhecidas como condições essenciaes destas rimento do nobre deputido.
instituições. Não se determinou nada disso, por
que se entendeu que taes providencias são mais Alouns Srs. Deputados: — Não ha casa.
proprias dos estatutos do que do uma lei que O Sr. Paula Candido (I° secretario): — Conto
não trata senão de estabelecer certos principios apenas 50 membros em seus lugares. (Risadas. )
geraes. O Sr. Presidente : — Se não ha casa para se
Tambem se me perguntou se as caixas fi- votar, vai-se proceder á chamada, e levantar a
liaes hão de constituir com a do banco uma sessão. (Pausa.)
sociedade de lucros e perdas. Devo declarar
que chamo banco ao complexo de todas as cai O Sr. Paula Candido (1° secretario) (procurando
xas, quer central e flliaes : portinto todas ellas contar): — Não se póde contar bem; alguns
constituirão uma sociedade de lucros e perdas. membros estão a entrar o a sahir a todo o
Não me recorde, Sr. presidente, "se me forão momento. (Risadas.)
pedidas outras explicações. Sa o honrado mem O Sr. Presidente : — Convido aos Srs. depu
bro ainda tomar parte na discussão, u quizer tados a se conservarem nos seus lugares. Vai-
que eu lhe dê mais algumas informações, fique se proceder á chamada, o só serão reputados
certo de que procurarei satisfazel-o, pois que tal como presentes os que estiverem dentro do re
é o meu dever. cinto. (Apoiados )
Não havendo mais quem peça a palavra, julga- Procede-so á chamada. Estão presentes 50 de
se a materia sufficientemente discutida, e o art. 1* putados, e verifica-se terem-se retirado sem causa
2(54 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
participada os Sr*. Wilkens, Belfort, Machado, baixou com o decreto r. 783 da 24 de Abril de
Domingues Silva, Bandeira de Mello, BapoSft da 1851, lhe seja paga desde que foi nomeado cU.
Camara, Assis Rocha, Seá.ia, Figueira de Mello, rurgião-mór por decreto de 7 do Julho de 1849,
Rego Barros, Souza Leão, Pinto de Campos, Paes bem como todos os papeis e pareceres relativos.
Barreto, Augusto de Oliveira, Sá Albuquerque, « Entendendo a commissão de marinha e gufcrra
Gomes.. Ribeiro, Magalhães Castro, Pereira da que semelhante objecto propriamente pertence a
Silva, Candido Borges, Miranda, Barreto Pe attribuição da terceira commissão de orçamento,
droso, Bernardes de Gouvéa, José Matliias, Pe é de parecer que á mesma commissão sejão re-
reira Jorge, Bello e Brusque. mettidos os mencionados requerimentos c papeis.
Dada a ordem do dia, levanta-se a sessão á « Paço da camara dos deputados, em 20 fo
1 'A hora da tarde. Junho de 1853. — J. A. de Miranda. — A. C.
Sedra. »
E' julgado objecto de deliberação, e vai a im
Sessão cm SI tio Junho primir para entrar na ordem dos trabalhos, o
seguinte parecer :
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO « O tenente reformado José Xavier Pereira de
Brito pede regressar á primeira classe do exer
Summario.—Expediente.—Ordem do dia.—Commis cito ; e consultado o governo a respeito, informa
são especial.—Pensão d viuvado desembargador o ministerio da guerra que o mesmo fóra pas
Agostinho de Souza Loureiro.—Banco nacio sado para a terceira classe em consequencia de
nal.—Discursos dos Srs. Nebias e Lisboa Serra. ter sido julga lo incapaz do serviço por molestia
incuravel, como so vê de um termo de inspecção
A' dez horas feita a chamada, achão-se pre a que se procedeu em 10 de Agosto de 1850.
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Jaguaribe, Ma « Desse termo consta que o peticienario soffria
chado, Ferraz, Fernandes Vieira, Santos e Al aleijão no membro inferior esquerdo por abcesso
meida, Fiusa, Aprigio, Cruz Machado, Angelo na parto média exterior da coxa correspondente,
Custodio, Domingues Silva, Assis Rocha, Ca e bem assim enterites chronica.
sado, Góes Siqueira, Ribeiro, Luiz Araujo, co « Allega o pretendente que nenhuma molestia
nego Leal, Fleury, Silverio, Nebias, Barbosa hoje
da Cunha, Belfort, vigario Silva, Bretas, Souza todo soffre, o que se acha prompto e apto para
o serviço, como demonstra com a nova
Leão, AVilkens, Lindolpho, Rocha, Macedo, Maga- inspecção a que so submettou em 27 do Novem
-lhães Castro, Mendes da Costa, Vieira do Mattos, bro do nnno
Brusque, Candido Mendes, Sa o Albuquerque, recimento dasproximo findo. Invocando o desappa-
molestias que soffróra, e dedicação
Almeida e Albuquerque, Teixeira de Souza Ri e lealdade com que sempre servira, pretendo
beiro da Luz, José Assenso, Vasconcellos, Li
vramento, Hyppolito, Pimenta Magalhães, Araujo assim justificar a graçi que solicita.
Lima, Monteiro de Barios, Viriato, Ferreira da s Com effeito o peticionario fez a campanha do
Abreu, Paula Candido, Paula Fonseca, Brandão, Sul desde- 1840 atê a pacificação, tendo assistido
Wanderley, Siqueira Queiroz, Bello, Miranda e aos ataques de S. Borge=, da Estancia do Meio,
Thcophilo. o o do Banhado <áe Inhatinhu, nos quaes se mos
Comparecem depois da chamada os Srs. Jor trara com brio e coragem.
dão, Titara, Horta, Gomes Ribeiro 6 Mendonça. assistio, « Em Pernambuco, durante a rebellião de 1818,
como ajudante de ordens do comman lo
A's 11 horas menos 10 minutos, havendo nu das armas, aos ataques de Catucá, e de Cruangi.
mero sufficiente o Sr. presidente abre a sessão. « Na terceira classe mesmo em que fóra collo-
Lida e approvada a acta da sessão antecedente, cado, foi prompto em prestar todos os serviços
o Sr. 1° secretario dá conta do seguinte do que era incumbido, servindo outrosim de aju
dante de ordens da pessoa do general comman-
EXPEDIENTE dante das armas desde Outubro de 1851 até
Um officio do Sr. 1° secretario do senado, Abril do corrente anno.
communicando que o senado approvou e vai di « São honrosos ao peticionario os attestados
rigir á saneção imperial a resolução que appiova dos
como
generaes e officiaes com quem servira, bem
as ordens do dia que lhe respeitSo. Por
a pensão concedida a D. Maria Cheks Nina. esses documentos se vê qne não lhe faltão co
—Fica a cunara inteirada. ragem, brio, honradez e boa conducta civil o
E' recebido com agrado o oflerecimento do A. militar.
de Roosmalen, de um exemplar da sua obra « Em reconhecimento de taes serviços, e por
VOrateur, e o prospecto do seu estabecimento.
Um requerimento dos correios das secretarias oentender a commissão de marinha a guerra quo
tenente José Xavier se acha na actualidade
pedindo melhoramento do seus ordenados. — sem molestia, e é dotado das qualidades milita
A' commissão de pensões e ordenados. res que lhe reconhecem seus superiores, não du
Sem discussão são approvados os seguintes pa vida offerecer á consideração desta augusta ca
receres: mara a seguinte resolução :
« A commissão de marinha e guerra ê do pa « A assembléa geral legislativa resolve :
recer que a respeito do requerimento do major ii Art. 1.» E' o governo autorisado a admittir
graduado João Homem Guedes Fortilho, que a classe activa do exercito o tenente reformado
pede melhoramento de reforma, se ouça o go José Xavier Pereira de Brito.
verno. i. Art. 2.» Ficão revogadas quaosquer disposi
« Paço da camara dos deputados, em 20 de Ju ções om contrario.
nho de 1853.— João Antonio de Miranda.—Anto « Paço da camara dos deputados, em 20 da
nio Correa Sedra. » Junho de 1853. — A. C. Sedra. —J. A. de Mi
« A' commissão de marinha e guerra foi pre randa. »
sente um officio do governo cobrindo o requeri
mento doDr. Joaquim Candido Soares do Meirelles, O Sr. Gomos rtiljolro: — Sr. presidente,
cirurgião em chefe do corpo dc saude da armada, desde Agosto do anno passado que a direcção
o qual pede que a gratificação de l0O$ mensaes, do monte-pio dos servidores de estado dirigio
marcada na tabella annoxa ao regulamento que uma representação a esta casa, que foi remettida
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 265
a commissão de fazenda e até hoje ainda não ' mores de povo, porque sabidos do seu seio
appareceu resultado algum a semelhante res estamos mais habilitados para sentir suas miserias
peito. e ouvir mais de perto o grito de suas neces
V. Ex. comprehende bem a importancia deste sidades ; nós temos direito de expor todas as
estabelecimento do que vivem muitas viuvas e duvid is que por ventura possão esclarecer um
orphãos desvalidos (apoiados), e V. Ex. sabe objecto de tamanha importancia.
mais que não á esta uma da|uellas pretenções Trata-se de um unico banco central, de na
que não possão ser attendidas. tureza todo commercial em suas operações, bem
Rogo pois o V. Ex. a sua poderosa inter declaradis em um dos artigos do projecto.
venção, como presidente da casa, para que a Primeiro, Sr. presidente, cu vejo que um banco
commissão de fazenda dê o seu parecer o mais tão fortemente constituido como é o actual, com
breve que lhe seja possivel. tantos privilegios, com tamanhos fundos, com a
O Sr. Presidente: —Os membros da commis permissão de dobrar a sua emissão na razão
são a que o Sr. deputado se refere ouvirão o dos seus fundos disponiveis, um banco que póde
seu pedido, e por isso o tomarão na duvida con elevar a mais de 30,u00:00O$ o seu fundo ca
sideracão, até mesmo pela importancia da ma pital, que póde elevar as suas emissões além do
teria. dobro do seu capital disponivel, como se deter
O Sr. Jaouaribe, allegando motivos de mo mina em um dos artigos, é certamente um banco
que vai constituir um verdadeiro monopolio no
lestia, pede dispensa do lugar de 3° secretario. paiz. Apoiados.)
A camara decide pela aflirmativa. Nem ao menos póde esperar-se que este banco
O Sr. Presidente convida o Sr deputado se acuda ou satisfaça ás necessidad s das outras
cretario supplento h tomar o seu lugir. praças commerciaes do imperio, porque consti
tuido como elle se acha, é natural, é quasi
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA certo que esses poucos fundos disponiveis que
por ventura so achão espalhados pelas nossas
NOMEAÇÃO DA COMMISSÃO ESPECIAL provincias affluão para elle, para a capital do
Procede-se a eleição da commissão especial imperio.
que tem de examinar o projecto do Sr. Ignacio O nosso commercio, Sr. presidente, tanto como
Barbosa sobre registro de hypothecas, e sanem a nossa agricultura, tanto como as outras indus
eleito-, os Srs. Nabuco com 72 votos, Ignacio Bar trias, tanto como as nossas artes, e os nossos
bosa com 70, e Ferraz com 64. . homens de trabalho diario, merecem toda a pro
tecção do governo e do corp i legislativo. Eu vejo
PENSÃO A VIUVA DO DESEMBARGADOR AGOSTINHO DE que em um dos artigos do projecto se faculta a
SODZA LOUREIRO creação de caixas filiaos onde as necessidades do
Continua a discussão do parecer r. 39 de commercio o exigirem ; mas, diç-a-mo V. Ex.,
1848, rejeitando a pensão concedida á viuva do diga me a camara, digiio-mo os illustres mem
desembargador Agostinho de Souza Loureiro, bros da commissão, já que o nobre ministro da
com a emenda do Sr. Oliveira Bello approvando fazenda não se acha presente quando é que hão
a pensão. do ser creadas essas caixas? Debaixo de que
regimen começarão ollas as suas funeções ? Que
Dando-so a materia por discutida, procede-se influencia hão de ter im's mercados e circulação
á votação por escrutinio secreto, e ó rejeitado das diversas provincias ? Que systema adoptará
o parecer. o governo a respeito dos seus estatutos e das
O Sr. Presidente apresenta algumas duvidas suas operações? Não flearão ellas sempre liga las
a respeito d i votação immediata da emenda. o presas ao banco nacional estabelecido na
A camara decide que a emenda seja votada corte? Certa mento que sim; ainda que o proi
immediatamente, e posta a votos por escrutinio jecto não fosse apenas facultativo m-ssa parto,
secreto é npprovada. ainda que estabelecesse a prompta creação das
caixas fiíiaes, eu achava que por este lado não
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA se remediava o mal que tenho apontado, porque
essas caixas nas provincias, segundo as bas:s
BANCO NACIONAL o condições do projecto, havião do resentir-se dos
Entra em terceira discussão o projecto n. 23 mesmos defeitos e monopolio; e certamente que
deste anno, vindo do senado, sobre a creação de ellas liã ' de ter lugar depois de formudo o banco,
um banco nacional. depois do algum abalo ou vexame muito sen
sivel que por ventura se note nesta ou naquella
O Sr. Ncbtus : — Sr. presidente, não estou provincia do imperio, e isto já é um mal que
habilitado para entrar, com conhecimento de nos cumpre atteuder e remediar. (Apoiados.)
causa em uma discussão tão alta e transcendente Sr. presidente, tratou-so no corpo legislativo
pai a o nosso paiz ; conheço que para fazêl-o seria da lei que auiorisava o governo para provin-
mister estudos longos o especiaes sobro a ma cialisar a nossa moeda, porque entendeu-se que
teria, que eu não possne. era isso uma necessidade urgento das provincias ;
Assim, pois, Sr. presidente, limitar-me-hei so o no emtanto essa lei, que era considerada da
mente a expor algumas duvidas e offerecer al maior urgencia e das mais salutares consequen
gumas considerações até onde puder chegar minha cias, até hoje tom ficado sem execução.
fraca intelligencia. • Eu não sei se o banco do q"uc se trata e as
Não estou habilitado para entrar na discussão caixas tem algum parentesco com esse arbitrio
dos estabelecimentos bancaes, nem para discutir de provincialisar a moeda que outr'ora se con
e apreciar os elementos do credito publico ou cedeu ao governo.
particular; apenas tratarei de alguns pontos Sr. presidente, considerarei ainda o projecto
positivos do projecto, porque mo julgo nessa por outro lado, e é o lado principal, é o mais
obrigação como representante immediato de uma grave inconveniente que nelle descubro. Trata-so
das provincias do imperio. de um banco todo eito de influencia commercial,
Este projecto, Sr. presidente, como já se tem espalhando os snis beneficios sómente pelo mer
dito, joga com a fortuna particular e com o cado commercial, no emtanto que para a agii-
estado financeiro do paiz, tanto no presente como cultura e para as outras industria nada se tem
no futuro. resolvido, nenhum remedio se tem applicado até
Nós, membros de uma camara electiva e tem ao presente.
poraria, devemos acompanhar por isso os cla- Eu vi, Sr. presideute, que desde a sessão do
TOHO 3. 34
260 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
anno passado apparccêrão nesta casa dou s pro [ o commercio, são adoptadas e seguidas por toda
jectos muito importantes, que tratavao de liquidar a parte.
ou desembaraçar a nossa propriedade territorial, 1 . Comecemos pela Russia, Sr. presidente, paiz
ou antes que tratavão de modificar o nosso re absoluto, mas cujo governo sempre se interessa
gimen hypothecario no imperio, no emtunto estes pela sua prosperidade, pelo augmento da sua
projectos têm andado aqui em uma discussão vaga renda, pela felicidade dos seus subditos, tanto
desde a sessão do anno passado, e não tenho quanto é possivel em semelhante fórma de go
visto que o governo tenha tomado parte algunri verno ; o que veníos ali i ha muitos aunos ? Desde
em semelhante debate, que , tenha apresentado a creação do bem conhecido banco intitulado—do
alguma idéa sua propria, que o tenha adoptado credito systema—até esse banco—dos paisanoaç-
ou rejeitado. creado ha poucos aunos, desde o imperio pro
Um Sr. Deputado:— O Sr. ministro ,d i fazenda priamente dito até suas possessões fóra do im
perio, vemos essa protecção á agricultura, ve
falia disto no seu relatorio. mos estabelecimentos de credito territorial muito
O Sr. Nêbias : —- Sim, senhor, falia como se bem organisados, e fazendo serviços recornmen-
falia em diversas medidas : no emtanto conside- daveis a agricultura daquelle paiz.
rando-se de alta magnitude a modificação do
nosso regimen hypothecario para os interesses busO Sr. Paula Santos :—Sempre depois dos ban"
commerciaes.
da nossa agricultura decadente não se tem ado
ptado providencia alguma a este respeito 1 O Sr. Nebias :—Eu mostrarei que muitos con-
O Sr. Brandão : — Porque se entende que a junctamente. Não estou muito ao facto desta
materia, como estão outros senhores ; mas sen
agricultura não merece attenção I tindo a consciencia do meu dever procurei examinar,
O Sr. Nebias : — Quando, Sr. presidente, se pira satisfizer assim o mandato da minha pro
estabelece um projecto da ordem deste de que vincia. (Apoiados.)
tratamos, sem se attender á agricultura do paiz, Vemos que, além desse principal banco cha
além de outros inconvenientes pen»o que não só mado de « credito systema, » que foi estabele
se deixa de dar attenção a esse rumo impor cido pa a crear recursos á agricultura decadente,
tante, como ate so llie faz grande mal poudo-o depois dessa guerra extraordinaria e longa que
fóra doscapities, porque, Sr. presidente, creado a Europa sustentou durante o imperio francez,
o banco com os favores^ e lucros certos que ha do vemos esse banco ercado para dar recursos aos
ter com a emissão que lhe é facultada, eu vejo senhores das terras, que vião-se sem meios de
que todos os capitaes que ha nas provincias explorar as suas propriedades ; vemos em todas
niio de necessariamente procurar um emprego as partes desse grande imperio, nas provincias
seguro e mais vantajoso, e esse emprego acharao do Buitico, etc, um banco territorial ; vemos
no banco, de fórma que mesmo esses poucos afinal esse, que é um dos ultimos bancos cha
capitaes que ainda hoje podem ser empregados mado « dos paisanos » que tem um fim ainda
nas diversas provincias com mais ou menos mais philantropico, banco por meio do qual se
facilidade correrão todos para a cÔTte. quiz habilitar os pequenos proprietarios e lazer a
O Sr. Dutra Rocha : — Não ha tal, as caixas acquisição das terras dos grandes senhores, dos
nobres, que elhjs cultivavão como sorvos, ou
filiaes lã estarão.
pagando uma renda muito alta, ou dando pro-
O Sr. Kebias: —As caixas filiaes I Pois creuo-se dueto.s em especie, ou prestando certos dias de
já essas caixas ? Não so deixa isto a arbitrio serviço, que era o sytema chamado das cor-
do governo ? Se se julga necessaria a creação de veias.
taes caixas, mande-se ã mesa uma emenda neste Vamos ã Prussia ; o que vemos nós, senhores,
Sentido. nesse paiz tão bem orgaaisado, tão feliz, onde
O Sr. Silveira da Motta : —Não so ha do tra a fortuna publica é tão animada e as rendas tão
tar dos filhos antes do pai. (Risadas.) florescentes? Vemos em todas as suas provin
O Sr. Nehias : —Sr. presidente, a nossa agri cias bancos territoriaes, sendo um dos mais
cultura sente-se muito da falta de braços e do notaveis aquelle que se creou no ducado de Posen,
na Pomerania, Brandeaburg, etc. E' por isso
outros recursos, isso é opinião corrente conhe
cida por todo o paiz ; aqui mesmo têm appare- tambem que nós vemos esse progresso espan
cido essas razões, e ainda ha poucos dias forão toso, essa actividade inaudita que se observa
apresentadas por occasião da discussão do outro nas margens do Rheno.
O que vemos na Allemanha? E' talvez este o paiz
projecto quasi analogo que foi adoptado pela onde os estabelecimentos de credito territorial
casa. ainda se achão mmto acanhados; tenho somente
Eu vejo que o systema seguido pelo nobre .noticia de um creado na Gallicia. Na Austria
ministro, creando um banco todo commercial sem vemos creado o banco commercial nacional, mas
attender á sorte das industrias e da agricultura este exemplo mesmo ine serve para apoiar as
é um systema contrariado por todos os paizes minhas idéas. E' verdade que o espirito da
onde se conhece tambem a sciencia do credito agricultura alli, ou talvez o estado actual do
publico, e a scienci i de promover os interesses paiz não tem desafiado a creação de muitos es
du nação. tabelecimentos ruraes ou hypothecarios, mas eu
Não foliando nesse prodigio dos Estados-Uni- lembro aos nobres deputados que sustentão o
dos, que em toda a sua superficie está coberto k projecto, que impugoão as idéas que estou
de bancos de todas as especies para proteger emittindo, que ahi mesmo na Austria eu acho
o commercio, a agricultura e aos trabalhos, desse argumento para convencêl-os de que o projecto
prodigio que junto ãs estradas de ferro e á se que discutimos ó ruinoso.
gurança extraordinaria de que se goza naquelle O governo da Austria tanto conhece a neces
paiz ti m-lhe dado um progresso espantoso, tem sidade de sustentar a agricultura, de ministrar-
feito surgir dentro de pouco tempo populações lhe recursos promptos, que ainda ha dous an-
e cidades em lugares ermos, e até que so jul- nos, segundo a minha lembrança, a commissão
gavão inhabitaveis. como sejão essas populações de finanças reunida em Vienna teve de tomar
que têm nppaiecido lã para as montanhas pe em consideração este negocio, o governo lhe
dregosas, não fallando dessa nação toda excepcio propóz esta questão : « Se o banco nacional da?
nal ; eu recorrendo aos estados da Europa, vejo Austria devia fornecer capitães á agricultura do
q ue as idéas emittid is por mim de se favorecer imperio. » E' verdade que esta grande questão
á agricultura, ao menos em concurrencia com foi resolvida pela negativa, mas para isto houve
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 267
causas especiaes. Primeiramente o banco da verno zeloso que deve com tempo preparar as
Austria já estava sobrecarregado com uma emis-* cousas no paiz para dotal-o de um gr mde me
são extraordinaria; esse branco creio que emitte lhoramento, aceresce que eu não vejo nisto uma
oito vezes mais que o seu fundo de reserva. grande difficu;dade. Nós já temos uma circum-
O Sr. Paula Santos : — ííão apoiado , hoje stancia muito poderosa a bem dos bancos terri
não. toriaes ; fallo do registro publico das hyputhe-
cas ; isto é ia um grande principio, talvez o
O Sr. Nebiis : — Só se é por alguma reforma rincipal fundamento em que se têm baseado os
nfuito recente, e essa reforma ha de trazer tal í; ancos territoriaes nos diversos estados da Eu
vez a idéa de favor á agricultura... ropa que tenho mencionado.
O Sr. Paula Santos : — Hoje emitte conforme Em algwis desses estados que tenho trazido
as necessidades da circulação. para exemplo era estt a grande difficuldade, -erão
O Sr. Nebias : — Até o anoo passado asseguro as hypothecas occultas e geraes, estabelecidas em
ao nobio deputado que era assim como estou di grando parte pelo codigo Napoleão, codigo que
zendo ; emittia oito vezes mais que o seu nume vigorou em varias partes da Europa, cíhio por
rario de reserva.. . exemplo na Baviera, na Polonia hoje deslembrada,
e em alguns principados alleniães. Conheceu-se que
O Sr. Paula Santos : — Está enganado. esse principio do codigo N ipoleão não podia vigo
O Sr. Nebias : — Talvez, mas eu lhe posso rar, que era um obstaculo para o verdadeiro
mostrar em que me fundo para dtzer isto. Mas estabelecimento do credito territorial, e pois tra-
havia essa grande causa , e por isso recuárão ; tou-se de revogal-o nesta parte ; tratou-se de
havendo já muito papel do banco, qne é pa- adoptar a publicidade como base segura e geral
pel-moeda, não quizerão augmentar a omissão, do regimen hypothecario.
ainda que fosse em favorda agricultura. Foi esta Ora, porque não faremos nós a mesma cousa ?
a razão por que a commissão de finanças não Porque não completaremos essas disposições que já
tratou de resolver a questão favoravelmente á temos ? Porque não sc hão de executar do modo
agricultura. possivel a lei Uas terras, para que fiquem ao
Demais, hl tambem outra causa proxima. Posto menos conhecidas, demarcadas e avaliadas ? Por
que não haja muitos bancos territoriaes, nem que não ha de o governo tomar parte activa na
mesmo essas caixas ou bancos do credito ngricolu discussão desses projectos que andão aqui envol
pessoal e movei, comtudo a agricultura da Aus vidos desde a sessão do anne passado ? Mas,
tria marcha muito desembaraçadamente ; nunca lhe nada ; uma idéa capital, muito reclamadi pelo
faltão capitaes, por isso que recorre ella cou- paiz, vai-se deixando-dormir nas pastas das com-
tantemente ao grande bmco muito bem estabele missões I
cido na Baviera , banco que fornece fundos con- Sr. presidente, tenho mais algumas observações
tanmente para a sua agricultura. a fazer, mas, em verdade nesta materia até mesmo
Agora, so vamos a Baviera, o que encontramos os homens de sciencia costumão usar de um es-
tambem? Ahi é que se acha o estabelecimento tylo laconico e do theoria positiva, e por isso
mais completo o mais satisfactorio. Por muito não cansarei mais a cas i ; terminarei fazendo
tempo varias commissões do governo tratarão do unia pergunta. Sinto que o Sr. ministro não es
conhecer qual seria o melhor estabelecimento de teja presente, o por isso me dirijo á nobre com
bancos na Baviera, e afinal assentarão que se missão, que represent i o pensamento ministeria-
ria um banco territorial e de desconto. Adoptada lista e seus illustres membros me poderão res
esta idéa, creou-se definitivamente o banco da ponder.
Baviera. E como se creou esse banco ? Com que Entrará no plano financeiro do Sr. ministro a
condições ? Funccionando como banco commercial, amorlisação da nossa divida externa ? Creio que
como banco de agricultura , como banco indus não se negará, e mesmo que a conversão da
trial e como banco de credito publico. Assim nossa divida externa pira interna é de grande
se tem conservado até agora, e diz um escriptor interesse para o paiz ; creio que não so póde pór
que por seus sabios e bem combinados estatutos isso em duvida ; creio que o Sr. ministro se
esse banco tem feito serviços permanentes ao prepara para essas operações ; creio que esse
paiz nos differentes ramos da sua industria, com- pensamento já tem sido apresentado no paiz, as
mercio e agricultura. sim como creio que vant igens certas nos podem re
Emfim, Sr. presidente , eu poderia analysar sultar ; mas o que eu vejo no projecto é um pensa
muitos outros bancos para provar que todos elles mento contrario á realisação desse plane ; ve;o que
são dominados por este principio. Cumpre pois em lugar de acabar com a divida externa, ella so
aproveitar este poderoso instrumento a bem da augmenta, porque observo que o governo toma
nossa agricultara chamando para a circulação va por emprestimo ao banco 10,000:000S; podendo
lores immoveis que tanto hão de facilitar os seus autorisar ao banco para contrahir no estrangeiro
melhoramentos. um emprestimo conveniente para a segurança desse
E' verdade que a Inglaterra não tem bancos outro emprestimo; c não é isso m íis um em
territoriaes; mas os nobres deputados sabem me penho externo , com a garantia que o imperio tem
lhor do que eu a que é devida esta falta ; é á de offerecer ? (Apoiados.)
constituição da propriedade da Inglaterra, é á. Ora, por isso digo que, em lugar de amorti-
abundancia de capitaes, é a baixa do juro, á zar-so a divida externa, teremos de crear mais
taxa do interesse muito baixa, é ao iinmenso cre um empenho, mais um embaraço par i o nosso
dito, aos grandes capitaes que os diversos ban paiz (apoiados) ; e talvez eu ache mais conve
cos poem em movimento. E isto tudo que dis niente o acabarmos com a divida externa, do
pensa na Inglaterra um auxilio directo e posi que cuidarmos da amortização do papel-moeda ;
tivo a bem da sua agricultura... póde ser que isto seja por ora mais indispen
Um Sr. Deputado : — Isto ó exacto. savel.
Sr. presidente, no estado em que está o nosso
O Sr. Nebias j — Na França e na Belgica têm-se paiz, nós não temos muito de que nos queixar
tratado de estabelecer os bancos territoriaes ha de Deos, antes devemos lhe dar mil graças, por
pouco tempo. que o paiz ha de prosperar', e apezar de todos
Talvez se me diga que o estado da nossa pro os males a nossa agricultura tão acabrunhada,
priedade não comporta ainda a creação de um 'o nosso commercio, todos os ramos de nossa
Danço territorial. Senhores, além de que essa industria, mesmo sem qualquer auxilio. . . (Apoia
razto n&o deve nunca servir de escusa a um go dos.)
208 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O Sb. Fioueira de Mello:— E' preciso saber- conceder-se tão grande monopolio? Deixe-se a
por que meios. liberdade, e hão de apparecer bancos; os pro
O Sr. Nijbias :— Quero dizer que não temns prios capiLalistas se reunirão entre si para esta
belecerem os seus bancos no sentido que achiretri
muito de que nos queixar, porque o solo do paiz mais conveniente para favorecerem ao commercio,
é muito productivo.. . (Reclamações.) á agricultura... Os capitalistas no seu gabinete
O Sr. Brandão : — Apoiado ; só por esse meio. são optimos banqueiros.
(Novas reclamações.) (Os apartes simultaneos continuão, uní dirigi
Um Sr. Deputado:— Só pela theoria do calor dos ao orador, outros trocados entre differentes
e da humidade. senhores.) -
O Sr. Nebias:— E' um agente indispensavel o Eu quero instituições de credito, mas não se
calor e a humidade, e por muito iutelligente que gundo os principipos do projecto, e bem se sabe
seja a administração, não poderia nada conseguir que podem haver instituições de credito combi
sem o galor e a humidade, porque são agentes nadas por outra fórma e admittid is em mentido
que se ajudão reciprocamente. benefico. Haja liberdade e boa fé que essas insti
Sr. presidente, como ia dizendo, nn estado em tuições hão de apparecer no paiz.
que eslá o paiz, eu não vejo grande vantagem
na suppressão do papel-moeda, porque é uma lasUmcomo Sr. Deputado:— Serão associações anóma
a do banco commercial do Brazil.
moeda aceita é que desempenha bem as func-
ções de moeda circulante, que se não é bom, ao O Sr. Nebpas:— Eu não sei o estado em que
menos concorre para que a industria, para que esse banco se acha, não sei se elle poderá func-
o commerciõ, assim como á agricultura, possão cionar regularmente; parece-me qre elle vai fuac-
fazer as suas operações independente deste banco cionando e vivendo bem, ao menos p ira a praça
privilegiado... do Rio de Janeiro ; mata-se assim esse banco, e
Um Sr. Deputado : — Está sujeito a falsificações ordemhão de se matar todas as companhias dessa
continuadas. ; e apenas se favorece o monopolio para
o banco nacional do Brazil : a isso é que eu
O Sr. Nebias :— Está sujeito a falsificações me opponho, e não posso consentir pela minha
continuadas, diz o nobre deputado ; é essa o parte.
grande mal que so encontra no papel-moeda : Eu, Sr presidente, não irei adiante; exponho
pe gunto eu, o papel do banco tambem não está estas poucas observações, o ainda que tivesse
sujeito a essa falsificação? Creio que sim.
Mas, dizia eu, Sr. presidente, que não havia eu odarnegaria
de um voto de confiança ao Sr. ministro,
neste projecto (apoiados), porque,
por ora urgencia para se reeolher o papel-moeda, segundo as suas
quando vejo que se quer substituir pelo papel elle não satisfaz obases e condições, vejo que
não acode aos interesses e
do banco... necessidades do imperio em toda a sua vasta
O Sr. Viriato :— Que ó superior ao papel- extensão. (Apoiados.)
moeda. O Sr. BnANDÃg e outnos Sns. Deputados:—
O Sr. Nebias : — Queria que o nobre deputado Muito bem, muito bem.
me dissesse-em que existe a superioridade do um Aloumas Vozes : — O adiamento. . .
sobre o outro.
O Sr. Viriato:— Em ser realisavel o papel Sr. ministro O SR. Nebias:— E' verdade, Sr. presidente, o
não estã presente, o não é por mim
do banco. (Reclamações.) que eu proporia o adiamento; porém muitos
O Sr. Nebias:— Mui felizes somos nós que, companheiros estão com a palavra, e parece-me
tendo o papel-moeda tanta circulação, nunca o que seria bom adiar-so o projecto até que o
governo se vio atropelado para o trocar, e nunca Sr. ministro compareça; e, comquanto elle tenha
se ha de ver emquanto as cousas marcharem assim nesta casa quem por elle muito bem represente,
bem ou mal. . . comtudo ó elle que tem de dar execução ao seu
(Cruzão-se differentes apartes. Mcvimento pro projecto, o por conseguinte ó do grande vanta
longado na camara.) gem que so acho presente, assim como é justo
e conveniente que assista e esclareça a discus
O projecto quasi que trata especialmente do res são de quaiquer projecto ou proposta sua, para
gato do papel-moeda; quasi que não vejo outro que nos apresente todo o seu pensamento pratico,
beneficio nelle para o paiz; mas, Sr. presidente, o portanto julgo necessario esperarmos atê que o
o papel moeda subsiste por muitos annos, e não Sr. ministro compareça...
ha nisso inconveoiente algum E qu indo se pre O Sr. Aprioio: — Nas terceiras discussões os
tenda suppi imil o basta unia operação financeira, ministros não comparecem ; só comparecem nas
e muito simples, que póde ser feita pelos proprios segundas.
recursos do thesouro, não havendo necessidade
de se dar um privilegio ao banco para que se O Sr. Presidente :— Eu não sei se o Sr. de
recolha essa moeda, e mesmo não é necessario putado propõe o adiamento.
para esse fim crear-se um banco. (Apoiados.) O Sr. Nebias:— Eu proporei, e para isso peço
Todos os annos na lei do orçamento determi
naremos uma quantia para resgatar o pápel- papel.
moeda, poderemos dar 1,000:000$, e por conse Vai á mesa o seguinte requerimento do adia
guinte não vejo necessidade de crearmos um mento ;
banco sómente para esso fim, concedendo-lhe « Requeiro o adiamento até que o Sr. ministro
tantos favores o lucros, que desanimáo outras possa comparecer. »
forças ou associações concurrente. E' apoiado e rejeitado sem debate por grande
(Cruzão-se differentes apartes.) maioria. -
O Sr. Nebias: — Deixe-se liberdade, e muitas O Sr. Lisboa Serra : — Sr. presidente,
associações hão de apparecer ; não é preciso crear-se a antes de entrar detalhadamente na apreciação
esse banco assim, porque elle não remedêa nem das observações que acaba de fazer o nobre de
as proprias necessidades do commercio das pro putado que mo precedeu, eu julgo conveniente
vincias, quanto mais as necessidades de nossa oflerecer á camara algumas considerações geraes
agricultura e mais industrias. Para que tanto sobre o que disse, na discussão hontem encer
trabalho, tantos privilegio», tantas isenções, para rada, o ultimo orador que fallou contra o pro
SESSÃO EM 21 DE JUNHQ DE 1853 269.
jecto, porque não tendo ainda sida publicados rém eu peço venia para dizer ao nobre deputado
os dous ultimo3 discursos a favor delle pronun que isto é um puro engano seu.
ciados pelo nobre ministro da fazenda presidente Certamente que o paiz não comporta actuai
do conselho, e pelo meu illustre amigo deputado mente muitos estabelecimentos desta ordem ; eu
por Matto-Grosso, acho-me em duvida sobre quaes creio até que oste banco será por muito tempo
os pontos que tomarão a seu cargo elucidar, sufficiente para satisfazer as necessidades das nos
e quaes os que careção ainda de ser esclare sas praças ; elle porém não tem privilegio ex
cidos. clusivo, não ha prohibição alguma de que se orga-
O nobre deputado pelo Ceará que então fallou niseiu outros bancos, desdo que necessidades reans
estava nessa occasião tão propenso á melancolia, os reclamarem ; o que o projecto quer é crear
e o seu espirito tão carregado de idéas negras, um banco solidamente constituido, que possa me
que póde elle compór um verdadeiro quadro de lhorar o meio ciiculanto o que não poderião
horrores; ouvindo-o não me fez o seu discurso fazer muitos pequenos bancos, e o que podo ser
toda a impressão qne devia operar sobre uma feito polo actual com maior segurança e perfei
constituição tão fraca como a minha, porque o ção. Repito pois que este banco não é creado em
nobre deputado quando exprime suas idéas fal-o prejuizo de todos os outros qne podem recla
por modo tão agradavel e insinuante que muito mar as necessidades do paiz, embora tenha ello
suavisa o seu rigor; ao lêl-o, porém, Confesso do sor o unico por algum tempo...
que fiquei horrorizado, tomado de susto e nf- O Sr. Brandão : — E as caixas filiaes ?
flicção pelo prognostico de tão eminentes des O Sr. Lisboa Serra : — . . . é justamente com as
graças. snas caixas filiaes que poderá fazer ao paiz todo
Em verdade, pelo modo por que o honrado o beneficio que delle se espera.
membro encara a instituição de que se trata,
em vez de ser ella uma forte alavanca para a O Sr. Nebias : — Ha de absorver os recursos
prosperidade, riqueza e civilisação do paiz, será das provincias.
como ama machina infernal que tem de fazer O Sr. Lisboa Serra : — Será justamente o con
explosão no centro da sociedade e reduzil-a a trario ; são os grandes mercados, como o do Rio
cinzas. de Janeiro e outros, que hão de por muito tempo
Maravilhoi-me mesmo ao considerar como par ministrar recursos aos pequenos mercados do im
tindo eu o o nobre deputado de principies iden perio ; já actualmente isso acontece, o coma orga-
ticos, os principios da sciencia economica e fi nisação das caixas filiaes acontecerá em muito
nancial, houvessemos chegado a conclusões tão maior escala.
differentes ; porque eu estou convencido, em boa O Sr. Nebias : — Mas agora no Rio de Janeiro
fé o digo, que a instituição com que queremos se fez um emprestimo de 4,000 iOOO8OOO.
dotar o- paiz ha de ser fonto de muitos bene
ficios. O Sr. Brandão : — Ao mercado do Rio de Ja
neiro faz-se um emprestimo da 4,000:000$, o as
O Sn. Brandão : — Nem todos pensão assim. pequenas praças do imperio não se lhes empresta
O Sr. Lisuoa Serra :— E' certo, nem ó isso para nada.
maravilh ir. O Sr. Lisboa Serra : — Deste emprestimo feito
Não estranho que hijão 'opiniões contraria-, que á praça do Rio de Janeiro reverte certamento
se encare a questão de diversos mo los, e debaixo de uma grande parto ein beneficio das peqnonas pra
pontos de vista que còndusão a differentes conclu- ças do imperio. (Apoiados.)
•sões; p rém partir-se dos mesmos principios, racioci- O Sr. Brandão: — Não sei como.
nar-se sobre as mesmas bases e ti rarein-se conelusõi s
contrarios, isso é que eu não comprehendo facil O Sr. Lisboa Serra : — E' clarissimo, o nobre
mente : foi somente isso o que mo maravilhou. deputado não nega do certo, porque seria negar
O nobre deputado começou declarando que via a evidencia dos factos, que pelas circumstancias
uma como soipresa no projecto em relação em que ha mezes se aenou o mercado do Rio
áquillo que se recommendava na falia do throno, de Janeiro uma parte de seus capitaes emigrou
e disse que nolla se alludia a instituições que para certas provincias em busca de empregos
déssem expansão ao credito do paiz, emquanto mais lucrativo. . .
que a medida proposta tinha por fim principal O Sr. Brandão : — Isso que importa /
o melhoramento do meio circulante. O Sr. Lisboa Serra: — Importa qne elles te-
Eu, senhores, acho que são pontos tão liga rião de voltar immediitamente ao seu centro, ao
dos, tão identicos entre si, que não sei como o lugar em que residem seus proprietarios, o onde
nobre deputado possa assim ser sorprendido ainda com menores lucros sb julgarião por mo
pol i face ein que o governo considerou a ques tivos bem olvidos melhor oompensa los se não ces
tão. sassem sem perda de tempo as difficuldades da
O credito, senhores, é composto de dous elemen praça do Rio de Janeiro ; eis como o emprestimo
tos disti netos, porque elle é baseado na crença votado vai directamente beneficiar essas provincias.
de que a som ma que se empresta, que se confia Disso-so mais que este banco assim organisado
a outrem, não será restituida, não diminuida, podia exercer uma influencia mui decisiva e per
mas angmeniada, o para alcançar-sa este resul niciosa nos destinos do imperio ; eu, senhores,
tado duas considerações são necessarias ; não sinto-me amesqninhado, como brazileiro, com a
basta que se entregue a s imma com ganho no enunciação de semelhantes itléas. Pois institui
minal, é necessario que essa somma, assim aug- ções que em toda parte são um poderoso ele
mentada, seja intrinsecamente maior do que a mento de ordem, pois, a riqueza, pois a proprie
despendida, e isso é u que não acontecerá por dade do paiz podem jámais ser infensas á sut
certo se a moeda que serve hoje de medida dos felicidade, ao seu progresso ? Póde-se razoavel
valores não tiver esso mesmo valor, porém me mente receiar sua influencia n i administração do
nor no termo do contracto ; vê-se pois que o cre paiz? Pela minhi parlo em vez do prejudicial,
dito da moeda, ou melhoramento do meio circu como suppõem os nobres deputados, eu estou con
lante, está intimamente ligado com expansão do vencido cie que ella seria util e muito util á
credito propriamente dito. nação.
Ficou tambem o nobre deputado impressionado O Sr. Nebias : — E' por issso que eu quero
pela idéa do que e-le bmeo impediria, pela fór
ma por que se acha constituido, a creação de os bancos territoriaes.
outras inttituições de semelhanta natureza ; po (Cruião-se varios apartes.)
270 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Lisboa Serra : — O que eu digo é que cente data : coinquanto não se achassem domi
não posso desconfiar da influencia dos bancos, não nados de odio os dous bancos desta córte, de-
posso pór-me em guarda contra. a propriedade e rão de algum modo pela sua concurrencia causa
riqueza do paiz ; eu não supponho o governo do para as difflculdades que actualmente soffre a
meu paiz tão fraco, estabelecido sobre bases tão praça.
precarias, que tenha de sujeitar-se á influencia O Sr. Brandão:—Eu não tenho convicção al
indebita de um banco para engrandecêl-o em pre guma de quaes fossem as causas da crise mo
juizo das instituições patrias. (Apoiados.) netaria.
E' preciso pelo contrario que os brazileiros se
reunãõ, que alliem as suas forças, porque só as O Sr. Lisboa Serra:—Estes dous bancos oon-
sim poderemos conseguir alguma cousa de util e corrião um com o outro na tomada do dinheiro,
grandioso para o nosso paiz. ambos desejavão que os depositos corressem
O Sr. Brandão ? — Todos nós queremos isso, para seus cofres ; cada um delles offerecia mais
vantagens ; tínhão isto como um signal da con
O Sr. Lisboa Siirra : — Pois se todos querem fiança publica ; mas á medida que esses depo
isso, como se pretenda tolher os meios e coarctar sitos se ião verificando e accumulando em suas
os melhoramentos que por ventura podem trazer caixas, elles se forão achamlo em má posição,
instituições semelhantes ? então começou a concurrencia na applicação
Eu não receio desta instituição, torno a re desses capitaes, indo adiante da sua demanda,
petir; espero delia grandes benefícios para o paiz : barateando-os emfim, e produzindo com as fa
e se os receios dos nobres deputados ácerca da cilidades de então as difliculdades que hoje se
sua influencia alcanção a politica , so alcanção a sentem na praça do Rio de Janeiro, e de que
representação nacional e o governo da nação, já não só o governo, como esta camara julgárão
ainda assim não tenho medo algum delia, por dever tomar conhecimento.
que desejo que todas as classes sejão legitima O Sr. Brandão:—Eu vejo os das provincias
mente representadas no parlamento, e que tenhão estar funecionando muito bem, com grande van
tal ou qual preponderância no governo do paiz. tagem.
O Sr. Nebias : — Estamos de accordo. O Sr. Lisboa Serra: —O nobre deputado aca
O Sr. Lisboa Serra :—E' verdade, mas eu não bou este periodo de suas censuras denominando
faria estas observações se proposições em con o pr.ijecto de « monopolio de banca-rota antici-
trario não fossem enunciadas nesta casa. pada. » Não comprehendi bem este pensamento
O Sr. Bandeira de Mello :—Não forão nesse do nobre deputado, por isso hão poderei res
sentido. ponder completamente a elle ; mas me parece
que o nobre deputado toma esta banca- rota como
O Sr. Lisboa Serra : — Os nobres deputados consequencia da falta de concurrencia do banco ;
tambem enristarão suas lanças em defesa de um eu porém acabo de demonstrar que essa con
principio que ninguem podia atacar, porque é currencia nas circumstancias actuaes do paiz
o principio promotor dos maiores beneficios de seria um mal.
que goza a sociedade ; fallo da concurrencia. Disse o nobre deputado que um banco so
Seria loucura negar a conveniencia deste prin mente, dispondo de grandes capitaes e obrando
cipio ; mas senhores, quando tratarmos de appli- com grande intensidade sobre o mercado dos
cal-o como legisladores, não basta adoptal-o em cambios, podia alteral-o a seu bel-prazer. Com
toda a sua generalidade : essa inflexibilidade es batendo esta idéa, Sr. presidente, eu não quero _
colastica não se dá nunca na applicação á na parecer contradictorio, podendo-se dizer que já"
tureza e aos factos : a escola do legislador tem advoguei, e a bem poucos dias; mas peço á
tanto de theoria como de pratica. camara que medite um pouco na diversidade
Alguns economistas têm, é certo, procurado das circumstancias. Tratava-se então das opera
mostrar a conveniencia da concurrencia nos ban ções que os bancos poderião fazer mediante o
cos, porém nem por isso eu deixo da ser for recurso que se lhes facultava ; este recurso era
talecido na minha opinião pela do celebre es temporario, portanto terião de fazer operações
tadista Pitt, que igualmente entendia que a que se liquidassem dentro do prazo estipulado
concurrencia dos bancos podia até certo ponto para a duração da lei que confeccionavamos ;
ser de utilidade para o paiz, porém que ordi poderião pois lançar de um só jacto sommaa
nariamente produzia a ruina destes estabeleci enormes sobre o mercado dos cambios e pro
mentos com grave detrimento da sociedade. duzir nolle grande perturbação: o caso actual
O Sr. Nebias: — Então não haverião tantos é differents ; é justamente a concurrencia de
bancos nos Estados-Unidos. muitos bancos á compra de cambios que podia
O Sr. Lisboa Serra:—Não se disvirtuem po e devia produzir o desequilibrio na praça.
rém as minhas palavras ; quando a concurrencia Quando um negociante quilquer ou uma cor
não fosse no sentido destruidor, quando o paiz poração pretende fazer uma operação, e conta
estivesse bastante rico para comportar todos os para ella com todos os meios, não se afadiga,
bancos que por ventura nelle se achassem esta espera a opportunidade, obra sem descobrir a
belecidos, de modo que todos pudessem lucrar mao, e deste modo um só banco póde operar
sem se declararem reciprocamente guerra de ex com muita circumspecção. Quando, porém, mui
terminio e de morte, eu não julgaria prejudicial tos bancos sentindo ao mesmo tempo a conve
a concurrencia. niencia de fazer uma mesma operação, acudissem
ao mercado, elles se guerrearião para obter o
O Sr. Nebias:—Se os paizes estão bastante mesmo objecto, e isto é o que podia produzir
ricos não precisão de operações de crédito. alteração no preço da mercadoria demandada.
O Sr. Lisboa Serra: —Precisão sempre, e cada O Sr. Brandão :—Essa doutrina traria em re
vez mais ; porém quando os bancos se lazem sultado que nunca em paiz algum devia haver
uma guerra mutua, quando cada um procura mais de um banco.
aniquilar o seu competidor, tornáo-se prejudicia-
lissimos, e isso é que eu quero evitar. O Sr. Lisboa Serra:—Eu estou apenas res
O Sr. Brandão:—Essa hypothese não está de pondendo á objecção que foi apresentada pelo
monstrada no nosso paiz. nobre deputado, estou mostrando que este in
conveniente é maior a respeito de muitos do
O Sr. Lisboa Serra :—Eu posso demonstral-a que de um só banco, porque elle emittio a
ao nobre deputado, e com exemplos de mui re opinião contraria.
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 271
O nobre deputado figurou alguns casos em melhantes ; quero que para se poder entreter
que a moeda-papel podia valer até mais do que o troco da moeda-papel que existe em circula
o ouro que ella representa, ter um agio sobre ção não se conservasse nas caixas do thesouro
o metal ; mas antes disto fez uma longa expo e thesourarias mais do que a terça parte do
sição de principies para provar que a circula seu valor ; mas sendo a nossa divida compu
ção de papeis do credito tinha vantagens sobre tada acima de 46,000:0O0$ approximadamente,
a circulação de moeda metallica. Eu professo ainda assim a quantia necessaria para este ser
tambem esta opinião. Entendo que a somma viço, guardada a proporção que a sciencia re-
dos valores que inutilmente se emprega na commenda, seria do 15 a l6,000:000$. Isto im-,
moeda, que não é mais do que um meio de fa portaria um emprestimo para cujo juro ficaria
zer o commercio, é inutilmente distrahida da onerado o nosso orçamento com a despeza de
industria e fica improductiva. Entendo que quanto 900 a 1,000:000$ annualmente.
menor capital se amortecer nesse serviço, tanto O Sr. Nebias : — Dá-se o mesmo caso a res
mais lucrará o paiz ; mas não sei como o no peito do banco.
bre deputado estabelecendo este principio com
bate o banco, que não tem outro fim senãó O Sr. Lisboa Serra : — Desta maneira ti
fazer a maior somma de transacções no mer nhamos um empate de dinheiro que não se dá
cado com a menor - somma possivel de moeda. no banco , e não diminuiriamos um real na
O Sr. Bandeira de Mello dá um aparte que nossa divida. O nobre deputado propunha este
não pudemos ouvir. meio como de puro e simples expediente para
acreditar o nosso papel-moeda , e ' conservar
O Sr. Lisboa Sehra : — E' justamente este eternamente na circulação a mesma somma que
o fim que se quer conseguir. Supponho ter já hoje existe. Esta . operação, repito, importaria
demonstrado a conveniencia de sanirmos do es a necessidade do um emprestimo, traria uma
tado actual de um papel irrealisavel para um despeza permanente e eterna para o pagamento
papel realisavel ; feito isto, é preciso então do juro...
aproveitar o principio estabelecido pelo nobre O Sr. Bandeira de Mello : — Não precisa
deputado, isto é, fazer as transacções do paiz vamos ter 15 ou 16,000-000/J no thesouro ou nas
com a menor somma possivel de moeda me thesour irias ; bastava muito menos ; e logo que
tallica. e entendo que por força desto princi se visse que ninguem concorria para o troco,
pio que defende deve o nobre deputado votar como sem duvida havia de acontecer, diminuia-
pela medida que se discute. se o fundo disponivel.
Mas em que casos, senhores, poderá a som O Sr. Lisboa Serra : — A proporção que a
bra, o reflexo da cousa valer mais do que a sciencia rccoinmenda ó a que acabei de expòr,
propria cousa 1 Não posso conceber hypothese e deve notar-se que neste caso a garantia era
alguma. O nosso papel-moeda, que ó um re imp»rfeita, porque esta proporção suppõe tam
presentínte do ouro, cuja unidade de valor está bem a existencia de muitos outros valores nos
determinada em lei, não póde ganhar com as c.jfres dos bancos, valores de prompta realisa-
vicissitudes do cambio, nao é possivel em hy ção, com os quaes poderáõ sempre honrar a
pothese alguma. O papel não ó senão a pro sua emissão ; o que não acontece nos cofres
messa do ouro. Quando o cambio desce, está da fazenda publica.
revelada a tendenci i que tem o numerario para
sahir do paiz ; nestas circuinstancias, que valor O Sr. Bandeira de Mello : — Sustento que
poderia ter o papel, que não póde ser expor muito menos era sufficiente.
tado ? O Sr. Lisboa Serra : — Mas eu tenho de
E' esto justamente o caso em que o nobre monstrado aos nobres deputados que ainda essa
deputado suppõe que o papel vinha a valer quantia seria insufficiente, e se correria o pe
mais do que o ouro ; mas é uma hypothese rigo de não poder acudir ao troco senão dentro
impossivel, porque está evidentemente demons de certos limites. Senhores, nós não devemos
trado que quando o cambio tende a descer é legislar somente para circumstancias ordinarias;
quando o papel se acha mais depreciado, e o cumpre-nos tambem attender ás circumstancias
ouro lhe é por todos os titulos preferido. extraordinarias que se podem dar ; em épocas
O Sr. Bandeira de Mello : — Sa o cambio normaes é sem duvida o papel acreditado como
subir, o papel valerá mais do que o ouro. está o nosso uma boa moeda ; mas, dada uma
O Sr. Lisboa Serra : — Se o nosso papel crise qualquer, uma simples diminuição de co
acompanhasse as oscilações do cambio, o nobre lheitas successivas, teriamos de lutar com im-
deputado podia concluir como concluio ; mas mensas difficuldades e grandes desgraças,
note que ello tem um valor determinado em O nobre deputado vio um grande defeito no
lei ; a unidade réis representa sempre o mesmo projecto, era elle que o banco se poderia tor
peso de ouro. nar credor do governo por toda a quantia que
O nobre deputado apresentou uma idéa que, a se trata do resgatar, visto que o governo po
poder ser realisada, não restaria nenhuma difi deria não lhe fazer nem o primeiro pagamento,
culdade a vencer. Disse elle que no thesouro continuando no emtanto o banco no resgate do
e nas thesourarias podia abrir-se troco ás notas papel-moeda. Lendo o projecto, não vejo este
correntes , á nossa moeda-papel. Senhores, eu perigo. Havendo na caixa do banco 10,000:0X1$ de
votava desde já contra n intervenção do go notas correntes, se dihi a 3 mezes o governo
verno nesta creação de banco, deixaria isso in não mandar pagar a parte que se tiver de mais
teiramente á praça, se pudessemos abrir troco resgatado, usa o banco do seu direito so não
no thesouro e nas thesourarias ao nosso papel- continuar no resgate. Nem elle poderá fazel-o,
moeda ; mas isto tem mais alguma difficuldade porque coinprometteria inteiramente as outras
do que ao nobre deputado em seu patriotismo se operações que tom de fazer ; seria levado a
afigurou, e levaria á mais completa e inevita iinmobilisar todo o seu capital, reduzindo-o a
vel ruina as finanças do imperio. apolices do governo.
Não quero já adoptar, par i que o governo Julgando que estas forão as principaes obser
pudesse fazer face a este troco, a base estabe vações do nobre deputado pela provincia do
lecida para a emissão na projecto que discuti Ceara, passarei agora a dar uma humilde res
mos, ella é um pouco forte ; quero antes ser mais posta ao nobre deputado que hoje fallou, e desde
liberal; quero regular-me pelo que está adoptado já peço-lhe licença para não concordar absolu
em quasi todos os paizes para instituições se tamente com as idóas que a este respeito expoz.
272 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
O nobre deputado partio do principio de que O Sr. Brandão: — E 0s bancos existentes fi
o banco qne se trata de crear ia prejudicar carão mortos.
instituições ssmeihantes em sua provincia c em O Sr. Lisboa Serra: — Os bancos existentes
outras. Nesta p.into nunca acharei demasiada a serão optimo principio de caixas filiaes. Já disse
explicação. A maior expansão do credito de que que não podemos contar senão com os capitaes
possa gozar o mercado do Rio de Janeiro, o que temos ; não havemos do estabelecer uma
estabelecimento de caixas filiues nas provincias luta contra interesses legitimos estabelecidos no
que estejão com o estabelecimento central da paiz ; supponho que todos" os interesses hão de
corte em completo jogo de correspondencia, não ser consultados, conciliados com a medida que
póde ser senão de mui benefico alcance para discutimos. . .
todas essas provincias. De ma condição so fi
carão aquellus ondo não fór possivel estabelecer O Sr. Bjiandão : — Deos permitta que não
as caixas liliaes, porque são estas que, facili aconteça o contrario 1
tando a passagem do fundos de um para outro O Sr. Lisboa Serra: — O nobre deputado fez
mercado, hão dn levar ao dessas provincias as uma brilhante exposição do systema bancario,
mesmas vantagens, a mesma facilidade, a mesma de que algumas nações felizmente hoje gozão.
barateza de capitaes de que se gozar na corte, Eu o acompanho completamente nos seus dese
feito somente aquelle desconto que se deve fazer jos, na sua admiração por essa bella organisa
por certas vantagens que os capitaes hão de ção; mas a questão não é esta. Poderemos nós
sempre encontrar no Rio do Janeiro. possuir todo o bello desses paizes ? De certo eu
Nem o projecto é inteiramente escuro, como daria a minha vida para conseguil-o. . .
dizem os nobres deputados, a respeito da orga-
nisação das caixas filiaes. Não-é logico suppór-so O Sr. Branhão : — Não ó bello, é necessario.
que a parto não sêrá de natureza identica á O Sr. Lisboa Serra: — Mas, senhores, as in
do seu todo, que a organisação das partes não stituições de eridito nascêrão todas ao mesmo
será conforme á do todo. O nobre ministro da tempo ? Não ha na maneira por que appaiecem
fazenda, autor do projecto, disse claramente que uma successão natural de idéas? Não são .jus
as caixas filiaes hão de ser organisadas sob as tamente os interesses commerciaes os primeiros
mesmas bases estabelecidas para o banco cen que conseguem organisar-èo em nucleo, os pri
tral. Já vê pois o nobre deputado que nho podia meiros que inspirão confiança, aquelles que mais
entrar ahi a minha desconsideração para com as de piompto se podem realisar, que mais facil
provincias, e que, so ellas são tratadas de igual mente se podem acompanhar ? Não sabem os
a igual com a corte, não podom receber senão nobres deputados que em toda a parte os
beneficios desta instituição... capitaes estremecem antes de se entregarem á
O Sr. Bandeira de Mello : — Eu entendo o terra que se apropria delles, que só lentamente
contrario ; desejava que mo convencessem que os entrega no espaço de longos annos, mediante
estou em erro. muito trabalho? Por isso mesmo que emquanto
não gozarmos do menos não poderemos gozar
O Sr. Lisboa Serra : — As instituições de do mais, e que devemos ir do menor para o
credito existentes nas provincias não serão por maior, e qne nos arriscaremos a perder tudo so
nenhum modo prejudicadas; os capitaes que não obrarmos systematicamente. E' preciso que
funecionão actualmente na córte são justamente o paiz tenha primeiro uma especie de credito
os que continuarão a funecionar depois da or solidamente constituido ; isto não embaraça que
ganisação do banco ; não contamos com novos atteiuiamos o protejamos igualmente todos os
capitaes para este fim — interesses que reclamão a nossa intervenção;
O Sr. Nebias :— Creio que o Sr. ministro mas seria uma loucura, seria perder tudo, não
disse que contava com capitaes das provincias I querer começar segundo a ordem natural das
O Sr. Lisboa Serra: — Formado o banco, idéas e dos factos.
seria crueldade privar as provincias de ter o Julga o nobre deputado que seria hoje muito
seu quinhão nos lucros do mesmo banco. Se o possivel incluir em qualquer das instituições do
nobre deputado tanto oxagera os lucros do banco credito movei uma parte imirtovel ou agricola?
que se vai crear, fique certo que as provincias Isto traria a ruina desses estabelecimentos. Eu
hão de ter a sua qneta nas acções ; se fór serei sempre dedicado aos interesses da lavoura
grando o negocio, hão de participar delle na e da industria; o nobre deputado me achará
proporção das suas forças. As caixas filiaes hão sempre ao seu lado pugnando por estas idéas;
ser organisadas á custa desse mesmo capital mas tenho medo de perder tudo pela precipi
que se estipula para o banco central ; os capi tação, de fazer com que o paiz retrograde por
taes do Rio de Janeiro já so derramão pelas muito tempo da estrada de progresso e adian
provincias ; os differentes bancos da Bahia, Per tamento que vai trilhando...
nambuco, Rio Grande do Sul, tom recebido ca O Sr. Nebias : — E para quando isto então ?
pitaes desta praça ; se hoje á dificuldade na
passagem delles, se não se póde aproveitar de O Sr. Lisboa Serra : — Para seu tempo, talvez
Erompto todas as vantagens do seu movimento, par/k tempo muito proximo. Antes de sujeitarmos
averá de menos essa difficuldade quando exis a nossa propriedade a este onus, antes de en-
tirem instituições que se correspondáo e possão volvêl-a nesta especie de jogo, será primeiro
entender se no sentido de suas reciprocas con necessario definil-a. Como é que o nobre depu
veniencias. tado quer que tenha credito na praça um ti
O nobre deputado fallou em abalo commercial tulo que não é conhecido, não é definido? Um
por occasião da organisação do banco. Não con titulo desconhecido e mysterioso poderia obter
cebo nem na còrte, nem nas provincias, nenhum dinheiro em qualquer mercado do mundo? Ora,
abalo, nenhum desequilibrio procedente de se- a nossa lavoura por ora é esse titulo indefinido
melhanto causa. o mysterioso...
Os nobres deputados se persuadem que haverá O Sr. Nebias :— Pois vamos definil-o.
absorpção de capitaes das provincias ; é o que
não ha de acontecer absolutamente, porque na- O Sr. Lisboa Serra :— Felicito-me por ver o
quellas provincias em que o credito se puder nobre deputado animado destas idéas, porque
estabelecer solidamente, e que offerecerem as primeiramente devemos guiar a opinião, devemos
necessarias garantias, serão cieadas caixas fi mostrar aos capitaes que não se arriscão entre-
liaes... gando-se á lavoura. Só depois de bem formada
SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853 273
essa opinião é que devemos crear estabeleci os capitaes commerciaes que hão de ir todos en-
mentos desta ordem... tregar-se á lavoura ?
(Cruzão-se divarsos apartes.) O Sr. Nebias: — Sim, senhor.
O Sr. Nebias : — Aqui não se conhece um O Sr. Lisboa Serra: — E' um engano, Sr. de
agricultor de minha provincia, mas lá são co putado. O primeiro trabalho que temos a fazer
nhecidos. e nrganisar esse credito, e na organisação desse
O Sr. Lisboa Serra: — Receio no que vou credito não entrão os capitaes fluctuantes exis
dizer quebrar as illusões dos nobres deputados, tentes no Rio de Janeiro...
quizera consoival-os nessa persuasão, porque Um Sr. Deputado:— Entrão os capitaes fixos
não desejava que afrouxassem no seu zelo, que e fluctuantes das provincias.
deixassem de trabalhar na grande obra de crear O Sr. Lisboa Serra: — Não concebo senão in
o credito agrario no nosso paiz. stituições de credito da ordem daquellas de que
Mas, senhores, a propriedade agraria será o nobre deputado tem perfeito conhecimento, que
fcntre nós o mesmo que nesses paizes em que existem na maior parte da Europa, e que têm
essas instituições do credito tem dado tão bom já dado bons resultados praticos ; alliem-se os
resultado? Nutom os nobres deputados que os nossos lavradores entre si, apresentem-se no
bons resultados de taes instituições não se obtém grande mercado, solidarios uns pelos outros, e
só pelo bom uso que se faz do dinheiro, isto o podem bem fazer, pois se conhecem reciproca-
é, pelo lucro que os capitaes possão dar á la camente, o então acharão facilidade, e os seus
voura; é preciso saber se as instituições que titulos, que então inspirarão certa confiança, acha-
ministrão esses capitaes lambem progridem no rão capitaes ao seu serviço ; mas até então, até
paiz, porque do contrario não seria senão des chegarmos a esse ponto temos muito que fazer.
locação das fortunas de uma classe da socie Ora, essa primeira organisação, digo eu, não fica
dade em favor da outra. Ora, nesses paizes a prejudicada com as instituições bancarias ; pelo
que so referio o nobre deputado, a terra tem contrario, é necessario ir desdo já dando grando
um valor real, ó por assim dizor a terra ela extenção ao credito, o que ha de vir a servir
borada o unico valor real : a terra valo par si, para essas outras instituições ein tempo dado.
vale mesmo independente dos braços, porque
não ha nunca receio que elles faltem; mede-se O Sr. Nebias :— Aqui não se faz caso da la
por braças, por palmos, por pollegadas, tudo é voura.
valor, tudo produz. Mas entre nós a terra é O Sr. Lisboa Serra: — Mas, perdóe-me, o nobre
ainda indefinida, tem o valor das cousas inde deputado está-me ajudando a mostrar porque não
finidas que se podem obter com muita facilidade. se faz caso da prosperidade agraria; isso não
O valor das terras entre nós quasi que resulta depende dos poderes do estado, não depende da
do seu preparo, quasi que em si não tem ellas fraqueza do credito desses proprietarios, entre
valor intrinseco; inse preparo depende do bra os quaes ha caracteres de integridade a toda a'
ços, de muitos braços ; o paiz não possue esses prova ; isso dependo somente da especie da pro
briiÇ0s. . . priedade e da maneira precaria por que ella
.O Sr. Nebias :— E vamos deixando as cousas está estabelecida no paiz ; os agricultores goza-
cada vez a peiorl rião de mais confiança. que ninguem se a sua
propriedado pudesse ser convertida em valores
O Sr. Lisboa Serra :— Não, devemos fazer que pudessem servir para as necessidades do
alguma cousa, temos muito a fazer; mas o que commercio. . .
estamos fazendo não se oppõe ao que se possa O Sr. Nebias:— Então queria que elles ven
fazer, pelo contrario entendo que assim se vai dessem as suas propriedades?
preparando o terreno, vai-se preparando o paiz
para gozar desse beneficio. O Sr. Lisboa Serra :— Não queria isso, mas
Senhores, quando a propriedade urbana entre queria que pudessem fazer transacções sobre
nós ainda não está de tal modo definida que se ellis. i
preste completamente á organisação de um cre O Sr. Nebias:— Pois bem, com os bancos ter-
dito fundado sobre ella, como -queremos nós já ritoriaes se consegue isso.
attingir a fundar o credito agravio ?
O Sr. Lisboa Serra:— Com estas instituições
Um Sr. Deputado:— Trabalhemos para isso. nos grandes mercados é que elles hão de achar
O Sr. Lisuoa Siirra: — Estamos trabalhando, a vida; é ahi onde elles irão buscar seus meios
vamos fazendo o possivel. Bem vê o nobre de- de subsistencia...
utado que emquanto não so puder ter um favor O Sr. Aprioio :— isso é que ó sensato.
; irecto, emquanto não so puder apresentar na O Sr. Nebias: — Mas eu desejo saber qual éa
praça directamente com o seu titulo em punho opinião do Sr. ministro a respeito da conversão
e reclamar capitaes á medida que o credito com- do emprestimo estrangeiro.
mercial se fór melhor fundando e tendo maior
expansão, a lavoura ha de gozar indirectamente, O Sr. Lisboa Serra: — So o nobre deputado
se não de todas, ao menos de algumas de suas me faz essa pergunta, e se o Sr. tachygrapho
vantagens. .. tem tomado nota delia, eu lhe responderei.
O Sr. Nebias:— A terra em algumas provin O Sr. Fioueira de Mello: — Faz, sim, senhor.
cias constitue uma propriedade liquida. O Sr. Lisboa Serra: — Pois bem, eu respon
O Sr. Lisboa Serra: — Em algumas provincias derei porém por mim somente, por minha pro
não duvido ; mas as nossas propriedades rusti pria conta, porque não me acho autorisado a
cas não se podem comparar ás propriedades ur fazer declaração alguma relativamente á opinião
banas, e ainda a respeito destas vejo graudes do nobre ministro, a qual até ignoro ; mas, fa
dificuldades. zendo justiça ao bom senso e patriotismo do Sr.
Mas concedo ao nobre deputado (porque para Rodrigues Torres, julgo que se conformará com-
minha argumentação não resulta o menor pre migo no pensamento da inconveniencia de seme
juizo;, concedo que desde já possamos fundar o lhante medida na actualidade. E se o nobre de
credito immovel, o credito agricola, o credito putado quer proteger a agricultura, facilitar
industrial entre nós; supponha-se que se póde capitaes aos lavradores, organisar para elles
desde já fazer tudo isto, em que fica prejudicada instituições de credito, como ç qne ha de querer
faculdade com a medida actual? Acaso são reduzir os capitalistas á posição inerte, inac
tomo 2.
274 SESSÃO EM 21 DE JUNHO DE 1853
tiva de pensionistas do estado ? (Apoiados.) bundancia do capitaes manifestada nesta praça
Não vê o nobre deputado que a consequencia no anuo de 1851, a pretendi em parte altribuir
obvia da conversão seria a emigração de todos á cessação do trafico de africanos ; mas o nobro
os nossos capitaes disponiveis para paizos es deputado não me comprehendeu certamente, ou
trangeiros? Êu não concebo modo algum de eu me não expliquei com bastante claresa ; eu
pagar a divida externa senão por um empres não disse que esses capitaes affluião de fóra que
timo interno, e tanto diminuiria a divid i externa erão estranhos ao nosso mercado ; somente affir-
quanto tivesse de augmentar-se a divida interna mei que tinhão soffrido uma deslocação, que
fundada. Isso justamente ó que, na minha opi fluctuarão algum tempo no mercado antes de
nião, seria, por emquar.to ao menos, uma cala- encontrar nova applicação, e que emquanto a não
midado para o nosso paiz. (Apoiados.) Faço achassejn augmentarião necessariamente a massa
votos par i que a superabundancia da nossa riqueza dos capitaes offerecidos, e tombem do numera
nos habilite para que em um dia bem proximo rio, sob cuja fórma em grniíde parto so achavão,
possamos ficar tambem neste ponto completamente devendo necessariamente resentir-se de sua au
desassombrados; mas quando lutamos para es sencia o mercado quando se retirárão delle ; foi
tabelecer o nosso credito, proteger a industria e somente neste sentido, e como uma das causas
conceder favores a outros ramos da riqueza das facilidades do anuo ds 1851, e dos conse
publica, não seria uma loucura fatil, um erro quentes apertos da praça do Rio de Janeiro, que
imperdoavel, pensarmos em semelhante operação? eu me referi a esses capitaes.
O Sr. Nf.bus:— E a amortização? Entretanto o nobre deputado afflrmou que
fazendo-se essas transacções com capitaes desta
O Sr. Lisboa Serra :— A amortização actual ó praça não podia a sua cessação ter influencia
uma obrigação derivada dos nossos contractos alguma na crise, e que esta cabia exclusiva
que devemos cumprir religiosamente, o que não mente ao uso que havião os bancos feito do seu
importa a mais levo contradicção com a opinião credito.
que acabo do' emittir. O actual Sr. ministro da Eu peço licença para lembrar ao nobre depu
fazenda é digno não só de louvor, mas da gra tado que na época em que esses factos se deráo,
tidão do paiz pelo relevantissimo serviço que durante todo o anno de 1851 não havia como
soube fazer-llie restabelecendo, ou antes firmando já tive occasião de demonstrar, emissão alguma
por maneira brilhante o nosso credito om todas dos bancos na circulação. Se pois não existia
as praças da Europa; os tundos brazileiros ostão* essa emissão, se não influindo ella no mercado
cotados a par, ou acima do de muitas outras os capitass baixavão a ponto de tor o thesouro
nações antigas o poderosis... durante todo o decurso desse anno dinheiro a
O Sr. Nebias: — O que eu digo ó que se au- 3 o 3 K %, ó claro que não podia ella a esse
torisa a fazer novos emprestimos. tempo concorrer para a abundancia dos capitaes
O Sr. Lisboa Serrai — Agradoço ao nobre de fluctuantes, sem com isto querer concluir que as
putado por me haver lembrado um ponto sobre causas que então apontei são as verdadeiras ou
o qual eu desejava dar algumas explicações, e as unicas.
que não tem por certo o alcance que os nobres O Sr. Nebias: — A falta de dinheiro que agora
deputados têm querido d;ir-lhe, porque a garan se seutio ó uma consequencia.
tia que o governo promette ao banco nas praças O Sr. Lisboa Serra : — Isso foi já bem dis
da Europa não é mais do que uma medida de cutido. Eu quiz somente agora dar uma explica
cautela, da qual o banco nunca se aproveitará, ção ao nobre deputado ; e estou convencido de
sem duvida, senão quando fór obrigado por que se elle me tivesse entendido bem me daria
grande necessidade, por gravissimos embaraços, certamente o seu assentimento.
quando fór indispensavel esse emprestimo para Tambem o nobro deputado não concordou
salvar o paiz de uma crise. commigo em outro ponto, isto é, que pudesse
O Sr Nebias: — E' quando o banco julgar ne haver então na praça superabundancia de capi
cessario. taes, mesmo estrangeiros, porque se elles tives
O Sr. Lisboa Serra: — Note-se, senhores, que sem vindo ao nosso mercado so tcrião saldado
o governo não ha de facultar a sua firma para immediatamente * á custa da" nossa producção.
se levant irem quantias em Londres senão quando Ora, a nossa exportação tem sido muito min
fór necessario para evitar que os nossos capitaes, guada em relação á importação. Das tabellas
o nosso numerario emigrem para o estrangeiro: apresentadas pelo Sr. ministro da fazenda no
o banco não ha de querer abrir em Londres um seu relatorio se vê que nesse exercicio houve
credito, onorar-so com as despezas que disso um excesso de importação no valor de nove mil
n«cessariamente lhe provirão, senão dado o caso e tantos contos.
do urgente necessidade, quando vir que isso se Mas se isto é assim, de que modo se poderia
torna indispensavel para favorecer o nosso mer saldar uma quantia maior á custa de uma me
cado, ou para evitar uma crise proxima ou pro nor? E' pois forçoso confessar que nesse tempo
vavel, caso em que na falta do banco ao mesmo fluctuarão no nosso lhercado capitaes estrangei-
governo cumpriria tontar as necessarias opera rbs que se podião naturalisar no paiz ; mas me
ções de credito para evitar ou minora» o mal, parece que foi justamente o facto em que o
nobre deputado não concordou.
porque então usaria do uma faculdade que já
possue, c lhe foi outorgada pela lei que fixou o O Sr. Ferraz : — Não se nacionalisárão.
nosso padrão monetario. O Sr. Lisboa Serra : — E' outra questão, e
Não sabendo, Sr. presidente, se terei ainda eu não entrarei agora nella ; o que digo só é
occasião de fallar nesta materia, eu pedirei ao que no memento era impossivel saldar-se a
meu nobre amigo deputado pela provincia da conta.
Bahia me consinta que, correspondendo á deli O Sr. Bandeira de Mello : — Noi paizes no
cadeza e bondade com que me tratou no final vos os capitaes estrangeiro? naturalisão se facil
do seu discurso, eu vá depositar em seu saio mente.
as duvidas que ainda alimento ácerca dos pontos
em que discordamos, e que elle se dignou In- O Sr. Ferraz : — Podião ser immobilisados.
dicar-me, já em seus honrosos apartes, já no O Sr. Lisboa Serra : — Ou então forão em
seu lucido discurso. prestados dentro do paiz, e neste raso podião
Na opinião do nobre deputado eu fui inexacto concorrer nas empresas, viajar para outras pro
quando fallando em outra occasião da supera vincias, etc. O que é certo e que existe um
SESSÃO EM U DE JUNHO DE 1853 27 5
deficit de praça a praça, ou esses capitaes se outras especies de capital, e se um desses ramos
naturalisem no paiz, ou hajão de sildar-se no de riquezas, se as manufacturas, por exemplo,
futuro. crescerem muito á custa da moeda, não é claro
Em outro ponto ainda me honrou o nobre de que o equilibrio ha de romper-se , que haverá
putado com suas observações. Ponderava eu que alguma difficuldade na permut i dos valores ? E'
algumas vezes, e menos raramente entre nós, a assim que eu concebo o prestimos e officio da
moeda metallica representava parte- do capital. moeda como capital, sem duvida porque tem um
Eu julguei ter bebido esta doutrina mesmo no valor, porque representa o trabalho, e porque
discurso do nobre deputado. . . se reproduz ; eis como eu julgo que a sua falta
ou diminuição produz os Apertos que soffre a
O Se. Ferraz : — A minha questão não era praça. Grande parte da moeda que servio no
com o nobre deputado, era com o Sr. ministro primeiro periodo para operações materines, para
da fazenda. transacções e permutas, tem hoje desapparecido
O Sr. Lisboa Serra:— Tanto era commigo que O Sr. Ferraz: — Mas veja que destróe tudo
me ficárão impressas na memoria as palavras quanto disse a respeito de terem os bancos com
então pronunciadas pelo nobre deputado. Mas seus bilhetes substituido a moeda metallica.
em algumn parte do seu discurso, que li com
muita attenção, porque ò nobre deputado sabe 0 Sr. Lisboa Serra : — Pelo contrario, esse di
o respeito que lhe consagro, disso o nobre de nheiro foi substituido pelos bilhetes dos bancos,
putado : « Emquanto, permitta-se-me a expressão, e foi por isso por isso que se não sentio a sua
a moeda viaja e esta assim inactivo o instru falta no momento em qne elle se retirou, nem
mento que nas transacções e permutas sorve de então se deu a crise. Nem se póde' tambem di
medida, e ás vexes por si mesmo é equivalente zer, como se tem feito nesta casa c pela im
aos objectos que fazem objecto das transacções prensa, que não ha falta da meio circulante, por
e permutas, a sua falta se resente de quando em que ainda não se sentio grande differença nos
quando, e em certos lugares mais do que em preços das mercadorias e dos serviços, porque
outros. » Aqui pareceu-mo ver incluida a idéa a falta dos bilhetes do banco que produzio esse
de que a moeda ao menos algumas vezes repre desequilibrio na circulação sõ teve lugar no
sentava parte do capital. Ora, sendo esta tam meiado do mez passado....
bem a minha opiniao bem fixa,, devia achar-me O Sr. Ferraz: — Já ha muito tempo um banco
do accordo não só com a do nobre deputado dava em pagamento parte de bilhetes e parte
como com a do economista que uesta occasião de moedas.
citou, sómento com uma diferença, e vem a ser
que Adam Smith na classificação que fez da ri O Sr. Lisboa Serra : — Eu mandarei ao nobre
queza publica considerou os metaes amoedados deputado, para que a examino, uma nota do
como uma parte do capital fluctuante, e não do thesouro em que se vê o preço porque o mez
fixo, como sffirmára o nobre deputado ; nem passado o thesouro teve todo o dinheiro de que
entendeu elle a fixidez e a mobilidade dos capi precisou.
taes como aqui expòz o nobre deputado em re E' tambem um facto verdadeiro que o banco com-
lação ás modificações por que erão susceptiveis mercial não teve em todo o anno de 1851 emissão
de passar, ou alterações que poderião soffrer, e alguma. Apenas conservava fóra 5:000S que não
tão somente em relação á sua mobiliaade ou im- apparecião, talvez importancia de bilhetes per
mobilidade no acto de produzir a renda ou be didos ou desviados do seu centro de circulação,
neficio. Assim, são fixos os capitaos que podem e que só no fim desse anno se organisou o banco
reproduzir-se sem mudarem de lugar ou rte do Brazil.
possuidor... Eu estou pois plenamente convencido da falta
de meio circulante ; ella não se pódo conhecer
O Sr. Ferraz : — Outros economista classificão perfeitamente agora ; não se revela ainda nos
de outro modo. preços, porque essa falta não foi ainda sentida
O Sr. Lisboa Serra : — Não fallo em geral na classe baixa da sociedido, nem nas transac
da opinião dos economistas, mas refiro-me aquelle ções miudas em que ainda se opera sobre valo
que o nobre deputado citou, Adam Smith ; sabe res negociados antes da crise ; sente- se apenas
o nobre deputado que elle fazendo a sua divisão nas grandes transacções e dahi ha de ir des
da riquezu publica em tres grandes grupos, um cendo até alcançar as minimas, e ha de então
dos quaes não considerou capitaes, por isso que ser sentida por todas as classes da sociedade.
erão destinados ao uso proprio dos individuos Não podia influir no preço do serviço e das
que os possuião, dos dous outros fez duas clas mercadorias que já estavão, por assim dizer,
ses—capitaes fixos e capitaes circulantes ou vendidas : mas esse desequilibrio ha de necessi-
fluctuantes. A moeda está expressamente com- riamente, se as cousas seguirem seu curso re
prehendida nessa parte dA capitaes fluctuantes... gular, affectar todos os preços do paiz. Sem
O Sr. Ferraz : — Considerada como moeda ? duvida seria absurdo que dando-se deficiencia do
meio circulante, esta deficiencia não influisse no
O Sr. Lisboa Serra : — Mesmo como moeda valor do serviço e das mercadorias ; mas peço
tem um certo valor, e este valor tanto é classi mais algum tempo: se não houver providencia
ficado como capitai fluctuante que elle muitas alguma, isto se ha de dar, e o facto ha de ser
vezes se converte nesse capital, e dahi resulta reconhecido por todo o paiz, o antes disso não[será
o desequilibrio que então se sente por falta de rigorosa uma conclusão negativa.
moeda. Era este o ponto a que eu queria che- Alouns Srs. Deputados: — Muito bem.
Êar. Os capitaes moveis ou fluctuantes compre
endem as producções do lavrador, as colheitas A discussão fica adiada pela hora.
que elle destina ao morcado, a parte que não ó O Sr. Presidente marca a ordem do dia se
necessaria ao seu consumo, as materias primas guinte, e levanta a sessão ás 2 horas e 3/1 da
em geral, os artefactos ou a materia prima ma tarde. -
nufacturada que ainda está no poder do fabri
cante ou do negociante que a ha de lançar, no
consumo, e finalmente a moeda por meio da qual
as outras partes desta especie de capital conse
guem circular.
Agora pergunto eu : se a moeda é o meio que
ha do servir para a permutação e circulação das
876 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
Sessào em 28 de Junho juiza definitivo sobre a materia é de parecer que
se remetta o requerimento da que trata ao go
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO verno, para informar.
« Sala das coinmissões da camara dos depu
Summario. —Expediente. — Ordem do dia.—Favores tados, 21 de Junho de 1833.—Frederico de Al
d colonia D. Francisca. —Creação de bispados meida Albuquerque.— Viriato Bandeira Duarte.»
Discursos dos Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos
e Barbosa.—Creação de um banco nacional. PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
Discurso do Sr. Bandeira de Mello.
A's 10 horas feita a chamada, achão-se pre FAVORES A COLONIA D. FRANCISCA
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido, E' approvado sem debate em primeira dis
Luiz Araujo, Aprigio, Siqueira Queiroz, Lin- cussão o projecto r. 21 deste anno offerecido
dolpho, Miranda, barão de Maroim, conego LeaI, pela commissão de commorcio, industria e artes,
Pacheco Jordão, Ferraz, Mendes da Costa, Paula concedendo varios favores aos colonos que se
Santos, Fleury, Macedo, Almeida e Albuquerque, estabelecerem nas terras de Suas Altezas o prin-
Seára, Pimenta Magalhães, Wilkens, Livramento, cipo e princeza de Joinville.
Domingues, Teixeira do Souza, Góes Siqueira,
Belfort, Viriato, Souza Leão, Henriques, Rodri CREAÇÃO DE BISPADOS
gues Silva, Angelo Custodio, Fausto, Kocha,
Candido Borges, Paula Fonseca, Figueira de Entra em segunda discussão o projecto r. 13
Mello, Ribeiro, Dutra Rocha e Silverio. deste anno, creando um bispado na provincia
Comparecem depois da chamada os Srs. Gou- de Min is-Geraes.
vêa, Vasconcellos, Brusque, Ignacio Barbosa, Rego
Barros, Candido Mendes, padre Campos, Maga O Sr. Vasconcellos (pela ordem) manda ã
lhães Castro, Paranaguá, Araujo Lima, Nebias, mesa a seguinte emenda sbbstitutivi e additiva
Zacharias, Gomes Ribeiro, Castello Branco, Mon do projecto :
teiro de Barios, Harta, Jagu iribo, Wanderley, « A assembléa geral legislativa decreta:
Pacca, Fiuza, Nabuco e Barbosa da Cunha. « Art. 1.» O governo fica autorisado a impetrar
E havendo numero legal, o Sr. presidente abre da Santa Sé as 'bulias da creação o divisão de
a sessão ás 11 hora* menos dous minutos. dous bispados, segundo as disposições contidas
Lida e approvada a acta da antecedente, o Sr. nos seguintes paragraphos:
1° secretario dá conta do seguinte « § 1.» Ni provincia de Minas-Geraes, do da
Diamantina, tendo por sede a cidade deste nome,
EXPEDIENTE o por territorio as comarcas do Serro, S. Fran
cisco, Jequitinhonha e o municipio de Curvello.
Um officio do Sr. ministro da guerra, dando « $ 2.» O termo de Paracatú da mesma pro
as informações por esta camara pedidas ácerca vincia fica incorporada ao bispado de Goyaz, e
do requerimento do tenente reformado Joiquim pertencerá ao de Marianua o territorio que no
José de Souza, que pede voltar para a primeira municipio do Pitangui presta obediencia a Per
classe do exorcito. —- A' quem fez a requisição. nambuco.
Outro do da justiça, communicando que expe « Art. 2.» Identica autorisação se confere ao
dira ordem para que os presidentes das provin governo para impetrar da Santa Sé ns bulias
cias informem ácerci de um requerimento de da creação de uni bispado no Ceará, tendo por
dous membros desta camara. — Fica a camara limites os da provincia, e por sêdo a cidide
inteirada. da Fortaleza.
Um requerimento de Henrique Itacolumim Lopes, « Paço da camara dos deputados, 21 de Junho
pedindo dispensa para matricular-se no segundo de 1853. —Francisco Diogo Pereira de Vascon
anno da escola do medicina.—A' commissao de cellos.°
instrucção publica.
Outro de João José de Miranda, negociante O Sr. Góes Siqueira: — Sr. presidente,
da cidade de Miceió, pedindo o pagamento da em vista do que passou-se na primeira dis
quantia de 1:440$, importancia de polvora e cussão desta projecto julgo-me compromettido a
chumbo que o supplicaiite depositou no quartel exigir do honrado deputado por Minas-Geraes
militar por ordem do presidente das Alagoas.— as informações que ellu disso ter ácerci deste
A' coinmissão do fazenda. assumpto, e aproveitarei tambem a palavra para
exigir do alguns dos Srs. ministros que mani
Outro de Raymundo Remigio de Mello, al festem sua opinião, dáendo-ine se por ventura
feres do 11 batalhão de infantaria do linha, re está habilitado o gorcrno com os documentos
clamando os postos c antiguidade do que sem necessarios para apreciar a conveniencia não só
razão fóra despojado.—A' commissão de marinha do bispado que se pretenda crear na provincia de
e guerra. MinasGoraes, mas de um outro na provincia
Um officio do Sr. deputado F. Octaviano de dj Ceará.
Almeida Rosa, participaddo não ter comparecido Sr. presidente, paroco-me que a camara dos
por se achar de nojo pelo fallecimento do uma Srs. deputados não devo tomar uma deliberação
sua irmã.—Manda-se desanojar. deflnitivi sobre um assumto de tanta impor
São approvadas sem debate varias redacções. tancia sem ouvir a opinião dos respectivos dio
E' sem debate approv.ido o seguinte parecer: cesanos, o cu tenho em abono deste meu pensa-
« João Eduardo Lajoux, cidadão brazileiro na- meuto o voto de - homens esclarecidos, e com-
turalisado, requer a esta augusta camara que o quanto não seja profissional, comtudo permitta-me
poder legislativo lhe garanta os juros de 6 % a camara que assim me pronuncie.
elo tempo de 2õ annos, do capital de mais Notarei, porém, de passagem que esta camara
s e 200:0000 que pretendo empregar.em um esta em objectos de pequena monta e de pouca im
belecimento que elle tenciona montar para fa portancia procura sempre obter todos os escla
bricar acido sulfurico e sal de soda artificial. recimentos que pòde, afim de bem deliberar,
entretanto que ácerca dos objectos como este, que
_« A commissão de commercio, industria e artes, é de magnitude, parece obrar de modo muito
não tendo meios de averiguar certos factos, e diverso.
de fazer alguns exames de que depende o seu Sr. presidente, é incontestavel que a divisão
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 277
civil e eoclesiastica do nosso paiz não está de o & camara para ler uma carta, na qual o
accordo com os interesses da nossa população Sr. arcebispo da Bahia emitte o Seu juizo a
(apoiados) ; convém que haja uma divisão maia respeito do projecto que está ein discussão.
regular com as commodidadea dos povos, porque Estou autorisado pelo nobre deputado, meu amigo
não e justo que una tenhão todas as commodi- o Sr. Aprigio, a apresentar esta carta, em que
dades e vantagens, emquanto que outros nenhuma S. Ex. diz, referindo se ao projecto que eu tive
vantagem e commodidade tem, o vivim como a honra de apresentar :
que sequestrados de todos os recursos. « Quanto á pergunta do nosso amigo Aprigio ,
Ficarei pois aqui, e peço ao honrado depu mande-lhe dizer que eu ha muito suspiro por
tado por Minas-Geraes e ao Sr. ministro que essa creação. de um bispado, que me livre das
ve acha na casa .. fteguezias da provincia de Minas pertencentes
O Sr. Correa das Neves:— Mis esse é da ao arcebispado. Eu mesmo om 1827 ou 1828
marinha. propuz na camara essa creação. Alguns annos
depois, pedindo-a igualmente á assembléa pro
O Sr. Góes Siqueira: — . .. que me f jrneção os vincial de Minas Ger ies, exigirão ambas as cama
esclarecimentos necessarios a este respeito. ras o meu parecer, o eu de novo insisti pela
O Sr. Corrêa das Neves: — Querem inetter a ci tação. Mas até hoje nãi se fallon mais nella,
marinha na igreja. talvez porque o finado senador Vasconcollos,
O Sr. "Vasconcello s: — Sr. presidente, o segundo mo affirmarão, insinneu, não sei s0 por
nobre deputado que acaba do fallar desej i ser deferencia a mim, que ella ficasse reservada para
esclarecido acerca do projecto que loi apresen depois de minha morto. Ora, se isto é verdade,
tado nesta casa pela deputação da provincia .lo como eu tenho a esperança do ainda viver muito
Minas-Goraes, o dirige se a mim especialmente tempo, bom é que se acuda quanto antes a
para lho prestar esses esclarecimentos. estes povos, onde quasi não chega a acção da
Eu procurarei dar ao nobre deputado as infor autoridade pelo lado da Bíhia (apoiados), e são
mações que á minha noticia têm - chegado, cantos realmente no espiritual governados só pela Divina
de o fazer unirei ás suas as minhas vozes, Providencia (apoiados) ; concordo, pois, de muito
reclamando que qualquer dos Srs. ministros que boa vontade na referida creação. »
esteja na casa nos communiquj a opinião do Vê, pois, a camara que não procedo lcvia-
gabinete áarca deste assumpto. Sr. presidente, namento quando justo pela necessidade desta
desde muito tempo que têm soado nesti! recinto creação. '
as vozes de oradores, quer deputados pela pro Creio ter satisfeito na primeira parta ao pedido
vincia de Minas-Goraes, quer deputados por outras do meu honrado amigo deputado pela Bahia.
provincias, por exemplo, de Pernambuco, pro. Quanto a segunda, isto é, a necessidade que o
pondo para aquelle lado da provincia esto bis nobrs deputado considera da nenhum pisso dar
pado. a camara sem prévia audiencia dos diocesanos,
O nobre deputado póde recordar-se das dis eu informarei ao nobre deputado o que pude
cussões que téni havido nesta casa, das informações colher da leitura superficial , ó verdade, mas
que se tem pedido, e mesmo póde esclarecer- se attenta que fiz desta materia.
Antigamente,
todas as Sr.
sufficientemente lendo as obras qne anteriormente presidente, putiãopassos
da curia
romana informações, todosios para
se têm publicado sobre estn materia, as quaes creação dos bispados, isto é, o summo pontifico
todas ooncordão na necessidade de crear-se ao creava e supprimia os bispados sem intervenção
norte da provincia de Minas uni bispado. Reflro-mo do poder temporal. Depois de certo tempo ao
principalmente a unia memoria que sobre este poder temporal ficou competindo dar todos esses
objecto a camara dos deputados mandou imprimir passos que servem como do preambulo á crea
no anno de 1817 O que se tem passado aqui ção dos bispados. O que achei de direito a este
é o seguinte : respeito é o seguinte. A Santa Sé hoje não cos-
O illustre e venerando metropolita da igreja tu na determinar essas creações senão instada
brazileira em 27 de Junho de 18:29 propóz a pelo poder temporal ; as informações que a Santa
creação deste bispado nesta casa, e a creação Só pede são as seguintes : extenção de territorio
do bispado do Ceará; em 19 de Julho de 1831 do novo bispado, sua população, a necessidade
o mesmo Sr. arcebispo da Bahia a pedio igual do um novo pastor, a igreja que se deva ele
mente : em 3 de Junho do 1.S35 a commissão do var a cathedr d, e audiencia do bispo da dioceso
estatistica solicitou informações sobre a neces desmembrada.
sidade da creação deste bispado; em 1 do Julho Dadas estas informações pelo governo depois
de lifòõ a commissão deu o seu parecer ; em do acto legislativo, a Santa Sé por via do encar
30 de Março de 1840 uma representação d i camara regado de negocios recebe esses papeis e defere
municipal de Minas-Novas^que pertence ao ter ou não defere a pretençao.
ritorio e:n que se pretende erigir o novo bispado, Eis-aqui qual ó a pratica seguida. Dizem
pedio a sua creação ; eai 7 de Janeiro de 1813 mesmo os canonistas que este acto de pedir o
a assembléa provincial de Minas Geraes fez uma colher as informações é propriamente uma attri-
representação pedindo a creação deste bispado; buição hoje da Santa Se, e como que o prin
e em lõ de Maio de 18 lô um nobre deputado cipio de expedição de bulias. Nós, nesta casa,
de então, o Sr. Muniz Tavares, apresentou um tratando de determinar o acto legislativo, limi-
projecto creando uma prelazia nesse lugar. tamo-nos a decretar as divisas dos bispados,
Vê pois a camara que são constantes as recla porque nós não fazemos senão um pedido á
mações dos deputados do Minas-Goraes, da assem Santa Sé ; todo esse trabalho que precede no
bléa provincial e da camara municipal.- corpo legislativo não é senão um traDallio pre-
O Sr. arcebispo da Bahia insta pela creação par. torio a um trabalho todo de supplica. (Apoia
deste bispado, e paiece-me que á vista de recla dos.)
mações tao uniformes, tão continuadas, que é da (Ha um aparte.)
maior urgencia que a camara dos Srs. deputados
se çreoceupe deste objecto e o resolva (muitos E' como diz o nobre deputado, muito com
apoiados), a ver se ainda nesta sessão podemos petente na materia, uni trabalho que prepara
dotar a provincia de MinasGeraes com ONta crea o governo para prestar essas informações á
ção, que interessa es|encialnionte á civiiisação e Santa Sé. Portanto, creio que o nobre depu
moralidade daquelles povos. (Apoiados.) tado por oste lado ainda não enxergará preci
Para seguir até a actualidade o que se tem pitação quando insto pela adopção da medida
a este respeito passado pedirei licença a V Ex. que se discute.
278 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
Senhores, ou queremos que a religião catho- gumas informações, porque essas informações
lic i e apostolica romana seja a religião do es tratará o governo de colligir quando tiver de
tado, ou então sejamos francos, tratemos de outra motivar o pedido á Santa Sé, se passar a auto
cousa. Pois se desde lt£2!) estamos a pelir nesta risação.
casa creação desse bispado, em todas legisla Se são estas as declarações que desejava o no
turas se embaraça essa- creação com duvidas bre deputado pela Bahia, creio que. o tenho sa
iguaes ás que hoje se apresentão, porque have tisfeito.
mos de estar illudindo o povo ? Só quein não co Não tratarei do justificar a utilidade da me
nhece o sertão dessas provincias póde duvidar dida, porque ella tem sido demonstrada pelos
da conveniencia, da urgencia desta medida nobres deputados que têm fallado a favor do
(apoiados) ; os habitantes daquelles lados do ser projecto, e eu nada poderia acrescentar. A ca-»
tão vão da pia baptismal ao tumulo sem ter a mara sabe que desde 1809 se tem julgado conve
consolação de ver uma só vez o seu pastor, niente a creação de um bispado no Ceará e outro
porque elle não póde a longa distancia apas na parte do bispido de Pernambuco e da Bahia
centar, como convéin, e conhecer o seu rebanho. que civilmente pertencem á de Minas Geraes.
Ora, abandonados os p-irochos a si proprios, o Ora, se esta necessidade era reconhecida nessa
que podem fazor ? O que ha a esperar delles? época, muito mais o deve ser hoje com o aug-
Eu nao quero con lemnar o clero ; mas é preciso mento da população que tem havido em tão
ue haja um pastor vigilante que inspeccione a longo periodo.
a iocese, e que evangelise o povo com a palavra O Sr. Góes Siqueira : — Sr. presi
e com o exumplo. Sem nos empenharmos por dente, antes de tudo direi que me não satisfaço
esta medida no corpo legislativo, estou persua com as informações dadas pelo honrado Sr. mi
dido qne não cumprimos a nossa missão, ao nistro da justiça. Julgava que S. Ex. estava
menos eu não fico satisfeito, não fico tranquillo munido de outros documentos pelos quaes eu
como deputado por Min is Geraes. ficasse convencido da necessidade da creação de
'Ha um aparte.) um bispado na provincia de Minas e outro no
Eu entendo que não cumpro o meu mand ato Ceará. Além disto, eu ainda fiz uma outra obser
como representante da nação negando o meu voto vação, o foi pedir ao governo que lançasse, suas
a medidas desta ordem, que são altamente re vistas para a 4'v>são ecclesiastica e civil do
clamadas pelo brado imperioso das necessidades paiz, porquanto não é justo que alguns habi
publicas (apoiados) ; entendo que nestas circum- tantes deste vasto imperio gozem de todos os
stancias eu não seria digno do lugar que oceupo commodos, de todas as vantagens, entretanto
se não dissesse a verdade á camara, se qui- que outros não possão gozar desses mesmos com
zesse com palliativos demorar a decretação de modos, dessas mesmas vantagens, e vivão como
uma medida que desde tanto tempo, segundo a sequestrados da sociedade. (Apoiados.)
historia que acabei de fazer, é reclamada pela O novo deputado por Minas pareceu dar a en
provincia. tender que eu me oppunha á creação de bis
O nobre deputado disse que se nós em cousas pados porque de alguma maneira não nutria
insignificantes ouvimos o governo, ouvimos as sentimentos religiosos. (Não, não.)
autoridades, porque razão em objecto do tanta O Sr. Vasconcellos: — Se entendeu isto de al
magnitude havemos de preterir estas informa guma palavra que cu dissesse, eu retiro seme-
ções? Sr. presidente, se fosse a camara dos Ihanto palavra.
deputados, o corpo legislativo, que resolvesse a O Sr. Góes Siqueira : — Na primeira dis
creação dos bispados, eu não tinha escrupulo cussão deste projecto eu mostrei a necessidade
nenhum em decretar a creação deste bispado em que havia não só da creação de um novo bis
vista da carta do Sr. arcebispo da Bahia que pado na provincia de Minas, como em outros
acabei da ler ; creio que ó a informação mais lugares do imperio ; e até disse que considerava
ampla, mais completa que é possivel prestar-se taes bispados como verdadeiros nucleos ou cen
a respeito da creação desse bispado. (Apoiados.) tros donde partirião os raios luminosos da nossa
Além disto, o nobre deputado póde ficar certo, religião para diffundirem -se sobre a população do
póde ficar tranquillo que o governo nade recorrer imperio. Nem podia deixar de emittir outros
aos bispos a quem interessa a desmembração sentimentos, quando estou convencido que a re
ou annexação de territorios antes de mandar os ligião catholica, apostolica, romana, unica ver
papeis á curia romana, porque é isto sua obri dadeira,, é uma grande necessidade social (apoia
gação. Entroianto parece-me qne a camara dos dos), é o mais poderoso meio de civilisação
Srs. deputados, segundo o que tenho expendido, (apoiados) ; quando estou convencido dos grandes
segundo o que consta da sua secretaria, está serviços prestados pela igreja christã, a qual,
sufficientemente habilitada para pedir a creação segundo a phrase de uni escriptor sabio, foi
deste bispado. (Apoiados.) o verdadeiro laço, verdadeiro centro ou meio
Sr. presidente, eu não me demoro mais a este entre o mundo barbaro e o mundo civilisado.
respeito, porque não quero que a sessão se ter Eu, pois, não podia desconhecer a vantagem da
mine hojo sem ouvirmos algum dos Srs. mi creação de bispados e de outros objectos ten
nistros, se [os ha na casa, que nos possa pres dentes ao desenvolvimento do elemento religioso.
tar as informações a que se referio o nobre Sr. presidente, o nobre deputado pela mesma
deputado que fallou em primeiro lugar. fórma tratou de responder a outra questão qne
O Sr. narbosa (ministro da justiça) : — eu estabeleci, o vem a ser, se não soria conve
Soube ao chegar a esta camara que um nobre niente que para a camara dos Srs. deputados
deputado pela Bahia deseja saber muito a opi tomar uma deliberação a semelhante respeito
niao do gabinete a respeito da creação de um ouvisse em primeiro lugar ao poder espiritual.
novo bispado em territorio pertencente a pro Disse o nobre deputado que isto era dispensavel,
vincia de Minas, e que pertence hoje aos bispa que se podia ouvir depois, na occasião em que
dos da Bahia e Pernambuco, e sobre a creação o governo Houvesse de impetrar as bulias da
de outro na provincia do Ceará. Direi franca Santa Sé.
mente á camara que o governo não se oppõe â Senhores, eu não sou profissional nesta ma
creação desses bispados, antes entende que delles teria, mas pelo que tenho lido, peço licença á
póde resultar bastante utilidade publica. Aceita camara para dizer duas .palavras. Em | outras
pois o governo a autorisação que lhes quer dar. épocas, ê verdade que as divisões ou circums-
Julgo lambem que não ó razão para que se cripção das dioceses erão da atttibuição exclu
demore a discussão do projecto a falta de al siva da autoridade espiritual.
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 279
Um Sr. Deputado : — E ainda hoje. SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
O Sr. Góes Siqueira : — A camara se ha CREAÇÃO de um banco nacional
de recordar, Sr. presidente, da resposta que o
papa Innocencio I deu ao bispo do Antiochia Continuação de 3a discussão do projecto r. 23
sobre esta questão « se as dioceses podião ser para creação de um banco nacional.
divididas pelo principe. » Nessa resposta o C Sr. Presidente:—Tem a palavra o Sr. Ban-
papa a que me refiro dizia que a igreja do Jesus doira de Mello.
Christo náo devia ser dividida conforme os ca
prichos do mundo. O Sr. Bandeira clo Mollo : —Sr. presi
dente, quando as idéas preoceupão vivamento o
O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado. nosso espirito, determinão certas acçõas, mesmo
O Sr. Góes Siqueira : — Dava pois elle a nosso pezar, têm uma influencia immediata
a entender que o poder temporal nenhuma sobre o que praticamos Eu em um dos discursos
intervenção devia ter nisso, e sim o poder que proferi nesta casa, como tratassemos de ban
espiritual. cos, e estes presuppoem o credito, abusei do
O Sr. Correa das Neves: — Apoiadissimo. credito dos autores, citei-os á larga, para dar
au toridade á minha palavra. Mas o que acon
O Sa. Góes Siqueira : — Porém, Sr. presi tece tambem á camara? Preoccupada com a
dente, eu não adopto esta doutrina, ella é sum- idéa do credito, tem abusado do credito ministe
mamente exagerada ; reputo a ultramontana. rial, tem aborto um largo credito ao Sr. ministro
Com o correr dos tempos, com o desenvolvimento da fazenda, talvez mesmo contra os seus desejos.
da civilisação," então vio-se que era conveniente Esta discussão, aliás tão importante, tem sido
consultar não só os interesses do estado, como precipitada por esse abuso de credito. V. Ex. se
os interesses da igreja. Mas o nobre depu recordará de que, apenas veio do senado este
tado nos argumentos que apresentou não me prpjecto, foi elle logo dado para a ordem do dia,
satisfez dizendo que o poder espiritual podia o que apenas votou-se em segunda discussão,
ser consultado depois. Não, eu entendo que na immediatamente pedirão urgencia para entrar em
occasião de se tratar da divisão ou circumseri- terceira ; isto sem duvida tem. prejudicado ao es
pção da diocese o poder temporal e o poder tudo e meditação de tão importante assumpto.
espiritual devem de ser consultados reciproca O nobre ministro da fazenda, preparado como
mente. (Apoiados.) está pela pratica dos negocios, pelos seus talen
A carta que o nobre deputado apresentou do tos e luzes, de certo que não pedirá que a ca
aabio e digno metropolita da Bahia não é uma mara lhe abra um credito tão vasto de confiança,
informação officiel ; e demais, ó relativa só- e elle talvez comsigo ria-se com a exageração
mento ao bispado de Minas ; entretanto -é pre desse credito, e diga : « Esses senhores pensão
ciso que se ouça aos outros diocesanos. que eu sou eterno ? Pois elles não vêm que este
objecto
O Sr. Araujo Lima : — A respeito do Ceará - jecto contém não é de mera confiança ? Que o pro
ha informações antigas. providencias e medidas que hão de
ser tomadas por successores meus, que muitos
O Sr. Góes Siqueiba : — Appareção essas in annos depois desta época virão ? Por ventura o
formações, eu mão as tenho visto.
Mas, Sr. presidente, dis9e o nobre deputado opagamento da divida que contrahirmos para com
banco s-irá realisada por mim ? »
que o governo, na occasião de impetrar as Sr. presidente, se mesmo o nobre ministro da
bulias da Santa Sé é que tinha de ouvir a fazenda sem duvida não desejará esse excesso
opinião dos honrados prelados. Eu observarei de confiança, esse credito tão exhorbitante, por
á camará que semelhante doutrina poderá dar que razão havemos
nascimento a conflictos muito graves. Emquanto que o papa ? Dizia-sede que ser mais catholicos do
o poder temporal e o espiritual estiverem har- panha em outra época erão os domicios da Hes-
tão vastos que o sol
monisados, bom ; mas, suppouha-se, senhores, era sompre visto no seu horizonte,
que esta camara trata da creação de um bispado, pro illuminando algum ponto desseestava sem-
vastissimo
que emfim este acto legislativo complota-se, territorio ; parece igualmente, Sr. presidente,
ue o governo ouve a opinião dos respectivos que a confiança da camara, que o credito que
;í iocesanos, que estes informão em sentido con
trario e vão estes papeis para a Santa Sé. Não ella deposita no Sr. ministro da fazenda nunca '
so recolhe, está sempre presente no seu hori
poderá acontecer que ali so liguem mais ás zonte, não tem oeste, não tem poente, ainda nas
informações dadas pelos diocesanos, e que não materias mais estranhas á confiança.
attendão ás informações dadas pelo governo ? E esta confiança tão illimitada será conve
Dahi não poderão resultar cenflictos gravissimos ? niente ? Eis um facto que demonstra que ella
(Apoiados. ) Não se poderá dizer que o corpo
legislativo do Brasil foi um tanto leviano em tem O
prejudicado aos esclarecimentos convenientes.
nobre ministro da fazenda faltava sobre
legislar sobre materia desta ordem sem se
munir de todos os documentos e informações ? uma das disposições do projecto ; eu dei-lhe um
ap irto, o qual contrariou ao nobre ministro, e elle
Eu pois, Sr. presidente, entendo qua seria
muito prudente que nos munissemos de todas odeputado que me deu em resposta ? Disse-me: « O nobre
não leu o projecto, o se leu não foi
as provas e documentos, afim que d'ahi não com attenção. » Ora, .Sr. presidente, se eu que
resultassem conflictos, dos quaes muitas vezes tenho tomado parte na discussão não li o pro
nascem consequencias funestas. jecto, ou se o li, não foi com bastante attenção,
Conheço, Sr. presidente, a necessidade que então o que vai por ahi ? E' mais natural,
tem essa população immensa que vive disse pois, que a precipitação com que marchamos,
minada pelo centro do nosso paiz do todos os preterindo os transmites do nosso . regimento,
soccorros espirituass, e por isso não me oppo- tenha dado occasião a que o nobre ministro
nho ã creação deste ou de outros bispados ; ness i proposta fizesse uma especie de censura á
apenas desejo que procedamos com toda a camara, pois o seu reparo envolve virtualmente
prudencia e circumspecção mediante todos os o reconhecimento de que não se tem dado bas
documentos que possamos obter ; e novamante tante tempo para ler-se o projecto com a atten
farei sentir ao honrado Sr. ministro da justiça ção precisa.
a conveniencia que ha em que o governo olhe Feita estas considerações, Sr. presidente, en
para este objecto, tomando uma providencia trarei particularmente no objecto da discussão.
geral. Apoiado*.. Sr. presidente, este projecto tem dous flns.es-
Esta discussão Soe adiada pela hora. senciaes : o primeiro fim é proteger a industria
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
e ao commercio ; o segundo fim é o melhora ao banco emprestado certa quantia ; discuto a
mento do nosso meio circulante. Consideremos o directoria a proposta do governo, dividem- se os
primeiro fim, e vejamos se o projecto é efficaz v«tos, e afinal resolvc-se não se fazer o em
para o conseguir. Digo que não, qne elte não prestimo ; o presidento suspende a execução
tem sufficiente efficacia para isso, pois que con dessa deliberação, e a leva ao conhecimento do
tém varios defeitos, varios vicios, que chamarei governo, e o governo determina que se faça o em
radicaes : o primeiro vicio é o que resulta do em- prestimo. . .
restimo feito ao governo, porque, Sr. presi- O Sr. Ferraz : — Essa hypothesc não se póde
I ente, a experiencia dos outros povos nos con admittir.
vence de que sempre que os bancos emprestão
ao governo elles estão a borda de um precipicio O Sr. Bandeira de Mello : — Póde-se admittir,
imminente. porque de qualquer deliberação que não agradar
Pelo projecto que discutimos o banco é obri ao presidente tomada pela directoria, aquelle
gado a emprestar ao nosso governo 10,000 :000$, recorro ao governo, que deliberará definitiva
emprestimo que é como a indemnis ição, a re mente ; por conseguinte, so o emprestimo pro
tribuição dos privilegios o vantagens que lhe posto se póde discutir na directoria, se é obje
sãc concedidos ; perguntarei agora de onde tirii cto sobre que ella póde resolver, póde dar-se
esses 10,000:0008 ; só póde tirar do duas font es esse appello para o governo, e dando-se esse
—ou do seu fundo capital, ou do sua emissão.— appello, claro está que o governo ha de decidir
Se tira do seu capital, então temos que a emis para que so faç i esse emprestimo...
são necessariamente ha de diminuir. O Sa. Ferraz: — Não é possivel.
O fundo do capital do projecto em discussão é
de 30,000:00O$, e se cllo emprestar 10,000:000S O Sr. Bandeira de Mello : — », deter-
ao governo, fica esse cnpital reduzido a 20,000:0005; minando-o, não ó claro que se devião os fundos
e como a omissão, segundo um artigo do pro do bano ou suas emissões do destino do sua
jecto, deve ser do duplo do fundo capital, se- instituição, isto é, a protecção da industria o
gue-se que fazendo-se esse emprestimo, íila ha commercio ? Certo que sim. E, Sr. presidente,
de vir a ser de 40,000:000$, e reduzida assim a tanto isso é possivel, qne so diz no § 7° do
uma menor quantia, o banco perde proporcio art. 1» do projecto o seguinte : « Em nenhum
nalmente as forças, os meios de conseguir o seu caso poderão as emissões do banco eluvar-so a
fim. mais do duplo do seu fundo disponivel, senão
Ksse fim é lançar na circulação bilhetes em com autorisação dada por decreto do governo »
uma certa proporção com as necessidades do Por consequinte, so o governo determinar que
commercio ; mas se esses bilhetes, em conse a emissão não esteja na razão dupla, mas sim
quencia do emprestimo, são em quantidade me com relação só.nente u um terço, o poderá fazer,
nor pela relação que a omissão deve guardar e é autorisado por esta disposição.
com o fundo capital, resulta que fim primordial Tambem está autorisado pelo § 1» do mesmo
e essencial do banco, a protecção a industria e artigo a permittir o augmento do fundo capital.
commercio, deixa de ter a amplitude e desen O Sr. Ferraz : — Poderá permittir ; não ó
volvimento que teria se esse emprestimo não obrigar.
fòra feito, e o seu fundo capital não fóra dis-
trahido para um objecto que é sempre fatal a O Sn. Bandeira de Mello : — Poderá per
instituições desta ordem. mittir ; por conseguinte o governo póde auto-
Se o emprestimo é deduzido do total da emis risar. . .
são, temos igualmente o mesmo resultado. O O Sr. Brandão : — Apoiado, a autorisação
banco inhabilita-so para o seu fim, desfalcão-so está dada.
as forças e recursos que elle devera destinar a
favorecer o commercio e a industria, e de mais a O Sr. Ferraz : — Os accionistas são cegos ?
mais o papel que elle emitte nesta circumstancia O Sr. Bandeira de Mello : — Ora, Sr. presi
convcrte-se em parto, em verdadoiro papel-moeda; dente, uma autorisação semelhante jámais foi
digo em parto, porque este caracter sò póde refe- dada ao governo em parte alguma p Io corpo
rir-se ás notas até á concurrento quantia do legislaiivo, porque ella é importantissima, porque
emprestimo, sendo que dentro desse computo a emissão das notas traz o depreciainento do
cilas não têm por garantia senão o credito do meio circulante.
governo ; isso é inquestionavel. Portanto, con Uma autorisação dessa importancia, que alfecta
clne que o emprestimo de que se trata essen essencialmente o credito d is bancos o o valor
cialmente vicia a instituição, emprestimo que, relativo do numerario, nunca foi em parte al
como já disse, tem sido sempre fatal ás insti guma nem póde convenientemente ser commettida
tuições b.incaes. a discrição do governo. So o governo entre nós
Um outro vicio que perverte inteiramento o meámos nem estatutos faz, por exemplo, para
banco, c imo igualmente nos demonstra a historia, as nossas academias, sem que esses estatutos
é a intervenção directa do governo. O projecto venhão á nossa approvação, como havemos de
diz que haverá um presidente da escolha do psrmittir que o governo autorise a emissão do
overno ; que esse presidente estará á testa da bilhetes do banco, autorise o augmento do seu
irectoria ; que quando a directoria determinir fundo capital, talvez para em ciicumstmcias
alguma cousa que o presidente julgar menos urgentes apoderar-se desse fundo capital, dessa
conveniente, ello suspenderá a execução do que emissão ? As necessidados de uma guerra, ou
houver determinado a directoria , e appellará qualquer outra, não podem determinar o" governo
para o governo, que resolverá definitivamente. a este recurso prompto e immediato ?
Sr. presidente, as instituições de credito para O nobre deputado que ha pouco deu-me um
prosperarem, para progredirem, necessitão essen aparte 6 inimigo de todas as autorisações ao
cialmente da liberdade, e muito principalmente governo, já protestou contra isso, já censurou
recisão de independencia, pois o só com a li- o corpo legislativo por ser facil em concedêl-as. . .
D ordade e independencia do governo que . ellas O Sr. Fioueira de Mello : — Fez muito bem.
podem inspirar confiança. Quando se pefmitte
que o governo intervenha nas discussões do O Sr. Bandeira de Mello : — Por conseguinte
banco, elle não poderá inspirar essa confiança, não póde deixar de fazer o repiro que fez, do
nem aos accionistas, nem aos portadores dos que essa concessão é extraordinaria, ê extrava
bilhetes. Uma hypotbese mostrará os motivos gante. Quando a directoria publica as suas trans
disto. Supponhamos que o governo quer tomar acções com curtos intervallos os interesses do
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 281
publico estão garnntidos, e a intervenção do prejuizo á sociedade, porque das apolices vivem
governo, além do escusada, ó sempre desastrosa, muitas familias, qne dahi tirão meios de subsis
á excepção de casos mui raros. tencia ? Em consequencia, emittindo o governo
O Sr. Ferraz : — E' preciso estudar a organi- essa avultada somma de apoiices, o soffrimento
será geral, os clamores serão immensos, e o que
sação dos bancos para se dizer isso : os capit ies resultará
não são particulares ? Dependem alguma cousa clamores, ? diante O governo ha de recuar diante desses
desse sofirimento, não emittirá
do governo ? as apolices, dirá ao banco que continue com as
O Sr. Fioueira de Mello: — Durante 30annos notas que representão a quantia emprestada ; o
cessa o poder legislativo relativamente ao banco. o que são então essas notas ? Papel-moeda, por
O Sr. Bandeira de Mello-. — Ainda ha outro qne não existe no cofre do bando fundo algum
vicio radical no projecto, o vem a ser o não para garautil-o.
achar-se efectivamente prohibido que o banco Senhores, o paiz que uma vez almittio no seu
pos-a negociar em apolices, da divid i publica em seio o papel-moeda, não se livra delle senão
jundos publicos; porque, Sr. presidente, eu já disso por meio do um i operação rapida e dolorosa ;
que o fim do banco eram protecção á industria e ao não ha outro meio, não ha outro recurso, tudo
commercio, e, se se concede ao banco essa permis mais são pilliativos, expedientes infructiferos.
são do negociar em fundos publicos, elle distra- A historia nos dá exemplo disso. Creou-se o
hirá para isso grande parte da sua emissão, e banco de Copenhague positivamente para resga
então qu indo o commercio ou a industria recor tar o papel-moeda; até parece-me que essa insti
rer a elle para obter sua prot-cção por meio de tuição servio de modelo ao nobre autor do pro
descontos, achai á a emissão empregada em um jecto qne so discute, porque nello vejo as mes
objecto contrario ao fim do banco. mas disposições: mas, senhores, o papel-moeda
A experiencia o a historia tambem nos mos- continueu naquelle paiz.
trão que quando os bancos não estão inliibidos O longo periodo que é necessario para resga-
de fazer semelhante negociação considerão a agio tal-a, segundo esse systema, sempre dá lugar á
tagem como fim principal de sua instituição ; esse circunistannia, sempre acareta emergencias que
jogo fatal os preoccup i com preferenci i ás ope determinão o govorno a continuar a pedir ao
rações de desconto ; elles são o foco da agiota banco . as suas notas, e por conseguinte ellas
gem ; são o arbitro da alta e da baixa dos fun perimnecem em circulação comjo caracter de
dos publicos ; isto é fatal não só ao govorno papel-moeda. Dahi vem, como eu já disse e ob
como aos particulares ; ao governo , porque o serva Storch, não ha meio de sahir do papel-
banco, achando-se senhor de uma grande massa moeda senão praticando uma operação rapida e
dos fundos publicos, póde fazêl-os baixar o o dolorosa.
credito do governo padecerá : e aos particulares, Sr. presidente, não se pense que é facil dar
por isso que, baixando os fundos publicos, elles apolices em pagamento ; as apolices em elevada
terão de soffrer prejuizos mui notaveis em suas quantidide na circulação, não só grandemente
fortunas. prejudicão aos possuidores, aos rendeiros do es
Sr. presidente, ó um principio reconhecido tado, mas tambem aos interesses, ao credito do
como protector de uma boa organisação bancai governo.
prohibir-se aos bancos o negociar em geral, não Em 1840 tratou se nesta camara dos meios de
só com fundos publicos como a respeito do qual occorrer ao deficit ; propunhão uns a emissão
quer objecto, porque o negocio ó sempre alea do notas, o augmento do nosso papel ; propu
torio, o banco que negocia arrisca capitaes que nhão outros a venda das apolices ; mas notou-se
não são seus, que lhe são commettidos para então que as apolices estavão muito baixas, isto
outras operações, e arriscando esses capitaes, ao embaraçava ao corp i legislativo de resolver a
mesmo tempo prejudica qualquer industria que venda delias. Então tive a honra de offerecer &
tenha a pretenção de rivalisar com esse gigante camara um projecto que foi adoptado no qual se
de dinheiro. Não ha por isso instituição bancai determinou qne se emittissem notas do nosso
bem organisada que nSo deva tor por base a papel-moeda,
chegassem a
mas que, ss entretanto as apolices
80, o governo as vendesse, e com o
prohibiçáo de negociar o banco, quer em fundos
publicos, quer em qualquer outro objecto. Esta produeto delias resgatasse as notas. Ora, isto o
omissão do projecto devera ser remediada, per- que prova ? Prova que não ó indifferente lançar-
initta Deos que os estatutos do banco supprão-a, se do pancada na circulação 10,001) :000$ para
fazendo expressamente somelhanto prohibiçáo. pagar ao banco o emprestimo, o tanto que a ca
mara nas circumstancias referidas proforio pro
O Sr. Fioueira de Mello : —Temos o exemplo visoriamente a emissão do papel.
dos Estados-Unidos, onde os bancos fizerão ope Nenhuma fó pois tenho de que por esse meio
rações ruinosas. moroso, contingente, o papel mooda venha a
O Sr. Bandeira de Mello:—Considerarei agora desapparecer da nossa sociedade. Se o mal
o banco com relação ao meio circulante, e digo é urgente, se não podemos supportal-o, animo-
que elle não conseguirá o fim desejado. mo-nos a tomar uma providencia eilicaz, ainda
Sr. presidente, ha uma disposição nesse artigo que nos seja dolorosa: só assim a cura será
que determina que, depois dos trinta annos con completa, o mais dará lugar a constantes reca
cedidos ao banco para seu privilegio, o governo tadas.
pagará a quantia devida ao banco em apolices Sr. presidente, passarei agora a outro ponto.
da divida publica ao par. Ora, vencido esse Sinto que não esteja na casa o nobro ministro
prazo, o que acontecerá? O poverno lançará no da fazenda ; quizera fazer-lhe algumas questões
meio da. circulação de um jacto mais 10,000:000(1 que mo parecem muito importantes sobre o ob
em apolices. Qual o resultado disso? E' que as jecto que discutimos. Eu perguntaria ao nobre
apolices necesaariamento hão de baixar. ministro como elle pretende fazer o troco nas
Mas dir se-ha « O governo 'nada perderá, por- provincias onde não houverem caixas filiaes;
i1 ue as dá ao par. » Porém, senhores, não temos quizera que o nobre ministro mo explicasse qual ó
e attender somente aos interesses directos do, o expediente que já tem em seu pensamento
governo : o governo em outro sentido é a socie para tetirar dess is provincias o papel que nellas
dade ; e se a sociedade soffre em uma grande existe. Vejo alguns embaraços para o com
massa de individues, não podemos limitar as mercio. ' ■
vistas, a prudencia governativa aos interesses Figuremos uma hypothese ; demos que em
parciaes da entidade chamada governo. Pernambuco so tenha já retirado todo o papel,
Ora, a baixa das apolices não importa grande e que sómente exista na circulação moeda me-
36
282 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
tallica o o papel do banco ou di caixa filial mente com o cambio existente, será muito fa
que houver alli ; um negociante do Ceará vem voravel , como tambem terá uma receita, lu
a Pernambuco, vende os seus cffeitos, e não cro. . . .
achando objecto do retorno, qutr voltar com a O Sr. Fioueira de Mello : — E esta idéa foi
moeda que apurou ; mas como ha de fazer isto? adoptada peia lei de 8 de Outubro de 1833.
Notas do banco náo póde elle levar, lá não
são recebidas. Dir-se-ha que levará ouro ou O Sr. Bandeira de Mello : — Perguntaria
prata ; mas então dá-se um inconveniente ; ó que aindi ao nobre ministro se elle pretende providen
necessariamente o ouro e prata hão de ter um ciar nos estatutos para que o banco não emitta
agio sobre o papel, do banco, porque sendo en bilhetes em virtude de penhores. Os penhores
tão mais procurados para esse retorno dos ca não são mercadorias, não são cousas que este-
pitaes ás provincias onde não ha papel do banco, jão na escala do commercio ; um penhor não
de necessidade hão do por isso obter um agio suppõe senão uma necessidade que póde ter
sobre esse papel. Isto ó um inconveniente serio uma pessoa estranha ao commercio; a institui
que sem duvida o nobre ministro já. terá pre ção do banco é inteiramente uma instituição
visto o considerado para remedial-o com as pro commercial, uma instituição para proteger o
videncias adequadas. • - commercio ; por consequencia o banco se quer
Tambem perguntiria ao nobre ministro por satisfazer aos seus fins, se não quer distrahir os
que, se elle tem confiança nas sobras da nossa seus recursos, não deve admittir penhores dando
receita sobre a despeza, não faz o troco dire os seus bilhetes como garantia dos mesmos penho
ctamente? So os 2,000:000$ que elle presuppõe res. O banco póde com vantagem para elle e para
que devem ser o excesso da nossa renda sobre o commercio emittir bilhetes, tomando para ga
a despeza são reaos, não poderá S. Ex com rantia mercadorias armazenadas ; isto observa-se
independencia do banco mandar fazor o resgato ? na Inglaterra ; o banco alli dá os seus bilhe
Não poderia fazel-o pelo mesmo meio por que tes por essas mercadorias que lhe ficão empe
S. Ex. sem duvida projecta fazer nas provin nhadas com a condição de vendel-as dentro de
cias ondo não ha caixas filiaes? O meio, a certo prazo so não forem competentemente res
providencia que S. Ex. entende conveniente e ap- gatadas ; mas isto se admitte porque essas mer
plicavel a essas provincias não poderia esten- cadorias pertencem ao commercio, são objectos
der-se a todos? do commercio.
Eu perguntaria ainda ao nobre ministro quaes Eu perguntaria ainda ao nobre ministro por
são as idéas, as providencias com que pretende que razão ò fundo disponivel se eleva até me
no seu regulamento proteger o pequeno com- tade da emissão. Eu vejo que as instituições
mercio. Senhores, e o pequeno commercio que bancaes dos outros paizes, instituições que se
principalmente precisa da protecção dos bancos. reputão bem estabelecidas, apenas julgão ne
(Apoiados.) Se acaso não se permittir o des cessario para fazer face á Yealisação dos seus
conto com duas firmas, o pequeno commercio bilhetes que o seu fundo de reserva seja de
ha de soffrer muito, só lucrarão com a exis uni terço da emissão. O projecto eleva esta cifra,
tencia dos bancos os capitilistas, os cambist is quer que o fundo de reserva seja de metide da
propriamente ditos, porque o pequeno commer emissão. Sem duvida aqui não ha senão excesso
cio não' tem senão letras de duas firmas. Elle de garantia: mas para que este excesso? Elle,
vende a credito, o devedor passa-ihe a letra Sr. presidente, dentro de pouco tempo ha de
respectiva, elle igualmente firma a letra, o pro desaparecer, porque logo dir-se-hi que é muito,
cura nogocial-a: se acaso não é" admittiuo com que isto não so vê em parte alguma, que em
a firma do sou devedor e com a firma dello a nenhum banco existo um fundo disponivel tão
descontar a letra no banco, qual será o resul forte, que é um mal que esteja tão avultada
tado? Irá ao cambista, o este lho descontará a somma de capitaes paralysada nos cofres do
letra a 6 %, letra com que, acerescentando a sua banco.
..responsabilidade, vai ao banco e tira o dinheiro O governo, autorisado como está para fazêl-o,
a 4. Por consequencia, se não se providenciar a ha de deixar-se convencer desta necessidade tão
este respeito, o banco não prehencherá um dos apregoada, e assim dentro de poucos annos este
fins da sua creação, que deve ser principalmento a excesso de garantia deixará de existir. Eu não
protecção do pequeno commercio. o reprovo, porque este banco é, nas nossas cir-
Vejo que isto é men^s seguro para o banco ; cuinstancias, um estabelecimento de muita im
sem duvida tres firmas segurão mais o desconto, portancia, affecta a muitos interesses, e por
são um penhor mais forte ; mas é da natureza consequencia toda a garantia nunca me parece
dos bancos, visto que seu fim é proteger a in-. demasiada; mas estou que esta desapparecerá.
dustria, arriscar tambem alguma cousa a favor Estimarei que a minha previsão nunca se realise.
da mesma industria. Se acaso uma ou outra Entrarei agora, Sr. presidente, em outra ordem
letra perde-se, o banco tem bastante força para de idéas ; a ultima parte do meu discurso re-
carregar com este prejuizo ; deve por conse fere-se inteiramente a polemica : tonho de res
quencia fazer algum sacrificio a bem do fim ponder ás observaçõos que fez o nobre ministro
para que é creado. De outra maneira, atten- em contestação ao que eu aqui tive a honra de
dendo só á sua segurança, aos seus interesses, ofierecer á consideração di camara.
pedindo tres firmas para o desconto, não po Eu disso que o banco em questão estabelecia
derá attingir no fim muito importante de pro um grave e importante privilegio, não só porque
teger o pequeno commercio. não era possivel que nas circumstancias actuaes
Perguntaria ainda ao nobro ministro so não do Brazil tão cedo se pudesse estabelecer um
seria providencia mais conveniente aos interes outro banco, quando este absorveria quasi todos
ses publicos que em lugar dé pedir ao banco os capitaes disponiveis ; como igualmente porque,
10,000:000$, embora sem juros, tomal-os empres quando fosse possivel essa creação, os privile
tados fóra do paiz, ainda com juro, e associar- gios especiaes concedidos ao novo banco aca-
se o governo ao banco, como se fez nos Estados- barião com qualquer pretenção a respeito. O
Unidos quando se creou o banco da Pensylvania, nobro ministro respondeu-mo que o Brazil ia ena
que hoje é o banco chamado dos Estados-Unidos. via do progresso, que os seus capitaes dentro
Que inconveniente haverá nisto ? Se acaso o de pouco tempo sem duvida augmentarião, e
banco tiver- de dar avultados lucros aos accio que já existia grande somma, quasi bastante
nistas, como se espera, não só o governo po para a creação do novo banco, e por conse
derá pagar o juro do emprestimo para este quencia não se podia dizer que os capitaes serião
intuito, emprestimo que, se fór feito actual todos absorvidos na nova instituição.
SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853 283
Um privilegio, Sr. presidente, não se crêa só suas vantagens, está mesmo em contradicção com
por uma disposição directa da lei, crêa-se tambem o nobre ministro do imperio, que ainda ha
por meio do direitos protêctores ; vantagens im poucos dias demonstrou nesta casa do modo
portantes, quando privativas, estabelecem sem mais vantajoso que a competencia era um grande
constestação um monopolio muito ciracterisado, elemento de prosperidade. Duas palavras sobre
muito pronunciado, não é preciso que a lei o esto ponto.
constitua de um modo directo, excluindo outras Se acaso, porque a competencia ou rivalidade
industrias de tomar parte nas vantagens do traz comsigo alguns inconvenientes, não deve
estabelecimento protegido ; isto seria muito odioso existir a respeito dos bancos, então é preciso
nos tempos actuaes. qne proscrevamos a liberdade do commercio, que
Mas, se acaso ao banco que se trata de incor- não se funda senão nessa competencia; porque
parar, se concedem vantagens espèciaes, direitos dessa liberdade tambem resultão serios incon
protectores, como negar-so que está revestido de venientes.
um perfeito monopolio? Pergunta-se. poder-se-ha A liberdade do commercio produz muitas vezes
incorporar um outro banco, não obstante esses a corrupção das mercadorias, traz ás vezes com
direitos protectores ? Entendo eu que não, ao sigo a immoralidide, porque para fazer lucros
menos por muitos anãos; na actualidade, por ás vezes o recurso o praticar actos reprovados;
certo que isto não é possivel. Que banco podei a mas quem dirá que para evitar esse mal deve
vantajosamente lutar contra tantos fivores de o governo apoderar-se do commercio, como ha
que goza o banco privilegiado? quem tenha aconselhado, ou monopolisal-o em
Os capitaes, Sr. presidente, não augmentão de certas mãos? Se isto não se tem julgado con
um dia para outro, levão muito tempo, são o veniente, como sustentar que a unidade do banco
resultado das economias, estas não se fazem é uma vantagem real ?
com facilidade, o principalmente em um paiz
agricola como o nosso; o agricultor com diffi- O Sr. Brandão : — E' uma fatalidade.
culdade faz algumas reservas: por conseguinte O Sr. Bandeira de Mello: — Eu vejo que os
no nosso paiz, embora novo, não hão de haver escriptoros mais notaveis recommendão a plu
ião depressa avultadas economias que façã i re- ralidade dos bancos, como um beneficio, como
gorgitar os capities, e facilitem a instituição de uma vantagom recommendavel, porque essa plu
um novo banco. E no entretanto, omquanto ralidade, não só estabeleca uma fiscalisação con
esses capitaes não augmentão, poder-se-ha negar veniente ao credito dos mesmos bancos, como
que se dá o exclusivo a que me tenho referido, mesmo quando elles estão em crise encontrão
e com elle todas as desvantagens que lhe são protecção uns nos outros.
inherentes ? Além .de que, e natural qne os Para melhor assegurar estas vantagens, vejo
novos capitaes prefirirão o banco privilegiado, que na Belgica creou-se um baneo chamado da
onde se dão maiores favores, e não tentem facil —Mutmlid ide mercantil.— Este banco foi princi
mente a creação de uma nova instituição. palmente instituido para estabelecer a compe
O nobre ministro, quando sobro este ponto tencia, e colher com cila os respectivos bene
respondeu-me, mostrou-se muito esperançoso no ficios.
progresso da nossa industria, no augmento dos O nobre ministro em resposta & minha duvida
nossos capitaes; mas adiante, respon lendo a disso que não via esses favorns ou privilegios
outro topico do meu discurso, de repente perde concedidos ao banco de que se trata, que apenas
essa esperança, e encara as eventualidades como vio o privilegio de se lhe conceder a faculdade
mais provaveis para o atrazo do que para a de que as suas notas fossem recebidas como moeda
prosperidade. Querendo demonstrar os inconve de pagamento nas estações publicas.
nientes do não resgaste do papel-moeda, ex
clamou : « Não vês que de um momento para O Sr. Brandão :— Esse pouco I
outro a insufficiencia ou escassez dos nossos O Sr. Bandeira de Mello :— Mas, senhores, a
productos agricolis, em consequencia de uma esta privilegio, que aliás é de grande alcance,
secca, póde fazer exportar os nossos capitaes, e acerescem outros muitos ; temos a notar a re
assim tornar abundante a moeda que agora pa missão do imposto do sello, o favor do estabe
rece diminuta?» Este receio que o nobre mi lecimento das caixas filiaes, que dão sahida aos
nistro tem a respeito do futuro, não o acom productos ou mercudorias do banco.
panhou quando teve de responder-me a respeito da
pifficuldade da creação de novos bancos. Em um O Sr. Ferraz : — Sahida ás mercadorias do
caso, elle julgou facil, provavel o augmento pro banco I Está enganado.
gressivo da prosperidade, da riqueza publica ; O Sr. Bandeira de Mello: — O que são os bi
em outro caso, encheu-so de terror, encarou um lhetes do banco, senão a sua mercadoria ou pro-
regresso, o atrazo de nossa industria, diante de ducto 1 -
uma calamidade physica, como uma secca, que
trouxesse comsigo a escassez, a diminuição dos O Sr. Ferraz:— Está enganado.
nossos productos. Mas, stmhores, um aconteci O Sr. Bandeira de Mello :— Penso que não;
mento desta ordem deve ser sempre reputado ao menos como eu, entendem muitos.
passageiro, e podemos delle prescindir, podemos Ha além disto o notavel favor de se lhe dar
deixar de considoral-o, quando tratamos de apre vida por 30 annos, favor notavel, repito, porque
ciar instituições, ou providencias que alcanção essa longa vida garante-lhe todas as vantagens
um longo futuro. Su apparecessem eventuali missionadas ainda mesmo com prejuizo do bem
dades más, tambem podem apparecer eventuali publico. Pergunto eu, se se entender que convém
dades favoraveis. mudar o systema do resgate, podemos nós fazêl-o?
O nobre ministro julgou até, Sr. presidente, O banco não póde julgar que tem direito adqui
que quando mesmo se désse o privilegio ou mo rido a operar o resgate? N
nopolio do banco de que trata o projecto, não O Sr. Ferraz :— Tambem póde entender que ó
dava- se nisso inconveniente algum; elle para direito seu ir para o céo.
este fim fez-nos lembrar que da concurrencia e
rivalidades graves e serios desastres têm vindo O Sr. Bandeira de Mello: — Se acaso nós qui-
a algumas instituiçães bancaes. zermos daqui a algum tempo tirar ao banco a
Eu julgava, Sr. presidente, que era já um prin faculdade que se lhe concede, de que as suas
cipio incontroverso o principio da competencia; notas sejão recebidas como moeda de pagamento
mas, agora vejo que o nobre ministro, tão escla nas estações publicas, não poderá elle reclamar
recido como é, o põe em duvida, desconhece as e dizer. « vós não podeis recuar, eu me consti
284 SESSÃO EM 22 DE JUNHO DE 1853
tui, mediante esta condição, de serem recebidos papel-moeda como no dos bilhetes do banco que
os meus bilhetes por espaço de 30 annos como vão substituil-o.
moeda de pagamento na* estações publicas ? » Disso mais o nobre ministro : « O papíl deva
Mas isto, pergunto, estará sempre nos interesses ser resgatado porque foi uma promessa directa
do paiz? Creio que ninguem o dirá: por con o p"ositiva da lei; não resgatai-j ora commetter
seguinte a vida por 30 annos que se concedo ao de facto uma fraudo. » Eu direi porém ao nobre
banco ó um grande privilegio, porque é, como ministro qne quando o papel esta no crjlito de
disse, uma garanti» de todas as outras vanta que goza entro nós, o resgato dava-se efiectiva-
gens que lho são dadas. meute pelos modos indirectos que eu já mencio
Entro em outra questão que suscitei, e o nobre nei, e o mais mu pareco um escrupulo excessivo,
ministro teve a bondade de tomar em conside escrupulo que para ser coheronte em su i sus
ração. Eu disse, Sr. presidente, quo gozando o ceptibilidade devia offarecer o resgato, não com
nosso papel-moeda de tão vantajoso credito em o padrão de 1840, mas com o de 1833, porque
ordem a que elle encontrava, por assim dizer, foi com este padrão que o governo se apoderou
um banco para realisal-o em todas as praças o dos dinheiros que agora trata de pagar com unia
mercados, tendo igualmente em todas as recebe moodu qne tem o valor de então, que não está
dorias e alfandegas uma realisação prompta e em relação ou correspondencia com os valores
efficaz, mediante o pagamento dos impostos, não dos metaes no mundo mercantil.
era necessario, urgente, fazermos o sacrificio que O Sr.' Paula Santos dá um aparte que não
vamos fazer para o seu resgate ; que pelo menos ouvimos.
ora uma necessidade que podia ser adiada para
melhores tempos, pira quando fossemos mais O Sr. Bandeira de Mello:— Eu não julgo que
ricos, para qua'ndo dispuzessemos de maiores devemos fazer o resgato pelo padrão antigo, por-
recursos O nobre ministro porém nao entendo que considero que as pessoas que soffrem com
assim. essa alteração já hojo não podem gozar das van
Vendo que temos 2,000:000$ de sobras, parece- tagens do resgate feito, caso fosse feito com osso
lhe que não ha nenhuma outra necessidade que padrão ; não pugnarei portanto por semelhanto
resgate só trouxo estas observações para fazer
seja mais urgente, que reclime de preferencia a mostrar
applicação ou emprego dessas sobras. que para o Sr. ministro ser coherente
Para mostrar-nos a conveniencia desta medida, dovião os seus escrupulos estender-se até este
a necessidade fmperiosa desta medida, o nobre ponto. (Apoiados.)
ministro descrevou-nos os inconvenientes, os Já ponderei em outra occasião que se o nobro
males que resultavão do papel-moeda, e então ministro tinha esses escrupulos, havia um meio
disse o que ha pouco já expendi, e que a ca facil de reuiovêl-os ; seria pór nas thesourarias
mara permittirá que por amor da minha argu uma somma do moeda metallica para que quem
mentação torne a repetir. quizesse fosse realisar as suas notas por essa
Disse que se acaso tivessemos a infelicidade do moeda ; tinha assim o nobre ministro desencar-
ter uma secca, se acaso os nossos productos regádo a sua consciencia, porque quem lá não
agricolas diminuissem, que veriamos? Veriamos fosso é porque não queria realisal-as, o se acaso
que a moeda-papel não estando em proporção no futuro houvesse algum transtorno, queixasse-so
com as transacçoes havia de depreciar-se, havia de si; o governo tinha empregado os meios para
de perder grando parte do seu valor. qne a sua promessa fosso effectiva ; e eu estou
Sr. presidente, ia anteriormente fiz o reparo bem corto que ninguem aceitaria o convite, nem
de que o nobre ministro nesta occasião deixou-se procuraria essa realisação da promessa da lei
apoderar de um panico que aliás não tem quando quanto emjltio o papel.
considera outros . pontos dos nossos negocios O Sr. Lisboa Serra :— Se já não houvesse mais
financeiros; mas pondo de parte esta conside dinheiro ?
ração, direi eu que se acaso houvesse um i cala O Sr. Bandeira de Mello: — Ipso tambem se
midade physica que trouxesse comsigo a dimi
nuição dos nossos productos, por ventura o dá nos bancos, porque so corressem os possui
inconveniente que o nobre ministro notou com tempo, deo bilhetes
dores a realisal-os todos ao mesmo
relação ao papel-moeda se não daria tambem fallido, ou banco por força se havia de declarar
suspender os seus pagamentos.
com relação aos bilhetes do banco? De certo.
Os bilhetes do banco havido de depreciar-so O Sr. Lisboa Serra : — Sempre tem algumas
nessa circuinstancia imaginada, porque não es letras de cambio.
tando então em relação com os productos e com O Sr. Bandeira de Mello : — Perdóe-me o nobro
as transacções, esse 6 o resultado necessario, e deputado, o seu argumento não procede, porque
dado este resultado os possuidores dos bilhetes não ha banco nenhum que possa resistir á liy-
irão ao banco receber a mueda que não se fiz pothese d% todos os possuidores de bilhetes
precisa pai a as transacções e a exportação ; mas concorrerem ao mesmo tempo a realisarem-se.
nosta hypothese, perguntarei eu.— Não ha tam Um Sr. Depdtado: — Liquidão-se de facto.
bem uni soffrimonto geral, igual ao que se daria
com o desapreciamento do papel-moeda? Nessas O Sr. Bandeira de Mello: — Como é que se
circunistancias figuradas quem é que soffre ? — liquidãodo facto, depois de terem cobrado e suspen
Dir-se-ha : — Soffrem os accionistas do banco, dido os seus pagamentos? (Apoiados.)
estes é que perdem com o depreciamento dos Portanto, a hypothese ó a mesma: se todos
bilhetes que correm ás caixas do banco para os portadores de bilhetes concorrerem a ir rea
serem realisados. — Mas, Sr. presidente, o que lisal-os, tanto o banco como as thesourarias, dada
é um banco, principalmente um banco como o a hypothese, não poderião satisfazer aos seus
que quer-se estabelecer? Quando elle fór preju empenhos.
dicado, o por consequencia os respectivos accio Disse o nobre ministro que o resgate era es
nistas, não soffre por ventura uma grande parte sencial porque a facilidade da falsificação tirava
da sociedade? E' mdifferente por ventura que o do alguma sorto o valor ao n isso meio circu
numero avultado de possoas que estão interes lante, que ó preciso uma moeda que não ió lugar
sadas no banco soffrão quando os seus bilhetes a essa falsificação; mas por ventura os bilhetes
forem levados á caixa para se realisirem em do banco não estão tambem sujeitos a essa fal
consequencia desse desequilibrio entre o meio sificação ? Os bilhetes do banco de 10$ que andão
circulante e os productos ou transacções do paiz? pela mão do povo, que, não póde fazer o reparo
Creio que não. Logo, as consequencias que o conveniente para conhecer, a sua falsidade ? Os
nobre ministro figurou tanto se dão no caso do bilhetes de grandes valores, percorrendo um cir
SESSÃO EM n DE JUNHO DE 1853 285
culo de pessoas que attendem mais para as causas, mittem semelhante flagello. » Não direi que o
e attendom especialmente, porque a importância nobre ministro ontende que ha para nós desar
os convida a isso, esses bilhetes, sim, não são em termos este unico ponto de contacto com
facilmente falsificados, mas os bilhetes do uma Buenos-Ayros, mus direi ao nobre ministro que
emissão, como a que o banco projectado tem de não ha desar para nós em termos moeda-pipel;
fazer bilhetes de 1iW, esses estão sujeitos ao mesmo pelo contrario ó honroso para o nosso paiz e
inconveniente da [dsificação; os do banco de In para o nosso governo o credito que sustenta o
glaterra são muitas vezes falsificados. nosso meio circulante com o valor que te.n, a
O Sr. Ferraz :— Mas o banco tem muitis pre prudencia com que o temos conservado den
venções. tro das. raias da necessidade da circulação.
(Apoiados.)
O Sr. Bandeira de Mello : — Mas apezar des Observaremos todavia a este respeito que nós
sas prevenções desde 1793 a 1823, isto é, no 0 Buenos-Ayres não somos os unicos povos que
espaço de 30 annos que decorro, têm havido em temos moeda-papel. Napoles e Veneza tambem
Inglaterra 1,820 condemnações por falsificação de têm moodu papel , embora se dig> que têm
bilhetes do banco, o que corresponde a 60 con bancos, bancos porém que não re ilisão os seus
demnações por anue. bilhetes ; por conseguinte, no passado temos
O Sr. Fioueira de Mello :— Fóra as que não modelos, no presente companheiros, e no futuro
forão punidas por falta de provas. muitas nações, segundo as necessidades do sou
O Sr. Bandeira de Mello. — Portanto, não se estado financeiro, hão de obedecer á lei impe
riosa que essas necessidades costuinão impór,
argumente com o receio da falsificação para mos
trar a necessidade de substituir o papel-moeda hão de igulmente ter papel-moeda.
por papel do banco; tudo é papel; o tudo póde Sobre o minimo estabelecido para as notas
ser falsificado. ainda considerarei uma razão apresentada pelo
Sr. presidente, eu disse que os bilhetes do nobre ministro ; disse elle , « No senado argui-
banco não devião ser de uma quantia tão baixa «« rão-me vós me
de que o minimo era excessivo, e aqui
arguis do que esto minimo é muito
como se acha no projecto, porque elles são des
tinados ás transacções de productor a productor, 1 baixo. » Sr. presidente, quisquis sne senso
e não ás transacções do productor ao consumidor; abundai Pensáráo .alguns senadores de modo
aquclles uão precisão de bilhetes de tão diminuta differerente ; m is quid inde ? Eu attendi á
6omma como os de 10S ; o contrario é desconhe natureza das notas do banco, attendi que elles
cer o fim dos bancos, e por consíquencia dos ductor não tinhão por destino senão as relações de pro
seus productos, quero dizer, do seu papel. Os gião uma productor, que essas relações não exi-
bancos somente descem a essa quantia tão baixa tenho razãominimo tio baixo, e pirece-ine que
quando se convertem uni casa de moeda dos go ; o minimo baixo é causa, como já
vernos, porque então é preciso que o seu pro- tallica disse, da emigração, da exportação da moeda me-
ducto chegue a todos, regorgite em todas as transac ; elle faz que a circulação regorgite, em
ções e percorra todos os canaes da circulação, todas as suas arterias, do papel do banco, e o
entrando em todas as operações, ainda minima metal, tornando se por isso desnecessario, ó ex
da divida cambial, ou das permutas. Mas quando portado importa,
necessariamente ; mas se se quer, como
detêl-o, conserval-o em uma certa quan
os bancos não pervertem o fim da sua institui
ção, quando elles se cifrão a serem com effeito tidade, ó necesssario que as transacçoes mi
nimas sejão feitas com matai; isso é uma dou
mudianeiros entre o producto e o productor, então trina
não precisão elles de notas de um valor tão insignifi autoresreconhecida e confessada por todos os
cante, ao menos com relação ás transacções mer que tratão dessa materia.
cantis. Eu, Sr, presidente, notoi que a creação do
O nobre ministro disse ainda: « Nada de papel- novo banco diminqia necessariamente os noisos
moeda, o couimercio é cosmopolita, o moio cir capitaes, porque o banco, tendo um fundo me-
culante deve, como elle, acompanhal-o por todo tallico de 30,00O;0J0$, funio que afinal ha de
o mundo. » E' verdade, Sr. presidente, o com- realisar-se logo que o resgate do papel-moeda
mercio é cosmopolita, mas não ha necessidade se completar, esso fundo não pódo ser adquirido
que o numerario tambem o seja, porque a ri senão pela exportação dos nossos productos, dos
queza não exige que o objecto tenha valor em nossos capitaes productivos, que irão buscar esses
todas as partes, muitas cousas ha que têm muito • metaes para serem depositados nos cofres dos
vai r em certos lagar^s, mas que fóra delles não bancos como fundo de reserva, de necessidade,
têm valor algum : muitos objectos na Asia têm e 0s capitaes que hoje existem no laboratorio
grande valor, ao passo que fora dessa região da producção vão tonar essa fórma metallica
nudu valem, e por conseguinte, não ha necessi improductiva no fundo do banco, isto é verdade;
dade que o numerario seja cosmopolita, e talvez o«quereis nobre ministro reconheceu, mas disse-nos :
ter o papel-moeda com os inconve
suja isto mui conveniente, porque um dos incon nientes da falsificação ? » Portanto é incontro
venientes que ainda offerece a moeda de ouro e
prata é a facil exportação; apenas ella vale menos verso que, nas circumstancias actuaes em que o
em um paiz, immediatamente o abandona em nosso meio circulante é quasi toio de papel,
procura do outro paiz aonde a mass i crescente os nossos capitaes na concurrente quantia de
das transacções dã-lho maior valor, mas daqui 30,000:000$ vão-se tornar improductivos nos fundos
resulta a oscilação dos valores monetarios ; en dos cofres do banco. (Reclamações. Cruzão-se
tretanto que a moeda-p ipel não podendo ser expor alguns apartes.)
tada, não está tão sujeita a essa oscillação, mas Sr. presidente, om uma das sessões anteriores
para isso ê uma condição necessaria, essencial, o nobre ministro disse que não considerava o
que o governo não augmeute a respectiva quan papel que era recebido nas estações publicas, e
tidade. Esta augmentada sogue-se necessariamente tambem em pagam nto das dividas particulares,
a depreciação relativa. Na facilidade que têm os coino uma moeda ; mas como o effeito de con
governos imprevidentes de augmenlal-a o seu bel- fiança, quando esse papel tinha sempre diante
prazer é que está com effeito todo o perigo do de si a possibilidade immediata do um resgate.
meio circulante, que assenta em unia materia tão Eu divergi do nobre ministro, pensando que
barata como o papel. ainda nessas circumstancias osso papel ora effe-
O nobre ministro disse : «Não tenhamos papel- ctivamente papel-moeda, porque moeda, Sr. pre
moeda, para que não se diga que somente nós sidente, quanto a mim, não é senão aquella
e Buenos-Ayres somos os unicos povos que nd- mercadoria que é aceita geralmonto. ..
2815 SESSÀO EM 22 DE JUNHO DE 1853
O Sr. LisnoA Serra:— Só? I . . . do banco de França, não quiz reeeber o orde
O Sr. Bandeira de Mello: — ... porque nin nado que lho foi dado, porque doeu-lhe a con
guem quer a moeda para satisfazer ás necessi sciencia, reconheceu que essa retribuição não lhe
dades immediatas. era devida por alguns passeios que fazia ao
Quando essa mercadoria é geralmento aceita, banco.
quando ninguem procura informar-so do principio O Sr. Aprioio: — Porque era muito rico e muito
que a garante, quando conserva independente das generoso.
circumstancias sempre o seu valor desde o mo O Sr. Bandeira de Mello : — Não se póde
mento em que alguem a recebe até áquelle em negar que a presidencia de um banco tem bem
que a transmitte, essa mercadoria é moeda. Ora, pouco que fazer.
só o governo, só a sua intervenção póde occa- Sr. presidente, antes de concluir não posso i
sionar essa generalidade de aceitação, essa segu deixar de tomar em consideração a disposição
rança do seu volor ; e como consegue isto? do projecto relativamente ao pagamento do sello,
Recebendo essa mercauoria, isto ó, o papel como de que fica isento o banco em questão. Essa
moeda de pagamento, recebendo-o nas" estações isenção, como todos nós sabemos, foi iniciada no
publicas, ou admittindo-o nos pagamentos dos senado ; e com isso sem duvida, ao menos no
particulares. meu conceito,, se deu uma usurpação da inicia
Por isso tenho que os bilhetes dos bancos de tiva que a esto respeito nos compete.
Inglaterra são verdeiramente papel-moeda, por A constituição positivamente commette á ca
isso que esses bilhetes estão nas circumstancias mara dos Srs. deputados a iniciativa em ma
que acabo de considerar, com relação aos paga teria de impostos; e é claro que essa iniciativa
mentos, são coino dizem os inglezes legal tender. diz respeito, não só á decretação, como á sup-'
Para confirmar esta opinião tenho a poderosa pressão dos impostos; a lei nenhuma distineção
autoridade de Chevalier, porque diz elle : « Em faz ; e visto que não cabo nas nossas attribuições
Inglaterra, os bilhetes do banco de Londres são desistir d is prerogativas que a constituição nos
uma moeda legal. » Logo abaixo no seguinte concedeu e devemos zelar, porque todas ellas
periodo diz o mesmo: « Outro meio do augnientar envolvem grandes principios, grandes interesses,
a circulação de nossa moeda-papel consistiria em é preciso que ao menos haja uma voz que pro
emittir cedulas de um mais fraco valor.» Eis ahi testo contra esse procedimento do senado.
o autor nessa segunda citação recenhecendo o Ainda uma observação, Sr. presidente.
papel de França como moeda, e entendendo que Em uma das sessões passadas, quando tive
a circumstancia de serem as cédulas de um di occasião de fallar, disse que o resgate do pa
minuto valor reveste-as com mais perfeição do pel-moeda sahia-nos muito caro, que faziamos
caracter de moeda, dando-lhes um emprego e grande sacrificio para esse rosgate, que aliás
aceitação mais geral, como requer o destino da não passará de troco de papel por papel. E
moeda na immensa massa de transacções em que onde está o sacrificio ? Perguntar-nos-lião, está
tem de intervir no seguinte :
Não basta pois, para que com effeito um papel O governo se obriga para com o banco a en-
seja considerado effeito de confiança, qi.o elle tenha tregar-lhe de 3 em 3 mezes as quantias que
possibilidade de um prompto resgate ; é preciso o bínco houver adiantado para o resgate da
que elle seja recebido livremente, e não por inter moeda, além dos 10 mil contos de que temos
venção da lei, por qualquer modo que seja, por fallado. Ora, se se der a circumstancia de que
que se a lei determina o seu emprego, elle toma a nossa receita não offereça moios de fazer esse
por necessidade uma circulação que não é propria pagamento por qualquer eventualidade impre
da confiança ; então não se recebe esse papel vista, não teremos de pagar ao banco os juros
porque so confie nello, mas porque se tem neces dessa somma que elle adiantou? Do certo que sim.
sidade delle, e porque se sabe que tem prompta Portanto fundar o systema do resgate do nosso
sahida. papel no excesso que houver da receita sobre
Toda vez que um papel qualquer tem assim a despeza, excesso precario, hoje muito even
um mercado tão extenso em virtude da lei, esse tual, é certo pouco prudente, pouco cordato.
papel circula, não em virtude da confiança ; de Esse systema deve sem duvida assentar-se em
certo ninguem dirá que o povo, quando por uma base mais segura, menos sujeita a contin
exemple recebe uma nota do 10$, a reeeba porque gencias.
tem confiança no banco que a emittio. O nego Não devemos descansar para obter esse resul
ciante porém que recebo de um banco uma cé tado em uma cousa que póde fallir : a emergen
dula de 500S, esse sim a recebe porque tem cia de uma guerra, uma diminuição da nossa
confiança no banco, porque considera essa cedula industria, nos proúuctos da nossa agricultura,
como effeito do credito que merece na praça o Íiódo pòr-aaos em grandes difficuldades, póde
mesmo banco. azer desapparecer essa renda com que contamos
A' vista pois disso não se póde deixar de re para essa resgate. Assim o que nos aconselha
conhecer que todo o papel em que o governo a prudencia e a previsão é que não contemos
tem qualquer influencia, que todo o papel qne ainda com essa receita para fazer face a uma
tem uma circulação tão vasta que se estende ás medida tão importante como esta que temos em
minimas transacções da sociedade, esse papel é vista ; devemos esperar para tomal-a que nossa
moeda-papel ; e ainda acerescentarei que tanto riqueza augmente, que a nossa renda seja maior
o papel do banco do Inglaterra, o qual está e maior em tal ponto que não nos deixe a
nessas circumstancias, é moida que os outros menor duvida da sua efificacia para a fim que
bancos emittem bilhetes para pagar com os bi nos propomos ; porém tendo apenas 2,000:000S
lhetes do banco de Inglaterra. por anno de excesso da receita sobre a despeza,
Sr. presidente, firei ainda uma observação sobre applical-os immediatamente a esta medida, e ap-
uma disposição do art. 1°, a qual refere-so ao plical-os todos, contando assim com o futuro, é
honorario que dever ter o presidente do banco. sem duvida um procedimento que não revela a
Entendo que esse honorario é verdadeiramente circumspecção e aviso com que devemos pro
a retribuição de uma sineeura. Talvez que seja ceder.
avultado, porque quem o tem de pagar è rico ; Em consequencia pois, Sr. presidente, do que
mas a presidencia de um banco tem muito pouco tenho tido a honra apresentar á consideração
3ue fazer, apenas terá de observar um ou outro da casa, parece-me que o projecto, que aliás
ia a marcha do banco, não tem um trabalho se apresenta como capaz de produzir grandes
effectivo, diario. Lafitte, quando foi presidente beneficios á nossa industria e agricultura, e ao
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 287
mesmo tempo ao nosso meio circulante, não teiro de Barros, Fausto, Seárn, Zacharias, Sá
poderá produzir esses resultados, aliás muito Albuquerque, Rego Barros, padre Campos, Paula
desejaveis. Parece-me que o futuro está prenho Santos e Raposo da Camara.
de acontHciinentos que não de revelar a impre Comparecem depois da chamada os Srs. Costa
visão das nossas providencias ; a historia nos Machado, Ignacio Barboza, Paula Baptista, Paes
offerece, como já disse, exemplos da impioco- Barreto e Jose Ascenso.
dencia, da esterilidado de meios a que vamos E havendo numero suffleiento, o Sr. presiden
recorrer. Lembrarei ainda a croàção do banco te abre a sessão ás 11 horas.
de Copenhague.
Desejarei muito que meus vaticinios não se Lidas e approvadas as netas das sessões de 22
realisem ; os votos que faço pela prosperidade e 23, o Sr. 1s secretario dá conta do seguinte
do meu paiz não podem inspirar-me outro de
sejo. EXPEDIENTE
Termino aqui, Sr. presidente, votando contra
o projecto, não obstante possa elle offerecer ao Um officio do Sr. ministro da justiça, enviando
paiz os melhores resultados. as informações dadas pelo vice-presidente da
Aloons Srs. Deputados:—Muito bem I provincia de Goyaz e pelo bispo daquella dio
cese, por esta camara exigidas por omeio datado
O Sr. Aprioio: —Muito bem, quanto ás suas de 5 de Agosto proximo passado, ácerca das
boas intenções. representações dos moradores e da camara mu
A discussão fica adiada pela hora. Levanta-se nicipal da villa de Carolina, pedindo como me
a sessão ás 2 horas. dita util que o referido termo seja desmembrado
daquella provincia e incorporado á do Maranhão.
-a» — A quem fez a requisiçao.
Outro do Sr. deputado José Antonio Saraiva,
Acta de a:t de Junho communicando que por incommodo de saude não
pdde comparecer á sessão do dia 23. — Fica a
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO camara inteirada.
Um requerimento do padre Raphael Jacintho
A's 10 horas, feita a chamada, achão-se pre Ramos, subdito portuguez, pedindo ser naturali-
sentes os Srs. deputados Maciel Monteiro, Paula sado cidadão brazileiro. — A' commissão do con
Candido, Macedo, Miguel Fernandes, Aprigio, stituição e poderes. ' .
Rocha, Belfort, Ferraz, Nabuco, Fleury, Ribei E' sem debato approvada a redacção da reso
ro, Viriato, Leal, Angelo Custodio, Domingues, lução que approva a pensão concedida a D. Maria
barão de Maroim, Wilkens do M.atos, Soares de Generosa Loureiro.
Gouvéa, Hyppolito, Brusjue, vigario Silva, Men
des da Custa, Teixeira de Souza, Raposo da O Sr. Fioueira de Mello manda á mesa. o
Camara, Paula Baptista, Pimenta Magalhães, seguinte requerimento, que é approvado :
Costa Ferreira, Tlieopliilo, Jacintho do Mendon « Requeiro que se peção ao governo por cópia:
ça, Paula Fonseca, Coes Siqueira, Bello, Luiz 1°, o relatorio da commissão por elle nomeada
Araujo, Livramento, Henriques, Pedreira, Vas- em 27 de Julho de 1852 para examinar as contas
concellos, Nebias, Machada Costa, Araujo Lima, da repartição de saude do exercito em operações
Paes Barreto, Miranda, Rego Barros, Taques, na provincia do Rio "Grande do Sul ; e 2», quaes-
Paranaguá, Paula Santos, Almeida Albuquerque, quer informações que existão na secretaria da
Dutra Rocha e Zacharias. guerra relativamente ao exame das contas do
Faltão com causa participada os Srs. Saraiva, commissariado do exercito. »
visconde de Baependy, Siqueira Queiroz, Eusebio, E' remettida com urgencia á commissão de po
Sousa Mendes, Sayão Lobato e Octaviano. deres uma indicação do Sr. Gomes Ribeiro para
Sendo onze horas, e não havendo numero le a chamada de supplentes pela Bahia e Alagoas,
gal, o Sr. presidente declara não haver sessão. com úm adiamento do Sr. F. Octaviano para
que se chamem supplentes por todas as provin
cias cuja representação não se ache completa.
Vão á commissão de poderes.
Sessão cui SS de Junho
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO
CREAÇÃO DE DOUS BISPADOS
Summario. — Expediente. — Requerimento. — In
dicação. —Ordem do dia. — Creaçõo de bispa Continua a discussão do projecto r. 13 de 1853
dos. Discursos dos Srs. Corrêa iias Neves e creando um bispado na provincia de Minas-Ge-
Jaguaribe.— Chamada de supplentes. — Creaçflo raes.
de um banco nacional. — Pensão a Manoel Está em discussão o art. 1° com a emenda
dos Anjos Peres.—Collegios eleitoraes em Matto- substitutiva.
Grosso. — Navegação do rio Parnuhyba. Adia
mento. " O Sr. Correa das Noves : — Sr. presi
dente, tendo de votir hoje a favor da emenda
A's dez horas' feita a chamada achão-so pre, apresentada pelo nobre deputado por Minas ao
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Paula Candido- projecto que tinha por fim ercar mais uni bis
Octaviano, Brusque, Wilkeni, Lindolpho, Leal, pado na provincia, - emenda que pedio tambem
Figueira de Mello, Fleury, Almeida e Albu- a ercação de um bispado na provincia do Ceará;
q uerque, GouvAa, Luiz Carlos, Teixeira do Souza eu que quando se discutia o projecto fallei con
j ordão, Gomes Ribeiro, Livramento, Henriques, tra elle, sob fundamento do julgar que esta' ca
Pereira Jorge, Belfort, Assis Rocha, Luiz Araujo, mara não está autorisada para crear bispados
Machado, Aprigio, Macedo, Rocha, Mendes da sem audiencia dos respectivos bispos e ser. a
Costa, Ribeiro, Fernandes Vieira, Nebias, João approvação do papa, devo, para que não pareça
Jacintho, Góes Siqueira, Vieira de Mattos, Hyp estar em contradicção, dar a razão porque voto
polito, Miranda, Vasconcellos, Pimenta Maga em favor dessa emenda sem que s-) tenhão preen
lhães, Ferraz, Dutra Rocha, Ferreira de Abreu, chido todas aquellas formalidades que eu jul
Viriato, Cruz Machado, Candido Mendes, Mon gava e ainda julgo essenclaes. Voto em favor da
288 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
emenda, porque estou hoje convencido do que a O nobre deputado, que eu julgo muito cenho
creação do novo bispado do Minas já foi pedida cedor do direito canonico, certamente não teria
e proposta a esta casa pelo Exm. Sr. arce desperdiçado essa occasião de aprosentir uma
bispo da Bahia, e podida em beneficio espiritual disposição qualquer, se acaso ella existisse*, mas
dessa importante porção do seu rebanho que, o nobre deputado não a apresentou nem o podia
longe dos seus desvelos paternaes, lho náo podem fazer. O que tem havido de ha certo tempo
aproveitar seus cuidados. Voto em favor delia, para cá e uma invasão que se tem querido fazer
porque de uma carta do mesmo Exm. arcebispo nos direitos espirituaes, invasão toda prejudicial
da Bahia, apresentada na casa pelo nobre depu aos interesses da igreja.
tado por Minas , .vejo que aquelle digno pre Um Sr. Deputado: — E' a concordia dos po
lado deseja ardentemente a creaçao desse bis deres.
pado a beneficio de suas actuaes ovelhas. Voto
finalmente a favor da emenda, porque estou inti O Sr. Corrêa das Neves : — Diz-me o Sr. de
mamente convencido do que Sua Santidade cos putado que é a concordia dos poderes; mas,
tuma dar o verdadeiro apreço que merecem essas senhores, on le encontra o nobre deputado essa
leis do creação de bispailos, oncarando-as como concordia? Quando, em que tempo, em que anno,
pedidos feitos, ou como lembrança da necessidade em que lugar foi cila feita? O nobre deputado
dessa porção de rebanho de que elle é o unico não póde aprese ntar-m'a.
cabeça e chefe, deixando prudentemente de re O Sr. Ionacio Barboza : — O objecto não é es
clamar os direitos que lhe pertencem, sem com- piritual.
tudo confirmar o esbulho que se lhe quer fazer
de uma de suas attribnições , sem sanecionar O Sr. Corrêa das Neves : — A esse aparte não
essa invasão do poder temporal no espiritual. responderei ou, porque não desejo que elle saia
Sendo isso assim, não seiei eu quem sacudirá o no meu discurso.
facho da discordia fazendo na-cer questões que O Sr. Aprioio (rindo se) .— Ora, essa é boa.
podem produzir conflictos entre a igrej i o o poder
temporal ; náo serei ou o imprudente que vá des O Sr. Corrêa das Neves: — Sr. presidente,
pertar rivalidades que dormitão , que vá pro sempre os imperantes pedirão á Santa Sé a
vocar satyras injustas , aceusações acrimoniosas creação dos bispa los,"quando julgavão que essa
contra a "honrada classe a que pertenço, e isto creação era conveniente aos seus estados : sem-
na occasião em que esses conffictos, essas saty pro as pedirão, ê mister attendermos a esta pa
ras, essas aceusações, parecem dormir no jazigo lavra, porque estando a Santa Só distante quasi
dos inimigos da igreja , produzidos pelo seculo sempre dos reinos ou imperios em que taes
passado. bispados dovião ser creados, não podia conhecer
Tambem voto pela creação do bispado do Coa da necessidade que havia dessas creações, tanto
rá, parque estou convencido de que essa creação quanto os respectivos imperantes. Essa doutrina
foi pedida por muitas vezes, o de longa data, foi sempre seguida pelos reis do Portugal, o foi
pelo Exm. bispo do Pernambuco, e pelas razões seguida pela primeiro imperador, pelo fundador
que deixei expendidis, sem me esquecer do inte do nosso paiz. (Apoiados.)
resse espiritual dos habitantes do Ceará, os quaes Em 155Ti pedio D. João III a creação do bis
são sujeitos a longas e dispendiosas viagens para pado da Bahia, e pela bulia super specula mi-
virem a Pernambuco solicitar os soccorros espiri- litantis ecclesiccs do papa Julio III datada do 1°
tuaes de que carecem ; o ainda mais votarei por de Março foi elle çreado : já se vé que D. João III
todos os bispados que so quizerem crear no im não creou o bispado, pedio sim a sua creação.
perio, indo do accordo assim com o meu pensa O Sr. Ionacio Barboza : — Isso não prova nada.
mento, de que cada provincia deve ter um bis
pado. (Apoiados .) O Sr. Corrêa das Neves: — Logo llio direi so
Julgo, Sr. presidente, que tenho justificado o prova. Por cart i régia de 7 de Outubro de 1 631)
voto que daqui a pouco vou dar; julgo que pedio a creação do bispado do Rio de Janeiro.
tenho mostrado jue não ha contradicçào i o meu Em 10)42, por morto do bispo D. Pedro da Silva,
pensar do agora coiii o meu pensar anterior foi eleito D. Pedro Soares de Castro, o qual mor
(apoiados) ; mas V. Ex. permittir-meha que eu reu sem ser confirmado, porque estando Portu
aproveite a occasião para mostrar que quando gal sujeito ao dominio da Hespanha, D. João,
ine oppuz a esse projecto de creação de bis duque de Bragança, unida aos portuguezes, fez a
pados enunciei uma doutrina orthodoxa; per- sua independencia o emancipação politica, inde
mittir-me-ha que aproveite a occasião para pendencia e emancipação politica que então
acudir a um convite do nobre deputado por não tinha sido reconhecida pelo papa, o qual
Minas, mostrando-lhe que a minln doutrina era pela mesma razão recusou confirmar a apresen
fundada em disposições canonicas, contra o que taçao.
elle disse asseverando que eu não podia apre Em 1670 obteve o principe regente permissão do
sentar taes disposições ; que finalmente apro papo Innocencio XI para a elevação do bispado
veite a occasião para combater certos principios da Bahia em metiopoli. Em 1677 creou-se o bis
por elle ante-hontem enunciados, principios qne pado do Maranhão desligado da metropoli da
eu entendo que vão ferir de frente os direitos B ihia e snffraganeo ã metropoli de Portugal,
pipaes. creio que suffraganeo do arcebispido de Lisboa.
Eu poderia usar para com o nobre deputado Pela bulia de Novembro de 1720, passada por
de um simples argumento, argumento todo ba Clemente XI, a instancias de D. João V, se creou
seado nas palavras do mesmo nobre deputado o bispado do Pará, tambem suffraganoo do arce
por Minas; para mostrar-lhe que a divisão dos bispado de Lisboa. O decreto da assembléa geral
bispados está unica e exclusivamente depen de 13 de Setembro de 1S27 approvou a creação
dente da approvação do papa, isto é, depois dos bispados do Goyaz o Cuiaba, creados pela
do ouvidos os bispos ; mas, Bervindo-me delle, bulia do Leão XII solicita catliolicw gregis cura.
apresentarei outros. Eis aqui pois o acto da assembléa geral pos-
Disse o nobre deputado por Minas : « Antiga terio á creação desses bispados. A pedido do fun
mente a creação dos bispados estava dependente dador do imperio o papa Lcãn XII pela bulia
do papa, mas hoje não é assim. » liomanorum pontificum vigilantia , de 5 de
Não é assim, porque ? Por ventura apresenta Junho do 182S declarou que as dioceses do Ma
o nobre deputado uma disposição de concilio ranhão e Pará, até então pertencentes ao pa-
que tirasse ao papa esse direito, e que o désse triarchado de Lisboa, ficavão suffraganeas á me
ao poder temporal 1 tropoli da Bahia.
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 289
Notemos que ahi não havia creação de bis ceses particulares ; e a sábia administração dos
pados : os do Maranhão e Pará estavão já crea- bens ecclesnsticos. . .
dos, tinhão unicumente de ser retirados do pa- Um Sr. Deputado: — Isto é inconstitucional.
triaichado de Lisboa para passarem ao arcebis
pado da Bahia ; entretanto o fundador do imperio O Sr. Corrêa das Neves: — Pois a disciplina
não se julgou para isto competentemente habi da igreja é inconstitucional?...
litado, tove de solicitar do papa uma bulia.... O Mesmo Sr. Deputado i — A divisão das
Um Sr. Deputado:—E nós agora o que fazemos ? dioceses nos pertence.
O Sr. Corrêa das Neves : — Tenho pois mos O Sr. Corrêa das Neves : — Eu tocarei no
trado ao nobre deputado que sempre as creações que o nobre deputado quer, tenha paciencia
dos bispados partirão dos papas. Agora passarei de ouvir-me. Creio que não são contestadas tres
a mostrar-lhe que este procedimento sempre foi partes da disciplina ecclesiastica ; contesta-se
conforme com as disposições canonicas. uma quarta, a divisão dos bispados. Já mos
Sr. presidente, é um principio hoje muito em trei que nunca ella foi contestada pelos impe
voga (pelo menos na pratica se tem observado) rantes, nui.ca foi contestada pelo poder civil
que o poder temporal muito favor faz ao espiri senão de pouco tempo a esta parte; agora vou
tual em conserval-o no gremio da sociedade, em mostrar que a sua contestação é contra os
consentir intactos os seus dogmas, a sua disci priuncipios canonicos, é contra a decisão dos
plina. Estes principios, que forão proclamados concilios.
por Voltaire, Rousseau, Diderot, Frerit, Talley- O concilio tridentino na secção 21 cap. 4°
rand e outros que, a titulo de reformar abusos de reformatione diz : In iis vero, in quibus ob
da igreja, como de Luthero disse ha muito pouco locorum distantiam, sive difHcultate parochiani,
tempo talvez irreflectidamente um nobre deputado sive magno incommodo ad percipienda sacra
por Pernambuco. . . . menta, ad divina officia audienda, decidire non
possunt, novas parochias, eliam invictis recto-
O Sr. Fioueira de Mello :— Está onganadoi ribus, justa formam constitutionis Alexandre III
disse muito pensadamente. qiue incipit — ad audientiam Episcopi — consti-
O Sr. Corrêa das Neves : — ... ou já para des tuere possunt.
truirem para essa magestosa obra do dedo do Um Sr. Deputado : — Isto é clarissimo
Deos, prepararão para a França um cataclisma, O Sr. Corrêa das Neves : — A mesma dou
durante o qual os francezes prestando cultos e trina se acha na secção 21 In civitatibus et
adoração á deosa razão, lhe fazião largas heca- locis, ubi parochialis Ecclesiaa}, etc.
tombas no seu altar da guilhotina. Eu que gosto Temos pois duas disposições terminantes desse
do procurar em sua origem a causa dos males, concilio que decidem que a divisão dos bispa
nenhuma outra posso consignar a esse diluvio dos pertence ao papa com audiencia dos bispos.
de sangue e lagrimas que submergio a França, Ora, tendo a constituição do estado admittido
senão a relaxação dos laços moraes, pelo amor como religião do imperio a catholica, não podia
tecimento, quando não total desapparecimento, jámais deixar de approvar as disposições de
dos principios religiosos do coração dos disci um concilio geral ecumenico. Nós devemos tra
pulos desses philosophos que se dizião o apre. tar de conciliar, de combinar as disposições
goavão--novos regeneradores do genero humano. da nossa constituição com as disposições cano
(Apoiados.) E conv. nci.lo desta verdade, na qual nicas di religião por ella recebida, o que po
não receio ser contestado, digo que grande favor, demos fazer sem grande difficuldade. Sabemos
immenso beneficio, recebe o poder temporal da que nos bispados existem duas cousas, territo
religião (apoiados); que sins mais impoi tintes rio e jurisdicção espiritual. A divisão de terri
necessidades, seus mais vitaes interesses, exigem torio incontest rvelmeute pertence ao poder tem
que elle conserve intactos e puros seus dogmas, poral ; a decretação das congruas, visto que o
seus principios, sua doutrina. (Apoiados.) foverno chamou a si o dizimo que pertencia
Senhores, os inales que apresentei não ficárão igreja, pertence tambem ao civil ; mas a di
na França ; elles correrão com a velocidade do visao da jurisdicção espiritual pertence incon
fluido electrico e alcançárão o Brazil. Nós ainda testavelmente ao papa. Ora, assim como nós
hoje soflremos os funestos resultados da immo- fazemos uma lei, ou queremos fazer, dizendo
ralidade que foi plantada na nossa população, — fica creado um bispado, — se dissermos — flea
desarraigando-se-lhe ou procurando desarraigar- o governo autorisado para pedir a creação de
se-lhe os principios religiosos, o a não ser um um bispado, —certamente iremos mais de ac
governo prudente, um governo sabio, que conhe ordo não só com a doutrina ecclesiastica, como
cendo o mal procurou fazel-o sustar, que tem mesmo. . .
lançado mão da mesma religião para fazer sus O Sr. Vasconcellos : — Parece-me que não
pender o curso dos males que já nos ião que leu a emenda que apresentei.
rendo submergir, certamente hoje estariamos em
tristissimas circumstancias. . . . O Sr. Corrêa das Neves : — Note o nobre
O Sr. Aprioio i— Apoiado; até querião casar deputado que eu estou combatendo os apartes
os padres. que me dão. Chamão-me até ultramontano, e
eu quero mostrar que a minha doutrina não é
O Sr. Corrêa das Neves .— Trago estes prin ultramontana ; por ora não me refiro ao nobre
cipios para provar que nós, que esta camara, deputado.
que todos os brazileiros devem ser em um só . . . Como mesmo seria mais de accordo com
pensamento constantes em prestar todo o culto, a propria dignidade da camira que não nos
em auxiliar a religião, em conservar intactos expuzessemos ao risco de recusar o papa a
todos os seus direitos, toda a sua doutrina e approvação de um bispado que está definitiva
disciplina. (Apoiados.) mente, ou que se julga definitivamente decre
A disciplina ecclesiastica, diz o Sr. Muzarelli, tado pela assembléa geral do imperio.
é uma regra pratica determinada pela igreja para Senhores, suppouhamoa que a assembléa geral
manter os enristãos em sua fé, e conduzil-os divide um bispado, marca-lho o territorio ; pu-
mais facilmente 4 felicidade eterna. Elia com- rém, que diz o papa? Eu não consinto, eu não
prehende quatro cousas : o culto divino, que convenho, eu não divido a jurisdicção espiritual.
consiste na administração dos sacramentos, os E entao estará creado este bispado? Desejava
ritos sagrados ou ceremonias ecclesiasticas ; a ouvir algum dos nobres deputados que me dão
policia e governo do clero ; a divisão das dio- apartes responder a esta pergunta...
tomo 3. 87
290 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
. Ujj Sr. Deputado i — Acho que não está creado. pouco habilitado, é especialmente porque se trata
O Sr. Corrêa das Neves : — Logo, o que fez da creação de um bispado na minha provincia,
a as9embléa geral?... o eu entendo que não devo ser estranho a ne
gocios que me tocão tão de perto.
O Mesmo Sr. Deputado:— O que faria depois , Feitas estas considerações, começarei justifi
da approvação do papa. cando o projecto, e demonstrando que não acho
O Sr. Corrêa das Neve* : — Aquilio que se muita razão no nobre deputado pela Bahia que
devia fazer depois da approvação do papa era encetou esta discussão, e nem tão pouco no
uma lei que devia subsistir ; uias o que se faz nobre deputado que acaba de assentar-se, quando
antes desta approvação é cousa que não se qu' r contestar a marcha por que o projecto quer
sabe se subsistirá, se será approvada ; e não chegar ao seu lim ; p irecendo-me entretanto que
vê o nobre deputado a differença que vai de o nobre deputaio que ultimamente fallou está
um a outro caso?.. . de accordo com aquelles que sustentão o pro
jecto, e que apenas diversifica no modo de appli-
O Mesmo Sr. Deputado : — Não acho nenhuma ; car os principios que elles professão.
é questão de tempo. O Sr. Corrêa das Neves :— Não me entendeu
O Sr. Corrêa das Neves: — Não entende nada bem.
de questões de tempo, e por isso não posso „O Sr. Jaouauibe :— Entendi muito bem.
responder ao nobre deputado. O nobre deputado que encetou a questão con
Sr. presidente, quando me oppunha ao pro testou que tivessemos o direito de iniciar estas
jecto, tive occasião de dizer que a doutrina materias, por isso que ao poder espiritual com
das pessoas que sustentavão que os bispados pete a divisão das parochias, bispados, etc, pelo
se podião crear independente da approvação do direito que lhes assiste de apascentar os seus
papa. . . rebanhos.
Um. Sr. Deputado: — Ninguem disse isso. Ora, eu creio que ninguem contesta o princi
O Sr. Corrêa das Neves:— .. .tinha seu tanto pio de que ao poder espiritual incumbe a jnris-
ou quanto de heretica. O nobre deputado por dicção de marcar limites, ou de estabelecer a
S. Paulo me respondeu então : « terá alguma cxten-.ã j do rebanho que deve ser confiado a um
cousa schism itica, porém não heretica. » Eá prelado ; mas, senhores todos sabem que os
sinto não estar -presente o nobre deputado para dous poderes espiritual e temporal, sendo entre
lhe mostrar que eu estava ainda neste ponto si independentes, de sorte que é um paru o outro
do iccordo c m a doutrida ccclesinsticu... Ah 1 status in statu, para se não chocarem, ou em
parece-uie que descubro o nobre deputado o que pecerem sua marcha reciproca, fizerão concor
muito estimo. data entre si derão-se aa-mãos, resultando que toda
a vez que o estado carrega com a obrigação da
O meu pensamento foi exacto o verdadeiro : pagar as congruas e de fazer as despezas da
ha principios disciplinares da igreja que por se sustentação do culto publico, o poder temporal
acharem intimamente ligados com o dogma, por não póde ser de modo algum estranho a essas
estarem muito proximos, muito dependentes divisões, a respeito das quaes tem elle de tomar
dellc, passão quasi como principios dogmaticos. uma parte muito activa, quer por esses onus, a
Esto pensamento, senhores, não é meu, é de que deve satisfazer por meio do impostos razoa
uma autoridade nada suspeita á autoridade dos veis e bem entendidos, quer pelas vantagens que
papas, é do Sr. Pedro da Marca. Se pois ha o estado colhe do esplendor da religião, visto
estes principios disciplinares que são muito con- que a sua poderosa voz, quando bnm dirigida,
junctos no dogma, não ha duvida nenhuma que concorre mais do que tudo para amenisar os
âquelles individues que atacarem taes principros costumes, diminuir os crimes, o plantar o amor
cemmettem não tanto uma quasi heresia, como ao trabalho.
disse, mas sim uma heresia qu isi formal. A auto O nobre deputado contestou a existencia de
ridade do papa, a decisão de que elle é o chefa taes concordatas. Eu não citarei a suas datas
visivel da igreja, da que elle ó cabeça do reba porque sendo materia tão sediça, que julguei
nho de Christo, de que elle é o unico autorisa- ninguem contestar, não me dei ao trabalho de
do para dividir, para distribuir, para organisar, tomar apontamentos a respeito; mas afianço ao
e pura dirigir o seu rebanho como mais conve nobre deputado que em diversos escriptores que
niente fór aos interesses da igreja o desse mes tratão sobre direito ecclesiastico, tenho encontrado
mo rebanho, acha-se consignada na disposição noticia de taes concordatas, celebradas entro a
do concilio Florentino na sua Soe. 25, é um
principio de disciplina quasi dogmatico. Santa Sé e os estados catholicos, e citarei espe
cialmente não só Portugal, cuja legislação pas
Esse concilio é um concilio geral ; portanto sou a ser nossa, como tambem a França, a cujo
todos aquelles que atacão a algumas das suas respeito invocarei unicamente a autoridade do
disposiçoes, sobre principios dogmaticos, com- um escriptor, o Sr. Foucart, em uma obra sna,
mettem uma heresia. Eu, pois, enunciei um que posto não trato especialmente do direito eccle
principio orthodoxo, que foi contestado pelo no siastico e sim do direito publico administrativo,
bre deputado a que me refiro. Tenho portanto, todavia menciona muitas concordatas existentes
Sr. presidente, justificado a minha doutrina, entre a Santa Só e o governo francez, com o fim
tenho apresentado contra a expectativa do nobre de promover ora a circumspecção, ora o a"ugmento
deputado de Minas principios canonicos que a das dioceses francezas.
abonem, e tenho tambem justificado o voto que
hei de dar em favor da emenda. O Sr. Corrêa das Neves:—Isso é para a França.
O Sr. Juguaribe :— Sr. presidente, a ma O Sr. Jaouaribe : — Pois á França, sendo paiz
teria de que se trata é bastante importinte, e catholico, está em circumstancias differentes das
sou eu talvez o menos proprio para entrar nella... em que estamos nós? O nobre deputado saba
O Sr. ArRioio : — Não apoiado. bem que, do todos os paizes catholicos, a França
tem sido o mais zeloso pelas suas prerogativas,
O Sr. Jaouaribe:—Começarei, portanto, pedindo a ponto de pór duvida, e mesmo não aceitar
licença ãquelles que mais habilitados do que eu algumas disposições disciplinares do concilio de
a podião discutir, especialmente aos profissionaes, Trento ; este mesmo paiz, cioso de suas prero
para que sobre ella eu faça algumas considera gativas, fez essas concordatas, pelas quaes, tanto
ções declarando que se me atrevo a tomar parte a curia romana como o governo francez, têm
na discussão de uma materia para que me julgo de intervir infallivelmente na divisão dos bis
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 291
pados das parochias ; e portanto fica provada a é que está agora confundindo o governo com a
existencia das concordatas havidas entre os doua nação.
poderes, e que o nobre deputado me quiz con O Sr. Jaouaribe :— O nobre deputado sabe que
testar quando lhe dei o meu aparte. o cabeça da nação a representa : se hoje esses
O Sr. Corrêa das Neves:— Isto é contrapro diversos poderes symbolisão a nação ou a repre-
ducente. sentão, assim tambem os reis absolutos a sym-
O Sr. Jaouaribe :— Contraproducente como, se bolisavão ; com a differença que hoje se caminha
eu lhe estou provando que os dous poderes obrão por linhas um pouco mais retardadas, visto que '
de accordo, e não por usurpação do temporal são tliversos os ramos que compoem a soberania
sobre o espiritual, como disse o nobre deputado ? nacional.
Demais, permitta-me o nobre deputado que eu Creio pois que tenho demonstrado que quando
apresente um argumento de menor para maior. assim procedemos marchamos pela mesma ma
O nobre deputado sabe que entre nós se tem neira por que marcharão os soberanos que soli-
suscitado a questão se as assembléas provinciaes citavão a creação de bispados.
podem ou nau decretar as divisões de fregue - Além disso entendo mesmo que esta questão
zias sem intervenção do poder espiritual, questão está prejudicada. Sinto não ter íi mão os jornaes
que se deduz do acto addicionul, que dá u essas que tratárão desta materia em 1K46, por ocen-
assembléas a faculdade de dividir freguezias, .e sião da creição do bispado do Rio Grande do
não falia de intervenção do poder espiritu il ; mas Sul : creio que nelles se encontrarão discursos
eu concoriando com o nobre deputado em que do Exm. bispo capellão-mór, que então era digno
o direito canonico ó legislação entro nós, visto membro desta casa, demonstrando que tanto o
que a constituição estabeleceu que a religião do Exm. arcebispo da Bahia, como o Exm. bispo
estado seja a catholica, da qual fazem p irte os de Pernambuco, já tínhão autorisado ou dado
canones, entendo que devemos procur ir conciliar seu assentimento á creação destes bispados.
o acto addiciotial com as disposições canonicas, O Sr. Corrêa das Neves :—Eu procurei entrar
não decretando divisões de freguezias sem a in nesta questão só.«ente para explicar a minha
tervenção do poder espiritual ; mas, pergunto opinião.
eu, quando se trata de dividir uma freguezia a O Sr. Jaouaribe:—Se o papa, como cabeça da
quem se tem d» ouvir é aos vigarios? Não, se igreja, quizer ouvir aos pastores parciaes, diri-
nhores, é aos bispos ; pois é exactamente o que gir-se-ha a elles ; uns observo que esses bispos
se faz agora. já derão o seu assentimento,
O Sr. Corrêa das Neves :— Pois um bispo está Demonstrada, Sr. presidente, como creio que
para um vigario na mesma' relação? tenho feito , a faculdade de approvar o projecto
O Sr. Jaouaribe :— Sim, senhor, um bispo está de que se trata, visto que, pelos tramites por
para o papa na mesma relação em que está um que marchamos, conciliamos o poder temporal
vigario para o bispo. com o espiritual, aquelle pela intervenção que
deve tor nest«s negocios, pois que lhe incumbe
O Sr. Corrêa das Neves :— Está enganado ; a obrigação do fornecer as co igruas o os meios
os vigirios são delegados dos bispos. para a sustentaçio do culto publico, e est i pe
Um Sr. Deputado :— Creio que estamos em um las attribuições que se derivão do jus pascendi
synodo. inherente au chefe da igreja catholica, como suc-
cessor de S. Pedro, tratarei de mostrar a neces
O Sr. Jaouaribe:— Eu não trato da jurisdicção sidade da creação dos bispados de que falia o
que exerce o papa sobre os bispos ou da que projecto, e começarei pela creação do bisp ido
exercem estes sobre os parochos ou sobre os na minha provincia por ser aquella de que te
seus respectivos rebanhos, e sim unicamente de nho mais conhecimento.
fazer a applicação deste principio servatis ser- Esta necessidade, Sr. presidente, é de tal sorto
vandis. Assim, dizia eu, se para se dividir uma sentida que, des le tempos muito anteriores á
freguezia se ouve o bispo que é superior aos nossa emancipação politica , já minha provincia.
vigarios, aquelle julgando conveniente ouve então reclamava pira que fosse satisfeiti, afim do
a estes, do mesmo modo dividindo -se bispados, que os povos pudessem ter soccorros espirituaes
como faz o projecto que se discute, começa elle mais á porta e não os fossem buscar a grandes
dizendo que o governo fica autorisado a impetrar distancias na cidade do Recife.
da Santa Sé a approvação dessa medida, demon- Refiro me ao tempo em que governou a provin
strando-lhe as vantagens que dahi colherão os fieis cia do Coará o governador Luiz Barba Alirdo
disseminados dentro dos limites dos novos bispa do Menezes, o qual dirigio ao governo portuguez
dos, e por sua vez o papa, se julgar conveniente, em 10 de Abril de 1809 o seguinte officio, enca
ouvirá us prelados de cujas dioceses são demem- minhado ao ministro do interior, que era então
brados os terrenos dos novos bispados. o conde de Aguiar :
O nobre deputado teve um equivoco a este « A lastimosa decadencia em que se acha a
respeito, quando contestando-nos o direito de religião nos asperos sertões desta capitania, a
intervirmos nessas divisões de bispados, susten multiplicidade do monstros que a infestão e in-
tou que antigamente só tinhão ellas lugar a sultão com seus pessimos o escandalosos cos.
pedido dos reis, e consistio o seu equivoco em tumes, tudo isto me obriga a representar a
não reparar que approvando nós o projecto nada V. Ex., que seri i da maior importincia nella
mais fazemos do que aquillo mesmo que fazião rosidir um prelado douto e virtueso, munido de
os antigos reis de Portugal, com a differença de plenos poderes pira fazer observar com puroza
que elles sendo absolutos encerravão o poder as leis do christianismo , e remediar de mais
legislativo e outros ramos da soberania em sua perto a sensivol falta de mil recursos indispen
propria pessoa, entretanto que hoje, prevalecendo saveis, que estes desgraçados habitantes experi-
entre nos o systema representativo, os diversos mentão pelo embaraço da distancia que vai desta
poderes do estado se achão diffundidos por d i flo a Pernambuco.
rentes entidades, como sejão camara temporaria, « A decadencia do clero e seu pequeno numero
senado, etc. é tambem uma consequencia infallivel daquella
O nobre deputado pois confundio a questão, e falta e daquelles vicios . pois como poderaõ 23
por isso, seguindo os mesmos principios que eu vigarios acudir com os sacramentos a perto de
adopt', deduzio delles conclusões tão diversas. 130,000 almas espalhadas pelo centro da circum-
O Sr. Corrêa das Neves:— O nobre deputado ferencia de 500 leguas .' Como poderão elles ca
292 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
techisar e convencer os povos com a sagrada eu tinha de expender já forão quasi todas prduo-
doutrina do Evangelho, se as suas forças não zi las por [Ilustres oradores que me precedêrão,
são bastantes para o desempenho das funoções não duvido aguardar-me p ira outra oc casião.
do Seu ministerio em tinta longitudeI Julga-se a materia sufficientemente discutida,
« Eis aqui, Exm. senhor, o importante objecto é rej atido o projecto e approvado o artigo sub
da cópia da carta junta, que a camara da villa stitutivo.
do Aquirás me dirigio. » O Sr. Presidente :—Passa-se á segunda parte
Eis o officio que o governador daquelle tempo da ordem do dia.
dirigio ao governo portuguez, o que foi como eu O Sr Jaouaribe (pela ordem) • —Como ouvi no
disse, em 1809. dia em que se leu este projecto que se tratava
Passados alguns annos, em 1811 ou 1812, esse de um projecto substitutivo áquelle que se dis
mesmo governador , sendo deputado ás cortes cutia, creio que tendo-se votado a primeira parto
portuguezas, apresentou ahi um projecto creando do substitutivo, deve-se votar a segunda relati
um bispado no Coará. Essa idéa não sen lo vamente ao Ceará.
então adimttida, em 1820, civio eu, quando na
assembléa constituinte em Lisboa houverão de O Sr. Presidente : — O projecto substitutivo
comparecer alguns deputados do Brazil, o Sr. contém 3 artigos; estamos na segunda discus
Alencar, actualmente senador do imperio, e.en são; votou-se agora o primeiro artigo, e o pre
tão deputado pelo Ceará, apresentou alli de novo ciso que cada um dos dous outros sej.a discu
um projecto contendo essa mesma creação. E tido, para que possa, ser sujeito á votação.
finalmente, como a'iui já foi demonstrado, creio 0 Sr. Jaouaribe :—Bem.
ue mesmo pelo nobre deputado por Minas autor
d o projecto, foi apresentada essa idéa d s creação O Sr Luiz Carlos : — Sr. presidente, requeiro
pelo Sr. arcebispo da Bahia em 1827, assim urgencia para que continue a discussão do pro
como em 1829, e finalmente em 1840, épocas jecto, afim de que sí possa votar Sobre a crea
essas em que foi sempre essa idéa desattendida, ção do bispado do Ceará.
até que hoje se reproduz de novo no projecto A urgencia é apoiada e approvada.
ue se discute, o que espero, attenta a justiça São approvados sem debate os demais artigos
a a causa, será approvado pela camara. do projecto substitutivo, que passa para terceira
Ora, se 1809, quando a provincia do Ceará discussão.
continha população muito menor, e muito menor
numero de freguezias, se reclamava por essa CHAMADA DE SUPPLENTES
medida, sendo a necessidade de um bispado ge
ralmente reconhecida, hoje que a populacão e as E' lido o parecer da commissão de constituiçAo o
freguezias daquell i provincia têm augmenlaio, essa poderes, ácerca da indicação do Sr. Pereira da
necessidade e da maior evidencia. (Apoiados .) Silva para ser chamado o supplente pela provincia
A provincia do Ceará, Sr. presidente, devide-se do Rio Grande do Norte.
hoje em 11 comarcas, 26 municipios, 34 paro-
chias e 73 districtos de paz , comprehendendo O Sr. Paes Barreto:—Peço a palavra pela ordem.
seguramente toda provincia mais de 340,000 al O Sr. Presidente ;—Tem a palavra.
mas, isto é, mais do dobro da" população da- O (Sr. Paes Barrelo : — Aehando-so na
uelle tempo, e por conseguinte a necessidade mesa o parecer da comniissão de constituição e
d1 e um bispado alli tem crescido visivelmente. poderes que trata do chamamento do supplente
Quanto á necessidade do bispado de Diaman pelo Rio Granae do Norte, julgo que deve entrar
tina, quasi que nada devo dizer. O nobie depu- em discussão com preferencia a outro qualquer
putado por Minas Geraes demonstrou com toda objecto, porque contém materia que foi sempre
a evidencia qne nem o arcebispo da Bahia, considerada urgente.
nem os bispos de Pernambuco e Marianna (sob
cujas respectivas jurisdicções se acha toda a Entra portanto em discussão o seguinte parecer:
extensão do novo bispado projectai! ) podião oc- « A commi«são de constituição e poderes, a
correr a todas as precisões espirituaes dessa quem foi presente a indicação dos Srs. depu
immensa porção de paiz comprehendida no pro tados Paes Barreto e Pereira da Silva, para
jecto. A população do Minas é das mais nume- que se dê assento ao Sr. Amaro Bezerra Ca
rosis do Brazil; monta, segundo qs calculos valcanti como supplente pela provincia do Rio
mais exactos , a mais de 1 milhão 210 mil al Grande do Norte, considerando que o deputado
mas ; a provincia comprehende 173 parochias effectivo o Sr. José Joaquim da Cunha, presi
segundo os dados que colhi, e oceupa a exten dente da agora,
provincia do oPará não fazer
tem comv
compare
são de 15 mil leguas quadradas ; e portanto não cido até e não poierá bre
é possivel que o bispo de Marianna, e ainda vidade ; attendendo igualmente que é de iníeresse
menos o arcebispo da Bahia e bispo de Per publico que a representação nacional se complete
nambuco, possão occorrer ás necessidades espi quanto seja posslvel, e que o dito Sr. Bezerra
rituaes de uma população tão numerosa e dis Cavalcanti se iclia na corte, é de parecer que o
seminada por um territorio tão extenso, colloca lo mesmo senhor preste juramento e tpma assento
a tão longas distancias das respectivas Sés, como supplente pela mencionada provincia do
como é todo aquelle que se acha comprehondido Rio Grande do Norte.
no projecto.
A' vista pois de todas estas considerações, en « Paço da camara dos deputados, 25 de Junho
tendo que a camara não póde deixar de votar de 1853. — J. C. Bandeira de Mello. —J. A. de
pela creação dos dous bispados de que se trata. Miranda, o
(Apoiados.) . O Sr. Gomos Ribeiro : —Sr. presidente»
O Sr. Presidente :—Esta discussão fica adiada creio que o parecer está incompleto, por isso
pela hora. que achando-se o supplente pela provincia do
Rio Grande do Norte nas mesmas circumstanoias
Vozes ' —VotosI votosI em que se achão os supplenles de outras pro
O Sr. Presidente :—Só se o padre Campos ceder vincias, parece-me que as intenções que hoje
a palavra. apparecem nesta casa do serem completas as
deputações de todas as provincias devem apro
Alouns Srs. Deputados :—Ha de ceder para se veitar a todos que se achão nas mesmas cir-
votar. cumstancias, e por isso tenho de mandar um
O Sr. P. de Campos Como as doutrinas qu« adiamento, c e que sejão chamados todos os
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 293
supplentes dos deputados daquellas provincias qual errou a barra, e ia precipitando o vapor
que deixarão de comparecer até o presente, em baixios que lhe erão desconhecidos, e que
como sejão os de Alagóas, Bahia e Pernambuco... dahi iria para sua commissão por terra. Já vê
Uma Voz : —Mas não está aqui na córte sup- pois o nobre deputado que em presença de tanta
plente algum senão o do Rio Grande do Norte. moratoria, e de embaraços desta ordem, o pre
sidente que actualmente está em Sergipe só che
O Sr. Gomes Ribeino : — Não importa, man- gará a Santa Catharina com muita demora, tilvez
dem-se eh imar. antes de Setembro não esteja lá, o de Santa
Eis pois, Sr. presidente, a razão por que pedi Catharina não deixa a presidencia sem a chegada
a palavra ; foi para mandar essa emenda. do seu successor, logo, o Sr. Dr. Sobral não vem,
Ai razões que se dão a respeito da provincia por impedido, tomar assento por este anno nesta
do Rio Grande do Norte são as mesmas ra cisa. Esta é que ó a verdade, este é que - ó
zões que se devem dar para as outras provin- o resultado iufállivel, que convém providenciar
. cias. Pelo parecer' é admittido um supplente chamanio-se o seu supplente como deve ser
visto que o proprietario ainda não veio, e nem chamado, para que a representação da provincia
communicou cousa alguma ; este principio até seja completa, como cumpre que seja.
corto ponto eu approvo, porque julgo que um O Sa. Titara : — Eu tive uma carta Sr. Dr. So'
deputado por semelhante omissão não pòde pri bral em que participa que vem tomar assento
var esta camara e a sua provincial da pirte que este anno.
devo ter na representação nacional, e do direito
inquestionavel que tem o supplente do fuzer as O Sr. Gomes Ribeino : — E' por isso mesmo que
suas vezes. Quando não póde ello comparecer digo que o nobre deputado labora em um engano ;
deve participar á camara municipal para cila suppõe talvez o Sr. Dr. Sobral que o presidente
expedir o diploma a quem de direito fòr; o. como, nome ido para as Alagoas muito breve alli se
Sr. presidente, ha deputados que não têm até apresentará; está elle em erro, o não menos o
hoje participado cousa alguma a esta camara, nobre deputado. Saiba que esse presidente ainda
?ue não tem dado ao menos o motivo da sua se ach i administrando a provincia de Santa
alta ã camara municipal declarando as razões Catharina, que tem de esperar pelo seu successor,
de seu impedimento, julgo que esta camara tem de vir á córte, aqui deve preparar-se, e
deve tomar um arbitrio, que eu approvo, arbi seguir então para as Alagóas. Este e que e o facto
trio que, sendo tomado pela commissão de con verdadeiro. (Apoiados.)
stituição e poderes no parecer que se discute, Um Sr Deputado : — Não me ó estranho esse
quizera que elle por identidade de razão se es facto. -
tendesse e abrangesse a todos que se achão nas O Sr. Gomes Ribeino : — Demais, senhores,
- memas circumstancias. quando sejão chamados os supplentes para vir
Não ha razão, senhores, para que se esteja tomar assento, elles- estão na provincia ; se na
adoptando esta medida por partes ; a justiça da occasião de vir o Sr. Dr. Sobral tiver de largar '
causa do supplente pela provincia do Rio Grande a administração para seguir a esta córte, está
do Norte ó a justiça da causa dos supplentes visto que elle cá não virá. (Apoiados,) Forão
das provincias de Alagoas , Pernambuco , Ba estes os receios que o nobre deputado apre
hia, etc. (apoiados) ; até hoje os Srs. Chaves, sentou, o por isso digo que labora em um en
Sobral e Aguiar não têm comparecido e nem gano , não duvidando aliás de suas boas in
participado a esta camara, e menos á camara tenções.
municipal, a causa de seus impedimentos... Vozes : — Votos I votos I
Um Sr. Deputado: —Já existem participações a Julga-se a materia discutida. K' approvado o
esse respeito. parecer da commissão" para que tome assento
O Sr. Gomes Ribeino : — . . . o portanto eu o Sr. Bezerra Cavalcanti como deputado sup
quero apresentar neste sentido um additamento plente pelo Rio Grande do Norte. Tambem se
ao parecer que se discute. approva que sejão chamados os supplentes de
Vai a mesa o seguinte additamento, que de todos aquelles Srs. deputados que não têm com
pois de apoiado entra em discussão : parecido.
« Que da mesma sorte sejão chamados os sup CREAÇÃO DE UM BANCO NACIONAL
plentes daquelles deputados que até hoje não
têm comparecido. — S. a R. — Em 2ô do Junho Continua a 3» discussão do projecto r. 23 deste
de 18 .o. —Gomes Ribeiro. » anno, vindo do senado cteando um banco nacional.
O Su. TitAra oppõe-se ao additamento. O Sr. Paula Fonseca : — Peço a palavra pela
O Sr. Gomes Ribeino: — Não duvidando das ordem.
boas intenções do illustre deputado que me pre O Sr. Fioueira de Mello : — Pois temos já o
cedeu quando combateu o meu additamento ao encerramento ? I
parecer da illustre commissão, direi comtudo
que elle labora em um erro, que está comple O Sr. Cruz Machado : — Oh 1 Já sabem o que
tamente em erro no que acaba de affirmar a o nobre deputado vai dizer?I
esta camara, porquanto o membro que falta na O Sr. Aprioio:—Está no seu direito.
deputação das Alagois não póde chegar com a
presteza que o nobre deputado julga, e que acaba O Sr. Figueira de Mello:—Qual direito ; ó
de asseverar, porque parece-me, não o affirmo, uma oppressão da maioria sobre a minoria.
que ha instiucções do governo imperial para O Sr. Paula Fonseca : — Já que o nobre de
que o presidente que está na provincia de Santa putado me lembra a necessidade do encerra
Catharina, o que foi nomeado para presidente mento. . .
das Alagoas, não deixe a administração da pro O Sr. Fioueira de Mello : — Isto é um abuso
vincia de Santa Catharina sem que alli che- da rolha 1
§n0 o seu Successor, que é o actual presidente
e Sergipe. O Sr. Paula Fonseca: — O nobre deputado fal
Ora, ainda hoje li no Jornal do Cornmercio tando em despotismo da maioria contra a mi
que o presidente nomeado para Sergipe teve de noria, como que já nos dá a entender que a
voltar para a Bahia por impericia do comman- minoria está disposta a protelar as discussões
dante do vapor que o conduzia para Sergipe, o de maneira a impedir que a maioria dote o

r
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
294
paiz còm os beneficios que elle com razão espera Posto a votos é approvado o requerimento do
Sr. Gomes Ribeiro.
delia...
O Sr. Nebias : — A maioria, como a minoria, a Julga-se
votos é
a materia do projecto discutida, e posto
approvado por escrutinio secreto.
é interessada em que as causas se fição bem
feitas. COLLEG10S ELEITORAES DE MATTO-GROSSO
O Sr. Fioueira de Mello:—A utilidade publica
conhece-se pela discussão. Segue-se a primeira discussão do projecto r. 26
O Sr. Paula Fonseca: — Eu não contesto o deste anno alterando a ordem de alguns colle-
direito que tem a opposição ; mns tambem o glos eleitoraes da provincia de Matto-Grosso .
nobre deputado ha de permittir que eu, depu O Sr. Presidente : — Se não ha quem peça a
tado da maioria, deseje eeonomisar o tempo que palavra vou pór a votos.
já se vai passando sem termos ainda começado Alouns Srs. Deuutados : — Não ha casa.
as discussões das leis animas. (Apoiados.) Eu
rogo pois a V. Ex., Sr. presidente que h 'ja de O Sr. Presidente : — No recinto não ha nu
consultir a camara se é ou não tempo de enceriar mero sufficiente de Srs. deputados para se poder
esta discussão. votar. Talvez t.a sala vizinha estejáo alguns se
nhores, e apezar dos esforços que tenho feito ,
Pondo-se a votos este requerimento do Sr. Paula como
Fonseca, contão-se a favor delle 34 votos, e con a camará é testemunha, para que as dis
cussões progridão (apoiados}, não é possivel ha
tra 34. ver casa. Convi lo pois novamente aos nobres depu
Alouns Srs. Deputados:—Fica empatado, con tados a oceuparem os seus lugires, do contrario
tinua a discussão. mandarei fazer a chamada, e levantarei a ses
Outnos Srs. Deputados:—Não ; deve ficar adiada são considerando como ausentes os qne não es
para amanhã. tiverem no recinto. (Apoiados.)
O Sr. Santos e Almeida : — Peço a rectifi Entrão alguns senhores e tomão os seus as
cação. sentos.
O Sr. Paula Candido : — A camara bem vê O Sr. 1° Secretario : — Agora ha numero suf
que podia haver erro de um ou de outro lado ; ficiente.
por isso seria bom que se rectificasse a vo Julga-se a materia discutida, e posto a votos
tação. o projecto, é approvado e passa para a segunda
O Sr. Presidente:—Vou por o encerramento discussão.
novamente & votação. NAVEGAÇÃO DO RIO PARNAHYBA
Consultada de novo a camara, decide por 36
, votos contra 3õ que a discussão deve ser encer Entra em segunda discussão o projecto r. 31 de
rada. 1850, autorisando o governo para contratar uma
O Sr. Fioueira de Mello: — Apenas por um Companhia que faça a navegação do lio Parna-
voto, por um reforço que chegou 1 E' uma oppres- hyba.
são, repito, da maioria contra a minoria ; é um O Sr. Teixeira, d© Macedo : — Julgo, Sr-
abuso da força. presidente, muito importante a materia deste pro
O Se. Araujo Lima: —Até nem quizerão ouvir jecto, porque com ella se tem de onerar os co
ao Sr. Ferraz 1 fres publicos, visto que se garante a esta com
Pendo-se a votos a adopção do projecto em 3° panhia um minimo de juro. Assim entendo que
discussão, ó elle adoptado. se deve adiar esta discussão para que o pro
jecto seja remettido á eommissão de industria
PENsÃ0 A MIGUEL DOS ANJOS PERES para dar sobre elle o seu parecer, ouvindo-so tam
bem a opinião do governu a respeito ; e neste
O Sr. Gomes Ribeiro (pela ordem): — sentido vou mandar á mesa um requerimento.
Achando-se na ordem do dia a resolução que Lê-so e depois de apoiado entra em discussão o
approva a pensão concedida a Mlgu 1 dos Anjos seguinte requerimento do Sr. Teixeira de Macedo :
Peres, que perdeu uma perna em serviço, julgo de « Requeiro o adiamento do projecto para que
equidade que V. Ex. prefira este projecto a outros
designados na ordem do dia. E' uma pequena seja remettido á eommissão de commerclo, in
dustria o artes, ouvindo-se a respeito a opinião
pensão concedida a um pobro soldado. Julgo qua
a camara quererá que elle entre no usufructo do gove.rno.— S. R:»
dest« beneficio, O Sr. Brandão : — Sr. presidente, tendo a
O Sr. Presidente:— O projecto de qne falia o honra de haver offerecido á consideração da casa
nobre deputado está tambem na ordem do dia : e otado projecto que se discute, e que o nobre depu
por isso, sem ser preciso votação da camara, vou neste deseja adiar, já tive occasião de sustentar
recinto a sua conveniencia. Agora, estando
pêl-o em discussão. elle submettido á 2» discussão, pretendia upro-
Entra em discussão o projecto r. 18 deste veitar-me da oppartunidade para apresentar um
anno que approva a pensão annual de l67fc'lõ0 projecto substitutivo, no qual, deixando ao go
concedida ao soldado do 1° batalhão de arti verno a faculdade de dar uma subvenção, sup-
lharia a pé Miguel dos Anjos Peres, ferido em primo a garantia do juro que se offerecé á com
combate, de que' lhe resultou soffrer amputa panhia que emprehender a navegação projectada,
ção da perna esquerda, sem prejuizo dos ven garantia que o honrado membro receia que venha
cimentos que por sua reforma lhe competem. onerar sobremaneira os cofres publicos.
vO Sr. Gomes Ribeino : — Como V. Ex. julgou Não sei, portanto, se offerencendo este projecto
estar dentro de auas attribuições submetter a substitutivo o honrado membro insistirá no seu
discussão este projecto de preferencia a outro adiamento. Como quer que seja, subsistindo sem
qualquer, pediria que elle tivesse uma só dis pre uma subvenção, sem a qual não é possivel
cussão, como se tem praticado com todos que se que se leve a effeito esta empresa, que julgo de
achão nesta circumstancia. maior alcance, e que é altamente reclamada pela
O, Sr. Presidente: — Convido aos Srs. depu provincia que tenho a honra de representar, e
tados a tomarem seus assentos, do contrario não edesejando que a camara tome uma decisão justa
conscienciosa a este respeito, uão me opporoi
pode haver votação.
SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853 295
ao requerimento do honrado membro, comquanto na legislatura passada um projecto autorisando
me julgue habilitado para dar as precisas in o governo a organisar uma companhia que rea-
formaçoes, e na casa exista um illustre membro lisasse a navegação entre o Ceará e o Mara
presidente- da minha provincia, que estudou esta nhão. Tive ordem do governo para informar
questão, e póde illustrar-nos sobro a materia de ácerca disso, e então oflereceu se-me occasião
que se trata com o fructo de suas observações. para dizer ao Sr. ministro do imperio que me
Em objecto de tanta magnitude como é este, sem parecia que a navegação do litoral entre o
- duvida ó de muita conveniencia ouvir-se a opi Ceará e o Maranhão não podia ser feita com
nião do governo ; elle que na sua marcha em vantagem sem que se estabelecesse a navegação
relação aos interesses materiaes tem tomado sem interna, pelo menos até á nova capital do
pre em consideração tudo quanto póde trazer van Piauhy ; porque V. Ex. concebe facilmente que
tagens reaes para o paiz, não terá seguramente os fretes devem augmentar muito com a nave
deixado do cousiderar a materia do projecto. gação interna, e que com esse augmento de fre
O honrpdo ministro do imperio no seu relato tes muito deve lucrar a navegação do litoral,
rio nos offerece sobre ella alguns esclarecimea- pelo que virá esta a precisar de menor auxilio
tos, que já tive occasião do trazer á memoria da do governo, o que ó favoravel aos cofres pu
camara : estou pois persuadido de que S. Ex. blicos. Isto foi o que eu disse ao Sr. ministro
tem muito em vista a navegação do Pirnahyba, do imperio, e depois, tendo occasião de conver
que en desejo ver levada a effeito por meio do sar com elle, deu-me a entender que se devia
projecto que offereci, habilitando o governo para cuidar da navegação fluvial ou interna.
semelhante fim. Reconheço as habilitações da no V. Ex. sabe que a respeito desta questão só ha
bre commissão de commercio e industria, e estou dous pontos sobre que se deve ouvir a opinião
muito convencido de que sondo o objecto de tanta do governo : o 1° ó se a navegação do Parna-
importancia, ella so empenharia, omais que fosse
fiossivel, em orientar a casa, apresentando um hyba será conveniente, e me parece que no es
tada actual, em que a politica tem cedido um
uminoso parecer om pouco tempo; mas conside immenso terreno aos melhoramentos materiaes,
rando que as commissões achão-se ordinaria não se póde contestar a conveniencia da nave
mente sobrecarregadas de muitos trabalhos, de gação- de um grande rio, tão facil em grande
maneira que nem sempre podem com a -precisa distancia. Sobre o segundo ponto, isto é, so as
urgencia auxiliar- nos com os seus pareceres, eu forças dos cofres publicos podem comportar as
ousaria, se o honrado membro me permitisse mo despezas pedidas no projecto para o auxilio dessa
dificar o adiamento que propoz, para que a este empresa, creio que ninguem pódo negar que,
respeito fosse somente ouvido o governo. Com a havendo sobra da receita, póde parte desta ser
opinião do ministro respectivo, e com as infor empregada neste melhoramento, que se na actua
mações que sobre a materia podem dar alguns lidade não produzir grandes vantagens indus-
membros da camara, estou convencido de que triaes, ao menos produzirá a de fortificar a ac-
nenhuma duvidi haverá acerca do melhor ac- çãc da autoridade nos altos sertões do Piauhy
corde que a camara deva tomar sobro o projecto e Maranhão, que tem estado até bojo entregue
em discussão, á sua propria acção. Portanto sobro estes dous
Lê.se, e sendo apoiado entra conjunctamento pontos a casa póde resolver com sabedoria sem
em discussão, o seguinte requerimento do Sr. informações estranhas á discussão.
Paranaguá : Agora quanto ás vantagens que se devão dar
« Requeiro qne seja ouvido o governo sobre a qualquer compinhia que emprehenda essa na
a materia do projecto. » vegação, o Sr. deputado pelo Piauhy já resol
O Sr. t. de Macodo:—Sr, presidente, não veu apresentada,essa difficuldade em uma emenda que vai
foi minha intenção, propondo o adiamento, demorar ser e que dispensa qualquer decla
ração do governo a tal respeito. Nessa emenda
o andamento do projecto, porque sou o primeiro a se diz que o governo dará á companhia a sub
conhecer as suas vantagens ; só tive em vista venção que entender mais' conveníonte sujeitan
habilitar a camara a, puder conscienciosamente do- a depois á approvação do corço legislativo ;
votar sobre uma matéria que onera os cofres e portanto para que ouvir sobro isso a opinião
publicos. do governo, quando este vai ter um arbitrio
O nobre deputado apresentou essas-idéas .con tão largo ?
forme as concebeu ; entretanto que a commissão A' vista pois das razões que tenho expendido,
respectiva póde, depois de ouvir o governo, e attendendo-so mais a que o nobre ministro
apresentar um projecto mais em conformidade da marinha póde expór á casa não só a sua opi
com os interesses publicos, á vista do outras nião, como a do nobre ministro do imperio,
idéas que talvez deixassem de occorrer ao no
bre deputado, e que podem ser apresentadas porque este negocio póde já ter sido tratado
em conselho, julgo desnecessario o adiamento,
pela commissão. o que o projecto deve ser approvado em segunda
Foi unicamente para dar esta explicação que discussão, podendo a camara ouvir em terceira
pedi a palavra. a opinião do Sr. ministro da marinha, que en
O Sr. Saraiva :—Sr. presidente, eu dese tão poderá enunciar a de seus i Ilustres collegas.
java votar pelo adiamento, porque elle importa Entretanto a camara decidirá em sua sabedoria
a acquisição de esclarecimentos que podem il- o que julgar mais acertido, porque estou mesmo
lustrar a casa; porém entendo que, não. só o disposto a votar pelo adiamento, so as razões
requerimento do nobre secretario, como o do hon que dei não induzirom o nobre secretario a re
rado membro pelo Piauhy, podem sér dispen tirar o seu adiamento, que em nada póde pre
sados pelas informações que o nobre ministro judicar o projecto..
da marinha está no caso prestar. Além disso O Sr. Zachartas (ministro da marinha) :—
estou habilitado para dizer á casa a opinião Como presidente que fui da provincia do Piauhy,
do Sr. ministro do imperio a respeito desta comprenendo
quostáo, porque tendo, como presidente do e as vantagensbem o assumpto que se discute,
que hão de resultar da medida
Piauhy, de dar esclarecimentos afim de que o proposta no projecto; e como membro do ga
governo formasse seu juizo ácerca da navega binete posso dizer que o governo pronuncia-se
ção do litoral, posso dizer o que se passou so em favor da empresa de que se trata.
bre isso, com o que talvez se satisfaça o no Mas, uma vez que o projecto apresenta uma
bre secretario. innovação, elevando ao dobro a quantia cuia
A camara estará lembrada de que votou-se concessão havia passado na casa.-..
296 SESSÃO EM 25 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Paranaouá:—Eu pediria licença para as informações do governo ser submettidas ao
offerecer logo o meu projocto substitutivo. conhecimento, ao exame da commissão compe
O Sr. Zacharias: —Uma vez que o mesmo no tente. Supponha-se que o governo entende que
bre deputado pelo Piauhy. autar do projecto o o projecto devo soffrer alguma alteração, que
quer modificar como acaba de dizer, parece con deve ser emendado neste ou naquelle sentido,
veniente ser ouvido o nobre ministro do imperio, como se discutirá o projecto sem que a com
como aquelle a cuja repartição o negocio espe missão competente laça as alterações que julgar
cialmente pertence. convenientes, conforme a opinião do governo ?
Eu poderia incumbir-me de, bem inteirado de Depois de se obterem as informações do go
sua opinião, apresental-a na casa na terceira verno, devem ellas ser consideradas pela com
discussão... missão afim de emendar-sa o projecto, so assim
fór necessario ; isto é que é regular.
' O Sr. Paranaouá: —Apoiado. Talvez porém que acamara entenda que não pre
O Sr. Saraiva:—Seria melhor. cisa do auxilio, das luzes da commissão de
commercio, industria o artes, por não se achar
O Sr. Zacharias:—Mas que razão de utilidade ella habilitada para tomar conhecimento da ma
ha para que se embarace o adiamento com que tem ; ó verdade que ao menos pela minha
se pretende habilitar o proprio ministro do im parte, nenhum esclarecimento poderei dar, ne
perio n dar a sua opinião sobre esta materia? nhum serviço poderei prestar... (Não apoiados.)
Elie a expenderá brevemente em resposta ao O Sr. Paranaouá: —Eu fui o primeiro a reco
officio que receber, com todos os esclarecimentos
que estiverem no seu alcance. nhecer as habilitações da commissão.
Portanto, entendo que não deve haver escru O Sr. Almeida Albuquerque:— . .. se assim é,
pulo algum em votar-se pelo adiamento pro a culpa não é da commiisão, c sim da camnra
posto afim de ser ouvido o ministro da repar que nomiou uma commissão que não se acha
tição competente. Eu dou-lho o meu voto. habilitada para tomar conhecimento dos negocios
O Sr. Paranaguá (pela ordem) :—Sr. pre a seu cargo. (Não apoiados.)
sidente, tendo o governo de ser ouvido sobre Pelas razões, pois, já apresentadas na casa,
o projecto a respeito do qual versa a que-tão e que escuso repetir, voto pelo adiamento pro
do adiamento, e desejando eu apresentar, como posto pelo nobre deputado pelo Rio de Janeiro.
já declarei, um projecto substitutivo modificando Dando-se a materia por discutida, é appro-
o primitivo relativamente á navegação entre o vado o requerimento do Sr. Teixeira do Ma
Ceará e o Maranhão, quizera que V. Ex. me cedo.
dissesse se o regimento me permitte apresen O Sr. Araujo Lima requer dispensa de in
tai-o desde já, para que o governo possa bem tersticio para qne entre em terceira discussão
conhecer o estado da questão. na segunaa-feira o projecto que crêa os bispa
O Sr. Presidente: —Parece-me que será facil dos do Ceará e Minas Geraes.
ao nobre deputado, se o adiamento fór appro- O Sr. Presidente: —Vou consultar a casa se
vado, apresentar ao governo as suas idêas, sem approva a urgencia requerida pelo Sr. deputado
que seja necessario offerecer um projecto sub pela provincia do Ceará.
stitutivo quando se trata do um adiamento.
O Sr. Paranaouá: —Suje:tar-mo-hei á decisão O Sa. Aprioio: —Peço a palavra pela ordem.
de V. Ex. O Sr. Presidente:—Tem a palavra.
O Sr. Virialo: —Sr. presidente, visto que O Sr. Aprieio (pela ordem) : — O nobre
se trata do ouvir ao governo, julgo que será deputado pelo Ceará quer dispensa de intersti
melhor remetterem-se todos os papeis que ha cio afim de qne o projecto que crêa os dous
sobre essa materia. Por isso vou mandar á bispados seja dado para ordem do dia do se-
mesa um novo requerimento, porque entendo gunda-feira, o não requereu a urgencia; se a
que ao governo será mais facil dar o seu pa requeresse eu me opporia a ella, viste que as
recer sobre esse objecto tendo juntos todos os leis nnnuas são mais urgentes do que a crea-
papeis que lhe 'dizem reopeito, assim como os- ção destes bispados ; por conseguinte peço a
dous projectos, o primitivo e o substitutivo. V. Ex. que consulte a casa sobre a dispensa
Neste sentido mandarei um requerimento á do intersticio e não sobre a urgencia...
mesa. Um Sr. Deputado: —O resultado é o mesmo.
Achando-se na sala immediata o Sr. Amaro O Sr. Aprioio: —Não, senhor : a urgencia ó
Bezerra Cavalcanti, supplente pelo Rio Grande para que o projecto entre infallivelmente se-
do Norte, é introduzido com as cerimonias do gunda-leira, e a dispensa de intersticio é para
estylo, presta juramento e toma assento.—Con
tinua a discussão. ' fim diverso...
Vai á mesa o seguinte requerimento, que de O Sr. Corrêa das Neves:—Esses velhos sa
pois de apoiado entra em discussão : bem muita cousa.
« Accrescente-se ao requerimento do Sr. Pa O Sr. Aprioio:—.... é para que o projecto
ranaguá — remettendo-so ao governo todos os entre somente na ordem do dia de segunda-feira.
pipeis que dizem respeito a materia em dis Consultada a casa sobre o requerimento do Sr.
cussão. —S. R. — Viriato. » Araujo Lima, é approvado por grande maioria.
O Sr. Almeida Albuquerque:—Sr. pre Dá-se a ordem do dia e levanta-so a sessão
sidente, estou persuadido que a camara deve ás 2 Vi horas da tarde.
approvar o adiamento proposto pelo nobre de
putado pelo Rio do Janeiro, e não o que offe-
recêra o nobre deputado pelo Piauhy. Ou a
camara está suficientemente esclarecida sobre a
materia do projecto que se discute, o neste
caso não tem necessidade de informações e es
clarecimentos do governo, e portanto não deve
approvar adiamento algum, proseguindo na dis
cussão, ou precisa de ouvir o governo, attenta
a importancia da materia, e neste caso devem
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 297
Sessão em S7 de Junho « N. 8. — Requerimento de José Maria Xavier
da Cunha, pedindo em 28 de Junho de 1841 au-
1-RESILENCIA DO SB. PAULA CANDIDO (1° SECRETARIO). torisação para ter carta de cidadão brazileiro,
dispensado o tempo, que lhe faltava, da resi
Svaunmo,—Expediente.— Ordem do dia.—Creação dencia marcada na lei. Procede o mesmo funda
de bispndos. Discursos dos Srs. Livramento, mento.
Wanderley, I. Barbosa e Correa das Neves.— « N. 4.— Um requerimento de Jacques Gouffó
Fixação das forças de mar. Discursos dos dirigido á camara em 28 de Agosto de 1841, em
Srs. Paula Baptista e Saraiva. o qual solicita a mesma graça que o anterior.
Procede o mesmo fundamento.
A's dez horas, feita a chamada, achão-se pre « 1843— N. 5.— Uma queixa dirigida á camara
sentes os Srs. deputados Aprigio , Lindolpho , em Março de 1813 pelo padre Alexandre Francisco
Machado, Macedo, Jose Ascenso, Leal, Horta, Cerbelon Verdeixa contra differentes actos, de
Ribeiro, barão de Maroim, Gomes Ribeiro, Mi que accusava o então presidente do Ceará bri
randa, Bretas, Almeida e Albuquerque, Ferraz, gadeiro José Joaquim Coelho. Essa representa
Fleury, Bello, Teixeira de Souzi, Fernandes ção não tem documentos, que fizessem acreditaveis
Vieira, Monteiro de Barros, Belisario, Siqueira os actos denunciados. Procede o mesmo funda
Queiroz, Octaviano, Brusque, Livramento, Paula mento.
Cindido, Assis Rocha, Góes Siqueira, Ferreira
de Araujo, Araujo Lima, Pereira da Silva, Pa « N. 6.— Dous requerimentos dirigidos ao go
ranaguá, Pimenta Magalhães, Wilkens, Angelo verno imperial em 1812 por Marcellino Pereira
Custodio, Rocha, Taques , Saraiva, Vieira de de Vasconcellos contra a administração do pre
Muttos, vigario Silva, Paula Santos, Souza Leao sidente de Sergipe Sebastião Gaspar de Almeida
e Seára. Boto.— Nas actas da casa não consta a entrada
Comparecem depois da chamada os Srs. Ne- de semelhantes papeis na commissão. Procede a
bias, Ignacio Barbosa , Cruz Machado , Dutra mesma razão.
Rocha, Ribeiro da Luz, Belfort, Jacintho de « N. 7.— Uma petição de José Ignacio Pinto,
Mendonça, Wanderley, Domingues Silva, Bar subdito portuguez, pedindo dispensa do resto de
reto Pedroso, Soares de Gouvêa, Luiz Carlos, tempo de residencia legal, para ser naturalisado
Candido Mendes, padre Campos, Viriato, Paula cidadão brazileiro. E' datada de 16 de Junho de
Fonseca, Paula Baptista, Paes Barreto, Fiusa e 1843. Procede a mesma razão.
Nabuco. « N. 8.— Uma petição do padre Manoel José
Havendo numero legal, ás dez horas e tres dos Reis, subdito portuguez, assignada em 16
quartos, o Sr. presidente abre a sessão. de Abril de 1813, supplicando a mesma graça.
Lida, e approvada a acta da sessão anterior, Procede a mesma razão.
o Sr. 2° secretario, servindo o lugar de 1°, dá « N. 9.— Uma representação da camara de
conta do seguinte Campinas da provincia de S. Paulo, submettida
ao conhecimento da camara em 7 de Janeiro de
EXPEDIENTE 1843, em a qual pode se declare se os presi
dentes de provincia são compotentes, para annul-
Um requerimento de João Ferreira Lousada, larem eleições das camaras municipaes. Esta
solicitador da fazenda da segunda instancia no especie acha-se regulada pelo art. 118 da lei r. 387
tribunal da relação, pedindo augmento de or de 19 de Agosto de 1846.
denado.—A' commissão de pensões e ordenados. « N. 10.—Uma representação do actual depu
E' sem discussão apoiado o seguinte parecer: tado Dr. Candido Mendes de Almeida, contra
« Raymuudo Remigió de Mello, alferes do 11° as eleições a que se procedeu em 1842 na pro
batalhão de infantaria de linha, dirige a esta vincia do Maranhão, a qual foi presente á ca
augusta camara uma petição, sem documentos, mara em 2 do Janeiro de 1843. Está prejudicada.
em a qual reclama os postos e antiguidade de « N. 11. — Requerimento de José Antonio da
que fóra privado passando para a terceira Souza Yianna, subdito portuguez, pedindo em 15
classe. de Setembro de 1843 dispensa da residencia legal,
« Para que possa acr tomada em considera para ser naturalisado cidadão brazileiro. Está
ção a mencionada petição, é de parecer a com prejudicado.
missão de marinha o guerra que se peção in « N. 12.— Representação dirigida á camara dos
formações ao governo. — Paço da camara dos Srs. deputados em Fevereiro de 1813, por Fran
deputados, em 27 de Junho de 1853. — A. C. cisco José dos Santos Diamante contra as elei
Seára. — j. A. de Miranda. » ções geraes, a que se procedera na provincia de
E' tambem sem debato approvado o seguinte Sergipe em 1812. Está prejudicada.
parecer : « N. 13.—Uma petição de Joigo Guilherme Reut,
k A commissão de constituição e poderes, tendo pedindo em 21 de Agosto de 1843 dispensa da
examinado os papais, que fazem objecto deste lei, para ser naturalisado cidadão brazileiro.
parecer, e que vuo abaixo mencionados, é de Está prejudicada.
opinião ques os mesmos sejáo archivados pelas « N. 14.—Um officio do governo, cominunicando
razões que passa a expender a respeito do cada em Março de 1849 achar-so creada a villa da
um delles. Capivary, cabeça do districto para as eleições do
« 1841 — N. 1.— Um requerimento do deputado senadores e deputados. Sobre semolhmte materia
Marinho, offerecendo alguns documentos relativos nada ha hoje a providenciar.
á prisão do bacharel Francisco Ignacio de Souza « N. 15.—Uma indicação pelo deputado Pessoa
Gouvêa, e pedindo se recommendasse ao governo de Mello, em 22 de Abril de 1843, pedindo que
fizesse cessar a sua injusta detenção. Está pre a commissão interpuzesse o seu parecer sobre a
judicado. legalidade de se conservarem os presidentes do
« N. 2.— Um officio do governo, acompanhando Para, Pernambuco no exercicio de suas funeções,
a copia do decreto r. 68 de 29 de Março de 1841, durante as sessões da camara dos deputados.
pelo qual forão suspensos por um anno, na pro Procede o mesmo fundamento.
vincia do Rio Grande do Sul, as formalidades « 1844.—Um offlcio do governo de 16 de De
que' garantem a liberdade individual. Procedo a zembro de 1843, cobrindo a informação dada pelo
mesma razão. presidente do Maranhão ácerca da representação,
tomo X n
298 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
que á camara 'dos Srs. deputados dirigirão os tica, corpo de saude, estalo-maior de 1» e 2*
moradores da freguezia da Victbria, capital da classes, engenheiros e estado-maior general,
mesma provincia , contra as eleições a que se « § 2.» De vinte mil praças de pret de linha em
havia procedido em 1842. Existe a mesma razão. circumstancias ordinarias comprehendidos os cor
« 184C—N. 17.— Um officio do governo, cobrindo pos Je guarnição nas provincias, em que fór
a representação, que dirigira an corpo legislativo necessaria esta especie de força, podendo ser
o 2° tenente da armada José Bernardo de San licenciados cinco mil, na conformidade das dis
tarem, queixando-se de haver sido pr«so, quanlo posições do art. 3° do decreto r. 503 de 21 de
a sua posição de membro da assembléa provin Julho de 1850, e vinte e seis mil praças em cir
cial em exercicio, devera de impedir um seme cumstancias extraordinarias.
lhante procedimento da parte do governo. O 2° *i § 3.» De novecentas e sessenta praças de pret
tenente Santarem ó fallecido ha anaus. em companhias de pedestres.
« N. 13.—Uma representação dos habitantes da « Art. 2.» As forças fixadas no artigo prece
freguezia de Paz dos Afogados, provincia de dente completar-se-hão pelo engijamento volun
Pernambuco, queixando-se contra irregularidades tario, e, na insufficiencia deste meio, ptlo recru
commettidas na eleição de eleitores , a que alli tamento, feito em conformidade da carta de lei
se procedera em 30 de Março de 1844. Está pre de 29 de Agosto de 1837, elevada a seiscentos
judicada. mil réis a quantia que exime o recrutado do
« N, 19.—Requerimento de José Joaquim do serviço. Os que. se alistarem voluntariamente
Amarai , subdito partuguez , pedindo em 2 de serviráõ seis annos, e os recrutados nove annos.
Abril de 1845 dispensa da lei para ser nnturali- « Os voluntarios perceberão uma gratificação
sado cidadão brazileiro. E4á prejudicado. que não exceda á quantia do quatrocentos mil
« N. 20.—Um reouerimento do subdito João Téis, e, concluido o tempo de serviço, terão uma
Baptista Matazana, pedindo dispensa da lei para data de terras de vinte e duas mil o quinhen
ser naturalisado ciaadòo brazileiro, sendo este tas braças quadradas. O contingente necessario
para completar as dilas forças será distribuido
requerimento datado em 23 de Abril de 1345. em
Está prejudicado. circumstancias ordinarias pela capital do im
« Paço da camara dos deputados , em 27 de perio e provincias.
Junho de 1853, — J. A. de Miranda. — F. D. « Art. 3.» O governo fica autorisado a desta
Pereira de Vasconcellos. » car até quatro mil praças da guarda nacional,
em circumstancias extraordinarias.
Vão a imprimir os seguintes pareceres :
« A commissão do marinha e guerra, a quem EMENDA
foi presente o projecto do Sr. deputado Gomes
Ribeiro pelo qual é creado o lugar de substi « Artigo. Fica creado um commando de armas
tuto do secretario da capitania do porto desta na provincia do Amazonas.
córte e provincia do Rio de Janeiro, tendo em « Paço da camara dos deputados, em 27 de Junho
vista as informações a semelhante respeito dadas
pefò governo em o relatorio da repartição di de 1853.—A. C. Sedra.—J. A. de Miranda. »
marinha, julga o mencionado projecto digno da O Sr. Wlikens de Mattos : — Sr. presi
approvação desta augusta camara, e é por Uso dente, pedi a palavra para fazer um pedido a
do parecer que o mesmo entre na ordem dos V. Ex. Ha poucos dias foi distribuido na casa
trabalhos afim de ser discutido. um projecto, creio que r. 32 deste anno, apre
« A assembléa geral legislativa resolve : sentado pela nobre commissão de pensões e or
denados , approvando a pensão concedida por
« Art. l.» Fica creado o lugar do substituto decreto de 28 de Maio ultimo a frei José dos
do secretario da capitania do porto e provincia Santos Innocentes , residente na provincia do
do Rio de Janeiro, que perceberá o ordenado Amazonas, onde, o na do Pará, tem prestado
annual de 800$. mui valiosos serviços no longo espaço de 28
« Art. 2.» O governo marcará em regula annos, e no desempenho dos quaes adquirio mo
mento o modo por que devem funecionar estes lestias graves e incuraveis. Rogo pois a V. Ex. ,
empregados o suas respectivas attribuições. Sr. presidente, que se digne de admittir este
« Paço da camara dos deputados, em 27 de vel, projecto na ordem dos trabalhos que fór possi
Junho de 1853. — J. A. de Miranda. — A. C. favorvisto que o agraciado não tem aqui em seu
senão a minha fraca e mui fraca voz.
Sedra. » Aproveitarei a palavra para pedir ainda a
« A commissão de marinha e guerra, a quem V. Ex. um pequeno esclarecimento. O meu hon
foi presente a proposta do governo sobre fixa rado collega deputado pelo Pará (Pimenta Ma
ção das forças de terra para o anno financeiro galhães) pedio em uma das sessões passadas que
do 1855. ó de parecer que a mesma entro em fosse dado para ordem do dia o projecto r. 100
discussão. do anno passado, que vers i sobre a reforma dos
« Entende, porém, a commissão ser conve nfiiciaes da guarda policial do Pará e Amazonas.
niente adoptar uma idéa que vui indicada na Não sei se já foi dado para ordem do dia esse
projecto : recorrendo ao Jornal e ás actas não
respectiva emenda. E' a creação de um com
inando de armas na provincia do Amazonas, me tem sido possivel deparar com elle ; por
tanto, so ainda não foi dado para ordem do
no que está de accordo com o respectivo mi
nistro. dia. ...
« Reservando-so para em occasião competente O Sr. Pimenta Maoalhães: — Já o foi a meu
expender os fundamentos que justificão 'a men pedido.
cionada emenda, tom a honra de offerecer a O Sr. Wileens de Mattos : — uno minha
proposta do governo, convertida no seguinte pro fraca rogativa á do meu honrado collega, para
jecto de lei: que seja tambem dado quanto antes, visto versar
« A assembléa geral legislativa decreta : esse projecto sobre direitos adquiridos por muitos
cidadãos que valiosos serviços prestárão durante
« Art. l.» As forças de terra para o anno longos annos a favor da integridade do imperio
financeiro de 1854 a 1855 constarão : o do restabelecimento do Pará, os quaes hoje se
« § l.» Dos officiaes dos corpos moveis e de vêm obrigados, por não terem tido a felicidade
guarnição, dos quadros da repartição «eclesias de serem aproveitados na organisação da guarda
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 299
nacional, a servir debaixo das ordens daquelles O Sr. Livramento : — Sr. presidente, por
que mais afortunados agora forão então seus mais de uma vez a assembléa da minha pro
commandados. Peço pois a V. Ex. que tenha para vincia tem procurado obter do corpo legislativo
commigo a necessaria indulgencia por haver feito a desannexação do termo de Lages, pertencente
estes pedidos. ao bispado de S. Paulo, para transferil-o para
O Sr. Peesidente : — Eu não sei se o projecto o bispado do Rio de Janeiro: esta medida foi
a que se refere o nobre deputado já foi distri julgada de tão urgente necessidade que a assem
buido na casa ; assim como não sei tambem se bléa de minha provincia no anno de 1835, jul-
está incluido em alguma das ordens do dia pre gando-se autorisada a legislar a este respeito,
cedentes o projecto relativo á reforma da guarda determinou que a jurisdicção ecclesiastlca do
pplicial do Pará ; mas o nobre deputado bem vê termo de Lages fosse transferida para o bispado
que a posição em que me acho hoje é um pouco do Rio de Janeiro ; porém a assembléa provin
melindrosa, um pouco delicada, porque, servindo cial de S. Paulo, julgando-se lesada em seus
interinamente este lugar, não me parece muito direitos por essa resolução, representou á assem
attencioso para com o Sr. presidente effectivo da bléa geral contra cila, e pela resolução do 1° de
camara alterar as ordens do dia estabelecidas Maio de 1843 foi revogada a lei provincial pela
por S. Ex.; porém, como S. Ex. attende sempre qual se havia transferido a jurisdicção ecclesias-
as materias mais importantes para essas serem tica do termo de Lages para o bispado do Rio
dadas para ordem do dia, me parece que os pro de Janeiro.
jectos a que o nobro deputado allude serão to Desde então a assembléa da provincia que mo
mados em consideração por S. Ex., dando-lhes elegeu tem sempre reclamado da assembléa ge
a preferencia que merecem. ral legislativa uma medida que tenda a evitar
O Sr. Siqueira Queiroz : — Sr. presi" os inconvenientes que actualmente existem, anne-
dente , representante da provincia de Sergipe xando este termo ao bispado do Rio de Janeiro,
nesta camara, correndo-me por isso a rigorosa pois que os inconvenientes que se dão por elle
obrigação de clamar por seus direitos, de os fazer pertencer ao bispado de S. Paulo são obvios ;
valer na representação nacional, entendi que de e attendendo-se a que o termo de Lages dista
vera encetar esta tarefa pedindo o augmento de ao menos 150 leguas ua capital de S. Paulo ,
sua deputação, em perfeita harmonia e accordo que as communicações para essa provincia são
com o meu illustrc collega o nobre barão de Ma- de difficil e perigoso trajecto ; que aquelle muni
roim, por me parecer que esta é uma de suas cipio se acha soparado da provincia de S. Paulo
Srimeiras necessidades, um de seus direitos, que por immensos sertões, emquanto que dista ape
e ha muito devião ser attendidos. nas 29 a 30 leguas da capital de minha pro
São passados, Sr. presidente, já 20 annos que vincia ; attendendo-se a tudo isto, fica claro
o conselho geral da provincia de Sergipe enviou quaos são os Inconvenientes que ha para aquelles
aos poderes centraes representações, pedindo o povos de irem demandar soccorros espirituaes a
augmento de sua deputação, justificando sua pre- uma distancia tão longa, quando têm um lugar
tenção com irrefragaveis documentos, que em 1835 tão proximo em que poderião procural-os.
foi attendido pelo projecto r. 4ti6, offerecido pela Além disso, Sr. presidente, sempre resultão
commissão de estatistica; mas então desconhe- inconvenientes entre o poder temporal e o poder
ceu-se sua justiça, não obstante vir apadrinhado espiritual : o vigario vendo-so isol ido do dioce
com o augmento da /deputação pela provincia sano por uma tão consideravel distancia, pela
do Rio de Janeiro, que mereceu a approvaçáo, falta mesmo de commuuicações, póde elle prati
e a provincia de Sergipe continueu sem a repre car quantos escandalos bem quizer ; as queixas
sentação nesta casa, a que tem direito. que houverem contra elle chegarão tarde e serão
Ora, Sr. presidente, se ha 20 annos já se reco de difficil averiguação; embora o poder temporal
nhecia que a provincia de Sergipe tinha direito saiba dessas queixas e represente contra ellas,
ao augmento de sua deputação, como hoje mais tem de representar ás autoridades de uma outra
manifesto, e incontestavel não será este seu di provincia para fazêl-as chegir ao diocesano.
reito 1 A provincia de Sergipe, que a olhos vis Vé-se, pois, que graves transtornos podem resul
tos progride no augmento de sua população, de tar por continuar a pertencer aquelle termo á
sua riqueza, de sua illustração, que conta cres jurisdicção ecclesiastica da provincia de S. Paulo.
cido numero de moços esperançosos, será con- Em 1851 eu tive a honra de apresentar um
demnada a não ver nunca augmentada a sua projecto nesta casa pedindo a separação daquello
deputação, como ordenão os principios constitu- termo do bispado de S. Paulo para annexal-o
cionaes ? Por certo que esta camara justiceira, ao bispado do Rio de Janeiro. Este projecto
como é, não deixará de attemler a esta necessi foi remettido á commissão de negocios ecclesias-
dade, do reconhecer este seu direito : portanto ticos, que entendeu não pertencer ã assembléa
julgando occasião azada animo-mo a rogar a V. geral decidir esta materia; este parecer foi com
Ex. que com urgencia' dando para ordem do dia batido por mim e por uma emenda do nobre
sujeito á discussão o projecto r. 16 de 1852 qne deputado por S. Paulo o Sr. Silveira da Motta,
permitte á provincia do Sergipe dar mais tres foi remettido ao governo paro se ouvirem as
deputados, o um senador, embora reconheça que opiniões dos respectivos diocesanos ; até huje
este augmento ainda não se acha em relação á porém semelhantes informações não vierão ain
sua população que todos os annos cresce acom da á casa e eu creio que não conyém que con
panhada de illustração e riqueza. tinue a demorar-so uma medida de tão urgente
O Sr. Presidente:— Faço ao nobre deputado necessidade. Creio por isso conveniente apre
a mesma observação que fiz ao nobre deputado sentar um artigo additivo a este projecto pedin
pelo Pará o Sr. Vfrlkens do Mattos. Incluirei na do que igualmente o governo seja autorisado a
ordem do dia o projecto a que o nobre deputado impetrar da Santa Se a bulia conveniente para
se refere, a o Sr. presidente effectivo da camara que o termo de Lages seja desannexado da ju
lhe dará a preferencia que lhe merecer. risdicção ecclesiastica de S. Paulo, para que
fique como os outros termos de minha provincia
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA pertencendo á jurisdicção do bispado do Rio de
Janeiro.
CREÀÇÃO DE DOUS BISPADOS . Mando á mesa o artigo additivo.
Entra em 3* discussão o projecto r. 13 deste « E' igualmente autorisado o governo a impe
anno creando um bispado na provincia de Minas, trar da Santa Sé a bulia necessaria para desan-
e outro no Ceará. nexar da' jurisdicção episcopal de S. Paulo o
300 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
termo de Lages, que ficará pertencendo a juris bom som que era sua opinião que cada pro
dicção do bispado do Rio de Janeiro. — Livra vincia tivesse um bispado.
mento. » O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado.
O Sr. Wanderley : — Sr. presidente, é O Sr. Ionacio Barbosa:— O nobre deputado
reconhecido como summamente vantajoso que a impugnou o projecto, porque, no seu modo de
circumscripção ecclesiastica vii quanto ser possa entender, elle invadia as prerogativas da Santa
de accordo com a circumsci ipçáo civil, e nesse Sé, porque creava um bispado sem que o poder
sentido acaba de fallar o honrado deputado re temporal tivesse para isso o mais leve titulo
presentante pela provincia de Santa Cathatina. de competencia ; mas o nobre deput ido encarre-
Eu dou o meu completo assenso ás razões um gou-se de responder a si mesmo, declarando
que o .nobro deputado se fundou para propòr a que desistia dos seus escrupulos, porque estava
desmembração de uma freguezia pertencente ao convencido que sua santidalu, pela sua bondade o
bispado de S. Paulo, e unil-a aquello de que pelo bem que queria ao seu rebanho, reconhecendo
faz parte a provincia de Santa Cithmna. a necessidade e utilidade desse bispado, acolhe
Por essas mesmas razões tenciono mandar á ria o pedido sem que por isso julgasse preju
mesa uma emenda destacando dos bispados de dicado o seu direito de exclusiva competencia
Pernambuco e do Rio de Janeiro algumas fre- para a creação de bispados.
guezias que estão encravadas no territorio da Além destes dous nobres deputados nenhum
provincia da Bahia, reunindo-as ao arcebispado outro mais impugnou o projecto ; e nestas cir-
desta provincia, para se seguir assim aquelle cumstancias bem vê a camara que eu devera
principio de utilidade publica que enunciei de que limitar-me a dar o meu voto symbolico de
a circumspecção civil deve, quanto ser possa, ir adhesão ao projecto. Mas o nobre deputado pela
ue accordo com a circumspecção ecclesiastica e Parahyba do Norte collncou-me na necessidade
vice-versa. de entrar nesta discussão, porque tendo eu dito
Para que a camara reconheça a conveniencia em um aparte ao nobre deputado que a creação
e necessidade da emenda que pretendo mandar do bispados não era materia que d-pendia es
á mesa, basta dizer que na provincia da Bahia sencialmente da jurisdicção papal...
existem sete freguezias pertencentes ao bispado
de Pernambuco, freguezias que distão da séde nãoO ouvimos.
Sr. Corrêa das Neves dá um aparte que
deste bispado mais de 300 leguas, e que nen
huma communicação directa têm com a provincia O Sr. Ionacio Barbosa: — ... quando se pro
de Pernambuco.. . punha o nobre . deputado a mostrar que a
O Sr. Aprioio : — Apoiado. creação de bispados era da competencia unica,
exclusiva da Santa Sé, que o poder temporal
O Sr. Wanderlev : — Toda a communicação não tinha para isso jurisdicção alguma, que
das autoridades ecclesiasticas dessas freguezias essa creação não era do jurisdicção mixta, que
com o bispado de Pernambuco faz se pelo inter o poder temporal devia limitar-se a pedir ,
medio da capital da projincia da Bahia, pois assim como fazião os antigos reis de Portugal,
me parece incontestavel a conveniencia de re- essa creação, o nobre deputado não duvidou
unir-se ao arcebispado da Bahia essas freguezias clizer-me que não respondia ao meu apirte para
em numero de 7, que ora pertencem ao bispado não dar lugar a que fosse elle consignado no
de Pernambuco. seu discurso.
Igualmente existem pertencentes a provincia Sr. presidente, o governo ecclesiastico tem,
do Rio de Janeiro 10 freguezias que compre- intimasnem póde deixar de ter, as relações as mais
hendem duas comarcas da provincia da Bania ; com a ordem e a felicidade do paiz.
são as comarcas de Porto Seguro e Caravellas. Dahi resulta necessariamente que o poder tem
Toda a camara sabe que pouca ou nenhuma poral não póde nem deve ser estranho á. orga-
communicação existe entre estas duas comarcas nisação ecclesiastica. Ora, a creação dos bispados
e a provincia do Rio de Janeiro senão por inter e divisão das dioceses iaz parte implicita da
medio da provincia da Bahia. organisação ecclesiastica ; portanto parece-me que
O que disse o Sr. arcebispo da Bahia a res não emitti nenhuma proposição absurda, dizendo
que o poder temporal tem jurisdicção e motivo
peito das freguezias daquelle arcebispado, que muito
estão na provincia de Minas, eu applico as valioso para a creação dos bispados.
comarcas de Porto Seguro e Caravellas, em re Em conformidade com este principio de di
lação ao bispado do Rio de Janeiro; e portanto reito publico, principio que não póde razoavel
mandarei uma emenda para que tambem se mente ser contestado, a igreja por dilatados
possa impetrar da Santa Sé a sua acquiescien- seculos, até o seculo XVI, na maior parte dos
cia para essa desannexação de que acabo de paizes vio n mear os seus bispos por eleição,
fallar. (Apoiados.) e eleição popular; os papas não tinhão inter
ferencia, não tinhão intervenção alguma na no
O Sr. Ignacio Barbosa: — Sr. presi meação dos bispos.
dente, era meu proposito não tomar parte na dis Ora, se isto se deu por dilatados seculos, em
cussão, não só porque não tenho habilitações época em que o poder papal tinha invadido até
para entrar em questões desta ordem, como as attribuições do poder temporal, como na
porque ainda não vi contestada por ninguem a média idade, devo. crer que a creação dos bis
utilidade da creação dos dous bispados a (que se pados não depende essencialmente di jurisdicção
refere o projecto de que tratamos. papal. Foi depois da concordata de 1516, con
O nobre deputado pela provincia da Bahia cordata feita para prevenir um schisma, que os
ue impugnou o projecto fel-o com fundamento papas passáráo a ter o direito de intervir na
e que não havião informações dos diocesanos ; nomeação dos bispos.
mas o nobre deputado deve estar satisfeito com O nobre deputado pela Parahyba do Norte
as explicações que se lhe deu, e com a exhibi- nos trouxe o exemplo dos antigos reis de Por
ção de cartas do nosso metropolitano, donde se tugal, que constantemente pedirão & Santa Sé
colhe que elle é de opinião que se creem esses as bulias da creação de bispados ; e o nobre
bispados. deputado, dizendo que os antigos reis de Por
O nobre deputado pela provincia da Parahyba tugal havião pedido, insistio na palavra — pedir
do Norte, que tambem impugnou o projeoto — para mostrar que os reis de Portugal, quando
não desconheceu a utilidade da creação desse, pedião, reconhecião a exclusiva competencia da
dous bispados, pelo contrario declarou alto e Santa Sé para a creação dos bispados...
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 301
O Sr. Corrêa das Neves : — Apoiado. | dos Srs. deputados que fica creado um bispado,
O Sr. Ionacio Barbosa : — Mas o nobre depu tem o direito de fazêl-o, declara-o muito bem,
tado esqueceu-se que nessa época os reis de 1 porque crea-o emquanto pódo crear nos limites
Portugal rcpresentavão a soberania da nação, e da sua competencia ; á Santa Sé fica o direito
que portanto o pedido desses reis significava a livre de não acquiescer a essa creação. Se o
expressão da vontade do poder temporal de nobre deputado, autor do projecto, teve a deli -
uma maneira urbana, attenciosa paru com o cadeza de declarar por uma emenda que ficava
chefe da igreja. Dalii, pois, não se póde dedu o governo autorisado para impetrar da Santa
zir que esse pedido fosse uma concessão ao .Sé essa creação de bispidos, fêl-o porque quiz ;
principio emittido pelo nobre deputado, isto é, da mesma maneira os reis do Portugal quando
a exctusiva competência da Santa Sé para a podião, não renunciarão a esse direito, fazião o
creação dos bispados. que nós hoje fazemos, isto é, os reis de Portugal
O n ibre deputado nos trouxe ainda disposi pelo poder absoluto que Unhão declaravão á Santa
ções do concilio de Trento. Sr. presidente, o Sé que o poder temporal por seu orgão queria
concilio de Trento no que diz respeito ao a creação de um bispado, mas declaravão-o de
dogma, á fé, foi aceito, é geralmente recebido uma maneira attenciosa, urbana, como quer
por todas as nações catholicas ; mas no que fazer a camara.
respeita á policia da igreja, no governo eccle Sr. presidente, eu ainda acho no discurso do
siastico, no que respeita a attribuições ecclo- nobre deputado um argumento para sustentar
siasticas nunca foi recebido indistinctamente. qne o poder temporal não póde ser estranho á
Diz o Sr. Borges Carneiro a respeito desse creação dos bispados, e mais ainda que ao poder
concilio o seguinte : « Posto que o alvará de temporal pertence e deve pertencer a iniciativa
12 de Setembro de 1561 mandasse a todas as desta cieação. O nobre deputado disse que,
autoridades do reino e dominios que dessem quando os reis de Portugal pedião a creação
toda a ojuda e favor que pel-is prelados lhes dos bispados, partindo delks e não dos papas
fossem requeridos para execução dos decretos a idéa da creação, era isto devido á circum-
do concilio tridentino, mandados guardar pela stancia de serem elles os mais habilitados para
buliu de 25 de Janeiro do dito nono, a qual se conhecer da necessidade dessas creações....
havia com elles publicado na Só de Lisboa ; e O Sr. Courèa das Neves : — E isto é argu
posto que o decreto de 8 de Abril de 1569 mento que prove contra o direito do Papa ?
acoitisse nova e indistinctamente o dito conci
lio e o mandasse inteiramente praticar neste O Sr- I inacio Barbosa : — Servo para provar
reino e conquistas ; comtudo e*tas leis, devidas que a iniciativa da creação dos bispados deve
li educação do Sr. rei D. Sebastião, que contava pertencer ao soberano, á autoridade temporal.
então 10 annus de idade, e á nociva influencia Portanto, Sr. presidente, ou creio que náo disse
dos jesuitas, nunca se puzerão em observancia, nenhuma heresia, nem mesmo podia ser taxado
bem como nem o mesmo concilio assim indis de scismatico quando oinitti a proposição de que
tinctamente. Pois nas materias temporaes não a Santa Sé não tinha a competencia exclusiva
podião ser valiosas tantas novidades contrarias para a creação dos bispados, que esta creação é
as leis, costumes, concordatas e regalias de de jurisdicção mixta.
Portugal, dependentes da soberania o não do Pesumindo-me, Sr. presidente, direi que a crea
poder espiritual e esta mesma sorte teve o ção dos bispados não é por sua natereza essen
concilio em Veneza, Napoles, Flandres, etc. » cialmente pertencente á jurisdicção papal, e creio
Em verdade, Sr. presidente, como se poderia têl-o demonstrado, não só pelas necessidades a
admittir o concilio de Trento no que respeita que cumpre prover de remedio o poder tempo
ao governo ecclesiastico, á policia da igr. ja e ral, senão tambem polo facto observado em uma
nos privilegios dos ecclesiasticos, se esse con longa serie de seculos, qual a dos bispos eleitos
cilio determina que os ecclesiasticos tenho attri pelo povo ; 2", que polo nosso direito actual e
buições e privilegios em materias puramente nela relação em que está o estado com a igreja,
temporaes, para que não possão ser punidos a creação dos bispos é hoje de jurisdicção mix
pelas autoridades temporaes, e nem devão a ta ; 3°, finalmente, que a opinião por mim pro
ellas obedecer ? fessada, por muito pouca orthodoxa que seja não
(Ha um aparte) póde ser qualificada de heretica (e nisso tenho
muito empenho como catholico.)
Diz -o nobre deputado que ha leis nossas a
esse respeito ; ha com effeito os alvarás de 3 O Sr. Corrêa dás Neves : — Não tenha receio
e 17 de Março de 1770, que declarão, e declarão disso.
muito terminantemente, que para a erecção e O Sr. Ionacio Barbosa : — . . . porque o governo
divisão dos bispados tem perfeita jurisdicção o ecclesiastico, que é o objecto que nos oceupa, não
soberano, isto e, a erecção ou divisão dos bis tem nem nunca teve cousa alguma de dogma
pados pertence á jurisdicção mixta, é da auto tico ou de fé, nada implica com o dogma oucom
ridade do papa e da autoridade do poder a fé.
temporal. Logo, quando a camara dos Srs. de O Sr. Corrêa das Neves : — Peço a pilavra.
putados dá autorisação ao governo para impe
trar da Santa Sé na bulias da creação de um O Sr- Ionacio Barbosa : — Concluindo direi que
bispado, a camara exerce um direito, porque espero bem que o nobre deputado pela Parahyba
tem competencia paru a creação dos bispados do Norte, quando tiver de responder-me, não me
fulmine, excommunhão, não me considere heretico,
O Sr. CouhÈA das Neves : — Quem lh'a deu ? porque posso apadrinhar-me com S. Luiz, rei da
O Sr. Ionacio Barbosa : — Derão-lhe os dous França...
alvarás que acabei de citar, e que ainda não
forãc revogados; derão-lhe os principios da tãoO longe. 8r. Corrêa das Neves : — Não é preciso ir
,
organisação politica que temos admittido, por
que não posso comprehender que sub-ista um O Sr. Ionacio Barbosa : — . . . que pela sua
governo ecclesiastiçq, entre nós sem que seja pragmatica de 1268 declarou que os papas não
superintendido pelo governo do estado, sem tinhuo competencia para creaçao dos bispados,
que o poder temporal tenha i. torvenção, e in sustentando o direito da eieição dos bispos na
tervenção muito legitima, nessa organisação. sua nação sem interferencia da Santa Sá.
(Apoiados.) O Sr. P. de Campos : —Creio que disse o con
Assim, Sr. presidente, declarando a camara trario : recorra ao direito ecclesiastico da França
302 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
S. Luiz não podia consagrar semelhante dou se devião pagar o tributo a Cesar, Jesus-Christo
trina. lhes respondeu fazendo-lhes antes uma pergunta :
O Sr. Corrêa das Neves : — Talvez fosse erro « De quem é a imagem que se acha impressa
de typographia ; devia recorrer a errata. no vosso dinheiro?—E' do Cesar, lhe responde
rão.—Pois bom, tornou-lhes elle, dai a Deos o
O Sr. Ionacio Barbosa : — Eu me comprometto que é do Deos, e a Cesar o que é de Cesar. »
a apresentar ao nobre deputado o Sr. Laferriére, fazendo assim sentir a distincção palpavel que
onde o nubre deputado encontrará essa disposi ha emre o poder temporal e espiritual, a inde
ção da pragmatica de 068. Tenho concluido. pendencia clara dos dous poderes.
O Sr. Corrêa das Novos i — Aindfl de Quando Jcsus-Christo reunio seu apostolado,
baixo das influencias dos principios enunciados deu a um dos apostolos a supremacia sobre os
pelo nobre deputado pelo Ceará, que acaba de outros, o nem Cesar, nem os governadores da
sentu-se, tomo a palavra tremulo e vacillante... Galiléa e nem o povo forão consultados, o nem lhes
forão pedidos os nomes dos individnes que havião
Um Sr. Deputado :—Isso é que máo. de compor aquelle apostolado.
O Sr. Araujo Lima : — Não ha motivo para Quando Judas trahio sem Divino Mestre e
tanto. aguillioado pela consciencia se enforcou, deixando
O Sr. Correa vas Neves :— . . . porque não soi vago um dos doze lugares, os apóstolos se
se o mesmo nobre deputado consente que eu reunirão e elles mesmos elegerão d'entre os
sustente os meus principios sem pedir licença discipulos quem devia devia succeder ao trahidor :
ao governo temporal. num Herodes, nem Pilatos, nem qualquer outro in
dividue que exercesse poder temporal ou religioso
O Sa. Araujo Lima :—Isso é exageração. entre òs judeos, foi chamado a esse concilio para
O Sr. Corrêa das Neves:—O nobre deputado dizer quem devia oceupar o lugar vago por morto
disse que hoje estavamos em um tempo em que de Judas.
o governo temporal deve te* uma suprema in Pois o nobre deputado, que ó tão entendido
specção, deve ter o direito de intervir em todos na materia, que foi revolver as primeiras paginas
os negocios ecclesiasticos, em todos os seus prin do christianismo para nos apresentar a eleição
cipios e disciplina... dos bispos feita pelos fieis no estado excepcio
nal em que se achava a primitiva igreja, por-
O Sr. Araujo Lima : —Não disse isso. ?(ue não voltou algumas folhas mais, e não
O Sr. Corrêa das Neves :— ... do sorte que oi ver a eleição de Mathias feita pelos apos
o poder ecclesiastico, e não só elle como suas tolos ?
doutrinas, está actualmente entre nós, em tudo O Sr. Siqueira Queinoz : —Nesse tempo não
ou quasi em tudo sob a dependencia do governo havia constituição.
civil.
O Sr. Wanderlev :—N$o foi tão lato. O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, ó ver
dade que nos primeiros tempos da igreja os
O Sr. Corrêa das Neves:—O nobre deputado fieis se reunião para indicar o individne de
apresentou os principios que me parecem muito seu gremio que tinha mais virtudes, que tinha
semelhantes aos apregoados pelos maiores ini soffrido mais por amor do christianismo, e que
migos dà igreja... devia ser elevado ao episcopado ; mas devemos
O Sr. Ionacio Barbosa :—Está enganado. attender a que a igreja em seu começo era
perseguida ; que os fieis se reunião nas catacum
O Sr. Correa das Neves : — . . . o vendo cu bas, fugindo do poder civil, e não tinháo ainda
que esses principios, bem longo de serem re regularisado esse nexo essa ordem harmoniosa que
provados unanimemente, acharão assentimento em hoje se observa nas differentes jerarchias ecclesias-
alguns de meus illustres collegas, realmente re ticas, que existindo de diroito ainda não func-
ceio que se me não queira privar do direito cionavão. Como pois argumentar o nobre depu
que, não como sacerdote, mas como cidadão, tado com o tempo primitivo, em que a igreja
como representante do povo, devo ter de sus era perseguida, em que essas nomeações tinháo
tentar intactos e puros os direitos da igreja. de ser feitas fóra das regras geraes, para o
O Sr. Góes Siqueira: — Faz muito bem, é uma tempo presente?
cousa nobre. , O Sr. Ionacio Barnoza: — Isso aconteceu até o
O Sr. Corrêa das Neves : — O nobre depu seculo XVI, época em que a igreja mais pre
tado pelo Ceará fulminou o direito que o papa dominou.
tem de fazer unica e exclusivamente a divisão O Sr. Corrêa das Neves : — Póde ser que
dos bispados ; o nobre deputado fulminou até o ainda sobre isso haja algum erro typographico
concilio de Trento ; o nobre deputado, ao que no expositor do nobre deputado ; mas damos
parece, ainda foi mais adiante, mostrou querer que esse costume alcançasse a esse seculo, e
que a nomeação dos bispos seja eleição po neste caso direi que essa maneira de eleger
pular. continuava porque delia ainda não tinhão resul
O Sr. Araujo Lima :' — Não quer isso ; apenas tado abusos; mas desde o momento em que o
fez o historico dos tempos passados. chefe da igreja reconheceu os abusos qne pro-
vinhão dessa eleição popular, dessa eleição demo
O Sr. Corrêa das Neves -• — Senhores, sou muito cratica, elle chamou a si um direito, só por
amigo da democracia, mas não quero a democra delegação tacita parava na mão dos fieis. Pois
cia na religião. Nós temos na igreja differentes não ó cousa tão comesinha, tão usual entre nós,
gráos de jurisdicção e poder gráos de jurisdicção e mesmo conforme o direito, que quem tem
e poder dimanados directamente de Deus sem um poder o possa delegar? Como admirar que
o concurso do poder civil ou do povo. Jesus- o summo pontifice delegasse por mais de uma
Christo, quando se apresentou prgeando a sua vez o direito que tinha e tem de nomear os
doutrina, quando tratou de instiuir a igreja, não bispos ?
foi pedir licença a Cesar, não foi rogar-lhe que Um Sr. Deputado : — Foi delegação tacita ou
lhe desse autorisação para prégal-a, para crear expressa ?
a sua, e nem foi pedir aos judeos ou pagãos de
legação para isso. O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, as diffe
Quando os Scribas, e doutores da lei, que rentes nações catholicas têm alcançado de alguns
rendo tental-o, maliciosamente lhe perguntarão , summos pontifices certas prerogativas em com
SESSÁO EM 27 DE JUNHO DE 1853 303
pensação do zelo com que seus imperantes ani- é a terceira vez que a peço, e não cedo mais
mayão a religião. Em Portugal, por exemplo, os delia.
firincipes ftur direito de padroado, pelo qual O Sr. Presidente^ (dirigindo-se ao Sr. Corrêa
lies pertence apresentar os padres que devem das Neces): —Eu nao quero impedir e nem de
ser nomeados bispos á approvação do papa. Esse maneira alguma obstar ao Sr. deputado a apre
direito passou para o Brazil por uma especie sentação de suas idéas sobre o projecto, sómente
de jus hereditario, que tem sido confirmado pelos lhe qulz lembrar que estamos para entrar na
mesmos pontifices tacitamente. 2* parte da ordem do dia.
Na França, porém, a maneira de escolher os bis-
posjá é lifferente. O nobre deputado citou o exem O Sr. Corp'\v das Neves :—Pois bem, vou f izer
plo daquelle paiz, mas se esqueceu de que ali pjr concluir o meu discurso.
ha pouco tempo, creio que no reinado de Luiz O nobre deputado que me combateu, o que
Philippe, houve se de tratar da creação de varios tem estudado as materias theologicas, que está
bispados, e o summo pontifice, por certas cir- sufficientemente instruido do direito canonico, por
cumstancias, por váfias conveniencias entendeu que felizmente o direito cononico ó de facil accesso
que devia annuir sem audiencia dos bispos, mas a tod i e qualquer pessoa, e qualquer homem
estes so oppuzerão, e grandes embaraços appa- póde ser casuista theologo, póde tratar e tratar
recerão, pelo que forão enviados varios legados ex processo do direito ecclesiastic> ; o nobre depu
perante a curia romana, e só então foi que se tado, digo, apresentou-se combatendo o concilio
decidio esse negocio de uma maneira conveniente de Trento, e disso : « Senhores, esse concilio
a ambos os poderes, então foi que ficárão crea- nunca foi recebido em todos os paizes, e só o
dos esses bispados. foi em Portugal, porque nesse toixipo reinava
Se o poder civil é que tem direito de nomear um principe menor que tinha sido educado pelos
os bispos (coifio quer o nobre deputado), se não jesuitas (homens cujos nomes ainda hoje são tidos
pertence ao poder espiritual senão o direito de por horrorosos,) e por isso não deve e nem póde
intervir cummulativamente nessa nomeação, como vigorar hoje entro nos a disposição desse concilio. »
tambem quer o nobre depuUdo, direi que os Senhores, creio que o nobre deputado sómente
bispos eleitos na Inglaterra pelos papas não são attendeu a que nas disposições do concilio de
bispos legitimos, porque na nomeação delles não Trento ha principios dogmaticos e principios de
ha o concurso do poder temporal. E se taes bispos disciplina, mas deve tambem attender que nessas
o erão legitimamente, como o não serião, se para disposições ha prneipios disciplinares que versão
a sua nomeação fosse mister o concurso do poder sobre as relações intimas da igreja e poder
temporal? Se n doutrina do nobre deputado é temporal, que essas só poderião ter vigor na
verdadeira, não vê que ella deve ir suscitar duvi sociedade se o governo lhes prestasse o seu assen
das na consciencia dos fieis catholicos romanos timento, porque dizião respeito aos fieis como taes
que pertencem á nação ingleza. e como cidadãos. O nobre deputado certamente não
O papa nunca entendeu, e nem com a ello igreja, fez essa reflexão.
que fosso indispensavel que o poder temporal E' certo que algumas dessas disposições do
tivesse parte simultanea na creação dos bispados, concilio de Trento não forão aceitas pela nossa
e nós vemos como disse na Inglaterra, nos lugares constituição, como não forão as que o nobre
aonde é reconhecido o poder do papa, que este deputado apresentou, as de privilegio de fóro,
faz a divisão dos bispados, e ellas são legitimas ; que nos quiz atirar em rosto, como se nós quizes
e sendo pois esse facto verdadeiro, como argu se mos constituir uma classe privilegiada, que não
mentar com a tolerancia dos papas? Ao esbulho pudesse ser julgada senão no fóro privativo,, fóro
que se lhe tem feito? que, direi, de direito nos pertence, e que em-
Eis a razão porque a primeirai vez que se quanto não fór restabelecido, a igreja não póde
apresentou esse projecto em discussão eu pedi a ter a importancia oyie deve ter. Sr. presidente,
palavra para advogar o direito da igreja, visto com esses privilegios nós tinhamos penas mais
que o poder temporal, pollegada a pollegada, rigorosas, e não estavamos fóra da alçada de
palmo á palmo, vai invadindo o terreno do po uma justiça; e o que vemos nós hoje depois que o
der espiritual, e logo que não encontre opjjfcsi- nosso fóro foi supprimido?. . .
ção, irá passando avante e argumentando com Senhores, cu não quero entrar em questões
as conquistas que fór conseguindo, como se ellas odiosas, não quero mesmo offender a uma parte
dessem direito. Só logo que o governo temporal co do poder judiciaria do meu paiz, mas direi que
meçou suas invasões a igreja sustentasse seus talvez fosse mais conveniente á moral publica
direitos, certamente que nós hoje não estariamos e á sociedade que ainda hoje o fòro do clero
argumentando contra factos, e contra aquelles que subsistisse. Infelizmente, Sr. presidente, ao passo
com elles querem provar que o papa não é o que se nos atira á face com uma aceusação
unico e legitimo para a creação dos bispados. odiosa de privilegios, talvez com a insinuação
Tal foi a razão por que me oppuz em termos de querermos ser irresponsaveis, quando se nos
a esse projecto sómente, e não porque quizesse diz: k vós já constituistes uma classe privile
que a minha doutrina, qne é o meu pensa giada, » nós vemos que a classe dos Srs. juizes
de direito querem privilegios de fóro pira si...
mento prevalecesse, porque me reconheço fraco, Vós, juizes de direito, que não quereis privi
e qne minha debil voz nada mais conseguiria do legios de fóro para a classe dos sacerdotes, qual ,
que fazer apparecer no seio da represpntação a razão porque quereis privilegio de fóro para
nacional (foi isso o que eu tive em vista) uma a vossa?...
voz, um protesto para que se reconhecesse que
não passava desapercebida uma usurpação aos Uma Voz : — Nessa parte teta razão.
direitos da igreja sem a maior impugnação, como O Sr. Corrêa das Neves : — Senhores, nem eu
direito reconhecido... nem os meus collegas queremos restabelecer esse
O 6r. Presidente : — Perdòe-me o nobre dopu- fóro ; assús de dores temos soffrido, assás de
pulado a observação que lhe vou fazer. Notarei satyras nos têm pungido, porque infelizmente o
ao nobre deputado que está dada a hora de en homem que pertence á classe sacerdotal, hoje
trarmos na 2'parte da ordem do dia, o por isso é olhado com indffferença (não apoiados), não
desejo saber se ainda terá muito a dizer ? direi com desprezo, mas digo com indifferença,
O Sr. Corrêa das Neves:— Eu muito tinha porque em sua vida tudo é reprehensivel, poia
a dizer; porém... se se apresenta com certa seriedade é increpado
de hypocrita e impostor (não apoiados) ; é im-
O Sa. Pinto de Campos:—Eu pedi a palavr.i, moral, de costumes pouco severos se so porta
304 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
com fraqueza, para desejarmos qualquer um elo poder civil, como dizer-se que elle deve ter uma
gio, que nos desafiem odiosidades. .. (Não apoia inspecção sobre a igreja no sentido em que
dos.) fallou o nobre deputado ? Eu quero que o poder
Um Sr. Deputado: — E não ha um meio termo? civil tenha uma tal ou qual inspecção ou inge
rencia na igreja ; mas quero uma iuspecção ou
O Sr. Corrêa das Neves: — Senhores, o calor gerencia servatis servandis, que seja uma ge
du discussão me levou fóra da materia, mas eu rencia ou protecção, mas não do usurpação, não
tornarei a elli. de perturbação, não de dominio.
O nobre deputado que me combateu, senho Creio que tenho respondido ao nobro doputado.
res, não comprehendeu os meus principios, talvez Esta discussão fica adiada pela hora.
porque não me expressa bem em ordem a ser
por elle comprehendido ; mas eu disse que votava SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA
pelo projecto, porque não queria suscitar rivali
dades ; disse que votava pelo projecto porque reco FIXAÇÃO DAS FORÇAS DE MAR
nhecia a necessidade da creação dos dous bispados
de que ello falia, assim como a necessidade da Entra om 2* discussão o projecto fixando a
creação de um bispado em cada provincia ; sem força naval do imperio para o anno financeiro
comtudo cahir em contradicção com o meu pens ir, ' de 1854 a 18."».
quando sustentei que não podiamos decretar taes
creações srm o concurso do curia romana ; e tendo O Sr. Presidente (depois de alguma pausa) :
expendido esta doutrina, me corria o dever de sus- — Não havendo quem peça a palavra, vou pór
tent il-a ; o por isso apresentei disposições clo um a votos.
concilio, disposições que não podião estar revoga Alouns Srs. Deputados : Votos, votos.
das pela constituição ; apresentei mais a disponição
do concilio de Florença, que decidio que o papa era O Sr. Presidente : — Os senhores que d3o a
o unico e exclusivo para dirigir o seu rebanho materia por discutida....
da maneira mais conveniente, e se não apre Os Srs. Paula Baptista e Fioueira de Mello
sentei outras disposições como unicas, foi por pedcui a palavra.
que um nobro deputado, a quem presto toda a
consideração, me pe.lio que não fosse mais ex O Sr. Presidente : — Tem a palavra o Sr.
tenso, para que se pudesse encerrar a discussão Paula Baptista.
e votar-se nesse dia, porque a não querer acceder O Sr. P.iuia Baptista : — Sr. presi
a resposta do concilio geral do Calcedonia—Xon dente, visto ser congruente com os estylos par
licet, hoc est preeter regulas—a pergunti—se era lamentares, e. segundo penso, de conveniencia
permittido com rescripto do principe aliena jura publica o fallar-se da politica geral nas dis
ab aliis episcopis ar>erti, apresentaria a este pe cussões das leis de fixação de forças e nos
dido, uma carta de Inuocencio 1, escripta a orçamentos, quero aproveitar-me destes estylos
Alexandre, bispo de Antiocliia, na qual- elle de para responder ao discurso do Sr. ministro da
clarou não querer que se mudassem as dioceses marinha proferido na discussão sobro a resposta
«eclesiasticas á imitação das dioceses civis, con á falia do throno, o que ino não foi possivel
forme as divisões imperiaes. O nobre deputado fazer naquella occasião por se haver encerrado
destruio algum dos meus argumentos com outros a discussão.
de maior ponderação? Creio que não. E' corto que dous forão os senhores minis
Eu mostrei tambem como se podia conciliar o tros qne so dignárão responder-me na discussão
poder temporal com o poder espiritual na cre ição sobie a resposta á falia do throno, a saber, o
dos bispados, porque nessa creação, disse ou, ha honrado presidente do conselho de ministros, o
duts cousas a attender: territorio, o jnrisdicção ; o Sr. ministro da marinha. Mas deixarei, de res
o territorio deve sor dividido pelo poder tem ponder agora ao primeiro, porque além de
poral, e a jurisdicção pelo espiritual. nchar-se ausente, elle orou com tanta conve
Mostrei tambem que, existindo as mencionadas niencia de palavras, com tanta gravidade de
disposições de concilios, e sendo as determina post£, que até certo ponto augmentárão os res
ções de um concilio leis ecclesiasticas, o a reli peitos que já lho tributo, o do minha parte de
gião do estado a catholica apostolica romana, sejo, apezar do opposicionista, fazer justas dis-
não podia a constituição que a adoptou deixar tineções dos ministros, que sabem componetrar-se
do respeitar as disposições dos concilios. da gravidado do seu caracter o do lugar que
Supponhamos por um pouco que a igreja que oceupão. (Apoiados.)
rendo fazer respeitar seus direitos, diz ao poder
temporal,: « Visto que mio quereis marchar coin- O Sp.' Aprioio- : — Todos elles o sabem igual
migo de h irmonia, que querois esbullnr-mo de mente.
direitos de qne não posso prescindir, dirigi os O Sr. A. de Oliveira : — O senhor é que é o
cidadã s como melhor ent mderdes a bem da so- juiz?
ciedado civil, que eu dirigirei as consciencias O Sr. Aprioio : — Como o senhor. Quem lhe
como julgar conveniente a bem da salvação das deu a primazia ?
almas.» E quem lhe poderá obstar a esta reso
lução ? Que embaraços, regularmente failanlo, O Sr. A. de Oliveira : — O senhor é suspeito.
lho poderá oppòr a sociedade ? So Nero, Caligula . O Sr. Aprioio : — O senhor ainda o é mais.
o todos esses tyiannos que martyrisárão os apos (Apoiado.)
tolos não puderão conseguir qne não se pre
gasse a religião de Christo, que cila não cres O Sr. Paula Bapusta • — Portanto, limitar-me-
cesse e prosperasso apezar das violencias, como hei a responder ao Sr. ministro da marinha.
o poderá fazer hoje o poder civil que ó todo Eu, senhores, não pretendia hoje fallar , pois
beneficio ? todos me vêin doente ,- quando não, teria trazido
O Sr. Siqdeira Queinoz: — A camara não quer o discurso d u Sr. ministro da marinhi, para sub-
isto. metter todos os seus trechos á analyse, e não
ser forçado a recorrer á minha memoria, que,
O Sr. Corrêa das Neves: — Estou muito certo, não é das mais felizes. Mas, emfim farei
persuadido de que não quer, é apenas um ar grande esforço para apresentar a minha resposta,
gumento do supposição. Se, pois, a igreja póde que já antevejo que não será aquella que pre
marchar desassombradamente, e sem algum tendia dar.
emb?raço, independente, e a despeito mesmo do O Sr. ministro da marinha, respondendo a al
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 305
umas accusações feitas ao governo pelo nobre Tenho respondido precisamente a esta parte
eputado por S. Paulo concernentes ao desem do discurso do nobre ministro da marinha ;
barque de africanos em Bracuhy, para defender-se passarei agora a outra,, que ó ainda uma conti
desenrolou todo ó catalogo ias providencias (e to nuação da primeira.
das estereis) do governo para evitar aquelle des Disse ainda o nobre ministro da marinha que.
embarque, entretanto que de suas proprias palavras mesmo quando o governo tivesse no lugar da
se conclue evidentemente que houve imprevidencia denuncia muitos vapores a cruzar, foi tal a cer
da parte do governo, e que pelo seu desacerto ração do tempo no dia do desembarque, e é tal
foi que ellas se mallogárão. a perspicacia e tino dos negreiros, que npezar
Assim, por exemplo, disse o Sr. ministro da de tudo o dosembarque sempre se havia de effe-
marinha que o governo, tendo denuncia de que etaar sem perigo para os negreiros.
em "Bracuhy se tentava um desembarque) de afri Senhores, isso não ó razão nem argumento,
canos, depois Je haver o patacho Theresa cru mas desculpa, que sempre vem nos ultimos
zando, mandou depois o vapor Thetis, que daqui apertos. Quando o corpo legislativo consigna,
sahio, se bem me lembro, no dia 1°, e o va como consignou o anno passado, 80O:000$ para
por Golphinho, que diqui sahio no dia 5. Não construcção de novos vapores que sirvão de
me lembro bem dis datas ; mas o certo é, cruzar as nossas costas para a effectiva repressão
que um sahio depois de outro com differença de do trafico ; quando tantos sacrificios temos feito,
4 dias. e não hesitaremos fazer para tão gravide fim ;
Ora, não devia S. Ex. antever que este sys- quando neste ponto a honra do Brazii está em
tema de mandar muitos vapores ao mesmo tempo penhada em solemnes contractos com a Ingla
cruzar um lugar havia trazer o resultado delles terra, tudo isso é apreciado pelo Sr. ministro
voltarem um após outros por falta de combusti da marinha em tão pouco, que a simples cer
vel, e ficar assun o lugar da denuncia desampa ração do tempo é bastante não só para inuti-
rado ? E voltando o Thetis, como afflrmou S. Ex., lisar todos esses sacrifícios, e mallograr todas
no dia 25 de Novembro, por falta de combusti as medidas de prevenção o repressão contra o
vel, não devia logo S. Ex. prever que o Golphinho, trafico, como para justificar o governo que, sa
que sahira quatro dias depois, deveria estar na bendo com antecedenci i da tentativa de um des
mesma falta de combustivel, para immediata- embarque de africanos, deixou o porto indicado
mente fazer partir para o lugar outro cruzeiro, livie aos negreiros ; pois que, no firme conceito
e desta sorte não so preencher a falta do The de S. Ex., ainda que o governo lá tivesse va
tis como a do Golphinho, que doveria estar pres pores, o crime se havia sempre consummar a
tes a realisar-se ? salvo.
Tudo isso que facilmente se comprehende, e E emfim, póde o Sr. ministro da marinha en
deve ser coniprehendido com viva penetração tender muito e muito de cerração do tempo,
por um governo destro, activo e zeloso do ser póde estar muito ' certo da sagacidade, tino e
viço, não foi comprehendido pelo Sr. ministro astucia dos negreiros, póde comprehender tudo
da marinha ; e tanto assim, que, como elle o isso melhor do que eu ; porém jámais me po
confessa, voltou a esta cidade o vapor Thetis derá convencer, e nem convencer algum homem
no dia 25 de Novembro, e logo voltou depois o de criterio, de que ainda quando os cruzeiros
Golphinho no dia 28, ficando o lugar livro e estivessem no Bracuhy, o dosembarque que de
franco para o desembarque do africanos, des africanos sempre se havia de effectuar ; por
embarque que sem risco e perigo para os cri quanto, para plena prova disso, fóra preciso
minosos podia tf.r tido lugar naquella época. que lá estivessem os vapores, e apezar disso o
Entende, porém, S. Ex. que o governo está crime se perpetrasse; mas como não estava, e
innocente de tudo; que são injustas todas as o bom senso confia tanto da efficacia das me
censuras ; porque , como S. Ex. afinal decla didas que todos os poderes do estado as têm
rou, o governo não teve má fé. ' exigido e continuão a empregal-as, a presumpção
Senhores, admira-me este modo de defesa. O de verdade é que se lá estivessem os vapores,
nobre ministro da marinha devéras sabe por o desembarque não se realisaria pelo modo im
ventura o que é, em negocios desta natureza, pune porque se realisou. (Apoiados.)
um ministro obrar de ma fé, para, connivente Continuando o nobre ministro a justificar-se da
com o crime, comprometter tão altos interesses falta de não haver mandado immediatamente
da nação ? Ah 1 eu creio firmemente que se o para o lugar um outro vapor, depois que che-
nobre ministro da marinha houvesse pesado de gárão o Thetis e Golphinho, disse que o vapor,
vidamente essa allusão que elle proprio, e não supponho que o Golphinho, chegára todo arrui
a opposição, fez a si mesmo, e se se arripiasse nado, pelo que foi preciso entrar em grandes
com a hediondez de um tal procedimento, não concertos : e que se por ventura antes de con
teria tido o pessimo gosto de atirar-se ao pó cluidos os concertos o mandára para Sahy, foi
para erguer-se depois lisongeiro. porque o respectivo commandante sabendo que
Parece, senhores, que neste celebre meio de em Sahy se tentava um outro desembarque de
defesa ha um erro occulto, e é pensar o Sr. mi africanos não o communicára a elle ministro ;
nistro da marinha que um ministro e um go pelo que S. Ex. não só reprehendeu este com
verno só se torna merecedor de censuras e res mandante, como em castigo de sua falta o obrigou
ponsabilidade quindo, surdo a tudo e até es- a sahir assim mesmo com o vapor em máo es
?|uecido da dignidade de homem, obra de má tado, e obrigou a afrontar todo o perigo (são as
é, Mas, não ; S. Ex. deve saber que um go mesmas expressões de S. Ex.) para ir cruzar em
verno que toma sobre si a direcção e governo Sahy.
dos interesses de uma nação é responsavel tam Poucas palavras, Sr. presidente, direi sobre
bem, e muito responsavel, pelas suas imprevi- esta. parte do discurso do nobre ministro. Pri
dencias e pelo desacerto de suas medidas (mui meiro que tudo vê-se claramente que quando
tos apoiados), e pela falta de zelo e actividade S. Ex. quer laz sahir um vapor mesmo arrui
no desempenho dos seus grandes deveres. E a nado e em máo estado do perigo para cruzar.
este respeito repito que sinto compaixão quando Depois disto aconselharei a S. Ex., que não se
vejo que a opposição, cheia de nobresa e do costume a punir faltas do commandante com o
minada pela justiça, não querendo levar as suas obrigal-o a navegar em vapores que çstão em
censuras e accusações para o terreno da má fé, estado do innavegabilidade, pois que o resultado
é um ministro de estado, que se diz habil e póde ser funesto ; tanto mais quando estou bem
ornado de grande talento, quem para ahi se di- convencido de que, se por effeito de taes ordens
jrige desaffogadamente. se der alguma desgraça lamentavel que sensibi-
tomo 2. 39
300 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
lise o publico, S. Ex. ha de contiríuar a ser mi O Sr. Ministno da Justiça :— O nobre depu
nistro, porque não obra de má fé. tado ó quem está compromettendo este official
Um Sr. Deputado : — Então o 6r. ministro fez com a infidelidade da historia.
bem em não mandar vapores arruinados. O Sr. Fioueira de Mello : — Coitado do offi
O Sa. Paul* Baptista : — Mas é que, para cial se souber.
castigo do commandante do Golphinho, mandou O Sr. Paula Baptista : — Me parece, repito,
esto para Sahy. E a este respeito estou dominado que o facto acontecido está de accordo com o
por uma verdade que ha de achar acolhimento que narrei : e, senhores, muita gente aqui na
no espirito de todos, sem excepção de ninguem ; córte sabia que apezar de todos os exames o
e é que, se por ventura, na execução desta or vapor Paraense estava fazendo agua quando foi
dem ao Sr. ministro da marinha, o Golphinho mandado para Montevidéo, e que voltou ou
sossobrass°, e algum desastre Acontecesse em arribou com grande risco.
Íiresença da responsabilidade, S. Ex. não vos viria O Sr. P. de Campos : — Até um frade francis
aliar em ordens para aflrontar perigos, pelo con cano contou-me essa historia.
trario, diria : « O vapor estava bom e perfeito ; O Sr. Paula Baptista ( depois de alguma
foi um sinistro que se não pòde precaver.» Pelo -pausa ) : — Ouço algumas vozes que confirmão o
menos é esta a escola em que eu tenho apren que digo. Tudo isso parece bagatella, e como
dido com alguns dos nossos homens de estado : que perde a sua importancia no juizo de uma
animosos em fazerem tudo que querem, e co maioria compacta....
bardes em aceitarem a responsabilidade de seus
actos. Cabe nesta occasião contar um facto. O Sr. P. de Campos :—Compacta? Peço vista.
Um Sr. Deputado: — Vamos a isso. O Sr. Paula Baptista : — Como que perde a
O Sr. Paula Baptista : — No anno passado sua importancia, porque uma consciencia viva é
soube eu que o vapor Paraense, que andava capaz de ralar com remorsos os culpados de
Íiara o sul, estava fazendo agua, e no cintanto miseras catastrophes, parece que foge ou dor
oi mandado para Montevidéo , faltei com um mita nestas questões politicas.
dos officiaes desse vapor, e elle confessou que O Sr. Fioueira de Mello : — E' uma ver
realmente o navio estava fazendo agua ; mas dade.
que elle obedecia ás ordens ; sahio o vapor, e O ' Sr. Wanderlev : — Tambem póde ser a
na noite desse mesmo dia disse em presença de consciencia da minoria.
varios amigos : « Deos queira que não tenhamos
amanhã o vapor Paraense por aqui arribado i. ; O Sr. Aprioio : — Aliquando bonus dormitai
e com efleito arribou o vapor na manhã seguinte, Homerus.
e o mesmo official que estivera antes commigo O Sr. Paula Baptista : — Tocarei agora, Sr.
disse-me, para satisfazer a minha curiosidade a presidente, na parte do discurso do nobre mi
respeito daquelle successo, de que já eu estava nistro da marinha, na qual S. Ex. procurou re-
prevenido, que arribárão em razão do vapor fazer futar-me, e principiarei dizendo que S. Ex.
tanta agua que as bombas não podião vencer, e esqueceu-se do ponto essencial, sobre o qual
que toda a felicidade foi terem mar bonançoso, muito desejei, e ainda desejo ouvir o governo.
que a ser mar grosso e encapellado terião sos- Disse que o governo se havia ingerido nas
sobrado. eleições, e que esta intervenção para indicar os
(Ha um aparte.) deputados que devem sahir do mesmo partido
O Sr. Paula Baptista :— Não sei, pois que que apoia o governo, quanto á opposiçáo, conscia
cada um de nós sabe o que ó um official de da inefficacia dos seus meios de acção contra a
marinha em presença de altos superiores. autoridade, e esmorecida, abandonava o campo
eleitoral, esta intervenção dizia eu, em taes cir-
Alouns Senhores : — Conte tudo. cumstancias é o mais alto descredito do regimen
O Sr. Paula Baptista:— O facto se deu; e constitucional : porquanto aqui não lhe serve de
tenho dito o que é bastante acerca delle. pretexto a victoria e o triumpho sobre opiniões
que são adversas" ao governo ; mas uma escolha
O Sr. Ministno da Marinha : — Mas o official que desnatura as istituicões, suffoca o merito, e
lhe havia de dizer que eu mandei examiuar o só faz apparecer as effeições pessoaes do go
vapor por uma commissão. verno e...
O Sr. Paula Baptista : — Não sei disso; e O Sr. Aprioio : — A unica provincia em que a
sei sim que com estes exames, feitos nos vapo opposição se retirou do campo eleitoral foi Per
res, é quo S. Ex. ha de procurar dofender-se : e nambuco.
sei mais que se eu, simples particular e sem O Sr. P. ue Campos : — O nobre deputado está
grandes conhecimentos da córte, tenho conheci fazendo um epigramma ao governo.
mento de todas essas cousas, com muito mais
razão as deve sabor S. Ex., que é o ministro O Sr. Fioueira de Mello : — Lá houve toda a
da marinha. O que me parece é que para um liberdade : violencias houverão na Bahia.
ministro saber precisamente dessas e outras muitas Alouns Srs. Deputados da Bahia:— Está en
cousas precisa que, se por um lado faça sempre ganado.
valer a autoridade e o prestigio do seu poder,
por outro lado tenha docilidade para ouvir a O Sr. Paula Baptista : — Desejava saber se o
todos, -e sincero desejo de saber por si mesmo Soverno conscio de que assim faz a felicidade
ide certos factos. o paiz, aceita neste sentido franca discussão,
O Sr. Ministno da Marinha : — Ou não lhe ou se antes quer desta vez passar por menti
contárão bem a historia, ou a sua memoria roso aos olhos do paiz.
não é feliz. . O Sr. Wanderley : — A expressão é que não
O Sr. Paula Baptista : — Tudo póde ser ; acho boa.
mas é que já estou arrependido do que disse ; O Sr. Aprioio:— Não ó parlamentar.
porque sinto o nobre ministro muito interes O Sr. Paula Baptista: — Não tendo, pois, o
sado em saber quem é esse official, e já se me nobre ministro da marinha tocado nestes factos
figurão penas fulminadas sobre a cabeça da e pontos de doutrina, sou forçado a oceupar-me
innocencia. de outros que merecerão sua especial atteução.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 307
Disse o nobre ministro que eu não tivera razão e não como homem politico. E em verdade é
em interpellar o governo a respeito das injus para sentir e lastimar que em . um paiz novo,
tissimas accu?ações que se nos fazião, de ser uma capacidade tão alta e illustrada, associada
exigentes e querermos a separação do norte. á virtude, não tenha sido aproveitada, e viva
Quanto a primeira, disse que isso era rumor submergida em injustiças e soffrimentos.
sem fundameuto. O Sr. Dutra Rocha: — O Sr. Urbano ó uma
O Sr. Ministno da Marinha - — A este res capacidade.
peito não disse uma palavra. O Sr. Paula Baptista:— Sim, senhor, ó um dos
O Sr. Paola Baptista : — E sobre a separa brilhantes talentos que temos, e sem duvida mui
ção do imperio ? . illustrado ; porém, repito, não é disso que tratei,
O Sr. Ministno da Marinha : — A esse res e nem que agora trato. O nobre deputado não
peito sim. Se colloque na situação de confundir as cousas ;
creio que ha de comprehender perfeitanvnte a
O Sr. Paula Baptista : — S. Ex. disse que o grande distancia de um talento illuminado em
governo nunca seria capaz de nos considerar differentes ramos dos conhecimentos humanos de
culpados em uma accusação tão grave, quão in um outro grande talento, que por sua vida in
justa e immerecida, a qual nao passava de teira devutado aos estudos de uma sciencia com
gazetas, pelas quaes não podia responder um plicadissima, chega a conquistar geralmente a
governo il lustrado. alta reputação de profundo jurisconsulto.
O Sr. Ministno da Marinha: — Não accresoen- O Sr. Dutra Rocha: — Então não se negue a
tei esta ultima parte, porque seria faltar á mo capacidade do Sr. Urbano.
destia. Vozes: — Não, não se nega; ninguem o nega.
O Sr. Paul* Baptista : — Já disse que estou O Sr. Paes Barreto : — Se o Sr. Dr. Urbano
me soccorrendo á memoria, porque não me foi quizer vir para nós, nós o queremos.
possivel trazer o discurso de S. Ex., e por con
seguinte não posso sempre citar suas proprias • O Sr. Paula Baptista : — E, senhores, que sa
palavras. crificios não estou fazendo em aceitar a dis
Em todo o caso essa confissão do nobre mi cussão neste pé em que a collocou o nobre mi
nistro é já um triumpho, e grande tiiumpho, nistro ? O nobre ministro, certo, illudio-se, talvez
que temos alcançado contra injustas vontades de em julgar por si a mim, que faço devoção dos
quem quer que seja. (Apoiados .) principios sem importar-me com o nome das
Disse ainda o nobre ministro que nem o go pessoas. E convença-se S. Ex. de que nós o que
verno podia dar credito a isso ; pois que, além desejamos sobretudo é a segurança e triumpho
de outras razões, Pernambuco não é todo "o nor dos nossos principios e opiniões [muitos apoia
te, e que os interesses de muitas familias não dos) ; quem quizer sinceramente nos ajudar neste
podem alliar-se a semelhante idéa. Quanto á pri empenho muito lhe agradeceremos. (Apoiados.)
meira parte, eu deixo á consciencia, e só á Mas perguntou o Sr. ministro: «Se quereis a
consciencia do nobre ministro a apreciação certa conciliação, como não trouxestes eleito um só
da importancia de Pernambuco. E quanto á se homem da opinião contraria?»
gunda, nada ha a dizer em verdade, senão que Senhores, isso é o que ha de mais celebre e
ninguem deseja mais do que nós a integridade interossanto I Agora tambem quero responder fa
do imperio (apoiados), e que todas as convenien
cias da população è todas as suas convicções zendo uma intorpellação, e convidando o nobre
se prendao a este grande e sagrado pensamento, ministro e a seus parentes e defensores...
qne não só exprime o dever, como os verdadei Uma Voz : — Patrono ? 1 1
ros e unicos interesses de todos os brazileiros. O Sr. Ministro da Marinha : — Eu nunca tive,
(Apoiados ; muito bem.)
Eu disse tambem em meu discurso proferido nem tenho patrono.
sobre a resposta ao discurso da coroa : « Ou a O Sr. Paula Baptista:—... para me respon
politica que o governo entende dever seguir na derem.
provincia de Pernambuco é boa ou má. Se boa, O Sr. Ministno da Marinha: — A expressão—
por exemplo a da conciliação, para que reser patrono—não é parlamentar.
vas ? E se má, fóra um crime imaginal-a. »
Eis-ahi pois um rico assumpto pira largas con O Sr. Dutra Rocha: — Devo retirara expressão.
cepções de um ministro habil e esclarecido ; O Sr. Paula Baptista :— Sim, desejo que me
entretanto S. Ex. desceu ao proposito de res respondão a isso : pois quando de todas as pro
ponder ás minhas perguntas fazendo outras per víncias não veio um só membro do partido li
guntas, e de occupar-se de individualidades ; e beral para esta camara, e quando um único de
assim nos perguntou o nobre ministro : « E vós suas summidades que tinha largas e profundas
quereis realmente a conciliação ? » affeições, o Sr. conselheiro Souza Franco, foi par
Bespondo-lhe agora : não a recusamos sob ticularmente guerreado na eleição pelo Sr. mi
duas condições inviolaveis : o profundo respeito nistro da marinha... (Reclamações. Apoiados e
á paz e segurança publica, e religiosa venera não apoiados.)
ção a toda a constituição, desde o seu primeiro O Sr. Dutra Rocha :— O Sr. deputado devia
até seu ultimo artigo. (Muitos apoiados.) Ga- ter esse procedimento antes das eleições na sua
gantidos estes dous pontos de fé da nossa reli provincia. (Apoiados e reclamações.)
gião politica, o nobre ministro, que em si mes
mo é o exemplo de transições rapidas e sem O Sr. Paula Baptista :— Repito, quando úm
explicações sofemnes, é o mais proprio para distincto membro do partido opposto, que podia
tomar a iniciativa na obra. ter assenti nesta camara, não teve porque foi
Perguntou ainda o nobre ministro > itE porquo guerreado na eleição particularmente pelo Sr. mi
faltastes unicamente no Sr. Dr. Manoel Mendes nistro da marinha. (reclamações), quando final
da Cunha e Azevedo, e não no Sr. Dr. Urbano? ■ mente o governo levou muito a mal e reprovou
Sinto bastante que o nobre ministro me não a conciliação havida no Rio Grande do Sul, é o
tivesse comprehendido, tendo eu sido tão claro. nobre ministro quem tão cordialmente nos inter
Quando eu fallei no distincto jurisconsulto bra- roga, porque nao trouxemos, como eleito por
zileiro, o Sr. Dr. Mendes, foi como uma espe Pernambuco, um membro da politica opposta á
cialidade preciosa em um dos ramos da sciencia, nossa?I1 Negará tambem S. Ex. o ter o go
308 SESSÃO EM Tl DE JUNHO DE 1853
verno reprovado a conciliação feita no Rio Grande do passado? Sustento (e ninguem o contestará)
do Sul? que quando se discutem t io grandes negocios, e
O Sr. Ministno da Marinha : — Apresente os os meios do levar uma grande nação ao comple
factos que justifiquem o que está dizendo. mento de seu valor e prosperidade, recriminações
desta ordem só servem de patentear a ruim marcha
O Sr. Wanderlev : — E a conoiliação para a dos nossos negjcios publicos. (Muito* apoindos.
eleição de partidos politicos oppostos é impossi Cruzão-se varios apartes.) Querem fazor com-
vel no governo constitucional. nosco o que fazião com os membros de outra
O Sr. Paula Baptista : — Não vê V. Ex., Sr. opposição ; isto é, defenderem-se do aceusações
presidente, como estes dous apartes successivos feitas não as destruindo, mas lançando outras
se, destróem reciprocamente. O nobre deputado iguaes ; no emtanto as chagas do corpo politico
pela Bahia, que, segundo creio, é o chefe da e social continuavão e continuão a sangrar. Fe
maioria. . . . lizmente, senhoris, não tendo contra nós a arma
favorita, não nos podeis chamar revolucionarios ;
O Sr. Wanderlev :— OhI dessa sorte me pro- estais neste ponto tolhidos, e isso vos deve mor
hibe que lhe dê mais apartes. tificar muito. (Reclamações.) E porque os males
O Sr. Paula Baptista:—... e cujas palavras, continuão? Porque nunca uma so voz, ao menos,
por conseguinte, são de grande peso, manifes é ouvida quando falia e reclama. (Muitos apoia
tou que a conciliação, como se fizera no Rio dos.) Mas, emfim, como não nos pódo atacar por
Grande do Sul, contraria a marcha e principios este lado, inventão outro; isto é, sois incohe-
do regimen constitucional ; pelo que é claro que rentes; opponde-vos a um governo que tom os
por essa razão foi que o governo a não appro- nossos principios, e outros ditos sem signifi
vou, e nem devia approval-a. Nesta manifestação cação.
ha o merito da franqueza, e eu louvo isto ; entre O Sr. Aprioio : — Têm muita ; seryem para mos
tanto que o Sr. ministro da marinha negou o trar a incoherencia.
facto da reprovação, o já me tinha atirado para
a difficuldaae de exhibir provas. Comtudo, convém O Sr. Paula Baptista (com força):— Está en
que fique bem consignada a substancial diffe- ganado ; não valem nada quando entre legisla
rença entre o aparte do Sr. ministro e do digno dores se discutem os meios de fazer a felicidade,
chefe da maioria. (Apoiados e risadas.) onde não devem apparecer caprichos, nem arre
O nobre deputado peU Bahia perguntou-me pendimentos por se esposar uma causa de con
porque não procedemos assim antes da eleiçlo sciencia, e, quando muito, podem servir para
em Pernambuco. Respondo-lhe brevemente, que estrategias, para convers is particulares, e para
pelo seu aparte o honrado membro mostra que interesse da partidos, porque só a esses se póde
não está certo da marcha dos negocios em Per enganar. (Muitos apoiados. Reclamações.) E isso
nambuco. (Apoiados.) é tanto mais verdade quanto a maioria esta certa
e convencida de que um membro desta camara
Um Sr. Deputado :— Não sabe nada delles. que hoje se colloca na opposição não é o transfuga
O Sr. Paula Baptista : — Persuade-so o nobre reprehensivel, e em cuja fronte se possa ver o
membro que . . . estigma da apostasia. (Muitos apoiados.)
O Sr. Dutra Rocha :— O que disse foi que V. Ex. O Sr. Aprioio:— Não ha injustiça alguma da
devia dizer na eleição, que vinha fazer opposição maioria.
ao governo. Um Sr. Deputado :— Não ha poucas. (Recla
O Sr. Paes Barreto :— Disse-se isso, e ninguem mações. )
O duvidava. (Cruzão-se varios apartes.) O Sr. Paula Baptista:— Pelo contrario, um
O Sr. Dutra Rocha : — Porque V. Ex. não disse membro da opposição hoje é o homem de dispo
isso no anuo pass ido ? sição, que arrisca sua posição, e só ouve os dicta-
mes de sua razão. Senhores, fallemos claro : no
O Sr. Paula Baptista : — Agora já o nobre de Brazil, a popularidade não tem que dar, não
putado so dirigo particularmente a mim : sou eu seduz pelo interesse (apoiados) ; o governo, sim,
agora o unico alvo : isso vai interessante, Sr. pre a autoridade é que é tudo ; não são, portanto,
sidente. (Risada*. ) Eu appello para a leitura dos interesses mesquinhos que podem mover homens
meus discursos na sessao passada, dos quaes so experimentados no serviço, conhecidos por suas
verá que apoiei ao governo, Sempre Ihu adver opiniões e seu proceder, a fazer opposição. (Muitos
tindo a verdade, sempre e com franqueza (apoia apoiados.)
dos) ; porém haverá por acaso ainda algum fiel O Sr. Auousto de Oliveira :— Isso é irrespon-
tão crente que se convença que com tal governo
seja possivel a idéa de conciliação dos partidos? divel.
(Apoiados.) O Sr Paula Baptista:— E quando, senhores
O Sr. Dutra Rocha :— Porque não disse isso o da maioria, nos atirais esses epigrammas, julgais
anuo passado ? que não temos a precisa coragem para'repel-
lil-os com outros, talvez mais bem merecidos ?
O Sr. Paula Baptista:— O nobre deputado Não, não o fazemos, porque queremos acima das
continua a queier ferir-me com suas insinua animosidades respeitar o lugar que aqui oceupa-
ções. mos. (Muitos apoiados.)
O Sr. Dutra Rocha :— Não é insinuação. O Sr. Fioueira de Mello :— Nesta parto a op
O Sr. Paula Baptista:— Eu já disse qual fóra posição fica muito além da maioria : guarda as
o meu proceder durante a legislatura. conveniencias.
O Sr. Auousto de Oliveira : — Tanto assim Um Sr. Deputado :— Dá-lhe uma lição. (Cru-
que algumas vezes desagradou bem ao Sr. zão-se varios apartes. Reclamações.)
Aprigio. O Sr. Paula Baptista E' mesmo para admi
O Sr. Aprioio : — Pelo contrario : ouvi-o sempre rar que, quando a opposição quer ser calma e
com satisfação. moderada, a maioria pareça ás vezes um pouco
frenetica. (Apoiado*. Vivas reclamações.)
O Sr. Paula Baptista :— E, prescindindo de O Sr. Dutra Rocha dá um aparte que não
tudo o mais, o que quer dizer, senhores, quando
se apresenta o exame da verdade, e daquillo que ouvimos.
deve ser, lançar-se mão de recriminações tiraaas O Sr. Aprioio :— Qnal frenetica; isso é que ó
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 309
não saber guardar conveniencias. (Apoiados e não ao nobre deputado... (não apoiados) lhe venha
apoiados.) roubar alguns momentos, expondo ao menos o
O Sr. Wanderlev :— E abusar de nossa pa juizo que fórmo do estado do paiz em relação
ciencia. ás questões que se hão ventilado na casa, o
juizo que tenho ácerca da intervenção do go
O Sr. P. de Campos :— Quando tudo emmudecia verno nas passadas eleições; a apreciação emnm
diante de Holophernes, houve um pronheta que ue faço dos factos que têm sido trazidos á
levantou a voz. (Apoiados. Risadas.) ' iscussão, e cuja responsabilidade tem sido lan
Uma Voz :— Estamos em um dialogo em que çada em grande parte ao governo.
todos querem dar o seu aparte. (Agitação.) Sr. presidente, sinto sobremaneira ter de res
O Sr. Presidente ••— AttençãoI ponder a uma opposição que sahio do seio da
maioria da casa. V. Ex. comprehende bem que
O Sr. Paula Baptista :— Ouvi vivas reclama nos deve ser summamenU doloroso responder
ções, porque disse—parecia ás vezes frenetica. De aos honrados deputados da opposição que ainda
sejo ardentemente retirar essa expressão ; mas se achão ligados a nós da maioria por princi-
quizera antes saber o que significa dizer-se que -pio politicos. (Apoiados.)
somos hoje arrastados por despeitos pessoaes, O Sr. Paula Baptista :— Estamos em opposi
por resentimentos pequenos? ção pela má execução que o governo tem dado
Um Sr. Deputado:— E a maioria já disse a esses principios. (Apoiados da minoria.)
sso ? O Sr. Saraiva :—Entendo que além de nos ser
O Sr. Paula Baptista :— Oh I se disse ; aqui muito sensivel uma discussão com alliados quo
e no senado, e por ministros de estado. (Apoia ainda hontem se achavão comnosco , é summa-
dos.) mento difficil guardar em tal discussão todas as
Não posso mais continuar, para fazer ligeiras conveniencias que nos merece a minoria, pois
observações sobre a materia. que muitas vezes o orador não tem o sangue
O Sr. Aprioio :— Apoiado, está incommodado. deve frio indispensavel para dizer somente aquillo que
(Risadas.) dizer e quer dizer, e por isso muitas vezes
vai além dos seus desejos. Além disso é ainda
O Sr. Paula Baptista : — E não posso princi bem difficil a um deputado da maioria, em se
palmente entrar, como pretendia, nos detalhes dos melhantes questões firilar de maneira tal que a
negocios de Pernambuco, pela mesma razão de discussão produza alguma utilidade, porque V. Ex.
incommodo. reconheco quanto nos custa attender a todas as
reclamações, a todos os apartes, a todas as in
Um Sr. Deputado :— Então ainda não está de sinuações
monstrada a cousa. que a discussão , ou a enunciação de
verdades que nflo agradão, de ordinario acarreta.
O Sr. Paula Baptista :— Daixo estar, que ha Para prevenir, portanto, todo o conceito desfa
vemos de entrar nos detalhes ; agora não me é voravel ao juizo que formo dos motivos pelos
possivel. (Apoiados.) Por agora parece me ter quaes a minoria se acha separada de nós, e dar
respondido cabalmente ao nobre ministro da ma a discussão um lado vantajoso, peço aos nobres
rinha, cujo discurso não me pareceu estar muito deputados da minoria que se convenção de uma
ao par do seu reconhecido talento. verdade , e é que náo serei eu quem formará
Ax0uns Srs. Deputados: — Apoiado, muito bem, delles opinião desvantajosa, que não será a
muito bem. maioria da casa quem formará da minoria opi
O Sr. Aprioio :— Não apoiado. nião alguma desfavoravel. ( Muitos apoiados.)
Não somos nós, de certo, que nos suppomos
O Sr. Saraiva;— Sr. presidente, V. Ex. com direito de dizer aos membros da minoria
aprecia bem a posição em que se acha collocada que elles se apartárão de nós por motivos pe
actualmente a maioria. Desde que se discutio a queninos, por interesses mesquinhos, por consi
resposta á falia do throno, a maioria achou-se derações taes que. não tenhao peso algum em
alguma cousa offendida pelos nobres deputados suas consciencias.
que se achão em opposição. (Cruz&o-se differentes apartes.)
O Sr. Fioueira de Mello :— Sem razão. O Sr. Presidente : —Attenção I
O Sr. Aprioio :— Com toda a razão. O Sr, Saraiva :—Creio que a questão é outra :
O Sr. Saraiva:— Com mais motivos de queixa nós entendemos que os motivos pelos quaes os
ficárno aquelles deputados que têm occupado po illustres membros da minoria se achão separa
sições officiaes, que têm sido delegados do governo dos de nós, ainda quando producentes, não são
nas diffiTontes provincias do imperio, porque a bastantes para essa separação. (Apoiados e não
casa ainda se ha de lembrar de que o governo apoiados.) Os illustres membros da minoria dão
actual foi nccusado fortemente, primeiramente a esses motivos um peso maior do que aquelle
pelo nobre deputado p ir Pernambuco, que neste que nós damos, e ó nessa divergencia, na di
momento está mo olhando com a sua luníta..- versa apreciação de taes motivos, que se deve
O Sr. Aprioio :— Elie sente falta de vista. achar a razão ou a sem-razão da situação em
que se collocárão os honrados membros que fazem
O Sr. Saraiva :— ... de uma intervenção fu parte da minoria.
nesta e illegitima nas eleições para esta cimara, Peço, portanto, aos honrados membros a quem
e ultimamente nas eleicões para senadores, a respondo que aceitem sem prevenção as ligeiras
respeito das quaes o nobro deputado muito fal- observações que vou fazer e que tem por fim
lou, attribuin'lo aos presidentes das provincias a mostrar que apoio o govern.0, que lhe tenho
responsabilidade, pois que estes são os delegados dado o meu voto, convencido de que a politica
do governo, os executores de seu pensamento ; quê ha elle desenvolvido tem sido hoa, tem sido
desta intervenção funesta e anti-contitucional, de muito proveitosa e tem sido respeitadora dos
que ainda agora se oceupou o nobre deputado direitos politicos e individuaes de nossos conci
que acabou de foliar, os presidentes têm sido, dadãos. (Muitos apoiados.)
na opinião dos honrados membros, instrumentos Sr. presidente, eu deixo ao nobre ministro da
cégos do governoI (Vivas reclamações. Diffjrcntes marinha, que necessariamente tem de fallar nesta
Srs. deputados pedem a palavra.) Suestão, as respostas ás observações que o nobre
Portanto, Sr. presidente, a camara não estra eputado por Pernambuco acaba de fazer sobre
nhará que eu, sem habilitaçõos para responder alguns dos factos relativos á repartição" a seu
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
310
cargo. Occupar-me-hci somente da parte politica de uma provincia pequena, se nelle eu posso lêr
do seu discurso, porque, como "disse, acho-me eoutras, estudar a marcha dos negocios publicos nas
até de alguma sorte na obrigação de responder a affirmar estou de alguma sorte habilitado para
que não é uma verdade que o governo
todas as accusações feitas ao governo por" inter seja tudo no paiz, que o governo possa impór
venção illegitima nas eleições , principalmente sua vontade, fazer aceitar os seus caprichos, sem
da provincia que tive a honra de administrar,
porque tenho convicção do que se vicios, se irre que o paiz deixe de sentir essa quietação de que
gularidades houverão no ultimo processo eleito goza actualmente.
ral, devem ser antes attribuidos aos defeitos e aceusar Sr. presidente, nós estamos acostumados a
vicios de nossas instituições , do que a desejo servamoso os governo por todas as cousas. Não ob
factos que se passão no paiz, obser
que tivesse o governo de substituir pela sua vamos unicamente a conducta do governo, e se
vontade a opinião do paiz. estamos em opposição, somos sempre inclinados
E' falso que o governo, Sr. presidente, tenha a a suppêl-a ma. E' preciso proceder de outra
influencia tão grande, tão perniciosa que lhe é fórma; é preciso examinar todos os factos, e
nttribuida pelo nobre deputado por Pernambuco, ligar esses factos a suas causas naturaes, por
e que dessa influencia usasse nas eleições a que que é preciso que a opposição se faça acreditar
se procedeu ultimamente. (Muitos apoiados, e não em suas censuras, afim de que o paiz creia nella
apoiados.) quando na realidade o governo houver procodido
O Sr A. de Oliveira:— Em Pernambuco usou mal. E' necessario que estudem o paiz por uma
de sua influencia. maneira mais proveitosa, examinando o que se
O Sr. Paula Baptista:— O nobre deputado falia passa om todas as provincias, examinando como
os negocios publicos correm nellas. E se assim
a respeito de todas as provincias, ou somente da- procederem, hão de reconhecer que, se o governo
quella que governou como presidente? tem sido algumas vezes no paiz alguma cousa
O Sr. Saraiva :— Estive na administração da mais do que deve ser, tem sido arrastado a isso
provincia do Piauhy, e sei o que houve alli por pela opinião que o cerca, que o constrange muitas
occasião das eléições ; sei tambem alguma cousa vozes a ir além do que eleve ir...
da provincia da Bahia, porque sou um dos seus O Sr. Fioueira de Mello :— Oh I pois não I
representantes; o sei igualmente de outras pro
vincias porque procuro informar-me do que se deputados O Sr. Saraiva:—... é, sim, porque os nobres
passa nellas. E' pois com a consciencia dos factos e todos nós temos concorrido, e muito,
que se derao no paiz que dou a minha opinião. para quu assim aconteça. (Apoiados.)
O Sr. Paula Baptista: — Pois eu sej da pro O Sr. Fioueira de Mello: — Logo, o governo
vincia de Pernambuco, e de outras mais onde o oé um santinho, não quer attribuiçoes, nao quer
poder, está contra a sua vontade adminis
governo exerceu indebita influencia nas elei
ções. (Apoiados r hão apoiados.) trando o paizI
O Sr. Saraiva: — Eu entendo, Sr. presidente, disseremO Sr. Saraiva :— Quando os nobres deputados
que as observações politicas que fora i apresen que o governo ó tudo no paiz, nós de
vemos
tadas pelo nobre deputado são as mesmas que inicião nesta perguntar-lhes porque é que elles não
até ngora tém sido feitas nesta tribuna quando não seja tudo camara medidas para que o governo
no paiz? (Apoiados.)
se quer aceusar o governo do paiz. Os nobres de Porque é que, quando amigos do governo, se
putados, quando formavão a maioria desta casa, queixão muitas vezes de não prestar o governo
não achavao certamente razão nos membros da a seus amigjs o apoio que um partido politico
opposição de então que nesse tempo fazião igunes tem direito de exigir?
accusações ao governo. Os nobres deputados por Só quando se está na opposição é que se vê
certo não entendião que o governo é tudo e faz o poder do governo, a sua omnipotencia, e a
tudo no paiz, e sem duvida disserão, ou pelo necessidade de considerar
menos deverião dizer, que o governo não era santo, porém um malvado a o quem governo não um
se deve tirar
tudo no paiz como a opposição apregoava. (Apoia
dos.) Digo que na legislatura passada os nobres todo o poder para fazer mal.
Os extremos, Sr. presidente, não são quasi
deputados combatêrão essa aceusação, e foi nos sempre a expressão da verdade. O governo pro
seus discursos que eu aprendi. cede muitas vezes mal ; porém V. Ex. note que
O Sr Fioueira de Mello :— Entre na questão, em nosso paiz os nossos nulos tém vindo mais do
deixe-se desses argumentos ad hominem. governo como expressão de um partido, do que
O Sr. APRtoio :— Prosiga, que elles estão-se e o vivendo
governo como um ente separado dos partidos,
sõmente de suas aspirações como go
fricommodando. verno. (Muitos apoiados e não apoiados.)
O Sr. Sarai v i : — Perdòe-me, não são argumen Sr. presidente, não sei onde chegarei, porque
tos ad hominem ; invocai principios aceitos pelos os nobres deputados mo tém collocado na neces
nobres deputados, trazer a sua autoridade e o sidade de os acompanhar em seus apartes, e
seu nome para mostrar que o governo não ê tudo me têm desviado do fio que queria seguir.
no paiz, e não é certamente um argumento ad Digo que os nobres deputados receião hoje
hominem, estou dizendo; o que os nobres depu tanto do principio de autoridade, do poder illi-
tados deverião ter dito á opposição de outr'ora mitado do executivo, devem iniciar medidas que
em resposta ás suas constantes accusações ao tendão a restringir esse poder. E se o poder
governo do paiz ; estou me servindo dos mesmos ministerial amplia-se por causa de nossos habitos,
principios emittidos pelos nobres deputados, e do nossos defeitos, os nobres deputados compro .
sffirmando que não estamos em um paiz onde o henderão bem que a reforma de nosso clero, de
governo pode tirdo, faz tudo, porque estamos nossos juizes, da instrucção publica, e outras,
aqui para protestar contra semelhante doutrina. são indispensaveis para collocar o paiz em uma
Digo isto, Sr. presidente, porque estou conven situação regular, em tal posição que o governo seja
cido de que é isto uma falsidade e porque me contido em seus justos limites pela força de uma
pcirsuado de que eSsa convicção de fazer o go opinião publica illustrada e severa.
verno i tudo recebida no paiz póde trazer-nos O Sr. Fioueira de Mello:— Não temos obri
males. Não tenho tido a honra de governar uma gação disso. . .
parte muito importante do paiz, nem me pre
sumo com conhecimento perfeito de nossas cou O Sr. Aprioio e outnos Srs. Deputados : —
sas : se me serve porém o tirocinio do governo Têm, têm.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 311
O Sr. Fioueira de Mello : — Não temos ini O Sr. Presidente : — Attenção I Os nobres
ciado medidas tendentes a esse fim, para não deputados podem fallar sobre tudo...
sermos escarnecidos pela maioria, que não as Uma Voz : — Sobre tudo ?
quer.
O Sr. Aprioio : — E' boa I O Sr. Presidente : — ... sobre tudo que está
em discussão ; por consequencia peção a pala
O Sr. Fioueira de Mello : — Quando for vra, não interroinpão o orador.
mos governo havemos de inicial-as. O Sr. Saraiva : — Não sei como possa ligar
O Sr. Aprioio : — Os senhores não sabem o minhas idéas com tantas interrupções. Vou to
que querem. davia responder aos apartes a que puder, e
O Sr. Fioueira de Mello : — Nós lhe res áquelles que me censurão porque digo que por
ponderemos. causa das instituições do paiz e não por má
O Sr. Saraiva : — V. Ex. , Sr. presidente , vontade do governo, se tem em grande numero
'terá notado que accusações e muito graves, se de casos dado os factos de que se queixão os
têm feito e se farão ao governo a proposito honrados membros.
Senhores , não nos illudamos : os principios
de violencias, de omnipotencia, etc. Essa ac- politicos
cusação se repete porque, como já observei, interessesformão os partidos. Esses partidos têm
, esses interesses se complicão com
todo o mundo está disposto a ver somente no todas as queixas, com todos os despeitos, e
governo a origem de todos os males. Não digo
que o governo seja sempre bom, quero só- querem ser satisfeitos ; satisfeitos completamente,
mento que o governo não seja responsavel pelos sua vontade ; d'alu governo
elles applaudem o e se submettem á
a omnipotencia do poder.
defeitos de nossa legislação , e porque ainda Não satisfeitos, elles se agitão contra o governo,
não podemos ter um poder judiciario tão bem e d'ahi todas as nossas complicações, todos os
organisado e tão perfeito que possa oppõr-se nossos males. (Apoiados e não apoiados.)
nas eleições tanto aos abusos do poder como E' por isso que eu digo, Sr. presidente, que
aos desvarios da opposição.
E', Sr. presidente, na defeitnesa organisação em veza de accusações ao governo procurem in
do poder judiciario, na organisação actual de dagar causa de nossos males, examinar as
nossos partidos, em nossos habitos, na circum- em projectos de lei. necessidades
nossas verdadeiras , e attendel-as
Façamos ao governo uma
slancia tão gravo de sermos uma nação nova, opposiçao diversa. Acabemos com essa omnipo
que devemos achar a causa dessa facilidade
com que ás vezes damos tudo ao governo e tencia, tornando o paiz mais illustrado, mais...
(Apoiados). E' para ahi que se deverião dirigjr
não achamos que seja elle omnipotente, e ás as vistas dos nobres deputados que se a;hao
vezes lhe queremos tirar até os meios indispen
saveis para governar e para poder carregar em opposição, porque se reconhecem que o go
verno, pelas leis ou por geito, se tem tornado
com a responsabilidade do bem ou mal que fizer omnipotente
ao paiz. Senhores, é preciso confessar que em representativo,e falseado os elementos do systema
evitem o transtorno deste mesmo
um paiz novo o governo quando é intelligente systema por meio
e zeloso do bem publico pede o deve ter muito. suras que deixão asde cousas reformas, e não de cen
o o poder nas mes
Quando elle não se acha em taes condições mas condições em que se achão.
elle nada é. Se o governo actual tem feito
muito, tem feito tudo, e se o paiz o soffre, é Uma Voz : — A nós na minoria ? Não isto de
porque certamente elle tem usado bem dessa ver da opposição.
omnipotencia que lhe ó attribuida. ( Apoiados O Sr. Saraiva : — Deverião pelo menos dis
e não apoiados. ) Cada um dos poderes deve cutir aqui as suas idéas, e mostrar ao paiz
ter sua esphera legal, porém não são repetidas ?[ue, se não foráo aceitas, culpa tambem não
accusações, porém reformas muito pensadas e oi dos nobres deputados.
meditadas que hão de trazer-nos essa situação, O Sr. Auoosto de Oliveira : — A maioria
hão de fazer com que o governo deixe do ser não aceita estas doutrinas.
accus&do, de ser tudo... pois que eu quero
conceder que elle, quando dominado por boas O Sr. Aprioio : — Quem lhe disse isio ?
intenções, póde muito no paiz, e quando apoiado Alouns Srs. Deputados s — Deixem o orador
Í)or um grande partido, e quizer fazer mal, póde fallar.
azer muito mal.
O Sr. Saraiva:— Eu não estou aceusando só
Uma Voz : — Logo, confessa o facto ? aos nobres deputados, estou aceusando a todos,
O Sr. Saraiva : — O que importa dizer isso estou mostrando que não devemos aceusar ao
se posso dizer e provar que o governo , que governo quando nós todos somos culpados, por
podia fazer esse mal, tem até para fazer o bem que, até hoje, em vez de cuidarmos de melhorar
desaproveitado a sua grande força e enthuslas- as nossas instituições, temos gastado o tempo
mo do seu partido ? Porque não lhe tem satis em aceusar o governo por tudo quante elle faz
feito todos os seus desejos, todas as suas as de bom e de mão.
pirações. Digo pois que o governo póde muito (Diversos apartes se dirigem ao orador.)
no paiz ; observo, porém, que o poder do go
verno, quando fatal, t m vido sempre, e ha de O Sr. Fiusa : — Vá por diante ; não responda
vir sempre do excesso das opiniões politicas que a apartes.
elle representa, da maneira porque as cousas O Sr. Presidente:— Attenção 1 A discussão
se achao organisadas. Ora, os nobres deputados não póde continuar em fórnia de 'palestra. (Ri
em lugar de censurarem o governo , que é le sadas.)
vado pela força das circumstancias, devem antes
apresentar nesta casa medidas indispensaveis ciario O Sr. Saraiva : — Quando houver poder judi
para que as cousas seião collocadas nos seus tido que bem organisado e collocado entre o par
devidos eixos. Os nobres deputados deverião opposição• apoia o governo e o partido que faz
principiar por censurar a nós todos antes de acha em uma ao governo, eu direi que o paiz se
censurar o governo, por iniciarem medidas que dade do voto ; situação muito favoravel a liber
tendessem a purificar os elementos em que está verdadeira pois que essa é que será a nossa
assentada a sociedade brazileira. reforma eloitoral, porque sem isso
nunca se executará perfeitamente qualquer lei
(Diversos apartes se cruzão; ha algnm rumor de eleições. Só então, só quando os grandes cir
na sala.) culos oleitoraes não nullificarem as forças da
312 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
òpposição deveremos desconfiar do facto de uma S. Paulo podia sor aceusado por elles, pois que
unanimidade do parlamento- Ness) caso mesmo era incapaz de autorisal-os. ..
cumpre, como agora apontar os abusos que appa- O Sr. Nbbias dá um aparte que não ouvimos,
recêrão, dar ao governo a parte que nelles teve.
Sr. presidente, sem que o paiz esteja nas con O Sr. Saraiva:— O nobre deputado sabe que
dições que lembro, não se deve pirtir de facto muitas vezes uma demissão é dada por motivos
de uma maioria quasi unanima no parlamento, que não offendem de modo nenhum ao demit-
o par:i asseverar que, se ella existe, é porque tido ; o nobro presidente do conselho já explicou
foi obtida por grandes abusos do govorno. Quando a razão porque demittio-so ao nobre ex-presi
vejo o poder organisado pela fórma porque está, dente de S. Paulo.
quando examino que o governo não póde muitas Mas o que queria dizer era que as accusações
vezes conter os excessos dos dous partidos que feitas por quem parecia ter direito de fazêl-as
se disputão o triumpho eleitoral; quando, como já forão destruidas nesta casa por aquelles mes
disse, observo esses grandes circulos eleitoraes, mos que se achão em opposição e que hoje re
que dão em resultado o triumpho ou a perda petem as mesmas accusações feitas contra o'
total de uma lista de nomes ; quando recordo- governo o contra elles. Os nobres deputados
me de que o Brazil é um p iiz novo, o que em um têm direito para censurar ao governo , nunca
piiz novo a força governativa ha do ser sempre por causa de eleições passadas, porque censu
muito grande, muito forte, porque o governo é rando o governo censurão a si proprios, porque
quem servo mais o paiz, visto como os partidos apoiárão o governo moralmente, e por conse
se estragão em accusações, em excessos, em uma quencia são responsaveis tanto como o governo
vida muitas vezes esteril para o paiz -e para si, por todos os factos relativos ás eleições pas
não posso ver accusar o governo sómente pelo sadas. Não entendo nem sei que os homens
- facto de uma maioria quasi unanime no parla de partido devão 'ser tão exagerados que pres
mento. Não posso ver que por esse unico facto, tem ao govorno um apoio tão valioso, como lhe
e sem achar-se a explicação delle, se faça uma foi dado poios honrados membros, quando se
accusação formal ao governo, e se diga, como se acharem convencidos do que o governo quer ser
houvesso necessidade de salvar a patria por um tudo para substituir pelo seu o interesse do paiz;
grande discurso, que elle tem invadido as attri- digo que apoiamos moralmente o.governo, quando,
buições de outros poderes. Queremos provas, não nos dsclarando contra elle em tempo oppor-
factos positivos que mostrem que o governo abu tuno, temos deixado do concorrer para que elle
sou do seu poder para violentar a liberdade do não pratique violencias, não escarneça da liber
voto. Mas é isto o que nós temos visto ser feito dade do voto ; no momento em que um indi
poios nobres deputados qne pertencem á maio vidue vir o governo praticando violencias, vio
ria? Quaes são os factos que os nobres deputa lentando a liberdade do voto, dove-so declarar
dos apresentárão para dizer que as eleições não em 0pposição mesmo na vespera, no dia da
forão regulares ? eleição ; mas não consta que em provincia al
E aqui cabe notar a contradioção que existe en guma os nobres membros da minoria se decla
tre a opposição liberal, aquella que pleiteou a rassem em opposição ao governo, deixassem de
eleição com o governo, e a opposição que se apoiar o governo com a força moral que lhes
acha representada nesta camara. V. Ex., Sr. pre dá o seu prestigio, a sua autoridade, e as dis-
sidente, havia do ter lido nos jornaes da época tinctas qualidades que os caracterisão. Portanto,
que a opposição liberal nccusou o governo de são os nobres deputados da minoria que me dão
factos acontecidos na comarca da Coritiba ; a argumento paru dizer que as eleições do imperio
0pposição, partindo de taes excessos, disse que correrão muito livre, muito regularmente, por
nao tinha havido liberdade na eleição, que ti- quanto erão os nobres deputados, por seu pa
nhão havido assassinatos, que tinha sido coa triotismo, incapazes de nutorisar com o seu
gido o voto em toda a parte, que as eleições nome uma farça eleitoral. (Diversos apartes.)
finhão sido feitas a custo de sangue brasileiro ; O Sr. Presidente:—Attenção I
entretanto erão alguns dos nobres deputados da O Sr. Saraiva: —Já que o nobro deputado pelo
minoria os mais aceusados por causa desses
factos pela 0pposição, e são hoje os que se Ceará se interessa tanto em pugnar as humil
apresentão aqui para fallar contra as eleições, des observações que tenho feito, devo dizer ao
para censurar um grande acto politico, para o nobre deputado que ainda o espero ver, assim
qual concorrêrão apoiando o governo a quem como a seus collegas, darem nesta casa apoio
hoje fazem opposição I Digo mais que a oppo ao governo, porque se o seu ponto de divergencia
sição, unica que podia fazer censuras ao go provém da maneira porque ha o governo proce
verno a este respeito, era aquella, o não as dido nas provincias em relação a liberdade do
s pessoas que se achão hoje na opposição ou na voto, devo crer que os nobres deputados e seus
minoria desta camara. Portanto os honrados illustres collegas, pelo que diz respeito á sua
membros, ou se háo de reconhecer culpados com provincia, não podem de modo algum aceusar o go
o governo, ou^hão do reconhecer que as suas verno por causa de eleições, porquanto são os nobres
razões não servem para o fim que têm em deputados pelo Ceará os primeiros que dizem, e eu
vista. creio piamente, que o Sr. Almeida Rego foi um
E se a 0pposição não tem razão, Sr. presi optimo presidente, e não seria optimo presidente
so não tivesse defendido a liberdade do voto. Os
dente-, nisto, na acre censura que faz ao governo nobres deputados por Pernambuco poderáõ al
por ser tudo,, isto é, por ter feito as eleições, guma cousa dizer, porque so achárão pouco tempo
o qun se segue ? E' que as eleições forão feitas antes ou depois (não sei em que época), em di
muito livre, muito regularmente, o mais livre vergencia com o nobre ex-presidente daquella
e regularmento que póde ser entre nós, e que provincia.
os excessos não partirão do governo, e provierão
dos partidos. Um Sr. Deputaço:—Depois da oleição.
E com effeito, Sr. presidonte, o que houve no O Sr. Saraiva:—Mas os nobres deputados pelo
Íiaiz ? A' excepção dos factos que a opposição Ceará, que achárão em todos os tempos boa a
iberal trouxe a imprensa, o de que os nobres administração do Sr. Rego, não poiem dizer
deputados mostrárão, e mostrarão muito bem, nada nesta materia, porque elles, quanto á ad
que o governo não tevo culpa nenhuma, porque ministração do O urii, se devem achar conten
nós sabemos que nem o governo geral teve culpa tissimos por lhe ter dado o governo um «ptimo
desses factos, nem o nobre ex-presidente de presidente no Sr. Rego.
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 313
Sr. presidente, a divergencia, da minoria com possivel, porque eu entendo por conciliação, por
a maioria, a posicão que a minoria tom tomado politica de conciliação, a politica que respeita
deve ser meditada o bem considerada," íiorque é todos os direitos (muitos apoiados), acata todos
uma situação que considero grave, e digna de os interesses legitimos, e que dá ao merito da-
ser meditada por todas as opiniões do paiz ; e quelles que têm opiniões politicas diversas o
digo isto porque esse estudo deve ser interes apreço que deve sempre merecer. E' por ahi
sante pelas observações que tenho a mim foito, que se poderá tentar talvez a conciliação de
e que vou dizer á camara. principios politiebs que se secarão mais pelas
Até agora, senhores, os partidos politicos se nossis brigas do que por sua natureza inconci
achavão tão extremados que nem querião ouvir liavel.
foliar de ideas d« conciliação ; e aportavão o Digo que a politica do governo tem sido con
governo por tal fórma, que muitas vezes elle ciliadora, no sentido em que entendo essa pala
tinha necessidade de ser intolerante para com a vra, polo que observo nas differentes provincias.
opinião politica que o hostilisava Mas hoje, Vejo que no Pará (fali irei da primeira ao norte,
Sr. presidente, são os próprios partidos que e depois daquellas de que me lembrar) o parti
apregoão a necessidade da conciliação ; são os par do que sempre protege a candidatura do Sr. con
tidarios "rio governo que se sepa'ão delle, por selheiro Sonza Franco nunca aceusou o governo,
achar boa e justa & conciliiçao; são partida e só o fez na occasião em que o presidente da
rios o amigos seus de outr'ora, que dizem provincia julgou que um vereador não devia
que o governo modere seus principios, que se estar na camara ; observo que alli os dous par
torne tolerante, que concilie cousas que pare tidos achárão-se contentes com a administração
cião inconciliaveis, o que indica de alguma sorte moderada e justa do Sr. Fausto de Aguiar, e
que se a conciliação dos partidos é uma cousa com a de seu successor.
séria, possivel entre nós, deve ser tentada, es No Maranhão, vejo que o partido que corres
tudada e debatida nesta cimara e no paiz. ponde ao partido liberal facilita e applaude ao
(Apoiados.) Se até agora o governo, como notei, Sr. Olympio Machado. Do Piauhy não devo
parecia ceder á opinião do seu partido quando fallar, porque fallaria de mim sem necessidade.
se mostrava intolerante, é de crer que hoje Na provincia do Ceará as cousas devião ter
possa marchar em taes principios pelo que te corrido bem, porque os nobres deputados da
mos observado. Portanto devo felicitar á camara opposição actual nao coutestão, e antes elogião,
e ao paiz pela marcha dos negocios, publicos. a boa administraç io do Sr. Rego.
O Sr. Paula Baptista:—Ora, muito obrigado. A respeito de Pernambuco quero guardar si
O Sr. Nebias : — O Sr. ministro do imperio lencio, pois que aguardo a discussão que por
não disse isso no senado. ventura possa haver ácerca delia observo só-
mente que 6 nessas provincias' do norte, onde
O Su. Saraiva : — Sr. presidente, ha certas exactamente mais queixas faz a opposição, onde
idéas que uma vez avent idas devem ter uma os partidos estão mais. extremados, onde o go
discussão prolongada ; e eu entendo que os mo verno, pelo que acabamos de ver, n:io tem sem
tivos pelos quaes a minoria se acha separadi do pre obtido a adhesão plena de seus amigos ; e
nós, e essa theoria de conciliação que tanto se são exactamente as deputações dessas provin
apregóa, devem soffrer uma vasta discussão ; cias que se separão do ministerio. Esse facto
porquanto se forem uma superfluidade, um en deve ser estu lado. E' preciso conhecer-lhe a
gano, uma ironia, ou uma bonita inscripção causa.
para bandeira de partido, devo ser desprezada, O Sr. Araujo Lima : — Está muito esquecido.
c se fór razoavel e digna de attenção, a deve
mos abraçar, e dizer ao governo : « Vós deveis Alouns Srs". Deputados:—E a Bahia tambem.
marchar com estes principios, ou deveis deixar
o poder.,» (Apoiados.) Portanto, convido aos O Sr. Saraiva : — Vejo, Sr. presidente, que
nobres deputados para essa discussão. na provincia da Bahia, passada a effervescencia
Permitta porém V. Ex. que eu a esse respei dos interesses eleitoraes, nem se sabe quem ó
to fuça algumas observações. opposioionistt ou governista ; a não serem
Entendo, Sr. presidente, que o governo do aquelles que se têm dado ao jornalismo, e que
paiz tem sido conciliador quanto é possivel, e nelle expendem a sua opinião e a de seus ami
que se não tem sido mais, ó porque no systema gos. Quando estava fóra delia, e lia as gazetas,
constitucional tem o governo necessidade cle um parecia-me que tudo estava pegando fogo, porém
partido forte por causa dos ataques continua quando lá estive ultimamente parecia-me que
dos da opposição. V. Ex. comprehende que o nem havia odios politicos Todos parecem con
governo, quando se acha sobro a pressão de tentes com a administração do actual presidente,
uma opposição que desconhece a legitimidade a quem reconhecem como pessoa de caracter
de todos os seus actos, que o aceusa por todas moderado e principios liberaes.
as fórmas, o governo sente a necessidade de Vejo que na proviccia de S. Paulo a opposi
apoiar-se em um partido que opponha a precisa ção recebeu muito bem ao Sr. Josino do Nas
resistencia a essa opposição. cimento Silva, e o ha tratado bem. Sei que na
provincia de Minas Goraes caracteres muito no
O Sr. Nedias : — E' um bom aviso esse para bres da opposição estimão ao actual Sr. minis
os amigosi tro da justiça, qm isso não obteria se proce
O Sr. Saraiva : — Senhores estou fallando, se desse com violencia, se não fosso justo para a
gundo disse o nobre deputado por Pernambuco, opinião contraria. Observo qne no Rio de Janei
como um homem novo, e que portanto pódo ro pessoas muito imparciaes se exprimem de
dizer aciuillo que não quer, e como um homem uma mineira muito lisongeira ácerca do actual
do quem os i. obres deput dos podem aproveitar presidente. Observo que a provincia do Rio
esquecimentos, arrastamentos de tribuna, etc. ; Grande do Sul (de quem não tenho muito co
fallo com franqueza, e creio que os nobres de nhecimento) não faz a seu administrador ainda
putados hão de relevar faltas mesmo graves a opposição de que se falle.
quem não tem o habito da tribuna. O Sr. Francisco Octaviano :— E' um excel-
O Sr. Ferraz:—Aproveite o aparte do Sr. Ne lente caracter.
bias, que é apreciavel. O Sh. Paula Baptista : — De sorte que está
O Sr. Saraiva : — Eu disse, Sr. presidente, tudo conciliado.
que o governo tem sido conciliador o quanto é O Sr. A. de Oliveira:— Só o Sr. Ribeiro é
tomo 3. 4*
311 SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853
que é um judeu, em Pernambuco foi desprezado tas vezes da amizade, dão a taes queixas uma
por todos. grande importancia, e entendem que a politica
O Sr. Saraiva: — Quero esperar pelo que se do governo deve ser modificada neste ou naquelle
disser a respeito dos negocios dessa proviucia. sentido. Dahi, Sr. presidonte, os grandes emba
raços da administração, embaraços que vêm até
(Crusão-se muitos outros apartes.) complicar o governo neste recinto, e que têm
O Sr. Presidenje:—Attençãu l Peço aos Srs. de por origem os desgostos que nascem nas diversas
putados que deixem continuar o orador. localidades, que se traduzem em accusações que
são recebidas pelos membros proeminentes do
0 Sr Saraiva: — Portanto, senhores, vejo que partido.
o governo tem sido conciliador o quanto t-m Entendo, Sr. presidente, que se o governo não tem
podido, o quanto lhe é peimittido pelas regras do procedido bem, não tem andado em regra na admi-
systema constitucional, Dois que tem dado ás nistração.aquelles que o accusão deve* apesentar os
provincias homens moderados, justos e que têm factos mãos praticados por elle, devem mostrar em
respeitado os direitos da opposição do paiz. que elle obrou mal (muitos apoiados; reclamações),
O Sr. Fioeira de Mello : — De sorte que só e eu dou a minha palavra aos nobres deputa
não havia isso se houvessem desordens. dos que, se me provarem que o goverllo obrou
O Sr. Saraiva: — Por ventura querem os nobres mal em Pernambuco, se elle ultrapassou os li
deputados que o governo procure a conciliação mites legaes, se não cuinprio suas obrigações,
dos partidos fazendo chapas para deputados com repito, dou a minha palavra aos nobres depu
nomes de liberaes e de saqnaremas. Isto é con tados que retirarei desde esse momento a con
ciliação dos partidos quando elles transigirem fiança qne até agora tenho concedido ao gabi
com seus princpios, ou tiverem menos odio uns nete, porque eu dou mais importancia aos
aos outros. Isso seria um absurdo ; o governo principios do que aos homens.
não faz chapa, os partidos é que fazem a eleição, O Sr. Fioueira de Mello: —O nobre deputado
é que podem conciliar se sobre esse ponto. diz isso porque não tem estudido os factos appa-
Vozes da Minoria : — Ora I Ora I reuidos.
O Sr. Araujo Lima:— Até daqui vão as chapas O Sr. Saraiva: —Sr. presidente, seria mais con
para as provincias. veniente que se' o governo não tem desenvolvido
✓ uma politica, mais util para Pernambuco, que,
O Sr. Saraiva : — Seria uma ineptidão do go mesmo quando os nobres deputados tivessem
verno se por ventura concorresse que para esta factos que provassem e justificassem a sua se
casa viesse uma maioria qne o hostilisasse, paração, seria melhor, repito, que os nobres
quando prlo systema representativo -esta camara deputados mostrassem antes a inconveniencia
deve ser o thermumetro da opinião do paiz. (Muitos da politica do governo, o esperassem pela per
apoiados.) Mas, a não querer-se - isto, não se sistencia do governo no seu systema anterior,
póde negar que o governo tem sido conciliador, afim de que então se declarassem em opposição.
tem respeitado todos os direitos, todos os inte Desta maneira os nobres deputados terião dado
resses das provincias, dando- lhes .administra mo paiz a razão de sua opposição antes mesmo
dores moderados e justos, impondo-Ibes uma de se haver ella manifestado.
politica que salve todos os inteiesses legitimos, Os nobres deputados, bem seguros, poderião
todos os direitos dos amigos e dos inimigos do fazer opposição ao governo, accomettêl-o com
governo ; que se opponh í, mesmo com perigo uma força muito superior talvez, o que hoje
de falta de apoio para o governo, aos desregra não acontece, porque a maioria não sabe positi
mentos da opinião que o sustenta, que não póde vamente quaes os pontos de divergencia entre
acreditar-se senão por uma marcha muito regular os nobres deputados e o governo na maneira de
e muito legal. dirigir os negocios publicos de Pernaiqbuco. A
O governo- nomêa os presidentes, e lhes or maioria só sabe que está na dura necessidade,
dena que procedão com justiça e imparcialidade, que deve ter o profundo desgosto de se bater
que procurem mod«rar as exagerações do seu com alliados que ella reconhece distinctos por
proprio partido. Chegão ás provincias os pre seus serviços, por seus talentos, e com quem
sidentes, são accusados por uns por falta de sa- ella se acha ainda de accordo em todos os pon
quaremismo, o por outros por muito saquare- tos de politica que se referem á ordem publica.
mismo ; ora, isto o que demonstra ? Demonstra (Muitqj apoiados.) Estou certo, Sr. presidente,
que o governo tem procedido de boa fó nos ne que os nobres deputados em questões graves
gocios publicos ; demonstra que o governo muitas hão de sustentar o gabinete, porque não serão
vezes tem-se arriscado a perder o apoio dos os nobres deputados os que hão de levar a sua
seus amigos, cujas qualidades respeita, cujo me opposição aos extremos, pois que esses extre
rito aprecia, só com o fim de não consentir mos so não combinão com seus principios de
que o paiz continue a ser arrastado para um governo.
abysmo pelo excesso dos partidos, pela exagera Agora, Sr. presidonte, não obstante estar um
ção dos odios politicos. E não é isto bom, se pouco cansado, direi aiguma cousa ao nobre de
nhores ? Não procede de boa fé um governo que putado pela provincia de Pernambuco, que de
procede assim ? alguma sorte me obrigou a tomir a palavra. O
(Cruzão-se varios apartes.) nobre deputado disso que nas eleições de sena
dores do imperio, feitas na provincia do Piauhy,
Eu não digo que os nobres deputados da mi o governo tinha mandado chapa, tinha mandado
noria são esses exigentes, porque seria deixar nomes que nem ao menos erão conhecidos pela
de reconhecer a sua illustração ; mas permittão provincia. Essa referencia do nobre deputado
os nobres deputados que lhes diga uma cousa, e aquella provincia me autorisaria a responder ao
é que póde acontecer que uin presidente, que nobre deputado, nesta questão, da seguinte ma
deve realisar a politica do governo em quasi neira : eu poderia dizer ao nobre deputado que
todos os pontos da provincia, se ache embara o presidente da provincia do Piauhy era inca
çado em muitos pelos estorvos que lhe são paz de aceitar uma ordem, uma chapa que o
oppostos pela prepotencia individual, ou por esses governo lhe mandasse para impór uos seus
cidadãos que se dizem, e querem, ser os domi administrados ; eu poderia dizer ao nobre de
nadores dfs localidades em que vivem. Esses putado que o Sr. conselheiro Vianna foi votado
homens queixão-se para as capitaes a seus amigos. e eleito pela provincia do Piauhy por unanimi
Esses, mal informados dos factos, levados mui dade, e pelos dous partidos politicos daqueUa
SESSÃO EM 27 DE JUNHO DE 1853 315
provincia, e assim teria respondido á accusação O Sr. Fioueira de Mello (com força): — Não
que indirectamente soffri. mandou ordem, mas mandou suas cartinhas.
O Sr. Araujo Lima : — Isso demonstra bem o Um Sr. Deputado : — O que se sabe é que
estado do paiz. (Apoiados, reclamações.) não foi eleito um filho da provincia.
O Sr. Saraiva : — A isso se poderia respon (Numeroso.' apartes se cruzão.)
der, Sr. presidente, dizendo-se que essa asser O Sr. Saraiva : — Mas 0s nobres deputados
ção é um insulto jogado a uma provincia que não sabem que não havia no Piauhy notabili-
o não merece. dades politicas com mais de 40 annos que tives
O Sr. Paula Baptista : — Não apoiado I sem esse interesse de pleitear eleições o se oppór
'O Sr. Fioueira de Mello : — A provincia ha a um nome só porque era estranho á provincia ?
de me fazerjustiça. Os nobres deputados não obâervão que os fazen
deiros e os homens que não pertencem á vida
(Reclamações. Trocão-se muitos apartes. Agi activa da politica não fazem muito para entrar
tação. ) em lista triplice, o que os homens que se apre-
O Sr^Presidente : — Attenção 1 sentavão erão fazendeiros que apenas pedião
para si, e não brigavão por deixar de entrar
O Sr. Saraiva : — Sr. presidente, V. Ex. sabe, este ou aquelle? (Reclamações. Trocão-se muitos
sabe o paiz que a provincia do Piauhy este apartes.)
ve por muitos annos debaixo do dominio do
visconde do Pariiahyba, e que ella aceitou com O Sr. Presidente : — Attenção I
os braços abertos o novo presidente que depois Uma Voz: — Faça mais justiça ao Piauhy.
deste se lhe enviou. Esse presidente, a quem O Sr. Saraiva.- — Os nobres deputados não
me refiro, foi o Sr. Souza Ramos, o qual foi sabem que o partido governista no Piauhy podia
substituido pelo Sr. conde do Rio Pardo, o raciocinar da seguinte maneira : « O Sr. Vianna
V. Ex. sabe como essa provincia se oppóz a é homem distincto, possue bastantes conheci
esse presidente, a opposição que lhe fez ; e por mentos e nos tem prestado relevantes serviços.
isso se pòde conhecer se ella teria ou não cora O Sr. Vianna se apresenta candidato, e os nossos
gem sufficiente para se oppòr a uma imposição amigos de todas as provincias pedem por elle,
do governo, e se essa ujianimi dade exprime, e portanto nós não podemos deixar do votar
com o quer um Sr. deputado» o estado do paiz, nelle.» Não vêm os nobres deputados que a pro
senão no sentido de que ainda podemos pensar, vincia toda podia tambem raciocinar da mesma
e fazer o que pensamos. maneira ?...
V. Ex. sabe que o Sr. conde do Rio Pardo
foi substituido pelo Sr. ministro da marinha O Sr. Fioueira de Mello:— Ha melhores ra
actual, que o Sr. ministro da marinha foi sub ciocinios do que esse. (Reclamações.)
stituido pelo Sr. Marcos Antonio do Macedo, e O Sr. Sarhva: — E tanto mais, Sr. presi
V. Ex. sabe a opposição com que esse presi dente, quanto a provincia reconhecia que com
dente teve de lutar (muitos apoiados); o Sr. pre elle mandava alguns de seus filhos; e que se
sidente, uma provincia que se mostrou sempre fosse legitima, se fosse coustitucianal a doutrina
muito independente e muito zelosa de suas pre- dos honrados membros,' ella poderia ter no se
rogativas em todos os tempos... nado um filho do Piauhy.
Uma Voz : — E todavia ella não teve um filho Eu disse que se no Piauhy os homens poli
seu para mandar como senador. (Muitos apoia ticos que existem tivessem mais de 40 annos,
dos. Reclamações.) a eleição. poderia ser mais complicada, e appa-
(Cruzão-se muitos apartes.) recer esse interesse de excluir candidaturas es
O Sr. Paula Candido : — Senhores, á ordem, tranhas. Nenhuma notabilidade politica do Piauhy
tenhão attenção a que eu sou presidente interi apresentou-se na arena eleitoral, e pois como
no. (Risadas.) Não queirão os nobres deputados suppõr luta e coacção ?
que se diga — guardião fóra, frades agora. (ífí- Um Sr. Deputado : — Votárão nelle pela coacção
laridade prolongada.) em que se virão.
O Sr. Saraiva:— E* um facto constante, Sr. pre O Sr. Seãra : — O Sr. deputado agora é que
sidente, que na eleição de senador daquella pro está fazendo uma injuria a provincia do Piauhy
vincia a presidencia não interveio, não expedio em dizer que ella entre seus filhos não achou
ordem alguma ; a segunda eleição se fez com o um capaz de a representar no senado ; isso agora
maior socego e com a maior liberdade. é que é injuria. (Apoiados. Reclamações.)
O Sr. Fioueira de Mello : — Não mandou O Sr. Saraiva : — Eu não sei aonde se póde
ordem, porém mandou suas cartinhas. (Apoiados-) enxergar essa injuria nas palavras que disse,
O Sr. Saraiva : — Escreveria tambem ao par porque o que eu disse é que nessa eleição apre-
tido da opposição ? Venderia cl lo tambem seus sentãrão-se candidaturas de pessoas que não
votos ás cartinhas do presidente? São aceusações pertencem á vida activa da politica, e não de
sem fundamento essas que na ausência de notabilidades da provincia que tivessem inte
facto se sustenlão com semelhantes observações. resse de excluir este ou aquelle. Além de que,
Sr. presidente, não ó injuria dizer que a elei
O Sr. Fioueira de Mello : — Mandou as ção de senador perdeu muito do interesse que
suas cartinh*. se toma em taes eleições, porque os talentos,
O Sr. Saraiva : — Não houve luta forte dos as capacidades daquella provincia estão todos
partidos, cada um fez as suas eleições o venceu ou quasi todos sem a condição de idade re
onde tinha mais força, mais prestigio, e o re querida pela lei. Não digo que o Piauhy não
sultado foi esse que os nobres deputados conhe tivesse a quem ter por senador , pois que elle
cem ; o governo não interveio em tal eleição, e até mandou dous nomes de filhos seus na lista
não tinha interesse nenhum politico para mes triplice.
mo fazer nella o que poderia fazer, o que lhe ó Os nobres deputados tambem hão de concordar
fermittido fazer pelo systema constitucional, que que a provincia do Piauhy se dividio mui es
convencer a seus amigos algumas vezes da pontaneamente. Os pai tidos votarão livremente
legitimidade, da conveniencia de apoiarem elles no Sr. Vianna, porque não erão esses homenB
esta ou aquella candidatura. O governo nada que o elegêrão daquelles que entendem que nós
ordenou. estamos em estado tal que procisamos reformar
316 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
o artigo da constituição que trata dos senado Sess&o em 88 de Junho
res, e estabelece a doutrina jle que póde ser
senador por qualquer provincia o brazileiro que PRESIDENCIA DO *R. PAULA CANDIDO (l1 SECRETARIO)
tiver as condições dn elegibilidade, embora te
nha nascido em provincia diversa. (Muitos apoia Summario. — Expediente. — Apresentação de dom
dos Reclamações, e continuão os apartes.) projectos.—Observacão úo Sr. Aprigio. — Ordem
O Sr. Puesi dente : — Attenção I Desanimo e do dia. — Creação de dous bispados. Discurso do
receio não poder manter a ordem da maneira Sr. Pinto de Campos. VotaçQo. — Fixaçfio das
porque vai a discussão. (Apoiados.) forças navaes Discursos dos Srs. Figueira de
Aiello, Pimenta de Magalhães,Nebias e Miranda.
O Sr. Saraiva : — Estou convencido que não
infrigi os meus deveres, que mo não tornei in A's dez horas, feita a chamada, achão-so pre
strumento do governo , o que a provincia do sentes os Srs. Paula Candido, Apri^i, Machado,
Piauhy tevo cnnsciencia do que fez, e que pro barão de Maroim, Almeida e Albuq^rque, Bar
cedeu nesso negocio com liberdade, com digni bosa da Cunha, Belfort, Vieira do Mattos, Ma
dade. (Muitos apoiados.) cedo, Araujo, Mendes da Costa, Fernandes Viei
Um Sr. Deputado : — A opposição não lhe fez ra, Leal, Siqueira Queiroz, Lindolpho^Fleury,
semelhante aceusação. Brusque, Ribeiro , Cruz Machado , Teixeira de
Souza, Ferraz, Wilkeus, Miranda. Ribeiro da
O Sr. Saraiva : — O que o governo pode Luz, Seára , Livramento, Bretas, Rocha, Assis
ria fazer na provincia do Piauhy para coagir, Rocha, Gomes Ribeiro, Bello, Ignacio Barbosa,
para obrigar os piauhyenses a votar nesto ou Taques, Paranaguá , Pimenta Magalhães, Theo-
naquelle ... philo, Bidisario, Luiz Carlos, Souza Leão, Men
Vozes : — Ora I ora I ora I donça, Rego Barros , Angelo Custodio , Viriato,
O Sr. Saraiva : — O partido governista sabia Paula Fonseca , Góes Siqueira , Dutra Rocha,
que votar no Sr. Vianna nu nao votar era a Henriques, Jaguaribe, Domingues, padre Campos,
mesma cousa para mim, porque eu não havia Vasconcellos, Araujo Lima, Paula Fonseca, Wan
de desmontar a nlliados sinceros , a pessoas derley, Gouvêa, Paes Barroto e Sá e Albuquerque
de consideração para assegurar o triumpho de E havendo numero legal, ás dez e tres quar
uma candidatura que nem ao menos tinha sido tos, o Sr. presidonte. declarou aberta a sessão.
recommendada pelo governo. Lida, e approvaíla, a acta da sessão antece
O Sr. Araujo Lima : — Quem sabe o que acon dente, o Sr. 2° secretario, servindo de 1°, lo o
teceria se o Sr. Vianna não fo|se eleito? seguinte
O Sr. Saraiva :—O nobre deputado está muito EXPEDIENTE
assustado a respeito do futuro do paiz ? Um offleio do Sr. ministro do imDerio enviando
Um Sr. Deputado : — Não se deve collocar a o officio do presidente do Maranhão, dando as
questão nesse terreno pessoal. informições a cerei dos limites entre a mesma
O Sr. Saraiva: —Sr. presidente, eu disse que provincia e a de Goyaz.—A' commissão de esta
as posições officiaes da provincia erão oceupa- tistica.
das por pessoas a quem eu não podia des Ontro do mesmo, enviando o officio do vice-
montar, porque até mesmo em alguns lugaros presidente da provincia da Purahyba, acompa
não havia quem as pudesse substituir. Quanto nhado da cópia da acti dos trabalhos da eleição
ás posições da guarda nacional , V. Ex. sabe primaria da fregu^zia de Piancó.—A' commissão
que os postos da guarda nacional devem ser da constituição e poderes.
dados aos homens mais ricos e honestos dos Outro do Sr. ministro da guerra enviando um
lugTes; e porventura o nobre deputado sup- requerimento, em o qual o capitão reformado Fran-
porá que eu tivesso tão pouco senso que por cisco Jozé Camará pede voltar á primeira classe,
causa do Sr. conselheiro Vianna fosse dar pos e juntamento informações que msta occasião
tos da guarda nacional a pessoas que os não julga necessario dar acerca da pretenção do mesmo.
merecessem, para obter votos para elle, a quem — A' commissão de marinha e guerra.
nem tinha a honra de conhecer?
Sr. presidente, eu vejo que a camara já se Outro do mesmo, dando informações exigidas
acha bastante cansada; a hora está muito avan por esta camara acerca dos requerimentos do
çada, o por isso paro aqui, certo de que V. Ex. major reformado Nuno Anastacio Monteiro .de
Mendonça, que pede melhoramento de reforma ;
permittirá que eu em outra occasião diga alguma e do 2° tenente José Antonio de Araujo, que
cousa que me resta. pede ser restituido ao quidro do exercito. — A
Muitos Srs. Deputados: —Apoiado, muito bem, quem fez a requisição.
O Sr. Araujo Lima: — Muito bem em aparte. Outro do Sr. ministro da fazenda, remettendo
o requerimento da companhia imperial de mine
O Sr. Paula Baptista:—Eu apoiei todo o prin ração estabelecida no Gongo-Soco, pedindo a re
cipio do seu discurso e algumas das snas propo missão temporaria dos direitos de ouro que ex-
sições. trahe das minas.—A' commissão de fazenda.
A discussão fica adiada pela hora. Outro do presidenta do Maranhão, enviando o
O Sr. Presidente marca a ordem do dia se lequerimento do desembargador il% relação da
guinte, e levanta a sessão ás 3 horas da tarde. mesma provincia Manoel Bernardino de Souza
Figueiredo, pedindo dous annos de licença com
os seus ordenados para ir á Europa tratar de
sua saude. — A' commissão de ponsoes e orde
nados.
Uma representação da camara municipal da
cidade de S. José de Mipibú, da provincia do
Rio Grande do Norte, contra o procedimento do
presidente e assemblóa provincial da mesma pro
vincia, privando-a do seu patrimonio.—A' com
missão de camara municipaes.
Um requerimento de José Maria Gomes, nego
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 317
ciante e proprietario na praça do Rio de Janeiro, datado em 27 de Agosto, de 1845, em o qual
subdito hespanhol, pedindo para ser naturalisado dá parto de haver instaurado o collegio de S. Ma
cidadão brazileiro. — A' commissão de constitui theus, o de ter croaia um outro em Santos Cos
ção e poderes. mo o Damião. — Está prejudicado.
Outro do subdito portuguez Joaquim Antonio « N.» 7.— Quatro officios do governo, datados
Baviuso, fazendo igual pedido. —A' mesma com- em 7 de Outubro e 9 de Dezembro do 1815, 21
missão. de Abril e 12 de Junho do 1846, em os quaes
Sáo sem discussão approvados os seguintes pa dá conta da creação de varios collegios em
receres: Piauhy, Matto-Grosso, Pernambuco.—Estão pro-
« Sondo presente ú commissão de fazenda um judiçados.
requerimento da directoria do monte-pio dos « N.» 8. — Uma representação da assembléa
servidores do estado pedindo o usofructo do uni provincial de Minas Geraes, datada de 16 de
proprio nacional fronteiro ao edificio das Bellas- Março de 1840, em a qual pede que se decretem
Artes, e achaodo-se a petição, qne é dirigida varias incompatibilidades para a eleição do do-
ao governo imperial e não á camara, inteira putadoa á assembléa geral.
mente desacompanhada de qualquer documento « A camara dos Srs. deputados tomará seme
ou iuformação, é a commissão de parecer que, lhante materia na devida consideração, qumdo
se peça ao governo, não só os esclarecimentos houver de conhecer das reformas a que possa
que puder ministrar, como a sua opinião a res dar lugar a vigente lei de eleições.
peito de tal pretensão. « N.» 9. — Uma indicação do deputado Coelho
« Paço da camara dos deputados, 23 de Junho Bastos, datada em 23 de Maio de 1846, para
de 18-33.— Ribeiro.—Lisboa Serra. » que so tome um i providencia a respeito do pa
« Foi prpsento ás commissões de fazenda e de gamento aos parochos, no intento de fazer cessar
commercio industria o artes, uma proposição do o conflicto existente entre a assembléa geral, e
Sr. deputado Candido Mendes de Almei la, jul as provincias.—Esta materia já está providen
gada objecto de deliberação em sessão de . 17 ciada.
do corrente, abrindo ao governo um credito de n 1847. — X.» 10. — A acta da eleição feita no
100:000$ afim de occorrer ás despezas necessarias collegio eleitoral de Nossa Senhora das Dores da
pira que productos da nossa industria possãu Serra da Saudade do Indaiá na provincia de
tambein figurar na exposição universal que de Minas Geraes, em 7 de Novembro de 1847.—Está
verá ter lugar em Paris no mez de Maio de prejudicada.
1855, o são ellas de parecer que se peça ao go « N.» 11. — Vinte e um officios do governo
verno as informações que puder ministrar, bem datados em 5 e 16 de Setembro, 4 do Novembro,
como a sua opinião a respeito do semelhante 12 e 14 de Dezembro de 18 1G, 9 e 18 de 'Feve
proposta. reiro, 18 de Março, 17 de Abril, 12, 19, 27 e
« Paço da camara dos deputados, 23 de Junho 31 do Maio, 17 de Junho, 8, 10 e 28 de Julho,
de 185;j. —Lisboa Serra.—Ribeiro.—Almeida e Al 2 do Agosto e "'9 de Setembro de 1847, versando
buquerque. —A. de Oliveira. » todos sobre a designação de collegios nis pro
« A commissão do constituição e poderes é de vincias do Rio Graudo do Norte, Pernambu
parecer, que sejáo archivudos os papeis abaixo co, Parahyba, S. Paulo, Rio Grande do Sul,
declarados pelos motivos, que acompanhão sua Piauhy, Bahia, Goyaz, Minas Geraes, Sergipe,
mensão. Pará, Matto Grosso, Espirito Santo, Maranhão
« 1845. — N.» 1 — Uma representação de Ma e Alagoas. — Sobre a materia do todos esses
noel Joaquim de Souza Medeiros, juiz de paz da officios está providenciado em lei.
cidade do Rio Grande, provincia do S. Pedro, « N.» 12. — Quatro officios do governo, datados
em a qual representa centra a. illegalidade coin em 21 de Maio, 19 o 25 de Junho e 16 de Agos
que se fizerão as eleições primarias naquella to de 1847, cobrindo differentes avisos impress is
cidade em o anno do 1841, sendo aquella repre relativos á execução da lei de eleições, os
sentação datada de 14 de Junho de 1845.—Está quaes não puderão ser incluidos na respectiva
prejudicada. collecção. — A camara fica inteirada.
« N.» 2. — Frei Francisco de S. Diogo, subdito « N. 13. — Um officio do deputado Frederico
portuguez, religioso, franciscano da provi, icia da Augusto Pamplotm, declarando não poder com
Conceição do Rio de Janeiro, pede em um re parecer á sessão de 1817. — Está prejudicado.
querimento datado de Julho de 1845 dispensa « N. 14.— Um offiVio da camara municipal do
da lei para naturalisar-se cidadão brazileiro. Recife, datado em 25 de Junho de 1847, cobrin
—Está prejudicado. do officios dos Srs. deputados Maciel Monteiro,
« N.» 3. — Uma representação da assembléa Affonso Ferreira e Mello, em os quaes por dif
legislativa da provincia do Maranhão, datada ferentes motivos declarão não poder comparecer
do Agosto de 1844, em a qual solicita o aug- a sessão legislativa. — Estão prejudicados.
mánto do numero de deputados á assemblea « N.» 15. — Uma representação dos eleitores da
girai. — Semelhante pedido já se acha providen freguezia de Santo Antonio das Queimadas da
ciado em lei. provincia da Bahia ; dita da camara municipal
« N.» 4. — Uma indicação do Sr. deputado da villa de Tucanos da mesma provincia ; dita
Silva Ferraz, datada eni 22 de Fevereiro de 1845, dos eleitores da mesma villa, versando todos
pedindo que a commissão dê o seu parecer a sobre decisão eleitoral—Estas materias já estuo
respeito da legilidade do procedimento do go providenciadas em lei.
verno, quando se arroga o direito de decidir « N.» 16. — Uma representação da camara mu
questões sobre eleições de camarás municipaes, nicipal de Vianna, da provincia do Maranhão,
e juizes de paz.—Esta materia já se acha provi contra a administração do Sr. Franco de Sá
denciada na lei de eleições. em a sobredita provincia em 1848.—O Sr. Franco
« 1846.—N.» 5. — Um officio do deputado João de Sá ê fallecido.
José de Oliveira Junqueira, datado em 11 de « N.» 17. — Uma indicação do Sr. Jobim assig-
Agosto de 1846, em o qual lhe participa, que lhe nada em 10 de Junho de 1818, relativa a estatu
não ó possivel continuar a assistir á sessão tos da escola do medicina.—Esta materia acha-,
daquelle anno. — Está prejudicado. se providenciada nos estatutos autorisados por
« N. 6. — Um officio do presidente do Geará, lei, cuja approvação ponde do corpo legislativo.
318 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
« N.» 18. — Um officio do deputado Isidoro O Sr. Aprígio (pela ordem):—Sr. presidente,
Jansen Pereira communicando não poder vir pedi a palavra para saber sa V. Ex. já tem
tomar parte nos trabalhos legislativos em o nomeado a. commissão que deve levar ao throno
anno de 1818. — Está prejudicado. o voto de- graças desta camara, já approvado ha
« N.» 19. — Um requerimento do João Cypria- muitos dias. Bum que mo recorde de que era de
no Huet, subdito francez, o qual- pede dispensa costume esperar-se que a outra camara tivesse
do todas as condições da lei, afim de ser natu apromptado a sua resposta para serem ambas
ralisado cidadão brazileiro.—Esso requerimento levadas ao mesmo tempo á coroa, vejo que agora
acha-se assignado por um individne, que se diz não poderemos ter a mesma satisfação, á vista
procurador, mas que o não mostra. Se o pre da demora que se observa na discussão do voto
tendente, depois dessa pretenção, fez a devida de graças no senado, e das opiniões que alli se
declaração na respectiva camara, esta ella prejudi estabelecem a respeito desta materia.
cada. Se o não fez, não ó possivel tomal-o em Li hoje o extracto das discussões havidas hon-
consideração á vista de seu conteudo.. tem no senado, e vi que um nobre membro da
« Paço da camara dos deputados, em 28 de quela augusta camara entende que a resposta á
Junho de 1853. — F. D. Pereira de Vasconcellos. falia do tlirono póde ser apresentada depois ou
— J. A. de Miranda.—Foi approvado. no fim da sessão ; outro nobre senador, que esse
acto da mesma camara é de pequena significação
O Sr. Livramento pede urgencia para apre á vista de muitos actos e n que o parlamento se
sentar dous projectos. póde pronunciar com mais franqueza e procedencia.
Consultada a camara é approvada a urgencia- Sendo estas duas opiniões proferidas por mem -
e vão á mesa os seguintes projectos. bros tão illustrados e tão importantes, é de crer
que fação grande impressão, e sirvão de base a
« A assembléa geral legislativa decreta: . maior prolongamento da votação, tanto mais
« Art. unico. A ordenação do livro 4°, titulo quando pelo regimento daquella augusta camara
8°, não permitte aos que não sabem, ou não não ha numero limitado de vezes de fallar em
podem ler fazer testamento cerrado ; ficando re commissão geral, nem outro expediente que faça
vogada qualquer interpretação em contrario. — terminar uma discussão que se pretenda eterni-
S. R — Paço da camara dos deputados, 27 de sar; acerescendo que ainda depois determinada
Junho de 1853. — Joaquim Augusto do Livra a discussão em que se acha a resposta, tem de
mento. » haver uma terceira, em que naturalmente sa
« A assembléa geral legislativa decreta: consumirá outro tanto tempo.
Na presença destas observações, pensando eu
« Art. 1.» Os dous terços de votos, de que por modo differente dos dous illustres membros
tratão os arts. 15 e 1C do acto addicional, serão do senado a cujos discursos me refiro, entendo
contados em relação ao numero de membros que esta augusta camara está no caso de perder
presentes á sessão do dia em que tiver lugar a a esperança de ter a satisfação de enviar ao throno
votação. o seu voto de graças conjunctamente com o senado.
« Art. 2.» As palavras do art. 15—por dous V. Ex., se ainda nao nomeou a commissão com
terços dos votos—referem-se ás palavras—ado petente, tomará na consideração que merecerem
ptado tal qual—e não ao adjectivo— modificado ; estas minhas humildes observações, afim de que
—sendo suuiciente a maioria dos membros pre esta augusta camara manifeste ao throno os
sentes para adoptar o projecto, modificado no sentimentos de profundo respeito, amor e venera
sentido das razões do presidente. ção de que é possuida para com o mesmo throno.
« Art. 3.» Quando não o projecto, mas sómente O Sr. Presidente: — Penso que as reflexões
um ou alguns de seus artigos forem pelo pre do nobre deputado têm cabimento ; mas tambem
sidente aceusados de contrarios á constituição, devo ponderar á casa que o que me parece que
aos tratados, ou aos direitos de outras provin deve fazer-se primeiro é officiar ao respectivo
cias, e não obstante isto a assembléa o adoptar ministro para que este marque dia e hora om
tal qual, só poderá o presidente sustar a exe que commissão deve apresentar-se. Depois desta
cução desse artigo ou artigos que tiver aceusado resposta proceder-se-ha á nomeação da commissão.
de algum daquelles defeitos, devendo desde logo Quanto a eu não ter nomeado ainda a com
dar execução á lei em todas as outras suas missão, a camara sabe que ha apenas dous dias
partes. que eu substitue mal nesta cadeira (não apoia
« Art. 4.» A disposição do art. 16 do acto addi dos) o digno presidente nffectivo, e como ó na
cional comprehende as leis que não são sujeitas tural que quando vier a resposta á camara, S. Ex.
á saneção do presidente, o qual poderá suspender se ache presente, eile tomará na devida consi
a execução na parte em que offenderem á consti deração as ponderações do nobre deputado.
tuição, aos tratados, ou aos direitos de outras
provincias. ORDEM DO DIA
« Art. 5.» As disposições do art. 23 do acto CREAÇÃ0 DE BISPADOS
addicional são só applicaveis aos empregados pu
blicos que tomarem assento nas assembléas pro- Continua a 3a discussão do projecto r. 13 deste
vinciaes. anno, creando um bispado na cidade da Diaman
« Art. 6.» Nos casos figurados no art. 19 do tina e outro no Ceará, com as emendas que
acto addicional, se a recusa da saneção se veri hontem forão apoiadas.
ficar depois de encerrada a sessão annua, o
presidente da assembléa mandará publicar a lei. O Sr. Pinto de Campos: — A camara
« Art. 7.» Ficão revogadas quaesquer interpre ha de ter observado que durante esta discussão
tações em contrario. me tenho conservado silencioso, não porque con
sidero de pouca importancia a materia de que
« Paço da camara dos deputados, 27 de Junho se trata, mas sim porque reconhecendo em todos
de 1853 — S. R.—.Joaquim Augusto do Livra os membros desta mesma camara as melhores
mento.» disposições em favor de sua adopção, entendia
O primeiro destes projectos é julgado objecto que não devia prolongar os debates com obser
de deliberação. O segundo vai á cúmmissão de vações que me parecião desnecessarias ; e neste
constituição depois de breves observações dos proposito me conservaria se no correr da dis
Srs. presidente, Aprigio, Livramento e Cruz cussão não houvessem apparecido algumas pro
Machado, posições que, quando não encerrem uma offensa
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 .319
directa ás prerogativas do poder pontificio, são nestes casos funeciona essencialmente como poder ;
pelo menos mal cabidas e de máo efleito: á e por esti razão, repetirei ainda, foi muito im
vista disto resolvi, não como ecclesiastico, nem propria a palavra favor, empregada pelo illustre
mesmo como membro da commissão respectiva, membro a quem aliás muito respeito.
mas sim como catholico romano, combater taes O Sr. Candido Mendes: — Era preciso que fos
proposições — semos o par, amento da Inglaterra.
Um Sr. Deputado : —Todos nós somos catholi- O Sr. Pinto de Campos:— E' verdade; mas
cos romanos. como nos achamos no parlamento braziloiro,
O Sr. Pinto de Campos : — Bem sei disto; eé somos forçados a reconhecer que o primado de
por esta razão que muito me honro de afzer honra e jurisdicção, que por direito divino com
parte de um parlamento que professa idéas tão pete ao successor de S. Pedro, fiz parte muito
puras e orthodoxas. (Apoiados.) essencial da constituição da igreja. Cabeça visivel
Antes, porém, de entrar em materia, notarei a da igreja universal, centro da unidade catholica,
singularidade desta discussão. Desde que se o papa é o ponto luminoso donde, na phrase
apresentou na camara a idêa da creação dos do immortal Bossuet, partem tffdos os raios do
bispados, diversos oradores se têm empenhado governo ecclesiastico (muito bem.'); como, pois,
na luta. As suas opiniões, accordes quanto aos negarem-se-lhe as prerogativas que derivão imme-
fins, são as mais divergentes quanto aos meios, diatamente do seu poder jerarchico, e que forão
e dahi o antagonismo bem pronunciado ; mas altamente reconhecidas pelo concilio de Trento?
felizmente todos acabão por votar pela resolu Mas o nobre deputado, longe de recorrer ás
ção. A este respeito eu direi o que penso, e fontes puras do direito, valeu-se de praticis dis
quaes as informações que hei obtido de fontes persas e peregrinas que nenhum valor contém,
insuspeitas acerca do melholo que se tem se e que apenas poderião servir do arestos antes da
guido em negocios desta natureza. celebração do citado concilio, que não foi senão
Quaiído se trata da creação ou divisão de bis o depuradouro de todas as doutrinas e princi
pados a camara nada mais faz do que adoptar, pios relativos ao governo da igreja. (Apoiados.)
uma resolução que aiitorise o governo a impe O Sr. Ionacio Barbosa :— O que eu disse foi
trar aa Santa Sé as bulias da instituição cano que esse pedido é o exercicio de um direito.
nica. (Apoiados.) Habilitado por este modo o
governo, antes de encaminhar o negocio a Roma, O Sr. Pinto de Campos : —Mas o exercicio d e
rocura ouvir os respectivos prelados daquellas um direito subordinado ás leis canonicas, que
I ioceses com cujo territorio entende o novo bis exigem o mutuo accordo dos poderes.
pado. Estas informações baséão a supplica da O Sr. Ionacio Barbosa :—Logo, é legitima a in
creação : sendo certo que sem ellas o papa não tervenção do poder temporal.
prestaria a sua annuencia, visto que se não
havia preenchido- as disposições canonicas , que O Sr. Pinto de Campos:— E quem nega isto?
requerem em cisos taes a plena intervenção do O que eu me proponho mostrar ó que o poder
poder espiritual. Eis aqui , Sr. presidente , a temporal não póde por si só levar a effeito estas
marcha que segundo estou informado, tem sem medidas sob pena de serem nullas.
pre soguido a camara dos Srs. deputados ; e nem O nobre deputado, no intuito de excluir toda a
outra devia ser, em face das leis ecclesiasticas. intervenção pontificia na creação das dioceses,
(Apoiados.) trouxe o facto da escolha dos bispos por eleições
Mas o nabre deputadp pelo Ceará, partilhando populares. E' verdade, se bem me recordo, assim
a opinião de alguns, disse hontem neste recinto se praticou por algum tempo ; mas imagina o
que a camara estava no seu direito creando illustre memoro que os papas eráo estranhos a
as dioceses, visto ter a constituição do estado táes operações ? Engana-se manifestamente , a
lhe conferido este poder, c que por muito favor menos que apresente u.n outro poder da igreja
se recorria ao poder pontificio I Esta proposição que na ausencia dos papas conferisse a institui
me parece inaudita o sem justificação possivel I ção canonica. Saiba o nobro deputado qne nos
SenhoresI é pena que proposições do semelhante fins do seculo XIII, á medida que essas eleições
natureza sejão emittidas no seio do uma camara mudavão de fórma , ou que produzião graves
que funeciona sob as luzes de um seculo que inconvenientes, os p 'pas, guiados pelo maior bem
brilha por umi phllosophia a mais esclarecida e utilidade da igreja, forão reservando para si
e .orthodoxa I Entretanto, peiguntarei ao nobre o direito do instituir e confirmar os bispos ;
deputado , dada a hypothese de que a camara direito que até então elles exercião indirecta
creasse o bispado sem intervenção nenhuma do mente pelo ministerio dos patriarchas e dos me-
poder espiritual , quem conferiria a instituição tropolitas instituidos e confirmados immediata-
canonica, sem a qual não póde haver episcop ido mento pelos mesmos papas. Vê, pois, a camara
que os patriarchas o metropolitas exercião então
legitimo ? uma verdadeira delegação pontificia ; e por conse
Senhores , eu reconheço a competencia da ca guinte so deve considerar insubsistente o argu
mara em iniciativas d^sta ordem; alei funda- mento do nobre deputado sobre as eleições po
mentil a investio desta attribuição; mas lem pulares dos bispos ; e se o nobre deputado con
brarei ao nobre deputado que essa mesma lei sultasse melhor o concilio de Trento, havia de
fundamental, adoptando a religião catholica ro se compenetrar do todas os verdades.
mani como religião do estado, reconheceu igual
mente todos os seus canones o as consequencias O Sr. Corrêa das Neves: — Mas se o nobro de
delles (apoiados) ; o nobre deputado sabe qne putado pelo Ceará não quer o concilio de Trento ?
interpretar materialmente uma lei é desnaturar O Sr. Pinto de Campos: — So assim é, o nobrfl
o sentido genuino delia, i desconhecer o espirito deputado pelo Ceará segue uma doutrina pouco
e a vontade do legislador ; por conseguinte é catholica, e até inconstitucional ; mas eu faço
no mesma lei fundamental que eu procuro abri muita justiça aos seus sentimentos de ortho-
gar os principios que acabo de emittir. doxia.
O Sr. Ionacio Barbosa : — Nega V. Ex. que a O Sr. Ionacio Barbosa : — A constituição sus
creação dos bispados seja disposição mixta? tenta o concilio em todas as suas disposições ?
O Sr. Pinto de Campos:— Não nego isto, mas O Sr. Pinto de Campos : — Sustenta implicita
nego que o poder temporal possa discriciona- mente todos os canones que dizem respeito ao
riamente adoptar qualquer medida a este res dogma, e todas as disposições disciplinares que
peito sem a prévia intervenção do papa, que com elles têm intima relação. (Apoiados.)
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Ionacio Barbosa : — Mas o disciplina da do legislador o pensamento domiuante da lei
igreja é variavel. (apoiados) ; já fiz ver tambem como se fazião
O Sr. Pinto de Camfos : — Sim, senhor, é va essas eleições ; por conseguinte a pragmatica
riavel segundo as diversas necessidades dos tem de S. Luiz ó o meu maior escudo nesta occa-
pos e dos lugares ; mus não é senão a ella mesma sião. (Risadas.)
que competo fazer quaesquer alterações, sub pina E' verdade, Sr. presidenta, que muitos autores
de ir por terra a suprema erarehia instituida por têm posto em muita duvida a authenticidade
Jesus-Christo, que confiou, não aos principes desse documento, mas tambem é certo que certo
temporaes, mas aos legitimos pastores o regimen arcebispo do Paris, analysando-o, conclue que
da igreja do Deos. quando a pragmatica seja apocrypha, pelo menos
Estas theorias, que se achão incorporadas no encerra todos os principios que a igreja galli
cana tem seguido, mutatis mucandis.
direito publico ecclesiastico de todas as nações Luiz XIV, por exemplo, que foi o memarcha
catholicas, tem sido sempre executadas na França, mais absoluto do seu tempo, o que nos excessos
apezar das invasões e interpresaa do poder civil de seu justo orgulho ousava dizer : o estado
em certas épocas de commoções, e apezar mesmo sou cu; Luiz XIV, emfim, que vio algumas vezes
das amplas liberdades da igreja gallicana. A pro a curia romana curvada diante delle...
posito disto filiarei de uma pragmatica de Luiz
IX rei de França, citada hontem pelo nobre de O Sa. Fioueira de Mello: — Succedeu isso al
putado a quem me tenho referido. Esse docu guma vez ? Creio que não.
mento, senhores, não póde garantir as aversoes O Sr. Pinto de Campos — Succedeu, sim,
do illustre membro, esse documento é todo em senhor ; até uin sobrinho do papa veio em pes
meu favor, isto é, das doutrinas que eu tenho soa a Versailles dar uma satisfação solemne
hoje expendido. Eu o reproduzirei integralmente; pelo insulto que soffrêra em Roma o embaixa
elle se acha na collecção do direito civil eccle dor francez. Mas dizia eu, Sr. presidente, que o
siastico da França. Rogo pois á camara que se proprio monarcha que legou seu nome ao seculo
digne de continuar a honrar-mecom a sua attenção. em que vivera, em outras occasiões curvou a
O Sr. Wanderlev: —Com muito gosto; é muito fronte magestosa ao poder pontificio. Quando o
extensa a pragmatica ? papa Innocencio XII (se bem me recordo) re
O Sr. Pinto de Campos : — Contém poucos arti cusou a instituição dos bispos nomeados, que na
gos. Eil-a : celebre assembléa do clero de 1682 havião ap-
provado as quatro proposições que tanto moles
« Desejando a elevação o tranquillidade da tarão a coite de Roma, aquelle grande rei, bem
« igreja do nosso reino, diz o santo rei, a pro- longe de romper em ameaças, não somente in
« pagação do culto divino o salvação das almas sinuou aos bispos que dirigissem ao papa expli
« fieis a Jesus-Christo, afim de que possamos cações respeitosas sobre as quatro proposições
« obter a graça eo soccorro de Deos todo poderoso, indicadas, como tambem escreveu ao mesmo papa
« de cuja protecção dependeu sempre o nosso asseverando-lha que não instaria pela execução
« reino, o da qual queremos que dependa no delias. Diz um historiador moderno, creio quo
« futuro : nós, depois de haver maduramente Capengue, que em tudo isso iniluio o espirito
« pensado, ordenamos o que se segue : esclarecido o conciliador do immortal Bossuet.
« Art. l.° As igrejas, os prelados, os patro- Muitos annos depois el-rei Luiz-Philippe, mo
« nos o colladores ordinarios dos beneficios do delo de sabedoria o prudencia, exhibio grandes
« nosso reino, conservarao o pleno exercicio de exemplos de sua deferencia para com a curia
«seus direitcs e cada um gozará da jurisdicção romana. Nos começos de sou glorioso reinado
« que lho pertence. deu-se o segundo facto, segundo li ha tempos.
« Art. 2.» As igrejas cathedraes e outras go- Creon-se unia diocese em França : o governo im
« zarão do livre exercicio do suas eleições, pio- petrou as bulias da Santa Sé ; mas como quer
« moções ou collações. que se não houvesse preenchido as disposições
canonicas, ouvindo-se os respectivos prelados,
« Art. 3.» Queremos que a simonia, este crime o papa recambiou, permitta-se-me a expressão, a
«• prejudicial á igreja, seja inteiramente banido petição do rei exigindo que fossem ouvidos os
« do nosso reino. prelados. Immediatamente o bom nionarcha fez
« Art. 4.» Queremos o ordenamos que as pro- cumprir as ditas disposições, o o negocio foi
« moções, collaçoes, provisões do prclaturas, di- de novo encaminhado a Roma ; mas o papa,
« gnidades e todos os beneficios ecclesiasticos, de conformando-se com a creação da diocese, não
« qualquer natureza que sejão, se fação segundo conveio. da nomeação do bispo proposto por du
« a ordem do direito commum, regras dos con- vidar da pureza de suas doutrinas; e ainda
« cilios e estatutos dos santos pidres. nessa recusa Luiz-Philippe mostrou o seu aca
n Art. õ.» ... (Omitto este artigo por não vir tamento para com o suecessor do S. Pedro ,
muito ao caso.) propondo um outro padre, que foi logo aceito
pelo papa.
« Art. 6.° Renovamos e approvamos por estas
« presentes letras an liberdades, as franquezas, O Sr. Corrêa das Neves:— Temos um exem
« immunidadas, prerogativas, direitos c privile- plo domestico.
« gios concedidos pelas luis dos nossos prede- O Sr. Wanderlev: — E' verdade.
« cessores, e por nós, ás igr jas, aos mosteiros, O Sr, Pinto de Campos : — M is eu muito de
« e outros lugares de piedade, assim como a proposito fui procurar na França exemplos desta
« outras pessoas ecclesia*ticas. » urdem ; nós, que só parecemos imitar os fran-
Vê, portanto, a camara que o nobre deputado cezes no que elles têm de mais frivolo (apoiados,
não foi muito feliz na exhibição deste documento, risadas), devamos tambem imital-os em suas ac
que aliás é um protesto vivo contra os principios ções illustres, em suis obras boas. (Apoiados.}
que emittira o nobre deputado. • O nobre deputado pelo Ceará fallou igualmente
O Sr. Iqnacio Barboza : — Lêa o art. %° que na couducta dos antigos reis do Portugal. Não
trata da liberdade das eleições dos bispos. sei bem que concordatas havião entre elles e a
cúria romana, mas sei que aquelle paiz foi
O Sr Pinto de Campos : — Eu já fiz ver ao sempre eminentemente catholico. Apresentarei
nobre deputado que á sciencia da lei não está uma passagem, extrahida de um ensaio sobre a
na sua letra, nem nos paragraphos isolados. E' supremacia do papa, ácerca do solemne e ex
mister ir mais adiante, e procurar na mente | plicito reconhecimento das prerogativas da Santa
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 321
Sé pelo governo e nação portugueza, na mesma permittir, debaixo de pretexto algum, o inter
melindrosa época de el-rei D. João IV Note a pretadas. »
camara que esta passagem a que me refiro M. de Bonald, escriptor mui acreditado nos
aclia-se citada nas obras do eruditissimo Sr. ar tempos modernos, diz que « a sociedade mais per
cebispo da Bahia, cuja voz eloquente levantou-se feita é aquella cuja censtituição é a mais reli
muitas vezes neste recinto em favor das pre- giosa, e a administração a mais moral. A re
rogativas do papa (apoiados) ; e é pena que de ligião deve pois constituir o estado ; porque é
pois de seus luminosos discursos a respeito destas contra a natureza das cousas que o estado con
materias ainda haja quem as impugnei A passa stitua a religião. » O celebre papa Ganganelli
gem é em latim ; mas como os nobres deputa assignala como uma das causas das perturbações
dos não ignorão a lingua de Cicero, de quem das sociedades as continuas invasões do poder
são discipulos na arte de fallar bem, por isto temporal nos dominios da igreja, cujos canones
não recuso lêl-a integralmente. procura a cada instante subordinar ás conve
Alouns Sus. Deputados —Vejamol-a. niencias do momento. Santo Agostinho, um
dos grandes padres da igreja, diz que recusar a
O Sr. Pinto de Campos :—Ella é um pouco ex ingerencia immediata do poder espiritual nos ne
tensa ; mas o que é bom não aborrece. Eis a gocios puramente ecclesiasticos, ou que com elles
passagem : o Fatetur Lusitania non aliunde ec- tenhão relação, é desconhecer a divindade de sua
« clesiis suis remodium esse petendum, nisi A di missao sobre a terra.
te vina supreini Numinis providencia. Certum Apresentirei tambem a opinião de Van Spen,
ci enim illud esse, summum pontificem romanum celebre canonisia, aliás protestante : sendo o
« caput ecclesise, et Christi vicarium esse , in christianismo, diz elle, aquelle que lançou as
« qne fons, et caput t.tius potestatis, et juris- bases dis sociedades existentes, % elle compete,
« dictiemis ecclesiaãtica) situm est, quam imme- pelo monos, a mais plena liberdade de acção em
« diaté a Christo acceperat ut ab eo in omnes tudo que diz respeito ao seu regimen econo
« alios inferiores príelatos derivaretur, tanta su- mico ; e Grocio, tambem protestante, diz que o
« bordinatione, ut possit pro sue arbitrio con- direito de protecção, exercido pelo poder tempo
« trahere , augere , imminuere , revocaro eam ; ral, só é legitimo e benefico emquanto se limita
« ulterius principes seculares. .. compescere , et a proteger os canones e não violal-os : ad tu-
« frsenare possit, si audeunt regimen spirituale tendos non ad violandos canones.
« interturbare, aut overtere ; nec enim ad' eos O Sr. Paes Barreto : — Apoiado ; muito bem.
« quidquam spiritualis potestatis pertinet, nisi
« qned ecclesias possunt, ac debent tueri, et O Sr. Pinto de Campos: — Mr. Dupradt, cujas
« conservare. Quiu dubitari minimi potost, elsi opiniões liberaes são bem conhecidas, nega em
« varii eligendi episcopos variis Wmporibus modi sua Concordata d'America que o poder temporal
« in ecclesiazticis historiis reperiantur, eos orn possa por si só restringir ou ampliar as juris-
ei nes ex cencensu saltem tacito, et permissivo dicções ecclesiasticas.
« Pontiflcum fuere , qui eos, vel apprababant, Se a conservação da globo, diz Santo Ambrosio,
a vel permittebant, vel tolerabant, quoad intelli- depende do equilibrio regular entre as suas leis
« gerent id tunc statui convenire. » physicas, segundo a admiravel disposição do Su
A' vista disto como dizer o nobre deputado que premo Artifice, da mesma sorte a conservação
os antigos reis de Portugal tomarão a iniciativa das sociedades catholica* depende da harmonia
na escolha dos bispos, sem que nisso interviesse e boa intelligencia entre os dous supremos po
a curia romana? deres sociaes. Rematarei o meu discurso com os
pensamentos do iininortal Bossuet. ultimo padre
O Sr. Ionacio Barbosa:—Não ha tal, o que eu da igreja, na phrase de um moderno escriptor i
disse foi que os reis de Portugal nomeavão os ■ Nos negocias, não sómente de fé, como ainda
bispos, e o papa os confirmava. da disciplina eccleslastiea, compete á igreja a de
O Sr. Pinto de Campos : — Então estamos já cisão ; ao principe a protecção, a defeza e a exe
de acordo ; mas o nobre deputado manifestou cução dos seus canones, porque o espirito de
aqui idéas contrarias. cliristianismo ó que a igreja- se governe canoni
Senhores, se eu não quizesse fatigar a pacien camente. (Muitos apoiados.)
cia da camara, continuaria A demonstrar com a (Depois de alguma pausa continua o orador) :
historia na mão qual a marcha que em todos — Creio que se acha sobre a mesa uma .emenda
os tempos seguirão os paizes catholicos em ne que tem por fim autoris ir tambem o governo a
gocios desta natureza; mas receio entrar muito impetrar da Santa Sé as bulias que desliguem
nestas questões, não pelo qun já disserão o do bispado de Pernambuco algumas freguezias
nobre arcebispo e outros escriptores de igual para incorporal-as no arcebispado da Bahia. Se o
nota, cujas doutrinas não faço mais do que re espirito de justiça não predominisse em mim muito
produzir, como porque, em se tratando de as mais profundamente que o espirito de parcialidade,
sumptos desta natureza, chovem os epigrammas por certo que eu votaria contra easa emenda
e por via de regra os padres são quem pagão (apoiados) ; mas eu tenho necessidade de provar
(risadas, não apoiados) ; eu vejo e obserVo o aos nobres signatarios da emenda que quando
que se passa. . . se trata de fazer o que é justo, ponho de parte
Entretanto, Sr. presidente, sempre apresentarei tudo que sibe a parcialidade.
ainda á 'consideração da camara as opiniões e Alouns Srs. Deputados da Bahia : —Apoiado ;
doutrinas dé homens de muito credito no mundo fazemoslhe toda a justiça.
catholico ; começarei por citar uma passagem do O Sr. Pinto de Campos : — Voto pela emenda,
grande arcebispo de Cambraia, muito conhecido Sr. presidente, porque sempre entendi que é
dos nobres deputados. (Apoiados.) .0 nobre autor mais regular que as circumscripções ecclesias
da Telemico, fullando das preiogativas da igreja, ticas sigão as circumscripções civis, como se
diz -o seguinte : praticava antes da dissolução do imperio romano;
« Ella aceita essa protecção do poder temporal eutendo que é uma anomalia entrar a jurisdicção
como as offrendis dos fieis, sem a exigir,- e nos ecclesiastica de Pernambuco no arcebispado da
beneficios dos principes n9b vê senão a mão do Bahia ; e sei que o Sr. bispo de Pernambuco
seu divino fundador. Não permitta Deos que o nutre desejos do que se submetta á direcção do
piotector governe, nem previna jámais em cousa metropolita essa porção do seu rebanho, que,
alguma o que a igreja regular. O seu dever é pela distancia em que se acha do seu pastor,
apoiar as decisões que delia emanarem, sem se não póde ser soccorrida com a promptidão e
TOM» 3. 41
322 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
desvelos necessarios (apoiados) ; entretanto, como das as vezes que em um paiz qualquer cidadão
um e outro prelado ha de ser ouvido a esse por obscuro que seja, puder emittir livremente
respeito, as suas informações orientarão melhor suas opiniões sem obstaculo nem perigo, essa
o governo no tocante á impetração das bulias. paiz é livre ; e que nós representantes do povo
Não voto somente, Sr. presidente, pela emenda e defensores dos seus direitos e interesses, não
indicada, voto por todas quantas facilitarem as estaremos na altura da nossa missão se acaso
c:i cações de bispados no Brazil, porque é isso píla discussão não mostrarmos que conhecemos,
uma idéa eminentemente civilisadora (muitos que comprehendemos , que queremos defender
apoiados) ; e aproveito este ultimo momento esses direitos e interesses, e fazer com que
para declarar á camara que li a bulia que sanc- elles sejão reconhecidos e respeitados.
cionou a creação do bispado do Rio Grande do Sei, Sr. presidente, que estes principios não
Sul, na qual o santo padre, depois de fizer agradão aos Srs. ministros ; elles desejão por
muito valer as informações dos respectivos bis todas as maneiras destruir a discussão ; elogião
pos, manifesta os mais ardentes desejos que se o nosso patriotismo, elevão-nos até ás nuvens,
multipliquem no Bmzil as dioceses, porque só so acaso nos tornamos silenciosos e consentimos
assim as luzes da verdadeira religião se propa assim que a sabedoria ministerial seja preferida
garão profundamente neste v isto e immenso ter á sabedoria legislativa. . .
ritorio. (Muito bem; muito bem( O orador ê fe O Sr. Wanderlev dá um aparte que não ou
licitado por seus collegas.) vimos.
O Sr. Ionacio Barbosa:—Peço a palavra. O Sr. Fioueira de Mello: — E' exacto, vou
Alouns Srs. Deputados:—Ceda para se votar. mostrar pelos factos. Entretanto a experiencia
Votos, votos.!*" nos tem mostrado que quando não discutimos
as leis, ell is não sómente se tornão inuteis,
O Sr. Cruz Machado: —Pela ordem. inexequiveis, como não têm no paiz aquella
O Sr. Ionacio Barbosa :—Eu pedi a palavra. força e saneção moral que devem ter. Para prova
O Sr. Presidente :—Tem a palavra pela ordem desta asserção, eu lembrarei a lei da provin-
o Sr. Cruz Machado. cialisação das notas, que tendo aqui passado
quasi sem discussão, porque apenas um orador
O Sr. Cruz Machado : — Roqueiro o encerra a havia impugnado, e sendo sanecionada poste
mento desta discussão. riormente pelo poder competente, não foi ainda
Posto a votos este requerimento é apptovado, executada, em razão dos inconvenientes que
e procedendo-so A votação sobre a materia ap- dahi resultavão ; eu lembrarei ainda a lei que
prova-se o projecto com todas as emendas. autorisa o governo a reformar o ensino prima
rio e secundario do municipio da córte, que tem
fixação das forças de mar encontrado na execução obstaculos que têm
feito com que até hoje não tenha sido executada,
Continua a discussão do art. 1° do projecto e entretanto os Srs. ministros a fizerão passar
ue fixa as forças de mar para o anno financeiro com toda a pressa, sem grande discussão I
3 o 1854 a 1855. Sr. presidente, tanto é verdade que o governo
não quer a discussão, que para o provar bas
E' lida a seguinte emenda que, por estar as- tará attender tanto para o que se passou na
signada por diversos senhores, julga-se já apoiada: discussão da resposta á falia do throno, que
« Fica revogada a ultima parte do art. 5» da como todos sabem, offerece occasião pira se
lei r. 646 de 31 de Julho de 1852, das palavras— discutir os actos ministeriaes, como pelo que se
continuando porém a regular—em diante. Esta observou quando se discutio a proposta do go
disposição terá vigor desde jã, e será perma verno para soccorrer os bancos da praça e des
nente. truir a crise commercial que se dizia existir ;
« Paço da camara, em 27 de Junho de 1853. — ambas essas discussões deixárão de continuar
A. C. Sedra. — P. Baptista. — A. de Oliveira.— por se ter pedido o encerramento delias. A ma
Nabuco de Araujo. — Sebastião do Rego. — Pinto neira porque foi discutida a lei que crêa um
Pacca. — F. X. Paes Barreto. —Brusque. — Fi banco nacional, fornece-me ainda uma outra
gueira de Mello.—Mendonça C. B. » prova : não podendo essa lei ser devidamente
discutida na segunda discussão, porque os ora
O Sr. Figueira de Mollo :—Sr. pre dores da opposição que podião tomar parte nella
sidente , quando entrou em segunda discussão achárão-se impossibilitados de fazêl-o, elli pas
este projecto, eu hesitei em pedir a palavra, sou" immediatamente para a terceira discussão,
como a camara teria observado, tanto porque dispensados os intersticios do regimento, o foi
me faltavão os conhecimentos proprios r ospe- afinal adoptada pela camara, tendo apenas dous
ciaes para podêl-o fazer com vantagem em ma ora lores fallado sobre materia tão importante 1
teria tão importante, e conhecia que outros Assentou-se que se- devia em tal assumpto ad-
oradores poderião esclaiecêl-a melhor do que eu, mittir o systema da rolhai
como porque eu via que tanto o governo como Ora, senhores, pedir o encerramento de uma dis
a casa não querem a discussão (não apoiados) ; cussão sobre bancos que chama toda a attenção do
e entretanto, Sr. presidente, se as dnvidas é o commercio, e que deve excitar necessariamente
meio de chegar á verdade, a verdade não se a de todos os homens que procurão firmar e es
póde Conhecer senão por meio de discussões sé tender o credito, e promover os interesses do
rias e profundas que esclareção não sómento a paiz, o pedir esse encerr imento quando apenas
nós, que temos de tomar uma decisão, como se hão proferido dous discursos, e s.: achão outros
tambem ao povo para qnem legislarmos. oradores %com a palavra, demonstra claramente
Por outro lado eu entendo que a discussão é que se nao quer a discussão.
a alma, é a vida do systema representativo. Releva ainda observar-se que os Srs. ministros,
(Apoiados.) Nos governos despoticos manda o seguindo o plano de não quererem a discussão
senber, e todos obedecem; ninguem deseja dis na casa, não apresentão as suas propostas em
cutir as questões administrativas, não só por tempo para que os Srs. deputados possão tomal-as
que' é inutil fazêl-o, mas tambem é perigoso ; em consideração e estudal-as devidamente. Assim
mas no governo representativo, no governo da o Sr. ministro do imperio tendo-nos dito no seu
liberdade, no governo em que se conhece e res relatorio que teria muito brevemonte de apresen
peita a dignidade do homem, a discussão é ne tar uma proposta sobro uma nova organisação
cessaria e inevitavel. Estou persuadido que to das nossas municipalidades, até hoje não o tem
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 323
feito I Desde já eu prevejo que quando essa pro lho naval, e achando-se elle já em terceira dis
posta se apresentar, a commissão que a tiver de cussão no senado, o nobre ministro não o tivesse
examinar ha de dizer que ella é muito bem de querido adoptar, e nem ao menos se dignasse
lineada, que contém as medidas mais sabias, dar-nos a razão de seu procedimento, e viesse,
mais justas que se devem adoptar para bem do por assim dizer, substituir a sabedoria ministe
paiz.\ . rial á sabedoria legislativa, não podendo ignorar
Um Sr. Deputado : — Como sabe disto ? que esse projecto era o resultado de uma pro
posta do governo, e que sobre elle tiverão lugar
O Sr. Fioueira de Mello : — E' o que ha de nesta camara discussoes muito aprofundadas.
acontecer; mas não ha de apresentar-nos um Tambem não posso deixar de observar com
parecer desenvolvido o aprofundado da materia; algum reparo, Sr. presidente, que o Sr. ministro
essa proposta ha de ser immediatamente para a da marinha queira organisar o conselho naval
ordem do dia, e como não temos tempo para antes pelo systema francez do que pelo systema
consultarmos' a opinião esclarecida do paiz, para inglez, adoptado p ir muitos paizes, em que a
consultarmos os factos, segue-se que havemos marinha tem chegado a alto gráo de esplendor.
de adoptar a proposta do Sr. ministro quasi sem Estou persuadido que, embora o ministro da
discussão. O mesmo direi a respeito de outras marinha pelo systema inglez não possa ser tudo
propostas que estão promettidas, ; ellas passarão nas decisões dos negocios da competencia do
sem a menor discussão, e os factos mostraráõ conselho naval, dahi não resultão inconvenien
se o que eu digo é ou não a verdade, se mi tes ao serviço publico, e que sómente assim é
nhas previsões forão ou não fundadas. que se poderá remediar todos estes inconve
Se destes factos passo para o que se observa nientes que o nobre ministro nota no seu rela
relativamente ao ministerio da marinha, eu vejo torio devem existir por falta do^onselho naval
o que digo confirmado por actos do Sr. ministro. fortemente organisado. Por outro rado parece-me,
Faltando da necessidade de um conselho naval, Sr. presidente, que quando nós tem is de escolher
declarou S. Ex. que entre os diversos systemas exemplos p ira poder conseguirmos os resultados
adoptados por algumas nações, isto é, de dar-se favoraveis á nossa marinha, devemos procural-os
ao conselho naval voto deliberativo sobre os ob antes nas nações em que a marinha tem chegado
jectos de sua competencia, ou de ser apenas con a alto grão de esplendor, em que esse ramo do
sultivo, e de deixar-se ao ministro da marinha serviço publico tom chegado ao maior gráo de
o direito de seguir ou não seus pareceres, era elle perfeição; do que"naquelles paizes em que pela
de opinião que devia adoptar-se o ultimo sys- confissão dos seus proprios escriptores, e dos
tema que vigora em França, e não o primeiro seus mais habeis marinheiros, a marinha ainda
adoptado pela Inglaterra; e concluindo o seu re se acha muito acinhada, e precisa de grandes
latorio nesta parte por esta maneira. S. Ex. melhoramentos.
disse-nos : « O modo de dotar-se quanto antes Seguindo o mesmo systema de não querer
a marinha de tão util instituição creio que seria discussão, o Sr. ministro tambem pedio-nos au-
autorisar o corpo legislativo ao governo para torisação para fazer as reformas que julgasse
creal-a por um decreto, sujeitando-a depois em convenientes nas intendencias o contadorias da
um prazo marcado, que deverá ser razoavel para marinha, sem entretanto nos dizer quaes erão
haver tempo de consultar-so a experiencia, á sua essas reformas, quaes as vantagens que delias
definitiva approvação. poderião resultar. A esse trabalho porém furta-se
Ora, se por ventura o Sr. ministro desejasse o Sr. ministro da marinha, e conforme eu de
que houvesse discussão sobre a utilidade e van duzo do seu relatorio, para reconhecer-se se os
tagem de um conselho naval, sobre sua respe regulamentos que tiver de fa/.er são bons ou
ctiva organisação, sobre as attribuições que se mãos, ó mister appellar-se para a experiencia
lhe deverião confetir, não teria o Sr. ministro futura, e nunca basear-se na experiencia passada.
vindo apresentar a sua proposta nesta casa, não Sr. presidente, é ainda por causa desse sys
teria vindo mostrar-nos os fructos de sua expe tema de evitar 'toda a discussão que o Sr. mi
riencia, e os motivos que deverião levar a ca nistro, fazendo a sua proposta para fixação das
mara a adoptar esse conselho naval? De certo forças navaes, não apresentou, na minha opinião,
âue sim ; mas isso de nenhum modo convém ao todas as idéas que devia nella incluir ; assim o
r. ministro ; elle sómente quer que o autorise- Sr. ministro na proposta não incluio aquellas
mos a organisar o conselho naval, e que nada providencias que, em sua opinião, se deverião
discutamos. adoptar relativamente ao corpo de saude, offi-
Ora, Sr. presidente, se para dotarmos a nação ciaes do culto e de fazenda, contadorias de ma
de qualquer instituição util, não ha melhor modo rinha, intendencias, marinhagem, e a outros
do que autorisarmos o governo a estabelecel-a objectos mencionados no seu relatorio.
como bem quizer, á vista do que nos diss-l o Ora, me parece que a proposta de um ministro
Sr. ministro, parece-me que por um artigo de lei relativamente á fixação de forças não devo se
deveriamos desde já autorisar ao Sr. ministro da limitar ao quantum dessa força ; mas estender-so
marinha para fazer quanto entendesse conveniente ás medidas que elle entender convenientes,* para
na repartição a seu cargo, porque sómente assim que o serviço publico a seu cargo se aperfeiçóe
a nossa marinha poderia chegar a maior gráo de o mais possivel, exceptuando-se apenas as que
perfeição, ter o maior desenvolvimento e força, disserem respeito ao orçamento, porque sómento
e mesmo igualar ás marinhas dos Estados-Uni- ahi têrião lugar. De semelhante systema resulta
dos, da «Inglaterra e da França. que nós não possamos discutir essas medidas
O Sr. Aprioio : — Apoiado. com o necessario desenvolvimento, porque não
sendo ellas apresentadas em segunda discussão,
O Sr. Fioueira de Mello : — Segundo o pensar senão como artigos additivos, esses artigos addi-
do Sr ministro, não devemos discutir, os meios tivos são discutidos todos ao mesmo tempo, e
que devão ser empregados para conseguir-se não podendo passar por uma discussão conve
esse fim ; o melhor modo, segundo o pensar do niente (que é o que quer o Sr. ministro), tam
Sr. ministro, é dar-selhe automação para elle bem ficamos inhibidos de adoptar o melhor. Por
obrar como julgar conveniente. Ora, senhores, esta razão, Sr. presidente, eu não posso deixar
um tal systema de legislar póde ser adoptado? do reprovar semelhante systema ministerial, que,
Póde-se conferir um semelhante arbitrio? na minha opinião, se mostra tão cheio de incon
Sr. presidente, já que toquei neste ponto, eu não venientes.
posso deixar de notar que, tendo sido approvado Sr. presidente, antes de entrar na discussão
por esta casa um projecto que crêa um conse do projecto, permitta-me V. Ex. que eu faça
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
ainda algumas observações relativamente á ma de obstar a que as aréas descidas da ilha do
neira porque o Sr. ministro tem dirigido alguns Nogueira obstruão a barra, disse o Sr. Tosta que
ponto' da repartição a seu cargo. Observarei em se h ivião feito "-Í40 braças, ao passo que o actual
primeiro lugar que tendo a lei do orçamento de Sr. ministro diz-nos que existem feitas sómente
1852 a 185:4 concedida ao Sr. ministro * quantia 170, e eu desejava por isso saber qual a razão
de 10:000$ para com ella concertar os quarteis dessa contradicção. Será por ventura porque
de Bragança, o Sr. ministro em vez de limitar as tenha cabido parte dessa muralha ?
despezas á quantia determinada pelo poder legis Entrarei- agora na materia. Tratando da força
lativo, fez um contracto em virtude do qual a naval, diz o projecto que ella se comporá no
nação deve gastar a não pequena som ma de anno financeiro de 18u4 a 1855 de 3,000 praças
54.H00ÍI000. de todas as classes em circunstancias ordinarias,
Ora , senhores , alguns dos deputados que se e de cinco em circu nstancias extraordinarias.
achaváo nesta casa no tempo da discussão dessa Ora, estas praças são as que compoem a nossa
lei sabem muito bem que ao principio se tratm marinhagem, e o Sr. ministro, faltando ácerca
de se vender esse quartel como inutil, e até se desta, diz-nos que tem sido extrema a difficul
deu autorisação ao governo nesse sentido ; mas, dade com que luta a repartição a seu cargo alim
tendo-se observado depois qno essa venda era de obter a marinhagem sufliciente para os vasos
prejudicial e que se devião fazer esses concertos, de nossa armada, tinto porque o nosso recruta
porque elles não poderião importar em muito, mento não é sufliciente, como porque não concor
determinou-se que fossem feitos com 10:000$. En rem pessoas a engajarem-se voluntariamente.
tretanto, o Sr. ministro, não obstante a clara Examinando as causas de semelhantes factos,
e terminante disposição legislativa , despendeu , o Sr. ministro decl ira-nos igualmente no seu re
como já disse, muito maior quantia do que a latorio que são duas ; primeiro a eflicaz relu-
votada 1 ctancia que têm os brasileiros pura a vida do
Ora, senhores, com semelhante procedimento mar, e segundo a diminuta remuneração que o
do Sr. ministro e de outros iguaes de seus col- estado offerece comparativamente aos vencimentos
legas póde de maneira alguma a lei do orça que os marinheiros percebem nos navios mer
mento ter vigor ? Deixar de ser letra morti, como cantes, e em consequencia destas causas entende
desgraçadamente o tem sido? Sem duvida que o Sr. ministro que, para as remover, deve elle
não. ser autorisado a despmder 40.000$ pouco mais
Sr. presidente, se o nobre ministro tem vio ou menos, augmentaudo as vantagens dos indi
lado a lei do orçamento, fazendo uma despeza vidnes que se quizessem engajar no serviço dos
superior á que ella queria que sé fizesse, tambem navios de guerra.
a tem violado em outros pontos deixando de fa Sobre este objecto eu observarei em primeiro
zer despezas que por ella forão determinadas. lugar á camara que o remedio apresentado pelo
Por exemplo , pela lei do orçamento para o nobre ministro não me parece consentaneo a
anno financeiro de 1851 ar 1852 foi consignado remover as causas que S. Ex. aponta, porque
para o melhoramento do porto de Pernambuco a se uma delias consiste na repugnancia para a
quantia de 120: Ot0$ ; mas apezar de ser esse vida do mar, segue-se que o maior premio que
melhoramento muito reclamado pelo commercio dermos aos que se engajarem não a póde remo
da terceira provincia do imperio, as ordens que ver, e que portanto essa repugnancia na de con
têm partido do ministerio da marinha têm sido tinuar a existir emquanto não destruirmos todos
taes que têm embaraçado o progresso das os motivos que lhe derão origem ; o pelo que
obras respectivas, e apenas nestas se ha gasto respeita ao augmento do premio aos vngijados
a quantia de :{10:000$, segundo estou informado, ou voluntarios, parece-me que o emprego desse
durante o anno financeiro a que me hei refe meio só momentaneamente destruirá as difficul-
rido. dades que agora sentimos em tripular os nossos
O Sr Auoosto de Oliveira : — Ap liado, é exa navios, não sómente porque, uma vez consumida
ctissimo. a consignação marcada para esse engajamento,
hão de necessariamente apparecer as mesmas
O Su. Fioueira de Mello : — Ora, senhores, difliculdades, o que me convence de que o
um tal proceder a respeito do porto da terceira remedio proposto é ephemero, inefficaz e empi
cidade do imperio, a respeito dos melhoramen rico mesmo, como porque o thesouro ha de ficar
tos que têm sido considerados urgentes afim de sobrecarregado com as despezas que todos os
que não seja obstruido pelas arêas que continua annos temos de fazer, de sorte que hão de
mente são acarretidas pelos rios, que para elle subsistir os mesmos inconvenientes que o Sr.
corre, esse proceder, digo, não póde deixar de admi- ministro desejava destruir, e que apenas será
rar-me, « de chamar a attenção do corpo legisla destruida uma ou outra circumstancia que para
tivo, e é por isso que eu desejo que o Sr. mi elles concorria.
nistro nos declare quaes as razões por que não Ora, Sr. presidente, qual será a causa princi
tem despendido com os melhoramentos desse porto pal da repugnancia dos brasileiros para a vida
a quantia designada pela lei. do mar ? Será por ventura porque os brasileiros
O Sri Ministno da Marinha : — Não seria me nSo tenháo, nem possão de modo agum adquirir
lhor que reservasse is,to para a discussão do or as qualidades necessarias para se empregarem
çamento ? em tal trabalho ? De certo que não. Os nossos
indios têm sido apregoados como os mais habeis
O Sr. Fioueira de Mello : — O que eu es marinheiros, e eu vejo que todas as nações têm
tou dizendo, Sr. ministro, se póde tratar tam sido mais ou menos habeis para o serviço ma
bem nesta occasião, porque na discussão da fi ritimo, quando as suas leis e instituições são
xação de. forças de mar e terra se póde tratar bem reguladas ; tenhamos leis e instituiçoes
não sómente da politica geral, como igualmente que tornem a vida do marinheiro commoda,
da marcha de toda a administração, e eu em vez apreciavel, gloriosa mesmo, e eu estou persua
de usar desse direito , limito.me apenas a tratar dido que ha de acabar essa repugnancia.
de alguns pontos da administração de V. Ex. Sr. presidente, eu entendo que as causas que
Por esta occasião, Sr. presidente, tambem dese concorrem para semelhante estado de cousas, e
java que o Sr. ministro me explicasse uma no que devem ser quanto antes removidas, são
tavel contradicção que eu julgo dar-se entre o não sómente a falta de sufficiente remuneração
seu relatorio e o do seu antecessor o Exm. Sr. aos nossos marinheiros, como disse o Sr. minis
Tosta. Faltando da muralha que se tem procu tro, porém muito principalmente o máo trata
rado fazer no porto de Pernambuco com o fim mento alimenticio que elles têm a bordo dos
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 325
navios, as continuas arbitrariedades de que são parecerem convenientes para que a nossa ma
victimas, como se não tivessem senão obrigações rinha augmente, dando assim o Sr. ministro
e não direitos, a má fé que se tem para com uma prova do seu patriotismo, e de que. toma
elles, e o nenhum futuro que se lh«s antolha a peito um assumpto de grar.de alcance para o
no fim de sua carreira. paiz.
Consta-me que os generos fornecidos para con Passando agora a outro assumpto, eu observo
sumo da marinhagem são em" geral de má qua 3ue a nossa força maritima se compõe tambem
lidade, e que actualmente esse fornecimento se o batalhão naval, que d'antes se chamava corpo
faz por monopolio igual ao que em outro tempo de fuzileiros navaes. Ora, ou desejava saber que
se tazia no arsenal de guerra, visto que os for motivos teve o Sr. ministro para mudar essa
necedores dos nossos arsenaes de marinha, e denominação já aceita e reconhecida; eu não
principalmente du arsenal da córte, são sempre conheço razão alguma de conveniencia em seme
os mesmos, segundo mo consta lhante mudança, muito principalmente attenden-
A respeito das arbitrariedades que soffrem os do-se que tanto um como outro corpo prestão
nossos marinheiros, pareco-me que não ha nin o mesmo serviço, e fazem destacamentos a bordo
guem que tenha embarcado nos nossos navios dos navios armados, e nos arsenaes, fortalezas,
de guerra que as não tenha, observado e lasti e estabelecimentos da repartição de marinha.
mado ; os nossos marinheiros não têm garantia Talvez que eu esteja em erro, e que o Sr. mi
alguma a bordo, os officiaes de marinha, salvas nistro da marinha para essa mudança tivesse
honrosas excepçoes, se têm acostum ido n tra- motivos muito poderosos, e por isso eu desejo
tal-os como escravos, e todos Sabem que de se que o Sr. ministro nos explique quaes elles
melhante estado de cousas não póde resultar forão.
senão repugnancia e aversão á vida de mari Por esta occasião não posso deixar de obser
nheiro. var que o Sr. ministro da marinha, sendo auto-
Qual é o futuro dos nossos marinheiros? Tem-se risadn pela lei do orçamento para o anno finan
tratado desde 1346 de crear um estabelecimento ceiro de 1850 a 1854 a dar ao corpo de fuzileiros
para invalidos, porém até hoje ainda nada se navaes a organisação que fosse mais conve-
fez de efiicaz para concluir osta obra; apenas o j niente, tivesse no regulamento de 21 de Novem-
nobre ministro, talvez para mostrar que não des j bro de 1852 deixado de cumprir a lei na parte
prezou inteiramente essa idéa, publicou ultima relativa ao tempo de serviço das praças desse
mente um decreto pelo qual, se mandava proceder corpo. Nesse regulamento se diz que o tempo
a alguns trabalhos. ( de serviço das praçis do batalhão naval será
Em fim, da má fé que se tem para com os aquelle que se acha marcado para as praças do
marinheiros nos seus engajamentos provém muitos exercito, ou que se houver de marcar, ao passo
embaraços, porque quando elles pensão que alis- que a lei do orçamento determina que elles sirvão
tando-se por certo numero de annos, terão, findos tanto tempo quanto está marcado para as praças
elles, immediatamente as suas baixas, depressa de pret do exercito de terra. Parecendo-me que
se vêm enganados, porque se em pregão todos houve manifesta alteração da lei, acerescentarei
os meios, os sophismas e tudo o mais quanto agora que a disposição do regulamento ministe
podem imaginar para os reter no serviço, de rial é prejudicial, porque deixa o recruta ou
sorte que o marinheiro continua a servir sem voluntario do corpo r.a ignorancia do tempo em
appellação nem aggravo todo o tempo que bem que deve acabar o seu serviço. Assim, quando
aprouver aos seus superiores. elle suppnzer que no fim de 4 annos que lhe marca
Sr. presidente, além destas causas que con a lei terá a sua baixa, ha de conhecer que fóra
correm para afastar os brazileiros do serviço da illudido, porque o farão servir ainda mais um
marinha de guerra, ha outrns mais geraes que ou dous annos, se essa lei tiver sido posterior
produzem as d.fliculdades referidas pelo Sr. mi mente alterada, porque no regulamento se diz
nistro, e são a decadencia da nossa marinha que elle servirá o tempo que estiver marcado
mercante, o nenhum favor dado ás pescarias. para as praças do exercito e mais o que se houver
A camara e o Sr. ministro sabem que a marinha de marcar. Portanto, me parece que não posso
mercante e as pescarias são principalmente o dispensar-me de pedir ao Sr. ministro a expli
grande viveiro da marinha de guerra, e portanto cação dos motivos que o levárão a fazer essa
que esta ha de encontrar grandes embaraços na alteração de lei, tornando incerta a sorte das
ãcquisição de marinheiros se aquelles ramos de praças do batalhão naval.
industria forem desprezados, ou retrogradarem, Eu desejava igualmente que o Sr. ministro nos
como tem ncontecido ; porquanto eu observo nos dissesse se elle entende que se acha bem orga-
relatorios do Sr. ministro da fazenda que nossa nisado o corpo da nossa armada, quer quanto á
navegação de longo curso, se compararmos os maneira de lazer o serviço, quer quanto ao nu
mappas do anno de 184(5 a 1847 comos do anno mero de postos que segundo as leis existem
de 1851 a 1852, tom diminuido 10,000 toneladas actualmente, quer quanto á denominação desses
pouco mais ou menos, ao passo que a navega postos. Do seu relatorio nada consta a esse res
ção estrangeira tem augmentado em proporções peito, entretanto me parece que alguns inconve
extraordinarias. E conseguintemente eu não posso nientes podem resultar dessa organisação.
deixar de pedir ao governo que lance suas vistas Eu desejava saber, por exemplo, se S. Ex.
ácerca da nossa marinha mercante e das pes entende que temos necessidade de tantas classi
carias; que procure protegél-as por medidas ficações de officiaes, como almirantes, vice-almi-
adequadas; que destrua assim todos os obstacu rantes, chefes de divisão, chefes de esquadra,
los que vedão o desenvolvimento da nossa na capitães de mar e guerra, capitães de fragata,
vegação, certo de que somente assim teremos capitães-tenentes, primeiros tenentes, segundos
grande numero de bons mainheiros, e a ar tenentes, ou, se pelo contrario, não deveriamos
mada nacional delles se poderá servir com pro admittir o systema que se acha em pratica em
veito. algumas nações, reduzindo os postos ao menor
Sobre este assumpto eu lembrarei que em 1815 numero possivel. Na Inglaterra e na França ha
ou 1816 foi apresentado pelo Sr. Souza Martins apenas seis postos ; e dizem-me que nos Esta-
um projecto importantissimo tendente u facilitar dos-Unidos elles não passão de tres.
o augmento da nossa ma°rinha mercante ; e como Talvez que, segundo o exemplo destas nações,
esse até hoje não foi discutido, e i:ós continua nós pudessemos supprimir alguns postos, como
mos no mesmo estado, eu entendo que o governo de capitão de mar e guerra, nu reduzir a um
devia fazer discutir esto projecto, ou aliás pro- só os postos de Ia* e 2°* tenentes, e de chefes
pór ao poder legislativo as medidas que lhe de divisão e de esquadra. Talvez que feita essa
326 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
alteração no numero e denominação dos postos, as questões que se têm suscitado sobre este ou
estes melhor correspondessem aos serviços p ira aquelle ponto, sem nunca as resolver de modo
que são designados os officiaes que os occupão. algum. Parece que o Sr. ministro não deseja
Éu desejava finalmente saber se acaso com o apresentar suas idéas e esclarecer o corpo legis
actual systema do promoções que temos, com esse lativo, como convinha. %
grande numu-o de officiaes que já existe, o ser Observando mesmo o que tem feito o Sr. mi
viço publico não padecerá. nistro na repartição a seu cargo, parece-me que
Fallando a respeito dus aisenaes de marinha, se póde afiançar sem erro que elle não tem
o Sr. ministro nos declarou que se achão alguns passado do expediente ordinario. Nada apparece
navios em construcção e que outros já têm ca- que demonstre que o Sr. ministro se tem ap-
hido ao mar, etc. Entretanto me parece que o plicado seriamente a fazer com que a nossa ma
systema actualmente admittido pelos Srs. minis rinha seja levada a maior perfeição e desenvol
tros da marinha de fazerem muitas construcções vimento, o a que o Brazil tem direito, quer
sem terem preparado os meios necessarios quer quanto ao seu pessoal, quer relativamente ao
para que ellas se tornem sqlidas, quer para que seu material, quer quanto ás instituições mari
sejão conservadas, ó demasiadamente prejudicial timas de que temos necessidade. Devo porém
ao paiz. confessar, Sr. presidente, que em parto não é
Senhores, eu entendo que emquanto não tivermos do estranhar isso no Sr. ministro, porque todos
grandes depositos de madeiras, em que ellas por sabemos que elle não pertence á marinha, a
muitos annos sequem, paia então serem appli- que, tendo entrado para essa repartição sem ter
cadas ao serviço naval, somente faremos navios nenhum conhecimento delia, muito tempo deve
para apodrecerem nos portos dentro de pouco gastar para int"irar-sí dos nogocios, e saber o
tempo, e despenderemos grandes quantias com que cumpre fazer. Não havendo no imperio um
immenso prejulzo dos cofres nacionaes. Portanto conselho naval a quem possa consultar, S. Ex.
eu desejava que a nobre ministro me declarasse se ha de ver-se na necessidade de estudar as me
para essas construcções se hão precedentemente nores questões, e de distrahir a sui attenção das
preparado grandes depositos de madeiras, e qual questões importantes.
o tempo que ellas ahi devem, estar para serem Em um paiz como a Inglaterra, onde existe
applicadas ás construcçõ'S. um conselho naval, a, cujo cargo estão as gran
Tambem mo parece que essas construcções são des resoluções da marinha, póde-se talvez dis
ainda prejudiciaes, se antes não tivermos pre- pensar ojue o ministro pertença a essa repar
arado os meios de conservar os nossos navios tição ; mas no nosso paiz é isso inteiramente
5 e guerra. A experiencia nos mostra que tendo inconveniente. E' por este motivo que eu pediria
comprado ou construido alguns navios de guerra, ao Sr. ministro que oinpregasse toda a sua in
.estes, cessadas as causas que os fizeráo comprar fluencia para que se discutisse o projecto de
ou construir, vão ser logo desarmados, e bcão lei creando um conselho naval que se acha pen
nos nossos portos abandonados, entregues ao dente no senado, ou que vouha apresentar- nos
tempo, e são afinal, por causa do deleixo, a sobre a materia a sua proposta, se entende que
presa do bicho. Consta-me que a -fragata Para- esse projecto não póde prestar, dando-nos as
guassú, tendo necessidade de fazer grandes con razões da organisaçao que se deve adoptar. Se o
certos fóra do paiz, e havendo feito antes de Sr. ministro esclarecer-nos com os seus conheci
seguir para Inglaterra os reparos indispensaveis mentos e experiencias, havemos do dar to los os
para a viagem na importancia de 80:00u$, deixou meios de que necessitar para que o imperio se
de ter esse destino por ordens posteriores, ficou torne uma nação maritima, e aproveite as mui
no -porto até agora, e se acha incapaz de serviço tas proporções que tem para conseguir esse
por estar inteiramente podre. Ora, se acaso ti fim.
vessemos preparado os meios de conservar os Sr. presidente, tendo exposto as minhas idéas
nossos navios, se tivessemos construido docas, em relação ao projecto que se discute, a camara
se tivessemos empregado outros cuidados mais, me permittirá que eu ainda oceupe por alguns
elles se conservarião por muito- mais tempo; momentos a sua attenção em resposta a um
entretanto é isso o que se não tem feito, e al nobre deputado pela Bahia que na sessão de
gumas publicações têm apparecido nos jornaes bontem fallou em ultimo lugar.
da corte denunciando deleixo havido a esse res Esse nobre deputado lançou-nos em rosto o
peito. fazermos actualmente opposição ao governo ,
Sr. presidente, tambem me parece que se com- quando na legislatura passada o apoiámos; e o
mette grande erro, e erro muito prejudicial , nobre deputado baseou toda sua censura refe
qumdo se quer construir grande numero de rindo-so a eleições geraes. Entretanto, Sr. presi
navios guerra, quando com antecedencia se não dente, cumpre que se saiba qne nós fazemos
ha preparado o pessoal que os deve t ri polar e opposição ao governo não pelos fictos eleito-
guarnecer, ou a officialidade que os deve dirigir raes, embora uin ou outro nesta ou naquella
e commandar. Para o provar eu lembrarei o provincia possa merecer censura, mas sim por
que aconteceu á França. Essa nação, desejando differentes outros motivos, todos ponderosos, que
competir coin a Inglaterra sobre os mares, fez tem sido apresentailos, _e que eu não me can
uma grande armada; mas esta, por falta de bons sarei de repetir. Dizer o nobre deputado que
officiaes, foi derrotada em Trafalgar e Aboukir, e somente por causa das eleições é que nos oppo-
desde então a França, de segunda nação mari mos ao gabinete, é querer desconhecer de pro
tima que" era passou a ser a terceira. posito tudo o que se tem praticado, é ter olhos
Taes são, Sr. presidente, as questões para as. para não ver o que é evidente.
quaes eu chamo a attenção do Sr. ministro, o O nobre deputado observou igualmente que
que eu desejava ver discutidas por elle nesta nós tinhamos dito em outro tempo que o go
casa, ou muito desenvolvidas no seu relatorio ; verno era tudo no paiz, e que hoje não susten
arece porém que o nobre ministro não gosta tando o mesmo, somos contradictorios. Se acaso
I e entrar em semelhantes assumptos, e sómento em outro tempo dissemos que o governo era
quer autorisações para poder obrar como julgar tudo no paiz, esta asserção apenas consigna um
conveniente, e dinheiro para poder despender á facto, e nunca póde justificar a pretenção do
larga. Basta ler-se o relatorio de S. Èx. para governo, as suas manifestas tendencias para ser
conhecer- se que é verdade quanto digo. Ahi ver- tudo no paiz.
se-ha que o nobre ministro, tratando de varios O governo não deve ser mais mais do que
assumptos importantes, não emitte sobre elles a aquillo que a constituição que quer elle seja
sua opinião definitiva ; e que elle apenas cita (apoiados) ; deve limitar-me ás suas attribuições,
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 327
e nunca invadir as do outros poderes, ou pro das sessões antecedentes eu apresentei alguns
curar reduzil-os á nttllidade. Por conseguinte desses actos para corroborar a minha proposi
quando dissenws na sessao do anno passado, se ção ; agora lembrarei alguns outros. Oonsta-me
e qu.i o dissemos, que o governo era tudo no que certo official da nossa armada, que se
paiz , apresentámos um facto, mas não decla achava commandando um navio de guerra neste
ramos que para tanto o governo tinha di porto, e que nelle abatroára uma escuna mer
reito. cante, fóra coudemnado a não commandar por
Disse igualmente o nobre deputado que nós espaço de um anno, e entretanto se acha em
faziamos opposição ao governo porque elle pro pregado pelo Sr. ministro da marinha.
punha taes e taes medidas que entendemos O Sr. Ministro da Marinha:—Está comman
convenientes ao paiz, e perguntou-nos porque dando ?
não propunhamos nós essas medidas, se ti
nhamos uma tal convicção. A isto responderei O Sr. Fioueira de Mello.—Não está comman
Sr. presidente, que a opposição está no seu dando mas está om pregado. A pena foi imposta
direito propondo qualquer medida logo que en a esse oflicial por causa do seu máo procedi
tenda que ó util ao paiz, mas não tem a obri mento; parecia que se o Sr. ministro da marinha
gação de o fazer, tanto porque seguindo cila quizesse respeitar um pouco mais a decisão do
sobre a administração principios oppostos, as poder judiciario, devia deixar ficar esse official
suas medidas ou projectos não serão adoptados desempregado por aquelle espaço de tempo. O
pela maioria, como porque a minoria não se cominando é um titulo pelo qual se percebe
deve expór a ver suas idéas rejeitadas e des- certas vantagens ;o poder judiciario quiz retirar
moralisadas pela força numerica, quando co ao official essas vantagens, o Sr. ministro lh'as
nhece que não tem força pira dar-lnes tiium- restituio por outro titulo, por outra fórma : em
pho. pregou um methodo mais ou menos encapotado
O Sr. Corrêa das Neves : —Sendo ollas justas para proteger o official e mostrar o seu des
e boas, todos nós as quereremos. prezo ás decisões do poder judiciario.
O Sr. Fioueira de Mello : — A maioria que Na repartição da guerra tambem tom occor-
governa, ou o governo que está a testa da sua rido alguns factos dignos de censura. Sendo
maioria, e que pela posição em que se acha, aceusados de depredação dos dinheiros publicos
em estado de connecer aqui lio que e conveniente alguns cirurgiões que servião no exercito do
é quem deve iniciar essas medidas. K-ta dou Rio-Grande do Sul, o Sr. ministro da guerra
trina é professada geralmente, e foi approvada mandou proceder a exame nas contas da repar
aqui pelo Sr. ministro dos negocios estrangeiros tição de saude desse exercito, e á vista do re
na sessão do 1850 ou 1851. Conseguintemente latorio que lhe endereçou a "commissão para
eu entondo que a opposição não tem obrigação esse fim nomeada mandou que esses cirurgiões
de apresentar medidas formuladas em projecto viessem presos para a córte. Ora, senhores, pa-
de lei ; que sua missão deve limitar-se a cen rece-me que se o Sr. ministro da guerra qui
surar o governo pelos seus erros, e apenas in- zesse respeitar um pouco mais o poder judiciario,
dicir as suas ioéas em globo, e nunca a ma devia sujeitar taes cirurgiões a censelhos de
neira de as pór em pratica, afim de não as guerra na provincia onde tinhão commettido o
ver desmoralisadas peh maioria. délicto que se lhe imputava, onde existião os
corpos a que elles so achavão ligados, onde
O nobre deputado, querondo explicar as cau existião os archivos desses corpos, e por con
sas por que o governo era tudo no paiz, disso- seguinte todos os precisos documentos para
nos que essas causas erão duas: primeiramente que pudessem ser punidos ou absolvidos, con
o clero, e depois o poder judiciario. A respeito forme merecessem. Assim porém não aconteceu,
do clero não me lembro qual foi a demonstra mandou-os vir presos para a córte, e a quatro
ção que o nobre deputado deu ; mas a respeito mezes que elles aqui se achão sem responder
do poder judiciario disse elle: « Emquanto não a conselho de guerra, isto porque o Sr. minis
tivermos um poder judiciario que se interponha tro da guerra entende que deve substituir o seu
entre o poder e o povo, afim de fazer com que arbitrio á disposição da lei, e talvez satisfazer
o povo não seja opprimido na lula eleitoral, os seus caprichos.
não podemos ter eleições livres no paiz. » E'
isto uma verdade ; entretanto, Sr. presidente , O Sr. Dutra Rocha: — O Sr. general Seára,
o que temos nó.-) presenciado nesta mesma ses que entende destas cousas, está rindo-se ao lado
são? Que todas as medidas propostas para dar do nobie deputado, e parece que não concorda
força e garantia ao poder judiciario tinhão sido com o que o nobre deputado está dizendo.
adiadas pelo governo, ou por sua maioria. Prin- O Sr. Fioueira de Mello:—A mim me parece
cipiou-se a discutir a medida que concedo fóro que o nobre deputado é muito máo interprete
privativo aos juizes de direito nos crimes iiuli- de risos.
viduaes : este projecto p.irecia ter merecido a
acquiescencia da camara; mas o Sr. ministro O Sr. Dutra Rocha:—Ao contrario.
da marinha, pedindo a palavra, exigio que o O Sr. Fioueira de Mello: —Seria bom que o
projecto fosso adiado até que sobre *a sua ma- nobre deputado não quizesse tomar a si o pri
toria fosse ouvido o Sr. ministro da justiça, e vilegia de interpretar risos.
nunca mais semelhante projecto entrou em iiis- O nobre deputado pela Bahia tambem tratou
cussão 1 Relativamente aos juizes municipaes, que de defender-se de uma imputação quo julgou que
oceupão na mngistratura do paiz um lugar muito eu tinha feito relativamente á ultima eleição
importa. .te, tambem um membro da maioria de senadores, que teve lugar na provincia do
apresentou um projecto pelo qual se nutorisava o Piauhy. Sr. presidente, não tenho nenhum mo
governo a removêi-os em certos e determinados tivo para desestimar" a esse Sr. senador a que
casos, e como parecesse pela discussão que elle se referio o nobre doputado ; pelo contrario, co
ia ser rejeitado pela casa, ficou ainda adiado á nheço que elle tem prestado serviços ao paiz,
espera de melhor occasião. que é dotado de muita capacidade, e que e digno
Senhores, o desprezo pelo poder judiciario da de ser eleito senador; porém entendo que não
parte do governo e, n i minha opinião, evi lente ; tendo elle nunca ido á provincia do Piauhy,
o governo nêo quer que o poder judiciario so não tendo alli nenhumas relações, nenhuns bens,
organise, se consolide, tenha força alguma no ou outro quulquer interesse, não seria de modo
paiz. Os actos diarios do governo tendem a algum eleito senador por essa provincia se um
desacreditar as decisões desse poder; em uma poder mais alto não tivesse influido para isso
328 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
(apoiados) ; e esse poder, póde-se declarar a priori Uma Voz: — Era o mesmo Sr. Souza Franco
que foi a' acção governativa, a intervenção do que escrevia.
Srs. ministros. O Sr. Pimenta de Maoalhães:—... o Nunca
Sr. presidente, se nós observarmos que se acha- se vio no Pará eleição tão voluntaria, como é a
vão no governo dous cidadãos que forão presi actual do Sr. conselheiro Souza Franco, que,
dentes da provincia do Piauhy, o que um outro além de acreditadissimo, é finorio (risada), e
ministro tinha relações muito immediatas com o sabe ganhar a si a todos, e tratar com affubi-
presidente da mesma provincia, parece-me que lidade o pobre e o rico, o que tem para ser-
poderemos concluir da maneira porque o fiz, sem vil-o somente a boa vontade o a lingui. »
que com isto se faça insulto algum á provincia, Ein outra carta do mesmo correspondente, com
do Piauhy, cuja opinião publica esclarecida es data de a de Novembro de 1852, dia proximo
pero que me ha de fazer justiça. ao da eleição de eleitores, dizia o correspon
O nobre deputado disse igualmente que o dente o que vou ler : «A respeito de eleições,
Piauhy tinha muita coragem para resistir a continua o presidente a se mostrar imparcial, e
quaesquer insinuações que se fizessem ; entretanto ha esperanças de que se não envolva nellas, a
o que vejo eu? E' que quem não tem a pro exemplo do que já fez aqui o sempre lembrado
tecção ministerial não póde ser senador em parte Sr. Coelh.i.»
alguma. Em um manifesto feito pelo propriq, Sr. Souza
Ainda disse o nobre deputado que a provincia Franco em data de 29 de Janeiro, já depois de
do Piauhy podia para eleger o Sr. Vianna ra feita e reconhecida a eleiçao, agradecia nesse
ciocinar por esta maneira : O Sr. Vianna é cidadão papel nos eleitores a votação que tinha tido,
instruido, tem prestado grandes serviços no paiz ; deduzindo-se dahi que o presidente tinha proce
a constituição permitte que os brazileiros possão dido com toda a imparcialidade, porque (dizia
ser senadores, comtanto que tenhao talentos o elle) até então tinha sido respeitada a liberdade
virtudes, independente de serem nascidos na pro do voto. São estas as proprias expressões do
vincia, e o artigo competente não se acha re Sr. conselheiro Souza Franco.
vogado ; por consequencia nós .podemos eleger Quando, Sr. presidente, eu não tivesse outros
ao Sr. Vianna. Quando o nobre deputado assim fundamentos para demonstrar que a eleição tinha
fallava, disse eu que havia um outro raciocinio. sido feita com calma e coin liberdade do voto,
Com effeito, quando se quiz Impór á provincia creio que o que tenho apresentado seria suffleieute
de Pernambuco dous senadores, a provincia ra para proval-o. Mas não quero limiiar-me a isto
ciocinou por maneira muito differente e o Piauhy só, vou ainda produzir factos pelos quaes se
poderia racio ;inar igualmente como a provincia mostra que essa eleição com e(feito foi calma,
de Pernambuco ; cila podia dizer que esse senador, foi livre, foi a expressão dos para. nses.
não tendo relações na provincia, não lendo nella No collegio da capital reuniráo-se seteutjj e qua
bens, não tendo familia, não devia ser eleito, tro eleitores ; destes eleitores dez erão empregados
tendo a provincia aliás filhos com a necessaria publios, não entrando neste numero alguns viga
capacidade, com bom senso, e portanto muito rios, dous conegos, dous beneficiados, tres subde
habilitados para oceupar esse lugar. legados, emuitos supplentes destes. Ora, haverá
São estas as observações que tinha a fazer em quem de boa fé pos-,i acreditar que se o governo
resposta ao nobre doputado. Termino aqui. tivesse intervenção na eleição, e mesmo a policia,
O Sr. Pimenta do Magalbâet :—Sr. pTe- não poderia conseguir que muitos desses eleitores
sidente, entro nesta discussão com acanhamento, deixassem de votar no Sr. conselheiro Souza
porque tenho de contrariar o nobre deputado por Franco ? Se o governo tivesse essa intervenção,
Pernambuco que hontem lallou, e a quem eu consentiria que tivesse nesse collegio o Sr. Souza
ainda dedico acatamento por ter sido meu mestre ; Franco unanimidade de votos , quando outros
mas como o nobre deputado me provocou para candidatos o Sr. Fausto e o Sr. Angelo, tiverão
a discussão, sou forçado a accital-a, um s :te votos e o outro apenis tres ? Creio que
O Sr. Auousto de Oliveira:— Não o provocou. a unanimidade de votos dada no Sr. conselheiro
O Sr. Pimenta, de Maoalhães : — Digo que o Souza Franco na capital prova exuberantemente
nobre deputado me provocou para a discussão, que houve liberdade de voto. (Apoiados.)
fiorque declarou nesta casa que o governo tinha Um Sr. Deputado: — Todo o mundo está con
ntervindo directamente ni eleição do Para, e vencido disto.
que por esta razão o Sr. conselheiro Souza O Sr. Pimentv de Maoalhães : —Asseguro á ca
Franco não havia sido incluido no numero dos mara que muitos dos eleitores procurárão o pre
tres deputados por aquella provincia. sidente pera saber qual era a sua opinião sobre
Eu desejava, senhores, que o nobre presidente a eleição, e que esse nobre administrador com
da provincia do Pará se achasse nesta casa, visto a dignidade que lhií é propria e com o respeito
que tem assento nella, para com vantagem mostrar que presta á liberdade do voto, dizi i a cada um
a sem-razão desse dito ; mas como assim não dos eleitores « vote nos candidatos em quem
acontece, e o individue que tem agora a honra bem quizer. »
de se dirigir á camara seja o chefe de policia Se o governo tivesse feito opposição á' eleição
daquelli provincia, e portanto tambem delegado do Sr.. Soifta Franco, dar-se-hia o caso de que
do governo, vê-se na necessidade de dar algumas o Sr. Leitão da Cunha, que nesta casa fez o
explicações sobre essa eleição. seu protesto de fé, que nos declarou que era
Senhores, eu reconheço que o Sr. conselheiro siquarema de carne e osso, sahindo eleitor désse,
Souza Franco é homem de illustração, é homem como deu, o seu voto ao Sr. Souza Franco ?
de merito, digno de representar a provincia do (Apoiados.) Se o governo fizesse opposição á elei
Para, e tão digno que por muitas vezes a repre ção do Sr. Souza Franco, veriamos o Sr. Paes
sentou ; mas pergunto : —porque tem elle estas de Souza, que era eleitor, o que nesta camara
qualidades, devemos nós abafar a vontade pro acompanhou sempre a maioria, que votou sem
nunciada da provincia, que foi desta vez não pre com ò governo, deixar a capital para ir á villa
elegei o deputado ? De certo que não! daViijia fazer u eleiçao a favor do Sr. Souza Fran
Para mostrar, senhores, que a eleição do Pará co ? Se o governo fizesse opposição á eleição deste
correu calma, que se respeitou a liberdade do senhor, o chefe de policia teria só nente 8 ou 9
voto, principiarei pur ler a correspondencia do votos p ira eleitor , quando os opposicionistas
Pará dirigida ao Mercantil, que não é suspeito. dizem que a policia é o mais poderoso agente
Em uma carta com data de 21 d« Outubro que ha em materia de eleição ?
de 1852, dizia o correspondente o seguinte... | Senhores, quem falia por esta fórma parece
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 329
demonstrar que a eleição no Pará foi calma, que nobres deputados, então a conciliação será com
não houve violencias, n.'m arbitrariedades, como os contrarios, o nesse caso direi eu : vós, se
aqui se tem querido inculcar, contra o Sr. Souza nhores da minoria, que sois influencias das loca
Franco. (Apoiados.) lidades do vossas provincias, vós que vos fizes
Fallou-se muito sobre a eleição da Vigia, mas tes deputados o a vossos amigos, porque não
calou-se uma oircumstancia, e circumstancia muitò fizestes a conciliação antes da eleição o não
notavel, e vem a ser que o delegado da Vigia, trouxestes entre vós alguns Jos nossos inimigos
que teve parte, e parte muito directa na eleição, politicos? (Apoiados.) Mas, não: isso não fizes
depois de ella concluido foi demittido. Este pro tes vós {apoiados), e nem o farieis: (Reclamações.)
cedimento do presidente revela que elle não tole Uma Voz: — Por alii não vai direito.
rava que pessoas que tenhão posições officiaes
tivesse parte na eleição. O Sr. Aprioio: — Vai muito bem.
Talvez se diga que houve o calculo de deixar- Outra Voz :— Isso ó materia velha.
se livre a eleição na capital para depois espe-
rar-se o triumpho nos outros lugares. Mas, per Uma Voz: — E' porque não faz conta.
gunto eu, 74 votos do collegio da caprtnl não O Sr. Dutra Rocha: — Continue, continue neste
devião entrar em linha de conta ? Erão elles ponto ; o que querem ó interrompel-o ; vai muito
para se desprezar ? Não podido esses votos de bem
cidir, e decidir por grande maioria, da candida (Trocão-se mais alguns apartes.)
tura daquelle a favor do qual se dava aquella
votação ? O Sr. Auousto de Oliveira : — E' bom que
Entretanto o que se passou em alguns oolle- nos esclareça sempre sobre as eleições do Cametá
gios de fóra 1 Apontarei o coll gio de Muaná. e Cintra. -
Neste collegio o subdelegado sahio eleitor, e com Vozes:— SimI siml Oral oral
elle amigos taes que se o governo quizesse, e
mesmo a policia, bem podião conseguir que hou O Sr.. Auousto iie Oliveira:—Explique o oflicio
vesse desvio de alguns votos do Sr. conselheiro do presidente sobre a eleição de Cintra.
Souza Franco. E sabe a cam ira quantos votos O Sr. Pimenta de Maoalhães (dirigindo-se ao
teve ahi esse senhor ? Teve a unaniminidade. Sr. Augusto de Oliveira) : — Já que me chama
No collegio de Bragança o delegado de policia para este ponto...
era eleitor ; esse delegado teve tambem por com
panheiros nas eleições muitos amigos ; o Sr. Souza Uma Voz :— Deixe ; não responda.
Franco, teve nesse collegio grande maioria; ne O Sr. Pimenta de Maoalhães — Não, quero
nhum dos outros candidatos teve mais votos que responder; e pergunto eu ao nobre deputado a.inde
elle. está a intervenção do presidente da provincia
Os subdelegados de Curuca e de Collares não nessa eleição? Eu não sei, porque não vejo que
só votarão no Sr. conselheiro Souza Franco, como haja intervenção, quando ella é consultado Snbro
mesmo trab ilhárão muito pura a sua eluiçãn; e Con- uni ponto de duvida, e dá apenas sua opinião
tinuão, senhores, esses subdelegados nos seus em em resposta, notando-se que essa resposta é di
pregos. Isto ainda prova que nem o governo nem rigi la a quem o consultou, pessoa competente
a policia teve intervenção na eleição da provincia. para isso, porque era um eleitor e 2" juiz do
Desafio a quem quizer que seja que 'i presente paz. Aon do está a ma fé em o presidente dar
uma carta ao menos, e que nessa cui ta se veja a sua opinião? Essa má fé só p"derá ser jus
uma só linha em que appareça, já não digo um tificada se se provar qae houve convençao na
pedido expresso, mas uma insinuação ou do pre resposta e entrega do offleio, porque só assim
sidente ou do chefe de policia para que o Sr. con se poderá tirar a conclusão de que o presidente
selheiro Souza Franco não tivesse votos. Quem tinha intervindo na eleição.
falia por esti fórma não pó le ser contestado, por Creio que satisfiz nesta parto aos nobres depu
que diz uma verdade. (Apoiados.) tados. . .
O nobre deputado por Pernambuco a quem me
refiro nos disse que a eleição foi dirigida directa O Sr. Aprioio :— Apoiado.
mente pelo governo, para que o Sr. conselheiro Uma Voz :— Vamos á conciliação.
#iuza Franco não sahisso deputado, mas apenas O Sr. Pimenta de Maoalhães:— Sr. presidonte,
apresentou essas expressões e não factos, não já disse que não entendo essa conciliação, por
demonstrou o que d'sse. que a palavra—conciliação—traz comsigo a idéa
Fallou-nos tambem em conciliação ; mas não de união eutio pessoas que Unhão pensamentos
nos declarou como seria essa conciliação. O oppo-tos, pois que entre pessoas que seguem o
nobre deputado pelo Ce irá como que já quiz fazer o mesmo pensamento não tem que haver con
alguma explicação a este respeito ; mas como o ciliação (apoiados) ; mas agora, se os nobres
fez ? Na presença do nobre ministro da fazenda deputados, como eu creio, seguem o principio po
nos disse: « Vós, governo, não quereis a conci litico que hoje domina, se sao saquareinas, como
liação, porque demittisse o presidente e o chefe nos têm dito tintas vezes, devem não protelar
de policia do Ceará ; não quereis a çonciliação, as discussões, devem consentir que o governo .
porque demittistes o presidente e o chefe de po siga no seu programma, que ó f izer o maior
licia de S. Paulo. » O nobre ministro deu uma beneficio possivel ao paizI 1
resposta tão satisfactoria o honrosa aos exone
rados (apoiados), qua me julgo dispensado do O Sr. Nebias:— Somos nós que protelamos
fallar a tal respeito. a discussao? I
Entretanto qual será essa conciliação qne se O Sr. Paes Barreto: —Então é melhor não se
pretendo ? Parece que se quer que seja entre discutir nada. ó melhor fech ir-se a eamara se
os mesnms alliados ; mas então será traducção não querem que se discutáo as materias.
bom clara que o nobre deputado quiz dizer : — O Sr. Pimenta de Maoalhães :—Nem eu quero
Nós, governo, somos vossos alliados, nós somos e nem pessoa alguma quer fechar a camará ;
do vosso partido, nós, que estamos nas posições O que queremos é que so não intarrompão as
officiaes, embora seja do conveniencia para o discussões com materias para enclier tempo.
mesmo partido, embora seja de necessidade para
oprincipio politico dominante, e que seguimos, O Sr» Nebias : — Os senhores ó que inter
não podemos deixar essas posições, o devemos, rompem as discussões com <fcs seus encerra
'sim, negar pão e agua aos nossos inimigos po mentos.
liticos; o, se não é essa conciliação que querem os O Sr. Pimenta de Maoalhães :— Os encerra
TOMO a.
330 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
mentos têm lugar quando as materias estão para as forças de mar e terra. Mas não é assim
sufflcientemente discutidas ; devem e podem to que procede o nobre ministro.
mar parte nas discussões , porém não exigirem Sabemos, Sr. presidente, que muitas causas
mais do que deve sei . podem concorrer para esse desanimo e desgosto
Sr. presidente, en disse que tinha sido pro na vida da nossa armada e do nosso exercito,
vocado para a discussão para dar alguns es causas que já f rão analysadas e apresentadas.
clarecimentos sobre as eleições do i-ara. Longe, A falta de incentivo para essa carreira, no seu
e bem longe estava eu de tomar pario na dis estalo presente e no seu futur.i, foi reconhecida
cussão, o fiz porque fui provocado , pois que se peli Sr. ministro . mas não vejo que apresen
disse que o nobre ministro da marinha priuci- tasse idéas convenientes e efficazes para reme
fialmente interveio na mio eleição do Sr. conse- diar esse mal; e sem duvida que a discussão da
lieiro Souza Franco. Não respondo ao nobre depu proposta era opportuna píra se tratar de seme
tada que acabou de orar, porque reduzio o seu lhante necessidade.
discurso em intarpellações feitas ao nobre mi Não trata o nobre ministro de melhorar a
nistro da marinha, que estando presente cabe- lhe sorte actual dos homens empregados n i nossa
responder a" nobre deputado, e de certo o fará armada, que é tão mesquinha, como reconhece
satisfatoriamente. Conclue aqui. o nobre ministro no seu relatorio; não trata de
Alouns Srs. Deputados :—Muito bem ; garantir o futuro de su is pobreí familias quando
lhes aconteça morrerem ou ficarem inutilisados no
O Sr. Presidiínte : — Tem a palavra o Sr. serviço de sua nação ; nem ao menos os nossos
Nebias. invalidos, os nossos bravos que ficárão mutila
Alouns Srs. Deputados : — Quem deve ter a dos e perdêrão para sempre sua saude podem
pnlavra é o Sr. August, de Oliveira encontrar um estabelecimento philantropico, mo
ral e necessario p ira que vivne ao abrigo da
O Sr. Auousto de Oliveira :—Troquei 'com o miseria ; pois é doloroso, Sr. presidente, ver que
Sr. Nebias. esses homens , depois de perderem pelos estra
O Sr. Nibias: — Eu cederei da palavra para gos da guerra os braços que lhes firnO dados
não atrupellar a discu-são. pelo CreaJor, andem pelas ruas abandonados,
Vozes : — Ora I Ora I Falle, queremos ouvil-o. na mais triste degradação, mendigando a cari
dade publica, e denunciando a ingratidão nacio
O Sr, IN"eblu« : —Já o nobre deputado que nal apoiados) ; e , Sr. presidente, não vejo que
precedeume hoje, Sr presidente, tratou do al se olhe para esses miseraveis.
guns pontos que têm toda a relação com o pro O que acabo de dizer é quanto ao pessoal da
jecto de fix içao de forças, que temos em con armada; mas a respeito do seu material o que
sideração; por esse ladn, pois, eu farei mui vemos nós, Sr. presidente? Vejo, lançando os
breves reflexões, ainda tendentes á mesma ma olhos para o relatorio do Sr. ministro, que. não
teria, apenas com o fim de provocar explicações temos armada; apenas no quadro dos navios
do nobre ministro da marinha. vemos dous, tres, alguns poucos em bom estado,
Com effeito, Sr. presidenta, o nobre ministro e na maior parte ou condemnados, ou incapazes
da marinha, no seu relatorio, que não tenho para qualquer serviço, ou sempre na alternativa
presente, pois que nem suppunha faltar hoje, de concertos perdidos, e ameaçados de ir ao
aponta ou i, dica algumas medidas e algumas fundo. (Reclamações.)
necessidades da nossa arma.la que nós deseja E' isso o que eu vejo no relatório do Sr. mi
riamos ver consideradas e discutidas pelo corpo nistro, quer" não tenho agora presente, mas que
legislativo ; mas vemos que já estamos no fim tive occasião da lêr. Ora, se isso é assim, como
do sefjnndq mez de sessão , e ainda nada tem é que se póde conservar marinha no Brazil com
apparecido por parte do governo a esse res tantas despezas, e por fim se nos apresenta um
peito. Apenas tivemos a descarnada proposta da quadro tão lastimoso como esse que se vê no
fixação de forças, e ainda nesse projecto devondo relatorio do Sr. ministro ?
o Sr. ministro apresentar algumas dessas me Entendo mesmo, Sr. presidente, que não se
didas de que nos falia no seu relatorio, não o deve dar pessoal, porqua não vejo onde elle se
fez. O meu nobre collega que fallou ha pouco empregue, e assim pois é melhor não darmos os
notou essa mesma falta, notou que o nobre mi 3,000 homens pedidos além das companhias avul
nistro para animar o pessoal da armada, devia sas, que vão longe.
apresentar na proposta de fixação de forças de Temos igualmente um trem enorme, fallo do
mar alguns desses melhoramentos que considera arsenal, fazendo uma despeza extraordinaria, e
para esse fim tão importantes, o que não fez. que nesta parte para nada tem servido, pouco
Eu vejo, Sr. presidente, que o pessoal da ou nada tem adiantado. Apenas temos alguns
nossa armada não é satisfactorio e completo, barcos fabricados na Ponta da Areia, qus possão
como já confessou mesmo o nobre ministro prestar serviço; mas no arsenal não foi fabri
quando nos disso que havia deficiencia de gente cado um só; sempre se diz: temos muitos bar
q ue se prestasse ou concorresse para o serviço cos em coustrucção, e no fim nada apparece.
(I a nossa armada , e que por tal necessidade se Nesta occasião perguntarei ao Sr. minisíro se
tinha dirigido aos presidentes das provincias elle tem (ratado de chamar ao paiz, ou se tem
do imperio, official e particularmente recommen- tratado de aproveitar bons constructores que dêm
dando todo o desvelo na aequisição de volun impulso aos nossos arsenaes, para se aproveitar
tarios para o serviço da armada, e sempre de assim tantos elementos que podem vir das pro
balde. Eu tambem, quando presidente da pro- vincias, e com isso pór os arsenaes em bom
vincia da S. Paulo , recebi uma carta do Sr. estado para servirem a nossa marinha de guerra
ministro, na qual me recommendavi todo o cui e mercante.
dado no recrutamento e engajamento de pessoas Perguntarei ao nobre ministro se conhece e
para a armada. aprecia justamente o prestimo e merecimento de
Sr. presidente, sabemos que ha uma grande re um Sr. Napoleão, constructor muito acreditado
pugnancia em todos os brazileiros para o serviço que foi mandado á Europa pelo nosso governo,
do exercito e armada, esses dous ramos de nossa tendo ultimamente voltado com todas as habi
vida publica , que mais dedicação reclama por litações necessarias; e se pretende aproveitar-se
ser exposta a perigos certos, a continuados sa delle para nossas construcções navaes.
crificios ; e por éiso com partieul ir attenção de- O Sr. Ministno da Marinha:—Logo que chegou.
vêra o governo tratar do modo pratico de ven
cer essa repugnância, e adquirir homens proprios 0 Sr, Xiídias ;— Consia-me que andou muito
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 331
tempo B«m ser" empregado, e que ha pouco é ração, ora porque os vapores tinhãn ido para a
que o Sr. ministro o chamou para o arsenal. Lagoinha, ora por falta do combustivel ; e afinal
O Sr. Ministno da Marinha: — Está mil infor .o que nos disse o Sr. ministro? Que todos os vapores
mado. vierão pr-dres para o Rio de Janeiro concerta-
rem-se. Vejão lá que marinha temos nós, que
O Sr. Nebias: — Ao menos são os factos pu nem ao menos temos vasos para andarem nas
blicos que apparecem ; consta que andou muito nossas costis fazendo esse serviço tão necessaria,
tempo sem ser empregado. pois que affecta mesmo a nossa dignidade, o
O Sr. Ministno da Marinha :— E' inexacto, nosso credito exterior. Em verdade, Sr. presidente,
O Sr. Nebias : — Julgo que esse constructor, muito mal nos achamos, sobretudo em vapores,
tão habil como é, devia sor logo e logo apro ainda que figurem muitos nesse mappa.
veitado. Hontem dei aqui um aparte por occasião desse
negocio, quando fallava o nobre deputado pela
O Sr. Ministno da Marinha :—Foi logo e logo. Bahia, e é que desgraçadamente pelo que tenho
O Sr. Nebias:— Bem I confio na palavra do ouvido na casa os traficantes são melhores na
nobre ministro. vegantes e conhecem melhor a costa do que a
O Sr. Ministno da Marinha:— Se não quizer nossa marinha. Mas isto é o que se deduz da
confiar continue. discussão, porque sou o primeiro a fazer a de
vida honra á nossa marinha.
O Sr. Nebias:— Sei que não precisada minha O Sr. Ministno da Marinha : — Que não sabe
confiança, mas estamos pagos ; se quizer atten- navegar, que não conhece a costa I
der, attenda, que muito pouco me importo com O Sr. Nebias : —Foi o nobre ministro quem
isso. Estarei mal informado, mas t imbem quem
sabe se o facto existio? o disse.
O Sr. Ministno da Marinha : — Não existio. O Sr. Ministno da Marinha : — O nobre de
putado está perturbado.
O Sr. Ribeino :— O meio de acabar com essa O Sr. Nebias : — Mas não com a discussão,
questão é combinar o dia da entrada do navio
com o dia em que esse individne foi empregado. nem com a presença do nobre ministro.
O Sr. Nebias:— Se está empregado, ao menos O Sr. Ministro da Marinha : — Mas depois
não está convenientemente. da questão do costructor. '
O Sr. Ministno da Marinha:— E' o primeiro O Sr. Nebias : — Podia o nobre ministro ar
constructor. ranjar as cousas de tal maneira que pudesse
dar uma resposta prompta : a discussão não
O Sr. Nebias :— Agora ou sempre? me perturba, nem a presença do nobre minis
O Sr. Ministno da Marinha: — Sempre. tro ; como sempre c minho com a consciencia
em procura da verdade, nunca hei de ser per-
O Sr. Nebias:— Einfim, Sr. presidente, já que - turbado.
q nobre ministro me assegura isso, estou certo O Sr. Fioueira de Mello : — Apoiado ; boa
que como essa se hão de dar muitas outras circum-
stancias favoraveis á nossa armada, e que d'ora fé em tudo.
em diante teremos muitos bons navios feitos aqui O Sr. Nebias: — Continuando, Sr. presidente,
ou de encommenda; estou certo que. havemos de e resumindo o que já tenho dito, direi que quero
sahir desse estado de podridão em que andamos que o nobre ministro me dectrare quaes são as
ha muito tempo. c msas da falta de pessoal da nossa armada ;
Isso é o que eu vejo do quadro que o nobre se é exiguidade do soldo, se é falti de favores,
ministro nos apresenta em seu relatorio ; de ma se é repugnancia da vida, e o que faz o Sr. mi
neira que so houvesse qualquer emergencia, um nistro para remover o mal. Quant i ao material
caso repentino, não teriamos navios. da marinha, quero que me declare se havemos de
O Sr. Oliveira Bello:— O anno passado ti continuar nesse estado que apresenta o seu qua
vemos tantos 1 dro , sem uma armad i digna da nação brazi-
leiri, ou ao menos corresponde. ite aos sacrificios
"O Sr. Nebias:— Pois o nobre deputado não que fazemos annualmente. Eis ao que se re
se lembra do que se disae hontem a respeito duzem as minhas perguntas.
desse que foi para o Rio da Prata, o Paraense? Concluindo estas observ ições, Sr. presidente,
O Sr. Dutra Rocha:— Lembramo-nos do que direi quatro palavras com relação ao que hon
houve lá. tem disso o nobre deputado da Bahia.
O Sr. Nebias:— E que armada «ntão tivemos? Fallando a respeito da conciliação dos parti
O vapor Affimso e mais dnus ou tres navios, dos, Sr. presidente, não sei o que divisei hon
isso em uma época de enthusiasmo, depois de tem no discurso do nobre deputado ; mas uma
um grande esforço, e para lutar com que mari proposição sua me fez muita impressão. O nobre
nha? Com a mi rinha de Rosas, cujo principal deputado, querendo justifleir o governo por não
vaso era aquelle vapor Carlota que por aqui ter podido levar a effeito um plano geral de
andava sem nenhuma serventia. Hoje se tives conciliação, disse-nos entre outras cousas, se
semns necessidade urgente de collorar uma boa gundo minha lembrança, que não era possivel
força na estação de Buenos-Ayres, isso havia de fazer de repente uma conciliação. Nisto esta
ser muito difficil. mos de accordo ; e até já tive occasião de citar
aqui um pensamento muito luminoso do Sr. Thiers
O Sr. Dutra Rocha: — Deus permitia que seja a respeito da possibilidade de uma conciliação não
máo propheta. é obra de um dia , embora esteia esse senti
O Sr. Oliveira Bello :— Dos navios que lá mento ne coração de todos ; não e obra de uma
estiverão só se perdeu o Affonso. época, nem de uma geração.
O Sr. Nebias:— O nobre ministro aqui por Mas o que mais notei foi uma proposição
occasião da questão do Bracuhy, que eu não quero muito grave que lançou o nobre deputado da
agora avivar, o que nos disse? Sabemos até hoje Bahia, e que deu lugar a um aparte meu que
qual foi a causa do desembarque de Bracuhy ? foi observado, e talvez mal entendido, por um
0 que nos disse o nobre ministro? Ora que esse outro nobro deputado da mesma provincia.
desembarque tinha tido lugar por causa da cer O nobre deputado pela Bahia, justificando ao
332 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
governo, dizia que o governo via-se na neces O Sri. Aprioio : — Creárão-se seminarios, etc.
sidade ainda de sorvir-se dos seus amigos. O Sr. Nebias : — Seminarios já nós os ti
Um Sr. Deputado : — Na necessidade de apoiar- nhamos em quasi todas as partes ; e quanto
se em um lado. ao poder judiciario, que é a principal causa a
que querem nttribuir tudo, o que é que se tem
O Sr. Nebias : — Aceito a correcção. A esta feito?
proposição do nobre deputado disso eu do meu enxame Reconhece-so que o poder judiario ó un
de defeitos o nada so tem remediado
lugar : e um bom aviso para os amigos do go
verno. Esto meu aparto talvez não fosse bem para que elle não vexe o povo. Apenas apparece
na casa um o outro projecto isolado sobro seme
entendido , e eu desejo explical-o. O que quer lhante m itoria, os Srs. ministros nada dizem a
dizer, Sr. presidente, uma proposição destas lan tal respeito, não emiitem suas opiniões, quanto
çada na casa por um illu4re membro, aliás mais apresentarem uma pr posta completa e sé
muito distincto, que apoia o ministerio, o que ria ácerca de tal assumpto ; e depois vêm lan-
tratava de o defender ? Quererá isto mostrar çar-nos ein rosto este grande mal I E' como eu
que lia principios, que se procede por princi
pios , que lia lealdade e boa fé da parte do digo, senhores , o ministerio no anno passado
cansou, e aind i até agora não desappareceu o
governo ? Não, senhores ; quer dizer que o go cansaço para os outros.
verno servé-su dos seus amigos, compromette-os São estas, senhora, as observações que eu tinha
emquanto é necessario. a fazer.-Coocluirei o meu discurso dizendo que, com
O Sr. Dutra Rocha : — Ora essa é boa. quanto eu reconheça que o governo precisa ser
O Sr. Nebias : — Perlóe-me, é uma deducção habilitido com forças de mar e terra para o
que tiro das palavras do nobre deputado, isto serviço ordinario o extraordinario , não podia
ê, proposição quer dizer que o governo ha de deixar de fazer estas breves observações, para
servir-se dos seus amigos emquanto delles pro- nssim provocar algumas explicações do nobro
cisar quer dizer — vós que sois amigo do go- ministro da marinha.
vorno, preveni-vos, vêde bom qual é a sorte que O Sr. Presidente :—Tem a palavra o Sr. Can
vos espera, não andeis em uma luta eterna com dido Mendes,
Os vossos adversarios, vêde que desta luta o O Sr Candido Mendes : — Sr. presidente, a
governo quer-se aproveitar para depois abundo
nar-vos, u em ultimo lugar se vos lançará o hora está tão adiantada que não me atrevo a
odioso dizemlo-se que até neste plano grandioso fallar. Nesta circumstancia cedo da palavra.
de conciliarão o governo achou-se em opposição O Sr. Presidente :'—Tem a palavra o Sr. João
pela impertinencia, ou exageração dos seus ami Ant mio de Miranda.
gos. (Apoiados.) Se não ó isto, o que quer di O Sr. J. A. de Miranda : — Sr. presidente,
zer a proposição do nobre deputado ? Elie que como membro da coinmissao de marinha e guerra
de a explicação do seu pensamento. tenho muito qjie dizer sobre a materia em dis
O Sr. Dutra Rocha dá um aparte que não cussão, e como ó já bastante tarde, muito es
pudemos ouvir. timaria que V. Ex. me désse a palavra para
O Sr. Nebias: — Sr. presidento , dizia tam depois de amanhã.
bem o "nobre deputado pela Bahia, hontem, que O Sr. Presidente : — Em vista da disposição
o grande defeito contra a liberdade eleitoral do regimento, que manda que as sessões dia
estava na organisação do corpo judiciario, e na rias durem i horas, eu não podia deixar de
organisação ou influencia do nosso ctero. dar a palavra ao nobre deputado ; mas attenta
O Sr. Corrêa das Neves : — Ahi não con a gravidade da materia, mio devo obrigar a que
cordo eu. se falle sobre ella em tão pouco tempo, e então,
segundo os exemplos, levantarei a sessão.
O Sr. Neuias : — Sem duvida o nobre depu
tado não ha de concordar em que tenhamos a Um Sr. Deputado : — Ex cute-se o regimento.
theocracia no paiz, nem eu tambem concordo. O Sr. Preiidente : — Os nobres deputados não
Relativamente ao poder judiciario, dizia esse têm reclamado isto em outras occasiões.
nobre deputado a que mo refiro, que emquanto O Sr. Ferraz : — Nunca so deu esta circum
esse poder não fór um poder intermediario que stancia.
sirva de equilibrio entre as usurpações do go
verno e os direitos do povo nada teremos feito. O Sr. Presidente: — O nobre deputado não
A isto dei eu um aparte, dizendo : « O nobre póde contrariar um facto que por vezes tem sido
deputado está aceusando ao governo. » E em presenciado pela camara.
verdade, se oste mal existe no clero o no poder O Sr. sI. A. clo Miranda : — Bem, não
judiei irio, cumpre que o governo se ponha á haja questão a semelhante respeito. Não quero
testa das reformas precisas , porque o governo
devo tratar sempre dos grandes interesses do zer umda discurso
ceder palavra; direi alguma cousa para fa
, porque quero ter direito a
paiz. fazer um segundo discusso quando me convier.
O Sr. Aprioio :— Pois não tem Uatado ? Os Não me será muito custoso fazer um discurso.
grandes males não se remedeião de um dia Principiarei , porém , por observar a V. Ex.
para outro. que será bom, para evitar estes inconvenientes,
O Sr. Nebias : — Sr. presidente, nós tivemos estas reclamações , estes protestos, que o regi
um ministerio, e especialmente um ministro que mento da casa so executo sempre inalteradamente,
tinha projetado e mesmo levado a effeito algu que se trabalhe 4 horas constantemente , por
mas dessas reformas ; mas desgraçadamente esse que esta é a letra do regimento. Que não se
ministro cansou no anno passado, e não póde ir faca mais como até aqui , pois que algumas
ávante com as suas reformas : ó isto o que ou V zes tem succedido que se dê por finda a ses
lamento. são quando apenas tem havido tres horas de
trabalho. A não terem havido estes precedentes,
O Sr. Aprioio : — Os outros continuão, que, segundo entendo, me dão direito a ser
O Sr. Nebias : — O que é que se feito do tratado no mesmo pé de igualdade qua outros
anno passado para cá relativamente á organi- muitos, eu não ousaria reclamar de V. Ex. o
sação judiciaria, o mesmo ao clero ? obsequio de adiar o meu discurso para depois
Passou aqui Uma lei dando privilegio de fòro de amanhã. Nestas questões não se improvisa,
aos Srs. bispos... ha nellas muito de positivo. Não sou minis
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 333
tro ; membro da commissão da marinha e guerra, ouvir, senhores, da boca de um illustrado repre
represento aqui apenas o papol de um triste ma sentante do paiz, de um doputado brazileiro,
rujo. Não tenho portanto cabedal necessario, e por de um collega e amigo, que outrora commigo
isso devia de suppril-o com o estudo, afim da nestas tribunas emittia idéas bem differentes
poder mini-trar as explicações que se exigem, sobre este ponto, proposições que tendem a tirar
e com as quaes desejo chegar ao fim que me á nossa armada a f oça moral e o prestigio, a
tenho proposto, qual é a de sustentar a reso desacredital-a emfini ? IApoiado*.)
lução que assignei. Sr. presidente, permitta-me o fazer sentir uma
Em verdade, é bastante critica a minha posi verdade, que me ó bastante dolorosa, antes de
ção 1 <Eu não esperava fallar hoje. Acabo de entrar em contestação com o meu honrado amigo.
ouvir dous discursos em opposição a este pro Se nossa marinha eitá atrasada, se está em
jecto, e lhes devia dar cabal e completa resposta. abandono, em mão estado, menos bo:n organi-
Por is>o, apadrinhado pelos precedentes da casa, sada emfim, a culpa não e só do actual governo.
me parecia ter direito a algum favor. Vou res A culpa é de todos nós, de todos os partidos,
ponder, como me for possivel, as observações de todos os governos. (Apoiados.) Não é só a
que se flzerão, aproveitando quanto possa dos marinha que soffre, tambem sotVre o exercito ;
papeis, notas e regulamentei que aqui tenho ta nbein Soffrem todos os ramos da publica admi
em phjna confusão. nistraçãoI A culp i ó de todos nós I (Signaes de
Dad i esta satisfação, e podida assim uma adhesão ; apoiados.)
desculpa, a que tenho todo o direito, vou en Não ha muito tempo perguntavamos nós á op-
trar em materia ; mas só com o fim de fazer um posição radical, que se sentava naquehes bancos
discurso para ter direito a fallar quando me —que fizestes vós durante o vosso dominio dos
parecer. cinco annos?—Que fez cila ? Nada, ou quasi nada,
Começou liontem a discussão desta projecto o expediente, uma ou outra proposta, que anda
por dous brilhantes discursos, oppostos entre si, por ahi nas pastas das commissoes. Se por uma
e tive a magoa de ver que uma só proposição ordem bem natural das cousas ella subir ao po-
se não enunciasse em referencia ao importante der, e nos perguntar tambem a seu turno—que
assumpto que nos occupal Sim, Sr. presidente, fizeste vós durante os vossos cinco r.nnos de
uma só idéa, um só principio não appareceu dominio ?— Que lhe responderemos? Podemos
que tivesse a menor connexão com as graves responder-lhe que sempre alguma cousa fizemos,
questões que se prendem á materia da fixação e com effeito alguma» cousa ha feita; porém po
de forças I deremos dizer que fizemos tudo quanto dev.a-
Uma só vez não ouvi soar as palavras—official mos e podiamos?
de marinhaI —Uma só vez não ferirão meus ou Uma Voz:—Muito bem.
vidos as palavras— armada brasileira I—Nenhum
pensamento, nem a mais fraca idéa em favor O Sr. Miranda —Não o diremos, porque eal-
da sorte da armada I Parece-me que não se dis mente não temos feito tudo, e muito mais , ir
cutia a importantissima resolução que fixa as deriamos ter feito. A marinha podia achar-so
forças de mar I competentemente organisada, e melhor animada I
Vozes:—E' verdade, ó verdade. A culpa é nossa, façamos alguma cousa, traba
lhemos.
O Sr- Miranda: —Parece que os dignos orado Onde está a nossa armada ? Disse o nobre de
res que se havião interessado na discussão putado. Que é feito das trandes soinmas votadas
voltavão o rosto, ou fugião, como que de propo pelo corpo legislativo, para eleval-a ao pé de con
sito, de se comprometterem neste debate I sideração de que digna ? Que ó dos sacrificios
Não acompanharei, Sr. presidente, os honra com que concorro o paiz ? Onde o complemento
dos membros que hontem orarão nis observa dos nossos desejos ?
çoes de politica geral em que se perderão. Não As perguntas do nobre deputado não se achão
tenho necessidade disso. Squ bastante conhe bem formuladas, Sr. presidente. Não nos deve
cido nesta casa, e em alguns pontos do meu mos illudir com a sublimo idéa de uma armada
paiz. A minha lealdade e a minha dedicação brilhante o magestosa.
aos meus amigos,o á politica que professo estão A questão, restricta a seus verdadeiros ter
fóra do toda o qualquer duvida. (Apoiados.) mos, formula-se assim. — O plano da nossa ar
Vozesi—E' bem conhecido. mada, quer om relação ao pessoal, quer pelo
que respeita ao material esta em conformidade
O Sr. Miranda: —Não tenho portanto necessi com as nossas circunstancias ? As necessidades
dade de tecer programas, nem de fazer protestos do paiz exig m, reclamão maior pessoal, mais
a est« ou áquelle principio. Na posição de sim consideravel material ? E' possivel, uma vez re
ples marujo, (risadas), em que tenho o summo solvida a questão sobre este terrena, dar á nossa
prazer de me collocar, o' meu dever é tratar de armada uma importancia de que é credora, quer
forças de mar, de officiaes, marinheiros, fuzi por amor delia, quer do paiz, a quem ha tão digna
leiros navaes, etc. ele. mente servido ?
E demais, Sr. presidente, no essencial destas Esta é a occasião solemno e propria de resol
questões a politica não póde influir. Quaesquer ver todas iestas questões 1 Resolvemol-as 1 Que
que sejão os lados politicos da casa : quaesquer numero de embarcações deve ter a nossa mari
que sejão os grupo-, qu ilquer que seja o seu nha de guerra ? Quaes as suas qualidades ? Con
pensamento, e a sna cor ; ninguem poderá ne vém que se observe, que se altere o decreto de
gar ao governo as foiças que pede, forças que Janeiro de 1850 que designou o numero e qua
a commissão lhe concede, o que forão conce lidades dos navios ? Que pessoal devemos de vo
didas 0 antorisadas em tod is as leis anteriores. tar 1 Como chegaremos i completar as nossas
(Apoiados.) forças ? Como tornaremos mais instruido e mais
Não tendo, pois, necessidade de me eminaranhar elevado o caracter dos nossos officiaes ? etc, etc.
na politica, entrarei em matoria, principiando Discutamos , senhores. Nosso pensamento ahi
pelo discurso do nobre deputado por S. Paulo. está nessa resolução, e nas disposições anteriores
O illustre deputado que acabou do oceupar a vigentes. Impugnais nossas idéas ? Venhão as vos
attenção da casa fez uma tal pintura da armada sas, emitti vosso pensamento do um modo pro
brazileira, quer em relação ao pessoal, quer em veitoso, apresentai vossos trabalhos, discuti em
relação ao seu material, considerou-a tão d- ca regra, ajudai-nos a elevar a nossa armada ao
dente, em tal estado de abandono e de ruina, brilhante pó de importancia e de renome a que
que excessivamento me coniuiovou I Como se pódo tom incontestavel direito I
334 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
Ora, Sr. presidente, a força material de nossa O Sr. Miranda : —Está perfeitamente enganado I
armada não será conveniente ? Os nossos navios Sabe o nobre deputado mui bem que nas ultimas
de guerra estaváo com effeito nesse estado de lutas nas provincias do Prata não f á necessario
ruina que accusa o nobre deputado ? Não é pos elevar a força a mais de 4,000 praças, coinpre-
sivel acreditai -o I Basta, para se mostrar o con didas as tripulações dos transportes. Tivemos a
trario, que se recorra aos quadros a que se achão gloria de alli collocar uma força respeitavel com
appensos a este relatorio. posta do 17 vasos, inclusivo 6 vapores. Toda essa
O Sr. Nebias : — Recorra a elles, e veja quanta flotilha foi guirneclda por 2,000 homens
podriqueira.. . . O Sr. Nebias dá um aparte que não ouvimos.
O Sr. Miranda : — O nobre deputado me diz que O Sr. Miranda7:—Com outros 2,000 homens guar"
. recorra a elles, ê o que vou fazer ; ou recor necemos o resto da nossa armada ou os outros
rerei .... pontos do imperio, e a nossa marinha deu as
O Sr. Nebias : — Recorra, recorra. mais concludentes provas do que ó e do que
será. O material, portanto, da nossa armada é,
O Sr. Miranda: — porque esta discussão termo médio, sufficiento para o nosso serviço, e,
deve ser muito esclarecida, visto, como o nobre uma vez que póde em casos extraordinarios receber
deputado no seu discurso diz, que da força da um maior pessoal, desapparece o receio de um
armada só comprehende. navios incapazes de perigo qualjuer. A grande difSculdade está na
prestarem o menor serviço, e isto não deve pas prompta acquisição desse pessoal.
sar desapercebido. O estado, pois, de uma ou outra embarcação con-
O Sr. Nebias: — Lóal... desarmados e con- demnada, incapaz do serviço no momento ou
demmidol... está ahi uma porção delles, e gista- menos soffrivet, não póde influir no todo da
se dinheiro com isso. nossa marinha, nem autorisir um juizo que lhe
seja desfavoravel. Qual é a nação que não tem, na
O Sr. Miranda: - Vamos ver o que o governo vios em fabrico, em concerto, ou mesmo emfim
aqui figura neste mappa. (Consulta alguns pa completamente inutilisados ? Os navios não são
peis e depois de folhear o relatorio por alguns eternos, ta nbem cansão ile servir.
instantes dix) : Aqui está o mappa, com o qual O Sr. Nebias: — Combine esse mappa com outro
pretende o nobre deputado provar que o material
da nossa marinha se acha .decadente, arruinado, que vem unido ao relatorio.
sem importancia I Aqui se notão os nossos na O Sr. Miranda: — Eu não sei qual é.
vios classificados segundo as quatro estações em O Sr. Nebias : — O que trata dos navios" estra
que se acha hoje dividido o nosso litoral pelo
decreto de 3 de Novembro de 1852. gados, podres, cmdemnados.
Maranhão : 1 brigue, 3 brigues-escunas, 1 es O Sr. Miranda : — Não ha tal ; aqui um mappa
cuna. que indica os navios que uecessitáo de concerto,
Pernambuco: 2 brigues, l biigue-escuna. ou que se achão em fabrico, e mesmo um ou
Bahia: 2 corvetas, 2 brigues-escunas. outro plenamente condemnsdo. Não vejo porém
Rio de Janeiro : 1 fragata, 3 corvetas, 1 bri o que diz o nobre deputado.
gue, 2 brigues escunas, 1 patacho, 1 barca, 1 O Sr. Nebias: — Só?
escuna, 1 canhoneira, 1 hiate. 1 fragata a vapor
e 1 corveta. -. O Sr. Miranda : — Sr. deputado, eu li os do
Um Sr. Deputado : — Então? Vejão bem I cumentos com que lhe provei que as suas asser-
çõ'S erão inteiramente inexactas. Diga-me o que
O Sr. Miranda: — Além destes, mais 6 vapo quer em termos claros e positivos. Estou prompto
res, dos quaes alguns talvez se achem ainda no para lhe responder , mas quero uma arguição
sul. deduzida, quero facto comprovados, documentos....
Temos no Rio da Prata 2 corvetas, 1 brigue- O Sr. Nebias:— Confronte esse mappa com o
barca, 1 brigue-escuna, 1 corveta a vapor. outro.
Temos finalmente, Sr. piesidente, 6 transportes,
sendo : 2 charruas, 2 brigues, 1 patacho, e 1 ca O Sr. Miranda: — (folheando por algnm tempo,
nhoneira. e offerecendo os papeis ao Sr. yebias): — Ahi está
Ora, quem poderá em verdade dizer que ã tudo, veja. examine, mostre . . Ahi tem o nobre
vista deste estado de nossa força naval em serviço, deputado os mappas, escolha aquelle de que falia;
e disposta para todo o serviço, estejão os nossos faça-o por compaixão ao.menos, senhor I
navios na maior parte arruinados, imprestaveis, O Sb. Aprioio :— Apoiado.
perdidos? O Sr. Nebias : — Pois bem, dè cá os mappas,
Um Sr. Deputado:— A isso não se responde. que eu lhe mostrarei. (Risadas.)
O Sr. Nebias:— Mais nada? (Passão differentes papeis das mõos do orador
O Su. Miranda:— Vejo por este quadro que para as do Sr Nebias.)
existem muitos navios em óptimo estado, e quc O Sr. Miranda : — Emquanto o nobre depu
tal é a força que possuimos, que só ella pódi- tado procura o mappa em que deve de encontrar
ser tripulada não só por 3,000 homens em cir os navios condemnados e podres irisadas), eu
cumstancias ordinarias, como por i ou 5 mil, offerecerei algumas obsorvi.ções a um outro to
ou mesmo 6 mil, em circumstancias extraordi pico do seu discurso.
narias. Disse o nobre deputado : « Esta resolução é
Apezar de que o nosso material possa auto manca, defeituosa. » Nisto acompanhou elle o
risar o emprego de avultada tripulação, é toda Eensamento do illustre deputado por Pernam-
via certo que ainda não nos tem sido necessa uco. E porque é manca, senhores ? Porque, dis-
rio elevar o pessoal ao intimo gráo da autorisação sorão elles, não se trata nella de muitas neces
concedida pelo corpo legislativo. Isto mostra que sidades, reformas, melhoramentos ; nada se diz
não temos necessidade de uma grande armada sobre o material, sobre um conselho naval, sobre
e que a que possuimos, bem tratada e consi o corpo de' saude, etc, etc.
derada, nos póde prestar em qualquer crise muito Por semelhante modo a fixação de forças viria
valiosos serviços, como tem acontecido. a comprehender uma completa organisaçáo da
O Sr- Nebias : — Se houver uma necessidade marinha em todos os pontos em que necessita
urgente para o sul, não nos acharemos conve de ser considerada e protegida. O calendario das
nientemente preparados. reformas e melhoramentos iria longe. Começaria
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 335
ella pelo conselho supremo militar, e acabaria O Sr. Miranda :— Olhe o qne ? (Risadas.) Pre
no guarda-marinha I cisa do fabrico, não está perdido, e, apesar de
E' inquestionavel, senhores, a necessidade de precisar de fabrico, serve comtudo de quartel ao
reformar n organisação do conselho supremo mi commandanti' das barcas de soccorro naval.
litar, que se não acha em harmonia com as Fragata Prineipe Imperial : em sofrivel es
nossas leia o com a indole das institui. ões mi tado.
litares. Corveta Dous de Julho : acha-se querenando.
A nossa marinha necessita de uma lei de pro O Sr. Nebias dá um aparte.
moções, e de outra de reerutimunto.
E' urgente a creação de um conselho naval O Sr. Miranda: — Mas não está perdida.
lembrado pelo digno ministro, não modelado Paraguassú : .em bom estado.
pela organisação ingleza, mas pel i francuza ; Capiberibe : continua com o fabrico.
nosso regimento provisional, os artigus de guerra, Galera Canadá: em bom estado.
os conselhos de guerra, necessitão de instantes Urania : em bom estado.
providencias. Guapiassv : em bom estado.
O corpo dos escrivães e commissarios da ar Hiate Caçador: precisa alguma obra e cala
mada não póde continuar como está I fetar.
Muita cousa ha por fazer, e muita deve de Temos conseguinteinente nesses dez navios, qua
ser feita. tro em bom estado, tres em soffrivel estado...
Não obstante, senhores, sempre alguma cousa O Sr. NE3IAS : — Como é que faz o senhor essa
ha feita, e a resolução que se discute deve de conta?
ser entendida com as leis de fixação de forças
anteriores. Na lei vigente, por exomplo, ha O Sr. Miranda : —Contando I (Apoiados; risa
interessantes disposições permanentes a que das.) Paraguassú, Canadá, Urania, Guapiassú
cumpre attender. O corpo de fuzileiros navaes em bom estado...
acha-se definitivamente organisado. Aqui e>tá o O Sr. Nebias dá um aparte.
decreto da 24 de Novembro do anno findo que o
organisa. O Sr. Miranda: —E' necessario tudo isso. Devo
Fallou o nobre deputado em asylo de invali ser minucioso. Pois quando um membro i Ilus
dos da marinha. Veja o que a respeito delle se trado desta casa, como é o nobre deputado,
diz no relatorio do Sr. ministro. Aqui está o de profere do alto da tribuna que não temos ar
creto de 3 de Abril do corrente anuo, que esta mada, que todos os nossos navios estão em
belece o asylo de invalidos, para a arm ida, a deploravel estado, será possivel que se deixem
qual será em mui pouco tempo dolada dessa taes arguições sem a mais cabal resposta?
instituição, que tanto reclamáo as indigentes cir- (Apoiados j E' indispins ivel que se leve até á
cumstancias dos nossos leaes servidores. evidencia a inexactidão de semelhantes princi
O discurso do nobre deputado a respeito deste pios. (Muito bem; apoiado.)
assumpto foi todo em seu desfavor, e concorre O Sr. Nebias : — Lêa essa grande nota, que
poderos imente para desconceituar essa instituição ostá nesse quadro.
nascente, porque diz que nada é no presente, O Sr. Miranda (lendo): —« Em 21 de Janeiro
e nada promette no futuro. O asylo de invalidos de 1852 passou mostra de armamento a corveta
acaba de ser decret ido, e uma commissão de Imperial Marinheiro.» Isto é contra o Sr. de
honrados officiaes nomeada para começar, admi putado. ^Apoiados.)
nistrar, e concluir as obras necessarias. Princi
piamos, emfim, agora que nos é possivel, a abrir O Sr. Nebias:—Vá lendo.
estrada para esse precioso auxilio aos nossos O Sr. Miranda:—« A 27 de Fevereiro do dito
invalidos. E' desarrazoado, pois dizer-se que nada anuo passou mostra de desarmamento o vapor
promette no futuro aquillo que se entra apenas Pedro II. »
em começo, e com a garantia de solidos alicer
ces.. . O Sr. Nebias:—Desarmamento ; vamos lá.
O Sr. Nebias (depois de haver por algum tem O Sr. Miranda:—E o que quer dizer passar
po procurado o mappa) : — Aqui está elle. ' mostra de desarmamento?
O Sr. Miranda : — Acaba o nobre deputado por O Sr. Nebias :—Tive o cuidado de em casa
S. Paulo de me fornecer o mappa em que fun passar a vista nisso.
dava as suas esperanças I E' mais um triumpho O Sr. Miranda :—Ah 1 estudou para accusar,
para mim I Este quadro ? Este quadro mostra o e a mim nem ao menos me dão tempo de ver
esta lo material de alguns navios que não po as minhas notas I
dem ser eternos 1 O Sr. Nebias:—Quem defende deve estar pre
O Sr. Nebias : — Condemnados, desarmados' parado para tudo.
inutilisadòs I O Sr. Miranda :—Essa não é mál Pois eu
O Sr. Miranda : — Tudo isto vem a dar no havia de adivinhar o que o nobre deputado
mesmo. São navios que necessitão de reparos ou tinha a dizer, eu que nem mesmo agora entendo
fabrico. Não é possivel que um navio se con o que quer dizer? (Risadas.)
serve sempre em perfoito estado, ha de ter uma O Sr. Nebias : — Tal é o estado das nossas
avaria, um desarr injo, uma falta qualquer. Quando cousas, que á preciso adiviuhar para defender.
chega a esse estado, fabrica-so, concerta-se, ven-
de-se, inutilisa-se, etc. O Sr. Miranda :—De certo I Tal é o estado
Noto neste mappa destes navios, que não se das accusações, que é necessario adivinhar o
achão disponiveis para todo serviço. Compare o que se pretende dizer para fazer a defeza I
nobre deputado com os quarenta e tres, que lhe (Apoiados.)
apresenta o inappa anterior, e conclua. O Sr. Nebias :—Vamos adiante.
O Sr. Nebus : — Vá lendo. O Sr. Miranda :—Creio que o nobre deputado
O Sr. Miranda : — O patucho Desterro está em está divertindo-se commigo. Para que confundir
soffrivel estado, e serve de quartel-general. mais ?
O brigue-escuna Victoria precisa de grande fa O Sr. Nebias :—O nobre deputado é que está
brico. confundido com a leitura da acta, o por isso
p Sr. Nebus : — Olhe 1 não a quer ler.
336 SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Miranda : —Beni ; vou adiante. Eu pre de uma forte reserva, sempre prompta com pouca
tendia fazer urn discurso para matar o tempo : despeza, conservando-se a bordo a menor quan
preenchamos a hora. tidade de munições sujeitas á avaria, a artilharia
«A 11 de Março do dito anno ficou sol) meu necessaria, e menos força de pessoal.
cominando o vapor Urania. A 16 dito ficou addido Com esta organisação póde a França reunir
aos navios desirm 'doz, interinamente, o vapor nos criticos annos de 1810 a 18 11 maior força
Pedro II. A 7 do Abril do dito anuo foi entre do que a Inglaterra nos mares do Mediterraneo,
gue o patacho Patagonia que so achava ao ser nas indias Occidentaes, e em outros pontos I
viço da alfandega, a Francisco Dias da Cruz, Não sei a que fim trouxe o nobre deputado
que o arrematou em hasta publica. A 17 do diio por Pernambuco a fatiada bataihi de Trafalgar,
foi lançado ao mir o brigue Maranhão ..» nem a que póde elle attribuir os triumphos do
Será aqui? Felizmente nas propria»i palavras, almira-ite i:.glez. Protestando, pnréin, desde já
e nos mesmos documentos que me indica o nobre contra a excellencia que se quer dar em tudo e
deputado, acho eu a refutação de suas idéas I por tudo ao systema inglez, eu declaro ao nobre
O Sr. Nebias: — Vá lendo, senhor. deputado que "ao systema francez deve a mari
nha franceza muitos e mui gloriosos triumphos
O Sr. Miranda: — «Em 11 de Maio dito foi obtidos mesmo contra a Inglaterra. Recorra-se á
entregue á capitania do porto a canhoneira Cam época de 1830, tão brilhante para a marinha
pista. A 17 do dito ficou addija ao* i. avios des franceza. Lembrem-se tambem de S. João do
armados a corveta União. A 19 ficou tambem Ulhóa. A continuarem os melhoramentos, o em
addido o patacho Thereza. A 30 foi entregue a penho, a ambição de futuro, o amor do paiz da
Domingos Viegas Lopes a barca Edelmonde, a marinha franceza, é minha opinião que em pou
qual foi vendida em hasta publica. O patacho cos annos ella estará adiante da ingleza. Sinto
portoguez Rio Tamega, apresado pelo hiato Pa- a falta de tempo para entrar nestes desenvolvi
rahybano, foi entregue em 8 de Julho a Raphael mentos, mas ainda hoje terei talvez occasião do
Pereira de Carvalho, que o arrematou em hasta tocar neste assumpto.
publica. A 9 de Julho do dito anno pasmou Voltando ás cousas da nossa terra, eu dese
mostra de armamento em guerra o vapor Pe jaria que os nobres deputados não se conten
dro II. . . » tassem tão somente com interrogações. Assim,
Já não basta, senhores, para mostrar a sem- parece antes que querem saber do que instruir
razão com que o illustre deputado se servo para e dirigir.
-.ecusar, de documentos com os quaes eu o con Eu poderia tambem por minha vez perguntar-
fundo? lhes : O nosso systema de armamento em cir-
O Sr. Nf.bias dá um aparto que não ouvimos. cumstancias ordinarias, com maior ou menor
modificação, não equivalerá ao systema de reserva
O Sr. Miranda: — Como é possivel argumentar de que acabo do fallar? A differença que vai do
assim ? 3,000 praças para 5,000, e a possibilidade de nem
O Sii. Nebias: — Vá lendo, lêa tudo. (Ora .' ora .') mesmo oceupar as 3,000 em circumst incias ordi
O Sr. Miranda: — Eu lerei; mas noto que narias, bem revela o meu pensamento, e a pos
falta pouco. sibilidade da medida, com a qual não deixava
« ...Em 10 de Agosto passou mostra do des de sympathisar o antecedente digno ministro da
armamento o patacho Desterro, e de armamento marinha, e a que mo parece que mesmo não pódo
o patacho Theresa. Em i:i de Outubro passou ser opposto o actual honrado Sr. ministro. Assim
a corveta Pous de Julho a cabrea para metter o concebo pelo monos.
os mastrns grande e do traquete. » Se se seguisse a idéa que me pareceu resum-
Este mappa, estas observações denotão, aceu- brar das opiniões dos nobres deputados a quem
são as diflerentes phases, os differentos inciden respondo, seria do mister em tal caso conservar
tes que soffrêrão os navios no decurso do anno. todo o material da nossa armada em constante
Nenhuma delias porém autorisa o temerario juizo pé do guerra, isto é, com o seu pessoal em estado
que formula o nobre deputado a respeito da completo, e portanto a fragata Constitui;fio com
nossa armada. (Apoiados.) uma lotação de 518 praças em lugar de duzentas
e tantas ; a corveta Bahiana com 260 em lugar
. O Sr. Nebias : — Vá lendo ; acabe. de metido, e assim por diante.
O Sr. Miranda (í tirando para o lado o rela Para conservar a esqui* ira em um pé do
torio) : — O nobre deputado está gracejando 1 Não constante importancia e brilho, nós a deviamos
póde ser outra cousa 1 montir em. épocas ordi iarias com maior numero
do praças do que ultimamente as tripulavão nos
Aloumas Vozes:—-E' verdade, é verdade. Está negocios do Prata. So então, como já disse, não
gracejando I se empregarão mais de 4,000 praças, 5 a 0.000
O Sr. Miranda: — Isto ó muito serio 1 Tudo deverião ser empregadis para a especie de que
isto é importante, e digno de ser discutido com trato, porque esse numero, e ainda maior quando
toda a attenção e interesse. (Apoiados ) nos chegarem os navios encomiueudadoa comporta
a nossa armada.
O Sr Nedias : — Oh 1 tudo está muito bom.. Ora, este systema seria irrisorio, nenhuma
O Sr. Miranda : — Mas onde é que está o mal 1 nação o possne, nem mesmo a França, bem
(Depois de ali/uns momentos de socego.) Senho montada como está, nem a Inglaterra, .iue bastan
res, os nobres deputados emmaraohái ão-su em tes apertos soffVe para obter marinhagem.
uina questão gravissima, que para logo abando Quando mesmo as considerações expendidas não
narão, receiosos de discutil-a. Fallárão em im servissem para excluir a idéa de" tuna armada
portancia do material e do pessoal da armada. em posição permanentemente brilhante e respei
Parevou-me, que sa pretendia, ora que o mate tavel bastaria uma simples consideração para
rial fosse mais reforçado e numeroso, ora que excluil-a—a falta, a difficuldade de augmentar o
hnuvesso maior pessoal. pessoal.
Nestas pretenções euvolve-so uma outra ques O nosso recrutamento é vexatorio e quasi im
tão não menos grave e ponderosa, e ó a da proficuo, tanto para terra como pare. o mar. Os
disponibilidade, que os francezes chamão dispo- engajamentos não tem produzido os resultados
nibilitc en rade, questão que divido 0s entendi qne são para desejar. O espirito do nosso povo
dos e profissionaes, questão na qual a marinha repollc a profissão do mar. A falta de garantias
frani eza tem tomado parte no sentido da dispo no futuro o desanima. Com esses embaraços por
nibilidade. Consiste esse systema na conservação longo tempo ainda lutaremos. A Inglaterra.,.
SESSÃO EM 28 DE JUNHO DE 1853 337
O Sr. Nebias: — Qual é a medida que propõe luta o pessoal da nossa armada para completnr-se.
o governo? Para isto conseguirmos convém que trabalhemos,
O Sr. Miranda : — Está ahi no relatorio ; maio que sejamos prudentes, que" não nos deixamos
res vantagens, premios I arrastar pelo espirito de partido. Nestas ques
A Inglaterra, cuja organisação' maritima, como tões não ha, nem póde haver partidos. Não se
já disse, não ó adoptavel em muitos pontos, contentem os nobres deputados com declamações
acaba de repellir, ou pelo menos repellirá bem e arguições vagas, desção ao positivo, discutão,
depiessa todos os seus meios de angariar mari trabalhem, ajudem-nos, e vamos fazer alguma
nhagem, afim de preferir um unico, o dos pre cousa.
mios. Lembra-me de haver lido nos jornaes O nobre deputado por Pernambuco, citando as
inglezes do mez de Abril deste anno, creio que marinhas ingleza e dos Estados-Unidos, nações
no Correio de Glasgow, o haver o governo inglez mais adiantadas que a nossa, senhoras do mar,
nomeado uma comniissão composta de lords do e que nos podem servir de mestras, convida-nos
almirantado e de outras eminentes personagens a que sigamos os seus exemplos, e imitemos as
da profissão, para interpórem o seu parecer sobre suas instituições.
os melhoramentos a adoptar na esquadra bri- Não é isso bastante. Corro o nobre deputado
tannica. O meio mais adequado que se reco o dever de mostrar no que peccão as nossas
nheceu para captar a marinhagem foi o dos instituições militares maritimas, indicar a van
premios. . . tagem de preferir as estrangeiras e desenvolver
O Sr. Nebias: — Para a marinha o que voga a natureza destas. O mais não conduz' ao fim
na Inglaterra é o recrutamento. que se pretende. Duas batalhas ganhas, dez ou
O Sr. Miranda : — Está enganado ; não é tanto doze, nao decidem do merecimento absoluto de
assim. um systema. Tambem a França as tem ganho,
A Inglaterra reconhece quatro meios de fazer e tem ganho sobro a Inglaterra. A Inglaterra
marinhagens. O primeiro e o engajamento vo com todo o seu systema de organisação, qne
luntario ; o segundo é o alistamento voluntario chamarei fraca o imperfeita a muitos respeitos,
com a esperança em uma gratificação ; o ter tem recuado, e diante da França. Ahi está o
ceiro é o embargo em todos os navios mer Taity.
cantes até que a esquadra real esteja tripulada ; A instituição do almirantado, a respeito da
o quarto e o ultimo é o da agarração, permit- qual o nobre deputado se declara pelo systema
tão-me a expressão. inglez, é um argumento contra a bondade da orga
A Inglaterra tem lutado com os inconvenien nisação ingleza. O primeiro lord do almirantado
tes de todos esses systemas : digão-o os annos inglez não offerece as mesmas proporções que
de 1835 o 1836. A agarração é o seu inteiro encontramos na organisação franceza para os
recurso, é verdade, mas é só dnpois de empre melhoramentos da marinha. Na maritima Ingla
gados os outros, ou em caso de extrema neces terra o primeiro lord do almirantado é o chefo
sidade. Quando em 1835 e 1830 armarão de uma da administração naval, faz pu-te do gabinete,
só vez um maior numero do navios de guerra, e nada mais. Na França militar o ministerio
esperárão seis mezes pelos marinheiros, e ficárão da marinha estende ns suas azas o a sua in
mal servidos. fluencia sobre tudo quanto póde interessar á
Com ju*to fundamento quer hoje, portanto, marinha de guerra. Colonias, pescarias, mari
repellir a marinha ingleza todos esses meios de nha mercante, prefeitos maritimos, administra
recrutamento, substituindo-os pelos premios. A ção consular, tudo esta centralisado, e serve de
maior economia neste caso deve de ser a maior consideravel alavanca para fortalecer e engrandecer
liberalidade a armada.
Se isto acontece á Inglaterra, onde ha um O meio de tripular as embafeações de guerra
gosto formado para marinha, onde tudo conspira é, como já dis-e, mais expedito e efficaz na França
para que a nação brita,mica ostente uma verda do que na Inglaterra. Mas facilmente a Fra ça
deira marinha, o que não nos succederá a nós preenche is lotações de seus navios em dispo
que agora principiamos, e onde tudo concorre nibilidade do que a Inglaterra. Isso ó devido
para que se fuja da vida do mar? ao systema de recrutamento, e a que a miri-
O Sa. Nebias : — O ministerio não póde man • nha "mercante, que está toda sob a influencia
dar fazer engajamentos? do ministerio da marinha, é o nucleo, o alimento,
q sustentaculo da marinha de guerra. As in
O Sr. Miranda : — Póde, o tanto póde, que stituições francozas produzem mais iorça moral,
manda; mas os resultados são os mesmos; nada o é bem sahido que muitas vezes não è o maior
se obtem. Que fizerão os presidentes de provin numero das praças de uma esquadra, ou de um
cias, a quem o governo recorreu official e par exercito, o elemento precursor da victoria. Essa
ticularmente ? força moral, que faz de um dous, que duplica
Se recorrermos ao engajamento estrangeiro, os os exercitos o as esquadras e facilita as victorias,
obstaculos não são menores, principiando por não se planta tão facilmente contra os homens
não ser mui prudente admittir estrangeiros em agirrados na Inglaterra, como entre os alistados
larga escala em a nossa armada. Os estrangei ua França.
res repugnão servir sob pavilhão alheio ; são O Sr. Neuias : — Pela mesma razão o exercito
custosos de so sujeitarem á disciplina militar francez é melhor.
do imperio; limitão muito os sous contractos, etc.
Attenda o nobre deputado ao que succedeu O Sr. Miranda : — Ha muita differonça entre
com o engajamento, que so mandou fazer, de o soldado e o marinheiro, o exercito o a armada.
menores para o corpo de imperiaes marinheiros. Um homem tirado do matlo póde ser muito bom
Manejou-so a arma da intriga e da calumnia, soldado em seis mezes; mas para ser bom ma
fazendo-se até passar por barbaro e deshumano rinheiro são necessarios muitos quesitos. E' pre
o tratamento que aqui se dá aos engajados. O ciso ter vocação natural, começar muito cedo, ter
resultado disto foi que o nosso governo mandou muitos annos de serviço, e instrucção muito parti
eontra-ordem daqui e o engajamento se não effe- cular e constonte. Muitas vezes acontece que nos
ctueu. combates navaes a victoria não ó devida á pe-
Cumpre, conseguintemente, recorrer aos pre riciu da esquadra, mas a um elemento de in
mios, e nisto acompanhar a intenção da marinha strucção bem diverso á artilharia.
inglesa. Vejamos se com a liberalidade podemos Quero conseguintemente haver-me em certos
vencer os innumeros inconvenientes com que e determinados casos com as intituições fran-
tom» 8. 43
338 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
cezas com o seu almirantado, com o seu recru A's 11 horas menos cinco minutos, o Sr. pre
tamento, com a moralidade marinhagem. sidente abre a sessão.
O Sr. Nebias : — Ha mais igualdade; esse onus Lida e approvada a acta da anterior, o Sr. 1° se
pesa sobre todos. cretario da conta do seguinte
O Sr. Miranda : — Quando eu digo—ovganisação EXPEDIENTE
mais perfeita, /mais morigerada—explico tudo, e
muito folgo de ver que o nobre deputado, dis Um officio do Sr. ministro do imperio enviando
cordando do meu illustre collega por Pernam uma representição da assembléi legislativa da
buco apoia esta minha maneira de ajuizar do provincia da Bahia, solicitando do corpo legis
merecimento das esquadras estrangeiras. lativo uma medida que evite a total ruina dos
Sr. presidenta, esta materia me levaria muito bens da ordem dos carmelitas calçados da dita
longe, e eu só queria fazer um discurso para provincia. — A's commissões reunidas do assem-
ter direito a um segundo discuiso. bléis provinciaes e ecclesiastica.
Se a hora não 1 esta dada, quero continuar, Outro do mesmo, remettendo um officio do
porque não desejo que succeda a outro o que presidente da provincia do Maranhão, e o reque
acaba de acontecer. Se porém a hora esta ven rimento do coaimendador Antonio Carneiro Ho
cida, não adianto. mem de Souto-Maior, em que pede uma pensão.
Eu já mo acho fatigado, e além disto sup- —A' commissão de pensões e ordenados.
ponho mesmo que tenho causado fastio a estes" Do Sr. ministro da justiça, commun icando que
senhores, que me fizerão a honra de ouvir. (Não expedira as convenientes ordens aos presidentes
apoiados.) das provincias para que remettão com a brevi
Alouns Srs. Deputados:— Tem fallado muito dade possivel os mappas crimes.
bem. Do Sr. 1° secretario do senado, participando
O Sr. SeAra: — Fallou muito bem, e com muito que S. M. consente em varias resoluções. — Dô
conhecimento da materia. i ambos fica a camara inteirada.
O Sr. Miranda: — Muito obrigado, meus se Um officio do Dr. Roberto Jorge Haddock
nhores. Lobo, enviando uma cópia manuscripta do recen
seamento da população do municipio neutro,
Alouns Srs. Deputados:—Ainda falta um quarto relativo ao anno de 1849, por elle organisado.—
de hora. E' recebido com agrado.
Outnos Srs. Deputados:—Não, já deu a hora. Um requerimento de D. Rita Maciel Franco
O Sr. Presidente: — A sessão começou ás 11 de Lima pedindo solução de um requerimento a
menos um quarto. São 2 horas e tres quartos, esta camara já dirigido, pedindo metade do soldo
e portanto estão preenchidas as horas. que percebia seu marido, o 2° tenente José do
Rego Lima Barros.—A' commissão a que se acha
O Sr. Miranda: — Bem ; paro aqui. aflecto este negocio.
O Sr. Nebias : — Encheu muito bem as horas, Outro do desembargador Henrique Velloso de
Sr. Miranda. Oliveira, pedindo auxilio de 30:000!? para poder
O Sr. Miranda : — Hoãie mihi, crasjiibi. imprimir uma grammatica da lingua aliem 5,
composta por elle, para uso dos braziteiros que
O Sr. Presidente marca a ordem do dia e quizerem-se dedicar a esse estudo, sujeitando-s6
levanta a sessão ás 2 horas e tres quartos da a um exame feito por pessoas competentes. —
tarde. A' commissão de petições.
Outro do ex-tenente do exercito Norberto Alves
Cavalcanti reclamando contra a sentença dada
Sessão cm 30 de Junho pela junta de justiça de Pernambuco, tendo
havido empate na votação.— A's commissões de
PRESIDENCIA DO SR. MACIEL MONTEIRO, justiça criminal e de marinha e guerra.
Outro do tenente coronel graduado Joaquim
Summario.—Expedien te. —Ordem do dia. —Pensão de Souza Guimarães Cinanéa, reclamando contra
d viuva da brigadeiro Costa Ferreira.—Indem a reforma que por decreto de 25 de Setembro
nisação d confraria de Nossa Senhora da Con de 1852 lhe foi dado.— A' commissão de marinha
ceição. Discurso do Sr. Silveira da Motta.— e guerra.
Fixação das forças de mar. Discurso do Sr. mi Outro do tenente reformado do exercito Antonio
nistro da 'marinha. Votação. — Requerimento da Costa Coelho, pedindo, ou voltar ao serviço
do Sr. Bezerra Cavalcanlti. do exercito, ou melhoramento de reforma, que
em consequencia das disposições e.n que foi ella
A's 10 horas feita a chamada achão-se pre baseada, lhe é, sem para isso haver elle concor
sentes os Srs. Maciel Monteiro, Ribeiro, Aprigio, rido, mui lesiva. — A' commissão de marinha e
barão de Maroim, Miranda, conego Leal, Ferraz, guerra.
Gomes Ribeiro, Fleury, Paula Candido, Bello, Outro do major Henrique Dias, Francisco José
Machado, Barbosa da Cunha, Macedo, Octaviano, de Mello, administrador da imperial capella de
Pedreira, Candido Mendes, Assis Rocha, Brusque, N. S. da Assumpção, na provincia de Pernam
Domingues Silva, Taques, Saraiva, Augusto de buco, pedindo uma loteria que se extrahirá na
Oliveira, Góes Siqueira, Monteiro de Barros, Lin- còrte, para reparos e concertos da mesma igreja.
dolpho, Lisboa Sem, Paula Santos, Siqueira — A oommissão de fazenda.
Queiroz, Piiranagná, Belfort, Dutra Rocha, Nebias,
Silveira da Motta, Livramento, Fernandes Vieira, O Sr. Auguslo do Oliveira: — Sr. presi
Pimenta Magalhaes, Wilkens, Paula Fonseca, dente, é para fazer uma rectificação que eu pedi a
Raposo da Camaia, Mendonça e Nahuco. palavra. No Jornal se me attribue um aparte que
Comparecem depois da chamada es Srs. Pereira eu não dei ; o que eu disse foi que a politica
da Silva, Pacca, Silverio, Luiz Carlos, Titára, do governo em Pernambuco se tinha collocado
"Viriato, Casado, Theopliilo, Kego Barros, Amaro, em posição de judeu, e que foi repudiada por
padre Campos, Evangelista Lobato, Jaguaribe, ambos os partidos. Foi isto o que eu disse, e
Paes Barreto, Sã Albuquerque, João Jacintho, não o que so acha no Jornal do Commercio.
Rocha e Zacharias. O Sr. 2° Secretario ( Macedo ) pede RO Sr.
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 339
presidente nomêe um membro para a còm- que elle até então tinha adoptado de não se
missão de redacção, na falta do Sr. visconde de concederem pensões senão a viuvas de militares
Baependy, que esta ausente. mortos em combate, tinha o governo de ser a
O Sr. Presidente noméa o Sr. Oliveira Bello, . cada passo incommodado com pretenções exage
e em seguida a deputação composta dos Srs. radas.
Eusebio, Pereira da Silva, Aprigio, Serra, Ban Não foi portanto sem espanto que eu vi este
deira de Mollo, Paranaguá, Almeida o Albuquer anno o Sr. ministro, não só abrir essa porta de
que, Seara, Gomes Ribeiro, barão de Maroim, que tanto se receiava, mas tambem outras,
Saraiva, Ferreira de Araujo, Teixeira e Sousa, pois muitas pensões têm sido este anno apre
Belisario, Fleury, Araujo Jorge, Silveira da Motta, sentadas a casa sem estarem nas condições que
Sousa Leão, Livramento, Brusque, Sá Albuquer então o Sr. ministro julgava necessarias.
que, Wilkens de Mattos, Fausto e Monteiro de Devo ainda observar á camara que o parecer
Barros que tem do levar ao throno o voto de da commissão envolve uma grande injustiça re
graças. lativa, porque concedo a esta senhora um favor
muito maior do que-aquelle que a camara tem
PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DO DIA feito ás viuvas de militares mortos em combate.
No caso de que se trata a agraciada está no
PENSÃO k VIUVA DO BRIGADEIRO COSTA FERREIRA. goso do meio soldo que lhe compete, entretanto
que muitas pensões approvadas pela camara
Entra em discussão o projecto r. 30 deste anno em favor daquellas viuvas incluiáo já esse meio
approvando a pensão de 600$ concedida a D. soldo. Voto portanto contra o parecer da com
Carolina Pedroso Barreto di Costa Ferreira, missão.
viuva do brigadeiro Josó Feliciano da Costa O Sr. Soara :— Sr. presidente, tomei a pala
Ferreira, em attenção aos seus serviços militares vra para informar ao nobre deputado que acaba
e de campanha, devendo contar-se o vencimento de sentar-se dos serviços prestados pelo bene
da data da concessão. merito militar cuja viuva nos pede uma punsão.
O Sr. Bflfort pede que o projecto tenha uma O nobre deputado está manifestamente enga
só discussão. nado quando considera que os serviços prestados
A camara decide pela affirmativa. pelo Sr. José Feliciano da Costa Ferreira são
de mui pouca monta I muitos apoiados ) ; e eu
O Sr. Mendença : — Tenho, Sr. presidente, estou habilitado pira assim fallar por isso que
de pronunclar-me contra o parecer da commis- este distincto oflicial { apoiados ) servio tambem
são de pensões e ordenados que se acha em dis debaixo das miuhis ordens, e direi á camara
cussão, apezar de ver nesse parecer os nomes que foi pelos sous relevantes serviços, pelo zelo
dos nobres deputados por S. Paulo e pelas Ala que desenvolveu a pró da ordem, qui adqui-
goas que tão severos zeladores se tém sempre rio as molestias de que depois foi victima.
mostrado nesta casa • dos dinheiros publicos. (Apoiados.)
Tenho observado, Sr. presidente, que em regra Diroi mais a V. Ex. que o Sr. José Feli
eral a camara tem approvado as pensões conce- ciano da Costa Ferreira foi commandanta de
idas a viuvas de militares mortos em combate, uni dos melhores batalhões do exercito do sul,
fazendo apenas uma ou outra excepção em casos o bitilhão de S. Paulo; servio distinctamente
extraordinarios de serviços muito relevantes. em campanha quando commandava o Sr. Santos
Ora, na pensão em questão eu não posso, por Barreto, em alguns conflictos se distinguio por
mâis que queira, enxergar esses serviços relevan acções ussignaladas de valor (apoiados), e mui
tes. Se consulto os documentos que servem du tas vezes expóz sua vida no campo da batalha.
base ao parecer, eu vejo que esses serviços são (Muitos apoiados )
inuito ordinarios, são serviços que todos os mili E, senhores, só porque elle não falleceu em
tares têm obrigação de prestar ao seu paiz. Se combate, havemos deixar de soccorrer sua in
pois admittirmos o principio de se approvarem feliz viuva, que ficou pobre porque este bene
pensões apenas fundadas nessa expressão — ser merito e virtuoso general sempre foi honrado ?
viços relevantes —, expressão que V. Ex. e /i Alouns Crs. Deputados: —Muito bem.
casa sabem quanto é vaga, iremos abrir uma porta
a mil pretenções Quantas viuvas não existem de O Sr. Seara:—Não quero cansar a camara; o
militares que têm prestado ao paiz relevantes meu fim é que se faça justiça á viuva do mes
serviços * Quantos orphãos ha de pais militares mo general, que merece por muitas razões e
que também prestárão muitos serviços ? Assim muitos titulos a consideração desta casa. (Apoia
pois se approvarmos a pensão de que se trata, dos. )
todas essas viuvas, todos esses orphãos se jul Julga-se discutida a resolução que é appro-
garão com direito a exigirem do governo igual vada por escrutinio secreto.
favor.
O Sr. Silveira da Motta : — Nem todos os r INDEMNISAÇÃO A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA
DA CONCEIÇÃO
militares têm os serviços do Sr. José Feliciano.
(Apoiadas) Entra em segunda discussão o projecto r. 25,
O Sr. Mendonça : — Não vejo quaes são esses vindo do senado, concedendo indemnisação á
serviços, estimaria muito que o nobre deputado confraria de Nossa Senhora da Conceição, pelos
pedisse a palavra e nos mostrasse esses serviços prejuizos que houver soffrido por não se veri
relevantes. Noto mais, Sr. presidente, que até ficar o seu cemiterio no terreno que para isso
ao anno passado tinha o Sr. ministro do imperio havio comprado, contiguo ao da veneravel or
esta mesma opinião que agora sustento, o se me
não falha a memoria, sendo apresentados ao Sr. dem terceira de S. Francisco de Paula.
ministro naquelle tempo alguns documentos com O Sr. Slivnlra da Motta:—Sr. presi
que uma senhora respeitavel, creio que viuva de dente, este projecto, creio eu, anda a muito
um distincto ollicial de marinha, o Sr. Pedro dado para 'ordem do dia, mas tem sido prete
Nunes. baseava um requerimento pedindo uma rido por outros mais urgentes, e esse abandono
pensão ao governo, ouvi ao Sr. ministro dizer em que tem estado tem feito com que a atten
que julgava muito justa a pretenção desta se ção da camara, ou no menos a minha, se tenha
nhora, mas que não se atrevia a propor a pen distrahido da materia.
são, porque iria abrir uma porta a cincoenta Vou fazer pois ilgumas observações a respeito
mil pretenções, pois que, infringindo o principio do projecto, esperando que a camara me des
340 SESSÃO EM 30 DE JUNHO 'DE 1853
culpará 'a 3ua ligeireza, porque não estava pre nas suas especulações de compra e yenda, quando
venido para esta discussão. qualquer medida administrativa affectar o valor
Sr. president0, este projecto póde ser que de propriedades particulares....
encerro uma medida de muita equidade ; ess.j. O Sr. Paula Candido :—Não foi especulação.
indemnisação á confraria do Nossa Senhora da
Conceição pelos prejuizes que soffre, que sof- O Sit. Silveyra da Motta: — Póde ser que não
freu ou houver de soffrer por uáo ter o seu fosse, mas eu estou argumentando com appli-
cemiterio no terreno que pua isso havia com cação do principio....
prado, póde ser qne seja objecto de muita O Sr. Paula Candido dá ainda um aparte.
equidade ; mas, senhores, nós não podemos como O Sã. Silveira da Motta :—Não me importo
legisladores fazer equidade com violação dos com o negocio da irmandade, o que quero é
principios fundamentaes da sciencia. Creio qne salvar o principio. Eu comecei o discurso di
esto projecto envolve uma inversão completa... zendo que talvez houvesse equidade n'isto, mas
O Sr. Paula Candido : —Ora essa I entendo que nós não podemos fazer equidade á
O Sr. Ferraz dá um aparte que não perce custa dos principios...
bemos. Um Sr. Deputado : — E' justiçi rigorosa.
O Sr. Silveira ha Motta :— . . . envolve uma O Sr Silveira da Motta:—Póde ser que haja
inversão completa de todos os principios que justiça rigorosa ; reconheço mesmo que o acto
devem distinguir as questões judieiues, adminis legislativo que estabeleceu privilegio para os
trativas o legislativas j envolve essa- inversão cemiterios havia de trazer comsigo alguns des
completa porque vai aar ao corpo legislativo apontamentos para as irmandades que já tinhão
aut.irisação para tratar da materia das indem- f ito sous calculos para o estabelecimento de
nisuções, que aliás deve ser tratada pela acção seus cem.terios, que ellas havião de ter alguns
competente, e no competente fóro. prejuizos; mas o que quero que o nobre depu
Nuo concebo in smo, Sr. presi lente (permitta- tado ventille não é a hypothese, é a these. Por
me a camara dizêl-o), não concebo mesmo como ventura não ó pela nossa legislação o poder ju
materia desta natureza póde salvar-se no se diciario o unico competente para verificar, para
nado biazileiro, onde reconheço tanta illustração, liquidar os damnos recebidos pelos particulares,
tanto patriotismo. Este projecto tem por fim quando esses damnos resultao de um acto do
auloiisar ao governo para indemnisar uma ir- governo ?
mand ide que havia comprado um terreno (uao Senhores, eu entendo que se passar o princi
sei que irmandade é)... pio, a confusão que se dá ó entre as attribui
Um Sr. Deputado:—De Nossa Senhora da Con ções do poder legislativo, ou as attribuições do
ceição. poder administrativo e judiciario. O projecto
O Sr. Silveira da Motta:—.. . para indem está concebido de maneira que nem dá a en
nisar a irmandade de Nossa Senhora da Con tender se houve ou não já alguma liquidação de
ceição do prejuizo que ella soffreu com a com prejuizos...
pra da um terreno para o seu cemiterio, quando Um Sr. Deputado: — O prejuizo está liquidado
ainda não estava pelo corpo legisl itivo designado á -vista do escripturas publicas.
o lugar competente em que todas as irmanda O Sr. Silviiiiu da Motta: — Prejuizos não se
des devião estabelecêl-os. A irmanda' de Nossa liquidão por escriptura publica; os procuradores
Senhora da Conceição comprou o terreno, sup- da fazenda publica não podem fazer transacções
p onhamos nós, por 10:000fi (croio que se reduz em escriptura publica, o nem em juizo, reco
a isto a medida), e como agira é obrigada a nhecendo prejuizos resultantes aos particulares;
ter o seu cemiterio na Ponta do Caju verbi gra- por isso digo que ha uma inversão completa
iia, no lagar designado para as irmandades , de todas as idéas juridicas, appellando-se para
tem ella de vender esse terreno, e tendo "ella o reconhecimento dos prejuizes em escriptura
de fazer esta venda, uma de suas hypotheses publica. O que póde dizer essa escriptura ? Póde
temos do considerar: ou que já vende u e ven dizer que a irmandade comprou por 10 o que
deu por menos do que aquillo porque tinha agora vendeu por 8 ? Mas por isso corre al
comprado, e então ha a tal hypothese do prejuizo, guma obrigação aos poderes publicos de indem
ou ainda não o vendeu. Ora , a resolução tem nisar aquelle que comprou por mais e vendeu
por fim indemnisar um dam no illiquidido ainda, por menos, embora este prejuizo fosse resul
que póde ser que não exista, porque até ó tante de am acto do poder publico ? Dahi o
muito natural que um terreno nos arrabaldes que póie resultar ó o direito a pedir a in
do Rio de Janeiro não soffra diminuição de demnisação, mas pelos meios competentes.
preço por este lapso de tempo da compra até Portanto ó preciso as questões de competen
a venda. Temos, pois, estas duas hypotheses a cia de direito. Quanto á equidade, não duvido,
contemplar. não quero entrar na sua indagição, o que po
Supponhainos que a irmandade já vendeu o deria fazer, porque não sei mesmo se poderá
-terreno que, tendo comprado por 10:000$, vendeu rigorosamente chamar equidade ir fazer boa a
por 8:000$. O projecto diz que tem por fim in acquisiçáo que a irmandade fez desse terreno
demnisar a esta irmandade a differença, isto é, pela indemnisação, quando nessa acquisição os
2:000$. Ora, perguntarei eu, não é uma inver poderes publicos não tiverão uma intervenção
são completa das nossas attribuições, como le immediata : a irmandade comprou o terreno,
gisladores, intromettermo-nos a reconhecer, an porque quiz....
tes de ser pelo poder judiciario reconhecido, o
direito e o quantum da indemnisação que com O Sr. Paula Candido:—Autorisado pela autori
pete em virtudo do um damno recebido, resul dade competente.
tante do um neto do governo ou do corpo le O Sr. Silveira da Motta :—Mas reconhecendo
gislativo? So passar este principio anarchico que a irmandade foi levada a fazer essa acqui
(não tem outro nome), que o poder legislativo sição por um principio da utilidade publica,
póde conhecer dos planos conhecidos pelos qual foi o estado sanitario do Rio de Janeiro,
dam nos recebidos pelos particulares á decretar por isso digo, que não quero intrometter-me
fundos para elles antes que esses damnos so- na questão de equidade, porque vejo que até
jáo verificados pelo poder competente, eu creio certo ponto ella fez um serviço, e como agora
que estamos de porta aberta para fazer esmo foi obrigada a remover o seu cemiterio, vem
las ahi a todo o mundo que se ache mallogmdo podir esta indemnisação ; não contesto mesmo
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 341-
que essa irmmdade tenha rigoroso direito a esta 1 ue mais tratarão da materia do que da pessoa
indemnisação, mas pedindo-a pelos meios regu d o ministro.
lares, o poder legislativo, se a dér faz um Esses dous nobres deputados forão accordes
favor. om censurar o governo por fugir da discussão,
Esta indonfuisaçã i deve sír pedida perante por temor os debates. Disserão clles : « Vai já
os tribunaes judiciarios, a quem compete veri moiada a sossão, o ainda nào forão presentes á
ficar. os prejuizes, perdas e damnos resultintes camara propostas aliás annunciadas pelos minis
aos particulares d..s actos do poder administra tros nos respectivos relatorios. »
tivo. Mas o projecto anticipa-se, diz: « O go Sr. presidente, se alguma demora houvesse este
verno fica autorisado para indemnisar, » sem anno da parto do governo em offerecer á camara
que o corpo legislativo tenha consciencia de que materias que alimentassem as respectivas discus
houve prejuizo. Nós não podemos ter esti con sões, o seu proce l T acharia completa justifica
sciencia senão depois do acto do poder judi ção nas circumstancias que distinguem a pre
ciario... sente sessão de todas as sessões da ultima le
O Sr. Paula Candido : —O nobre deputado que gislatura. Na legislatura passada apresentou-se
reria fazer uma casa no cemiterio ? apoiando o governo um partido compacto que,
ainda resentido de suppostas offensas recebidas
O Sr. Silveira da Motta:—Não soi, mas croio de uma ordem de cousas que deixára de pre
que mesmo em Catumby, no lugar onde houve ponderar em Setembro da 18 IS, não perdia occa
cemiterio , tem-se edificado , porque ha muita sião de mostrar, por todas as mineiras, a mais
gente que não tem medo de almas do outro completa adhosão ao gabinete; mai esse partido
mundo... compacto, senhores, que aspecto tomou no prin
O Sr. Paula Candido:— E' o corpo neste mundo cipio dosta legislatura? Esse partido, ou fosse
que faz mal, e não a alma. p :1a sociedade , qne produz o uso prolongndo
do poder, ou por outras circumstancias que não
O Sr. Silveira da Motta :—Pela regra do no me cabo aqui averiguar, sentio rasgar-se-lhe o
bre deputado todo o mundo devia ter medo de seio para delle sahir , com o caracter de oppo-
edificar, e nós poderiamos ter medo de estar sição , uma minoria como todo o publico terá
aqui legislando na camara dos deputados tão presenciado e sabe ; e então travou-se uma luta,
perto da igreja de S. José. não entre principios politicos de um lado e
Senhores, o legislador, como poder publico, principios politicos de outro, mas uma luta se
tem raias marcadas que devo respeitar, mesmo melhante ás guerras intestinas, e ás dissensões
para exemplo dos outros poderes ; o poder le domesticas, que são as peiores • de todas as lu
gislativo nao póde fazer actos que exorbitão do tas, porque nellas tudo se compromette, tudo se
suas attribuições. Ora, eu entendo que este acto arrisca, o até 0s mais intimos segredos confia
é exorbitante das attribuições do poder legisla dos á amizade são arrojados á praça publica.
tivo, e por isso hei de votar contra o projecto. Nestas circumstancias pois , se alguma atonia
Não duvidaria dar o meu voto para um credito apparecesse nos trabalhos cuja iniciativa per
que o governo pedisse para indemnisar as pes tence no governo , explicar-so-hia naturalmente
soas que se apresentassem com sentenças pedindo com o facto de que tenho tratado.
indemnizações reconhecidas, com as condições da Mas tal esmorecimento não houve; o governo
lei ; mas anticipar-me, eu, legislador, que não comprehendeu bem o que lhe cumpria fazer, e
conheço damno, que não sei das circumstancias, tem marchado regularmente no desempenho de
dizer ao governo : « Póde pagar, » sem saber o sua tarefa. Apenas acabada nesta casa a dis
que ha de pagar, é cousa que não faço. cussão das eleições do Pará , em que não con
Creio que o corpo legislativo devia evitar que sa- vinha de modo algum que houvesse interrupção,-
hissem actos destes do seu seio ; é opinião mi apenas concluida a discussão da resposta á falia
nha muito humilde; póde ser que esteja em do throno, em que por interesse do todos, para
erro, que saja uma filagrana juridica que não haver completa explicação das causas do diver
tem apreço algum ; mas estou persuadido que o gencia e separação, que acabava de ter lugar,
poder legislativo devo ser o primeiro a não sa- convinha que os debates fossem largos, como
hir das suas orbitas. forno ; o governo apresentou-se pedindo autorisa-
A discussão fica adiada pela hora. ção para auxiliar os bancos desta capital , que
padecião eui consequencia do estado da praça ;
SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA immediatamento depois discutirão-se as bases do
um banco nacional, instituição importantissima
FIXAÇÃO DAS FORÇAS DE MAR que por si só basta para fazer memoravel a
primeira sessão desta legislatura; e em seguida
Continua a segunda discussão do art. 1» da senhores, começou- se a discussão que presente-
proposta do governo que fixa as forças de mar mentemente nos oceupa. Não vejo que tenha
para o anno financeiro de 1851— 1S55. havido um i hora perdida de nossas sessões,
não vejo que tenha havido uma ordem do dia
O Sr. Zaoharlas (ministro da marinJia) : para a qual se não hajáo dado materias de
.—Sr. presidente , sendo do meu rigoroso dever importancia.
sustentar a proposta de forças navaes do anno M is disse um dos nobres oradores : « O go
de 1854 a 1855 , espero que a camara me rele verno, que tem o dever de apresentar a ref ir
vará que occupe por alguns momentos a sua ma do ensino primario e secundario da corte,
attenção. não o fez; o governo que annunciou a reforma
Tres oradores, Sr. presidente, têm impugnado das municipalidades, nao tem apresentado esse
a proposta. Ao primeiro que fallou não respon trabalho. » Eu, Sr. presidente, estou habilitado
derei , porque uma parte do seu discurso fun- a dizer que o ministro competente cuida mui
dou-se em má interpretação dada a palavras seriamente desses objectos, e que, coadjuvado
que proferi por occasião da discussão da res por pessoas cipazes de dar uma opinião segura
posta á filia do throno, e a outra parte foi um a tal respeito , têm já trabalhos para apre
composto de doestos com que procurou moles- sentar.
tar-me , mas a que julgo-me superior. Tomarei Soo meu. nobre collega, porém, não trouxe
pois sómente em consideração alguns factos que ainda á camara esses trabalhos, apresentou já a
o nobre deputado mencionou, e isto farei mais reforma do ensino superior do imperio, a qual
adiante no correr do meu discurso. No ern tanto póde dar assumpto para longos e amplos de
passo a responder aos dous nobres deputados bates, e todavia o concurso de materias que a
342 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
sabedoria chs camaras tem julgido do maior a mesma responsabilidade do ministro, viessem a
urgencia ha obstado a discussão de tal reforma, ter as mesmas prerogativas.
donde se sague que se o meu nobre collega Eis e que por ora me julgo na obrigação de di
houvesse apresentado aquellea dons projectos, zer á'ierca do conselho naval, porque em verdade
elles terião corrido a mesma sorte que a re essa discussão é intempestiva ; em occasião op-
forma da instrucção superior do imperio, e suas portuna poderemos tratal-a melhor ; e desde já,
discussões não se terião encetado. Logo, nossa rogo ao nobre doputado que se prepare para en
accusação do honrado deputado ha um luxo de tão fornecer-me os esel ireciinentos que a sua
exigencia. leitura e acurada meditação me puderem sub-
O Sr. Fioueira de Mello ; — Teriamos tempo ministrar.
para estudar essas materias. O nobre deputado por Pernambuco estranhou,' .
e neste ponto foi acompanhado pelo honrado mem
O Sr. Zacharias :—Passando ao ministerio da bro por S. Paulo, que a proposta viesse descar
marinha, começou o nobre deputado pela pro nada ; querião os honrados membros que na pro
vincia de Pernambuco, etc, trazendo por diante posta viesse incluido tudo o que foi lembrado no
o conselho naval, e disse que desejava ouvir de relatorio ácerca dos diversos ramos da adminis
mim qual a razão por que preferiria uma au- tração da marinha.
torisaçao geral para crear essa instituição a uma Admira, senhores, que membros da opposição,
proposta minuciosamente desenvolvida. a quem incumbo velar na flol observancia da con
Senhores, eu responderia com acerto ao nobro stituição, viessem aqui estranhar que uma pro
deputado , dizendo-lhe que em occasião oppor- posta do forças navaes não trouxesse alguns des
tuna daria as razões que tinha para isso. Mas ses chamados enxortos, que em todas as occa-
comprehende-se bem que relativamente a uma siões forão constantemente impugnados por quan
instituição tão importante como o conselho naval, tos membros da opposição têm tido a palavra
cuja realisação, sem duvida por dlfficil, tem sido sobro a materia.
até hoje retardada , apezar de tantos talentos A constituição, senhores, manda que annual-
eminentes terem occupado a pasto da marinha, mente se fixem as forças de terra e de mar, e
pareceria temeridade em mim propór e instar fixar as forças de mar é determinar quantos ho
para que fosse adoptada definitivamente uma mens são necessarios para sobre os mares de
organisação que ém breve a experiencia poderia fender a indopendnecia do imperio e a dignidade
mostrar conter taes ,e taes defeitos, e carecer de de seu pavilhão: esta é a questão principal, e
certas modificações. Por isso tncliuava-me a en pois uma proposta rogular deve cingir-se o mais
saiar a instituição de modo que antes de ser possivel a este ponto. Na pratica tem se ás vezes
submettida á definitiva approvação do corpo le admittido na lei do forças navaes algumas dis-
gislativo, pudesse, em prazo sufficiente, consul posiçõm estranhas 4 especialidade ; porém as me
tar- se a pratica e a experiencia a tal respeito. didas pelo menos, que lembrei no relatorio, não
Mis, pensando assim, não estou longe de julgar cabião razoavelmente na proposta de fixação de
conveniente uma autorisação para crear o conse forças navaes.
lho sobre bases que dêm ao governo uma certa O Sr. Nebias t — O melhoramento dos gratifi
latitude, uma certa liberdade, comtanto que pos cações podia acabar.
samos em breve dotar o paiz de uma institui
ção tão necessaria, e neste slntido espero que O Sr. Zacharias : — Diz o illustre deputado que
algum trabalho haja de se apresentar opportu- me fica a esquerdi que o melhoramento das gra
namente no senado. Confesse, entretanto, o nobre tificações dos voluntarios podia ser acautelado na
deputado que trouxe fóra de tempo para a casa lei qu« discutimos ; respondo que não. O artigo
uma semelhante questão. da proposta, seohores: que estabelece o modo de
No sou proposito de aventurar observações um se prover a armada do pessoal necessario, trata
tanto improprias da discussão vertente... em geral de gratificações e premios a volunta
rios e engajados ; fixar oqwmtum s> deve appli-
O Sr. Fioueira de Mello : — Não entendo car para esse ramo do serviço pertence á lei do
assim. orçamento, e não á loi de fixação de forças ; assim
O Sr. Zacharias : — ...perguntou o nobre ora se tem praticado sempre, e por tanto é na lei
dor qual a razao porque o ministro da marinha do orçamento que eu pretendo tratar desse ob-
inclina-se antes ao almirantado francez do que jocto. ,
ao almirantado inglez. Senhores, se o nobre de Faz me o nobre deputado uma grave censura
putado tivesse examinado mais a materia, não dizendo que eu, autorisado pela lei do orçamento
me faria uma tal pergunta, O almirantado inglez a gaitar 10:000.) com p edificio pertlncente á re
não é um conselho de administração, é uma ad partição do marinha, situado na rua de Bragança,
ministração activa ; não da pareceres, decide to fizera um contracto no valor de õl:0J3$ para este
das as questões da marinha britannica : ó o que concerto, excesso que tem por injustificavel em
ha de mais particular na especialissima constitui Íiresença da lei. Senhores, quando o corpo lagis-
ção da Inglaterra ; é uma instituição que nenhum ativo autorisa o governo a despender em um
aiz póde imitar no sentido dos desejos do no exercicio certa quantia em uma obra, mormente
E te depulido. Nem mesmo o projecto de 1838, a se não foi determinada em vista de um orça
que o nobre deputado alludio, e por cuja adopção mento regular, não quer dizer que deixará de
pareceu instar, adopta o systema inglez ; a idéa dar outras quantias para essa obra, ainda que
que ahi prepondera é tazír do ministro o ver na pratica se mostro a insufficiencia da somma
dadeiro director supremo da marinha, dando-lhe votada. Ao governo incumbe trazer ao conheci
o voto decisivo, e ao conselho somente o con mento do corpo legislativo essa circumstancia pe
sultivo. dindo mais fundos para conclusão da obra : foi
O Sr. Fioueira de Mello dá um aparte que precisamente o que eu fiz.
não ouvimos. Autorisado a gastar 10:0005 com o reparo do
edificio da rua de Braginça, dei providencias para
O Sr. Zacharias : — Sr. presidente, se á vista que elle começasse ; mas todas as iuibrmações que
de nossa constituição os negocios da marinha não tive forão que não convinha mandar fazer a obra
podem ser resolvidos definitivamente senão pelo por administração, que melhor era leval-a a ef-
ministro respectivo, como o unico responsavel leito por meio de um contrate. Publicárão-se an-
que é, seria absurdo insustentavel querer-se que nuncios, e em resultado não se apresentou quem
esse ministro se cercasse de um conselho, cujos quizesse fazer essa obra por menos de 54:000$,
membros tivessem voto decisivo, isto é, que com em um praso de 16 mezes . Então não hesitei em
SESSÃO EM 30 DE' JUNHO DE 1853 343
fazer o contracto, mandando dar a primeira pres cerca de oitenta braças cubicas, segundo se vê
tação de 8:000$, e trazendo, como tronxe, o ne da exposição que li, creio que bem fez o rela
gocio ao conhecimento do corpo legislativo, e so torio deste anno em dizer que tem mais de cento
licitando a consigação de maior quantia. e setenta braças. Agora, se houve erro de typo-
Consultai, senhores, na leis de orçamentos, e graphia no relatorio do meu antecessor, ou se
vêde que ahi, j)or exemplo, se diz : « Para o os documentos que elle teve em vista o induzi
cáes da Sagraçao no Maranhão, tanto ; para o rão em erro, não sei, nem sou obrigado a explicar
melhoramento do porto de Pernambuco, tanto. » contradicções que hajão entre um trabalho meu
Entretanto novas quantias se consignão em os e o de outrem.
orçamentos dos annos subsequentes. Entrando propriamente na materia da proposta,
Se por este lado, senhores, fui accusado de disse o nobre deputado que o governo pedia
excesso, por outro lado fui arguido de mesqui 3,000 praças para tempos ordinarios, e 5,000 para
nho quando o nobre deputado asseverou que para extraordinarios; que essas praças são us que
o melhoramento do porto de Pernambuco o mi compoem a nossa marinhagem, e que reconhe
nistro da marinha que tinha um credito de cendo o ministro a extrema difficuldade de obtêl-a,
120:000,? npenas gastára 30:00Ú$ I Excesso na des- longe de propór um meio efficaz para remover
peza com o concerto do edificio situado na rua semelhante inconveniente, contentava-se com lem
de Bragança, no Rio de Janeiro; mequinhoz com brar no relatorio um meio inefficaz, empirico,
o melhoramento do porto de Pernambuco I Para qual é o de se augmentarem as gratificações e
responder ao nobre deputado vou ler um trecho os premios. Notarei primeiramente qua o nobre
deste officio (mostrando), do inspector do arsenal deputado confunde 3,000 ou 5,030 praças pedidas
de Pernambuco, datado de 1° de Junho corrente. na proposta com marinhagem propriamente dita.
Apresenta elle um quadro das rubricas, das Marinhagem ó um elemento da força pedida, mas
quantias consignadas e das que existem, e diz não fórma o todo.
que para obras fixarão se 12:000$ e existem O Sr. Fioueira de Mello :— Isso sei eu.
59:318$010. Logo, no melhoramento do porto de
Pernambuco tem-se gasto a quantia de 60:081$900, O Sr. Zacharias: — O nobre deputado pensou
isto é, mais do dobro da Bomma que o nobre que qualificava desairosamente o expediente lem
deputado asseverou haver-se despendido. brado dizendo que era empirico, isto é, fundado
Dirá o" nobre deputado : « Talvez houvesse re- na pratica e na experiencia; mas enganou-se.
commendação para que não se gastasse mais Não ha duvida, senhores, que uma das dificul
com essa obra. » A isto respondo com a infor dades de alcançar voluntarios e engajados para
mação do referido inspector, que é um off.cial a armada procede de que os homens proprios
de muita confiança. Esse empregado diz: a Tenho para a vida do imar ganhão mais na marinha
conservado regularmente o numero de 300 ope mercante, e portanto ouso pedir ao corpo legis
rarios apontados, e muitas vezes maior numero, lativo que eleve a consignação para voluntarios
e ultimamente 346. (Lê um trecho do officio.) e engajados da armada, ao ponto de habilitar
Vê-se, pois, que gastou-se, neste exercicio, até o governo a offerecer-lb.es maiores vantagens do
o primeiro do mez corrente, o dobro, como já que até agora.
disse, da quantia que mencionou o nobre depu Actualmente podem-se gastar na repartição da
tado, e que o inspector empregou quantos tra marinhi uns 10:000$ com esse ramo de serviço.
balhadores razoavelmente podia admittir. E' preciso Eu pediria á camara que elevasse essa quantia
notar que as obras do porto de Pernambuco são pelo menos no quadruplo, porque ó natural que
naturalmente lentas, porque ora dependem de assim se possa remover, ao menos em parte, o
maré, não se podendo trabalhar o dia inteiro, inconveniento a que se tem alludido. Não quero
ora dependem de objectos que têm de vir da com isso dizer que uma gratificação maior venha
Europa, no que ás vezes ha alguma demora. a ser um remedio heroico para sinar comple
Eis algumas das razões por que taes obras tamente o mal apontado; mas o que o nobre
marcháo lentamente, e não porque o governo deputado não póde negar é que este remedio
tenha a infeliz lembrança de estorvar o progresso produzirá bom offeito.
de um melhoramento, que é menos da provincia O Sr. Fioueira de Mello:— Em todo o caso
de Pernambuco do que do imperio. subsistirá a repugnancia que existe para a vida
O Sr. Fioueira de Mello :— Sabe-se bem que maritima.
não faz isto do proposito. O Sr." Zacharias:— Entende o nobre deputado
O Sr. Zacharias :— Então não aceuse o governo. que o augmento das vantagens pecuniarias of-
Quando o governo descuida-se de uma obra que ferecidas aos marinheiros não é medida satis-
o poder legislativo recommenda, falta aos seus factoria, porque a mesquinhez de remuneração
deveres, e é isto exactamente o que se não dá é apenas (são palavras suas) uma sub-causa
ácerca do melhoramento do porto de Pernam da repugnancia que se nota. Não sei bem o
buco. Por océasião ainda de fatiar da mesma que seja sub causa, acho isso um tanto meta-
obra? observou o nobre deputado que havia um i physico.
contradicção entre o meu relatorio o o que o Quererá acaso o nobre deputado dizer que a
meu antecessor apresentou o anno passado Ahi causa primaria/ da repugnancia ao serviço naval
dizia o Sr. Tosta que a muralha da ilha do No é a sua escassa remuneração, e que ha outras
gueira tinha já 210 braças, e eu affirmo no meu causas de miior importancia e alcance que expli-
relatorio que mais de 170. Lerei a exposição que cão a escassez de voluntarios e engajados ? Ou-
a este respeito faz em officio do 1° de Março çamol-o.
deste anno o capitão de mar o* guerra João Hen Os nossos compatriotas, disse o nobre depu
rique do Carvalho, inspector do arsenal de Per tado, fogem da marinha do guerra, não por
nambuco, o offioial de muito credito, que diz serem mal pagos, porém porque recebem dos
assim : officiaes da armada terriveis tratamentos. En-
« Quando entrei para a inspecção, havião perto carregou-se o nobre deputado de ser o echo do
de cem braças de muralha; têm-se feito nif meu que banalmente se diz, isto é, que os officiaes
tempo oitenta braças cubicas (proximamente), e da nossi armada tratão mal os nossos mari
mais não tem sido possivel por haver-se esgo nheiros ; mas para que o nobre deputado não
tado toda a pedra de lastro fornecida pelos na apresenta factos que fundamentem essa aceu-
vios ; falta ainda o reboque de' cimento, etc. » sação 1
Eis-aqui em que me fundei. Uma muralha que Não, isso não faz elle. A presumpção é que
tinha perto de cem braças feitas, c agora mais os officiaes da armada com a educação que têm
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
cumprem seus deveres sem apartar-se do que O Sr. Zacharias : — Pois se o nobre deputado
exige, já não digo .a lei, mas a polidez e a me faz es>a justiça, porque não se presta a
humanidade. Quem estiver convencido do con informar o governo das prevaricações de que
trario, e souber de factos que os desaboneui, tenha noticia, p ira serem punidis. Uma outra
apresente-os e deixe-se de generalidades. Na In causa apresentou o nobre deputado para expli
glaterra o anno passado, tratndo-se do orça car a repugnancia dos brazileiros para o serviço
mento da marinha, houve orador que se lembrou da marinha de guerra, e foi que os nossos ma
de explicar a repusn'ncia pira o serviço da rinheiros não têm futuro, visto que quando se
armada com o máo tratamento que recebem a inutilisão flcão reduzidos á miseria e mendici
bordo dos naviós daquella nação os marinh iros dade. Sr. presidente, todos sabem que ha unia
que nelles são empregados, e esse orador, Sr pre promessa formal da lei áquelles que se inutili
sidente, não se contentou com generalidades, são no serviço da armada esses iuvilidos têm
referio factos, disse, por exemplo, que tendo-se direito aos seus vencimentos e a serem recolhi
lançado ao mar de bordo de um navio de guerra dos ao respectivo asylo.
um marinheiro para desertar, o commandante Ponderou o nobre deputado que tal asylo, que
desse navio mandou que um soldado de marinha aliás
fizesse fogo sobre elle ; que o soldado a quem mada, diminuirá a repugnancia ao serviço da ar
dera essa ordem a não desempenhára ; que o val-o anáo existe, que se não ha tratado de le-
effeito. Mas aqui, em .vez de censuras,
commandante a repetira, e ella fõra então se devêra o nobre deputado fazer elogio á adminis
guida do seu effeito. O facto deu lugar a recla tração, porque consta do relatorio apresentado
mações, e a verdade assim pòdc-se liquidar. Eis á camara que o governo não se tem descuidado
o que eu desejo que o nobre deputado faça ; se de fazer cumprir a intenção da lei : achão-se
lhe consta que a bordo dos navios de nossa convenientemente arrecadadas .as q uantias desti
armada ha sevicias, ha barbaridades, cite alguns nadas para esse fim, trata-se de escolher um lo
factos para que se castigue quem merecer e se cal apropriado em que seja construido o edifi
tomem providencias ; mas emquanto o nobre de cio, e agora o que mais cumpre é que o corpo
putado se entrincheirar no seu—consta e dizem,— legislativo proteja, quanto é mister, a realisaçao
o governo dirá que não tem de que defonder-se, da .ibra, afim de que os invaiidos da marinha
porque quem adeusa é que deve exhibir os factos tenhão o asylo de que são dignos.
e provas que os sustentão.
O Sr. Nebias: —Audão mendigando pelas ruas.
O Sr. Fioueira de Mello : — O nobre ministro
não se lembra que um marinheiro 'assassinara O Su. Zacharias : —Dou-me pressa em dissipar
um offici il da armada pelo máo tratamento que a má impressão que possão causar as palavras
elle lhe deu? E' verdade que isso náo se deu do nobre deputado do S. Paulo quando diz que
no tempo da administração do nobre ministro, os invalidos da armada andão pelas ruas men
e sim tempo antes. digando a caridade publica
O Sr. Zacharias: — Uma causa que, na opinião O Sr. Nebias : — Consta isso.
do nobre deputado, explica a má vontade, a O Srí. Zacharias : — Senhores, não me consta
repugnancia para a vida do mar, é o pessimo isso; os invalidos pertencem a uma companhia,
alimento que a bordo se dá aos nossos mari têm os seus vencimentos, o não sei que andem
nheiros ; diz elle que certos fornecedores mono- mendigando ou esmolando pelas ruas.
polisão o fornecimento do arsenal de marinha Disse o nobre deputado por Pernambuco que
por tal modo que ha mais de 20 annos se achão na a má fé do governo, recusando dar baixa ás
posse desse pingue negocio, sem que haja sido praças que têm cumprido o seu tempo do ser
possivel deslocaí-os, nem se tenhi | rovidenciado viço, era tambem uma das primeiras causas da
em ordem a melhorar o fornecimento. antipathia ao serviço naval. Senhores, não ha
Sr. presidente, ha fornecedores de antiga data duvida que nem sempre, vencido o prazo por
no arsenal de marinha ; uns ha bastante tem que cumpre as praç is da nrmada servir, se lne3
po fornecem pão, outros farinha, outros aguar dá iminediatamente baixa; mas esse facto, que
dente, etc ; mas 6 certo é que esses contractos não é tão ordinario como pensa o nobre depu
sempre se fazem, precedendo annuncios, e em- tado, explica-se com a falta de pessoal, que em
pregando-se as precisis cautelas ; o que é certo certas circumstancias obriga o governo a não
tambem é que algumas vezes têm sido exclui poder escusar do serviço todas as praças que
dos esses sujeitos, contractando-se com outros, pedem baixa sem desguarnecer completamente
e se depois lorão aquelles preferidos, sem duvi vasos da armada, cujo serviço aliás o paiz alta
da isso aconteceu por oiferecerem elles condi mente reclama.
ções mais favoraveis o melhores generos... . Pela minha parte estou sempre disposto a
O Sr. Fio deira de Mello :—Ha certeza disso? reconhecer o direito daquellas praças que pedem
O Sr. Zacharias : — Pergunta o nobre depu" baixa, completo o seu tempo de serviço, e grande
tado so ha certeza de que esses fornecedores numero delias têm recebido suas escusas.
sempre tenhão fornecido melhor ? Respondo-lhe pugnancia ao serviçosão
Outras, s nhores, as causas da notada re
naval que não as indicadas
que sempre que viveres tem de ser recebidos pelo honrado membro...
para uso da armada, officiaes do corpo de
saude da mesma armada os examinão e se mos- Um Sr. Deputado: — Vamos a ellas, melhor
trão nessa exame muito rigorosos. Agora, se o será.
nobre deputado pensa que todos estão conspira O Sr. Zacharias: — Nuo referirei todas; mas
dos contra o estomago dos marinheiros, não só notarei como unia das principaes a facilidade
fornecedores, senão empregados da repartição, . extrema que o territorio do imperio ofierece aos
o os proprios medicos, parecia-me que relevante pebres para viver.
serviço faria o honrado membro ao paiz se, dei Notarei que a indole dos nossos indios, e a
xando proposições vagas, denunciasse formal
mente os abusos. Eu muito lh'o agradeceria, pois darmada,
iquelles que que estadão no caso de servir na
desejo cumprir o meu dever, o sou incapaz d svia-os pola maior parte inclinados ao ocio,
de, conhecendo-os, tolerar abusos em nenhum além de naturalmentemuito
deumi profissão em que,
trabalho, têm do encontrar o
dos ramos da administração a meu cargo. (Mui rigor da disciplina, que por mais humana que
tos apoiados.) por mais humana que seja a legislação não póde
O Sr. Fioueira de Mello ; — Eu tambem não deixar de haver a bordo c'e navios de guerra.
digo que o Sr. ministro consinta os abusos. O nobre orador pela provincia de Pernambuco
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 345
lembrou um grande recurso ao governo, afim de á sombra do governo, e logo, a marinha mer
ter tripulação para os vasos da armada, dizendo cante, não podendo escapar ao destino commum
que protegesse as pescarias e a marinha mer das outras industrias, deve tambem chegar-se á
cante, como viveiros da marinha de guerra. asa do poder.
Senhores, ou o nobre deputado enunciou uma Faltando do batalhão naval, o nobre orador
banalidade, ou um anachronismo... fez-me duas aceusações horriveis...
O Sr. Fioceira de Mello: — Obrigado. O Sr. Fioceira de Mello : — Perguntas.
O Sr. Zacharias:— Não lhe faço uma injuria O Sr. Zacharias: — ... disse que eu contra a
com Uso, nem quero offendêl-o. disposição da lei mudei o nome de corpo de fuzi
Senhores, esses dous ramos de trabalho me leiros navaes para batalhão naval ; e em segundo
recem protecção do governo, e quanto lhe fór lugar, que contra o disposto da mesma lei (peço
possivel, o governo do paiz deve protegêl-os, mas muita attenção da camara) alterei o tempo do
esso protecção a que tem direito é semelhante serviço marcado ás praças do corpo de que se
équelli que merecem a lavoura e mais indus trata...
trias do paiz, porque a pescaria é a agricultura
do mar, e os navios da marinha mercante são nãoO Sr. Fiou eira de Mello dá um aparte que
ouvimos.
meios de transporte e formão um ramo de in
dustria como qualquer outra. Debaixo desse ponto O Sr. Zacharias. — Folgo de ouvir o nobre de
de vista a recommen dação do nobre deputado putado confessar que não houve violação de lei
ao governo é uma banalidade. • na mudança de nome. A lei de 11 de Julho
Se o honrado membro, porém, recommenda a de 1847, que autorisou a creação deste batalhão,
pescaria e a marinha mercante, não como se diz: «O governo é autorisado a organisar desde
recommendu qualquer outra industria, mas par já um corpo especial de infantaria para o ser
ticularmente como viveiros da marinha de guer- viço da armada.» O Sr. Candido Baptista, mi
rra, então descubro em sua idéa um anachro nistro da marinha então, deu por decreto de 11
nismo. Os paizes em que outrora a marinha de Setembro do mesmo anno organisição ao dito
mercante se considerava como viveiro da de corpo, denominando-o—corpo do luzileiros navaes.
guerra tem abandonado esse pensamento : foi —A lei da fixação de forças do anno seguinte
idéa de outro tempo ; hoje não passa de tra declarou que essa organisação ficava dependente
dição. de arbitrio á i governo, que podia dar-ln'a nova
Hoje, senhores, quer na Inglaterra, quer nos se quizesse. Esta autorisação foi passando de
Estados-Uni los, o recurso de eng.mhosas ma- anno a anno, até o anuo passado, em que ainda
chinas dispensa braços que outr'ora em grande o corpo legislativo se dignou concedêl-a...
numero se empregaváo na marinha mercante: o
vapor diminue consideravelmente a necessidade O Sr. Fioueira de Mello:— Houve anno em
de marinheiros, e os carros dos caminhos de que essa autorisação não passou.
ferro se encarregão de transportar boa parte de O Sr. Zacharias: — Mas o anno pissado deu-se
objectos que dantes os navios conduzião de um ao governo autorisação para,organisar o corpo
paja outro lugar. Assim, reduzida a necessidade da maneira que julgasse conveniente, o pois a
de braços na marinha mercante, deixou ella de organisação primitivamente dada estava sujeita a
ser o viveiro da marinha de guerra, e desde ser de todo transformada, começando pelo nome.
então vio-se o governo britannico obrigado a lançar Declaro ao nobre deputado que não admiro que
suas vistas para o estabelecimento de uma força não sympathisasse com a nova denominação do
naval permanente que trata de crear, abandonando —batalhão naval,—pois é queslS) de nome e de
emfim, ou recorrendo com menos confiança aos gosto, em que cada um pensa como quer ; o
meius com que costumava arrancar á marinha nobre deputado quereria que se chamasse—corpo
mercante as tripulações precisas aos vasos do de fuzileiros navaes ;—cu entendi que se podia
estado. chamar—batalhão naval,—isto é, um corpo de
E aqui seja-me licito dizer com algum orgulho infantaria da armada. Mar ivilha-me porém que
que aôuillo que -hoje se procura obteí na Grã- movesse tal questão o nobre deputado, que entre
Bretanha, nós, por lembrança feliz de um de os defeitos que fez ( sentir na jerarchia naval
meus antecessores, já ha bastantes annos pos lembrou a conveniencia de mudar o nome de
suimos, com a instituição dos imperiaes mari capitão'de mar e guerra...
nheiros. As tripulações dos nossos navios de
guerra compoem-se, na verdade, em grande queO Sr. Fioueira de Mello: — O que disse foi
talvez fosse necessario supprimir alguns
parte, de imperiaes marinheiros, que são uma postos.
força permanente com que em qualquer occasião
o governo póde contar. O Sr. Zacharias : — Mas vamos a outra aceu-
Direi mais ao nobre deputado que, com rela sação mais essencial, pois, a ser exacto o que
ção ao nosso paiz e no sentir de muitos homens observou o nobre deputado, eu commetti uma in
praticos, longe de ser a marinha mercante o vi fracção de lei, porque marcando ella certo espaço
veiro da nossa marinha de guerra, a marinha de tempo de serviço, o governo no regulamento
de guerra é, pelo contrario o viveiro de nossa determinou que esse periodo seja outro. Em
marinha mercante. Em verdade, creando bons verdade eu não esperava esta aceusação I A ul
pilotos e excellentes marinheiros que, depois do tima lei de fixação de forças navaes diz : « O tempo
seu tempo de serviço, se largio pelo paiz, não de serviço das praças dnsto corpo será igual ao
têm ouiro meio de subsistencia senão applicar-se marcado p ira as do exercito.» No art. 5» do re
a vida maritima, a que estão habituados, póde-se gulamento se diz: « O tempo pelo qual serão
afflrmar que a marinha de guerra é um grande obrigadas a servir as praças do pret ilo batalhão
recurso para a marinha mercante. A marinha , naval será o mesmo que está marcado ou houver
de guerra fornece commandanies á maior parle de marcar-sa para iguaes praças dos corpos do
dos vapores pertencentes a diversas companhias : exercito.»
ha uma anxiedade em obtel os, nem querem A lei annua diz que o tempo de serviço das
outros individnes para commandal-os que não praças do batalhão naval será o que está m ir-
sejão officiaes da arm ida. E' pois a marinha de cado para as praças do exercito ; no regulamen
guerra o viveiro da marinha mercante, longe de to que é permanente se determina que sirvão
ser a marinha mercante o viveiro da marinha o tempo marcado actualmente para o exercito,
de guerra. Nem e isto de admirar, porque em ou que se haja de marcar para o futuro : onde
um paiz nascente todas as industrias prosperão está a violação de lei?
fona 9. 44


346 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
O Sr. Fioueira de Mello dá um aparte que ordens ao digno presidente daquella provincia
não ouvimos. Sara pór-se no estaleiro a corveta forão expe-
O Sr. Zacharias : — A questão com que o idas com certeza de haver alli em deposito a
nobre deputado quer agora desviar-me do meu' madeira indispensavel para a obra. O governo
discurso é de facil resposta. Está entendido que sabe que ha de precisar, e está continuamente
o tempo para cada praça que entra no serviço precisando de madeiras ; e, pois, não se des
conta-se conforme a lei que vigora nessa occa- cuida de adquiril-as com anticipação. Se neste
sião. Semelhante duvida não é propria de uma ponto não estamos adiantados como as grandes
illustração da ordem do nobre deputado. O seu nações, cujos livros parece ter em vista o nobre
aparte não é bem cabido, nem mesmo como deputado, não é um mal a que de prompto se
uma simples pergunta. possa dar remedio. E' do tempo e dos progressos
Disse o nobre deputado que era má, ou antes do paiz que dependem taes melhoramentos.
perguntou-me se nao achava defeituesa a actual « E' um mal construir navios sem bons meios
jeaarchia naval, quer quanto ao numero de do reparal-os.» Isso é exacto em grande parte ;
ãráos que tem, quer quanto aos nomes desses mas então tem o governo direito ao applauso
iversos gráos, lembrando que a jerarchia na de nobrti deputado, pois que tal é a convicção
val ingleza tem seis grãos, a dos Estados-Uni- que tem da necessidade de bons meios de reparar
nos tres, e a riossa onze. Perguntou se não os vasos da armada que mandou construir no
seria conveniente reduzir a um menor numero Maranhão um dique, e não se descuida de adiantar
de grãos, á imitação dos inglezes; a jerarchia a solução do problema relativo ao dique da ilha
naval brazileira, o mudar o nome de capitão de das Cobras.
mar e guerra. Mas para que vir dizer-nos que não temos esses
Respondo ao nobre deputado que a questão grandes depositos, esses meios de reparo? Será
ue suscita é muito accidental em relação aos para aconselhar que não se faça por ora navio
S estinos da armada e desenvolvimento do seu algum ? Esta lembrança seria admiravel I
estado-maior. Dado o caso, o que não concedo, O Sr. Fioueira db Mello : — Para [preparar
de que exista grande disparidide entre o nu esses meios.
mero de grãos de jerarchia naval brazileira, e O Sr. Zacharias : — Convém preparar esses
os grãos de jerarchia naval ingleza, que pro meios conforme a arte e a sciencia ensinão ;
veito haveria em que circumscrevessemos a nossa mas antes de os obster cumpre construir os
para imitar a ingleza ? Havia, sim, um grande navios que forem necessarios, e lembrarei ao
inconveniente, que era destruir a semelhança, a nobre deputado que com -os meios que actual
correspondencia que as nossas leis têm estabe- mente temos possuimos uma soffrivel armada, e
cido entre a jerarchia naval e a jerarchia do que esta armada tem prestado ao paiz os mais
exercito que convém manter, porque, como relevantes serviços. (Apoiados.)
muitas vezes a força de mar succede estar em Por occasião de fallar na falta de meios para
terra e vice-versa, sem essa relação entre os conservação dos navios, o nobre deputado trouxe
gráos de uma e outra jerarchia, poderão appa- o caso da fragata Paraguassú, que, disse elle,
recer condidos Quando não houvessse outra tendo necessidade de;ir a Inglaterra concertar-se,
razão que embaraçasse a adopção das indicações fez aqui uns pequenos reparos, que todavia che-
do nobre deputado, bastava essa. gárão ao valor de 80:000$, mas não foi á Ingla
O Sr. Fioueira de Mello :—O que sei ó que terra e alii ficou, achando-se hoje em deploravel
as outras naçoes não têm isto. estado. Não sei quem informou isso ao nobre
O Sr. Zacharias : — Não ó porém exacto que deputado; a fragata Paraguassú, que tem mais
seja tão reduzido, como suppoe o nobre depu de 30 annos de existencia, e se acha ainda em
tado, o numero de gráos na jerarchia naval da bom estado por ser construida de tecka, nunca
Inglaterra. Não são seis, são muito mais. Com houve, que me conste; intenção de mandal-a á
a seguinte passagem dos novos annaes da ma Inglaterra. E' certo que esteve dearmada mas
rinha de Março deste anno (lendo) mostro ao o desarmar-se um navio não significa necessa
nobre deputado que o jerarchia naval ingleza riamente que elle esteja arruinado, como pensou
consta de mais de seis grãos : « admirai, vice- o nobre deputado por S. Paulo no seu discurso
adiniral, commodore, captain, commander, lieu- de hontem.
tenant 1° e 2°, master. » Àqui estão oito gráos... Talvez que o nebre deputado por Pernambuco
quizesse referir-se á fragata Constituição ; esta,
(Ha um aparte que não ouvimos.) sim, foi á Inglaterra concertar-se, mas sem
Assim como, porém, o nobre deputado incluo fazer-se aqui a despeza preliminar de 80:000$; e
na nossa jerarchia os aspirantes e os guardas- hoje acha-se nas melhores condições, é o melhor
marinhas, tambem deve incluir na ingleza o ca- vaso da armada brazileira, tendo custado mais
det e o medshipman, e então me dirá que dif- de 250:000$ ao imperio a obra que nella se fez
ferença substancial dá-se a tal respeito entre na Inglaterra. Veja V. Ex. como uma infor
uma e outra marinha. Na opinião ,de pessoas mação mal dada e apressadamente trazida á ca
entendidas a jerarchia naval ingleza é mais com mara altera tudo I Uma tal informação faz da
plicada que a nossa. fragata Constituição a fragata Paraguassú, e con
Continuando em suas censuras, disse o nobre verte em censura o louvor, que o nobre depu
deputado : « E' máo construir sem ter depositos tado, se estivesse melhor informado, daria ao
de madeiras, e ainda peior fazer navios sem ter ministro que tomou a deliberação de mandar á
meios de concertal-os. » Se o nobre deputado Inglaterra a fragata Constituição concertar-se
uer dizer que o imperio não tem arsenaes e radicalmente, pois consta que estava tão arrui
3 epositos como os da Inglaterra e das outras nada e tinha o fundo tão podre, que facilmente
randes potencias, disse aquillo de que ninguem poderia sossobrar.
uvida ; mas se quer alhrmar que estamos tão Não forão sómente 80:000$ que se gastárão
as cegas, que estamos tão na primitiva que nessa obra, porém mais de 260:000$; e se o nobre
mandamos fazer navios sem previamente provi deputado tem coragem, venha dizer-nos que essa
denciar a respeito das madeiras, esta enganado. despeza foi desnecessaria e em pura perda.
Ha na córte um deposito de madeiras, assim como Passando á outra ordem de censuras, o nobre
em Jaraguá e outras partes. deputado disse, referindo-se ao meu relatorio ;
Na Bahia, quando o governo mandou ultima « O relatorio não resolve nada, nada decide. »
mente . construir a corveta D. Isabel, estavão com Senhores, não sei que seja da natureza de uma
anticipação promptas as madeiras precisas. As peça desta ordem decidir cousa alguma: relato-
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 347
rio de uma repartição, como a palavra indica, 3uaes sejão actualmente as principaes necessi-
é a exposição do estado do serviço dessa repar ades' da marinha brazileira, e depois ver se na
tição e de suas necessidades. As desci sões com apreciação dessas necessidades o ministro des-
petem ao corpo legislativo ; aos ministros toca viou-se ou chegou-se a esse typo que por ven
enunciar com clareza os factos, e ás vezes na tura o nobre deputado houvesse formado. Ora,
clareza com que se estabelecem as questões vai pergunto ao nobre deputado, quaes são as prin
meia resolução delias. (Apoiados.) Talvez me cipaes necessidades da nossa marinha ? Não fat
illuda, mas creio que se o nobre deputado exa iemos da mudança de nome dos capitães de mar
minasse bem o relatorio a respeito dos diversos e guerra, nem de outras reformas semelhantes
pontos de que trata, conheceria que a opinião a que o nobre deputado tem alludido. Quaes são
ue quem o escreveu é claramente dada. (Apoia essas necessidades ? Uma armada se constituo
dos.) com homens, com navios, e com dinheiro, o que
« O ministro não trouxe ao corpo legislativo importa o mesmo que dizer que na materia de
todas essas idéas convertidas em projectos, d que se trata as principaes necessidades se refe
E quem assim falia, senhores, é o nobre depu rem ao pessoal, ao material, e á contabilidade.
tado que todos os dias xensura o governo por Quanto ao pessoal, senhores , actualmente em
querer tomar a si tudo, afim de que recaia sobre nossa marinha de guerra não ha necessidade
elle a gloria de todas as medidas importantes I que sobrepuje a de melhor organisar-se o centro
Pois não cumpre já o governo um dever estu d i admimstração, dando-se ao respectivo minis
dando as necessidades publicas e indicando-as tro um conselho ? Ora, houve descuido ácerca
ao corpo legislativo ? Lêa o nobre deputado o deste objecto? Creio que não. Poderia crear-se
relatorio e as idéas delle que achar dignas de esse conselho sem determinação do corpo legis
ser adoptadas, formule-as em projectos, apro- lativo ? Reunido o corpo legislativo poderia dis-
sente-as ã consideração da camara. Já disso cutir-se essa idéa primeiro que a resposta á falia
têm dado exemplo outros membros da camara : do throno, para o nobre deputado clamar : « Não
imite-os o nobre deputado. se discuta isso antes do voto de graças, antes
Disse mais : « O ministro da marinha tem-se que se saiba se o ministerio merece confiança »?
occuppado somente do expediente ; os seus actos . Havia de improvisar um conselho quando o nobre
não revelão senão o expediente diario. « Se deputado me nega o direito de fazer um contracto
nhores, na posição de homem particular qualquer de 50:000$ sujeitaado-o á approvação do corpo
tem direito não só ao trabalho, mas ao 0cio ; legislativo ? Não de certo. (Apoiados.)
se se disser a um individue particular : « Vós Depois de organisado o centro da repartição
sois inactivo, sómente vos occupais com o que de marinha, não ha necessidade, no tocante ao
é de mero expediente de vossa administração pessoal, que exceda-a da reforma do ensino' aca
domestica », não se lhe faz uma oflensa ; mas demico. (Apoiados.) Senhores, dai aos nossos offi-
contra o homem publico que dirige uma repar ciaes os vencimentos, que quizerdes, dai-lhes as
tição, uma tal insinuação dá-lhe direito de de- gratificações que vos parecer, e todavia a nossa
fender-se e mostrar a injustiça de quem a faz. armada não será o que deve ser se esses offi-
Ou eu não sei o que seja simples expediente, ciaes não forem convenientemente instruidos e
ou o nobre deputado não teve razão em dizer educados. Ora, não se póde duvidarque a in-
que a repartição da marinha vive sómente vida strucção que as nossas leis presentemente man
do expediente. Não quero com isso dizer que dão dar aos nossos officiaes, é muito insufficiente,
eu tenha trabalhado a apresentado alguma cousa é quasi a mesma da primitiva ereação do esta
que não seja mero expediente ; mas não devo belecimento, e dessa incompleta instrucção nascem
occultar os esforços e trabalhos daquelles que, males mui sérios.
já em razão do seu officio, já por espontanea Perde-se um «vapor e se diz: « G ministro
mente me quererem coadjuvar, têm contribuido teve a culpa em confiar o cominando de um
para alguns actos uteis á repartição da marinha. official imperito. » Mas, senhores, que obrigação
Se o nobre deputado lesse o relatorio com tem o official de marinha de saber aquillo que
olhos mais imparciaes, veria antes de tudo que se lhe não ensinou 1 (Apoiados.) No estado pre
não ha autorisação do corpo legislativo de que sente das cousas, quando tem tomado tanto in
no intervallo da sessão eu não fizesse uso. cremento a navegação a vapor, o que ê o offi
O governo estava autorisado a organisar, como cial de marinha que commauda um vaso desses,
conviesse o corpo de fuzileiros navaes : publicou- e não entende de machinas como o proprio ma-
ae o regulamento de 24 de Novembro do anno pas chinista, que não comprehende perfeitamente a
sado. theoria e pratica do vapor ? Um official de ma
A conservação e boa guarda dos navios des rinha em certa conjectura falta á consideração
armados reclamava providencias mais adequadas que deve ao navio de outra nação, e pratica
e conformes ao estado actual das cousas do que um acto reprovado contra um estrangeiro. Obra
as do aviso de 12 de Maio de 1829 e publicou- ria do mesmo modo se houvesse aprendido,
se o regulamento de 9 de Abril do corrente anno. durante o seu curso literario, o conservasse na
Para melhor administração dos hospitaes da ar memoria as regras do direito internacional ?
mada deu-se o regulamento de 3 de Janeiro deste E' licito duvidar. Em summa, a camara concor
anno. As estações em que se achava dividida a dará commigo que uma das necessidades mais
costa do imperio augmentarão-se e derão-se re palpitantes da nossa marinha quanto ao pessoal
gras para o respectivo serviço, de accordo com e a refórma dos estudos da respectiva acade
as indicações da experiencia. mia. (Apoiados.) .
Relativamente ao serviço da secretaria e seu Ora, não me era dado reformal-os, mas tomei
archivo, tomárão-so providencias proprias a tor- todas as informações, solicitei a opinião de
nal-o mais regular. Ora, me parece que esses todos os homens que parecerão-me competentes,
actos e outros que é escusado referir, não são de e creio que no relatorio indice bem claramente
méro expediente. (Apoiados.) , o meu pensamento ácerca dos pontos sobre que
Na ausencia mesmo dos poucos actos que tenho deve versar a refórma da academia de marinha,
referido, o nobre deputado se quizesse poderia que me exforçarei por ver adoptada.
fazer-me justiça debaixo de outro ponto de vista. No que toca ao material, Sr. presidente, a
O Sr. Fioueira de Mello : — Fiz-lhe toda jus primeira necessidade da nossa armada é um di
tiça. que. O nobre deputado não póde justamente
aceusar-me de omisso neste ponto ; póde antes
O Sr. Zacharias : — O nobre deputado devêra censurar-me porque mandei começar no Mara-
fazer um sério exame, um estudo acurado sobre | nhão uma obra dessa natureza, trazendo depois
348 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
ao conhecimento do corpo legislativo a medida processar os officiaes do corpo de saúde, que
que se começou já a executar. P revaricáião no sul, no Rio Grande, lugar do
Um Sr. Deputado.—E . foz muito bem. d iilicto ; e a segund i foi de ter havido demora
em os mandar processar aqui uma vez que o
O Sr. Zacharias : — Só a importancia e a ur ministro tinha tomado o expediente de o-- m indar
gencia de semelhante obra mo faria arrostar a vir para a corte. Quanto ao primeiro ponto, o
censara do n bio deputado, e de nutro* que de nobre deputado foi muito infeliz. Primeiramente
tudo lançrto mão para fazer invectivas contra os offlciaes do corpo do saúde de que so trata
Os ministros. delinqnirão no Estado-Orieilal, paiz estrangeiro;
Quanto á contabilidade, senhores, não ha du e, pois, não tinhão direito a ser processados no
vida que se faz sentir a necessidade de algumas Rio-Grande do Sul. Em segundo lugar, so o
reiórmas, o eu t oito não me descui lei dessa delido tivesse sido commetti lo no Rio-Grande
materia, que entendendo-mo com os illustres do Sul, ainla esta circumstancia não mhibia o
membros da cominissão de orçamento, pedi lhes f;overno de mandar vir á còrte os officiaes de-
que ampliassem u,m projecto que está na ordem inquentes, para os mandar processar. Sempre
do dia, sobre a suppressto das contadorias de se entendeu, senhores, que a córte ó a residencia
marinha nas provincias, incluindo a autorisação do official ; do qualquer parte onde esteja, com-
de rnorganisar a contadoria geral de marinha, mettendo um delicto póde ser chamado á córte
assim como a intendencia, que pelo modo por para. responder ; isto é pratica antiga. O vis
que se acha organisad», concentrando nas mãos conde da Laguna e o general Brown, por factos
de um só homem funcções diversas e incompa praticados no Rio-Granle do Sul, vierão res
tiveis, tem evidentes defeitos: a commissão di- ponder aqui. Pedro Ivo veio responder na capital
gnou-se aceitar a minha idéa. do imperio por seus feitos em Pernambuco, e
Se o nobre deputa lo tivesse considerado a um official que em meu tempo portou-se mal na
repartição da marinha debaixo deste ponto de provincia do Piauhy, em Oeiras, respondeu fóra
vista, veria que ella não tem vegetado tanto dalli a conselho de guerra. Senhores, o direito
como lhe parece. Não tenho feito mais porque commum determina como districto da culpa o
isto repugna á pouca pratica que tenho da ad o lugar onde o réo reside, ou aquelle onde
ministração, e mesmo a mesquinhez do meu ta commetteu o delicto, á vontide do qu«ixo-o.
lento (Não apoiados.) O Sr. Sr. F/quiiira de Mello : — Devo res-
O nobre deputado pela provincia de Pernam pander onde está domiciliado.
buco, senhores, accusou ainda o ministro da Um Sr. Deputado : — O militar não tem fóro
marinha o o da guerra; o primeiro de desres
peitar q poder judiciario, e o outro de calcar de residencia.
aos pés os direitos de certos officiaes do corpo O Sr Zacharias : — Essa restricção não é do
de saúde. Vou examinar ambas essas propo direito militar. Ainda o nobre deputado poderia
sições. sustentar, com algum vislumbre de razão, que
Pela minha parte sou arguido de ter mandado houvera desacerto na providencia toinadi pelo
admittir ao serviço do quartel general da ma meu collega de mandar vir esses officiaes res
rinha um 1° tenente condemnado pelo poder ponder na córte, se dissesse que não ha nem
competente a um anno do suspensão de com podem haver aqui testemunhas pira depór, e
inando. Senhores, que relação l a entre a sus documentos para o competente processo ; mas
pensão do qualquer commando por espaço de um essa lembrança do nobre deputado cahiria por
anno, e o admittir-se a escrever «m uma repar si mesma, porque depois que cessárão os acon
tição ? Não foi o ministro da marinha quem tecimentos do sul, os corpos que alli estiveráo
ndmittio esse official a escrever am uma repar tem se distribuido por diversas partes, e portan
tição ; isso não podia pertencer ao ministro ; é to não faltão na córte testemunhas para jura
um detalhe muito subalterno, que compete ao rem no processo dos offlciaes de saude que
quartel general ; mas se o quartel general o fez, delinquirão no sul.
como creio, estava no seu direito, porque, se Vamos ao outro ponto da aceusação. Disse o
nhores, suspender um official da funeção de com- nobre deputado que uma vez que o governo
mandar por espaço de um anno não é condem- tinha assentado em fazer processar esses offl
nal-o á fome. (Apoiados.} ciaes aqui na córte, deveria ter já feito instau
rar o processo. E' regra de jurisprudencia, com
O Sr. Fioueira de Mello: — Tinha o seu soldo. effeito, que a punição siga o mais depressa
O Sr. Zacharias: — E' verda; mas o simples porfsivol o delicto : mas cumpria ao nobre depu
soldo de um official de marinha desembarcado, tado averiguar se não houve alguma razão que
e de um official de poquena patente que tem estorvasse essa rapidez que elle deseja. Na no
familia, que leni, por exemplo, do sustentar mãi, meação, senhores, dos officiaes qne Unhão de
não é bastante para occoirer ás suas necessi comoór os conselhos de investigação e de guerra
dades. Que relação ha entre o dirigir um navio, suscitou-se a duvida se os officiaes de saudo po-
leval-o a seu destino convenientemente, e o es dião ser chamados para fa?er parte desses con
crever no quartel general 1 Se o official com- selhos ; isto foi objecto de consulta.
metteu abuso no commando em que se achava, O Sr. Fioueira de Mello : — Esta consulta
abuso de que dá testemunho a sentença que o teve lugar ultimamente, levou-se muito tempo
suspendeu por um anno, fica por isso inhabili- para fazer.
tado de exercer a mais subalterna funeção desta
mundo, qual ó copiar papeis? Como pois o O Sr. Zacharias : — Está visto , porque para
nobre deputado que tem uma cadeira nos tribu- se aconselhar precisa-se de tempo. O conselho
naes do imperio, vem dizer que o ministro di supremo militar quiz meditar, quiz reflectir ; isto
marinha desrespeitou o poder judiciario porque é louvavel, tanto mais quando a materia parecia
admittio um official a escrever no quartel ge difficil e os votos divergião, sustentando uns que
neral, estando aliás suspenso do commando por podião fazer parte dos conselhos officiaes de sauue,
um anno? e outros que não ; este negocio decidio-se ha
O Sr. Aprioio: —Foi um erro de direito da muito pouco dias
parte do nobre deputado. O Sr. Fioueira de Mello ; — Qual foi a deci
O Sr. Zacharias:— Pelo que toca á repartição são do Sr. ministro da guerra ?
da guerra, o nobre deputado fez a meu colkgi ó Sr. Zacharias : — A quem vem semelhaute
duas aecusàçõea ; a prim»ira foi de não mandar pergqnta .agora ?
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 m
O Sn. Figueira de Mello : —Eu pergunto, o Sr. Se o nobre deputado lesse os mappas como
ministro rvsponcH se sabe. devia, conheceria que não temos s0 dous ou
O Sr. Zacharias : — A provisão ha do appare- tres navios em bom estado, mas algumas deze
cer. Criio ter destruido a arguição feita ao Sr. mi nas delles.
nistro da guerra --els demora do conselho, pois O Sr. Nebias ;— Dezenas ? I Por exemplo, quan
que essa demora proveio de difficnldadea que tos vapores aciiaria? 1
tiverão de ser consideradas pelo conselho su O Sr. Zacharias :— Sim, algumas dezenas. Só
premo. na divisão do Rio da Prata acharia os vapores
Agora, Sr. presidente, V. Ex. permitta que eu Pedro II e Thetis, a corveta D. Francisca, o Eolo,
responda ao nobre deputado por S. Paulo. Pouco a Berenice e a corveta Imperial 'Marinheiro.
direi, porque a hora está adiantada, e tanbem Se lêra attentamente os mappas, verá no mar
porque esse nobre deputado muito pouco disse. pacifico a corveta Bahiann, que não é de certo
O honrado membro chamou a minha attençáo um navio podre. Se examinasse esses mappas,
sobre Napoleão João Baptista Levei, constructor veria que pelos portos das diversas provincias
habil, que, educado na Europa a expensis do e na estação do Rio de Janeiro, ha em bom
governo brazileiro, viera para o Rio de J me iro, estado, e prestando serviços, grande numero do
e aqui andára sem occupação por muito tempo. navios.
Apezar de lhe ter eu dito em um aparte que era Nem qualifique de contradicção esse numero
inexacta, o nobre deputado procurou por todos de vasos attribuidos á armada, e a escussez de
os modos insistir na informacao que tinha ; devo vapores apropriados ás enseadas e baixios de
pois expór o facto tal elle se passou. alguns pontos da costa : póde o numero destes
Levei chegou a esta capital no vapor Amazo ser pequeno como é, sem dam no da exactidão
nas no dia 2 de Junho do anne passado ; veio do numero dos vasos da armada em geral que
como commissario desse vapor , e cumpria-lbe o nobre deputado desconhece, por errar na con
desvencilhar-se dessa commissão. D-pois procu sulta que fez dos mappas annexos ao relatorio,
rou -me com um seu irmão que é medico nosta O nobre deputado asseverou que eu tinha dito
corte, pedindo algum tempo afim de retirar se que os officiaes da nossa armada tinháo menos
par i fóra da cidade emquanto se aclimatava, pois conhecimento da costa do imperio do que os con
tinha medo da febre amarella. Eu, que o acolhi trabandistas, e foi nesta occasião qne eu lhe
com benignidade porque estava informado do seu disse que estava perturbado, expressão de que
merito, dei-lhe a licenca que pedia, e quando re tanto se offendeu e de que lhe peço desculpa.
gressou para a cidade e se me apresentou foi Senhores, a minha asserção foi que o vapor fun
immediatamente empregado. O decrpto que o no- deado nas aguas da ilha Grande, em noite de
mêa primeiro constructor do arsenal da corte é cerração, poderia ser facilmente evitado por um
de 6 de Julho de 1852- Teve a graduação de navio negreiro que viesse desovar, tendo previ i
1° tenente e as vantagens do 800$ por anno. intelligencia edm pessoas de tem, e disposto a
Dir-se-ha - « á muito pouco ; » mas eu responde incendiar-se ; e pois essa minha asserção poderá
rei : < trata- se de um individne que foi educado por acaso justificar o dizer do nobre deputado
a exp. nsas do governo, e depois, fossem as infor dq uando assevera que julgo menos conhecedores
mações que a seu respeito coirião, cumpria que a costa os officiaes da nossa armada do que
os f ictos justificassem as palavras, u E' seu o os traficantes? Pois uma cousa tem relação com
risco de um vapor que se esta construindo no outra ?
arsenal, que tendo sido enviado para Londres Qu iixou-se o nobre deputado de que o arsenal
para encommenda da machina, mereceu elogios da córte d« nada nos sirva, porque alguns vasos
alli de cpnstructores notaveis. Com as prov is têm sido construidos nav Ponta a'Ateia, sem que
que tem dado de sua aptidão, adquirio direito a um só tenha sahido do mesmo arsenal ; disse
maior vencimento ; tem agora 1:600S por anno. que sempre i-e affirma estarem alguns navios ahi
Ainda é pouco para o seu merito; mas tambem construindo-se, mas que, verdadeiras obras de
as obras que encetou não estáo concluidas, e eu Santa Engracia, nunca têm fim. Zeloso como é
entendo que assim como no punir deve h.iver das cousas da patria, devêra o nobre deputado
leflexão, tambem em renumernr cumpre guar- saber que são obras do arsenal, nestes ultimos
dal-a. (Apoiados ) Mas posso assegurar que e*se tempos, a corverta Bahiana, a Imperial Mari
habil constructor, a proporção que fór mostrando, nheiro, e o brigue Maranhão.
por tactos, que e digno da reputação de que
goza, ha do sem duvida ter toda a remuneração Sr. presidente, o nobre deputado pela pro
que merecer. vincia de Pernambuco, a quem eu me escuso de
Passando a tratar do material da nossa armada, responder, limitando-me sómente B explicar dous
o nobre deputado disse que deplorava o estado factos que elle citou, disse que o vapor Paraense
deli i, pois que compulsando os mappas annexos (que o anno passado arribou da viagem que
ao relatorio do ministro da marinha, vinha no tentára ao Rio da Prata em commissão do go
conhecimento de que se compõe de dousou tres verno) sahira daqui arruinado, como era de todos
vasos em bom estado, e que tudo o mais (eu até sabido, menos do ministro da repartiçã .
tenho repugnancia de empregar a expressão de Era constante, Sr. presidente, que esse vapor
que elle se servio, mas, como foi dita na casa, no Rio da Prata havia batido e estivera enca
e um jornal a publicou, eu a repetirei) disse o lhado, em consequencia do que tendo de ir á
nobre deputado que, além destes dous ou tres commissão, quo já referi, ordenei ao quartel
vasos em bom est ido, tudo o mais era —jpodri- general fizesse proceder a um rigoroso exame a
queira — , e o nobre deputado aventurou essa respeito do estado em que se achava, e tive em
proposição por ler no relatorio o mappa r. 20, resposta estes oflficios (lendo um officio do quartel
que dá conta dos navios desarmados. . . general e outro do inspector do arsenal), que de-
clarão achar-se o vapor capaz de ir ao Rio da
O Sr. Nebias: — E combinei com os outros Prata, conforme o juizo da respectiva mes-
mappas. trança.
O Sr. Zacharias : — .... e não lançar os olhos Partio, pois o vapor Paraense, e pouco de
sobre o mappa que mostra qual é a força naval pois recolheu-se ao porto fazendo bastante agua ;
do imperio. Enganou-se de um modo inexplica mas o ministro, com as informações que exigio,
vel, e não se vexe com as minhas observações, e de accordo com as a que procedeu, salvou sua
porque o proprio Homero que fazia os melhores responsabilidade. (Apoiados.)
versos 4ao»bem os fez. imáos, E' injusta a insinuação- do nobre deputado por
350 SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853
Santa Catharina, guando perguntou : « E forão nobre deputado pela provincia de Pernambuco
demittidoa es6es informantes ? » a respeito desta matéria. ,
Além do que esses informantes são Napoleão O nobre deputado disse que a opposição tem
Levei e outros homens profissionaes de mereci direito de formular um plano de politica o admi
mento, accresce que não podião responder por nistração que mais convenha ao paiz, mas que
avarias do vapor, que só conhecerião se tives não ó isso do seu dever. Creio, porém, que,
sem visto o fundo, o que não lhes era possivel. qualquer que seja o respeito que mercção as auto
O outro facto que o Sr. deputado por Per ridades que o nobre deputado cite em sou abono,
nambuco trouxe a consideração, da casa e que está completamente enganado, que não ó só di
não posso deixar sem resposta, é que eu influi reito mas dever da opposição formular suas idéas
para que não tivesse assento neste recinto o de governo. (Apoiados.)
conselheiro Bernardo de Souza Franco, ou essa Observou o nobre deputado : ec Para que for-
asserção do nobre deputado se rofira á eleição mulal-as se não são aceitas ? » Por isso mesmo ;
na provinc a do Pará, ou ã votação da camara se a opposição não póde com exposição do que
sobre essa eleição, é sempre falsa. julga ser a verdade, e com a eloquencia dos seuí
Senhores, não ha na provincia do Pará um discursos chamar a maioria á suas idéas, conse
amigo qne tenha uma só carta minha relativa a guirá desacreditar as dos adversarios, fazendo-as
eleições. (Apoiados.) Consta-me que alguem disso confrontar e contrastar com as suas. Dirá então
alli que tinha recebido letras minhas durante o á maioria : « O vosso programma e vistas gover
periodo das eleições ; -mas se ha quem isso nativas conipromettem a prosperidade do paiz ;
affirme falta inteiramente á verdade. A nenhum confrontai-a? com os nossos principios, e conhe
dos meus amigos do Pará escrevi, nem mesmo cereis que não soffrem o parallelo. »
dando resposta a cartas aliás bem estranhas á Então nas camaras e fóra delias todos ficarão
eleição, para ter hoje o direito de dizer o que, habilitados a instituir um exame entre os dous
sem medo de ser contrariado, acabo de affirmar programmas, a confrontar as vistas politicas e
(apoiados) ; e se o nobre deputado se refere á administrativas de um e outro lado, e a pro-
votação da camara tambem e falsa a sua asser nunciar-se por quem inais razão tiver.
çao, porque não existe na casa um só deputado Mas como será isso possivel se a opposição
a quem eu me diiigisse no sentido a que allude não apresentar, não formular suas idéas ? Se se
o nobre deputado de Pernambuco. (Muitos apoia limitar sómente a censuras estereis, guardando
dos.) em segredo os seus planos do politicas e admi
Um Sr. Deputado : — E' até uma injuria feita nistração ? Em tal caso dir-se-lhe-ha : « Vós sois
á camara. - architectos de ruinas sómente, tendes a habili
dade de Aristharco sem os predicados de verda
O Sr. Aprioio:—E' uma joelhada muito triste. deiros" homens de estado. »
O Sr. Zacharias : — Eu sou muito franco ; Termino, pois, sustentando que é um erro affir-
apreciando a questão que se discutia, eu era de inar-se que a opposição está no seu direito, mas
parecer que a razão estava em favor daquelle não no seu dever formulando suas idéas, porque não
por quem a camara se decidio, e a quem rece merecem o apoio da maioria. (Muitos apoiados.)
beu om seu recinto (muitos apoiados) : uma vez Alouns Srs. Deputados : — Muito bem I Muito
tive occasião de conversar com o nobre relator bem I
da commissão, incumbido de dar o seu parecer
sobre a eleição do Pará, e elle que diga a fórma Cedendo da palavra alguns senhores que a
por que eu me exprimi, se não lhe disse que têm,julga-se discutido o artigo ; ó elle approvado
devia examinar-se a questão em rigor de direito, com todos os seus paragrapbos.
e não por consideraçoes politicas, porque se de O Sr. Paula Candido (presidente interino) diz
um lado estava um amigo a quem conviria não que vai pór a votos a emenda que ostá sobre
desgostar, do outro lado estava um adversario a mesa.
politico a quem se devia fazer justiça, e tanto Suscita-se questão de ordem, se por ventura
mal causava admittir-se um inimigo com pre deve ser considerado como artigo additivo ou
juizo de um amigo, como faltar-se á justiça a como emenda a moção que existe sobre a mesa.
um amigo para se cortejar um inimigo... (Nu Consultada a camara a este respeito, decide que
merosos apoiados.) ê artigo additivo, e por consequencia fica a sua
O Sr. Aprioio .- — Foi uma joelhada bem triste. discussão reservada para depois da dos artigos
O Sr. Zachabias : — E, demais, senhores, se da proposta.
ninguem procede sem motivos que determinem • Entra em discussão o art. Z», quem sem debate
suas accções, que razão teria eu para obrar é approvado.
da maneira que o nobre deputado me attribue? Segue-se a discussão do artigo additivo.
Eu, que conheço a necessidade da opposição no Não havendo quem falle sobre esta materia,
seio das camaras, e sua conveniencia quando dá-se dia por discutida, e pondo-se a votos o
funda-se em principios politicos, não tinha inte artigo, é rejeitado por 35 contra 27.
resse em ver deste recinto excluido quem em tal
sentido animasse os debates. Pouca vontade de O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : —
ver aqui o cidadão de que se trata poderião ter Deputado novo, não tendo ainda recebido o re
outros que não eu ; poderião talvez, ler aquelles gimento da casa, não sei se é permittido em
que premeditavão já nma scisão no partido, e qualquer occisião apresentar um requerimento. . ,
não quererião ver aqui quem viesse sorri r-se de O Sr. Presidente :— Ainda não se concluiu a
pequenos enredos, de pequenas queixas que votação em que estavamos.
jámais podem levar-se á altura de opposição
constitucional... O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Bem, ò por isso
O Sr. Reoo Barnos : — E quem é o juiz ? mesmo qne estou perguntando, é para infor-
mar-me.
Vozes : — Oh I oh I oh 1 O Sr-. Presidente : — Eu julguei que o nobre
O Sr. Wanderlev :—Não ha juizes mas ha deputado pedia a palavra pela ordem para di
quem ajuize. rigir a votação da casa, pois que não posso
O Sr. Zacharias: — E já, senhores, que fallei admittir discussão senão depois de concluida a
em opposição constitucional , permittão-me que votação.
eu conteste uma proposição lançada na casa pelo O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Eu apenas per
SESSÃO EM 30 DE JUNHO DE 1853 351
guntei se em qualquer occasião podia apresentar O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Comecei decla
um requerimento. . . rando que não estava sciente dos estylos da casa,
Alouns Srs. Deputados :— Não, não. que não tinha o regimento da camara, e que
por isso não podia estar muito em dia com a
Outnos Srs. Deputados :—No sabbado. marcha das discussões. Parece-me que se dev«
O Sr. Presidente : — O nobre deputado poderá relevar esta falta, e que não se deve tolher-me
pedir Urgencia em qualquer outra occaâião para a palavra...
apresentar o seu roquerimento ; mas como a vo O Sr. Presidente: —Votada a urgencia, o nobre
tação do projecto que estava em discussão não deputado póde fallar, mas a urgencia é votada
está concluida, não póde agora apresentar esse sem discussão.
requerimento. O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Antes de se votar
Consulta-se a camara se o projecto deve passar a urgencia eu pediria a V. Ex. licença para de
para 3* discussão. Decide pue sim. clarar o motivo por que a pedi.
O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — O Sr. Presidente : — Quando se propõe ur
Como V. Ex. disse que se poderia requerer ur gencia, as palavras sicramentaes do regimento
gencia em qualquer occasião, peço essa urgencia são: «tenho materia urgente », o não se admitte
para apresentar um requerimento. discussão.
A camara vota a urgencia, e o Sr. Bezerra Ca O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Mas V. Ex. quer
valcanti manda á mesa o seguinte requeri ser muito restricto e inexoravel com um depu
mento : tado novo que não está em dia com os estylos
« Para fundamentar uma representação ao go da casa. . . Tratarei de obter um regimento para
verno ácerca da administração da provincia do daqui por diante melhor me regular.
Bio- Grande do Norte, requeiro que revertão ao O Sr. Presidente : — A consciencia do nobre
meu poder a representaçao e documentos que deputado ha de persuadil-o que não estou im
dirigi a esta casa ácerca da eleição daquella pondo a minha vontade.
provincia. »
Alouns Srs. Deputados :— Ora 1 Oral O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Não fallei em
vontade, disse restricto ou rigoroso na obser
O Sr. Bezerra Cavalcanti :— Peço aos nobres vancia da lei que nos regula.
deputados que tenhão a bondade de ouvir-me. O Sr. Presidente : — Com este crime desejo
Não se trate com indifferença e desprezo aquillo carregar, é verdade.
que é muito serio.
O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Como não ha
O Sr. Presidente: — O nobre deputado pedio casa, desejo retirar a urgencia que requeri. O
urgencia para apresentar um requerimento, mas motivo por que apresentei este requerimento é
não para discutil-o. não existirem na secretaria onde devião estar
O Sr. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — a representação e documentos que enderecei a
Peço tambem urgencia para que o requerimento esta casa, mas em poder do nobre deputado
se discuta, pela mesma provincia que ora represento, o qual
se comprometteu com o presidente do Rio-Grande
Um Sr. Deputado : — Para que requerimento ? do Norte a remetter-lhe cópias de todos os meus
Podem-se pedir esses documentos na secretaria e documentos, para que exerça elle, como está
serem entregues ao nobre deputado. exercendo na provincia, vinganças contra as pes
O Sr. Bezeera Cavalcanti: —E' justamente por soas que m'os fornecerão. Mas como não posso
não estarem na secretaria que eu pedi urgencia fundamentar o meu requerimento, desisto da ur
e apresentei o requerimento. gencia que pedi por agora.
Indo-se pór a votos a urgencia para se discutir O Sr. Presidente : — Bem, o nobre deputado
já o requerimento, verifica-se não haver casa. retirou a urgencia para so discutir já o seu re
O Sa. Bezerra Cavalcanti (pela ordem) : — querimento ; está no seu direito, procedeu bem.. .
Tendo pedido a palavra para apresentar o meu O Sr. Bezerra Cavalcanti: — Em que?...
requerimento, parece-me que se deveria conçe- O Sr. Presidente :— Retirando a urgencia...
der-me dizer duas palavras em sua susten Mas o nobre deputado parece que está preve
tação... nido contra mim.
O Sr. Presidente: — Ainda não se decidio a O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Polo contrario,
urgencia para se discutir o requerimento. ainda tal não declarei.
O Sr. Bezerra Cavalcanti : — Mas ha um facto Procede-se á chamada, e reconhece-se terem se
âue tenho necessidade de oflferecer á consideração retirado os Srs. Belfort, Souza Mendes, Machado,
a casa. . . Domingues, Bandeira de Mello, Ignacio Barboza,
O Sr. Presidente : — O nobre deputado bem Rapozo ria Camara, Corrêa das Neves, Pereira
vê que é preciso que a camara vote primeiro Rocha, Seára, Figueira de Mello, Rego Barros,
a urgencia. Paes Barreto, Gomes Ribeiro, Taques, Ferraz,
Magalhães Castro, Saraiva, Mattoso da Camara,
O Sr. Bezerra Cavalcante:— Creio que quando Peroira da Silva, Octaviano, Barreto Pedroso.
se pede a palavra para apresentar um requeri Soares de Souza, Rocha Paula Fonseca, Paula
mento ha direito de fundamental-o... Santos, Fleury, Viriato, Araujo Jorge, Silveira
O Sr. Presidente : — O nobre deputado quando da Motta, Ferreira de Abreu, Livramento e
apresentou o seu requerimento não o funda Sayão Lobato.
mentou... Levanta-se a sessão ás 2 1/2 horas da tarde.
das matérias que o a Jornal «lo Commercio» «lei vou «le publicar
nas respectivas sessões, e que por sua importância julguei
acertado inserir:

Na sessão de f), pag. "ih, col. Ia:

« Emenda ao projecto de resposta á Falia do Throno. »

Na sessão de 9, pag. 129, col. Ia :

« O parecer da commissão de fazenda, á proposta do govern) relativa ao emprestimo de


4,0000:000$00O aos bancos. »

Na sessão de 27, pag. 297, col. Ia. :

« O parecer da commissão de constituiçao e poderes, propondo que se archivassom varios


papeis. » •

Na mesma sessão, pag. 298, col. Ia :

« O parecer da commissão de marinha e guerra á proposta do governo que fixava as forças


de terra para o anno financeiro de 18õt-18y.ri. »

Na sessão de 28, pag. 317, col. 1a. :

« O parecer da commissão do constituição e poderes propondo que se nrehivassem varioi papeis. »

« A integra da relação dos deputados presentes ás sessões diarias, q«o foi omittida pelo Jornal
do CommerrÁo. »

TOMO 2. -|.-i
/
A Capital do imporio — projecto do Sr. Octaviano
autorisando o governo á auxiliar a camara
municipal com a quantia de 400:000$ para
Asscnibléas provinciaes — leis enviadas á ca obras publicas de mais urgencia na dita capital,
mara, na fórmado auto addicional para seu oxa- -pag. 38.
me, — pag. 5.
Aposentadorias concedidas a funecionarios pu Colónia D, Francisca estabelecida em terras per
blicos, — pags. 5, 19, 101, 103 e 141. tencentes á pvinceza de Joinville — petição da
sociedade colonisadora de Hamburgo ; parecer
o projecto da commissão de commercio, indus
tria e artes, e projecto r. 21 de 1853,— pags. 87
B e 276.
Bispado — discussão do projecto r. 13 de 1853 Contínuos do supremo tribunal do justiça —
creando o bispado da Diamantina, na provin discussão do projecto r. 10 do 1851, elevando
cia de MinasGeraes,-pags. 40, 276, 287, 299 os vencimentos,— pag. 102.
e 318.
• Importante foi o debate ácerca da creação do bis Casas do prisão com trabalho — requerimento
pados expondo-so largas considerações sobre o dos Srs. Miranda e Pereira da Silva,— pag. 153.
poder temporal e o espiritual, o relativamente
as attribuições de um o outro no caso ver Cabido — creação do um cabido na provincia do
tente. S. Pedro do Sul — projecto r. 12 do 1853,—
pag. 214.
Orarão os Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos, Corrêa
das Neves, Aprigio, Livramento, Barbosa (mi Chefe de policia — projecto do Sr. Octaviano o
nistro da justiça), Wanderley, Ignacio Barbosa outros estabolecenao que o cargo de chefe do
o Pinto de Campos. policia não ó obrigatorio, podendo ser exercido
Bispado — creação de um bispado no Ceará; por qualquer bacharel formado em direito,—
parecer da commissão ecclesiastica e projecto, pag. 227.
— pags. 102, '211, 276, 278, 299 e 318.
Companhia de mineração em Minas-Gcraes de
Oráião os Srs. Góes Siqueira, Vasconcellos, Bar nominada de Macaubas e Cocaes — parecer da
bosa (ministro da justiça), Correa das Novos, commissão do fazenda com projecto sobro o
.Taguaribe. Livramento, Aprigio, Wanderley, requerimento da mesma companhia pedindo a
Ignacio Barbosa e Pinto de Campos. restituição dos direitos do 5 % que pagára
depois da publicação da lei do 28 de Outubro
Banco nacional — discussão do projecto n. 28 de de 1848,— pag. 243.
1853 vindo do senado creando um banco na
cional,— pags. 231, 216, 259, 265, 279 e 293. Companhia de Gongo-Socco —requerimento pe
Orarão os Srs. Araujo Lima, Vasconcellos, Ban dindo a remissão temporaria dos direitos do
deira de Mello, Cruz Machado, Paula Baptista, ouro que extrahisse das minas,— pag. 316.
Nebias, T. ophilo Gaspar, Silveira da Motta,
Viriato, Rodrigues Torres (ministro da fazenda), Confraria de N. S. da Conceição — projecto r. 25
e Lisboa Serra. vindo do senado, concedendo indemnisação á
dita confraria pelos prejuizos que soffreu por
não se verificar o seu cemiterio no terreno
G que havia comprado contigue ao da ordem 3°
de S. Francisco de Paula, — pag. 339.
£ollcgios cleitoraes— creacão, — paps. -'Ai, 37,
140 e 291. Orou o Sr. Silveira da Motta.
D M
Deputados — projecto augmentando a deputação mineração — projecto r. 101 de 1852 sobre o
do Piauhy, apresentado pelo Sr. Paranaguá ; imposto de mineração,—pags. 8,. 210 e 228.
e sobre igual augmento na provincia de Ser Orárão os Srs. Henriques, Paula Santos, Ferraz,
gipe,— pags. 227 e 209. Wanderley, Paula Candido, Bandeira de Mello
Dous terços de votos de que tratão os arts. 10 c Mendes de Almeida.
e 16 do acto addicional — projecto do Sr. Li Honte-pio dos servidores do estado — requerendo
vramento, estabelecendo que os referidos dous o uso-fructo do predio uacional onde estava
terços fossem contados em relação ao numero collocado,— pag. 317.
de membros presentes á sessão do dia em que
tivesse lugar a votação, etc.,— pag. 318.
N
E Navegação do rio Parnahyba — discussão do
projecto r. 34 de 1850,— pags. 5 o 294.
Eleição da mesa— sahem eleitos, presidente o Orárão os Srs. Teixeira de Macedo, Brandão, Sa
Sr. Maciel Montoiro; vice-presidente o Sr. Luiz raiva, Zacharias (ministro da marinha), Pa
Antonio Barbosa , 1° secretario o Sr. Paula ranaguá, Viriato e Almeida Albuquerque.
Candido ; 2» o Sr. Siqueira Queiroz ; 3° o Sr. Ja-
guaribe ; 4° o Sr. Paes Barreto,— pag. 30. Naturalisaeão — concessão a diversos estrangei
Empréstimo aos bancos do Brazil e commer- ros,— pags 203 , 214 o 242.
cial — parecer da commissão do fazenda ao pro
jecto r. 22 de 1853,— paas. 129, 156, 169, 203, Nota das materias que o Jornal do Commercio
814 e 231. deixou de incluir nas respoctivas sessões e que
por sua importancia forão colligidas,—pag. 353.
Orárão os Srs. Viriato, Ribeiro, Silveira da Motta,
Lisboa Serra, Bandeira de Mello, Rodrigues
Torres (presidente do conselho), Figueira de P
Mello, Ferraz, Paula Baptista e Paula Santos.
P-haroes na Lagoa dos Patos — representação da
Emolumentos parochiaes — tabella organisada a^sembléa provincial do Rio Grande do Sul
polo diocesano de Pernambuco ; parecer da res sobre as despezas com seu costeio,— pag. 19.
pectiva commissão e projecto r. 33 de 1853,—
pags. 214, 214 e 255. Privilégios — projecto dos Srs. Pereira da Silva
e João Antonio de Miranda prohibindo a con
Orárão os Srs. Paranaguá, Correa das Neves o cessão de privilegios para a navegação a vapor
Nabuco. nas aguas da bahia do Rio de Janeiro,— pag. 37.
Exposição universal de Paris — projecto do Sr. Pensões á diversos— pags. 48, 71, 87, 141, 142,
Mendes de Almeida, abrindo um credito para 169, 186, 212, 243, 255, .258, 261, 265, 287, 294
as despozas do transporte dos productos bra- o 339. ., '
zileiros dirigidos á exposição,— pags. 228 e 317.
Pretcnção do tenento-coronel Ignacio Joaquim
Pitombo,— pag. 19.
F » de Norberto Alves Cavalcanti , —
pags. 48 e 242. '
Fixação da força naval— parecer da commissão; » de Francisco Pedro Gorjão,—pags. 122,
discussão,— pags. 203, 304, 322 e 341. 156, 169 o 202.
Houve debate
Orárão os Srs. Paula Baptista, Saraiva, Figueira » do Francisco de Salles Poreira Pa
de Mello, Pimenta de Magalhães, Nebias, Mi checo, — pag. 186.
randa e Zacharias (ministro da marinha). » de D. Victoria Carlota da Silva— pro
jecto r. 59 do 1852,— pag. 210.
Fixação das forças de terra— parecer da res » de Thomaz Pereira Goromoabo— pro
pectiva commissão, — pag. 298. jecto r. 91 de 1852, — pags. 214
e 243.
Houve debate.
L » de Joaquim Ribeiro do Avelar, —
pag. 227.
Lotcrlas — concessão á irmandades, casas pias, » de João Homem Guedes Portilho,—
matrizes, etc.,— pags. 86, 227 e 228. pag. 264.
b do Dr. Joaquim Candido Soares do
Lotcrlas-— isenção do imposto para as loterias Meirelles,— pag. 264.
da santa casa da misericordia da Bahia; pro » de José Xavier Pereira de Brito,—
jecto r. 79 do 1852,— pag. 122. pag. 264.
» de João Eduardo Lajoux,— pag. 276.
Limites entre as provincias de Goyaz c Matto- o de Raymundo Remigio de Mello,—
Grosso, e entre as do Maranhão e Goyaz — offi- pag. 297.
cio do ministro do imperio enviando informações, » de D. Carolina Pedroso Barreto da
— pags. 213 e 228 (projecto do Sr. Mendes de Costa Ferreira,— pag. 339.
Almeida nesta pagina) c 316. Houve debate.
— 9
Gomes Ribeiro creando o lugar de substituto
R daquelle secretario,— pags, 227 e 298.
Resposta á Falia do Throno—discussão,—pags. 11, Supplentes de deputados—chamada de,—pags. 287
19, 38, 54, 74, 91, 106, 123, 129 e 143. e 292.
Orárão os Srs. Sayão Lobato, Enzebio de Queiroz, Orárão os Srs. Paes Barreto e Gomes Ribeiro.
Gonçalves Martins (ministro do imperio), Dutra
Rocha, Paula Baptista, Pereira da Silva,- Fi T
gueira de Mello, Ferraz, Candido Borges, Pau
lino, Zacharias (ministro da marinha) Araujo
Lima e Nebias. Trafego de escravos — remessa á camara do re
latorio do chefe de policia da provincia do Rio
Tratou-se longamente do assumpto — Estradas de de Janeiro sobre as ultimas oceurrencias rela
ferro — desde o contracto Cochrane em 1849. tivas ao trafego de africanos,— pag. 186.
Reforma eleitoral — projecto dos Srs. João Anto Terras de indips — projecto do Sr. Taques c outros
nio de Miranda e Pereira da Silva creando estatuindo que as terras de indios de aldêas
circulos eleitoraes, etc, — pag. 37. ou missões extinctas fossem annexadas ao pa
trimonio das camaras municipaes em cujo mu
Remoção de juizes municipaes — discussão do nicipio estivessem situadas,— pag. 227.
projecto il. 4 de 1852 autorisando a remoção
^dos juizes municipaes,— pags. 71, 88 e 102. Termos — projecto do Sr. Almeida Albuquerque
commettendo aos presidentes de provincia a
Orárão os Srs. Araujo Lima, Wanderley, Gomes faculdade de reunir dous e tres termos, para
Ribeiro, Vasconcellos, Viriato e Ignacio Bar formar conselho' de jurados, mediante appro-
bosa. vação do governo,— pag. 228.
Registro de hypotbecas — discussão do respectivo Testamento cerrado^ — projecto do Sr. Livra
projecto r. 53 de 1852, — pags. 142, 228, 256 mento estatuindo que não fosse permittido aos
e 265. que não soubessem ler ou não pudessem ler,
fazer testamento cerrado,— pag. 318.
Orárão os Srs. Silveira da Motta, Ignacio Bar
bosa e Ferraz. V
s Verificação de poderes,— pags. 48 e 228.
Secretario da capitania do porto da curte e Voto de graças. — Vid. Resposta d Falia do
•provincia do Rio de Janeiro — projecto do Sr. Tlirono.
*
r

Você também pode gostar